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A partir das definições, percebe-se que, mesmo havendo equivalência dos termos nas
segundas acepções de cada verbete, existe uma sutil diferença. Ao se definir jogo na primeira
acepção, logo é frisada a questão das regras e do sistema ganha-perde. Dessa maneira, embora
esteja num dicionário de referência, a definição já ressalta distinção em relação à brincadeira,
pela ligação entre jogo e competitividade.
O psicólogo Bruno Bettelheim delimita de forma mais apurada a diferença entre os
vocábulos, conforme registra a passagem a seguir:
Se bem que os termos “brincadeira” e “jogo” sejam, com freqüência,
intercambiáveis, não são idênticos no significado. Ao contrário, referem-se a
estágios claramente distinguíveis do desenvolvimento, sendo “brincadeira”
relacionada a um estágio primitivo, e “jogo”, a uma fase mais amadurecida.
(1988, p. 157)
Entende-se, a partir dessas considerações, que é necessário maior amadurecimento do
indivíduo partícipe de um jogo que de uma brincadeira. Isso se deve ao estabelecimento e
aceitação das regras orientadoras da atividade, a fim de definir vencedor(es). A esse respeito,
acrescenta o psicólogo que as brincadeiras, livres de regras, estão mais ligadas a crianças
pequenas, pelo domínio da fantasia e ausência de objetivos fora da atividade em si. Os jogos
se destacam mais em função da realidade objetiva, como se pode observar na passagem a
seguir:
Os “jogos”, por outro lado, são, de regra, competitivos e caracterizados por
uma exigência de se usar os instrumentos da atividade do modo para o qual
foram criados, e não como a imaginação ditar; e freqüentemente por um
objetivo ou propósito externo à atividade em si, como, por exemplo, o de
ganhar. (BETTELHEIM, 1988, p. 157)
A palavra jogo também comporta o significado de objeto, registrado na segunda
acepção do verbete do dicionário analisado. Nesse sentido, pode-se estabelecer uma distinção
de jogo em relação a brinquedo, conforme indica Brougère:
De fato, o vocabulário usual, aquele que crianças e pais empregam
espontaneamente, também usado nos catálogos e revistas de brinquedos,
distingue, no conjunto dos objetos lúdicos, os brinquedos dos jogos. Aquilo
que é chamado de jogo (jogo de sociedade, de construção, de habilidade,
jogos eletrônicos ou de vídeo...) pressupõe a presença de uma função como
determinante no interesse do objeto. (2004, p. 12)