Estes trechos que escolhi, da carta de Caminha a Dom Manoel, exemplificam
que, de fato, no curto lapso de tempo de sua chegada (22 de abril) até o dia em
que escreveu a carta (1º de maio), muito observou Caminha em nosso País, de
seu ambiente físico, de sua flora e sua fauna, de seus habitantes, seus usos e
costumes.
Nóbrega e Anchieta, Hans Staden, Léry, Thevet, Gandavo e Gabriel Soares de
Sousa surgem entre os primeiros, depois de Pero Vaz de Caminha, a se ocuparem
de nosso País. Mais tarde, dignos de menção no Brasil de Nassau, figuram Piso e
Marcgraff.
No período que medeia entre os séculos XVIII e XX aqui estiveram muitos
outros viajantes que discorreram sobre aspectos diferentes de nosso País.
Destacamos dentre eles alguns dos mais insignes: Langsdorff, Sellow, o Príncipe
de Wied Neuwied, Saint-Hilaire, Spix, Martius, Schott, Raddi, Pohl, Burchell,
Gardner, Lund, Warming, Regnell, Malme, Lindman, Fritz Muller, Glaziou,
Schwacke, Ule, Taubert, von Ihering, Huber Pilger, Dusén, Wettstein, Loefgren,
Schenck, Usteri, Luetzelburg, Schelechter, Massart, Noack, Rawitscher,
Schubart, Ducke e Silberschmidt. (SAINT-HILAIRE, p. 10)
Decorrente desse movimento em busca de novos objetos e peças para as coleções,
surge no campo museológico a necessidade de (re)organizar as estruturas internas da
museologia, atendendo à nova demanda que se põe aos museus, bem como para
compreender a relação entre o objeto e o sujeito que visita os museus. Questões
epistemológicas, conceituais e estruturais apresentam-se para o campo da museologia
como inquietações que resultam do processo dialético de desenvolvimento do fazer
museológico.
Dentre tantos questionamentos, destacamos o que se refere ao processo de
preservação do espaço e do contexto natural e social no qual os objetos das coleções se
encontravam antes de sofrerem o impacto da ação do colecionador. Partia-se da idéia de
que as culturas se extinguiriam por efeito de um princípio de seleção natural; e logo os
vestígios e rastros deixados por esses grupos deveriam ser coletados e encaminhados para
os grandes museus, a fim de serem mais bem preservados. A lógica desses museus parecia-
se com a dinâmica dos zoológicos, onde o animal ficava exposto à visitação pública,
deslocado totalmente do seu
habitat
natural.
A presença de pesquisadores estrangeiros no Brasil decorreu, em parte, de ausência
de produção científica. Além da ausência de interesse científico, não havia recursos para
serem investidos em expedições, estudos e pesquisas. Dessa forma, até meados do século
XIX, a maior parte das pesquisas foi produzida por viajantes estrangeiros, pesquisadores e
estudiosos vindos de outros países. Somente a partir da década de 1870 ocorreram as
primeiras manifestações com intenções de alterar esse contexto. Novas tradições
filosóficas e científicas começaram a circular no Brasil e alteraram significativamente