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seguir os futuristas e deixar de lado toda sua carga cultural, inclusive a indumentária
profissional pela qual ele é reconhecido como arquiteto”. (BANHAM, 1979, p.515)
A curiosidade inesgotável de Sergio Bernardes conjugou sua metodologia projetual e
pensamento estrutural com a busca pela beleza e pela funcionalidade. Sua mente atenta às
pesquisas científicas nos diversos ramos da engenharia, da indústria automotiva, espacial,
bélica e da cibernética
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, formou um vocabulário construtivo muito rico. Tanto em termos de
partidos estruturais, formas e volumes, quanto em cores, texturas e efeitos de maneira geral. A
variedade de experimentações arquitetônicas que os materiais lhe permitiram foi talvez o
ponto de partida para as provocações sensoriais que ele pretendia despertar nos usuários.
O fato de acompanhar avidamente as pesquisas tecnológicas mais avançadas não
atrapalhou a continuidade expressiva de sua obra, que era caracterizada por também tirar
partido da natureza e dos materiais locais. A originalidade de seus projetos residia na
equilibrada conjunção desses componentes, que fizeram com que suas obras estivessem em
harmonia com os usuários, ainda que um pouco à frente do seu tempo.
Por se afastar do racionalismo ortodoxo, Bernardes representou no Brasil o extremo de
uma vanguarda. Sempre preocupado com questões globais, suas maiores experimentações
foram o redesenho da moradia, da cidade e até mesmo do país. Para tanto, fundou o L.I.C.,
Laboratório de Investigações Conceituais, que funcionou entre 1979 e 1985 junto com seu
escritório, o S.B.A., Sergio Bernardes Arquitetura e Planejamento. À frente do L.I.C.,
Bernardes investiu em projetos urbanísticos e teses filosóficas e chegou, ainda, a discutir
problemas de ordem ecológica e ambiental, temas pouco abordados na época.
Enquadrar o arquiteto de forma simplória em apenas uma corrente arquitetônica seria
o mesmo que desconsiderar todas as nuances de sua produção, seja no tocante à especulação
tecnológica presente nos projetos criados, seja no pensamento envolvido na análise dos
problemas urbanos. Mais que uma recusa ao estabelecido, Bernardes reviu conceitos,
utilizando-se de elementos de diversos estilos, do colonial ao pós-moderno.
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De acordo com o texto de Sergio Bernardes, extraído da edição especial da revista Manchete (1969, p.48): “O
homem formula, mantém e prepara a máquina, partindo de um processo em que as demandas estadual, nacional
e continental somente se justificam em função de uma produção mundial coordenada para atender as
necessidades universais. Assim, admitindo-se que proprietário é aquele que decide o uso, não terá sentido que a
máquina automática – com capacidade de produção acima da demanda local – seja propriedade de grupos nem
do Estado. Pertencerá aos homens reunidos pelo denominador prático e universal do trabalho, nos diferentes
níveis científico e técnicos – da formulação e manutenção à preparação e programação. Todo o processo da
demanda e produção, nessa escala universal – mas respeitando as pessoas e os níveis culturais de cada povo –
somente poderá ser controlado pela Cibernética, que é a ciência da análise e comando dos processos através da
informação e da comunicação. Entendemos a Cibernética em sua função específica a serviço do homem e não
como instrumento de subordinação do homem a uma tecnocracia, que seria novamente um grupo ou um Estado”.