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pessoal e seu poder de persuasão na escrita, marca de uma retórica propriamente
teresiana
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. No entanto, apesar desses fatores terem colaborado, eles não me
parecem ter sido tão determinantes quanto é a produção de incontáveis relatos
biográficos, dos mais diversos estilos, exaltando a figura de Teresa, escritos
principalmente pelos carmelitas descalços. A Madre Teresa de Jesus serve de
ponto de partida para qualquer estudo sobre as origens desta ordem religiosa, já
que foi ela que deu o primeiro impulso para fundar os novos conventos femininos e
masculinos com a antiga Regra.
Quando da proclamação do seu doutorado, já tinha passado quase quatro
séculos desde a morte de Teresa de Cepeda y Ahumada, mais conhecida como
Santa Teresa de Ávila, mas que preferiu, durante seus anos no Carmelo Descalço,
assinar como, simplesmente, Teresa de Jesus. Durante todo este tempo, Teresa
teve vários rostos e adjetivos, que construíram parte da personalidade desta mulher
que se apresenta para nós hoje
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.
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WEBER, Alison. Teresa of Avila and the Rhetoric of Femininity. New Jersey: Princeton
University Press, 1996. p. 4.
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Cabem aqui algumas observações sobre estas denominações de Teresa. Seu nome de
nascimento, tal qual aparece nos documentos da época e que, por todos estes anos figurou
nas mais variadas biografias, desde as menos, até as mais documentadas, sempre foi
Teresa de Cepeda y Ahumada. Isto, porque os pais de Teresa eram Alonso de Sanchez y
Cepeda e Beatriz de Ahumada. O costume espanhol é (e já o era no século XVI) formar o
sobrenome do filho a partir dos sobrenomes do pai e da mãe, exatamente nesta ordem.
Contudo, a última biografia escrita sobre Santa Teresa no Brasil [STRAUSZ, Rosa Amanda.
Teresa a santa apaixonada. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2005], deu a ela o misterioso e
suspeito nome de Teresa de Ahumada Sanchez y Cepeda. O nome, que parece mais uma
simples junção dos sobrenomes da mãe e do pai de Teresa, com a ordem dos nomes
exigida no Brasil, mas, seguramente, não na Espanha, não figura em nenhum outro relato.
Além disso, a autora “descobre” o apelido da Santa quando era criança (supostamente dado
pelo pai), que, segundo ela, era “Teresita” [Ibid., p. 10]. Talvez tenha sido invenção da
autora com finalidades poéticas, mas parece mais uma confusão com a denominação de
outra carmelita, a popular Santa Teresinha, esta, porém, nascida e morta no século XIX na
França. Além disso, acaba por confundir ainda mais os leitores desavisados da diferença
entre as duas Teresas, confusão, aliás, muito comum. Estas observações podem parecer
tolas, mas, no fundo, demonstram que não somente diferenças de interpretações e de
pontos de vista foram enfrentadas na análise destes relatos, mas também invenções,
idealizações e até falta de pesquisas mais sérias.