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gena, localizados em áreas marginais, extremamente reduzidas (menos de 5 hectares)
e com alto índice demográfico
134
. Para a CEPAL, o caso ejidal ultrapassava os aspec-
tos da baixa produtividade. Além desse problema, aquela forma de minifúndio antie-
conômico também era inapropriada à modernização agrícola, pois provinha de prá-
ticas seculares, sustentadas em valores, hábitos e cultura do trabalho e visão da terra
distinta da sociedade e da economia capitalista
135
.
Os dados censitários da estrutura fundiária chilena e mexicana, conforme
indicado nas Tabelas 8, 9(A) e 9(B), do Anexo, retratam a característica regional da
concentração da propriedade da terra e da distribuição da população rural. No Chi-
le, segundo Censo de 1935-36, os estratos com menos de 20 hectares representavam
72,3% dos estabelecimentos agrícolas, porém somente 2,5% da área. Entre os dois
índices do estrato (72,3/2,5) havia uma diferença de quase 29 vezes. Já os estratos
com mais de 500 hectares representavam 2,7% e 81,2%, respectivamente. Entre estes
últimos índices a diferença ultrapassava 30 vezes. Mas, tratando-se da concentração
da propriedade e da posse da terra, a diferença mantém as proporções: comparati-
vamente à área dos grandes estabelecimentos, era 32,4 vezes maior do que os estratos
com menos de 20 hectares; com relação ao número de proprietários, os estabeleci-
mentos com menos de 20 hectares ultrapassavam em mais de 26 vezes o número de
proprietários de estabelecimentos com mais de 500 hectares.
Utilizando os dois estratos extremos, menos de 5 e mais de 1.000 hectares, as
diferenças aumentam significativamente. Os estabelecimentos menores eram, em
número, 32,73 vezes mais do que os maiores, enquanto que estes últimos tinham
125,17 vezes mais terras do que os menores.
No México, segundo o Censo de 1940, as desigualdades eram expressivas. As
áreas com menos de 5 hectares representavam 76,2% dos estabelecimentos, porém
somente 1,2% da área total. Ao estrato com mais de 1.000 hectares correspondia a
apenas 0,8% dos estabelecimentos e 79,3% da superfície total. A diferença entre am-
bos atingia mais de 95 vezes (76,2/0,8) para os dados entre os estratos de área; e, mais
de 66 vezes (79,3/1,2) para a participação na área total. Já as diferenças entre os indi-
cadores em cada estrato eram 63,5 vezes mais (76,2/1,2) e 99,13 vezes (79,3/0,8), res-
pectivamente.
Para a CEPAL, o problema da estrutura fundiária era pensado na perspecti-
va do crescimento da economia e da população. A relação entre ambos, porém, indi-
cava as condições e/ou insuficiências à absorção produtiva da mão-de-obra. Para
compreender efetivamente o problema da insuficiência no/do círculo vicioso, deve-se
vinculá-lo ao problema da absorção produtiva da força de trabalho, seja no meio
rural e suas atividades primárias, como na sua transferência ao meio urbano e nas
134
A população indígena ejidal vinha a ser a principal fonte de mão-de-obra utilizada nas grandes haciendas
mexicanas (agrícolas ou mineradoras) de forma temporária e mal-remunerada, ocorrendo situações de semi-
escravidão. Se o ejido mexicano foi julgado como uma prática secular e antiquada ao desenvolvimento agrá-
rio, baseado na técnica moderna, certamente este problema ultrapassava aquele país. Afinal, grande parte da
população centro-americana e andina era indígena, afora a presença das populações afro-americanas que não
tinham origens nem descendências européias.
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Na correlação entre a estrutura fundiária mexicana e seu estado de desenvolvimento agrícola os extremos
antieconômicos não possuem uma relação direta, nem eram indicados como focos à reforma agrária desen-
volvimentista: “O fato de que os estabelecimentos com menos de 5 ha. constituam 76,2% do número total e
apenas correspondem a 1,2% da supercífie censada, não significa que ainda exista grande quantidade de
terra agrícola, mediante a qual se poderia sair do minifúndio as custas do latifúndio, pois é um fato reco-
nhecido no México que os grandes estabelecimentos não estão agora em terras cultiváveis, mas em superfí-
cies destinadas à explorações pecuárias (...), necessitam grandes extensões para funcionar economicamen-
te; em explorações florestais, nas que ocorrem o mesmo, ou simplesmente em campos improdutivos, por seu
caráter montanhoso, quebrado ou desértico” (CEPAL, 1951a, p. 452-453, grifo nosso).