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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CENTRO TECNOLÓGICO
MESTRADO PROFISSIONAL DE SISTEMA DE GESTÃO
GIOVANNI MORAES DE ARAÚJO
AVALIAÇÃO DA MATURIDADE DE UM SISTEMA DE GESTÃO: PROPOSTA DE
UM INSTRUMENTO
Niterói
2005
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GIOVANNI MORAES DE ARAÚJO
AVALIAÇÃO DA MATURIDADE DE UM SISTEMA DE GESTÃO: PROPOSTA DE
UM INSTRUMENTO
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado
em Sistema de Gestão da Universidade Federal
Fluminense como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de
Gestão. Área de Concentração: Organizações e
Estratégia. Linha de Pesquisa Sistema de
Gestão do Meio Ambiente.
Orientador:
Prof. Eduardo Linhares Qualharini, D.Sc.
Niterói
2005
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GIOVANNI MORAES DE ARAÚJO
AVALIAÇÃO DA MATURIDADE DE UM SISTEMA DE GESTÃO: PROPOSTA DE
UM INSTRUMENTO
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado
em Sistema de Gestão da Universidade Federal
Fluminense como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de
Gestão. Área de Concentração: Organizações e
Estratégia. Linha de Pesquisa: Sistema de
Gestão do Meio Ambiente.
Aprovada em 22 de dezembro de 2005
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Eduardo Linhares Qualharini, D.Sc.
Universidade Federal Fluminense - UFF
Prof. Gilson Brito Alves Lima, D.Sc.
Universidade Federal Fluminense - UFF
Prof. Dorival Barreiros, D.Sc.
Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e
Medicina do Trabalho - FUNDACENTRO
AGRADECIMENTOS
A minha família, pela compreensão dos momentos ausentes;
Ao meu orientador pela dedicação e motivação que tornaram viáveis a elaboração deste
trabalho;
Aos colegas de mestrado pelas trocas de experiência que me possibilitaram a sedimentação do
conhecimento;
Ao Prof. Gilson Alves Lima Brito que motivou o meu encaminhamento acadêmico.
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo destacar a importância da cultura de segurança, meio ambiente
e saúde ocupacional como fator crítico de sucesso para a implementação e melhoria contínua
do sistema de gestão, e propor uma metodologia quantitativa de avaliação. Nestes aspectos
são discutidos os principais fatores críticos de sucesso a implementação e avaliação da
maturidade de um sistema de gestão de segurança, meio ambiente e saúde ocupacional.
Concluindo será apresentada uma proposta de metodologia que permite á organização avaliar
o nível de maturidade através da avaliação do nível de implementação das ferramentas de
gestão conhecidas.
Palavras Chave: Cultura de Segurança, Meio Ambiente e Saúde Ocupacional, Gestão de SMS,
Metodologia de Avaliação.
ABSTRACT
The objective of this work is to evidence the importance of the security culture, environment
and occupational health as critical factor of success for the implementation and continuous
improvement of the integrated system of management and to consider a quantitative
methodology of way evaluation. These quantitative data could be used to evaluate
effectiveness of the qualification programs, training and awareness in all the levels of the
organization as well as the consistency of the program and corporative lines of direction.
KeyWords: safety, environmental and occupational health culture, management SMS System
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Valores de SMS como base dos sistemas de gestão 13
Figura 2 Esquema hierárquico das causas dos acidentes 24
Figura 3 Modelo do queijo suíço – proposta inicial de Reason 27
Figura 4 Queijo Suíço de Reason modificado 27
Figura 5 Ciclo do PDCA 37
Gráfico 1 Evolução da taxa de freqüência de acidentados com perda de tempo 45
Gráfico 2 Correlação hipotética entre o nível de cultura de SMS com a taxa de
Freqüência de Acidentes (TFA)
46
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Evolução do acidentes históricos 17
Tabela 2 Método aplicado para quantificação de cultura de SMS resumos dos
princípios de verificação do nível de cultura SMS 59
Tabela 3 Apresentação dos critérios de cada princípio do método aplicado 60
Tabela 4 Implementação de ações pró-ativas de SMSQ 68
Tabela 5 Avaliação e correção dos fatores Comportamentais. 69
Tabela 6 Compromisso com desempenho e melhoria contínua de SMSQ. 70
Tabela 7 Postura Gerencial – Valorização de hábitos e atitudes pró-ativas. 71
Tabela 8 Identificação e acompanhamento de objetivos e metas. 73
Tabela 9 Gestão da Informação. 73
Tabela 10 Gestão Responsável. 75
Tabela 11 Avaliação da Ética, Valores e Conceito de Negócio Organizacional 76
LISTA DE SIGLAS / ABREVIATURAS
CPT Acidentes com Lesão com Perda de Tempo
SPT Acidentes com Lesão sem Perda de Tempo
ISM CODE International Safety Management Code
OHSAS Occupational and Health Safety Assessment Series
OIT Organização Internacional do Trabalho
ONG Organização Não Governamental
PDCA Planejar (Plan), Realizar (Do), Verificar (Check), Agir (Act)
SMS Segurança, Meio Ambiente e Saúde Ocupacional.
SMSQ Segurança, Meio Ambiente, Saúde Ocupacional e Qualidade.
TFCA Taxa de Freqüência de Acidentes com Lesão com Afastamento
TFSA Taxa de Freqüência de Acidentes com Lesão sem Afastamento
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
11
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 13
1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA 13
1.2.1 Objetivos gerais da pesquisa
14
1.2.2 Objetos específicos
14
1.3 IMPORTÂNCIA DO ESTUDO 14
1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO 15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
16
2.1 DEFINIÇÃO DE CULTURA DE SMS 16
2.2 VALORES DE SMS COMO FATOR CRÍTICO DE SUCESSO
DAS ORGANIZAÇÕES
21
2.3 ESQUEMA HIERÁRQUICO DAS CAUSAS DE ACIDENTES 22
2.4 VULNERABILIDADE DE SISTEMAS COMPLEXOS - TEORIA
DO QUEIJO SUÍÇO
24
3 BARREIRAS À EVOLUÇÃO DA CULTURA DE SMS NAS
ORGANIZAÇÕES
28
3.1 BAIXA PERCEPÇÃO DE RISCO 29
3.2 DEFICIÊNCIA NO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO E
ANÁLISE DOS ACIDENTES
30
3.3 AUSÊNCIA DOS VALORES DE SMS NO PRINCÍPIO DE
NEGÓCIO
31
3.4 DEFICIÊNCIA DE INFORMAÇÃO E SEDIMENTAÇÃO DO
CONHECIMENTO
33
3.5 DEFICIÊNCIA DE QUALIFICAÇÃO E DA EXPERIÊNCIA
PROFISSIONAL
34
3.6 DIFICULDADE DE ANTECIPAÇÃO, ORGANIZAÇÃO,
PLANEJAMENTO E IMPLEMENTAÇÃO.
36
4 ESTRATÉGIA PARA IMPLEMENTAR UM PROGRAMA DE
CULTURA DE SMS
39
4.1 ENVOLVIMENTO DA ALTA ADMINISTRAÇÃO 39
4.2 CONHECER O NÍVEL DE CULTURA DE SMS 39
5 FUNDAMENTOS PARA AVALIAR CULTURA DE SMS
42
5.1 IDENTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS SIGNIFICATIVOS 42
5.2 CORRELAÇÃO ENTRE O NÍVEL DE CULTURA DE SMS COM
INDICADORES REATIVOS
44
5.3 CORRELAÇÃO ENTRE O NÍVEL DE CULTURA DE SMS COM
INDICADORES PRÓ-ATIVOS
47
5.4 CUIDADOS NA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE
CULTURA DE SMS
48
6 METODOLOGIA QUANTITATIVA PARA AVALIAR
CULTURA DE SMS
58
6.1 DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE CULTURA
DE SMS
58
6.2 INTERPRETAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE CADA PRINCÍPIO DO
MÉTODO GVC AMPLIADO
67
7 CONCLUSÃO
77
7.1 ASPECTOS CONCLUSIVOS 77
7.2 CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS OS OBJETIVOS GERAIS DO
TRABALHO
78
7.3 CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS OS OBJETIVOS ESPECÍFICOS
DO TRABALHO
78
7.4 SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS 79
REFERÊNCIA
80
11
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A implementação de sistemas de gestão de segurança, meio ambiente, saúde
ocupacional, meio ambiente e qualidade baseada nas Normas Internacional ISO 14.001, ISO
9.001, Especificação OHSAS 18.001 , têm exigido dos gestores um novo pensamento
organizacional.
As organizações estão em constante mudança, algumas mudam para melhor e outras
para pior; neste último caso, tenderão a desaparecer seja por razões competitivas, seja pela
incapacidade de se adequar às necessidades de mercado e expectativas dos clientes. Neste
processo de aprendizado, as organizações têm identificado uma expectativa maior dos clientes
em consumir idéias e produtos associados a uma mensagem de desenvolvimento sustentável,
tornando necessário incorporar estes valores ao conceito de negócio.
O processo de investigação e análise dos acidentes tem demonstrado que estes eventos
indesejáveis resultam de uma combinação complexa de disfunções, desvios, que vão
ocorrendo no decorrer do tempo, normalmente resultado de um sistema de gestão de
segurança, meio ambiente, saúde ocupacional ineficaz normalmente associado a um baixo
valor de segurança, meio ambiente e saúde ocupacional - SMS associado ao conceito de
negócio resultando num conjunto de decisões equivocadas em diversos níveis da organização,
A experiência tem mostrado que a ineficácia do sistema de gestão de SMS muitas
vezes está relacionada às dificuldades dos gestores em se antecipar aos problemas, planejar,
organizar e implementar ações consistentes normalmente estruturadas num programa de SMS.
Ao contrário do que muitos imaginam o acidente não começa no projeto e sim no
pensamento, isto é, na tomada de decisões equivocadas pelos gestores, nem sempre associadas
aos valores de SMS. Todos dentro da organização estão tomando decisões em todos os
momentos (grupo gestor, presidente, diretoria, gerentes, supervisores e operadores). O projeto
na verdade é a materialização do pensamento após a escolha do caminho tecnológico a ser
seguido.
Os processos são dependentes do ser humano, por isso a necessidade de criar um
ambiente organizacional suscetível a mudanças de hábitos e atitudes comportamentais. Os
valores de SMS são parte da cultura organizacional, desta forma o que se pretende é fortalecer
12
estes valores para que as organizações implementem um sistema de gestão que incorpore os
conceitos do desenvolvimento sustentável.
Nas universidades e centros de pesquisa, investe-se muito tempo para entender como e
porque as coisas funcionam, sem aprofundar a discussão sobre o que fazer para controlar,
caso elas dêem errado. Na verdade, a tecnologia avança muito mais do que a capacidade
humana de entendimento dos possíveis impactos dos novos processos, produtos,
equipamentos e métodos de trabalho.
O mundo tecnológico é probabilístico em função das incertezas associadas às
limitações dos fatores humanos e de equipamentos. A verdade está limitada à quantidade de
informação e capacidade de sedimentação de conhecimento do ser humano num determinado
espaço de tempo. É preciso ter em mente que os controles de processo disponíveis estão
limitados à tecnologia existente, por isso a necessidade da evolução contínua do aprendizado
organizacional para garantir a melhoria contínua dos processos, mediante a implementação de
sistemas de gestão capazes de minimizar as incertezas e viabilizar os empreendimentos.
A experiência mostra que as pessoas estarão mais envolvidas e abertas às mudanças
quanto mais conhecimento elas tiverem sobre os problemas organizacionais, por isso a
garantia da segurança depende de um processo contínuo de qualificação e conscientização do
elemento humano.
Mesmo após a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919, os
valores de SMS dentro da cultura organizacional passaram a ter importância após a seqüência
de acidentes catastróficos ocorridos no período de 1970 a 1980. Estes acidentes mostraram
que o conceito de segurança, até então praticado, não era o mais adequado para garantir a
sustentabilidade das operações e a credibilidade das organizações com as partes interessadas.
A questão ambiental passou a ter importância no final dos anos de 1980e início dos
anos de 1990, eventos importantes para o desenvolvimento das ações ambientais como a
Convenção de Estocolmo (Suécia) e a Convenção Mundial do Meio Ambiente realizada no
Brasil (Rio 92). A partir daí, diversos grupos de trabalho e protocolos vêm sendo assinados
visando estabelecer um modelo de desenvolvimento sustentável para o planeta.
É possível observar neste início de século XXI que as organizações têm procurado
maior transparência para tentar mostrar como os valores de SMS estão agregados ao princípio
de negócio. Existe um esforço em mostrar a implementação de sistemas de gestão
responsáveis de forma a conquistar maior credibilidade das partes interessadas, em especial,
trabalhadores, governo, acionistas, comunidade e organizações não governamentais.
13
A pressão do Banco Mundial em cobrar requisitos para a garantia da segurança, saúde
ocupacional, responsabilidade social e sustentabilidade ambiental, como requisito básico para
a liberação de recursos financeiros está sendo fundamental para uma evolução destes valores
dentro das organizacionais principalmente nos países em desenvolvimento onde existe
carência de uma legislação pró-ativa e uma fiscalização governamental eficaz e responsável.
Com a publicação das Normas Internacionais de Gesto Ambiental (ISO 14.000) e
Especificação para implementação de sistemas de gestão de segurança e saúde ocupacional
(OHSAS 18.001) a partir de 1996, cresceu a demanda pela certificação dos sistemas de gestão
tornando-se um diferencial de mercado para vários segmentos, como, por exemplo: papel e
celulose, química, petroquímica, siderurgia, entre outros. Existe uma tendência nas grandes
organizações de tratar a gestão de segurança, saúde ocupacional, meio ambiente e
responsabilidade social de forma holística e integrada daí a existência da expressão Sistemas
de Gestão de SMS.
A experiência tem demonstrado que o sucesso na implementação dos Sistemas de
Gestão de SMS somente será possível com a sedimentação destes valores de sustentabilidade
dentro da cultura organizacional tornando-se uma base sólida para um processo de mudança
de hábitos e atitudes em todos os níveis da organização. A figura 1 abaixo ilustra que a
sedimentação dos valores de SMS é a base do processo de transformação que irá garantir
maior eficácia na implementação dos sistemas de gestão.
Figura 1. Valores de SMS como Base dos Sistemas de Gestão.
Fonte:ARAÚJO, 2004. (Elementos do Sistema...)
1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA
14
1.2.1 Objetivos Gerais
Este trabalho visa em primeiro lugar destacar a importância dos valores de SMS
dentro da cultura organizacional como um dos fatores crítico de sucesso para a
implementação dos sistemas de gestão.
1.2.2 Objetivos Específicos
Propor uma metodologia de avaliação da maturidade do sistema de gestão de SMS
baseado nos princípios do professor Geller(1990), publicados no artigo Cultura de Segurança
Total, na revista American Safety Society.
Os resultados do processo de avaliação poderão ser usados para avaliar eficácia dos
programas de qualificação, treinamento e conscientização dos trabalhadores bem como o
nível de sedimentação dos valores de SMS ao negócio da organização e diretrizes
organizacionais.
1.3 IMPORTÂNCIA DO ESTUDO
Existem muitos questionamentos e pouca pesquisa aplicada na busca das razões que
levam os programas de SMS a não alcançar resultados satisfatórios na redução dos acidentes.
Esta questão, que tem incomodado os gestores das grandes organizações, não terá
possibilidade de resposta se não houver uma análise crítica profunda do modelo de gestão
associado ao nível de cultura organizacional.
Este trabalho poderá contribuir para reforçar a necessidade de incluir na Teoria do
Queijo de Suíço de Reason (1994) a importância da cultura de SMS como fator crítico de
sucesso para a implementação de um sistema de gestão adequado aos riscos inerentes ao
processo, devido ao fato de ser este um aspecto de grande relevância para a tomada de
decisão, uma vez que a ausência dos valores de SMS agregados ao negócio, poderá impactar
de forma negativa o desempenho do sistema de gestão, sendo o fato iniciador das falhas
15
latentes e desvios organizacionais que poderão, mediante uma combinação de eventos
coincidentes, materializar a ocorrência do acidente.
1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
Este trabalho não teve a intenção de explorar os fundamentos de psicologia do trabalho
relacionados ás limitações humanas e aspectos comportamentais. Da mesma forma não houve
a tentativa de buscar a validação da metodologia por meio de levantamento dos dados nem tão
pouco explorar qualquer metodologia científica aplicada a pesquisa operacional que pudesse
sugerir um critério de pontuação.
16
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 DEFINIÇÃO DE CULTURA DE SMS
Desde o início do processo de Revolução Industrial até o início do século XX, as
organizações ainda não se preocupavam com os impactos causados pelos acidentes, mesmo
porque eram quase inexistentes as ações jurídicas que resultavam em penalidades ao
empregador. Com o avanço da proteção jurídica do trabalhador e do direito internacional,
motivado pela criação da OIT em 1919 com a assinatura do tratado de Versailles selando o
final da 1ª Guerra Mundial.
A partir deste fato histórico, os países signatários das Convenções da OIT iniciaram
um processo gradativo de mudança das legislações fazendo com que as grandes organizações
iniciassem a evolução do seu conceito de negócio. A evolução da cultura organizacional
requer agregar valores e responsabilidades visando melhorar as condições de segurança e
saúde ocupacional e garantir a implementação de processos industriais ambientalmente
sustentáveis.
No início do século XX, estas ações preventivas eram poucas, ineficazes e
dependentes da existência dos aspectos legais na legislação dos países, que até então eram
conservadoras e garantiam pouca proteção ao trabalhador e ao meio ambiente. O caminho
percorrido desde o início da revolução industrial até os dias atuais foi marcado por muito
descaso dos governos e empresários.
Até o início dos anos de 1970 eram poucas os críticos do modelo de produção focado
na adequação do homem à máquina sem se importar com as limitações físicas, psicológicas e
tecnológicas, aspectos importantes para garantir um meio ambiente de trabalho seguro e
ambientalmente sustentável.
Com o início da abertura política mundial a partir dos anos de 1970 as questões
relacionadas com a garantia da segurança, saúde ocupacional, qualidade de vida e preservação
do meio ambiente passam a ganhar mais força e importância na agenda política, influenciando
os investidores e acionistas das grandes organizações. Estes temas entram definitivamente a
agenda de discussão dos fóruns econômicos mundiais organizados pelos países desenvolvidos
á partir dos anos de 1990.
17
O objetivo fim de qualquer organização é ganhar dinheiro, por isso, elas sempre
estiveram e continuarão sendo pressionadas pelo retorno do investimento. Estes aspectos
fizeram com que os modelos de gestão, até o início dos anos de 1990, estivessem baseados em
dois fundamentos básicos: a informação (tecnologia) e o dinheiro do(s) investidor(es).
A busca contínua pela produtividade e sobrevivência das organizações fez surgir novos
modelos de gestão dentro dos princípios da qualidade com foco no foco do cliente. A
ocorrência de acidentes catastróficos tornou necessário agregar os valores de SMS a este novo
modelo de gestão.
A preocupação em agregar os valores de SMS ao negócio parece ter chegado
definitivamente no pensamento estratégico das organizações a partir dos anos de 1990,
resultado das pressões sociais aos a ocorrência de acidentes tecnológicos catastrófico.
Atualmente, o modelo de gestão possui três pilares, tornando-se uma figura tridimensional,
sustentada pelo dinheiro (investimento), tecnologia (informação e gestão de pessoas) e os
valores de SMS.
A Tabela 1 mostra que estas ocorrências se concentraram num período ao longo dos anos
de 1970 até o final dos anos de 1990, sugerindo uma falência do modelo de gestão até então
praticado, onde os valores de SMS não estavam agregados ao negócio e á cultura
organizacional. Cada um destes acidentes motivou uma série de mudanças nos aspectos
técnicos dos projetos e na implementação de requisitos legais até então desconsiderados. Este
processo de evolução da maturidade dos sistemas de gestão ainda é um desafio, sendo parte
das metas das organizações que pretendem sobreviver no século XXI.
Tabela 1 - Evolução dos Acidentes Históricos
Ano Local Produto Mudanças
1974 Flixborough
Inglaterra
Cicloexano Maior rigos nas exigências legais de
licenciamento na Grã Bretanha.
1976 Seveso
Itália
Tetraclorodibenzeno
paradioxina
Introdução das ferramentas de análise de
risco no processo de licenciamento
ambiental.
1982 Rio de Janeiro
– Brasil
Pentaclorofenato de
sódio (agente laranja)
Primeira Lei regulamentando o transporte
de produtos perigosos no Brasil (Decreto
88.821/83).
1984 San Juanico –
México
Propano – Butano
(GLP)
Alteração nos projetos de combate á
incêndios e distâncias mínimas de
18
segurança entre tanques de armazenagem.
1984 Bhopal
Índia
Isocianato de Metila Acionistas pressionam por melhorias nas
condições de segurança das instalações.
1984 Cubatão
Brasil
Nafta A ONU incentiva os governos a
implementar programas de controle da
poluição.
1986 Chernobil
URSS
Plutônio Pressão da ONU e dos governos para exigir
maior controle das atividades nucleares.
1988 Escócia Petróleo e Gás Natural Reavaliação dos controles de segurança e
planos de emergências das plataformas e
demais atividades de petróleo.
1989 URSS Gás Natural Reavaliação dos projetos de gasodutos.
1989 Alasca - EUA Petróleo Alteração dos projetos dos petroleiros com
obrigação de casco duplo. Incentivo ao
seguro ambiental.
2001 Macaé -
Brasil
Petróleo Reavaliação dos conceitos de gestão de
mudanças e aprovação dos projetos.
Fonte:ARAÚJO, 2005.(Segurança na Armazenagem.)
Os questionamentos sobre a necessidade de buscar a sustentabilidade das atividades
econômicas tentam se contrapor a um modelo industrial distante dos valores de SMS. Os
acidentes, até então aceitos como parte do risco industrial passam a ser questionados sob a
óptica de responsabilidade jurídica exigindo dos gestores uma postura mais pró-ativa sob
risco de serem processados por omissão, negligência ou incompetência.
A mudança do pensamento estratégico é parte integrante e necessária ao processo de
evolução da cultura organizacional e do processo de maturidade dos sistemas de gestão, cujos
valores de SMS estão sendo cada vez mais importantes para garantir a viabilidade das
atividades econômicas bem como conquistar a credibilidade das partes interessadas,
principalmente dos investidores. A implementação dos programas de SMS contribui para
mudar hábitos, comportamentos e atitudes, aspectos fundamentais para aumentar a percepção
e motivação dos envolvidos no processo de transformação necessário á melhoria contínua dos
sistemas de gestão.
Em termos gerais, cultura é um processo de transformação resultante da mudança de
hábitos, atitudes e comportamentos dos indivíduos, e que influencia a coletividade como um
19
todo. Este processo pode ser motivado pela mudança de valores e princípios sociais que
ocorrem no decorrer do tempo. Desta forma, cultura faz parte do processo evolutivo da
sociedade.
No artigo Towards a Model of Safety Culture, M.D. Cooper, Ph.D (2000), definiu
Cultura Organizacional como um conceito usado para descrever valores corporativos
compartilhados que afetam e influenciam as atitudes e o comportamento dos colaboradores. A
evolução dos valores sociais influencia significativamente no pensamento do grupo
dominante dentro da organização, representado pela alta administração.
Existem várias definições na literatura especializada sobre Cultura de Segurança
muitas vezes tratada de forma integrada – Cultura de SMS, a maioria delas envolve aspectos
relacionados à formação dos valores, crenças e princípios. Na prática, Cultura de SMS é parte
integrante da Cultura Organizacional, resultado dos valores estabelecidos pelo pensamento
dominante proveniente do grupo gestor, a alta administração. Estes valores incluem princípios
éticos, e valores agregados ao conceito de negócio da organização que influenciam
significativamente o comportamento de todos os trabalhadores em todos os níveis dentro da
organização.
Na medida em que se estuda a evolução do pensamento organizacional é possível
perceber que existe uma contribuição significativa dos aspectos relacionados à formação do
indivíduo (valores, crenças e atitudes), conhecimento técnico (qualificação) e organizacional
(disciplina) que influenciam direta ou indiretamente a construção de um modelo de cultura de
organizacional. Estes aspectos podem ser avaliados de forma isolada ao nível do indivíduo ou
coletiva, podendo são influenciados e potencializados á partir da ocorrência dos acidentes
ocorridos dentro e fora da organização.
Vale ressaltar que os trabalhadores vivem no antagonismo social envolvendo as
diversas realidades sócio-econômicas em detrimento ao ambiente organizacional em que estão
inseridos. Por isso, o processo de evolução da cultura organizacional precisa deve passar por
uma reflexão dos gestores, responsável pelo processo de transformação, sobre o nível de
qualidade de vida dos trabalhadores, dentro e fora do ambiente de trabalho, de forma a
minimizar os contrastes. Campos (1994) destaca que os gestores devem estar atentos para a
necessidade de melhoraria social e profissional dos trabalhadores em todos os níveis.
A experiência mostra que a sedimentação dos valores de SMS na cultura
organizacional pode ser influenciada por forças internas e externas provenientes das partes
interessadas, como, por exemplo, acionistas, sindicatos, órgãos de fiscalização, Organizações
Não Governamentais - ONG, entre outros.
20
A ocorrência dos acidentes dentro e fora da organização são exemplos de fatores
externos que podem contribuir fortemente para aumentar a maturidade do sistema de gestão e
a sedimentação dos valores de SMS na cultura organizacional. Existem organizações que
utilizam sua rede de comunicação interna para divulgar acidentes motivando a formação
grupos de grupos de trabalho para estudar a causa acidentes em processos e equipamentos
similares de modo a identificar falhas latentes. Esta forma de trabalho pode ser denominada
de “retorno de experiência” e contribui para aumentar o nível de atenção e valores de
segurança.
O programa de SMS visa implementar ações preventivas que contribuem para
influenciar positivamente a atitudes e comportamento dos gerentes e supervisores. A palavra
mudança sempre estará presente no processo de evolução da cultura organizacional; por isso,
é difícil estabelecer um nível aceitável a ser alcançado, sempre existirá espaço para a melhoria
contínua.
Muitas organizações têm mostrado interesse na implementação de programas de
sensibilização como ferramenta para motivar mudanças de comportamento. No entanto,
sedimentar valores de SMS não é algo que se impõe por vontade da alta administração, pois
trata-se de um processo de evolução gradativo, resultado da implementação com ações
sistemáticas e participativas.
Existem poucos trabalhos publicados sobre metodologias de avaliação do nível de
maturidade do sistema de gestão de SMS e do nível de sedimentação dos valores de SMS no
conceito de negócio das organizações. Os especialistas destacam que embora as tentativas
sejam válidas, bem intencionadas e necessárias em um determinado momento na vida da
organização, normalmente se caracterizam por ações empíricas e fragmentadas, sem
sistematização e análise crítica dos resultados.
Em resumo, para se implementar um processo de avaliação da maturidade do sistema
de gestão será necessário identificar aspectos relacionados à informação, motivação, definição
de responsabilidades, percepção de riscos, atitude e comportamento. A seguir estão
relacionados a seguir alguns temas importantes a serem trabalhados num programa para
aumentar o nível de maturidade do sistema de gestão:
a) Limpeza, higiene e organização;
b) Avaliação da saúde ocupacional;
c) Valorização e motivação do indivíduo;
d) Definição funcional das tarefas básicas;
e) Disciplina e atribuição de níveis de autoridade e responsabilidades;
21
f) Apoio social aos funcionários;
g) Elaboração e atendimento aos procedimentos;
h) Treinamento sobre conscientização de segurança;
i) Registro, investigação e análise de acidentes, incidentes e não-conformidades;
l) Cidadania e ética no trabalho;
m) Campanha de reconhecimento de atitudes pró-ativas;
n) Percepção de riscos.
A evolução da maturidade do sistema de gestão de SMS depende da capacidade dos
gestores em motivar as pessoas e dar credibilidade ao processo de transformação. A
credibilidade junto aos operadores é algo de grande valor que poderá ser conquistada através
das atitudes pró-ativas proveniente da alta administração, gerentes e supervisores. Para isso é
necessário estabelecer objetivos, estratégias, ações e formas de acompanhar a implementação
do programa de SMS.
Envolver a alta administração no processo de auditorias e inspeções será de grande
importância para demonstrar envolvimento e convencer as pessoas, em todos os níveis
hierárquicos que os resultados do programa de SMS serão cobrados. Os trabalhadores devem
saber que um baixo desempenho do sistema de gestão irá impactar sua avaliação individual de
desempenho visando a obtenção de promoção, aumento de salário e distribuição na
participação dos lucros.
2.2 VALORES DE SMS COMO FATOR CRÍTICO DE SUCESSO DAS ORGANIZAÇÕES
Sistemas complexos se caracterizam pelas incertezas que geram vulnerabilidades. As
incertezas estão relacionadas ao fato de que as falhas, envolvendo equipamentos e pessoas,
são esperadas de ocorrer, pois no mundo tecnológico não se conhece tudo que se faz e não se
controla tudo que se executam, as pessoas possuem limitações e os equipamentos também. O
sucesso do Sistema de Gestão de SMS depende da capacidade da organização em garantir a
existência de processos e operações seguras.
Para garantir um processo seguro será necessário trabalhar com tecnologia e controles
de processo compatíveis com os riscos operacionais existentes, diminuindo as
vulnerabilidades resultantes das incertezas tecnológicas. Para garantir a operação segura é
necessário ter pessoas qualificadas, responsáveis e motivadas, conscientes das suas
22
responsabilidades, com nível de percepção e valores de SMS consolidados para que os
procedimentos sejam seguidos como desejado pelos gestores.
A implementação de sistemas de gestão de SMS tem exigido um novo direcionamento
do pensamento organizacional. A experiência mostra que as organizações estão em constante
mudança. Algumas mudam para melhor e outras para pior; neste último caso, tenderão a
desaparecer, seja por razões competitivas, sejam pela incapacidade de se adequar ás
necessidades de mercado e expectativas dos clientes, ou pelos prejuízos envolvendo perdas
humanas, materiais ou impactos ao meio ambiente.
Neste processo de aprendizado organizacional deve ser considerada a maior
expectativa dos clientes em aderir ás idéias e produtos associados ao conceito de
desenvolvimento sustentável, tornando necessário associar estes valores ao seu conceito de
negócio.
A experiência mostra que a sedimentação dos valores de SMS é parte de um processo
dinâmico e contínuo de evolução da cultura organizacional, resultado das interferências
envolvendo aspectos políticos, econômicos, tecnológicos, princípios e valores materializados
através das atitudes e postura gerencial.
É possível sugerir que todas as organizações possuem uma cultura organizacional sem,
necessariamente, ter um nível de sedimentação dos valores de SMS agregado ao seu negócio.
Particularmente, a Cultura de SMS deve ser parte integrante do pensamento e da cultura
organizacional, sendo a base para o sucesso dos programas preventivos necessários à
implementação do sistema de gestão. Os especialistas concordam que a falta de sedimentação
dos valores de SMS na cultura organizacional influenciam negativamente no nível de
percepção dos riscos e na evolução da maturidade do sistema de gestão de SMS.
2.3 ESQUEMA HIERÁRQUICO DAS CAUSAS DE ACIDENTES
O pensamento preventivo contemporâneo sugere que os acidentes são resultantes de
uma combinação complexa de disfunções e desvios que ocorrem numa dinâmica própria no
decorrer do tempo. O resultado do processo de investigação dos acidentes de maior
repercussão na mídia apontaram desvios provenientes de sistemas de gestão de SMS
inexistentes ou ineficazes. Muitos destes desvios são motivados por um conjunto de decisões
23
equivocadas em diversos níveis da organização, resultado dos baixos valores de Cultura de
SMS.
Por outro lado os acidentes mais recentes como a Plataforma Petrobras P-36 mostram
que apesar da existência de sistemas de gestão certificados, sempre existirão vulnerabilidades
e oportunidades de melhorias a serem implementadas pois não existem controles infalíveis.
O Engenheiro Fernando Brasil (2000) destaca em sua apostila, Esquema Hierárquico
das Causas, diversas abordagens no sentido de entender a dinâmica e a lógica do acidente. O
autor destaca a existência de uma escala hierárquica de causas de acidentes a partir da
principal causa imediata e que vai num crescendo até chegar às causas mais remotas ou mais
básicas.
Este conceito de diferentes níveis de causas está representado na pirâmide desde o
evento mais próximo do acidente imediato até aqueles mais remotos básicos, destacando que
os aspectos de cultura de SMS no Nível 5 são a base da pirâmide, Figura 1. Os níveis
hierárquicos estão definidos abaixo:
a) Nível 1: Confiabilidade de Engenharia. Diz respeito ao projeto do “hardware” da
planta e seus limites operacionais. Excluem-se aspectos como interface homem-
máquina o qual impinge ao operador confiabilidade. Este nível inclui aspectos de
projeto de engenharia que deveriam, por exemplo, limitar a duração de um vazamento
acidental mediante o fechamento automático das válvulas e/ou acionamento de outros
sistemas de segurança;
b) Nível 2: Confiabilidade Operacional. Engloba os fatores humanos que influenciam
diretamente o desempenho esperado para execução, incluindo interface homem-
máquina, treinamento e experiência, entendimento dos procedimentos operacionais,
adequação dos meios de produção, entre outros aspectos de suporte ao operador;
c) Nível 3: Comunicação, Informação e “Feedback” (Auditoria). Diz respeito a
disseminação de informações por meio de documentos, instruções, sistemas de
relatórios, emissão de permissão para trabalho, além da realização de inspeções e
auditorias internas, onde será verificada a eficácia do sistema de comunicação nos
diversos níveis hierárquicos;
d) Nível 4: Organização e Gestão. Está relacionado com a estrutura organizacional e o
sistema de Gestão de SMS. Inclui fatores como elaboração de procedimentos,
estabelecimento de objetivos e metas, definição de níveis de autoridade e
responsabilidade, formação de equipe de trabalho para identificação e avaliação dos
riscos, investigação e análise de acidentes, inspeções rotineiras, entre outros;
24
e) Nível 5: Cultura de SMS. Envolve aspectos relacionados aos valores e princípios de
negócio que podem afetar a missão, políticas e o programa de SMS. O nível de
Cultura de SMS será fundamental para estabelecer hábitos e atitudes visando o
comportamento seguro. Este nível está sujeito aos seguintes aspectos: pressão
econômica, opinião pública, requisitos técnicos e legais, entre outros. Este nível
permite entender porque fábricas e/ou unidades de negócio dentro de uma mesma
organização possuem desempenho diferenciados do Sistema de Gestão de SMS.
Figura 2: Esquema Hierárquico das Causas dos Acidentes.
Fonte: BRASIL,2000
2.4 VULNERABILIDADE DE SISTEMAS COMPLEXOS
O Engenheiro Vicente Falconi Campos (1994) cita em seu livro Gerenciamento da
Rotina de Trabalho do Dia-a-Dia que o objetivo dos operadores é seguir os procedimentos e o
dos gerentes é resolver problemas de forma a garantir a eficácia nos resultados e atingir os
objetivos e metas estabelecidos pela organização. Resumindo, ele indica que as tomadas de
decisão se concentram na alta administração, gerentes e supervisores.
25
Entretanto, de forma mais geral e abrangente, é possível perceber as organizações
estão dando mais autonomia e responsabilidade aos operadores, desta forma, a tomada de
decisão está ocorrendo em todos os níveis da organização, respeitando os limites de
autoridade e responsabilidades inerentes de cada função, o que nos leva a concluir que os
operadores também tomam decisões, muitas vezes de fundamental importância para a garantia
da segurança das operações.
Volta-se ao fato de que o elemento humano é o foco deste processo, pois dele se exigirá
disciplina organizacional e atitudes pró-ativas com base nos valores de SMS. Em todos os
níveis as pessoas estão tomando decisões que podem comprometer o desempenho do sistema
de gestão.
A teoria do Queijo Suíço, idealizada por Reason (1994) é uma tentativa de visualizar
as possíveis falhas latentes relacionadas a desvios organizacionais ou deficiências e/ou
inexistências de controles capazes de identificar ou minimizar a possibilidade de
materialização destes desvios. A teoria de Reason mostra com muita propriedade, que os
sistemas complexos são carregados de incertezas pois mesmo que sejam implementas os
controles, também denominado de barreiras ou bloqueios, estes não são perfeitos.
Reason (1994) sugere o acidente possui uma dinâmica própria, resultado de uma
combinação de fatores, resultado da materialização das falhas latentes ao longo tempo. O
objetivo principal do sistema de gestão é identificar estas vulnerabilidades e implementar
barreiras, lembrando que sempre existirá a possibilidade de deficiências e limitações destes
controles (barreiras) acarretando uma eficácia limitada no seu objetivo de evitar a ocorrência
dos acidentes.
Algumas limitações dos controles (barreiras) implementados pelo sistema de gestão
podem estar relacionadas ás limitações humanas e tecnológicas, o que nos leva a sugerir que
os sistemas complexos se caracterizam por incertezas que geram vulnerabilidades, tornando o
acidente um evento probabilístico.
É possível sugerir que nos sistemas complexo sempre existirá a probabilidade de algo
dar errado, por isso as organizações devem investir em tecnologia de controle e plano de
emergência consistentes com os riscos operacionais e cenários possíveis de forma a minimizar
a gravidade destes eventos caso estes se materializem.
Entretanto, a teoria do Queijo Suíço proposto por Reason (1994) não destaca
claramente a influência da inexistência ou baixos valores de SMS agregados ao negócio da
organização, como uma das falhas latente dentro do sistema de gestão e que irão contribuir
26
para a ineficácia da implementação os programas preventivos resultando decisões falíveis e
equivocadas.
Neste trabalho foi possível sugerir algumas contribuições no modelo proposto por
Reason (1994), entre elas, a indicação de mais uma falha latente possível nos sistemas
complexos que é o “baixo valor de SMS” na cultura organizacional. Este desvio contribui
para a adoção de princípios de negócio distante dos conceitos da sustentabilidade ambiental e
da responsabilidade social levando a decisões equivocadas e falíveis aumentando a
vulnerabilidades dos processos.
Esta falha latente é particularmente importante, pois potencializa a ocorrência das
demais previstas no Modelo de Reason (1994) podendo contribuir para tomadas de decisões
equivocadas como, por exemplo, a escolha de uma tecnologia sustentável para desenvolver
um determinado produto ou processo.
As demais falhas latentes impactadas pelos baixos valores de SMS podem ser:
elaboração de um programa de SMS com objetivos e metas, qualificação e treinamento
(gestão de pessoas), registro, investigação e análise de acidentes, incidentes e não-
conformidades, programa de manutenção preventiva, auditorias e inspeções, investimentos
em tecnologia (controles de processos).
Uma das barreiras possíveis para minimizar esta falha latente seria a implementação
de um processo contínuo de conscientização, em todos os níveis da organização, sobre os
valores de SMS bem como acompanhar o nível de maturidade do sistema de gestão através da
metodologia proposta neste trabalho. Nas figuras 3 e 4 abaixo é possível observar o modelo
inicial proposto por Reason (1994) e o Modelo de Reason Modificado por Araújo neste
trabalho.
27
Figura 3 - Modelo do Queijo Suíço - Proposta Inicial de Reason
Fonte: Reason ,1994.
Figura 4. Queijo Suíço de Reason modificado por Araújo
Fonte: ARAÚJO, 2005
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28
3 BARREIRAS À EVOLUÇÃO DOS VALORES DE SMS NA CULTURA
ORGANIZACIONAL
Esta pesquisa sugere que a garantia da segurança depende em grande parte do nível de
maturidade do sistema de gestão, que por sua vez, depende da sedimentação dos valores de
SMS na cultura organizacional. Toda esta combinação de fatores irá potencializar atitudes
pró-ativas para antecipação dos problemas mediante o uso de ferramentas de observação das
tarefas de modo a tornar possível realizar intervenções e propor ações preventivas e
corretivas. Os gestores devem ser convencidos das necessidades para disponibilizar
investimentos necessários á melhoria dos processos e mudanças na forma de realizar as
atividades.
Organizações com baixos valores de SMS na cultura organizacional desenvolvem um
sistema de gestão aqui denominado de administração do óbvio. Neste ambiente, gerentes e
supervisores se sentem confiantes na consistência dos procedimentos e na disciplina
organizacional. Eles acreditam no princípio de que todos, em especial os operadores, irão
seguir os procedimento, pois foram treinados e que cada um deve ser responsável por aquilo
que faz, de acordo com seu nível de responsabilidade.
Os gestores, às vezes, não se dão conta que os procedimentos não são infalíveis, nem
tão pouco as pessoas que os seguem; afinal, estes documentos também são feitos por pessoas
e as pessoas têm limitações. Elas só entendem o quanto isso tudo é importante quando se
deparam com o acidente, partindo por ações reativas procurando culpados para esconder um
sistema de gestão inconsistente, ineficaz e muitas vezes, com baixos valores de SMS na
cultura organizacional.
Neste ambiente gerencial, a tomada de decisão é lenta e burocrática, as pessoas não se
convencem facilmente, querem saber onde está escrito, querem seguir o regulamento, são
resistentes a novas idéias. Para investir em um equipamento preventivo resistem por meio das
análises financeiras, não percebem a importância da agilidade na tomada de decisão e quando
decidem já é tarde demais.
Numa gestão com baixos valores de SMS é possível identificar diversas barreiras para
a implementação e/ou melhoria dos sistemas de gestão, apesar da pressão exercida pelos
requisitos legais cada vez mais rigorosos e uma demanda cada vez maior dos clientes pela
certificação dos sistemas de gestão. São elas:
a) Baixa Percepção de Risco;
29
b) Deficiência no Processo de Investigação e Análise dos Acidentes;
c) Baixos Valores dos Valores de SMS no Princípio de Negócio;
d) Deficiência de Informação e Sedimentação do Conhecimento;
e) Deficiência de Qualificação e da Experiência Profissional;
f) Dificuldade de Antecipação, Organização, Planejamento e Implementação.
3.1 BAIXA PERCEPÇÃO DE RISCO
Na administração do óbvio, os gestores se acomodam, não pensam no imprevisível e
no inimaginável, e na capacidade das pessoas em criar alternativas na realização das tarefas
desprezando de forma intencional ou não intencional conceitos e sistemas de segurança pré-
estabelecidos. Este tipo de ambiente se caracteriza por uma baixa percepção de risco e por
atitudes reativas de correção aos desvios, a partir do momento em que ocorre uma não
conformidade ou até mesmo um acidente.
O acidente é a manifestação do estado patológico da organização, se caracterizando
pela materialização dos desvios organizacionais. Os indicadores reativos continuam sendo
importantes para mostrar estas fragilidades do sistema de gestão que resultam em acidentes.
Os incidentes são acidentes que não se materializaram, isto é, situações que não
geraram perdas materiais ao processo (ou perdas consideradas não significativas pela
organização), pessoas ou meio ambiente. Estes sinais são importantes para mostrar que algo
não vai bem, eles mostram as não-conformidades provenientes dos desvios organizacionais
não atendimento de requisitos técnicos ou legais que vão ocorrendo ao longo do tempo.
Identificar incidentes é parte do processo de identificação e solução de problemas. De
uma forma geral as pessoas tendem a deixar de lado coisas aparentemente pequenas no seu
julgamento de valor. Por isso, existem correntes que acreditam que o acidente não diz respeito
apenas a uma pessoa em particular que num determinado momento faz algo errado, na
verdade, os desvios vão acontecendo sem que os gerentes e supervisores percebam ou dêem a
devida importância.
A expressão aqui criada, as organizações adoecem, está relacionada à baixa
capacidade dos gerentes e supervisores em se antecipar aos desvios e não perceber os riscos
do entorno, identificando que algo não vai bem. As ferramentas de observação de tarefas e
inspeção física do local de trabalho, feitas periodicamente por gerentes e supervisores,
30
possibilitam identificar desvios, propor e acompanhar a implementação das ações corretivas
e/ou preventivas antes da materialização do acidente.
As ações preventivas trazem mais benefícios e são mais econômicas do que corrigir os
estragos causados pelos acidentes, mas, para isso, é preciso se antecipar, planejar, agir de
forma global e pontual, disponibilizar recursos para garantir a eficácia da implementação dos
programas e ferramentas necessários á melhoria contínua do sistema de gestão. A capacidade
de percepção de risco das pessoas depende basicamente de:
a) Informação;
b) Conhecimento;
c) Valores de SMS (Cultura)
d) Experiência;
e) Habilidade;
f) Atitude responsável;
g) Motivação;
h) Expectativa das conseqüências;
i) Equilíbrio Emocional;
j) Capacidade de Reação.
No modo gerencial, conclui-se que a baixa cultura de SMS também pode estar
associada á deficiência envolvendo informação, disciplina organizacional, percepção dos
riscos de gerentes e supervisores, resultando numa gestão reativa baseada no princípio da
tentativa e erro.
3.2 DEFICIÊNCIA NO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO E ANÁLISE DOS ACIDENTES
Por muito tempo, as organizações vêm sofrendo o mal da Prepotência Tecnológica,
resultado do grande avanço tecnológico e conhecimento da ciência. A tecnologia, os recursos
financeiros, os procedimentos e o processo de certificação fazem os gestores acreditar que
conhecem e controlam todo o processo produtivo, o que não é verdade. Historicamente, os
valores de cultura de SMS como fator crítico de sucesso das organizações não eram
considerados significativos dentro do conceito de negócios das organizações.
A história tem mostrado que uma forma importante de aprendizado é a troca contínua
de experiência em função da vivência profissional sempre considerando que o sistema não é
31
infalível. A verdade tecnológica de hoje não é a mesma de amanhã, pois está limitada pela
quantidade de informação e conhecimento adquirido pelos indivíduos.
As organizações devem tirar proveito dos acidentes, ter a humildade de reconhecer os
desvios e a necessidade do aprendizado contínuo. Um sistema de gestão de SMS está voltado
para lidar com as incertezas dos processos, pois não se conhece tudo o que se faz e não se
controla tudo que se executa. É necessário implementar barreiras, controles, para minimizar a
probabilidade de ocorrência destes desvios falhas latentes tendo a consciência de que nada é
infalível ou cem por cento eficaz.
As organizações evoluem a partir do conhecimento, base da ciência e da tecnologia. A
evolução da ciência se faz pela quebra dos paradigmas; e o que é o paradigma senão a crise da
verdade que se cultua com o nível de informação que se tem num determinado momento.
As organizações aprendem pelos acidentes e pelas ações preventivas e/ou corretivas. O
aprendizado pela forma preventiva investe em informação e tecnologia, qualificação e
experiência e gerenciamento dos riscos. Aprender pelas adversidades envolve a perda de vidas
humanas e recursos materiais. Na verdade, muito se aprendeu e muita coisa mudou após a
ocorrência dos grandes acidentes catastróficos que não precisavam acontecer.
3.3 BAIXOS VALORES DOS VALORES DE SMS NO PRINCÍPIO DE NEGÓCIO
É difícil estabelecer um único fato histórico para determinar o processo de mudança de
cultura organizacional com relação aos valores de SMS. Acredita-se que o acidente de
Bhopal, Índia (1984), parece ter sido um dos eventos mais catastróficos da indústria química
em função da quantidade de mortes e prejuízos materiais envolvidos. Porém, outros acidentes
como Flixborough, Inglaterrra – 1974; Sevezo, Itália – 1976; Vila Socó no Brasil-1984,
Chernobyl, Rússia – 1986; Piper Alpha, Escócia - 1988; Exxon Valdez, USA – 1989,
serviram de alerta para a necessidade de se mudar o princípio de negócio das grandes
organizações.
A partir do acidente de Bhopal (1994) surgiu no Canadá (1996) um programa
preventivo denominado de Responsible Care (Atuação Responsável). Este programa foi
constituído por uma série de princípios e práticas de gestão visando resgatar a credibilidade da
indústria química de forma a prevenir ou minimizar os impactos provenientes dos acidentes
tecnológicos.
32
Este programa como outros que surgiram são marcos importantes para o início de um
processo de transformação do conceito de negócio das organizações, entretanto não é possível
afirmar sobre o nível de maturidade atual dos sistemas de gestão em prática, o que se tem é
uma percepção positiva de que houve uma evolução do nível de importância dos valores de
segurança na cultura organizacional. Esta percepção é fruto da experiência profissional no
desenvolvimento de trabalhos de consultoria e auditoria de sistemas de gestão, aumento da
quantidade de empresas certificadas e do processo de divulgação externa destas questões por
parte das organizações.
Os princípios deste programa foram adotados pela maioria das associações da
indústria química no mundo, tornando-se um “código de conduta”. O objetivo era mudar a
opinião pública em relação às indústrias que, naquele momento, eram consideradas
responsáveis pelo descaso com que tratavam as questões de segurança e proteção ambiental.
Para se ter uma idéia da força e importância do Responsible Care cerca de 90% das indústrias
químicas aderiram ao programa. Aquelas que não assinaram o protocolo tiveram que se retirar
da Associação Americana das Indústrias Químicas.
No Brasil, o programa coordenado pela ABIQUIM se chama “Atuação Responsável” e
contribui para implementar uma série de programas mundiais, patrocinados pela ONU, que
possibilitaram mudar o cenário degradante do pólo petroquímico de Cubatão. Este programa
foi de grande importância para mudar a cultura de SMS e o conceito de negócios das
empresas no Brasil.
É possível verificar que muito da cultura de SMS que se tem hoje no Brasil não seria
possível se não fossem os programas de grandes organizações, como Petrobras, Eletrobras,
Vale do Rio Doce, Shell, Esso, Texaco, Du Pont, entre outras. Alguns céticos lembram que
tudo acontece depois de um acidente catastrófico, e pode até ser verdade, mas esse aspecto
também tem seu lado positivo, isto é, nestas oportunidades são testadas a capacidade da
organização em identificar os desvios no sistema de gestão, reavaliar os estudos de riscos,
redirecionar o programa de SMS e reagir às adversidades através da melhoria contínua.
O problema não se resume apenas na ocorrência do acidente, mas quando existe a
recorrência com as mesmas características, sendo um sinal de fragilidade do sistema de
gestão. As organizações demonstrar para a sociedade e governo que existem mais ações
positivas que negativas, como, por exemplo: investimentos em tecnologia, treinamento,
recursos humanos e materiais para prevenção e atendimento de emergência, entre outros.
É possível sugerir que o nível de importância dos valores de SMS agregados ao
conceito de negócio da organização pode estar relacionado com a complexidade e os riscos
33
das operações bem como a pressão exercida pelas partes interessadas, clientes, governo,
sindicatos, investidores e comunidade, muitas resultado dos acidentes catastróficos ocorridos
dento do segmento industrial ao qual a organização está inserida.
3.4 DEFICIÊNCIA DE INFORMAÇÃO E SEDIMENTAÇÃO DO CONHECIMENTO
Como foi visto anteriormente, até meados dos anos de 1980, os gestores acreditavam
que o sucesso da organização dependia basicamente dos investimentos e da informação,
variáveis importantes, porém não únicas, para se ter acesso e/ou gerar tecnologia. Sem
informação não será possível sedimentar o conhecimento e, conseqüentemente, não haverá
tecnologia; e; tudo isso depende de investimento.
As fontes do conhecimento envolvem opiniões não-testadas e análises sistemáticas do
pensamento Cooper (2003). Normalmente as pessoas não perdem tempo para tentar entender
como ocorre o processo de evolução do conhecimento científico e para onde ele está
direcionado e com qual objetivo. Desde os tempos antigos os pesquisadores investem grande
parte do tempo para descobrir o como fazer transformando informação em conhecimento.
Entretanto, perde-se pouco tempo para entender o que pode dar errado e o que fazer se algo
der errado. Dessa forma, a organização deve identificar requisitos de qualidade e valor que
devem ser agregados ao negócio para que possam ser traduzidos em resultados positivos ou
que irão facilitar as tomadas de decisão dos gestores.
Conclui-se que sem investimento não se chega ao nível de qualificação desejado para
alcançar o sucesso da organização, que é ser lucrativa. Como se vê, este processo depois que
se inicia não tem fim, pois para se ter tecnologia precisa-se de conhecimento e de informação,
e assim por diante.
Já foi o tempo de dizer que “informação é poder”, vive-se o tempo da convergência e
da democratização da informação. Tudo está disponível através da grande rede, Internet,
porém é preciso organização e responsabilidade individual para processar toda essa gama de
informação visto que “a informação não é ingênua”. O problema atual não é a falta de
informação, e sim como separar e processar a quantidade de informação necessária
disponível.
Existem diversas formas de captar, acumular e divulgar toda esta informação; o
problema é que existem muitas informações a serem distribuídas, processadas e assimiladas.
34
A informação pode ser de interesse interno e externo à organização, o que torna difícil seu
processamento no tempo em que elas aparecem e são imprescindíveis. A informação é
necessária para se estabelecer um mecanismo de comunicação e, para isso, ela precisa ter
consistência e ser facilmente entendida.
No mundo organizacional são desenvolvidas e transmitidas muitas informações por
meio de quadro de aviso, circular interna, revistas e jornais, internet, intranet, e-mails, entre
outros. Apesar de toda a informatização, conclui-se que muita informação não é a garantia de
alcançar o nível de conhecimento desejado.
Informação e comunicação não são a mesma coisa, mas uma depende da outra. É
preciso ter informação para iniciar o processo de comunicação. Para se ter comunicação, é
necessário certificar-se de que ela foi entendida. Reuniões informativas, treinamentos, cursos
e seminários visam garantir a transferência de informação e sedimentar conhecimento e, desta
forma, preparar os profissionais para a prática operacional.
Somente informação não é a garantia do sucesso do sistema de gestão de SMS, é
necessário um sistema de comunicação consistente e convincente para implementar e manter
o nível de cultura de SMS desejado.
A organização precisa transformar informação em conhecimento, para isso é
necessário contar com a experiência dos profissionais para compartilhar informação que
poderá ser sedimentada por outra pessoa. Por isso, o que se chama hoje de gestão do
conhecimento, tem sido cada vez mais importante para garantir a evolução tecnológica e o
amadurecimento da organização. O conhecimento e experiência são dois elementos
necessários para garantir o aprendizado organizacional e que os valores de SMS estejam cada
vez mais presentes nos princípios de negócio da organização.
3.5 DEFICIÊNCIA DE QUALIFICAÇÃO E DA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
Muitas organizações cometem erros durante a implementação do sistema de gestão,
pois confiam apenas no seu nível de conhecimento, ou seja, na sua própria tecnologia e na sua
verdade gerencial. Cooper (2003), classifica seis estilos de pensamento e os localiza, no ponto
de vista da lógica, como:
a) Opinião não-testada;
b) Verdade auto-evidente;
35
c) Método da autoridade;
d) Literário;
e) Método científico;
f) Postulacional.
Abre-se um apêndice para exemplificar o uso da opinião não-testada em algumas
organizações menos esclarecidas. Ao fazer opção pelas opiniões não-testadas, apesar de
provas ao contrário, se comete o erro de abrir mão da melhoria contínua e quebra dos
paradigmas, por isso é comum ouvir “Essa é a forma como sempre fizemos isso aqui”, esta
maneira de pensar não aceita contestação.
A gestão de SMS não pode contar apenas com a opinião não-testada para melhorar sua
compreensão da realidade, muito embora a natureza humana indique que se deve estar
preparado para tirar o proveito adequado ao tentar buscar algumas soluções para problemas
atuais; é o que poderíamos chamar de experiência empírica.
Não se pode aprender apenas com o conhecimento individual; é preciso trocar
experiências. Mesmo nas grandes organizações pode haver níveis diferenciados valores de
SMS na cultura organizacional devido aos diferentes perfis gerenciais, pos a organização é
feita por pessoas e as pessoas são diferentes.
Muitos programas de SMS adotados com sucesso em alguns países podem não
apresentar o mesmo resultado em outro local devido à falta de percepção e entendimento da
cultura social e organizacional associada a deficiências na troca de experiências internas.
Para se obter sucesso na comunicação é necessário que a informação seja captada,
entendida e assimilada. A questão é como saber se o processo de comunicação é eficaz.
Existem diversas formas de se checar isso, que vão desde uma simples avaliação de
treinamento até a verificação, em campo, através da execução correta de uma tarefa. Realizar
observação de tarefas e simulados são outras maneiras de verificar se as pessoas assimilaram
a informação passada no treinamento e se estão preparadas para atuar sob pressão.
Independentes do nível hierárquico, todos estão envolvidos no processo de
comunicação e tomada de decisão, para isso, é importante essa informação tenha qualidade
para que consiga entendimento claro e assim estabelecer o processo de comunicação. Muitos
se iludem em achar que trabalhar com a informação é o ponto mais importante de suas tarefas
diárias, e se esquecem de perceber o que está acontecendo à sua volta no ambiente de
trabalho. O processo de comunicação permite que se perceba e avalie o que acontece em
volta.
36
3.6 DIFICULDADE DE ANTECIPAÇÃO, ORGANIZAÇÃO, PLANEJAMENTO E
IMPLEMENTAÇÃO.
Para entender o que é Sistema de Gestão é necessário entender o que significa a palavra
sistema. Se olharmos para a organização como o sistema a ser estudado, será possível identificar
uma série de subsistemas que devem funcionar e interagir para que a organização alcance o
objetivo principal que é ser lucrativa.
Embora alguns especialistas não concordem, os valores de SMS são requisitos
importantes para que a organização seja lucrativa, não é mais tolerável que se possa ganhar
dinheiro a qualquer preço. O acidente gera prejuízo e perda de credibilidade junto ás partes
interessadas (trabalhadores, governo, acionistas e comunidade) isso poderá tornar a organização
menos lucrativa ou até esmo desaparecer.
O termo Gestão, está associado á implementação de um conjunto de práticas
gerenciais necessárias para conduzir o processo de planejamento, avaliação, controle e
monitoramento dos processos produtivos. Assim, Sistema de Gestão é uma forma sistemática
de implementar as políticas e diretrizes organizacionais, mediante a aplicação de um conjunto
de ações para se alcançar os objetivos e metas corporativas. O Sistema de Gestão de SMS
busca identificar as vulnerabilidades e implementar mecanismos de controles corretos para
minimizar a possibilidade de materialização de falhas latentes e desvios organizacionais
capazes de resultar acidentes.
Estas práticas visam suprir as dificuldades e limitações naturais do ser humano que
comprometem sua capacidade de antecipação de problemas, organização, planejamento e
implementação de oportunidades de melhoria. O ser humano é por natureza anárquico e
reativo, estas duas características resultam na baixa capacidade de agir preventivamente
através de atitudes e ações práticas criando barreiras para a evolução da maturidade do
sistema de gestão de SMS.
O Sistema da Qualidade possui, como uma de suas ferramentas, o ciclo do PDCA
(Plan, Do, Check, Act) ou seja, Planejar, Executar, Verificar e Atuar que tem por objetivo
visualizar o processo de melhoria contínua dos sistemas.
37
Figura 5: Ciclo do PDCA
Ao iniciar o ciclo do PDCA, ele não acaba mais; volta-se sempre ao ponto de partida para
intervir em programas de melhoria para o sistema. Na prática o ciclo do PDCA não é uma
figura simétrica. Volta-se ao fato de que as fases de Planejamento e Execução são aquelas que
demandam mais tempo e envolvimento dos colaboradores.
O professor Edgar Pedreira Cerqueira destaca em seu livro Paradigmas da qualidade, a
necessidade de identificar as variáveis que possam descrever, de forma adequada, um meio
social. São elas: técnica, política, psicologia, aspectos social, econômico e de informação.
Cada uma dessas variáveis é responsável pela organização do sistema de gestão e influencia
na cultura organizacional. As variáveis relacionadas aos aspectos psicológicos e sociais estão
ligadas diretamente à formação do sistema cultural da organização.
As variáveis relacionadas aos sistemas econômicos e da informação são importantes
para que se tenha sucesso com o modelo de gestão; sem dinheiro e informação ninguém faz
nada. Não há sistema de gestão de SMS que resista a uma organização com dificuldades
financeiras para investir em recursos humanos e materiais.
Como citado anteriormente, a organização deve estabelecer mecanismos para manter
as pessoas atualizadas quanto aos requisitos técnicos e legais. O acesso à informação é
fundamental para que se estabeleça um processo de melhoria contínua da qualificação
profissional, aumentando o nível de conhecimento que tornará o indivíduo dotado de maior
nível de percepção e avaliação crítica das situações de perigo, evitando tomadas de decisão
equivocadas e intuitivas.
O sistema técnico é particularmente importante, pois é por meio dele que o sistema de
gestão é construído e gerenciado. Já o sistema político é fundamental para que sejam
38
estabelecidos tendências e valores internos da organização. A evolução do nível de cultura de
SMS depende da vontade e do pensamento dominante da organização.
Conclui-se que as organizações mantêm uma relação complexa com diversas partes
interessadas. Dessa forma, a implementação de um programa de Cultura de SMS deve
envolver todos aqueles que mantêm uma relação direta, ou indireta, e que podem impactar o
desempenho global de SMS.
O programa de SMS é feito por pessoas para pessoas, isto quer dizer que todos devem
ser envolvidos, desde a alta administração até os níveis operacionais. O maior erro é
direcionar os treinamentos somente para os níveis intermediários. A alta administração deve
se engajar no desafio de manter as pessoas motivadas e participativas no processo de
implementação das ações, visando à melhoria contínua.
39
4 ESTRATÉGIA PARA IMPLEMENTAR UM PROGRAMA DE CULTURA DE SMS
4.1 ENVOLVIMENTO DA ALTA ADMINISTRAÇÃO
Como os valores de SMS na cultura organizacional é resultado do desejo e do
processo de transformação a ser conduzido pelo pensamento organizacional dominante, as
mudanças no conceito de negócio poderão contribuir no comportamento dos colaboradores.
Por isso, o engajamento da alta administração por meio de atitudes será fundamental para o
envolvimento dos colaboradores em todos os níveis da organização.
Para implementar um programa de Cultura de SMS primeiro é importante verificar se
o mesmo se encontra alinhado com a Política e Diretrizes de SMS. Por isso, ele deve ser
aprovado pela alta administração já que serão necessários recursos para sua implementação.
Após a aprovação do programa, sua estrutura deve ser apresentada para os diversos níveis de
gerência e supervisão, e em seguida, para todos os colaboradores, incluindo os contratados.
A alta administração deve deixar claro aos gerentes e supervisores de que é necessário
dar exemplos comportamentais positivos e não aceitar a quebra dos procedimentos de SMS
sob a justificativa de atingir metas de produção. Os estímulos positivos, criados pelos gerentes
e supervisores, irão influenciar os colaboradores, deixando-os em alerta constante com relação
aos sinais, negativos contribuindo para a melhoria das condições físicas do ambiente de
trabalho e, conseqüente, redução dos acidentes.
4.2 CONHECER O NÍVEL DE SEDIMENTAÇÃO DOS VALORES DE SMS NA
CULTURA ORGANIZACIONAL
Para implementar um programa para sedimentar valores de SMS na cultura
organizacional será importante estabelecer metas, objetivos e estratégias para que os
resultados sejam efetivamente alcançados. Para isso será necessário planejamento,
coordenação e identificar uma forma de avaliação do nível de maturidade do sistema de
gestão. Não será produtivo tentar implementar um programa de forma aleatória, na base da
tentativa e erro.
40
A implementação de um programa de SMS poderá se deparar com barreiras e conflitos
por isso precisa de uma avaliação inicial; sem isso, não será possível saber se ele é adequado
para atender as necessidades da organização. Recomenda-se realizar um diagnóstico para
identificar o nível de conscientização da alta administração e dos trabalhadores, com atenção
para as seguintes questões:
a) Qual o nível de sedimentação dos valores de SMS na cultura organizacional?
b) Onde se quer chegar?
c) O que fazer para melhorar o nível atual?
d) Quais os elementos da avaliação?
e) Qual a periodicidade destas avaliações?
f) Como informar sobre a evolução do nível de cultura?
As forças que motivam a mudança do pensamento organizacional são as mais variadas
possíveis, podendo afetar não apenas o desempenho de SMS da organização como também a
relação com contratados, fornecedores, concorrentes, clientes e a comunidade. Estas
mudanças podem influenciar, inclusive, a mudança do conceito de um produto, ou serviço
prestado, e fazem parte de um processo maior chamado de “Cultura de Segurança Total”.
Para cada um dos níveis hierárquicos poderão existir níveis diferenciados de
responsabilidade e comprometimento com o processo de mudança e que fazem parte do
contrato de trabalho. Os seguintes aspectos devem ser colocados de forma clara, para os
colaboradores:
a) Necessidade de conhecer e entender os procedimentos aplicáveis;
b) Entender que os procedimentos devem ser seguidos;
c) Saber que a gerência agirá em qualquer violação às regras;
d) Informar os incidentes, não-conformidades e comportamentos abaixo do padrão;
e) Garantir que os equipamentos de proteção estão sendo utilizados.
A aplicação de métodos seguros de trabalho somente será bem sucedida se as pessoas
estiverem convencidas dos benefícios. O grande problema em aplicar uma metodologia de
avaliação do nível de maturidade do sistema de gestão é sensibilizar a alta administração dos
benefícios dos resultados que serão percebidos no médio e longo prazo. O uso de uma
metodologia de avaliação irá permitir acompanhamento e monitoramento na busca da
melhoria contínua.
Normalmente, o objetivo imediato da alta administração é aumentar a produtividade
mediante a redução dos custos operacionais. Os gestores sempre foram cobrados pela
melhoria do desempenho da produção, cortar custos e evitar prejuízos, não importando sua
41
origem. Da mesma forma que a alta administração se reúne periodicamente para analisar
balanços financeiros e determinar estratégias de melhoria, o sistema de gestão de SMS precisa
ser acompanhado para que possíveis desvios sejam corrigidos. Este processo de avaliação
ocorre nas reuniões de análise crítica.
A melhoria do desempenho de SMS não depende apenas da boa vontade da alta
administração e do comportamento seguro dos colaboradores; é preciso, também, dinheiro. Os
recursos financeiros serão necessários para implementar tecnologias mais limpas e seguras,
resultando na melhoria física dos equipamentos e das condições de trabalho. Utilizar
ferramentas de planejamento para identificação e avaliação dos riscos será uma boa
ferramenta para identificar as reais necessidades e usar adequadamente os recursos
disponíveis.
Implementar um programa para sedimentação dos valores de SMS pode começar com
pequenas ações, mas que podem resultar em melhorias duradouras. O processo será inviável
se a alta administração resolver não se envolver nas mudanças, deixando a critério dos
gerentes a decisão sobre a melhor forma de implementar as melhorias necessárias, será
preciso atitude.
Outra razão de insucesso está relacionada ao baixo compromisso dos gerentes e
supervisores com o atendimento aos procedimentos e boas práticas operacionais. Por razões
culturais, os próprios gerentes e supervisores podem considerar que o excesso de segurança
gera muitos controles que podem afetar a produtividade. Talvez este seja o momento mais
crítico na implementação do programa, sendo necessário reavaliar a forma de abordagem e,
até mesmo, as diretrizes da organização para não reduzir a motivação e o comprometimento
dos supervisores.
42
5. AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE MATURIDADE DO SISTEMA DE GESTÃO DE SMS
5.1 IDENTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS SIGNIFICATIVOS
A metodologia está baseada na avaliação de ferramentas e programas de SMS que
possam evidenciar a sedimentação dos princípios éticos e valores organizacionais desejáveis e
necessários á complexidade e riscos do processo. A metodologia propõe o uso de indicadores
para medir, monitorar e avaliar o nível de maturidade do sistema de gestão de SMS.
Para se obter sucesso com o programa é preciso, além da vontade política é preciso
mostrar capacidade gerencial para estabelecer objetivos e metas, de modo que os
colaboradores percebam o resultado da implementação das ações e o ambiente de mudança.
Um diagnóstico inicial dos valores, crenças e práticas poderá ser avaliado a partir da análise
das seguintes questões:
a) Os valores de SMS fazem parte do princípio do negócio envolvendo a produção,
vendas, distribuição, recursos humanos, fornecedores e contratados?;
b) O comportamento da alta administração, gerentes e supervisores contribuem e
influencia os colaboradores para trabalhar em cima dos valores de SMS?;
c) Os gerentes e supervisores conhecem os elementos de gestão de SMS e estão
conscientes de suas responsabilidades para com a política e programas?;
d) Existe uma política e um programa de SMS, bem como metas e objetivos a serem
alcançados?;
Existe um plano de ação para cada área de responsabilidade dos gerentes e
supervisores?;
f) Os colaboradores, ao agregar valores do sistema de gestão de SMS, estão
conscientes dos benefícios para o negócio?;
g) Existem recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis para se obter
sucesso com o programa de SMS?;
h) Existem avaliação e cruzamento de eficiência dos insumos e recursos alocados com
a eficácia dos resultados esperados e obtidos?;
i) A alta administração e os gerentes participam de atividades práticas, como inspeções
e auditorias do sistema de gestão de SMS?;
43
j) A organização investe em qualificação e treinamento, bem como programas de
melhoria da qualidade de vida e de trabalho dos colaboradores?;
l) Existe um programa para identificar, analisar e divulgar os riscos, medidas
preventivas e procedimentos de emergência?;
m) Existem mecanismos de identificação e controle que permitam manter os
colaboradores em nível de atenção capaz de tomar ações e corrigir desvios em caso de
emergência?;
n) Existem regras claras de como a organização reagirá em caso de violação aos
procedimentos?;
o) Existe reconhecimento para o comportamento pró-ativo dos colaboradores?;
p) Existem mecanismos de registro, controle, avaliação e análise dos acidentes,
incidentes e não-conformidades, de modo que todos estejam conscientes de que estes
desvios são considerados evitáveis?;
q) Há garantia de que o trabalho seja realizado de acordo com a legislação, normas
técnicas e procedimentos internos aplicáveis?.
Uma das formas que gerentes e supervisores têm para demonstrar o interesse para com
os valores de SMS é estar disponível para ouvir os trabalhadores. Deve-se criar o hábito de
falar sobre a importância das questões de SMS no trabalho diário pr meio de reuniões diárias
de segurança (DDSMS).
Outro aspecto importante é estar disponível para ouvir com atenção as sugestões. Os
gerentes e supervisores devem fornecer informações e incentivar a pesquisa sem fazer um pré-
julgamento de uma idéia. Por mais simples que possa parecer uma sugestão, ela pode
despertar aspectos interessantes que passaram desapercebidos. Caso realmente existam razões
técnicas para acreditar que algo não dará certo, deve ser explicado imediatamente de forma
clara e objetiva.
Outra forma de compartilhar idéias e sugestões é realizar reuniões mensais com os
colaboradores. Essas reuniões não precisam ser longas e exaustivas, mas com tempo
suficiente para que todos façam um balanço das atividades, coloquem problemas, idéias e
sugestões. Deve-se criar um ambiente em que se possa ter um diálogo franco e aberto com os
colaboradores no momento que for necessário, isso ajuda a quebrar o gelo da hierarquia. A
seguir, são relacionados outros aspectos relevantes no comportamento dos líderes:
a) Estar disponível para realizar reuniões informativas de SMS (Diálogos de SMS ou
Cinco Minutos de SMS);
44
b) Participar da comissão de investigação de acidentes, incidentes e não-
conformidades, motivando a apresentação de alternativas seguras de trabalho;
c) Acompanhar a implementação das ações sugeridas pela equipe de investigação
sobre resultados e atendimento aos prazos estabelecidos;
d) Retornar aos colaboradores a posição gerencial mostrando porque determinadas
ações não podem ser implementadas.
O desafio das organizações é identificar e visualizar a evolução do nível de cultura de
SMS; não existindo muitas tentativas concretas publicadas de métodos utilizados. A
dificuldade existe por se tratar de variáveis subjetivas, envolvendo hábitos e comportamentos
de difícil valoração.
5.2 CORRELAÇÃO ENTRE O NÍVEL DE CULTURA DE SMS COM OS INDICADORES
REATIVOS
Embora não seja a forma mais consistente para avaliar o desempenho de um sistema
de gestão, acompanhar a redução da taxa de freqüência de acidentes e doenças ocupacionais
vem sendo praticado pelas organizações no Brasil e no mundo seguindo a metodologia da
OIT.
Por mais que os prevencionistas não concordem com este processo de avaliação do
desempenho do sistema de gestão a expectativa é que ele continuará sendo feito desta forma
pelas empresas, pois esta é a forma escolhida pelo governo e pela OIT para acompanhar a
eficácia dos programas preventivos. A forma de calcular estes indicadores está prevista na
Norma ABNT 12.250 - Cadastro de Acidentes.
No Brasil o Ministério o Trabalho e Emprego (NR 4) e da Previdência Social (INSS)
cobram das empresas o registro dos acidentes e elaboração das estatísticas para que seja
possível repassar estas informações para a OIT elaborar seu anuário de acidentes.
Entretanto, deve-se alertar que estes indicadores não devem ser utilizados
isoladamente avaliar o desempenho, sob o risco de se chegar conclusões equivocadas que
podem mascarar os desvios existentes no sistema de gestão.
O problema de usar apenas indicadores reativos existe porque a redução das taxas de
freqüência dos acidentes e doenças ocupacionais nem sempre está associado com a eficácia do
sistema de gestão. Em termos práticos esta redução pode ocorrer em função da sub-
45
notificação resultado baixa qualidade dos controles das empresas ou até mesmo intencional.
Avaliações dos Ministérios do Trabalho Emprego e da Previdência Social sugerem que os
indicadores de acidentes podem estar sub-avaliados em até 50%.
Mais importante do que lutar contra o uso destes indicadores, o desafio dos
prevencionistas é tentar trabalhar de forma pró-ativa estes indicadores. Uma sugestão seria
tentar verificar se existir uma correlação entre a redução da freqüência dos acidentes com a
evolução da maturidade do sistema de gestão utilizando a metodologia desenvolvida neste
trabalho.
O gráfico a seguir mostra a evolução da Taxa de Freqüência de Acidentes com Lesão
com Perda de Tempo – TFCA, também denominado de (CPT), de uma indústria de gás no
Brasil em comparação com outras organizações do mesmo grupo e concorrentes na Europa.
Em termos estatísticos é possível verificar uma melhoria desempenho da gestão de
SMS da empresa no decorrer dos anos, porém seria precipitado afirmar que existe uma
correlação entre a redução da TFCA (CPT) com o aumento do nível de maturidade do sistema
de gestão ou da eficácia do programa de SMS. O máximo que se pode concluir é que a TFCA
(CPT) da empresa, no Brasil, se encontra num valor abaixo da média das outras empresas do
grupo e dos concorrentes.
Gráfico 1:Evolução da Taxa de Freqüência de Acidentados com Perda de Tempo (TFCA ou
CPT).
Fonte: ARAÚJO, 2003.
Outro erro é acompanhar somente a freqüência dos acidentes com lesão com perda de
tempo (TFCA ou CPT) sem considerar os acidentes com lesão sem perda de tempo (TFSA ou
SPT) e os registros de ocorrências ambulatoriais usados por muitas empresas para
46
descaracterizar os acidentes TFSA (SPT) e assim não emitir a Comunicação de Acidente do
Trabalho – CAT. Estes fatores também contribuem para acreditar na sub-notificação dos
acidentes e que estatísticas apresentadas pelas empresas podem não representar a realidade.
Uma alternativa para usar de forma mais adequada os indicadores reativos e dar maior
credibilidade para as estatísticas seria criar um Índice Geral de Acidentes (TFA) assim
definido:
TFA =(Acidentes com Lesão com Perda de Tempo + Acidentes com Lesão
sem Perda de Tempo + Ocorrências Ambulatoriais) X 1.000.000
Homens Hora de Exposição ao Risco
É possível concluir que as organizações estão associando de forma inadequada a
redução dos indicadores reativos de acidentes com lesão com perda de tempo (TFCA ou CPT)
com o desempenho do sistema de gestão, por isso, a necessidade de se propor uma
metodologia para avaliar o nível de maturidade do sistema de gestão.
Para sugerir uma correlação entre a redução dos indicadores de acidentes com o nível
e maturidade do sistema de gestão, seria necessário estabelecer um indicador de conformidade
(IC) a ser calculado através da aplicação de um método que pudesse levantar dados e
evidências da implementação de um programa de SMS.
No Gráfico 2 foi criado para ilustrar como seria possível usar a metodologia de
avaliação do nível de maturidade do sistema de gestão para fazer uma correlação da TFA -
Taxa de Freqüência Geral de Acidentes (incluindo todos os tipos de acidentes).
Grafico2: Correlação hipotético entre o nível de cultura de SMS com Taxa de Freqüência de Acidente (TFA)*.
*Inclue todos os tipos de acidentes não apenas os acidentados.
Concluindo, mesmo que a TFA fosse zero, isto não significaria que o nível de
maturidade de SMS estaria num patamar aceitável. Vale ressaltar que a deficiência dos
47
registros de acidentes resulta na baixa confiabilidade dos dados dificultando uma análise
consistente da correlação entre a redução da TFA com a eficácia do programa de SMS.
Entende-se que não é possível para organização usar de forma consistente os
indicadores reativos para avaliação de desempenho sem tentar correlacionar estes valores com
um índice que possa demonstrar a evolução do nível de maturidade do sistema de gestão de
SMS. Por isso a necessidade de propor uma metodologia de avaliação que possa evidenciar a
sedimentação dos valores de SMS nas práticas e ações preventivas da organização.
Embora a redução das taxas de freqüência de acidentes e doenças ocupacionais seja
indicador importante para avaliar a eficácia do sistema de gestão de SMS, eles não são
suficientes para avaliar a maturidade do sistema de gestão nem tão pouco a sedimentação dos
valores de SMS na cultura organizacional.
Para a elaboração deste trabalho, não evidenciado a existência de trabalhos dentro de
empresas visando identificar o nível de maturidade do sistema de gestão ou do nível de
sedimentação dos valores de SMS na cultura organizacional que poderiam servir de base para
o direcionamento dos programas de SMS.
5.3 CORRELAÇÃO ENTRE O NÍVEL DE CULTURA DE SMS COM INDICADORES
PRÓ-ATIVOS
Normalmente, os auditores fazem a avaliação do nível de sedimentação dos valores de
SMS na cultura organizacional de forma intuitiva através dos processos clássicos de auditoria
dos sistemas de gestão de SMS. Nestas ocasiões é possível fazer entrevista com pessoas em
todos os níveis hierárquicos e ter uma noção do nível de conhecimento das diretrizes da
política, metas, objetivos, significado dos indicadores, disciplina no atendimento aos
procedimentos, postura gerencial, percepção dos riscos e valores de SMS.
Embora a abordagem qualitativa feita durante as auditorias possa dar uma idéia do
nível de conhecimento individual dos colaboradores em relação ao programa de SMS e do
nível de comprometimento de gerentes e supervisores, carece de uma metodologia capaz de
direcionar abordagens consistentes e sistemáticas do nível de maturidade do sistema de gestão
e nível de sedimentação dos valores de SMS na cultura organizacional. Estas abordagens
intuitivas não são capazes de garantir a repetiblidade das avaliações.
48
Vale ressaltar que no processo de auditoria as pessoas estão pressionadas por
resultados e querem causar boa impressão envolvendo sua forma de pensar e seu
comprometimento com a política e diretrizes de SMS. Ao realizar um trabalho de avaliação
do nível de maturidade do sistema de gestão e nível de sedimentação dos valores de SMS na
cultura organizacional, os avaliadores podem ser envolvidos com a política das boas intenções
da alta administração, gerentes e supervisores.
O primeiro questionamento diz respeito à quantidade de pessoas entrevistadas, que
pode não representar uma amostra significativa do universo de pessoas que exercem as
diferentes funções na organização. Outro aspecto, é que nestas entrevistas, o auditor,
normalmente, não possui uma lista de perguntas que deveria ser repetida para os demais
entrevistados. De uma forma geral, as perguntas são formuladas aleatoriamente para
diferentes pessoas e nem sempre direcionadas para todos os níveis hierárquicos.
Avaliar o nível de maturidade do sistema de gestão não é uma tarefa fácil. Algumas
empresas têm utilizado pesquisa interna, muito parecidas com pesquisa de clima
organizacional, entretanto, a experiência mostra que estas avaliações carecem de uma
identificação de evidências objetivas e verificação da consistência na implementação das
ferramentas e programas de SMS.
Esta forma de abordagem não é uma tarefa fácil, com exceção da área nuclear não
existem muitas tentativas de se implementar esta forma de avaliação. O objetivo da existência
de uma metodologia é avaliar com maior consistência o nível de comprometimento da alta
administração, gerentes, supervisores e colaboradores em relação aos valores de SMS
evidenciados por atitudes pró-ativas envolvendo:
a) Atendimento a política;
b) Elaboração e acompanhamento dos objetivos e metas;
d) Participação na identificação dos riscos e perigos das tarefas;
e) Envolvimento nas campanhas preventivas;
f) Registro, investigação e análise dos acidentes, incidentes e não-conformidades;
g) Nível de conhecimento e responsabilidade no plano de emergência;
h) Acompanhamento do nível de qualificação (quantidade, horas e número de pessoas
treinadas).
5.4 CUIDADOS NA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE SMS
49
Um dos cuidados ao implementar um programa de SMS é não partir do pressuposto
que modelos bem sucedidos em outras organizações, ou até na mesma organização, mas em
países diferentes, terá o mesmo sucesso no Brasil. Mesmo dentro de um país como o Brasil
existem diferenças culturais que devem ser observadas e respeitadas.
Nas organizações transnacionais existem diversas formas de conduzir um sistema de
gestão de SMS. Para se ter um exemplo, os modelos americanos, alemães e japoneses são
muito focados em centralização corporativa na matriz, com muitos procedimentos, disciplina
rígida, padronização global e pouca flexibilidade para atuações locais. Nos países da
Escandinávia
1
,
o sistema de gestão é mais aberto, caracterizando-se pela descentralização de
programas, maior autonomia dos gestores nos países, apoiado no processo de convencimento
pela educação, diálogo e treinamento.
É necessária uma análise profunda das características peculiares da organização em
que se quer implementar o modelo. Lembramos que modelo não é um padrão, e sim algo
próximo do desejável o de uma realidade possível. Quando se trata de mexer com
comportamento, esta questão se torna mais crítica.
O melhor modelo é aquele desenvolvido para as necessidades da organização e que
poderá contribuir para a redução dos acidentes. A partir dessas considerações, serão propostas
seis etapas para a implementação de um programa visando aumentar o nível de maturidade do
sistema de gestão e o nível de sedimentação dos valores de SMS na cultura organizacional,
são elas:
a) Etapa 1 - Qual o nível de maturidade Cultura de SMS desejado?;
b) Etapa 2 - Quais as etapas intermediárias para alcançar o objetivo?;
c) Etapa 3: Existem regras claras nos procedimentos?;
d) Etapa 4: Que medidas devem ser executadas?;
e) Etapa 5: O atendimento aos procedimentos é supervisionado?;
e) Etapa 6: Quais são as conseqüências?;
f) Etapa 7: Existe reconhecimento pelos objetivos alcançados?.
Etapa 1: Qual o nível de Cultura de SMS desejado?
Muitas organizações vêm agregando os valores de SMS em seus princípios de negócio,
mostrando que eles fazem parte da estratégia para alcançar patamares maiores de produtividade
e qualidade. Antes de iniciar a implementação do programa de cultura, a alta organização deve
1
Suécia, Noruega, Finlândia, Islândia e Dinamarca.
50
se perguntar o nível de cultura de SMS a ser alcançado. Para a análise da situação atual, a
organização pode levantar as seguintes questões:
a) Existe avaliação sobre a necessidade do comportamento seguro?;
b) Os valores de SMS fazem parte das atividades de produção, vendas e distribuição, contratos,
fornecedores e contratados?;
c) A legislação e as normas são levadas em consideração nos procedimentos?;
d) Existem recursos direcionados para as áreas de SMS?;
e) Existe preocupação com a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores?;
f) Existe a participação dos colaboradores? Sugestões são implementadas?;
g) Acidentes, incidentes e não-conformidades são registrados, analisados e divulgados?;
h) Acidentes com contratados são monitorados e são incluídos nas estatísticas?.
O comprometimento dos gerentes e supervisores inicia na fase de elaboração e
implementação dos procedimentos, pois não se pode cobrar dos subordinados aquilo que não
se acredita, e ninguém faz daquilo que não entende uma razão para gastar energia. Daí, a
importância de se ter um processo participativo na elaboração e revisão crítica dos
procedimentos, com atenção para os seguintes aspectos:
a) Aprovar de forma consensual entre aqueles que irão utilizar o documento;
b) Implementar em todos os níveis, através de reuniões informativas formais;
c) Interpretar e não ceder aos argumentos reativos algo, previamente, acordado entre todos
os interessados;
d) Registrar o processo de implementação;
e) Estabelecer um mecanismo de revisão ou nos casos em que seja identificada deficiência
que possa induzir ao risco ou tomada de decisão equivocada.
Grandes organizações podem ter dificuldades de elaborar procedimentos com a
participação de todos os interessados, porém devem existir mecanismos para que as sugestões
e problemas sejam registrados.
Etapa 2: Quais as etapas intermediárias para que o objetivo final seja alcançado?
É possível verificar nas auditorias que, mesmo nas empresas certificadas, os
colaboradores podem não conhecer os objetivos de SMS, nem tampouco os indicadores de
desempenho do sistema de gestão, tornando-se uma evidência objetiva de falta de interação
com os elementos do sistema de gestão, podendo afetar o nível de cultura de SMS.
Para que os indicadores sejam confiáveis, é importante conscientizar sobre a
importância de se estabelecer um sistema confiável de registro, investigação e análise dos
51
acidentes, incidentes e não-conformidades de forma a garantir o processo de aprendizagem
organizacional.
A divulgação dos objetivos, metas, programas e indicadores de desempenho deve ser
apresentada aos trabalhadores através dos quadros de aviso, correio eletrônico, intranet,
reuniões informativas e palestras.
Os progressos parciais alcançados com o programa de SMS devem ser conhecidos por
todos. Vale lembrar que metas são alvos de longo prazo e objetivos são alvos específicos de
curto prazo que possam quantificáveis e acompanhados ao longo do tempo. Campos (1994)
cita que as metas absolutas (alvos de longo prazo) são importantes para fortalecer e manter
sob foco constante as diretrizes corporativas baseado na política organizacional.
A avaliação dos objetivos, através de etapas intermediárias, permite corrigir pequenos
desvios na execução do programa. É importante saber qual a distância em que se encontra do
objetivo a ser alcançado e, desta forma, visualizar a melhoria contínua. O acompanhamento
da evolução dos indicadores permite avaliar a evolução do programa identificando e
corrigindo os desvios pontuais e, até mesmo, alocar recursos não previstos inicialmente.
Nesta fase de avaliação e acompanhamento é possível trabalhar tanto com os
indicadores reativos como, por exemplo, a taxa de freqüência de acidentes, ou pró-ativos,
como o número de reuniões informativas para a divulgação dos procedimentos. As etapas
intermediárias conquistadas, passo a passo, até o objetivo final, deixam as pessoas mais
motivadas. Por isso, deve-se voltar atenção especial para os seguintes aspectos:
a) Definir e apresentar os objetivos, metas e indicadores de desempenho;
b) Analisar e divulgar as estatísticas de acidentes;
c) Registrar o processo de investigação e análise dos acidentes, incidentes e não-
conformidades;
d) Examinar os comportamentos abaixo ou fora do padrão;
e) Avaliar a tecnologia e os métodos de trabalho utilizados;
f) Implementar e avaliar a eficácia dos sistemas de proteção individual e coletiva.
Etapa 3: Existem regras claras nos procedimentos?
A importância dos procedimentos vai além da necessidade de se padronizar a
execução das tarefas, pois eles contribuem para estabelecer uma cultura de disciplina
operacional. A elaboração dos procedimentos é uma das responsabilidades mais importantes
do empregador.
O procedimento é uma Fonte do Direito, e será requisitado para análise pericial em
caso de acidente, por isso, deve ser dedicada grande atenção a sua execução, revisão e
52
implementação, sendo assim, deve ser elaborado, mantido atualizado e implementado.. É
difícil saber o que é pior, não ter o procedimento, ou ter um procedimento mal escrito ou que
induza ao risco. Além disso, o bom procedimento é aquele que funciona, por isso, se ele não
for implementado sistematicamente, não alcançará o objetivo de divulgar informação e
sedimentar conhecimento.
Destaca-se que nem tudo que é feito dentro da organização está escrito; muitas tarefas
são realizadas mediante boas práticas operacionais, adquiridas através da experiência e
vivência dos colaboradores no decorrer do tempo. Desta forma, como saber que uma
determinada tarefa precisa estar escrita num procedimento? Esta questão será resolvida em
função da necessidade de cada organização, entretanto, os seguintes aspectos devem ser
considerados:
a) Necessidade de padronizar tarefas que possam afetar o desempenho de SMS e/ou
qualidade do produto ou serviço;
b) Quando os riscos forem considerados significativos pela organização, mediante a
identificação dos riscos utilizando ferramentas específicas de avaliação;
c) Quando o processo de investigação e análise de acidente entender que uma determinada
tarefa requer uma padronização para evitar tomadas de decisão equivocadas por parte dos
operadores.
O sucesso do sistema de gestão não se caracteriza apenas pela existência de um
manual de gestão e de procedimentos, porém eles fazem parte de uma etapa importante para
tornar as regras claras e assim cobrar de todos a disciplina organizacional.
Destaca-se que dentro da organização haverá resistência a colaborar com algo que não
entendem ou não foram chamados a participar, por isso, devem existir mecanismos que
permitam a participar dos trabalhadores na elaboração, aprovação e revisão dos
procedimentos. A democratização da informação foi um dos paradigmas mais importantes
quebrados com o advento dos sistemas da qualidade.
Para se ter sucesso com a implementação dos procedimentos é necessário se estar
atento desde a sua concepção até a etapa de sua implementação. Concluindo, é possível
identificar os seguintes desvios com relação aos procedimentos:
a) Não existir;
b) Estar mal elaborado;
c) Não ser implementado;
d) Não ser seguido;
e) Descontrole de atualizações.
53
f) Defasagem tecnológica ou de informação.
Além dos procedimentos escritos, existem as sinalizações de segurança que
representam um resumo do procedimento e devem ser seguidas da mesma maneira.
Entretanto, acidentes podem estar relacionados à interpretação equivocada destas sinalizações.
Outro aspecto importante é entender que os procedimentos podem e devem ser
revisados periodicamente. Procedimento estático é considerado conhecimento morto, pois ele
expressa apenas a verdade num determinado momento tecnológico e de conhecimento da
organização. Nessa etapa, é importante identificar mecanismos internos que possibilitem
evidenciar de que os procedimentos são passíveis de avaliação e revisão periódica. Os
seguintes aspectos com relação aos procedimentos devem ser considerados:
a) Ser bem formulados e de fácil entendimento;
b) Devem ser lidos e interpretados para serem entendidos;
c) Viáveis tecnicamente e de fácil aplicação prática;
d) Divulgados e disponíveis para todos os trabalhadores e contratados;
e) Revisados periodicamente.
Etapa 4: Que medidas devem ser estabelecidas?
Com base em objetivos pré-definidos e regras claras, associado ao comportamento e
atitudes pró-ativas, é possível implementar medidas concretas para que os objetivos
estabelecidos sejam alcançados. Para sedimentar os valores de SMS na cultura organizacional
não bastam pactos de boas intenções, é preciso atitude, muitas vezes um bom exemplo vale
mais do que mil palavras.
Muitas organizações se perdem em discursos esquecendo de envolver a alta
administração, gerentes e supervisores na participação das atividades como, por exemplo,
auditoria e inspeções diárias. Costuma-se dizer que a “gramática é diferente da prática”.
Implementar os valores de SMS na cultura organizacional depende da atitude e
comportamento dos gerentes e supervisores, pois os operadores tendem a seguir o exemplo
dos superiores hierárquicos. Se todo dia o supervisor passa pelo colaborador e percebe que ele
está sem os óculos de segurança e não fala nada, irá parecer que aprovou sua atitude e, com
certeza, ele repetirá este comportamento em outras oportunidades.
Os gerentes e supervisores precisam ter habilidade e evitar o constrangimento do
indivíduo perante o grupo. No entanto, devem ter atitudes pró-ativas coerentes com as
diretrizes da política, como, por exemplo, realizar intervenções para corrigir os desvios ou
situações de risco grave e iminente no momento em que são identificados.
54
Para corrigir os desvios organizacionais é necessário sistematizar a identificação dos
impactos, implementando controles para aqueles considerados significativos e que podem
afetar o desempenho do sistema de gestão. A alta administração deve planejar, preparar,
implementar e acompanhar as ações estabelecidas no plano de objetivos e metas como, por
exemplo:
a) Realizar reuniões informativas, encontros ou seminários;
b) Realizar reuniões de análise crítica com gerentes e supervisores;
c) Incentivar campanhas de segurança;
d) Conhecer e acompanhar os indicadores reativos e pró-ativos;
e) Participar das inspeções rotineiras e auditorias de segurança;
f) Estabelecer grupos de trabalho para solução de problemas.
A importância da mensagem será medida através das ações; se o líder não considerar
ou praticar os valores de SMS nas suas atitudes, os colaboradores seguirão seu exemplo, pois
a postura gerencial é que irão sustentar ou desacreditar tudo que foi dito anteriormente nas
reuniões e treinamentos. É comum se falar que o operador é a imagem e semelhança do seu
supervisor e/ou gerente.
Para envolver os colaboradores, o líder deverá ouvi-los e reagir às suas preocupações.
Não se obedece àquele que não coloca em prática sua teoria. A organização irá obter o nível
de cultura de SMS na mesma intensidade em que o demonstra através de suas ações e atitudes
gerenciais.
Etapa 5: O cumprimento aos procedimentos é supervisionado?
Como citado anteriormente, objetivos e metas bem definidas, associadas à existência
de procedimentos claros e bem entendidos contribuem para que as atividades sejam realizadas
adequadamente em todos os níveis da organização. Entretanto, a alta administração deve estar
consciente que podem existir situações que contribuem para que os procedimentos não sejam
seguidos pelos colaboradores.
Estas situações serão identificadas se existirem mecanismos efetivos de verificação e
controle, daí a importância das inspeções rotineiras e auditorias internas. Os colaboradores
precisam sentir que existe disciplina organizacional e que o atendimento aos procedimentos
será cobrado.
Para melhorar o nível de Cultura de SMS é importante a participação efetiva da alta
administração nos programas de SMS, como diz o ditado, “o exemplo vem de cima”. A
participação nas atividades de inspeção e auditorias é uma forma de entender as dificuldades
55
do dia-a-dia para alcançar os objetivos estabelecidos. Existem diversos casos bem sucedidos
envolvendo a participação da alta administração nestas atividades.
Estas ações, além de serem evidências objetivas do nível de cultura de SMS, trazem
resultados positivos perante os colaboradores, pois é uma sinalização de que a alta
administração se encontra envolvida com os problemas operacionais e o programa de SMS. O
programa de inspeção e auditoria deve atender os seguintes aspectos:
a) Definir quem deve participar das inspeções e auditorias;
b) Estabelecer os elementos de verificação;
c) Estabelecer a freqüência com que inspeções e auditorias devem ser realizadas;
d) Avaliar as constatações das inspeções e auditorias;
e) Elaborar um plano de ação corretiva;
f) Acompanhar a implementação das melhorias;
g) Verificar a eficácia das melhorias sugeridas;
g) Apresentação da evolução dos resultados aos colaboradores.
Etapa 6: Quais são as conseqüências?
Aprende-se muito no cotidiano com as conseqüências de nossos atos e isso vale para o
comportamento no trabalho. A probabilidade de insucesso das ações dentro da organização
será maior quanto maior a deficiência no processo de identificação, análise e avaliação dos
riscos.
Outro aspecto importante está relacionado com a ação disciplinar. O fato de se tirar
proveito da ocorrência de um acidente para melhorar o nível de conhecimento, direcionando a
investigação para identificar os desvios e implementar melhorias, sem a preocupação da busca
por “culpados”, não quer dizer que a organização deva abrir mão das ações disciplinares.
A organização deve acreditar no processo de educação e qualificação visando maior
conscientização dos colaboradores. Entretanto, é possível identificar pessoas, em qualquer
nível hierárquico, cujas atitudes, não estão alinhadas com valores de SMS da cultura
organizacional, insistindo em não atender os procedimentos, mesmo depois de passar por
todas as etapas de convencimento colocando em risco a segurança coletiva. Sendo assim,
pode-se chegar à conclusão de que estas pessoas não poderão mais pertencer à organização
por uma simples de incompatibilidade de valores.
Os trabalhadores precisam entender que o exercício do trabalho está baseado num
contrato formal onde existem responsabilidades tanto do empregador quanto dos empregados.
Procedimentos existem para serem cumpridos, porém sempre existirá a possibilidade de
serem violados, pois o ser humano é naturalmente anárquico e reativo, tende a quebrar regras.
56
Ninguém pode fazer o que quer numa sociedade organizada ou numa organização; por
isso, existem os documentos legais, normas técnicas e procedimentos internos a serem
seguidos em todos os níveis hierárquicos.
A alta administração deve estimular o uso de ferramentas para incentivar o
comportamento seguro e reagir diante dos desvios. As regras devem ser claras e amplamente
discutidas em todos os níveis da empresa. Algumas questões são importantes e devem ser
colocadas para todos os níveis hierárquicos:
a) Ter consciência das conseqüências operacionais caso um determinado procedimento não
seja atendido;
b) Implementar ações de controle e/ou mitigadoras para minimizar e/ou controlar os eventos
indesejáveis;
c) Implementar ações disciplinares, previstas na legislação (advertência verbal, por escrito
ou demissão), para aqueles que insistem em não seguir os procedimentos;
d) Conscientizar da possibilidade de corte de bônus e perda da promoção no caso de
desempenho de SMS abaixo do padrão pré-estabelecido.
Etapa 7: Existe Reconhecimento pelo Alcance dos Objetivos?
O sistema de premiação por desempenho sempre foi utilizado pelos departamentos de
vendas. Posteriormente, os Círculos de Controle de Qualidade (CCQ) passaram a incentivar a
adoção de diversas formas de reconhecimento pelos resultados no aumento de produtividade e
melhoria da qualidade dos produtos e serviços.
Existem diversos casos práticos que mostram a necessidade de se criar fatores
motivacionais coletivos como forma de reconhecimento pelo alcance de objetivos e metas
organizacionais. Da mesma forma que ocorre na área de vendas e produção, devem existir
premiações como forma de incentivo e reconhecimento para o comportamento seguro e
melhoria do desempenho de SMS. As ações podem incluir elogio e reconhecimento buscando
premiar o desempenho coletivo e não apenas individual.
É importante criar um ambiente em que todos estejam efetivamente envolvidos com a
implementação das ações preventivas para melhoria das condições de trabalho, a redução dos
indicadores reativos de acidentes será conseqüência de um trabalho preventivo eficaz. Os
gestores devem ter o cuidado de não tornar a premiação uma forma de esconder e motivar a
sub-notificação dos acidentes.
Uma sugestão seria usar a metodologia de avaliação do nível de maturidade do sistema
de gestão de SMS proposto neste trabalho tentando correlacionar com a evolução os
57
indicadores reativos de acidentes. Por isso, não se recomenda utilizar apenas os indicadores
reativos para avaliar o desempenho de SMS.
58
6. METODOLOGIA QUANTITATIVA PARA AVALIAR CULTURA DE SMS
6.1 DESCRIÇÃO DO MÉTODO AVALIAÇÃO DE CULTURA SMS
O método sugerido para avaliação do nível de maturidade do sistema de gestão de
SMS é uma tentativa de identificar os elementos para uma análise sistemática que possa
avaliar identificar o nível de sedimentação dos valores de SMS na cultura organizacional
baseado nos elementos do sistema de gestão proposto pela ISO 14.001 e OHSAS 18.001.
Os elementos propostos neste trabalho foram identificados a partir das práticas de
auditoria associado ao senso comum dos especialistas, pesquisas acadêmicas sobre a
implementação de sistemas de gestão e cultura de segurança dentro da cultura organizacional.
A metodologia proposta parte dos princípios apresentados no artigo Cultura de
Segurança Total, publicado pelo professor E. Scott Geller, na American Safety Society
(1990). Vale ressaltar que os princípios identificados pelo professor Geller (1990) foram de
grande relevância para a quebra do paradigma do erro humano.
Geller (1990) destaca que os fatores comportamentais e pessoais são capazes de
impactar o desempenho do sistema de gestão, ressaltando que eles são mais fáceis de serem
corrigidos, enquanto que os fatores pessoais, relacionados à natureza do indivíduo, são mais
difíceis de serem trabalhados. Geller destaca a importância de se implementar ferramentas que
permitam observar, identificar, registrar e corrigir os fatores comportamentais, no sentido de
adequá-los aos princípios desejados pela organização.
Os princípios de Geller (1990), embora de grande relevância, estão voltados para
avaliação do desempenho do sistema de gestão de segurança e não apresenta os elementos
para avaliar o nível de maturidade da Cultura de Segurança Total dentro da cultura
organizacional.
O método proposto nesse trabalho é uma tentativa de estabelecer critérios para uma
avaliação do nível de maturidade do sistema de gestão de SMS tendo como base os elementos
significativos de um sistema de gestão de SMS, podendo contribuir para a verificação da
sedimentação dos valores de SMS na cultura organizacional.
O método de avaliação do nível de maturidade do sistema de gestão de SMS prioriza
os critérios que possibilitem evidenciar uma postura pró-ativa dos gestores, não se atendo,
59
Princípios
Pontuação
Máxima
1. Implementação de Ações pró-Ativas de SMS 120
2. Avaliação e Correção dos Fatores
Comportamentais
100
3. Compromisso com o Desempenho e a Melhoria
Contínua de SMS
180
4. Postura Gerencial – Valorização de Hábitos e
Atitudes pró-ativas
70
5. Identificação e Acompanhamento de Objetivos e
Metas
60
6. Gestão da Informação 180
7. Gestão Responsável 80
8. Avaliação da Ética, Valores e Conceito de
Negócio Organizacional
110
Total de Pontos Possíveis 900
portanto, à verificação de atendimento aos requisitos legais que serão alvo de verificação nas
auditorias do sistema de gestão de SMS.
O método consiste em oito elementos, divididos em vários critérios de avaliação para
serem pontuados. Este processo é dinâmico, pois os critérios propostos para cada um dos
elementos podem ser alterados durante a vida da organização, resultado da evolução do
pensamento organizacional dominante.
Cada organização tem a liberdade de inserir ou retirar qualquer um dos itens
sugeridos, bem como alterar a pontuação, pois Cultura de SMS está relacionada à ética,
valores e conceito de negócio interligados ao grupo moral do pensamento dominante de cada
organização. Os elementos para quantificar o nível de Cultura de SMS serão apresentados na
tabela a seguir.
Tabela 2: Método Ampliado para Quantificação de Cultura de SMS
Resumo dos Princípios de Verificação do Nível de Cultura de SMS
Fonte: ARAÚJO, 2003.
60
Tabela 3:Apresentação dos Critérios de Cada Princípio do Método Ampliado
61
62
63
64
65
66
67
6.2 INTERPRETAÇÃO DOS CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE
MATURIDADE DO SISTEMA DE GESTÃO DE SMS
Princípio 1: Implementação de Ações pró-Ativas de SMS Fundamentação Teórica.
É do entendimento dos especialistas que para sedimentar os valores de SMS na cultura
organizacional os gestores não devem estar apenas preocupados em atender os dispositivos
legais. Trata-se de um processo contínuo de mudança comportamental, hábitos e atitudes
motivado uma troca contínua de experiência profissional.
Percebe-se que os programas clássicos de SMS estão direcionados para atender os
requisitos legais com poucas ações pró-ativas visando a melhoria continua e a excelência do
sistema de gestão. Este modelo de gestão contribui para que os colaboradores não se
preocupem com atitudes pró-ativas além de pouco contribuir para um aumento da percepção
de riscos e compromisso com o processo de melhoria contínua.
O Princípio 1 valoriza a implementação das ações pró-ativas da organização para
aumentar os valores de SMS na cultura organizacional. Destaca-se que não será objetivo
desde primeiro princípio verificar o nível de atendimento aos requisitos legais, considerados a
base para a implementação de um sistema de gestão de SMS.
68
Critérios
Princípio 1: Implementação de Ações pró-Ativas de SMSQ
1.1. Algumas empresas desenvolvem um sistema de gestão de SMSQ próprio ou
baseado nos documentos ISO 9.001, ISO 14.001, OHSAS 18,001 entre outros,
sem, no entanto, decidir por uma certificação externa. Pontuar no máximo se o
sistema estiver implementado.
1.2. Pontuar no máximo se o sistema estiver certificado por entidade externa
independente e no prazo de validade.
1.3. Constatar a existência do programa. Pontue no máximo apenas se for
constatado nas caixas de coletas que o lixo está realmente segregado, isto é
uma evidência de que os colaboradores estão conscientizados.
1.4. Pontuar no máximo caso os controles forem convincentes.
1.5. Algumas organizações resolveram de forma pró-ativa se antecipar ao protocolo
de Kyoto, independente da posição política do país de origem. Pontuação
máxima apenas se existir um plano de ação.
1.6. Algumas organizações resolveram de forma pró-ativa seguir códigos de
condutas específicos. Pontuação máxima apenas se existir um plano de ação.
1.7. Algumas organizações resolveram de forma pró-ativa colaborar com a
comunidade industrial onde estão inseridas. Pontuação máxima apenas se
existir evidência objetiva da participação efetiva.
1.8. – 1.9 – 1.10 – 1.11 – 1.12. Pontuação máxima apenas se existir evidência
objetiva.
Tabela 4: Implementação de ações pró-ativas de SMSQ
Princípio 2: Avaliação e Correção dos Fatores Comportamentais Fundamentação
Teórica.
Gueller (1990) sugere que os fatores relacionados ao indivíduo e seu comportamento
são fundamentais para alcançar o sucesso do programa de Cultura de Segurança Total (CST)
e, conseqüentemente, do desempenho do sistema de gestão. Os fatores que contribuem para a
ocorrência de acidentes podem ser classificados como: ambientais, pessoais e
comportamentais. Fatores comportamentais são possíveis de serem observados; entretanto, os
fatores pessoais envolvem características intrínsecas ao indivíduo, sendo de difícil
observação.
Embora pesquisas demonstrem que as boas práticas operacionais, melhorias físicas no
ambiente de trabalho e no processo podem contribuir para a redução dos acidentes, as
intervenções pontuais nos desvios comportamentais podem apresentar resultados mais
duradouros.
Esse é um princípio básico para o aumento das práticas seguras e redução das práticas
inseguras. Os trabalhadores devem ser motivados a aplicar esse princípio se a organização
quiser alcançar um ambiente elevado de Cultura. Em outras palavras, se todos os participantes
de uma área de trabalho observarem periodicamente as práticas de seus colegas e fornecerem
acompanhamento e apoio para comportamentos seguros e correção para os inseguros, os
resultados serão exemplares.
Os desvios comportamentais vão de encontro aos valores e boas práticas desejáveis ao
ambiente organizacional. Por isso, a intervenção para correção destes desvios deve ser feita de
69
Princípio 2: Avaliação e Correção dos Fatores Comportamentais
2.1. Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva.
2.2. - 2.3. Pontuação máxima apenas se 100% dos diretores, gerentes,
supervisores e colaboradores treinados. Ver registros.
2.4 - 2.5 – 2.6 – 2.7 Verificar controles dos registros.
2.8 Pontuação máxima apenas se 100% dos diretores, gerentes, supervisores e
colaboradores treinados. Ver registros.
2.9 Verificar controles
forma objetiva e contínua através do uso de ferramentas de observação das tarefas de modo a
registrar e corrigir estes desvios.
A implementação dos programas visando a identificação de desvios comportamentais
requer uma implementação de um programa de grande escala com resultados de longo prazo.
Para isso será necessário o envolvimento e entendimento dos trabalhadores sobre o programa
para que técnicas da auditoria comportamental tenham o resultado esperado.
A implementação das ferramentas de verificação comportamental deve ser feita com
muito cuidado. Os colaboradores devem ser conscientizados de que observar e intervir no
comportamento do colega de trabalho requer muita habilidade e diplomacia. Por isso, os
colaboradores devem entender que não se trata de “patrulhamento” e, sim, de intervenções
positivas para o bem comum. Os trabalhadores em todos os níveis precisam estar conscientes
da necessidade de um comportamento seguro e pró-ativo.
Assim, este processo de observação de pessoas deve ser precedido por um treinamento
para sejam usadas formas adequadas de abordagem e, desta forma, os trabalhadores se sintam
motivados a colaborar com um sistema de observação comportamental continuo com sessões
de apoio e correção de desvios. Os empregados devem estar dispostos a adotar uma postura de
observadores, tornando-se multiplicadores ativos do processo.
No Princípio 2 serão valorizados os esforços da organização para implementar técnicas
de observação e melhoria dos aspectos comportamentais. O sucesso na implementação destas
ferramentas depende da capacidade dos colaboradores em entender os fundamentos da ciência
comportamental e sua contribuição para a prevenção de acidentes e proteção ambiental. Estas
técnicas levam em consideração os fatores pessoais relacionados ao conhecimento, intenções,
atitudes, expectativas e motivação.
Tabela 5: Avaliação e correção dos fatores Comportamentais.
Princípio 3: Compromisso com Desempenho e Melhoria Contínua de SMS
Fundamentação Teórica.
Existe uma tendência de se avaliar o desempenho do Sistema de Gestão de SMS a
partir dos indicadores reativos sem correlacionar com o nível de implementação e adesão ao
programa de SMS, bem como o nível de comprometimento dos grupos de trabalho
responsáveis por alcançar estes resultados.
70
Princípio 3: Compromisso com Desempenho e Melhoria Contínua de SMSQ
3.1. Verificar controles.
3.2. Entrevistar os gerentes e supervisores.
3.3. Verificar controles.
3.4. - 3.5 – 3.6 – 3.7. Entrevistar os colaboradores, gerentes e supervisores.
3.8 Verificar controles. Pontuação máxima apenas se os indicadores estiverem
definidos e monitorados.
3.9 Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva.
3.10 - 3.11 – 3.12. Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva.
3.13 - 3.14 – 3.15 – Verificar controles.
3.16 – 3.17. Verificar evidência objetiva.
3.18 Verificar controles.
3.19 - 3.20 – 3.21. Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva.
3.22 - Pontuação máxima somente se a técnica estiver implementada, os
colaboradores treinados e haja evidência objetiva de sua aplicação nos relatórios
de acidentes.
Quando as organizações, departamentos ou setores são avaliados e comparados apenas
pelos indicadores reativos, como, por exemplo, a taxa de freqüência de acidentes com lesão
com afastamento (TFCA) os gestores não percebem a necessidade avaliar o nível de
maturidade do sistema de gestão de SMS. Como foi apresentado anteriormente existem uma
série de desvios que levam os especialistas a concluir que os indicadores reativos de acidente
podem não representar a realidade dos fatos.
Esta situação pode ocorrer, quando o reconhecimento é dado apenas em função da
redução destes indicadores reativos. Isto poderá ocasionar problemas de sub-notificação de
acidentes, contribuindo muito pouco para a implementação das boas práticas operacionais e
mudanças de comportamento. Os colaboradores tendem a se comportar de forma reativa para
não prejudicar os recordes estabelecidos pela ausência de acidentes.
No Princípio 3 será valorizada a implementação de acompanhamento de indicadores
pró-ativos e a avaliação do nível de implementação dos programas preventivos e campanhas
de conscientização de SMS.
Tabela 6: Compromisso com desempenho e melhoria contínua de SMSQ.
Princípio 4: Postura Gerencial – Valorização de Hábitos e Atitudes pró-ativas
Fundamentação Teórica.
O modelo ACC (ativador, comportamento, conseqüência) apresentado por Gueller
(1990) ilustra a natureza das influências externas sobre o comportamento do indivíduo.
Ativadores são intenções objetivas, lembretes, que sugerem um determinado comportamento
enquanto que as Conseqüências são ações resultantes dos comportamentos, podendo ser
positivas ou negativas.
71
Princípio 4: Postura Gerencial – Valorização de Hábitos e Atitudes pró-ativas.
4.1. Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva do planejamento anual
e das auditorias e inspeções realizadas.
4.2. Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva da participação dos
gerentes nos relatórios das auditorias e inspeções periódicas.
4.3 - 4.4 - 4.5. Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva, como, por
exemplo, atas das reuniões.
4.6 - 4.7. Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva de plano de ação
indicando o que, como, onde, quando, por que, além de verificação da eficácia.
4.8 - 4.9. Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva e procedimento.
4.10 - 4.11 Verificar controles. Pontuação apenas se existir um cronograma, lista de
participantes e avaliação da eficácia.
4.12 Pontuação máxima apenas se existir lista dos participantes e controle
estatístico.
Comportamentos negativos seguidos de conseqüências negativas, reforços negativos,
têm menor probabilidade de ocorrerem novamente, enquanto que os negativos seguidos de
conseqüências positivas, reforços positivos, têm uma probabilidade maior de serem repetidos.
Por exemplo, se o supervisor passa todo dia pelo local e observa o colaborador sem EPI sem
orientá-lo para o comportamento adequado, este entenderá que sua atitude foi aprovada e
tenderá a se comportar desta forma.
Ativadores e conseqüências servem para orientar o comportamento, podendo estar
naturalmente presentes nos ambientes ou serem acrescentados ao meio para mudar ou manter
certos comportamentos. Por exemplo, algumas características de um ambiente de trabalho
implicam em conforto, comodidade e conclusão mais rápida da tarefa se certas práticas de
segurança forem seguidas.
Por outro lado, cartazes e memorandos são introduzidos para eliminar práticas
inseguras no trabalho, alertando sobre as possíveis conseqüências negativas. Entretanto, sem
ações corretivas repetitivas que motivem comportamentos seguros, pode-se esperar a
continuidade de comportamentos inseguros em conseqüência da continuidade das causas
naturais motivadoras. Cartazes e memorandos passam a não ter efeito se não forem
acompanhados por atitudes de supervisão para corrigir comportamentos inadequados aos
valores de SMS da organização.
O Princípio 4 identifica se os colaboradores percebem que os reforços positivos
(ativadores) e ações de apoio e correção dos desvios comportamentais são necessários para
iniciar e manter boas práticas operacionais. Os colaboradores devem ter atitudes e ações pró-
ativas que contribuam para a implementação do programa e motivem comportamentos
alinhados aos valores de SMS da organização.
Tabela 7. Postura Gerencial – Valorização de hábitos e atitudes pró-ativas.
72
Princípio 5: Identificação e Acompanhamento de Objetivos e Metas Fundamentação
Teórica.
Historicamente, a organização sempre cobrou resultados quantitativos em relação aos
elementos que pudessem gerar um impacto significativo nos objetivos de produtividade e
qualidade dos produtos. O reconhecimento por alcançar objetivos de produção sempre
valorizou a realização coletiva com enfoque positivo, como, por exemplo, aumentar a
produção de ácido sulfúrico em 10% ou aumentar as vendas de embalagens em 5%.
Com relação aos indicadores de desempenho de SMS, os objetivos e metas,
normalmente ficavam limitados ao enfoque negativo (reativo). Quando se avalia o
desempenho de SMS em termos de reforço negativo, como, por exemplo, “reduzir em 20% da
taxa da freqüência de acidente (TFCA) em relação ao ano anterior” ou “reduzir em 30% os
vazamentos de óleo”, significa se acomodar com o insucesso; isto é, continuar convivendo
com a possibilidade do acidente.
A situação se complica nos casos em que não são estabelecidos procedimentos para
determinar quais ações preventivas serão implementadas para se alcançar este objetivo.
Mensurar o desempenho de SMS considerando apenas a tendência das estatísticas limita a
avaliação por uma perspectiva reativa orientada para resultados positivos. Portanto, a
segurança, provavelmente, vai “para o fim da fila” quando comparada com o sistema de
reforço positivo atribuído à produtividade e à qualidade.
As organizações que implementaram o processo de discussão participativa para
estabelecer os objetivos e metas de SMS têm alcançado mais sucesso em obter o
comprometimento dos colaboradores em detrimento daquelas em que os mesmos são
estabelecidos e impostos pela alta administração.
O Princípio 5 busca identificar qual a política adotada para se definir os objetivos e
metas e se os mesmos são quantificáveis e limitados num intervalo de tempo. Outro aspecto
importante é verificar o nível de comprometimento dos gerentes e supervisores no plano de
ação, identificando: o que, quando, quem, por que, onde, como e com quais recursos estão
sendo realizadas as ações do programa de SMS.
73
Princípio 5: Identificação e Acompanhamento de Objetivos e Metas
5.1. Pontuação máxima apenas se objetivos e metas forem quantificáveis e
limitados no tempo.
5.2. Pontuação máxima apenas se objetivos e metas forem baseados nos
resultados da análise crítica e negociados com gerentes e supervisores.
Verificar evidência objetiva.
5.3 – 5.4 – 5.5 – 5.6 Entrevistar a alta administração, gerentes operacionais,
supervisores e colaboradores.
5.7 – 5.8 – 5.9 Verificar evidência objetiva.
5.10 Entrevistar os colaboradores.
5.11 Verificar evidência objetiva (atas de reuniões).
Princípio 6: Gestão da Informação
6.1 – 6.2. Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva e controles.
6.3 Pontuação máxima apenas se existir controles identificando a evolução do
número de treinamentos, quantidade de pessoas treinadas e horas de
treinamento.
6.4 – 6.5 – 6.6 Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva.
6.7 A Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva. Verificar a existência
de PPRA do contratante e da contratada, comparar as atividades e os riscos
ambientais.
6.8 – 6.9 – 6.10 Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva.
6.11 Pontuação máxima apenas se existir procedimento e constar do plano de
emergência.
6.10 - 6.11 – 6.12 – 6.13 – 6.14 - 6.15 – 6.16 – 6.17 – 6.18 Pontuação máxima
apenas se existir evidência objetiva e controles.
Tabela 8: Identificação e acompanhamento de objetivos e metas.
Princípio 6: Gestão da Informação Fundamentação Teórica.
Observação e acompanhamento são duas práticas que podem influenciar o
comportamento individual e coletivo. A sedimentação dos valores de SMS na cultura
organizacional requer a implementação de técnicas que motivem a mudança comportamental,
pois somente conhecimento e habilidade não são suficientes para os trabalhadores atuarem de
forma pró-ativa; eles precisam estar motivados a mudança individual e influenciar
positivamente os colegas de trabalho, por isso é necessário garantir o acesso à informação
através dos treinamentos e reuniões informativas.
Deve-se observar o profissionalismo e a pró-atividade com que a organização trata a
questão do treinamento. Muitas empresas certificadas estão apenas preocupadas em cumprir a
legislação.
Neste Princípio 6 é necessário identificar a forma como a organização identifica estas
necessidades de treinamento e se possui um sistema consistente de acompanhamento do
programa através de indicadores.
Tabela 9: Gestão da Informação
74
Princípio 7: Gestão Responsável Fundamentação Teórica.
A Gestão Responsável de SMS orientada para avaliação continua do nível de
maturidade do sistema de gestão deve buscar observar, identificar e intervir nos fatores
comportamentais para obter mudanças comportamentais alinhadas com os valores de SMS.
Este aspecto será fundamental para aumentar o nível de sedimentação dos valores de SMS na
cultura organizacional.
Identificar as melhorias dos fatores ambientais é mais fácil de observar e registrar
podendo envolver desde a aquisição de equipamentos até a correção de questões operacionais.
Entretanto, os fatores comportamentais são influenciados por atitudes e dependem da
disposição das pessoas em atuar de forma pró-ativa, resultado de um processo de
conscientização proveniente do treinamento, reconhecimento, postura gerencial, entre outros.
Já os fatores pessoais, relacionados às características da personalidade do indivíduo, são mais
difíceis de serem trabalhados com as ferramentas utilizadas a nível ocupacional pois
envolvem aspectos relacionados coma natureza do indivíduo.
Pesquisas de opinião, entrevistas ou discussões em grupos específicos podem ser
utilizadas para identificar elementos necessários ao um sistema de gestão de SMS maduro e
responsável. A experiência mostra que estas avaliações levam tempo e a confiabilidade dos
resultados é duvidosa. Outro aspecto a considerar é que a melhoria na percepção individual de
risco não implica, necessariamente, no aumento das boas práticas coletivas de SMS.
Geller (1990) destaca que os estudos demonstram que os trabalhadores tendem a
adotar comportamentos desejados pela organização principalmente quando sabem que estão
sendo observados. Um reexame cuidadoso dos dados revelou que o efeito era devido tanto à
observação quanto ao retorno dos resultados dados a eles, bem como a importância e/ou
benefício a ser obtido a nível profissional.
O Princípio 7 busca identificar os requisitos para evidenciar um sistema de gestão
maduro e responsável. Por isso, é importante identificar as evidências objetivas de que existe
uma política de incluir as empresas contratadas dentro do conceito de negócio baseado nos
valores de SMS.
A organização deve manter um sistema de valorização das atitudes preventivas por
parte de todos os colaboradores, sendo parte integrante do processo de promoção e
distribuição de bonificações. Outro aspecto importante é constatar o compromisso gerencial
através da participação nas atividades preventivas.
75
Princípio 7: Gestão Responsável
7.1. Pontuação máxima apenas se existir procedimento identificando as
necessidades.
7.2 – 7.3. Pontuação máxima apenas se existir controles.
7.4 – 7.5 Verificar procedimento.
7.6 Pontuação máxima apenas se existir controles (lista de treinamento).
7.7 Verificar procedimento.
7.8 – 7.9 – 7.10 Pontuação máxima apenas se existir evidência objetiva (ata de
reunião).
Tabela 10: Gestão Responsável
Princípio 8: Avaliação da Ética, Valores e Conceito de Negócio Organizacional
Fundamentação Teórica.
Pesquisam para avaliação dos valores de SMS na cultura organizacional mostram que
ao se perguntar aos gerentes e supervisores se as questões de SMS devem ser prioridade,
muitas pessoas respondem imediatamente que “sim”. Para responder esta pergunta de forma
realista deve-se entender que o objetivo de qualquer organização sempre foi, e será, ganhar
dinheiro. O que mudou foi o conceito de negócio, agregando valores de SMS para que sejam
alçados os níveis de qualidade e produtividade.
Os especialistas concordam que os aspectos de SMS devem ser considerados como
valor em vez de prioridade. Isto porque as prioridades mudam com freqüência dependendo da
situação, enquanto que os valores permanecem constantes. Valores são crenças
profundamente enraizadas que não estão sujeitas a concessões.
Os valores de SMS devem fazer parte da rotina, em todos os aspectos do trabalho,
incluindo a produtividade, qualidade, lucratividade ou eficiência. Estabelecer uma cultura
organizacional onde valores de SMS estejam sedimentados é muito mais complexo do que
simplesmente distribuir e exigir o uso do Equipamento de Proteção Individual (EPI), verificar
possíveis riscos com o equipamento ou manter limpo o local de trabalho. Estes aspectos
devem ser encarados como um requisito básico a ser exercido com autoridade e
responsabilidade por parte dos gestores.
A alta administração deve sinalizar aos trabalhadores em todos os níveis, através da
política, diretrizes e ações, os valores de SMS associados ao conceito de negócio da
organização.
76
Princípio 8: Avaliação da Ética, Valores e Conceito de Negócio Organizacional.
8.1. Avaliar o nível de entendimento da alta administração em relação à política de
SMSQ.
8.2. Avaliar o nível de entendimento dos gerentes operacionais em relação à
política de SMSQ.
8.3. Avaliar o nível de entendimento dos supervisores em relação à política de
SMSQ.
8.4. Avaliar o nível de entendimento dos colaboradores em relação à política de
SMSQ.
8.5. A organização tem pré-requisito contratual para empresas contratadas o
atendimento à legislação e outros requisitos legais?
8.6. Todos os colaboradores foram treinados na política de SMSQ?
8.7. Todos os contratados foram treinados na política de SMSQ?
8.8. Está previsto no plano de emergência informar pessoalmente aos familiares no
caso de acidente grave?
8.9. Existe programa de apoio psicológico ao acidentado em caso de acidente
grave envolvendo perda de capacidade permanente ou que possa causar
algum tipo de trauma?
8.10. Existe programa de apoio psicológico aos familiares dos acidentados em caso
de acidente grave envolvendo morte ou perda de capacidade permanente?
8.11. A organização compensa os colaboradores no caso de treinamentos realizados
nos períodos de folga dos colaboradores (finais de semana, feriado, férias,
licenças legais e desembarque)?
8.12. A organização exige em contrato por parte dos colaboradores o pagamento de
adicionais e outros benefícios previstos na legislação trabalhista, como, por
exemplo: insalubridade ou periculosidade, adicional de embarque, hora-extra,
adicional noturno e outros?
8.13. A organização exige em contrato a comprovação da qualificação adequada ao
risco do trabalho que será executado?
8.14. A organização pré-qualifica os contratados no atendimento a requisitos de
SMSQ durante a fase de licitação (antes da contratação dos serviços)?
Tabela 11: Avaliação da Ética, Valores e Conceito de Negócio Organizacional
77
7 CONCLUSÃO
7.1 ASPECTOS CONCLUSIVOS
De uma forma geral existem uma série de barreiras ao sucesso de um sistema de
gestão. Muitas destas barreiras estão relacionadas ás limitações humanas e tecnológicas que
permitem entender que os sistemas complexos se caracterizam por incertezas que geram
vulnerabilidades.
Os gestores são pressionados por resultados e aspectos legais, por isso associam a
maturidade e a eficácia do sistema de gestão através dos indicadores reativos de acidentes. De
uma forma geral existe uma tendência dos gestores a acreditar que a ocorrência dos acidentes
é resultado de um programa de SMS inconsistente e/ou ineficaz.
A seguir estão relacionados alguns aspectos a serem considerados para entender a
dificuldade na implementação e evolução do nível de maturidade dos sistemas de gestão, são
eles:
a) O acidente é resultado da materialização de falhas latentes e desvios
organizacionais, normalmente resultado de uma gestão ruim resultado de um baixo
nível de valores de SMS agregado ao negócio da organização;
b) As incertezas de processo estão relacionadas ao fato de que as falhas
envolvendo equipamentos e pessoas devem ser esperadas de ocorrer. As pessoas
possuem limitações e os equipamentos também;
c) De uma forma geral, as pessoas possuem dificuldades de antecipação de
problemas, organização, planejamento e implementação;
d) No mundo tecnológico não se conhece tudo que se faz e não se controla tudo
que se executa. Não existe risco calculado e sim risco aceitável baseado nas limitações
dos requisitos técnicos, legais e humanos;
e) O acidente começa no pensamento, na tomada de decisão equivocada sobre o
caminho tecnológico ou na forma de realizar as atividades laborais. Em todos os níveis
da organização as pessoas estão tomando decisões, por isso, a qualificação do
indivíduo e a padronização das tarefas através da elaboração dos procedimentos irão
minimizar a possibilidade de insucesso.
78
7.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS OBJETIVOS GERAIS DO TRABALHO
A difícil questão para o grupo gestor é saber qual o nível de maturidade do sistema de
gestão de SMS desejado, por isso usar os indicadores irá contribuir para que a alta
administração possa avaliar se os recursos disponibilizados (insumos) estão sendo utilizados
de forma adequada (eficiência) para alcançar os resultados desejados (eficácia).
Os resultados da avaliação da maturidade do sistema de gestão poderão ser usados
para identificar o nível de sedimentação dos valores de SMS na cultura organizacional,
resultado da implementação do programa de SMS e da mudança de comportamento dos
gestores, supervisores e operadores.
A experiência mostra que a evolução da maturidade do sistema de gestão de SMS vai
depender da capacidade de agregar os valores ao negócio associado que poderão influenciar
positivamente gerentes, supervisores e operadores a mudar hábitos e atitudes.
7.3 CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS OS OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO TRABALHO
Em termos práticos é possível concluir que dentro das organizações poderão existir
diversos níveis de maturidade do sistema de gestão, pois a evolução da cultura organizacional
depende da capacidade das pessoas, em todos os níveis da organização, mudar hábitos e
atitudes.
Como a organização é feita por pessoas e as pessoas são diferentes poderão existir
diversos níveis de maturidade do sistema de gestão dentro de uma mesma organização. Por
isso os resultados desta proposta de metodologia poderão ser usados nas seguintes situações:
a) Acompanhar a evolução do nível de cultura de uma mesma organização;
b) Comparar diferentes unidades dentro da mesma organização (unidades de negócio);
c) Comparar diferentes empresas dentro da mesma organização (conglomerados);
d) Comparar diferentes organizações (mesmo grupo acionista controlador).
É importante comparar a evolução do nível de maturidade do sistema de gestão de
SMS em diferentes períodos para se avaliar não apenas a eficiência no uso dos recursos
(insumos), mas, também, a evolução da sedimentação dos valores de SMS em cada período de
vida da organização.
79
Na prática, comparar o nível de maturidade do sistema de gestão de SMS e a
sedimentação dos valores de SMS na cultura organizacional entre diferentes organizações
somente será possível se o grupo acionista controlador for o mesmo. Isto porque culturas
estão relacionadas aos princípios éticos, valores associados ao conceito de negócio da
organização. Diante destes aspectos, cada organização é um grupo moral diferente, tornando
inconsistente a comparação entre organizações cm grupos controladores diferentes por
questão de definição.
7.4 SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS
Este trabalho ficou limitado à apresentação da elaboração da metodologia, não tendo
sido realizados estudos de campo para levantamento dos dados não permitindo estabelecer
e/ou concluir uma correlação entre a evolução do nível de cultura de SMS com a redução dos
indicadores reativos de acidentes nas organizações, o que poderia ser um assunto para tese de
doutorado.
80
REFERÊNCIAS
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