Sueli Maria Coelho
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na sua história pregressa,
estar
tem como étimo stare ‘estar de pé’. Nessa acepção está
documentado no português até fins do século XIV, enquanto
ser
tem uma história
complexa de convergência dos verbos latinos
sedere
, ‘estar sentado’ – nessa acepção
ainda em uso, pelo menos, até fins do século XIV – e, esse ‘ser’. Esse fato permite
inferir que o traço [+ transitório] é o próprio, desde a sua origem, a
estar
, enquanto em
ser
confluem o [+ transitório] de
sedere
e o [+ permanente] de
esse
. Não é sem razão
histórica, portanto, que, definida a oposição
ser/estar
no português, foi estar o verbo
escolhido para expressar a transitoriedade. (MATTOS E SILVA, 2001, p. 77)
A explicação da autora sobre a diacronia de
estar
faz emergir uma hipótese que merece
ser cogitada
.
Considerando-
se
o fato de que, em sua etimologia, o verbo
estar
apresenta mais de
um
étimo, dada a sua confluência com os étimos de
sedere,
é possível intuir que as perífrases
constituídas de gerúndio e aquelas constituídas de particípio s
ejam
oriundas de étimos distintos.
Pountain (1982) afirma que o fato de o verbo
estar
ter se despojado de seus valores lexicais
plenos para incorporar um
stat
us
de cópula não é o único aspecto relevante na história desse
verbo no Castelhano e no Português. “No Latim Clássico, o leque semântico de
STARE
é
razoavelmente
circunscrito; três sentidos plenos podem ser estabelecidos: (...)
“estar
1
” (com
sujeitos animados, oposto a “sentar-
se”)
, “estar
2
” (com sujeitos inanimados, no sentido geral de
“estar situado”) e
“estar,
ficar
54
”.” (POUNTAIN, 1982, p. 144, tradução nossa) Os sentidos 1 e 2
são relativos à natureza nocional do verbo, enquanto o sentido 3 associa-se à sua natureza
relacional.
Ainda segundo Pountain (1982), nos textos mais antigos do Castelhano e do
Português, nota-se uma preferência por associar-se o verbo
estar
a complementos locativos
adverbiais. Assim, é plausível cogitar a respeito do fato de o
est
ar
que se combina com o
gerúndio não ser o mesmo
estar
que se combina com o particípio. Pode-se, pois, suscitar a idéia
de que o
estar
que constitui as perífrases de particípio é o sentido 3 acima descrito por Pountain
(op. cit.). Essa idéia parece bastante defensável, uma vez que, como defendido por Vincent
54
“In Classical Latin, the semantic range of STARE is fairly circumscribed; three full meaning can be established,
(…)
‘stand
1
’ (with animate subject, opposed to ‘sit’), ‘stand
2
’ (with inanimate subject, in the general sense of ‘be
situated’) and ‘stay’.
(POUNTAIN, 1982, p. 144
)