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1
LINDA DÉLIA CARVALHO DE OLIVEIRA PEDROSA
Avaliação da qualidade das informações
oficiais sobre óbitos neonatais precoces
em Maceió - Alagoas
Recife
2005
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LINDA DÉLIA CARVALHO DE OLIVEIRA PEDROSA
Avaliação da qualidade das informações
oficiais sobre óbitos neonatais precoces
em Maceió - Alagoas
Dissertação apresentada ao Colegiado do Curso de Mestrado em
Saúde da Criança e do Adolescente do Departamento Materno
Infantil do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal
de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente.
Orientadora:
Prof
a
Dra. Sílvia Wanick Sarinho
RECIFE
2005
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Pedrosa, Linda Délia Carvalho de Oliveira
Avaliação da qualidade das informações oficiais
sobre óbitos neonatais precoces em Maceió -
Alagoas / Linda Délia Carvalho de Oliveira Pedrosa. –
Recife : O Autor, 2005.
xvi, 121 folhas : il., fig., tab., quadros.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal
de Pernambuco. CCS. Saúde da Criança e do
Adolescente, 2005.
Inclui bibliografia e anexos.
1. Saúde da criança – Mortalidade neonatal. 2.
Óbitos neonatais – Sistema de informação de
mortalidade – Qualidade do sistema. 3. Causa básica
de óbito – Critérios de evitabilidade. I. Título.
616-053.2 CDU (2.ed.) UFPE
618.9201 CDD (22.ed.) BC2005-384
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
REITOR
Prof. Dr. Amaro Henrique Pessoa Lins
VICE-REITOR
Prof. Dr. Gilson Edmar Gonçalves e Silva
PRÓ-REITOR DA PÓS-GRADUAÇÃO
Prof. Dr. Celso Pinto de Melo
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DIRETOR
Prof. Dr. José Thadeu Pinheiro
COORDENADOR DA COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO CCS
Profa. Dra. Gisélia Alves Pontes da Silva
DEPARTAMENTO DE MATERNO INFANTIL
CHEFE
Prof. Salvio Freire
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
COLEGIADO
Profa. Dra. Marília de Carvalho Lima (Coordenadora)
Profa. Dra. Sônia Bechara Coutinho (Vice-Coordenadora)
Profa. Dra. Gisélia Alves Pontes da Silva
Profa. Dra. Emília Pessoa Perez
Prof. Dr. Pedro Israel Cabral de Lira
Prof. Dr. Ricardo Arraes de Alencar Ximenes
Profa. Dra. Mônica Maria Osório de Cerqueira
Prof. Dr. Emanuel Savio Cavalcanti Sarinho
Profa. Dra. Sílvia Wanick Sarinho
Profa. Dra. Maria Clara Albuquerque
Profa. Dra. Sophie Helena Eickmann
Profa. Dra. Ana Cláudia Vasconcelos Martins de Souza Lima
Prof. Dr. Alcides da Silva Diniz
Profa. Dra. Luciane Soares de Lima
Profa Dra. Maria Gorete Lucena de Vasconcelos
Nilton César Nogueira dos Santos (Representante discente)
SECRETARIA
Paulo Sergio Oliveira do Nascimento
iii
iv
Dedicatória
Ao Fernando, meu querido esposo
e aos meus amados filhos: Fernanda, Isabela e Flavio
fontes de luz à minha vida.
Ao meu pai Geraldo, médico dedicado
que me ensinou o respeito aos pacientes e a ética médica.
A minha mãe Eli, exemplo de dedicação à família.
Aos meus pacientes,
motivo de empenho e dedicação ao trabalho.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Agradecimentos
v
Agradecimentos
Sempre nos arriscamos a esquecer alguém especial, quando nos
achamos no direito de lembrar de agradecer a todos. Tentarei não omitir ninguém,
mas poderei pecar e aos não lembrados, não pensem que os esqueci
propositalmente, mas com o passar dos anos, nossa memória prega peças.
Agradeço ao meu esposo Fernando, companheiro de vida, jornadas e
de estudos, pela dedicação, carinho, respeito e estímulo, pela ajuda nas infinitas
correções e discussões tão ricas e pelos ensinamentos e presença constantes.
Aos meus filhos, Fernanda, Isabela e Flavio pela paciência em conviver
com a pós-graduação, compreensão do significado de um momento profissional e
pessoal tão importante, por superarem as ausências constantes e pelo carinho e
ajuda no dia-a-dia.
A minha mãe e irmãos que privei do meu convívio mais freqüente,
agradeço por contar sempre com o apoio e amor.
A Iá e Marlene, pela ajuda nas tarefas domésticas, garantia de
tranqüilidade.
A Magnífica Reitora da Universidade Federal de Alagoas, Profa. Ana
Dayse Resende Dória e ao Prof. João Macário de Omena Filho, Diretor do Hospital
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Agradecimentos
vi
Universitário Prof. Alberto Antunes pelo apoio e incentivo recebidos para a
realização do Curso de Mestrado.
Aos colegas professores e médicos plantonistas do Hospital
Universitário Prof. Alberto Antunes (UFAL), agradeço a cooperação na realização
desta pesquisa, em especial a amiga Dra. Manuelina de Albuquerque Rocha
Ordonha, neonatologista dedicada que com sua perspicácia, senso clínico e
tranqüilidade foi uma companheira de pesquisa impar, colaborando com sugestões,
opiniões, críticas e na realização da pesquisa de campo.
Aos colegas do Departamento de Pediatria da Escola de Ciências
Médicas de Alagoas, UNCISAL, agradeço o incentivo recebido.
Aos colegas das UTI NEO e Pediátrica do Hospital UNIMED, Maceió,
pela contribuição nas trocas de plantões, de idéias, sugestões, críticas e incentivo de
todos.
Aos diretores e funcionários dos arquivos médicos dos hospitais que
participaram da pesquisa nas pessoas da Dra. Neide da Maternidade Escola Santa
Mônica e ao Sr. Gilson do Hospital Universitário/UFAL, agradeço a gentil acolhida e
disponibilidade em cooperar na coleta de informações.
A Diretora do Departamento de Defesa à Saúde da Secretaria
Municipal de Saúde de Maceió, Dra. Audinei Loureiro Cavalcante, e em especial aos
funcionários: Arachele Loureiro Cavalcante Medeiros, Renata Barros Domingos,
Marta Varallo, José Cícero Luís da Silva e Sandra Cristina Gomes pela atenção,
disponibilidade e auxílio indispensáveis ao manuseio dos bancos de dados do SIM.
As Dras. Ligia Carmem, Suely e Madalena Rosa pelo apoio e
orientação recebidos no Núcleo de Epidemiologia do IMIP, sempre disponíveis a
ensinar e esclarecer dúvidas.
A Wasty e Rosina agradeço pelo competente trabalho de codificação.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Agradecimentos
vii
Ao Bibliotecário Gustavo Nascimento pelo apoio importante na
organização bibliográfica.
À Dra. Silvia Sarinho, orientadora desta pesquisa, pela amizade,
respeito, atenção e dedicação na difícil arte de orientar, dosando exigência e
paciência.
Ao Dr. Ricardo Ximenes pela orientação indispensável na
epidemiologia e análise estatística.
Aos colegas de Mestrado, pela acolhida e carinho recebidos e em
especial a amiga Claudia Fonseca, por dividir alegrias, preocupações e os primeiros
passos em pesquisa.
Aos Coordenadores, Professores e ao Secretário Paulo Sérgio do
Mestrado em Saúde da Criança e do Adolescente do CCS/UFPE, pela amizade,
orientação e incentivo sempre presentes.
Muito obrigada a todos.
viii
As aparências para a mente são de quatro tipos.
As coisas ou são o que parecem ser,
ou não são, nem parecem ser;
ou são e não parecem ser;
ou não são, mas parecem ser.
Posicionar-se corretamente frente a todos esses casos
é a tarefa dos sábios.
Epictetus, século II d.C
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Sumário
ix
Sumário
Pág.
LISTA DE QUADROS E TABELAS .......................................................... xi
RESUMO ....................................................................................................... xiii
ABSTRACT .................................................................................................... xv
1 – INTRODUÇÃO.......................................................................................... 01
1.1 Referências Bibliográficas .............................................................
06
2 – MÉTODO E LIMITAÇÕES METODOLÓGICAS....................................... 10
2.1 Desenho de estudo.............................................................................
11
2.2 Operacionalização da pesquisa........................................................
12
2.2.1 – Espaço do estudo....................................................................
12
2.2.2 – População do Estudo..............................................................
13
2.2.3 – Tipo de Amostragem e tamanho da Amostra.........................
13
2.3 Definição das Variáveis e coleta de dados....................................
14
2.3.1 – Operacionalização e categorização das variáveis.................
14
2.3.2 – Critérios de Inclusão.................................................................
17
2.3.3 – Critérios de Exclusão...............................................................
17
2.3.4 – Métodos de coleta e processamento de dados........................
18
2.3.5 – Qualidade dos Instrumentos de Medida...................................
22
2.3.6 – Padronização das Técnicas.....................................................
23
2.4 Plano de Tabulação e Análise dos Dados.......................................
23
2.5 Limitações Metodológicas do Estudo.............................................
25
2.6 Referências Bibliográficas................................................................
26
3 – ARTIGO DE REVISÃO I ....................................................................... 29
Óbitos neonatais: Como e por que pesquisar ? ..............................
30
Resumo ..................................................................................................
30
Abstract ..................................................................................................
31
3.1 Introdução ........................................................................................
31
3.2 Por que é importante informar? ....................................................
32
3.3 Como e onde obter informações acerca de óbitos neonatais ...
36
3.4 Considerações finais ..................................................................
42
3.5 Referências Bibliográficas ..........................................................
42
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Sumário
x
Pág.
4 – ARTIGO DE REVISÃO II ....................................................................... 49
Causas básicas de óbitos neonatais no Brasil: conhecer para
prevenir ..................................................................................................
50
Resumo ..................................................................................................
50
Abstract ..................................................................................................
51
4.1 Introdução ........................................................................................
51
4.2 A análise dos óbitos por causa ......................................................
52
4.3 Importância dos óbitos neonatais ................................................
54
4.4 Sistemas de classificação de óbitos – a ótica da prevenção .....
55
4.5 As causas básicas de óbito neonatal no Brasil ...........................
58
4.6 Onde falham os Sistemas de Informações de óbitos neonatais ?
60
4.7 Considerações finais .....................................................................
62
4.8 Referências Bibliográficas ............................................................
63
5 – ARTIGO ORIGINAL I ............................................................................. 70
Avaliação da qualidade do preenchimento das declarações de
óbito neonatal em Maceió – Alagoas ...................................................
71
Resumo ..................................................................................................
71
Abstract ..................................................................................................
73
5.1 Introdução ........................................................................................
74
5.2 Material e Método .........................................................................
75
5.3 Resultados ......................................................................................
77
5.4 Discussão ........................................................................................
81
5.5 Considerações finais e Recomendações ..................................
85
5.6 Referências Bibliográficas .............................................................
86
6 – ARTIGO ORIGINAL II ........................................................................... 90
Mortalidade evitável e avaliação da confiabilidade e validade da
causa básica de óbitos neonatais em Maceió, Alagoas ...................
91
Resumo ..................................................................................................
91
Abstract ..................................................................................................
92
6.1 Introdução ........................................................................................
93
6.2 Material e Método .........................................................................
95
6.3 Resultados ......................................................................................
98
6.4 Discussão ........................................................................................
105
6.5 Considerações finais ..................................................................
110
6.6 Referências Bibliográficas .............................................................
111
7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES 115
8 – ANEXOS 121
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Lista de Figuras,Quadros e Tabelas
xi
Lista de Figuras,Quadros e Tabelas
Método e Limitações Metodológicas
Pág.
Tabela 1.
Distribuição de óbitos menor de 1 ano, neonatal e neonatal
precoce em Alagoas e Maceió, por município de ocorrência e
residência, 2001-2002.............................................................
15
Figura – 1
Limpeza de Banco de Dados.................................................... 21
Quadro – 1
Classificação Fundação SEADE modificada (Ortiz, 1999).......
24
Quadro - 2
Classificação de Wigglesworth modificada (Keeling, 1989).....
24
Tabela - 2
Análise comparativa das características dos óbitos neonatais
precoces estudados através de prontuários e das perdas,
segundo as variáveis categorizadas, em Maceió, 2001-2002. 26
Artigo de Revisão II
Pág.
Quadro - 1
Classificação Fundação SEADE modificada (Ortiz, 1999)......... 56
Quadro - 2
Classificação de Wigglesworth modificada (Keeling, 1989)..... 57
Quadro - 3
Distribuição dos óbitos neonatais precoces por causas, em
diferentes estudos realizados no Brasil. ...................................
59
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Lista de Figuras,Quadros e Tabelas
xii
Artigo Original I
Pág.
Figura – 1
Limpeza de Banco de Dados ....................................................
78
Tabela – 1
Distribuição da freqüência de preenchimento das variáveis:
peso ao nascer, sexo, idade no óbito, idade da mãe e tipo de
parto, e resgate das variáveis em branco nos prontuários, em
óbitos neonatais precoces, em Maceió, 2001-2002. .................
80
Tabela – 2
Concordância em variáveis selecionadas entre e os
prontuários hospitalares e DO Oficial, nas declarações de
óbitos neonatais precoces, em Maceió, 2001-2002. .................
81
Tabela – 3
Concordância para variáveis selecionadas entre os prontuários
e o SIM, nas declarações de óbitos neonatais precoces, em
Maceió, 2001-2002. .................................................................
81
Artigo Original II
Pág.
Tabela – 1
Distribuição das causas básicas de óbitos neonatais por
grupos de doenças, em declarações refeitas, declarações
oficias e SIM, em Maceió, Alagoas, de 2001-2002. ..................
100
Tabela - 2
Concordância entre agrupamentos de causas básicas de
óbitos neonatais entre prontuários (CB-AP) DO oficial (CB-OF)
e SIM (CB-SIM), em Maceió/Al, 2001-2002................................
102
Tabela - 3
Freqüência das principais causas básicas (4 dígitos) de óbitos
neonatais precoces e percentual de diferenças entre DO
refeita, DO Oficial e SIM em Maceió/Al, 2001-2002...................
103
Tabela - 4
Distribuição dos óbitos neonatais precoces, de acordo com a
Classificação da Fundação SEADE comparando as DO
refeitas, DO Oficial e SIM, com e sem estratificação de peso
ao nascer, em Maceió - Al, 2001-2002.......................................
104
Tabela - 5
Distribuição dos Óbitos Neonatais Precoces em Maceió, 2001-
2002, pela Classificação de Wigglesworth e de acordo com o
peso ao nascer, assistência em UTI, idade gestacional e idade
no óbito.......................................................................................
105
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Resumo
xiii
Resumo
Principal componente da Mortalidade Infantil (MI) em vários países do mundo,
inclusive no Brasil, a mortalidade neonatal precoce tem como causas mais
freqüentes asfixia, baixo peso, afecções respiratórias, infecções e prematuridade,
diferente dos países desenvolvidos, onde predominam prematuridade extrema e
malformações congênitas. A Declaração de Óbito (DO) é um valioso instrumento
epidemiológico. A validade das estatísticas de mortalidade depende da notificação e
preenchimento completo e correto das informações dos óbitos, no Brasil
disponibilizados pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) que tem
cobertura variável e eficiência comprometida pela precariedade da DO, erros de
definição e codificação, subnotificação de variáveis, excesso de causas mal
definidas e sub-registro. Eventos sanitários de alerta, para os quais concorrem falhas
de atenção, a classificação dos óbitos em eventos evitáveis contribui na organização
de ações preventivas. Dentre estas sistematizações estão as Classificações da
Fundação SEADE
e de Wigglesworth. Objetivou-se verificar a qualidade das
informações oficiais de óbitos neonatais precoces de residentes em Maceió, Alagoas
e suas implicações no estudo da mortalidade prevenível em 2001 e 2002. Avaliou-se
o preenchimento da DO oficial e do SIM, tendo como padrão-ouro o formulário
preenchido a partir dos prontuários das mães e neonatos. Para validação da DO
(causas de óbito) utilizou-se Classificação Internacional de Doenças – Décima
Revisão (CID-10) em capítulos e códigos (três e quatro dígitos), e na análise de
percentual de óbitos redutíveis, as Classificações da Fundação SEADE e
Wigglesworth. Avaliou-se concordância simples, Índice Kappa, sensibilidade e seus
intervalos de confiança (IC de 95%), utilizando-se o programa EPIINFO 6.04. Foram
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Resumo
xiv
estudadas as variáveis: tipo de óbito, endereço, idade materna, sexo, peso, tipo de
parto, idade, idade gestacional e assistência médica. Houve 621 óbitos neonatais no
SIM, 451 hospitalares, excluídos 50 casos. Das variáveis em branco na DO
resgatou-se de 85,7% a 100% nos prontuários. A concordância foi boa entre DO e
prontuário para tipo de parto, peso e idade. Entre prontuários e SIM, menor
concordância ocorreu para peso e idade materna. O SIM apresentou sensibilidade
de 69,2% para variável peso e 36,3% para idade materna. A concordância entre
observadoras foi 91,5%. Pelos capítulos da CID-10, as causas maternas
representaram principal causa básica em 46,1% nos prontuários e transtornos
respiratórios 59,5% no SIM e 58,1% nas DO oficiais. A concordância em três dígitos
foi sofrível entre prontuários e DO, e fraca entre prontuários e SIM. Na Classificação
da Fundação SEADE, houve percentual maior de causas redutíveis por controle da
gravidez/parto e, quando estratificados por peso, 23,2% dos óbitos ocorreram em
2500 g, com predomínio de óbitos redutíveis, considerados eventos-sentinela. Na
Classificação de Wigglesworth, houve maior percentual óbitos por imaturidade
(47,5%), por inadequada assistência à gestação/parto. Concluiu-se pela precária
qualidade da DO, baixa validade para importantes variáveis do sistema, refletindo
provavelmente não valorização da informação efetiva dos óbitos por médicos e
funcionários do sistema. O SIM é inadequado, apesar da boa cobertura dos óbitos
neonatais da cidade. O uso da Classificação da Fundação SEADE possibilita a
detecção de eventos-sentinela, quando os óbitos são estratificados por faixa
ponderal.
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Abstract
xv
Abstract
Main component of infant mortality (MI) in many countries of the world, the
precocious neonatal mortality has in asphyxia, low weight, respiratory affections,
infections and prematurity one the most frequents causes. It is different from
countries where extreme prematurity and congenital malformations prevail. The
Death Certification (DC) is a reliable epidemiological instrument. The mortality
statistics validity depends on the notification, complete and correct fulfillment of the
obit information. In Brazil they are available by the Mortality System Information (SIM)
which has variable covering and shakable efficiency due to the DC precariousness,
definition and codification mistakes, variable under notification, excess of bad defined
causes and sub-registration. Sanitary caution events, to which act jointly, attention
cracks, and the obits classification in avoidable events contributes with the preventive
actions organization. Among this systematization, there are classifications of the
SEADE’s Foundation and the Wigglesworth one. It aimed to verify the official resident
neonatal precocious death information quality in Maceió, Alagoas and their
implication in the study of preventable mortality in 2001 and 2002. The official DC
and SIM fulfillment were evaluated using as gold-standard the formulary from the
mothers and neonates records. The International Disease Classification – Tenth
Revision (CID-10) in chapters and codes (three and four digits) was used, and in the
percentage analysis of reducible obits was used the Foundation SEADE and
Wigglesworth’s Classification. The simple agreement, Kappa rates, sensibility and
confidence interval (IC 95%) were valued, using the EPIINFO program 6.04. The
following variables were studied: kind of obit, sex, weight, kind of birth age and
maternal age. There were 621 neonatal deaths in the SIM, 451 hospitals one,
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Abstract
xvi
excluded 50 cases. From blanks variables in DO from 85,7% to 100% on the
patients’ records were rescued. The agreement between DO and patient’s records for
kind of birth, weight and age was good. Between patient’s records and SIM there was
a smaller agreement for weight and maternal age. SIM presented for weight variable
sensibility of 69,2% and 36,3% to maternal age. The agreement among observers
was 91,5%. On the patient’s records by CID-10 the maternal cause represented
46,1% and the main basic causes in the SIM respiratory upset 59,5% and 58,1% in
the DO. The agreement in the three digits was sufferable between patient’s records
and DC and weak between patient’s records and SIM. In SEADE's Foundation
Classification, the majority of the death was reducible by control in pregnancy/labor,
and by weight's stratification, 23,2% were in 2500 g, with predominance of reducible
death in that stratus, considered sentinel-event. There were In the Wigglesworth's
Classification the majority of death by immaturity 163/343 (47,5%) reducible by the
better care in pregnancy/labour. It was concluded that the precary quality of the DO
and low validity for important variables system and the SIM is inadequate, despite of
the good neonatal obits covering of the city. The use of SEADE's Foundation
Classification allows detecting sentinel-events, when obits are stratified by ponderal
strata.
Introdução
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Introdução
2
1 - Introdução
A redução progressiva da Mortalidade Infantil (MI) no Brasil resultou da
melhoria da atenção básica à saúde, decorrente dentre outras ações, de medidas de
expansão do saneamento básico, de um maior controle de doenças diarréicas, da
desidratação e das doenças respiratórias. As ações de incentivo ao pré-natal e
aleitamento materno e na melhoria da cobertura vacinal, aliadas a queda da
fecundidade também foram fatores que contribuíram para este declínio. Desde
então, ficou evidente a importância da mortalidade neonatal no país, transformando-
a em foco das atenções e ações governamentais e num grande desafio para as
instituições de saúde, principalmente pela dificuldade operacional de sua abordagem
e resolução
1
.
A MI corresponde à morte de crianças menores de um ano de vida e
tem causas distintas a depender do período de ocorrência, se neonatal precoce,
neonatal tardio ou pós-neonatal. À medida que as taxas de MI vão declinando,
passam a predominar as causas do período neonatal que corresponde aos primeiros
vinte e sete dias de vida da criança. Nos primeiros seis dias de vida, no período
neonatal precoce, predominam como causas de óbito no Brasil a asfixia intra-uterina
e intraparto, o baixo peso ao nascer, as afecções respiratórias do recém-nascido, as
infecções e a prematuridade
2
.
O grau de desenvolvimento do país, também condiciona as causas de
óbito neonatal. Assim, apesar de se constituírem em causas comuns a muitos outros
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Introdução
3
países, estas diferem das ocorridas na mesma faixa etária nos países
desenvolvidos, onde predominam a prematuridade extrema e as malformações
congênitas. Nestes países se chegou a um valor mínimo de taxa de mortalidade
neonatal a partir do qual a redução de óbitos é lenta
3
.
O conhecimento das causas de óbito é necessário para a construção de
indicadores da qualidade da atenção à saúde. Estes são capazes de subsidiar o
planejamento de ações e políticas de saúde de maior impacto local e a análise das
causas de óbito sob a ótica de prevenção
4-6
. O óbito tem uma relevância especial
em pesquisas epidemiológicas por ser um evento que não se questiona, não se
renova, além de ter registro obrigatório
7
. Estas características fazem do óbito um
valioso instrumento epidemiológico. Mas estudá-lo não é uma tarefa fácil. A validade
das estatísticas de mortalidade como fonte de informações confiáveis para uso em
saúde pública, depende de vários fatores, dentre os quais são mais importantes a
notificação de todos os óbitos e o preenchimento completo e correto das
informações pertinentes ao evento.
No Brasil, o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM)
gerenciado pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), é o mais antigo sistema
de informação do país. Foi criado em 1975, informatizado desde 1979 e vem
apresentando ganhos importantes em relação à cobertura e à velocidade de
divulgação das informações, ao longo dos anos
8
, apesar de ainda apresentar
deficiências principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
A entrada de informações no SIM se dá pelo preenchimento e coleta
do documento padrão – a Declaração de Óbito (DO), composto de nove blocos de
informações com sessenta e duas variáveis, cujo preenchimento completo é de
responsabilidade do médico, conforme determina em sua Resolução CFM nº
1.601/00, de 09 de agosto de 2000 o Conselho Federal de Medicina.
Nos casos de óbitos naturais sem assistência médica, a DO deverá ser
preenchida pelo Médico do Serviço de Verificação de Óbito (SVO) e onde não existir
o SVO, a DO será preenchida por médico da localidade. Nos óbitos naturais
ocorridos em localidades sem médico, o responsável pelo falecido, acompanhado de
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Introdução
4
duas testemunhas, comparecerá ao Cartório do Registro Civil solicitando o
preenchimento das três vias da DO
9
.
Atualmente o fluxo da DO varia de estado para estado, mas a
recomendação do Ministério da Saúde (MS) é que a primeira via da DO seja
recolhida ativamente pela Secretaria Estadual ou Secretaria Municipal de Saúde
para processamento, enquanto a segunda e a terceira vias sejam entregues aos
familiares para seu registro em Cartório de Registro Civil. A obrigatoriedade do
registro, até mesmo para óbitos fetais, é regulamentada pela Lei nº 6.015/73,
alterada pela Lei nº 6.216/75, que determina que nenhum sepultamento seja
realizado em território nacional sem a certidão correspondente
10
.
O sub-registro de óbitos, pela ocorrência de sepultamento sem
exigência de certidão, número insuficiente de cartórios, desconhecimento pela
população da importância e obrigatoriedade do registro, deficiência quantitativa de
médicos e profissionais da justiça, além do atraso do registro ou subenumeração dos
nascimentos, são alguns dos entraves encontrados neste tema
8-11
. Uma tentativa do
governo para diminuir as elevadas taxas de sub-registro foi instituir, a partir de 1996,
a gratuidade dos registros de nascimento e óbito. A precisão no conhecimento das
condições de saúde de uma dada população depende da qualidade dos dados
disponíveis. Dúvidas e desconhecimento dos critérios de definição de natimorto e
óbito neonatal precoce, bem como da importância das causas maternas como
determinantes desses óbitos levam a erros de classificação
6
.
A pouca ênfase dada aos alunos na graduação sobre a importância do
preenchimento correto da Declaração de Óbito (DO) ou a pouca qualificação e
desinteresse dos profissionais da saúde pelo tema
6, 13
e até mesmo a dificuldade do
médico em lidar com o tema morte
14
, podem estar contribuindo, ainda nos dias
atuais, para a inadequação dos registros oficiais. Em outras situações o primeiro
contato do médico com a DO ocorre quando ele tem que preenchê-la sem que tenha
sido orientado como fazê-lo. É fato que a pouca divulgação das estatísticas geradas
com base nas informações coletadas nos serviços, desestimulam a busca pela
qualidade destes dados
15
.
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Introdução
5
Além da deficiência no preenchimento da DO, a inadequação das
informações de óbito pode ser agravada também por digitação inadequada nos
setores responsáveis pela transcrição da informação ao SIM, por altos percentuais
de “ignorados” encontrados nas suas variáveis, erros de codificação e ausência de
crítica das informações. Havendo sub-registro, os coeficientes de mortalidade e
todas as outras informações daí geradas podem traduzir uma realidade distorcida,
de falsa adequação das condições de saúde
16
, resultando em pouca utilidade das
informações produzidas.
Outra fonte de equívocos no preenchimento da DO é o
desconhecimento da definição da causa básica do óbito, que dá origem a uma
sucessão de afecções consequenciais, sendo a última delas chamada causa
terminal ou direta
17
. É freqüente o incorreto preenchimento da causa de óbito por
parte do médico e como conseqüência eventos terminais são por vezes as únicas
informações do Atestado de Óbito (AO), com omissão da causa verdadeira e a
incorporação na estatística de um grande número de causas mal definidas. Em
óbitos neonatais, a falta de informações obstétricas, dificulta a se chegar à
verdadeira causa básica e fazem com que as DO subestimem as causas maternas,
na maioria evitável
6
.
Partindo destas constatações e preocupados com a qualidade da
informação, questionou-se: estarão os atestados de óbitos neonatais precoces em
Maceió, Alagoas, adequadamente preenchidos? Refletem as reais causas de óbitos
naquela faixa etária? Mensuram fielmente a magnitude dos óbitos passíveis de
redução? Quão completas são as DO e o quanto é possível confiar em suas
informações?
Levantou-se a hipótese de que há pouca qualidade dos dados
encontrados nos documentos oficiais dos óbitos e, conseqüentemente, no SIM,
resultando em informações imprecisas e subdimensionamento da mortalidade
evitável. Objetivou-se verificar a qualidade das informações oficiais das mortes
neonatais precoces para crianças residentes em Maceió-Alagoas, nos anos de 2001
e 2002, disponíveis nas DO e suas implicações para o estudo da mortalidade
evitável.
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Introdução
6
Inicialmente foi realizada uma revisão da literatura abrangendo dois
aspectos: “O óbito neonatal: como e por que informar?” e “Causas básicas de
óbitos neonatais no Brasil: informar para conhecer e evitar”, consultando as
publicações a partir da década de 1980, disponíveis nas bases eletrônicas Medline,
LILACS, PAHO e Scielo, além de consultas a manuais do Ministério da Saúde,
teses, dissertações e livros publicados sobre o tema. Nestes dois artigos são
enfocados a importância da abordagem do óbito neonatal no panorama da saúde,
em especial no Brasil, as dificuldades na realização de estudos na área, o sub-
registro e a má qualidade da informação, além dos estudos que analisam óbitos
dentro do critério de evitabilidade através de Classificações como a da Fundação
SEADE
18
e Wigglesworth
19
, que foram utilizadas nesta pesquisa.
Os resultados deste estudo estão apresentados em dois artigos
originais. No primeiro, “Avaliação da qualidade do preenchimento das
declarações de óbito neonatal em Maceió, Alagoas”, buscou-se atingir o primeiro
objetivo específico do projeto, ao descrever o grau de preenchimento das variáveis:
sexo, peso ao nascer, idade na data do óbito, idade materna e tipo de parto nas DO
oficiais. Para isso, foram estudadas as DO originalmente preenchidas pelos médicos
(DO oficiais) e seus correspondentes registros no banco eletrônico do SIM da
Secretaria Municipal de Saúde de Maceió (SMSM). Comparadas as freqüências de
preenchimento das principais variáveis e detectadas e mensuradas as diferenças
entre as DO oficiais preenchidas pelos médicos e o SIM, a etapa seguinte foi
realizada nos arquivos médicos dos hospitais, onde foram confrontadas, conferidas e
resgatadas as informações nos prontuários médicos. Para atingir este objetivo,
foram percorridas as quatorze maternidades do município de Maceió, a Unidade de
Emergência Armando Lages, mini-pronto-socorros, e Clínicas Infantis, onde foram
analisados 774 (setecentos e setenta e quatro) prontuários, correspondendo a 343
casos clínicos dos quais 337 dispunham de DO oficial e registro no SIM. O artigo foi
apresentado em forma de pôster no VI Congresso Brasileiro de Epidemiologia e será
submetido para publicação no Jornal de Pediatria.
O segundo artigo, intitulado “Mortalidade evitável e avaliação da
confiabilidade e validade da causa básica de óbitos neonatais em Maceió,
Alagoas”, objetivou inicialmente avaliar a concordância da causa básica de morte
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Introdução
7
entre os prontuários, as DO oficiais e aquelas codificadas no SIM ao comparar o
Atestado de Óbito da DO oficiais ao exemplar refeito na pesquisa, a partir das
informações dos prontuários médicos da mãe e do neonato. Os prontuários foram
resgatados nos arquivos médicos das maternidades e hospitais de Maceió e as
informações necessárias foram coletadas no formulário da pesquisa, gerando uma
nova DO refeita (padrão-ouro). Os outros objetivos a serem contemplados neste
artigo foram: verificar o percentual de óbitos neonatais potencialmente redutíveis
com base na Classificação da Fundação SEADE
18
comparando com a Classificação
de Wigglesworth
19
para as causas básicas dos óbitos, após validação com o
prontuário; analisar o percentual de mortes por causas potencialmente sujeitas à
prevenção e redutibilidade que pode ser comprometido por inadequação e pouca
confiabilidade nos dados disponíveis nas DO, além de estabelecer a validade da DO
em discriminar corretamente as causas neonatais de óbito.
Os resultados práticos da pesquisa já surgiram na II Oficina de
Mortalidade Infantil realizada em Maceió, nos dias 30 de novembro e 1º de
dezembro de 2004, quando foram apresentados e discutidos os problemas
causados pela incorreção na definição de causa básica nos AO neonatais em
Maceió, além da inadequação do preenchimento da DO por parte dos médicos e os
problemas de digitação e codificação encontrados no SIM pelo estudo. Estiveram
presentes médicos, funcionários e técnicos da SMSM e Secretaria Estadual
Executiva de Saúde de Alagoas (SESAU) envolvidos com a geração e disseminação
de informações epidemiológicas. Foi discutida a necessidade de treinamento e
aperfeiçoamento dos médicos em preenchimento de DO e da melhor qualificação e
treinamento dos técnicos da SMSM, além da necessidade de serem revistos os
fluxos dos documentos, armazenamento e outras questões técnicas.
1.1 Referencias Bibliográficas
1. Organización Panamericana de la Salud. Centro Latino-Americano de
perinatologia e desenvolvimento humano. Saúde Perinatal: artigos
selecionados de la salud perinatal. Montevidéu; 1988. (Boletim do CLAP).
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Introdução
8
2. Vaz FAC. Mortalidade perinatal e neonatal. Revista Ass. Méd. Brasil 1997;
43(1): 3.
3. Lansky S, França E, Leal MC. Mortalidade perinatal e evitabilidade: revisão da
literatura. Rev. Saúde Pública 2002; (6): 759-72.
4. Aerts DRGC. Investigação dos óbitos perinatais e infantis: seu uso no
planejamento de políticas públicas de saúde. Jornal de Pediatria 1997; 73(6):
364-66.
5. Ortiz LP. Características da mortalidade neonatal no estado de São Paulo.
São Paulo; 1999. [Tese de Doutorado. Faculdade de Saúde Pública –
Universidade de São Paulo].
6. Coutinho SB. Mortalidade neonatal em cinco maternidades da cidade do Recife,
1994. Relatório Final de Pesquisa Apresentado ao UNICEF. Recife, PE –1996;
92p.
7. Ortiz LP. Agrupamentos das Causas de Morte dos menores de um ano segundo
Critério de Evitabilidade das Doenças. São Paulo: FSEADE, 2001.
8. Gomes FBC. Sistemas de Informação sobre Mortalidade: Considerações sobre a
qualidade dos dados. IESUS 2002; 11(1): 5.
9. Laurenti R, Mello-Jorge MHP. O atestado de óbito. São Paulo; 1993. Centro da
OMS para a Classificação de Doenças em Português (MS/USP/OPAS/OMS).
(Série Divulgação 1). Reimpressão.
10. Ministério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde.Manual de instruções para
o preenchimento da declaração de óbito. 3ª ed. Brasília (DF): MS/FUNASA; 2001.
11. Pereira MG. Epidemiologia - teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2000. 4ª reimpressão.
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Introdução
9
12. Schramm JMA, Szwarcwald CL. Sistemas hospitalares como fonte de
informação para estimar a mortalidade neonatal e a natimortalidade. Revista
Saúde Pública 2000; 34(3): 272-79.
13. Vanderlei LC, Arruda BKG, Frias PG, Arruda S. Avaliação da qualidade de
preenchimento das declarações de óbito em unidade terciária de atenção à
saúde Materno-Infantil. Informe Epidemiológico do SUS 2002; 11(1): 7-14.
14. Kovacs MJ. Morte e desenvolvimento humano. 4 ª ed. São Paulo: Casa do
Psicólogo; 1992.
15. Barros GB. Mortalidade Perinatal Hospitalar – Classificação dos Óbitos do
Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes – Vitória, Espírito Santo
(1992-1993). Rio de janeiro; 1995. [Dissertação de Mestrado, Pós-Graduação
em Saúde da Criança – Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz].
16. Menezes AMB, Victora CG, Barros FB. Estudo populacional de óbitos perinatais
e infantis: metodologia, validade do diagnóstico e sub-registro. Jornal de
Pediatria 1997; 73(6): 383-87.
17. Organização Mundial de Saúde. Centro Colaborador para a classificação de
doenças em português/USP. CID-10: Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. São Paulo: EDUSP; 1993. v. 1.
18. Fundação Sistema Estadual de Dados. Mortalidade infantil e desenvolvimento.
Conjuntura Demográfica 1991; 14/15: 49-50.
19. Wigglesworth JS. Monitoring perinatal mortality – a path physiological approach.
The Lancet 1980; 2: 684-86.
Método e
Limitações
Metodológicas
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
11
2 –Método e limitações metodológicas
2.1 - Desenho de Estudo
Trata-se de um estudo descritivo e de validação, que visou verificar a
confiabilidade (reprodutibilidade) dos diagnósticos encontrados na DO oficial
(concordância) e a validade (acurácia) da DO o que expressa o grau em que este
documento é capaz de representar a verdadeira causa de óbito ou o quanto se
afasta desta.
A comparação entre determinada medida com um critério que é
assumido como perfeitamente válido (padrão-ouro) é uma forma de avaliar a sua
validade. A revisão de prontuários tem sido utilizada em diversos estudos
1-5
para
avaliar a consistência da informação médica contida no atestado de óbito.
Neste estudo, foi utilizado o resgate das informações contidas nos
prontuários das mães e dos recém-nascidos que foram a óbito, utilizando a
metodologia preconizada pela OMS (CID-10)
6
para a análise de causa básica de
morte perinatal, na verificação da consistência dos dados da DO Oficial, mediante a
confecção de um novo atestado de óbito (padrão-ouro).
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
12
2.2 - Operacionalização da Pesquisa
2.2.1 – Espaço do estudo
O Estado de Alagoas está localizado no centro-leste do nordeste
brasileiro. Com uma área de 27.933 km², correspondente a 0,32% do Território
Nacional e a 18% da Região Nordeste, fazendo limite com os Estados de Sergipe,
Bahia e Pernambuco. Conforme estudos da Superintendência de Desenvolvimento
do Nordeste (SUDENE), Alagoas tem participação de 0,7% do PIB Nacional,
atingindo 5 bilhões de dólares
7
.
No último censo realizado em 2000, o IBGE relacionou uma população
constituída de 2.822.621 almas em Alagoas, correspondendo a 1,66% do total da
população brasileira, sendo 1. 443. 679 mulheres. Da população alagoana, 1. 919.
739 vivem na área urbana
8
.
Maceió, capital do Estado, possui uma área de 796.842 km
2
, com uma
população estimada em 2003 de 849.734 indivíduos, vivendo na área urbana sendo
301.551 mulheres em idade fértil (10 a 49 anos), e 17.048 menores de um ano. Tem
uma taxa de crescimento populacional estimada em 2.5% ao ano
8
. Dados do
SINASC registraram para Maceió, 18.606 nascidos vivos em 1996; 17.089 no ano de
1997; 17.188 em 1999 e 16.979 em 2000, estando o percentual de prematuros
oscilando entre 5,2 a 8,0% e baixo peso entre 7,0 a 7,6% dos nascimentos
9
.
No ano de 2001, o SINASC registrou o nascimento de 57.387 crianças
em Alagoas, estado que detém o recorde brasileiro dos mais altos índices de MI,
com 2.124 óbitos ocorridos no decorrer daquele ano, dos quais 870 ocorreram em
Maceió, sendo 562 ocorridos no período neonatal precoce, dos quais 261
declararam residência em Maceió. Neste mesmo período ocorreram 347 natimortos
10
.
Maceió dispõe de uma rede hospitalar composta de hospitais privados,
que atendem exclusivamente a particulares e convênios, hospitais particulares
conveniados ao Sistema Único de Saúde e hospitais públicos conveniados ao SUS e
que prestam assistência às gestantes para parto normal e operatório,
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
13
disponibilizando 4,4 leitos por 1.000 habitantes, segundo dados do IBGE para 2001,
com seu maior percentual de leitos obstétricos
8
.
Entretanto, poucos serviços disponibilizavam atendimento ao recém-
nascido de risco, em Maceió, que contava em 2001 e 2002 apenas com as Unidades
de Terapia Intensiva dos Hospitais Universitários: Professor Alberto Antunes e Casa
Maternal Santa Mônica e do Hospital da Agroindústria do Açúcar e do Álcool,
conveniadas ao SUS e que prestavam atendimento às situações mais graves. O
Município tem um número considerável de leitos pediátricos disponíveis, mas até
2002, apenas a Clínica Infantil Santa Maria estava credenciada a receber recém-
nascidos de risco pelo SUS, por dispor de sistema de berçário de médio risco. No
ano de 2004 foram credenciados os berçários das maternidades São Rafael e Santo
Antônio, para médio risco.
Além destes hospitais, os recém-nascidos poderiam ainda, caso
tivessem recebido alta hospitalar da maternidade de nascimento e, posteriormente,
no domicílio apresentado doença que justificasse seu internamento, vir a ser
admitidos na Unidade de Emergência Armando Lages, além de Unidades
denominadas de Mini-Pronto-Socorro Municipais, existentes nos bairros da periferia
e mais populosos e afeitos ao atendimento em casos de urgência.
2.2.2 – População da Pesquisa
Óbitos hospitalares ocorridos em 2001-2002, no período neonatal
precoce (0 a 06 dias de vida) em filhos de mães residentes no Município de Maceió-
AL.
2.2.3 -Tipo de amostragem e definição do tamanho da amostra
Neste estudo será analisada a qualidade do preenchimento das
declarações de óbito de indivíduos menores de 06 dias, filhos de mães residentes
em Maceió, Alagoas, cujos óbitos ocorreram em hospitais, no período de 01 de
janeiro de 2001 a 31 de dezembro do ano de 2002. As informações obtidas no Setor
de Vigilância e Informações de Mortalidade da Secretaria Municipal de Saúde de
Maceió, para os anos de 2001 e 2002, se encontram na tabela 1.
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
14
Foi programada a análise dos óbitos neonatais precoces, ocorridos nos
dois anos subseqüentes (2001-2002), mediante o sorteio de uma amostra aleatória
simples e para o cálculo do tamanho da amostra, foi utilizada a fórmula de cálculo de
tamanho amostral para trabalhos de validação
11
, a partir dos valores de
sensibilidade encontrados no trabalho de Turrini e colaboradores
12
, em 2002
(83,3%), o que resultou em uma amostra de tamanho calculado de 334 óbitos,
selecionados a partir do banco de dados do SIM da Secretaria Municipal de Saúde
de Maceió, usando critérios de inclusão abaixo descriminados. Optou-se pelo estudo
de todos os óbitos do período, pela possibilidade grande de ocorrência de perdas,
em se tratando de dados secundários.
2.3 - Definição das variáveis e coleta de dados
2.3.1- Operacionalização e categorização das variáveis
Numa primeira etapa de foram consultadas as DO originais, obtidas na
Secretaria Municipal de Saúde de Maceió, no setor de Vigilância Epidemiológica, de
onde foram coletadas as seguintes variáveis:
a) Relativas à pessoa:
Tipo de óbito – variável qualitativa categórica, preenchida nas
declarações de óbito como óbito fetal e não-fetal. Para o presente estudo,
serão considerados apenas os óbitos não fetais, cuja seleção é
previamente solicitada ao programa do SIM no momento da relação
destes óbitos;
nome da criança e da mãe – variáveis qualitativas, coletados com
finalidade de localização dos respectivos prontuários nos hospitais. A
maioria das crianças que falecem na primeira semana de vida tem sua
identificação feita ainda com o nome materno, ex. Rn de ....;
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
15
Tabela 1. – Distribuição de óbitos menor de 1 ano, neonatal e neonatal precoce em Alagoas e Maceió, por município de ocorrência
e residência, 2001-2002.
Ano
2001 2002
Ocorrência Residência Ocorrência Residência
Faixa etária ALAGOAS MACEIÓ ALAGOAS MACEIÓ ALAGOAS MACEIÓ ALAGOAS MACEIÓ
% % % % % % % %
< 1ano
2103 100,00 873 41,50 2158 100,00 493 22,84 1872 100,00 875 46,74 1948 100,00 387 19,86
0-28 dias
1089 51,78 154 17,64 1127 52,22 363 73,63 1030 55,02 589 67,31 1079 55,39 278 71,83
0-6 dias
845 40,18 413 47,30 883 38,60 271 54,96 755 40,33 403 46,05 799 41,02 192 49,61
Fonte: DATASUS/M
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
16
sexo – variável qualitativa, categorizada em: masculino, feminino e
ignorado;
data e hora do óbito – dia, mês e ano;
data de nascimento da criança – dia, mês e ano
idade na data do óbito – variável quantitativa discreta, coletada em dias,
uma vez que o programa do SIM não permite a aferição da idade em
horas, serão, desta forma, contabilizada dia a dia de vida, de 1 até 6 dias
completos, será categorizada em 1 dia e > 1dia de vida;
peso ao nascer – variável quantitativa contínua, expressa em gramas, categorizada em
intervalos de peso, da seguinte forma: < 2500 g e 2500 g;
tipo de gravidez – variável qualitativa categórica, categorizada em única, e
múltipla;
tipo de parto – variável qualitativa categorizada em: não operatório (inclui
partos naturais e a fórceps) e operatório;
duração da gestação – variável quantitativa discreta, aferida em semanas
de idade gestacional;
idade materna – em anos completos, será categorizada em < 20 anos
(adolescentes) e 20 anos;
causa básica (parte VI da DO) – variável qualitativa, aferida em
diagnósticos anotados nas linhas de (a) até (d) na parte 1 e alínea abaixo
deste – parte 2 de onde,deverão ser anotados os nomes das doenças ou
estados mórbidos relacionados na seqüência originalmente informada pelo
médico que atestou o óbito e ao lado será anotado o CID – identificado
com base no CID-10, com uma letra e 3 dígitos;
b) Relativas a lugar:
local de residência – variável qualitativa, cuja coleta visa dirimir dúvidas
com relação ao local de nascimento da criança e proceder à validação
dos endereços no Município de Maceió;
hospital de ocorrência do óbito –variável qualitativa, que identifica pelo
nome e endereço do estabelecimento,o local de ocorrência do óbito e
servirá para localizar o prontuário da genitora, caso seja necessário.
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
17
Estas variáveis foram utilizadas para localização no hospital de
ocorrência, dos prontuários maternos e dos recém-nascidos e para validação da
declaração oficial de óbito.
Da parte VI da DO-Oficial foram anotadas na seqüência e termos
constantes relativos ao item 49 (parte I e II) tal qual constavam na via preenchida
pelo médico, antes da codificação pelos codificadores da Secretaria Municipal de
Saúde, visando resgatar as informações tal qual foram geradas.
2.3.2 - Critérios de inclusão
No Banco de dados do SIM, foram selecionadas as declarações de
óbito, que preencherem os seguintes critérios:
óbitos ocorridos no ano de 2001 e 2002;
as crianças filhas de mães residentes no Município de Maceió,
Alagoas por ocasião dos eventos;
idade entre 0 a 6 dias de vida completos na data do óbito;
óbitos não fetais;
local de ocorrência do óbito: o ambiente hospitalar.
2.3.3 - Critérios de exclusão
Foram excluídos do estudo, os óbitos erroneamente classificados como
não fetais. Dos 453 óbitos neonatais precoces disponíveis no SIM como ocorridos
em residentes em Maceió, 02 eram domiciliares restando apenas 451 óbitos para
análise. Na limpeza de banco de dados (figura 01), foram excluídas 50 declarações
de óbito pertencentes a óbitos em adultos, óbitos fetais, domiciliares, DO duplicadas,
óbitos de > 7 dias de vida e mães residentes em outros municípios erroneamente
classificados como óbitos neonatais precoces em residentes em Maceió.
A exclusão destes óbitos reduziu em 11,1% o total de óbitos atribuídos
àquela faixa etária no Município de Maceió no período. Também deixaram de ser
analisados no estudo 59/401 casos cujos prontuários não preencheram os critérios
mínimos para permitir a análise da causa básica, por ausência de informações
(prontuários incompletos ou ausentes) que corresponderam a 14,7% de perdas do
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
18
estudo. Durante a busca ativa dos prontuários nos hospitais, foi encontrado um caso
que não constava registrado no SIM, cuja DO original estava com as três vias ainda
no hospital, anexada ao prontuário, tendo sido informado ao setor responsável do
serviço, para a devida notificação. Este caso foi analisado, mas sua DO não foi
incluída naquelas analisadas pela pesquisa, uma vez que não existia no sistema.
Foram, portanto analisados 85,5% (343/401) dos casos.
Na Secretaria Municipal de Saúde de Maceió não foram encontradas
6,2% (25/401) das DO e destas, foram resgatadas as segundas vias em 20/25 nos
hospitais, o que resultou em apenas 98,7% (396/401) das DO oficiais. Dos 401
óbitos ocorridos no período em apenas 84,0% (337/401) foram encontradas as três
fontes de pesquisa (DO oficial, prontuários e registro no SIM).
2.3.4 - Métodos de coleta e processamento de dados
A pesquisa utilizou como instrumentos de coleta de informações: a
declaração oficial de óbito (DO Oficial), obtida na Secretaria Municipal de Saúde de
Maceió e as informações contidas nos prontuários da criança e da mãe, resgatados
nos arquivos médicos dos hospitais onde ocorreram os eventos e foi realizada em 4
etapas.
1ª etapa – foi solicitada à Secretaria Municipal de Saúde, o acesso às
declarações de Óbito originais dos recém-nascidos residentes em Maceió, que
faleceram em 2001 e 2002 nos primeiros seis dias de vida, cujos endereços foram
validados com os endereços de Maceió pelo CEP (Código de Endereçamento
Postal), segundo protocolo utilizado por Guimarães
13
.
Destas declarações foram obtidas:
a) as informações de identificação do óbito para resgate dos prontuários do
recém-nascido e de sua mãe na maternidade de nascimento e do prontuário
da criança no hospital onde se deu o óbito, em caso de transferência.
b) as informações para validação da DO - oficial: sexo, idade na data do óbito,
peso ao nascer, tipo de parto e idade materna.
c) As variáveis em branco (não preenchidas)
d) Parte VI da DO-oficial: que foram anotadas na seqüência e termos
constantes na DO oficial relativos ao item 49 (parte I e II).
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
19
Uma vez que a Secretaria Municipal de Saúde de Maceió não realiza a
validação dos óbitos fetais e não-fetais, foi realizada investigação nas DO dos óbitos
fetais, no intuito de garantir que na categoria – óbitos fetais - não se encontravam
inadvertidamente óbitos de crianças nascidas vivas e que vieram a falecer
posteriormente. Tal procedimento procede na medida em que, a não validação desta
informação poderia comprometer a validade do estudo por não poder assegurar de
estar diante de todos os óbitos neonatais precoces ocorridos em filhos de mães
residentes em Maceió, nos anos 2001-2002.
Foram analisadas as Declarações de Óbitos dos 616 fetais ocorridos
no período, etapa para a qual foi disponibilizada a cooperação de funcionárias da
Secretaria Municipal e Estadual de Saúde tendo sido detectadas inconsistências em
0,5% (3/616) DO que tiveram seus prontuários analisados por busca ativa, sendo um
caso, 0,1% (1/616) de óbito neonatal, incluído na pesquisa. O procedimento de
limpeza do banco de dados se encontra na figura 1. As declarações de óbito foram
enumeradas e os prontuários solicitados nos Arquivos Médicos das Unidades
Hospitalares.
2ª etapa - realizada a partir da consulta aos prontuários hospitalares da
mãe e do recém-nascido, foram aferidos os dados relativos à validação da DO-
Oficial e procedida à análise da causa básica de óbito, baseada em critérios pré-
estabelecidos, conforme protocolo já utilizado por Coutinho
3
para análise de
validação de óbitos em cinco maternidades da cidade do Recife e Vanderlei
5
e
colaboradores, em estudo realizado no Instituto Materno-Infantil de Pernambuco
(IMIP).
A análise dos prontuários obedeceu ao critério preconizado pela OMS
– CID 10, para a codificação de causa básica, utilizado pelo Ministério da Saúde, e
que considera como informações necessárias a analise detalhada da mortalidade
perinatal, os seguintes dados:
Maternos:
o Data do nascimento
o Nº de gravidezes anteriores: nascidos vivos/ natimortos/ abortos
o Data e resultado da última gravidez anterior: nascimento vivo/
natimorto/ aborto
Pedrosa, Linda Délia C. O. Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
20
Gravidez atual:
o DUM (se desconhecida, mencionar a duração estimada em
semanas completas)
o Assistência pré-natal - duas ou mais consultas:sim/ não/ não
sabe
o Parto: normal (espontâneo) cefálico/ outro (especifique)
Criança:
o Peso do nascimento em gramas
o Sexo: masculino/ feminino/ indeterminado
o Nascimento: único/primeiro gemelar/ segundo gemelar/ outros
nascimento múltiplos
o Data e hora do nascimento e do óbito
o Quem atendeu ao parto: médica/ parteira/ outra pessoa treinada
(especificar)
o Principal afecção do RN
o Outras doenças ou afecções do RN
o Principal doença ou afecção materna afetando o RN
o Outras doenças ou afecções maternas afetando o RN
o Outras circunstâncias importantes
o Autópsia: sim/não
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
21
621
óbitos neonatais
residentes em
Maceió
2001-2002
453
0 – 6 dias
170
7 – 28 dias
2
domiciliares
451
hospitalares
50
excluídos
Busca ativa
Bco de óbitos
fetais
1 óbito
neonatal
Arquivos Hosp.
1 óbito
não registrado
no SIM
401
SIM
59
casos não
analisados
30 sem
prontuários
29 com
prontuários
incompletos
342
casos
clínicos
1 caso
clínico
hospitalar
343
Casos
Clínicos
25 DO
extraviadas
na SMSM
396
DO OFICAIS
20 cópias de
DO
resgatadas
hos
p
itais
401
SIM
396 DO
OFICIAIS
343
Casos
Clínicos
337
CASOS
ANALISADOS
ANÁLISE DOS ÓBITOS
Figura 1 – Limpeza de Bancos de Dados
12 óbitos fetais
27Outros Munic
7 > 7 dias
1 Adulto
1 domiciliar
2 DO duplicados
excluidos
incluidos
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
22
Estes dados subsidiaram o preenchimento do formulário de pesquisa e
partindo da análise dos prontuários, feita em dois tempos diferentes, por dois
pesquisadores distintos, ambos médicos neonatologistas previamente treinados e
sem conhecimento da causa previamente codificada no atestado oficial, resultaram
na confecção de um novo atestado médico para cada médico. Estes casos foram re-
analisados pela Coordenadora do Núcleo de Epidemiologia do IMIP. As causas
básicas foram codificadas por uma codificadora oficialmente treinada. A codificação
das DO oficiais foi também revisada por uma codificadora oficial.
Foram considerados como passíveis de validação os prontuários que
contivessem estas informações, já que são as informações consideradas
importantes pela OMS e aqueles que não estivessem em condições de análise para
definição de causa básica foram mantidos na pesquisa, sendo, no entanto, excluídos
do processo de validação da causa básica.
3ª etapa - os dados constantes dos formulários preenchidos foram
confrontados, primeiramente os resultados da avaliação dos dois pesquisadores
entre si e, a seguir com o atestado oficial, confirmando ou não as variáveis oficiais.
em estudo e a codificação da causa preenchida pelo médico que atestou o óbito
(etapa de validação).
2.3.5 - Qualidade dos instrumentos de medida
O formulário utilizado no presente estudo foi confeccionado tomando
como base os formulários utilizados e já validados em estudos anteriores
3,5
, tendo
como modelo a análise de prontuários da CID-10 da OMS. Tal protocolo se mostrou
adequado e satisfatório aos propósitos, sendo utilizado rotineiramente no Núcleo de
Epidemiologia do Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira (IMIP), Centro de
Referência do Centro Colaborador da OMS para a Classificação de Doenças em
Português (CBCD).
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
23
2.3.6 – Padronização das técnicas
O formulário de pesquisa a ser preenchido foi elaborado visando à
obtenção das variáveis de interesse nas cópias das DO-oficiais e prontuários
hospitalares dos indivíduos, e para facilitar a padronização de sua aplicação, foi
realizado um treinamento prévio no Núcleo de Epidemiologia do IMIP, visando
diminuir os erros de preenchimento dos formulários e aumentar a concordância entre
as avaliações.
A análise dos prontuários foi realizada por duas pesquisadoras sem
conhecimento prévio da causa constante na DO oficial, ou interavaliadoras. No caso
de discordância dos diagnósticos de causa básica entre eles, os dois procederam a
uma nova análise conjunta, e em permanecendo a discordância, os prontuários
foram analisados por uma terceira avaliadora, Coordenadora do Núcleo de
Epidemiologia do IMIP, treinada em codificação de causa básica pelo Centro
Colaborador da OMS para a Classificação de Doenças em Português, a fim de que,
ao final, fosse obtido um padrão único de causa básica gerada na pesquisa utilizada
para comparação com a DO-Oficial.
2.4 - Plano de Tabulação e Análise dos dados
Foram formados dois bancos de dados utilizando o programa EpiInfo
6.04, com dupla entrada de dados, processadas por dois digitadores diferentes,
confrontados os dados encontrados nas DO oficiais e nos prontuários, procedendo
a validação das variáveis escolhidas: sexo, peso ao nascimento, idade na data do
óbito, idade da mãe e tipo de parto, utilizando para análise de concordância, a
concordância simples e o Indicador Kappa medindo o grau de concordância, além
do esperado pelo acaso para as variáveis qualitativas: tipo de parto (operatório e
não operatório: natural e fórceps); sexo: feminino, masculino. As variáveis
quantitativas foram categorizadas para permitir a sua análise utilizando a mesma
metodologia, sendo utilizados os seguintes pontos de corte:
Idade na data do óbito: 24 horas de vida dia e > 24 horas de vida
Peso ao nascer: < 2500 g e 2500 g;
Idade materna: 19 anos (adolescentes) e >19 anos;
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
24
Foi analisado o grau de confiabilidade da DO-Oficial, através de
medida de sensibilidade e seus respectivo intervalo de confiança. A última etapa do
trabalho foi a análise do potencial de evitabilidade dos óbitos, através da utilização
dos critérios de redutibilidade da Fundação SEADE
14
(Quadro 1) e Classificação de
Wigglesworth modificada por Keeling
15
(Quadro 2).
Quadro 1 - Classificação Fundação SEADE modificada (Ortiz, 1999)
16
I – Evitáveis:
Código no CID - 10 referente a
Redutíveis por Imunoprevenção
Tuberculose, difteria,coqueluche,
hepatite B, tétano, varicela, pólio,
sarampo, meningite B, sarampo, rubéola,
etc.
Redutíveis por controle na gravidez
Sífilis congênita, diabetes, hipertensão,
complicações da gestação,
prematuridade, RCIU, DMH, doença
hemolítica do RN, etc.
Redutíveis por atenção ao parto
Complicações do trabalho de parto,
placentárias, trauma, hipóxia intra-uterina
e asfixia ao nascer
Redutíveis por prevenção,
diagnóstico e tratamento precoces.
Afecções perinatais: infecções, doenças
respiratórias, endócrinas, metabólicas,
hemorragia neonatal, icterícias, etc.
II – Não evitáveis
Anomalias congênitas letais, doenças
congênitas hereditárias
III – Mal-definidas
Afecções mal definidas do período
perinatal, sinais e sintomas e estados mal
definidos
Quadro 2 - Classificação de Wigglesworth modificada (Keeling, 1989)
17
Grupo
Falha assistencial associada
1
Óbitos ante-parto
No pré-natal e/ou condições maternas
adversas
2
Malformações congênitas
(natimorto ou neomorto)
Pré-natal, procedimentos diagnósticos
precoces
3
Prematuridade/imaturidade
Em > 1500 g sugerem falha no manejo
obstétrico, assistência neonatal sala de
parto e de UTI
4
Asfixia e correlatos
Manejo obstétrico, reanimação e
assistência ao RN (UTI)
5
Condições específicas
(ex. infecções)
Assistência perinatal
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
25
2.5 - Limitações Metodológicas do Estudo
A tabela 2 apresenta a análise comparativa das características dos
casos analisados e das perdas. Como pode ser observado não houve diferença
estatisticamente significante entre as diversas características do grupo estudado e
dos casos não estudados. Foi utilizado o teste do quiquadrado (X
2
) com correção de
Yates, a um nível de significância de p de 0,05.
Neste estudo é possível a ocorrência de bias de informação, por serem
utilizadas fontes secundárias de informação. A utilização de prontuários médicos
também pode ser apontada como causa de erros de obtenção de informações. No
entanto, a análise conjunta com o prontuário materno possibilitou a recuperação de
informações não disponíveis nos prontuários neonatais, mesmo na evolução de
óbitos mais tardios, bem como a utilização de fichas de transferências e outros
registros hospitalares disponíveis.
Para contornar a possibilidade de bias de aferição, foi realizado um
estudo piloto inicial, o treinamento dos pesquisadores em análise de causa de óbito
no Núcleo de Epidemiologia do Instituto Materno Infantil Dr. Fernando Figueira
(NEPI/IMIP), a codificação dos casos e a revisão da codificação das DO oficiais por
codificadores oficiais treinadas pelo CBCD. O trabalho de análise de causa e a
codificação foram supervisionados pela coordenadora do NEPI/IMIP. A análise dos
prontuários foi realizada sem conhecimento prévio da causa constante na DO -
Oficial (CB-OF), nem da análise realizada por cada observadora, a fim de permitir a
avaliação da concordância interobservadoras.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
26
Tabela 2 – Análise comparativa das características dos óbitos neonatais
precoces estudados através de prontuários e das perdas, segundo as variáveis
categorizadas, em Maceió, 2001-2002.
Casos estudados Perdas X
2
Valor p
Variáveis Categorias % %
Peso ao nascer
< 2500 g 264 76,7 30 50,8
2500 g
78 22,7 15 25,5
Não informado 2 0,6 14 23,7
1,87 0,171
Sexo
Masculino 190 55,4 38 64,4
Feminino 151 44,0 18 30,5
indeterminado 2 0,6 3 5,1
2,42
0,119
Idade no óbito
1 dia de vida
184 53,6 31 52,5
> 1dia de vida 155 45,2 21 35,6
Não informado 4 1,2 7 11,9
0,33 0,568
Idade materna
19 anos
108 31,5 8 13,6
> 19 anos 234 68,2 11 18,6
Não informado 1 0,3 40 67,8
0,50 0,481
Tipo de parto
Não Operatório 222 65,0 33 54,2
Operatório 121 35,0 13 22,0
Não informado - - 14 23,7
0,60
0,438
Idade gestacional
Pré-termo 229 66,7 31 52,5
termo 64 18,6 11 18,6
Não informado 50 14,7 17 28,8
0,19 0,664
2.6 Referencias Bibliográficas
1. Buchalla CM. Estudo de um grupo de recém-nascidos em maternidades:
suas características e a mortalidade pós-período neonatal precoce. São
Paulo; 1998. [Dissertação de Mestrado. Faculdade de Saúde Pública.
Universidade Estadual de São Paulo].
2. Oliveira LAP, Mendes MMS. Mortalidade Infantil no Brasil: Uma Avaliação de
Tendências Recentes. In: Minayo MCS, organizador. Os muitos Brasis:
Saúde e População na década de 80. São Paulo: HUCITEC; 1985. p.291-303.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
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3. Coutinho SB. Mortalidade neonatal em cinco maternidades da cidade do
Recife, 1994. Recife (PE); 1996. [Relatório final de pesquisa apresentado ao
UNICEF].
4. Rosa MLG, Hortale VD. Óbitos perinatais evitáveis e estrutura de atendimento
Obstétrico na rede pública; estudo do caso de um Município da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro. Cad de Saúde Pública 2000; 16(3): 773- 83.
5. Vanderlei LC, Arruda BKG, Frias PG, Arruda S. Avaliação da qualidade de
preenchimento das declarações de óbito em unidade terciária de atenção à
saúde materno-infantil. Informe Epidemiológico do SUS 2002; 11(1): 7-14.
6. Organização Mundial de Saúde. Centro Colaborador para a classificação de
doenças em português/USP. CID-10: Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. São Paulo:
EDUSP; 1993. v. 1.
7. Brasil. IBGE. Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar 1996 [on-line].
Disponível em <URL: http:// www.ibge.gov.br/pnad > [ 2002 mar 25]
8. Brasil. IBGE. Censo 2000 [on-line]. Disponível em < URL: http://www.ibge.gov.br/
> [ 2001 dez 13].
9. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Saúde. Sistema de
Informação Sobre nascidos Vivos [DATASUS/online]. Disponível em <
URL: http:// saude.gov.br>[2003 nov 05].
10. Alagoas. Secretaria Estadual Executiva de Saúde. Sistema de Informação de
Mortalidade – SIM; 2004.
11. Organização Pan-americana de Saúde. Fundação Nacional de Saúde.
Métodos de Investigação Epidemiológica em Doenças Transmissíveis.
Brasília; 1997. v.1.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Métodos e limitações metodológicas
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12. Turrini RNT, Santo AH. Infecção hospitalar e causas múltiplas de morte.
Jornal de Pediatria 2002; 78(6): 485-90.
13. Guimarães M J. Mortalidade Infantil: uma análise das desigualdades
intra-urbanas no Recife. Recife;2003. [Tese de Doutorado em Saúde
Pública. Escola Nacional de Saúde Pública. Fundação Oswaldo Cruz.
Ministério da Saúde.]
14. Ortiz LP. Agrupamentos das Causas de Morte dos menores de um ano
segundo Critério de Evitabilidade das Doenças. São Paulo: FSEADE;
2001.
15. Keeling JW, MacGillivray I, Golding J, Wigglesworth JS. Classification of
Perinatal Death. Arch Dis Child 1989; 64: 1345–51.
Artigo de Revisão I
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
30
3 –Óbitos neonatais: Como e por que
informar?
RESUMO
Os óbitos neonatais se constituem no mais importante componente da Mortalidade
Infantil (MI) no Brasil, tendo como principais causas a asfixia, o baixo peso ao
nascer, as afecções respiratórias do recém-nascido, as infecções e a prematuridade.
São situações vinculadas a falhas de prevenção e a ampla rede de determinantes
destes óbitos precisa ser conhecida a partir das informações disponibilizadas pelos
sistemas nacionais de informação. Uma boa cobertura do sistema, agilidade e coleta
de informações confiáveis em todos os níveis e o controle do fluxo das informações,
asseguram a validade dos indicadores gerados, permitindo a escolha da melhor
abordagem preventiva. Neste artigo, são apresentadas as diversas fontes de
pesquisa em óbitos neonatais, seus usos e limitações ressaltando o papel dos
profissionais de saúde na geração de informações confiáveis.
Descritores: Mortalidade Neonatal. Atestados de óbito. Sistemas de informação.
Registros médicos.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão I
31
ABSTRACT
The neonatal death constitute in the main component of the Infant Mortality (MI) in
Brazil, having the asphyxia, the low weight, the newborn respiratory affection, the
infection and prematurity as the main causes which as situations connect to the
prevention failures and the broad determinant systems of these obits need to be
recognized from the available information by national systems of information. A good
system covering, agility and reliable information collection in all the levels and the
flow information control, assure the validity of the produced indicators, allowing the
choice of the best preventive approach. This article presents the several research
sources in neonatal obits, their uses and limitations, stood out the health area
professional’s contributions of reliable information’s production.
Describers: Neonatal mortality, death certificates, information systems, medical
registrations.
3.1 Introdução
O nascimento de uma criança desperta alegrias, esperanças e
responsabilidades sociais. Contrariando a evolução natural, o óbito infantil fere a
sociedade, desnudando, como um sensível indicador, o grau de desenvolvimento e
as condições de vida que prevalecem em uma dada população
1
. A saúde da
criança, organismo em fase de crescimento e desenvolvimento, é mais sensível aos
agravos de condições externas de caráter sócio-econômico, do ambiente físico e
emocional, e da assistência à saúde
1
.
As taxas de MI variam entre as regiões do mundo e refletem as
desigualdades sociais e econômicas existentes. Seu lento declínio tem aprofundado
estas diferenças
2
. Seguindo esta tendência, o Brasil vem reduzindo
significativamente sua MI que se concentra, desde o final do século XX, no período
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão I
32
perinatal, onde as causas de óbito são de mais difícil redução, por serem menos
vulneráveis a ações globais na melhoria da qualidade de vida
3,4
.
Este artigo se propõe a rever a literatura acerca da mortalidade
neonatal no Brasil, enfatizando sua importância no contexto atual da MI, seus
determinantes, e a importância da utilização da informação de mortalidade para o
sistema de saúde. Foram consultados manuais técnicos do Ministério da Saúde
(MS), teses, dissertações e livros sobre o tema e realizada uma revisão nos bancos
de dados eletrônicos Medline, LILACS, SCIELO e PAHO em artigos disponibilizados
a partir de 1980, a partir dos descritores mortalidade infantil, mortalidade neonatal,
mortalidade neonatal precoce, causa básica de óbito, sistemas de informação,
informação em saúde, registros médicos, registros de mortalidade.
3.2 Por que é importante informar?
As políticas de assistência materno-infantil no Brasil foram decisivas
para a expressiva redução
5
do componente pós-neonatal da MI, ao instituírem
ações de controle das doenças diarréicas e das infecções respiratórias, além de
promover ações de expansão da assistência pré-natal, incentivo ao aleitamento
materno e priorizar as campanhas de vacinação. A expansão do saneamento básico
na década de 1980 e mais recentemente, a queda da fecundidade também
contribuíram de forma substancial na queda da MI no país.
Contudo, a MI ainda é
um grave problema de saúde pública no Brasil
6
, ainda distante dos níveis
preconizados como moderados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de cerca
de 18 óbitos por mil nascidos vivos. Esta realidade, muito aquém das nossas
possibilidades, reflete a relevância dos nossos problemas sociais, perpetuando as
acentuadas diferenças regionais
4
.
Os Indicadores e Dados Básicos para a Saúde de 2003
4
apontam para
taxas de MI estimadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em
2001, de 27,4 por mil nascidos vivos para a região norte, 18,2 por mil nascidos vivos
para a região sudeste, 20,9 por mil nascidos vivos para a região centro-oeste e 43
por mil nascidos vivos para o Nordeste. A magnitude da MI e de seu principal
componente, a mortalidade neonatal é maior nas regiões Norte e Nordeste
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão I
33
brasileiras onde também é menor o acesso aos cuidados de saúde de qualidade no
período perinatal
1
.
No Brasil, as principais causas de óbitos neonatais são a asfixia intra-
uterina e intraparto, o baixo peso ao nascer, as afecções respiratórias do recém-
nascido, as infecções e a prematuridade. São situações vinculadas a falhas de
prevenção, exigindo melhoria do acesso, qualidade e da utilização dos serviços de
saúde e na distribuição equânime dos recursos
5
.
A disponibilização à população geral dos avanços tecnológicos e a
regionalização da atenção à saúde obstétrica e neonatal foram essenciais na
redução da mortalidade neonatal ocorridos nos países desenvolvidos onde
predominam como causas de óbitos neonatais a prematuridade extrema e as
malformações congênitas, traduzindo-se em diminuição dos patamares de
mortalidade neonatal a partir dos quais a redução é lenta
7
.
A MI resulta de uma complexa rede de determinantes e, apesar do
reconhecimento do papel de causas distais como a pobreza, refletidas no ambiente
hostil e na baixa escolaridade materna, o enfoque nos fatores proximais permite o
direcionamento das ações do setor saúde, aqueles passíveis de intervenção
7
. A
prioridade no conhecimento da estrutura de determinação do óbito neonatal é
imprescindível para todos os níveis de atenção ao neonato, possibilitando que as
informações não fiquem estanques. Deste modo, as informações acerca de ações
desencadeadas no pré-natal devem chegar ao conhecimento dos assistentes ao
parto, otimizando a utilização de recursos e subsidiando a assistência, além de, ao
final, alimentar os sistemas de informações estatísticas, redes de pesquisas e
orientar a proposição de protocolos clínicos.
Em todas as etapas de cuidados ao neonato que iniciam no pré-natal e
culminam com a assistência nas unidades de terapia intensiva podem ser
encontrados fatores eventualmente apontados e considerados como determinantes
da mortalidade neonatal. Araújo e colaboradores
8
detectaram que 30% dos óbitos
poderiam ser evitados através ações desencadeadas no pré-natal,
acompanhamento durante o parto e assistência adequada ao recém-nascido na sala
de parto. Dentre estas situações passíveis de redução e controle, estão incluídas as
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão I
34
infecções, hipertensão e diabete materna, a asfixia perinatal e as infecções do
recém-nascido
4,5
.
A atenção pré-natal adequada pode reduzir a mortalidade neonatal ao
detectar e tratar doenças maternas, promover um manejo nutricional adequado à
gestante, propiciar vacinação contra o tétano além de permitir o aconselhamento
materno e a detecção precoce de fatores que poderão vir a contribuir para o
adoecimento e morte dos bebês
8
. Pesquisas brasileiras reforçam a necessidade da
qualidade da assistência pré-natal, precocidade no seu início, realização de exames
complementares, além do acesso fácil, baixo custo e não apenas quantidade
adequada de consultas
9-11,13
.
Em relação às características maternas e dos neonatos, a idade
materna também é fator importante na mortalidade neonatal. Segundo a
Organização Panamericana de Saúde (OPAS)
12
, os grupos etários extremos,
mulheres menores de 20 e maiores de 35 anos de idade, apresentam mais elevado
risco de mortalidade materna e neonatal. A associação entre mortalidade neonatal e
peso ao nascer foi demonstrada em diversos estudos, com elevada concentração de
óbito entre as crianças de baixo peso, aonde o risco chegou a ser 46% superior às
demais faixas ponderais
13
.
Silva e colaboradores
9
alertam para um aumento de nascimentos de
recém-nascidos de baixo peso em regiões de melhor acesso à assistência médica e
onde intervenções médicas mais precoces e adequadas são responsáveis pela
sobrevida de crianças mais prematuras, sugerindo que a taxa de recém-nascidos de
baixo peso não seja mais sistematicamente usada como indicador de
desenvolvimento social.
A menor duração da gestação também contribui com risco de óbito,
sendo este quase 50 vezes maior para as crianças com menos de 28 semanas de
gestação
13
, tornando a prematuridade um dos fatores mais importantes para a
mortalidade neonatal. A prematuridade e as infecções neonatais, além de
contribuírem para a elevação dos índices de mortalidade neonatal, comprometem a
qualidade de vida dos sobreviventes, com pesado ônus familiar e social
14-18
.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão I
35
A gemelaridade esteve relacionada com o baixo peso, prematuridade e
mortalidade neonatal no estudo de Bercini
15
, confirmando achados de Guaschino e
colaboradores
16
,
que afirmaram ser o parto prematuro uma complicação típica da
gravidez dupla, predispondo ao aumento da mortalidade perinatal e neonatal,
principalmente em menores de 34 semanas de idade gestacional.
O atendimento inadequado ao parto é outro fator determinante para o
aumento da mortalidade neonatal. No Brasil 90% dos nascimentos são hospitalares,
mas Araújo e colaboradores
8
chamam a atenção para o grande número de crianças
nascidas em hospitais ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) sem pediatra em
sala de parto, o que é uma exigência do MS, legalizada através da portaria
031/SAS-MS de 1993. A Academia Americana de Pediatria estima que 5 a 10% de
todos os bebês que nascem, necessitam de alguma manobra de reanimação e a
adequada e pronta reanimação destes bebês colabora para reduzir o percentual de
20% dos óbitos em todo o mundo por asfixia perinatal
17
.
O estudo de Coutinho
18
é um dos muitos que demonstram a maior
ocorrência dos óbitos neonatais no primeiro dia de vida, especialmente nas primeiras
horas de vida, reforçando a sua relação com a assistência recebida no período
perinatal. A atenção adequada apenas ao parto não é suficiente para reduzir a
mortalidade neonatal. São inúmeros os avanços tecnológicos inseridos no cuidado
neonatal nas últimas décadas e que foram responsáveis por um aumento
considerável do número de neonatos sobreviventes. Dentre eles se destacam o
maior conhecimento sobre a fisiologia do prematuro, a mecânica ventilatória no
período neonatal, o surgimento da terapia de reposição de surfactante exógeno e a
adequação dos conhecimentos em nutrição parenteral
19,20
.
De alto custo, esta tecnologia disponível nas Unidades de Terapia
Intensiva Neonatal (UTI) ainda não está acessível a toda a população brasileira. Nas
maternidades das regiões menos favorecidas os berçários são mal equipados, há
pouco pessoal treinado, a área física em geral é restrita. Faltam leitos e sobram
pacientes que superlotam as unidades aumentando os riscos de infecções e o
obituário, que muitas vezes se desloca do período neonatal precoce para o período
neonatal tardio, não sem ônus financeiro, social e emocional. Por outro lado, Araújo
e colaboradores
8
também salientam que a sofisticação tecnológica das UTI
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão I
36
neonatais prolonga artificialmente a vida de recém-nascidos muito graves e com
poucas chances de sobrevivência contribuindo para a redução da mortalidade
precoce, sem que isso signifique melhoria das condições de atendimento à gestante
e ao recém-nascido.
As situações de atenção à saúde de cada região do Brasil guardam
características particulares que precisam ser bem conhecidas no âmbito local.
Devem transformar-se de simples dados em informações confiáveis e válidas, que
possam ser coletadas, processadas e analisadas de forma oportuna. Sua fidelidade
deve permitir subsidiar as ações dos gestores nas diversas esferas de poder de
decisão.
3.3 Como e onde obter informações acerca de óbitos
neonatais?
A informação é uma ferramenta essencial à tomada de decisões em
todos os âmbitos da vida humana. Na área da saúde, a simples existência de um
dado isolado apenas nos permite especulações que carecem de valor científico e de
confiabilidade, o que pode lhe destituir de toda a relevância. Os registros
rotineiramente produzidos nas diversas atividades de saúde são os dados que
podem ser transformados em informações. Ao se consolidarem em um conjunto
integrado de componentes articulados, dentro de regras determinadas e um
referencial explicativo sistemático, levam à produção e análise de indicadores,
incorporados nos Sistemas de Informação em Saúde (SIS).
Os SIS são partes do SUS que se propõem a organizar a produção de
informações, respaldar as atividades diárias, diagnóstico e tratamento, conhecer e
monitorar o estado de saúde da população. Com estas informações os SIS pretende
facilitar o planejamento, supervisão e controle de ações e serviços, subsidiar os
processos decisórios, apoiar a produção e utilização de serviços de saúde. São
ainda seus objetivos avaliar intervenções, resultados e impacto, subsidiar educação,
promoção de saúde, pesquisa e produção de conhecimento
21
.
Os SIS devem ser capazes de medir a eficácia, efetividade e eficiência
do SUS através da geração de indicadores simples, válidos, disponíveis, robustos,
sintéticos. Com boa cobertura e poder discriminatório, podem permitir ao SUS
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão I
37
alcançar os objetivos de integralidade de assistência, descentralização político-
administrativa, divulgação de informações em saúde e controle social
22
. O médico
deve estar consciente do seu papel na produção das informações que subsidiam e
mantém o funcionamento adequado dos SIS.
É evidente o papel da informação em saúde e da dimensão que a
estatística tem na construção e disponibilização de indicadores que permitam
racionalizar a aplicação de recursos e direcionar ações
22,23
. Uma boa cobertura do
sistema, agilidade e coleta de informações confiáveis em todos os níveis e o controle
do fluxo das informações, asseguram a validade dos indicadores gerados.
Existem várias formas de se obter informações sobre mortalidade no
Brasil. Dentre as oficiais, algumas são gerenciadas pelo IBGE e outras pelo MS. O
IBGE é o órgão responsável pelas informações estatísticas nacionais, executando
censos, inquéritos e pesquisas por amostras domiciliares a partir das quais são
geradas as bases populacionais usadas no cálculo de indicadores. As estimativas de
MI do IBGE são baseadas em métodos demográficos indiretos, prática que gera
distorções duramente criticadas pelos gestores, na medida em que são incapazes de
detectar mudanças de curto prazo, decorrentes de intervenções na área de saúde
1, 6
.
O Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC) e o Sistema
de Informações sobre Mortalidade (SIM), ambos gerenciados pelo MS, fazem parte
dos SIS de abrangência nacional, possibilitando análises comparativas entre os
diversos estados, municípios e regiões. O SIM, instituído em 1975, é o mais antigo
dos SIS do Brasil e todas as informações relativas aos óbitos são obtidas através do
preenchimento da Declaração de Óbito (DO), documento padronizado em todo o
território nacional, é composto de nove blocos de informações com sessenta e duas
variáveis
24
.
A DO
25
deve ser preenchida pelo médico por ocasião do evento ou
pelo Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), em óbitos naturais sem assistência
médica, ou ainda pelos Cartórios do Registro Civil em localidades sem médico. É
impressa em três vias pré-numeradas, cujo fluxo varia de estado para estado, sendo
recomendação do Ministério da Saúde (MS) que a primeira seja recolhida pelas
secretarias municipais e codificadas as causas de óbito, suas informações sejam
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão I
38
transferidas dos municípios aos estados. Alimentam o banco de dados nacional do
SIM, que as disponibiliza em parte pela internet no site do DATASUS; a segunda via
entregue pela família ao cartório de registro civil serve para a emissão da Certidão
de Óbito e procedimentos legais de sepultamento; e a terceira via deve permanecer
nos hospitais
24,25
.
A cobertura do SIM atingiu 83% em 2002, mas é bastante
heterogênea, variando de 68,4% no Nordeste a 94,4% no Sul do país. Também
existe heterogeneidade na qualidade de suas informações, mantendo um percentual
médio de causas mal definidas de 12,4% (26,7% no Nordeste e 6,3% no Sul)
26
. A
subnotificação de eventos, percentual excessivo de causas mal definidas de óbito ou
erros de classificação de óbitos fetais e não fetais, além do preenchimento incorreto
ou incompleto da DO, resultam em variações na qualidade do SIM
4
. Dados
inconsistentes, subestimativa das causas maternas e informações tidas como
“ignoradas”
também aumentam a ineficiência do sistema de informação
27,28
.
A responsabilidade do médico na qualidade da informação
disponibilizada pelos SIS repousa naqueles dados gerados em documentos sob sua
responsabilidade: os prontuários e as Declarações de Nascimento e Óbito. Alguns
autores
18,29
têm questionado se os motivos que levam a deficiência no
preenchimento das declarações de óbitos por parte dos médicos não decorreriam da
pouca ênfase dada aos alunos na graduação sobre a importância de seu
preenchimento correto ou da pouca qualificação, desconhecimento da utilidade da
DO, vendo-a apenas como documento legal
18,29,30
, ou até mesmo desinteresse pelo
tema.
Além dos problemas relacionados ao preenchimento incorreto ou
incompleto e a existência de informações não conclusivas nas declarações de óbito,
outros entraves dificultam a sua qualificação como fonte de informações de
relevância: as digitações incompletas nos órgãos competentes, o grande número de
variáveis “ignoradas”, pouco controle sobre documentos incompletos ou
inconsistentes vindos dos serviços hospitalares e a falta de legibilidade da caligrafia
dos médicos, comprometendo o correto diagnóstico e codificação da causa básica
27-29
.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão I
39
O SINASC, concebido à semelhança do SIM e implantado a partir de
1990, é outro SIS que recolhe informações a partir da Declaração de Nascido Vivo
(DNV), padronizada e de distribuição gratuita pelo M.S. em todo o país. Dados do
DATASUS de 2001 estimavam uma cobertura para o SINASC em todo o Brasil da
ordem de 93%, superando amplamente a de nascimentos registrados em cartórios.
Em 2002 estes percentuais foram reduzidas no Brasil para 85,4%, se mantendo
heterogênea com 94,5% no Centro-Oeste e 80,3% no Norte e Nordeste
26,31
. A
análise em conjunto dos Sistemas SIM e SINASC deveria permitir a geração de
indicadores para o monitoramento da MI em nosso país, mas as dificuldades de
cobertura e a pouca qualidade dos dados disponibilizados ainda impossibilitam a
produção e comparabilidade destes indicadores
9,26
. A técnica conhecida como
linkage, que utiliza bancos de dados secundários
30
, é um procedimento
metodológico que tem sido bastante utilizado em pesquisas brasileiras
5, 8,9,13,32,33
. É
usado rotineiramente em países como os Estados Unidos
34
, que também encontram
dificuldades relativas a qualidade da informação médica. A técnica de linkage de
bancos de dados do SIM/SINASC permite estudar fatores de risco para óbitos
neonatais e avaliar a influência do peso e de fatores sócio-demográficos e
assistenciais na mortalidade neonatal
5,8,9,11,13,18
.
No intuito de restringir as distorções decorrentes do sub-registro de
nascimentos e de óbitos, nos indicadores gerados a partir destas informações de
qualidade limitada, pesquisas realizadas contemplando as diversas regiões
brasileiras utilizaram outras fontes de dados além da DNV e DO: dados censitários,
o Sistema de Informação Hospitalar (SIH-SUS) informações colhidas nos livros de
anotações das maternidades, prontuários médicos e até em cemitérios, além de
inquéritos, autópsia verbal e pesquisas qualitativas com uso de entrevistas e visitas
domiciliares
5,8,9,13,32,35-38
.
O prontuário médico, conjunto de documentos padronizados e
ordenados, destinados ao registro dos cuidados profissionais prestados ao paciente,
é um elemento valioso para o paciente e a instituição que o atende, para o médico,
bem como para o ensino, a pesquisa e os serviços de saúde
39
. Estudos em
diferentes estados e regiões brasileiras apontam para uma deficiência permanente
na qualidade dos prontuários médicos. Diversos estudos brasileiros utilizaram
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão I
40
registros e prontuários médicos na análise da causa básica de óbito neonatal
18,29,38
.
Hartz
40
, em 1996, enfatiza a observação de Potvin (1984) de que a validade da
informação dos óbitos aumenta com a revisão de prontuários. Formigli e
colaboradores
41
(1991), em Salvador, estado da Bahia, obtiveram um percentual de
perdas de 58,3% decorrentes da não localização de prontuários nas unidades
hospitalares e falta de legibilidade, além da inexistência de registro de exame físico e
até do tratamento. Estas estatísticas ainda são válidas nos dias atuais, após quase
quinze anos.
Santa Helena e colaboradores
42
ressaltaram a “pobreza” de
informações, dificultando a avaliação do cuidado e a compreensão dos eventos que
levaram a morte, recomendando-se para melhoria na qualidade dos prontuários
médicos, reuniões periódicas de revisão de casos, orientação também preconizada
por Coutinho
18
.
Conscientes de que nenhum tipo de coleta de dados é totalmente
isenta de vícios ou dificuldades de realização e, para minimizar a insuficiência das
informações, alguns pesquisadores optaram pela complementação destas
informações utilizando-se de outras fontes disponíveis como os registros
hospitalares, livros de admissão e alta, além de resultados de necropsias. Barros e
colaboradores
43
investigaram em 1985,
os óbitos de uma coorte de crianças
nascidas em Pelotas, no Rio Grande do Sul, através de visitas domiciliares e revisão
de prontuários médicos. Dados de necropsia são de difícil obtenção, mesmo quando
os estudos são preparados para a sua realização, pela dificuldade relativa a
necropsia na faixa etária neonatal e em razão da pouca aceitação dos familiares em
sua autorização
44
. Nos países desenvolvidos, a necropsia ainda é prática usual para
estudos de validação de causas de óbito.
Algumas pesquisas no Brasil utilizaram entrevistas com mães e
profissionais envolvidos na assistência, como alternativa na obtenção de dados e
incluíram também a análise qualitativa da assistência, grau de satisfação dos
profissionais envolvidos na atenção médica e enfatizaram o grau de satisfação da
mãe pela assistência recebida e suas próprias conclusões sobre as causas de óbito
dos seus filhos
35,45,46
. Schramm e Szwarcwald
47
utilizando o Sistema de Informação
Hospitalar (SIH/SUS), através da análise dos formulários de Autorização de
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão I
41
Internamento Hospitalar (AIH), concluíram pela contribuição desta fonte de dados
devido à agilidade em disponibilizar informações em meio magnético. No entanto, o
SIH/SUS não dispõe de condições de obter informações detalhadas de cada caso,
devido a própria natureza e função do documento oficial que é a Autorização para
Internamento Hospitalar (AIH).
Em 2001, Mello-Jorge e Gotlieb
48
propuseram a utilização do Sistema
de Informação Básica (SIAB/MS) como forma alternativa de complementar as
informações do SIM e SINASC, para redução do sub-registro nestes sistemas, dado
a maior proximidade dos agentes comunitários com a ocorrência dos eventos, sendo
estes uma excelente fonte de informações sobre eventos vitais. Também Victora e
Tomasi
49
, em 2004 destacaram a qualidade do SIAB, sendo conveniente atentar
para as falhas desta fonte, em locais de baixa cobertura pelo sistema.
A utilização dos dados relativos ao registro civil encontra uma séria
limitação no subregistro dos óbitos bem como no atraso do registro ou sub
enumeração dos nascimentos, condicionados pelo desconhecimento da importância
do seu registro pela população. A gratuidade instituída aos registros civis de
nascimento e óbito e a disponibilização destes serviços nos hospitais foram formas
encontradas pelo governo visando reduzir a subnotificação dos eventos vitais.
Uma forma sistematizada de diagnóstico local da situação de
mortalidade infantil e seus componentes pode ser obtida pela instituição rotineira da
investigação de óbitos, que deveria ser uma iniciativa de cada serviço de assistência
a criança. Como parte das ações de enfrentamento aos elevados índices de
mortalidade infantil no país, foi lançado em 2004, o Pacto Nacional pela Redução da
Mortalidade Materna e Neonatal, como prioridade do MS e que tem como uma das
ações estratégicas a vigilância dos óbitos infantis, através da investigação
sistemática de todos os óbitos ocorridos a partir de sua identificação, qualificação
das informações e avaliação da assistência prestada pelos profissionais no seu dia-
a-dia, com o propósito de identificar e prevenir a ocorrência de óbitos evitáveis
50
. É
também uma estratégia que visa qualificar as informações disponibilizadas
concorrendo para a melhoria de preenchimento dos documentos oficiais.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão I
42
3.4 Considerações finais
Envolvidos num cotidiano de constantes desafios, em níveis diversos
de complexidade, os profissionais de saúde desconhecem ou subestimam sua
capacidade de gerar informações que permitam conhecer e analisar a realidade
local. A construção de indicadores de qualidade, subsidiando o planejamento de
ações e de políticas de saúde eficazes, depende do reconhecimento pelo
profissional do seu papel na geração das informações, tornando-as fiéis às
necessidades específicas
30
.
A melhoria dos sistemas de informação está condicionada a este
reconhecimento e ao investimento na capacitação dos profissionais, além do retorno
dos resultados das análises produzidas, retroalimentando os setores geradores da
informação.
Ainda é atual, pertinente e relevante a afirmação de Aerts
27
a
investigação de sub-registro e a busca da qualificação do preenchimento da
declaração de óbito são contribuições imprescindíveis para a construção de um
sistema de saúde que atenda as reais necessidades de sua população. Sistema
esse que, pautado pela busca da equidade, deverá ser capaz de identificar grupos
populacionais em maior risco, dirigindo-lhes uma atenção diferenciada”.
As fontes de informação são instrumentos fundamentais na
identificação e acompanhamento dos problemas de saúde das populações. O papel
a ser desempenhado pelos profissionais da área na geração desses dados com
validade e confiabilidade e na sua análise criteriosa deve ser refletido para melhor
agilidade do sistema de saúde, com resultados mais efetivos.
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Artigo de Revisão II
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
50
4 –Causas básicas de óbitos neonatais no
Brasil: conhecer para evitar
RESUMO
A mortalidade neonatal é um dos mais sérios problemas de saúde pública
enfrentado por diversos países, inclusive o Brasil. Sua análise deve incluir a
possibilidade de intervenções visando sua prevenção, através da avaliação da
atenção dispensada ao binômio mãe-neonato, pois é considerado um evento
sentinela dessa assistência. O uso de classificações dos óbitos neonatais é uma
forma de analisá-los com esta finalidade e várias classificações vêm sendo utilizadas
em todo o mundo. Todas pressupõem o conhecimento da causa de óbito neonatal e
a disponibilização de informações precisas, fidedignas através do correto
preenchimento dos documentos oficiais.
Descritores: Mortalidade Neonatal. Atestado de Óbito. Classificação de óbitos.
Causa básica de Morte. Sistemas de Informação. Registros médicos. Mortalidade
redutível.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
51
ABSTRACT
The neonatal mortality is one of the most serious public health problems faced by
several countries including Brazil. Its analysis must include the interventions
possibility aiming its prevention, the attention evaluation addressed to the mother-
newborn binom, so is considered a very important event of this assistance. The use
of the death neonatal classification is a way of analyzing them with this objective and
several classifications have been used all over the world. All of them presuppose the
neonatal death cause knowledge and the avaibility of accurate information
trustworthy through the official documents correct fulfillment.
Descritors: Neonatal Mortality. Death certificates. Death Classifications. Main Death
Cause. Information Systems. Medical registrations. Reducible Mortality.
4.1 Introdução
As estatísticas de mortalidade são fontes tradicionais de informações
acerca da saúde das populações, que vêm sendo utilizadas desde o século XVI em
epidemiologia
1
. A disponibilização sistematizada de variáveis sócio-econômicas,
demográficas e dados específicos, como as causas de óbito, permite a identificação
de padrões e tendências, além de oferecer meios para comparações de informações
populacionais de longas séries temporais e áreas geográficas distintas
2
.
A qualidade das informações sobre mortalidade pode ser avaliada pela
abrangência da cobertura dos sistemas de informação e mensurada indiretamente,
pelos percentuais de Declarações de Óbito (DO) firmadas por médico, percentual de
necropsias, atestados com causas mal-definidas e óbitos com idade ignorada.
Também são necessárias consistência, clareza e correção na informação médica
contida na DO, dependente de subsídios laboratoriais, nem sempre disponíveis
3
,
cuja ausência compromete a acurácia dos diagnósticos.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
52
Para avaliação dos dados de mortalidade deve-se levar em conta o
processo que vai do diagnóstico da doença ao preenchimento da DO, e a
codificação da causa básica de óbito
3
. Neste processo, que envolve diferentes
etapas, profissionais e instâncias, faz-se necessário compromisso com a qualidade
da informação gerada. Os óbitos podem ser analisados quanto ao número ou em
relação a algumas variáveis como sexo, idade, local de ocorrência e tempo, mas a
análise por causa de óbito é considerada de maior relevância
4
.
Foi realizada uma revisão da literatura pertinente à mortalidade
neonatal a partir do reconhecimento de suas causas e da utilização de
padronizações de classificação de causas de óbito por critérios de prevenção,
redução ou evitabilidade, preconizados por diferentes autores, com o objetivo de
conhecer as principais causas básicas de óbito neonatal encontradas nos diferentes
estudos que abordam este tema no Brasil. Foram pesquisados documentos
publicados a partir de 1980 e disponibilizados nas bases de dados eletrônicas
Medline, LILACS, Scielo e PAHO, utilizando os descritores óbito neonatal,
mortalidade neonatal precoce, certificado de óbito, concordância, estudos de
validação, classificação de causas de óbito, causa básica e evitabilidade,
classificação de óbitos neonatais, além de teses e dissertações, manuais técnicos do
Ministério da Saúde (MS) e livros-texto com conteúdo de interesse ao tema.
4.2 A análise dos óbitos por causa
Pela importância que é atribuída à causa nos estudos dos óbitos, a
Conferência Internacional da Revisão de Classificação aprovou a “Sexta Revisão da
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Causas de Óbito”, adotando em
1948 o atual modelo de Atestado de Óbito (AO), definindo a causa a ser tabulada
nas estatísticas de mortalidade, denominada “causa básica”
4,
como “a doença ou
lesão que deu início à cadeia de acontecimentos patológicos que conduziram
diretamente à morte ou as circunstancias do acidente ou violência que produziram a
lesão fatal
5
.
A causa básica dá origem a uma sucessão de afecções
consequenciais, a última chamada causa terminal ou direta. Outras doenças que
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
53
não entram na cadeia inicial, mas contribuem ao óbito, são as causas contribuintes
e, juntamente com as consequenciais, denominam-se causas associadas, gerando
estatísticas de mortalidade por causas múltiplas, com maior detalhamento do evento
5
.
Mesmo com os esforços de organismos internacionais, como a
Organização das Nações Unidas (ONU) e o Instituto Internacional de Registros e
Estatísticas Vitais, para organizar e padronizar as DO em todo o mundo, estes
registros permanecem inadequados em muitos países, obrigando ao uso de
estimativas vagas na análise de padrões de mortalidade. Além do seu inegável valor
legal, as DO contribuem com informações que podem ser utilizadas em pesquisas
locais e em redes internacionais. A inadequação dos sistemas de informação está na
cobertura incompleta, no registro tardio ou inexistente, dados errados e incompletos
e erros de classificação de causas básicas e, apesar dos escassos estudos sob este
aspecto nos países em desenvolvimento, acredita-se que a deficiência dos registros
seja elevada
6
.
No caso específico dos óbitos neonatais, existem algumas
características dos registros que os diferem das outras faixas etárias. O Manual de
Instruções de preenchimento do Código Internacional de Doenças (CID-10) sugere
um modelo diferenciado de Certificado de Morte Perinatal
7
. Seguindo esta
tendência, a França adotou a partir de 1997, um certificado específico para as
mortes ocorridas no período neonatal, com o intuito de melhor disponibilizar
informações que avaliassem as práticas obstétricas e neonatais, resultando em
melhoria no resgate destas informações
8
. O Brasil assumiu um padrão único de AO
para todas as idades, que dispõe de um bloco com variáveis concernentes à
gestação e parto, que devem ser preenchidas nos óbitos fetais e em menores de um
ano
9
.
Os óbitos neonatais vêm assumindo um maior percentual na MI na
maior parte do mundo, inclusive no Brasil. Conhecer suas causas, a partir da análise
dos documentos de óbito, é parte de todo o esforço que vem sendo despendido à
sua redução
6
.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
54
4.3 Importância dos óbitos neonatais
O mundo vem acompanhando o declínio progressivo das taxas de MI,
que variam enormemente entre as várias regiões do globo. Estas diferenças são
grandes e estão aumentando. Em 1990, ocorreram 180 óbitos por mil nascidos vivos
na África Sub-Saariana e apenas 9 óbitos por mil nascidos vivos nos países
industrializados. Em 2000, eram 175 e 6 por mil, respectivamente
10
. Esse declínio
não é homogêneo do ponto de vista temporal e geográfico quanto aos componentes
da MI - mortalidade neonatal e mortalidade pós-neonatal - refletindo diferentes
estágios de desenvolvimento socioeconômico de países e regiões.
As Américas também retratam seus diferenciais de desenvolvimento,
ao apresentar taxas de MI que variam de 4,6 óbitos por mil nascidos vivos no
Canadá, a valores de 66,4 óbitos por mil nascidos vivos na Bolívia, ou de até 88,9
óbitos por mil nascidos vivos, como ocorre no Haiti, segundo informações da OMS
para o ano de 2000. Longe de representar homogeneidade nas unidades
geográficas nacionais, tais índices correspondem a valores médios que escondem
ainda importantes diferenciais internos, até mesmo em países de baixas taxas de MI,
como os Estados Unidos
11
. O Coeficiente de Mortalidade Infantil (CMI) no Brasil
também vem apresentando significativa redução desde o final do século XX, caindo
de 48 óbitos por mil nascidos vivos, durante a década de 90, para 29,6 por mil
nascidos vivos, sendo este o maior índice de redução de óbitos apresentado por
países da América Latina
11
.
As principais causas de óbitos neonatais no Brasil são, a exemplo de
outros países em desenvolvimento, a asfixia intra-uterina e intraparto, o baixo peso
ao nascer, as afecções respiratórias do recém-nascido, as infecções e a
prematuridade. Estas causas estão vinculadas a situações onde a prevenção é
fundamental, quer por ações de melhoria do acesso e da qualidade dos serviços de
saúde disponibilizados à população
12
, quer pela distribuição equânime dos recursos
disponíveis, como enfatiza Leite
13
. A OMS estima que, em todo o mundo, dentre os
óbitos neonatais, as causas infecciosas correspondem a 32%; a asfixia e injúrias ao
parto são de 29%; e as complicações da prematuridade atingem 24%. A OMS
estima, ainda, que o baixo-peso ao nascer tem profundas implicações na saúde e
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
55
sobrevida neonatal, respondendo por 40 a 80% ou mais dos óbitos, particularmente
no sudeste da Ásia, onde ocorrem quase 1/3 dos nascimentos
14
.
Nos países desenvolvidos, onde os ganhos sociais, avanços
tecnológicos e a regionalização da atenção à saúde neonatal foram essenciais na
redução da mortalidade neonatal, predomina a prematuridade extrema, passando-se
a se questionar os “limites de viabilidade” dos neonatos e as malformações
congênitas, configurando-se um percentual considerado para alguns como “mínimo
irredutível”
12,15
.
O óbito neonatal é considerado um evento sentinela da assistência
materno-infantil, ou seja, um evento sanitário de alerta, cuja ocorrência pressupõe a
existência de falhas no processo de atenção à saúde do binômio mãe-neonato
13
.
Por ser uma ocorrência extremamente influenciada pela qualidade dos serviços de
saúde oferecidos à população, a mortalidade neonatal deve ser analisada com vistas
à elaboração e organização de intervenções possíveis e direcionadas à sua redução
16
num contexto local e de políticas mais amplas num contexto nacional. Várias
pesquisas têm sido desenvolvidas visando a sistematização das causas de morte
neonatal, para permitir a classificação dos óbitos neonatais dentro de uma ótica de
eventos evitáveis ou redutíveis por ações de saúde
12
. Esta é uma forma de
abordagem capaz de influenciar na melhoria da qualidade de assistência e
pressupõe o conhecimento da verdadeira causa de óbito
17
. Para que o uso das
classificações de óbitos atinja seu objetivo de clarificar as áreas com problemas na
assistência, as causas de óbito precisam ser corretamente identificadas, para o que
é fundamental uma melhor qualidade dos documentos e registros.
4.4 Sistemas de classificação de óbitos – a ótica da
evitabilidade
Vários sistemas foram propostos no sentido de melhor analisar os
óbitos neonatais dentro de uma ótica de eventos evitáveis ou redutíveis por ações
concretas de saúde, que se pressupõe ser uma forma mais útil de se contribuir na
elaboração e organização de possíveis intervenções que visem reduzir estes
eventos. Daí o interesse científico em se enfocar esta “evitabilidade”.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
56
As diversas classificações de óbitos neonatais, sob a ótica de
redutibilidade, datam da década de 1950, quando várias sistematizações foram
propostas, principalmente na Europa, com vistas a tornar a análise dos óbitos útil à
organização de ações e permitir apontar as falhas de atenção à saúde. Em 1980,
Alberman sugeriu um sistema de classificação dos óbitos perinatais que
possibilitasse intervenções de prevenção
13, 18
. Wigglesworth
19
propôs um sistema
de avaliação de mortes no período perinatal cujo primeiro estágio de análise
consiste no peso do nascimento, e que foi usada por vários autores, na sua forma
original. Em 1989, Kelling e colaboradores
20
revisaram esta classificação, a partir da
análise de óbitos por especialistas, elucidando os pontos controversos e melhorando
sua aplicabilidade prática. No Quadro 1 pode ser observada a Classificação de
Wigglesworth modificada por Keeling e a relação com as possíveis falhas
assistenciais associadas a seus eventos
14
.
Quadro 1 - Classificação de Wigglesworth modificada (Keeling, 1989)
20
Grupo
Falha assistencial associada
1
Óbitos ante-parto
No pré-natal e/ou condições maternas adversas
2
Malformações congênitas
(natimorto ou neomorto)
Pré-natal, procedimentos diagnósticos precoces
3
Prematuridade/imaturidade
Em > 1500g sugerem falha no manejo
obstétrico, assistência neonatal sala de parto e
de UTI
4
Asfixia e correlatos
Manejo obstétrico, reanimação e assistência ao
RN (UTI)
5
Condições específicas
(ex. infecções)
Assistência perinatal
Seguiram a mesma linha de avaliação, o International Colaborative
Efforte on Infant Mortality
21
, a Classificação de Taucher de 1979 e a Classificação
Nórdico-Báltica de 1995, que estratifica variáveis disponíveis rotineiramente e
provém de categorias associadas com níveis específicos de atenção à saúde
22
.
Os estudos disponíveis na literatura internacional e nacional onde
foram utilizadas as classificações de óbitos neonatais, inclusive para uso em
auditoria e avaliação de serviços, demonstraram a dificuldade encontrada pela
insuficiência de informações disponíveis para análise, principalmente nos países em
desenvolvimento
21-23
. Settatree e Watkinson
24
destacaram a grande concordância
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
57
entre observadores no uso da Classificação de Wigglesworth, reforçando avaliação
de outros autores como Horta e colaboradores
25
, em Portugal, e estudos brasileiros
de Leite
13,
em Fortaleza (CE), e Lansky
12,
em Belo Horizonte (MG), os quais
destacaram a alta confiabilidade e simplicidade de aplicação desta classificação, que
utiliza informações clínicas disponíveis nos prontuários médicos, prescinde de dados
de necropsia e disponibiliza informações de áreas onde podem ser instituídas ações
de prevenção, resgatando o conceito de “evento-sentinela”, de Rustein
12, 25
.
O Estado de São Paulo está entre os estados brasileiros que vêm em
constante e cuidadoso acompanhamento estatístico de suas taxas de MI, que
apresentaram uma queda de 66% no período de 1980-1999 e, através da Fundação
Sistema de Análise dos Dados de São Paulo (Fundação SEADE)
26
, propôs uma
classificação que é um aperfeiçoamento da Classificação de Taucher, utilizada em
diversos estudos brasileiros, inclusive por Sarinho
27
,
no Recife (PE), na análise de
fatores de risco para mortalidade neonatal. Como pode ser observado no Quadro 2,
dentre as características mais importantes desta classificação, está a de permitir o
agrupamento por causas de morte, incluídas todas as doenças constantes na
Classificação Internacional de Doenças (CID-10)
5
, além de as agrupar em evitáveis
(reduzíveis através de imunoprevenção; adequado controle na gravidez, adequada
atenção ao parto; ações de prevenção, diagnóstico/tratamento precoces e parcerias
com outros setores); não-evitáveis e aquelas mal definidas
28
.
Quadro 2 - Classificação Fundação SEADE modificada (Ortiz, 1999)
28
I – Evitáveis :
Código no CID - 10 referente a
redutíveis por Imunoprevenção
Tuberculose, difteria,coqueluche, hepatite B,
tétano, varicela, pólio, sarampo, meningite B,
sarampo, rubéola, etc.
redutíveis por controle na gravidez
Sífilis congênita, diabetes, hipertensão,
complicações da gestação, prematuridade,
RCIU, DMH, doença hemolítica do RN, etc.
redutíveis por atenção ao parto
Complicações do trabalho de parto,
placentárias, trauma, hipóxia intra-uterina e
asfixia ao nascer
redutíveis por prevenção, diagnóstico e
tratamento precoces
Afecções perinatais: infecções, doenças
respiratórias, endócrinas, metabólicas,
hemorragia neonatal, icterícias, etc.
II – Não evitáveis
Anomalias congênitas letais, doenças
congênitas hereditárias
III – Mal-definidas
Afecções mal definidas do período perinatal,
sinais e sintomas e estados mal definidos
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
58
Na utilização de qualquer destas propostas de classificação de óbitos é
importante o conhecimento da causa básica do óbito.
4.5 As causas básicas de óbito neonatal no Brasil
A análise das causas de óbito neonatal a partir de pesquisas realizadas
em diferentes estados do país é difícil, principalmente pela variedade de métodos de
pesquisa empregados. Alguns são de base populacional e outros de base hospitalar,
o que resulta também em divergências importantes nos resultados encontrados. O
uso de desfechos e classificações diversos, além das diferentes terminologias
usadas pelos autores para as causas de óbito, mesmo quando utilizado um mesmo
sistema de codificação (CID), dificultam as comparações. O Quadro 3 apresenta os
estudos nos quais algumas características foram elencadas, estando organizado
por regiões e estados onde ocorreram.
Na região sul do Brasil, onde figuram os melhores indicadores de
mortalidade do país, a asfixia correspondeu a 2,4% a 38% das causas de óbitos
neonatais
29-31
, chegando a 48% no estudo de Souza e Gotlieb
32
, porque o
percentual de óbitos por asfixia se encontra somado às afecções respiratórias. Estas
corresponderam a 18,4% a 63% do total; as infecções ficaram entre 8% a 15,6%
dos casos; e causas maternas variaram de 8,4% a 18,4%. As malformações
congênitas foram causa de 7% a 20% dos óbitos neonatais
29-36
. No Nordeste, a
asfixia correspondeu a uma taxa de 5,2% a 14,6% das causas de óbito; as afecções
respiratórias foram encontradas em 5% a 43,8% dos casos; infecções em 3,4 a
38,9%; prematuridade em 0,3% a 34,7%; e causas maternas em 5,3% a
39,6%
14,27,37-39
. As malformações congênitas totalizaram valores de 5,4% a 26,3%
dos óbitos. Estudo em São Luiz (MA), também mostrou elevados percentuais de
prematuridade, baixo peso e síndrome de angústia respiratória
40
. Os óbitos
evitáveis correspondem a mais de 80% dos ocorridos nestes estudos. Em estudo
realizado no Recife (PE), por Guimarães
41
, a partir de estratos de condições de
vida, as causas perinatais representaram a principal causa de morte em todos os
estratos, representando um coeficiente de 14,9 por mil nascidos vivos, seguido das
malformações congênitas, com coeficiente de mortalidade de 4,1 por mil nascidos
vivos.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
59
Quadro 3 - Distribuição dos óbitos infantis e perinatais por causas, em diferentes estudos realizados no Brasil (1980-2003).
ESTUDOS BRASILEIROS CAUSAS BÁSICAS DE ÓBITOS NEONATAIS PRECOCES
Região
Brasil
Autores
Local
Ano referência
Desfecho
estudado
Classificação de
causas
Asfixia
Afecç.
respir
Infecções
Malformações
Congênitas
Prematuridade
Causas
Maternas
Compl.
Parto/placenta
Outras
causas
Barros e col.
Pelotas, RS
1987
M. Perinatal Wigglesworth 4,6 - - 10,0 31,0 - - 3,6
Menezes e col.
Pelotas, RS
1993
M. Perinatal Wigglesworth 38,0 - - 11,0 17,0 - - 8,0
Miura e col.
P. Alegre,RS
1984-1990
M. Perinatal nenhuma 14,2 18,4
15,6
(Pós-
natais)
21,2 -
Infecções
Intra-Utero
18,4
- -
Souza e Gotileb
Maringá,PR,
1989
M. Infantil CID-9 48,3* - 15,3 20,0 - 26,7
Bercini
Maringá, PR
1990
M. Neonatal CID-9 14,5 - - - 15,8 8,4 13,3 48,0
Araujo, Bozzetti
e Tanaka
C. Sul, RS 1995
M. Neonatal
Precoce
nenhuma 2,4 21,4 -
14,3
(cardiopatia
congênita)
11,9
7,1
(Corioamnionite)
4,8 (Inf.materna)
11,9
(Descol.Premat.
Placenta)
-
Santa-Helena e Rosa
Blumenal, SC
1998
M. Infantil nenhuma - 52,0 8,0 30,0 - - - -
Sul
Serafim
Maringá, PR
1997-2000
M. Neonatal CID-10 - 63,0 9,0 7,0 25,0
11,0
(inclui asfixia)
- -
Coutinho Recife, PE 1994 M. Neonatal F. SEADE Mod. 5,3 15,6 5,0 12,1 0,3 33,3 19,0 9,3
Leite
Fortaleza, CE
1995
M. Perinatal Wigglesworth 8,9 - - 5,4 34,7 - 2,0
Sarinho e col. Recife, PE 2001 M. neonatal CID-10 5,2 5,5 5,5 2,9 39,6 11,5 -
Carvalho
Fortaleza,CE
2001
M. Neonatal CID-10 14,6 43,8 3,4 14,0 - 16,3** -
Vanderlei
Recife, PE
2002
M. Infantil nenhuma 9,8 - 38,3 26,3 18,0 5,3** -
Nordeste
Guimarães
Recife, PE
2003
M.Infantil CID-9 4,1 14,9% (Afecções perinatais)
Carvalho e Silver
R. Metrop. RJ
1985
M. Neonatal CID-9 0,9 7,5 1,8 8,6 14,3 15,3 17,7 -
Leal e
Szwarcwald
R.Metrop.RJ,
1979-1993
M.Neonatal FSEADE modif. 6,7 36,9 - - 11,8 - - -
Gomes e Santo
P.Prudente, SP
1990-1992
M. Infantil nenhuma 22,7 - 2,6 - 31,7 - - 9,0
Barros
Vitória, ES
1992-1993
M. perinatal Wigglesworth 15,8 - - 15,1 22,8 - - -
Sudeste
Lansky e França
B.Horizonte,MG
1999
M. Perinatal Wigglesworth 34,9 - - 8,4 22,6 - - 4,0
* Consideraram asfixia e afecções respiratórias num único grupo.
** Consideraram causas maternas ligadas ao parto e placentárias num mesmo grupo
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
60
Na região Sudeste, foram encontrados 6,7% a 34,9% de óbitos por asfixia;
7,5% a 36,9% óbitos causados por afecções respiratórias; 1,8% a 2,6% dos casos
por infecções; 11,8% a 31,7% por prematuridade; e 8,4% a 15,1% por malformações
congênitas
42-46
. Não foram encontrados estudos de análise de causas de óbitos
entre neonatos das regiões centro-oeste e norte do Brasil. No entanto, as causas
perinatais e as malformações congênitas lideram as ocorrências de óbito definidas
entre menores de um ano nestas duas regiões
47
.
Como pode ser observado acima, são visíveis as discrepâncias entre
os achados nos diversos estudos, em parte resultante de definições e métodos de
análise diferentes, bem como de bases populacionais diversas (estudos de base
hospitalar ou populacional). Mas estas expressivas variações podem indicar falhas
no registro da causa básica, como pode ser percebido pelo excessivo percentual de
mortes por prematuridade, evento que não é considerado causa básica de óbito pela
Organização Mundial de Saúde
7
.
4.6 Onde falham os sistemas de informações de óbitos
neonatais ?
A importância de se dispor de informações confiáveis acerca dos óbitos
neonatais é inegável, permitindo inclusive ter em mãos, estimadores de qualidade da
atenção médica dispensada às crianças em risco de morrer, o que para Hartz
48
é
uma exigência principalmente ética, por se tratar de “mortalidade consentida” de
crianças.
As falhas no processo de informação podem ocorrer em qualquer
etapa, desde o superdimensionamento dos óbitos fetais ocorridos em nascidos vivos
que falecem logo após o nascimento, e que são notificados como fetais
30
,
até a
omissão dos antecedentes obstétricos, enfatizado por Coutinho
37
,
dificultando se
chegar à verdadeira causa básica e subestimando as causas maternas. Ocorrem
falhas em prover informações que permitam adequada codificação, inclusive com o
preenchimento incompleto dos atestados que, em muitos casos, são até ilógicos. O
óbito neonatal também se reveste de características especiais que fazem com que
sua notificação exija maior cuidado.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
61
Tem sido questionado por diversos autores, que motivos levam à
deficiência no preenchimento das DO por parte dos médicos, destacando-se a
pouca ênfase dada aos alunos da graduação, sobre a importância do preenchimento
correto dos documentos de óbito. Há mesmo de se questionar a pouca qualificação
e o desconhecimento de como preencher corretamente a DO
49, 50
, o desinteresse
pelo tema e pela demora na divulgação dos dados estatísticos
37, 39
e, ainda, a
resistência do profissional em aceitar o evento morte
51
.
Todos estes são motivos que certamente podem estar envolvidos na
inadequação da DO, como assevera Sibai
6
, principalmente em se tratando de
países em desenvolvimento. Mas também há relatos de baixa qualidade dos
registros de óbito nos países desenvolvidos, principalmente em relação aos filhos de
mães adolescentes, mães solteiras e não brancas
52, 53
. Em relação à divulgação das
informações, o SIM vem adquirindo maior agilidade no fechamento dos bancos de
dados, permitindo maior acessibilidade, com facilidade no manuseio e na tabulação
de dados
54
.
Alguns profissionais ainda vêem a DO apenas como um instrumento
legal obrigatório ao sepultamento, e não atentam para a perspectiva da importância
no planejamento das ações de saúde
55
e para embasar pesquisas em âmbito
nacional e internacional. Estas falhas podem e devem ser detectadas pelos serviços
de saúde com a garantia do aprimoramento das informações geradas nas unidades
hospitalares e pela formação e informação dos profissionais diretamente envolvidos
com a produção destes dados, além da reciclagem periódica dos profissionais na
análise de causas de óbito.
No Brasil, a subnotificação de eventos, o preenchimento incorreto ou
incompleto da DO, informações discordantes e inconsistentes ou tidas como
“ignoradas”
29,51,55,56
, que resultam variações na cobertura do SIM e baixa
confiabilidade dos dados oficiais
12
, devem ser rigorosamente monitoradas pelas
secretarias municipais e estaduais de saúde para onde devem convergir todos os
documentos de óbitos ocorridos. Somente assim, com uma vigilância rigorosa, os
graus diversos de distorção dos coeficientes de mortalidade tendem a se reduzir,
levando a uma adequação dos indicadores às condições de saúde da população, já
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
62
que as estratégias traçadas para diminuir os óbitos neonatais incluem sua vigilância
pela otimização das informações obtidas no sistema de saúde através dos eventos-
sentinela.
À falta de indicadores confiáveis, o Ministério da Saúde tem se utilizado
de dados estimados de óbitos, refletindo com isso a ineficiência dos sistemas SIM e
SINASC em cobrir os dados de nascimentos e óbitos em grande número de áreas
do país. Obtidos por métodos demográficos de mensuração indireta, realizados pelo
IBGE, estes dados geram distorções duramente criticadas pelos próprios gestores,
na medida em que se mostram incapazes de detectar mudanças de curto prazo,
decorrentes de intervenções que foram realizadas na área de saúde
14,17,57
.
4.7 Considerações Finais
No cenário de declínio da MI brasileira, o predomínio da mortalidade
neonatal parece nos aproximar dos padrões epidemiológicos do primeiro mundo.
Mas, onde quer que se busquem as causas, independente da região ou estado,
mesmo em centros onde os cuidados dispensados à população se completam com
padrão tecnológico semelhante aos países desenvolvidos, a mortalidade neonatal
brasileira reflete as desigualdades sociais do país, e a baixa qualidade da atenção
ainda dispensada à saúde do binômio mãe-filho
57
.
Os estudos mostram um predomínio dos óbitos por causas evitáveis,
passíveis de prevenção. Ao conhecê-las, e analisá-las poderão ser definidas
estratégias de melhoria na geração destes indicadores. Também de forma eficiente
será possível a avaliação da qualidade dos serviços prestados à população
54
.
Ações que visem à regionalização da atenção à saúde perinatal
31, 58
, melhoria da
qualidade do pré-natal e universalização do acesso da população aos cuidados de
saúde, ressaltadas em todos os estudos, poderão receber maior atenção por parte
dos gestores.
Por fim, o conhecimento e valorização da qualidade da informação que
é gerada em todos os níveis de atenção à saúde e sua importância epidemiológica
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo de Revisão II
63
devem ser uma constante preocupação na formação de profissionais em todos
níveis de educação da saúde.
4.8 Referências Bibliográficas
1. Almeida ALJ, Chagas EF, Martin ES, Guimarães RB, Pizzol RJ, Pacheco RD
et al. As condições de saúde e sócio-ambientais das desigualdades em uma
cidade média: a construção de um Sistema de Indicadores Sociais. In: Anais
do XIII Encontro Nacional de Geógrafos; 2002 jul; João Pessoa(BR). João
Pessoa; 2002.
2. Novaes HMD, Almeida MF, Ortiz LP. Projeto: informação para tomadores
de decisão em saúde pública – Tema: gestão para redução da
mortalidade infantil. 2ª ed. São Paulo: BIREME/OPAS/OMS; 2004.
3. Pereira MG. Epidemiologia – teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan; 2000. 4ª reimpressão.
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I
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Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
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5 – Avaliação da qualidade do preen-
chimento das declarações de óbito
neonatal precoce em Maceió - Alagoas
RESUMO
Objetivo: Verificar a qualidade das informações oficiais de óbitos neonatais
precoces hospitalares de residentes em Maceió, Alagoas.
Método: Estudo descritivo exploratório dos óbitos neonatais ocorridos entre
01/01/2001 e 31/12/2002, analisando o preenchimento da Declaração de Óbito (DO)
e do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). O padrão-ouro foi o formulário
preenchido a partir dos prontuários das mães e neonatos. Estudou-se a freqüência
na DO das variáveis: tipo de óbito, endereço, idade materna, sexo, peso, tipo de
parto, idade no óbito, idade gestacional e assistência médica, verificando a
confiabilidade do sistema através da concordância entre prontuários, DO oficial e
SIM, por concordância simples, sensibilidade e Indicador kappa.
Resultados: O SIM registrou 451 óbitos neonatais precoces hospitalares, dos quais
foram excluídos 50 casos. Na busca ativa realizada nos arquivos hospitalares não
foram localizados os prontuários de 59 óbitos e foi localizado um óbito não registrado
no SIM. Nos Cartórios de Registro Civil, 58,6% dos óbitos não foram registrados.
Houve 44,1% de omissão da variável idade materna no SIM. Nos prontuários foram
resgatadas 85,7% a 100% das variáveis não preenchidas na DO oficial. A
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concordância foi boa entre DO oficial e prontuário para tipo de parto, peso e idade.
Entre prontuários e o SIM, a menor concordância foi para peso e idade materna. O
SIM apresentou sensibilidade 69,2% para peso e 36,3% para idade materna,
demonstrando pouca capacidade de informar corretamente variáveis importantes
para geração de indicadores da saúde perinatal.
Conclusão: A qualidade da DO é precária, devido ao preenchimento incompleto
agravado pela caligrafia ilegível dos médicos, tornando-a pouco útil. O SIM é
inadequado, apesar de abranger 100% dos óbitos neonatais da cidade, por não
cobrar a correção das falhas encontradas, piorando a qualidade da DO e não
digitando as informações disponíveis.
Descritores: Mortalidade Neonatal. Atestados de óbito. Sistemas de informação.
Registros médicos.Validação.
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73
ABSTRACT
Objective: To verify the quality of official’s information about neonatal precocious
death in residents Maceió, Alagoas.
Methods: Descriptive exploratory study about neonatal death between 01/01/2001 to
31/12/2002, analyzing the Death Certificate(DC) and Mortality Information System
(SIM) fulfillment. The “gold-standard” was the form with mothers and neonate’s
records. At DC were studied these variables: type of death, address, weight, type of
labour, age when death, pregnancy’ age, medical attendance, verifying the SIM
reliability, through agreement with patient’s records, DC official and SIM, by simple
agreement, sensibility and Kappa.
Results: The SIM registered 451 neonatal precocious deaths in hospitals, excluding
49 cases and 25 DC misleading. Fifty-nine patient’s records weren’t finding. On
active search was found one death without register on SIM and 58.6% no officially
registered. The maternal age was omitted on SIM at 44.1%. On patient’s records
were release 85.7% to 100% variables unfilled Official DC. The agreement was good
between Official DC and patient’s records in type of labour, weight and age. Between
patient’ records and SIM the lesser agreement was weight and maternal age. SIM
presented sensibility 69.2% to weight and 36.3% to maternal age, demonstrating low
capability to inform correctly important variable to product perinatal health indicators.
Conclusion: The DC quality is precarious, due to incomplete fulfillment aggravated
by physicians illegible calligraphy, became little useful. SIM is inadequate, despite
cover 100% neonatal death in the city, don’t receive fails making worse the DC
quality, didn’t typing the available information
Descriptors: Neonatal Mortality. Death Certificates. Information System. Medical
Records. Validation.
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Artigo Original -I
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5.1 Introdução
A Declaração de óbito (DO) é um documento que, além de permitir o
sepultamento, disponibiliza informações valiosas sobre a população, a partir de suas
sessenta e duas variáveis. Seu correto preenchimento é da responsabilidade do
médico
1
e suas variáveis alimentam, no âmbito nacional, o Sistema de Informação
de Mortalidade (SIM).
A cobertura e confiabilidade do SIM são características essenciais que
lhe conferem credibilidade e diminuem com a subnotificação de eventos, com o
preenchimento incorreto e incompleto da DO, com a presença de discordâncias e
com o elevado percentual de variáveis ignoradas, que podem distorcer de tal forma
os indicadores gerados a partir destes dados a ponto de transmitir uma falsa idéia de
adequação das condições de saúde locais
2
. A omissão dos antecedentes
obstétricos em óbitos neonatais leva à inadequação da DO por subestimativa das
causas maternas, na maioria evitáveis
3
.
O SIM foi implantado há trinta anos e ainda é difícil analisar a
mortalidade neonatal a partir de suas informações, que por insuficiência de dados,
informações conflitantes e cobertura heterogênea, tem sua validade comprometida
4
na maioria dos municípios brasileiros.
As melhorias no Sistema decorreram da descentralização, questionada
por alguns autores que a vêem apenas como descentralização da digitação,
padronização de coleta e fluxo dos documentos, capacitação técnica, uso do
Programa Seletor de Causa Básica e diminuição do registro de óbitos de causa mal
definida. O SIM agilizou a conclusão e consolidação dos bancos de dados, mas sua
cobertura ainda é em média de 83,15%, menor no Nordeste, (68,70%) maior na
região Sul (90,58%), não chegando a 70% em Alagoas, Bahia, Ceará, Rio Grande
do Norte, Piauí, Paraíba, Tocantins e Pará
5,6
.
Alagoas detém o maior índice de MI do país e não dispõe de estudos
que avaliem a qualidade das informações oficiais de óbitos neonatais.
Subnotificações podem estar distorcendo a realidade local, comprometendo ações
efetivas às populações de risco. Estudos sob essa abordagem permitem subsidiar
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -I
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estratégias de treinamento dos médicos das instituições de saúde no preenchimento
adequado da DO, além de melhorar a coleta e crítica do SIM.
Este estudo objetivou verificar a qualidade das informações oficiais de
óbitos neonatais precoces de residentes em Maceió-AL, a partir da análise do
preenchimento e omissão de suas variáveis.
5.2 Material e Método
Estudo descritivo exploratório, para verificar a qualidade do SIM em
residentes de Maceió a partir da análise dos óbitos neonatais ocorridos entre
01/01/2001 e 31/12/2002. Maceió, capital do Estado de Alagoas, possui uma área de
796.842 km
2
, com uma população estimada, em 2003, de 849.734 indivíduos
vivendo na área urbana, sendo 301.551 mulheres em idade fértil (10 a 49 anos), e
17.048 menores de um ano. Tem uma taxa de crescimento populacional estimada
em 2.5% ao ano
7
.
No ano de 2001, o SINASC registrou o nascimento de 64.944 crianças
em Alagoas, estado que detém o recorde brasileiro dos mais altos índices de MI,
com 2.111 óbitos ocorridos no decorrer daquele ano, dos quais 870 ocorreram em
Maceió, sendo 562 no período neonatal precoce, dos quais 261 declararam
residência em Maceió. Neste mesmo período ocorreram 347 natimortos. Em 2002,
nasceram 62.551 crianças em Alagoas, das quais 16.589 em Maceió, onde foram a
óbito 382 menores de 1 ano, ocorrendo 192 óbitos nos primeiros seis dias de vida
8
.
Maceió dispõe de uma rede hospitalar composta de hospitais privados,
que atendem exclusivamente a particulares e convênios, hospitais particulares
conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e hospitais públicos conveniados ao
SUS e que prestam assistência às gestantes para parto normal e operatório,
disponibilizando 4,4 leitos por 1.000 habitantes, segundo dados do IBGE para 2001,
com seu maior percentual de leitos obstétricos
7
.
Em Maceió, a Secretaria Municipal de Saúde (SMSM) disponibiliza as
DO aos hospitais e estes são responsáveis por restituir à SMSM, a via que será
processada pelo SIM. O controle da SMSM se faz na medida em que a
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C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -I
76
disponibilização de novas DO ao hospital só se dá após a devolução de todas as DO
utilizadas.
A população do estudo foi composta por 453 óbitos não fetais,
ocorridos em menores de sete dias de vida, cujos endereços foram validados
através do Código de Endereçamento Postal. As DO fetais também foram revisadas
para detectar erros de classificação. Também foi realizada a busca ativa dos
registros dos óbitos da população estudada nos Cartórios de Registro Civil de
Maceió, para detectar possíveis DO sem registro na SMSM.
Verificou-se o preenchimento e a omissão de variáveis selecionadas
nas DO oficiais e a digitação e inclusão destas no SIM (DO-SIM), tendo como
padrão-ouro o formulário de pesquisa (DO-Prontuário), preenchido com informações
resgatadas nos prontuários médicos das mães e neonatos, complementadas por
informações dos livros de registros de gestantes, sala de parto e centro obstétrico,
unidades de terapia intensiva e berçários, além dos arquivos eletrônicos hospitalares
e das fichas de encaminhamento dos pacientes que foram encontradas.
Foram analisadas as variáveis: tipo de óbito, endereço, idade materna,
sexo, peso, tipo de parto, idade no óbito, idade gestacional e assistência médica. As
variáveis qualitativas foram categorizadas em: tipo de parto (operatório e não
operatório: natural e fórceps); sexo: feminino, masculino e indeterminado. As
variáveis quantitativas foram categorizadas, para permitir a análise de concordância
pelo Indicador Kappa. Foram utilizados os seguintes pontos de corte: Idade na data
do óbito: 1 dia e > 1 dia de vida; Peso ao nascer: < 2500 g e 2500 g; Idade
materna: < 19 anos (adolescentes) e 19 anos.
A qualidade dos documentos foi analisada pela freqüência do
preenchimento das variáveis selecionadas e o grau de confiabilidade do SIM, pela
análise de concordância entre os prontuários, DO oficial e SIM, análise ajustada
através do Indicador Kappa e seus intervalos de confiança (considerando: <0,00 -
ruim; 0,00 – 0,20 - fraca; 0,21 - 0,40 - sofrível; 0,41 - 0,60 - regular; 0,61 - 0,80 - boa;
0,81 - 0,99 - ótima e 1,00 - perfeita)
9
. A validade do SIM foi verificada através de
medidas de sensibilidade (ou taxa de detecção), considerando-se o formulário da
pesquisa como padrão-ouro. Deste modo foi possível comparar as informações
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -I
77
deste padrão-ouro com as informações da DO oficial e do SIM. A sensibilidade do
Sistema e da DO oficial foi calculada como a proporção de informações corretas nos
prontuários e também corretas nas DO oficiais ou SIM (verdadeiros positivos)
divididos pela soma destes verdadeiros positivos e os falsos negativos (informações
desconhecidas no formulário por inexistentes nos prontuários, mas preenchidas na
DO oficial ou no Sistema). O programa Epi Info 6.04 foi utilizado para as análises
estatísticas, a partir do banco de dados digitado com dupla entrada.
O tamanho da amostra foi calculado utilizando a fórmula para estudos
de validação
7
, com power de 80% e admitindo um erro de 5% e IC 95% com base
em valores de sensibilidade da DO em detectar as causas neonatais de óbito de
83,3%
10
, resultando em amostra de 334 óbitos, selecionados a partir do banco de
dados do SIM/SMSM. Optou-se por estudar todos os óbitos ocorridos no período,
pela expectativa grande de perdas. O projeto de pesquisa obteve aprovação do
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Alagoas em 25/11/2003.
5.3 Resultados
O SIM em Maceió registrou 621 óbitos neonatais, em 2001 e 2002, dos
quais 453 neonatais precoces de mães residentes na cidade de Maceió, sendo 451
óbitos hospitalares. No procedimento de limpeza do banco de dados foram excluídos
50 óbitos erroneamente classificados neonatais precoces. Este procedimento e as
perdas do estudo, que corresponderam a 14,7% da amostra, se encontram na
Figura 1.
A busca ativa realizada nas DO de óbitos fetais detectou três DO com
inconsistências que tiveram seus prontuários analisados nos hospitais. Destes, um
se tratava de óbito neonatal precoce e foi incluído na pesquisa. A busca ativa nos
cartórios de registro civil detectou registro de apenas 41,4% dos óbitos ocorridos e
registrados no SIM.
Pedrosa, Linda Délia
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Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -I
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Figura 1 – Limpeza de Bancos de Dados
621
óbitos neonatais
residentes em
Maceió
2001-2002
453
0 – 6 dias
170
7 – 28 dias
2
domiciliares
451
hospitalares
50
excluídos
Busca ativa
Bco de óbitos
fetais
1 óbito
neonatal
Arquivos Hosp.
1 óbito
não registrado
no SIM
401
SIM
59
casos não
analisados
30 sem
prontuários
29 com
prontuários
incompletos
342
casos
clínicos
1 caso
clínico
hospitalar
343
Casos
Clínicos
25 DO
extraviadas
na SMSM
396
DO OFICAIS
20 cópias de
DO
resgatadas
hos
p
itais
401
SIM
396 DO
OFICIAIS
343
Casos
Clínicos
337
CASOS
ANALISADOS
ANÁLISE DOS ÓBITOS
12 óbitos fetais
27Outros Munic
7 > 7 dias
1 Adulto
1 domiciliar
2 DO duplicados
excluidos
incluidos
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Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original I
79
Foram revisados 401/451 registros eletrônicos no SIM, 396/451 DO
oficiais, 343/451 casos em prontuários dos quais apenas 337/451 apresentavam
também DO oficial e registro no SIM. Ao término do estudo, haviam sido analisados
774 prontuários. Apenas 41,4% (166/401) dos óbitos neonatais tiveram registro em
cartórios de Maceió, onde foram pesquisados por busca ativa. Dentre os casos
estudados, 76,9% (264/343) tinham peso ao nascer < 2500 g; 55,4% (190/343) eram
do sexo masculino; 53,6% (184/343) faleceram nas primeiras 24 horas de vida; 65%
(222/343) nasceram de parto não operatório; 66,7% (229/343) eram prematuros (<
37 semanas de idade gestacional). As mães tinham idade 19 anos em 31,5%
(108/343) casos. As características das perdas do estudo foram analisadas e não
houve diferença em relação aos casos estudados.
Na análise da DO oficial, foi observado que em 22,0% (87/396) dos
casos não foi assinalado pelo médico o tipo de óbito, se fetal ou não fetal; em 3,5%
(14/396), foi marcado o tipo fetal e em 0,5% (02/396) casos, ambos assinalados. O
endereço incompleto em 5,8% (23/396) DO oficiais impossibilitava determinar
município de residência, necessitando a busca dos prontuários. Em algumas DO
oficiais esta informação foi complementada pela SMSM, permanecendo a maioria
em branco no sistema, constando apenas o código do Município.
A caligrafia pouco legível do médico foi mais um agravante ao não
entendimento pelos técnicos da SMSM dos endereços e até mesmo nomes
incompletos ou fornecidos erroneamente. Em 4,3% (17/396) dos instrumentos
oficiais não havia a variável “sexo” assinalada pelo médico, porém todas foram
informadas no SIM. Em duas DO oficiais com sexo “indefinido”, devido a
malformações congênitas sem conclusão diagnóstica, o sexo “masculino” foi
assinalado no SIM. A inconsistência também ocorreu por não preenchimento pelos
médicos das variáveis: idade materna, peso e assistência médica, esta ausente em
68,4% (2001) e 62,2% (2002). A variável “idade materna” foi a menos preenchida
pelos médicos chegando a 44,2% (175/396) de omissão e em apenas um caso não
disponível no prontuário. Duas crianças, sem peso determinado nos prontuários,
eram gêmeas imperfeitas, que pesadas em conjunto, totalizaram aproximados 5000 g.
Mas a variável “peso” foi omitida em 15,2% (61/396) das DO oficiais. As variáveis em
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original I
80
branco na DO oficial foram resgatadas nos prontuários em 85,7% a 100% dos casos
(Tabela 1).
Comparando o preenchimento das DO oficiais com o SIM observou-se
omissão de digitação de informações fundamentais como o peso em 60,4%
(242/401) dos casos, omitindo ao sistema 44,1% (147/335) do informado pelos
médicos, com perda de informação sempre elevada, exceto nas variáveis “tipo de
óbito” e “sexo”, todos informados.
Tabela 1 Distribuição da freqüência de preenchimento das variáveis: peso ao
nascer, sexo, idade no óbito, idade da mãe, tipo de parto e idade gestacional, e
resgate das variáveis em branco nos prontuários, em óbitos neonatais precoces, em
Maceió, 2001-2002.
DO-OFICIAL
variáveis
em branco
Variáveis
resgatadas
em prontuários
Variável
% %
Sexo 14/337 4,2 12/337 85,7
Idade no óbito 28/337 8,3 24/337 85,7
Peso ao nascer 46/337 13,7 44/337 95,6
Idade materna 135/337 40,0 134/337 99,2
Tipo de parto 50/337 14,9 50/337 100,0
Idade gestacional 61/337 18,1 41/337 67,2
A análise de concordância entre a DO oficial e o prontuário se encontra
na tabela 2, sendo considerada boa em relação ao tipo de parto, peso e idade. A
comparação entre as DO oficiais e o SIM permitiu detectar os erros de digitação, a
concordância foi considerada boa em peso e idade e ótima nas demais variáveis.
Entre os prontuários, onde admite-se estarem as verdadeiras informações do
paciente e o SIM (tabela 3); a variável peso obteve a menor concordância (CO de
42,6%, Kappa de 0,19), seguida da idade materna, concordante em 54,6% e Kappa
de 0,34. O SIM apresentou uma sensibilidade de 69,2% na variável peso e 36,3%
em idade materna.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original I
81
Tabela 2 - Concordância em variáveis selecionadas entre a DO oficial e os
prontuários hospitalares, nas Declarações de Óbitos neonatais precoces, em
Maceió, 2001-2002.
Variáveis
C.O.
(%)
S IC - S
95%
K
IC – K
95%
Sexo 93,0 92,7 87,9-95,8 0,87 0,77 - 0,97
Tipo de parto 84,2 89,8 84,6-93,4 0,71 0,62 - 0,78
Peso ao nascer 84,3 90,2 85,7-93,3 063 0,55 – 0,71
Idade no óbito 84,0 84,2 78,1-88,9 0,71 0,61 – 0,80
Idade materna 58,7 40,2 32,9-48,1 0,38 0,32 – 0,43
Idade gestacional 79,2 91,6 87,0-94,7 0,58 0,50 – 0,66
C.O. – concordância simples S- sensibilidade IC- intervalo de confiança K- Indicador Kappa
Tabela 3 - Concordância para variáveis selecionadas entre o SIM e os prontuários,
nas Declarações de Óbitos neonatais precoces, em Maceió, 2001-2002.
Variáveis
C.O.
(%)
S
IC - S
95%
K
IC - K
95%
Sexo 94,0 92,1 87,2 – 95,3 0,88 0,78 – 0,98
Tipo de parto 80,7 86,3 80,8 – 90,5 0,65 0,57 – 0,73
Peso ao nascer 42,6 69,2 61,6 – 76,0 0,19 0,15 – 0,23
Idade no óbito 89,0 85,2 79,5 – 89,6 0,78 0,68 – 0,88
Idade materna 54,6 36,3 29,2 – 44,0 0,34 0,30 – 0,38
Idade gestacional 80,6 90,9 86,1 – 94,2 0,55 0,47 – 0,63
C.O. – concordância simples S- sensibilidade IC- intervalo de confiança, K- Indicador Kappa
5.4 Discussão
As informações da DO geram indicadores que subsidiam não só os
programas locais de atenção à saúde como estatísticas que podem ser utilizadas no
âmbito local, nacional e mundial. Permitem sua utilização em pesquisas
internacionais, como as realizadas pelas redes de cooperação em pesquisas, a
exemplo da Rede Vermont-Oxford (VON), Rede Neonatal do Instituto de Saúde
Infantil (NICHD) e, aqui no Brasil, a rede Brasileira de Pesquisas Neonatais (RBPN)
11
.
Portanto, não podem ser vistas apenas como instrumento legal, o que por si só já lhe
confere grande importância.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original I
82
Esta pesquisa detectou a inadequação do SIM em Maceió, inclusive
nos registros de óbitos fetais, onde foram encontrados erros de classificação. A
dificuldade e o desconhecimento das definições de nativivo e natimorto podem levar
a estas incorreções
3
. A não validação de endereços, a aceitação de DO sem
endereço firmado, a ausência de crítica de inconsistências em relação à causa
básica e idade também geraram erros que a análise rotineira no sistema é capaz de
detectar. A localização de óbitos não registrados no SIM também depõe contra a
qualidade do sistema, mas expõe a necessidade dos hospitais cumprirem seu papel
de informar corretamente os eventos ocorridos.
A subnotificação, outro fator limitante à qualidade do SIM, foi
observado no estudo de Santa Helena e col.
12
em 7,3% de óbitos não fetais e
11,1% em fetais, e também relatada em estudos internacionais de países como a
Índia, onde a publicação de estatísticas oficiais é irregular e não sistemática
14
. Os
percentuais elevados de subregistro encontrados no presente estudo provavelmente
se devem aos custos do registro de óbito, por se tratarem de óbitos em menores de
seis dias, quando não há nenhuma outra necessidade de registrá-los, por
desconhecimento ou desinteresse dos responsáveis. Também é importante a
exigência do registro pelos cemitérios para proceder ao sepultamento.
A qualidade da DO preenchida pelos médicos mostrou-se inadequada,
uma vez que o percentual elevado de omissão de uma variável indispensável
4
,
como tipo de óbito, impossibilita a entrada do registro no sistema, e aponta para o
desconhecimento dos médicos da sua obrigatoriedade e da distinção de óbito fetal e
neonatal. No entanto, todos tiveram esta informação digitada no SIM, apontando
para necessidade de correção do dado no sistema, procedimento que deveria ser de
exceção, pois a variável já deveria vir preenchida pelo médico na DO.
O grau de preenchimento das variáveis na DO oscila de acordo com
algumas características dos estudos. Assim, estudos populacionais apresentam, em
geral, maior percentual de preenchimento, em particular das variáveis essenciais
(sexo, idade, município de ocorrência e residência)
12, 14, 15
, provavelmente por se
tratarem de estudos realizados em estados com maior qualidade dos sistemas de
informação.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original I
83
Os estudos no Brasil sobre a qualidade do preenchimento das DO e,
portanto, de análise da qualidade do SIM sob a ótica da disponibilidade de
informações, datam da década de 1970 a 1990
12,14-18
. No entanto, pesquisas atuais
4
no país, não demonstram melhora significativa nesses percentuais. Nos países
desenvolvidos, o mau preenchimento das DO é verificado em maior magnitude em
relação à causa de óbito, para onde a maior parte das pesquisas convergem
19-24
.
Lomuto
25
, na Argentina, relata o registro deficiente da idade gestacional
comprometendo a análise do percentual de baixo peso e prematuridade. Hetoghe e
col.
26
, na Bélgica, encontraram concordância no peso ao nascer em 69% dos casos
estudados, com maior sub-registro de informações em neonatos de baixo peso.
Neste estudo, foi observado que Maceió apresenta atualmente padrão de qualidade
do preenchimento da DO semelhante ao encontrado nas pesquisas relacionadas à
qualidade de informação dos óbitos para as regiões mais desenvolvidas do país (Sul
e Sudeste) há algumas décadas.
A análise da consistência do SIM em relação às DO oficiais sugere
ausência de crítica na digitação e de verificação da consistência dos dados pela
SMSM, principalmente em 2001, quando importantes informações não foram
transmitidas ao SIM, incluindo a parte V, exclusiva para óbitos fetais e de menores
de um ano, mesmo quando presentes na DO oficial. Os endereços ausentes ou
errados e não corrigidos, em algumas DO oficiais, resultaram na inclusão de 27/451
DO de outros municípios. A idade foi predominantemente determinada por diferença
entre as datas de nascimento e óbito, apesar de em muitos casos a idade em horas
estar preenchida criteriosamente pelos médicos. A inobservância destes aspectos
pelos digitadores permitiu a inclusão de 1,3% (06/451) óbitos neonatais tardios. Ao
excluir um grande percentual de informações, a digitação incompleta das variáveis
no SIM produz uma amostra não aleatória das informações que deveriam existir, o
que inviabiliza a utilização plena dos dados.
É importante observar que o preenchimento das DO oficiais pelos
médicos foi um procedimento adequado para a maioria das variáveis estudadas,
uma vez que a sensibilidade da DO foi baixa apenas para a variável idade materna.
Ao transcrever ao SIM as informações da DO oficial, os digitadores omitiram uma
série de informações fazendo com que esse banco de dados passasse a não mais
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original I
84
refletir as informações reais dos neonatos, que são aquelas constantes nos
prontuários médicos, expressa na queda da concordância simples, concordância
ajustada pelo Kappa, sensibilidade do sistema em relação ao prontuário, patente em
todas variáveis, exceto sexo e idade gestacional, e principalmente em peso ao
nascer e idade materna.
Estes achados demonstram o quanto o SIM pouco reflete da realidade
sobre os óbitos ocorridos em Maceió, em relação às informações que aferem a
qualidade da assistência prestada à gestante e ao concepto, e norteiam ações
preventivas. A baixa sensibilidade do Sistema demonstra a sua restrita capacidade
em detectar e informar corretamente variáveis fundamentais como peso ao nascer e
idade materna, reconhecidos preditores de risco para óbito, e desta forma o SIM
deixa de exercer parte de suas funções como SIS. A maior sensibilidade do Sistema
em detectar informações sobre idade gestacional, embute também um certo grau de
imprecisão, pois na DO a idade gestacional é aferida em faixas de semanas.
Em estudo no Recife, Vanderlei e col.
19
ressaltam o ganho de apenas
50% das informações nos prontuários. Apesar desta e outras referências
desalentadoras quanto ao preenchimento dos prontuários, a exemplo de Coutinho
3
,
Serafim
27
e Campos
28
, para quem o mau preenchimento dos formulários e
prontuários reflete a má qualidade da assistência prestada, a quantidade de
informações resgatadas nos prontuários foi elevada, provavelmente por terem
ocorrido em sua maioria em unidades de instituições de ensino, permitindo concluir
que a falta de compromisso e o desinteresse possivelmente determinam o não
preenchimento das DO, e não o desconhecimento da informação. A recuperação de
dados no prontuário da mãe foi fundamental ao resgate de informações preciosas às
quais os médicos pediatras não tiveram acesso e que seriam decisivas na condução
clínica dos casos, demonstrando falta de diálogo e entrosamento entre as equipes,
fundamentais à boa prática médica. O papel dos gerentes dos hospitais, cobrando
correção no preenchimento da DO e promovendo a formação e reciclagem de
técnicos na conferência das informações, também é fundamental na qualificação do
SIM.
A melhoria do SIM em Maceió é necessária. A inconsistência e
divergência de dados de mortalidade a partir de estimativas e da multiplicidade de
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original I
85
fontes de informações, foram questionadas pelo setor saúde em Alagoas
29
. Na
ocasião, as autoridades apontaram como fonte de melhor qualidade o Sistema de
Informações de Atenção Básica (SIAB) para Alagoas, que conforme Mello Jorge e
Gotlieb
30
constataram em municípios de Sergipe, Tocantins e Ceará, foi capaz de
evidenciar um número de eventos bem próximo à realidade e superior ao SIM e
SINASC.
Victora e col.
31
observaram que o SIAB estima taxas de CMI para
Alagoas de 49,3 por mil, enquanto que o SIM/SINASC indica 30,9 por mil,
acreditando uma subnotificação do SIM/SINASC de 42,8% e 8,7% para o SIAB, em
Alagoas. No entanto, em localidades como Maceió, com apenas 25% de cobertura
pelo Programa de Saúde da Família (PSF), investir na qualidade do SIM e SINASC
parece mais lógico, econômico e viável, conclusão também encontrada no Relatório
para o Fundo das Nações Unidas para a Infância
31
(UNICEF-Brasil), principalmente
porque independente da qualidade da cobertura destes outros sistemas, eles são
fontes que podem complementar as informações dos sistemas SIM/SINASC.
5.5 Considerações finais e Recomendações
A importância da DO como fonte de informações epidemiológicas,
norteadora de medidas de atenção à saúde, é indiscutível. Mas este documento só
serve a seus propósitos se apresentar validade e confiabilidade de informações,
refletindo verdadeiramente o evento ocorrido.
Ao analisar DO preenchidas em todos os serviços médicos que
prestam assistência materno-infantil na capital alagoana, esta pesquisa deixa
transparecer a baixa qualidade de informações geradas, decorrente do
preenchimento inadequado e incompleto dos documentos oficiais, independente do
tipo de assistência médica, se privada ou pública, a ponto de torná-lo pouco útil aos
seus propósitos. Quando a DO oficial e o SIM foram comparados ao padrão-ouro, as
variáveis que apresentaram elevada sensibilidade ou taxa de detecção (sexo, idade
gestacional) assim se mantiveram, mesmo quando retirado o papel do acaso pela
análise estatística do Indicador Kappa. Apesar da imprecisão da forma como a idade
gestacional é informada na DO, este documento e o SIM têm capacidade de
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original I
86
informar corretamente estas duas variáveis. Um dado essencial na DO como preditor
de risco neonatal, o peso ao nascer, mostrou-se com uma diminuição dos valores da
sensibilidade na comparação entre o SIM e o prontuário, refletindo um mau
preenchimento do SIM a partir da DO.
As instalações impróprias do setor responsável pela coleta e digitação
do SIM e SINASC, poucos funcionários e armazenamento precário dos documentos,
possivelmente, também colaboraram para a inadequação das informações do SIM,
em Maceió. Além do treinamento e da qualificação do seu quadro técnico, são
necessárias boas condições de trabalho e parte destas questões já foram
solucionadas no decorrer da pesquisa.
Finalmente, é necessário que os serviços conheçam os resultados das
análises epidemiológicas geradas a partir dos dados neles coletados, de forma a
serem estimulados na produção de informações corretas e confiáveis.
A baixa concordância entre o SIM e DO oficiais e as informações dos
prontuários permite considerar a qualidade do SIM como inadequada, apesar da
necessidade de tornar-se um sistema efetivo, pois teoricamente abrange 100% dos
óbitos hospitalares da cidade.
Com base nas observações evidenciadas, as autoras sugerem maior
investimento no treinamento dos médicos e estudantes das escolas médicas em
Alagoas no preenchimento das DO e na operacionalização do SIM, enfatizando sua
importância.
5.6 Referências Bibliográficas
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Artigo Original I
I
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
91
6 – Mortalidade evitável e avaliação da
confiabilidade e validade da causa
básica de óbitos neonatais em
Maceió, Alagoas
RESUMO
Objetivos: Avaliar a confiabilidade e validade da DO em discriminar causa básica,
definir o percentual de óbitos redutíveis, com base nas Classificações Fundação
SEADE e de Wigglesworth.
Material e Método: Realizado estudo descritivo de validação em Maceió, Alagoas,
para verificar a qualidade do Sistema de Informação em Mortalidade (SIM),
analisando óbitos neonatais precoces hospitalares ocorridos entre 01/01/2001 a
31/12/2002. Utilizadas informações de 401 registros do SIM, 396 DO oficiais e 343
prontuários. As análises dos prontuários das mães e neonatos em formulário
padronizado (padrão-ouro), realizou-se em dois tempos, por duas observadoras
diferentes. Seguiu-se a Classificação Internacional de Doenças-Décima Revisão
(CID-10) em capítulos e códigos de três e quatro dígitos; análise de evitabilidade
pelas Classificações Fundação SEADE e Wigglesworth, por concordância simples,
Kappa, sensibilidade, e intervalos de confiança (95%), no programa EPIINFO 6.04.
Resultados: Houve concordância de 91,5% entre observadoras. Nos capítulos do
CID-10 as causas maternas predominaram nos prontuários (46,1%), prematuridade
(48,2%) nas DO oficiais e transtornos respiratórios (59,5%) no SIM. Em três dígitos,
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
92
a concordância foi boa entre prontuários/DO oficiais e muito fraca entre
prontuários/SIM. Na Classificação Fundação SEADE a maioria dos óbitos foi
redutível por controle na gravidez/parto e, estratificados por peso, a maior
redutibilidade entre < 2500 g. A Classificação de Wigglesworth detectou maioria de
óbitos por imaturidade (47%) redutíveis por melhor assistência à gestação/parto. As
DO estavam preenchidas incorretamente pelos médicos. Na análise entre os
prontuários/SIM, as causas maternas/parto concordaram em 53,8%, com
sensibilidade de 7,7%, sendo mais alta em relação às malformações (92,5%),
sensibilidade de 60,4%.
Conclusões: Há elevado percentual de óbitos redutíveis em Maceió, melhor
avaliado quando estratificados por faixa ponderal. O SIM possui baixa confiabilidade
e validade.
Descritores: Mortalidade Neonatal. Causa básica de morte. Atestados de óbito.
Classificação de óbitos. Registros médicos. Validação.
ABSTRACT
Objective: To evaluate the reability and the validity of Death Certifications (DC) to
discriminate the underlying cause of death, define the percentage of reductible death
based on SEADE's Foundation and Wigglesworth's Classification.
Methods: A descriptive validation study was performed in Maceió, Alagoas, to verify
the quality of Mortality Information's System (SIM) analyzing neonatal precocious
death that occurred in hospitals between 01/01/2001 and 31/12/2002. Information
was collected from 401 SIM registers, 396 officials DC and 343 patient's records. The
mother and neonate’s records analysis were performed using a "gold standard" form
on two different times by two different observers. International Classification of
Diseases (CID-10) was employed in chapters and codes in three and four digits; the
avoidable death analyses by SEADE's and Wigglesworth's Classification, by simple
agreement, Kappa, sensibility, confidence interval (95%) using the Epiinfo 6.04
software.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
93
Results: There was a 91.5% agreement between the observers. In CID-10, maternal
causes were predominant in patient's records (46.1%) in officials DC and respiratory
disorders (59.5%) in SIM. Using three digits concordance was good between
SIM/patient's records. In SEADE's Foundation Classification, the majority of the
death was reductible by control in pregnancy/labor, and by weight's stratification, the
major reductibility in < 2500g. The Wigglesworth's Classification detected the majority
of death by immaturity (47%) reductible by the better care in pregnancy/labour. The
DC were incorrectly fulfilled by the physicians. In the patient's records/SIM analysis,
the maternal/labour causes were agreed in 53.8%, with 7.7% sensibility, being higher
in relation to malformations (92.5%), with 60.4% sensibility.
Conclusions: There is an elevated percentage of reductible death in Maceió, better
evaluated when stratified by weight. SIM possesses low reability and validity.
Descriptors: Neonatal mortality. Death certificates. Underlying cause of death.
Medical records. Validation
5.1 Introdução
A avaliação das informações de mortalidade deve considerar desde o
processo do diagnóstico da doença ao preenchimento da Declaração de Óbito (DO)
e a codificação da causa básica
1
. Para resultar em estatísticas confiáveis, este
processo, envolvendo diversas etapas, diferentes profissionais e instâncias,
necessita compromisso em todos os níveis, com a qualidade da informação gerada.
A análise dos óbitos pode enfocar aspectos como ao número de eventos, sexo,
idade, local de ocorrência e a causa do óbito, considerada seu mais relevante
aspecto
2
.
O atual modelo de Atestado de Óbito (AO), adotado desde 1948, foi
resultado de várias tentativas mundiais de definição de causa de óbito que
culminaram por determinar qual a causa a ser tabulada nas estatísticas de
mortalidade, denominada “causa básica”
2
.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
94
Definida como “a doença ou lesão que deu inicio a cadeia de
acontecimentos patológicos que conduziram diretamente à morte ou as
circunstâncias do acidente ou violência que produziram a lesão fatal”, esta origina
uma sucessão de afecções consequenciais, a última chamada causa terminal ou
direta. Outras doenças que contribuem para o óbito denominadas causas
contribuintes, também têm seu lugar no AO
3
.
Atualmente no Brasil, os óbitos infantis se concentram no período
neonatal, onde as causas são de mais difícil redução. As causas neonatais
demandam, além de ações com tecnologia simples, outras ações onerosas, de
maior elaboração operacional, em ambiente hospitalar de maior complexidade
4
. O
óbito neonatal é considerado um evento sanitário de alerta, e para o qual devem ter
concorrido falhas no processo de atenção, por sofrer extrema influência da
qualidade dos serviços de saúde oferecidos à população
5
. Visando classificar os
óbitos como eventos evitáveis ou redutíveis
6
, priorizando efetiva contribuição na
organização de intervenções possíveis e direcionadas, foram propostas algumas
sistematizações de causas de óbitos dentre as quais, a da Fundação Sistema de
Análise dos Dados de São Paulo (Fundação SEADE)
6
e a Classificação de
Wigglesworth
7
.
A Classificação da Fundação SEADE utiliza o agrupamento por causas
de morte, incluídas todas as doenças constantes na Classificação Internacional de
Doenças (CID-10)
3
agrupadas de acordo com seu potencial de redução e aponta
para áreas onde a atenção pode ter falhado. Wigglesworth
7
propôs um sistema de
avaliação de mortes no período perinatal modificado por Keeling
8
que, utilizando
informações clínicas disponíveis nos prontuários médicos e, prescindindo de dados
de necropsia, permite disponibilizar também informações das áreas alvo de
prevenção
9
. O uso de ambas classificações de óbitos pressupõe o conhecimento da
verdadeira causa de óbito e incorreção ou subnotificação, colaboram para desvirtuar
as estatísticas.
Para prevenir a causa precipitante da morte é necessário conhecê-la e
estudos que têm como objeto a investigação das causas de óbitos infantis, também
podem fornecer importantes informações sobre o acesso, adequação e qualidade
dos serviços e potencialmente estimar sua efetividade
10
.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
95
O objetivo deste estudo foi avaliar a concordância da causa básica de
morte no atestado de óbito a partir das informações coletadas em prontuários,
descrever e comparar o percentual de óbitos passíveis de redução com base na
Classificação da Fundação SEADE, e na metodologia de Wigglesworth modificada
por Keeling e a validade da DO em discriminar corretamente as causas de óbito.
5.2 Material e Método
Estudo descritivo exploratório, para verificar a qualidade do Sistema de
Informação de Mortalidade (SIM) em Maceió, a partir da análise da concordância da
causa básica no atestado dos óbitos neonatais precoces, ocorridos entre 01/01/2001
e 31/12/2002. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal de Alagoas em 25/11/2003.
A população do estudo foi composta de 453 casos de óbitos não fetais.
Os endereços das mães foram validados através do Código de Endereçamento
Postal e as declarações dos óbitos fetais analisadas visando detectar erros de
classificação. Foram excluídos, os óbitos erroneamente classificados não fetais e
aqueles cujos prontuários, por insuficiência de informações, não preencheram os
critérios mínimos para análise da causa básica, num total de 59 (13,02%) casos.
Os instrumentos de coleta de informações foram: a declaração oficial
de óbito (DO Oficial), obtida na SMSM, as informações disponíveis no SIM e as
informações contidas nos prontuários mãe - neonato, resgatadas nos arquivos
hospitalares. Foi obedecido o seguinte fluxo de execução: acesso às DO oficiais
para coleta de identificação e a Parte VI(AO) da DO, anotada na seqüência e termos
relativos ao item 49 (parte I e II). As DO foram enumeradas e separadas por
hospitais e acessados os prontuários solicitados. Foram consultados os prontuários
da mãe e neonato em quinze maternidades, Unidade de Emergência Armando
Lages, Mini-Pronto-Socorros e Clínicas Pediátricas, onde ocorreram os eventos.
A análise dos prontuários obedeceu ao critério preconizado pela OMS
(CID-10)
14
e Ministério da Saúde, para investigação de causa básica, protocolo já
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
96
utilizado por Coutinho
15
na validação de óbitos no Recife e Vanderlei e col.
16
, em
estudo realizado no Instituto Materno-Infantil Professor Fernando Figueira (IMIP) e
utilizado rotineiramente no Núcleo de Epidemiologia desse Instituto, Centro de
Referência do Centro Colaborador da OMS para a Classificação de Doenças em
Português (CBCD).
Foram consideradas informações relativas à gestação, assistência ao
parto e ao neonato e evolução clínica médica e de enfermagem de ambos na
unidade hospitalar, até o momento do óbito do neonato, além de consulta aos livros
de registros. As fichas de transferência para outros serviços se existentes, e as
informações na unidade de destino foram resgatadas. Foram analisados os exames
complementares disponíveis nos prontuários da mãe e neonato, autópsia e
histopatológico da placenta quando realizadas.
O preenchimento do formulário da pesquisa (CB-AP) realizado em dois
tempos diferentes, por duas observadoras, ambas neonatologistas, resultando em
um novo atestado de óbito para cada uma. A padronização de sua aplicação foi
realizada através de treinamento prévio com as observadoras, de acordo com as
rotinas do Núcleo de Epidemiologia do IMIP na avaliação dos óbitos, visando
diminuir erros de preenchimento e aumentar a concordância entre avaliações. A
análise dos prontuários foi realizada sem conhecimento prévio da causa constante
na DO - Oficial (CB-OF), nem da análise realizada por cada observadora, a fim de
permitir a avaliação da concordância interobservadoras. Os casos foram revisados
pela coordenadora do Núcleo de Epidemiologia do IMIP, treinada em codificação de
causa básica pelo CBCD, e pela pesquisadora.
Os diagnósticos discordantes entre as duas observadoras, foram
submetidos à nova análise, desta vez em conjunto, a fim de obter um padrão único
de causa básica gerada na pesquisa (CB-AP) para fins de comparação com a DO-
Oficial (CB-OF) e com o SIM (CB-SIM). Os dois diagnósticos iniciais foram mantidos
para análise de concordância interobservadoras. A codificação das causas básicas
foi realizada por uma codificadora oficial treinada pelo CBCD, sob supervisão da
Coordenadora do Núcleo de Epidemiologia do IMIP.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
97
A Classificação da causa básica seguiu a padronização da
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados à
Saúde – Décima Revisão (CID-10)
3
que classifica as doenças em categorias de três
caracteres e subcategorias com quatro caracteres.
Para análise em três dígitos, os óbitos foram reorganizados em seis
grupos de causas, consideradas correlatas nesta pesquisa, sendo incluídos os
traumas de parto nas causas maternas e ligadas ao parto, a sífilis congênita nas
causas infecciosas e a síndrome de aspiração meconial no grupo de hipóxia, ficando
constituídos os grupos: 1 - fatores materno-placentários, ligados ao parto (CID-10:
P00 a P04 e P10 a P15); 2 – prematuridade (CID-10: P07); 3 – hipóxia (P20-P21 e
P24); 4 - Infecções específicas perinatais (CID-10: P36-P39 e A50); 5 –
Malformações: (CID-10: Q00-Q99) e 6 – Outras causas (todos os outros códigos de
afecções perinatais).
Definida a causa básica, procedeu-se à análise de evitabilidade através
da Classificação da Fundação SEADE e da Classificação de Wigglesworth,
avaliados concordância simples e ajustada pelo Indicador Kappa, sensibilidade, e
seus respectivos intervalos de confiança a um nível de significância estatística de
95%. A tabulação e análise foram realizadas no programa EPIINFO 6.04, com dupla
entrada de dados, processadas por dois digitadores diferentes, seguidas de
validação.
A causa básica foi avaliada pela concordância de codificação de
acordo com agrupamentos de causas e códigos com três e quatro dígitos, nos
capítulos XVI (algumas afecções originadas no período perinatal) contemplando os
códigos P00 a P96; capitulo XVII (malformações congênitas, deformidade e
anomalias cromossômicas - códigos Q00 a Q99); algumas causas mal definidas
incluídas no capitulo XVII, bem como a sífilis congênita (A50).
Para o cálculo do tamanho amostral, foi utilizada a fórmula para
estudos de validação
11
, baseado em valores de sensibilidade da DO em detectar
causas neonatais de óbito de 83,3%
12
, admitindo-se um erro α de 5% e poder de
80%, resultando em amostra mínima de 334 óbitos, selecionados a partir do banco
de dados eletrônico do SIM da Secretaria Municipal de Saúde de Maceió (SMSM).
Optou-se por estudar todos os óbitos ocorridos no período, pela expectativa grande
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
98
de perdas. A Figura 1 apresenta a limpeza do banco de dados que resultou ao final
no estudo de 401 DO, no SIM, 396 DO oficiais, e 774 prontuários, dos quais 343
casos clínicos tiveram resgatados os prontuários da mãe e neonato. Em 336 foram
encontradas as três fontes de análise (DO, prontuários e SIM).
5.3 RESULTADOS
Dos 343 casos, 263/343 (76,7%) tinham peso ao nascer < 2500 g,
190/343 (55,4%) sexo masculino, 184/343 (53,6%) faleceram nas primeiras 24 horas
de vida, 222/343 (65%) nasceram de parto não operatório, 229/343 (66,7%) eram
prematuros (< 37 semanas de idade gestacional). As mães tinham idade 19 anos
em 108/343 casos (31,5%). Para análise de causa de óbito pelos critérios de
evitabilidade da fundação SEADE e de Wigglesworth foram excluídos dois casos
com peso ignorado e os com peso inferior a 500 g, tendo a amostra se restringido a
336 neonatos.
Dentre os casos, 87,6% (198/226) dos prematuros ( 37 semanas de
idade gestacional) e 63,0% (211/258) com peso < 2500 g foram assistidos em
hospitais com unidade de terapia intensiva neonatal (UTI), 96,1% (330/343)
nasceram em hospitais públicos ou conveniados ao SUS. Faleceram nas primeiras
24 horas de vida 94,3% (213/226) dos prematuros e 58,07% (150/250) dos < 2500 g.
A concordância entre as observadoras na análise de prontuários foi de 91,5%
(314/343) para quatro dígitos.
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C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
99
621
óbitos neonatais
residentes em
Maceió
2001-2002
453
0 – 6 dias
170
7 – 28 dias
2
domiciliares
451
hospitalares
50
excluídos
Busca ativa
Bco de óbitos
fetais
1 óbito
neonatal
Arquivos Hosp.
1 óbito
não registrado
no SIM
401
SIM
59
casos não
analisados
30 sem
prontuários
29 com
prontuários
incompletos
342
casos
clínicos
1 caso
clínico
hospitalar
343
Casos
Clínicos
25 DO
extraviadas
na SMSM
396
DO OFICAIS
20 cópias de
DO
resgatadas
hos
p
itais
401
SIM
396 DO
OFICIAIS
343
Casos
Clínicos
337
CASOS
ANALISADOS
ANÁLISE DOS ÓBITOS
12 óbitos fetais
27Outros Munic
7 > 7 dias
1 Adulto
1 domiciliar
2 DO duplicados
excluidos
incluidos
Figura 1 – Limpeza de Bancos de Dados
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C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
100
Na análise por agrupamentos seguindo os capítulos do CID-10, os fatores
maternos e ligados ao parto (P00-P04) corresponderam a 46,1%(155/336) dos
óbitos nos prontuários (CB-AP), as complicações ligadas à duração da gestação e
crescimento fetal (P05-P08) corresponderam a principal causa básica em
48,2%(162/336) das DO oficiais, seguidos dos transtornos respiratórios (P20-P29)
em 21,1% (71/336).
Tabela 1 – Distribuição das causas básicas de óbitos neonatais por grupos de
doenças, em declarações refeitas, declarações oficias e SIM, em Maceió, Alagoas,
de 2001-2002.
CAUSA BÁSICA
Prontuário
(CB-AP)
DO-Oficial
(CB-OF)
SIM
(CB-
SIM)
Diferença
Prontuários
/ SIM
AGRUPAMENTOS POR
CAPITULOS CID-10
CAUSAS BÁSICAS
N % N % N % %
Fatores maternos e complicações da
gravidez, trabalho de parto, parto (P00-
P04)
158 47,0 32 9,5 24 7,1 +545,8
Complicações ligadas a duração da
gestação e crescimento fetal (P05-P08)
10 2,9 11 3,3 16 4,7 +93,6
Traumatismo no nascimento (P10-P15) 2 0,6 1 0,3 2 0,6 0
Transtornos respiratórios e
cardiovasculares específicos perinatais
(P20-P29)
75 22,2 196 58,1 200 59,5 -71,0
Infecções específicas do período
perinatal e sífilis
(P35-P39 e A50)
37 11,0 46 13,6 47 13,9 -25,6
Transtornos hemorrágicos e
hematológicos do RN
(P50-P61)
5 1,5 8 2,4 5 1,5 0
Transtornos endócrinos e metabólicos
do RN (P70-P74)
- - - - 1 0,3 -
Transtornos do aparelho digestivo (P75-
P78)
- - - - 1 0,3 -
Comprometimento do tegumento e
regulação térmica (P80-P83)
- - 1 0,3 2 0,6 -
Outros transtornos (P90-P96) 2 0,6 - - - - -
Malformações congênitas (Q00-Q99) 48 14,2 41 12,2 35 10,4 +37,1
Causas Mal definidas(R00-R99) - - 1 0,3 1 0,3 -
Outros CID - - - - 2 0,6 -
TOTAL 337 100 337 100 337 100 -
Os fatores maternos e ligados ao parto (P00-P04) corresponderam a
apenas 5,4% (18/336) das causas básicas dos óbitos nas DO oficiais (CB-OF). No
SIM, transtornos respiratórios em 59,5% (200/336) dos casos, foi o principal
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
101
agrupamento codificado. Verificou-se que houve um aumento de 545,8% dos óbitos
decorrentes de fatores maternos e complicações da gravidez e trabalho de parto e
não notificados corretamente ao SIM.
A concordância geral, em grupos de causas com três dígitos, entre
prontuários e DO foi de 35,0% (Kappa 0,26), considerada sofrível após ser ajustada
pelo Kappa; entre prontuários e SIM concordância de 27,0% (Kappa 0,17)
considerada fraca e entre a DO oficial e o SIM, foi de 45,8% (Kappa 0,37), também
sofrível. A tabela 2 apresenta a concordância nestes agrupamentos. A concordância
simples (CO) entre CB-AP e CB-OF foi de 58% em causas maternas e ligadas ao
parto e após ajuste pelo Indicador Kappa 0,09, sendo mais baixa em infecção (CO
6,01%, Kappa 0,28).
A maior concordância se fez para malformações (95%) e hipóxia
(86,9%). A CO entre a DO oficial e o SIM foi 55,9% em prematuridade estando
acima de 90%, com Kappa acima de 0,72 em hipóxia, infecções e malformações. O
Kappa mostrou concordância fraca (0,08) para prematuridade e regular (0,49) para
causas maternas. A sensibilidade da DO oficial em retratar as causas maternas
encontradas nos prontuários foi de apenas 10,3% chegando a 89,7% de
sensibilidade em prematuridade.
Na análise entre os prontuários e o SIM, as causas maternas e do
parto concordaram em 53,8%, com sensibilidade de 7,7% sendo mais alta em
relação às malformações (92,5%), sensibilidade de 60,4%. Na análise ajustada
observou-se uma concordância fraca em causas maternas, apesar de não
estatisticamente significante ao nível de 5% (Kappa 0,01), o Kappa foi igual a 0,19
em infecções, Kappa de 0,17 em prematuridade, sofrível em relação a hipóxia
(Kappa 0,25) e boa em malformações (Kappa 0,65).
Pedrosa, Linda Délia
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Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
102
Tabela 2 - Concordância entre agrupamentos de causas básicas entre prontuários
(CB-AP) DO oficial (CB-OF) e SIM (CB-SIM), em óbitos neonatais precoces,
Maceió/Al, 2001-2002.
ANÁLISE POR AGRUPAMENTOS DE CAUSAS
Causas básicas
C.O.
(%)
S
(%)
IC
95%
Kappa
IC95%
CB-AP X CB-OF
Causas maternas(1) 58,0 10,3 6,2 – 16,5 0,09 0,05 – 0,15
Prematuridade (2) 58,9 89,7 71,5 – 97,3 0,15 0,09 – 0,21
Hipóxia (3) 86,9 45,9 29,8 – 62,9 0,36 0,25 - 0,46
Infecções(4) 6,01 37,1 22,0 - 55,1 0,28 0,17 - 0,38
Malformações (5) 96,4 79,2 64,6 – 89,0 0,84 0,73 - 0,94
CB-OF X CB-SIM
Causas maternas (1) 94,0 61,1 36,1 – 81,7 0,49 0,38 – 0,59
Prematuridade (2) 55,9 8,7 5,0 – 14,4 0,08 0,03 – 0,12
Hipóxia (3) 94,9 74,3 56,4 – 86,9 0,72 0,66 – 0,82
Infecções (4) 93,7 84,2 68,1 – 93,4 0,72 0,61 – 0,82
Malformações (5) 95,8 75,0 58,5 – 86,8 0,78 0,67 – 0,88
CB-AP X CB-SIM
Causas maternas (1) 53,8 7,7 4,2 – 13,4 0,01 0,05 - 0,07
Prematuridade (2) 89,8 17,2 6,5 – 36,5 0,17 0,07 - 0,27
Hipóxia (3) 84,8 35,1 20,7 – 52,6 0,25 0,15 - 0,35
Infecções (4) 82,7 34,3 19,7 – 52,3 0,19 0,10 - 0,29
Malformações (5) 92,5 60,4 45,3 – 73,9 0,65 0,54 - 0,75
(1)P00a P04, P10 a P15 (2)P07 (3)P20 a P22 e P24 (4) P36 a P39 e A50 (5) Q00 a Q99.
Na análise realizada para quatro dígitos, as principais causas nos
prontuários foram: a asfixia grave ao nascer (7,0%), gravidez múltipla (6,1%),
infecções inespecíficas (6,1%), ruptura prematura de membranas (5,8%), doença de
membrana hialina (5,2%) e doença hipertensiva específica da gestação (DHEG)
(4,9%). Observou-se um elevado percentual de sífilis congênita detectada nos
prontuários 14 casos (4,1%) dos quais os médicos só relataram na DO oficial 6
(1,5%) dos casos (-57,1%) e o SIM só reconheceu apenas 2 (0,5%) casos (-85,7%).
As causas mais freqüentes nas DO-oficiais foram prematuridade, denominação dos
médicos ao preencher as DO em situações codificadas como neonato de muito
baixo peso (peso <999 g: CID 10 - P07.0 – 22,0%) e neonato de baixo peso (peso
1000- 2499g: P07.1 – 20,2%), que juntos somaram 166 casos (+1600%). No SIM,
parte destes casos tidos como prematuridade nas DO foram desviados para doença
da membrana hialina (P-22.0) 117 casos (29,2%) com um acréscimo de +550% em
relação a CB-AP (tabela 3).
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
103
Tabela 3 - Freqüência das principais causas básicas (4 dígitos) de óbitos neonatais
precoces e percentual de diferenças entre DO refeita, DO Oficial e SIM em
Maceió/Al, 2001-2002.
Causa Básica
Prontuários
DO
Oficial
SIM
Diferença
Prontuário/
DO Oficial
Diferença
Prontuário/
SIM
CAUSA BÁSICA
CID-10 4 DÍGITOS
N N N % %
SIFILIS
14 2 6 - 57,1 - 85,7
DHEG 17 2 3 - 82,3 - 88,2
PLACENTA PRÉVIA 6 1 - - 100 - 83,3
DPP / HEMORRAGIA 12 5 6 -50 - 58,3
CORIOAMNIONITE 15 1 1 - 93,3 - 93,3
USO DROGAS ABORTIVAS 6 - 1 - 83,3 -100,0
RNMBP( 999G)
18 1 86 + 377,7 - 94,4
RNBP (1000-2499G) 10 - 80 + 700,0 - 100,0
OUTROS PREMATUROS 1 17 17 + 1600 + 1600
HIPÓXIA INTRA-UTERINA 3 7 4 +33,3 + 57,1
HIPOXIA INTRAUTERO NÃO
ESPECIFICADA
3 3 1 - 66,6 -
ASFIXIA GRAVE AO NASCER 24 12 17 - 29,1 -100,0
ASFIXIA AO NASCER NÃO
ESPECIFICADA
3 13 14 + 366,6 + 333,3
DMH 18 117 15 - 16,6 + 550,0
PNEUMONIA CONGÊNITA NÃO
ESPECIFICADA
1 10 8 + 700 + 900,0
SAM 4 9 7 + 75,0 + 125,0
INSUFICIÊNCIA RESPIRATORIA
DO RN
1 44 9 + 800,0 + 4300,0
OUTROS DISTURBIOS
RESPIRATÓRIOS
2 17 7 + 250,0 + 750,0
SEPTICEMIA 1 34 15 +1400,0 + 3300,0
OUTRAS INFECÇÕES
INESPECÍFICAS
21 34 18 - 33,3 + 61,9
OUTRAS MALFORM. ALT.
ESQUELETICAS
1 11 6 + 500,0 + 1000,0
Quanto a Classificação da Fundação SEADE (tabela 4), os prontuários
evidenciaram maior percentual de causas redutíveis (79,9%), que o SIM (61,1%) e
menor que as DO oficiais (83,1%). Nos prontuários houve maior percentual de óbitos
redutíveis por adequado controle da gravidez (45,2%), enquanto no SIM, as causas
redutíveis por diagnóstico e tratamento precoces (38,9%) foram mais importantes. O
SIM também apresentou percentuais de causas não redutíveis (38,6%), bem
superiores aos prontuários (19,5%). A concordância simples quanto à classificação
da Fundação SEADE entre prontuários e DO Oficial foi de 59,9%, Kappa de 0,41;
entre a DO e o SIM foi de 45,8% e Kappa 0,37 e entre prontuários e o SIM foi de
31%, Kappa 0,15.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
104
Tabela 4 – Distribuição dos óbitos neonatais precoces, de acordo com a
Classificação da Fundação SEADE comparando as DO refeita, DO Oficial e SIM,
com e sem estratificação de peso ao nascer, em Maceió - Al, 2001-2002.
SEM ESTRATIFICAÇÃO
DE PESO
COM
ESTRATIFICAÇÃO
DE PESO
Prontuários(CB-AP)
CLASSIFICAÇÃO
DA FUNDAÇÃO SEADE
Prontuários
CB-AP
DO Oficial
CB-OF
SIM
CB-SIM
Peso
< 2500 g
Peso
2500 g
N % N % N % N % N %
1 Óbitos redutíveis por:
1A Imunoprevenção - - - - - - - - - -
1B Adequado controle
da gravidez
155 45,2 203 51,3 36 9,0 137 53,1 13 16,6
1C Adequada atenção
ao parto
83 24,2 52 13,1 53 13,2 63 24,4 20 25,6
1D Diagnóstico e
tratamento precoces.
36 10,5 74 18,7 156 38,9 15 5,8 21 27,0
2 Não redutíveis 67 19,5 64 16,2 155 38,6 42 16,3 23 29,5
3 Mal definidas 2 0,6 3 0,8 1 0,2 1 0,4 1 1,3
TOTAL 343 100 396 100 401 100 258
100 78 100
A distribuição dos óbitos classificados pela Fundação SEADE de
acordo com o peso ao nascer em < 2500 g e 2500 g (tabela 4), detectou um maior
percentual de óbitos redutíveis em neonatos de peso < 2500 g sendo encontrado no
grupo de peso 2500 g, o maior percentual de casos não redutíveis.
Na Classificação de Wigglesworth, modificada por Keeling, (tabela 5),
os óbitos perinatais estão distribuídos em cinco categorias: Óbitos antenatais ou
intraparto, não contemplados neste estudo que abrange apenas óbitos neonatais;
malformações (14%) cuja implicação clínica é relativa à influência de fatores
genéticos e ambientais contemplados por intervenção e rastreamento precoces;
imaturidade (47%) e fatores correlatos redutíveis por adequado acompanhamento
pré-natal e assistência neonatal; asfixia (25,6 %) influenciada pela atenção
adequada ao trabalho de parto e parto e outras causas específicas neonatais
(13,4%).
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
105
Tabela 5 – Distribuição dos Óbitos Neonatais Precoces em Maceió, 2001-2002, de
acordo com a Classificação de Wigglesworth e com o peso ao nascer, assistência
em UTI, idade gestacional e idade no óbito.
CLASSIFICAÇÃO DE WIGGLESWORTH MODIFICADA POR
KEELING
MALFORMAÇÕES IMATURIDADE ASFIXIA
OUTRAS
ESPECIFICAS
TOTAL
ÓBITOS
NEONATAIS
N % N % N % N % N %
TOTAL 47 14,0 158 47,0 86 25,6 45 13,4 336* 100
PESO AO NASCER
< 2500g 25 53,2 154 97,4 59 68,6 20 44,4 258 76,8
2500g
22 46,8 4 2,6 27 31,4 25 55,6 78 23,2
TOTAL 47 100 158 100 86 100 45 100 336* 100
ASSISTÊNCIA HOSPITALAR AO NEONATO
Com
UTI (7)
30 63,8 126 79,7 51 59,3 25 55,6 232 69,0
Sem
UTI (8)
17 36,2 32 20,3 35 40,7 20 44,5 104 31,0
TOTAL 47 100 158 100 86 100 45 100 336* 100
IDADE GESTACIONAL
Pré-termo 22 56,4 150 100,0 40 59,7 16 44,4 228 78,0
Termo 17 43,6 - - 27 40,3 20 55,6 64 21,9
TOTAL 39 100 150 100 67 100 36 100 285** 100
IDADE NO ÓBITO
24horas
28 61,0 83 51,2 47 55,3 21 47,7 179 53,91
> 24 horas 18 39,0 74 48,8 38 44,7 23 52,3 153 46,1
TOTAL 46 100 162 100 85 100 44 100 332# 100
* excluídos óbitos < 500 g e peso não aferido
**excluídos óbitos com idade gestacional não informada # excluídos óbitos < 500 g e não aferido e
idade não informada.
5.4 Discussão
A causa básica de óbito é uma das informações mais importantes
disponíveis na DO e os estudos de análise de sua concordância servem para avaliar
a fidedignidade deste instrumento e coerência dos indicadores gerados a partir
destas informações.
O preenchimento do atestado de óbitos neonatais tem peculiaridades,
requerendo atenção por parte do médico. O atestado de óbito é composto de duas
partes. Na parte I, se registram em quatro linhas, a seqüência lógica do evento
ocorrido. Na linha (a) a causa direta e final da morte, em geral decorrente dos
eventos atestados nas linhas (b) e (c) e, finalmente na linha (d) a causa básica,
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
106
codificada para fins de estatísticas vitais. Na parte II se registram outros estados
patológicos que contribuíram para a morte, mas não relacionados com o evento
causal
3
. Na maioria dos casos de óbitos neonatais, nos países em
desenvolvimento, as causas desencadeantes do processo são maternas e a maioria
evitável
15
, nos países desenvolvidos, as malformações congênitas estão em
primeiro lugar, configurando um mínimo irredutível
10
.
Neste estudo, a análise de concordância da causa básica se fez em
três níveis de diagnóstico. Inicialmente a concordância em capítulos do CID-10, que
corresponde à análise mais superficial, englobando várias causas de óbito que,
fundamentalmente, tem a mesma origem; a análise com três dígitos, uma forma
intermediária de visualizar a causa de óbito, a exemplo do código P07 englobando
diferentes estágios e códigos de prematuridade e baixo peso. Finalmente, a
concordância em quatro dígitos, o maior refinamento em codificação, que, no
entanto, em todos os grupos de doenças perinatais guardam em seu bojo, alguns
códigos considerados “causa mal definida” (exemplo P07. 3 – outros recém-nascidos
pré-termo) que corresponderiam ao capítulo “sinais e sintomas mal definidos” na
codificação de doenças de adultos. Assim, mesmo em concordância de quatro
dígitos podemos estar diante de uma situação pouco esclarecida.
O uso de diagnósticos como prematuridade e asfixia em causas
básicas é considerada uma forma indefinida de diagnosticar, uma vez que para que
essa ou aquela situação ocorra deve ter existido causa precedente, que será a
causa básica
15, 17
. No caso especifico da prematuridade, para ser considerada como
causa de óbito deve ser a única afecção diagnosticada e para a qual nenhuma outra
causa foi relatada
17
.
Eventos clínicos maternos como DHEG, placenta prévia, descolamento
prematuro de placenta e hemorragia, corioamnionite e até o uso voluntário de
drogas reconhecidamente abortivas pelas mães, foram detectados neste estudo, a
exemplo de outros autores
17-20
como causas determinantes do nascimento de
prematuros. Estes prematuros evoluindo com desconforto respiratório,
possivelmente doença da membrana hialina, levaram a um sobre-diagnóstico destas
duas condições nas DO oficiais e no SIM.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
107
A baixa concordância entre o SIM e os prontuários reflete a
inadequação do preenchimento da DO, também relatada por outros autores como
Borrell e col.
21
, em Barcelona, que encontraram concordância de 40,1% em
codificação por três dígitos, após revisão de prontuários por especialistas. A análise
de sensibilidade ou taxa de concordância também é uma forma de análise da
capacidade da DO e do SIM em discriminar corretamente as causas básicas quando
comparadas com um padrão-ouro, que neste estudo foi o formulário preenchido a
partir da análise dos prontuários.
Também nesta forma de analisar a qualidade do sistema, pode-se
observar a inadequação da dos diagnósticos médicos, principalmente em causas
maternas. A maior sensibilidade do SIM em relação aos prontuários esteve nos
diagnósticos de malformações congênitas e mesmo assim, em pouco mais da
metade dos casos (60,4%). Em relação aos prontuários, a maior sensibilidade ficou
no diagnóstico de hipóxia e a capacidade da DO em diagnosticar causas maternas é
muito baixa.
Existem outras formas de análise de concordância em causa básica.
Hunt e Barr
22
, na Austrália, comparando achados clínicos e dados de necropsia e
exames laboratoriais encontraram concordância de causa básica em 58% das DO. A
necropsia tem sido utilizada em diversos estudos de concordância diagnóstica em
causa básica
23
, entretanto, é onerosa, pouco disponível e pouco aceita pelas
famílias como confirmam os estudos de Bercini e col.
24
, Araújo e col.
25
e Menezes e
col.
26
, além de se obter baixa qualidade dos atestados preenchidos por muitos
médicos legistas
27
.
A prematuridade foi causa associada em 47,9% dos prontuários, 19,3%
na DO e 45,5% no SIM, semelhante a outros estudos
15,18,23,28
. Segundo Kerr e
Ramsey
29
, que em 1996, detectaram imaturidade extrema em 29% dos óbitos
neonatais, a análise por múltiplas causas permite entender todo o processo causal
do óbito e desenvolver estratégias para seu enfrentamento.
Os estudos anteriores reforçam a importância das causas maternas e
enfatizam o desconhecimento médico no correto preenchimento da DO apontando
para um excesso de diagnósticos imprecisos como prematuridade, asfixia e outras
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
108
causas, propiciando inconsistência estatística
10, 15-17, 27,30
. Grande parte dos óbitos
neonatais pode ser evitada por assistência adequada e, a quantificação de óbitos
por critérios que analisem este potencial permite visualizar onde e como as ações
falharam
31
. Nessa ótica, foram utilizadas, a exemplo de outros estudos
10, 15, 28
, a
Classificação da Fundação SEADE e a Classificação de Wigglesworth.
Houve um elevado percentual de óbitos redutíveis, não sendo
detectado nenhum caso redutível por imunoprevenção, podendo se tratar de
subdiagnóstico incluindo o prontuário, principalmente de casos de hepatite B e
rubéola congênita, pois as outras doenças deste grupo têm o diagnóstico mais
facilmente realizado.
Os óbitos redutíveis foram maioria na análise de prontuários e do SIM
e, apesar dos percentuais serem próximos, evidenciaram diferenças substanciais no
foco de atenção: nos prontuários ficou patente a necessidade de adequado controle
da gravidez, doenças em que é necessária a melhoria do pré-natal em qualidade e
não só em quantidade. Refletem o descontrole de doenças inadmissíveis em pleno
século XXI, como a sífilis congênita e outras afecções maternas afetando o feto ou
complicações como DHEG, diabetes e infecções. A análise do SIM na mesma ótica
direciona as atenções ao diagnóstico e tratamento precoces das causas neonatais e
indicam a dificuldade de acesso à população aos serviços de saúde, incluindo os de
maior complexidade, como os oferecidos nas unidades de terapia intensiva (UTI).
Um achado que reforça a distância do SIM à realidade local é que a maioria dos
óbitos ocorreu em serviços com UTI neonatal e Alagoas, em 2001 e 2002, investiu
no treinamento de pediatras em reanimação neonatal.
Apesar da pouca disponibilidade de leitos em UTI em Maceió e do
afluxo de neonatos de outros municípios disputando estes mesmos leitos, maior
percentual de neonatos recebeu assistência especializada. A superlotação e os
parcos recursos em equipamentos e pessoal qualificado, principalmente nas
unidades públicas, podem ter contribuído para uma assistência aquém da requerida
pelos neonatos. O SIM também apresentou numero elevado de causas não
redutíveis que, por não corresponder às causas reais, dificultam pleitear
investimentos aos gestores às áreas de risco, uma vez que suas estatísticas
apontam para problemas aparentemente de difícil controle.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
109
A distribuição dos óbitos na Classificação SEADE por peso permitiu
observar o aumento do percentual de causas redutíveis no grupo de baixo peso,
passando a representar 83,3% dos óbitos neonatais, enquanto que as não redutíveis
ficaram mais expressivas em neonatos com peso > 2500g. Assim, permitiu
demonstrar um maior refinamento desta classificação para indicar população de
risco, se utilizada associada a uma estratificação por peso ao nascer,
potencializando sua capacidade discriminadora.
A Classificação de Wigglesworth, utilizada em pesquisas brasileiras e
mundiais
20,27,31
, é de fácil execução e permite utilização de poucos recursos
diagnósticos, baseando-se em achados clínicos. Todavia, Barros
32
assevera a
possibilidade de sub-registro dos grupos de malformações e outras causas
especificas perinatais, por não permitir discriminar situações concomitantes,
visualizando causas mais evidentes. A autora reforça a importância da necropsia
para elucidação destes casos, que segundo Doyle
33
irá permitir também o
aconselhamento em gestações futuras.
Campos e col.
34
sugerem considerar o preenchimento adequado dos
prontuários materno-infantis como indicador da qualidade do atendimento ao
binômio mãe-filho. Neste estudo, a maioria dos prontuários estava adequada à
análise de causa básica. No entanto, alguns apresentavam caligrafias ilegíveis,
dificultando compreender a evolução clínica e até a prescrição médica.
A análise conjunta com o prontuário materno possibilitou a recuperação
de informações não disponíveis nos prontuários neonatais, mesmo na evolução de
óbitos mais tardios, tornando patente a falta de diálogo entre as equipes,
comprometendo possivelmente o diagnóstico de doenças.
Alguns problemas detectados no SIM nesta pesquisa merecem
discussão. A não validação de endereços, a aceitação de DO sem endereço firmado,
a ausência de crítica de inconsistências em causa básica e idade do falecido foram
responsáveis por falhas de classificação de óbitos e da qualidade do sistema. A
codificação merece maior cuidado, pois as falhas encontradas agravam a
inadequação do SIM, como códigos inapropriados (D69.6, J96.0 K42.9 e R99) em
0,8%, uso incorreto de códigos como prematuridade, sem a observância da
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
110
precedência do peso à idade gestacional, o uso abusivo de codificações
inespecíficas e até diagnósticos incorretos como hipóspádia (Q54.9) como causa
básica.
5.5 Considerações Finais
O estudo possibilitou dimensionar as áreas que precisam ser
contempladas pelos gestores de saúde no Município de Maceió. Investimentos
principalmente na qualidade da atenção a saúde da gestante e no acompanhamento
ao parto certamente se refletirão em diminuição dos atuais níveis de mortalidade
neonatal precoce, diretamente relacionada a fatores maternos e ao parto.
Além disso, é importante dar ênfase às análises adequadas das
informações geradas. As classificações baseadas na redutibilidade dos óbitos
neonatais devem considerar o peso do recém-nascido, pois sendo uma variável
importante na rede de determinação do óbito neonatal é capaz de modificar
resultados quando não considerada. Verificou-se que ambas classificações
utilizadas são adequadas e se aproximam em predizer os percentuais dos óbitos
neonatais redutíveis, desde que observadas faixas semelhantes de peso ao nascer.
A necessidade de dados fidedignos parece inquestionável e a melhoria
na qualidade depende do interesse dos profissionais geradores da informação. Do
médico ao digitador do SIM, todos precisam ser alertados da importância da DO.
Para tal, o gestor deve realimentar as fontes informantes, com os indicadores
formulados.
As autoras sugerem investimento em treinamento dos estudantes e
médicos no preenchimento da DO e dos profissionais ligados ao fluxo destes
documentos. A discussão dos óbitos nos hospitais deve ser estimulada, para garantir
a elucidação diagnóstica, enriquecendo a todos. A DO não é útil apenas ao
sepultamento, mas um documento epidemiológico imprescindível.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Artigo Original -II
111
5.6 Referências Bibliográficas
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7
Considerações Finais
E Recomendações
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Considerações finais e Recomendações
116
7 – Considerações finais e
Recomendações
A Declaração de Óbito representa uma fonte rica de informações
epidemiológicas, disponibilizadas de forma sistemática capaz de gerar indicadores
que norteiem as ações de atenção à saúde da população. Sua finalidade só é
plenamente alcançada quando seus dados refletem os eventos ocorridos. Para isso
é necessário que todos que direta ou indiretamente estão envolvidos na geração,
consolidação e divulgação das suas informações estejam vigilantes para suas
responsabilidades.
A análise da qualidade dos dados oficiais dos óbitos neonatais de
Maceió permitiu avaliar as diversas etapas do processo de geração destas
informações: a qualidade do preenchimento dos prontuários pelos médicos; dos
arquivos médicos hospitalares e a forma como os documentos e prontuários foram
tratados pelos mais diferentes serviços hospitalares do município; a qualidade do
preenchimento das Declarações de Óbito, na quantidade de variáveis preenchidas.
Ainda em relação a informação prestada: quão verdadeiras e quão corretas elas
eram e na correção da construção da cascata de eventos terminais, da causa básica
às causas contribuintes e associadas; a qualidade do serviço de armazenamento,
digitação e codificação realizada pela Secretaria Municipal de Saúde de Maceió.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Considerações finais e Recomendações
117
As dificuldades vivenciadas são a seguir listadas na forma de
sugestões e recomendações das autoras, não com o intuito de auditoria ou análise
de serviços, mas na busca pela maior qualificação dos procedimentos com a
expectativa de colaborar para a melhoria dos resultados.
Aos médicos recomenda-se:
9 Atenção na confecção dos prontuários médicos, onde deverão
constar os horários das evoluções médicas e das prescrições com
letra legível;
9 Maior integração entre as equipes pediátrica e obstétrica, pois foi
flagrante a ausência de informações maternas nas evoluções
pediátricas, na maioria das vezes disponíveis nos prontuários
maternos, comprometendo a elucidação diagnóstica;
9 Melhoria na qualidade do preenchimento da DO, onde as variáveis
devem ser todas preenchidas pelo médico, sob quem está a
responsabilidade inclusive legal, deste ato. O uso de letra legível
deve ser estimulado no intuito de facilitar a digitação e codificação
das DO. A seqüência dos eventos do óbito deve ser
cuidadosamente assinalada, evitando-se causas mal definidas e
inespecíficas;
9 Os médicos não devem assinar DO em branco ou deixá-la
previamente assinada e evitar rasuras;
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Considerações finais e Recomendações
118
Aos gerentes dos hospitais:
9 O armazenamento dos prontuários em locais adequados nos
hospitais, facilitando o acesso à informação;
9 Melhoria nos modelos dos prontuários neonatais que por serem
confusos, dificultam a coleta sistemática de informações;
9 Discussão e investigação de todos os óbitos no âmbito hospitalar;
Ao gestor da Secretaria Municipal de Saúde:
9 Melhoria das instalações do setor responsável pela coleta e
digitação dos dados do SIM/SINASC, aumento do número de
funcionários e adequação do armazenamento dos documentos de
óbito;
9 Treinamento e qualificação do quadro técnico da Secretaria de
Saúde, necessário à melhoria das condições do trabalho do setor de
coleta e análise dos dados oficiais;
9 Melhoria na critica de inconsistências das DO e devolução aos
serviços das DO com preenchimento inadequado, cobrando a sua
correção;
9 Digitação de todas as variáveis preenchidas nas DO;
9 Divulgação aos hospitais dos resultados das análises
epidemiológicas geradas a partir dos dados coletados nos serviços
hospitalares e o desempenho geral do Município;
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Considerações finais e Recomendações
119
9 Parcerias com os Órgãos formadores no treinamento dos médicos e
estudantes das escolas médicas em Alagoas no preenchimento das
DO;
9 Investimentos principalmente na qualidade da atenção a saúde da
gestante e no acompanhamento ao parto.
9 Implantação da Proposta de Vigilância dos Óbitos Infantis.
8
Anexos
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Anexos
121
8 – Anexos
Anexo I
Classificação de Óbitos Neonatais da Fundação SEADE
Anexo II
Classificação de óbitos perinatais segundo Wigglesworth
modificada (Keeling, et al, 1989)
Anexo III
3A
3B
3C
Formulário – Dados DO - Oficial
Protocolo de análise dos prontuários para investigação de
causa básica de óbito neonatal precoce
Pesquisa Qualidade Dados Oficiais SIM Maceió 2001-
2002(epiinfo)
Anexo IV
Tabelas
Anexo V
Aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Anexo - 1
Anexo 1 – Classificação de Óbitos Neonatais da Fundação SEADE (ORTIZ, 1999).
CAUSAS CID-10
REDUZIVEIS POR IMUNOPREVENÇÃO
Tuberculose
Difteria
Coqueluche
Tétano Neonatal
Varicela
Sarampo
Hepatite B
Meningite
Rubéola congênita
A15 a A19
A36
A37
A33
B01
B05
B16
G 00.0
P35. 0
REDUZIVEIS POR ADEQUADO CONTROLE NA
GRAVIDEZ
Sífilis congênita
Afecções maternas que afetam o feto e/ou o RN.
Complicações maternas da gravidez que afetam o feto
ou o RN
Transtornos relacionados com a gestação de curta
duração e peso baixo ao nascer, não classificados em
outra parte.
Isoimunização Rh ou ABO do feto ou RN
Crescimento fetal retardado ou desnutrição fetal
A50
P00-P04
P01
P07
P55.0 a P55.1
P05
REDUZIVEIS POR ADEQUADA ATENÇÃO AO PARTO
Complicações da placenta, do cordão umbilical e das
membranas que afetam o feto ou RN.
Outras complicações do trabalho de parto ou do parto
que acometem o feto ou o RN
Transtornos relacionados à gestação prolongada e
peso elevado ao nascer
Traumatismo de parto
Hipóxia intra-uterina e asfixia ao nascer
P02
P03
P08
P10 a P15
P20 a P21
REDUZIVEIS POR AÇÕES DE PREVENÇÃO,
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO PRECOCES.
Doenças infecciosas e parasitárias
Doenças das glândulas endócrinas e metabolismo
Doenças do SNC e órgãos dos sentidos
Doenças do Aparelho Circulatório
Doenças do aparelho respiratório
A30 a A49 (exceto A35, A36 e A37)
A81 a A89 (exceto A82)
B00 a B09 (exceto B01 e B05)
A70 a A74 /A65 a A69/ B35 a B49
E00 a E07/ E10 a E14/ E20 a E35/
E70 a E90 (exceto E86)
G00 e G03 (excetoG00. 0) G04 /G06
G08/G09 /G11/ G80/G83 /G40 G93
/G90 a G99 (excetoG93)/ G50 a G72/
H00 a H59/ H60 a H95.
I10 a I15/ I20 a I25/ I26 a I28/I30 a
I52/I60 a I69/I70 a I79/I80 a I99
(exceto I98)
J00 a J06/J30 a J39/J12 a J21/J40 a
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Anexo - 1
Afecções perinatais
Transtornos respiratórios e
cardiovasculares específicos do período
perinatal
Infecções específicas do período
perinatal
Hemorragia fetal e neonatal
Doença hemolítica do feto ou RN devido a
isoimunização
Outras icterícias perinatais
Transtornos endócrinos e metabólicos
transitórios específicos do feto e do RN
Transtornos hematológicos do feto e do
RN
Transtornos do aparelho digestivo
Afecções que comprometem o tegumento
e a regulação térmica do feto ou RN
Reações e intoxicações devidas a drogas
administradas ao feto ou RN
Síndrome de abstinência do uso de
drogas terapêuticas no RN
Causas externas
Acidentes ocorridos em pacientes durante
prestação de cuidados médicos e
cirúrgicos
Reação anormal em paciente ou
complicação tardia, causadas por
procedimentos cirúrgicos e outros
procedimentos médicos sem menção de
acidentes ao tempo do procedimento.
Efeitos adversos a drogas, medicamentos
e substâncias biológicas usadas com
finalidade terapêutica.
Outras reduzíveis por diagnóstico e tratamento
precoces
Doenças do sangue e órgãos
hematopoéticos
Transtornos mentais
Doenças do aparelho digestivo
Doenças do aparelho geniturinário
Doenças da pele e do tecido subcutâneo
Doenças do sistema osteomuscular e do
tecido conjuntivo
J47/J60 a J70/J80 a J99
P23 a P29
P35 a P39 exceto P35. 0
P50 a P54
P55 a P57 (exceto P55. 0 e P55. 1).
P58 a P59
P70 a P74
P60 e P61
P75 a P78
P80 a P83
P93
P96. 2
Y60 a Y69
Y83 a Y84
Y40 a Y59
D50 a D77 (exceto D50). 9, D52. 9,
D53. 0 e D53. 2).
F70 a F79 e F84
K00 a K93
N00 a N99
L00 a L99
M00 a M99 (exceto M93. 1).
REDUZIVEIS ATRAVÉS DE PARCERIAS COM
OUTROS SETORES
Doenças infecciosas intestinais
Outras doenças infecciosas
Neoplasias
Algumas doenças bacterianas zoonóticas
A00 a A09
B99
C00 a C97/D10 a D36/D37 aD48/C80
A20 a A28
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Anexo - 1
Febre por arbovírus e febres hemorrágicas
virais
Rickettsioses
Raiva
Doenças pelo vírus da imunodeficiência
humana
Outras doenças por vírus
Doenças devidas a protozoários
Helmintíases
Deficiências nutricionais
Anemia por deficiência
Anomalias congênitas não especificadas no
grupo de causas evitáveis
Causas externas
A90 a A99
A75 a A79
A82
B20 a B24
B25 a B34
B50 a B64
B65 a B83
E40 a E64
D50. 9/D52. 9/D53. 0 e D53. 2
V01 a V99/X40 a X44/X45 a X49/W00
a W19/X00 a X09/X30 a X39/W65 a
W74/W75 a W84/W85 a w99/X58 a
X59/X85 a Y09/Y10 a Y34/W20 a W49
NÃO EVITÁVEIS
Síndrome de Waterhouse-Friderichsen
Alguns transtornos que comprometem o sistema
imunitário
Doenças do aparelho nervoso central
Influenza devida a vírus da influenza identificado
ou não
Desconforto respiratório do RN
Síndrome da morte súbita na infância
Anomalias congênitas
A39. 1
D80 a D89
G10 a G13/G20 a G26/G35 a G37
J10 e J11
P22
R95
Q00 a Q07/Q31 e Q32/Q33. 0/Q33.3 3
Q33.6/Q33.8/Q34.9/Q45.0 a
Q45.3/Q45.9/Q91.3/Q91.7/Q93.4/Q90 a
Q99 (exceto Q91.3,Q91.7 e Q93.4)/Q89.7
a Q89.9).
MAL DEFINIDAS
Outros transtornos originados no período perinatal
Sintomas, sinais e achados anormais de exames
clínicos e de laboratório não classificados em outra
parte.
P90 a P96
R00 a R99 (excetoR95)
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Anexo -II
Anexo 2 – Classificação de Óbitos Perinatais segundo Wigglesworth modificada por
Keeling et al, 1989
GRUPO 1 - ÓBITOS ANTES DO TRABALHO DE PARTO
1 a – Não relacionados com hemorragia maciça feto-placentária
1 b – Relacionados com hemorragia maciça feto-placentária
(feto macerado, sem outra evidencia, é um forte indício de óbito antepartum)
- serão excluídos óbitos antenatais por malformações letais.
GRUPO 2 – MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS (NATIMORTO OU NEOMORTO)
- Classificadas como intratáveis ou associadas a alterações funcionais (hipoplasia
pulmonar decorrente de oligoâmnio, hidropsia associada a malformações).
- incluir malformações menores, não incompatíveis com a vida, fazendo parte de um
complexo de malformações (mínimo de duas), com morte anteparto.
- Excluir malformações menores não incompatíveis com a vida ou potencialmente
tratáveis.
GRUPO 3 – CONDIÇÕES ASSOCIADAS COM PREMATURIDADE OU IMATURIDADE
- Incluir todo Rn pesando menos que 1000 g, independente do momento do óbito.
- Incluir RN prematuro com infecção congênita, exceto por infecções específicas como:
estreptococo do grupo B, toxoplasmose, sífilis, rubéola, citomegalovírus, herpes.
- Excluir RN prematuro pesando mais que 1000 g que faleceram antes de 4 horas de
vida.
GRUPO 4 – ÓBITOS INTRAPARTO, RN PESANDO MAIS QUE 1000 g COM ÓBITO
NAS PRIMEIRAS 4 HORAS, EVIDÊNCIA DE TRAUMA DE PARTO OU ASFIXIA
4 a – Não relacionados com hemorragia maciça feto-placentária
4 b – Relacionados com hemorragia maciça feto-placentária
- mortes intraparto sem malformações ou condições específicas
- natimortos sem maceração na ausência de outras informações
- RN prematuros pesando mais que 1000 g que faleceram antes de 4 horas de vida
- RN falecido durante intervenção, tipo operação cesárea, na ausência de trabalho de
parto
- Qualquer RN sobrevivendo mais que 4 horas com evidência de trauma craniano ou
asfixia
GRUPO 5 – CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DEFINIDAS E OUTRAS CONDIÇÕES
- Incluir causas inexplicadas em RN termo.
- Condições associadas à prematuridade, ocorrendo em RN de termo, como síndrome
de desconforto respiratório, hemorragia intracraniana, enterite necrotizante.
- infecções específicas do período neonatal (citomegalovírus, herpes, rubéola)
.
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos . . .
Anexo -II
Anexo 2 – Classificação de Óbitos Perinatais segundo Wigglesworth modificada por
Keeling et al, 1989
ÓBITO PERINATAL
MALFORMAÇÃO LETAL OU
POTENCIALMENTE LETAL
SIM GRUPO 2
NÃO
CONDIÇÃO
ESPECÍFICA DEFINIDA
SIM GRUPO 5
NÃO
MOMENTO DO ÓBITO
NEONATAL
ANTEPARTO
INTRAPARTO
GRUPO 1
< 1000 g
GRUPO 3
1000 g ou mais ÓBITO COM < 4 HORAS
GRUPO 4
ÓBITO COM 4 HORAS
EVIDENCIA DE TRAUMA OU
ASFIXIA
37 OU MAIS SEMANAS DE
GESTAÇÃO
GRUPO 5
< 37 SEMANAS DE
GESTAÇÃO
GRUPO 3
GRUPO 4
GRUPO 4
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -III
ANEXO 3A - FORMULARIO– DADOS DO - OFICIAL
Formulário nº___/___/___
DO Nº_______________________
Variável
Em branco
Codificação
(favor não preencher)
Form____/____/____
Hospital de Ocorrência:
Hospoc_____/_____
Nome do RN:
Nomrn
____/____/____/____
Data do nascimento: ____/____/____/____/2001
Datnas ___/___/___/___
Data do Óbito:____/____/____/____/2001
Dataob___/___/___/___
Hora do óbito:___/___/___/___
Idade do RN:
Idrn ___/___
Sexo: F M Ignorado
Sex___
Endereço :
Nome da mãe:
Nomae
___/___/___/___/___
Idade materna:
Idmae
___/___
Duração da Gestação (em semanas)
Tipo de Parto:
N C F
Tippart ___/___
Peso ao nascer(em gramas):____/____/____/____
Pesonasc
___/___/___/___
Nº da DN:
CAUSA DA MORTE a)
CID10 ___/___/___
PARTE 1
b)
___/___/___
c)
___/___/___
d)
___/___/___
PARTE 2
___/___/___
___/___/___
CLASSIFICAÇÃO FS CLASSIFICAÇÃO WIGGLES
FS_____ WG_____
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -III
Anexo 3-B - PROTOCOLO DE ANALISE DOS PRONTUÁRIOS PARA
INVESTIGAÇÃO DE CAUSA BÁSICA DE ÓBITO NEONATAL PRECOCE
B 1 B 2
Formulário nº / /
DO Nº_______________________
Variável
Em branco (9)
Hospital de Ocorrência:
Form / /
Hospocorr /
Nome :
Nomrn
/ / /
Nome da mãe:
Idade materna:
Nommae / /
/Idmae /
Endereço :
Nº DN
DN
Data do nascimento
/ /
Data do Óbito
/ /
Idade ao morrer Datnas / / /
Datob / / /
Idadob /
Pré-natal : Quantas consultas: Sexo
Prenat
Numcons
Sex
Duração da Gestação (em semanas)
Peso ao nascer(em gramas)
Idgestsm /
Pesgr / / /
INTERCORRENCIAS DA GESTAÇÃO
Edema,trauma,convulsões,ameaça de aborto, ameaça de parto
prematuro,sangramento,diabetes,infecção,infecções específicas,hipertensão,placenta
prévia,outros.
DADOS DO PARTO
Apresentação Analgesia/anestesia Tipo de parto:
N
C F
Cefálico Pélvico outro sim não
Bolsa Rota Horas Circular de cordão gestação
sim Não Sim Não unica gemelar
Tippart
Líquido amniótico
volume
normal meconio Sanguin
olento
fétido Normal oligodramni
o
polidramnio
Assistên
cia ao
Parto
Assistên
cia ao
RN
Local do
parto
apgar
Reanimação
na sala de
parto
Manobras de
reanimação
Malformaçõ
es
congênitas:
SP
Triagem
PP
CO
Enf
sim
não
sim
não
Outro
1
2
5
sim não
vpp
intubação
MCE
drogas
outras
sim não
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -III
Outras informações relevantes:
Evolução do Rn após o nascimento até o óbito
Exame físico, achados anormais, exames realizados, exames anormais, procedimentos realizados.
CONCLUSÃO
CAUSA DE ÓBITO CID-10
a)
b)
c)
CAUSA BÁSICA
d)
CAUSA
ASSOCIADA
CLASSIFICAÇÃO FS
FS _____ WIGGLESWORTH _____________
RESPONSÁVEL:
DATA: / /
REVISÃO:
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -III
ANEXO 3C - PESQUISA QUALIDADE DADOS OFICIAIS SIM MACEIÓ 2001-2002
(EPIINFO)
1. TIPOBITO1 2. TIPOBITO 2 3. NUMERO DO 4. FORMULARIO
2001 2002
1 2 3 9 1 2 3 9
5.NOME DA MAE 0
1 2 9
6
7.NOME DA MAE 1
1 2 9
8
9.NOME DA MAE 2
1 2 9
10
ENDEREÇO 0
1 2 9
11
ENDEREÇO 1
1 2 9
12
ENDEREÇO 2
1 2 9
13
DATA
NASCIMENTO: 0 1 2 9
DATA
ÓBITO 0
1 2 9
14 DATA
NASCIMENTO: 1
1 2 9
15 18 DATA
ÓBITO 1
1 2 9
19
16 DATA
NASCIMENTO: 2
1 2 9
17 20 DATA
ÓBITO 2
1 2 9
21
IDADE 0
HORAS
22 IDADE 1
HORAS
23 IDADE2
HORAS
24
25 SEXO 0
1 2 9
26 SEXO 1
1 2 9
27 SEXO 2
1 2 9
28 HOSPITAL 0
99
29 HOSPITAL 1
99
30 HOSPITAL 2
99
31 IIDADE
MATERNA 0
ANOS
99
32 IDADE
MATERNA 1
ANOS
99
33 IDADE
MATERNA 2
ANOS
99
1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
34 IDADE
GESTACIONAL 0
SEMANAS
5 6 9
35 IDADE
GESTACIONAL 1
SEMANAS
5 6 9
36 IDADE
GESTACIONAL 2
SEMANAS
5 6 9
37 TIPO
PARTO 0
1 2 9
38 TIPO
PARTO 1
1 2 9
39 TIPO
PARTO 2
1 2 9
40 PESO 0
9999
41 PESO 1
9999
42 PESO 2
9999
43 ASSMÉDICA 0
1 2 9
44 ASS. MÉDICA 1
1 2 9
45 ASSMÉDICA 2
1 2 9
46CAUSBÁSIC 0
47 CAUSABÁSIC 1 48CAUSBÁSIC 2
CAUSAS ASS 0
CAUSAS ASS 1
CAUSAS ASS 2
49.SEADE 0 50 SEADE 1 51 SEADE 2
52 WIGGLES 0 53 WIGGLES 1 54 WIGGLES 2
55 CARTORIO 0
1 2
56 CARTORIO 1
1 2
57 CARTORIO 2
1 2
58 CONCORD IO
1 2 9
60 CBL 61 CBM 62 DNV
+ -
59 PRONTLOCA
1 2 3
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -IV
Tabela 1. – Distribuição de óbitos menor de 1 ano, neonatal e neonatal precoce em Alagoas e Maceió, por município de ocorrência
e residência, 2001-2002.
Ano 2001 2002
Ocorrência Residência Ocorrência Residência
Faixa etária
ALAGOAS MACEIÓ ALAGOAS MACEIÓ ALAGOAS MACEIÓ ALAGOAS MACEIÓ
% % % % % % % %
< 1ano
2103 100,00 873 41,50 2158 100,00 493 22,84 1872 100,00 875 46,74 1948 100,00 387 19,86
0-28 dias
1089 51,78 154 17,64 1127 52,22 363 73,63 1030 55,02 589 67,31 1079 55,39 278 71,83
0-6 dias
845 40,18 413 47,30 883 38,60 271 54,96 755 40,33 403 46,05 799 41,02 192 49,61
Fonte: DATASUS/MS
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -IV
Tabela 2 – Distribuição percentual do total de óbitos neonatais precoces estudados através de prontuários, segundo as
variáveis categorizadas, em Maceió, 2001-2002.
Variáveis Categorias %
Peso ao nascer
< 2500g 264 76,7
2500g
78 22,7
Não informado 2 0,6
Sexo
Masculino 190 55,4
Feminino 151 44,0
indeterminado 2 0,6
Idade no óbito
1 dia de vida
184 53,6
> 1dia de vida 155 45,2
Não informado 4 1,2
Idade materna
19 anos
108 31,5
> 19 anos 234 68,2
Não informado 1 0,3
Tipo de parto
Não Operatório 222 65,0
Operatório 121 35,0
Idade gestacional
Pré-termo 229 66,7
termo 64 18,6
Não informado 50 14,7
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -IV
Tabela 3 – Distribuição das causas básicas de óbito neonatais por grupos de doenças, em DO refeitas, DO oficias e SIM, em
Maceió, Alagoas 2001-2002.
D. O.
Refeitas
D.O.
oficiais
SIM
CAUSAS BÁSICAS
N % N % N %
Fatores maternos e complicações da gravidez, trab. de parto, parto (P00-P04) 157 46,6 32 9,5 24 7,1
Complicações ligadas a duração da gestação e crescimento fetal (P05-P08) 11 3,3 11 3,3 16 4,7
Traumatismo no nascimento (P10-P15) 2 0,6 1 0,3 2 0,6
Transtornos respiratórios e cardiovasculares específicos perinatais (P20-P29) 75 22,2 196 58,1 201 59,6
Infecções específicas do período perinatal e sífilis (P35-P39 e A50) 37 11,0 46 13,6 47 14,0
Transtornos hemorrágicos e hematológicos do RN (P50-P61) 5 1,5 8 2,4 5 1,5
Transtornos endócrinos e metabólicos do RN(P70-P74) - - - - 1 0,3
Transtornos do aparelho digestivo (P75-P78) - - - - 1 0,3
Comprometimento do tegumento e regulação térmica (P80-P83) - - 1 0,3 2 0,6
Outros transtornos (P90-P96) 2 0,6 - - - -
Malformações congênitas (Q00-Q99) 48 14,2 41 12,2 35 10,4
Causas Mal definidas (R00-R99) - - 1 0,3 1 0,3
Outros CID - - - - 2 0,6
TOTAL 337 100,0 337 100,0 337 100,0
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -IV
Tabela 4. Distribuição dos óbitos neonatais por categorias de causas nas DO refeitas e nas DO oficiais, em Maceió, 2001-2002.
Causa básica D.O. refeita (3 digitos)
Causa Básica
D.O. oficial
(3 digitos)
Fatores
materno-
placentários e
ligados ao
trabalho de
parto e parto
(P00-P04-P10-
P15)
Prematuridade
(P07)
Hipóxia
(P20-
21~24)
Infecções
(P35-39-
A50)
Malformações
(Q00-Q99)
Outras
causas
Total
DO oficial
Fatores materno-
placentários e ligados ao
trabalho parto e parto(P00-
P04-P10-P15)
32 0 1 0 0 0
33
Prematuridade (P07) 5 2 3 0 0 0
10
Hipóxia (P20-21-24) 79 2 39 12 2 3
138
Infecções (P35-39 A50) 17 0 8 16 2 3
57
Malformações (Q00-Q99) 2 0 0 0 39 0
41
Outras causas 21 5 18 5 4 5
58
Total D.O. refeita 160 9 71 38 48 11 337
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -IV
Tabela 5. Distribuição dos óbitos neonatais por categorias de causas nas DO refeitas e no SIM, em Maceió, 2001-2002.
Causa básica D.O. refeita 3 digitos
Causa Básica
SIM
3 digitos
Fatores
materno-
placentários e
ligados ao
trabalho de
parto e parto
(P00-P04-P10-
P15)
Prematuridade
(P07)
Hipóxia
(P20-21-
24)
Infecções
(P36-P39-
A50)
Malformações
(Q00-Q99)
Outras
causas
Total
DO SIM
Fatores materno-
placentários e ligados ao
trabalho parto e parto
(P00-P04-P10-P15)
14 0 2 4 6 0
26
Prematuridade (P07) 8 4 3 0 0 0
15
Hipóxia (P20-21-24) 86 2 40 14 3 3
148
Infecções (P35-39 A50) 24 0 10 15 3 3
55
Malformações (Q00-Q99) 3 0 1 1 29 1
35
Outras causas 25 3 15 4 7 4
58
Total D.O. refeita 160 9 71 38 48 11 337
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -IV
Tabela 6.- Distribuição dos óbitos neonatais por categorias de causas, com 3 digitos, nas DO oficiais e no SIM, em Maceió,
2001-2002.
Causa básica D.O.oficial(3 digitos)
Causa Básica
SIM
(3 digitos)
Fatores materno-
placentários e
ligados ao trabalho
parto e parto (P00-
P04-P10-P15)
Prematuridade
(P07)
Hipóxia
(P20-21-
24)
Infecções
(P36-39
A50)
Malformações
(Q00-Q99)
Outras
causas
Total
DO SIM
Fatores materno-
placentários e ligados ao
trabalho parto e parto
(P00-P04-P10-P15)
12 0 4 3 6 1
26
Prematuridade (P07) 3 10 0 0 0 2
15
Hipóxia (P20-21-24) 12 0 130 2 1 3
148
Infecções (P35-39 A50) 1 0 1 51 0 2
55
Malformações (Q00-Q99) 0 0 1 1 31 1
35
Outras causas 5 0 2 0 3 48
58
Total D.O. oficial 33 10 138 57 41 58 337
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -IV
Tabela 7.- Concordância geral em causa básica com 3 digitos entre análise de prontuários (CB-AP), DO oficial (CB-OF) e
SIM (CB-SIM), em óbitos neonatais precoces, Maceió/Al, 2001-2002.
Concordância C.O. % Indicador Kappa Interpretação
do Kappa
IC 95% (K)
CB-AP X CB-OF 40,6 0,28 Sofrível 0,23 - 0,33
CB-AP X CB-SIM 31,4 0,17 Fraca 0,13 - 0,21
CB-OF X CB-SIM 83,7 0,78 Boa 0,73 – 0,83
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -IV
Tabela 8- Freqüência dos óbitos neonatais precoces em Maceió/Al, 2001-2002, de acordo com as principais causas encontradas
na análise de prontuários,(CB-AP), D.O. Oficiais (CB-OF) e SIM (DO-SIM).
CB - AP CB-OF CB-SIM CAUSA BÁSICA CID-10
4 DIGITOS
N % N % N %
SIFILIS A50.2 14 4,1 9 2,3 2 0,6
DHEG P00.0 17 5,0 2 0,5 2 0,6
ITU P00.8 16 4,7 - - 2 0,6
INCOMPETENCIA ISTIMO CERVICAL P01.0 11 3,2 - - - -
RUPTURA PREMATURA DE MEMBRANAS P01.1 21 6,1 5 1,3 3 0,7
GRAVIDEZ MULTIPLA P01.5 21 6,1 17 4,3 - -
PLACENTA PRÉVIA P02.0 6 1,7 - - 1 0,3
DPP E HEMORRAGIA P02.1 12 3,5 6 1,5 5 1,2
CORIOAMNIONITE P02.7 15 4,4 1 0,3 1 0,3
USO DROGAS ABORTIVAS P04.1 6 1,7 1 0,3 - -
COMPLICAÇÕES PARTO /TRAB.PARTO P03.8 5 1,5 - - 2 0,5
OUTRAS CAUSAS MATERNAS P00.2 - P04..9 29 8,4 4 1,0 11 2,7
RNMBP( 999G)
P07.0 9 2,6 4 1,0 1 0,3
RNBP – ( 1000-2499G) P07.1 - - 5 1,3 - -
OUTROS PREMATUROS P07.2 E P07.3 1 0,3 4 1,0 17 4,2
HIPÓXIA INTRA-UTERINA P20.0 P20.1 1 0,3 - - 7 1,7
HIPOXIA INTRAUTERINA NÃO ESPECIFICADA P20.9 2 0,6 - - 3 0,7
ASFIXIA GRAVE AO NASCER P21.0 25 7,3 15 3,8 12 3,0
ASFIXIA AO NASCER NÃO ESPECIFICADA P21.9 3 0,9 - - 13 3,2
DMH P22.0 30 8,7 107 27,0 117 29,2
PNEUMONIA CONGÊNITA NÃO ESPECIFICADA P23.9 1 0,3 13 3,3 10 2,5
SAM P24.0 5 1,5 15 3,8 9 2,2
ASPIRAÇÃO NEONATAL NÃO ESPECIFICADA P24.9 5 1,5 8 2,0 8 2,0
INSUFICIÊNCIA RESPIRATORIA DO RN P28.5 1 0,3 27 6,8 44 11,0
OUTROS DISTURBIOS RESPIRATÓRIOS P20.9-P29.9 3 0,9 45 11,3 17 4,2
SEPTICEMIA P36.9 2 0,6 28 7,1 34 8,5
OUTRAS INFECÇÕES INESPECÍFICAS P39.9 22 6,4 18 4,5 34 8,5
ANENCEFALIA Q00.0 12 3,5 12 3,0 11 2,7
MALFORMAÇÕES CARDIACAS NÃO ESPECIFICADAS Q24.9 5 1,5 4 1,0 4 1,0
OUTRAS MALFORMAÇÕES COM ALT. ESQUELETICAS Q87.5 1 0,3 - - 11 2,7
MALFORMAÇÕES MULTIPLAS NÃO CLASSIFICADAS Q89.7 14 4,1 9 2,3 - -
OUTRAS MALFORMAÇÕES Q00.1-Q99.9 18 5,2 24 6,0 17 4,2
OUTRAS CAUSAS 10 2,9 46 11,6 3 0,7
TOTAL 343 100,0 396 100,0 401 100,0
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -IV
Tabela 9- Distribuição dos óbitos de acordo com o peso ao nascer em hospitais com
e sem unidades de terapia intensiva neonatal, em Maceió, 2001-2002.
Peso ao Nascer
2500g
> 2500g
Assistência Neonatal
N % N %
Hospitais com UTI NEO (7) 211 63,0 39 50,6
Hospitais sem UTI NEO (8) 47 37,0 38 49,4
TOTAL 258 100,0 77 100,0
Tabela 10 – Distribuição dos óbitos de acordo com a idade gestacional em hospitais
com e sem unidades de terapia intensiva neonatal, em Maceió, 2001-2002.
Idade Gestacional
Pré- Termo Termo
Assistência Neonatal
N % N %
Hospitais com UTI NEO (7) 198 87,6 37 58,7
Hospitais sem UTI NEO (8) 28 12,4 26 41,3
TOTAL 226 100,0 63 100,0
Tabela 11 – Concordância entre causas básicas dos prontuários, D.O.Oficial e SIM,
em relação à Classificação da Fundação SEADE, em óbitos neonatais precoces,
Maceió/Al, 2001-2002.
Concordância causa
básica
(CB)
C.O.
%
Indicador
Kappa
Interpretação
do Kappa
IC 95% (K)
CB-AP X CB-OF 41,0 0,24 sofrível 0,35-0,47
CB-AP X CB-SIM 33,0 0,15 fraca 0,10-0,19
CB-OF X CB-SIM 83,0 0,32 sofrível 0,31–0,39
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
Anexo -IV
Pedrosa, Linda Délia
C. O.
Avaliação da qualidade das informações oficiais sobre óbitos...
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