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de contos provindos da tradição oral e da Novelística Popular Medieval.
(COELHO,1991). Nesse sentido, existe uma contrariedade em qualquer tentativa de
datar a literatura infantil, porque as histórias originais que a compõem são talvez a
forma de expressão literária mais antiga que existe.
Constatamos que a criança, em outras épocas, não era vista como criança e
as histórias só se tornaram infantis muito tempo depois. Meireles (1984, p. 55) afirma
que:
É que não se pode pensar numa infância a começar logo com gramática e
retórica: narrativas orais cercam a criança da Antigüidade, como as de
hoje. Mitos, fábulas, lendas, teogonias, aventuras, poesia, teatro, festas
populares, jogos, representações várias [...] – tudo isso ocupa, no passado,
o lugar que hoje concedemos ao livro infantil. Quase se lamenta menos a
criança de outrora, sem leituras especializadas, que as de hoje, sem os
contadores de histórias e os espetáculos de então [... ]
Ao longo da história da humanidade, os contos de fadas invadiram o
imaginário de crianças e adultos de diferentes países e culturas. Não há, na
civilização ocidental, uma sociedade que não tenha sido enriquecida por essas
narrativas onde as figuras solidificaram seus espaços sociais. (ESTÉS, 2005).
Como visto no capítulo anterior, a literatura infantil, precisamente os contos
de fadas, possuem um caráter fundamental na formação do futuro adulto. Sosa
(1978) defende que a literatura infantil não se restringe somente às histórias antigas,
aos contos de fadas e às fábulas, considerando que não bastam boas ilustrações e
um final feliz para que se obtenha literatura infantil. Para Meireles (1984, p. 31):
O fato de a criança tomar um livro nas mãos, folheá-lo, passar os olhos por
algumas páginas não deve iludir ninguém. Há mil artifícios e mil ocasiões
para a tentativa de captura desse difícil leitor. São os aniversários, são as
festas, são as capas coloridas, são os títulos empolgantes, são as
abundantes gravuras.
Ah! Tu, livro despretensioso, que, na sombra de uma prateleira, uma
criança livremente descobriu, pelo qual se encantou e, sem figuras, sem
extravagâncias, esqueceu as horas, os companheiros, a merenda [...] tu,
sim, és um livro infantil, e o teu prestígio será, na verdade, imortal.
Pois não basta um pouco de atenção dada a uma leitura para revelar uma
preferência ou uma aprovação. É preciso que a criança viva a sua
influência, fique carregando para sempre, através da vida, essa paisagem,
essa música, esse descobrimento, essa comunicação [...]
O surgimento dessa literatura está ligada a quatro fatores que, embora
tenham contribuído para a sua difusão, dificultaram a sua valorização como gênero:
o aparecimento da burguesia, o reconhecimento da infância como fase importante, a