Excelência, ainda mesmo quando o honrado, | e lamentavel Lucio
Soares Teixeira de Gouvea | lutava com a morte, e disputara ao cruel
des- |tino huma vida preciosas para a virtude, e para | o seu paiz natal;
ainda mesmo quando esse | nunca assaz luvado cidadão não era
perdido | para a nação, apesar da cruel enfermidade que | o perseguia,
já Vossa Excelência considerava vago o lu- | gar, que elle dignamente
enchia no senado, e | procurava por todos os meios fazer com que os
votos desta nobre população, já enfastiada | de tantas especulações por
Vossa Excelência empregadas | para enganar, e para a illudir,
recahisse sobre | Vossa Excelência a fim de ser elevado ao senado. [...]
como Vossa Excelência | dominado pelo espirito de especulação não
he | huma pessoa desconhecida, e obscura no paiz, | cujas intrigas se
percão na confusão das massas, | pelo contrario toda a sua vida he
publica, e bem | conhecida, e hum nome odioso aos homens | de bem,
e amigos do paiz, e de suas institui- | ções, acompanha a Vossa
Excelência por toda parte. [...] mas nós tão | bem sabemos que Vossa
Excelência he ja tão conhecido, | que he impossivel poder no Rio de
Janeiro| enganar mais a ninguem, e por isso seos novos | planos, sejão
quaes forem as côres com que | venhão revestidos, serão logo
conhecidos, e | estão despresados como o seo autor [...]
(Carta de leitor; O Cidadão; Rio de Janeiro / RJ; 29/11/1838)
Já no exemplo 40, retirado do jornal Diário de Minas, da cidade de Ouro Preto,
observa-se o uso da forma nominal tu coexistindo com você em uma carta em que o
leitor critica um suposto “amigo”. Note-se que o tom de crítica aparece suavizado, e a
proximidade entre emissor e destinatário é maior:
(40) São José d’El-Rei. | Charissimo amigo do coração preto. – Com
immensissimo prazer empunho a | penna para annunciar-te que a luz
eter | na reappareceo n’esta infeliz cidade, que | durante tanto tempo se
conservou da tua | côr! | Até hoje vivo n’um inferno sem tregoas, |
desde o dia que ouvi uns moços galho | fando, dizendo que não é só o
teo cora | ção que é preto, mas tambem os teos | miollos; que és um
idiota, um attrevido, | por vires ás columnas d’um jornal annun | ciar o
desapparecimento da luz eterna, | pedir que vertessem, isto é, que
choras | sem uma lagrima & & & &. [...] Em fim, quando eu tiver
mais tempo | te noticiarei o mais, e por agora só te | quero pedir um
favor. Não te mettas mais | a escriptor publico não, porque, segun | do
tenho ouvido, você espichou-se redon | damente em fallar na luz
eterna, no cho | rar as lagrimas & &. | Não sejas tôlo... não te mettas a
to | mar partido, unicamente com o fim de | teres ingresso, para seres
nomeado mor | domo do serralho, por que não obtens [...] Teo amigo e
mordomo do Serralho. |
O Aragão.
(Carta de leitor; Diário de Minas; Ouro Preto / MG; 25/11/1876)