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A combinação de tu com formas verbais de 3ª pessoa é constatada em trabalhos
como os de Paredes Silva (1999, 2003), Lopes, Couto & Duarte (2005) e Menon & Loregian-
Penkal (2003). Paredes Silva (1999, 2003), com base, em peças de teatro ambientadas no
Rio de Janeiro do século XIX e XX e em amostras de fala, respectivamente, observa o
retorno do pronome tu à fala carioca, a partir da segunda metade do século XX, desta vez
acompanhado da forma verbal sem a desinência característica da 2ª pessoa. Tal fenômeno
é descrito, ainda, por Lopes, Couto & Duarte (2005), tomando um roteiro de cinema, cuja
história também se desenvolve na capital fluminense. No entanto, a associação do
pronome tu a formas verbais de 3ª pessoa não se restringe ao Rio de Janeiro, pois é
também observada por Menon & Loregian-Penkal (2003), na cidade de Porto Alegre, onde
as autoras constatam que este uso é mais produtivo que o emprego de tu acompanhado da
flexão verbal corresponde à 2ª pessoa. Cabe, entretanto, ressaltar que, ao contrário do
que ocorreu no Rio de Janeiro, em que o pronome tu, aparentemente, apresenta uma
acentuada queda em sua freqüência de uso entre as décadas de 30 e 70 (cf. Paredes,
1999
10
), em Porto Alegre não é possível falar em um retorno, pois o emprego deste
pronome é um uso lingüístico característico desta cidade.
É importante salientar que esse emprego não padrão de tu, nos termos de Paredes
Silva (1999), no Rio de Janeiro, restringe-se, na amostra em análise, à fala de personagens
marcadamente pertencentes à classe baixa, uma vez que só é encontrado no diálogo entre
empregadas domésticas e entre estas e outros personagens de equivalente “valor social”.
Tal fato também é constatado por Paredes Silva (1999), ao observar que esse uso, em
algumas peças ambientadas no Rio de Janeiro a partir de 1950, se circunscreve à
caracterização de tipos populares, retratando exclusivamente infratores e marginais, em
alguns casos, e moradores do subúrbio em geral, em outros.
10 A autora, analisando, na primeira parte de seu trabalho, peças teatrais cariocas da segunda metade do
século XIX e primeira metade do século XX, afirma que “o que se observa é um crescendo na utilização do você
proporcional à perda do uso de tu. O pronome tu chega a apresentar-se com uma taxa de 18% em Martins Pena
(1844/45) e atinge uma média de 4% nas últimas peças do período (compreendidas entre os anos de 1922 e
1954).”