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sendo oferecido aos turistas. Nós temos também na Rasa um quilombo onde
vivem pessoas originárias de negros, que ficaram na região. Temos a reserva
do Tauá, que é um espaço de preservação ambiental. Temos estudos voltados
aos sambaquis na região – depósitos formados por montões de conchas,
restos de cozinha e de esqueletos amontoados, localizados nas costas
marinhas ou em lagoas, deixados por tribos selvagens que habitaram o
litoral americano na época pré-histórica - que precisam ser resgatados. Mas,
da comunidade em si, o que atrai o turista seriam os próprios pescadores
jogando rede ao mar, fazendo a sua pesca. Quando eles chegam com o barco,
o próprio turista acha interessante estar vendo o peixe ali vivo, poder
consumir aquele peixe fresco. Isso tudo é um atrativo muito grande para o
turista, mas com certeza precisamos ainda resgatar da comunidade o gosto
pelo turista. Dela atender, receber , ver o turista como algo bom para si. Nós
temos esse intuito, de num futuro próximo fazer um trabalho todo voltado à
comunidade...
Nós temos muitos artistas na região. Nós temos desde a Cristina Motta que
faz várias esculturas como, por exemplo, a da Brigitte Bardot, a dos
pescadores, a da menina na praça dos ossos, entre outras, sendo que não é
nativo, ela não é nascida na região. Quem pode dar essas informações mais
detalhadas é o Toninho português por ele ter nascido aqui, ser duma família
tradicional e conhecer muita coisa de Búzios [...]
Hoje a cultura em Búzios está muito confusa porque temos influência de
várias outras culturas. Não temos uma cultura específica e isto não é só em
Búzios, é uma história do Brasil. Muitas vezes se esquecem do folclore do
próprio país.(morador 25)
¾ Aqui há uma mistura, uma miscigenação muito grande pois há muita
imigração de estrangeiros e de brasileiros. Aqui há uma cultura atípica, uma
cultura buziana que foi nascendo e mesclando com o nativo, que é aquele
que vive da pesca, vive do turismo de uma forma bem artesanal, mas eu acho
que a coisa ficou meio misturada. O buziano adora cozinhar. Tem um talento
nato para a pesca, uma relação boa com a natureza e com as pessoas que
chegam aqui: é quase uma troca de culturas. Isso é o que mantém muito viva
a tradição buziana. Filhos e netos de pessoas que foram multiplicando estas
coisas como a sola, peixe com banana, que é buziano. É uma coisa bem
buziana mesmo. A comida buziana está sendo muito reproduzida pelos
netos, filhos, que fazem isto por prazer, para fortificar a cultura.
D. Maria, mãe da Geruza, que são autênticas buzianas fazem estes pratos. A
sola era feita nas casas de farinha. Ainda tem uma em Geribá e outra na
Rasa; e do aipim eles fazem tudo, a sola, juntando com o amendoim e a
farinha. Meu sogro é cozinheiro, é buziano também, é nota mil. A cultura
buziana é muito forte. Poucas pessoas que estão aqui, que sobreviveram a
esta coisa de migração, elas continuam fazer isto, por prazer mesmo.
Eu acho legal a cozinha internacional, mas você a tem no mundo inteiro.
Você, quando chega, quer comer algo da cidade, que expresse a identidade
do povo. E isto é muito legal: é respirar cultura! (morador 26)
¾ O povo nativo, ou seja, aquele que, de fato, tem suas raízes aqui nesta
cidade e eu me incluo nele também, tem muito a oferecer para a comunidade
e para a vida turística, como outras cidades brasileiras: Recife, Parati,
Bananal, Cunha, Campos do Jordão, Olinda... Eles vivem do turismo e suas
comunidades descobriram no passado, que o grande filão do turismo, a
subsistência do seu povo, é exatamente a arte que está dentro do seu próprio
povo. Então, se cada indivíduo, se cada personagem que faz parte da história
de Búzios tivesse a consciência da importância que cada um deles tem