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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO
Centro de Ciências Humanas e Sociais
Programa de Pós-graduação em Memória Social
A identidade da Química no Brasil no contexto dos discursos de
divulgação: um estudo de caso em quatro periódicos
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Memória Social, da
Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre em Memória
Social.
Margareth Monteiro Gadelha
Orientadoras:
Evelyn G. D. Orrico, Dr
Lucia M. A . Ferreira, Dr
Linha de Pesquisa: Memória e Linguagem
Rio de Janeiro
Julho,2006
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Gadelha, Margareth Monteiro
A identidade da Química no Brasil no contexto dos
discursos de divulgação científica: um estudo de caso em quatro
periódicos / Margareth Monteiro Gadelha; orientação de Evelyn
G.D.Orrico, Lucia M. A .Ferreira. – Rio de Janeiro: 2006.
88f.
Bibliografia:p. 85-88
Inclui anexos
Dissertação (Mestrado)- Programa de Pós-graduação em
Memória Social, Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro.
1.Identidade-Química 2.Divulgação científica 3.Linguagem
4. Representação. I Orrico, Evelyn G.D.,orient. II.Ferreira,
Lúcia M. A , orient. III.Título
22
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TERMO DE APROVAÇÃO
A IDENTIDADE DA QUÍMICA NO BRASIL NO CONTEXTO DOS
DISCURSOS DE DIVULGAÇÃO:
um estudo de caso em quatro periódicos.
MARGARETH MONTEIRO GADELHA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Memória Social, da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre em Memória Social, pela seguinte banca
examinadora:
__________________________
Prof.
a
Dr.
a
Evelyn Goyannes. Dill. Orrico
Orientadora
__________________________
Prof.
a
Dr.
a
Lucia Maria. Alves . Ferreira
Orientadora
___________________________
Prof.
a
Dr.
a
Vera Lucia Doyle Louzada de Mattos Dodebei
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
___________________________
Prof.
a
Dr.
a
Maria Nelida Gonzalez de Gomez
Instituto Brasileiro de Informação em C&T
Rio de Janeiro, 31 de julho de 2006
33
Dedico este trabalho ao meu pai, por todos os momentos em que
foi pai e mãe.
À minha mãe (in memorian), que incentivou meus primeiros
passos em direção aos livros.
A Maurício, companheiro de tantos anos e em todas as horas.
Meus sinceros agradecimentos às minhas orientadoras, Dr
a
. Evelyn Orrico e
Dr
a
.Lucia Ferreira, pelo convívio, respeito, amizade e principalmente pela
compreensão.
Às professoras Dr
a
.Vera Dodebei e Dr
a
.Luisa Massarani pelas valiosas
contribuições e troca de informações.
À professora Dr
a
.Nelida Gonzalez, por compartilhar o ritual de defesa deste
trabalho legitimando - o com toda sua respeitabilidade.
À Coordenadora do Sistema de Bibliotecas e Informação – SiBI, Paula Mello, e
toda sua equipe e amigos da UFRJ que sempre se fizeram presentes.
À Diretora do Instituto de Química da UFRJ, Prof
a
Dr
a
. Cássia Curan Turci, e
todos os amigos do IQ em especial ao Professor Dr.Marcio Contrucci, meus
sinceros agradecimentos pelo incentivo e apoio para realização deste trabalho.
Às minhas amigas da UFRJ, pelo incentivo, apoio e ajuda nos momentos
dramáticos: Eliana Taborda, Graça Souza Filho, Myriam Linden, Selma Mendes
e Prof
a
. Mariza Russo, a “culpada” por me colocar neste maravilhoso caminho e
mostrar a grandeza da profissão de Bibliotecária.
À minha irmã e amiga Madeleine, pelos laços que sempre nos uniram.
Agradecimentos especiais:
À Alexandrina César Ferraz e José Carlos da Silva Rios que me fizeram chegar
ao Dr. Edson Ferreira Liberal, Coronel do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio
de Janeiro, que com seu caráter altruísta contribuiu para salvar a vida de meu
irmão Elton.
55
QUÍMICA
Estouemcasaenãopossosair
Papaidissequeeutenhoqueestudar
Nemmúsicaeupossomaisouvir
Eassimnãopossonemmeconcentrar
Nãosaconadadefísica
Literaturaougramática
gostodeeducaçãosexual
Eodeioquímica
Química
Química
Renato Russo
66
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................10
2 PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM QUÍMICA NO BRASIL................20
2.1. Uma pequena história da Química ..........................................................25
3. FORMAS DISCURSIVAS DA CIÊNCIA...........................................................30
3.1 Discurso científico ....................................................................................31
3.2 Discurso jornalístico...................................................................................36
3.2.1 Discurso de divulgação científica............................................................40
4. PROCEDIMENTOS ANALÍTICOS ...................................................................46
4.1 Metodologia ..............................................................................................49
5. ANÁLISE COMPARATIVA ............................................................................. 53
5.1 Conteúdo temático ....................................................................................53
5.2 Estilo .........................................................................................................57
5.3 Construção composicional ........................................................................64
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................78
7. POSFÁCIO ............................................................................................................83
REFERÊNCIAS ........................................................................................................85
ANEXO 1
Análises dos artigos ........................................................................................89
77
RESUMO
Partindo do pressuposto de que os discursos são produzidos em determinada formação
discursiva, e ainda que as identidades são discursivamente construídas, refletimos
sobre as representações da química projetadas nas matérias veiculadas nos periódicos
de divulgação científica.O desenvolvimento deste trabalho buscou responder às
seguintes questões: A Química brasileira é divulgada nos periódicos de divulgação
científica? Em que condições a Química é notícia? Nosso propósito foi contribuir
para uma reflexão tanto na área acadêmica quanto jornalística, a respeito das
representações sociais desta área científica, a Química. O objetivo deste estudo foi
estabelecer um paralelo entre o que foi divulgado a respeito das pesquisas na área de
química no Brasil, e compreender como se constitui a identidade deste ramo do
conhecimento, a partir das relações entre os discursos produzidos pelos diferentes
agentes sociais envolvidos. A partir da verificação de um corpus constituído de textos
publicados nos periódicos no ano de 2002, elaboramos uma análise comparativa dos
artigos e estabelecemos um paralelo entre as representações da química nos periódicos
de divulgação científica e a produção do conhecimento. Desse modo, examinamos os
aspectos da linguagem nos discursos de divulgação destes agentes, a fim de perceber
o que foi selecionado para divulgação da área. Para estabelecer as categorias e
unidades de análise, tomamos como referência a definição de Bakhtin para enunciado
em que o autor denomina os gêneros do discurso como tipos que diferenciam os
enunciados, e ainda nas interdições de discursos descritas por Foucault como o
direito privilegiado e o ritual de circunstância. Nossas considerações finais apontam
para a necessidade de se reavaliar o modo de divulgar a Química, pois percebemos
que por parte dos químicos existe uma comunicação em linguagem especializada que
descarta a possibilidade de interação com a sociedade; e por parte dos jornalistas, falta
contextualizar os assuntos divulgados e trazer à população os problemas inerentes ao
desenvolvimento de pesquisas no país, assim como as suas conquistas.
88
ABSTRACT
Assuming discourses are produced within a certain discursive formation and identities
are discursively constituted, we analyze chemistry representations published in
popular science journals. This thesis addresses the following issues: Is Brazilian
chemistry adequately represented in popular science journals? Under what conditions
is chemistry part of the news? Our aim was to contribute towards analyzing
chemistry’s social representations, both from an academic and a journalistic point of
view. We aimed at examining the various popular chemistry publications in Brazil in
order to understand how identity is constructed in this specific area of knowledge,
Chemistry, taking as our starting point the discourses produced by the various social
agents involved. We based our analysis on a corpus consisting of chemistry texts
published in journals in 2002. We wrote a comparative analysis of these articles,
drawing a parallel between the representations of Chemistry in popular science
journals and the production of knowledge. We thus examined discursive aspects of the
language used by these social agents, in order to understand what was selected for
publication in the area. In order to decide on the most appropriate categories and
units of analysis, not only did we base ourselves on Bakhtin’s definition of utterance,
in which he establishes discourse genres as types that distinguish utterances, but we
also relied on Foucault’s notion of discourse interdictions, described as the privileged
right and the circumstance ritual. We concluded by showing the need to reevaluate the
way chemistry is made public, insofar as we perceive that chemists communicate
through a very specialized type of language which practically excludes the possibility
of interaction with ordinary people. As far as journalists are concerned, the published
materials have to be examined within their proper contexts in order to inform people
in general about the development of research in Brazil, as well as researchers’
achievements.
99
1. INTRODUÇÃO
Em 2000, trabalhando na Biblioteca do Instituto de Química da UFRJ e
empolgada com os novos meios de pesquisa, iniciei um trabalho que é rotina para a
maioria dos bibliotecários: o treinamento de usuários. O foco desta atividade estava
voltado para os alunos das escolas públicas que precisavam fazer algum trabalho de
química, ou seja, usuários que não estavam inseridos formalmente na universidade.
Como decorrência, comecei a participar de projetos de inclusão digital com alunos da
rede pública e do pré-vestibular Samora Machel, projeto que tinha por objetivo criar
condições para acesso e permanência de grupos até então excluídos do ensino
superior. Durante os treinamentos, percebi que, em relação aos assuntos científicos,
não bastava disponibilizar a informação, era necessário que esta estivesse em uma
linguagem que possibilitasse o entendimento dos alunos.
A procura de textos de divulgação científica motivou-me a pesquisar os
aspectos da linguagem adotada para divulgar ciência, especialmente a Química, a
fim de entender por que os alunos usavam tanto o refrão da música de Renato Russo,
“odeio química”, para se referir a essa área do conhecimento quando estavam na
biblioteca.
Meu interesse pela divulgação científica aumentou proporcionalmente ao
acesso que tive à produção acadêmica, e foi no ciclo de seminários chamado
“Química para poetas”, promovido pela Casa da Ciência, que pude observar o quanto
a sociedade se interessa por Química, e também o quanto é difícil compreender sua
linguagem. Durante as palestras pensava: onde está a poesia da química? Será que a
química se distanciou da poesia ou a poesia se manteve distante de algo que não lhe
parecia sensível? Ao final dos seminários notei que a química é uma ciência
extremamente poética, mas que a linguagem adotada na construção desta poesia é que
é difícil de rimar. E foi assim que, buscando a melhor maneira de aproximar o leitor
da informação, preocupei-me em entender melhor um pouco mais de seu conteúdo.
Desse modo, optei por estudar os periódicos de divulgação científica,
contextualizando os discursos que constroem a identidade da Química no Brasil, e a
perceber mais claramente a importância que a divulgação científica poderia exercer na
construção do imaginário popular a respeito do tema divulgado. O pressuposto
1010
subjacente foi que, sendo a mídia um lugar de memória, ela ajudaria a construir a
representação que o público leigo faria desse campo do conhecimento.
O objetivo deste estudo foi estabelecer um paralelo entre os artigos de
divulgação científica, publicados em periódicos organizados por dois diferentes tipos
de veículos. Pretendemos observar as características discursivas das seções de
divulgação científica inseridas em periódicos publicados pela Sociedade Brasileira de
Química, contrapondo-os aos artigos dos periódicos publicados por grandes editoras
comerciais. O paralelo estabelecido tentará compreender como se constitui a
identidade deste ramo do conhecimento, a partir das relações entre os discursos
produzidos pelos diferentes agentes sociais envolvidos.
A partir da análise de um corpus constituído de textos publicados durante o
período de 2002, nos periódicos da Sociedade Brasileira de Química, Química Nova e
Química Nova na Escola, e nos periódicos de divulgação científica das editoras
comerciais, Superinteressante e Scientific American Brasil, foi elaborada uma análise
comparativa dos artigos, a fim de estabelecer um paralelo entre as representações da
Química na imprensa e o que de fato era produzido no âmbito das pesquisas nessa
área, inferido a partir das seções de divulgação dos periódicos citados. Com base
nesta análise pretende-se averiguar de que forma os temas são abordados., quanto se
publica nestes periódicos em relação à produção científica nacional na área de
Química, e ainda, examinar os aspectos da linguagem nos discursos de divulgação. A
escolha do período relaciona-se com a comemoração dos 25 anos da Sociedade
Brasileira de Química que coincidiu com o lançamento da edição brasileira do
periódico Scientific American, publicação de divulgação científica que possui muita
credibilidade no meio acadêmico. Optamos por trabalhar com os periódicos Química
Nova e Química Nova na Escola porque ambos são editados pela SBQ; a Scientific
American Brasil por ter sido lançada nesse ano no país e por sua aceitação por parte
da comunidade acadêmica; e a Superinteressante devido à grande circulação no
mercado, apesar das restrições que lhes são dirigidas pelo público com formação
científica.
Por que a Química?
A escolha da Química decorre do fato de ser esta uma área que atingiu um alto
nível de consolidação e tem apresentado um grau de importância bastante
1111
significativo para o desenvolvimento econômico brasileiro. Como afirma FERREIRA
(2001 p.165):
No Brasil, a química vem se desenvolvendo desde a década de 30,
atingindo atualmente um patamar de grande importância para a
economia do país. Dados obtidos, recentemente, do Diretório de
Grupos de Pesquisa do CNPQ
(
www.cnpq.br/dgp/4/Site/index.html), cobrindo 90% das atividades
de pesquisa realizadas no país, mostraram que o número de
projetos de pesquisas em desenvolvimento no Brasil, no período
compreendido entre 1998-2000 da Química ( 2183) superou pela
primeira vez a área de Física (1862), área tida como a mais
produtiva.
Entretanto, para alguns químicos, a sociedade ainda vê a Química com grande
distanciamento, sem perceber o papel desta área no cotidiano e sua contribuição na
melhoria da qualidade de vida. É também freqüentemente associada à guerra, às
armas de destruição em massa, aos desastres ambientais, como se pode perceber pela
afirmação de ANDRADE, et al. (2004, p.398).
Sem a Química seria impossível manter a qualidade de vida da
humanidade com alimentos, segurança ambiental, longevidade e
conforto. Entretanto, freqüentemente tem sido observada,
erroneamente, a associação da palavra química com poluição,
armas e drogas...
Este distanciamento da sociedade em relação à química pode ser o resultado da
pouca preocupação dos cientistas brasileiros em divulgar seus trabalhos para
sociedade de modo geral, o que acaba por se tornar um obstáculo para a divulgação da
pesquisa científica junto ao grande público, devido à dificuldade de adaptação do
vocabulário da área. De acordo com FERREIRA (2001, p.165):
A maioria das pessoas comuns vê a Química como uma ciência
descritiva, baseada num amontoado assustador de símbolos,
tabelas, regras, fórmulas e reações que nunca parecem ter fim. Um
mundo só para iniciados onde a linguagem científica parece
sobrepor à nossa realidade, como que bloqueando uma real
percepção do seu papel no nosso cotidiano.
O desconhecimento científico é um problema para a educação no Brasil e é
rara a preocupação em adaptar o vocabulário científico de maneira que um leigo possa
entender. O argumento geralmente utilizado pelos pesquisadores é de que não é
1212
possível simplificar o vocabulário de um trabalho acadêmico, já que a simplificação
seria motivo de uma desqualificação. Porém, a adaptação do vocabulário científico
não significa desqualificar a pesquisa, mas sim transmitir um conceito, uma idéia, de
maneira que a torne amplamente conhecida. Para VIEIRA (1999, p.28), “Transmitir
um conceito de forma aproximada é muito melhor que mantê-lo hermético e
incompreensível em nome da extrema precisão e do preciosismo.”
Informaçãoecidadania
Os conceitos científicos muitas vezes são incompreensíveis para os próprios
cientistas, devido à especialização cada vez mais forte em várias áreas do
conhecimento. Como diz VIEIRA (1999, p.13): “Uma descoberta em física do estado
sólido, por exemplo, é geralmente ininteligível aos físicos nucleares. Para cientistas de
outras áreas, esses resultados não são mais do que códigos cifrados.” Diante desta
afirmação, o que podemos pensar sobre o entendimento científico da sociedade em
geral? Um cidadão bem informado está mais preparado para o exercício da cidadania,
pode tornar-se um aliado em defesa do desenvolvimento científico no país, ou se opor
a decisões governamentais sem frases feitas ou discursos decorados. Nas palavras do
químico polonês Roald Hoffmann, prêmio Nobel de química em 1981, em entrevista à
Ciência Hoje, os cientistas têm a obrigação de divulgar ciência. Diz Hoffmann:
Acho que os cientistas têm a responsabilidade de ensinar ciência às
pessoas . A razão principal para fazer isso não é atrair mais pessoas
para a química, por exemplo, mas informar o público geral. Quando
as pessoas adquirem algum conhecimento científico, podem
compreender melhor as decisões, o que é fundamental numa
sociedade democrática. Caso contrário, poderão se tornar vítimas de
demagogos e especialistas (HOFFMANN, 1992, p.45).
Para que a sociedade não se torne “vítima de demagogos (HOFFMANN,1992,
p.45)”, é preciso, entre outras coisas, que jornalistas e cientistas estejam atentos aos
serviços de informações de países do primeiro mundo, que são altamente qualificados
e penetram muito facilmente no cotidiano da sociedade através da mídia. A mídia, por
sua vez, em virtude de possuir um caráter imediato de divulgação da informação, pode
se tornar, na era da globalização, um veículo a serviço dos países dominantes.
1313
Provavelmente, um dos motivos para o distanciamento da sociedade em
relação à Química é fruto da falta de informação decorrente do modo como ocorre a
divulgação científica nacional, que privilegia serviços de informações de países do
primeiro mundo, enfatiza as notícias de conteúdo internacional, e apresenta opiniões
de cientistas estrangeiros para respaldar notícias que, na maioria das vezes, não
interagem com a realidade brasileira. Portanto, encontrar o equilíbrio entre a
divulgação científica nacional e internacional é uma questão de estratégia, como
atesta OLIVEIRA (2002,p.41):
Não podemos negar a importância dos temas de C&T dos países
desenvolvidos para a prática do JC. No entanto, é necessário buscar
equilíbrio na divulgação das informações para que a sociedade
brasileira conheça o que está sendo realizado no país e adquira a
capacidade de fazer julgamentos racionais sobre a importância da
C&T. Com a economia mundial globalizada a partir da década de
1990, a capacidade de autodeterminação de países em
desenvolvimento no que diz respeito à aquisição ou produção de
conhecimento científico e tecnologias tornou-se ainda mais frágil...
MídiaeInformação
A mídia é o veículo facilitador de aproximação entre a Química e a
sociedade, a partir do discurso de divulgação científica. Este discurso, entretanto, é
formado através do diálogo entre cientistas e jornalistas, duas vertentes que possuem
funções comunicativas opostas. Para os cientistas a principal função comunicativa é
disseminar um conceito, uma descoberta, ou uma nova tecnologia utilizando uma
linguagem especializada, a fim de obter a aprovação de seus pares. Já para os
jornalistas, a principal função comunicativa é informar acerca de novas descobertas e
tecnologias através de uma linguagem amena e sedutora, a fim de atingir o maior
público possível nas mais variadas camadas da sociedade. Essas diferenças na função
comunicativa entre os discursos científico e jornalístico certamente são algumas das
barreiras da divulgação científica na imprensa. Segundo John Ziman:
Existe também a dificuldade de tornar interessante e excitantes as
descobertas científicas, sem degradá-las intelectualmente por
completo. Existem problemas concretos de incompatibilidade de
gênios entre o pesquisador e o jornalista. Há uma contradição real
entre o sensacionalismo e a prudência científica, entre o exagero
multicolorido e a precisão cética, entre a modesta impessoalidade
considerada apropriada para o cientista e o culto da personalidade
exuberante, desenvolvido pela imprensa popular. (ZIMAN,1981,
p.134)
1414
A informação possui o poder simbólico de impor significados que são
produzidos num processo de interlocução e, neste contexto, os meios de comunicação
de massa possuem um preponderante papel nas transformações ocorridas nas
sociedades modernas e na construção de significados hegemônicos que constituem a
memória social. Portanto, divulgar ciência na imprensa é responsabilidade social e é
indispensável que cientistas e jornalistas estejam conscientes deste papel, pois esta é
uma das formas de constituição da memória. Tal construção não ocorre de modo
abrupto ou repentino, mas, ao contrário, o processo de divulgação vai sendo
construído paulatinamente ao longo das práticas sociais. Nesse sentido, falar sobre
ciência deveria se tornar um assunto do cotidiano. Havendo regularidade de
divulgação, os indivíduos construiriam representações que permitiriam apreender os
significados das idéias e decidir sobre o que melhor lhes conviesse. Embora possamos
reconhecer a complexidade que envolve as ações na divulgação científica, é preciso
estar atento às recomendações da UNESCO sobre as políticas de divulgação.
RecomendaçõesdaUNESCO
Em julho de 1999, a Conferência Mundial da UNESCO sobre Ciência emitiu
uma Declaração Sobre a Ciência e o Uso do Conhecimento Científico cuja
importância foi fundamental para o desenvolvimento de políticas de divulgação
científica, no sentido de que gerou um compromisso político de promover
amplamente a educação científica. Essa declaração chama atenção para o fato de que
a educação científica não deve ser um privilégio de alguns, mas sim, de que é
essencial que a sociedade entenda e participe de questões científicas presentes em seu
cotidiano. Neste mesmo evento foi também lançada a Agenda da Ciência : diretrizes
para a ação, com o objetivo de implantar os compromissos firmados na Declaração.
A seguir apresentaremos alguns trechos da Declaração citados por Susan M.
Stocklmayer, no trabalho A interação entre centros de ciência e universidades: o
Modelo QUESTACON.
É necessário promover acesso mais eqüitativo à ciência e aos seus benefícios
com envolvimento maior de meninas e mulheres[...]. É sobre essa plataforma
que a educação científica, a comunicação e popularização precisam ser
construídas [...].
1515
As Diretrizes para a ação visam sensibilizar os que atuam na ciência para o
papel fundamental da educação científica e a comunicação que lhe é
pertinente na promoção do entendimento e da participação nas questões que,
cada vez mais, nos afetam.
Os governos deverão atribuir a mais alta prioridade à melhoria da educação
científica em todos os níveis”, reza a Agenda para a ação, “com especial
atenção à eliminação do preconceito de sexo e social, em relação a grupos
desprivilegiados, aumentando a percepção pública da ciência e estimulando
sua popularização”.
Sugere, ainda, a criação “de um programa internacional de educação em
ciência e profissionalizante para o ensino na Internet para levar a educação
científica de alta qualidade a lugares remotos”.
Enfatiza também a necessidade de melhores oportunidades para o
treinamento de jornalismo e comunicadores por um lado, e, por outro, a
inclusão de treinamento em comunicação científica como parte da educação
do cientista (
http://www.unesco.org.)
A Declaração chama atenção para o fato da educação científica ser
fundamental na promoção do entendimento e da participação em questões que nos
afetam, enfatizando também a necessidade de treinamento em comunicação científica
de jornalistas e cientistas. Ambos precisam ser treinados para esta atividade e são
responsáveis pela construção da cidadania, uma vez que estão inseridos no processo
de educação científica.
Divulgar ciência é uma forma de intensificar o desenvolvimento científico, no
sentido de que a informação transmitida se consolida em algum lugar da memória
social, e atua no fortalecimento da identidade da ciência. A linguagem utilizada para
divulgar a informação exerce uma influência determinante na construção desta
identidade, que se configura como um processo em constante troca de informações,
marcado pela necessidade de comunicar e interagir. Este processo de construção da
identidade de uma ciência diz respeito ao esclarecimento, caracterizado por um
movimento ininterrupto de entendimento, por busca de informações.
O verbo informar, derivado do latim, originalmente significava, em inglês e
francês, formar a mente (BRIGGS; BURKE, 2004). O homem foi capaz de
desenvolver a capacidade de associação de signos por intermédio da linguagem, um
sistema que permite que o ser humano se informe, que represente a si mesmo e a
realidade que o cerca. As traduções, interpretações, leituras são atividades que
desenvolvemos com a intenção de obter esclarecimento, formar a mente, e nesta busca
incessante de informações é preciso estar atento aos discursos produzidos, uma vez
1616
que as representações por eles construídas são fundamentais na construção da
identidade e da diferença. Estas representações são marcadas pelo poder de práticas
discursivas que prevalecem em detrimento de outras.
Para Hall:
É precisamente porque as identidades são construídas dentro e não fora do
discurso que nós precisamos compreendê-las como produzidas em locais
históricos e institucionais específicos, no interior de formações e práticas
discursivas específicas, por estratégias e iniciativas específicas.
Além disso, elas emergem no interior do jogo de modalidades específicas de
poder e são, assim, mais o produto da marcação da diferença e da exclusão
do que o signo de uma unidade idêntica... (HALL, 2004, p.109)
Como a identidade está relacionada ao uso que se faz das palavras, deduzimos
que a informação, no sentido de formar a mente, está articulada diretamente com os
jogos de poder. E, como diz Hall, se as identidades são construídas dentro do discurso
e nós precisamos compreendê-las como produzidas no interior de formações e práticas
discursivas específicas, julgamos importante estudar o discurso de divulgação
científica da química no âmbito da memória social, a fim de identificar a constituição
da identidade dessa área a partir das práticas discursivas construídas
sobre e por ela.
A memória é uma construção não uniforme e não se caracteriza apenas como
uma reprodução do passado. A memória seleciona o que fica na lembrança e a partir
do que foi selecionado é que surge a consciência sobre determinado assunto, ou seja,
em algum momento a memória de algo será acionada e as atitudes do indivíduo serão
assim influenciadas por sua consciência. O ato de lembrar está associado a estímulos
internos ou externos que surgem a partir de situações que dizem respeito ao indivíduo
ou à coletividade. Mesmo situações isoladas sofrem a influência da coletividade,
visto que a memória individual é diretamente influenciada pelo meio ao qual está
inserida.
A memória social se constitui numa disputa de significados e sentidos que
interferem na formação dos indivíduos. São influências imperceptíveis, que muitas
vezes dão a idéia de algo novo, que nunca foi pensado ou dito. Segundo Halbwachs,
podemos exprimir idéias ou opiniões que consideramos ser nossas, mas que sem
percebermos, são influenciadas por uma notícia de jornal ou uma conversa. Devido a
1717
esta característica da memória social é que julgamos importante inseri-la nas reflexões
a respeito da divulgação científica e da identidade da Química na mídia impressa.
Diz Halbwachs:
Estamos então tão bem afinados com aqueles que nos cercam, que vibramos
em uníssono, e não sabemos mais onde está o ponto de partida das vibrações,
em nós ou nos outros. Quantas vezes exprimimos então, com uma convicção
que parece toda pessoal, reflexões tomadas de um jornal, de um livro, ou de
uma conversa. Elas correspondem tão bem a nossa maneira de ver que nos
espantaríamos descobrindo qual é o autor, e que não somos nós. “Já tínhamos
pensado nisso”: nós não percebemos que não somos senão um eco.
(HALBWACHS,1990, p.47).
Tais considerações motivaram o desenvolvimento deste trabalho, que buscou
responder à seguinte questão geral: existe divulgação da Química no país? Essa
questão se divide nas seguintes:
1. A Química brasileira é divulgada nos periódicos de divulgação científica?
2. De que forma se dá esta divulgação?
3. Em que condições a Química é notícia?
Estas questões aparentemente genéricas são essenciais para entendermos o que
dizem os químicos, quando mencionam que a Química é freqüentemente associada à
poluição, armas e drogas.Eles alegam que ela é uma ciência que se preocupa com a
qualidade de vida do ser humano.
Nosso propósito foi contribuir para uma reflexão tanto na área acadêmica
quanto jornalística, a respeito das representações sociais desta área científica, a
Química. Inicialmente traçaremos um breve panorama da institucionalização da
ciência no Brasil, e de alguns aspectos do desenvolvimento da Química no país, a fim
de conhecer as relações de poder que nortearam o processo de legitimação dessa área
do conhecimento. No capítulo seguinte, apresentaremos as formas discursivas da
ciência abordando os discursos científicos, jornalísticos, os de divulgação científica e
suas respectivas linguagens, tendo como objetivo perceber o modo de constituição da
1818
memória social e as relações entre linguagem e identidade. No capítulo posterior,
apresentaremos os periódicos pesquisados e a metodologia adotada para o trabalho,
na qual pretendemos identificar as marcas discursivas que evidenciam a identidade
construída da Química. E finalizaremos com um estudo sobre as marcas discursivas
da Química na imprensa, baseado nos artigos pesquisados.
1919
2. PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM QUÍMICA NO BRASIL
Conhecer a trajetória da institucionalização da ciência no país é essencial para
o trabalho que pretendemos desenvolver, tendo em vista que as condições em que a
produção científica se implanta é um dos elementos que configuram o discurso de
divulgação científica. Os aspectos históricos aqui relatados permitem não apenas
compreender porque divulgar a ciência é importante, mas também identificar como o
controle da informação muitas vezes demarcou o saber como forma de exercício do
poder.
Os colonizadores portugueses levaram três séculos para fundar as primeiras
instituições de ensino superior na colônia brasileira, muito diferente dos colonizadores
espanhóis na América, onde foram fundadas universidades desde o século XVI. Uma
das maiores opositoras para criação de instituições de ensino na colônia era a
Universidade de Coimbra. Apesar de os jesuítas que aqui estavam, bacharéis da
universidade, justificarem a criação de uma instituição que atendesse aos propósitos
da colonização, o desprezo conveniente em relação à educação superior do povo, por
parte dos colonizadores, era total. O poder do conhecimento era utilizado para evitar a
perda da superioridade. (FILGUEIRAS,1990,p.225)
O fato de ter demorado tanto para a criação de uma universidade brasileira
contribuiu muito para o atraso do desenvolvimento científico em nosso país, mas este
foi apenas um dos motivos. Outra característica marcante que contribui para este
atraso foi a economia baseada no trabalho escravo: não havia interesse no
desenvolvimento tecnológico devido à facilidade da mão-de-obra barata. A elite
estava representada pelo senhor de latifúndios e escravos. (FILGUEIRAS,1990,p.225)
No século XVIII, a existência de uma importante indústria açucareira e o
início do ciclo do ouro possibilitaram o desenvolvimento de atividades em
mineralogia, química, geologia e metalurgia com apoio do governo de D.João V.
Com o risco de perder uma colônia tão valiosa para outro país, o governo começou a
incentivar o desenvolvimento da engenharia, e assim a ciência começou a se
aproximar da sociedade interferindo no cotidiano das pessoas, a partir das novas
tecnologias de produção de bens. (FILGUEIRAS,1990,p.226)
2020
As sociedades científicas começaram a aparecer no Brasil no século XVIII e,
apesar da curta duração que tiveram, algumas foram marcantes, como a Academia
Científica do Rio de Janeiro, criada em 1772 pelo marquês de Lavradio, e a Sociedade
Literária do Rio de Janeiro fundada em 1786. Estas academias marcaram a evolução
do pensamento brasileiro em relação à ciência, assim como, na Europa, no final do
século XVII, inauguraram uma prática que caracterizou a ciência como instituição
social. Foi no continente europeu, a partir das academias e das sociedades científicas
organizadas, que cientistas, artistas, escritores, ou quem estivesse interessado em
conhecer as novas descobertas, se correspondiam para troca de informações. Com o
passar do tempo, as publicações dos trabalhos científicos que começaram de maneira
informal foram sendo institucionalizadas, deixando de ser uma troca de
correspondência entre cientistas e editores, para dar origens aos primeiros periódicos
científicos (SÁNCHEZ MORA, 2003, p.17).
Com a transferência da Corte para o Rio de Janeiro milhares de pessoas
chegaram à cidade alterando os aspectos sociais e políticos da época. Documentos do
século XVII registram os pedidos à Corte Portuguesa para formação de uma
universidade. Porém, só com a chegada da Família Real, em 1808, foi que o Príncipe
Regente Dom João VI permitiu a criação, na Bahia, do Curso de Cirurgia, Anatomia
e Obstetrícia, também registrado nos documentos como Colégio Médico-Cirúrgico da
Bahia.
A imprensa, que era uma atividade proibida no Brasil, também foi autorizada,
e, além da fundação da Imprensa Régia, as tipografias particulares foram
incentivadas. O Jardim Botânico, Biblioteca Nacional, Academia Real Militar,
Museu Nacional, eram as instituições que legitimavam o poder do conhecimento.
O Museu Nacional, fundado em 1818, foi o primeiro instituto científico em
Ciências Naturais do país, as primeiras atividades experimentais surgiram em seu
Laboratório Químico (1824-1931) e as Conferências públicas para discutir zoologia,
antropologia, botânica, tiveram início no Museu em 1856. Em 1946, o Museu foi
integrado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas só em 1971 seus
pesquisadores foram equiparados aos docentes universitários.
2121
No final do século XIX as calamidades públicas e epidemias constantes
forçaram o desenvolvimento de pesquisas na área da saúde pública. Em 1899, a peste
bubônica originou a criação do Instituto Soroterápico que, por precaução, foi
instalado na fazenda do Butantã em São Paulo, longe da população. Como a doença
poderia se alastrar para o Rio de Janeiro, em 1900 foi criado o Instituto Soroterápico
Municipal, na fazenda de Manguinhos, também longe do perímetro urbano. Estas
instituições, conhecidas atualmente como Instituto Butantã de São Paulo e Instituto
Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, ultrapassaram todos os seus objetivos iniciais e se
tornaram centros de excelência no país.Interessante notar como a ciência no Brasil,
desde a sua origem, esteve associada à saúde. As demais ciências, que não estavam
associadas às pesquisas na área da saúde, tiveram um início muito tímido, como diz
José Leite Lopes:
A matemática, a física, a química, sem terem calamidades públicas a debelar,
ficaram reduzidas a cursos nas escolas profissionais superiores – na Academia
Real Militar, de 1810, na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em que se
transformou em 1874, na Escola de Minas de Ouro Preto, de 1875, e na
Escola Politécnica de São Paulo, fundada em 1896. E os poucos
pesquisadores nesse domínio, que surgiram até algumas décadas atrás, não
tiveram meios nem ambiente para estimular uma tecnologia local capaz de
estudar problemas que pudessem interessar ao desenvolvimento nacional.
(LOPES,1998, p.67)
Em 1920, a partir da união dos cursos superiores já existentes no Rio de
Janeiro, foi criada a Universidade do Rio de Janeiro. No ano de 1935, o Diretor de
Instrução do Distrito Federal, Anísio Teixeira, criou a Universidade do Distrito
Federal que, por razões políticas, foi extinta em 1939 e teve seus cursos transferidos
para a Universidade do Brasil, antiga Universidade do Rio de Janeiro que, em
5/11/1965, em função da Lei 4.831, passou a ser chamada Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Durante a Nova República (1930-1964), o sistema de universidades
públicas federais foi consolidado com a criação de 22 universidades.
As universidades sofreram com os governos militares após a tomada do poder
em 1964, e segundo o livro editado pela Capes, A Educação Superior no Brasil: “...as
universidades públicas, consideradas verdadeiros centros de subversão, sofreram um
processo de “limpeza ideológica”, por meio das cassações de professores” (SOARES,
2002, p.40). Por outro lado, os militares reconheciam a importância do
desenvolvimento científico e tecnológico e incentivaram, principalmente nas
2222
universidades públicas, a criação dos cursos de mestrado, doutorado, e o
desenvolvimento de pesquisa.
O que estava por trás destas iniciativas era obter o apoio ao regime militar; o
regime precisava de uma massa crítica que lhe desse apoio mesmo que os professores
contra o sistema fossem presos, exilados e demitidos de seus cargos. Segundo Leite
Lopes:
Ao mesmo tempo, criaram-se novas universidades, abriram-se novas vagas
para admissão nas universidades e foram distribuídas, no início da década de
1970, verbas para as pesquisas e para universidade, que iludiram a muitos e
fizeram cessar aparentemente novos estudos críticos. (LOPES,1998, p.224)
A nova estratégica econômica adotada pelo regime militar, com base no
capital estrangeiro que entrava no país, estava orientada para dinamizar o mercado
mundial. Nesse sentido, o que se viu foi um enquadramento do país às perspectivas
econômicas das multinacionais. A consolidação dessas empresas no país transferiu
setores importantes da economia para o controle estrangeiro e afetou negativamente a
identidade nacional, uma vez que os postos de comandos eram ocupados por
indivíduos ligados à matriz estrangeira, que tomavam decisões sem considerar os
interesses brasileiros. O artigo em que Leite Lopes discorre sobre a introdução das
empresas multinacionais nos países em desenvolvimento e expõe o problema da
identidade nacional.
Podem fazer contratos e conceder suporte a grupos específicos em
universidades locais em determinados domínios técnicos e científicos, como
física do estado sólido, satélites e pesquisa espacial. Mas o trabalho destes
grupos estará estritamente ligado aos programas e interesses das
universidades e agências públicas no centro do sistema capitalista,
conectadas, por sua vez, com as corporações transnacionais. A ciência, desta
forma, não é um instrumento de defesa da identidade nacional e dos
verdadeiros interesses dos povos do Terceiro Mundo. (LOPES, 1998 p.112)
Esta situação era estimulante para implantação de firmas multinacionais
durante o período de ditadura militar, pois possibilitava a criação de um poder militar
transnacional que defendesse os interesses globais e não nacionais.
O objetivo das multinacionais visava a atender o centro do sistema capitalista.
Segundo Lopes:
2323
Os programas de pesquisa espacial nos Estados Unidos são, assim, um outro
instrumento de dominação do mercado internacional de comunicações e de
descobrimento e exploração de reservas minerais, como na Bacia Amazônica.
Já os programas de pesquisa no campo da física do estado sólido, que a
maioria dos físicos do Terceiro Mundo considera ser o único tipo de pesquisa
física que merece ser estimulado em seus países, por receberem
financiamentos a serem facilmente utilizáveis em suas economias, estão em
sua maioria ligados a programas das grandes universidades e laboratórios de
pesquisas do centro do sistema industrial.(LOPES, 1998, p.113)
A nova Constituição Brasileira foi antecedida por vários debates de
associações da sociedade civil. O regime democrático que recomeçara em 1985
estava sendo legitimado, e em 05 de outubro de 1988 a Constituição Federal foi
promulgada. Em seu texto final foi garantida a gratuidade do ensino público em
estabelecimentos oficiais, com autonomia didática, científica, administrativa e de
gestão financeira e patrimonial, obedecendo ao princípio de indissociabilidade entre
ensino, pesquisa e extensão. Foi estabelecido apoio e estímulo às empresas que
investissem em pesquisa e em criação de tecnologia adequada ao País, determinando
ainda que o direcionamento da pesquisa tecnológica visasse à solução dos problemas
brasileiros e ao desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional (BRASIL,
2005, p.41-42).
Considerando que a própria Constituição Federal determina que o
desenvolvimento de pesquisa no país vise à solução dos problemas nacionais, e que
no país a educação ainda é precária, que o analfabetismo científico é dominante, que
muitos representantes no Congresso Nacional estão presos a pensamentos
conservadores, julgamos essencial conhecer como a ciência é transmitida à sociedade,
e inserir em nossos estudos alguns aspectos políticos em torno da institucionalização
da ciência no Brasil.
Desde o Brasil colônia, quando a imprensa era proibida e não existia
autorização de Portugal para criação de uma universidade, até o regime militar,
quando identificamos um massivo enquadramento do País aos interesses
internacionais, o exercício do poder através daqueles que detêm o saber foi, e ainda é,
uma constante. Atualmente o que presenciamos são as guerras das patentes, as
espionagens industriais, a pirataria, tudo isto associado ao poder do conhecimento. E
por ser a divulgação científica motivada por vários interesses políticos, econômicos e
2424
sociais, julgamos relevante compreender os domínios da ciência. Divulgar a ciência
produzida no país, na visão de muitos cientistas, tem o objetivo político de esclarecer
a sociedade e contribuir para o seu desenvolvimento, conquistando seu apoio à
aprovação das leis e aos investimentos financeiros nas pesquisas.
2.1 UMA PEQUENA HISTÓRIA DA QUÍMICA
Nesta parte do trabalho trataremos de alguns aspectos que julgamos
esclarecedores para entendermos um pouco do desenvolvimento da Química em nosso
país. Começaremos a partir do livro de Vicente Telles, Elementos da Química, que é o
primeiro livro de química escrito por um brasileiro .
Os Elementos são a obra principal de Vicente Telles e constituem o primeiro
livro de química moderna escrito em língua portuguesa, bem como o
primeiro compêndio químico escrito por um brasileiro. (FILGUEIRAS, 1985,
p.264)
Esta obra rara de pouco mais de 200 anos foi escrita por um autor pouco
conhecido pelo químicos brasileiros. Para Filgueiras, que a considera uma obra de
suma importância, chama atenção o fato de ela jamais ter sido usada como livro-texto
no Brasil, apesar do papel pioneiro que Vicente Telles desempenhou na área de
Química.
É surpreendente que uma obra tão alentada como a de Vicente Teles não
tenha tido qualquer impacto no Brasil. Ao contrário das intenções do autor
ela jamais foi usada como livro-texto no Brasil, mesmo após a liberalização
joanina em 1808. Acredito todavia que seu conhecimento é importante para
os químicos brasileiros de hoje. Vicente Telles foi não apenas um pioneiro da
Química Brasileira mas também um pioneiro brasileiro da Química universal.
(FILGUEIRAS, 1985, p.268)
Vicente Telles era amigo de outro brasileiro ilustre pouco conhecido por sua
carreira científica: José Bonifácio. Também considerado um dos pioneiros da
química no Brasil, José Bonifácio publicou diversos estudos sobre mineralogia e suas
atividades científicas tiveram grande repercussão em Portugal, país no qual viveu até
aposentar-se e regressar para o Brasil em 1819.
Outra figura ilustre e primeiro químico brasileiro a ter sua formação
exclusivamente no país foi João Manso. Autodidata, adquiriu seus conhecimentos
através dos livros e experiências. Publicou algumas obras na área, porém, segundo
2525
FARIAS et al.: “não teve seus conhecimentos aproveitados pelo então criado
Laboratório Químico-Prático” (FARIAS et al., 2004,p.40).
A criação do Laboratório Químico-Prático é um dado relevante no
desenvolvimento da química no Brasil. Criado em 1812, no Rio de Janeiro, durou
apenas 7 anos e, embora tenha sido criado com a finalidade de atender aos interesses
de Portugal, é considerado a primeira tentativa para o desenvolvimento das pesquisas
científicas da área em nosso país. Segundo SANTOS:
O laboratório é tido como a primeira tentativa de incrementar pesquisas
científicas com objetivos práticos de aplicação, não tendo a finalidade de
desenvolver a química como ciência.(SANTOS, 2004, p. 342)
A maioria dos autores menciona o fato de a criação do laboratório ter sido
motivada pela necessidade de fabricar um sabão sólido, pois o que era fabricado na
ilha de São Tomé dificultava a exportação por não ser endurecido. Como nos conta
SANTOS:
Em todos os relatos, a única experiência citada detalhadamente foi a que
originou a idéia da criação do referido laboratório: a tentativa de tornar
rentável o fabrico de sabão sólido, manufaturado na ilha São Tomé.
(SANTOS, 2004, p. 342)
Outra instituição que merece destaque é o Laboratório Químico do Museu
Nacional, fundado em 1818, que desenvolveu diversas atividades relevantes para o
desenvolvimento da Química no país e, conforme já citamos no capítulo anterior, foi
integrado à Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1946.
Para FARIAS et al.:
Merece destaque, ainda durante o século XIX, o Laboratório Químico do
Museu nacional, fundado em 1818, que desempenharia papel de destaque na
produção e difusão dos conhecimentos químicos no país, uma vez que lá
seriam realizadas análises de espécies vegetais brasileiras, além do fato de
vários de seus diretores terem se dedicado á produção de tratados de química,
obras precursoras de uma literatura química nacional mais avançada.
(FARIAS et al., 2004,p.53).
2626
No século XX, o papel das instituições de ensino no que diz respeito à química
no Brasil é de total relevância, uma vez que as pesquisas são em sua maioria
desenvolvidas nas universidades e centros de pesquisas públicos. Para FARIAS:
Uma característica que marca a química brasileira do século XX, como de
resto outras áreas da ciência, é o fato de a pesquisa, quer básica, quer
aplicada, ser efetuada quase que exclusivamente nas Universidades e centros
de pesquisa públicos. As Universidades privadas, bem como as indústrias, de
um modo geral contribuíram muito pouco para a realização de investigações
científicas na área de química. (FARIAS et al., 2004,p.68).
A Química como profissão foi regulamentada, no Brasil, em 18 de junho de
1956, com o sancionamento da Lei 2800 pelo presidente Juscelino Kubitscheck. Foi
também na década de 50, que o incentivo à pesquisa científica no país ocorreu de
modo bastante significativo, com a criação da CAPES e do CNPq. Na década de 60 o
governo percebeu que era necessário investir na pós-graduação, substituir as
importações e desenvolver a pesquisa nacional. Os recursos foram abundantes e
crescentes, em 1973, por exemplo, o PADCT previa um investimento vinte vezes
maior do que em 1968. Por outro lado, as mudanças políticas da época colocaram a
comunidade científica em alerta, e foi neste cenário conturbado que teve origem, em
1977, a Sociedade Brasileira de Química.
As reuniões anuais da SBPC serviam também para um encontro de venerados
químicos do meio acadêmico para discutir medidas para “reerguer a
Associação Brasileira de Química”. A ABQ era dirigida por industriais pouco
receptivos aos anseios de professores e o CNPq havia retirado seu apoio a
publicação do Anais da Associação. A sua Regional mais forte, a do Rio
Grande do Sul, havia declarado a sua independência e a mais influente, a do
Rio de Janeiro, estava desmobilizada. Inevitavelmente as discussões
acabavam com a sugestão de providência logo esquecidas. Foi neste contexto
que nasceu a Sociedade Brasileira de Química. (SEIDL, 2004, p.96)
Atualmente, notamos ser de suma importância a divulgação das pesquisas
científicas para, entre outros aspectos, captar recursos. Esclarecer a sociedade a
respeito da importância de um determinado investimento em pesquisa permite que os
cidadãos tenham opinião própria e clareza de idéias mesmo que não seja um cientista
da área. Com relação à Química esta interação com a sociedade é imprescindível,
como diz ANDRADE et al.:
2727
Provavelmente, em breve, “a pergunta será”: quantos empregos a sua
pesquisa gerou?Nesse momento próximo, a sintonia da pesquisa científica e
tecnológica com a sociedade será inevitável. No caso específico da Química,
por ser um ramo da ciência a serviço da humanidade, a sintonia é
indissociável. (ANDRADE et al.,
2004, p.404)
A química desenvolvida no país abrange diferentes temas e, se pararmos para
observar, percebemos sua presença em todas as atividades do nosso dia-a –dia, desde
a hora em que acordamos, ao escovar os dentes, lavar os cabelos, passar um protetor
solar, tomar café, pegar o material de trabalho, passar no posto para encher o tanque
do carro ou pegar um ônibus, sentir a qualidade do ar no trânsito ou no ambiente que
freqüentamos, tomar um remédio, um chá ou um sorvete de baunilha, até a hora em
que vamos dormir em um travesseiro com espuma bem macia.
No ano de 2002, em comemoração aos 25 anos da Sociedade Brasileira de
Química, foi lançada uma edição especial da Química Nova com artigos de
especialistas resgatando a memória de suas respectivas áreas. Os temas abordados
nessa edição evidenciaram a variedade dos assuntos relacionados à área, assim como
também ressaltaram a importância da Sociedade Brasileira de Química – SBQ para o
desenvolvimento deste ramo do conhecimento.
Os artigos discorreram sobre questões das mais variadas, relacionadas ao
desenvolvimento da pesquisa na área de Química, por exemplo: sobre as aplicações
práticas da Fotoquímica em áreas com aproveitamento racional da energia da luz
solar; sobre a Química Medicinal no planejamento de fármacos, e na previsão da
toxidade de compostos visando sua aplicação tanto terapêutica quanto ambiental;
sobre a Química de Produtos Naturais e o pleno convívio da humanidade com as
plantas; o desenvolvimento recente das áreas de Química Analítica e Química
Inorgânica no país; a importância da Química Orgânica e sua face negativa de
agressões ao meio ambiente; a Química de Materiais tratando da síntese, estrutura,
propriedade e aplicações dos materiais, sobretudo daqueles associados com o avanço
de diferentes tecnologias; sobre a importância do ensino em Química. Enfim, temas
que, neste número especial, deram um panorama da variedade dos assuntos
relacionados à química, e como essa ciência está inserida em nosso cotidiano.
2828
Desse modo, podemos notar, a partir do que foi publicado na edição especial
de aniversário, em 2002, o quanto a Química está presente na vida cotidiana. Portanto,
ela deveria ser uma área do conhecimento que interagisse com a sociedade de modo
geral; a nosso ver, um dos caminhos possíveis para esta interação, seria uma efetiva
divulgação científica a partir das investigações realizadas.
2929
3. FORMAS DISCURSIVAS DA CIÊNCIA
Considerando que este trabalho insere-se na abordagem da divulgação
científica, serão tratadas neste capítulo questões em torno dos discursos científico e
jornalístico. Em virtude de nosso objeto, serão inicialmente tratadas aqui as relações
entre linguagem e identidade. O referencial teórico parte dos conceitos de Mikhail
Bakhtin a respeito dos gêneros do discurso e de Michel Foucault sobre a ordem do
discurso. Segundo Bakhtin, a variedade de gêneros do discurso é infinita porque a
variedade da atividade humana é inesgotável, e é nesta esfera de heterogeneidade dos
gêneros do discurso que direcionaremos o trabalho. A contribuição de Foucault
baseia-se nos conceitos de interdições do discurso, nos quais nos basearemos para
analisar as normas, os procedimentos e os rituais que influenciam diretamente o
modo de pensar, comunicar e interagir dos indivíduos entre si ou com a sociedade
de modo geral, especialmente na situação de comunicação da ciência para o público
leigo.
Esta influência no modo de pensar das pessoas, nos leva a retomar os conceito
de identidade em Hall, e pensar nas práticas discursivas como formas determinantes
na formação,ou transformação do indivíduo. Segundo Hall:
“ As identidades parecem invocar uma origem que residiria em um passado
histórico com o qual elas continuariam a manter uma certa correspondência.
Elas têm a ver, entretanto, com a questão da utilização dos recursos da
história, da linguagem e da cultura para a produção não daquilo que nós
somos, mas daquilo no qual nos tornamos. (HALL, 2004, p. 109)”
A concepção de Hall para identidade considera que ela é multiplamente
construída ao longo dos discursos, e que precisamos vincular as discussões sobre
identidade a todos aqueles processos e práticas que de certo modo estão
estabelecidas. Diz Hall:
“Essa concepção aceita que as identidades não são nunca unificadas; que elas
são, na modernidade tardia, cada vez mais fragmentadas e fraturadas; que elas
não são, nunca, singulares, mas multiplamente construídas ao longo dos
discursos...
Precisamos vincular as discussões sobre identidade a todo aqueles processos
e práticas que têm perturbado o caráter relativamente “estabelecido” de
muitas populações e culturas... (HALL, 2004, p. 108)”
3030
Continuaremos nossa exposição chamando atenção para a definição
empregada por Bakhtin, na qual ele fala sobre levar em conta o leitor para a
formulação do texto. No caso específico de divulgação científica, esse autor chama
atenção para o tipo de leitor e o diferencia de outros para quem se dirigem os textos
mais específicos e especializados.
Enquanto falo, sempre levo em conta o fundo aperceptivo sobre o qual minha
fala será recebida pelo destinatário: o grau de informação que ele tem da
situação, seus conhecimentos especializados na área de determinada
comunicação cultural, suas opiniões e suas convicções, seus preconceitos (de
meu ponto de vista), suas simpatias e antipatias, etc.; pois é isso que
condicionará sua compreensão responsiva de meu enunciado, a escolha dos
procedimentos composicionais e, por fim, a escolha dos recursos lingüísticos,
ou seja, o estilo do meu enunciado. Por exemplo, o gênero de divulgação
científica dirige-se a um círculo preciso de leitores, com certo fundo
aperceptivo de compreensão responsiva; é a outro leitor que se dirigem os
textos que tratam de conhecimentos especializados, e é a um leitor muito
diferente que se dirigirão as obras de pesquisas especializadas. Em todos
esses casos, levar-se-á em conta o destinatário (o seu fundo aperceptivo) e a
influência dele sobre a estrutura do enunciado é muito simples: tudo se
resume à amplitude relativa de seus conhecimentos especializados.
(BAKHTIN,1997, p.321)
O que o texto de Bakhtin aponta é para a diferença entre as formulações
textuais quando dirigida a distintos leitores. No âmbito da ciência, existem discussões
a respeito dos conceitos de divulgação científica, popularização da ciência,
comunicação pública em ciência considerando as diferentes formulações textuais na
troca de informações. O modo como um jornalista comunica-se com o leitor é
diferente da comunicação entre cientistas; assim como também, há diferença na
comunicação entre cientista e o leitor não especializado. Adotaremos, neste trabalho,
os conceitos de disseminação e divulgação científica com base na dissertação de
Mestrado de Luisa Massarani, cujo título é A divulgação científica no Rio de Janeiro:
algumas reflexões sobre a década de 20, defendida no Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia - IBICT, em 1998.
3.1 DISCURSO CIENTÍFICO
Massarani relata que a busca de uma definição do termo para denominar a
divulgação da ciência para o público aparece em textos do início do século XIX. No
Brasil o termo hegemônico é divulgação científica, sendo usado em vários estudos
sobre o assunto e em periódicos como Ciência Hoje, Galileu (antiga Globo Ciência), e
3131
Superinteressante. Segundo a autora, vulgarização científica, divulgação científica,
popularização da ciência e comunicação pública em ciência têm o mesmo
significado, já difusão e disseminação, têm um sentido diverso da
divulgação.(MASSARANI,1998, p.13).
Massarani cita as distinções dos conceitos feitas por Pasquali, nas quais nos
basearemos a fim de apresentar um quadro comparativo entre disseminação e
divulgação científica. Segundo Pasquali
1
(apud MASSARANI,1998, p.13):
DISSEMINAÇÃO – é o envio de mensagens elaboradas em
linguagens especializadas, ou seja, transcritas em códigos
especializados, a receptores selecionados e restritos, formado por
especialistas. Pode ser feita intrapares (especialistas da mesma
área) ou extrapares (especialistas de áreas diferentes).
DIVULGAÇÃO – é o envio de mensagens elaboradas mediante a
transcodificação de linguagens, transformando-as em linguagens
acessíveis, para a totalidade do universo receptor.
Numa interpretação da reflexão elaborada por Bakhtin (1997,p.321) a respeito
dos gêneros do discurso, focalizamos o gênero do discurso de divulgação científica e
o gênero do discurso de disseminação científica com o propósito de evidenciar as
características que lhes são constitutivas, e estabelecer as categorias e unidades de
análise desta pesquisa.
Os gêneros discursivos são diferenciados a partir de seus enunciados,
presentes nas mais variadas esferas da atividade humana, e é a partir dos enunciados
que a comunicação se realiza; estes, por sua vez, são elaborados de acordo com as
especificidades de cada uma dessas esferas. O lugar que cada sujeito ocupa na
sociedade está marcado na construção do enunciado, o que leva a heterogeneidade
dos gêneros discursivos. Nesse sentido, Bakhtin diferencia-os em gêneros
discursivos primário e secundário.
1
PASQUALI, Antonio Pasquali. Compreender la comunicación. Caracas: Monte Ávila Editores,
1978.
3232
O gênero primário é constituído dos tipos de textos elaborados em
circunstâncias de comunicação verbal espontânea; são mais simples e estão presentes
no diálogo oral das reuniões, na família, no cotidiano, etc. Já os gêneros secundários
se constituem em circunstâncias de comunicação pública; são mais complexos, e
estão presentes no trabalho, congressos, eventos, como, por exemplo; o gênero
científico e o jornalístico. Nesse processo de formação dos gêneros, os tipos de
enunciados se configuram da seguinte maneira: o conteúdo temático, ou seja , a
abordagem do tema; o estilo verbal, determinado pela seleção dos recursos da língua
- recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais; e a construção composicional, que
significa o conjunto do enunciado.
A multiplicidade dos gêneros discursivos proporciona a reflexão sobre a
individualidade do enunciado. Bakhtin (1997) considera que todo o enunciado é
individual, e por isto reflete a individualidade de quem fala. No entanto, ressalta que
nem todos os gêneros de discurso são propícios ao estilo individual, como, por
exemplo, os que possuem uma construção padronizada. Com base nessas reflexões,
apresentaremos algumas distinções entre o gênero do discurso de divulgação
científica e o gênero do discurso de disseminação científica.
Segundo Bakhtin:
Quando há estilo, há gênero. Quando passamos o estilo de um gênero para
outro, não nos limitamos a modificar a ressonância deste estilo graças à sua
inserção num gênero que não lhe é próprio, destruímos e renovamos o próprio
gênero (BAKHTIN, 1997, p.287).
O discurso de disseminação da informação científica é direcionado aos leitores
que possuem conhecimentos especializados, por conter uma linguagem
especializada, formal. Para o acadêmico ser aceito entre os pares precisa publicar em
periódicos especializados da área, apresentar resultados comprovados empiricamente,
ter embasamento teórico. O autor deve estar ligado a um grupo de pesquisa que
respalde seu trabalho e só desta maneira a informação é aceita para ser disseminada.
O tempo para disseminar uma informação científica depende dos resultados da
pesquisa, o que pode levar anos. Bakhtin chama atenção para o fato de que por mais
monológico que seja um enunciado, de certo modo, não deixa de ser uma resposta ao
que já foi dito. Assim também é o discurso de disseminação científica, pois
3333
pressupõe-se que seu enunciado pertença ao elo na cadeia da comunicação verbal
especializada, que seja referendado por enunciados anteriores e fundamentado por
uma situação discursiva. Como explica Bakhtin :
Por mais monológico que seja um enunciado (uma obra científica ou
filosófica, por exemplo), por mais que se concentre no seu objeto, ele não
pode deixar de ser também, em certo grau, uma resposta ao que já foi dito
sobre o mesmo objeto, sobre o mesmo problema, ainda que esse caráter de
resposta não receba uma expressão externa bem perceptível. (BAKHTIN,
1997, p.317).
Por outro lado, o discurso de divulgação científica é direcionado ao leitor
leigo, e deve apresentar uma linguagem amena e criativa. É a acomodação da
linguagem científica, isto é, a passagem de um estilo para outro, acarretando a
mudança do gênero de disseminação científica para divulgação científica. Seu
enunciado também pertence ao elo da comunicação verbal, mas possui um estilo
oposto ao da disseminação científica. Esta última precisa ser aprovada pelos cientistas
para poder ser inserida no elo da comunicação verbal especializada, e estar dentro das
normas com todo rigor científico, ao passo que a divulgação não tem a obrigação de
seguir as normas para elaboração dos trabalhos científicos, apresentar citações, nem
seu autor precisa ser especialista da área para falar sobre o assunto. As normas dos
artigos de divulgação devem estar de acordo com o que cada editoria determina, o
tempo para divulgar uma matéria sobre ciência está associado ao fechamento das
edições dos periódicos, e seu conteúdo geralmente está associado ao que é
espetacular, ou ostentoso.
Segundo Fahnestock:
“...as adaptações científicas são esmagadoramente epidíticas; seu objetivo
principal é celebrar, e não validar.” Além do mais, devem geralmente ser
explícitas em suas afirmações a respeito do valor das descobertas científicas
sobre as quais discorrem. Não podem confiar que a audiência irá reconhecer a
significância da informação..”(FAHNESTOCK, 2005, p.80)
Além disso, é preciso considerar o que diz Foucault para a constituição dos
discursos, pois, entre os agentes que integram o elo da comunicação e que estão
presentes neste estudo - o cientista, o jornalista e o leitor - existem algumas
características discursivas que julgamos importante destacar, a fim de
compreendermos um pouco mais a respeito da produção dos discursos científicos e
de divulgação científica. Para tanto, baseado na obra de Foucault (1996),
3434
abordaremos algumas considerações que julgamos relevantes a respeito da
constituição dos discursos.
Foucault descreve dentre os procedimentos de controle do discurso a exclusão.
Tal exclusão pode ocorrer por interdição ou pelo que ele denominou de vontade de
verdade.
Direito privilegiado - que qualquer um não pode falar de qualquer coisa.
Ritual da circunstância - que não se pode falar de tudo em qualquer
circunstância.
Vontade de verdade - fundamentar, ou justificar o desdobramento do que se
fala a partir de um discurso anterior.
O primeiro exerce a sua força pela proibição da palavra e pode se dar com
relação ao discurso científico, ao falarmos sobre o direito privilegiado ou exclusivo
do sujeito de fala como um tipo de interdição do discurso queremos dizer que só a
alguns é dado o direito de expressar as idéias. Percebemos que cada área do
conhecimento se preocupa com seu objeto de estudo e procura refletir as suas
descobertas de maneira unitária e coerente. Em relação ao segundo tipo de interdição
apontado aqui, o ritual da circunstância, prevê que não se pode falar de tudo em
qualquer circunstância.
O outro procedimento de exclusão, a vontade de verdade. Baseia-se na
exclusão a partir de um suporte institucional, que significa fundamentar um discurso,
justificá-lo a partir de um discurso verdadeiro, e está presente tanto no discurso
científico quanto no de divulgação científica. Por mais que o discurso aborde questões
completamente novas, é preciso fundamentá-lo, o que significa justificar seu
desdobramento a partir de um discurso anterior. Foucault diz assim:
Enfim, creio que essa vontade de verdade assim apoiada sobre um suporte e
uma distribuição institucional tende a exercer sobre os outros discursos –
estou sempre falando de nossa sociedade – uma espécie de pressão e como
um poder de coersão. (FOUCAULT,1996, p.18).
3535
A seguir apresentaremos um quadro em que se contrapõem as características
dos gêneros dos discursos de disseminação e divulgação científica, evidenciando
suas diferentes formas discursivas. Este quadro foi elaborado a partir dos pressupostos
teóricos que permeiam nosso estudo.
CARACTERÍSTICAS DOS GÊNEROS DISCURSIVOS
GÊNEROS
CATEGORIAS
DISSEMINAÇÃO
CIENTÍFICA
DIVULGAÇÃO
CIENTÍFICA
DESTINATÁRIO
Ocorre entres pares
Público geral.
LINGUAGEM
Linguagem especializada,
árida.
Linguagem coloquial ,
amena.
VALIDAÇÃO
Sujeito à verificação.
Apresentado como evento
inesperado,espetacular.
RESULTADOS
Resultados apresentados
após longos anos de
pesquisa.
Resultados apresentados de
acordo com o tempo de
fechamento das edições.
APROVAÇÃO
Controle de qualidade pelos
pares.
Controle de qualidade pela
editoria e mercado.
VEÍCULO
Periódicos especializados.
Periódicos de assuntos
gerais.
QUADRO 1: Elaborado com base em estudos já realizados sobre disseminação e divulgação científica .
FONTES:
FAHNESTOCK,2005
MASSARANI; MOREIRA, 2002
OLIVEIRA, 2002.
3.2 DISCURSO JORNALÍSTICO
O discurso jornalístico visa a atingir ao grande público e para isto é
transmitido em linguagem coloquial, simples e atraente, buscando estabelecer um elo
de comunicação e interagindo de forma que o leitor se identifique com o veículo que
3636
transmite a informação. A fidelidade do público é conquistada a partir da sedução, ou
seja, a informação é transmitida de modo sedutor e persuasivo. Segundo Milton Pinto:
A sedução consiste em marcar as pessoas, coisas e acontecimentos referidos
com valores positivos ou eufóricos e negativos ou disfóricos, e/ou ainda em
demonstrar uma reação afetiva favorável ou desfavorável a eles. (PINTO,
2002, p.67)
Ora, esta interação que o autor procura ter com o leitor, busca, a partir da
sedução, exercer o poder sobre o leitor e influenciá-lo de modo a desencadear um
comportamento de acordo com o que é determinado pelo discurso jornalístico.
Como explica Milton Pinto:
A interação consiste em interpretar e estabelecer relações de poder com o
receptor, na tentativa de cooptá-lo e de agir sobre ele ou sobre o mundo por
seu intermédio. O problema a ser resolvido aqui pelo emissor é o de
reproduzir as hierarquias sociais reconhecidas no interior da instituição em
que o processo de comunicação se dá, reforçando-as, ou de tentar modificá-
la segundo determinada estratégia persuasiva. (PINTO, 2002, p.67)
O discurso jornalístico orienta o leitor com relação à informação transmitida, e
isto está presente na forma como o discurso utiliza tanto os recursos lingüísticos,
quanto os recursos ilustrativos. Esses recursos tornam esse discurso uma construção
de elementos verbais e não-verbais que articulam-se com o objetivo de persuadir o
leitor, num jogo de forças que procura determinar sua opinião.
Nesse jogo de forças, portanto, é preciso que o jornalista conheça seu leitor e
saiba como seduzi-lo e quais argumentos persuasivos deverá utilizar. Esta articulação
de elementos faz com que o leitor identifique-se não só com a informação, mas
também com o veículo no qual foi publicada, incrementando desse modo a vendagem
do produto e atraindo novos anunciantes.
Assim, é imprescindível que a análise deste trabalho seja baseada tanto na
divulgação científica publicada nos periódicos da SBQ, que não tem fins lucrativos,
quanto nos periódicos das editoras comerciais. Isto permitirá uma visualização das
possíveis diferenças discursivas na divulgação, já que, uma se dá por profissionais
habituados com os discursos científicos, e a outra por profissionais habituados com o
discurso jornalístico.
3737
Para fins de nossa análise, correlacionamos o que Pinto (2002) apresenta sobre
o poder de sedução, com o que diz Halbwachs (1990) a respeito das interferências
coletivas que influenciam os pensamentos, a memória. Ambos indicam o poder
persuasivo existente entre os membros dos grupos sociais. A mídia como parte da
sociedade exerce esta persuasão sem que as pessoas se dêem conta, e se deixem
seduzir. Segundo Halbwachs:
De uma maneira ou de outra, cada grupo social empenha-se em manter uma
semelhante persuasão junto a seus membros. Quantos homens têm bastante
espírito crítico para discernir, naquilo que pensam, a parte dos outros, e
confessar a si mesmos que, no mais das vezes, nada acrescentaram de seu?
Algumas vezes alargamos o círculo de amizades e de suas leituras,
reconhecemos o mérito de seu ecletismo que nos permite ver e conciliar os
diferentes aspectos das questões e das coisas; acontece mesmo
freqüentemente que a dosagem de nossas opiniões, a complexidade de nossos
sentimentos e de nossas preferências não são mais que a expressão dos acasos
que nos colocaram em relação com grupos diversos ou opostos, e que a parte
que representamos em cada modo de ver está determinada pela intensidade
desigual das influências que estes têm, separadamente, exercido sobre nós.
De qualquer maneira, na medida que cedemos sem resistência a uma sugestão
de fora, acreditamos pensar e sentir livremente. (HALBWACHS, 1990, p.47)
As mensagens veiculadas pelos meios de comunicação de massa ajudam a
constituir um imaginário coletivo em que determinados símbolos prevalecem sobre
outros. Desse modo, nas sociedades contemporâneas, o discurso jornalístico consegue
impor significações e é responsável em grande parte pelas formações e
transformações das representações sociais. A mídia possibilita o debate, a discussão,
ao mesmo tempo que influencia o comportamento, o consumo, a política, a vida
social, a saúde, enfim, as escolhas dos indivíduos. E, apesar desta característica poder
causar efeitos antagônicos, sua força é determinante na produção de significados e
valores hegemônicos. Mas muitas vezes isto é ignorado porque faz parte do processo
a falta de percepção desta influência.
A presença dos meios de comunicação na formação do senso comum, sua
penetração e o impacto das informações por eles disseminadas nas sociedades
contemporâneas são aspectos que evidenciam o seu poder transformador no
cotidiano. Em grande parte, é a partir do que é transmitido na mídia, seja de caráter
informativo ou não, que as representações sociais se constituem. A mídia legitima os
3838
discursos produzidos na sociedade ao mesmo tempo que interage na construção destes
discursos.
A construção desse discurso faz-se por meio de escolhas metafóricas que utilizam
elementos eufóricos ou disfóricos que, por sua vez, geraram um discurso de
espetacularização . Nos periódicos de divulgação científica das editoras comerciais o
controle de qualidade das matérias é pautado pela editoria, que por sua vez obedece a
uma lógica de mercado que pode vir a comprometer o objetivo do discurso
jornalístico com relação à divulgação científica.
Vejamos o exemplo que destacamos de um artigo de Nilson Lage no qual o
autor chama atenção para uma matéria publicada na Superinteressante, em que,
possivelmente, o editor, devido ao entusiasmo com os efeitos comerciais da
reportagem, ignorou os danos que o assunto poderia causar aos doentes de Aids.
Em dezembro de 2000, a revista Superinteressante, da Editora Abril,
publicou, matéria de capa pondo em dúvida a adequação do tratamento da
Aids. Na “carta do editor” do número de fevereiro, o diretor de redação,
Adriano Silva, rejubilava-se:
Entramos o ano com uma ótima notícia. A capa de dezembro, “Aids: o HIV é
inocente? Vendeu 106.000 exemplares em banca. É a primeira vez na história
da revista que essa venda rompe a barreira dos seis dígitos. O que permite a
Superinteressante ingressar num clube bastante seleto, do qual fazem parte
apenas uma dúzia de publicações no Brasil.
É possível que Adriano, entusiasmado com os efeitos comerciais da
reportagem, não tenha pensado naqueles doentes de Aids, cuja esperança está
depositada nos coquetéis anti-HIV, que o governo do Brasil muito
corretamente distribui e fabrica no país, enfrentando o imperial lobby das
patentes. O quanto deve ter custado em sofrimento a essa gente ver
contestado, em um magazine considerado sério, um tratamento penoso, porém
estatisticamente reconhecido como eficaz...(LAGE, 2001)
Estes aspectos em torno do poder da imprensa nos leva a discutir neste trabalho o
papel do discurso jornalístico na divulgação científica. Ora, um periódico que tem
como propósito divulgar a ciência precisa ter um discurso responsável, pensar no
outro e nas conseqüências das notícias, sem se deixar levar pela ânsia de resultados
comerciais surpreendentes, uma vez que este tipo de informação envolve pesquisas e
procedimentos que podem alterar o cotidiano dos indivíduos.
3939
3.2.1 DISCURSO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
O discurso de divulgação científica insere-se num campo interdisciplinar, em
que tanto é necessário que o cientista consiga transmitir a informação sobre suas
pesquisas, quanto também requer que o jornalista esteja familiarizado com o texto
científico para poder entender e adaptar a mensagem para o leitor. Este terceiro ator, o
leitor, poderá captar a informação, ou não, dependendo do modo como ela será
transmitida.
Em relação ao discurso de divulgação científica devemos ter em conta o
mecanismo de interdição apontado por Foucault (1996,p.9) já que também ocorre
neste discurso, o privilégio do cientista, e não do jornalista, de poder falar sobre um
determinado assunto. Toda matéria de divulgação científica precisar estar respaldada
pela opinião de um cientista, ou de uma instituição de pesquisa, para que a notícia
tenha credibilidade. Cabe ao jornalista transmitir a notícia de acordo com a
informação recebida. Para isto, é preciso que tenha mais de uma fonte de informação
a fim de problematizar as questões divulgadas, pois é o cientista quem legitima a
informação.
No que tange ao segundo tipo de interdição - ritual da circunstância –
podemos citar, no âmbito do discurso científico, o próprio ritual de defesa de
dissertação ou tese; no discurso de divulgação científica este ritual está presente nas
reuniões de pauta que definem o que será publicado, ou excluído.
...a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada,
organizada e redistribuída por um certo número de procedimentos que têm
por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento
aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade.
Em uma sociedade como a nossa, conhecemos, é certo, procedimentos de
exclusão. O mais evidente, o mais familiar também, é a interdição. Sabe-se
bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em
qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer
coisa. (FOUCAULT,1996, p.9).
4040
Os discursos também possuem procedimentos internos de controle, e Foucault
fala de dois tipos de discursos: os que “se dizem”, que são aqueles que passam juntos
com suas ações, e os discursos que “são ditos”, que são os que permanecem ditos e
estão ainda por dizer. Neste caso, refletimos a respeito dos discursos que
permanecem, como sendo os discursos de disseminação e divulgação científica, pois
irão gerar novos discursos, novas interpretações, poderão ser negados, rejeitados,
analisados por diversos aspectos, e serão objetos de reflexões a respeito dos
discursos por trás do discurso, originando comentários que se propõem a dizer o que
está oculto.
Diz Foucault:
Em suma, pode-se supor que há, muito regularmente nas sociedades, uma
espécie de desnivelamento entre os discursos: os discursos que “ se dizem” no
correr dos dias e das trocas, e passam com o ato mesmo que os pronunciou; e
os discursos que estão na origem de certo número de atos novos de fala que
os retomam, os transformam ou falam deles, ou seja, os discursos que,
indefinidamente, para além de sua formulação são ditos, permanecem ditos e
estão ainda por dizer. Nós os conhecemos em nosso sistema de cultura: são os
textos religiosos ou jurídicos, são também esses textos curiosos, quando se
considera o seu estatuto, e que chamamos de “literários”; e em certa medida
textos científicos. (FOUCAULT,1996, p.22).
Esta característica reforça nossa preocupação com relação ao modo como são
divulgadas as informações científicas, uma vez que tais informações inserem-se nos
discursos que “são ditos”, ou seja, os discursos que permanecem.
Os discursos que permanecem caracterizam uma formação discursiva que, por
sua vez, está associada a uma memória discursiva. Segundo MAINGUENEAU(1997,
p.115): “De forma mais geral, a toda formação discursiva é associada uma memória
discursiva, constituída de formulações que repetem, recusam e transformam outras
formulações.”
4141
Em virtude dessa memória discursiva, o discurso de divulgação científica
possui um vínculo ainda mais forte com a responsabilidade social, o que lhe pressiona
a pensar no outro e nas conseqüências das notícias publicadas, a considerar o nível de
entendimento dos indivíduos, a respeitar a cultura e as tradições na qual estão
inseridos e conhecer seus limites. Essas prerrogativas merecem ser consideradas, já
que uma das tarefas daquele que transmite a informação, no caso o jornalista, é
suscitar a reflexão e o debate sobre as repercussões e impactos sociais das pesquisas
científicas .
Segundo Caldas:
A destruição da temporalidade provocada pela mídia massiva em suas
múltiplas e fragmentárias formas de representação da realidade, de simulacro
do real, termina por dificultar a percepção da responsabilidade social do
jornalista e do cientista, que devem atuar em regime de parceria no processo
de alfabetização científica e melhoria da qualidade de vida. Trata-se de
compreender a real dimensão do conhecimento enquanto instrumento de
transformação social. Enquanto os avanços da ciência e suas aplicações forem
veiculados pela mídia apenas de forma espetacular e descontextualizada, os
jornalistas estarão contribuindo para a formação de um imaginário social
mitificado da ciência. (CALDAS, 2003,p.74).
A informação fortalece os hibridismos lingüísticos e culturais, dependendo de
como ela será transmitida e reconstruída, já que sua pluralidade pode representar a
pluralidade das interpretações de uma mesma situação. Ao transmitir uma informação
é preciso considerar o nível de informação do receptor, pois o conteúdo pode não ser
adequadamente constituído devido à falta de informações anteriores que possibilitem
entender o significado da mensagem. Isto não é uma característica isolada de um
receptor específico, todos estão sujeitos a não compreender um determinado saber.
Foucault diz que o saber é um conjunto de elementos, reunidos em uma
prática discursiva, que constituem uma ciência, que também é o espaço em que o
sujeito pode falar sobre o que ele conhece, e que se define pelas possibilidades de
utilização e apropriação da prática discursiva. Ele diz: “...mas não há saber sem uma
prática discursiva definida, e toda prática discursiva pode-se definir pelo saber que ela
forma.” (FOUCAULT,1972, p.221)
4242
Desta forma, ao considerar a complexidade da divulgação científica devemos
levar em conta o saber do cientista, o saber do jornalista, e o saber do leitor, ou seja,
três culturas diferentes em uma relação dialógica. Isto nos remete ao que diz Bakhtin:
Muitas pessoas que dominam magnificamente uma língua sentem amiúde
total impotência em alguns campos da comunicação precisamente porque não
dominam na prática as formas de gênero de dadas esferas. Freqüentemente,
a pessoa que domina magnificamente o discurso em diferentes esferas da
comunicação cultural, sabe ler o relatório, desenvolver uma discussão
científica, fala magnificamente sobre questões sociais, cala ou intervém de
forma muito desajeitada em uma conversa mundana. Aqui não se trata de
pobreza vocabular nem de estilo tomado de maneira abstrata; tudo se resume
a uma inabilidade para dominar o repertório dos gêneros da conversa
mundana, a uma falta de acervo suficiente de noções sobre todo um
enunciado que ajudem a moldar de forma rápida e descontraída o seu discurso
nas formas estilístico-composicionais definidas...(BAKHTIN,2003, p.284)
A complexidade dos gêneros discursivos gera uma dificuldade de
comunicação que qualquer pessoa pode enfrentar, isto é independente do seu grau de
instrução. Está relacionado ao fato da diversidade que existe entre os grupos sociais;
sejam diferenças de gerações, níveis de conhecimento ou culturas.
A ciência propriamente dita, suas discussões, controvérsias, resultados
positivos ou negativos, pouco interessa à mídia, que na maioria das vezes divulga
uma notícia científica sem contextualizar as ações envolvidas no processo. Segundo
Epstein:
Na convergência entre ciência e jornalismo, isto é na divulgação científica,
prevalecendo o etos do jornalismo, será valorizado o caráter inesperado e
pouco provável do evento, isto é fatos ou eventos que vem de encontro a
teorias bem estabelecidas e comprovadas. O caráter “inesperado” dos fatos ou
eventos pode ser procurado como desconfirmação de teorias bem
estabelecidas e sua substituição por outras. (EPSTEIN, 2004, p.6)
A imprensa está mais preocupada em divulgar um fenômeno sensacional, sem
se preocupar em contextualizá-lo, em trazer à tona questões que instiguem o
pensamento, a crítica. O que interessa é vender a notícia, muito mais do que divulgar
a ciência. Com isto, a divulgação científica em determinados periódicos esbarra em
questões éticas. Na tese de doutorado de Maristela da Silva, em que faz um estudo
sobre a ética do espetáculo da ciência na mídia , ela menciona o seguinte:
4343
No dia-a-dia do jornalismo há, seja em que editoria for, farto material para
reflexão ética e o processo de construção da enunciação jornalística dá
margem a deslizes de toda ordem. Transformar possibilidades em certezas;
dar mais ênfase ou dramaticidade às notícias pelo uso de vocabulário
excitante; tratar temas de forma superficial e espetacular; apurar mal; não
checar informações; usar de sensacionalismo e desonestidade no relato e na
abordagem dos fatos...(SILVA, M. 2004, p.25)
A contextualização dos assuntos às vezes aparece em alguns periódicos de
divulgação científica, no entanto, as representações dos temas em geral estão
associadas aos interesses do mercado, prejudicando a formação crítica do leitor.
Contextualizar a pesquisa que está sendo divulgada é importante na medida em que
permite ao receptor desenvolver um senso crítico sobre o assunto. Para Ildeu de
Castro Moreira, diretor de Difusão e Popularização da Ciência do MCT:
Para a cidadania, é importante que cada um tenha a oportunidade de adquirir
conhecimento básico sobre ciência e seu funcionamento que lhe possibilite
entender o seu entorno, ampliar suas oportunidades no mercado de trabalho e
atuar politicamente com conhecimento de causa. (MOREIRA, 2004).
Caldas assim como Moreira, defende a contextualização dos temas e o papel
de educador do jornalista, e que diz assim:
Cabe aos jornalistas e cientistas refletirem de forma interdisciplinar com as
diferentes áreas do conhecimento para atuarem conjuntamente como
educadores, na divulgação da ciência e da tecnologia numa perspectiva crítica
de reflexão permanente sobre questões que envolvam a produção do
conhecimento e a política científica. (CALDAS, 2003,p.74)
4444
Estes problemas não são de responsabilidade exclusiva do jornalista; na
verdade, um dos principais responsáveis é a empresa. Segundo Silva, as condições do
discursos jornalísticos estão atreladas a questões hierárquicas, e impedem um
comportamento voluntarioso do jornalista. Diz a autora:
As condições de produção do discurso jornalístico, aliadas às relações
hierárquicas internas à empresa, ao monopólio dos meios de comunicação,
aos interesses em jogo, à condição de dependência da empresa em relação aos
anunciantes... impedem qualquer abordagem exclusivamente voluntarista do
procedimento jornalístico. (SILVA, M. 2004, p.25)
Bakhtin irá abordar um aspecto essencial do discurso ao falar sobre a
compreensão responsiva ativa do que foi ouvido, que para ele também vale para o
discurso lido ou escrito.Muitas vezes uma informação deixa de ser compreendida por
falta de informações anteriores, e é preciso estar consciente de que quanto mais um
indivíduo estiver habituado a ler sobre ciência, mais apto estará para construir o
sentido pretendido pelo autor/fonte de informação e ter uma atitude responsiva ativa.
A informação transmitida com responsabilidade estimula o pensamento, e mesmo
que não resulte em uma atitude responsiva imediata, ficará guardada na memória até
que em algum momento seja resgatada. Bakhtin diz assim:
... a compreensão ativamente responsiva do ouvido (por exemplo, de uma
ordem militar) pode realizar-se imediatamente na ação (o cumprimento da
ordem ou comando entendidos e aceitos para execução), pode permanecer, de
quando em quando como compreensão responsiva silenciosa (alguns gêneros
do discursivos foram concebidos apenas para tal compreensão, por exemplo,
os gêneros líricos), mas isto, por assim dizer, é uma compreensão responsiva
de efeito retardado: cedo ou tarde, o que foi ouvido e ativamente entendido
responde nos discursos subseqüentes ou no comportamento do
ouvinte.(BAKHTIN, 2003, p.272).
No que tange à correlação entre os conceitos apresentados e a construção da
identidade da Química para o grande público, nos perguntamos: por que a Química é
freqüentemente associada à poluição, armas e drogas, (como apresentado na
introdução) se ela também é uma ciência que se preocupa com a qualidade de vida do
ser humano? Será que os benefícios da Química na qualidade de vida da humanidade
são divulgados na imprensa? Na tentativa de refletir sobre o modo como a
informação sobre Química é divulgada para a sociedade, propomos pesquisar o
discurso constituído sobre Química no contexto dos discursos de divulgação
científica na imprensa.
4545
4. PROCEDIMENTOS ANALÍTICOS
Este capítulo descreve os procedimentos metodológicos realizados nesta
pesquisa. Inicialmente apresentaremos o corpus analisado e em seguida os passos
analítico- metodológicos realizados.
Periódicos pesquisados
No Brasil a preocupação em divulgar ciência sempre existiu, porém de modo
tímido e muitas vezes a partir de iniciativas isoladas. No século XX, segundo
MASSARANI; MOREIRA (2002, p.45), “...foram criados cerca de 7.000 periódicos
no Brasil, dos quais aproximadamente 300 relacionados de alguma forma à ciência.”
Os autores acrescentam, com relação a esse período, que: “as últimas três décadas
têm sido um período particularmente rico em experiências de divulgação científica...”
Para Fabíola de Oliveira, a causa do crescimento do jornalismo científico
pode ser creditada à existência de eventos de repercussão internacional:
Grandes eventos de repercussão internacional influenciaram o boom do
jornalismo científico na década de 1980, como a passagem do cometa Halley
(1986), a descoberta da supernova de Shelton (1987), da supercondutividade,
o anúncio não confirmado da fusão a frio, as viagens espaciais e as questões
ambientais. (OLIVEIRA, 2002,p.38).
Na década de 80, os periódicos de divulgação científica começam a ser
editados no Brasil. Os primeiros foram Ciência Ilustrada (1981) da Editora Abril, e
Ciência Hoje da SBPC ( 1982). Em 1990, a Editora Globo lança a Globo Ciência
(que em 1998 passa a chamar-se Galileu), e no mesmo ano a Editora Abril lança a
Superinteressante. Em 2002 surge no cenário editorial brasileiro a Scientific American
Brasil, que logo nos primeiros dois anos de publicação aqui alcançou o “5
0
lugar em
circulação dentre as mais de 20 edições internacionais da revista” (NASTARI, 2004,
p.5). Atualmente, o público que lê esses periódicos é em sua maioria composto por
jovens. Os periódicos têm tido boa aceitação, e são muito utilizados em sala de aula
por professores de 1° e 2°. graus, conforme afirma Silva, T.D. (1999, p.1): “as
publicações com esse perfil – o de divulgar ciência para um público leigo – têm tido
boa aceitação e são muito utilizadas em sala de aula por professores de 1
0
e 2
0
graus.”
4646
Uma das diferenças entre Ciência Hoje, Ciência Ilustrada, Galileu,
Superinteressante e Scientific American Brasil é que a primeira é editada por uma
associação científica, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, e as
demais estão vinculadas às grandes editoras comerciais. Diante do vasto leque de
publicações existente e das características de filiação apontadas, optamos por
construir nossas análises tendo por base um corpus composto pelos periódicos
Superinteressante e Scientific American Brasil devido à grande penetração junto ao
público, inferida pelo alto índice de vendagem destes títulos no mercado editorial na
área de divulgação científica. A fim de estabelecer comparação entre o que é
divulgado na imprensa não especializada com o que é publicado pelos periódicos
editados pela instituição que representa a área no país, também fizeram parte de
nossas análises os periódicos Química Nova e Química Nova na Escola, editados pela
Sociedade Brasileira de Química. Desse modo, nosso corpus conta com: 33 artigos da
Química Nova; 3 artigos da Química Nova na Escola, 2 artigos da Superinteressante,
e 2 artigos da Scientific American Brasil. O critério de vendagem pretende subsidiar
um segundo eixo norteador do trabalho, qual seja a penetração popular. Em vista
disso, recorremos a periódicos que ou são vendidos em banca, ou permitem acesso
livre aos links de pesquisa disponíveis em suas páginas na Internet.
A distriuição de artigos por periódicos será analisada a seguir.
Apresentação dos periódicos
A Química Nova teve inicio em 1978, em conseqüência da criação da
Sociedade Brasileira de Química – SBQ, no ano anterior. A SBQ é uma sociedade
civil de caráter científico que emprega esforços para promoção das pesquisas
desenvolvidas no país na área de Química, surgiu no período da ditadura, e por isto
mesmo vale destacar um trecho do primeiro editorial da Química Nova que se refere
à criação da SBQ:
4747
Assim sendo, o que é estrangeiro é importante e o que é brasileiro é motivo de
risos e suspeitas, incluindo o trabalho daqueles poucos que realmente fazem
algo de importante em ciência. Exatamente por estas razões é que a SBQ é
necessária e necessita da compreensão dos governos e de todos aqueles que
acreditam que a química é útil para engrandecer um País e não para explorá-
lo simplesmente .
Com este objetivo a SBQ lança QUÍMICA NOVA numa tentativa de tornar a
Química útil àqueles que leiam português e, o que é mais importante, dar aos
que desejam, uma oportunidade de colaborar e ser um pouco mais útil para a
Sociedade em que vivem como Químicos, estagnando uma elefantíase e
criando um “ser coletivo” bem estruturado. (PEIXOTO, 1978)
Como vimos, o autor se refere ao fato de a pesquisa brasileira ser motivo de
risos e suspeitas, e que a SBQ era necessária para mostrar aos governos a importância
da Química para o desenvolvimento do País e não para simplesmente explorá-lo,
justificando também a criação de um periódico científico escrito em português.
Considerando o período político da época em que o governo estimulava a criação de
multinacionais, percebemos a importância deste periódico para disseminar a pesquisa
nacional na área da química. O periódico Química Nova é publicação bimestral, não é
vendido em banca, porém, está disponível em texto completo pelo site da SBQ.
Em 1995 a SBQ lançou a Química Nova na Escola, com o objetivo de
subsidiar o trabalho, a formação e a atualização da comunidade do ensino de Química
brasileiro. O periódico é uma publicação semestral, não é vendido em banca, porém
está disponível em texto completo no site da SBQ.
A Superinteressante é uma publicação mensal, editada pela Editora Abril
desde 1987 e vendida em banca de jornal. Possui uma edição em cd-rom com todos
os periódicos lançados no período de 1987-2004, o qual utilizamos para nossa
pesquisa.
4848
A Scientific American Brasil é uma publicação mensal, vendida em banca de
jornal, editada pela Ediouro e Segmento-Duetto Editorial Ltda, empreendimento
conjunto das editoras Segmento e Ediouro, sob licença de Scientific American, Inc.
4.1 METODOLOGIA
A delimitação do corpus pautou-se, inicialmente, pela possibilidade de
estabelecer diálogo entre periódicos de divulgação científica publicados por entidades
acadêmicas e aqueles de grande vendagem ao público. Com esse objetivo em mente,
procurou-se enfocar, nos periódicos publicados pela sociedade da área, as seções
explicitamente voltadas para divulgação; nos periódicos publicados por editoras
comerciais, procuramos artigos em distintas seções, conforme discriminado a seguir:
1) Seção Divulgação do periódico Química Nova
2) Seção Química e Sociedade do periódico Química Nova na Escola
3) Matérias publicadas na Superinteressante
4) Matérias publicadas na Scientific American Brasil
Com relação à Superinteressante pesquisamos a coleção divulgada em
cd-rom, e na Scientific American Brasil em sua página na Internet. Nos periódicos em
que realizamos acesso via internet optamos por fazer uma busca simples, sem
estruturas booleanas, em que o termo de busca escolhido foi “Química”. O que
pretendemos foi elaborar uma análise dos textos classificados sob o conceito
“Química” e verificar como o tema é tratado discursivamente, evidenciando como a
área é apresentada à sociedade por estes veículos de informação. O período da
pesquisa abrange todas as publicações editadas em 2002 porque este foi o ano de
aniversário de 25 anos da Sociedade Brasileira de Química – SBQ, e que coincidiu
com lançamento da Scientific American Brasil.
No que diz respeito ao periódico Química Nova, editado pela Sociedade
Brasileira de Química, focalizamos os artigos escritos em português, classificados
como artigos de divulgação. Como esse periódico é bimestral, e disponibiliza nessa
classificação em média 5 artigos por fascículo, acabou por contribuir com uma parte
4949
significativa do corpus, qual seja 33 artigos. A seção de artigos de divulgação
tem como um de seus objetivos beneficiar não-especialistas na área, como pode ser
evidenciado no trecho que destacamos das normas de publicação do periódico :
ARTIGOS DE DIVULGAÇÃO (em português ou espanhol): destinados à
divulgação de algum aspecto ou área de Química, redigido de forma didática,
com o objetivo de beneficiar uma clientela formada de estudantes de
graduação, pós-graduação, não-especialistas na área, professores secundários
de Química, etc.
No periódico Química Nova na Escola, que também é editado pela Sociedade
Brasileira de Química, foi objeto de análise a seção Química e Sociedade, por
apresentar artigos direcionados a importantes aspectos da interface ciência /
sociedade, procurando, sempre que possível, analisar o potencial e as limitações da
ciência na solução de problemas sociais. Com periodicidade semestral, e
disponibilizando 1 ou 2 artigos nessa seção em cada fascículo, esse periódico
contribuiu com 3 artigos para o corpus.
No periódico Superinteressante, ao realizarmos a busca em sua coleção em
cd-rom pelo termo Química, só recebemos a resposta de 2 artigos. No periódico
Scientific American Brasil, ao realizarmos a busca na internet pelo termo Química,
também recebemos a resposta de 2 artigos, no entanto cabe ressaltar que a publicação
teve início em junho de 2002., e por isso só foram pesquisados 7 números, o que
corresponde a 60% dos números da Superinteressante, periódico de perfil equivalente
em nossa análise.
Desse modo, nosso corpus se constitui de 40 artigos, publicados no ano de
2002, conforme mostra o quadro a seguir:
5050
SELEÇÃO DOS ARTIGOS
2002
PERIODICIDADE/
NÚMEROS
PUBLICADOS NO
ANO
MODO DE
SELEÇÃO DOS
ARTIGOS
QUANTIDADE
QUÍMICA NOVA
Bimestral
7 fascículos
Artigos publicados
na seção de
divulgação,
redigidos em
português.
33
QUÍMICA NOVA NA
ESCOLA
Semestral
2 fascículos
Artigos publicados
na seção Química e
Sociedade
3
SUPERINTERESSANTE
Mensal
12 fascículos
Pesquisa por
assunto na coleção
em cd-rom
2
SCIENTIFIC
AMERICAN BRASIL
2
Mensal
7 fascículos
Pesquisa por
assunto no link do
periódico na
Internet
2
QUADRO 2:
Distribuição dos artigos por periódicos .
Para estabelecer as categorias e unidades de análise, tomamos como referência
a definição de Bakhtin para enunciado, em que o autor denomina os gêneros do
discurso como tipos que diferenciam os enunciados, e que se configuram da seguinte
maneira: o conteúdo temático, ou seja, a abordagem do tema; o estilo verbal,
determinado pela seleção dos recursos da língua - recursos lexicais, fraseológicos e
gramaticais; e a construção composicional, para a qual foram consideradas as
condições de produção. Diz ele:
O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e
escritos), concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou
daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as
condições específicas e as finalidades de cada referido campo, não
só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja,
pela seleção recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da
língua, mas acima de tudo, por sua construção composicional.
(BAKHTIN, 2003, p.261)
2
Este periódico começou a ser editado no Brasil em junho de 2002.
5151
Cada esfera de utilização da língua possui um tipo de enunciado específico
que constrói um gênero do discurso, que, por sua vez, possui uma grande diversidade.
Em nosso estudo analisamos os enunciados do gênero do discurso de divulgação
científica, a partir do conteúdo temático, estilo, e sua construção composicional.
Em relação à construção composicional também levamos em consideração as
interdições de discursos descritas por Foucault (1996, p.9), ou seja:
Direito privilegiado - que significa que não é qualquer pessoa que pode falar de
qualquer assunto. Desse modo, observamos as estratégias de legitimação das
informações nos dois diferentes tipos de periódicos.
Ritual de circunstância - que significa que não se pode falar de tudo em qualquer
circunstância. Desse modo, observamos as condições de publicação do texto, visto
que não se pode publicar um artigo científico em um periódico de divulgação. É
preciso que o artigo científico sofra transformações em sua forma. Assim, observamos
a linguagem e os recursos ilustrativos utilizados nos dois diferentes tipos de
periódicos.
A escolha de Bakhtin para respaldar nossa metodologia de trabalho decorre da
importância que o autor dá aos gêneros discursivos na interação dos sujeitos, o que é
pertinente ao nosso propósito. Esse autor percebe que o processo de comunicação
implica uma troca verbal, em que deve ser observado o gênero utilizado, o tema, o
estilo e a construção da composição entre interlocutores sócio-histórico
contextualizados. A partir da observação dessas categorias, podemos analisar e
identificar os sujeitos que participam dessa interlocução.
5252
5. ANÁLISE COMPARATIVA
A seguir abordaremos as categorias e unidades de análise que utilizamos para
cada artigo que integrou o corpus da pesquisa. As análises dos trabalhos estão
disponíveis no anexo 1 deste trabalho.
5.1 CONTEÚDO TEMÁTICO
No que diz respeito ao conteúdo temático, apesar de todos os artigos
selecionados serem sobre química, nossa proposta foi averiguar em que escala a
química desenvolvida no país é divulgada, e como o tema é tratado discursivamente.
Para ilustrar a análise que apresentamos da categoria Conteúdo temático, elaboramos
um quadro para cada periódico com os seguintes elementos:
a) Divulga pesquisas desenvolvidas no país - como todos os artigos que
compõem o corpus tratam da Química, procuramos observar quais dentre eles
divulgam as pesquisas desenvolvidas no país.
b) Apresenta os benefícios na qualidade de vida - como citado na introdução
deste trabalho, para alguns profissionais da área a sociedade ainda vê a
Química com um certo grau de distanciamento, e não reconhece os benefícios
desta área na qualidade de vida. Desse modo, observamos nos artigos quais
dentre eles apresentam esses benefícios.
Química Nova - Artigos de divulgação
Todos os artigos da seção abordam temas relacionados ao desenvolvimento de
pesquisas na área da Química, já que para ser aceito no periódico o artigo deve estar
relacionado à área. A maioria divulga as pesquisas desenvolvidas no país, porém
apenas alguns relatam seus benefícios na qualidade de vida. Foram selecionados no
ano de 2002 33 artigos publicados na seção
5353
de Artigos de divulgação, e as análises destes artigos encontram-se anexadas ao
trabalho (ANEXO 1). O quadro a seguir apresenta os aspectos analisados no periódico
Química Nova, a quantidade de artigos em que encontramos estes aspectos, e o
número correspondente a cada artigo no anexo.
Características dos artigos analisados com relação ao Conteúdo Temático
TEMA
QUANTIDADE DE
ARTIGOS
N
o
. dos artigos na análise
Divulga pesquisas
desenvolvidas no país
29
1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 10,11, 12, 13,
14, 15,16, 18, 19, 20, 21, 22, 23,
24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31,
Apresenta os benefícios na
qualidade de vida
12
8, 10, 12, 11, 20, 22, 23, 25, 28,
30, 32, 33
QUADRO 3: Dados referentes à análise do periódico Química Nova
Química Nova na Escola
Todos os artigos analisados relatam os benefícios da química na qualidade de
vida, no entanto, nenhum deles divulga as pesquisas desenvolvidas no país. Foram
selecionados no ano de 2002, 3 artigos publicados na seção Química e Sociedade, e as
análises destes artigos encontram-se anexadas ao trabalho (ANEXO 1). O quadro a
seguir apresenta os aspectos analisados no periódico Química Nova na Escola, a
quantidade de artigos em que encontramos estes aspectos, e o número correspondente
a cada artigo na análise.
5454
Características dos artigos analisados com relação ao Conteúdo Temático
TEMA
QUANTIDADE DE
ARTIGOS
N
o
. dos artigos na análise
Divulga pesquisas
desenvolvidas no país
0
0
Apresenta os benefícios na
qualidade de vida
3
1-3
QUADRO 4: Dados referentes à análise do periódico Química Nova na Escola
Superinteressante
Foram selecionados no ano de 2002, na coleção em cd-rom, 2 artigos
indexados com o assunto “química”, e as análises destes artigos encontram-se
anexadas ao trabalho (ANEXO 1).
O primeiro artigo aborda o papel do sal na sociedade, sua importância
histórica para o desenvolvimento econômico, divulga pesquisa nacional e menciona
seus benefícios para sociedade. O segundo artigo aborda curiosidades históricas
relacionadas à química, o que foi por nós considerado como um tema relacionado ao
desenvolvimento de pesquisa na área. No entanto, o artigo não divulga pesquisa
desenvolvida no país, mas faz referência aos benefícios na qualidade de vida da
sociedade . O quadro a seguir apresenta os aspectos analisados no periódico
Superinteressante, a quantidade de artigos em que encontramos estes aspectos, e o
número correspondente a cada artigo na análise.
5555
Características dos artigos analisados com relação ao Conteúdo Temático
TEMA
QUANTIDADE DE
ARTIGOS
N
o
. dos artigos na análise
Divulga pesquisas
desenvolvidas no país
1
1
Apresenta os benefícios na
qualidade de vida
2
1-2
QUADRO 5: Dados referentes à análise do periódico Superinteressante.
Scientific American Brasil
O quadro a seguir apresenta os aspectos analisados no periódico Scientific
American Brasil, a quantidade de artigos em que encontramos estes aspectos, e o
número correspondente a cada artigo na análise. Foram selecionados no ano de 2002,
no site do periódico, 2 artigos indexados com o assunto “química”, e as análises
destes artigos encontram-se anexadas ao trabalho (ANEXO 1). Vale lembrar que a
publicação teve início no mês de junho daquele ano.
O primeiro artigo aborda o tema café e ressalta a sua importância na
sociedade; o segundo divulga pesquisa nacional e seus benefícios para sociedade,
abordando o trabalho de pesquisa sobre radiofármacos, realizado no Instituto de
Pesquisas Energéticas e Nucleares - IPEN.
Características dos artigos analisados com relação ao Conteúdo Temático
TEMA
QUANTIDADE DE
ARTIGOS
N
o
. dos artigos na análise
Divulga pesquisas
desenvolvidas no país
1
2
Apresenta os benefícios na
qualidade de vida
2
1-2
QUADRO 6: Dados referentes à análise do periódico Scientific American Brasil
5656
5.2 ESTILO
Quanto ao estilo examinamos a relação autor/leitor a partir da utilização de
argumentos sedutores ou persuasivos nos discursos, que muitas vezes tentam
convencer o leitor utilizando recursos lingüísticos que denotam cumplicidade.
Tomamos como referência para analisar o estilo do texto a definição de Milton Pinto
(2002), que aborda a conquista da fidelidade do público pela sedução, marcando as
pessoas, coisas ou acontecimentos com valores positivos ou eufóricos. Outro aspecto
que examinamos foi se o autor utiliza uma linguagem especializada, com jargões
próprios da área, fórmulas, símbolos, reações e elementos químicos, ou uma
linguagem coloquial, adaptando o vocabulário científico de maneira que possibilite
uma interlocução com o leitor não especializado. Para ilustrar a análise que
apresentamos da categoria Estilo, elaboramos um quadro para cada periódico com os
seguintes elementos:
a) Linguagem especializada -linguagem com jargões com jargões próprios da
área, fórmulas, símbolos, reações e elementos químicos. Por exemplo:
“Nesse caso, o anticorpo anti-LDH-1 encontra-se imobilizado em membrana
pré ativada e a isoenzima foi determinada pela reação eletroquímica
envolvendo o NADH.”
c) Linguagem coloquial - vocabulários do cotidiano
d) Relação de distanciamento como leitor - discurso na 3
a
.pessoa .
e) Relação de aproximação como leitor - discurso na 1
a
. pessoa do plural, ou
com explicações em linguagem coloquial.
f) Metáforas com elementos eufóricos – representações que denotam alegria
intensa, humor, espetáculo. Como por exemplo:
“Manipulando os diferentes elementos , o homem consegue – muitas vezes
por acaso – formular remédios, melhorar alimentos e descobrir como a
natureza funciona. Também faz coisas fantásticas como transformar
pessoas em zumbis ou urina em palitos de fósforo.”
5757
g) Metáforas com elementos disfóricos – representações que denotam
morbidez, medo ou perigo. Como por exemplo:
“Por um mistério da fisiologia humana, ninguém sente um incontrolável
desejo por sal. A carência, pode até matar, manifesta-se em dores de
cabeça, fraqueza e náusea.”
Química Nova - Artigos de divulgação
Apresenta uma contradição na seção de Divulgação, já que em suas normas de
publicação o periódico tem como proposta beneficiar uma clientela não especializada
na área e, no entanto, todos os artigos são redigidos em linguagem especializada, ou
seja, com jargões próprios da área, descrições técnicas, apresentações de fórmulas,
símbolos e elementos químicos. Um deles, inclusive, menciona que para entender o
texto é preciso um conhecimento prévio. Exemplo
3
:
ARTIGO 18
“Assim, pressupõe a familiaridade do leitor com os Grupos Pontuais de
moléculas e com as matrizes transformacionais dos vetores dos graus de
liberdade (Translacionais, Rotacionais e Vibracionais) para o cálculo das
representações reduzíveis e irreduzíveis tanto destes vetores como da soma
total dos graus de liberdade para uma dada molécula. Presume-se também
que o leitor saiba deduzir e utilizar as tábuas de caracteres dos grupos
pontuais. O embasamento teórico sobre as coordenadas internas é também
indispensável, bem como o uso da fórmula de redução para o cálculo das
representações irreduzíveis (espécies de simetria) dos estiramentos CO.”
Como citado anteriormente, para alguns químicos a sociedade possui um certo
distanciamento com relação à química, e a vê como um amontoado assustador de
símbolos, tabelas, regras, fórmulas e reações... (FERREIRA,2001,p.165)”. Ora, talvez
seja mesmo complicado para um leitor não especializado escolher um artigo
publicado na seção de divulgação da Química Nova e deparar-se com um artigo que
impõe, para ele (leitor), a necessidade de um conhecimento prévio.
Apesar da linguagem especializada adotada por todos os autores, percebemos
em alguns uma tentativa de diálogo na relação autor/leitor, a partir de argumentos
3
Grifo nosso: para uma melhor visualização destacamos os elementos com negrito.
5858
persuasivos com representações metafóricas, e também através de uma linguagem
menos rebuscada com explicações a respeito do tema. Exemplos:
ARTIGO 30
“Este processo representou um desafio insuperável durante muito tempo,
começando a ser vencido há ca 30 anos”.
“A conquista do genoma e o desenvolvimento do proteoma, além da
nanotecnologia, representam aspectos recentes do avanço tecnológico que ,
certamente , terão enorme impacto neste processo”.
ARTIGO 20
Embora esta tecnologia seja parte do nosso cotidiano, como ela surgiu?
Quem inventou o microondas? Porque esta técnica despertou um interesse
tão grande na área de síntese orgânica?”
“Os cientistas que trabalhavam como magnétron já sabiam que além da
emissão de microondas também havia a geração de calor, mas foi Spencer
que percebeu que poderia-se usar radiação eletromagnética para aquecer
alimentos. Em 1945, Spencer notou que uma barra de um doce em seu bolso
começou a derreter quando ele ficou em frente a um tubo de magnétron que
estava ligado...”
O quadro a seguir apresenta os aspectos analisados relacionados ao Estilo, a
quantidade de artigos em que encontramos determinados aspectos, e o número
correspondente a cada artigo na análise:
Características dos artigos analisados com relação ao Estilo
ESTILO
QUANTIDADE DE
ARTIGOS
ARTIGOS
Linguagem especializada
33
1-33
Linguagem coloquial
11
8, 10, 12, 13, 14, 19, 20, 22,
23, 25, 30,
Relação de distanciamento
com leitor
16
1, 2, 3, 4, 5, 7, 9, 11, 15, 16,
17, 18, 21, 24, 29, 31
Relação de aproximação com
o leitor
17
6, 8, 10, 12, 13, 14, 19, 20, 22,
23, 25, 26, 27, 28, 30, 32, 33
Metáforas com elementos
eufóricos
1
30
Metáforas com elementos
disfóricos
0
0
QUADRO 7: Dados referentes à análise do periódico Química Nova
5959
Química Nova na Escola
Apesar da presença, em certo trechos, dos jargões químicos, fórmulas e
símbolos, próprios da linguagem especializada, todos os artigos adotam um estilo de
linguagem coloquial utilizando representações metafóricas, dialogando com o leitor
na 1
a
.pessoa do plural ou a partir de argumentos persuasivos. Exemplos:
Representações metafóricas:
ARTIGO 2
“ Analisando cuidadosamente o funcionamento do corpo humano, vemos
que há tantas reações químicas ocorrendo ao mesmo tempo que ele poderia
ser comparado a uma indústria química!
Argumentos persuasivos a partir do diálogo na 1
a
. pessoa do plural:
ARTIGO 1
Podemos observar em nosso cotidiano, que boa parte dos materiais usados
em residências, hospitais, escolas, comércio etc. vem sendo substituída por
materiais plásticos.”
“Mas será que o PET é usado somente como embalagem de refrigerante?
Seríamos capazes de entrar em um supermercado, ou até mesmo em nossas
casas, e identificarmos se uma embalagem plástica é do tipo PET ou não?”
ARTIGO 2
Vamos tomar como exemplo a interface ar-água.
Representações metafóricas com elementos eufóricos:
ARTIGO 2
Para resolver este problema nosso corpo utiliza um truque interessante.”
6060
O quadro a seguir apresenta os aspectos analisados relacionados ao Estilo, a
quantidade de artigos em que encontramos determinados aspectos, e o número
correspondente a cada artigo na análise:
Características dos artigos analisados com relação ao Estilo
ESTILO
QUANTIDADE DE
ARTIGOS
ARTIGOS
Linguagem especializada
0
0
Linguagem coloquial
3
1-3
Relação de distanciamento
com leitor
0
0
Relação de aproximação com
leitor
3
1-3
Metáforas com elementos
eufóricos
3
1-3
Metáforas com elementos
disfóricos
0
QUADRO 8: Dados referentes à análise do periódico Química Nova na Escola
Superinteressante
Os dois artigos analisados adotam um estilo de linguagem coloquial, utilizam
representações metafóricas, dialogam com o leitor com argumentos persuasivos, ou
aproximam-se dele com o uso da 1
a
pessoa do plural, porém, o excesso de elementos
eufóricos e disfóricos em algumas representações metafóricas, podem acarretar
interpretações equivocadas. Exemplos:
Representações metafóricas com elementos eufóricos, que caracterizam o poder da
química:
ARTIGO 1
“Apesar de encher os oceanos, brotar de nascentes e rechear camadas
subterrâneas, o sal já foi motivo de uma verdadeira obsessão...”
ARTIGO 2
“A urina foi responsável por uma revolução ainda maior na química.”
6161
Representações metafóricas com elementos disfóricos, que caracterizam o poder da
química:
:
ARTIGO 1
A carência, pode até matar, manifesta-se em dores de cabeça, fraqueza e
náusea.”
ARTIGO 2
Terror químico
O quadro a seguir apresenta os aspectos analisados relacionados ao Estilo, a
quantidade de artigos em que encontramos determinados aspectos, e o número
correspondente a cada artigo na análise:
Características dos artigos analisados com relação ao Estilo
ESTILO
QUANTIDADE DE
ARTIGOS
ARTIGOS
Linguagem especializada
0
0
Linguagem coloquial
2 1-2
Relação de distanciamento
com leitor
0
0
Relação de aproximação com
leitor
2
1-2
Metáforas com elementos
eufóricos
2
1-2
Metáforas com elementos
disfóricos
2
1-2
QUADRO 9: Dados referentes à análise do periódico Superinteressante
Scientific American Brasil
Em 1992, mais precisamente dez anos antes do lançamento da edição
brasileira da Scientific American, Roald Hoffmann, prêmio Nobel de Química de
6262
1981, numa entrevista à Ciência Hoje ao ser questionado sobre quais eram as
melhores revistas de divulgação científica, respondeu o seguinte sobre a Scientific
American: “a Scientific American [EUA] se tornou um pouco difícil para ler, mas é
notável que tenha uma circulação de aproximadamente um milhão de exemplares.”
(HOFFMANN, 1992). Nós também percebemos esta dificuldade para ler, no sentido
de que a acomodação da linguagem especializada para coloquial, manteve os jargões
próprios da área na construção geral dos artigos. Exemplo:
ARTIGO 1
“O resultado final é um sistema polifásico coloidal, onde moléculas de água
são ligadas às bolhas de gás, às gotículas de óleo e a fragmentos sólidos
dispersos, todos eles de tamanho inferior a cinco mícrons. O caráter coloidal
da dispersão dá à bebida alta densidade, alta viscosidade e baixa tensão
superficial. Assim, o expresso recobre visivelmente nossa língua e continua a
soltar os voláteis aromáticos dissolvidos nos óleos emulsificados enquanto
permanecer nela.”
Em os ambos artigos analisados, notamos que a aproximação com o leitor é
feita através do diálogo, a partir de argumentos persuasivos com valores positivos e
representações metafóricas que caracterizam o poder da química, por exemplo:
ARTIGO 1
“ Como prazer sensorial, poucas experiências cotidianas podem competir
com uma deliciosa xícara de café.”
“O aroma sedutor do café quente e fresco é capaz de tirar dorminhocos da
cama e atrair pedestres para bares, padarias e cafeterias. Milhões de
pessoas, em todo o mundo, teriam dificuldade em atravessar um dia inteiro
sem o choque de clareza mental da cafeína do café.”
No segundo artigo o modo como este diálogo é conduzido nos chamou
atenção o argumento persuasivo a partir do uso do imperativo, ou seja, existe um
diálogo em que o leitor não tem saída, nem poder de decisão, a figura central é o
autor, que ordena e que tem credibilidade. Simbolicamente o leitor é inferior, pois
quem tem a autoridade discursiva é o sujeito que fala. Exemplo:
Argumento persuasivo a partir do uso do imperativo:
ARTIGO 2
Imagine um fármaco que , injetado no corpo humano, identifica com
rapidez qualquer foco de tumor...”
6363
Pense numa radioterapia que, em vez de ser aplicada por grandes bombas,
é feita por um elemento radioativo microscópico...”
Calcule o que pode encontrar um anticorpo monoclonal...”
O quadro a seguir apresenta os aspectos analisados relacionados ao Estilo, a
quantidade de artigos em que encontramos determinados aspectos, e o número
correspondente a cada artigo na análise:
Características dos artigos analisados com relação ao Estilo
ESTILO
QUANTIDADE DE
ARTIGOS
ARTIGOS
Linguagem especializada
0
0
Linguagem coloquial
2
1-2
Relação de distanciamento
com leitor
2
1-2
Relação de aproximação com
leitor
2
1-2
Metáforas com elementos
eufóricos
2
1-2
Metáforas com elementos
disfóricos
0
0
QUADRO 10: Dados referentes à análise do periódico Scientific American Brasil
5.3 CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Quanto à construção composicional, examinamos de que maneira o tema foi
elaborado, considerando: a legitimação das informações por meio das credenciais e
dos quadros institucionais; o interdiscurso, ou seja o discurso por trás do discurso, as
marcas discursivas; e os recursos ilustrativos. Para ilustrar a análise que apresentamos
da categoria Construção composicional, elaboramos um quadro para cada periódico
com os seguintes elementos:
6464
a) Legitimação das informações por meio das credenciais de autores –
Menção aos autores a partir de seus trabalhos, opiniões, ou citações literais de
seus textos?.
b) Legitimação das informações por meio dos quadros institucionais -
Menção às instituições para justificar uma afirmação, ou idéia.
c) Interdiscurso retomando discursos anteriores a partir de referências
bibliográficas nacionais - Soma do número de vezes em que as referências
nacionais aparecem nas bibliografias.
d) Interdiscurso retomando discursos anteriores a partir de referências
bibliográficas internacionais - Soma do número de vezes em que as
referências internacionais aparecem nas bibliografias.
e) Recursos ilustrativos – Tipos de figuras, e suas respectivas legendas, que
são utilizadas para ilustrar os textos.
Química Nova - Artigos de divulgação
Notamos na construção composicional que os elementos eufóricos aparecem
com uma certa freqüência em lugares determinados dos textos, mais precisamente na
introdução e conclusão. Estes elementos, que são determinados por valores positivos,
denotam uma memória discursiva que vem corroborar com que citamos no item que
abordamos o discurso de divulgação científica, em que Maingueneau ( 1997,p.115)
diz que toda formação discursiva é associada uma memória discursiva, constituída de
formulações que se repetem. Em nossa análise percebemos que as formulações se
repetem na forma de introdução ao tema ou no modo de conclusão, a partir de
adjetivos que valorizam o trabalho e o grupo, por exemplo:
6565
ARTIGO 2
Agradecimentos: “...pela valiosa colaboração...”
ARTIGO 7
Introdução: No presente artigo serão destacados os imunossensores que empregam
transdutor amperométrico, além do conceitos necessários para melhor
compreensão dessa importante ferramenta de análise.”
ARTIGO 8
Conclusão:A grande questão para o futuro é responder a uma pergunta
antiga: qual a própolis serve para qual ação terapêutica?
“A caracterização da qualidade da própolis brasileira é um desafio
multidisciplinar que a comunidade científica tem pela frente...”
ARTIGO 9
Conclusão: “Esta técnica representa, portanto, uma ferramenta poderosa para
utilização em projetos de pesquisa e desenvolvimento.”
ARTIGO 10
Introdução:Este artigo focaliza duas das mais importantes plantas...”
Em todos os artigos existe uma predominância de citações estrangeiras, o que
pode ser uma dificuldade para o leitor não especializado da área para obter mais
informações sobre o assunto. Contabilizando todas as referências bibliográficas dos
artigos analisados na Química Nova, temos um total de 1737 referências estrangeiras,
contra 220 referências nacionais. A construção composicional, que reflete as
intenções do conjunto enunciativo sugere uma divulgação científica da química
ainda muito atrelada à forma como se faz referência nos textos de disseminação
científica, tendo em vista o estilo recorrente da linguagem especializada presente nos
textos analisados.
6666
As ilustrações são em sua maioria com gráficos, tabelas, e figuras em
linguagem especializada, ou seja, com jargões da área. Poucos artigos apresentam
ilustrações em linguagem um pouco mais adaptada para o vocabulário coloquial,
como por exemplo, o desenho sobre a atividade de ferro nos tecidos humanos:
ARTIGO 32
6767
O quadro a seguir apresenta os aspectos analisados na Construção
composicional, a quantidade de artigos em que encontramos determinados aspectos, e
o número correspondente a cada artigo na análise.
Características dos artigos analisados com relação à Construção composicional
CONSTRUÇÃO
COMPOSICIONAL
QUANTIDADE DE
ARTIGOS
ARTIGOS
Legitimação das informações
meio das credenciais de autores
33
1-33
Legitimação das informações
meio dos quadros institucionais
33
1-33
Interdiscurso retomando discursos
anteriores a partir de referências
bibliográficas nacionais
29
1,2, 3, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
13, 14, 15, 16, 17, 18, 19,
20, 21, 22, 23, 24, 25, 26,
27, 28, 29, 30, 33.
Interdiscurso retomando discursos
anteriores a partir de referências
bibliográficas internacionais
33
1-33
Recursos ilustrativos
33
1-33
QUADRO 11: Dados referentes à análise do periódico Química Nova
Química Nova na Escola
A principal característica encontrada nos artigos analisados foi a divulgação
de temas da química relacionados com a sociedade, e, neste contexto, identificamos
também uma preocupação da área em traçar a trajetória de seu desenvolvimento,
como por exemplo ao tratar dos temas sobre Pet’ e sobre a química do corpo humano:
6868
A trajetória da área:
ARTIGO 1
A primeira amostra de PET foi desenvolvida em 1941. As pesquisas para
aplicação desse material tiveram seu auge somente após a Segunda Grande
Guerra, no anos 50, em laboratórios dos EUA e Europa.”
ARTIGO 2
Em 1917, muito antes da descoberta da real função do surfactante
pulmonar, em 1955 (Pattle), o engenheiro metalúrgico chamado Irving
Langmuir, ganhador do prêmio Nobel de Química em 1932, construiu um
instrumento conhecido atualmente por balança de Langmuir
Relação do tema com a sociedade
ARTIGO 1
“Não podemos esquecer que os materiais do tipo PET são 100%
recicláveis!A coleta seletiva e a classificação do lixo plástico são pontos de
estrangulamento para a reciclagem .”
ARTIGO 2
“Essa doença é conhecida por Síndrome do desconforto Respiratório (SDR),
que afeta principalmente bebês prematuros e , em muitos casos, é fatal.”
A legitimação das informações parte das citações feitas a outros autores e,
assim como na Química Nova, existe uma predominância de citações estrangeiras,
sendo treze referências bibliográficas estrangeiras contra seis referências nacionais. A
construção composicional, que reflete as intenções do todo do enunciado, aponta
para uma divulgação científica da química que menciona muito pouco o que é
desenvolvido no país. Os recursos ilustrativos são em sua maioria desenhos coloridos,
por exemplo:
6969
ARTIGO 3
O quadro a seguir apresenta os aspectos analisados na Construção
composicional, a quantidade de artigos em que encontramos determinados aspectos, e
o número correspondente a cada artigo na análise.
7070
Características dos artigos analisados com relação à Construção composicional
CONSTRUÇÃO
COMPOSICIONAL
QUANTIDADE DE
ARTIGOS
ARTIGOS
Legitimação das informações meio
das credenciais de autores
3
1-3
Legitimação das informações meio
dos quadros institucionais
3
1-3
Interdiscurso retomando discursos
anteriores a partir de referências
bibliográficas nacionais
3
1-3
Interdiscurso retomando discursos
anteriores a partir de referências
bibliográficas internacionais
2
2-3
Recursos ilustrativos
3
1-3
QUADRO 12: Dados referentes à análise do periódico Química Nova na Escola
Superinteressante
O artigo indexado como Química é exibido como um espetáculo, apresentando
comentários e ilustrações bem humoradas, como por exemplo:
ARTIGO 1
Hoje pode ser até o caso do sal, que dificilmente freqüenta um bate-papo num
boteco ou num restaurante três estrelas. Mas uma coisa é certa: sem ele, o
mundo teria bem menos graça. Seria assim...meio “sem sal”
ARTIGO 2
Exércitos da época de Napoleão tiravam das fezes de animais os ingredientes
para fazer pólvora.”
7171
A legitimação das informações é feita exclusivamente por publicações
estrangeiras. Inclusive o artigo sobre o sal cita em vários momentos o livro Salt – a
world history, de Mark Kurlansky, e faz uma discreta publicidade da publicação.
Exemplo:
ARTIGO 1
“Em todas as sociedades o sal ganhou um valor que excedia em muito o
contido em suas propriedades naturais”, escreve o jornalista e ex-chef de
cozinha americano Mark Kurlansky no livro Salt – A World History ( Sal –
uma história do mundo, ainda inédito no Brasil) uma bem temperada análise
da influência dessa substância na trajetória da raça humana.”
As ilustrações dos artigos, com fotos e desenhos coloridos, apresentam
algumas legendas que apontam para uma curiosidade e as figuras retratam as
situações apresentada na legenda de forma jocosa. Exemplo:
ARTIGO 2
.
7272
O quadro a seguir apresenta os aspectos analisados na Construção
composicional, a quantidade de artigos em que encontramos determinados aspectos, e
o número correspondente a cada artigo na análise.
Características dos artigos analisados com relação à Construção composicional
CONSTRUÇÃO
COMPOSICIONAL
QUANTIDADE DE
ARTIGOS
ARTIGOS
Legitimação das informações
meio das credenciais de autores
2
1-2
Legitimação das informações
meio dos quadros institucionais
2
1-2
Interdiscurso retomando discursos
anteriores a partir de referências
bibliográficas nacionais
0
0
Interdiscurso retomando discursos
anteriores a partir de referências
bibliográficas internacionais
2
1-2
Recursos ilustrativos
2
1-2
QUADRO 13: Dados referentes à análise do periódico Superinteressante
Scientific American Brasil
Nenhum dos artigos apresenta referências bibliográficas nacionais; no entanto,
o artigo sobre radiofármacos cita endereços de sites e opiniões de cientistas
brasileiros. Já o artigo sobre café, apesar do tema, não o relaciona com pesquisadores
ou instituições nacionais, cita seis referências estrangeiras e se reporta várias vezes ao
trabalho desenvolvido na empresa Illycaffè, de Trieste, na Itália, da qual o autor do
artigo é o presidente.
As ilustrações são com fotos, gráficos bem coloridos, e não possuem
comentários bem humorados. O primeiro artigo, além das fotos do café em grão, em
7373
pó, pronto para beber e um corte ampliado de sua espuma, apresenta também gráficos
com explicações em linguagem especializada com termos técnicos sobre a
composição química do café. No artigo sobre radiofármacos o rigor científico é
transmitido através das imagens dos laboratórios, dos equipamentos, ou
pesquisadores trabalhando, o que tradicionalmente é utilizado para representar a
ciência e, por conseguinte , seriedade e fidedignidade de informação.
ARTIGO 1
7474
ARTIGO 2
Características dos artigos analisados com relação à Construção composicional
CONSTRUÇÃO
COMPOSICIONAL
QUANTIDADE DE
ARTIGOS
ARTIGOS
Legitimação das informações
meio das credenciais de autores
2
1-2
Legitimação das informações
meio dos quadros institucionais
2
1-2
Interdiscurso retomando discursos
anteriores a partir de referências
bibliográficas nacionais
1
2
Interdiscurso retomando discursos
anteriores a partir de referências
bibliográficas internacionais
2
1-2
Recursos ilustrativos
2
1-2
QUADRO 14: Dados referentes à análise do periódico Scientific American Brasil
7575
Este capítulo apresentou as categorias analíticas e elencou as características de
cada um dos periódicos analisados. Por essas características podemos dizer que a
Química é divulgada no país, mas o modo como esta atividade se desenvolve aponta
para alguns pontos críticos.
No periódico Química Nova a dificuldade de adaptação da linguagem
especializada da Química parte dos próprios cientistas da área. Talvez pela tradição
acadêmica em escrever textos científicos, ou mesmo por acreditar que tudo está
muito claro. Os artigos que deveriam beneficiar o leitor não especializado, em sua
maioria se distanciam de seu público alvo, e mostram-se muito mais voltados à
comunidade da área. Também nos chamou atenção o expressivo número de
referências estrangeiras em artigos direcionados à divulgação científica.
No periódico Química Nova na Escola a seção analisada cumpre seu papel de
interagir com a sociedade ao abordar temas do cotidiano, como as embalagens PET’s,
a química do corpo humano e a química do tempo. Até mesmo as explicações um
pouco mais especializadas são de fácil leitura e entendimento. Porém, não
encontramos em nenhum artigo divulgação da Química desenvolvida no país. Neste
periódico o número de referências estrangeiras também foi maior que as nacionais.
No periódico Superinteressante observamos que os artigos buscam uma
forma de divulgação a partir do humor e com muitas ilustrações coloridas, o que vem
a ser um fator positivo para atrair o leitor. O problema está no modo como os
comentários são estruturados, com várias características de espetacularização. Esse
periódico corrobora com o que citamos de Milton Pinto, no item sobre discurso
jornalístico, sobre a sedução do leitor a partir de elementos eufóricos. A química
desenvolvida no país é mencionada em um dos dois artigos, o que é um dado positivo.
No entanto, as referências bibliográficas são todas estrangeiras, e isto pode impedir o
leitor de obter mais informações sobre o tema.
No periódico Scientific American Brasil nos chamou atenção o fato de
encontrarmos já nos seus primeiros seis meses de divulgação, dois artigos abordando
o assunto química lembrando, que a publicação foi lançada em junho de 2002. Outra
característica desse periódico foi o modo como os textos dialogaram com o leitor,
7676
pois, apesar do uso de uma linguagem coloquial, não encontramos a tentativa de
sedução a partir de elementos eufóricos, espetacularização, ou comentários jocosos.
Os artigos foram elaborados transparecendo seriedade e fidedignidade, o que
também não deixa de ser uma forma de persuadir o leitor já que os valores positivos
transmitem credibilidade. A pesquisa desenvolvida no país é divulgada em um dos
dois artigos, ou seja, um dado positivo. As referências bibliográficas, assim como nos
demais periódicos analisados, são predominantemente de publicações estrangeiras.
7777
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
“A química está imersa no nosso cotidiano.
Fornecimento de energia, alimentos, meio ambiente
e poluição, processos biológicos, medicina,
processos industriais, fabricação de novos
materiais: essa presença no nosso dia-a dia estimula
a curiosidade das pessoas e aparentemente
facilitaria a transmissão dos conceitos químicos.
Contudo, essa transmissão nem sempre é fácil.
Muitos fenômenos químicos podem parecer, para a
criança, o adolescente ou o adulto não familiarizado
com os conceitos químicos, uma “demonstração de
magia”. ( Klachquin,2002)”
As perguntas iniciais para as quais tentamos encontrar respostas ao longo do
trabalho eram: A Química brasileira é divulgada nos periódicos de divulgação
científica?De que forma os temas são divulgados? Em que condições a Química é
notícia? Como pudemos observar em nossas análises, a química no Brasil é divulgada
e as pesquisas nacionais estão presentes na maioria dos artigos de divulgação. O
problema detectado repousa na maneira como se elabora o discurso de divulgação
científica, e muitos são os problemas que envolvem este diálogo. O mais evidente foi
a própria adaptação da linguagem especializada para torná-la mais coloquial, em que
percebemos, principalmente nos artigos redigidos por cientistas da área, a falta de
um estilo de construção composicional que possibilite um diálogo com o leitor não
especializado.
As diferenças culturais foram determinantes no momento da acomodação da
linguagem científica para linguagem de divulgação, pois a interação, que pressupõe
uma ação recíproca, esbarrou na complexidade dos conceitos químicos. Em alguns
artigos da Química Nova, por exemplo, determinados autores explicam que o texto
será transmitido em sua forma mais simples e sugerem leituras mais aprofundadas
para aqueles que necessitarem de mais informações. Porém, mesmo a linguagem mais
simples diz respeito à cultura química, impossibilitando a interação com aqueles que
não conhecem a área. Por exemplo, no artigo de n
o
. 17 da análise, até mesmo o que o
autor chama de dica para um bom entendimento do conteúdo dos parágrafos, está
direcionado ao público especializado, como se pode verificar a seguir:
7878
NOTA 2: A unidade de resistividade de superfície é Ω/ e de resistividade
é Ωm.”
Na seção de divulgação da Química Nova cuja proposta é beneficiar não
especialistas da área, faltou levar em conta o grau de informação que o leitor tem
sobre o assunto. Não nos pareceu que mesmo um leitor com grau de instrução elevado
e que pertença ao ambiente acadêmico consiga dialogar com os artigos divulgados
nessa seção.
Já no periódico Química Nova na Escola, percebemos a possibilidade de
interação com o leitor, uma vez que o estilo em linguagem coloquial e os temas
abordados, tais como: embalagens Pet’s, a química do corpo humano e a química do
tempo, estão bem próximos do cotidiano. No entanto, faltou nos artigos analisados a
divulgação de pesquisas desenvolvidas no país.
Recordando a citação de FERREIRA no editorial de 2001 da Química Nova,
em que diz que “a maioria das pessoas comuns vê a Química como uma ciência
descritiva, baseada num amontoado assustador de símbolos, tabelas, regras, fórmulas
e reações...”, é preciso também que os químicos se perguntem o que estão fazendo
para mudar esta imagem. Como diz Peters:
“Um dos desafios enfrentados pelos cientistas quando se dirigem ao público
leigo é como lidar com uma exigência de informação muito diferente da que
fazem os seus colegas cientistas – e não apenas explicar suas descobertas em
linguagem simples e encontrar metáforas e modelos que ilustrem conceitos
abstratos e não familiares.”(PETERS, 2005,p.144)
Nos periódicos comerciais encontramos divulgação de trabalhos brasileiros;
no entanto, as duas publicações apresentaram discursos muito distintos. Na Scientific
American Brasil, apesar do uso de uma linguagem coloquial, identificamos a presença
de jargões específicos da área científica, em que a interação com o público pode ser
prejudicada. Por outro lado, na Superinteressante, o excesso de elementos eufóricos
nas representações metafóricas pode ter prejudicado um diálogo coerente com o
público. O periódico Superinteressante abordou os temas, tanto sobre o sal, quanto
sobre a própria química, com um estilo direcionado ao humor; já o periódico
Scientific American Brasil abordou os temas sobre o café e os radiofármacos, com um
estilo transparecendo seriedade.
7979
Portanto, concluímos que a química desenvolvida no país é divulgada e que os
temas abordados são os mais variados possíveis, o que demonstra o quanto este
campo científico é multidisciplinar e o quanto permeia a vida cotidiana. Porém, a
complexidade dos gêneros discursivos prejudica a adaptação dos discursos de
disseminação para divulgação científica. Do modo como a química vem sendo
exposta, tanto pela comunidade científica quanto pelas editoras comerciais, está
sujeita a interpretações equivocadas.
Por abarcar apenas o período de 2002, não temos a pretensão de apresentar
conclusões definitivas. Nossa proposta foi analisar este curto período de tempo e
tentar compreender como se constitui a identidade deste ramo do conhecimento, a
partir dos diferentes discursos produzidos. Sabemos que este estudo permite olhar um
recorte limitado no tempo, no entanto, esperamos que as análises aqui apresentadas
possam contribuir para novas pesquisas na área de divulgação científica, que os
químicos, a partir das categorias que analisamos, em especial o Estilo da linguagem,
percebam que a construção do discurso como uma interlocução efetiva com o leitor
não especializado precisa ser em uma linguagem mais amena; que os jornalistas de
divulgação científica possam ter um maior senso crítico nas matérias divulgadas, e
que percebem também, a partir das categorias que analisamos, em especial o Estilo
da linguagem, que não basta utilizar uma linguagem coloquial, é preciso pensar no
leitor e nas conseqüências das matérias publicadas.
A identidade da Química é permeada por símbolos, regras, fórmulas e reações,
pois isto faz parte de sua cultura. Para mostrar à sociedade a poesia da Química e
aproximá-la cada vez mais das pessoas comuns, é preciso uma ação conjunta entre
químicos e jornalistas. A Química Nova e a Química Nova na Escola podem ser o
caminho para esta interação com os periódicos das editoras comerciais e a mídia de
um modo geral. É preciso, no entanto, que o modo de divulgar a química seja
reavaliado, a fim de torná-la mais explicativa e acessível ao público leigo. É
imprescindível que os químicos compreendam que assim como é importante
disseminar seus trabalhos em periódicos especializados, também é importante prestar
contas à opinião pública e divulgar o desenvolvimento das pesquisas em nosso país.
8080
Por parte dos jornalistas, notamos que a química poderia ser mais divulgada a
partir do que é desenvolvido no Brasil, que os jornalistas não se deixem levar pela
euforia e fascínio das descobertas científicas, e comecem a contextualizar os assuntos
divulgados, trazendo à população os problemas inerentes ao desenvolvimento de
pesquisas no país assim como as suas conquistas. Retornando ao que diz Caldas no
capítulo em que abordamos o discurso de divulgação científica:
“Cabe aos jornalistas
e cientistas refletirem de forma interdisciplinar com as diferentes áreas do
conhecimento para atuarem conjuntamente como educadores, na divulgação da
ciência e da tecnologia...(CALDAS, 2003,p.74)”.
Como afirma PETERS (2005,p.144), existe uma exigência de informação por
parte do público leigo muito diferente da dos cientistas. Esta demanda não significa
apenas curiosidade. No caso específico da Química, por exemplo, podemos ver, pelos
temas abordados nos artigos que analisamos no capítulo 5, que se trata de uma
ciência que diz respeito à vida de todas as pessoas e que poderia estar muito mais
próxima da sociedade de um modo geral e principalmente dos estudantes. No entanto,
o que nos chama atenção na letra de Renato Russo é que, com relação às demais
disciplinas, existe uma constatação de falta de conhecimento, e com relação à química
existe um sentimento de rejeição absoluta. Afinal, não foi o fato de não sacar nada de
física, literatura ou gramática que ficou na memória coletiva dos alunos, mas sim,
odiar química.
Ao estabelecer um paralelo entre o que foi divulgado sobre química nos
periódicos que pesquisamos, buscamos compreender os processos envolvidos na
construção da identidade desta área, a partir das relações entre os discursos
produzidos pelos diferentes agentes sociais envolvidos. Neste caso, os cientistas vistos
a partir dos discursos produzidos nos periódicos publicados pela área; e os jornalistas
vistos a partir dos discursos produzidos nos periódicos das editoras comerciais.
Pelo exposto, podemos dizer que a identidade da Química é constituída por um
discurso que a coloca como essencial para a vida e para o desenvolvimento da
sociedade. Os discursos nos periódicos da Sociedade Brasileira de Química
comparado aos das editoras comerciais, diferenciam-se do seguinte modo com relação
a Química: o primeiro a distingue como algo inacessível, com um discurso que
8181
privilegia a linguagem especializada; o segundo a distingue simbolicamente pelo
poder, com um discurso que privilegia os elementos eufóricos. Nos discursos de
divulgação científica dos periódicos das editoras comerciais, a Química tem o poder
de transformar as substâncias e a vida das pessoas, conforme mostramos na análise
dos artigos da Superinteressante sobre o poder do sal, e das substâncias químicas; e
nos artigos da Scientific American Brasil, sobre o café e os radiofármacos .
8282
7. POSFÁCIO
O campo de possibilidades de prosseguimento do estudo que apresentamos
insere-se de modo muito peculiar na gestão de sistemas de informação, a partir de
uma área de atuação que privilegie o estudo da memória e de linguagem no âmbito da
disseminação ou divulgação científica. A aplicação da análise do discurso nas redes
de conhecimento específicas ao campo de atuação dos profissionais da informação,
mais especificamente bibliotecários, museólogos e arquivistas, possibilita que
identidade da área em seu ambiente seja analisada a partir das práticas discursivas
formadoras do documento, considerando as relações dialógicas, os interdiscursos e a
memória discursiva do grupo.
Segundo Dodebei, “... não só os textos criados com a finalidade de prova, mas
os monumentos naturais, o espaço terrestre, o universo podem também ser
considerados documentos, se assim decidirmos”(DODEBEI,2000, p.59). Com relação
à divulgação e à disseminação científica, os documentos podem ser muito variados,
por exemplo: as reuniões dos grupos, as atas de congregação, fotos, diálogos, eventos
de um modo geral. A memória que é preservada por meio das representações e
identidade do grupo pode estar em qualquer documento, como argumenta Dodebei:
Ao entendermos por memória a manutenção de qualquer recorte de
ações vividas por uma sociedade, somos levados a considerar o
caráter de imobilização ou congelamento das ações selecionadas, a
fim de que possamos preservar aquele momento social. Na verdade, a
escolha e o isolamento de determinada ação considerada em todas as
formas de apreensão – sons, imagens e texturas – não impedem sua
permanência ou continuidade naquela sociedade. Representa, sim, sua
duplicação, configurando dois aspectos, o móvel e o
imóvel.(DODEBEI, 2000, p.60).
Durante a elaboração do trabalho, percebemos que, com relação à Química,
existem inúmeros aspectos que podem ser objeto de futuros estudos no âmbito da
memória e da linguagem. Na edição especial que aborda os 25 anos da Sociedade
Brasileira de Química - SBQ, observamos que a maioria dos pesquisadores identifica
sua respectiva área de atuação como a mais importante, a mais produtiva, ou a mais
8383
antiga. Vimos também que as reuniões anuais da SBQ foram decisivas no
desenvolvimento de novas linhas de pesquisa, ou seja, os relatórios das reuniões, os
depoimentos, as fotos dos eventos, podem ser considerados documentos formadores
de uma identidade da área.
Os profissionais da informação têm uma fonte muito rica de objetos de
pesquisa para a investigação da identidade, das práticas discursivas, e da memória
dos grupos nos quais estão inseridos. Afinal, essas narrativas constituem a memória e
identidade do grupo, e orientam suas relações com a sociedade, como observam
FERREIRA & ORRICO:
“... a linguagem se apresenta como um lócus privilegiado
para os estudos que pretendem investigar como são e como se
constroem as narrativas e as identidades que dela emergem, as
memórias que conectam passado e presente dos grupos sociais e que
orientarão as relações com o futuro.(FERREIRA;ORRICO,2002, p.8)
8484
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8888
ANEXO 1
ANÁLISE DOS ARTIGOS
8989
QUÍMICA NOVA
9090
ARTIGO 1
VARELA, Hamilton; TORRESE, Roberto M.; GONZALEZ, Ernesto R.
Aspectos relacionados à utilização da equação logística quadrática em processos
eletroquímicos. Química Nova, São Paulo, v.25, n.1, p.99-106, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Descreve a utilização da Equação Logística Quadrática - ELQ em processos
eletroquímicos influenciados por retro-alimentação que apresentam características
não-lineares. Divulga pesquisa desenvolvida no país.
ESTILO
Linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas, símbolos, reações e
elementos químicos.
“...o potencial para a equação (2) mostrada anteriormente é obtido a partir da
expressão dx/dt=-dV/dx=rx(1-x/k) ...
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Artigo de difícil compreensão para o leitor não especializado, devido à linguagem
especializada, no entanto, existe uma preocupação na introdução em explicar como
surgiu a ELQ:
“ Um dos problemas centrais em áreas como biologia, demografia e
ecologia humana está relacionado à capacidade do ambiente em
proporcionar condições de sobrevivência à determinada espécie. Nesse
aspecto, Thomas Robert Malthus (1766-1834) foi o primeiro a
desenvolver uma teoria sobre o crescimento populacional humano
relacionando-o à capacidade do ambiente em prover esse crescimento.
Sobre a importância do trabalho de Malthus pode-se citar, por exemplo,
sua influência no desenvolvimento do conceito de seleção natural por
Darwin...”
Presença de marcas discursivas que definem o tema como essencial ao destacar a
grandeza do trabalho:
Introdução:“Um dos problemas centrais...”
Conclusão: “...uma ferramenta de grande utilidade...”
Ilustrações com gráficos em linguagem especializada definidos por jargões próprios
da área.
Apresenta 55 referências bibliográficas estrangeiras e 7 de publicações nacionais.
9191
ARTIGO 2
SCIAMARELI, Jairo; TAKAHASHI, Marta Ferreira Koyama; TEIXEIRA,
José Maria. Propolente sólido compósito polibutadiêncico: I-influência do agente
de ligação. Química Nova, São Paulo, v.25, n.1, p.107-110, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O texto fala do propelente sólido utilizado em propulsores de veículos espaciais, ou
motores-foguetes. Divulga pesquisa desenvolvida no país.
ESTILO
Linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas, símbolos, reações e
elementos químicos. Apesar de relatar o uso, pelo Centro Técnico Aeroespacial-
CTA, de propelente tipo compósito poliuretânico em foguetes tipo Sonda e no
Veículo Lançador de Satélites - VLS, e divulgar uma experiência nacional, o autor
não dialoga com o leitor não especializado, devido a falta de adaptação da linguagem
especializada para coloquial, ou seja, com menos jargões técnicos .
“O oxidante é a fonte de oxigênio que, de maneira exotérmica, oxida as
partículas sólidas e metálicas gerando os gases propulsivos.”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos, reações e elementos químicos.
Apresenta 30 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 1(uma) de
documento nacional (relatório interno do CTA).
9292
ARTIGO 3
BUCHMANN, José Henrique; SARKIS, Jorge Eduardo de Souza. O conceito de
incerteza aplicado aos processos de mediação associados à preparação de uma
solução de referência para calibração. Química Nova, São Paulo, v.25, n.1, p.111-
116, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Ilustra a aplicação das ferramentas estatísticas para a avaliação das incertezas em uma
atividade comum nos laboratórios de química analítica. Divulga pesquisa
desenvolvida no país.
ESTILO
Linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas, símbolos, reações
e elementos químicos. O autor não dialoga com o leitor não especializado, devido a
falta de adaptação da linguagem especializada para coloquial.
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Justifica o trabalho ressaltando a importância econômica:
“...a implementação de um programa de garantia de
qualidade em um laboratório de química analítica torna-
se mais um registro fundamental para a conquista de
novos mercados e para a oferta de serviços especializados
com qualidade comprovada.”
Ilustração em linguagem especializada, com tabelas, fórmulas e jargões específicos da
área.
Apresenta 13 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 3 de
publicações nacionais.
9393
ARTIGO 4
VAZQUEZ, Pedro A. M. Técnicas para análise de desempenho de
computadores. TÍTULO. Química Nova, São Paulo, v.25, n.1, p.117-122, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Apresenta um pequeno conjunto de programas que avaliam o desempenho de
computadores sob diversos aspectos de relevância para a química computacional.
Divulga trabalho desenvolvido no país.
“Ao longo deste texto foram apresentados as técnicas e os
componentes básicos para análise de desempenho de
computadores utilizando programas públicos e de fácil
compilação e execução.”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões, fórmulas e gráficos próprios da área. O autor
não dialoga com o leitor não especializado devido a falta de adaptação da linguagem
especializada para coloquial.
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Aponta a relevância do trabalho:
“Como resultado da redução dos preços e destes avanços,, a
distância, em termos de desempenho, que separava os grandes
computadores dos equipamentos de uso pessoal diminuiu ao
ponto de permitir a popularização de métodos computacionais da
química em grande escala.”
Ilustrações em linguagem especializada, com tabelas, gráficos e jargões próprios da
área.
Apresenta 24 referências bibliográficas de publicações estrangeiras.
9494
ARTIGO 5
SOTOMAYOR, Maria Del Pilar Taboada; KUBOTA, Lauro Tatsuo.
Enzymeless biosensors: uma nova área para o desenvolvimento de sensores
amperométricos. Química Nova, São Paulo, v.25, n.1, p.123-128, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O artigo trata do surgimento de uma nova área de biossensores amperométricos. Não
menciona se há pesquisa desenvolvida no país com relação ao assunto abordado.
ESTILO
Linguagem especializada com jargões, fórmulas e gráficos próprios da área. O autor
não dialoga com o leitor não especializado devido a falta de adaptação da linguagem
especializada para coloquial.
“Embora este artigo queira destacar basicamente a linha de pesquisa da química
biomomética que está relacionada ao reconhecimento de substratos enzimáticos
através de enzimas artificiais com a finalidade de mostrar aplicação na
construção de enzymeless biosensors, cabe ressaltar que, a química biomimética
oferece também possibilidade de síntese de modelos simples para o
reconhecimento de todas as outras classes de “substratos”...
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos, reações e elementos químicos.
Apresenta 57 referências bibliográficas de publicações estrangeiras.
9595
ARTIGO 6
BARREIRO, Eliezer J., et al. A química medicinal de N-acilidrazonas: novos
compostos-protótipos de fármacos analgésicos, antiinflamatórios e anti-
trombóticos. Química Nova, São Paulo, v.25, n.1, p.129-148, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Reuni resultados dos estudos realizados no Laboratório de Avaliação e Síntese de
Substâncias Bioativas nos últimos dez anos. Divulga pesquisa nacional.
“ Há algum tempo vimos estudando no Laboratório de Avaliação e
Síntese de Substâncias Bioativas (LASSBio) da Faculdade de
Farmácia da UFRJ o planejamento de novos agentes NSAI...”
“ No âmbito desta linha de pesquisa, visando à descoberta de novos
candidatos a protótipos de agentes antiinflamatórios, analgésicos e
anti-agregantes plaquetários, iniciamos, simultaneamente, a busca
de novos inibidores de 5-LO, eleita desta feita como alvo-
terapêutico...”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões, fórmulas e gráficos próprios da área. Dialoga
com o leitor não especializado ao explicar que é Química Medicinal:
“ A Química Medicinal estuda as razões moleculares da ação dos
fármacos de maneira a descrever a relação entre a estrutura química
e a atividade farmacológica...”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Demonstra preocupação com a trajetória da área no sentido de reunir os trabalhos dos
últimos dez anos do laboratório:
Neste artigo procuramos reunir alguns dos resultados dos estudos realizados no
laboratórios nos últimos dez anos, versando sobre a Química Medicinal ...”
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 66 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 42 de
publicações nacionais.
9696
ARTIGO 7
RICCARDI, Carla dos Santos; COSTA, Paulo Inácio da; YAMANAKA, Hideko.
Imunossensor amperométrico. Química Nova, São Paulo, v.25, n.2, p.316- 320,
2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Trata dos imunossensores que empregam transdutor amperométrico e os conceitos a
respeito desta ferramenta. Divulga pesquisa desenvolvida no país.
“A imobilização do anticorpo ou antígeno e o monitoramento do sinal
enzimático segue esquema semelhante ao desenvolvimento de
biossensores catalíticos, no qual vários grupos de pesquisa atuam nessa
linha no país. Quanto à etapa de produção de anticorpos, a metodologia é
conhecida porém, no Brasil poucos grupos atuam nessa linha, assim,
restrito por aqueles comercialmente disponíveis ou pela doação de algum
grupo de pesquisa, via de regra, do exterior.”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões, fórmulas e elementos químicos da área.
Em algumas determinações a substância a ser analisada é a própria
enzima, por exemplo, a isoenzima lactato desidrogenase (LDH-1) cuja
concentração no soro pode ser indicativo de infarto agudo do miocárdio.
Nesse caso, o anticorpo anti-LDH-1 encontra-se imobilizado em
membrana pré ativada e a isoenzima foi determinada pela reação
eletroquímica envolvendo o NADH.”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Presença de marcas discursivas que definem o tema como essencial ao destacar a
grandeza do trabalho:
Introdução: “No presente artigo serão destacados os
imunossensores que empregam transdutor amperométrico, além
do conceitos necessários para melhor compreensão dessa
importante ferramenta de análise.”
Ilustrações com tabelas em linguagem especializada.
Entre as 40 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 2 de publicações
nacionais.
9797
ARTIGO 8
PEREIRA, Alberto dos Santos; SEIXAS, Fernando Rodrigues Mathias Silva;
AQUINO NETO, Francisco Radler de. Própolis: 100 anos de pesquisa e suas
perspectivas futuras. Química Nova, São Paulo, v.25, n.2, p.321-326, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O artigo aborda as pesquisas da própolis, os problemas brasileiros com a biopirataria e
as perspectivas de desenvolvimento da área no país. Divulga pesquisa desenvolvida
no páis
ESTILO
Linguagem coloquial com diálogo que possibilita o entendimento por parte do leitor
não especializado:
“A própolis é uma mistura complexa, formada por material resinoso
e balsâmico coletada pelas abelhas dos ramos, flores, pólen, brotos e
exsudados de árvores...”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
O artigo traça um trajetória das pesquisas sobre a própolis evidenciando um cuidado
com a construção da memória:
“Os gregos, entre os quais Hipócrates, a adotaram como cicratizante
interno e externo.”
“ O termos própolis já era descrito no século XVI na França e, em
1908 surgiu o primeiro trabalho científico sobre as suas propriedades
químicas e “composição”...”
“Historicamente o primeiro trabalho (indexado pelo Chemical
Abstracts) sobre a própolis foi publicado 10 anos depois que o
professor Heinrich Dresse da Bayer, proclamou o surgimento de uma
milagrosa droga batizada como heroína; 5 anos depois do surgimento
do primeiro barbitúrico e 14 anos antes do descobrimento da
vitamina D...”
“No Brasil a primeira publicação sobre a própolis, em 1984,
apresenta um estudo comparativo do efeito da própolis e antibióticos
na inibição de Staphylococcus aureus.”
Chama atenção para um problema enfrentado pelos pesquisadores brasileiros:
“ O reduzido número de patentes brasileiras em relação aos trabalhos
publicados (3 patentes/27 trabalhos publicados), reflete infelizmente o
9898
fato da universidade brasileira não ter o hábito de proteger suas
atividades de pesquisa por meio de patentes..”
“O oposto ocorre no Japão, onde foram depositadas 98 patentes, mais
do dobro do número de trabalhos publicados(43) no mesmo período,
incluindo patentes sobre a aplicação de compostos isolados
inicialmente da própolis brasileira. Esse fato deveria despertar a
atenção da comunidade científica nacional, para não se repetir os
erros do passado, ocasião em que ocorreu o mais famoso e
provavelmente o primeiro caso de “biopirataria”, atribuído ao inglês
Henry Wickkhan, que em 1876, contrabandeou para os jardins reais
de Kew, em Londres, mais de 70 mil sementes de seringueira...”
Presença de marcas discursivas que definem o tema como essencial :
Conclusão: “ A grande questão para o futuro é responder a uma pergunta
antiga: qual a própolis serve para qual ação terapêutica?
“A caracterização da qualidade da própolis brasileira é um desafio
multidisciplinar que a comunidade científica tem pela frente...”
Ilustrações com gráficos em linguagem especializada com jargões próprios da área, e
ainda, tabelas e gráficos demonstrações estatísticas em linguagem coloquial, ou seja,
com vocabulário menos especializado possibilitando o entendimento por parte do
leitor não especializado.
Apresenta 56 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 14 de
publicações nacionais.
9999
ARTIGO 9
NEVES, Célia de Figueiredo Cordeiro; et al. Técnica para seleção de variáveis
aplicada à separação de gases. Química Nova, São Paulo, v.25, n.2, p.327-329,
2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Descreve a aplicação de uma técnica de planejamento experimental conhecida como
seleção de variáveis. Divulga pesquisa desenvolvida no país.
Os processos PSA comerciais foram desenvolvidos a partir de 1960 e
encontram aplicação industrial na remoção de contaminantes de
matérias primas e efluentes gasosos e na recuperação e purificação de
gases industriais.”
“Este trabalho apresenta um exemplo de aplicação da técnica de seleção
de variáveis com o objetivo de identificar as variáveis críticas do
processo PSA de enriquecimento do ar em oxigênio, utilizando uma
instalação de laboratório desenvolvidas para este fim.”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões próprios da área.
Na realização de um experimento com k fatores em dois níveis, são
feitas 2x2x...x2(k vezes)=2
k
observações da variável resposta e, portanto,
este planejamento é denominado experimento fatorial 2
k
.”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Presença de marcas discursivas que definem o tema como essencial :
Conclusão: “Esta técnica representa, portanto, uma ferramenta
poderosa para utilização em projetos de pesquisa e desenvolvimento.”
Ilustrações com tabelas em linguagem especializada com jargões próprios da área.
Apresenta 3 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 4 referências
bibliográficas de publicações nacionais.
100100
ARTIGO 10
MACIEL, Maria Aparecida M.; et.al. Plantas medicinais: a necessidade de
estudos multidisciplinares. Química Nova, São Paulo, v.25, n.3, p.429-438, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O artigo aborda o estudo de duas plantas medicinais brasileiras de uso popular, e
ressalta a importância de estudos multidisciplinares com plantas medicinais,
envolvendo etnobotânica, química e farmacologia. Divulga pesquisa realizada no país.
“Estes estudos procuram viabilizar de maneira segura, a validação
prévia do uso terapêutico de plantas medicinais amplamente utilizadas
na medicina tradicional de vários estados do Brasil.”
“...foi possível comprovar grande parte das indicações terapêuticas
empíricas que os usuários destas plantas garantem existir.”
“Este artigo focaliza duas das mais importantes plantas medicinais
brasileiras da atualidade: Cróton cajucara Benth, uma euforbiácea, muito
utilizada na medicina popular da região Amazônica, cujo uso vem sendo
difundido por todo país. Esta planta é encontrada em diferentes
formulações nas farmácias de produtos naturais do sudeste; e Copaifera
L.(Leguminosae-Caesalpinoideae) cujo óleo, conhecido popularmente
como óleo de copaíba, pode ser encontrado à venda em quase todas as
feiras livres ...”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões próprios da área, e coloquial com explicações
que possibilitam o entendimento por parte do leitor não especializado:
“O Croton cajucara, vulgarmente conhecido por sacaca ( feitiço na
língua Tupi), representa um recursos medicinal de grande importância
no tratamento e cura de várias doenças. No estado do Pará, as folhas e
cascas do caule desta planta são utilizadas em forma de chá ou pílulas, no
combate a diabetes, diarréia, malária, febre, problemas estomacais,
inflamações do fígado...”
“ O chá das folhas é indicado em academias de ginástica da cidade de
Belém para diminuição de peso corporal...”
“Porém, inúmeros casos de hepatite tóxica já foram notificados em
hospitais públicos dessa cidade, devido ao uso prolongado deste chá...”
“O conhecimento sobre plantas medicinais simboliza muitas vezes o
único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos. O uso
de plantas no tratamento e na cura de enfermidades é tão antigo quanto
a espécie humana. Ainda hoje nas regiões mais pobres do país e até
mesmo nas grandes cidades brasileiras, plantas medicinais são
101101
comercializadas em feiras livres, mercados populares e encontradas em
quintais residenciais.”
“Em geral a escolha de uma determinada planta medicinal é feita através
da abordagem etnofarmacológica. Uma vez definida a espécie vegetal a
ser estudada, defini-se também o local da coleta...”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Traça uma trajetória da área:
“O termo etnobotânica foi empregado pela primeira vez em 1895 por
Harshberger...”
“Várias abordagens para seleção de espécies vegetais têm sido
apresentadas na literatura...”
Presença de marcas discursivas que definem o tema como essencial :
Introdução: “Este artigo focaliza duas das mais importantes plantas...”
Conclusão: “Estes estudos procuram viabilizar de maneira segura, a
validação prévia do uso terapêutico de plantas medicinais...”
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 99 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 38 de
publicações nacionais.
102102
ARTIGO 11
FERREIRA, Márcia Miguel Castro; MONTANARI, Carlos Alberto ; GAUDIO,
Anderson Coser. Seleção de variáveis em QSAR. Química Nova, São Paulo, v.25,
n.3, p.439-448, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Apresenta e analisa os principais métodos utilizados na seleção de variáveis em
QSAR e divulga pesquisa realizada no país.
“As pesquisas na área de QSAR (Quantitative Structure- Activity
Relationships) têm como principal objetivo a construção de modelos
matemáticos que relacionem a estrutura química e a atividade biológica
de uma série de compostos análogos.”
“Nossa experiência mostra que, considerando-se dado número de
variáveis, os algoritmos genéticos podem localizar os melhores modelos
até seis vezes mais rápido do que a busca sistemática.”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões próprios da área.
“Antes da análise dos métodos de seleção propriamente dita, é preciso
destacar um aspecto importante sobre a expressão qualidade de um
modelo matemático em QSAR. Para que uma equação de regressão seja
promovida a modelo matemático é preciso muito mais do que
simplesmente possuir elevado coeficiente de correlação. Para validar-se
estatisticamente uma equação de regressão, é preciso muito mais do que
simplesmente uma equação de regressão, é preciso executar diversos
testes de validação, tais como o cálculo do coeficiente de correlação, do
desvio-padrão, do teste de Fischer e do nível geral de confiabilidade do
modelo (p-valor).”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 28 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 3 de
publicações nacionais.
103103
ARTIGO 12
SILVA, Karina Luiz da; CECHINEL FILHO, Valdir. Plantas do gênero
Bauhinia: composição química e potencial farmacológico. Química Nova, São
Paulo, v.25, n.3, p.449-454, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Apresenta uma revisão dos principais aspectos químicos e farmacológicos da
Bauhinia, e descreve compostos isolados de cada espécie desse gênero, bem como a
ação farmacológica dessas substâncias. Divulga pesquisa desenvolvida no país.
“A avaliação de B. monandra como possível agente hipoglicemiante
através do método Glicose-Oxidase, permitiu observar que o extrato
hidroalcoólico (500 mg/Kg, v.º) desta planta apresenta ação
hipoglicemiante após 4h, maior que a insulina. Recentemente, Mino e
Pereira
50
confirmaram a ação antidiabética desta planta...”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões próprios da área, e coloquial com algumas
explicações que possibilitam o entendimento por parte do leitor não especializado:
“Entre as inúmeras espécies vegetais de interesse medicinal, encontram-
se as plantas do gênero Bauhinia, pertencentes à família Leguminosae,
as quais são encontradas principalmente nas áreas tropicais do
planeta...”
“No Brasil as plantas do gênero Bauhinia são conhecidas como “Pata-de
–vaca” ou “Unha-de-boi”.
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Ressalta a importância da pesquisa para a sociedade:
“ Cabe ressaltar, por exemplo, que a maioria dos compostos ativos como
hipoglicêmicos continuam obscuros e a descoberta destas substâncias
poderia levar à obtenção de novos fitofármacos ou mesmo fármacos para
o tratamento de diabetes do tipo II patologia que aflige um grande
número de pessoas em todo mundo.”
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 43 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 23 de
publicações nacionais.
104104
ARTIGO 13
FATIBELLO-FILHO, Orlando; VIEIRA, Iolanda da Cruz. Uso analítico de
tecidos e de extratos brutos vegetais como fonte enzimática. Química Nova, São
Paulo, v.25, n.3, p.455-464, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Apresenta alguns procedimentos analíticos empregando tecido e/ou extratos brutos
vegetais. Divulga pesquisa desenvolvida no país.
“Há diversos procedimentos descritos na literatura para obtenção de
extratos brutos enzimáticos. O procedimento que vem sendo utilizado em
nosso grupo de pesquisa é muito simples, rápido, eficiente e a atividade
enzimática no extrato é mantida por longos períodos.”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões próprios da área, e coloquial com algumas
explicações que possibilitam o entendimento por parte do leitor não especializado:
“O emprego de enzimas purificadas em química analítica pode ser
encontrado em excelentes monografias estrangeiras ou nacionais. No
entanto, há uma carência de monografias d circulação internacional
devotadas à utilização de tecidos/e ou extratos vegetais em química
analítica e nenhuma na língua portuguesa, tornando assim o presente
trabalho de divulgação de extrema importância para pessoas que
trabalham nas áreas mencionadas”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Preocupação em recupera a memória da área:
“A descoberta das enzimas data do século XVIII, quando se iniciaram os
estudos sobre digestão dos alimentos.”
“Os trabalhos de purificação de enzimas começaram depois de 1920”.
Presença de marcas discursivas que definem o tema como essencial :
Introdução: “...tornando assim o presente trabalho de divulgação de
extrema importância para as pessoas que trabalham nas áreas
mencionadas...”
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 151 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 15 de
publicações nacionais.
105105
ARTIGO 14
GOMES, André S.P.; MARTINS, Lucimara R.; VAZQUEZ, Pedro A M.
Técnicas de análise do perfil de execução e otimização de programas em química
computacional. Química Nova, São Paulo, v.25, n.3, p.465-469, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Apresenta as técnicas básicas de medida de tempo de processamento e construção de
perfis de execução visando a otimização de programas de interesse da química
computacional. Divulga pesquisa desenvolvida no país.
“Apresentamos aqui técnicas para a análise de desempenho
particularmente úteis para programas de computação científica.”
“Um estudo desta natureza é descrito por Gomes 35 onde uma extensa
análise de desempenho e otimização da versão 1998 do programa
GAMESS foi realizada.”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões próprios da área, e coloquial com algumas
explicações que possibilitam o entendimento por parte do leitor não especializado:
“O avanço tecnológico dos microcomputadores ao longo da última
década trouxe aos microcomputadores pessoais níveis de desempenho
computacional antes disponíveis apenas em computadores de grande
porte. A este desempenho com baixo custo passou a associar-se, a partir
de 1991, a disponibilidade de sistemas operacionais de 32bits, como o
Linux e o FreeBSD...”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 29 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 6 de
publicações nacionais.
106106
ARTIGO 15
WENDT, Hartmut; LINARDI, Marcelo; ARICÓ, Eliana M. Células a
combustível de baixa potência para aplicações estacionárias . Química Nova, São
Paulo, v.25, n.3, p.470-476, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Apresenta as mudanças das células a combustível de potência e divulga pesquisa
desenvolvida no país.
“Este trabalho objetiva mostrar recentes mudanças no cenário das
células a combustível de potência, de aplicações estacionárias, atualmente
mais direcionadas para o desenvolvimento de módulos de baixa potência,
visando o mercado de residências e pequenas indústrias, hospitais,
escolas, etc. este novo direcionamento deve servir de base para os
projetos de P&D do IPEN.”
“Seguramente ainda existe um longo caminho para se alcançar as metas
de redução de custos, mas pode-se dizer que, considerando-se a presente
fase de desenvolvimento tecnológico/científico, a interação entre
Universidades, Institutos de Pesquisa e Empresas, além da participação
dos futuros usuários, será decisiva neste desenvolvimento.”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões, fórmulas e elementos químicos da área.
“A reação global de oxidação do metano (gás natural) é dada pela
Equação (4), possuindo um ΔH
R
de – 806,4 kJ mol
-1
(Lower Heatingg
Value).
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Apresenta as perspectivas econômicas da área:
“Pequenas instalações de células a combustível para aplicações
residências abrirão um novo mercado no ramo de serviços de
energia e de fornecimento de gás, se o custo da instalação for
suficientemente competitivo.”
Ilustrações com figuras e fotos que, apesar da linguagem específica da área, facilitam
a compreensão do leitor não especializado.
Apresenta 5 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 3 de publicações
nacionais.
107107
ARTIGO 16
ROCHA, Reginaldo C.; TOMA, Henrique E. Transferência de elétrons em
sistemas inorgânicos de valência mista. Química Nova, São Paulo, v.25, n.4,
p.624-638, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Aborda o assunto sobre a transferência de elétrons em sistemas de inorgânicos de
valência mista. Divulga a área de um modo geral sem mencionar se a pesquisa é
desenvolvida no país, no entanto, cita no corpo do texto uma tese de doutorado
defendida na USP, o que nos faz considerar que o artigo divulga pesquisa
desenvolvida no país.
“Nos anos 90, a comunidade científica continuou demonstrando um
interesse crescente nos compostos de valência mista e, com o surgimento
de novas facilidades (métodos e técnicas modernas de investigação), este
interesse deverá aumentar progressivamente neste século.”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões, fórmulas e elementos químicos da área.
O caráter de valência mista é , na verdade, responsável pela coloração
de vários minerais bem conhecidos. Por exemplo, o controle dos estados
de oxidação do ferro em seus óxidos (FeO,Fe
3
O
4
,Fe
2
O
3
) foi elegantemente
utilizado na pintura de vasos pelos gregos antigos para produzir o preto
e o vermelho característicos das cerâmicas áticas
2
“Um aspecto da maior importância nesse tipo de reação é a relação entre
a velocidade de transferência de elétrons e a exergonicidade, ΔG
0
.
63”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Presença de marcas discursivas a partir de adjetivos que ressaltam a importância do
tema:
Introdução:
“Desde então , o fenômeno de valência mista tem atraído o
interesse de um ampla variedade de cientistas, que se estende de
químicos a físicos, de biólogos a geólogos.”
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 123 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 6 de
publicações nacionais.
108108
ARTIGO 17
GIROTTO, Emerson M.; SANTOS, Ivair A . Santos. Medidas de resistividade
elétrica DC em sólidos: como efetuá-las corretamente. Química Nova, São Paulo,
v.25, n.4, p.639-647, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Discute métodos de medida de resistividade dc em materiais isotrópicos. Não
menciona pesquisas desenvolvidas no país apesar de ressaltar que é uma das linhas de
pesquisa de maior interesse:
“Uma das linhas de pesquisa de maior interesse, tanto do ponto de vista
acadêmico quanto tecnológico é, sem dúvida, o estudo e o
desenvolvimento de novos materiais.”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões, fórmulas e elementos químicos da área. Até
mesmo o que o autor chama de: “dicas para um bom entendimento do conteúdo dos
parágrafos”, são direcionadas ao público especializado.
NOTA 2: A unidade de resistividade de superfície é Ω/ e de
resistividade é Ωm.”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
O artigo tem como proposta contribuir para um interpretação correta do assunto.
“Neste sentido, procuramos produzir um texto direcionado à técnicos,
estudantes de graduação, de pós-graduação e também aos pesquisadores
não-especialistas nesta área.”
“...o leitor irá encontrar no texto algumas “notas” destacadas que podem
ser interpretadas como “dicas” para um bom entendimento do conteúdo
dos parágrafos”.
Critica a maneira como os textos produzidos cometem equívocos a respeito do tema:
“Embora os métodos reportados na literatura para determinação da
resistividade elétrica não apresentem um elevado grau de sofisticação, é
comum encontrarmos em texto de divulgação científica ou mesmo em
teses ou dissertações, equívocos relacionados à montagem dessas técnicas
ou relacionados à utilização da teoria envolvida...”
Presença de marcas discursivas a partir de adjetivos que ressaltam a importância do
tema:
109109
“Uma das linhas de pesquisa de maior interesse, tanto do ponto de
vista acadêmico quanto tecnológico é, sem dúvida, o estudo e o
desenvolvimento de novos materiais.
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 21 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 1 de publicação
nacional.
110110
ARTIGO 18
OLIVEIRA, Gelson Manzoni de. Espectroscopia vibracional: sistemática para
cálculo dos estiramentos CO de complexos carbonílicos e determinação da sua
atividade IV e Raman. Química Nova, São Paulo, v.25, n.4, p.648-656, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Estudo dirigido a estudantes e pesquisadores que utilizam a espectroscopia no
infravermelho como ferramenta para análise de complexos carbonílicos. Não
menciona se a pesquisa é desenvolvida no país, no entanto, cita no corpo do texto uma
dissertação de mestrado defendida na Universidade Federal de Santa Maria, portanto,
isto nos faz considerar que o artigo divulga pesquisa desenvolvida no país.
ESTILO
Linguagem especializada com jargões, fórmulas e elementos químicos da área.
“Os espectros no infravermelho dos complexos BrMn(CO)
5
e
BrMn(CO)
4
PPh
2
Si(CH)
3
, este obtido por substituição de uma carbonila
cis pelo ligante PPh
2
Si(CH) em BrMn(CO)
5
, representam exemplos
ilustrativos...”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
O artigo inicia descartando qualquer possibilidade de diálogo com o leitor não
especializado:
“Assim, pressupõe a familiaridade do leitor com os Grupos Pontuais de
moléculas e com as matrizes transformacionais dos vetores dos graus de
liberdade (Translacionais, Rotacionais e Vibracionais) para o cálculo das
representações reduzíveis e irreduzíveis tanto destes vetores como da
soma total dos graus de liberdade para uma dada molécula. Presume-se
também que o leitor saiba deduzir e utilizar as tábuas de caracteres dos
grupos pontuais. O embasamento teórico sobre as coordenadas internas é
também indispensável, bem como o uso da fórmula de redução para o
cálculo das representações irreduzíveis (espécies de simetria) dos
estiramentos CO.”
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 10 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 1 de publicação
nacional.
111111
ARTIGO 19
CHUI, Queenie Siu Hang; ANTONOFF, Heloísa Burkhardt; OLIVIERI, José
Carlos . Utilização de índices r e R obtidos de programas interlaboratoriais para
o controle de precisão de método analítico: determinação de água por Karl
Fischer. Química Nova, São Paulo, v.25, n.4, p.657-659, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Divulga a aplicação dos índices de repetibilidade e reprodutibilidade obtidos de
programas interlaboratoriais planejados para este fim. Divulga pesquisa desenvolvida
no país.
“Programas Interlaboratoriais para determinação de água pelo método
de Karl Fischer, tendo como referência a norma ASTM D 1744-92
7
, no
período de 06/07 a 12/99, foram conduzidos sob a coordenação do
laboratório de Combustíveis e Lubrificantes da Divisão de Química do
IPT para obtenção dos índices r e R.”
“As empresas sediadas no Estado de São Paulo retiraram suas amostras
no IPT, enquanto que para aquelas sediadas fora de São Paulo, as
amostras foram enviadas de transportadoras especialmente
contratadas.”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões próprios da área, e coloquial com algumas
explicações que possibilitam o entendimento por parte do leitor não especializado:
“Por meio de um programa interlaboratorial específico, é possível a
determinação de parâmetros de precisão para métodos de ensaios
1
.
Muitas normas brasileiras ainda não incluem informações a respeito
desses parâmetros. “
“Dois parâmetros de precisão, os denominados índices de repetibilidade –
repê( r ) e reprodutibilidade – Reprô( R ), têm demonstrado ser
necessários e suficientes para descrever as variabilidades d um método de
ensaio
2-4
.”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Expõe ao leitor a importância do trabalho:
“A empresa produtora busca a melhor qualidade do seu produto final, a
fim de se manter competitiva nos mercados atuais. Nesta busca, o
laboratório analítico exerce papel fundamental, executando a análise de
matérias-primas, produtos intermediários e finais. Decisões são tomadas
baseadas nos resultados emitidos pelo laboratório.”
112112
“Comparações interlaboratoriais são usadas para determinar
características de métodos, materiais ou laboratórios.
Ilustrações em linguagem especializada, com tabelas, gráficos e jargões próprios da
área,
Apresenta 14 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 2 de
publicações nacionais.
113113
ARTIGO 20
SANSEVERINO, Antonio Manzolillo. Microondas em síntese orgânica. Química
Nova, São Paulo, v.25, n.4, p.660-667, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Apresenta uma introdução sobre a utilização do aquecimento de microondas em
síntese orgânica. Divulga pesquisa desenvolvida no país:
“Uma demonstração visual do efeito do aquecimento por microondas em
reações de polimerização em ausência de solvente já foi relatada em
Química Nova
22
, usando monômetros de interesse comercial.”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões próprios da área, e coloquial com algumas
explicações que possibilitam o entendimento por parte do leitor não especializado:
“A utilização do forno de microondas de cozinha no preparo ou
aquecimento de alimentos é um fato comum nos dias de hoje.”
“O aquecimento por microondas também é largamente utilizado em
escala comercial na preparação e secagem de alimentos.
2
Uma aplicação recente é a obtenção de produtos orgânicos em escala de
laboratório usando o aquecimento por microondas.”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Dialoga com o leitor demonstrando uma preocupação em resgatar a memória da área:
“Embora esta tecnologia seja parte do nosso cotidiano, como ela surgiu?
Quem inventou o microondas? Porque esta técnica despertou um
interesse tão grande na área de síntese orgânica?”
“Os cientistas que trabalhavam como magnétron já sabiam que além da
emissão de microondas também havia a geração de calor, mas foi
Spencer que percebeu que poderia-se usar radiação eletromagnética
para aquecer alimentos. Em 1945, Spencer notou que uma barra de um
doce em seu bolso começou a derreter quando ele ficou em frente a um
tubo de magnétron que estava ligado...”
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 35 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 5 de
publicações nacionais.
114114
ARTIGO 21
DONNICI, Cláudio Luis et al. Métodos sintéticos para preparação de 2,2’-
bipiridinas substituídas. Química Nova, São Paulo, v.25, n.4, p.668-675, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Apresenta os principais métodos sintéticos para obtenção de 2,2’-bipiridinas
substituídas, visando fornecer um guia fundamental sobre a síntese destes compostos
bicíclicos heteroaromáticos nitrogenados. Divulga pesquisa desenvolvida no país.
“O presente artigo mostra os principais métodos sintéticos para
obtenção de 2,2’ – bipiridinas substituídas, visando fornecer um guia
fundamental sobre a sínteses destes compostos bibívlicos
heteroaromáticos nitrogenados...”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões, fórmulas e elementos químicos da área.
“As bipiridinas, ou dipiridinas, são dímeros da piridina que podem ser
obtidos como seis isômeros diferentes...”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 53 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 3 de
publicações nacionais.
115115
ARTIGO 22
SIMPLICIO, Fernanda Ibanez; MAIONCHI, Florângela; HIOKA, Noboru.
Terapia fotodinâmica: aspectos farmacológicos, aplicações e avanços recentes no
desenvolvimento de medicamentos. Química Nova, São Paulo, v.25, n.5, p.801-
807, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Aborda os aspectos farmacológicos e os avanços da terapia fotodinâmica .Divulga
pesquisa desenvolvida no país :
“Esse medicamento produziu um grande impacto nos meios médicos e
testes clínicos indicam sucesso no tratamento de tumores e outras
moléstias.
4,6,9,10
. dessa forma, deseja-se que, num futuro próximo, o
trabalho conjunto de químicos, físicos,médicos, biólogos, bioquímicos,
etc. consiga fazer com que a TFD seja utilizada como técnica rotineira
nos centros médicos do país, permitindo a cura de alguns tipos de
câncer...”
“A TFD com o medicamento Visudyne® já está sendo aplicada no Brasil
através da escola Paulista de Medicina...”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões próprios da área, e coloquial com algumas
explicações que possibilitam o entendimento por parte do leitor não especializado:
“Câncer é a designação genérica de qualquer tumor maligno; a palavra
câncer é derivada do latim e significa caranguejo. O nome é decorrente
da facilidade com que este crustáceo tem de se aderir firmemente em
qualquer lugar, assim como o tumor se adere a um local do corpo
humano.”
Diante dos graves efeitos colaterais e da eficiência limitada das terapias
tradicionais (cirurgia, quimioterapia e radioterapia) outras alternativas
estão sendo constantemente propostas na área de oncologia
(cancerologia). Dentre estas destaca-se a terapia fotodinâmica (TFD)...”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos, e um desenho com legenda em linguagem coloquial
que facilita o entender o processo de infusão da droga no combate ao câncer.
Apresenta 32 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 6 de
publicações nacionais.
116116
ARTIGO 23
CAMPOS, Maria Lúcia A. M.; BENDO, Anderson; VIEL, Fabíola C. Métodos
de baixo custo para purificação de reagentes e controle da contaminação para a
determinação de metais traços em águas naturais. Química Nova, São Paulo,
v.25, n.5, p.808-813, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Relata o uso de métodos de baixo custo no estudo da biogeoquímica de metais traços
e sua especiação química em ambientes aquáticos naturais. Divulga pesquisa
desenvolvida no país.
“...este trabalho vem demonstrar que é possível realizar análises
de metais no nível de traço e ainda avaliar sua especiação química
em amostras de ambientes costeiros e de águas de chuva, em um
laboratório comum, sem mesmo uma bancada de fluxo laminar e
com o mínimo de investimento financeiro.”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões próprios da área, e coloquial com algumas
explicações que possibilitam o entendimento por parte do leitor não especializado:
“A literatura que aborda a prevenção da contaminação e análise
de metais traços, na sua grande maioria se refere ao uso de
laboratórios limpos classe 100 que, portanto, possuem sistemas de
filtração de ar, bancadas de fluxo laminar, superfície especiais,
além de contar com a disponibilidade de reagente ultra-puros;
enfim, condições que não são facilmente encontradas em
laboratórios de pesquisa no Brasil.”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Explica a importância do trabalho:
“Apesar da preocupação com o meio ambiente ter surgido de
modo significativo há apenas poucas décadas, dia após dia, esta
preocupação vem tomando novas dimensões dentro dos mais
diversos setores da sociedade mundial.”
Relata os problemas para o desenvolvimento da pesquisa no país:
O estudo da biogeoquímica de metais traços e sua especiação química
em ambientes aquáticos naturais no Brasil é bastante recente, tendo em
vista a sofisticação de algumas técnicas e o alto custo da
instrumentação e dos reagentes ultra-puros.”
117117
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 20 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 1 de
publicações nacionais
118118
ARTIGO 24
MADUREIRA, Luiz Augusto dos Santos. Compostos orgânicos em sedimentos
marinhos: uma viagem ao fundo do oceano atlântico norte. Química Nova, São
Paulo, v.25, n.5, p. 814-824, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Relato de estudos sobre a composição orgânica de sedimentos marinhos, desenvolvido
como parte do projeto britânico, que tinha como objetivo avaliar o ciclo do carbono
orgânico no Atlântico Norte. Divulga pesquisa desenvolvida no país a partir das
citações bibliográficas .
ESTILO
Linguagem especializada com jargões, fórmulas e elementos químicos da área.
.
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
O trabalho justifica a pesquisa:
Em geral, estudos sobre a composição orgânica de sedimentos
marinhos têm se concentrado em locais próximos aos continentes e
em estuários. Os trabalhos enfocam, por exemplo, a importância que
o registro quantitativo dos compostos orgânicos (normalmente
denominados biomarcadores) tem para estudos sobre produtividade
primária ( biomassa de fitoplâncton), fluxo de material terrestre,
mudanças climáticas e presença de poluentes. Entretanto, devido ao
alto custo dos cruzeiros científicos que são necessários para os
trabalhos em oceanos e pela própria dificuldade de se coletar
amostras em regiões onde a coluna d’ água pode atingir mais de 4000
m de profundidade, poucos trabalhos têm examinado a composição
lipídica da matéria orgânica presente em sedimentos abissais...”
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 80 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 5 de
publicações nacionais.
119119
ARTIGO 25
LIMA, Lídia Moreira ; FRAGA, Carlos Alberto Manssour; BARREIRO, Eliezer
J.. Agentes antiasmáticos modernos: antagonistas de receptores de leucotrienos
cisteínicos. Química Nova, São Paulo, v.25, n.5, p.825-834, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O texto aborda o tratamento da asma brônquica e divulga pesquisa desenvolvida no
país:
“ Neste contexto, vimos estudando em nosso laboratório a obtenção
de um novo candidato a protótipo de fármaco antiasmático,
planejado como agente simbiótico, explorando mecanismo de
ação convergente por inibição da síntese de tromboxana A
2
...”
ESTILO
Linguagem especializada com algumas explicações que ajudam o entendimento por
parte do público leigo.
“A asma representa uma das condições patológicas crônicas de maior
incidência no mundo contemporâneo. Era uma fisiopatologia rara no
início do século, entretanto, sua prevalência em países
industrializados tem crescido assustadoramente...”.
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Justifica a importância de pesquisa no país:
“Dados da Organização Mundial de Saúde revelam que o coeficiente
global de mortalidade por asma no Brasil apresenta uma tendência à
elevação, a partir do início da década de 90, estimando-se média de
2,05 óbitos/ano em cada 100.000 habitantes.”
Apresenta um glossário selecionado de termos presentes no artigo.
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 112 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 2 de
publicação nacional.
120120
ARTIGO 26
ALFAYA, Antonio A S.; KUBOTA, Lauro T. . A utilização de materiais obtidos
pelo processo de sol-gel na construção de biossensores. Química Nova, São Paulo,
v.25, n.5, p. 835-841, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Trata da tecnologia de sol-gel como ferramenta para o desenvolvimento de
biossensores. Divulga pesquisa nacional a partir das citações.
ESTILO
Linguagem especializada com algumas explicações que ajudam o entendimento por
parte do público leigo.
“Devido à crescente necessidade de identificação e quantificação
de metabólitos de forma rápida, específica e em quantidade de
amostras muito pequenas (líquidos corpóreos) no campo da
medicina, ocorreu o desenvolvimento dos biossensores.”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Explica a importância do trabalho:
“O objetivo destes pesquisadores é desenvolver não apenas
biossensores, mas sensores inteligentes que, além de determinar o
analito, possam eliminar substâncias reguladoras na corrente
sangüínea para o controle de cartas doenças, como diabetes.”
“ A tecnologia do sol-gel está provando ser uma ferramenta
altamente eficiente na produção de materiais com as mais
diversas características físico-químicas, para as mais diversas
aplicações analíticas e, principalmente, no desenvolvimento de
biossensores.”
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 99 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 2 de publicação
nacional
121121
ARTIGO 27
FERREIRA,Ernesto Correa; ROSSI, Adriana Vitorino. A quimiluminescência
como ferramenta analítica: do mecanismo a aplicações da reação do luminol em
métodos cinéticos de análise. Química Nova, São Paulo, v.25, n.6, p.1003-1011,
2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O texto trata da reação quimiluminescente do luminol para o desenvolvimento de
aplicações analíticas. Divulga pesquisa desenvolvida no país.
“ Nota-se um número reduzido de trabalhos sobre a utilização da reação
quimiluminescente do luminol em métodos cinéticos de análise com
pouca participação brasileira, embora por exemplo, estejam sendo
desenvolvidos trabalhos nessa linha em nosso laboratório.”
ESTILO
Linguagem especializada com algumas explicações que ajudam o entendimento por
parte do público leigo.
“Quimiluminescência é a produção de radiação luminosa
eletromagnética (inclusive ultravioleta ou infravermelho) por uma
reação química. Quando esta reação é emitida a partir de um sistema
químico presente num organismo ou dele derivado, acaba sendo
conhecida como bioluminescência.”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Traça uma trajetória do desenvolvimento da área:
“Em 1669, o médico H.Brandt, a partir da destilação exaustiva de uréia,
produziu fósforo que, devido a sua oxidação pelo o2 do ar, produzia
quimiluminescência .”
“Avaliando-se a média de publicações anual sobre métodos cinéticos de
análise, nota-se crescimento significativo a partir de 1945, com o máximo
em 1991, quando mais de 80 trabalhos foram publicados.”
“Países como Brasil, Índia, Egito e muitos outros também passaram a
desenvolver pesquisas sobre métodos cinéticos.”
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 74 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 7 de publicação
nacional
122122
ARTIGO 28
PEREIRA, Arnaldo César ; SANTOS, Antonio de Santana; KUBOTA, Lauro
Tatsuo. Tendências em modificação de eletrodos amperométricos para aplicações
eletroanalíticas. Química Nova, São Paulo, v.25, n.6, p.1012-1021, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O texto aborda as diversas maneira de preparar eletrodo quimicamente modificado
(EQM) e suas aplicações. Divulga pesquisa desenvolvida no país, a partir das
citações.
ESTILO
Linguagem especializada com algumas explicações que ajudam o entendimento por
parte do público leigo.
“A denominação eletrodo quimicamente modificado (EQM) foi
inicialmente utilizada na eletroquímica por Murray e colaboradores,
na década de 70, para designar eletrodos com espécies quimicamente
ativas convenientemente imobilizadas na superfície desses
dispositivos.”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Presença de marcas discursivas a partir de adjetivos que ressaltam a importância do
tema:
“Desta forma, a utilização de EQM’a é uma área em franca expansão,
principalmente no aspecto do desenvolvimento de novos materiais e
novos métodos ...”
“ Desta forma avanços tecnológicos na área dos EQM’s encontram
aplicações nas mais variadas áreas de atuação, como por exemplo,
na saúde pública, onde sensores in vivo podem ser usados na
detecção de drogas em situação de emergência: além disso, sensores
sensores com rápida detecção, alta sensibilidade e especificidade são
requisitos importantes em hospitais ou laboratórios satélites. Os
sensores também encontram vasta aplicação nas indústrias de
alimentos...”
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 141 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 5 de
publicações nacionais.
123123
ARTIGO 29
SOUZA, Alexandre Araújo de; LAVERDE Jr.,Antonio. Aplicação da
espectroscopia de ressonância magnética nuclear para estudos de difusão
molecular em líquidos: a técnica DOSY. Química Nova, São Paulo, v.25, n.6,
p.1022-1026, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Apresenta fundamentos da medida de difusão molecular por RMN, discutindo a
técnica DOSY. Divulga pesquisa desenvolvida no país a partir de citações.
ESTILO
Linguagem especializada com jargões, fórmulas, símbolos e elementos químicos .
“A difusão molecular consiste nos movimentos aleatórios(brownianos)
das moléculas, devidos à energia térmica do sistema.
10
Verifica-se,
experimentalmente, que a probabilidade p(x,t)dx do centro de massa de
uma molécula, inicialmente na posição x+dx, bem próxima da inicial,
após o tempo t, é dada pela equação ...”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Apresenta a trajetória da área:
“Medidas de difusão por RMN foram feitas desde a descoberta dos ecos
de spin por Hahn, em 1950. Neste Trabalho pioneiro, vários efeitos sobre
os ecos de spin foram descobertos...”
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 44 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 3 de
publicações nacionais.
124124
ARTIGO 30
BARREIRO, Eliezer J. Estratégia de simplificação molecular no planejamento
racional de fármacos: a descoberta de novo agente cardioativo. Química Nova,
São Paulo, v.25, n.6B, p.1172-1180, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O texto aborda a importância da simplificação molecular no planejamento racional de
fármacos, a partir de produtos naturais, e divulga pesquisa desenvolvida no país.
“Há algum tempo vimos estudando no Laboratório de Avaliação
e Síntese de Substâncias Bioativas (LASSBio) da Faculdade de
Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o
planejamento, a síntese e as propriedades farmacológicas de
novos derivados ...”.
“Neste trabalho ilustrou-se a importância da estratégia da
simplificação molecular no planejamento racional de fármacos, a
partir de produtos naturais ou sintéticos. A utilização desta
estratégia da Química Medicinal permitiu a descoberta do novo
derivado N- acilidrazônico – LASSBio-294 (37)- que, face às suas
importantes propriedades farmacológicas, foi objeto de recente
depósito de patente.”
ESTILO
Linguagem especializada com jargões próprios da área, e coloquial com
representações metafóricas :
“Este processo representou um desafio insuperável durante muito
tempo, começando a ser vencido há ca 30 anos”.
“A conquista do genoma e o desenvolvimento do proteoma, além da
nanotecnologia, representam aspectos recentes do avanço tecnológico
que, certamente , terão enorme
impacto neste processo”.
“Para levar a termo e com sucesso esta missão, a Química Medicinal
dispõe de diversas estratégias de planejamento...”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
O texto explica ao leitor a importância e as dificuldades da pesquisa.:
“O processo de descoberta de novos fármacos, atribuição da Química
Medicinal, caracteriza-se por sua complexidade, frutos da
multiplicidade de fatores que envolvem o planejamento molecular de
novas estruturas capazes de apresentarem os efeitos farmacológicos
desejados...”
125125
Apresenta pesquisas já desenvolvidas resgatando a memória da área:
“Um exemplo clássico é a morfina(5), alcalóide isolado de
Papaver somniferum (Papaverácea) pelo farmacêutico alemão
F.W. A Setümer em 1803. Este fármaco foi o precursor dos
analgésicos da classe da 4-fenilpiperidinas...”
Presença de marcas discursivas a partir de adjetivos que ressaltam a importância do
tema:
“O impacto terapêutico da descoberta da cimetidina (1)3 no
tratamento da úlcera péptica despertou o interesse de outros
laboratórios industriais farmacêuticos...”
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos e presença de representações metafóricas:
“Na figura 1 estão ilustrados também alguns fármacos que poderiam
ser merecedores do título de “fármaco da década”...”
Apresenta 59 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 16 de
publicações nacionais
126126
ARTIGO 31
HYARIC, Mireille Lê; ALMEIDA, Mauro Vieira de; SOUZA, Marcus Vinícius
Nora de. Síntese e reatividade de azaindóis: aplicações na preparação de
moléculas de interesse biológico. Química Nova, São Paulo, v.25, n.6B, p.1165-
1171, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Aborda os métodos sintéticos na preparação dos azaindóis. Divulga pesquisa
desenvolvida no país .
ESTILO
Linguagem especializada com jargões, fórmulas, símbolos e elementos químicos .
“Os azaindóis podem ser considerados como indóis possuindo um
nitrogênio no anel benzênico”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 62 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e nenhuma
publicação nacional.
127127
ARTIGO 32
BENITE, Anna Maria Canavarro; MACHADO, Sérgio de Paula; MACHADO,
Bianca da Cunha. Sideróforos: uma resposta dos microorganismos. Química
Nova, São Paulo, v.25, n.6B, p.1155-1164, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O texto trata do transporte de ferro mediado por sideróforos, suas inúmeras aplicações
e as pesquisas desenvolvidas sobre este tema. Não menciona pesquisa desenvolvida
no país sobre o tema.
ESTILO
Linguagem especializada com algumas explicações que ajudam o entendimento por
parte do público leigo.
“O ferro, elemento de número atômico 26 da tabela periódica, é o
segundo metal (após o alumínio) e o quarto elemento mais abundantes da
crosta terrestre. Todos os organismos vivos necessitam de ferro para seu
crescimento e para realizar trajetórias metabólicas cruciais.”
“A homeostase de ferro é tênue; ambas, deficiência e sobrecarga são
nocivas à saúde. A desordem da homeostase de Fe está entre as doenças
humanas e vegetais mais comuns...”
“A química de coordenação associada aos siderófos, que os torna tão
versáteis do ponto de vista biológico, sugere seu uso potencial como
agente farmacológicos e agroquímicos...”
“O Tratamento da malária, por exemplo, que representa um dos maiores
problemas de saúde do mundo, tem levado ao desenvolvimento de novos
agentes antimalarias.”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Cita estudos desenvolvidos ressaltando a relevância destes trabalhos:
Estudos de Rengel e colaboradores demonstram o sucesso do uso de
sideróforos como biofertilizantes, visando aumentar a concentração de
micronutrientes em grãos destinados ao consumo humano,
principalmente os mais importantes na cadeia alimentar”
Apresenta um resgate da memória ao traçar uma trajetória do desenvolvimento
destes estudos :
“Em 1911, Neilands e Pollock descobriram que toda micobactéria
necessitava de uma “substância essencial” que era vital ao seu
crescimento.”
128128
Presença de marcas discursivas a partir de adjetivos que ressaltam a importância do
tema
“ Devido à grande aplicabilidade destes quelantes naturais, pesquisadores do mundo
todo têm voltado seus esforços no intuito de elucidar o mecanismo de absorção do ferro
por sideróforos”
Os recursos ilustrativos são em sua maioria em linguagem especializada com gráficos
e tabelas, porém, encontramos uma ilustração com desenhos sobre a atividade de ferro
nos tecidos humanos.
Apresenta 53 referências bibliográficas de publicações estrangeiras.
129129
ARTIGO 33
SANTOS, Nuno C.; CASTANHO, Miguel. A. R.B. Lipossomas: a bala mágica
acertou? Química Nova, São Paulo, v.25, n.6B, p.1181-1185, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Aborda o desenvolvimento dos lipossomas e sua importância na área médica e
farmacológica. Não divulga pesquisa desenvolvida no Brasil
ESTILO
Linguagem especializada com algumas explicações que ajudam o entendimento por
parte do público leigo.
“Ao longo dos tempos, a utilização da maioria dos compostos
terapêuticos tem sido sempre limitada pela impossibilidade de
aumento da sua dosagem.A retenção ou degradação do agente
terapêutico, baixa solubilidade e ,em especial, os efeitos colaterais
perniciosos inerentes à sua utilização em concentrações elevadas,
tornam muitas vezes difícil a utilização da dosagem necessária
para que este cumpra a sua função.”
“Os lipossomas são um caso flagrante de um sistema que teve
uma passagem extremamente rápida do campo da investigação
para aplicação comercial ( especialmente na área cosmética)...”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Explica como surgiu a metáfora da bala mágica:
“A primeira proposta de um sistema direccionado de transporte de
fármacos data do início do séculoXX, quando Paul Ehrlich propôs o seu
modelo, que ficou conhecido por “Bala Mágica de Ehrlich”...
Ilustrações em linguagem especializada, com jargões próprios da área, fórmulas,
símbolos e elementos químicos.
Apresenta 79 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 1 de publicação
nacional.
130130
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA
131131
ARTIGO 1
PEREIRA, Rita de Cássia Campos Pereira; MACHADO, Andréa Horta;
SILVA, Glaura Goulart. (Re) conhecendo o pet. Química Nova na Escola, São
Paulo, n.15, p.3-5, maio 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Tem por objetivo oferecer ao professor um material de apoio a abordagem de questões
ambientais em aulas de química. O tema escolhido foi a embalagem de refrigerante
conhecida como PET. No artigo discute-se a relação entre a constituição e as
propriedades desse material e seu uso crescente. Menciona o Brasil mas não relaciona
a pesquisa nacional com o tema:
“No Brasil, o material foi introduzido na década de 60 e seguiu a mesma
trajetória do restante do mundo, sendo utilizado primeiro na indústria de
tecido.”
ESTILO
Linguagem coloquial com presença de argumentos persuasivos a partir do diálogo na
1
a
pessoa do plural.
“Podemos observar em nosso cotidiano, que boa parte dos materiais
usados em residências, hospitais, escolas, comércio et. vem sendo
substituída por materiais plásticos.”
“Mas será que o PET é usado somente como embalagem de refrigerante?
Seríamos capazes de entrar em um supermercado, ou até mesmo em
nossas casas, e identificarmos se uma embalagem plástica é do tipo PET
ou não?”
“...em 1994 a ABNT( Associação Brasileira de Normas Técnicas)
determinou que cada tipo de plástico recebesse uma numeração
específica e que esse número viesse dentro do triângulo que simboliza
reciclagem. As embalagens PET são identificadas pelo número 1.”
Faz uma acomodação da linguagem científica, com uso de representações
metafóricas, para explicar com é produzido o PET:
“O PET é obtido industrialmente a partir de transformações químicas
especiais chamadas reações de polimerização. Numa reação de
polimerização, moléculas menores (monômeros) reagem e formam
moléculas bem maiores.”
132132
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Preocupa-se em resgatar a memória sobre o assunto:
“A primeira amostra de PET foi desenvolvida em 1941. As pesquisas
para aplicação desse material tiveram seu auge somente após a Segunda
Grande Guerra, no anos 50, em laboratórios dos EUA e Europa.”
Demonstra preocupação com a sociedade da qual ele(autor) também faz parte:
“Não podemos esquecer que os materiais do tipo PET são 100%
recicláveis!A coleta seletiva e a classificação do lixo plástico são pontos de
estrangulamento para a reciclagem .”
Ilustrações com figuras e tabelas em linguagem coloquial, a partir de termos que
fazem parte do cotidiano da sociedade de modo geral, e uma ilustração em linguagem
especializada de uma representação química de um reagente .
As 4 (quatro) referências bibliográficas citadas são de publicações nacionais.
133133
ARTIGO 2
GUGLIOTTI, Marcos. A química do corpo humano: tensão superficial nos
pulmões. Química Nova na Escola, São Paulo, n.16, p.3-5, novembro 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Utiliza o mecanismo de ação do surfactante pulmonar como exemplo para a
introdução dos conceitos de tensão superficial e surfactantes.O texto é uma adaptação
do texto premiado em 2º lugar na “International Young Chemistry Writer of the
Year- Competition 2000”. Não divulga pesquisa desenvolvida no país.
ESTILO
Linguagem coloquial com presença de argumentos persuasivos a partir de
representações metafóricas:
“ Analisando
cuidadosamente o funcionamento do corpo humano, vemos
que há tantas reações químicas ocorrendo ao mesmo tempo que ele
poderia ser comparado a uma indústria química!
“Em todos esse casos, os estudos sobre Química de Superfície são
importantes, na esperança de que químicos e bioquímicos possam
encontrar a chave para o mecanismo de ação do surfactante pulmonar
Dialoga com o leitor na 1
a
pessoa do plural :
“Vamos tomar como exemplo a interface ar-água.”
“Para resolver este problema nosso corpo utiliza um truque interessante.”
“Mas, o que são os surfactantes, e como essas moléculas diminuem a
tensão superficial dos líquidos?”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Explica o significado do termo científico:
“ A palavra “surfactante” é a contração da expressão em inglês “surface
active agents” ( agentes de atividade superficial) e é empregada devido à
capacidade das moléculas de fosfolipídios de reduzir a tensão interfacial
das paredes dos alvéolos para valores baixos, facilitando a difusão de O
2
.
“Essa doença é conhecida por Síndrome do desconforto Respiratório
(SDR), que afeta principalmente bebês prematuros e , em muitos casos, é
fatal.”
134134
Apresenta a trajetória da área ao leitor:
Em 1917, muito antes da descoberta da real função do surfactante
pulmonar, em 1955 (Pattle), o engenheiro metalúrgico chamado Irving
Langmuir, ganhador do prêmio Nobel de Química em 1932, construiu
um instrumento conhecido atualmente por balança de Langmuir”
Ilustrações com desenhos em linguagem coloquial utilizando um vocabulário mas
próximo da cotidiano para explicar as representações químicas.
Entre as 7 referências bibliográficas 4 são de publicações nacionais.
135135
ARTIGO 3
FARIAS, Robson Fernandes de. A química do tempo: carbono-14. Química Nova
na Escola, São Paulo, n.16, p.6-8, maio 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
Resume os princípios e fundamentos da técnica de datação de objetos através de
medidas de decaimento radioativo do isótopo com número de massa 14 do carbono.
Não divulga pesquisas nacionais.
ESTILO
Linguagem coloquial , dialogando com o leitor na 1
a
pessoa do plural
“Uma vez que o tempo de vida do carbono-14 é de “apenas” 5.730 anos,
seria válido perguntarmos como ainda existe algum carbono –14 presente
na Terra...”
Utilizando representações metafóricas:
“Ou seja, é como se , uma vez morto o organismo vivo, um cronômetro
fosse disparado.”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Apresenta um exemplo que possibilita perceber a importância do tema para
sociedade:
Em 1998, o chamado “Sudário de Turim”, supostamente o santo
sudário (ver figuras), o manto que teria sido utilizado para cobrir o corpo
de Cristo após a crucificação, foi analisado através da técnica do isótopo
com número de massa 14 do carbono... Os resultados mostraram que o
linho utilizado na confecção do sudário cresceu entre os anos de 1260 e
1390. assim, ficou demonstrado que o Sudário de Turim não podia ser o
santo sudário...”
Explica as limitações da pesquisa:
“ A técnica de datação através do carbono-14 tem, contudo, suas
limitações.”
Presença de marcas discursivas a partir de adjetivos que ressaltam a importância do
tema:
Introdução: “...bem como sua importância para a sociedade, como técnica de
grande utilidade na pesquisa ...”
Ilustrações com fotos com legendas em linguagem coloquial.
Apresenta 9 referências bibliográficas de publicações estrangeiras e 1 de publicação
nacional
136136
SUPERINTERESSANTE
137137
ARTIGO 1
PAIVA, Uilson. Império do sal. Superinteressante, São Paulo:Abril, n.180, p.72-
75, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O artigo aborda o papel do sal na sociedade e sua importância histórica para o
desenvolvimento econômico. Divulga pesquisa desenvolvida no país.
“Pesquisas recentes, algumas delas feitas no Brasil, empregam soluções
salinas ainda mais concentradas que o soro nos momentos seguintes à
internação de quem perdeu muito sangue. Cientistas da Universidade de
São Paulo (USP) e do Instituto do Coração de São Paulo descobriram que
o “salgadão”, como é chamado esse supersoro, controla arritmias
cardíacas e reduz as lesões por falta de oxigênio no cérebro”.
ESTILO
Linguagem coloquial com presença de argumentos persuasivos e representações
metafóricas.
“...essa substância que hoje temos fartamente à disposição foi um dos
mais desejados da história humana.”
“O Sal e o poder”
“Além de cair bem ao nosso paladar, o sal é uma necessidade vital.”
“ Por um mistério da fisiologia humana, ninguém sente um incontrolável
desejo por sal. A carência, pode até matar, manifesta-se em dores de
cabeça, fraqueza e náusea.”
“Sem ele, adeus a vida”
“Apesar de encher os oceanos, brotar de nascentes e rechear camadas
subterrâneas, o sal já foi motivo de uma verdadeira obsessão...”
“...a deficiência de sal não dá aviso claro - como a falta de comida, que
causa fome.”
“Não há melhor comida que vegetais salgados” diz um papiro achado no
Egito.”
“Os chineses foram os primeiro a encarar a produção de sal...”
“Essa técnica se espalharia pelo mundo ocidental...”
“Hoje pode ser até o caso do sal, que dificilmente freqüenta um bate-
papo num boteco ou num restaurante três estrelas. Mas uma coisa é
certa: sem ele, o mundo teria bem menos graça. Seria assim...meio “sem
sal”
138138
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Divulga uma publicação estrangeira e cita em vários trechos o autor do livro:
“Em todas as sociedades o sal ganhou um valor que excedia em muito o
contido em suas propriedades naturais”, escreve o jornalista e ex-chef de
cozinha americano Mark Kurlansky no livro Salt – A World History (
Sal – uma história do mundo, ainda inédito no Brasil) uma bem
temperada análise da influência dessa substância na trajetória da raça
humana.”
“Nem sempre se valoriza o que realmente faz diferença no dia-a dia”, diz
Mark Kurlansky.
.
Presença de marcas discursivas que ressaltam o poder da ciência:
“...isso só seria revelado pela moderna geologia...”
“A arqueologia revela...”
Ilustrações com fotos coloridas:
A foto da primeira página do artigo é representada por mãos que seguram o sal como
uma substância rara, transmitindo a imagem de algo precioso. A legenda é:
“Ele já foi um artigo precioso, motivou guerras, ergueu impérios e estimulou o comércio
entre os povos. Hoje, tempera - e salva- nossas vidas.”
A segunda foto mostra as salinas da Califórnia, transmitindo a idéia de imensidão e
poder do sal. A legenda é:
“ Salina na Califórnia: metade do sal americano é usado para derreter neve nas
estradas.”
Apresenta 1 (uma) referência bibliográfica de publicação estrangeira.
139139
ARTIGO 2
KENSKI, Rafael. Que mistura. Superinteressante, São Paulo:Abril, n.181, p.78-
82, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O artigo aborda curiosidades históricas relacionadas a química. Não divulga pesquisa
desenvolvida no país.
ESTILO
Linguagem coloquial com presença de argumentos persuasivos e representações
metafóricas.
“Manipulando os diferentes elementos , o homem consegue – muitas
vezes por acaso – formular remédios, melhorar alimentos e descobrir
como a natureza funciona. Também faz coisas fantásticas como
transformar pessoas em zumbis ou urina em palitos de fósforo.”
“ Terror químico”
“O ser humano , por exemplo, é um amontoado de carbono, oxigênio,
hidrogênio e outros 18 elementos.”
“A urina foi responsável por uma revolução ainda maior na química. Até
o século XIX, acreditava-se que todos os materiais se dividiam em duas
categorias: os inorgânicos, como rochas e metais, e os orgânicos, que
eram produzidas por seres vivos e, segundo a crença da época, possuíam
forças vitais que os tornavam impossíveis de serem copiados. Essa idéia
caiu por terra em 1828...””
“A teoria da “força vital” estava derrubada”
“Repor cálcio é importante, não importa a fonte pode ser desde pérolas
até pedaços de giz. É mais fácil, no entanto, ingerir laticínios, vegetais
como o brócolis e sucos.”
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Dialoga com o leitor:
“Lembre-se disso na próxima vez que for ao banheiro”
Presença de marcas discursivas que ressaltam o poder da ciência:
“...a química pode explicar o fenômeno...”
140140
“ Tudo é composto por substâncias química.”
Ilustrações com desenho coloridos:
O primeiro desenho é uma charge de Napoleão com uma caneca atrás de uma vaca e
ao fundo os soldados em guerra. A legenda do desenho é:
“Exércitos da época de Napoleão tiravam das fezes de animais os ingredientes para
fazer pólvora.”
O segundo desenho é a figura de uma diabo urinando num vaso sanitário e a legenda
é:
“O elemento fósforo foi descoberto por acidente quando um cientista alemão destilou
urina e a viu pegar fogo.”
O terceiro desenho é de duas pessoas com aparência de monstros, uma está deitada
num sofá, e a outra está ao seu lado de pé, abanando-a com um leque. E a legenda é:
“Praticantes de vodu acreditam que as pessoas podem virar zumbis. A
explicação está em algumas poções”.
O quarto desenho é de um cozinheiro em uma cozinha que lembra um laboratório de
química, a legenda é:
“ A química ajuda a preparar refeições melhores e também explica por que
alguns alimentos são tão gostosos.”
Citação de cientistas estrangeiros:
“É impossível ignorar a química porque ela está presente em
todas as nossas atividades, das comidas que fazemos até o banho
que tomamos”, afirma o químico Joe Schwarcz, da Universidade
McGill, Canadá.”
Apresenta 2 (duas) referências bibliográficas de publicações estrangeiras.
141141
SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL
142142
ARTIGO 1
ILLY, Ernesto. A saborosa complexidade do café. Scientific American Brasil, São
Paulo:Duetto; Ediouro, v.1, n.2, p.48-53, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O texto aborda os aspectos químicos, tecnológicos e históricos do café. Não divulga
pesquisa desenvolvida no país.
ESTILO
Linguagem coloquial com presença de argumentos persuasivos e representações
metafóricas.
Ressalta a sedução do café:
“ Como prazer sensorial, poucas experiências cotidianas podem competir
com uma deliciosa xícara de café.”
“ Essa xicarazinha de louça cheia até a metade, com uma infusão escura e
opaca coberta por uma espuma marro-avermelhada, aveludadamente
espessa, chamada creme. Formado por minúsculas bolhas de gás
envolvidas por uma fina película, o creme retém os sabores e aromas
característicos do café...”
E representações metafóricas:
“O aroma sedutor do café quente e fresco é capaz de tirar dorminhocos
da cama e atrair pedestres para bares, padarias e cafeterias. Milhões de
pessoas, em todo o mundo, teriam dificuldade em atravessar um dia
inteiro sem o choque de clareza mental da cafeína do café.”
Imagine ouvir a gravação de um coral de 800 cantores que inclua as
fortes vozes solo de Jessy Norman, Luciano Pavarotti e outras virtuoses
que tendem a dominar o conjunto. Se o volume do play-back for
reduzido, as vozes mais fortes ainda seriam reconhecíveis, mesmo com o
som do coral diminuindo. A diluição do aroma do café é análoga: depois
de um determinado ponto, apenas os compostos mais fortes são
percebidos.”
Apesar da linguagem coloquial e das metáforas utilizadas pelo autor, o texto é
complexo para o leitor não especializado:
“O resultado final é um sistema polifásico coloidal, onde moléculas de
água são ligadas às bolhas de gás, às gotículas de óleo e a fragmentos
sólidos dispersos, todos eles de tamanho inferior a cinco mícrons. O
caráter coloidal da dispersão dá à bebida alta densidade, alta viscosidade
e baixa tensão superficial. Assim, o expresso recobre visivelmente nossa
língua e continua a soltar os voláteis aromáticos dissolvidos nos óleos
emulsificados enquanto permanecer nela.”
143143
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Se reporta várias vezes ao trabalho desenvolvido na empresa Illycaffè, de Trieste, na
Itália, da qual o autor do artigo é o presidente.
“Nos laboratórios da illycaffè, os técnicos se concentram nos odorantes
mais fortes...”
Presença de marcas discursivas que ressaltam o poder da ciência:
“...há uma enorme complexidade química...”
“ A ciência do aroma é extremamente complexa...”
Ilustrações com fotos coloridas:
A primeira foto ocupa uma página e traz uma xícara com café pronto para ser
bebido.
A segunda foto mostra uma máquina de café expresso.
A terceira foto apresenta o café em grãos e moído.
E figuras:
A primeira figura apresenta um corte ampliado da espuma que cobre o café
expresso.
A segunda apresenta o gráfico :
Composição Química Cumulativa do expresso com Tempo de Extração Crescente
A terceira apresenta outro gráfico:
Composição Química do Café Arábica Natural e Torrado (% de matéria seca)
Apresenta 5 referências bibliográficas de publicações estrangeiras.
144144
ARTIGO 2
REGIS, Rachel. Radiofármacos: reverte imagem negativa da energia nuclear.
Scientific American Brasil, São Paulo: Duetto; Ediouro, v.1, n.5, p.38-43, 2002.
CONTEÚDO TEMÁTICO
O artigo apresenta as pesquisas desenvolvidas pelo Instituto de Pesquisas Energéticas
e Nucleares - IPEN, e destaca sua importância para o país.
“Todos esses – e outros – compostos marcados com radioisótopos já
existem em alguns dos mais importantes centros de pesquisa do mundo e
são produzidos no Brasil por equipes de pesquisadores do Instituto de
Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo.”
“Para um observador eventual, é difícil entender como um órgão estatal
como o Ipen é capaz de desenvolver e produzir radiofármacos de
tecnologia avançada, em princípio, ao alcance de uns poucos laboratórios
particulares dos Estados Unidos, Inglaterra e Bélgica ( no caso de Iodo
125, o Brasil foi o terceiro país a conquistar a tecnologia necessária).”
ESTILO
Linguagem coloquial com presença de argumentos persuasivos a partir de valores
positivos.
Aplicações para detecção e eliminação de tumores crescem 10% ao ano
e já beneficiam quase 2 milhões de pessoas no Brasil.”
“ Desde 1997, quando o Ipen passou a produzir os fios de Irídio, não se
recorreu a importações.”
““Há pacientes que voltam a caminhar com a aplicação de Samário-153”,
conta Constância Pagano.”
Não apresenta referências bibliográficas, mas cita vários pesquisadores
brasileiros em toda matéria.
O artigo dialoga utilizando o imperativo:
“Imagine um fármaco que , injetado no corpo humano, identifica com
rapidez qualquer foco de tumor...”
“Pense numa radioterapia que, em vez de ser aplicada por grandes
bombas, é feita por um elemento radiotivo microscópico...”
“Calcule o que pode encontrar um anticorpo monoclonal...”
145145
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Presença de marcas discursivas que ressaltam o poder da ciência:
“Outras pesquisas do Ipen acenam com produtos revolucionários......”
“A explicação está no empenho dos pesquisadores e técnicos, que
combinam conhecimento, criatividade e ousadia para aventurar-se no
desconhecido
Ilustração com fotos coloridas:
A primeira foto é do interior de um reator e ocupa toda primeira página do artigo .
A segunda foto mostra uma embalagem do radiofármaco samário, a legenda:
Embalagem do radiofármaco samário: Atendimento com radiofármaco no Brasil cresce
10%ano.
A terceira foto é do gerador de tecnécio – 99M, a legenda:
Gerador de tecnécio – 99M. Ipen 21 produtos radioativos e 15 tipos de reagentes
liofilizados, com faturamento de R$25 milhões por ano.
A quarta foto é da sala de controle do Ciclotron, a lengenda :
Ciclotron, este ano 2 milhões de pessoas atendidas em 278 hospitais e clínicas com
produtos desenvolvidos no Ipen.
A quinta foto é do Ciclotron, a legenda :
Ciclotron, o acelerador de partículas utilizado para produzir radioisótopos coloca o
Brasil na tecnologia de ponta nesta área.
A sexta e última foto mostra uma cela blindada para produção de Gálio-67, a legenda
:
Cela blindada para produção de Gálio-67 radiofármaco utilizado para detecção de focos
e tumores em tecidos moles.
Não apresenta referências bibliográficas , porém, menciona cientistas brasileiros em
todo corpo do texto.
146146
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