Linguagem é uma inesgotável riqueza de múltiplos valores. A linguagem é
inseparável do homem e segue-o em todos os seus atos. A linguagem é o
instrumento ao qual o homem modela seu pensamento, seus sentimentos, suas
emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, instrumento graças ao qual
ele influencia e é influenciado, a base última e mais profunda da sociedade
humana. Mas é também o recurso último e indispensável do homem, seu
refúgio nas horas solitárias em que o espírito luta com a existência, e quando
o conflito se resolve no monólogo do poeta e na meditação do pensador. Antes
mesmo do primeiro despertar de nossa consciência, as palavras já ressoavam
à nossa volta, prontas para resolver os primeiros germes frágeis de nosso
pensamento e a nos acompanhar inseparavelmente através da vida, desde as
mais humildes ocupações da vida quotidiana aos momentos mais sublimes e
mais íntimos dos quais a vida de todos os dias retira, graças às lembranças
encarnadas pela linguagem, força e calor. A linguagem não é um simples
acompanhante, mas sim um fio profundamente tecido na trama do
pensamento: para o indivíduo ela é o tesouro da memória e a consciência
vigilante transmitida de pai para filho (...) O desenvolvimento da linguagem
está tão inextricavelmente ligado ao da personalidade da cada indivíduo, da
terra natal, da nação, da humanidade, da própria vida , que é possível
indagar-se se ela não passa de um simples reflexo ou se ela não é tudo isso: a
própria fonte do desenvolvimento dessas coisas (HJELMSLEV, 1978: 179).
Podemos então atribuir à linguagem todo e qualquer processo de comunicação, uma
forma de organização do pensamento, segundo Saussure. Entender os códigos da linguagem é
preencher, segundo nosso repertório, as lacunas deixadas na mensagem, esse entendimento de
sinais se dá segundo um repertório diretamente ligado às crenças e ideologias individuais do
intérprete, o background.
Nenhum ser humano é desprovido de gosto, simpatia e antipatia, e esses componentes
são parte do repertório informacional desse indivíduo. Quanto maior for esse repertório de
conhecimento perante o assunto, maior será a possibilidade do indivíduo realizar uma leitura
paradigmática (leitura mais aprofundada do texto), levando-o a desvendar várias das
possibilidades interpretativas possíveis sobre o assunto, preenchendo as lacunas do texto, que
são os espaços deixados pelo autor para que o leitor faça sua análise segundo o que lhe é
pertinente, "... a leitura do intervalo, do não dito, das entrelinhas..." (ISER, 1975: 253).
Esse espaço deixado pelo autor, para o leitor exercitar sua interpretação, tampouco é
livre de direcionamentos, tais elementos são cuidadosamente colocados ali, não para serem
percebidos literalmente, mas absorvidos junto às informações contidas no texto, com finalidade
especifica de “ajudar” o leitor, induzindo sua interpretação final.
Guiado pelo autor, o leitor terá a sua conclusão, preencherá os vazios daquele texto
segundo seu entendimento. Todavia, essa conclusão será realmente aquela conduzida pelo