principalmente psicólogos, filósofos e antropólogos, que mais fazem uso dos módulos do
chamado (outra ironia de Skinner) ‘sistema nervoso conceitual’. Combina-se, então, os genes
‘funcionais’
195
, os módulos do sistema nervoso conceitual e as sempre disponíveis ‘estórias
exatamente assim’ (just so stories) do Pleistoceno
196
, para se construir uma Psicologia
Evolutiva imersa em mentalismo, com todos os antigos problemas já conhecidos dos
psicólogos comportamentais e outros tantos, acrescentados por uma forma pouco cuidadosa
de teorização evolucionista
197
.
Os resultados da pesquisa experimental do comportamento podem ajudar muito a esclarecer
esse tema, principalmente, se refletirmos criticamente sobre o problema dos padrões fixos de
ação (FANTINO; LOGAN, 1979). Como ressalta Baum (1994), não há uma fronteira clara
entre os reflexos e os padrões fixos de ação, ao que acrescentaríamos, nem entre esses últimos
e o comportamento operante
198
. O que há de fixo, antes de tudo, é o contexto, como o
provaram de modo cabal as experiências com a estampagem. Na verdade, se refletirmos bem,
seleção natural da espécie durante o Pleistoceno.
195
Por ‘genes funcionais’ estamos nos referindo às unidades mais ou menos arbitrárias, que não têm fundamento
bioquímico direto, com base nas quais os biólogos evolucionistas se referem à função adaptativa de algum
padrão físico ou comportamental, como, por exemplo, se pode falar em um gene para a imitação ou para a
sensibilidade ao reforço socialmente mediado. Claro que nenhum biólogo sensato acredita que exista uma
seqüência específica de DNA e, conseqüentemente, alguma proteína, que contenha o ‘programa’ para tais
funções comportamentais; trata-se de um modo econômico de se expressar, dada a complexidade dos processos
envolvidos, não totalmente desvendados. Fazer a ligação entre as proteínas sintetizadas com base nas seqüências
do DNA e as funções físiológico-anatômicas é tarefa, grosso modo, dos biólogos que se dedicam a essas áreas,
enquanto que fazer a ligação entre essas proteínas e o comportamento deveria ser, de um lado, tarefa dos
neurofisiologistas, no que tange ao sistema nervoso, de outro, dos psicólogos cognitivos, os quais, entretanto,
têm sido prejudicados pelo mentalismo, hoje representado pela teoria dos ‘módulos do sistema nervoso
conceitual’.
196
Estamos nos referindo aqui ao hábito de se especular sobre possíveis vantagens evolutivas de determinados
padrões comportamentais, principalmente humanos, a partir do período Pleistoceno, considerado pelos
paleontologistas como aquele em que o ser humano evoluiu como espécie distinta (BARKOW; COSMIDES;
TOOBY, 1992; MAYNARD SMITH, 1982). A expressão ‘estórias exatamente assim’ (just so stories) alude de
modo irônico ao caráter especulativo e, não obstante, detalhista com que tais reconstruções do passado evolutivo
humano são inventadas (DENNETT, 1995).
197
Nem tudo o que se produz na Psicologia Evolutiva padece dos problemas a que estamos aludindo,
especialmente se levarmos em conta o componente empírico dos trabalhos publicados por adeptos dessa
corrente. Para uma coletânea de ensaios unanimemente aclamados, ver BARKOW; COSMIDES; TOOBY, 1992.
Para apresentações didáticas da disciplina também muito elogiadas, ver CARTWRIGHT, 2000; BARRET;
DUNBAR; LYCETT, 2002. Para avaliações críticas da disciplina, de pontos de vista distintos ao da perspectiva
comportamentalista, ver PANKSEPP; PANKSEPP, 2000; LALAND; BROWN, 2002. Para uma crítica
atualizada do mentalismo de um ponto de vista filosófico, BUTTON et al., 1998.
198
Baum, provavelmente, está se referindo ao que, acima, chamamos de respostas comportamentais
estereotipadas, ao passo que nós estamos focando, principalmente, nos padrões fixos mais complexos.