“pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de
não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os da classes populares,
chegam a ela, saberes socialmente construídos na prática comunitária – mas também,
como há mais de trinta anos venho sugerindo, discutir com os alunos a razão de ser
de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. Por que não
aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas
pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos
e os baixo níveis de bem estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à
saúde das gentes. Por que não estabelecer uma “intimidade entre os saberes
curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como
indivíduos?”
(Freire, 1996, p. 30)
A Educação de Jovens e Adultos prioriza os conhecimentos do aluno e exige do educador o
saber escutar, ele deve ouvir seus alunos, pois segundo Freire:
“
sou tão melhor professor, então, quanto eficazmente consiga provocar o
educando no sentido de que prepare ou refine sua curiosidade, que deve trabalhar
com minha ajuda, com vistas a que produza sua inteligência do objeto ou do conteúdo
de que falo. Na verdade, meu papel como professor, ao ensinar o conteúdo a ou b,
não é apenas o de me esforçar para, com clareza máxima, descrever a substantividade
do conteúdo para que o aluno o fixe. Meu papel fundamental, ao falar com clareza
sobre o objeto, é incitar o aluno a fim que ele, com os materiais que ofereço, produza
a compreensão do objeto em lugar de recebê-la, na íntegra, de mim. Ele precisa se
apropriar da inteligência do contéudo para que a verdadeira relação de comunicação
entre mim, como professor, e ele, como aluno se estabeleça. É por isso, repito, que
ensinar não é transferir conteúdo a ninguém, assim como aprender não é memorizar o
perfil do conteúdo transferido no discurso vertical do professor. Ensinar e aprender
têm que ver com o esforço metodicamente crítico do professor de desvelar a
compressão de algo e com o empenho igualmente crítico do aluno de ir entrando
como sujeito em aprendizagem, no processo de desvelamento que o professor ou
professora deve deflagrar. Isso não tem nada a ver com a transferência de conteúdo e
fala da dificuldade mas, ao mesmo tempo, da boniteza da docência e da discência.”.
(Freire, 1996, p.118)
Quando
Paulo Freire
fala no aproveitamento da curiosidade do aluno, ele deixa muito claro
que:
“Não é difícil compreender, assim, como uma das minhas tarefas centrais
como educador progressista seja apoiar o educando para que vença suas dificuldades
na compreensão ou na inteligência do objeto e para que sua curiosidade, compensada
e gratificada pelo êxito da compreensão alcançada, seja mantida e, assim, estimulada
a continuar a busca permanente que o processo de conhecer implica.” “ensinar não é
transferir a inteligência do objeto ao educando mas instigá-lo no sentido de que,
como sujeito cognoscente, se torne capaz de inteligir e comunicar o inteligido. É neste
sentido que se impõe a mim escutar o educando em suas dúvidas, em seus receios, em
sua incompetência provisória. E ao escutá-lo, aprendo a falar com ele.”
. (Freire,
1996, p. 119)