145
encarniçados. Contra estes defende e protege, reúne e guia, adverte e ensina as suas
ovelhas desapercebidas. Para isso tem de ser manso e enérgico, suave e forte,
indormido como a sentinella e bravo como o capitão, a um tempo guarda e patriarca,
no afan rude de resguardar dos seus inimigos a religião e a família!
Louvado, por isso, há de ser – prelado, e primaz entre os nossos bispos, sucessor dos
antístites ilustres da Igreja bahiana e florão, alto e luzente, do clero nacional!
As homenagens da Bhaia e do paiz a D. Augusto Álvaro da Silva no seu jubileu
episcopal são justas, necessárias e condignas. Pedro Calmon. (A TARDE,
21/10/1936)
D. Augusto Álvaro da Silva, arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil, é deveras um
grande homem. No episcopado brasileiro esplende como astro de primeira grandeza.
É poeta e orador. Seus versos deleitam. São simples e bellos. Seus discursos são
páginas lapidares, eminentemente scintilantes, pelo atticismo da linguagem, pela
harmonia de forma e excellência das idéias. E, por isso mesmo, enlêam e instruem.
Admiro o primoroso poeta e o insigne orador. Entretanto, admiro muito mais ainda o
Antítite, por isso que administrando, vistas indifferentes ao fascínio da popularidade,
confere-se a alta virtude de collocar os sagrados interesses da Egreja e os da
Archidiocese, a cujos destinos preside, acima de quaisquer interesses individuaes.
É, deveras, um grande homem. Roberto Correia. (A TARDE, 21/10/1936).
Dom Augusto, que se resguardara dos ataques que vinha sofrendo por parte de
alguns jornais baianos - Diário de Notícias e Estado da Bahia - aproveitou o sermão do Te
Deum de Ação de Graças pelo jubileu de sua sagração episcopal para, sutilmente, manter sua
posição de vítima do nefasto escândalo dos Perdões. Nesse sermão encontra-se também
referências a sua família e o sofrimento que foi para seus pais a sua escolha pelo sacerdócio.
O que demonstra uma mudança de mentalidade. Acreditava-se que até o século XIX, seria
uma honra ter algum familiar membro da Igreja Católica.
[...]
Sim, louvores a Ti pela vocação sublime que me deste, criando-me para o
sacerdócio, para o episcopado, para o Céu. Quando aquelas mãos que me
abençoaram sempre cruzaram-se sobre o peito para o derradeiro sono, deixaram-me
na retina, viva e forte e impressionante a imagem de um gesto decisivo que me
apontava a estrada do Calvário: Padre mau, nunca, meu filho, nunca! Eram as
palavras que tantas vezes ouvi de minha mãe. E quando, mais tarde, pronunciando
em derradeiro esforço o Teu nome, aqueles lábios de prudente conselho onde eu
bebia a orientação firme de minha vida cívica, emudeceram de todo, ficaram-me nos
ouvidos os ecos desta palavra sagrada: “Meu filho, falando-te com a franqueza de
pai e verdadeiro amigo, devo dizer que me seria muito menos penoso ver um filho
meu esmolar o escasso pão amrgo da caridade pública, do que vê-lo estipulando com
a religião do mártir do Gólgota como fazem miseráveis traficanates com bacalhau e
carne seca nas praças do mercado imundo”. Eram as sentenças de meu pai. E Tu
bem sabes, meu Deus, que nem desviei os olhos daquela estrada, nem olvidei jamais
aquelas admoestações paternas . Se, porém, nisso vai alguma glória, as glórias do
Pastor são todas Tuas: Louvores a Ti, meu Deus. Louvores a Ti, meu Deus, pelo
irmão que me deste e que foi nesse tirocínio sacerdotal o mais firme apoio e o mais
solícito e dedicado amigo.
[...]
Louvores a Ti, meu Deus, pelos espinhos que semearam em minha estrada; o
discípulo não pode pretender maior glória que a do Mestre; Louvores a Ti, pelas
pedras que me sacudiram no caminho, julgando que eras Tu quem passava; David a
receber com ânimo sereno as pedradas de Semei; Louvores a Ti, pelas vaias que me
deram os que odiavam a verdade e o bem. A história de mim dirá mais tarde o que