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Apronta a armada que sabes...
E a quem deste tua Armada? Ao castelhano valor, que é digno de eterna fama:
Dom Fadrique de Toledo, general de tua esquadra. Dom João Fajardo,
almirante, vem nessa força galharda, em que o Marquês de Coprani Mestre de
Campo assinalas.
O Reino de Portugal não se descuida, - que as causas de seu Rei são causas
suas, - e assim junta forte armada. A Dom Manuel de Menezes, por seu valor,
é confiada e a tão valente soldado o rei bem pôde confiá-la. Almirante é Dom
Francisco de Almeida, de cuja espada, pelo Antártico e pelo Ártico, conhece o
mundo as façanhas. A Antônio Muniz Barreto Mestre de Campo destacam,
que é pessoa em que concorrem discreção, prudência e armas. Aqui já sabes,
também, que por soldados embarcam os mais ilustres e nobres, bravo amor,
coragem brava: Dom Alonso de Noronha com sua idade avançada se assenta
como soldado, ouvindo ao rei a chamada. Teles, Manriques, Gusmões,
Toledos, Osórios, Vargas, os Pimentéis e os Mendonças, (...) condes,
marqueses, senhores, como tu sabes, Espanha.
Assim, todos embarcados, as velas aladas, largam e, entre montanhas de
espuma, do mar do Norte ao Sul passam. Chegam por fim à Bahia, depois de
longa jornada, com façanhas valorosas que gravei nas minhas asas, para tê-las
pelo mundo, entre as nações publicadas.
Por isso não me detenho e te digo: Adeus, Espanha. Ao teu rei, eles serviram:
Vou cantar suas façanhas.”
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Encontrada na Biblioteca Nacional de Madrid, existem mais dúvidas do que
certezas acerca da referida peça. De acordo com J. Carlos Lisboa, se desconhece se foi
encenada alguma vez. De seu autor, sabe-se pouco: era português e talvez tenha
participado da jornada restauradora. E sobre o ano de sua composição, Lisboa apenas
afirma que foi escrita antes de 1670, sem dizer o porque desta data limite. Entretanto, se
considerarmos as palavras do próprio tradutor acerca do efeito positivo das peças de teatro
para divulgar os fatos nacionais na Espanha, é provável que a peça pertença aos anos
imediatamente posterior à retomada de Salvador, se não do mesmo ano.
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Independente do ano em que foi escrita, a peça reforça as intenções de alardear a
vitória da Espanha e a satisfação pelo êxito da Jornada dos Vassalos com a retomada da
Bahia. No entanto, insisto em ressaltar que o grande sucesso atribuído as suas ações na
reconquista da cidade de Salvador deve levar em consideração que a resistência dos
colonos antes da chegada da Armada enfraqueceu os holandeses facilitando aos espanhóis
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Trecho da peça La Perdida e Restauración de La Bahía de Todos Los Dantos de Juan Antonio Correa. In.
Uma peça desconhecida sobre os holandeses na Bahia. (introdução e tradução de J. Carlos Lisboa). Rio de
Janeiro: Ministério da Educação e Cultura / Instituto Nacional do Livro, 1961. pp. 130-133.
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Sobre os resultados das peças na divulgação dos acontecimentos, Lisboa afirmou: “A peça em si valia
mais que essas Relações [os relatos dos cronistas] todas, pois possuia a virtude de caminhar direto para o
povo, o seu público, pondo à vista dele, (mesmo dos analfabetos, que não leriam tais Relações e que eram
legião) em pé, em ação, as figuras de proa da façanha, animando no palco os capitães ilustres cujos nomes
corriam de boca em boca”. In. Op. Cit. Introdução, p. XVI.