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projeto ideológico e, assim, de Estado.
56
Portanto, ao analisar a relação entre os recursos
da província de São Paulo e a ação do governo central, é possível estabelecer contato com
a teoria sobre a formação dos Estados Nacionais Modernos. Vale lembrar que, após um
período de “conciliação”, os mesmos paulistas foram os principais responsáveis pela queda
da Monarquia e a implementação de República, em 1889.
57
Por outro lado, a proposta, por se pautar – entre outros – na relação entre burocracia,
cooptação e desenvolvimento econômico também se insere na matriz teórica original de
Max Weber,
58
destacando a construção da burocracia como elemento central nas definições
dos projetos de desenvolvimento, assim como fizeram Carvalho, Cardoso e Evans
59
, entre
outros. No caso, não se usa o mesmo aparato conceitual para definir burocracia, e sim
mede a influência e a presença de um grupo – regional - na composição do ministério
nacional.
Quanto às tendências da historiografia contemporânea, as análises quantitativas propostas
por esta pesquisa se encontram com as exigências já expressas por trabalhos recentes de
História Econômica, principalmente aqueles ligados à crítica ao modelo tradicional de
análise sobre a História do Brasil, aqui resumido pela visão de Prado Jr e Furtado. Tais
trabalhos tentam medir os impactos das economias regionais no desenvolvimento do
Brasil, assim como apresentar a dinâmica interna de uma economia que, até então, se
acreditava ser exclusivamente agrário-exportadora.
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56
Esta visão acerca da formação dos Estados Nacionais Modernos pode ser vista em Anderson, Perry.
Linhagens do Estado Absolutista. São Paulo: ed. Brasiliense, 1995, 3ª edição.
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Ver: Holanda, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Monárquico. Tomo
II, Livro 5. Especialmente os capítulos III e IV do Livro Quarto (O manifesto de 1870 e As influências
regionais) e I do Livro Quinto (A resistência às reformas).
58
Ver especialmente Weber, Max. Economia e sociedade. Brasília: Ed. UNB, Volume 1, 3ª edição, 2000.
Destaque ao capítulo III, tópico 2 da Primeira Parte.
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Evans cita em sua obra os trabalhos de Carvalho e Cardoso como sendo significativos para o entendimento
da formação da burocracia brasileira e seu relacionamento com os grupos econômicos e políticos. No caso
deste trabalho o livro de Carvalho é mais significativo por fazer tal relação no período imperial do Brasil,
portanto o mesmo que esta pesquisa abrange. Ver: Evans, Peter. Embedded autonomy. States and industrial
transformation. Priceton, Princeton University Press, pág. 62-63. Carvalho, José Murilo. A construção da
Ordem.
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Muitas pesquisas feitas desde os anos de 1970 vêm destacando a importância do mercado interno para a
compreensão da economia brasileira colonial e imperial. Entre eles, merecem destaque: Barickman, B. J. Um
contraponto baiano: açúcar, fumo, mandioca e escravidão no Recôncavo, 1780-1860. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003. Costa, H.M. As barreiras de São Paulo: estudo histórico das barreiras
paulistas no século XIX. Dissertação de Mestrado, Departamento de História da FFLCH/USP, 1984. Lenharo,
A. Rota menor: o movimento da economia mercantil de subsistência no centro-sul do Brasil, 1808-1831.
Anais do Museu Paulista, tomo XXVIII, USP, 1977/78.