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1
UNIJUI
-
UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Departamento de Economia e Contabilidade
Departamento de Estudos Agrários
Departamento de Estudos da Administração
Departamento de Estudos Jurídicos
CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO, GESTÃO E
CIDADANIA
CLÁUDIA REGINA HECK
A RELAÇÃO AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO SOB A ÓTICA DA
GERAÇÃO DE RENDA: O CASO DO MUNICÍPIO DE SORRISO/MT
L
OCAL: Ijuí (RS)
200
6
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2
CLÁUDIA REGINA HECK
A RELAÇÃO AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO SOB A ÓTICA DA
GERAÇÃO DE RENDA: O CASO DO MUNICÍPIO DE SORRISO/MT
Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de
Pós
-Graduação Stricto Sensu, Mestrado em
Desenvolvimento, Gestão e Ci
dadania
como
requisito parcial para obtenção do título de mestre.
Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul, DEAg Departamento de
Estudos Agrários, DECon Departamento de
Economia e Contabilidade, DEAd Departamento
de Estudos de Administração, DEJ Departamento
de Estudos Jurídicos
.
ORIENTADOR DR. ARGEMIRO LUÍS BRUM
IJUÍ (RS)
2006
ads:
3
BANCA EXAMINADORA
Presidente:
Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (UNIJUI): _____________________________________
Examinadores:
Prof. Dr.
Dieter Siede
mberg
(UNIJUI): ________________________________
______
Prof. Dr.
Luis Humberto Villwock
(
UNISINOS
): ___
___________________________
Prof. Dr. David Basso (UNIJUI): ___________________________________________
Ijuí (RS), 11 de setembro de 2006.
4
Dedicatória
Ao meu Pai (in memorian
)
que
do u olha por
mim e a minha mãe
, meus heroís
;
5
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me possibilitado tantas experiências de aprendizado que hoje se
materializam neste trabalho.
Ao meu orientador
,
prof. Argemiro Luís Brum, que por mais um momento se
mostrou compreensivo a todas as minhas decisões, dando liberdade e apoio para que eu
construísse
meu conhecimento
.
A minha família, meus pais e meus irmãos pela compreensão em todos os
momentos
. A minha prima, Teresinha Heck Weiller, que durante muito tempo me
acolheu.
A todos os produtores rurais com que tive a oportunidade de conversar e que
muito contribuíram para a realização deste trabalho.
Aos meus amigos, do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul, que dividiram
comigo parte de seu tempo, ouvindo minhas satisfações e angústias em relação a
realização deste trabalho. Como di
sse
Vinicius de Moraes, Se de meus amigos morrer,
eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo
.
A todos, que de uma forma ou de outra contribuíram para a concretização deste
projeto
muito tempo idealizado.
6
Um artista não é nada sem o dom, mas o
dom não é nada sem o trabalho
.
Émile Zola
7
RESUMO
Muitos esforços têm sido despendidos na compreensão do processo de geração de renda
das economias. A teoria econômica, por muito tempo atribuiu ao trabalho humano à
formação do valor. Com o advento da tecnologia, este passa a ser
apenas
um dos
elementos a compor o valor das mercadorias. Esta mudança traz consigo uma alteração
no desenvolvimento econômico das sociedades. Na agricultura, estas transformações
ocorrem de forma clara. De forma geral, o setor primário passa por profundas
transformações em seu sistema produtivo com a Revolução Agrícola na esteira do
crescimento econômico propiciado pela Revolução Industrial. A necessidade de atender
a nova demanda de consumo levou a modernização das propriedades rurais e ao
florescimento do sistema produtivo capitalista. No Brasil, este processo tardou a
acontecer, pois a metrópole portuguesa manteve na colônia durante muito tempo o
modelo feudal, obsoleto na Europa. Quando a agricultura brasileira defrontou-se com a
competitividade do mercado internacional a necessidade de modernização do siste
ma
produtivo fez-se urgente. Observando o que preceituava a teoria keynesiana, o estado
brasileiro se fez promotor deste crescimento econômico. Todavia, devido a sua grande
extensão territorial e a forma de ocupação do solo este processo não foi uniforme.
Ao
final da década de 1970, os produtores rurais buscaram através da abertura das
fronteiras agrícolas a competitividade necessária à manutenção da atividade primária.
Neste contexto, se desenvolve a agricultura na região Centro-Oeste, particularmente no
Estado de Mato Grosso, que até então carecia de políticas públicas. O município de
Sorriso/MT passa a receber um grande volume de investimento em tecnologia e um
grande contingente migratório, que levam o município a experimentar
um
crescimento
sem preceden
tes
. Neste município a agricultura voltada para exportação, através da
cultura da soja, conseguiu atingir alto grau de desenvolvimento, porém atualmente não
consegue mais garantir que a maior massa de recursos nele gerados seja mantida no
local. Assim, na ótica apenas do crescimento econômico, entendida como geração de
renda, Sorriso ainda corresponde às expectativas, porém, na ótica do desenvolvimento,
entendido como melhoria do nível de vida do conjunto da população, via melhor
utilização local da renda gerada, a constatação é de um esgotamento do modelo. Isto
expõe igualmente a necessidade de se criar projetos de desenvolvimento e de agricultura
sustentável para esta região
,
que atendam a necessidade de distribuição de renda, de
preservação do meio ambien
te, dentre outras, sem que a agricultura praticada neste local
deixe de ser competitiva no mercado internacional
.
Palavras
-
chaves: Agricultura, desenvolvimento, fronteiras agrícolas, geração de renda.
8
ABSTRACT
Many efforts have been expended in the understanding of the process of generation of
income of the economies. The economic theory, for much time attributed to the human
work the formation of the value. With the advent of the technology, this it starts to be
only one of the elements to compose the value of the merchandises. This change brings
itself an alteration in the economic development of the societies. In agriculture, these
transformations occur of clear form. Of general form, the primary sector passes for deep
transformations in its productive system with the Agricultural Revolution in the mat of
the economic growth propitiated by the Industrial Revolution. The necessity to take care
of the new demands of consumption took the modernization of the country properties
and to the bloom of the capitalist productive system. In Brazil, this process delayed to
happen, therefore the Portuguese metropolis kept in the colony, during much time the
obsolete feudal model in the Europe. When Brazilian agriculture confrotted with the
competitiveness of the international market the necessity of modernization of the
productive system became urgent. Observing what the keynesiana theory told the
Brazilian state made itself promotional of this economic growth. However, had its great
territorial extension and the form of occupation of the ground, this process wasn t
uniform. In the end of the decade of 1970, the agricultural producers had searched
through the opening of the agricultural borders the necessary competitiveness the
maintenance of the primary activity. In th
is context, it develops agriculture in the region
Center
-West, particularly in the State of Mato Grosso, that until then needed of public
politics. The city of Sorriso/MT starts to receive a great volume from investment in
technology and a great migratory contingent, that take the city to try a growth without
precedents. In this city the agriculture directed to exportation, through the culture of the
soy, obtained high degree of development, however, in this moment it doesn t obtain
more to guaranty that the biggest mass of resources in kept it generated either in the
place. Thus, in the optics only of the economic growth, understood as generation of
income, Sorriso still it corresponds to the expectations, however, in the optics of the
development, understood as improvement of the level of life of the set of the
population, saw best use site of the generated income, the constatação is of an
exhaustion of the model. This equally displays the necessity of if creating projects of
development and sustainable ag
riculture for this region, that take care of the necessity of
income distribution, of preservation of the environment, among others, without the
agriculture practised in this place leaves of being competitive in the international
market.
Key
-
words: Agricu
lture, development, agricultural borders, generation of income.
9
SUMÁRIO
RESUMO
................................
................................
................................
..........................
7
ABSTRACT
................................
................................
................................
......................8
LISTA DE FIGURAS
................................................................
................................
.....11
LISTA DE TABELAS
................................................................
................................
....12
LISTA DE GRÁFICOS
................................................................
................................
..13
INTRODUÇÃO
................................
................................................................
..............
14
1. UMA SÍNTESE TEÓRICA SOBRE A GERAÇÃO DE RENDA NAS ECONOMIAS
CAPITALISTAS
................................
................................................................
............
19
1.1 As Pri
ncipais Correntes de Pensamento Econômico
................................
............
20
1.1.1 Os Fisiocratas
................................
................................
................................
.
20
1.1.2 A Teoria Clássica: Adam Smith, David Ricardo e Jean B
aptiste Say
...........
22
1.1.3 Karl Marx
Análise da Economia Capitalista ................................
..............
26
1.1.4 Joseph Schumpeter: a destruição criadora
................................
.....................
29
1.1.5 A Teoria Keynesiana: demanda efetiva e intervenção estatal
.......................
31
1.1.6 Michal Kalecki: os investimentos capitalistas
................................
...............
36
1.2 A Formação da Renda Nacional
................................................................
...........
39
2. O PAPEL DA AGRICULTURA NA GERAÇÃO DE RENDA E NO
DESENVOLVIMENTO LOCAL
................................
................................
...................
42
2.1 A Evolução da Agricultura
................................
................................
...................
43
10
2.1.1 A Primeira Revolução Agrícola................................
................................
.....44
2.1.2 A Segunda Revolu
ção Agrícola
................................
................................
.....47
2.1.3 Agronegócios: o novo conceito da agricultura
................................
..............
48
2.2 Agricultura e Desenvolvimento
................................................................
............
52
2.2.1 Distorções no Processo de Desenvolvimento da Agricultura........................
58
3. A EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA NO BRASIL
................................
................
61
3.1 A Modernização da Agricultura no Brasil
................................
............................
62
3.1.1 Do Período Colonial até o Fim do Século XIX
................................
.............
62
3.1.
2 Século XX: o amadurecimento do capitalismo agrícola
................................
68
3.2 As Políticas Agrícolas Brasileiras
................................
................................
.........74
3.3 A Abertura de Novas Front
eiras Agrícolas
................................
...........................
77
3.4 A Cultura da Soja na Modernização da Agricultura e na Expansão das Fronteiras
Agrícolas
................................
................................
................................
.....................
80
4. A FORMAÇÃO
DA RENDA NO MUNICÍPIO DE SORRISO/MT........................
85
4.1 A Colonização do Estado de Mato Grosso
................................
...........................
86
4.2 A Ocupação do município de Sorriso e o
Modelo Econômico Atual
...................
92
4.3 A Produção Agrícola no Município
................................
................................
......98
4.3.1 A Renda Gerada pela Agricultura
................................
................................
103
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................
................................
.......................
110
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................
.........
116
ANEXOS
................................
................................
................................
......................
122
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa do Estado de Mato Grosso
................................
................................
....90
Figura 2: Localização do Município de Sorriso/MT
................................
......................
93
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Municípios Brasileiros Maiores Produtores de Soja, 2002.............................
91
Tabela 2
: Evolução Populacional.
................................
................................
..................
95
Tabela 3: Estrutura Fundiária do Município de Sorriso/MT
em 1996.........................
99
Tabela 4: Municípios que agre
gam 5% do Valor Adicionado da Agropecuária
2003.
................................
................................................................
................................
......101
13
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 2: Produto Interno Bruto no Município de Sorriso, em 2002
............................
98
Gráfico 3: Evolução da Área Cultivada de Soja de Sequeiro no Município de Sorriso
(MT)
1976/2004
................................
................................................................
.........
102
Gráfico 4: Distribuição dos Produtores Rurai
s pelo tamanho da propriedade.
............
104
Gráfico 5: Produtividade média gerada com a soja (sacas/hectare).
............................
105
Gráfico 6: Percentual d
a renda gerada na atividade agrícola despendido na aquisição de
produtos importados
................................................................
................................
.....107
14
INTRODUÇÃO
O presente trabalho foi elaborado com o objetivo de diagnosticar no município
de Sorriso/MT, as condições que se instauraram para o crescimento econômico,
por
meio
do processo de geração da renda agrícola e os efeitos deste crescimento na
realização do desenvolvimento. Através da análise da teoria econômica e da evolução
histórica do desenvolvimento da agricultura, a nível
mundial, nacional e regional.
A evolução da ciência econômica como teoria acompanha o desenvolvimento da
sociedade e seu constante processo adaptativo. Dentre os estudos elaborados, a geração
de renda e a formação do capital são preocupações constantes, pois, são nestes
elementos que estão depositadas as possibilidades de crescimento de uma região. E são
essas teorias que acabam influenciando a elaboração das políticas públicas que irão
orientar os investimentos.
Em relação à economia b
rasil
eira
, sua exploração pode ser considerada tardia
comparada com economias européias. Muito se havia aperfeiçoado em relação às
teorias econômicas no momento em que o solo brasileiro passa a ser utilizado para a
geração de riqueza
,
com fins capitalistas.
Enquanto a Eur
opa busca na especialização do
15
trabalho e na tecnologia mecanismos de aumento da produção. O Brasil revive o
ultrapassado sistema produtivo feudal. A produção voltada para a exportação amparou-
se na agricultura
para
alavanca
r o crescimento econômico
.
No entanto, defrontou-
se
com a competição do mercado internacional, que exigiu que o país buscasse superar o
atraso tecnológico em que vivia.
Em relação à geração de renda no Brasil, cabe estudar aqui uma situação em
particular, qual seja a ocupação da região
Centro
-
Oeste, e particularmente a realidade do
município de Sorriso/MT. Pouco habitada até meados do século XX, pela dificuldade de
acesso, tinha na exploração de ouro e na pecuária extensiva suas principais atividades
econômicas. Neste sentido, o Governo Federal, com objetivos políticos de ocupação
territorial, mas principalmente econômicos, criou programas de incentivo à
sua
ocupação
através da
facilita
ção d
o acesso ao crédito.
No
Estado do Mato Grosso, grandes extensões de área são loteadas e
transform
am
-se na alternativa econômica de muitos produtores. Surgem novos distritos
que, posteriormente, firmam-se como municípios que fazem da agricultura sua base
econômica. Processo facilitado, nesta época, pelo desenvolvimento da indústria
nacional, que reduz os custos dos insumos e das máquinas, pelos estudos genéticos que
possibilitaram a adaptação de sementes às condições de solo e clima locais e ao crédito
com baixas taxas de juros.
O município de Sorriso/MT enquadra-se entre as localidades onde este proce
sso
se desenvolveu. Iniciando sua colonização no início da década de 1980, o município
chega hoje ao título de maior produtor de soja do país. Apresentando taxas de
16
crescimento econômico superiores à média nacional. É claro, neste município, que a
geração
de renda se dá através da agricultura, altamente tecnificada. No entanto, é ainda
mais clara a linha que separa o crescimento eco
nômico do desenvolvimento.
Assim
, esta pesquisa se justifica pelo fato que muitos municípios ainda estão na
fase de expansão da sua área plantada e atingindo bons níveis de aumento de sua
produtividade. No entanto, conforme destacado por Santos (1999) o crescimento é
condição indispensável para o desenvolvimento, mas não é condição suficiente.
Entendendo o desenvolvimento como melhoria das condições de vida (acesso à
educação, saúde, entre outros), aumento da renda
per capita
e sua melhor distribuição, a
elevação do produto interno não é suficiente para garantir tais condições.
Neste momento de expansão da renda necessidade de orientar as atividades
para os demais setores produtivos para que se consiga realizar a redistribuição da renda
e atender as necessidades de consumo da população localmente, evitando que a
importação de bens de consumo freie o processo de circulação monetária no interior do
município. Em municípios agrícolas com elevada geração de renda, como os de
fronteira agrícola, é importante estimular, da mesma forma, outras atividades com
características distintas da agricultura para que em longo prazo se atinja o
d
esenvolvimento local sustentado.
Para a elaboração do presente estudo,
utilizou
-se o método dedutivo de trabalho
,
ou seja,
se
parte da utilização de argumentos gerais para formulação de argumentos
específicos. Do ponto de vista de sua natureza, caracteriza por ser uma pesquisa
17
aplicada, pois seus resultados poderão ser adotados como forma de pensar o
desenvolvimento endógeno da região do estudo (GIL, 1991).
Em relação à forma de abordagem do problema, o trabalho desenvolvido é
caracterizado por ser uma pesquisa qualitativa e quantitativa, pois envolve a análise
histórica para conhecimento da região e coleta de dados quantitativos, junto aos
produtores rurais, para demonstrar
su
a realidade sócio
-
econômica.
O método de pesquisa de pesquisa adotado, de Estudo de Caso, como todos os
métodos de pesquisa, é mais apropriado para algumas situações do que para outras
.
De
qualquer forma, o Método do Estudo de Caso oferece significativas oportunidades
ao
possibilitar o estudo de inúmeros problemas de de difícil abor
dagem por outros métodos
e pela dificuldade de se isolá-los de seu contexto na vida real. Desta forma, o trabalho
que irá se apresentar não tem o objetivo de ser conclusivo sobre o tema e sim partir de
algumas generalização para compreensão de fatos sociai
s.
Desta forma, o estudo foi
desenvolvido em quatro capítulos. No primeiro, busca
-
se pela análise teórica, diagnosticar nas teorias econômicas, em especial a teoria
keynesiana, os elementos responsáveis pela geração de renda, tanto em nível local
quanto
em nível nacional. No segundo capítulo, pretende-se abordar a agricultura
através
de sua participação na geração da renda e seu papel no desenvolvimento,
demonstrando como a evolução da agricultura contribuiu para a criação de modelos
distintos de produção, que atuam de maneiras distintas sobre as economias locais, num
ambiente competitivo.
18
O terceiro capítulo trata do papel da agricultura na história do país,
sua
contribuição para a formação da renda nacional, a abertura das novas fronteiras
agrícolas e o papel da cultura da soja nesta expansão dos territórios agricultáveis no
país
. Por fim, no quarto capítulo o trabalho se
volta
do
para as especificidades do
desenvolvimento
do município de Sorriso, Estado do Mato Grosso, visando avaliar a
contribuição da agricultura para o desenvolvimento local, entendendo-se aqui não o
crescimento econômico, mas toda a transformação/qualificação das condições de vida
locais.
E, sobretudo, para a manutenção das condições de desenvolvimento na região.
Assim
, pretende-se contribuir para a compreensão de uma realidade ainda pouca
conhecida e analisada, identificando-se as limitações e as potencialidades existentes,
assim como a atuação dos agentes econômicos, públicos e privados, na elaboração de
políticas de inserção na
economia regional e nacional.
19
1.
UMA SÍNTESE TEÓRICA SOBRE A GERAÇÃO DE RENDA NAS
ECONOMIAS CAPITALISTAS
A ciência econômica, como é conhecida atualmente, é de origem recente
comparada a outras áreas do conhecimento nas ciências sociais. Sua sistematização em
teorias econômicas inicia com os fisiocratas, a partir do século XVII, porém, apenas
passa a ser reconhecida como teoria a partir dos escritos de Adam Smith.
Posteriormente, vários estudos são realizados demonstrando a evolução do sistema
econômico.
Como uma ciência em construção, todas as linhas de pensamento organizadas
até o momento m contribuições na elaboração dos pressupostos econômicos. Assim
qualquer tentativa de sistematização de conhecimentos nesta área necessita uma revisão
das
teorias
existentes respeit
ando
a sua especificidade.
Este capítulo é uma tentativa de buscar nas teorias econômicas existentes um
eixo comum sobre a
geração
de renda na economia. Desde os fisiocratas com o livre
comércio, passando pelos clássicos Adam Smith e David Ricardo, pelas contribuições
de Karl Marx e Michael Kalecki e, finalmente, destacando a teoria keynesiana, a partir
do início do século XX.
20
Em o fazendo, busca-se uma orientação no sentido de mensurar a geração da
renda nacional, particularmente a abordagem keynesiana. O conhecimento teórico da
formação da renda trará os elementos necessários para avançar na compreensão da
geração de renda nas
economias nacionais e locais, objeto deste trabalho.
1.
1
A
s
P
rincipais
C
orrentes de
P
ensamento
E
conômico
rios são os autores e as contribuições apresentadas para a evolução da teoria
econômica. Num esforço de síntese, apresenta-se aqui os autores e as escolas cuja
contribuição significou um salto qualitativo no debate econômico.
1.
1
.1 Os Fisiocratas
A Fis
iocracia constitui a primeira escola econômica de caráter científico, a partir
do final do século XVII e início do século XVIII. Os teóricos, conhecidos como
fisiocratas (fisio = natureza, crata = poder), liderados pelo médico francês François
Quesnay (1694-1774). Quesnay, através da observação da realidade francesa, baseada
na agricultura com altos índices de produtividade, passa a atacar as idéias mercantilistas
de acumulação de metal e interferência do Estado.
Para estes teóricos, os fenômenos econômicos ocorreriam naturalmente,
seguindo leis naturais. Os agentes econômicos livremente definiriam o melhor emprego
dos fatores de produção de modo que a economia estaria sempre em equilíbrio ou
próximo dele.
21
Os fenômenos econômicos- pensam os fisiocratas
processam
-
se
livre e independentemente de qualquer coação exterior, segundo uma
ordem imposta pela natureza e regida por leis naturais. Cumpre, pois,
conhecer essas leis naturais e deixá
-
las atuar (HUGON,
1970, p.
94).
Analisando a economia local, os fisiocratas defendiam que a riqueza de uma
nação provém da natureza e, portanto, da agricultura. Somente nesta atividade o
produtor teria condições de materiais de transformar um determinado mero de
sementes em uma quantidade maior de produto. Isto se aplicava à realidade, pois a
indústria da época era bastante rudimentar e baseada na transformação de produtos
agrícolas.
Segundo a doutrina fisiocrática, a sociedade é formada pela classe
produtiva (agricultores), pela classe dos proprietários de terra e pela
classe estéril, compreendendo esta última todos os que se ocupam do
comércio, da indústria e dos serviços. A agricultura era considerada
produtiva por ser, para os fisiocratas, a única que gera valor. Desse
modo, os preços agrícolas deviam ser mais elevados possíveis (teoria
do bom preço), a fim de gerar lucros e recursos para novos
investimentos agrícolas. Os consumidores seriam compensados pela
cobrança de um imposto único sobre a renda dos proprietários da
terra e por medidas que reduzissem os preços industriais. (SOUZA,
1999,
p. 46)
Com o estímulo à atividade agrícola, através de novos investimentos, o aumento
da
oferta
seria acompanhado pelo aumento da
demanda
de produtos e a ordem
econômica seguiria seu fluxo normal. A moeda teria apenas a função de troca e não de
reserva de valor, função esta que caberia apenas aos produtos agrícolas.
Ao Estado caberia apenas o papel de regulador da sociedade, não lhe
competindo, porém, o papel de interferir na ordem econômica, pois qualquer
interferência do Estado poderia criar obstáculos à circulação de pessoas e de bens. O
22
pensamento fisiocrático era, portanto, liberal, defendendo o princípio Laissez faire,
laissez passer
(deixe fazer, deixe passar).
As idéias fisiocratas são consideradas, posteriormente, por muitos autores, falsas
e estreitas, decorrentes de uma noção equivocada sobre o conceito de valor. Tanto a
indústria quanto o comércio são rejeitados como fonte de produção de riquezas,
considerados pelos teóricos fisiocratas
1
como classe estéril. Esse exagero imposto ao
papel da agricultura na economia
irá
conduzi
r os fisiocratas a reavaliar seus
estudos
econômicos. E são principalmente os pontos de maior conflito da escola fisiocrática que
serviria
de partida para a estruturação das novas análises econômica
s, como veremos.
1.
1
.2 A Teoria Clássica: Adam Smith, David Ricardo e Jean Baptiste Say
A Escola Clássica pode ser visto como um esforço de revisão das idéias
mercantilistas. Vários nomes podem ser citados pela sua contribuição a teoria
econômica clássica
2
,
dentre os quais destacaremos e nos deteremos a estudar apenas
Adam Smith, David Ricardo e Jean Baptiste Say, por sua contribuição à teoria do valor
e da formação da renda nas nações.
Envolvidos em um ambiente econômico propício, a Revolução Industrial, os
economistas clássicos fundamentaram seus estudos, no individualismo, na liberdade e
no comportamento racional dos agentes econômicos, com a mínima presença do Estado,
1
Os principais teóricos fisiocratas são: Richard Cantillon, François Quesnay, Jean Vincent
,
Victor
Riqueti, Conde de Mirabeau,
Pierre Samuel du Pont de Nemours
.
2
T
ais como:
Adam Smith,
Thomas Malthus, Jonh Law, Stuart Mill, David Ricardo e Jean Baptiste S
ay.
23
que teria como funções precípuas a defesa, a justiça e a manutenção de certas obra
s
públicas (SOUZA,
1999,
p. 46).
A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século
XVIII e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação
primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Estes
fatores
foram essenciais na elaboração dos estudos destes economistas, uma vez que
para eles o elemento essencial da riqueza passa a ser trabalho produtivo. Assim, o valor
pode ser gerado fora da agricultura. Isso ocorre toda a vez que uma mercadoria é
vendida a um preço superior ao seu custo de produção (SOUZA,
1999
).
Adam Smith (1723
-1790)
3
foi o principal teórico desta linha de pensamento. Sua
obra
consiste na primeira abordagem sistêmica e abrangente das questões econômicas
(CARNEIRO,
1997,
p. 16). Para o
Smith
, o trabalho é o responsável pelo aumento da
riqueza dos países à medida que ele transforma mercadorias agregando valor a elas.
Mais importante ainda é o rendimento do trabalho. A eficácia do trabalho nas nações
desenvo
lvidas provém essencialmente da
divisão do trabalho
.
Destaca ainda que esta divisão do trabalho não pode ser aplicada ao extremo,
pois depende de duas condições essenciais: a extensão do mercado consumidor e a
abundância de capitais (HUGON,
1970
). A primeira condição seria satisfeita com o
aumento do comércio entre os países. E, a segunda, se daria através da poupança que
seria canalizada em investimentos produtivos.
3
Sua principal obra foi a Riqueza das Nações: investigação sobre sua natureza e suas causas , publicada
em 1776.
24
O preço das mercadorias é composto de salários, lucros e aluguéis. Isto
permitiria o pagamento dos custos de produção e a remuneração do proprietário.
Ainda,
Smith
estabelece uma distinção entre preço de mercado e preço natural, onde o preço
natural corresponderia à remuneração dos fatores de produção e o preço de mercado
estabelecido pelas forças da oferta e da demanda. O mercado tenderia sempre ao
equilíbrio dos preços e ao pleno emprego dos fatores de produção, através da livre
concorrência.
Assim como para os fisiocratas, o Estado não deveria intervir no fluxo de
mercadorias e de rendas, pois o mercado se auto-regularia, cabendo a este, apenas, as
funções de manter a segurança militar, administrar a justiça, e erguer e manter certas
instituições públicas.
A economia de Adam Smith conhece, portanto, expansão contínua,
enquanto for possível ampliar a dimensão dos mercados e empregar
trabalhadores produtivos. A acumulação de capital desempenha
também um papel crucial ao aumento da produtividade dos
trabalhadores. O progresso técnico crescente permite aos
empresários o pagamento de salários mais elevados, enquanto o
crescimento demográfico e a concorrência entre os trabalhadores
exercem efeito oposto
(SOUZA, 199
9
, p. 46)
.
Praticamente na mesma linha de raciocínio, o economista David Ricardo (1772-
1823)
4
.
Desenvolveu seus trabalhos evoluindo dos estudos de Adam Smith
,
caracterizando
-se pelo uso do método dedutivo e abstrato. Assim como na obra de
Smith, para
Ricardo
o trabalho também é a fonte geradora do valor. O autor apresentou
duas importantes contribuições: a primeira em relação aos rendimentos decrescentes e a
segunda em relação aos benefícios das trocas internacionais.
4
Tem como sua principal obra Principles of Political Economy and Taxation , de 1817.
25
A teoria dos rendimentos parte basicamente da análise da renda das terras, onde
através de um importante trabalho descritivo o autor demonstra que o aumento do
consumo, g
eraria a necessidade de incorporação de novas áreas. Estas, por serem menos
férteis, exigiam maior adubagem, e trabalho, o que significava preços mais elevados
para os produtos agrícolas em geral. Por conseguinte, aumentavam os rendimentos dos
donos dos melhores solos. Por outro lado, o industrial que trabalhava e produzia riqueza
para a nação era prejudicado, pois tinha que aumentar os salários dos trabalhadores,
devido aos altos preços dos alimentos, diminuindo seus lucros, deixando de investir na
produçã
o e oferecendo um número menor de empregos.
Outra contribuição foi a Lei do Custo Comparativo, que demonstrava os
benefícios de uma especialização internacional na composição do comércio
internacional. Argumentando coerentemente que dois países poderiam se beneficiar do
comércio internacional, mesmo que um deles produzisse todas as mercadorias
comercializadas mais eficientemente do que o outro.
Em síntese, para Ricardo o crescimento econômico será sempre maior quanto
maior for a taxa de lucro, gerando maiores poupanças e conseqüentemente maiores
investimentos. O desenvolvimento econômico seria assegurado pelo aumento do
emprego e das técnicas de produção.
O economista Jean-Baptiste Say
(1
767
-1
832
)
5
, apesar de ser menos conhecido,
apresentou uma grande contribuição à teoria clássica: o estudo da Lei dos Mercados
5
Sua principal obra foi Traité d'économie politi
que
, publicada
em 1803.
26
ou Lei de Say , elaborado em 1803.
Say
procurou demonstrar que o equilíbrio
econômico seria sempre conservado se as forças de mercado pudessem agir livremente,
sendo qualquer evento corrigido pelo tempo. Seu argumento era de que a produção é
que cria mercado para os produtos, ou seja, a oferta criaria sua própria demanda
(ROSSETI,
1988,
p. 606). Neste sentido, a produção estaria sempre amparada pelo
consumo. É a lei de Say que irá orientar as di
scussões econômicas até o início do século
XX.
A compreensão da Lei dos Mercados, bem como das idéias clássicas de maneira
geral, é de suma importância para a análise da evolução das economias capitalistas. As
críticas feitas às idéias c
lássicas referem
-s
e basicamente
[
...
] em dizer que a renda que corresponde ao pleno emprego é uma
renda sempre possível, no sentido de que existe sempre para o sistema
a possibilidade de conseguir autonomamente um equilíbrio no qual os
fatores disponíveis sejam plenamente empregados; a segunda consiste
em dizer que há no sistema mecanismos que sempre tendem a
alcançar esta posição de pleno emprego cuja possibilidade se
demonstrou (NAPOLEONI,
1979,
p.81)
Os autores clássicos, em seus trabalhos, contribuíram grandemente para a
formação de estudos científicos sobre a teoria do valor, suas publicações serviram de
base para o avanço da análise econômica. No entanto, o trabalho passa a não ser mais
questionado como sendo a fonte de geração do valor. As discussões partem para outr
as
questões fundamentais, como por exemplo, estimular o consumo e o investimento,
manter o nível de emprego, entre outras que ainda não encontram repostas adequadas.
1.
1
.3 Karl Marx
Análise da Economia Capitalista
27
Karl Marx (1818-1883)
6
, deu sua contribuição ao estudo da geração do valor e
da renda através da observação da dinâmica das economias capitalista. Os trabalhos de
Marx partem da teoria do valor exposta por Ricardo, sendo o trabalho a substância
constituidora do valor. Para Marx o valor é o trabalho cristalizado, ou seja, existe
valor na medida em que o trabalho concretiza sua força na produção de uma
mercadoria. Ainda, Marx estabeleceu uma relação de causalidade, direta e absoluta,
entre o trabalho e valor. Sendo que o valor de uma mercadoria será determinado pelo
número de horas necessárias para a sua fabricação e produção, ou seja, pelo "
quantum
do trabalho soci
al
mente necessário" à sua produção (HUGON, 1970, p. 220). Ainda,
quanto maior for a produtividade do trabalho menor será o valor do
bem.
Genericamente, quanto maior a força produtiva do trabalho, tanto
menor o tempo de trabalho exigido para a produção de um artigo,
tanto menor a massa de trabalho nele cristalizada, tanto menor seu
valor. Inversamente, quanto menor a força de trabalho produtiva do
trabalho, tanto maior o tempo de trabalho necessário para a
produção de um artigo, tanto maior o seu valor. A grandeza do valor
de uma mercadoria muda na razão direta do quantum, e na razão
inversa da força produtiva do trabalho que nela se realiza (MARX,
1988, p.
49).
Marx
usa
o conceito da mais-valia para tratar da circulação e da constituição do
capital. O processo de circulação, que anteriormente ocorria apenas com a circulação de
mercadorias, no capitalismo torna-se mais complexo, representado pela circulação de
moeda, que não tem somente o objetivo de subsistência, mas também de aquisição de
matérias
-
primas, máquinas e salários incorporados à produção.
6
Sua principal obra foi "O Capital", publicada em 1867.
28
Desaparece a igualdade entre a quantidade de trabalho cristalizado no produto e
a quantidade de trabalho cuja aquisição este produto possibilitará (HUGON, 1970, p.
221). A mais-valia representa, portanto, a diferença entre o valor incorporado a um bem
e a remuneração do trabalho que foi necessário para sua produção como forma de
demonstr
ar que os trabalhadores recebem por seu trabalho apenas o necessário para a
sua sobrevivência, enquanto cabe aos detentores dos meios de produção toda a
acumulação da mais
-
valia, ou seja, do lucro
7
.
Em vista de não se fazerem mais de acordo com a estrita igualdade
das quantidades de trabalho contido em cada produto, acabam as
trocas por uma exploração do trabalhador. Este já não recebe o valor
integral do seu trabalho e, por conseguinte, não pode adquirir a
totalidade do produzido (HUGON,
1970, p.
221).
Para o capitalista o valor originalmente adiantado para a produção não se
mantém na circulação, mas altera nela sua grandeza de valor, acrescentando mais
-
valia.
O movimento dos preços, o volume de mercadorias circulantes e,
finalmente, a velocidade de
circulação do dinheiro podem, no entanto,
mudar em direção e proporções diferentes, de modo que a soma de
preços a realizar e, por conseguinte, o volume do meio circulante por
ela determinado podem, portanto, passar por numerosas
combinações. (MARX,
1988,
p.
104).
Sobre
o papel do Estado na economia capitalista, M
arx
não elaborou uma teoria
sistemática e formalmente completa. O que se tem são especulações formuladas a partir
do desenvolvimento de idéias socialistas, pela qual o Estado deveria ser o tutor d
a
sociedade de forma a impedir sua exploração. Assim, o Estado na economia capitalista
tem como função de ser um mediador de classes
(SWEEZY,
19
85
).
7
Base dos estudos socialistas, através da teoria marxista, sobre a exploração do trabalhador pelo
capitalista ou do trabalho pelo capital.
29
Em relação a evolução do pensamento econômico, Marx partiu dos pressupostos
clássicos evoluindo para a análise da quantificação do trabalho necessário para a
produção de uma mercadoria, da geração do lucro e da circulação monetária nas
sociedades capitalistas, contribuindo para o amadurecimento de algumas teorias
econômicas. Posteriormente, o autor dedicou-
se
ao estudo sociológico das atividades
capitalistas, ponto que não se abordará neste trabalho.
Os estudos se Marx datam da segunda metade do século XIX. O que se segue,
até início do século XX, são estudos de economistas, principalmente os neoclássicos
Wal
ras, Jevons, Menger, visando demonstrar, através de modelos microeconômicos,
como é possível se chegar
a
um
modelo matemático padrão, que explique a produção, o
consumo e o investimento. Torna-se relevante aqui avançar a análise até os estudos de
Joseph Schumpeter e Michael Kalecki e John Maynard Keynes, no contexto do
ambiente macroeconômico.
1.
1
.4 Joseph Schumpeter: a destruição criadora
O economista Joseph Schumpeter (1883-1950)
8
à análise do capitalismo, em
particular às crises econômicas, um viés tecnológico. O capitalismo, para ele,
desenvolvia
-se em razão de sempre estimular o surgimento dos empreendedores, isto é,
de capitalistas ou inventores extremamente criativos - os inovadores - que eram os
responsáveis por todas as ondas de prosperidade qu
e o sistema conhecia.
8
Sua principal obra foi "A Teoria do Desenvolvimento Econômico (Theorie der Wirtschafteichen
Entwicklung)", de 1911.
30
O grande interesse na obra de Schumpeter, ao longo das últimas
décadas, está relacionado, de um lado, à percepção generalizada de
que o capitalismo vem atravessando um período de profundas
mudanças tecnológicas, econômicas e sociais. A obra de Schumpeter
é rica em referências conceituais e históricas para analisar processos
de mudança estrutural. É inevitável, portanto, que ela se transforme
em fonte de inspiração para a análise da dinâmica capitalista
contemporânea. De outro lado, a popularidade da abordagem
schumpeteriana explica-se também em função de privilegiar o
tratamento de aspectos da dinâmica capitalista que geralmente
recebem pouca ou nenhuma atenção nas abordagens convencionais.
(CARNEIRO,
1997,
p. 61).
Schumpeter
criou um conceito que convencionou chamar de destruição
criadora . Se trata, em síntese, de um processo que se inicia com o empresário que gera
a inovação (invenção/novo produto/fonte de matéria-prima/ou método de produção) que
é posteriormente difundida no seu
meio (destruição do antigo e formação do novo) até o
momento da sua exaustão e conseqüente crise, abrindo espaço para o surgimento de
outras inovações.
O equilíbrio previamente estabelecido em uma sociedade, sofreria mudanças
com a incorporação de novas tecnologias e novos sistemas produtivos. A manutenção
do equilíbrio se daria através do processo adaptativo de expansão gradual da inovação,
até o momento de esta se tornar parte da estrutura existente, estabelecendo-se assim um
novo equilíbrio.
Para Schumpeter, a dinâmica capitalista refere-se a capacidade dos empresários
em promover inovações tecnológica capazes de aperfeiçoar o sistema produtivo através
do aumento da produtividade
do trabalho
, gerando assim maiores renda e riquezas.
31
A introdução das inovações no sistema capitalista permite aumentar a produção,
com menor utilização da força de trabalho. Ocorre que muitas vezes estas inovações não
são absorvidas de maneira idêntica pelos diferentes setores produtivos, o que faz com
que se estabeleçam diferenças relativas entre os produtores de um mesmo setor.
Conceito este de grande importância quando se analisará o papel da agricultura no
desenvolvimento do sistema capitalista, no segundo capítulo deste trabalho.
1.
1
.5 A Teoria Keynesiana: demanda efetiva
e intervenção estatal
De forma geral, a teoria clássica da Lei de Mercado respondeu às questões
econômicas até que o novo cenário, s-Primeira Guerra Mundial, deixou na Europa
uma população empobrecida e fragilizada, sem condições de manutenção do seu n
ível
de consumo
.
Enquanto nos Estados Unidos a indústria e a agricultura se modernizam,
aumentando seu potencial produtivo com o objetivo de atender o mercado internacional
em guerra. Com o fim da guerra o nível de salários se reduz e a falta de mercado
consumidor da Europa, bem como a concorrência que passavam a representar na
produção de mercadorias
a
lterou o cenário do crescimento econômico para uma crise de
superprodução. A chamada crise de 29 , com a quebra da Bolsa de Valores
estadunidense defronta
os
economistas
com uma crise teórica.
32
Neste novo cenário econômico, o economista Jonh Maynard Keynes (1883-
1946)
9
, foi o responsável por um dos principais estudos macroeconômicos deste século
qu
e
representou uma ruptura com as idéias clássicas do
laiss
ez-
faire, laissez passer.
Com a grande depressão do início dos anos de 1930, Keynes
abandona a defesa do livre comércio em favor do protecionismo,
sublinhou, mais uma vez, sua preferência pela desvalorização em vez
da deflação e a prioridade que conferia ao equilíbrio interno de um
país e ao combate do desemprego em relação ao equilíbrio externo
(CARNEIRO,
1997, p.
101).
O Princípio da D
emanda
Efetiva de Keynes aborda a questão do consumo pelo
ângulo oposto ao qual vinha se estudando a demanda na teoria clássica. Ao contrário de
Say
, os estudos de Keynes demonstram que é a demanda que deve definir a produção
total.
Hugon
, julga caber à procura o papel primordial de agente motor de todo o
sistema econômico, pois o emprego varia no mesmo sentido que o rendimento global
(1970, p. 425). A geração de renda, através do aumento do nível de emprego e do
investimento
é
que determinará a capacidade de consumo da sociedade.
A procura efetiva e, por conseguinte, o emprego, dependem, pois, de
três fatores psicológicos, os quais
juntamente com o volume
monetário existente
vão representar os elementos explicativos das
variações do sistema econômico. Estes elementos, variáveis e
independentes entre si, são: a preferência pela liquidez; o estimulo
para investir; a propensão marginal a consumir (HUGON, 1970, p.
425).
A demanda efetiva depende em parte, do montante da sua renda dos indivíduos
;
em parte, de outras circunstâncias objetivas que o acompanham e em parte, das
necessidades subjetivas, propensões psicológicas e hábitos dos indivíduos que a
compõem, bem como dos princípios que governam a distribuição da renda entre eles
.
9
Sua principal obra A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda publicada em 1963.
33
Dentre todos estes elementos, a renda tem o papel
central
na tomada de decisão dos
agentes econômicos (Keynes, 1982).
Para
Keynes
existe uma relação estrita entre a geração de renda e o nível de
consumo, o autor chama de propensão marginal a consumir
.
A propensão a consumir
dos agentes econômicos
está
basea
da em diversos fatores subjetivos, inerentes ao
comportamento econômico, dos quais dependem
suas ações de consumo:
[...]
os homens estão dispostos, de modo geral e em média, a
aumentar o seu consumo a medida que a sua renda cresce, embora
não em quantia igual ao aumento de sua renda. [
...
] Isso por que a
satisfação das necessidades primárias imediatas de um indivíduo e de
sua família é, normalmente, mais forte que os seus motivos para
poupar, que adquirem predomínio efetivo quando se alcança
determinado nível de conforto. Estas razões fazem com que, em geral,
uma proporção maior da renda seja poupada a medida que a renda
real aumenta. Porém, poupe-se ou não numa proporção maior, somos
levados a considerar como regra psicológica fundamental em uma
comunidade moderna que, quando sua renda real aumenta, o seu
consumo não crescerá em montante
absol
uto
igual [...]
(KEYNES,
1982, p. 88/89).
Ainda, quanto maior for a renda dos consumidores maior será sua capacidade de
poupança, pois terão comprometido uma parcela menor de seus rendimentos para
atender suas necessidades básicas. Sendo válida a identidade macroeconômica de que a
poupança presente é igual ao investimento futuro. Sendo os capitalistas que possuem
maior propensão
à
geração de poupanças.
Em relação aos investimentos na economia, destaca
Keynes
que o nível de
atividade econômica depende do nível de investimento e vice-versa. Ou seja, o aumento
na demanda por bens e serviços irá gerar lucros mais elevados aos capitalistas, que
converterão sua poupança em investimentos.
34
Uma decisão de consumir ou não consumir está, certamente, ao
alcance do indivíduo, o mesmo sucedendo com uma decisão de
investir ou o investir. Os montantes da renda agregada e da
poupança agregada são resultados da livre escolha dos indivíduos
sobre se consumirão ou deixarão de consumir sobre se farão ou não
investimentos; porém, nenhum desses montantes logrará alcançar um
valor independente que resulte de um grupo separado de decisões
estranhas às que concernem ao consumo e ao investimento (
KEYNES
,
1982).
A propensão a investir é determinada pela taxa de juro da economia, pois esta
influencia o nível de investimentos que por sua vez determina o nível de emprego da
sociedade e pela eficiência marginal do capital. Em outras palavras o investimento vai
variar até aquele ponto da curva de demanda de investimento em que a efic
ncia
marginal do capital em geral é igual à taxa de juro do mercado
(K
EYNES
,
1982, p.
116).
Outro paradigma exposto por Keynes é o da intervenção estatal. O autor
acreditava que a intervenção econômica era necessária para manter o nível de emprego
e consequentemente de renda em momentos de crise econômica, através dos superávits
acumulados nos períodos de crescimento econômico.
Se tanto a despesa para consumo como a despesa para investimento
são no seu conjunto, insuficientes para assegurar uma renda de
pleno
emprego, e se, como é bem provável, não é possível aumentar pelas
duas partes despesa nacional porque, de um lado, o consumo está
intimamente ligado a uma certa estrutura não facilmente modificável,
pelo menos a curto prazo, da distribuição da renda, e, de outro, os
investimentos dependem de fatores também não modificáveis, como
são as possibilidades abertas pelo progresso tecnológico, então o
montante da despesa necessária para compensar a diferença entre a
renda do pleno emprego e a renda automaticamente gerada pelo
mercado deve ser obtido mediante um incremento da despesa pública.
Por seu intermédio, de fato, é confiado ao Estado a tarefa não
simplesmente de assegurar certos serviços, mas num sentido bem mais
35
imperativo, de assegurar um certo nível de renda nacional
(NAPOLEONI
, 1979,
p. 96)
Para Keynes o Estado deve intervir através de uma política monetária e fiscal
adequada de maneira a estimular o consumo e o investimento, elevando assim o nível de
emprego. O comércio internacional, seja de bens ou de serviços, apresenta a mesma
vantagem econômica que a realização de investimentos, em relação a elevação do
emprego, investindo, entretanto, na necessidade de manter a balança de pagam
entos
favorável. Esta é a base da criação do FMI
Fundo Monetário Internacional, em
Bretton Woods (1944).
A política que ele preconiza consiste em permanente controle
econômico por parte do Estado, implicando a organização dos
seguintes atribuições econômicas: 1)controle da moeda e do crédito;
2) aplicação de uma política tributária e de seguro social com fins
econômicos (fomento da propensão a consumir); 3) realização da
política de grandes obras públicas (estimulo ao investimento privado)
(HUGON, 1970, p.
429).
O estudo de Keynes foi parte importante da política de reconstrução dos Estados
Unidos. O Estado americano abandona a prática liberal e passa a intervir fortemente na
condução da política econômica, desde o controle da produção, do nível de preços,
empréstimos para empresários rurais e urbanos e aumento do níve
l de salários.
As idéias keynesianas acabam por influenciar grande parte das economias
capitalistas na condução de suas políticas como a Europa, no pós-
guerra,
que
fez do
Estado financiador de sua reconstrução. No Brasil, a prática de construção de gran
des
empresas estatais, os Planos de Desenvolvimento do governo militar são gerados a
partir da idéias keynesianas de desenvolvimento. Esta relação entre a teoria
36
desenvolvida por Keynes e a política brasileira será aprofundada no terceiro capítulo
deste trabalho.
De forma geral, o que se pode perceber na teoria keynesiana e de seus
contemporâneos é que a geração do valor não é mais tema principal de suas teorias.
Pois, a geração da renda se através do aumento da produção e do nível de emprego,
na ma
ximização
do uso da força de trabalho e das novas tecnologias, em
síntese,
do uso
dos fatores de produção.
Faz
-se necessário discutir a manutenção das condições de geração de renda,
através de um ambiente macroeconômico favorável ao investimento econômico
. É neste
sentido, que a teoria Keynesiana influenciou a condução das políticas econômicas de
muitas economias nacionais no século XX.
1.1
.6 Michal Kalecki: os investimentos capitalistas
Contemporâneo a Keynes, o economista Michael Kalecki (1899-1970), t
ambém
apresenta contribuições importantes para o estudo da economia capitalista sobre a
demanda efetiva e o nível de investimento e renda nas sociedades. No entanto, ele
enfoque maior
à
participação do consumo dos capitalistas, para o aumento da produçã
o.
[...]
Kalecki divide a economia nos seguintes setores: o departamento
I produz bens de investimento, o departamento II produz bens de
consumo para os capitalistas e o departamento III produz bens de
consumo para os trabalhadores (cada departamento não
produz
apenas os bens finais, mas também os bens intermediários que entram
na composição dos bens finais) (
MIGLIOLI,
1995,
p. 216).
37
Para Kalecki, a renda dos trabalhadores é utilizada apenas no consumo de bens
de primeira necessidade, o que ele chama de bens de consumo dos trabalhadores . Os
capitalistas
, por sua vez, consomem sua renda em bens de luxo, a fim de satisfazer suas
necessidades pessoais e destina outra parte a realização de novos investimentos
produtivos
. Para o autor, são eles que têm a capacidade de aumentar a produção de
uma
nação.
O consumo de massa é importante para a manutenção das condições de
desenvolvimento, mas é a renda capitalista responsável pelos investimentos que irão
aumentar a capacidade produtiva. Este comportamento rege as ações dos indivíduos
independente da forma como está renda foi gerada, ou seja, não importa a atividade,
mas sim
, o
excedente
gerado por ela
.
Na situação descrita pelo esquema de reprodução, a capacidade
produtiva da economia e a distribuição de renda entre salários e
lucros são dadas. Assim, temos que, dadas a capacidade produtiva e a
distribuição de renda em cada departamento, o lucro total dos
capitalistas é igual ao investimento mais o consumo dos capitalistas.
(
MIGLIOLI, 1995,
p. 220)
Assim sendo, o futuro das economias parte dos capitalistas, pois são eles que
fazem com que os lucros acumulados (poupanças) sejam equivalentes a novos
investimentos.
A reprodução ampliada não é um processo natural do capitalismo, mas depende
principalmente de certas prioridades do progresso técnico no sentido amplo, não sendo
desconsiderada a importância dos mercados externos. O progresso técnico expande as
possibilidades de investimento. Isto, no entanto, não é garantia de plena ocupação da
38
capacidade produtiva existente nem para manter o seu nível de ocupação. Para Kaleki
são necessários gastos públicos por déficits ou mesmo por impostos sobre os lucros.
O Estado tem um papel importante não só através dos gastos públicos que
servirão de estímulo ao consumo como também através da adoção de políticas
monetárias e fiscais adequadas, que não inibam os investidores. Isto deve ocorrer tanto
no setor de bens essenciais, como é o caso da agricultura, quanto em bens de
investimento.
Parece
-me que o problema central aqui é o de quem pagará pelo
desenvolvimento do país. Se persistirem as pressões inflacionárias
sobre as escassas ofertas de bens essenciais de consumo
especialmente alimentos -, são as massas da população amplamente
afetados pela pobreza que suportam o peso do alto investimento. Se
isso deve ser evitado, a taxa de crescimento da oferta de bens
essenciais de consumo deve seguir a taxa a taxa de crescimento da
renda nacional. E para abrir espaço ao investimento, o consumo de
não
-essenciais baseados nas mais altas rendas deve ser restringido
por uma política fiscal apropriada. Isto, entretanto, torna a taxa
não-inflacionária de crescimento dependente da situação agrária,
por que está determina em grande parte o progresso viável da
agricultura e, assim, da oferta de bens essenciais. O principal papel
de financiar o investimento é exercido, nesse contexto, pela
capacidade de produzir alimentos mais rapidamente. De qualquer
modo isso deve ser amparado por medidas financeiras no sentido
estrito, visando restringir o aumento do consumo de não-
essenciais.
(KALECKI,
1990, p.
128).
Tais colocações são importantes quando passamos a analisar o papel do Estado
enquanto financiador do processo de desenvolvimento agrícola. Em especial no Brasil,
que tem na agricultura umas das principais fontes geradoras de riqueza e com um
grande contingente de mão
-
de
-
obra assalariado.
39
1.
2
A
Formação da
R
enda
N
acional
A formação da renda nacional, que será apresentada a seguir, está baseada nos
princípios da Teoria Keynesiana, através do estudo dos agregados macroeconômicos
para a formação da renda nacional. Esta é formada por três agentes econômicos
distintos
: as famílias, as empresas e o governo, que interagem de forma a propiciar que
todos atendam as suas necessidades econômicas. Sendo qu
e,
a intensidade deste fluxo
determina
o crescimento econômico de uma nação.
Quanto maior for a intensidade do fluxo, maior esta sendo a
produção, a renda e o dispêndio da economia. Assim, um aumento do
fluxo indica crescimento econômico: maior produção, maior
emprego, maior renda, maior consumo. Uma redução do fluxo, ao
contrário, indica exatamente a situação oposta. Evidentemente, do
ponto de vista do país e da sociedade como um todo, é sempre
preferível a primeira
à
segunda situação. (
PAULANI, 2001,
p. 21)
Se analisarmos uma economia fechada, ou seja, sem a presença do governo,
teremos que a renda será determinada por:
Y = C + I
Y = renda
C = Consumo
I = Investimento
Nesta economia, o montante de bens produzidos para o consumo e o montante
de bens produzidos para o investimentos em bens de capital seria igual a renda gerada
nesta economia. (
PAULANI, 2001
).
Atualmente, a
informação
tem
contribuído
para que as trocas ocorram entre
países em fração de segundos. Por isso, não podemos desconsiderar a participação das
outras economias na formação da renda interna. Neste sentido, Keynes chegou a
40
seguinte equação, do Fluxo Circular da Renda, que representa a geração da
renda
nacional:
Y = C + I + G + (X
-
M)
Y = renda
C = Consumo
I = Investimento
G = Gastos do Governo
X = Exportação
M = Importação
As economias nacionais passam a formular suas políticas econômicas para
adequar tais elementos de forma a propiciar o aumento da renda e o conseqüente
crescimento econômico. A manutenção de uma balança comercial favorável, por
exemplo, é uma das metas macroeconômicas importantes de todos os países.
O funcionamento do fluxo da renda não ocorre de maneira automática e possui
vazamentos. Parte do dinheiro permanece entesourado em casa ou nos bancos, ou seja,
parte
da poupança não é emprestada e, portanto, não participa dos gastos. Desse modo, a
demanda efetiva tende a ficar aquém das possibilidades de produção da economia.
Ainda, o volume das importações e o pagamento de impostos que não são gastos,
também represen
tam problemas para o aumento da renda nacional.
Para que esses vazamentos sejam compensados, em caso de recessão,
é preciso que: a) os bancos elevem seus empréstimos para consumo e
investimento; b) as exportações sejam estimuladas; e c) o Governo
aumente
seus gastos. Maior fluxo de renda estimulará a demanda
agregada, retomando o caminho da prosperidade. (SOUZA, 1999, p.
57).
Quando se
estuda
a formação de renda dos países ou regiões a que se considerar
estes vazamentos, para que a exportação da renda para outros locais não acabe por
41
estagnar o crescimento econômico. Se o consumo, os investimentos e os gastos do
governo não forem satisfeitos no local, as exportações de bens e serviços serão
prejudicadas em detrimento das importações. Isto implica na redução da renda através
da queda no emprego dos fatores de produção.
Neste primeiro momento, esta é a maneira sucinta como trataremos da formação
da renda nacional, através da análise da evolução do pensamento econômico. No
entanto, mais adiante buscaremos est
udar o papel do setor primário nesta equação.
42
2. O PAPEL DA AGRICULTURA NA GERAÇÃO DE RENDA E NO
DESENVOLVIMENTO LOCAL
Para compreendermos o atual cenário da agricultura moderna, é fundamental,
conhecermos como se deu à evolução da agricultura ao longo da história e qual a sua
importância no desenvolvimento das economias capitalistas.
A teoria econômica
clássica
aponta ser o trabalho incorporado à produção o
elemento determinante do valor da mercadoria. No entanto, o progresso técnico fez com
que alguns produtores
conseguissem
produzir mercadorias com baixo custo através da
redução da mão-
de
-obra. O que implica, no novo cenário econômico não ser somente a
qu
antidade de trabalho incorporada na produção elemento determinante do valor. Isto
lev
ou
a exclus
ão de
trabalhadores
deste processo produtivo.
Para que isto não aconteça, algumas doutrinas (especialmente a keynesiana)
preceituam que o Estado deva intervir promovendo o acesso ao crédito e aos insumos,
permitindo que não haja exclusão e se mantenha o n
ível de emprego na atividade.
A adoção de políticas agrícolas é um dos elementos importantes para definir o
papel da agricultura na promoção do desenvolvimento dos países. Contudo, sabe-se que
43
este processo não ocorre de maneira uniforme. Desta forma, nos deteremos neste
capítulo a compreender historicamente o papel da agricultura na geração de renda e no
desenvolvimento das nações
.
2.1 A E
volução
da
A
gricultura
É difícil precisar o início das atividades agrícolas como fonte de subsistência. A
partir do momento que as populações deixam de ser mades e começam a se
estabelecer em aldeias, surge também a necessidade de cultivar alguns alimentos
próximo
à
s comunidades
,
através de
uma agricultura extremamente rudimentar.
Com
o estabelecimento do sistema f
eudal
surgem também algumas técnicas
novas de plantio, dentre as quais se destacam os sistemas de pousio e de rotação de
culturas. O pousio é uma forma de deixar a terra descansar para recuperar os
nutrientes necessários para a produção e a rotação de cu
ltura
te
m por objetivo evitar o
desgaste excessivo do solo, evitando-se de plantar a mesma cultura num mesmo solo
por longo tempo.
Este sistema foi muito bem desenvolvido para a época e permitia manter a
subsistência das famílias dos trabalhadores, dos senhores feudais e ainda a troca de
excedentes com outros feudos, sendo que todos os meios necessários à produção
provinham do local.
44
2.1.1 A Primeira Revolução Agrícola
Com o fim dos feudos e início da era mercantilista, do aumento das relações de
comérci
o e da acumulação de capital, a agricultura acaba sendo cada vez mais voltada
para a produção de excedente comercializável. Diante disso, o desenvolvimento de um
sistema de produção sem pousio - que permitia a exploração contínua do solo e
a
maior
produtiv
idade
,
a multiplicação das culturas e dos rebanhos, deu início,
n
o século XVI ao
XIX, à Primeira Revolução Agrícola. Ocorrida na Europa,
simultaneamente
à
Revolução Industrial, atingiu principalmente os Países Baixos, Inglaterra, França,
Alemanha, Suíça, Á
ustria, Boemia, Itália, Espanha e Portugal.
A primeira revolução agrícola foi, com efeito, um vasto movimento de
desenvolvimento que trouxe consigo uma duplicação da produção e
da produtividade agrícolas. E mesmo que a melhoria da alimentação
camponesa tenha absorvido uma parte dessas sementes, acontece que
cerca da metade da produção agrícola total podia constituir, de ora
em diante, um excedente comercializável. A revolução agrícola
apenas podia, por isso se desenvolver plenamente na condição desse
exced
ente encontrar efetivamente uma procura solvível adequada, que
proviesse de uma população não agrícola tão importante como a
própria produção agrícola (MAZOYER
e ROUDART
,
1998, p.
329).
A primeira revolução agrícola trouxe consigo a duplicação da produção e da
produtividade do trabalho agrícola. Permitindo uma melhoria na qualidade da
alimentação humana e também a geração de excedentes comercializáveis. Este último,
por sua vez, permitiria um desenvolvimento industrial e urbano sem precedentes,
fornecendo
os meios necessários para que a Revolução Industrial acontecesse. Ou seja,
a geração de renda adicional promovido pela Revolução Agrícola foi um importante
elemento para
alavanca
r
a Revolução Industrial.
45
Acompanha essa revolução nas técnicas de produção a
grícola um esforço teórico
de se atribuir à agricultura o papel primordial na geração de riqueza. Os economistas
fisiocratas, através de seus trabalhos, defendiam a melhoria das condições de trabalho
no campo, estimulando assim novos investimentos.
Neste
período da Primeira Revolução Agrícola, transformações contínuas são
registradas na agricultura. A utilização de novas máquinas e equipamentos como, por
exemplo, grades metálicas, semeadores, ceifeira, charrua de Brandant, charruas
metálicas
e trituradores, entre outros, permitiu reduzir a força de trabalho empregada na
atividade
, sendo
m
uita desta força deslocada para o provimento da industrialização.
A máquina a vapor como fonte de energia revoluciona o sistema de transportes,
possibilitando que a produç
ão
fosse
comercializada longe das propriedades agrícolas.
Isto fez com que as inovações tecnológicas se difundissem não na Europa como
também nos novos continentes.
As trocas internacionais aumentam significativamente e a tendência
foi
uma
queda acentu
ada no nível dos preços com reflexos na geração de renda. A primeira crise
de superprodução agrícola ocorre nos anos de 1890, devido às técnicas modernas de
produção que permitiram a um tempo reduzir a mão-
de
-obra empregada na
agricultura e aumentar a p
rodução a índices nunca antes registrados.
Neste sentido,
se
estabelece um patamar de capitalização e de renovação
necessário para que o produtor agrícola consiga realizar os investimentos necessários
para desenvolver suas propriedades. As pequenas explorações que não conseguem
46
atingir o patamar de renovação, com um baixo rendimento por trabalhador, acabam por
regredir e entrar em crise, pois a renda gerada não permite a renovação da atividade
.
Estas propriedades com o tempo acabam sendo vendidas e
/ou
incorporadas a
explorações em desenvolvimento (MAZOYER e ROUDART
, 1998
). As demais estão
em constante adaptação com o intuito de incorporar as novas técnicas.
Ainda neste cenário, os novos territórios descobertos pelos europeus
apresentam uma grande quantidade de terras férteis, que associadas às técnicas
produtivas desenvolvidas e às possibilidades de transporte, tanto marítimo quanto
terrestre, acabam se tornando concorrentes diretos dos produtores europeus.
Então os produtores agrícolas do ultramar, cujos preços não
cessavam de baixar, invadiram os mercados europeus: entre 1850 e
1900, as exportações de trigo dos Estados Unidos para a Europa
foram multiplicadas perto de quarenta vezes, passando de cerca de
cinco milhões de alqueires para 200, enquanto, ao mesmo tempo, o
preço do trigo importado baixava para mais da metade. As
importações de da Austrália, da África do Sul e da América do Sul
triplicaram e os preços desmoronaram, bem como os dos cereiais. A
partir de 1875, as técnicas de refrigeração permitiram também
importar quantidades crescentes de carne congelada de origem
americana, australiana e argentina (MAZOYER e ROUDART
,
1998,
p.
359).
Este processo irá durar até meados do século XX. As duas grandes guerras
mundiais (1914/18 e 1939/1945) ao mesmo tempo em que aqueceram a demanda por
alimentos no mundo
também
colocam em xeque o modelo agrícola adotado até então.
Tal situação será superada, na esteira do desenvolvimento tecnológico nascido na
Segunda Guerra Mundial, com a
eclosão
da Segunda Revol
ução Agrícola.
47
2.1.2 A Segunda Revolução Agrícola
A Segunda Revolução Agrícola, também conhecida como Revolução Verde foi
liderada pelo agrônomo Norman Bourlaug
10
. A mesma ocorre em meados do século
XX, incorporando as novas técnicas de produção, a motorização, a mecanização, a
quimiquização etc. Tais técnicas aperfeiçoadas permitiam o tratamento dos solos de
forma adequada a cada produto e a utilização de máquinas movidas a motor de
combustão que realizavam o trabalho em menor tempo e com o emprego de me
nor mão
-
de
-
obra.
Isentas da necessidade de se fornecerem a elas próprias em bens de
consumo variados e bens de produção essenciais (força de tração,
forragens, estrume, sementes, animais reprodutores, ferramentas
etc...), as explorações agrícolas especial
izaram
-se: abandonaram a
poliprodução vegetal e animal para consagrarem-se quase
exclusivamente a algumas produções destinadas à venda, as mais
vantajosas para elas, tendo em conta também os meios e as condições
de produção particulares próprias de cada exploração. Assim,
constitui
-se um vasto sistema agrário multirregional composto de
subsistemas regionais especializados complementares (regiões de
grandes culturas, regiões de ervagens e de criação de gado para leite
e para carne, regiões vitícolas, regiões leguminosas, frutíferas, etc).
Esse sistema intercala-se entre um conjunto de indústrias extrativas,
mecânicas e químicas situadas a montante da produção, e um
conjunto de indústrias e atividades a jusante que armazenam,
transformam e comercializam os seus produtos (MAZOYER e
ROUDART
,
1998, p.
366).
Esta condição implicou novamente na redução da força de trabalho empregada
na agricultura, na migração da população para os centros urbanos a fim de trabalharem
na indústria, no aumento da produção, na queda nos preços e na exclusão dos
agricultores que não conseguiram se adaptar a este sistema. A geração de renda continua
crescendo, porém,
de forma
mais concentrada.
10
Norman Bourlaug recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1970, sendo reconhecimento inte
rnacionalmente
por seu desempenho em programas de redução da fome, por meio da produção de alimentos.
48
No final do século XX e início do XXI, a biotecnologia assinala um novo ciclo
de crescimento para o sistema de alimentos e fibras. Os estudos de Joseph Schumpter
mostram que os negócios entram numa fase de transição pela via das inovações, através
de alterações no processo de produção, mudanças de mercados, diferenciações nas
matérias
-primas e modernos tipos de organização. É a chamada destruição criadora
que envolve o setor primário (PINAZZA e ARAÚJO
, 1993
). Neste contexto moderno
de produção e geração de renda, nasce
o conceito de agribusiness
11
.
2.
1
.3 Agronegócios: o novo conceito da agricultur
a
O conceito de
agribusiness
começou a ser enunciado pelos pesquisadores Joh
n
Davis e Ray Goldberg, em 1957. Para os autores,
agribusiness
é a soma das operações
de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas
unidades
agrícolas, do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos
agrícolas e itens produzidos a partir deles (DAVIS e GOLDBERG, apud BATALHA,
2001,
p. 27)
Este conceito cada vez mais presente nos estudos de economia agrícola e na
nova estruturação
de políticas públicas para os setores.
[...] desponta o fato de que a visão moderna que se deve ter da
agricultura ultrapassa o enfoque eminentemente de produção
prevalecente no passado, que se limitava às fronteiras internas da
unidade produtiva rural. Administradores públicos e privados
precisam agora ter em mente o conceito do agribusiness, por
incorporar a visão interativa das cadeias de alimentos, fibras e
11
Este termo em inglês é substituído no português para agronegócio.
49
biomassa, que é mais adequada para o entendimento da complexidade
do mundo econômico deste final de século. Dentro do enfoque do
agribusiness, é necessário entender o processo sistêmico de adição de
valor na cadeia produtiva que une as atividades a montante e a
jusante das fazendas (Araújo, 1993, p. 20).
Este conceito difundiu-se rapidamente. Após o processo de industrialização da
agricultura, não se pode mais pensar a agricultura como um conjunto de atividades
autônomas. Ao contrário, o desempenho de um setor interfere diretamente na produção
dos demais a ele interligado. Recentemente, verificou-
se
o caso da doença da
febre
aftosa
que afetou o mercado de carnes e de leite e derivados. Os produtores tiveram
que abater seus rebanhos e
demitir
funcionários de abatedouros, frigoríficos, laticínios.
A
inda
, houve efeito imediato sobre o nível de preços ao consumidor e para o mercado
exportador.
Atualmente, na produção de grãos, é muito comum os agricultores discutirem o
manejo sustentável do solo, preocupação está
muito esquecida em busca da
produtividade crescente.
Isto
é reflexo das exigências dos mercados consumidores, que
leva os produtores a se re
-
educar
em
para
se
manterem
competitivos.
Para o terceiro milênio, a Revolução Verde que está em curso é
sustentada por outros paradigmas. O desenvolvimento auto-
sustentável e o impacto ambiental das tecnologias são os pilares
básicos do novo modelo. A biotecnologia e a microeletrônica
constituir
-
se
-
ão os agentes impulsionadores (PINAZZA,
1993,
p. 29).
O rápido desenvolvimento de culturas geneticamente modificadas durante os
últimos quatro anos tem propiciado aos agricultores, reduzir seus custos de produção e
elevar os índices de produtividade. A soja transgênica é o produto com maior índice de
produção de sementes modificadas, no entanto a lista de produtos com alterações
50
genéticas é bem extensa, como por exemplo, o tomate, a soja, o milho, o trigo, a
moranga, a batata entre outros. Os produtos transgênicos, estão sendo utilizados
também na alimentação animal, com grande aceitação, fazendo com esses produtos se
disseminem pelo mercado.
O principal argumento para a sua utilização é de que não existem comprovações
técnicas a respeito dos efeitos, benéficos ou malé
fi
cos, provocados pelo consumo destes
produtos ao organismo humano. No entanto, para o produtor há uma significativa
redução dos custos de produção que levam a optar pelas sementes geneticamente
modificadas.
Os Estados Unidos são os maiores detentores das aplicações comerciais da
moderna biotecnologia. Em 1998, a área de cultivo de produtos geneticamente
modificados era de 27,8 milhões de hectares, dos quais 71% representavam culturas
alteradas quanto à característica de tolerância a herbicidas.
No
Brasil, a Lei 8.974, de janeiro de 1995, e o decreto 1.752/95 estabelecem as
regras para as atividades com engenharia genética
.
Até o ano de 2000, o Brasil tinha
testes liberados para a produção de sementes geneticamente modificadas de: algodão,
arroz, cana-
de
-açúcar, milho, soja, batata, fumo, melão e eucalipto (PINAZZA, 2001)
.
A comercialização da soja transgênica no país, porém, foi regulamentada em
dezembro de 2003
12
.
12
Lei N° 10.814, de 15 de dezembro de 2003
.
Estabelece normas para a comercialização d
a produção de
soja da safra de 2003 e dá outras providências
. Disponível em:
http://www.agricultura.gov.br/
51
No entanto, até mesmo as culturas modificadas geneticamente estão tendo que se
adaptar
as
novas
demandas do mercado consumidor. Estas demandas dizem respeito a:
padronização, certificação, rastreabilidade e a segurança do alimento. A padronização
é
um modo de reunir, filtrar e estocar informações sobre processos e produtos, de forma
que cada produto especí
fico, possa ser identificado pelo seu conjunto.
A busca pela certificação é uma tendência que se verifica em todos os ramos de
atividade produtiva, e se estende logicamente para a atividade primária. Se trata da
definição de atributos, processos ou serviços que se enquadram em normas
predeterminadas de qualidade. A rastreabilidade do produto permite a estreita ligação de
todas as etapas da cadeia agroalimentar, do agricultor ao produto final, possibilitando
traçar as etapas anteriores. E, principalmente, facilitando a certificação de produtos que
atendam o mercado consumidor.
A segurança do alimento, enfim, um dos elementos mais importantes deste novo
processo produtivo, está relacionado ao aumento da industrialização, urbanização, da
concorrência
e ao desenvolvimento de pesquisas. A qualidade
final
dos produtos é
avaliada em toda a cadeia produtiva, iniciando pelos insumos utilizados para a
produção. E este acaba sendo um fator importante na tomada de decisão dos
consumidores. Neste contexto, ainda espaço para o desenvolvimento de culturas que
atendam a nichos de mercado, que buscam na qualidade dos processos alimentos mais
seg
uros.
52
Este novo conceito de agricultura ligado diretamente
às
atividades dentro e fora
da porteira das propriedades tem exigido dos agricultores uma nova forma de pensar e
agir no campo, transformando est
as
em uma verdadeira empresa agrícola.
2.2 A
gri
cultura e
D
esenvolvimento
A função da agricultura no desenvolvimento econômico dos países vem sendo
amplamente discutida. Por se tratar de uma atividade econômica lucrativa e por
representar um papel importante na soberania dos países. A produção de alimentos é
fundamental para a manutenção de uma nação, a medida que garante alimentação e a
sua sobrevivência. No entanto, por tratar de produtos com baixo valor agregado, não é
capaz, por si só, de tornar uma nação rica.
Segundo AHUMADA
,
apud ARAUJO e SCHUH, 1975, existem algumas
características mais ou menos comuns que puderam ser quantificadas em diversos
países, dando uma idéia das profundas transformações que acompanham o
desenvolvimento: a) aumento da produtividade do trabalho; b) diminuição das
diferenç
as inter-setoriais de produtividade do trabalho; c) modificações estruturais na
produção e na renda; d) uso da força de trabalho; e) modificações na natureza
demográfica.
A
tualmente
, nos países desenvolvidos, menos de 10% da produção da economia
origina
-se da agricultura, enquanto que 30
50% é a sua participação típica nas nações
em desenvolvimento. Fato este que não significa que países desenvolvidos não tenham
53
produção agrícola. Ao contrário, os Estados Unidos são atualmente os maiores
produtores mundi
ais de soja, milho e outros produtos primários
(BALDWIN, 1979).
A agricultura teve, historicamente, um papel importante no desenvolvimento dos
países, servindo, inclusive, de suporte para o desenvolvimento da indústria e dos
serviços.
O grau de monetização e comercialização do conjunto das atividades
econômicas, o sistema de crédito, a repartição da renda, o tamanho
da família e a natureza das relações familiares, o grau de
urbanização e a forma dos aglomerados urbanos, a mobilidade social
e a forma de e
struturação do sistema de poder, enfim, tudo está ligado
ao regime de propriedade dos recursos naturais (terra e água) e à
forma de apropriação do excedente agrícola que não é consumida
diretamente nas unidades produtivas (
FURTADO
,
2000, p. 221).
Ocorre que acaba se criando uma distinção entre os países, em função de se
possuir sua base econômica mais voltada e dependente da agricultura. Sendo que este se
torna um critério de determinação de desenvolvimento dos países.
Até início dos anos de 1960, a agricultura vinha sendo vista, por
alguns economistas e formuladores de política econômica, como
elemento passivo e dependente de estímulos econômicos provenientes
do setor urbano-industrial e do setor público. Defendia-se a
discriminação total contra a agricultura, como meio de mobilizar
recursos para a
indústria
(S
OUZA
, 1999, p. 266)
.
Ocorre que os países que conseguiram atingir altos índices de produção agrícola
incorporaram novas tecnologias e aumentaram suas áreas cultiváveis, tornando-se mais
eficientes e auferindo o almejado crescimento econômico. Mas este processo foi
acompanhado, em muitos casos, de um condicionamento da produção agrícola à
indústria.
54
De um lado, a industrialização da agricultura, ao se caracterizar
como processo onde se tem gradual e contínua penetração do capital
industrial nas atividades produtivas do campo, está associada à
inserção da agricultura no circuito de produção industrial como
consumidora de insumos e maquinaria. Por outro lado, como a
agricultura, além de consumidora de insumos e maquinaria, também
se caracteriza como produtora de matérias-primas destinadas à
transformação industrial, o processo de industrialização da
agricultura também compreende o fornecimento desses insumos
agrícolas ao processamento e beneficiamento pela indústria
(P
EREIRA
,
1995, p. 21).
Com o aumento do capital empregado nas propriedades rurais há um aumento da
taxa de lucro dos proprietários da terra e uma redução dos preços dos produtos no
comércio. Sendo este um mercado concorrencial, onde os produtores rurais são
tomadores de preços, os mesmos não têm poder de
barganhá
-
los
. Assim, a manutenção
da atividade agrícola, mesmo lucrativa, exige uma adequação no processo produtivo.
Esta adequação, sendo dependente inicialmente do mercado, é seletiva e aca
ba
excluindo as pessoas da produção, mesmo em permanecendo um processo de constante
aumento de renda.
Neste sentido, o que se observa é que nem todos os proprietários rurais
conseguem se inserir neste novo padrão do processo produtivo. Aos que não incorpo
ram
tecnologias, reduzem custos e não apresentam produtos de boa qualidade à
concorrência, obtêm lucros cada vez menores. Segundo Pereira (1995, p. 24) a difusão
do progresso técnico processa-se de maneira distributiva desigual, contribuindo, dessa
maneir
a, dentre outros resultados, à ampliação da concentração de capital .
Esta distribuição desigual se dá, principalmente, pelo fato de que os insumos e as
tecnologias para a produção agrícola não são produzidos no mesmo local onde são
55
demandadas, ou seja, sempre a necessidade de importação de tecnologias, a custos
elevados e, conseqüentemente, uma saída de renda da região agrícola. Fato este que
dificulta o acesso de alguns produtores aos meios de produção modernos, reduzindo a
circulação de renda intern
amente, dificultando também a redistribuição de renda.
Em municípios agrícolas pequenos
13
, a parcela da riqueza gerada na produção
responsável pela redistribuição da renda é, em um primeiro momento, aquela destinada
ao consumo. Considera-se que os investimentos apresentam custos elevados e, em
grande parte, dependem de importações, como de maquinarias ou insumos para se
realizarem. Portanto, ocorrem em menor intensidade.
Esta elevação do consumo como principal fonte de distribuição de renda dá-
se
através
de uma fórmula simples, demonstrada pela Curva de Engels e aprofundada pelos
estudos de Keynes. Em linhas gerais, a Curva de Engels demonstra que, em um
primeiro momento, o aumento da renda é proporcional ao aumento dos bens de
consumo corrente (alimentos, roupas, calçados, entre outros). No entanto, dada a
satisfação das necessidades básicas, um segundo aumento da renda não apresentará o
mesmo efeito no consumo de bens correntes, optando-se por consumir bens de segunda
necessidade ou bens de luxo. Assim, num segundo momento a renda gerada localmente
tende a sair mais rapidamente do município, fato que tende a reduzir os investimentos
locais e o desenvolvimento.
O tempo e o montante de moeda em circulação em municípios dependentes da
agricultura familiar ou de médias propriedades rurais - baixa geração de renda - é
13
Consideram
-
se aqui, municípios pequenos como sendo aqueles que apresentam populações inferiores a
cem mil habitantes e que tenham na agricultura a
sua principal fonte de geração de riquezas.
56
reduzido em função das poucas possibilidades de consumo local. Por sua vez, os
municípios com grandes propriedades agrícolas, apresentam maior geração de riquezas
elevando o montante de moeda em c
irculação e, da mesma forma o tempo de circulação.
Porém, caso as necessidades não sejam supridas localmente, o índice de importação
torna
-
se muito elevado e o dinheiro acaba sendo gasto em outras regiões.
Em havendo a disponibilidade para o consumo, ou seja, demanda, retomam-
se
em um segundo momento os estudos de Keynes, sobre o que o autor convencionou
chamar de propensão a investir , que estuda a disponibilidade dos indivíduos em
realizar investimentos, aumentando a sua capacidade produtiva. Caso os agentes locais
não demonstrem interesse em reinvestir, a renda gerada na agricultura, no próprio
município, no longo prazo estes locais não ofertarão os bens e serviços para atender a
sua população.
Por outro lado, realizando os investimentos necessários para atender o consumo
local, estão criadas as condições essenciais para o desenvolvimento local. Não
esquecendo ainda que aumento dos investimentos gera elevação no índice de geração de
emprego e, posteriormente, de consumo.
Esta idéia de conjugar forças dos agentes locais com a finalidade de investir nas
localidades e torná-las um ambiente apto ao desenvolvimento ainda é recente. Os
estudos sobre desenvolvimento endógeno demonstram que há, neste momento, uma
necessidade do canalizar ações de políticas públicas e privadas para estimular o
processo de desenvolvimento local. Conforme destaca VÁZQUEZ BARQUERO (2001
,
p. 30) a difusão das inovações e do conhecimento, a organização flexível da produção,
57
o desenvolvimento urbano e o desenvolvimento das instituições geram mecanismos que
tornam mais eficientes o funcionamento do sistema produtivo .
A nova estratégia de desenvolvimento regional está baseada em uma
abordagem territorial do desenvolvimento. A história produtiva de
cada localidade, as características tecnológicas e institucionais do
milieu e os recursos locais condicionam o processo de crescimento.
Por tal razão, quando se trata de desenvolver uma localidade, é
necessário recorrer aos fatores endógenos ao território, sem abrir
mão dos fatores externos. De modo a aproveitar a cultura produtiva e
tecnológica e o savoir-faire local. O mais adequado parece ser a
adoção de uma estratégia progressiva de implementação dos ajustes
tecnológicos, organizacionais e institucionais indispensáveis.
(
VÁZQUEZ
B
ARQUERO,
2001, p. 208)
Desta forma, os projetos e as políticas para o desenvolvimento devem ser
orientados através das características locais. Sendo a agricultura a principal
característica de muitos municípios brasileiros, que se buscar desenvolver a cadeia
produtiva na região e agregar valor ao que é produzido. Este é o caso da cultura da soja,
que propiciou altos índices de renda para as regiões e que demanda novas ações para a
manutenção desta renda.
Afinal, em boa parte do mundo e do Brasil, o setor primário é o setor no qual
vive a maior parte das pessoas e onde a produtividade por pessoa é a mais baixa
(
BALDWIN, 1979
). Ora, o desafio é aumentar tal produtividade, pois tal aumento não é
apenas necessário para elevar simplesmente os padrões de vida, mas também para
fornecer o excedente agrícola requerido para financiar a atividade manufatureira que
dela depende.
É neste contexto que a agricultura brasileira se desenvolveu nos últimos 500
anos, tornando o país um dos principais produtores e exportadores de alimentos no
58
mundo, no início do século XXI. Todavia, os mesmos dilemas e desafios que perpassam
o setor primário mundial igualmente atingem a agricultura nacional. No entanto, o
avanço da modernização agrícola se regionalmente, há estágios diferentes de
enfrentamento dos desafios, segundo as regiões brasileiras, mesmo o processo produtivo
ocorrendo em termo
s
de produto
s
semelhante
s.
2.2.1 Distorções no Processo de Desenvolvimento da Agricultura
Assim como a Revolução Industrial é considerada a base do processo de
industrialização das economias nacionais, a
Primeira
Revolução
Agrícola
é o marco do
desenvolvimento das agriculturas modernas. Este processo se deu sob a necessidade de
aumento da produção para suprir o aumento do consumo mundial provocado pelo
aumento da população.
O aumento da produção agrícola mundial se deu através da mecanização das
propriedades, da intensificação do uso de produtos químicos
e
da tecnologia no campo
da
genétic
a
,
o que passou a ser denominado de agricultura convencion
al
. Este padrão
de desenvolvimento, não levou em consideração os prejuízos ambientais e sociais da
concentração de terras.
Desta forma, a Europa, berço do desenvolvimento agrícola, enfrenta graves
problemas pela contaminação dos solos, das águas e pela exclusão do homem do
campo. No Brasil, onde a adoção de práticas modernas de produção são mais recentes e
a extensão territorial explorada pela agricultura é maior os efeitos ainda não se
manifestam de maneira drástica.
59
O processo de desenvolvimento da agricultura brasileira repetiu o
padrão de modernização convencional espalhando os principais
impactos indesejáveis da moderna agricultura, como a destruição das
florestas, a erosão dos solos e a contaminação dos recursos naturais.
Apesar do crescente aumento da produtividade das lavouras,
promovido pela modernização, o que se viu, além dos impactos
ambientais, foi um aumento da concentração da posse de terras e de
riquezas e o êxodo rural em direção aos grandes centros (C
UNHA,
2006
).
A perspectiva de desenvolvimento sustentável anda na contramão de muitas
práticas dos agricultores no país. De um lado, a concentração fundiária se em função
da competitividade imposta a agricultura, que tem reduzido a margem de lucro dos
agricultores e obrigado muitos deles a buscarem alternativas mais rentáveis, mas nem
sempre mais corretas ou buscarem fora da atividade as condições sócio-
econômicas
para a
manutenção de suas famílias.
Por outro lado, a questão ambiental se torna cada dia mais presente nos debates
sobre desenvolvimento da agricultura. A degradação dos solos, o desmatamento tem
posto em xeque o atual modelo de crescimento econômico e o desenvolvimento das
gerações futuras. Isto tem feito aumentar as discussões sobre a agricultura sustentável.
Por agricultura sustentável entende-
se
, o resultado dos métodos alternativos que
utilizam a agricultura orgânica, a biodinâmica, o controle biológico e o natural, visando
o desenvolvimento de uma agricultura com o menor prejuízo possível ao meio ambiente
e a saúde humana
.
O conceito de agricultura sustentável ainda é mais um objetivo do que uma
prática. Para que a mesma tenha êxito será necessário à mudança de muitos paradigmas
60
na agricultura. No entanto, não se pode acreditar que as mudanças não ocorreram, haja
vista a mudança de comportamento dos consumidores estar influenciando o rumo das
inovações tecnológicas, consequentemente dos meios de produção.
61
3. A EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA NO BRASIL
A história da colonização e o desenvolvimento da atividade agrícola no Brasi
l
explicam muito das distorções regionais registradas na atualidade. Um país com área
geográfica um pouco superior a 8,5 milhões de Km², onde menos de um terço deste total é
destinado a atividade agrícola, desperta muito o interesse econômico. Foi o que ocorreu no
início do século XVI, quando este território passou a ser povoado. Toda esta extensão de terra
propiciou a instalação dos mais diversos sistemas produtivos, a começar pelo latifúndio.
No entanto, o modelo de exploração que se introduziu no Brasil foi uma tentativa de
retomar a nobreza instituída pela posse da terra, padrão este ultrapassado na Europa, mas
que vigorou durante praticamente mais três séculos até que o capitalismo, pujante se instalar
com vigor no Brasil. A partir de então a inicia
tiva privada, com fins de auferir lucros cada vez
mais elevados passa a realizar uma série de investimentos na modernização da agricultura. O
Estado se faz presente no desenvolvimento da agricultura, tutelando suas ações em
determinados eventos históricos. Este movimento se dá, sobretudo a partir do século XX e,
particularmente
,
a partir de 1930.
62
Desenvolve
-se assim um novo padrão agrícola, voltado para a exportação e
relativamente integrado às exigências externas, colocando o Brasil como um dos grandes
pr
odutores do setor primário. Dentro deste contexto, alguns locais e produtos se destacam.
3.1 A M
odernização da
A
gricultura no
B
rasil
De maneira geral
, para fins de análise, o desenvolvimento da
agricultura brasileira
será
dividido
em dois
grandes
períod
os
históricos. O primeiro compreendido entre a colonização
do território pelos portugueses e o final do século XIX, onde o sistema produtivo,
caracterizado pela produção voltada para o mercado externo, pelo atraso tecnológico e o
domínio dos grandes latifu
ndiários.
O segundo, a partir do século XX em que a agricultura
brasileira se defronta concorrência internacional, a necessidade de modernização das
propriedades, aumento da área plantada e da produtividade.
3.1.1 Do Período Colonial até o Fim do Século X
IX
A colonização do Brasil por Portugal ocorre no momento da degradação do regime
feudal e a ascensão do regime capitalista na Europa. No entanto, ao invés de transportar para a
colônia os elementos imperativos do sistema mercantil que se instalavam na Eu
ropa,
avançados em relação ao fortalecimento das idéias científicas e acadêmicas, fez com que a
colônia revive
-
se, em parte, o sistema feudal decadente em sua origem.
Enquanto o capital tornava-se elemento essencial das relações de troca na Europa, a
colô
nia portuguesa viveria em seu interior um sistema muito mais atrasado no que diz respeito
63
as relações econômicas e sociais, embora, o excedente gerado por sua produção tivesse fins
extremamente capitalistas na metrópole.
Cria
-se na colônia uma condição de transição entre o sistema feudal e o capitalismo.
Um pré-capitalismo, que ao mesmo tempo em que mantinha estruturas de produção próximas
ao sistema feudal, estava sujeito às leis de mercado para a comercialização de seus
excedentes.
Em suma, a condição colonial do monopólio feudal da terra acentua,
fortemente, os fatores regressivos, os elementos de atraso inerentes àquele.
Com isso queremos dizer que no latifundismo brasileiro são mais fortes
ainda os vínculos do tipo feudal, tais como as relações de domínio sobre as
coisas e sobre as pessoas, as interligações com as formas primitivas do
capital comercial, os quais acrescentam as particularidades da dependência
aos trustes internacionais (GUIMARÃES,
1977,
p. 37).
A divisão da posse da terra em sesmarias concedidas aos fidalgos portugueses por
critérios exclusivos da coroa, foi uma tentativa para salvar a agricultura portuguesa que se
encontrava em crise, pelo abandono do campo pelas famílias em detrimento das atividades
urbanas. A abundância de terras férteis nos novos domínios animou os proprietários e a coroa
portuguesa.
Os fidalgos que receberam as sesmarias teriam domínio absoluto de latifúndios
intermináveis, com vassalos e servos, a produzirem instrumentos de trabalho que
proporcionariam à seus senhores riqueza e poder. Neste sentido, estruturava-se não os
proprietários como também o Estado. Que, atribuindo-lhes direitos, deveres e tributos, tem
garantido na colônia sua relação de submissão.
Surge
, nas primeiras décadas do século XVI, o primeiro grande instrumento de
exploração agrícola na colônia: o açúcar como mercadoria de elevado potencial produtivo e
64
vasto mercado consumidor. As sesmarias encontram no açúcar seu destino econômico. Esta
cultura encontrou na colônia solo apropriado, grande quantidade de mão-
de
-obra escrava e
grandes extensões de terra para se desenvolver. Em pouco tempo, o Brasil se estabeleceria
como o maior exportador mundial de açúcar. Posição que não durou muito tempo, devido ao
atraso do sistema produtivo brasileiro.
O segundo instrumento de exploração agrícola se daria com a difusão da pecuária no
interior do país. Desta forma, destinar-
se
-ia à cultura açucareira a faixa litorânea e o restante
do território seria destinado à pecuária, aumentando também as fronteiras agrícolas. Criam-
se
de um lado os engenhos e de outro as grandes fazendas.
Entre os fazendeiros de gado, desde os primeiros tempos, predominavam os
proprietários de extensões intermináveis de terra, que eles mesmos não
podiam controlar. A propriedade pecuária, deste modo, seria forçada a
subdividir sua exploração, dando lugar, antes de qualquer outro tipo de
latifúndio, ao aparecimento do arrendatário (GUIMARÃES,
1977,
p. 69)
Na atividade pecuária começam a vigorar as primeiras relações de trabalho assalariado
na agricultura brasileira, sendo esta mais sujeita as subdivisões de seu território. Mesmo
sendo esta prática, a priori, condenada pela coroa portuguesa.
Eram três as formas de acesso a terra: a) arrendamento (considerado ilegal); b)
aquisição por compra (restrita a uma pequena minoria de senhores com capital); c) pela posse
de sesmarias. Somente com o fim do regime das sesmarias, em 1850 com a homologação da
Lei das Terras
14
,
é que o acesso a terra se dá de forma mais livre.
14
A Lei da Terra, nº. 601 de 18 de setembro de 1850, foi promulgada no Império do Brasil, como uma tentativa
de Consolidação do Estado Nacional, a medida que estabelecia normas de posse da terra entre os proprietários e
o governo.
65
Na época, as propriedades ag
rícolas detinham muito mais prestígio econômico e social
do que os esparsos centros urbanos que então se estruturavam na época, destinados às poucas
relações de comércio. Como a expansão da caça ao ouro , criou uma pequena população
burguesa, que valoriza
va
as relações mercantilistas, o que contribuiu em muito para que se
estabelecesse certo preconceito quanto às atividades urbanas.
A ocupação do território também representou a supremacia de algumas famílias. Na
região Nordeste instalam-se os grandes latifúndios, onde seus proprietários julgavam estar as
melhores terras para a produção. No Sul, estabeleceram-se as propriedades menores, onde o
proprietário rural não se separava da produção por depender economicamente da renda
agrária. Isto explica
,
o atraso produtivo da região Nordeste, onde os latifúndios tinham
resistência ao progresso, à penetração capitalista, ao povoamento, à expansão de modo geral.
No
Sudeste e
Sul
do país, o latifúndio somente chegou a ter a força econômica que
obteve no Norte/Nordeste a partir do século XIX, com o advento da cultura do café.
Introduzido no Brasil, no fim do século XVIII, a cultura apresentou boas condições
adaptativas aos solos brasileiros, espalhando
-
se inicialmente nas regiões de Minas Gerais, São
Paulo e Rio de J
aneiro.
Uma particularidade histórica da expansão do latifúndio cafeeiro é que ela
se processava na época em que, no mundo inteiro, estava em pleno
florescimento o capitalismo industrial. Se, por um lado, isso lhe havia
possibilitado a rápida penetração do seu produto num mercado mundial em
constante crescimento, assegurando-lhe a acumulação de vultosas riquezas,
por outro lado, abria-lhe os flancos às manobras baixistas dos trustes
internacionais recém-formados que o forçavam a melhorar a produtividade
a
fim de não reduzir suas altas margens de lucro. Internamente, o latifúndio
cafeeiro se tornaria mais e mais vulnerável à pressão dos elementos de
capitalismo que se formavam e não poderia resistir por muito tempo ao
imperativo de adaptar
-
se as novas condições (GUIMARÃES,
1977,
p. 81).
66
No inicio do século XIX, a produção cafeeira começava a superar economicamente
a produção açucareira. Sendo que ambas as culturas começam a registrar os ganhos do
progresso técnico. As condições propícias de acumulação de capital vão se criando neste
ambiente, que se torna propício à substituição da arcaica estrutura agrária para o crescimento
do capitalismo.
Começam também a se registrar os primeiros esforços de sistematizar e aplicar os
pressupostos da doutrina econômica no Brasil. O ponto de partida da influência clássica se
encontra na obra de José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu (1756-1835)
15
. É certa,
sobretudo, sua participação
de conseqüências econômicas e políticas decisivas
na abertura
dos portos brasileiros ao comércio internacional (1808) e, em particular, na sua aceitação e
aplicação (HUGON,
1970
).
Dentro da atividade cafeeira pode-se registrar o aparecimento de dois grupos distintos
de proprietários, que coexistiam no mesmo tempo histórico. O primeiro representa um grupo
de cafeicultores que possuía as grandes posses de terra e relembravam as relações técnicas,
econômicas e sociais do sistema feudal. O segundo grupo conseguiu adaptar seu sistema de
trabalho de tal forma que o fim do trabalho escravo, em 1888, nem abalou suas relações
econômicas.
O progresso, no entanto, não podia passar desapercebido aos olhos dos produtores. Era
uma série de modificações que começavam a ser processadas no seio das sociedades
coloniais. Afinal o registro na Europa, da primeira Revolução Agrícola levou ao
aperfeiçoamento técnico do sistema produtivo, forma encontrada para a inserção das relações
15
Nomeado professor da primeira Cadeira de Economia Política do Brasil, em 1808.
67
capitalistas no campo. Os produtores deveriam aprimorar suas técnicas produtivas para
atender as exigências do mercado consum
idor.
Paralelamente, o fim da escravidão abre espaço para a ascensão da mão-
de
-
obra
imigrante. Através de sistemas de parcerias (arrendamento) os imigrantes europeus, em sua
maioria, trabalham as terras e tinham participação nos lucros. Desta forma, o apa
recimento
das pequenas propriedades pode ser objetivamente relacionado à introdução destes imigrantes,
a partir de meados do século XIX. Com esses colonos vão sendo introduzidas novas culturas,
voltadas para o abastecimento do mercado interno.
Criou
-se também uma a grande massa de trabalhadores livres e miseráveis que
ficavam a margem do processo produtivo em vigor e buscaram na agricultura de subsistência
os elementos para reprodução social de suas famílias.
Consolidam
-
se
as iniciativas estimuladoras do capitalismo, como a implantação de
estradas de ferro, de telégrafos, de bancos etc. Grande parte, através dos
cafeicultores
que
são
os maiores detentores do poder político e econômico e mantêm uma relação estrita com o
Estado.
É quando a cultura cafeeira, moldada às novas condições criadas pelo
florescimento da Revolução Industrial, é abatida pelos efeitos da primeira crise de
superprodução, que a aquisição das pequenas propriedades é facilitada e os minifúndios se
difundem no país.
No Brasil, a estrutura fundiária é marcada historicamente pelo latifúndio,
desde a época da colonização. A terra não se tornou propriedade do homem
68
que trabalha na terra. Ao contrário, sempre foi utilizada como fator de
dominação
domínio econômico e político. Serviu de base do poder para
uns poucos senhores sobre milhares e milhões de escravos, parceiros,
meeiros, arrendatários e posseiros sem terra. Por outro lado, em virtude do
processo de colonização ou da presença marcante do latifúndio, se
originaram e se multiplicaram os minifúndios. Ainda hoje, a estrutura
agrária brasileira se caracteriza pela presença acentuada desses dois
elementos antieconômicos: o latifúndio e o minifúndio. O primeiro, por ser
pouco ou mal aproveitado; o segundo, por ter tamanho insuficiente
para
absorver toda a mão
-
de
-
obra a ele vinculada (BRUM,
1987,
p. 52).
O sistema de latifúndio está em crise neste período pela dificuldade apresentada em
acompanhar o progresso gradual, a evolução espontânea das sociedades e as mudanças
tecnológicas.
Assim, no final do século XIX a produção dos latifúndios vai perdendo sua
participação relativa nas exportações brasileiras.
3.1.2 Século XX: o amadurecimento do capitalismo agrícola
O século XX desponta com uma economia brasileira integrada ao siste
ma
capitalista, porém, atrasada. A economia nacional registrava ...a limitada, mas significativa
expansão do mercado interno, a passagem da manufatura para o sistema fabril, com a
introdução da máquina a vapor e do aperfeiçoamento da produção manufatureira e agrícola
(GUIMARÃES,
1977,
p. 168). Soma-se a estes elementos o alargamento das fronteiras
agrícolas e o aumento da produção agrícola nacional.
Contudo,
a produtividade das fazendas e nível de estoques de produtos agrícolas
vem
registrando índices cada vez mais altos, enquanto o preço dos produtos no mercado
internacional apresenta acentuadas quedas. Este conjunto de fatores leva à primeira crise de
superprodução.
69
O modelo Keynesiano, do Estado interventor que começa a florescer nos Estados
Unidos e na Europa no pós-guerra toma dimensões importantes no Brasil. Dominado por uma
pequena oligarquia, o Estado usa de seus meios para ser o grande conservador do modelo de
produção agrícola implantado no país.
Como os grandes proprietários de terra ainda detinham importantes influências
políticas, estes se aproximam do Estado para, através de sua intervenção, manter o nível de
preços. Inicialmente, o governo utilizou-se da desvalorização cambial como forma de
estimular as exportações. Registra-se que havia chegando ao fim a Primeira Guerra
Mundial e os países buscavam, internamente, reconstruir suas economias, em especial a
produção de alimentos.
A crise de 1929 provoca uma grande
tensão
nas diversas economias internacionais,
alterando profundamente o quadro econômico internacional, no que diz respeito ao comércio
exterior
, com repercussões nos países exportadores de alimentos. Esta reorientação do
mercado internacional, para o Brasil serviu
como
estí
mul
o ao desenvolvimento da indústria
nacional.
No tocante a produção cafeeira, o governo passa a intervir de maneira mais incisiva,
para a manutenção dos preços do café, a compra de produtos e a manutenção de estoques.
Política esta que durou até a década de 1930.
No Brasil, portanto, foi extremamente benéfico que o governo encontrasse
uma fórmula tão fácil e simples de realizar investimentos improdutivos em
uma hora de crise, como a de comprar os excedentes de café. Não importa
que o governo, ao fazê-lo, não tivesse a intenção de manter o nível da
procura agregada nacional, mas simplesmente a de tomar uma medida em
defesa da cafeicultura ameaçada de colapso. A Teoria Geral do Emprego,
do Juro e da Moeda ainda não havia sido escrita. Por acaso, todavia, o
governo brasileiro seguiu a política de Keynes permitindo que o nível da
70
procura fosse mantido durante a depressão econômica. (PEREIRA, 1983, p.
38).
Após acumular elevados níveis de estoque de café o governo decide, criar o Conselho
Nacional do Café, estabelecendo a princípio a elevação dos impostos a exportação, sendo que
o recurso obtido com os impostos seria revertido para a compra de produto e aumento dos
estoques. Até o momento em que através de uma medida extremamente protecionista, o
governo queima seus estoques para evitar uma queda ainda mais acentuada nos preços do
principal produto da balança comercial brasileira.
Afinal, os latifúndios cafeeiros ainda representavam parte expressiva da produção
nacional, porém, muitos deles decadentes. No Nordeste, com a queda acentuada na
exportação de açúcar e os baixos preços do café, deixaram uma população empobrecida e
dependente do assistencialismo do Estado.
Neste contexto, de 1930 a 1950 foram à diversificação da produção e o aumento do
mercado interno os principais responsáveis pela manutenção do nível d
e crescimento agrícola.
Neste momento, os recursos capitalistas estavam mais voltados para a indústria nascente do
país. Houve, neste período, uma grande migração da população da zona rural para o espaço
urbano, em busca dos novos empregos que surgiam. Juntamente com o fortalecimento da
indústria, o Estado buscou mecanismos de aumento da produção através da internalização de
fábricas especializadas em máquinas e insumos agrícolas.
Entre a década de 1940 e meados de 1950, as grandes corporações internaciona
is
começaram a implantar diversos campos experimentais de produção de sementes, pelos países
com potencial agrícola. A substituição da agricultura tradicional por uma agricultura moderna
71
representaria a abertura de importantes negociações comerciais com os países
subdesenvolvidos. Ou seja, a Revolução Verde se instala em países como o Brasil.
Embora o café ainda constituísse elemento fundamental das exportações brasileiras e a
política cafeeira ser central na formulação de políticas econômicas está já não é mais o
centro dinâmico da economia brasileira. No período de 1925/1929 o café representava 48%
do valor da produção agrícola nacional, passando a representar no período de 1939/1943, uma
década depois, apenas 16,1%. Enquanto isso, produtos como o algodão e o milho que
representavam, respectivamente 21,6% e 16% do valor da produção entre 1925/1929, elevam
esses percentuais para 59% e 16,3% no período de 1939/1943, a
mbos
estimulados pelo
mercado
interno e pela indústria nascen
te.
A partir da década de 1950, portanto, tem início o processo de modernização da
agricultura brasileira. Este termo, bastante amplo, foi utilizado para designar uma série de
transformações capitalistas ocorridas a partir da introdução de máquinas e fertilizantes no
processo produtivo.
Entre 1950 e
19
60, o acréscimo das áreas agricultáveis foi elemento representativo no
crescimento agrícola, que associado à expansão da rede de transporte e ao aumento no número
de veículos no país, permitiu a ampliação das fronteiras agrícolas. A partir desta época a
aquisição de máquinas e insumos modernos
torna
-
se
significativo no meio rural brasileiro,
particularmente na região
Sul
do país
onde o processo
se inicia.
Na década de 1970, a agricultura deixa de ser estudada por seus complexos rurais
e
passa a ser vista a partir de Complexos Agroindustriais - CAIs . Isto representa a passagem
72
de uma agricultura estritamente voltada para a produção de alimentos e fibras para uma
integração agricultura-indústria, onde a indústria fornece os elementos necessários à produção
e a agricultura fornece matéria-prima para a industrialização. Intensifica-se desta forma o
processo de divisão do trabalho, inicialmente discutido por Smith.
São, portanto, dois processos: um de destruição da economia natural, pela
retirada progressiva dos vários componentes que asseguram a harmonia
da produção assentada na relação Homem-Natureza (e suas contradições);
e o outro, de uma nova síntese, de recomposição de uma outra harmonia
também permeada por novas contradições
baseada no conhecimento e
controle cada vez maior da natureza e na possibilidade da reprodução
artificial das condições naturais de proteção agrícola. A esta passagem se
denomina industrialização da agricultura (
SILVA
,
1996
,
p. 3
).
Os complexos industriais tem como ponto de partida determinada matéria-prima de
base (BATALHA,
2001,
p. 34) e em função dela se estrutura diversas indústria com a
intenção de gerar uma série de transformações dos produtos. A industrialização permitiu esse
avanço.
Enquanto o Estado brasileiro se volta para estimular a industrialização e a
modernização agrícola, na Europa e nos demais países desenvolvidos, após a crise de
superprodução, começam a se acelerar os movimentos de proteção estatal de seus produtos
agrícolas. Assim, enquanto os ganhos das exportações agrícolas dos países subdesenvolvidos
são financiados pelo aumento da produtividade, com certo apoio estatal, porém largamente
insuficientes
, nos países desenvolvidos tais ganhos, calcados na tecnologia, somente
são
possív
eis com os subsídios e protecionismos estatais.
A década de 1970 também é marcada por duas crises do petróleo (1973-1979) onde os
preços dos barris de petróleo quadruplicaram, passando de US$ 3,00 para US$ 12,00,
afetando de modo geral todo o comércio internacional e de maneira específica toda a
73
economia brasileira a medida que os investimentos internacionais e o fluxo de capital se reduz
Com a recessão do crédito internacional e a pressão inflacionária no país, a produção agrícola
torna
-se um mecanismo de controle de preços. No entanto, o período que se segue, a década
de 1980, considerada a Década Perdida para alguns economistas, não traz grandes
modificações para a agricultura nacional, o que se observa são os reflexos da
modernização
sobre a produção. Todavia, a agricultura nacional irá sofrer ainda mais diante das pressões
internacional da década de 1990.
Três
eventos
importantes
marcam este período. O primeiro é o processo cada vez
maior de abertura das economias nacionais a outros mercados. Há um
esforço geral no sentido
de aumentar o comércio entre os países ao mesmo tempo em que pretende reduzir a
intervenção estatal nesta relação. È o chamado liberalismo econômico. A Organização
Mundial do Comércio
OMC é a grande gestora de processo, onde através de acordos entre
os países busca reduzir as tarifas do comércio e baixar os preços dos produtos no mercado
internacional.
A agricultura brasileira patrocinada em grande parte pela iniciativa privada se
obrigada a competir com outros países que apesar de não possuírem tarifas incidentes
diretamente sobre os produtos ainda subsidiam indiretamente grande parte do setor primário.
O segundo é a formação do bloco econômico do Mercado Comum do Sul
MERCOSUL,
em 1991,
onde
o
Brasil
juntamente com a
Argenti
na,
o
Paraguai e
o
Uruguai
assinaram um acordo de comércio onde deixaram 95% dos produtos comercializados entre os
países livres de tarifas. Os demais produtos teriam suas tarifas extintas ao ano de 2000.
Ainda, criaram uma Tarifa Externa Comum (TEC) para comercialização de produtos
com
outros países não pertencentes ao bloco. No contexto geral, o Brasil conquistou muitos
mercados nos países vizinhos, porém, para a agricultura, e alguns produtos em particular
74
como é o caso do trigo, foi posta em xeque à medida que estes países possuem uma forte
vocação agrícola.
Por fim, o terceiro evento que se deve considerar é a implantação do Plano Real, em
1994, trouxe consigo uma nova política cambial de paridade da moeda brasileira com a moeda
estadunidense. A adoção desta política traz dois reflexos sobre a agricultura brasileira. De um
lado, permite a incorporação de novas tecnologias importadas que se tornam mais acessíveis
aos produtores nacionais e, de outro lado, torna os produtos agrícolas brasileiros menos
competitivos no mercado internacional
.
Ainda a falta de recursos estatais e a mudança das prioridades, num contexto cada vez
maior de abertura comercial, levou o Estado brasileiro a retirar paulatinamente
seu
apoio a
agricultura
.
Neste contexto, a agricultura brasileira vai sendo moldando para atender as novas
exigências do mercado externo e ser cada vez mais independente do apoio estatal. Buscando
mecanismos de inserção no novo cenário do agronegócio mundial, onde a produção de
alimentos
não é mais regulada somente pelo preço e pela quantidade, mas também pela
qualidade e rastreabilidade
de sua produção.
3.
2
A
s P
olíticas
A
grícolas
B
rasileiras
As políticas agrícolas representam um conjunto de ações econômicas voltadas para o
setor primário que visam a ampliação da produção de alimentos através da concessão de
75
créditos, subsídios, seguros entre outros. Ao contrário das políticas agrárias, estas não m o
objetivo de modificar a estrutura social existente no meio rural.
As políticas públicas para agricultura no Brasil são marcadas, historicamente, pela
concessão do Crédito Rural. Este instrumento de política estatal sofreu diversas modificações
quanto a sua magnitude e objetivos, mas representa o principal instrumento de apoio, utilizado
pelo Governo
bras
ileiro,
desde 1937. Somente a partir de 1965, ele se institucionaliza com a
aprovação da lei dos depósitos compulsórios das instituições bancárias junto ao Banco
Central,
pois
até então não se possui um orçamento específico para este auxílio agrícola,
send
o a destinação dos recursos totalmente inconstantes.
Na mesma época, são criados os três primeiros programas de crédito considerados um
marco da política agrícola do país, são eles: o FUNAGRI
Fundo Nacional da Agricultura;
SNCR
Sistema Nacional de Crédito Rural; e, FUNDECE
Fundo de Democratização do
Capital das Empresas.
O modelo adotado em 1965
foi
de Crédito Rural Supervisionado, no qual a
propriedade era assistida como um todo em suas necessidades. Este modelo não sobreviveu
muito tempo e, em 1968, o governo altera este padrão para o sistema de Crédito Rural
Orientado, destinado para uma atividade agrícola específica que demonstrasse através de
projetos de viabilidade a sua rentabilidade financeira. Esta alteração reflete o modelo agrícola
capital
ista de propriedades especializadas na produção de um produto. Isto, na esteira do
desenvolvimento da teoria keynesiana que prega a intervenção estatal para o desenvolvimento
das economias.
76
O Crédito Rural foi o único instrumento de política agrícola até o final de cada de
1970. Ao final desta década, o cenário econômico internacional contribui para uma
reorientação da política agrícola nacional. De um lado, o aumento do preço do combustível
(crises do petróleo) eleva os custos de produção e as necessidades de crédito, de outro lado, a
inflação galopante reduz o nível de atividade econômica e conseqüentemente a
movimentação bancária e os depósitos compulsórios. Destes depósitos o montante destinado a
concessão de crédito também se reduz.
Os créditos, até o início dos anos de 1980, eram concedidos a taxas de juros
nominais fixas e baixas, em um contexto de inflação alta e crescente,
implicava em taxas de juros negativas, ou seja, um enorme subsídio ao
setor. Tal política foi modificada no início da década de 1980, através da
indexação dos contratos; além disso, os próprios recursos destinados ao
crédito agrícola se retraíram no período. Os bancos comerciais também
eram obrigados a utilizar parte dos recursos captados em depósitos da vista
para emprestar aos agricultores seguindo as regras do sistema. O principal
agente do sistema era o Banco do Brasil e a fonte básica de recursos era o
Orçamento Monetário do governo. Na verdade o Banco do Brasil usava da
chamada Conta-Movimento para sacar recursos, do go
verno
(GREMAUD,
SAES e TOLETO,
1997,
p. 119).
No início da década de 1980 o governo passa a adotar a chamada PGPM
Política de
Garantia de Preços Mínimos, através da formação de estoques reguladores. Criado
para
reduzir os custos estatais com as políticas agrícolas, a política de preços mínimos tinha por
objetivo minimizar os efeitos da oscilação de preços e conter a pressão inflacionária.
Nesta
década a agricultura nacional fechou-se para o mercado internacional, principalmente as
importações.
A abertura ao comércio exterior e a adoção de um modelo liberal, na década de 1990,
que pregava a não intervenção estatal na economia, associada à falta de recursos do governo
para a manutenção de políticas agrícolas, fez com que a PGPM não fosse mais utilizada
,
apesar de continuar existindo no papel. A assinatura de acordos comerciais importantes como
77
o MERCOSUL, com o fim gradativo das taxas de importação, representou um choque para a
agricultura nacional que até então não tinha enfrentado uma concorrência tão forte. Ainda, o
Plano Real implantado em 1994, estabilizou o mbio brasileiro com a moeda estadunidense
tornando menos competitivo
S
os produtos brasileiros no mercado externo.
O crédito agrícola, distribuído em vários programas
16
, voltou a figurar como
instrumento de política econômica a fim de amenizar um pouco os efeitos deste processo. No
entanto, os produtores descapitalizados não conseguiram mais cumprir com os contratos e
tornaram
-se inadimplentes com o governo. O Estado renegociou estas dívidas, o conhecido
processo de securitização, dando aos produtores um prazo de 6 a 10 anos para que os mesmos
liquidassem suas dívidas, porém, o acesso ao crédito é dificultado.
Atualmente, com a ampliação do agronegócio brasileiro, muitos produtores estão
busca
ndo junto à iniciativa privada de indústria e grandes empresas que comercializam
produtos agropecuários formas alternativas de financiamento, como os programas de troca-
troca (insumo x produto), venda antecipada, mercados de opções, adiantamento de contrat
os
entre outros. Como forma de manterem
-
se na atividade agrícola.
3.
3
A A
bertura de
N
ovas
F
ronteiras
A
grícolas
A economia brasileira se desenvolveu basicamente no litoral do país, voltada para a
exportação de produtos primários. Porém, com a construção de Brasília durante a década de
1950 e a construção de algumas capitais no interior do país, a região dos cerrados começa a
16
Crédito de Custeio; Crédito de Pecuária; Custeio de Comercialização; EGF (Empréstimos do Governo
Federal); AGF (Aquisição do Governo Federal) PROAGRO; Cr
édito de Investimentos, entre outros.
78
ganhar novas estruturas sociais e econômicas, dando lugar a urbanização e a produção
agrícola.
O
plano de ocupação dos cerrados começa a ser estimulado por Getúlio Vargas, em
1930, através da conhecida Marcha para Oeste , que na prática não teve muitos efeitos,
apenas contribuindo para o surgimento de algumas colônias. O regime militar, por sua vez,
institui políticas objetivas de ocupação dos cerrados. O PRODECER (Programa de
Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento dos Cerrados, 1976) foi um dos
primeiros programas adotados, resultado do acordo firmado entre os governos brasileiro e
japonês. Com o objetivo de ocupar as extensas áreas dos Cerrados, aumentando a oferta
mundial de alimentos através de uma agricultura racional criando grandes unidades
agrícolas de caráter empresarial e implantando tecnologias modernas (
FOCKINK
, 2006
).
Após o PRODECER outros programas foram implantados sem que atingissem os
efeitos esperados em relação ao crescimento da região. Até a adoção do
POLOCENTRO
(Programa de Desenvolvimento dos Cerrados), instituído pelo Decreto 75320 de 29 de
janeiro de 1975, foi o maior programa de ocupação dos Ce
rrados.
Criado dentro da estratégia de desenvolvimento do II PND (Programa
Nacional de Desenvolvimento), o POLOCENTRO teve como uma de suas
metas, a ocupação racional e ordenada dos Cerrados, substituindo
atividades primitivas que estariam impedindo a diversificação das culturas
por técnicas modernas. A implantação de rodovias, instalação de linhas de
transmissão de energia elétrica, armazéns e toda a infra-estrutura favorável
ao desenvolvimento do capital estavam presentes no programa (
FOCKINK,
2006
).
Agricultores que migraram para a região do cerrado, em sua maioria, vieram da
Região Sul do Brasil. Segundo Delgado (1985, p, 22): realizou migração rural-rural em
direção aos Estados de fronteira agrícola (Amazonas, Pará, Rondônia, Acre e Mato Grosso) .
79
Através dos planos governamentais e privados, temos o cenário atual de muitas áreas de
Cerrados.
Segundo estudo realizado por BRUM (2002), sobre o desenvolvimento da cultura da
soja no Estado do Rio Grande do Sul, sua primeira constatação é a relativa concentração das
propriedades agrícolas.
Nos anos de 1970 havia 67,8% das propriedades com até 50 hectares e
17,8% de propriedades com área superior a 100 hectares (...) na última
década do século XX as propriedades com até 50 hectares haviam recuado
para 54,9% do total enquanto as propriedades maiores (acima de 100
hectares) alcançavam 32,1% do total (BRUM,
2002,
p. 95).
A região dos Cerrados brasileiros se inseriu no mercado mundial através de
commodities
com a produção de grãos, destacando a produção da
soja
. Assim, a
economia
brasileira que se internacionalizou nos últimos 30 anos, passou a requer da agricultura
o
aumento d
a
área plantada e a elevação das taxas de produtividade. Para que isso fosse
possível, transformações nas relações de produção e de trabalho ocorreram. O trabalho
assalariado
(bóia-fria) expandiu-se por todo o país, ao mesmo tempo em que aumentou a
produtividade
do trabalho familiar decorrente do avanço tecnológico (OLIVEIRA,
2001
).
Estimulado pelos incentivos financeiros públicos e privados para a ocupação do
Centro
-Oeste, o Estado do Mato Grosso, apresentou a partir da década de 1970 um surto de
crescimento, impulsionado pela agricultura e pecuária.
O Estado de Mato Grosso ocupou posição privilegiada nesse processo, pois
foi contem
pl
ado com recursos de todos esses programas governamentais.
Por isso, constituiu-se em área preferencial para a implantação de projetos
de colonização privada no país. Calcula-se que mais de 90% dos projetos
particulares de colonização
estão no estado (
OLIVE
IRA,
2001,
p. 144).
80
Neste contexto surgem cidades como Sorriso, Lucas do Rio Verde, Campo Novo dos
Parecis, Primavera do Leste, municípios do Estado de Mato Grosso, que encontram através
dos produtores sulistas seu desenvolvimento na agricultura.
A
tu
alm
ente, o eixo da fronteira agrícola desloca-se para os Estados do Pará,
Tocantins, Maranhão e Rondônia, onde o custo da terra é mais barato. A pecuária se torna
a
principal atividade desenvolvida
nestas regiões.
3.4 A
Cultura
da Soja na Modernização da Agricultura e na
Expansão
das Fronteiras
Agrícolas
As transformações tecnológicas, o aumento da renda da população e a variedade na
oferta de produtos geraram o estabelecimento de um novo padrão de consumo,
principalmente
em relação aos alimentos e vestuário
.
Adaptando
-se as novas demandas
o
setor agrícola
passou por uma reestruturação no seu processo de produção a partir da década de 1950 e
desde então vem atingindo níveis de produção cada vez maiores.
Neste contexto, dirigi-se atenção ao comportamento da cultura da soja como um dos
produtos agrícolas de grande expansão mundial. A soja é o quarto grão mais cultivado no
mundo, atrás do milho, trigo e arroz, sendo a oleaginosa mais cultivada no mundo
(B
ISOTTO
& F
ARIAS
, 2002). Segundo Brum (2002), este aumento do consumo acontece
devido
a
uma mudança de comportamento e
de
estrutura de comercialização, que deve ser
analisada quando se trata da evolução no comércio mundial da soja:
81
A partir dos anos de 1940 e em especial após a Segunda Guerra Mundial,
encerrad
a em 1945, ocorrem mudanças profundas na economia mundial da
soja e das demais oleaginosas. Os EUA avançam ainda mais na produção,
se constituindo o maior produtor mundial de soja, e passam a exportar o
seu modelo agroalimentar para o mundo. O mesmo dará origem a
Revolução Verde que, por sua vez, irá provocar o processo de modernização
da agricultura (...). O surgimento do Mercado Comum Europeu (rebatizado
posteriormente de Comunidade Econômica Européia e atualmente inserido
na União Européia) estimulou a adoção de um modelo agroalimentar norte-
americano, pelo qual a nutrição animal devia se concentrar nos cereais
como fonte de energia e nas oleaginosas, em especial a soja, como fonte de
proteína nas rações. A então CEE passou a ser um forte importador mun
dial
de grãos e farelo de soja. Com isto, acordos internacionais bilaterais se
desenvolvem ao mesmo tempo que um processo protecionista junto à
agropecuária se solidifica. O mercado estabelece então uma dinâmica
Norte
-
Norte. Este processo acaba durando até
o início dos anos de 1970. No
final desta fase, o Brasil passa a desenvolver de forma conseqüente a
produção de soja, estimulado pela demanda internacional (leia-se CEE,
URSS e Japão).
Atualmente, os Estados Unidos é o país que detém a maior produção no contexto
mundial, sua produção representou, na safra 2004, 59,7 % do total da produção de soja. O
Brasil é o segundo maior produtor respondendo, no mesmo período, por 34,1% da produção
mundial. A Argentina, por sua vez, ultrapassou a produção chinesa, em 1998, e a partir de
então é o terceiro produtor mundial de soja com uma participação de 22,15%, em 2004.
Através dos dados da tabela a seguir verifica-se ainda que aproximadamente 81,7 % da
produção mundial, em 2004,
concentram
-
se
em apenas quatro países: Estados Unidos, Brasil,
Argentina e China.
Tabela 1: Evolução da produção de soja em países selecionados, em mil toneladas.
País
1999
2000
2001
2002
2003
2004
EUA
72.223.000
75.055.288
78.671.472
74.824.768
6.677.782
85.740.952
Brasil
30.987.476
32.734.
958
37.881.340
42.124.892
51.482.300
49.205.268
Argentina
20.000.000
20.200.000
26.864.000
30.180.000
34.800.000
32.000.000
China
14.245.352
15.411.495
15.407.328
16.507.368
15.658.341
1.775.034
União Européia*
1.197.305
1.149.043
1.250.474
816.407
618.
195
681.200
Mundo
157.802.265161.405.464
176.761.491
180.909.511189.213.383206.409.525
Part. dos países
no total
87,11%
88,85%
89,85%
90,45%
89,17%
81,74%
* 15 países.
Fonte: FAO
, 2006
82
No Brasil, a soja se tornou a principal cultura agrícola produzida no país. Pelo lado da
oferta, a mecanização da agricultura e os insumos modernos possibilitaram o aumento da
produção e, pelo lado da demanda, o aumento do consumo, tanto para ração animal quanto
para a alimentação humana, forneceram as condições adequadas à expansão da cultura no
país.
A fase de grande expansão da soja coincidiu com o aprofundamento da
internacionalização da economia brasileira. Nessa fase se define com mais
clareza o atual modelo econômico brasileiro. A nossa economia se integ
ra
mais ao capitalismo internacional. O país experimentou um período de
rápido crescimento econômico, fase esta conhecida como milagre
brasileiro (BRUM, 1987, p. 78).
O interesse do governo brasileiro pela expansão na produção da soja fez com que a
cult
ura recebesse
vultosos
incentivos oficiais. Neste sentido, para atender às exigências de
produção da soja foi criado, o Centro Nacional de Pesquisa de Soja, como uma das unidades
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Pois aentão, toda a produção
brasileira de soja era realizada com cultivares e técnicas importadas, o que faziam com que a
soja só produzia bem, em escala comercial, nos estados do Sul.
A principal incumbência da Embrapa
Soja, era conquistar a independência
tecnológica
para a produção brasileira. A crescente demanda pela oleaginosa dos mercados,
interno e externo, deu estabilidade aos preços do produto no mercado, o que incentivou o
aumento de área plantada
.
Assim, os pesquisadores passam a criar as primeiras cultivares
brasileiras que permiti
ram
que a expansão da produção de soja em regiões tropicais
(Cerrados), onde antes a planta não se desenvolvia.
83
Para Brum (2002), a produção de soja está relacionada diretamente com o processo de
desenvolvimento da agricultura, sendo pioneira na modernização da agricultura brasileira e
responsável por impulsionar o setor nos novos modelos de gestão do agronegócio. A abertura
comercial intensificada na década de 1990 e o fortalecimento de instituições como a
Organização Mundial do Comércio (OMC) garantiram a ampliação das relações
internacionais par
a a comercialização do produto.
A economia da soja assumiu um papel de extrema importância no cenário
agrícola brasileiro ao influir nas discussões sobre pesquisa, tecnologia,
agroindústr
ia, cadeias produtivas e infra-estrutura. Em virtude disso, ela
pode ser confundida com o próprio processo de modernização da
agricultura brasileira, justamente por sua expansão responsável por um
sem
-número de novos processos que foram se desenvolvendo (Brum, 2002,
p. 53).
Atualmente, a soja destaca-se como principal produto da pauta de exportações
brasileiras.
Segundo Ministério da Agricultura, em 2004, o
complexo
representou 29,75% do
saldo da balança comercial. A soja em grãos é o produto mais exportado pelo Brasil, dentro
de um complexo de produtos originários da soja.
Brum (2002) destaca que uma redefinição nas características de produção da soja
brasileira nos últimos anos, que podem ser descritas de forma sucinta como sendo:
a produção se desloca para o Centro-Oeste, onde o Estado do Mato Grosso é o
principal produtor nacional da oleaginosa;
o país deixa de agregar valor a sua produção exportando grãos em detrimento de farelo
e óleo, facilitado pela implantação da lei Kandir e pelas dificuldades encontradas na
comercialização destes dois últimos produtos;
colocou
-
se em xeque a sobrevivência das indústrias moageiras;
84
é imperioso obter escala de produção, sendo que produtores com pequenas áreas
possuem dificuldades em se manter competitivos;
o aumento da produtividade deve se dar de forma vertical, ou seja, pelo aumento da
produtividade, com investimentos em tecnologias;
que se ter dentro das propriedades uma visão de empresa rural e no conjunto dos
produtores a necessidade de atuar em conjunto
com toda a cadeia produtiva da soja.
A partir de então, o Cerrado, chama atenção de agricultores do Brasil, em especial d
a
região Sul. Inicia-
se
um intenso processo migratório para
estas
áreas. O Cerrado produz
,
atualmente,
cerca de 50% de toda produção nacional de soja, alcançando médias de
rendimentos superiores à d
e outros estados da região Sul
e à nacional.
85
4. A FORMAÇÃO DA RENDA NO MUNICÍPIO DE SORRISO/MT
Dentre os elementos norteadores das teorias econômicas, apresentadas no primeiro
capí
tulo
deste trabalho, nenhum se aplica com tanta propriedade ao desenvolvimento das
políticas públicas nacionais, quanto a intervenção estatal proposta por Keynes.
Conforme
visto anteriormente, na ótica da teoria keynesiana, o Estado deveria financiar o processo de
crescimento econômico, para em um segundo momento auferir os benefícios de seus
investimentos. E era
exatamente
esta a intenção dos governos militares, quando propuseram
os Planos de Desenvolvimento (PND s)
e
ampliaram
a concessão de crédito agrícola p
ara
exp
loração da região Centro-
Oeste.
A facilidade que os produtores encontraram para abertura de novas áreas e a
exploração econômica de grandes latifúndios se deu em função do modelo de produção
exportador adotado pelas políticas públicas. Beneficiando os produtos competitivos no
mercado internacional.
Assim, quando se analisa o processo de desenvolvimento desta região
sempre que
se considerar o importante papel do Estado como seu financiador. E são estes elementos que
estarão presentes na análise da economia do Estado de Mato Grosso e do município de
86
Sorriso. Este estudo, por seu turno, não tem pretensões de ser exaustivo, haja vista que
muito ainda o que ser pesquisado. Muitas questões importantes merecem estudos específicos
como o processo d
e destinação desta renda e a exportação de renda para outras regiões.
Neste momento, é importante observar o modelo produtivo que se adotou na região e
de que forma este poderá transformar
-
se em um modelo sustentável de desenvolvimento.
4.1 A C
oloniz
ação do
E
stado de
M
ato
G
rosso
O descobrimento, por bandeirantes paulistas, das "Minas de Cuyabá", iniciou o
período colonizador na região onde hoje se situa o Estado do Mato Grosso
.
A notícia da
descoberta de ouro
, iniciada em 1719, não tardou em transpor os sertões, dando motivo a uma
corrida para o oeste. A extração de minérios era a principal atividade econômica no período
da colonização
.
Muitos atribuem a esta cultura de extração a demora no aproveitamento das
terras do Estado para promoção da agricult
ura.
Porém, a mineração apresentou um dinamismo
efêmero, posto que, as lavras descobertas apresentavam um curto período de exploração,
mantendo sempre a necessidade da descoberta de novas jazidas
.
Durante o período colonial, também se desenvolveram na região o cultivo da cana-
de
-
açúcar e da pecuária, mas ambas atividades não prosperaram. Por um lado, pela natureza
itinerante da mão-
de
-obra, sempre em busca de novas jazidas de mineração e de outro o
processo produtivo extremamente rudimentar e a completa au
sência de tecnologia (PEREIRA,
1995).
87
Introduzidas na região ainda na década de trinta do Século XVIII, duas
dessas outras atividades [...] foram representadas pelo cultivo da cana-
de
-
açúcar e pela exploração pecuária. Nenhuma dessas atividades, todavia,
consegui
u alcançar nível de produção suficiente de maneira a se atingir a
exportação. Assim sendo, sistematicamente, o ouro e, eventualmente, o
diamante
foram os únicos produtos de exportação no Mato Grosso
(PEREIRA, 1995, p. 63)
.
Ainda, neste período
des
envolveram
-
se
com certa proeminência a agricultura de
subsistência, representadas basicamente pelo plantio de milho, feijão, abóbora e mandioca. Os
demais produtos consumidos na região eram importados do
s
demais centros urbanos.
Todas as atividades agropecuárias desenvolvidas no período colonial não lograram
resultados produtivos satisfatórios, atendendo apenas a demanda interna, porém, contribuíram
para a formação de uma estrutura fundiária acentuadamente concentrada. O modo de
produção capitalista proces
sou
-se fortemente na região associado ao modelo escravista.
Somente após a Guerra do Paraguai (1864-1870) a região vai experimentar seu primeiro surto
produtivo com a exportação de Borracha. Com exportação para os países da Europa.
A partir de então, até o limiar do período republicano a 1930, a economia
ora em análise se concentrou, em predominância, na produção extrativista e
na pecuária extensiva e, sob essas especializações voltou-se para fora de
suas fronteiras [...] os principais itens da pauta de exportação da economia
em questão podem ser agrupados em dois grandes grupos: produtos
extrativos (ipecacuanha
17
, borracha e erva-mate) e produtos da pecuária ou
dela derivados (gado em pé, couros, charque, caldo e extrato de carne
)
(PEREIRA, 1995, p. 74/75
).
A partir da década de 1930, através do governo de Getúlio Vargas, o governo passa a
desenvolver políticas de ocupação da região Centro-Oeste e Norte do país, que contribui para
a migração na região, porém não modifica o sistema produtivo implantado neste
s locais.
17
A ipeca, ou ipecacuanha, é um arbusto reto com cerca de 45 cm de altura. Suas raízes são aneladas e chegam a
ter de 20 a 40 cm de comprimento. De sua raiz são extraídos vários alcalóides, como a emetina, de grande
ut
ilização na indústria farmacêutica. O uso da ipeca para fins medicinais é muito antigo, sendo usada há centenas
de anos no tratamento das infecções intestinais, da coqueluche e da bronquite
88
As políticas de apoio à ocupação e desenvolvimento da Amazônia e Centro-Oeste, a
partir da década de 1970, principalmente através do crédito agrícola, levaram a um novo surto
de progresso no Mato Grosso. As condições para o desenvolvimento da região no final do
século XX ainda
eram
bastante precárias, a falta de rodovias,
de
energia elétrica de m
ão
-
de
-
obra, somada a baixa qualidade do solo exigia que a agricultura implantada na região fosse
desenvolvida em larga escala e totalmente mecanizada.
Neste sentido, o esgotamento das terras e a tendência agrícola no Centro-Sul do país
para utilização de uma tecnologia moderna, forçou um deslocamento enorme de correntes
migratórias para espaços disponíveis nas novas áreas do Estado (Ferreira, 2001, p. 316)
,
e
stimulando a formação de novos municípios e o desenvolvimento da agricultura
da região.
O interesse específico de fazer crescer o setor agrícola e a necessidade de
atender as pressões demográficas e sociais, absorvendo os excedentes
populacionais
e os grupos de pequenos e médios proprietários, que foram
deslocados de suas respectivas áreas agrícolas em detrimento de um
processo de modernização na agricultura, acabou levando a uma efetiva
ocupação do território mato
-
grossense (FERREIRA, 2001, p. 31
6).
No início da década de 1980
,
a população do Estado era de 1.138.691 habitantes
. C
om
o resultado do fluxo migratório sua população passou para 2.020.581, na década de 1990.
Em
2006
, a população no Estado do Mato Grosso é de 2.803.274 habitantes, segundo o Censo
Demográfico realizado pelo IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
concentrando 1,47% da população brasileira
, com densidade demográfica de 2,6 hab/km²
.
Esta população encontra-se distribuída, nos 141 municípios do Estado.
Sendo
que,
apenas a cidade de Cuiabá possui população superior a 500 mil habitantes. Ainda duas
89
cidades possuem e
ntre
100 e 500 mil habitantes
18
, cinco possuem entre 100 e 50 mil
habitantes
19
, 13 possuem população entre
10
e
25
mil habitantes
20
, o restante nu
m tota
l de 1
20
municípios possui
população inferior a 10
.000
habitantes
(IBGE, 2006)
.
Cabe ressaltar aqui, que segundo o parâmetro da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) para que uma localidade seja considerada urbana
sua
densidade
demográfica deverá ser de 150 hab/km²
.
No Brasil, 70% dos municípios tem
densidades demog
ráficas inferiores a 40 hab/km² (VEIGA, 2001). No Estado de Mato Grosso,
particularmente, apenas dois municípios - Cuiabá e Várzea Grande - possu
em
densidade
acima de 150 hab/km², os demais estão muito longe de atingir esta média, assim de forma
geral pode se dizer que no Estado a maioria da população reside em áreas rurais.
Como se pode observar na figura a seguir a população e o ritmo de desenvolvimento
das cidades no Estado
elevou
-se significativamente no tempo de uma década. Reflexo da
abertura de novas terras e da expansão do setor primário.
18
Várzea Grande e Rondonópolis.
19
Sinop, Cáceres, Tangará da Serra
, Primavera do Leste e Barra do Garças.
20
Sorriso, Alta Floresta, Pontes e Lacerda, Juína, Juara, Guarantã do Norte, Barra do Bugres, Poconé, Lucas do
Rio Verde, Confresa, Colíder, Jaciara, Campo Novo do Parecis.
90
Figura
1
: Mapa do Estado de Mato Grosso
Fonte: IBGE, 2006.
A economia do Estado é baseada em
qu
atro
atividades principais: a indústria
(extrativa, metalúrgica e alimentícia), agricultura
,
pecuária e mineração. A agricultura
tecnológica fez com que o Estado se tornasse um dos principais exportadores de produtos
primários do país. Dentre os produtos d
o setor primário a cultura da soja se destaca.
Os
incentivos governamentais e as novas tecnologias de produção aliadas ao preço
internacional da soja, que despontava como sendo uma produção lucrativa, despertou na
região a sua potencialidade na produção desta cultura. A partir de então os índices de
crescimento da produção no Estado têm apresentado constante elevação.
91
A expansão da produção de soja no Mato Grosso deveu-se a diversos
fatores, inicialmente pelas facilidades de obtenção de crédito de custeio, e
em função da cotação favorável no mercado internacional. Há tendências de
crescimento acentuado na área cultivável do Estado, das dificuldades de
comercialização e obtenção de recursos para custeio e transporte,
especialmente em função das dimensões territoriais extraordinárias de Mato
Grosso. Atualmente Mato Grosso ocupa o primeiro lugar na produção de
soja, ultrapassando regiões que se mantinham no topo do ranking há muitos
anos, como Paraná e Rio Grande do Sul. A safra 1998/1999 produziu
7.466.389 t. e 1999/2000 alcançou a cifra de 7.756.809 t. (
FERREIRA
,
2001, p. 319)
.
O Estado de Mato Grosso figura hoje como o maior produtor estadual de soja do país.
O rendimento médio é de 3.022 kg/ha, enquanto a média nacional é de 2.000 kg/ha. Grande
parte deste incremento na produtividade deve-se as pesquisas realizadas pelo Governo de
Mato Grosso, Embrapa, UNISOJA, APROSMAT, Fundação Mato Grosso e outras entidades
que, entre outras vantagens obtidas, produziram novas variedades de sementes, mais
resistentes a doenças e mais bem adaptadas ao clima do cerrado (C
ASSIANO
, 2006). S
eu
maior índice de produção localiza
-
se na região chamada de pré
-
Amazônia, situada ao norte de
Cuiabá, onde se produz cerca de metade de toda a produção estadual (OLIC, 2005). É nesta
mesm
a região que se situa o município de Sorriso, atualmente o maior produtor municipal de
soja do país.
Através dos dados da tabela a seguir é possível observar a importância do Estado na
produção nacional. Dos quinze municípios que mais produzem soja no paí
s, doze se localizam
no Estado e a maior parte deles na região Norte.
Tabela
1:
Municípios Brasileiros Maiores Produtores de Soja, 2002
.
Ordem
Município
UF
Área
plantada (ha)
Produção
(t)
%
%
acumulada
1
Sorriso
MT
475.000
1.482
.000
3,52
3,52
2
Campo Novo do Parecis
MT
300.000
900.000
2,14
5,65
3
Sapezal
MT
293.052
871.781
2,07
7,72
4
Primavera do Leste
MT
220.000
686.400
1,63
9,35
92
5
Rio Verde
GO
220.000
660.000
1,57
10,92
6
Diamantino
MT
220.542
657.436
1,56
12,48
7
Nova
Mutum
MT
195.000
585.000
1,39
13,87
8
Lucas do Rio Verde
MT
180.000
572.400
1,36
15,23
9
Tapurah
MT
190.000
570.000
1,35
16,58
10
Jataí
GO
179.042
516.641
1,23
17,81
11
Campos de Júlio
MT
152.162
456.486
1,08
18,89
12
São Desidério
BA
230.020
420.937
1,00
19,89
13
Itiquira
MT
136.000
408.000
0,97
20,86
14
Nova Ubiratã
MT
123.150
387.923
0,92
21,78
15
Campo Verde
MT
118.501
369.471
0,88
22,66
Fonte: Produção Agrícola Municipal (IBGE, 2003)
Entre os 15 maiores municípios produtores da
oleaginosa,
analisadas por esta
pesquisa,
doze
pertencem ao estado do Mato Grosso, com destaque para Sorriso que, além de
ser o maior produtor de soja, é o quarto maior produtor de milho, 14
o
de algodão herbáceo,
16
o
de arroz, 26
o
de sorgo, 28
o
de mamona e 87
o
de feijão. Em 2004, o município de Sorriso
produziu 2,252 milhões de toneladas
de grãos,
sendo 75% referentes à soja (IBGE, 2005).
É a cultura da soja que acabou por se tornar o eixo de desenvolvimento de muitos
municípios do Estado, como é o caso dos municípios da região Norte, particularmente de
Sorriso, que encontrou na cultura da soja uma alavanca para o crescimento econômico.
4.2
A
Ocupação do m
unicípio de
S
orriso
e o Modelo Econômico Atual
O município de Sorriso está situad
o na região norte do Estado de
M
ato Grosso, no Km
742 da rodovia federal BR 163, Cuiabá
Santarém,
a
393 Km da capital do Estado Cuiabá e
possui uma população de
46.
023
hab (IBGE, 200
4)
, c
om área geográfica de 9.345,76 Km²
.
93
Figura
2
: Localização do Município
de Sorriso/MT
Fonte:
Prefeitura Municipal de Sorriso.
O clima na região é classificado como tropical úmido, com estação seca bem definida
(inverno/verão) e a diferença de temperatura média entre o mês mais quente (outubro) e o mês
mais frio (junho) em torno de 15 gr
au
s. A precipitação média anual está em torno de 2.000
mm, sendo que 85% deste total se
concentram
no período de outubro a março. A temperatura
média anual é de 30 graus. A média da umidade relativa do ar é de 80% (SECRETARIA
MUNICIPAL DE AGRIC
ULTURA E MEIO AMBIENTE, 2005)
.
No relevo predominam os planos como solos argilosos ou areno-argilosos, nas partes
mais altas, em altitudes média em torno de 40 m, em cujas bordas se encontram, com
freqüência, as baixas, geralmente acompanhando os cursos d água, dos rios maiores como:
Rio Teles Pires, R
io
Verde, Rio Morocó, Rio Lira, Rio Azul, Rio Ferro, Rio Matrinchã, além
de muitos ribeirões e nascentes menores e perenes. A vegetação é constituído por cerrado
94
arbóreo denso (cerradão), apresentando acima de (100 m³) de lenha por hectare. A fertilidade
natural do solo é baixa, porém responde muito bem à calagem e adubação (SECRETARIA
MUNICIPAL DE AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE, 2005)
.
A origem do município, assim como outros da região, deu-se pelas grandes emp
resas
colonizadoras da região sul do país que se dirigiram para estes locais a fim povoa-los. A
abertura da rodovia Cuia
Santarém, BR
163, favoreceu o assentamento de novos
projetos de colonização atraídos pelas grandes extensões territoriais. Segundo F
erreira
(2001,
p. 629), a partir de 1948, as leis mato-grossenses favorecem a colonização do Estado. No
entanto, a especulação imobiliária dificultava, por parte dos compradores de terra, o
desenvolvimento de colônias .
Em 1977, o Sr. Claudino Francio, dirigindo a empresa Colonizadora Feliz, fundou o
povoado de Sorriso. O nome do município foi dado em função das expectativas dos
colonizadores de que este se tornasse um empreendimento próspero e dadas as condições de
vida no local. Outra explicação, dada pelo Sr. Francio, refere-se aos primeiros cultivos de
arroz no município, pois, sendo grande parte dos migrantes de origem italiana e nesta cultura
a palavra arroz ser pronunciada como rizzo , os mesmos diziam rizzo, rizzo
(FERREIRA, 2001).
Em
26 de dezembro de 1980, foi elevada a categoria de distrito, pertencente ao
município de Nobres. Em 20 de março de 1982, foi instalada a Sub-Prefeitura no Distrito de
Sorriso. Em 13 de maio de 1986 a Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso,
aprovou
e o Governo Estadual, através da Lei 5.002/86, elevou o então Distrito de Sorriso à
categoria de Município, desmembrando dos Município de Nobres, Sinop e Diamantino.
95
Apesar das condições adversas em termos de qualidade de vida na região, no início do
pro
cesso de colonização, a mesma prosperou com grande facilidade. As terras de cerrado com
a utilização de técnicas de correção de solo e adubação, passam a ser preferidas pelos
agricultores por serem de fácil desmatamento e terem seu preço desvalorizado. Ain
da, durante
este período houve um incentivo do Governo Federal para as atividades agrícolas como
incentivos fiscais, empréstimos de longo prazo e juros baixos.
A oferta de emprego na agricultura e, posteriormente, no comércio da cidade atrai
inúmeros migrantes, que atualmente chegam de todas as regiões do país, em sua maioria a
mão
-
de
-
obra não possui qualificação e dedicam
-
se as atividades agrícolas.
A população de Sorriso experimentou uma taxa média de crescimento anual de 9,09%,
no período de 1991-
2000
, segundo dados do IBGE, uma média alta comparada a média de
crescimento das grandes cidades do país. Desta população 88,55% se concentrava na zona
urbana, em 2000. O que reflete também o desenvolvimento do setor de serviços no município
que acompanhando esta demanda se desenvolveu fortemente. No entanto, este não deixa de
ser ligado a atividade primária grande geradora de renda.
Tabela
2
:
Evolução Populacional.
ANO
TOTAL
URBANO
RURAL
MASCULINA
FEMININA
1991
16.757
9.124
7.633
9.2
69
7.488
1996
25.373
- -
13.244
12.129
2000
35.605
31.529
4.076
18.533
17.072
2004
46.023
40.776
5.247
23.931
22.092
Fonte: IBGE
Censo 2000.
96
Ainda, sobre a população do município destaca-se que 32,85% do total são
constituídos de crianças em idade escolar, 65,12 % representam a população economicamente
ativa
e apenas 2,03% são constituídas de pessoas idosas.
As principais fontes geradoras de renda no município se encontram no setor primário
que é composto, principalmente, pela agricultura mecanizada (arroz, soja, milho, sorgo, feijão
irrigado e algodão), pelo beneficiamento de madeira e a agroindustrialização. A área
destinada a produção agrícola corresponde a 70% do território do município, destas 80% são
de lavouras mecanizadas para a exploração da
agricultura e da pecuária. Na atividade pecuária
a prática de criação extensiva cede espaço cada vez maior ao confinamento, devido ao período
de estiagem, que reduz as pastagens da região. Ainda, na
avicultura
a capacidade instalada de
abate no município é hoje de 60.000 cabeças/dia, além do aumento da criação de suínos
(
IPED
, 2005
).
O setor secundário é marcado por um comércio forte onde existem supermercados,
lojas atacadistas e varejistas, frigoríficos, hotéis e hospitais, emissoras de rádio, jornais,
emissoras de televisão, além de um conjunto de prestadores de serviço e profissionais liberais
de todas as categorias. A indústria começa a ter uma posição de destaque na economia do
Município, seja ela ligada à agropecuária ou extração de madeira. A construção civil é outro
segmento que cresce substancialmente, são inúmeras as construções comerciais e residenciais.
São dois distritos industriais atualmente instalados no município, que recebem incentivos
fiscais para estimularem novos investimentos (
IPED
, 2005
).
Toda a produção do município é escoada através das rodovias. A malha viária do
município é de aproximadamente 2.950 km O elevado custo do transporte pelas deficiências
97
das rodovias e o alto custo do combustível oneram significativamente a produção do
município.
O governo municipal administra um orçamento de que gira em torno dos 50 milhões
de reais por ano. Sendo em relação ao ICMS, o município recebeu a quinta maior
transferência do Estado em 2005 (2,79% do total)
21
, ficando
atrás
somente das cid
ades
industrializadas do Estado como a capital Cuiabá, Rondonópolis, Várzea Grande e Primavera
do Leste. O que demonstra que Sorriso se tornou um pólo de crescimento
.
O Produto Interno Bruto (PIB), em 2002, segundo o IBGE, é
R$
570.315 mil.
Deste
total, R$ 279.884 mil é gerado na agropecuária. Ainda, com valor agregado próximo ao
gerado na atividade primária, o setor de serviços a que se refere outra parcela significativa da
riqueza gerada no município é ligado diretamente à agricultura, através das contratações para
serviços nas propriedades agrícolas. O que demonstra a importância do setor primário para a
economia local. O PIB do município é distribuído da seguinte forma entre os setores da
economia
.
22
.
21
Informações obtidas através da análise de dados disponíveis na Secretaria de Fazenda do Estado de
Mato Grosso, através do
site
www.sefaz.mt.gov.br.
22
D
ummy
financeiro representa o diferencial entre os juros recebidos e os pagos. O valor gerado em
outras atividades, pela intermediação financeira, que implica uma dupla contagem no valor
adicionado. Portanto, esse diferencial deve ser descontado no final, não sendo possível a identificação
dos setores da economia nos qua
is
este foi gerado.
98
Gráfico
1
: Produto Interno Bruto no Município de Sorriso, em 2002
Fonte: IBGE
Por apresentar grande potencial de desenvolvimento, em 2003, o município foi
reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), através do Programa das Nações
Unidas Para o Desenvolvimento (PNUD), em seu relatório sobre o desenvolvimento humano
como o município com as melhores condições de vida no Estado de Mato Grosso.
4.3 A
Produção Agrícola no
M
unicípio
O município de Sorriso, localizado no cerrado mato-grossense ao Norte do Estado,
encontrou condições favoráveis de desenvolvimento no contexto descrito anteriormente.
Atualmente, sua produção representa 3,52% da soja nacional. Beneficiando-se de seu extenso
território o município encontrou na abertura de novas áreas agrícola o seu principal
mecanismo de crescimento.
46%
9%
36%
4%
5%
Valor adicionado da agropecuária
Val
or adiconado da indústria
Valor adicionado dos serviços
Dummy Financeiro²²
Impostos
99
As propriedades rurais constituem-se em sua maioria de extensões de terra que variam
na média entre 1.000 e 5.000 ha. Quanto à estrutura fundiária, o município de Sorriso,
segundo o Anuário Agropecuário e Agroindustrial de Mato Grosso, apresenta o seguinte
quadro
:
Tabela
3
:
Estrutura Fundiária
do Município de Sorriso/MT
em 1996.
TAMANHO
Nº DE PROPRIEDADE
ÁREA (HA)
PART. %
Menor 0,1
01
- -
0,1 a 100
236
10.731,1
0,97
100,1 a 200
2
27
33.271,8
3,01
200,1 a 500
597
208.891,1
18,9
500,1 a 1.000
263
189.895,0
17,21
1.000,1 a 2.000
155
208.741,7
18,92
2.000,1 a 5.000
85
230.661,9
20,90
5.000,1 a 10.000
09
80.631,4
7,30
Maior de 10.000
06
140.346,6
12,72
TOTAL
1.579
1.103.170,6
23
10
0%
Fonte: Anuário Agropecuário e Agroindustrial de Mato Grosso
1996.
No entanto, estão se configurando recentemente os assentamentos rurais do INCRA e
micro
-produtores rurais chacareiros , sendo eles: Assentamento Jonas Pinheiro: 216 famílias,
com área agricultável de 3.400 ha; Assentamento Casulo Chão do Amanhã : 25 famílias,
com área agricultável de 50 ha; Assentamento Santa Rosa II: 177 famílias, com área
agricultável de 8.850 ha; Chacareiros: 70 famílias com área agricultável de 700 ha.
O armazenamento de grãos se
através de cinco armazéns da Companhia Nacional
de Abastecimento (CONAB), com capacidade para 157.000 toneladas e de diversos armazéns
privados, grande parte de empresas multinacionais, com capacidade de armazenamento de
1.900.000 ton
eladas.
23
Após esta data houve desmembramento de municípios na região
.
100
O desenvolvimento de lavouras permanentes é pequeno com destaque para duas
culturas: o coco-
da
-baía, com produção de 112 toneladas por ano e valor da produção
estimado em R$ 62 mil reais por ano; e, o maracujá, com produção de 30 toneladas/ano e
v
alor da produção estimado em R$ 15 mil reais/ano (IBGE, 2002).
Todavia, as culturas temporárias geram grande parte da renda no setor agropecuário.
Onde
se destaca a cultura da soja como a principal geradora de renda no município. Dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2002), sobre a produção agrícola em
lavouras temporárias demonstram que a produção de soja no município foi de 1.482 mil
toneladas, representando uma renda de R$ 474.240 mil. Enquanto o milho, segundo produto
mais cultivado, produziu 256.680 toneladas, gerando um valor de R$ 45.166 mil. Em terceiro
lugar encontra-se a cultura do arroz com uma produção de 58.200 toneladas, no valor de R$
16.296 mil. O município produz ainda outros produtos como algodão, sorgo granífero, feijão,
mandioca, cana
-
de
-
açúcar, melancia, melão e abacaxi em pequenas áreas.
Segundo estatísticas do IBGE, sobre a produção agropecuária brasileira de 2003, das
vinte cidades que mais produziram soja no país no ano, dezenove apresentaram, em 2000,
Índi
ce de Desenvolvimento Humano (IDH) maior que a média nacional, apesar de a maioria
delas apresentar taxas de crescimento populacionais bem maiores que a média brasileira.
Em
nível nacional, o município de Sorriso figura entre os 17 municípios que agregam 5
% do valor
adicionado a agropecuária, em 2003. Com destaque as produções de soja, arroz e algodão.
Sendo o único município do Estado de Mato Grosso a compor a lista.
101
Tabela
4
: Municípios que agregam 5% do Valor Adicionado da Agro
pecuária
2003.
Municípios e
Unidades da Federação
Valor Adicionado
da Agropecuária
(1.000 R$)
Participação Relativa
no Valor Adicionado
da Agropecuária (%)
Participação Relativa
Acumulada no Valor
Adicionado da
Agropecuária (%)
Itápolis/SP
654.180
0,4
0
,4
Mogi Guaçu/SP
544.373
0,4
0,8
Toledo/PR
521.287
0,3
1,1
Petrolina/PE
499.618
0,3
1,
4
Sorriso/MT
494.804
0,3
1,
7
Casa Branca/SP
478.902
0,3
2,
0
Itapotininga/SP
459.721
0,3
2,
3
Bastos/SP
437.317
0,3
2,6
Rio Verde/GO
428.266
0,3
2,9
Tambaú/SP
426.486
0,3
3,2
Bebedouro/SP
401.135
03
3,5
São Desidério/BA
395.039
0,3
3,8
Barretos/SP
391.673
0,3
4,0
Cascavel/PR
363.768
0,2
4,3
Jataí/GO
351.882
0,2
4,5
Descalvado/SP
347.230
0,2
4,7
Limeira/SP
343.969
0,2
4,9
Fonte: IBGE
, 2006
b.
Através do gráfico, observa-se a seguir como se deu o comportamento da produção de
soja no município, desde o início de sua colonização, com destaque para o aumento da
produtividade das áreas plantadas, fato que se deve ao grande incremento de tecnologias
modernas e insum
os a produção local
.
102
0
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
1.400.000
1.600.000
1.800.000
2.000.000
19
81 / 1
982
1984
/ 1
985
1987 /
1
988
1990 / 1991
1993 / 1
9
94
19
96 / 1
997
199
9 / 2
000
200
2 / 2
003
Safra
Toneladas
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
Hectares
Produção Total (Toneladas) Área Cultivada (Ha) Produtividade (kg / ha)
Gráfico
2
: Evolução da Área Cultivada de Soja de Sequeiro no Município de Sorriso (MT)
1976/2004
Fonte: Sindicato Rural de Sorriso (EMATER/EMPAER)
A década de 1990 representa o grande marco da produção de soja no município.
Marcado pelo aumento da área planta
da
e da produtividade que permitiram o município
atingir os níveis de produção registrados na atualidade.
A busca por novas tecnologias adequadas a realidade local se faz necessária devido à
qualidade dos solos, que para serem produtivos necessitam de grande quantidade de adubos e
calcário o que acaba por elevar o custo de produção. Além, do monitoramento do plantio ser
dificultado pela grande extensão das propriedades rura
is.
Neste sentido, acompanhar e incorporar as tecnologias que permitam aumentar a
produção é o grande desafio dos produtores locais. O grande entrave, como sempre, é o custo
da incorporação de novas práticas de plantio que ainda é muito alto e a instabilidade dos
preços dos produtos agrícolas no mercado internacional tem comprometido os planos de
investimentos na região
.
103
De maneira geral, o que se pode observar é que
muit
as propriedades rurais
da região já
estão sendo administradas como empresas agrícolas
a fim de manterem-se competitivas.
Diante das instabilidades do mercado não são todos os produtores que conseguem sobreviver
às dificuldades e reafirma
-
se a necessidade de aumento da produtividade.
4.
3
.1
A
Renda
Gerada pela
Agr
icultura
Qual é a importância da renda gerada nas propriedades rurais do município para o seu
desenvolvimento? Para responder a esta pergunta realizou-se uma análise que considera os
dados obtidos através de pesquisa de campo
24
.
A pesquisa procurou levantar não somente o
volume d
e renda gerada por esta atividade, mas sim como ela é gasta. De forma a identificar o
processo de desenvolvimento que se instalou no local e que faz com que o município seja
atualmente uma referência regional.
Dentre os entrevistados a sua grande maioria iniciou as atividades no final da década
de 1980 e início da década de 1990, por isso um aprofundamento histórico não foi possível.
Porém, a realidade já apresenta muitos indícios do processo de desenvolvimento local. Assim,
dos agricultores entrevistados a maior faixa de concentração de terra se encontra entre os
1.000,1 e 2.000 hectares de terra, com 35%. Logo em seguida, aparecem os agricultores que
possuem entre 2.000,1 e 5.000 hectares, com 30%. Nesta faixa encontram-se a maioria dos
24
A
presente
pesquisa
trata
-se de um estudo de caso realizado no no município de Sorriso/MT,
abrangendo um total de 40 questionários respondidos, o que representa uma pequena parcela dos
produtores locais, selecionados aleatoriamente, de acordo com sua disponibilidade em participar da
pesquisa. O objetivo desta pesquisa não é o de responder ao universo dos produtores rurais da região,
mas sim refletir uma mostra da estrutura econômica da região. É importante frisar ainda, que houve
uma grande frustração quanto da obtenção de informações junto aos entrevistados, pois os mesmos
demonstram dificuldade em apresentar dados concretos e objetivos.
104
produtores entrevistados, perfazendo um total de 65%. O restante dos entrevistados está
distribuído em quatro faixas de área como demonstra o gráfico a seguir.
2,5%
12,5%
15,0%
35,0%
30,0%
5,0%
0 a 100 100,1 a 500 500,1 a 1.000
1.000,1 a 2.000 2.000,1 a 5.000 5.000,1 a 10.000
Gráfico
3
: Distribuição dos Produtores Rurais pelo tamanho da propriedade.
Fonte: Dad
os da Pesquisa.
A utilização de arrendamento atinge um percentual baixo dos produtores
entrevistados. Sendo que apenas 5% dos entrevistados arrendam entre 100,1 a 500 hectares,
7,5% entre 500,1 a 1.000 ha,
17,5
% entre 1.000,1 e 2.000 ha e 5% entre 2.000,1 e 5.000
hectares
.
O preço da terra valorizou-se significativamente do início da década de 1990 para a
atualidade
, acompanhando a tendência de desenvolvimento local, propriedades avaliadas no
início da década de 1980 em torno de 5 sacas/soja por hectare h
oje estão avaliadas em mais de
100 sacas/soja hectare. Dos produtores entrevistados 5% têm propriedades avaliadas entre 40
e 60 sacas/soja por hectare, 17,5% entre 60 e 80 sacas/soja por hectare e a grande maioria
105
77,5% dos entrevistados possuem propriedades avaliadas em mais de 100 sacas/soja por
hectare.
A
cada ano um número maior de produtores rurais buscam auto-financiar suas
propriedades, tanto que dos entrevistados 22,5% não utilizam recursos bancários para a
produção. O maior nível de financiamento ainda está com os produtores que possuem as
menores áreas. Sendo que 2,5% financiam entre 0 a 100 ha; 12,5% entre 100,1 a 500 ha; 10%
entre 500,1 a 1.000 ha; 27,5% entre 1.000,1 a 2.000 ha; e, 2,5% entre 5.000,1 a 10.000. O
financiamento de máquinas e implementos, no entanto é uma constante, sendo que grande
parte dos produtores rurais dizem ter algum equipamento financiado via banco. A presença
da
s Trading Compa
ny
favorece a venda antecipada de produtos e o adiantamento da safra,
com isso os produtores se vêem cada vez mais atrelados
às
instituições financeiras que atuam
na comercialização da produção.
A produção de soja foi registrada em todas as propriedades pesquisadas. A
produtividade
média
(em sacos por hectare) oscila entre as
seguintes médias
:
27,5%
70,0%
2,5%
26 a 50 51 a 70 Acima de 71
Grá
fico
4
:
Produtividade
m
édia gerada com a
s
oja (sacas
/
hectare).
Fonte:
Dados da Pesquisa
106
Em relação ao milho 52,5% dos produtores apresentam uma produtividade que varia
entre 26 a 50 sacas/hectare e
47,5%
com produtividade entre 51 a 70 sacas/hectare. A
produtividade do arroz, para 82,5% dos agricultores entrevistados fica entre 51 e 70% e para
17,5% entre 26 e 50 sacas/hectare.
A produtividade das três culturas acima citadas é elevada na região, no entanto o preço
dos produtos v
em se reduzindo gradativamente no mercado internacional. No final da colheita
2005/2006 os preços de venda da soja disponível estavam oscilando entre os R$ 14,00 e
R$
19,00, sendo que não muita expectativa de variações significativas nos índices de preç
os.
Por outro lado, o custo de produção médio da cultura da soja é de R$
30
,00
, desta forma, a
manutenção da alta produtividade é uma necessidade do produtor rural.
O mesmo ocorre com as culturas de milho e de arroz, que apresentam um elevado
índice de produtividade e um alto custo de produção. A produção em larga escala é o que
garante a rentabilidade necessária para que os produtores se mantenham na atividade.
Os investimentos nas propriedades são constantes
,
questionados sobre a realização de
investime
ntos nos últimos três anos, 77,5% dos produtores afirmam ter
realiz
ado
aquisição de
algum tipo de máquina ou implementos, 30% investiram na terra, com aquisição de área ou
abertura de área adquirida anteriormente e ainda, todos os produtores adquirem an
ualmente
insumos para a produção, como adubos e calcário. Em 2004, com o preço da soja bastante
valorizado no mercado internacional o nível de investimento foi bem maior do que nas safras
seguintes. Fator que elevou o índice de endividamento dos produtores
para o atual período.
107
A comercialização da produção se através das grandes companhias instaladas no
município
as
Trading Company
, como a Bunge, Fiagril, Ovetril, Inlogus e Cargil
l
como sendo
as principais. Em geral, os produtores têm comprometida parte da produção com estas
empresas através das vendas futuras, o chamado soja verde e acabam por depositar nesses
armazéns o restante de sua produção.
Dos
produtores entrevistados 85% do total não possuem outras fontes de renda além
da atividade agríco
la. Os 15% que po
ssuem outra fonte de
renda, a mesma se
ref
ere,
em geral
,
a atividades de comércio, que não
são
desenvolvidas direta e exclusivamente pelo produtor e
sim p
elo conjunto
da família.
Os gastos mensais das famílias giram em torno de
R$
8.000
a
R$
10.000,00
, o
nde
estão incluídos os gastos com educação, saúde, alimentação e lazer e manutenção de veículos.
Questionados sobre qual o montante da renda eles acreditavam ser exportada através da
aquisição de produtos importados, a maioria (60%) dos produtores respond
eu
que entre 51e
75% do que
consom
em tem sido produto
s
importado
s.
5,0%
32,5%
60,0%
2,5%
11 a 25 26 a 50 51 a 75 76 a 100
Gráfico
5: Percentual da renda gerada na atividade agrícola despendido na aquisição de produtos
importados
Fonte: Dados da Pesquisa.
108
A pesquisa de campo realizada com os produtores rurais do município apenas serve
para constatar que apesar do alto índice de renda movimentado no município através da
agricultura, grande parte é exportada para outras regiões.
Suprida
s as necessidades básicas, os
pro
dutores começaram a ir buscar alternativas fora do município e os índices de
desenvolvimento registrados até o momento poderão não se sustentar no longo prazo.
Atualmente, os produtores da região enfrentam uma grande crise no setor devido ao
elevado custo de produção, o baixo preço do produto no mercado e a valorização da moeda
nacional. O custo de produção que gira em torno dos 30 sacos por hectare, vem sendo difícil
de suportar por produtores que não atingem altos patamares de produtividade. O combustív
el
é um dos elementos importantes na composição deste custo, pois encarece o frete
do qual a
produção local é totalmente dependente
e a utilização de máquinas na produção.
O Biodiesel vem se apresentando como uma alternativa, principalmente para uso
no
campo. Alguns produtores locais estão produzindo o combustível que irão consumir
durante a safra.
Porém, quanto ao preço do produto e as condições de câmbio o produtor rural se
sem ação, haja vista ser apenas um tomador de preço. Por este motivo, a perspectiva para a
próxima safra, 2006/2007, é de redução de área plantada
com soja
no município.
Algumas alternativas vêm sendo postas como a produção de algodão, a suinocultura,
mais recentemente a produção de cana-
de
-açúcar, na tentativa de diversificar a produção e
109
criar alternativas para o monopólio da soja , que torna a região muito suscetível a crises
como a que se registra.
.
110
CON
SIDERAÇÕES FINAIS
A evolução das teorias econômicas se pela observação da realidade e o avanço
das
sociedades.
A necessidade de se estudar questões relacionadas ao desenvolvimento das nações
se faz presente, pois o atual estágio de evolução da
mesma
pode estar comprometendo as
gerações futuras. Para que o desenvolvimento ocorra, a geração de renda é um elemento
fu
ndamental. A sociedade capitalista tem levado à concentração e acumulação de capital sob
o
poder de certos grupos sociais
e deixa
ndo outros a mercê da sorte .
As teorias que vêm surgindo, de forma alguma tentam excluir ou negar um
conhecimento posto. Ao contrário, utilizam-se d
ele
s para desta forma evoluir. Foi assim com
as afirmações da teoria clássica sob
re
os conhecimentos dos fisiocratas; de Marx sob
re
a
dinâmica da economia capitalista, a partir dos estudos de Smith e de Ricardo; e da
macroeconomia
keynesiana sob
re
as demais.
Esta evolução fica clara quando tentamos definir como se a geração do valor e da
renda na economia. P
ode
-
se
concluir
deste grande leque de informações, que o trabalho
efetivo aplicado na produção,
a
produtividade do trabalho, a tecnologia, a capacidade de
inovar e o conjunto de ações do Estado, das famílias e da sociedade determinam o valor dos
produtos e definem a renda gerada nas sociedades.
111
Neste constexto o presente trabalho ofoereceu uma série de lições e respostas
imp
ortantes para a compreensão da economia regional, sob a ótica da teoria econômica.
Dentre as teorias estudadas, fica o sentimento de que a teoria keynesianaé a que melhor
explica o processo de crescimento econômico registrado na região. Conforme se observo
u,
esta toeira trata da intervenção estatal atraves do financimento da produção com vistas a
possibilitar aos agentes constrírem meios de se manterem competitivos no mercado.
Estas condições se estabeleceram à medida que o Estado, através da concessão de
créditos, estimulou a ocupação da região e a aberura de novas áreas. No entanto, o que se
observou no longo prazo é que os agentes beneficiados pelo Estado tornaram-se também
dependentes de suas políticas assistencialistas.
Por outro lado, as consdições que se instauraram para o aumento da renda da região
podem ser descritas como: grandes extensões de áreas com baixo usto de aquisição da terra;
novas tecnologias genéticas e mecânicas; e adoção do sistema de produção arário exportador
por parte do Estado. A associação destes elementos permitiu o crescimento econômico
acelerado da agricultura local.
O processo de desenvolvimento da agricultura demonstra que esta atividade, a partir
de sua mecanização, dividiu-se em dois eixos: os agricultores que adotaram novas técnicas e
produziram excedentes para atender a demanda instalada, pelo aumento da população; e os
agr
icultores que não se adaptaram às novas tecnologias e acaba
ra
m sendo excluídos desta
relação de acumulação de capital. A própria realidade da agricultura mundial demonstra isso,
com
o agronegócio
surgindo
para exprimir as novas demandas sociais.
112
No Brasil, o desenvolvimento da agricultura se de forma ainda mais particular.
Enquanto a Europa vivia o benefício da mecanização, o país retrocede aos tempos feudais.
Instala
-se uma agricultura corporativa que devia beneficiar apenas alguns Senhores. Isto
acaba por emperrar o desenvolvimento da agricultura no país. Posteriormente, o mo
delo
agrário
-exportador adotado fez com que toda a economia estivesse voltada para o litoral e
pelos meios de exportação.
Assim, a agricultura brasileira, que dispõem de uma vasta extensão de terras férteis,
acabou se tornando extremamente concentradora. Durante o período Colonial e o Império
toda a renda gerada e o valor do trabalho incorporado na produção agrícola nacional era
exportada para os países europeus onde deveriam manter o luxo de seus proprietários. A partir
da República a renda era exportada d
o campo para os centros urbanos. Historicamente, alguns
centros se desenvolveram em detrimento da renda gerada em outros locais. A necessidade de
incorporação de novas áreas de terra ao setor agrícola, levou produtores a se afastarem do
litoral e ocupar terras mais distante, mas não menos produtivas.
Desta forma, implantou-
se
na
região de Sorriso/MT um sistema de grandes unidades
produtivas, com extensas áreas de terra e alta produtividade, que conseguiram em um curto
espaço de tempo gerar um aumento
da renda local e, principalmente, das famílias.
Ocorre que,
devido à falta de estímulo à outras atividades produtivas, o capital que se gerou no local
passou a ser transferido para outrs centros nacionais e internacionais, atraves da exportação
dos lucros das grandes companhias
.
113
No entanto, o que se vê é um esforço para que esta renda não parta para outros centros
comerciais e deixe estas comunidades permanentemente dependentes do Estado. Ou seja, se
deveria evitar que regiões como a de Sorriso/MT sejam apenas centros multiplicadores de
renda, no qual a renda não permanece, impedindo assim um maior desenvolvimento de suas
comunidades.
Esta realidade, encontrada no Mato Grosso, se agrava porque atualmente, sob a mesma
ótica keynesiana, o Estado se retira do seu papel de fomentador das atividades produtivas e
deixa
à cargo da iniciativa privada a manutenção das condições de crescimento
e
desenvolvimento
.
Este é o caso do município de Sorriso que, através da cultura da soja, consegui
u,
em
um período de 20 anos, se transformar em um município com maior crescimento na região,
porém,
atu
almente não consegue mais garantir que a maior massa de recursos nele gerados
seja mantida no local. Assim, na ótica apenas do crescimento econômico, entendida como
geração de renda, Sorriso ainda corresponde às expectativas, porém, na ótica do
desenvolvim
en
to, entendido como melhoria do nível de vida do conjunto da população, via
melhor utilização local da renda gerada, a constatação é de um esgotamento do modelo. Isto
coloca em xeque a hoje quase monocultura da soja.
Isto
expõe igualmente a necessidade
de
se
criar projetos de desenvolvimento e de
agricultura sustentável para esta região. Alternativas que atendam a necessidade de
distribuição de renda, de preservação do meio ambiente, dentre outras, sem que a agricultura
praticada neste local deixe de ser competitiva no mercado internacional.
114
As alternativas existem através da agregação de valor aos produtos agrícolas no local,
ou seja, através do desenvolvimento d agroindustrialização. Porém, elas ainda se mostram
tímidas no que diz respeito a sua prática, pela concentração da produção na cultura da soja.
Por sua vez, falta engajamento da sociedade regional na busca de constituir instituições
voltadas ao desenvolvimento da região, como coopertivas e instituições de fomento e
pesquisa. Ora, a sociedade loc
al e seu poder público devem compreender que, para a atividade
agrícola realmente cumprir seu papel de destaque no desenvolvimento de uma comunidade, é
preciso gerar ações que permitam aos agentes econômicos locais oportunidades de
encontrarem motivos de reinvestirem seu capital na própria região. Para tanto, torna-
se
necessário valorizar o potencial endógeno existente, numa visão de longo prazo.
Tais constatações requerem estudos mais aprofundados da realidade local. Dada à
necessidade de fomentar outras
atividades
que não restrinjam as atividadeseconômicas do
município à agricultura, faz-
se necessário incorpor aos estudos o desenvolvimento dos demais
setores
secundário e terciário
inclusive suas relações com o setor agropecuário.
Privilegiando, neste contexto, o papel fomentador do Estado q o impacto das mudanças na
condução das políticas econômicas sobre o resultado econômico dos agentes privados. Por
fim, seria importante investigar o verdadeiro papel dos agentes privados e o resultado de suas
ações
quanto a geração de um real desenvolvimento para o município.
Muitos aspectos foram abordados superficialmente na elaboração desta pesquisa,
como o papel do poder público; a estruturação urbana; a formação social da região, dentre
tantos outros elementos importantes para a compreensão econômica, política e social da
região
. Tais informações demandam novos estudos e a criação de um banco de dados
confiáveis sobre a região, haja vista ainda haver muitos desencontros entre as informações
115
obtidas
, principalmente, entre as instituções de pesquisa públicas e privadas. Neste sentido,
fica a expectativa de que este trabalho
possa
ser
um aliado dos agente que
busca
m tornar a
região um pólo de desenvolvimen
to.
116
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122
ANEXO
S
Anexo I: Reportagens e Anúncios divulgados com o objetivo de atrair migrantes para a
região
Anexo II:
Questionário Aplicado aos Produtores Rurais
123
ANEXO I
124
DIAS, Elisia Aparecida; BORTONCELLO, Odila. Resgate Histórico do Municipio de
Sorriso: Portal da agricultura no cerrado Mato
-
Grossense
. Cuiabá/MT: 2003.
125
AN
EXO II
UNIJUI
UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO
GRANDE DO SUL
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO, GESTÃO E CIDADANIA
LINHA DE PESQUISA: POLÍTICAS E PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO
OBJETIVO: Esta pesquisa tem o objetivo de contribuir com a elaboraçã
o da dissertação
a ser apresentada como requisito para a conclusão do curso de mestrado e busca
compreender melhor a formação e a destinação da renda agrícola no município de
Sorriso/MT.
Questionário:
1
) Tamanho da propriedade Rural (em ha)
( ) 0 a 100
( ) 2.000,1 a 5.000
( ) 100,1 a 500
( ) 5.000,1 a 10.000
( ) 500,1 a 1.000
( ) Acima de 10.000
( ) 1.000,1 a 2.000
2
) Arrendamento (em ha):
( ) 0 a 100
( ) 2.000,1 a 5.000
( ) 100,1 a 500
( ) 5.000,1 a 10.000
( ) 50
0,1 a 1.000
( ) Acima de 10.000
( ) 1.000,1 a 2.000
3
) Preço do hectare da terra de lavoura (em sacos de soja):
( ) 0 a 5
( ) 41 a 60
( ) 6 a 10
( ) 61 a 80
( ) 11 a 20
( ) Acima de 81
( ) 21 a 40
4) Recurso financeiro ba
ncário:
( ) Sim
( )Não
( ) 0 a 100
( ) 2.000,1 a 5.000
( ) 100,1 a 500
( ) 5.000,1 a 10.000
( ) 500,1 a 1.000
( ) Acima de 10.000
( ) 1.000,1 a 2.000
5) A produtividade média por hectare das principais culturas:
Soja
Milho
Arroz
( ) 0 a 10
( ) 0 a 10
( ) 0 a 10
( ) 11 a 25
( ) 11 a 25
( ) 11 a 25
( ) 26 a 50
( ) 26 a 50
( ) 26 a 50
( ) 51 a 70
( ) 51 a 70
( ) 51 a 70
( ) Acima de 70
( ) Acima de 70
( ) Acima de 70
126
6)
Real
izou investimentos nos últimos 3 (três) anos?
( ) Máquinas
( ) Implementos
( ) Terra
( ) Insumos
7) Qual a forma de comercialização da produção:
______________________________________________________________________
______________________________
________________________________________
8
) Possui Outras Fontes de Renda:
( ) Sim
( ) Não
Quais atividades: ________________________________________________________
9
) Qual a sua estimativa mensal de gastos da família com:
R$ ________________________
___________________________________________
Quais são os principais gastos:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
10
) Da renda gerada na atividade agrícola, qual o percentual destinado a aquisição de
produtos importados (todos aqueles que não são produzidos no município, lembrando
que a prestação de serviço não é importação).
( ) 0 a 10
( ) 51 a 75
( ) 11 a 25
( ) 76 a 100
( ) 26 a 50
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