arqueológicos e com o ambiente, buscando
uma leitura espacial mais abrangente.
O estudo de gravuras em áreas litorâneas requer a análise dos contextos geográfico e
arqueológico. Como demonstramos anteriormente, os sítios em ambientes insulares são
predominantes, visto que 89,2% dos sítios estudados estão localizados em ilhas. Cada ilha é
um ecossistema individualizado, por caracterizar-se pelo seu isolamento geográfico e sua
área relativamente reduzida (Mazzer, 1999: 1). Para a arqueologia, a ocupação humana em
ilhas oferece um recorte espacial predeterminado, em que é possível verificar adaptações
ambientais, já que os recursos naturais são mais limitados nos ecossistemas insulares
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(Lima, 1997: 57). Segundo Tânia Andrade Lima:
A ocupação de uma ilha por uma população humana pressupõe o domínio de uma
tecnologia de locomoção através de massas d’água, o que implica em intencionalidade
não apenas do deslocamento, mas também da instalação nesse tipo de habitat. Tal
tecnologia, associada a fatores como distância, condições climáticas e de
navegabilidade dessas massas, é que determina a natureza e a freqüência da
comunicação com outros grupos, quer situados em outras ilhas, quer no continente,
além, evidentemente, dos estímulos ou inibições de ordem cultural, como redes de
trocas, competições, guerras, etc. Nesse sentido, a água pode atuar tanto como um fator
impeditivo de contatos, quanto um elemento de ligação, favorecendo-os. (1997: 56)
Os estudos da ocupação de populações pré-históricas em ilhas marítimas estiveram,
até o momento, voltados para a organização social, para os processos adaptativos em
ambientes costeiros e para a análise dos padrões de assentamento (Gaspar, 1991; Lima,
1991; Fossari, 2004). O estudo integrado da ocupação de ilhas continentais do litoral sul-
brasileiro e o papel simbólico da utilização das mesmas, ainda não foi alvo de pesquisas
arqueológicas. Em estudo de síntese, Prous & Piazza chamaram a atenção para possíveis
usos que fogem da necessidade de subsistência destas populações litorâneas. Estes autores
citam, em especial, a Ilha Santa Ana (município de Imbituba), onde foram encontrados
vários zoólitos, sem evidência de sítios de habitação ou de trabalho (1977: 112-113).
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Como pode-se concluir, a partir das pesquisas de De Masi e Fossari, esta afirmação só pode ser considerada
válida para ilhas de porte médio e pequeno. No caso da Ilha de Santa Catarina, os recursos naturais foram
amplos para as populações pré-históricas: rios, lagoas, mangues, dunas, formações vegetais diversas, fauna
aquática e terrestre, além dos recursos marinhos (De Masi, 2001; Fossari, 2004).