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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO
NEY TOORU WAKAMATSU
USO DE DERIVATIVOS EM EMPRESAS NÃO-FINANCEIRAS
DE GRANDE PORTE NO BRASIL
SÃO PAULO
2006
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NEY TOORU WAKAMATSU
USO DE DERIVATIVOS EM EMPRESAS NÃO-FINANCEIRAS
DE GRANDE PORTE NO BRASIL
Dissertação apresentada à Escola de
Administração de Empresas de São
Paulo da Fundação Getúlio Vargas,
como requisito para obtenção do título
de Mestre Profissional em
Administração de Empresas
Campo do conhecimento:
Administração Contábil e Financeira
Orientador: Prof. Dr. Fábio Gallo
Garcia
SÃO PAULO
2006
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NEY TOORU WAKAMATSU
USO DE DERIVATIVOS EM EMPRESAS NÃO-FINANCEIRAS
DE GRANDE PORTE NO BRASIL
Dissertação apresentada à Escola de
Administração de Empresas de São
Paulo da Fundação Getúlio Vargas,
como requisito para obtenção do título
de Mestre Profissional em
Administração de Empresas
Campo do conhecimento:
Administração em Finanças
Data de aprovação:
15 / 09 / 2006
Banca examinadora:
_____________________________
Prof. Dr. Fábio Gallo Garcia
(orientador)
FGV - EAESP
_____________________________
Prof. Dr. César Caselani
FGV – EAESP
_____________________________
Prof. Dr. Luiz Bertucci
Universidade Federal de Minas Gerais
Para Lilian e Vitor, sempre.
Ao meu orientador, Prof. Fábio Gallo Garcia, por ter confiado em meu trabalho desde
o primeiro momento. Sem seu apoio, talento para realizar coisas e determinação
para abrir caminhos a seus orientandos, esta dissertação e outros trabalhos que a
procederam não seriam possíveis.
Aos Prof. César Caselani e Prof. Luiz Bertucci, membros da banca de qualificação,
pelas críticas, sugestões e comentários que direcionaram meus esforços na
dissertação.
Aos demais professores da EAESP / FGV, pelas discussões produtivas e troca de
experiências, pelo conhecimento e tempo de dedicação aos alunos.
A Dow do Brasil S.A. e seus dirigentes pelo patrocínio e oportunidade que me
proporcionaram, disponibilizando tempo e recursos para fazer o curso e este
trabalho final; aos colegas de trabalho pela solidariedade e apoio prestado nestes
últimos anos.
RESUMO
O uso de derivativos tem, a cada ano, se difundido cada vez mais entre as empresas
não-financeiras. O volume de operações aumenta no Brasil e no mundo e o bom
entendimento desta ferramenta financeira se faz necessário. O presente trabalho
busca a melhor compreensão do uso desta ferramenta em empresas não-financeiras
de grande porte no Brasil. Os tipos de riscos que as empresas correm, as
ferramentas utilizadas para administrar estes riscos, a forma como administram
estas ferramentas, são perguntas que o trabalho busca esclarecer com uma
pesquisa de campo.
Palavras-chave: derivativos, hedge, administração de risco.
ABSTRACT
Year by year, the use of derivatives is improving among non-financial institutions.
The total notional amount of the operations has been increasing in Brazil and in the
world, and a good understanding of these financial tools is necessary. This work
proposes a better knowledge of the use of derivatives in large non-financial
institutions in Brazil. It will introduce a research which has the objective to explain the
risks these institutions are facing, which instruments they are using and how they use
and manage those instruments.
Keywords: derivatives, hedge, risk management.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1 – Evolução da balança comercial 15
Gráfico 2 - Evolução da taxa de câmbio do real 15
Gráfico 3 - Volatilidade da taxa de câmbio do real (30 dias) 16
Gráfico 4 – Meta Selic Ano 17
Gráfico 5 – Contratos de derivativos negociados na BM&F 18
Gráfico 6 – Uso de derivativos comparado ao ano anterior 72
Gráfico 7 – Freqüência de precificação de derivativos 76
Gráfico 8 – Freqüência de informações para a diretoria 76
Gráfico 9 – Função do derivativo 78
Gráfico 10 – Moeda Funcional 80
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Volume em Dólar de Derivativos em Bancos no Mundo 17
Tabela 2 - Uso de derivativos entre países 71
Tabela 3 – Uso de derivativos segundo o fator de risco 73
Tabela 4 - Uso de derivativos segundo o fator de risco em diversas pesquisas 74
Tabela 5 - Receitas e despesas em moeda estrangeira 79
Tabela 6 - Uso dos derivativos de moeda 80
Tabela 7 - Prazos para contratação de derivativos 81
Tabela 8 - Benchmark dos Derivativos de Moeda 82
Tabela 9 - Benchmark dos derivativos de moeda nas pesquisas 83
Tabela 10 - Uso de derivativos para juros 83
Tabela 11 - Benchmark dos derivativos de juros 84
Tabela 12- Benchmark dos derivativos de juros nas pesquisas 84
Tabela 13 - Uso das opções 85
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Bacen - Banco Central do Brasil
BBF - Bolsa Brasileira de Futuros
BM&F – Bolsa de Mercadorias & Futuros
BMSP - Bolsa de Mercadorias de São Paulo
Bovespa - Bolsa de Valores de São Paulo
CBOT - Chicago Board of Trade
CDD - Cooling Degree Days
CDS - Credit Default Swaps
Cetip -Câmara de Custódia e Liquidação
CME - Chicago Mercantile Exchange
CMS - swap de maturidade constante
COFINS - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
CVM - Comissão de Valores Mobiliários
FASB - Finantial Accounting Standards Board
FED - Federal Reserve
FRA - Forward Rate Agreement
FRC - FRA de Cupom Cambial
HDD - Heating Degree Days
IASB - International Accounting Standards Board
Ibovespa - Índice Bovespa
ISDA - Associação Internacional de Swaps e Derivativos
IPE - International Petroleum Exchange
LTCM - Long Term Capital Management
MBS - Mortgage-Backed Security
MG - Metallgesellschaft
Nymex - New York Mercantile Exchange
PIS - Programas de Integração Social
P&G - Procter & Gamble
SRF - Secretaria da Receita Federal
TR - Taxa Referencial
VAR - Value At Risk
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 12
1.1 Contextualização 12
1.2 Objetivo do Trabalho 13
1.3 Importância e Justificativa do Trabalho 14
1.3.1 Casos Famosos no Mercado de Derivativos 19
1.4 Estrutura do Trabalho 23
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 24
2.1 Definição de Derivativos 24
2.2 Mercados Futuros 24
2.2.1 Breve História dos Mercados Futuros 24
2.2.2 Principais Mercados de Contratos Futuros no Brasil 26
2.2.3 Contratos Agrícolas Negociados no Brasil 28
2.3 Operações de Swap 29
2.3.1 Definições e Conceitos 29
2.3.2 Swaps Não-Padronizados 30
2.4 Mercado de Opções 32
2.4.1 Definições e Conceitos 32
2.4.2 Breve História dos Mercados de Opções 33
2.4.3 Variáveis que Afetam os Preços da Opções 35
2.4.4 Estratégias de Opções 36
2.4.5 Opções Exóticas 41
2.4.6 Letras Gregas 43
2.5 Value At Risk 46
2.5.1 Tipos de Risco 46
2.5.2 Definição de Value at Risk 49
2.5.3 Simulação Histórica 50
2.5.4 Método Model-Building 51
2.5.5 Teste de Estresse e Back Testing 52
2.6 Derivativos de Crédito, Tempo, Energia e Seguro 53
2.6.1 Derivativos de Crédito 53
2.6.2 Derivativos de Tempo 54
2.6.3 Derivativos de Energia 55
2.6.4 Derivativos de Seguro 57
2.7 Lições para Usuários de Derivativos 57
2.8 Pesquisas Realizadas sobre o Tema 59
3 METODOLOGIA DE PESQUISA 65
4 RESULTADOS DA PESQUISA 70
4.1 Introdução 70
4.2 Análise dos Dados 71
4.2.1 Uso dos Derivativos 71
4.2.2 Administração da Exposição Cambial 78
4.2.3 Administração da Exposição de Juros 83
4.2.4 Contratos de Opções 85
4.2.5 Empresas que Não Usam Derivativos 86
5 CONCLUSÃO 88
REFERÊNCIAS 90
12
1 INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização
A globalização da economia foi e está sendo um movimento que cresce a cada dia e
cada vez mais impacta as atividades das empresas brasileiras. O aumento das
relações comerciais e o aumento do fluxo de capitais com o exterior criaram um
novo ambiente ao qual as empresas tiveram que se adaptar.
O Brasil compete com outros países como pólo de investimentos e as empresas
brasileiras tentam se manter competitivas perante as suas concorrentes estrangeiras.
As fronteiras e as políticas de comércio exterior cada vez se mostram menos
efetivas na proteção das empresas que buscam mecanismos de defesa.
Investimentos em tecnologia, busca de produtividade, recursos naturais
diferenciados são alguns dos componentes utilizados pelas empresas na busca de
uma vantagem competitiva.
Neste ambiente globalizado, os administradores enfrentam inúmeras adversidades
muitas vezes não ligadas à sua atividade principal. Riscos envolvendo
descasamento de moedas, diferentes taxas de juros, preços de commodities e a
manutenção do valor do patrimônio investido se intensificaram dependendo da
atividade da empresa.
Atualmente o Brasil destaca-se por suas exportações e pela grande atratividade de
investimentos financeiros buscando melhores retornos por causa dos juros reais
mais altos do mundo (GRCVISÃO, 2005). Este cenário, aliado à alta liquidez mundial
e à melhoria dos fundamentos econômicos brasileiros, fez com que a moeda se
valorizasse muito nos últimos anos causando grandes impactos no dia-a-dia das
empresas.
13
Muitas vezes, esses riscos podem afetar a capacidade financeira da empresa, seja
impactando o fluxo de caixa, seja afetando os resultados. Na busca de proteção, as
empresas passaram a utilizar instrumentos financeiros como os derivativos. Com o
desenvolvimento do mercado financeiro e da tecnologia, o uso de derivativos se
tornou mais fácil e acessível às empresas; eles se tornaram importantes aliados na
formulação das estratégias financeiras.
Segundo Fraletti e Famá (2003), a administração dos riscos relacionados ao uso de
derivativos cada vez mais vem se tornando uma das principais responsabilidades
dos administradores financeiros e uma fonte geradora de vantagem competitiva para
algumas empresas.
O cenário aqui descrito nos traz algumas indagações importantes. As empresas no
Brasil administram seus riscos financeiros com o uso de derivativos? Que tipo de
riscos elas enfrentam? Que tipo de instrumentos elas utilizam? Como elas
mensuram sua performance?
O presente trabalho abordará questões como as apresentadas acima, através de
uma pesquisa realizada no Brasil com algumas das maiores empresas do país.
1.2 Objetivo do Trabalho
Segundo Froot, Scharfstein e Stein (1994), a administração de riscos no âmbito de
instituições não-financeiras gera benefícios, dentre outros, como controle de fluxo de
caixa necessário aos investimentos programados e a redução de volatilidade destes
fluxos, e conseqüentemente menor probabilidade de a empresa deixar de honrar
seus compromissos.
Este benefício descrito e o atual cenário em que vivemos, incentiva-nos a uma busca
de informações relativas à administração de risco pelas empresas de nosso país.
14
O objetivo deste trabalho é realizar um levantamento acerca da utilização dos
derivativos por empresas não-financeiras de grande porte no Brasil no ano 2005. A
busca de uma fotografia da administração de risco com a utilização de derivativos
poderá nos levar a futuros questionamentos e entendimentos sobre o assunto.
1.3 Importância e Justificativa do Trabalho
Atualmente, as empresas enfrentam diversos tipos de riscos financeiros no exercício
de suas atividades. O aumento da exposição da economia brasileira com o exterior,
contemplando o maior desenvolvimento das exportações e importações, fez com
que as empresas do setor assumissem maiores exposições em suas atividades.
Podemos observar a evolução do comércio internacional no gráfico 1.
Outro fator importante de risco está ligado à grande volatilidade do valor da moeda
brasileira que apresenta grandes variações quando comparada ao dólar, como
podemos observar no gráfico 2.
As grandes desvalorizações em 1999 (fim do regime de taxa fixa) e 2002 (eleição
presidencial) e a recente valorização cambial simbolizam um cenário adverso vivido
pelas empresas nos últimos anos. O gráfico 3 mostra a volatilidade da taxa de
câmbio real para dólar, mostrando os riscos de se administrar exposições em
moedas estrangeiras sem proteção cambial.
15
Balança Comercial
(20,000)
-
20,000
40,000
60,000
80,000
100,000
120,000
1,995 1,996 1,997 1,998 1,999 2,000 2,001 2,002 2,003 2,004 2,005
USD Milhões
Balança comercial (FOB) Exportação de bens Importação de bens
Gráfico 1 – Evolução da balança comercial
Fonte: Elaboração própria com dados do Banco Central do Brasil
Real / Dólar
1.1
1.6
2.1
2.6
3.1
3.6
1/4/99
4/4/99
7/4/99
10/4/99
1/4/00
4/4/00
7/4/00
10/4/00
1/4/01
4/4/01
7/4/01
10/4/01
1/4/02
4/4/02
7/4/02
10/4/02
1/4/03
4/4/03
7/4/03
10/4/03
1/4/04
4/4/04
7/4/04
10/4/04
1/4/05
4/4/05
7/4/05
10/4/05
Gráfico 2 - Evolução da taxa de câmbio do real
Fonte: Elaboração própria com dados do Banco Central do Brasil
16
VOLATILIDADE REAL / DÓLAR (30 dias)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Jan-98
Jul-98
Jan-99
Jul-99
Jan-00
Jul-00
Jan-01
Jul-01
Jan-02
Jul-02
Jan-03
Jul-03
Jan-04
Jul-04
Jan-05
Jul-05
Jan-06
Gráfico 3 - Volatilidade da taxa de câmbio do real (30 dias)
Fonte: Elaboração própria com dados do Bloomberg.
O Brasil não apresentou apenas um cenário de aumento de risco ligado ao câmbio,
também sempre mostrou grandes variações em taxas de juros, outro fator de risco
para os administradores de empresas no país, conforme gráfico 4.
A taxa de juros no país não apenas se mostra em elevados patamares, mas também
apresenta oscilações que podem afetar os financiamentos, linhas de crédito e os
investimentos das empresas.
Os dados acima apenas nos mostram alguns dos tipos de risco que as empresas
enfrentam no dia-a-dia. Jorion (1998) menciona ainda os riscos do negócio e riscos
estratégicos, e detalha os riscos financeiros em riscos de mercado, crédito, liquidez,
operacionais e legais.
17
Meta Selic Ano
10
15
20
25
30
35
40
45
5/3/1999
18/05/1999
27/07/1999
5/10/1999
16/12/1999
23/02/2000
8/5/2000
17/07/2000
25/09/2000
6/12/2000
15/02/2001
30/04/2001
10/7/2001
18/09/2001
29/11/2001
8/2/2002
23/04/2002
3/7/2002
10/9/2002
19/11/2002
29/01/2003
10/4/2003
24/06/2003
1/9/2003
7/11/2003
19/01/2004
30/03/2004
9/6/2004
18/08/2004
28/10/2004
7/1/2005
21/03/2005
1/6/2005
9/8/2005
19/10/2005
29/12/2005
Percentual
Gráfico 4 – Meta Selic Ano
Fonte: Elaboração própria com dados do Banco Central do Brasil
Nos últimos anos, o desenvolvimento do mercado financeiro permitiu que parte
destes riscos pudesse ser administrada pelo uso de derivativos. O uso destes
instrumentos financeiros muitas vezes busca garantir o fluxo de caixa e os
resultados das empresas, além de indiretamente garantir a sua sobrevivência ou
diferenciá-la das demais. Podemos observar o grande aumento do uso destes
instrumentos, no Brasil e no mundo, na tabela 1 e no gráfico 5 abaixo.
Tabela 1 - Volume em Dólar de Derivativos em Bancos no Mundo
Bilhões de Dólares
Dez 1998 Dez 1999 Dez 2000 Dez 2001 Dez 2002 Dez 2003 Dez 2004 Dez 2005
Volume Negociado
Acumulado Ano
80,309 88,202 95,200 111,178 141,665 197,167 251,499 284,819
Fonte: BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS. Derivatives Statistics. Suíça, 2005.
Disponível em: <http://www.bis.org/statistics/derstats.htm>. Acesso em: 07 jun. 2006.
18
Contratos Negociados - BM&F
- 50,000,000 100,000,000 150,000,000 200,000,000 250,000,000
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Gráfico 5 – Contratos de derivativos negociados na BM&F
Fonte: Elaboração própria com dados da BM&F
O uso destes instrumentos tem se tornado tão importante que os próprios órgãos
reguladores passaram a emitir novas normas contábeis buscando a evidenciação e
a mensuração dos derivativos. Moreira (2003) comenta que instituições como o
Finantial Accounting Standards Board (FASB) e o International Accounting
Standards Board (IASB) introduziram modelos próprios em 1998 buscando uma
melhor regulamentação da contabilização dos derivativos.
No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central do Brasil
(Bacen) também se preocuparam em emitir regulamentações para o mercado local.
A CVM, através do Ofício Circular N
o
1/2005, busca, no item 21.4, a contabilização
de hedge segundo a norma internacional do IASB (norma IAS 39). O
desenvolvimento deste mercado no Brasil exigiu normas para o tratamento destes
instrumentos para que as empresas apresentassem seus demonstrativos financeiros
de forma correta.
19
Baseando-se em Winstone (1995), que prega: a utilização de hedge como uma
garantia da capacidade de cumprir uma obrigação no futuro que esteja sujeita a
variações que não podem ser controladas pela empresa, protegendo-se contra
perdas que possam ocorrer devido a movimentos adversos de preços durante
determinado período; o uso desses instrumentos financeiros como estratégia, e no
cenário abordado até então; direcionamos nosso trabalho para o levantamento do
uso dos derivativos pelas empresas brasileiras não-financeiras.
Não se trata de uma frente isolada na busca do conhecimento do tema. Bodnar et al.
(1995), Bodnar, Marston e Hayt (1998) fizeram uma pesquisa do uso de derivativos
com empresas não-financeiras nos Estados Unidos. Também o fizeram El-Masry
(2003) no Reino Unido, Sheedy (2002) em Hong Kong e Cingapura, Ceuster et al.
(2000) na Bélgica, e Bodnar e Gebhardt (1998) na Alemanha, entre outras pesquisas.
Agora a busca é no mercado brasileiro, que apresenta grandes riscos e mercado
financeiro suficientemente maduro para o uso dos derivativos. A ausência de farta
literatura e informações sobre o tema também corrobora uma maior importância do
trabalho.
No Brasil, Kimura (2003) realizou uma pesquisa sobre uso de derivativos sem obter,
no entanto, uma amostra significativa. Ele trabalhou com 24 empresas não-
financeiras. Saito e Schiozer (2005) realizaram um trabalho em 2004 com empresas
de capital aberto baseando-se na pesquisa de Bodnar, Marston e Hayt (1998)
apresentando dados interessantes do mercado brasileiro. Nossa pesquisa visa uma
atualização do tema em uma amostra mais ampla contemplando empresas de
capital aberto e fechado.
1.3.1 Casos Famosos no Mercado de Derivativos
Corrêa e Raíces (2005) apresentam alguns casos históricos que mostram a
importância dos derivativos como extraordinários instrumentos de gestão de risco e
20
otimização de lucros e a imperiosa necessidade de controle e administração
imparcial das posições tomadas pelos operadores de mercado.
A) Caso Barings
Este caso foi o exemplo do poder de alavancagem que um derivativo pode ter e a
importância extrema de se administrar o risco em seu uso. O operador de mercado
Nick Leeson ficou famoso por ter realizado uma operação com derivativos (venda de
straddles) que apresentou resultados suficientes para quebrar o banco Barings, um
dos mais tradicionais bancos da Inglaterra, fundado em 1762. Basicamente, em
1995, ele se utilizou de opções para alavancar uma operação no valor de USD 6,7
bilhões, o que representava 10 vezes o capital do banco e foi surpreendido pelo
terremoto de Kobe que fez com que o índice da bolsa de Tóquio (Nikkei) caísse
violentamente afetando suas posições. As perdas atingiram valores de USD 1 bilhão
e o banco acabou quebrando.
B) Caso Long Term Capital Management (LTCM)
Este caso exemplifica a importância dos modelos matemáticos na medida de risco
em operações financeiras. O Fundo de Administração de Capitais de Longo Prazo
(LTCM) tinha, entre seus sócios fundadores, dois economistas laureados com o
prêmio Nobel, Robert Merton e Myron Scholes que, juntamente com o falecido
Fischer Black, inventaram o modelo de apreçamento de opções que leva seus
nomes, revolucionando o mercado financeiro. O LTCM chegou a gerir USD 130
bilhões em ativos. O fundo fez fortunas com retornos espetaculares em 1995 (45%)
e em 1996 (41%). O valor mínimo de aplicação era de USD 10 milhões e
basicamente era composto por investidores institucionais.
O Fundo era destaque em revistas e jornais e apresentava alavancagem em média
de 16 para 1. Operacionalmente nada se sabia sobre o risco e os modelos de
investimento. Em 1998, após a crise asiática e russa, o fundo que detinha grandes
posições em moeda e créditos imobiliários em países emergentes sofreu grande
21
impacto na corrida por papéis de qualidade. Após a moratória russa, o patrimônio do
fundo despencou de USD 7 bilhões para USD 2,3 bilhões. Três semanas depois,
valia USD 600 milhões. O Federal Reserve (FED) interveio e evitou que o fundo
fechasse. Questionado sobre o que ocorreu, Myron Scholes comentou que não foi
usado um modelo que previa choques financeiros, como o que ocorreu na Rússia.
C) Caso Bankers Trust
Sob o argumento de que o banco os iludira, não fornecendo todos os detalhes e
possíveis riscos da operação de derivativos que compraram, o Bankers Trust
indenizou, num total de USD 93 milhões, seus clientes Federal Paper Board
Company, Gibson Greeting, e Air Products and Chemical. Um outro acerto de USD
78 milhões foi feito para a ação que a Procter & Gamble (P&G) promoveu contra o
banco.
O Bankers Trust foi um dos inovadores no mercado de produtos derivativos e
apresentou uma série de produtos para empresas como a P&G. A P&G, buscando
resultados de grande retorno, assumiu posições alavancadas em 20 para 1,
apostando na manutenção ou redução das taxas de juros. A FED aumentou a taxa
de juros e a empresa perdeu muito dinheiro.
Atualmente, a regulamentação dos contratos procura evitar situações como esta. A
Associação Internacional de Swaps e Derivativos (ISDA) publica uma série de
documentos e pareceres jurídicos, disseminando conhecimento e práticas saudáveis
de gestão de risco.
D) Caso Metallgesellschaft (MG)
A MG é um conglomerado alemão, do qual Deutsche Bank, Dresdner Bank, Daimler-
Benz e Allianz são os principais acionistas. O grupo MG buscava sempre a proteção
de suas posições em mercados de derivativos. Entretanto, sofreu uma perda de
USD 1,3 bilhão por mau uso destas ferramentas financeiras.
22
A empresa comercializou uma grande quantidade de contratos de longo prazo de
produtos derivados do petróleo, diluídos em 10 anos de entregas mensais
consecutivas. Com a finalidade de se proteger quanto a uma valorização do ativo,
buscou mercado futuro e comprou contratos na quantidade necessária para zerar o
risco. Como não existem contratos com vencimento tão longo, eles optaram por
comprar contratos de curto prazo.
O mercado de petróleo despencou e a MG, que teria lucro no longo prazo, teve que
pagar margem nos seus contratos de curto prazo a ponto de afetar a liquidez da
empresa e liquidar suas posições com prejuízo.
E) Caso Orange County
O condado de Orange, na Califórnia, pediu falência em 1994, após perdas de USD
16 bilhões, numa aposta malsucedida na direção que as taxas de juros iriam tomar.
O que era para ser uma maneira conservadora de gerir os fluxos de caixa do
condado e de mais 241 entidades governamentais, acabou se constituindo num dos
maiores desastres financeiros de um governo local na história dos Estados Unidos.
O tesoureiro do condado, Robert Citron, que controlava um fundo de quase USD 8
bilhões investiu arriscadamente em carteiras alavancadas com papéis atrelados a
taxa de juros. A estratégia não deu certo e os investimentos começaram a perder
valor.
O condado renegociou sua dívida com bônus de longo prazo e conseguiu sair da
falência em menos de dois anos com a economia americana aquecida.
Estes exemplos históricos mostram a importância de as empresas administrarem
suas exposições contra variações que possam afetar seus ativos, resultados e seu
fluxo de caixa. O uso correto, aliado à mensuração de risco e ao entendimento do
23
mercado são essenciais para as empresas não repetirem erros como estes
apresentados anteriormente.
1.4 Estrutura do Trabalho
A dissertação está dividida em quatro grandes grupos.
Abordamos, neste capítulo inicial, a contextualização do tema, objetivo, importância
e a justificativa do trabalho.
No capítulo 2, abordamos os conceitos e variações dos derivativos que podem ser
utilizados pelas empresas não-financeiras. Buscamos uma visão ampla destes
instrumentos, trazendo um melhor entendimento do tema.
Comentamos, no capítulo 3, a metodologia da pesquisa e os caminhos que nos
nortearam na pesquisa de campo.
No capítulo 4, analisamos e apresentamos os resultados da pesquisa de campo com
as comparações a trabalhos semelhantes realizados no Brasil e no mundo.
Finalmente, no último capítulo, apresentamos nossas conclusões e considerações
finais.
24
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Definição de Derivativos
Segundo Bessada, Barbedo e Araújo (2005), os derivativos são ativos cujos valores
dependem dos valores de outras variáveis mais básicas. Por exemplo, o valor de
uma opção de ação depende do preço da ação em questão. Desta forma, são
instrumentos financeiros que têm o seu valor determinado pelo valor de outro ativo e
isso explica por que servem tão bem para limitar o risco de flutuações inesperadas
de preço do ativo em questão. Nos dias de hoje, as transações com derivativos
cobrem uma vasta gama de ativos objetos: taxas de juros, câmbio, valor de
mercadorias e outros índices.
Os principais produtos do mercado de derivativos são: contratos futuros, opções,
contrato a termo e swaps. Os participantes dos mercados derivativos são os hedgers,
especuladores, arbitradores e os market-makers.
2.2 Mercados Futuros
2.2.1 Breve História dos Mercados Futuros
Segundo Hull (2005), os mercados futuros remontam à Idade Média. Foram
originalmente desenvolvidos para satisfazer as necessidades de produtores e
comerciantes de produtos agrícolas. Bessada, Barbedo e Araújo (2005) destacam
períodos anteriores à civilização greco-romana e negociações a termo de recibos de
arroz com especificações de condições de pagamento, qualidade, quantidade e
prazo para entrega futura no Japão em 1730.
25
As grandes bolsas surgiram posteriormente. A Chicago Board of Trade (CBOT) foi
fundada em 1848 com a finalidade de permitir que produtores e comerciantes se
encontrassem. Em poucos anos, o primeiro contrato futuro foi desenvolvido, sendo
denominado contract-to-arrive. A CBOT oferece, atualmente, contratos futuros
referenciados em diversos ativos, denominados ativos subjacentes, que incluem:
milho, aveia, soja, farelo de soja, trigo, bônus e notas do Tesouro norte-americano.
Em 1874, a Chicago Produce Exchange foi constituída, oferecendo mercado para
manteiga, ovos, aves e outros produtos agrícolas perecíveis. Em 1898, os
comerciantes de manteiga e ovos se retiraram dessa bolsa para formar a Chicago
Butter and Egg Board. Em 1919, esta última passou a ter novo nome – Chicago
Mercantile Exchange (CME) - sendo reorganizada para negociação de contratos
futuros. Desde então, tem oferecido mercados futuros para muitas commodities,
incluindo barriga de porco (1961), boi gordo (1964), suíno vivo (1966) e bezerro
(1971). Em 1982, introduziu o contrato futuro de índices de ações Standard & Poor’s
(S&P) 500. A partir de 1972, a CME começou a negociar moedas estrangeiras,
inclusive a brasileira.
As bolsas no Brasil surgiram posteriormente. Bessada, Barbedo e Araújo (2005)
comentam que a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fundada em 23 de
agosto de 1890, é o maior centro de negociações de ações da América Latina,
resultado da integração de todas as bolsas brasileiras em torno de um único
mercado de valores. Os ativos são negociados em três tipos de mercados: à vista, a
termo e de opções. As transações são efetuadas por meio de dois sistemas: o Mega
Bolsa, dividido em pregão eletrônico – no qual são negociadas todas as ações e
opções – e em viva-voz, que concentra os papéis de maior liquidez, e o Sisbex, no
qual são transacionados títulos de renda fixa, como os de dívida corporativa e cotas
de fundos imobiliários.
A Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), localizada em São Paulo, é a maior
bolsa de commodities da América Latina e, ao longo de sua existência, incorporou
26
outras instituições que atuavam na mesma área, tais como a Bolsa de Mercadorias
de São Paulo (BMSP) e a Bolsa Brasileira de Futuros (BBF), situada no Rio de
Janeiro. Em 2002, iniciaram-se as atividades de clearing de câmbio, que reduzem o
risco de crédito de operações com moedas, bem como operações com títulos
públicos e privados de renda fixa, transformando-se na principal clearing da América
Latina. Com o intuito de formar um grande mercado nacional para as commodities
agropecuárias, a BM&F lançou a Bolsa Brasileira de Mercadorias em 2002, que
reuniu as bolsas de mercadorias de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,
Paraná, Rio Grande do Sul e Uberlândia, transformadas em Centrais Regionais de
Operação. A BM&F é uma associação sem fins lucrativos.
2.2.2 Principais Mercados de Contratos Futuros no Brasil
Bessada, Barbedo e Araújo (2005) apresentam os principais mercados de Futuros
no Brasil, conforme abaixo:
a) Mercado Futuro de Taxa de Câmbio
O mercado futuro de câmbio é um forte instrumento para hedge. No Brasil, o
mercado mais importante nesse segmento é o mercado de futuro de reais por dólar
comercial, negociado na BM&F. A BM&F padroniza os contratos quanto ao objeto de
negociação, tamanho e data de vencimento.
Quando uma empresa faz o hegde cambial, ela está repassando a outros o seu risco
sobre a variação do dólar no período em que ela fez a captação. Assim, não importa
quanto o dólar possa ter variado no período, pois o hedge cambial assegura uma
proteção e o valor do dólar permanece travado no vencimento do período.
27
b) Mercado Futuro de Taxa de Juros
O mercado de juros praticados no mercado futuro recebe a nomenclatura de DI e foi
implementado pela BM&F em 1991. O contrato de DI de um dia é concebido para
oferecer cobertura específica ao risco de oscilação de juros. Empresas com passivo
pós-fixado e ativo prefixado correm o risco de alta das taxas de juro e, portanto,
podem abrir posição comprando contratos futuros para compensar eventuais perdas
com a alta de juros no patrimônio da empresa. Empresas com ativos pós-fixados e
passivo com taxas prefixadas correm o risco de queda nas taxas de juros e por isso
podem abrir posição vendendo contratos futuros.
c) Mercado Futuro de Cupom Cambial
O contrato de cupom cambial foi criado pela BM&F para simplificar operações que
sintetizavam o contrato de taxas de juros em dólar. Ele possibilita a negociação de
duas variáveis-objeto ao mesmo tempo, a variação cambial do dólar americano e a
taxa de juros do DI de um dia. De um modo geral, ele serve para que as empresas
façam hedge contra uma mudança no cupom cambial. O contrato de cupom cambial
também é utilizado para, conjugado com a taxa do DI de um dia, determinar o preço
do dólar futuro, uma vez que este instrumento não possui liquidez suficiente para
prazos maiores.
Cupom Sujo e Cupom Limpo
O mercado financeiro trabalha com dois tipos de cupom. Diferentes tipos de câmbio,
a partir dos quais um ativo referenciado em variação cambial começa a ser ajustado,
levam a diferentes valores de cupom cambial. No Brasil, quando esta taxa de
referência é a PTAX de venda do dia útil anterior, o cupom cambial é denominado
sujo. No caso em que esta taxa de câmbio é a taxa de câmbio corrente, o cupom é
denominado limpo.
28
Na BM&F também encontramos o FRC (FRA de cupom cambial) ou FRA (forward
rate agreement) de cupom cambial. Ele não é um contrato e sim uma operação
estruturada negociada como um contrato, ou seja, tem código de negociação próprio
e se sujeita a todas as regras de pregão existentes para os demais contratos futuros.
Basicamente, o FRC representa o cupom limpo negociado nos mercados futuros.
d) O Mercado Futuro de Índice de Ações
A BM&F também possui um mercado de futuro ligado a índice de ações. Os
chamados contratos de Ibovespa (Índice Bovespa) são cotados em pontos do índice,
sendo cada ponto equivalente ao valor em reais estabelecido pela BM&F
(atualmente R$ 3,00). Os especuladores atuam basicamente na expectativa de
elevação ou queda do índice Bovespa. Os hedgers buscam se proteger da oscilação
da Bolsa. O Ibovespa futuro teórico é função do Ibovespa à vista e do Certificado de
Depósito Interbancário (CDI) projetado até o vencimento do Ibovespa futuro.
2.2.3 Contratos Agrícolas Negociados no Brasil
Corrêa e Raíces (2005) apresentam uma série de contratos agrícolas negociados
em Bolsa muito importantes para este grande setor da economia brasileira:
a) Contrato de Futuro e Opções de Açúcar Cristal;
b) Contrato de Futuro e Opções de Álcool Anidro Carburante;
c) Contrato Futuro de Algodão;
d) Contrato de Futuro e Opções de Bezerro;
e) Contrato de Futuro e Opções Boi Gordo;
f) Contrato de Futuro e Opções de Café Arábica;
g) Contrato de Futuro e Opções de Café Robusta Conillon;
h) Contrato de Futuro e Opções de Milho;
i) Contrato Futuro de Soja.
29
2.3 Operações de Swap
2.3.1 Definições e Conceitos
A Resolução n
o
2.138 do Banco Central do Brasil define como operações de swap
“[...] as consistentes na troca dos resultados financeiros decorrentes da aplicação de
taxas ou índices sobre ativos ou passivos utilizados como referenciais.”
Hull (2005) define swap como um acordo entre duas companhias para trocar fluxos
de caixa no futuro. O acordo define as datas em que os fluxos de caixa serão pagos
e de que forma serão calculados. Em geral, o cálculo dos fluxos de caixa envolve os
valores futuros de uma ou mais variáveis de mercado.
No Brasil, o acordo de swap apresenta três características: a) pode ser registrado na
BM&F ou na Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip); b) o acerto financeiro da
diferença entre os indexadores aplicados sobre o principal ocorre geralmente no
vencimento do contrato; e c) os swaps internacionais devem ser registrados no
Banco Central.
No sistema eletrônico de registro de contratos da BM&F, há um único contrato de
swap ou contrato de troca de rentabilidade, como é formalmente denominado, com
variáveis autorizadas, viabilizando várias alternativas diferentes de negociação. As
variáveis podem ser Taxa Prefixada (Pré), Taxa de Depósitos Interfinanceiros (CDI),
Dólar, IGP-M, Taxa Referencial (TR), Preço do Ouro, Índice de Ações da Bolsa de
São Paulo, Euro, Iene, e assim por diante. Os swaps que realmente têm mais
liquidez são os realizados com as variáveis CDI contra Pré (DI x Pré) e CDI contra
Dólar (DI x Dol).
30
Como pudemos observar, temos várias opções de swap, envolvendo taxa de juros,
moedas, índices, fazendo com que este derivativo seja muito útil na administração
de riscos das empresas não-financeiras.
Existem também os swaps de crédito (credit default swaps). Eles são contratos entre
duas partes segundo os quais o vendedor se compromete a realizar um pagamento
ao comprador na ocorrência de um evento de crédito
1
em troca de receber deste um
pagamento periódico, normalmente expresso em um percentual anual sobre o valor
principal da operação.
2.3.2 Swaps Não-Padronizados
Hull (2005) apresenta-nos swaps que envolvem mudanças em relação aos swaps
plain vanilla:
a) Swaps step-up e amortizing swaps: swaps em que o valor principal (notional
amount) é uma função do tempo são conhecidos como step-ups. Swaps em
que o valor principal é uma função decrescente do tempo são os amortizing
swaps (swaps com amortização);
b) Swaps compostos: swap que compreende uma parte com taxa flutuante e
outra fixa. Ao invés de serem pagos, por exemplo, ano a ano, podem ser
ambas as partes capitalizadas até o final da operação;
c) Swaps fixed-for-fixed e floating-for-floating: envolvem troca de moeda, em que
na primeira a taxa de juro fixa é especificada em cada moeda e, na segunda,
a taxa é flutuante fixada em cada moeda. É muito comum o swap de taxa de
1
Eventos de crédito podem ser definidos como decretação de falência, liquidação extrajudicial,
vencimento antecipado de títulos, reestruturações de dívida, bem como reclassificação inferior de
qualidade de ativos.
31
juros cross-currency, em que a taxa flutuante em uma moeda é trocada por
uma taxa fixa em outra moeda. No Brasil se usa muito dólar mais cupom
contra CDI;
d) Swap CMS: swap de maturidade constante (CMS) é um swap de taxa de juro
em que a taxa flutuante é igual à taxa do swap para o swap com determinado
tempo de vida. Por exemplo, os pagamentos flutuantes no swap CMS podem
ser feitos em todos os semestres a uma taxa igual à taxa de swap de cinco
anos. Em geral, há defasagem de tempo de tal modo que o pagamento em
uma data de pagamento específica é igual à taxa de swap observada na data
de pagamento anterior;
e) Swap diferencial: algumas vezes denominado diff swap, é um swap de taxa
de juro em que uma taxa de juro flutuante é observada em uma moeda e
aplicada ao principal de outra moeda. Por exemplo, o swap pode envolver os
pagamentos em uma direção calculados como a Libor em dólares aplicada a
um principal em dólares e os pagamentos na outra direção calculados com a
Libor em libras (mais ou menos um spread) aplicados sobre o mesmo
principal em dólares;
f) Swap de Equity: neste swap uma parte promete pagar o retorno sobre um
índice de equities sobre determinado principal nocional e a outra parte
promete pagar uma taxa fixa ou um retorno flutuante sobre um principal
nocional. Os swaps de equity permitem aos administradores de fundo
aumentar ou reduzir sua exposição ao índice sem comprar ou vender a ação.
Um swap de equity é uma alternativa interessante de juntar uma série de
contratos a termo sobre um índice de forma a atender as necessidades do
mercado;
g) Accrual swaps: são swaps em que o juro em uma das pontas é contabilizado
apenas quando a taxa flutuante subjacente ficar dentro de certo intervalo.
32
Algumas vezes, o intervalo permanece fixo durante toda a vida do swap;
outras vezes é repactuado periodicamente.
h) Cancelable swaps: o swap passível de cancelamento é um derivativo de taxa
de juro plain vanilla em que um lado tem a opção de terminá-lo em qualquer
uma das datas de pagamento. Terminar, nesse caso, é equivalente a tomar
um swap na posição contrária;
i) Swaps index amortizing: neste derivativo, o principal é reduzido de acordo
com o nível das taxas de juro. Quanto mais baixa a taxa de juro, maior a
redução no principal. A ponta fixa nesse swap era estruturada com o objetivo
de replicar, aproximadamente, o retorno obtido por um investido em
mortgage-backed security (MBS). Para o investidor, o swap tinha o efeito de
trocar o retorno em um MBS por uma taxa de retorno flutuante.
Existem outras variações de swaps ligados a commodities e volatilidades. Por
exemplo, swaps que envolvam barris de petróleo, variância, correlação e covariância
de ativos, entre outros. O mecanismo de troca é o mesmo, temos apenas diferenças
e complexidades ligadas aos ativos e mercados.
2.4 Mercado de Opções
2.4.1 Definições e Conceitos
Brigham e Gapenski (1994) definem a opção como um contrato que dá ao detentor o
direito de comprar ou vender um ativo, a um determinado preço preestabelecido em
um período de tempo determinado.
33
Existem dois tipos básicos de opções: opções de compra (call) e opções de venda
(put). O preço acordado no contrato é conhecido como preço do exercício (strike
price). Existem dois tipos de definição segundo os vencimentos: a opção do tipo
Europeu, que pode ser exercida apenas na data de seu vencimento e a opção do
tipo Americana, que pode ser exercida a qualquer instante até o seu vencimento.
As opções podem ser classificadas de acordo com a proximidade do dinheiro ou
moneyness. As três situações possíveis de uma opção são identificadas como fora-
do-dinheiro (out-of-the-money), no dinheiro (at-the-money) e dentro do dinheiro (in-
the-money). Uma opção é classificada como fora do dinheiro quando sua
probabilidade de exercício é baixa. A classificação no-dinheiro é para opções com
boas chances de exercício e a dentro-do-dinheiro quando o exercício da opção é
mais provável do que o seu não exercício.
A opção garante ao titular um direito, não sendo necessário que esse direito seja
exercido. Esse fato distingue as opções dos contratos futuros ou a termo. Não há
custo em se posicionar em contrato futuro (exceto custos relativos à margem). Em
contraste, o investidor que deseja ser detentor de uma opção precisa pagar um
preço pelo direito de compra ou de venda.
O mercado de opções possui uma característica muito própria, permite uma grande
alavancagem de posição. Como os prêmios são valores bem inferiores aos preços
dos ativos-objeto, é possível comprar ou vender grandes posições do ativo-objeto da
opção. Em conseqüência deste fato, o risco neste mercado é bem elevado.
2.4.2 Breve História dos Mercados de Opções
Hull (2005) descreve que os primeiros negócios, envolvendo puts e calls,
começaram na Europa e nos Estados Unidos no século XVIII. No século XX, um
grupo de corretoras criou a Put and Call Brokers and Dealers Association. O objetivo
34
era desenvolver mecanismos para que compradores e vendedores de opções se
encontrassem. Investidores que quisessem comprar opções procurariam uma
corretora da associação. Esta, por sua vez, tentaria encontrar um vendedor ou
lançador da opção entre seus próprios clientes ou de outras associadas. Se nenhum
vendedor fosse encontrado, a corretora poderia lançar a opção em seu nome, por
preço considerado apropriado. O mercado apresentou deficiências como falta de
liquidez, inexistência de mercado secundário e garantia de cumprimento de
contratos.
Em abril de 1973, a Chicago Board of Trade criou a Chicago Board Options
Exchange para negociações de opções sobre ações. Desde então, os Mercados de
opção se tornaram cada vez mais populares entre os investidores. A American Stock
Exchange e a Philadelphia Stock Exchange começaram a negociar ações em 1975.
A Pacific Exchange fez o mesmo em 1976. Nos anos de 1980, desenvolveram-se,
nos Estados Unidos, mercados de opções sobre taxas de câmbio, índices de ações
e contratos futuros.
Atualmente, a maioria das bolsas que oferece contratos futuros também dispõe para
negociação contratos de opções referenciados sobre estes primeiros. Dessa forma,
no Chicago Board of Trade, existem opções sobre futuro de milho; na Chicago
Mercantile Exchange, opções sobre futuro de boi gordo; e assim por diante.
No Brasil, o mercado organizado de opções existe desde 1979, implantado
inicialmente pela Bolsa de Valores de São Paulo, com negociação de opções de
compra cobertas (para vender uma opção, há o depósito do ativo-objeto na bolsa de
valores). Mais tarde, permitiu-se o lançamento de opções de compras a descoberto
com margem de garantia.
35
2.4.3 Variáveis que Afetam os Preços das Opções
Bessada, Barbedo e Araújo (2005) definem cinco variáveis que influenciam os
preços dos prêmios das opções de compra e de venda:
a) Preço de Mercado do Ativo Objeto (S): o prêmio da opção está diretamente
relacionado ao preço do ativo-objeto. Quanto mais alto for o preço do ativo-
objeto, maior será o valor do prêmio da opção de compra e menor o prêmio
da opção de venda;
b) Preço de Exercício (K): para a opção de compra, maior é o valor da opção
quanto menor for o preço de exercício, uma vez que este representa um limite
que o preço do ativo-objeto precisa ultrapassar para que a opção possa ser
exercida. Desta forma, quanto menor o preço de exercício, maior a
probabilidade de exercício da opção e, por isso, maior o seu preço. Para uma
opção de venda, esta relação funciona ao contrário. Quanto maior o preço de
exercício, maior a probabilidade que a opção seja exercida e, com isso, maior
o valor da opção;
c) Taxa de juros do ativo livre de risco (r): esta taxa de juros representa um
custo de oportunidade de adquirir um ativo durante um determinado período
de tempo. Desta maneira, quanto maior o custo do dinheiro no prazo de
vencimento da opção, mais atrativo se torna comprar a opção de compra em
vez de adquirir o ativo-objeto, uma vez que, ao se comprar a opção, ocorre
um menor dispêndio. Ou seja, maior a taxa de juros, maior o valor da opção
de compra e menor o valor da opção de venda. Outra forma de se perceber
como a taxa de juros influencia os prêmios é que, quanto maior o r, maior o
valor esperado do ativo-objeto no vencimento e, portanto, maior o valor de
opção de compra e menor o valor de opção de venda;
36
d) Volatilidade dos retornos do ativo-objeto (σ): a volatilidade é uma medida
de dispersão dos retornos do ativo-objeto. É uma medida estimada, uma vez
que seu valor não pode ser verificado diretamente no mercado. Quanto mais
alta a volatilidade, maior a variação do valor do ativo ao longo do tempo e
maior a incerteza quanto ao preço esperado no futuro. Desta forma, o prêmio
da opção, seja de compra ou de venda, é função crescente da volatilidade, no
sentido de que esta incerteza gera uma maior probabilidade de que a opção
possa ser exercida pelo titular;
e) Tempo até o vencimento da opção (t): intuitivamente, quanto maior o prazo
para o vencimento de uma opção, maior deve ser o seu valor. Isso se deve ao
fato de que quanto mais próximo do exercício da opção, menor o tempo para
que o ativo-objeto suba, no caso de uma opção de compra, ou caia, no caso
de uma opção de venda. Porém, quando se consideram opções de venda,
ocorrem dois efeitos distintos: o efeito da volatilidade explicado anteriormente
e o efeito da redução do preço de exercício devido ao maior tempo para
vencimento (o valor presente do preço de exercício é menor). Dessa forma,
não há consenso de como o tempo para o vencimento influencia as opções
de venda européia. Para as opções de venda americanas, a possibilidade de
exercício antecipado elimina a desvantagem da redução do valor presente do
preço de exercício e, como conseqüência, o efeito do prazo de vencimento
será idêntico ao das opções de compra.
2.4.4 Estratégias de Opções
Hull (2005) e Bessada, Barbedo e Araújo (2005) apresentam uma série de
estratégias financeiras com a utilização de opções. Segundo Bessada, Barbedo e
Araújo (2005), no Brasil, as opções de compra apresentam maior liquidez que as
opções de venda e, dessa forma, apresentaremos abaixo as estratégias de maior
probabilidade de implementação na prática.
37
a) Operações de Financiamento e Caixa: o mecanismo de operação de
financiamento consiste em comprar um produto no mercado à vista e
vender opções de compra sobre ele. Assim, o capital empregado é igual à
diferença entre o valor à vista pago e o prêmio recebido. E o valor
desejado, a ser recebido no vencimento (no caso do exercício), é o próprio
preço de exercício. No caso de o ativo-objeto alcançar o preço de
exercício e a opção vendida for exercida pelo titular, o financiador recebe o
preço de exercício em troca do ativo que foi adquirido no início da
operação. Desta forma, essa operação é denominada financiamento, uma
vez que o que está se buscando é a taxa de retorno e não o
encarteiramento do ativo-objeto. Em geral, as taxas de financiamento com
opções são substancialmente maiores que as taxas prefixadas do
mercado, uma vez que nelas está embutido o risco de não exercício da
opção, situação em que o financiador seria obrigado a ficar com o ativo em
carteira ou vendê-lo pelo preço de mercado;
b) Spread de Alta (Bull Call Spread): também conhecida como trava de alta,
esta operação tem risco e potencial de lucro limitados. Para realizar a
estratégia, combina-se a compra de uma call de preço de exercício mais
baixo com a venda de outra de preço de exercício mais alto, ambas
referentes ao mesmo ativo e para o mesmo vencimento
2
. O ganho máximo
ocorre quando o valor do ativo em questão está acima do preço de
exercício de ambas as opções na data de exercício. O investidor que
realiza esta estratégia espera que o ativo-objeto suba, mas quer se
proteger contra uma possível queda. Ele poderia comprar apenas a opção
compra, a de menor preço de exercício, mas, para diminuir o custo, vende
uma opção de preço de exercício maior, que ele acha que não será
exercida;
2
As opções de venda também podem ser usadas nesta estratégia: compra de uma put de preço de
exercício menor e venda de outra, de preço de exercício maior.
38
c) Spread de Baixa (Bear Call Spread): também conhecida como trava de
baixa, esta operação tem risco e potencial de lucro limitados. O investidor
que realiza a estratégia tem uma expectativa baixista, mas quer se
proteger contra uma possível alta. Consiste na venda de uma opção com
preço de exercício baixo e compra de uma opção com preço de exercício
alto, de um mesmo ativo, ambas para o mesmo vencimento
3
. O ganho
máximo ocorre quando o valor do ativo em questão está abaixo do preço
de exercício de ambas as opções na data de exercício;
d) Straddle: um straddle de compra consiste em comprar uma opção de
compra e uma opção de venda do mesmo ativo, com o mesmo preço de
exercício e a mesma data de vencimento. O investidor tem um potencial
de lucro grande se o ativo se valorizar ou se desvalorizar de maneira
acentuada. Desta forma, esta operação, no jargão do mercado, é uma
estratégia de “compra de volatilidade”. Um top straddle ou straddle de
lançamento é exatamente o oposto do straddle de compra, ou seja, é
construído a partir da venda de uma opção de compra e da venda de uma
opção de venda com os mesmos preços de exercício e mesma data de
vencimento. É uma estratégia que possui alto risco, uma vez que a perda
decorrente de uma grande oscilação em qualquer uma das direções é
ilimitada. Porém, se o preço do ativo-objeto na data de vencimento estiver
próximo do preço de exercício das duas séries, haverá um lucro
significativo. No jargão do mercado, esta é uma estratégia de “venda de
volatilidade”;
e) Strangle: um long strangle (também denominado bottom vertical
combination) é a combinação de uma put com uma call com diferentes
preços de exercício, mas com o mesmo vencimento. O preço de exercício
da put deve ser menor que o da call. Utiliza-se esta estratégia quando se
3
Também nesta estratégia, tanto as opções de compra como as opções de venda podem ser usadas.
Com opções de venda, a estratégia consiste em vender uma put de preço de exercício menor e
comprar outra, de preço de exercício maior.
39
tem uma expectativa de movimento de queda ou de subida do preço do
ativo-objeto. Se o preço permanecer no mesmo patamar incorre-se em
perdas limitadas. Desta forma, esta também é uma estratégia de “compra
de volatilidade”;
f) Call Ratio Spread: a venda da estratégia Call Ratio Spread se constitui da
compra de uma call de preço de exercício menor e da venda de duas ou
mais calls de preço de exercício maior. Esta estratégia se aplica quando o
investidor espera que o ativo não se mova acentuadamente em qualquer
direção. A sua configuração permite a construção de grandes faixas de
preços onde haverá lucro. A venda do Call Ratio Spread, uma operação
bastante realizada no mercado, também é classificada como estratégia de
“venda de volatilidade”;
g) Butterfly: a estratégia butterfly é uma estratégia de risco e potencial de
lucro limitados. As formas alternativas de se operar o spread butterfly
consistem em: utilização apenas de opções de compra, utilização apenas
de opções de venda ou combinação dos dois tipos de opções.
Exemplificaremos a estratégia com quatro calls de um mesmo ativo. Se o
que se deseja é comprar volatilidade (short butterfly), compram-se duas
opções de preço de exercício intermediário e vende-se uma com preço de
exercício menor e outra com maior. Desta forma, é uma combinação de
uma trava de baixa com uma trava de alta, em que o maior preço de
exercício do primeiro é igual ao menor preço de exercício do segundo e a
diferença entre os preços de exercício de cada trava é a mesma (ou então,
são equilibrados através de pesos proporcionais, via o número de
contratos de cada série). Se o que se quer é vender volatilidade (long
butterfly), faz-se a operação exatamente inversa: vendem-se duas opções
de preço de exercício intermediário e compra-se uma com preço de
exercício menor e outra maior;
40
h) Condor: uma posição long condor ou condor de compra é construída a
partir de quatro séries distintas de opções de compra, todas de mesmo
vencimento, que formam uma trava de alta com as duas calls de menores
preços de exercício e uma trava de baixa com as duas séries de maiores
preços de exercício. Assim sendo, a construção desta estratégia é
bastante semelhante à da estratégia butterfly – a diferença ocorre no
número de séries de calls: no butterfly, são utilizadas apenas três séries
diferentes de opções, sendo que a quantidade de opções da série
intermediária serve para compor as travas de alta e de baixa. No long
condor, o investidor ganha se o preço do ativo-objeto estiver próximo aos
preços de exercício das opções intermediárias no vencimento (venda de
volatilidade). No short condor, o ganho existe se o mercado cair abaixo do
valor de exercício da opção com menor preço de exercício ou se subir
acima do preço de exercício da opção com maior preço de exercício
(compra de volatilidade);
i) Box-Fechado (Box-4): o Box-4 é uma estratégia cujo resultado é uma
renda fixa, ou seja, o resultado não depende do preço do ativo-objeto no
vencimento. Compreende a compra de call e venda de put com o mesmo
preço de exercício, e venda de call e compra de put de mesmo preço de
exercício, superior ao das anteriores. A operação deve ser realizada com
as mesmas quantidades e vencimentos;
j) Zero Cost Collar: a estratégia Zero Cost Collar é um spread (de alta ou de
baixa) em que o custo é aproximadamente zero. Apesar desta estratégia
não possuir custo, apresenta um risco e uma aposta. Pode ser
considerada como hedge em que há uma aposta;
k) Forward Sintético (Forward de Opções): o forward sintético é formado pela
compra de uma call de preço de exercício K e a venda de uma put de
mesmo preço de exercício. Se o preço de exercício K é igual à cotação do
41
forward (termo) do ativo-objeto, os preços da call e da put devem ser
iguais e por isso a estratégia possui custo zero.
2.4.5 Opções Exóticas
Derivativos com retornos mais complexos do que opções européias ou americanas
de compra e venda padronizadas são às vezes denominados de opções exóticas. A
maioria delas é negociada no mercado de balcão, sendo desenvolvidas por
instituições financeiras para atender às necessidades de clientes.
Veremos abaixo algumas opções mais conhecidas e praticadas no mercado:
a) Opções com Barreira: o grande atrativo destas opções é o fato de elas
serem mais baratas que as opções plain vanilla, uma vez que possuem uma
restrição a mais – o fato de existirem ou não, caso ultrapassem a barreira.
Elas podem ser dos seguintes tipos: knock in, o direito de exercer a opção só
existe se a barreira for atingida e knock out, o direito de exercer a opção se
extingue se a barreira for atingida;
b) Opção Asiática: a opção asiática é uma opção cujo resultado no
vencimento é função do preço médio do ativo-objeto em vez de ser função do
preço final do ativo-objeto. A média do preço pode ser calculada na forma
aritmética ou geométrica;
c) Opção Lookback: uma call lookback é uma opção em que o resultado no
vencimento é dado pela diferença entre o preço final da ação e o preço
mínimo da ação durante a vida da opção. Portanto, o ativo-objeto é comprado
pelo menor valor atingido ao longo da existência da opção; uma put lookback
é uma opção em que o resultado no vencimento é dado pelo preço máximo
que o ativo-objeto atingiu durante a vida da opção subtraído do preço de
42
fechamento. Desta forma, o titular de uma put lookback vende o ativo-objeto
pelo maior preço atingido por ele ao longo da existência da opção;
d) Opção de escolha: são opções em que, em determinado momento, o titular
escolhe se a opção é uma call ou uma put. Esse momento pode ser antes ou
no próprio vencimento, e a call e a put não necessariamente possuem o
mesmo strike e o mesmo tempo para o vencimento;
e) Opção Binária ou Digital: é uma opção que paga um montante previamente
especificado se a opção der exercício. Há também outra versão em que, se
houver exercício, o titular recebe o ativo-objeto se for uma call ou o preço de
exercício se for uma put;
f) Opções com início diferido: são aquelas cujos prêmios são pagos hoje, mas
cuja vida tem início em alguma data futura. Elas são, às vezes, usadas por
uma empresa em programas de incentivo a funcionários. Os termos da opção
são escolhidos para que ela esteja no dinheiro no início de sua vida;
g) Opções americanas não-padronizadas: um tipo desta opção é conhecido
como Bermuda, para a qual o exercício antecipado fica limitado a
determinadas datas durante a vida da opção;
h) Opções compostas: são opções sobre opções, existem quatro tipos
principais: uma opção de compra sobre uma opção de compra, uma opção de
venda sobre uma opção de compra, uma opção de compra sobre uma opção
de venda e uma opção de venda sobre uma opção de venda. As opções
compostas possuem dois preços de exercício e duas datas de exercício;
i) Opções de troca de um ativo por outro: estas opções surgem em vários
contextos. Uma opção de compra de marcos alemães com francos suíços é,
do ponto de vista de um investidor norte-americano, uma opção de troca de
um ativo de moeda estrangeira por outro ativo em outra moeda estrangeira.
43
Uma oferta pública para uma aquisição (tender offer) é uma opção de troca de
ações de uma empresa por ações de outra empresa.
2.4.6 Letras Gregas
Bessada, Barbedo e Araújo (2005) apresentam as letras gregas como diversas
medidas de sensibilidade das opções. São elas que medem o comportamento do
preço das opções em relação a variações nos seus principais fatores determinantes,
a saber, o preço do ativo-objeto, a taxa de juros, a volatilidade do ativo-objeto e a
passagem do tempo.
a) Delta (Δ)
O delta de uma opção é a derivada parcial de seu valor (V) em relação ao preço do
ativo-objeto (S), ou seja, é quanto o preço da opção se modifica com uma pequena
variação do preço do ativo, mantendo-se todos os outros fatores que afetam os
preços das opções constantes:
S
V
=Δ
O delta de uma carteira é a soma do delta dos ativos que a compõem ponderada
pela participação percentual financeira de cada ativo na carteira. Uma carteira é dita
delta-neutra quando seu delta é zero. Para esta carteira, uma pequena variação no
valor do ativo-objeto não causará modificação no valor da carteira.
b) Gama (Γ)
O gama é a taxa de variação do delta da carteira em relação ao preço do ativo-
objeto, ou seja, ele mede a “velocidade de mudança” do delta. Matematicamente, o
44
gama é a primeira derivada parcial do delta em relação ao preço à vista do ativo-
objeto (S), isto é, é a segunda derivada parcial da fórmula do prêmio da opção em
relação ao preço à vista.
2
2
S
V
S
=
Δ
=Γ
Para um portfólio, se o gama for pequeno, a variação do delta ocorrerá
vagarosamente, e os ajustes para mantê-lo neutro só precisarão ser efetuados com
uma freqüência relativamente esparsa. No entanto, se o gama for grande (em
termos absolutos), o delta será altamente sensível ao preço do ativo-objeto. Neste
caso, se quisermos manter o portfólio delta-neutro, os ajustes deverão ser bastante
freqüentes.
c) Teta (θ)
O teta de uma opção é definido como a derivada parcial de seu valor em relação ao
tempo (t), ou seja, ele mede a taxa de mudança do valor da opção (V) com relação à
passagem do tempo:
Com o passar do tempo se verifica
uma perda do prêmio da opção pela redução da incerteza do valor do ativo-objeto no
vencimento. Esta propriedade das opções é denominada emagrecimento, perda de
valor no tempo, ou ainda, em inglês, time decay. Desta forma, o teta de uma opção é
sempre negativo. Como não há incerteza sobre a passagem do tempo, o teta é a
única grega determinística.
T
V
=
θ
45
d) Vega (
υ
)
O vega de uma carteira de opções é a taxa de variação do valor da carteira (V) em
relação à volatilidade do ativo-objeto (σ). Portanto, ele mede a sensibilidade do
preço da carteira a variações na volatilidade do ativo-objeto. Desta forma, se o vega
for elevado, o valor da carteira é bastante sensível a pequenas mudanças na
volatilidade.
A expressão de cálculo do vega é obtida através da primeira derivada parcial da
fórmula do preço da opção (de compra ou de venda) em relação à volatilidade (σ).
Tanto o vega quanto o gama são utilizados como uma proxy da proporção do
número de negócios das opções de uma mesma ação, uma vez que ambas as
gregas têm valores mais altos para as opções no-dinheiro e menores para as dentro-
do-dinheiro e fora-do-dinheiro. Ao se utilizar essa aproximação, pressupõe-se que as
opções mais negociadas são as no-dinheiro.
e) Rho (ρ)
O rho mede a sensibilidade do valor da opção (V) a uma pequena mudança na taxa
de juros (r), e sua expressão é obtida a partir da primeira derivada parcial da fórmula
para o preço da opção em relação a esta variável:
r
V
=
ρ
O rho é maior para as opções dentro-do-dinheiro e menor para as fora-do-dinheiro, e
quanto maior o tempo para o vencimento, maior o rho.
46
2.5 Value At Risk
Ao avaliar diferentes alternativas de uso de derivativos, investimentos e aplicações
de recursos, é de fundamental importância que se avaliem os retornos esperados, os
riscos e incertezas das alternativas disponíveis.
Marins (2004) descreve 6 tipos de risco (ver o próximo tópico) apresentados pelo
Banco J.P. Morgan, por meio da publicação Risk Metrics, segundo sua interpretação.
Uma visão ampla e boa dos riscos que corremos deve vir antes de sua precificação.
2.5.1 Tipos de Risco
a) Risco Operacional – decorre das possibilidades de perdas resultantes da falta de
capacidade das instituições para detectar, conhecer, mensurar, controlar e
administrar os riscos existentes em suas posições. Este risco pode ser subdividido
em três grandes áreas: risco organizacional, risco de equipamentos e risco de
pessoal;
b) Risco de Crédito – decorre das possibilidades de perdas resultantes das
operações que geram desembolso temporário de recursos ou das operações que
geram recursos a serem recebidos em datas futuras. Este tipo de risco refere-se ao
possível não recebimento dos recursos a que se tem direito ou ao seu recebimento
fora do prazo e/ou condições pactuados.
47
Aspectos Quantitativos a serem considerados:
risco de mercado do solicitador, pela comparação do value at risk do
solicitador com o seu patrimônio líquido;
situação econômico-financeira do solicitador;
confiabilidade das informações contábeis do solicitador;
valores econômicos e financeiros do solicitador em relação ao tamanho do
crédito em questão;
perspectivas de geração de renda;
qualidade das garantias oferecidas;
eficiência/ agilidade do sistema judiciário local;
existência de títulos protestados ou de atrasos recentes;
desempenho e perspectivas futuras do setor de atividade ao qual o solicitador
do crédito pertença.
Aspectos qualitativos a serem considerados:
experiências da instituição em relacionamentos anteriores com o demandante
do crédito;
tradição do solicitador do crédito;
idoneidade dos controladores da instituição solicitadora do crédito;
c) Risco de Liquidez – decorre da possibilidade de ocorrer incapacidade de honrar
os compromissos assumidos, resultante do desequilíbrio de caixa gerado pelo
descasamento dos prazos de vencimento das operações ativas e passivas;
d) Risco Legal – decorre das possibilidades de perdas resultantes de problemas
legais em conseqüência de: documentação inadequada, do ponto de vista jurídico;
proibição legal de operar com uma contraparte específica; e proibição de que a
contraparte realize operações específicas;
48
e) Risco Soberano – decorre da possibilidade de ocorrerem decisões unilaterais de
governos, que possam prejudicar ou adiar a liquidação de operações previamente
assumidas, ainda que as contrapartes devedoras das operações disponham de
recursos e tenham intenção de liquidá-las;
f) Risco de Mercado – decorre das possibilidades de perdas resultantes de possíveis
mudanças adversas nos preços / cotações das variáveis ativas e das variáveis
passivas, nas quais a instituição mantenha posições. O risco de mercado abrange
quatro grandes áreas: ações, câmbio, juros e commodities. O risco de mercado é
estimado, considerando-se basicamente as volatilidades, as correlações, as
distribuições de probabilidade das variáveis e o prazo de permanência das posições.
Neste tipo de risco aparecem os conceitos de value at risk que serão abordados
adiante.
Marins (2004) acrescenta um sétimo risco aos seis apresentados anteriormente:
Risco Sistêmico. Este risco se refere ao risco de contágio da inadimplência de uma
instituição às demais instituições que compõem um sistema econômico. O raciocínio
é o de que, caso um grande banco, uma grande empresa ou uma clearing que
efetue a compensação e liquidação de volumes financeiros expressivos se torne
inadimplente, os seus credores poderão tornar-se inadimplentes, os quais, por sua
vez, poderão fazer com que outros credores deixem de honrar seus compromissos e
assim por diante. Ao final do processo, toda a economia poderá sofrer as
conseqüências de uma inadimplência generalizada.
Para evitar o risco sistêmico, os órgãos fiscalizadores e reguladores de diversos
países impõem limites diários máximos de risco (a medida de risco mais utilizada é o
value at risk) aos seus bancos, demais instituições financeiras e clearings.
Outro instrumento que vem sendo utilizado por diversos países para o controle de
risco das clearings é a exigência de níveis mínimos de seus patrimônios e dos
patrimônios de seus fundos garantidores de liquidações, que são compostos por
valores (ou outras garantias) depositados por seus membros de compensação e que
49
têm por finalidade garantir as liquidações a serem efetuadas nas clearings na
hipótese de algum membro de compensação se tornar inadimplente. Nas hipóteses
de “quebra” de algum membro de compensação, os patrimônios dos fundos e das
clearings serão utilizados para evitar o risco sistêmico.
2.5.2 Definição de Value at Risk
Hull (2005) define o value at risk (VAR) como um esforço para proporcionar à alta
administração números que sumarizem o risco total de um portfólio de ativos
financeiros. O instrumento tem se tornado amplamente utilizado por tesoureiros,
administradores de fundos e instituições financeiras. Os reguladores dos bancos
centrais também empregam o VAR para determinar o capital que um banco deve
manter e que reflita os riscos de mercado a que está exposto.
Ao usar a medida VAR, o administrador responsável por um portfólio de
instrumentos financeiros está interessado em afirmar o seguinte: existe X% de
certeza de que não haverá perdas maiores que V dólares nos próximos N dias.
A variável V é o VAR do portfólio. Esta é função de dois parâmetros: N, o horizonte
de tempo e X, o nível de confiança. É o nível de perda em N dias que o
administrador está X% certo de que não será excedido.
A relação do VAR e o horizonte de tempo dá-se da seguinte forma:
VAR para N dias = VAR para 1 dia X N
O VAR é uma medida atrativa porque é muito fácil de ser entendido. Em essência, é
feita uma pergunta muito simples: até que ponto as coisas podem piorar? Esta é a
questão que todos os administradores seniores querem ver respondida. Sentem-se
50
confortáveis com a idéia de ter todas as letras gregas para todas as variáveis de
mercado subjacentes aos portfólios resumidas em um único número.
2.5.3 Simulação Histórica
Simulação histórica é um meio conhecido de estimar o VAR, pois envolve o uso de
dados passados de forma muito direta, como um guia para estabelecer o que pode
acontecer no futuro.
Suponha que se deseja calcular o VAR para um portfólio usando o horizonte de
tempo de um dia, nível de confiança de 99% e dados relativos a 500 dias. O primeiro
passo é identificar as variáveis de mercado que afetam o portfólio. Depois, coletam-
se os dados relativos às variações dessas variáveis de mercado nos últimos 500
dias. Isso nos dá 500 cenários alternativos para o que pode acontecer entre hoje e
amanhã.
No cenário 1, assume-se que as mudanças percentuais nos valores de todas as
variáveis serão iguais àquelas observadas no primeiro dia para os quais os dados
foram coletados; no cenário 2, assume-se que as mudanças serão aquelas
observadas no segundo dia e assim por diante. Para cada cenário, calcula-se a
mudança em dinheiro no valor do portfólio entre hoje e amanhã. Isso define a
distribuição de probabilidade para variações diárias no valor do nosso portfólio. A
quinta pior variação diária é o ponto percentil 1 da distribuição. O VAR estimado é a
perda quando se está nesse ponto. Assumindo-se que as variações dos últimos 500
dias sejam um bom guia para dizer o que pode acontecer durante o próximo dia, há
99% de certeza de que não haverá perda maior que a estimada de VAR.
Seja v
i
o valor da variável de mercado no dia i e m o número de dias dos dados que
estão sendo usados; o i-ésimo cenário supõe que o valor da variável de mercado
amanhã será:
51
1i
i
m
v
v
v
2.5.4 Método Model-Building
A principal alternativa à simulação histórica é o model-building (modelo de variância-
covariância).
Mostra-se como o VAR é calculado usando-se o enfoque model-building em uma
situação muito simples, em que o portfólio consiste de uma posição em uma única
ação. O portfólio é composto de USD 10 milhões em ações da Microsoft, e
queremos saber qual é o VAR para o nível de perda para 10 dias com 99% de
confiança. Supõe-se que a volatilidade seja de 2% ao dia. O desvio-padrão das
variações diárias destas ações é de USD 200 mil.
No método model-building, é comum supor que a variação esperada em uma
variável de mercado para determinado período de tempo seja zero. Isso não é
totalmente verdadeiro, mas é uma suposição razoável. A variação esperada no
preço de uma variável de mercado para curto período de tempo é geralmente menor
quando comparada com o esperado de 20% ao ano. Para o período de um dia, o
retorno esperado é 0,20/252, ou 0,08%, enquanto o desvio-padrão é 2%. Para o
período de 10 dias, o retorno esperado é 0,20/25,2, ou 0,8%, enquanto o desvio-
padrão dos retornos é 2 10 , ou 6,3%.
Até aqui se estabeleceu que a variação no valor do portfólio para um período de
tempo de um dia tem desvio-padrão de USD 200 mil e média aproximada igual a
zero. Supõe-se que as variações sejam normalmente distribuídas e exista 1% de
probabilidade de que uma variável normalmente distribuída irá decrescer em valor
mais que 2,33 desvios-padrão. De forma equivalente, significa que temos 99% de
52
certeza de que a variável normalmente distribuída não irá decrescer em valor mais
de 2,33 desvios-padrão. Portanto, o VAR para um dia, com 99% de confiança, do
portfólio de USD 10 milhões é: 2,33 x 200 mil = USD 466 mil. O VAR para 10 dias
com 99% de confiança é: 466 mil x 10 = USD 1.47 milhão.
Para casos com dois ativos, devemos considerar a correlação dos ativos e descobrir
o desvio-padrão do portfólio. Considere as variáveis X e Y, com desvios iguais a σ
x
e
σ
y
com coeficiente de correlação entre eles igual a ρ, o desvio-padrão de X + Y é
dado por:
YX +
σ
=
YXYX
σρσσσ
2
22
++
2.5.5 Teste de Estresse e Back Testing
Em adição ao cálculo do VAR, muitas companhias realizam o que se conhece como
teste de estresse (stress test) de seus portfólios. O teste de estresse envolve
estimativas sobre a performance do portfólio sob algumas situações extremas,
verificadas nos 10 ou 20 anos passados.
O teste de estresse é uma forma de considerar eventos extremos que podem ocorrer
de tempos em tempos, mas que são virtualmente impossíveis de acordo com as
distribuições de probabilidade assumidas para as variáveis de mercado. Uma
variação diária em uma variável de mercado de cinco desvios-padrão é um evento
bastante extremo. Sob a hipótese de distribuição normal, isso acontece apenas uma
vez a cada 7.000 anos. Mas, na prática, não é tão incomum haver variações diárias
iguais a cinco desvios-padrão uma ou duas vezes a cada 10 anos.
Independentemente do critério utilizado para calcular o VAR, outro teste importante
de checagem é o back testing. Trata-se de testar a performance do VAR em um
53
momento do passado. Suponha que se esteja calculando o VAR para um dia a 99%.
O back testing analisa com que freqüência a perda de um dia excedeu o VAR de um
dia a 99%. Se isso aconteceu em torno de 1% das vezes, pode-se estar
razoavelmente confortável com a metodologia utilizada para calcular o VAR. Porém,
se isso aconteceu, digamos, 7% dos dias analisados, nossa metodologia é suspeita.
2.6 Derivativos de Crédito, Tempo, Energia e Seguro
Hull (2005) descreve recentes inovações nos mercados derivativos e apresenta
produtos desenvolvidos para administrar risco de crédito, risco de tempo, risco de
preço de energia e riscos enfrentados por companhias de seguro. Alguns dos
mercados estão em estágios iniciais, entretanto, à medida que maturam, são
observadas mudanças importantes tanto nos produtos oferecidos quanto na forma
como são utilizados.
2.6.1 Derivativos de Crédito
Derivativos de crédito são os contratos em que o payoff depende da avaliação de
crédito de uma ou mais entidade soberana ou comercial. O objetivo é permitir que os
riscos de crédito sejam negociados e administrados tanto quanto os riscos de
mercado.
O derivativo de crédito mais conhecido é o credit default swaps (CDS). Trata-se de
contrato que oferece seguro contra o risco de inadimplemento por determinada
companhia. A companhia é denominada entidade de referência e seu
inadimplemento é chamado de evento de crédito. O comprador do seguro obtém o
direito de vender um bônus emitido pela companhia pelo seu valor par quando o
evento de crédito ocorre. O bônus é conhecido como obrigação de referência e o
54
valor par total do bônus que pode ser vendido é denominado principal nocional do
swap. O comprador do CDS faz pagamentos periódicos ao vendedor até o fim da
vida do contrato ou até que ocorra um evento de crédito. O swap é liquidado por
entrega física ou por liquidação financeira.
Há um grande número de variações do credit default swap. Em credit default swap
binário, o payoff, no caso de ocorrência de default, é um valor fixo em dólares. Em
basket credit default swap, um grupo de entidades de referência é especificado e há
payoff quando a primeira dessas entidades de referência inadimplir. Em contingent
credit default swap, o payoff requer não só o evento de crédito mais um gatilho
adicional. O gatilho adicional pode ser um evento de crédito com relação a outra
entidade de referência ou mudança em uma variável de mercado de determinada
magnitude. Em dynamic credit default swap, o valor nocional que determina o payoff
está amarrado ao valor do mark-to-market de um portfólio de swaps.
Outro derivativo de crédito conhecido é o total return swap. Nele, o retorno de um
ativo ou grupo de ativos é “swapado” pelo retorno de outro. O swap pode ser usado
para passar os riscos de créditos para outra parte ou diversificar o risco de crédito
trocando um tipo de exposição por outra.
2.6.2 Derivativos de Tempo
As condições climáticas são importantes para as empresas e podem afetar os seus
resultados. Os derivativos de tempo foram criados para diminuir estes riscos como
riscos de taxa de câmbio ou de juro.
Em 1997, foi criado o primeiro derivativo de tempo: HDD (heating degree days) e o
CDD (cooling degree days). Um dia de HDD é uma medida do volume de energia
requerido para o aquecimento de um dia. Um dia de CDD é uma medida do volume
de energia requerido para o resfriamento durante um dia. Em 1999, a Chicago
55
Mercantile Exchange iniciou a negociação de contratos futuros e de opções
européias sobre futuros de tempo.
2.6.3 Derivativos de Energia
Companhias de energia estão entre os mais ativos e sofisticados usuários de
derivativos. Muitos produtos de energia são negociados tanto no mercado de balcão
quanto nas bolsas. Hull (2005) aborda os negócios de derivativos de petróleo, gás
natural e eletricidade:
a) Petróleo: petróleo ou óleo cru é uma das mais importantes commodities do
mundo, com demanda global em torno de 65 milhões de barris diários. Há
muitos anos, contratos de fornecimento a preço fixo de 10 anos têm sido
bastante comuns no mercado de balcão. São swaps em que o petróleo a
preço fixo é trocado por petróleo a preço flutuante. Também existem os
contratos negociados em bolsa. A New York Mercantile Exchange
(Nymex) e a International Petroleum Exchange (IPE) negociam vários
contratos de futuros e opções sobre futuros de petróleo. Alguns são
liquidados financeiramente e outros por entrega. A Nymex também
negocia contratos sobre dois produtos refinados: óleo para aquecimento e
gasolina, ambos contratos com entrega de 42.000 galões;
b) Gás Natural: um contrato de balcão típico estabelece a entrega de
determinada quantidade de gás natural a uma taxa uniforme durante o
período de um mês. Contratos a termo, de opções e swaps também estão
disponíveis no mercado de balcão. O vendedor de gás, em geral, é
responsável pelo transporte do gás dos gasodutos até o local especificado.
A Nymex negocia contrato para entrega de 10.000 milhões de unidades
térmicas britânicas de gás natural. O contrato, se não for encerrado,
requer que a entrega física seja realizada durante o mês de entrega a uma
56
taxa aproximadamente uniforme em um hub na Louisiana. O IPE negocia
contrato semelhante em Londres;
c) Eletricidade: eletricidade é uma commodity incomum por não poder ser
estocada e seu preço spot sofre grandes variações. A Nymex negocia o
contrato futuro sobre o preço da eletricidade. Há, ainda, o mercado de
balcão ativo em contratos a termo, opções e swaps. Um típico contrato
permite a um lado receber número especificado de megawatt/horas por
determinado preço em certa região durante certo mês.
Um contrato muito interessante usado nos mercados de eletricidade e gás natural é
a opção swing ou opção take-and-pay. Neste contrato, quantidades mínimas e
máximas, que têm de ser compradas a certo preço pelo titular da opção, são
especificadas para cada dia durante um mês e também para o mês no total. O titular
da opção pode trocar a taxa pela qual a energia é comprada durante o mês, mas em
geral há limite no número total de mudanças que podem ser feitas.
Os preços de energia, assim como preços de ações, apresentam volatilidade.
Diferentemente dos preços das ações, estes também apresentam sazonalidade e
reversão à média. A sazonalidade surge em função da demanda sazonal por energia
e das dificuldades de estocá-la. A reversão à média ocorre por causa dos
desequilíbrios entre demanda e oferta de curto prazo, que fazem com que os preços
se movam para níveis diferentes de sua média sazonal.
Para o petróleo, a volatilidade típica é de 20% ao ano, para o gás natural é de 40%
ao ano e, para eletricidade, temos uma variação da volatilidade de 100% a 200% ao
ano.
57
2.6.4 Derivativos de Seguro
Quando contratos de derivativos são usados para fins de hedge, assemelham-se em
muito a contratos de seguro. Ambos os tipos de contratos são estruturados para
oferecer proteção contra eventos adversos. Tradicionalmente, a indústria de seguro
faz hedge de sua exposição ao risco de catástrofe (CAT), como furacões e
terremotos, usando a prática do resseguro.
Os principais vendedores de resseguros de catástrofes tradicionalmente têm sido
empresas de resseguro e sindicatos do tipo Lloyds (que são companhias de
resseguro, estruturadas sob a forma de sindicatos de passivos ilimitados, formadas
por indivíduos detentores de grandes fortunas).
Contratos futuros de resseguro foram desenvolvidos pela CBOT, mas não estão
sendo bem sucedidos. O mercado de balcão tem criado vários produtos que são
alternativas ao resseguro tradicional. O mais conhecido é o bônus CAT, emitido por
subsidiária de companhia de resseguro que paga uma taxa de juro maior que a
normal. Em troca desse juro maior, o detentor do bônus aceita oferecer um contrato
de resseguro do tipo excess-of-cost. Dependendo dos termos do bônus CAT, o juro
ou o principal (ou mesmo ambos) pode ser utilizado para atender aos sinistros.
2.7 Lições para Usuários de Derivativos
É particularmente importante que as companhias monitorem os riscos de forma
cuidadosa quando utilizam derivativos. Eles servem para hedging, especulação e
arbitragem. Sem o zeloso monitoramento é impossível saber se a empresa ou
instituição financeira está correndo risco ou não. Hull (2005) passa lições que devem
ser seguidas para a utilização segura destes instrumentos financeiros:
58
a) Defina limites de risco – é essencial que todas as companhias definam, de
forma clara, os limites para os riscos financeiros assumidos. Estas devem
instituir procedimentos para assegurar que os limites sejam estabelecidos. O
ideal é que os limites de risco gerais sejam estabelecidos pelo conselho da
administração. Relatórios diários devem indicar o ganho ou a perda que
poderão advir de movimentos especiais nas variáveis de mercado;
b) Respeite os limites de risco – as penalidades por exceder os limites de risco
devem ser as mesmas seja quando há lucros, seja quando há perdas. Caso
contrário, os financistas que realizam perdas serão encorajados a aumentar
suas posições e suas apostas na esperança de eventualmente ter grande
lucro e o resto ser esquecido;
c) Não assuma que você pode ser melhor que o mercado – o sucesso passado
com excelentes performances não é sinônimo de sucesso futuro. Muitas
vezes o sucesso passado pode ser resultado de sorte e não de habilidades
superiores em negociar;
d) Não subestime os benefícios da diversificação – a diversificação capacita o
investidor a reduzir os riscos. Uma outra forma de expressar isso é que a
diversificação capacita o investidor a aumentar o retorno esperado por
unidade de risco assumida. É pouco provável que o financista seja tão hábil o
suficiente que valha a pena abrir mão desses benefícios para especular
pesadamente em apenas uma variável de mercado;
e) Faça análise de cenário e testes de estresse – as medidas de cálculos de
risco como o VAR devem sempre ser acompanhadas por análises de cenários
e testes de estresse (stress testing) para obter melhor compreensão do que
pode dar errado.
Hull (2005) também apresenta lições aplicáveis fundamentalmente às empresas
não-financeiras, empresas essas que merecem destaque em nosso trabalho:
59
a) Tenha certeza de entender totalmente os negócios que está fazendo – as
empresas nunca deveriam fazer uma operação ou negociar uma estratégia
que não entendam completamente. Se a alta gerência da empresa não
entende um negócio proposto por um subordinado, o negócio não deve ser
aprovado. Uma forma de assegurar que você entendeu o problema
completamente é tentar apreçá-lo. Na prática, empresas confiam
freqüentemente em seus banqueiros de investimento para recomendações
sobre apreçamento;
b) Tenha certeza de que o hedger não se tornará um especulador – a alta
administração deve estabelecer limites muito claros para os riscos que podem
ser tomados. O operador de hedge pode ganhar confiança da alta
administração e tornar-se um especulador sem sucesso;
c) Seja cauteloso ao fazer da tesouraria um centro de lucro – nos últimos 20
anos, tem havido a tendência de fazer do departamento de tesouraria um
centro de lucro. O tesoureiro fica motivado a reduzir os custos de
financiamento e administrar os riscos de forma mais lucrativa. O problema é
quando o potencial para produzir lucros é bastante limitado levando o
tesoureiro a especular de forma demasiada assumindo sérios riscos para a
companhia.
2.8 Pesquisas Realizadas sobre o Tema
Revisar as pesquisas semelhantes feitas sobre o tema no Brasil e no mundo é de
extrema importância. Nos últimos anos, surgiu uma série de trabalhos relacionados
aos derivativos, mas foi no ano de 1995 que tivemos um grande avanço sobre o
entendimento do uso dos derivativos por empresas não-financeiras. Bodnar et al.
(1995) realizou uma pesquisa com empresas americanas e ela ficou conhecida
60
como Pesquisa de Derivativos de Wharton. Esta pesquisa foi refeita duas vezes por
Bodnar, Marston e Hayt (1998). A pesquisa foi implementada em outros países por
El-Masry (2003) no Reino Unido, Sheedy (2002) em Hong Kong e Cingapura,
Ceuster et al. (2000) na Bélgica, e Bodnar e Gebhardt (1998) na Alemanha, entre
outros.
No Brasil, Kimura (2003) realizou uma pesquisa sobre uso de derivativos sem obter,
no entanto, uma amostra significativa. Ele trabalhou com 24 empresas não-
financeiras. Saito e Schiozer (2005) realizaram um trabalho em 2004 com empresas
de capital aberto, baseando-se na pesquisa de Bodnar, Marston e Hayt (1998), o
qual apresentou dados interessantes do mercado brasileiro.
A seguir, destacaremos os principais pontos de alguns dos principais trabalhos
realizados anteriormente.
A) Pesquisa realizada nos Estados Unidos em 1997
Bodnar, Marston e Hayt (1998) basicamente reeditaram a pesquisa feita por Bodnar
et al. (1995). Na sua terceira edição, a Pesquisa de Derivativos de Wharton
trabalhou com uma amostra de 1928 empresas de capital aberto, sendo 500 do
ranking Fortune 500, com um total de 399 empresas respondentes (taxa de
respostas de 20,7%). Destas empresas participantes, 50% utilizavam derivativos e
46% delas tinham aumentado o montante de derivativos contratados quando
comparado ao ano anterior. Os derivativos relacionados à moeda foram os mais
utilizados, com 83% dos usuários, seguido por derivativos para juros, com 76% dos
usuários, e derivativos para commodities, com 56% dos usuários. Os derivativos
para proteção do patrimônio líquido foram utilizados por 34% das empresas.
Os pontos que mais preocupavam as empresas não-financeiras americanas na
época eram o tratamento contábil dos derivativos, os riscos de mercado e o
monitoramento e precificação dos derivativos. As empresas americanas buscavam
proteger ativos de curto prazo e exposições de observação direta com obrigações
contratuais presentes no balanço e transações de até 1 ano. Para isso, elas
61
concentravam o uso de derivativos de curto prazo, principalmente até o período de
180 dias. Nos derivativos para exposição em moeda, cerca de 44% das empresas
não se utilizavam de benchmark, no caso dos derivativos de juros este índice
aumentava para 47% dos casos. O principal derivativo utilizado para taxa de juros
era o swap que envolvia uma taxa flutuante para uma taxa fixa. O uso de opções
ficou em 68% das empresas.
Na parte do controle e relatórios, 79% das empresas tinham uma política de uso dos
derivativos e 50% não tinham uma freqüência definida de relatórios para a diretoria;
44% das empresas calculam o value-at-risk e 28% precificam seus derivativos
diariamente ou semanalmente.
Bodnar, Marston e Hayt (1998) concluem que o uso dos derivativos estava
aumentando e que a percepção destes instrumentos financeiros como ferramentas
de proteção estava crescendo. Eles destacam a importância da contabilização
correta dos instrumentos com a introdução de uma nova regra publicada em junho
de 1998 pelo FASB número 133 (“Accounting for Derivative Instruments and Hedging
Activities”).
B) Pesquisa realizada na Alemanha em 1997
Bodnar e Gebhardt (1998) fizeram uma pesquisa com empresas não-financeiras na
Alemanha e compararam com os resultados obtidos nos Estados Unidos. Na
Alemanha, foram enviados 368 questionários para firmas abertas e fechadas com
um faturamento anual superior a 200 milhões de marcos alemães da época. A
pesquisa foi feita em abril de 1997 com 126 empresas participantes.
Das empresas participantes, 77,8% utilizavam derivativos, sendo 95,9% usuários de
derivativos para moeda, 88,8% de derivativos para juros e 40% para commodities. A
preocupação das empresas alemãs é bem menor em intensidade do que as
empresas americanas e é mais voltada para a percepção dos investidores, avaliação
do risco e precificação dos derivativos. As principais exposições em moeda que
62
preocupam as empresas alemãs são de obrigações contratuais presentes no
balanço seguido por repatriações ou remessa de dividendos. A concentração de
contratação dos derivativos se dá em derivativos de prazos inferiores a um ano. No
caso de derivativos para juro, os swaps de taxas de juros flutuantes para taxas fixas
são os mais contratados.
Na parte do controle e relatórios, 81,6% das empresas alemãs possuem política de
uso de derivativos e apenas 22% não tinham uma freqüência definida de relatórios
para a diretoria. 45% das empresas calculam o value-at-risk ou montante de risco
semelhante e 45,8% precificam seus derivativos diariamente ou semanalmente.
Bodnar e Gebhardt (1998) concluem que a principal diferença entre as empresas
alemãs e americanas está voltada ao objetivo do uso de derivativos e ao nível de
preocupação com os instrumentos financeiros. As empresas alemãs buscam
principalmente resultados contábeis e as empresas americanas buscam mais a
administração do fluxo de caixa. As empresas americanas estão muito mais
preocupadas sobre o uso dos derivativos, talvez pelo rigor maior imposto pelas
autoridades americanas.
C) Pesquisa realizada no Reino Unido em 2001
El-Masry (2003) realizou uma pesquisa em março e maio de 2001 no Reino Unido.
Foram selecionadas 401 empresas randomicamente da lista da Fame, sendo 173
empresas respondentes e 67% de usuários de derivativos. 37,5% dos usuários
aumentaram o uso de derivativos quando comparado ao ano anterior e 64% usam
derivativos para risco de moeda, 47% usam derivativos para juros, 9% usam para
commodities e apenas 8,3% para patrimônio líquido.
As principais preocupações das empresas do Reino Unido estão relacionadas à falta
de conhecimento dos derivativos, precificação e risco de liquidez. As principais
exposições são as obrigações contratuais e repatriações. 41,4% dos derivativos de
moeda são contratados para um prazo inferior a 180 dias e 34% são contratados
63
para o horizonte do ano fiscal corrente. Nos derivativos para exposição em moeda,
cerca de 18% das empresas não se utilizavam de benchmark, no caso dos
derivativos de juros este índice aumentava para 50% dos casos. O principal
derivativo utilizado para taxa de juros era o swap que envolvia uma taxa flutuante
para uma taxa fixa. O uso de opções ficou em 68,8% das empresas.
Na parte do controle e relatórios, 75% das empresas do Reino Unido possuem
política de uso de derivativos e apenas 6,3% não tinham uma freqüência definida de
relatórios para a diretoria. 62,5% das empresas calculam o value-at-risk ou montante
de risco semelhante e 50% precificam seus derivativos mensalmente.
El-Masry (2003) conclui que o uso de derivativos no Reino Unido é bem difundido e
vem crescendo. Ele destaca o uso de opções como principal derivativo, à frente de
swaps, futuros e forwards. O fluxo de caixa é o principal objetivo para as empresas
no uso de derivativos.
D) Pesquisa realizada no Brasil em 2004
Saito e Schiozer (2005) realizaram uma pesquisa em março e abril de 2004 sobre
uso de derivativos. Eles selecionaram todas as empresas não-financeiras listadas na
Bovespa formando uma amostra de 378 empresas. Obtiveram 74 respostas, com
uma taxa de 19,6% de empresas respondentes.
O uso de derivativos para moeda foi amplamente mencionado na pesquisa com
95,2% de usuários. No caso de derivativos para juros obtiveram 83,3% dos casos;
para commodities, 35,7%; e para categorias denominada outros, 21,4% dos usuários.
O uso de derivativos aumentou 76,2% de 2001 para 2002 e 42,9% de 2002 para
2003.
As principais preocupações foram os problemas ligados a impostos, tratamento
contábil e risco de mercado. Nos derivativos para exposição em moeda, cerca de
12,8% das empresas não se utilizavam de benchmark, no caso dos derivativos de
64
juros este índice aumentava para 21,6% dos casos. Cerca de 38% dos usuários
usam somente mercado de balcão e 59,5% usam tanto as bolsas como o mercado
de balcão.
Saito e Schiozer (2005) concluem que o percentual de uso dos derivativos no Brasil
não varia muito em relação aos outros países, excluindo a Alemanha. Apesar da alta
volatilidade dos ativos no Brasil, as empresas estão preocupadas com os impostos e
tratamento contábeis ao invés de variáveis econômicas. O principal uso dos
derivativos não é especulação e sim garantir lucros.
65
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
De acordo com a taxonomia proposta por Vergara (1991), no presente trabalho
emprega-se o seguinte tipo de pesquisa:
a) Quanto aos fins:
- exploratória, por ser realizada em área na qual há pouco conhecimento
acumulado e sistematizado e que, por sua natureza de sondagem, não
comporta hipóteses
4
que, todavia, poderão surgir durante ou ao final da
pesquisa;
- explicativa, por tornar inteligível e justificar os motivos de um fenômeno. Visa,
portanto, esclarecer quais fatores contribuem, de alguma forma, para a
ocorrência de determinado fenômeno. Pressupõe pesquisa descritiva como
base para suas explicações;
- metodológica, por se referir a instrumentos de captação ou de manipulação
da realidade, portanto associados a caminhos, formas, maneiras,
procedimentos para alcançar determinado fim.
b) Quanto aos meios:
- pesquisa de campo, por se tratar de uma investigação realizada no local
onde ocorre ou ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos para
explicá-lo;
4
Algumas hipóteses podem ser sugeridas, entretanto, com pouco conhecimento sistematizado por
trabalhos efetuados anteriormente.
66
- bibliográfica, por realizar estudos sistematizados, desenvolvidos com base
em material já elaborado sobre o assunto, publicado em livros, jornais,
revistas, redes eletrônicas, etc.;
- ex post facto, por se tratar de pesquisa onde não se pode controlar variáveis
independentes, seja porque suas manifestações já ocorreram, seja porque
as variáveis não são manipuláveis.
Pesquisa de Campo
A pesquisa é a base do trabalho. É nela que concentramos nossos esforços em
conseguir um levantamento sobre a utilização de derivativos por parte das empresas
não-financeiras do Brasil. A primeira preocupação foi elaborar uma pesquisa com
rigor acadêmico embasado em literatura e orientações de especialistas no assunto.
A primeira questão ficou centrada na utilização de uma pesquisa quantitativa ou
qualitativa. No quadro abaixo, produzido por Trujillo (2001), podemos encontrar suas
principais diferenças.
Fonte: TRUJILLO, Victor. 2001.
Qualitativa Quantitativa
Objetivo
verificar a presença mensurar a presença
Entrevistas
grupos, individuais individuais
Principais Tipos
discussão em grupo, entrevista domiciliar e telefone
Representatividade Estatística
baixa elevada
Volume de informações médio ou elevado baixo ou médio
Profundidade
elevada baixa
Teoria estatística não aplicável aplicável
Tempo de entrevista
elevado baixo a médio
Tamanho da amostra
poucos casos muitos casos
Tipo de análise
subjetiva objetiva, numérica
Equipamentos
gravador áudio questionários, micros
Principais profissionais
psicólogos, sociólogos estatísticos, sociólogos
Quadro 1 - Diferenças entre Pesquisas Qualitativas e Quantitativas
67
A pesquisa sobre o uso de derivativos está alinhada com as características de uma
pesquisa quantitativa. A idéia do trabalho é levantar a utilização dos instrumentos
financeiros buscando mensurar o seu uso, com profundidade média, utilizando-se de
uma amostra grande com entrevistas individuais e realizar um tratamento estatístico.
A pesquisa qualitativa seria um segundo passo para o melhor entendimento sobre o
tema nas empresas não-financeiras.
Segundo Creswell (2003), a pesquisa quantitativa fornece a quantidade ou a
descrição numérica de uma tendência, atitude ou opiniões de uma população
através de um estudo de uma amostra dessa população. Sobre os resultados da
amostra, o pesquisador poderá generalizar ou fazer inferências a respeito da
população. O mesmo autor identifica os seguintes componentes para a pesquisa:
a) Identificar o propósito da pesquisa: levantar o uso de derivativos por
empresas não-financeiras de grande porte no Brasil no ano de 2005;
b) Indicar por que a pesquisa é a melhor forma para coletar os dados para o
estudo: atualmente não existe uma base de dados ou literatura com as
informações que o trabalho busca levantar, a pesquisa seria uma atualização
de trabalhos semelhantes anteriores contribuindo para um melhor
entendimento do tema no Brasil;
c) Indicar se a pesquisa deve ser cross-sectional ou longitudinal: o trabalho terá
uma abordagem cross-sectional, ou seja, cercará a coleta de dados sobre um
determinado período de tempo. No caso, utilizaremos o ano de 2005;
d) Especificar a forma de coleta de dados: a forma escolhida será o questionário
a ser apresentado por entrevistas telefônicas e interativas (e-mail). Trujillo
(2001) destaca o baixo índice de resposta por métodos envolvendo
correspondência, podendo atingir até taxas mínimas de 2%. As entrevistas
pessoais foram descartadas devido ao tamanho da amostra;
68
e) Identificar a população: empresa de grande porte no Brasil;
f) Identificar se o desenho da amostra é single ou multistage (clustering): no
caso, o desenho da amostra será single-stage, ou seja, podemos atingir os
indivíduos da amostra diretamente e sabemos o seu nome. Segundo o
conceito de Mattar (1997), a amostra escolhida será não probabilística do tipo
intencional. A proposta é escolher as 500 maiores empresas do Ranking do
Jornal Valor do ano de 2004
5
. Nós entendemos que esta amostra será muito
representativa, uma vez que queremos entender o uso de derivativos pelas
grandes empresas e nos concentraremos nas maiores do país;
g) Identificar o processo de seleção de indivíduos: listagem das 500 maiores
empresas do Ranking do Jornal Valor do ano de 2004;
h) Identificar se haverá estratificação da população antes de selecionar a
amostra: consideramos as 500 maiores empresas para amostra, já
conhecíamos pelo ranking e não houve necessidade de estratificação da
população antes de selecionar a amostra;
i) Identificar o número de indivíduos na amostra: 500 empresas.
Devemos destacar que nossa amostra se diferencia da amostra utilizada por Saito e
Schiozer (2005). Não queríamos trabalhar somente com empresas de capital aberto
e sim com empresas de grande porte, sendo abertas ou não. Todos os trabalhos
anteriores evidenciam a tendência de uso de derivativos e ganhos de escala em
empresas de porte maior. A idéia era nos concentrarmos neste nicho buscando um
perfil específico.
5
O Ranking do Jornal do Valor do ano de 2004 foi publicado em 2005.
69
Na elaboração do questionário buscamos informações para responder as seguintes
perguntas:
A empresa usa ou não derivativo?
Qual o tipo de derivativo e qual o ativo protegido?
Qual o objetivo principal do derivativo?
Quem define a estratégia de uso de derivativos?
Que tipo de controles e suporte a empresa utiliza para administrar o uso de
derivativos?
O questionário foi baseado nas pesquisas semelhantes realizadas no Brasil e em
outros países, mencionados anteriormente. Nós assumimos a hipótese testada nas
pesquisas anteriores de que as classes de risco mais administradas por derivativos
são as de exposição cambial, taxa de juros, commodities e patrimônio, valorizando
as duas primeiras classes.
Solicitamos a ajuda de Consultores da Deloitte Touche Tohmatsu ligados à área
financeira para que validassem as perguntas como revisão e pré-teste. Os objetivos
do pré-teste, segundo Mattar (1997), são verificar:
se os termos utilizados nas perguntas são de compreensão dos
respondentes;
se as perguntas estão sendo entendidas como deveriam ser;
se as opções de respostas nas perguntas fechadas estão completas;
se a seqüência das perguntas está correta;
se não há objeções na obtenção das respostas;
se a forma de apresentar a pergunta não está causando viés, etc.
Após a aplicação do questionário e a digitação dos dados, tabelamos e calculamos
os percentuais referentes a cada resposta. No capítulo seguinte, mostraremos os
resultados da pesquisa.
70
4 RESULTADOS DA PESQUISA
4.1 Introdução
A pesquisa foi realizada através do envio de um questionário para 500 empresas
não-financeiras de grande porte no Brasil. Estas 500 empresas foram selecionadas
em ordem decrescente no Ranking do Jornal Valor do ano de 2004
6
.
Os questionários foram enviados por e-mail em dois momentos. Uma primeira
rodada em março de 2006 e outra em abril. Também nos utilizamos de contato
telefônico para obter mais rapidamente a participação das empresas. Desta amostra,
obtivemos 91 empresas respondentes, correspondendo a um percentual de 18,2%
de índice de respostas.
As respostas obtidas foram então tabuladas, possibilitando consolidar os principais
aspectos que as empresas relevam quando operam com derivativos. Tendo em vista
o caráter eminentemente descritivo da pesquisa baseada em uma amostra pequena,
conclusões com significância considerável não podem ser estabelecidas para a
população. Porém, a pesquisa permite identificar diversas características do uso de
derivativos pelas empresas e as principais preocupações que os executivos
financeiros levam em consideração ao conduzirem a política de gestão de riscos.
A pesquisa foi dividida em quatro grupos: um primeiro buscando o entendimento do
uso de derivativos por parte da empresa, um segundo grupo com relação à
exposição cambial, um terceiro em relação a juros e um quarto voltado para opções.
6
O Ranking do Jornal O Valor do ano de 2004 foi publicado em 2005.
71
4.2 Análise dos Dados
4.2.1 Uso dos Derivativos
A) Visão geral da amostra
A amostra compreende 91 empresas respondentes com 40 empresas utilizando
derivativos e 51 empresas que não utilizam derivativos. A tabela 2 abaixo compara
nossa pesquisa com outras realizadas anteriormente:
Tabela 2 - Uso de derivativos entre países
Fonte: Elaboração própria com dados adaptados de Saito e Schiozer (2005).
A pesquisa realizada por Saito e Schiozer (2005) apresentou um percentual mais
alto de usuários de derivativos entre as empresas respondentes. Como sua amostra
era apenas de empresas de capital aberto, sugerimos que se tratam de empresas
com maior refinamento administrativo financeiro e, portanto, mais suscetíveis à
utilização de instrumentos de administração de risco como os derivativos. Nossa
País Ano
N
o
de Pesquisas
N
o
de
Respostas
% de
Respostas
% de
Usuários
de
Derivativos
Brasil 2006 500 91 18.2% 44%
Brasil 2004 378 74 19,6% 57%
EUA 1998 1928 399 20.7% 50%
EUA 1995 2000 350 17,5% 41%
EUA 1994 2000 530 26,5% 35%
Alemanha 1998 368 126 34,2% 78%
Holanda 1998 167 84 50,3% 60%
Reino Unido 2002 401 173 43,1% 67%
Suécia 2003 261 134 51,3% 59%
Suécia / Coréia 2001 250 / 387 103 / 60 41.2% / 15.5% 57% / 62%
72
amostra compreendia empresas de capital fechado e aberto, apesar de contar com
empresas de grande porte. O percentual de respostas no Brasil é inferior aos outros
países, talvez pela cultura de participação de pesquisas ou falta de interesse por
parte dos administradores.
B) Mudança na Intensidade do Uso
As evidências nos sugerem que o uso de derivativos vem aumentando a cada ano
como pudemos observar na introdução do trabalho. Para avaliar este fato, fizemos
uma pergunta para confirmar se as empresas estão aumentando ou não o uso de
derivativos em relação ao ano anterior. O gráfico 6, abaixo, responde esta questão.
Uso de derivativos comparado ao ano anterior
43%
25%
33%
0% 10% 20% 30% 40% 50%
uso cresceu
uso diminuiu
uso permaneceu
constante
Gráfico 6 – Uso de derivativos comparado ao ano anterior
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa de campo.
O uso cresceu em 43% e o uso diminuiu em 25% dos casos. Este número de
diminuição do uso parece ser grande, mas faz sentido no cenário encontrado no
Brasil em 2005 com redução de risco país, revalorização do real e preços de
commodities em alta. As empresas poderiam assumir mais riscos em cenários mais
positivos. O crescimento de 43% apenas confirma o aumento da importância destes
instrumentos para as empresas brasileiras.
73
Saito e Schiozer (2005) mostram-nos que estes números variaram pouco quando
comparados ao período 2002-2003 (42,9% de crescimento, 38,1% de uso constante
e 19,1% de diminuição). Os números variam mais quando comparados ao período
de 2001-2002 (76,2% de crescimento, 16,7% de uso constante e 7,1% de
diminuição). O ano de 2002 foi caracterizado pelas eleições presidenciais e grandes
oscilações de mercado. A taxa Real/Dólar variou de 2,2701 a 3,9544, enquanto que,
em 2003, o intervalo foi de 2,8211 a 3,6615 e, em 2005, o intervalo foi de 2,1633 a
2,7621. O ponto importante é que nós pudemos observar um sólido crescimento do
uso de derivativos nos últimos anos, destacando a importância do entendimento
desta ferramenta financeira.
C) Fator de Risco
A pesquisa queria descobrir qual o fator de risco que preocupava as empresas e as
levava ao uso de derivativos. Dividimos em quatro categorias de risco: moeda
estrangeira, taxa de juros, commodities e patrimônio. A tabela 3 abaixo nos
apresenta as respostas:
Tabela 3 – Uso de derivativos segundo o fator de risco
O destaque sem dúvida se dá ao uso de derivativos para moeda estrangeira. A alta
volatilidade do real frente às outras moedas fez com que 100% da nossa amostra
utilizasse derivativos em algum momento no período. O uso de derivativos para taxa
de juros foi de 59%, abaixo do esperado, talvez pela política clara de redução de
juros em cortes pequenos e constantes praticada pelo Banco Central do Brasil no
período. Temos ainda, com 56%, o uso de derivativos com commodities e 30% com
Fator de Risco Nunca Às vezes Quase sempre Sempre
Moeda Estrangeira 0% 10% 20%
70%
Taxa de Juros
41% 35% 15% 9%
Commodities
44% 34% 16% 6%
Patrimônio
70% 23% 7% 0%
Fonte: elaboração própria com os dados da pesquisa de campo
74
patrimônio. Em muitos casos, o hedge do patrimônio pode ser feito no exterior no
caso de empresas multinacionais.
Em 2004, segundo a pesquisa de Saito e Schiozer (2005), os derivativos para
moeda também tiveram destaque com 95,2% de usuários e os derivativos para juros
tiveram 83,3% de usuários. Na tabela 4 abaixo, encontramos um comparativo entre
diversas pesquisas:
Tabela 4 - Uso de derivativos segundo o fator de risco em diversas pesquisas
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa de campo e pesquisas anteriores.
D) Monitoramento e Controle do Uso dos Derivativos
Neste item, a pesquisa visava à obtenção de informações referentes à preocupação
e administração das empresas quanto ao uso de derivativos.
Solicitamos a classificação sobre o grau de preocupação em diferentes níveis desde
a categoria “não há preocupação”, passando por “baixa” e “média” preocupação até
atingir “alta” preocupação nos seguintes itens: tratamento contábil, risco de crédito,
risco de mercado, monitoramento e mensuração dos resultados, reação de analistas
de mercado e investidores, obrigações perante a órgãos reguladores, liquidez do
derivativo e custo e benefício. Quatro itens atingiram índices de mais de 50% da
amostra em categoria de “alta preocupação”: tratamento contábil, monitoramento e
mensuração dos resultados, liquidez do derivativo e custo e benefício. Os itens
assinalados podem não surpreender devido ao cenário no qual as empresas vivem
País
Realização
da Pesquisa
Moeda Juros Commodities
Patrimônio /
Outros
Brasil 2006 100% 59% 56% 30%
Brasil 2004 95% 83% 36% 21%
EUA 1997 83% 78% 56% 34%
Alemanha 1997 96% 89% 40%
Reino Unido 2001 64% 47% 9% 8%
75
atualmente com normatizações no Brasil e exterior sobre o uso de derivativos que
leva a preocupações contábeis; o alto custo do hedge no Brasil que leva a
preocupações de custo e benefício; e a alta volatilidade dos ativos que nos leva a
preocupações com monitoramento e liquidez dos derivativos.
Na administração dos derivativos, 48% das empresas respondentes utilizam as
bolsas no Brasil e 70% utilizam o mercado interno de balcão para realizar suas
operações de derivativos. Apenas 20% das empresas realizam operações na bolsa
no exterior e 33% no mercado de balcão no exterior. A eliminação de impostos
incidentes no Brasil pode alavancar os números de derivativos utilizados
principalmente na bolsa. Exemplos como a cobrança de Programas de Integração
Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), no
passado, distorciam o mercado local do exterior fazendo com que muitas empresas
buscassem proteção no exterior.
A BM&F, nos contratos em dólar, se caracteriza pela falta de liquidez nos prazos
superiores a 1 mês, possibilitando apenas operações de curto prazo com rolagens
mês a mês, fazendo com que empresas que queiram contratar derivativos mais
longos partam para o mercado de balcão. No mercado de juros, a liquidez é
presente em algumas datas específicas no horizonte de até um ano. No mercado de
commodities, a BM&F se destaca com liquidez nos mercados agrícolas como café,
álcool, boi gordo, açúcar, entre outros.
A pesquisa também buscou informações sobre acompanhamento de risco, política
da empresa, monitoramento dos resultados e informativos para o alto escalão da
empresa, obtendo os seguintes resultados:
55% da amostra calcula o VAR;
93% possuem uma política de uso de derivativos definida;
49% precificam os derivativos diariamente (vide gráfico 7 a seguir);
76
52% reportam o uso de derivativos para a diretoria mensalmente (vide gráfico
8 a seguir);
73% usam dealers e/ou parceiros para precificar os derivativos, 77% utilizam
sistemas internos e 50% usam sistemas de informação (Bloomberg, Agência
Estado, Reuters, entre outros).
Freqüência de Precificação dos Derivativos
49%
5%
30%
0%
3%
8%
5%
diariamente
semanalmente
mensalmente
trimestralmente
anualmente
não precifica
outros
Gráfico 7 – Freqüência de precificação de derivativos
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa de campo.
Informações para a Diretoria
semanal
35%
mensal
52%
trimestral
3%
outros
10%
Gráfico 8 – Freqüência de informações para a diretoria
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa de campo.
77
Os resultados sugerem que as empresas no Brasil já seguem uma política de uso de
derivativos limitando os riscos que os administradores podem sofrer, entretanto,
apenas parte delas está calculando o tamanho monetário de risco que sua empresa
está correndo. As informações são acompanhadas pela diretoria da empresa e
grande parte precifica, pelo menos mensalmente, os resultados de seus derivativos
buscando uma maior segurança em seu uso. Nestes pontos, encontramos uma certa
preocupação, pois parte da amostra não acompanha os resultados dos derivativos
no dia-a-dia, nem calcula uma potencial perda que seus derivativos possam
provocar nos seus resultados. Talvez as políticas de uso de derivativos devam ser
revistas nos dando maiores questionamentos para o futuro.
Quando comparado aos americanos, na pesquisa de Bodnar, Marston e Hayt (1998),
ficamos surpreendidos como os números do Brasil são positivos. Cerca de 50% das
empresas americanas não têm freqüência definida para informar à diretoria sobre o
seu uso de derivativos. Apenas 4% informa mensalmente, 23% trimestralmente e
17% anualmente. No campo da precificação, 19% calculam seus derivativos
diariamente, 9% semanalmente, 27% mensalmente, 21% trimestralmente e 5%
anualmente. Os números sugerem um controle muito inferior quando comparado às
empresas brasileiras. A menor volatilidade dos ativos, o menor custo de manutenção
dos derivativos, a falta de conscientização dos administradores na época da
pesquisa, poderiam explicar parte desta diferença. As pesquisas envolvendo
alemães e ingleses apresentaram números mais positivos que os das empresas
americanas.
E) Objetivo do Uso do Derivativo
Neste item, a pesquisa visava à principal função do uso de derivativo. Conforme o
gráfico 9 a seguir, a pesquisa sugere que as empresas brasileiras utilizam os
derivativos principalmente para se hedgear. Não tivemos nenhuma escolha do uso
de derivativo para a especulação. Como a pergunta se dirigia para o uso principal do
derivativo, não podemos afirmar que as empresas não especulam, e sim que elas se
utilizam principalmente dos derivativos para proteger suas posições.
78
Função do Derivativo
68%
18%
15%
0% 0%
0%
25%
50%
75%
100%
reduzir
volatilidade
de
resultados
reduzir
volatilidade
de fluxo de
caixa
reduzir
custos e
aumentar
lucro
especular aumentar o
valor da
empresa
Gráfico 9 – Função do derivativo
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa de campo.
Este resultado vem ao encontro da pesquisa de 2004, na qual Saito e Schiozer
(2005) afirmam que os administradores brasileiros usam os derivativos
principalmente para tomar posições defensivas e não de especulação.
4.2.2 Administração da Exposição Cambial
A) Exposição Cambial
Este item da análise visa ao entendimento do uso dos derivativos na administração
da exposição cambial. Como vimos anteriormente, o uso de derivativos ligados ao
câmbio é o mais difundido na amostra com 100% das empresas que usam
derivativos usando derivativos de moeda.
Antes de iniciarmos uma análise mais profunda, gostaríamos de observar a
exposição das empresas em relação ao câmbio. A tabela 5, a seguir, nos mostra a
relação da amostra e o câmbio:
79
Tabela 5 - Receitas e despesas em moeda estrangeira
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa de campo.
Como pudemos observar na tabela, 42% das empresas respondentes possuem 30%
ou mais da receita operacional relacionada em moeda estrangeira e 34% possuem
30% ou mais despesa operacional relacionada em moeda estrangeira. Muitas
dessas empresas podem realizar um hedge natural, ou seja, diminuir sua exposição
atrelando ativos e passivos. Não podemos afirmar que a exposição líquida dessas
empresas seja alta, entretanto os resultados comprovam grande atividade
operacional em moeda estrangeira.
Além de procurarmos entender a exposição cambial destas empresas, perguntamos
qual seria a moeda funcional
7
com a qual as empresas respondentes trabalhavam. O
gráfico 10 nos apresenta as respostas:
7
O parágrafo 39 do FAS52 define moeda functional como: “An entity’s functional currency is the
currency of the primary economic environment in which the entity operates; normally, that is the
currency of the environment in which an entity primarily generates and expends cash”.
Exposição Cambial Receitas Custos
-50% + 21%
-45% 0%
-40% 5%
-35% 0%
-30% 8%
-25% 11%
-20% 11%
-15% 18%
-10% 8%
-5% 13%
0% 8% 5%
5% 8%
10%
11%
15%
26%
20%
0%
25%
5%
30%
16%
35%
0%
40%
8%
45%
0%
50% +
18%
% de Empresas Respondentes por Categoria
80
Moeda Funcional
25%
0%
3%
73%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Real Dólar Euro Outros
Gráfico 10 – Moeda Funcional
Fonte: elaboração própria com dados da pesquisa de campo.
A grande maioria das empresas trabalha com moeda funcional Real, algumas
multinacionais trabalham em moeda funcional Dólar.
B) Transações com Derivativos de Moeda
A pesquisa procurou mapear em que tipo de transação os derivativos de moeda
eram aplicados. A tabela 6 abaixo mostra a relação de uso dos derivativos:
Tabela 6 - Uso dos derivativos de moeda
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa de campo.
NA Às Vezes Freqüentemente
Remessa de dividendos 77.8% 16.7% 5.6%
Obrigações "on-balance" 21.1% 18.4% 60.5%
Obrigações "off-balance" 69.4% 11.1% 19.4%
Transações antecipadas de menos de 3 meses 40.0% 34.3% 25.7%
Transações antecipadas de 3 a 6 meses 41.2% 32.4% 26.5%
Transações antecipadas de 6 meses a 1 ano 44.1% 32.4% 23.5%
Transações antecipadas mais de 1 ano 64.7% 26.5% 8.8%
Exposição econômica ou competitiva 38.9% 33.3% 27.8%
Conversão de valores contábeis 47.1% 29.4% 23.5%
81
O uso de derivativos de moeda ficou muito atrelado a obrigações “on-balance” com
78,9% de uso entre as empresas respondentes que usam derivativos e para
obrigações de prazo até 1 ano com média de 58,2% de média de uso. Derivativos
com prazos superiores a 1 ano apresentaram pouca utilização provavelmente pelo
alto custo e devido às incertezas que prazos maiores trazem.
C) Horizonte de Hedging
Para cada uma das categorias apresentadas no quadro anterior, a pesquisa buscava
encontrar o período do tempo utilizado para hedgear as exposições. Nós tivemos
quatro tipos de horizonte: hedge mais curto que a maturidade da exposição, hedge
compatível com a maturidade da exposição, hedge mais longo que a maturidade da
exposição e hedge até o final do período corrente (e.g.: ano fiscal). As respostas
ficaram concentradas nos períodos mais curtos, hedge mais curto que a maturidade
e hedge compatível com a maturidade. Podemos destacar que 70% utilizam estes
dois tipos de horizonte para obrigações contratuais, 47,5% para obrigações
antecipadas e 40% para exposição econômica. As outras alternativas não tiveram
respostas significativas. Mais uma vez, percebemos o efeito “curto prazo” nas
operações de derivativos, as empresas ou fazem hedge mais curto que a exposição
ou garantem a maturidade da exposição.
Neste item também solicitamos para as empresas dividirem seu portfólio de
derivativos nos seguintes prazos contratuais abaixo:
Tabela 7 - Prazos para contratação de derivativos
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa de campo.
Quase 90% das contratações de derivativos foi feito em um prazo de até 360 dias. O
alto custo de hedge e a grande volatilidade das moedas fazem com que grande
45 dias ou
menos
46 a 90
dias
91 a 180
dias
181 a 360
dias
1 a 2 anos
Percentual dos
Derivativos de Moeda
15.1% 32.1% 23.5% 18.7% 10.7%
82
parte dos contratos sejam feitos em um prazo reduzido. A grande concentração ficou
em derivativos contratados de 46 a 180 dias com 55,6% dos derivativos contratados.
D) Uso de Benchmark
Nós perguntamos para as empresas qual benchmark elas utilizavam para avaliar o
uso de seus derivativos e administrar seus derivativos de moeda quanto ao
planejamento inicial. Vejamos a tabela 8 abaixo:
Tabela 8 - Benchmark dos Derivativos de Moeda
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa de campo.
Trinta e cinco por cento (35%) das empresas simplesmente não faz benchmark dos
seus derivativos de moeda. 43% fazem comparações a taxas a termo no período e
15% fazem comparações com taxas à vista no início do período. Nós entendemos
que a melhor comparação seria a utilização das taxas a termo no período, as taxas à
vista não trazem informações adicionais de custo de hedge. Algumas empresas se
utilizam de comparações com posições totalmente hedgeadas e posições totalmente
abertas buscando avaliar o seu desempenho e outras simplesmente calculam o
resultado dos derivativos. Cabe a cada liderança da empresa criar mecanismos de
monitoração e avaliação de desempenho para estimular seus administradores
financeiros a agregar valor para a empresa.
Na próxima tabela, podemos comparar algumas das pesquisas em relação ao
benchmark de moeda:
Benchmark
%
Não usa Benchmark 35%
Taxas a termo disponíveis no início do período 43%
Taxas à vista no início do período 15%
Outro Benckmark 8%
83
Tabela 9 - Benchmark dos derivativos de moeda
nas pesquisas
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa
de campo e pesquisas anteriores.
4.2.3 Administração da Exposição de Juros
Um total de 59% de empresas que usam derivativos se utiliza de derivativos para
administrar a exposição de juros. Juntamente com o cenário econômico positivo de
2005, a política consistente do Banco Central Brasileiro com cortes pequenos e
constantes, sem grandes surpresas, devem ser alguns dos principais fatores para
que as empresas não utilizem derivativos para juros. Na tabela 10 abaixo, podemos
visualizar a utilização dos derivativos para as empresas respondentes:
Tabela 10 - Uso de derivativos para juros
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa de campo.
O grande destaque fica para categorias de swap de taxa fixa de juros para flutuante
e vice-versa. O destaque é a freqüência, a categoria “às vezes” aparece muito mais
País
Realização
da Pesquisa
Não fazem
benchmark
Moeda
Brasil
2006 35%
Brasil
2004 13%
EUA
1997 44%
Reino Unido 2001 18%
Categoria de Swap
Não
Aplicável
Nunca Às vezes Freqüentemente
taxa fixa para taxa flutuante 7.7% 15.4% 69.2% 7.7%
taxa flutuante para taxa fixa 13.3% 6.7% 60.0% 20.0%
fixar spread 15.4% 23.1% 46.2% 15.4%
fixar custos baseado na
ex
p
ectativa do mercado
25.0%
25.0% 50.0% 0.0%
84
que a categoria “freqüentemente”, diferentemente da exposição de moeda, onde o
uso freqüente é bem maior.
No caso do benchmark, o uso dos derivativos está em sua maioria ligado aos custos
do CDI. Vejamos a tabela 11 abaixo:
Tabela 11 - Benchmark dos derivativos de juros
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa de campo.
Existe uma grande cultura de investimentos e dívida atrelado ao CDI no Brasil. Os
títulos do governo emitidos antigamente em grande parte ligados à taxa básica de
juros fizeram com que se desenvolvesse um grande mercado atrelado a estas taxas.
A possibilidade de alterações das taxas como medida econômica por parte do Banco
Central também traz inseguranças para tomada de posições em taxas prefixadas.
Na tabela abaixo, podemos comparar algumas das pesquisas em relação ao
benchmark dos juros:
Tabela 12- Benchmark dos derivativos de juros nas
pesquisas
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa
de campo e pesquisas anteriores.
O Brasil parece avaliar melhor o desempenho dos seus administradores financeiros
quando comparado ao exterior. Não podemos afirmar que se trata de uma evolução
Benchmark
%
Não usa Benchmark 30.0%
Custos relativos ao CDI 62.5%
Outros 7.5%
País
Realização
da Pesquisa
Não fazem
benchmark
Juros
Brasil 2006 30%
Brasil 2004 22%
EUA 1997 47%
Reino Unido
2001 50%
85
dos anos ou se os riscos e alta volatilidade no Brasil sugerem um maior controle por
parte das empresas.
4.2.4 Contratos de Opções
A pesquisa nos mostra que 35% dos usuários de derivativos não usam opções, 36%
por causa principalmente do seu custo e 36% por políticas da empresa, nós tivemos
ainda 14% devido à dificuldade de mensuração e monitoramento e 14% por outros
motivos.
O uso de opções envolve uma série de mecanismos mais técnicos, conforme
observamos neste trabalho, tornando a opção uma ferramenta mais avançada. A
alta volatilidade dos ativos no Brasil, que aumenta diretamente o seu custo, e o seu
alto poder de alavancagem, também podem ser outros fatores contribuintes para a
redução de seu uso.
O uso das opções segundo as suas categorias pode ser resumida conforme a tabela
13 abaixo:
Tabela 13 - Uso das opções
Câmbio Juros
Commodities
Patrimônio
Opções Americanas 10.0% 0.0% 10.0% 0.0%
Opções Européias 30.0% 12.5% 10.0% 2.5%
Opções Asiáticas 12.5% 10.0% 7.5% 0.0%
Opções com Barreira 20.0% 7.5% 10.0% 0.0%
Combinações de opções 25.0% 12.5% 10.0% 2.5%
Outros 12.5% 0.0% 0.0% 0.0%
Fonte: elabora
ç
ão
p
p
ria com os dados da
p
es
q
uisa de cam
p
o
86
O uso de opção ficou mais concentrado em moedas. Devemos destacar as opções
européias e as combinações de opções. O mercado de 2005 foi muito positivo para
o Real fazendo com que muitas moedas fortes como o dólar se desvalorizassem.
Este cenário otimista fez com que muitos bancos apresentassem estruturas como o
zero cost collar como opção para as empresas se protegerem diminuindo seus
custos de hedge, aumentando o uso combinado de opções.
4.2.5 Empresas que Não Usam Derivativos
A pesquisa procurou obter dados para explicar o não uso de derivativos por parte
destas empresas. Nós apresentamos uma série de opções: exposição muito
pequena, exposição é administrada de outra forma, dificuldade de precificação e
mensuração de derivativos, tratamento contábil, obrigação com órgãos regulatórios
(CVM, CETIP, Secretaria da Receita Federal - SRF, etc.), preocupação da opinião
de investidores, órgãos regulatórios e o público sobre o uso de derivativos, o custo
de manter, implementar e controlar um programa de derivativos é maior que os
benefícios esperados, matriz no exterior (ou diretoria da empresa local) não permite
e outros. Nós solicitamos ao entrevistado escolher 3 itens em ordem de importância.
A grande maioria das respostas, com 69% de escolha entre os entrevistados como
um dos 3 itens importantes, foi a opção da exposição muito pequena. A segunda,
com 44% dos votos, foi a opção da administração da exposição feita de outra forma.
Outros três itens: dificuldade de precificação, o custo-benefício de manter e
implementar um programa de derivativos e matriz no exterior (ou diretoria da
empresa local) não permite, também tiveram cerca de 20% dos votos.
Uma segunda pergunta clarifica bem a importância da exposição da empresa quanto
ao uso do derivativo. Perguntamos quanto de sua receita operacional e quanto de
seus custos operacionais eram em moeda estrangeira. Cerca de 80% dos
respondentes que não usam derivativos afirmaram que menos de 15% de sua
87
receita é em moeda estrangeira e cerca de 63% afirmaram que menos de 15% de
seus custos operacionais é em moeda estrangeira. Aliando a resposta que 44%
administram a exposição de outra forma, podemos sugerir que grande parte destas
empresas realiza encontros de seus ativos e passivos em moeda estrangeira
fazendo hedge natural de suas posições diminuindo a exposição líquida da empresa.
Saito e Schiozer (2005) destacam como os principais motivos que levam as
empresas a não usarem derivativos: administração da exposição de outra forma,
exposição pequena e custo e benefício, destacando impostos.
88
5 CONCLUSÃO
Este trabalho teve por objetivo identificar diversos aspectos do uso de derivativos por
empresas não-financeiras de grande porte no Brasil a partir das respostas a
questionários enviados para executivos financeiros. Nós avaliamos o uso dos
derivativos, a mudança da intensidade do uso, os fatores de risco envolvidos,
monitoramento e controle do uso, seus objetivos e principalmente o tratamento de
exposição cambial e de juros.
Na amostra considerada, percebemos que quase a metade das grandes empresas
utiliza os derivativos. Os derivativos mais usados foram relacionados a moedas,
juros, commodities e patrimônio, nesta ordem, conforme as pesquisas anteriores
demonstravam. O uso de derivativos também continua crescente e o principal
objetivo continua sendo a proteção e não a especulação. As empresas continuam
trabalhando com contratos curtos de até um ano de duração.
Cerca de um terço dos usuários não fazem o uso de benchmark em derivativos
ligados a moeda e juros. Talvez uma política de benchmark pudesse estimular e
avaliar melhor o desempenho dos administradores financeiros.
Um ponto que devemos destacar é sobre o monitoramento e controle do uso dos
derivativos. Observamos um grande espaço para desenvolvimento dos
administradores financeiros. Quase metade das empresas não calcula seu montante
monetário de risco que está correndo (VAR) e metade não precifica seus derivativos
diariamente, mesmo tendo, em quase a totalidade dos casos, uma política de uso de
derivativos definida. No Brasil, pudemos confirmar uma maior preocupação de
controle e monitoramento quando comparado aos outros países, talvez pela alta
volatilidade dos ativos ou pelo amadurecimento das empresas ao longo do tempo. A
falta de monitoramento pode levar as empresas a afetar os seus resultados como
pudemos observar no início deste trabalho.
89
Os principais motivos que levaram as empresas a não usar os derivativos foram a
existência de exposição muito pequena e administração da exposição de outra
forma. Itens como dificuldade de precificação, custo-benefício de manter e
implementar um programa e políticas de empresas também foram citados. As
instituições financeiras e bolsas de valores poderiam realizar um trabalho ativo
buscando um maior entendimento dos instrumentos financeiros por parte das
empresas e menores custos de administração como custos de transação e impostos.
Este trabalho visa um passo adicional no processo de entendimento do uso dos
derivativos pelas grandes empresas brasileiras, possibilitando comparações de
gestão de riscos, definições de controle, desenvolvimento do mercado financeiro
brasileiro e estabelecer melhorias nas técnicas de administração de exposições
financeiras. Estudos ligados ao perfil dos administradores, bem como processo de
tomada de decisões poderiam enriquecer o entendimento do tema em futuros
trabalhos.
As principais limitações do trabalho estão ligadas à busca de informações
qualitativas do processo de uso dos derivativos. A pesquisa consegue algumas
informações quantitativas que nos levam a algumas conclusões, entretanto
sugerimos uma continuidade do estudo com pesquisas mais qualitativas e de
questões abertas para um futuro debate sobre o tema.
90
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