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personagens convencionais, como o arlequim ou o pícaro, com um malandro tão cheio de artimanhas
que consegue, inclusive, escapar do Inferno. Do ponto de vista da trajetória intelectual de A. S., o
Auto da compadecida
não é um marco apenas pela repercussão nacional, mas sobretudo como o seu
amadurecimento como dramaturgo e pela escolha, que acaba por fazer, de abandonar a advocacia
em 1956, quando se torna professor de estética na Universidade Federal de Pernambuco. No ano
que se segue a tal decisão seriam encenadas: O casamento suspeitoso, em SP pela Cia. Sérgio
Cardoso; e
O santo e a porca
,
recriação
, em tom de farsa, de
O avarento
, de Moliére e
de
A aulularia
,
de Plauto. O homem da vaca e o poder da fortuna é de 1958; A pena e a lei, premiada dez anos
depois no Festival Latino-Americano de Teatro, é de 1959. Seriam montadas em seguida a Farsa da
boa preguiça (1960) e A caseira e a catarina (1962), ambas pelo “Teatro Popular do Nordeste”,
fundado por Suassuna, mais uma vez em companhia de Hermílo Borba Filho, em 1959. Mas A. S.
interrumperia sua bem sucedida carreira de dramaturgo no inicio da década de 60, quando passa a
dedicar
-se exclusivamente à prosa de ficção, às aulas de estética e ao papel de “animador cultural”,
que o levaria a
iniciar
em 1970, no Recife, o “Movimento Armorial”, interessado no desenvolvimento e
no conhecimento das formas de expressão populares
tradicionais
. E que marcariam tanto sua
produção teatral quanto sua obra romanesca posterior, na qual se incluem alguns de seus trabalhos
mais importantes, como o Romance da pedra do reino e O príncipe do sangue que vai e volta (1971),
e a História do rei degolado nas caatingas o sertão/Ao sol da onça caetana (1976). Trata-se em
suma, de obra onde se entrelaçam o folclórico, o cordel, o mamulengo e a tradição ibérica; obra que
se propõe a “pensar o brasileiro dentro do ibérico-sertanejo”, como já destacou o crítico Silviano
Santiago em
“Situação de Ariano Suassuna”. Pois, segundo ele, “em Suassuna mão existe a intenção
de fazer um levantamento artístico-sociológico da região-nordestina,dentro dos moldes da escola
naturalista, mas antes busca ele uma representação poética do Nordeste através dos textos do
romanceiro popular, graças aos folhetos da literatura de cordel”. Recriação esta que se orienta ora
para o teatro, ora para a poesia e para o romance, numa obra coesa e marcada por uma visão
popular
-religiosa de mundo. Membro da ABL (1989). F.S.BIBL.: Ode. 1955; coletânea da pesquisa
popular nordestina. 1964; Romance da pedra do reino. 1971 (rom.); O príncipe do sangue que vai-e-
volta
. 1971(rom.); O movimento armorial. 1974 (poes.); Iniciação á estética, teoria literária. 1975;
Seleta em p
rosa e verso
. 1975 (antol.).
Historia do rei degolado nas caatingas do Sertão
. 1976 (rom.).
REF.: Barros 20 PE, 203; Coutinho Ant. poes., 59, Linhares Diálogos rom. 96; Magaldi, Sábato,
Panorama do Teatro Brasileiro. s.d.; Marinheiro, Elizabeth. A intertextualidade das formas simples
(aplicada ao Romance da pedra do reino). 1977; Santiago, Silviano. Situação de A. S. In: Seleta em
prosa e verso. 1974, Suassuna, Ariano. A arte popular no Brasil. Ver. Brás. Cult, out/dez.1969;
Woensel, Maurice J. F. Van.
Uma
leitura semiótica de “Pedra do reino” de A. S., 1978; Guidarani,
Mario.
Os pícaros e os trapaceiros de A.S. 1992; Vanderlei Vernaide. Viagem ao sertão brasileiro:
leitura geo-
sócio
-antropológica de A. S., Euclides da Cunha, Guimarães Rosa. 1997; Santos, Id
elet
Mozart Fonseca dos. Em demanda da poética popular. A.S, no Movimento Armorial. 1999; Lins,
Letícia.
O imperador e a pedra. O globo, 19 jun. 1999. Filme: A compadecida, versão de o Auto da
compadecida
, 1969 Dir.: Jorge Jonas;
O Auto da compadecida
, 199
9 Dir: Guell Arraes. (minissérie.).”