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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CENTRO TECNOLÓGICO
MESTRADO PROFISSIONAL EM SISTEMAS DE GESTÃO
SANDRA REGINA DOS ANJOS OLIVEIRA
“BÚZIOS: TODA TEMPORADA!” A RELAÇÃO EDUCAÇÃO, TURISMO E
CULTURA: ESTUDO DE CASO DO TECTUR/CEJOB
NITERÓI
2006
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SANDRA REGINA DOS ANJOS OLIVEIRA
“BÚZIOS: TODA TEMPORADA!” A RELAÇÃO EDUCAÇÃO, TURISMO E
CULTURA: ESTUDO DE CASO DO TECTUR/CEJOB
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em
Sistemas de Gestão da Universidade Federal
Fluminense como requisito parcial para obtenção do
Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de
Concentração: Organizações e Estratégia. Linha de
Pesquisa: Sistema de Gestão pela Qualidade
Total.
Orientador:
Emmanuel Paiva de Andrade, D.Sc.
Niterói
2006
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SANDRA REGINA DOS ANJOS OLIVEIRA
“BÚZIOS: TODA TEMPORADA!” A RELAÇÃO EDUCAÇÃO, TURISMO E
CULTURA: ESTUDO DE CASO DO TECTUR/CEJOB
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em
Sistemas de Gestão da Universidade Federal
Fluminense como requisito parcial para obtenção do
Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de
Concentração: Organizações e Estratégia. Linha de
Pesquisa: Sistema de Gestão pela Qualidade
Total.
Aprovada em 31 de março de 2006.
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________________
Emmanuel Paiva de Andrade, D. Sc.
Universidade Federal Fluminense
_____________________________________________
José Augusto Nogueira Kamel. D. Sc.
Universidade Federal do Rio de Janeiro
______________________________________________
Fernando Toledo Ferraz, D. Sc.
Universidade Federal Fluminense
_____________________________________________
Maria Helena Teixeira da Silva Gomes, D. Sc.
Universidade Federal Fluminense
Niterói
2006
Dedico este trabalho
À minha mãe Ivone dos Anjos Oliveira e ao meu pai Álvaro Moraes de Oliveira (in
memoriam), pessoas especiais em minha vida que me ensinaram que a bondade e o amor
estão acima de tudo.
Aos meus irmãos e, em especial, à minha irmã Vera Lúcia dos Anjos Oliveira que me
acolheu com seu carinho no momento em que eu mais precisei.
AGRADECIMENTOS
Ao amigo Professor Doutor Emmanuel Paiva de Andrade, meu orientador atento, cientista
plural, severo quanto ao corpo teórico-metodológico do trabalho e clareza da redação por um
lado e por outro aquele que abraça novos rumos do conhecimento, principalmente daqueles
que primam pela inovação e justiça social.
Ao amigo Professor Doutor Cláudio D`Ipolitto Oliveira, que me deu sugestões, conduzindo-
me a uma infinidade de caminhos que pude prazerosamente percorrer durante a confecção do
trabalho.
À amiga Professora Doutora Maria Helena Teixeira da Silva Gomes, que dispensou seu
precioso tempo lendo os meus mais primórdios rascunhos, entusiasmando-se com minhas
descobertas e me fazendo, sobretudo rir e relaxar, quando eu achava que não chegaria ao
final.
À amiga Mestra Professora Ana Maria Rocha Faria, minha chefe, que me abriu as portas do
conhecimento para o turismo e que suportou tanto as minhas idas e vindas à Búzios, quanto às
inseguranças tão naturais de quem está se adentrando numa nova área de conhecimento, mas
resolveu me acolher como amiga e pesquisadora.
A amiga Mestra e doutoranda Karen Campos Barbosa, estudiosa de Búzios, guerreira,
premiada, estudante séria, que me facilitou muito o trabalho inicial da dissertação,
emprestando-me artigos, rascunhos dos seus estudos em meio ambiente, expressando as
dificuldades que enfrentou quando de sua pesquisa e principalmente, com suas palavras
carinhosas, fazendo-me seguir adiante.
Às amigas Jornalistas, Flávia Valentim, Vivian Branco, Maria Fernanda de Araújo Quintela e
Lenke Pavetits que me ajudaram em diferentes momentos, conseguindo tudo o que eu
precisava com muita rapidez. Enfim, sem elas este trabalho certamente seria mais pobre.
Ao amigo Professor Ronald de Carvalho Junior, Coordenador do Curso Técnico de Turismo
do Colégio Estadual João de Oliveira Botas – Tectur/Cejob, em Búzios que, além de me
apresentar seus alunos para as entrevistas, colaborou com opiniões no trabalho, hospedou-me
em sua casa algumas vezes, e presenteou-me com a sua experiência de ex-Secretário de
Turismo em um município de Minas Gerais, quando eu me questionava se estava indo no
caminho certo.
Às amigas Professoras Vera Lílian Batista, Diretora e Matilde Maria Corrêa Neta Goulart,
Diretora-Adjunta do Cejob, que me abriram as portas do Colégio, disponibilizando-me tempo,
simpatia e apreço.
Aos alunos do Curso Técnico de Turismo do Cejob, que me encheram de alegria ao, com
simplicidade e profissionalismo - sendo alguns tão jovens-, apresentarem-me seus projetos
para a Cidade e se disponibilizarem a me conceder as entrevistas.
À amiga Professora Maria Alice Gomes de Sá Silva do Cejob, buziana por nascimento e
coração que, gentilmente, recebeu-me em sua casa e me incentivou a fazer um trabalho que
trouxesse à tona as raízes de Búzios, logo nos seus primórdios, quando tudo ainda era uma
grande névoa para mim.
Às novas amigas da Secretaria de Turismo de Búzios, Marcela Palermo, turismóloga e
Patrícia Burlamaqui, que me ajudaram, com presteza, nos momentos que precisei.
À Professora Doutora Carmen Rodrigues Tatsch, que trocou experiências comigo sobre
nossos trabalhos e pesquisas em Búzios e me convidou para que visse sua importante atuação
na Rasa.
Ao Professor Doutor Osvaldo Luís Gonçalves Quelhas que me monitorou todo o tempo para
que a dissertação saísse no prazo.
À Mônica de Souza Araujo da Secretaria de Estado de Planejamento, Desenvolvimento
Econômico e Turismo – SEPDET e Jeniffer Santos da Companhia de Turismo do Estado do
Rio de Janeiro - TurisRio que disponibilizaram parte do material necessário para a confecção
da dissertação.
Às amigas Josi Fernandes, Assistente do Conselho de Turismo da Confederação Nacional do
Comércio – CNC e Denise Ancel, Secretária da ABBTUR-RJ..
À Rosana Therezinha Queiroz de Oliveira, amiga de UFF e colega do mestrado, que se
prontificou a fazer a revisão do português e a formatação deste trabalho segundo as normas da
ABNT adotadas pelo LATEC/UFF, fazendo com que este possa ser mostrado a todos com
dignidade.
Aos moradores de Armação dos Búzios que me receberam amavelmente para as entrevistas,
contribuindo com suas idéias, visões de mundo e compromisso com a melhoria de processos
para tornar o turismo na cidade mais eficaz, gerando empregos e renda.
Aos amigos, professores e funcionários do Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e
Meio-Ambiente - LATEC, principalmente a Christian, Joana, Felipe, Hellen e Ana Maria, por
suas palavras encorajadoras, mais os colegas do Curso de Mestrado Profissional em Sistemas
de Gestão da UFF, pela troca de experiências profissionais e pessoais durante o curso que
muito me enriqueceu como profissional e como ser humano.
Aos amigos do Escritório de Transferência de Conhecimento: Helena, Neusa e Anna Cecília
e, posteriormente, aos da Pós-Graduação em Marketing Empresarial: Márcia Bernadete e
Alan, que me suportaram, ouviram minhas queixas e minhas alegrias em cada passo
conseguido.
Aos meus familiares, pela compreensão dos momentos que fui privada de compartilhar, às
vezes até em dias comemorativos muito importantes, e que, apesar disto, me incentivaram a
continuar e a terminar esta nova jornada.
Ao meu namorado, Raul Simão Freire Saraiva que, mesmo no além-mar, diversas vezes teve
de perder um tempo enorme comigo ao telefone, baixando o meu nível de ansiedade,
escutando-me, dando-me saídas, amando-me apesar das crises.
Aos amigos queridos: Dr. Arquimedes Corrêa Lima, Osvaldo Maneschy e Silvia Regina
Theodoro Pinheiro por colaborarem, cada um à sua maneira, para o término deste trabalho.
Aos restaurantes Buzin e o da comida por quilo de Sr. Jadson, por me oferecerem seus
espaços para escritório, quando de algumas das entrevistas.
À pousada Yemanjá por oferecer-me abrigo, a preços módicos, quando precisei estabelecer-
me em Búzios por mais tempo e em lugar de fácil acesso ao Cejob e aos demais entrevistados.
A Deus, nosso Criador, pela Sua bênção, força e alegria de me conduzir pela vida,
permitindo-me a conclusão de mais um trabalho.
“Aquilo que é criativo deve criar a si mesmo.” (John Keats)
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo buscar se a valorização da cultura está presente no discurso dos
alunos do Curso Técnico de Turismo do Colégio Estadual João de Oliveira Botas, situado no
município de Armação dos Búzios no Estado do Rio de Janeiro. Tendo por base o estudo
explanatório/exploratório, analisa o tema sob a metodologia de estudo de caso onde o
principal método adotado foi a realização de entrevistas semi-estruturadas e a pesquisa
bibliográfica e documental, tendo sido consultados livros, artigos e documentos disponíveis
em órgãos locais, registros em arquivos e como também a observação direta in loco. Sendo
assim, apresenta a situação-problema e um sucinto panorama da situação atual do município,
para em seguida discorrer sobre a literatura publicada pertinente aos cursos técnicos
profissionais, da educação profissional em turismo e hospitalidade, da importância da
valorização da diversidade cultural para a Educação e Turismo, segundo a UNESCO, o Plano
Nacional de Turismo e o Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro. Procede-se à
análise das entrevistas realizadas com os alunos do Tectur e com profissionais, para chegar a
conclusão de que a valorização da cultura apesar de presente no discurso dos alunos,
encontra-se ainda desorganizada e geralmente associada a pequenos ganhos econômicos, o
que se justifica pela falta de uma identificação real do que é e do que não é expressão cultural
local, fruto das raízes de Búzios. Finalizando são apresentadas a discussão dos dados
levantados e as sugestões para a resolução do problema.
Palavras-chave: Turismo em Búzios. Curso de Turismo. Valorização da cultura.
ABSTRACT
The objective of this study is to find out whether the valorization of culture is present on the
discourse of the students of the Technical Course in Tourism of the João de Oliveira Botas
State School-Tectur, located at Armação de Búzios, Rio de Janeiro, Brazil. Based on the
explanatory study, this work analyses the theme with the case study method, and the main
instruments were semi-structured interviews, and bibliographic and documental research.
Books, articles and documents available in local offices as well as filed records were
consulted, and in loco direct observations were carried on. The study presents the situation
problem and a succinct scenario of the town, and then discusses the literature regarding
technical professional courses, tourism and hospitality, and the importance of valorizing the
cultural diversity to Education and Tourism, according to the UNESCO, the National Tourism
Plan and the Tourism Director Plan of the State of Rio de Janeiro. The analysis of the
interviews with the Tectur’s students and professionals lead to the conclusion that the
valorization of culture, although present in the students’ discourse, is still disorganized and
often associated to short economic incomes, what is justified by the lack of a real recognition
of what is or is not a local cultural expression, derived from the Búzios roots. Finally, the
study discusses the data and gives suggestions to solve the problem.
Key-words: Tourism in Búzios. Tourism Course. Cultural valorisation.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Conceito de Competência ............................................................................. 35
Quadro 2 Comparação entre os modelos de superação e os de implantação ............... 35
Quadro 3 Processo de Produção ................................................................................... 43
Quadro 4 Situações relevantes para diferentes estratégicos de pesquisa ..................... 73
Quadro 6 Projetos versus coleta de dados: unidades diferentes de análise .................. 81
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Áreas profissionais e cargas horárias mínimas por habilitação .................... 45
Tabela 2 Número de entrevistados por faixa etária ..................................................... 85
Tabela 3 Número de entrevistados por bairro/localidade ........................................... 85
Tabela 4 Número de entrevistados por profissão ........................................................ 86
Tabela 5 Mapeamento dos entrevistados/moradores por bairro/localidade ................ 87
LISTA DE ABREVIATURAS
ABAV Associação Brasileira de Agências de Viagens
APA Área de Preservação Ambiental
CEFETs Escolas Técnicas Federais
CEJOB Colégio Estadual João de Oliveira Botas
CIEE Centro de Integração Empresa-Escola
CNE Conselho Nacional de Educação
DUDC Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural
EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo
FAETEC Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro
FGV/RJ Fundação Getúlio Vargas de Rio de Janeiro
GTA Grupo Técnico de Acompanhamento do Plano Diretor
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
LDB Lei de Diretrizes e Bases
MEC Ministério da Educação
MinC Ministério da Cultura
Mtur Ministério do Turismo
PLANO
DIRETOR
Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos Búzios: Perfil
do Município
ONG’s Organização Não Governamental
PPA Plano Plurianual
PLANTUR Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro
PNT Plano Nacional de Turismo
SEE Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SEPDET Secretaria de Estado de Planejamento, Desenvolvimento Econômico e
Turismo
SID Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural
TECTUR Curso Técnico de Turismo
TurisRio Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFF Universidade Federal Fluminense
UNDIME União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................16
2 PANORÂMICA DO MUNICÍPIO DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS..............................18
2.1 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA.............................................................20
2.2 OBJETIVOS E DELIMITAÇÕES DO ESTUDO .............................................................24
2.3 JUSTIFICATIVA ...............................................................................................................25
2.4 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................25
2.5 QUESTÕES A INVESTIGAR...........................................................................................29
2.6 HIPÓTESE .........................................................................................................................31
3 DO ENTENDIMENTO PARA QUE SERVEM OS CURSOS TÉCNICOS
PROFISSIONAIS...................................................................................................................34
3.1 DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO E HOSPITALIDADE ....................38
3.2 DA IMPORTÂNCIA DA VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE CULTURAL PARA A
EDUCAÇÃO E TURISMO, SEGUNDO A UNESCO E O PLANO NACIONAL DE
TURISMO ................................................................................................................................46
3.3. O BRASIL E A DIVERSIDADE CULTURAL: O PROJETO DA CULTURA ...............53
3.4 DA DOCUMENTAÇÃO UTILIZADA .............................................................................59
3.4.1 Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos Búzios: perfil do
Município.................................................................................................................................59
3.4.2 Projeto de Lei Complementar - Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de
Armação dos Búzios...............................................................................................................
61
3.4.3 Projeto de Lei Complementar: Uso e Ocupação do Solo de Armação dos Búzios
(versão junho 2004) ................................................................................................................
61
3.4.4 Plano Nacional de Turismo...........................................................................................62
3.4.5 O que os Parlamentares e as Autoridades de Governo devem saber sobre o
Turismo ...................................................................................................................................63
3.4.6 Relatório de Atividades do Ministério do Turismo....................................................64
3.4.7 Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro............................................65
3.4.8 Programa SEBRAE de Turismo..................................................................................
67
3.4.9 Educação Profissional: Referenciais Curriculares Nacionais da Educação
Profissional de Nível Técnico.................................................................................................
68
4 METODOLOGIA................................................................................................................70
4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..........................................................................................70
4.2. O ESTUDO DE CASO COMO MEIO DISPONÍVEL PARA FAZER A PESQUISA ...71
4.3 EMPREGOS DO ESTUDO DE CASO .............................................................................74
4.4 ESTUDO DE CASO ÚNICO.............................................................................................77
4.5 ESTUDO DE CASO MÚLTIPLO .....................................................................................78
4.6 COLETA DE DADOS E PERFIL DO PESQUISADOR ..................................................79
4.7 FONTES DE INFORMAÇÃO E COLETA DE EVIDÊNCIAS .......................................81
4.7.1 Documentos....................................................................................................................82
4.7.2 Registros em arquivos...................................................................................................83
4.7.3 Entrevistas......................................................................................................................84
4.7.4 Observação direta..........................................................................................................88
4.8 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ...........................................................................................89
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.............................................91
5.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..........................................................................................91
5.2 O COLÉGIO ESTADUAL JOÃO DE OLIVEIRA BOTAS (CEJOB) .............................91
5.2.1 Histórico .........................................................................................................................91
5.3 O CURSO TÉCNICO DE TURISMO DO CEJOB ...........................................................93
5.4 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ......................................................................................99
6 CONCLUSÃO....................................................................................................................143
6.1 SUGESTÕES ...................................................................................................................147
6.1.1 Em relação à Educação formal para o Turismo.......................................................147
6.1.1.1 Para os empresários ....................................................................................................148
6.1.1.2 Para os estrangeiros, empresários ou não...................................................................
149
6.1.1.3 Para os pesquisadores sobre Búzios ...........................................................................
150
6.1.1.4 Para os agentes da comunidade ..................................................................................150
6.1.2 Em relação às expressões culturais............................................................................151
6.1.3 Em relação a negócios a serem desenvolvidos ..........................................................151
6.1.4 Em relação ao estabelecimento de linhas de crédito para a população de baixa
renda......................................................................................................................................152
6.1.5 Em relação ao trabalho para a juventude.................................................................152
6.1.6 Em relação às atividades infantis para a conscientização turística........................
153
REFERÊNCIAS ..........................................................................................................
154
ANEXOS ......................................................................................................................160
16
1 INTRODUÇÃO
O Colégio Estadual João de Oliveira Botas (Cejob) é o único colégio público que
ministra o Curso Técnico de Turismo (Tectur) no Município de Armação dos Búzios, como
curso pós-médio e um dos cinco que o faz no Estado do Rio de Janeiro. Sua atuação na
comunidade não se restringe somente à formação de profissionais e na educação dos ensinos
básico, médio e pós-médio. Além de suas responsabilidades no ensino, o Cejob abre suas
portas à comunidade para pequenos cursos, como o de fuxico e oficinas de reciclagem.
Localizado numa das 26 praias de Búzios, na Praia da Armação, os alunos do Cejob
desfrutam de uma das vistas mais privilegiadas da Costa do Sol. Afora estar inserido em tanta
beleza, o Cejob luta para que possa oferecer à comunidade o Curso de Guia Turístico, como
complemento do Tectur, sonho este que depende de autorização da Embratur.
Com grupos animados de jovens e de não tão jovens, despertam os alunos para vida
profissional, com o que lhes podem trazer o futuro.
Tal cenário estimula realização de um estudo mais profundo do Tectur do Cejob frente
ao desafio de Búzios precisar tomar decisões muito importantes no longo prazo em relação às
rotas escolhidas para o Turismo. Donos de um entusiasmo invejável de criar roteiros,
principalmente ecológicos e de aventura, os alunos do Tectur ainda não perceberam como a
sua própria cultura pode ajudá-los na criação de produtos que valorizem a cultura nativa, de
raiz, mas também a sua multiculturalidade.
Este trabalho pretendeu mostrar como a valorização da cultura está presente no
discurso dos alunos do Curso Técnico de Turismo do Cejob, porém de maneira ainda
desorganizada e geralmente associada a pequenos ganhos econômicos, o que se justifica pela
falta de uma identificação do que é e do que não é expressão cultural local.
Dividido em 6 Capítulos, esta dissertação faz no Capítulo 1 uma breve introdução e no
2 trata de desvendar a situação-problema e dar uma panorâmica de como se encontra o
município hoje.
17
O Capítulo 3 discorre sobre a revisão da literatura a respeito dos cursos técnicos
profissionais, da educação profissional em turismo e hospitalidade. Aborda também, seguindo
os princípios estabelecidos pela Unesco, a importância da valorização da diversidade cultural
para a Educação e o Turismo. Enfoca ainda, sob o prisma do Plano Nacional de Turismo,
aspectos sobre o Brasil e sua diversidade. O Capítulo se encerra com a tipologia da
documentação utilizada.
O Capítulo 4 relata os procedimentos metodológicos utilizados e defende o uso da
metodologia de estudo de caso, para problemas como o aqui tratado.
No Capítulo 5 são analisadas as entrevistas feitas com alunos do Tectur e com
profissionais, em sua grande maioria ligados à área de turismo. e, finalmente, no Capítulo 6
encontram-se a conclusão e as sugestões para resolução do problema.
Ademais estão arrolados nas referências bibliográficas todo o material de leitura dos
últimos dois anos de construção deste trabalho, seguindo a estas, os anexos, onde se pode
encontrar o protocolo de pesquisa do estudo de caso.
18
2 PANORÂMICA DO MUNICÍPIO DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS
Armação dos Búzios ou “Búzios”, como é popularmente chamado o município, teve a
sua primeira denominação, segundo o historiador Cunha (2001) de “angra fermosa”. Lugar de
extrema beleza recebeu este nome quando Gonçalo Coelho, no ano de 1501, ou Américo
Vespúcio, em 1503, navegaram em suas águas.
Ex-terceiro distrito de Cabo Frio, Armação dos Búzios foi emancipado como
município em 12 de novembro 1995, no ano seguinte, elegeu seu Prefeito e representantes da
Câmara Municipal e tem, no final de 1997, promulgada a sua Lei Orgânica (PREFEITURA,
2003).
Búzios vive hoje uma situação ímpar no panorama nacional. Um dos privilegiados
locais do turismo internacional no Brasil pode estar num momento de pré-estagnação.
Conhecido mundialmente como uma pequena aldeia de pescadores que encantou a atriz
francesa Brigitte Bardot quando aqui esteve em janeiro de 1964, cresce, vertiginosamente, a
cada ano que passa. O uso da história da visita de Brigitte, a partir da segunda metade dos
anos sessenta e a construção da Ponte Rio-Nitei, na década de 70, aumentaram a atração por
essa até então cidadezinha escondida num paraíso (BARBOSA, 2004).
Lugar de natureza (ainda) exuberante, com lindas praias e unidades de conservação, se
vêem transformadas em uma referência de diversão noturna na região e como ponto de
badalação da classe alta carioca, paulista e mineira. Município com cerca de 20 mil habitantes
é destino de quem procura juventude, sol, mar, natureza, gente bonita e lazer; Búzios tem se
transformado em escolha, na alta temporada, de cerca de 140 mil habitantes, por dia
(FROSSARD, 2004).
Produto do caos, do acesso dificultado por suas pequenas ruas e vielas, aclives
acentuados, por uma rede de esgotos que não agüenta tal afluxo de gente, administrar a cidade
entre o final de dezembro até meados de março do ano seguinte, em pleno verão brasileiro, na
alta temporada, não é fácil.
19
O que deveria dar emprego e renda aos seus moradores na alta temporada, tem
prejudicado a rede hoteleira com a vinda dos turistas nos transatlânticos, onde os passageiros
não dormem na cidade e, conseqüentemente, usam somente, do comércio local, os
restaurantes, bares e lojas de suvenires preferencialmente. Além disso, a população pobre é
alijada como mão-de-obra e isto ocorre tanto na construção civil como em um número
considerável das atividades turísticas por causa da não-especialização dos trabalhadores locais
(BARBOSA, 2004).
Como resultado da situação da mão-de-obra da população local, a cidade importa
trabalhadores para as atividades mais especializadas durante a alta temporada e estes acabam
se ficando no município durante o ano. Uma vez que o custo de vida em Búzios,
principalmente na península, é alto, os moradores se fixam nos bairros limítrofes da cidade, na
parte continental, aumentando a sua periferia e, como não há trabalho suficiente durante o
ano, ficam sem ocupação na baixa temporada, ocasionando problemas sociais sérios ao
município (BARBOSA, 2004).
A este panorama se junta a questão da oferta de mão-de-obra dos jovens buzianos e da
sua assimilação no mercado de trabalho, principalmente na baixa temporada.
Um município que vive do turismo e das atividades a ele inerentes tem como pico de
visitação a alta temporada, no Brasil, o verão, caracterizando-se pela procura às suas 26 praias
e à diversão noturna na Rua das Pedras e arredores e às compras nas diversas opções de lojas
de artes, enfeites, roupas e assessórios de marcas consagradas.
Com capacidade hoteleira para receber visitantes durante todo o ano, há um
enfraquecimento de seu receptivo na baixa temporada, englobada pelos: outono, inverno e
primavera. Nestas estações, embora a temperatura se torne um pouco mais amena e suas
águas mais frias, ainda há dias ensolarados.
A beleza natural do local é um atrativo para a sua visitação, como o são os restaurantes
internacionais. Com uma culinária sofisticada, se pode comer bem nas mais variadas cozinhas
como a francesa, a italiana, a portuguesa, entre outras, como também uma requintada cozinha
brasileira baseada em frutos do mar.
20
Além do mais, Búzios oferece opções do restaurante mais sofisticado ao da comida
por quilo, o que o torna atraente tanto aos mais abastados quanto aos mochileiros.
2.1 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA
O que falta então, em Búzios, para atrair um maior número de turistas na baixa
temporada? Ou melhor, por que não se consegue fixar por mais dias o turista na baixa
temporada? Por que a rede hoteleira prefere abaixar pouco os preços das diárias na baixa
temporada a ter um maior número de hóspedes? Por que não há um calendário específico de
eventos na baixa temporada que atraia o turista a visitar Búzios mesmo que com águas mais
frias? Por que não se desenvolvem produtos turísticos específicos para a baixa temporada
para, nas outras estações do ano, adicionar mais produtos além da referência sol e mar,
atrativos naturais, característicos do verão?
Foram essas questões que balizaram as primeiras investigações e um primeiro
apanhado de materiais escritos tanto da cidade – Búzios – (versões iniciais do Plano Diretor,
Jornais que circulam na cidade, teses e monografias sobre o assunto) quanto de outras regiões
que passam por dificuldades similares.
Nessa trajetória se pôde perceber que várias alternativas poderiam ser usadas na baixa
temporada. Delas, a transformação dos atrativos turísticos - dados pela natureza - em produtos
turísticos, de uma maneira mais geral, já vem sendo pensada por cidadãos buzianos por meio
de parceria da iniciativa privada com a gestão pública. Opções como a exploração das Serra
das Emerências, da APA Pau-Brasil, da Trilha das Poças e dos pontos de interesse geológico.
Conhecida como uma das melhores raias da região, o turismo náutico também é uma
alternativa que independe das estações do ano, desde que haja um controle metereológico para
prevenir os usuários dos esportes – profissionais e amadores - a possível ocorrência de
chuvas, mudanças de vento.
Uma outra possibilidade seria o turismo cultural, das artes, do patrimônio material e
imaterial da cidade: o que está edificado e o que está expresso nos modos de comunicação, na
21
história da população, em tudo aquilo que encantou Brigitte e não se distingue mais pela
cosmopolitização da cidade, mas está lá, submerso, em ambientes que existem, mas que são
ainda poucos explorados no turismo.
Algumas são as possibilidades. Incluindo outras além das listadas acima. Os
investimentos, entretanto, devem ser feitos, sejam: financeiros, em infra-estrutura (vias de
acesso, atracadouros, por exemplo), capacitação de pessoas, marketing e de tempo. Mais que
o oferecimento, a regularidade deve ser fruto de atenção, para que o produto se concretize,
que as atividades sejam constantes, para que se transformem em produtos regularmente
vendáveis.
Propostas para superação das dificuldades na baixa temporada, como formulação de
planos e esboços, já se encontram no núcleo de discussões do pessoal da área, por meio de
seus Conselhos, da Câmara de Vereadores, das inter-relações existentes entre o Governo
Municipal e seu conjunto de Secretarias. Assim como o fazem as associações empresariais, o
SEBRAE, o Instituto de Hospitalidade, o Centro de Amparo ao Trabalhador e as múltiplas
Organizações Não-Governamentais localizadas no município.
As propostas que mais têm encontrado eco no setor empresarial são as que podem
viabilizar encontros e festivais gastronômicos usando o requinte da culinária internacional e a
criatividade da culinária baseada em frutos do mar. Eventos estes que, segundo declarações
dos moradores 12, 14, 25 e 26, devem constar de um calendário regular anual, de preferência
fora do pico do verão.
Neste espírito, foi promovida em 2005 pela Prefeitura por meio das Secretarias de
Turismo e de Cultura a “Feira das Nações”, onde foram trazidos à cidade grupos
internacionais de música folclórica, dança e comidas típicas. Este evento contou com o
patrocínio da C.V.R. Viagens & Eventos, o Pátio Havana, o Don Juan, o Chez Michou, a
Itaipava, a Rádio Paradiso e o BMB.
Apesar destes esforços, entretanto, parece não haver uma ligação mais estreita entre as
ações promovidas pelo governo municipal e o ensino pós-médio. O Cejob há mais de uma
década, oferece o curso técnico de turismo em Búzios. Seria interessante que os alunos, no
processo de aprendizagem, fossem aproveitados mediante estágio pelo empresariado ou
22
governo e que, após a conclusão do curso, pudessem ter empregos ou mesmo abrirem
negócios criativos, diferenciados na área, onde ainda não houvesse oferta de produtos ou que
as ofertas fossem reduzidas.
Para isto, faz-se necessário que o curso, além de oferecer disciplinas de formação,
possa trabalhar com atividades empresariais fora das salas de aula. Outrossim, proporciona o
contato com empresários, artistas, produtores em geral privados e do governo para passar suas
experiências aos alunos. Importante também seria dar aos alunos formação de como iniciar
negócios.
Estas inquietações geraram algumas perguntas de como o Curso Técnico de Turismo
do Cejob vem lidando com estas questões, se há respostas pedagógicas para tal e quais
procedimentos têm sido implementados neste sentido.
Seguindo esta linha de raciocínio, indaga-se:
1 - Como a educação formal, para a área de turismo, localizada no município, tem
respondido às inquietações dos órgãos públicos, das entidades, empresas privadas e
dos cidadãos?
2 - Quais são as soluções que os alunos do Curso Técnico de Turismo do Colégio
Estadual João de Oliveira Botas (Cejob) - vêem para o turismo da baixa temporada?
3 - Que atividades crêem que poderiam ser oferecidas?
4 - Quais traços da cultura típica e nativa são encontrados e observados no dia-a-dia
pelos alunos, como comida, dança e música?
5 – Como a população usa o que é advindo de sua cultura para o turismo?
6 – Como são articulados os artistas da cidade e que tipos de organizações têm?
7 – Como os alunos se referem à história de Búzios?
8 – Como esperam construir a cidade para daqui a cinco, dez, vinte anos?
9 - Enfim, como os alunos do Cejob vêem as soluções para o incremento do turismo
na baixa temporada em curto, médio e longo prazos?
Às respostas a questões formuladas aos alunos e professores do Tectur/Cejob e a
alguns membros da comunidade, procurou-se estabelecer uma conexão com as ações,
programas e metas dos planejamentos da União, do Estado e do Município em relação ao
turismo. Pretendeu-se também buscar com o planejamento pedagógico do Tectur/Cejob a
23
articulação educação, turismo e cultura, os pilares enunciados nos documentos
governamentais elaborados, em sua maioria, em conjunto com a iniciativa privada.
Os planejamentos referidos são aqueles expressos nos:
1 - Plano Nacional de Turismo (PNT);
2 - Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Plantur);
3 - Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos Búzios – Plano
Diretor -, ainda em construção. Neste momento o referido Plano está sendo
reformulado pela atual gestão municipal; e
4 – Educação Profissional – Referenciais curriculares nacionais da educação
profissional de nível técnico. Área profissional: Turismo e Hospitalidade.
Em dados da proposta de Plano Diretor para o Município (PREFEITURA, 2003), vê-
se que, aproximadamente, um terço da população de moradores é de jovens ainda em idade
escolar. Este dado sinaliza que há necessidade de, ao formular políticas públicas, prever e
promover algumas alternativas diferenciadas de geração de oportunidades de trabalho e renda
para a fixação destes jovens no Município e dos seus arredores. Em assim não sendo, poderá
ficar prejudicada toda uma geração.
Entende-se que a questão do desemprego e das oportunidades de ocupação não é um
problema peculiar de Búzios e sim das mudanças ou fluxos estruturais do sistema capitalista.
Entretanto, cada município ou região, deverá se adiantar nas dificuldades porque passam sua
população e procurar minimizá-las, dentro do possível.
No caso da formação em turismo, uma das alternativas para o jovem buziano é o
Curso Técnico de Turismo oferecido no Colégio Estadual João de Oliveira Botas, na Praia da
Armação, nos turnos da manhã e da noite, cuja obrigatoriedade é a de já terem concluído o
ensino médio.
Remodelado desde 2001, segundo as diretrizes da educação profissional (BRASIL,
MEC, 2000) como curso pós-médio, seqüencial, já formou cerca de 50 alunos. Houve
mudanças no seu projeto pedagógico, onde foram incorporadas atividades práticas e visitas
técnicas, além de, conceitualmente, trabalharem os docentes com modelos de turismo
24
sustentável. Em 2004, a coordenação pedagógica do curso, solicitou à Embratur autorização
para funcionamento de módulos para guia regional e nacional e está aguardando resposta.
2.2 OBJETIVOS E DELIMITAÇÕES DO ESTUDO
Este estudo objetiva, levando em consideração a análise do resultado das entrevistas
feitas com alunos, professores do Cejob e comunidade em geral, oferecer à comunidade
buziana sugestões de:
1- como identificar na sua cultura cosmopolita de Búzios, as diversas identidades de
seu povo, com o propósito de estimular a oferta de produtos turístico-culturais na
baixa temporada;
2 – como preparar o jovem buziano para, ao ter consciência de sua cultura, de suas
origens locais e regionais, propor alternativas para negócios que estimulem o jeito
buziano de viver e de atrair turistas;
3 – como a diversidade cultural, vista desde a tenra idade escolar, pode criar produtos
de diferenciação para alavancar o turismo internacional.
Deve-se tomar em consideração, entretanto, que um estudo exploratório/explanatório,
apresenta as linhas gerais, por meio de procedimentos com um grupo restrito de informantes,
o que elucida o objeto, mas não pretende esgotar o assunto.
Para que se tenha um estudo mais aprofundado sobre a localidade, Búzios, a região
onde se insere e a ampla atuação do Colégio Estadual João de Oliveira Botas na comunidade,
há de se fazer um estudo minucioso, onde se deverão usar parâmetros melhor delineados,
inclusive os estatísticos. O método do estudo de casos indica caminhos a explorar, mais do
que caminhos a seguir.
Neste estudo, por exemplo, poder-se-ia, pelo enfoque, fazer entrevistas com todos os
discentes e docentes do Curso de Turismo do Oliveira Botas, mas preferiu-se estudar parcela
dos alunos e professores e agregar a isto, pequena parte da população, representada por alguns
de seus cidadãos.
25
A parcialidade do estudo baseia-se no fato de envolver parte de uma comunidade e não
pretender dar conta da totalidade de seus problemas. Seria apropriado para uma tese de
doutoramento.
O estudo abrangeu uma pequena parcela da população, por isso mostra um resultado
que sugere uma caracterização específica de Búzios. Para se estudar e propor um
desenvolvimento turístico regional, deve-se olhar a abrangência da região, o que não pôde ser
feito neste trabalho.
2.3 JUSTIFICATIVA
O estudo sobre a questão pedagógica com um olhar na tríade educação, turismo e
cultura do Tectur/Cejob deve-se, num primeiro momento, a exploração do que havia sido
implantado pelo Estado no município. Pretende-se com a realização deste estudo fornecer
subsídios para a criação do Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal
Fluminense (UFF).
Propõe-se, ainda, ver como se comporta o setor educação voltado para o turismo,
sondando a relevância social e científica do que o município já produzia, para aprofundar
estudos e pesquisas de um curso da UFF na região.
Como o curso de Turismo da UFF não foi implantado devido à mudança do gestor
municipal aproveitou-se o estudo para oferecer um retrato de como a comunidade vem
ensinando e praticando o turismo no ramo da educação formal – do curso técnico.
2.4 REFERENCIAL TEÓRICO
Para a confecção deste trabalho houve necessidade de se estudar o que vêm propondo
os governos federal, estadual e municipal para a área de Educação, basicamente para a
Profissional, no enfoque de Turismo e Hospitalidade. Usou-se também para a discussão da
26
Educação Profissional a dissertação de Ana Maria Rocha Faria (2003) sobre qualificação e
capacitação profissional como estratégia competitiva para o setor de Turismo/Hospitalidade.
Além disto, como a localidade em que está inserido o Cejob é o Município de
Armação dos Búzios, houve-se por bem estudar a sua história, o planejamento governamental
municipal, bem assim as políticas públicas para a educação, cultura e turismo.
Existem trabalhos relevantes sobre o município que foram usados para este estudo,
além dos documentos governamentais arrolados na revisão de literatura.
Destes estudos se pode citar a dissertação de mestrado sobre gestão ambiental de
Karen Campos Barbosa (2004), os estudos antropológicos de Dayse Justus (1996) sobre as
representações sociais da população, os projetos e artigos de Carmen Rodrigues Tatsch (2004,
2003) sobre o resgate do folclore da população, onde se fez estudos aprofundados sobre a
Rasa, um dos bairros de Búzios.
Além destes, usou-se o trabalho de Miriane Frossard (2004) sobre a avaliação dos
impactos do turismo em Búzios desde a aldeia de pescadores à cidade cosmopolita. E também
tomou-se como base, numa percepção comparativa, a monografia de Joana Magalhães (2003),
que estudou a relação entre as políticas de cultura e de turismo na Cidade de Ilhéus.
Para as perguntas que foram feitas aos alunos, aos professores do Tectur/Cejob e a
alguns profissionais da comunidade buziana, utilizou-se como suporte para a criação do
roteiro da entrevista, a obra Criatividade e Grupos Criativos de Domenico De Masi,
particularmente o capítulo dezesseis – “Dois Modelos de Criatividade”.
A utilização de De Masi (2003) constitui o suporte científico em relação ao que se
quer do futuro, como as sociedades precisam conhecer a sua cultura para que se possa passar
da personalidade criativa para a coletividade criativa, como pode ser conferido a seguir:
Um contexto social em que não só é possível aos criativos encontrar os
meios para criar, mas em que as novidades são bem acolhidas, desejadas,
auguradas, encorajadas: em que o pluralismo de idéias, gostos e
comportamentos é defendido, apreciado, premiado, é um contexto que
contribui para estimular a criatividade não menos que a personalidade aberta,
receptiva e prolífica dos criativos individuais. (DE MASI, 2003, p. 595-6)
27
Para De Masi (2003) há um dilema a se resolver quando se pensa a personalidade
criativa. Ele se pergunta se a criatividade tem sua origem “no interior da personalidade
individual ou da personalidade de cada grupo criativo” - a autopoiese; ou se desenvolve “por
heteropoeise - o contexto e as condições sociais em cujo cérebro se encontram a operar” (DE
MASI, 2003, p. 594).
De Masi (2003) identifica nove fatores que contribuem “para incrementar a
criatividade de um indivíduo ou de um grupo” (idem, p. 595) e o faz usando as conceituações
de Freud, Kardiner, Fromm, Sullivan, Dewey, Durkheim, Kroeber, White, Gray, Ariete,
Rogers, Lasswell, entre outros (DE MASI, 2003, p. 594-598). São estes:
¾ Disponibilidade de meios culturais e materiais;
¾ Exposição a estímulos culturais diferentes ou até contrastantes;
¾ Abertura aos estímulos culturais;
¾ Ambiente social que acentue a transformação, o futuro;
¾ Ausência de discriminações;
¾ Tolerância e interesse com respeito a ponto de vistas divergentes;
¾ Interação de pessoas significativas;
¾ Promoção de incentivos e recompensas;
¾ Dialética e insatisfação social.
Alerta De Masi (2003) que os grupos criativos contam com grande habilidade para
adaptarem-se ao ambiente e valorizarem os recursos nele disponíveis. Isto acontece em
quaisquer das situações, sejam as de estarem criando em lugares propícios (sistemas de
comunicação abertos) ou até mesmo em lugares onde são hostilizados e precisam defender
suas idéias com firmeza (DE MASI, 2003, p. 599).
Além disso, outras condições podem “influir de modo ambivalente sobre a criatividade
dos grupos organizados, assim como sobre a dos criativos individuais: o estresse e o ócio”.
Segundo o autor, o estresse é uma “tensão nervosa permanente”, fruto da exploração
industrial que, nos seus primórdios, aumentou o mais que pode a duração, em tempo, do
trabalho cotidiano; depois, com o tempo já escasso, foram introduzidas maneiras de se
acelerar o tempo, exigindo-se assim agilidade e máxima produção; até que se investiu na
28
questão da “qualidade dos produtos e, para melhorá-la, procurou-se enfatizar o empenho dos
trabalhadores, elevando-lhes o moral” (DE MASI, 2003, p. 600-1).
Esta remontagem histórica dos ápices do capitalismo em relação ao trabalho na
conjuntura específica entre o tempo, a produtividade e a lucratividade, parece indicar que o
estresse pode favorecer a criatividade. Assim pensam os formuladores americanos, favoráveis
ao “superativismo”, contra a introspecção. A sensação de ver seu tempo se extinguindo,
próximo à morte, pode também “ligar” o motor interno da criatividade.
Consoante à De Masi (2003), por meio de conclusões a que chegaram Faretto, Cabib e
Pugliese Allegra, Boschi e Sprugnoli e outros “o estresse é capaz de incentivar uma
criatividade torrencial, no campo tecnológico, e desequilibradora, no campo artístico”. E,
ainda segundo ele, “a solução do problema está no ócio criativo, na arte de reunir em síntese
três faculdades intelectuais – trabalho, estudo, lazer – que o mecanismo industrial tinha,
astuciosamente, separado”. (DE MASI, 2003, p. 610-1)
O ócio, conforme De Masi, é visto como:
um estado de bem-estar de corpo e alma. Um estado livre e espontâneo no
qual saboreamos a alegria de viver e de conviver, de estar conosco mesmos e
com os outros, de nos sentir em sintonia com os lugares, as coisas e pessoas
que nos circundam. O que fazemos em nossas horas de ócio não responde a
nenhum vínculo contratual, não segue nenhuma prescrição externa, não
respeita nenhum ritmo imposto por outros: responde apenas ao prazer
estético e à satisfação ética, ao céu estrelado que está acima de nós e à lei
moral que está dentro de nós.
Mas o ócio, [...] é uma arte difícil, que requer exercício, experimentação e
autodisciplina. Bem endereçado, ele gera Eros e criatividade, sublimando-se
em lazer. Desprovido de educação, ele se arrisca a se degenerar em tédio,
insipidez, violência, em tânatos: não por acaso, fala-se de ‘perder tempo’,
‘matar o tempo’, ou ainda ‘passar o tempo’. (DE MASI, 2003, p. 615)
Seu contraponto, do ócio e do ócio criativo é a sofreguidão em tornar-se rico. Assim,
entra-se numa marcha contínua de modificação e inovação de processos e, o que pode levar à
abundância de recursos financeiros, pode ocasionar a sua alienação. Os dois – abundância e
alienação – tão próprios do sistema capitalista, podem retirar das mentes “o necessário
afastamento dos problemas que nos preocupam e que propicia a imersão naquela espécie de
limbo da mente, onde flutua o plâncton de nossa criatividade”. (DE MASI, 2003, p. 626)
29
Assim, para De Masi (2003), o modelo do ócio criativo é o carnaval brasileiro onde,
Durante o carnaval, os pobres oferecem aos privilegiados a sua música, as
suas cores e a sua alegria, contagiando-os com a explosão de beleza e de
prazer. E se esse fenômeno extremamente pacificador pode repetir-se todo
ano é porque – como diz Jorge Amado – ‘um povo mestiço, cordial,
civilizado, pobre e sensível habita esta paisagem de sonho’. Um povo pobre
de recursos materiais, mas riquíssimo de cultura, disposto a acolher toda a
diversidade, a fazer conviverem pacificamente todas as raças da terra e todos
os deuses do céu.
[...]
É nesse estado de graça que o ócio se torna condição e fator ideal da
criatividade, seja individual como de grupo. (DE MASI, 2003, p. 634-5)
A partir dessas premissas: da criatividade, da disposição à alegria, ao “requinte
simples” (morador 12), da possibilidade de conciliação da criatividade com a felicidade e
sensibilidade, livrando-se das “paredes cinzentas e entediantes do escritório” (DE MASI,
2003, p. 637) que procurou os marcos teóricos deste trabalho. Pois, afinal, Búzios é
“glamour”, beleza, estado jovem de espírito, rito e liberdade, mansidão, expectativa e
deslumbramento.
Enquanto se apreendiam os conceitos e formulações do De Masi, se usou também os
escritos do historiador Marcio Werneck da Cunha, que se debruçou sobre a história de Búzios.
Longe de desarmonia, pode-se verificar que, para melhor adequar a visão de futuro
(criatividade) do De Masi, o estudo do passado da localidade e de suas heranças, do Cunha,
torna exeqüível a rica experiência que distingue Búzios do seu entorno.
2.5 QUESTÕES A INVESTIGAR
Búzios é uma cidade peculiar. Do ritmo frenético no verão, desabrocha a mansidão das
outras estações do ano. Menos os finais de semana prolongados... quanto mais próximo ao
verão, mais fervilha. Cidade jovem, cidade lazer, cidade sol, cidade mar. Búzios brilha e não é
à toa que está subindo no ranking das cidades mais visitadas por turistas internacionais no
Brasil.
30
Por trás desta agitação, deste glamour, existem pequenas vozes, vindas do seu
passado, da Búzios pacata, paraíso, que não querem calar. Atrás deste cosmos, há também as
suas origens, a sua cultura mais íntima, mais antiga. Um modo de viver que, se bem estudado
e dado a conhecer ao mundo, pode gerar riquezas para a sua população: dos pobres aos
abastados.
O que esconde Búzios que se pode trazer à tona para ser oferecido como mais um
leque de produtos para aqueles que a vem visitar, principalmente na baixa temporada?
Esta pergunta marcou o itinerário das pesquisas iniciais dos estudos e documentos do
governo, da iniciativa privada, dos jornais, de um apanhado geral que pudesse indicar
caminhos para se encontrar soluções a este problema.
Sendo assim, houve um primeiro contato com a então Secretaria de Turismo,
Comunicação e Imagem do Município de Armação dos Búzios, que forneceu os primeiros
contatos de fatos e pessoas que se pudesse inquirir.
Percebeu-se que sua preocupação era nítida em relação à baixa temporada.
Preocupação esta que se estendia ao grande afluxo de gente na alta temporada. Deveria
Búzios trabalhar com o sistema de carga, limitando o acesso de pessoas à península na alta
temporada? Ou deveria reforçar sua infra-estrutura para que pudesse receber esse grande
número de pessoas no verão?
Assim se chegou primeiro aos jornalistas, depois aos professores e alunos do Cejob.
No Cejob se procurou saber, por meio de sondagem inicial, o que e como fazia o
Curso Técnico de Turismo para propor caminhos e inovar em produtos para a baixa
temporada?
A partir daí chegou-se ao Coordenador do Curso, aos alunos, ao conjunto de
professores. Perguntou-se: qual é a Búzios que se trabalha aqui, a da terra ou a cosmopolita?
Privilegia-se a cultura nativa? Incorporam-se nos estudos de turismo aquilo que é trazido
também pela população mais pobre? Os alunos de turismo sabem o que a história da cidade
31
conta em relação à comida, dança, música, arte, enfim, modos mais típicos de se viver na
cidade?
Afinal de contas, em que medida o valor do patrimônio cultural, principalmente do
imaterial, está presente no discurso daqueles que lidam com o turismo no Município de
Armação dos Búzios, mais especificamente, naqueles que atuam na educação formal para a
atividade?
O plano pedagógico do Cejob reflete o que as entidades da educação, do turismo e
hospitalidade, da cultura, governos e organizações não-governamentais têm pensado para
Brasil e especificamente para Búzios?
Em se falando em “brasilidade”, seria recomendável mostrar o Brasil por meio de sua
cultura, de sua identidade brasileira, pela “marca Brasil”? Como é a “brasilidade buziana”?
Como os alunos do Tectur/Cejob vêem esta discussão? Como seria o turismo, em Búzios, que
levasse em consideração a “brasilidade buziana”?
2.6 HIPÓTESE
Dayse Justus (1996, p. 60), afirma que:
A cultura mundial é criada através de um aumento cada vez mais
significativo de entrelaçamento de culturas locais diversificadas, bem como
através do desenvolvimento de culturas sem um apoio nítido em nenhum
território específico. Todas elas estão se tornando, por assim dizer,
subculturas dentro do conjunto mais amplo; culturas que são, de modo
importante, melhor entendidas dentro do contexto do seu ambiente cultural
do que isoladamente. Entretanto, as pessoas podem se referir de formas
variadas a esta diversidade global entrelaçadora. Uma delas é através da
distinção entre os cosmopolitas e os locais.
Embora decorridos dez anos da apresentação de sua dissertação, Justus é bastante
contemporânea. Ressalta-se que, na sua conclusão, salienta que:
Búzios prepara-se para um novo momento de sua história: a condição de
município. Um novo turismo se impõe a essa peculiar cidade turística. Na
32
projeção para o futuro, os buzianos falam em não perder a marca, que não se
perca o estilo, e assim o futuro está em liame com o passado. A cidade só se
consolidará seu estilo no futuro, se conseguir fortalecer os laços com a sua
memória social. Com a sua identidade social, com seu passado. A
transitoriedade é um fato, a metamorfose é uma evidência. Como algo que
tem dois lados, como uma moeda, sustentando suas antíteses, sendo natural e
diversa. Ainda que se atualizando, através de uma outra linguagem,
conseguir manter seus pares antitéticos. (JUSTUS, 1996, p. 60)
O desenvolvimento trouxe a Búzios mais do cosmopolitismo do que do local. E esta
também é uma das fases dos sistemas econômicos.
Desde a Antigüidade, o homem, e mais exatamente os ocidentais, procuram chegar até
onde não se conhece. Os objetivos, tidos como aventura, alteridade, curiosidade, escondem
uma outra face que é a globalização, esta entendida de diversas maneiras segundo sua época.
Com as viagens e conquistas trazem consigo um pedaço da cultura e plantam naquele “novo”
lugar parte de seu modo de vida.
E em Búzios não foi diferente. Os estrangeiros foram chegando e se estabelecendo.
Trouxeram consigo dinheiro, investimento e desenvolvimento para a cidade. Colocaram
Búzios no imaginário social em escala mundial: a da aldeiazinha perdida no Brasil, onde
ainda há os pescadores, mas também pode-se fazer compras em lojas de griffe, dormir nos
melhores hotéis e comer nos melhores restaurantes, de cozinhas variadas.
Só esqueceram de levar consigo a população. O pescador se transformou no caseiro.
As mulheres tecedoras de redes de pescar em camareiras. O jovem, que lá nasceu, filho de
pescador ou do morador que lá tem suas raízes, está entre essas duas realidades. De um lado o
crescimento, a novidade trazida por quem já mora há algum tempo, mas é estrangeiro, de
outro os turistas e veranistas que chegam aos borbotões na alta temporada, tem aquele que
chega para trabalhar e fica e, de ainda um outro lado, o da terra, aquele que está lá por
gerações. São estas partes que convivem e que fazem de Búzios um encontro de culturas.
Entretanto, se existe “algo de especial” na cultura buziana, por que ainda não foi
levado ao turista? E é exatamente este aspecto que se foi procurar.
A hipótese é que a valorização da cultura está presente no discurso dos alunos do
Tectur/Cejob, mas de maneira ainda desorganizada e geralmente associada a pequenos ganhos
33
econômicos, o que se justifica pela falta de uma identificação real do que é e do que não é
expressão cultural local, fruto das raízes de Búzios.
Acontece porque o Tectur vem incorporando aos seus conteúdos nas disciplinas as
questões levantadas nacional, regional e municipalmente, de maneira gradual, por meio da
reformulação de suas diretrizes pedagógicas implantadas em 2001 e revistas em 2004.
Além disso, o Tectur/Cejob encontra dificuldades em implantar ações pedagógicas
mais proativas na área de turismo por carecer de instalações mais condizentes com a
complexidade exigida para o curso. As questões pedagógicas mais básicas têm prioridade em
relação às atividades que se caracterizam como excedentes, privando o aluno de um
aprendizado mais profundo de sua história e cultura e, ao corpo docente de inovar nos
recursos pedagógicos e além de dificultar uma relação mais harmoniosa com a iniciativa
privada, essencial para aquele que se forma em Técnico em Turismo.
34
3 DO ENTENDIMENTO PARA QUE SERVEM OS CURSOS TÉCNICOS
PROFISSIONAIS
Emmanuel Andrade (1997, p. 113) em sua tese sobre “o ensino da engenharia e a
tecnologia”, lembra que “ninguém discorda de que a formação profissional pode influir, de
forma positiva ou negativa, na qualidade de vida das populações. Resta saber até que ponto o
ensino profissional é considerado suficiente ou deficiente”.
Embora a área de estudos deste trabalho seja a relação turismo, cultura e educação
profissional e não a engenharia e tecnologia, a preocupação do professor Emmanuel, no que
diz respeito ao ensino profissional, enunciada em seu doutoramento, permeou todo este
trabalho.
Segundo os referenciais curriculares nacionais da educação profissional de nível
técnico, na sua parte introdutória, a educação profissional está diretamente relacionada, hoje,
aos termos “trabalhabilidade”, “competências” e “empreendimentos produtivos
contemporâneos”. Por “trabalhabilidade”, entende o documento como “componente da
dimensão produtiva da vida social e, portanto, da cidadania, é o objetivo primordial da
educação profissional”. (BRASIL, MEC, 2000, p. 6).
Ainda na caracterização dos conceitos, diz o documento:
no núcleo dessa modalidade de educação [trabalhabilidade] está o processo
de apropriação da condição ou do conjunto de condições para produzir
benefícios – produtos e serviços – compartilhados socialmente e para o
acesso ao usufruto desses benefícios, em situações permanentemente
mutáveis e instáveis (BRASIL, MEC, 2000, p. 6).
Sendo assim, o “novo paradigma da educação” está baseado no conceito de
competência, que integra “situações-meio, pedagogicamente concebidos e organizados para
promover aprendizagens profissionais significativas”. (BRASIL, MEC, 2000, p. 6-7)
Nos Quadros 1 e 2 se pode verificar, como exemplo, quais os paradigmas na
conceituação de competência e quais são as diferenças do modelo antigo do planejamento e
controle educacional do novo.
35
COMPETÊNCIA
(CONCEITO)
CONHECIMENTOS
HABILIDADES
VALORES/ATITUDES
ARTICULAÇÃO
MOBILIZAÇÃO
COLOCAÇÃO EM AÇÃO
DESEMPENHO
EFICIENTE E
EFICAZ
Quadro 1 – Conceito de Competência
Fonte: MEC – Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico (2000)
PARADIGMA EM
SUPERAÇÃO
PARADIGMA EM
IMPLANTAÇÃO
Foco nos CONTEÚDOS a serem ensinados
Foco nas COMPETÊNCIAS a serem
desenvolvidas / nos SABERES (saber,
saber fazer e saber ser) a serem
construídos.
Currículo como fim, como conjunto
regulamentado de disciplinas.
Currículo como conjunto integrado e
articulado de situações-meio,
pedagogicamente concebidas e
organizadas para promover
aprendizagens profissionais
significativas.
Alvo do controle oficial: cumprimento do
Currículo.
Alvo do controle oficial: geração das
Competências Profissionais Gerais.
Quadro 2 – Comparação entre os modelos de superação e os de implantação
Fonte: MEC - Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico (2000)
Os Quadros 1 e 2 demonstram como o MEC se coloca em relação a educação
profissional: dirigida aos saberes, dentro das situações-meio com a geração das competências
profissionais gerais.
Os Referenciais Curriculares enfatizam ainda que para se atingir as metas, na questão
das competências a serem desenvolvidas na educação profissional, é importante observar que:
¾ a educação profissional é uma modalidade própria de educação, que
deve estar articulada com a educação básica e, no caso do nível técnico, ser
complementar ao ensino médio;
36
¾ à educação básica cabe o desenvolvimento de competências básicas da
pessoa e do cidadão, bem como a preparação geral para o trabalho como
dimensão da cidadania;
¾ as competências básicas a serem desenvolvidas no ensino médio estão
concentradas, pelas Diretrizes Curriculares que lhe dizem respeito
[Resolução CEB/CNE nº 03/98 e Parecer CEB/CNE nº 15/98], em três áreas:
Códigos e Linguagens e suas Tecnologias, Ciências Naturais, Matemática e
suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias;
¾ a educação profissional requisita competências básicas, que devem ou
deveriam ser garantidas pela educação básica - ensinos fundamental e médio,
sendo que a verificação e, se for o caso, a recuperação das mesmas, em
etapas ou módulos de entrada ou de nivelamento de bases, por exemplo, são
previsíveis, considerando as atuais condições e os resultados ainda
insatisfatórios da educação chamada geral. (BRASIL, MEC, 2000, p. 9)
Aqui a atenção se volta para o lugar que ocupa a Educação Profissional dentro dos
níveis de Educação e deixa claro que a educação profissional é uma continuidade do ensino
médio. Segundo o documento ela, a educação profissional, deve incorporar ao trabalho aquilo
que é específico do mundo do trabalho e não fazer o papel da educação geral, que é a da
formação geral do cidadão.
Na questão do planejamento educacional, a Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, CN,
1996), assim como as normas, os pareceres e resoluções dela decorrentes dão consistência
para a formulação de uma educação regida por princípios amplos. Além disto, destinam às
escolas a elaboração de seu projeto pedagógico, levando em conta o ambiente em que estão
inseridas.
O planejamento educacional estaria, assim, livre dos laços de uma educação reprodutiva,
imprópria para as demandas da época, garantindo, na atualidade, o projeto pedagógico de
cada escola com o poder de decidir como e o que aplicar. O texto é categórico quando diz
que:
A imaginação, o sonho ou, enfim, a fantasia dos educadores, abafada por
normas e regras muito específicas e desanimada pelos quase sempre
limitados e precários recursos e condições disponíveis ao trabalho
educacional, tem, hoje, um espaço muito maior para seu exercício. Assim, o
processo de planejamento nas escolas deve partir da compreensão de que o
mesmo deve estar a serviço, não da burocracia e do reprodutivismo, mas da
fantasia e da realização de uma proposta educacional inovadora,
revolucionária, comprometida com a formação e o desenvolvimento de um
novo cidadão e de uma nova sociedade. [Desse modo, o] planejamento
educacional é, em síntese, o processo que dá consistência e forma à
imaginação ou à fantasia de uma equipe que almeja a construção de um
trabalho educacional mais eficaz e de melhor qualidade, considerado um
37
ideal de ser humano e de sociedade, e que resulta em um projeto pedagógico
orientador de decisões, esforços e ações do conjunto de pessoas envolvidas,
de alguma maneira e em algum nível ou grau, em sua efetiva realização.
(BRASIL, MEC, 2000, p. 14-15).
A essa maneira de definir o planejamento educacional, a Secretaria de Estado de
Educação do Rio de Janeiro – SEE/RJ acrescenta que, “a composição dos níveis escolares,
nos termos do artigo 21 da LDB, não deixa margem para diferentes interpretações: são dois os
níveis educacionais da educação escolar no Brasil – a educação básica e a educação superior.”
(GOVERNO, SEE/RJ, s/d, p. 12)
A SEE/RJ, corroborando com o que prevê as resoluções do Conselho Nacional de
Educação – CNE quanto à flexibilidade no planejamento dos cursos e da possibilidade destes
serem oferecidos em etapas ou módulos, estimula as escolas que criem seus cursos, mas que
não o façam de maneira efêmera, imediatista. A preocupação está em, ao responder diretamente
ao mercado, criando ou reformulando cursos com uma demanda que se esgota rapidamente,
poder-se-ia criar toda uma estrutura que tenha de ser desmontada em pouco tempo, causando
um dispêndio desnecessário.
Segundo o Parecer CNE/CEB nº 16/99, as habilitações correspondentes às
diversas áreas profissionais, para que mantenham a necessária consistência,
devem levar em conta as demandas locais e regionais, considerando,
inclusive, a possibilidade de surgimento de novas áreas. Contudo, é
fundamental desconsiderar os modismos ou denominações de cursos com
finalidades exclusivamente mercadológicas. Ressalte-se que a nova
legislação, ao possibilitar a organização curricular independente e flexível,
abre perspectivas de maior agilidade por parte das escolas na proposição de
cursos. A escola deve permanecer atenta às novas demandas e situações,
dando a elas respostas adequadas, evitando-se concessões a apelos
circunstanciais e imediatistas. (GOVERNO, SEE/RJ, s/d, p. 19)
Entre o sonho e a realidade, poder-se-ia inferir as atitudes das equipes de professores
estaduais ao construírem, nos colégios, seus projetos pedagógicos para os cursos técnicos.
Ousar nos conteúdos, inovar nos recursos pedagógicos, criar situações de aprendizagem para
os alunos que incorporassem ou trouxessem a comunidade para dentro da escola. Os alunos
devem sair dos muros da escola e se comunicar com as comunidades: a ter acesso ao sonho –
definido pelo futuro, por intermédio de sua realidade – o presente, levando em conta o
processo de aprendizagem e sua história pessoal e coletiva – o passado.
38
Os referenciais curriculares assim definem este momento:
...os programas de educação profissional, com currículos dirigidos
para competências requeridas pelo contexto de uma determinada área
profissional, caracterizam-se por um conjunto significativo de
problemas e projetos, reais ou simulados, propostos aos participantes e
que desencadeiam ações resolutivas, incluídas as de pesquisa e estudo
de conteúdos ou de bases tecnológicas de suporte, podendo estas estar
reunidas em disciplinas, seminários, ciclos de debates temáticos e de
atividades experimentais / laboratoriais.
[...] Este eixo [projetos, problemas ou desafios] é definido a partir de
propostas do(s) professor(es) discutidas com os alunos. Atividades de
apropriação de conteúdos de suporte, de bases tecnológicas,
organizados em disciplinas ou não, e de acompanhamento, avaliação e
assessoria às ações de desenvolvimento dos projetos, são
programadas e convergem para esse eixo do currículo. (GOVERNO,
SEE/RJ, s/d, p. 25)
3.1 DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO E HOSPITALIDADE
A educação profissional tem um novo contorno desde a discussão e promulgação da
Lei de Diretrizes e Bases. No caso da educação profissional em Turismo e Hospitalidade, vê-
se que, de 2000 até hoje, esta área tem sido muito dinâmica em relação aos seus processos de
gestão. Seja o processo interno de um hotel ou restaurante, ao processo externo, do
planejamento turístico e hoteleiro municipal, em todas as esferas, a educação profissional na
área tem tido um grande avanço.
Segundo o MEC (2000a, p. 4), “a área profissional de Turismo e Hospitalidade ocupa-
se da criação de produtos a serem ofertados e, sobretudo, da prestação de serviços turísticos,
de hospedagem, de alimentação e de eventos.”
Há anos atrás era comum que alguém, ao se aposentar, pensasse em abrir uma pequena
pousada, achando que dali por diante, em sua vida, poderia morar em um lugar bonito, fazer
amizades, ser cortês com as pessoas, não ficar sozinho e ainda por cima, ganhar dinheiro.
Esta impressão dada à hotelaria, principalmente, foi um dos motivos de seu atraso em
ter uma profissionalização do serviço, como também o de muitas tristezas para quem,
39
desavisadamente, às vezes sequer sem um plano de negócios, abriu uma pousada e teve de
fechá-la entre dois a cinco anos. Os que sobreviveram ou sobrevivem a esta expectativa são
aqueles que, ao se conscientizarem que são donos reais de negócios, procuram instituições de
apoio para tornar a empresa competitiva.
No mundo de hoje, ao se abrir negócios, é mister que se desenvolva estrategicamente
um plano para o negócio e que se tenha mais do que noção dos compromissos ao ser tornar
dono de pousada, por exemplo. De todo um processo gerencial, de uma pequena pousada que
seja, há de se ter um controle de suas operações necessárias: desde a recepção (check in) até a
saída do hóspede (check out).
Este exemplo da hotelaria é válido para qualquer outro negócio e dir-se-ia que para a
área de Turismo e Hospitalidade seriam mais necessários ainda os projetos estratégicos de
montagem e manutenção de empresas.
Quanto ao trabalhador da área, se exige várias competências profissionais além da
cortesia, simpatia e cordialidade. Principalmente na área de serviços que apresenta dificuldade
na manutenção da fidelização do cliente.
Em decorrência de um conjunto de fenômenos que caracterizam o mundo
atual, o mercado de trabalho vem se reconfigurando e colocando novas
exigências para os profissionais da área de Turismo e Hospitalidade. Uma
delas é a clara revalorização da educação geral, na medida em que ela é
condição essencial para todo desempenho técnico-profissional frente aos
novos paradigmas econômico-sociais. Passa a ser requerido o
desenvolvimento das competências de comunicação e de conhecimentos
científicos e socioculturais, próprios da educação básica, as quais podem
gerar os atributos de raciocínio e expressão lógicos, de comunicação oral,
escrita, simbólica, interpessoal e grupal, de autonomia, de iniciativa, de
criatividade, de cooperação, de solução de problemas e de tomada de
decisões (
MEC 2000a, p. 5).
Turismo e Hospitalidade têm interface com várias áreas, tais como: saúde, negócios,
esportes, religioso, lazer, ecológico, entre outros. A multiplicidade de interfaces a que está
sujeito o trabalhador da área faz com que ele necessite de uma boa educação geral e, por isso,
privilegia os cursos técnicos de turismo para àqueles que já tenham concluído o ensino médio
(antigo 2º grau).
40
O próprio documento dos Referenciais Curriculares, ao se referir às interfaces
necessárias ao trabalhador de turismo diz:
Com as Artes, desnecessário insistir na interface e, mesmo, dependência que
o Turismo tem em relação ao patrimônio histórico-artístico, às manifestações
de arte de toda natureza, da folclórica e popular à mais sofisticada e
cosmopolita. Com o Lazer e Desenvolvimento Social, pela sua identificação
com a função social do uso do tempo livre e com a forma de seu exercício
através de atividades de recuperação psicossomática, recreativas, físico-
desportivas, de entretenimento, de fruição artístico-cultural, etc. A área de
Turismo e Hospitalidade faz, ainda, interface com essas e varias outras áreas,
quando se promovem eventos de várias naturezas, tipos, conteúdos e
objetivos.” (MEC 2000a, p. 6)
O setor de serviços vem crescendo a cada ano e o de turismo, resguardadas às questões
de segurança e de fenômenos imprevisíveis naturais, é um dos que têm maior potencial.
A esta crescente expansão aumenta também as oportunidades de trabalho não só no
turismo, mas nas áreas a ele associadas como as de hospedagem, alimentação sejam
restaurantes ou de alimentos congelados, prontos ou semiprontos.
Ao aumento de oportunidades, inclusive com a vinda de agências e cadeias de hotéis
internacionais, exige-se também uma maior educação para os seus trabalhadores. Dentre
estas, pode-se citar:
¾ Maior polivalência da formação, com diminuição de exigências
técnicas nas disciplinas tradicionais;
¾ Desenvolvimento de todas as formas de gestão, que se integram nas
demais disciplinas;
¾ Maior necessidade de competência e eficiência nas técnicas de venda;
¾ Desenvolvimento generalizado em tudo quanto se relaciona com a
comunicação, as relações humanas e a negociação;
¾ Formação em matéria de manutenção e reparação;
¾ Organização modular que facilite a capitalização dos conhecimentos
acumulados em diferentes fases da carreira profissional;
¾ Dimensão de “formador” que deve ter cada responsável;
¾ Abertura internacional (MEC 2000a, p. 11-12).
Embora date da década de 50 o ensino profissional em Turismo e Hotelaria,
encabeçado pelo SENAC e se estendendo por todo território nacional, com seus restaurantes-
escola, é na década de 60 que o Senac inaugura o seu primeiro hotel-escola. Estes cursos
atendiam a um conjunto de trabalhadores funcionais, operativos.
41
Na década de 70, mais precisamente em 1971 é quando surge o primeiro curso de
graduação em turismo dado pela então Faculdade de Turismo do Morumbi. Mais tarde, em
1978 é criado o primeiro de hotelaria no Brasil, pela Faculdade de Administração Hoteleira da
Universidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. (REJOWSKI, 2002, p. 62-63).
Na década de 80 despontaram outros cursos superiores de tecnologia em hotelaria no
Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Maranhão. Nos anos 90 foram implantados cursos de
Administração Hoteleira ou foram criadas habilitações em hotelaria nos cursos de
Administração de Empresas.
Dos meados dos anos 90 para cá, houve um aumento significativo dos cursos
superiores de Turismo e Hotelaria. A oferta destes cursos, entre os cursos novos, é a de maior
crescimento.
Segundo os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível
Técnico: “o nível técnico é menos ofertado. As iniciativas relativas à Hospitalidade
restringem-se ao SENAC e Escolas Técnicas Federais (CEFETs). Só a partir de 1988 vêm
surgindo outras iniciativas, inclusive de escolas públicas estaduais” (MEC, 2000a, p. 14).
Ainda na p. 14, os Referenciais Curriculares alertam que esses cursos [os das escolas
públicas estaduais], oriundos da Lei Federal 5.692:
em sua grande maioria, não têm laboratórios ou ambientes especiais, nem
recursos tecnológicos, nem biblioteca especializada, são distanciados do
sistema produtivo da área e seus docentes muitas vezes não têm experiência
ou efetiva atuação no mercado de trabalho.
Por não responderem às necessidades dos alunos e das empresas, ainda segundo o
documento do MEC, aqueles cursos oriundos da obrigatoriedade da profissionalização não
são recomendados devido a sua modelagem pedagógica com práticas tradicionais de aulas
teóricas e um pouco de técnica, porém ultrapassadas. Argumenta, entretanto, que há uma falta
de investimento de recursos (laboratórios, bibliotecas, ambientes especiais, etc) e de
adequação e atualização dos professores.
Apesar de os referenciais curriculares estarem explicitados em forma de
matrizes que estabelecem competências, habilidades e bases tecnológicas a
42
serem necessariamente contempladas, qualquer que seja o desenho ou
formato que estes assumam, as considerações anteriores sugerem algumas
recomendações:
¾ A adoção de desenhos curriculares e de alternativas metodológicas
inovadoras, dinâmicas, que substituam o modelo centrado nas aulas
tradicionais por um ambiente pedagógico caracterizado por aulas
operatórias, por oficinas e workshops, nos quais os alunos pesquisem e
trabalhem em projetos concretos e experimentais característicos da área; por
espaços de discussão fundamentada sobre o que está fartamente disponível
para ser ouvido, visto e lido dentro e fora da escola; por seminários e
palestras com profissionais atuantes; por visitas culturais e técnicas;
¾ A busca de alternativas de gestão de recursos educacionais, tais como
acordos, convênios, patrocínios ou parcerias, que viabilizem constante
renovação ou atualização tecnológica, condição essencial para que a
educação profissional não faça da efetiva realidade do processo de produção
da área uma ficção;
¾ O estudo e a implantação de formas flexíveis de organização do
trabalho escolar e de estabelecimento de vínculos contratuais com
professores, de maneira a possibilitar a contribuição de profissionais
efetivamente engajados na atividade produtiva, atualizados e responsáveis
por produções e serviços reconhecidos pela sua qualidade, cuja
disponibilidade e interesse não se ajustam aos esquemas pedagógicos e
administrativos convencionais (MEC, 2000a, p. 15).
Essas recomendações deixam claro que, qualquer um que se proponha a dar cursos
profissionais em Turismo e Hospitalidade deve ter condições materiais (ambientação especial
para a área, tecnologia, bibliotecas, por exemplo) e humanas (docentes com efetiva atuação no
mercado de trabalho). Além disso, devem também ter, o corpo docente e a gestão escolar,
relacionamento com outros profissionais que atuam na área para que sejam feitas trocas de
conhecimento e técnicas fora do ambiente escolar, mas de maneira regular e não simples
atividades extracurriculares.
Ao se sustentar que o trabalho na área não é somente voltado para a criação de
produtos turísticos, mas também para a prestação de serviços turísticos, de eventos, de
hospedagem e de alimentação, pode-se perceber o leque de opções que um profissional tem.
Mais ainda, ao se dar conta que estes serviços podem ser oferecidos praticamente em qualquer
ambiente, conclui-se que, qualquer curso que pretenda dar conta deste universo, tem de estar
muito bem informado das necessidades do mercado.
Sendo assim, o MEC propõe um quadro síntese que deve orientar a organização
curricular de cursos de nível técnico da área.
43
PROCESSO DE PRODUÇÃO
FUNÇÕES SUBFUNÇÕES
1. PLANEJAMENTO
do agenciamento e da
operação turística, do
guiamento do turista, da
promoção de eventos, dos
serviços de hospedagem e
de alimentação.
SF 1.1
Concepção,
viabilização
e organização
.
SF 1.2
Articulação e
coordenação de
programas,
roteiros e
itinerários
.
SF 1.3
Organização de
espaços físicos de
meios de
hospedagem e de
alimentação
2. PROMOÇÃO E
VENDA dos produtos e
serviços turísticos, de
eventos e dos serviços de
hospedagem e de
alimentação.
SF 2.1
Prospecção
mercadológica e
captação de
clientes.
SF 2.2
Comercialização
de produtos e
serviços.
SF 2.3
Acompanhamento
pós-execução.
3. GESTÃO do processo
de execução do
agenciamento e da
operação turística, do
guiamento do turista, da
promoção de eventos e dos
serviços de hospedagem e
de alimentação.
SF 3.1
Gerenciamento
econômico,
técnico e
administrativo
.
SF 3.2
Gerenciamento
do pessoal.
SF 3.3
Gestão dos meios
tecnológicos.
SF 3.4
Manutenção e/ou
readequação do
empreendimento
Quadro 3 – Processo de Produção
Fonte: MEC (2000a)
Embora sejam usadas matrizes de referência para balizar as competências necessárias
para os profissionais da área, a equipe que as elaboraram diz que elas servem de “fontes
inspiradoras de currículos modernos e flexíveis”, onde são suportadas por competências,
habilidades e bases tecnológicas.
Seguindo esta linha de raciocínio, os itinerários formativos e as competências para
cada qualificação ou habilitação, definidas pela escola, deverá ir em busca do que satisfaça
“às demandas pessoais, sociais e econômicas locais ou regionais”.
Assim, o profissional de nível técnico em Turismo e Hospitalidade, para
atender as exigências requeridas pelo mercado de trabalho, deverá no curso
de nível técnico:
¾ receber formação com a constituição de competências gerais e comuns
a toda a área, que lhe permita compreender e apreender seu processo de
produção e prestação de serviços, e ganhar flexibilidade e versatilidade
visando acompanhar suas transformações e as variações do mercado de
trabalho, bem como simplificando a volta a estudos para outras
qualificações, habilitações ou especializações nessa área profissional;
¾ receber formação que desenvolva competências específicas relativas
ao profissional definido pelo perfil de conclusão que atende às demandas
44
constatadas.
As competências profissionais gerais do técnico da área de Turismo e
Hospitalidade são:
¾ Conceber, organizar e viabilizar produtos e serviços turísticos e de
hospitalidade adequados aos interesses, hábitos, atitudes e expectativas da
clientela.
¾ Organizar eventos, programas, roteiros, itinerários turísticos,
atividades de lazer, articulando os meios para sua realização com prestadores
de serviços e provedores de infra-estrutura e apoio.
¾ Organizar espaços físicos de hospedagem e de alimentação, prevendo
seus ambientes, uso e articulação funcional e fluxos de trabalho e de pessoas.
¾ Operacionalizar política comercial, realizando prospecção
mercadológica, identificação e captação de clientes e adequação dos
produtos e serviços.
¾ Operar a comercialização de produtos e serviços turísticos e de
hospitalidade, com direcionamento de ações de venda para suas clientelas.
¾ Avaliar a qualidade dos produtos, serviços e atendimentos realizados.
¾ Executar atividades de gerenciamento econômico, técnico e
administrativo dos núcleos de trabalho, articulando os setores internos e
coordenando os recursos.
¾ Executar atividades de gerenciamento do pessoal envolvido na oferta
dos produtos e na prestação dos serviços.
¾ Executar atividades de gerenciamento dos recursos tecnológicos,
supervisionando a utilização de máquinas, equipamentos e meios
informatizados.
¾ Realizar a manutenção do empreendimento, dos produtos e dos
serviços adequando-os as variações da demanda.
¾ Comunicar-se efetivamente com o cliente, expressando-se em idioma
de comum entendimento (MEC, 2000a, p. 33-34).
O importante nesta configuração de cursos é que a instituição possa ter os meios para
conseguir ministrá-los com competência e, por isso se deve avaliar a capacidade institucional,
assim diz o MEC, na disposição de espaços, no investimento da aquisição, manutenção e
modernização de equipamentos. Outrossim, deverá ter os ambientes especializados, essenciais
aos exercícios das competências demandadas ao profissional da área, para que se estimule o
aluno ter ânimo e capricho no aprendizado. Os convênios e parcerias com empresas da área
podem facilitar a utilização destes equipamentos e ambientes.
A seguir são dadas sugestões de como se poderia montar um currículo modular para as
habilitações de Serviços de Turismo e de Serviços em Hospitalidade:
Módulo Introdutório
¾ Bases instrumentais (informática, comunicação, gestão).
¾ Panorama dos serviços e atividades do conjunto da área.
45
Módulos de Serviços de Turismo
¾ Operação e Agenciamento.
¾ Transporte de Turismo.
¾ Guiamento.
¾ Eventos.
¾ Planejamento e Organização de Agência/Evento.
¾ Marketing de Agência/Evento.
Módulos de Serviços de Hospitalidade
¾ Recepção.
¾ Governança
¾ Alimentos e Bebidas.
¾ Planejamento e Organização Hoteleira/de Restaurantes e Bares.
¾ Marketing Hoteleiro/de Restaurantes e Bares (MEC, 2000a p. 35-36).
É fundamental deixar claro que a carga horária mínima de cada habilitação da área é
de 800 horas, excluídas as horas de estágio, quando este for previsto pelo plano de curso. A
Tabela 4 reproduz as propostas de carga horária mínima por cada habitação de curso.
Tabela 1 – Áreas Profissionais e Cargas Horárias Mínimas
por Habilitação
ÁREA PROFISSIONAL
CARGA HORÁRIA
MÍNIMA DE CADA
HABILITAÇÃO
1. Agropecuária 1.200
2. Artes 800
3. Comércio 800
4. Comunicação 800
5. Construção Civil 1.200
6. Design 800
7. Geomática 1.000
8. Gestão 800
9. Imagem pessoal 800
10. Indústria 1.200
11. Informática 1.000
12. Lazer e desenvolvimento social 800
13. Meio ambiente 800
14. Mineração 1.200
15. Química 1.200
16. Recursos pesqueiros 1.000
17. Saúde 1.200
18. Telecomunicações 1.200
19. Transportes 800
20. Turismo e Hospitalidade 800
Fonte: MEC (2000a)
O governo brasileiro sabe da importância que a educação profissional exerce nos dias
atuais e o quanto o não tratamento disto pode prejudicar uma geração inteira e o país. Entende
46
também que esta matéria deve ser fruto de estudos conjuntos entre um grupo de
representantes de vários ministérios que lidam com a educação profissional. Além disso, o
governo tem estabelecido reuniões conjuntas com o Mercosul, a Comunidade Européia,
docentes e consultores educacionais americanos e demais países para a discussão da questão.
3.2 DA IMPORTÂNCIA DA VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE CULTURAL PARA A
EDUCAÇÃO E TURISMO, SEGUNDO A UNESCO E O PLANO NACIONAL DE
TURISMO
Em 28 de janeiro de 2004, a então Secretária de Educação do Município de Armação
dos Búzios, no Encontro Educação Municipal em foco, realizado na Universidade Estadual do
Rio de Janeiro – UERJ, salientou, segundo notícias da Undime-RJ, que a Secretaria vinha
atuando
junto à população que vive no município na baixa temporada e o papel dos
educadores na tarefa de trabalhar a identidade da comunidade local,
caracterizada por uma intensa diversidade cultural devido ao grande número
de estrangeiros residentes na região (UNDIME-RJ, 2004).
Esse trabalho, iniciado na gestão anterior e continuado na atual demonstra a atenção
que o município dá em relação a questão do convívio entre os brasileiros e estrangeiros que
vivem em seu território, mais particularmente à questão da identidade do seu povo, remontada
pela história do Município.
Para pontuar a diversidade cultural, torna-se necessário primeiro conceituar o que está
se chamando de cultura e, conseqüentemente, de diversidade cultural e mais, a diferença entre
identidade e diversidade cultural.
Sendo assim, segundo a Unesco,
a cultura deve ser considerada como o conjunto dos traços distintivos
espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma
sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os
modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as
tradições e as crenças (UNESCO, 2004).
47
Na atualidade, segundo a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (DUDC),
da Unesco, a cultura assume diversas formas ao longo do tempo e do espaço e isto faz com
que a sua diversidade tenha amplo espectro de manifestação, envolvendo intercâmbios,
inovações e criatividade, o que a caracterizaria como patrimônio comum da humanidade.
A diversidade cultural, segundo a Unesco, no artigo 2º da DUCD, deve conduzir ao
pluralismo cultural:
Em nossas sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável
garantir uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades
culturais a um só tempo plurais, variadas e dinâmicas, assim como sua
vontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclusão e a participação
de todos os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade
civil e a paz. Definido desta maneira, o pluralismo cultural constitui a
resposta política à realidade da diversidade cultural. Inseparável de um
contexto democrático, o pluralismo cultural é propício aos intercâmbios
culturais e ao desenvolvimento das capacidades criadoras que alimentam a
vida pública (UNESCO, 2004, p. 2).
Sendo assim, a diversidade cultural seria fator de desenvolvimento, não somente em
termos econômicos, mas como via de acesso “a uma existência intelectual, afetiva, moral e
espiritual” na medida que amplia as possibilidades de escolha ao ser humano e, como parte
integrante dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, “é um imperativo ético,
inseparável do respeito à dignidade humana.” (
UNESCO, 2004, p. 2)
Como fonte de criatividade, o patrimônio cultural - a expressão da diversidade,
constitui-se como um bem imaterial que:
deve ser preservado, valorizado e transmitido às gerações futuras como
testemunho da experiência e das aspirações humanas, a fim de nutrir a
criatividade em toda sua diversidade e estabelecer um verdadeiro diálogo
entre as culturas (UNESCO, 2004, p.3).
Para Eduardo Jardim (2004, p. 1)
... a noção de identidade contém um apelo universalista e igualitarista; a de
diversidade remete ao processo de individualização das culturas” e mais “a
articulação dos conceitos de identidade e diversidade cultural foi uma
preocupação constante na historia do pensamento social brasileiro.
48
A utilização dos conceitos da Unesco para tratar a cultura, a diversidade e diversidade
cultural, compreende como cultura: gestos, modo de vida, expressão individual (identidade) e
coletiva de uma determinada população (diversidade). Na diversidade interna, pequenos
gestos caracterizam uma determinada população. Existe a diversidade que faz parte da
interação de várias comunidades com identidades entre si, o que dá uma configuração mais
cosmopolita a este conjunto.
A diversidade cultural, quando identificada, mapeada e utilizada no convívio entre as
populações pode gerar maior interação entre as comunidades, auto-estima elevada ao
reconhecer as próprias raízes, além de:
auxiliar no fortalecimento do sentimento de pertinência, de participação
social, na ampliação dos laços comunitários e no estimulo à inserção do
sujeito em interrelações com diversas redes sociais e na elaboração,
ressignificação e criação de novas construções singulares e coletivas
(TATSCH, 2004, p. 14).
Há, entretanto, um natural atrelamento entre a expressão da diversidade cultural e a
política, uma vez que a política é que vai desnudar as diferenças, estabelecer conexões para
que elas se relacionem e dar a conhecer ao mundo as diferenças. Não basta que as diferenças
existam, é necessário que elas se dêem a conhecer, mostrem-se, ocupem o lugar ao qual tem
direito.
Em 28 de maio de 2003, Jorge Whertein, educador, Representante da Unesco no
Brasil, publicou no Correio Brasiliense uma matéria sobre a visão política da cultura em que
dizia:
No ‘Relatório da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento’,
promovido pela UNESCO, sai-se do campo de debate sobre o que é ou não
cultura, deixa-se de lado a questão de hierarquias na produção cultural, se
alta ou baixa cultura, e se ela seria um fim em si, separada da economia
política ou a essa subordinada. Nesse documento, divisor de águas, que se
tornou conhecido como Relatório Perez de Cuellar, publicado em 1999,
reflete-se sobre a diversidade de sentidos, a multiplicidade de formatações,
sendo a cultura debatida por possibilidades, isto é, como instrumental para o
desenvolvimento, a expressão de medos, fantasias, desejos, formas de ser e
sentir. Não se mesclaria, portanto, avaliações sobre produções culturais com
suas finalidades coletivas e sociais, mas se reconheceria sua potencialidade
para o reencantamento do mundo, a construção de uma cultura de paz, o
49
exercício da liberdade criativa em favor de coletividades, projetos de
civilização antagônicos a violências (WHERTEIN, 2004).
Assim, a diversidade participa do coletivo não pura e simplesmente como diferença,
mas como a diferença que se relaciona, que interage: que se mostra para que se dê a conhecer
e, no seu limite de espaço político, de identidade em um conjunto de diversidades. No caso do
Brasil, podemos, por exemplo, olhar os quilombolas ainda existentes e tribos que conservam
seus valores ancestrais, mas que estão dentro do contexto Brasil. Estas identidades fazem do
Brasil um país com diversidades culturais. Mesmo que diferentes, há um relacionamento de
pertença.
É neste contexto que o Plano Nacional de Turismo (PNT) propõe a aproximação da
diversidade cultural com o turismo: aproveitar suas raízes, a capacidade do povo alegre
brasileiro, cordial, para receber os que vêm de fora e para mostrar aos iguais, aos brasileiros, a
diversidade cultural dentro do país-continente.
A questão da diversidade cultural é tão fundamental no PNT que, no próprio discurso
do Presidente da República quando da apresentação do Plano consta:
O Brasil indubitavelmente é um lugar único pela sua riqueza natural,
cultural, econômica e histórica. Isto faz de nosso país um espaço
maravilhoso com inúmeros atrativos turísticos, tendo na diversidade nosso
instrumento principal de sua potencialização (BRASIL, 2004, p. 3).
Ainda mais adiante, na página seis do mesmo discurso de apresentação, afirma:
Estamos apresentando uma proposta de construção coletiva de um plano
com uma visão compartilhada. A perseverança na busca da unidade da nossa
diversidade será constante. Estamos convencidos de que essa atividade está
destinada a constituir-se em fator decisivo para ampliação de oportunidades
e para utilização sustentável de nossos recursos naturais e culturais,
proporcionando um desenvolvimento conseqüente e equilibrado em todo
território nacional (BRASIL, 2004, p. 3).
A diversidade cultural aparece em diferentes facetas no discurso do PNT. Uma delas é
quando o Ministro Mares Guia ao apregoar que o Plano, de construção de um conjunto de
profissionais afetos ao turismo, cuja consolidação se dará ao transcorrer dos anos,
50
deverá transformar-se em um agente da valorização e conservação do
patrimônio ambiental (cultural e natural), fortalecendo o princípio da
sustentabilidade.[...] atuará como mecanismo instigador de processos
criativos, resultando na geração de novos produtos turísticos apoiados na
regionalidade, genuinidade e identidade cultural do ovo brasileiro,
fortalecendo a auto-estima nacional e a de nossas comunidades (BRASIL,
2004, p. 9)
A estruturação do PNT está discriminada em cinco itens: apresentação; diagnóstico;
princípios orientadores para o desenvolvimento do turismo; visão; objetivos gerais e
específicos. Quando ao referido Plano explicita a visão categórica ao afirmar que:
O turismo no Brasil contemplará as diversidades regionais, configurando-se
pela geração de produtos marcados pela brasilidade, proporcionando a
expansão do mercado interno e a inserção efetiva do País no cenário turístico
mundial. A geração do emprego, ocupação e renda, a redução das
desigualdades sociais e regionais, e o equilíbrio do balanço de pagamentos
sinalizam o horizonte a ser alcançado pelas ações estratégicas indicadas
(BRASIL, 2004, p. 21).
Enfim, a diversidade cultural ocupa um lugar de destaque no PNT, aparecendo
novamente, e agora nos seus objetivos gerais, quando diz que, estruturalmente, o PNT deverá
“desenvolver o produto turístico brasileiro com qualidade, contemplando nossas diversidades
regionais, culturais e naturais.” (BRASIL, 2004, p. 22)
Para cumprir um papel primordial no aumento do número de turistas a visitarem o
Brasil, assim como sua fixação por mais tempo, auferindo maior renda para o sistema, o PNT
estipulou metas, desafios para incrementar o mercado internacional, estabelecendo estratégias
que possam ter continuidade. Dentre estas, está a de um país moderno, que oferece produtos
de qualidade, com credibilidade, tendo de “integrar a esta imagem a essência brasileira, sua
cultura, sua diversidade étnica, social e as diferentes regiões do País.” (BRASIL, 2004, p. 25)
Aumentar o tempo/dias de permanência dos turistas nos locais e o consumo médio por
cada indivíduo é uma das metas onde se pretende chegar. Para que isto se dê, o PNT estima
que algumas variáveis devem ser articuladas de maneira consistente, principalmente quando
se pensa no turista estrangeiro.
A mudança do foco da promoção, contemplando a diversidade cultural e
regional brasileira, o incremento à comercialização de novos produtos de
lazer, negócios, eventos e incentivos, vão proporcionar ao visitante
51
estrangeiro um leque ampliado de opções. O fortalecimento destes
segmentos cria as condições para o aumento de tempo de permanência do
turista no Brasil.(BRASIL, 2004, p. 27).
Além dos turistas estrangeiros, que trazem divisas para o país – entrada de moedas
estrangeiras – o Plano também tem como meta investir no aumento de turistas nacionais,
levando em consideração a alta do dólar nos últimos quatro anos, impulsionando a escolha
dos brasileiros por destinos domésticos. Para isto, destaca que haja “oferta de novos produtos,
contemplando nossa diversidade cultural e regional;” (BRASIL, 2004, p. 29), dentre outros.
No item da ampliação da oferta tustica brasileira, o PNT identifica que:
Os produtos atualmente ofertados não contemplam a pluralidade cultural e a
diversidade regional brasileira. Existe um potencial a ser revelado e
trabalhado no interior do país, e uma urgente necessidade de encontrar
alternativas de desenvolvimento local e regional (BRASIL, 2004, p. 31).
Percebe-se que, segundo as análises do PNT, explora-se muito mal a diversidade
cultural e regional brasileira, com poucas ofertas de produtos turísticos. A beleza natural é um
dado que, por si só atrai turistas, mas se tem algo a ser mostrado ao mundo e aos próprios
brasileiros que é a diversidade cultural, fruto da miscigenação, de toda a história que o país
vivenciou com os índios, africanos, portugueses, franceses, holandeses, italianos, alemães,
suíços, japoneses, enfim, cada lugar conta um modo de viver, às vezes ímpar, fruto de sua
identidade mais raiz, às vezes fruto do cosmopolitismo da interação de raças e credos, que faz
de cada parte do país, um Brasil diferente que além de mostrar-se ao mundo, precisa se
conhecer.
Para que a diversidade cultural e regional se transforme num produto, num atrativo
turístico sustentável, há de se ter:
o efetivo envolvimento dos governos estaduais, dos parceiros estratégicos,
do setor privado, dos municípios e da comunidade [...] Dessa forma cria-se o
ambiente para alcançar a qualidade, a diversidade e competitividade do
produto turístico brasileiro (BRASIL, 2004, p. 31).
A idéia é que cada Estado da Federação e o Distrito Federal desenvolvam três
produtos de qualidade, sustentáveis, tendo como norte a diversidade cultural e regional. No
52
total seriam 81 produtos a serem ofertados para aumentar o fluxo turístico tanto doméstico
quanto internacional, criando condições para o desenvolvimento socioeconômico das regiões.
Assim, foram estabelecidos macroprogramas que se configuram como
desdobramentos temáticos para que se atinjam as metas e os objetivos traçados para 2003-
2007. Dos macroprogramas fazem parte programas, projetos e ações. Ao todo são sete
macroprogramas:
¾ Gestão e relações institucionais;
¾ Fomento;
¾ Infra-estrutura;
¾ Estruturação e diversificação da oferta turística;
¾ Qualidade do produto turístico;
¾ Promoção e apoio à comercialização; e
¾ Informações turísticas
Destes, deter-se-á atenção àqueles que tocam diretamente na questão da diversidade
cultural como atrativo turístico.
O macroprograma 4, estruturação e diversificação da oferta turística se desdobra em
dois programas: o de roteiros integrados e o de segmentação. Com o objetivo de estruturar e
aumentar a oferta do produto turístico brasileiro, estes dois programas visam a colocar novos
produtos no mercado, principalmente àqueles que são compatíveis com a diversidade cultural
e possam contemplar as diferentes regiões brasileiras. Para que isto aconteça o Plano apregoa
que deve haver “a participação dos governos estaduais e de parceiros estratégicos do setor
privado” para que haja planejamento consistente e se possa estruturar “Roteiros Turísticos
Integrados que serão constituídos pelos municípios organizados em consórcios.” (BRASIL,
2004, p. 37)
Ainda no macroprograma 4 é frisado que é necessário que se atenda “às demandas
específicas do mercado, maximizando o aproveitamento das potencialidades e as diferenças
de cada região brasileira.” (BRASIL, 2004, p. 38)
O macroprograma cinco: qualidade do produto turístico se divide em 2 programas, o
de normatização da atividade turística e o de qualificação profissional. No quesito das
53
aptidões necessárias para que se tenha vantagem competitiva aos receber os turistas, há de se
fazer um esforço para que não haja tanta rotatividade nos postos de trabalho, além de investir
na qualificação para que se estabeleça uma dinâmica social e cultural do destino turístico que
dê conta de suas diferenciações regionais. O PNT ainda diz que se deve dar atenção particular
“as instituições educativas, porque sobre elas recai o enorme compromisso de formar
profissionais em todos os níveis para o setor.” (BRASIL, 2004, p. 40).
O macroprograma seis, promoção e apoio à comercialização divide-se em três
programas:
¾ Programa de promoção nacional e internacional do turismo brasileiro;
¾ Programa de reposicionamento da imagem Brasil;
¾ Programa de apoio à comercialização.
Nestes programas aparecem mais claramente o que a diversidade cultural e regional
significam para o turismo. A imagem do Brasil, principalmente para o exterior, dar-se-á
segundo o PNT, de maneira a reforçar a “diversificação de imagem do país” (BRASIL, 2004,
p. 42)
As ações de promoção e marketing irão orientar a construção do Brasil como
destino turístico de um país moderno, com credibilidade, alegre, jovem,
hospitaleiro, capaz de proporcionar lazer de qualidade, novas experiências
aos visitantes, realizar negócios, eventos e incentivos e ser competitivo
internacionalmente. Os programas de promoção e marketing terão como
essência a qualidade e a diversidade da produção cultural brasileira, além de
nossa diversidade étnica, social e natural (BRASIL, 2004, p. 42).
Se no mercado externo, o Brasil posicionará sua marca divulgando suas riquezas
naturais e culturais, no mercado interno, o turismo poderá proporcionar experiências em que a
população se conheça, viajando de uma região a outra, percebendo suas diferenças e
identidades enfim, a diversidade em que é formado o povo brasileiro.
3.3. O BRASIL E A DIVERSIDADE CULTURAL: O PROJETO DA CULTURA
O Brasil é um país conhecido um patrimônio se coloca hoje como um dos países que
54
pode explorar, com sustentabilidade, suas riquezas, seu patrimônio intangível, imaterial.
Para compreender a questão da diversidade cultural brasileira, primeiramente é
fundamental a definição de patrimônio para que se possa olhar a herança, as raízes e a
interação cultural que vive o Brasil. Adota-se, para efeitos deste trabalho a definição da
UNESCO tal qual escrita no livro do embaixador João Batista Lanari Bo (2003):
A noção de patrimônio [ ] é ampla: inclui monumentos históricos, conjuntos
urbanos, locais sagrados, obras-de-arte, parques naturais, paisagens
modificadas pelo homem, ecossistemas e diversidade biológica, tesouros
subaquáticos, objetos pré-históricos, peças arquitetônicas e tradições orais e
imateriais da cultura popular (p. 17).
Neste trabalho, a atenção recai sobre o que o patrimônio imaterial traz via as tradições
orais, a cultura popular. Aquela maneira de expressão que não está presa no tempo, mas é
tradição e que, mesmo que pareça contradição, pode incorporar para si, o novo que chega,
pode-se transmudar. Isto faz parte de um conjunto simbólico em que se distingue um local,
uma comunidade, uma nação.
As discussões, nas obras brasileiras, sobre a questão do patrimônio são expressivas e
se opta, em muitos casos, por métodos calcados “na psicanálise e na filosofia da linguagem
para situar o conceito de identidade nacional.” (BO, 2003, p. 27)
Além dos autores nacionais que discutem a importância da identidade, do patrimônio
cultural do povo brasileiro, ao longo dos anos do século XX, o Brasil adotou um conjunto de
Leis e Decretos com a determinação da preservação deste patrimônio.
Podemos citar, dentre as ações, antes do meados do século, a criação Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1937, cujo anteprojeto foi de autoria de
Mário de Andrade e contou com a participação de autores como: Rodrigo Melo Franco de
Andrade, Manuel Bandeira, Afonso Arinos, Lúcio Costa e Carlos Drummond de Andrade
(BRASIL, MinC, 2005).
O Iphan tem, sob sua responsabilidade, diversos tipos de proteção e preservação do
patrimônio cultural como, por exemplo: tombamento de edifícios, centros e conjuntos
urbanos, cadastramento de sítios arqueológicos e de objetos, incluindo os de acervo
55
museológico, livros, documentação arquivística, registros fotográficos, cinematográficos e
videográficos (BRASIL, MinC, 2005).
Apesar do alargado conjunto de acervos sob sua proteção, há uma prioridade visível na
recuperação e preservação do patrimônio edificado e dos conjuntos urbanísticos, sendo hoje
dezenove deles tombados pela Unesco, como patrimônio mundial (BRASIL, MinC, 2005).
Na própria Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, há uma seção
específica sobre a cultura, os direitos ao acesso, sua valorização e difusão:
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a
difusão das manifestações culturais.
§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas
e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo
civilizatório nacional.
§ 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta
significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais (BRASIL,
2005).
Para esclarecer o que se constitui patrimônio cultural, ainda na seção supracitada, a
Constituição estabelece:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I – as formas de expressão;
II – os modos de criar, fazer e viver;
III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais;
V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 2005).
Ainda no artigo 216 da Constituição Federal do parágrafo 1º ao 5º, ficam enunciados
como o poder público e a comunidade protegerão o patrimônio cultural brasileiro. Cabe à
administração pública a criação de leis para gestão dos bens culturais, incentivos para sua
produção e conhecimento. Bem assim são também previstas punições a quem ameace o
patrimônio cultural:
56
§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e
protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros,
vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de
acautelamento e preservação.
§ 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da
documentação governamental e as providências para franquear sua consulta
a quantos dela necessitem.
§ 3º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de
bens e valores culturais.
§ 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da
lei.
§ 5º - Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de
reminiscências históricas dos antigos quilombos (BRASIL, 2005).
No parágrafo sexto do mencionado artigo, permite, a Constituição, que os Estados e o
Distrito Federal proporcionem à cultura parte de sua receita para financiamentos a projetos
culturais:
§ 6º - É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular o fundo estadual
de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária
líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a
aplicação desses recursos no pagamento de:
I – despesas com pessoal e encargos sociais
II – serviço de dívida
III – qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos
investimentos ou ações apoiados (BRASIL, 2005).
Apesar das previsões de investimentos, a cultura, no Brasil, não é tratada
constantemente como um item de grande importância para o desenvolvimento do país. As
principais exigências recaem sobre saúde e educação. Entretanto, ao se reduzir a cultura
àquela das elites, a Cultura, perde em diversidade e beleza, presentes nas demais formas de
expressão. É a cultura que dá a identidade, que exterioriza a maneira de ver e sentir de uma
comunidade, mesmo que esta seja pequena.
Segundo Joana Fialho Magalhães (2003), quando trata, em sua monografia, da gestão
e políticas culturais do Brasil:
A cultura brasileira é apreciada internacionalmente por sua diversidade e
beleza. A forma de ser brasileira se exprime no mundo com sua
originalidade, seja através da música, da culinária, do futebol, da literatura,
do cinema, da arte popular, da dança, da capoeira. De fato, a cultura sempre
representou a principal imagem do Brasil no exterior e consolidou, em cada
esquina do seu interior, o sentimento de pertencimento a este país. A própria
formação multicultural da sociedade brasileira e a sua `miscigenação´ de
crenças, ritos e tradições despertam o interesse do mundo em conhecer essa
57
dinâmica de glocalização cultural nesse vasto país (2003, p. 84).
A autora nesse trecho se remete a um dos discursos feitos pelo Ministro da Cultura na
Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados, em que diz que “a
cultura tem de ser vista também em sua dimensão econômica, em sua capacidade de atrair
divisas para o país – e de, aqui dentro, gerar emprego e renda.” (MAGALHÃES, 2003, p. 90).
Esta visão assim colocada revela que é possível aproveitar o potencial da diversidade
cultural brasileira para a geração de ocupação, trabalho, emprego e renda. Em particular,
quando voltado para o turismo.
A importância da diversidade cultural para as questões socioeconômicas e de
valorização da cultura popular brasileira fez com que, em 2004, fosse criada, pelo então
Ministério da Cultura uma secretaria especial – a Secretaria da Identidade e da Diversidade
Cultural - SID, cujas atribuições são:
Art. 11. À Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural compete:
I - promover e apoiar as atividades de incentivo à diversidade e ao
intercâmbio cultural como meios de promoção da cidadania, a cargo do
Ministério;
II - acompanhar, em conjunto com a Secretaria de Articulação Institucional
da Cultura, a implementação dos fóruns de política cultural, responsáveis
pela articulação entre o Ministério e a comunidade cultural; e
III - subsidiar a Secretaria de Políticas Culturais no processo de formulação
das políticas públicas da área cultural relacionadas com a promoção da
diversidade e do intercâmbio cultural e a proteção dos direitos autorais
(BRASIL, MinC, 2005).
Segundo o documento “Fomento à identidade e à diversidade cultural no contexto
brasileiro”, redigido por Álvaro Pontes de Magalhães Júnior, fruto de debates com a equipe
técnica da SID.
As sociedades ocidentais em geral e o Brasil em particular passam por
transformações desde o final do século XX, colocando em crise as noções
modernas de Cultura e Identidade Cultural, bem como à construção moderna
de identidade cultural brasileira. A essas modificações ocorridas na dinâmica
social devem corresponder um aperfeiçoamento das instituições responsáveis
pelas políticas públicas culturais e nas formas de apoio e à diversidade
cultural brasileira (BRASIL, MinC, 2005)
58
A esta visão se junta uma outra que vê a cultura como fator de transformação
qualitativa para o turismo e que as mudanças culturais que estão acontecendo no planeta faz
surgir:
uma nova consciência ambiental, busca de estilos de vida mais saudáveis,
tentativa de retorno as ‘raízes’ e busca das identidades locais, revalorização
dos ambientes rurais, valorização de singularidades culturais, aceitação e
valorização da diferença (ALVES, 2004, p. 2 e 3).
Para Heberton Alves (2004), entretanto, há uma sobrevalorização da natureza e da
diferença, que indica que alguns valores estão sendo privilegiados e entrelaçados e que esses
valores são oferecidos como:
uma compensação para os efeitos maléficos da sociedade urbano-industrial –
entre esses efeitos destaca-se o estresse. Nessa perspectiva o turismo
funcionaria como uma forma de recompor o indivíduo para o universo do
trabalho (ALVES, 2004, p. 10).
Mesmo assim, Alves (2004) demonstra que, se o indivíduo de nossa época valoriza a
diferença e faz movimentos na procura e aceitação da diversidade, o valor “cultura” poderá:
ser uma forma de tornar um lugar mais atraente para os turistas, mas acima
de tudo, uma forma desse lugar se tornar mas atraente para a própria
comunidade local e assim aumentar sua auto-estima, reforçar seus laços de
solidariedade e seu sentimento de pertença. Dessa forma valorizar a cultura
é uma maneira de melhorar a qualidade de vida e motivar as pessoas de um
local na busca de seu próprio desenvolvimento (p. 13).
A cultura exerce influência no modo como a sociedade vive: seus atos, gestos,
identidades nas relações sociais e econômicas, uma abundância de significados como
resultado da convivência entre seus iguais ou diferentes. Essas ligações, longe de estarem no
imaginário, fazem parte do dia-a-dia concretamente, influenciando, dentre outros, nas
atividades econômicas.
Esta ação que a cultura exerce sobre a economia é tão marcante que, recentemente,
Ministro Gilberto Gil, no encerramento do primeiro dia de debates do XXV Seminário
Nacional da Propriedade Intelectual, afirmou:
A cultura, e as atividades econômicas relacionadas a ela, impactam
diretamente o desenvolvimento do país e seu crescimento econômico,
59
gerando emprego e renda, qualificando o capital humano, acelerando e
multiplicando os processos de inovação e aumentando o grau de coesão
social e de cidadania.
A cultura responde por cerca de 5% dos empregos do Brasil, e por algo entre
5% e 7% do PIB. No mundo inteiro, é o setor que mais cresce, e o que mais
e melhor emprega, proporcionalmente.
Mais do que isso, a cultura qualifica o processo de desenvolvimento, fazendo
com que ele seja efetivamente sustentável, e constitui ainda a finalidade
última deste processo, já que diz respeito diretamente à qualidade de vida
dos indivíduos (BRASIL, MinC, 2005).
Embora o Ministro esteja falando de cultura, de uma maneira geral, sabe-se que o que
diferencia o Brasil em relação aos vizinhos limítrofes é a riqueza, a abundância, a diversidade
cultural. Pode-se observar isto com a festa de Parintins, na Amazônia, a cavalhada, em
Pirenópolis - Goiás, o São João em diversos estados do nordeste, o carnaval, no Rio de
Janeiro, a Festa da Uva, em Caxias do Sul, dentre as inúmeras outras manifestações culturais
já existentes no Brasil, aqui não citadas.
A grande maioria destas manifestações ainda não foram identificadas e,
conseqüentemente, ainda não incorporadas ao portfólio de atrações turísticas. Com isto, pode-
se considerar o enorme trabalho que se deverá ter pela frente para que seja feito o
mapeamento das expressões culturais no Brasil.
3.4 DA DOCUMENTAÇÃO UTILIZADA
3.4.1 Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos Búzios: perfil do
Município
Por intermédio da página do Governo Municipal de Armação dos Búzios
(PREFEITURA, 2004), realizou-se um levantamento dos assuntos mais tratados naquele
momento em relação à gestão municipal e ao turismo propriamente dito. Verificou-se que a
Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro – FGV/RJ estava coordenando um projeto em que
se discutia o Plano Diretor da Cidade e, em abril de 2004, foi baixada a versão de junho de
2003. Sendo este o documento que embasou os primeiros rascunhos do que se queria
60
apreender da Cidade e definir as estratégias para desenvolver a pesquisa do como, onde e
quem entrevistar.
O Plano Diretor está dividido em dois capítulos básicos:
1 – O desenvolvimento do Município, onde se encontra seus aspectos históricos,
localização, aspectos geo-ambientais, estrutura e dinâmica populacional, aspectos
fundiários, espaço urbano e aspectos culturais; e
2 – Análise externa e interna, em que se examina a inserção regional do Município, a
exploração petrolífera na Bacia de Campos, oferta e demanda do atual município,
dinâmica econômica, potencialidade turística, promoção social, segurança pública e
justiça, gestão municipal, legislação municipal, terceiro setor e pontos fracos e fortes –
oportunidades e riscos.
Do Plano Diretor foram retiradas as informações sobre o sistema escolar, as
associações de moradores, de profissionais e civis. Esta primeira coleta de informações
mostrou, das associações, quais as mais relevantes para entrevistar seus membros. Em Búzios,
são mais de sessenta organizações voltadas para os mais diversos interesses
dos distintos segmentos da sociedade, desde associações de moradores nas
diferentes localidades, a associação de classe, de produtores, de mulheres, de
artesãos, de diferentes categorias profissionais, de empresários de diversos
setores, de seitas religiosas, entre outras (PREFEITURA, 2003).
O Plano Diretor tem sido revisto por uma equipe interna da Prefeitura, nomeada pelo
Prefeito. Ainda não aprovado pela Câmara Municipal, o Plano Diretor, segundo Flavia Rosas,
teve seu projeto
executado no governo anterior pelos técnicos da FGV durante dois anos, 52 reuniões
setoriais e quatro consultas públicas. Nos sete primeiros meses do governo Toninho
Branco [atual prefeito], acompanhando o projeto original, a equipe comandada por
Marlene Ettrich e supervisionada por Alberto Bloch, Humberto Alves e Miriam
Danowski, repensou o Plano
(PERÚ MOLHADO, 2005)
61
3.4.2 Projeto de Lei Complementar - Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de
Armação dos Búzios
O Projeto de Lei Complementar – Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de
Armação dos Búzios, datado de junho 2004, é o produto da pesquisa do Perfil do Município,
mais o conjunto de reuniões setoriais e consultas públicas. Enviado à Câmara de Vereadores
pelo prefeito Delmires Braga ao se aproximar o término de seu mandato, está dividido em sete
capítulos:
¾ I – Da Política Municipal de Desenvolvimento Sustentável;
¾ II – Da Política Municipal de Desenvolvimento Urbano;
¾ III – Das Estratégias de Desenvolvimento Municipal
¾ IV – Do Ordenamento Territorial;
¾ V – Do Planejamento Municipal;
¾ VI – Da Participação Popular; e
¾ VII – Das Disposições Finais e Transitórias
Do Projeto de Lei atentou-se nas passagens que enfatizam as questões sobre identidade
e diversidade cultural e o que a cultura pode trazer para o desenvolvimento sustentável para o
Município e, conseqüentemente, para o turismo.
3.4.3 Projeto de Lei Complementar: Uso e Ocupação do Solo de Armação dos Búzios
(versão junho 2004)
Este Projeto de Lei, também enviado à Câmara no governo municipal anterior, no final
de seu mandato, é fruto de muitas discordâncias no que diz respeito às zonas de proteção
ambiental e ocupação do solo. Está dividido em seis capítulos:
¾ I – Das Disposições Preliminares;
¾ II – Do Macrozoneamento;
¾ III – Das Zonas de Uso e Ocupação do Solo;
¾ IV – Do Uso e da Ocupação do Solo;
¾ V – Dos Bens Culturais;
¾ VI – Das disposições Finais e Transitórias.
62
Deste Projeto de Lei dirigiu-se a atenção sobre os quinze itens arrolados como bens
culturais. Estes são apenas os do patrimônio edificado: do patrimônio material, enquanto
construção e do imaterial quanto aos estilos.
3.4.4 Plano Nacional de Turismo
O Plano Nacional de Turismo – Diretrizes, Metas e Programas (2003/2007),
apresentado pelo Presidente da República, em 29 de abril de 2003, constitui-se num
documento central deste trabalho.
É a discussão de seu conteúdo e o paralelo que estará fazendo com as atividades
desenvolvidas pelo Tectur/Cejob, principalmente no que tange ao Macroprograma 4:
Estruturação e Diversificação da Oferta Turística que verificará a hipótese de que o Cejob
vem respondendo as diretrizes do PNT por meio de suas diretrizes pedagógicas implantadas
em 2001 e revistas em 2004.
No Macroprograma 4, o PNT alerta para que se viabilizem programas de roteiros
integrados e programas de segmentação do turismo. Para que estes dois programas se dêem,
se faz necessário que haja uma mudança na oferta dos produtos, privilegiando, por exemplo,
um maior tempo de estada dos turistas, assim como uma diversidade de programas e uma
união, em consórcios regionais, para que se possa pensar em roteiros integrados. Sendo assim,
o PNT considera que:
a oferta do produto turístico brasileiro tem se caracterizado pela pouca
diversidade. Muito do que se tem hoje colocado para comercialização é
dentro de um número restrito de segmentos e em algumas regiões brasileiras.
(...) Estruturar e aumentar esta oferta, colocando no mercado novos produtos
de qualidade, compatíveis com a diversidade cultural e contemplando as
diferentes regiões brasileiras se constitui um grande desafio (PLANO, 2003,
p. 37).
Para que os roteiros integrados consigam ser estruturados e consistentes, há
necessidade de participação do poder público e da iniciativa privada. Alianças estratégicas tais
que se possam realizar ações suficientes para organizar, dar suporte e qualificar os roteiros
turísticos integrados. Ainda segundo o PNT:
63
o fortalecimento dos segmentos turísticos dar-se-á a partir da normatização e
ordenamento destas praticas [acima], objetivando torná-las competitivas no
mercado internacional, principalmente no que tange aos aspectos de
qualidade e segurança (PLANO, 2003, p. 37).
Argumentando que a interação dos segmentos especificados acima visa a considerar as
demandas de mercado, o PNT diz que esta maneira de organização deverá elevar ao máximo
o “aproveitamento das potencialidades e as diferenças de cada região brasileira.” (PLANO,
2003
, p. 38)
Assim sendo, são cinco os objetivos do macroprograma 4:
¾ Aumentar o número de produtos turísticos de qualidade colocados
para comercialização;
¾ diversificar os produtos turísticos contemplando nossa pluralidade
cultural e diferença regional;
¾ diminuir as desigualdades regionais, estruturando produtos em todos
os estados brasileiros e Distrito Federal;
¾ aumentar o fluxo de turistas nacional e internacional;
¾ aumentar o tempo de permanência do turista internacional com um
leque maior de serviços ofertados (PLANO, 2003, p. 38).
A partir do que foi desenhado no macroprograma 4 do PNT, pode-se voltar a atenção
para o Tectur/Cejob e ver se a prática pedagógica implementada pelo Colégio faz com que
seus alunos se transformem em agentes de valorização e conservação do patrimônio ambiental
– cultural e natural. Esta visão foi essencial para a elaboração da entrevista semi-estruturada, a
qual consta da metodologia, no próximo capítulo.
3.4.5 O que os Parlamentares e as Autoridades de Governo devem saber sobre o
Turismo
Este documento, em sua 6ª versão, expressa o que a Associação Brasileira de Agências
de Viagens (ABAV), criada há mais de 51 anos, vinha ao longo do tempo, discutindo com os
setores da área de turismo e, naquele momento, com os parlamentares brasileiros.
64
A importância deste documento, de apenas 15 páginas, na escolha do tema está nas
análises que a categoria faz em relação aos fluxos turísticos e seus impactos, ao Plano
Nacional de Turismo, aos cenários onde o Brasil se inclui, no que tange ao recebimento de
turistas, a questão do fomento e financiamento, a avaliação dos turistas estrangeiros em
relação ao Brasil, dentre outros.
Ao final da exposição, lista 9 itens importantes para o setor: 1) regulamentação; 2)
incidência de impostos no setor receptivo internacional; 3) setor de receptivo doméstico; 4)
reconhecimento; 5) setor emissivo; 6) distribuição/produção; 7) capacitação/certificação; 8)
cidadania; e 9) turismo contra o terrorismo -, afirmando que a contribuição parlamentar é
fundamental para o desenvolvimento do turismo.
3.4.6 Relatório de Atividades do Ministério do Turismo
Este Relatório, datado de agosto de 2003, é um relatório de acompanhamento das
atividades no primeiro trimestre de 2003, destacando as atuações do Ministério do Turismo
(Mtur), no que concerne aos sete macroprogramas do PNT. É importante enfatizar que as
ações do PNT foram utilizadas como base para o planejamento do Plano Plurianual (PPA)
2004-2007.
Dentre as ações destacadas, interessam a este trabalho:
¾ A da instalação do Fórum Estadual de Turismo do Rio de Janeiro em 26 de
junho de 2003;
¾ A da instalação da Subcomissão Temporária de Turismo no Senado Federal;
¾ A da criação da Comissão de Turismo e Desporto na Câmara Federal;
¾ A do Primeiro Encontro Nacional de Coordenadores e Docentes dos Cursos
Superiores de Turismo e Hotelaria de 24 a 27 de agosto de 2003;
¾ A da adequação das ações do PNT ao PPA 2004-2007 e ao Orçamento de
2004;
¾ A de realizações de estudos para avaliação e monitoramento do PNT pelo
IPEA e a UnB.
65
Três outras ações interessam porque há uma interface com a cultura que são as da:
articulação dos segmentos de mercado para apoio à comercialização (Jóias,
queijo, cachaça, mel, artesanato, flores e frutas); continuidade na
implementação do Projeto Jovens Embaixadores, que tem como objetivo
fornecer material promocional aos jovens que realizam viagens de
intercâmbio ao exterior; [e] a articulação com o Ministério da Educação para
a construção de tecnologia e material didático de capacitação de mão de obra
e elaboração de convênio para a construção do programa que possibilite aos
professores praticarem o turismo cultural (BRASIL, Mtur, 2003).
3.4.7 Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro
O Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Plantur) foi iniciado em
maio de 1998, sob a coordenação da Secretaria de Estado de Planejamento, Desenvolvimento
Econômico e Turismo (Sepdet) e da Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro
(TurisRio), mas tomou força quando criou o Grupo Técnico de Acompanhamento do Plano
Diretor (GTA), em outubro de 2000.
Organizado em dois volumes, o Plantur está dividido, basicamente, em dois conteúdos
básicos:
¾ Diagnóstico, e
¾ Proposições
O Plantur é um plano detalhado, que faz uma radiografia da oferta turística do Estado
do Rio de Janeiro (diagnóstico) e propõe, minuciosamente, um rol de soluções para as regiões
do Estado. Cumprindo um preceito da Constituição Estadual que
em seu artigo 227, determina como uma das funções do Estado ‘a promoção
e o incentivo ao turismo como fator de desenvolvimento econômico e social,
bem como de divulgação, valorização e preservação do patrimônio cultural e
natural, cuidando para que sejam respeitadas as peculiaridades locais, não
permitindo efeitos desagregadores sobre a vida das comunidades envolvidas,
assegurando sempre o respeito ao meio ambiente e à cultura das localidades
onde vier a ser explorado (GOVERNO, 2001, p. 2).
Este plano considera que, para sua instituição e execução, exige-se que se ponha em
prática recursos que o complementem, tais como:
66
¾ Cooperação técnica para elaboração e implementação, no âmbito do
Estado, de planos regionais integrados de desenvolvimento turístico;
¾ Sistematização das informações e estabelecimento de uma rede
estadual de operações turísticas;
¾ Incentivo à formação de agentes e fortalecimento de consórcios
turísticos intermunicipais;
¾ Estruturação e apoio ao desenvolvimento turístico dos municípios e
elaboração dos planos municipais de turismo. (GOVERNO, 2001, p. 6)
O Plantur faz um levantamento dos atrativos turísticos do Estado, classificando-os e
quantificando-os, utilizando a sistematização proposta pela Embratur, porém adequando-a aos
objetivos do seu intento.
A classificação dos atrativos se divide em:
¾ Atrativos naturais;
¾ Atrativos Histórico-culturais;
¾ Manifestações e Usos Tradicionais e populares;
¾ Realizações Técnicas e Científicas Contemporâneas;
¾ Eventos/Acontecimentos Programados
No segundo volume, o das proposições, o Plano de Turismo, considera importante,
dentre outras ações, que deva:
ser realizado um trabalho junto à Secretaria Estadual de Educação para a
definição de um programa de conscientização para o turismo e a preservação
dos recursos naturais e culturais, bem como para o fortalecimento da
formação de segundo grau técnico. A EMBRATUR possui um programa
pronto de conscientização para a 6ª série do primeiro grau que poderia ser
uma referência para esse trabalho (GOVERNO, v. 2, 2001, p.8)
Além disso, deve, na área de formação, implementar ensino tecnológico em turismo e
hotelaria, com exclusividade para a área, como “Escolas de Hotelaria e Turismo”. Propõe,
inclusive, que este projeto de formação deva integrar o Programa de Expansão da Educação
Profissional do MEC, “devendo desenvolver programas articulados com a Fundação de
Amparo ao Ensino Técnico (Faetec), que já atua nesta área.” (GOVERNO, v. 2, 2001, p. 57) .
Quanto à valorização das ambiências e lugares turísticos, o Plano propõe, entre outros:
67
¾ Desenvolver os eventos gastronômicos já experimentados e,
sobretudo, implementar novos eventos deste tipo, no sentido de proporcionar
uma melhor incorporação da gastronomia típica à rede de restaurantes
existentes;
¾ Promover a instalação de espaços de exposição permanente e mesmo
de produção/venda de artesanato ou de produtos tradicionais junto aos postos
de informação turística;
¾ Desenvolver uma relação de aproximação entre o turismo e as
diversas tradições culturais do Estado do Rio de Janeiro, particularmente
com relação ao folclore e às manifestações populares, através da realização
de espetáculos e eventos que incorporem a promoção destes recursos
(GOVERNO, v. 2, 2001, p. 65 e 66).
3.4.8 Programa SEBRAE de Turismo
Documento datado de 26 de junho de 2003 está dividido em dez itens:
¾ O Contexto Turístico no Brasil;
¾ O Papel do Sebrae no Turismo;
¾ A Nova Gestão Nacional do Setor e o Novo Conceito do Programa Sebrae de
Turismo;
¾ Integração das Ações do Sebrae aos macroprogramas do Plano Nacional do
Turismo;
¾ Eixos de Atuação do Programa Sebrae de Turismo;
¾ Estruturação Orgânica do Programa Sebrae de Turismo;
¾ Segmentos a serem Priorizados;
¾ Métodos para Formulação e Apresentação de Projetos;
¾ Articulação e Parcerias;
¾ Marketing e Comunicação.
O Programa Sebrae se inclui neste trabalho, pelas ações que pratica Brasil afora e pela
atuação que desenvolve em Búzios e arredores, de maneira integrada à iniciativa privada. Para
o Sebrae, é fundamental: “Preparar e integrar as micro e pequenas empresas em toda a cadeia
produtiva do turismo no processo de produção de riqueza, de geração de trabalho e de
valorização econômica dos patrimônios natural e cultural brasileiros” (SEBRAE, 2003, p. 5).
68
Entretanto, um dos limites de sua atuação es em ter como princípio agir em primazia
dos feitos coletivos, convergindo para os “arranjos produtivos locais, por meio de soluções
integradas”, considerando que:
o setor de turismo engloba atividades que têm forte vinculação com a
dimensão cultural, com o patrimônio natural, incluindo bens públicos
materiais e imateriais, além de estar fortemente vinculado aos valores e
elementos que representam a identidade de uma região ou localidade
(SEBRAE, 2003, p. 5).
E ainda diz o Sebrae:
Tanto os elementos da gastronomia, da hospitalidade, do artesanato, das
festas populares, quanto as demais expressões da identidade cultural local
devem ser fortemente valorizados numa estratégia de consolidação dos
destinos turísticos dentro dos arranjos produtivos locais [fazendo com que] a
identidade nacional seja agregadora de valor aos seus produtos e serviços
(SEBRAE, 2003, p. 5).
Na questão da estruturação e diversificação da oferta turística, o Sebrae afirma que o
turismo no Brasil ainda é concentrado em sol e praia, embora haja algumas exceções, como
são os casos de turismo de eventos, negócios e natureza. O lado positivo disto é que há áreas
em que ainda se pode trabalhar, desenvolvendo produtos turísticos ou melhorando-os e, com
isto, criando empregos e renda.
Para tanto, deverá haver gestão do conhecimento e das informações de maneira a
acompanhar e avaliar os impactos que trazem o turismo, no que diz respeito ao meio ambiente
e às mudanças socioculturais.
3.4.9 Educação Profissional: Referenciais Curriculares Nacionais da Educação
Profissional de Nível Técnico
Os dois documentos utilizados sobre os referenciais curriculares foram:
a) Educação Profissional – Introdução;
b) Educação Profissional – Área de Turismo e Hospitalidade;
69
O primeiro documento versa sobre os novos paradigmas que permeiam a Educação,
ressaltando o conceito de competência e reposicionamento do currículo; planejamento e
construção da autonomia escolar; referenciais curriculares e abordagem metodológica para o
desenvolvimento de competências. Traz ainda os textos legais e normativos como a
Constituição Federal e a Lei Federal nº 9.394/96 (LDB), entre outros. Faz um histórico sobre
a Educação e o Trabalho; a trajetória histórica da Educação Profissional no Brasil; a Educação
Profissional na LDB; a Educação Profissional de Nível Técnico; os princípios da Educação
Profissional e a organização da Educação Profissional de nível técnico, além de quadros e
Resoluções tanto do Conselho Nacional de Educação (CNE), quanto da Câmara de Educação
Básica do CNE.
O segundo documento, específico para a área profissional de Turismo e Hospitalidade
faz uma apresentação da área; discorre sobre a sua delimitação e interfaces; apresenta os
cenários, tendências e desafios que enfrentam o Turismo e Hospitalidade. Faz, ainda, um
histórico sobre o panorama da oferta de Educação Profissional, além de instruir como é o
processo de produção na área, exemplificando com suas matrizes de referência. Por fim, dá
indicações para itinerários formativos em Turismo e Hospitalidade.
70
4 METODOLOGIA
4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este capítulo se propõe a relatar os instrumentos utilizados para a coleta das
informações levantadas entre alunos e professores do Tectur/Cejob e de moradores de
Armação dos Búzios e regiões circunvizinhas, de diversas profissões e expressões sociais.
Além disso, encontram-se aqui os procedimentos e escolhas adotadas em relação à
metodologia e recursos para síntese e melhor compreensão da pesquisa.
A medida inicial foi o estabelecimento dos parâmetros norteadores da dissertação
quanto à questão geográfica: o estudo abrange o município de Armação dos Búzios,
localizado no Estado do Rio de Janeiro e, em particular o Curso Técnico de Turismo do
Colégio Estadual João de Oliveira Botas (Tectur/Cejob), situado neste município.
É importante também, que se faça distinção ao termo “buziano” adotado neste
trabalho. Segundo a língua culta, aquele que “nasceu em” ou “guarda relação com” Búzios é
buziense, uma vez que o sufixo ense significa “procedência, relação, origem” (FERREIRA,
2004). A população da cidade, entretanto, se autodenomina de “buziana”. Fala-se em cultura
buziana, arquitetura buziana, artesanato buziano, modo de viver buziano, entre outros.
Devido à ênfase dada ao termo “buziano” e “buziana”, pela população que lá nasceu e
por aqueles que lá moram, enfim, que escolheram a cidade para viver, por respeito à
autodenominação, conservar-se-á o termo “buziano” para distinguir aquilo que é ou aqueles
que são de Búzios, sejam os de procedência ou os de lá estrangeiros que vieram para ficar.
Pretendeu-se desenvolver uma pesquisa explanatória/exploratória sobre o tema, com a
finalidade de estabelecer parâmetros para um futuro aprofundamento e esta investigação.
Presume-se que ao se olhar um conjunto de cidades, que forma uma região, possa-se
oferecer a exame e dar, conseqüentemente, soluções mais abrangentes e eficazes no seu todo.
Na parte da questão do planejamento ambiental há uma tese de doutoramento cuja pesquisa
71
vem sendo feita por Karen Barbosa. O mesmo deveria ser feito para o caso da cultura e da
valorização cultural, com seu viés na educação e turismo.
Um outro estudo tão interessante quanto um conjunto de cidades seria o de casos
múltiplos utilizando a população dos outros Colégios Estaduais, localizados no Estado do Rio
de Janeiro, que oferecem o Curso Técnico de Turismo. Poder-se-ia comparar o que se tem de
comum em suas diretrizes pedagógicas e como é a atuação dos professores e alunos nas
atividades de turismo em suas localidades, se há alguma padronização de conteúdos e como
eles se comportam dentro do conjunto do curso. E mais, como eles, os Cursos Técnicos, se
articulam, ou melhor, como os docentes e alunos do conjunto do curso se articulam e que
produtos poderiam sobrevir disto.
A circunstância é um estudo de caso sobre o Tectur/Cejob, localizado em Búzios,
mais especificamente sobre a relação educação, turismo e cultura em seu planejamento
pedagógico. Espera-se que, com este trabalho, contribua-se para criar alguns balizamentos
científicos e que, por meio dos resultados aqui relatados, possa-se dar subsídios para outras
pesquisas mais minuciosas.
4.2. O ESTUDO DE CASO COMO MEIO DISPONÍVEL PARA FAZER A PESQUISA
Segundo Yin (2001, p. 19):
os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam
questões do tipo ‘como’ e ‘por que’, quando o pesquisador tem pouco
controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos
contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real
Pode-se, entretanto, complementar os estudos de caso de maneira exploratória ou
descritiva, atentando-se ao fato de se ter precaução ao planejar e pôr em prática os estudos de
casos no sentido de vencer as possíveis críticas que alguns cientistas fazem do método.
Necessário se faz também estabelecer a diferenciação do estudo de caso como
estratégia de pesquisa, daquele usado como ferramenta de ensino. De acordo com Gavazza:
72
Diferente do estudo de caso mais conhecido, utilizado no ensino, o estudo de
caso utilizado na pesquisa não pode ser alterado para ilustrar uma
determinada questão de modo mais efetivo, ele precisa ser claro, direto e
refletir a realidade da forma mais direta possível (2004, p. 14).
O estudo de caso tem sua validade ao se empregar meios para compreender
ocorrências passíveis de observação sejam individuais, das organizações, sociais e políticas.
Por isso, esta estratégia tem sido usada amplamente nas pesquisas em psicologia, ciência
política, administração, sociologia, no planejamento e no trabalho social. Além destas são
encontradas também na economia quando se estuda uma estrutura de indústrias ou o sistema
produtivo de uma cidade ou região. De concreto, pode-se afirmar que “a clara necessidade
pelos estudos de caso surge do desejo de se compreender fenômenos sociais complexos”
(YIN, 2001, p. 21).
Ao se comparar, entretanto, a estratégia do estudo de caso com outras estratégias de
pesquisa, percebe-se que cada qual desempenha um papel diverso ao se “coletar e analisar
provas empíricas, seguindo a sua própria lógica” (YIN, 2001, p. 21).
Em vista disso, ao se utilizar o estudo de caso, pode-se usar estratégias exploratórias,
descritivas ou explanatórias. Assim, as condições que determinam qual procedimento utilizar
têm relação “ao tipo de questão da pesquisa proposta, a extensão e o controle que o
pesquisador tem sobre eventos comportamentais e o grau de enfoque em acontecimentos
históricos em oposição a acontecimentos contemporâneos” (GAVAZZA, 2004, p.15).
Embora muito utilizado, nem sempre o estudo de caso é a melhor estratégia para se
estudar o problema e, por esse motivo, alguns pesquisadores desconsideram-no. Isto porque
com grande freqüência aqueles se descuidam do tratamento das informações ou as aceitam
como evidências de maneira equivocada ou ainda tendem a “influenciar o significado das
descobertas e das conclusões” (YIN, 2001, p. 29).
As situações concretas, contudo, podem indicar o modo mais acertado de utilizar as
diferentes estratégias de pesquisa.
73
Estratégia
forma
da questão
de Pesquisa
exige controle
sob eventos
comportamentais?
focaliza
acontecimentos
contemporâneos?
experimento como, por que sim sim
levantamento quem, o que, onde,
quantos, quanto
não sim
análise de arquivos quem, o que, onde,
quantos, quanto
não sim/não
pesquisa histórica como, por que não não
estudo de caso como, por que não sim
Quadro 4 - Situações relevantes para diferentes estratégias de pesquisa
Fonte: Yin (2001)
Utilizar-se de uma estratégia de pesquisa não é dar preferência a uma determinada
maneira de explorar as condições do objeto estudado. É, pelo contrário, voltar a atenção às
perguntas que se quer fazer sobre o assunto e deixar que as respostas se manifestem, que se
sobressaiam, que se distingam.
Se, ao indagar o objeto, as questões formuladas forem “o que”, a pesquisa tende a ser
mais especulativa, desenvolvendo hipóteses e acrescentando a elas novos questionamentos ou
hipóteses secundárias. Quando se usa “quem” e “onde” como resultado de “o que” o objetivo
é descrever a superveniência ou o predomínio de acontecimentos previsíveis ou que
prevalecem a certos resultados e, quando isto ocorre, a metodologia do estudo de casos não é
a mais indicada.
Ao usar “como” e “por que”:
essas questões estão sendo relacionadas a eventos que precisam ser
abordados em intervalos de tempo; situações que precisam ser avaliadas de
acordo com o momento e com suas interações com o ambiente e que não
podem ser encaradas como meras repetições ao longo do tempo
(GAVAZZA, 2004, p.16).
Sendo assim, o estudo de caso é usado no momento em que se procura estudar
acontecimentos na ocasião em que eles estão ocorrendo, mas não há possibilidade de controle
do ambiente onde ele se dá. Ao se debruçar sobre os acontecimentos que envolvem pessoas e
suas atuações, seus comportamentos não são previsíveis e sofrem influência do meio e das
inter-relações que se estabelecem. Por isso, nestes estudos não há como fazê-los em um
ambiente controlado como de um laboratório até porque os fenômenos são observados sob
74
diferentes aspectos e, desse modo, há um aumento significativo das suas variáveis e as
atitudes distintas, porém influenciáveis, são muitas.
Na verdade, com o estudo de caso se consegue uma fotografia daquele fenômeno, que
pode ser ou não usado como parâmetro em outros estudos semelhantes. Ele pode caracterizar
algo distinto daquele lugar, organização ou comunidade, por exemplo, como pode ser um
modelo para se estudar outros locais ou comunidades, dentro do mesmo parâmetro.
Não bastasse ser modelo ou não, o estudo de caso deve está engendrado numa lógica
de planejamento e isto porque são investigados fenômenos da atualidade, no que está
acontecendo naquele momento. Pode-se, por tal motivo, causar distorção ou indefinição
quanto à relação entre o contexto e o fenômeno.
4.3 EMPREGOS DO ESTUDO DE CASO
O estudo de caso pode ter várias aplicações, entre elas as de:
explicar vínculos causais, descrever uma intervenção em seu contexto de
vida real, ilustrar tópicos dentro de uma avaliação, explorar um conjunto
simples de resultados ou ser uma meta-avaliação que consiste no estudo de
um estudo de avaliação (GAVAZZA, 2004, p.17).
Neste trabalho, o emprego do estudo de caso, do Curso Técnico de Turismo do
Colégio Estadual João de Oliveira Botas, em Búzios, serve para explicar vínculos causais no
tripé educação, turismo e cultura, por intermédio do processo de aprendizagem e estímulo à
valorização da cultura e de sua diversidade, oferecidos aos alunos do curso.
Adicionalmente, ao buscar, por meio destes mesmos alunos, soluções para o turismo
da baixa temporada e avaliar a exeqüibilidade destas propostas, pode-se inferir que há
também a “descrição de uma intervenção no contexto da vida real” e a “exploração de um
conjunto simples de resultados”.
75
Yin (2001) afirma que é necessário, para projetar o estudo de caso, um plano ou um
projeto de pesquisa. Diz ainda que nesta estratégia “ainda não se desenvolveu um ‘catálogo’
abrangente de projetos de pesquisa para os estudos de caso”. Por fim, chama a atenção para
que não se caia na cilada de “acreditar que os projetos de estudo de caso sejam um
subconjunto ou uma variante dos projetos de pesquisa utilizados para outras estratégias, como
os experimentos” (p. 40)
O entendimento é que “um projeto de pesquisa é muito mais que um plano de
trabalho”, porque aquele se dedica às questões lógicas e não de logística [grifos de Yin].
Sendo assim, para os estudos de caso, são particularmente importantes para o projeto de
pesquisa:
1. as questões de um estudo;
2. suas proposições, se houver;
3. sua(s) unidade(s) de análise;
4. a lógica que une os dados às proposições; e
5. os critérios para se interpretar as descobertas (YIN, 2001, p. 42).
Ao se obter clareza nas questões levantadas, as proposições refletem as questões
teóricas e também mostram onde procurar as evidências relevantes. Estas, entretanto, devem
estar distribuídas em unidades de análise, sendo que “quanto mais proposições específicas um
estudo contiver, mais permanecerá dentro de limites exeqüíveis” (YIN, 2001, p. 43)
A essas etapas se sucedem as análises dos dados – ligar os dados a proposições - e os
critérios para a interpretação das descobertas do estudo [grifos do YIN, p. 47]
O projeto de pesquisa, que representa um conjunto lógico de proposições, necessita de
organização e confiabilidade. Sua qualidade pode e deve se expressar por meio de quatro
testes-referência que pressupõe a tática utilizada para o estudo de caso bem assim as fases da
pesquisa na qual a tática deve ser aplicada.
76
TESTES
TÁTICA DO ESTUDO DE
CASO
FASE DA PESQUISA NA
QUAL A TÁTICA DEVE SER
APLICADA
VALIDADE DO
CONSTRUCTO
Utiliza fontes múltiplas de
evidências
Estabelece encadeamento de
evidências;
O rascunho do relatório do
estudo de caso é revisado
por informantes-chave
Coleta de dados;
Coleta de dados;
composição
VALIDADE
INTERNA
faz adequação ao padrão;
faz construção da
explanação;
faz análise de séries
temporais
análise de dados;
análise de dados;
análise de dados
VALIDADE
EXTERNA
utiliza lógica de replicação
em estudos de casos
múltiplos
projeto de pesquisa
CONFIABILIDADE
utiliza protocolo de estudo
de caso;
desenvolve banco de dados
para o estudo de caso
coleta de dados;
coleta de dados
Quadro 5 - Táticas do estudo de caso para quatro testes de projeto
Fonte: Cosmos Corporation, Yin (2001)
Mesmo as proposições não sendo necessárias são por intermédio delas que se tem
delimitado com maior precisão o norte da pesquisa. As proposições também ajudam a
descartar o que é irrelevante e a definir o sustentáculo para que os objetivos do estudo e,
conseqüentemente, sua análise sejam expressos com clareza.
Neste momento torna-se também importante o papel da teoria no projeto. A teoria
objetiva que se possa ter um esboço completo do objeto de estudo e isto significa que se terá
uma direção ao serem determinadas “quais dados serão coletados e as estratégias de análise
desses dados” (YIN, 2001, p. 50). As proposições teóricas mostram também a maturidade do
pesquisador ao trabalhar o tema. Deduz-se que, antes de planejar o estudo de caso, estudou e
reviu a literatura pertinente e, com este embasamento pôde aventar suas hipóteses.
O fato de estabelecer medidas operacionais corretas diz respeito à validade do
constructo e deve ser aplicada na coleta de dados onde:
O pesquisador deve ter certeza de cumprir duas etapas:
77
1. selecionar os tipos específicos de mudanças que devem ser estudadas
(em relação aos objetivos originais do estudo).
2. demonstrar que as medidas selecionadas dessas mudanças realmente
refletem os tipos específicos de mudanças que foram selecionadas” (YIN,
2001, p. 57).
A validação do constructo - “imagem ou idéia inventada especificamente para uma
determinada pesquisa ou criação de teoria” (COOPER & SCHINDLER, 2003, p. 53) auxilia
na impessoalidade da análise, para que sejam certificadas que as mudanças realmente
aconteceram e não são meras suposições do pesquisador.
O exame da validade interna é feito somente quando o estudo de caso é causal,
visando garantir que a relação entre duas variáveis seja direta e não permite que uma terceira
variável impacte o estudo.
Já o da validade externa se relaciona com à abrangência da teoria ou dos resultados. O
importante é verificar se os resultados desse estudo de caso podem ser usados para determinar
características semelhantes ou potenciais em outro lugar.
No teste de confiabilidade objetiva-se assegurar que, se o estudo de caso for executado
em outro lugar, e utilizar o mesmo processo, o pesquisador deverá chegar às mesmas
conclusões.
4.4 ESTUDO DE CASO ÚNICO
Há três possibilidades para que se faça um estudo de caso. A primeira delas é quando a
situação é tão peculiar que só há um caso que corresponda a todas as condições para se testar
a teoria proposta. A segunda diz respeito à raridade do evento estudado ou de trazer consigo
um caso extremo e, a terceira, dá lugar quando á e primeira vez que se estuda aquele caso, não
existindo estudos anteriores.
Sendo assim, o estudo de caso único “pode significar uma importante contribuição à
base do conhecimento e à construção da teoria” (YIN, 2001, p. 62). Por isso, carrega consigo
a exigência de uma investigação minuciosa e cercada de cuidados para que se possa tornar o
78
menor possível as chances de uma exposição que induza ao erro. Por outro lado, esta espécie
de estudo torna maior a possibilidade de se ter o espaço necessário para a coleta das
evidências do caso estudado.
De acordo com Yin (2001, p. 67):
é necessária uma definição operacional e devem-se tomar algumas
precauções – antes que se assuma um compromisso total com o estudo de
caso como um todo – para garantir que o caso, na verdade, seja relevante ao
tema e às questões de interesse
.
Além disso, para que se possa desenvolver um projeto mais complexo, podem ser
acrescidas subunidades de análises, desde que estas reflitam significativamente uma análise
mais extensiva do caso único. Não é oportuno, no entanto, dar atenção demasiada às
subunidades se estas tendem a alterar a natureza do caso.
4.5 ESTUDO DE CASO MÚLTIPLO
Embora nesta dissertação se esteja trabalhando com a metodologia do estudo de caso
único, houve-se por bem discorrer sobre o estudo de casos múltiplos, para que as diferenças
sejam estabelecidas.
Yin (2001) cita que, na ocorrência de um estudo conter mais de um caso, é necessário
que se faça um projeto para casos múltiplos. Como exemplo ele usa “o estudo de inovações
feitas em uma escola (com salas de aula abertas, assistência extraclasse por parte dos
professores ou novas tecnologias) na qual ocorrem inovações independentes em áreas
diferentes” (p. 67). Segundo ele, cada área específica poderia ser objeto de estudo de caso
individual, e o seu conjunto, um projeto de caso múltiplo.
Os projetos de casos múltiplos são realizados quando se necessita comparar casos e
seguir a lógica da replicação. Normalmente os casos múltiplos são mais aceitos porque são
mais robustos em relação aos casos únicos, incomuns.
79
Nos casos múltiplos é necessário prever resultados semelhantes, ou replicação literal
ou produzir resultados tais que, apesar de contrastantes, o são por razões previsíveis – uma
replicação teórica.
Os casos múltiplos têm a desvantagem de necessitarem de um grande desembolso
financeiro para o seu projeto, coisa que o pesquisador normal não dispõe; ademais de
necessitar também de uma equipe maior para coleta de dados e também de tempo. Os casos
múltiplos são mais usados para pesquisas empresariais, de empresas de grande porte.
4.6 COLETA DE DADOS E PERFIL DO PESQUISADOR
A realização de um estudo de caso pressupõe que o pesquisador disponha de
habilidades prévias, treinamento e preparação para desenvolver um protocolo de estudo de
caso.
De acordo com Yin (2001, p.79) “a pesquisa de estudo de caso caracteriza-se como
um dos tipos mais árduos de pesquisa”, exatamente ao contrário do que muitos pensam.
Uma das etapas fundamentais no estudo de caso é a coleta de dados que deve ser
realizada de forma a se obter maior fidedignidade possível, caso contrário, pode-se pôr em
risco todo o estudo. Para isto, é importante que o pesquisador tenha as habilidades desejadas,
seja: estar aberto ao treinamento para a pesquisa, desenvolver um protocolo para a
investigação que deseja e conduzir um caso-piloto.
Das habilidades esperadas a um pesquisador de estudos de casos, pode-se esboçar as
seguintes:
¾ ser capaz de fazer boas perguntas e interpretar as respostas;
¾ ser bom ouvinte e não se deixar enganar por seus sistemas próprios de
idéias e preconceitos;
¾ ser capaz de ser adaptável e flexível;
¾ ter uma noção clara das questões que estão sendo estudadas;
¾ ser imparcial em relação a noções preconcebidas. (grifos do YIN,
2001, p. 81)
80
Para a coleta de dados, é importante que se tenha uma “mente indagadora” cuja
sagacidade pode ver além do que está estipulado no plano de pesquisa e preparado, o
pesquisador, para os acontecimentos imprevisíveis. Neste sentido, o ato de ouvir é
fundamental. Ouvir antropologicamente falando, percebendo o que há de relevante nas
entrelinhas, compreendendo “o contexto a partir do qual o entrevistado está percebendo o
mundo” (YIN, 2001, p. 82)
A adaptabilidade ao estudo é também fundamental pois, ao longo do caminho, mesmo
que minuciosamente planejado, é possível que se precise fazer pequenas alterações. O
pesquisador deve ser flexível para controlar as situações inesperadas e harmonizar o novo
com rigor, sem rigidez.
Rumo. Ter clareza do rumo, de onde se quer chegar, é crucial. Por isso, o pesquisador
deve estar atento às questões teóricas e políticas do ambiente, uma vez que precisará, em
alguns momentos, fazer julgamentos. Se não tiver noção clara do que procurar, mesmo as
pistas mais evidentes dos informantes podem não ser “captadas”. É desejável que possa
perceber quando as informações são discordantes e, talvez, levem à necessidade de evidências
adicionais. As fontes de informação contraditórias não devem ser desacreditadas; ao contrário,
devem ser confrontadas para que se diminua a probabilidade de questões pré-concebidas. O
pesquisador deve, todo o tempo, questionar as fontes, quaisquer que sejam elas e não cair na
via fácil das soluções premeditadas, sem maior fundamentação.
Como já falado em um outro momento, há necessidade de se montar um protocolo de
pesquisa e este é a orientação que o pesquisador irá consultar todo o tempo e, a ele deve estar
anexada uma lista de fontes de evidências que sejam passíveis de comprovação. Nos casos
únicos, como este, as interpelações são feitas a entrevistados específicos, que se constituem
como fonte de dados ou ainda utilizando casos individuais que são as unidades de análise,
conforme visto no quadro 7.
81
FONTE DE COLETA DE DADOS
PROJETO
DE UM INDIVÍDUO
DE UMA
ORGANIZAÇÃO
CONCLUSÕES DO
ESTUDO
Sobre um
indivíduo
Comportamento
individual
Atitudes
individuais
Percepções
individuais
Registros de
arquivos
Se o estudo de
caso for um
indivíduo
Sobre uma
organização
Como funciona
a organização
Por que
funciona a
organização
Políticas de
equipe
Resultados da
organização
Se o estudo de
caso for uma
organização
Quadro 6 - Projeto versus coleta de dados: unidades diferentes de análise (adaptado)
Fonte: Yin (2001)
4.7 FONTES DE INFORMAÇÃO E COLETA DE EVIDÊNCIAS
São seis fontes diferentes que podem conduzir a evidências num estudo de caso:
¾ Documentos;
¾ Registros em arquivo;
¾ Entrevistas;
¾ Observação direta;
¾ Observação participante;
¾ Artefatos físicos
Para cada uma dessas fontes os procedimentos metodológicos são ligeiramente
diferentes. É fundamental que num estudo de caso sejam usadas várias fontes de evidências,
um banco de dados que reúna estas evidências distintas e um encadeamento das evidências,
ou seja, relações explícitas entre as questões formuladas, os dados coletados e as conclusões a
que se chegou. Este conjunto de procedimentos poderá aumentar a qualidade do estudo
efetuado. Neste trabalho será seguida a terminologia proposta por Yin (2001) quanto às fontes
de informação e à coleta de evidências, comentadas a seguir.
82
4.7.1 Documentos
Quanto à documentação pode-se usar:
¾ Cartas, memorandos e outros tipos de correspondências.
¾ Agendas, avisos e minutas de reuniões, e outros relatórios escritos de
eventos em geral.
¾ Documentos administrativos – propostas, relatórios de
aperfeiçoamentos e outros documentos internos.
¾ Estudos ou avaliações formais do mesmo ‘local’ sob estudo.
¾ Recortes de jornais e outros artigos publicados na mídia (YIN, 2001,
p. 107).
Nos estudos de caso essa documentação é necessária para confirmar ou dar valor às
evidências de outras fontes. No entanto, há que se ter cuidado com a utilização deste tipo de
documentação, pois podem apresentar interpretações tendenciosas e, por isso, não se deve
tomá-los como registros literais. Além disso, há que se ficar atento à autenticidade da
documentação.
Neste estudo de caso foram utilizados os documentos disponibilizados pelo Cejob
como, por exemplo: ofícios, memorandos, relatórios de reuniões, anotações de reuniões,
relatórios de encontros com outros colégios estaduais que ministram o curso de turismo,
processo de elaboração da grade curricular.
Quanto aos estudos ou avaliações formais do mesmo ‘local’ sob estudo foram usados
o Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos Búzios: perfil do Município
(versão junho 2003); Projeto de Lei Complementar: Plano Diretor de Desenvolvimento
Sustentável de Armação dos Búzios (versão junho 2004), Projeto de Lei Complementar: Uso
e Ocupação do Solo de Armação dos Búzios (versão junho 2004). Além destes, foi usado
também o Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro, seus conteúdos esmiuçados
no capítulo anterior onde se tratou da revisão da literatura.
Da imprensa local, recortes de jornais cujas matérias versaram sobre educação,
turismo e cultura e suas interfaces, quando apropriados. Pode-se citar os jornais: “O perú
molhado”, “O Siri na Lata”, “Primeira Hora”, “O Buziano”, “Ênfase”, “O Pescador de
Búzios” e, mais recentemente, “O Diário da Manhã”. Além desses, foram usadas as
83
publicações eletrônicas do “O Perú Molhado”, seqüencialmente do número 651, de 21 de
maio de 2004 a 694, de 18 de março de 2005 e o nº 713, de 29 de julho de 2005. Parte
essencial desses periódicos foram os artigos publicados no Jornal Primeira Hora, escritos pelo
Professor Ronald de Carvalho Júnior, Coordenador do Curso Técnico de Turismo do Cejob.
Foram consultados também, de maneira aleatória, os exemplares isolados dos jornais:
“Armação dos Búzios”, “A Buzina”, “Folha dos Lagos” e o “Jornal Serra Litoral”.
Dos jornais, encontrar-se-ão no conjunto deste trabalho, uma ou outra citação, segundo
o que estabelece nossa rota principal. Não se pretendeu fazer um estudo que usasse
exaustivamente essas publicações e sim procurar em que momentos a imprensa esteve alerta
para o problema-núcleo deste estudo ou mesmo quando tangenciaram os assuntos aqui
abordados.
4.7.2 Registros em arquivos
No caso dos registros em arquivos podem ser encontrados como:
¾ Registros de serviço, como aqueles que registram o número dos
clientes atendidos em um determinado período de tempo.
¾ Registros organizacionais, como as tabelas e os orçamentos de
organizações em um período de tempo.
¾ Mapas e tabelas das características geográficas de um lugar.
¾ Listas de nomes e de outros itens importantes.
¾ Dados oriundos de levantamentos, como o censo demográfico ou os
dados previamente coletados sobre um ‘local’.
¾ Registros pessoais, como diários, anotações e agendas de telefone
(YIN, 2001, p. 111).
Neste estudo de caso foram utilizados, destes registros, as fichas escolares dos alunos,
as relações de alunos por período, alguns dos planejamentos de visitação de campo dos
alunos. Os mapas do município foram consultados por meio do Plano Diretor de Turismo do
Estado do Rio de Janeiro, do Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos
Búzios – RJ: perfil do Município e da página www.buzios-explorer.com. Os dados iniciais da
localidade foram estudados com o que se dispunha do Plano Diretor à época.
84
4.7.3 Entrevistas
Em relação às entrevistas, Yin (2001) afirma que são fontes essenciais de informação
para o estudo de caso. Estas podem assumir formas diversas, de natureza espontânea, focal ou
de um levantamento formal. Para este estudo optou-se pela elaboração e realização de
entrevistas semi-estruturadas, tendo como amostra moradores da cidade, professores e alunos
do Cejob, pretendendo usar, numa só abordagem, os três tipos de entrevistas enunciados por
YIN (2001, p. 112-114).
Sendo assim, existem dez perguntas que são feitas a todos os informantes. Entretanto,
na medida que eles, voluntariamente, dão informações acessórias às perguntas, estes dados, se
pertinentes, são aproveitados.
Procurou-se usar este método por entendê-lo mais exeqüível com a população deste
estudo (a maioria de alunos e professores) e por achar que, num estudo de caso, aos moldes
deste trabalho em especial, deve-se ter mais liberdade em abordar o informante, assim como
se esperou que os entrevistados respondessem com desembaraço.
Num primeiro momento foram selecionados 57 respondentes e aplicou-se, em 20 deles
o pré-teste. Com a análise das respostas a esse pré-teste, modificaram-se algumas das
perguntas, bem como a sua ordem de inquirição. Duas das perguntas foram fundidas numa só
e outras três foram desmembradas em cinco. Após a validação do roteiro da entrevista pelos
20 primeiros respondentes, foram abordadas 37 pessoas, das quais fazem parte deste estudo.
Destas, 23 são alunos ou professores do Cejob e o restante, integrantes da comunidade
buziana.
Na categoria gênero, dos 37 entrevistados, quinze são homens e vinte e duas
são mulheres. Quanto às idades, preferiu-se a demonstração por faixa etária, entendendo que a
cada uma delas corresponde um ciclo de vida. Foram assim distribuídas:
85
Tabela 2– Número de entrevistados por faixa etária
FAIXAS ETARIAS Nº DE ENTREVISTADOS
16 A 25 ANOS 8
26 A 35 ANOS 8
36 A 45 ANOS 8
46 A 55 ANOS 6
56 A 65 ANOS 5
NÃO REVELADAS 2
TOTAL 37
Fonte: Elaborada pela autora
Em relação aos locais de residência dos respondentes, adotou-se a divisão por
bairros/localidades, respeitando a informação do próprio entrevistado. Assim, dos 37
entrevistados, foram identificados moradores das seguintes localidades:
Tabela 3 – Número de entrevistados por bairro/localidade
BAIRROS/LOCALIDADES Nº DE ENTREVISTADOS
ARMAÇÃO 2
BAIA FORMOSA 1
CEM BRAÇAS 3
CENTRO DE BÚZIOS 5
FERRADURA 1
GERIBÁ 4
JOSÉ GONÇALVES 4
MANGUINHOS 2
OSSOS 2
RASA 5
SÃO JOSÉ 4
TUCUNS 1
CENTRO DE CABO FRIO 2
TANGARÁ (CABO FRIO) 1
TOTAL 37
Fonte: Elaborada pela autora
86
Profissionalmente, os entrevistados se constituem de: artesãos, artistas, comerciantes,
empresários do setor de turismo, estudantes, fotógrafos, jornalistas, professores,
recepcionistas e turismólogos, divididos em:
Tabela 4 – Número de entrevistados por profissão
PROFISSÕES/OCUPAÇÕES Nº DE ENTREVISTADOS
ARTESÃO / ARTISTA 3
COMERCIANTE / EMPRESÁRIO 4
ESTUDANTE 19
FOTÓGRAFO / JORNALISTA 3
PROFESSOR 5
RECEPCIONISTA 1
TURISMÓLOGO 2
TOTAL 37
Fonte: Elaborada pela autora
É importante observar que os números que acompanham a profissão “estudante”, no
total de dezenove, foram assim colocados por dezoito se tratarem de alunos do Cejob, mesmo
que, apesar de estudantes, alguns alunos exerçam outras profissões no mercado de trabalho,
na sua grande maioria relacionada ao turismo. Um deles somente, apesar de estudante, não
guarda relação com o Cejob.
Decidiu-se, entretanto, no caso dos alunos do Tectur/Cejob, considerá-los como
estudantes uma vez que o foco está na resposta que estes alunos vêm dando às questões
relativas à valorização e conservação do patrimônio cultural e se estas estão em conformidade
com o que apregoa o PNT e as bases curriculares para a área de Turismo e Hospitalidade.
A identidade dos informantes foi devidamente preservada, na intenção de evitar
constrangimentos e permitir que as repostas fossem as mais sinceras e próximas da realidade.
A cada entrevista era questionado ao informante se gostaria de se manter anônimo ou se sua
identidade poderia ser revelada, já que se esperava que se sentissem à vontade para se
expressarem. A maioria, mesmo dizendo o nome na gravação, solicitou que se conservasse
seu anonimato, para que se resguardasse de possíveis embaraços, caso sua identidade fosse
revelada.
87
Devido a essas solicitações, devidamente explicadas adiante nas limitações do método,
na transcrição das entrevistas se mencionou apenas o código adotado – do “morador 1” ao
“morador 37” - para cada um. A codificação – morador 1 - etc, seqüencial, entretanto,
acompanhou a cronologia em que foram feitas as entrevistas, conforme Tabela 6.
Os moradores numerados na tabela citada não foram discriminados por profissão para
que não fossem identificados. No caso dos alunos do Cejob, aqueles que esqueceram de citar
o bairro onde moravam, houve consulta na ficha escolar do aluno para obter a informação.
Tabela 5 – Mapeamento dos entrevistados/moradores por bairro/localidade
MORADOR LOCAL MORADOR LOCAL MORADOR LOCAL
01 Rasa 14 Centro 27 Armação
02 Ossos 15 Centro 28 Rasa
03 J. Gonçalves 16 Cem Braças 29 Centro (CF)
04 Tangará (CF) 17 Centro 30 São José
05 Ossos 18 Geribá 31 Tucuns
06 Cem Braças 19 Rasa 32 J. Gonçalves
07 Manguinhos 20 Manguinhos 33 J. Gonçalves
08 Rasa 21 São José 34 Centro
09 São José 22 Ferradura 35 São José
10 Rasa 23 Armação 36 Baía Formosa
11 J. Gonçalves 24 Geribá 37 Centro (CF)
12 Geribá 25 Geribá
13 Cem Braças 26 Centro
Fonte: Elaborada pela autora
Para analisar as entrevistas, como uma das fontes de evidência, trabalhou-se com o
método de blocos de significados, tal qual foi apresentada como sugestão por Cláudio
D´Ipolitto (2004). Esta maneira de analisar um conjunto de entrevistas permite que se possa
estabelecer uma interconexão entre os blocos de assuntos abordados.
Os assuntos são colocados em “caixinhas”, numa planilha, segundo o roteiro e a
transcrição das entrevistas, conservando, entretanto, um encadeamento de evidências. Estas
caixinhas ou blocos começam a ter uma interconexão, até se chegar ao que se poderia chamar
de um “discurso coletivo” sobre determinado assunto.
88
Esta técnica é bastante interessante quando se pretende olhar um conglomerado de
opiniões, algo como um primeiro rastreamento de um discurso coletivo. Esta maneira de
analisar entrevistas permite com que se chegue próximo ao que se poderia chamar de gráfico
de dispersão. As informações estão interconectadas, mas conservam o discurso de cada
respondente. Poder-se-ia, com mais tempo e um programa de computador, fazer saltar as
declarações e montar com isto um mosaico interativo de expressões e idéias, num terceiro
discurso, porém vivo e fruto da síntese e antítese do que foi trabalhado. Um tal refinamento
metodológico, entretanto, seria mais pertinente a um doutoramento, pois estaria baseado num
suporte teórico mais denso.
4.7.4 Observação direta
Para Yin (2001, p. 115), a observação direta serve como uma das evidências
em um estudo de caso. Deve-se, entretanto, desenvolver protocolos de observação, incluindo-
se “observações de reuniões, atividades de passeio, trabalho de fábrica, salas de aula e outras
atividades semelhantes”.
Estas observações da realidade podem ser úteis como informações acrescidas
àquelas que estão sendo estudadas e pode-se, inclusive, fotografar os indivíduos objetos do
estudo, caso haja permissão para tal.
Neste estudo as observações vêm sendo realizadas desde 1989, quando do primeiro
contato com Búzios que, naquela época, era ainda 3º distrito de Cabo Frio. Mais
recentemente, de maio de 2004 a março de 2005, iniciou-se o processo de anotação das
observações, principalmente as que dizem respeito ao Cejob: o comportamento dos alunos do
Tectur e de seus docentes, nos ambientes de aprendizagem – no caso dos alunos – e nos
ambientes dentro e fora da escola, no caso dos docentes.
Embora Yin (2001) relacione também a observação participante e os artefatos físicos
como parte de evidências para projetos de estudos de casos, não foram utilizadas estas
técnicas neste estudo.
89
4.8 LIMITAÇÕES DO MÉTODO
Yin (2001, p. 185) insiste em que um estudo de caso deva ser elaborado de uma
maneira atraente, cuja produção do texto exige talento e experiência. “Engajamento,
instigação e sedução – essas são as características incomuns dos estudos de caso”. Há,
entretanto, algumas pequenas dificuldades quando se usa essa metodologia. Uma delas é a
quantidade de documentação escrita e analisada e, se usado a disciplina e os limites da síntese
e da compreensão textual, parte desta documentação é descartada.
Um outro problema diz respeito às restrições do estudo de caso que, nem sempre
apresentam uma base para a generalização científica e, por isso, torna-se difícil repetir o
mesmo fenômeno sob condições diferentes. Neste sentido, o estudo de caso tenta esclarecer
uma situação, mas nem sempre é replicável, devido a suas variáveis e de se tratar de um
universo de pessoas. E pessoas mudam conforme o ambiente.
Das estratégias escolhidas para este estudo, as que mais causaram dificuldades para
análise foram as entrevistas. Isto porque elas foram constituídas de maneira a dar conta do
foco do projeto – a relação educação, cultura e turismo, de um levantamento formal dos
estudantes do Tectur/Cejob e suas sugestões para o turismo na baixa temporada e respostas de
maneira espontânea, quando as questões foram surgindo.
É importante destacar que as entrevistas foram feitas em ano eleitoral, de eleição
municipal, e muito próximas à eleição. Isto contribuiu para que alguns dos entrevistados
tivessem precaução em relação à possibilidade de serem identificados.
Como já foi dito anteriormente, para que os informantes se expressassem com
liberdade, assumiu-se o compromisso de que ninguém seria identificado nominalmente. No
entanto, segundo Yin, “o estudo de caso e seus informantes devem ser adequadamente
identificados” (2001, p. 176). Porém:
há algumas ocasiões em que o anonimato se faz necessário. O fundamento
lógico mais comum é que, quando o estudo de caso for sobre algum tópico
polêmico, o anonimato serve para proteger o caso real e seus verdadeiros
participantes. Uma segunda razão é que a divulgação do relatório final de um
90
caso pode interferir nas ações subseqüentes das pessoas que foram estudadas
(YIN, 2001, p. 176 e 178)
Por isso, embora não aconselhável pelo método, resolveu-se deixar os informantes no
anonimato. Percebeu-se que os respondentes ficavam mais aliviados quando se dizia que seria
considerado o sigilo na identificação pessoal. Estes fatos revelam o quanto o poder local, em
cidades relativamente pequenas, faz-se presente na vida quotidiana dos seus cidadãos e que, a
possibilidade de serem identificados, fez com que preferissem o anonimato ao invés de se
exporem. A preocupação, segundo depoimentos dos próprios entrevistados, está relacionada a
que, passado o pleito eleitoral, uma opinião mais incisiva poderia causar constrangimento e
dificultar o convívio social.
Interessante também é o fato de, mesmo aqueles cidadãos, partidários de candidatos
“A”, “B” ou “C”, conhecidos na cidade e claramente identificáveis, mesmo assim, estes
preferiram se conservar no anonimato. Yin declara que o anonimato só deve ser usado em
última instância, quando não há meios de se trabalhar com a identificação pois “ele não
apenas elimina algumas informações contextuais importantes sobre caso, como também
dificulta os mecanismos de composição do caso” (2001, p. 177).
Como foi aberta esta possibilidade, para não usar identidades fictícias,
correspondentes aos nomes reais, decidiu-se caracterizar os respondentes por ordem
cronológica das entrevistas e segundo seus locais de moradia, seja em Búzios, ou Cabo Frio.
Uma outra limitação do método, não diz respeito ao método em si, mas sim às
tecnologias usadas. Neste trabalho as entrevistas foram todas transcritas da maneira
tradicional. Ouviam-se as perguntas e respostas e se digitava no computador ou escrevia-se no
caderno de campo, quando o computador não estava disponível.
91
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Antes da apresentação e discussão dos resultados propriamente ditos, percebeu-se a
necessidade de fazer um histórico do Cejob e de seu Curso Técnico de Turismo (Tectur). O
histórico do Colégio irá pontuar a sua relevância dentro da comunidade de Búzios e seu
processo de transformação nas práticas pedagógicas.
É de fundamental importância lembrar que, do Cejob, serão analisados os discursos
dos alunos quanto à questão da valorização da cultura e sua identificação [da cultura] com a
expressão local, ou melhor, com a expressão cultural local.
Os outros depoimentos serão analisados no contexto de contraponto ou concordância
com o que emerge dos discursos dos alunos.
5.2 O COLÉGIO ESTADUAL JOÃO DE OLIVEIRA BOTAS (CEJOB)
5.2.1 Histórico
O Cejob localizado na Praia da Armação, muito próximo ao Centro de Búzios, foi
criado pelo Decreto 4.749 de 22/06/1954 como Escola Estadual João de Oliveira Botas
(Cejob) e está ligado à Coordenadoria Regional da Região das Baixadas Litorâneas, cuja sede
fica em Cabo Frio.
Uma das primeiras escolas de Búzios, recebeu este nome, segundo depoimentos dos
professores, em homenagem ao Chefe da Divisão da Armada Nacional e Imperial, o baiano
João de Oliveira Botas, falecido em 1883, que passou a maior parte de sua vida navegando em
águas brasileiras.
92
A partir de 1993, a então Escola Estadual foi autorizada a oferecer o que se chamava
na época de ensino de 2º grau e, por isso, em 27 de setembro de 1994, por meio do Decreto
20.562 foi transformado em Colégio Estadual.
Em 1993, passou a ofertar o Curso Técnico em Administração e, segundo depoimentos
do morador 37, “em 1999 foi o último ano em que este foi oferecido pois, havia muita falta de
professores e, assim os docentes tinham de dar aulas inclusive aos sábados para colocar as
matérias em dia”.
Em 1995, passou a oferecer o Curso Técnico de Turismo, por meio da autorização
concedida em 15 de julho de 1997, “reconhecidos seus efeitos a partir do ano letivo de 1995”.
(Resolução SEE nº 2098).
Em janeiro de 2005, por meio da Resolução SEE nº 2751, publicada no Diário Oficial
em 18 de janeiro, foi autorizado a oferecer o curso de Educação para Jovens e Adultos.
Em Búzios, o Cejob é um dos quatro colégios que trabalham com o ensino médio.
Além dele há um público, o Colégio Municipal Paulo Freire e mais dois colégios particulares.
O Cejob tem uma média anual de 900 alunos, distribuídos nos três turnos, onde são
oferecidos os cursos de Ensino Médio – Formação Geral (manhã e noite), Educação de Jovens
e Adultos – Supletivo (tarde e noite) e o Curso Técnico de Turismo – Pós-médio (manhã e
noite).
O Cejob se situa em uma área de cerca de 8 a 9 mil m
2
dos quais abriga suas
acomodações constituídas de 9 salas de aula, sala de audiovisual, sala da direção, refeitório,
biblioteca, 2 banheiros com vestiários e 2 normais (masculino/feminino, sem vestiários), salas
de administração, laboratório de informática, sala dos professores e almoxarifado. Na parte
desportiva conta com uma quadra polivalente, um campinho de futebol e quadra de vôlei.
Além destas dependências, o Cejob cede à Faetec parte de suas instalações. Onde são
oferecidos os cursos técnicos na área de informática, espanhol e inglês, que atende ao público
em geral, colaborando assim na capacitação da mão-de-obra tanto do Cejob, quanto da
população local e das regiões circunvizinhas.
93
Funcionando das 9 às 22 horas e 30 minutos diariamente, a biblioteca Professora
Maria Nazareth da Costa Marques, do Cejob, conta com noventa e dois títulos em turismo e
hotelaria, sendo que destes, setenta e um livros foram doados recentemente pela Editora do
SENAC. Deste conjunto de títulos, somente cinco livros não saem da biblioteca para
empréstimo.
Há um grupo de teatro amador, constituído por 10 alunos voluntários, criado em 2000,
que já tirou o primeiro lugar no Festival Estadual Estudantil de Teatro, acontecido em Búzios.
Há uma banda marcial representativa do Cejob com cerca de 50 componentes.
O Cejob tem uma interação regular com a comunidade de pais e alunos, bem assim,
com a comunidade em geral que, sob autorização da direção usam as suas dependências para
jogos e campeonatos de futebol, “peladas” e para diversas oficinas. Dentre estas se encontram
as de “fuxico” (espécie de artesanato para colchas, tapetes, entre outros) e de reciclagem de
lixo para transformação em novos objetos.
A oficina de reciclagem funciona como um projeto educacional demonstrativo da
relação do homem com seu ambiente, importante para todas as cidades, mas especialmente
para Búzios, que é uma cidade turística e tem, no meio ambiente, o seu principal atrativo.
5.3 O CURSO TÉCNICO DE TURISMO DO CEJOB
Os registros encontrados na secretaria do Cejob indicam que o Tectur teve início em
1995, ainda dentro da antiga estrutura dos cursos profissionalizantes de 2º grau. Com uma
carga horária total de 1400 horas, cuja grade curricular constavam as disciplinas de
Psicologia, História das Artes, Folclore, Museologia, Línguas Estrangeiras – Inglês, Francês e
Espanhol, Técnicas de Turismo, Administração e Fundamentos de Turismo.
Em 29 de novembro de 1999, um grupo de professores da área de turismo do Cejob
participou de reuniões na Cidade do Rio de Janeiro, promovidas pela Coordenação de Ensino
Profissional da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Nestas reuniões tomaram
parte também os docentes dos colégios estaduais que ofereciam o curso técnico de turismo,
94
além dos de Búzios, os da Cidade do Rio de Janeiro, de Miguel Pereira, de Nova Friburgo e
de Valença.
Nesta reunião foram discutidos os modelos de plano de curso onde deveriam constar:
¾ Justificativa e objetivo;
¾ Requisitos de acesso;
¾ Perfil profissional (que se espera do concluinte);
¾ Organização curricular;
¾ Critérios de aproveitamento de competência;
¾ Critérios de avaliação;
¾ Instalações e equipamentos;
¾ Pessoal docente e técnico;
¾ Certificados e diplomas (SEE, Reunião 29/11/99)
Os docentes levantaram vários questionamentos a respeito das modificações que já
vinham sendo indicadas na Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996 que estabeleceu as diretrizes
e bases da educação nacional.
No quesito aproveitamento dos estudos indagaram qual seria o tempo de estudo no
Colégio para que o aluno tivesse direito ao certificado? Se não pode haver prova eliminatória,
como se poderia fazer a seleção dos alunos? Por meio de prova classificatória? Poder-se-ia
usar o histórico escolar como critério de ingresso? Se o aluno fosse do próprio Colégio,
precisaria passar por alguma avaliação?
Houve uma preocupação, naquele momento, quanto à articulação de conhecimentos,
habilidades e atitudes dos discentes dos cursos de técnicos de turismo do Estado. Sendo
assim, foi decidido que dever-se-ia fazer reuniões, seminários, encontros mais regulares para
que a interação do professorado se desse de fato e se conseguisse tomar decisões mais
equânimes, levando em conta todos os cursos técnicos de turismo.
Quanto à questão curricular, a sugestão era que se tivesse um núcleo comum de
disciplinas a todos e um outro conjunto apropriado para cada região.
Por exemplo, em Búzios, onde a cidade é mais praiana, as atividades são
voltadas para sol e mar. No caso de Petrópolis, por exemplo, região serrana,
as atividades estão voltadas para os atrativos naturais da serra. No Rio se deu
ênfase a parte mais cultural. Então nós tínhamos essa idéia: um núcleo
comum e um núcleo específico para cada um. O plano, entretanto, era
integrar o Estado inteiro, com cada um de nós contribuindo com a sua parte.
(morador 37)
95
Além dos núcleos comuns e específicos, houve sugestões no sentido de cada colégio
assumir uma organização também por áreas: turismo, hospitalidade, lazer – cada uma delas
com ênfases, como hotelaria, transportadoras, entre outros.
Naquele momento, o grupo de professores não tinha claro se haveria necessidade das
empresas da área de turismo atestarem a competência daqueles que se formavam. E, diziam
mais: se assim fosse, seria preciso incorporar ao conjunto de disciplinas a de Ética e
Cidadania, além de aumentar a carga horária de estágio.
Outras dúvidas foram as de que se podia trabalhar ou não em duas áreas. Como seria a
avaliação? Qual a qualificação necessária ao professor? Quem forneceria as competências de
formação? Como ficaria a questão do Tecnólogo de Turismo em relação ao Curso Técnico e
qual seria a função da Faetec nesse processo?
Esta reunião foi preparatória para a implantação do Curso Técnico de Turismo
(Tectur) como curso pós-médio.
Em fevereiro de 2000, o Cejob solicita à Secretaria de Educação a implantação do
Curso Seqüencial Técnico de Turismo, como curso pós-médio. A justificativa para tal pedido
se deu “tendo em vista o alto potencial turístico do município de Armação dos Búzios” e ser o
Cejob, o “único colégio estadual de ensino médio da região”. (Ofício Cejob 10/00)
Nesse momento, as discussões dos professores da área de Turismo e Hospitalidade
ligados aos colégios estaduais, tornam-se regulares, culminando, em junho de 2001, na
“Reunião dos Cursos de Ensino Profissional de Turismo”, promovida pela equipe do Curso
Técnico em Turismo do Colégio Estadual Antônio Prado Júnior, localizado em Copacabana –
Cidade do Rio de Janeiro.
Essa reunião de trabalho foi um marco na reformulação do curso porque contou com a
presença dos professores dos cinco colégios estaduais que trabalham com a área de Turismo e
Hospitalidade.
Desmembrados em quatro grupos de discussão, os professores, tomando por base os
documentos – normas e regulamentações - do MEC, EMBRATUR, SEE/RJ e do Instituto de
96
Hospitalidade, resolveram encaminhar sugestões à SEE/RJ sobre quais seriam as melhores
definições dos cursos em suas cidades.
Como resultado, cada colégio pertencente a uma região do Estado, pôde montar seus
currículos respeitando uma parte comum a todos e elaborando uma parte específica. Esta
levou em conta dados da economia fluminense e da economia do município ou região onde
estivesse inserido o colégio.
Em 2002, os colégios estaduais passaram a oferecer à comunidade seus cursos
técnicos, estruturados em módulos, seqüenciais ao ensino médio, como pós-médio, no modelo
centrado em competências por área profissional.
Com uma carga mínima obrigatória de 800 horas para cada habilitação, estipulada
pelo MEC, o Cejob utiliza 880 horas para cada módulo. O primeiro ano está divido em dois
módulos: o dos fundamentos do turismo e o de Agência e Transporte. No segundo ano têm-se
o terceiro módulo que é o de Hotelaria. Um outro ponto favorável ao Tectur é que aos cursos
pós-médios são exigidos conhecimentos de duas línguas estrangeiras. O Cejob oferece, na sua
grade curricular, três línguas para o Curso Técnico: inglês, francês e espanhol.
O Cejob já entrou com o pedido na Embratur para ter o curso de Guia Turístico, o que
seria complementar ao que já existe, acrescentando um quarto módulo: o de guiamento. Este
processo já está há dois anos sendo estudado. O objetivo dos professores é que o curso de guia
seja seqüencial ao de técnico. Os alunos fariam o curso técnico e mais um módulo, o de guia.
Sairiam com dois certificados: o de Técnico e o de Guia regional e nacional. O 1º foco será o
regional, para privilegiar os roteiros integrados do Estado do Rio. Depois virá o guiamento
nacional, incorporando roteiros de visitação a Minas, São Paulo e Espírito Santo.
Para o curso de guiamento:
embora não haja exigências da Embratur a não ser a de profissionais
habilitados para a matéria, nós colocamos alguns parâmetros para que
funcione:
1) terem os alunos terminado o ensino médio e não estarem em
dependência em nenhuma matéria;
2) uma biblioteca adequada;
97
3) espaços próprios para laboratórios do tipo: um quarto, uma cozinha,
uma recepção, para que os alunos treinem (morador 37).
Perguntado se não haveria possibilidade em se fazer convênios com a rede hoteleira
para utilizar o espaço real para o treinamento dos alunos, houve a seguinte declaração:
por incrível que pareça, apesar de se ter tanta pousada aqui é tão difícil
conseguir um proprietário que esteja aberto a receber esses alunos. É até uma
contradição, porque seria uma mão-de-obra de graça para eles. Mas eles
alegam tantas coisas, põem tantas barreiras, tantos empecilhos que é algo
interessante ressaltar. Eles acham assim: a gente [no caso os empresários]
vai treinar as pessoas, elas vão aprender as coisas, aprender os segredos da
empresa, de como trabalhar e, depois vão sair fora e trabalhar em outro
lugar. Penso assim... por que eles não gostam dos estagiários? Sei que eles
erram, mas em contrapartida são os ‘pé de boi’, que fazem o serviço todo,
porque eles estão com aquela garra de aprender, então eles fazem o serviço
até muito bem... mas aí o que acontece? Eles são estagiários, seus trabalhos
são provisórios. Sim, eles vão sair e levar aquela bagagem do que
aprenderam para outra pousada e isto os empresários detestam, acham que
está errado. Aí qual seria a proposta? A de eles contratarem essas pessoas,
mas aí nós sabemos que é inviável, porque trabalhamos com uma ou duas
pousadas e a ida de nossos alunos têm de ser pensada, acordada pois, afinal,
são alunos da Escola que vão estar lá e tem de haver supervisão dos
professores do Colégio. Por isso não podemos trabalhar com muitas
pousadas e, estas poucas, mesmo que recebam um trabalho gratuito, sentir-
se-ão sempre lesadas porque estão preparando, de graça, as pessoas para
mercado, que não vão ficar ali. Esta é a cultura daqui, infelizmente.
(morador 37)
Diante deste impasse, foi dada a sugestão que se procurasse os órgãos que cuidam de
estágios, como o CIEE e a Fundação Mudes, que talvez, possam ter uma solução para o
problema, sendo até muito provável que este estágio seja remunerado. Um inconveniente
possível seria o deslocamento do aluno. Aí foi levantada uma outra dificuldade:
Pois é... esse tipo de estágio seria ideal para eles. Imagine o aluno sair daqui
para outro lugar! Mas eles não conseguem enxergar muito adiante. Eles não
sabem que precisam investir para que consigam coisas maiores na frente.
Eles são imediatistas. Isto serve para viagens, para estágios, para saídas e
visitas técnicas. Eles só vão até aonde eles ainda conseguem, uniformizados,
usar o transporte gratuito. Se saem deste limite dizem que não querem, que
não podem. Nós já tentamos arrumar lugares próximos daqui [para
estagiarem] como Cabo Frio, São Pedro, mas eles não vão, porque não têm
esta visão de investir um pouco agora para conseguir algo maior depois.
Como o curso é totalmente gratuito, pensam que não vão investir nada. Esta
é também uma grande dificuldade, olhando o lado dos alunos.(morador 37)
98
Embora esta seja uma dificuldade hoje – a busca do estágio – será provavelmente
provisória porque, com a autorização da Embratur para o funcionamento do curso de guia, a
equipe de professores já pode pensar em formulação de roteiros muito próprios da região, que
eles conhecem bem por, na sua maioria, ter nascido em Búzios ou arredores ou estar morando
há um bom tempo no local.
A possibilidade de sair como guia dará maior liberdade para que os alunos tenham
seus próprios negócios, que possam trabalhar como “free lancers”.
Ao que parece, entretanto, é que, por mais que se façam treinamentos e pode-se
perceber que muitos são oferecidos, tanto pelo governo quanto pelo Sebrae e Instituto de
Hospitalidade, por exemplo, há carência de mão-de-obra especializada para o setor, sendo, na
verdade, a história mais complexa do que se possa imaginar. Segundo uma outra declaração, o
problema estaria na falta de planejamento do local em relação às pessoas. Que se
preocuparam muito em fazer os espaços físicos, mas não se preocuparam em capacitar as
pessoas. Sabe-se do empenho que tanto a iniciativa privada quanto os órgãos públicos e as
ONG’s têm feito para sanar este problema.
O poder público reclama que a comunidade não quer se capacitar porque os
cursos são oferecidos e eles não participam. Existe aquele jogo de
reclamação e ninguém faz aquele processo de reflexão concreta: a minha
parte de contribuição para alterar isto é esta e eu vou cumprir esta meta. As
partes não fazem isso. A parcela de responsabilidade que é tanto da
sociedade civil quanto pública e privada não pára para discutir o assunto. E o
que gerou isso? O próprio processo de desenvolvimento que atraiu muita
gente para cá. No próprio processo de desenvolvimento, essas preocupações
não foram ordem do dia. A questão da capacitação, do bom atendimento,
isso não esteve na ordem do dia nesse processo de crescimento do turismo
aqui. Muito pelo contrário, nesse processo de desenvolvimento a gente teve
sempre um crescimento grande da estrutura urbana, em termos de prestação
de serviços, o que não foi acompanhado pelo crescimento da mão-de-obra
para trabalhar naqueles espaços. Houve uma preocupação muito grande de
fazer leitos, restaurantes, mas não houve uma preocupação muito grande de
fazer garçons, camareiras. Houve um espaço físico, mas cadê o espaço
humano para ocupar isso, para fazer isso funcionar? Isso não aconteceu e
tem as suas conseqüências hoje. Só que Búzios é um lugar muito especial,
inclusive em termos de espaço geográfico é um lugar muito pequeno, é um
‘biscuit’ que tem que cuidar muito bem, senão quebra. Enfim, essas
preocupações hoje têm de ser debatidas, discutidas, com técnica. Acho que
se tem de ter sobre Búzios hoje uma visão cientifica, uma visão de
planejamento, uma visão técnica para se reordenar as coisas por aqui
(morador 12).
99
5.4 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
As entrevistas tiveram basicamente onze perguntas (Anexo B). Sendo a primeira
utilizada para a identificação do informante, não sendo considerada por isso como questão.
Como foi usado o sistema de entrevista semi-estruturada de natureza espontânea, focal e de
um levantamento formal, em alguns momentos se permite a emissão de opinião fora do
esquema proposto, quando se acredita ser importante. Note-se que os itens dez e onze se
preocupam mais com o presente (o que deixou de ser perguntado) e com o futuro (que cidade
se espera morar). Daí foram tiradas partes das sugestões e recomendações que são descritas no
capítulo a seguir.
Ao todo foram gravadas 15 microfitas, na velocidade mais lenta, totalizando mais de
30 horas de registro das entrevistas. Estas foram todas transcritas porém, devido a grande
quantidade de material, tiveram de ser editadas para dar uma maior coesão aos discursos,
aproveitando-se deles as partes mais importantes que corroborassem ou não a hipótese.
As perguntas 1, 2 e 3 foram tabuladas no capítulo anterior quando se descreveu a
metodologia, excetuando-se a que diz respeito do tempo de moradia em Búzios ou arredores,
visto que nem todos responderam esta pergunta e, assim, foi desconsiderada por não se tratar
de algo tão fundamental ao trabalho:
1) Apresente-se. Diga seu nome completo, profissão, idade;
2) Há quanto tempo conhece ou mora Búzios, se mora, em que bairro e há quanto
tempo? Se não mora em Búzios, onde mora?
3) Trabalha com produtos relacionados ao turismo? Com o quê?
A partir do terceiro item, dos 37 entrevistados, 24 disseram que “sim, trabalham
diretamente com o turismo”; 9 responderam que “não, só estudam” e 4 responderam que “sim, mas
trabalham indiretamente”.
Percebeu-se que há uma linha tênue que separa aqueles que se dizem trabalhar diretamente
com o turismo e aqueles que dizem que trabalham indiretamente. Na verdade, mesmo que o
entrevistado (a) não tenha uma função “clássica” no trabalho da área como recepcionista, camareira,
dono de pousada, agente de viagens, etc, as atividades se relacionam diretamente com o turismo,
100
seja um técnico de refrigeração que atende aos hotéis, seja um professor que dá aulas para a área de
turismo, por exemplo.
A pergunta 4 – Qual a sua opinião sobre o turismo em Búzios? – teve como objetivo
ser aberta para que os respondentes se expressassem com mais liberdade:
Dos 37 respondentes ao todo, haverá uma separação entre as respostas dos alunos do
Tectur/Cejob - no total de 18 - e do restante da população. Isto porque o que mais interessa
para este estudo é como está o discurso dos alunos em relação ao turismo e seus
desdobramentos e a sintonia que o aprendizado vem estabelecendo ou não com os planos e
metas governamentais.
O PNT (p. 17) ao diagnosticar as dificuldades enfrentadas pelo turismo no Brasil,
principalmente em relação ao panorama internacional, informa que há “qualificação
profissional deficiente dos recursos humanos do setor, tanto no âmbito gerencial quanto nas
habilidades específicas operacionais”. Esta avaliação também é encontrada no Plantur –
proposições - (p. 8), quando diz:
A qualificação da atividade impõe ações com relação à capacitação
profissional, a partir de um mapeamento das principais carências de
formação de mão-de-obra, nos diferentes níveis de escolaridade, por
município ou região turística.
No Plano Diretor do Município, documento que traz à tona os pontos fortes e fracos do
município, avalia que “no tocante a trabalho e renda” um dos principais problemas é a
“formação/capacitação profissional insuficiente, fator imprescindível para obtenção de
empregos qualificados apontado como problema prioritário” (p. 142).
Como se pode perceber tanto o governo Federal (PNT), quanto o Estadual (Plantur) e
o Municipal (Plano Diretor) corroboram com as principais queixas dos alunos do
Tectur/Cejob, tanto quanto o que apregoa o documento “Referenciais curriculares nacionais
da educação profissional de nível técnico. Área profissional: Turismo e Hospitalidade” que,
ao citar o estudo “Profissões para o Milênio – Um estudo sobre Educação e Capacitação para
Carreiras na Indústria de Viagens e Turismo da América Latina”, do World Travel & Tourism
Council e da American Express Company (p. 9):
101
o turismo agora está começando a engrenar legal, com a qualificação das
pessoas, cursos que estão vindo à Búzios, oficinas, e está pegando os hotéis e
pousadas, que já estão com pessoas um tanto qualificadas...” (morador 3);
..porque as pessoas têm que se qualificar.....não adianta o turista vir para cá,
entrar num restaurante e não ser bem atendido, a infra-estrutura da cidade
não ser boa. (morador 4);
Há muita falta de mão-de-obra especializada (morador 7);
não temos a qualificação profissional necessária do pessoal que atenda o
turismo (morador 8);
O turismo em Búzios está agora aquele turismo enlatado, aquela mesmice.
Vamos ter mais qualificação e turismo de qualidade e não turismo de
quantidade, qualidade ecológica, qualidade ambiental, qualidade social
(morador 9);
Eu acho que por parte da iniciativa privada teria de ter mais incentivos à
capacitação para melhorar o atendimento, algo mais profissional. (morador
10);
Precisa de capacitação constante e de valorizar um pouco mais as coisas da
terra. (morador 35).
Embora não sendo os mais citados apareceram também, por meio de dos estudantes as
seguintes declarações:
Dentro do Curso Técnico estamos tentando resolver alguns problemas que é
o de criar novos calendários de eventos, para tentar diminuir a sazonalidade
da nossa cidade que recebe poucos turistas na baixa temporada. Então,
estamos todos, alunos e professores do curso criando novas opções para a
baixa temporada, buscando novos recursos. Estamos buscando novas
soluções, criando novos atrativos para poder trabalhar daqui para o final do
ano....(morador 10);
...exploradas no inverno..., mas nós temos produtos melhores ainda a
oferecer além das praias. (morador 11);
...Você vê que a gente aqui não tinha apoio do Técnico de Turismo e agora
já temos. Então você vê a mudança acontecendo e isto é muito bom, porque
você vê a cidade crescendo por conta do turismo e vê mais ainda, que as
pessoas já estão voltadas, atentas para isso.... (morador 13);
....acho que falta e prejudica os turistas é a sinalização... as placas...eles
ficam meio perdidos.... (morador 29);
O turismo em Búzios é muito mal aproveitado. Na realidade só existe
turismo 3 a 4 meses no ano que é a alta temporada....preços abusivos, uma
rede hoteleira que cobra caro ...Não existe uma mentalidade turística em
Búzios. Existe o turismo, mas não a mentalidade turística que busque atrair
o turista nas outras épocas ...de dez turistas que vêm a Búzios somente 3 ou
4 retornam.. (morador 30);
que muita gente, como eu, está sem informação. ... tinha que haver mais um
processo de interação dos órgãos públicos junto ao povo. Mais ensinamentos
nas escolas, até desde o início..... eu acho que são os jovens que vão ter que
102
levar esse conhecimento, o que já teria que chegar desde a mais tenra idade
das crianças na escola... (moradora 36)
Estas respostas demonstram que o Tectur vem pensando junto com os estudantes
maneiras de criar produtos inovadores e, mais uma vez, intencionam em resolver um
problema citado no PNT (p 18) que é “a baixa qualidade e pouca diversidade de produtos
turísticos ofertados nos mercados nacional e internacional”. Os outros citados como falta de
promoção na baixa temporada, falta de mentalidade turística, falta de sinalização turística e
levar o conhecimento turístico aos jovens, por exemplo, o Plantur diz:
Deve ser realizado um trabalho junto à Secretaria Estadual de Educação para
a definição de um programa de conscientização para o turismo e a
preservação dos recursos naturais e culturais, bem como para o
fortalecimento da formação de segundo grau e técnico. A Embratur possui
um programa pronto de conscientização para a 6ª série do primeiro grau que
poderia ser uma referência para esse trabalho. (p. 8)
Embora as respostas de outros moradores para a mesma pergunta feita aos alunos do
Tectur/Cejob estejam mais bem elaboradas, não se fará aqui a análise a partir dos Planos
turísticos da união, estado e município, pois o interesse é identificar as relações dos
depoimentos dos alunos. Interessante, todavia, é que, nos depoimentos dos não-alunos não
aparece a questão da capacitação, ou melhor, a questão da capacitação não é prioritária,
mesmo a dos moradores 12 e 37 que falaram a respeito, o que foi demonstrado no item
anterior, antes da análise das entrevistas.
O que aparece é mais a questão da preservação ambiental, a superlotação no verão,
talvez tendo-se que trabalhar um turismo com capacidade de carga no verão (limitando o
número de entrada de pessoas), o que desagrada muitíssimo os comerciantes. Uma outra
dificuldade é a questão da infra-estrutura, que também aparece nos depoimentos e a
necessidade de criar novos negócios em turismo que dê conta de utilizar sua exuberância
ambiental, como é o caso das trilhas. Passa-se também pela questão da valorização da cultura,
do chamamento ao turista “bom”, que não necessita ser aquele que tenha muito dinheiro, mas
que conserve uma identidade com o que é natural, respeite o morador local, suas
manifestações e credos.
Na questão 5, foi perguntado: Você tem alguma sugestão a respeito do turismo na
baixa temporada? Que atividades crêem que poderiam ser oferecidas?
103
O PNT, quando realiza o diagnóstico dos atrativos e produtos brasileiros para o
turismo diz que há “ausência de um processo de avaliação de resultados das políticas e planos
do setor”, além de “insuficiência de dados, informações e pesquisa sobre o turismo brasileiro”
e, dentre outras, “insuficiência de recursos e falta de estratégia e articulação na promoção e
comercialização do produto turístico brasileiro” (p. 17 e 18). O Plantur, quando faz
proposições para a região turística – não somente para Búzios – diz que:
a Região [está se referindo à Região Turística 9 que abrange os municípios
de: Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Casimiro
de Abreu, Iguaba Grande, Maricá, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia e
Saquarema] também registra como grande apelo turístico, o patrimônio
histórico e cultural com exemplares arquitetônicos retratando a história local,
artesanato, artes plásticas, vestuário e gastronomia. (p.138).
No caso do documento inicial que embasa o Plano Diretor de Búzios diz que para o
turismo e lazer há:
inexistência de uma política global e definida de turismo para a cidade;
turismo predatório – falta de incentivo ao ecoturismo; falta de
estrutura/incentivo/investimento para atividades náuticas e esportivas; baixa
qualidade no atendimento ao turista; ausência de calendário turístico (p. 142)
Já no documento “Referenciais...” quando fala da interface do turismo diz que:
Com a área de Meio Ambiente, não só pela atenção geral para a paisagem e
as questões de preservação, como precipuamente nas atividades do
Ecoturismo ou Turismo Ecológico. Com as Artes, desnecessário insistir na
interface e, mesmo, dependência que o Turismo tem em relação ao
patrimônio histórico-artístico, às manifestações de arte de toda natureza, da
folclórica e popular mais sofisticada e cosmopolita. Com o Lazer e
Desenvolvimento Social, pela sua identificação com a função social do uso
do tempo livre e com a forma de seu exercício através de atividades de
recuperação psicossomática, recreativas, físico-desportivas, de
entretenimento, de fruição artístico-cultural, etc. A área de Turismo e
Hospitalidade faz, ainda, interface com essas e varias outras áreas, quando se
promovem eventos de várias naturezas, tipos, conteúdos e objetivos (p. 6).
Interessante que os alunos praticamente citaram tudo o que se encontra disperso no
conjunto de documentos quando dão suas sugestões a respeito de como incrementar o turismo
na baixa temporada:
104
estamos divulgando mais a Serra das Emerências, que dá um passeio, uma
caminhada legal que eles fazem lá, fazem trilhas, fazem outros tipos de
passeios. Na baixa podem fazer também equitação, pois têm fazendas com
espaço imenso para fazer este tipo de turismo...Trazer mais shows.... Um
parque infantil também para levar as crianças”(morador 3);
deveria ser oferecido algo em relação aos esportes, há tanto mar aqui que dá
para fazer tanta coisa! Campeonatos, festas... (morador 4);
serem criados mais eventos para atrair os turistas na baixa
temporada....Podíamos ter eventos assim... esportes, eventos também
populares, que possam mostrar um pouco da cidade, mostrar um pouco a
cultura da cidade, os artistas, que tem em Búzios... (morador 6);
turismo ecológico. Melhor mesmo é o turismo ecológico... (morador 7);
Eventos na parte náutica... umas convenções... (morador 8);
A tendência na baixa temporada do turismo seriam as caminhadas
ecológicas, gastronomia, festas gastronômicas, eventos culturais, feira de
livros, momentos históricos da cidade, resgate da história, da cultura de
Búzios.... (morador 9);
caminhadas ecológicas, trilhas, do qual já temos um projeto preparado para
atender a esta demanda que é a baixa temporada. São vários tipos de trilhas e
vamos também, dentro das possibilidades criarmos caminhadas e
cavalgadas (morador 10);
Ecoturismo, porque nós temos aqui matas, maravilhosas trilhas para serem
feitas e não exploradas.Pode também fazer vôo livre, pois tem rampa nas
Emerências. Nós estamos criando estes produtos aqui no Curso Técnico de
Turismo. (morador 11);
Eventos, shows. (morador 13);
eventos (morador 18);
Mais eventos na baixa temporada...manter parcerias com outras cidades....
(morador 20);
investir no turismo sustentável por meio da cultura local, artes e artesanato
(morador 21);
Mais cultura, mais áreas de lazer,algum tipo de isenção ou diminuição de
impostos(morador 22);
Eventos, campeonatos, shows (morador 29);
Festivais de música popular, de música sacra, de música gospel. Atividades
desportivas como vôlei de praia. Atividades aquáticas como canoagem, jet
ski, vela. Fazer negócios com outros locais – trocas e promoções nas
temporadas... (morador 30);
Sugiro programas tipo apresentação de shows... (morador 31);
Esporte náutico... (morador 35); e
105
Oferecer, junto com outras prefeituras um calendário de turismo.....festas
folclóricas, exposições dos colares de contas que os índios faziam. Pegar
uma coisa tradicional de Búzios e fazer festa disso, tipo peixe com banana...
(moradora 36)
Nos depoimentos do conjunto de moradores apareceram as seguintes sugestões:
¾ parque temático de Búzios, onde se possa passear por trilhas e
conhecer as plantas nativas... e que no meio desse parque tivesse uma
casinha de pau-a-pique como era feita na época e a caminha de bambu onde
dormiam.. (morador 1)
¾ Festival gastronômico. Toda semana um evento para chamar o turista.
A baixa temporada tinha que ser atrair o turista do exterior e para o turismo
de negócios... temos hotéis e pousadas que oferecem toda a logística, a infra-
estrutura, o apoio necessário para esses eventos, com centro de convenções,
inclusive. (morador 2)
¾ Eventos desportivos, náuticos. Buscar o turista brasileiro, das cidades
mais próximas. Explorar os eventos e outras opções de lazer... Quando tem
chuva os pousadeiros ficam sem ter o que oferecer aos hóspedes... (morador
5)
¾ Aqui deve ser feito um trabalho específico em cima do resgate daquilo
que é histórico, ambiental, humano e agregar a isto valores no sentido de
compor produtos que reúnam a iniciativa privada que já está estabelecida
aqui. (morador 12).
¾ Feiras, concursos gastronômicos de frutos do mar, shows de
qualidade...”.(morador 14)
¾ Congressos, festivais, esportes náuticos. Só que é necessária uma
estratégia política mais dirigida ao turismo. (morador 15)
¾ Búzios já tem as coisas mesmo na baixa temporada basta trazer os
turistas. (morador 16)
¾ Calendário de eventos náuticos. Ninguém vem aqui apenas tomar
sol.É todo um contexto: o meio ambiente, a paz, a tranqüilidade, a própria
badalação... (morador 17).
¾ Eventos em forma de cultura,calendário de eventos turísticos.
(morador 19)
¾ Turismo cultural com festivais de música, teatro, cinema e uma grande
divulgação da cidade! (morador 23)
¾ A baixa temporada pode ser atenuada através de captação do turismo
de negócios, de grandes eventos e de uma política de tarifas mais razoáveis
para estes períodos. (morador 24)
106
¾ Gastronomia, turismo religioso.... Programas culturais, atividades que
possam estimular a vinda de pessoas independente do sol. (morador 25)
¾ Esportes náuticos, vela. Turismo de altíssimo nível, que gera renda e
emprego para todo mundo. Atividades culturais para quem chega e para
quem já mora aqui. Precisamos de um calendário de eventos muito
diversificado. (morador 26)
¾ Promover eventos: para crianças, jovens e eventos náuticos que é o
que eu acho o grande charme da cidade. (morador 27)
¾ Esportes náuticos por ter Búzios uma das melhores raias do mundo.
Eventos que tenham a identidade do local. As festas religiosas....Trabalhar a
cultura....Afora isto, o acesso à búzios é muito ruim. (morador 28)
¾ Gastronomia.... (morador 32)
¾ Calendário de eventos. Gastronomia usando a farinha, o peixe como
antigamente... (morador 33)
¾ Explorar lá para aqueles lados de Baía Formosa, da Rasa, tem uma
comunidade de negros, descendentes dos escravos... (morador 34)
¾ Pesca artesanal, gastronomia, calendário anual de eventos. Imagine se
o Rio decidisse fazer o carnaval somente em janeiro para preparar tudo para
fevereiro ou março? Seria uma tragédia, não é? Mais o carnaval é aquela
coisa bonita porque eles trabalham o ano inteiro em função disso.... (morador
37)
O que mais aparece de sugestão é incrementar a gastronomia, ter calendário anual de
eventos, esportes náuticos, trilhas, ecoturismo, atrair turistas mais próximos e estrangeiros,
eventos de negócios, turismo religioso, turismo cultural, parque temático de Búzios, festivais
culturais: shows, teatro, cinema, exposições de arte. Dar importância ao lazer infantil e
juvenil.
A pergunta 6 – Você sabe de algo que o pessoal nativo ou morador de Búzios faz de
diferente que poderia ser aproveitado para o turismo? Ex.: comida, dança, música, pintura,
etc... será analisada junto com a pergunta 7 – Quem faz? Onde mora? Essa pessoa trabalha
com isto regularmente, ou faz outra coisa para viver?
O PNT diz nos seus princípios norteadores para o desenvolvimento do turismo que
“desejamos um novo modelo para o Turismo que contemple e harmonize a força e o
crescimento do mercado com a distribuição da riqueza (p. 19). Mais adiante afirma que
107
todos os Programas, Projetos e Ações do Plano Nacional do Turismo terão
como Pressupostos básicos a ética e a sustentabilidade e como princípios
orientadores os seguintes vetores do governo:
¾ Redução das desigualdades regionais e sociais;
¾ Geração e distribuição de renda;
¾ Geração de emprego e ocupação;
¾ Equilíbrio no balanço de pagamentos (p. 20)
Quando estabelece o Macroprograma 4 enuncia:
a oferta do produto turístico brasileiro tem se caracterizado pela pouca
diversidade” [...] Estruturar e aumentar esta oferta, colocando no mercado
novos produtos de qualidade, compatíveis com a diversidade cultural e
contemplando as diferentes regiões brasileiras se constituem (n)um grande
desafio (p. 37)
Nos seus objetivos, vê-se, dos quatro arrolados, a necessidade de:
¾ aumentar o número de produtos turísticos de qualidade colocados para
comercialização,
¾ diversificar os produtos turísticos contemplando nossa pluralidade
cultural e diferença regional,
¾ diminuir as desigualdades regionais, estruturando produtos em todos
os estados brasileiros e Distrito Federal (p. 38)
Na parte de promoção e apoio à comercialização, diz no Macroprograma 6, como um
de seus objetivos: “promover a diversidade cultural e regional brasileira” (p. 43)
Nestas questões, o Plantur coloca como um de seus objetivos e pressupostos: "reforçar
a identidade turística estadual, respeitadas as peculiaridades regionais e ambientais”
(DIAGNÓSTICO, p. 5)
E mais adiante ao descrever minuciosamente as questões dos aspectos culturais do
estado afirma que:
Observa-se a necessidade de criar as condições para a atualização dos
registros das manifestações folclóricas em todo o Estado, com o objetivo de
preservá-las, tendo em vista constituírem-se em elementos importantes do
resgate e da preservação da identidade cultural da população. Além disso,
podem constituir-se também em importantes fatores de atração turística e,
portanto, de geração de renda para a população local (DIAGNÓSTICO, p.
40)
108
Já no Plano Diretor, de Búzios, ainda não o documento definitivo, alerta:
Quantos aos problemas que dificultam a questão da disseminação da cultura
no Município, foram sinalizados:
¾ Falta de identidade cultural potencializada pela descaracterização das
tradições buzianas;
¾ Falta de calendário anual, divulgação e apoio aos eventos culturais;
¾ Falta de apoio ao artesanato / produção cultural local;
¾ Falta de espaços para eventos;
¾ Escassa produção de artesanato local de qualidade superior (p. 142)
A estas observações, expressas nos planos federal, estadual e municipal, responderam
os alunos que:
Quadrilha. Folia de Reis existiam na região, mas não existem mais. A
população, porém, encontra outros meios de se expressar nas artes e, por isso
usam a taboa para fazer esteira, do bambu fazem cestos e são pessoas que
vivem disso. Tem muitas pessoas daqui, de Búzios em geral que são
artesãos. Dentre essas pessoas, encontra-se o Sr. ‘Manoel Beirão’ que faz
esteiras, faz cestos. O processo é simples: vai até as lagoas ou brejos, pega a
taboa corta e leva para secar, para fabricar estas esteiras, que ele vende a dez
ou quinze reais.(morador 3)
A fabricação de cestos não é uma peculiaridade de Búzios, mas faz parte de uma
história que ficou no passado, uma história das aldeias que tinham lagunas e brejos. Em se
falando em roteiros integrados, em peculiaridades regionais, esta seria uma das características.
Identificaram também os trabalhos que são expostos na Praça Santos Dumont e na
feirinha no final da Orla Bardot:
pinturas, trabalhos manuais, artesanais, um pouco da cultura da cidade.
(morador 6)
Búzios, como cidade cosmopolita, recebe os artistas que “não são daqui”. Os
que são da terra, alguns fazem esculturas em madeira. Tem a Abigail, vinda
de fora, que expõe suas obras em seu próprio restaurante. Os artistas mais
famosos são aqueles que não nasceram em Búzios, mas escolheram Búzios
para morar. (morador 7)
A pesca artesanal é um produto local, mas até ela sofreu influências estrangeiras como
do Kurajiro, japonês que se estabeleceu em Búzios há muito tempo atrás, conforme
depoimentos do morador 1.
109
Se a pesca é um meio de sobreviver, na alta temporada eles, os pescadores
usam seus equipamentos para levar turistas a passear e contar as histórias da
cidade. (morador 8).
Em José Gonçalves, existem pessoas que ainda fazem a culinária dos índios
e alguns fazem seus artesanatos para não esquecerem da cultura. Pena é que,
algumas vezes, vendem seus trabalhos muito baratos para pessoas que os
superfaturam ao revender. (morador 9).
Alguns que fazem artesanato usando a taboa, na mesma José Gonçalves,
também cultivam hortaliças orgânicas, “porque ninguém gosta de comer
veneno”, diz uma das filhas deles. (morador 11).
Macarrão com siri pode ser um prato típico? Ou é uma invenção típica da
Búzios contemporânea? (morador 18).
As casquinhas de mariscos, em José Gonçalves, do Ranieri e mais as suas
obras, mistura de madeira, bruta, ou gravetos, com formas humanas e
metais, que não faz mais porque não tem como derreter e prensar os metais
para dar-lhes forma. (morador 21).
A sopa de peixe com banana verde, aliando dois ingredientes, um ainda
abundante na região: o peixe e outro hoje com poucas plantações: a banana.
(morador 35).
Um aluno e o sonho de
montar seu restaurante de pratos típicos, fruto de receitas antigas, da avó,
passadas para a mãe, guardando sigilo de como fazer (morador 36)
Com objetivo de ter seu diferencial competitivo que tanto se encontra nos documentos
empresariais e nos núcleos de discussão dos novos produtos de qualidade em turismo.
Os demais respondentes vêem a questão do que pode ser aproveitado para o turismo
do que o pessoal nativo ou morador, da seguinte maneira:
A comida típica daqui era peixe com banana, peixe com farinha, era o peixe
salgado com banana, era muita mandioca, muita batata, batata doce, coisas
assim que eles mesmos plantavam, milho eles usavam demais, mas assim os
pratos que eu mais escuto falar é o tal do peixe salgado com banana, que era
o que eles falam que mais sentem saudade, que de vez em quando os
pescadores fazem..., essas fritadas também de ovo com peixe, com bastante
tempero... eles fazem isso, fica uma delícia, não sei se pode chamar de
típico, mas, para mim, é uma coisa típica. A sola é feita da farinha e com
amendoim, A sola misturava a farinha da mandioca com o amendoim,
pedaços inteiros e cana-de-açúcar, que era de onde eles tiravam o açúcar, um
pouco disso, meio rapadura, meio assim, que eles misturavam, e faz tipo
uma sola mesmo, você amassa aquilo, aquilo vai ao forno, eles embrulhavam
110
em folha de bananeira para conservar úmido, para não ficar muito seco.”
(morador 1)
Sei dos artistas que vieram de outros lugares, como São Paulo, e até do
exterior e escolheram Búzios para morar. O Toninho português, além de
saber a história de Búzios como ninguém, principalmente a parte cultural,
faz gravuras de peixes representando Búzios, esse negócio de mar....
(morador 2)
As pessoas têm interesse na parte cultural. Têm sido desenvolvidos alguns
trabalhos na área da música, do teatro, das oficinas manuais. Freqüentam
essas aulas desde crianças até pessoas mais velhas. Acho que deveriam ser
criadas exposições com essas obras. Outro ponto interessante é a cultura
voltada para a capoeira, que os estrangeiros gostam porque para eles é
diferente. Na Praça Santos Dumont têm um instrutor de capoeira, Serginho,
que dá aulas toda quarta-feira de forma voluntária para adultos e crianças e
não recebe nenhum patrocínio. Aqui tem um pouco de arte circense. Têm
muitos artistas escondidos ainda em Búzios.... (morador 5)
Búzios tem alguns valores que, realmente, são de Búzios e foram questões
muitas das vezes naturais. A gente pega, vamos dizer, questão da arquitetura
de Búzios. É muito difícil você ver encontrar uma localidade que tem uma
arquitetura que a caracteriza e Búzios conseguiu isso: criar. Também tem
todo um trabalho do Otavinho que começou aqui com várias propostas de
construções que mexem em vidro, a madeira... até, vamos dizer, a partir de
uma adaptação das casas dos pescadores para que elas pudessem começar a
receber turistas... isso acabou virando uma marca da construção em Búzios.
Então é um aspecto realmente interessante, de charme, que dá um requinte
diferenciado, que dá um requinte do luxo, não do luxo da ostentação. Em
Búzios é o luxo do requinte, refinado – o luxo simples – e isso traz um
diferencial grande para a cidade. [...] Olha, a gente pode perceber alguns
valores passados particulares. Eu vejo hoje a região muito multicultural. É
uma cidade que absorveu pessoas de várias localidades do Brasil e, somou-
se a isto os estrangeiros. Isso traz hoje uma característica multicultural e
indefinida. Por que multicultural e indefinida? Porque você tem um conjunto
de culturas diferentes, de produções culturais e artísticas diferenciadas, mas
elas não estão calcadas numa base sólida. Quando eu falo que elas não estão
calcadas numa base sólida é a questão da perda da identidade cultural local.
Porque quando você me pergunta dum valor próprio duma comida, duma
dança, duma arte própria me vem à mente a identidade das pessoas da
localidade e isto vem se perdendo tanto em Búzios quanto na região inteira.
Então, vamos dizer assim... existem lampejos... um prato que é o peixe com
banana, que já me contaram que é um prato típico... dum trabalho de
artesanato com uma raiz chamada samuma que é uma raiz de um arbusto
daqui do litoral, uma dança folclórica, próxima ao carnaval ligada a presença
de peixes, onde havia uma dança muito parecida ao boi-bumbá, as lendas de
escravos que existiam na região da Rasa que você escuta as pessoas
comentarem. Hoje ainda existem esses lampejos, mas que não é nada forte,
nada com força dentro da cidade. Eu vejo que esses elementos por mais
simples que possam ser, eles têm que estar presentes no turismo, afirmando a
identidade da população da localidade. [...] Seja um valor individual ou um
coletivo, como o peixe com banana, por exemplo, isso tem que ser unificado
enquanto produto da região. Acho um absurdo, por exemplo, a gente ter
passeio de jangada aqui em Búzios. A jangada não é um transporte marítimo
comum da península. A gente tem a canoa, a traineira. A jangada é coisa do
111
nordeste, não tem que estar aqui. Sendo assim, a gente acaba vendo
incorporados à Búzios e região valores que não são natos. Então...
redescobrir, revalorizar, afirmar os valores natos e ingressá-los na atividade
do turismo é a maneira de se garantir a identidade local. É uma maneira, no
fundo, de se fazer inclusão social. Você pode identificar uma produção de
farinha, por exemplo, que parece que ainda existe no bairro da Rasa, que é
uma produção de farinha artesanal, e incluir essas pessoas no processo do
ganho econômico onde elas fazem aquilo que sabem fazer, que é natural
delas Um outro exemplo também de Búzios é que a comunidade nasceu da
pesca, toda sua atividade sempre esteve relacionada ao mar, do oceano. Por
que isto não está incluso no turismo? Por que se vincula um passeio de
escuna e não se tem oferecido um passeio em embarcações típicas de pesca
onde a própria presença de um pescador possa ir transmitindo ao visitante
conhecimentos que ele tem sobre o oceano. São elementos que são próprios
e, quando identificados, têm de passar por treinamentos, composição técnica,
pois não se vai ingressar a atividade e as pessoas no turismo sem que haja
um preparo e alguma padronização também. Tem que ter todo um
planejamento para isso, mas é a saída que eu vejo para Búzios se tornar um
lugar único, porque o que vem acontecendo é que esta multiculturalidade
que existe aqui, que de um lado é fantástica porque traz consigo vários
relacionamentos, conhecimentos e concepções artísticas, por exemplo, mas
tudo isso tem que estar agregado a uma base sólida, que é a identidade
cultural local. Então é um lugar fantástico porque tem esses valores que
precisam ser redescobertos e um turbilhão de coisas, produtos e pessoas que
já existem! Criar essa base e reunir com o que já existe, você torna Búzios
um lugar excepcional, porque o caminho que está ocorrendo é o da cidade se
tornar um lugar comum. [...] Quando vejo uma parceria que começo a
realizar com alguns empresários da cidade em torno desses produtos de
ecoturismo, vejo realmente que eles querem uma resposta, que querem uma
coisa nova, particular, nativa, própria para o cliente deles, que é o turista. [...]
Não conheço pessoas que fazem essas coisas típicas, mas conheço famílias
das quais você pode chegar até essas pessoas. Uma delas é a família dum
rapaz que é dono de um quiosque na Praia da Tartaruga, que me falou desse
peixe com banana, que alguém da família dele faz. Tem um garçon neste
mesmo quiosque, chamado Artur, que me contou a história do artesanato
com raiz de samuma. Tem aqui uma família de pescadores do Sr. Zeca –
que faleceu há uns dois anos – que é uma família tradicional e conhece as
histórias antigas, das questões mais folclóricas, cuja filha é aluna do Tectur,
a D. Iolanda. (morador 12)
O trabalho artístico aqui em Búzios que a gente conhece e vem participando
de algumas reuniões, até então não foram incentivados, não houve feiras,
não houve lugar para exposições. Só quem pode cuidar disso por conta
própria é quem tem dinheiro. A sugestão seria fazer uma grande mostra de
rua. Fechava uma rua e fazia uma mostra num final de semana com muita
propaganda, com divulgação com antecedência. (morador 14)
não vejo nada de extraordinário, típico de Búzios. Peixe com banana eu
comia em Curitiba, quando criança, chama-se peixe à brasileira, não é uma
coisa buziana. (morador 16)
Existem dois pratos tipicamente buzianos que as pessoas não dão mais
importância. As pessoas fazem, na verdade, para comerem em casa: o peixe
seco com banana, o peixe escalado, tipo bacalhau. Prepara o peixe que
necessariamente não tem que ser seco, ele pode ser ‘sal presado’ – é como o
112
pessoal chama aqui. Para preparar o peixe, põe bastante sal e deixa de um
dia para o outro ou dois dias. No dia de fazer você põe de molho com uma
certa antecedência para tirar a quantidade de sal e ensopa, faz um pirão com
banana doce, banana d’água. Dalti é uma pessoa que faz peixe com banana.
A garoupa com macarrão também é muito gostosa, mas ninguém explora
comercialmente. Além da comida, tinha a Folia de Reis e o carnaval era
muito rico, pois tinha os blocos carnavalescos. A Folia e os blocos não
acontecem mais. (morador 17)
Peixe frito, caipifruta, cuscuz, quebra-queixo, esses dois últimos uma riqueza
da Região dos Lagos.... (morador 19)
Sou uma pessoa muito ligada a minha linha de trabalho: cultura e artes
plásticas em geral. Tem três artistas que tem aqui uma influência muito
interessante até porque são nativos e assimilam todas as informações porque
Búzios é um lugar de muitas informações de cultura. Eles transformam isso
para o seu dia-a-dia, retratando o peixe, a flor, o barco. Transformam essas
influências para o seu universo. Tem por exemplo umas pessoas na Rasa que
fazem cestaria com galhos de arvore, com raízes. Tem um pequeno
fragmento de pessoas fazendo artesanato com fibra de bananeira. Só que está
tudo muito fragmentado com o mínimo de incentivo.... Reciclagem.... tem
pessoas hoje em dia trabalhando com reciclagem só que estão muito isoladas
em seus ateliês. Pessoas que moram aqui e eu acho muito interessante e triste
ver as pessoas que nasceram aqui e dizem ‘eu faço essa coisinha aqui’, mas
isto é arte, eu digo! E eles nem se reconhecem, mas também não tem
incentivo, não tem apoio.
Em José Gonçalves e na Rasa eles fazem um bolo que está se perdendo, que
a gente não vê mais. É o bolo puba, feito de mandioca podre mais mandioca
boa.
O Leley tem um ateliê aqui no Centro, ele é de Baía Formosa ou da Rasa,
não tenho certeza. Lá eles fazem muitos trabalhos que poderiam render
muito mais divisas para o município e muito mais dinheiro para eles, uma
melhor qualidade de vida. (morador 23)
¾ Eu acho que um pouco pela miscigenação, um pouco pela quantidade
de estrangeiros e gente que veio de fora para Búzios, eu acho que, na
verdade, a cultura de Búzios foi se modificando ao longo do tempo. Por
exemplo: nós não temos um artesanato que é desenvolvido. Nós não temos
uma cultura própria e isto também é muito das cidades de praias do Brasil.
Não desenvolveram uma área cultural muito grande, não sei se porque são
pescadores, não se desenvolveu uma cultura própria. A nossa cultura, na
verdade, a cultura que faz valer hoje em Búzios, é a cultura que veio a partir
do momento que as pessoas começaram a chegar e, então, tem muita
influência estrangeira, muita influência das pessoas que vêm de fora, mas eu
diria até que Búzios não tem uma cultura própria. Uma história sim, mas não
uma cultura, que tenha se desenvolvido: uma dança, uma música própria,
artesanato próprio, nada disso foi trabalhado, como no Brasil inteiro: nada
diferente do Brasil. (morador 24)
¾ Os moradores locais têm bastante histórias e ainda não foi feito o
resgate cultural voltado para o turista. O nosso turista vem através dos
atrativos naturais, que são as praias e buscam o comércio local. Ele não tem
ainda opção de buscar o artesanato local. Então, existe todo um objetivo de
fazer um resgate cultural relacionado a isto. Nós temos em José Gonçalves
uma comunidade que faz artesanato de folha de bananeira que poderia estar
113
sendo oferecido aos turistas. Nós temos também na Rasa um quilombo onde
vivem pessoas originárias de negros, que ficaram na região. Temos a reserva
do Tauá, que é um espaço de preservação ambiental. Temos estudos voltados
aos sambaquis na região – depósitos formados por montões de conchas,
restos de cozinha e de esqueletos amontoados, localizados nas costas
marinhas ou em lagoas, deixados por tribos selvagens que habitaram o
litoral americano na época pré-histórica - que precisam ser resgatados. Mas,
da comunidade em si, o que atrai o turista seriam os próprios pescadores
jogando rede ao mar, fazendo a sua pesca. Quando eles chegam com o barco,
o próprio turista acha interessante estar vendo o peixe ali vivo, poder
consumir aquele peixe fresco. Isso tudo é um atrativo muito grande para o
turista, mas com certeza precisamos ainda resgatar da comunidade o gosto
pelo turista. Dela atender, receber , ver o turista como algo bom para si. Nós
temos esse intuito, de num futuro próximo fazer um trabalho todo voltado à
comunidade...
Nós temos muitos artistas na região. Nós temos desde a Cristina Motta que
faz várias esculturas como, por exemplo, a da Brigitte Bardot, a dos
pescadores, a da menina na praça dos ossos, entre outras, sendo que não é
nativo, ela não é nascida na região. Quem pode dar essas informações mais
detalhadas é o Toninho português por ele ter nascido aqui, ser duma família
tradicional e conhecer muita coisa de Búzios [...]
Hoje a cultura em Búzios está muito confusa porque temos influência de
várias outras culturas. Não temos uma cultura específica e isto não é só em
Búzios, é uma história do Brasil. Muitas vezes se esquecem do folclore do
próprio país.(morador 25)
¾ Aqui há uma mistura, uma miscigenação muito grande pois há muita
imigração de estrangeiros e de brasileiros. Aqui há uma cultura atípica, uma
cultura buziana que foi nascendo e mesclando com o nativo, que é aquele
que vive da pesca, vive do turismo de uma forma bem artesanal, mas eu acho
que a coisa ficou meio misturada. O buziano adora cozinhar. Tem um talento
nato para a pesca, uma relação boa com a natureza e com as pessoas que
chegam aqui: é quase uma troca de culturas. Isso é o que mantém muito viva
a tradição buziana. Filhos e netos de pessoas que foram multiplicando estas
coisas como a sola, peixe com banana, que é buziano. É uma coisa bem
buziana mesmo. A comida buziana está sendo muito reproduzida pelos
netos, filhos, que fazem isto por prazer, para fortificar a cultura.
D. Maria, mãe da Geruza, que são autênticas buzianas fazem estes pratos. A
sola era feita nas casas de farinha. Ainda tem uma em Geribá e outra na
Rasa; e do aipim eles fazem tudo, a sola, juntando com o amendoim e a
farinha. Meu sogro é cozinheiro, é buziano também, é nota mil. A cultura
buziana é muito forte. Poucas pessoas que estão aqui, que sobreviveram a
esta coisa de migração, elas continuam fazer isto, por prazer mesmo.
Eu acho legal a cozinha internacional, mas você a tem no mundo inteiro.
Você, quando chega, quer comer algo da cidade, que expresse a identidade
do povo. E isto é muito legal: é respirar cultura! (morador 26)
¾ O povo nativo, ou seja, aquele que, de fato, tem suas raízes aqui nesta
cidade e eu me incluo nele também, tem muito a oferecer para a comunidade
e para a vida turística, como outras cidades brasileiras: Recife, Parati,
Bananal, Cunha, Campos do Jordão, Olinda... Eles vivem do turismo e suas
comunidades descobriram no passado, que o grande filão do turismo, a
subsistência do seu povo, é exatamente a arte que está dentro do seu próprio
povo. Então, se cada indivíduo, se cada personagem que faz parte da história
de Búzios tivesse a consciência da importância que cada um deles tem
114
perante à sua comunidade, eles deixariam aflorar toda a potencialidade que
eles próprios possuem. Na gastronomia, nas expressões artísticas, nos
esportes, enfim...
Imagine os pratos regionais sendo servidos aos turistas como autenticamente
um prato regional de Búzios, de uma cozinha autenticamente buziana. Eu
acho que seria muito mais interessante do que eles virem a Búzios e
comerem uma moqueca da Bahia, como acontece hoje. (morador 27)
¾ Eu sei que tem alguns artistas locais que trabalham com pintura e com
escultura. Também tem uma mulher, que não me recordo o nome agora, que
é nativa daqui e tem uma pousada onde ela faz e serve comida típica, mas
isso não é muito divulgado e é uma contradição porque quando chegamos
em Búzios encontramos comida alemã, japonesa, italiana e não tem a comida
de Búzios Tem ateliês de pessoas de tudo que é lugar, mas quantos têm de
pessoas do local? Eu acho até que é um preconceito que deve existir....
(morador 28)
¾ Acontece o seguinte: está tudo associado à banana porque aqui teve
um período que foi uma grande plantação de banana. Então se tinha banana
desde José Gonçalves até aqui na Brava. Isto tudo tinha uma grande
plantação de banana... então a banana foi introduzida na culinária justamente
pela fartura. Realmente o prato do peixe com banana, em várias formas que
se tem este prato é tudo decorrência deste tipo de plantação, mas que se
perdeu, você não vê em lugar nenhum. Tanto que quando eles estudam a
única coisa típica que tem, que seria o linguajar mais a interação de culturas,
onde tem de tudo um pouco, mas nada de específico. Tem de tudo um pouco,
mas não consegue ter uma identidade cultural local. Quando se pesquisa isto,
todos os nossos alunos, que são moradores daqui, contam coisas, mas tudo
tem influência de algum europeu, de algum estrangeiro, ou alguém do
próprio país que veio morar aqui. Não tem nada assim, um regionalismo ou
uma cultura típica de Búzios, pelo menos não se consegue identificar isso tão
claro assim. È uma mescla de tudo isso, mas justamente por causa disso,
porque realmente as pessoas foram muito influenciadas. O que a gente pode
ter é a pesca artesanal. Esses pratos antigos os próprios moradores
desconhecem.... já se descaracterizaram. Não era só isso: tinha doces de
banana, compotas de banana. Era tudo de banana. Tem um peixe na folha de
bananeira também, que vende muito em Cabo Frio: peixe na telha com a
folha de bananeira. Pois é... esse era um prato que era muito comum aqui.
Não só aqui, mas na região.... que também existe pouco... mas alguns
restaurantes oferecem em Cabo Frio. Em Búzios nunca vi. (morador 37)
Nota-se que os informantes não-alunos têm declarações a fazer ora mais contundentes,
ora com maior riqueza de detalhes. Acredita-se que tal fato aconteça devido a própria
especialização do entrevistado – a maioria trabalhar dentro da cadeia produtiva do turismo -,
quanto de suas experiências com anos de relacionamentos interpessoais com os habitantes
nativos e não-nativos da cidade. E mais, porque não dizer, muitas vezes devido à uma mais
apurada instrução formal que facilita a expressão de idéias. Uma outra realidade é a
desenvoltura com que estes informantes se portaram e, ao falarem sobre os temas, a sutileza
115
com que conduziram o raciocínio e, conseqüentemente, o encaminhamento lógico de suas
respostas.
Na pergunta 8 – Você tem conhecimento se existe algum trabalho articulado entre os
artistas da cidade? Se existe, que tipo de articulação há entre eles (os artistas) e as suas
atividades entre si?
O PNT, ainda em seu diagnóstico afirma que há “inexistência de um processo de
estruturação da cadeia produtiva impactando a qualidade e a competitividade do produto
turístico brasileiro” (p. 17). Quando anuncia sua visão, afirma: “o turismo no Brasil
contemplará as diversidades regionais, configurando-se pela geração de produtos marcados
pela brasilidade, proporcionando a expansão do mercado interno e a inserção efetiva do País
no cenário turístico mundial.....” (p. 21). Ao falar da ampliação da oferta turística brasileira,
assevera que “desejamos desenvolver o turismo com base no princípio da sustentabilidade,
trabalhando de forma participativa, descentralizada e sistêmica, estimulando a integração e a
conseqüente organização e ampliação da oferta.” (p. 31)
O Plantur, da Sepdet/TurisRio, em seu diagnóstico, dá a conhecer como o Estado vê
seus aspectos culturais:
A rica história de quatro séculos do Estado do Rio de Janeiro legou um
patrimônio cultural de grande expressão. Seu testemunho está presente em
todo o território estadual, tanto no patrimônio edificado quanto na produção
de artesanatos e nas manifestações folclóricas e populares. A grande
diversidade dessas manifestações materiais e imateriais constitui, sem
dúvida, uma das maiores riquezas do patrimônio cultural do Estado, através
do qual pode ser observada a convivência entre testemunhos dos diversos
ciclos históricos e econômicos. (Diagnóstico, p.39)
O documento da Fundação Getúlio Vargas que embasa o Plano Diretor de Búzios, na
p. 138, diz que:
A sociedade de Búzios tem uma clara vocação para a participação nos mais
diversos aspectos da vida da cidade. Mostra disso é a grande quantidade de
associações existentes no Município. São mais de sessenta organizações
voltadas para os mais diversos interesses dos distintos segmentos da
sociedade, desde associações de moradores nas diferentes localidades, a
associações de classe, de produtores, de mulheres, de artesãos, de diferentes
categorias profissionais, de empresários de diversos setores, de seitas
religiosas, entre outras.
116
Das 65 associações listadas nas páginas 138 e 139, encontram-se cinco vinculadas a
artistas:
25- Associação dos Músicos e Compositores de Búzios;
34 – Associação dos Artesãos da Feirarte de Búzios;
44 – Associação de Arte e Cultura de Búzios;
45 – Associação da Feirinha do Centro
52 – Associação Cultural de Capoeira Meia Lua de Búzios (p. 139)
Os alunos do Cejob, entretanto, embora saibam o que existe a respeito, parece que não
têm uma ligação muito grande com este setor, pelas declarações a seguir:
¾ Eu não tenho conhecimento. Eu sei que eles se reúnem ali na praça
[Santos Dumont] para vender as coisas deles. Na feirinha também... as
mudas de ervas, que vendem na feira. Mas.... conhecimento assim, a fundo,
eu não tenho. (morador 3)
¾ Creio que deva existir um trabalho junto com os artistas mais o
artesanato... No caso da pintura nós fomos outro dia foi fazer uma atividade
no atelier da Dona Abigail lá na Rua das Pedras. E então nós conhecemos o
que ele faz. Tudo muito bonito. (morador 4)
¾ Bom, tem essa reunião que eles fazem na praça. Põem em exposição
as pinturas, os trabalhos deles, manuais, artesanais....se reúnem para mostrar
as pessoas um pouco do que eles fazem, uma parte da cultura da cidade.
(morador 6)
¾ Geralmente os artistas que tem aqui em Búzios não são daqui. Os que
são daqui fazem escultura em madeira. Mas tem os pintores. Tem a Abigail,
o Élio Lago, que expõe lá na praça, mas eles não têm um trabalho em
conjunto não. Cada um faz o seu e expõe. Procura um lugar e expõe.
(morador 7)
¾ Eu sei que tem muitos artistas, tanto nativos, quanto as pessoas que
vieram de fora pra cá.... mas eu não tenho informações nessa área artística
não... (morador 8)
¾ Alguns são mundialmente conhecidos. Às vezes mais conhecidos no
estrangeiro do que na própria cidade, a própria população não dá valor o que
temos de arte. (morador 9)
¾ Não tenho conhecimento, mas creio que eles devam trabalhar em
conjunto. São diversos artistas, então eles têm de trabalhar em conjunto para
que haja interação entre seus trabalhos.. Até mesmo para o próprio
conhecimento. Abigail disse que ela trabalha mais sozinha, mas tem outros
artistas aqui e artesãos e até donos de loja de artesanato que fazem parte da
Associação Comercial para poder divulgar seu produto. Por exemplo, na Rua
das Pedras é um lugar que você encontra muita coisa de artesanato local e
que os próprios artesãos se reúnem e divulgam seu trabalho. (morador 10)
117
¾ Todas as noites na Praça Santos Dumont têm exposição. Só que eu
não conheço o trabalho deles. Visito e nada mais. Não sei como e se eles se
reúnem. (morador 11)
¾ Não. Não tenho conhecimento se existe algum trabalho articulado
entre os artistas da cidade.... (morador 13)
¾ Infelizmente eu não conheço, porque meu tempo é um pouco corrido e
eu não tenho muito contato. (morador 18)
¾ Eu não conheço. (morador 20)
¾ Artista conhecido local.... na semana passada conheci a Abigail e eu
achei muito bom os trabalhos dela, de arte expressionista... muito bom
mesmo. A arte dela está no restaurante em frente à praia. Bom.... eu só
conheço essa, mas tem outros que fazem entalhamento em madeira.
(morador 21)
¾ Não, não conheço” (morador 22)
¾ Não, não moro aqui em Búzios e estou no 1º módulo do curso. Não sei
como acontecem estas coisas aqui.... (morador 29)
¾ Não conheço não... existem alguns artesãos que expõem seus
produtos, a sua arte na feira da Praça Santos Dumont, no Centro da Cidade.
É uma feirinha que tem épocas... Na alta temporada vêm muita gente para
expor seus trabalhos: trabalhos com contas, com pedras e na baixa
temporada é uma feira que não é muito concorrida, mas existem muitos
trabalhos que são feitos pelos moradores que são expostos lá. Não sei se eles
se articulam.... Soube que já existiu um movimento bom dos artistas na
época da emancipação de Búzios, mas não era só de artista plástico não, era
um movimento dos artistas, mais os ecológicos... (morador 30)
¾ De Búzios eu não conheço... (morador 31)
¾ Sei que tem Associações, mas se eles fazem coisas articuladas tipo
exposições em conjunto, acho que não. Acho que os artistas são mais
solitários.... (morador 35)
¾ .....não há interação, pelo menos é o que eu acho, mas você deveria
perguntar isto aos artistas. Eu sei que tem associação de dança, dos músicos,
dos pintores, de capoeira. Eu sei que tem porque eu estava dentro da
discussão do orçamento participativo e vi. (morador 36)
As respostas dos alunos deixam claro que não há, na maioria deles, uma ligação mais
profunda com as atividades culturais da cidade e de seu sistema de organização. O PNT
anuncia que se deve estabelecer um processo sistêmico que dê conta da cadeia produtiva do
turismo para que se possa impactar a qualidade e a competitividade. Um processo sistêmico
costuma significar uma determinada articulação, interação e, por isso, talvez fosse indicado
que os alunos possam estar mais atentos a estes arremedos de organização. Mais ainda que
118
possam se relacionar mais freqüentemente com aqueles que fazem arte para que se arrisquem
a desenvolver produtos inovadores, originais e porque não, intangíveis.
Os outros informantes responderam da seguinte forma:
¾ Eu já notei que, em alguns lugares o pessoal da terra usa gravetos,
tocos, coisas assim para enfeitarem suas casas....sempre achei que isto devia
ser pela falta de materiais, de coisas para enfeitar a casa, talvez tragam isso
de uma época assim mais antiga....[...] Isto me lembra o Mudinho, que você
já deve ter ouvido falar, que é o grande artista plástico de Búzios, talvez o
único, não sei. Ele era da Rasa. O apelido dele era Mudinho porque ele era
mudo mesmo, falava todo assim, tentando se comunicar com as pessoas, era
um doce de pessoa, pelo que contam, adorava as crianças. [...] Ele morreu há
uns vinte anos. Ele fazia escultura de madeira e ele era muito bom, e ele
andava assim, ele via uma madeira que lembrava um bicho, uma coisa, aí ele
esculpia aquilo ali. E ele tem obras muito bonitas, muito consideradas. Ele
fazia umas coisas grandes, ele fazia muita coisa, fazia barco, fazia
ferramentas, ele fazia de tudo, até coisas para enfeitar também....o pessoal
diz que ele era hiper criativo, ele via uma coisa: Ah, vou transformar. Ele
fazia mesmo...era perfeito... Voltando à sua pergunta, não sei se há trabalho
articulado entre os artistas, acho que eles produzem de uma forma mais
individual mesmo... tem a inspiração e a transpiração...acho que é um
trabalho meio solitário... (morador 1)
¾ Não, não conheço. Acho que talvez a distância entre o popular e a arte
mais sofisticada dos artistas que não são nascidos aqui, mas são famosos faz
com que eles não se articulem. Quando Búzios não era emancipado, houve
um movimento muito grande dos artistas, mas agora isto se perdeu e é cada
um por si só. (morador 2)
¾ Eu desconheço. Estamos trabalhando no curso uma aproximação dos
alunos com os artistas locais. Já visitaram uma galeria de pintura, a da
Abigail. Acho que falta essa união dos artistas, para que sejam mais
presentes. (morador 5)
¾ Existem trabalhos fantásticos acontecendo de maneira isolada. Em
relação ao artesanato existem associações. Tanto a exposição que tem na
Praça Santos Dumont, quanto à feira na Praia da Armação, que são dois
pontos onde existem artesanato, são estruturadas numa associação. Só que
eles se organizam enquanto associação, mas não tem um trabalho
cooperativo. Então, duma maneira oficial eu diria que sim, no que diz
respeito ao trabalho dos artesãos. No trabalho do grupo dos artistas, eu não
tenho conhecimento. Não existe não. Búzios tem vários ateliês pela cidade
inteira tanto no centro que são aqueles que possuem uma dimensão maior em
termos de obras de rentabilidade mesmo, quanto os artistas mais simples que
estão em outras áreas da cidade, mas que vivem de maneira isolada, sem
trabalhos conjunto. Tanto é que já coloquei aqui a questão do que eu tento
fazer, que é justamente organizar grupos. E este é um dos segmentos que
vejo ser fantástico na cidade, pela amostragem que existe, porque você tem
uma diversidade muito grande... você tem desde aquele que trabalha com
madeira ao da pintura abstrata, além daqueles que trabalham com reciclagem
de vidros, latas; outros que trabalham com sementes. Tem-se de tudo por
119
aqui... e isto deveria ser reunido em situações comuns. O trabalho que estou
tentando articular é o de juntar um grupo de artistas para que eles possam
iniciar um trabalho em conjunto. Este inicialmente será uma exposição só
com trabalhos em arte com reciclados. (morador 12)
¾ Não conheço os artistas da cidade. Não sei se eles se consorciam. Os
artistas costumam ser pessoas mais individuais... (morador 15)
¾ Depois que Búzios virou cidade, os artistas não se juntaram mais.
Tentam se juntar numa associação, mas não conseguem. (morador 16)
¾ Eles se juntam na FEIRARTE, mas desconheço que seja um trabalho
articulado..... (morador 17)
¾ A Fundação de Cultura diz que há 30 artesãos e 8 artistas plásticos,
mas em Búzios há muito mais artistas plásticos, só que cada um se vira como
pode. Há uns aposentados que fazem arte, mas não têm local para exporem
suas obras. Estes, normalmente, são pessoas de fora e não local. (morador
19)
¾ O artista é um ser muito individualista. Eu faço parte da Associação de
Arte e Cultura, mas lutamos com muita dificuldade, primeiro porque temos
que organizar o artista e, segundo, há falta de apoio. A Associação faz o que
é possível, dentro dos seus limites. Agora estão fazendo um cadastro: são
mais de 40 artistas cadastrados. Acredito que não seja a melhor forma de
articulação, mas já é alguma. O presidente da Associação é Vladimir, que
mora em José Gonçalves. (morador 23)
¾ Não existe um movimento muito formalizado para um trabalho na
cidade. Bom, os artistas, de um modo geral, eles não se unem muito entre si,
porque são muito vaidosos, mas em Búzios falta essa articulação porque
precisava fazer caravanas culturais, exposições que levasse o artesanato, que
Búzios tem, que é muita palha, mas tudo feito por gente de fora. Então eu
acho que não tem essa articulação não. (morador 24)
¾ Existe um trabalho que é voltado para os artesãos locais e para os
próprios artistas: escultores, pintores, artistas plásticos. Os artistas não são
nativos, são pessoas que vieram morar em Búzios, que hoje desenvolvem
todo um trabalho, que a gente não pode deixar de prestigiar porque são
belíssimos e são atrativos para o turista na nossa região. (morador 25)
¾ Tem muitas pessoas que vieram para Búzios, apaixonaram-se pela
cidade, respiraram esta coisa de cultura, artistas, na sua grande maioria, estes
artistas que estão por aqui eu acho que sim, eles estão articulados entre si,
em projetos, trabalhando.... Não estou falando em uma articulação formal,
mas de sintonia... Alguns expõem seus trabalhos na Praça Santos Dumont e
continuam fazendo seu trabalho, divulgando Búzios dessa forma. Só em
dizer que você mora em Búzios, embora esteja expondo em Nova York, está
fixo em Búzios.... Isto é uma maneira de divulgar seu trabalho e de divulgar
Búzios e, a partir daí, muita coisa boa acontece. (morador 26)
¾ Eu acho que já houve um período em Búzios que existiu interligação
mais próxima entre os artistas locais. Hoje Búzios cresceu muito. Se você
andar pela Rua das Pedras, vai ver que tem inúmeras galerias de arte, de
padrão internacional, onde existem pintores reconhecidos aqui na região e
120
outros que a gente nunca ouviu falar, que montaram ali seu ateliê, que ali
produzem, são artistas anônimos, que não tem reconhecimento dentro do
universo artístico, mas que tem um trabalho de compromisso com a cidade,
ou seja, eles vieram para cá com a intenção de produzirem suas obras,
fazerem seus trabalhos e terem um destaque dentro da comunidade. Falando
do passado, há alguns anos atrás, como era menor o número de artistas que
compunham esse universo buziano, ficava muito mais fácil essa interligação
entre eles. Então, hoje, o que a gente vê é que existe um número grande de
artistas na cidade que tenta fazer associações, mas não se consegue chegar a
um consenso, a um lugar definitivamente determinado onde eles possam
expor seus trabalhos. (morador 27
)
A maioria dos respondentes observou que há certa dificuldade de associação entre os
artistas, alguns citando como características destes a individualidade, a vaidade, entre outros.
Há cerca de onze anos atrás, houve uma grande mobilização de vários segmentos da
sociedade para a emancipação de Búzios. Junto aos artistas, fizeram coro os ambientalistas, os
arquitetos. Porém, hoje, a arte parece mais consolidada em Búzios e, talvez, por isso, menos
transgressiva, mais pacata. Talvez a arrumação da cidade nas galerias, nos ateliês da Rua das
Pedras e proximidades afaste um pouco estes artistas do convívio entre seus pares. O que não
ocorre tanto com os artesãos. Eles, ainda mesmo com dificuldades, articulam-se em
associações, embora não consigam levar adiante e regularmente suas reuniões e
conseqüentemente a ações mais conclusivas. Nas discussões sobre diversidade e identidade, a
arte, como manifestação clara e inequívoca da cultura, tem um papel primordial de expressão
dos sentimentos, sejam pessoais ou coletivos. Esta enunciação provoca certa identificação dos
outros indivíduos que, não-artistas, vêem-se por intermédio do outro.
Na pergunta 9 – Você conhece a história da cidade? Conte-me um pouco sobre ela, do
que sabe....
O PNT declara que:
O turismo quando bem planejado, dentro de um modelo adequado, onde as
comunidades participam do processo, possibilita a inclusão dos mais
variados agentes sociais. Os recursos gerados pelo turista circulam a partir
dos gastos praticados nos hotéis, nos restaurantes, nos bares, nas áreas de
diversões e entretenimento. Todo comércio local é beneficiado.
Jornaleiros, taxistas, camareiras, cozinheiras, artesãos, músicos, barqueiros,
pescadores e outros profissionais, passam a ser agentes do processo de
desenvolvimento. O envolvimento abrange toda a comunidade receptiva. (p.
4)
[...]
121
A oferta turística do Brasil, tem se configurado pela promoção de poucos
destinos em áreas pontuais, gerando produtos de apelo repetitivo.
Os produtos atualmente ofertados não contemplam a pluralidade cultural e a
diversidade regional brasileira. Existe um potencial a ser revelado e
trabalhado no interior do país, e uma urgente necessidade de encontrar
alternativas de desenvolvimento local e regional. (p. 31)
Entende-se que, ao dividir com a comunidade a participação do processo do
planejamento turístico e, em face disto, promover a pluralidade cultural e a diversidade
regional brasileira, nada melhor que a história para levantar, na linha do tempo, os processos
sociais e econômicos pelos quais passaram determinada comunidade, município, estado ou
país.
É a compreensão deste processo, da história coletiva, que possibilitará o
autoconhecimento da comunidade e de suas possibilidades de ofertar produtos por meio da
sua significação, do que se pode olhar a si mesmo, como num espelho.
O Plantur, no volume II – proposições – ao se referir à necessidade de reciclagem de
Guias de Turismo, dentro do Plano de Ação e Propostas de Intervenção de Âmbito Estadual,
sinaliza a importância do saber a história, dentre outras disciplinas, quando propõe:
Realização de cursos de reciclagem de guias de turismo em conjunto com o
SINDGETUR, na cidade do Rio e em outros locais de maior incidência e
importância desses profissionais, como forma de incrementar competências
uniformes em áreas de maior especificidade de conhecimentos como a
história; história da arte; geografia; etnografia; e vida contemporânea
(cultural, política e social). (p. 59)
Embora o Tectur/Cejob ainda não seja o de Guia de Turismo, mas quer caminhar para
tal e já prepara hoje suas bases para isto, deduz-se que o conhecimento da história da cidade,
das regiões vizinhas e do Brasil, são fundamentais para deslanchar este processo. Como se
fará a conjugação dos roteiros integrados, permeando os municípios ou regiões que
congregam produtos semelhantes ou diametralmente opostos se não se usa e entende sua
história, a sua cultura?
Ainda o Plantur, quando discute e propõe a consolidação do produto turístico, ao iterar
sobre o incentivo à implantação de equipamentos de lazer é conclusivo:
122
Este projeto tem por objetivo promover e incentivar a implantação
de novos atrativos, seja pela transformação e qualificação dos já existentes,
seja pela criação de novos atrativos enquadrados nas diversas categorias de
equipamentos de lazer, de acordo com as orientações a seguir:
¾ Estimular a implantação de equipamentos privados de lazer
que, mesmo tendo como função principal o atendimento à população
residente, constituam sempre um elemento a mais de valorização das ofertas
turísticas locais e regionais.
¾ Incentivar a implantação de Parques Temáticos, cujos temas
devem estar sempre relacionados à história e à cultura locais e regionais,
incorporando à sua programação recursos e manifestações tangíveis e
intangíveis. (p. 66)
“Estão presentes, hoje, no Município, segundo informações dos habitantes locais, cerca
de 50 nacionalidades distintas.” (p. 46) Assim o documento ‘Plano Diretor’ se refere, numa de
suas passagens, aos estrangeiros que moram em Búzios. Em um outro trecho, faz com que se
reflita sobre a relação de Búzios com os pescadores, dizendo que:
Também merecem destaques as aldeias de pescadores remanescentes dos
primeiros tempos da vila, como pequenos enclaves no tecido urbano.
Conservam muito das suas características originais e devem merecer atenção
especial como testemunhos da história do Município (p. 57)
Claro está – e todos os documentos, de alguma maneira, confirmam isto – que
conhecer a história da cidade, do que restou e se restou algo de sua identidade e de sua
diversidade é primordial para que se tenha produtos turísticos que façam sentido tanto para a
população residente quanto para o turista. E mais, o aprofundamento na sua história, fazendo
conexões, indagações e proposições é uma maneira de despertar o interesse da população,
principalmente a dos educandos, para planejar o futuro.
Sendo assim, ao serem perguntados sobre a história da cidade, os alunos do Tectur
deste modo se pronunciaram:
¾ O que eu sei é que, por exemplo, ali onde eu moro, que é José
Gonçalves, navios negreiros tiravam os escravos por ali, em barquinhos,
passavam por dentro da mata, davam a volta e iam para a Rasa que era o
quilombo onde os negros ficavam. E tem um lugar lá nas Emerências que,
quando eles conseguiam dificilmente fugir, se refugiavam lá. Tem uma
pedra enorme que, inclusive, eles amolavam as ferramentas. Uma lagoa que
uma lenda diz que na lua cheia ela enche de água, mas eu acho que é quando
chove mesmo... E que Búzios antes de tudo isto que eu te contei tinha muita
plantação de cana e banana. Uma parte cana e outra parte banana. Lá na
parte onde eu moro a plantação era de banana e os donos dessas terras eram
alemães com o nome de Eugenne Honold... E tinha uma fazenda, que eu
123
ainda conheci uma escravinha, que ela ficou tão velhinha com cento e tantos
anos que ela encolheu todinha e ficou bem pequenininha. Lá eles tinham
uma fábrica de bananada. A minha família trabalhava nessa fazenda. E há
poucos anos atrás nós entramos nessa fazenda e vimos alguns traços ainda
daquela época. Nós tínhamos medo porque nossa mãe dizia que a fazenda
era mal assombrada, que passava um monte de cavalo com gente vestida de
branco. Tempos depois nós fomos descobrir que isto que a nossa mãe falava
eram escravos que desciam lá por dentro da mata e atravessava a fazenda
que tem uma entrada na Baía Formosa que dá lá na Rasa e esse tráfico de
escravos passava justamente na tal fazenda que eles diziam assombrada. São
coisas assim que os mais velhos contam, que a minha mãe contava, que
minha avó contava e essa escravinha eu conheci mesmo. A minha avó assava
peixe no fogo a lenha e botava farinha e levava para ela, aí eu pequena,
muitas vezes ia com ela. Adorava ir lá. Mas era tudo abandonado, não tinha
nada. Na época em que os franceses moravam lá, diziam que era uma
fazenda muito bem cuidada, mas isso acabou... é só mato mesmo. Depois
que esse francês foi embora, a fazenda foi cortada ao meio para fazer a
estrada de Búzios. Era uma fazenda inteira e foi cortada ao meio sendo que
foi dada uma parte aos colonos que trabalhavam com ele. Só que, naquela
época, as coisas eram de boca, não tinha a preocupação de documentar ..e
isto... vinte anos depois trouxe grandes problemas de terras, conflitos de
terras mesmo. Eles diziam que o dono era o Senhor Henrique da Cunha
Bueno. Ele é o dono dessa fazenda. Ele é falecido. E acho que o filho dele
que chamam de Henriquinho Bueno, filho mais velho... e já houve, nessa
fazenda uns três shows, que esse rapaz alugou para fazer um evento e deu
muita gente. O último que teve então estava lotado, pois é um espaço
imenso. (morador 3)
¾ Não conheço muito a história da cidade porque eu moro aqui somente
há três anos, mas sei que a Ponta da Lagoinha já foi palco para show de
Caetano Veloso e a Brigitte Bardot já esteve aqui, já passeou por aqui...
(morador 4)
¾ Bom, o que eu sei é que Búzios era uma aldeia de pescadores que a
então era desconhecida....e que passou a ser conhecida mundialmente por
causa de uma atriz famosa que esteve em Búzios, que é a Brigitte Bardot.
Ela esteve aqui visitando, gostou muito da cidade e passou, então, a divulgá-
la no mundo inteiro. (morador 6)
¾ Eu sei que Búzios era uma aldeia de pesca... uma aldeia de
pescadores, que ficou conhecida internacionalmente depois que Brigitte veio
para cá. O pessoal foi se interessando, ela foi crescendo através dessa
historia. Logo que eu vim morar aqui, era tudo sem calçamento, tinha porcos
na rua, galinha, cavalo, boi... Era uma aldeiazinha.... Melhorou muito. Ficou
muito bonita. Os estrangeiros passaram a vir... O boca a boca foi crescendo,
agora o lugar é conhecido mundialmente. (morador 7)
¾ Olha, eu conheço pouco sobre a história da cidade porque ela é muito
diferenciada, assim... tem até lendas... como as histórias das praias, a
formação geológica, e eu não tenho sinceramente muita informação da
história da cidade porque ela também ainda não foi passada para nós de uma
forma assim mais clara. Nós ouvimos muito falar da formação geológica das
praias, as formas, do porquê Praia da Ferradura, Praia João Fernandes, bairro
Jose Gonçalves... essas coisas nós temos um pouco de informação, mas, no
geral, a história da cidade mesmo, não... (morador 8)
124
¾ Eu estudei um pouco o que é Búzios e o que foi Búzios. Búzios já foi
um paraíso, há épocas atrás. Então, a partir dos anos 70 começou a crescer.
Então, hoje em dia, é um balneário de alto nível. Mas ao mesmo tempo em
que é de alto nível para as pessoas estrangeiras, as pessoas do local não têm
essa consciência que Búzios tem o seu valor natural. Então ao mesmo tempo
em que Búzios é de alto nível, é também de baixo nível porque os moradores
deixam que ela fique estagnada, na mesmice, na inércia, na pobreza.
(morador 9)
¾ Bom, a história eu conheci através de estudos e através do curso
[técnico em turismo]. A história da cidade é a seguinte: A praia dos Ossos
antigamente abrigava as ossadas das baleias, depois denominaram de
Armação de Búzios. Búzios por que? Porque tinha uma conchinha que aqui
existia. Então juntaram, a armação (das baleias) com essa conchinha do mar,
que são os búzios. Então ficou assim: Armação dos Búzios. Antigamente, a
atividade era pesqueira e da extração do óleo da baleia, inclusive tudo era
voltado em relação à pesca da baleia. Tiravam o óleo da baleia para as
construções. Utilizaram o óleo de baleia na construção da Igreja de Santana,
por exemplo. Então... tudo girava em torno da pesca... com este
envolvimento da pesca, das baleias, criou-se o nome do lugar. (morador 10)
¾ Não conheço a história da Armação dos Búzios como um todo, mas
conheço a história de alguns bairros, de algumas praias. A dos Ossos, por
exemplo, foi por causa dos ossos de baleia que eram enterrados na praia.
José Gonçalves por causa de um traficante de escravos que se chamava José
Gonçalves que fazia tráfico naquela região e o bairro ficou com o próprio
nome dele. (morador 11)
¾ Olha, eu sei a história da praia dos ossos... que ela antigamente
abrigava os ossos da baleia. Tem as praias da ferradura e da ferradurinha que
têm a forma de ferradura. Búzios e, no caso, a história realmente de Búzios
fala da Brigitte, na época que ela passeava muito com o namorado dela. É a
história que se sabe e as das praias. São muitos praias e só falam das praias .
Não sei muita coisa. O que eu posso falar é que a cidade é assim... tropical,
cidade que eu gosto. Vim pra cá e aprendi a gostar dela e não tenho vontade
de largar. (morador 13)
¾ Não conheço a história da cidade. Conheço histórias assim que me
contaram do tipo que estavam cavando um buraco para fazer cisterna e
acharam uma ossada de índios, mas não sei se isto é verdade...(morador 18)
¾ Eu conheço mais sobre a Praia de José Gonçalves, porque tinha um
senhor, o José Gonçalves, que praticava o tráfico de escravos. (morador 20)
¾ Da origem? Bem.... o que eu conheço é que a cidade foi divulgada
pela atriz Brigitte Bardot.... A partir daí foi se expandido... mais ainda depois
da construção da Ponte Rio-Niterói. Depois com a emancipação de Cabo
Frio ficou famosa em todo o Brasil como uma cidade em que o povo é
humilde porque antes era uma aldeia de pescador. (morador 21)
¾ Eu conheço um pouco, ou seja, quando vim para Búzios tinha muito
mato e poucas casas. Não tinha muita iluminação, nem água. Com a vinda
dos turistas e o conhecimento das outras pessoas teve um pouco de
melhoramento. A educação era fraquíssima nas escolas daqui e só tinha até a
125
quarta série; da quinta em diante tinha que ir para outro município. (morador
22)
¾ O que eu conheço é que Brigitte veio passar um tempo aqui e, a partir
daí, todos quiseram conhecer o paraíso do qual ela falou e assim Búzios
ficou conhecido e isso foi estendido aos outros lugares aqui perto... (morador
29)
¾ Tudo começou com a vinda dos portugueses para cá. Na época essa
ponta era habitada pela nação Tupinambá, que se estendia de Cabo Frio até
Campos ou imediações...., por onde lá viviam os Goytacazes. E quando a
coroa portuguesa doou aos jesuítas umas Sesmarias aqui, estes catequizaram
os índios e aí foram criadas, com a catequização, as áreas rurais e as áreas
agro-pastoris, com a criação de gado para abastecer a cidade do Rio de
Janeiro e a lavoura de cana-de-açúcar. Mandioca, cana-de-açúcar, de
subsistência. E também havia os pescadores locais que retiravam do mar a
sua alimentação. Posteriormente, quando os jesuítas foram expulsos daqui,
veio então um alemão e criou uma plantação de bananas que ficou
praticamente em toda a região de Búzios. Então essa atividade se estendeu
por um bom tempo, até que por um entrevero entre o capataz e os
agricultores, os que trabalhavam na plantação a destruíram. Daí foi criada
uma empresa para administrar toda essa parte, todas essas terras. Com a
abertura de Cabo Frio para cá, então umas pessoas começaram a vir para
Búzios e começaram a povoar a região, que primeiramente se deu na Praia
dos Ossos e depois onde era a armação das baleias de Búzios, onde se
capturavam os mamíferos, as baleias, para poder retirar o óleo e a carne . O
óleo, depois de processado, era enviado para o Rio de Janeiro para ser usado
como combustível para as lamparinas das ruas do Rio de Janeiro. Depois
disso então a cidade começou a se desenvolver com a vinda da Brigitte
Bardot e aí tomou um grande impulso ficando conhecida mundialmente até
que houve a emancipação de Búzios, que se separou de Cabo Frio. (morador
30)
¾ Aquilo que eu sei é que Búzios, por muitos anos, viveu da pesca das
baleias e exportava-se muito a carne de baleia e que isto era feito ali na Praia
dos Ossos. Esta praia teve esse nome justamente por causa dos ossos das
baleias, que eram ali desossadas e empilhados seus ossos. (morador 31)
¾ Sei que aqui era distrito de Cabo Frio e que as pessoas se mobilizaram
para emancipar a cidade, para tornar Búzios uma cidade. Sobre o turismo,
quem deu visibilidade à Búzios foi a vinda da Brigitte Bardot, uma artista
francesa, acho que de cinema, por isso o cinema daqui de Búzios se chama
‘Gran Cine Bardot’. Tem muita gente que tem casa aqui, mas não mora em
Búzios. Só moram nas férias de verão e nas férias de julho um pouco. Mas
esses não são turistas, são veranistas. (morador 35)
Os depoimentos dos alunos são carregados de imprecisão acerca dos tempos em que as
ações vinham acontecendo na história de Búzios. Deve-se, entretanto, entender que os
mesmos foram pegos de surpresa, em um determinado dia ou dias, para falarem sobre vários
assuntos, dentre eles, a história da cidade. Considera-se natural determinadas imprecisões,
mas é preocupante o fato de após a entrevista, não ter despertado neles uma revisão do que se
126
falou. A história como uma relíquia que pode dar um colorido muito especial ao turismo,
pode-se encontrar esmaecida num canto qualquer, quando não lhe é dado o devido valor.
Nota-se que as declarações daqueles que não são alunos tentam acercar-se da precisão
temporal, trabalhando com discursos sintéticos ou, às vezes, com minúcias que se deixam
atrair como um filme com início, meio e fim.
¾ Búzios era uma pequena aldeia de pescadores e que, aos poucos, foi
ampliando e que hoje em dia mudou muito o perfil. Apesar de ainda haver os
pescadores, a atividade principal é o turismo. Búzios é muito famoso. Tem
muita propaganda, que até vai mais além do que ela pode mesmo oferecer. A
imagem que tem lá fora cria uma expectativa para o turista que não podemos
cumprir. (morador 5)
¾ Não li ainda muito, mas sou bem curioso, gosto muito dessa parte,
agregar a história na questão do turismo é fantástico, traz uma característica
particular muito interessante. A região ela foi identificada na época da
colonização como a região do cabo frio, o que não se refere à cidade de
Cabo Frio, que é uma confusão que se faz. Toda a região, onde hoje é a
cidade de Arraial do Cabo, Búzios, São Pedro, pegando boa parte da lagoa
de Araruama, indo em direção à Campos. Toda essa região era a região do
cabo frio. Identificada e nomeada pelos portugueses em função do cabo, que
hoje pertence à Arraial do Cabo que, geograficamente é um cabo por causa
da água muito fria. Porque nós pegamos aqui a corrente antártica. Aí os
portugueses batizaram o tal do cabo frio toda a vasta região em função do
aspecto geográfico. Já no primeiro ciclo de exploração econômica do pau-
brasil é criada uma Feitoria em Cabo Frio, onde hoje é Cabo Frio. Foi
instalada por Américo Vespúcio em 1503. Nesta Feitoria se inicia um
pequeno núcleo de povoamento em função da atividade extrativista da
madeira. Como este núcleo começa a assumir uma dimensão importante para
a região, se defende esse pequeno povoamento através da edificação de uma
missão jesuítica, que foi a Missão de São Pedro, porque toda a área, por ter a
presença do pau-brasil acaba sendo alvo de visita de pirataria, contrabando,
invasão. Então esse núcleo primitivo que nasce na cidade, hoje Cidade de
Cabo Frio, precisava de uma proteção tanto dos piratas, quanto dos índios
‘hostis’... por isso se institui a Missão de São Pedro onde hoje está São Pedro
D’Aldeia, que acaba assumindo uma importância em termos de povoamento
superior ao núcleo primitivo, pelo trabalho realizado pelos jesuítas. São
trazidos, se eu não me engano, 500 índios do Espírito Santo para iniciar a
Missão de São Pedro e a estes se somaram tantos outros aqui da região que
acabam se refugiando naquele espaço em função do atrito que eles tinham
com o próprio colonizador português. Muitas tribos daqui da região, em
função do choque cultural, de interesses, muitas tribos foram dizimadas.
Cabo Frio passou por uma guerra entre portugueses e indígenas, onde
milhares de índios morreram. Então muitos se refugiaram na Missão de São
Pedro. Dentro desse processo, o que acontece? Búzios só era uma península.
Enquanto isso tudo estava acontecendo Búzios só era a península dos búzios,
identificada nos mapas como Península dos Búzios em função dos búzios, do
próprio molusco, que sofria ação da pirataria para extração do Pau-Brasil.
127
Num período mais adiante, quando tem a incorporação do negro africano
enquanto mão-de-obra escrava, a península passa a ter uma outra conotação.
Antes ela era puramente extrativista, do pau-brasil que existia nas
Emerências até a boca da barra do cabo frio. Quando você tem se
desenvolvendo nas fazendas mais ao norte, onde estão os demais municípios
como Macaé e Campos, que eram fazendas já de cana, a península passa a se
tornar um local de desembarque de escravos. Por que a península? Porque já
havia a proibição do tráfico e a geografia local era pouco propícia ao
desembarque, por causa das enseadas, ficava escondida e não era fiscalizada,
também não se tinha nem como, na época. Aí se tem a figura de José
Gonçalves, traficante, o qual dá o nome da praia hoje. Você tem a presença
da área remanescente de quilombo na Rasa. Porque há alguns indícios em
que a área da Rasa pode ter sido área de quilombo. Tem-se alguns registros
bibliográficos até no sentido de uma família negra ter vivido na Ilha Feia em
função de um naufrágio que houve de um navio de tráfico negreiro, onde
eles conseguiram se refugiar e viveram muitos anos na Ilha Feia. Aí você
tem a presença do negro na região. Quando vemos esse processo se
desenrolando aqui, fazemos uma relação com o que estava acontecendo na
História do Brasil. Tínhamos aqui se encontrando a matriz indígena, que
continuava perambulando por aqui, porque era nômade, a presença do
europeu, tanto do português, quanto do francês – o invasor, e tem a presença
do negro. Eles começam a se encontrar e a se mesclar. Aqueles que se
encontravam por aqui que eu chamaria de comunidade primitiva de Búzios.
Essa comunidade primitiva de Búzios que nasceu da miscigenação, com três
matrizes, vai ter uma característica própria e vinculada suas atividades à
pesca. Então temos o nascimento de uma comunidade primitiva totalmente
ligada ao mar. Esta se desenvolveu e se instituiu como núcleo de pescadores
e daí vem a armação das baleias que é a passagem da pesca artesanal,
primitiva, de subsistência, para uma pesca de origem econômica através da
caça, da captura de baleias. Este é o desenvolvimento da comunidade da área
da Praia da Armação. Mais tarde há o desenvolvimento da agricultura com
plantações de banana. Búzios já foi grande exportador de banana e esse
caminho natural da comunidade, vem sendo alterado pela ação que o turismo
começa a desencadear, porque o processo de crescimento social e cultural
que ocorria era todo entorno de uma aldeia de pescadores. Poderia ter outros
elementos de ação econômica, mas incorporados numa colônia de
pescadores. Eram atividades complementares. Quando, na década de 1960 a
colônia recebe a visita de Brigitte Bardot, tem todo o processo transformado.
A partir daí tem uma nova história sendo escrita na comunidade e alterando
esse antigo núcleo e suas características. A questão do marketing é feita em
cima da Brigitte Bardot. E o que que nós temos que perceber?. Brigitte
quando veio para o Brasil, ela veio para o Rio. O destino dela não era
Búzios, o destino era o Rio de Janeiro. Só que a imprensa descobriu que ela
estava no Rio ... aí não teve mais sossego.... e ‘fugiu’ para um lugar que
ninguém conhecia, levada por um conhecido brasileiro... e aí sim, ela veio
para Búzios. Quando aqui chegou, a exuberância a encantou, a simplicidade
da colônia, da liberdade, a beleza natural, a diversidade cultural da
comunidade. O que encantou Brigitte foi isso. Acho um equívoco do
marketing centrar na Brigitte. O marketing deveria ressaltar aquilo que
encantou a Brigitte e não o contrário.(morador 12)
Eu acho muito estranha a dimensão dada à Brigitte na história de
Búzios. Na verdade, o que aconteceu é que ela se encantou por uma cidade
que realmente era um paraíso. Veio aqui, namorou e foi embora, nada mais
que isso. Dizem até que ela detesta essa associação que fazem dela com
128
Búzios. Já ofereceram terrenos aqui para ela, como presente e ela não quis.
(moradora 14)
Búzios foi uma vila de pescadores iniciada por cinco famílias, que se
transformou rapidamente em aldeia pesqueira. Aqui o comércio era feito por
escambo. Era uma aldeia, um paraíso, perdido numa pontinha de Cabo Frio.
(morador 17)
Uma coisa que me preocupa, por exemplo, é que a Igreja de Santana,
feita de argamassa de baleia não é tombada é isto é uma preocupação
também para o município porque toda a história da cidade está ligada à
Igreja e àquela região, onde era feita a caça à baleia e os ossos eram
enterrados na Praia dos Ossos, que se chamava, na época, “Praia dos
Marimbondos. [...] Antigamente vinha gente de fora e enganava o buziano,
em termos de terra e hoje vemos o próprio buziano enganando os buzianos e
isto é triste. A terra é um problema seriíssimo aqui. (morador 23)
Habitada por índios, como todo o Brasil, depois chegaram os
portugueses. Isto aqui era um grande lugar de pesca de baleia, por isso se
chama Armação dos Búzios. Armação de baleias. A cidade era um grande
porto pesqueiro de baleias das quais se extraía o óleo que ia para o Rio de
Janeiro para iluminação urbana. Permaneceu assim por muito tempo e depois
as pessoas passaram a viver da agricultura de subsistência, nada muito
importante.... Depois, a partir dos anos 50, começaram a vir os turistas para a
cidade e esses turistas, na verdade, eram pessoas de alto poder aquisitivo que
buscavam Búzios como refúgio para mergulhar, para pescar e, a partir daí,
começou a se desenvolver o turismo. Em 1964, chegou em Búzios a Brigitte
Bardot que, na verdade, eu diria que foi o pontapé inicial para o turismo na
cidade: foi a vinda da Brigitte Bardot. E a cidade se desenvolveu, se
organizou, criou fama internacional e hoje é um dos destinos turísticos do
Brasil mais divulgados no exterior. Acho que a nossa história é muito
simples e é exatamente o que se dá com as praias do Brasil inteiro. (morador
24)
Emancipado em 12 de novembro de 1995, tem como atrativos naturais
a Igreja de Santana, datada de 1740 e os casarios coloniais. Aqui se armavam
os arpões para caçar baleias. Há também a história do pessoal da Rasa, a da
Ponta da Lagoinha como interesse geológico. Búzios foi uma aldeia de
pescadores e, com a visita de Brigitte, em 1964, teve uma divulgação muito
forte no exterior. Búzios ficou conhecido mais fora do que no Brasil e aí
houve um trabalho para resgatar com os próprios brasileiros. É uma cidade
sofisticada com vários atrativos turísticos: 2 mirantes, 26 praias, Rua das
Pedras, o Gran Cine Bardot, que faz o Festival de Cinema. Dois
historiadores levantaram a história da cidade: o Marcio Werneck e o
Toninho português. (morador 25)
O primeiro nome que recebeu foi ‘Ponta dos Búzios’ porque foi
reconhecida geograficamente como ‘Ponta dos Búzios’ e aí começou toda a
colonização da área. Cabo Frio estava mais colonizada. Mais tarde veio a
‘Armação das Baleias de Búzios’, que foram aqueles grandes navios, quase
que fábricas, que estavam no litoral buziano, fazendo a caça às baleias e aí
usavam Búzios como porto. (morador 26)
Eu não sei a história de Búzios e tenho minhas dúvidas de saber, de
fato, se alguém conhece a história dessa cidade. Com raras exceções como
129
Toninho português e Márcio Werneck que é de Cabo Frio mas está
intimamente ligado à Búzios. Márcio conhece a fundo a história buziana
porque tecnicamente falando ele é um pesquisador por natureza, mas são
raríssimas exceções de pessoas que, de fato, conhecessem. Eu não seria a
pessoa indicada para falar sobre a sua história. Búzios, pelo que eu conheço
tem uma história maravilhosa, pouco explorada, no bom sentido: de
pesquisa, de livros, de publicações. Pesquisas e publicações feitas para
estudantes, para teses, para alguém vir pesquisar a história da comunidade.
As pessoas estão muito focadas na história da Brigitte para cá. De Brigitte
para lá, poucos conhecem a razão das armações das baleias, da época dos
franceses, dos piratas, que aqui se escondiam, dos tesouros que devemos ter
enterrados aqui nas nossas grutas. Da época do comércio de escravos,
período conturbado. Aqui era tão isolado que os escravos vieram se esconder
aqui no finalzinho da abolição e hoje seus remanescentes se encontram na
Rasa. (morador 27)
A pergunta 10 – Qual é a Búzios dos seus sonhos? Em que cidade espera morar daqui
a cinco, dez, vinte anos?
Futuro. Quando se fala em planejamento está se falando do que virá, daquilo que se
pode projetar para o tempo que há de chegar. O futuro se constrói. Sabe-se que há vários
fatores que escapam das mãos quando se planeja algo, como, por exemplo, a política externa,
os fenômenos atmosféricos. Estes se conseguem prever, às vezes, mas nem sempre os
controlar. Mas há uma parte em que se pode pensar, opinar, agir.
O PNT diz, neste aspecto que
O efetivo envolvimento dos governos estaduais, dos parceiros estratégicos,
do setor privado, dos municípios e da comunidade é fundamental neste
processo [o do desenvolvimento do turismo]. Dessa forma, cria-se o
ambiente para alcançar a qualidade, a diversidade e competitividade do
produto turístico brasileiro. (p. 31)
Para que isto se dê foram formulados alguns objetivos:
¾ Integrar os governos federal, estadual e municipal, descentralizando o
processo de decisão no Turismo Brasileiro;
¾ Integrar os setores público e privado e demais instituições otimizando
recursos e dando eficiência às ações;
¾ Monitorar e avaliar os resultados do plano nacional de turismo; e
¾ Participar dos fóruns internacionais de interesse do turismo. (p. 34)
E mais:
130
A atividade turística depende intensamente de informações que facilitem o
seu desenvolvimento.
É necessário um programa contínuo, que não só pesquise a oferta, mas
também a demanda. Um sistema que avalie o impacto da atividade na
economia, criando condições para o fortalecimento do setor junto à
sociedade.
Os dirigentes públicos e privados necessitam de informações essenciais para
a tomada de decisão gerencial e para a captação e implementação de novos
empreendimentos turísticos. (p. 44)
Na linha do planejamento o PLANTUR, quando disserta sobre as perspectivas de
desenvolvimento da atividade, nas proposições, enfatiza que:
os estudos de mercado e as informações, dados e avaliações que integram o
diagnóstico, são analisados sob a perspectiva de desenvolvimento da
atividade turística, através da reflexão sobre cenários futuros e em função do
seu potencial de expansão. (p. 11)
[...]
O planejamento e os recursos mobilizados na implementação do conjunto de
estratégias que integram o Plano Diretor de Turismo representam um desafio
no que se refere à sua operacionalidade. Neste sentido, é de fundamental
importância a distribuição sistemática e articulada da programação no
tempo, com base numa hierarquia de prioridades das diversas ações e
intervenções propostas. Uma programação em etapas permitirá a
viabilização das propostas de forma racional, tendo ainda a vantagem de
gerar um controle regular da eficácia e da própria estratégia de implantação
das ações .(p. 198)
[...]
.... o processo de planejamento instaurado com o Plano deve incluir a
previsão de instrumentos de detecção, análise e correção dos desvios
existentes, tarefa clássica a uma função de monitoramento. (p. 204).
O Perfil do Município do documento-base do Plano Diretor de Búzios, na questão dos
aspectos geo-ambientais, afirma que:
Um dos maiores desafios para o desenvolvimento sustentável municipal é
conhecer o funcionamento dos ecossistemas e prognosticar os cenários
futuros, obedecendo à sua capacidade de suporte. O primeiro passo é a
verificação da capacidade de suporte dos seus ecossistemas, o atual nível de
impacto, a sua resiliência, considerados a realidade atual e o provável
desenvolvimento futuro. (p. 13)
Para o Plano Diretor, afora as questões de infra-estrutura: fundiária, transporte, água e
esgoto, energia, comunicação, educação e saúde, há presente a questão ambiental que se
projeta como algo que faz parte de seu conjunto de atrativos. Não é só a beleza natural, local.
É até onde vai a sua capacidade de transformar-se, sem perder o equilíbrio ambiental. Este
131
problema ronda quase todos os discursos quando se pergunta o que se quer do futuro. A
questão ambiental, da proteção ou de sua recuperação é, inevitavelmente, um valor primordial
para todos: habitantes, veranistas, turistas e empresários, conforme se vê nas respostas a
seguir dos alunos do Tectur:
Aquela que dê oportunidade para nós continuarmos trabalhando, que nossos
filhos tenham saúde, educação e trabalho, pois as coisas por aqui estão muito
difíceis. Não tem emprego. Só no verão que o pessoal faz os bicos, quando
vem os turistas em massa.(morador 3)
Espero morar numa cidade em que todo mundo consiga um bom emprego,
que consiga se estabilizar na cidade e não vivendo só do turismo ou, se viver
do turismo não só na alta temporada, mas na baixa também. Que as pessoas
consigam se estabilizar e tenham uma vida tranqüila para evitar esse negócio
de assalto.. essas coisas que fazem quando a pessoa não consegue ter um
dinheiro... (morador 4)
Espero que a cidade melhore muito em questão da violência que, no
momento, está ficando muito violenta, e que possa ter uma infra-estrutura
melhor para poder receber os turistas. Dar a eles o que querem, poder
proporcionar o que eles estão procurando aqui em Búzios já que, às vezes,
muitos turistas chegam aqui pensando que é uma coisa e é outra. Não tem
aquela estrutura que eles precisam. (morador 6)
Eu não queria que ela virasse São Paulo, nem Cabo Frio. Gosto dela assim....
e já está até crescendo muito. Tem que melhorar em termos de atendimento
às pessoas. É uma cidade muito aconchegante e as pessoas que moram aqui
também são muito receptivas, tratam as pessoas muito bem. A única coisa
que eu quero de melhor para o pessoal é no atendimento da Saúde. Que
todos tenhamos um bom atendimento médico, tenhamos também bastante
comércio para que não tenhamos que sair daqui para ir em busca destes
serviços em outro lugar. (morador 7)
Uma cidade bem voltada para o turismo sustentável. Que não precisemos
contar com o turismo só na alta temporada, que se tenha uma continuidade.
Que possamos dizer, vamos para Búzios e que se possa viver 365 dias de
maneira diferente, mas pouco diferente e não como é agora... que a gente
fica numa expectativa grande no verão... Por exemplo, chega o mês de
dezembro, a gente fica todo ‘ouriçado’, esperando chegar o verão porque a
gente já passou tanta ansiedade no inverno. A cidade que a gente espera é
essa do turismo sustentável onde se possa trabalhar 365 dias por ano, na
mesma maneira, numa continuidade... vou sair de casa para trabalhar. Porque
hoje, por exemplo, na baixa temporada, você vai para a praia porque você
tem que marcar ponto. Eu, por exemplo, que tenho negócio na praia, vou
para marcar ponto. Você não tem uma sustentabilidade. Aquele padrão que o
ano todo você tenha turista... Esse não é só o meu sonho... acho que deva ser
o sonho de todos.... (morador 8)
Búzios daqui a 5, 10 anos tem que ter um bom planejamento turístico, uma
boa apresentação nacional, principalmente nacional porque tem umas
apresentações internacionais, mas nacional não temos. Para o conhecimento
nacional, Búzios é uma cidade cara. Se Búzios for apresentada
132
nacionalmente, ela vai ter gente em toda temporada. E assim, acabar com
estes termos: alta temporada e baixa temporada. Fica só o termo de toda
temporada. Búzios: toda temporada! (morador 9)
Já que eu moro aqui há muito tempo e futuramente acho que vou ficar mais
tempo ainda porque eu gosto muito dessa cidade, acho uma cidade muito
interessante em termos de turismo, de beleza paisagística... então,
praticamente eu vou ficar aqui durante muito tempo, pelo fato de gostar
muito da cidade. Espero que no futuro a cidade seja mais igual para todos.
Que os governos estabeleçam um vínculo maior com a cidade, que se
proponham a colocar a cidade mais à frente, trabalhar mais para que a cidade
se desenvolva mais e que se faça um trabalho legal para que ela seja
reconhecida – já é, atualmente – mas que tenha um valor melhor. (morador
10)
Uma cidade tranqüila como é hoje, que ainda acho tranqüila, com algumas
melhoras, entretanto, porque precisamos na área turística pelo menos dar
mais alguns passos porque o turismo em Búzios ainda está muito atrasado.
Pretendo estar muito bem entrosada no turismo porque é o forte de todo o
nosso Brasil e explorar melhor toda a área de ecoturismo, porque sou
apaixonada por ecoturismo. (morador 11)
Eu espero que continue um paraíso, porque por eu gostar de Búzios eu acho
que a gente tem que pensar o melhor para a nossa cidade. Então, eu espero
que ela venha a melhorar cada dia mais. Não por mim, nem por fulano, mas
pelos nossos filhos. Eu espero que ela possa melhorar mais e mais.
Principalmente na Educação. Ela tem que trabalhar a da educação, também
no emprego, é muito importante ter emprego aqui. É uma cidade pequena,
porém a gente fica triste quando vê que as pessoas não têm trabalho, então
eu acho que isso é triste. Então eu acho que o principal é trabalhar em cima
do trabalho, da educação, da saúde, que também é muito importante. Acho
que Búzios trabalhando nessas atividades aí é fundamental. (morador 13)
Com boa qualidade de vida, segurança, esgoto, educação. Tudo que o ser
humano precisa. (morador 18)
Pretendo que o governo faça o que ele prometeu e que possa a cada ano que
passa atrair mais o turismo para a cidade que é fundamental. (morador 20)
Ah... .falta muita coisa ainda, fazer uma boa faculdade, e melhoramento nas
escolas públicas. O ensino é muito fraco.... é necessário mais investimento
no ensino. (morador 21)
Melhoramento da educação, do hospital, mais áreas de lazer, mais oferta de
trabalho para os jovens, incentivos de trabalho para os juvenis. (morador 22)
Há de se preservar as belezas naturais, que não venham destruir o que mais
chama a atenção em Búzios que são as praias, a vegetação. Que nós
possamos preservar e manter toda essa beleza para que as futuras gerações
possam prestigiar a cidade como nós a estamos prestigiando hoje. O que
mais me chamou a atenção é que o turismo em Búzios... Eu não conhecia
Búzios... assim de andar e conhecer tudo e estou fazendo isto agora nas
atividades de campo. . Estou conhecendo lugares, fazendo trilhas. Estou
gostando muito porque estou vendo lugares surpreendentes que eu nunca
133
podia imaginar que existissem. Pretendo continuar no curso, já que estou
ainda no primeiro modulo. (morador 29)
A cidade não tem que mudar muito. Acredito eu que, pelas características
físicas e geológicas da cidade tem que se pensar em um transporte
alternativo, principalmente o aéreo, porque não há como se abrir muita
estrada por aqui. Existe só uma estrada que liga Cabo Frio à Búzios e essa
estrada também liga a área rural de Búzios, liga o centrinho de Búzios, quer
dizer... quando existe um grande fluxo de carros, fica intransitável. Então há
possibilidade de se fazer um transporte aéreo, por cima, para os moradores,
para evitar esse trânsito de carros, diminuir pelo menos esse trânsito de
carros e também melhorar o sistema de transportes urbano. Se criarem
alternativas... O principal fator de estrangulamento daqui de Búzios é o
trânsito caótico que fica.... e os preços. Equacionando essas duas coisas,
Búzios não tem que mudar nada. (morador 30)
O Curso para mim, foi mais para descobrir mesmo a cidade em si, outras
partes de Búzios, porque a gente conhece mais a parte artificial de Búzios,
do centro, por exemplo. E, fazendo o curso eu descobri outras partes de
Búzios que não é assim... o turista quase não visita porque é a parte
ecológica do lugar, é o ecossistema do lugar... e geralmente as pessoas vêm
mais para as noitadas . Os turistas eles visam as noitadas, as danças, os
restaurantes e eu queria descobrir a essência e, através do curso eu estou
descobrindo tudo isso e estou achando tudo muito bom. (morador 31)
Com saúde e educação para todo mundo. Trabalho também. A gente precisa
ter trabalho nos meses que não são o pico do verão. Tem gente que passa por
muitas dificuldades aqui. (morador 35)
Os outros informantes corroboraram com a opinião dos alunos e a complementaram
atentando ao fato de que, além da preservação ambiental e da melhora da infra-estrutura, é
básico também a recuperação do modo de vida das pessoas, por meio da pesquisa histórica,
artística e etnográfica. O valor da expressão aqui recebe um contorno mais definido, inclusive
o da sua apropriação econômica que, dependendo de como for feita pode ou não ser benéfica
para a cidade e seus moradores como um todo. Assim se percebe as suas preocupações e seus
sonhos para o futuro:
Um lugar que mantenha as suas características particulares, que consiga
recuperar sua identidade, que cresça enquanto um espaço multicultural que
absorva pessoas de várias nacionalidades e de várias regiões brasileiras,
desenvolva o turismo com profissionalismo. Porque se você tem uma
comunidade que vive a integração com a seu meio ambiente, que vive um
respeito às suas raízes históricas, culturais, folclóricas, que tem respeito aos
aspectos humanos e que incorpore ainda inovações, fatores de vanguarda...
este é um lugar fantástico e é nesse lugar que eu quero estar morando daqui a
dez, vinte anos, realmente único no mundo. (morador 12)
134
Uma cidade com turismo auto-sustentável. Turismo de qualidade com áreas
ambientais preservadas. Paz, tranqüilidade, que não tenha o tumulto do Rio
de Janeiro (morador 14)
Bom nível da qualidade de vida para todos: segurança, trabalho, saúde e
educação (morador 15)
Fazer daqui um lugar agradável para os turistas e veranistas (morador 16)
Búzios não precisa virar Nova York nem Miami. As pessoas vêm à Búzios
por todo um contexto, não só por causa do sol e do mar e temos de preservar
isto. (morador 17)
Não tenho sonhos para Búzios. Estou indo embora para São Paulo ou
Brasília porque o pessoal está comprando produtos manufaturados e não
artesanato. Há muitas lojas e ambulantes vendendo produtos manufaturados.
(morador 19)
O meu sonho é que se acabe com a exclusão social, que o Pórtico seja
colocado lá na divisão com Cabo Frio, que não dividam a península da área
mais pobre. Que a juventude buziana tenha acesso à cultura, à educação.
(morador 23)
A Búzios de meus sonhos é que não tivesse ninguém na cidade e que eu
pudesse curti-la da mesma maneira de quando eu vim para cá, há mais ou
menos 20 anos. Essa é a Búzios dos meus sonhos, mas é uma Búzios
utópica: isso não vai existir. A cidade que eu espero daqui a 5, 10, 20 anos é
que seja uma cidade desenvolvida, mas uma cidade extremamente
organizada, que não opte pelo turismo de massas e que tenha uma boa
preservação ambiental, que isso vai manter a qualidade de nossa vida.
(morador 24)
O progresso chegou, existe e é necessário. Para os turistas, nós precisamos
ter uma infra-estrutura boa e forte. O que nós sonhamos é um Búzios com
preservação ambiental: área da Azedinha, área do Pau-Brasil. Só com a
preservação ambiental é que vamos ter o Búzios de nossos sonhos.
Precisamos de asfalto, mas quando era de terra também era bom. Quando os
turistas chegam, só o fato de não ver prédios dá um grande alívio. Tem um
projeto aprovado dizendo que não se pode construir mais de 2 andares.
Búzios de meus sonhos é isso: o de continuar ver as nossas crianças
caminhando pela rua tranqüilamente, com segurança; o turista podendo
caminhar com a sua própria máquina fotográfica, com sua filmadora;
podendo conversar com os pescadores, podendo sair para caminhar às 2
horas da manhã, podendo sair da Rua das Pedras às 3, 4 horas da manhã sem
medo nenhum, sem preocupação nenhuma.... Que haja controle na
construção de pousadas, pois já temos oferta de leitos suficientes para o
verão, o que os deixa ociosos na baixa temporada. Esperamos que os
empresários invistam em outros segmentos e que possamos manter essa
qualidade. Temos que buscar um Búzios sustentável, voltado para o meio-
ambiente porque ele é tudo. Que se faça o ecoturismo, mas com estudos de
impacto ambiental e da população, para que possamos controlar e não nos
tornemos um destino que venha um público que destrua o que está sendo
recuperado, como é o caso da vegetação na Praia de Geribá. Tem que haver
controle para que não venha uma massa muito grande de gente porque
135
embora tenha fiscalização ambiental, não se consegue olhar tudo a todo
momento. (morador 25)
Eu espero morar numa cidade que continue linda como ela é, não degradada
ambientalmente. Tenho esperanças que toda essa evolução que aconteceu
muito rápido, de uns dez anos para cá, possa ter mais beneficiado do que
danificado a cidade. Foram construídos muitos condomínios, muitos hotéis,
que favoreceram a economia da cidade e que deram um impulso a
construção civil, criando emprego e renda não só para aqueles que nasceram
aqui, mas para os que vivem neste lugar, que resolveram adotar Búzios
como sua cidade. Suponho que ninguém queira que a cidade fique
descaracterizada, perca seu charme de aldeia de pescador e, por isso imagino
que qualquer crescimento que ela tenha seja importante que não se degrade a
natureza, que não agrida, que continue gerando emprego, renda para as
pessoas, mas que não tenha o cotidiano caótico da cidade grande. (morador
26)
Eu gostaria de fato, voltar ao passado. Eu quando vim para cá há 20 anos, eu
buscava exatamente tudo o que Búzios não tem hoje. A minha busca por
Búzios foi exatamente a busca da aldeia, do primitivo, do local, do produto
local, do artesanato local, do artista que aqui já vivia para que trocasse
comigo experiências da cidade grande de onde eu tinha vindo. E eu
consegui. Tanto que fiquei, enquanto muitos se foram. Búzios dos meus
sonhos seria um Búzios que pudesse manter o equilíbrio com o meio
ambiente, continuar a manter o equilíbrio com as pessoas locais, porque eu
acho que esse é um dos pontos-chave do charme da cidade. Quem vem aqui
gosta de desfrutar dessa intimidade direta com o pescador local.... Então... se
pudesse ter Búzios... não faz mal que o navio venha com os seus milhões e
milhões de tripulantes e passageiros, mas que isto seja feito com harmonia.
Que o esgoto não seja mais lançado ao mar. Que as construções obedeçam as
leis da cidade e que as pessoas continuem sonhando. (morador 27)
Esta semana eu peguei o guia e fiquei espantada com a quantidade de
pousadas que tem em Búzios em relação a outras cidades... é uma coisa
muito absurda, uma concentração muito grande e sabemos que onde passa
uma estrada imediatamente começa a ter casas e tudo em volta, a
desenvolver uma dinâmica social ali. Então eu acho que não se deve
reproduzir o que se fez na península no restante da cidade, pois senão
Búzios vai ser inviável. Acho que já está perto de um ponto de saturação
dentro de um desenvolvimento como cidade turística e acho que o
planejamento tem que ser muito cuidadoso. Não adianta querer atrair mais
pessoas porque a alta temporada já está saturada com a quantidade de
pessoas que traz. Até mesmo os empresários já estão sentindo isso. Há que
se ter muita reflexão e ação para aquilo que se quer para cidade...... (morador
28)
Na visão do turismo eu imagino que aqui tem um potencial muito grande.
Infelizmente, o que acontece é que realmente os nossos habitantes, a
comunidade, eles não têm interesse em se especializar na área de turismo. È
só pensar o seguinte: todo ano abrimos o curso, mas a procura é pequena,
tanto é que nós temos quase que pegar aluno à laço. Aqui sobram vagas,
tanto que nós temos de trazer alunos de Cabo Frio, São Pedro D’Aldeia,
Unamar, que são cidades próximas daqui. É um curso gratuito que realmente
deveria ter interesse para os habitantes, mas o que acontece? O pessoal não
tem essa visão de se especializar para trabalhar numa pousada, num
136
restaurante, por isso os empresários procuram pessoas que têm outros cursos.
Porque esses cursos são feitos no Rio, em São Pedro, longe daqui. E quem é
esse público? São pessoas desses lugares que, na visão deles aqui é quem
realmente, na maioria, têm mais garra, que estão mais dispostas a correrem
atrás, são pessoas que têm aquele perfil batalhador. Aqui eles têm esse perfil
que é mais comum na Região dos Lagos, esse perfil bonachão, mais
tranqüilo... pego um peixe ali, vendo lá... alugo minha casa na alta
temporada. Então quando você fala, eles perguntam: ‘para que estudar
turismo? Preciso não. Eu vou ali, dou um passeio de barco...’. Esta é a visão
deles, que a gente está tentando mudar. Esse curso... é com muito esforço
que a gente está aqui. Só Deus sabe! Tanto que a gente começa uma turma
com cinqüenta e termina com turmas de nove... Aí todo ano eu começo com
o discurso: tenho cinqüenta, mas sei que daqui a um ano e meio tenho
certeza que formar dez, oito. Porque este é o perfil deles: a evasão é muito
grande porque eles não vêem o estudo do turismo como algo tão importante.
Então, qual seria a essência do turismo? Que essas pessoas se
conscientizassem e começassem a trabalhar, se formassem tecnicamente.
Vão ter conhecimento técnico, vão saber a importância do turismo para a
região porque o petróleo vai acabar um dia. A única coisa que vai
permanecer é a estrutura turística deles aqui e a importância que eles têm
de... a consciência que eles vão ter de que vão sobreviver realmente do
turismo, porque hoje é um dos que segura Búzios porque os royaties do
petróleo é o que mais segura mesmo. Então, por enquanto, a mentalidade das
pessoas ainda não está afetando muito, mas se fizermos uma volta no tempo,
vamos ver que as pessoas que vêm à Búzios não estão voltando tanto assim
não. Se é um lugar bonito, por que não voltam? Porque exigem uma
qualidade de trabalho e de serviços e vêem que aqui a prestação de serviço é
muito precária. Esse é um problema dos últimos anos que temos enfrentado
aqui. É tentar adequar a mão-de-obra à cidade. Que as pessoas que vêm aqui
estão acostumadas a viajar e o modelo da hotelaria e dos restaurantes é
padrão. No mundo inteiro é da mesma forma. Quando chegam em Búzios e
exigem um pouco a mais do serviço, esbarram nos problemas comuns: a
falta de estudo, a pessoa não tem um idioma, não tem um requinte de
cuidado, do trato, do bom atendimento. Isto tudo se perde justamente porque
eles têm essa visão. Não há interesse. Se continuar assim, a tendência é
Búzios ir perdendo essa clientela. O que nós estamos fazendo então? Atacar
o quê? A mão-de-obra qualificada dos próprios moradores. Mas como vamos
conseguir isto? Mudando primeiro a cabeça deles, que têm essa visão
arraigada do ‘foi ali, pegou um peixe, alugou a casa dele no final do ano e
está tudo bem’.... e não é assim que as coisas funcionam. O ideal para
Búzios, se quiser se manter como uma das cidades principais do turismo é
adequar sua mão-de-obra, conscientizando as pessoas.... tanto é que até
tenho na minha cabeça um pequeno projeto justamente de começar na base:
pelas crianças. Começar no ensino fundamental, introduzindo neles a cultura
turística, a cultura do tratar bem o turista porque ele que supostamente está
vindo aqui ‘encher o saco’, como eles dizem, é a pessoa que está trazendo
dinheiro e as divisas que vão mantê-los no futuro. Então.... eu imagino que
está será a Búzios do futuro. (morador 37)
Houve necessidade de deixar uma pergunta “em aberto” para que eles se expressassem
sobre algum tema que achassem importante e que não tivesse sido abordado. Pergunta 11 – O
que você gostaria de deixar aqui registrado que não lhe tenha sido perguntado?
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Os alunos do Cejob fizeram questão de falar sobre o curso e sua condução nos últimos
tempos, ressaltando o papel que teve o coordenador do curso, professor Ronald, ao implantar
alguns comportamentos que, com a passar do tempo foi ganhando visibilidade e a
cumplicidade dos alunos. Na verdade, não houve grandes modificações nas diretrizes
pedagógicas propriamente ditas, o que houve foi a mudança de comportamento que
entusiasmou os alunos a participarem de decisões sobre roteiros, visitas técnicas,
conhecimento, enfim do que está fora dos muros da escola. O papel da Professora Viviane
Evangelista também foi primordial para que os alunos tivessem novas abordagens. Recém-
formada em turismo, professora Viviane trabalhou como voluntária no programa “Amigos da
Escola” por cerca de um ano e meio e pôde trazer aos alunos sua experiência, ainda que
pouca, por ser tão jovem, mas a sua experiência trazida de Belo Horizonte. O interessante é
que mudanças comportamentais, até um pouco singelas, fazem com que se recupere o
entusiasmo, que os alunos possam saber que eles têm importância, que é gratificante ensiná-
los, trabalhar com eles. Esta é a impressão que se fica ao transcrever os depoimentos:
Queria dizer que estou muito feliz fazendo o curso aqui do Oliveira Botas.
Ronald, nosso coordenador é muito animado e ajuda a gente muito em
aprender as coisas necessárias ao turismo. Viviane também, é um amor,
trabalha aqui de graça, para ensinar a gente como se faz trabalhos
sustentáveis em turismo. Admiro muito eles e por isso os agradeço de
coração.(morador 3)
Você não me perguntou como que é o curso... O nosso curso de turismo é
maravilhoso, o coordenador é ótimo. Os professores são excelentes. Os
alunos são esforçados, o curso está crescendo e eu acho muito legal a
divulgação do curso. Não tenho nem palavras... Eu faço o curso e adoro. O
curso é maravilhoso.. (morador 4)
Há poucos minutos atrás, na praia, disseram que teve um rapaz que derrubou
uma turista no centro da cidade e tentou roubá-la, só que os moradores não
deixaram. Pegaram ele e não deixaram. Esse tipo de crime não é o próprio
povo da cidade que comete. É... como vou dizer...não são as pessoas da
cidade, são daqueles que vêm de fora e tentam fazer aqui coisas que fazem
nos outros lugares. Tem que melhorar isso, pois pode afastar os turistas.
(morador 6)
Eu pensei que você fosse me perguntar sobre o curso...Ah... É uma coisa
assim, eu no começo quando eu vim fazer.... eu vim fazer só por fazer...
porque eu achei que era mais um ano que eu ia perder aqui. Eu não queria
parar de estudar porque a gente quando pára, a gente...enferruja. Aí eu no
começo não estava gostando muito não, mas quando o nosso coordenador
entrou, ele levantou o curso e ficou muito bom. A gente está aprendendo
bastante, e ele vai melhorar muito, entendeu? Eu aprendi bastante, coisas que
eu não estava nem mais interessada.... mas ele deixou bem interessante o
138
curso. Não só ele, Viviane tem muita paciência com a gente .....Nós sabemos
que ela faz as coisas com vontade porque eu acho que ela nem recebe para
fazer. Todos os professores têm muita boa vontade com a gente. (morador 7)
Tenho seis filhos com idades entre 8 a 19 anos, três casais. Todos estudam.
Sou da Paraíba, vim para o Rio e depois para Búzios. No Rio morei em
favela....Como sou do interior... quando eu vim para Búzios... eu me
encantei...porque aqui você pode ganhar o dinheiro como na cidade grande e
morar no interior... (morador 8)
Eu gostaria de deixar registrado que podemos crescer e ter Búzios como um
turismo sustentável, para todo o mundo. (morador 9)
Bom... sobre o nosso curso... Nosso curso aqui... Eu não tinha o objetivo de
fazer, mas por não ter outra opção, vim fazer o curso Técnico de Turismo e
estou gostando. Já estou no segundo módulo e espero que eu passe para o
terceiro.... e estou gostando muito, sabe. Nosso coordenador também apóia a
gente. E é muito importante quando a gente tem um apoio. Eu saio de casa e
deixo minha filha em casa com a minha mãe e meu padrasto. Então, a gente
vem e recebe realmente o conhecimento. Isto e importante. Não deixam a
gente desanimar. (morador 13)
Se esse curso de turismo vai ter apoio de algum governante, de algumas
empresas. Eu espero que tenhamos apoio para o próximo ano....Gostaria que
fosse divulgado mais, atraísse mais alunos, pudéssemos ter mais passeios,
visitas, tudo que engloba o turismo. Precisamos de patrocínio para fazer as
visitas em Búzios e fora de Búzios, no Rio de Janeiro, por exemplo,
precisamos conhecer um pouco, ao menos. Precisamos do auxílio
principalmente dos empresários de pousadas e hotéis, dos comerciantes em
geral . Aqui no curso nós temos aulas de idiomas e elas nós ajudam muito,
mas se alguém aprende ou não, isto é uma outra coisa... por exemplo, eu não
gosto de francês, mas minha colega Andreza adora francês e se dá muito
bem... eu gosto mais do inglês. Aprender línguas é essencial para o turismo
aqui. (morador 18)
A praia que se destaca em Búzios é a de Geribá. Muitas pessoas procuram
esta praia, mas tem várias outras também. Geribá é a mais procurada, mas a
mais bonita é a de João Fernandes. A de Tucuns é a maior. (morador 21)
Eu acho que deveria ter mais opções de cursos aqui na Região dos Lagos
porque muitas vezes as pessoas gostariam de fazer cursos... cursos técnicos e
não têm opções... Têm que se despencar daqui para o Rio, mas não tendo
condições financeiras acabam desistindo e fazendo outras coisas que nunca
imaginariam fazer. Então eu acho que deveriam ser trazidas mais opções,
cursos bons para os alunos... para que tenham um melhor preparo e possam
ficar aqui com suas famílias. (morador 29)
O Curso Técnico de Turismo é um curso voltado para preparação de pessoas
que trabalham ou vão trabalhar com turismo. Não é um curso para agentes
de turismo. É um curso ótimo, mas que existem falhas mas que, ao longo do
tempo elas vão ser sanadas.... ele está em fase de amadurecimento. O
professor-cooordenador do curso, Ronald, dá muita ênfase à atividade de
campo. Isto é: as visitas às cidades, para que nós possamos estudar a história
das cidades no sentido de nos prepararmos para a atuação como guias
posteriormente, quando o processo que está na EMBRATUR for aprovado.
139
Além disso, todas as matérias curriculares: Geografia, História, Matemática,
são voltadas para o turismo. Matemática, por exemplo, dá ênfase a
conteúdos que as pessoas vão utilizar numa recepção de hotel, no
almoxarifado, num escritório, como porcentagem, razão, proporção, câmbio.
História dá ênfase à história de Búzios. História do Brasil, mas numa
segunda etapa a história de Búzios. E em Geografia, a mesma coisa: como se
localizar, como se fazer uma coordenada, como se verificar o lugar onde a
pessoa está. Inglês, Francês, Espanhol são matérias que são básicas para a
nossa atividade. Enfim, o curso é um curso que, se não é completo, muita
pouca coisa falta fazer e que, logicamente, com o passar dos anos, vai se
vendo as falhas e sanando-as para que este curso possa ser um curso mais
objetivo, ou melhor que se aproxime bem dos 100%. (morador 30)
Eu pretendo estudar turismo até fazendo uma faculdade, se tiver
possibilidade. Bom, na verdade eu pretendo voltar para o Rio, pois na
verdade eu sou de lá. Já estou morando aqui há quatro anos e, como eu
estava assim, sem muita perspectiva, sem ter muito o que fazer... pois aqui
tem esse negócio de alta e baixa temporada e na baixa a gente fica sem muita
coisa a fazer, a gente fica muito ansiosa... E unindo uma coisa a outra,
despertei-me para o curso até porque eu nem sabia que existia esse curso
aqui e aí... eu pretendo continuar e fazer uma faculdade. (morador 31)
Sobre o nosso curso. O Curso Técnico de Turismo nos abre os olhos para os
atrativos de Búzios que podem ser transformados em produtos. Quando
alguma coisa é oferecida regularmente, as pessoas sabem que estão lá e
sabem que a qualquer hora que chegam vão encontrar. Aqui em Búzios têm
muita coisa, principalmente para quem tem dinheiro. As boates são caras. A
diversão aqui além de praia, é cara. (morador 35)
Os registros da população de não-alunos se fixam mais sobre a questão da infra-
estrutura. De seus benefícios como facilidade de acesso, ganhar tempo, poderem os turistas
ficar hospedados mais dias na cidade. E de seus malefícios: a preocupação com a ocupação
desordenada, a rapidez das construções civis que alteram significativamente a paisagem e os
bolsões de pobreza que isto pode acarretar.
Sobre o Aeroporto de Cabo Frio. Antes eu achava que seria bom mas aí
mudei de idéia porque me falaram que o público que vai para Cabo Frio, que
vem a Búzios antes passa pelo Rio de Janeiro. Tem o cara que compra o
pacote Rio-Búzios, a pessoa não compra o pacote só Búzios. Eles passam
pelo Rio de Janeiro. A pessoa vem para cá, mas quer conhecer o Rio
também..... Então, não sei se venderia essa coisa de vôo direto para Cabo
Frio e de Cabo Frio pra Búzios. Por exemplo, eu queria conhecer Sevilha,
mas quando fui para lá eu tive que passar por Madri.... mas também eu ia
para Madri de qualquer jeito, porque eu queria conhecer Madri também... Eu
acho que o pessoal que quer vir à Búzios, também quer conhecer o Rio.
Quem não quer conhecer o Rio? (morador 2)
Búzios é uma cidade para todos. É muito rica em beleza, em alto astral. É
um lugar abençoado por Deus. (morador 5)
140
Eu queria registrar a ação que me foi permitida desenvolver com essa
‘galera’ do curso técnico. Está sendo muito positivo perceber um
entendimento deles em relação a uma proposta de enxergar que Búzios pode
ser um lugar muito especial. Quando eu vejo eles por eles colocando
determinados conceitos, afirmando coisas simples, mas que são
extremamente importantes para o futuro da cidade, eu vejo assim uma
esperança. E quando eu vejo trabalhos como o seu que, de uma determinada
maneira incorporando ações que já existem aqui, eu acho que existe a
possibilidade de um futuro promissor. Eu hoje estou muito otimista com o
futuro de Búzios, apesar de todos os problemas, porque se nós temos assim
uma ‘moçada’ começando a pensar diferente e de uma maneira bem
concreta, existe esperança. E que trabalhos locais, trabalhos acadêmicos que
você está desenvolvendo aqui e outros também por aí porque no fundo, no
fundo , nós falamos as mesmas coisas, seja no Curso Técnico, numa ação
individual minha com os artistas, num bate-papo dos ‘moleques’ aí falando
sobre turismo, nós estamos falando a mesma linguagem e eu acredito muito
na incorporação de forças. [...] Nos trabalhos de grupos que se encontram e
façam trabalhos coorporativos, dividindo conhecimentos e, com isso,
multiplicando-os. Não estamos aqui como um túmulo do saber e só ações
integradas e compartilhadas podem trazer resultados benéficos para Búzios
e para qualquer lugar. Nós temos essa responsabilidade e o turismo, por ser
um fenômeno muito complexo, ele exige uma integração de muitos
profissionais. Para planejar, você precisa dos pensamentos, da articulação de
muitos profissionais. Só a cooperação pode trazer bons resultados para
Búzios é isto que eu espero... que possamos continuar nossa caminhada.
(morador 12)
O registro, na verdade é que o curso de turismo aqui do Oliveira Botas
deslanche como já vem acontecendo graças a Deus e com a ajuda do Ronald
(morador 14)
Búzios é uma cidade que você pode viver cheia de jóias ou com calças
rasgadas e ninguém se importa.... é uma província, uma cidade do interior,
não é uma metrópole. (morador 17)
Não há socorro médico em Búzios. (morador 19)
Sou filha de família humilde. Pelo meu próprio esforço tive acesso à
educação, a ler bons livros, com muita dificuldade faço o meu trabalho e a
minha grande preocupação é o futuro, não só de Búzios, mas do País, de
crianças com educação. Minha outra preocupação é a ecologia. A cidade é
bela, grande fonte de dinheiro para muita gente e as pessoas esquecem que
isto está alicerçado na grande beleza de Búzios que tem que ser preservada.
Não adianta fazer uma linda via e esconder o esgoto. Não adianta fazer uma
linda orla e jogar o esgoto embaixo. Isso vai ser bonito hoje, mas daqui a
cinco, dez anos, não vai ser mais bonito não. (morador 23)
Uma coisa que eu gostaria de deixar claro, que talvez possa ajudar em
alguma coisa é como a cidade foi vendida. A cidade sempre preservou muito
a sua marca. É uma cidade que se desenvolveu muito, cresceu, inchou, até
um pouco mais do que a gente gostaria, mas o progresso também traz
mazelas, mas nós conseguimos, ao longo desse tempo, manter a marca
Búzios em evidência. Búzios ainda é sinônimo de uma coisa boa, sofisticada
e atraente. Búzios foi vendido duma forma muito pragmática: para o
estrangeiro como o primitivo e para o brasileiro como o sofisticado, apesar
141
de a gente não ser nenhuma das duas coisas mais. Mas a gente conseguiu
vender isso relativamente, entregar esse produto ao turista que chega aqui.
Claro que a expectativa é sempre maior no sentido de encontrar uma cidade
muito mais organizada, uma cidade mais cidade, mas isto ainda não foi
possível... A gente acredita que em mais dez anos a cidade, claro que se não
optar por um turismo de massas, se houver a preservação ambiental, em dez
anos, Búzios vai ser a cidade dos sonhos de todo mundo e que a gente vai ter
muita satisfação em morar aqui e de ter contribuído para o começo desse
processo. (morador 24)
¾ Búzios é uma cidade cosmopolita, tem espaço para todo mundo que
quiser somar, quiser criar, quiser ajudar a cidade, que é muito criança: ela é
muito recente... está engatinhando ainda perto de outros lugares... Mas temos
um ponto muito forte a favor: a beleza natural, mas que, se não cuidarmos,
vai acabar. Quem tem que construir a cidade agora? Somos nós, as pessoas,
porque o que ela tem a oferecer a natureza já nos deu. Então somos nós que
temos que fazer com que ela se torne melhor, mais agradável, mais gostosa
para as pessoas que chegam aqui, que resolvem vir a este lugar. Que Búzios
continue esse lugar maravilhoso que é, mas de uma forma mais devagar.
Chegou a hora de desenvolver mesmo, de nós mostrarmos a nossa cara.
(morador 26)
¾ Um dia, eu ouvi um professor dizer que o progresso é inevitável, a
tecnologia é algo que, quando você incorpora não tem mais como voltar,
que ninguém está disposto a voltar aos tempos da caverna e é verdade,
ninguém está disposto a voltar.... então o importante é saber manejar... então
se vão ampliar o aeroporto de Cabo Frio, Búzios vai também ter resultados
com isso. E eu me pergunto: qual será o limite de vôos? Quem irá fazer este
controle ambiental para que, em nome do progresso, do emprego, da
economia, não se polua tanto lugares tão aprazíveis e que assim o são porque
tem ainda um jeitinho de aldeia, como Búzios? O progresso é importante,
mas a que preço? Isso tudo tem que ser muito bem planejado. (morador 28)
¾ Quando os alunos procuram o Curso Técnico de Turismo, o que eles
têm na cabeça é o curso de guia. Eles acham que vão sair, descrever a orla
Bardot, um mirante, uma praia e muitos se frustram justamente nisto porque
o técnico é mais sala de aula. Eles estão aprendendo as técnicas primeiro e só
vão sair depois.... Como eu vou descrever um atrativo natural, uma praia, por
exemplo, se eles não entendem de meio ambiente, da importância do
saneamento básico, das línguas negras, o porque daquilo ali, daquelas algas
verdes, que é um desequilíbrio da poluição, porque não se pode jogar lixo
em qualquer lugar... a consciência ecológica... não poluir. De toda uma
confluência de fatores que eles têm primeiro na sala de aula, embasamento
técnico, para quando saírem, quando estivermos falando... eles vão entender
o que nós queremos. Uma das frustrações que eu imagino, da evasão, é
isso... porque eles vêm esperando que nós vamos viajar o tempo inteiro,
passear. ... que as aulas serão só aulas de campo e que, na verdade, isso é só
uma conseqüência... É o fazer literalmente o turismo... é uma idéia errada
que eles têm... Acredito que quando nós tivermos o curso de guia, isto
mudará. Por isso que temos essa urgência, porque seria o complemento que
está faltando para eles. Por mais que nós saiamos, que levemos eles para
conhecerem a cidade, nós fazemos até uma ‘meio guia’, digamos assim,
algumas atividades de guia, até para servir de estímulo. Mas só vai acontecer
mesmo na íntegra quando tiver o próprio curso. Acho que isto deva ficar
registrado para que esses alunos entendam que o mais importante é o
142
embasamento técnico... está certo, as saídas também... mas é uma
combinação dos dois. [...] E esta é a maior dificuldade que eu vejo nos
alunos. Não se consegue achar o equilíbrio disto. A grande evasão acontece
exatamente por causa disto. A gente sente... Eu, que dou aulas técnicas, eles
dizem... ‘de novo? Precisamos fazer esta leitura novamente?’ Aí eu explico
para eles que isto é o mais importante... a essência em detectarmos isto como
uma falha, que nós estamos tentando mudar até achar o equilíbrio...
(morador 37)
143
6 CONCLUSÃO
A pesquisa documental e as análises das entrevistas tomam como balizamento os
planos que norteiam o planejamento turístico no Brasil, expressos pela União (PNT), Estado
do Rio de Janeiro (Plantur) e Município de Armação dos Búzios (Plano Diretor). No caso
deste último, diga-se de passagem, as análises foram feitas com atenção redobrada, visto que
nem tudo que vinha sendo levantado e discutido pela Fundação Getúlio Vargas – entidade
responsável pelo documento -, autoridades do governo municipal e moradores de Búzios foi
tomado em conta pela mais recente administração da cidade.
Procurou-se, por meio das análises e evidências documentais comprovar a hipótese de
que a valorização da cultura está presente no discurso dos alunos do Tectur/Cejob, de maneira
ainda desorganizada e geralmente associada a pequenos ganhos econômicos, o que se justifica
pela falta de uma identificação real do que é e do que não é expressão cultural local, fruto das
raízes de Búzios.
Isto acontece porque o Tectur vem incorporando aos seus conteúdos nas disciplinas as
questões levantadas nacional, regional e municipalmente, de maneira gradual, por meio da
reformulação de suas diretrizes pedagógicas implantadas em 2001 e revistas em 2004.
Em 2004 houve mudanças nas diretrizes pedagógicas, porém elas se deram mais no
aspecto comportamental do que de registro de mudanças de conteúdos das disciplinas, embora
tenham sido incorporadas mais atividades práticas e visitas técnicas, além de,
conceitualmente, trabalharem os docentes com modelos de turismo sustentável.
Sendo assim, o Tectur tem respondido as inquietações dos órgãos públicos, das
entidades, empresas privadas e dos cidadãos, formulando novos roteiros de visitas a locais
ainda não explorados em Búzios, ou pouco explorados, cuja essência é o aspecto ambiental.
Estes roteiros têm sido constituídos de produtos como cavalgadas, caminhadas, trilhas e
trecking.
As soluções que os alunos vêem para a baixa temporada são, em linhas gerais, trazer
ao longo do ano, turistas com perfis diferenciados, que respeitem o meio ambiente e a
144
diferença cultural. Os programas estão centrados na beleza natural de Búzios, mas eles
também pensam e agem dentro da política de roteiros integrados, abrangendo seus produtos às
regiões circunvizinhas. Algumas soluções eles têm implantado com produtos, ainda tímidos,
pela própria dificuldade financeira de investirem nos projetos para que eles possam ter uma
maior dimensão.
Neste sentido, a maior divulgação ainda está na Serra das Emerências, onde crêem que
vários produtos possam ser criados, inclusive equitação.
Além destas, dão sugestões para o turismo na baixa temporada, na área de
entretenimento: shows, parque infantil, festas, festas gastronômicas, festas gastronômicas com
comidas típicas de Búzios, festas folclóricas, festivais de música sacra, de popular, de gospel.
Em eventos culturais: feira de livros, exposições da arte e do artesanato próprios da cidade.
Nos esportes sugeriu-se: campeonatos, vôlei de praia, canoagem, jet ski, vela, principalmente
os esportes que privilegiassem o mar. Sugeriram também convenções, eventos de negócios.
As mais citadas, no entanto, foram as atividades relacionadas ao ecoturismo como
caminhadas ecológicas, trilhas, cavalgadas, vôo livre.
Interessante também ter aparecido sugestões como as de calendário de turismo em
conjunto com outras cidades, manter parcerias com outros locais, fazendo trocas e promoções
em conjunto.
Focaram também a questão da sustentabilidade e, dentro dele, inclusive algum tipo de
isenção de impostos para algumas atividades ou diminuição de alguns impostos.
Quanto aos traços da cultura típica e nativa encontrados e observados no dia-a-dia
pelos alunos, eles observaram que existiam Quadrilha, Folia de Reis, mas que hoje a
população encontra outros meios para sua expressão como o artesanato feito com a taboa e o
bambu e esculturas em madeira. Os produtos artesanais feitos hoje, já não são típicos de
Búzios, embora a Secretaria de Cultura sempre dê cursos de artesanato. Ela tem a
preocupação de que a população aprenda o artesanato para que possa criar peças originais.
Alguns alertaram que em José Gonçalves têm ainda pessoas que fazem a culinária dos índios,
mas não comercialmente.
145
Da culinária, embora relatassem o macarrão com siri, casquinhas de mariscos, sopa de
peixe com banana, não souberam afirmar se é típico de Búzios e em que tempo. O que se
encontra hoje são arranjos de uma culinária do passado e ainda fica valendo a possibilidade
deste levantamento para utilização comercial.
Sendo assim, o uso do que se habitualmente se pode chamar de cultura ainda está na
pesca artesanal. É o item mais sem misturas contemporâneas que se pôde observar. O turismo
pode investir nisto mais profissionalmente porque tem grande apelo, segundo os depoimentos.
Quanto à questão da articulação dos artistas, o interessante é que, pelos alunos
aparecem juntos os artistas e artesãos que trabalham com artes plásticas e também os artistas
mais famosos, os globais, que têm casas de veraneio em Búzios. As outras expressões
artísticas ficaram sem citação e, por isso, deve também ser fruto de investigação.
Ainda sobre a articulação, embora existam associações, a grande maioria delas, dos
artesãos e outras foram criadas para cumprirem uma etapa do orçamento participativo, para
que a população se pronunciasse por meio de suas associações. Mesmo que Búzios tenha (e
tem) uma história de movimentos no passado, estes se encontram menos atuantes hoje.
Com referência à história da cidade, é um assunto que deve ser melhor trabalhado em
todas as instâncias, já que o lugar é um lugar turístico. Não se está dizendo que a população
tenha de ser “treinada” na sua história, e sim que se privilegiem os historiadores que têm feito
estes levantamentos e que haja algum projeto em que a história saia das escolas. Esteja nas
escolas, como tem sido até agora, mas saia de seus muros. Um dos produtos disso é o
levantamento que tem sido feito regularmente na Rasa, utilizando a metodologia de vídeo
antropológico, coordenado pela Professora Carmen Tastch do Instituto de Saúde da
Universidade Veiga de Almeida – Campus Cabo Frio. Este trabalho de recuperação pode ser
estendido a outras comunidades, o que é do interesse da referida professora.
Talvez mais do que “conhecer” a história, seria “remontar” a história. Porém há espaço
para as duas atividades.
146
No caso dos alunos do Tectur/Cejob, eles devem ficar mais atentos à história de
Búzios e é algo que todos devem investir nisto: com livros na biblioteca, com palestras dos
historiadores especializados na história regional de Búzios e arredores. Não se está dizendo
com isto que os trabalhos dos professores da área não estão sendo cumpridos à contento.
Muito pelo contrário. O que se está dizendo é que trazer até à escola outros profissionais que
tratam de temas de Búzios irá acrescentar um trabalho que vendo sendo feito de maneira
satisfatória. Os alunos deveriam ler mais sobre isto também. O que é passado nas aulas fica
retido numa porcentagem pequena. Eles devem ser estimulados, ainda mais do que têm sido, a
este contato direto com a comunidade e com os livros.
Sendo um curso de turismo, a história não pode ficar “presa” ao que é corriqueiro na
cidade que é a visita de Brigitte Bardot. Isto é quase uma lenda, embora seja verdade que
Brigitte tenha estado lá. Búzios tem um passado muito rico, como os têm muitas cidades
brasileiras, mas este passado, essa história precisa mais do que ser recuperada nas cidades
turísticas. Precisa estar na boca de todos. É quase como que “vulgarizar” a história, torná-la
comum a todos.
O futuro é, de certa forma, construído. E as declarações dos alunos dão um retrato do
que se precisa para a cidade. Interessante que mais do que olhar a plasticidade do local, que é
muito belo e esta característica é um chamativo para o turismo, os alunos vêem o futuro com a
oportunidade de continuarem trabalhando, que haja saúde, trabalho e educação para todos,
enfim, coisas bem básicas, o que denota que esta é realmente uma dificuldade encontrada
hoje. Alguns poucos falaram também de violência. Que a violência urbana não chegue a
Búzios, mas também os alunos têm consciência que sem emprego, “sem um dinheiro” – como
eles dizem – as pessoas começam a praticar atos de violência, por não terem o básico para a
sobrevivência. Alguns lembraram também do saneamento, mais um aspecto essencial.
Eles têm consciência que se deve melhorar o atendimento ao público e que deve ter
um planejamento turístico sustentável. Volta a questão do trabalho, de ter trabalho o ano todo,
alertando sobre a questão sazonal do turismo. Quando falam do trabalho, o trabalho para o
jovem é sempre referido. Esta é uma preocupação mais dos alunos que já são pais do que para
os alunos mais jovens. Os alunos mais jovens ressaltam mais a preservação da natureza, a
questão da capacitação, das vias alternativas de transporte e da profissionalização do turismo.
147
Como já foi dito, os alunos, em cooperação com o Coordenador do Curso, o professor
Ronald, têm montado roteiros alternativos, alguns produtos para a cidade. O que chamou a
atenção é que muitos alunos, que moram em Búzios, disseram não ter conhecimento do
Tectur, embora já tinham vontade de fazê-lo há algum tempo. Outros se disseram
surpreendidos com a qualidade do curso, que tem sido melhor do que as suas expectativas,
inclusive alguns passando por dificuldades sérias para poder freqüentá-lo. Lembraram que
eles têm aulas de três línguas: francês, inglês e espanhol e que isto é importante para uma
cidade como Búzios, que tem um turismo internacional significativo.
Os alunos afirmaram que Búzios é uma cidade cara: as boates, o comércio da Rua das
Pedras, sendo necessário planejar programas mais baratos, vinculados à ecologia, para o
próprio buziano e para aqueles que vivem nos arredores e para o próprio turista brasileiro com
menos posses, mais que respeitam o meio ambiente.
6.1 SUGESTÕES
6.1.1 Em relação à Educação formal para o Turismo
O Tectur/Cejob, mesmo sem uma infra-estrutura condizente a um curso pós-médio,
como colégio público estadual tem cumprido seu papel de atender à população mais carente
que tem dificuldade em pagar uma Faculdade privada.
Este é exatamente o papel mais importante que o Cejob cumpre. Fazer chegar a
educação onde é necessária.
É comum que se releguem àqueles que têm menor poder aquisitivo a educação para
atividades mais básicas. No caso do turismo, a capacitação de garçons, camareiras, taxistas,
entre outros. O que é interessante, entretanto, é que há uma dificuldade em investir naqueles
que têm menor poder aquisitivo em profissões mais nobres, mais rentáveis economicamente.
Esta é uma das funções que se cumpre com o pagamento dos impostos. Que haja educação de
qualidade para todos, não importando a condição socioeconômica individual. Sabe-se que o
148
investimento em Educação é alto. É um custo alto para o Estado. Mas tem de ser feito. E é
injusto que, aqueles que nascem em condições menos favoráveis, não tenham oportunidades
iguais ou equivalentes, ao menos, para ter acesso à educação de qualidade.
Por que não se pensa no buziano como gerente de hotel ou pousada? Ou agente de
viagens? Ou guia? Por que há certa tendência a achar que aquele que vem de fora tem mais
condições de fazer o trabalho, de ter mais garra? Onde e quem mediu isto? Quais as bases
científicas reais de tais afirmações? Pode até ser verdade que aquele que venha de fora tenha
mais condições formais de educação, ou até mesmo das informais, mas se isto acontece é
porque as oportunidades não têm sido dadas a todos, pelos menos de maneira semelhante.
Na educação formal, o Sebrae pode contribuir, colocando à disposição dos alunos o
Curso de “Gestão de Pequenos Meios de Hospedagem”, que pode ser feito a distância e mais
cursos como o “Aprender a Empreender” ou “Iniciando um Pequeno Grande Negócio”. O
Tectur/Cejob tem um razoável Laboratório de Informática e não haveria muita restrição em
que os alunos fizessem alguns cursos a distância por meio de computadores. Para os alunos
que mais se destacarem, que haja uma parceria com a iniciativa privada para que sejam
concedidas, por ano, cinco inscrições gratuitas para o Empretec, que é o curso que se tem em
mais alta conta do Sebrae.
O Senac também poderia ajudar em pequenos cursos de formação. O Senac é uma
instituição que goza de muitos cursos de qualidade e é reconhecida no Brasil inteiro em
relação às suas atividades em turismo, hospitalidade, gastronomia. Basta que se façam
convênios para que estas inter-relações ocorram.
6.1.1.1 Para os empresários
Alguns empresários da cidade alegam ter dificuldade em absorver a mão-de-obra do
Tectur/Cejob, porque a formação deles não é a condizente com os serviços que querem
prestar, que eles precisam ser mais atentos, ter mais conhecimento, mais “trato”. Elenca-se,
então, algumas atividades que o empresariado possa fazer para, como responsabilidade social,
149
equilibrar as diferenças entre os alunos Cejob aos outros que profissionais que vêm de fora.
Se o empresário está na região é justo que ajude a sua comunidade a melhor, parece óbvio.
1. Fazer palestras, no Colégio, sobre suas atividades, e dizer o que acha mais
condizente que o trabalhador tenha que ter, o que se espera do trabalhador para que
faço um trabalho de qualidade e quanto está disposto a pagar por isto;
2. Doar livros de qualidade para a biblioteca da escola, sejam de turismo, história,
geografia, hospitalidade, boas maneiras, antropologia, artes, enfim, literatura que ajude
o aluno a melhorar sua educação, entendendo que o que se apreende em sala de aula,
fica somente um pequeno percentual. O resto do estudo é mais individual mesmo.
Necessita do auto-estímulo. Se cada empresário doar um livro ao ano, em cerca de
dois a três anos a biblioteca não terá mais espaço para tantos livros;
3. Trabalhar no sistema de “adoção” de um aluno. Acompanhar a sua formação e
estimulá-lo para que continuem seus estudos, mesmo que não os empregue ou mesmo
não lhes dê estágio. Estas duas últimas não são as únicas possibilidades de auxílio. Se
se fizer isto durante dois ou três anos, crê-se que a mão-de-obra local irá melhorar
muito.
6.1.1.2 Para os estrangeiros, empresários ou não
Comumente se diz que Búzios é uma torre de Babel porque foram identificadas mais
de 50 nacionalidades entre seus habitantes. Além disso, dentro de todos os programas de
governo se encontra a questão da valorização da identidade e da diversidade cultural e
regional. Dentro desta perspectiva, acredita-se que, melhorar esta relação entre os estrangeiros
e nacionais, principalmente os nativos, seria interessante. Para o turismo então, talvez seja
primordial. Sendo assim, sugere-se que:
1. A Direção do Colégio convide, uma vez por mês, algum estrangeiro, de
nacionalidades diferentes a cada mês, para falar do negócio que desenvolve em Búzios
e um pouco da sua terra natal, dos seus costumes, das suas belezas e do porquê
escolheu Búzios para viver. Se há, realmente, cerca de 50 nacionalidades, em quatro
anos ainda não se teria conhecido todas as histórias de cada um estrangeiro. Isto seria
uma riqueza tanto para os alunos como para os palestrantes, porque a troca pode ser
muito profícua;
150
2. Que doem a escola, um livro ou um objeto, que pode ser algo simples, mas que
tenha a cara de seu país de origem, para fazer parte de uma exposição permanente dos
pertences dos habitantes vindos de outras terras para Búzios. Isto seria valorizar
também a cultura do outro, relacionar-se com os seus objetos, uma de suas formas de
expressão;
6.1.1.3 Para os pesquisadores sobre Búzios
Há cientistas desenvolvendo trabalhos em Búzios em diversas áreas. A idéia é que se
passe para os alunos do Tectur o que se vêm estudando, porque isto pode afetar, de alguma
maneira, a atividade turística. Que os pesquisadores se prontifiquem, por meio de
chamamento do Cejob, a externar seus conhecimentos, sejam eles sobre geologia, meio-
ambiente, cultura, psicologia das comunidades. Recomenda-se também a elaboração de um
roteiro preparado previamente pelos alunos onde se permita o surgimento de possíveis
questões.
6.1.1.4 Para os agentes da comunidade
Búzios tem um número bem grande de Associações já identificadas: 65, inclusive a do
próprio Cejob, a Associação de Apoio à Escola Estadual João de Oliveira Botas. Membros
das associações, a convite do Cejob, podem fazer palestras para os alunos dando-lhes a
conhecer os seus principais problemas e que soluções acham exeqüíveis para os ditos
problemas. Por exemplo, o que teria a dizer para os alunos a Associação dos Pequenos
Produtores Rurais do Município de Armação dos Búzios? E a Associação Protetora dos
Animais São Francisco de Assis de Armação dos Búzios? A Associação dos Músicos e
Compositores de Búzios? A Associação de Arte e Cultura de Búzios? Ou mesmo a dos
arquitetos, o Rotary, a de capoeira e tantas outras....
151
6.1.2 Em relação às expressões culturais
Tem-se a informação que o município congrega muitos artistas e artesãos, além de
músicos, atores circenses, capoeiristas, esportistas, atores de televisão, teatro, cinema,
pintores, escultores, fotógrafos, entre outros.
Búzios é muito rico nas expressões de cultura. Pode-se fazer uma mesa-redonda, como
num seminário sobre as obras dos artistas não-originários de Búzios e os originários. A cada
mês, 3 artistas.
Os artistas podem também fazer um projeto de mudança estética do Cejob, aliando os
elementos que representem Búzios, com cores que denunciem ser ali um espaço para a
jovialidade, a criatividade, a construção do futuro. Isto pode estar representado numa sala
somente. Pode-se fazer até em conjunto com os alunos, como uma obra coletiva de criação.
6.1.3 Em relação a negócios a serem desenvolvidos
Em Búzios existem muitos negócios que podem e devem ser desenvolvidos pela
iniciativa privada e podendo ser alguns caracterizados como pequenos negócios. Ao se olhar a
demanda de trabalho com o olhar do emprego, talvez fique mais difícil de desenvolver a
atividade do que a olhar como um negócio.
Sendo assim, setores do governo, ou mesmo a iniciativa privada, pode provocar nos
alunos o estímulo de montar seu negócio, olhando tudo que envolva a cadeia do turismo. Para
isto, entretanto, é importante que se diga quais os serviços que a sociedade precisa, do que se
têm carências.
O papel do Sebrae principalmente nesta atividade é fundamental. O Sebrae deve falar
aos alunos o que ele tem feito em Búzios, no Estado do Rio e no Brasil em geral para
fomentar, qualificar e estimular os pequenos negócios em turismo e outras atividades que dele
se acerquem.
152
Pode-se pensar, por exemplo, em termos de trabalhos cooperativados ou em
empresariais. Quais são os negócios que Búzios e redondezas precisam e que podem sem
montados por um conjunto de alunos do Tectur?
6.1.4 Em relação ao estabelecimento de linhas de crédito para a população de baixa
renda
Uma das maiores dificuldades em se dar início a um negócio é o capital inicial e outra
é alavancá-lo para uma etapa mais arrojada, em que se aumenta a quantidade da oferta de
produtos ou serviços, ou se muda um processo de fabricação ou de gestão de serviços.
No caso de Búzios e em relação ao que a população pode fazer, ou mesmo os alunos
do Cejob, seria criar uma linha de crédito, de microcrédito, para nanonegócios. Tanto a Caixa
Econômica quanto o Banco do Brasil possuem linhas de crédito para pequenos
empreendimentos. Além desses, pode-se procurar àqueles que já têm um trabalho mais
consolidado no mercado.
O que é importante aqui é que se explique e se estabeleçam linhas de crédito para que
os alunos possam abrir seus negócios.
6.1.5 Em relação ao trabalho para a juventude
Isto já foi dito no corpo do trabalho, mas é importante reafirmar. Búzios conta com
uma população jovem muito grande. Caso não seja pensado desde já na oportunização do
trabalho, emprego e renda, pode-se comprometer toda uma geração futura. Sabe-se dos
trabalhos que fazem as Secretarias de Promoção Social e do Trabalho, porém, o que se quer é
uma maior atenção aos alunos do Tectur/Cejob. Que possam as assistentes sociais informarem
aos alunos sobre as oportunidades existente no mercado e quais seriam os riscos que estariam
sujeitos caso não se preparassem desde já com a sua trabalhabilidade. O quanto é importante a
sua formação hoje para o futuro e o que as assistentes sociais vêem de oportunidades para
aqueles que têm baixa renda.
153
6.1.6 Em relação às atividades infantis para a conscientização turística
O sistema escolar municipal já tem trabalhado isto há algum tempo. A proposta é
levar os alunos do Tectur/Cejob às escolas do ensino básico, municipais e privadas. Eles
fariam, a cada dois meses, uma palestra sobre um produto turístico que eles criaram ou sobre
um determinado atrativo turístico fundamental para a cidade.
Conscientizando as crianças sobre as questões ambientais e de relacionamento que se
deve ter numa cidade turística. Elaborarem, os alunos do Tectur pequenos roteiros de passeios
para, junto com os professores das escolas municipais, visitarem alguns atrativos. Pode-se
fazer isto em datas comemorativas como o Dia do Índio, o Dia das Crianças, ou em datas
estabelecidas em conjunto – Tectur e ensino básico. Uma grande motivação talvez fosse criar,
no calendário escolar, uma data para isto. Para “o Dia do Reconhecimento de Búzios”, por
exemplo.
Por fim, salienta-se que, os baixos salários que recebem os professores os desanimam
para a criação de novas atividades, diferentes daquelas normais em salas de aula. Os
professores do Tectur/Cejob, já quebraram esta barreira oferecendo atividades, visitas de
campo, extraclasse.
Agora, o que eles precisam é do apoio de instância dos poderes públicos e da iniciativa
privada para que este trabalho continue e que melhore cada vez mais. Este seria um
compromisso social que Búzios pode dar à Búzios, ao Brasil e ao mundo, visto que Búzios é
uma das cidades mais visitadas internacionalmente no Brasil.
154
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160
ANEXOS
161
ANEXO A - Protocolo do Estudo de Caso
1. Como a valorização da cultura está presente no discurso dos alunos do Curso Técnico
de Turismo do Cejob?
1.1 Quais traços da cultura típica e nativa são encontrados e observados no dia-a-dia
pelos alunos, como comida, dança e música?
1.2 Como a população usa o que é advindo de sua cultura para o turismo?
1.3 Como os alunos se referem a história de Búzios?
2. Como a educação formal, para a área de turismo, localizada no município, tem
respondido às inquietações dos órgãos públicos, das entidades, empresas privadas e dos
cidadãos?
2.1 Quais são as soluções que os alunos do Curso Técnico de Turismo do
Colégio Estadual João de Oliveira Botas – Cejob - vêem para o turismo da
baixa temporada?
2.2 Que atividades crêem que poderiam ser oferecidas?
2.3 Como vêem a articulação dos artistas da cidade e que tipo de organização
têm?
2.4 Como esperam construir a cidade para daqui a cinco, dez, vinte anos?
2.5 Como os alunos do Cejob vêem as soluções para o incremento do turismo na
baixa temporada a curto, médio e longo prazos?
Fundamentação para escolha do tema e local:
¾ Projeto de implantação do Curso Superior de Turismo da UFF;
¾ Caracterização de estudo único
¾ Particularidades do mercado de turismo e hospitalidade em Búzios;
¾ Particularidades dos profissionais do turismo em Búzios;
¾ Particularidades do ensino profissional em turismo;
¾ Peculiaridades na relação educação x turismo x cultura
¾ Possibilidade de observação direta
162
Proposições e relevâncias:
¾ Proposições de negócios na área de turismo pelos alunos do
Tectur/Cejob;
¾ Relevância de criação de novos negócios na baixa temporada;
¾ Proposições de valorização cultural para o turismo;
¾ Relevância no contexto “brasilidade e buzianidade”;
¾ Proposições de turismo integrado com regiões circunvizinhas;
¾ Relevância dos roteiros integrados, observando a História local e
regional
Fontes de Dados:
¾ Documentos do Tectur/Cejob;
¾ Documentos municipais;
¾ Documentos estaduais;
¾ Documentos federais;
¾ Documentos de empresas privadas e associações civis;
¾ Jornais que circulam na cidade;
¾ Entrevistas espontâneas, focais e formais;
¾ Observação direta
Procedimentos a serem adotados para consecução do estudo:
1º passo: Ler toda a bibliografia disponível que diz respeito à Búzios,
principalmente os artigos, livros e teses que fazem de estudos da história de Búzios, de
seu gentio, do ambiente natural e cultural;
2º passo: Ler o que se tem disponível hoje sobre lazer, criatividade e formação
de novos negócios, baseando o estudo em Dumazedier e Domenico De Masi.
3º passo: Ler as discussões mais recentes sobre a Lei de Diretrizes e Bases e seus
referenciais curriculares
4º passo: Ler as discussões a respeito da cultura, patrimônio material e imaterial;
5º passo: Ler as principais discussões sobre turismo, cultura e educação.
163
6º passo: Esboço do roteiro de entrevista
7º passo: Entrevista piloto (pré-teste)
8º passo: Revisão do roteiro da entrevista para melhor clareza das perguntas
9º passo: Transcrição das entrevistas
10º passo: Edição e validação das entrevistas
11º passo: Análise das entrevistas
12º passo: Conclusão e sugestões
164
ANEXO B - Roteiro da entrevista
1. Apresente-se. Diga seu nome completo, profissão, idade;
2. Há quanto tempo conhece ou mora Búzios, se mora, em que bairro e há quanto
tempo? Se não mora em Búzios, onde mora?
3. Trabalha com produtos relacionados ao turismo? Com o quê?
4. Qual a sua opinião sobre o turismo em Búzios?
5. Você tem alguma sugestão a respeito do turismo na baixa temporada? Que
atividades crê que poderiam ser oferecidas?
6. Você sabe de algo que o pessoal nativo ou morador de Búzios faz de diferente
que poderia ser aproveitado para o turismo? Ex.: comida, dança, música, pintura,
etc.
7. Quem faz? Onde mora? Esta pessoa trabalha com isto regularmente, para viver,
ou faz outra coisa para viver?
8. Você tem conhecimento se existe algum trabalho articulado entre os artistas da
cidade? Se existe, que tipo de articulação há entre eles (os artistas) e as suas
atividades entre si?
9. Você conhece a história da Cidade? Conte-me um pouco dela, do que sabe...
10. Qual é a Búzios de seus sonhos? Em que cidade espera morar daqui a cinco, dez,
vinte anos?
11. O que você gostaria de deixar aqui registrado que eu não tenha lhe perguntado?
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