RESUMO
Luz, KG. Avaliação das alterações imunohistológicas da mucosa do intestino
delgado em pacientes portadores da leishmaniose visceral [Tese]. São Paulo:
Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2005. 107p.
INTRODUÇÃO: A leishmaniose visceral é uma doença que acomete cerca de 500
mil pessoas por ano no mundo e se caracteriza principalmente por um quadro de
febre, hepatoesplenomegalia e pancitopenia. Há uma imunossupressão específica
frente a Leishmania chagasi. Classicamente esta resposta é modulada pelas células
dendríticas, que são as primeiras células que entram em contato com o parasita. Estas
células, a partir de vários determinantes, elaboram uma resposta do tipo Th1, com a
produção de citocinas capazes de ativar os macrófagos a eliminar o parasita ou uma
resposta do tipo Th2, que se caracteriza por uma produção de citocinas que são
incapazes de ativar o macrófago parasitado. Com o objetivo de se estudar a resposta
imune tecidual, esta investigação avaliou a resposta imune na mucosa duodenal de
crianças portadoras da leishmaniose visceral plenamente manifesta.
MÉTODOS: Um grupo de 13 crianças com calazar foi submetido à biópsia perioral
de duodeno, com cápsula de Watson. Nove crianças assintomáticas foram utilizadas
como controles e foram submetidas à biópsia duodenal endoscópica. Ambos os
grupos foram submetidos a pesquisa do parasita, a análise morfométrica e a análise
semiquantitativa da produção local de TNF-, -interferon, IL-4 e IL-10 e fenotípica
das seguintes células imunes: CD4, CD8, CD68.
RESULTADOS: A análise morfomérica revelou que nos casos havia um infiltrado
linfoplasmocitário com discreta atrofia vilositária. Não se verificou a presença de
eosinófilos ou neutrófilos. A presença de leishmania foi verificada em todos os casos
e esteve ausente nos controles. A análise da produção de citocinas revelou que tanto
nos casos como nos controles havia uma média de produção de IL-10 semelhante,
com p=0,8968 (teste T de Student); que não se detectou IL-4 nos casos e nos
controles; que a freqüência da produção de -interferon nos controles foi maior que
nos casos, com p=0,046 (teste de Fischer); que a freqüência da produção de TNF-
foi semelhante nos casos e controles (teste de Fischer) com p=0,41; havia um
infiltrado macrofágico significativamente superior nos casos com p=0,005757 (teste
T de Student); a média de contagem de CD4 nos casos foi significativamente maior
que nos controles, utilizando-se o teste de Mann-Withney com p=0,040, teste da
mediana p=0,019; e que a média da contagem de CD8 foi semelhante nos casos e
controles com p=0,396 (teste T de Student).
CONCLUSÕES: A mucosa duodenal por ser um ambiente imunotolerante, pela
produção natural de IL-10, permitiria a presença e multiplicação da leishmania. Que
o infiltrado linfoplasmocitário composto por células CD4, CD8 e CD68 foi incapaz
de montar uma resposta imune eficaz contra o parasita, principalmente pela baixa
produção local do -interferon.
Descritores: 1. LEISHMANIOSE VISCERAL/imunologia 2. DUODENO 3.
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