reconhecimento que estes mesmos agentes procuram ver garantido para as
suas interessadas atribuições de sentido. Esta é uma característica evidente,
sobretudo em todas as classificações que são construídas em redor de
identidades sociais estereotipadas
21
, o que, para alem de salientar que a lógica
da classificação estereotipada passa por um fechamento da identidade social do
outro num conjunto restrito de propriedades necessariamente depreciadas
(confrontar a análise de Goffman da identidade virtual
22
), lembra que as
mesmas classificações são fruto de uma luta em que o(s) agente(s) ou grupo(s)
procura(m) elaborar um sistema de classificação apto a defendê-lo(s) ou
antecipar em sua defesa as propriedades favoráveis do sistema de classificação
dominante.
Por outro lado, os próprios sistemas de classificação não escapam a uma
igual definição em luta, obedecendo, tal como os esquemas de classificação, à
lógica da tomada de posição
23
. Assim, e ainda que produto de um mesmo
esquema de classificação ou de um sistema de classificação comum, as
classificações sociais – as representações sociais – podem ser alvo de usos
antagônicos, tal como se verifica sempre que os agentes procuram tirar partido
da independência relativa da estrutura do sistema das palavras classificantes e
21
«Os estereótipos são crenças rígidas, aplicadas tanto a categorias inteiras de indivíduos como
a cada individuo. Apesar dos estereótipos serem freqüentemente considerados indesejáveis,
porque também constituem a base do preconceito, eles são essenciais à vida social. Quando
ingressamos em uma situação em que não conhecemos nenhum dos indivíduos, por exemplo,
temos de possuir alguma base para saber o que esperar de nós. A fim de realizar esse
propósito, confiamos no que é chamado de o OUTRO GENERALIZADO, ou seja, a maneira
como vemos aqueles que ocupam determinados status sociais. Quando consultamos um médico
pela primeira vez nada sabemos sobre ele, apenas sobre médicos em geral. Nessa base,
contudo, fazemos todos os tipos de suposições sobre esse dado médico, suposições que são, no
fundo, estereotípicas» (Johnson, 1995:93).
22
Cfr. Goffman em “Stigmate. Les Usages Sociaux des Handicapés”, Paris, Minuit, 1975.
23
«O enjeu das lutas à propósito do sentido do mundo social é o poder sobre os esquemas
classificatórios e os sistemas de classificação que estão na origem das representações e, assim,
da mobilização e da desmobilização dos grupos (...). É somente na e pela luta que os limites
incorporados se tornam fronteiras» (Bourdieu, 1979a: 559).