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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A INSERÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL DO SETOR BANCÁRIO NO
CONTEXTO DA GOVERNANÇA CORPORATIVA
MARINA DE SOUZA SARTORE
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A INSERÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL DO SETOR BANCÁRIO NO
CONTEXTO DA GOVERNANÇA CORPORATIVA
Marina de Souza Sartore
Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em
Engenharia de Produção da
Universidade Federal de São
Carlos, como parte dos
requisitos para a obtenção do
título de Mestre em
Engenharia de Produção.
Orientador: Prof. Dr. Roberto Grün
Agência Financiadora: FAPESP
SÃO CARLOS
2006
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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
S251ir
Sartore, Marina de Souza.
A inserção da responsabilidade social do setor bancário
no contexto da governança corporativa / Marina de Souza
Sartore. -- São Carlos : UFSCar, 2006.
91 p.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2006.
1. Administração – responsabilidade social. 2. Sociologia
econômica. 3. Desenvolvimento sustentável. I. Título.
CDD: 658.408 (20
a
)
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, Ana e Antônio Sartore,
à minha irmã gêmea, Mariana Sartore
e ao meu melhor amigo, Cae Rodrigues.
AGRADECIMENTOS
Agradeço,
À FAPESP, Instituição que proveu o financiamento desta pesquisa;
Ao Prof. Dr. Roberto Grün, pela orientação neste trabalho;
Ao meu pai, Antônio H. Sartore, pelo incentivo e pela confiança;
À minha mãe, Ana Maria S. Sartore, pela paciência e confiança,
À minha irmã, Mariana Sartore, pelo otimismo e apoio,
Ao amigo Cae Rodrigues, pelo carinho, confiança, paciência no dia- a- dia;
Às amigas Elaine S. Leite, Leila de S. Orati e Maria Ap. Chaves Jardim, pelas
discussões filosóficas, pelo companheirismo em congressos e no dia-a-dia e pela
animação, que por ventura vem a faltar;
Às companheiras de apartamento, Lis e Richele, que além de dividirem as despesas
mensais, tiveram paciência e foram amigas;
Aos meus familiares, avó, tios, tias, primos e primas, que, de maneiras distintas,
contribuíram para a minha realização profissional;
Aos amigos mais próximos;
Aos amigos distantes;
Aos amigos “relâmpagos”, que em algum momento surgiram, me ajudaram, e foram
embora.
Por fim, agradeço à UFSCar, ao Departamento de Engenharia de Produção e seu corpo
docente, pela oportunidade e pelos ensinamentos.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 1
1.1 Metodologia............................................................................................................ 3
1.1.2 A utilização do balanço social.............................................................................. 5
2 A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL...................................... 8
2.1 Mudanças Conceituais............................................................................................. 8
2.2 Filantropia............................................................................................................... 9
2.3 A Responsabilidade Social Como Estratégia Empresarial...................................... 10
2.3.1 A necessidade da comunicação............................................................................ 16
2.4 Responsabilidade Social e Governança Corporativa.............................................. 21
2.4.1 A sustentabilidade no Brasil................................................................................. 23
2.4.1.1 Os fundos de pensão.......................................................................................... 27
2.4.1.2 Fundos de investimento..................................................................................... 28
2.4.1.3 Índice de sustentabilidade empresarial.............................................................. 29
3 O SETOR BANCÁRIO........................................................................................... 32
3.1 O Papel dos Bancos................................................................................................. 32
3.2 Setor Bancário: Demissões, Precarização e Intensificação do Trabalho................. 34
3.2.1 A terceirização e precariedade das condições de trabalho................................... 36
4 RESPONSABILIDADE SOCIAL E TRABALHO: O DISCURSO DO
SETOR BANCÁRIO...................................................................................................
43
4.1 Responsabilidade Social e Trabalho....................................................................... 43
4.2 Responsabilidade Social: Legitimidade e Reputação.............................................. 45
4.2.1 A geração de desenvolvimento: crédito............................................................... 48
4.2.2 Microcrédito......................................................................................................... 52
4.2.3 Banco postal......................................................................................................... 53
4.3 Banco Itaú- História................................................................................................ 56
4.3.1 O banco Itaú e a responsabilidade social interna (um estudo de caso)................ 61
4.3.1.1 A qualidade “social” total................................................................................. 62
a) desenvolvimento e capacitação dos trabalhadores................................................... 63
b) programa “agir bem”................................................................................................ 64
c) certificação com a ISO 9000.................................................................................... 64
d) o código de ética...................................................................................................... 65
4.3.1.2 Ouvir os funcionários........................................................................................ 65
4.3.1.3 Benefícios sociais espontâneos e obrigatórios.................................................. 68
4.3.1.4 Governança corporativa.................................................................................... 72
A) as demandas nacionais e internacionais................................................................... 73
5 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................
81
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................
84
LISTA DE TABELAS
TABELA 2.1 Cronograma e atores e as mudanças conceituais.................................... 8
TABELA 2.2 Diferenças e Semelhanças dos Balanços Sociais................................... 19
TABELA 2.3 Critérios para a elaboração do Guia do Ethos....................................... 20
TABELA 4.1 História resumida Banco Itaú................................................................. 57
TABELA 4.2 Benefícios 2000 Banco Itaú.................................................................... 68
TABELA 4.3 Benefícios 2002...................................................................................... 68
TABELA 4.4 Benefícios 2003...................................................................................... 69
TABELA 4.5 Variáveis divulgadas por ano nos balanços sociais................................ 77
LISTA DE FIGURAS
GRÁFICO 4.1 Evolução do número de funcionários Banco Itaú 1998 – 2004............ 59
GRÁFICO 4.2 Evolução do número de admissões banco Itaú..................................... 59
GRÁFICO 4.3 Evolução do número de estagiários Banco Itaú.................................... 60
GRÁFICO 4.4 Evolução do número de terceirizações Banco Itaú............................... 60
GRÁFICO 4.5 Investimentos em Capacitação e Desenvolvimento Profissional Itaú
2000-2004......................................................................................................................
63
GRÁFICO 4.6 Evolução da parte do DVA para os colaboradores Banco Itaú............. 71
GRÁFICO 4.7 Evolução do número de deficientes físicos Banco Itaú........................ 76
FIGURA 4.1 Esquema do Capítulo............................................................................... 79
LISTA DE SIGLAS, SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
ADCE Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas
ABRAPP Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência
Complementar
APIMEC Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de
Capitais
BS Balanço Social
CIEGE Centro Itaú de Educação Gerenciais
CDES Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social
D Dinheiro
DJGI Dow Jones General Index
DJSI Dow Jones Sustainability Index
DVA Distribuição Valor Adicionado
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FEBRABAN Federação Brasileira dos Bancos
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FIDES Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social
GC Governança Corporativa
GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas
GRI Global Reporting Initiative
IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
IBGC Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
IFC International Finance Corporation
ISE Indice de Sustentabilidade Empresarial
NYSE New York Stock Exchange
ONG Organização Não-Governamental
OIT Organização Internacional do Trabalho
PNBE Pensamento Nacional das Bases Empresariais
PROAC Programa de Apoio Comunitário
RDB Revista dos Bancários
SER Responsabilidade Social Empresarial
RSEI Responsabilidade Social Empresarial Interna
SEC Securities and Exchange Comission
SOX Sarbannes-Oxley
TST Tribunal Supremo Trabalho
RESUMO
O setor bancário foi um dos setores da economia brasileira que mais
provocou demissões no início dos anos noventa. Em meados desta mesma década
observa-se no cenário econômico e social, a ascensão das práticas de responsabilidade
social empresarial nas quais se incluem as ações sociais voltadas para o quadro interno
da empresa, ou seja, seus colaboradores. A relação entre o capital e o social é uma
discussão que atravessa séculos e é comumente apresentada como uma relação
contraditória. Esta pesquisa procura compreender, através do discurso dos banqueiros se
existe esta relação de contradição entre o social (responsabilidade social empresarial) e
o capital no setor bancário. Para isso, utilizou-se de análise dos balanços sociais, de
entrevistas e pesquisa documental. Os resultados obtidos demonstram que a lógica
social, implantada nas práticas de responsabilidade social do setor bancário, se insere na
lógica social financeira da governança corporativa, abrindo caminhos para uma
abordagem da sociologia das finanças neste setor.
Palavras-chave: Responsabilidade social empresarial. Setor bancário.
Governança Corporativa. Colaboradores. Sociologia das
finanças.
ABSTRACT
The banking sector was one of the brazilian economy’s sector which
most provoked unemployment in the beggining of the 90s. At the same decade, it was
possible to see, in the economic and social scenery, the rise of corporate social
responsibilitty’s practices in which the social actions, aiming the workers are included.
The relation between the “social” and the “capital” is a discussion that crosses centuries
and it is always presented as a contradictory relation. This research aims to understand
if the contradition between the social (represented by the corporate social
responsibilities’practices) and the capital does exist by analysing the bankers’discourse.
The analysis of the social reports and interviews were necessary to reach this objective.
The results obtained demonstrate that, the social logic implanted in the corporate social
responsibilities’practices inserts itself in the “financial social” logic of corporative
governance, opening ways to a financial sociology’s approach in the banking sector.
Key-words: Corporate social responsability. Banking sector.Corporate
Governance. Workers. Financial sociology.
1 INTRODUÇÃO
Esta dissertação se propõe a analisar o discurso dos banqueiros frente a
uma nova realidade social, econômica, política e organizacional. A análise deste discurso
será feita sob uma perspectiva analítica considerada recente no Brasil: a sociologia das
finanças.
O momento de enxugamento e crescente busca de eficiência causaram
grande número de demissões no setor bancário, em inícios da década de noventa. Logo
após, foi observado o nascimento das tendências das ações sociais das empresas que
viriam a ser chamadas de responsabilidade social empresarial. As demissões ocorridas
anunciavam as transformações econômicas no Brasil e representavam mais um meio para
que o setor bancário atingisse o seu principal objetivo: o lucro. Porém, observa-se na
mídia a iniciativa de alguns bancos em publicar seus relatórios sociais, ou balanços
sociais, anunciando seus investimentos para a sociedade, para o meio ambiente e para
seus colaboradores. Este contexto parecia apresentar uma contradição, pois, como um
setor como o bancário poderia anunciar práticas de responsabilidade social com seus
colaboradores, sendo que havia reduzido a sua força de trabalho pela metade? Como este
setor poderia anunciar práticas de responsabilidade social para a sociedade, sendo que o
desemprego causado atingia milhares de pessoas direta e indiretamente? Estas questões
sugeriram um contexto social e organizacional contraditório e conduziram-me à
necessidade de entender o que se passava.
Estudar o setor bancário tornou-se um desafio particular, pois, além dos
questionamentos levantados pelo número de demissões ocorridas, este setor carrega
historicamente o estigma de ser o predador da sociedade; o representante nato do sistema
capitalista.
A própria experiência da autora reafirma o entendimento das pessoas de
que parecia impossível, e até mesmo incoerente, estudar a responsabilidade social do
setor bancário. A resposta à pergunta “qual o tema de sua pesquisa?”, que pessoas de
diversos graus de parentesco, amizade e contatos profissionais faziam era: “estudo a
responsabilidade social dos bancos”. Todas as reações exprimiam alguma forma de
surpresa: “O quê?”, “Como”, “E você acha isso possível?”, ou expressões faciais que se
assemelhavam a um ponto de interrogação.
2
Era exatamente devido às reações que descrevo acima que a pesquisa
passou a se tornais mais desafiadora. Mais surpreendente ainda foi entender que ao
passar da idéia filantrópica para a idéia de estratégia empresarial, a responsabilidade
social empresarial era, na verdade, uma demanda da sociedade através dos movimentos
sociais que passaram a ser as Organizações Não-Governamentais (ONGs) que passaram
a ser parceiras das empresas.
Ao perceber que a responsabilidade social empresarial nascia como uma
demanda da sociedade através dos movimentos sociais e que as empresas estavam
embebidas em uma rede de relacionamentos institucionais dentro de um campo social, o
mercado financeiro, junto aos acionistas das empresas também passou a exigir um
comportamento socialmente responsável das empresas. É neste momento, e com a união
ao movimento da governança corporativa que a responsabilidade social se insere no
movimento da sustentabilidade. Porém, sustentabilidade de quem? Da sociedade? Do
acionista?
Ao incorporar as tendências sociais, o mundo financeiro passou a
retransmiti-las para a sociedade através de sua própria linguagem, em uma forma cultural
de nela se inserir. A princípio, esta inserção cultural contribui para a perpetuação do
mundo financeiro através da inserção da sustentabilidade dentro de sua lógica. A
sustentabilidade é, na verdade, para o mercado financeiro e para o acionista. Porém, a
responsabilidade social empresarial consiste em ações efetivas voltadas para os
stakeholders da empresa e, portanto, como o próprio nome diz, mesmo sendo a lógica
das finanças uma lógica simbolicamente preponderante é possível observar resultados
positivos para a sociedade.
A contribuição desta dissertação percorre o caminho do esclarecimento
através da análise do discurso dos banqueiros, da lógica de implantação da
responsabilidade social empresarial em um setor estigmatizado como o representante
legítimo do capital no contexto brasileiro atual. Procura entender como se correlacionam
a lógica da responsabilidade social interna (ações para os funcionários) e as tendências
para a financeirização da economia. Torna-se essencial para esclarecer questões da
sociologia das elites e, portanto, compreender como a elite e o mundo financeiro
dialogam com o mundo social.
3
O mundo financeiro é um mundo socialmente construído e já demonstrou
possuir poder suficiente para moldar, ou ao menos, influenciar a realidade social. Esta
dissertação, portanto, presta contas à sociedade e à comunidade acadêmica, pois a
sociologia deve a elas o estudo das finanças e a maneira como afeta as nossas vidas.
1.1 Metodologia
É importante ressaltar que o intuito da pesquisa é analisar o contexto
sociológico no qual os banqueiros se inserem ao se tratar do tema da responsabilidade
social. Mais que isso, a pesquisa pretende compreender o discurso destes banqueiros e a
sua capacidade de causar uma transformação no mundo organizacional. Para isso, foram
escolhidos, em princípio, quatro bancos que fariam parte da amostra. O critério utilizado
foi a importância econômica destes bancos e o fato de que já publicavam o balanço social
anual no modelo requerido pelo IBASE. Os quatro bancos escolhidos a priori foram
Banco do Brasil, Banco Bradesco, Bankboston e Banco Itaú. Porém, ao se pesquisar mais
a fundo percebeu-se que o Bankboston só tinha 01 balanço social publicado no site do
IBASE (o que impossibilitava uma comparação ano-a-ano). Além disto, ao entrar em
contato com este banco para obter outros possíveis balanços sociais e maiores
informações, obteve-se um telefonema do banco perguntando no que poderiam ajudar,
culminando na decisão do envio de um e-mail pela pesquisadora para pedir as
informações. Este e-mail, até então não obteve resposta.
Neste contexto surgiu a oportunidade de participar de uma Open House,
mais especificamente, a III Open House Estudantes do Banco ABN AMRO REAL que
ocorre em alguns meses do ano. A Open House funcionou da seguinte maneira: reuniu-se
um grupo de dez estudantes de origens diferentes que tinham curiosidade sobre questões
de sustentabilidade. Foi apresentada uma palestra sobre o tema no Banco Real e depois
se abriu para perguntas. Caso o estudante ainda tivesse questões específicas para alguém
específico, estavam reservados uns trinta minutos para entrevistas individuais. Assim, foi
possível entrevistar Rodrigo Cheuiche Vieira da Cunha, diretor de comunicação do
departamento de Educação e Desenvolvimento Sustentável em São Paulo, na sede do
Banco Real. A entrevista foi gravada, transcrita e arquivada.
4
Optou-se, portanto, pela exclusão do Bankboston e pela inserção do
Banco Real. O único problema é que o Banco Real não publica o seu balanço social
anual no modelo do IBASE e, nem ao menos dá a este tipo de documento esta
nomenclatura e isto se tornou interessante para ajudar a responder a questão da pesquisa.
O Banco Bradesco mostrou-se bastante cordial no início da pesquisa, até
mesmo enviando um exemplar do seu balanço social de 2003 pelo correio junto a uma
cartinha que desejava sucesso para a pesquisa. Porém, tornou-se difícil marcar uma
entrevista com o Banco Bradesco propriamente dito, sendo mais fácil utilizar o canal da
Fundação Bradesco. Porém, para o tema desta pesquisa, a Fundação Bradesco não tinha
muito como colaborar já que trata das ações do banco para a comunidade.
O Banco do Brasil demonstrou-se muito interessado em ajudar na
pesquisa, porém, a pessoa a ser entrevistada tinha a cidade de Brasília por residência e,
por sugestão do próprio entrevistado foram marcadas três entrevistas pelo Skype,
programa de conversação pela internet. Todas as tentativas fracassaram por diversos
motivos, e não houve coincidências de horários para se fazer uma entrevista por telefone.
A possibilidade de fazer uma entrevista pessoalmente foi descartada pelo entrevistado.
Restou assim, um material qualitativo que o entrevistado enviou para a autora desta
dissertação.
O Banco Itaú surpreendeu a pesquisadora pela sua rapidez e atenção aos
pedidos efetuados. Foi relativamente fácil agendar a entrevista com Lúcio Marques e
Anderson Lopes, representantes do departamento de relações com investidores do Banco
Itaú. A entrevista foi gravada, transcrita e arquivada. Além disto, o Banco Itaú possui um
site na internet extremamente claro e fácil de navegar que possibilitou uma pesquisa
completa sobre a responsabilidade social do banco. Além de disponibilizarem notícias de
algumas mídias nacionais relativas ao banco Itaú, possibilitam para baixar na internet os
seus relatórios sociais nos quais o balanço social no modelo do Ibase está incluso, a partir
do ano de 2000. Isto demonstra a vontade de dialogar com a sociedade, pois, não existem
milhares de exemplares dos relatórios de sustentabilidade que no mínimo possuem 30
páginas, mas, ao disponibilizá-los na internet, facilita a sua circulação. Tudo isto
possibilitou um estudo mais aprofundado do Banco Itaú, culminando na construção de
um estudo de caso para o Banco Itaú, no capítulo 04 desta dissertação.
5
1.1.2 A utilização do balanço social
A principal metodologia desta dissertação é a análise do discurso dos
banqueiros através dos balanços sociais. No caso do setor bancário existem dois tipos de
balanços sociais: um primeiro que se assemelha a um relatório extenso dividido em
capítulos, cada qual descrevendo as ações sociais voltadas para os stakeholders da
empresa; um segundo tipo é o balanço social no modelo do IBASE que se assemelha a
um demonstrativo contábil de uma página.
O balanço social surgiu da necessidade das empresas criarem um diálogo
com todos os seus públicos interessados, da necessidade de divulgar as ações da empresa
voltada para estes públicos, e da cobrança por parte de movimentos sociais advindos da
sociedade civil.
Este instrumento torna-se então, um documento que procura dar
legitimidade à empresa que o publica, pois a mesma demonstra que está tentando agir de
acordo com as novas exigências da sociedade. Assim, investindo em ações de
responsabilidade social e na divulgação das mesmas o banco gera legitimidade e
reputação. De acordo com SCOTT (1995), de uma perspectiva institucional, a
legitimidade não é uma commodity para ser possuída ou trocada, mas é uma condição
refletindo um alinhamento cultural, um suporte normativo ou a consonância com leis e
normas relevantes.
O Balanço Social do IBASE foi escolhido por ser de origem nacional, (o
que traduz o que se pensa sobre a responsabilidade social empresarial no Brasil), e por ter
sofrido crescente aceitação pelo empresariado nacional, pois o mesmo tem o apoio do
Instituto Ethos que é composto de 1075 empresas associadas.
Porém, o Banco ABN AMRO REAL não utiliza o nome balanço social
para designar o seu relatório de ações sociais, mas sim, utiliza o nome relatório de
sustentabilidade. De acordo com CUNHA, diretor de comunicação do banco e
entrevistado pela pesquisadora
A gente tem uma luta diária para falar que não estamos presos
somente às questões sociais, é mais do que isso: é meio-
ambiente, sociedade e lucro. Quando se fala em balanço social,
6
leva-se a crer somente que é apoio social: destinar dinheiro à
ONG é preocupar-se somente com questões sociais, mas, na
verdade se têm mais coisas (...) que são os stakeholders. Por isso
a gente fala em relatório de sustentabilidade. (Não é nenhuma
crítica ao IBASE) porque começou assim, no balanço social, não
se falava muito de sustentabilidade, mas a gente vê isso como
uma coisa maior, e, esse nome, balanço social, pode levar a
pensar em prestação de contas sociais, mas não é só isso. Muito
pelo contrário, quando a gente fala as matérias aqui, a gente diz
como isso deve se inserir nos negócios, como a gente consegue
bons resultados levando a sustentabilidade em conta.
(CUNHA,2005).
A metodologia serviu-se, portanto, da análise quantitativa dos balanços
sociais, da análise qualitativa dos relatórios que os acompanham e de entrevistas com os
responsáveis pelo tema nos bancos. Assim, tornou-se possível a análise do discurso dos
banqueiros quanto à questão da responsabilidade social interna.
De acordo com o exposto no decorrer do todo o texto a pesquisa analisa a
responsabilidade social interna, ou seja, as ações de responsabilidade social voltada para
o público interno, os funcionários e as ações externas que de alguma maneira os
influencia.
O Balanço Social Anual é um documento através do qual as empresas
contabilizam os resultados sociais de suas atividades. A noção de accountability advém
da redemocratização do país e da necessidade de se expandir o canal de comunicação
entre a empresa e a sociedade, principalmente pela crescente cobrança da última. Este
documento é feito para que haja alguma maneira da sociedade em geral, e principalmente
de todos os stakeholders envolvidos com a empresa de poderem avaliar, sugerir, criticar
as ações das empresas de acordo com seus relatos.
Os relatórios de balanços sociais não têm uma tiragem expressiva, mas os
balanços publicados no modelo do IBASE são expostos junto aos balanços patrimoniais
nos jornais de negócios, (Jornal Valor Econômico e Jornal A Gazeta Mercantil) e são
ofertados para quem se interesse em analisa-los.
Existe a argumentação de que os balanços sociais são ‘maquiados’ ou
seja, seus números não são verdadeiros. No limite desta argumentação, os balanços
sociais correm o mesmo risco dos balanços patrimoniais que vêm persistindo na mídia
ano-a-ano. Afora argumentações matemáticas, o que importa para a sociologia e para a
7
análise do discurso é que estes balanços são publicados e representam uma manifestação
dos banqueiros na tentativa de construir uma realidade baseada nesta manifestação. A
partir do momento em que ela existe, construções sociais serão feitas baseadas nas
mesmas e torna-se, portanto, viável e necessária a análise deste discurso para
compreender como ele contribui para a construção da realidade social estudada.
2 A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL
2.1 Mudanças Conceituais
É possível dividir a história da responsabilidade social empresarial em
três momentos distintos, porém, sempre representados por grupos ou instituições que,
de alguma maneira, contribuem para as transformações pelas quais passa a
responsabilidade social empresarial. Em um primeiro momento pensa-se em filantropia.
Em um segundo momento a responsabilidade social empresarial adquire um caráter de
estratégia empresarial. Segue-se um momento no qual a responsabilidade social
empresarial fica subordinada à governança corporativa inserindo-se no mercado
financeiro, vestindo a roupagem da sustentabilidade.
Este capítulo pretende abordar estes três momentos distintos da
responsabilidade social empresarial, ao mesmo tempo em que constrói o fundo teórico
através do qual será embasado o estudo empírico desta dissertação. A tabela abaixo
resume os principais atores sociais descritos neste capítulo e que contribuíram para as
mudanças conceituais do termo da responsabilidade social empresarial.
TABELA 2.1- Cronograma e atores e as mudanças conceituais
1961 Criação da ADCE
1965
Carta de Princípios da ADCE
1974
Decálogo do Empresariado
Filantropia
1981
Criação do IBASE
1986
Criação da FIDES
1987
Criação do PNBE
1995
Criação do GIFE/ Criação do IBGC*
1998
Criação do ETHOS
Estratégia Empresarial
2005
Criação do ISE
Sustentabilidade
Fonte: Dados deste capítulo
9
*É com a vinda da Governança Corporativa no Brasil, que a noção de responsabilidade
social empresarial passa a ser atrelada a noção de sustentabilidade.
2.2 Filantropia
De acordo com CAPPELLIN e GIULIANI (2004), foi a Associação de
Dirigentes Cristãos de Empresas do Brasil (ADCE-Brasil), filial da International
Christian Union of Business Executives (UNIAPAC), a primeira instituição a
significativamente introduzir uma consciência social no campo das empresas. A ADCE
foi fundada em São Paulo em 1961. A publicação da Carta de Princípios do Dirigente
Cristão de Empresas
1
em 1965 pelo grupo de São Paulo provocou um debate sobre o
papel social das empresas. Em 1974, a associação publicou outro documento
importante, Decálogo do Empresariado, que continha pela primeira vez uma proposta
explícita para ligar os negócios gerenciais com a responsabilidade social. A associação
se tornou uma rede nacional em 1977. A rede desenvolvida pela ADCE elaborou novos
instrumentos e reativou a tradição católica da caridade.
CAPPELLIN e GIULIANI (2004) afirmam também que em 1986,
fundou-se a Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social
2
(FIDES) em
co-operação com a ADCE. Em entrevista com o presidente da FIDES em novembro de
1999 e refeita, em outubro de 2001, os autores supracitados demonstram que a FIDES
foca “na humanização das empresas e na promoção de seu relacionamento com a
sociedade
3
”. (CAPPELLIN e GIULIANI, 2004:03) Os autores demonstram que a
missão da FIDES é desenvolver educação especial e ferramentas intelectuais, assim
como relações com autoridades ecumênicas como o National Bishops Committee e o
diálogo com as trade unions.
A criação da ADCE e da FIDES é uma evidência de que, em um primeiro
momento, falou-se em ação social por parte das empresas carregada de um fundamento
cristão sobre a caridade, ou seja, uma realização de cunho moral por parte do
1
Para maiores detalhes ver http://www.adcesp.org.br/principios.htm acessado em 14 de dezembro de
2005.
2
Para maiores informações sobre a instituição, acessar seu site http://www.fides.org.br/ Acessado em 14
de dezembro de 2005.
3
No paper, os autores não citam o nome do presidente da FIDES entrevistado em novembro de 1999.
10
empresariado. A fala de Francisco de Assis Azevedo, diretor-executivo do Instituto
Telemig Celular, demonstra que na concepção do empresariado a filantropia consiste
em uma necessidade moral do empresário que se limita a doações. Afirma que a
filantropia tem seu lugar e seu valor, mas que é muito limitada.
A mudança do cenário filantrópico para a concepção de responsabilidade
social como estratégia empresarial advém, dentre outros fatores, da expansão do terceiro
setor no Brasil.
Como afirmam LANDIM e FERNANDES (1988)
4
citados por
CARRION e GARAY (2000), existem quatro momentos do desenvolvimento do
terceiro setor no Brasil: o primeiro se estende da colonização até meados do século XX
e corresponde ao desenvolvimento das associações voluntárias baseadas nas idéias
cristãs. O segundo momento tem início na década de trinta, no governo de Getúlio
Vargas no qual o Estado assumiu as políticas assistencialistas como estratégias do
governo. A Igreja também assumiu a responsabilidade por obras assistencialistas,
servindo de poderosa aliada ao Estado no controle das manifestações de insatisfação
social. O terceiro momento se inscreve no contexto da década de setenta, quando as
instituições de caráter filantrópico e assistencialista se unem aos movimentos sociais e
passam a denunciar as situações de repressão, desigualdade e injustiça social. É quando
as ONGS são criadas. O quarto momento se constitui da elaboração da constituição de
1988 que define o conceito de cidadania e define o arcabouço filosófico para a
elaboração de políticas sociais.
É principalmente, como veremos a seguir, a partir do terceiro momento
citado por LANDIM e FERNANDES (1988) que se pode observar a separação da
filantropia para a responsabilidade social empresarial vista como uma estratégia de
negócios, ou seja, a partir da união das instituições de caráter filantrópico e
assistencialista aos movimentos sociais.
2.3 A Responsabilidade Social Empresarial Como Estratégia Empresarial
4
Para maiores detalhes ver: Fernandes, RC. 1988 Sem fins lucrativos pp8-23 in Landim (Org.) Sem fins
lucrativos: as organizações não-governamentais no Brasil. ISER Rio de Janeiro
11
As ONGs se formaram na década de setenta, porém, foi somente a partir
de fins da década de oitenta que as manifestações sociais conseguiram atingir em maior
escala a sociedade brasileira.
De acordo com CAPPELLIN e GIULIANI (2004), em 1987 foi criado o
Pensamento Nacional das Bases Empresariais
5
(PNBE) em um encontro que reuniu
mais de três mil empresários. O PNBE admite que existe um conflito entre os interesses
sociais, econômicos e políticos. Eles recomendam um “pacto social” a ser alcançado
através das práticas de barganha
6
.
São movimentos sociais como o PNBE que passaram a ser incorporados
pela agenda empresarial do país. O Brasil, desde a década de 1930 teve como seus focos
de atenção a sua industrialização, os seus problemas políticos e econômicos. Findo seu
processo de industrialização em 1974, sendo o processo de redemocratização do país
reforçado pela Nova Constituinte de 1988 e ocorrendo a implantação do Plano Real que
prometia uma estabilização econômica, se possibilitou que demandas que estavam
ofuscadas pela luz da industrialização e pelos problemas políticos e econômicos
pudessem entrar na agenda nacional, ou seja, antes da década de oitenta, as
preocupações dos empresários com ações de caráter filantrópico existiam mas não
ocupavam uma posição prioritária frente aos diversos problemas pelos quais passou o
empresariado nacional desde os anos de 1930.
O cenário da estabilidade
7
política e econômica possibilitou que se
abrisse um grande espaço de expressão na esfera pública. A esfera pública consiste no
espaço de debates sobre o interesse de todos da sociedade e, acima de tudo é
democrática. Assim, como afirma COSTA (1997), a consolidação de uma esfera pública
no país tende a provocar transformações no processo de produção da legitimidade do
governo e de legitimação social dos diferentes interesses e demandas. Este processo
tende a se deslocar da órbita exclusiva do Estado para os diversos atores da sociedade.
Como conseqüência da redemocratização do país e aparente estabilidade
econômica, foi possível que os movimentos sociais saíssem da repressão imposta na
5
Para maiores informações acessar o site www.pnbe.org.br acessado em 14 de dezembro de 2005.
6
Como afirmado por Cappellin e Giuliani em nota de rodapé na página 04, a solução do pacto social
como um processo considera ser possível atingir comprometimentos entre diferentes grupos de interesse
na sociedade tendo por base o diálogo e a barganha.
7
Na década de noventa pode-se falar de estabilidade política e econômica quando há uma comparação
aos tempos turbulentos ocorridos nas décadas anteriores.
12
década de setenta, durante o regime militar, e começassem a colocar novas pautas de
discussão na esfera pública. Como afirma GIDDENS (1990), “Os movimentos sociais
proporcionam vislumbres de futuros possíveis e são em parte, veículos para sua
realização”.
A partir da década de noventa, os movimentos sociais perdem o seu
caráter de reivindicação estritamente política e passam a atuar com reivindicações sobre
temas considerados humanitários e universais, expressando-se através de campanhas
para a preservação do meio-ambiente, pelos direitos da criança e do adolescente, contra
a fome, a pobreza etc. Estes temas desempenham, de acordo com NEVEU (2002), um
papel na construção de identidades, de universos simbólicos sobre os quais pode se
apoiar a emersão dos movimentos sociais.
Os temas humanitários e universais entram na agenda dos movimentos
sociais caracterizando-os, legitimando-os e modificando-os dentro de um contexto de
estabilidade política e econômica. Os temas: “meio-ambiente”, “direitos humanos” são
assuntos que focalizarão demandas por ações que não sejam políticas-partidárias, mas
sim, por ações que desenvolvam o mundo voltado para o ser humano e seus direitos.
Assim
Cumpre destacar que parte das ações que têm mobilizado
grande coletivo de pessoas, nos anos 90, surge antes de um
chamamento à consciência individual do que à consciência
coletiva. Estão centradas em valores baseados mais na
solidariedade humana e pouco alicerçadas em projetos
políticos-partidários, como nos anos 80 (...) (GOHN, 2000:
306).
GOHN (2000) ainda afirma que as ações coletivas dos anos 90 se
apresentam mais como “campanhas” do que como movimentos sociais. Estas
“campanhas” tiveram como fortes representantes as ONGs que passaram a fazer a
mediação entre os coletivos organizados e o sistema de poder governamental, assim
como entre os grupos privados e instituições governamentais. Observa-se uma nova
reformulação da concepção da esfera pública, uma esfera situada entre o público e o
privado, ou seja, o público não-estatal dado pelas políticas de parcerias.
13
Desta maneira, a concepção da responsabilidade social empresarial como
estratégia empresarial tem como princípio a incorporação das instituições
assistencialistas aos movimentos sociais, culminando na criação das ONGs e em
seguida, em uma nova maneira de intermediação entre a esfera pública e a privada, na
forma de parcerias. Vale ressaltar que a diminuição da capacidade de intervenção do
Estado é um fator, junto à redemocratização do país, que influenciou o crescimento das
ONGs com o intuito de lutar pela sociedade e contra as injustiças sociais em um
momento de crescente descrença no Estado como provedor de bem estar social e
crescimento da pobreza, violência etc. O Estado passou a não ser mais o único ator
social empenhado em prover o bem estar dos cidadãos.
Em entrevista cedida à autora desta dissertação, Cláudia MANSUR
8
,
responsável pela divulgação e implementação das políticas relacionadas ao balanço
social do IBASE
9
afirma que
(...) pensando no setor privado: havia uma rixa muito grande
entre ONG e empresariado, sempre houve. (...) Aí, teve uma
campanha contra a fome que foi nosso projeto mais público que
teve adesão no Brasil inteiro. As empresas, pela primeira vez
chegaram a gente querendo doar alimentos, emprestar
caminhão para transporte, armazéns para guardar a comida,
pessoal...eles começaram o primeiro contato entre ONG (3
o
setor) e o 2
o
setor, as empresas. Aí, o Betinho, (que era uma
pessoa muito especial) pensou que as empresas podiam ajudar
muito. Ele não queria uma ajuda pontual, mas sim um
engajamento contínuo, permanente, uma mudança de postura
da parte deles. (MANSUR, 2004).
Em 1995 observa-se o surgimento formal do Grupo de Institutos,
Fundações e Empresas (GIFE). De acordo com CARRION e GARAY (2000), o GIFE
foi formalmente criado por representantes de 25 grupos privados, nacionais, entre os
quais: Bradesco; Volkswagen do Brasil, Victor Civita, Grupo Itaú, Odebrecht e Rede
8
Cláudia Mansur é responsável pelo tema do Balanço Social do IBASE. Trabalha no IBASE há 11 anos e
presenciou a campanha do Betinho citada em sua entrevista. A entrevista foi cedida à autora desta
dissertação no dia 03 de junho de 2004. A entrevista foi gravada e arquivada.
9
IBASE é o “Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas criado em 1981. É uma instituição de
utilidade pública federal, sem fins lucrativos, sem vinculação religiosa e a partido político. Sua missão é a
construção da democracia, combatendo desigualdades e estimulando a participação cidadã”. Trecho
retirado do site http://ibase.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm
acessado em 13 de dezembro de 2005.
14
Globo com a atribuição de fomentar a atuação sistemática de empresas privadas na área
social.
O GIFE tem como missão gerar recursos privados para o bem comum e
define a concepção de investimento social privado.
Investimento social privado é o repasse voluntário de recursos
privados de forma planejada, monitorada e sistemática para
projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público.
Inclui-se neste universo, as ações sociais protagonizadas por
empresas, fundações e institutos de origem empresarial ou
instituídos por famílias ou indivíduos. A preocupação com o
planejamento, o monitoramento e a avaliação dos projetos é
intrínseca ao conceito de investimento social privado e um dos
elementos fundamentais na diferenciação entre essa prática e as
ações assistencialistas. Diferentemente do conceito de caridade,
que vem carregado da noção de assistencialismo, os investidores
sociais privados estão preocupados com os resultados obtidos,
as transformações geradas e o envolvimento da comunidade no
desenvolvimento da ação.(GIFE, 2005).
O GIFE se diz avesso ao paternalismo, a situações que gerem
dependência e é defensor da profissionalização das organizações que operam no terceiro
setor investindo em cursos e seminários para a promoção do exercício da cidadania
empresarial.
O GIFE é um exemplo de parceria entre empresas e terceiro setor para
obter resultados de longo prazo em relação à cidadania empresarial.
A noção de uma sociedade de parcerias dominou o cenário nacional. O
próprio discurso do empresário Roberto Egydio SETÚBAL, presidente do Banco Itaú
em 2001, demonstra que a concepção de parcerias é pressuposto para o
desenvolvimento da responsabilidade social empresarial do seu banco.
A solução dos nossos problemas sociais está diretamente
associada ao comprometimento de toda a sociedade com essas
questões. As positivas demonstrações de parcerias organizadas
entre governo e sociedade nos fazem acreditar cada vez mais
em um Brasil melhor. (SETÚBAL, 2001: 3).
15
Quando uma empresa se associa a uma ONG através de parceria existe
uma “troca de favores”. As empresas e as ONGs, cada qual com seu objetivo, saem
ganhando de alguma maneira. ELKINGTON e FERNNEL (1998), em seus estudos
sobre as parcerias entre ONGs e empresa demonstram que há muitos motivos para uma
ONG se associar a uma empresa e vice e versa. Segundo eles, as empresas se associam
às ONGs com o intuito de melhorar o próprio marketing, usufruir da credibilidade que
as ONGs têm com o público nas prioridades e problemáticas, a necessidade de desafio
externo, a maior facilidade em alocar recursos, a maior troca de experiências, o desejo
de diminuir confrontações públicas e o desejo de atrair os acionistas. Já as ONGs,
desenvolvem parcerias com as empresas pelo seu interesse crescente no mercado, pelo
desencanto com o governo como provedor de soluções, pela necessidade de mais
recursos, pela credibilidade de negócios com o governo, pois, uma parceria com uma
empresa fortalece a imagem institucional da ONG, maior suporte, maior troca de
informações, maior supremacia, pois quando parceira de uma empresa que lhe gera
recursos, a ONG ganha maior reconhecimento perante a sociedade em geral.
A difusão do modelo da responsabilidade social empresarial, como
estratégia empresarial, deve-se ao processo denominado isomorfismo institucional
(DIMAGGIO and POWELL, 1991). O isomorfismo institucional é resultado da
identificação dos atores sociais com novas tendências. De acordo com ZILBOVICIUS
(1999), os atores sociais têm a capacidade de inovar e reformar. Como são entidades
altamente valorizadas, olham entre si como modelos para a sua ação sendo levados a
copiar, uns aos outros e a se identificar com padrões coletivos.
O conceito de Isomorfismo Institucional Mimético representa o fato de as
empresas copiarem umas as outras, na tentativa de reduzir riscos e incertezas. As
empresas competem entre si dentro de um campo organizacional, que responde às
mesmas regras e às mesmas pressões. As incertezas geradas dentro deste campo levam
às empresas a copiarem novas alternativas de gestão, culminando na prática do
isomorfismo mimético, que acaba por torná-las homogêneas. Além disto, existem outros
dois tipos de isomorfismo institucional, de acordo com DIMAGGIO e POWELL
(1991). O Isomorfismo Coercivo que consiste em normas, sanções, pressões as quais os
atores sociais se submetem e são compelidos, portanto, a seguir tais tendências. No
estudo sobre a responsabilidade social, já se verificou que houve uma demanda da
16
sociedade na forma de movimentos sociais para que as empresas passassem a agir de
forma socialmente responsável. Da mesma maneira, os bancos sofrem pressões
advindas do mercado, da sociedade e da própria legislação para implantarem as suas
práticas de responsabilidade social
10
. Existe também, o Isomorfismo Normativo que
consiste na homogeneização das profissões. Este aspecto não será aprofundado nesta
dissertação, mas, vale ressaltar que a transformação da responsabilidade social
empresarial em estratégia empresarial abriu novos campos de atuação profissional,
possibilitando uma maior institucionalização desta transformação organizacional, pois,
os bancos entrevistados, por exemplo, possuíam um departamento ou ao menos um
cargo responsável para tratar sobre o assunto da responsabilidade social empresarial.
2.3.1 A necessidade da comunicação
A responsabilidade social passa a ser uma ação estratégica da empresa,
pois, ao mesmo tempo em que apóia as ONGs em suas ações sociais, existe uma troca
de favores, um retorno para a empresa. AZEVEDO (2004), afirma que a
responsabilidade social é uma ação social vista como investimento e por isto pressupõe
retorno. O investimento social passa a ter um caráter estratégico para as empresas.
Em 1998, com a criação do Instituto Ethos
11
, o caráter estratégico da
responsabilidade social amplia-se a todos os seus stakeholders, ou seja, a todos os atores
sociais que se encontram envolvidos diretamente com a cadeia de negócios da empresa.
Assim, a concepção da responsabilidade social amplamente divulgada pelo Instituto
Ethos que, atualmente conta com 1075 empresas associadas é que
10
Ver estudo sobre os bancos no capítulo 04 desta dissertação.
11
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma associação de empresas, sem fins
lucrativos, criada com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de
forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade sustentável e justa.
Juridicamente é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Não desenvolve
atividades de consultoria, não autoriza ou credencia profissionais a oferecer qualquer tipo de serviço em
seu nome nem se trata de entidade certificadora de responsabilidade social que fornece selos com essa
função. O trabalho de orientação às empresas é voluntário, sem nenhuma cobrança ou remuneração.
http://www.ethos.org.br/DesktopDefault.aspx?TabID=3344&Alias=Ethos&Lang=pt-BR
acessado em 15
de dezembro de 2005
17
A empresa socialmente responsável é aquela que possui a
capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes
(acionistas, funcionários, prestadores de serviços, fornecedores,
consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente) e
consegue incorporá-los no planejamento de suas atividades,
buscando atender a demanda de todos e não apenas do acionista
ou proprietário. (ETHOS, 2005).
A empresa, ao tentar ouvir o interesse de todos os seus stakeholders está
em busca de um retorno em bens intangíveis chamados legitimidade e reputação ao, por
exemplo, reduzir os seus custos de transação.
HIGGINS (2005) explicitando o conceito de custos de transação advindo
da escola da economia institucional explica que, as trocas mercantis são medidas pelas
instituições sociais (públicas ou privadas) que introduzem custos adicionais de tempo,
capital e esforço.
As disputas entre operários e patrões podem gerar conflitos que
demandem uma intervenção da burocracia estatal. Tudo isto
exige grandes esforços em tempo, pagamento de advogados,
greves, etc., o que, da ótica do rendimento nos negócios, eleva
os custos de produção e os preços finais. Nas sociedades, onde
as relações operários/patrões são levadas em espírito de
cooperação, os custos adicionais de negociação são menores.
(HIGGINS, 2005: 23).
Na teoria da responsabilidade social, uma empresa que respeita o seu
consumidor e produz produtos com qualidade e respeita o meio-ambiente incitará um
consumidor “consciente
12
” que poderá ser mais propenso a comprar seus produtos. Uma
empresa que possui bons relacionamentos com seus trabalhadores será uma empresa
menos propensa a ter passivos trabalhistas assim como terá menos passivos ambientais
se for respeitosa com o meio-ambiente.
Para que haja retorno e um maior diálogo entre as empresas e seus
stakeholders, o IBASE criou um modelo de Balanço Social que funciona nos moldes do
balanço patrimonial, porém, a prestação de contas vai no sentido de detalhar as ações
sociais realizadas para todos os stakeholders. Assim, o Balanço Social não só serviria ao
12
Sobre o consumo consciente ver a ONG Akatu. Site: www.akatu.org.br
18
seu propósito de prestação de contas, como também o de ser uma ferramenta para a
consolidação da democracia. Como afirma MANSUR
A democracia não existe sem informação. Isto é básico. Há de
se comunicar, há de se divulgar, há de se dar transparência a
tudo o que se faz para começar um diálogo, um canal de
comunicação dos interessados, dos influenciados para criticar,
melhorar, sugerir.(...).Porque não adianta só fazer, tem que
prestar contas do que faz, dar transparência, porque no
momento que se é transparente, se inaugura um canal de
comunicação. Então, é importante prestar conta do que faz, dar
transparência para que as pessoas ao terem a informação,
critiquem de uma forma boa, não muito boa. (...) O objetivo do
balanço social é fazê-lo um instrumento de avaliação, de
monitoramento pelos públicos interessados. (MANSUR, 2004).
Nesta passagem, MANSUR procura explicitar que o balanço social é
uma ferramenta para a consolidação da democracia que na opinião do IBASE é pautada
pela comunicação e pela oportunidade de diálogo. Desta maneira, o balanço social surge
para reforçar cada vez mais a redemocratização do país iniciada a partir da Constituinte
de 1988, se transformando na forma que o IBASE elegeu para lutar pela
responsabilidade social e pela democracia. MANSUR, no trecho acima explicita que o
balanço social é um instrumento de avaliação e de monitoramento pelo público
interessado, ou seja, é através do balanço social que se construirá uma avaliação, uma
imagem sobre a empresa.
Paulo ITACARAMBI, dir. executivo do Instituto Ethos em palestra
13
sobre o tema da responsabilidade social declara que o balanço social não é feito somente
para divulgar as ações sociais mas também para divulgar os impactos que estas
produzem.
De acordo com SUCUPIRA (2004) são, basicamente, três modelos de
balanços sociais publicados no Brasil: O modelo do IBASE, O Guia de Elaboração do
Balanço Social do Instituto Ethos e as Diretrizes para a Elaboração de Relatório de
Sustentabilidade elaboradas pelo Global Reporting Initiative (GRI).
13
Paulo Itacarambi diz isto para uma platéia de empresariado no dia 15 de setembro de 2004, no segundo
painel temático do terceiro seminário de responsabilidade social e desenvolvimento sustentável em Ouro
Preto, MG. (Ver referências bibliográficas).
19
A tabela a seguir procura resumir as principais diferenças ou
semelhanças entre estes três tipos de balanços sociais.
TABELA 2.2 – Diferenças e Semelhanças dos Balanços Sociais
Características Gerais dos Modelos de Balaços Sociais
IBASE ETHOS GRI
Apresentação Geral Demonstrativo Relatório Relatório
Padrão Nacional Nacional Internacional
Certificação Possui o Selo Ibase Não Possui Não Possui
Publico Alvo Toda a População Stakeholders Stakeholders.
Comparação De dois em dois anos De dois em dois anos De três em três anos
Fonte: Tabela elaborada pela autora com fonte nos balanços sociais ETHOS, IBASE e
GRI.
Ao diferenciar os modelos do IBASE e o do Ethos, Cláudia MANSUR
explicita que
O guia começa com a necessidade de começar com uma
apresentação do presidente, um histórico da empresa, missão,
objetivo, como foi fundada, etc. Acaba por sair um relatório
detalhado, narrativo, descritivo, grande. Este tipo de relatório é
muito valioso, mas o uso dele é diferente do nosso. O nosso BS
é pequeno, numérico e serve a um outro propósito. O relatório
Ethos é um ótimo instrumento para gestão interna, para aquele
público da tiragem de cem exemplares, um público muito
específico com necessidade de informação específica sobre a
empresa: Diretoria, os principais acionistas, os principais
stakeholders. É inviável em termos de custo reproduzir um
documento destes para o peão de obra, para o escrituário com
segundo grau, para colocar no jornal da região; Porque por ser
muito grande e descritivo ele pode causar uma relutância das
pessoas para lerem. Então, O BS do Ibase visa um outro tipo de
público, e que também deve ser usado como instrumento de
gestão interna de planejamento; ele traz sempre dois anos
possibilitando a empresa que já tenha dois BS publicados, faça
três exercícios de gráficos e evolução da sua atuação porque ele
é numérico. Os dois balanços na verdade são dois instrumentos
que se complementam, tanto é que, no guia Ethos eles indicam
20
o do IBASE como anexo. Cada um tem um foco de ação, um
público alvo diferente (MANSUR, 2004).
A tabela a seguir lista os princípios e critérios os quais são baseados em
novos valores organizacionais e compõem o Guia de Elaboração do Balanço Social do
Instituto Ethos.
TABELA2.3- Critérios para a elaboração do Guia do Ethos.
Critérios
Relevância
Veracidade
Clareza
Comparabilidade
Regularidade
Verificabilidade
Fonte: Indicadores Ethos de Responsabilidade Social 2003
Todos estes critérios estão baseados em valores construídos dentro das
empresas, os quais pregam uma melhor comunicação da empresa, não somente com os
seus acionistas, mas também com todos os outros públicos interessados o que reafirma a
definição de responsabilidade social empresarial colocada pelo Instituto Ethos, na qual,
a empresa deve se comunicar com todos os seus stakeholders para uma sobrevivência
em longo prazo.
Para Paulo ITACARAMBI, Dir. executivo do Instituto Ethos em sua fala
no Terceiro Seminário de Responsabilidade Social, nós vivemos em uma sociedade da
desconfiança. Para Paulo, precisamos estruturar as organizações com bases mais
horizontais baseadas na confiança; é desta maneira que entra a responsabilidade social,
como estratégia de transformação social e de negócios cujos três pilares são ética
(valores que uma empresa declara e pratica), transparência e solidariedade (construir um
resultado para todos).
21
A fala de ITACARAMBI exposta no parágrafo anterior confirma a idéia
de responsabilidade social vinculada à idéia de retorno, de estratégia empresarial para a
geração de reputação, legitimidade que são valores cultivados para que a empresa
sobreviva em longo prazo.
2.4 Responsabilidade Social e Governança Corporativa
Em um terceiro momento da Responsabilidade Social Empresarial há o
encontro com a Governança Corporativa e a sua inserção no mercado financeiro
culminando na criação do Índice de Sustentabilidade. Até então, a responsabilidade
social empresarial era vista como o conjunto de ações que as empresas desempenhavam
na tentativa de ouvir os interesses dos seus diversos stakeholders, e desta maneira
adquirir legitimidade e reputação.
Ao mesmo tempo em que se falava da responsabilidade social
corporativa crescia também a pressão exercida pelo mercado financeiro, representado
pelos acionistas, que demandavam que os bancos agissem em conformidade com as
regras do mercado financeiro.
No trabalho bancário, assim como em outras atividades do setor
de serviços, o controle e os mecanismos coercitivos são muitas
vezes deslocados, no discurso patronal, para fora da empresa.
Tal discurso imprime, por exemplo, aos movimentos e pressões
da concorrência mercadológica as exigências de aumento da
produtividade e da ‘eficácia’do trabalho. Desta forma, esvazia-
se o controle burocrático típico do taylorismo, e a autoridade do
capital personalizada nas chefias é substituída por uma forma
mais difusa de autoridade, na qual a dominação do trabalho
passa a ser exercida diretamente pelo mercado capitalista.
(JINKINGS, 2002).
Assim, o interesse da chefia passa a ser influenciado pelo acionista que
responde pelo mercado financeiro podendo aplicar-se nesta relação, a teoria da agência.
A teoria da agência, de acordo com FLIGSTEIN (2001), vê todas as relações sociais em
uma interação econômica como reduzível a um conjunto de contratos entre o agente e o
principal. O principal é o indivíduo que seleciona agentes para produzir as suas receitas
22
de alguma maneira. O problema chave é alinhar os interesses dos agentes de tal forma
que eles não ajam contra o interesse do principal.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, na
teoria econômica tradicional existe o conflito de agência presente após a separação da
propriedade e a gestão empresarial. Porém, se torna complicado resolver este conflito,
pois nem sempre os interesses dos proprietários convergem para os interesses dos
gerentes e vice e versa. A teoria da agência preocupa-se em delinear mecanismos para
que os interesses dos gerentes se conciliem aos interesses do acionista (IBGC, 2005).
De acordo com OCASIO e JOSEPH (2001) a primeira vez que se ouviu
falar em governança corporativa nos Estados Unidos, foi em dezembro de 1972. Os
autores afirmam que, foi Ralph Nader quem proveu a primeira análise teórica da
governança corporativa, a qual era analogamente comparada com a governança
democrática. Logo, outros atores sociais como, Securities and Exchange Commission
(SEC), New York Stock Exchange (NYSE), The American Assembly, líderes de negócios
e teóricos também passaram a pronunciar-se sobre o assunto.
A lógica desta abordagem da corporate democracy se inseria na questão
de que as organizações devem prestar contas às pessoas que servem. Em fins da década
de setenta, a Assembléia Americana lançou um livro sobre a governança corporativa
cujo trecho do prefácio se encontra a seguir.
Nós mesmos acrescentaríamos que governança é relacionada à
responsabilidade corporativa, às necessidades e às expectativas
dos acionistas e outros interessados, como consumidores,
empregados e comunidade. O termo se refere em gerir a
corporação americana vis-à-vis muitas pressões por mudanças.
O termo é também, uma expressão, especialmente nos círculos
do governo, sobre o que uma empresa deve ou não fazer.
(OCASIO e JOSEPH, 2001: 12).
De acordo com OCASIO e JOSEPH (2005), o crescimento do ativismo
dos investidores institucionais na década de oitenta, e os escândalos financeiros de
empresas como a Enron, a Worldcom e a Tyco em 2002 desencadearam uma corrente
de desconfiança que elevou a governança corporativa a uma consciência nacional. O
ativismo dos acionistas passou a clamar por políticas de regulação do governo e por
23
maiores controles externos. A partir destes acontecimentos a governança corporativa
recebeu uma nova conotação que a identificava com as políticas de proteção e controle
dos acionistas.
(...) a categoria de atividades diretamente referidas como
governança corporativa, mudaram de um foco inicial nos
negócios, nas políticas públicas e na responsabilidade social
corporativa, para uma preocupação com a board organization,
executivos e tomadas de decisão. Referencias anteriores feitas
por Nader et al. (1976), participantes da Assembléia Americana
(1978) e da Business Roundtable, consideravam a governança
corporativa em um contexto amplo de preocupações políticas
públicas com o papel da corporação na sociedade e como as
corporações eram prestadoras de conta, não só para os seus
acionistas, mas para todos os seus interessados. (IBIDEM).
Como já dito anteriormente, com os escândalos financeiros de
accountability e o crescimento da preocupação dos investidores institucionais com as
tomadas de decisão e a composição da chefia da empresa, a governança corporativa
recebeu a conotação de práticas referentes à relação entre os gerentes e os acionistas.
No Brasil, como veremos a seguir, a governança corporativa, que se
institucionaliza nestes últimos anos no país, através do Instituto Brasileiro de
Governança Corporativa, já veio com a conotação adquirida após o ano de 2002, nos
Estados Unidos.
2.4.1 A sustentabilidade no Brasil
A governança corporativa se inseriu no Brasil a partir da criação do
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
14
(IBGC).
14
Entidade sem fins lucrativos fundada em 1995, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa –
IBGC é o primeiro órgão criado no Brasil com foco específico em Governança Corporativa, tendo
formado, até o primeiro semestre de 2004, mais de 1200 alunos em seus cursos de capacitação. Dentre
suas iniciativas e esforços neste campo destacam-se a elaboração e revisão do Código Brasileiro das
Melhores Práticas de Governança Corporativa. O Instituto é considerado nacional e internacionalmente
como um dos principais responsáveis pela introdução do conceito de Governança Corporativa no país,
24
De acordo com GRÜN (2005), são três os pilares mais gerais da
governança corporativa: o respeito aos direitos dos acionistas minoritários,
transparência nos procedimentos das empresas e a possibilidade de aquisição do
controle acionário das empresas através da compra de suas ações nos mercados
financeiros.
A governança corporativa consiste em uma maneira dos acionistas se
fazerem ouvir pelas empresas. No Brasil, pela definição do IBGC, a governança
corporativa é
O sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas,
envolvendo os relacionamentos entre Acionistas/Cotistas,
Conselho de Administração, Diretoria, Auditoria Independente
e Conselho Fiscal. As boas práticas de governança corporativa
têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu
acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade (IBGC,
2005b).
Ao contribuir para a perenidade da sociedade, a governança corporativa
acaba por se inserir no discurso da sustentabilidade, no qual, também se insere a questão
da responsabilidade social empresarial. O desenvolvimento sustentável é aquele que
“satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras
gerações satisfazerem as suas próprias necessidades” (Comissão Bundtland, 1987 citado
por Ademar BUENO, 2005).
Governança corporativa e responsabilidade social empresarial têm por
objetivo garantir a sobrevivência da empresa só que, a governança corporativa,
atualmente, segue no sentido da criação de valor para o acionista enquanto a
responsabilidade social empresarial vai no sentido de ouvir os interesses de todos os
stakeholders, ou seja, desenvolver ações que lhes criem valor. Porém, ao olhar a
realidade organizacional pela perspectiva da governança corporativa, a responsabilidade
social se torna um pilar da governança corporativa, pois, a empresa ao criar valor para
pelo reconhecimento e disseminação da importância das boas práticas e pelo crescente interesse das
empresas brasileiras em se fortalecer através da adoção das mesmas. (IBGC, 2005)
25
os outros stakeholders, procura, na verdade, diminuir os riscos e valorizar a empresa
criando valor para os seus acionistas.
A responsabilidade social empresarial, no mundo produtivo consiste, de
acordo com a definição do Ethos, em ouvir os interesses de todos os stakeholders.
Quanto melhor o relacionamento com estes stakeholders, a probabilidade da empresa
entrar em conflitos de ordem jurídica, civil e moral diminui, além de ganhar maior
credibilidade do consumidor e perante o acionista. A diminuição de riscos se reverte em
estabilidade e geração de lucros maiores possibilitando que a empresa seja mais atrativa
aos investidores. Anderson LOPES
15
do ‘relações com investidores’do Banco Itaú
explicita que
Com relação à responsabilidade social, ela é importante não só
pela imagem, pela reputação da empresa, ela reduz riscos (...),
se você pegar o componente ambiental ela é fundamental, não é
só porque se vai estar poluindo o rio, matando os peixes e isto
torna a empresa sujeita a uma série de coisas (perder dinheiro,
contaminar manancial), e pra nós bancos, o componente
ambiental é muito importante. (...) a responsabilidade social e
ambiental está extremamente ligada à sustentabilidade da
empresa, ou seja, eles querem saber o seguinte: você tem algum
passivo ambiental, pelo menos você não se cerca de riscos para
que estas coisas deste tipo venham a acontecer? É mais ou
menos por aí a análise dos investidores. (LOPES, 2005).
É possível observar, portanto que o mundo financeiro não está totalmente
desvinculado do mundo ‘real’ e produtivo. CHESNAIS (1996) demonstra que os
capitais que se valorizam na esfera financeira continuam se produzindo na esfera
produtiva. A esfera financeira alimenta-se da riqueza proveniente de investimentos no
trabalho, ou seja, a saúde do sistema financeiro e em particular, das bolsas de valores,
depende do bom andamento do sistema produtivo para que se produza capital para
investimentos.
O movimento de influência da esfera produtiva sobre a esfera financeira
inverte-se quando a responsabilidade social empresarial passa a adotar a linguagem da
esfera financeira, e a retransmite para o mundo produtivo através da criação de valor
15
Entrevista cedida dia 04 de abril de 2005 por Lúcio Marques e Anderson Lopes para Marina de Souza
Sartore. A entrevista foi gravada, transcrita e arquivada.
26
para a empresa (setor produtivo) e para as finanças (acionistas). A análise dos
investidores é pautada por práticas organizacionais reais, porém, essas práticas são
pautadas pelos interesses dos próprios investidores que viram no desenvolvimento
sustentável uma forma de garantir a valorização do seu capital. Quando temos um
processo de busca de geração de renda como o da esfera financeira “Marx fala em D-D’,
dinheiro que gera dinheiro, um valor que valoriza a si mesmo, sem nenhum processo [de
produção] servindo de mediação entre os dois extremos” (livro III, capítulo XXIV, O
Capital citado por CHESNAIS, 1996), porém, com a vinda da idéia da sustentabilidade,
este processo de geração de renda (D-D’) exige um olhar para a esfera produtiva. É uma
nova forma de olhar a formação de D-D’ que ‘materialmente’não passa pela esfera
produtiva, porém, simbolicamente, passa, pois, o olhar dos acionistas para os balanços
sociais relativos às condições de trabalho, aos investimentos no meio-ambiente criará
valor para a empresa e conseqüentemente para a sua ação na bolsa de valores. A
empresa é representada no mercado financeiro por suas ações que são postas a venda e
negociadas de maneira a gerar o lucro. A ação de uma empresa era avaliada estritamente
pelo seu desempenho econômico. Ao inserir a responsabilidade social empresarial na
esfera financeira, um olhar passa a ser desviado para a realidade produtiva das
empresas, suas relações cordiais ou possíveis conflitos com seus stakeholders
contribuindo, portanto, para uma possível construção do desfetiche da mercadoria
‘ação’ no mercado financeiro. De acordo com MARX,
A mercadoria
16
é misteriosa simplesmente por encobrir as
características sociais do próprio trabalho dos homens,
apresentando-as como características materiais e propriedades
sociais inerentes aos produtos do trabalho; por ocultar, portanto,
a relação social entre os trabalhos individuais dos produtores e
o trabalho total, ao refleti-la como relação social existente, à
margem deles, entre os produtos do seu próprio trabalho. (...)
Uma relação social definida, estabelecida entre os homens,
assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas.
(MARX, 1975).
16
Nesta argumentação situada nesta dissertação está se tentando considerar a “ação” negociada na bolsa
de valores uma forma de mercadoria.
27
Assim, o fetiche da mercadoria para MARX está associado a mascarar as
relações de trabalho que estão por trás da sua fabricação. Partindo deste pressuposto, a
governança corporativa e a responsabilidade social empresarial poderiam ser
consideradas uma forma para se olhar não mais somente para a empresa, mas também
para todas as relações de trabalho que estão nela envolvidas. Na lógica do mercado
financeiro e em particular o mercado de ações, a valorização da ação baseada em
critérios de sustentabilidade da empresa estabelece uma nova ética, que procura olhar o
esqueleto das organizações levando o acionista a olhar onde investir, observar de uma
maneira mais abrangente a organização. A responsabilidade social das empresas tira o
foco do acionista apenas no produto final da empresa e o coloca frente à análise dos
processos envolvidos para a fabricação do produto ou para a prestação de certo serviço
incluindo-se aspectos sociais, jurídicos e morais.
Nos últimos anos, três evidências significativas sobre a inserção da
responsabilidade social ao ideário da governança corporativa no mercado financeiro
apareceram, e podem ser consideradas instrumentos com alto poder simbólico para
efetuar uma mudança real no mercado financeiro e na sociedade em geral: a operação
(pelo menos na esfera do discurso) dos fundos de pensão sob critérios de sustentabilidade
, a criação de fundos de investimento que operam também sob critérios de
sustentabilidade e a instituição do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) na
Bovespa,
2.4.1.1 Os fundos de pensão
O crescimento do mercado financeiro através, dentre outros, dos fundos
mútuos e de hedge e os fundos de pensão são os grandes atores sociais que contribuíram
para o movimento da mundialização do capital. (CHESNAIS, 1996). “Atualmente, os
maiores nichos de acumulação de lucros financeiros são os grandes fundos”
(CHESNAIS, 1996). Os fundos de pensão são os responsáveis pelos rendimentos
futuros de milhares de cidadãos preocupados com a velhice e passaram a adotar critérios
de responsabilidade social para os seus investimentos. Assim, na teoria que informa a
idéia de sustentabilidade, uma empresa que pratica ações de sustentabilidade tem
maiores chances de sobreviver em longo prazo no mercado e suas ações menores
28
probabilidades de desvalorização, portanto, maiores garantias de rentabilidade. Ao
mesmo tempo em que os fundos de pensão e diversas outras formas de poupança
coletiva operam também sob este novo critério, passam a exigir (mesmo que por
coerção) que as empresas nas quais investem operem sob os princípios da
sustentabilidade no Brasil.
Os principais fundos de pensão brasileiros já utilizam critérios
de sustentabilidade na hora de avaliar o desempenho das
empresas nas quais injetam recursos. Afinal, lidam com a
poupança e a expectativa de um futuro seguro de milhares de
pessoas. (ABN AMRO REAL, 2005: 17).
2.4.1.2 Fundos de investimento
Deu no Bloomberg. O serviço de informações financeiras
estampou em sua página que o Ethical foi a carteira de melhor
performance em 2004 dentre os 210 fundos de investimentos
socialmente responsáveis (SRI, em inglês) acompanhados pela
empresa: rentabilidade de 44% em dólares no período. (ABN
AMRO REAL 2005: 42).
Desta maneira, os bancos entram no campo com a criação de fundos de
investimento socialmente responsáveis que, de acordo com o banco Real, “motivou as
bolsas de valores a criar índices de sustentabilidade” (ABN AMRO REAL 2005: 43). O
Banco Real apresenta o seu fundo de investimento como mais uma ferramenta para
olhar o papel de governança corporativa e responsabilidade social das empresas. O
Fundo Ethical exclui os segmentos considerados negativos à sociedade, como fumo,
álcool, armas, energia nuclear, jogo e pornografia e tem por meta ampliar cada vez mais
a carteira de investimentos e conquistar a adesão de investidores institucionais. Os
ânimos são promissores, pois, entre novembro de 2001 e o fim de 2004, o fundo Ethical
FIA
17
rendeu 163%
18
contra 131,6% do índice médio da Bolsa de Valores de São Paulo
(Bovespa).
17
FIA é o fundo de investimento que tem aporte inicial de R$ 100 e taxa de administração de 3%.
18
Dados obtidos do relatório de sustentabilidade do ABN AMRO REAL 2005: 44
29
2.4.1.3 Índice de sustentabilidade empresarial
Vale ressaltar aqui que a criação do Índice de Sustentabilidade
Empresarial consolida em um plano institucional a convergência da governança
corporativa e a responsabilidade social sob os auspícios de uma sociedade pautada em
valores culturais financeiros.
A criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) criou um
debate entre os seus idealizadores não só pelas divergências sobre a concepção de
responsabilidade social como também pela novidade que o tema anunciava.
A Bovespa, em julho de 2004 anunciou um novo índice que avaliaria o
compromisso das empresas com o bem estar social. “(...) Um bom resultado nessa
avaliação agrega valor à imagem da empresa e atrai acionista, ou seja, gera lucro. Isso
porque as chances dessas empresas sofrerem com processos ambientais e trabalhistas,
por exemplo, são menores”. (Lista e-mails IBASE, 2004). A idéia da criação do índice
advém do sucesso internacional que tem sido o Índice Dow Jones de Sustentabilidade:
“o índice lista ações de um grupo do mundo todo que aliam solidez financeira a uma
postura de responsabilidade ambiental e social. Seu desempenho tem sido
consistentemente melhor que o registrado pelo Índice Geral Dow Jones
(DJGI)”.(Revista EXAME, 2004).
O atraso na implantação do Índice de Sustentabilidade Empresarial na
Bovespa deveu-se à discussão entre atores sociais (Empresas, ONGs como IBASE e
Ethos, Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de
Capitais [APIMEC], Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência
Complementar [ABRAPP]) em autorizar a inserção de empresas que produzem
produtos considerados prejudiciais à sociedade e, portanto, divulgadores de uma
irresponsabilidade social. Porém, estas empresas de setores como o fumo, bebidas e
armas de fogo defendem os seus interesses em entrar para a listagem do índice.
O ponto principal da polêmica é que algumas empresas não
aceitam ficar de fora do índice e temem o impacto negativo
sobre seus papéis e sua imagem. Elas argumentam que são
companhias legalmente instaladas no país, geram milhares de
empregos, pagam impostos e possuem programas exemplares
30
de responsabilidade social. As empresas alegam que seria
injusto, de largada, serem excluídas do indicador simplesmente
por estarem em setores vistos por alguns como não socialmente
responsáveis. Na opinião de quem é a favor da exclusão,
porém, é contraditório ter em um referencial de instituições
socialmente responsáveis empresas que fabricam produtos que,
segundo eles, não seriam sustentáveis no longo prazo (CAMBA
2005).
Por fim, a decisão final consistiu na retirada do Ibase do conselho de
criação do índice a da aprovação pela inscrição das empresas que operam nos setores
questionados acima.
Antes do ISE já foi implantado o Novo Mercado, um índice onde são
listadas empresas que a têm o exemplo das boas práticas de governança corporativa.
Como nos afirma GONZÁLEZ (2005),
O desenvolvimento de indicadores socioeconômicos para
avaliar as empresas nas ações de sustentabilidade está na pauta
do dia. Os segmentos de investimento, crédito, risco ou rating
recorrem cada vez mais a eles para decidir – ou não – se devem
ou não, recomendar aos investidores, escrever relatórios, fazer
análises. Essa tendência é o resultado da ação organizada e
consciente da sociedade em diversos países, entre eles o Brasil,
que pressiona para a prática socialmente responsável. Em outras
palavras, que as corporações apresentem um comprometimento
socioeconômico ao público que é afetado, pela existência
destas. (...)As ofertas de fundos de investimentos socialmente
responsáveis tendem a se ampliar no mercado brasileiro. Torna-
se, então, imprescindível a existência de um índice para que os
gestores desses fundos o usem para avaliar a performance. A
Bovespa debateu este assunto pela primeira vez em 1999 com a
Apimec. Em 2003, quando o primeiro fundo socialmente
responsável aberto de renda variável no Brasil estava para
completar dois anos, a equipe do Banco responsável procurou o
pessoal da Bolsa Brasileira com uma sugestão: que tal criar um
índice socialmente responsável, afinal o fundo não apresentava
uma referência adequada. (GONZÁLEZ, 2005).
O Índice de Sustentabilidade procura seguir o mesmo caminho que o
Índice Dow Jones de Sustentabilidade norte americano que “historicamente, as ações
das cercas de 300 empresas listadas no Dow Jones Sustainability Index valorizam algo
31
como 30% mais que o conjunto de todos os papéis da Dow Jones”.(ABN AMRO REAL
2005).
Por fim, todas as evidências demonstradas neste capítulo mostram que a
responsabilidade social empresarial tem o seu berço nas práticas assistencialistas e de
filantropia, mas acontecimentos históricos, políticos, sociais e econômicos a separaram
de seu berço lhe dando um caráter específico de estratégia empresarial. Com a crescente
globalização financeira e esta passando a impor ao mundo o seu roldão (GRÜN, 2005),
a responsabilidade social é apropriada pela governança corporativa que a insere no
mundo financeiro representado pelas bolsas de valores, fundos de pensão e fundos de
investimento.
A responsabilidade social empresarial, ao unir-se à governança
corporativa lhe devolve parte de seu sentido inicial, exposto pelas idéias de Ralph
Nader. A responsabilidade social empresarial tem seu berço na filantropia. Adquire
depois, um caráter de estratégia empresarial e une-se ao movimento de governança
corporativa. A responsabilidade social empresarial continua com o seu mesmo
propósito, que é o de prestar contas e ouvir o interesse de todos os seus stakeholders,
porém, ao menos no Brasil, sua união à governança corporativa inserindo-se na teoria
da sustentabilidade no mercado financeiro, acabou por culminar em mais uma
ferramenta de geração de valor para o acionista.
No capítulo seguinte, será introduzido o recorte de estudo para esta
dissertação: o setor bancário.
3 O SETOR BANCÁRIO
3.1 O Papel dos Bancos
Já no início do século XX, o setor bancário fazia a intermediação entre a
idéia de um empreendimento e a sua realização, ou seja, os bancos eram formados por
capitalistas que no conceito desenvolvido por SCHUMPETER, eram os indivíduos que
possuíam os meios monetários para que um empreendimento se realizasse.
Portanto, o banqueiro não é primariamente tanto um
intermediário da mercadoria 'poder de compra', mas um
produtor dessa mercadoria. Contudo, como toda poupança e
fundos de reserva hoje em dia afluem geralmente para ele e
nele se concentra a demanda de poder livre de compra, quer já
exista, quer tenha que ser criado, ele substitui os capitalistas
privados ou tornou-se o seu agente; tornou-se ele mesmo o
capitalista par excellence. Ele se coloca entre os que desejam
formar combinações novas e os possuidores dos meios
produtivos. Ele é essencialmente um fenômeno do
desenvolvimento, embora apenas quando nenhuma autoridade
central dirige o processo social. Ele torna possível a realização
de novas combinações, autoriza pessoas, por assim dizer, em
nome da sociedade, a formá-las. É o éforo da economia de
trocas. (SCHUMPETER, 1982: 53).
O setor bancário já era visto em 1920 por SCHUMPETER como um dos
fatores de desenvolvimento econômico junto ao empresário inovador e à tecnologia
19
.
SCHUMPETER focaliza o papel do crédito proporcionado pelos banqueiro para o
desenvolvimento
.
Nesse sentido, portanto, definimos o cerne do fenômeno do
crédito da seguinte maneira: o crédito é essencialmente a
criação de poder de compra com propósito de transferí-lo ao
empresário, mas não simplesmente a transferência de poder de
compra existente. A criação de poder de compra caracteriza, em
19
Para maiores detalhes sobre o empresário inovador e a tecnologia sob a perspectiva de Schumpeter ver
Joseph A Schumperter, “A teoria do desenvolvimento econômico- Uma investigação sobre lucros,
capital, crédito, juro e o ciclo econômico”. 1982
33
princípio, o método pelo qual o desenvolvimento é levado a
cabo num sistema com propriedade privada e divisão do
trabalho. Através do crédito, os empresário obtêm acesso à
corrente social dos bens antes que tenham adquirido direito
normal a ela. Ele substitui temporariamente, por assim dizer, o
próprio direito por uma ficção deste. A concessão de crédito
opera neste sentido como uma ordem para o sistema econômico
se acomodar aos propósitos do empresário, como um comando
sobre os bens de que necessita: significa confiar-lhe forças
produtivas. É só assim que o desenvolvimento econômico
poderia surgir a partir de mero fluxo circular em equilíbrio
perfeito. E essa função constitui a pedra angular para a moderna
estrutura de crédito. (SCHUMPETER, 1982: 74).
Atualmente, o setor bancário continua desempenhando o papel de
intermediador entre uma idéia e a sua execução e também, como agente principal de
concessão de crédito, mesmo com o aumento das casas de crédito nos últimos anos. Ao
conceder créditos e cuidar dos rendimentos de milhões de cidadãos, os bancos fazem
parte do sistema financeiro do Brasil e do mundo.
Por serem parte do sistema financeiro, carregam o estigma de “vilões” do
desenvolvimento social. Desde sua criação, o setor bancário é visto como um meio de
geração de dinheiro que não se importa em ultrapassar valores sociais para alcançar o
seu objetivo: o lucro. De acordo com a fala de Vagner Freitas, presidente da
confederação nacional dos bancários, “no Brasil, a atividade banqueira é absolutamente
predatória com a sociedade, porque cresce e esse crescimento vem com a diminuição
dos outros setores da economia, com arrocho salarial, aumento do desemprego e sem
melhoria nos serviços prestados”. (Freitas citado por GARCIA, 2004).
De acordo com TRINDADE (1979), a deslegitimação do sistema
financeiro em geral advém do movimento integralista
20
ocorrido no país na década de
trinta que propunha a ascensão do nacionalismo, a busca pelos valores nacionais, como
exposto na citação abaixo.
20
Para ler mais sobre a construção do estigma negativo carregado pelo sistema financeiro, em termos
sociais, econômicos e culturais ver, Gustavo Barroso em seu livro: “A sinagoga paulista” e, sobre o
movimento integralista ver, Hélcio Trindade: “Integralismo: (o fascismo brasileiro na década de 30)”.
Ver referências. Vale ressaltar também que o movimento integralista não foi a única forma na qual a
deslegitimação do sistema financeiro se constituiu, porém, esta pesquisa utiliza-se da abordagem de
Hélcio Trindade.
34
(...) 'o gérmen da Ação Integralista Brasileira se desenvolve
neste momento' e que se torna um imperativo despertar a
Nação: 'o Brasil que não respira. Permita Deus que não esteja
morto. Porque os povos vivem nas agitações das idéias. E a
nossa Pátria não vibra ao sopro generoso do pensamento (...).
São esses movimentos que geram as controvérsias, a discussão,
no terreno elevado da doutrina. Dessas controvérsias é que se
origina o calor dos debates. Dos debates é que se vai a luta. E a
luta é a expressão da vida dos povos. Um povo que não luta é
um povo que perdeu o sentido da vida, que perdeu a
consciência de si mesmo'. Termina manifestando sua disposição
de agir: 'Precisamos despertar o Brasil. Para a luta franca,
definida, forte, das idéias' e 'para a batalha do pensamento que
deve exprimir-se nos grandes debates, e até nas barricadas.
(TRINDADE, 1979: 96).
Este movimento teria plantado uma semente para o falta de legitimidade
associada ao sistema financeiro, pois tinha como um de seus pressupostos o
anticapitalismo.
O instinto da máquina devora tudo'. Neste sentido, o
responsável pelo drama do mundo atual é o capital que impões
'sua tirania na forma dos grandes trustes, dos monopólios, dos
grupos financeiros, das organizações bancárias, e se dirige para
o capitalismo do Estado. É a besta apocalíptica (Plínio Salgado
in Madrugada do espírito, citado por TRINDADE, 1979:236).
Verifica-se, portanto, que o setor financeiro e o setor bancário sofrem de
um estigma negativo que lhes foi atribuído, pode-se dizer, historicamente.
3.2 Setor Bancário: demissões, precarização e intensificação do trabalho.
Na década de oitenta, o Brasil passou por uma onda de demissões dos
diversos setores da economia que incorporaram o conceito de qualidade, o qual criou
um momento de enxugamento atrelado ao aumento da eficiência. As conseqüências do
que se passou a ser mais conhecido como reengenharia estenderam-se até recentemente.
Ao visitar o site do sindicato dos bancários, é possível encontrar notícias intituladas
como, “Fusões se multiplicam, os bancos estão cada vez mais sólidos e os empregos
35
evaporam. A atuação parasitária e irresponsável dos banqueiros inviabiliza o
crescimento do país”. (PEPE, 2004), e ainda “O efeito, devastador a todas as categorias,
cingiu ao meio a bancária, reduzindo seus mais de 800 mil integrantes ao final dos anos
80 a cerca de 400 mil”. (GARCIA, 2004b).
Os bancos de maneira geral demitiram, mas não fizeram nada que fosse
contra a lei, já que no país não existe uma lei quanto aos procedimentos de demissão,
salvo o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e o Seguro-Desemprego.
A flexibilização do trabalho no setor bancário é vista nesta dissertação,
como as políticas de demissão, terceirização e intensificação do trabalho. De acordo
com SEGNINI (1999), no Brasil da década de noventa, as medidas de fusão bancárias e
a estabilização da moeda que levou aos bancos a não lucrarem mais sobre os juros
inflacionários provocaram uma forte redução no mercado de trabalho bancário, “tanto
pela eliminação de postos de trabalho superpostos, superposição de agências,
reestruturação das formas de gestão, fusão de postos de trabalho, bem como pelo uso
intensivo das tecnologias da informação”.(SEGNINI, 1999). Em 1986, a categoria dos
bancários era composta de um milhão de trabalhadores. Em 1997, passaram para
476.000 bancários. Como demonstra SEGNINI (1999), a partir da década de setenta
observa-se mudanças em três aspectos organizacionais: a evolução e o uso intensivo das
tecnologias da informação, a informática e a telemática permitiram a automação dos
serviços, assim como a diminuição de seus custos. A terceirização de serviços
considerados ‘não-bancários’ como transporte, segurança, limpeza, engenharia,
manutenção de prédios e equipamentos, restaurantes e desenvolvimento de softwares. E
por fim, os programas de reengenharia que objetivavam a fusão dos postos e a redução
dos níveis hierárquicos.
Como afirma JINKINGS, "(...) as 'três forças motrizes básicas' da
automação bancária no Brasil foram: a concorrência interbancária e a possibilidade de
atração de clientes, pela oferta de novos produtos com 'eficiência e rapidez'; a agilização
do fluxo de informações financeiras, num quadro de economia inflacionária; e a
expectativa de redução de custos, em face do aumento da produtividade do trabalho".
(JINKINGS, 2002).
Como afirma Setúbal, presidente do Banco Itaú, citado por JINKINGS
(2002)
36
Segundo os organizadores, o contexto atual de estabilização da
moeda e de 'crescente integração do Brasil à economia
internacional' ocasiona um acirramento da concorrência
interbancária, confrontando até mesmo os bancos nacionais
com grandes instituições estrangeiras. De acordo com sua
interpretação, 'as modernas tecnologias de automação
representam ferramentas absolutamente essenciais para que as
instituições financeiras se mantenham competitivas, ampliando
a oferta de serviços com custos menores e qualidade maior para
seus clientes
21
'. (Setúbal citado por Jinkings, 2002: 118).
Dentro deste contexto de mudanças organizacionais, observa-se a
utilização pelo setor de serviços, incluindo-se o bancário, da implantação e
aprimoramento dos programas de qualidade que supunham aumentar a eficiência e
melhorar as condições de trabalho acompanhadas de redução de custos.
Em número expressivo de bancos, os programas de treinamento
e um sofisticado sistema de comunicação transmitem
insistentemente aos bancários os princípios patronais relativos à
'qualidade total', 'excelência no atendimento', 'competitividade'
no mercado. As equipes 'de qualidade', que tomam aparência de
efetivo instrumento de participação e de manifestação dos
trabalhadores, esvaziando a organização sindical por local de
trabalho, possibilitam a apropriação, pela empresa, do saber
prático acumulado pelo assalariado. Um sistema complexo de
premiação e penalização, vinculado ao alcance de metas
determinadas pelas direções dos bancos, atrela remuneração,
carreira profissional e, em última instância, a manutenção do
emprego ao desempenho individual e coletivo dos
trabalhadores, avaliado segundo os critérios e conceitos
patronais de qualidade e produtividade. (JINKINGS, 2002:
377).
3.2.1.A terceirização e precariedade das condições de trabalho
21
R. Setúbal (Presidente da FEBRABAN), Mensagem do presidente, VII Congresso
Internacional de Automação Bancária (CIAB 97) - Competindo na Era da Tecnologia da
Informação, São Paulo, 1997.
37
De acordo com a dissertação ARTUR (2004), inicialmente a
terceirização era só permitida para os casos de contratos temporários e de serviço de
vigilância como afirma o enunciado 256 do TST (Tribunal Supremo do Trabalho).
Porém, a demanda (inclusive do setor bancário) para que se pudesse terceirizar
atividades consideradas atividades meio e diante dos vários casos de terceirização que
estavam ocorrendo para fraudar os direitos trabalhistas, o TST divulgou o enunciado
331.
O novo enunciado inovou ao ampliar as possibilidades de
terceirização lícita para os serviços de conservação e limpeza,
bem como a de serviços especializados ligados à atividade meio
do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a
subordinação direta (inciso III) e ao determinar, nestes casos, a
responsabilidade subsidiária do tomador de serviços (inciso
IV). O Enunciado 331, além do conceito de atividade meio
como um critério de constatação da licitude da terceirização,
adotou os critérios de ausência de subordinação e pessoalidade.
(ARTUR, 2004:80).
Em análise de entrevista feita com dirigente de base do Sindicato dos
Bancários de São Paulo, JINKINGS transcreve que
É um processo que a gente chama de precarização do trabalho,
descontratação mesmo - não tem contrato de trabalho, porque
eles contratam empresas para fazer os serviços. Os bancos têm
um discurso e uma prática de concentrar naquilo que eles
chamam de 'atividade-fim'. Então, tudo o que não está na
atividade-fim, eles tendem a passar para terceiros ou
estagiários, contratando de uma forma evidentemente
fraudulenta. O estagiário nunca está fazendo estágio
propriamente, está prestando serviços. Desde os serviços de
segurança até os serviços de digitação, passando por
telemarketing, todas as formas que não são exatamente aquelas
de análise de crédito, análise de ouro, os bancos têm
terceirizado. E isso, evidentemente, tem o objetivo de baratear a
força de trabalho, racionalizar internamente a forma de
produção, controlar melhor. Porque as empresas terceiras
controlam seus trabalhos específicos, e o banco controla só
aquela parte que ele executa. (JINKINGS, 2002: 137).
38
Devido ao aumento das terceirizações foi implementada a
responsabilidade subsidiária que como bem explicitada na dissertação de ARTUR
Através da responsabilidade subsidiária, a empresa tomadora
dos serviços será responsabilizada pelo inadimplemento das
verbas decorrentes da relação entre o trabalhador e a empresa
que lhe tenha prestado serviços ligados à atividade meio,
quando se esgotarem os meios de obter a satisfação do crédito
do trabalhador via empresa prestadora. Ou seja, o responsável
principal é a empresa prestadora. Se esta não pagar, quem paga
é a empresa tomadora. (ARTUR, 2004: 85).
Porém, a vinda da responsabilidade subsidiária não implica em melhorias
para o trabalhador já que quando ocorre a inadimplência por parte da empresa
prestadora de serviços, demora-se mais para que o problema se resolva até chegar à
empresa tomadora de serviços. (ARTUR, 2004).
No caso do setor bancário, “No Brasil dos anos 90, a difusão de práticas
flexíveis de organização e contratação do trabalho, referenciadas principalmente no
modelo produtivo japonês, implica um grande crescimento da subcontratação e da
terceirização". (JINKINGS, 2002:132).
Para concluir JINKINGS escreve
A adoção de formas produtivas inspiradas no que alguns
autores chamam de regime de acumulação flexível de capital
possibilita aos bancos contratar e demitir trabalhadores
conforme as necessidades concretas dos processos de trabalho e
as exigências variáveis do mercado consumidor. Especialmente
a disseminação da subcontratação e da terceirização nos bancos
constitui importante mecanismo de diminuição dos custos com
força de trabalho, implicando, para os trabalhadores,
desregulamentação e precarização das condições de contratação
e de remuneração, perda de direitos sociais e fragmentação do
trabalho. (JINKINGS, 2002:376).
Enfim, no caso da terceirização SEGNINI exprime muito bem a situação
dos terceirizados no setor bancário
39
Nos processos terceirizados enfocados - compensação de
cheques, telemarketing, desenvolvimento de softwares, serviços
de courrier -, foi possível registrar, comparando-os com os
mesmos processos realizados nos bancos, redução de custos e
índices de produtividade mais elevados obtidos através do uso
das mesmas tecnologias implementadas tanto pelas empresas
terceirizadoras como pelos bancos. Intensificação do trabalho,
jornadas de trabalho mais longas, freqüentes horas-extras,
salários inferiores, informam as práticas de gestão que
determinam a precarização do trabalho em relação a mesma
tarefa efetuada nos bancos. Somando-se às condições de
trabalho, a permanente incerteza em relação a permanência no
trabalho contribui na construção da precarização social.
(SEGNINI,1999:32).
A intensificação de trabalho para os que ficaram tornou o clima de
trabalho em um clima tenso no qual o foco no cliente e a total qualidade no atendimento
eram cobranças que se reforçavam ainda mais através do medo do desemprego.
Na atualidade, o aprofudamento dos processos de
reestruturação no Banco do Brasil vai imprimindo à instituição
um perfil cada vez mais próximo daquele das empresas
privadas. As políticas gerenciais adotadas desde o início da
década de 90 em bancos como o Unibanco e o Itaú - que
associam intensa pressão e controle da produtividade do
trabalho a estratégias para obter submissão e adesão dos
trabalhadores ao ideário patronal - vão sendo copiadas no
Banco do Brasil nos mínimos detalhes. (JINKINGS, 2002:154).
Observa-se, no entanto, um foco na dimensão humana do trabalhador
como explicitado por JINKINGS: “(...) a súbita redescoberta e valorização da dimensão
humana do trabalhador está muito mais afeita a sinais de limites, problemas e
contradições do capital na busca de redefinir um novo padrão de acumulação com a
crise de organização e regulação fordista, do que autonegação da forma capitalista de
relação humana” (JINKINGS, 2002). Mas, o setor bancário sofre com as mudanças de
reengenharia pelas quais passou e é, de acordo com pesquisa do Tribunal Supremo
Trabalho, o setor com mais ocorrências trabalhistas.
40
De acordo com dados
22
do Tribunal Supremo do Trabalho (TST),
divulgados em 25 de abril de 2005, das trinta empresas que possuem o maior número de
processos ativos em fase de execução no TST, nove é bancos. O Banco do Brasil
encabeça o ranking com 969 processos; em terceiro lugar vem o Banco ABN AMRO
REAL com 401 e, em quarto o Unibanco, com 367. Em nono lugar está o Banco
Bradesco.
Mesmo liderando o ranking de processos trabalhistas e enfrentando um
período de demissões e mudanças organizacionais, a mídia mostra os resultados para os
bancos. A cada ano que passa este setor aumenta a sua lucratividade. O jornal Valor
Econômico em uma quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004 no caderno “Finanças” na
página C1 divulgou que “Bancos têm retorno elevado mesmo com economia estagnada”
e no corpo do texto é possível ler que
mesmo em um ano de economia estagnada como 2003, fraca
demanda por crédito e queda dos juros, os bancos conseguiram
bons resultados. Levantamento da consultoria Austin Assis
envolvendo os balanços de 18 bancos que já divulgaram os
resultados de 2003 registra um lucro líquido consolidado de R$
12.375 bilhões. (CARVALHO, 2004).
O mesmo jornal (Valor Econômico) publicou em 01 de fevereiro de 2005
sobre o lucro do Banco Bradesco. “O Bradesco anunciou ontem o lucro líquido recorde
de R$1,058 bilhão no quarto trimestre, fechando o ano com o resultado de R$3,06
bilhões”. (CARVALHO, 2005).
Seqüencialmente, na edição referente aos dias de 18/19/20 de fevereiro
de 2005, CARVALHO (2005b) divulgava que “Lucro líquido do Unibanco cresce 22%”
(...) “O Unibanco teve um lucro líquido de R$ 375 milhões no quarto trimestre de 2004,
acumulando R$1,238 bilhão no ano, resultado 22% maior do que o de R$ 1,052 bilhão
de 2003”. E por fim, “Lucro do Itaú cresce 19.8% e atinge recorde do setor” ou seja,
“Impulsionado pelas operações de crédito, o Banco Itaú divulgou, ontem, o maior lucro
do mercado financeiro em 2004, R$3,776 bilhões”. (Carvalho, 2005b).
22
Dados obtidos da página http://www.tst.gov.br/noticias/ acessado em 19 de dezembro de 2005.
41
Este capítulo procurou descrever a situação do setor bancário que, a
priori, pode parecer contraditória: os bancos, instituições que exercem um papel de
intermediários entre uma idéia de empreendimento e a sua execução passaram por um
momento de enxugamento de seu quadro de funcionários, ao mesmo tempo em que
visavam um aumento de eficiência. Este momento contribuiu ainda mais para a
construção de uma imagem negativa sobre o setor, pois, se já carregava a fama de um
setor que não media esforços para servir aos interesses do capital, enxugava o seu
quadro de funcionários provocando uma transformação organizacional que, ao mesmo
tempo, exigia que os funcionários remanescentes aumentassem cada vez mais a sua
eficiência. Esta exigência provocou um clima tenso de trabalho, pois, além das
demissões, as terceirizações de diversas atividades estavam ocorrendo.
Nos últimos anos a mídia tem vinculado, no início do ano, os lucros
extraordinários que os principais bancos do país vêm obtendo o que torna ainda mais
duvidosa a preocupação social dos bancos, pois, depois de reduzir o seu quadro de
funcionários a metade, o setor, ao anunciar tamanha lucratividade, não poderia estar
muito preocupado com o desenvolvimento social do país.
Porém, neste contexto, que tem resquícios até os dias de hoje, é possível
observar o papel cada vez mais atuante e exemplar do setor bancário em práticas de
responsabilidade social na tentativa de justificar a sua existência para a sociedade e da
busca de legitimação e reputação, até mesmo, para poder justificar o seu lucro. Como
afirma PENIDO “A responsabilidade social corporativa é a única forma de gerir uma
empresa. É assim que o acionista quer. É assim que ganhamos legitimidade. (...) O
retorno financeiro está atrelado à responsabilidade social, pois gera reputação que é a
forma que a empresa tem de validar o seu lucro”. (PENIDO, 2004)
23
.
Este capítulo procurou focar a situação do setor bancário. Ao fazer este
enfoque, não significa que outros setores da economia não tenham passado por
demissões e precarização do trabalho.
23
Penido é diretor da Votorantim e proferiu uma palestra cujo título é “O processo decisório para a
sustentabilidade” ministrada na 4
a
plenária do 3
o
Seminário Aberto em Minas Gerais “Responsabilidade
Social Empresarial: desenvolvimento sustentável” realizado nos dias 12, 13,14 e 15 de setembro de 2004
em Ouro Preto/Mg. José Luciano Duarte Penido é engenheiro pela UFMG.
42
Vale ressaltar também que neste capítulo procurou-se demonstrar que o
setor bancário, ao aderir ao movimento de demissões e terceirizações, aumentou o
estigma negativo que já carregava. Porém, ao investir em práticas de responsabilidade
social empresarial busca recuperar a legitimidade e justificar os seus lucros como
veremos no próximo capítulo.
O capítulo seguinte consiste na análise empírica desta dissertação. O
estudo, como já descrito na metodologia, contou com pesquisas documentais e
entrevistas. No próximo capítulo verificar-se-á o discurso dos bancos estudados frente à
questão do emprego e o estudo de caso do Banco Itaú e seu discurso, frente aos
funcionários.
4 RESPONSABILIDADE SOCIAL E TRABALHO: O DISCURSO DO SETOR
BANCÁRIO
4.1 Responsabilidade Social e Trabalho
Esta dissertação se propõe a verificar o discurso do setor bancário frente
ao tema da responsabilidade social empresarial interna e o trabalho. A responsabilidade
social empresarial interna é um termo analítico para designar as ações sociais efetuadas
pela empresa e voltadas para os seus funcionários. Após um período de demissões, o
qual agravou ainda mais o estigma negativo sobre o setor bancário, observa-se o
discurso crescente em prol da responsabilidade social empresarial e, ao utilizar este
discurso, o setor bancário está implicitamente e, em alguns casos até explicitamente,
(como veremos neste capítulo) justificando a sua existência para a sociedade.
Ao estudar a responsabilidade social empresarial e, em particular a do
setor bancário, observa-se que existe um campo de estudo amplo, pois, o tema é
composto pelos diversos stakeholders das empresas e cada qual tem a sua
particularidade. Assim, é possível verificar que o termo responsabilidade social
empresarial é polissêmico.
BOURDIEU, citado por DONADONE (1996) afirma que
Entende-se por polissemia um sentido parcialmente
compartilhado para um determinado conceito, onde os
entendimentos implícitos na sociedade em torno de sua
definição fixam-se neste compartilhamento apenas parcial, que
garante um mínimo de acordo e evita uma crise na relação entre
os contendores, para depois evoluir como conflitos simbólicos,
em que cada parte tenta registrar como correta a sua versão
específica do entendimento. (BOURDIEU citado por
DONADONE, 1996: 10).
A polissemia é, portanto, a variação de significado de um termo
interpretado de diferentes formas pelos diferentes grupos sociais, porém, este termo é
aceito por todos em seus pressupostos básicos.
44
A responsabilidade social empresarial, como se pode observar no
capítulo dois, adquiriu um caráter de ação estratégica voltada para todos os
stakeholders, porém, quando vista pela perspectiva do mercado financeiro, torna-se um
dos pilares da governança corporativa; ao ser divulgada através do relatório social dos
diversos bancos, aparece dividida em capítulos que correspondem aos diferentes
stakeholders, porém, cada banco atribui suas ações sociais particulares para cada
stakeholder como sendo responsabilidade social.
É importante notar que até existe um mínimo de consenso sobre o que é a
responsabilidade social empresarial. A construção deste mínimo consenso se deve à
atuação do Instituto Ethos ao atribuir à responsabilidade social, a noção de estratégia
empresarial voltada para todos os stakeholders.Porém, não há especificação quanto ao
conteúdo das ações sociais voltadas para os stakeholders. Para um banco, as ações
sociais que representam a sua responsabilidade social para a comunidade não são as
mesmas ações sociais que aplicam para os funcionários. Da mesma forma, ouvir os
interesses dos fornecedores não consiste nas mesmas ações ao ouvir os interesses dos
acionistas.
Desta maneira, cada banco procura definir as suas ações de
responsabilidade social baseados no pressuposto de que a responsabilidade social deve
abranger ações para todos os stakeholders, porém, como veremos no caso do Banco
Itaú, mesmo a responsabilidade social interna, ou seja, a ação voltada para os
funcionários adquire diferentes significados podendo dividi-los em quatro categorias
24
.
Para o foco desta dissertação que consiste nas ações de responsabilidade
social interna e a questão do trabalho foi necessário um recorte analítico que se limitou
ao discurso dos bancos estudados, sobre as ações sociais voltadas para os funcionários.
Porém, ao estudar a responsabilidade social frente aos funcionários e seus trabalhos
tornou-se impossível não questionar o período de demissão ocorrido, e que também
fazia parte do tema desta dissertação. Para isto, foi expandido um pouco mais o recorte
inicial e, observou-se o discurso recente do setor bancário sobre a questão do emprego.
Para melhor entender o discurso dos banqueiros é necessário separa-lo
em dois aspectos: o discurso referente à busca de legitimidade após grande onda de
demissão, ou seja, o setor bancário adota a responsabilidade social empresarial com a
24
Ver estudo de caso do Banco Itaú ainda neste capítulo.
45
conotação de geração de empregos, através da execução das políticas de microcrédito e,
o discurso da responsabilidade social para funcionários que ficaram.
Os próximos itens estão estruturados de maneira que a questão do
trabalho e do emprego seja o pano de fundo da responsabilidade social dos bancos. O
discurso do setor bancário, como já dito anteriormente, pode ser dividido em dois: o
discurso da responsabilidade social, voltado para a questão do emprego que acaba na
tentativa implícita de se redimir para sociedade no que concerne às políticas de
demissões anteriores, mas que, atualmente é ainda questionada pelo sindicato dos
bancários de São Paulo
25
, e o discurso da responsabilidade social para os funcionários
que ficaram, ou seja, as ações voltadas para os empregados e seu trabalho.
O primeiro discurso tem por base a questão do crédito como propulsor do
desenvolvimento em um plano macroeconômico, do microcrédito como gerador de
empregos, e da política de inclusão financeira que tem como exemplo o Banco Postal do
Bradesco.
O segundo discurso, que consiste em um estudo de caso mais
aprofundado do Banco Itaú é para os funcionários que ficaram e, é dividido em quatro
partes: qualidade “social” total, ouvir os funcionários, benefícios sociais espontâneos e
obrigatórios e governança corporativa
26
.
O mais interessante é notar como os diferentes assuntos vão assumindo a
roupagem da responsabilidade social empresarial, contribuindo assim, para a luta pelo
reconhecimento da sociedade ao tentar gerar legitimidade e reputação.
4.2 Responsabilidade Social Empresarial: Legitimidade e Reputação
A responsabilidade social empresarial representa uma tentativa dos
bancos de melhorarem a sua imagem institucional e, desta forma, conseguir que os
indivíduos, cada vez mais, organizem suas vidas dentro de uma economia financeira
27
.
25
Ao visitar diversas vezes o site dos bancários de São Paulo, www.spbancarios.com.br , pode-se
encontrar notícias, manchetes, etc sempre associando o setor bancário à uma imagem negativa
questionando sempre a questão do desemprego e da precarização do trabalho.
26
Estas quatro variáveis são categorias analíticas elaboradas após a análise dos balanços sociais dos
bancos.
27
Ouve-se falar recentemente em políticas de inclusão financeira por parte dos bancos. Para saber mais
sobre a crescente organização da sociedade sob uma economia das finanças ver: Grün, Roberto.
46
Para focar ainda mais esta análise serão descritas e analisadas algumas
iniciativas que se voltam para o público externo, ou seja, a sociedade como um todo. A
questão do crédito, como gerador de desenvolvimento, as políticas de microcrédito,
como forma de geração de emprego e renda e o banco postal são ações representativas
na tentativa do banco de legitimar a sua atuação financeira na sociedade e vestem a
conotação de responsabilidade social empresarial. No discurso dos banqueiros as
políticas de crédito, microcrédito e o banco postal são importantes para o
desenvolvimento do banco e da sociedade, ou seja, o banco estaria em uma relação de
reciprocidade com a sociedade e seu atual discurso procura enfatizar isto.
Se existe uma relação de reciprocidade, esta é embasada pela confiança,
legitimidade e reputação. Isto significa que o banco busca desenvolver capital social que
gera cooperação e aumenta quanto mais esta última se torna freqüente. Havendo a
cooperação gera-se um campo social no qual os atores se encontram embebidos em
redes de relacionamento, nas quais, o discurso simbólico garante a sua continuidade.
Assim, o banco garante a sua lucratividade baseada em uma lógica
racional cultivada por valores impostos por instituições não-econômicas garantindo sua
sustentabilidade nesta mesma lógica.
Os bancos estariam a cultivar a confiança da sociedade, portanto,
adquirir capital social que é um dos valores estratégicos de grande importância para o
desenvolvimento organizacional. “Para a estabilidade política, para a boa governança e
mesmo para o desenvolvimento econômico, o capital social pode ser mais importante
até do que o capital físico ou humano”. (PUTNAM, 2000). Mas no que consiste capital
social? A definição de Putnam cabe ao caso dos bancos. “(...) capital social diz respeito
a características da organização social, como confiança, normas e sistemas, que
contribuam para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando ações coordenadas”
(PUTNAM, 2000).
O capital social contribui para a formação de um campo organizacional
que nas palavras de DIMAGGIO (1991) consiste naquelas organizações que, em
conjunto, constituem uma área reconhecida da vida institucional e este campo
organizacional é composto de redes de relacionamento que o sustenta. POWELL and
SMITH DOERR (1994) sustentam que a influencia das fontes externas de informação e
Convergência das elites e inovações financeiras: a governança corporativa no Brasil. Rev. Brasileira de
Ciências Sociais, Jun 2005, vol.20, no.58, p.67-90. ISSN 0102-6909.
47
legitimidade são mais críticas nas organizações que produzem serviços que são difíceis
de serem medidos, mas que, todavia, requerem confiança nos métodos e estruturas da
organização. Hospitais, bancos (...), todos produzem serviços que não são prontamente
avaliados por um consumidor comum, mas ele ou ela pode usar as políticas da
organização como um padrão para a qualidade. A rede encoraja a difusão de políticas e
práticas entre os membros de um campo social.
De acordo com os mesmos autores percebeu-se que a centralidade e o
poder das organizações estava fortemente correlacionado com a sua reputação em
influenciar a comunidade. E o setor bancário, em geral no Brasil é um setor
centralizado, pois, é dominado por poucos bancos.
É importante notar que neste campo organizacional, quem possui maior
poder simbólico são os bancos, através de um discurso que é legitimado e reconhecido
pela sociedade e que, portanto, gera reciprocidade. O poder simbólico (BOURDIEU,
1989) é a capacidade dos diversos capitais, (cultural, econômico, social) de serem
conhecidos e reconhecidos em um determinado campo social. O poder simbólico é
importante na construção de uma realidade legítima transformada em senso comum. No
caso da responsabilidade social bancária vemos que são os bancos que ocupam o papel
de portadores deste poder simbólico que procuram uma definição de como as práticas
sociais empresariais devem ocorrer, contribuindo assim, não somente para a realização
destas práticas, mas para a construção do que esta prática significa e quais as suas
conseqüências para a sociedade.
O poder de sugestão que vem através das coisas e pessoas, e que, ao
invés de dizer à criança o que ela deve fazer, diz a ela o que ela é e assim, a leva a se
tornar longamente o que ela deve ser, é a condição para a eficiência de todos os tipos de
poder simbólico que irá, subseqüentemente, ser apto a operar em um habitus predisposto
a responder a ele. (BOURDIEU, 1991).
Percebe-se assim que o poder simbólico é importante na construção do
discurso dos bancos versus o discurso dos bancários, pois são os “conflitos entre
poderes simbólicos que visam impor a visão das divisões legítimas, isto é, construir
grupos. O poder simbólico, neste sentido, é um poder de worldmaking”. (BOURDIEU,
1990). Para que o poder simbólico seja exercido, ele deve ser reconhecido. No próprio
discurso do Bradesco observa-se a tentativa explícita de justificar a existência do banco
48
para a sociedade em busca de seu reconhecimento: “a sociedade percebe o Bradesco
como uma empresa importante não apenas para o desenvolvimento econômico, mas
também para o aprimoramento social. Temos muito orgulho disso”. (BRADESCO,
2003).
4.2.1 A geração de desenvolvimento: crédito
Uma das maneiras de tentar garantir a sua legitimidade e reputação,
portanto, formas de capital social é ser transparente. Um exemplo da necessidade de
transparência nas relações estabelecidas com clientes, funcionários, acionistas,
investidores etc é o caso do Banco Santos que até então era conhecido como um banco
sólido e, em 2004, quebrou financeiramente. As raízes dos problemas no Banco Santos
de acordo com a reportagem de RYDLEWSKY ET ALL (2004), na Revista Veja, de
novembro de 2004, eram principalmente duas: empréstimos podres, pois o banco
emprestou 700 milhões de reais a sete empresas sem crédito no mercado, ou que não
haviam apresentado garantias sólidas. Os clientes atrasaram os pagamentos por mais de
cento e oitenta dias tornando o valor da inadimplência equivalente a todo o patrimônio
da instituição. A outra razão é que o banco oferecia empréstimos com valores acima dos
pedidos e, em contrapartida, exigia que os beneficiários deste tipo de empréstimo
comprassem títulos de empresas ligadas direta ou indiretamente a Edemar Cid
Ferreira
28
.
Houve uma corrida ao caixa. Quando os clientes começaram a suspeitar
da possível situação deficitária do banco houve saques de dinheiro que totalizaram 300
milhões de reais, de acordo com reportagem de RYDLEWSKY ET ALL (2004), na
revista Veja. Falta de ouvir o interesse das partes interessadas, falta de transparência e
mau uso do crédito, culminou na quebra do Banco Santos. Este é um dos exemplos
dentre os quais se inserem a Enron e a Parmalat
29
.
28
Controlador do Banco Santos.
29
A Enron e a Parmalat tiveram as suas marcas e suas empresas envolvidas em escândalos corporativos
da mesma ordem: falta de transparência e maquiagem no balanço patrimonial, gerando uma nuvem de
desconfiança no mercado internacional que mais tarde geraria a lei Sarbanes-Oxley nos Estados Unidos
justamente com o intuito de evitar novos escândalos como este e implantar a governança corporativa. É
importante salientar que empresas brasileiras que têm ações no mercado americano devem se ajustar à
49
A responsabilidade social empresarial junto à transparência surge para
tentar reduzir esta desconfiança e incerteza que, casos como o do Banco Santos
implantaram sobre o mercado financeiro. "Um banco, segundo FETTER (Principles of
economics), é um 'negócio cujo rendimento deriva principalmente do empréstimo de
suas promessas de pagamento". (SCHUMPETER, 1982:69). E, portanto, a redução da
incerteza para que os empréstimos ocorram é vital para o mesmo. A importância do
crédito, e a relação que se estabelece entre banqueiro e empresário é importante para a
questão da responsabilidade social.
Dentro da análise Schumpeteriana existem duas forças motrizes para o
desenvolvimento: o empresário inovador e a expansão do crédito. Schumpeter passa a
ser lido nos anos noventa quando começa a ocorrer uma crescente descrença na
capacidade de gestão do Estado. Schumpeter é contemporâneo de Keynes que
argumentava que a alavanca para o desenvolvimento econômico vinha do Estado. O
Estado era quem injetava os incentivos para o desenvolvimento econômico.
Para SCHUMPETER a economia opera em ciclos econômicos os quais
começam de uma inovação tecnológica, passam por uma fase de adaptação e
estabilização e posterior queda. Assim, o desenvolvimento ocorre de dentro para fora,
através das inovações dos empresários e da concessão de crédito. Para Schumpeter, “o
crédito serve ao desenvolvimento industrial”. (SCHUMPETER, 1982:71).
Quem recorre ao crédito são os empresários que querem e precisam
inovar em algum aspecto da atuação da sua empresa. Portanto “Ele [indivíduo] só pode
tornar-se empresário ao tornar-se previamente um devedor". (...) "O que ele quer
primeiro é crédito. Antes de requerer qualquer espécie de bens, requer poder de compra.
É o devedor típico da sociedade capitalista”. (SCHUMPETER, 1982: 72).
Quem tem a possibilidade de liberar o crédito é o banqueiro e, portanto,
este tem um papel fundamental no desenvolvimento, pois cria poder de compra.
Dentro da perspectiva schumpeteriana “a função principal do mercado
monetário ou de capital é o comércio de crédito com o propósito de financiar o
desenvolvimento. O desenvolvimento cria e alimenta esse mercado”.(SCHUMPETER,
1982:86).
nova lei. Neste grupo inclui-se o Banco Itaú. O mesmo poderá influenciar a adesão à lei dos outros
bancos brasileiros se, principalmente esta adesão lhe trouxer bons resultados.
50
O crédito gera o crescimento, mas na nossa economia as incertezas ainda
são muito grandes e as taxas de juros cobradas por estes empréstimos pelos bancos é
muito alta. Principalmente uma categoria macroeconômica chamada spread bancário.
Spread é a “Taxa adicional de risco cobrada no mercado financeiro, sobretudo o
internacional. É variável de acordo conforme a liquidez do tomador, volume de
empréstimo e o prazo de resgate
30
”.
O spread advém exatamente da incerteza gerada pela desconfiança na
realização de empréstimos, e, portanto, na relação entre credor e devedor. “A raiz dos
juros altos é complexa e envolve outros fatores, como a consistência de política
macroeconômica, o peso do custo da burocracia, a informalidade, a dinâmica da
economia, além das incertezas jurídicas a contratos formalmente legítimos
31
”.
(CYPRIANO, 2004).
Assim, o novo presidente da Federação Brasileira dos Bancos
(FEBRABAN), em seu discurso para a modernização das regras e normas para
empréstimos na tentativa de melhorar as garantias para o credor afirma em um discurso
schumpeteriano a importância do crédito para que haja uma economia de
desenvolvimento sustentável.
Lembro a todos que, com mais poupança disponível e um canal
bancário mais eficiente haverá juros mais baixos e,
conseqüentemente, mais investimentos, e o esperado
crescimento sustentado·
O crescimento sustentado é uma urgência, e concretizá-lo é
desejo de todos; a nossa missão, no Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) é apontar o
caminho para materializar essa aspiração nacional que pode ser
a constituição de grupos temáticos·
A Febraban está totalmente aberta à discussões com
transparência que possam beneficiar a sociedade pois também a
nós interessa juros mais baixos pois reduz a inadimplência e
aumenta a demanda por crédito.
A disposição de ouvir os clientes, de negociar com clientes que ajam
dentro dos padrões da responsabilidade social e da transparência torna-se uma tendência
30
http://economiabr.net/dicionario/stv.html acessado em 11/01/2006
31
http://www.febraban.org.br/Arquivo/Destaques/destaque-spread_bancario_2004.asp acessado em
11/01/2006
51
para, mesmo que informalmente, se reduzam os custos do spread bancário. Tanto o
credor deve adaptar-se às normas de responsabilidade social quanto o devedor que,
falando a mesma língua, consegue com mais facilidades um empréstimo. As
probabilidades de sucesso na transação aumentam, pois tanto credor quanto devedor, ao
utilizar-se da responsabilidade social e de transparência, utilizam-se dos mesmos
códigos exigidos pela sociedade e assim ganham maior respaldo da mesma, criam
reputação, o que contribui para um desenvolvimento sustentado.
O discurso dos bancos sobre a responsabilidade social corporativa
considera o papel do crédito para a geração de desenvolvimento sustentável. Este
mesmo discurso carrega um outro objetivo que é o de criar uma reputação positiva aos
bancos que são estigmatizados (justamente ou injustamente) pela sociedade. Assim, os
bancos tentam mostrar o trabalho que vêm desenvolvendo com a sociedade e a
facilidade que traz ao empresário inovador, no sentido de schumpeter, para concretizar
os seus planos. Tentam com isso, tirar o estigma e, talvez involuntariamente, resolver a
contradição em que se inserem que consiste no fato de serem o setor que mais lucram no
país e que mais demitiu nos últimos anos.
A busca de legitimidade e reputação traz ao banco a confiança da
sociedade e, portanto, esta procura os seus serviços. “Uma das explicações desta fonte
de confiança residiria na preferência generalizada dos indivíduos em estabelecer
transações com pessoas e organizações de conhecida reputação, e não se aterem apenas
à moral ou aos arranjos institucionais para resguardarem-se contra possíveis
problemas”. (GRANOVETTER citado por VINHA 2001).
Como é possível observar no balanço social do Bradesco de 2003, existe
um capítulo cujo título é crédito e ao mencionar as diversas modalidades de crédito o
banco continua com o seguinte discurso
Com o apoio do Banco, o fazendeiro amplia a lavoura, o
industrial contrata gente, o comerciante vende mais, as pessoas
compram mais. Ou seja, a economia ingressa num ciclo de
prosperidade. Os resultados fundamentais são renda e emprego,
fatores do desenvolvimento social.(...) Em termos de crédito - e
lembramos novamente o aspecto social deste tema-, o Bradesco
tem participação expressiva em todas as áreas. (Bradesco,
2003:13 (...): 19).
52
O Banco do Brasil, em sua campanha publicitária relativa ao crédito e a
responsabilidade social mostra-nos a foto de uma cliente e o seguinte discurso “O
Banco do Brasil faz a boutique da Cláudia Galdina crescer. E a boutique da Cláudia
Galdina faz o Brasil crescer”. (VEJA, Dezembro de 2004).
As ações do microcrédito e do banco postal são formas de atuação do
setor bancário, ao mesmo tempo em que legitimam a sua atuação financeira ao serem
inseridas no balanço social.
4.2.2 Microcrédito
A ação social do microcrédito representa, não somente esta busca de
capital social, mas procura demonstrar a reciprocidade do banco com a sociedade
tornando estes serviços em “funções sociais” do banco.
O balanço social do ano de 2003 do Banco Bradesco, publicado em
2003, evidencia o discurso positivo da política de microcrédito ao apresentar dados
sobre o programa
Em agosto de 2003, data de início do programa, o Bradesco
realizou 3.500 operações. No mês seguinte já haviam sido
feitos 18.000 contratos. Em outubro, totalizaram cerca de 60
mil. Nas últimas semanas de dezembro, já contabilizávamos
mais de 205 mil empréstimos na modalidade de microcrédito,
totalizando R$112 milhões. Desse volume de transações,
47.566 são de aposentados e 14.812 provenientes do Banco
Postal. O valor médio de empréstimos é de R$490, e o prazo
médio, 10,2 meses. Esses são indicadores do sucesso do
programa e de seu alcance social. (Bradesco, 2003:19).
Seguindo as tendências relativas ao microcrédito, o governo implantou o
Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado em 2004
32
no qual estabelece
critérios a serem seguidos por todo o mercado.
O Banco Real, desde julho de 2002 possui o Programa Real Microcrédito
que consiste em uma linha de crédito que oferece empréstimos a microempreendedores
32
Para maiores informações sobre o programa ver
http://www.bndes.gov.br/programas/sociais/microcredito.asp acessado em 19 de dezembro de 2005.
53
em regiões carentes na periferia de São Paulo, Campinas e Baixada Fluminense. No
relatório de sustentabilidade do Banco Real, lê-se que os resultados deste programa
somam mais de 3.260 clientes ativos até dezembro de 2004, com valores em torno de
R$1.300 por empréstimo e taxa de inadimplência de 0,5%.
Através do discurso em seu relatório de sustentabilidade, o Banco Real
reafirma o seu desafio que é o de “tornar o programa de microcrédito lucrativo, por
meio da ampliação da carteira de clientes e apoio ao desenvolvimento das atividades
dos pequenos empreendedores”. (ABN AMRO REAL, 2005:38), ao mesmo tempo em
que reafirmam o seu papel social para a sociedade: “Já se prevê que seja
financeiramente sustentável [Programa Real Microcrédito], no segundo semestre de
2005, gerando bons resultados para o Banco ao mesmo tempo em que serve de alavanca
para o desenvolvimento social das regiões em que atua”. (ABN AMRO REAL,
2005:38).
Diógenes CHAGAS, um dos coordenadores da RealMicrocrédito em
Campinas, explicita em seu discurso, a reciprocidade do microcrédito. “Todo mundo sai
ganhando: o comprador, que muitas vezes não tem como ampliar os seus estoques; o
boxista não corre o risco de crédito e deixa de receber a prazo; e o Banco conquista fiéis
e com baixo índice de inadimplência”. (ABN AMRO REAL, 2005:40).
Para finalizar, o relatório de sustentabilidade explicita a fala de
Terezinha da Boa Morte de PAULA, vendedora de almofadas e produtos de limpeza na
feira da Vila Maria, em São Paulo que explicita um certo reconhecimento pelo
programa do Banco. Veja trecho a seguir que foi publicado no relatório de
sustentabilidade do Banco Real.
No nosso grupo, há uma colega da feira de artesanato, uma que
trabalha com tapeçaria e outra que faz perfumes. Estamos
sempre em contato e acompanhamos o trabalho uma das
outras.O microcrédito fortalece não apenas atividades
comerciais, mas também nossos vínculos comunitários.
(PAULA, 2005:41).
4.2.3 Banco postal
54
O Banco Postal é uma parceria do Banco Bradesco com os correios e,
nas próprias palavras do Banco Bradesco, “a criação do banco Postal foi uma iniciativa
cuja potencialidade de transformação da vida econômica do país é expressiva”.
(BRADESCO, 2003: 21). O objetivo central é a inclusão financeira no mercado
bancário de milhões de brasileiros. Antes da vinda do Banco Postal, em 2003, havia no
Brasil 2.351 municípios sem agências bancárias, trazendo diversas dificuldades para os
seus cidadãos. Com o Banco Postal, mais de 1.000 municípios, antes não servidos, estão
sendo servidos.
O público referente ao Banco Postal é formado, em sua maioria, por
pessoas com poucos recursos possibilitando seus pagamentos de contas, recebimento de
aposentadorias, pensões e até mesmo, a possibilidade de ter um talão de cheques, cartão
de débito e realizar empréstimos.
Como explicita bem o discurso da página 24, do balanço social do
Bradesco 2003:
“Essa é a função social da rede de agências do Banco
Postal.Tomando dinheiro emprestado quando necessário,
poupando, pagando contas e recebendo benefícios sem a
necessidade de deslocamentos custosos, os cidadãos ganham a
possibilidade de administrar melhor o seu orçamento. Podem
realizar projetos de prazo mais longo, conseguem cuidar melhor
do seu dinheiro. A própria economia da cidade se modifica. O
Bradesco tem observado que, em cidades que ganharam o seu
primeiro banco, a própria vida econômica está se modificando.
Quando o dinheiro circula e é administrado na própria cidade,
ocorre um estímulo para o comércio, os negócios se
multiplicam e mesmo os preços tendem a baixar, porque não se
paga mais um custo extra pelo transporte da moeda. Com base
nas primeiras experiências e resultados do Banco Postal, o
Bradesco está certo de que chegou à base da pirâmide
econômica brasileira. Os primeiros impactos na vida da
população mais carente são sensíveis. Isso nos dá a certeza de
que o Banco Postal é uma ferramenta importante para reduzir a
desigualdade social no País”. (BRADESCO, 2003: 24).
Neste trecho explicitado no balanço social do Banco Bradesco demonstra
a intenção do banco de legitimar-se frente a sociedade que já se encontra cercada pelo
sistema financeiro e em criar legitimidade para a população que sofre a inclusão
55
financeira através do Banco Postal. Este trecho, ao exprimir que o Banco Postal é uma
ferramenta importante para reduzir a desigualdade social no País permite que se atrele a
prática do Banco Postal às práticas de responsabilidade social do banco que têm o
intuito de ouvir melhor o interesse também deste stakeholder que é a comunidade.
Porém, no meio do sindicato dos bancários a idéia do Banco Postal
levantou dúvidas e receios o que os incentivou a buscar uma entrevista com o presidente
da Febraban para “tirar esta história a limpo” como demonstrado a seguir em trecho
reproduzido da entrevista com Márcio CYPRIANO, presidente da Febraban, para a
revista do sindicato dos bancários de São Paulo.
Revista dos Bancários: No caso do Banco Postal, a idéia é que
os funcionários sejam bancários?
Cypriano: Não, essa é uma operação que foi feita juntamente
com os Correios, em que o funcionário é dos correios. Não só
nos correios, mas o correspondente bancário em geral. Temos
hoje aproximadamente mil pontos, fora do Banco Postal, onde
você faz acordos com lojas, lotéricas, por meio da Caixa
Econômica. Você utiliza o correspondente bancário para dar
vazão a esta quantidade de pessoas que vai aos bancos.
RDB: Mas aí, a bancarização da população será feita através
deste correspondente bancário.
Cypriano: Não, é através de tudo. No ano passado, por
exemplo, a gente abriu várias agências. Quando você tem um
ponto em que, eventualmente, a economia esteja crescendo,
evoluindo, fatalmente a gente vai colocar uma agência também.
A rede vai continuar existindo sempre. Nós estamos hoje com
3.060 agências
33
, aproximadamente. Como a primeira operação
é tão grande você não suporta abrir tantas agências e usa o
correspondente”. (VASCONCELOS, 2004).
Desta maneira, observa-se que o Banco Postal é divulgado pelo balanço
social como sendo uma parceria positiva para a sociedade, mas, ao ler a revista dos
bancários, observa-se que não causou somente impactos positivos.
O discurso da responsabilidade social empresarial do setor bancário, no
que concerne à busca de legitimidade perpassa a questão do crédito, do microcrédito e
do Banco Postal como política de inclusão financeira, na tentativa de justificar a sua
própria existência na sociedade, mesmo sendo um setor historicamente estigmatizado. O
33
Provavelmente, está se referindo as agências do Banco Bradesco, do qual é presidente.
56
discurso da geração de emprego e renda se sobrepõe aos bombardeios sofridos através
da mídia e da sociedade nos anos em que as demissões se sucederam. Mas, e a metade
que ficou? Como descrito no capítulo três, um clima tenso ficou a pairar pelo ambiente
de trabalho dos remanescentes. Como entender então, a existente política de
responsabilidade social voltada para os funcionários que ficaram, em um clima no qual
o fantasma da demissão ainda atormenta sob diversas formas?
Cada banco possui uma maneira de se relacionar com os seus
funcionários. Para esta dissertação foi estudado o caso do banco Itaú, que foi o banco
que melhor forneceu informações e materiais que possibilitaram um estudo mais
completo sobre as ações de responsabilidade social interna. Para a redação do próximo
item foi realizada uma entrevista com o responsável da área de relações com
investidores do Banco Itaú, a análise quantitativa dos balanços sociais publicados no
modelo do IBASE, (de 1998 a 2004) e a análise qualitativa dos relatórios sociais
disponíveis no site (de 2000 a 2004).
4.3 Banco Itaú-História
Em 02 de janeiro de 1945, Alfredo Egydio Souza Aranha inaugura o
Banco Central de Crédito que depois viria a ser tornar o Banco Federal de Crédito. Em
1962 foi divulgada a regra “o banco vive única e exclusivamente de sua clientela, por
isso cada gerente deve fazer com que esses clientes, em qualquer agência onde estejam,
sintam-se em ambiente cordial e tratável. O cliente, antes de ser cliente de uma agência,
é cliente do banco
34
”.
Na década de 60, após um período de crescimento interno de quase 20
anos, há a fusão entre o Banco Federal de Crédito e o Banco Itaú.
De 1964 a 1974 podem ser observadas crescentes fusões, como na ordem
descrita: Banco Sul Americano, Banco da América, Banco Aliança, Banco Português do
Brasil e União Comercial. Em 1979, começa a se consolidar a sua atuação internacional
34
Os dados sobre a história do banco Itaú foram obtidos no próprio site do banco no endereço
http://ww13.itau.com.br/novori/port/ acessado em 11/01/2006
57
com a criação da agência em New York (USA) e posteriormente em Buenos Aires
(ARG).
Na década de 80 adquire um pequeno banco chamado Banco Pinto de
Magalhães e se estabelece firmemente como “Banco Eletrônico”, no qual era possível a
implementação de processamento de sistemas on-line nas agências, evidenciando a sua
prioridade à tecnologia de ponta.
Na década de 90 entra-se em um novo ciclo organizacional, no qual
formou-se uma nova infra-estrutura que daria base, não só a um novo período de forte
expansão interna, como de total segmentação mercadológica. Em 1993, para orientar a
sua ação social e marcar seu compromisso de cidadania empresarial, o Itaú Holding cria
o programa de apoio comunitário (PROAC), atual Programa Itaú Social. Em 1995 é
inaugurada a nova sede do Instituto Itaú Cultural, que iniciou as suas atividades em
1989 com o objetivo de ampliar a divulgação da arte e cultura brasileira. Em 1995
também se observa uma nova fase de expansão por meio de aquisições. O Itaú holding
adquire o BFB – Banco Francês e Brasileiro, reforçando a sua posição no segmento de
clientes de alta renda – tesouraria e corporate banking.
Em 1997, mais fusões. O Itaú adquire o ex-Bamerindus Luxembourg de
Portugal e o Banerj em leilão de privatização de Bancos Estaduais. Em 1998 compra o
Banco Del Buen Ayres e, em leilão, adquire o Memge.
Em 2000, adquire o Banestado, e é criada a fundação Itaú Social para
apoiar projetos do Itaú Social. Em 2001, adquire o Beg (Goiás). Em 2002, o Banco Itaú
SA fez uma associação com o grupo controlador BBA-Creditanstalt que, em 10 de
março de 2003 se tornaria o Banco Itaú BBA SA (maior banco de atacado do país).
Posteriormente, o Banco Itaú SA anunciou uma reorganização societária criando o
Banco Itaú Holding Financeira SA que incorporou, em 24 de março de 2003 a
totalidade das ações do Banco Itaú SA BBA, tornando-se subsidiária do Banco Itaú
Holding Financeira.
A história do Itaú, que no ano de 2005 completou 60 anos, pode ser
resumida na tabela a seguir.
58
TABELA 4.1 História resumida Banco Itaú.
Ano Acontecimento
1945 Egydio Aranha funda o Banco Central de Crédito que se tornaria o Banco
Federal de Crédito.
1964 Fusão do Banco Federal de Crédito com o Banco Itaú
1966 Fusão com o Banco Sul Americano
1969 Fusão com o Banco da América
1970-
1974
Fusão com os Bancos Aliança, Português do Brasil e União Comercial.
1979
Internacionalização do banco com a criação da agência de New York e
posteriormente em Buenos Aires.
1981 Estabelece-se como Banco Eletrônico.
1993 Criação Programa Itaú Social
1995 Inaugurada a nova sede do Instituto Itaú Cultural que iniciou as
suas atividades em 1989. Adquire o BFB- Banco Francês e Brasileiro
1997 Adquire o ex-Bamerindus e o Banerj
1998 Adquire o Banco Del Buen Ayre e o Bemge
2000 Adquire o Banestado e é criada a fundação Itaú Social.
2001 Adquire o Beg
2002 Associação com o grupo controlador BBA tornando-se Banco Itaú BBA SA
que sofrem uma reorganização societária e cria o Banco Itaú Holding
Financeira AS que acaba por adquirir 95,7% das ações do BBA.
Fonte: Elaborado pela autora.
O Banco Itaú entrou na amostra desta pesquisa por ter a publicação de
suas ações sociais na forma de balanço social descritivo, mas também no modelo do
IBASE. Além de ser um banco privado de grandes proporções econômicas para o
Brasil. Como confirmado pela reportagem no Jornal Valor ,“Lucro do Itaú cresce 19,8%
e atinge recorde do setor” (CARVALHO,2005c). O Itaú fechou o ano de 2004 com
43.316 funcionários ao final do período. Veja a seguir o gráfico que demonstra a
59
evolução do quadro de funcionários de acordo com os números divulgados nos balanços
sociais.
N de Empregados Itaú 1998-2004
Ano
2004200320022001200019991998
Mean Numero de empregados
50000
48000
46000
44000
42000
40000
38000
Fonte: Balanços Sociais Ibase (Itaú)
GRÁFICO 4.1- Evolução do número de funcionários Banco Itaú 1998-2004
Pode-se observar, nos números acima, um aumento do número
de funcionários do Banco Itaú nos últimos três anos e uma
queda brusca em 1999, um dos anos centrais nos quais o
contexto econômico e organizacional era repleto de demissões
em todos os setores. Os gráficos abaixo demonstram que existe
também (e talvez não por coincidência que tenha havido um
aumento no número de funcionários do banco
35
) um
crescimento em seu número de admissões, estagiários e
terceirizações. (Vale ressaltar que os balanço de 2003 e 2004
não publicam nada referentes a terceirizações, limitando o
intervalo de tempo sujeito à avaliação).
35
Torna-se necessário saber se o banco, ao publicar este número, contabiliza as suas terceirizações,
estagiários em seu número total de funcionários.
60
Admissões Itaú 1999-2004
Ano
200420032002200120001999
Mean Admissões
6000
5000
4000
3000
2000
1000
Fonte: Balanços Sociais Ibase Banco Itaú
GRÁFICO 4.2 -Evolução do número de admissões banco Itaú
Estagiários Itaú 2001-2004
Ano
2004200320022001
Mean Estagiários
1200
1000
800
600
400
200
Fonte: Balanços Sociais Ibase Banco Itaú
GRÁFICO 4.3- Evolução do número de estagiários Banco Itaú
61
Terceirizações Itaú 200-2002
Ano
200220012000
Mean Terceirizações
11000
10000
9000
8000
Fonte: Balanços Sociais Ibase Banco Itaú
GRÁFICO 4.4 - Evolução do número de terceirizações Banco Itaú
4.3.1 O Banco Itaú e a responsabilidade social interna (um estudo de caso)
A responsabilidade social empresarial interna (RSEI) consiste nas ações
da empresa voltadas para os colaboradores. A RSEI ganha forças na década de noventa
logo após ocorrer o processo de enxugamento do quadro funcional dos bancos. Para
analisar o caso do Banco Itaú foi feita uma pesquisa em seus balanços sociais
publicados no site www.balançosocial.org.br no modelo do Ibase a partir de 1998 até
2004. Além disto, foi feita uma pesquisa nos balanços sociais na forma de relatórios
descritivos disponíveis no site
36
do Banco Itaú a partir do ano de 2000 até 2004. Além
disto, foi feita uma entrevista com os responsáveis pelo “Relações Com Investidores”
do Banco Itaú: Lúcio MARQUES e Anderson LOPES, no dia 04 de abril de 2005. A
entrevista foi gravada, arquivada e transcrita. E por fim, pesquisas feitas na imprensa de
negócios concluíram a pesquisa relacionada ao Banco Itaú.
Através da análise de todo o material, foi possível criar quatro categorias
analíticas nas quais se divide a questão da RSEI: A qualidade “social” total; A
capacidade de ouvir os funcionários; os benefícios obrigatórios e espontâneos e a
Governança Corporativa (GC). Estas quatro categorias se formaram através da análise
dos balanços sociais do Banco Itaú. São categorias nas quais é possível agrupar todos os
itens repetidamente mencionados nos balanços.
36
http://ww13.itau.com.br/novori/port/ acessado em 11/01/2006
62
4.3.1.1 A qualidade “social” total
A qualidade “social” total é um termo aqui expresso para designar a
forma que tomo, no contexto brasileiro e mais específico de cada banco a questão da
qualidade total advinda dos métodos de produção japonesa. A qualidade ‘social’
consiste aqui, nas ações do banco voltadas para os seus funcionários. Este termo adveio
da necessidade de se fazer uma separação analítica do que significa “qualidade total”
nos termos da produção japonesa que se refere à qualidade de processos e produtos da
qualidade social total que se refere à qualidade no atendimento, na maneira de agir e se
portar profissionalmente. No caso do Banco Itaú, esse nome se transforma no nome
“Gestão de Pessoas” como explicitado a seguir por Lúcio MARQUES e Anderson
LOPES.
Eu acho que, primeiro: a questão da imagem da empresa.
Quando você trabalha em uma empresa que tem governança
corporativa, responsabilidade social, tem estes valores postos,
isto acaba fazendo bem para a imagem da empresa e isso faz
com que o funcionário acredite na empresa na qual ele está
trabalhando. Se você trabalha em uma empresa e ela não prima
exatamente pelos valores éticos que ela tem uma qualidade
questionável do ponto de vista de prática gerenciais, ela tem
uma série de problemas neste sentido, é claro que este
funcionário vai trabalhar menos motivado (...) Vai gerar
insegurança para o funcionário. (Trecho da entrevista
05/04/2005).
Anderson LOPES complementa:
Porque o que se tem que tentar preservar a capacidade de seu
funcionário de acreditar na empresa, de vestir a camisa. O
principal, falando de governança corporativa com os
funcionários, de responsabilidade social, eles acabam gerando
um fator positivo para a empresa, no sentido que altera a
imagem da empresa para os funcionários. Para a gente
sustentabilidade envolve também práticas gerenciais, então uma
empresa que quer ser sustentável, não adianta ter só uma boa
responsabilidade social e boa governança corporativa se ela não
63
tem gestão de pessoas. Gestão de pessoas faz parte do processo
também. Como o faz também o código de ética, práticas anti-
suborno, antilavagem de dinheiro que para o banco é muito
importante. (Ibidem).
Portanto, pode-se observar que a questão da qualidade social total, como
gestão de pessoas, está inserida no discurso da responsabilidade social, no intuito de
gerar uma melhor imagem da empresa para o próprio funcionário.
Dentro das ações, que se incluem como investimentos com fim em uma
qualidade ‘social’ total que é divulgada nos balanços sociais do Banco Itaú são:
Desenvolvimento e Capacitação dos Trabalhadores; Implantação da ISO 9000 de
qualidade; Programa AGIR BEM; Código de Ética. Estas variáveis foram escolhidas
por serem repetidamente citadas, nos balanços sociais, sempre atreladas a questão da
qualidade e dos funcionários.
a)Desenvolvimento e capacitação dos trabalhadores
As ações focadas no desenvolvimento e capacitação vêm aumentando
ano a ano no Banco Itaú, como mostram os números divulgados no balanço social
anual. De acordo com o Ibase, investimentos em Capacitação e Desenvolvimento
Profissional significam Recursos investidos em treinamentos, cursos, estágio (excluído
os salários) e gastos voltados especificamente para capacitação relacionada com a
atividade desenvolvida por empregados (as)”. (Modelo Balanço Social Ibase) Veja
gráfico.
64
Capac. e Des. profissional
Itaú 2000-2004
Ano
20042003200220012000
Mean Capacitação e desenvolvimento profissional
50000
40000
30000
20000
Fonte: Balanços Sociais Anuais Ibase (Itaú)
GRÁFICO 4.5 -Investimentos em Capacitação e Desenvolvimento Profissional Itaú
2000-2004
No relatório do balanço social do ano de 2000, o Itaú cita o Centro Itaú
de Educação Gerencial (CIEGE) o qual dispõem de fitas de vídeo e áudio, livros que
auxiliam no aperfeiçoamento profissional dos colaboradores.
b) Programa AGIR BEM
Em 2000, há também menção ao programa AGIR BEM no qual o Itaú
“reconhece e recompensa os melhores desempenhos de suas equipes e funcionários por
meio de um equilibrado Sistema de incentivos vinculados ao programa AGIR BEM”.
(ITAÚ 2000: 23). O sistema de incentivos do banco vai desde comissões mensais por
vendas ou indicações de clientes e prêmios em folha de pagamento, até viagens
internacionais (prêmio máximo). E nesse continuum há bens materiais, vouchers de
compras, e os valores recebidos pelas equipes a titulo de Participação nos Resultados.
c) Certificação com a ISO 9000.
A sistemática da gestão de qualidade vem sendo implantada no Itaú
desde 1996. Desde 2001, a norma de referência é a ISO 9000. “Esta norma enfatiza a
65
importância do cliente no processo da Gestão da Qualidade, bem como suas
expectativas e necessidades, focando a capacidade de a organização planejar o seu
processo e determinar e implementar medidas adequadas para manter e melhorar a
qualidade”. (ITAÚ 2002: 11).
A qualidade social total é exigida, pois o bom atendimento ao cliente
pode passar pelo funcionário sendo ele o veículo para a expressão da qualidade em
atendimento, ética e bom desempenho.
d) O código de ética
37
Em 2000 foi implantado o código de ética do banco Itaú que conta, não
somente com um código de ética geral, como também com outros códigos de ética
setoriais. Como em trecho no balanço social de 2001, “a preocupação do Banco Itaú em
adotar elevados padrões éticos ocupa cada vez mais destaque entre as principais
diretrizes da organização. Na mesma proporção, aumenta a cada dia o nível de
exigência quanto à integridade pessoal e profissional de seus administradores e
funcionários”. (ITAÚ 2001: 08).
E por fim, como descrito na página 09 do balanço social de 2001: “O
código de ética reforça os valores da cultura do Itaú, orientando quanto às condutas
profissional e pessoal a serem seguidas pelos funcionários com todos os públicos com
os quais se relacionam”. (ITAÚ 2001:09).
4.3.1.2 Ouvir os funcionários
A responsabilidade social empresarial, de acordo com definição do
Instituto Ethos consiste em ouvir os interesses dos seus funcionários. O Banco Itaú
divulga que promove ações neste sentido, ao criar o portal RH em 2001, que consiste
em um “canal eletrônico de comunicação interna e de prestação de serviços
relacionados à gestão das pessoas, proporcionando aos funcionários as melhores
37
O banco Itaú disponibiliza os seus códigos de ética em seu site www.itau.com.br
66
ferramentas de trabalho e de acesso a informações de seu interesse”. (ITAÙ 2002: 26).
Em 2002 foi criada a central telefônica “Fale com o RH”.
Desde 1999, o Banco Itaú aplica a pesquisa Fale Francamente na qual o
objetivo consiste em medir o índice de satisfação dos funcionários. Os resultados para
2003 apontam um índice de satisfação média de 78%.
Com a política de ouvir os funcionários e todas as outras atividades que
agora se encontram sob o título de responsabilidade social interna, o banco procura
atingir um patamar de rápida resolução de conflitos.
Como a própria notícia divulgada pelo site do Banco anuncia,
Após alguns meses de trabalho e de negociação, o Banco Itaú
e o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região
assinaram Acordo Coletivo de Trabalho para a criação da
Comissão de Conciliação Voluntária - CCV, com vigência a
partir de 01.05.2002.
O objetivo dessa Comissão é buscar a conciliação e a solução
de eventuais pendências trabalhistas envolvendo o Banco e seus
ex-funcionários, sem que estes tenham que recorrer à Justiça.
(Diretoria Gestão de Recursos Humanos - 2002
38
)
O Diário de São Paulo, em reportagem em 30 de maio de 2004 afirma
que diversas empresas já haviam optado pela negociação direta cm os sindicatos,
abrindo mão de seus processos trabalhistas e que, o Banco Itaú havia desistido de mais
de 500 recursos no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Eram assuntos que já tratavam
de objetos da jurisprudência. Afirma também que um levantamento divulgado havia
quase um ano pelo TST mostrou que de 10 empresas, com maior número de ações,
cinco eram do setor financeiro.
A reportagem na Gazeta Mercantil, em 16 de março de 2005, afirma
também que o Banco Itaú desistiu de 451 recursos nos quais recorria de decisões de
segundo grau na justiça do trabalho. Esta iniciativa somou em 975 recursos que o Banco
encerra. O presidente do Banco Itaú afirmou que estas iniciativas pretendem manter o
“compromisso de contribuir para o desafogo” do Tribunal Supremo do Trabalho.
38
http://ww13.itau.com.br/novori/port/index.htm?http://ww13.itau.com.br/novori/port/noticias/asp/index.as
p?trilha=0,6 acessado em 11/01/2006
67
No primeiro levantamento realizado pelo TST, o Itaú ficou em
41ª colocação. Com a incorporação de quatro bancos, inclusive
de seus passivos trabalhistas, o Grupo Itaú passou para o
segundo lugar no ranking seguinte. Vantuil Abdala destacou
que inúmeros processos tratam de questões que têm
jurisprudência consolidada no TST e a interposição de recursos
representa ônus para as empresas, além de agravar o problema
da demora nas decisões judiciais. Desde a divulgação do
ranking, também anunciaram a desistência de recursos o Banco
do Brasil, o HSBC, o Bradesco e a Caixa Econômica Federal. O
Unibanco também prepara-se para seguir o exemplo.
E por fim, a fala de Lúcio Marques, que procura demonstrar a relação
entre a RSE e a GC ao se tratar, do que ele chama de passivos ambientais e trabalhistas.
As duas [RSE e GC] fazem parte de uma estratégia de longo
prazo que aqui no banco é encarada como parte de
sustentabilidade. A sustentabilidade tem que se dar nas
dimensões econômica, social e ambiental e também em termos
de governança corporativa.É tudo parte de um conjunto, não se
consegue separar muito bem. É claro que governança
corporativa é (ligada mais diretamente aos nossos acionistas).
(...) Essa segurança, esse selo de qualidade da administração,
que é ter uma administração profissional, um conselho de
administração com conselheiros atuantes, ou seja, isso é um
conceito que hoje é muito prezado pelos analistas pelos nossos
acionistas, principalmente fundos de pensões institucionais.
Com relação a responsabilidade social ela é importante não só
pela imagem, pela reputação da empresa, ela reduz riscos (...),
se você pegar o componente ambiental ela é fundamental, não é
só porque se vai estar poluindo o rio, matando os peixes e isto
torna a empresa sujeita a uma série de coisas (perder dinheiro,
contaminar manancial), e pra nós bancos, o componente
ambiental é muito importante. A questão de financiamentos de
projetos, aqui a gente tem uma análise criteriosa que leva em
conta os princípios da IFC (International Finance Corporation)
e é por isso que aderimos aos princípios do equador no ano
passado. Princípio do Equador é uma série de regras da IFC que
rege a concessão de financiamentos acima de 50 milhões de
dólares ou seja, projetos de grande impacto, ou seja, a gente
está falando de uma barragem, a gente está falando de projetos
68
que vão impactar o meio ambiente e estes projetos tem que ter
uma análise de concessão de crédito que leve em conta o
impacto ambiental. Por causa disto, se a gente financia um
projeto poluidor, que cause um impacto negativo no meio
ambiente, a gente tende a perder a imagem, a reputação quanto
a perder dinheiro também, quer dizer, isso tudo para dizer que a
responsabilidade social e ambiental está extremamente ligada à
sustentabilidade da empresa, ou seja, eles querem saber o
seguinte: você tem algum passivo ambiental, pelo menos você
não se cerca de riscos para que estas coisas deste tipo venham a
acontecer? É mais ou menos por aí a análise dos investidores.
(MARQUES, 2005)
4.3.1.3 Benefícios sociais espontâneos e obrigatórios.
A responsabilidade social interna do Banco Itaú consiste em prover
benefícios sociais espontâneos e seguir a lei. Todos estes benefícios são indicadores
para mostrar ao acionista que o banco procura investir na diminuição de riscos, ao
mesmo tempo em que segue os seus valores e princípios [que serão comparados
posteriormente], ao divulgar todas estas informações pelo balanço social.
A discussão que envolve os benefícios sociais espontâneos do banco e os
obrigatórios é muito interessante, pois, nos leva a trilhar caminhos que vão além do
legislativo nacional. A luta dos trabalhadores por seus direitos já é conhecida de longa
data e a Constituição de 1988 representa um marco na consolidação das conquistas
destes direitos. A luta no sindicalismo brasileiro, diferentemente da luta do sindicalismo
europeu, é uma luta a qual se limita à busca de garantir os direitos do trabalhador.
Porém ao entrar no campo da responsabilidade social, muitos atores sociais e
concepções se acham envolvidas: A Organização Internacional do Trabalho (OIT), A
Constituinte de 1988, os Acordos Coletivos e as Jurisprudências além de diferentes
concepções sobre o que é o mínimo necessário para o trabalhador. A crescente
globalização e internacionalização das empresas (o Banco Itaú é um banco que além de
ter agências em outros países, têm papéis na bolsa de valores de New York) as levam a
entender a responsabilidade social interna, por bases mais internacionais, como por
exemplo, ao dizer claramente em seus balanços sociais que seguem as normas da OIT.
Outro exemplo, ainda mais recente, é que, a partir do balanço social de 2004, o Banco
69
Itaú passou a divulgar os seus números sociais também no modelo GRI (Global
Reporting Initiative) que se diferencia em muitos aspectos do modelo do IBASE (mais
nacional).
No balanço social de 2000, o Banco Itaú discrimina o que são os
benefícios sociais chamados por eles de “espontâneos” dos benefícios sociais
“obrigatórios”. Na tabela abaixo, estão eles demonstrados de acordo com o balanço
social do banco em 2000:
TABELA 4.2 Benefícios 2000 Banco Itaú
Benefícios Espontâneos Benefícios Obrigatórios
Plano de Aposentadoria Complementar Alimentação
Assistência Médico-Hospitalar e Odontológica Auxílio-Creche Babá
Serviço Social Transporte
Atividades de lazer, cultura, esporte e recreação
Empréstimos subsidiados
Fonte: Balanço Social Itaú 2000 PGS. 26-28
O Balanço Social de 2001 apresenta a parte de público interno de
maneira bem resumida. Ao citar as atividades que desenvolveu no ano anterior cita:
Treinamento e Desenvolvimento, Atração e retenção de profissionais, Comunicação
Interna, Portal RH, Pesquisa Fale Francamente, Remuneração, Benefícios e Programas
de Incentivo, Programas de assistência a saúde.
No Balanço Social de 2002, os benefícios sociais são apresentados,
porém não são discriminados como acima.
São eles:
TABELA 4.3- Benefícios 2002
Benefícios
Saúde e Segurança no Trabalho
Cultura, Esportes e Lazer ... “continua”...
70
Educação e Treinamento
Nível de Satisfação Interna
Contratação de Pessoas Deficientes
Oportunidades de Carreira
Comunicação Interna
Ações Internas voltadas a Infância e a adolescência
Fonte: Balanço Social Itaú 2002
Já em 2003, o Banco Itaú buscou fortalecer o seu processo de gestão de
pessoas.
As políticas de Gestão de Pessoas e Práticas Gerenciais
expressam o compromisso com seus profissionais e marcam o
aprimoramento do estilo gerencial Itaú. Em 2003, iniciou-se o
processo de divulgação destas diretrizes e de conscientização de
todos os gestores quanto ao papel que têm a desempenhar para
a construção de um ambiente de trabalho cada vez mais
estimulante e gerador de resultados excelentes. O Banco busca
se consolidar como uma referência no mercado de trabalho,
com permanente evolução dos negócios e das pessoas que nele
atuam. (Balanço Social Itaú 2003: 30).
A tabela a seguir, resume o que é exposto pelo banco em seu relatório em
2003.
TABELA 4.4 -Benefícios 2003
“Benefícios”
Educação e Treinamento
Ações de Treinamento e Desenvolvimento
Respeito e Valorização das Diferenças
Compromisso com o futuro dos jovens
Clima Organizacional
... “continua” ...
71
Gestão de desempenho e potencial
Remuneração
Previdência complementar
Comunicação Interna
Cultura, esportes e lazer
Integração de vida profissional e família
Cultura- O Itaú e o MAM
Saúde e Segurança no Trabalho
Relações Sindicais
Fonte: Balanço Social Banco Itaú 2003 Pgs. 30-35
Para o ano de 2004, os benefícios sociais para os trabalhadores são
parecidos como no ano de 2000. São eles: Novo Plano de Saúde; Previdência
Complementar; Cultura, esporte e lazer e Empréstimos aos Colaboradores.
A partir de 2002, no balanço social no modelo demonstrativo do Ibase
existe um item que expressa informações sobre o exercício da cidadania empresarial
quanto à liberdade sindical, ao direito de negociação coletiva e à representação interna
dos (as) trabalhadores (as). A partir de 2002 divulga que incentiva e segue a OIT.
E, por fim, a distribuição do valor adicionado, (DVA) que é um
instrumento cada vez mais valorizado pelos analistas, pois, consiste na distribuição das
riquezas geradas pela empresa entre o governo, seus colaboradores e acionistas. Como
melhor explicita o próprio balanço social de 2000 do Itaú, “a demonstração consolidada
do valor adicionado evidencia o montante agregado pelo Banco Itaú, bem como a sua
distribuição entre os diversos agentes envolvidos no processo produtivo, na forma de
remuneração do trabalho, remuneração do governo e remuneração do capital”. (ITAÙ
2000: 29).
O gráfico a seguir demonstra a evolução das porcentagens pela
remuneração do trabalho, ou seja, a parte referente aos colaboradores.
72
DVA Colaboradores Itaú 2001-2004
Ano
2004200320022001
Mean DVA Colaboradores Percentagem
40
38
36
34
32
30
28
Fonte: Balanços Sociais Ibase Itaú (2001-2004).
GRÁFICO 4.6 -Evolução da parte do DVA para os colaboradores Banco Itaú.
4.3.1.4 Governança corporativa
Ao analisar a Governança Corporativa (GC), pela perspectiva da
responsabilidade social empresarial nos balanços sociais observa-se que no balanço
social de 2000 do Banco Itaú não se menciona a GC. Só a partir do balanço de 2001 é
que passa a existir, até mesmo um capítulo, voltado para a governança corporativa e os
investidores. No discurso do Banco Itaú, a responsabilidade social empresarial e a GC
são parte de um movimento maior que é o movimento da sustentabilidade. Quando se
tenta relacionar a responsabilidade social com a GC, dispomos de duas visões da
realidade social: a primeira é a visão que parte pela perspectiva da responsabilidade
social, na qual a empresa deve ouvir todos os seus stakeholders (acionistas,
funcionários, comunidade etc). A GC consiste na criação de valor para o acionista e um
dos meios é a transparência. Pela perspectiva da responsabilidade social, a GC é um
pilar da responsabilidade social. Quando vista pelo prisma da Governança Corporativa,
a Responsabilidade Social é um pilar da Governança Corporativa, ou seja, mais um
meio de gerar valor para o acionista. Ao verificarmos a fala da entrevista e as pesquisas
documentais, percebe-se que ao menos no setor bancário não existe uma contradição
entre os interesses do capital, e a responsabilidade social interna, pois, a mesma é um
73
dos pilares da boa GC. E veremos também que, a responsabilidade social acabou por se
transformar em uma demanda dos acionistas, que acaba por criar múltiplos efeitos para
a sociedade. Pela perspectiva da responsabilidade social e a responsabilidade social
interna no Banco Itaú percebe-se que o discurso se divide em dois: As demandas
internacionais e nacionais das bolsas de valores (aqui representadas pela Sarbannes-
Oxley e pelo ISE) e a transparência (representada aqui pelo balanço social em si
mesmo).
a) As demandas nacionais e Internacionais
Estas demandas nacionais e internacionais explicitadas a seguir e
representadas pela SOX e pelo ISE demonstram a apropriação pelo sistema financeiro
de pressupostos da responsabilidade social empresarial.
1.Sarbannes-Oxley (SOX).
O banco Itaú consagra-se por ser um das únicas empresas do Brasil a
possuir ações no índice de sustentabilidade dos Estados Unidos chamado Dow Jones
Sustainability Index (DJSI) criado em 1999. Em 2005, o banco Itaú foi selecionado para
compor a carteira do DJSI. O banco participa do índice desde a sua fundação.
Como bem explicita a reportagem do Monitor Mercantil de 13 de
setembro de 2005, ao anunciar a participação do Banco Itaú na carteira do DJSI
2005/2006
A edição 2005/2006 da carteira será composta por 317 empresa
de todo o mundo. A escolha baseia-se, principalmente, na
capacidade das empresas de gerar valor para os acionistas no
longo prazo. Além da performance financeira, também leva-se
em consideração a qualidade da gestão da empresa, que deve
trabalhar com transparência, governança corporativa e
responsabilidade social e ambiental como forma de
sustentabilidade no longo prazo.
Em resposta para a pergunta sobre qual o papel do Banco Itaú na
implementação da GC e da responsabilidade social, Lúcio MARQUES responde:
74
Defendendo os valores que nós defendemos, o respeito aos
acionistas minoritários, transparência, criação de valor para o
acionista, governança corporativa, responsabilidade social todos
estes valores são fundamentais para que uma empresa tenha
desenvolvimento sustentável, para que uma empresa se
perpetue. Esses conceitos são absolutamente essenciais para
qualquer empresa que queira se perpetuar e se preparar para o
futuro; a partir daí, isso também é preponderante para o
mercado de capitais; sendo preponderante para o mercado de
capitais também o é para o desenvolvimento do país. A
contribuição do Itaú está em disseminar, divulgar estes valores,
essas práticas corretas, mostrar para o mercado como que o
banco se beneficia com essa estratégia e fazer com que a gente
sempre procure seguir as melhores práticas do mercado. Saindo
na frente, procurando sempre dar o exemplo e estar à frente do
mercado. (MARQUES, trecho entrevista cedida em 05
de abril
de 2005).
Quando é feita a pergunta se é o mercado que pede governança
corporativa e responsabilidade social, Lúcio MARQUES afirma que é sem dúvidas e
que, ainda, é uma relação de troca.
Os Estados Unidos, para se precaverem contra novos escândalos
corporativos e financeiros criaram a lei Sarbannes-Oxley, mais conhecida por SOX.
Como na fala de Lúcio MARQUES
A Sox é uma lei promulgada pelo congresso norte-americano
em 2002 que rege as negociações de todas as ações que
negociam no mercado norte-americano. Ou seja, isto se estende
as empresas estrangeiras que negociam nas bolsas de valores
dos EUA. Isso inclui o Itaú e mais entre 30 e 40 empresas que
estão listadas na bolsa de valores nos EUA. A gente tem que
cumprir com os critérios desta legislação.Tem algumas
"coisas"que já temos que atender. O comitê de auditoria por
exemplo, ele é um comitê ligado ao conselho de administração,
ele tem certas regras para funcionar, ele tem que ser
conselheiros independente da administração na sua composição
que seria responsável por supervisionar todos os trabalhos da
auditoria interna do banco e também da auditoria externa. Então
o relacionamento da auditoria externa independente com a
administração é intermediado pelo comitê de auditoria.
Basicamente o comitê de auditoria seria, ele dá um selo de
qualidade pelas demonstrações financeiras que você faz. Ou
75
seja, se de repente tem uma operação fraudulenta, se tem
empresas com problemas deste tipo como aconteceu numa
world.com, numa Enron, esse comitê é que tem a função
perante aos órgão reguladores, a SEC de reportar estas falhas
que existam. Ele coordena todo o trabalho de compliance e
controles internos do banco. Isso é um exemplo. O comitê de
auditoria é um requesito da sox que foi regulamentado pela
SEC e que o Itaú já cumpre. Nós deveríamos criar este comitê
até junho de 2005, o nosso comitê foi criado em Abril do ano
passado (2004) já. Tem outras coisas em relação à sox que esta
em processo. Tudo isto é feito com base em prazos, você tem
gradações etc e tal. Uma das coisas que tem por exemplo é a
sessão 404 da Sox que versa sobre controles internos, então
temos que fazer todo um trabalho de auditagem dos nossos
controles internos e quem faz isto é o controle de auditoria
também e na verdade, eles visam a você ter total segurança dos
seus dados. Você estar informando para os seus acionistas, pro
mercado e para o público que a sox suplanta a condição da sua
empresa. (Ibidem).
O índice de Sustentabilidade que entrará em vigor em dezembro segue os
mesmos passos dos Estados Unidos.
2. Transparência
A transparência é um dos pressupostos da governança corporativa e da
responsabilidade social culminando em um elo entre ambas. A transparência se dá na
forma do balanço social, pois, pressupõe-se que o que é divulgado pela empresa é
verdadeiro. Ao divulgar seus dados de responsabilidade social com transparência a
empresa contribui para o desenvolvimento da democracia e de seus canais de
comunicação com seus diversos stakeholders. Ao proporcionar um bom relacionamento
com seus stakeholders a empresa busca a sua longevidade e conseqüentemente a
sustentabilidade expressa em seus aspectos econômicos, sociais, ambientais etc.
Sabe o que acontece? O nome de governança corporativa
abarca um monte de estruturas etc e tal. Não é que o banco não
tivesse práticas de governança corporativa antes, porém ela não
era uma prática normatizada, as práticas sempre existiram,
sempre aconteceram, o banco por ser banco tem que ter
controle interno, noção de risco, mas nunca era uma coisa que
era divulgada e mostrada para o mercado. Sempre existiu. A
76
partir do momento que começou essa demanda,a gente
começou a assumir compromissos públicos, por exemplo, a
nossa listagem no nível de governança corporativa da Bovespa
em 2001. Quando a gente chegou para listar e a Bovespa
colocou as condições dela, basicamente nós não tivemos que
fazer nenhuma alteração. Todas as exigências do nível 1 já
eram cumpridas pelo Itaú. (...) Antes não tinha de repente um
normativo de uma regra operacional de um comitê que
embasasse a nossa prática etc e tal. O Itaú começou a se
normatizar buscando as melhores práticas em tudo o que ele já
atendia e a gente começou a divulgar isso daí.
Eu acho que a governança corporativa hoje é algo fundamental;
tanto no Brasil quanto no exterior ela é fonte de indagações. Eu
acho que já incorporou na análise do mercado de renda
variável...é um critério que já está incorporado.
Lúcio Marques do Itaú quanto à resposta para a questão de que se o
mercado financeiro dá importância para os indicadores externos e internos da
responsabilidade social, ele responde:
Certamente. O que se vê ultimamente é um recrudescimento da
importância da RS. Vale a pena você lembrar que há 5 anos
atrás quase não existiam empresas que publicavam o balanço
social e hoje ele não é obrigatório pela legislação, recentemente
a gente teve uma norma de responsabilidade social lançada
recentemente que recomenda as melhores práticas e hoje todo o
universo das empresas brasileiras publicam o balanço
social.Porquê? Porque é uma demanda dos acionistas, do
mercado de investidores com relação à responsabilidade
corporativa. Isso hoje está inserido na nossa visão no contexto
de sustentabilidade. E ainda, hoje se tem os índices que reúnem
empresas de sustentabilidade que são absolutamente
disputados. No Brasil nós temos três empresas : a O Itaú, a, e a
Cemig que estão no índice Dow Jones de sustentabilidade
corporativa. É o mais imporante do mundo, é um índice global.
Continuando, quando então se pergunta sobre o possível crescimento
pela demanda do balanço social, ele responde que “Com certeza. É uma demanda
inclusive que temos aqui com relação ao balanço social. Muita procura pelo balanço
social do banco tanto por parte de acionistas minoritários como analistas de mercado. É
uma demanda que vem crescendo bastante aqui pra gente (...). (MARQUES,2005)
77
Antigamente, o balanço era feito sem regras e era mais uma
peça de marketing, uma peça de palavras, enfim, era
basicamente um amontoado de ações sociais misturando
filantropia, estratégia, enfim, uma ação social um pouco mal
feita, dispersa. Hoje em dia nós somos cobrados por analistas
que vêm aqui para comprar nossos papéis sobre nossos fatores
sociais. Tanto é que eu e o Anderson somos "relações com
investidores do Itaú"e temos que ter um conhecimento muito
maior sobre questões sociais, a estratégia social, como esta se
insere no contexto geral do banco. Com relação ao balanço
social a gente teve a metodologia do Ibase que surgiu há alguns
anos, e hoje virtualmente 100% aceita no Brasil e agora vê-se
um crescimento muito grande do GRI, neste ano utilizamos
pela primeira vez a metodologia do GRI que vai sair agora no
balanço de 2004 e a gente está vendo uma migração muito
grande para reportar segundo esta metodologia.
(MARQUES,2005)
É interessante notar que, nos trechos acima da entrevista, pode-se
perceber que a prática do accountability pode até ser considerada pelo Ibase, um
instrumento de comunicação com os públicos interessados e realmente é. Mas, para o
banco Itaú é uma importante ferramenta da boa governança corporativa pois gera
transparência e cria valor para o acionista.
Em 2000, O Banco Itaú lançou o Programa Para Contratação de Pessoas
Portadoras de Deficiência. Em 20 de Dezembro de 1999, lançou-se o Decreto de
número 3298, que regulamenta a lei número 7853 de 24 de outubro de 1989, que
dispunha sobre a Política Nacional para a integração da pessoa com deficiência,
consolidando as normas de proteção e dando outras providências. A partir do ano de
2000, o banco Itaú passa a divulgar a evolução dos números de contratação de
deficientes. Veja gráfico a seguir:
78
Deficientes Itaú 2000-2004
Ano
20042003200220012000
Mean Deficientes
1000
900
800
700
600
500
400
Fonte: Balanços Sociais Banco Itaú
GRÁFICO 4.7- Evolução do número de deficientes físicos Banco Itaú
Pode-se observar, portanto, que alguns aspectos da responsabilidade são
espontâneos, porém, outros são coercivos como o caso da contratação de deficientes que
passou a ser divulgada pelo balanço social no ano seguinte à lei de contratação de
deficientes.
Além do número de deficientes, o discurso do banco segue no sentido de
respeitar a diversidade. Por isso, desde 2000, divulgam diversas variáveis do seu quadro
funcional, bem como a evolução do número de mulheres em cargos de chefia, por
exemplo. Veja tabela abaixo, que demonstra os itens divulgados no relatório de balanço
social. É interessante notar, por exemplo, que as variáveis de distribuição por “função” e
“raça e cor” só passam a ser divulgadas a partir do ano de 2003 quando, ao menos a
questão da discriminação dos negros ganha mais enfoque na mídia nacional.
TABELA 4.5 Variáveis divulgadas por ano nos balanços sociais
Perfil/ Ano 2000 2001 2002 2003 2004
Por Sexo X X X X X
Por Tempo de Casa X X X X X
Por Nível de Escolaridade X X X X X
Por Faixa Etária X X X X X
79
Por Distribuição no Local de Trabalho X
Por Função X
Por Raça e Cor X X
Por Estado Civil X
Fonte: Balanços Sociais Itaú
Assim, este capítulo procurou demonstrar a polissemia do termo
responsabilidade social empresarial e também, a maneira como, ao menos o discurso de
legitimação do banco quanto à geração de renda e quanto a RSEI, torna a
responsabilidade social empresarial em um discurso de criação de valor para o acionista,
como fica bem claro no discurso de MARQUES, já reproduzido anteriormente. “Esses
conceitos são absolutamente essenciais para qualquer empresa que queira se perpetuar e
se preparar para o futuro; a partir daí, isso também é preponderante para o mercado de
capitais; sendo preponderante para o mercado de capitais também o é para o
desenvolvimento do país”.
Quando os bancos discursam sobre o microcrédito, o crédito e o banco
postal no balanço social, estes recebem a conotação de responsabilidade social. Os
bancos não estão somente prestando serviços bancários para a sociedade, como também,
estes serviços vêm carregados de uma conotação social que lhes atribui uma certa
legitimidade em fazer parte da sociedade, lhe provê uma justificativa para a própria
existência, e, ao fazer parte da sociedade e justificar a necessidade de sua existência,
passa a ser reconhecido por ela. Neste capítulo foi citado o sucesso que vem sendo as
políticas de microcrédito e do banco postal. Os bancos acabam por exercer uma espécie
de poder simbólico, culminando em uma construção cultural de uma economia
financeira, principalmente ao propiciarem, o que vêm chamando de inclusão financeira.
Ao mesmo tempo, observa-se também que, a qualidade que consiste na
busca da eficiência das pessoas, a necessidade de ouvir os funcionários, os benefícios
sociais obrigatórios e espontâneos, e a própria governança corporativa se inserem no
balanço social, vestindo também a roupagem da responsabilidade social, e
demonstrando a polissemia do termo. O caso do banco Itaú demonstra como a questão
da qualidade, ouvir os funcionários, lhes dar benefícios e utilizar-se da governança
corporativa são ações para a criação de valor para o banco e também para o acionista,
80
pois, estas ações consistem em ferramentas, na busca implícita para a diminuição de
passivos trabalhistas que, pelo princípio da sustentabilidade, é um dos fatores que
garantem a sobrevivência da empresa no longo prazo. Assim, o banco melhora a sua
performance ao investir em capacitação e desenvolvimento profissional, em ouvir os
funcionários etc, acaba por investir em benefícios para os trabalhadores e o resultado
desta soma é a criação de valor para o mercado. A figura abaixo procura esquematizar o
que foi descrito neste capítulo.
FIGURA 4.1- Esquema do Capítulo
RSE
Sociedade
Funcionários
-Crédito
-Microcrédito
-Banco Postal
-Qualidade “Social”
Total
-Ouvir Funcionários
-Benefícios Sociais
Criar Valor Para Acionista
5 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
O problema pesquisado nesta dissertação, era se existia uma contradição
nas práticas de demissão que ocorreram no setor bancário, e os crescentes investimentos
em responsabilidade social empresarial que o setor vinha divulgando. O discurso a ser
estudado era o discurso dos banqueiros e, a forma escolhida foi através da análise dos
balanços sociais, como já justificado na metodologia desta dissertação.
A responsabilidade social empresarial passou por mudanças conceituais,
que foram se construindo a partir de diversos acontecimentos econômicos, políticos,
sociais e organizacionais, que representados por diversas instituições sociais, retiraram a
responsabilidade social empresarial do berço da filantropia, e a trouxeram para o campo
da estratégia empresarial, inserindo-a posteriormente, no campo das finanças.
As mudanças no conceito de responsabilidade social, advindas da própria
sociedade, passaram, pouco a pouco a aproximar a responsabilidade social ao conceito
de governança corporativa e, ambos os conceitos passaram a fazer parte de algo maior,
chamado sustentabilidade.
O mercado financeiro, acompanhando as mudanças que vêm ocorrendo,
incorporou os princípios da sustentabilidade que passaram a ser princípios
predominantes dentro do campo social do mundo das finanças. As finanças
retransmitem estes princípios para a sociedade impondo-lhe a sua lógica. Exemplos
disto são os fundos de pensão adotarem cartilhas de responsabilidade social, a criação
do Índice de Sustentabilidade na Bovespa, a expansão dos fundos éticos de
investimento.
Os bancos fazem parte do sistema financeiro e, como estão inseridos em
um campo social no qual, as instituições sociais se encontram embebidas em relações de
rede, este setor também incorporou os princípios de sustentabilidade.
Através de pesquisa para esta dissertação foi possível chegar às seguintes
conclusões:
a) Os bancos demitiram, agravando o estigma negativo construído
historicamente e passaram a lucrar nos últimos anos. Neste contexto, passaram a investir
em ações de responsabilidade social empresarial. Esta não é uma atitude que apresenta
contradição pois, na verdade, a responsabilidade social empresarial do setor bancário é
82
uma maneira de o mesmo se inserir na cultura brasileira, se legitimar enquanto
instituição, de justificar a sua existência.
b) Ao analisar com enfoque para as ações com os funcionários, as
pesquisas se direcionaram também para as políticas de emprego e geração de renda que
o banco oferecia para a população em geral. Assim, é interessante visitar o site do
sindicato dos bancários de São Paulo e encontrar, até hoje, manchetes que julgam os
bancos negativamente pela demissão massiva ocorrida anos atrás, enquanto observa-se,
no balanço social, o discurso do banco como instituição provedora de geração de renda
e fomentadora do desenvolvimento social através das políticas de crédito, microcrédito
e do banco postal. Estas duas últimas, principalmente, vestem a roupagem da
responsabilidade social, e se inserem na vida de milhares de brasileiros que passam a
organizar as suas vidas em torno de seus empréstimos ou então, passam a fazer parte do
sistema financeiro através da “inclusão financeira”. Desta forma, o setor bancário, ao
incorporar os princípios de responsabilidade social empresarial, os retransmite em um
discurso que o consolida cada vez mais economicamente, carregado de um discurso
simbólico que acaba por ser reconhecido pela população.
c) Quanto aos funcionários, estudou-se mais profundamente o caso do
Banco Itaú e pode-se verificar que, ao respeitar a diversidade, ao contratar negros, ao
contratar deficientes, ao ser transparente na divulgação de seus números, ao ouvir os
funcionários, ao investir na capacitação profissional destes (tudo isto sendo chamado de
responsabilidade social), acaba por modificar (talvez até aliviar) as condições de
trabalho dos funcionários, ao mesmo tempo em que, busca diminuir os seus riscos de ter
passivos trabalhistas. Não se pode esquecer que, como já citado nesta dissertação, o
setor bancário é um dos campeões em número de processos trabalhistas no Tribunal
Supremo do Trabalho (TST).
d) As conclusões descritas em B e C demonstram que, a responsabilidade
social só é consenso, no que concerne aos seus pressupostos básicos que é o de ouvir os
interesses de todos os stakeholders, porém, quando verificada no campo do discurso, ela
encontra diversas conotações com um mesmo fim: o de criar valor para o acionista.
Porém, este fim não é explícito. Ele se insere nas mais diversas formas de
responsabilidade social empresarial, na forma de um discurso econômico carregado de
conotações sociais. A responsabilidade social bancária traz impactos positivos para a
83
sociedade, ao mesmo tempo em que insere o banco cada vez mais na vida de seus
funcionários e da sociedade, trazendo reconhecimento, legitimidade para se construir
uma sociedade sob os auspícios do mundo financeiro.
Não resta dúvidas que os bancos vêm lutando para o reconhecimento da
sociedade. SOUZA (2005), em reportagem para a revista dos bancários, demonstra essa
busca pela melhora de imagem ao anunciar os slogans publicitários dos bancos para o
ano de 2005. “O banco Itaú, aos 60 anos, descobriu que pode ser bom ‘ouvir você’. O
Real garante que é possível ‘fazer mais que o possível’”. Até o Unibanco vinculou um
slogan com uma autocrítica: “Unibanco. Nem parece banco”. A vontade do setor, de
fazer parte da sociedade e se legitimar parece indiscutível, o reconhecimento que a
mesma acaba por atribuir ao discurso do setor, e isto se demonstra com o sucesso de
algumas ações consideradas socialmente responsável. Fica portanto, como consideração
final, uma questão, que procura instigar ao leitor a reflexão sobre esta busca de
legitimidade que, acaba por criar valor ao acionista e garantir a sustentabilidade do
setor, mas, até que ponto interessa à sociedade?
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