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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em História
As representações rupestres do litoral de Santa Catarina
Fabiana Comerlato
Orientador: Prof. Dr. Denis Jean Paul Vialou
Co-orientador: Prof. Dr. Arno Alvarez Kern
2005
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2
FABIANA COMERLATO
As representações rupestres do litoral de Santa Catarina
Tese apresentada como requisito parcial e
último à obtenção do grau de Doutor.
Programa de Pós-Graduação em História,
Área de Concentração Arqueologia, Linha de
Pesquisa: Sociedade, Cultura Material e
Povoamento. Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul.
Professor Orientador: Dr. Denis Jean Paul Vialou
Co-orientador: Prof. Dr. Arno Alvarez Kern
Ilha de Santa Catarina
2005
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4
AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos as seguintes pessoas e instituições:
A Pós-Graduação de História da PUCRS por apostar na viabilidade do projeto e
pela concessão de bolsa do CNPq;
O apoio e estímulo do professor Dr. Arno Alvarez Kern;
As orientações do professor Dr. Denis Vialou, as oportunidades que tive em poder
escutá-lo foram um verdadeiro aprendizado, que me fizeram refletir sobre o porquê e como
podemos “ler” as representações rupestres. Sua orientação nesta trajetória foi, e é, muito
importante;
Ao professor Klaus Hilbert e aos professores do Programa de Doutorado
Internacional da PUCRS;
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico;
A secretária da PPGH/PURS, Carla Pereira;
Aos professores: Dra. Tânia Andrade de Lima, Dr. Igor Chmyz, Dr. André Prous;
Dr. Pedro Agostinho da Silva e Dr. Edison Tomazzolli;
A professora Dra. Águeda Vialou por ter-me aceitado na equipe da Missão Franco-
Brasileira em Mato Grosso de 2002, oportunizando importantes experiências;
Ao Dr. Marco Aurélio Nadal de Masi que viabilizou o apoio institucional da
UNISUL;
Ao Museu do Homem do Sambaqui “Pe. Rohr”, especialmente ao diretor Humberto
Luiz Sobierajski e a Sidney Linhares;
Ao Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville, em especial a Adriana e a Dione
Bandeira;
Ao Museu Universitário “Prof. Oswaldo Rodrigues Cabral” da UFSC, em especial
ao diretor Gelci Coelho (Peninha) e a Teresa Fossari;
Ao Instituto Anchietano de Pesquisas, em especial a Ivone;
5
Ao apoio da 11
a
Superintendência Regional do IPHAN, ao seu superintendente
Dalmo Vieira Filho, a Cinthia Chamas, a Rossano Lopes Bastos, a Célia, a Ana Lúcia e
Ana Paula;
Ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), em
especial a Gerência da Reserva Marinha do Arvoredo;
A Polícia Ambiental de Santa Catarina;
A Associação de Pescadores Artesanais da Armação que possibilitou o transporte
gratuito a Ilha do Campeche na temporada 2002/2003;
A Associação Couto de Magalhães de Preservação da Ilha do Campeche, nas
pessoas dos seus diretores;
A Associação dos Monitores Ambientais da Ilha do Campeche e do Sul da Ilha de
Santa Catarina;
A Pousada da Ilha do Papagaio, especialmente Renato Sehn;
Ao Empreendimento Ilha de Porto Belo;
Aos colegas: Alexandre Afonso de Souza, Antônio Carlos Lopes (Cacau), Rodrigo
Aguiar, Ricardo Tókio, Gil Reus-Strenzel, Alexandre Mazzer, Claudia Cunha, Claudia
Mortari, Ana Lucia Herberts e a todos os demais que compartilhei histórias em comum
nestes últimos quatro anos;
De maneira muito especial a minha família (Glória, Nelson e Fernanda), que
vivenciou muitos momentos desta pesquisa, as “dicas” da mãe aos “descobrimentos” do
pai, tudo isto não seria possível sem vocês;
A uma pessoa, particularmente, Carlinhos, os agradecimentos não são suficientes e
nem bem-vindos, porque sua generosidade é tanta que lhe impede de avaliar a dimensão de
seus gestos. A ti o meu amor.
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RESUMO
Esta pesquisa tem como objeto às representações rupestres do litoral central
catarinense. Estes sítios de gravura são os únicos, até o momento, conhecidos na costa
brasileira. A área de estudo compreende uma faixa litorânea com extensão aproximada de
120Km, entre os municípios de Porto Belo e Garopaba. O levantamento arqueológico
sistemático ocorreu em 28 sítios, dentre os quais 26 são insulares. Os dados oriundos dos
trabalhos de campo foram processados em laboratório, gerando um acervo composto de
fotografias digitais, fichas de sítio e de gravura, estudos de composição, relevés e, por fim,
a criação do banco de dados ‘Memória Rupestre’.
Os sítios de representação rupestre do litoral central de Santa Catarina foram
inicialmente reconhecidos enquanto uma unidade espaço-temporal, que permitiu a criação
de uma “Tradição Litorânea Catarinense”. Em prol desta unidade, as convergências foram
destacadas e, em contraponto, as diferenças explicadas como fruto de contato(s) com outros
sistemas simbólicos. Desta maneira, o objetivo central foi verificar se as representações
rupestres do litoral de Santa Catarina possuem semelhanças significativas, que possam
levar a pensar em uma gramática plástica comum de populações pré-históricas que viveram
neste recorte espacial.
Com este objetivo, foram analisados seis aspectos: a distribuição geográfica, as
técnicas de confecção, as categorias de representação, a simetria, as técnicas gráficas e a
organização espacial (níveis micro, semi-micro e macro). Após a discussão dos dados,
foram analisadas possíveis recorrências na forma de instalação e distribuição, nas técnicas
de execução, nas formas das gravuras, no agenciamento (em painéis e em dispositivos
parietais) e na visibilidade e visualização das gravuras rupestres no contexto marítimo
catarinense. Por conseguinte, foi reavaliada a importância conferida a autoria destas
representações rupestres, como questão-chave ao entendimento das gravuras. Finalmente,
através da incorporação dos resultados das análises empreendidas, foi possível contribuir
com um novo olhar a problemática das representações rupestres do litoral de Santa
Catarina.
8
Palavras-chave: representações rupestres; litoral central catarinense; pré-história de Santa
Catarina.
9
ABSTRACT
This dissertation has as its subject matter the rock representations of the central
coastal region of the state of Santa Catarina, Brazil. This area is unique in that it holds the
only known sites of engravings in the Brazilian coastline. The area under study is a 120 Km
long strip of the coast and it is located between the cities of Porto Belo and Garopaba.
Twenty eight sites were studied, twenty six of these are on islands. Data collected in loco
was processed in laboratory and as a database, Memória Rupestre, consisting of digital
images, site files, studies of compositions and relevés was created.
At first the rock representation sites in the coast of Santa Catarina were classified as
a space-time unit which allowed researchers to identify a tradition of the representation,
Tradição Litorânea Catarinense”. In order to understand this unit of analysis common
features were put together. Divergent features are explained as the result of contact with
different symbolic systems. The main goal of this dissertation is to asses this proposal of
classification, thus I tried to investigate if the rock representation in the coast of Santa
Catarina has enough significant recurrent features to support the attempt of building a
common plastic grammar of the prehistoric populations that inhabited this region.
Having set this goal, six aspects were analyzed: geographic distribution, technique
employed in the execution of the representations; categories of representation, symmetry,
graphic technique and spatial organization (micro, semi-micro and macro level). After
discussing the data collected, possible recurrent aspects were analyzed: the ways the
representations are located and distributed; the techniques of execution; the forms of the
engravings; the association (in panels and arrangements of rock-representations), and the
visibility of the engravings in the context of Santa Catarina coastal region. The importance
of the authorship of the rock representation was reassessed as a key element for the
understanding of the engravings. Finally, after integrating the results of the analysis carried
out in the process, it was possible to contribute with a new perspective on the questions
concerning rock representation in the cost of Santa Catarina.
10
Key words: rock representation; central coast of Santa Catarina; prehistory of Santa
Catarina.
11
RESUMÉ
Cette recherche a pour objet les représentations rupestres dans le littoral central de
Santa Catarina. Ces sites de gravure sont les seuls, jusqu'au moment, connus dans la côte
brésilienne. La zone d'étude englobe une bande littorale avec une longueur d'environ 120
km, entre les villes de Porto Belo et Garopaba. Le relèvement archéologique systématique a
été fait dans 28 sites, parmi lesquels 26 sont insulaires. Les données originaires des travaux
de champ ont été traitées dans le laboratoire, ce qui a donné origine à un ensemble composé
de photographies numériques, fichiers de site et de gravure, études de composition, relevés
et, finalement, la création du fichier <<Mémoire Rupestre>>.
Les sites de représentation rupestre du littoral central de Santa Catarina ont été
premièrement reconnus comme une unité dans l'espace et dans le temps, ce qui a permis la
création d'une <<Tradition Littorale de Santa Catarina>>. Pour cette unité, les
convergences ont été mises en évidence et, en contrepoint, les différences expliquées
comme le fruit du (des) contact(s) avec d'autres systèmes symboliques. De cette manière,
l'objectif central a été de vérifier si les représentations rupestres du littoral de Santa
Catarina possèdent des ressemblances significatives, qui puissent faire penser à une
<<grammaire plastique>> commune aux populations préhistoriques qui ont vécu dans ce
découpage spatial.
Avec cet objectif, 6 aspects ont été analysés: la distribution géographique, les
techniques de confection, les catégories de représentation, la symétrie, les techniques
graphiques et l'organisation spatiale (niveaux micro, semi-micro et macro). Après la
discussion des données, des possibles récurrences ont été analysées dans la forme
d'installation et distribution, dans les formes des gravures, dans l'agencement (dans des
panneaux et dans des dispositifs pariétaux) et dans la visibilité et visualisation des gravures
rupestres dans le contexte maritime de Santa Catarina. Par conséquent, l'importance
conférée à la détermination des auteurs de ces représentations rupestres a été réévaluée,
comme question-clé à la compréhension des gravures. Finalement, à travers l'incorporation
des résultats des analyses réalisées, il a été possible de contribuer avec un nouveau regard à
la problématique des représentations rupestres dans le littoral de Santa Catarina.
12
Mots-Clés: représentations rupestres; littoral central de Santa Catarina; préhistoire de Santa
Catarina.
SUMÁRIO
Lista de figuras ........................................................................................................................xii
Lista de tabelas .......................................................................................................................xvi
Lista de gráficos.....................................................................................................................xvii
Lista de quadros....................................................................................................................xviii
Lista de abreviações................................................................................................................xix
1. Introdução..........................................................................................................................01
2. As representações da costa catarinense: do reconhecimento arqueológico à
apropriação como elemento de identidade local.................................................................06
3. Aportes conceituais e pressupostos metodológicos.........................................................18
3.1. Pensando sobre gravuras: delimitando os aportes conceituais ....................................19
3.2. Nas trilhas dos costões: metodologia para os sítios de representação rupestre ...........26
3.2.1. Procedimentos metodológicos de registro ...........................................................26
3.2.2. Condicionantes do registro das representações rupestres ....................................33
3.2.3. Procedimentos metodológicos de síntese e interpretativos..................................45
4. Analisando as representações rupestres do litoral catarinense.....................................46
4.1. Distribuição geográfica e caracterização dos suportes ................................................47
4.2. Técnicas de execução...................................................................................................57
4.3. Categorias de representação.........................................................................................64
4.4. Análise da simetria.......................................................................................................85
4.5. Técnicas gráficas..........................................................................................................96
4.6. Organização espacial .................................................................................................106
4.6.1. Nível micro.........................................................................................................106
4.6.2. Nível semi-micro................................................................................................113
4.6.3. Nível macro........................................................................................................119
5. Em busca de um modelo explicativo para as representações rupestres da
costa catarinense..................................................................................................................124
5.1. Etnia, tempo e espaço: uma revisão das interpretações do fenômeno
rupestre na costa catarinense.............................................................................................125
5.2. Um modelo explicativo para as representações rupestres da costa
catarinense ........................................................................................................................131
6. Considerações finais........................................................................................................136
13
7. Referências bibliográficas...............................................................................................142
8. Apêndices
Apêndice 1. Mapa com a localização dos tios de representação rupestre no
litoral catarinense
Apêndice 2. Mapa dos sítios arqueológicos pré-históricos da Ilha do Campeche
Apêndice 3. Mapa de localização dos sitos pré-históricos da Ilha de Santa
Catarina e ilhas adjacentes
Apêndice 4. Informações gerais sobre o banco de dados “Memória Rupestre”
Apêndice 5.
Ilha João da Cunha
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Ilha do Arvoredo I
Ficha do sítio
Ilha do Arvoredo V
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Ilha do Arvoredo VIII
Ficha do sítio
Ponta das Canas III
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 1: PTC-P1
Ingleses IV
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 2: IGL-P1
Santinho III
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 3: ST3-P1
Estudo de composição 4: ST3-D1
Estudo de composição 5: ST3-D2
Santinho II
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 6: ST2-D1
Santinho I
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 7: ST1-P1
14
Morro das Aranhas II
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Ilha das Aranhas Pequenas I
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 8: IAP-P1
Prainha da Barra
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Ponta do Caçador III
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Praia Mole I
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 9: PML-P1
Ferro Elétrico
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Pedra Preta do Norte
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 10: PPN-D1
Estudo de composição 11: PPN-P1
Pedra Fincada
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 12: PDF-P1
Saco do Rosa
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 13: SRS-D1
Conforto
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Saco da Fonte
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 14: SFT-P1
Letreiro
Ficha do sítio
15
Fotos das gravuras
Estudo de composição 15: LTR-D1
Estudo de composição 16: detalhe do LTR-D1
Estudo de composição 17: LTR-Bloco
Triste
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 18: TST-D1
Pedra Preta do Sul
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 19: PPS-P2
Estudo de composição 20: PPS-P1
Lageado
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 21: LGD-D1
Pântano do Sul IV
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Ilha do Papagaio II
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Croqui: IPG
Ponta das Andorinhas I
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Guarda do Embaú II
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 22: GEB-D1
Ponta do Galeão
Ficha do sítio
Fotos das gravuras
Estudo de composição 23: PGL-P1
Estudo de composição 24: PGL-D1
Estudo de composição 25: PGL-D2
Estudo de composição 26: PGL-P2
Apêndice 6. CD – Banco de Dados Memória Rupestre
9. Anexos
Anexo1a. Relato feito a partir de conversa com o Prof. Pedro Agostinho da Silva
Anexo1b. Fotografias antigas do sítio da Ilha João da Cunha
16
Anexo 1c. Fotografias de João Alfredo Rohr
17
LISTA DE FIGURAS
Fig. 1. Gravura rupestre da Armação do Sul, cortada e levada ao Colégio
Catarinense no dia 05/04/1948. Acervo: Museu do Homem do Sambaqui “Pe. João
Alfredo Rohr S. J.”. Foto: Fabiana Comerlato ..........................................................................8
Fig. 2. Aplicação de giz branco as gravuras do Letreiro do Arvoredo. Data: 1968.
Foto: João Alfredo Rohr. Acervo: Museu do Homem do Sambaqui “Pe. João
Alfredo Rohr”..........................................................................................................................10
Fig. 3. Cópia heliográfica reforçada com tinta preta de gravuras da Ilha dos Corais
feita por Rohr. Acervo: Museu do Homem do Sambaqui “Pe. João Alfredo Rohr”.
Foto: Fabiana Comerlato .........................................................................................................10
Fig. 4. Logomarca do empreendimento Complexo Turístico Costão do Santinho.
Fonte: www.costao.com.br......................................................................................................15
Fig. 5. Logomarca do empreendimento Cezarium Residence Club. Fonte:
www.formacco.com.br/lancamento/index.php?fuseaction=lancamento&lan=cez .................15
Fig. 6. Revestimento cerâmico da Linha “Campeche” da Portobello, lançamento
de 2001. Fonte: www.portobello.com.br.................................................................................17
Fig. 7. Revestimento cerâmico da Linha “Rupestre Íris” da Portinari, lançamento
de 2001. Fonte: www.ceramicaportinari.com.br/actimage2/produtos ....................................17
Fig. 8. Organograma da terminologia para o estudo das representações rupestres.................22
Fig. 9. Unidades gráficas tracejadas em vermelho e o conjunto delimitado em linha
azul, Morro das Aranhas II, Ilha de Santa Catarina. Data: 26/12/2001. Foto:
Fabiana Comerlato...................................................................................................................23
Fig. 10. Dispositivo parietal do Letreiro, Ilha do Campeche. Em amarelo, as
unidades gráficas; em vermelho, os conjuntos gráficos e em azul o painel. Data:
08/04/2004. Foto: Fabiana Comerlato.....................................................................................25
Fig 11. Organograma da documentação gerada pela pesquisa................................................27
Fig. 12. Digitalização do relevé da gravura TST-02, Ilha do Campeche, realizado
em 05/02/2003. Observe as áreas verdes (líquens) e os traços vermelhos (fraturas). .............29
Fig.13. Tela inicial do banco de dados Memória Rupestre.....................................................32
Fig. 14. Relacionamentos entre os campos das fichas de identificação..................................32
18
Fig. 15. Escorrimento d’água, ST3-23, Ilha de Santa Catarina. Data: Verão/1995.
Foto: Fabiana Comerlato .........................................................................................................34
Fig. 16. Escorrimento d’água, gravura TST-03, Ilha do Campeche. Data:
01/02/2002. Foto: Fabiana Comerlato.....................................................................................34
Fig. 17. Gravura LTR-03, Ilha do Campeche. Data: 24/03/1999. Foto: Fabiana
Comerlato ................................................................................................................................35
Fig. 18. Detalhe de fraturas abertas.........................................................................................35
Fig. 19. Marcação das linhas de fratura...................................................................................35
Fig. 20. Desprendimento de placas, Praia Mole I, Ilha de Santa Catarina. Data:
Out./1996. Foto: Fabiana Comerlato.......................................................................................35
Fig. 21. Depósito (seta vermelha) e alteração cromática (seta azul), Pedra Preta do
Sul, Ilha do Campeche. Data: 16/12/2001. Foto: Fabiana Comerlato.....................................35
Fig. 22. Alveolização (tafoni), gravura ST1-01, Ilha de Santa Catarina. Data:
Jan/2002. Foto: Fabiana Comerlato.........................................................................................36
Fig. 23. Líquen na gravura CFT-04, Ilha do Campeche. Data: 22/03/1997. Foto:
Fabiana Comerlato...................................................................................................................37
Fig. 24. Líquen na gravura LTR-28, Ilha do Campeche. Data: 22/03/1997. Foto:
Fabiana Comerlato...................................................................................................................37
Fig. 25. Musgo, Ilha João da Cunha, Porto Belo. Data: 12/02/1998. Foto: Fabiana
Comerlato ................................................................................................................................37
Fig. 26. Gravura PPS-18 parcialmente encoberta por vegetação xerófita, Ilha do
Campeche. Data: 02/08/1996. Foto: Fabiana Comerlato. .......................................................38
Fig. 27. Gravura PPS-18 após limpeza, Ilha do Campeche. Data: maio de 1998.
Foto: Keler Lucas ....................................................................................................................38
Fig. 28. Excremento de ave, Gravura ST3-33, Ilha de Santa Catarina. Data:
nov/1996. Foto: Fabiana Comerlato........................................................................................39
Fig. 29. Graffitti, Santinho I, Ilha de Santa Catarina. Data: Agosto/1996. Foto:
Fabiana Comerlato...................................................................................................................40
Fig. 30. Tinta/pichação, Triste, Ilha do Campeche. Data: 01/02/2002. Foto:
Fabiana Comerlato...................................................................................................................40
Fig. 31. Escoriação, ST2-07, Ilha de Santa Catarina. Data: 1986. Foto: Rossano
Lopes Bastos. Acervo: 11
a
SR/IPHAN/SC .............................................................................41
19
Fig. 32. Alteração cromática (em vermelho) e desprendimento de placa, ambos por
ação do fogo. PTC-02, Ilha de Santa Catarina. Data: 04/09/2003. Foto: Fabiana
Comerlato ................................................................................................................................41
Fig. 33. Situação em que pode ocorrer pisoteamento, conjunto de gravuras em
plano horizontal, Santinho III, Ilha de Santa Catarina. Data: Jan/2002. Foto:
Fabiana Comerlato...................................................................................................................42
Fig. 34. Recorte geográfico da área de pesquisa. Desenho: Carlos Costa ..............................48
Fig. 35 Formas de relevos de costas rochosas. Desenho: Carlos Costa, baseado em
Mazzer, 2001: 120...................................................................................................................53
Fig 36. Organograma da cadeia operatória das gravuras do litoral catarinense,
adaptado de García Diez & Luís (2002-2003: 202) ................................................................58
Fig. 37. Detalhe dos sulcos da gravura em excelente conservação, Pedra Preta do
Sul, Ilha do Campeche. Data: 19/04/2003. Foto: Fabiana Comerlato.....................................59
Fig. 38. Técnicas de confecção das gravuras do litoral catarinense. Desenho:
Carlos Costa.............................................................................................................................61
Fig. 39. Resultado das técnicas de confecção das gravuras do litoral catarinense.
Desenho: Carlos Costa ............................................................................................................61
Fig. 40. Área gravada em preto de um gradeado.....................................................................87
Fig. 41. Área gravada em branco de um gradeado..................................................................87
Fig. 42. Croqui da gravura PPS-09 .........................................................................................88
Fig. 43. Subtipo A1 que forma uma grade de hexágonos .......................................................88
Fig. 44. Subtipo A1 que forma uma grade de quadrados........................................................88
Fig. 45. Relação de progressão e razão de homotetia, croqui da gravura LTR-23 .................90
Fig. 46. Subtipo C7 com simetria de translação (t), gravura PPN-09 .....................................90
Fig. 47. Subtipo D3 com simetria de translação e reflexão de espelho (m), gravura
ST3-33 .....................................................................................................................................90
Fig. 48. Sulco em preto, módulo esquerdo da gravura TST-03 ..............................................92
Fig. 49. Sulco em branco, módulo direito da gravura CFT-06 ...............................................92
Fig. 50. Subtipo J3 dentro de outro subtipo, ST1-07 ..............................................................93
Fig. 51. Subtipo J1 dentro de outro subtipo, IAP-03...............................................................93
20
Fig. 52. Posição da gravura TST-03 em plano vertical de uma superfície
diaclasada. Desenho: Carlos Costa........................................................................................104
Fig. 53. Rede de intervisibilidade entre os sítios SRS, CFT, SFT, LTR e TST.
Recorte da face leste da Ilha do Campeche. Desenho: Carlos Costa ....................................115
Fig. 54. Fragmento de bula timpânica (baleia) gravado, sambaqui de Matinhos,
PR. Compr.: 72 mm. Acervo MASJ. Desenho: Fabiana Comerlato .....................................128
Fig. 55. Fragmento de bula timpânica (baleia) gravado, sambaqui de Matinhos,
PR. Acervo MASJ. Foto: Fabiana Comerlato .......................................................................128
Fig. 56. Extremidade de um possível bastão gravado feito de osso de baleia,
sambaqui de Matinhos, PR. Compr.: 79 mm. Acervo MASJ. Desenho: Fabiana
Comerlato ..............................................................................................................................128
Fig. 57. Extremidade de um possível bastão gravado feito de osso de baleia,
sambaqui de Matinhos, PR. Compr.: 79 mm. Acervo MASJ. Desenho: Fabiana
Comerlato ..............................................................................................................................128
Fig. 58. Extremidade de um possível bastão gravado feito de osso de baleia,
sambaqui de Matinhos, PR. Acervo MASJ. Foto: Fabiana Comerlato.................................128
Fig. 59. Extremidade de um possível bastão gravado feito de osso de baleia,
sambaqui de Matinhos, PR. Acervo MASJ. Foto: Fabiana Comerlato.................................128
Fig. 60. Fragmento ósseo gravado do sítio Rio do Meio (área II), SC. Acervo
MU/UFSC. Foto: Fabiana Comerlato....................................................................................130
Fig. 61. Fragmento ósseo gravado do sítio Rio do Meio (área II), SC. Acervo
MU/UFSC. Desenho: Fabiana Comerlato.............................................................................130
21
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Sítios de representação rupestre e oficinas líticas...................................................50
Tabela 2. Orientação dos diques por sítio...............................................................................52
Tabela 3. Tipo de costa rochosa por sítio ...............................................................................54
Tabela 4. Quantidade e percentual das técnicas de confecção das gravuras do
litoral catarinense, total............................................................................................................62
Tabela 5. Lista das gravuras com subtipos associados...........................................................84
Tabela 6. Relação entre o total de área gravada e áreas gravadas por faixa e papel
de parede nos painéis e dispositivos........................................................................................89
Tabela 7. Tipos de simetrias finitas dos subtipos ...................................................................94
Tabela 8. Tamanho das unidades gráficas dos subtipos B2....................................................98
Tabela 9. Tamanho das unidades gráficas do subtipo B5.......................................................98
Tabela 10. Tamanho das gravuras do subtipo C7...................................................................99
Tabela 11. Tamanho das gravuras do subtipo D2...................................................................99
Tabela 12. Tamanho das unidades gráficas dos subtipos E1................................................100
Tabela 13. Tamanho das unidades gráficas dos subtipos E2................................................100
Tabela 14. Tamanho das gravuras dos subtipos J1...............................................................102
Tabela 15. Tamanho das gravuras dos subtipos J2...............................................................102
Tabela 16. Tamanho das gravuras dos subtipos J3...............................................................102
Tabela 17. Tamanhos das gravuras do subtipo K3...............................................................103
Tabela 18. Dados arqueológicos referentes à visualização e visibilidade de
dispositivos parietais, painéis e gravuras isoladas.................................................................115
Tabela 19. Ocorrência de subtipos, por sítio (dispostos na horizontal e na vertical
por maior quantidade de ocorrência de subtipos)..................................................................133
22
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Quantidade de gravuras por sítio, de norte a sul........................................................ 49
Gráfico 2. Quantidade e percentual de gravuras rupestres sobre paredes rochosas e
blocos, total..............................................................................................................................55
Gráfico 3. Quantidade de gravuras rupestres sobre paredes rochosas e blocos, por
sítio ..........................................................................................................................................56
Gráfico 4. Quantidade das técnicas de confecção das gravuras do litoral
catarinense, por sítio................................................................................................................64
Gráfico 5. Ocorrência total de tipos........................................................................................72
Gráfico 6. Ocorrência dos subtipos A, por sítio .....................................................................73
Gráfico 7. Ocorrência dos subtipos B, por sítio .....................................................................74
Gráfico 8. Ocorrência dos subtipos C, por sítio .....................................................................75
Gráfico 9. Ocorrência dos subtipos D, por sítio .....................................................................76
Gráfico 10. Ocorrência dos subtipos E, por sítio....................................................................77
Gráfico 11. Ocorrência dos subtipos F, por sítio....................................................................78
Gráfico 12. Ocorrência dos subtipos G, por sítio ...................................................................79
Gráfico 13. Ocorrência dos subtipos H e I, por sítio ..............................................................80
Gráfico 14. Ocorrência dos subtipos J, por sítio.....................................................................81
Gráfico 15. Ocorrência dos subtipos K, por sítio ...................................................................82
Gráfico 16. Ocorrência dos subtipos L, por sítio....................................................................83
Gráfico 17. Subtipos que aparecem associados em uma mesma gravura...............................84
Gráfico 18. Quantificação por tipos de simetria.....................................................................95
Gráfico 19. Orientação dos dispositivos, painéis e gravuras isoladas da tabela 18..............118
Gráfico 20. Especificação da orientação dos dispositivos, painéis e gravuras
isoladas da tabela 18..............................................................................................................118
23
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Descrição dos tipos (categorias de representação)................................................65
Quadro 2. Algumas representações complexas, tipo “K”......................................................82
Quadro 3. Classificação dos movimentos rígidos (simetria), cf. Farmer, 1999.....................86
Quadro 4. Formas de simetria do tipo “E” (Triângulos)........................................................87
Quadro 5. Formas de simetria dos signos elementares ..........................................................87
Quadro 6. Exemplos de variações do Tipo “J” (Linhas paralelas em ângulos
agudo e obtuso com reflexão de espelho)................................................................................91
Quadro 7. Padrões da pintura da cerâmica guarani da Ilha de Santa Catarina.
Desenhos: Schmitz, 1959: 314-318.......................................................................................126
24
LISTA DE ABREVIAÇÕES
Instituições:
11
a
/SR/IPHAN:----- 11
a
Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional
MHS:-----------------Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville
MASJ: ---------------Museu do Homem do Sambaqui “Pe. João Alfredo Rohr S. J.”
MU/UFSC:---------- Museu Universitário “Prof. Oswaldo Rodrigues Cabral”
PUCRS:-------------- Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Sítios de representação rupestre:
IJC ------ Ilha João da Cunha
AV1 ------ Ilha do Arvoredo I
AV5 ------ Ilha do Arvoredo V
AV8 ------ Ilha do Arvoredo VIII
PTC ------ Ponta das Canas III
IGL ------ Ingleses IV
ST3 ------ Santinho III
ST2 ------ Santinho II
ST1 ------ Santinho I
MAR ------ Morro das Aranhas I
IAP ------ Ilha das Aranhas Pequenas I
PRB ------ Prainha da Barra
PCD ------ Ponta do Caçador III
PML ------ Praia Mole I
FET ------ Ferro Elétrico
PPN ------ Pedra Preta do Norte
PFD ------ Pedra Fincada
CAM ------ Gravura isolada, NE da Ilha do Campeche
SRS ------ Saco do Rosa
CFT ------ Conforto
SFT ------ Saco da Fonte
LTR ------ Letreiro
TST ------ Triste
PPS ------ Pedra Preta do Sul
LGD ------ Lageado
PS4 ------ Pântano do Sul IV
IPG ------ Ilha do Papagaio II
25
PAD ------ Ponta das Andorinhas I
GEB ------ Guarda do Embaú II
PGL ------ Ponta do Galeão
1. Introdução
Esta pesquisa tem como objeto às
representações rupestres do litoral central
catarinense. Uma situação particular é que
estes sítios de gravura são os únicos, até o
momento, conhecidos na costa brasileira, o
que lhes conferem uma importância tanto para
a pré-história regional quanto em âmbito
nacional. A visitação por turistas e visitantes
aos sítios de representação rupestre
empreendida principalmente na Ilha de Porto
Belo (João da Cunha), Praia do Santinho e Ilha
do Campeche tem favorecido a divulgação
deste importante patrimônio arqueológico.
Na medida que não é cabível nesta pesquisa arqueológica o estudo dos significados
destas gravuras indagação corriqueira entre turistas e estudantes –, urge incentivar a
elaboração de outros tipos de perguntas para a problemática das representações rupestres
catarinenses. Esta tese se insere dentro desta perspectiva: oferecer uma nova contribuição
para o entendimento das gravuras rupestres. Os primeiros passos vieram com a realização
26
de levantamentos fotográficos dos sítios de representação rupestre, iniciados no ano de
1995. Posteriormente, acompanhei o tombamento da Ilha do Campeche como patrimônio
nacional, ação promovida pela 11
a
Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional. O envolvimento inicial foi acrescido aos conhecimentos
adquiridos em uma bolsa de formação no Museu Arqueológico Nacional de Madrid. De
volta ao Brasil, elaborei o projeto de pesquisa “Em busca de um contexto entre as gravuras
rupestres e os sítios de ocupação nas ilhas continentais do Arvoredo, Campeche e Coral”
apresentado a Pós-Graduação em História da PUCRS.
Após algumas revisões encaminhadas na qualificação, ficou estabelecido que
daríamos prosseguimento à análise da organização espacial das representações rupestres
através de escalas distintas: do nível micro (sítio), ao semi-micro (costão/ilha) até o nível
macro (litoral). Desta maneira, as escolhas teóricas privilegiam as análises das
representações rupestres na perspectiva de verificar suas relações espaciais, entre gravuras,
entre sítios e entre ilhas ou áreas (costões). O corpo teórico da pesquisa é criado a partir da
arqueologia espacial (Clark, 1977) e pela arqueologia da paisagem (Criado Boado, 1993,
1999). O referencial teórico aplicado às representações rupestres é oriundo, principalmente,
de André Leroi-Gourhan (1985) e Denis Vialou (1999, 2000, 2002).
Os sítios do litoral central de Santa Catarina foram reconhecidos enquanto uma
unidade espaço-temporal, que permitiu a criação de uma “Tradição Litorânea Catarinense”
(Prous, 1992). Em prol desta unidade, as convergências foram destacadas e, em
contraponto, as diferenças explicadas como fruto de contato(s) com outros sistemas
simbólicos. Inicialmente, proponho o questionamento desta afirmação percebendo o
fenômeno rupestre da costa catarinense a partir de um novo olhar. A proposta é ultrapassar
as generalizações já existentes, através da análise da distribuição, das técnicas de
confecção, da tipologia, das formas de simetria, das técnicas gráficas e da organização
espacial, buscando avaliar esta noção de conjunto imposta (Tradição Litorânea
Catarinense). Desta maneira, seria possível reconhecer as similitudes e variações nos sítios
de representação rupestre? Portanto, o objetivo central é verificar se as representações
rupestres do litoral central de Santa Catarina possuem semelhanças significativas que
possam nos levar a pensar em uma gramática plástica comum de populações pré-históricas
que viveram neste recorte espacial.
27
Neste conjunto de sítios da costa catarinense, será possível identificar diferenças na
instalação das gravuras, na tipologia das representações, no agenciamento dos tipos, na sua
distribuição pelas diferentes áreas, nas técnicas de confecção e, finalmente, nos tipos de
sítios a eles associados? Desta forma, será a partir das análises empreendidas nas gravuras
(tipológica, morfológica, espacial), nos sítios e no seu contexto imediato que poderemos
avançar em uma proposta de modelo explicativo sobre a existência ou não de formas e
arranjos preferenciais na organização espacial de gravuras, painéis, dispositivos parietais e
sítios, das escolhas de localização e implantação das áreas gravadas e da possível existência
de redes de visibilidade e visualização. Enfim, que tipos de relações existem entre as
gravuras rupestres e as populações pré-históricas na paisagem dominada pelo mar e pelas
rochas? O que as representações rupestres podem mediar ou indicar de seus produtores?
Para dar conta destes questionamentos, a pesquisa em um primeiro momento aborda
os sítios de gravuras rupestres do litoral catarinense de maneira geral, analisando-os a partir
do nível micro ao macro. Na busca de um modelo explicativo para a realização das
gravuras, os contextos das ilhas do Arvoredo, Campeche e Coral foram contemplados
que as mesmas possuem um grande número de representações rupestres e estão
caracterizadas pelo seu isolamento geográfico.
Neste sentido, o acervo de materiais arqueológicos coletados nas ilhas do Arvoredo,
Campeche e Corais pertencentes às coleções do Museu Universitário Prof. Oswaldo
Rodrigues Cabral”, Museu do Homem do Sambaqui “Pe. João Alfredo Rohr S. J.” e Museu
Arqueológico de Sambaqui de Joinville também foi documentado, visando reconstituir
tanto um quadro geral das pesquisas anteriores como para caracterizar as ocupações das
referidas ilhas.
O levantamento arqueológico foi realizado na faixa litorânea que compreende os
municípios de Porto Belo e Garopaba, numa área com extensão aproximada de 120 Km.
Devido a estas proporções e aos recursos financeiros e humanos restritos, apenas foram
feitas saídas de campo aos sítios conhecidos pela documentação escrita (levantamento
oportunístico). Existem documentados por outros pesquisadores, 39 sítios de representação
rupestre, destes, onze não registramos por sua difícil localização ou por não conseguirmos
encontrá-los (em geral sítios com uma ou duas gravuras). Os levantamentos de campo
28
foram realizados em 28 sítios com representações rupestres, sendo catalogados nove sítios
conhecidos por outros pesquisadores, porém, ainda não registrados oficialmente. Outros
sítios, como oficinas líticas e sítios de ocupação, geralmente próximos aos sítios estudados,
foram registrados nas saídas de campo, num total de nove novos sítios. Os tios estudados
estão localizados nos municípios de Porto Belo, Governador Celso Ramos, Florianópolis,
Palhoça, Paulo Lopes e Garopaba (vide Apêndice 1).
O levantamento buscou nos sítios estudados a adoção de uma mesma metodologia
na produção dos registros arqueológicos. Neste sentido, foram adotadas as terminologias e
algumas técnicas de registro, utilizadas nas pesquisas de representação rupestre pela Missão
Franco-Brasileira 2002 em Mato Grosso, sendo aqui adaptadas à realidade estudada. O
levantamento procurou empreender a totalidade das representações rupestres, com o
registro individual de cada gravura e sítio através de fichas de identificação específicas e de
registros fotográficos. Em alguns casos foram realizados: relevés, croquis e estudos de
composição. Exceto o relevé, toda a documentação gerada foi analisada e processada por
meio digital, com a criação e utilização de um banco de dados elaborado a partir do
programa Microsoft Access 2000, denominado de “Memória Rupestre”. O processamento
dos dados ocorreu na elaboração de consultas ao referido banco de dados.
Para a etapa da análise concernente aos procedimentos metodológicos, buscou-se
reconhecer a existência ou não de padrões estruturais através de análises dos dados
coletados em campo e organizados no banco de dados.
Quanto à estrutura desta tese, o segundo capítulo cumpre a tarefa de historiar as
pesquisas sobre as gravuras rupestres catarinenses e sua apropriação atual. No capítulo
seguinte, apresentamos os aportes teóricos, as terminologias e a metodologia utilizadas
nesta pesquisa. O quarto capítulo reúne uma série de análises das representações rupestres,
a partir dos dados coletados em campo; foram estudados: a distribuição geográfica e
caracterização dos suportes, as técnicas de execução, as categorias de representação
(tipologia), a simetria, as técnicas gráficas e posicionamento gráfico, e por fim, a
organização espacial (níveis micro, semi-micro e macro). O último capítulo trata dos tipos
de relações que podemos estabelecer entre as representações rupestres e as ocupações
litorâneas pré-históricas e uma análise integrada entre estes dados. Ao final, apresentamos
29
uma síntese geral dos resultados da pesquisa e a proposição de futuros encaminhamentos
referentes à problemática das gravuras rupestres do litoral catarinense no panorama da
arqueologia regional. Em anexo, podem ser consultadas fotografias antigas de acervos
pessoais e institucionais. Os apêndices constam de: mapas temáticos, nomenclator dos
formulários do banco de dados, fichas de sítio, fotografias das representações rupestres
separadas por tio, estudos de composição e o banco de dados Memória Rupestre em meio
digital; sendo assim, é possível à verificação do corpus documental em que foram geradas
as análises propostas nesta tese, através da leitura dos elementos pós-textuais.
2. As representações da costa catarinense: do reconhecimento arqueológico à
apropriação como elemento de identidade local
Neste capítulo será esboçado um histórico das
pesquisas sobre as gravuras da costa
catarinense e do papel que exercem na
atualidade, como signos que são apropriados
pelos agentes locais e pelos empreendimentos
imobiliários.
30
A primeira referência, até o momento, sobre as gravuras rupestres em nosso litoral é
uma carta de Francisco Manuel Raposo d’Almeida ao Conde de La Have datada de 1865. A
carta registra
1
a existência de gravuras em uma ilha do litoral:
Nunca cheguei a ver, posto que por mais de uma vez me dispozesse a ir pessoalmente
examinar esta inscrição. Existe em Santa Catharina um negociante Manoel Marques
Guimarães, que me deu uma copia, que aliás não sei onde a tenho. Se V. Exa. se dirigir
a elle, de certo será satisfeito. A existencia d’esta inscrição é muito sabida em Santa
Catarina; e já houve um pescador muito pratico da ilha, que me disse haver, além do
letreiro grande e outros mais pequenos. Navio ...... - Parece-me que foi em 1859 ou
1860 que se fez esta descoberta de que todos os jornais deram noticias. Infelizmente,
graças á indifferença proverbial dos brazileiros, o me consta que o governo, ou o
Instituto mandassem fazer um exame d’essa preciosa reliquia archeologica. Nada mais
posso dizer a V. Exa. sobre este importante assumpto. Talvez que alguma pessoa de
Iguape ou Paranaguá, mais curiosa, possa dar alguma informação.
Os primeiros estudos sobre as gravuras litorâneas tiveram início com a atuação de
João Alfredo Rohr no Estado. No ano de 1946, Pe. Rohr, que nesta época não tinha ainda
voltado sua vida à arqueologia, retira da praia do Santinho um bloco de diabásio com
gravura de representação humana, que gerou grande revolta na comunidade local e,
posteriormente, opiniões divergentes entre os arqueólogos. No acervo do Museu do
Homem do Sambaqui “Pe. João Alfredo Rohr” encontram-se duas gravuras, uma retirada
da Ponta das Campanhas da Armação do Pântano do Sul e outra da Ilha dos Corais
2
(fig.
1).
1
Documento copiado em 3/6/1957 por Moacir Poletto. In: Enciclopédia de Santa Catarina –vol 23/ antigo
acervo do Almirante Carneiro. Setor de Santa Catarina (obras raras) da Biblioteca Central da UFSC.
2
A descrição das rochas com gravuras rupestres estão em Rohr, 1950a, p. 344-345 e 1950b.
31
Fig. 1. Gravura rupestre da Armação do Sul, cortada e levada ao
Colégio Catarinense no dia 05/04/1948. Acervo: Museu do
Homem do Sambaqui Pe. João Alfredo Rohr S. J.”. Foto:
Fabiana Comerlato.
A primeira referência em trabalho científico sobre as gravuras foi de Rohr, neste
momento envolvido com a questão arqueológica (1950a, 1950b). Nesta obra, Rohr nos
relata suas primeiras pesquisas arqueológicas tendo um pequeno capítulo dedicado as
“inscrições rupestres”. O autor apresenta algumas tentativas
3
em decifrar o significado das
mesmas, porém, ressalta que “o certo é que as inscrições, até hoje, se conservam
indecifráveis, cerradas ante a curiosidade do homem.” (1950b:12). Nesta obra, os sítios
mencionados foram: Ilha de Porto Belo, Santinho I, Armação do Sul e Ilha dos Corais.
Rohr aponta algumas semelhanças entre os tipos do sítio Santinho I (denominado na
época de Praia dos Ingleses) e dos existentes nas Ilhas dos Corais e Porto Belo. As fotos
que aparecem, nas publicações de 1950, ainda não tinham o uso de giz sobre as gravuras.
Mais tarde, em 1959, Rohr publica “Pesquisas Paleo-Etnográficas na Ilha de Santa
Catarina” com um pequeno trecho sobre as gravuras, quando comenta a retirada das
referidas gravuras da Praia do Santinho e Armação do Sul. Também cita a existência de
numerosas gravuras nas ilhas Moleques do Sul e Campeche.
3
Um exemplo é a interpretação que dá a representação da Armação do Sul (fig. 1): “O desenho representa
provavelmente o sinal totem duma tribu (gato do mato ou onça pintada).” (Rohr, 1950a, 344).
32
As gravuras eram conhecidas pela população local, principalmente pelos
pescadores que circulavam constantemente pelos costões. Infelizmente, os caçadores de
tesouros também as conheciam, tendo dinamitado algumas partes com painéis na Ilha de
João Cunha (Porto Belo) e Ilha do Campeche (Rohr, 1984: 87). Nesta época eram raras as
excursões de grupos de visitantes, o acesso às praias era mais penoso e ainda não existia um
interesse dos diversos atores sociais (turistas, ecologistas, moradores do centro de
Florianópolis, entre outros). Uma história que merece destaque é à excursão de um grupo
de escoteiros em 1957 que acabou em tragédia
4
, que hoje o nome de “O rapaz caiu” ao
local (sítio Santinho II).
Apesar de uma maior dificuldade no acesso aos locais com gravuras rupestres, se
iniciava o interesse nesta temática, mesmo que ainda sem uma preocupação científica. Hoje
muitos dos relatos e registros sobre as gravuras nesta época são importantes tanto como
parâmetro para verificar as questões de conservação como memória das primeiras
excursões, que procuram reconhecer e identificar estes sítios arqueológicos. A exemplo
disso, segue em anexo o levantamento de registros fotográficos antigos (Anexos 1b, 1c,
1d).
Somente em 1969 é publicada a primeira obra dedicada exclusivamente ao tema,
intitulada “Petroglifos da Ilha de Santa Catarina e Ilhas Adjacentes”, quando Rohr
apresenta o resultado das pesquisas sistemáticas, realizadas em 1968, nos seguintes locais:
Ilha João Cunha (Porto Belo), Praia do Santinho, Ilha do Arvoredo, Ilha do Campeche e
Ilha dos Corais. As etapas para as cópias das gravuras foram: 1) retoque das gravuras com
giz branco (fig. 2); 2) cópia em papel manteiga usando pincel atômico; 3) as primeiras
cópias eram repassadas novamente em papel vegetal; 4) do papel vegetal eram feitas cópias
heliográficas; 5) as cópias heliográficas eram reforçadas com tinta preta para exposição
(fig. 3.); 6) estas últimas cópias eram fotografadas; 7) destas fotos fazia-se novamente
cópias em papel vegetal, sendo a matriz usada para publicação.
4
O depoimento do prof. Pedro Agostinho da Silva está no anexo 1a.
33
Fig. 2. Aplicação de giz branco as gravuras do Letreiro do Arvoredo. Data: 1968.
Foto: João Alfredo Rohr. Acervo: Museu do Homem do Sambaqui “Pe. João Alfredo
Rohr”.
Fig. 3. Cópia heliográfica reforçada com tinta preta de gravuras da Ilha dos Corais
feita por Rohr. Acervo: Museu do Homem do Sambaqui “Pe. João Alfredo Rohr”.
Foto: Fabiana Comerlato.
34
Rohr, nas obras citadas, admite a repetição de motivos em diferentes ilhas. Assim,
concluiu serem as gravuras o “(...) produto de uma mesma cultura ou grupo cultural” (1969:
3). Após o reconhecimento das gravuras rupestres pela comunidade científica, nos anos 70,
André Prous e Walter Piazza descreveram os sítios de representação rupestre com base
nesta última publicação de Rohr. No trabalho de síntese Documents pour la Prehistoire du
Bresil Meridional, os autores repartiram as gravuras em quatorze tipos característicos.
Nesta classificação, colocam a dificuldade de tirarem-se conclusões, já que consideraram
cada ilha como um todo, não trabalhando com os painéis de forma isolada. Também
colocam o fato de não existirem trabalhos sobre a freqüência destes tipos e suas associações
nos painéis, questionando a validade que estes estudos estatísticos poderiam ter, pela baixa
quantidade de tipos representados (1977: 78-79).
Prous & Piazza outorgaram uma explicação difusionista para a presença de onze
tipos na Ilha do Campeche, colocando que ilhas periféricas, como o caso da Ilha de Porto
Belo, apresentam uma tipologia mais pobre. A idéia da existência de um ou dois centros
criadores na região central - sendo a Ilha do Campeche um deles - encaixa-se em um
modelo explicativo que os participantes do PRONAPA
5
utilizavam para explicar a
distribuição e variação de tipos em um determinado espaço. Alfonso Moure Romanillo faz
uma crítica deste tipo de pensamento evolucionista e difusionista como: “(...) uma autêntica
obsessão periodizadora, em que os apriorismos estilísticos tentam encaixar diferenças
técnicas e estilísticas em seqüências arqueológicas ainda não muito bem contrastadas.”
6
(1999: 25)
Em 1978, Pedro Mentz Ribeiro conclui que as gravuras do litoral catarinense
formavam uma única tradição (1978: 20). Tardiamente, surge a denominação “Tradição
Litorânea Catarinense” para as gravuras em questão (Prous, 1989, 1992, 1994). A
classificação de uma Tradição de gravuras rupestres no litoral catarinense é bastante
discutível
7
. Visto que, conceituou-se Tradição:
5
Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas.
6
“(...) una auténtica obsesión periodizadora, en la que los apriorismos estilísticos intentan encajar diferencias
técnicas y estilísticas en secuencias arqueológicas aún no muy bien contrastadas.”
7
As terminologias na arqueologia brasileira são por vezes contraditórias e duvidosas, ao mesmo passo,
polivalentes e plurissemânticas - alvo de severas críticas por sua incomunicabilidade científica (Consens &
35
(...) ao conjunto de característica que se refletem em diferentes sítios ou regiões,
associados de maneira similar, atribuindo cada uma delas ao complexo cultural de
grupos étnicos diferentes que as transmitiam e difundiam, gradualmente modificadas,
através do tempo e do espaço. Por sua vez, dividimos as tradições em “fases” ou
momentos históricos definíveis de sua evolução. (Calderón, 1983: 13).
A categoria Tradição implica em “uma certa permanência de traços distintos,
geralmente temáticos.” (Prous, 1989, 10). Portanto, estaria ligada a “(...) Grupos de
elementos ou técnicas, com persistência temporal.” (Prous, 1992: 11). Isto implica
considerarmos que existiram determinadas ações e saberes que foram transmitidos ao longo
das gerações por um grupo étnico e que os elementos e técnicas persistiram no tempo e
espaço, porém, ao mesmo tempo foram sendo gradualmente modificados. No caso das
gravuras estamos limitados pela impossibilidade de datação das mesmas; então, como
poderíamos averiguar se seus autores pertenceriam a uma ou várias gerações?
Em 1984, publica-se uma síntese dos sítios arqueológicos do Estado, registrados por
Rohr. Nesta publicação, os sítios de gravuras no litoral foram denominados de “sinalizações
rupestres”. Até aquele momento, tinha-se o conhecimento de gravuras nos seguintes locais:
Ilha de João Cunha, Ilha do Arvoredo, Praia do Santinho, Ilha do Campeche e Ilha dos
Corais
8
(1984: 111-122).
Em caráter de levantamento entre 1987 e 1989, o projeto “Povoamento Pré-
Histórico da Ilha de Santa Catarina” buscou um novo cadastramento com informações
atualizadas dos sítios arqueológicos correspondentes as ocupações pré-históricas. Neste
trabalho foram registrados novos sítios de representação rupestre. Os sítios descobertos por
Rodrigo Lavina correspondem ao Arvoredo IV, Arvoredo V, Santinho IV, Santinho V,
Seda, 1990). Segundo Mario Consens e Paulo Seda: “Outorgar o nome de fase ou tradição a um conjunto, não
lhe dá validez como síntese dos envolvidos por essa nominação. Nada no termo outorgado assegura que os
dados estão realmente associados, exceto o desejo, a expectativa de quem propõe.” (1990: 45).
8
Rohr registrou somente o primeiro sítio do Santinho e da Ilha do Campeche reuniu os tios Pedra Preta do
Norte, Saco do Rosa, Conforto, Letreiro, e Triste em um único registro.
36
Santinho VI, Ponta do Caçador III e os descobertos por Rossano Lopes Bastos foram os
sítios Praia Mole I e Morro das Aranhas II (Fossari, 1988a: 45-46/59-63, 1988b: 7-12/48-
49, 1989: 38-39/57-58).
Em relação aos estudos da última década, estes ainda não conseguiram muitos
avanços na elucidação das relações entre gravuras e paisagem. Entretanto, trouxeram novos
registros de sítios. O primeiro trabalho de Rodrigo Aguiar, publicado posteriormente, busca
um levantamento de todos os sítios entre a Ilha do Arvoredo e Ilha dos Corais, analisando a
existência de diferenças estilísticas (1997, 2002). Apesar de apresentarem bons resultados
no registro das gravuras, os trabalhos de Aguiar retomam a utilização de Fase do
PRONAPA, elaborando três fases cronológicas para as mesmas: sambaquiana, cerâmica e
final (2001: 56). Na tentativa de estabelecer uma tipologia, o autor afirma que “(...) através
das figuras antropomórficas que se descobriu o caminho para, pela primeira vez, afirmar a
data e o autor de uma das manifestações rupestres do litoral catarinense.” (2001: 52). As
diferenças estilísticas podem até ser interpretadas como uma variação ao longo do tempo,
porém, se fazem necessários outros parâmetros (arte mobiliar, datações) para serem
respaldadas. O caráter subjetivo deste tipo de análise acaba por fornecer uma cronologia
que pode ser facilmente contestada.
Marco Aurélio de Masi discute as limitações dos modelos explanatórios oferecidos
pelos recentes estudos em arte pré-histórica quando aplicados à realidade catarinense.
Também faz uma crítica aos estudos até agora realizados, restritos aos levantamentos
fotográficos, não existindo estudos etno-históricos aplicados às representações rupestres,
que “(...) poderiam tentar estabelecer modelos interpretativos da arte gráfica destes grupos
associados ao pensamento mítico-religioso e a sua adaptação ao meio ambiente” (2002:
55). No caso específico destas representações litorâneas, este tipo de estudo é difícil de ser
realizado porque não existente uma associação com um grupo étnico específico.
Para o caso específico da Ilha do Campeche, Fabiana Ferret Soares buscou
identificar uma fidelidade estrutural na reprodução das gravuras e o período de ocupação da
ilha através das informações de oscilação do nível do mar para a costa catarinense (2002:
61-72, 2003).
37
As gravuras rupestres aqui estudadas também foram objeto de estudo de duas teses
de doutorado, embora, não tenha sido o objeto central destas pesquisas trabalhar com as
gravuras, e sim, sobre as mesmas. A tese de João Baptista da Silva, defendida em 2001,
procura estabelecer uma articulação entre o registro arqueológico das Tradições Taquara,
Itararé e Casa de Pedra e o registro etnográfico, etno-histórico e lingüístico dos Kaingang e
Xokleng, no intuito de elaborar uma etnoarqueologia dos grafismos destas sociedades Jê
meridionais. Este autor considera os grafismos cerâmicos e rupestres (incluindo os da costa
catarinense) como parte do sistema de representações visuais destes grupos. As
similaridades entre os grafismos arqueológicos e os grafismos etnográficos (trançados,
tecidos, pintura corporal, armas, etc) são ressaltadas para, enfim, reforçar a existência de
uma continuidade cultural com base em um sistema de representação visual proto-Jê
meridional.
A tese de Teresa Domitila Fossari, concluída
em 2004, teve como objetivo trabalhar com a
idéia da existência de um sistema de
assentamento pré-colonial Jê, aplicando a
“análise de captação de recursos”, na qual a
Ilha de Santa Catarina é vista como um macro
assentamento e os sítios arqueológicos são
analisados como unidades espaciais
integradas. Esta pesquisa enfoque as inter-
relações das unidades espaciais por meio de
quatro sítios escavados (Tapera, Caiacanga-
Mirim, Ponta do Lessa e Rio do Meio) e suas
relações e localização com áreas específicas,
no caso oficinas ticas e tios de inscrições
rupestres. O achado de um fragmento ósseo
gravado, nas escavações do sítio Rio do Meio,
é o ponto de partida para o exercício de
associação das inscrições rupestres com as
38
populações pré-coloniais Jê na Ilha de Santa
Catarina.
Somadas a estas pesquisas, outras publicações
de caráter mais geral, seja na elaboração de
sínteses da arte rupestre brasileira seja dos
sítios arqueológicos do Estado, abordam as
gravuras do litoral sul brasileiro (Ribeiro,
1978: 11-14; Beck, 1970: 150; Consens, 1995:
154; Gaspar, 2003: 47; Vialou & Vilhena-
Vialou, 2003: 486).
As representações rupestres não são somente objeto de estudo acadêmico. A partir
de 1979, de maneira autônoma, Keler Lucas em conjunto com Adnir Ramos e Edmar
Hoerhan, vêm realizando levantamentos no intuito de registrar as gravuras do litoral
catarinense. Lucas partilha de uma visão fantasiosa e mística, ao buscar relações entre as
gravuras rupestres e símbolos egípcios, maias, hebreus, hindus e as culturas neolíticas,
percebendo-os como parte de um simbolismo universal
9
. Outra característica destes
trabalhos tem sido identificar as formações rochosas naturais conseqüência de erosão
diferencial e química ao megalitismo europeu e a eventos astronômicos (solstícios,
equinócios, etc), além de algumas formas de rochas que sofreram erosão serem
reconhecidas como pegadas humanas (1994, 1996a, 1996b).
A divulgação deste conteúdo interpretativo, alheio ao contexto arqueológico, tem
oferecido uma resposta sedutora para explicar as indagações mais comuns de guias e
turistas
10
: Quais foram seus autores e o que significam todas estas gravuras nas rochas?
9
O levantamento que desenvolve e suas interpretações podem ser consultados no link
www.keler.lucas.nom.br/, ou nas publicações impressas e em CDs-Rom produzidas pela marca Rupestre
(Lucas, 1994, 1996, 2000). Outro link que traz o trabalho de Lucas é http://www.bradshawfoundation.com/
10
O turismo arqueológico de apelo místico tem sido promovido por algumas Prefeituras Municipais no
Estado. Em Florianópolis esta atividade turística ocorreu como uma forma de vender a cidade como um
produto exótico, que culminou na denominação “Ilha da Magia” em 1987 (Martins, 1995: 97-98).
Atualmente, a Prefeitura Municipal de Florianópolis estuda o projeto do Parque Arqueológico e Astronômico
da Bacia da Lagoa, com forte apelo místico (Cadernos da Ilha, Florianópolis, n. 1, ano 1, 2002). O projeto
“Turismo Arqueoastronômico em Florianópolis” (...) é desenvolvido pelo Laboratório de Turismo das
Faculdades Integradas ASSESC, coordenado pelo professor Adnir Ramos especialista em “Arte Rupestre e
39
Este tipo de interpretação que desprestigia as gravuras rupestres como produto de uma
cultura pré-histórica contribui para reforçar uma visão preconceituosa de que as populações
autóctones não seriam capazes da realização de artefatos que exigissem habilidade técnica
aprimorada.
A partir da década de 80, as gravuras passam a estar na moda e integram o
repertório de símbolos representativos do ser local, fazendo parte de logomarcas de
empresas e instituições
11
preocupadas em gerar alguma identificação com elementos
originariamente locais. As gravuras são utilizadas como símbolos de origem, ajudando no
fortalecimento da construção de uma imagem positiva de empreendimentos imobiliários em
áreas naturais. O exemplo mais marcante é o Complexo Turístico Costão do Santinho,
localizado na base do Morro das Aranhas na praia do Santinho
12
. Atualmente, outro projeto
de grande impacto, o Cezarium Residence Club os primeiros passos para sua instalação
na praia do Campeche (figs. 4 e 5).
Momumentos Megalíticos”. (http:/www.assesc.com.br/paginas/turismo/turismo_astromico.htm, acessada em
06/10/2004).
11
Em Florianópolis: Complexo Turístico Costão do Santinho, Cezarium Residence Club, Editora da
Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC), Rotary Clube Ingleses, Tribal Vídeo Club, Restaurante
Rupestre, Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Sociedade e Ambiente (NEISA) da Faculdade Energia,

 Festival Nacional de Teatro de Florianópolis Isnard Azevedo, Itararé Ecoturismo e
Esportes Radicais e Auto Escola Catarinense. Em Porto Belo: Empreendimento Ilha de Porto Belo. Em
Palhoça: Kumbata Paradeiro (na Pinheira).
12
A toponímia desta praia está estreitamente ligada as populações pré-históricas. Seu nome advém de uma
gravura (representação humana) que era considerada pela comunidade local (nativa) a representação de um
santo; uma associação de um signo pagão a uma referência do culto cristão. Segundo João Batista Martins, a
retirada da rocha com a gravura por Rohr causou uma sensação de expropriação e de perda de um elemento
fundamental para a sua identidade (1995: 114). Anterior a esta denominação da praia como sendo do
“Santinho”, aparece no mapa da memória de Paulo Jozé Miguel de Brito, escrita em 1816, a referência de
“Praia das Flexas” (Brito: 1829).
40
Fig. 4. Logomarca do empreendimento Complexo
Turístico Costão do Santinho. Fonte:
www.costao.com.br/
Fig. 5.
Logomarca do empreendimento
Cezarium Residence Club. Fonte:
www.formacco.com.br/lancamento/index.php?fu
seaction=lancamento&lan=cez
Outro movimento, muito contemporâneo à utilização das gravuras em logomarcas,
foi à releitura dos temas rupestres na produção artística como elemento de identidade
cultural local. Como sugere Leonardo Fabrício Romão, no campo das artes plásticas, o
estudo arqueológico pode ser utilizado na expressão artística e como objeto de estudo
estético (1999: 2-4). Para este autor, cabe ao artista resgatar tais símbolos, que os seus
autores não podem renová-los (Romão, 1999: 5-6).
Expressão de uma nova visualidade é encontrada na obra do artista plástico João
Otávio Neves Filho o Janga. Nos anos 80, o artista representou as gravuras rupestres com
diferentes técnicas: com incisões em uma pasta de areia e aglutinante e com pintura em
lona e com veladuras na série Itacoatiara (Pisani, 1988: 6-14). Janga através de um
tratamento contemporâneo dado à leitura das gravuras rupestres, renova a arte catarinense,
sendo “Considerado pela crítica Adalice Araújo como o melhor intérprete da semiótica
ilhoa.” (Pisani, 1988: 8) Janga a suas obras uma repercussão pública mais ampla com
inspiração nas referidas gravuras através da montagem de cenários para espetáculos, no
palco que se celebrou a missa do Papa João Paulo II, em painéis de edifícios residenciais e
comerciais
13
.
13
Do autor é o painel metálico do edifício comercial BeiraMar Building no bairro centro e o painel mosaico
do edifício residencial Albatroz no bairro Itacorubi em Florianópolis. Outros locais públicos de Florianópolis
foram espaço para novas leituras, por moradores e outros artistas: os postes de luz no centrinho da Lagoa da
41
A temática rupestre tem também aparecido cada vez mais no artesanato local
14
, que
sempre busca elementos ligados ao folclore e as tradições locais para a confecção de
produtos que representem a Ilha de Santa Catarina.
Recentemente, as representações também foram utilizadas como tema para a
indústria de revestimento cerâmico. As empresas PortoBello e Portinari criaram suas linhas
de porcelanato rústico Campeche, inspirada na ilha que leva o seu nome e Rupestre Íris,
respectivamente (figs. 6 e 7).
É levando em conta todas estas contribuições científicas e re-apropriações
simbólicas, que surge o projeto de tese “Em busca de um contexto entre as gravuras
rupestres e os sítios de ocupação nas ilhas continentais do Arvoredo, Campeche e Coral”,
apresentado a Pós-Graduação de História da PUCRS em 2001. Portanto, o projeto é
elaborado a partir da reflexão das leituras teóricas e temáticas e das indagações oriundas
das saídas de campo aos sítios arqueológicos. Também, algumas atividades
15
relacionadas à
documentação, divulgação e proteção dos sítios de representação rupestre foram
importantes para a familiarização junto à temática até a concretização desta pesquisa de
maior vulto.
Conceição, mural do projeto Trindarte e na fachada lateral do edifício residencial Pisa no bairro Itacorubi.
Em Palhoça, na decoração das paredes internas das lojas do centrinho da Guarda do Embaú.
14
José Luiz de Morais expõe a importância da produção artesanal inspirada nos registros arqueológicos
regionais como um dos usos do patrimônio arqueológico para fins turísticos (2001: 103).
15
Em 1995, junto com Rodrigo Aguiar, realizamos saídas a vários sítios de gravura rupestre e oficinas líticas
na Ilha de Santa Catarina, resultando na exposição “Arqueologia Pré-Colonial na Ilha de Santa Catarina”. De
1996 a 1997, sem a companhia de Aguiar, foi registrado fotograficamente os sítios da Ilha de Santa Catarina,
re-visitando vários dos sítios já conhecidos. Este novo momento foi consagrado pela criação de uma
exposição chamada “Caminhos da Arqueologia” que procurou através de fotografias e textos sensibilizar as
pessoas para a preservação dos sítios arqueológicos. Esta exposição permaneceu de 1998 a 2003 no Museu
Universitário “Prof. Oswaldo Rodrigues Cabral” da UFSC; segundo o diretor da Instituição, Gelci Coelho, em
dois anos a exposição foi visitada por 30.000 pessoas, aproximadamente (inf. pessoal). Posteriormente, em
2000, desenvolveu-se a idéia do projeto, buscando ultrapassar o interesse do levantamento fotográfico para
um levantamento sistemático que resultasse em uma análise integrada destes sítios de representação rupestre.
Entre os anos de 2000 a 2001, a serviço da 11
a
SR/IPHAN/SC, foram desenvolvidas atividades de registro, de
monitoramento e educacionais relativas as gravuras, mais especificamente na Ilha do Campeche.
42
Fig. 6. Revestimento cerâmico da Linha
“Campeche” da Portobello, lançamento de
2001. Fonte: www.portobello.com.br/
Fig. 7. Revestimento cerâmico da Linha “Rupestre
Íris” da Portinari, lançamento de 2001. Fonte:
www.ceramicaportinari.com.br/actimage2/produtos/
Enfim, as referências sobre as gravuras são muito parecidas, quase todos os autores
retomam a obra de Rohr (1969); somente existe discordância quanto à autoria das mesmas,
como retomaremos mais adiante. Depois de ler todos os trabalhos citados, pode instaurar-se
uma sensação de que tudo foi dito e que sempre se dizem as mesmas coisas. Assim, não
seria mais necessário o estudo deste tema, sendo considerado fato consumado. As
pesquisas arqueológicas da última década, não têm aliado levantamentos de campo
sistemáticos a consistentes análises arqueológicas, tendo a inexistência de um destes
comprometido o avanço teórico-metodológico nesta área. Contudo, devemos admitir que
foram feitos importantes avanços e a questão rupestre voltou a ser tema de maior interesse
para a comunidade arqueológica. Como veremos a seguir, muito ainda têm que ser
estudado, documentado exaustivamente e analisado, em conjunto com outros sítios
arqueológicos do litoral central catarinense.
3. Aportes conceituais e procedimentos metodológicos
3.1. Pensando sobre gravuras: delimitando os aportes conceituais
43
A pesquisa arqueológica com representações rupestres possui algumas
especificidades em relação aos outros tipos de sítios: 1) existe a intenção do ator social em
realizar o registro, isto é, as representações rupestres são feitas para serem registros
gráficos; 2) a possibilidade de estudar estes sítios sem exercer nenhum tipo de alteração
física sobre os mesmos, como também ocorre com as oficinas líticas. Este segundo fator faz
com que tais sítios possam ser documentados por vários pesquisadores e que os dados de
campo sejam reconstruídos e/ou complementados (Consens et alli, 1977, 145); diferente
dos sítios em que se impõem escavações, pois, se não são bem registrados perdem-se os
dados sem a possibilidade de retorno. Esta particularidade dos sítios de representação
rupestre e das oficinas líticas não exime a responsabilidade do arqueólogo que realiza o
estudo.
Talvez a realidade da natureza do objeto de estudo seja a única experiência
compartilhada entre todos os pesquisadores em sítios com representação rupestre. Como
demonstra Emmanuel Anati
16
, os olhares sobre as gravuras e pinturas e os questionamentos
elaborados podem ser completamente distintos. As abordagens teóricas e os aportes
conceituais podem variar até mesmo dentro da própria produção intelectual de um mesmo
autor ao longo de sua carreira profissional, o que implica o manejo de uma multiplicidade
de teorias e conceitos e numa escolha dos referenciais apropriados para cada caso.
O estudo de gravuras e pinturas rupestres pode estar pautado por diferentes
abordagens teórico-metodológicas: arqueologia histórico-cultural, etnoarqueologia,
arqueologia espacial, arqueologia da paisagem, arqueologia cognitiva e outras. O objetivo
da pesquisa pode estar no estudo: do significado, da cronologia, repertório e variabilidade
de tipos, da afinidade cultural, da dispersão espacial, da conservação das gravuras, entre
outros. O significado é um campo que até a década de 50 estava em voga; hoje, para a
arqueologia, se verificou como sendo muito subjetivo
17
e de pouca validez (Prous, 1989:
8).
16
“Data considered significant by one researcher may not be considered so by another” (Anati, 1984: 28).
17
Consens alerta para a fato de ir-se diretamente da percepção visual de representações rupestres para a
interpretação, e de significado, algo que é impossível de ser verificado na maioria dos casos: “El error aqui es
que parece que interpretar pasa a ser una “necesidad (y por lo tanto algo totalmente subjetivo). Con ese
criterio se podría llegar a correlacionar cualquier deseo por mera similitud y sin considerar el contexto.”
(1984: 37).
44
Partindo desta diversidade de olhares, delimitamos os aportes conceituais para
atuarem como base de referência desta pesquisa, desde a documentação até a interpretação
do objeto de estudo. Neste momento, cabe retomarmos o objetivo desta pesquisa: a análise,
a partir de uma perspectiva espacial, da existência de recorrências significativas das
representações rupestres que, por fim, podem resultar no reconhecimento de uma gramática
plástica comum. Para dar conta desta matéria utilizamos, principalmente, os aportes
oferecidos por Clark (1977), Leroi-Gourhan (1985), Criado Boado (1993,1999) e Vialou
(1999, 2000, 2002), observando a especificidade de cada autor; para que as análises
empreendidas possam somar-se na compreensão do fenômeno rupestre da área marítima de
Santa Catarina.
Quanto aos conceitos que utilizamos neste trabalho existe uma percepção
polissêmica e um tratamento diferenciado por cada escola arqueológica e até mesmo por
cada arqueólogo. Assim que se torna apropriado discutir brevemente o que entendemos por
cada conceito, já que muitas terminologias usuais podem ter diferentes significados e serem
re-significadas como já mostraram Mario Consens e Paulo Seda (1990).
Dentre as muitas escolhas, questionamos a utilização do termo arte rupestre,
simplesmente porque não sabemos se as gravuras foram uma forma de arte para as
populações pré-históricas
18
. Apesar da popularidade do termo e de sua utilização
convencional na arqueologia, este já foi amplamente discutido e problematizado por Robert
Layton (1991), Christopher Chippindale e Paul S. C. Taçon (1998: 6), Denis Vialou (1999:
243) entre outros.
Amenizando a utilização do termo arte no estudo de pinturas e gravuras rupestres,
Prous tenta buscar a etimologia da palavra, isentando-a de suas modernas definições (1992:
510). O vocábulo arte na sua origem seria um “conjunto de preceitos para a execução de
qualquer coisa” (Cunha, 2001: 72). A maioria dos autores hoje tende a utilizar o termo,
consciente dos múltiplos significados. Podemos aceitar o termo arte quando a sua definição
18
“(...) while plastic arts devote themselves to visual representation, not all visual representation is art.”
(Layton, 1991: 6-7). Para a pesquisa arqueológica, Anne-Marie Pessis comenta: “Considerar os registros
rupestres unicamente como obras artísticas de épocas pré-históricas é uma abordagem que não é de grande
utilidade para a pesquisa arqueológica.” (1992: 37)
45
dá conta desta realidade dúbia, para isso o arqueólogo precisa perceber que o problema não
está na nomeação, mas, na leitura destas representações como objetos de arte.
O termo arte rupestre (rock art, art rupestre) tem sido aplicado distintamente de arte
parietal
19
(cave art, art parietal), o primeiro seria:
A arte rupestre (da palavra latina que significa rocha) é constituída de imagens (ou
representações) materializadas sobre os suportes rochosos imóveis: seja de paredes,
mais freqüentemente areníticas ou calcárias, de abrigos sob rocha e de tetos ou de
entradas de grutas, seja em rochas ao ar livre, seja de superfícies endurecidas. A arte
rupestre é fundamentalmente uma arte de luz, direta ao ar livre ou em abrigos mais ou
menos sombreados.
20
Entretanto, optamos por utilizar aqui o conceito de representação rupestre por estar
isento de uma conotação artística. Contudo, outras definições também são utilizadas:
registro rupestre (Pessis, 1993; Martin: 1997, 245; Pessis e Guidon, 2000), registro gráfico
(Pessis, 2003) e expressão rupestre (Soares, 2003). Podemos definir representação rupestre
como: a manifestação gráfica de uma representação mental (Denis Vialou, inf. pessoal,
07/07/2004). Por sua vez, Colin Renfew & Paul Bahn definem representação como
qualquer objeto ou qualquer desenho ou pintura sobre uma superfície que pode se
reconhecida como uma imagem, sem denotar, com isso uma reprodução mecânica (1993:
363).
Os conceitos adotados para o estudo das representações rupestres nesta pesquisa
tratam da identificação, da morfologia, da ocorrência, da visualização e da visibilidade das
mesmas, reunidos na figura 8.
19
A arte parietal seria uma arte em abrigos em condição de penumbra ou em grutas com nenhuma luz natural
(Vialou, 1999: 242).
20
“L’ art rupestre (du mot latin signifiant rocher) est constitué d’images (ou représentations) matérialisées sur
des supports rocheux inamovibles: soit des parois, le plus souvent gréseuse ou calcaries, d’ abris-sous-roche et
de porches ou d’entrées de grottes, soit de rochers à l’air libre, soit de sols indurés. L’art rupestres est
fondamentalement un art de lumière, directe en plein air ou en abri plus ou moins ombragé.” (Vialou, 2000:
382).
46
Fig. 8. Organograma da terminologia para o estudo das representações rupestres.
Os critérios para a identificação das representações rupestres em um sítio
arqueológico foram, a saber: unidade gráfica, gravura, conjunto gráfico, painel e dispositivo
parietal. A unidade gráfica é a menor parte visível e tem uma disposição espacial (Vialou,
inf. pessoal., 2002). Uma gravura pode ser formada por uma ou mais unidades gráficas de
apenas um tipo ou tipos combinados; como exemplo, se examinarmos um conjunto de
linhas onduladas verticais, cada linha é uma unidade gráfica se apenas observarmos do
ponto de vista conceitual. Porém, ela é parte de um conjunto de linhas, portanto, o conjunto
da área gravada e o seu “fundo” são uma gravura, que irá ser caracterizada pelas relações
formais que estabelece entre os seus atributos.
O conjunto gráfico é um conjunto de unidades gráficas que pode ser lido em
conjunto podendo formar uma cena (Vialou, inf. pessoal, 2002) (Fig. 9). Os critérios para
definir um conjunto são as relações de proximidade entre as gravuras.
Unidade gráfica Gravura
Conjunto Gráfico Painel
Dispositivo Parietal
Identificão
Esquemático
Figura elementar Figura complexa
Geométrico
Morfologia
Motivo Sinal
Ocorrência
Visível Dissimulada
Visualização
Panomica Parcial
Nula ou baixa
Visibilidade
Terminologia para as representões rupestres
47
Fig. 9. Unidades gráficas tracejadas em vermelho e o conjunto delimitado em linha azul, Morro das
Aranhas II, Ilha de Santa Catarina. Data: 26/12/2001. Foto: Fabiana Comerlato.
Um painel é formado por representações agrupadas em um espaço natural
delimitado ou que definem um espaço gráfico próprio, único ou distinto de todos os outros
de um mesmo lugar (Vialou, 1999: 266). Um painel pode estar separado por outro, por uma
fenda, por planos distintos ou pelo diaclasamento do suporte, geralmente estão em locais de
boa visualização e visibilidade.
Entendemos por dispositivo parietal um conjunto seqüencial de painéis e conjuntos
gráficos, um exemplo desta leitura pode ser visto na figura 10. Segundo Vialou, “A noção
de dispositivo parietal recobre a distribuição de um sítio, considerada como uma unidade de
lugar, um conjunto de representações que foram executadas em uma ou várias etapas”
21
(1999: 264).
Quanto à morfologia das gravuras, os tipos de representação rupestre podem ser
agrupados em geométricos e esquemáticos. A representação geométrica é uma
representação abstrata, que pode ser comparada aos elementos da geometria. Pode ser
21
“La notion de dispositif pariétal recouvre la distribution dans un site, consideré comme une unité de lieu, de
l’ensemble des représentations qui y furent exécutées en une ou plusieurs étapes.”
48
classificada em figuras elementares e figuras complexas (Vialou, inf. pessoal., 2002). A
esquemática é uma representação animal ou humana reduzida a seus traços essenciais -
simplificada até o limite da compreensão (Roussot, 1998: 51).
Quanto à ocorrência das gravuras, podemos classificá-las em sinais ou motivos. O
sinal é uma representação geométrica ou figurativa que apresenta uma repetição freqüente
ou constante nos sítios (Vialou, 2003: 75). E, por fim, o motivo é uma representação
geométrica, geralmente complexa, que aparece uma ou duas vezes, tornando-se um tema
único (Vialou, 2003: 75).
A visualização é como vemos as representações do seu exterior e do seu entorno
22
.
Dependendo da sua situação topográfica as gravuras podem apresentar-se em agrupamentos
ou isoladas e serem visíveis ou dissimuladas. As representações visíveis são todas aquelas
imediatamente reconhecíveis e visíveis, espetaculares ou não (Vialou, 1999: 265). As
representações dissimuladas são aquelas que não podem ser visíveis em um primeiro
momento. A dissimulação visual ocorre pela escolha de locais particulares, como, por
exemplo, em fendas, reentrâncias e embaixo de outros blocos rochosos (Vialou, 1999: 265-
266).
Quanto à visibilidade, ou seja, o que se vê a partir do elemento arqueológico dado
23
,
as gravuras podem estar em locais com vistas panorâmicas, com vistas parciais e com
nenhuma ou baixa visibilidade.
Esboçados os aportes conceituais, trataremos a seguir dos procedimentos
metodológicos.
22
“(...) como se ve ese elemento concreto desde fuera de él y sobre el entorno.” (Criado Boado, 1999: 33).
23
Criado Boado, 1999: 33.
49
50
3.2.
Nas trilhas dos costões: metodologia para os sítios de representação rupestre
A pesquisa das representações rupestres da costa catarinense ocorreu a partir da
adoção das seguintes
etapas dos procedimentos metodológicos: 1) de registro; 2) de análise;
3 e 4) de síntese e interpretativos
24
. Tais etapas dos procedimentos metodológicos,
conforme segue, correspondem: 1) a documentação das representações rupestres; 2) a
informatização dos dados e análises variadas, incluindo a análise espacial dos sítios (níveis
micro, semi-micro e macro); 3 e 4) a proposta de um modelo explicativo sobre a ocorrência
deste tipo de representação no litoral catarinense através da articulação entre os resultados
das análises geradas por esta pesquisa.
3.2.1. Procedimentos metodológicos de registro
Nesta pesquisa, grande parte dos procedimentos metodológicos é dedicada a
produção da documentação dos sítios estudados. Desta forma, a pesquisa gerou cinco tipos
de documentos principais: fotografias, relevés, estudos de composição, mapas temáticos e
banco de dados Memória Rupestre (vide fig. 11). Os estudos de composição e os mapas são
produções feitas a partir dos documentos gerados durante o levantamento de dados; os
primeiros são resultantes das fotografias e os segundos dos dados recolhidos em campo sob
uma base cartográfica já existente.
24
“La idea de nivel que manejamos es la de una etapa dentro de un proceso en la cual se realizan
determinadas operaciones físicas o conceptuales, con el material interviniente. También entendemos que un
nivel tanto puede recoger los resultados de etapas previas (niveles de menor jerarquía), como proponer nuevos
resultados para una etapa posterior (nivel de mayor jerarquía), o evaluar e intercambiar datos con otras etapas
de distinta aproximación (nivel de igual jerarquía).” (Consens, 1985: 10).
51
Fig 11. Organograma da documentação gerada pela pesquisa.
O registro em campo foi realizado mediante o recorte espacial; foram tomados os
dados do sítio, do painel (se houver) e da gravura. Os mesmos critérios utilizados no
registro em campo foram utilizados na organização dos dados em laboratório. O
levantamento das gravuras e painéis segue a ordem da esquerda para direita e da mais alta a
mais próxima do solo
25
. As unidades gráficas são uma categoria que figura na própria
definição de gravura e o dispositivo parietal engloba a análise de painéis e gravuras
complementares ou periféricas; porém, ambos, não recebem uma ficha própria de
catalogação.
A documentação fotográfica para registros visuais, seja de origem arqueológica ou
etnográfica, é imprescindível. O registro fotográfico, pelo grande número de tios, foi
sistematizado gerando um amplo acervo de fotografias coloridas, sobretudo, digitais. As
fotografias analógicas coloridas geradas desde 1995, como as de outros acervos pessoais ou
institucionais, puderam ser aproveitadas como base de consulta na re-localização de
gravuras e para realizar estudos comparativos com os novos registros. O levantamento feito
para a pesquisa contempla o registro fotográfico de cada unidade gráfica (plano fechado),
dos conjuntos ou painéis e do sítio (plano aberto). As fotografias foram tomadas
preferencialmente em ângulo de 90° sem o uso de tripé. A iluminação foi com luz natural;
25
Neste estudo, o solo se refere ao próprio afloramento rochoso, o primeiro plano horizontal perpendicular ao
registro, já que não existe cobertura sedimentar ou pedogênica nos costões rochosos.
Relevés
Sítio
Ficha de identificação
Gravura
Ficha de identificação
Alises multi-variadas
Dados Textuais e Númericos
Banco de dados
MERIA RUPESTRE
Mapas temáticos
Documentação das representões rupestres
Estudos de composição
Fotografias
52
dependendo do horário, estação e condição climática o registro pode sofrer alterações
significativas.
Para o banco de dados foi adotada a fotografia digital, que permite o fácil manejo, a
possibilidade da aplicação de filtros (brilho, contraste, resolução, etc) e por apresentar
menor distorção que a fotografia gerada por negativo - que não precisa ser digitalizada.
Somado a estas vantagens, maximiza o espaço físico ocupado pelos registros e dinamiza o
processo do registro fotográfico, tornando-se uma ferramenta de trabalho com maiores
possibilidades de uso
26
que a fotografia analógica. Não existe um consenso entre as
vantagens e desvantagens da fotografia digital
27
, alguns autores digitalizam o negativo de
fotografias analógicas, que a fotografia comercial é limitada para o tratamento de
imagens através de programas de computador (Domingo Sanz et alli, 2002: 77).
O interessante do tratamento digital é que as imagens de segunda ordem
(fotografias) podem gerar imagens de terceira ordem (calcos digitais) que permitam isolar
determinadas variáveis do suporte, chegando à criação de uma “cópia digital” (Montero
Ruiz et alli, 1998: 158). Estes procedimentos têm boa utilização, no caso das pinturas
rupestres, na análise de pigmentos e sobreposições de camadas pictóricas.
O relevé é uma análise de uma ou mais unidades gráficas através da reprodução da
mesma em tamanho natural em película plástica, denominada em inglês tracing. Segundo
Vialou: “A leitura pensada pelo decalque é uma reconstrução analítica das gravuras e, não
uma reprodução pura e simples como crêem alguns.”
28
(1982: 1487). Muitos autores da
bibliografia brasileira têm utilizado o termo cópia
29
ou decalque para denominar este tipo
de procedimento metodológico. Cabe ressaltar que este processo de passar para o plástico
uma pintura ou gravura é uma leitura do arqueólogo, serve como um registro e é produto de
26
Das fotografias tomadas em campo foram selecionadas somente as melhores que foram incorporadas ao
banco de dados “Memória Rupestre”, e posteriormente, foram impressas em papel para arquivamento de
acervo pessoal. O custo da geração de imagens digitais é mais baixo que pelo método convencional, porém, a
impressão é quase o dobro do valor da impressão feita por negativo.
27
Isto irá depender dos objetivos da pesquisa, do acesso a máquinas profissionais e recursos informáticos
etc...
28
“La lecture raisonnée par calque est une reconstruction analytique des gravures et non une reproduction
pure et simple comme le croient d’aucuns.”
29
Reprodução da arte rupestre em tamanho original em plástico transparente, usando um pincel atômico
apropriado. (Schmitz et alli, 1984: 10)
53
uma análise visual direta do pesquisador. o podemos tratar o relevé como uma
reprodução idêntica, já que na sua realização interferem à experiência do arqueólogo, as
condições de visualização, os materiais empregados, entre outros fatores analisados por
Consens (1985: 366). Um simples teste pode ser feito, peça a três arqueólogos fazerem um
relevé de uma unidade gráfica, compare-os entre si e perceberá três resultados diferentes.
O relevé, apesar do caráter subjetivo que apresenta, a sua execução é um documento
importante de registro e análise, que poderá ser muito útil em unidades que somente a
fotografia não é suficientemente informativa. Além da “cópia” dos elementos gráficos, o
relevé deve incluir os dados evolutivos (a ação do tempo) e os naturais (suporte), com a
representação das áreas com líquens, fraturas, desprendimentos de placas, graffiti etc
(Vialou, 1982: 1486) (vide exemplo fig. 12). Pela grande quantidade de representações
rupestres, somente foram realizados 73 relevés de gravuras, sem a adoção de uma
sistematização. A escolha das representações dependeu ou da insuficiência do registro
fotográfico ou da preocupação na geração deste tipo de documento, que pode servir como
base de consulta durante e depois da pesquisa. Além de servir como “elemento auxiliar”
30
,
uma característica que difere dos outros registros é o tempo gasto para sua execução. O fato
de estar analisando uma gravura 30 ou 45 minutos faz com que a execução seja tão
importante quanto o resultado porque o tempo de observação será muito maior. Dessa
maneira, o relevé é também um procedimento importante para reflexão e detalhamento das
características de técnicas, suportes, tipos etc.
30
Pessis, 1992, 60.
54
Fig. 12. Digitalização do relevé da gravura
TST-02, Ilha do Campeche, realizado em
05/02/2003. Observe as áreas verdes (líquens)
e os traços vermelhos (fraturas).
O estudo de composição
31
é o desenho de um painel ou dispositivo parietal sobre
uma fotografia digital, dando destaque às feições do suporte e as áreas gravadas através de
uma convenção de cores que correspondem aos tipos reconhecidos
32
. Os estudos de
composição, confeccionados no software CorelDraw versão 10, foram o recurso escolhido
para analisar o agenciamento (sobreposições, associações, repetições e situações de
isolamento) dos painéis e dispositivos parietais. Portanto, este tipo de desenho facilita a
análise espacial no nível micro, que preserva a situação topográfica dos registros
rupestres.
Os mapas temáticos são fundamentais como documentos gráficos para os trabalhos
tanto em arqueologia espacial quanto da paisagem. Neste estudo, apenas trabalhamos com
31
“Se denomina composición a un grupo de figuras cuya asociación voluntária implica una disposición
consciente de los elementos sobre el soporte parietal.” (Leroi-Gourhan, 1984: 531)
32
Existem várias maneiras de sistematizar painéis e dispositivos em planos, esta topografia geralmente é feita
como parte dos trabalhos de campo. Este tipo de levantamento requer equipamentos, uma pequena equipe e
tempo para sua realização. No caso das grutas paleolíticas da Europa Ocidental, existem os exemplos de Peter
Ucko e Andreé Rosenfeld (1966) quando fazem uma discussão das relações espaciais indicadas por Leroi-
Gourhan e seus antecessores. Para isso, utilizam uma convenção de cores (para indicar a identificação de cada
autor) e números (relativo aos números de uma mesma espécie representada) para analisar espacialmente a
disposição das pinturas, sempre observando sua situação topográfica original. Outros exemplos consultados
foram os estudos clássicos de Leroi-Gourhan e de outros autores sobre arte paleolítica, além das pesquisas
nacionais.
55
os mapas para identificar os sítios estudados dentro da área central do litoral de Santa
Catarina.
Por último, optamos pela aplicação de um “protocolo de observação”
33
e,
posteriormente, a criação de um inventário no formato de um banco de dados, com duas
fichas de identificação (sítio e gravura) elaboradas para os propósitos desta pesquisa. Uma
das exigências no estudo da arte rupestre é justamente a documentação sistemática, pois,
devemos levar em conta que:
Cada figura contém elementos estruturais e formais, encontra-se ou pode encontrar em
relação com outras ou com acidentes da parede, organiza-se em painéis, cenas ou
sobreposições, ocupando um espaço elegido pelos seus autores; todo este preservado
ou modificado pela ação do tempo...Enfim, a documentação da arte rupestre requer
o manejo de grande quantidade de informação pouco normalizada e por isto é
imprescindível desenhar e experimentar com bons formulários de registro de dados
susceptíveis a serem processados informaticamente. (Romanillo, 1999: 33, grifo nosso)
Portanto, para a criação das fichas desta
pesquisa foram observadas várias outras de
projetos e publicações, sendo definidos os
campos de informação compondo formulários
para a identificação das representações
rupestres e de seus sítios. De acordo com
Niède Guidon, uma ficha bem feita não pode
ter campos que não sejam preenchidos, para
tal deve-se revisar a estrutura da ficha
buscando sempre um melhor formato
(1978/79/80: 18-19). Todavia, os dados
arqueológicos advêm de contextos culturais
que, por princípio, são dinâmicos; como
sabemos, uma ficha de dados emoldura,
33
O protocolo de observação “(...) permite registrar uma série de informações complementares ao registro
visual.” (Pessis, 1992: 59).
56
seleciona, restringe os contextos observados.
Desta maneira, uma ficha nunca conseguirá
abranger a totalidade do fato arqueológico:
nem abarcando todos os dados, nem
preenchendo todos os campos selecionados à
ficha. Isto porque, cada sítio é único e
diferente, e cada arqueólogo imprime um olhar
ao objeto de estudo. Ainda segundo Guidon, é
importante preencher a ficha ao longo de
várias saídas de campo, já que nem tudo pode
ser observado em uma única visita
(1978/79/80: 18-19).
Desse modo, rios modelos de fichas foram testados até a elaboração final do
banco de dados, denominado de Memória Rupestre. Este banco de dados foi criado a partir
do programa Microsoft Access 2000, permitindo que dados diferenciados (textuais,
numéricos e gráficos) pudessem ser armazenados, relacionados, consultados (classificação,
filtragem, etc) e impressos (figs. 13 e 14). As consultas também podem ser analisadas no
programa Microsoft Excel 2000 e importadas para outros programas, como o Microsoft
Word. A descrição dos campos de cada ficha estão explicitadas no Apêndice 4 e o arquivo
com o banco de dados está disponível por meio digital no Apêndice 6.
57
Fig.13. Tela inicial do banco de dados Memória Rupestre.
Fig. 14. Relacionamentos entre os campos das fichas de identificação.
58
3.2.2. Condicionantes do registro das representações rupestres
A percepção das representações rupestres está condicionada pelo objeto (suporte,
elemento gráfico e ação do tempo) e pelo sujeito (órgão receptor e condições subjetivas
gerais) (Consens & Bespali de Consens, 1977: 145).
Quanto a variável sujeito-pesquisador, a documentação esteve condicionada pela
observação direta a olho nu. A habilidade na capacidade de documentar foi sendo
aprimorada ao longo da pesquisa, ocorrendo várias situações em que isto pode ser
percebido, principalmente quando se fez repetidas saídas de campo a um mesmo sítio. A
experiência adquirida em estágio na Missão Franco-Brasileira 2002 em Mato Grosso trouxe
a pesquisa uma base de referência teórico-metodológica e possibilitou o aprimoramento no
processo dos registros
34
. A consulta de levantamentos de outros autores, anteriores a esta
pesquisa, também foi válida para revisão de alguns registros; a observação direta é
inevitável que ocorra a percepção seletiva “(...) que direciona a atenção para o que se
procura” (Pessis, 1992: 59). Aliada a estas limitações, a ação do tempo e o aspecto do
suporte alteram a visualização do elemento gráfico, além da influência dos fatores
climáticos como já exposto anteriormente.
O tratamento atemporal dado aos registros rupestres também é um fator que deve
ser avaliado quando forem feitas as análises dos sítios, que as mesmas são tratadas como
se fossem contemporâneas (Pessis, 1992: 40; Pessis, 1993: 8; Martin, 1997: 248). No
momento não existem técnicas de datação confiáveis para que se possa estabelecer algum
34
A missão franco-brasileira no Estado do Mato Grosso - ano 2002 - ocorreu entre os dias 15/07 e 22/08, nas
regiões da Serra das Araras e Cidade de Pedras. A equipe de coordenadores foi constituída pelos professores
Dra. Águeda Vilhena Vialou, Dr. Denis Vialou e Dr. Levy Figuti, tendo sob sua responsabilidade o projeto
“Pré-História e Paleo Ambiente da bacia do Paraná”. O projeto foi firmado por meio de um convênio
internacional entre o Museum National d’Histoire Naturelle de Paris, na França e Museu de Arte e Etnologia
da Universidade de São Paulo (USP), com apoio do governo do Estado e da Secretaria de Estado de Cultura
do Mato Grosso. Nos campos coordenados pelos arqueólogos Dr. Denis Vialou e Dr. Patrick Paillet foram
vivenciadas situações de registro, identificação e leitura dos sítios rupestres. Particularmente foi uma
oportunidade única, a primeira vez que tive uma experiência prática com pinturas e a realização do primeiro
relevé com orientação.
59
tipo de cronologia. A análise estilística dos tipos, tampouco, pode fornecer parâmetros
seguros.
Quanto ao objeto, as formas de alteração são um fator importante no momento do
registro, porque indicam os processos de alteração que atuaram ou atuam nas
representações rupestres. No caso específico, dividimos os processos de alteração em:
mecânicos, químicos e biológicos.
O primeiro e o segundo grupo correspondem aos processos de meteorização que
acarretam em modificações mecânicas e químicas nas rochas. As formas de alteração do
primeiro grupo são: escorrimento d’água, fratura, desprendimento de placas e depósito.
Os cursos d’água
35
nos costões rochosos suportes das gravuras geralmente são
efêmeros, subsuperficiais e acompanham as áreas de maior declive e drenagem (figs. 15 e
16). Verificamos que, além das gravuras estarem expostas a água do mar, trazida com o
vento forte (maresia) e a água das chuvas; os cursos d’água sobre as gravuras podem
contribuir o aparecimento de alterações cromáticas, de parasitas e de fraturas.
Fig. 15. Escorrimento d’água, ST3-23, Ilha de
Santa Catarina. Data: Verão/1995. Foto:
Fabiana Comerlato.
Fig. 16. Escorrimento d’água, gravura TST-03,
Ilha do Campeche. Data: 01/02/2002. Foto:
Fabiana Comerlato.
As fraturas também denominadas de diáclases, juntas ou fendas, são aberturas
microscópicas ou macroscópicas que aparecem no corpo de uma rocha (figs. 17, 18 e 19).
São pontos fracos das rochas e podem ser verticais, horizontais ou inclinadas (Guerra:
35
Os cursos d’água são corredores naturalmente condutos de matéria, energia e espécies (Forman apud
Mazzer, 2001: 173)
60
1989: 132). As rochas podem apresentar diáclases abertas ou fechadas (Brunet et al., 1985:
56). As fraturas abertas podem ter milímetros ou alguns centímetros; as fechadas não
existem abertura nem separação do suporte (Ripoll López & Municio González, 1999: 35).
Fig. 17. Gravura LTR-03, Ilha do Campeche. Data: 24/03/1999. Foto: Fabiana Comerlato.
Fig. 18. Detalhe de fraturas abertas. Fig. 19. Marcação das linhas de fratura.
61
Fig. 20. Desprendimento de placas, Praia Mole
I, Ilha de Santa Catarina. Data: Out./1996.
Foto: Fabiana Comerlato.
Fig. 21. Depósito (seta vermelha) e alteração
cromática (seta azul), Pedra Preta do Sul, Ilha
do Campeche. Data: 16/12/2001. Foto: Fabiana
Comerlato.
O segundo grupo é o de processos químicos, sendo as formas de alteração mais
freqüentes: a alveolização, a alteração cromática e a deposição de sais. A alveolização é um
tipo de intemperismo químico conhecido como tafoni, que deixa no suporte uma série de
alvéolos, que não podem ser confundidos com marcas de picoteamento (fig. 22).
Fig. 22. Alveolização (tafoni), gravura ST1-01,
Ilha de Santa Catarina. Data: Jan/2002. Foto:
Fabiana Comerlato.
A alteração cromática seria uma “variação da cor original da rocha, normalmente
associada à lixiviação de óxidos de Fe da mesma. Podem caracterizar-se assim alguns leves
casos de biodeterioração.”(Carrera Ramírez, 1996/97: 98) (fig. 21). O acúmulo de sais pode
ser descrito como o resultado da água do mar que respinga em forma de spray e com a
insolação a água evapora deixando concreções de sal na superfície.
62
O terceiro grupo são os processos de alteração biológicos, sub-divididos em flora
(líquens, musgos e vegetação xerófita) e fauna (aves e térmitas), ambos agentes
responsáveis pela formação de pátinas e crostas.
Os líquens são fungos que vivem em simbiose com organismos fotosintetizantes
(cianobacterias e/ou algas verdes), podendo alterar o substrato na sua morfologia e
coloração (Nimis, 1992: 31) (figs. 23 e 24). Os processos químicos de degradação ocorrem
porque o substrato entra em contato com os produtos do metabolismo liquênico: anidrido
carbônico, ácido oxálico e substância liquênica com propriedades complexas (Nimis, 1992:
13). Porém, os líquens litófilos contribuem mais para as alterações mecânicas da superfície
afetada do que sua alteração química (Bigarella, 1996: 438).
Os mecanismos biogeofísicos de degradação dos líquens ocorrem pela penetração
do rizoma nas rochas ou pela quantidade de substância gelatinosa, que se expandem ou
contraem em função do maior ou menor conteúdo de água. Os movimentos de penetração e
contração provocam levantamentos na parte marginal do talo do quen que causam um
efeito de peeling na rocha (Nimis, 1992: 12-13).
Fig. 23. Líquen na gravura CFT-04, Ilha do
Campeche. Data: 22/03/1997. Foto: Fabiana
Comerlato.
Fig. 24. Líquen na gravura LTR-28, Ilha do
Campeche. Data: 22/03/1997. Foto: Fabiana
Comerlato.
Os musgos aparecem após o segundo ciclo de
líquens, encontrando ambiente propício para o
63
seu desenvolvimento (Bigarella, 1996: 441-
442) (fig. 25). Sobre os musgos podemos
dizer: “(...) que contribuem ao ataque indireto
da rocha, armazenando grande quantidade de
água que pode atuar nos processos físicos-
químicos do intemperismo, principalmente nos
paredões rochosos íngremes, onde a retenção
de umidade seria, de outra forma, muito
difícil.” (Bigarella, 1996: 442).
Fig. 25. Musgo, Ilha João da Cunha, Porto
Belo. Data: 12/02/1998. Foto: Fabiana
Comerlato.
A vegetação próxima aos costões rochosos,
classificada como área de formação pioneira, é
aquela que sofre a influência marinha, porém
diferenciando-se do resto das comunidades
arenosas (IBGE, 1991: 31). A vegetação
xerófita é a que ocupa a primeira zona após o
ambiente marinho, predominando espécies de
bromélias, gravatás, cactos, orquídeas entre
outras (Mazzer, 1999: 26-27). Em alguns
64
casos, esta vegetação pode cobrir as gravuras
localizadas em áreas mais altas e próximas a
instalação desta cobertura vegetal, basta
compararmos as figuras 26 e 27. Para o
registro de algumas gravuras nesta situação foi
procedida apenas a poda dos exemplares
vegetais, que impediam o efetivo registro das
mesmas.
Fig. 26. Gravura PPS-18 parcialmente
encoberta por vegetação xerófita, Ilha do
Campeche. Data: 02/08/1996. Foto: Fabiana
Comerlato.
Fig. 27. Gravura PPS-18 após limpeza, Ilha do
Campeche. Data: maio de 1998. Foto: Keler
Lucas.
O litoral catarinense é, reconhecidamente,
local de nidificação e refúgio de aves marinhas
(Bege & Pauli, 1988:1). Os costões rochosos
são áreas muito freqüentadas pelas aves
marinhas, contudo, sua presença pouco afeta a
integridade das gravuras (fig. 28). Em campo,
verificamos que as vespas também aproveitam
os estratos rochosos em contato com a
vegetação, no caso os mais protegidos da ação
marinha, para fazerem seus ninhos.
65
Cabe ressaltar que, os agentes e as formas de alteração dos suportes e gravuras
merecem ser objeto de estudo específico, que congreguem ações de conservação com a
gestão dos sítios estudados. Outro ponto importante, como expõe Fernando Carrera
Ramírez, não se deve fazer uma lista fechada dos agentes e processos, porque nenhum
agente atua de forma independente, mas, se inter-relacionam e muitas vezes se
potencializam entre si (1996-1997: 100). Um exemplo disso é a alteração cromática que
pode ter causas biológicas e/ou químicas. Portanto, não é a intenção aqui esgotarmos o
tema, apenas demonstrar como os agentes de alteração podem atuar e gerarem formas de
alteração, em suma, são elementos que não devem ser desprezados na hora do registro.
Fig. 28. Excremento de ave, Gravura
ST3-33, Ilha de Santa Catarina. Data:
nov/1996. Foto: Fabiana Comerlato.
Mas, apesar de toda a ação da natureza, os processos de alteração mais destrutivos,
de fato, são os antrópicos, sendo os mais difíceis de serem controlados
36
e os menos
36
As gravuras paleolíticas ao ar livre (Foz Côa, Siega Verde, Domingo García, etc.) localizadas de forma
dispersa, ao contrário das em grutas, favorecem a ão potencial dos processos antrópicos (Carrera Ramírez,
2002: 3). No caso do litoral catarinense, a dificuldade de acesso de alguns sítios em ilhas rochosas ou em
costões distantes das praias – desestimula ou inibe a atuação de pessoas má intencionadas.
66
previsíveis. Os processos de alteração naturais atuam lentamente
37
, os antrópicos,
geralmente, são irreversíveis e localizados. O Homem é o principal agente de destruição
voluntária, como exemplos, existem ações de vandalismo com a execução de graffitti,
aplicação de tinta, escoriação, o uso do fogo e de explosivos (o último relatado no
segundo capítulo). Além destas, a aplicação, tanto por arqueólogos como por outros
pesquisadores, de giz para “reavivar” as gravuras até a década de 80, foi uma intervenção
prejudicial com riscos para a conservação de suportes e gravuras.
O graffitti foi definido como riscos, geralmente feitos com um fragmento de rocha
recolhido nas proximidades dos sítios (fig. 29). O graffitti realizado sobre gravuras consiste
basicamente em: nomes, apelidos, datas, desenhos pornográficos ou de incisões dentro dos
sulcos; se pouco profundos tentem a desaparecer com o tempo. Também foram verificadas
gravuras modernas que imitam figuras pré-históricas e uma gravura na praia da Solidão,
que não parece ser uma gravura pré-histórica.
A pichação corresponde à aplicação de tinta sobre o sulco e/ou suporte, é
permanente e sua remoção pode alterar o aspecto do suporte (fig. 30). Felizmente, não
existe na literatura arqueológica referência da utilização de tinta em spray nos sítios de
representação rupestre no litoral catarinense. Até o momento, somente conhecemos a
utilização de tinta a óleo em dois sítios na Ilha do Campeche (Triste e Pedra Preta do Sul).
37
Os agentes naturais atuam de forma lenta, portanto podem ser controlados. Para isso, as intervenções devem
garantir o efeito protetor (Carrera Ramírez, 1999). Conferência: CARRERA RAMÍREZ, Fernando.
Problemática General de la Conservación del Arte Rupestre Ibérico. Congreso Internacional de Arte Europea,
Vigo, 2611/1999.
67
Fig. 29. Graffitti, Santinho I, Ilha de Santa
Catarina. Data: Agosto/1996. Foto: Fabiana
Comerlato.
Fig. 30. Tinta/pichação, Triste, Ilha do Campeche.
Data: 01/02/2002. Foto: Fabiana Comerlato.
A escoriação seria: A eliminação de matéria da camada superficial como
conseqüência de uma ação mecânica externa (fricção violenta, golpes) e que se manifesta
em forma de esfoliamento ou arranhões.”
38
(fig. 31). Por sua vez, a realização de fogueiras
rente às gravuras provoca duas formas de alteração: a cromática e o despredimento de
placas (fig. 32).
Outras formas de alteração, que muitas vezes não são vistas como destrutivas pelos
executores, são o aprofundamento dos sulcos, o pisoteamento e a limpeza mecânica. O
aprofundamento dos sulcos seria o graffitti dentro do sulco da gravura, ora como forma de
vandalismo intencional, outras vezes realizado pelo desejo de “reavivar” ou “retocar” a
mesma.
38
“Eliminación de materia de la capa superficial como consequencia de una acción mecánica externa
(frotamiento violento, golpes) y que se manifesta en forma de desolladuras o rasguños.” (Carrera Ramírez,
1996/97: 97)
68
Fig. 31. Escoriação, ST2-07, Ilha de Santa
Catarina. Data: 1986. Foto: Rossano Lopes
Bastos. Acervo: 11
a
SR/IPHAN/SC.
Fig. 32. Alteração cromática (em vermelho) e
desprendimento de placa, ambos por ação do
fogo. PTC-02, Ilha de Santa Catarina. Data:
04/09/2003. Foto: Fabiana Comerlato.
O perigo de pisoteamento ocorre em suportes horizontais ou inclinados,
principalmente em locais de passagem para os pontos de pesca nos costões (fig. 33). As
gravuras que estão situadas em planos inclinados e em áreas de passagem, geralmente
não estão muito visíveis porque são áreas de escoamento de água sem nenhuma barreira
que gere algum tipo de proteção, gerando a perda de contraste entre a coloração do sulco e
do suporte
39
. Portanto, é mais fácil de serem pisoteadas, configurando em um ato muitas
vezes não intencional por parte dos visitantes, sejam turistas ou pescadores.
A limpeza mecânica é a retirada de material depositado ou incrustado no suporte.
Por exemplo, a extração por fricção ou descascamento de líquens e a retirada de sedimento.
No primeiro caso, além de não conseguir retirar a raiz do líquen, as partes desagregadas da
rocha podem se descolar facilmente da matriz rochosa.
39
Este fato pode ser bem observado no sítio Pedra Preta do Sul da Ilha do Campeche.
69
Fig. 33. Situação em que pode ocorrer
pisoteamento, conjunto de gravuras em plano
horizontal, Santinho III, Ilha de Santa Catarina.
Data: Jan/2002. Foto: Fabiana Comerlato.
Outro fator que devemos estar atentos no
registro das gravuras de um tio é para o fato
dos blocos menores terem tido sua posição
alterada. As faces de alguns blocos foram
viradas para baixo no intuito de garantir a
preservação das gravuras, fato ocorrido no
sítio Santinho I (Lucas, 1994: 42).
O gráfico 1 mostra o estado de conservação das gravuras rupestres pela quantidade
de ocorrência dos agentes e das formas de alteração. Somados todos os sítios estudados, de
maneira geral, os itens que mais interferem na conservação das gravuras são:
desprendimento de placas, fratura, alveolização (tafoni), alteração cromática e líquens.
70
Gráfico 1. Quantidade total de ocorrência dos agentes e das formas de alteração.
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3.2.3 Procedimentos metodológicos de análise
Os procedimentos metodológicos de análise consistem em seis aspectos
40
: a
distribuição geográfica, as técnicas de confecção, as categorias de representação, a simetria,
as técnicas gráficas e a organização espacial.
40
Esta organização do texto foi inspirada, em parte, na obra de Vialou, 1999.
71
O tratamento dos dados (de cada registro) seatravés da aplicação de estatísticas,
podendo combinar uma ou mais variáveis. Isto implica na formulação de questões a serem
respondidas, a exemplo: Como ocorre a distribuição dos sítios no litoral catarinense? Quais
são as técnicas de confecção e os suportes identificados? Que tipos de representações
rupestres ocorrem dentro do universo pesquisado? Que formas de simetria aparecem e
existe uma ‘ordem’ pela simetria? Quais são as técnicas gráficas utilizadas? E, por fim,
como podemos entender a organização espacial destes sítios nos níveis micro, semi-micro e
macro?
Quanto à distribuição geográfica, serão avaliados: o tamanho dos sítios, a
quantidade de sítios por município, a distância entre os sítios e a geomorfologia dos
mesmos. As técnicas de execução estarão reunidas na verificação das distintas ocorrências
das técnicas de confecção e do tipo de suporte em cada sítio e na totalidade da área em
estudo. As categorias de representação serão analisadas de maneira comparativa,
observando os seguintes itens: a variação dos tipos
41
e a distribuição dos subtipos por sítio.
A análise da simetria identificará todas as formas de simetria existentes nas figuras das
representações rupestres. As técnicas gráficas referem-se à análise da relação entre
tamanho, forma e posição das gravuras; aproveitamento dos suportes e, também,
distribuição e posicionamento gráfico dentro dos sítios em planos verticais, inclinados ou
planos horizontais.
O último ponto consiste na análise espacial da realidade estudada, do micro ao
macro, na tentativa de compreender as similitudes e discrepâncias entre sítios, dispositivos
parietais, painéis e gravuras. A organização espacial buscará no nível micro reconhecer, ou
não, a existência de uma ou mais ligações temáticas ou composições. Para analisar um
conjunto de relações entre as representações rupestres em um mesmo sítio é necessário
verificar: o isolamento e agregação de tipos, as relações espaciais de signos do mesmo tipo
e as relações entre os signos e as representações humanas, enfim, como ocorrem os
agenciamentos entre gravuras.
41
Trata-se da diversidade de tipos, que permite definirmos a categoria de repertório. (Castellano & Consens,
1995: 136).
72
O vel semi-micro terá, com apoio da análise das técnicas gráficas e com os dados
da orientação das gravuras e do entorno imediato, que verificar as condições de
visualização e visibilidade dos sítios. As análises de visualização irão verificar se existem
pontos prioritários de visualização e se existe uma percepção zonal
42
ou pontual
43
do
elemento arqueológico. As análises de visibilidade incluem a verificação dos ângulos de
visão e dos elementos naturais e culturais visíveis do painel ou gravura para o seu entorno
(Criado Boado, 1999: 33).
No nível macro, a análise das
representações rupestres dar-se-á com outros
sítios arqueológicos e seu entorno ambiental,
buscando uma leitura espacial mais
abrangente. Em especial, abordaremos a
instalação dos sítios arqueológicos pré-
históricos na Ilha do Arvoredo, Ilha de Santa
Catarina (parte nordeste), Ilha do Campeche e
Ilha dos Corais.
3.2.3. Procedimentos metodológicos de síntese e interpretativos
A partir da discussão dos resultados das análises anteriores, partiremos para a
formulação de hipóteses explicativas. Para tal, em um nível interpretativo iremos discutir as
pesquisas anteriores que buscaram uma compreensão das representações rupestres e sua
associação cultural, a luz dos dados arqueológicos existentes e dos gerados por esta
pesquisa e, assim, propor um modelo explicativo sobre a ocorrência destas representações
no litoral catarinense. Neste sentido, partiremos da abordagem espacial para tentar explicar
as representações rupestres a partir das escolhas técnicas, das escolhas temáticas e da
42
A percepção zonal é se somente se percebe a zona ou unidade fisiográfica em que está o sítio (Criado
Boado, 1999: 34).
43
A percepção pontual é se o sítio arqueológico se individualiza de longe (Criado Boado, 1999: 34).
73
significância destes espaços marítimos para os seus autores, levando em conta, também, os
outros tipos de sítios arqueológicos do litoral médio catarinense.
4. Analisando as representações rupestres do litoral catarinense
4. 1. Distribuição geográfica e caracterização dos suportes
A distribuição geográfica dos sítios de representação rupestre do litoral catarinense
está concentrada justamente em sua porção média, na parte do litoral central
44
(fig. 34). A
área de ocorrência dos sítios estudados compreende da Ilha de Porto Belo a Ponta do
Galeão, limitando a área de pesquisa a norte e a sul, respectivamente (vide no Apêndice I,
mapa de localização). Esta porção do litoral brasileiro caracteriza-se por ser extremamente
recortada pela presença dos contrafortes da Serra do Mar próximo à linha da costa, fazendo
também que as ilhas rochosas apresentem cobertura da floresta ombrófila densa (Mazzer,
2001:2). Este setor central é caracterizado por costões, pelo maior número de arcos praiais e
ilhas em relação às outras áreas, do sul e norte catarinense (Duarte, 1988: 43-44).
Como referido na introdução, o levantamento de campo foi realizado em 28 sítios
de representação rupestre. Na parte setentrional temos o sítio da Ilha João da Cunha,
protegida em uma baía pela península de Ericeira (Porto Belo). A Ilha do Arvoredo, que faz
44
O litoral central vai de Piçarras à Laguna (Cabo de Santa Marta) (Duarte, 1988: 40).
74
parte de um arquipélago como ilha, principal, possui quatro sítios de representação rupestre
e é a ilha que mais adentra a plataforma continental.
Na parte central, os sítios estão localizados nos costões da Ilha de Santa Catarina e
ilhas próximas àquela, como na Ilha das Aranhas Pequena. A Ilha do Campeche destaca-se
neste cenário, com nove sítios de representação rupestre, sendo a maior ilha das 32 que
circundam a Ilha de Santa Catarina (Mazzer, 2001: 7). Os sítios da porção continental estão
localizados na Pinheira, Guarda do Embaú e Ponta do Galeão, existindo ainda algumas
pequenas ocorrências após esta ponta ainda no município de Garopaba. A ilha estudada na
porção mais meridional foi a Ilha dos Corais.
Fig. 34. Recorte geográfico da área de pesquisa. Desenho: Carlos Costa
Quanto ao tamanho dos sítios e número de gravuras também existem diferenças de
sítio para sítio. O tamanho destes foi estabelecido pela quantidade de gravuras: sítio
pequeno) aquele com uma ou duas gravuras em situação de isolamento; sítio médio) o sítio
com 3 a 20 gravuras agrupadas em um painel ou dispositivo, com ou sem gravuras isoladas
e; sítio grande) acima de 20 gravuras, com vários conjuntos e painéis com ou sem gravuras
isoladas.
O gráfico 1 apresenta o tamanho dos tios, de norte a sul, com destaque para as
áreas com maior ocorrência de gravuras: os tios do Santinho, da Ilha do Campeche e da
75
Ponta do Galeão. Entre estes tios maiores observamos outros, pequenos ou médios. Estes
dados evidenciam um aproveitamento específico de cada área, desde as grandes
concentrações de gravuras nos sítios maiores até as gravuras em condições mais isoladas.
Gráfico 1. Quantidade de gravuras por sítio, de norte a sul.
0 5 10 15 20 25 30
45 6
0
0
' 6 7
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) 
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Branco = pequeno (1 a 2) / Cinza claro
= médio (3 a 20) / cinza escuro = grande (+ que 20)
76
Todo a área de ocorrência situa-se em cinco municípios totalizando 37 sítios, dos
quais 31 são insulares marítimos. Entretanto, tanto os sítios insulares como aqueles do
continente estão inseridos no mesmo ecossistema costeiro predominante: o costão rochoso.
Estes locais são caracterizados pela formação rochosa que tem o contato direto com o mar;
neles, as ondas e as marés são os principais agentes nos processos erosivos. Com exceção
da Ilha de Porto Belo, em que o sítio está num afloramento dentro da ilha, os outros estão
situados na costa rochosa
45
, seja em ilhas continentais ou na porção continental.
Através do gráfico 1 podemos perceber as relações de isolamento e concentração entre
os sítios de representação rupestre. Como áreas de concentração destacam-se: a costa
rochosa do promontório do Santinho e a costa leste e nordeste da Ilha do Campeche. Outros
sítios, de menores dimensões, podem parecer isolados quando comparados com as áreas de
concentração, entretanto, a maioria destes está próxima a sítios de ocupação ou a oficinas
líticas (vide tabela 1).
Tabela 1. Sítios de representação rupestre e oficinas líticas.
Representação
Rupestre
Oficina Lítica Descrição
Distância
aproximada
entre sítios
PTC Ponta das Canas IV 1 depressão oval 42 m
IGL Ingleses III 14 sulcos 100 m
ST1 Santinho III (of. lítica)
dezenas de sulcos, depressões
circulares e outras formas
10 m
MAR Morro das Aranhas I 2 depressões circulares 100 m
PCD Ponta do Caçador IV 34 sulcos 0,50 m
FET Piteira
dezenas de depressões
circulares e sulcos
2 m
PPN Pedra Preta do Norte 17 sulcos 5m
LTR Letreiro 6 depressões circulares 5 m
PS4 Pântano do Sul III 4 depressões circulares 3,70 m
IPG Ilha do Papagaio I 5 depressões circulares 240 m
PAD Ponta das Andorinhas II
1 depressão circular 25 m
GEB Guarda do Embaú III
dezenas de depressões
de 5 a 60m
45
“Costa com afloramento de rochas cristalinas, encontrada em locais onde falésias rochosas chegam ao mar,
podendo apresentar a sua frente terraços de abrasão por ondas (wave-cut terraces) e blocos caídos. Muitas
vezes, as falésias das costas rochosas estão relacionadas a falhas, diaclases ou a outras estruturas rochosas
(xistosidade, acamamento, etc)” (Suguio, 1992: 38)
77
circulares, bacias e sulcos
Quanto à caracterização do suporte, três aspectos devem ser considerados: 1) o tipo
da rocha, 2) o seu modo de ocorrência e 3) os tipos de formações costeiras. A análise
conjunta destas características do suporte pode indicar algumas regularidades na escolha
dos locais de gravação, como veremos adiante.
As representações rupestres do litoral catarinense foram feitas em rochas ígneas
intrusivas no granito, sendo em sua maioria o diábasio
46
, que se apresentam como corpos
intrusivos na forma de diques
47
. As exceções são os sítios: de Porto Belo em que a rocha
suporte, ao que tudo indica, é o aplito intrusivo no granito e o de Arvoredo I que é em dique
riolítico
48
(inf. pessoal, Edson Tomazzoli, 2004).
A preferência pelo diabásio, entretanto, não pode ser avaliada somente pela sua
textura, de granulação fina a média, diferente do Granito Ilha que é uma rocha eqüigranular
de granulação média a grossa (Zanini et alli, 1997: 95). A localização e o relevo da forma
rochosa também são itens que devem ser analisados conjuntamente.
Ainda, segundo Luiz Fernando Scheibe:
Os diques de diabásio são uma feição constante na Ilha de Santa Catarina, chamando a
atenção pela grande variação nas dimensões, que vão desde diques estreitos,
antimétricos a métricos, até grandes estruturas com mais de 100m de espessura,
prolongando-se por dezenas de quilômetros. Aparentemente, sua freqüência aumenta
de Oeste para Leste, ao ponto de que, por exemplo, cerca de 30% da área total da Ilha
do Campeche corresponde a afloramentos de diabásio. (2002: 51)
46 O diabásio é uma rocha de textura fanerítica fina resultante da consolidação de corpos de um magma básico em corpos intrusivos rasos (Szabó et alli., 2001: 342).
47
“Os diques são formados quando o magma invade as rochas encaixantes através de fraturas ou falhas, e
apresentam uma atitude vertical ou cortam as estruturas originais dessas rochas, sendo portanto denominados
corpos discordantes.” (
Szabó et alli., 2001:
342-343)
48
“Diques riolíticos, de cor cinza médio, semelhante a dos quartzos latitos, seccionam estas rochas e também
os granitos róseos. Estes diques mostram espessuras decimétricas a métricas. São rfiros, mostrando
fenocristais de quartzo e K-feldspato sobre matriz afanítica ou muito fina, a base de quartzo e K-feldspato
inter crescidos xenomorficamente. Homblenda, biotita, clorita, opacos e epidoto são acessórios freqüentes.”
(Tomazzoli & Strenzel, 1994)
78
Portanto, a orientação das gravuras estará condicionada ao posicionamento das
falhas nas estruturas geológicas, principalmente dos granitóides, que foram preenchidos
pelos diques. A maioria dos diques na Ilha de Santa Catarina e ilhas adjacentes está
orientada no sentido norte-leste. De acordo com Zanini (apud Mazzer, 2001: 106), a
direção principal é N20°-30°E; Scheibe & Teixeira (apud Mazzer, 2001: 106) citam as
direções N30°E e N60°E como as principais e Tomazzoli & Pellerin (apud Scheibe, 2002:
51) entre N10°-30°E. A maior parte da orientação dos diques dos sítios de representação
rupestre está dentro das direções citadas, apresentando também outras como S190ºW e
E115º-130ºS, conforme mostra a tabela 2.
Tabela 2. Orientação dos diques por sítio
IJC - Ilha João da Cunha N40°E
AV5 -Arvoredo V N30ºE
AV8 - Arvoredo VIII E130ºS
PTC - Ponta das Canas III N50°E
IGL - Ingleses IV N60°E
ST3 - Santinho III N40°E
ST2 - Santinho II S190°-230°W
ST1 - Santinho I N40°E
MAR - Morro das Aranhas II N40°E
IAP - Ilha das Aranhas Pequena I N40°E
PRB - Prainha da Barra ---------
PCD - Ponta do Caçador III N30°E
PML - Praia Mole I N40°E
FET - Ferro Elétrico N30°E
PPN - Pedra Preta do Norte N30°E
PFD - Pedra Fincada N30°E
SRS - Saco do Rosa N30°E
CFT - Conforto N30°E
SFT - Saco da Fonte N30°E
LTR - Letreiro N30°E
TST - Triste N30°E
PPS - Pedra Preta do Sul E115°S e N30°E
I
l
h
a
d
o
C
a
m
p
e
c
h
e
LGD - Lageado N30°E
PS4 - Pântano do Sul IV N30°E
79
IPG - Ilha do Papagaio II N40°E
PAD - Ponta das Andorinhas I N40°E
GEB - Guarda do Embaú II S190°W
PGL - Ponta do Galeão N60°E
Quanto à morfologia, os diques fazem parte das falésias
49
ou costões rochosos, estas
podem ser classificadas em: falésia escarpada, falésia mergulhante, falésia composta e
plataforma de abrasão (vide fig. 35).
Fig. 35 Formas de relevos de costas rochosas. Desenho: Carlos Costa, baseado em Mazzer, 2001:
120.
As falésias escarpadas podem ser definidas como: “(...) um tipo de costão de declive
escarpado, que possui perfil irregular de caráter erosivo, apresentando feição de paredão
fazendo limite abrupto com o mar.” (Mazzer, 2001: 119). As falésias mergulhantes “(...)
são estruturas rochosas que apresentam mergulho em direção ao mar de forma contínua, ou
seja, sem quebras de declividade, nem na estrutura litológica, apresentando ângulos de
mergulhos que variam entre suave à inclinado.” (Mazzer, 2001: 119). As falésias
compostas podem apresentar formas variadas, sendo característica o seu perfil descontínuo.
49
Escarpa rochosa que margeia o oceano (em inglês Sea Cliff) (Mazzer, 2001: 118).
80
Segundo Mazzer: “Tal descontinuidade se dá por escarpa a meia encosta, depósitos
rudáceos em sua base, erosão marinha diferencial, marcas de movimentos de massa, entre
outros.” (2001: 119).
As plataformas de abrasão, também denominadas de plataformas costeiras são “(...)
superfícies planas ou com baixa declividade que sucedem a encosta e, estão sujeitas as
variações de maré e da zona de arrebentação.” (Mazzer, 2001: 119). Estas plataformas
podem ser classificadas em dois tipos: A) plataforma que se desenvolve em declive e B)
plataforma plana (Sunamura apud Mazzer, 2001: 128).
A partir destas formas de relevo das costas rochosas, identificamos os sítios de
representação rupestre estudados, como pode ser observado na tabela 3. A única exceção no
caso foi a Ilha João da Cunha, aonde as gravuras foram feitas em afloramento no topo desta
ilha, fora das áreas de costão.
Percebe-se que as falésias mergulhantes não foram escolhidas para gravar, por ser
difícil encontrarmos esta morfologia no diabásio e, também, porque estas áreas, em geral,
são levemente inclinadas não proporcionando uma boa visualização das gravuras.
Tabela 3. Tipo de costa rochosa por sítio.
IJC -Ilha João da Cunha Afloramento
AV1 - Arvoredo I Falésia escarpada
AV5 - Arvoredo V Falésia escarpada
AV8 - Arvoredo VIII Falésia escarpada
PTC - Ponta das Canas III Falésia composta
IGL - Ingleses IV Plataforma de abrasão
ST1 - Santinho III Falésia composta
ST2 - Santinho II Falésia composta
ST3 - Santinho I Falésia composta
MAR - Morro das Aranhas II Falésia composta
IAP - Ilha das Aranhas Pequena I Falésia composta
PRB - Prainha da Barra Falésia composta
PCD - Ponta do Caçador III Plataforma de abrasão
PML - Praia Mole I Falésia composta
FET - Ferro Elétrico Plataforma de abrasão
PPN - Pedra Preta do Norte Falésia composta
PFD - Pedra Fincada Falésia composta
SRS - Saco do Rosa Falésia composta
81
FET - Ferro Elétrico Plataforma de abrasão
PPN - Pedra Preta do Norte Falésia composta
PFD - Pedra Fincada Falésia composta
SRS - Saco do Rosa Falésia composta
CFT - Conforto Falésia composta
SFT - Saco da Fonte Falésia composta
LTR - Letreiro Falésia composta
TST - Triste Falésia escarpada
PPS - Pedra Preta do Sul Falésia composta
LGD - Lageado Falésia composta
PS4 - Pântano do Sul IV Plataforma de abrasão
IPG - Ilha do Papagaio II Falésia composta
PAD - Ponta das Andorinhas I Plataforma de abrasão
GEB - Guarda do Embaú II Falésia escarpada
PGL - Ponta do Galeão Falésia escarpada
A baixa presença de falésias escarpadas advém do fato de que geralmente elas são
demasiado abruptas para o homem ter tido acesso seguro a estes locais. Contudo, naquelas
em que se podia ter acesso eram utilizadas para gravar. Os sítios Triste e Ponta do Galeão
são falésias escarpadas, que possuem áreas que dão acesso a paredes verticais. O sítio
Guarda do Embaú II originalmente era uma falésia escarpada, hoje apresenta uma situação
peculiar que na porção frontal do dique formou-se uma praia arenosa. A situação mais
surpreendente no que concerne a localização é a do sítio Arvoredo VIII; em uma fenda na
parte sudeste da ilha foi feita uma única gravura na parte alta da falésia, passível de acesso
por um único caminho que leva a esta ponta.
As plataformas de abrasão também foram aproveitadas, como exemplo a do sítio
Ingleses IV feito em uma pequena plataforma com declive. O sítio Pântano do Sul IV é
formado por uma pequena plataforma de abrasão, ficando as gravuras sujeitas ao respingo
do mar dependendo das marés e do vento. Os sítios Ponta do Caçador III e Ponta das
Andorinhas I são, como o próprio nome diz, pontas formadas por plataformas de baixa
declividade, compostas por dique de diabásio e, na parte que avança ao mar, possuem
remanescentes graníticos. As plataformas de abrasão mais planas, também, são
interessantes porque oferecem outros atrativos: matéria-prima para a produção de
instrumentos líticos, áreas de polimento, além de serem bons locais de saída para pesca em
alto mar.
82
O tipo de costa rochosa predominante nos sítios de representação rupestre é a falésia
composta. Cada falésia assume aqui uma caracterização específica, podendo combinar
áreas de declive acentuado a plataformas de abrasão, com a presença de matacões, blocos
na base da encosta, praias de seixos entre outras feições.
Quanto ao suporte da gravura, as mesmas foram feitas na estrutura contínua da
falésia, chamada de parede ou paredão, ou em um bloco desprendido do próprio dique. Nos
blocos geralmente encontramos poucas gravuras; a maioria foi feita em paredes que
formam painéis e dispositivos parietais. Existe, ainda, gravuras que foram feitas em blocos
ou em plataformas de abrasão de diabásio que sofreram queda de blocos de constituição
granítica; estas áreas, da plataforma, em contato com blocos, foram utilizadas para gravar,
como o caso das gravuras LTR-03, LTR-04, LTR-05 e a única gravura da Ilha do Papagaio
(vide estudos de composição 17 e croqui IPG, no apêndice 5). Nos gráficos 2 e 3, podemos
ver a proporção de gravuras feitas sobre bloco e sobre a parede rochosa, de maneira geral e
em cada sítio.
Gráfico 2.
Quantidade e percentual de gravuras rupestres sobre paredes rochosas e blocos,
total.
: ;
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Gráfico 3. Quantidade de gravuras rupestres sobre
paredes rochosas e blocos, por sítio.
83
0 5 10 15 20 25 30
35
AV5
AV8
IJC
PTC
IGL
ST1
ST2
ST3
MAR
IAP
PRB
PCD
PML
FET
PPN
PFD
CAM
SRS
CFT
SFT
LTR
TST
PPS
LGD
PS4
IPG
PAD
GEB
PGL
Parede Bloco
Em suma, é no litoral central – caracterizado pelos seus costões rochosos que
recortam baías e praias que diques foram utilizados como áreas de gravação rupestre.
Mesmo aonde o diabásio, rocha intrusiva predominante, não ocorre, as populações pré-
históricas procuraram rochas semelhantes, como o riolito e o aplito. Tais escolhas podem
estar relacionadas com as técnicas de confecção, com os locais preferidos para gravar e
com o resultado gráfico que se pretendia alcançar. Portanto, o fato da maioria dos sítios
estar localizado na costa leste na Ilha de Santa Catarina e ilhas adjacentes, está
condicionado a ocorrência dos diques de diabásio que são mais freqüentes de oeste para
leste.
84
O tipo de costão rochoso pode ter tido um peso maior nas escolhas dos gravadores,
na intenção de marcar ou tornar visível a iconografia do grupo. Entre os tipos de relevo das
costas rochosas existe uma predominância de sítios em áreas de alto declive ou médio
declive, como as falésias escarpadas e falésias compostas. Por outro lado, entre a ocorrência
destes sítios, áreas planas ou de baixa declividade, de acesso mais fácil, foram escolhidas
para gravar, mesmo que fossem poucas gravuras. Estes dados do suporte serão novamente
analisados para entendermos as relações de visualização e visibilidade dos sítios de
representação rupestre do litoral catarinense.
4.2. Técnicas de execução
As representações rupestres do litoral catarinense são gravuras
50
que para serem
feitas necessitaram de uma série de conhecimentos técnicos, gestos e posturas de seus
executores. Segundo Marcos García Diez & Luís Luís, a cadeia operativa gráfica é “(...) o
conjunto de acções antrópicas estruturadas numa seqüência operativa técnica e outra
plástica, ambas encaminhadas para a criação de formas artísticas.” (2002-2003: 202). Este
processo da representação mental a gráfica requer uma série de etapas que se interagem: as
ações prévias (a observação e o conhecimento do meio), as escolhas culturais (contexto
cultural, experiência individual, tradição histórica, vivência social) e a interação de
elementos materiais (García Diez & Luís, 2002-2003: 202). O organograma a seguir,
sinetiza a cadeia operatória das representações rupestres do litoral catarinense (fig. 36).
A ferramenta, um dos elementos materiais, deve ser da mesma dureza ou mais dura
que o suporte (Pessis, 2003: 88). Estes instrumentos, no caso do litoral catarinense,
poderiam ter sido feitos com a matéria-prima da região ou do próprio tio, como as placas
e colunas de diabásio das superfícies diaclasadas
51
.
50
“A gravura é o produto resultante da ação de fazer voluntariamente incisões ou marcas sobre um suporte de
qualquer natureza, mediante a utilização de instrumentos, escolhidos na natureza ou feitos para esta
finalidade.” (Pessis, 2002: 44).
51
A diaclase normal do diábasio fornecia ao indígena massas regulares, placas de espessura relativamente
pequena e de tamanhos variados, ou grandes colunas de seção quadrangular ou prismática, que podiam ser
fragmentadas em blocos de volumes diferentes, segundo os fins a que se destinavam.” (Faria, 1959: 4).
85
Dependendo da técnica de confecção, poderiam ser utilizados diferentes
instrumentos líticos: ferramentas com gumes, lascas, buris; percutores e picões; polidores.
Fig 36. Organograma da cadeia operatória das gravuras do litoral catarinense, adaptado de García Diez &
Luís (2002-2003: 202).
Os gumes de rochas podem ser naturais ou obtidos por debitagem, são utilizados
para fazer incisões nos suportes; os burís oferecem ao gravador curtos gumes diédricos
resistentes e de manipulação precisa (Vialou, 1991: 381).
Segundo as experiências
empreendidas por Prous na realização de incisões, entre uma simples lasca e um gume de
machado polido, as lascas são melhores. O gume perde o fio rapidamente e as pequenas
lascas de diábasio apesar de serem difíceis de empunhar tornam o trabalho de incisão mais
rápido (1977: 68).
Os picões e percutores serviam para
percussão, martelando o suporte na obtenção
de traços ou superfícies (Vialou, 1991: 381).
Ideológico
Material
Técnico
Simbólico
diabásio aplito
riolito
Suporte
lasca
(instrumento cortante)
picão
polidor percutor
Instrumento
polimento raspagem
picoteamento incisão fina
Representação rupestre
Técnicas de cofecção
Captação
Representação mental
86
Os polidores são pedras naturais, com textura e convexidades adequadas para o
polimento, ou utensílios polidos, que serviam para polir as superfícies e para regularizar os
traços incisos ou martelados (Vialou, 1991: 381). Apesar dos fusiformes serem
interpretados como pesos de anzol e adornos (tembetás), se pode aventar a possibilidade de
terem servido como polidores. Na Ilha do Campeche, foram coletados da superfície
vários artefatos fusiformes no terraço marinho eólico (Aguiar, 2001: 62).
Quanto ao suporte, tema já tratado no subcapítulo 4.1, a rocha geralmente escolhida
por suas características foi o diabásio de granulação média a fina, por não apresentar
rugosidades, que quando gravado contrasta com a camada superficial (crosta). Portanto, a
profundidade do sulco ou da área gravada contrastaria com a camada superficial, fazendo
com que a gravura pudesse ser vista e reconhecida facilmente. Podemos verificar esta
ocorrência através dos sulcos bem conservados da gravura PPS-19, por razão da abrasão o
sulco tornou-se mais esbranquiçado que a superfície, conferindo um contraste entre as
colorações do sulco e da crosta (fig. 37).
Fig. 37. Detalhe dos sulcos da gravura em excelente conservação, Pedra Preta do Sul, Ilha do
Campeche. Data: 19/04/2003. Foto: Fabiana Comerlato.
87
O granito pela sua formação em boulders não possui as facilidades de trabalho em
relação à formação em diques. Estes últimos oferecem áreas de trabalho pela forma
escalonada que naturalmente fornecem patamares que servem como superfícies de acesso
às paredes verticais. O granito, apesar de abundante no litoral central, devido às suas
características estruturais, localização e aparência não foi escolhido como suporte para as
representações gráficas.
Outra questão importante é o ato de gravar, em contraposição com a pintura, que
revela um gestual próprio, grande gasto de energia e disponibilidade de tempo. Primeiro, o
esforço físico é muito maior na realização de gravuras (Pessis, 2002: 35; Pessis, 2003: 88).
O tempo gasto também é superior a pintura, principalmente no caso do polimento que, em
geral, faz-se mais profundo (Valle, 2003: 57). Estes aspectos técnicos da confecção de
gravuras no diábasio ainda não foram pesquisados à luz da arqueologia experimental;
entretanto existem alguns experimentos
52
que podem nos dar uma estimativa do
investimento de tempo na execução das representações rupestres aqui estudadas.
No caso do picoteamento, duas experiências – uma na confecção de uma cavidade e
a outra de uma cúpula em um bloco de diabásio (com espessura superior a 2 cm) foram
bastante reveladoras. Uma cavidade com 62x40x6mm feita por picoteamento demorou duas
horas de trabalho. Uma cúpula de 15mm de diâmetro com mais de 2 cm de profundidade,
demorou 15 minutos para ser feita por picoteamento (Prous,1977: 68).
No caso do polimento, para regularizar uma placa de diabásio com superfície
natural ou picoteada foi rápido: o polimento sem abrasivo durou 15 minutos para polir
20cm
2
. (Prous, 1977: 67).
52
Prous, em sua tese de doutorado, fez experimentações com a matéria-prima utilizada na confecção dos
zoólitos, permitindo termos uma aproximação quanto ao tempo gasto nas atividades de polimento,
picoteamento e incisão. Mesmo que, como o próprio autor coloca, esta aproximação seja limitada ou
grosseira, é necessária sua divulgação; já que existem poucas publicações na América que ofereçam os
resultados de exercícios em arqueologia experimental (1977: 65). Recentes estudos experimentais da equipe
de arqueologia da Universidade Federal de Minas Gerais, para o caso das oficinas líticas, resultaram no
rebaixamento de 0,9 cm, de um polidor fixo de arenito, formando uma bacia oval de 34 x 24 cm após 30 horas
de uso total, através do polimento com uso de abrasivo (Prous et alli, 2002: 199). O polimento de um gume de
machado de diabásio (área de 45 cm
2
) durou 6 horas de trabalho, realizando-se gestos circulares de raio curto
em um polidor fixo de arenito (Prous et alli, 2002: 202).
88
Quanto às técnicas de confecção ou modo de gravação foram identificadas nos sítios
pesquisados: o polimento, o picoteamento, a raspagem e a incisão fina; podendo existir
alguns casos em que se pode visualizar mais de uma técnica utilizada (figs. 38 e 39). A
preparação do suporte antes da realização da gravura somente foi verificada na Armação do
Sul (fig. 1 da g. 8), que apresenta o polimento prévio do suporte com a realização de
gravura por picoteamento. O polimento do suporte foi feito com o auxílio de elemento
abrasivo, conferindo um aspecto lustroso à superfície do mesmo.
O polimento é a realização de uma gravura através da abrasão da rocha suporte,
através de movimentos regulares (unidirecionais, bidirecionais ou multidirecionais),
formando áreas polidas ou sulcos. Os sulcos apresentam secção em U com o borde e
interior regulares. O polimento necessita de um instrumento com a superfície de contato
mais ampla, um polidor (Valle, 2003: 20).
O picoteamento é uma técnica de realização de uma gravura por meio de percussão
sobre o suporte, através de instrumento pontiagudo, criando áreas picoteadas ou sulcos. Os
bordes dos sulcos e das áreas cheias são irregulares. A picotagem pode ser executada com
um instrumento de gume fino e pontiagudo (< ou = a 1 cm) (Valle, 2003: 20).
Nestas técnicas, o tamanho dos sulcos não é regular, segundo Rohr, alcançando
entre 3 milímetros de profundidade e 30 milímetros de largura máxima (1969: 2). Os sulcos
mais preservados foram registrados: as larguras dos sulcos ficam entre 0,7 a 3,5
centímetros, sendo mais profundos os polidos.
89
Fig. 38. Técnicas de confecção das gravuras do litoral catarinense. Desenho: Carlos Costa.
Fig. 39. Resultado das técnicas de confecção das gravuras do litoral catarinense. Desenho: Carlos
Costa.
A raspagem e as incisões finas são outras técnicas, que ainda não tinham sido
relatadas pela bibliografia referente às gravuras rupestres catarinenses. A raspagem é a
abrasão da superfície com sentido unidirecional ou bidirecional. O sulco é irregular em
secção V. Na área estudada, foi encontrada raspagem associada ao polimento no tio IJC.
90
As incisões finas são o resultado da raspagem em sentido unidirecional com instrumento
muito fino, formando ranhuras filiformes superficiais. O único caso de incisão fina, no
sítio PGL, nos alerta para a possibilidade de outras técnicas de confecção que podem ter
existido. Certamente, estas técnicas pouco visíveis demandarão de outras estratégias de
campo e de registro.
Para algumas gravuras não foi possível determinar a técnica em decorrência do
precário estado de conservação, aonde o intemperismo atuou de maneira heterogênea e
geralmente nunca ligado a um só agente. Em relação à pintura rupestre, não foi inventariada
nenhuma situação. Porém, não pode ser descartada a possibilidade das gravuras terem sido
pintadas na parte dos sulcos ou entre as áreas gravadas; não podemos precisar se esta
técnica ocorreu em decorrência da exposição das gravuras às intempéries. Outra
possibilidade é o retoque dos sulcos que pode também ter sido feito para restabelecer o
contraste do sulco com a crosta (camada superficial do suporte).
A tabela 4 e gráfico 4 estabelecem a quantidade e porcentagem de cada técnica de
confecção na área total e por sítio, confirmando a predominância do polimento seguido
pelas outras técnicas (picoteamento, raspagem e incisão fina).
O polimento era uma técnica bastante difundida entre as populações litorâneas,
que muitos dos seus instrumentos líticos são polidos ou semipolidos. A escolha pelo
polimento poderia estar relacionada a questões estéticas, porque resultava em uma
superfície brilhante e regular nas peças (Prous, 1992: 77).
Tabela 4. Quantidade e percentual das técnicas de confecção das gravuras do litoral
catarinense, total.
Técnica de Confecção Quantidade Porcentagem
Polimento 274 81,30
Picoteamento 47 13,94
Picoteamento/polimento 2 0,60
Raspagem 4 1,18
Raspagem e polimento 1 0,29
Incisão fina 1 0,29
Indeterminada 8 2,37
Total 337 100
91
Provavelmente o rebaixamento do sulco ou de uma área, no caso do polimento era
feito pelo picoteamento prévio, dando regularidade à forma com o polimento. É difícil
constatar as duas técnicas em uma mesma gravura, já que a abrasão provocada pelo
polimento “apagaria” o picoteamento, fato observado no sítio ST3. Este mesmo processo de
confecção pode ser observado na indústria tica existente nos tios litorâneos pré-
históricos
53
. Isto não quer dizer que as gravuras picoteadas devam ser vistas como
inacabadas; simplesmente elas podem estar ligadas a alguma característica como a
realização de sub-tipos específicos, como iremos avaliar adiante.
Podemos então sintetizar que os suportes utilizados foram os diques, sejam eles de
diabásio (na maioria dos casos), de aplito ou riolito. A superioridade numérica de gravuras
polidas no diabásio pode ser explicada pelas características desta matéria-prima, pelo
conhecimento técnico da cadeia operatória e pela preferência do grupo, seja por questões
técnicas ou estéticas. De acordo com Prous et alli, o diabásio é uma rocha bastante tenaz
(semi-resistente), que tem o seu polimento facilitado pela heterogeneidade e tamanho dos
minerais (2002: 196). No caso do picoteamento, os mesmos autores, verificaram que o
diabásio pode ser picoteado com razoável facilidade, portanto não demandando tanto
investimento (Prous et alli, 2002: 196). O pequeno volume de outras cnicas talvez seja
explicado por alguma característica local do suporte ou por razões culturais. A raspagem,
por exemplo, verificamos que foi feita em um local onde o diabásio estava mais
intemperizado.
O polimento também é, entre as
técnicas utilizadas, o que torna a gravura mais
visível, seja pela profundidade alcançada no
sulco ou pela largura que em geral é maior se
comparada às outras técnicas. Contudo, estas
53
“O picoteamento como técnica preparatória e na confecção de pequenos detalhes foi grandemente utilizada.
O polimento foi utilizado para acabamento das peças bem como em detalhes relativos a estética e a
funcionalidade, aumentando-lhes a eficiência, como no caso das lâminas de machado.” (Beck, 1972: 272).
92
reflexões serão retomadas adiante no tocante a
visualização das representações rupestres.
O polimento técnica de confecção predominante não requer muita destreza do
executor, porém, exigia uma série de escolhas materiais e técnicas, para materializar a
representação mental, além de exigir esforço e tempo.
Gráfico 4. Quantidade das técnicas de confecção das gravuras do litoral catarinense, por
sítio.
        
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( 9
' ( $
polimento picoteamento picoteamento/polimento
raspagem raspagem/polimento incio fina
indeterminada
93
4.3. Categorias de representação
A primeira classificação realizada para
as gravuras foi a de Prous & Piazza, a partir do
estudo de nove sítios elaboraram uma lista de
tipos característicos para o litoral catarinense.
Nesta proposta foram estabelecidos quatorze
tipos: 1) antropomorfos a elementos
naturalistas (representação de dedos, por
exemplo), 2) antropomorfos filiformes
totalmente geométricos, 3) círculos
concêntricos, 4) círculos não concêntricos, 5)
signos em “8”, 6) linhas onduladas paralelas,
7) linhas onduladas opostas, 8) desenhos em
forma de V opostos pelo vértice aonde a base
do conjunto é sublinhada com um traço reto,
9) tabuleiro de pontos, 10) tabuleiro de linhas
ou signos “em treliça”, 11) retângulos, 12)
linhas de pontos, 13) conjuntos de triângulos e
14) conjuntos de retângulos (1977: 77-78).
Optamos por elaborar uma classificação própria de tipos, que contemplassem o
conjunto de sítios dos quais temos o levantamento das gravuras rupestres, uma vez que
existem sítios de registros rupestres localizados posteriormente às análises de Prous &
Piazza, estas feitas a partir dos desenhos de Rohr de 1969 (inf. pessoal, André Prous,
21/12/2004). Desta forma, estudando as formas das gravuras rupestres através da geometria
descritiva, as representações rupestres do litoral catarinense foram reunidas em doze grupos
de tipos principais: tipo A, pontos, cúpula e sulcos; tipo B, circunferências; tipo C, linhas
retas; tipo D, linhas curvas e onduladas; tipo E, triângulos; tipo F, quadriláteros; tipo G,
losangos; tipo H, hexágonos; tipo I, figuras sobre eixo; tipo J, linhas retas paralelas em
ângulos agudo e obtuso com reflexão de espelho; tipo K, outros; e tipo L, representações
humanas.
94
A partir destas categorias de representação foram analisadas: a variação dos tipos e
a distribuição dos tipos no conjunto de representações registradas na totalidade e em cada
sítio.
Quadro 1. Descrição dos tipos (categorias de representação).
TIPO A – Pontos, cúpulas e sulcos
A1
Pontos seriados
Descrição: pontos agrupados em
faixa ou papel de parede,
geralmente no sentido horizontal.
A2
Pontos agrupados com intervalos
contínuos
Descrição: “tabuleiro de xadrez”,
cujos módulos são linhas de pontos
organizados na horizontal.
A3
Cúpulas seriadas
Descrição: cúpulas agrupadas em faixa ou papel
de parede, geralmente no sentido horizontal.
A4
Sulcos pequenos
Descrição: sulcos
retilíneos
variáveis de pequenas dimensões
(bastonetes), podem estar alinhados
ou em disposição de papel de
parede.
A5
Sulcos pequenos e pontos
Descrição: sulcos retilíneos variáveis de
pequenas dimensões (bastonetes) e pontos,
ambos podem estar alinhad
os ou em disposição
de papel de parede.
95
TIPO B – Circunferências
B1
Uma circunferência
Descrição: linha gravada curva,
plana, fechada, cujos pontos que a
constituem são eqüidistantes do
ponto central.
B2
Uma circunferência e um ponto
interno
Descrição: uma circunferência e um
ponto no centro.
B3
Uma circunferência com quatro
raios
Descrição: uma circunferência e
quatro linhas que se originam do
ponto central.
B4
Duas circunferências concêntricas
Descrição: duas circunferências que
apresentam o mesmo centro.
B5
Duas circunferências concêntricas
e um ponto
Descrição: duas circunferências
concêntricas e um ponto no centro.
B6
Duas circunferências
concêntricas, um ponto e linhas
externas
Descrição: duas circunferências
com ponto
central e linhas externas
laterais.
B7
Duas circunferências concêntricas
com raios
Descrição: circunferências
concêntricas com raios distribuídos
no círculo maior.
96
B8
Duas circunferências concêntricas
e uma espiral destrógira
Desc
rição: duas circunferências e
uma espiral que se desenvolve da
esquerda para a direita.
B9
Três circunferências concêntricas
Descrição: três circunferências que
apresentam o mesmo ponto como
centro.
B10
Três circunferências concêntricas
e um ponto
D
escrição: três circunferências com
o mesmo centro e um ponto central.
B11
Três circunferências concêntricas
e linhas externas
Descrição: três circunferências com
linhas externas, podendo ser
paralelas, de diferentes tamanhos.
B12
Três circunferências
concêntricas,
um ponto e linhas externas
Descrição: três circunferências com
um ponto central e linhas externas,
podendo ser paralelas, de diferentes
tamanhos.
97
Tipo C - Linhas retas
C1
Linha reta
Descrição: linha reta, disposta na
vertical ou horizontal.
C2
Linhas retas paralelas
Descrição: linhas retas, duas ou
mais linhas, que conservam a
mesma distância quando são
prolongadas no sentido positivo ou
negativo, dispostas na vertical ou
horizontal.
C3
Linha reta com apêndice
Descrição: linha
reta com apêndice, este
podendo ser uma pequena linha perpendicular
inclinada ou circunferência.
C4
Linhas retas paralelas sobre
perpendicular
Descrição: linha reta horizontal com
pequenas linhas retas verticais em
ângulo reto.
C5
Linha reta vertic
al com linhas
oblíquas em ângulo obtuso
Descrição: linha reta vertical com
linhas inclinadas de menor tamanho
ligada a mesma linha reta vertical.
C6
Linhas retas paralelas em ângulo obtuso
Descrição: linhas retas paralelas em ângulo
obtuso, dispostas na vertical ou inclinadas.
C7
Linhas poligonais paralelas
Descrição: uma linha ou linhas
poligonais paralelas, que mudam de
direção de pedaço em pedaço,
dispostas na vertical ou horizontal,
formando ziguezague.
98
C8
Linhas entrecruzadas convergentes
Des
crição: linhas retas que se dirigem todas para
uma mesma direção, formando o desenho de um
“X” ou “asterisco”.
C9
Linhas em ângulo reto convergentes
Descrição: linhas em ângulo reto com o vértice
apontando para o centro, forma um sinal de +
entre a área gravada.
C10
Linhas entrecruzadas
Descrição: linhas entrecruzadas abertas,
formando em sua seqüência um ou mais “X”.
TIPO D – Linhas curvas e onduladas
D1
Linhas curvas paralelas
Descrição: linhas paralelas que
mudam a direção do traçado.
D2
Linhas onduladas paralelas
Descrição: linhas formadas por
linhas onduladas regulares dispostas
paralelamente, no sentido vertical
ou horizontal.
D3
Linhas onduladas paralelas
opostas
Descrição: conjunto de linhas
onduladas paralelas opostas a outro
conju
nto, formando uma área
gráfica, a área entre estas linhas
forma polígonos regulares ou
irregulares.
D4
Linhas onduladas opostas com
linha(s) perpendicular(es)
Descrição: linhas ondulares opostas
com linhas reta(s) perpendicular(es),
formando internament
e polígonos
regulares ou irregulares.
D5
Linhas onduladas ou poligonais
paralelas com linha(s)
perpendicular(es)
99
Descrição: linhas onduladas
paralelas com linhas
perpendiculares, formando uma área
gráfica.
D6
Linhas onduladas ou poligonais
paralelas opostas uma a outra
Descrição: linhas onduladas ou poligonais
verticais paralelas opostas uma a outra.
D7
Linha entrecruzada fechada
Descrição: linha curva fechada que se entrecruza
em intervalos regulares.
D8
Linha entrecruzada fechada com
contorno
Descrição: linha curva fechada que se entrecruza
em intervalos regulares com contorno no seu
interior.
TIPO E – Triângulos
E1
Triângulos cheios seriados com vértice para
baixo
Descrição: polígonos cheios de três
lados, com vértices para baixo,
d
ispostos em faixa ou papel de
parede.
E2
Triângulos cheios seriados com
vértice para cima
Descrição: polígonos cheios de três
lados com vértices para cima,
dispostos em faixa ou papel de
parede.
E3
Triângulos cheios seriados com
vértices alternados
D
escrição: polígonos cheios de três
lados, com vértices alternados,
dispostos em faixa ou papel de
parede.
10
0
E4
Triângulos delimitados seriados
com vértice para baixo e para
cima
Descrição: polígonos delimitados de
três lados, sem a área interna polida,
di
spostos em faixa ou papel de
parede.
E5
Triângulos cheios e delimitados
seriados
Descrição: triângulos cheios com o vértice para
baixo ou para cima tendo como par de rotação
triângulos delineados.
TIPO F – Quadriláteros
F1
Quadrilátero quadriculado
Descrição: polígono regular de quatro lados com
linhas verticais e horizontais internas, formando
um quadriculado.
F2
Quadrilátero com duas linhas que
se cruzam em ângulo reto
Descrição: polígono de quatro lados
com linhas retas que se cruzam em
ângul
o reto, formando um
quadriculado interno.
F3
Dois quadriláteros concêntricos
Descrição: dois polígonos de quatro
lados que apresentam o mesmo
centro.
F4
Quadriláteros seriados
Descrição: polígonos cheios de
quatro lados podendo ser de
tamanho regula
r ou com variação,
dispostos em faixa ou papel de
parede.
F5
Quadriláteros com linha inferior
Descrição: polígonos cheios de
quatro lados com pequena linha na
parte inferior do mesmo.
10
1
parte inferior do mesmo.
TIPO G – Losangos
G1
Losango
Descrição: paralelogramo delineado
que possui
lados iguais entre si com os ângulos opostos
iguais, dois agudos e dois obtusos.
G2
Losangos unidos pelo vértice
Descrição: losangos ligados pelos
vértices podendo ter losangos
concêntricos ou circunferências em
seu interior.
G3
Losang
os formandos por linhas
poligonais
Descrição: linhas poligonais opostas
que formam o desenho de uma
corrente podendo ter entre as
mesmas circunferências ou
losangos.
G4
Losangos entrecruzados regulares
Descrição: paralelogramos que
possuem os lados igua
is entre si
com circunferência ou linha ou
outro signo no seu centro.
G5
Losangos entrecruzados
irregulares
Descrição: linhas curvas fechadas
entrecruzadas que formam
polígonos, tendo os polígonos
externos arredondados. Algumas
podem apresentar em seu i
nterior
losangos ou circunferências.
TIPO H – Hexágonos
10
2
H1
Hexágonos seriados
Descrição: polígonos cheios de seis lados,
dispostos em papel de parede.
H2
Hexágonos com contorno duplo
Descrição: polígono delimitado de seis lados,
sendo um dele
s comum a outro polígono; a
figura formada apresenta contorno externo.
TIPO I– Figuras sobre eixo
I1
Polígonos sobre eixo
Descrição: polígonos dispostos sobre eixo
retilíneo diametral.
I2
Losangos sobre eixo
Descrição: losangos na horizontal dispo
stos
sobre eixo retilíneo diametral.
TIPO J– Linhas retas paralelas em ângulos agudo e obtuso
com reflexão de espelho
J1
Linhas retas paralelas em ângulos
agudo e obtuso com reflexão de
espelho
Descrição: figura formada por
linhas em ângulos agudo e
obtuso,
opostas a outro grupo de linhas do
mesmo padrão, como se fossem
triângulos convergindo para um
centro, na posição horizontal.
J2
Duplo de linhas paralelas em
ângulos agudo e obtuso com
reflexão de espelho
Descrição: linhas paralelas em
ângulos
agudo e obtuso, com
reflexão de espelho horizontal ou
vertical e repetição do mesmo
desenho lateralmente. Pode
apresentar variações através da
10
3
associação de outros subtipos em
suas extremidades. Este subtipo é
denominado popularmente de
“máscara”.
J3
“Ampulheta
Descrição: mesma construção do
subtipo J1, só que o desenho é todo
fechado e na posição vertical.
J4
“Ampulheta” dupla
Descrição: mesma construção do
subtipo J2, só que o desenho é todo
fechado e na posição vertical.
TIPO K – Outros
K
Representações complexas
Descrição: representações que
apresentam formas geométricas, em
geral pouco recorrentes,
combinando linhas curvas e retas
em motivos fechados e abertos.
TIPO L – Representações humanas
L1
Representação humana
segmentada
Descriçã
o: fragmento de uma representação
humana.
L2
Representação humana filiforme
reta
Descrição: representação humana
frontal com os membros esticados
L3
Representação humana filiforme
com membros fletidos em direção
oposta
Descrição: representação humana
frontal com cabeça e dedos
(tridáctilo) e os membros superiores
dobrados para cima e os inferiores
10
4
dobrados para baixo.
L4
Representação humana filiforme
com membros fletidos para cima
Descrição: representação humana
frontal com cabeça e dedos
(tridác
tilo) e os membros dobrados
para cima.
L5
Representação humana filiforme
fletida com circunferência
Descrição: representação humana frontal com
cabeça em circunferência e os membros
superiores dobrados para cima e os inferiores
dobrados para baixo.
L6
Representação humana com
membros superiores fletidos e
membros inferiores esticados
Descrição: representação humana com membros
superiores levemente fletidos voltados para
baixo e com membros inferiores esticados.
L7
Representação humana com
membr
os superiores assimétricos
e membros inferiores esticados
Descrição: representação humana com membros
superiores esticados “assimétricos” (com algum
apêndice) e com membros inferiores esticados.
L8
Representação humana fletida
arredondada
Descrição:
representação humana frontal com os
membros superiores e inferiores fletidos e
representados de forma arredondada.
L9
Representação humana com corpo
trapezoidal
Descrição: representação humana frontal com o
corpo em forma de trapézio e membros
superiore
s e inferiores esticados, com pés e mãos
parecidos com “nadadeiras de pato”.
L10
Representação humana com corpo
em losango
Descrição: representação humana
frontal com corpo em forma de
10
5
frontal com corpo em forma de
losango concêntrico e com membros
esticados.
De maneira geral, se analisarmos todos os sítios, iremos ver uma predominância
numérica de alguns tipos, conforme podemos observar no gráfico 5. Nesta contagem
separamos as gravuras formadas por unidades gráficas de dois ou mais tipos ou subtipos em
uma categoria à parte (tipos associados). Os tipos predominantes são os tipos B
(circunferências), C (linhas retas) e J (linhas retas paralelas em ângulos agudo e obtuso com
reflexão de espelho). Os tipos D, E, G, K e L apresentam valores muito similares, entre 30 e
35. E os tipos F, H e I são pouco recorrentes no conjunto total de dados. O tipo A,
numericamente, fica entre estes dos grupos de tipos.
Gráfico 5. Ocorrência total de tipos.

















A B C D E F G H I J K L Associados
Os pontos, cúpulas e sulcos aparecem de forma expressiva em duas situações: no
sítio AV1, no painel da Ilha do Arvoredo (estudado no subcapítulo 4.6) e no sítio ST3 em
um painel associado com o subtipo C4. Na Ilha do Campeche, os subtipos A4 e A5, nos
sítios LTR e CFT, respectivamente, aparecem em situações similares com o mesmo
aproveitamento do suporte e com a mesma orientação (S210º-220ºW). No sítio PPS, as
gravuras do subtipo A3 podem ser vistas de vários ângulos. O subtipo A2 é único do sítio
LTR; uma gravura situada em patamar quase horizontal, onde foi feito o painel do Letreiro
(vide gráfico 6).
10
6
Gráfico 6. Ocorrência dos subtipos A, por sítio.
45 6
0
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O tipo B, como foi dito, é uma
categoria de representação numerosa com
doze subtipos. Além disso, este tipo tem uma
grande variedade de formas de apresentação;
as unidades gráficas aparecem isoladas,
associadas a outros tipos ou agrupadas de
maneira irregular, linear vertical, linear
horizontal e tangente externa.
10
7
Nos sítios levantados, como demonstra
o gráfico 7, dentre os subtipos que mais
aparecem estão: o B2, B4 e B5. Os subtipos
que aparecem somente em um sítio são B6, B7
e B8; suas dimensões são maiores que os
subtipos que aparecem seriados. Os subtipos
B11 e B12 aparecem na Ilha dos Corais,
conforme o levantamento de Rohr (1969).
Gráfico 7. Ocorrência dos subtipos B, por sítio.
45 6
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9 9 9 9 9 9 9 9 9
10
8
O tipo C é, como o tipo B, bastante recorrente com destaque para o subtipo C7
(linhas poligonais paralelas, verticais ou horizontais). Os subtipos C5 e C6 muito similares
em sua construção apresentam-se nos sítios das extremidades (IJC e PGL) e nos tios
centrais da Ilha do Campeche (LTR e SFT). Os outros subtipos apresentam-se em poucos
sítios com baixa freqüência (vide gráfico 8).
Gráfico 8. Ocorrência dos subtipos C, por sítio.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
IJC
AV5
AV8
PTC
IGL
ST1
ST2
ST3
MAR
IAP
PRB
PCD
PML
FET
PPN
PFD
CAM
SRS
CFT
SFT
LTR
TST
PPS
LGD
PS4
IPG
PAD
GEB
PGL
6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 
O gráfico 9 apresenta a ocorrência do tipo D, em que o subtipo D2 (linhas
onduladas paralelas, verticais ou horizontais) é predominante. Os subtipos D3 e D4,
parecidos em sua construção, aparecem nos sítios do Santinho (ST1 e ST3) e da Ilha do
10
9
Campeche (CFT, LTR e PPS). Os subtipos D5 e D6 estão presentes na Ilha do Campeche
(LTR, PPS e LGD) e no sítio PAD. O subtipo D8 aparece somente duas vezes, uma no sítio
IAP e outra no sítio PPN, porém, apresentam número de módulos distinto.
Gráfico 9. Ocorrência dos subtipos D, por sítio.
45 6
0
0
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Entre os subtipos E (triângulos), o mais representado foi o subtipo E2, seguido do
tipo E1. O subtipo E3 aparece nos sítios maiores (LTR e PGL); sua confecção dá-se em
dois planos distintos de polimento. O tipo E aparece em determinados sítios, formando de
11
0
maneira intercalada áreas de concentração e áreas sem nenhuma ocorrência (vide gráfico
10).
Gráfico 10. Ocorrência dos subtipos E, por sítio.
45 6
0
0
' ) 6
4( $
)
)
)
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4 '
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8
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4' (
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( 9
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    
11
1
Os subtipos F são pouco expressivos numericamente. Dentre eles, o que mais
aparece é o subtipo F4, indicando novamente um predomínio de subtipos seriados, com
formas de simetria específicas, como veremos no próximo subcapítulo. O subtipo F1
aparece no sítio ST1 e LTR, os outros subtipos F ocorrem somente em um sítio (vide
gráfico 11).
Gráfico 11. Ocorrência dos subtipos F, por sítio.
1
1
2
0 1 1 2 2 3
IJC
AV5
AV8
PTC
IGL
ST1
ST2
ST3
MAR
IAP
PRB
PCD
PML
FET
PPN
PFD
CAM
SRS
CFT
SFT
LTR
TST
PPS
LGD
PS4
IPG
PAD
GEB
PGL
Como evidencia o gráfico 12, referente
ao tipo G, o subtipo G5 (losangos
entrecruzados irregulares), é o que mais
aparece distribuído na área de estudo, de norte
a sul. Novamente, o sítio IJC apresenta um
subtipo de um signo elementar, único deste
sítio. Entre as gravuras do subtipo G4
destacam-se, por sua semelhança, as dos sítios
ST2 e IAP. Em geral, os subtipos G2, G3, G4
11
3
e G5 têm uma variação nas suas formas de
sítio para sítio.
Gráfico 12. Ocorrência dos subtipos G, por sítio.
0 1 2 3 4 5 6
IJC
AV5
AV8
PTC
IGL
ST1
ST2
ST3
MAR
IAP
PRB
PCD
PML
FET
PPN
PFD
CAM
SRS
CFT
SFT
LTR
TST
PPS
LGD
PS4
IPG
PAD
GEB
PGL
( ( ( ( (
11
4
Os tipos H e I apresentam, cada um, dois subtipos, que ocorrem apenas uma vez,
podendo ser considerados motivos (vide gráfico 13). O tipo H1 faz parte do principal painel
da Ilha do Campeche, o do Letreiro, acompanhando outros subtipos que se apresentam de
maneira seriada. No sítio PPS, o tipo H2 faz parte de um pequeno painel e cobre toda a face
do suporte pela sua grande dimensão, é o primeiro a ser avistado quando se chega ao sítio.
Com relação ao tipo I, o subtipo I2 junto com outras duas gravuras formam um conjunto
gráfico com um agenciamento peculiar a associação de subtipos em que a forma foi
adaptada ao relevo do suporte.
Gráfico 13. Ocorrência dos subtipos H e I, por sítio.
11
5
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2
IJC
AV5
AV8
PTC
IGL
ST1
ST2
ST3
MAR
IAP
PRB
PCD
PML
FET
PPN
PFD
CAM
SRS
CFT
SFT
LTR
TST
PPS
LGD
PS4
IPG
PAD
GEB
PGL
< < 4 4
O tipo J é composto por quatro subtipos que possuem variações na sua construção
gráfica a partir de um módulo de ‘linhas retas paralelas em ângulos agudo e obtuso com
reflexão de espelho’. O tipo J apresenta várias associações com outros tipos em uma mesma
gravura, como veremos adiante. Este tipo, como pode se ver no gráfico 14, aparece tanto
em pequenos quanto em grandes sítios (sítios do Santinho e do Campeche). Verifica-se que
o subtipo J4 é o menos recorrente em comparação com os outros subtipos.
11
6
Gráfico 14. Ocorrência dos subtipos J, por sítio.
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5 5 5 5
No que concerne às gravuras de
representações complexas, estas são
encontradas desde os sítios Ilha João da Cunha
até a Ponta do Galeão, como pode ser
observado pelo gráfico 15. Pelo quadro 2,
observa-se que são raros os casos que estes
11
7
motivos se repetem, podendo tratar-se de uma
“invenção” local. A ST3-22 é um exemplo de
gravura única. Outros motivos se repetem
entre os sítios, porém, com alguma variação.
Podemos observar dois exemplos: as gravuras
IJC-03 e IAP-03 e as “cruzes” de duplo
contorno, com e sem apêndice (CFT-04 e
PPS-27); estas últimas aparecem na Ilha do
Campeche.
Gráfico 15. Ocorrência dos subtipos K, por sítio.
11
8
0 1 2 3 4 5 6 7 8
IJC
AV5
AV8
PTC
IGL
ST1
ST2
ST3
MAR
IAP
PRB
PCD
PML
FET
PPN
PFD
CAM
SRS
CFT
SFT
LTR
TST
PPS
LGD
PS4
IPG
PAD
GEB
PGL
K
Quadro 2. Algumas representações complexas, tipo “K”.
IJC-02
IJC-03
IJC-07
ST3-22
ST3-41
PML-05
IAP-03
SRS-10
SRS-12
11
9
CFT-04
SFT-04
LTR-24
PPS-27
(unidade gráfica)
IPG-01
GEB-16
PGL-18
PGL-19
Conforme o gráfico 16, o tipo L ocorre em sítios médios e pequenos, sendo o mais
comum o subtipo L3. A Ilha do Campeche, além do subtipo L1, a presenta três tipos de
representação humana, sendo a área principal de ocorrência do subtipo L3. Os subtipos L4,
L6, L7, L8, L9 e L10 são criações próprias de determinados sítios. O sítio PGL apresenta a
maior quantidade de subtipos reunida, com destaque para o subtipo L6, com duas
ocorrências em painéis com agenciamento similar.
Gráfico 16. Ocorrência dos subtipos L, por sítio.
12
0
0 1 2 3 4 5 6 7
IJC
AV5
AV8
PTC
IGL
ST1
ST2
ST3
MAR
IAP
PRB
PCD
PML
FET
PPN
PFD
CAM
SRS
CFT
SFT
LTR
TST
PPS
LGD
PS4
IPG
PAD
GEB
PGL
L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 L8 L9 L10
As gravuras com mais de um tipo ou subtipo estão agrupadas separadamente, como
pode ser visto no gráfico 17. Como mostra a tabela 5, os tipos J vêm associados com os
tipos A ou B, uma situação específica são as gravuras LTR-17 e LTR-21 com uma
associação de subtipos com o mesmo resultado gráfico (vide estudo de composição 16 no
apêndice 5). Outra associação recorrente aparece entre os subtipos do tipo C com os
subtipos dos tipos A e B.
A observação das formas das gravuras rupestres permitiu que montássemos um
quadro de 69 subtipos reunidos em doze tipos. Os tipos mais recorrentes foram: as
circunferências (tipo B), as linhas retas (tipo C) e as linhas retas em ângulos agudo e obtuso
com reflexão de espelho (tipo J). Em cada um dos doze tipos, os subtipos mais recorrentes
foram: A1, B2, C7, D2, E2, F4, G5, L3, J1, J2 e J3, estes últimos com quantidades
aproximadas. A freqüência dos tipos H e I é muito baixa, por isto podem ser considerados
motivos geométricos complexos.
12
1
Gráfico 17. Subtipos que aparecem associados em uma mesma gravura.
9 9 9 9 9 6 6 6      ( 5  5  5  = $ 
Tabela 5. Lista das gravuras com subtipos associados.
Gravura
Subtipos associados Gravura
Subtipos associados
CFT-05 A1, J2 PPN-16 A1, C1
LTR-03 B2, J2 PPN-22 B1, B2, B4, B5, E4, E5
LTR-17 A1, B5, E3, J3 PPS-13 A1, C10
LTR-21 A1, A3, E2, J3 PPS-19 A1, J2
LTR-25 D2, J2 PTC-02 B3, C7
LTR-27 A1, J4 ST1-04 B2, B3, B5
PGL-26 G5, L2 ST3-11 A1, E2
PGL-30 B2, C7 ST3-23 D1, K
PGL-39 B1, C7
TST-19 A4, F4
A categoria “outros” reúne 30 gravuras que podem ser vistas como motivos,
específicos de alguns sítios ou áreas (costões e ilhas). Os tipos associados foram analisados
separadamente; as associações mais comuns são justamente dos tipos mais recorrentes, os
subtipos dos tipos B, C e J, em conjunto com o tipo A. As associações que aparecem mais
de uma vez são: A-J, B-J, A-C, B-C. Um dado importante é que os subtipos em associação
não implicam em uma alteração da figura, existe a preservação da forma com a inclusão do
outro subtipo no interior da própria figura ou do lado da mesma.
Estes dados nos permitem dizer que os sinais A, B, J e C pelas suas ocorrências,
formando gravuras de um ou mais subtipos, são as principais categorias de representação
do litoral de Santa Catarina.
12
2
4.4. Análise da simetria
A observação da simetria pode levar-nos a um entendimento mais amplo, em
conjunto com as análises tipológicas e espaciais, da “gramática” e das “relações espaciais
impostas pelo espírito de seus executores”
54
. Um exemplo deste tipo de investigação
aparece num estudo específico no qual André Prous analisa o “tipo Cabloco”
55
, elaborando
uma classificação provisória das figuras deste tipo através da simetria. Em conjunto com
outras análises pontuais, o autor chega a resultados que ultrapassaram as “simples
contagens tipológicas.” (Prous, 1985: 224).
A proposta aqui é analisar a simetria dos subtipos. Na arqueologia, a simetria
geralmente é entendida apenas como “simetria de espelho”, entretanto, o conceito de
simetria é muito mais amplo (Brandmüller et alli, 1986: 783). A simetria pode ser definida
como “(...) a propriedade pela qual um ente, objeto ou forma exibe partes correspondentes
(ou congruentes) quando submetida a uma operação específica.” (Rohde, 1982: 13).
Na matemática, existem vários tipos de simetria ou grupos de simetria, relacionados
com operações específicas, que são movimentos rígidos das figuras. Toda figura tem uma
simetria, chamada de simetria trivial, que se refere ao movimento de não fazer nada. A
figura somente pode ser denominada simétrica quando ela possui mais de um movimento
rígido (Farmer, 1999: 43-44).
A partir da análise da simetria, ou seja, dos movimentos rígidos em que a figura
permanece a mesma, podemos perceber as diferentes operações de simetria na elaboração
das representações rupestres do litoral catarinense.
A simetria das formas planas possui três movimentos rígidos principais: a
translação, a rotação e a reflexão. A translação é o movimento rígido mais simples, quando
tudo é movido pela mesma distância e na mesma direção (Farmer, 1999: 28). A rotação é
outro movimento rígido do plano, que fixo um ponto, tudo roda a mesma quantidade em
torno deste (Farmer, 1999: 28). A reflexão é um movimento rígido verificado quando dois
54
Leroi-Gourhan compara as figuras paleolíticas como um texto, já que as imagens conservam “(...) las
relaciones espaciales impuestas por el espíritu de los ejecutantes.” (1984: 630).
55
Figuras geométricas do nordeste de Minas Gerais e regiões contíguas da Bahia.
12
3
lados de uma imagem são como “imagens de espelho” um do outro (Farmer, 1999: 33).
Outro tipo de reflexão de espelho é a reflexão deslizante, que é uma reflexão de espelho
seguida de uma translação paralela ao espelho (Farmer, 1999: 33) (vide quadro 3).
Quadro 3. Classificação dos movimentos rígidos (simetria), cf. Farmer, 1999.
Translação: move RR, não tem pontos fixos.
Rotação: move RR, tem um ponto fixo.
Reflexão de espelho: move R, fixa a linha de espelho.
Reflexão deslizante: move R-, não tem pontos fixos.
Não fazer nada: move RR, fixa todos os pontos.
Primeiramente, analisamos as gravuras que apresentam simetria de translação. Os
signos elementares raramente apresentam-se sozinhos. O triângulo, o hexágono e o
quadrado são unidades básicas para a geometria e foram agrupadas de maneira seriada, em
padrões de faixa
56
e papéis de parede
57
. Incluímos neste grupo,os pontos, as cúpulas e os
sulcos (tipo A).
Como exemplo, vejamos as relações de
simetria do tipo E que ocorrem no repertório
de gravuras do litoral catarinense (vide quadro
4).
Quadro 4. Formas de simetria do tipo “E” (Triângulos).
Faixa com simetria de translação Faixa com simetria de rotação
56
“(...) padrões com simetria de translação numa direção.” (Farmer, 1999: 59)
57
“(...) padrões com simetria de translação em duas direções diferentes.” (Farmer, 1999: 65)
12
4
Papel de parede com simetria de translação Papel de parede com simetria de rotação
Nos sítios inventariados, estes tipos de simetria ocorrem com os subtipos dos tipos
A (sulcos e cúpulas), E (triângulos), F (quadriláteros) e H (hexágonos) (vide quadro 5).
Quadro 5. Formas de simetria dos signos elementares
Tipos de simetria cúpulas bastonetes
triângulo quadrado hexágono
Faixa com simetria de
translação
Faixa com simetria de
rotação
Papel de parede com
simetria de translação
Papel de parede com
simetria de rotação
Outra situação que pode ser vista como
papel de parede são os subtipos D5, F1 e G5.
Os “rediformes” e “gradeados regulares
podem ser vistos como papéis de parede
quando invertemos a relação de importância
entre a área gravada e o espaço entre elas.
Nesta leitura, o subtipo G5 fica sendo um
papel de parede de losangos e o F1, um papel
de parede de quadrados (figs. 40 e 41).
12
5
Fig. 40. Área
gravada em preto
de um gradeado.
Fig. 41
gravada em branco
de um gradeado.
Os losangos entrecruzados irregulares
com contornos arredondados (subtipo G5) não
são simétricos, entretanto, na sua construção
existe uma relação de simetria, diferente do
caso dos rediformes regulares que são
simétricos. A escolha pela forma arredondada
pode estar atrelada ao aproveitamento do
suporte e/ou a outra representação mental. No
caso da gravura PPS-09, percebe-se um
aproveitamento da forma da parede e, mesmo
sem ser simétrica, a figura possui uma simetria
no seu preenchimento com os losangos em
papel de parede, nos seus módulos
58
(fig. 42).
58
“O módulo de simetria é a menor das partes de um ente ou forma que, se repetida ou operada (refletindo,
expandindo, etc.), dá origem ao ente ou forma ao qual pertence.” (Rohde, 1982: 14-15)
12
6
Fig. 42. Croqui da gravura PPS-09.
Outra situação peculiar ocorre no
subtipo A1, a distribuição dos pontos forma
entre si quadrados ou hexágonos (figs. 43 e
44). Os subtipos A2 e algumas gravuras do
tipo F4 se assemelham em sua construção, a
repetição das unidades gráficas por translação
diagonal forma uma grelha de quadriláteros
intercalados.
Fig. 43. Subtipo A1 que forma uma
grade de hexágonos.
Estes tipos, principalmente com
simetria de translação formando faixas ou
papéis de parede, foram recursos gráficos
bastante comuns dispostos em painéis e
dispositivos parietais. Nestas formas de
representação, tanto o tamanho das unidades
gráficas (módulos) é muito regular, quanto os
espaços entre as áreas gravadas assumem o
mesmo peso para a definição visual. No caso
da gravura LTR-17, os triângulos foram
dispostos em papel de parede com simetria de
rotação (subtipo E3), as unidades básicas
foram rebaixadas em duas profundidades,
12
7
criando dois planos de polimento. Nesta
gravura, os triângulos com o vértice para
baixo são menos profundos que os triângulos
com o vértice para cima.
Na tabela 6, podemos verificar a importância que estes tipos de simetria em faixas e
de papel de parede na concepção dos painéis e dispositivos parietais. Neste primeiro
momento, cabe observar a expressiva porcentagem de 30,4% a 85,1% do total da área
gravada de alguns painéis e dispositivos onde aparecem as faixas e papéis de parede,
mesmo se analisados sítios com números e tamanhos de gravuras, painéis e dispositivos
distintos.
Tabela 6. Relação entre o total de área gravada e áreas gravadas por faixa e papel de parede
nos painéis e dispositivos.
Sítio
total de
gravuras
Área
gravada
total
(cm
2
)
de
gravuras
por faixa
de
gravuras de
papel de
parede
Área gravada por
faixa ou papel de
parede (cm
2
)
%
ST3-P1 4 7894 0 3 6724 85,1
ST3-D1 31 38703 7 2 11790 30,4
PML-P1 6 6683 0 3 4800 71,8
LTR-P2
8 (da 25 a
33)
55821 0 5 26974 48,3
TRT-D1 16 18806 0 7 12527 66,6
Guarda do
Embaú
17 9669 0 2 2848 29,4
Quanto ao tipo B, o mesmo é uma exceção, que a circunferência é a única figura
plana que é simétrica em relação a um número infinito de eixos. Os subtipos de
circunferências infinitas, geralmente apresentam-se agrupados ou alinhados, verificando-se
simetria de translação, como no caso dos tipos de circunferências concêntricas e de
circunferência simples. Os subtipos que apresentam elementos externos tangentes têm uma
simetria finita, como por exemplo, o B6, o B11 e o B12; em geral, aparecem sozinhos com
outros tipos em conjuntos e painéis.
12
8
As figuras concêntricas ou de contornos duplos ou triplos também foram recursos
gráficos bastante utilizados. Nesta relação, podemos encontrar figuras homotéticas
59
ou
com uma determinada razão de homotetia. A gravura LTR-23, além de apresentar razão de
homotetia nos losangos ligados pelo vértice, os losangos internos são proporcionais ao
tamanho da figura formada (fig. 45). O número de losangos internos aumenta de baixo para
cima de maneira progressiva e constante: no primeiro 1, no segundo 2 e no terceiro 3.
Fig. 45. Relação de progressão e razão
de homotetia, croqui da gravura LTR-23.
Quanto aos tipos C e D, estes apresentam formas de simetria específicas a cada
subtipo: os subtipos “C2”, “C6”, “C7” e “D2” apresentam simetria de translação (fig. 46); o
subtipo “D7” apresenta rotação e reflexão de espelho; o subtipo “D8” apresenta somente
simetria de reflexão de espelho e, por fim, os subtipos D3 e D4 apresentam simetria de
translação e reflexão de espelho (fig. 47), demonstrando uma construção gráfica mais
elaborada.
59
Duas figuras são homotéticas quando são semelhantes e os lados homólogos são paralelos dois a dois.”
(Lopes & Kanegae,1995: 68)
12
9
Fig. 46. Subtipo C7
com simetria de
translação (t), gravura
PPN-09.
Um caso a parte são as figuras que consideramos ‘signos complexos com grande
recorrência e distribuiçãona temática rupestre do litoral catarinense: os subtipos do tipo J.
As variações de linhas retas paralelas em ângulos agudo e obtuso com reflexão de espelho
apresentam várias formas de simetria. Neste sentido, em termos de construção da imagem,
o tipo J é um signo chave tanto pela sua ocorrência e distribuição como pela sua elaboração
que requer um conhecimento gráfico mais elaborado. Com isso, não queremos dizer que
possa ter existido uma evolução de outros tipos para este, somente que este signo tem uma
construção mais complexa, verificada em diferentes soluções gráficas (vide quadro 6). Não
existe dentro dos subtipos do tipo J nenhuma figura igual à outra: o número de linhas varia,
o tamanho, a forma (ora mais arredonda ora mais retilínea), bem como varia os elementos
associados (subtipos com formas elementares).
Quadro. 6. Exemplos de variações do Tipo “J” (Linhas paralelas em ângulos agudo e
obtuso com reflexão de espelho).
ST3-24
LTR-03
MAR-03
CFT-06
AV1-Rohr
13
0
ST3-40
TST-10
IGL-01
Aparentemente, as variações do tipo J combinam os princípios de translação,
reflexão de espelho e rotação. Porém, analisando as gravuras deste tipo de maneira
individual, elas não são simétricas de facto. Apesar das idiossincrasias de cada subtipo,
percebemos que todas as gravuras formam o desenho de linhas opostas em ângulos agudo e
obtuso; mesmo que um lado tenha mais linhas que outro, ambos foram construídos como
pares de oposição, ainda que não tenham simetria de espelho.
Comparando os subtipos do quadro 6 entre si, as gravuras ST3-40 e TST-10 são
muito similares as ST3-24 e MAR-03, se movimentarmos as primeiras com uma rotação de
½ volta. O mesmo acontece com a gravura IGL-01 em relação ao subtipo J2, basta
compararmos com a CFT-06. As gravuras do tipo J com linhas abertas, apesar do
comprimento das linhas paralelas ser diferente e não revelar uma simetria de translação,
muito se assemelha a esta e segue a mesma lógica de construção que dos subtipos C5, C6 e
D2.
Outra característica deste tipo é a
equivalência entre sulcos e área não gravada.
Isto é bem notório, pois, existe uma
alternância rítmica de sulcos e suporte e o
intenso contraste entre as áreas nos dá uma
ilusão de baixo relevo, em alguns instantes, e
de alto relevo, em outros momentos. A partir
da análise dos módulos de duas gravuras do
subtipo J2, percebe-se que a figura formada é
a mesma. Se partirmos do centro das gravuras,
a fig. 48 começa a construção da forma a partir
do sulco e a fig. 49 inicia com o suporte
13
1
delimitado por sulco (vide figs. 48 e 49).
Assim sendo, existe uma relação de inversão
entre os dois módulos; independente da
maneira em que foi construído este signo
complexo, ao final, o resultado gráfico foi o
mesmo.
Fig. 48. Sulco em preto, módulo esquerdo da
gravura TST-03.
Fig. 49. Sulco em branco, módulo direito da
gravura CFT-06.
O tipo J é tão presente que até mesmo
o seu módulo aparece na construção de outros
tipos, reforçando a sua importância dentro do
repertório de representações rupestres do
litoral catarinense. Podemos observar estas
relações nas gravuras ST1-07 e IAP-03 (figs.
50 e 51).
13
2
Fig. 50. Subtipo J3 dentro de outro subtipo, ST1-07.
O tipo em que se incluem outras figuras reúne, em sua maioria, representações
complexas que por serem bem diferentes uma das outras, não compartilham nenhum
princípio comum de construção da figura. Em geral, podemos dizer, que estas figuras têm
uma simetria trivial (operação de não fazer nada) ou uma simetria bilateral.
Referente às representações humanas, estas apresentam simetria bilateral com eixo
vertical; o subtipo L3 apresenta também simetria bilateral com eixo horizontal. As exceções
são os subtipos L7 e L8 com simetria trivial, apresentando maior movimento em relação às
outras representações humanas.
Os tipos que não apresentam simetria de translação possuem, entretanto, simetrias
de rotação ou um número igual de simetrias de rotação e reflexão de espelho (Farmer,
1999: 54). As figuras que apresentam somente N simetrias de rotação e nenhuma de
reflexão de espelho são do tipo C
N
, “C” de “cíclico” (Farmer, 1999: 55). Se a figura tem o
mesmo número de simetrias de rotação e reflexão de espelho, ela é “diedral”, do tipo D
N
(Farmer, 1999: 56). Na tabela a seguir está classificado o tipo de simetria dos subtipos
identificados no subcapítulo 4.3, que não apresentam simetria de translação.
13
3
Tabela 7. Tipos de simetrias finitas dos subtipos.
Tipos de simetrias finitas
Subtipo
C
1
D
1
D
2
D
4
D4 a D
8
B3
B6
B7
B8
B11
B12
C1
C2
C3
C4
C5
C6
C7
C8
C9
C10
D1
D2
D3
D4
D5
D6
D7
D8
F1
F2
F3
G1
G2
G3
G4
G5
H2
I1
I2
K
L1
L2
L3
L4
L5
13
4
L6
L7
L8
L9
L10
Em síntese, verificamos que se os tipos não são simétricos, a maioria pelo menos foi
construída levando em conta algum princípio matemático ou elemento de simetria. O
gráfico 18 evidencia o número de formas de simetria dos subtipos existentes no repertório
de gravuras do litoral catarinense. Existem 12 combinações de movimentos rígidos que
foram identificadas, nota-se um número elevado de subtipos com simetria trivial (C
1
) e
simetria bilateral (D
1
). Com exceção do subtipo L1 e do tipo K, que podem ser simétricos
ou assimétricos, totalizando 15 subtipos que não são simétricos e 41 subtipos possuem mais
que um movimento rígido, portanto, são simétricos.
Através da análise dos tipos,
identificamos 22 subtipos com simetria de
translação, sendo que alguns destes
apresentam reflexão de espelho e rotação
combinados. Entre estes, os tipos J são os que
combinam estas três formas de simetria. As
simetrias de translação estão presentes nos
padrões de faixa e papéis de parede. Ambos os
casos são particularmente interessantes pelo
contraste estabelecido pelas áreas gravadas e
pelo espaço entre elas, no qual uma gravura
pode induzir a construção de dois ou mais
planos de percepção distintos, como uma
‘ilusão de ótica’.
Gráfico. 18. Quantificação por tipos de simetria.
13
5
A questão da equivalência nos tipos de E e J das áreas gravadas e não gravadas,
amplia nossa percepção ao definirmos o que é uma gravura que o peso para a definição
visual é igual. Laura Greenberg em sua análise estrutural dos desenhos da cerâmica dos
Hopi verifica que nestes casos com simetria de rotação não existe separação entre figura”
e “fundo” (apud Ribeiro, 1986: 20). Ainda segundo a autora, a simetria rotacional revela
uma oposição antitética, diferente da simetria bilateral que revela oposição complementar
(Greenberg apud Ribeiro, 1986: 20).
No caso do tipo J existe a utilização destes elementos de simetria, contudo, as
figuras formadas são assimétricas. Estas figuras são consideradas signos-chave se
analisadas sob o ponto de vista da simetria, por reunir vários movimentos rígidos possíveis.
O interessante é que estas figuras também induzem a uma ‘ilusão de ótica’. Dois casos são
particularmente interessantes: a gravura ST3-24 e a gravura MAR-03.
A gravura ST3-24, se aplicarmos um eixo vertical central sobre a gravura, o
prolongamento de duas linhas paralelas une-se a uma só, porém, quando vemos a figura em
um primeiro momento não se percebe um desequilíbrio entre o número de linhas (vide
quadro 6). A gravura MAR-03, se estabelecermos um eixo vertical central sobre a gravura,
as linhas paralelas possuem medidas diferentes para cada lado, mas, a impressão de que
ambos os lados são equivalentes em tamanho. O suporte desta gravura é inclinado e possui




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 !  @    " # 
6
 
6   
13
6
uma face convexa, isto nos leva a pensar que o executor tomou em conta estas
características do suporte estabelecendo uma noção tridimensional com a área gravada
(vide quadro 6).
A análise dos subtipos pela suas simetrias traz uma classificação diferente da feita
na definição dos tipos pela sua forma e semelhança, inclusive, pode até agrupar elementos
bem diferentes, com uma mesma simetria. No caso do litoral catarinense, percebe-se que
tanto a utilização de formas geométricas quanto à preocupação com o caráter simétrico na
construção das gravuras foram fundamentais para a criação de um estilo de produção
gráfica. Isto revela uma percepção própria na elaboração dos signos, uma característica
cultural dos seus autores que também pode ser estudada através da percepção dos
elementos matemáticos elegidos pelos executores, evidenciando uma gramática plástica
própria.
4.5. Técnicas gráficas
Este subcapítulo tem como objetivo a análise das técnicas gráficas das gravuras
rupestres, ou seja: 1) as convenções gráficas; 2) a posição e o tamanho; e 3) o
aproveitamento dos suportes.
Quanto às convenções gráficas, os signos
geométricos elementares foram executados a
partir de traço linear, pontilhado e figura
cheia. O traço linear é o mais comum entre os
tipos. Os signos complexos, muito e pouco
recorrentes, apresentam traço linear. O
pontilhado somente ocorre nos subtipos A1,
A2 e A5. A figura cheia ocorre nos subtipos
A3, E1, E2, E3, E5, F4, F5, G1 e H1. Nesta
relação, sem contar as gravuras de tipos
associados, o traço linear foi à técnica gráfica
13
7
mais utilizada com 84,5%, seguido da figura
cheia (12%) e do pontilhado (3,44%).
As representações humanas são esquemáticas
representadas com vista frontal em traço
linear. As representações humanas
segmentadas ocorrem, porém, em casos
específicos, como no painel PPN-P1 (vide
Apêndice 5, Estudo de composição 11) .
É difícil precisar o posicionamento das gravuras, se na vertical ou na horizontal, por
se tratar, em sua maioria, de signos, que não permitem sabermos se existiu este tipo de
convenção na construção gráfica. Os tipos B, C, D, E e J apresentaram-se tanto na vertical
quanto na horizontal. Esta situação, por exemplo, não ocorre com as representações
humanas, cuja posição da figura é na vertical.
A posição das gravuras, em geral, nas superfícies com pouca inclinação é vertical ou
horizontal, não existindo figuras fora destes eixos. nas áreas inclinadas ou blocos em
posição horizontal ou com faces inclinadas está relação perde-se, que a gravura pode ser
vista de lado ou de pé. Não é possível, em alguns destes casos, precisar a intenção do autor
em posicionar a gravura em um eixo vertical ou horizontal. No caso de blocos pequenos
existe ainda uma ressalva: a posição original e a posição atual podem não ser as mesmas.
Quanto ao tamanho das gravuras e unidades gráficas, foram selecionados os
subtipos mais recorrentes B2, B5, C7, D2, E1, E2, J1, J2, J3, L3 – para verificar se existe
um padrão ou uma grande variedade de medidas entre as representações rupestres de um
mesmo subtipo. Nos subtipos B2 e B5, os mais recorrentes do tipo B, as unidades gráficas
apresentam tamanhos pouco oscilantes; 62,5% das unidades do subtipo B2 e 75% das
unidades do subtipo B5 mantiveram variação igual ou menor que 20%, para mais ou para
menos, em relação à média absoluta (vide tabelas 8 e 9).
13
8
Tabela 8. Tamanho das unidades gráficas dos subtipos B2.
Sigla da
gravura
Diâmetro
(cm)
Diferença
Tamanho
diâmetro
%
ST1-04 8,5 < que média
0.97
12.86%
PPN-15 10 < que média
2.47
32.78%
PPN-22 10 a 12 < que média
3.47
46.06%
PFD-01 7 a 9 < que média
0.47
6.22%
PFD-03 12 < que média
4.47
59.34%
LTR-12 8 a 10 < que média
1.47
19.50%
LTR-03 13,5 < que média
5.97
79.25%
GEB-08 8 < que média
0.47
6.22%
GEB-14 10 < que média
2.47
32.78%
GEB-17 7 > que média
0.53
7.05%
PGL-14 9 < que média
1.47
19.50%
PGL-24 7 > que média
0.53
7.05%
PGL-31 8 < que média
0.47
6.22%
PGL-41 8 < que média
0.47
6.22%
PGL-43 6 > que média
1.53
20.33%
PGL-30 7 e 8 > que média
0.03
0.41%
Total 120.5
Média
7.53
Tabela 9. Tamanho das unidades gráficas do subtipo B5.
Sigla da
gravura
Diâmetro
(cm)
Diferença
Tamanho
diâmetro
%
ST3-30 13 < que média
0.65
5.23%
ST1-04
9 e 11 e
17,5 e 13,5
< que média
0.40
3.20%
IAP-02 11 > que média
1.35
10.96%
PPN-22 11, 5 a 15,5
< que média
1.15
9.27%
PFD-04 9 > que média
3.35
27.15%
LTR-10 11 a 22 < que média
4.15
33.56%
LTR-18 11 a 14 < que média
0.15
1.18%
LTR-17 13 < que média
0.65
5.23%
TST-07 16 < que média
3.65
29.51%
TST-17 10 > que média
2.35
19.06%
GEB-02 11 > que média
1.35
10.96%
GEB-13 10 > que média
2.35
19.06%
Total 148.25
Média
12.35
13
9
Os subtipos C7 e D2, compostos por linhas poligonais e onduladas paralelas, têm
boa recorrência e dispersão geográfica. Porém, quando analisamos os seus tamanhos não
existe um padrão, variando de gravura a gravura de maneira considerável, podendo
aparecer de maneira isolada (em bloco ou na forma de papel de parede cobrindo uma face
inteira da parede) ou como parte de um conjunto ou painel (vide tabelas 10 e 11).
Tabela 10. Tamanho das gravuras do subtipo C7.
Sigla da
gravura
Área em
cm
2
Diferença
Tamanho
cm
2
%
IJC-06 1300 > que média
1103.92
45.92%
AV8-01 ----- ----- -----
-----
ST3-17 6195 < que média
3791.08
157.70%
ST3-18 2624 < que média
220.08
9.16%
ST2-03 850 > que média
1553.92
64.64%
ST2-08 765 > que média
1638.92
68.18%
MAR 06 3800 < que média
1396.08
58.08%
MAR 08 14696 < que média
12292.08
511.34%
PML-02 1344 > que média
1059.92
44.09%
FET-01 1254 > que média
1149.92
47.84%
PPN-09 9900 < que média
7496.08
311.83%
SRS-13 5250 < que média
2846.08
118.39%
SFT-01 690 > que média
1713.92
71.30%
LTR-20 1160 > que média
1243.92
51.75%
LTR-22 ----- ----- -----
-----
LTR-31 1035 > que média
1368.92
56.95%
PPS-02 1044 > que média
1359.92
56.57%
PPS-06 1050 > que média
1353.92
56.32%
PPS-14 2622 < que média
218.08
9.07%
PS4-02 16 > que média
2387.92
99.33%
PS4-04 700 > que média
1703.92
70.88%
GEB-06 440 > que média
1963.92
81.70%
PGL-04 232 > que média
2171.92
90.35%
PGL-16 450 > que média
1953.92
81.28%
PGL-33 77 > que média
2326.92
96.80%
PGL-42 200 > que média
2203.92
91.68%
Total 57694
Média
2403.92
Tabela 11. Tamanho das gravuras do subtipo D2.
Sigla da
gravura
Área em
cm
2
Diferença
Tamanho
cm
2
%
ST3-16 450 > que média
647
58.98%
14
0
ST3-35 700 > que média
397
36.20%
ST2-06 1045 > que média
52
4.75%
PML-04 204 > que média
893
81.41%
PPN-13 1848 < que média
751
68.44%
PPN-19 1160 < que média
63
5.73%
SRS-11 1200 < que média
103
9.38%
LTR-01 1403 < que média
306
27.88%
TST-11 504 > que média
593
54.06%
TST-18 1360 < que média
263
23.96%
PPS-10 2050 < que média
953
86.85%
LGD-04 2100 < que média
1003
91.41%
PAD-07 920 > que média
177
16.15%
PGL-12 416 > que média
681
62.08%
Total 15360
Média
1097
As unidades gráficas das gravuras do
subtipo E1 apresentam 62,5% de gravuras com
variação da média absoluta menor que 20%,
para mais ou para menos (vide tabela 12). A
gravura LTR-33 é a que teve o maior tamanho
nas unidades gráficas (15), na quantidade (51)
e na área gravada. O subtipo E2 também
apresenta gravuras com a variação da média
absoluta abaixo de 20%, para mais ou para
menos. Porém, como não puderam ser
medidas várias gravuras, em decorrência da
localização em patamares elevados em áreas
íngremes, a avaliação entre tamanhos não é
representativa dos dados (vide tabela 13).
Entre as gravuras observadas, uma destaca-se
por ter unidades gráficas com tamanhos
maiores: a ST2-09.
14
1
Tabela 12. T
amanho das unidades gráficas dos subtipos
E1.
Sigla da
gravura
Bissetriz
(cm)
Diferença
Tamanho
bissetriz
%
PML-01 7 > que média
1.5
17.65%
PPN-10 10 < que média
1.5
17.65%
LTR-30 10 < que média
1.5
17.65%
LTR-33 15 < que média
6.5
76.47%
LGD-06 7 > que média
1.5
17.65%
PGL-06 7 > que média
1.5
17.65%
PGL-21 5 a 8 > que média
2
23.53%
PGL-36 5.5 > que média
3
35.29%
Total 68
Média
8.5
Tabela 13.
Tamanho das unidades gráficas dos subtipos
E2.
Sigla da
gravura
Bissetriz
(cm)
Diferença
Tamanho
bissetriz
%
ST3-06 8 > que média
1.9
19.19%
ST3-07 7 a 10 > que média
1.4
14.14%
ST3-08 10 < que média
0.1
1.01%
ST3-10 9 > que média
0.9
9.09%
ST3-11 9 a 10 > que média
0.4
4.04%
ST3-14 8 > que média
1.9
19.19%
ST3-37 9 a 12 < que média
0.6
6.06%
ST2-09 13 a 18 < que média
5.6
56.57%
ST2-11 ----- ----- -----
-----
ST2-13 ----- ----- -----
-----
ST2-14 ----- ----- -----
-----
SRS-08 9 > que média
0.9
9.09%
LTR-21 ----- ----- -----
-----
PPS-08 ----- ----- -----
-----
PGL-01 11 < que média
1.1
11.11%
Total 99
Média
9.9
O subtipo J1 não apresentou padrão em
relação ao tamanho (vide tabela 14). O maior
tamanho verificado foi o da gravura MAR-03;
14
2
aliado a este dado, a construção gráfica da
figura, arredondada e adaptada às
irregularidades do suporte, e a sua posição
central no dispositivo parietal conferem a esta
representação uma situação de destaque. Os
subtipos J2 e J3 não possuem nenhuma
regularidade em relação ao tamanho das
figuras (vide tabelas 15 e 16). Não existe uma
padronização evidente entre tamanho X
visualização, tamanho X suporte, tamanho X
sítio. Entretanto, algumas situações se repetem
em casos específicos. Uma destas situações é
o aproveitamento total de faces de blocos para
a confecção de seis gravuras do subtipo J2 em
sítios na Ilha do Campeche. O tamanho da
representação é adaptado ao tamanho da face
do suporte.
As representações humanas do subtipo
L3 indicam uma grande diferença de tamanho,
portanto, não existe um padrão. Em relação às
gravuras dos sítios SRS e LGD, que fazem
parte de conjuntos gráficos, também não
apresentam tamanhos similares. Contudo, as
representações destes sítios são maiores que a
média absoluta do subtipo e estão organizadas
espacialmente em planos com situação central
e/ou isoladas de outras gravuras de outros
tipos (vide tabela 17; estudos de composição
13 e 21 no apêndice 5).
14
3
Tabela 14. Tamanho das gravuras dos subtipos J1.
Sigla da
gravura
Área em
cm
2
Diferença
Tamanho
cm
2
%
ST3-24 2279 < que média
664.14
41.13%
ST3-25 375 > que média
1239.86
76.78%
ST3-31 441 > que média
1173.86
72.69%
ST3-38 546 > que média
1068.86
66.19%
ST3-39 1320 > que média
294.86
18.26%
ST2-02 1600 > que média
14.86
0.92%
ST2-05 1500 > que média
114.86
7.11%
MAR-03 4200 < que média
2585.14
160.08%
PPN-01 2500 < que média
885.14
54.81%
PFD-07 2700 < que média
1085.14
67.20%
SRS-01 2000 < que média
385.14
23.85%
LTR-38 0 ----- -----
-----
PPS-01 1170 > que média
444.86
27.55%
GEB-12 1218 > que média
396.86
24.58%
GEB-15 759 > que média
855.86
53.00%
Total 22608
Média
1614.86
Tabela 15. Tamanho das gravuras dos subtipos J2.
Sigla da
gravura
Área em
cm
2
Diferença
Tamanho
cm
2
%
IJC-10 1575 > que média
8306.73
84.06%
PPN-12 26520 < que média
16638.27
168.37%
PPN-25 9991 < que média
109.27
1.11%
CFT-05 15910 < que média
6028.27
61.00%
LTR-03 9240 > que média
641.73
6.49%
LTR-25 24192 < que média
14310.27
144.82%
TST-01 4950 > que média
4931.73
49.91%
TST-03 4675 > que média
5206.73
52.69%
PPS-18 6500 > que média
3381.73
34.22%
PPS-19 16383 < que média
6501.27
65.79%
PPS-21 11682 < que média
1800.27
18.22%
PPS-22 14940 < que média
5058.27
51.19%
PS4-05 972 > que média
8909.73
90.16%
PS4-06 216 > que média
9665.73
97.81%
PGL-08 480 > que média
9401.73
95.14%
Total 148226
Média
9881.73
14
4
Tabela 16. Tamanho das gravuras dos subtipos J3.
Sigla da
gravura
Área em
cm
2
Diferença
Tamanho
cm
2
%
ST3-34 320 > que média
1839.88
85.18%
ST3-40 1870 > que média
289.88
13.42%
ST3-42 0 ----- -----
-----
ST3-43 6060 < que média
3900.12
180.57%
ST2-10 2220 < que média
60.12
2.78%
ST1-01 2829 < que média
669.12
30.98%
ST1-08 1073 > que média
1086.88
50.32%
IAP-04 1702 > que média
457.88
21.20%
IAP-06 4004 < que média
1844.12
85.38%
PCD-01 8560 < que média
6400.12
296.32%
PCD-02 1600 > que média
559.88
25.92%
PPN-23 1250 > que média
909.88
42.13%
PFD-02 1517 > que média
642.88
29.76%
LTR-17 1080 > que média
1079.88
50.00%
LTR-21 ----- ----- -----
-----
TST-04 720 > que média
1439.88
66.66%
TST-10 736 > que média
1423.88
65.92%
PPS-04 924 > que média
1235.88
57.22%
GEB-11 253 > que média
1906.88
88.29%
Total 36718
Média
2159.88
Tabela 17. Tamanhos das gravuras do subtipo K3.
Sigla da
gravura
Área em
cm
2
Diferença
Tamanho
cm
2
%
PPN-11 418 > que média
741
63.93%
PFD-05 322 > que média
837
72.22%
SRS-04 1372 < que média
213
18.39%
SRS-06 2438 < que média
1279
110.37%
SRS-07 1720 < que média
561
48.42%
TST-14 551 > que média
608
52.46%
PPS-11 432 > que média
727
62.72%
PPS-17 864 > que média
295
25.45%
LGD-03 1680 < que média
521
44.96%
LGD-02 1976 < que média
817
70.51%
PGL-07 975 > que média
184
15.87%
Total 12748
Média
1159
14
5
O último ponto importante na discussão das técnicas gráficas é o aproveitamento
dos suportes, que interfere tanto na execução de uma gravura como de um conjunto gráfico,
fazendo parte indissociável da representação gráfica. Como expressa Andreé Rosenfeld, a
rocha é mais que um quadro em branco no qual o artista trabalha
60
(1992: 237).
Como vimos anteriormente e também demonstramos na análise da simetria, o
espaço entre um sulco e outro da gravura e o espaço entre as gravuras são partes integrantes
das representações rupestres. Raoni Valle bem observa esta armadilha perceptiva do
pesquisador, que só vê a gravura como sendo a área gravada:
a transferência do valor de espaço vazio como evocativo do nada, ou da natureza, e o traço
como evocativo do homem, da escolha cultural. Estabelece-se, aí, uma relação dicotômica entre
traço e espaço que pode prejudicar a percepção das formas gravadas. Em outras palavras, a
superfície não marcada seria diretamente proporcional a um fenômeno natural, ao passo que a
superfície rochosa marcada seria fato cultural. Uma maior atenção sobre o valor cultural do
traço é inegável, mas pode tender a desconsiderar o posicionamento e a distancia entre um traço
e outro como produto de uma escolha. (2003: 10)
Esta dicotomia entre o natural e o cultural é própria na nossa sociedade, porém, a
percepção espacial das populações litorâneas na reprodução de seu sistema de
representação visual nos é desconhecida. Podemos somente nos acercar na tentativa de
perceber os agenciamentos e algumas relações de visualização e visibilidade, que serão
abordadas adiante.
O aproveitamento de algumas características do suporte é verificado quando da
utilização das fraturas como linhas de referência para execução de gravuras com simetria de
translação; é o caso de várias gravuras do subtipo E2 do sítio Santinho III (ST3). Também
pode ocorrer o aproveitamento total de um plano em uma superfície diaclasada, como é o
caso da gravura TST-03 (fig. 52).
60
“The rock is more than a blank canvas on which artists work it is an integral component of the artistic
system of meanings.”
14
6
Fig. 52. Posição da gravura TST-03 em plano vertical de uma superfície diaclasada. Desenho: Carlos
Costa.
A apresentação gráfica dentro dos sítios pode ser feita em planos verticais,
inclinados ou planos horizontais (Valle, 2003: 96). O posicionamento gráfico está
condicionando a geomorfologia e geologia do sítio, porém, não é um fator exclusivo. As
escolhas de apresentação gfica podem ter a intencionalidade de serem visíveis ou
dissimuladas.
Em termos de dispositivo parietal, que
podem ser observados a partir dos estudos de
composição apresentados no Apêndice 5, a
maioria está em planos horizontais, ou
combinando planos horizontais e planos
inclinados. Neste caso percebemos o
aproveitamento das paredes horizontais, que
não existem paredes verticais por causa do
escalonamento da superfície em degraus. O
costão mergulhante seria o único caso onde
existe uma superfície em um plano sem
quebras. Contudo, sua ocorrência é em rocha
granítica que oferece pouca visualização.
14
7
Os dispositivos parietais compostos por conjuntos gráficos espaçados geralmente
estão em planos inclinados e os blocos também são aproveitados como suportes. Se
traçarmos uma comparação entre os sítios PPN e PPS e os sítios LTR e TST iremos
perceber duas formas diferentes de aproveitamento. Nestes tios, LTR (painel: da 25 a 33)
e TST-D1, mostram que quando existia uma superfície acessível sem irregularidades e com
pouca inclinação, onde as gravuras eram realizadas aproveitando-se ao máximo o suporte,
sendo distribuídas de maneira concentrada, formando conjuntos gráficos com pouco
espaçamento entre si. no caso dos sítios PPS e PPN, os conjuntos gráficos e/ou gravuras
dos dispositivos parietais têm alguns metros de distância e encontram-se mais espalhados.
O único caso que o painel foi feito em um plano vertical é o sítio Ilha João da
Cunha o sítio mais setentrional. O fato determinante foi o dique de rocha intrusiva no
granito apresentar pouca largura, cortando de forma vertical o mesmo.
Além do aproveitamento de áreas
planas verticais ou pouco inclinadas, foram
utilizadas para gravar superfícies com
inclinação com mais de 45º em área de
passagem/ circulação até as partes mais baixas
dos costões rochosos. Os principais exemplos
são os sítios PFD, PPS e PS4. As superfícies
totalmente horizontais também foram
aproveitadas, todavia, em menor escala, em
que apenas 10 gravuras foram feitas em
inclinação superior a 75º: a única gravura do
sítio FET e nove gravuras do sítio ST3.
Em síntese, as representações rupestres
foram feitas por traço linear, seguido pelo
pontilhado e pela figura cheia. Quanto ao
posicionamento das gravuras na vertical ou na
horizontal é difícil precisar, por se tratar, em
sua maioria, de signos. No caso das
14
8
representações humanas a posição da figura é
vertical. Os tipos B, C, D, E e J foram
executados tanto na vertical quanto na
horizontal.
Entre os subtipos mais recorrentes, não
foi verificado nenhum padrão com relação ao
tamanho. Ainda assim, vale ressaltar que
cerca de ¾ das unidades gráficas dos subtipos
B2, B5 e E1 mantiveram tamanhos
aproximados, com variação em relação a
média absoluta menor que 20%, para mais ou
para menos. As gravuras dos subtipos C, D, J,
L analisados não apresentaram tamanhos que
indicassem alguma regularidade.
O suporte, como parte da própria
gravura, foi utilizado e escolhido pelas suas
características físicas e pelo seu
posicionamento. As áreas planas horizontais e
com pouca inclinação foram as mais
utilizadas, em que as gravuras foram
distribuídas, em geral, lado a lado. Os blocos e
as áreas de passagem também foram
utilizados, ficando as gravuras mais espaçadas
pelo costão, se comparadas com as paredes
verticais.
4. 6. Organização espacial
4.6.1. Nível micro
14
9
Em um primeiro momento, daremos enfoque ao agenciamento dos tipos para a
interpretação deste discurso perdido na pré-história
61
. As superposições, ligações
temáticas
62
, repetições e situações de isolamento são os elementos para entendermos a
construção de gravuras isoladas, conjuntos gráficos, painéis e dispositivos parietais.
Na questão do agenciamento dos tipos, Prous & Piazza tentaram encontrar
associações, observando se alguns signos apareciam de maneira preferencial nos painéis;
porém, o estudo de freqüência destes signos o teve resultado significativo, que os
elementos foram pouco numerosos para permitir expressão estatística (1977: 78).
O agenciamento dos subtipos em alguns
painéis e dispositivos parietais mostra relações
específicas na construção dos espaços
gravados. A forma de agenciamento que mais
aparece nos painéis, com até dez gravuras, é a
repetição, como mostra a primeira folha do
quadro 7. Quanto às associações, cada
pequeno painel apresenta uma associação de
tipos única, não sendo possível identificar
ligações temáticas.
Destes quinze pequenos painéis, oito tem repetição de um subtipo e dois tem dois
subtipos em um mesmo painel. Se contarmos por tipo, treze painéis possuem repetição
destes quinze. Em três painéis, as representações humanas aparecem em dupla ou trio; em
dois painéis aparece uma vez, junto com outros tipos. Das representações humanas
registradas no banco de dados, existem 68,75% que aparecem em dupla ou trio.
Nos grandes painéis e dispositivos parietais iremos analisar o agenciamento das
gravuras individualmente, a partir da apresentação do quadro 7 (folha 2). Antes da análise
61
(...) c’est progresser peu à peu vers l’interprétation de ces discours perdus dans le temps de la préhistoire
(Vialou, 1987: 203)
62
“(...) l’analyse, celui des relations spatiales étroites entre les themes, ce que j’appelle les liaisons
thématiques.” (Vialou, 1982: 38)
15
0
individual, cabe determinar os diferentes tipos de paredes aproveitadas na confecção destes.
O primeiro exemplo são os painéis e dispositivos dispostos no sentido do dique; neste caso,
o agenciamento das representações leva em consideração a declividade do dique, como
ocorrem no AV1-P1 e no TST-D1 (vide quadro 7, folha 2). No segundo exemplo, as
paredes aproveitadas estão perpendiculares a direção do dique, de maneira que o
agenciamento dos painéis e dispositivos tende a ser em paredes verticais em plano
horizontal, como ocorre no LTR-D1 (painel), no GEB-D1 e no ICR-P1 (vide quadro 7,
folha 2). O terceiro exemplo, as duas situações formam paredes que são aproveitadas para a
criação de painéis e conjuntos gráficos, como acontece no dispositivo ST3-D1 (vide quadro
7, folha 2). Os três exemplos apresentados indicam que a construção dos painéis e dos
dispositivos foi determinada pelas características do suporte.
O painel do sítio AV1 apresenta vinte e seis gravuras com dez subtipos de sete tipos
(A, B, C, D, G, K e L). Este painel não apresenta tipos associados, mas, existem dezenove
subtipos repetidos. Os subtipos dos tipos A e B são os mais numerosos; os subtipos do tipo
A formam papéis de parede que estruturam o painel de maneira contínua. A sua parte
esquerda, mais visível do mar que a parte direita, está agenciada de forma concentrada três
unidades gráficas de ‘representações humanas’ (subtipo L2), com vários subtipos dos tipos
A e B emoldurando estes elementos figurativos.
O primeiro dispositivo parietal do sítio ST3 apresenta trinta e três gravuras em
situação de isolamento, em conjuntos gráficos, em painéis e com duas superposições. A
parede vertical disposta no sentido do dique apresenta dois padrões de faixa (F4 e E2) em
patamar elevado, em painéis, em conjuntos gráficos de gravuras dissimuladas e, na
extremidade direita, uma gravura periférica (subtipo K). No plano horizontal, abaixo a esta
parede, existem conjuntos gráficos horizontais e verticais nas superfícies diaclasadas do
suporte. Na parte esquerda do dispositivo (dos subtipos E2 a B1), há um painel de catorze
gravuras com nove subtipos de seis tipos (A,B, C, D, E e L). Ademais, das sete situações de
repetição deste painel, cinco são do subtipo E2 (padrões de faixa) que circundam os
subtipos de representações humanas (L1, L5 e L9).
No dispositivo do sítio LTR, o painel principal é composto pelas gravuras 25 a 33.
Esta parede vertical fica situada em patamar elevado na parte central, no encontro dos dois
15
1
arcos de costões existentes entre os sítios SRS e TST; as gravuras formam um plano
horizontal de nove gravuras de oito subtipos, com sete tipos (A, C, D, E, H, J e K) e uma
repetição. Os subtipos associados são J2-D2 e J4-A1; o primeiro, na parte esquerda do
painel, tem grandes dimensões. O subtipo E1, mais a direita do painel, possui as maiores
unidades gráficas em toda área estudada. Neste caso específico, estes dados sugerem que
existe uma relação entre o tamanho da gravura e a intencionalidade de visualização. Ainda
neste painel, percebemos que os tipos A e B não fazem parte da composição, todavia, foi
utilizado o motivo H1, que possibilita o mesmo efeito de papel de parede. A metade da área
gravada deste painel é formada por papéis de parede, como visto no subcapítulo 4.4.
O dispositivo parietal do tio TST-D1 apresenta dezesseis gravuras em um painel e
uma gravura em outra parede. A posição do painel e desta gravura denota uma relação de
continuidade, em que as duas superfícies se fundem em uma só. Sendo assim, podemos
considerar esta gravura complementar ao painel. Este dispositivo apresenta: sete tipos (A,
B, D, F, G, I e L), treze subtipos, um tipo associado, uma superposição e dez repetições.
Este dispositivo, pelas relações internas entre os subtipos, nos permite uma leitura de sua
organização espacial. Na parte central, estão os subtipos que não se repetem (G3, J4 e L3);
em oposição, as extremidades apresentam os mesmos subtipos em cada lado (F4, A3, B5 e
D2). Na extremidade direita do painel, tanto as paredes do painel e as gravuras (F4-A4 e
F4) são similares, os subtipos intregram-se em uma unidade visual, dependendo do ângulo
de visão do observador.
O dispositivo do sítio GEB é formando por vários conjuntos gráficos, que estão
integrados em um mesmo suporte. Os tipos presentes são B, C, G, J e K; das dezessete
gravuras, doze são repetidas. Existem onze subtipos e onze casos de repetição de cinco
subtipos. Neste dispositivo, a análise tonar-se mais difícil em decorrência das condições de
conservação do suporte e do fato da formação rochosa, hoje, encontrar-se soterrada pela
areia da praia.
O painel da Ilha dos Corais (ICR-P1) apresenta trinta e duas gravuras com seis tipos
(B, C, D, E, K e L) e catorze subtipos destes. O número de repetições é alto, vinte e quatro.
A parte central do painel é formada por duas representações humanas (subtipos L5) e pelos
subtipos E1 e E3; ao redor destes o tipo B é predominante, principalmente os subtipos B4 e
15
2
B9 com nove gravuras cada. Na parte inferior esquerda do painel, aparecem os motivos
B11 e B12. Este painel guarda certa semelhança no agenciamento dos tipos L, B e E, como
aparecem na parte esquerda do painel AV1-P1 e do dispositivo ST3-D1.
Referentes às superposições, existem apenas cinco casos nos sítios estudados, como
pode se observar no quadro 8. No sítio ST3 em um mesmo dispositivo parietal encontramos
dois casos: o primeiro trata-se de faixas de triângulos cheios (subtipo E2) com sobreposição
de representações humanas (subtipos L1 e L9), onde é visível o sulco desta última sobre as
figuras cheias (unidades gráficas). No segundo caso do sítio ST3, as três unidades gráficas
do subtipo B1 e a gravura do tipo C7 revelam superposição.
Os casos de superposição verificados
na Ilha do Campeche também não são
possíveis de precisar quais são as gravuras
anteriores e posteriores na construção gfica.
O dispositivo parietal do sítio TST apresenta
situação de superposição entre as gravuras 8, 9
e 10. O primeiro painel do sítio PPS, a
representação humana e uma gravura do
subtipo D3 apresentam superposição. Na
porção meridional, o sítio PGL apresenta um
conjunto gráfico complexo pela sua
localização em área elevada, pelas técnicas
distintas, pelos tipos representados e pelas
situações de superposição com oito gravuras.
As gravuras em situação de isolamento consistem em poucos casos: FET-01, CAM-
01 e IPG-01. As gravuras ST1-01 e LTR-01, por estarem distantes dezenas de metros das
outras gravuras do sítio, podem ser consideradas isoladas. Cada caso apresenta uma
situação específica na localização e os tipos representados são todos distintos.
Retomando, sinteticamente, as análises do nível micro mostram que os pequenos
painéis têm a repetição como forma de agenciamento mais comum. Em sua maioria, um
subtipo aparece duas ou três vezes junto com outros tipos ou, em alguns casos, isolados.
15
3
Além dos aspectos sócio-simbólicos, a
topografia do sítio é um elemento
determinante para a construção gráfica, esta
relação é, sobretudo, mais perceptível no caso
dos grandes painéis e dispositivos. Em relação
a estes, os exemplos reunidos nesta análise
evidenciam a existência de uma organização
própria e ligações temáticas para cada caso
estudado. Entretanto, podemos identificar
algumas regularidades. Excetuando o LTR, os
outros painéis
15
4
15
5
15
6
15
7
e dispositivos com mais de dez gravuras
possuem mais da metade do número total de
gravuras é de subtipos repetidos no
agenciamento. Ou seja, a repetição é
recorrente tanto nos pequenos painéis quanto
nos dispositivos com grande número de
gravuras.
Nestes agenciamentos maiores os tipos B, C e D aparecem em todos os seis
exemplos. Os padrões de faixa estão em patamar elevado em três dos seis casos estudados
(ST3, LTR e ICR). Outra semelhança entre os casos AV1-P1, ST3-D1 e ICR-P1 são as
ligações temáticas entre representações figurativas e signos seriados dispostos ao redor dos
primeiros.
Referente às superposições, o seu número é pouco expressivo no montante de
gravuras levantadas. As gravuras isoladas estão situadas ao ar livre ou embaixo de blocos,
não verificando nenhuma regularidade quando comparadas.
4.6.2. Nível semi-micro
A análise do vel semi-micro busca verificar as condições de visualização e
visibilidade de dispositivos, de painéis e de gravuras isoladas. Como referido
anteriormente, a visualização é como o sítio é visto e a visibilidade como se vê a partir sítio
(Criado Boado, 1999: 24). Segundo a proposta de Criado Boado (1999), podemos analisar a
visualização e a visibilidade e elaborar mapas de intervisibilidade
63
ente os sítios. Em um
segundo momento desta análise, Criado Boado propõe que sejam analisados os vales
visuais ou vistas panorâmicas a partir da orientação dos sítios, que depois podem gerar
mapas das zonas de visualização, no intuito de compreendermos a permeabilidade deste
espaço (padrões de trânsito e movimento) (1999: 24).
63
A intervisibilidade é relação visual entre elementos, sejam arqueológicos ou não (Criado Boado, 1999: 18).
15
8
Com estes referenciais, a análise da
visibilidade e da visualização das
representações rupestres no litoral central
catarinense pôde ser pensada, levando em
conta que o modelo empregado foi aplicado
em outro contexto geográfico, social e
cultural. A ocupação humana em ecossistemas
insulares e/ou marítimos nos traz a limitação
no entendimento dos movimentos e na
definição dos caminhos marítimos (área de
trânsito), que podem somente em parte ser
idealizados através das informações
geográficas (correntes marítimas, portos
naturais, incidência de vento, etc) e de maneira
indireta pela arqueologia.
Portanto, a análise da visibilidade e da
visualização se refere apenas aos aportes
materiais dos sítios estudados; existem os
aspectos sócio-simbólicos desta paisagem que
não são alcançados, mas, que provavelmente
devem ter sido valorados pelos seus
executores. Hoje, temos acesso restrito as
ações sociais pretéritas e ao pensamento pré-
histórico apreendemos o cognitivo apenas de
forma indireta (Ashmore & Knapp, 1999: 1).
Para verificarmos diferenças e similaridades da visualização e da visibilidade do
espaço gravado reunimos os dados arqueológicos na tabela 18. Os dispositivos e painéis
com melhor visualização serão aqueles de menor inclinação do suporte (parede) e maior
ângulo de visão, interferindo ainda a existência de obstáculos na parte frontal dos sítios
(vegetação, blocos rochosos, etc) e a altura em relação ao nível do mar. Contando todos
estes aspectos, o LTR-D1 é o que reúne melhores condições de visualização: pouca
15
9
inclinação da parede, agenciamento com papéis de parede, grandes gravuras e por estar em
situação topográfica elevada. A percepção da área (zonal) e pontual (da gravura) do painel
principal, indica que este tem também boa visibilidade (com ângulo de 150º), com vista
tanto para a plataforma de abrasão, para a parte central da ilha e para o mar.
No caso da porção central da Ilha do Campeche, os sítios SRS, CFT, SFT, LTR e
TST possuem uma interconexão visual entre eles (vide fig. 53). A visualização de um sítio
a outro é zonal e somente o sítio LTR é possível obter uma percepção pontual. Entretanto,
está relação de interconexão visual ocorre somente em algumas situações específicas, onde
os sítios são contínuos na costa rochosa, como o caso do Santinho II e III e na parte central
da Ilha do Campeche.
Nos sítios que não estão em falésias
com plataformas de abrasão, o melhor ponto
de visualização poderia ser a partir do mar.
Através da navegação costeira, margeando os
costões, os painéis e dispositivos parietais em
falésias abruptas (escarpadas) podem ser
visualizados, como é o caso do AV1-P1 e
TST-D1. nos casos em que os painéis têm
um número limitado de gravuras e estão
localizados em diques de pouca largura,
mesmo se os ângulos de visibilidade sejam de
180º e não existirem obstáculos visuais, não é
possível sua visualização pelo mar. A
distância seria suficiente somente para ver a
unidade fisiográfica (costão), ou seja, a
visualização seria apenas do dique (da área).
16
0
Fig. 53. Rede de intervisibilidade entre os sítios SRS, CFT, SFT, LTR e TST. Recorte da face leste da
Ilha do Campeche. Desenho: Carlos Costa.
Tabela 18. Dados arqueológicos referentes à
visualização e visibilidade de dispositivos
parietais, painéis e gravuras isoladas.
Dispositivos Parietais
Dispositivos
parietais
Inclinação
média das
gravuras
Percepção
da área
Percepção
pontual
Orientação
Ângulo de
visibilidade
Medidas do
ângulo
Elementos naturais
fixos visíveis
Elementos
culturais
visíveis
ST1-D1 X ----
E140º -
S240ºW
(S)
60º
S200ºW
-E140ºS
Ilha das Aranhas
Morro das
Aranhas
Praia do Santinho
Oficina
lítica
ST2-D1 X ----
E150ºS –
S190ºW
(SO)
130º
W300ºN
– E
170ºS
Ilha das Aranhas ---------
ST3-D1 45º X ----
E100º-
110ºS
(SSE)
110º
E110ºS –
S220ºW
--------- ---------
ST3-D2 45º X X
S220ºW
(SO)
110º
S220ºW
– E110ºS
--------- ---------
PPN-D1 11º X X
N40ºE
(NE)
120º
W300ºN
– N60ºE
Praias do
Campeche e
Joaquina, Ilha do
Xavier.
Oficina
lítica
16
1
PDF-D1 -11º X ----
N40ºE
(NE)
115º
N20ºE –
E135ºS
Pedra Fincada ---------
SRS-D1 4 X ----
W310ºN
S230ºW
(O)
80º
W310ºN
S230ºW
Costões Saco da
Fonte, Letreiro e
Triste
---------
LTR-D1 9º X X
E140ºS
(SE)
150º
N60ºE –
S210ºW
Costões Triste,
Conforto e Saco
do Rosa
Oficina
lítica
TST-D1 X X
E120ºS
(ESE)
60º
E120ºS –
N60ºE
Costões Letreiro,
Conforto e Saco
do Rosa
---------
PPS-D1 50º X ----
E130ºS
(SE)
120º
E130ºS –
S210ºW
Ilha Moleques do
Sul, Lageado e
Morro do
Matadeiro
---------
LGD-D1 16º X ----
N40ºE
(NE)
90º
N40ºE –
E130ºS
Costão Pedra
Preta do Sul, Ilha
dos Moleques do
Sul, Morro do
Matadeiro
---------
PGL-D1 --------- X ----
N70ºE –
E170ºS
(NE)
90º
N360ºS
– E90ºS
Ilha dos Corais ---------
PGL-D2 3º X ----
N310º-
320ºW
(ESE)
180º
N30ºE –
S210ºW
Ilha dos Corais ---------
Painéis
Painéis
Inclinação
média das
gravuras
P
ercepção
da área
Percepção
pontual
Orientação
Ângulo de
visibilidade
Medidas do
ângulo
Elementos naturais
fixos visíveis
Elementos
culturais
visíveis
AV1-P1
não
coletado
X X (ENE) 110º
E110ºS -
N
Ilha das Galés,
continente
(Bombinhas)
---------
PCN-P1 --------- X ----
N330ºW
(NNO)
150º
W270ºN
– N60ºE
Praia de
Canasveiras, Ilha
do Francês,
continente
---------
IGL-P1 X ----
N150ºE
(SSE)
110º
N60ºE –
E170ºS
Ilha do Mata-
Fome, Morro do
Santinho, Praia
dos Ingleses
---------
ST3-P1 X ----
S220ºW
(SO)
130º
E150ºS –
W280ºN
--------- ---------
IAP-P1 X ----
E120ºS
(ESE)
80º
E120ºS –
S200ºW
Ilha das Aranhas
Grande, Ilha do
Xavier, Morro da
Galheta
---------
PML-P1 45º X ----
N120ºE
(ESE)
180º
N30ºE –
S210ºW
Praia Mole, Ponta
do Meio, Praia da
Galheta, Ponta do
Caçador
---------
PPN-P1 X ----
N40ºE
(NE)
80º
W340ºN
– N60ºE
Praias do
Campeche e
Oficina
lítica
16
2
Joaquina, Ilha do
Xavier
SFT-P1 X ----
N25ºE
(NNE)
120º
N20ºE –
E140ºS
Costões do
Conforto e Saco
do Rosa
---------
GEB-P1 50º X ----
S190ºW
(S)
180º
E100ºS –
W280ºN
Ilha dos Corais,
Ponta do Galeão
Oficina
lítica
PGL-P1 X ----
E130ºS
(SE)
70º
N60ºE –
E130ºS
--------- ---------
PGL-P2 X ----
W340ºN
(NNO)
180º
N30ºE –
S210ºW
--------- ---------
Gravuras Isoladas
Sítios de
gravuras
isoladas
Inclinação
média das
gravuras
Percepção
da área
Percepção
pontual
Orientação
Ângulo de
visibilidade
Medidas do
ângulo
Elementos naturais
fixos visíveis
Elementos
culturais
visíveis
FET-01 90º X ----
N40ºE
(NE)
180º
W310ºN
– E130ºS
Praias do
Campeche e
Joaquina, Ilha do
Xavier
---------
CAM-01 ---- ----
N20ºE
(NNE)
fresta
para o
mar
---- --------- ---------
IPG-01 64º ---- ----
N30ºE
(NNE)
fresta
para o
mar
---- --------- ---------
Desta forma, existem painéis que
possuem alta visualização e visibilidade, ou
seja, foram feitos para serem vistos e em área
com vistas panorâmicas; outros são melhores
como ponto de observação com boa
visibilidade e baixa visualização, sendo
possível avistar desde elementos naturais fixos
(praias, costões, ilhas, etc) até elementos
culturais (por exemplo, outros sítios
arqueológicos). Já no caso das gravuras
isoladas de pequenas dimensões, estas podem
situar-se em uma área de alta visibilidade e ter
baixa visualização (FET-01), podendo também
estar em áreas mais reservadas (CAM-01,
IPG-01); em ambas as situações elas estão
dissimuladas.
16
3
Assim, a questão da visualização pode ter sido fundamental no caso dos painéis,
onde o contraste do sulco e a superfície poderiam acentuar ainda mais a sua visualização de
longe. As gravuras em áreas pouco visíveis estão em uma relação de visualização
inexistente ou baixa. Esta situação pode dar-se inclusive em um mesmo sítio, como no caso
do Letreiro.
As faixas e papéis de parede são os tipos de gravura que podem ser melhor vistos de
longe, já que são utilizadas áreas cheias; um caso é o sítio LTR. O AV1-P1 (‘Letreiro do
Arvoredo’) apresenta um caso específico, o papel de parede de cúpulas parece ter sido o
elemento principal, onde os outros tipos são realizados entre as áreas restantes, no intervalo
dos conjuntos de cúpulas. Os papéis de parede e faixas, de triângulos e quadrados, no caso
dos painéis e dispositivos ST3-D1, PML-P1, LTR-P2 e TST-D1, estão localizados nas
extremidades dos mesmos, em conjunto com outros tipos. No sítio PPN, pode ser
verificado como as representações rupestres foram separadas em áreas formando pequenos
painéis e conjuntos e gravuras isoladas.
Quanto ao posicionamento de gravuras dissimuladas, além de serem visíveis
somente do sítio que estão inseridas, o seu acesso ou visualização somente ocorre em
determinadas situações. O aproveitamento de superfícies embaixo de grandes matacões
graníticos é uma destas situações; tanto o executor quanto o observador deparam-se com
acesso e movimentação limitadas. Os exemplos destas situações, com blocos sobre dique de
diabásio, são o conjunto de gravuras LTR-04, 05, 06, 07 e a gravura SRS-02 (vide estudo
de composição 17, no apêndice 5). Outros dois casos, gravuras isoladas sobre blocos de
diabásio em área protegidas por grandes massas rochosas graníticas, são: a gravura isolada
na parte nordeste da Ilha do Campeche (CAM-01) e a gravura IPG-01 (vide croqui: IPG, no
apêndice 5). Todos os casos apresentam baixa visualização e visibilidade parcial para o mar
ou para o próprio sítio.
No que concerne às gravuras sobre blocos ao ar livre, sua visualização depende do
tamanho, inclinação e orientação das mesmas. Se o ponto de visualização escolhido for a
observação do sítio visto de frente, em que é possível termos o ângulo de visão de 180º do
sítio, talvez passem desapercebidas as gravuras inclinadas feitas em blocos com as faces
16
4
voltadas de costas ao observador. Portanto, estas gravuras somente serão vistas se
percorrermos o sítio e em pouca distância.
Um último ponto é em relação à
orientação geográfica dos exemplos estudados.
Os gráficos 19 e 20 nos oferecem as
orientações mais recorrentes entre N e SSE;
dos casos estudados nenhum está totalmente a
Leste. Não existe, portanto, uma orientação
preferencial das gravuras; isto depende de
cada sítio e do aproveitamento das paredes dos
diques.
Gráfico 19. Orientação dos dispositivos, painéis e gravuras isoladas da tabela 18.
37.04%
11.11%
33.33%
18.52%
A;
A;
A;
A;
A;
7B7 B BCC CB77C
Gráfico 20. Especificação da orientação dos dispositivos, painéis e gravuras isoladas da
tabela 18.
7
77
7
7



C
C
CC
C
C7C
7C
77C
4.6.3. Nível macro
No nível macro tratamos de analisar as
representações rupestres com outros sítios
16
5
arqueológicos e com o ambiente, buscando
uma leitura espacial mais abrangente.
O estudo de gravuras em áreas litorâneas requer a análise dos contextos geográfico e
arqueológico. Como demonstramos anteriormente, os sítios em ambientes insulares são
predominantes, visto que 89,2% dos sítios estudados estão localizados em ilhas. Cada ilha é
um ecossistema individualizado, por caracterizar-se pelo seu isolamento geográfico e sua
área relativamente reduzida (Mazzer, 1999: 1). Para a arqueologia, a ocupação humana em
ilhas oferece um recorte espacial predeterminado, em que é possível verificar adaptações
ambientais, que os recursos naturais são mais limitados nos ecossistemas insulares
64
(Lima, 1997: 57). Segundo Tânia Andrade Lima:
A ocupação de uma ilha por uma população humana pressupõe o domínio de uma
tecnologia de locomoção através de massas d’água, o que implica em intencionalidade
não apenas do deslocamento, mas também da instalação nesse tipo de habitat. Tal
tecnologia, associada a fatores como distância, condições climáticas e de
navegabilidade dessas massas, é que determina a natureza e a freqüência da
comunicação com outros grupos, quer situados em outras ilhas, quer no continente,
além, evidentemente, dos estímulos ou inibições de ordem cultural, como redes de
trocas, competições, guerras, etc. Nesse sentido, a água pode atuar tanto como um fator
impeditivo de contatos, quanto um elemento de ligação, favorecendo-os. (1997: 56)
Os estudos da ocupação de populações pré-históricas em ilhas marítimas estiveram,
até o momento, voltados para a organização social, para os processos adaptativos em
ambientes costeiros e para a análise dos padrões de assentamento (Gaspar, 1991; Lima,
1991; Fossari, 2004). O estudo integrado da ocupação de ilhas continentais do litoral sul-
brasileiro e o papel simbólico da utilização das mesmas, ainda não foi alvo de pesquisas
arqueológicas. Em estudo de síntese, Prous & Piazza chamaram a atenção para possíveis
usos que fogem da necessidade de subsistência destas populações litorâneas. Estes autores
citam, em especial, a Ilha Santa Ana (município de Imbituba), onde foram encontrados
vários zoólitos, sem evidência de sítios de habitação ou de trabalho (1977: 112-113).
64
Como pode-se concluir, a partir das pesquisas de De Masi e Fossari, esta afirmação só pode ser considerada
válida para ilhas de porte médio e pequeno. No caso da Ilha de Santa Catarina, os recursos naturais foram
amplos para as populações pré-históricas: rios, lagoas, mangues, dunas, formações vegetais diversas, fauna
aquática e terrestre, além dos recursos marinhos (De Masi, 2001; Fossari, 2004).
16
6
Na área de pesquisa analisada, as ilhas com sítios de representação rupestre são: Ilha
de Porto Belo, Ilha do Arvoredo, Ilha de Santa Catarina, Ilha das Aranhas, Ilha do
Campeche, Ilha do Papagaio e Ilha dos Corais. Em algumas destas ilhas, os sítios estão
concentrados em áreas específicas. Por exemplo, a maior ilha da área pesquisada, ponto
principal do litoral central, a Ilha de Santa Catarina, possui na porção nordeste a maior
concentração de sítios de representação rupestre.
Nos casos de sítios agrupados, esta relação de proximidade permite o controle visual
inter e intra-sítio. Maria Dulce Gaspar, na sua análise dos sambaquis do Rio de Janeiro,
aventa que a possibilidade da comunicação visual pode estar relacionada à exploração
conjunta dos grandes corpos d’água (1991: 209). Os costões poderiam ter múltiplos usos,
como: pontos de observação (‘mirantes naturais’), abrigos temporários (áreas abrigadas
entre as paredes rochosas), locais de pesca e coleta (peixes
65
, marisco, ouriço do mar, etc),
fonte de matéria-prima para a indústria lítica (confecção de machados, talhadeiras, etc) e
espaços de representação gráfica, onde pode ser reconhecido um código visual co-existindo
signos e representações únicas em agenciamentos, em que também ocorre a associação de
subtipos repetidos e a recorrência de algumas formas de simetria (translação, simetria de
espelho, etc) como parte da construção gráfica.
A escolha dos locais de representação rupestre agrega fatores socais e ambientais
que fazem destas áreas espaços de representação gráfica. Portanto, áreas como o Santinho e
Ilha do Campeche foram pontos de atração por apresentarem diques largos e por serem
áreas de captação de recursos (áreas com lajes e tocas submersas onde ficam peixes com
hábitos solitários e territorialistas). A proximidade dos sítios distribuídos em um mesmo
costão poderia, ainda, oferecer um melhor controle visual da paisagem. Estas áreas de
maior concentração nos levam a pensar na hipótese da existência de um sistema de
comunicação, em que os sítios periféricos das áreas de concentração também se incluem
como parte das estratégias de coesão destes grupos, seja para o aproveitamento dos recursos
ou para o fortalecimento das relações sociais, materializadas entre o projetar, o fazer e o
pensar as representações rupestres.
65
Os peixes que habitam tocas, fendas, lajes e parcéis e fundo rochoso são: o mero, a garoupa, o robalo, a
caranha, o sargo-de-beiço e o sargo-de-dente.
16
7
Em contraponto, as falésias rochosas marinhas, os cantos de praias e as enseadas são
locais de instalação de acampamentos e aldeias, com fácil saída para o mar, por apresentar
águas mais calmas e com boa proteção dos ventos fortes. Desta forma, existe uma relação
de complementaridade entre áreas de habitação e costões rochosos. Como abordado, os
costões são áreas de pesca de ‘peixes entocados’ e propiciam a observação de cardumes
(tainha, sardinha, peixe-espada, corvina, anchova, etc) e mamíferos marinhos (golfinhos e
baleias). Enfim, são áreas que congregam atrativos inter-relacionados: a captura de
alimento e ampla visibilidade.
No caso das ilhas mais afastadas, que fazem parte do arquipélago
66
da Ilha de Santa
Catarina (as Ilhas do Arvoredo, Campeche e Corais), estas possuem uma ocupação espacial
bastante similar. Todos estes casos de ocupações insulares pressupõem a utilização de
algum tipo de embarcação, mas, pela perecibilidade dos materiais empregados em sua
confecção, ainda não foi encontrado nenhum exemplar no Brasil Meridional (Beck, 1974:
270). Recentes estudos indicam o esforço acentuado dos membros superiores, lesão típica
de remadores (Scherer apud Fossari, 2004: 167) em indivíduos do sítio da Tapera
(Florianópolis).
A Ilha do Arvoredo é a ilha mais distante do continente, ou seja, é a que mais
adentra a plataforma continental. Esta ilha possui 6Km de comprimento e 4Km de largura,
não ultrapassando 300m de altitude; é coberta por vegetação da Mata Atlântica primária e
consta de pequenos cursos d’água (alguns sazonais). Do ponto de vista oceanográfico, o
Arvoredo é o ponto de encontro de duas correntes oceânicas: a corrente do Brasil (águas
quentes e claras) e a corrente das Malvinas (águas polares); conferindo uma grande
biodiversidade de flora e fauna marinhas neste ambiente
67
.
Para alcançá-la partindo do continente ou da Ilha de Santa Catarina seria necessário
o conhecimento dos ventos, das marés, das correntes marinhas. Para superar as distâncias
era preciso, além do conhecimento de tecnologia de navegação, de força física e do
conhecimento das condições físico-climáticas. Nesta ilha não ocorrem praias arenosas,
66
A utilização do termo arquipélago implica em ver a Ilha de Santa Catarina e as ilhas adjacentes como
unidades espaciais inter-relacionadas (Fossari, 2004: i).
67
http://www.arvoredo.org.br/engine.php?lt=caracteristicas&pg=caracteristicas&titulo=OCEANOGRAFIA
16
8
somente costões rochosos estes abruptos na face leste. Assim, a face leste não possui
local seguro para o desembarque. Segundo Gil Reuss-Strenzel, os locais mais alterados pela
ação antrópica são justamente os melhores locais de desembarque na ilha – as proximidades
do Porto Norte e na Ponta do Farol (s/d: 17).
Os dois melhores pontos de desembarque estão situados justamente próximos as
ocupações pré-históricas desta ilha: um sambaqui e um abrigo sobre rocha. O porto natural
do ‘Saco do Capim’, na parte norte da ilha, é ainda hoje utilizado pelas embarcações das
colônias pesqueiras como local de refúgio e pouso. O sambaqui, sítio Arvoredo II,
localizado no Porto Norte, possui 20m de diâmetro e 3m de altura, de acordo com o
levantamento de Rohr. Entretanto, Rodrigo Lavina avaliou que a área seja o dobro da
mencionada e com uma ocupação de ceramistas mais recente em sua superfície (Lavina
apud Fossari, 1988a: 56).
Outro sítio de ocupação, tio Arvoredo III, localizado próximo ao Engenho Velho,
é um abrigo sobre rocha, provavelmente temporário, onde foram coletados fragmentos de
cerâmica não tupiguarani (Lavina, 1987; Fossari, 1988a: 57-58). Na ilha existem, ainda,
dois sítios de oficinas líticas, sendo um próximo ao sambaqui.
Distante 1,5 Km do sambaqui, o principal sítio de representação rupestre está
localizado em uma ponta orientada para o Norte em uma falésia escarpada. O painel
principal é o AV1-P1 (vide quadro 7 no subcapítulo 4.5), o seu acesso pelo mar depende
das condições do mar e vento (vide apêndice 3).
A Ilha do Coral ou dos Corais, última ilha com representações rupestres da área de
incidência, situa-se a 4,5 Km a sudeste da Ponta da Guarda, no continente, na foz do Rio da
Madre e dista 3 Km ao sul da Ilha de Santa Catarina. A Ilha do Coral possui uma superfície
de 325.00 m
2
e tem altitude máxima de 65m. Segundo Rohr, a Ilha dos Corais apresenta
gravuras rupestres em paredão de diabásio na porção nordeste (1969: 28). Este autor relata
a existência de um sítio de sepultamentos na face oeste da ilha, também cadastrado
posteriormente por Alroine Eble e Maria José Reis com a sigla SC-PEST-28 (1976: 31),
hoje registrado no IPHAN com a denominação de Ilha dos Corais II. Rohr relata: “Na
superfície do mesmo, recolhemos cerâmica e diversos artefatos líticos, que parecem indicar
que se trata de um sítio semelhante ao Sítio Arqueológico da Praia da Tapera.” (1969: 28).
16
9
Quanto a Ilha do Campeche, esta é dentre as ilhas maiores a mais próxima da Ilha
de Santa Catarina. Com uma área aproximada de 592 mil metros quadrados, a Ilha do
Campeche possui forma alongada, dois morros principais (84 e 30 metros de altitude) e
uma praia arenosa com cerca de 400 metros de extensão. A ilha dista 1,5Km a leste da praia
do Campeche, porção oriental da Ilha de Santa Catarina. (Mazzer, 1999: 7). A sua ocupação
pré-colonial segue a mesma disposição das outras ilhas, nos locais de mar mais calmo, que
tem bom atracadouro e protegidos dos ventos mais recorrentes (nordeste e sul) ficam os
locais de habitação ou acampamentos. Na face oeste, existe tios de oficina lítica nos
costões norte e sul da praia da ilha. Ainda nesta face, no terraço marinho eólico encontra-se
um sítio de oficina lítica e evidências de um sítio cerâmico da tradição Itararé, pelo material
cerâmico e lítico que se encontra em superfície. A face nordeste-leste, caracterizada pela
costa rochosa, localizam-se os sítios de representação rupestre e as oficinas líticas (vide
apêndice 2).
Como vimos, se analisarmos a instalação dos sítios de habitação e os locais
escolhidos para ‘marcar’ os territórios gráficos destes grupos, percebe-se que a apropriação
do território pelas populações pré-históricas litorâneas deu-se de forma diferenciada, onde
era propício para morar não era para gravar. Neste cenário, os costões rochosos foram
eleitos como suporte material de um código visual de populações pré-históricas, que
mantiveram profundas relações de dependência e adaptação a estes ambientes marinhos.
5. Em busca de um modelo explicativo para as representações rupestres do litoral
catarinense
17
0
5.1. Etnia, tempo e espaço: a atribuição de autoria as representações rupestres do
litoral catarinense
Nesta primeira parte, retomaremos alguns dos autores referendados no segundo
capítulo, no intuito de compreender como foram construídas as associações entre gravuras e
populações pré-históricas.
A primeira tentativa de associação foi o estabelecimento de uma possível relação
entre a cultura guarani e as gravuras rupestres hipótese levantada por Osvaldo Menghin
(1962: 10). Em 1960, Menghin, acompanhado por João Alfredo Rohr, visitou alguns sítios
da Ilha de Santa Catarina, dentre eles o primeiro sítio do Costão Norte da Praia do
Santinho, atribuindo aos Guarani a autoria dessas gravuras, atestando a presença deste
material na referida praia (Menghin, 1962: 10). Esta atribuição de autoria aos Guarani foi
re-afirmada por Rohr (1973, 1984: 86).
A existência desta cerâmica em superfície
indica uma ocupação dos Guarani pré-
históricos na área. Atualmente, não temos o
registro de sítio guarani no local, porém, o
ambiente corrobora com a evidência material,
já que em áreas similares com dunas, restingas
e lagoas como na Lagoa da Conceição e no
Pântano do Sul foram escolhidas pelos
Guarani para se instalarem (Rohr, 1984: 118-
119).
Portanto, o fator da proximidade dos sítios não pode ser um critério para a
atribuição de autoria, isto implica desconsiderarmos a questão do deslocamento em áreas
marítimas, que em alguns casos tem relação com a própria sobrevivência do grupo. A Ilha
de Santa Catarina – rica em micro-ambientes foi um cenário para muitos grupos humanos
ao longo de milênios. Em muitas áreas ocorreram re-ocupações (como no caso da Tapera,
Ponta das Almas) ou surgiram novos assentamentos em áreas nunca ocupadas. No caso
17
1
específico do Santinho, muito próximo das gravuras localiza-se um sítio Itararé (Ingleses
II), situação que se repete em outras áreas com representação rupestre, como na Ponta do
Caçador e no Pântano do Sul.
Reforçando a sua hipótese, Menghin
comparou os padrões decorativos da cerâmica
guarani na Ilha de Santa Catarina com os tipos
de gravuras, a partir dos desenhos de Schmitz
(Menghin, 1962: 10; Prous, 1977: 28; Prous &
Piazza, 1977: 76 e Prous, 1992: 269). A
comparação direta de tipos decorativos sem
considerar o contexto dos mesmos é bastante
vulnerável. Os motivos geométricos da
decoração pintada em urnas funerárias apenas
podem assemelhar-se com os tipos
geométricos das representações rupestres, sem
haver entre eles qualquer relação de filiação
cultural (vide quadro 7).
Quadro 7. Padrões da pintura da cerâmica guarani da Ilha de Santa Catarina.
Desenhos: Schmitz, 1959: 314-318.
Os Guarani, pela sua ampla ocupação em todo o interior do continente, não fizeram
uso de blocos rochosos dos rios de penetração ao litoral como suporte de representação. A
crítica a analogia de Menghin é feita por Mario Consens, baseada na ampla dispersão
populacional deste grupo e pela ausência de representações rupestres confeccionadas por
este grupo lingüístico em outras partes da América (Consens, 1995: 155-156).
17
2
Ao mesmo passo, até o presente, não temos evidências de aldeias ou acampamentos
Guarani nas ilhas do Arvoredo, Campeche e Coral. Apesar do próprio Menghin ver com
certa reserva os Guarani como autores das gravuras, admite que a praia do Santinho poderia
ser um lugar de culto deste grupo. A interpretação como lugar de culto ou espaço sagrado
permeou as interpretações de “arte rupestre”, principalmente com os estudos do Abade
Breuil, publicados em 1952, baseados no paralelismo etnográfico (Perelló, 196: 100-103).
As outras associações estabelecidas tomam como elemento-chave artefatos
gravados, que podem ser classificados na categoria de “arte” mobiliar. A hipótese de
André Prous está embasada em dois ossos de baleia gravados, provenientes do sambaqui de
Matinhos
68
localizado no município que leva o mesmo nome, no Estado do Paraná
comparados pelo tipo de decoração semelhante ao subtipo (Prous, 1977: 23, 28 & Prous,
1992: 269). Este sambaqui está assentado sobre rochas cristalinas (granito e diabásio), sito
a aproximadamente 1 km da linha da costa atual (Imbelloni, 1955: 994). O sítio foi
escavado por Loureiro Fernandes, Guilherme Tiburtius e Igor Chmyz (inf. pessoal, Igor
Chmyz, 13/02/2003), todavia, até agora ainda não foi datado. Walter Neves faz uma
pequena descrição do sítio:
Originalmente, o sambaqui apresentava um eixo maior de 53m de extensão, com uma
altura de aproximadamente 10m. Sua estratigrafia era composta predominantemente
por Anomalocardia brasiliana. Aparentemente, os sepultamentos da base mostravam-
se depositados de forma diferente da dos veis superiores, sugerindo duas ocupações
distintas. (1988: 63)
A peça confeccionada com parte da bula timpânica de baleia foi desbastada e polida,
contudo, o mais importante é a presença de gravados feitos por incisão (figs. 54 e 55).
Provavelmente, os vestígios de giz branco dentro das incisões foram aplicados à época da
68
Referente aos ossos gravados, cabe salientar sua origem - recuperados por Guilherme Tiburtius em
escavações secretas nos meses de inverno, que havia sido proibido por Loureiro Fernandes de trabalhar no
local (Chmyz, 2000: 117). Assim sendo, não existe documentação precisa sobre a localização exata dos ossos
junto ao sambaqui de Matinhos.
17
3
foto feita para a ilustração de publicação, também pelo brilho da peça podemos cogitar que
fora aplicado algum tipo de verniz (Tiburtius et alli., 1949: 102).
Quanto à incisão, podemos caracterizá-la como uma seqüência em ziguezague de
pequenas linhas que formam um conjunto gravado na parte medial da peça.
Fig. 54. Fragmento de bula timpânica (baleia)
gravado, sambaqui de Matinhos, PR. Compr.: 72
mm. Acervo MASJ. Desenho: Fabiana Comerlato.
Fig. 55. Fragmento de bula timpânica (baleia)
gravado, sambaqui de Matinhos, PR. Acervo
MASJ. Foto: Fabiana Comerlato
O outro artefato gravado, presente na coleção
de Tiburtius do sítio de Matinhos, trata-se de
uma provável extremidade de um bastão ou
cabo. Apresenta as duas faces gravadas com
incisões finas de três linhas descontínuas em
ziguezague (figs. 56, 57, 58 e 59). Um lado
apresenta a incisão feita da esquerda para
direita (fig. 56), do outro as incisões foram
realizadas da direita para esquerda (fig. 57).
17
4
Fig. 56. Extremidade de um possível bastão
gravado feito de osso de baleia, sambaqui de
Matinhos, PR. Compr.: 79 mm. Acervo MASJ.
Desenho: Fabiana Comerlato.
Fig. 57. Extremidade de um possível bastão
gravado feito de osso de baleia, sambaqui de
Matinhos, PR. Compr.: 79 mm. Acervo MASJ.
Desenho: Fabiana Comerlato.
Fig. 58. Extremidade de um possível bastão
gravado feito de osso de baleia, sambaqui de
Matinhos, PR. Acervo MASJ. Foto: Fabiana
Comerlato.
Fig. 59. Extremidade de um possível bastão
gravado feito de osso de baleia, sambaqui de
Matinhos, PR. Acervo MASJ. Foto: Fabiana
Comerlato.
Os ossos gravados de Matinhos não podem ser classificados como adorno corporal,
seu uso poderia ser como objeto de prestígio ou ritual. Devemos notar que além dos ossos
citados, foram recuperados deste sítio: discos perfurados, plaquetas de osso de baleia,
espátulas, grande variedade de pontas ósseas, um zóolito de baleia e outro de albatroz
(ambos de bula timpânica).
Não sabemos as relações culturais entre os
autores das gravuras e dos artefatos gravados,
mas, a seleção do suporte foi igualmente
importante em ambas as atividades. A
realização da gravura era antecedida pela
seleção dos diques de diabásio e sua relação
espacial; os artefatos gravados foram feitos
17
5
com os ossos que apresentam boa
durabilidade.
Certamente, existem outros ossos gravados provenientes de outros sítios que foram
esquecidos pelos arqueólogos ou que ainda nem foram escavados. Existe outra referência
de ossos gravados do sambaqui de Maratuá, na região lagunar de Santos (SP)
69
. Em 1954,
as escavações neste sítio revelaram uma importante indústria óssea, sendo que “Alguns
instrumentos em ossos portam uma decoração geométrica, losangos, traços ou entalhes
muito finamente incisos.
70
” (Emperaire & Laming, 1956: 53).
Em 1997 foi encontrado um fragmento ósseo gravado nas escavações do sítio Rio
do Meio (Jurerê, Florianópolis), reacendendo a possibilidade de filiação cultural com as
representações rupestres da região (Fossari, 2004). O osso está partido, entretanto, a figura
é reconhecível: losangos entrecruzados regulares feitos por picoteamento (figs. 60 e 61).
Não foi feita a identificação biológica, mas, parece tratar-se de uma parte de um osso longo
de pequeno mamífero.
Fig. 60. Fragmento ósseo gravado do sítio Rio
do Meio (área II), SC. Acervo MU/UFSC. Foto:
Fabiana Comerlato.
Fig. 61. Fragmento ósseo gravado do sítio Rio
do Meio (área II), SC. Acervo MU/UFSC.
Desenho: Fabiana Comerlato.
69
O sambaqui de Maratuá localiza-se na ilha Comprida, baía de Santos; Emperaire & Laming acreditavam
que a camada inferior deste sambaqui seja antiga: “(...) dos muestras de carbón investigadas com el
radiocarbono dieron para este último uma antigüedad entre 7000 y 4000 A. C. Pertenecen a uma capa de 50 m
sobre el máximo de la pleamar.” (Menghin: 1962, 19).
70
Quelques outils d’os portent une decorátion géométrique, losanges, traits ou encoches très finement
incisés.” (Emperaire & Laming, 1956: 53)
17
6
O tio Rio do Meio foi definido como uma estação pesqueira” pela quantidade de
vestígios de peixes, ossos de golfinhos e baleias e pela ausência de sepultamentos. O sítio é
associado às populações pré-coloniais Jê com datação de 770 ± 60 A.P.
71
Segundo Teresa
Fossari, o fragmento ósseo gravado foi encontrado em área de circulação da ocupação, fora
da áreas das fogueiras (2004: 236). Este osso gravado foi considerado um “indício” da
possível associação entre as populações pré-históricas Jê (Itararé) da Ilha de Santa Catarina
como autores das representações rupestres do litoral catarinense (Fossari, 2004: 236).
Os dados arqueológicos atuais podem ser em um primeiro momento utilizados em
esquemas hipotéticos, que nos seduzem na busca de uma autoria para as representações
rupestres. Entretanto, todas as figuras aqui demonstradas são de signos que possuem uma
ampla dispersão geográfica e fazem parte do repertório imagético de diversas populações
humanas. Os signos geométricos, vistos de maneira individual, não servem como elemento
comparativo na definição de estilos, seja na arte mobiliar” ou nos registros rupestres.
Desta foram, as questões apontadas evidenciam a ausência de elementos suficientes para
estabelecer uma ligação direta entre representações rupestres e tipos decorativos em
artefatos; muito menos, os referidos ossos gravados foram objeto de estudo específico até o
presente momento.
As suposições de Menghin, Prous e Fossari
em tentar atribuir a autoria dos sítios rupestres
pela associação ambiental e pela presença de
ossos gravados aos Guarani, aos pescadores-
coletores-caçadores ou aos Itararés,
respectivamente, precisam ser acrescidas de
novas pesquisas arqueológicas e de datações
nos sítios de ocupação da região,
principalmente nas ilhas do Arvoredo,
Campeche e Corais. Prous, em sua tese sobre
os zóolitos, aventa duas hipóteses das gravuras
terem sido feitas pelas últimas populações de
71
A datação da área II do sítio Rio do Meio é de 1.170± 60 A.P anos d. C. (Fossari, 2004: 248).
17
7
pescadores-caçadores-coletores ou pelas
populações dos acampamentos” itararé, na
época denominados de não-tupiguarani (1977:
28).
A posição moderada de Prous & Piazza em não atribuir a autoria das gravuras nem
aos Guarani e nem aos grupos anteriores, deixa para a arqueologia catarinense um
importante problema científico a ser resolvido (1977: 76). O isolamento de um tipo de
artefato como elemento ‘chave’ para explicar a autoria das gravuras rupestres no litoral
catarinense é insuficiente. As tentativas de associações anteriores seguem a mesma direção
do modelo histórico-cultural, quando percebem as semelhanças como sinais de
proximidade social (Funari apud Bandeira, 2004: 19).
A busca da filiação étnica, de uma etnia ou
grupo social como entidade fixa
72
, para a
autoria das representações rupestres, ignora a
idéia de que diferentes códigos visuais podem
ter um resultado gráfico semelhante, ainda
mais quando se trata, em sua maioria, de
signos geométricos. Apesar da similaridade
entre signos geométricos, as diferenças podem
consistir: na concepção mental da figura, nas
estratégias de comunicação e na atribuição de
significado (Mithen, 2002: 262). A área de
ocorrência dos signos geométricos, sua forma
de associação, o aproveitamento dos suportes
e as técnicas de confecção e gráficas é que irão
definir a existência de um código visual em
uma determinada área. Portanto, as
semelhanças nas formas de figuras
geométricas não podem servir como elementos
72
Jones, 1997: 109.
17
8
comparativos. Contudo, não podemos
desprezar a possibilidade de interação, troca,
re-apropriação de códigos visuais ou
elementos particulares de representação entre
as populações pré-históricas do litoral de
Santa Catarina. O fato de não conseguirmos
ter acesso a estas informações (aspectos
cognitivos), torna ainda mais difusa a
problemática das representações rupestres
como elemento de identidade.
5.2. Um modelo explicativo para as
representações rupestres da costa
catarinense
Como vimos no subcapítulo 5.1., não é possível com os dados arqueológicos
existentes atribuir a autoria das gravuras litorâneas a um ou mais grupos “étnicos” ou
“arqueológicos”. Preferimos nos eximir da dicotomia PCC x Itararé. Para podermos discutir
qual o papel das representações rupestres para os seus executores, iremos recuperar os
resultados das análises anteriores e, a partir dos dados reunidos por sítio, propor uma
interpretação para as representações. Ao questionar a importância em creditar uma autoria
para as representações, procuramos estabelecer diversos eixos de análise, para poder
explicar se estas representações formam uma unidade gráfica e/ou espacial, sem
apontarmos a uma “Tradição”, stricto sensu.
As análises anteriores nos ofereceram
um quadro geral dos sítios estudados: a
utilização preferencial de falésias compostas e
escarpadas; a existência de área de
concentração e de sítios pequenos com maior
espaçamento; o predomínio de gravuras sobre
17
9
as paredes dos costões; o uso preferencial do
polimento; a escolha dos diques como
suportes; a representação de signos
geométricos elementares e complexos; as
representações humanas como representações
figurativas; a maior ocorrência dos subtipos
A1, B2, C7, D2, E2, F4, G5, L3, J1, J2 e J3; a
utilização de diferentes formas de simetria
como recurso visual; o aproveitamento do
suporte conforme as características do costão
rochoso; a variabilidade de tamanho em cada
subtipo, quanto mais complexo maior a
variação; a repetição como principal tipo de
associação; o baixo número de superposições;
a existência de áreas de maior e menor
visibilidade e visualização (gravuras visíveis e
dissimuladas); e semelhanças na escolha dos
locais utilizados como espaços gráficos e das
áreas de ocupação pré-histórica em algumas
ilhas analisadas.
A tabela 19 servirá para entendermos as diferenças e similitudes tipológicas de cada
sítio. Esta tabela foi organizada por ordem decrescente de sítios e subtipos. Através da
análise tipológica, iremos perceber que existe um código visual
73
comum a todos os sítios
da área estudada. Verifica-se que quanto maior o sítio, maior é o número de subtipos
representados; ou seja, existem, nos sítios maiores, tanto casos de repetições quanto uma
maior variedade de subtipos e maior ocorrência de motivos (outros, tipo K).
A unidade tipológica existente entre os sítios estudados é confirmada através da
distribuição dos subtipos mais recorrentes (excetuando o tipo K) em toda área, desde os
73
“Como ha reconocido el estructuralismo antropológico, entre los diferentes códigos de una cultura existen
relaciones de compatibilidad estructural, ya que el mantenimiento tanto de un mismo patrón de racionalidad
como de un mismo sistema de representación, de un mismo macro intercambio comunicativo y, en definitiva,
de un horizonte común para las prácticas sociales, sólo es posible si se conserva una cierta semejanza o
correspondencia entre pautas y referencias de pensamiento y acción.” (Criado Boado, 1999: 11).
18
0
sítios maiores aos menores. Outro dado que corrobora a esta leitura é que os subtipos
menos recorrentes estão presentes de forma significativa nos sítios com mais de 14
gravuras (vide tabela 19).
Tabela 19
18
1
O caso específico do sítio IJC deve ser discutido por sua singularidade. Este sítio
está localizado na parte mais setentrional da área estudada e suas representações rupestres
foram feitas em um dique estreito, apresentadas em um plano vertical. Contudo, foi a partir
da sua tipologia que se considerou este sítio distinto aos outros sítios litorâneos. Para isso,
Prous & Piazza ressaltaram o fato de ser uma ilha periférica e ter uma tipologia “mais
pobre”, que estaria longe dos centros de criação (1977: 78). Outra explicação admite
semelhanças entre as representações do sítio IJC, os grafismos do Virador (RS) e os sítios
rupestres do planalto catarinense (Ribeiro apud Silva, 2001: 293-294).
Em nossa avaliação, este sítio integra-se aos outros sítios litorâneos, entretanto,
conserva algumas peculiaridades. O que confere uma maior diferenciação em relação aos
outros sítios é que 25% dos tipos representados são de representações complexas que se
encaixam na categoria de outros (tipo K). Somando a este dado, três subtipos (B9, F2 e G1)
são exclusivos deste sítio. As gravuras que são comuns a outros sítios, destacam-se a IJC-
03 (subtipo J2) e IJC-10 (que possui certa similitude com a IAP-03). Quanto à presença de
outras técnicas de confecção, este fato pode estar associado às qualidades do suporte,
diferente das outras áreas.
Os limites geográficos das representações, a utilização da simetria na construção de
formas específicas e a utilização dos diques em falésias rochosas marcam a construção de
um espaço semântico de populações pré-históricas, circunscrito por uma faixa de maior
ocorrência de ilhas costeiras, área que hoje corresponde ao litoral central catarinense. Desta
maneira, podemos dizer que entre Porto Belo e Garopaba existiu um território rupestre
74
.
Isto significa que as representações rupestres operavam, de certa forma, como um código
visual de um grupo cultural específico. Esta unidade estrutural entre os sítios estudados,
mesmo sem podermos adentrar ao significado das representações rupestres, indica que estes
espaços articulados eram para seus executores parte de seu território.
Entretanto, algumas ressalvas podem ser
feitas. O fato de considerarmos as
representações rupestres como produto de
74
“Les représentations pariétales et rupestres, parce qu’elles ont cette immobilité monumentale spécifique par
rapport aux autres formes symboliques (ou artistiques), marquent les territoires des sociétés qui les ont
engendrées.” (Vialou, 2000: 382).
18
2
socialização de um grupo em determinado
território, deve admitir que este pode ter sido
manejado pelos grupos humanos, alargando-se
ou restringindo-se de tempos em tempos.
Outro ponto que devemos observar neste tipo
de análise espacial é que nem todos os
membros da comunidade devem ter tido
acesso igualitário a todas as áreas do seu
território (Consens, 2000: 3). Isto pode ser
presumível no caso das representações
litorâneas, a exemplo dos costões rochosos
mais íngremes e de difícil acesso, que podem
ter sido acessados por apenas determinados
indivíduos de um grupo.
Apesar das particularidades conferidas a cada sítio, existe uma unidade geográfica,
gráfica e tipológica que permite dizer que as representações rupestres estudadas fazem parte
de um mesmo sistema de representação, em que seus executores imprimiram em cada local
uma maneira particular de criar o seu espaço gráfico, sem perder a regularidade inerente a
aplicação de um código visual comum às populações de pescadores pré-históricos que
habitaram o litoral central catarinense.
6. Considerações Finais
18
3
Entre quem pensou em fazer uma gravura, o
primeiro a vê-la pronta e o último a procurá-la
sempre haverá um enorme hiato, que não se
trata somente de tempo passado, mas, de
práticas e pensamentos que se perderam e aos
quais muitas vezes não nos é dada à
oportunidade de conhecer. Porém, se não
podemos conhecer o significado intrínseco das
gravuras e as motivações que levaram a sua
execução, podemos partir para outras leituras.
A partir de uma revisão das pesquisas existentes sobre as gravuras rupestres do
litoral de Santa Catarina percebemos que existia um campo de estudo que precisava ser
retomado; que da publicação de Rohr (1969) até hoje, existem outros sítios de
representação rupestre que foram registrados e outras escavações somaram novos dados
arqueológicos ao entendimento da pré-história regional.
O presente trabalho partiu do questionamento de uma generalização (síntese) das
representações rupestres sem que, todavia, as parcialidades (sítios) tivessem sido estudadas
com maior detalhamento. A proposta foi, justamente, à análise do micro para que a partir
das realidades estudadas tivéssemos condições de estabelecer uma ntese que fosse
representativa do conjunto estudado.
A metodologia desta pesquisa teve como um dos resultados a geração de documentação
sobre gravuras, painéis e dispositivos parietais. O conjunto de dados arqueológicos permitiu
que diferentes análises fossem empreendidas. Os itens analisados localização e
distribuição, técnicas de confecção, tipologia, simetria, técnicas gráficas e organização
espacial (níveis micro, semi-micro e macro) –, vistos de forma associada, apontaram para
uma unidade estrutural em que permite afirmar que existiu no litoral médio catarinense um
código visual de grupos fortemente atrelados ao ambiente marítimo.
As análises resultaram na identificação de um código visual, esta afirmação está
baseada nas seguintes características:
18
4
Utilização preferencial de falésias compostas e escarpadas;
Existência de áreas de concentração e de sítios pequenos de maneira
intercalada;
Predomínio de gravuras sobre as paredes dos costões;
Escolha dos diques, preferencialmente de diabásio, como suportes;
Domínio de técnicas de confecção distintas (polimento, picoteamento,
raspagem e incisão fina), sendo o polimento a mais empregada;
Temática baseada na representação de signos geométricos elementares e
complexos;
Representações humanas como únicas representações figurativas;
Identificação de 69 subtipos, sendo os subtipos dos tipos B, J, e C os mais
recorrentes;
Maior ocorrência dos subtipos A1, B2, C7, D2, E2, F4, G5, L3, J1, J2 e J3;
Existência de áreas de ocorrência de alguns subtipos, a exemplo o subtipo
L3 na Ilha do Campeche;
Presença de tipos em associação, com destaque para os subtipos dos tipos A,
B, J e C;
Utilização de diferentes formas de simetria para construção gráfica e como
recurso visual (translação, rotação e reflexão de espelho);
Maior proporção de subtipos simétricos, principalmente com simetria
bilateral (D
1
);
Utilização do traço linear como principal técnica gráfica;
Posicionamento das gravuras na vertical ou na horizontal – as representações
humanas são representadas somente na vertical;
18
5
Variabilidade de tamanho em cada subtipo, não existindo nenhum padrão de
tamanho, com exceção dos subtipos B2, B5 e E1 que mantiveram tamanhos
aproximados;
Maior aproveitamento das paredes verticais com a elaboração de painéis em
planos horizontais;
Existência para cada painel e dispositivo parietal de agenciamentos
específicos;
Presença dos tipos B, C e D nos maiores agenciamentos estudados;
Repetição como principal tipo de associação;
Baixo número de superposições;
Existência de áreas de maior e menor visibilidade e visualização. No caso
dos painéis, os que possuem alta visualização e visibilidade devem reunir
algumas características: estar em paredes verticais com baixa inclinação em
áreas mais elevadas dos costões e não possuir obstáculos visuais;
A escolha seletiva de signos que apresentam simetria de translação (papéis
de parede) em áreas escolhidas para serem avistadas, ou seja, de alta
visualização;
Maior ocorrência de gravuras orientadas entre os quadrantes N e SSE, não se
podendo indicar uma orientação preferencial das gravuras;
Maior quantidade de sítios de representação rupestre em ilhas;
Semelhanças nos locais de instalação dos espaços gráficos e das áreas de
ocupação pré-histórica, em algumas ilhas analisadas.
A partir de todos os resultados alcançados, admitimos a existência de uma gramática
rupestre em que existem amplas recorrências de tipos geométricos e a impressão de
características individuais (motivos) de baixa expressividade numérica no conjunto, mas
que, ao mesmo passo, conferem singularidade aos sítios. Ao final, podemos atribuir a
existência de um território rupestre, sem entrar no mérito de quem seriam seus possíveis
autores. A partir da análise de níveis espaciais distintos, reconheceu-se um sistema de
18
6
representação rupestre circunscrito no litoral central catarinense, em especial em ambientes
insulares.
Outros desdobramentos podem ser dados a temática rupestre litorânea. A
popularização e a divulgação das gravuras rupestres requer da arqueologia uma ampliação
dos seus próprios focos de interesse, para suprir as demandas sociais atuais (turismo
arqueológico, divulgação científica, etc). A incorporação de novas pesquisas científicas
sobre as representações rupestres é necessária. Outras abordagens ou estudos de caso de
sítios específicos, somar-se-ão aos resultados adquiridos, em um processo de construção
e reconstrução do conhecimento científico.
Do ponto de vista contextual, é preciso fomentar novas pesquisas que possam trazer
mais subsídios para entendermos as ocupações nas ilhas continentais, que apresentam sítios
de representações rupestres. Um projeto deste montante, com escavações arqueológicas que
forneçam dados sobre as ocupações destas ilhas, poderia responder quem, quando e de que
maneira apropriou-se destes espaços. Até o presente momento, existem apenas registros e
descrições sumárias destes sítios de ocupação insular.
Á respeito da documentação dos sítios estudados, pode-se, ainda, conseguir um
melhor detalhamento na produção de documentação de registro: através da realização de
levantamentos planialtimétricos dos sítios, de registros fílmicos e de análises
fotogramétricas. Estes documentos são fundamentais tanto para a gestão deste patrimônio
como para a pesquisa arqueológica.
A questão da conservação deste patrimônio deve ser também uma prioridade para a
arqueologia e para os órgãos gestores. A conservação preventiva é necessária, visto que os
sítios litorâneos, além da ação dos agentes de alteração naturais, estão expostos a pressões
de ordem econômica e social, que podem levar a modificações do entorno ou da área. Por
isto, urgem pesquisas que forneçam diagnósticos do estado de conservação dos sítios de
representação rupestre e entorno, com a execução de programas que visem monitorar os
agentes de alteração e, se possível, propor medidas que mitiguem estes impactos.
Em relação aos agentes naturais, verificamos que o desprendimento de placas, as
fraturas e os líquens são os que mais ameaçam a integridade das gravuras rupestres. Quanto
aos líquens, a identificação das espécies seria já um primeiro passo; a partir do ciclo de vida
18
7
destes organismos podemos entender e avaliar como ocorrem as modificações físicas e
químicas dos suportes.
Outra questão que deveria vir associada à conservação é a gestão deste patrimônio
arqueológico. Tem prevalecido a praxis de inverter estas ações. O ideal é que a conservação
preceda a gestão, num plano em que a gestão esteja condicionada a preservação. Neste
ponto, urge uma reavaliação das ações até agora empreendidas nestes sítios e a elaboração
de um zoneamento arqueológico ou uma espécie de plano de manejo arqueológico, que
indique os procedimentos e usos que cada área pode suportar. Para isto as condições de
conservação serão as principais balizadoras.
O turismo nos sítios de representação rupestre deve respeitar as especificidades de
cada contexto arqueológico, prevenindo-os dos impactos negativos. Cabe ainda ressaltar
que não existe gestão arqueológica sem pesquisa científica e aplicada voltada à
conservação, registro e análise dos sítios contemplados.
Referente a geologia, não existem ainda publicados levantamentos detalhados dos
diques que ocorrem no litoral central catarinense. As pesquisas em geomorfologia marinha
e petrologia serão importantes para a reconstrução da utilização destes corpos intrusivos
pelas populações pré-históricas. Do ponto de vista oceonográfico, o levantamento completo
dos fundos rochosos dos costões estudados poderia revelar os pontos mais piscosos, a
batimetria, entre outras características.
Evidentemente, todas estas pesquisas necessitam de profissionais especializados, de
recursos financeiros e do encaminhamento de projetos multi-disciplinares que levem em
conta as atuais demandas científicas e sociais. Esperamos que o resultado de novas
pesquisas amplie ainda mais nosso entendimento sobre as representações rupestres do
litoral central de Santa Catarina.
18
8
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Anexo 1
Anexo 1a: Relato feito a partir de conversa com o Prof. Pedro Agostinho
da Silva
O professor Pedro Agostinho da Silva nos contou sua experiência pelo
norte da Ilha de Santa Catarina. A primeira aventura, deu-se contornando o
Morro das Aranhas por trás até chegar a Barra da Lagoa, acompanhado com
um amigo, pernoitando em um rancho de pesca, quando dormiu dentro de uma
canoa bordada. A época tinha 19 anos e era líder do grupo de Escoteiros do
Mar de Florianópolis. Esta excursão tinha a intenção de chegar a um sambaqui
localizado na praia de Moçambique, objetivo não atingido naquele instante.
A sua segunda excursão teve um fim catastrófico, que lhe trouxe
seqüelas para o resto da vida. O prof. Pedro, na ocasião, comandava um grupo
20
1
de escoteiros que visitavam o sítio Santinho I. O grupo sempre andava em
pares por sua própria recomendação; mas, insurgindo sua própria
recomendação, resolveu verificar sozinho se existiam mais gravuras no costão,
enquanto o resto do grupo permaneceu no sítio Santinho I a sua espera. Era
dia 22 de setembro de 1957, soprava o vento sul e chovia forte.
Fig. 1. Arrebentação das ondas no costão do Santinho, ao fundo parte da Ilha das Aranhas Pequena
e Morro das Aranhas. Data: 22/set/1957. Foto: Pedro Agostinho da Silva. Acervo: do autor.
As condições adversas do dia, somadas ao espírito aventureiro e ânsia
de novas descobertas que impulsionavam o então escoteiro e futuro professor,
o levaram para área mais interior e distante do costão, aonde viria a ocorrer o
acidente. Pela sua própria descrição, o local do acidente seria um pouco antes
da gravura ST2-11. Como as ondas aumentaram com a maré que subia, o
20
2
retorno pelos diques se tornou inviável, uma vez que o mar quebrava com
mais intensidade nesta área, ainda, aliada a chuva que tornava o costão
escorregadio. Com esta dificuldade, resolveu subir de bermuda pela vegetação
de gravatás, passando por uma chaminé natural de granito. Durante a
passagem deste trecho, ao apoiar-se em uma das rochas, que compunha a
formação da parede da chaminé deparou-se com uma armadilha da natureza:
uma das rochas encontrava-se solta, apenas esperando algum agente que
impulsionasse seu deslocamento; infelizmente, este agente se chamava Pedro.
A rocha desprendeu-se deslizando e prensando sua perna direita, pouco abaixo
do joelho.
Fig. 2. . Arrebentação das ondas no costão do Santinho Data: 22/set/1957. Foto: Pedro Agostinho
da Silva. Acervo: do autor.
20
3
Naturalmente, com a situação deflagrada, entrou em desespero, ou, em
suas próprias palavras “horror”, sem ser ouvido, até se acalmar e entender a
tragédia que lhe houvera ocorrido. Daí em diante, tratou de pensar nas
estratégias de resgate para quando fosse encontrado, entender quais as
possibilidades de sobrevida naquelas condições contrárias e mesmo, em última
instância, a possibilidade de vir a cometer um suicídio da maneira “menos
dolorosa” (cortando os punhos), caso não fosse localizado em dez horas
(período que poderia suportar a gangrena que já havia se instalado).
Pedro permaneceu quatro horas preso sob forte chuva, bebendo água
empossada nos gravatás (que também o espetavam), mal posicionado (apoiado
pelas mãos) e com frio. Foram quatro horas a que o colega escoteiro
Leopoldo Frederico Saldanha o localizou. Daí em diante, foram mais quatro
horas de intensos trabalhos de resgate. O acidente ocorreu por volta de 10
horas da manhã e ele só foi retirado, mais ou menos, às 18 horas.
Após ser encontrado pelos colegas escoteiros, seus subordinados, tratou
de conduzir sua própria operação de resgate: mandou chamar os bombeiros,
avisar do acidente ao seu pai, arranjar pessoas locais para ajuda, etc. Assim,
uniram-se ao grupo de escoteiros homens da localidade, no caso pescadores,
formando um grupo de cerca de vinte pessoas.
Várias tentativas sem sucesso foram conduzidas: puxar a rocha com
cordas, empurrar, suspender, partir a rocha, etc. Todavia, aquela que levaria a
liberação de suas pernas suscitaria coragem e determinação daqueles que o
ajudaram. Haveria que ser retirada uma pequena rocha que segurava o bloco;
esta alternativa apresentava duas possibilidades: ou o bloco se re-acomodaria
liberando as pernas do Prof. Pedro, ou despencaria decepando suas pernas e
20
4
arrastando-o chaminé abaixo, com conseqüências mais trágicas. Depois de
muito estudo e avaliação, sem perspectiva de salvamento e em vias de se
perder o pouco tempo restante, resolveram tentar a retirada da pequena pedra.
Um dos pescadores, arriscando sua vida, entrou por baixo do bloco (que
pesava cercar de uma tonelada), com uma alavanca, deslocou a pedra e,
apenas com um estalo, o bloco se re-acomodou, possibilitando a retirada do
aventureiro. Daí em diante, foi socorrido, conduzido ao hospital pelos
bombeiros, que chegaram apenas após a retirada do professor.
Resultado: o acidente rendeu nove meses no hospital; amputação de parte do
direito, sendo que do joelho para baixo houve perda de tecidos e, posteriormente,
atrofiamento do membro; problemas circulatórios em ambas as pernas, sobretudo, na direita
(inf. pessoal, dia 12 e 27/09/2004, Salvador).
20
5
Anexo 1b: Fotografias antigas do sítio da Ilha João Cunha
Fig. 3. Painel do sítio Ilha de João Cunha ou Ilha de Porto Belo. Á direita, Sr. Ernesto Stodieck Jr.
empresário blumenauense e proprietário da ilha na época. Á esquerda abaixo, Dr. Klaus Wagner.
Data: década de 50. Acervo: Empreendimento Ilha de Porto Belo. A parte inferior do embasamento
ainda não havia sido dinamitada.
Fig. 4. Painel do sítio Ilha de João Cunha ou Ilha de Porto Belo e parte da sua área de visualização.
Data: década de 50. Acervo: Empreendimento Ilha de Porto Belo.
20
6
Anexo1c: Fotografias de João Alfredo Rohr
Fig. 5. Painel da Ilha do Arvoredo. Data: 1968. Foto: J Rohr. Acervo: Museu do Homem do
Sambaqui “Pe. João Alfredo Rohr”.
Fig. 6. Representação rupestre do sítio Santinho I. Data: 1968. Foto: João Alfredo Rohr. Acervo:
Museu do Homem do Sambaqui “Pe. João Alfredo Rohr”.
20
7
Fig. 7. Dispositivo parietal do sítio Santinho I. Data: 1968. Foto: João Alfredo Rohr. Acervo:
Museu do Homem do Sambaqui “Pe. João Alfredo Rohr”.
Apêndice 4
Informações gerais sobre o banco de dados “Memória Rupestre”
As fichas apresentadas são tabelas
75
do Access personalizadas apresentadas no
formato de formulários
76
no modo de exibição Formulário, compostas de campos que
75
As tabelas são usadas para o armazenamento de informações. Os outros objetos do banco de dados
(formulário, consultas e relatórios) são os que devem interagir com as tabelas (Online traning solutions, 2002:
6).
20
8
armazenam determinado tipo de informação. Os campos que tratam de um mesmo tema
foram agrupados e dotados de um subtítulo (rótulos), fixo para todos os registros. Os
campos podem ter tipos de dados diferentes (numéricos, objetos e textos), os campos da
tabela foram configurados para armazenar dados consistindo apenas em um único tipo de
dados.
Configuração Tipo de dados
Texto Texto ou combinações de texto e números, bem como
números que não exijam cálculos, como números de telefone.
Memorando Texto longo ou combinações de texto e números.
Número Dados numéricos utilizados em cálculos matemáticos.
Data/Hora Valores de data e hora para os anos de 100 a 9999.
AutoNumeração Um número seqüencial exclusivo (incrementado em 1) ou
número aleatório atribuído pelo Microsoft Access sempre que
um novo registro é adicionado a uma tabela. Os campos
AutoNumeração não podem ser atualizados.
Sim/Não Valores Sim e Não, e campos que contêm somente um dentre
dois valores (Sim/Não, Verdadeiro/Falso ou
Ativado/Desativado).
Objeto OLE Um objeto (como uma planilha do Microsoft Excel, um
documento do Microsoft Word, gráficos, sons ou outros dados
binários) vinculado ou incorporado a uma tabela do Microsoft
Access. No banco de dados apresentado, os objetos foram
incorporados a tabela; para sua visualização é necessário clicar
duas vezes sobre a imagem iconizada.
1. Nomenclator do formulário “Ficha de identificação dos sítios de gravura rupestre”
Numeração da ficha: número de identificação do registro na tabela [AutoNumeração].
Nome do sítio: nome dado ao sítio [Texto].
76
“Um formulário é essencialmente uma janela na qual você pode posicionar controles que fornecem
informações para os usuários ou permitem que eles insiram informações.” (Online traning solutions, 2002:
15). No caso do banco de dados apresentado, o usuário poderá somente acessá-lo sem opções de editar os
dados nele existente.
20
9
Sigla de identificação: sigla alfabética ou alfa-numérica, que sintetiza e identifica o nome
do sítio (ex: Letreiro = LTR) [Texto].
Localidade: nome da praia, ponta ou ilha em que o sítio se encontra [Texto].
Município: Circunscrição administrativa que o sítio arqueológico está inserido [Texto].
Coordenadas Geográficas UTM: subtítulo dos campos de referência
geográfica, “Universal Transverse Mercator” (adquiridas através de GPS
Garmin) [Rótulo].
Zona 22J, SAD - 69 - Número da zona de longitude e a letra da banda de latitude. O SAD-
69 (South American Datum-69 ) é o datum adotado pelo Sistema Geodésico para o Sul do
Brasil [Rótulo].
UTM Ponto central: Coordenadas do ponto central do sítio [Texto].
UTM Perímetro inicial: Coordenadas do ponto inicial do sítio [Texto].
UTM Perímetro final: Coordenadas do ponto final do sítio [Texto].
Geomorfologia do sítio: classificação da morfologia dos sítios, a partir de itens
previamente definidos na caixa de listagem, a saber: afloramento, falésia composta, falésia
escarpada e plataforma de abrasão [Texto].
Orientação do dique: A orientação em que o dique invadiu a rocha encaixante, observado
através de bússola [Texto].
Descrição: exposição sumária do sítio [Memorando].
Observações: neste campo ficam as informações adicionais importantes não contempladas
nos outros campos [Memorando].
Autor do Registro no IPHAN: Autor do registro, que consta na ficha do CNSA do
IPHAN [Texto].
Data do registro: Ano em que o sítio foi registrado, junto ao IPHAN [Número].
Fotografia: Fotografia do sítio, preferencialmente de vistas gerais [Objeto OLE].
21
0
Preenchimento da ficha: responsável(is) pela coleta de dados constante na
ficha [Texto].
Saída(s) de campo: saídas em que foram realizadas a coleta de dados, dd/mm/aaaa
[Texto].
2. Nomenclator do formulário “Ficha de identificação das gravuras rupestres”
Numeração da Ficha: número dado automaticamente ao registro [AutoNumeração].
Nome do sítio: nome dado ao sítio [Texto].
Sigla de identificação: Utiliza-se o sistema bipartido para a catalogação com a
identificação da sigla do tio e o número da gravura (ex: Letreiro, gravura 1= LTR-1)
[Texto].
Suporte: subtítulo dado às características físicas do suporte [Rótulo].
Bloco: quando a gravura está localizada em um bloco, corpo rochoso que se desprendeu da
falésia, solto [Sim/Não].
Parede: quando a gravura está localizada em uma parede [Sim/Não].
Medidas do suporte: subtítulo das medidas efetuadas no suporte [Rótulo].
Largura do suporte (cm): Largura máxima do suporte (bloco ou parede) em centímetros
[Número].
Altura do suporte (cm): Largura máxima do suporte (bloco ou parede) em centímetros
[Número].
Inclinação (graus): inclinação do suporte verificada no ponto central da área gravada
(medição com clinômetro) [Texto].
Medidas da gravura: subtítulo das medidas efetuadas na gravura [Rótulo].
Largura da gravura (cm): Largura máxima da gravura em centímetros [Número].
Altura da gravura (cm): Altura máxima da gravura em centímetros [Número].
21
1
Largura do sulco (cm): Largura do sulco da gravura em centímetros [Número].
Orientação: direção que a gravura está orientada, conforme o sentido da face do painel,
verificada através de bússola [Texto].
Tipo: classificação das gravuras em tipos, conforme tipologia definida para pesquisa no
subcapítulo 4.3. [Texto].
Técnica de confecção: caixa de listagem com as opções de: polimento; picoteamento;
picoteamento/polimento; raspagem; raspagem e polimento; incisão fina; e indeterminada
[Texto].
Descrição: descrição da tipologia e exposição sumária de detalhes de medidas se houver
mais de uma unidade gráfica. Como exemplo, no caso de duas circunferências agrupadas
será relevante o tamanho de cada uma e/ou a distância entre as mesmas [Memorando].
Formas de alteração: as formas de alteração, que condicionam o estado de conservação
das gravuras, foram subdivididas em quatro grupos [Rótulo].
Mecânica: [Rótulo].
Desprendimento de placas: desagregação cortical ou descascamento do suporte
[Sim/Não].
Escorrimento de água: O escorrimento de cursos d’água nos costões rochosos [Sim/Não].
Fratura: as fraturas ou diáclases são aberturas microscópicas e macroscópicas que
aparecem no corpo de uma rocha [Sim/Não].
Sedimento: a presença de sedimento em cima da gravura [Sim/Não].
Antrópica: [Rótulo].
Aprofundamento do sulco: graffitti feito no interior do sulco da gravura [Sim/Não].
Escoriação: eliminação da camada superficial do suporte pela ação mecânica externa
(fricção violenta e golpes) [Sim/Não].
Graffitti: riscos feitos geralmente com um fragmento de rocha ou outro material de maior
dureza [Sim/Não].
21
2
Limpeza mecânica: limpeza de liquens, retirada de sedimento e de raízes que estão em
contato direto com o suporte feita sem o suporte técnico necessário [Sim/Não].
Pisoteamento: áreas que sofrem com a ação de pisoteamento por serem locais de passagem
ou superfícies horizontais [Sim/Não].
Tinta: aplicação de tinta sobre o sulco da gravura e/ou suporte [Sim/Não].
Química: [Rótulo].
Alveolização (tafoni): tipo de intemperismo químico conhecido como tafoni, que deixa no
suporte uma série de alvéolos [Sim/Não].
Alteração cromática: variação da cor original da rocha, associada à lixiviação de óxidos
de Fe ou a biodeterioração [Sim/Não].
Sais: depósito de sal no suporte resultado da evaporação da água do mar trazida pelo vento
[Sim/Não].
Biológica [Rótulo].
Líquens: a presença de líquens (fungos em simbiose com organismos fotosintetizantes), em
áreas concentradas do suporte ou cobrindo toda a sua superfície [Sim/Não].
Musgos: presença de musgos no suporte [Sim/Não].
Vegetação xerófita: presença da vegetação pica da primeira zona após o ambiente
marinho, destacando-se os gravatás e cactos [Sim/Não].
Aves: presença de excrementos de aves marinhas [Sim/Não].
Térmitas: presença de ninhos de térmitas, em especial vespas e cupins [Sim/Não].
Intervenção da pesquisa: estes itens correspondem à intervenção física na gravura pelas
técnicas de registro da pesquisa [Rótulo].
Retirada de amostra de líquen: retirada de amostra de espécies de líquens [Sim/Não].
Retirada de sedimento: retirada de sedimento, terra ou areia [Sim/Não].
Retirada de vegetação: retirada de vegetação, geralmente somente a poda de espécies de
vegetação xerófita [Sim/Não].
21
3
Fotografia: fotografia da gravura, preferencialmente com escala [Objeto OLE].
Observações: neste campo ficam as informações adicionais relativas a uma ou mais saídas
de campo. Tais informações são importantes porque podem ser detalhes da gravura e do seu
entorno [Memorando].
Documentação produzida: Além do preenchimento da ficha, este campo especifica os
outros tipos de documentação gerada, tais como: fotografias digitais, fotografias analógicas,
relevés, croquis e estudos de composição [Memorando].
Data do registro: data em que foram coletados os dados em campo [Data/hora].
Hora do registro: hora em que foram coletados os dados em campo [Data/hora].
Tempo: Foram definidas quatro opções na caixa de listagem: sol, parcialmente nublado,
nublado e não determinado [Texto].
Visualização: A visualização da gravura a olho nu no momento do registro. Foram
definidas quatro opções na caixa de listagem: boa, parcial, ruim e não determinada. [Texto]
Preenchimento da ficha: responsável(is) pela coleta de dados constante na ficha [Texto].
Apêndice 5
- Fichas dos sítios;
- Fotografias das representações rupestres por sítio;
- Estudos de composição e croquis.
Legenda dos tipos, para o estudo de composição:
21
4
Apêndice 6
CD com o banco de dados ‘Memória Rupestre’
21
5
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6
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7
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0
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1
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3
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9
24
0
24
1
24
2
Ficha do sítio - Ilha João da Cunha
Numeração da ficha: 2
Sigla de identificação: IJC
Nome do sítio: Ilha João da Cunha
Localidade: Ilha de Porto Belo
Município: Porto Belo
Coordenadas Geográficas- UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 743586 - 6995743
Descrição: Conhecido popularmente como Pedra da Cruz”, este sítio é formado por dois
conjuntos de gravuras rupestres com 8,20m de largura. A distância máxima dos conjuntos é
de 1,80m. O primeiro conjunto, da esquerda para a direita, tem orientação de W340ºE com
0,66m de comprimento por 1,90m de altura. O segundo conjunto tem orientação de N40ºE
com 1,20m de comprimento por 3,0m de altura. Apresenta diferentes técnicas de
confecção: polimento (sulcos), rebaixamento da superfície por polimento e raspagem. A
formação rochosa é o granito com intrusão de um veio de aplito (N40°E).
Orientação do dique: N40°E
Geomorfologia do sítio: afloramento
Fotografia:
Observações:
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1968
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
24
3
Período de coleta de dados: 31/07/2003, 12 e 13/11/2003.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio – Arvoredo I
Sigla de identificação: AVI
Nome do sítio: Arvoredo I
Localidade: Ilha do Arvoredo
Município: Governador Celso Ramos
Coordenadas Geográficas- UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0760342 - 6901198
Descrição: Este sítio está em dique de diabásio na porção norte da ilha, apresenta um
grande painel "(...) de cinco metros e meio de comprimento por metro e quarenta ede
largura máxima, reúne uma série de motivos, encontrados, também, em petroglifos de
outras ilhas, tais como círculos concêntricos, círculos simples com pontos ou linhas
cruzadas no centro, figuras humanas estilizadas, linhas onduladas verticais e grandes
número de pontos ovóides, entalhados na rocha." (Rorh, 1969, 16).
Orientação do dique: N
Geomorfologia do sítio: falésia escarpada
Fotografia:
Observações: O acesso por mar só ocorre em dia com pouca ondulação.
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1968
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
24
4
Ficha do sítio - Ponta das Canas III
Sigla de identificação: PTC
Nome do sítio: Ponta das Canas III
Localidade: Ponta das Canas
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas- UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 753919 - 6968031
Descrição: Este sítio situado em dique de diabásio bastante diaclasado, o que lhe confere
um aspecto ruiniforme, apresenta orientação N50°E. O dique apresenta aproximadamente
30 metros de comprimento e 6,5 metros de altura. Na sua parte frontal existe um
afloramento granítico. Podemos caracterizar este sítio, como sendo uma falésia composta.
O sítio é formado por duas gravuras, que estão numa distância de 6 metros uma da outra,
tendo como temática principal às variações de circunferências.
Orientação do dique: N50°E
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia:
Observações:
Autor do registro no IPHAN: Fabiana Comerlato
Ano do registro: 2003
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 04/09/2003, 20/11/2003.
24
5
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Ingleses IV
Sigla de identificação: IGL
Nome do sítio: Ingleses IV
Localidade: Praia dos Ingleses
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 756785 - 6965278
Descrição: Sítio composto por duas gravuras em pequeno dique de diabásio com largura
máxima de 10 metros.
Orientação do dique: N60°E
Geomorfologia do sítio: plataforma de abrasão
Fotografia:
Observações: O sítio dista 300m do início da trilha no costão noroeste dos Ingleses.
Autor do registro no IPHAN: Fabiana Comerlato
Ano do registro: 2003
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 24/04/2003, 02/12/2003.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Santinho III
24
6
Sigla de identificação: ST3
Nome do sítio: Santinho III
Localidade: Praia do Santinho
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0760474 - 6961247
Descrição: Este sítio é último de representação rupestre do costão norte da praia do
Santinho, partindo-se da mesma praia. O sítio caracteriza-se como uma falésia
composta.Dos três tios neste costão, este é o que possui maior quantidade de
representações rupestres. Apresenta um painel com predominância de pontos seriados e
dois dispositivos parietais com vários conjuntos e painéis significativos, destacando o caso
específico de sobreposições com representações humanas.
Orientação do dique: N40°E
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia:
Observações:
Autor do registro no IPHAN: Rodrigo Lavina
Ano do registro: 1988
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 22/11/2003, 03/12/2003.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
24
7
Ficha do sítio - Santinho II
Sigla de identificação: ST2
Nome do sítio: Santinho II
Localidade: Praia do Santinho
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central:
UTM Perímetro central: 0760399 - 6961236
UTM Perímetro inicial: 0769431 - 6961224
Descrição: Este sítio é o segundo dos três sítios de representação rupestre do costão norte
da praia do Santinho, partindo-se da mesma praia. O sítio caracteriza-se como uma falésia
composta.
Orientação do dique: S190°-230°W
Geomorfologia do dique: falésia composta
Fotografia:
Observações:
Autor do registro no IPHAN: Rodrigo Lavina
Ano do registro: 1988
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 22/11/2003, 03/12/2003
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
24
8
Ficha do sítio - Santinho I
Sigla de identificação: ST1
Nome do sítio: Santinho I
Localidade: Praia do Santinho
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0760118 - 6961096
Descrição: Este sítio é o primeiro dos três sítios de representação rupestre do costão norte
da praia do Santinho, partindo-se da mesma praia. Por este motivo é também o que mais
vem sofrendo com os graffittis. O sítio inicia-se com uma gravura em um bloco de diabásio
em uma praia de seixos. Seguindo a trilha encontramos, um dique orientado no sentido
N40ºE com 7 gravuras dispostas em conjuntos com relevo em forma de falésia escarpada.
Orientação do dique: N40°E
Geomorfologia do dique: falésia composta
Fotografia:
Observações:
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1966
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 29/01/2003, 15/04/2003, 29/11/2003.
24
9
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Morro das Aranhas II
Sigla de identificação: MAR
Nome do sítio: Morro das Aranhas II
Localidade: Praia do Santinho
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 759341 - 6959109
Descrição: Falésia composta com dique de diabásio orientado N40ºE apresenta oito
gravuras, sendo uma delas em bloco e as outras em painel formando conjuntos. Apresenta
estrutura de acesso com escadas e passarela, feitas pelo Resort Costão do Santinho no
costão sul da praia do Santinho.
Orientação do dique: N40°E
Geomorfologia do sito: falésia composta
Fotografia:
Observações:
Autor do registro no IPHAN: Rossano Lopes Bastos
Data do registro: 1989
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
25
0
Período de coleta de dados: 26/12/2001, 15/09/2002, 26/04/2003.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Ilha das Aranhas Pequena
I
Sigla de identificação: IAP
Nome do sítio: Ilha das Aranhas Pequena I
Localidade: Ilha das Aranhas Pequena
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 760494 - 6956730
Descrição: O sítio está situado em uma falésia composta, a sua frente existe uma pequena
prainha com material rochoso rolado. O sítio apresenta seis gravuras, uma gravura isolada e
um painel no dique de diabásio com orientação N40ºE. O painel apresenta 4,20m de
comprimento por 1,70m de altura.
Orientação do dique: N40°E
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia:
Observações:
Autor do registro no IPHAN: Fabiana Comerlato
25
1
Ano do registro: 2004
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 07/03/04.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Prainha da Barra
Sigla de identficação: PRB
Nome do sítio: Prainha da Barra
Localidade: Prainha da Barra
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 75490 - 694747
Descrição: Duas gravuras em um bloco em falésia composta, localizado no costão que
acesso a Ponta da Galheta. Segundo informação bibliográfica, existe outra gravura no
mesmo local, porém a mesma não foi localizada.
Orientação do dique:
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia:
Observações:
Autor do registro no IPHAN: Fabiana Comerlato
25
2
Data do registro: 2003
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 27/03/2003, 03/07/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Ponta do Caçador III
Sigla de identificação: PCD
Nome do sítio: Ponta do Caçador III
Localidade: Praia da Galheta
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0754761 - 6945341
Descrição: Sítio formado por duas gravuras em blocos do dique de diabásio em uma
plataforma de abrasão com remanescentes graníticos na parte frontal. O sítio está próximo a
uma oficina lítica e sítio de ocupação. Um destes blocos gravados está assentado sobre o
suporte fixo que foi aproveitado para as atividades de acabamento de artefatos ticos,
resultando em vinte frisos associados aquela.
Orientação do dique: N30°E
Geomorfologia do sítio: plataforma de abrasão
Fotografia:
Observações:
25
3
Autor do registro no IPHAN: Rossano Lopes Bastos
Ano do registro: 1988
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 22/03/2003.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Praia Mole I
Sigla de identificação: PML
Nome do sítio: Praia Mole I
Localidade: Praia Mole
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0753109 - 6943624
Descrição: Sítio formado em uma falésia composta, em paredão limítrofe aos estratos com
formação pioneira de costão rochoso. O sítio apresenta seis gravuras dispostas em dois
conjuntos (1 painel) em dique de diabásio com orientação N40ºE.
Orientação do dique: N40°E
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia:
Observações:
25
4
Autor do registro no registro: Rossano Lopes Bastos
Ano do registro: 1989
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 12/12/2001, 25/04/2003, 03/07/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio – Ferro Elétrico
Sigla de identificação: FET
Nome do sítio: Ferro Elétrico
Localidade: Ilha do Campeche
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 750146 - 6934498
Descrição: Sítio com apenas uma gravura em dique de diabásio no norte da ilha. Neste
local, o costão rochoso pode ser caracterizado como uma falésia composta com dique de
diabásio na direção N 30ºE. A gravura acha-se em superfície horizontal bastante
intemperizada.
Orientação do dique: N30ºE
Geomorfologia do sítio: plataforma de abrasão
Fotografia:
Observações: No IPHAN, o registro deste sítio apresenta-se reunido com os outros sítios
25
5
de representação rupestre; formando a Ilha do Campeche um único sítio.
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1966
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 08/03/2003.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio – Pedra Preta do Norte
Numeração da ficha: 13
Sigla de identificação: PPN
Nome do sítio: Pedra Preta do Norte
Localidade: Ilha do Campeche
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas- UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0750256 - 6934481
Descrição: Este sítio apresenta um dique de diabásio, com direção N30ºE, com 25 gravuras
e uma oficina lítica com 17 afiadores. Esta falésia composta apresenta uma fenda e
vários patamares com a presença de áreas escarpadas de baixa altitude, que serviram para
a execução de painéis.
Orientação do dique: N30°E
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia:
25
6
Observações: No IPHAN, o registro deste sítio apresenta-se reunido com os outros tios
de representação rupestre; formando a Ilha do Campeche um único sítio.
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1966
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 02/02-18/02-08/03/2003,19/01-21/02-08/04/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio – Pedra Fincada
Sigla de identificação: PFD
Nome do sítio: Pedra Fincada
Localidade: Ilha do Campeche
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas- UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central:
Descrição: Este sítio foi denominado Pedra Fincada porque logo a sua frente é possível
visualizar esta feição. Trata-se de três gravuras nas superfícies inclinadas dos níveis
escalonados pelos planos de diaclasamento do dique de diabásio. Além destas, existe um
conjunto de cinco gravuras que formam um painel em patamar mais elevado. O local trata-
se de uma falésia, onde são encontradas feições de pequenas plataformas em
desenvolvimento e terraços de solapamento por onda (Mazzer, 2001: 124).
25
7
Orientação do dique: N30ºE
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia:
Observações: No IPHAN, o registro deste sítio apresenta-se reunido com os outros tios
de representação rupestre; formando a Ilha do Campeche um único sítio.
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1966
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 02/02/2003, 08/03/2004, 19/01/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Período de coleta de dados: 16/12/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio – Arvoredo I
Sigla de identificação: AVI
Nome do sítio: Arvoredo I
Localidade: Ilha do Arvoredo
Município: Governador Celso Ramos
Coordenadas Geográficas- UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0760342 - 6901198
25
8
Descrição: Este sítio está em dique de diabásio na porção norte da ilha, apresenta um
grande painel "(...) de cinco metros e meio de comprimento por metro e quarenta ede
largura máxima, reúne uma série de motivos, encontrados, também, em petroglifos de
outras ilhas, tais como círculos concêntricos, círculos simples com pontos ou linhas
cruzadas no centro, figuras humanas estilizadas, linhas onduladas verticais e grandes
número de pontos ovóides, entalhados na rocha." (Rorh, 1969, 16).
Orientação do dique: N
Geomorfologia do sítio: falésia escarpada
Fotografia:
Observações: O acesso por mar só ocorre em dia com pouca ondulação.
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1968
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 16/12/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio – Saco do Rosa
Sigla de identificação: SRS
Nome do sítio: Saco do Rosa
Localidade: Ilha do Campeche
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas- UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 075281 - 6934213
Descrição: Este sítio apresenta 13 gravuras, todas com exceção de uma estão sobre blocos.
25
9
Orientação do dique: N30ºE
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia:
Observações: No IPHAN, o registro deste sítio apresenta-se reunido com os outros sítios
de representação rupestre; formando a Ilha do Campeche um único sítio.
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1966
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 23/01-16/02-08/03/2003, 21/02/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Conforto
Sigla de identificação: CFT
Nome do sítio: Conforto
Localidade: Ilha do Campeche
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0750256 - 6934186
Descrição: Este sítio apresenta cinco unidades gráficas em bloco e em paredões rochosos.
26
0
Orientação do dique: N30ºE
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia:
Observações: No IPHAN, o registro deste tio apresenta-se reunido com os outros sítios
de representação rupestre; formando a Ilha do Campeche um único sítio.
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1966
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 23/01/2003, 08/03/2003, 11/01/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Letreiro
Sigla de identificação: LTR
Nome do sítio: Letreiro
Localidade: Ilha do Campeche
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0750226 -6934034
Descrição: O sítio do Letreiro é o mais conhecido e sua denominação já denota a sua importância.
A topografia apresenta-se bastante irregular com declividade média e maior que 15º, podendo ser
definida como uma plataforma de abrasão em declive (Mazzer, 2001: 128). Neste sítio temos um
número expressivo de gravuras (38) e o painel mais imponente da Ilha do Campeche. É neste painel
também que encontramos um dos raros casos de sobreposição de gravuras. Na superfície horizontal
26
1
ao painel principal existe um conjunto com três gravuras em superfície com declive acentuado. O
mais interessante na questão do painel é que visualmente podemos, junto com outra gravura quase
na mesma altura do painel, porém separadas por uma fenda, percebe-los como um dispositivo
parietal.Três gravuras estão situadas embaixo de um grande bloco granítico (representações
dissimuladas).
Orientação do dique: N30°E
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia:
Observações: No IPHAN, o registro deste sítio apresenta-se reunido com os outros sítios
de representação rupestre; formando a Ilha do Campeche um único sítio.
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1966
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 23/01-15/02/2003, 05/12/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Letreiro
Sigla de identificação: LTR
Nome do sítio: Letreiro
Localidade: Ilha do Campeche
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0750226 -6934034
Descrição: O sítio do Letreiro é o mais conhecido e sua denominação já denota a sua importância.
A topografia apresenta-se bastante irregular com declividade média e maior que 15º, podendo ser
26
2
definida como uma plataforma de abrasão em declive (Mazzer, 2001: 128). Neste sítio temos um
número expressivo de gravuras (38) e o painel mais imponente da Ilha do Campeche. É neste painel
também que encontramos um dos raros casos de sobreposição de gravuras. Na superfície horizontal
ao painel principal existe um conjunto com três gravuras em superfície com declive acentuado. O
mais interessante na questão do painel é que visualmente podemos, junto com outra gravura quase
na mesma altura do painel, porém separadas por uma fenda, percebe-los como um dispositivo
parietal.Três gravuras estão situadas embaixo de um grande bloco granítico (representações
dissimuladas).
Orientação do dique: N30°E
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia:
Observações: No IPHAN, o registro deste sítio apresenta-se reunido com os outros sítios
de representação rupestre; formando a Ilha do Campeche um único sítio.
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1966
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 23/01-15/02/2003, 05/12/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Triste
Sigla de identificação: TST
Nome do sítio: Triste
Localidade: Ilha do Campeche
26
3
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas- UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0750245-6933910
Descrição: Este sítio está situado em uma falésia escarpada que apresenta dique de
diabásio na direção E115ºS, com um dispositivo parietal bastante significativo, formado
por um painel com 16 gravuras e uma gravura periférica. As três outras
gravuras estão dispostas em paredes dos níveis escalonados do diaclasamento.
Orientação do dique: N30°E
Geomorfologia do sítio: falésia escarpada
Fotografia:
Observações: No IPHAN, o registro deste sítio apresenta-se reunido com os outros sítios
de representação rupestre; formando a Ilha do Campeche um único sítio.
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1966
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 05/02/2003, 21/02-08/04/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio – Pedra Preta do Sul
Sigla de identificação: PPS
26
4
Nome do sítio: Pedra Preta do Sul
Localidade: Ilha do Campeche
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0750123 - 6933708
Descrição: Este sítio apresenta 29 gravuras, isoladas ou formando conjuntos gráficos, em
dois diques de diabásio, nas direções E115ºS e N 30ºE.
Orientação do dique: E115°S e N30°E
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia:
Observações: No IPHAN, o registro deste sítio apresenta-se reunido com os outros sítios
de representação rupestre; formando a Ilha do Campeche um único sítio.
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1966
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 22/01-08/03/2003, 08/01-21/02/-08/04/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Lageado
Sigla de identificação: LGD
Nome do sítio: Lageado
26
5
Localidade: Ilha do Campeche
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas- UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central:
Descrição: Sítio mais ao sudeste da Ilha do Campeche, apresenta cinco gravuras em falésia
composta, próximo a plataforma de abrasão.
Orientação do dique: N30°E
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia
Observações: No IPHAN, o registro deste tio apresenta-se reunido com os outros sítios
de representação rupestre; formando a Ilha do Campeche um único sítio.
Autor do registro no IPHAN: João Alfredo Rohr
Ano do registro: 1966
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 19/01/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Pântano do Sul IV
Sigla de identificação: PS4
26
6
Nome do sítio: Pântano do Sul IV
Localidade: Praia do Pântano do Sul
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 074561 - 692403
Descrição: Este sítio está disposto em um dique de diabásio, com orientação N30ºE, em
plataforma de abrasão, com pouca inclinação. O tio é formado por dois conjuntos de
gravuras feitas por picoteamento, próximas do nível do mar e muito próximas a bacias de
polimento.
Orientação do dique: N30°E
Geomorfologia do sítio: plataforma de abrasão
Fotografia
Observações:
Autor do registro no IPHAN: Fabiana Comerlato
Ano do registro: 2003
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 13/05/2003, 18/01/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Pântano do Sul IV
26
7
Sigla de identificação: PS4
Nome do sítio: Pântano do Sul IV
Localidade: Praia do Pântano do Sul
Município: Florianópolis
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 074561 - 692403
Descrição: Este sítio está disposto em um dique de diabásio, com orientação N30ºE, em
plataforma de abrasão, com pouca inclinação. O tio é formado por dois conjuntos de
gravuras feitas por picoteamento, próximas do nível do mar e muito próximas a bacias de
polimento.
Orientação do dique: N30°E
Geomorfologia do sítio: plataforma de abrasão
Fotografia
Observações:
Autor do registro no IPHAN: Fabiana Comerlato
Ano do registro: 2003
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 13/05/2003, 18/01/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Ilha do Papagaio II
26
8
Sigla de identificação: IPG
Nome do sítio: Ilha do Papagaio II
Localidade: Ilha do Papagaio
Município: Palhoça
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0738464 - 6916359
Descrição: Este sítio é formado por uma única gravura com as dimensões de 0,26 cm por
0,26 cm realizada na face superior do bloco de diabásio. O referido bloco está localizado
em uma espécie de abrigo formado por blocos graníticos, resultado do movimento de massa
em plataforma de abrasão.
Orientação do dique: N40°E
Geomorfologia do sítio: falésia composta
Fotografia:
Observações:
Autor do registro no IPHAN: Fabiana Comerlato
Ano do registro: 2003
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 11/09/2003.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Ponta das Andorinhas
I
26
9
Sigla de identificação: PAD
Nome do sítio: Ponta das Andorinhas I
Localidade: Praia da Pinheira de Cima
Município: Palhoça
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 0738701 - 6913883
Descrição: O sítio é formado por gravuras em dique de diabásio. O sítio está em uma
plataforma de abrasão com baixa declividade, composta de dique de diabásio e, em sua
porção frontal, de remanescentes graníticos.
Orientação do dique: N40°E
Geomorfologia do sítio: plataforma de abrasão
Fotografia:
Observações:
Autor do registro no IPHAN: Fabiana Comerlato
Ano do registro: 2003
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 13/11/2002, 11/09/2003.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Guarda do Embaú II
27
0
Sigla de identificação: GEB
Nome do sítio: Guarda do Embaú II
Localidade: Guarda do Embaú
Município: Palhoça
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 737718 - 6911124
Descrição: Conjunto de 17 gravuras rupestres em dique de diabásio. A área gravada
compreende 10 metros de comprimento por 1 metro de altura. A largura do dique de
diabásio é de 28 metros. Sítio conhecido popularmente como "Pedra do Machado".
Orientação do dique: S190°W
Geomorfologia do sítio: falésia escarpada
Fotografia:
Observações: Sítio que sofre com a ação das marés, com gravuras soterradas pela areia.
Autor do registro no IPHAN: Fabiana Comerlato
Ano do registro: 2003
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 04/08/2003, 29/10/2004.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
Ficha do sítio - Ponta do Galeão
27
1
Sigla de identificação: PGL
Nome do sítio: Ponta do Galeão
Localidade: Ponta do Galeão
Município: Garopaba
Coordenadas Geográficas - UTM / Zona 22J, SAD-69
UTM Ponto central: 73618 - 689715
Descrição: Este sítio é formado por duas grandes paredes bem diaclasadas em fenda com
aproximadamente 10m de altura do nível do mar, apresenta vários conjuntos de gravuras
rupestres.
Orientação do dique: N60°E
Geomorfologia do sítio: falésia escarpada
Fotografia:
Observações: O acesso ao sítio dá-se pela trilha do promontório até o paredão oeste; a
outra parede é escalada descendo a primeira.
Autor do registro no IPHAN: Fabiana Comerlato
Ano do registro: 2002
Preenchimento da ficha: Fabiana Comerlato
Período de coleta de dados: 13/11/2002, 21/06/2003.
[Dados importados do Formulário sítios do banco de Dados “Memória Rupestre”, programa Access 2000]
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IJC-01 IJC-02
IJC-03
sem foto sem foto sem foto
IJC-05 IJC-06 IJC-07
IJC-09 IJC-10 IJC-11
IJC-13 IJC-14
IJC-15
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sem foto
AV5-01 AV5-02
AV5-03 AV5-04
PTC-01 PTC-02
IGL-01 IGL-02
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ST3-01 ST3-02
ST3-03
ST3-05 ST3-06 ST3-07
sem foto
sem foto
sem foto
ST3-09 ST3-10 ST3-11
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ST3-13 ST3-14 ST3-15
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ST3-17 ST3-18 ST3-19
ST3-21 ST3-22 ST3-23
ST3-25 ST3-26 ST3-27
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ST3-29 ST3-30 ST3-31
ST3-33 ST3-34 ST3-35
ST3-37 ST3-38 ST3-39
ST3-41 ST3-42 ST3-43
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4
ST2-01 ST2-02
ST2-03
ST2-05 ST2-06 ST2-07
ST2-09 ST2-10 ST2-11
sem foto
sem foto
STR-13 STR-14
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ST1-01 ST1-02
ST1-03
ST1-05 ST1-06 ST1-07
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MAR-01 MAR-02
MAR-03
MAR-05 MAR-06 MAR-07
IAP-01 IAP-02
IAP-03
IAP-05 IAP-06
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PRB-01 PRB-02
PCD-01 PCD-02
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PML-01 PML-02
PML-03
PML
PML-05 PML-06
FET-01
PPN-01 PPN-02
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PPN-05 PPN-06 PPN-07
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PFD-01 PFD-02
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PFD-05 PFD-06 PFD-07
PPN-01 PPN-02
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PPN-13 PPN-14 PPN-15
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PPN-17
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SRS-01 SRS-02
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CFT-01 CFT-02
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CFT
CFT-05
SFT-01 SFT-02
SFT-03
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LTR-37 LTR-38
TST-01 TST-02
TST-03
TST-05 TST-06 TST-07
TST-09 TST-10 TST-11
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