estufa, embora exuberante, também busca se libertar, como apreendemos da
imagem dos “lys contre les verres clos”.
As rimas internas também contribuem para a construção de um ambiente
fechado, que se tenta se movimentar para além dos limites de vidro da estufa,
expressando o desejo da alma de se libertar do cárcere opressivo. É o que podemos
observar em pares como “songes” / “vitrages” e “pupilles” / “ombelles”.
Temos a imagem de uma alma enferma, triste e oprimida, buscando, no sonho
e no esquecimento, evasão de um mundo que sufoca e aprisiona. Doente de um mal
incurável e de seus “désirs sans remède”, que, como os lírios, tentam, em vão,
romper as paredes de vidro, a alma se perde no esquecimento das “pupilles closes”,
que sonham com um mundo exterior livre e exuberante. Esse mundo exterior,
entretanto, aos poucos se revela a projeção de um mundo ideal existente no interior
da alma do poeta, e não de uma realidade concreta. As imagens que descobrimos
são, assim, desencadeadas por um processo de desestruturação do elemento real,
uma vez que todo o movimento do poema se faz nos limites da imaginação do
poeta, ou seja, o elemento que nos parece real não é senão o mundo interior, o
universo do desejo do poeta.
Como Patrick MacGuinness observa, o contraste entre o encarceramento da
estufa e a exuberância da vegetação exterior desencadeará uma série de imagens
que, aos poucos, se desintegrarão:
The hothouse artifice of Decadence, with Maeterlinck, produces a new and aberrant
poetic vegetation: beneath the shimmering surface of ‘analogies’ and ‘symboles’, the
images fragment and collide as the would-be unifying structures disintegrate.
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Imagens aquáticas, de transparência, geleiras, águas límpidas, em contraste
com um clima de asfixia, são abundantes em Serres chaudes e sua inspiração é,
mais uma vez, o universo de Ruysbroeck:
[...] il [Ruysbroeck] aime aussi les miroirs, les reflets, le cristal, les fontaines, les verres
ardents, les plantes d’eau, les pierreries, les fers rougis, la faim, la soif, les poissons,
les étoiles, et tout ce qui l’aide à doter ses idées de formes, visibles et prosternées
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McGUINNESS, op. cit. p.33.