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JOSÉ LAMARTINE GALVÃO DE CAMPOS
Fatores de atraso no diagnóstico de neoplasias de cabeça e
pescoço
Dissertação de Mestrado apresentada
ao Curso de Pós-Graduação em
Ciências da Saúde do Hospital
Heliópolis HOSPHEL, para
obtenção do título de Mestre.
SÃO PAULO
2006
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JOSÉ LAMARTINE GALVÃO DE CAMPOS
Fatores de atraso no diagnóstico de neoplasias de cabeça e
pescoço
Dissertação de Mestrado apresentada
ao Curso de Pós-Graduação em
Ciências da Saúde do Hospital
Heliópolis HOSPHEL, para
obtenção do título de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. José Francisco de Salles Chagas
SÃO PAULO
2006
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Ficha catolográfica elaborada pela Bibliotecária Lucilene Marques CRB 6/2100. Serviço cnico de
Biblioteca e Documentação da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre / UNIVAS.
S
Campos, José Lamartine Galvão de Campos.
Alguns fatores de atraso no diagnóstico de neoplasias de cabeça e pescoço
/ José Lamartine Galvão de Campos. – São Paulo: 2006.
IX, 87f.
Tese (Mestrado) – Complexo Hospitalar Heliópolis. Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Saúde.
Orientador: Chagas, José Francisco de Salles
Título em inglês: Some factors associated with delay in diagnosis of head
and neck neoplasms.
1. Neoplasias de cabeça e pescoço. 2. Carcinoma de células escamosas. 3.
Câncer bucal. I. Título.
Dedicatória
Aos meus pais, Maria Aparecida
Galvão de Campos e Romeu
Campos (in-memoriam), pela
insubstituível base familiar, onde me
mostraram o que é caráter, dignidade
e generosidade.
À minha esposa Deborah e aos nossos filhos Guilherme, Gustavo e Rodrigo,
por darem sentido à minha vida e por terem compreendido minhas limitações durante
a execução deste trabalho.
A todos os acometidos pelo câncer, especialmente os pacientes que, em meio
ao sofrimento e preocupações provocados pela doença, não se furtaram em colaborar
com esta pesquisa.
Agradecimentos
A Deus, princípio e fim.
Ao Prof. Dr. José Francisco de Salles Chagas, cuja dedicação, disponibilidade
e competência na orientação desta tese me fizeram ver que verdade e ciência não
precisam prescindir de simplicidade.
Ao Prof. Dr. Abrão Rapoport por colocar seu idealismo e determinação a
serviço da ciência.
Ao Prof. Dr. Luiz Alberto Magna, pelo auxílio prestado na análise estatística
e nos resultados desta dissertação
Aos Professores do Curso de Pós-Graduação do HOSPHEL, que me
ensinaram o respeito ao ensino e à pesquisa.
A todos os funcionários do Curso de Pós-Graduação do HOSPHEL, nas
pessoas das Sras. Rosicler Aparecida de Melo e Selma Pagoto, pela atenção a mim
dedicada.
À Sra. Lucilene Marques pela elaboração da Ficha Catalográfica desta
dissertação.
À todos os meus colegas de Curso de Pós-Graduação, especialmente ao
Frank, Daniela, Carlos Barbieri, Helen e Karima, companheiros de luta nesta
conquista.
Aos meus irmãos Cecília e Gil não pelo carinho de uma vida inteira, mas
por terem me apresentado ao meu orientador e me acolhido em sua casa nas
inúmeras reuniões que tive em Campinas para elaboração desta tese.
Ao meu filho Guilherme, expert em informática e seu professor Luiz Carlos
Pereira pela inestimável ajuda na formatação.
Ao Prof. Dr. Paulo Abdala Saad, pelo apoio, incentivo e amizade de sempre.
Ao Prof. Dr. Virgínio Cândido Tosta de Souza por sua consideração para
comigo e pelo exemplo de humanismo e amor à ciência.
Ao Prof. Dr. J. J. Barros (in-memoriam), ícone da Odontologia Brasileira,
pelos ensinamentos que recebi e pela amizade que me dedicou.
Ao Dr. Alfredo Campos Pimenta, que me mostrou os horizontes da cirurgia.
Ao Dr. Luiz Alberto Turqueto Veiga, por ter me despertado o gosto pela
Odontologia.
Aos colegas Dr. Adilson de Paiva, Dr. Antonio Homero Rocha de Toledo, Dr.
José Ildeu Casasanta Dantas e Dr. Pedro Garcia Duarte pelo apoio e companheirismo
incondicionais.
A todos que, de alguma maneira, me ajudaram na elaboração deste trabalho.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Distribuição dos pacientes segundo a queixa principal ........................................
Gráfico 2 Distribuão dos pacientes segundo o sintoma ou sinal mais exuberante...........
Gráfico 3 Distribuão dos pacientes segundo a primeira providência para avio das
queixas ...........................................................................................................................................
Gráfico 4 Distribuão dos pacientes segundo os exames subsidrios realizados .............
Gráfico 5 Resultados da variávelo que vo acha que tem?pelo tempo do paciente ...
Gráfico 6 Resultados da variável “o que você acha que tem?” pelo tempo do
profissional ....................................................................................................................................
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Comparação do tempo do paciente com os grupos definidos pelas demais
variáveis .......................................................................................................................
Tabela 2 Comparação do tempo profissional com os grupos definidos pelas demais
Variáveis.......................................................................................................................
LISTA DE ABREVIATURAS
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCA Instituto Nacional do Câncer
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ..................................................................... I
AGRADECIMENTOS............................................................
II
LISTA DE GRÁFICOS
...................................................................................................I
V
LISTA DE TABELAS ............................................................V
LISTA DE ABREVIATURAS
...................................................................................................V
I
RESUMO VIII
SUMMARY IX
1
INTRODUÇÃO
.........................................................................................
2 OBJETIVO. ........................................................................
3 REVISÃO DE LITERATURA
.......................................................
4 CASUÍSTICA E MÉTODOS
...........................................................
4.1 CASUÍSTICA .........................................................................................
4.2 MÉTODOS .............................................................................................
4.2.1 ESTRATÉGIA DE PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS..
4.2.2 VARIÁVEIS ESTUDADAS ..................................................................
4.2.3 CRITÉRIOS PARA UTILIZAÇÃO DA FICHA CNICA ..................
4.2.4 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS ...........................................................
4.2.5 MÉTODO DE ANÁLISE ESTATÍSTICA .............................................
5 RESULTADOS
.........................................................................................
6 DISCUSSÃO
...............................................................................................
7 CONCLUSÕES
........................................................................................
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
.......................................
ANEXOS
........................................................................................................
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
.........................................................
Resumo
Campos JLG. Fatores de atraso no diagnóstico de neoplasias de cabeça e pescoço.
Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde do Hospital Heliópolis – HOSPHEL
– São Paulo, 2006. IX, 87 f.
A mortalidade por câncer ocupa o segundo lugar em importância nos países
ocidentais, entre eles o Brasil, e as neoplasias de cabeça e pescoço representam 5%
de sua incidência. Atrasos do início dos sintomas ao diagnóstico clínico o comuns,
apesar de a doença ser localizada numa região anatômica que apresenta facilidade
para o exame. Idealmente, o diagnóstico deve ser feito tão cedo quanto possível, pois
minimizar o atraso em diagnosticar a doença, depois do início dos sintomas, melhora
o prognóstico. Na prática, isso não é encontrado com freqüência e o atraso no
diagnóstico consiste em dois elementos: o atraso do paciente em se apresentar ao
clínico e o atraso devido ao profissional consultado. OBJETIVO: Este estudo tem
como objetivo estabelecer fatores que motivaram atraso entre o reconhecimento dos
sintomas iniciais e o diagnóstico formal em uma amostra de 64 pacientes
diagnosticados com neoplasias de cabeça e pescoço. CASUÍSTICA E MÉTODOS:
Utilizando um questionário, 49 homens e 15 mulheres foram entrevistados e os dados
foram relacionados com achados clínicos e sócio- demográficos. RESULTADOS: A
idade média por época do diagnóstico foi de 56,16 anos, com um desvio padrão de
13,05. As queixas principais dos pacientes foram dor, nódulo no pescoço, úlcera,
disfagia e disfonia. Dos pacientes, 73,02% procuraram primeiramente cuidados
médicos, 20,63% automedicaram-se e apenas 6,35% procuraram primeiramente um
dentista. O tempo do paciente, contado desde os primeiros sintomas até o
diagnóstico, apresentou uma média de 273,19 dias. O atraso foi significantemente
associado com a interpretação cognitiva dos sintomas. Pacientes que sabiam ou
suspeitavam do câncer tiveram um maior atraso. O tempo do profissional, contado
desde a primeira consulta até o diagnóstico apresentou uma média de 198,09 dias.
DISCUSSÃO: Comparando o tempo médio de diagnóstico encontrado com trabalhos
anteriores, nossos dados alertam para a necessidade de campanhas de esclarecimento
sobre os sinais precoces do câncer entre a população leiga e os profissionais de
saúde. CONCLUSÕES: As variáveis que influíram para aumentar o atraso do tempo
profissional foram a solicitação de exames subsidiários e o número de outros
profissionais a quem o paciente foi encaminhado. As variáveis sócio-demográficas
(gênero, idade, escolaridade, número de familiares e renda familiar) não mostraram
influência sobre o atraso no diagnóstico.
Palavras chave:
1. Neoplasias de Cabeça e pescoço. 2. Carcinoma de células escamosas
2. Câncer bucal.
Summary
Campos JLG. Factors associated with delay in the diagnosis of head and neck
neoplasms.
Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde do Hospital Heliópolis – HOSPHEL
– São Paulo, 2006. IX, 87 p.
Cancer is the second leading cause of mortality in occidental countries,
including Brazil, and the head and neck neoplasms are 5% of them. Delays from the
onset of symptoms to clinical diagnosis are common although the disease be
localized in an anatomical region that lends easily to examination. Ideally, diagnosis
have to be made as early as possible, because minimising diagnostic delay of disease
after the onset of symptoms improves prognosis. In practice this is not found
frequently and delay in diagnosis consists of two elements – the delay prior to
presting to a clinician plus the other one due to the health professional consulted.
OBJECTIVE: This study aimed to establish factors associated whith delay between
recognition of the initial tumour symptoms and the formal diagnosis among a sample
of 64 patients diagnosed with head and neck cancer. PATIENTS AND METHODS:
Using a questionnaire, 49 men and 15 were interviewed, and the results were related
to clinical and socioeconomic findings. RESULTS: The mean age at diagnosis was
56,16 years (SD + 13,05). The time of the patient since recognition of the inicial
symptoms until the diagnosis showed median delay of 273,19 days. Delay was
significantly associated with the cognitive interpretation of symptoms. Patients with
cancer diagnosis or who suspected cancer had a larger delay. The time of the
professional since the first clinic visit until de diagnosis showed median delay of
198,09 days. DISCUSSION: Comparing the mean time of diagnosis found with
works done before this study suggests the necessity of public campaigns for general
population level and health professionals stressing the need of detecting symptomatic
cancer during its early stages. CONCLUSIONS: The variables associated with
professional delay were the request of diagnostic tests and the referral to oder
professional. The present study found a negative relationship between delay in the
diagnosis and socioeconomic variables as age, gender, education, number of family
members and familiar salary.
Key words:
1. Head and neck neoplasms 2. Squamous cell carcinoma
3. Oral cancer
Introdução
1 Introdução
O câncer é uma doença crônica que provoca invalidez e exige,
freqüentemente, internação hospitalar e acompanhamento ambulatorial, envolvendo
uma equipe multiprofissional altamente especializada e empregando, geralmente,
tecnologia sofisticada e dispendiosa. Assim, o alto tributo pago pela sociedade e
pelos indivíduos acometidos por neoplasias malignas justifica a urgência na adoção
de medidas eficazes para seu diagnóstico e controle (SILVERMAN 1998).
A mortalidade por câncer ocupa o segundo lugar em importância nos países
industrializados do mundo ocidental, depois das doenças cardiovasculares
(CIANFRIGLIA et al., 1991; CAMERINO et al., 1995). Também no Brasil, esta
doença é considerada um problema de saúde pública e está sempre entre as causas
mais freqüentes de morte, ao lado das doenças circulatórias, traumas, doenças
infecciosas e parasitárias e afecções do período perinatal (BRASIL, MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 1995).
Muitos fatores contribuem para o aumento de casos de câncer em um país.
Um deles, o envelhecimento da população, é um fenômeno decorrente do
desenvolvimento sócio-econômico e da medicina, que impede mortes prematuras por
doenças evitáveis. Não existe sociedade sem câncer e cada uma delas terá os tipos de
câncer característicos de seu estágio de evolução. Além do envelhecimento da
população, a urbanização e o desenvolvimento tecnológico expõem a população a
fatores de risco para esta enfermidade, como aditivos alimentares, pesticidas,
hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, níquel, asbesto, poluição ambiental e
tabagismo (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1995 e 2006).
O Brasil vem acompanhando a curva de crescimento da doença apresentada
pelos países desenvolvidos. O mero de novos casos previstos está distribuído de
forma heterogênea nas unidades da federação e capitais do país. A representação
geográfica do risco de câncer evidencia tais diferenças: as maiores taxas se
encontram nas regiões Sul e Sudeste e, as menores, nas regiões Nordeste e Norte
(BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
As neoplasias de cabeça e pescoço representam 5% dos cânceres no mundo
ocidental, dentre eles, o câncer bucal (TEPPO et al., 2003). O câncer de boca é uma
denominação que inclui os cânceres do lábio e da cavidade oral (mucosa bucal,
gengivas, palato duro, língua e assoalho de boca), sendo que o seu principal sintoma
é o aparecimento de feridas nessas regiões, que não cicatrizam em uma semana.
Outros sinais são ulcerações superficiais com menos de 2 cm de diâmetro e
indolores, podendo sangrar ou não e manchas esbranquiçadas ou avermelhadas nos
lábios ou na mucosa bucal. Dificuldade para falar, mastigar e engolir, além de
emagrecimento acentuado, dor e presença de linfonodomegalia cervical são sinais
desta doença em estágio avançado. Segundo a Estimativa de Incidência de Câncer no
Brasil para 2006 (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006), o câncer bucal
apresentará 10.060 casos entre homens e 3.410 entre as mulheres. Ainda segundo a
mesma estimativa, será o tipo de câncer mais incidente em 2006 na população
brasileira (exceto pele não melanoma).
Taxas de incidência e mortalidade por câncer bucal no Brasil são muito altas
se comparadas com as encontradas na Índia, no Paquistão, Singapura, Estados
Unidos, Canadá e França, e a incidência crescente dessa doença nas últimas décadas,
aparentemente, está associada com o alto consumo de álcool e tabaco. (FARIA et al.,
2003).
A laringe é outro local de acometimento freqüente por tumores e é
responsável por cerca de 25% das neoplasias malignas que acometem a região da
cabeça e pescoço e por 2% de todas as doenças malignas. Na história do paciente, o
primeiro sintoma é o indicativo da localização da lesão. Assim, odinofagia sugere
tumor supraglótico e disfonia indica tumor glótico e subglótico. O câncer
supraglótico geralmente é acompanhado de outros sinais e sintomas como a alteração
na qualidade da voz, disfagia leve e sensação de um “caroço” na garganta. Nas lesões
avançadas das pregas vocais, além da disfonia, pode ocorrer odinofagia, disfagia e
dispnéia (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
Em determinadas lesões neoplásicas malignas, com tipos histopatológicos e
localizações específicas, o atraso no diagnóstico pode ser um dos fatores que influem
no desenlace fatal da enfermidade, independentemente de sua agressividade
(CAMERINO et al., 1995). Diferentes estudos demonstraram que o atraso no
diagnóstico de câncer bucal tem sido ligado a pacientes, profissionais ou a ambos, e
tem sido atribuído a diversos fatores como sociais e culturais dentre outros (WILDT
et al., 1995; KERDPON e SRIPLUNG 2001). Sabendo-se que o atraso no
diagnóstico pode piorar a sobrevida em casos de câncer, TEPPO et allis (2003)
salientaram que o estágio avançado por época da detecção do problema pode ser
devido a um rápido crescimento do tumor, à demora do paciente em procurar ajuda,
ou ainda ao erro de diagnóstico pelo profissional.
O problema do câncer bucal no Brasil é preocupante porque as taxas de
incidência e de mortalidade, ocasionadas por ele, estão entre as mais elevadas do
mundo. Além disso, o diagnóstico, que não deveria oferecer dificuldades em vista do
fácil acesso à cavidade bucal é feito geralmente nas fases mais avançadas de
evolução da doença. Tanto a população quanto os profissionais de saúde não estão
devidamente atentos ao problema da prevenção da doença do câncer bucal, o que
determina um atraso considerável no estabelecimento do diagnóstico e no início do
tratamento (KOWALSKI 1991).
Quanto mais cedo for feito o diagnóstico e o tratamento do câncer, melhor
será o prognóstico para o paciente, além do que, o atraso em lidar com o problema
resulta não no aumento do sofrimento do paciente por perda de funções e
mutilação, mas também, na elevação do custo do tratamento, na rejeição social e na
má qualidade de sobrevida (KOWALSKI et al., 1994).
Baseados nos aspectos acima expostos, e na relativamente escassa literatura
sobre o assunto, procuramos avaliar alguns fatores que possam ter motivado o atraso
no diagnóstico de neoplasias em pacientes do ambulatório de Cirurgia de Cabeça e
Pescoço do Hospital e Maternidade Celso Pierro da Pontifícia Universidade Católica
de Campinas, SP e do Hospital Heliópolis de São Paulo, SP.
Objetivo
2 Objetivo
Este estudo tem como objetivo identificar fatores que possam ter motivado o
atraso no diagnóstico em pacientes portadores de neoplasias malignas de cabeça e
pescoço, que buscaram tratamento especializado.
Revisão de Literatura
3 Revisão de Literatura
Os fatores que influenciam o intervalo de tempo desde o início dos sintomas e
o diagnóstico de câncer muito têm sido sugeridos como de elevada importância.
Segundo KURTNER et al., (1958), em 1911 WAINWRIGHT reconhecia que a
procrastinação dos sintomas por parte dos pacientes e a incapacidade do médico em
diagnosticar o câncer seriam fatores associados ao aumento da mortalidade. Estes
mesmos autores referiram que SIMMONS e DALAND em 1920 publicaram um
estudo sobre o tempo de queixa de 519 casos de câncer em adulto, com um tempo
médio de 12,5 meses.
O entendimento das causas do atraso do diagnóstico é fundamental para levar
ao caminho da detecção precoce. TITCHENER et allis (1956) definiram atraso
diagnóstico como “procrastinação de um sinal ou sintoma visível e discernível, que
significa em sua cultura, uma alteração somática deletéria”. O sinal ou sintoma
deverá ser reconhecido pela pessoa como uma indicação de buscar ajuda médica, ou
seja, ele deverá significar uma condição potencialmente grave.
uma concordância geral de que o diagnóstico correto e precoce do câncer,
associado ao adequado tratamento cirúrgico, quimioterápico e/ou radioterápico,
resultará em maiores taxas de cura. O diagnóstico do câncer depende da capacidade
do paciente e sua família em procurar o serviço médico no início dos sintomas e da
perspicácia do médico assistente em pensar na possibilidade de câncer e estabelecer
o pronto diagnóstico e o adequado encaminhamento (KUTNER et al., 1958).
O atraso, entretanto, pode acontecer se decorrer um período de tempo entre as
primeiras modificações biológicas inerentes à doença e o momento do
estabelecimento do diagnóstico e início do tratamento adequado. O período de
tempo, entre as primeiras alterações biológicas e a consciência e reconhecimento dos
sintomas, foi definido por KUTNER et al em 1958, como “atraso inevitável”.
O principal objetivo dos profissionais de saúde é que o paciente procure o
médico antes que se torne sintomático ou tão logo seja percebido o menor sintoma.
Assim, KUTNER et allis (1958), definiram o “atraso evitável”, como o atraso
decorrente do paciente, que mesmo consciente do sintoma, não procura o médico.
Seguindo este raciocínio, a causa do atraso poderia ser decorrente da falha do
paciente ou sua família em reconhecer o sintoma ou de uma procrastinação
verdadeira. Então, o “atraso inevitável” ocorreria, mais freqüentemente, entre aquelas
famílias que desconhecem o câncer ou com menor vel sócio-econômico e
educacional. o “atraso evitável”, seria mais comum entre aqueles com melhor
nível sócio-econômico e educacional, que conhecendo a doença, estariam cientes da
possibilidade do diagnóstico.
MÜLLER (1967), no estudo de uma amostra de 301 pacientes com carcinoma de
boca e face na Clinic for Jaw Disease of the Charité, Alemanha, entre os anos de
1950 e 1960, apontou para o grande valor do diagnóstico precoce. Observou que o
período de atraso por culpa do paciente foi mais curto do que o decorrente da
conduta do profissional que o atendeu, independente da localização do tumor. Dos
pacientes, 70,7% vieram para tratamento pela primeira vez no primeiro mês após a
ocorrência dos primeiros sintomas. Os médicos e dentistas, que foram procurados
nessa primeira consulta, no entanto, encaminharam ao serviço especializado somente
46,5% dos casos nas primeiras 4 semanas subseqüentes. Alertou que exames de
rotina deveriam levar em conta, invariavelmente, a condição da cavidade oral, e se
houvesse qualquer suspeita de câncer, o paciente deveria ser encaminhado para uma
clínica especializada imediatamente, sem perda de tempo.
HACKETT et allis (1973) observaram que pacientes com câncer de cavidade oral
foram duas vezes mais suscetíveis a terem atrasos quando comparados com outros
tipos de câncer.
WORDEN e WEISMAN (1975), propuseram o uso do termo lag time
(intervalo de tempo) em lugar de atraso, por acreditarem ser menos pejorativo e mais
científico, evitando culpar sempre o paciente ou o médico, pois, leva em
consideração fatores como comportamento biológico do tumor, condições sócio-
econômicas e psicológicas. O lag time foi definido como o intervalo de tempo entre
os sintomas iniciais e a procura pelo médico.
Em sua pesquisa, EVANS et allis (1982) sugeriram que pacientes com
crescimento rápido do tumor foram diagnosticados rapidamente, porém esses
diagnósticos foram feitos com a doença num estádio avançado. Por outro lado, os
doentes que apresentaram tumores com crescimento lento tiveram um longo atraso
no diagnóstico, mas a doença foi diagnosticada em estádio ainda inicial.
GUGGENHEIMER et allis (1989), entrevistaram 151 pacientes com câncer
de cabeça e pescoço e verificaram que o atraso profissional ocorreu em 30% dos
casos, variando de 2 semanas a um ano (média de 20 semanas). Dentistas e médicos
foram responsáveis por esses atrasos. A localização da lesão teve influência na
dificuldade do diagnóstico pelos profissionais: atrasos médicos foram
freqüentemente associados a tumores primários de base de língua e tonsilas; tumores
de língua e assoalho de boca, os quais foram mais freqüentes no estudo, somaram a
maior parcela de erros de diagnóstico por dentistas. Os resultados não demonstraram
qualquer relação significante entre atraso no diagnóstico e variáveis sócio-
econômicas. Concluíram que exames orais e de orofaringe, periódicos e rotineiros,
apesar de não serem um conceito novo, precisavam ser enfatizados, particularmente
para população acima dos 50 anos, com histórico de uso de tabaco como fator de
risco primário.
Seguindo o raciocínio de que a cavidade bucal é uma região anatômica
facilmente examinável não só por especialistas, mas como por qualquer clínico geral,
CIANFRIGLIA et allis (1990) consideraram gravíssimo o fato de se atrasar o
diagnóstico clínico e a terapia de pacientes com tumores malignos nessa região.
A alta prevalência do carcinoma epidermóide em pacientes idosos sugeriu a
necessidade de um acompanhamento clínico periódico deste segmento da população,
como forma de diagnóstico precoce, para evitar, assim, cirurgias muito mutiladoras
(FEDELE et al., 1991).
KOWALSKI (1991) afirmou que tanto a população quanto os profissionais
de saúde não estão devidamente atentos ao problema da prevenção do câncer bucal, o
que determina um atraso considerável no estabelecimento do diagnóstico e no início
do tratamento. Considerou, então, este fato lamentável, que o diagnóstico precoce
pode ser estabelecido até mesmo em fase pré-neoplásica ou fases incipientes de
evolução da doença, onde as chances de cura aproximam-se muitas vezes de 100%
(leucoplasia, eritoplasia, carcinoma “in situ” e carcinoma micro-invasivo).
Um estudo de CIANFRIGLIA e MANIERI (1991) em 93 casos de neoplasias
malignas da cavidade bucal, na Itália, de), revelou um elevado número de casos
diagnosticados em estágio avançado. Os autores destacaram a influência do atraso no
diagnóstico num pior prognóstico e pior qualidade de sobrevida dos pacientes.
Atraso do paciente, definido como o tempo desde quando a primeira alteração
foi notada até a primeira visita a um profissional, tem sido associado ao desaviso da
população a respeito dos primeiros sintomas do câncer. Por outro lado, o atraso
profissional é definido como o intervalo de tempo entre a primeira consulta e o
diagnóstico definitivo, sendo relacionado ao treinamento inadequado dos
profissionais para fazer diagnóstico, sendo que ambos interferem no prognóstico da
doença (DIMITROULIS et al., 1992). Este estudo na Austrália revelou um dado
interessante ao descrever uma média de idade geral de 66 anos, encontrando, no
entanto, entre as mulheres uma média de 72 anos, dez anos acima da média dos
homens, estimada em 62 anos.
HWANG et allis (1992), aplicaram questionário a 100 pacientes com
carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço, do Veteran General Hospital, Taiwan,
verificaram que apesar dessas lesões poderem ser detectadas com certa facilidade
pelos próprios pacientes, o diagnóstico e o tratamento atrasaram severamente naquele
país. O estudo apontou os problemas com o tráfego, a dificuldade financeira e o
pouco esclarecimento dos pacientes como algumas das causas. Uma vez detectados
os sintomas, 64% dos pacientes não deram a devida atenção a eles ou lançaram mão
de tratamentos médicos inadequados. Mesmo após o diagnóstico positivo para o
câncer, muitos se voltaram para medicina chinesa de ervas ou temeram ser operados.
Em conclusão, observaram a necessidade de se rever o conhecimento médico e
corrigir a imagem popular de que as ervas tradicionais chinesas são capazes de curar
carcinomas de cabeça e pescoço.
Apesar da natureza equivocada de evidência relativa a uma associação entre
atraso diagnóstico e prognóstico de pacientes com câncer do trato aerodigestivo
superior, alguns estudos investigaram fatores associados com o atraso profissional.
SCHNETLER (1992) relatou um estudo de 96 casos de câncer bucal no Reino
Unido, demonstrando que médicos da família foram significantemente menos
suscetíveis a atrasos no encaminhamento e em fazer um diagnóstico correto que os
dentistas.
JOVANOVIC et allis (1992) observaram 50 pacientes com carcinoma de
células escamosas da cavidade bucal, encaminhados ao Free University Hospital, na
Holanda e o detectaram diferença significante no atraso profissional quando
comparados dentistas e médicos. Tampouco encontraram correlação entre idade, e
gênero dos pacientes com o atraso no diagnóstico.
Pacientes freqüentemente negligenciaram a importância de sintomas
precoces, algumas vezes, por vários meses. Por outro lado, muitos pacientes que
procuraram ajuda médica ou odontológica para sintomas precoces foram
diagnosticados erroneamente, como tendo condições benignas. Como conseqüência,
permaneceram sem diagnóstico e tratamento adequados por longo período de tempo.
Tais atrasos resultaram não no aumento do sofrimento do paciente por perda de
funções e mutilação, mas também, no aumento do custo do tratamento, rejeição
social e qualidade de sobrevida. Avaliando 336 pacientes, os autores observaram
como primeiras alterações, úlcera dolorosa em 63,1% dos casos, disfagia em 22% e
nódulo cervical em 22%. O dentista foi procurado por 63 (18,7%) pacientes,
farmacêutico por 47 (14%) e o médico pelos restantes dos 336 (67,3%) indivíduos da
amostra (KOWALSKI et al., 1994 ).
Levando em consideração que estudos anteriores não haviam encontrado
associação entre o aumento do atraso do paciente com câncer do trato aerodigestivo
superior e um pior prognóstico, naquele estudo, KOWALSKI et al., em 1994
descreveram uma associação entre a piora no prognóstico com o atraso do
profissional. Considerando-se que a boca é um local de fácil acesso ao exame físico,
deduziram existir uma deficiência importante no diagnóstico destes tipos de câncer.
Esta questão foi avaliada num estudo prospectivo realizado nas cidades de São Paulo,
Curitiba e Goiânia durante o período de fevereiro de 1986 a dezembro de 1988.
Avaliaram-se diversos fatores de risco que pudessem haver ocasionado o diagnóstico
tardio de câncer bucal e orofaringeano. Foi observado que, para lesões de lábio,
fatores de risco associados à doença avançada incluíam a presença de ulceração
dolorida, alcoolismo, e reconhecimento tardio da lesão por médico não especialista.
Outro estudo descreveu, para lesões intrabucais, que os fatores de risco
incluíram o tipo de lesão, presença de odinofagia e disfagia, e atraso no
reconhecimento da lesão causado pelo dentista e pelo médico não especialistas
(NORMAN VAN DER DUSSEN 1994).
HUTCHISON (1994) considerou inaceitável a deficiência no diagnóstico dos
cânceres do trato aerodigestivo superior porque: a) pelos menos dois profissionais de
saúde deveriam ser capazes de fazer o diagnóstico; b) a boca é facilmente acessível
para exame direto; c) câncer oral pode ser precedido de lesões pré-malignas. O
desaviso da maioria da população em relação ao malefício potencial das lesões orais,
diagnósticos imprecisos dos profissionais, atraso no encaminhamento para o
tratamento, e difícil acesso dos pacientes ao tratamento especializado foram possíveis
explicações para tais achados.
KERN (1994) realizou um interessante estudo destinado a definir a freqüência com
que atrasos no diagnóstico de câncer levaram a um litígio por negligência e analisou
os resultados legais deste problema. Reviram-se 338 casos de veredictos jurídicos em
42 estados dos EUA de 1985 a 1990, sendo que 10% dos casos foram de câncer de
cabeça e pescoço. O atraso médio no diagnóstico foi de 17 meses. O total de
pagamentos de indenizações por atraso no diagnóstico foi de 140,2 milhões de
dólares, com uma média de 64.600 dólares por caso. Quando o atraso profissional
situou-se entre apenas um e três meses a defesa foi amplamente favorecida (65%).
WILDT et allis (1995) relataram um estudo feito em 167 portadores de
carcinoma de células escamosas da cavidade bucal, com idade média de idade de 66
anos, vistos no Asrhus University Hospital, na Dinamarca. O atraso do paciente foi
significantemente ligado ao gênero, uma vez que as mulheres tiveram um atraso
maior que os homens. Isso também se relacionou com a idade, porque os mais velhos
tiveram um atraso maior. Demonstraram, também, nenhuma associação entre atraso
do paciente e do profissional com o estádio da doença, mas correlações foram
encontradas entre um aumento do atraso profissional e um menor tamanho do tumor
em mulheres e idosos.
GORSKY e DAYAN (1995) examinaram 543 pacientes com câncer bucal e
de orofaringe, com média de idade de 56,9 anos, num período de 10 anos, em Israel,
destacaram a importância do dentista na prevenção e no diagnóstico precoce, com
uma importante correlação entre o estádio do diagnóstico e o profissional: médicos
diagnosticaram 86% dos cânceres, dos quais, metade em estágio avançado; dentistas
diagnosticaram apenas 14%, porém 81% em estágio precoce. Esse estudo concluiu
que, o fato de em Israel, a população costumar consultar primeiro o médico da
família, mesmo em casos de sintomas sem relação com dentes ou gengiva, pode
explicar porque a maioria das lesões foi detectada por médicos e não por dentistas.
ANTCZACK-BOUCKOMS (1995) num estudo no Department of Veterans
Affairs, Estados Unidos, avaliou que os serviços públicos de diagnóstico bucal e
estomatologia, no que diz respeito ao tratamento de câncer bucal e aos resultados
obtidos com este tratamento têm sido pouco eficientes (deixado a desejar?). Na
maioria destes serviços o paciente apresentou-se com um problema na boca, foi
estabelecido o diagnóstico de câncer e fez-se o encaminhado para tratamento em um
centro especializado. Em função disto, ficou difícil avaliar o que ocorreu com os
pacientes quando eles partiram a procura de tratamento. Assim, acreditamos que os
serviços de diagnóstico e o tratamento do câncer de cabeça e pescoço deviam ser
melhor estruturados para monitorar e acompanhar a evolução da doença e de seu
tratamento.
Uma auditoria feita na Inglaterra baseada na experiência de um cirurgião de
cabeça e pescoço durante o período de 5 anos mostrou que em média o tempo
decorrido para o diagnóstico histopatológico de neoplasias da cavidade bucal foi de
apenas 6,4 dias, e o tempo decorrido entre o diagnóstico e o tratamento das lesões foi
de somente 25,8 dias (WORRAL et al., 1995).
CAMERINO et allis (1995) num estudo na província de Cadiz, Espanha, em
70 pacientes com câncer de laringe, numa distribuição de 58 homens (83%) e 12
mulheres (17%), encontraram que o tempo de atraso foi atribuído à estrutura do
sistema sanitário.
Baseados na compreensão de que quanto mais cedo forem feitos o
diagnóstico e o tratamento, melhor será o prognóstico para o paciente, ALLISON et
allis (1998) relataram que apesar de muitos estudos anteriores terem se concentrado
mais em pacientes como a fonte dos atrasos no diagnóstico, outros detectaram que
profissionais de saúde num primeiro atendimento (principalmente dentistas e
médicos clínicos gerais) foram importante fator de atraso no diagnóstico, ao
prolongarem o período entre a primeira consulta e o diagnóstico definitivo com um
especialista. E observaram ainda que, apesar do quadro dos estudos não ser claro,
houve evidências de que variáveis do tumor, como local e tamanho, e variáveis do
paciente, como idade e gênero, e variáveis profissionais como o tipo de profissional,
foram fatores importantes associados com o atraso no diagnóstico. Do estudo
participaram 188 indivíduos com carcinoma de células escamosas de faringe, laringe
e cavidade bucal encontraram 134 (71%) homens e 54 (29%) mulheres. Daquele
grupo de pacientes, 144 (77%) pacientes apresentaram-se primeiramente ao médico
da família e 31 (16,5 %) inicialmente consultaram um dentista.
LEITE e KOIFMAN (1998) constataram que a média de tempo observada
entre a suspeita clínica e a confirmação histológica de carcinoma epidermóide da
boca tem sido considerada alta, com um tempo superior a seis meses,
comprometendo o prognóstico. O perfil do portador de carcinoma epidermóide da
boca, que corresponde a cerca de 90% dos cânceres bucais, conforme os mesmos
autores, foi de baixa classe sócio-econômica e pobre em higiene bucal, entre outros
fatores. Um cuidadoso exame da boca seria a melhor forma de detecção precoce da
doença, uma vez que as áreas de risco poderiam ser facilmente visualizadas, não
requerendo tecnologia especial (VANDERLEI et al., 1998).
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baseados na
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (BRASIL 1998), mostraram que
18,54% da população brasileira nunca freqüentaram o consultório de um cirurgião-
dentista. Segundo a mesma fonte, 15,82% dos adultos acima de 40 anos de idade não
freqüentavam um consultório odontológico há mais de três anos. Além da baixa
freqüência da população aos consultórios odontológicos, o pouco envolvimento dos
cirurgiões-dentistas na área do câncer tem sido relatado em trabalhos que
correlacionam este fato com a falta de precocidade do diagnóstico (HAYASSY
1998).
LEONG et allis (1999) num estudo retrospectivo com 120 pacientes com
carcinoma de nasofaringe, em Singapura, identificaram como principais fatores
responsáveis pelo atraso no diagnóstico: profissionais que não se preocuparam com o
diagnóstico; profissionais suspeitando do problema, mas que erraram o resultado da
investigação; pacientes que recusaram investigação ou o tratamento da doença. Além
do melhor preparo dos profissionais de saúde e do esclarecimento da população, os
autores salientaram que a administração dos hospitais e dos serviços especializados
precisaria ser mais ágil na admissão aos pacientes de alto risco encaminhados, para
minimizar o atraso na confirmação do diagnóstico e o necessário tratamento.
AMIR et allis (1999) afirmaram que o conhecimento do paciente, o alerta e a
possível vontade de agir sob a suspeita de câncer, o grau do impacto sócio/funcional
do problema clínico, ou algum outro gatilho, poderiam motivar uma consulta, e o
período latente entre o reconhecimento do sintoma e a procura de ajuda poderia ser
crucial para o prognóstico. Entrevistando 188 pacientes com média de idade de 65
anos, perceberam uma maior tendência ao atraso em pacientes com câncer de boca
que em outras regiões de cabeça e pescoço. E consideraram interessante questionar a
possibilidade de interpretar errado os sintomas orais como problemas dentais de
rotina, tanto por pacientes quanto por profissionais, não obstante a cavidade oral ser
uma parte relativamente acessível da anatomia comparada com outras regiões da
cabeça e pescoço. 88% dos pacientes procuraram primeiro um médico e apenas 7%,
um dentista. Nenhuma associação significante foi encontrada entre atraso no
diagnóstico e gênero, idade ou classe social dos pacientes. Os primeiros sintomas
mais freqüentes foram: dor (27%); disfonia (26%); nódulo (12%) e disfagia (12%).
HOLLOWS et allis (2000) observaram 100 pacientes com carcinoma de
células escamosas da cavidade oral em Rotherham, durante 6 anos, sendo 72%
homens e 28% mulheres. Verificaram que 56% dos encaminhamentos foram feitos
por médicos e 36% por dentistas. O atraso mais significante foi atribuído ao paciente,
quando 39% se apresentaram em 4 semanas e 29% chegaram a atrasar mais de 3
meses, ao passo que 69% dos médicos e dentistas fizeram o encaminhamento para
serviço especializado na primeira semana após o diagnóstico. Outra observação
importante foi um atraso adicional verificado quando profissionais encaminharam
pacientes com lesões a especialidades não apropriadas, levando a encaminhamentos
indiretos. Apontaram, então, que a educação do público e dos profissionais de saúde
deveria continuar, estimulando a observação preventiva da mucosa oral no auto-
exame ou na rotina do exame odontológico, especialmente nos pacientes de risco
como tabagistas e etilistas, uma vez que o diagnóstico precoce é importante fator de
um bom prognóstico. Não houve diferença significante de atraso relacionada a idade
ou gênero na amostra.
Campanhas de educação do público combateriam o chamado “atraso
evitável” decorrente de sentimentos variados que envolvem o processo diagnóstico.
Muitos, ao perceberem algum sintoma “suspeito”, poderiam sentir-se aterrorizados
frente à possibilidade do diagnóstico. O medo os impediria de procurar o médico,
que do seu ponto de vista, nada mais poderia ser feito; afinal, eles contraíram um
“câncer”! O medo também poderia suscitar uma reação de negação: “não deve ser
nada grave, logo estarei melhor!” (HOLLAND e LEWIS 2000).
KOIVUNEN et allis (2001) coletaram dados de 84 pacientes com câncer de
faringe, na Finlândia, para estudar o impacto do atraso do paciente e do profissional
na sobrevida, demonstraram que doentes que atrasaram 2 meses ou mais tiveram um
perigo relativo de morte significantemente elevado. Destacaram, também, que apesar
da referida facilidade de exame clínico, os cânceres de cabeça e pescoço foram,
lamentavelmente, detectados, ainda, em sua maior parte, em estágio avançado,
especialmente as lesões de faringe.
As causas mais importantes de atraso no diagnóstico do câncer de boca e
orofaringe foram a evolução oligossintomática, pouco conhecimento sobre a doença
entre pacientes e profissionais da saúde, medo do diagnóstico e dificuldades para
acessar o sistema de saúde (KOWALSKI 2001).
COSTA e MIGLIORATI (2001) observaram em sua pesquisa que a maioria
dos pacientes havia sido examinada por pelo menos dois ou três profissionais de
saúde antes de ser encaminhada para diagnóstico e tratamento. Deste modo, foi
comum observar pacientes portadores de lesões extensas, com meses ou anos de
duração, causando morbidade e severas alterações no prognóstico e na qualidade
de vida.
KERDPON e SRIPLUNG (2001) verificaram que fatores culturais da
população podem influir no atraso do paciente. Analisando 164 pacientes no sul da
Tailândia, notaram que tanto na análise univariada como na multivariada, a
medicação com ervas tradicionais foi um marcador significante no de atraso do
paciente, quando aqueles que receberam medicação tradicional antes da consulta
tiveram maior atraso. Além disso, o atraso total foi influenciado por religião:
budistas, por exemplo, tiveram menos atraso no diagnóstico do que os mulçumanos.
As variáveis gênero, idade, estado civil, ocupação, dentre outras, não tiveram
associação com o atraso no diagnóstico.
KUMAR et allis (2001) entrevistaram pacientes com câncer bucal na Índia, e
analisaram fatores psico-sociais ligados ao atraso na apresentação do paciente ao
serviço especializado, revelando cinco marcadores independentes e significantes: “o
paciente resignado a ter câncer”; “o câncer como uma maldição”; “a
indisponibilidade de transporte até o hospital”; “úlceras triviais na boca o
autolimitantes” e “tratamento prolongado deixa a família estressada”.
SIMUNOVIC et allis (2001), em estudo no Canadá, pediram que 62
cirurgiões avaliassem atraso no tratamento de 1456 pacientes com câncer. Os
cirurgiões julgaram que houve longo tempo de espera por cirurgia em 334 (37,2%)
casos. Destes, 181 casos tiveram seu tratamento cirúrgico atrasado por aguardar sala
cirúrgica, 156 casos tiveram falta de recursos como testes de diagnóstico e 28 casos
atrasaram por preferências circunstanciais do paciente.
CARVALHO et allis (2002) salientaram o consenso geral de que o estádio
clínico no momento do diagnóstico tem sido o marcador mais importante de
recorrência e morte em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, e encontrou em
seus estudos que esse estádio clínico no diagnóstico foi associado à característica
sócio-demográfica, atraso do paciente e atraso do profissional. A pesquisa foi
realizada com 679 pacientes com idade média de 58 anos.
Sabendo da importância da detecção e tratamento precoces do câncer bucal na
melhoria do prognóstico, PITIPHAT et allis (2002) estudaram 105 pacientes entre
1995 e 1998 com câncer bucal na Grécia, com uma média de 64,6 anos de idade e
um desvio padrão de 14 anos na amostra. A maioria dos pacientes do estudo declarou
estar empregada. Deles, 56,4% tinham até seis anos de escolaridade e 43,6%
possuíam de 7 a 12 ou mais de escolaridade. O estado civil interferiu na pesquisa,
quando solteiros tiveram atraso maior que os casados, viúvos e separados, nesta
ordem. Verificaram, como resultado, que atrasos do início dos sintomas até o
diagnóstico são comuns. Eles consideraram atraso se, 21 dias ou mais se passaram
entre a percepção dos sintomas e o diagnóstico, o que ocorreu em 52% dos casos.
TEPPO et allis (2003) consideraram que a razão para o paciente ser visto com
neoplasias de cabeça e pescoço em estádio avançado pode ter sido devido a um
rápido crescimento do tumor, mas também ao atraso do paciente em procurar ajuda
ou ainda por erro de diagnóstico do profissional procurado. Os autores observaram
que o paciente pode ter adiado a decisão de procurar ajuda por não haver sintomas
alarmantes ou quando, por ignorância, negou a malignidade.
FARIA et allis (2003) determinaram em seus estudos que 70% da população
de Uberlândia, ignoravam a existência do câncer oral e que as queixas dos pacientes,
bem como os locais das lesões, estavam associados ao tipo de profissional que eles
procuraram. Observaram também que, como em outras partes do mundo, no Brasil
existe a mentalidade popular de que dentistas e médicos são treinados diferentemente
e pacientes com problemas bucais não relacionados a dentes ou gengiva ou com
reclamações sistêmicas freqüentemente preferem procurar ajuda médica a um
cirurgião dentista. Câncer, seja ele oral ou não, foi tomado como problema médico.
No entanto, em contraste, encontraram que, as lesões maiores de 5 cm foram
detectadas em maior número por dentistas. Analisando 354 casos de carcinoma oral
de células escamosas, sendo 79,9% de homens (com idade média de 57,7 anos) e
20,1% de mulheres (com idade média de 59,6 anos), num hospital brasileiro,
verificaram que grande parte das lesões (50,2%) foi detectada em estádio avançado,
achados semelhantes aos reportados por outras instituições do Brasil, dos EUA e da
Europa. Os pacientes apontaram como primeiros sintomas dor (33,5%) seguido de
disfagia (13,6%). Dos pacientes, 63,6% procuraram primeiramente um médico e
36,4% um dentista
ONIZAWA et allis (2003) também enfatizaram o encaminhamento indireto
como fator de atraso significativo e que a sintomatologia pode interferir na demora
do diagnóstico. Em uma amostra de 152 pacientes no Japão com câncer bucal
observaram o fato de que pacientes, cujas dentaduras começaram a se desencaixar
como primeiro sintoma, mostraram uma tendência para atraso no diagnóstico, uma
vez que dentistas se mostraram inclinados a apenas ajustar a prótese ou os dentes
próximos à lesão, atrasando a suspeita de malignidade. Pacientes com lesões brancas
ou ulcerações como sintomas iniciais mostraram atraso mais freqüente que aqueles
com dor ou edema. A habilidade de diferenciar câncer bucal de lesões benignas é
necessária ao dentista e ao médico no exame inicial, para reduzir o atraso associado
ao profissional.
ABDO e AGUIAR (2003) num estudo em Belo Horizonte entrevistaram 154
pacientes portadores de carcinoma epidermóide da cavidade bucal e encontraram 124
(80,5%) homens e 30 (19,5%) mulheres, sendo que nenhum deles afirmou ter o
hábito de freqüentar um consultório odontológico com periodicidade, apesar de
96,6% declararem possuir acesso a serviços odontológicos públicos. Dos pacientes,
124 entrevistados declararam ter passado 8,7 anos, em média, sem consultar um
cirurgião-dentista, o que os fez concluir que a pouca precocidade do diagnóstico não
está determinada apenas pela falta de treinamento do profissional.
TROMP et allis (2004) estabeleceram correlações significantes entre atraso
no diagnóstico e fatores psicológicos. Dos pacientes, 26% que esperaram mais de 3
meses para procurar ajuda médica reportaram menos otimismo, menos confiança em
sua saúde e menos capacidade de enfrentar problemas ou aceitar ajuda que os
pacientes que se apresentaram em menos de 3 meses. Consumidores excessivos de
álcool tenderam a mostrar maior atraso que os pacientes que não bebiam ou que
bebiam moderadamente.
Programas de rastreamento para detecção do câncer em estádios
assintomáticos têm sido a base das tentativas de redução da mortalidade de alguns
tumores. LLEWELLYYN et allis (2004) apontaram que o atraso no diagnóstico de
câncer bucal contribuiu para um prognóstico ruim, e que isso poderia ter sido
influenciado por programas de esclarecimento público. Constataram que não um
programa formal de esclarecimento sobre câncer bucal no Reino Unido ou em outros
países, exceto Cuba.
Atentos ao fato de que um diagnóstico precoce em câncer de cabeça e
pescoço estava associado a uma maior sobrevida e com melhor qualidade, em outro
estudo, TROMP et allis (2005), na Holanda, observaram 306 casos desta doença. Os
autores não estimaram a média de idade dos pacientes, mas referiram que 61% deles
tinham menos de 65 anos e 39%, mais de 65 anos de idade e que 49% dos pacientes
tinham escolaridade primária; 33% secundária e 18% superior. A maioria dos
doentes foi primeiro a um médico clínico geral ou ao dentista, que os encaminhou ao
especialista e tendo ainda comprovado que o atraso do profissional influenciou o
estádio tumoral por época do diagnóstico e, conseqüentemente, a sobrevida, os
autores procuraram identificar fatores ligados ao paciente que estivessem associados
ao atraso na consulta em um serviço especializado. Possivelmente, quando não houve
interferência com funções orgânicas, os pacientes não se incomodaram com os
sintomas e optaram por atrasar suas consultas. Esses pacientes, que não tinham
nenhum conhecimento de câncer de cabeça e pescoço e não suspeitaram de sua
própria doença foram os que mais adiaram suas consultas. Uma razão
freqüentemente mencionada foi que os pacientes interpretaram os sintomas como
inofensivos, em parte porque eles foram tranqüilizados numa primeira consulta. Esse
falso senso de segurança levou muitos doentes a adiarem a procura pelo especialista.
Outros, por não valorizarem os sintomas, alegaram dar prioridade a outros
compromissos, como viagens. Portanto o modo como o paciente encarou os sintomas
foi decisivo. Não houve significante associação entre atraso e variáveis sócio-
demográficas.
O’SULLIVAN (2005) salientou a importância do diagnóstico precoce e o
papel vital que desempenharam os profissionais do atendimento inicial, uma vez que
certos sintomas (dor e edema) favoreceram o diagnóstico precoce. Verificou, porém,
nesse estudo na Irlanda, que o atraso geral no diagnóstico foi altamente dependente
do local da lesão, mas não evidenciou relação entre este atraso e o gênero, a idade ou
o hábito de uso de tabaco e etilismo.
Casuística e Métodos
4 Casuística e Métodos
4.1 Casuística
Foram entrevistados, individualmente, 64 pacientes admitidos no Serviço de
Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital e Maternidade Celso Pierro da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas-SP ou no Serviço de Cirurgia de Cabeça e
Pescoço do Hospital Heliópolis Hosphel, São Paulo, no período de fevereiro de
2005 a março de 2006.
Os critérios de inclusão admitiram na pesquisa pacientes que chegaram aos
serviços especializados com suspeita clínica de neoplasia maligna de cabeça e
pescoço, as quais foram confirmadas posteriormente por biópsia.
Seriam excluídos da investigação pacientes que não tivessem a suspeita
clínica confirmada por exame histopatológico.
O Projeto de Pesquisa foi submetido à apreciação e aprovação do Comitê de
Ética e Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. (ANEXO 1)
4.2 Métodos
Constou de um Estudo de Coorte Prospectivo, com análise da história clínica
e socioeconômica dos pacientes através de questionário respondido pelos mesmos
por ocasião de sua apresentação aos serviços especializados em tratamento de
neoplasias de cabeça e pescoço dos supracitados hospitais.
4.2.1 Estratégia de processamento e análise dos dados
Para registro e arquivo das informações coletadas, bem como para a análise
estatística, foi criado um banco de dados específico, utilizando-se o programa
estatístico SPSS para Windows. Release 12.0.0 EUA: SPSS Inc., 2003.
4.2.2 Variáveis estudadas
As variáveis do estudo de coorte prospectivo foram obtidas pelo
preenchimento de uma ficha clínica pelo pesquisador, por meio de entrevista
individual com os pacientes por época da apresentação dos mesmos ao ambulatório
dos Serviços de Cabeça e Pescoço dos Hospitais Celso Pierro, Campinas-SP e
Heliópolis, São Paulo-SP, no período de fevereiro de 2005 a março de 2006.
(ANEXO 2 )
4.2.3 Critérios para utilização da ficha clínica
Nestes primeiros itens coletamos informações gerais do paciente como a
procedência, dados pessoais, e características sócio-econômicas. Por norma do
Comitê de Ética a que o trabalho foi submetido, a Identificação do paciente foi feita
pelo Número do seu Prontuário, a fim de preservar sua identidade.
Para as análises, os pacientes foram classificados nos seguintes grupos: Idade
(expressa em anos), Sexo (gênero masculino e feminino, tendo sido utilizada a
palavra “sexo” no formulário para facilitar a compreensão pelo paciente), Profissão
(classificados em dois grupos, como aposentados ou em atividade, para facilitar a
análise estatística), Escolaridade (até primeiro grau completo ou até segundo grau
completo ou superior), Número de familiares (igual ao número de pessoas que
moram na mesma casa em que o paciente), Renda mensal (expressa em número de
salários mínimos) e o Endereço (residência permanente do paciente).
Nos itens seguintes coletamos informações sobre a história clínica do doente,
visando identificar o primeiro sintoma que o fez procurar ajuda profissional, quanto
tempo decorreu entre o início do sintoma e o diagnóstico, quantos e quais os
profissionais que o examinaram, exames prévios, tratamentos prévios e nível de
conhecimento do próprio diagnóstico.
Queixa principal e duração: a queixa principal foi definida como a alteração
notada pelo paciente que o levou a procurar ajuda profissional. Estabeleceram-se
quatro grupos de queixas: dor, nódulo, úlcera e disfagia e/ou disfonia. O tempo de
duração da queixa foi avaliado em dias.
Coletando dados da história pregressa da moléstia atual perguntamos:
- Quando foi que você notou alguma alteração na sua boca, pescoço ou face?
Considerou-se o tempo, estimado em dias, desde que o paciente notou o
primeiro sinal ou sintoma da doença.
- O que você sentia? Úlcera na boca, dor, sangramento, dificuldade para engolir,
dificuldade para abrir a boca, presença de nódulo no pescoço ou outros, visando
identificar um ou mais sinais ou sintomas percebidos inicialmente pelo paciente.
- Qual foi a primeira providência para alívio das queixas? Para as análises
estabeleceram-se três grupos de primeira providência: procurar cuidado médico,
procurar o dentista e automedicar-se.
- Que tipo de profissional o examinou pela primeira vez e há quantos dias? Neste
item definimos o tipo do profissional que fez o primeiro exame e quantos dias:
médico, dentista ou farmacêutico.
- Foi encaminhado ou procurou outro profissional? Quantos? Quantos foram os
profissionais consultados até o estabelecimento do diagnóstico.
- Quais exames você já fez? Há quantos dias? Se o paciente submeteu-se a algum
tipo de exame para diagnóstico antes de chegar ao centro especializado, tendo se
estabelecido três grupos: exames histopatológicos, exames por imagem e exames
laboratoriais.
- Sofreu alguma cirurgia ou tratamento? Há quantos dias? Se o paciente recebeu
ou não algum tipo de tratamento clínico ou cirúrgico antes de chegar ao centro
especializado.
- Houve complicação? Se houve complicações decorrentes do item anterior.
- Você sabe o que você tem? Se o paciente foi ou não informado do próprio
diagnóstico por algum profissional que o tenha examinado.
- O que você acha que tem? Que tipo de doença o paciente imagina que tenha por
época de sua admissão no serviço especializado. Estabeleceram-se três grupos:
paciente acha que tem câncer, paciente acredita que tenha um tumor e paciente não
sabe avaliar o que tem.
Os pacientes que participaram da pesquisa, antes de responder ao questionário,
assinaram um “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”. ANEXO 3
4.2.4 Definição das variáveis
Avaliou-se o tempo despendido pelo doente até a procura de atendimento e,
especialmente, o tempo que o profissional de saúde despendeu para atingir um
diagnóstico preciso ou, ainda, um encaminhamento adequado do paciente para um
centro especializado.
Desse modo, definiram-se as variáveis dependentes como sendo:
1) Tempo do paciente: o tempo despendido pelo paciente, a partir de sua
detecção do primeiro sinal ou sintoma, até a procura de atendimento; e
2) Tempo profissional: aquele despendido desde o primeiro atendimento
profissional até o diagnóstico.
4.2.5 Método de análise estatística
O método estatístico empregado utilizou técnicas de estatística descritiva
(gráfica e aritmética), transformação e ajuste de variáveis, comparação de médias por
método paramétrico (teste t de Student para amostras independentes e ANOVA
análise da variância unifatorial, com teste de contraste Least Square Difference,
LSD) e não paramétrico (teste de Mann-Whitney). A relação entre variáveis foi
identificada por correlação simples de Pearson e regressão linear múltipla
escalonada. A comparação de proporções foi feita pelo teste do qui-quadrado ou teste
exato de Fisher, conforme a distribuição.
Em todos os casos adotou-se o nível de 5% (p < 0,05), em teste bicaudal, para
a declaração de significância estatística.
Resultados
5 Resultados
Entre os 64 pacientes portadores de neoplasia de cabeça e pescoço estudados
encontramos, quanto ao gênero, 15 (23,4%) mulheres e 49 (76,6%) homens. Em
relação à média de idade tivemos 56,2 anos (desvio-padrão=13,05 anos). A análise
de profissão mostrou 21 (32,8%) deles aposentados e os demais 43 (67,2%) em
atividade, os quais apresentaram renda mensal, expressa em número de salários
mínimos, de 2,91 (desvio-padrão=1,43). Quanto à escolaridade formal, 45 (70,3%)
pacientes tinham até 1.º grau completo, enquanto que os restantes 19 (29,7%) tinham
escolaridade equivalente ao 2º grau ou superior (este somente 2 pacientes).
Queixa principal
Das principais queixas relatadas, somente um paciente acusou apenas
sangramento, sendo retirado dos procedimentos estatísticos subseqüentes que
envolveram o concurso desta variável e o restante se apresenta no gráfico 1, a seguir.
Gráfico 1 Distribuição percentual dos pacientes segundo a queixa principal em
relação à freqüência.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
Queixa principal
r
e
q
ü
ê
n
c
i
a
Freqüência
34,92%
31,75%
22,22%
11,11%
dor
nódulo
úlcera
disfagia ou disfonia
Sintoma mais exuberante
O gráfico 2, a seguir, apresenta a distribuição percentual dos mais
importantes sintomas relatados pelos pacientes (respostas múltiplas).
Primeira providência para o alívio das queixas
O gráfico 3, a seguir, apresenta a distribuição percentual desta
variável; somente um paciente indicou ter procurado socorro com farmacêutico,
sendo retirado dos procedimentos subseqüentes envolvendo esta variável.
Gráfico 2 Distribuição percentual dos pacientes segundo o sintoma ou sinal mais
exuberante em relação à freqüência.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Sintoma
Freqüência
65,63%
64,06%
60,94%
14,06%
10,94%
4,69%
Dor
Dificuldade
para engolir
Nódulo no
pescoço
Sangramento
Outros
sintomas
Dificuldade de
abrir a boca
F
r
e
q
ü
ê
n
c
i
a
Gráfico 3 Distribuição percentual dos pacientes segundo a primeira providência
para alívio das queixas
cuidado médico;
73,02%
automedicação;
20,63%
dentista; 6,35%
Auxílio profissional
Quando se deu a procura por auxílio profissional, à exceção de 1
mencionado, que procurou auxílio de um farmacêutico, entre os 63 restantes 8
(12,7%) deles procuraram um dentista como o primeiro profissional, e os restantes
55 (87,3%) procuraram um médico.
Dentre os 63 restantes, que procuraram ajudadica ou odontológica, 47
(73,4%) casos foram encaminhados a outros profissionais de centros não especializados.
Dentistas encaminharam 7 de seus pacientes (87,5% dos casos). Médicos encaminharam
40 de seus pacientes (72,7% dos casos). o foi significativa a diferença entre dentista e
dico quanto ao encaminhamento a outros profissionais (p=0,302). Entre esses, 47
indivíduos que foram encaminhados a outros profissionais, e o mero de
encaminhamentos variou de 1 a 4, com média de 1,57 e desvio-padrão de 0,878.
Exames subsidiários realizados
O gráfico 4, abaixo, apresenta a distribuição percentual dos exames
subsidiários realizados pelos pacientes que compõem a presente amostra, também em
respostas múltiplas:
Tratamento e complicações
Somente 6 (9,4%) pacientes relataram algum tratamento ou cirurgia
prévios, com relato de complicações em somente 2 (3,1%) destes pacientes.
Gráfico 4 Distribuição percentual dos pacientes segundo os exames subsidiários
realizados em relação à freqüência.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
Exame
Freqüência
49,21%
47,62%
15,87%
Histopatologia
Exames de imagem
Exames de laboratório
F
r
e
q
ü
ê
n
c
i
a
Identificação da própria doença
Dos 29 (43,3%) pacientes que afirmaram saber o que têm, a maior
parte (62,1%) afirma ter câncer e os restantes 37,9% indicam tumor. Dos 35 (54%)
indivíduos que não sabem o que têm, a maior parte (64,7%) continua não indicando
uma possibilidade diagnóstica, muito embora, cerca de um terço (32,4%) achar que
tem câncer.
A associação entre as variáveis sabe o que têm?” e o que acha que
tem?” mostrou-se estatisticamente significativa (p=0,000).
TEMPO DO PACIENTE
Esta variável não teve distribuição normal, apresentando média de
273,19 dias, mediana de 180 dias e moda de 120 dias. Sua transformação logarítmica
produziu uma distribuição normal, com média 2,2 e desvio-padrão de 0,4, o que
permite estimar o intervalo de confiança de 95% para o tempo do paciente no
intervalo compreendido entre 26,2 dias e 1170,5 dias.
Todas as comparações envolvendo esta variável foram realizadas,
portanto, com a mesma, após sua transformação logarítmica, sendo apresentados os
valores médios da variável original (em dias), em cada grupo, somente para
referência da comparação considerada.
O tempo do paciente também se correlacionou positivamente, isto é,
aumentou com o número de outros profissionais para o qual foi encaminhado (r=
0,386; p=0,007) e com o tempo despendido para a realização dos exames (r=0,54;
p=0,001); não se correlacionou, contudo, com sua idade (r=-0,04; p=0,75), com o
número de familiares residentes na casa (r=0,23; p=0,06), nem com a renda familiar
(r=0,24; p=0,05) muito embora no caso destas duas últimas o valor de p tenha se
aproximado do limite da significância estatística adotada.
A tabela 1, a seguir, apresenta a comparação do tempo do paciente segundo
os grupos definidos pelas demais variáveis:
Tabela 1 Comparação do tempo do paciente segundo os grupos definidos pelas
demais variáveis.
Variável n Média p
Gênero Feminino 15 275,27
Masculino 49 272,55
0,664
Profissão Aposentado 21 275,24
Em atividade 43 272,19
0,343
Escolaridade Até 1.º grau 45 284,49
Até 2.º grau ou superior 19 246,42
0,766
Queixa principal * Disfagia ou disfonia 7 287,86
Dor 22 216,36
Úlcera 14 195,71
Nódulo 20 371,10
0,309
Úlcera na boca Não 41 288,83
Sim 23 245,30
0,879
Dor Não 22 378,73
Sim 42 217,90
0,072
Sangramento Não 55 266,85
Sim 9 311,89
0,252
Dificuldade para engolir Não 23 329,00
Sim 41 241,88
0,850
Dificuldade de abrir a boca Não 61 279,74
Sim 3 140,00
0,531
Nódulo no pescoço Não 25 269,88
Sim 39 275,31
0,962
Outros sintomas Não 57 263,32
Sim 7 353,57
0,231
Primeira providência * Dentista 4 142,50
Automedicação 13 279,77
Cuidado médico 46 286,67
0,744
Tipo de profissional * Dentista 8 138,75
Médico 55 291,07
0,288
Outros profissionais Não 17 151,76
Sim 47 317,11
0,088
Exames de laboratório Não 54 240,72
Sim 10 448,50
0,064
Exames de imagem Não 34 203,88
Sim 30 351,73
0,029
Histopatologia Não 33 218,09
Sim 31 331,84
0,176
Tratamento Não 58 249,29
Sim 6 504,17
0,108
Sabe o que tem? Não 35 202,77
Sim 29 358,17
0,009
O que acha que tem? Não sabe 23 136,14
Tumor 12 251,25
Câncer 29 387,38
0,003
* Para efeito estatístico os itens assinalados apresentam uma somatória n=63 em função de um paciente que
acusou sangramento quanto à queixa principal e um paciente que procurou farmacêutico como primeira providência
para alívio das queixas, sendo ambos retirados dos procedimentos subseqüentes que envolveram estas variáveis.
O gráfico 5, a seguir, apresenta, os resultados da variável “tempo do paciente” em
relação à variável “o que acha que tem”:
Gráfico 5 Variáveis:“o que você acha que tem?” pelo “tempo do paciente”.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
Não sabe Tumor Câncer
136,14 251,25 387,38
TEMPO PROFISSIONAL
Esta variável também não teve distribuição normal, apresentando dia
de 198,1 dias, mediana de 120 dias e moda de 60 dias. A sua transformação logarítmica
produziu uma distribuão normal, comdia 2,02 e desvio-pado de 0,5, o que
permite estimar o intervalo de confiança de 95% para o tempo profissional no intervalo
compreendido entre 9,26 dias e 1112,32 dias. Todas as comparações envolvendo esta
variável foram realizadas, portanto, com a mesma após sua transformação logarítmica,
sendo apresentados os valores médios da variável original (em dias), em cada grupo,
somente para referência da comparação considerada.
A tabela 2, abaixo, apresenta a comparação do tempo profissional com
os grupos definidos pelas demais variáveis:
Média do tempo
do paciente
(dias)
Tabela 2 Comparação do tempo profissional com os grupos das demais variáveis.
Variável n Média p
Gênero Feminino 15
165,00
Masculino 49
208,22
0,720
Profissão Aposentado 21
233,57
Em atividade 43
180,77
0,814
Escolaridade Até 1.º grau 45
206,60
Até 2.º grau ou superior 19
177,95
0,817
Queixa principal * Disfagia ou disfonia 7
220,71
Dor 22
139,55
Úlcera 14
129,14
Nódulo 20
303,75
0,135
Úlcera na boca Não 41
209,88
Sim 23
177,09
0,716
Dor Não 22
320,82
Sim 42
133,81
0,099
Sangramento Não 55
198,20
Sim 9
197,44
0,391
Dificuldade para engolir Não 23
281,43
Sim 41
151,34
0,569
Dificuldade de abrir a boca Não 61
206,11
Sim 3
35,00
0,062
Nódulo no pescoço Não 25
170,32
Sim 39
215,90
0,526
Outros sintomas Não 57
187,16
Sim 7
287,14
0,528
Primeira providência * Dentista 4
101,25
Automedicação 13
134,62
Cuidado médico 46
228,11
0,618
Tipo de profissional * Dentista 8
76,88
Médico 55
212,69
0,118
Outros profissionais Não 17
102,41
Sim 47
232,70
0,020
Exames de laboratório Não 54
175,61
Sim 10
319,50
0,733
Exames de imagem Não 34
116,56
Sim 30
290,50
0,006
Histopatologia Não 33
137,36
Sim 31
262,74
0,023
Tratamento Não 58
169,28
Sim 6
476,67
0,132
Sabe o que tem? Não 35
129,31
Sim 29
281,10
0,007
O que acha que tem? Não sabe 23
90,91
Tumor 12
202,92
Câncer 29
275,97
0,043
* Para efeito estatístico os itens assinalados apresentam uma somatória n=63 em função de um paciente
que acusou sangramento quanto à queixa principal e um paciente que procurou farmacêutico como
primeira providência para alívio das queixas, sendo ambos retirados dos procedimentos subseqüentes
que envolveram estas varveis.
Para a varvelo que acha que tem?, a diferea significativa apontada decorre do
menor tempo entre os que não sabem, do que entre aqueles que acham ter câncer (p=0,016),
já que o tempo profissional para os que acham ter tumor o diferiu significativamente de
quem não sabe o que tem (p=0,085) e nem dos que acham ter câncer (p=0,838).
O gráfico 6, abaixo, ilustra os resultados desta variável, para melhor compreensão do
acima afirmado.
Gráfico 6 Resultados da varvel o que você acha que tem? pelo tempo do profissional.
0
50
100
150
200
250
300
Não sabe Tumor Câncer
90,91 202,92 275,97
Am das variáveis apontadas, o tempo profissional tamm se
correlacionou positiva e significativamente com o tempo do paciente (em logaritmo,
r=0,780; p=0,000), com o mero de outros profissionais procurados (r=0,592; p=0,000) e
também com o tempo despendido para a realização dos exames subsidiários (r=0,630;
p=0,000).
Média do
tempo
profissional
(dias)
Discussão
6 Discussão
Conforme afirmaram diversos autores como CIANFRIGLIA e MANIERI
(1991), DIMITOTROULIS et allis (1992), ALLISON et allis (1998), HOLOWLS et
allis (2000), PITIPHAT et allis (2002) e TROMP et allis (2005), o tempo decorrido
entre a percepção dos sintomas e o diagnóstico e tratamento corretos interfere na
evolução e no prognóstico dessa doença, e também na qualidade de sobrevida dos
pacientes. Este conceito não é novo, pois, estudos de 1911 e 1920 se preocupavam
com isto (KUTNER et al., 1958).
Considerando o tempo como um fator crucial na abordagem do problema do
câncer de cabeça e pescoço, durante os anos de 2005 e 2006 entrevistamos 64 desses
pacientes para avaliar a influência de suas características clínicas e do seu perfil
sócio-econômico, bem como verificar o papel dos profissionais de saúde, no atraso
do processo diagnóstico, nos Serviços de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital
Heliópolis em São Paulo e do Hospital Celso Pierro da Pontifícia Universidade
Católica em Campinas, os quais têm sido centros de referência no tratamento de
pacientes portadores destas neoplasias.
Entre os 64 pacientes portadores de neoplasia de cabeça e pescoço estudados
encontramos, quanto ao gênero, 15 mulheres (23,4%) e 49 homens (76,6%).
Estudos anteriores apresentaram distribuição, segundo o gênero, semelhante à
nossa casuística, se não exatamente na mesma proporção encontrada por nós de 3:1
entre homens e mulheres, sempre numa proporção consideravelmente maior no
gênero masculino em relação ao feminino, o que está de acordo com as estimativas
epidemiológicas atuais do INCA para o Brasil CAMERINO et al., (1995) ALLISON
et al., (1998) HOLLOWS et al., (2000) ABDO e AGUIAR (2003) FARIA et al.,
(2003) BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE (2006).
A idade média dos nossos pacientes foi de 56,16 anos e desvio padrão de
13,05 anos, semelhante a outros estudos realizados também no Brasil, com média de
58 anos descrita por CARVALHO et allis (2002) e idades médias de 57,7 anos para
homens e 59,6 anos para mulheres descritas por FARIA et allis (2002).
Pesquisas em outros países encontraram, por vezes, médias etárias mais
elevadas. WILDT et allis (1995) encontraram uma média de idade de 66 anos; AMIR
et allis (1999) detectaram média de idade de 65 anos, e PITIPHAT et allis (2002)
observaram média de 64,6 anos com um desvio padrão de 14 anos em seus estudos.
TROMP et allis (2005) não estimaram a média de idade dos pacientes, mas referiram
que 61% deles tinham menos de 65 anos e 39%, mais de 65 anos de idade. Um
estudo de DIMITROULIS et allis (1992), na Austrália, revelou um dado interessante
ao descrever uma média de idade geral de 66 anos, encontrando, no entanto, entre as
mulheres uma média de 72 anos, dez anos acima da média dos homens, estimada em
62 anos. GORSKY e DAYAN (1995) encontraram em sua pesquisa em Israel uma
média de idade semelhante à que descrevemos: 56,9 anos. O Ministério da Saúde do
Brasil inclui entre os fatores de risco para o câncer de cabeça e pescoço a idade
superior a 40 anos (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996).
Não foi objetivo deste estudo avaliar os fatores de risco para esta doença.
Porém apontamos o elevado interesse de outros estudos relacionarem fatores de risco
como tabagismo, alcoolismo, má-higiene bucal e uso de próteses dentárias mal-
adaptadas, entre outros, com a idade do paciente. Interessante seria estimar a média
de anos potencias de vida perdidos por este tipo de câncer em função das médias de
idade encontradas nas diferentes pesquisas e da expectativa de vida dos países onde
se realizaram.
Dos 64 pacientes, 21 (32,8%) eram aposentados e 43 (67,2%) em estavam em
atividade de trabalho. Isto é compreensível pela relativamente baixa faixa etária
média apontada neste estudo. Semelhantemente, PITIPHAT et allis (2002),
encontraram a maioria dos pacientes de seu estudo empregada.
Se observarmos que, nesses padrões, a doença acometeu a população em
idade produtiva, vale destacar a importância do diagnóstico precoce como forma
possível de reintegração desses pacientes em suas atividades sociais e laboriais.
Em nossa amostra, 45 (70,3%) pacientes tinham escolaridade formal até
grau completo e 19 (29,7%) grau completo ou mais. PITIPHAT et allis (2002),
num estudo na Grécia, avaliaram 56,4% dos pacientes com até seis anos de
escolaridade e 43,6% de 7 a 12 ou mais que 12 anos de escolaridade. TROMP et allis
(2005), num trabalho na Holanda verificaram que 49% dos pacientes tinham
escolaridade fundamental, 33% média e 18% superior.
Como veremos no decorrer desta discussão, em nosso estudo, o grau
de instrução não influenciou o atraso no diagnóstico das neoplasias de cabeça e
pescoço, uma vez que escolaridade teve uma significância com p=0,766 para atraso
do paciente, e p=0,817 para atraso profissional.
Diferentemente, ALLISON et allis (1998), constataram que de diversas
variáveis sócio-demográficas estudas, o baixo nível educacional exerceu uma forte
influência no atraso profissional. Nossa tendência é deduzir que, pacientes com
menor nível de educação possam ter sido menos colaboradores com os cuidados
profissionais.
A proporção maior de pacientes com baixa escolaridade com este tipo de
neoplasia pode estar ligada ao fato de os menos esclarecidos terem menor condição
de prevenir a doença e ao fato de pessoas com menor escolaridade serem maioria na
população.
Este estudo mostrou que a primeira alteração da normalidade detectada pelos
pacientes, chamada de queixa principal e que os fez procurar ajuda profissional, teve
a seguinte distribuição: dor (34%), presença de nódulo cervical (31,75%), úlcera na
boca (22,22%) e disfagia ou disfonia (11,11%).
Os primeiros sintomas ou sinais percebidos pelo paciente apresentaram-se da
seguinte forma: dor (65,63%), disfagia (64,06%), nódulo cervical (60,94%),
sangramento (14,06%), dificuldade de abrir a boca (4,69%) e outros sintomas
(10,94%). Todos estes sinais e sintomas iniciais são referidos pelo INCA como
característicos de neoplasias de cabeça e pescoço e têm sido descritos na literatura
(KOWALSKI et al., 1994; AMIR et al., 1999; FARIA et al., 2003; BRASIL,
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
Neste nosso estudo, 73,02% tiveram como primeira providência para alivio
de suas queixas a procura por cuidados médicos, 20,63% automedicaram-se e 6,35%
procuraram o dentista. A alta porcentagem de pacientes que se automedicaram
aponta para um traço da cultura popular brasileira em que o paciente leigo faz uso de
medicamento sem prescrição médica. Isto também foi percebido em outras partes do
mundo, inclusive em países de cultura oriental (HWANG et al., 2001; KERDPON e
SRIPLUNG 2001).
Quanto ao tipo de profissional que examinou o doente pela primeira vez, nós
encontramos que apenas um paciente procurou um farmacêutico, sendo excluído dos
procedimentos estatísticos subseqüentes. 55 (87,3%) pacientes foram examinados
primeiramente por um médico e 8 (12,7%) pacientes por um dentista.
A preferência dos doentes, observada por nós, em procurar inicialmente o
médico e não o dentista está de acordo com os relatos da literatura. No estudo de
AMIR et allis (1999) 88% procuraram primeiro um médico e apenas 7% um dentista.
FARIA et allis (2003) observaram que 63,6% dos pacientes procuraram
primeiramente um médico e 36,4% um dentista. No estudo de ALLISON et allis
(1998) de 188 indivíduos com câncer de cabeça e pescoço, 144 (77%) apresentaram-
se primeiramente ao médico da família e 31 (16,5 %) inicialmente consultaram um
dentista. No trabalho de KOWALSKI et allis (1994) o dentista foi procurado por 63
(18,7%) pacientes, farmacêutico por 47 (14%) e o médico pelos restantes dos 336
(67,3%) indivíduos da amostra.
GORSKI e DAYAN (1995) afirmaram que em Israel a população costuma
consultar primeiro o médico da família em casos de neoplasias de cabeça e pescoço
com sintomas sem relação com dentes ou gengiva. Não deixa de ser interessante
notar a capacidade de diagnóstico precoce dos dentistas detectada naquela pesquisa,
uma vez que médicos diagnosticaram 86% dos cânceres, dos quais, metade em
estádio avançado ao passo que dentistas diagnosticaram apenas 14%, porém 81%
deles em estádio precoce.
FARIA et allis (2003) determinaram em seus estudos que 70% da população
de Uberlândia ignoravam a existência do câncer oral, e que as queixas dos pacientes
bem como os lugares das lesões estão associados ao tipo de profissional que eles
procuram. Observaram também que, como em outras partes do mundo, no Brasil
existe a mentalidade popular de que dentistas e médicos são treinados diferentemente
e pacientes com problemas bucais não relacionados a dentes ou gengiva ou com
reclamações sistêmicas freqüentemente preferem procurar ajuda médica a um
cirurgião dentista. Câncer é tomado como problema médico, seja ele oral ou não.
Apesar da cavidade bucal ser uma área de atuação estreitamente ligada à
atuação dos cirurgiões-dentistas, nem sempre o diagnóstico de câncer bucal tem sido
levado a contento por estes profissionais, segundo relatos da literatura. Mas, se por
um lado pode haver falha do cirurgião dentista em diagnosticar as lesões neoplásicas,
é bem verdade que tanto no Brasil como em outros países do primeiro mundo, o
hábito de consultas periódicas com o dentista nem sempre está presente na maioria
da população.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) baseados na
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-1998) mostraram que 18,54%
da população brasileira nunca freqüentaram o consultório de um cirurgião-dentista.
Segundo a mesma fonte, 15,82% dos adultos acima de 40 anos de idade não
freqüentam um consultório odontológico mais de três anos. São dados
relativamente recentes que revelam as más condições de acesso à saúde bucal do
povo brasileiro. (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998)
Num estudo de KOWALSKI et allis (2001) de 130 pacientes com neoplasias
de cabeça e pescoço, somente 6 pacientes relataram consultas regulares ao dentista
pelo menos uma vez ao ano. Este baixíssimo número de pacientes sob cuidados
odontológicos periódicos reafirma a triste realidade brasileira no que se refere à
saúde bucal. Supostamente, exames periódicos com um cirurgião-dentista deveriam
prevenir ou identificar precocemente lesões neoplásicas de cabeça e pescoço com
manifestações bucais.
ABDO e AGUIAR (2003) numa pesquisa em Belo Horizonte, entrevistando
154 pacientes portadores de carcinoma epidermóide da cavidade bucal verificaram
que nenhum deles afirmou ter o hábito de freqüentar um consultório odontológico
com periodicidade, apesar de 96,6% declararem possuir acesso a serviços
odontológicos públicos. Dos pacientes entrevistados, 124 declararam ter passado 8,7
anos, em média, sem consultar um cirurgião-dentista, o que mostra que a pouca
precocidade do diagnóstico não está determinada apenas pela falta de treinamento do
profissional.
WILDT et allis (1995) na Dinamarca, entrevistaram 164 pacientes com
carcinoma de células escamosas, e apenas 35% relataram exame odontológico de
rotina. Portanto, mesmo em países do chamado primeiro mundo, outros fatores, que
não econômicos, certamente impedem a consulta regular ao dentista elevando o risco
de atraso no diagnóstico de eventuais lesões neoplásicas, pois como afirmaram
VANDERLEI et allis (1998) um cuidadoso exame da boca é a melhor forma de
detecção precoce da doença, uma vez que as áreas de risco podem ser facilmente
visualizadas, não requerendo tecnologia especial.
Porém, mesmo que a população mudasse seus hábitos e passasse a ter
freqüência periódica ao dentista, a capacidade e atenção deste na detecção de lesões
suspeitas precisaria ser revista, pois estudos indicam que nem sempre o profissional
está apto a fazer um diagnóstico correto e rápido encaminhamento.
É interessante notar que, após a primeira consulta, grande parte dos pacientes
deste nosso estudo foram encaminhados a um ou mais profissionais, antes de
chegarem aos centros especializados, pois 47 (73,4%) casos foram encaminhados a
outros profissionais.
Dos 8 pacientes que foram examinados inicialmente por dentistas, 7 (87,5%)
foram encaminhados a outros profissionais. Dos 55 pacientes que foram examinados
inicialmente por médicos, 39 (70,9%) foram encaminhados a outros profissionais.
Dentre estes 46 pacientes encaminhados a outros profissionais, o número de
profissionais no encaminhamento variou de 1 a 4, com média de 1,57.
Tanto com médicos como com dentistas a freqüência de encaminhamento é
sensivelmente elevada. Isto levanta a questão para uma outra investigação quanto à
real necessidade desses encaminhamentos, em função do possível agravamento dos
quadros clínicos em decorrência da demora no diagnóstico. Outra questão a ser
investigada seria a possível dificuldade e demora na marcação de consultas para
tratamento pelo sistema público de saúde, opção viável para nossos pacientes que
apresentaram média de renda familiar de 2,9 salários mínimos.
Investigando se os pacientes submeteram-se a algum tipo de exame para
diagnóstico antes de chegar ao centro especializado verificamos que 49,21% deles
haviam passado por exame histopatólogico, 47,62% fizeram algum tipo de exame
por imagem e 15,87% submeteram-se a exames laboratoriais.
O fato de o paciente chegar ao centro especializado munido de exames
confiáveis, a princípio, agilizaria o processo de diagnóstico e tratamento. Porém,
chama atenção o fato de apesar de 73,4% dos pacientes deste estudo terem sido
vistos por mais de um profissional de saúde, apenas 49,21% deles trazerem consigo
resultado de exame histopatológico.
Os resultados do nosso estudo consideraram a realização de exames
diagnósticos como um fator capaz de produzir atraso. Mas poderíamos nos fazer
algumas perguntas, Como: 1) o tempo despendido nessa tarefa é de fato atraso ou
deveria ser considerado um lag time (intervalo de tempo) necessário e inevitável
como propuseram WORDEN e WEISMAN em 1975? 2) o fato de o paciente chegar
ao serviço especializado com exames diagnósticos realizados não seria, ao
contrário, um fator de ganho de tempo?
Pelo que vimos nos serviços de referência que acompanhamos, um
ganho real de tempo quando o paciente é encaminhado não apenas com parte dos
exames realizados, mas com todos aqueles considerados necessários pela rotina dos
centros especializados. Então, o entrosamento dos profissionais de saúde com as
normas dos serviços para onde eles costumam encaminhar seus pacientes torna-se
fundamental.
Apenas 6 (9,4%) dos nossos pacientes relataram ter-se submetido a algum
tratamento ou cirurgia antes de chegarem ao serviço especializado, sendo que 2
(3,1%) destes pacientes referiram complicações. Também, LEITE e KOIFMAN
(1997) encontraram que apenas 7,8% dos 375 pacientes com câncer bucal de seu
estudo no Rio de Janeiro reportaram tratamento prévio à sua avaliação em centro
especializado. Estes dados sinalizam que, nos centros especializados estudados, é
relativamente baixo o números de doentes egressos de locais onde algum tipo de
tratamento disponível para câncer.
Dos nossos pacientes, 29 (45,3%) afirmaram saber o que tem. A maior parte
(62,1%) afirmou ter câncer; os restantes 37,9% afirmaram ter algum tipo de tumor.
Dos 35 (54,7%) pacientes que não sabiam o que tinham, a maior parte (64,7%)
continua não indicando uma possibilidade diagnóstica ao responder não saber o que
acha que tem; e cerca de um terço (32,4%) deles responderam suspeitar que têm
câncer. Isto fez com que a associação entre as variáveis “sabe o que tem” e “o que
acha que tem?” fosse altamente significativa (p=0,000).
O tempo do paciente, para nós, contado desde a percepção do primeiro sinal
ou sintoma até a primeira consulta num centro de referência, apresentou média de
273,19 dias, mediana de 180 dias e moda de 120 dias. O intervalo de confiança
estimado entre 26,2 dias e 1170,5 dias apresentou uma discrepância em função das
respostas de pacientes que relataram um longo tempo desde a percepção dos
primeiros sintomas da doença. Apesar de sabermos que não é comum uma evolução
tão longa de neoplasias de cabeça e pescoço, nós respeitamos como verdade a
resposta fornecida pelo paciente. Talvez se tivéssemos uma amostra maior esses
dados não seriam suficientes para interferir nos resultados.
No estudo de FARIA et allis (2003) o tempo médio desde a aparição do
primeiro sintoma foi de 120 dias, achado similar ao de GORSK e DAYAN (1995).
KOWALSKI et allis (1994), encontraram um atraso médio do paciente de 126 dias e
um tempo total entre o início do primeiro sintoma e o encaminhamento a um serviço
de cabeça e pescoço foi em média de 8,5 meses porque o paciente e o profissional
foram envolvidos no atraso.
O TEMPO DO PACIENTE E AS DEMAIS VARIÁVEIS
Analisando a tabela 1 (página 40), que apresenta a comparação do tempo do
paciente com grupos das demais variáveis chama atenção a variável “dor” (p=0,072)
ter se aproximado bastante do nível de significância. Com isto, podemos supor que
tenha havido uma tendência de pacientes com dor terem um menor atraso, o que é
fácil de ser compreendido, pelo incômodo provocado por este sintoma. Merecem
atenção também as variáveis: outros profissionais” (p=0,088), exames de
laboratório” (0,064), “exames de imagem” (0,029).
Considerando o encaminhamento a outros profissionais e, conseqüentemente,
o número de profissionais procurados, bem como a indicação de exame de imagem
ou o tempo despendido na realização de exames subsidiários não serem variáveis
decorrentes da iniciativa do paciente, constatamos que as variáveis que influenciaram
significativamente o tempo do paciente são representadas por sabe o que tem”
(p=0,009) ou o que acha que tem” (p=0,003). Aquele que declarou saber o que tem,
despendeu maior tempo até a procura do atendimento especializado. Por sua vez, os
pacientes que declararam não saber o que têm tiveram um tempo menor, até a
procura por atendimento especializado.
Em relação à variável sobre o que o paciente acha que tem”, a diferença
significativa se entre quem não sabe (menos tempo) e aquele que acha ter câncer.
Esta correlação positiva e significativa indica que o paciente que não sabe o que tem
procura o primeiro atendimento mais cedo (136,14 dias) do que aquele que acha ter
câncer (média de 387,38 dias), ficando o paciente que acredita ter um tumor em
situação intermediária (média de 251,25 dias).
Cabem aqui algumas novas perguntas: 1) os pacientes que sabiam o que
tinham atrasaram mais pelo tempo despendido com encaminhamentos e exames? 2)
aqueles que declararam saber o que tinham à semelhança dos que supunham ter
câncer tiveram um atraso maior por fatores psico-sociais associados à idéia da
doença? É razoável supor que ambas as possibilidades acima seriam capazes de
provocar gasto de tempo pelo paciente. Estes dados podem ser relacionados com o
temor, negação da doença e conceitos populares que podem interferir com o atraso
do paciente.
Resultados diferentes tiveram TROMP et allis (2005), quando perceberam
que pacientes que não tinham nenhum conhecimento sobre câncer de cabeça e
pescoço e não suspeitavam da própria doença foram os que mais adiaram suas
consultas. Uma razão freqüentemente mencionada foi que os pacientes interpretaram
os sintomas como inofensivos, em parte porque eles foram tranqüilizados numa
primeira consulta. Porém os pacientes que sabiam ter câncer ou suspeitavam da
doença apressaram-se em se apresentar ao centro especializado.
Em nosso estudo encontramos o que se pode definir como “atraso evitável”,
aquele decorrente do paciente, que mesmo consciente do sintoma, não procura o
médico, por uma procrastinação deliberada.
Uma vez detectado um sintoma ou um sinal, muitas atitudes do paciente e do
profissional podem levar a atrasos no diagnóstico. 50 anos, TITCHENER et
al.,1956 alertavam que um sinal ou sintoma visível e discernível, que deveria ser
motivo para o doente procurar ajuda médica, quando pouco valorizado é, ao
contrário, um fator de atraso, atribuível ao paciente.
HOLLAND e LEWIS (2000) chamaram de “atraso evitável” aquele que pode
decorrer de sentimentos variados que envolvem o processo diagnóstico. Muitos
doentes, ao perceberem algum sintoma “suspeito”, podem sentir-se aterrorizados
frente à possibilidade do diagnóstico. O medo os impede de procurar o médico,
que do seu ponto de vista, nada mais poderá ser feito; afinal, eles têm um “câncer”!
O medo também pode suscitar uma reação de negação: “não deve ser nada grave,
logo estarei melhor!”
Os sentimentos acima referidos são fatores e costumes que podem interferir na
postura do paciente em face de um diagnóstico de câncer. TEPPO at allis (2003)
também detectaram, como fator de atraso no diagnóstico, a decisão de adiar a
procura por ajuda médica devida à negação da malignidade da doença por parte do
paciente pouco esclarecido. A recusa de pacientes ao tratamento também foi descrita
por LEONG et allis (1999) em um estudo em Singapura.
Na Índia, KUMAR et allis (2001) citaram a influência de fatores psico-
sociais no atraso do paciente em receber tratamento especializado: o paciente
resignado a ter câncer; o câncer como uma maldição; a indisponibilidade de
transporte até o hospital; úlceras triviais na boca são auto-limitantes; e tratamento
prolongado deixa a família estressada.
Em face da forte influência de fatores culturais, emocionais e psicológicos na
postura do paciente, cada vez fica mais evidente a necessidade de acompanhamento
psicológico aos doentes e familiares, como temos visto em muitos serviços de
referência, reforçando a idéia de um tratamento multidisciplinar, que favoreça a visão
holística do paciente. Além dito, devemos considerar a importância do diálogo entre
profissional e paciente como veículo de esclarecimento e motivação para o
tratamento.
Apesar de não terem sido objeto deste estudo, os hábitos e o perfil
psicológico dos pacientes poderiam ser investigados como fatores capazes de
interferir no atraso no diagnóstico de neoplasias de cabeça e pescoço. TROMP et
allis (2004) estabeleceram correlações significantes entre atraso no diagnóstico e
fatores psicológicos. Dos pacientes, 26% os quais esperaram mais de três meses para
procurar ajuda médica reportaram menos otimismo, menos confiança em sua saúde e
menos capacidade de enfrentar problemas ou aceitar ajuda que os pacientes que se
apresentaram em menos de três meses. Consumidores excessivos de álcool tenderam
a mostrar maior atraso que os pacientes que não bebiam ou que bebiam
moderadamente.
Atraso do paciente, definido como o tempo desde quando a primeira alteração
foi notada até a primeira visita a um profissional, tem sido associado ao desaviso da
população a respeito dos primeiros sintomas do câncer (DIMITROULIS et al.,
1992). Resultados como este comprovam a necessidade de campanhas elucidativas
dirigidas à população sobre os sintomas da doença e os cuidados a serem tomados na
sua prevenção e tratamento. A rede pública e entidades da área de saúde precisariam
se valer, freqüentemente, dos pelos meios de comunicação de massa, nessa tentativa
de esclarecimento.
Estudos dos atrasos de pacientes com câncer têm tido resultados conflitantes
quando relacionados a fatores como idade, gênero, componentes psico-sociais,
modalidades de comportamento, escolaridade, condição sócio-econômica e hábitos
de cuidados com a saúde. PITIPHAT et allis (2002) observaram que o estado civil
interferiu quando solteiros tiveram atraso maior que os casados, viúvos e separados,
nesta ordem.
O presente estudo não conseguiu demonstrar uma relação significante entre
atraso e muitas dessas variáveis cio-demográficas (gênero, idade, escolaridade,
número de familiares e renda familiar), as quais não mostraram, estatisticamente,
influência sobre o tempo do paciente, nem do profissional. Muito embora, o
“números de familiares” residentes na casa (com p=0,062) e a renda familiar”
(com p=0,053) se aproximaram muito do limite de significância adotado de 5%
(p=0,05).
Estes nossos resultados foram parecidos com os de GUGGENHEIMER et
allis (1989), JOVANOVIC et allis (1992), AMIR et allis (1999), HOLLOWS et allis
(2000), KERDPON e SRIPLUNG (2001), O’SULLIVAN et allis (2005) e TROMP
et allis (2005).
Por sua vez, WILDT et allis (1995), num estudo feito em 167 portadores de
carcinoma de células escamosas da cavidade bucal, vistos no Asrhus University
Hospital, na Dinamarca, encontraram que o atraso do paciente não teve relação
significante com os fatores sócio-demográficas, mas, em contraste, o atraso
profissional foi significantemente relacionado com gênero, uma vez que mulheres
tiveram um atraso profissional maior que os homens; e com a idade, porque os mais
velhos tiveram um maior atraso profissional. Também no estudo de ALLISON et
allis (1998) variáveis do paciente como idade e gênero tiveram influência, pois
homens e idosos apresentaram um maior atraso nos seus diagnósticos.
ALLISON et allis (1998) também constataram que das variáveis sócio-
demográficas, idade exerceu, em seu estudo, uma forte influência no atraso
profissional, notadamente um atraso maior para pacientes com mais de 65 anos, o
mesmo atraso acontecendo naqueles com baixo nível educacional; porém nenhuma
associação foi encontrada entre atraso profissional e gênero ou número de familiares.
Analisando os dados destes estudos acima citados, com base nos critérios
adotados em suas pesquisas, acreditamos ser possível que profissionais possam ter
tido alguma dificuldade em lidar com determinados grupos de pacientes, fazendo
com que variáveis como idade, sexo e escolaridade possivelmente influíssem nos
procedimentos diagnósticos. Ou ainda poderia se investigar a influência de fatores
sócio-demográficos daquelas populações específicas, que pudessem motivar o atraso
no diagnóstico de determinados segmentos.
Porém, em nosso estudo, a tendência de aproximação do valor de
significância estatística adotado de variáveis como “número de familiares”
(p=0,062) residentes na casa e renda familiar (p=0,053) pode sugerir que estas
condições sócio-econômicas tenham tendência de exercer alguma influência no
atraso do paciente. Como a maior parte da amostra mostrou-se em atividade de
trabalho, poderia ser questionado se isto representa uma dificuldade ao
comparecimento à consulta médica. A média de renda familiar de 2,9 salários
mínimos encontrada em nosso estudo assemelha-se aos achados do trabalho de
LEITE e KOIFMAN (1998), também realizado no Brasil, o qual registrou um perfil
de baixa classe sócio-econômica para os pacientes portadores de carcinoma
epidermóide.
O TEMPO DO PROFISSIONAL E AS DEMAIS VARIÁVEIS
O tempo do profissional é uma variável que, em nosso estudo, apresentou
média de 198,09 dias, intervalo que pode ser considerado muito elevado.
O tempo profissional no diagnóstico das neoplasias de cabeça e pescoço que
verificamos permanece uma frustração, em semelhança ao resultado de trabalhos
anteriores, como o de GUGGENHEIMER et allis (1989) que observaram um atraso
do tempo profissional de 15 dias a 1 ano, com uma média de 150 dias. A falha em
conduzir um exame detalhado, a pouca valorização dos sintomas e sinais, o baixo
índice de suspeição e a falta de experiência e familiaridade com essas lesões
permanecem como causas prováveis.
Na tabela 2 (página 42) observamos que o tempo profissional foi
significativamente maior entre os pacientes encaminhados a outros profissionais
(p=0,02), o que ocorreu também entre os que precisaram realizar exames de imagem
(p=0,006) e histopatológico (p=0,023), e entre os pacientes que declararam saber o
que têm (0,007). A variável dificuldade de abrir a boca” (p=0,062) e, mais uma
vez, a variável dor” (p=0,099), aproximaram-se muito do limite de significância,
levando novamente a observar que o desconforto tende a forçar a agilização do
processo diagnóstico.
Com relação aos pacientes que precisaram realizar exames de imagem e
histopatógicos, novamente é de se questionar se o tempo despendido nesta tarefa é,
de fato, atraso profissional ou apenas um intervalo de tempo inevitável como
sugeriram WORDEN e WEISMAN (1975)?
SIMUNOVIC et allis (2001), avaliando 1456 pacientes com câncer em
centros de tratamento de Ontário, Canadá, julgaram que 156 desses pacientes tiveram
atraso considerável no tratamento cirúrgico em função de testes de diagnóstico,
enquanto apenas 28 casos atrasaram em função de circunstâncias do paciente. Estes
resultados vão sinalizando para o fato de que o tempo despendido na realização de
exames diagnósticos pudesse ser entendido como atraso inevitável ou talvez, por isso
mesmo, nem devesse ser considerado atraso, mas intervalo de tempo.
WORRAL et allis (1995) descreveram que, na Inglaterra, um estudo revelou
que a média do tempo decorrido para o diagnóstico histológico de câncer de boca foi
de apenas 6,4 dias, e o tempo decorrido entre o diagnóstico e o tratamento das lesões
foi de somente 25,8 dias. Os dados acima guardam uma enorme diferença em relação
aos nossos achados. Isto vem reforçar a idéia da premente necessidade de
implementar programas que corrijam os fatores que levam ao atraso de diagnóstico
de neoplasias de cabeça e pescoço no Brasil.
Além disto, qual seria a influência da demora do paciente em procurar ajuda
no aumento do tempo profissional? É plausível supor que haja alguma influência. Em
decorrência do maior período de evolução, a doença pode ter apresentado maior
gravidade, demandando um maior número de exames complementares e o
atendimento multi-profissional.
De qualquer forma, nossos resultados apontam para a necessidade de se
encaminharem os pacientes com suspeita de lesões neoplásicas diretamente a um
centro especializado, evitando-se encaminhamentos indiretos, como forma de
agilização do processo diagnóstico.
Muitos fatores podem influir na demora do profissional em diagnosticar o
câncer ou encaminhar o doente para diagnóstico em um centro especializado.
MÜLLER (1967), num estudo na Alemanha, já alertava para a necessidade do
encaminhamento, o mais rapidamente possível, do paciente com qualquer lesão
suspeita de câncer, a um serviço especializado. quase 40 anos, aquele estudo
apontou que apesar de 70,7% dos pacientes terem procurado ajuda profissional no
primeiro mês após a ocorrência dos primeiros sintomas, apenas 46,5% dos casos
foram encaminhados por médicos e dentistas aos serviços especializados nas
primeiras 4 semanas subseqüentes.
Para FARIA et allis (2003), numa pesquisa no Brasil, o desaviso da maioria
da população em relação ao malefício potencial das lesões orais, diagnósticos
imprecisos, e a demora no encaminhamento ou encaminhamentos a profissionais
inadequados, faz com que grande parte das lesões seja diagnosticada em estágio
avançado. Achados similares têm sido reportados por outros estudos brasileiros,
como refere o INCA. Também não são distantes os dados reportados pelos EUA e
Europa (GUGGENHEIMER et al.,1989; WILDT et al., 1995).
HOLLOWS et allis (2000), investigando 100 pacientes com carcinoma de
células escamosas de cavidade bucal, em Rotherham, durante 6 anos, verificaram que
69% dos médicos e dentistas fizeram o encaminhamento para serviço especializado
na primeira semana após o diagnóstico. Porém, uma observação importante é que um
atraso adicional foi verificado quando profissionais encaminharam pacientes com
lesões a especialidades não apropriadas, levando a encaminhamentos indiretos.
ONIZAWA et allis (2003) também enfatizaram este tipo de encaminhamento
indireto como fator de atraso significativo. Estes resultados mostram claramente os
encaminhamentos inadequados ou desnecessários como fatores de atraso no
diagnóstico e que poderia ser facilmente evitado pelos profissionais que fizeram os
primeiros exames. Em semelhança, nosso estudo também apontou o
encaminhamento a outros profissionais como capaz de provocar atraso. Seria
interessante uma nova pesquisa investigando sua real necessidade.
Esta idéia é reforçada pelo resultado de um outro estudo no Brasil, de
COSTA e MIGLIRIORATI (2001) que salientou uma informação comum na
anamnese e na história clínica desses doentes: o longo tempo de desenvolvimento
das lesões. Apuraram que, a partir da detecção da lesão, o paciente foi examinado por
vários profissionais da área de saúde antes que ele fosse encaminhado a um centro
especializado. Em conseqüência, freqüentemente os pacientes apresentaram lesões
avançadas causando morbidade e severas alterações no prognóstico e na qualidade
de vida.
Dos 64 pacientes de nossa pesquisa, 73,4% sofreram encaminhamento a
outros profissionais. O número de encaminhamentos variou de 1 a 4, com média de
1,57. Quanto maior o número de consultas prévias ao diagnóstico deduz-se que
maior tenha sido o tempo de duração da queixa. Um número excessivo de
profissionais consultados sugere que o paciente tenha iniciado uma peregrinação a
médicos e serviços de saúde até que tenha seu diagnóstico estabelecido. Cada novo
médico é uma nova consulta, uma nova investigação que se inicia, resultando, às
vezes, em uma repetição de exames desnecessários e gerando insegurança na família
do paciente diante da demora em se estabelecer o diagnóstico. Cabe talvez a
pergunta, não seria mais eficiente se o primeiro profissional a examinar o doente,
diante do desconhecido, encaminhasse este paciente prontamente a um centro de
maior complexidade para investigação?
Os profissionais de saúde deveriam se preocupar em diminuir o intervalo de
tempo até o diagnóstico de neoplasias, uma vez que seu atraso pode trazer
conseqüências jurídicas quando interpretado pela justiça como imperícia ou
negligência, como referiu KERN (1994). Naquele estudo, nos EUA, de 338
veredictos jurídicos, verificou-se que quando o atraso no diagnóstico situou-se entre
um e três meses a defesa do profissional foi amplamente favorecida. Nossos
resultaram apontaram um maior atraso profissional quando se realizaram exames
diagnósticos e quando se fez encaminhamentos a outros profissionais. Na hipótese de
se sentir o paciente prejudicado por qualquer atraso, eventuais demandas jurídicas
poderiam enveredar para a investigação da real necessidade de tais procedimentos e
avaliar a agilidade com os mesmos vêm sendo feitos.
HACKETT et allis (1973) observaram que pacientes com câncer de cavidade
oral foram duas vezes mais suscetíveis a ter atrasos quando comparados com outros
tipos de câncer. Volta aqui a questão: porque ser mais susceptível atraso no
diagnóstico se a boca é uma região anatômica facilmente acessível? Até que ponto
estes atrasos poderiam ser atribuídos à falha na identificação das lesões pelo
profissional ou serem decorrentes da negligência dos pacientes em procurar ajuda e
até ao medo provocado pela suspeita da doença?
É muito grave o fato de profissional atrasar o diagnóstico de lesões da cavidade
bucal, considerando-se a boca como uma região de fácil acesso para se examinar e a
grande ocorrência de diagnósticos tardios de neoplasias de cabeça e pescoço,o
obstante a facilidade que estas regiões ofereçam ao exame, chama atenção também em
países do primeiro mundo como Itália (CIANFLIGLIA et al., 1990), Bélgica
(NORMAN VAN DER DUSSEN, 1994) e Finlândia (KUIVUNEN et al., 2001).
De acordo com HUTCHISON (1994) essas realidades são inaceitáveis, dado
que: a) pelo menos dois profissionais de saúde (dentistas e médicos) deveriam ser
capazes de fazer o diagnóstico; b) a boca é facilmente acessível para exame direto; c)
câncer oral pode ser precedido de lesões pré-malignas.
Constata-se que, mesmo com o passar dos anos, continua lamentavelmente
verdadeira a afirmação feita por KOWALSKI (1991): “tanto a população quanto os
profissionais de saúde não estão devidamente atentos ao problema da prevenção do
câncer bucal”. Porém, ao se falar estádio de diagnóstico de lesões neoplásicas, é
preciso levar em conta o seu padrão de evolução. Por exemplo, EVANS et allis
(1982) mostraram em seu estudo que pacientes com crescimento rápido do tumor
foram diagnosticados rapidamente, mas num estágio avançado da doença, enquanto
aqueles com crescimento lento do tumor tiveram um longo atraso no diagnóstico,
mas foram diagnosticados num estádio inicial da doença.
É possível que, as lesões de crescimento rápido tenham produzido uma
sintomatologia incômoda mais evidente, que tenha feito com que o paciente
procurasse atendimento mais cedo. Nesta hipótese, um pequeno atraso do paciente,
talvez tenha sido suficiente para conduzir a um diagnóstico da lesão em estádio
avançado.
O crescimento rápido do tumor também chamou atenção de TEPPO at allis
(2003) como fator causador de diagnóstico de lesões em estádio avançado. Tais
considerações fazem-nos verificar que, obviamente, nem sempre o profissional tem o
primeiro contato com as lesões, ainda em estágio inicial. Por isto é que WORDEN e
WEISMAN (1975) propuseram o termo lag time (intervalo de tempo) em lugar de
atraso, evitando culpar sempre o paciente ou o profissional, levando em conta o
comportamento biológico do tumor, condições sócio-econômicas e psicológicas.
Podemos concluir que muitas vezes o profissional e o próprio paciente sofrem
limitações de um intervalo de tempo que produz um atraso inevitável. Como evitar
um diagnóstico em estádio avançado se uma lesão de evolução rápida assim se
apresentou ao profissional na primeira consulta? Campanhas de esclarecimento
público poderiam ajudar pacientes a detectarem precocemente certas alterações da
normalidade e a procurarem rapidamente ajuda médica.
Na comparação do tempo profissional para a variável “o que acha que
tem?”, a diferença significativa apontada decorre do menor tempo entre os que não
sabem o que tem (média de 90,91 dias), do que entre aqueles que acham ter câncer
(média de 275,97 dias).
Resultado diferente encontraram na Holanda por TROMP et allis (2005)
quando o atraso foi significativamente associado à interpretação cognitiva dos
sintomas. Pacientes que tiveram alerta sobre ncer de cabeça e pescoço ou que
suspeitaram de câncer foram mais rápidos no retorno ao médico ou dentista. Talvez a
influência cultural ligada a fatores psico-sociais, discutidos anteriormente,
explique esta diferença de resultado entre o nosso estudo e aquele, se supusermos
que no Brasil pacientes tenderiam a adiar o retorno ao médico por se sentirem
aterrorizados frente ao câncer.
A incidência de câncer está aumentando no mundo todo devido à redução da
mortalidade infantil por doenças perinatais, controle das doenças cardíacas e
infecciosas, melhoria das condições de vida, advento de vacinas e antibióticos
modernos, e o próprio avanço tecnológico da medicina. Embora os sinais e sintomas
das neoplasias de cabeça e pescoço sejam, na maioria das vezes específicos,
infelizmente observamos chegar aos centros de referência pacientes com massas
tumorais volumosas, ulceradas, ou ainda submetidas a biópsias ou cirurgias com
técnicas inadequadas, que põem em risco seu prognóstico. O adequado tratamento
dos portadores de câncer pode resultar em menor mortalidade e a maior rapidez do
diagnóstico pode resultar na menor morbidade do tratamento. Sabe-se que quando
diagnosticados tardiamente, a maioria das neoplasias requer maiores doses de
quimioterápicos, radioterapia e cirurgias mutiladoras. Enquanto que, se tratados em
tempo, muitos pacientes poderão ser devolvidos à sociedade com o mínimo de
seqüelas e capazes de adequar-se às exigências do mercado de trabalho e convívio
social.
Se o câncer é considerado um problema de saúde pública, conforme o INCA,
os serviços públicos de diagnóstico bucal e estomatologia deveriam estar aptos a
oferecer condições seguras de diagnóstico e tratamento (BRASIL, MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 1995).
Mas, nem sempre é assim até mesmo em países do primeiro mundo.
ANTCZACK-BOUCKOMS (1995) afirmou que nos Estados Unidos grande
dificuldade em se acompanhar a evolução do tratamento dos pacientes oncológicos
encaminhados à rede pública. CAMERINO et allis (1995) identificaram a estrutura
burocrática do sistema sanitário público espanhol como fator capaz de provocar
atraso no diagnóstico de pacientes com neoplasias de cabeça e pescoço.
SIMUNOVIC et allis (2001) no Canadá registrou atrasos no diagnóstico de pacientes
que tinham que aguardar a realização de exames.
No Brasil, HAYASSY et allis (1998) num estudo da prática odontológica do
setor público de Niterói apontaram que 70% dos profissionais não se consideram
capacitados para diagnosticar lesões pré-cancerígenas e 40% não conhecem nenhum
tipo de lesão. Esta é uma realidade lamentável, pois aqueles profissionais deveriam,
por formação, ter toda condição de colaborarem com a saúde pública frente a uma
doença grave como o ncer, na qual o diagnóstico precoce pode ser estabelecido até
mesmo em fase pré-neoplásica ou fases incipientes da doença, onde as chances de
cura aproximam-se, muitas vezes, de 100% como afirmou KOWALSKI (1991).
Talvez a dificuldade dos profissionais de odontologia detectado por HAYASSY et
allis (1998) venha a justificar o fato de em nossos achados apenas 6,35% dos
pacientes tenham procurado o dentista como primeira providência para alívio de suas
queixas.
O governo do Reino Unido, em 2000, preocupado com os fatores envolvidos
com o processo de diagnóstico do câncer, determinou a formação de um comitê para
investigação das causas do atraso do diagnóstico e o alerta à população sobre os
sintomas iniciais da doença. Estas medidas teriam como objetivo a detecção precoce
do câncer e sua rápida referência aos centros de tratamento (DEPARTMENT OF
HEALTH 2000). Porém, quatro anos após, LLEWELLYYN et al., em 2004,,
constataram não haver um programa de formal esclarecimento público sobre câncer
bucal no Reino Unido.
Este nosso estudo identificou recursos para pesquisas futuras contrapondo
fatores de atraso no diagnóstico de neoplasias sob a perspectiva dos médicos e
dentistas e também dos pacientes.
Se o diagnóstico de câncer de cabeça e pescoço, como vimos, nem sempre é
detectado numa primeira consulta, os pacientes deveriam ser instruídos sobre o
possível significado de seus sintomas e veementemente advertidos a manter o
acompanhamento profissional. Médicos e dentistas deveriam ser orientados a
acompanharem de perto pacientes que tenham sintomas e sinais suspeitos, e terem a
agilidade necessária no encaminhamento.
Diante dos dados aqui apresentados, sugere-se a necessidade de uma pronta
intervenção das sociedades da área de saúde e instrumentos governamentais, a fim de
alcançarmos o diagnóstico precoce das neoplasias de cabeça e pescoço. Sugerimos a
realização de campanhas de esclarecimento à população e programas de educação
continuada dos profissionais de saúde, com ênfase no diagnóstico diferencial dos
principais sinais e sintomas deste tipo de câncer.
Conclusões
7 Conclusões
Os fatores investigados como capazes de motivar o atraso no diagnóstico de
neoplasias de cabeça e pescoço levaram a concluir que:
1- As variáveis sócio-demográficas como idade, sexo, escolaridade, número de
familiares e renda familiar” não mostraram influência estatisticamente
significativa sobre a variável “tempo do paciente”.
2- O “tempo do paciente” foi influenciado pelas variáveis sabe o que tem?e
o que acha que tem?” pois, pacientes que afirmaram saber o que têm
despenderam maior tempo em chegar aos centros especializados.
3- A variável tempo profissional” sofreu influência significativa do ponto de
vista estatístico das variáveis número de profissionais” aos quais o paciente
foi encaminhado antes de se dirigir a um centro especializado e exames
subsidiários realizados”, as quais foram capazes de provocar atraso no
diagnóstico.
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ANEXOS
ANEXO 1
PARECER DE APROVAÇÃO PELO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
ANEXO 2
QUESTIONÁRIO DE PESQUISA
Título: “Alguns fatores de atraso no diagnóstico de neoplasias de cabeça e pescoço”
Pesquisador: José Lamartine Galvão de Campos
Orientador: Prof. Dr. José Francisco de Salles Chagas
1) Identificação do paciente:
Nº do Prontuário:
Idade: Sexo: Profissão: Escolaridade:
Número de familiares: Renda Mensal familiar:
Endereço:
2) Queixa principal e duração:
3) História pregressa da moléstia atual:
. Quando foi que você notou alguma alteração na sua boca, pescoço ou face? .... dias
. O que você sentia? Úlcera (ferida) na boca ___
Dor ___
Sangramento___
Dificuldade para engolir ___
Dificuldade para abrir a boca ____
Presença de nódulo (caroço) no pescoço ____
Outros _______________________________
. Qual foi a primeira providência para alívio das queixas?
. Que tipo de profissional o examinou pela primeira vez e há quantos dias?
. Foi encaminhado ou procurou outro profissional? Quantos?
. Quais exames você já fez ? Há quantos dias?
. Sofreu alguma cirurgia ou tratamento? Há quantos dias?
. Houve complicação?
. Você sabe o que você tem?
. O que você acha que tem?
ANEXO 3
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Alguns fatores de atraso no diagnóstico de neoplasias de cabeça e pescoço
Responsável: José Lamartine Galvão de Campos
Paciente - Nome:
Idade:
RG:
Endereço:
Número do Prontuário:
Esta pesquisa pretende verificar o tempo que, geralmente, o doente demora
para ser atendido num serviço especializado e definir que tipo de doença apresenta.
Deseja-se verificar quando e porque o indivíduo percebeu que tinha qualquer
problema na boca ou no pescoço, quantos e que profissionais o examinaram, que
tipo de tratamento foi realizado, e também verificar se o doente havia sido
previamente esclarecido sobre a doença que tem.
O objetivo é valorizar a rapidez no encaminhamento e no atendimento, pois
sabemos que quanto mais rápido se iniciar o tratamento correto maior será a chance
de cura.
Para contribuir com a pesquisa você deverá responder um questionário com
alguns de seus dados pessoais; perguntas sobre quando e como você ficou doente;
quem examinou você e quando; que exames ou tratamentos você fez; e o que você
tem ou acha que tem?
Você participa da pesquisa, respondendo o questionário, se quiser e suas
respostas serão levadas em conta se você permitir. Além disso, a qualquer momento
da pesquisa, você poderá retirar o seu consentimento em participar sem que isso
cause nenhum prejuízo a você ou ao seu tratamento.
Se não entendeu do que se trata peça explicação a quem está lhe
apresentando o questionário.
Se responder às perguntas, seus dados pessoais e sua identidade serão
mantidos sob absoluto sigilo e privacidade, isto é, suas informações serão utilizadas,
mas ninguém saberá quem é você ou que você respondeu.
Você irá receber uma cópia deste termo de consentimento que irá assinar.
Campinas, de de 200_.
Autorizo a utilização de meus dados para esta pesquisa.
______________________________
Paciente
______________________________
Responsável pela pesquisa
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
Fontes Bibliográficas
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EUA: Blackwell Publishing, 2002.
Houaiss A, Villar MS, Franco FMM. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. ed.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
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Press, 1967.
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