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FUCAPE – FUNDAÇÃO CAPIXABA DE PESQUISA EM
CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS.
JOEME RODRIGUES DOS SANTOS
AÇÃO E REAÇÃO EM OLIGOPÓLIO HOMOGÊNEO, UM ESTUDO DE
CASO: A INDÚSTRIA DE CIMENTO CAPIXABA.
VITÓRIA
2005
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JOEME RODRIGUES DOS SANTOS
AÇÃO E REAÇÃO EM OLIGOPÓLIO HOMOGÊNEO, UM ESTUDO DE
CASO: A INDÚSTRIA DE CIMENTO CAPIXABA.
Dissertação apresentada ao Programa Pós-graduação
em Ciências Contábeis, da Fundação Capixaba de
Pesquisa em Contabilidade, Economia e Finanças
(FUCAPE), como requisito para obtenção do grau de
Mestre em Ciências Contábeis.
Orientador: Professor PhD Arilton Carlos Campanharo
Teixeira.
VITÓRIA
2005
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Dedico este trabalho a:
José Rodrigues dos Santos e
Vitória Goecking dos Santos,
meus pais;
À Patrícia G. de Oliveira Santos,
minha querida esposa,
e a meu amado filho
Paulo Gonçalves dos Santos.
AGRADECIMENTOS.
Agradeço em primeiro lugar a Deus, pois sem ele nada podemos fazer, pois é o
doador de todas as coisas.
Este trabalho é resultado de diversas horas de abnegação, estudo e pesquisa,
porém sem a ajuda de muitos não seria possível realiza-lo, pois o mesmo não é
resultado apenas de um esforço individual, mas da colaboração de pessoas
especiais.
Agradeço ao professor Dr. Ariltom Carlos Campanharo Teixeira, meu orientador,
pela amizade, colaboração, e ajuda despendida na elaboração deste trabalho. Aos
professores Dr. Luiz Fernando Oliveira de Araújo e Dr. Fábio Moraes da Costa, que
me apoiaram nas horas de dúvidas e incertezas. Ao professor Dr. Helio Zanquetto
Filho, que me orientou e muito colaborou na fase inicial deste trabalho.
Agradeço a coragem, determinação e perseverança dos professores Dr. Valcemiro
Nossa e Dr. Aridelmo JoCampanharo Teixeira, na criação deste programa de
mestrado.
A todos os funcionários e colaboradores da FUCAPE, que com simpatia e
abnegação colaboraram com este trabalho.
Aos meus colegas de turma, agradeço pela amizade, companheirismo, e união nos
momentos felizes e tristes pelos quais passamos.
“E se alguém lhe obrigar
a caminhar uma milha,
vai com ele duas.”
(Evangelho de Mateus)
RESUMO
Este trabalho apresenta, inicialmente, a evolução da indústria de cimento no Brasil,
seu desenvolvimento, crescimento e características atuais. A compreensão desta
parte inicial é necessária para o entendimento da indústria de cimento como um
todo, percebendo suas características e particularidades nesta estrutura de
mercado. Posteriormente, a análise é dirigida para a indústria de cimento capixaba,
seu raio de atuação no mercado, e reações à entrada de um novo concorrente.
Como esta indústria é caracterizada como um oligopólio homogêneo, teoricamente
espera-se certos padrões de concorrência neste mercado, entretanto, reações pouco
usuais surgiram, dando uma nova dimensão de análise às estratégias utilizadas
neste tipo de indústria.
ABSTRACT
This work presents, initially, the evolution from industry of cement into the Brazil, your
development, growth & characteristics you act. The understanding of this part initial is
necessary about to the perception from industry of cement as a whole, sensing his
characteristics & particulars on this structure of market. At a later date, the analysis is
drove for industry of cement relative to the state of Espiríto Santo, your ray of multi-
skilled in the marketplace , & reactions on the entrance by one new adversarial. This
industry, is characterized like a oligopoly homogeneous, she waits if certain
standards of competition this market , in the mean time , reactions little usual appear,
giving only one new dimension of analysis on the competition this type of industry.
LISTA DE FIGURAS.
Figura 1 – Distribuição geográfica das indústrias de cimento Brasil..........................30
Figura 2 – Área de mercado da indústria capixaba de cimento.................................49
Figura 3 – Localização geográfica fábricas de cimento Nassau, e demais fábricas..57
LISTA DE GRÁFICOS.
Gráfico 1 – Participação regional na produção 1993.................................................31
Gráfico 2 – Participação regional na produção 1998.................................................31
Gráfico 3 – Participação regional na produção 2004.................................................32
Gráfico 4 – Distribuição da produção segundo capacidade,1991.............................32
Gráfico 5 – Evolução da produção cimento Brasil.....................................................33
Gráfico 6 – Evolução da produção e consumo região Norte.....................................34
Gráfico 7 – Evolução da produção e consumo região Nordeste...............................34
Gráfico 8 – Evolução da produção e consumo região Centro-oeste.........................35
Gráfico 9 – Evolução da produção e consumo região Sudeste.................................35
Gráfico 10 – Evolução da produção e consumo região Sul.......................................36
Gráfico 11 – Utilização da capacidade instalada da indústria de cimento Brasil.......37
Gráfico 12 – Participação de mercado dos grupos industriais no Brasil....................38
Gráfico 13 – Participação na produção dos grupos por região.................................39
Gráfico 14 – Despacho por meio de transporte........................................................44
Gráfico 15 – Despacho por canal de distribuição 2003.............................................45
Gráfico 16 – Produção capixaba de cimento.............................................................52
Gráfico 17 – Produção capixaba de cimento..........................................................53
Gráfico 18 – Produção por empresa capixaba........................................................53
Gráfico 19 – Participação de mercado por empresa...............................................54
Gráfico 20 – Evolução preços nominais de cimento Grande Vitória.......................55
Gráfico 21 – Evolução despesa de venda por tonelada Nassau............................59
Gráfico 22 – Produção cimento Brasil, 1986/2004..................................................87
Gráfico 23 – Formação bruta de capital fixo na construção civil em US$ bilhões
correntes............................................................................................................... 89
Gráfico 24 – Oferta de apartamentos novos na cidade de São Paulo....................90
Gráfico 25 – Produção cimento Brasil, 1986/2004..................................................91
Gráfico 26 – Renda X produção de cimento...........................................................92
LISTA DE TABELAS.
Tabela 1 – Tipos de cimento Portland.......................................................................42
Tabela 2 – Produção de cimento por tipo 2003.........................................................42
Tabela 3 – Tipos de mídia e valores..........................................................................62
Tabela 4 – Estrutura da indústria em 1957................................................................75
Tabela 5 – Capacidade instalada de empresas nacionais e estrangeiras.................79
Tabela 6 Capacidade instalada, produção e consumo de cimento no Brasil
1966/1983 ............................................................................................................... 84
Tabela 7 – Evolução da produção de cimento 1980/1997.......................................88
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 12
2 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................... 16
3 EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA CIMENTO NO BRASIL ....................................... 25
4 A INDÚSTRIA DE CIMENTO NO BRASIL.......................................................... 30
4.1 CARACTERÍSTICAS ATUAIS DA INDÚSTRIA DE CIMENTO NO
BRASIL........................................................................................................... 30
4.1.1 Níveis de produção e consumo, capacidade instalada e capacidade
ociosa.............................................................................................................. 30
4.1.2 Participação dos grupos produtores.......................................................... 37
4.1.3 Tipos de cimento e normas de qualidade.................................................. 40
4.1.4 Segmentação do mercado de cimento e formas de distribuição............. 43
5 A INDÚSUTRIA CAPIXABA DE CIMENTO........................................................ 46
5.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA INDÚSTRIA............................................... 46
5.1.1 Caracterização e segmentação do mercado de cimento.......................... 48
5.1.2 Evolução da produção de cimento capixaba............................................ 51
6 CONCLUSÃO...................................................................................................... 65
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 68
8 APÊNDICE A- ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA DE
CIMENTO NO BRASIL .................................................................................. 71
12
1 – INTRODUÇÃO.
O mercado capixaba de cimento assim como o mercado nacional, é caracterizado
de acordo com SALVO (2004:20) como um mercado segmentado e regional. Esta
regionalização do mercado, dentre outros fatores, deriva do baixo valor agregado
do cimento associado aos elevados custos de transporte do produto. Deste modo,
dada as condições de obtenção de matérias primas, as fábricas de cimento
tenderiam a concentrar-se, próximas aos centros consumidores. Porém este fato
não é a regra, devido às jazidas de calcário encontrar-se geralmente longe dos
centros consumidores.
Até o ano de 1998, o estado do Espírito Santo contava com duas fábricas de
cimento: a Cimentos Nassau pertencente ao grupo João Santos, e a Cimentos
Paraíso pertencente ao grupo Holcim. A Cimentos Nassau aparece como líder de
mercado, mercado este dividido com a Cimentos Paraíso. Não se percebia
expressiva competição via publicidade entre as empresas existentes, onde a
publicidade limitava-se a placas em pontos de venda, banners e brindes. No
último trimestre do ano de 1998, entra em operação outra empresa no ramo
cimenteiro, a Cimentos Mizú, pertencente ao Grupo Polimix de concreto. Com a
entrada desta nova fábrica, percebe-se como estratégia de reação da empresa
líder (Nassau) a utilização de diferentes mídias, como televisão, rádio, outdoors,
busdoors entre outros. Deste modo, a Cimentos Nassau passa a elevar gastos
com publicidade no intuito de elevar as vendas e manter seu market share.
13
Por outro lado, a Cimentos Mizú entra no mercado com uma marca
desconhecida, e para conquistar participação de mercado utiliza como estratégia
de competição a concorrência via preços, ou seja, mantém preços menores que
os preços da empresa líder de mercado.
A partir deste cenário, formula-se a seguinte questão de pesquisa: Qual foi o
impacto da entrada de uma nova empresa na indústria de cimento capixaba?
Portanto, como objetivo principal deste trabalho, pretende-se mostrar as ações e
reações resultantes desta entrada.
As estratégias utilizadas pelas empresas, surtiram efeitos diversos e novas
reações. A estratégia de esforço de venda via publicidade empreendida pela
Nassau, não se mostrou eficiente diante dos menores preços praticados pela
Mizú, pois a Nassau perdeu market share. A Cimentos Mizú tem seu market share
ampliado em detrimento da participação de mercado da Nassau e da Paraíso
1
.
Diante deste quadro, a Cimentos Nassau, utiliza-se de uma nova estratégia de
mercado, onde realiza integração vertical com a inauguração de uma empresa de
concreto em junho de 2002, com o nome de Nassau Mix. Esta estratégia buscou
reverter a queda das vendas com a entrada no ramo de concreto usinado. Sabe-
se que a estratégia de integração vertical é recente, mas até o momento de
acordo com os dados coletados tal estratégia se mostrou inócua.
1
Durante a realização deste trabalho, não se observou reações estratégicas expressivas por parte da Cimentos
Paraíso.
14
A indústria brasileira de cimento foi retratada por diversos ângulos através de
alguns trabalhos e pesquisas. Dentre estes se destaca o trabalho de PROCHNIK
(1983), onde é feita uma análise da dinâmica da indústria de cimento no Brasil, e
posteriormente em outro trabalho PROCHNIK (1998), analisa a questão da
globalização da indústria de cimento. COUTINHO & FERRAZ (1993) realizaram
uma abrangente pesquisa analizando a competitividade da indústria brasileira de
cimento. HAGUENAUER (1997) analisa o padrão de concorrência e
competitividade da indústria de materiais de construção. Uma análise comparativa
da competitividade das indústrias brasileiras de cimento foi realizada por
BUGALHO (2000). Neste trabalho, Bugalho analisa a competitividade da indústria
brasileira em comparação com a indústria americana de cimento. Dando
continuidade ao trabalho de ALLEN (1971) e aplicando à realidade brasileira,
TEIXEIRA (et al 2003), estuda as experiências recentes dos casos de integração
vertical na indústria brasileira de cimento. Dentre os mais recentes temos o
trabalho de SALVO (2004), onde é feita uma análise do poder de mercado e das
potenciais ameaças à entrada na indústria brasileira de cimento.
Portanto, este trabalho visa analisar o mercado capixaba de cimento,
evidenciando as estratégias utilizadas pelas empresas diante da entrada de um
novo concorrente. Na primeira parte do trabalho, discute-se o referencial teórico
que dará suporte ao tema. Em seguida temos a caracterização da indústria
brasileira de cimento, que é evidenciada com dados importantes, apresentando a
distribuição geográfica e espacial das fábricas de cimento, volumes de produção,
grupos produtores canais de distribuição, perfil da distribuição e dos
consumidores, etc. Posteriormente, temos a análise do mercado capixaba de
15
cimento, sua evolução, formas de competição, e resultados da entrada de um
novo concorrente no mercado. O trabalho também é constituído por um apêndice,
no qual o leitor alcançará uma visão geral da história, do surgimento, e evolução
da indústria de cimento no Brasil até os dias atuais.
16
2- REFERENCIAL TEÓRICO.
Teoricamente, a estrutura de mercado e organização da indústria é dividida em:
concorrência perfeita e concorrência imperfeita. Ao estabelecer uma estrutura de
mercado SHY (1996:59), chama a atenção para diversos pontos que devem ser
observados, para então incluirmos uma empresa nesta ou naquela estrutura. Dentre
estes pontos temos: a) a decisão de cada firma, (política de preço, quantidade
produzida, capacidade de produção, localização); b) o número de firmas nesta
indústria; c) as expectativas individuais e das demais firmas da indústria; d) e a
expectativa das firmas quanto a potenciais entrantes na indústria.
SHY (1996:63) define um mercado em concorrência perfeita, onde existem vários
produtores e vários compradores, onde cada comprador tem pleno conhecimento
dos produtos e dos preços praticados. Neste mercado, as empresas podem entrar e
sair livremente do mercado, mas não determinam os preços, e sim as quantidades a
serem produzidas.
Concorrência imperfeita pode ser subdividida nas seguintes estruturas de mercado:
concorrência monopolística, oligopólio, e monopólio, de acordo com as
características de cada indústria. Neste mercado, as firmas m influência sobre os
preços e as quantidades ofertadas no mercado.
17
O monopólio é uma situação de mercado caracterizada pela existência de um único
vendedor, que segundo SHY (1996:71) influencia na quantidade ofertada e
conseqüentemente nos preços, enquanto que em duopólio duas firmas dividem o
mercado de um determinado produto.
Um mercado oligopolista caracteriza-se, de acordo com MANKIW (2005:346) pela
existência de poucos vendedores, e pela interdependência entre as firmas, ou seja,
a decisão de uma firma tem influência sobre as demais. Quanto a classificação,
pode ser classificado em oligopólio diferenciado (vende produtos diferenciados) e
oligopólio homogêneo (vende produtos homogêneos).
Ao estudar-se um mercado, geralmente busca-se entender como os preços e
quantidades produzidas chegarão a um equilíbrio. De acordo com PINDYCK
(2002:428) em casos onde o número de concorrentes é grande, assume-se como
premissa o preço ou a demanda do mercado, não se preocupando com as ações
dos concorrentes. Porém em oligopólio, com um número reduzido de concorrentes,
de acordo com HALL (2003:334), as decisões individuais têm força suficiente para
gerar reações do concorrente, o preço e a quantidade tornam-se variáveis
estratégicas.
A essência do oligopólio segundo VISCUSI (2000:101) e CABRAL (1994:36), é a
interdependência entre as firmas. Ou seja, a reação da empresa A, diante da
empresa B, depende das expectativas que a empresa A tem em relação à empresa
B.
18
De acordo com PINDYCK (2002:427), as decisões em oligopólio são complexas,
pois devido ao reduzido número de empresas, cada uma deve calcular de forma
cautelosa como suas ações afetarão as empresas rivais, bem como serão as
possíveis reações.
A estratégia utilizada por uma empresa depende do conhecimento ou não das
escolhas feita pela empresa concorrente. Segundo VARIAN (2003:508) quando uma
empresa estabelece um preço antes da outra, é chamada de der de preço; e a
outra seguidora de preço. Do mesmo modo ocorre quanto à quantidade, uma líder
de quantidade e outra seguidora de quantidade. Quando uma empresa desconhece
as escolhas da outra empresa é necessário adivinhar a escolha da outra empresa
para então tomar uma decisão. A análise deve ser feita dentro de um espectro de
possibilidades (reações) e de análise de cada empresa, o que segundo VARIAN
(2003:509) é um jogo simultâneo, e cada empresa é denominada de player
VISCUSI (2000:100).
Segundo VISCUSI (2000:101) de acordo com conhecimento que cada empresa
possui de seus concorrentes, ela buscará fazer o melhor que pode diante das ações
dos mesmos, e quando este esforço chega ao auge ele é chamado de equilíbrio de
Nash.
Diante deste quadro, a empresa adotará diferentes estratégias para conhecer e/ou
responder às ameaças de um concorrente. Segundo VARIAN (2003:508) se houver
duas empresas no mercado a fabricar um produto homogêneo, haverá duas
variáveis de interesse: os preços, e as quantidades produzidas por cada empresa.
19
Alguns modelos são utilizados para explicar o comportamento oligopolístico em
mercado de produtos homogêneos: o modelo de Cournot, o modelo de Stackelberg,
e o modelo de Bertrand.
Segundo CABRAL (1994:35) no modelo de Cournot, a variável estratégica
manipulada por cada empresa é a quantidade produzida, e a quantidade produzida é
escolhida simultaneamente; o lucro de cada empresa é função da quantidade
produzida por esta empresa e do preço de mercado, que por sua vez é função da
quantidade produzida por ambas as empresas; finalmente o equilíbrio de mercado é
dado pelo equilíbrio de Nash deste jogo, também conhecido pelo equilíbrio de Nash-
Cournot.
De acordo com PYNDYCK (2002:431) ao fixar a quantidade a ser produzida, cada
empresa simultaneamente estará determinando sua curva de reação, e segundo
CABRAL (1994:40) a intercessão destas curvas é intermédia entre a quantidade de
monopólio e a quantidade de concorrência perfeita.
Em contraposição ao modelo de Cournot, onde as decisões das quantidades são
simultâneas, temos o modelo de Stackelberg onde as decisões são seqüenciais, ou
seja, a empresa A (líder) toma a decisão de quanto produzir, e somente então
baseado neste conhecimento é que a empresa B (seguidora) decide quanto
produzir. Segundo VARIAN (2003:509) o modelo de Stackelberg é freqüentemente
utilizado para descrever indústrias em que haja uma empresa dominante, ou uma
líder natural, ou seja, é o modelo líder-seguidora. Conforme PINDYCK (2002:435), a
20
vantagem de ser líder na escolha do volume de produção, se dá pelo fato da
empresa líder permanecer com o nível de produção maior, independente da reação
da empresa seguidora, pois fazer o anúncio em primeiro lugar, leva a um fato
consumado, independente do que o concorrente venha a fazer.
Outro modelo para a análise em oligopólio é o modelo de Bertrand, que também
foca a análise em produtos homogêneos, e em decisões simultâneas das empresas.
Porém, o modelo de Bertrand difere do modelo de Cournot, focando a análise não
na quantidade ofertada, mas sim nos preços, ou seja, de acordo com VARIAN
(2003:524), no modelo de Cournot supunha-se que as empresas escolhessem as
suas quantidades e deixavam que o mercado determinasse os preços. Já no modelo
de Bertand, a outra abordagem é pensar que as empresas fixem os preços e
deixem o mercado determinar a quantidade vendida. De acordo com PINDYCK
(2002:435), a empresa A decide seu preço baseado na observação do preço da
empresa B, que é tomado como fixo para a empresa A.
De acordo com VARIAN (2003:525) e SHY (1996:108), o equilíbrio no modelo de
Bertrand, é o equilíbrio competitivo, onde o preço se iguala ao custo marginal. Este
fato é perceptível quando duas empresas decidem vender seus produtos com preços
acima do custo marginal, preço este que chamaremos de X. Caso a empresa A
resolva reduzir seu preço para um pouco abaixo do valor X, todos os consumidores
optarão comprar os produtos da empresa A, e assim conseguirá roubar todos os
clientes da empresa B. que a empresa B pode pensar da mesma forma, levando
a uma competição de preços, chegando até o limite do preço de equilíbrio, onde o
preço é igual ao custo marginal.
21
Em sua análise da acumulação interna da firma GUIMARÃES (1987:36) observa que
o potencial de acumulação gerado internamente, deve ser investido, seja
intensificando a competição em seu mercado corrente através de novos produtos,
seja realizando investimento em novas indústrias, e conseqüentemente expandindo-
se para além de seu mercado corrente. A primeira opção é conhecida como
diferenciação de produto, que é a introdução em sua linha de produtos de uma nova
mercadoria que geralmente é uma substituta próxima de alguma outra previamente
produzida. A segunda opção é chamada de diversificação das atividades da firma,
que é o movimento da empresa ir além de seu mercado corrente para investir em
uma nova indústria. GUIMARÃES (1987:44) salienta que é improvável - no caso de
indústrias competitivas - que o potencial de crescimento exceda sistematicamente a
expansão do mercado, e mesmo que ocorra pode ser superado pelos mecanismos
de competição vigentes neste tipo de indústria. Em indústrias oligopolistas, a
realização do potencial de crescimento não está assegurada, podendo a firma dispor
de um potencial de crescimento que não pode ser investido no interior da própria
indústria, o que leva à busca de novos limites que vão além de seu mercado
corrente.
Por outro lado, a prática de diferenciação de produtos em uma empresa muitas
vezes é apresentada como uma opção sempre viável para as empresas, como algo
intrínseco à capacidade criativa das empresas, entretanto, este aspecto é
questionado por GUIMARÃES (1987:39), pois nem toda empresa tem vocação para
a diferenciação de produtos como no caso de empresas oligopolistas fabricantes de
produtos homogêneos. É verdade, que esta falta de competição por diferenciação de
produtos em determinadas indústrias, pode ser atribuída a características internas à
22
firma ou traços de estrutura de mercado. Porém segundo GUIMARÃES (1987:37)
existem certas características que vão além das mencionadas, características
estas que se revelam nos produtos da indústria e em seus consumidores,
determinantes estes que vão condicionar a vocação da indústria para a
diferenciação.
De acordo com SALVO (2004:21) algumas características de certos produtos
fortalecem a não diferenciação tais como: poucos substitutos, baixa elasticidade-
preço da demanda e pouca inovação no produto.
Deste modo, GUIMARÃES (1987:37) parte do ponto que as mercadorias podem
ser classificadas de acordo com o número de critérios utilizados pelos consumidores
para escolher entre produtos substitutos. Os compradores podem basear sua
escolha em uma única característica do produto como, por exemplo, o poder
calorífico do carvão. Essa escolha pode ser baseada em um critério unidimensional
de avaliação, o que caracteriza um produto unidimensional
2
. Por outro lado, vários
aspectos podem ser levados em consideração por parte dos compradores para a
escolha: por exemplo, no caso de um automóvel, o custo de manutenção, conforto,
segurança, valor estético e eficácia como símbolo de status. Esta escolha baseada
em critérios de avaliação de múltiplas dimensões revela um produto
multidimensional.
2
Guimarães utiliza o termo unidimensional para definir um produto homogêneo.
23
O conceito de vocação para diferenciação de produto, apresentado por
GUIMARÃES (1987: 36) é resultado de uma análise inversa, partindo da observação
do mercado e das características e particularidades dos produtos e consumidores. O
mercado de cimento, de acordo com Simonsen (apud CUNHA e FERNANDEZ,
2003: 152) constitui exemplo clássico de oligopólio puro, em que um número restrito
de concorrentes oferece o mesmo produto homogêneo.
Deste modo, de acordo com SALVO (2004:71) em oligopólio homogêneo pouco
espaço para diferenciação de produto, ou seja, a margem de persuasão dos
consumidores é menor, portanto, a exploração via publicidade que é encontrada
mais especificamente em produtos multidimensionais, é limitada para produtos
unidimensionais. Assim, no caso de produtos homogêneos, onde efetivamente não
diferenças qualitativas, de acordo com GUIMARÃES (1987:35), não é de se
esperar a existência de competição por esforço de venda na indústria oligopolista.
Isto se deve por um lado pela característica dos produtos no caso do oligopólio
homogêneo, e por outro, pelo fato do esforço de venda conduzir a dois fatos: a)
propiciar algum aumento de vendas por um lado, b) e dada à magnitude do esforço
de venda, e o custo envolvido, o declínio da margem de lucro. O que segundo
GUIMARÃES (1987:35) seria equivalente a uma redução no preço.
Portanto, GUIMARÃES (1987:36) e HALL (2003:356) destacam que, como qualquer
firma pode responder a um aumento de esforço de venda de seus competidores, o
único resultado de tentativas de aumentar a participação de mercado pela
intensificação desta forma de competição será o declínio da taxa de lucro como um
todo, ou seja, uma vez que o esforço de venda realizado por uma empresa, venha
24
retirar demanda de produtos das demais, haverá, portanto, reação a este fato pelas
demais empresas, seja através de um esforço de venda em magnitude maior, ou
uma redução de preços momentânea. GUIMARÃES (1987:36) observa que o
esforço de venda pode ser negativo se usado em demasia, pois os mesmos
apresentam rendimentos decrescentes a partir de certo ponto.
25
3- EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE CIMENTO NO BRASIL.
Este tópico trata da evolução da indústria de cimento no Brasil. A abordagem será
de forma resumida. Para uma análise mais detalhada sobre este pico ver
apêndice A, onde todos os dados e informações estão disponíveis.
A indústria de cimento, assim como a indústria têxtil, foi uma das primeiras a se
instalar no Brasil. O fato se de forma permanente a partir de 1926 (PROCHNIK
1983:67) com a produção de cimento por parte da Companhia de Cimento Brasileiro.
(Ver apêndice). A participação do capital estrangeiro, neste período foi decisiva, pois
compunha a maior parte dos investimentos. Especificamente no caso da Companhia
de Cimento Brasileiro, segundo PROCHNIK (1983:67), a proporção na participação
do capital era de 70% de capital canadense, e 30% de capital nacional.
No ano de 1926, somente 3,4% do consumo de cimento, foi produzido internamente,
necessitando, portanto, da importação do mesmo. Apenas em 1943, o país alcança
a marca de 97,9% do cimento produzido em território nacional, graças à instalação
de cinco novas fábricas durante este período.
Especificamente para a indústria de cimento, a produção nacional, e
conseqüentemente próxima dos centros consumidores, torna-se algo imprescindível,
devido às características do produto como deterioração, elevado custo de transporte
e necessidade de estoques. Deste modo, a importação foi gradualmente sendo
reduzida à medida que a produção nacional aumentava.
26
Nas décadas de vinte e trinta, a demanda brasileira de cimento, dependia do
impulso gerado pela exportação de café, ou seja, os lucros desta atividade primária
exportadora dinamizavam não somente a indústria de cimento, mas toda uma cadeia
de produção da indústria de construção civil em geral. Deste modo, obras de infra-
estrutura, voltadas para a atividade cafeeira, como portos, usinas de geração de
energia, armazéns, obras públicas e de urbanização das grandes cidades, geraram
a uma demanda crescente por cimento.
Com a crise de 1929, as exportações de café caíram, impactando negativamente em
todos os setores da economia. A demanda por cimento nos três anos seguintes à
crise chegou a cair à metade, de acordo com PROCHNIK (1983:65).
A demanda de cimento começa a crescer a partir de 1937, retomando os níveis
anteriores à crise. Este crescimento deveu-se principalmente à realização de obras
de infra-estrutura financiadas pelo governo federal, como barragens, viadutos,
usinas de geração de energia.
A consolidação da estrutura da indústria de cimento ocorre no período
compreendido entre os anos de 1943 a 1967. De acordo com PROCHNIK (1983:81),
a demanda de cimento na década de quarenta decorre principalmente de obras
habitacionais, e na década de cinqüenta da construção pesada. Os dados de
crescimento da população urbana, explicam a demanda por unidades habitacionais
na década de quarenta, que de acordo com COSTA (1975, apud PROCHNIK 1983),
o crescimento da população urbana foi de 3,2% ao ano. PETRONE (1975, apud
27
PROCHNIK 1983), observa que o índice de edificações no Rio de Janeiro, cresceu a
uma taxa média de 13% ao ano, entres os anos de 1939 e 1947.
Na década de cinqüenta, o crescimento na demanda por cimento, decorre da
construção pesada, com investimentos governamentais em hidroelétricas,
pavimentação de rodovias federais e estaduais, que segundo PROCHNIK (1983:85),
cresceu em média de 30% ao ano, entres os anos de 1955 e 1961.
Entre o ano de 1943 a 1953, a indústria não conseguiu acompanhar o crescimento
da demanda, pois enquanto que a produção crescia em média em 7,3% ao ano, a
demanda cresceu em 13%. Neste período o déficit de cimento foi suprido
inicialmente pela importação do produto, e posteriormente pelo aumento da
capacidade instalada da indústria nacional.
Durante o período 1943/1955 acentua-se a predominância de indústrias constituídas
com capital nacional (ver tabela 5 no apêndice A), deste modo a participação do
capital nacional neste período torna-se majoritária. A tabela 4 do apêndice A, mostra
os diversos grupos e fábricas de cimento distribuídos geograficamente por vários
estados do território nacional.
O período do milagre (1968/1980), caracterizado por planos governamentais,
conhecidos como PND’s, contribuíram para o crescimento da demanda por cimento,
pois ambos focavam em grandes projetos de infra-estrutura como rodovias,
hidroelétricas e saneamento, todas com grande consumo de cimento. O impacto
28
sobre a indústria de cimento neste período, pode ser observado na tabela 6 do
apêndice A.
A cada de 80, e parte da década de 90, foi um período de redução no consumo e
produção de cimento. Estes anos foram caracterizados por períodos de altas taxas
de inflação e instabilidade da economia. Neste período, diversos planos de
estabilização econômica foram implantados sem sucesso duradouro, gerando
incertezas e queda do poder aquisitivo da população, que influenciaram no consumo
de cimento. Os gráficos 25 e 26 do apêndice A, evidenciam os reflexos da
instabilidade econômica sobre o consumo e o impacto sobre a produção de cimento.
Com a estabilização da economia, decorrente da implantação do plano real em
1994, houve um crescimento no consumo de diversos produtos, consumo este
resultado do ganho do poder aquisitivo da população brasileira, após a estabilização
econômica. Segundo BUGALHO (2000:163), o crescimento do consumo de cimento
foi impulsionado pelo aumento do consumo “formiga”
3
. Neste período que
compreende os anos de 1994 a 1998, a produção de cimento salta de 24 milhões de
toneladas para cerca de 40 milhões de toneladas ano, conforme o gráfico 25 do
apêndice A.
O período compreendido entre os anos de 1986 e 2002, pode ser resumido de
acordo com o gráfico 25 no apêndice A, onde se observa claramente três períodos
distintos da economia brasileira, assim como o seu impacto sobre a demanda e
conseqüentemente sobre a produção de cimento. O primeiro período compreendido
3
Bugalho utiliza esta denominação para descrever o consumo de cimento por parte de pequenos consumidores
finais e construtores autônomos.
29
entre os anos de 1986 e 1994, é caracterizado pela inflação alta e estagnação, onde
a produção de cimento não cresceu. O segundo período, vai de 1994 a 1998,
período este, caracterizado pela estabilização econômica e aumento do poder
aquisitivo da população, o que aumentou a demanda por cimento. O terceiro, e
último período, segue de 1999 até os dias atuais, caracterizado pela crise
internacional no ano de 1999 que influenciou o mercado interno reduzindo a
demanda por cimento.
30
4 - A INDÚSTRIA DE CIMENTO NO BRASIL
4.1 CARACTERÍSTICAS ATUAIS DA INDÚSTRIA DE CIMENTO NO BRASIL.
4.1.1 Níveis de produção e consumo, capacidade instalada e capacidade
ociosa.
Segundo o relatório anual do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC,
2003), a indústria de cimento no Brasil é constituída por 58 fábricas, espalhadas na
maior parte dos estados brasileiros, conforme a figura 1:
Figura 1 – Distribuição geográfica das indústrias de cimento Brasil.
31
Destas fábricas, 30 estão concentradas na região sudeste sendo, 12 bricas em
Minas Gerais, 9 em São Paulo, 6 no Rio de Janeiro e 3 no Espírito Santo. A
evolução da participação regional na produção de cimento pode ser observado
abaixo:
Participação Regional em 1993
3%
14%
56%
17%
10%
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Fonte dos dados : SNIC.
Gráfico 1 – Participação regional na produção 1993.
Participaçao Regional em 1998
3%
55%
15%
9%
18%
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Fonte dos dados: SNIC.
Gráfico 2 – Participação regional na produção 1998
32
Participaçao Regional em 2004
4%
50%
17%
10%
19%
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Fonte dos dados: SNIC.
Gráfico 3 – Participação regional na produção 2004
Observa-se, a redução da participação da região sudeste na produção nacional de
cimento. Por outro lado, crescimento da produção nas regiões Norte e Nordeste
do país.
Quanto ao tamanho das fábricas de cimento brasileiras, de acordo com COUTINHO
e FERRAZ (apud BUGALHO, 2000:157), estas se caracterizam em sua maioria,
como de médio e grande porte, com 47,71% da produção em unidades de até
600.000 t/ano e 27,58% entre 600.000 e 1.000.000 t/ano conforme mostra o gráfico
4 :
Distribuição da Produção Segundo Capacidade, Brasil
(1991)
0,51%
17,07%
30,13%
27,58%
24,71%
Inferior a 100.000t
De 100.001 a 300.000t
De 300.001 a 600.000t
De 600.001 a 1.000.000t
Superior a 1.000.000t
Fonte: Bugalho (2000).
Gráfico 4 – Distribuição da produção segundo capacidade, 1991.
33
De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento, (SNIC), em 2004 o
estado de Minas Gerais, foi o estado com o maior volume de produção de cimento,
com um total produzido de 7.640.322 t, representando 22,8% da produção nacional,
seguido de São Paulo com 5.196.555 t (15,10%), e Paraná com 4.059.710 t (11,5%).
Segundo dados do SNIC, a capacidade instalada do parque industrial brasileiro pode
produzir cerca de 60 milhões de toneladas de cimento.
A produção de cimento no Brasil, alcançou o seu recorde de produção no ano de
1999, com um volume de 40.234.000 toneladas (SNIC, 2004), nos anos posteriores
observa-se uma queda na produção do acordo com o gráfico 5:
Evolução da Produção de Cimento, Brasil.
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
Ano
Produção em mil/ton.
Fonte dos dados: SNIC.
Gráfico 5 – Evolução da produção cimento Brasil.
34
O maior volume de produção e consumo de cimento concentra-se na região sudeste
do Brasil, mas nem todo cimento produzido é consumido na própria região de
origem, pois algumas regiões são superavitárias enquanto que outras deficitárias na
produção de cimento conforme os gráficos 6 a10 :
Cimento Região Norte
0
500
1000
1500
2000
2500
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
Ano
Mil Toneladas
Produção
Consumo
Fonte dos dados: SNIC.
Gráfico 6 – Evolução da produção e consumo região Norte.
Evolução da Produção e Consumo de
Cimento Região Nordeste
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
Ano
Mil Toneladas
Produção
Consumo
Fonte dos dados: SNIC.
Gráfico 7 – Evolução da produção e consumo região Nordeste.
35
Evolução da Produção e Consumo de
Cimento Região Centro-Oeste
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
Ano
Mil Toneladas
Produção
Consumo
Fonte dos dados: SNIC.
Gráfico 8 – Evolução da produção e consumo região Centro-oeste.
Evolução da Produção e Consumo de
Cimento Região Sudeste
0
5000
10000
15000
20000
25000
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
Ano
Mil Toneladas
Produção
Consumo
Fonte dos dados: SNIC.
Gráfico 9 – Evolução da produção e consumo região Sudeste.
36
Evolução da Produção e Consumo de
Cimento Região Sul
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
Ano
Mil Toneladas
Produção
Consumo
Fonte dos dados: SNIC.
Gráfico 10 – Evolução da produção e consumo região Sul.
Das cinco regiões brasileiras, a região Norte é a que apresenta um maior
descompasso entre produção e consumo, ou seja, a produção de cimento é
menor que o consumo. Evidentemente, este consumo deve ser suprido por
fábricas de outras regiões, e o critério é a menor distância entre a fábrica e o
centro consumidor. Deste modo, no caso da região Centro-Oeste, explica-se o
motivo do excedente da produção, pois o mesmo é para suprir a déficit de
produção da região Norte, o mesmo ocorre com parte da produção da região
Nordeste. Quanto às regiões Sudeste e Sul, onde se concentra o maior volume de
fábricas e de produção de cimento, as diferenças entre produção e consumo são
mínimas, isto se deve pelo fato da variação da demanda ser rapidamente
respondida, quer seja positiva ou negativa.
Ao observarmos os números da produção atual, este representa um nível de
utilização de capacidade, de acordo com TEIXEIRA (et al 2003:391) em torno dos
63%, ou seja, muito abaixo dos 80,4% da média da indústria brasileira, divulgado
37
em maio de 2003 pelo IBGE. No gráfico 11, pode-se observar a evolução da
capacidade ociosa da indústria de cimento:
Utilização da Capacidade Instalada
66
68
70
72
74
76
78
80
82
84
86
88
90
I-95
I
V
-95
III-96
II-97
I
-98
I
V
-98
III-99
I
I-
0
0
I-02
II-0
3
Trimestre/ano
Fonte: Teixeira (et al 2003:390)
Gráfico 11 – Utilização da capacidade instalada da indústria de cimento Brasil.
4.1.2 Participação dos grupos produtores.
A concentração da indústria nacional é bastante elevada, mas não difere muito da
média mundial. Atualmente, no Brasil, o cimento é produzido por apenas 10 grupos
empresariais, responsáveis como visto por 58 fábricas espalhadas em 22
unidades da federação. A configuração atual da indústria brasileira de cimento, com
seus diferentes grupos e participações de mercado, é resultado de vendas e
aquisições de empresas. O apêndice A, mostra em detalhes estas aquisições, desde
as primeiras fábricas e grupos até os atuais.
38
Para uma análise mais completa, será apresentada a participação dos grupos
industriais no Brasil, e posteriormente será apresentada a participação por região
geográfica.
O gráfico 12, evidencia a participação dos grupos industriais produtores de cimento
no Brasil:
Participação dos Grupos Empresariais no Brasil 2004
40,5%
13,0%
10,2%
8,4%
7,8%
6,5%
5,0%
2,7%
3,3%
2,5%
Votorantim
Jo Santos
Cimpor
Holcim
Camargo Corrêa
Lafarge
CP Cimento
Soeicom
Itam
Ciplan
Fonte: SNIC
Gráfico 12 – Participação de mercado dos grupos industriais no Brasil.
Do gráfico 12, quanto à participação dos grupos industriais no Brasil, observa-se
que a soma dos três maiores grupos produtores, Votorantim, João Santos
(Nassau) e Cimpor (Cimentos Portugal), chega-se a 63,71% do mercado
brasileiro de cimento. Maiores níveis de concentração de mercado, são
observados quando a análise é feita levando em consideração as diferentes
regiões geográficas do país, como podemos observar no gráfico 13:
39
Participação na Produção dos Grupos
Industriais por Região
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
N NE CO SE SUL
Participão (%)
Jo Santos
Votorantim
Cimpor
Holcim
C.Correa
Lafarge
CP-Cimento
Ciplan
Soeicon
Itam
Fonte dos dados: SNIC.
Gráfico 13 – Participação na produção dos grupos por região.
A análise regional da participação dos três maiores grupos produtores de cimento,
no caso o grupo Votorantim, João Santos e Cimpor, revela fatos importantes. Em
primeiro lugar, deve-se salientar que os dados referem-se à participação na
produção, o que não significa necessariamente que no mercado não haja outras
marcas, como é o caso do grupo João Santos que detém 100% da produção da
região Norte, mas disputa com outras marcas de outras regiões brasileiras,
especialmente marcas de cimento produzidas na região Nordeste e Centro-oeste.
Do gráfico 18, o grupo Votorantim, maior produtor nacional, aparece em primeiro
lugar nas regiões Sul e Nordeste com respectivamente 73,9%, e 48,67% da
produção. Na região Sudeste, onde maior concentração de fábricas, a
participação do grupo é de 28,64%, mas permanece como líder também nesta
região.
40
O grupo João Santos, segundo maior produtor brasileiro, aparece em primeiro
lugar nas regiões Norte e Centro-oeste, com 100% e 48,9% da produção
respectivamente. O grupo também possui participação significativa na região
Nordeste com 30,35% ficando em segundo lugar. Na região Sudeste a
participação é de 6,4%, onde a produção é realizada através da única fábrica
deste grupo na região, localizada no estado do Espírito Santo.
O terceiro maior produtor de cimento no Brasil, o grupo Cimpor, não aparece
como maior produtor em nenhuma região do país, mas está presente em todas
exceto a região Norte. Aparecem em terceiro lugar nas regiões Nordeste, Centro-
oeste e Sul com participação de 20,96%, 18,29% e 11,83% respectivamente.
4.1.3 Tipos de cimento e normas de qualidade.
Atualmente, o Brasil produz cinco tipos de cimento Portland comum de coloração
cinza, e também o cimento branco. Estes tipos variam de acordo com as adições
feitas no processo de fabricação. Dentre estes, alguns são de aplicação bem
específica, de acordo com a necessidade de uso.
No Brasil, utiliza-se uma nomenclatura única para descrever os tipos de cimento,
assim como as suas características técnicas e de aplicação de acordo com
BUGALHO (2000:164):
41
“CP II F 32”, em que CP significa Cimento Portland; II é o tipo de cimento; F é o
tipo de adição (F= filler; Z= pozollana; E = escória); 32 é a classe de resistência aos
28 dias de Mpa (1,0 Mpa um milhão de Pascais que é igual a 10,6 Kgf/cm2)
que pode ser de 25 e 40, além de 32.
Portanto os tipos de cimento Portland produzidos segundo BUGALHO (2000:165)
são:
CP I – cimento Portland comum;
CP I - S - cimento Portland comum com adição;
CP II – E Cimento Portland composto com adição de escória de alto forno;
CP II – Z Cimento Portland composto com pozolana;
CP II – F Cimento Portland composto com filler (calcário);
CP III cimento Portland de alto forno;
CP IV – cimento Portland pozolânico;
CP V – cimento Portland de alta resistência inicial.
No Brasil, os fabricantes seguem as normas de certificação do INMETRO, pois para
cada tipo de cimento produzido respeitam-se as adições necessárias para que o
produto possua a qualidade mínima exigida pelas diferentes normas. Deste modo, a
certificação de uma marca de cimento, não é vantagem competitiva, mas sim um
pré-requisito para a entrada no mercado de cimento.
42
A tabela 1 mostra as especificações de cada tipo de cimento, assim como as suas
respectivas normas de referência:
Tabela 1 – Tipos de cimento Portland.
Composição
Tipos de
Cimento
Portland
Classe de
resistência
Mpa
Norma
Brasileira
Clínquer +
gesso
Escória alto
forno
Pozolana
CP I 25;32 NBR 5732 100 0 0
CP I - S 40 NBR 5732 95 – 99 1 – 5 1 – 5
CP II – E 25 NBR 11578 56 – 94
CP II – Z 32 NBR 11578 76 – 94 6 – 14 6 – 14
CP II – F 40 NBR 11578 90 – 94
CP III 25;32;40. NBR 5735 25 – 65 0 0
CP IV 25;32 NBR 5736 45 – 85 15 – 50 15 – 50
CP V -ARI NBR 5733 95 - 100 0 – 5 0
Fonte: Bugalho (2000)
A tabela 2 mostra a quantidade de cada tipo de cimento produzido no Brasil para o
ano de 2003:
Tabela 2 – Produção de cimento por tipo 2003.
Tipos de cimento
Quantidade
produzida
Participação
(%)
CP I 643392 1,89
CP II 24392601 71,72
CP III 4423673 13,00
CP IV 2580709 7,58
CP V 1969740 5,79
Fonte: SNIC, 2003
Portanto, de acordo com a tabela 2, cerca de 85% do cimento produzido e
consumido no Brasil, são do tipo II e III, ou seja, que podem ser utilizados
livremente em quaisquer obras civis em geral.
43
4.1.4 Segmentação do mercado de cimento e formas de distribuição.
O cimento como produto, possui características que contribuem na delimitação do
mercado onde a fábrica vai atuar. Um destes fatores de acordo com COUTINHO e
FERRAZ (apud BUGALHO, 2000:163) se deve ao baixo valor agregado do cimento,
o que implica na elevada participação dos custos dos fretes no preço final do
produto. Segundo BUGALHO (2000:163), a elevada incidência dos custos de
transportes no produto dificulta a ampliação da área de comercialização dos
fabricantes, e leva à concentração local e regional. Geralmente, as fábricas não
estão localizadas próximas aos centros consumidores, mas sim próximas às jazidas
de calcário, o que amplia as distâncias a serem percorridas.
O cimento é um produto perecível, exigindo baixos níveis de estoques. Segundo
HAGUENAUER (apud TEIXEIRA: 2003,372), devido aos altos custos de transporte,
que podem chegar a a 20% do preço do produto, o mercado servido pelos
fabricantes deve-se se situar entre 300 a 400 km da fábrica. SALVO (2004:20)
também destaca que os custos de transporte assumem significativa proporção do
custo total do cimento, e contribui para a criação de um mercado de cimento
segmentado. Algumas exceções são justificadas pelos elevados ganhos de escala
(em alguns casos) e pelo elevado índice de ociosidade do setor. HAGUENAUER
(apud TEIXEIRA: 2003,372) explica a “existência de fluxos de cimento a distâncias
maiores, inclusive exportações, devido muitas vezes a custos marginais, ou seja,
com custos que cobrem apenas os custos variáveis”.
44
O gráfico 14, mostra o meio de transporte mais utilizado no Brasil para o despacho
do cimento:
Despacho por meio de transporte
91%
7%
2%
Rodoviário
Ferroviário
Hidroviário
Fonte: SNIC 2003.
Gráfico 14 – Despacho por meio de transporte.
Observa-se, portanto, que o transporte rodoviário é o meio maciçamente utilizado
para a distribuição do produto, apesar de entre outras opções ser o de maior
custo. A opção por esta forma de distribuição deve-se a principalmente a dois
fatores. Primeiramente, segundo BUGALHO (2000:163) devido ao sucateamento
da malha ferroviária verificada em décadas passadas, o que reduziu a
confiabilidade quanto aos prazos, e a falta de investimento em infra-estrutura para
a utilização de hidrovias. Segundo HAGUENAUER (apud BUGALHO: 2000,163)
as empresas de cimento que investiram na construção de fábricas próximas as
ferrovias foram penalizadas, pois a elevação dos custos de transporte ferroviário
acabou inviabilizando a opção de transportes por este meio.
45
Deste modo, a distribuição de cimento por meio do transporte rodoviário
consolidou-se como a opção mais viável, mas não a mais econômica, este fato
ocorre devido às características dos consumidores de cimento. No Brasil, de
acordo com o SNIC, 79% do cimento produzido é vendido em sacos (21% granel),
geralmente de 50 kg, ou seja, o mercado demanda o cimento ensacado, dada a
configuração dos consumidores apresentada no gráfico 15.
Despacho por canal de distribuição 2003
69%
14%
9%
7%
1%
Revendedor
Concreteira
Outros
Consumidores
Industriais
Consumidor final
Exportação
Fonte: SNIC 2003.
Gráfico 15 – Despacho por canal de distribuição 2003.
A distribuição de cimento feita por meio dos revendedores é totalmente através de
cimento ensacado, pois é por meio do revendedor que é alimentado o consumo
“formiga”, descrito anteriormente. O cimento vendido a granel é transportado
por caminhões especialmente fabricados para este produto, este meio de
distribuição atende principalmente as concreteiras e a grandes consumidores
industriais, pois não possui embalagem, o que reduz o custo por tonelada.
46
5.0 A INDÚSUTRIA CAPIXABA DE CIMENTO.
5.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA INDÚSTRIA.
Teoricamente o mercado capixaba de cimento é definido como um mercado
segmentado e regional, no qual apenas três empresas fabricam o mesmo produto
homogêneo. Antes da entrada da terceira empresa, se observava certa divisão do
mercado de cimento. Tínhamos um bom exemplo do modelo da empresa líder-
seguidora. Porém, este modelo é perturbado através da entrada da Cimentos
Mizú, praticando preços inferiores aos praticados pela empresa líder. Deste modo,
desencadearam-se algumas reações estratégicas neste mercado.
No ano de 2004 a indústria capixaba de cimento participou com a produção de
1.882.091
4
toneladas de cimento, ou seja, 5,35% do volume total de cimento
produzido no Brasil.
Atualmente, a indústria capixaba de cimento que é constituída por três fábricas,
pertence a três grupos distintos: o grupo João Santos, com a marca Nassau; o
grupo Holcim, com a marca Paraíso, e o grupo Polimix, com a marca Mizú. Até a
presente data desta pesquisa, não se tem notícia de outras marcas de cimento
sendo comercializadas no estado. Deste modo, apesar da proximidade de outros
estados vizinhos, e da possibilidade da entrada de outras marcas de cimento,
entende-se, portanto, para a realização deste trabalho, que o mercado capixaba
4
Este volume de produção inclui a produção da Cimentos Mizu, que não é filiada ao SNIC.
47
de cimento é abastecido apenas com estas três marcas. Como definido por
SALVO (2004:20), o mercado de cimento é um mercado bem segmentado e
regional.
A empresa líder de mercado é representada pelo grupo João Santos, detentor da
marca Nassau, tem sua origem na atividade agrário-exportadora, no ramo de
alimentos. O grupo surgiu no estado da Paraíba, onde começa em 1943 a
produção de cimento com uma pequena unidade de produção localizada no
município de Itapessoca (ver apêndice A). No período que se estende entre os
anos de 1955 e 1967 o grupo João Santos adquiriu duas pequenas fábricas de
cimento, a Pires Carneiro no estado do Pará, e a Cimentos Bárbara, localizada no
município de Cachoeiro do Itapemirim no Espírito Santo. A fábrica localizada no
estado do Espírito Santo foi reformada e ampliada consideravelmente a sua
capacidade de produção. em 1967 o grupo João Santos aparece como o quarto
maior grupo produtor de cimento do Brasil. Desde a aquisição da antiga fábrica de
cimento Bárbara, o grupo passou a utilizar a marca Nassau, consolidou-se como
líder de mercado no estado do Espírito Santo, e atualmente de acordo com o
SNIC, aparece como o segundo maior grupo produtor de cimento no Brasil. A
unidade do Espírito Santo é a única fábrica em operação do grupo João Santos na
região Sudeste. O grupo possui nove fábricas espalhadas por vários estados,
principalmente na região Nordeste e Norte do país.
O grupo Paraíso, do industrial Severino Pereira inicia a fabricação de cimento na
década de quarenta, com a instalação de uma fábrica no estado do Rio de Janeiro,
no município de Paraíso (ver apêndice A). Posteriormente, instala uma fábrica no
48
município de Serra no Espírito Santo. Em julho de 1996, o grupo suíço, Holderbank
adquire a fábrica do grupo Paraíso. O grupo também conhecido por Holcim, manteve
a marca Paraíso, e aparece de acordo com o SNIC em quarto lugar no ranking
nacional.
A terceira unidade produtora de cimento em solo capixaba é a Cimentos Mizu,
localizada no município de Serra. Esta unidade tem sua origem da diversificação do
Grupo Polimix, importante grupo atuante no ramo de concreto. A unidade foi
inaugurada em outubro de 1998 e atualmente é a mais nova fábrica de cimento do
estado.
5.1.1 Caracterização e segmentação do mercado de cimento.
Para a análise da indústria de cimento, é necessário entender como funciona o
mercado onde esta indústria atua, assim como a sua extensão. Tomando por
referência as distâncias mencionadas por HAGUENAUER (apud TEIXEIRA:
2003,372), o cimento produzido no Espírito Santo tem como mercado uma região
delimitada a até 400 km da fábrica. Deste modo, o sul do Estado da Bahia, parte da
região oeste de Minas Gerais, e o norte fluminense, compõem esta faixa de
mercado, como pode ser observado na figura 2.
49
Figura 2 – Área de mercado da indústria capixaba de cimento.
Vale lembrar que, algumas exceções devem ser observadas quanto a estes limites.
Primeiramente, como mencionou Haguenauer, o fato de uma fábrica transportar o
produto para muito além desta delimitação (300 a 400 Km), onde a fábrica opera a
custos marginais, ou seja, que cobrem apenas os custos variáveis. Por outro lado
por uma questão estratégica, como no caso da Nassau, que mantêm um fluxo de
cimento ensacado para o estado de São Paulo
5
, mercado este muito além do
mercado já discutido. Neste caso da Nassau, a empresa está em fase de construção
de uma fábrica no estado, portanto justifica-se o fluxo de cimento para manter e
divulgar a marca na região. Também a Cimentos Mizu mantém um fluxo de cimento
5
Informação obtida com diretor comercial da Nassau.
50
a granel para o estado de São Paulo
6
, para atender as concreteiras do grupo
Polimix.
Deste modo, como visto anteriormente, o estado do Espírito Santo, é superavitário
na produção de cimento, ou seja, não consome todo o cimento que produz, pois
parte da produção é vendida em outros estados próximos.
Acompanhando a tendência nacional, no Espírito Santo a grande maioria do cimento
é transportada por meio rodoviário. Como os pontos de venda são muitos e
dispersos por todo o mercado de atuação, utiliza-se amplamente o transporte
rodoviário, pois atualmente é o meio que melhor responde às necessidades dos
revendedores e consumidores em geral.
Quanto ao despacho por canal de distribuição, apesar de não existir dados
disponíveis exclusivamente para o Espírito Santo, o mesmo não difere da estatística
nacional divulgada pelo SNIC. Deste modo, é perceptível que a grande maioria do
cimento é distribuída por meio dos revendedores, seguido das concreteiras e
consumidores industriais. O consumo “formiga” é responsável pela grande
distribuição de cimento por meio dos revendedores, pois o consumo de cimento para
pequenas obras civis é elevado.
6
Informação obtida com diretor comercial da Cimentos Mizú.
51
5.1.2 Evolução da produção de cimento capixaba.
A produção de cimento capixaba acompanhou e respondeu ao ciclo de crescimento
de consumo após o plano real. Com a elevação da renda disponível, o capixaba
retomou as reformas, ampliações e novas construções até então postergadas devido
à recessão econômica. Como o cimento é um produto amplamente utilizado em
todas as fases da obra, desde seu início ao rmino, o seu consumo atinge a todos
os estágios da construção civil, e a resposta à variação da demanda quer seja
positiva ou negativa, impacta diretamente na produção do mesmo, pelo fato do
cimento ser um produto perecível. Deste modo, não se antecipa a produção, ou
estoca-se cimento prevendo-se um aumento da demanda, do mesmo modo, quando
cai a demanda, imediatamente reduz-se a produção. Com relação à utilização da
capacidade instalada, também não difere dos números nacionais, permanecendo em
torno dos 66%
7
, ou seja, segue o padrão nacional deste tipo de indústria, com
elevado índice de ociosidade.
A evolução da produção capixaba aparece no gráfico 16, porém para uma análise da
produção de cimento capixaba, alguns fatos devem se salientados com relação a
este gráfico. Até o ano de 1998, somente duas empresas fabricavam cimento no
Espírito Santo, a Cimentos Nassau (grupo João Santos), e a Cimentos Paraíso
(grupo Holcim), ambas empresas são filiadas ao Sindicato Nacional da Indústria de
Cimento (SNIC). Portanto os dados até 1998 são dados exclusivamente do SNIC.
Porém, no último trimestre de 1998, entra em operação no estado uma nova fábrica,
a Cimentos Mizú, que por razões próprias não é filiada ao SNIC, portanto os dados
7
Dado obtido por meio de entrevista com diretor de vendas da Nassau S.A.
52
do SNIC não refletem a realidade da produção capixaba de cimento a partir do ano
de 1999, pois não incluem a produção da Cimentos Mizu.Portanto, para uma análise
detalhada do assunto, o gráfico 16 evidencia a separação dos dados, onde aparece
a produção capixaba de cimento com a Mizu
8
e sem a participação da Mizú, ou seja,
apenas dados do SNIC.
Prodão Capixaba de Cimento
0
500000
1000000
1500000
2000000
2500000
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
Prodão (t)
Produção
com Mizu
Produção
sem Mizu
Fonte dos dados: SNIC 2003; e Cimentos Mizú
Gráfico 16 – Produção capixaba de cimento.
A análise dos dados do gráfico 16 evidencia que a redução na produção de cimento
de acordo com os dados do SNIC, não é explicada apenas pela crise econômica,
mas sim pelo fato da entrada da Cimentos Mino mercado, ou seja, no geral a
produção de cimento no Espírito Santo não caiu, mas aumentou. Se houve redução
da produção o mesmo ocorreu para as empresas capixabas filiadas ao SNIC, e
aumento das vendas da Mizu. Os gráficos 17 e 18, mostram a evolução da produção
de cada empresa no mercado:
8
Os dados de produção da Mizu formam obtidos por meio de entrevista com o diretor de vendas da empresa.
Entrada Mizu
53
Produção por Empresa
0
200000
400000
600000
800000
1000000
1200000
1400000
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Anos
Produção (t)
Mizu
Nassau
Holcim
Fonte dos dados: SNIC.
Gráfico 17 – Produção por empresa capixaba.
Produção por empresa
0
200000
400000
600000
800000
1000000
1200000
1400000
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
Produção(t)
Mizu
Nassau
Holcim
Fonte: SNIC adaptado, mais dados Mizú.
Gráfico 18 – Evolução da produção por empresa capixaba.
Em observação ao último gráfico, percebe-se a queda da produção da Nassau e da
Paraíso com a entrada da Mizú no mercado capixaba de cimento à partir do ano de
1998.
54
Fica evidente, portanto, a redução da participação de mercado da Nassau e da
Paraíso, pois apesar de haver crescimento da produção no geral, este crescimento
não foi proporcional a todos, pois a Cimentos Mizú absorveu a maior parte deste
crescimento, conforme o gráfico 19 :
Participação de Mercado por Empresa
0,00
0,00
0,00
0,00
1,65
13,37
20,19
24,41
32,19
36,27
38,31
77,00
77,09
78,82
75,71
66,69
61,44
68,73
61,71
57,92
56,07
23,00
22,91
21,18
14,75
22,64
19,94
18,37
6,86
6,10
5,81
5,62
85,25
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Ano
Participação(%)
Mizu
Nassau
Holcim
Fonte dos dados: SNIC 2003; mais dados Mizú.
Gráfico 19 – Participação de mercado por empresa.
Com relação à evolução dos preços no período, o gráfico 20 evidencia os dados
referentes aos preços
9
de cimento na Grande Vitória para o cimento Nassau e
Mizu:
9
Devido à dificuldade de dados referentes ao preço do cimento Paraíso, os mesmos não foram incluídos neste
gráfico.
55
Preços Cimento Grande Vitória, ES
13,5
13,8
16,9
17,5
17,3
17,3
17,2
14,9
12,5
12,9
15,8
16,4
16,4
16,5
16,4
14
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
dez/01 jun/02 dez/02 jun/03 dez/03 jun/04 dez/04 mar/05
Período
Pro Nominal
Consimidor Final
(R$)
Nassau
Mizu
Fonte: Pesquisa de Mercado realizada pelo autor.
Gráfico 20 – Evolução preços nominais de cimento Grande Vitória.
A diferença nos preços do cimento pode ser explicada em grande parte devido ao
custo do frete que é proporcional à distância percorrida da fábrica ao centro
consumidor. Deste modo uma comparação entre os preços praticados pela
Nassau e pela Mizú foi feita baseada na localização das fábricas. A Cimentos
Nassau tem sua fábrica localizada em Cachoeiro de Itapemirim, no sul do estado
do Espírito Santo, a cerca de 150 km da Grande Vitória. Como visto, o custo do
transporte tem uma grande participação no custo final do cimento, o que poderia
explicar o valor maior dos preços da Nassau praticados na Grande Vitória. Deste
modo, para efeito de comparação, foram coletados
10
os preços das marca Nassau
e Mizú em Cachoeiro de Itapemirim no mês de setembro
11
de 2005. Os resultados
foram os seguintes: preço médio da marca Nassau R$ 13,78; preço dio da
marca Mizú R$12,91, ou seja, mesmo expurgado o custo do frete, o preço da
Nassau continua um pouco mais elevado que o da Cimentos Mizú. Com relação
10
A pesquisa de preços foi feita de forma aleatória em diversos pontos de venda de Cachoeiro de Itapemirim.
11
Devido à dificuldade da coleta dos dados, não foi possível obter preços de meses anteriores.
56
aos dados coletados, observa-se a dificuldade por parte da Nassau em reduzir os
preços para enfrentar a concorrência, tanto na Grande Vitória como próximo à
fábrica em Cachoeiro de Itapemirim.
A cimentos Mizú desde sua entrada vem praticando preços inferiores aos do líder
de mercado, ou seja, enquanto que a Nassau, gasta com publicidade, a Mizu
responde com melhores preços. Em oligopólio homogêneo, não é de se esperar
concorrência via preços, ou seja, os preços no longo prazo tendem a convergir,
pois segundo HAGUENAUER (apud TEIXEIRA: 2003,372), como este produto é
bastante homogêneo, a concorrência deve igualar os preços e as condições de
pagamento em uma mesma região. Entretanto, desde a entrada da Mizu no
mercado, existe uma tendência desta empresa de manter os preços um pouco
abaixo do líder de mercado. A cimentos Nassau possui nove fábricas de cimento
espalhadas por vários estados do país como mostra a figura 3:
57
Figura 3 – Localização geográfica fábricas de cimento Nassau, e demais fábricas.
É necessário, portanto, uma análise das estratégias utilizadas pela Nassau nas
demais fábricas, para então compararmos com a estratégia aplicada no Espírito
Santo. Conforme a figura 3, a Nassau concorre diretamente com outras fábricas
de cimento nos seguintes estados: Ceará (quadrinho 5), e Sergipe (quadrinho 8),
e em ambos os estados a concorrência se com o grupo Votorantim. Com
relação à unidade do estado do Espírito Santo, (quadrinho 9) aparece como
sendo a única unidade de produção onde concorre diretamente com dois outros
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Fábricas de
cimento
X
Fábricas da
Nassau
58
grupos : o Holcim (cimentos Paraíso) e Polimix (cimentos Mizú). Deste modo,
excluindo a unidade capixaba, a Nassau concorre diretamente apenas com um
grupo no país, o grupo Votorantim, pois nos demais estados não existe
concorrência direta (dentro do próprio estado), pois as unidades estão sozinhas.
As regiões norte e Nordeste do país são o principal mercado do grupo João
Santos, onde possuem como visto o maior número de fábricas. Vale lembrar que
100% da fabricação de cimento da região Norte (de acordo com o SNIC), é
realizada pelo grupo João Santos. Conforme estudo realizado por CUNHA e
FERNANDEZ (2003:160), os preços do cimento das regiões Norte e Nordeste
estão acima da média de preço nacional, o que pode ser atribuído tanto a maior
concentração industrial, com a predominância do grupo João Santos (Nassau),
como a uma produtividade menor da indústria local. Não foram obtidos dados
referentes aos preços praticados nestas regiões, mas de acordo com a pesquisa
citada, os preços tendem a ser superiores à média nacional.
Até o ano de 1998, antes da entrada da Cimentos Mizu, de acordo com o gráfico
19, percebia-se uma certa divisão do mercado de cimento, ou seja, permanecia
constante o nível de participação das fábricas existentes. Também com relação
ao esforço de vendas
12
(publicidade), era praticamente imperceptível,
demonstrando, portanto uma convivência de certa forma pacífica entre as
mesmas. Neste período (antes de 1998), a publicidade limitava-se a brindes,
pequenas placas, e banners nos pontos de venda. Entretanto, a partir de 1998,
com a entrada da Mizu, a empresa líder de vendas, a Cimentos Nassau,
12
Informações obtidas com diretor comercial da Nassau para a Grande Vitória.
59
empreendeu um forte esforço de venda, utilizando-se de vários tipos de mídia
13
para a divulgação de sua marca. Dentre estes, temos: inserções em comerciais
de televisão e rádio, outdoors, busdoors, grande volume de brindes, banners,
entre outros. Utilizando-se destes recursos de publicidade, a Nassau passou a
ressaltar a qualidade de seu produto justificada pelo seu preço um pouco maior. O
gráfico 21 mostra a evolução das despesas de venda
14
da Nassau por tonelada
vendida de cimento:
Despesa Venda/ton
25,00
24,73
33,12
37,59
36,43
37,65
31,37
49,24
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Ano
R$ Ano Base 2003
Fonte: Balanço Patrimonial da Itabira Agro-industrial S.A.
15
publicado no D.O.E. em 29/10/04
Gráfico 21 – Evolução despesa de venda por tonelada Nassau.
O esforço de venda realizado pela Nassau, focava na qualidade e tradição de seu
produto em detrimento dos preços menores praticados pelo concorrente. Porém
de acordo com a teoria, em oligopólio homogêneo, os consumidores sabem da
não existência de diferença qualitativa entre os produtos, ou seja, se o produto A
é qualitativamente equivalente a B, então se opta pelo produto de menor preço.
13
Os tipos de mídia foram consultados com as agências de publicidade contratadas pela Nassau.
14
A despesa de venda é composta por comissões de venda, pessoal de vendas e publicidade.
15
Razão social da Cimentos Nassau.
60
Quanto ao critério qualidade do cimento, devem ser levados em consideração
alguns fatores importantes para entendermos o mercado capixaba de cimento.
Primeiramente, no Espírito Santo, são fabricados basicamente três tipos
16
de
cimento, o CP II E 32 RS; o CP III 32 RS e o CP V ARI. Com relação ao CP V
ARI, cimento de alta resistência inicial (ARI) tem aplicações específicas, e seu
volume fabricação em relação aos demais é pequeno, portanto pouco conhecido,
e não é comum o seu uso em construções civis em geral. O nosso foco deve ser
voltado para o CP II 32 e o CP III 32, pois todas as três unidades capixabas os
fabricam, e respondem por quase a totalidade do cimento produzido. Estes dois
tipos de cimento são amplamente utilizados em todos os tipos de obras civis. O
cimento do tipo II é fabricado em sua maioria pela Nassau, enquanto que o do tipo
III é fabricado pela Paraíso e Mizú.
Os demais tipos de cimento foram apresentados em tabela anterior, assim como
as normas de referência a que estão sujeitos para a sua certificação e
adequação. Mas alguns detalhes devem ser discutidos com relação aos tipos de
cimento fabricados no Espírito Santo: CP, significa Cimento Portland; II ou III é o
tipo de adição acrescentada ao cimento que vai acelerar ou não a pega ou
secagem inicial; 32 é a classe de resistência alcançada pelo cimento após 28 dias
em Mpa ( 1,0 Mpa – um milhão de Pascais – é igual a 10,6 kgf/cm2).
Portanto, o cimento II tem uma pega inicial um pouco mais acelerada em relação
ao tipo III, mas o que realmente importa para o consumidor final e para as
análises de concreto é a resistência final após os 28 dias, que em ambos os tipos
16
Sobre aos tipos de cimento e suas especificações ver página 38.
61
de cimento são 32, ou seja, a pega inicial o influencia na resistência final
alcançada. Conclui-se, portanto que não existe diferença técnica e qualitativa em
relação à resistência final dos tipos II e III. Vale lembrar, que todos os tipos são
normalizados e fiscalizados pelo INMETRO, recebendo na embalagem o selo de
conformidade do produto.
Como discutido por GUIMARÃES (1987:35), e MATTOS (2000:391), a própria
definição de produto homogêneo, dificulta a exploração publicitária de suas
características que poderiam levar o consumidor à decisão. GUIMARÃES
(1987:38) também salienta que o sucesso do novo produto (cimento Mizu) em
relação ao produto existente (cimento Nassau), vai depender da capacidade de
avaliação do consumidor quanto à qualidade do novo produto. No esforço de
venda realizado pala Nassau, o quesito qualidade é evocado para a sua marca
em detrimento dos baixos preços dos demais concorrentes, pois a Nassau aposta
na tradição, no desconhecimento e desinformação por parte dos consumidores
das especificações técnicas dos tipos de cimento.
Na tentativa de manter a diferenciação de seu produto através da marca Nassau,
a empresa utilizou diversos tipos de mídia, que aparecem juntamente com os
seus preços na tabela 3 abaixo.
62
Tabela 3 – Tipos de mídia e valores.
Tipos de mídia
Valor Unitário
17
R$
Empresa/fonte.
Inserção televisão 30’
Horários variados
850,00 a 3200,00
Rede Gazeta de
Comunicação
Inserção televisão 30’
Horários variados
650,00 a 1520,00 TV Capixaba
Outdoors 850,00
18
Maely Comunicação
Visual
Busdoors 600,00
19
Impacto
Comunicação
Fonte: Pesquisa de Mercado realizada pelo autor.
De acordo com o levantamento
20
realizado junto às empresas publicitárias
contratadas pela Nassau, em média foram feitas cinco inserções de trinta
segundos por canal de televisão em horários variados; aplicação em trinta
outdoors por período de 30 dias; e aplicação de adesivos em cerca de trinta
ônibus (busdoor). Foram realizadas também inserções em rádio, mas não foram
obtidos os dados referentes a este tipo de mídia. O período de duração do esforço
de venda foi variado, desde seu início no ano de 1999, até os dias atuais. Porém,
o maior esforço foi realizado logo após a entrada da Cimentos Mizú no mercado
(outubro de 1998), deste modo, foi utilizado o uso simultâneo e maciço das
mídias citadas, no início do ano de 1999. Com este intuito a Nassau procurou
atingir totalmente as diversas classes de consumidores, utilizando-se dos vários
tipos de mídia citados, assim como horários diferentes para sua divulgação.
Após o grande esforço inicial no ano de 1999, a Nassau continuou utilizando os
meios de mídia, mas em escala menor.
17
Valores referentes ao mês 04/2005.
18
Para confecção mínima de 30 unidades, e exibição por 15 dias.
19
Valor médio (devido a diversas opções) para 35 unidades , por período de 30 dias.
20
Os dados foram obtidos via pesquisa telefônica.
63
Outro fator de suma importância para entendermos a reação da Nassau com a
entrada de uma nova fábrica no estado, é que o esforço de vendas via
publicidade, somente foi realizado no estado do Espírito Santo
21
, ou seja, em
nenhum outro mercado onde é vendida a marca Nassau recebeu tal volume de
publicidade. Vale lembrar que a marca Nassau é única em todo o país, e a
mesma publicidade feita aqui poderia ser realizada em outros estados, mas não
foi. Portanto, o esforço de venda voltado para a marca Nassau no Espírito Santo é
justificado pelo fato que somente aqui a concorrência direta é efetiva, e que
provocou a reação do Nassau.
Em junho de 2002
22
, a Nassau realizou, como parte de sua estratégia de
mercado, uma integração vertical através da entrada no mercado de concreto
usinado. Com a inauguração de uma empresa de concreto, o objetivo da Nassau
é de consumir e vender parte de seu cimento via concreto. Deste modo, o Grupo
João Santos, passa a utilizar a marca Nassau Mix. Apesar de não possuirmos
dados referentes ao perfil do consumo de cimento no mercado capixaba, o
mesmo não difere da média nacional, onde cerca de 12% do cimento é destinado
às concreteiras, ficando a maior parte do consumo por parte dos pontos de
revenda. É neste ponto de revenda onde o pequeno consumidor vai decidir, e
optar pelo menor preço.
21
Informação obtida por meio de entrevista telefônica com secretário da administração do grupo João Santos em
São Paulo.
22
Data obtida com diretor comercial da Nassau Mix.
64
A entrada da Nassau com a marca Nassau Mix, no ramo de concreto, não garante
um mercado cativo de cimento, pois o grupo Polimix, proprietário da Cimentos
Mizú, opera a alguns anos em solo capixaba, ou seja, a concorrência se
também na fabricação de concreto.
De acordo com ALLEN (1971) (apud TEIXEIRA, 2003:389), estudos feitos em
empresas cimenteiras americanas que realizaram integração vertical com a
compra de concreteiras, mostraram que não foi possível manter o market share,
ou seja, esta estratégia mostrou-se equivocada. A estratégia de integração
vertical da Nassau, não produziu o efeito esperado, conforme já visto nos gráficos
23 e 24, pois mesmo após o ano de 2002 (ano da inauguração da Nassau Mix),
continuou a queda na produção de cimento e redução do market share da
Nassau.
65
6- CONCLUSÃO.
A abordagem deste tema revelou fatos importantes sobre o perfil da indústria
capixaba de cimento, assim como as estratégias utilizadas pelas diferentes
empresas. A Cimentos Nassau utilizou como estratégia principal, o esforço de venda
via publicidade, buscando destacar as qualidades de seu produto em relação às
demais marcas de cimento, tendo como objetivo principal manter seu market share.
Com uma marca desconhecida, a Cimentos Mizú optou como estratégia de entrada
e crescimento no mercado, a manutenção de preços inferiores aos preços dos
demais concorrentes. A estratégia da Nassau, de evocar a qualidade de seu
produto via publicidade, não se mostrou eficiente diante dos menores preços
praticados pela Mizú.
Este estudo demonstra que antes de programar uma estratégia, deve-se levar em
consideração a estrutura de mercado, e as características do produto. Teoricamente,
não é de se esperar concorrência via publicidade em oligopólio homogêneo, como é
o caso da indústria e do produto das empresas analisadas. Segundo TEIXEIRA
(2003:373), por conta de sua homogeneidade, o padrão de concorrência no mercado
de cimento baseia-se, em grande medida na oferta de melhores preços e condições
de pagamento. A estratégia da Nassau, em apostar na desinformação do mercado
quanto à qualidade dos produtos oferecidos, não obteve sustentação duradoura,
pois não havendo diferença qualitativa entre os produtos, ou seja, o produto sendo
homogêneo, o consumidor opta pelo de menor preço.
66
A estratégia de integração vertical praticada pela Nassau, teve como objetivo ampliar
o consumo de seu próprio produto, vendendo o mesmo na forma de concreto
usinado. Esta estratégia revelou-se com a criação da Nassau Mix, em Junho de
2002. Porém, de acordo com o SNIC, em média, cerca de 12% do cimento
produzido, é vendido às concreteiras, portanto, a maior parcela do cimento
produzido é destinado aos pontos de revenda. A estratégia da Nassau de manter um
mercado cativo de cimento, entrando no ramo de concreto, foi motivo de estudo
nos Estados Unidos. De acordo com o estudo realizado por ALLEN (1971) (apud
TEIXEIRA, 2003: 388), e estratégia de integração vertical, realizada por algumas
empresas americanas, resultou em prejuízo. Após um período de recessão, e
aumento da capacidade ociosa, as empresas americanas optaram por esta
estratégia, que se mostrou equivocada para manter o market share. Por outro lado, a
Nassau entra em um mercado em que a Polimix concreto, proprietária da Cimentos
Mizú já é veterana.
Como visto, em oligopólio homogêneo, espera-se que a concorrência se manifeste
em melhores preços e condições de pagamento. As estratégias utilizadas pela
Nassau, de aumento do esforço de venda via publicidade, e integração vertical se
mostraram ineficientes para a manutenção de sua participação de mercado,
enquanto que a estratégia de competição via preços resultou em aumento da
participação de mercado da Cimentos Mizú.
67
A análise das estratégias aqui mostradas apresenta-se como uma das formas de
interpretação dos resultados. Por se tratar de uma análise exploratória, e dada a
dificuldade na obtenção de dados mais específicos, outras pesquisas e formas de
análise poderão ser desenvolvidas. Entende-se que o isolamento de certas
variáveis, corresponde a uma simplificação da realidade a ser estudada, porém às
vezes necessária. Deste modo outros horizontes de pesquisa poderão ser revelados
no mercado capixaba de cimento.
68
7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
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71
APÊNDICE A-ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA DE CIMENTO
NO BRASIL
A EMERGÊNCIA DA INDÚSTRIA DE CIMENTO NO BRASIL: 1926/1942.
A indústria de cimento, segundo BUGALHO (2000:140) foi uma das primeiras a se
instalar no Brasil junto com a indústria têxtil. Deste modo, a indústria brasileira de
cimento surge, de forma permanente, com a inauguração de uma fábrica em São
Paulo, a Companhia de Cimento Brasileiro, em 1926, constituída de acordo com
PELAES (1972) por 70% de capital canadense e 30% de capital nacional. PROCNIK
(1983:67) destaca que em 1926 apenas 3,6% do cimento consumido era produzido
internamente, portanto o consumo era suprido via importação. Até 1946 cinco
fábricas entraram em operação, sendo uma de propriedade norte-americana (1933)
e quatro nacionais. Com estas novas fábricas em funcionamento, no ano de 1946
97,9% do cimento consumido foi produzido internamente.
Algumas tentativas anteriores à inauguração da Companhia de Cimento Brasileiro
não foram bem sucedidas, e dentre elas de acordo com PROCHNIK (1983:61) a
mais importante foi a fabricação de cimento durante a Primeira Guerra Mundial, pelo
industrial têxtil Antonio Pereira Inácio, fundador do atual grupo Votorantim. A fábrica
funcionou por um breve período sofrendo paralisação posterior devido às crises
geradas pelo conflito mundial.
72
De acordo com PROCHNIK (1983:61) a fundação da Companhia de Cimento
Brasileiro ocorreu em uma década em que o café conheceria uma extraordinária
expansão, pois os lucros advindos da exportação do café principal produto da
etapa primário-exportadora dinamizaram toda uma estrutura produtiva, em forma
de fazendas, comércio, transporte urbanização entre outros.
Deste modo, a criação do mercado interno de cimento, tem suas raízes no impulso
econômico-financeiro gerado pela exportação deste produto. O consumo interno de
cimento encontra na expansão da construção civil especialmente em obras de
infra-estrutura a base necessária para seu crescimento. PROCHNIK (1983:63)
destaca que grandes obras surgiram por volta de década de vinte, onde o consumo
de cimento cresce a uma taxa de 15,5% ao ano entre o ano de 1920 e 1929. A
urbanização, a construção de armazéns para estocagem de café, portos, usinas de
geração de energia, construção de prédios institucionais, obras governamentais,
como era o caso do DNOC’S (Departamento Nacional de Obras contra a Seca),
motivo pelo qual instalou-se na Paraíba uma das primeiras fábricas da região
nordeste.
A partir de 1929, com a crise internacional e a queda das exportações do café,
aparece um grande obstáculo à realização dos lucros necessários para a
continuidade do crescimento até então experimentado. Conseqüentemente, a queda
da atividade econômica e, portanto, do consumo de cimento era inevitável. Nos
próximos três anos após a crise de 1929, de acordo com PROCHNIK (1983:65) o
consumo de cimento caiu à metade dos anos anteriores.
73
A recuperação veio PROCHNIK (1983:65) a partir de 1934, devido às políticas
governamentais adotadas, entre elas o controle das importações, que propiciou um
novo impulso ao mercado interno de cimento, que á partir de 1937 volta aos níveis
anteriores à crise. Durante este período o governo utilizou-se de políticas de
proteção industrial via barreiras alfandegárias, o que incentivou a produção nacional
de cimento. Outros fatores coincidem para incentivar a produção nacional neste
período, como o aumento da demanda por cimento, derivado da urbanização
crescente e da verticalização das obras civis principalmente no Rio de Janeiro e
São Paulo.
A produção de cimento no mercado doméstico surge como uma promissora
alternativa à importação, devido às características do produto como deterioração,
elevado custo de transporte e necessidade de estoques. Desta forma, a localização
da fábrica junto ao mercado consumidor elimina níveis elevados de estoque, garante
rapidez na entrega do produto e reduz significativamente o custo de transporte.
Todas estas vantagens associadas à política de barreiras à importação, contribuíram
para o desenvolvimento do setor cimenteiro no Brasil.
Assim é significativo entender que entre os anos de 1931 PROCHNIK (1983:78) e
1951, o único investimento estrangeiro que se tem notícia no setor cimenteiro foi a
ampliação da fábrica da Companhia de Cimento Brasileiro, aumentando sua
capacidade de produção de 220 mil ton/ano para 440 mil ton/ano.
74
A entrada do capital nacional.
A primeira empresa nacional a se instalar no Brasil de acordo com PROCHINIK
(1983:75) para a fabricação de cimento, foi a Cia. rbara, que começou a operar
em 1935 em uma pequena fábrica na Paraíba com capacidade de produção de 35
mil ton/ano. A empresa funcionou até 1945 quando foi adquirida pelo grupo
Matarazzo, que posteriormente ampliou a sua capacidade. O objetivo da
aquisição pelo grupo Matarazzo se deve a proximidade da empresa das jazidas
de calcário existentes na região.
Em 1936, o grupo Votorantim inicia a produção no estado de São Paulo, no
município de mesmo nome, com capacidade produtiva de 175 mil ton/ano. O
grupo amplia sua capacidade de produção ao inaugurar em 1942 a Companhia de
Cimento Poty, no estado de Pernambuco com capacidade de produção de 65 mil
ton/ano.
Duas outras fábricas de acordo com PROCHNIK (1983:75) entraram em
operação: em 1936 é reaberta a antiga fábrica do Governo do Espírito Santo, e
em 1939 inicia a produção da primeira brica do grupo Itaú que viria se tornar, a
partir de 1959 o segundo maior grupo produtor de cimento do país. Dentre estes
grupos o mais importante, e que é ainda hoje, destaca-se o grupo Votorantim,
fundado por Antonio Pereira Ignácio, imigrante português. O grupo investiu
inicialmente no ramo têxtil adquirindo quatro empresas, posteriormente no final da
década de vinte investiu na fabricação de cimento. Vale lembrar que o grupo
Votorantim já tivera uma curta experiência na produção de cimento no Brasil
75
durante a Primeira Guerra, experiência que foi decisiva para a nova entrada do
Grupo na produção de cimento.
Após 1943, PROCHNIK (1983:76) destaca a entrada de dois outros grupos: o
grupo João Santos no município de Itapessoca na Paraíba atualmente o
segundo maior grupo produtor do país - e o grupo Paraíso (Severino Pereira) no
município de Paraíso Rio de Janeiro. Ambos os grupos iniciaram suas atividades
fabris em outros ramos, no caso do grupo João Santos o grupo constituiu-se a
partir da indústria de alimentos e o grupo Paraíso da indústria têxtil. Destaca-se,
portanto, que a origem dos três grupos citados teve seu início no complexo
agrário-exportador. A tabela 4 mostra a estrutura para o ano de 1957:
Tabela 4 – Estrutura da indústria em 1957.
Estado Ano
inauguração
Capacidade* Grupo Fábrica
PB 1952 140 Matarazzo Cimpar
PE 1942 133 Votorantim Poty
PE 1954 160 João Santos Itapessoca
BA 1953 133 Lone Star Aratu
MG 1939 213 Itaú Itaú-Pratápolis
MG 1946 188 Itaú Itaú_-Contagem
MG 1954 54 Bueno-Vidigal Ponte Alta
MG 1955 200 Severino Pereira Barroso
MG 1955 110 Cauê Cauê
ES 1935 20 Barbará Barbará
RJ 1933 592 Lone Star Mauá
RJ 1949 260 Severino Pereira Paraíso
RJ 1952 144 Tupi Tupi
RJ 1954 36 J.Capua Irajá
SP 1926 360 Abdala Perus
SP 1936 430 Votorantim Votorantim
SP 1953 73 Matarazzo Incisa
SP 1955 90 Bueno-Vidigal Maringá
SP 1957 210 Santa Rita S.Rita-Itape
PR 1953 144 Votorantim Rio Branco
RS 1949 147 Votorantim Cimento Brasileiro
RS 1952 128 Matarazzo Cimensul
MT 1955 91 Itaú Itaú-Corum
Fonte: Prochnik (1983).
76
CONSOLIDAÇÃO DA ESTRUTURA INDUSTRIAL: 1943/1967.
A evolução da construção civil no período.
Diversos fenômenos simultâneos e cumulativos contribuíram para o crescimento do
setor cimenteiro no Brasil neste período. um crescimento considerável de obras
habitacionais, de infra-estrutura e obras pesadas, principalmente as demandadas
pelo Estado. Segundo PROCHNIK (1983:82) um predomínio de obras
habitacionais na década de quarenta, e da construção pesada na década de
cinqüenta. Neste período mudanças significativas na utilização de materiais e na
forma de construir - como no caso da verticalização das edificações propiciaram o
impulso necessário para o setor cimenteiro.
Com relação à década de quarenta, o crescimento pode ser associado ao rápido
crescimento da população urbana, que nesta década chegou a 3,2% ao ano de
acordo com COSTA (1975, apud PROCHNIK 1983). O índice de edificações no Rio
de Janeiro segundo PETRONE (1975, apud PROCHNIK 1983), cresceu a uma taxa
média de 13% ao ano entre 1939 e 1947, enquanto que apenas na cidade de São
Paulo foram construídos 90000 prédios entre 1950 a 1954.
Quanto à década de cinqüenta, e o desenvolvimento da construção pesada se
primordialmente pela construção e pavimentação de rodovias federais, que com a
aprovação da Lei Joppert em 1945, implica na criação do DNER, dos DER’s e do
Conselho Rodoviário Nacional. Juntamente com estes órgãos foi criado o Fundo
77
Rodoviário Nacional, à partir do imposto sobre combustíveis e lubrificantes.
PROCHNIK (1983:85) destaca que o impacto dos investimentos em construção,
melhoramento, pavimentação e conservação de estradas, representava 4,5% da
formação bruta de capital fixo em 1947, e atingem entre 10% e 11% nos três últimos
anos da década de cinqüenta. Portanto, o crescimento das rodovias pavimentadas
(estaduais e federais) cresce rapidamente, especialmente no período 1955/1961,
quando se expande a uma taxa de 30% ao ano.
Também na década de cinqüenta, diversos investimentos foram necessários para a
solução do problema de escassez de energia, como a criação do Fundo de
Eletrificação em 1954 (a Eletrobrás é criada em 1961) para a construção de
usinas hidroelétricas. Deste modo, a capacidade instalada (em mW) aumenta, entre
1950 e 1965, à taxa de 9,6% ao ano.
O grande boom do cimento.
No período 1943/1967 a evolução do consumo de cimento apresenta dois momentos
distintos, o primeiro ciclo de 1943/1953 é caracterizado por fortes taxas de
crescimento do consumo. O segundo momento segue-se à partir de 1954, derivado
da recessão do período que marcado por reduzidas taxas de crescimento da
produção de cimento.
78
O primeiro momento, que vai de 1943 a 1953, de acordo com PROCNIK (1983:88) é
caracterizado por altas taxas de crescimento do consumo de cimento, com
crescimento médio de 13% ao ano, enquanto que a expansão da capacidade
produtiva foi de apenas 7,3% ao ano. Neste período, a indústria nacional não teve
condições de acompanhar o crescimento da demanda interna de cimento, motivo
pelo qual houve um crescimento vertiginoso da importação de cimento, chegando a
suprir cerca de 30% do consumo nacional. Como visto, este boom no consumo se
deu pelo fato da evolução da construção civil no período.
A dificuldade encontrada pela indústria nacional para suprir de imediato o
crescimento da demanda, é discutida por STEINDL (1976), pois existe um
descompasso entre o crescimento da oferta e da demanda. Enquanto que o
crescimento da demanda é relativamente contínuo, a oferta individual cresce aos
saltos, gerado pela indivisibilidade dos equipamentos. Porém PROCHNIK (1983:94)
questiona esta hipótese sobre o comportamento das empresas especialmente no
setor cimenteiro neste período, pois o período de crescimento da demanda
estendeu-se por cerca de dez anos (1943 a 1953), período este que parte
considerável da demanda foi suprida pelas importações. Como em média uma
empresa do ramo cimenteiro leva cerca de 3 anos para ampliar a sua capacidade,
porque a industria nacional de cimento não o fez? PROCHNIK (1983:94) atribui o
grande hiato entre consumo e produção interna a três fatores distintos: a menor
proteção tarifária, a escassez de bens de capital e ao fato de o crescimento da
demanda por cimento na cada de quarenta ser largamente inesperada. A menor
proteção tarifária é resultado da política econômica do imediato pós-guerra,e a
escassez de equipamentos para a produção de cimento é apontada pela associação
79
Brasileira de Cimento Portland (ABCP, 1970) como a responsável pela incapacidade
de expansão da indústria. Deve-se lembrar do boom da construção civil no período,
representado especialmente pelos períodos 1944/1946, 1948/1949 e 1951/1953.
A participação do capital nacional e o estrangeiro.
Durante o período 1943/1955 acentua-se o predomínio das empresas constituídas
com capital nacional, PROCHNIK (1983:97) destaca que das 12 bricas
inauguradas no período, apenas uma era de propriedade de grupos estrangeiros, e
mesmo assim em associação com brasileiros.
A tabela 5 resume a evolução da participação do capital nacional e estrangeiro:
Tabela 5 – Capacidade instalada de empresas nacionais e estrangeiras.
23
(em mil toneladas)
Ano
Nacionais
Estrangeiras
Estrangeiras (%)
1930
ND
300
100,0
1935
35
500
93,5
1940
275
640
70,0
1945
320
640
66,7
1950
879
640
42,1
1955
2884
592
17,0
1957
3121
802
20,4
1962
4479
1551
25,7
1967
5530
1732
24,5
1974
12010
3870
24,5
1979
17610
7530
30,0
1983
23177
9335
28,7
Fonte : até 1979 – SNIC. 1983 – CDI
23
Empresas consideradas estrangeiras: Lone Star, Brasileiro (Perus), até 1950; Tupi (após 1959),
Lafarge, Santa Rita, Serrana e Holderbank.
80
A fraca participação dos grandes grupos estrangeiros no Brasil é atribuída de
acordo com PROCHNIK (1983:100) ao boom do consumo de cimento na década
de cinqüenta nos Estados Unidos, atraindo a atenção para este mercado dos
principais grupos internacionais como o Holderbank e a Lafarge. Deste modo o
Brasil ficou em um segundo nível de importância, e a participação estrangeira se
deu com o intuito de marcar presença no mercado brasileiro, que havia
barreiras às importações em geral.
Quanto à participação dos grupos nacionais, continuou sendo majoritária. A
expansão das firmas existentes assim como a sua ampliação, envolveu elevados
investimentos, que em sua maioria foi financiado com capital próprio, crédito de
fornecedores e outras fontes nacionais.
Diante de seu porte anterior, a Votorantim não encontrou dificuldades com
financiamento, e no início da década de quarenta obteve recursos da CREAI
para a sua brica de alumínio. Este também segundo PROCHNIK, seria o caso
do industria Severino Pereira. Já o empresário João Santos conseguiu, após
entrevista com Getúlio Vargas, conseguiu que o presidente modificasse os
“critérios de empréstimo do Banco do Brasil, permitindo o financiamento de
projetos industriais pioneiros. Aí está sua origem como industrial de cimento. Era
uma pequena unidade em Itapessoca” FARIAS (1978) in PROCHNIK (1983:101).
81
No caso do setor cimenteiro, PROCHNIK (1983:101) destaca uma fonte de
financiamento pouco usual no Brasil, pois na cada de cinqüenta vários grupos
possuíam ações sendo negociadas na Bolsa de valores do Rio de Janeiro, mas
não somente empresas nacionais, mas também estrangeiras como a americana
Lone Star, e a francesa Lafarge.
O período 1955/1967 é caracterizado pelo crescimento do consumo de cimento
em 8,3% ao ano, tal crescimento da demanda foi atendida principalmente pela
ampliação das fábricas em funcionamento, neste período, a capacidade ociosa
média do período ficou em torno de 9,6% de acordo com PROCHNIK (1983:103).
Surgiram ”pesadas críticas dos consumidores privados, que acusaram a indústria
e o governo de monopolizarem a oferta e o consumo de produto”... (SNIC,1983).
Também neste período, duas pequenas empresas, de acordo com PROCHNIK, a
Barbará (Espírito Santo) e a Pires Carneiro (Pará) foram adquiridos pelo grupo
João Santos, grupo este que passa a ocupar em 1967, um lugar entre os quatro
maiores no Brasil.
82
O PERÍODO DO MILAGRE: 1968/1980.
A dinâmica da construção civil no período 1968/1983.
A taxa de consumo aparente de cimento, para o período de 1968/1980, teve um
crescimento médio de 7,0% ao ano, o que evidencia o ritmo de crescimento da
construção civil principalmente de unidades habitacionais. No auge cíclico, entre
1967 e 1973, a taxa media de crescimento anual elevou-se para 12,9% ao ano, e no
período posterior a 1973, segundo PROCHNIK (1983:106) caiu ligeiramente para
11% ao ano. Este crescimento ocorre devido a incentivos e financiamentos para o
setor, com a criação do BNH (Banco Nacional para a Habitação), utilizando-se de
recursos do FGTS. O banco diversifica a sua atuação, apoiando projetos de
financiamento para a indústria da construção, para a instalação de água e esgoto e
urbanização, contribuindo consideravelmente para o aumento do consumo de
cimento no período. Em 1980, de acordo com VILLELA (1980, apud PROCHNIK,
1983:107) o banco aplicou Cr$ 192 bilhões em obras de construção civil, sendo
deste volume 70,1% destinado à habitação, 9,6% a desenvolvimento urbano e
20,3% a saneamento.
De acordo com PROCHNIK (1983:109) os dados confirmam o artigo produzido por
BONELLI & WERNECK (1978), que o crescimento do consumo de cimento puxado
pela construção habitacional foi importante, mas não tanto quanto o consumo
advindo da construção pesada, principalmente após o ano de 1973.
83
No que diz respeito à construção pesada, observa-se nos planos governamentais,
os chamados PND’s, a ênfase para cada plano. Quanto ao I PND, a ênfase principal
foi dada ao transporte rodoviário, considerado no período primordial para a
integração física da nação. No II PND, ressalta-se a política para o setor de energia,
buscando com estes investimentos reduzir a dependência energética principalmente
do petróleo, deste modo, a construção de barragens e usinas hidroelétricas surgem
como uma alternativa viável, e também como grandes obras demandantes de
cimento.
Ainda dentro da política de redução de dependência de petróleo, grandes obras no
setor de transporte foram realizadas, como a construção dos metrôs do Rio de
Janeiro e São Paulo, obras de saneamento, como a SABESP também em São
Paulo, aeroportos entre outras obras. Segundo dados do BNDE para o período, de
acordo com PROCHNIK (1983:116) do volume de cimento consumido 40% estão
associados à infra-estrutura urbana, 30% à construção de barragens e rodovias, e
30% à construção de habitações.
A evolução da indústria de cimento no período 1968/1983.
Este período, pode ser dividido em três importantes fases: de 1968/1971, 1972/1976
e 1977/1980, divisão esta utilizada por PROCHNIK (1983:77) que melhor delineia o
ciclo para o setor cimenteiro. A primeira fase (1968/1971) começa com uma súbita
elevação do consumo de cimento como pode ser observado na tabela 6.
84
Tabela 6 – Capacidade instalada, produção e consumo de cimento no Brasil – 1966/1983.
Ano Utilização
Capacidade (%)
Consumo
1000Ton
Crescimento
Capacidade (%)
Crescimento
Consumo (%)
1966 87,80 6125
1967 90,40 6491 2,80 6,00
1968 95,30 7834 7,90 20,70
1969 93,10 8431 10,10 7,60
1970 96,90 9328 10,40 10,60
1971 92,20 10047 14,40 7,70
1972 92,70 11590 15,50 15,40
1973 92,00 13473 18,60 16,20
1974 94,30 15103 8,70 12,10
1975 97,40 16883 8,50 11,80
1976 100,00 19387 11,40 14,80
1977 98,10 21171 12,60 9,20
1978 94,10 23206 14,50 9,60
1979 98,90 24876 2,00 7,20
1980 99,50 26911 8,80 8,20
1981 84,40 25958 12,90 -3,50
1982 82,10 25469 1,20 -1,90
1983 78,50 25957 5,80 -1,90
Fonte: Prochnik (1983).
Enquanto que o crescimento do consumo para o período 1967/68 foi de 20,7 % o
aumento da capacidade de produção alcançou 7,9%, pegando a indústria de
surpresa com uma capacidade de produção média de 95%. Neste período
necessário foi a importação de cimento para complementar o aumento da demanda.
Posteriormente ao ano de 1971 a importação de cimento declinou a números
inexpressivos devido ao aumento da capacidade de produção da indústria nacional.
A segunda fase (1972/1976) corresponde ao período de maior crescimento do
consumo, e também onde foram feitos os maiores volumes de investimentos de
expansão de capacidade.
85
No terceiro e último período (1977/1980), há redução no investimento para aumento
de capacidade de produção. Neste período de acordo com PROCHNIK (1983:118),
as projeções dado os números de consumo, indicavam que no atual ritmo haveria
falta de cimento no mercado. Momento em que se confirma a hipótese de STEINDL
(1976), onde a demanda crescia de forma relativamente contínua enquanto que o
aumento da oferta se dava por saltos, ou seja, os investimentos haviam sido feitos, e
esperava-se que haveria um crescimento contínuo da demanda por cimento, deste
modo, como a indústria encontrava-se com quase 100% de sua capacidade de
produção haveria necessidade da importação do produto. Segundo PROCHNIK
(1983:118), acesos debates tomaram a cena, pois como o produto importado seria
em média 30% mais caro, puxaria os preços do cimento nacional para valores mais
elevados.
Portanto para o terceiro período, as expectativas do crescimento da demanda acima
da capacidade de produção não se confirmaram, arrefecendo-se o ritmo de
crescimento à partir de 1978 e alcançando números negativos no fim do período.
Configuração da indústria no período 1968/1983.
Neste período, duas novas empresas entraram no setor: a Matsulfur, que instalou
sua fábrica em Montes Claros (MG) e a Holderbank que adquiriu da Matarazzo uma
pequena fábrica em São Paulo,a Companhia Ipanema. De acordo com PROCHNIK
(1983:123), esta aquisição foi uma experiência de mercado, pois quatro anos mais
86
tarde o mesmo grupo iria inaugurar em Minas Gerais uma fábrica nova, com
capacidade de produção dez vezes maior que a Companhia Ipanema.
Entre os grupos que já estavam presentes no setor, destaca-se o aumento de
participação da Votorantim e do Grupo Severino Pereira. A Votorantim expandiu-se
para o mercado da região Nordeste, onde o grupo João Santos era o então atual
líder. Após esforços, o grupo João Santos retoma a liderança na região por volta do
ano de 1974, e o que se percebe é uma divisão do mercado entre os grupos.
O grupo Paraíso foi o que mais cresceu no período, cuja capacidade instalada
triplicou, elevando a concentração do setor. Entre 1967 e 1974, a Votorantim a
Paraíso e o grupo João Santos, inauguraram duas novas fábricas cada uma, e o
grupo Itaú chegou a quatro, embora em três delas sua participação acionária não
chegasse a 50%.
Este período segundo PROCHNIK (1983:126) é caracterizado pela difusão de novas
técnicas de produção na indústria, pois até a cada de sessenta era utilizado o
processo de produção por via úmida. Este processo tem como característica a
adição prévia de água ao calcário, facilitando a mistura da matéria-prima, onde após
é enviada a forno. Já o processo por via seca, não adiciona-se água, pois a mistura
é levada ao forno seca, evitando-se o consumo de combustível para a secagem e
posterior queima do produto. Deste modo, o novo processo, denominado via seca
reduz o consumo de óleo combustível, o que reduz consideravelmente os custos de
produção do cimento.
87
A adoção do novo processo foi gradual, pois ocorria a medida em que se implantava
fábricas novas, ou ampliava-se a capacidade das existentes. Portanto, o convívio
dos dois processos um mais caro e outro mais vantajoso, permaneceu ainda por
alguns anos.
CICLO DE ESTAGNAÇÃO DA PRODUÇÃO E CONSUMO: 1981/1985
A década de 80, e parte da de 90, correspondeu a um período de queda da
produção e do consumo de cimento, período este com altas taxas de inflação e
instabilidade da economia. Os primeiros anos da década de 80 caracterizaram-se
por um período de recessão econômica que influenciou no consumo e
conseqüentemente na produção de cimento como aparece no gráfico 22.
Produção Cimento Brasil 1980/1997
0
10000
20000
30000
40000
50000
19
8
0
1
9
82
1
9
84
1986
19
8
8
19
90
1
9
92
1994
19
9
6
Anos
Mil Toneladas
Produção
Cimento
Fonte: SNIC
Gráfico 22 – Produção cimento Brasil 1980/1997
88
A construção civil sofreu uma forte redução, o que influenciou na produção de
cimento, chegando a cair 18,62% nos anos de 1983/1984, conforme a tabela 4. De
acordo com PROCHNIK (1998:61) apenas as grandes obras já em andamento
continuaram, como a usina hidroelétrica de Itaipú, a Ferrovia do Aço e Usina nuclear
de Angra dos Reis. Os recursos foram centralizados nestes grandes projetos, e
outras obras ficaram para períodos posteriores. Devido à crise do período, o Brasil
veio a recuperar a produção de cimento em 1991, quando alcançou os níveis da
produção do ano de 1980.
Tabela 7 – Evolução da produção de cimento 1980/1997
Ano Produção 1000 t %
1980 27192 9,32
1981 26051 -4,2
1982 25644 -1,56
1983 20869 -18,62
1984 19497 -6,58
1985 20634 5,83
1986 25257 22,4
1987 25468 0,83
1988 25328 0,55
1989 25920 2,33
1990 25848 -0,28
1991 27490 6,35
1992 23902 -13,05
1993 24842 3,93
1994 25229 1,56
1995 28256 12
1996 34597 22,44
1997 38096
Fonte dos dados: SNIC.
89
O CICLO DO CRUZADO: 1986/1989
A partir do ano de 1985 a produção de cimento começa a crescer, mas somente a
partir de 1986 que o crescimento da produção foi significativo, com a implantação o
Plano Cruzado. A construção civil inicia seu ciclo de crescimento em 1986,
alcançando seu auge em 1989, declinando posteriormente até 1993, conforme o
gráfico 23. O gráfico 24 mostra a evolução da construção de apartamentos novos na
cidade de São Paulo para os anos de 1984 a 1992. A partir de 1994 com o Plano
Real tem início um novo ciclo para a construção civil e a produção de cimento volta a
crescer.
0
20
40
60
80
100
120
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
Anos
US$ Bilhões Correntes
Governo
Empresa e
Famílias
Fonte: Prochnik et al (1998).
Gráfico 23 – Formação bruta de capital fixo na construção civil em US$ bilhões
correntes.
90
11400
12400
32200
16300
23400
18700
14300
12800
10200
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
Anos
Mil unidades
Unidades
Fonte: Prochnik et al (1998).
Gráfico 24 – Oferta de apartamentos novos na cidade de São Paulo.
O CICLO DO REAL: 1994/1998
O aumento do poder de compra do consumidor brasileiro, fruto do plano de
estabilização econômica, impulsionou em 1995 e 1996 o consumo aparente de
diversos produtos, dentre eles o consumo de cimento, que cresceu 12,6% e 22,5%
respectivamente. Este ciclo tem seu auge em 1999, declinando lentamente até o ano
de 2004. Durante a década de 80, devido à recessão da economia, inflação e falta
de poder aquisitivo da população, diversos projetos foram postergados, projetos
estes que foram retomados com a estabilização trazida pelo Plano Real. No gráfico
25, observam-se claramente três períodos distintos da situação da economia
brasileira, a saber: o primeiro caracterizado pela estagnação econômica e inflação
alta, provocada pela instabilidade financeira desde a metade da década de 80 até o
Plano Real; o segundo, começando a partir de julho de 1994, que devido ao ganho
de poder aquisitivo, decorrente do aumento da renda, fruto da estabilização dos
91
preços, provocou aumento na demanda por cimento e, como resposta foi atendida.
Neste período (1994 a 1998 conforme gráfico 24), a produção de cimento salta de
24 milhões de toneladas para cerca de 40 milhões de toneladas ano, com um
crescimento médio de 12% a ano. Segundo BUGALHO (2000:163), tal crescimento
foi impulsionado pelo aumento do consumo “formiga”, principalmente dos chamados
auto-construtores. O consumo “formiga” é o consumo das pequenas obras de
ampliação e/ou reformas de casas que não consomem grandes quantidades de
cimento.
Em 1996, a indústria brasileira de cimento alcançou um crescimento de 18,3% na
produção, elevando o índice de ocupação da capacidade instalada para 85%,
segundo GOMES (1997) (apud BUGALHO 2000:157).
Produção cimento Brasil
0
10000
20000
30000
40000
50000
1986
1
9
88
199
0
199
2
1
99
4
199
6
1998
2
00
0
200
2
Ano
Em mil toneladas
Fonte: Cunha & Fernandez (2003:156)
Gráfico 25 – Produção cimento Brasil, 1986/2004.
Estabilização e
Aumento Poder
Aquisitivo
Crise
Internacional e
Estagnação
Plano Real
Crise Russa
Inflação Alta e
Estagnação
92
Renda X Prodão Cimento
0
10000
20000
30000
40000
50000
1
9
8
6
1988
1990
1
9
9
2
1
9
9
4
1
9
96
1998
20
0
0
2
0
0
2
Ano
Produção
Cimento (mil t)
0
200
400
600
800
1000
Renda (Ano base
1993)
Produção
Cimento
Renda R$
Fonte: IBGE
Gráfico 26 – Renda X produção de cimento.
Este crescimento perdeu dinamismo após a segunda metade do ano de 1998, após
a crise da Rússia, que influenciou na política cambial do Brasil a partir de janeiro de
1999. A economia brasileira, assim como todas as atividades produtivas voltadas
para o mercado doméstico, sente a redução da demanda, prenúncio da estagnação
econômica. Nesta situação desfavorável para a indústria brasileira, inserida está a
indústria de cimento, que de acordo com o gráfico 26, após 1998 à medida que a
renda cai, cai também a demanda, e conseqüentemente a produção de cimento.
Mudanças recentes do controle acionário.
Recentemente, houve transferências do controle acionário em algumas fábricas,
evidenciado por meio do levantamento feito por BUGALHO (2000:156) : o grupo
suíço Holderbank, maior produtor mundial de cimento, controlador da Ciminas
adquiriu a Paraíso em junho de 1996, e passou a contar com cerca de 10% do
93
mercado brasileiro de cimento. A Bunge Internacional, controladora da empresa
Serrana S.A., vendeu em 1997 as suas três fábricas de cimento para a Cimpor
(Cimentos Portugal), retirando-se do setor. Em setembro de 1996, a Lafarge, grande
grupo francês, adquiriu a Matsulfur. A Votorantim passou a controlar a Ribeirão
Grande, que pertencia ao grupo João Santos, além de adquirir 30% do controle
acionário da Cimentos Itambé do Paraná em outubro de 1996. A Camargo Corrêa
Industrial, empresa do grupo Camargo Corrêa, assumiu o controle acionário da
Cimentos Cauê, sexto maior produtor brasileiro de cimento com duas fábricas em
Minas Gerais (Pedro Leopoldo e Santana do Paraíso), a aquisição ocorreu em abril
de 1997 com direito a 97,29% das ações do antigo controlador.
Quanto a grupos internacionais que ainda não possuem fábricas no Brasil, de
acordo com BUGALHO (2000:157) temos o caso do grupo mexicano Cemex, que
ensaiou a tentativa de entrar no mercado brasileiro de cimento, mas foi contida por
dois fatores: primeiro seu endividamento, resultante das recentes aquisições na
Espanha e Colômbia. Segundo, da participação de mercado que seria obtido com a
aquisição das fábricas visadas, o que não chegaria a 10%.
94
FICHA CATALOGRÁFICA
Santos, Joeme Rodrigues dos.
Ação e reação em oligopólio homogêneo, um estudo de caso: a
indústria capixaba de cimento. / Joeme Rodrigues dos Santos.
Vitória: FUCAPE, 2005.
93 p.
Dissertação – Mestrado.
Inclui bibliografia.
1.Indústria de cimento no Brasil 2. Indústria de cimento
capixaba 3. Estrutura de mercado I.Fundação Instituto Capixaba
de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças II.Título.
CDD – 657
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