exemplo, segue uma das justificativas do autor para o emprego dos pilotis na
construção:
Os “pilotis” resolvem, portanto, mais este problema, aliás de alta
relevância social, de vez que naquela área agradavel e amena, em
constante contato com a natureza, os homens podem se reunir à
noite e nas suas horas de lazer, organizando diversões, jogos,
palestras, etc. Com um pouco de geito e persistência, póde-se forçar
o operário a freqüentar com assiduidade essas reuniões , bastando,
para tal, atraí-lo por meio de distrações, como sejam: leitura de
jornais (gratuitos) , um bom rádio, ping-pong, bilhar, xadrez, damas e
mesmo “cartas” (baralho), que geralmente tanto aprecia.(PORTO,
1938, p. 46)
Desta forma, o objetivo dos projetos para habitação popular transcenderia a simples
oferta de abrigo, e partiria para esse processo de reeducação, seja através de
espaços, seja através de regulamentos para “habitar”. Essa idéia de ensinar a morar
já estava consolidada desde muito tempo nas propostas de Portinho, que no ano de
1942 publica A Habitação – o Homem, na Revista Municipal de Engenharia:
(...) O homem civilizado do Século XX (...) vive em sua maior parte,
em habitações mal projetadas técnica e economicamente,
construídas em desacordo com a escala humana, de nível sanitário
inferior, sem ar, sem luz, sem vista e quasi sempre, atulhada de
móveis incômodos, imensos e inúteis. Habitações que fizeram da
mulher uma escrava doméstica, sempre preocupada com sua
limpeza e conservação. (...) Parece-nos que já é tempo de oferecer a
este homem da era maquinista, (...) uma habitação digna dele e de
sua época. Uma máquina de habitar, bem equipada e organisada
(...). Produzida industrialmente poderá tornar-se acessível à
população e, considerada como um prolongamento dos serviços
públicos (...). A base econômica da construção é sem dúvida a sua
industrialização e a estandartização dos seus elementos tais como:
estrutura, janelas, portas, escadas, etc. (PORTINHO, 1942, p. 10-11)
À época da fundação do DHP os arquitetos brasileiros já haviam ampliado os debates
sobre a nova arquitetura e suas potencialidades plásticas e funcionais, bem como das
suas vantagens econômicas. Le Corbusier já havia feito sua primeira visita ao Brasil, e
29