Download PDF
ads:
1
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLÍNICA
TERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL INFANTIL: RELAÇÕES ENTRE O BRINCAR E
COMPORTAMENTOS DA TERAPEUTA E DA CRIANÇA
Giovana Del Prette
São Paulo. SP
2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLÍNICA
TERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL INFANTIL: RELAÇÕES ENTRE O BRINCAR E
COMPORTAMENTOS DA TERAPEUTA E DA CRIANÇA
CHILD BEHAVIOR-ANALYTIC THERAPY: RELATIONS BETWEEN PLAYING, TERAPIST
AND CHILD BEHAVIOR
Giovana Del Prette
Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo como requisito final para
obtenção do grau de Mestre em Psicologia Clínica.
Orientadora: Profa. Dra. Sonia Beatriz Meyer
São Paulo, SP
2006
ads:
3
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,
POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E
PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogação na publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Del Prette, Giovana.
Terapia analítico-
comportamental infantil: relações entre o brincar
e comportamentos da terapeuta e da criança / Giovana Del Prette;
orientadora Sonia Beatriz Meyer-- São Paulo, 2006.
248 p.
Dissertação (Mestrado Programa de Pós-
Graduação em
Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Clínica)
Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo.
1. Terapia comportamental 2. Psicoterapia da criança 3.
Comportamento de brincar 4. Processos psicoterapêuticos 5.
Metodologia I. Título.
RC489.B4
4
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLÍNICA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO:
TERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL INFANTIL: RELAÇÕES ENTRE O BRINCAR E
COMPORTAMENTOS DA TERAPEUTA E DA CRIANÇA
Candidata: Giovana Del Prette
Data da Defesa: ____/_____/_____
Resultado: ____________________
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Profa. Dra. Sonia Beatriz Meyer (USP), Orientadora.
_____________________________________________
Profa. Dra. Emma Otta (USP), Membro.
_____________________________________________
Prof. Dr. Roberto Alves Banaco (PUC), Membro.
ii
APOIO FINANCEIRO:
CONSELHO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO (CNPq)
iii
Dedico este trabalho a todos os terapeutas
que atuam para tornar melhor a vida das crianças.
ii
AGRADECIMENTOS
Ao longo de todo o Mestrado, aprendi muito mais do que eu podia imaginar. Foi um período
de transformações na minha vida. Devo isso a pessoas especiais:
Agradeço à querida Sonia, por ter acreditado na minha capacidade para enfrentar o desafio
do Mestrado e ter “simplesmente” me iniciado na pesquisa em clínica e na terapia analítico-
comportamental. Pelas aulas, reuniões, supervisões... pelo carinho e cuidado.
Agradeço aos meus pais Almir e Zilda e ao meu irmão Lucas, que sempre estiveram ao meu
lado, me dando muita força nos momentos em que eu estava me sentindo triste e sozinha em São
Paulo. Sem vocês, este trabalho não teria passado de um sonho.
Agradeço aos meus amigos de trabalho, Alessandra Villas Boas, Esther Ireno, Márcio
Alleoni Marcos, Maria Amália M. Pereira, Michele Oliveira, Priscila Taccolla e Tatiana Araújo.
Agradeço a todos que foram meus professores de Mestrado e de Especialização, pois com
certeza contei com um time incrível: Sonia Meyer, Edwiges F. M. Silvares, Martha Hubner, Almir
Del Prette, Zilda Del Prette, Cynthia Schuck Paim, Cássia R. C. Thomas, Denis R. Zamignani,
Joana S. Vermes, Luiz Guilherme G. C. Guerra, Maly Delitti, Marcelo Benvenuti, Maria Amália P.
A. Andery, Maria Luiza Guedes, Maria das Graças Oliveira, Miriam Marinotti, Nicolau K. Pergher,
Nilza Micheletto, Regina C. Wielenska, Roberta Kovac, Roberto Alves Banaco, Tereza M. A. P.
Sério e Yara Nico.
Por fim, agradeço especialmente às crianças atendidas, “Mauro” e “Erik”, e às suas famílias.
iii
Del Prette, G. (2006). Terapia Analítico-Comportamental Infantil: Relações entre o brincar e
comportamentos da terapeuta e da criança. Dissertação de Mestrado, Programa de pós-
graduação em Psicologia Clínica, Universidade de São Paulo.
RESUMO
Na Terapia Analítico-Comportamental Infantil (TACI), o brincar em sessão é referido tanto
como um modo de avaliação de repertório, como de ensino de comportamentos alternativos à
criança. Os procedimentos utilizados no atendimento a crianças, incluindo o brincar, não estão
ainda explicitamente descritos. Os sistemas encontrados na literatura para a categorização de
terapia infantil são, muitas vezes, difíceis de operacionalizar ou pouco específicos às situações
que envolvem brincadeiras. Este estudo divide-se em dois conjuntos de objetivos. No
primeiro, buscou-se a identificação de um sistema de categorias adequado à análise de terapia
infantil, sua testagem e adaptação. Em um segundo momento, objetivou-se aplicar este
sistema de categorias para descrever as relações entre: (a) as diferentes formas de interações
em função do brincar; (b) os comportamentos da terapeuta; (c) a qualidade da relação
terapêutica e (d) os comportamentos de queixa e melhora da criança. Participaram da pesquisa
uma terapeuta analítico-comportamental e dois clientes com problemas de comportamento
predominantemente externalizantes, do sexo masculino, de oito e seis anos. Antes do início da
terapia, os pais dos clientes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e
responderam ao Child Behavior Checklist (CBCL) de Achenbach (1991). Com base nas cinco
primeiras sessões de um cliente nas três primeiras do outro, filmadas e transcritas, foram
criadas seis Categorias do Brincar, denominadas de acordo com o tema das verbalizações e as
ações correspondentes: (1) Brincadeira-Lúdico; (2) Fantasia-Lúdico; (3) Cotidiano-Lúdico;
(4) Cotidiano Extra-Lúdico; (5) Brincadeira Não-Lúdico e (6) Não-Lúdico. O sistema de
categorias de Zamignani (2006, em elaboração) foi escolhido, procedendo-se adaptações e
elaboração de subcategorias, tanto para o terapeuta quanto o cliente. Foram encontradas
associações entre algumas Categorias do Terapeuta e do Cliente, como por exemplo
“Solicitação de Relato” produzindo “Relato” e “Recomendação” produzindo “Concordância”
e “Oposição”. As subcategorias permitiram o refinamento dos resultados, destacando
procedimentos comportamentais como Modelo, Extinção e Bloqueio de Esquiva, e
comportamentos da terapeuta típicos de terapia infantil, como o Direcionamento, o Desafio, a
Estruturação de Brincadeiras e a Narrativa de Jogos. Quanto aos clientes, embora tenham
iniciado a terapia com queixas semelhantes, seus comportamentos em sessão eram bastante
diferentes. Quando ocorriam comportamentos-queixa, a interação se tornava mais difícil. O
brincar foi uma estratégia que permitiu: (a) uma boa relação terapêutica; (b) trabalhar
diretamente com os comportamentos-queixa; (c) uso de procedimentos comportamentais; (d)
instalação de comportamentos de melhora; (e) a coleta de informações relevantes sobre a
criança e seu cotidiano. Concluindo, este estudo trouxe contribuições não apenas para a
pesquisa em terapia infantil, como também para a metodologia de análise da interação
terapêutica. Discutiu-se também que terapeuta ser a própria pesquisadora foi uma condição
que levou ao acesso a informações não disponíveis a um observador externo.
PALAVRAS-CHAVE: Terapia comportamental; Psicoterapia da criança; Comportamento de
brincar; Processos psicoterapêuticos; Metodologia.
iv
Del Prette, G. (2006). Child Behavior-Analytic Therapy: Relations between playing, therapist
and child behavior. Master´s Dissertation, Postgraduation Program in Clinical
Psychology Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil.
ABSTRACT
In Child Behavior-Analytic Therapy, playing during sessions is referred to both as a way of
repertoire evaluation, as well as teaching alternative behaviors to the child. Procedures used in child
therapy, including playing, are not yet explicitly described. The systems found in literature for
categorizing child therapy are often difficult to operationalize or are not specific to situations that
involve children’s play. This study is divided into two objectives. Firstly, an adequate
categorization system for child therapy analysis was sought, tested and adapted. Secondly, this child
therapy category system was applied to describe the relationships between: (a) different forms of
interaction during playing; (b) therapist’s behavior; (c) the quality of the therapeutic relationship
and (d) the complaints and improvements of the child. A behavior-analytical therapist and two male
clients with predominantly externalizing behavior problems, eight and six years old, participated in
the research. Prior to beginning therapy, client’s parents signed a term of free and informed consent
and answered the Achenbach’s Child Behavior Checklist (CBCL). Based on the first five sessions
of one and of the first three of the other, once filmed and transcribed, six playing categories were
created, named according to the theme of verbalizations and corresponding actions: (1)
play/playing; (2) fantasy/playing; (3) day-to-day events/playing; (4) unrelated day-to-day/playing;
(5) play/non playing and (6) non-playing. Zamignani´s (2006, in elaboration) category system was
chosen, adapted and subcategories were created both for therapist and client. Some association was
found in therapist and client categories such as “report request” producing “report” and
“recommendation” producing “agreement” and “opposition”. The subcategories led to refinement
of results, allowing the observation of behavioral procedures like modeling, extinction and
avoidance blocking, and identification of typical child therapist’s behaviors, like directing,
challenging, structuring of playing and the game descriptions. As for clients, although they initiated
therapy with similar complaints, their behaviors during sessions were markedly different. When
problem behaviors occurred, interaction became more difficult. Playing was a strategy that enabled:
(a) a good therapeutic relationship; (b) working directly with the behavior-problem; (c) usage of
behavioral procedures; (d) acquisition of improved behaviors; (e) expanded data collection relative
to child behavior and its determinants. Concluding, this study not only contributed to child therapy
research, but also to a method of analysis of therapeutic interaction. The issue of the researcher
being the therapist was also discussed, the advantage being the access to information, not available
to an external observer.
KEY-WORDS: Behavior Therapy; Child Psychotherapy; Childhood Play Behavior;
Psychotherapeutic Processes; Methodology.
v
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS II
RESUMO III
ABSTRACT IV
ÍNDICES VI
ÍNDICE DE TABELAS VI
ÍNDICE DE FIGURAS VII
ÍNDICE DE ANEXOS VIII
INTRODUÇÃO 1
O PAPEL DO BRINCAR NA TERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL INFANTIL 2
TERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL DE ADULTOS VERSUS DE CRIANÇAS 5
PSICOTERAPIA: VARIÁVEIS DE INTERESSE E METODOLOGIAS DE PESQUISA 8
PROBLEMA E OBJETIVOS DE PESQUISA 13
MÉTODO 15
PARTICIPANTES 15
MATERIAL E INSTRUMENTOS 16
PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS 19
TRATAMENTO DOS DADOS 21
RESULTADOS E DISCUSSÃO 29
CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DE ANÁLISE 34
DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO TERAPEUTA 34
DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO CLIENTE 67
COMPORTAMENTOS QUEIXA E COMPORTAMENTOS DE MELHORA 85
DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS DO BRINCAR 86
ANÁLISE DAS SESSÕES TRANSCRITAS DE TERAPIA INFANTIL 91
RESULTADOS REFERENTES ÀS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO TERAPEUTA: 93
RESULTADOS REFERENTES ÀS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO CLIENTE: 108
RESULTADOS REFERENTES ÀS CATEGORIAS DO BRINCAR 118
CONSIDERAÇÕES FINAIS 137
REFERÊNCIAS 147
ANEXOS 155
vi
ÍNDICES
Índice de Tabelas
Tabela 1. Relação entre o tema da fala e a ação na formação das categorias do brincar 23
Tabela 2. Modelo de folha de registro utilizada para a classificação das unidades de análise do
comportamento do terapeuta e do cliente. 26
Tabela 3. Conjunto de categorias do terapeuta, de zamignani (2006, em elaboração) e subcategorias
elaboradas para a terapia analítico-comportamental infantil. 35
Tabela 4. Conjunto de categorias do cliente de zamignani (2006, em elaboração) e subcategorias
elaboradas para a terapia analítico-comportamental infantil 68
Tabela 5. Reagrupamento das subcategorias do terapeuta que pertencem a mais de uma categoria,
em subcategorias que sugerem procedimentos específicos e que poderiam ser consideradas típicas
de terapia infantil. 92
Tabela 6. Valores e porcentagens das unidades de análise nos atendimentos de mauro e erik. 93
Tabela 7. Porcentagem de comportamentos-queixa, comportamentos de melhora e outros
comportamentos de mauro que favorecem e que desfavorecem a qualidade da relação terapêutica.
117
Tabela 8. Percentagem de ocorrência das categorias do terapeuta em cada categoria do brincar,
durante os atendimentos de mauro e erik. 122
Tabela 9. Subcategorias do terapeuta em cada categoria do brincar, durante os atendimentos de
mauro e erik. 126
Tabela 10. Categorias do cliente mais freqüentes em cada categoria do brincar, durante os
atendimentos de mauro e erik. 131
vii
Índice de Figuras
Figura 1. Ilustração da sala da clínica-escola utilizada para o atendimento de mauro e erik. 19
Figura 2. Percentagem de verbalizações da terapeuta nas cinco sessões de mauro (n=805) e de três
sessões de erik (n=486), para cada categoria do terapeuta. 94
Figura 3. Percentagem de verbalizações da terapeuta por categoria, ao longo das sessões de mauro
(a) e erik (b). 95
Figura 4. Associação entre comportamentos da terapeuta e comportamentos subseqüentes mais
freqüentes dos clientes (“m” para mauro e “e” para erik). 98
Figura 5. Percentagem de subcategorias do terapeuta no atendimento de mauro (a) e erik (b). 100
Figura 6. Subcategorias do terapeuta (baseadas em procedimentos) e sua relação com
comportamentos subseqüentes de mauro e erik, favoráveis e desfavoráveis à qualidade da relação.
103
Figura 7. Subcategorias do terapeuta que descrevem comportamentos típicos de terapia infantil e
sua relação com respostas subseqüentes de mauro e erik que favorecem ou desfavorecem a
qualidade imediata da relação. 105
Figura 8. Percentagem de categorias do cliente nas oito sessões de mauro e três de erik. 108
Figura 9. Percentagem de categorias do cliente ao longo das três sessões do atendimento de erik (a)
e cinco sessões do atendimento de mauro (b). 110
Figura 10. Porcentagem das categorias do brincar nos atendimentos de mauro e erik. 119
Figura 11. Porcentagem de episódios verbais em cada categoria do brincar, ao longo das sessões
analisadas de mauro (a) e erik (b). 120
Figura 12. Percentagem de verbalizações de mauro e favoráveis à qualidade da relação terapêutica,
em cada categoria do brincar. 133
Figura 13. Percentagem de comportamentos-queixa em cada categoria do brincar, nos atendimentos
de mauro e erik. 135
viii
Índice de Anexos
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Anexo 1 156
Categorias do Terapeuta Anexo 2 157
Categorias do Cliente Anexo 3 180
Questionário de Objetivos Terapêuticos - Mauro Anexo 4 193
Questionário de Objetivos Terapêuticos Erik Anexo 5 196
Child Behavior Checklist Mauro Anexo 6 199
Child Behavior Cheklist Erik Anexo 7 203
Transcrição de Sessões de Mauro Anexo 8 207
Transcrição de Sessões de Erik Anexo 9 233
1
INTRODUÇÃO
Diversos problemas psicológicos levam crianças, adolescentes e adultos à busca de
tratamento especializado. Recentemente, Fioravanti (2005) citou um levantamento do World Mental
Health Survey, coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mostrando que os
distúrbios psiquiátricos têm sido cada vez mais freqüentes, mas pouco tratados. Segundo o autor,
mesmo nas cidades mais isoladas do mundo os transtornos mentais começam cedo, ainda na
infância. [...] Progridem lentamente e, lá pelos 20 anos, podem se expressar na forma de
dependência de álcool, de nicotina ou de drogas, ou ainda como uma depressão grave, que
desabilita a ponto de superar a vontade de comer ou mesmo de viver (Fioravanti, 2005, p.
38-43).
Dada a gravidade desses problemas, torna-se urgente e necessário um investimento crescente
de pesquisadores e profissionais para desenvolver intervenções progressivamente mais efetivas,
como parte do compromisso técnico e ético com a qualidade de vida. No caso da criança, esse
investimento é ainda mais crítico pois pode evitar a repercussão de problemas da infância nas etapas
futuras do desenvolvimento.
Os problemas comportamentais e emocionais que levam as crianças para a terapia recaem na
classe geral dos "Transtornos diagnosticados pela primeira vez na infância e na adolescência"
(APA, 1995) e que é composta por diferentes tipos, como por exemplo: Distúrbio de
Aprendizagem, de Habilidades Motoras, de Comunicação, de Eliminação etc. (Kazdin & Weiz,
2003). Entretanto, dentro da classe geral referida, é possível classificá-los, ainda, em dois grandes
grupos: os internalizantes e os externalizantes (Achenbach & Edelbrock, 1978; Kazdin & Weiz,
2003). São considerados internalizantes aqueles problemas dirigidos para experiências internas,
como ansiedade, timidez e depressão. Já os externalizantes são dirigidos para o ambiente, como
comportamento opositor, hiperatividade, agressividade e comportamentos anti-sociais (Kazdin &
Weiz, 2003).
2
Os problemas externalizantes constituem a maioria das queixas que levam crianças e
adolescentes à psicoterapia. Em uma análise dos prontuários de 776 clientes com idade até 16 anos,
inscritos em uma clínica-escola, Silvares (1993) observou que 75,3% deles continham queixas de
distúrbios de comportamentos explícitos e de mau desempenho escolar. Além disso, a maioria das
crianças encaminhada tinha idade entre seis e nove anos e era do sexo masculino, exceto para
queixas internalizantes, mais predominantes em meninas.
Seja do ponto de vista da prevenção, seja da remediação (tratamento), é fundamental a
pesquisa sobre os fatores de eficiência e eficácia da intervenção clínica, o que tem sido considerado
como uma das prioridades pela Força Tarefa em Psicoterapia, da APA, conforme documento oficial
recentemente publicado (Levant, 2005). Esse documento enfatiza que a avaliação das terapias é de
suma importância para o progresso científico da psicologia clínica, permitindo a delimitação das
que são eficazes e dos componentes que contribuem para essa efetividade.
A Terapia Analítico-Comportamental Infantil (TACI) é um dos possíveis tratamentos no
caso de crianças com problemas externalizantes. Ao lado da utilização de procedimentos e técnicas
que a assemelham à Terapia Analítico-Comportamental com adultos, a TACI apresenta uma
especificidade ainda pouco explorada em termos de suas características e efetividade. Trata-se do
uso do brincar na interação profissional-cliente, cuja importância tem sido referida por inúmeros
autores (Kazdin, 1988; Guerrelhas, Bueno & Silvares, 2000; Regra, 2000; Torres & Meyer, 2003).
Nos tópicos que se seguem são apresentados aspectos da fundamentação conceitual e empírica da
temática deste estudo.
O papel do brincar na Terapia Analítico-Comportamental Infantil
A definição do comportamento de brincar é alvo de muita discordância entre os teóricos que
investigam essa temática. No entanto, conforme De Rose e Gil (2003), a maioria das definições
enfatiza a espontaneidade e o prazer deste ato. Brincar, por meio de jogos ou brincadeira,
estruturados ou não, é a atividade mais comum da criança e é crucial para o seu desenvolvimento,
3
além de ser uma forma de comunicação. Del Prette e Del Prette (2005, p. 100) ressaltam que o jogo
é utilizado em todas as tradições culturais, “com objetivos educacionais distintos como socialização,
transmissão de valores e desenvolvimento de autonomia”.
Segundo Goldstein e Goldstein (1992), a importância dos jogos vem sendo enfatizada por
pesquisadores e teóricos como uma maneira pela qual a criança aprende a controlar o ambiente e
fortalecer suas habilidades sociais e de raciocínio. O jogo intensifica os contatos da criança com o
mundo, fornece a oportunidade de fazer e manter amizades e ajuda a criança a desenvolver uma
auto-imagem adequada. O faz-de-conta, em crianças pequenas, a ajuda a desenvolver fundamentos
básicos para o seu desenvolvimento social. As ações da criança, em contexto de brincadeira, muitas
vezes expressam sentimentos, desejos e valores que ela não consegue, ainda, expressar por meio de
relatos verbais, devido às limitações próprias de seu estágio de desenvolvimento em linguagem.
Possivelmente por suas diferentes funções e importância, o brincar passou a fazer parte das
práticas de Psicoterapia Infantil, inicialmente em abordagens como a Psicanálise, a Psicologia
Humanista, a Gestalt-terapia e, também, na abordagem Comportamental. Convém salientar que essa
atenção dada ao brincar não se constitui propriamente uma novidade na abordagem
comportamental. Já na década de 60, Ferster (1966), em um estudo que se tornou célebre, descreveu
e analisou funcionalmente o atendimento de uma menina autista de quatro anos de idade e ressaltou
o papel do uso do brinquedo como um facilitador da interação criança-terapeuta.
O brincar é um comportamento que, segundo De Rose e Gil (2003, p. 376), “implica em
estímulos discriminativos, modelos, instruções e conseqüências, de tal modo que a criança pode, a
partir de seu repertório inicial, refinar seus comportamentos e aprender novos”. Skinner (1991)
distingue, na brincadeira, o jogo do brincar livre, definindo o jogar como uma atividade que envolve
contingências de reforçamento planejadas, isto é, regras pré-estabelecidas. Por outro lado, o brincar
livre, por não ter regras estabelecidas na cultura, pode ser considerado menos controlado pelo
ambiente social imediato. Conforme Kanfer, Eyberg e Khrahn (1992, p. 50), a brincadeira é “um
4
meio efetivo de construir o rapport e reduzir demandas verbais feitas para a criança e [...] um meio
para amostragem do conteúdo das cognições da criança”.
Na abordagem comportamental, o brincar tem sido considerado um procedimento favorável
ao manejo de comportamentos clinicamente relevantes na terapia com crianças (Conte & Brandão,
1999). Antes de escolher os procedimentos de intervenção para promover a aquisição de
comportamentos relevantes, o terapeuta analítico-comportamental realiza uma avaliação para
conhecer o repertório inicial de comportamentos da criança. Na situação lúdica, a criança revela e
descobre seus sentimentos, pensamentos, intuições e fantasias, possibilitando ao terapeuta obter
dados importantes para o conhecimento da história de vida da criança (Windholz & Meyer, 1994).
Vê-se, portanto, que o contexto lúdico pode ser utilizado com objetivos de avaliação do repertório
da criança, permitindo o acesso indireto a seus pensamentos e sentimentos e o acesso mais direto às
suas respostas abertas, em relação com variáveis de controle ambientais.
O brincar é, também, um contexto particularmente rico de oportunidades para ensinar
comportamentos alternativos à criança, por meio de procedimentos característicos da Análise do
Comportamento, como modelagem, modelação, esvanecimento, reforçamento diferencial etc. A
inclusão de estratégias lúdicas e de fantasia na avaliação e na intervenção direta com a criança
propicia a ampliação das relações, que passam a se dar não apenas entre a criança e o terapeuta,
como também entre eles e personagens das brincadeiras, conforme ressaltam Conte e Regra (2002,
p. 98):
A análise do comportamento da criança, na clínica, dá-se com base em vários recursos,
como, por exemplo, a análise da interação que ela estabelece diretamente com o terapeuta
(análise da relação), a análise das relações que estabelece entre personagens fictícios,
retirados de suas fantasias e sonhos (...), e mesmo seus relatos diretos sobre o que ocorre no
dia-a-dia.
A situação lúdica também pode ser entendida como promotora de aliança terapêutica
efetiva, porque se constitui uma atividade altamente reforçadora para a criança (Guerrelhas, Bueno
5
& Silvares, 2000). O brincar pode contribuir, por essa via, para o engajamento da criança no
processo e, portanto, para a efetividade da terapia.
No presente trabalho, define-se o brincar em terapia como o conjunto de procedimentos que
utilizam atividades lúdicas (jogo ou brinquedo) como mediadoras da interação terapeuta-cliente.
Conforme exposto, em suma, os principais objetivos do brincar em terapia seriam: (a) realizar a
avaliação diagnóstica da criança; (b) identificar variáveis relevantes no aparecimento e manutenção
do problema, isto é, fazer uma análise das contingências envolvidas na queixa identificada; (c)
estabelecer procedimentos que fortaleçam certos comportamentos e enfraqueçam outros e (d)
promover uma aliança terapêutica efetiva.
Terapia Analítico-Comportamental de adultos versus de crianças
A Terapia Analítico-Comportamental tem o comportamento como unidade básica a partir da
qual o terapeuta analisa as contingências ambientais das quais ele é função. A análise de
contingências é o instrumento chave da clínica analítico-comportamental, tanto para a avaliação
quanto para o planejamento da intervenção (Neno, 2003), ou seja, “somente uma análise funcional
poderá indicar o que está faltando para que a terapia (...) apresente resultados satisfatórios”
(Banaco, 1999).
O foco no comportamento diz respeito à identificação e descrição do comportamento de
interesse, incluindo aspectos como freqüência, duração e intensidade (Meyer, 2003), juntamente
com a análise das contingências associadas a esse comportamento. “Contingência” é um conceito
chave na análise das interações organismo-ambiente (Todorov, 1985) e implica na busca pela
descrição da condição antecedente e da subseqüente ao comportamento de interesse (Meyer, 2003).
A partir da análise de contingências, o atendimento clínico visa quatro objetivos principais: a
identificação dos comportamentos-alvo e das condições que os mantêm, a seleção da intervenção
mais adequada, o monitoramento do progresso ao longo do tratamento e a avaliação da efetividade
da intervenção realizada (Follete; Naugle & Linnerooth, 2000).
6
Nos aspectos até aqui referidos, a TACI não se diferencia da Terapia Analítico-
comportamental de adultos. Mas a terapia com crianças tem peculiaridades que a diferenciam
(Queiroz & Guilhardi, 2002; Silveira, 2002), o que remete tanto aos procedimentos utilizados, como
às habilidades específicas que o terapeuta deve apresentar. Como exemplo de habilidade, Silveira
(2002) defende que a atuação do terapeuta comportamental infantil requer criatividade e, ao mesmo
tempo, diretividade na condução da sessão psicoterápica. Quanto aos procedimentos, Gaines (2003)
destaca que, na terapia infantil, os terapeutas utilizam a “auto-revelação” com mais freqüência do
que na de adultos. Outros autores discutem o papel do procedimento de “fantasiar” durante
atividades lúdicas em terapia infantil (p.e., Penteado, 2001; Regra, 1997) como uma maneira
peculiar de avaliação e de intervenção.
Também há diferenças importantes entre o atendimento infantil e adulto no procedimento de
avaliação diagnóstica. Segundo Silvares (2002), a avaliação diagnóstica implica em uma série de
atividades com o objetivo de analisar funcionalmente a queixa e, com base nessa análise, definir as
melhores estratégias comportamentais a serem utilizadas para alcançar o bem-estar psicológico do
cliente. É pela avaliação diagnóstica que o terapeuta coleta informações acerca da história do
cliente, do comportamento que deve ser tratado e das circunstâncias nas quais o cliente vive.
Na terapia infantil, a peculiaridade da avaliação diagnóstica começa na própria definição da
queixa, pois raramente é apresentada pela criança e isso pode interferir no controle do terapeuta
sobre a situação de atendimento, especialmente no início do processo. Na origem da queixa,
existem membros da comunidade social da criança que estão incomodados com alguns de seus
comportamentos (e não a própria criança, na maioria dos casos) e que então definem: (a) a
necessidade de atendimento; (b) o profissional que irá prestar o serviço; (c) o que consideram
problema para a criança e seu entorno. A queixa, ao ser elaborada pela perspectiva do adulto (nem
sempre compartilhada pela criança), pode dificultar a adesão desta ao processo de atendimento. Isso
realça a importância do processo de estabelecimento de uma aliança terapêutica com a criança, que
7
deve incluir, também, o esclarecimento sobre os objetivos e procedimentos, diminuindo seu
desconforto e predispondo-a a uma maior adesão ao tratamento.
Nesse processo, o terapeuta infantil comumente lida com vários participantes ao mesmo
tempo (mãe, pai, irmãos, professores). A importância dada aos cuidadores envolve a compreensão
de que a família tem um papel importante na gênese e manutenção da queixa: “queixar-se dos
comportamentos do filho é se denunciar: reclamar do produto é reprovar o produtor” (Queiroz &
Guilhardi, 2002, p. 250). Em outras palavras, o comportamento queixa da criança, embora
inadequado, é funcional no ambiente em que ela se insere (Silvares & Marinho, 1998), isto é, só se
mantém porque está sendo, de alguma forma, reforçado.
O papel dos pais na definição da queixa é também ressaltado em Del Prette, Silvares &
Meyer (2005) que, ao analisarem os processos de avaliação diagnóstica de 20 estudos de caso
infantis, constataram que a entrevista com pais foi um dos recursos mais utilizados para a avaliação
inicial. A participação dos pais continuou a ser importante em outros procedimentos de avaliação
utilizados, como a aplicação de testes e o uso de registros e, sem dúvida, tal participação é muito
importante para a análise inicial do problema da criança. Por meio do contato com os pais, o
terapeuta pode obter informações adicionais, como, por exemplo, prováveis reforçadores e
punidores para a criança, planos e metas dos pais quanto aos filhos etc.
Em suma, pode-se afirmar que a TACI compartilha características da terapia analítico-
comportamental com adultos, porém, apresenta uma especificidade que pode ter implicações tanto
para a pesquisa quanto para a prática profissional. Em termos de pesquisa, implica em avaliar mais
detalhadamente essas características diferenciadoras em suas possíveis relações com o processo e
com a efetividade do tratamento. Em termos práticos, implica em considerar tais características na
formação e capacitação de terapeutas para o atendimento a crianças.
8
Psicoterapia: Variáveis de interesse e Metodologias de pesquisa
Conforme Castonguay e Beutler (2006), há duas vertentes possíveis de posicionamentos a
respeito da avaliação da efetividade de psicoterapias. Uma delas é a de que todos os tratamentos são
essencialmente equivalentes em termos de produção de resultados para o cliente. Essa perspectiva
tem sido referida como “paradoxo da equivalência”, também denominado por Luborsky, Singer e
Luborsky (1975) como o “veredicto do pássaro Dodô”. O paradoxo refere-se à aparente
equivalência da efetividade das diferentes terapias, em contraste com a aparente não-equivalência
dos processos das mesmas. A expressão “veredicto do pássaro Dodô” refere-se a um trecho da
história de Alice no País das Maravilhas, no qual os animais realizavam uma corrida em torno de
um círculo e, ao final, o pássaro Dodô decretava que todos eles ganharam a corrida e seriam
premiados. É respaldada por pesquisas (p.e. Lambert & Bergin, 1994, citado por Stiles, 1999) que
indicam que fazer terapia é significativamente melhor do que não fazê-la, e que placebos também
são melhores do que não-terapia, embora piores do que terapia. Nas razões de não haver diferenças
significativas entre as psicoterapias existentes, essa vertente ressalta a importância da aliança
terapêutica como a única variável de processo preditora de bons resultados (Garfield, 1995).
Outra vertente, referida por Castonguay e Beutler (2006), é a de que alguns tratamentos
seriam mais recomendáveis do que outros, para o tratamento de transtornos específicos, a partir de
comprovação empírica de pesquisas. De acordo com Neno (2005), essa vertente é fruto de um
movimento de validação empírica das psicoterapias que se instalou oficialmente por meio da Força
Tarefa da Divisão 12 da APA, em 1993. Além do compromisso com a produção de conhecimento, a
investigação da efetividade das terapias vem se apoiando em uma base legal e ética. As terapias
psicológicas estão incorporadas aos centros públicos de Saúde Mental, que devem ofertar
intervenções cada vez mais eficazes, o que constitui uma exigência ética e vem se configurando,
nos últimos anos, também como exigência legal: "pesquisas que estão sendo iniciadas em todo o
mundo entrarão diretamente nas situações clínicas e verificarão o que os terapeutas estão fazendo"
(Meyer & Vermes, 2001, p.108).
9
No ano de 2005, a Divisão 12 da Associação de Psicologia Americana (APA) e a Sociedade
Americana para a Pesquisa em Psicoterapia concluíram um estudo (Levant, 2005) que buscou
definir o conceito de prática psicológica baseada em evidência e, com base na atualização de dados
sobre evidências de pesquisa aplicáveis à prática psicológica em psicoterapia, apontar direções de
pesquisa relacionadas ao papel do terapeuta na tomada de decisões de tratamento e do paciente
nesse processo. O conceito de prática psicológica baseada em evidência (Evidence-Based Practice
in Psychology, ou EBPP) foi definido como a integração das melhores pesquisas disponíveis com
a experiência clínica no contexto das características, cultura e preferências do cliente (p. 5).
O documento final analisa as principais evidências de pesquisa disponíveis e as direções
para pesquisas que deveriam ser priorizadas em financiamentos de pesquisa futuras. Aqui, foram
incluídas as pesquisas sobre o peso relativo das características dos clientes, do terapeuta e das
variáveis do relacionamento terapeuta-cliente, sobre os resultados da terapia e a importância de
determinar e descrever como essas variáveis interagem umas com as outras para afetar
diferencialmente os resultados. Resultados de pesquisas sobre tais aspectos poderiam servir como
indicadores úteis para a prática clínica, esclarecendo quais intervenções (e também modos de
relacionamento) deveriam ser encorajadas ou evitadas.
Dentre os problemas que têm sido foco de estudo de efetividade do tratamento pela Força
Tarefa, inclui-se a depressão, a ansiedade, os transtornos de personalidade e o abuso de substâncias.
Segundo Neno (2005), as pesquisas realizadas pela Força Tarefa sobre o tratamento destes
transtornos focalizavam somente a população adulta, deixando uma lacuna no atendimento voltado
à criança. Por esse motivo, uma das atualizações da lista de tratamentos empiricamente validados
voltou-se para a identificação de tratamentos para a população infantil.
Considerando que a pesquisa sobre a efetividade da psicoterapia visa ao conhecimento sobre
o que produziu a melhora no cliente, ela não deve focalizar apenas os resultados mas, também, as
condições que o geraram, ou seja, o processo terapêutico. A literatura mostra que há diversas
metodologias possíveis de análise do processo terapêutico. Na análise de alguma variável
10
específica, pode ser necessário decidir os tipos e a amplitude das unidades de análise (molares ou
moleculares) ou recortes das sessões ou grupos de sessões. Pode-se, por exemplo, dividir sessões de
psicoterapia em unidades temporais. Howe e Silvern (1981) utilizaram o tempo como unidade de
análise, dividindo as sessões em segmentos de doze minutos, na tentativa de elaborar um
instrumento para a observação dos comportamentos da criança em ludoterapia. Mais recentemente,
Estrada e Russel (1999) dividiram as sessões em segmentos de vinte minutos, ao elaborarem uma
escala para a análise do processo em psicoterapia infantil. Conforme Shaffer (1982), não existe,
ainda, consenso entre os autores quanto às unidades de análise, mas algum consenso seria
importante para direcionar as pesquisas futuras e possibilitar uma avaliação mais precisa dos
resultados e a comparação de dados de diferentes pesquisas.
Para estudar os resultados obtidos em cada sessão, Greenberg (1986) utilizou quatro
categorias de análise que ele classificou como: (a) “níveis de conteúdo” (definido como “tudo
aquilo que acontece durante a sessão”); (b) atos de fala (referindo-se à “linguagem e seu sentido no
contexto”); (c) episódios (que seriam porções de comunicação com sentido terapêutico) e (d) inter-
relações (“qualidades inespecíficas que o terapeuta deve possuir”). Como se vê, essas categorias
estão definidas de forma bastante genérica, o que torna difícil operacionalizá-las, limitando o seu
uso em novos estudos.
Com relação aos atos de fala e aos demais desempenhos do terapeuta, valorizados por
diferentes autores, pode-se identificar uma falta de consenso também quanto às unidades de análise
ou categorias de comportamentos. Alguns sistemas de categorias são brevemente descritos a seguir.
Na década de 70, uma pesquisadora americana, Clara Hill (1978) propôs um sistema
classificação dos comportamentos do terapeuta - Hill’s Counselor Verbal Response Mode Category
System que incluía as seguintes categorias: (1) aprovação e confiança; (2) questões fechadas; (3)
questões abertas; (4) repetição da fala do cliente; (5) reflexão dos sentimentos; (6) confrontação; (7)
interpretação; (8) auto-revelação; (9) imediação; (10) informação; (11) orientação direta; (12)
outras.
11
Em nosso meio, pode-se destacar a análise de Meyer (2001) que identificou e definiu nove
categorias de comportamentos do terapeuta referentes aos objetivos e às táticas para alcançá-los: (1)
solicitação de informações: comportamentos que objetivam obter ou esclarecer informações, bem
como testar hipóteses; (2) fornecimento de informações: comportamentos que esclarecem aspectos
da terapia (contrato, técnicas etc) e aspectos psicológicos ou médicos; (3) empatia, calor humano,
compreensão, concordância: comportamentos que objetivam a aproximação e a demonstração de
compreensão; (4) sinalização: comportamentos que sinalizam variáveis relevantes da fala do
cliente, podendo reformulá-la para enfatizar algum conteúdo; (5) aprovação: comportamentos que
indicam aprovação de comportamentos ou relatos do cliente sobre comportamentos; (6) orientação:
ordens, conselhos, avisos, fornecimento de modelos; (7) interpretação: inferências sobre padrões de
comportamento do cliente e de outras pessoas e sobre relações causais; (8) confrontação:
demonstração de contradições do cliente ou de desaprovação frente ao relato ou comportamento
deste; (9) silêncio: não-emissão de respostas orais após o término do relato verbal do cliente.
Mais recentemente, tem-se o trabalho de Zamignani (2006, em elaboração), que elaborou
um sistema de categorização de comportamentos do terapeuta e do cliente, de acordo com uma
análise de diversos sistemas pré-existentes na literatura. Os comportamentos do terapeuta foram
classificados nas categorias: (1) solicitação de relato; (2) solicitação de relato qualificativo; (3)
[fornecimento de] informação; (4) interpretação; (5) estruturação; (6) recomendação; (7) empatia;
(9) aprovação; (10) facilitação; (11) discordância; (12) registro insuficiente. (Ver definições de cada
uma dessas categorias no Anexo 2)
A variedade de sistemas já criados dificulta um consenso a respeito de qual deveria ser
utilizado, visto que sempre é possível encontrar vantagens e desvantagens no uso de cada um deles.
Entretanto, no sistema de Zamignani (2006, em elaboração), percebe-se algumas vantagens, tais
como: (a) uma classificação que contempla comportamentos definidos tanto pela sua função como
12
por sua forma
1
(o que não ocorre no sistema de Hill, 1978); (b) um detalhamento rigoroso dos
critérios de inclusão e exclusão, facilitando o seu uso; (c) uma descrição mais objetiva das diversas
topografias de comportamento possíveis para cada categoria; (d) a possibilidade de criação de
subcategorias para cada categoria, dependendo do foco de análise do pesquisador. Entretanto, como
o sistema foi construído com base na terapia de adultos, ele não contempla as especificidades da
terapia infantil.
Essa dificuldade também ocorre em outros estudos: alguns autores analisam o processo
terapêutico do ponto de vista de sua experiência com terapia infantil, mas fazem referência a ações
do terapeuta em geral, sem considerar a especificidade da clientela. Dessa forma, embora
analisando a terapia infantil, destacam ações e habilidades que seriam também aplicáveis ao
atendimento do adulto. É o caso da escala construída por Estrada e Russel (1999), que caracteriza
comportamentos do terapeuta durante segmentos de terapia. Categorias como: “respondeu
empaticamente à criança”, “ajudou a criança a explorar seus sentimentos” etc., não seriam
específicas à TACI, pois podem ocorrer também na relação do terapeuta com adultos.
Em terapia infantil, Silveira (2002) propõe uma lista de 19 habilidades do terapeuta,
incluindo algumas categorias mais associadas ao brincar (como “propor brincadeira e persuadir a
criança a brincar ou deixar que a criança ensine uma brincadeira” e “promover engajamento em
atividades de fantasia e compartilhar da fantasia da criança”) e outras independentes da brincadeira
(como “formular regras e zelar pelo seu cumprimento”). Algumas categorias são definidas em
termos bastante topográficos (ação do terapeuta), como “descrever o que a criança está fazendo”,
enquanto outras pretendem ser mais funcionais (efeito provável ou provavelmente pretendido no
comportamento da criança), como “reforçar comportamentos de colaboração e participação da
criança na entrevista/interação e extinguir comportamentos incompatíveis ou concorrentes com
aqueles” enquanto outras parecem difíceis de serem observadas como, “evitar fazer críticas”.
1
Entende-se por definição baseada na topografia aquelas que descrevem a forma do comportamento do terapeuta
enquanto que uma definição funcional descreve os efeitos prováveis ou provavelmente pretendidos pelo terapeuta no
comportamento do cliente.
13
Problema e objetivos de pesquisa
Considerando-se a literatura referida nas sessões precedentes e as propostas e pesquisas
sobre o processo de terapia infantil, pode-se entender que:
a) A literatura reconhece a especificidade da TACI, mas suas peculiaridades ainda não foram
exaustivamente descritas e analisadas;
b) Os procedimentos utilizados no tratamento de crianças (por exemplo, o brincar) não estão
explicitamente descritos nas formulações iniciais para terapia infantil em geral, nem em sua
versão comportamental (Silvares, 2000; Silveira, 2002);
c) As pesquisas empíricas de análise do processo (comportamentos e habilidades do terapeuta),
baseadas principalmente em sistemas de categorização da Terapia com adultos, não atendem
completamente à especificidade da TACI.
Sendo assim, algumas questões empíricas e metodológicas decorrentes do raciocínio
apresentado podem ser formuladas:
? Como aplicar uma metodologia de categorização de comportamentos do terapeuta e do
cliente, de forma a apreender a especificidade da terapia infantil, aí incluindo-se as
particularidades do brincar?
? Quais os comportamentos que o terapeuta e o cliente apresentam ao longo de um processo
de TACI?
? Qual o papel do brincar e as suas diferentes formas no processo de TACI?
? Como os comportamentos relevantes do terapeuta e da criança se organizam nas diferentes
formas do brincar em terapia?
Essas questões norteiam o problema de pesquisa do presente trabalho para dois objetivos,
sendo o primeiro metodológico e o segundo empírico, ambos voltados à especificidade do brincar
em terapia infantil. Primeiramente, objetivou-se testar e adaptar uma metodologia de análise do
processo de terapia, utilizando um sistema de categorização de comportamentos do terapeuta e do
cliente e elaborando categorias do brincar. Numa segunda etapa, o objetivo consistiu em aplicar esta
14
metodologia na análise descritiva do processo terapêutico inicial de duas crianças com problemas
externalizantes, em sessões de TACI, buscando identificar a relação existente entre as formas de
brincar na terapia, os comportamentos do terapeuta, os comportamentos do cliente (inclusive
aqueles associados à queixa e à melhora) e a qualidade da interação.
15
MÉTODO
Participantes
Terapeuta: A terapeuta, que se autodenominava como terapeuta analítico-comportamental,
foi a própria pesquisadora que, no início do processo terapêutico em TACI, tinha 22 anos de idade e
havia concluído sua graduação em Psicologia há um ano. Durante o período do Mestrado, atendeu
crianças na clínica-escola do Instituto de Psicologia da USP, recebendo supervisão semanal em
grupo.
Cliente 1 “Mauro”
2
: Ao iniciar a terapia, Mauro era uma criança de oito anos de idade, do
sexo masculino, trazido pelo pai com queixas de agressividade, hiperatividade e comportamento
opositor, definidas por ele da seguinte maneira:
“Ele grita com a irmã e com a gente, desobedece para tudo, parece que quando tem uma
regra é aí que ele não faz... Todo dia é uma luta pra ele se levantar de manhã, pra tomar
café, pra fazer lição! Por exemplo, se de manhã tiver vitamina de banana, ele vai dizer que
não quer. Mas é capaz que se tivesse aquilo que ele quer, ele também iria reclamar. Ele é
inteligente, mas vive conversando na escola, a professora tem que ficar chamando a atenção
o tempo todo (...)”
Mauro vivia com a família, constituída pelo pai, pela mãe e a irmã de cinco anos de idade.
Quando iniciou a terapia, cursava a segunda série do Ensino Fundamental no período da manhã, em
uma escola particular Adventista do mesmo bairro onde mora. Verificou-se, pela entrevista inicial
com o pai, que a família era de classe média e que os pais possuíam nível de escolaridade Superior
Completo (ambos eram funcionários públicos). Além de estudar, Mauro freqüentava a Igreja
Adventista aos domingos, e tinha um amigo (referido por ele como “melhor amigo”) da igreja, com
quem se encontrava esporadicamente nos fins-de-semana.
Cliente 2 “Erik”: Uma criança de seis anos de idade, do sexo masculino, trazido pela mãe
por sugestão da escola, com queixa de agressividade, hiperatividade e comportamento-opositor, em
casa e na escola. Segundo a mãe, Erik
2
Os nomes dos clientes são fictícios.
16
“está dando problemas na escola porque ‘do nada’(sic) ele fica agressivo, grita com os
colegas... Outro dia começou a correr atrás dos irmãos com faca para atacá-los. É muito
teimoso, as coisas têm que ser do jeito dele. Mas é muito amoroso comigo, é o meu filho
preferido, ele sofreu tanto quando nasceu que agora eu tento protegê-lo... Eu tenho muita
dificuldade com os meus filhos, porque eu sou sozinha e quando eu trabalho eles ficam
sozinhos em casa (...)”
Erik vivia com a mãe, um irmão de sete anos e uma irmã de oito, na periferia de São Paulo.
Os pais eram separados e ele tinha mais dois irmãos, um com 17 anos que morava com o tio no
mesmo bairro, e uma de três anos que morava com os tios-avós na Paraíba. Erik visitava o pai
esporadicamente aos fins-de-semana com os irmãos, mas normalmente chorava pedindo para voltar
para casa. Quando iniciou a terapia, cursava os últimos meses da pré-escola em uma escola pública
de seu bairro, no período da tarde, e sabia escrever o próprio nome e reconhecer algumas letras do
alfabeto. A partir da entrevista inicial com a mãe, concluiu-se também que a família era de classe
baixa. A mãe, semi-analfabeta, trabalhava de tarde e de noite como faxineira em um supermercado.
Durante o trabalho da mãe, as crianças ficavam “trancadas” na casa e eram “cuidadas” pela irmã de
oito anos.
Material e instrumentos
Child Behavior Checklist (CBCL) (Achenbach, 1991). Consiste em uma lista de verificação
comportamental para crianças e adolescentes, de seis a 18 anos de idade. Na primeira parte deste
inventário, são apresentadas sete questões (abertas e fechadas) sobre freqüência e adequação das
atividades sociais e escolares da criança, computadas na seguinte escala: “Não sei”; “Menos que a
média”; “Dentro da Média” e “Mais que a Média”. São levantados as atividades esportivas,
passatempos e jogos favoritos, participação em clubes e/ou grupos; empregos ou tarefas em casa;
amigos íntimos; relacionamento com pais, irmãos, crianças, brincar sozinho e desempenho em
disciplinas escolares.
17
Na segunda parte (questões fechadas), encontram-se 113 afirmações que descrevem
comportamentos de crianças, para serem avaliados de acordo com a escala: 0=Não é verdadeira”;
“1=Algumas vezes verdadeira”; “2=Freqüentemente verdadeira”, com relação ao filho do
respondente.
O CBCL classifica a criança em clínica (que apresenta problemas de comportamento que
necessitam de intervenção clínica), não-clínica ou limítrofe, comparando-a com os dados
normativos do instrumento para o sexo e a faixa-etária da mesma e apresentando os dados na forma
de gráficos. Os resultados são apresentados em escalas. A Escala de Competência abrange a
competência em atividades, social e escolar. A Escala de Síndromes abrange os comportamentos
internalizantes de Ansiedade, Depressão e Queixas Somáticas; os comportamentos externalizantes
de Comportamento-Opositor e Agressividade, além dos comportamentos classificados como:
Problemas Sociais; Problemas de Pensamento e Problemas de Atenção. Em seguida, apresenta os
escores totais para Problemas Internalizantes, Problemas Externalizantes e Outros Problemas. Por
fim, apresenta os gráficos em função de sintomas descritos pelo DSM: Problemas Afetivos;
Problemas de Ansiedade; Problemas Somáticos; Déficit de Atenção e Hiperatividade;
Comportamento Opositor-Desafiante e Problemas de Conduta.
Questionário de Objetivos Terapêuticos: Este questionário (Anexos 4 e 5), elaborado pela
pesquisadora, consiste em seis perguntas a respeito do cliente e da terapia:
(1) Quais os comportamentos-queixa do cliente, segundo a análise da terapeuta? Sob que
condições ele emite tais comportamentos em sessão?
(2) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola
e outros) associados aos comportamentos queixa do cliente?
(3) Quais os recursos do cliente que podem favorecer o trabalho terapêutico?
(4) Do que o cliente gosta de brincar? Do que não gosta?
(5) Quais os seus objetivos com este cliente? Que comportamentos seriam considerados de
melhora?
18
(6) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola
e outros) associados aos comportamentos do cliente que se deseja instalar, citados na questão
anterior?
Ao responder as seis perguntas, o terapeuta deve preencher também os dados de
identificação do cliente (nome, idade e ano escolar), qual é a fonte de suas informações, qual é o
período da terapia a que se refere o questionário e se há outras intervenções sendo realizadas além
do atendimento à criança (por exemplo, orientação de pais, observação em ambiente natural etc).
O objetivo deste questionário é o de fornecer à pesquisa informações adicionais a respeito de
características comportamentais do cliente em sessão e no cotidiano, bem como metas do terapeuta
durante o atendimento. Essas informações permitiriam ao pesquisador, quando este não é o
terapeuta, entrar em contato com possíveis variáveis de controle do comportamento do terapeuta
durante as sessões, facilitando a categorização.
Equipamentos: Os equipamentos utilizados na coleta de dados consistiram em fitas de vídeo,
filmadora e vídeo-cassete - instalados no Laboratório de Terapia Comportamental, na Clínica
Psicológica da USP, para a gravação das sessões.
Local de coleta
Os atendimentos às crianças foram realizados em uma sala da Clínica-Escola do Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo. A sala pertence ao Laboratório de Terapia
Comportamental (LTC-USP) e é equipada com câmera, além de brinquedos, cadeiras e mesas
próprias para o atendimento de crianças.
A sala tem dimensões de aproximadamente 3m x 3,5m. Em um canto superior, encontra-se a
filmadora fixa; em um dos lados há um espelho unidirecional (não-utilizado); no outro lado há uma
janela grande e nos outros dois lados há duas prateleiras de brinquedos, um relógio de parede e uma
casinha de madeira de dois andares, com móveis de madeira e cerca de 12 bonecos de pano
representando uma família (bonecos pai, mãe, avós, bebês, crianças). No centro da sala, encontram-
19
se uma mesa pequena com várias cadeiras pequenas (para crianças) e duas cadeiras com tamanho
normal (para adultos). A Figura 1, a seguir, ilustra a disposição da sala:
Figura 1. Ilustração da sala da clínica-escola utilizada para o atendimento de Mauro e Erik.
Os brinquedos permanentemente disponíveis na sala para qualquer atendimento são: casinha
de madeira com bonecos de pano; carrinhos de plástico; massinha de modelar; pega-varetas;
dominó; lápis-de-cor; canetinhas; giz de cera; cola; tesoura; rolo de papel pardo. Além destes,
outros brinquedos guardados em outra sala do LTCUSP poderiam ser colocados na sala pela
terapeuta, ao planejar seus atendimentos. Dentre as opções disponíveis, encontravam-se: jogos
diversos (Ex: “Jogo da Vida”; “Lince”; “Damas”; “Ludo”; “Jogo da Memória”; “Jogo dos
Sentimentos”), formas de madeira coloridas; livrinhos infantis; gravador com microfone; Mini
Pebolim, peças de montar (Lego) etc.
Procedimento de coleta de dados
Primeiramente, foi solicitada junto à clínica-escola uma lista das crianças em espera por
atendimento, cujos pais já haviam sido entrevistados para realização do cadastro. Foram
selecionadas aleatoriamente crianças do sexo masculino, entre seis e nove anos de idade, com
1.
Filmadora;
2. Porta de entrada;
3. Falso espelho;
4. Janela;
5. Prateleiras de brinquedos;
6. Mesa e cadeiras;
7. Casinha de bonecas.
8. Relógio de parede
1
2
3
4
5
6
7
8
20
queixa externalizante, considerando a maior incidência de procura de atendimento com essas
características, conforme aponta a literatura (Silvares, 1993). Já nesta etapa, foram selecionadas as
crianças Mauro e Erik, mas a adequação das queixas para a pesquisa só foi confirmada por meio da
entrevista inicial e da aplicação do CBCL. Segundo o CBCL, as duas crianças tinham problemas de
comportamentos externalizantes. Para Mauro, o instrumento indicou comportamento opositor,
agressivo e depressão, resultando em scores clínicos de problemas internalizantes e, sobretudo,
exnternalizantes. De acordo com a escala do CBCL orientada pelos critérios do DSM-IV, Mauro
obteve scores clínicos para problema opositor-desafiante e para problemas de conduta. No caso de
Erik, o instrumento indicou baixa competência social, problemas sociais e comportamentos
agressivos, resultando em scores clínicos para problemas internalizantes e extenalizantes. Quanto à
escala orientada pelos critérios do DSM-IV, Erik obteve score limítrofe (entre normal e clínico)
para problema opositor-desafiante.
O próximo passo consistiu, portanto, no contato com os pais das crianças via telefone,
marcando uma entrevista inicial. Os cuidadores (pai ou mãe) das crianças que participam deste
estudo leram, e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), junto com a
terapeuta, na entrevista inicial. No TCLE, foram detalhados os objetivos e procedimentos do estudo,
garantido o total sigilo quanto à identidade dos clientes participantes e a ausência de riscos para os
mesmos (Anexo 1). Também assinado por esta pesquisadora, o TCLE explicitou que somente a
terapeuta e os pesquisadores do grupo do Laboratório de Terapia Comportamental (LTCUSP)
teriam acesso às gravações realizadas. Quanto às transcrições, os nomes das crianças foram
omitidos, bem como qualquer informação que pudesse identificá-las.
O CBCL foi aplicado no início da entrevista. Os demais procedimentos não diferiram
daqueles normalmente utilizados no início de terapias: levantamento da queixa e seu histórico,
questionamento sobre possíveis antecedentes e conseqüentes associados à queixa, rotina e
atividades da criança, contrato de atendimento etc. Nesta entrevista, também foi comunicado aos
21
pais que, caso eles concordassem, as sessões seriam gravadas para fins de pesquisa, quando o TCLE
foi lido e, em seguida, por eles assinado.
Na semana seguinte, iniciaram-se os atendimentos em terapia analítico-comportamental, que
consistiram em sessões semanais individuais com uma hora de duração. Todas as sessões foram
gravadas em vídeo e, posteriormente, as cinco primeiras sessões do atendimento de Mauro e as três
primeiras sessões do atendimento de Erik foram transcritas, obtendo-se como dados para a
pesquisa, portanto, um total de oito sessões transcritas. A escolha das sessões iniciais fundamenta-
se em dados da literatura que apontam para a importância da formação do vínculo entre terapeuta e
cliente no início do processo, inclusive como preditor de bons resultados da terapia. Apesar de ter-
se selecionado somente as gravações em vídeo das primeiras sessões para transcrição e análise, as
crianças continuaram a ser atendidas pela terapeuta em TACI.
Tratamento dos dados
Na presente pesquisa, as categorias e subcategorias elaboradas constituem-se na primeira
parte dos resultados. Essa elaboração se deu por meio da própria análise parcial dos dados (sessões
transcritas). A segunda parte dos resultados apresenta o uso das categorias criadas na análise de
todas as sessões. Sendo assim, o Tratamento de Dados a seguir também se subdivide em duas
partes, enfocando: (a) o processo de adaptação de um sistema de categorias para análise de terapia
infantil e (b) o processo de utilização desse sistema na análise de sessões.
Para identificar as possíveis formas de interação terapeuta-cliente em função da brincadeira,
o primeiro passo após a gravação das sessões foi a transcrição das mesmas as cinco primeiras
sessões do primeiro cliente (Mauro) e as três primeiras sessões do segundo cliente (Erik).
Paralelamente, foi realizada uma busca, na literatura, de sistemas de categorização específicos à
terapia infantil.
Os sistemas encontrados, descritos na Introdução deste trabalho, apresentaram algumas
limitações, principalmente por serem:
22
a) sistemas não-específicos para a terapia infantil;
b) descrições amplas, difíceis de serem operacionalizadas e, portanto, difíceis de serem
utilizadas para a classificação das sessões transcritas
c) descrições ora topográficas, ora funcionais, ou uma mistura pouco sistemática de ambos;
Apesar dessas limitações, optou-se por escolher um dos sistemas encontrados e verificar a
eventual necessidade de adaptá-lo. Em função do foco na especificidade da TACI, do presente
estudo, a lista de habilidades do terapeuta infantil de Silveira (2002), foi a primeira escolha, com as
vantagens de contemplar categorias descritivas e envolver atividades lúdicas. A verificação da
possível necessidade de adaptação das categorias de Silveira (2002) foi feita por meio de testagem,
isto é, utilização do sistema para a categorização de trechos das sessões transcritas, analisando as
dificuldades encontradas ao utilizá-lo.
A testagem mostrou a necessidade de adaptação das categorias e produziu dois importantes
resultados: (a) a identificação de que algumas categorias envolviam o brincar, enquanto que outras
não; (b) a comparação do resultado da adaptação com outro sistema, o de Zamignani (2006, em
elaboração).
A partir da identificação de que somente algumas categorias envolviam o brincar, os
episódios verbais das sessões transcritas foram subdivididos em: (a) lúdicos; (b) não-lúdicos. Em
virtude do foco nos procedimentos lúdicos, foi realizada uma análise minuciosa dos episódios
classificados como lúdicos, identificando que as falas da terapeuta e dos clientes assumiam
diferentes relações com a brincadeira. Assim, emergiram quatro formas de interação em função do
brincar, posteriormente denominadas de: Brincadeira-Lúdico; Cotidiano-Lúdico, Cotidiano Extra-
Lúdico e Não-Lúdico. Posteriormente, em uma segunda análise, que abrangeiu todas as sessões
transcritas, foram definidas seis categorias do brincar: (1) Brincadeira-Lúdico, (2) Fantasia-Lúdico,
(3) Cotidiano-Lúdico, (4) Cotidiano Extra-Lúdico, (5) Brincadeira Não-Lúdico e (6) Não-Lúdico.
A Tabela 1, a seguir, esquematiza a relação entre a fala e a ação, na definição das seis categorias,
que combinavam o conteúdo geral da fala com o caráter lúdico ou não lúdico da interação:
23
Tabela 1. Relação entre o tema da fala e a ação na formação das Categorias do Brincar
TEMA DA FALA
AÇÃO
Brincadeira
Lúdico
Fantasia
Lúdico
Cotidiano
Lúdico
Cotidiano Extra
Lúdico
Brincadeira
Não-Lúdico
(Qualquer)
Não-Lúdico
A viabilidade destas categorias foi testada por meio de sua utilização em uma nova tarefa de
classificação dos episódios verbais, que se mostrou pertinente e, por isso, foi adotada neste estudo.
A definição precisa e os exemplos de cada uma dessas categorias constitui um dos resultados do
estudo e, portanto, serão apresentados adiante.
A comparação entre as categorias de comportamentos do terapeuta adaptadas de Silveira
(2002) e o sistema de Zamignani (2006, em elaboração) mostrou que a maioria das categorias era
funcionalmente equivalente. Por exemplo, a categoria “Aprovação”, de Zamignani (2006, em
elaboração) era equivalente a “Reforçar comportamentos adequados da criança”, em Silveira
(2002), e assim por diante.
Entretanto, concluiu-se que a utilização do sistema de Zamignani (2006, em elaboração)
traria maiores benefícios, por ser um sistema mais completo, construído a partir de uma extensa
análise da literatura, e com a adoção de critérios funcionais para a formulação das categorias do
terapeuta, sem abandonar a importância da descrição da topografia dos comportamentos. Ainda que
esse sistema não fosse específico para a terapia infantil, ele poderia ser utilizado para categorizar os
comportamentos do terapeuta, já que, paralelamente, as seis formas de interação, em função do
brincar, identificadas a partir das categorias de Silveira (2002), seriam utilizadas para analisar o
brincar em TACI.
A viabilidade do sistema de Zamignani (2006, em elaboração) para o presente trabalho foi
também testada verificando-se a sua aplicabilidade na análise de trechos das sessões transcritas.
Embora fosse possível o uso desse sistema, a testagem demonstrou serem necessárias algumas
adaptações para a terapia infantil. Tal decisão foi baseada na: (a) identificação da ausência de
24
descrições de interações lúdicas nesse sistema e (b) constatação de que havia comportamentos
bastante diferenciados da terapeuta sendo classificados em uma mesma categoria, o que parecia um
indício de que algumas sutilezas não estariam sendo suficientemente discriminadas pelo sistema.
Parte destas questões foi solucionada por meio de reuniões entre a pesquisadora, o autor do
sistema e a supervisora de ambos. Nestas reuniões, decidiu-se empreender esforços no sentido de se
chegar a um sistema único, em termos das classes mais gerais, explorando-se a possibilidade de
adapta-lo à TACI por meio de subcategorias do terapeuta e do cliente e do acréscimo de categorias
do brincar. Entendeu-se que esse consenso seria uma alternativa que eliminaria diversos problemas
práticos que poderiam decorrer do uso de dois sistemas distintos, um para crianças e outro para
adultos. No caso de crianças mais velhas e/ou adolescentes, por exemplo, qual sistema seria
escolhido? Assim, foram realizadas as adaptações necessárias ao sistema, eliminando os problemas
encontrados anteriormente no uso para categorização de terapia infantil.
Esta alternativa baseou-se também na compreensão de que o sistema de Zamignani (2006,
em elaboração), conforme o próprio autor, possibilita adaptação às especificidades da terapia sob
análise. A elaboração de subcategorias atenderia, pois, à demanda de descrição do processo
terapêutico infantil, foco do presente trabalho.
Em função da necessidade de relacionar os comportamentos da terapeuta e as formas de
interação lúdica com os comportamentos relevantes do cliente, procurou-se definir e classificar tais
comportamentos. Na análise das categorias do cliente, com base no sistema proposto por Zamignani
(2006, em elaboração), a categoria Oposição foi inicialmente escolhida uma vez que os dois clientes
traziam a queixa de comportamentos externalizantes, aí incluído o comportamento-opositor. Em um
segundo momento, a categorização de mais episódios verbais e dos resultados do CBCL mostrou
que outros comportamentos também eram relevantes para a análise, além do comportamento
opositor. Sendo assim, foi examinada também a possibilidade de uso das outras categorias
propostas por Zamignani (2006, em elaboração), optando-se pelo uso de todas as suas categorias do
cliente. Aqui, novamente, foram criadas subcategorias com base no próprio material transcrito,
25
detalhando especificidades dos comportamentos das crianças atendidas. Adicionalmente, foram
selecionados quais desses comportamentos correspondiam à queixa de cada cliente, conforme
definida pela terapeuta no Questionário de Objetivos Terapêuticos, e quais correspondiam à
melhora de cada um.
Em resumo, a primeira parte do tratamento de dados consistiu na definição das categorias do
brincar e dos comportamentos do terapeuta e do cliente, o que levou à definição de categorias das
formas de interação baseadas na brincadeira; à adaptação do sistema de Zamgnani (2006) a fim de
unificar seu uso para os dois tipos de clientela (adulta e infantil) e à elaboração de subcategorias do
cliente e do terapeuta.
Para efetuar o tratamento dos dados das sessões transcritas foi inicialmente definida a
unidade de análise. As sessões foram categorizadas considerando-se como unidade de análise uma
seqüência de interação terapeuta-cliente (T-C), contendo uma verbalização do terapeuta e uma do
cliente e iniciando-se sempre pelo comportamento do terapeuta.
A unidade de análise foi constituída somente por comportamento do terapeuta ou somente
do cliente quando:
1. O comportamento do terapeuta ou do cliente incluía uma seqüência de duas ou mais
categorias;
2. A interação era iniciada pelo cliente;
3. O comportamento do terapeuta não era seguido pelo do cliente;
4. O comportamento do cliente, mesmo contíguo ao do terapeuta, estava evidentemente sob
controle de outros estímulos que não o comportamento do terapeuta.
As unidades de análise foram reescritas em um protocolo que previa a sua classificação em
termos das categorias e subcategorias antes referidas, conforme o modelo a seguir.
26
Tabela 2. Modelo de Folha de Registro utilizada para a classificação das unidades de análise do
comportamento do terapeuta e do cliente.
N
Unidade de Análise Categorias T Subcategorias T
Brincadeiras Categorias C Subcategorias C
T: (verbalização do
terapeuta, se houver)
C: (verbalização do
cliente, se houver)
(nome e
número da
categoria do
terapeuta)
(nome e número
da subcategoria
do terapeuta)
(nome e
número da
categoria do
brincar)
(nome e
número da
categoria do
cliente)
(nome e número da
subcategoria do
cliente)
:
A planilha contemplava sete colunas:
a) N ? ordenação numérica do episódio verbal, para organizar a análise (1, 2, 3, 4...)
b) Unidade de análise
c) Categorias T ? classificação da fala do terapeuta de acordo com as categorias do sistema de
Zamignani (2006, em elaboração), por exemplo: Facilitação; Solicitação de relato; Confrontação
etc.
d) Subcategorias T ? classificação da fala do terapeuta de acordo com as subcategorias
elaboradas para o presente estudo.
e) Categorias C ? classificação da fala do cliente de acordo com as categorias do sistema de
Zamignani (2006, em elaboração), por exemplo: Solicitação; Relato qualificativo; Concordância,
etc.
f) Subcategorias C ? classificação da fala do cliente de acordo com as subcategorias elaboradas
no presente estudo.
g) Brincadeiras ? classificação da brincadeira de acordo com as seis formas de interação lúdicas
elaboradas no presente estudo.
Além desses itens computados em planilha do Word, foram acrescentados outros quando da
transposição desses dados para uma planilha do SPSS 13.0. Os itens adicionais incluíram: (a) Tipo
de Episódio-Verbal: se este era constituído de fala do terapeuta e do cliente ou somente de um ou de
outro; (b) Cliente: “1” para Mauro e “2” para Erik; (c) Sessão: numeração de qual era a sessão
analisada (de 1 a 5 para Mauro e de 1 a 3 para Erik); (d) Subcategorias agrupadas do terapeuta:
27
agrupamento das subcategorias do terapeuta que ocorriam em mais de uma categoria; (e)
Categorias de Queixa e Melhora: registro da ocorrência de comportamentos ou relatos de
comportamentos da criança indicativos de sua queixa ou à sua melhora; (f) Subcategorias de
Queixa e Melhora: registro de quais comportamentos estavam sendo classificados como “queixa” e
como “melhora”; (g) Qualidade da relação terapêutica: agrupamento daquelas subcategorias do
cliente que, pela definição, favoreceriam a qualidade da relação terapêutica e daquelas que não
favoreceriam a relação. Com base nas planilhas então produzidas, as estratégias utilizadas para o
tratamento de dados consistiram em:
(a) análises descritivas da freqüência de ocorrência de cada categoria ou subcategoria;
(b) análise da interação de uma categoria ou subcategoria com outra: categorias e subcategorias do
terapeuta x categorias e subcategorias do cliente; categorias e subcategorias do terapeuta e do
cliente x categorias do brincar; categorias e subcategorias do terapeuta, do cliente e do brincar x
qualidade da relação terapêutica e comportamentos de queixa e de melhora do cliente; qualidade
da relação terapêutica x comportamentos de queixa e de melhora do cliente.
(c) Ilustração gráfica por meio de figuras, comparando-se as diferentes sessões, os diferentes tipos
de categorias e subcategorias e os diferentes clientes;
(d) Agrupamentos de categorias após a elaboração do sistema: conforme a freqüência relativa com
que ocorreram, conforme a potencial contribuição ao processo terapêutico etc.
A apresentação dos resultados a seguir foi orientada por uma lista de perguntas a respeito de
todos os itens anteriores:
1 – Perguntas sobre as categorias e subcategorias do terapeuta:
(a) Quais os comportamentos mais freqüentes da terapeuta? Há mudança ao longo das sessões /
entre clientes?
(b) Que tipos de comportamentos dos clientes seguem-se aos comportamentos da terapeuta?
(c) Qual é a freqüência de subcategorias do terapeuta?
28
(d) Quais comportamentos dos clientes sucedem os comportamentos da terapeuta, de acordo com
as subcategorias construídas neste estudo?
(e) A distribuição de freqüência de comportamentos da terapeuta está de acordo com os objetivos
definidos por ela no Questionário de Objetivos Terapêuticos?
2 – Perguntas sobre categorias e subcategorias do cliente:
(a) Quais os comportamentos mais freqüentes do cliente? Há mudança ao longo das sessões?
(b) Qual é a freqüência dos comportamentos de queixa e melhora do cliente? Há mudança ao longo
das sessões?
(c) Há relação entre comportamentos classificados como queixa e melhora e as categorias e
subcategorias de comportamentos antecedentes da terapeuta?
(d) Há mudança na freqüência de comportamentos do cliente que favorecem e que não favorecem
para a qualidade imediata da relação, ao longo das sessões? Há associação entre esses
comportamentos e os comportamentos de queixa e melhora?
3 – Perguntas sobre as categorias do brincar:
(a) Qual é a freqüência de cada categoria do brincar nas terapias de Mauro e Erik? Há mudanças
ao longo das sessões?
(b) Como se caracterizam os comportamentos da terapeuta em cada tipo de interação lúdica?
(c) O que as subcategorias do terapeuta elaboradas no presente estudo acrescentam à análise
anterior?
(d) Qual a relação entre as Categorias do Brincar e as Categorias do Cliente propostas por
Zamignani (2006, em elaboração)?
(e) Qual Categoria do Brincar propicia mais comportamentos que favorecem e que não favorecem
a qualidade imediata da relação terapêutica?
(f) Qual tipo de interação lúdica propicia maior ocorrência de comportamentos queixa? E de
melhora?
29
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme já referido anteriormente, os produtos do presente estudo constituem dois
conjuntos mais amplos: (1) a adaptação do Sistema de Categorias de Zamignani (2006, em
elaboração) para a análise das sessões de Terapia Analítico-Comportamental Infantil e (2) os
resultados obtidos por meio do uso do sistema adaptado, a oito sessões terapêuticas conduzidas
junto a dois clientes.
Entende-se que o sistema de análise utilizado neste estudo é uma tecnologia construída e
que, portanto, deve ser considerada como Resultado, enquanto que o processo dinâmico que levou a
essa elaboração é o seu Método. O uso desta tecnologia para a análise das sessões transcritas
consiste em uma segunda etapa dos Resultados, que não apenas caracteriza o processo de terapia
infantil, mas também demonstra a aplicabilidade desta tecnologia.
A adaptação do Sistema de Categorias Zamignani (2006, em elaboração) para a analise da
Terapia Comportamental Infantil resultou em três conjuntos de categorias: (a) as categorias do
brincar; (b) as categorias de comportamentos do terapeuta, (c) as categorias de comportamentos do
cliente.
As categorias do brincar foram parcialmente inspiradas, em sua origem, no estudo de
Silveira (2002). As categorias do terapeuta e do cliente foram baseadas no sistema de Zamignani
(2006, em elaboração), que as elaborou com vistas à terapia comportamental com clientes adultos.
Assim, a adaptação deste sistema ao contexto de terapia infantil implicou em elaboração de
subcategorias de modo a atender à especificidade das condições que ocorrem na terapia com
crianças.
A seguir, estão listadas todas as categorias de comportamentos do terapeuta elaboradas por
Zamignani (2006, em elaboração), para a Terapia Analítico-Comportamental com adultos. Além de
uma breve definição de cada categoria (para a definição detalhada, ver Anexo 2), estão descritas as
adaptações sugeridas neste estudo para a utilização em TACI, com exemplos ilustrativos extraídos
da transcrição de oito sessões (cinco referentes ao atendimento de Mauro e três referentes a Erik).
30
A análise das transcrições indicou que, sob uma mesma categoria definida por Zamignani
(ainda não adaptada), estavam sendo agrupados comportamentos do terapeuta que solicitavam ou se
referiam a diferentes classes de comportamentos do cliente, que se apresentavam sob topografias
bastante diferenciadas ou ainda, que permitiam a inferência de um procedimento específico do
terapeuta (com base na história prévia de interação terapêutica, nas informações disponíveis sobre o
cliente e, principalmente, na análise de antecedentes e conseqüentes imediatos da interação).
Entendeu-se que a identificação dessa diversidade, por meio da elaboração de subcategorias,
poderia ser essencial para definir e caracterizar a categoria e para identificar variações que poderiam
afetar sua efetividade no processo terapêutico.
Essas considerações levaram a uma elaboração de subcategorias componentes de cada
categoria. No entanto, assim como no sistema geral de Zamignani (2006, em elaboração), a
classificação dos comportamentos em subcategorias também mostrou que, muitas vezes, estas não
eram mutuamente excludentes, sendo necessário escolher aquela que melhor descrevesse cada
instância sob análise. Por isso, também aqui foram estabelecidos critérios de decisão sobre a qual
subcategoria alocar cada comportamento. De acordo com esses critérios, quando um
comportamento podia ser alocado em duas ou mais subcategoria, a escolha priorizou aquela: (a) que
descrevia um procedimento comportamental; (b) mais pertinente à queixa do cliente; (c) mais
específica possível (complexidade / especificidade).
O critério de complexidade refere-se ao grau de detalhamento ou sofisticação de
determinado comportamento enquanto que a especificidade refere-se ao grau de particularidade em
que o mesmo pode ser caracterizado. Subcategorias mais complexas ou específicas têm prioridade
sobre as mais simples e gerais.
Exemplo 1: Neste exemplo, apresenta-se três respostas hipotéticas da criança e as
respectivas categorias em que elas se alocariam:
T: Você faz xixi na calça?
31
C1: Hum-hum. (RE Curto / monossilábico
3
)
C2: Eu faço sim... (RE Informação)
C3: Eu faço sim, outro dia eu acordei todo molhado, aí minha irmã ficou rindo de mim. (RE
Estendido / espontâneo)
Na segunda resposta, o cliente relata exatamente a informação solicitada. Na primeira
alternativa também, entretanto, sua resposta é monossilábica e essa distinção é importante para a
análise, porque pode implicar, por exemplo: (a) que o cliente está pouco à vontade com a terapeuta;
(b) que o cliente está desconfortável com o assunto; (c) que o cliente tem dificuldade de se
expressar utilizando frases mais longas; (d) um diálogo pouco fluente devido a tais relatos curtos. Já
a terceira resposta contém informações adicionais àquelas perguntadas pela terapeuta. A sinalização
desse tipo de resposta também é importante para a análise, podendo indicar: (a) que o cliente está
bastante à vontade com a terapeuta; (b) que o cliente fala facilmente sobre esse assunto; (c) que o
cliente é capaz de conversar com desenvoltura. Na listagem das subcategorias de Relato (RE), a
ordem de apresentação será: 1º RE Curto / Monossilábico, 2º RE Informação e 3º RE Estendido /
Espontâneo, seguindo, assim, o critério de complexidade.
Exemplo 2. Neste exemplo, apresenta-se duas respostas hipotéticas da criança:
T: O que faz o Picachu?
C1: Ele solta raios, depois fica correndo e gritando muito. [RE Iinformação]
C2: Ele solta raios zuuuuuuuuuuuuuummmmmmm....., depois corre corre corre!!! E grita
Picachuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu......... [RE Exclamação / humor]
No exemplo acima, a primeira resposta do cliente é categorizada como Relato (RE), e na
subcategoria Informação. Na segunda resposta, o cliente também está dando uma informação para o
terapeuta, porém, especificamente está fazendo isso de maneira exclamativa (com gestos,
entonações, imitações e volume de voz ampliados). Esta diferenciação é importante porque um
relato exclamativo pode indicar, por exemplo, um envolvimento emocional com a atividade e/ou
tema em questão. Na listagem de subcategorias de Relato (RE), a subcategoria RE
Exclamação/Humor será mais específica do que a RE Informação.
3
Entre os parênteses ( ), apresenta-se a categoria ou sua sigla (RE = Relato) e, em seguida, a subcategoria. Entre
chaves [ ], apresenta-se uma complementação da verbalização da terapeuta ou do cliente, para facilitar a compreensão
do leitor, como por exemplo: “T: Erik, então escreve aqui [o seu nome]...”.
32
O segundo critério, relação com queixa do cliente, sinaliza que, sempre que possível, a
subcategoria deve ser escolhida de modo a expressar conhecimentos do analista sobre: (a) a história
do cliente; (b) seus comportamentos trazidos como queixa para a terapia; (c) o seu padrão de
interação com a terapeuta na sessão e em sessões anteriores.
Exemplo 1: Neste exemplo, apresenta-se a mesma resposta da criança sendo categorizada
em duas diferentes subcategorias devido ao conhecimento adicional a respeito do cliente:
C1: Minha mãe não briga comigo porque eu não fico acordando ela quando ela precisa
dormir, só meus irmãos. (opções: EX / Equivocada / Mentirosa ou EX Correta ou EX)
A Explicação (EX) da criança poderia ser categorizada como Equivocada / mentirosa, como
Correta, ou sem subcategoria (apenas EX). Esta fala foi categorizada como equivocada porque a
terapeuta apresentou a informação de que a criança acordava a mãe constantemente nestas
situações, e não apenas os irmãos. Na continuação do diálogo, a terapeuta fez mais perguntas e a
criança admitiu que também acordava a mãe, corroborando a escolha da subcategoria:
T. (...) E o que ela te fala quando você fica a acordando?
C: Ela fala: Ah, Erik!!!
Caso a informação da terapeuta fosse de que, de fato, a criança não acordava a mãe, a
mesma frase seria categorizada como EX Correta. Caso a terapeuta não tivesse nenhuma
informação, a frase seria categorizada apenas como EX (sem subcategoria). Entende-se portanto
que, caso o categorizador não seja o próprio terapeuta, este deve fornecer-lhe a maior quantidade
possível de informações relevantes para o entendimento das sessões.
O critério do procedimento envolvido sinaliza que subcategorias que implicam em um
procedimento comportamental associado à verbalização têm prioridade sobre as demais. Este
critério foi elaborado em virtude da constatação de que algumas verbalizações eram complexas ou
específicas (critério a) e, em função da queixa do cliente (critério b), refletiam também um
procedimento do terapeuta para lidar com a situação.
33
Exemplo 1: Neste exemplo, tem-se uma resposta da terapeuta categorizada como Aprovação
(AP) Extinção, um procedimento comportamental.
T: Qual [sentimento] você gosta mais [dessa lista]?
C:“Raiva”.
T: (circula a palavra raiva) (AP Extinção)
A criança havia sido convidada a selecionar os sentimentos preferidos de uma lista e
escolheu a palavra “Raiva”. A terapeuta aceitou e concordou brevemente com o cliente, o que fez
com que sua resposta fosse alocada na subcategoria Extinção (procedimento). O conhecimento da
história do cliente (no caso, discussões extensas dos pais diante de verbalizações de sentimentos
negativos, com função reforçadora) é muito importante para a classificação adequada de respostas
como essa.
Exemplo 2: Neste exemplo, a resposta da terapeuta bloqueia a esquiva do cliente de utilizar
brincadeira com letras:
C: Vamos colocar as letras, bem rápido, na caixa? (cliente com dificuldades escolares, se
esquivando de jogo que envolve letras)
T: Vamos escrever no papel, o seu nome? (levanta e pega o papel) Vamos ver se eu sei
escrever o seu nome, hein... (RE Bloqueio de esquiva)
C: Eu sei escrever...
Percebe-se que a classificação da fala da terapeuta em Bloqueio de esquiva (procedimento)
depende da análise da verbalização anterior, do cliente, que por sua vez, depende do conhecimento
prévio de sua história de vida e queixa. A terapeuta interrompe a esquiva do cliente, faz uma
recomendação que altera parcialmente a atividade mas mantém o tema evitado (uso de letras e
palavras). Em seguida, o cliente aceita a recomendação e a atividade é continuada.
Exemplo 3: Este exemplo mostra um comportamento da terapeuta baseado em um
procedimento comportamental (a Modelação):
C: (cliente chateado porque perdeu no jogo)
T: Me cumprimenta do jeito que eu fiz quando eu que perdi. (RE Modelo)
C: (estende a mão, sem fazer comentário)
T: Obrigada.
No exemplo acima, a verbalização do terapeuta foi categorizada como Recomendação (RE)
Modelo, um procedimento comportamental, além de ser congruente com o critério da relação com a
34
queixa do cliente, que era a competitividade, pois a terapeuta estava apresentando modelo de
comportamento incompatível, de “espírito esportivo”. Ainda que ele tenha cumprimentado sem
falar nada, a terapeuta aprovou esse comportamento, considerando ser satisfatória essa resposta
mínima no momento.
Deve-se ressaltar que a apresentação das subcategorias do sistema foi ordenada segundo
estes critérios, de modo a facilitar a utilização pelo analista. Observa-se, por exemplo, a ordem das
subcategorias de Estruturação (cujas definições serão dadas posteriormente):
(1) Estruturação: Funcionamento de terapia
(2) Estruturação: Tempo
(3) Estruturação: Início / mudança / término da atividade
(4) Estruturação: Funcionamento de brincadeira
(5) Estruturação: Extinção
Estas cinco subcategorias estão em ordem crescente de prioridade, segundo os critérios
anteriormente definidos. Supondo-se uma verbalização do terapeuta que estruture o tempo da
sessão, mas tenha simultaneamente a função de extinção do comportamento anterior do cliente,
tem-se o caso de uma verbalização poder se encaixar em (2) ou em (5). Considerando os critérios de
prioridade antes definidos, a ordem indica que o analista deverá escolher a quinta opção, que tem
prioridade sobre a segunda. A seguir, são apresentadas as categorias do terapeuta e, para cada uma
delas, particularidades da terapia infantil e as subcategorias definidas no presente trabalho.
Categorias e Subcategorias de análise
Descrição das categorias e subcategorias do terapeuta
Na Tabela 3, a seguir, são apresentadas as categorias e subcategorias do terapeuta e, para
cada uma delas, as subcategorias elaboradas no presente trabalho.
35
Tabela 3. Conjunto de Categorias do Terapeuta, de Zamignani (2006, em elaboração) e
subcategorias elaboradas para a Terapia Analítico-Comportamental Infantil.
CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO TERAPEUTA
1. Solicitação de relato (SR)
1.1. SR: Confirmação / repetição
1.2. SR: Informação
1.3. SR: Desafio / Solução de problema
1.4. SR: Direcionamento / dica
1.5. SR: Extinção
2. Solicitação de relato qualificativo (SQ)
2.1. SQ: Opinião / avaliação
2.2. SQ: Sentimento
2.3. SQ: Contestação
2.4. SQ: Direcionamento / dica
2.5. SQ: Desafio / solução de problema
2.6. SQ: Bloqueio de esquiva / insistência
3. Estruturação (ES)
3.1. ES: Funcionamento de terapia
3.2. ES: Tempo
3.3. ES: Início / mudança / término da brincadeira
3.4. ES: Funcionamento de brincadeira
3.5. ES: Extinção
4. Facilitação (FA)
4.1. FA: Relato
4.2. FA: Não-verbal
4.3. FA: Narrativa e leitura de jogo
5. Empatia (EM)
5.1. EM: (sem subcategoria)
5.2. EM: Humor / Exclamação
5.3. EM: Descrição
5.4. EM: Auto-revelação
5.5. EM: Modelo
6. Aprovação (AP)
6.1. AP: (sem subcategoria)
6.2. AP: Concordância / monossilábica
6.3. AP: Agradecimento
6.4. AP: Descrição / Repetição
6.5. AP: Contestação
6.6. AP: Exclamação
6.7. AP: Modelo
6.8. AP: Extinção
7. Informação (IF)
7.1. IF: (sem subcategoria)
7.2. IF: Descrição
7.3. IF: Exclamação / humor
7.4. IF: Modelo
7.5. IF: Extinção
8. Interpretação (IP)
8.1. IP: (sem subcategoria)
8.2. IP: Modelo
8.3. IP: Extinção
9. Recomendação (RE)
9.1. RE: (sem subcategoria)
9.2. RE: Desafio / solução de problema
9.3. RE: Direcionamento / dica
9.4. RE: Modelo
9.5. RE: Bloqueio de Esquiva
10. Discordância (DI)
10.1. Correção
10.2. Humor / exclamação
10.3. Direcionamento / dica
10.4. Contestação
10.5. Desafio / Solução de problema
10.6. Desaprovação
36
Cada uma dessas categorias é a seguir apresentada em suas definições e exemplos,
destacando-se as adaptações que se fizeram necessárias para sua aplicação na Terapia Analítico-
Comportamental Infantil.
1. Solicitação de relato (Terapeuta solicita informações)
Esta categoria foi definida por Zamignani (2006, em elaboração), como:
“Verbalizações nas quais o terapeuta solicita ao cliente que relate eventos, descreva,
forneça informações específicas, detalhes, ou esclarecimentos a respeito de eventos. Os
eventos cujo relato é solicitado podem incluir respostas do cliente e/ou de terceiros, eventos
encobertos, aspectos da história de vida, eventos ambientais relacionados ou não ao
comportamento do cliente e podem ter sido relatados pelo cliente ou observados pelo
terapeuta. A solicitação do terapeuta pode se referir a (a) eventos ocorridos/ relatados
imediatamente antes, (b) eventos ocorridos/ relatados em outros momentos da mesma sessão
ou (c) eventos ocorridos/ relatados em sessões anteriores.”
Os exemplos a seguir demonstram também que os eventos relatados podem ser tanto reais
como fantasias, este último mais provavelmente em interações lúdicas. A classificação dos
episódios verbais em função do brincar será apresentada posteriormente, em outro eixo de análise (o
das Categorias do Brincar).
T: O que você tem aí?
4
C: Figurinhas, ó!
T: Ah, e o nenê vai mamar no peito? [em brincadeira com bonecos]
C: Claro que vai, chup chup chup...
As verbalizações da terapeuta classificadas como Solicitação de relato foram subdividas nas
subcategorias que se seguem, apresentadas em ordem crescente de prioridade, segundo os critérios
expostos anteriormente, ou seja, sempre que pertinente, foi escolhida a subcategoria com
numeração mais alta.
1.1. SR: Confirmação / repetição
1.2. SR: Informação
4
A verbalização correspondente à categoria ou subcategoria em questão está sendo apresentada em itálico. As outras
verbalizações, sem itálico, foram mantidas para contextualizar o leitor.
37
1.3. SR: Desafio / Solução de problema
1.4. SR: Direcionamento / dica
1.5. SR: Extinção
1.1. SR: Confirmação / repetição
Esta categoria é particularmente útil em terapia infantil uma vez que a criança pode se
expressar com dificuldade, devido à idade, nível de desenvolvimento, ao desconforto gerado pelo
assunto ou a algum problema específico de fala. A subcategoria Confirmação / repetição precede a
subcategoria Informação.
Exemplo 1: Terapeuta solicita que cliente com problemas de fala repita seu relato
(repetição):
C: (fala ininteligível)
T: Mudar de quê?
C: De escola, ano que vem.
Exemplo 2: Terapeuta solicita que o mesmo cliente confirme sua fala (confirmação)
C: (fala ininteligível sobre o nome de alguém)
T: Va--ria???
C: Isso.
1.2. SR: Informação
As verbalizações do terapeuta são classificadas como Informação quando objetivam obter
informações do cliente, mas não se encaixavam nas subcategorias seguintes de Solicitação de
Relato, que teriam prioridade segundo os critérios anteriormente definidos. As informações
solicitadas pelo terapeuta podem dizer respeito a aspectos variados, tais quais:
(a) Informações pessoais sobre a criança:
T: Em que série você está?
C: Segunda.
38
(b) Eventos ocorridos na sessão. Muitas vezes especialmente em jogos - as informações
solicitadas não são propriamente relevantes, mas é um tipo de verbalização iniciada pelo terapeuta
que tem a função de manter o diálogo e demonstrar que o terapeuta interessa-se pelo cliente:
T: Então, de quantas coisas você gosta desse tabuleiro?
C: Uma, duas, três, quatro, cinco... dez.
(c) Eventos ocorridos fora da sessão:
T: O que você está aprendendo em português?
C: Paroxítonas, proparoxítonas e oxítonas!
Outra possibilidade consiste em perguntas do terapeuta sobre assuntos ou temas triviais, que
objetivam a manutenção da interação por meio do diálogo, a demonstração de interesse do terapeuta
pela criança e/ou atividade, a verificação de preferências de objetos e assuntos e ainda permitir que
a criança demonstre seus conhecimentos, mantendo-a envolvida na atividade. Por exemplo:
T: Olha, eu nunca vi esse tipo de caminhão... pra que é que serve?
C: Carrega os carros. (...)
T: E o que o carro tem que fazer pra ir parar aí? (...)
1.3. SR: Desafio / Solução de problema
A proposição de desafios e de problemas para a criança em terapia denota a habilidade do
terapeuta em favorecer o envolvimento da criança com as atividades, ao instigá-la a pensar e a
propor soluções. Os desafios podem tornar a interação terapeuta-cliente mais rica, especialmente
quando o jogo por si só não proporciona isso. Ao mesmo tempo, é uma oportunidade para que o
terapeuta possa avaliar a reação da criança diante de tais situações. Tipicamente, o terapeuta maneja
situações que poderiam ser mais simples, para que sejam solucionadas pelo cliente. Exemplos:
(T e C jogando o Jogo da Vida)
T: Vou te dar o troco... quanto dá essa conta...? (terapeuta maneja para que o cliente
encontre a resposta; ao mesmo tempo, observa como a criança faz operações matemáticas)
C: Dá vinte.
1.4. SR: Direcionamento / dica
39
Nesta subclasse, agrupam-se as solicitações de relato por parte do terapeuta que induzem a
resposta subseqüente do cliente. O terapeuta conduz o cliente para a resposta, facilitando a
compreensão do que está sendo solicitado e/ou evitando que o cliente apresente resposta errada ou
oposição. Nestas ocasiões, muitas vezes parte da resposta é dada pela terapeuta, para que o cliente a
complete. Por exemplo:
T: Que dia que não tem aula? Sábado e....?
C: Terça!
T: Do...?
C: Domingo!
T: Quais eram as regras mesmo?
C: Aaaaai...
T: Olha, começar com a bola aqui era uma regra... e a outra que você inventou, como
era?....
C: Que põe a bola aqui!
T: Isso...
Esta subcategoria também ocorre para outros tipos de categorias, nas quais se solicita ao
cliente outras respostas que não o Relato (como a Solicitação de Relato Qualificativo, a
Estruturação, a Recomendação e a Discordância), conforme será apresentado mais adiante.
1.5. SR: Extinção
5
Esta subcategoria é a mais complexa dentre as de Solicitação de Relato e, ao mesmo tempo,
a mais difícil de ser observada, ou seja, a que possivelmente envolve maior inferência. Por esse
motivo, deve ser analisada com cautela e o observador deve ter conhecimento a respeito da história
de vida do cliente, das queixas que o levaram à terapia, e do modo como ele interage com o
terapeuta. A Extinção também ocorre como subcategoria de outras categorias, como Aprovação,
Estruturação Informação.
5
O termo “extinção” está sendo utilizado para a definição de subcategoria, entretanto, convém ressaltar que na Análise
do Comportamento a extinção é um processo mais complexo que envolve a observação da redução na taxa de respostas.
A escolha do termo, nesse caso, refere-se tão somente ao fato de observar-se que são respostas em que o terapeuta
realiza uma quebra na contingência anteriormente existente (resposta ? reforço).
40
A classificação de uma verbalização do terapeuta como SR Extinção deve obedecer a alguns
critérios. Tem-se a extinção quando a resposta do terapeuta obedece necessariamente aos critérios
(a) e (b) ou (a) e (c), abaixo:
(a) A verbalização anterior do cliente é tipicamente um comportamento queixa (problema)
como, por exemplo: verbalizações sobre competição em jogos, emitidas por uma criança trazida
pelos pais com queixa de ser “altamente competitiva e egoísta”;
(b) Essa Solicitação de Relato do terapeuta é uma resposta diferente daquelas que
normalmente se seguiriam à verbalização do cliente em seu cotidiano. Por exemplo, Cliente coloca
todos os jogadores de cabeça para baixo, olhando para a terapeuta de forma desafiadora. Terapeuta
dispõe da informação de que esse comportamento, no cotidiano da criança, seria seguido por uma
repreensão
6
, como por exemplo: “Não faça isso! Tinha que ser você!” Terapeuta responde com
humor: “Eles estão dormindo?”, cliente responde que sim e encerra-se a tentativa de desafio.
(c) A Solicitação de Relato do terapeuta seleciona apenas uma parte da resposta do cliente
aquela que não corresponde à queixa. No exemplo abaixo, tem-se uma criança competitiva, que
emitia algumas verbalizações do tipo “Eu vou ganhar”; “Eu sou o melhor”; “Meu time é o melhor”.
Terapeuta e cliente estão jogando pebolim:
C: Ronaldinho Gaúcho peeeega a bola, ele é o melhor hein!!!
T: Seu pai também é corintiano?
C: Acho que ele é brasileiro.
Assim, a terapeuta selecionou um aspecto da verbalização (o futebol) e ignorou o outro (“ele
é o melhor”), solicitando o relato apenas naquela direção. Em outras situações, o terapeuta pode
manejar de maneira consistente esse tipo de comportamento do cliente, oferecendo modelo ou até
mesmo propondo alternativas diferenciadas ao referir a si mesmo ou às suas preferências.
6
Embora uma repreensão aparentemente seria uma punição, a alta freqüência destas respostas seria um indício de que
repreender teria função reforçadora, por exemplo devido à atenção dispensada à criança.
41
2. Solicitação de relato qualificativo (Terapeuta solicita avaliação, julgamento ou sentimento
por parte do cliente)
A categoria Solicitação de Relato Qualificativo foi definida por Zamignani (2006, em
elaboração) como:
“Verbalizações nas quais o terapeuta solicita ao cliente que relate sua opinião ou avaliação
sobre eventos ou seu sentimento com relação a eventos. Os eventos cuja avaliação, opinião
ou sentimento é solicitada podem incluir respostas do cliente e/ou de terceiros, eventos
encobertos, aspectos da história de vida, eventos ambientais relacionados ou não ao
comportamento do cliente e podem ter sido relatados pelo cliente ou observados pelo
terapeuta. A SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO do terapeuta pode se referir
a (a) eventos ocorridos/ relatados imediatamente antes, (b) eventos ocorridos/ relatados em
outros momentos da mesma sessão ou (c) eventos ocorridos/ relatados em sessões
anteriores.”
Os eventos cuja avaliação, opinião ou sentimento são solicitados também podem incluir
eventos imaginados ou fantasiados pelo cliente na situação de brincadeira, durante a sessão:
T: Tá com raiva, esse Picachu? (Solicitação de relato qualificativo)
C: (...) Não, ele não tá com raiva.
T: Então ele tá feliz?(Solicitação de relato qualificativo)
C: Tá bravo.
T: Ah, é mesmo né, está até mostrando os dentes...
A categoria Solicitação de Relato Qualificativo pode ser dividida em sete subcategorias:
2.1. SQ: Opinião / avaliação
2.2. SQ: Sentimento
2.3. SQ: Contestação
2.4. SQ: Direcionamento / dica
2.5. SQ: Desafio / solução de problema
2.6. SQ: Bloqueio de esquiva
1.1. SQ: Opinião / avaliação
Esta subcategoria é a mais geral e inclui todas as solicitações de relato qualificativo
referentes à opinião ou avaliação do cliente a respeito de eventos, conforme a definição anterior de
Zamignani (2006, em elaboração), mas que não se encaixem nas outras subcategorias de
42
Solicitação de Relato Qualificativo, que têm prioridade segundo os critérios anteriormente
definidos. Por exemplo:
T: O seu pai te bate quando você faz o quê?
C: Eu desobedeço.
T: Agora tem um monte [de varetas] fácil. Você gosta mais quando tá fácil, ou quando tá
difícil também?
C: Os dois.
2.2. SQ: Sentimento
Quando o relato qualificativo solicitado pelo terapeuta diz respeito a sentimentos do cliente
em relação a eventos, ou os eventos envolvem sentimentos, classifica-se a verbalização do terapeuta
na subcategoria SQ Sentimento. Nas sessões analisadas, foi percebido que a solicitação de relatos
qualificativos sobre sentimentos foi bastante importante para os dois atendimentos, por que
proporcionava às crianças uma oportunidade de falar sobre sentimentos considerados ruins ou
considerados pela comunidade verbal como negativos, sem serem punidas (especialmente quando
esta questão fazia parte da queixa do cliente), de aprenderem a nomear o que estavam sentindo e de
experimentarem como expressar esse sentimento. Exemplos:
T: Qual [sentimento] você gosta mais?
C: Esse aqui. [aponta]
T: “Raivoso”... [circula a palavra]
T: “Pavor”, como alguém faz quando está apavorado?
C: Faz Aaaaaaaaaaahhhhhh!!!
T: Ele tá com raiva?
C: Ele tá tacando raio...
2.3. SQ: Contestação
A contestação ocorre não apenas nesta categoria como também em outras categorias, como a
Recomendação e a Discordância. Na Solicitação de Relato Qualificativo, a SQ Contestação é uma
subcategoria na qual o terapeuta contesta a veracidade da avaliação emitida anteriormente pelo
43
cliente, levando-o muitas vezes a repensar o que foi dito anteriormente e, quem sabe, modificar sua
opinião. Por exemplo:
C: Eu vou ganhar...
T: Como você sabe?
C: Tem que ver quem tem mais.
Aqui, após a SQ Constestação, a criança parece alterar o prognóstico favorável que fez em
relação ao seu desempenho, por uma referência ao critério para classificar o vencedor. Isto sugere
um enfraquecimento dos comportamentos referentes à excessiva auto-avaliação positiva, como por
exemplo, “porque sou o melhor nesse jogo”.
T: Ele bate como?
C: Ele pega o cinto, outro dia ele me deu uma surra (dá risada)
T: Ave, e você fala desse jeito tão natural? Não dói???
C: Dói... Você já apanhou?
Novamente, a diferença entre a primeira e a segunda resposta da criança indica que a
constestação permitiu que a criança alterasse sua avaliação sobre o evento (apanhar), ou que
entrasse em contato com as contingências (“apanhar machuca, dói”).
2.5. SQ: Direcionamento / dica
Nesta subcategoria, de forma semelhante à SR Direcionamento / dica, o terapeuta induz ou
facilita a resposta da criança. Observe:
T: Vamos colocar no tabuleiro todas as letras que você conhece?
C: Hum-hum. (concorda mas não executa).
T: O “E” você conhece, né? E o “R”, você conhece também?
C: Hum-hum (pega a letra). E também tem essa daqui!!!
O exemplo acima mostra que o relato qualificativo solicitado consistia em avaliar, dentre
diversas letras, qual era conhecida pela criança. Esta solicitação foi classificada como de relato
qualificativo (e não apenas relato) por tratar-se de uma criança no início da alfabetização. Assim,
escolher letras conhecidas é uma atividade que, para ela, ainda exigia um processo de avaliação
(olhar para o conjunto de letras) para emissão da resposta final (mostrar as letras identificadas).
44
Essa sutileza mostra como às vezes é difícil a categorização dos comportamentos, podendo ser
bastante tênue a diferença entre uma e outra categoria, a depender inclusive do conhecimento prévio
sobre o cliente.
Como a criança não havia executado na primeira tentativa, a terapeuta começou, ela mesma,
a emitir a resposta solicitada à criança, induzindo-a a dar continuidade, o que ocorreu logo em
seguida. Assim, a subcategoria SQ Direcionamento / dica precede a subcategoria SQ Opinião /
avaliação devido a tal especificidade.
2.6. SQ: Desafio / solução de problema
Esta subcategoria é semelhante ao Desafio / solução de problema que ocorre em Solicitação
de Relato, embora aqui o tipo de desafio proposto para a criança seja um pouco diferente, porque
sua resposta para solucionar o desafio deve avaliar o evento em questão. Por exemplo:
T: Esse é o jogo, mas não tem nenhuma bola... e agora?
C: Hummm.... vamos usar aquele botijão (de gás de plástico) como bola?
T: Vamos sim!
Note que o problema poderia ter sido solucionado pela terapeuta, entretanto, esta manejou a
situação de forma que a criança resolvesse. O mesmo ocorre no próximo exemplo, embora esta
outra criança responda diferentemente:
C: Um espelho... tá quebrado!
T: É verdade, será que dá pra consertar?
C: Não sei...
2.7. SQ: Bloqueio de Esquiva
Algumas vezes, a criança se esquivava de emitir o relato qualificativo solicitado pelo
terapeuta. Ela podia fazer isso de maneiras diversas, como por exemplo: inventar uma mentira, não
responder, mudar de assunto etc (a classificação do relato do cliente será apresentada
posteriormente). Em seguida, a terapeuta poderia insistir, repetindo a avaliação solicitada, ou
alterando-a, mas mantendo o tema que está sendo evitado pela criança.
45
No exemplo a seguir, a criança relata que a mãe é brava porque os irmãos a acordam, e se
coloca como “o bom menino”, que nunca faz nada de “errado”. A terapeuta tem a informação de
que isso não é verdade. Assim, a criança mente para se esquivar de admitir sua participação com os
irmãos, e a terapeuta bloqueia a esquiva:
T: E aí, o que ela [mãe] fala?
C: Ela fala: “[irmã], pára!”
T: E para você, o que ela fala?
C: Ela não fala nada, porque eu não acordo ela... (esquiva)
T: E quando ela fica brava com você, o que ela fala? (bloqueio de esquiva)
C: Ela fala: “Ah, Erik!!!” (imita a expressão de zanga da mãe - esquiva bloqueada)
3. Estruturação (Terapeuta estrutura sessão)
“Serão consideradas ESTRUTURAÇÃO verbalizações do terapeuta que estabelecem
as condições nas quais o processo terapêutico será desenvolvido, tais como...
(1) Solicitações de atividades, técnicas ou exercícios terapêuticos a serem
executadas com a participação ou não do terapeuta, durante a interação terapêutica
no consultório ou extra-consultório. (...)
(2) Descrições ou regras sobre o funcionamento de determinadas técnicas,
estratégias, jogos, exercícios ou programas terapêuticos ou sobre o andamento da
própria sessão;
(3) Descrições do terapeuta sobre o funcionamento da terapia (contrato, regras,
objetivos), acerto de horários e local para a realização da sessão, para o
estabelecimento do contrato terapêutico (enquadre).
(4) Acertos ocasionais de horário e/ou local da sessão.”
A Estruturação em terapia infantil é uma categoria bastante presente já que as crianças,
especialmente as mais novas, precisam do auxílio do terapeuta para aprender a se organizarem em
função do tempo da sessão (por exemplo, quando não sabem ler a hora), a brincar com jogos novos,
a saber quando irão voltar para a clínica etc.
A Estruturação, em Terapia Infantil, corresponde principalmente à solicitação de atividades
lúdicas a serem executadas dentro da sessão. Ou seja, quando a finalidade da fala do terapeuta é
estritamente organizar ou esclarecer sobre a brincadeira, categoriza-se como Estruturação. Quando
o terapeuta recomendar ou confrontar a criança sobre a organização de uma brincadeira após as
regras já terem sido estabelecidas e entendidas, NÃO se categoriza Estruturação. Isso porque será
46
claro que a fala do terapeuta ocorre em relação a comportamentos clinicamente relevantes da
criança (ex: comportamento opositor).
A Estruturação foi dividida em cinco subcategorias, algumas delas já elencadas na definição
de Zamignani (2006, em elaboração) e aqui ordenadas da seguinte maneira:
3.1. ES: Funcionamento de terapia
3.2. ES: Tempo da sessão
3.3. ES: Início / mudança / término da atividade
3.4. ES: Funcionamento de brincadeira
3.5. ES: Extinção
3.1. ES: Funcionamento de terapia
Terapeuta esclarece para o cliente como é o funcionamento da terapia. Não é uma categoria
muito freqüente, mas pode ocorrer principalmente no início da terapia, como quando o terapeuta se
apresenta para o cliente e explica resumidamente o que faz na atividade de trabalho (atendimento à
criança). Por exemplo:
T: Psicóloga é aquela pessoa que conversa com os outros, pra ajudar. E aqui alem de
conversar a gente brinca, senão fica muito chato, não é verdade?
C: Hum-hum.
Além de resumir as atividades principais do processo, o terapeuta identifica para a criança
em que dia as sessões ocorrem. Para tanto, pode se valer de um evento conhecido pela criança,
como por exemplo o primeiro dia de aula da semana, associando-o temporalmente à ocorrência da
sessão:
T: Você vai voltar aqui toda semana.
C: Que dia?
T: Depois do fim-de-semana vem o primeiro dia de aula, não é? Toda vez que for o primeiro
dia de aula é segunda-feira, e aí você vem pra cá de manhã...
Também são classificadas como ES Funcionamento da Terapia as verbalizações do
terapeuta que indicam o que o cliente pode ou não fazer na sessão, estabelecendo regras e limites.
47
Note que nos três exemplos a seguir as regras vão sendo construídas à medida em que a criança vai
solicitando, isto é, a solicitação da criança é antecedente para a resposta de estruturar o
funcionamento da terapia:
C: Quero levar um papel desse tamanho [muito grande], e um pra cada um [cliente e seus
dois irmãos].
T: Olha, desse tamanhão só se for um só, para os três, tá?
C: Posso ir lá ver a minha mãe? (atendida em outra sala no mesmo momento)
T: Não. Sua mãe está com a [nome da terapeuta] e não pode ser interrompida, você vai
encontra-la depois.
C: Ih, posso ir no banheiro?
T: Claro, vem que eu vou te mostrar onde fica.
3.2. ES: Tempo da sessão
A ES Tempo da Sessão provavelmente ocorre com maior freqüência do que a ES
Funcionamento da Terapia, visto que o terapeuta constantemente organiza as atividades para que
ocorram dentro do tempo previsto para a sessão, anunciando para a criança o seu encerramento,
especialmente para as que não consultam o relógio ou não aprenderam a verificar as horas. Quando
a criança aprendeu a duração da sessão, pode ocorrer dela mesmo solicitar que o terapeuta estruture
o tempo disponível. Por exemplo:
C: Dá tempo de brincar mais do quê?
T: Falta um pouquinho assim de tempo (mostra pequena distância entre o polegar e o
indicador), então só dá para uma brincadeira bem rápida.
C: Vamos usar o alvo?
T: Pode ser.
T: Tá vendo esse relógio aqui na parede? Esse ponteiro compridinho tem que chegar aqui
no número 12, de pé. Quando ele andar tudo isso é porque o nosso tempo acabou.
C: E ele ainda tá longe hein!!!
T: Tá bem longe... você acabou de chegar...
3.3. ES: Início / mudança / término da atividade
Nesta categoria, o terapeuta organiza o momento de iniciar, mudar ou terminar a atividade
em curso. Essa estruturação pode ocorrer:
48
(a) de forma planejada, como quando antes da sessão ele seleciona alguns jogos em função
da intervenção que pretende realizar e do nível de desenvolvimento da criança:
T: (No início da sessão) Hoje eu vou propor uma brincadeira nova... você gosta de bala de
maçã?
C: Adoro...
(b) de forma improvisada, como quando ele adapta uma atividade que está muito entediante
ou muito difícil para a criança. No exemplo a seguir, a terapeuta procurava fazer uma avaliação com
a criança sobre uma atividade recém-encerrada, mas a criança não respondia. A terapeuta
reestruturou a atividade iniciando um jogo de forca para discutir o jogo anterior:
T: Como se chama o que você fez quando deu a bala para mim?
C: (silêncio) [cliente não responde]
T: Então você vai adivinhar a palavra jogando forca, que tal? [terapeuta inicia uma
atividade de forma improvisada]
C: Hum-hum!
3.4. ES: Funcionamento de brincadeira
Terapeuta estabelece as regras de uma brincadeira. Isso pode ocorrer antes de se iniciá-la ou
durante, caso a criança não consiga inferir as regras.
T: [terapeuta lê as regras do jogo antes de iniciarem] “Você tem que ser muito rápido para
achar as figuras do tabuleiro antes dos adversários”. (coloco o tabuleiro na mesa). Ah olha, e
aqui tem as figurinhas, ta vendo... e tem que encaixar elas no tabuleiro aqui... aí você mostra
uma figura e a gente tem que tentar achar ela bem rápido... você entendeu como que faz? Vai
lá hein, quer começar?
C: (tira uma figura)
T: Quer combinar assim, ó? (durante a brincadeira) Toda vez que chegar na primeira
perninha [da forca], aí eu dou dica. Quer, quer dica?
C: Quero.
Quando as regras já foram explicitadas, e a criança claramente já havia compreendido, mas
ainda assim não a segue, como que desafiando a terapeuta, não se classifica a intervenção
subseqüente como Estruturação. A seguir, tem-se um exemplo disso, em que a criança, com
comportamento opositor-desafiante, tenta trapacear:
C: Eu vou colocar a bola aqui... (olhar desafiador)
49
T: É aqui... (pega a bola e coloca-a no lugar correto, definido pela regra do jogo), agora é
a minha vez. (Discordância Direcionamento)
C: (aceita e continua a jogar dentro da regra)
3.5. ES: Extinção
Uma resposta de Estruturação de brincadeira pode ocorrer também subseqüente a
verbalizações da criança que fazem parte do comportamento queixa. A classificação na
subcategoria ES Extinção segue os mesmos critérios já estabelecidos para SR Extinção. Observa-se
o exemplo a seguir:
T: Nosso tempo acabou mesmo.
C: Ah, não é justo (começa a jogar sozinho para não acabar)
T: Eu vou guardar as coisas aqui, tá. [estruturação extinção]
Nesse exemplo, a terapeuta está organizando a finalização de uma brincadeira. Entretanto,
categoriza-se como ES Extinção porque o antecedente é uma verbalização associada à queixa
(comportamento opositor), que é ignorada pela terapeuta. Essa subcategoria tem prioridade sobre as
outras, segundo o critério de complexidade, definido anteriormente.
4. Facilitação (terapeuta facilita o relato do cliente)
“Esta categoria é usada quando o terapeuta está escutando o cliente, mas fazendo
expressões vocais curtas que sugerem que ele está prestando atenção e que a outra pessoa
deveria continuar falando. Constituída tipicamente por verbalizações mínimas. Caracteriza-
se também por comentários breves apresentados após uma descrição, que resumem em
poucas palavras o essencial do que o cliente disse, ou inferem a continuidade da descrição,
sugerindo interesse no assunto e demonstrando que está atento ao relato.”
No jogo e nas brincadeiras, há verbalizações do terapeuta que se referem ao andamento da
brincadeira, como quando ele lê um cartão de um jogo, identifica uma palavra de uma brincadeira,
gira uma roleta e diz o número indicado por ela, avisa de quem é a vez de jogar etc. Estas
verbalizações são categorizadas como Facilitação por sugerirem a continuidade ou
encaminhamento da brincadeira, fazendo um paralelo com as verbalizações mínimas da terapia com
adultos, que sugerem uma “continuidade do relato”.
50
A Facilitação foi dividida em três subcategorias, na ordem crescente de prioridade listada a
seguir:
4.1. FA: Relato
4.2. FA: Não-verbal
4.3. FA: Narrativa e leitura de jogo
4.1. FA: Relato
Esta subcategoria é mais geral e corresponde exatamente à definição já estabelecida por
Zamignani (2006, em elaboração) para a categoria Facilitação. Ocorre em menor freqüência no
caso de crianças que relatam eventos com baixa freqüência e/ou utilizando-se de frases mais curtas.
4.2. FA: Não-verbal
Especialmente durante brincadeiras, o terapeuta está acompanhando a atividade do cliente
por meio de ações que não necessitam de verbalizações. Por exemplo:
T: Então você começa [jogo de forca]
C: “A”.
T: (anota o A na forcca)
(...)
C: A sua vez agora. Até que foi difícil, né.
T: (faz o desenho da forca)
C: O que é? “Triste”?
4.3. FA: Narrativa e leitura de jogo
Outra subcategoria consiste na narrativa e/ou leitura de jogos, que embora envolvam
verbalizações do terapeuta, não representam facilitação do relato da criança mas tão somente da
continuidade da brincadeira.
T: Telefone. Aqui.
C: Ai, não acredito!!!
T: Cachimbo.
C: Eu vi ele...
T: (gira a roleta e lê): “Seu tio precisa de ajuda, pague 2 mil”
51
C: Eu tenho que pagar?
T: Sua vez de jogar...
C: (gira a roleta)
É importante atentar para a função desta verbalização. Se no segundo exemplo, a seguir, o
cliente estivesse tentando “passar a vez” da terapeuta e ela respondesse: “Agora sou eu”,
categorizar-se-ia Discordância e não Facilitação, pois o objetivo não seria apenas responder à
brincadeira, e sim confrontar uma ação do cliente.
Assim, categoriza-se Facilitação quando a verbalização tem somente a função de
continuação da atividade. Isso significa que Facilitação é preterida em relação a outras categorias.
A seguir tem-se um desempenho que não pode ser classificado em Facilitação. Terapeuta e cliente
estão jogando o Jogo dos Sentimentos e fazendo mímicas sobre sentimentos. A expressão de
sentimentos positivos era uma dificuldade do cliente, percebida pela terapeuta ao longo da terapia.
C: (faz a mímica)
T: Alegre? [Interpretação]
C: Não...
O exemplo mostra que, embora seja uma verbalização curta, a relevância do conteúdo para
aquele cliente faz com que seja classificada em Interpretação, e não Facilitação.
5. Empatia (Terapeuta demonstra empatia)
“Esta categoria é composta pelas (...) ações do terapeuta, que indicam afeto, compreensão
e aceitação do cliente.”
A seguir, o autor lista uma variada gama de comportamentos do terapeuta, como paráfrase,
humor, exclamação, compreensão etc. Essa variedade na categoria Empatia foi encontrada na
análise de sessões, resultando em cinco subcategorias, algumas delas coincidindo com a definição
do autor. Em terapia infantil, contudo, verbalizações de Empatia podem-se referir a sentimentos
expressos pela criança de forma direta, ou de forma indireta por meio do brincar. Por exemplo:
C: Esse aqui (fantoche) não foi convidado para a festa. Ninguém queria ser amigo dele.
T: Eu estou vendo que ele ta muito triste e sozinho.
52
5.1. EM: (sem subcategoria)
5.2. EM: Exclamação / Humor
5.3. EM: Descrição
5.4. EM: Auto-revelação
5.5. EM: Modelo
5.1. EM: (sem subcategoria)
Quando a verbalização do terapeuta não for classificável em nenhuma das demais
subcategorias de Empatia, categoriza-se como EM (sem subcategoria).
5.2. EM: Exclamação / Humor
Algumas vezes, o terapeuta responde com humor e/ou exclamações após as verbalizações do
cliente, não apenas na categoria Empatia, como também em outras (Aprovação e Discordância, por
exemplo). Segundo Zamignani (2006, em elaboração), são comentários em forma de exclamação,
apresentados após a descrição de eventos que não ações do cliente, consistentes com o assunto
relatado e que indicam interesse nele.
Em terapia infantil, pode ocorrer quando o terapeuta demonstra que alegra-se quando a
criança é bem-sucedida na brincadeira e se entristece, junto com ela, com o seu fracasso, como nos
exemplos abaixo:
C: “B” (erra jogo de forca)
T: Aaaaii..... (em tom de lamento)
C: “Seu tio precisa de ajuda, pague 12 mil” Ai...
T: Tio é tio, né!!!
C: Empatou... ih, eu tenho que dar 12 mil? (rindo)
T: Hahahah...
C: (dá o dinheiro)
5.3. EM: Descrição
53
A descrição dos comportamentos da criança é comum na terapia infantil, indicando
proximidade do terapeuta para com o cliente, isto é, que ele está acompanhando as atividades que
estão sendo executadas. Ao mesmo tempo, traduzir em palavras a ação e/ou o provável sentimento
da criança pode colaborar para que ela própria compreenda o que está fazendo. Neste sentido, com a
Descrição, “o terapeuta demonstra compreender os estados internos e/ou a condição à qual o cliente
está exposto, validando seus atos ou sentimentos, sem julgamento ou avaliação crítica” (Zamignani,
2006, Adaptado de Falcone, 2000). Nos exemplos a seguir, a criança estava brincando com a casa
de bonecos e a terapeuta demonstrava participar, descrevendo aquilo que a criança via:
C: (abre o armário da casinha)
T: Nossa, quanta coisa que tem nesse armário, né.
C: Oito, e um espelho. Tá quebrado.
C: (vai organizando a casinha, coloca todos os bonecos sentados)
T: Tá todo mundo sentado aí, né, até os bebês sentaram. E esse na mesa, o que ele vai fazer
aí?
C: Ele vai cair, e o vovô vai salvar ele.
A descrição pode ocorrer não apenas nos momentos de brincadeira, mas em outras situações,
nas quais o terapeuta traduz as expressões da criança, mostrando assim que está compreendendo-a:
C: (primeira sessão, a criança olha encantada para os brinquedos da sala sem se decidir por
nenhum)
T: E agora, tem bastante brinquedo aqui, né, fica difícil escolher...
C: Hum-hum. Quero brincar com a casinha.
5.4. EM: Auto-revelação
Terapeuta “relata sua experiência em situações semelhantes (auto-revelação) àquela relatada
pelo cliente, quando tal relato não sugerir a solução de algum problema” (Zamignani, 2006, em
elaboração). A auto-revelação pode ter sido verbalizada espontaneamente ou por solicitação do
cliente. Por exemplo:
T: Não dói [apanhar]?
C: Dói sim, você já apanhou?
T: Já, quando eu era pequena.
5
4
C: Eu quero o [desenho do] Jerry marrom. Você assiste?
T: Assisto sim!
5.5. EM: Modelo
Verbalizações empáticas podem, naturalmente, servir de modelo para que a criança também
se comporte empaticamente. Além disso, o terapeuta pode, ainda, utilizar-se da empatia para,
intencionalmente, proporcionar modelo de comportamentos incompatíveis com aqueles associados
à queixa da criança. No exemplo abaixo, os pais da criança queixavam-se de seu “egoísmo”, que na
sessão era traduzido por um excesso de competitividade nas brincadeiras:
C: “Você deve impostos, pague 50 mil” (lendo o cartão do jogo)... Ih, eu não tenho!!!
Precisava de 50 mil... mas só tenho 31 mil...
T: Vamos fazer assim, eu vou emprestar dinheiro pra você.
C: Yesss!!!
6. Aprovação (Terapeuta aprova ou concorda com ações ou avaliação do cliente)
Nesta categoria, agrupam-se as verbalizações do terapeuta que sugerem “aprovação ou
concordância a ações do cliente”.
Trata-se de uma verbalização do terapeuta que ocorre como conseqüência positiva de uma
ação ou verbalização anterior da criança. A topografia da Aprovação, por vezes, pode ocorrer pela
repetição da verbalização do cliente, indicando que o terapeuta concorda com o que foi dito. Na
TACI, a aprovação ocorre também após ações motoras imediatas da criança na situação terapêutica,
e não apenas para relatos. As subcategorias de Aprovação são:
6.1. AP: (sem subcategoria)
6.2. AP: Concordância / monossilábica
6.3. AP: Agradecimento
6.4. AP: Descrição / Repetição
6.5. AP: Contestação
6.6. AP: Exclamação / Humor
55
6.7. AP: Modelo
6.8. AP: Extinção
6.1. AP: (sem subcategoria)
Quando a verbalização do terapeuta não for classificável em nenhuma das demais
subcategorias de Aprovação, categoriza-se como AP (sem subcategoria).
6.2. AP: Concordância / monossilábica
A subcategoria AP Concordância / monossilábica consiste em verbalizações nas quais o
terapeuta “confirma ou relata estar de acordo com afirmações verbalizadas pelo cliente”. Também
se encaixam nesta subcategoria verbalizações nas quais o terapeuta aceita ou segue uma solicitação
do cliente. Por exemplo:
C: Faz o Mickey de verde... e a menininha dele de rosa...
T: Tá, vamos lá!
C: O Mickey é um ratinho, né!
C: Oba, estou chegando lá!!!
T: Hum-hum!
C: Agora sou eu... (...)
6.3. AP: Agradecimento
Verbalizações nas quais o terapeuta agradece o comportamento anterior do cliente também
indicam aprovação. Observe:
T: Pode fazer por 50? 50 eu tenho... (dá o “dinheiro” imaginário para o cliente).
C: Obrigado.
T: De nada! (aprova o agradecimento da criança)
6.4. Aprovação: Descrição / Repetição
A AP Descrição / Repetição é muito importante, porque sinaliza para a criança qual foi o
comportamento emitido que está sendo aprovado pelo terapeuta.
C: “[terapeuta]”.
56
T: Isso mesmo, “[terapeuta]”, você tem boa memória sabia? Lembrou direitinho... sua mãe
falou pra você?
C: Bexiga, bexiga.... aqui!
T: Bem no meio do tabuleiro!
C: Dez coisas. (criança “descobrindo” quais alimentos ele gosta de comer)
T: Nossa, tá melhorando, hein, de duas para dez!!!
C: E esse aqui também. Onze.
6.5. AP: Contestação
“Verbalizações nas quais o terapeuta discorda do cliente, mas o faz de forma a ressaltar
características positivas do cliente” (Zamignani, 2006, em elaboração) enquadram-se na
subcategoria de AP Contestação. Esta contestação visa salientar que o cliente estava equivocado,
mas no sentido de valorizar suas capacidades e comportamentos adequados. No exemplo a seguir, o
cliente tenta mudar de time em um jogo de Pebolim, para desafiar a terapeuta:
T: Tá, mas vamos esperar um pouquinho então, joga ainda mais um pouco com os
vermelhos (...)
C: Gooool!!!
T: Falei!!! (dá risada)
No próximo exemplo, a criança se assusta com o tamanho da palavra inventada pela
terapeuta em um jogo de forca:
C: Nove [letras]????
T: Mas você sabe que quando a palavra é grande, é mais fácil??? É porque um monte de
letras que você falar, vai aparecer aqui!!!
C: “A”.
T: Viu só, tem dois A!!!
6.6. AP: Exclamação / Humor
A aprovação por meio de exclamações do terapeuta ocorre freqüentemente durante
brincadeiras. Nestas, as exclamações podem consistir de frases com entonação bastante exclamativa
ou mesmo de interjeições, que denotam que o terapeuta está aprovando o desempenho do cliente.
Por exemplo, em uma brincadeira de Pebolim:
57
C: (...) É do Ronaldinho e do Ronaldinho Gaúcho.
T: Uuuu.... (imitando torcida em campo de futebol)
C: Quaaaase!
C: É. Gol!
T: Corinthians recupera e já está com seis goools!!!
C: E São Paulo, dois gooools!!!
6.7. AP: Modelo
A aprovação de comportamentos pode servir de modelo de comportamentos alternativos
àqueles que costuma emitir e são considerados como queixa.
C: Aê, Gol.
T: Foi gol! Esses dois times são muito bons, hein?
6.8. AP: Extinção
Em um processo semelhante à extinção por meio de Solicitação de Relato, a Extinção por
meio de Aprovação também segue os mesmos critérios definidos anteriormente. Entretanto, neste
caso, o terapeuta aprova parte do comportamento anterior do cliente, exceto aquele que se
caracteriza como queixa. A subcategoria Extinção precede a subcategoria Modelo devido ao critério
da especificidade. Isto é, apenas se classifica como extinção verbalizações do terapeuta
subseqüentes a verbalizações relacionadas à queixa.Observe:
C: Eu estou ganhando.
T: Você está indo bem.
Outra alternativa é a concordância com um comportamento que aparentemente seria punido
por outros, desde que a análise do terapeuta demonstre que esse tipo de conseqüência funcione, para
a criança, como um reforçador. No exemplo a seguir, a expressão de sentimentos chamados ruins,
como a raiva, era seguida de repreensões e sermões do pai que, segundo a hipótese da terapeuta,
eram reforçadores devido à atenção dispensada à criança. A reação da terapeuta se encaixa nos
critérios de extinção:
T: Qual sentimento você gostou mais?
C: Esse aqui. (aponta a palavra Raivoso)
58
T: Raivoso... (terapeuta circula a palavra)
7. Informação (Terapeuta fornece informações)
“Verbalizações nas quais o terapeuta relata eventos ou informa o cliente sobre eventos, que
não o comportamento do cliente ou de terceiros, estabelecendo ou não relações causais ou
explicativas entre eles.”
Quando o fornecimento de informação tiver o objetivo de explicar as regras de um jogo,
categoriza-se Estruturação e não Informação. Isso porque, neste caso, o objetivo do episódio será
estruturar a sessão para a ocorrência de uma atividade. A categoria Informação foi subdividida em:
7.1. IF: (sem subcategoria)
7.2. IF: Descrição
7.3. IF: Exclamação / humor
7.4. IF: Modelo
7.5. IF: Extinção
7.1. IF: (sem subcategoria)
Quando a verbalização do terapeuta não for classificável em nenhuma das demais
subcategorias de Informação, categoriza-se como IF (sem subcategoria).
7.2. IF: Descrição
Nesta subcategoria, o terapeuta descreve seu próprio comportamento, como no exemplo a
seguir, em um jogo denominado Jogo da Vida:
C: “Seu bode comeu orquídeas premiadas, pague 3 mil” Hahahaha.... ih, eu não tenho...
T: Então eu vou anotar aqui, tá? Esses 6 mil da casa... e 3 mil do bode...
C: Ai ai ai.... E agora? “Dia do pagamento”!!!!
7.3. IF: Exclamação / humor
59
Comentários feitos pelo terapeuta em tom de exclamação ou humor, quando não estão
aprovando nem reprovando a criança, são categorizados em IF Exclamação / humor. Por exemplo:
(a bola cai para fora do campo)
T: Nossa, essa bola tá saltadora, hein!!!
C: Hehehe...
T: Gooool! (gol da terapeuta)
C: Ah, vamos até 10...
7.4. IF: Modelo
Certas vezes, as informações fornecidas pelo terapeuta podem implicitamente ter a função de
modelo. No exemplo a seguir, a criança emitia comportamentos de birra e reclamações toda vez que
tinha que “pagar” no Jogo da Vida. A terapeuta se comportava do modo oposto, servindo de modelo
para comportamento alternativo:
C: Eu tenho que pagaaaar?
T: Não, agora sou eu. (dá o dinheiro)
No próximo exemplo, a criança jogava de maneira impulsiva e a terapeuta informa-lhe o que
está fazendo para planejar seu próprio comportamento em jogo:
T: Olha só, agora eu posso ir por dois caminhos, então eu vou ver primeiro qual deles é o
melhor... vejamos... por esse aqui eu não ganho nada nem perco nada... já por esse outro
aqui... “receba 280 mil!”
C: Eeeeita!!! O quê???
7.5. IF: Extinção
Constituem-se de informações fornecidas pelo terapeuta segundo os critérios já definidos em
SR Extinção. O conteúdo da informação fornecida é tipicamente alternativo ou oposto à
verbalização da criança, que está associada à queixa. No exemplo a seguir, a criança estava
comemorando porque ganhou (competitivo) e, depois da verbalização da terapeuta, passou a
comemorar o trajeto feito por ambos. É possível que a entonação da voz da terapeuta tenha sido
muito importante: enquanto a criança gritava sobre a vitória, a terapeuta falou em tom neutro.
C: Então quem ganhou fui eu!!! (competitivo comportamento queixa)
T: Chegou primeiro. (informação alternativa)
60
C: Olha só, a gente começou daqui e andou tudo isso, vuuuuuuummm....!!!
8. Interpretação (Terapeuta interpreta)
Verbalizações nas quais o terapeuta descreve, supõe ou infere relações a respeito do
comportamento do cliente ou de terceiros. As relações estabelecidas devem ter como foco o
comportamento do cliente ou de terceiros e podem dizer respeito a respostas do cliente e/ou
de terceiros, sentimentos, emoções e pensamentos do cliente e/ou de terceiros, aspectos da
história de vida do cliente ou de terceiros, eventos ambientais relacionados ao
comportamento do cliente ou de terceiros. As relações estabelecidas podem se referir a (a)
eventos ocorridos/ relatados imediatamente antes, (b) eventos ocorridos/ relatados em
outros momentos da mesma sessão ou (c) eventos ocorridos/ relatados em sessões anteriores
(d) especulações sobre eventos futuros.
As interpretações realizadas pelo terapeuta poderão ser referentes também aos
comportamentos do cliente em relação ao terapeuta (ou vice versa) em situação lúdica. A
categorização de sessões em terapia infantil demonstrou a ocorrência de dois modos particulares de
Interpretação, o Modelo e a Extinção, devido às diferentes funções que exercem.
8.1. IP: (sem subcategoria)
8.2. IP: Modelo
8.3. IP: Extinção (reinterpreta)
8.1. IP: (sem subcategoria)
Quando as verbalizações do terapeuta não se classificam como Modelo e nem como
Extinção, classifica-se em IP (sem subcategoria).
8.2. IP: Modelo
O terapeuta pode fazer uma interpretação com o objetivo de fornecer para o cliente um
modelo de comportamento. Observe:
T: Não... Ai, meu Deus, está na hora da dica... deixa eu ver como eu vou te dar... vou pensar
numa dica. É assim, quando você ta fazendo uma conta de matemática muito difícil, aí você
faz e erra, faz e erra, faz e erra... mas você quer fazer... aí você tem que ter muita _ _ _ ????
C: Aaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhh!!! Paciência!!!!!!!
61
8.3. IP: Extinção
O terapeuta fornece uma interpretação alternativa à dada pelo cliente. Será categorizado em
Extinção desde que a verbalização anterior do cliente esteja associada à queixa. Por exemplo:
C: Eu estou conseguindo te ganhar hein... eu estava com cinco e você com sete... e agora eu
fiz um gol e depois o outro!
T: É viu só... com o treino a gente vai melhorando.
C: Será que eu ganho?
Observa-se que, neste exemplo, o cliente continuou a falar sobre ganhar depois da fala da
terapeuta. Por outro lado, talvez sua segunda resposta (“será que eu ganho?”) seja mais fraca do que
a primeira, já que ele colocou em dúvida aquilo que anteriormente afirmava com mais certeza (“eu
estou conseguindo te ganhar hein”).
9. Recomendação (Terapeuta fornece conselhos ou atribui tarefas)
“Verbalizações do terapeuta que especificam ações ou conjuntos de ações a serem emitidas
pelo cliente, dentro ou fora da sessão.”
A Recomendação, assim como na Terapia de Adultos, é voltada para a ação do cliente. Em
Terapia Infantil, a Recomendação se refere não apenas a conselhos ou tarefas que a criança deva
realizar fora da sessão, mas também a desempenhos da criança no brinquedo ou jogo que está sendo
realizado durante a sessão. A Recomendação foi classificada em:
9.1. RE: (sem subcategoria)
9.2. RE: Desafio / solução de problema
9.3. RE: Direcionamento / dica
9.4. RE: Modelo / comportamento alternativo
9.5. RE: Bloqueio de Esquiva
9.1. RE: (sem subcategoria)
62
Quando a verbalização do terapeuta não for classificável em nenhuma das demais
subcategorias de Recomendação, categoriza-se como RE (sem subcategoria).
9.2. RE: Desafio / Solução de problema
A Recomendação do tipo Situação problema / desafio assemelha-se à Solicitação de Relato
Qualificativo. A diferença consiste no tipo de resposta requerida para o cliente. Na Recomendação,
a resposta é uma ação, enquanto que na Solicitação de Relato Qualificativo, solicita-se uma
avaliação, opinião ou julgamento. Entretanto, em ambas é possível propor à criança uma situação
problema ou desafio para que ela resolva. Com os desafios o terapeuta pode criar a oportunidade de
avaliar como a criança lida com os problemas (aceita, recusa, negocia, faz tentativas etc) e
eventualmente ensinar maneiras alternativas, quando necessário. Também pode ser um recurso para
tornar a atividade mais atrativa, envolvendo a criança, especialmente quando estiver muito simples
ou monótona. Alguns exemplos de RE Desafio / Solução de problema:
T: Agora vamos negociar esse dinheiro aí... Acho que 50 mil tá muito caro, um pneu custa
menos, custa cinqüenta reais.
C: Cinqüenta.
T: E o meu nome, você sabe?
C: Não sei...
T: Não sabe? Quer adivinhar?
C: Vou pensar...
C: Elas (bonecas) estavam fofocando sobre o vovô.
T: Ahn, então o vovô tem que fazer alguma coisa. E agora, como é que fica?
C: “Pede desculpa”!
9.3. RE: Direcionamento / dica
O Direcionamento é uma subcategoria presente na Recomendação e também na Solicitação
de Relato, de Relato qualificativo e Discordância. Aqui, inclui recomendações para ações da
criança nas quais o próprio terapeuta contribui com parte da resposta que deseja que a criança
emita, o que torna tal resposta mais fácil para a criança, diminuindo o risco de que ela se recuse ou
63
não consiga executá-la. Isso pode ocorrer inclusive no plano motor, como mostra a seguir o
exemplo do início de uma terapia, no qual a criança ainda estava bastante receosa:
T: E o motorista vai aonde?
C: (aponta para a cabine do caminhão)
T: Aqui? (dá um boneco para representar o motorista na mão da criança, para ele colocar
no caminhão)
O direcionamento pode ocorrer quando o terapeuta percebe que, sem tal auxílio, a criança
não irá seguir a recomendação solicitada:
T: Pode fazer! [uma bola de papel]
C: Ahn, eu não sei... eu não quero...
T: Ah, porque? Eu corto o papel e você faz a bola, tá?
C: Tá.
Outra possibilidade de direcionamento ocorre quando a verbalização do terapeuta tem o
objetivo de convencer a criança a respeito das qualidades positivas de um determinado evento
associado a um comportamento que o terapeuta deseja que ocorra a seguir. Por exemplo:
C: Deixa eu trocar de jogadores, vaaaaaai!!! (comportamento opositor)
T: Tá, mas vamos esperar um pouquinho então. (...) Você vai gostar dos meus. Vou contar
pra você: esse aqui é bom, o nome dele é Grafitti... esse outro aqui dá um chute forte pra
caramba que faz gol daqui de trás.
C: Tá bom.
9.4. RE: Modelo / Comportamento alternativo
O terapeuta pode solicitar que a criança o imite, servindo de modelo para o comportamento
que deseja instalar. Por exemplo:
T: Vem cá, me cumprimenta que nem eu fiz com você ontem. (estende a mão para ele)
Obrigada.
C: (cumprimenta, sem falar nada)
T: Que sentimento você conhece?
C: Eu não sei.
T: Não saaabe? Eu falo um, você fala outro. Medo.
C: Arrepio.
Na Recomendação, é possível ensinar abertamente comportamentos diferentes, como
quando o terapeuta anuncia que está ensinando à criança uma alternativa ao seu comportamento
anterior. No exemplo que se segue, a terapeuta elaborou um desafio cuja solução seria um
64
comportamento de cooperação. O cliente acaba conseguindo solucionar sem cooperar e a terapeuta
ensina a outra alternativa:
T: Conseguiu?
C: Sim.
T: Posso te ensinar um jeito mais fácil? (...) É assim: come a bala você (T abre a bala para
C comer)
C: Hahaha...
T: E agora, o que você vai fazer para me ajudar? (...)
C: (pega a bala dá para T comer, do jeito que ela mostrou)
Outra possibilidade de se ensinar por meio de Modelo consiste na inversão de papéis. No
exemplo a seguir, a criança havia falado que “quem está ganhando tem que dar os pontos para o
outro, porque Deus não gosta”. A terapeuta informa uma alternativa: “ensinar o outro a ganhar
pontos também” e, em seguida, ao invés de tentar ensinar o cliente, sugere que este a ensine a jogar
o pega-varetas:
T: Então ensina pra mim... como eu pego? [Recomendação Modelo]
C: Ó... você pode pegar esse... pode pegar esse...
9.5. RE: Bloqueio de esquiva
Por meio de recomendações, o terapeuta pode bloquear uma esquiva imediatamente anterior
do cliente. Por exemplo:
C: Vamos guardar as letras bem rápido? (cliente se esquivando de brincadeira com letras)
T: Vamos escrever o seu nome aqui, antes?
C: Vamos.
10. Discordância (Terapeuta discorda de ações ou avaliações do cliente)
“Verbalizações nas quais o terapeuta discorda ou expressa julgamento desfavorável sobre
ações, avaliações, afirmações propostas ou características do cliente (sejam estas relatadas
pelo cliente ou observadas pelo terapeuta). (...)”
A Discordância, em terapia infantil, pode ocorrer tanto com relação a verbalizações de
relato, semelhantes às de clientes adultos, como também com relação a verbalizações e ações
ocorridas durante as brincadeiras. Foram estruturadas as seguintes subcategorias:
10.1. DI: Correção
65
10.2. DI: Exclamação / Humor
10.3. DI: Direcionamento / dica
10.4. DI: Contestação
10.5. DI: Desafio / Solução de problema
10.6. DI: Desaprovação
10.1. DI: Correção
São classificadas nesta subcategoria todas as verbalizações de discordância do terapeuta que
implicam somente na correção de fatos ou relatos equivocados, emitidos pelo cliente. O equívoco
do cliente pode ter sido proposital (para desafiar o terapeuta) ou acidental. Por exemplo:
C: (cliente pega uma vareta no pega-varetas, e ela se mexe)
T: Opa, esse não valeu, né.
C: Não valeu, não valeu.
C: Eu vou te dar uma dica, hein.
T: Peraí, dá a dica só quando eu estiver para fazer uma perninha [na forca].
C: Tá bom.
10.2. DI: Exclamação / Humor
O humor ameniza a aversividade desse tipo de verbalização, evitando que a relação entre o
terapeuta e o cliente possa ser prejudicada devido à discordância e aumentando a probabilidade do
cliente aceitá-la. Por exemplo:
T: “Raiva”.
C: Ah, eu pensei que fosse “Raiza”
T: “Raiza” eu não conheço, como é que alguém faz quando fica com “Raiza”?
C: Hahaha...
C: Nove e meia (finge que lê o relógio)
T: Hehe, não é nove e meia... olha, só dá tempo de brincar mais um pouquinho.
10.3. DI: Direcionamento / dica
A discordância com direcionamento, ao mesmo tempo em que corrige ou reprova o
comportamento do cliente, direciona-o para o comportamento desejado pelo terapeuta, evitando que
ele se oponha. Por exemplo:
66
C: Ah, não sei, esse eu não sei. (cliente se recusa a fazer a mímica de um sentimento escrito
em um cartão do jogo)
T: Ah, peraí, não vale... olha... qual era??? (pego o cartão de volta e leio) “Pavor”, como
alguém faz quando está apavorado???
C: Faz aaaaaaaaaaahhhhhhh!!!!!!!!!!!! (abre os braços).
No próximo exemplo, a terapeuta reprova o comportamento do cliente, já indicando (dica)
qual seria o mais apropriado:
T: Vuuuuu...... Ih mas que carrinho devagarzinho!!!
C: (cliente “dirigia” muito devagar, com meu comentário ele acelera).
10.4. DI: Contestação
A discordância pode ser realizada por meio da contestação da verbalização anterior do
cliente. Assim, o terapeuta contesta a adequação da mesma, com o objetivo de dar ao cliente a
oportunidade ou instigá-lo para a emissão de outro comportamento, mais adequado:
T: Do que você gosta de conversar?
C: De nada.
T: De nada? Não é possível!
Às vezes, nota-se que o comportamento adequado não ocorre imediatamente após a
contestação, e que contestar pode ser o início de um diálogo no qual o terapeuta combina outros
tipos de verbalizações para, ao final, levar o cliente ao comportamento desejado. Veja o trecho
abaixo:
T: O que você gosta de comer daqui?
C: Hambúrguer e refrigerante.
T: Sóoo? De tudo o que tem aqui? [Discordância Contestação]
C: Só. (cliente mantém a afirmação anterior)
T: Ué, e esse você não gosta? (aponta a batata-frita, solicita relato)
C: Gosto.
T: Ahn, viu, acho que vou descobrir mais... (aprova)
(Cliente começa a falar outros alimentos que gosta de comer. Pais queixavam-se de que ele
fazia birras para comer diferentes alimentos)
10.5. DI: Desafio / Solução de problema
O terapeuta pode, ao discordar do cliente, colocá-lo em uma situação problema ou desafio,
para que ele encontre a solução. Por exemplo:
67
T: Quanto custa?
C: Vinte mil.
T: Vinte mil? Mas eu não tenho esse dinheiro!
C: Mas tem que ter, senão eu não conserto.
T: Ah, mas e agora? Isso tá muito caro.
C: Você vai ter que achar vinte mil.
T: Como?
C: Trabalhando, ué.
10.6. DI: Desaprovação
Terapeuta desaprova comportamento do cliente ou corrige a sua forma de comportar-se.
Inclui-se aqui as discordâncias nas quais o tom de voz do terapeuta transparece que está irritado
com o que a criança fez:
C: (joga a bola para fora do campo com a mão, para colocá-la no lugar errado de propósito)
T: É aqui, você não se garante não? O seu goleiro é bom!
C: Golaço!
Descrição das categorias e subcategorias do cliente
A Tabela 4, a seguir, apresenta as categorias do cliente, tal como propostas por Zamignani
(2006, em elaboração), e as subcategorias elaboradas para a adaptação à Terapia Analítico-
Comportamental Infantil:
68
Tabela 4. Conjunto de Categorias do Cliente de Zamignani (2006, em elaboração) e subcategorias
elaboradas para a Terapia Analítico-Comportamental Infantil
CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO CLIENTE
1. Solicitação (SO)
1.1. SO: de permissão para comportamento
1.2. SO: de comportamento da terapeuta ou terceiros
1.3. SO: de informação
1.4. SO: de negociação
2. Relato (RE)
2.1. RE: qualquer coisa / “não sei” / impulsivo
2.2. RE: Curto e/ou monossilábico
2.3. RE: Informação
2.4. RE: Narrativa curta ou leitura
2.5. RE: Descrições / pensando
2.6. RE: Exclamação / humor
2.7. RE: Estendido e/ou espontâneo
3. Relato Qualificativo (RQ)
3.1. RQ: Competição
3.2. RQ: Exclamação / Humor
3.3. RQ: Sentimento
3.4. RQ: Estendido e/ou espontâneo
4. Explicação (EX)
4.1. EX: Equivocada / mentira
4.2. EX: Correta
5. Concordância (CO)
5.1. CO: Curta e/ou monossilábica
5.2. CO: Agradecimento
5.3. CO: Aprova terapeuta
5.4. CO: Seguimento
5.5. CO: Exclamação / Humor
5.6. CO: Repetição / Imitação
6. Oposição (OP)
6.1. OP: Discordância
6.2. OP: Recusa
6.3. OP: Insistência
6.4. OP: Crítica
6.5. OP: Desafiadora
7. Melhora (ML)
8. Metas (MT)
Segue-se uma definição resumida de cada uma das categorias e subcategorias (para a
definição completa, ver Anexo 3). Quando necessário, apresenta-se também particularidades deste
tipo de resposta no caso do cliente infantil. Em seguida a cada categoria, são listadas todas as suas
subcategorias, contendo definição, critérios e exemplos de cada uma.
69
1. Solicitação (Cliente solicita informação, asseguramento, recomendações, opiniões ou
procedimentos)
Esta categoria inclui diferentes tipos de pedidos ou questões efetuados pelo cliente, a saber:
(1) Verbalizações nas quais o cliente solicita ao terapeuta informações, confirmações ou
esclarecimentos a respeito de eventos, da racional da terapia ou do andamento da sessão.
Os eventos cuja informação é solicitada podem incluir (a) eventos ocorridos/ relatados
imediatamente antes, (b) eventos ocorridos/ relatados em outros momentos da mesma sessão
ou (c) eventos ocorridos/ relatados em sessões anteriores ou em outros momentos da vida do
cliente ou do terapeuta. (Zamignani, 2006, em elaboração).
A categoria Solicitação é particularmente distinta das demais, porque é uma interação verbal
iniciada pela criança, enquanto que grande parte das outras são, pela própria definição, respostas da
criança a uma verbalização iniciada pelo terapeuta. Além da variedade de pedidos e questões, já
presente na definição da categoria Solicitação, na análise das sessões de TACI foram encontradas
solicitações cuja variação no conteúdo resultou nas seguintes subcategorias:
1.1. SO: de permissão para comportamento
1.2. SO: de comportamento da terapeuta ou terceiros
1.3. SO: de informação
1.4. SO: de negociação
1.1. SO: de permissão para comportamento
Inclui pedidos do cliente para que o terapeuta autorize a emissão de comportamento
subseqüente ou futuro. A solicitação pode ocorrer por meio de gestos, verbalizações explícitas ou
comentários que requerem “consentimento”, como nos exemplos abaixo:
? Exemplo 1
C: (Início do processo de atendimento: cliente aponta para um brinquedo e o gesto
executado é interpretado pela terapeuta como equivalente a: “Posso brincar disso” /
“Posso ver como é isso?”)
T: Você quer brincar daquilo lá?
C: Hum-hum.
? Exemplo 2
C: Posso ir no banheiro?
70
T: Pode, vem, eu vou te mostrar onde é.
C: (levanta e sai com terapeuta)
? Exemplo 3
T: E agora, tem bastante brinquedo aqui... fica difícil escolher?
C: Hum-hum. Quero brincar com a casinha.
T: Dá uma olhada nela então!
C: (dirige-se até a casinha)
1.2. SO: de comportamento da terapeuta ou terceiros
Cliente solicita comportamento específico da terapeuta ou de terceiros (aqui incluindo-se
personagens da atividade lúdica) ou comportamento a ser emitido por ambos terapeuta e cliente .
? Exemplo 1
T: Se eu fiz dezesseis, e você fez dezesseis, não empatamos?
C: Sim. Agora é você quem joga, tá?
? Exemplo 2
C: Eu vou desenhar... Adivinha o quê?
T: Você?
C: Não.
(...)
T: E eu vou desenhar...
C: Ah, dicaaaaa!!! (Criança está pedindo que T dê um indício)
? Exemplo 3
C: Ei, mocinha (fala para a boneca), você pode guardar o meu dinheiro aí? Obrigado!
? Exemplo 4
C: Dezesseis. Vamos contar de novo.
T: A gente já contou, [cliente]...
C: Então empatou.
1.3. SO: de informação
Inclui pedidos de informações diversas, (por exemplo, sobre o funcionamento da terapia,
jogos, opinião do terapeuta e assim por diante) e perguntas pessoais possivelmente indicativas de
interesse na figura do terapeuta.
? Exemplo 1
C: Tá certo [o desenho]? (solicita opinião do terapeuta)
71
T: Tá. Esse é o peixe-pai.
? Exemplo 2
C: Tem outro “E”? (solicita informação)
T: Vamos procurar...
? Exemplo 3
T: E depois é o “I”, você conhece?
C: Esse aqui? (solicita confirmação do terapeuta)
T: Não, o “I”... tem no seu nome...
C: Ah, esse daqui!!!
? Exemplo 4
C: Outro dia meu pai me deu uma surra (ri).
T: Nossa e você fala assim tão natural? Não dói?
C: Dói, você já apanhou?
T: Já, quando eu era pequena.
OBS.: Nos casos como o do Exemplo 4, o terapeuta deve decidir o quanto pode se expor
(auto-revelação) e o que pode responder, dependendo de qual pergunta foi feita.
1.4. SO: de negociação
Inclui pedidos da criança para alterar uma regra ou combinado prévio e é um indicador
importante sobre a forma como ela lida com algumas situações problema (se tenta negociar por
meio de argumentos que convençam o terapeuta ou se procura obter o que deseja por meio de birras
e choramingos) bem como sobre sua persistência e flexibilidade na negociação (se desiste
facilmente ou se insiste até chegar a um acordo aceitável).
? Exemplo
T: Vamos jogar outra coisa quando acabar isso aqui?
C: Sim, quando chegar no 11.
T: No 11? Mas aí vai ter passado muito tempo, [cliente].
C: Então quando chegar no 10.
T: No 10 é muito tempo, vamos pegar um número menorzinho?
C: Então quando chegar no 8.
T: Certo, então quem fizer 8 pontos primeiro ganha e mudamos a brincadeira.
2. Relato (Cliente relata fatos passados ou presentes)
72
Verbalizações nas quais o cliente descreve ou informa ao terapeuta a ocorrência de eventos,
ou aspectos relativos a eventos, sem estabelecer relações causais ou funcionais entre eles e
sem descrever ou demonstrar nenhum tipo de avaliação, opinião ou sentimento. (Zamignani,
2006, em elaboração).
A categoria Relato desempenha um papel importante na TACI, pois abrange um conjunto de
verbalizações pertinente às atividades de brincadeiras e jogos. As subcategorias foram elaboradas
de forma a contemplar esta especificidade e também a diferenciar os relatos do cliente segundo o
quanto eles podem ser representativos do envolvimento deste com a brincadeira, o terapeuta e/ou o
processo de atendimento. Foram construídas as seguintes subcategorias:
2.1. RE: Responde qualquer coisa / “não sei” / impulsivo
2.2. RE: Curto e/ou monossilábico
2.3. RE: Informação
2.4. RE: Narrativa curta ou leitura
2.5. RE: Descrições / pensando
2.6. RE: Exclamativo / humor
2.7. RE: Estendido e/ou espontâneo
2.1. RE: Responde qualquer coisa / “não sei” / impulsivo
Cliente responde com verbalizações que apresentam os seguintes problemas referentes ao
conteúdo ou forma: (a) responder de imediato (impulsivamente), sem atentar para o significado da
solicitação feita pelo terapeuta; (b) responder com informações equivocadas ou (c) responder
“qualquer coisa” ou dizer que não sabe, exceto quando está se opondo à tarefa (o que será
classificado como Oposição):
? Exemplo 1
T: Agora pega o “V”.
C: Esse? (pegando qualquer peça)
? Exemplo 2
T: (coloca a última letra no nome do cliente) Vamos ler?
73
C: Hum-hum (começa a “ler”, em voz alta, o seu próprio nome e sobrenome, mostrando com
o dedo as palavras escritas que supostamente estaria lendo)...
T: Não, eu ainda não escrevi o seu sobrenome...
? Exemplo 3
T: E se sua mãe descobrir, o que acontece? Ou não acontece nada?
C: Não sei!
T: Já aconteceu outra vez? O que ela faz?
C: Ela fala pra eu não pegar!
2.2. RE: Curto e/ou monossilábico
Cliente responde com verbalizações mínimas, monossílabos ou gestos como acenos de
cabeça, que não contemplam toda a informação solicitada ou não se caracterizam por uma frase
completa. Os relatos curtos são importantes de serem diferenciados porque contribuem para um
diálogo pouco fluente, podendo ser decorrentes de perguntas fechadas do terapeuta (que requerem
apenas respostas “sim” / “não”), mas também podendo implicar em outros fatores, tais quais: (a) o
cliente está pouco à vontade com o tema, o terapeuta ou o atendimento; (b) o cliente tem
dificuldades para se expressar utilizando frases mais longas.
? Exemplo
T: Faz tempo que vocês chegaram?
C: Hã-hã.
T: De manhã?
C: Hum-hum (negativa)
2.3. RE: Informação
Cliente responde com verbalizações que contemplam toda a informação solicitada e/ou
constituem uma frase completa.
? Exemplo
T: E que cor é [o seu carrinho]?
C: Azul, roxo, verde, amarelo...
T: Ahn, da cor desse então!
C: Vermelho... e azul claro.
2.4. RE: Narrativa curta ou leitura
74
Cliente responde com verbalizações que são próprias do andamento do jogo ou brincadeira,
por exemplo, nomeando cartões de jogo, lendo o tabuleiro, falando o número da roleta, indicando
de quem é a vez de jogar e assim por diante.
? Exemplo 1: Terapeuta e cliente estão falando os nomes dos objetos desenhados nos
cartões do jogo:
T: Escova... (achei) Goiaba? Ih até eu pensar você já colocou!
C: Limão.. não... morango.
T: Leite...
C: Alface.
? Exemplo 2: Cliente gira a roleta e fala os números enquanto movimenta seu peão. No
final, lê o que está escrito na casa em que o peão caiu.
C: (gira a roleta) Deu oito. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito. “Nasceram gêmeos,
receba os presentes!”
T: Legal, você vai querer dois meninos, duas meninas ou um casal?
2.5. RE: Exclamativo / humor
Cliente responde com verbalização que se diferencia em termos da entonação exclamativa,
humor ou risos, que podem ser tomados como um indicador de seu envolvimento com a atividade, o
terapeuta e/ou o atendimento. Esta subcategoria também ocorre para outras categorias do cliente,
como o Relato Qualificativo e a Concordância, que serão descritas mais adiante.
? Exemplo 1
T: Como o seu pai comemora quando tem gol?
C: Assim: Goooooooooooooooool!!!
? Exemplo 2
C: Golaço! Ou não foi?
T: Foi, foi sim!
C: Vou fazer um de cabeça. Hahaha... é que a perna da mesa também quer jogar, né? (bola
caiu para fora)
2.6. RE: Estendido / espontâneo
Cliente apresenta relato que inclui informações não solicitadas sobre eventos ou pessoas.
? Exemplo
75
T: Era vira-lata [seu cachorro]?
C: Era, meu pai achou aqui na USP, e levou lá pra casa.
2.7. RE: Descrição / Pensamento
Cliente descreve (espontaneamente ou sob solicitação) seu próprio comportamento, o que
inclui também a descrição de pensamento. É bastante freqüente em brincadeiras não estruturadas,
nas quais o cliente interpreta bonecos, fantoches e desenhos. Nesse sentido, a descrição pode
ocorrer tanto na terceira pessoa (cliente relatando o que os personagens estão fazendo ou pensando)
como em primeira pessoa (cliente imitando a fala dos bonecos). Exemplos:
? Exemplo 1
T: E esse na mesa, o que ele vai fazer aí?
C: Ele vai cair, e o vô vai correr pra buscar ele.
? Exemplo 2
T: E o peixe, quer o quê?
C: Ele não quer que seja comido..... Picaaaaaaaaa...... chu........... ai, terminei.
? Exemplo 3
T: Não sabe [o meu nome]? Quer adivinhar?
C: Vou pensar... (relato de pensamento)
3. Relato Qualificativo (Cliente relata sua opinião, julgamento ou sentimento com relação a
eventos)
Verbalizações nas quais o cliente relata eventos ao terapeuta de forma que inclui sua
opinião, julgamento ou sentimento sobre tais eventos, desde que tal relato não
contenha relações explicativas ou causais. (Zamignani, 2006, em elaboração).
Na TACI, muitas vezes a criança não relata a opinião ou sentimento sobre um evento mas,
ao invés disso, relata o evento de forma qualificativa por meio da entonação de risos e humor que
dá ao relato. Conforme os qualificativos encontrados, podem ser identificadas as seguintes
subcategorias:
3.1. RQ: Competição
3.2. RQ: Sentimento
76
3.3. RQ: Exclamação / Humor
3.4. RQ: Estendido e/ou espontâneo
3.1. RQ: Competição
Cliente apresenta opinião ou julgamento que expressam competição em jogos e brincadeiras.
? Exemplo
T: Anel... achei...
C: Eu vou ganhar...
T: Mas como você vai contar os pontos?
3.2. RQ: Sentimento
Cliente relata sentimentos (raiva, alegria, tristeza), associados ou não a eventos ou pessoas
(personagens da brincadeira, o próprio terapeuta ou outras pessoas).
? Exemplo 1
T: Não? Tá feliz? (pergunta sobre o personagem do desenho da criança)
C: Tá bravo!!
T: Ah, tá mesmo, tá até mostrando os dentes, olha...
? Exemplo 2
T: Qual sentimento você gosta mais?
C: Esse aqui (aponta para “raiva”).
? Exemplo 3
T: Vou fazer [a forca] de um sentimento que eu acho que você está hoje.
C: Feliz!!! Acertei?
T: Hahaha... sem comentários! (cliente acertou)
3.3. RQ: Exclamação / Humor
Cliente apresenta opinião ou julgamento em tom exclamativo, expressando humor, ou com
risos que sugerem sentimentos associados ao relato.
? Exemplo 1
C: (Joga as varetas e elas se espalham demais). Aaaahnnn... (expressão de desapontamento)
T: Não pode assim?
C: Não.
77
? Exemplo 2
T: ...a gente pode continuar esse jogo na semana que vem.
C: Oba!!! (expressão de satisfação)
3.4. RQ: Estendido / espontâneo
Cliente apresenta opinião ou julgamento, não solicitados, sobre eventos ou pessoas.
? Exemplo 1
C: Matemática eu não gosto.
T: Mas vai bem?
C: Eu tiro de seis pra baixo... eu não consigo tirar mais que sete em matemática. (estendido)
? Exemplo 2
T: O meu jogador (de pebolim) é o Rogério. Opa agora eu faço hein... mais pra cá... com
calma e...
C: Uhhhh (não fiz o gol). É, o Ronaldinho Gaúcho é bom. Ai, vai vai vai!!! Mais um
pouquinho e eu faço um gol... (espontâneo)
4. Melhora (Cliente relata melhora ou progresso terapêutico)
Verbalizações nas quais o cliente relata mudanças ou melhora com relação à queixa clínica,
a problemas médicos, a comportamentos relacionados à sua queixa, ou a comportamentos
considerados, pelo cliente ou pelo terapeuta, como indesejáveis ou inadequados
(independentemente da concordância de ambos quanto à melhora). . (Zamignani, 2006, em
elaboração).
Não foram aqui construídas subcategorias devido à ausência de verbalizações de melhora
nas sessões analisadas. É provável que esta categoria seja mais freqüente em estágios mais
avançados de terapia e também em terapia de adultos. Estudos futuros poderão testar tais hipóteses
e verificar a necessidade da criação de subcategorias.
5. Explicação (Cliente descreve relações explicativas ou causais entre eventos)
Verbalizações nas quais o cliente descreve ou deixa implícito, fazendo ou não uso de
metáforas ou analogias: (1) relações explicativas ou causais - relações do tipo "se... então”;
(2) relações de contigüidade - relações temporais entre eventos sem explicitar caráter
causal; (3) sínteses ou conclusões formuladas sobre seu comportamento ou sobre outros
eventos, independentemente da concordância do terapeuta; (4) padrões de comportamento
do cliente ou de terceiros. (Zamignani, 2006, em elaboração).
78
As explicações, em terapia infantil, dizem respeito tanto ao próprio comportamento do
cliente, como também de terceiros e de personagens das brincadeiras. As subcategorias são:
5.1. EX: Equivocada / mentira
5.2. EX: Correta
5.1. EX: Equivocada / mentira
Cliente verbaliza uma relação entre eventos que é claramente equivocada ou que distorce,
dissimula ou mascara evento conhecido pelo terapeuta. Para que a verbalização seja classificada
nesta subcategoria, o observador deve ter informações que indiquem a não correspondência da
explicação dada com o fato ocorrido.
? Exemplo
T: O que ela [mãe] fala quando ela fica nervosa?
C: Ela dá bronca. (...) Ela fala: “[irmã da criança], pára!!!” (criança imita a mãe dando
bronca na irmã dele).
T: E pra você o que ela fala, [cliente]?
C: Pra mim ela não fala nada, por causa que eu não acordo ela... (terapeuta tinha
informações de que a criança também acordava sua mãe)
5.1. EX: Correta
Cliente verbaliza uma explicação plausível a respeito da relação entre eventos.
? Exemplo
T: Cenoura? Cenoura você come?
C: Eu como por que se eu não comer minha mãe não me deixa comer o danone.
6. Metas (Cliente formula metas)
Verbalizações nas quais o cliente descreve comportamentos, estados ou situações que ele
gostaria de atingir com a ajuda do terapeuta. (...) Verbalizações nas quais o cliente
contribui com planos para mudar sua estratégia de ação por conta própria. (...)
Verbalizações nas quais o cliente propõe ações futuras (solicitadas ou não pelo terapeuta)
para a solução de problemas específicos. Zamignani (2006, em elaboração).
79
Não foram elaboradas subcategorias para Metas, devido à baixa freqüência de ocorrência
nas sessões analisadas. As verbalizações classificadas como Metas diziam respeito a atividades que
a criança planejava realizar em sessões posteriores. Nesta categoria, portanto, classifica-se as
verbalizações como ME: (sem subcategoria).
? Exemplo
T: Aqui é igual à escola, não abre de fim de semana.
C: Quando eu voltar quero brincar daquilo ali.
7. Concordância (Cliente relata concordância ou confiança na terapia e/ou no terapeuta)
Verbalizações nas quais o cliente expressa julgamento ou avaliação favorável a respeito de
sugestões, análises ou afirmações emitidas pelo terapeuta, sejam estas imediatamente
antecedentes ou não. (Zamignani, 2006, em elaboração).
Na TACI, a concordância pode ser também não verbal, expressa por meio de seguimento de
solicitações, acatamento de regras ou mesmo por meio de expressões verbais mínimas
(verbalizações monossilábicas, risos etc.). Assim, as subcategorias de concordância identificadas
nas sessões analisadas foram:
7.1. CO: Curta e/ou monossilábica
7.2. CO: Agradecimento
7.3. CO: Aprova terapeuta
7.4. CO: Seguimento
7.5. CO: Exclamação / Humor
7.6. CO: Repetição e/ou imitação
7.1. CO: Curta / Monossilábica
A concordância se expressa de forma monossilábica (“Sim”; “É”, “Ok” etc) ou por meio de
gestos que indicam concordância, como um aceno de cabeça significado um “sim”. Esta categoria
geralmente ocorre após um pedido de mera confirmação por parte do terapeuta e a análise destas
80
verbalizações pode dar pistas sobre como o cliente reage a solicitações: se ele concorda
prontamente, se concorda de forma contrariada ou pouco à vontade etc.
? Exemplo
T: Do que você quer brincar, vamos brincar um pouquinho?
C: Hum-hum. (neste caso, outros sinais não verbais indicam que o cliente estava ainda
pouco à vontade na sessão)
7.2. CO: Agradecimento
A concordância se expressa por meio de agradecimento, tanto no plano do diálogo com o
terapeuta como em atividades lúdicas nas quais o cliente está interpretando um personagem.
? Exemplo
T: Pode fazer por $50? $50 eu tenho... (dá o “dinheiro” imaginário para a criança)
C: Obrigado.
T: De nada!
Se a expressão de agradecimento fizer parte de um procedimento planejado pelo terapeuta
para fins específicos (como o ensino um repertório de comportamentos de civilidade, por exemplo),
classifica-se essa expressão em outra subclasse mais apropriada segundo os critérios definidos
anteriormente (por exemplo, Seguimento ou Imitação)
7.3. CO: Aprovação / Elogio
A concordância se expressa por meio de ações ou verbalizações indicativas de aprovação ou
elogio ao terapeuta, a personagens da brincadeira ou a outras pessoas.
? Exemplo
T: De que cor você quer que eu desenhe a Minnie?
C: De amarelo no vestido. Ê, você sabe desenhar, hein!
T: Obrigada! E eu vou escrever aqui: “Para Mauro” (escreve o nome do cliente)
7.4. CO: Seguimento
A concordância se expressa, aqui, por meio de ações ou verbalizações que representam a
execução das atividades solicitadas ou recomendadas pelo terapeuta, dentro da própria sessão.
81
? Exemplo 1
T: Você acha que já foram todas as vogais? (Terapeuta dá uma dica)
C: “O” (cliente segue a dica)
? Exemplo 2
T: Eu falo um sentimento e você fala outro. “Medo”.
C: “Arrepio”.
? Exemplo 3
T: Uuuu... o pneu desse carrinho tá furado... olha... olha aqui... (“furado” no plano da
fantasia)
C: (Olha o pneu)
T: “O meu pneu furou, tem como você consertar para mim?”
C: (Faz que sim com a cabeça e coloca o carro sobre o caminhão).
7.5. CO: Exclamação / Humor
A concordância se expressa por meio de verbalizações em tom exclamativo ou bem-
humorado, ou mesmo somente por meio de risos.
? Exemplo 1
T: Aqui tem uma coisa que você gosta muito! (pega um cartão com o desenho de batatas-
fritas)
C: Hahahaha....
? Exemplo 2
T: Você fez gol contra???
C: Hahaha... foi sem querer!!!
7.6. CO: Repetição / Imitação
A concordância se expressa por meio de repetição ou imitação (solicitada ou espontânea) de
ações ou verbalizações do terapeuta. A imitação é particularmente importante nesta subclasse, pois
pode fazer parte de procedimentos de modelação.
? Exemplo 1
T: Escolha algum lugar da sala para você jogar as suas balas.
C: (fica quieto)
T: (joga as balas dela)
C: (imitando, joga as balas dele)
82
? Exemplo 2
T: Esse jogador já tá precisando ser substituído!
C: É, tá cansado. (frase dita pela terapeuta momentos antes)
8. Oposição (Cliente recusa ou reprova ações ou avaliações do terapeuta ou discorda do
terapeuta)
Verbalizações nas quais o cliente expressa discordância, julgamento ou avaliação
desfavorável a respeito de afirmações, sugestões, análises ou outros comportamentos
emitidos pelo terapeuta. Os comportamentos (verbais ou não-verbais) do terapeuta que são
foco da reprovação ou discordância por parte do cliente podem ter sido solicitados por este
(por ex: quando o cliente pede um conselho) ou não. (Zamignani, 2006, em elaboração).
A oposição na TACI é expressa de diversas formas, que variam desde a discordância de
opiniões até a crítica e o desafio, conforme as subcategorias elencadas a seguir.
8.1. OP: Discordância
8.2. OP: Recusa
8.3. OP: Insistência
8.4. OP: Crítica
8.5. OP: Desafiadora
81. OP: Discordância
Cliente expressa oposição por meio de ações ou verbalizações que representam um
posicionamento contrário ao do terapeuta ou de personagem por ele interpretado. A discordância
pode ocorrer seguida ou não de argumentos que a expliquem.
? Exemplo
T: Também é bom empatar, né.
C: Às vezes é bom ganhar, né.
8.2. OP: Recusa
83
Cliente expressa oposição por meio de ações ou verbalizações contrárias ao atendimento de
uma solicitação do terapeuta ou de personagem por ele representado. A recusa pode ocorrer sob
diferentes formas:
(a) Cliente declara que não vai seguir a solicitação do terapeuta:
? Exemplo 1
T: Tá aqui o papel, faz uma bolinha.
C: Ahn, eu não sei... Eu sei... mas eu não quero!
? Exemplo 2
T: Ué, mas é assim a regra?
C: Eu não gosto de regra.
(b) Cliente permanece em silêncio após uma solicitação ou recomendação (exceto quando
este silêncio é um indicativo de que ele está refletindo para responder)
? Exemplo 3
T: E que cor [são os seus carrinhos], como eles são?
C: (silêncio)
(c) Cliente responde rapidamente “qualquer coisa”, na tentativa de livrar-se da solicitação do
terapeuta ou encerrar o diálogo ou a atividade:
? Exemplo 4
T: De que você gosta de conversar?
C: De nada.
? Exemplo 5
T: Não, [o troco] é mais... 50 menos 20...
C: (Dá uma nota de 300)
T: Essa é de 300! Vai me dar isso????
C: Ah, pode ser...
OBS.: Aqui, a última verbalização do cliente, quando questionado sobre o valor da nota,
confirma que ele deu qualquer resposta (ao invés de fazer o cálculo e apresentar a resposta correta),
possivelmente como tentativa de se livrar da tarefa solicitada.
84
(d) Cliente desiste da atividade em curso:
? Exemplo 6
C: ...Ai, eu não sei essa... desisto... (joga o cartão)
8.3. OP: Crítica
Cliente expressa oposição por meio de avaliação desfavorável ao terapeuta ou a um
comportamento seu específico.
? Exemplo
T: (faz um desenho)
C: Eita, mas que menino cabeçudo que você fez!
8.4. OP: Desafiadora
Cliente expressa oposição por meio de ações ou verbalizações que confrontam o terapeuta,
as regras da terapia ou dos jogos. Uma ação ou verbalização somente é classificada como Oposição
quando está é evidente que o cliente tinha conhecimento de tais regras. Detalhes não-verbais, como
a maneira de olhar e os gestos, também contribuem para caracterizar essa subcategoria, que é mais
comum em crianças com queixa de comportamento opositor.
? Exemplo 1
T: [o jogo está] quatro a quatro.
C: Eu vou deixar a bola aqui (no lugar errado, de propósito, olhando para a terapeuta com
um meio sorriso).
T: Ué, mas é assim a regra?
C: Eu não gosto de regra.
? Exemplo 2
C: É a sua vez [de jogar].
T: Não, é a sua... eu fui antes, lembra?
C: Tá (coloca a bola, mas no lugar errado, deixando-a mais longe do gol dele e assim
tentando trapacear).
OBS.: Neste segundo exemplo, mais sutil, a verbalização do cliente expressa concordância
com o terapeuta mas seu comportamento não verbal contraria isso, demonstrando oposição.
85
8.5. OP: Insistência
Cliente expressa oposição por meio da repetição, continuada ou de apelo sentimental
(sedutor), de uma solicitação de algo que já estava estabelecido como não sendo possível de ocorrer
como, por exemplo: estender o horário da sessão, burlar as regras de um jogo, levar brinquedos
embora da clínica para casa etc. Muitas vezes, as ações e verbalizações classificadas como OP
Insistência se assemelham a birras.
? Exemplo 1
C: (Coloca a bola do Pebolim no lugar errado de propósito)
T: Ei, porque aí? (recoloca a bola no lugar correto)
C: Ah, deeeeeeeeixa!!!
? Exemplo 2
T: Você não tinha dado o branco para mim? Quando se dá, não pode pegar de volta assim...
C: Deixa vai, eu me arrependi, estou com muita saudade dele...
Comportamentos queixa e comportamentos de melhora
Além da categorização dos comportamentos do cliente, segundo o sistema de categorias de
Zamignani (2006, em elaboração), foi feita uma diferenciação da ocorrência de comportamentos
associados à queixa e de comportamentos associados à melhora, segundo a análise do terapeuta,
descrita no Questionário de Objetivos Terapêuticos. Esses comportamentos são específicos para
cada cliente e podem também mudar ao longo da própria terapia.
Comportamentos Queixa (CQ)
Consistem nos comportamentos ou relatos de comportamentos definidos pelo terapeuta
como problemáticos e associados às queixas que o levaram à terapia. No caso de Mauro, por
exemplo, a terapeuta elencou os seguintes comportamentos-queixa: (a) comportamento opositor; (b)
déficit de expressão de sentimento positivo; (c) competitividade; (d) impulsividade. Portanto, as
ações ou verbalizações do cliente podem ser classificadas também em uma destas quatro
possibilidades, sempre que ocorrerem. Alguns exemplos:
86
C: Eu vou ganhar... eu sou o melhor... ? CQ-c (comportamento-queixa de competitividade)
T: Como você vai contar os pontos?
C: Minha mãe falou que se eu não comesse cenoura eu não podia comer o danone.
T: E aí, o que você fez?
C: Eu peguei escondido... hehehe... ? CQ-a (comportamento-queixa de oposição)
Comportamentos de Melhora (CM)
Consistem nos comportamentos ou relatos de comportamentos definidos pelo terapeuta
como opostos ou alternativos aos comportamentos queixa. São normalmente incompatíveis com
estes e fazem parte do repertório de comportamentos que o terapeuta objetiva instalar. No mesmo
caso (de Mauro), a terapeuta elencou os seguintes comportamentos de melhora, que o cliente
deveria apresentar diante das situações em que manifestava os Comportamentos-Queixa: (a)
colaboração; (b) expressão de sentimento positivo; (c) espírito esportivo; (d) autocontrole /
ponderação. Alguns exemplos:
T: Nessa brincadeira eu vou amarrar você e depois me amarro. É difícil porque você não
pode me ajudar... (brincadeira que envolve cooperação para obtenção de balas)
C: Eu posso! ? CM-a (comportamento de melhora, de colaboração)
T: Pode? Então ajuda!
T: Ah, você não ama ninguém?
C: Meu pai, minha mãe e minha irmã! ? CM-b (comportamento de melhora, de expressão
de sentimento positivo)
T: Ah bom, então essa é a resposta, você acertou!
Descrição das categorias do Brincar
A seguir, são definidas e exemplificadas cada uma das configurações de interação terapeuta-
cliente em função do brincar, com exemplos ilustrativos retirados das sessões analisadas. Interações
lúdicas foram definidas como as interações terapeuta-cliente que envolvem o uso de jogos,
brinquedos ou brincadeiras.
1. Brincadeira-Lúdico
87
Episódios verbais de interação lúdica, com conteúdo restrito às falas próprias do brinquedo,
brincadeira ou jogo. As falas incluídas nessa categoria podem se referir à leitura do jogo, execução
da atividade definida pelo jogo, comentários sobre o andamento da brincadeira, e assim por diante.
Critérios de inclusão: (a) a interação deve ser lúdica.
Critérios de exclusão: (a) a ação ou verbalização não apresenta conteúdo de fantasia; (b) a
ação ou verbalização não se refere ao cotidiano da criança.
? Exemplo 1: Terapeuta e criança estão iniciando brincadeira com pebolim e estabelecendo
acordos sobre as regras do jogo.
T: Tem que passar a bola inteirinha?
C: Não, ué, é só passar da linha...
? Exemplo 2: Em um jogo de Mímica, a criança faz a mímica de um sentimento para
terapeuta adivinhar:
T: É com Z? Zangado?
C: Quase, quase, quase!!!
T: Zanga?
C: Acertou!
? Exemplo 3: Em uma atividade de desenho, terapeuta e cliente estão conversando sobre os
próprios desenhos:
T: Vamos fazer nós dois sobre coisas do mar? Eu vou fazer um peixe.
C: E eu vou fazer um tubarão.
T: Faz, eu quero ver.
C: Eu não sei se vai ficar bom...
T: Não tem problema se não ficar perfeito, viu.
2. Fantasia-Lúdico
Episódios verbais de interação lúdica, com conteúdo de fantasia. Entende-se por fantasia, as
ações ou verbalizações que extrapolam os limites físicos do brinquedo, brincadeira ou jogo, por
meio de representação de papéis, imaginação, simulação, faz-de-conta etc. As falas incluídas nessa
categoria podem se referir a: animismo a objetos, elaboração de estórias, incorporação de
personagens, desempenho de papéis etc.
88
Critérios de inclusão: (a) a interação deve ser lúdica; (b) a ação ou verbalização deve
apresentar conteúdo de fantasia.
Critérios de exclusão: (a) a ação ou verbalização não deve se referir ao cotidiano da
criança.
? Exemplo 1: Em um jogo de Pebolim, terapeuta e cliente inventam nomes para os times e
narram o jogo:
T: Nossa! Corinthians recupera e já está com 6 gooools!!!
C: E São Paulo... dois goools!
? Exemplo 2: Em uma brincadeira com bonecos, cliente e terapeuta vão descrevendo as
“ações” dos bonecos e falando em primeira pessoa, interpretando-os:
C: Elas [bonecas] estavam fofocando sobre o vovô.
T: Ah então o vovô tem que fazer alguma coisa. E agora, como é que fica?
C: (Criança imita o “vovô” brigando): “Pede desculpa!”
T: “Desculpa, a gente não vai mais fazer isso”.
C: “Ta bom”.
? Exemplo 3: Em uma atividade de desenho, terapeuta direciona cliente a inferir os
sentimentos e comportamentos do personagem desenhado:
T: O que ele ta sentindo?
C: Muito nervoso. Ele vai tacar raio no inimigo...
T: E depois que ele ataca?
C: Aí ele fica correndo rápido... (corre)
3. Cotidiano-Lúdico
Episódios verbais de interação lúdica, cujo tema, ainda que pertinente ao brinquedo, jogo ou
brincadeira, é direcionado para a obtenção de relatos sobre o cotidiano da criança. As falas incluídas
nessa categoria referem-se a associações entre, por exemplo, brincar de escolinha e conversar sobre
a professora ou o desempenho escolar da criança; brincar com “família de bonecos” e
comportamentos dos familiares em relação à criança; brincar com um jogo qualquer e questionar
com qual coleguinha a criança joga esse jogo.
89
Critérios de inclusão: (a) a interação deve ser lúdica; (b) a ação ou verbalização deve se
referir ao cotidiano da criança e estar associada ao tema do brinquedo, brincadeira ou jogo em
curso.
OBS.: Esta categoria tem prioridade de classificação sobre as duas anteriores.
? Exemplo 1: Em um jogo de mímica de sentimentos, terapeuta leva a criança a verbalizar
situações do cotidiano que estejam associadas ao sentimento expresso:
T: Putz, dá outra dica.
C: Quando não deixam a gente fazer nada, e a gente quer fazer. Aí a gente fica assim.
T: De castigo?
C: Não...
? Exemplo 2: Terapeuta e criança estão brincando com bonecos. Criança começa a “encenar”
a boneca-mãe gritando com os filhos e terapeuta busca confirmar suposição de que isso
ocorre na casa da criança.
C: Hum-hum! Olha o nenê ta chorando.... “Unhe, unhe, unhe!!!!” “Pára de chorar,
ouviu??? Tem gente que quer dormir aqui!!!”
T: Eita, agora ela fez igual à sua mãe dormindo, não fez?
C: “Unhe, unhe”... (fala ininteligível) “Ah, socorro, eu vou cair!!!!!” Morreu. “Eu vou te
salvar, lá vai eu!!!!!! Iáaaaaaaa, socorro!!!!”
? Exemplo 3: Terapeuta e criança estão brincando de futebol com o Pebolim e Terapeuta
pergunta sobre preferência por times de futebol, dela e de seus familiares.
T: Você torce para que time?
C: Corinthians.
T: E você assiste jogo do Corinthians com quem?
C: Com meu pai (...) Minha mãe não torce pra nada.
4. Cotidiano Extra-Lúdico
Episódios de interação lúdica, onde as duas atividades (brincar e conversar) estão apenas
temporalmente relacionadas, mas independentes: o brincar é ação (geralmente motora) que ocorre
paralelamente à uma interação verbal sobre diferentes temas não pertinentes ao jogo, brinquedo ou
brincadeira. As falas incluídas nessa categoria referem-se, por exemplo, conversar sobre escola
enquanto se brinca de modelar argila; conversar sobre família enquanto de colore um desenho não
associado a família; conversar sobre atividades da semana durante o jogo de damas.
90
Critérios de inclusão: (a) a interação deve ser lúdica; (b) a ação ou verbalização deve se
referir ao cotidiano da criança, mas não estar associada ao tema do brinquedo, brincadeira ou jogo
em curso.
? Exemplo 1. Terapeuta e cliente estão jogando Pebolim e Terapeuta direciona a conversa
sobre o pai deste. O assunto não tem nenhuma relação com o jogo:
T: E ele bate como?
C: Ele pega o cinto. Outro dia ele me deu uma surra! (ri um pouco)
T: Ave! E você fala isso desse jeito, tão natural? Não dói?
C: Dói! Você já apanhou?
? Exemplo 2. Na seqüência de interação, a presente categoria aparece alternada com
verbalizações classificadas em outras, conforme indicado:
T: Qualquer pouquinho da bola que passar pela linha é gol então hein. (Brincadeira-
Lúdico) Com quem você falou que você joga? (Cotidiano-Lúdico)
C: Ah, com o V. Mas ele não mora na minha casa. Ele mora bem longe da minha casa, aí eu
vou de carro. A gente briga mas depois faz as pazes.
T: Quando vocês se vêem? (Cotidiano Extra-lúdico)
C: Nos sábados, domingos e feriados.
T: E ele também gosta de jogar? (volta para Cotidiano-Lúdico)
C: É. Gol! (Lúdico-Brincadeira)
5. Brincadeira Não-Lúdico
Episódios verbais de interação não lúdica, com conteúdo referente a brinquedo, brincadeira
ou jogo. As falas incluídas nessa categoria podem se referir a: comentários sobre brincadeira já
encerrada; planejamento de brincadeiras posteriores; comentários sobre os brinquedos da sala;
relatos sobre brincadeiras do cotidiano da criança.
Critérios de inclusão: (a) a interação deve ser não-lúdica; (b) a ação ou verbalização deve
apresentar conteúdo referente a brinquedo, brincadeira ou jogo.
? Exemplo 1: Terapeuta e cliente encerraram uma brincadeira sobre sentimentos, e começam
a falar sobre ela:
T: Olha só quanto sentimento que a gente descobriu hoje??? “Tristeza”....
C: “Triste”; “Raiva”...
T: “Alegria”... e esse grandão...
C: “Paciência”.
91
? Exemplo 2: Terapeuta e cliente estão escolhendo a última brincadeira da sessão:
C: E agora? Dá pra faze mais alguma coisa?
T: Só se for bem rápido, tipo um desenho, por exemplo. Quer fazer?
? Exemplo 3: Terapeuta pergunta sobre brincadeiras do cliente em seu cotidiano:
T: Com quem você falou que você joga?
C: Ah, com o [amigo]. Mas ele não mora na minha casa. Ele mora bem longe da minha
casa, aí eu vou de carro. A gente briga mas depois faz as pazes.
6. Não-Lúdico
Episódios verbais de interação não-lúdica, com ações ou verbalizações referentes a
quaisquer temas exceto brinquedo, brincadeira ou jogo. As falas incluídas nessa categoria se
referem, por exemplo, a: apresentar-se, fornecer informações sobre a terapia, dialogar sobre o que a
criança está aprendendo na escola ou sobre a rotina da semana etc.
Critérios de inclusão: (a) a interação deve ser não lúdica.
Critério de exclusão: (a) a ação ou verbalização não deve apresentar conteúdo referente a
brinquedo, brincadeira ou jogo.
? Exemplo 1: Terapeuta e cliente estão se apresentando no início da terapia:
T: Você sabe como eu me chamo?
C: Não...
T: Eu sei o seu nome!
C: É [nome do cliente]!
? Exemplo 2: Terapeuta faz perguntas para cliente:
T: Você veio de manhã?
C: Não, de manhã eu fui pra escola.
? Exemplo 3: Terapeuta aborda assuntos relacionados à queixa:
T: O que o seu pai me disse foi que você conversa demais na escola...
C: É verdade...
Análise das sessões transcritas de terapia infantil
Com base no sistema construído no presente estudo, apresenta-se, agora, a análise de oito
sessões transcritas, do atendimento de dois clientes: Erik e Mauro (nomes fictícios). A apresentação
92
dos resultados está organizada com base em três grandes grupos de análise, dentro dos quais foram
elaboradas perguntas norteadoras, conforme já citado no Tratamento de Dados.
Pode-se observar que algumas subcategorias do terapeuta aparecem em várias categorias
construídas para este sistema e que podem ainda ser reagrupadas conforme sua possível função
enquanto procedimento ou parte de um procedimento típico da Análise do Comportamento. Além
disso, considerando-se a especificidade da TACI, procurou-se agrupar também as categorias que
poderiam ser consideradas específicas desse contexto de atendimento e, portanto, examinadas com
mais destaque. Tais agrupamentos, que constituem um eixo adicional de análise, utilizado no
presente trabalho, são apresentados, a seguir, na Tabela 5.
Tabela 5. Reagrupamento das subcategorias do terapeuta que pertencem a mais de uma categoria,
em subcategorias que sugerem procedimentos específicos e que poderiam ser consideradas típicas
de terapia infantil.
Tipo de agrupamento Subcategorias Pertencentes às seguintes
categorias:
1. Modelo EM, AP, IF, IP, RE
2. Extinção SR, ES, AP, IF, IP
Subcategorias do terapeuta
que sugerem procedimentos
específicos
3. Bloqueio de Esquiva SQ, RE
1. Desafio / Solução de
Problema
SR, SQ, RE e DI
2. Direcionamento / Dica SR, SQ, RE e DI
3. Estruturação de
Brincadeira
ES-Início / mudança /
término da brincadeira e ES-
Funcionamento da
brincadeira
4. Narrativa e leitura de jogo FA
5. Humor / Exclamação EM, AP, IF, DI
Subcategorias que poderiam
ser consideradas mais
pertinentes ou típicas de
terapia infantil
6. Descrição EM, AP, IF
Com relação aos comportamentos do cliente, também se examinou a possibilidade de um
agrupamento funcional em dois grandes grupos: (a) subcategorias de comportamentos que poderiam
contribuir para a qualidade imediata da relação terapêutica e (b) subcategorias que poderiam não
contribuir para a qualidade da relação. Do conjunto total das subcategorias do cliente, nove foram
incluídas no segundo grupo: 1. RE Qualquer / “não sei” / impulsivo; 2. RE Curto / monossilábico;
93
3. RQ Competitivo; 4. EX Equivocada / mentirosa; 5. OP Recusa; 6. OP Insistência; 7. OP Crítica;
8. OP Desafiadora; 9. Registro insuficiente.
A quantidade total e os tipos de unidades analisadas nas oito sessões de atendimento de Erik
e Mauro são apresentadas na Tabela 6, a seguir.
Tabela 6. Valores e porcentagens das unidades de análise nos atendimentos de Mauro e Erik.
Mauro Erik Total
Tipo de Unidade
N % N % N %
T-C 668 77,5% 417 78,5% 1085 77,8%
T 138 16% 69 13% 207 14,8
C 56 6,5% 45 8,5% 101 7,2
Total 862 100% 531 100% 1393 100%
As cinco primeiras sessões analisadas da terapia de Mauro totalizaram 862 unidades de
análise. As três primeiras sessões de Erik compõem-se de 531 episódios verbais. O total de
episódios verbais, das duas terapias, que formam os resultados que serão apresentados a seguir, é de
1393. As unidades formadas por um comportamento da terapeuta e um comportamento subseqüente
do cliente (T-C) totalizaram 668 (77,5%) no atendimento de Mauro e 417 (78,5%) no de Erik,
constituindo maioria nos dois atendimentos. As unidades formadas por apenas um comportamento
da terapeuta (T) totalizaram 138 (16%) no atendimento de Mauro e 69 (13%) no de Erik. As
unidades de análise formadas por apenas o comportamento do cliente (C) ocorreram 56 vezes
(6,5%) na terapia de Mauro e 45 (8,5%) na de Erik.
Resultados referentes às categorias e subcategorias do terapeuta:
(a) Quais os comportamentos mais freqüentes da terapeuta? Há mudança ao longo das sessões /
entre clientes?
Considerando a questão da freqüência dos comportamentos do terapeuta, e sua distribuição
ao longo das sessões, a Figura 2, a seguir, apresenta o percentual dos comportamentos da terapeuta,
para cada cliente, nas categorias gerais do sistema.
94
0
5
10
15
20
25
30
SR RE AP IF SQ ES DI FA EM IP
Categorias do terapeuta
Percentagem
Mauro
Erik
Média
Figura 2. Percentagem de verbalizações da terapeuta nas cinco sessões de Mauro (N=805) e de três
sessões de Erik (N=486), para cada Categoria do Terapeuta.
Na Figura 2, os valores do eixo Y representam a porcentagem de unidades de análise
categorizadas em cada Categoria do Terapeuta de modo que, para cada atendimento, a soma das
porcentagens de todas as categorias seja 100%.
Conforme mostra a Figura 2, houve maior porcentagem de verbalizações
7
de Solicitação de
Relato, independentemente de quem foi o cliente, totalizando 25,3% no atendimento de Erik e 22%
no de Mauro. Já as categorias de menor freqüência foram a Empatia e a Interpretação. Embora
houvessem freqüências semelhantes para Erik e Mauro em algumas categorias (principalmente
Discordância, Empatia e Solicitação de Relato Qualificativo), também houve diferenças
acentuadas: a terapeuta fez consideravelmente mais recomendações para Erik, enquanto que as
categorias de Facilitação e Estruturação foram mais freqüentes na terapia de Mauro.
A Figura 3 (a) e (b), a seguir, apresenta a distribuição da freqüência de verbalizações da
terapeuta, sessão a sessão, nos atendimentos de Mauro e de Erik:
7
Considera-se uma verbalização tudo o que o terapeuta disse ou fez dentro de uma unidade de análise.
95
(a)
(b)
Figura 3. Percentagem de verbalizações da terapeuta por categoria, ao longo das sessões de Mauro
(a) e Erik (b).
No eixo X dos gráficos (a) e (b), estão ordenadas as Categorias do Terapeuta, de acordo com
a percentagem de ocorrência na primeira sessão de Mauro (a) e na primeira sessão de Erik (b). Os
valores indicados nos gráficos representam a percentagem de ocorrência de verbalizações da
0
5
10
15
20
25
30
35
40
SR IF AP RE DI SQ ES FA EM IP
Categorias do Terapeuta
Percentagem
1a sessão
2a sessão
3a sessão
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
SR AP SQ FA RE ES IF DI EM IP
Categorias do Terapeuta
Percentagem
1a sessão
2a sessão
3a sessão
4a sessão
5a sessão
96
terapeuta em cada categoria, de modo que a soma das porcentagens seja igual a 100% em cada
sessão.
Antes de analisar os gráficos anteriores, convém fazer uma ressalva a respeito dos dados da
segunda sessão de Erik, que foi atípica devido a circunstâncias externas à terapia. Na semana
prevista para essa sessão, o cliente faltou. Quando a terapeuta entrou em contato com sua mãe,
soube que Erik havia visto seu avô esfaqueado na rua, devido a dívidas de jogo. A mãe estava
bastante abalada e, em supervisão, decidiu-se que mãe e filho participariam do início da sessão. Este
início não fez parte dos dados de análise, mas somente a segunda parte da sessão, de horário
reduzido (cerca de meia-hora). De todo modo, esse incidente pode ser percebido nas diferenças
existentes na segunda sessão em relação às demais, no atendimento de Erik: diminuição da
freqüência de Estruturações e Discordâncias, aumento de Solicitações de Relato e Relato
Qualificativo e, acima de tudo, grande aumento nas verbalizações de Empatia (8,8%; o quádruplo
em relação à primeira sessão). Esses dados apontam que é possível que os comportamentos da
terapeuta estivessem parcialmente sob controle do acontecimento com o avô de Erik.
Já com relação à terapia de Mauro, percebe-se uma constância na proporção de algumas
categorias e diminuição ou aumento da freqüência de outras. As diferenças encontradas,
especialmente entre a primeira sessão e as demais, indicaram que a primeira sessão teve
características distintas: acentuada Solicitação de Relato (38,2%); menor freqüência de
Discordância (4%) e baixa porcentagem de Informação (4,5%) e de Estruturação (6%).
A percentagem de solicitação de relato pode ser atribuída a aspectos específicos do início da
terapia, quando a terapeuta fez diversas perguntas com o propósito de conhecer o cliente (“Quem é
mais velho, você ou sua irmã?”; “Quantos anos você tem?”). Além disso, várias perguntas eram
feitas durante um jogo (“Lince”), tais quais: “Que raça era seu cachorro?”; “E doce, o que você
gosta?”. Pode-se inferir que tais perguntas, juntamente com a baixa freqüência de verbalizações de
Discordância, sejam uma estratégia da terapeuta na formação de vínculo com o cliente, o que é
97
coerente com um dos objetivos relatados pela mesma para o início da terapia, no Questionário de
Objetivos Terapêuticos.
Quanto à Estruturação, percebeu-se um aumento de sua freqüência nas duas sessões
seguintes. A análise do conteúdo indicou que grande parte destas verbalizações de Estruturação
ocorreu enquanto a terapeuta ensinava jogos novos. Na terceira sessão, por exemplo (de maior
freqüência de Estruturação, equivalente a 14,1%), a terapeuta ensinou o “Jogo da Vida”:
T: Não, é assim ó. Não deu 9? Então você só vai ler o que está na nona casa.(Estruturação)
C: (lê a nona casa): ‘Médico, salário de 50 mil, ande mais 6 casas’.
Na sessão seguinte (quarta), a Estruturação caiu para 11,8%, quando “Jogo da Vida” foi
repetido e Mauro já lembrava de algumas regras de seu funcionamento. Outras características das
verbalizações da terapeuta ao longo das sessões ainda serão abordadas posteriormente.
(b) Que tipos de comportamentos dos clientes seguem-se aos comportamentos da terapeuta?
Na análise dos comportamentos dos clientes que se seguem aos comportamentos da
terapeuta, as associações entre as categorias do terapeuta e do cliente são apresentados na Figura 4.
Afim de facilitar a apresentação dos dados, a Figura 4 é representada por duas peças que se
encaixam, nas quais, à esquerda, encontram-se as Categorias do Terapeuta e, à direita, as Categorias
do Cliente que as sucederam em maior freqüência..
Solicitação de Relato
Relato (M=151; E = 94)
Solicitação de Relato Qual. Relato Qualificativo (M = 34; E = 13)
Estruturação Concordância (M=19)
Facilitação Relato (M = 36)
Aprovação Relato (M=27; E=18)
Recomendação Concordância (M=36; E=34)
Informação Concordância (M=18); Relato (E=20)
Discordância Oposição (M=14); Relato (E=10)
Interpretação Relato (M=14); Concordância (E=3)
Empatia Relato (M=6; E=7); Relato Qual. (M=6);
Concordância (M = 6)
98
Figura 4. Associação entre comportamentos da terapeuta e comportamentos subseqüentes mais
freqüentes dos clientes (“M” para Mauro e “E” para Erik).
A análise da Figura 4 traz uma informação bastante interessante a respeito da interação entre
comportamentos da terapeuta e comportamentos subseqüentes dos clientes. Das dez categorias de
comportamentos do terapeuta, em metade delas houve concordância entre Mauro e Erik com
relação a qual foi a categoria de comportamentos do cliente predominante (categorias em itálico).
Pode-se demonstrar, a partir daí, uma relação do tipo “chave-fechadura” entre os dois eixos de
categorias do terapeuta e do cliente. Isso significa afirmar que, para algumas verbalizações do
terapeuta, há certos tipos de verbalizações do cliente mais prováveis de as sucederem. Assim, para a
grande maioria das verbalizações da terapeuta classificadas como Solicitação de Relato, seguem-se
Relatos dos clientes. Por outro lado, Recomendações da terapeuta produziram Concordância,
mesmo no caso de Mauro, que foi encaminhado à terapia principalmente por problemas de
comportamento-opositor. A Oposição de Mauro ocorreu, na verdade, em seguida principalmente de
Discordâncias da terapeuta. Esse dado dá indícios importantes a respeito de que tipos de
antecedentes “produziram” o comportamento-queixa nesse cliente.
Esse arranjo “chave-fechadura” é também um indício da consistência do sistema de
categorias. Ainda assim, há duas ressalvas a serem feitas sobre essa discussão. Primeiramente, de
que das cinco correlações salientadas em itálico na Figura 4, três delas envolvem Relato como
comportamento subseqüente dos clientes. De fato, a categoria Relato superou todas as outras
categorias em freqüência, totalizando cerca de 45% de todas as verbalizações dos dois clientes nas
sessões analisadas, o que indica que esta é uma categoria central. Essa informação levanta algumas
questões, a serem consideradas para atentar aos dados com cautela e também para investigações em
pesquisas futuras: a categoria Relato poderia ser desmembrada em categorias mais específicas,
evitando-se que ela abarcasse uma porcentagem tão grande de comportamentos dos clientes? Caso
isso acontecesse, ainda seria possível identificar a chave-fechadura para os comportamentos
antecedentes do terapeuta, de Empatia e de Aprovação, ou também para outros comportamentos?
99
Outra ressalva diz respeito à interação terapeuta-cliente no caso de Erik. Um dos problemas
desse cliente, extraído do Questionário de Objetivos Terapêuticos, era fonoaudiológico sua dicção
era de difícil compreensão. Nas três sessões analisadas, observou-se 16 verbalizações de Erik
classificadas como Registro Insuficiente principalmente devido a esse motivo, contra apenas uma
verbalização de Mauro que não foi compreendida, em cinco sessões. Pode-se supor que essa
característica tenha prejudicado o andamento dos diálogos durante as sessões, influenciando o tipo e
a incidência de categorias do terapeuta e também do cliente. Essa é uma questão que poderá ser
esclarecida a partir de novos estudos, em que se acumulem dados de mais clientes e terapeutas,
verificando-se quais são as verbalizações do cliente que se mantêm como mais freqüentes após as
verbalizações dos terapeutas. Outra questão relevante está na variável “idade” dos clientes, visto
que Erik era dois anos mais novo que Mauro e o diálogo com crianças muito novas pode ter
peculiaridades.
(c) Qual é a freqüência de subcategorias do terapeuta?
Com relação à freqüência de subcategorias do terapeuta, dada a quantidade delas (28), os
dados serão apresentados aqui de forma agrupada. A Figura 5, a seguir, apresenta a porcentagem
das subcategorias do terapeuta nos atendimentos de Mauro e Erik:
100
(a) 0,60
(b) 2,9
(c) 1
(d) 10,2
(e) 0,6
(f) 6,2
(g) 12,4
(h) 2,2
(i) 6,4
(j) 1,6
(k) 18,7
(l) 36,2
(l) 31,9
(k) 16
(j) 3,6
(i) 5,3
(h) 5,7
(g) 6,6
(f) 6,9
(e) 8
(d) 10,3
(c) 0,50
(a) 1,60
(b) 4,60
(a) Extinção (b) Modelo (c) Bloqueio de Esquiva
(d) Direcionamento (e) Narração / Leitura (f) Exclamação / humor
(g) Descrição (h) Estruturação da brincdeira (i) Contestação
(j) Desafio (k) SR Informação (l) Outros
Figura 5. Percentagem de subcategorias do terapeuta no atendimento de Mauro (a) e Erik (b).
Nos gráficos da Figura 5 anterior, as subcategorias baseadas em procedimentos
comportamentais estão representadas em pontilhados, totalizando 6,7% das verbalizações da
(b)
(a)
101
terapeuta no atendimento de Mauro e 4,5% no de Erik. As subcategorias que foram consideradas
supostamente típicas de terapia infantil estão quadriculadas, totalizando 46,4% na terapia de Mauro
e 39,6% na de Erik. A subcategoria SR Informação, com alta freqüência nos dois atendimentos, está
destacada em cinza. As demais subcategorias foram agrupadas e os gráficos apresentam o total das
mesmas no item (l).
Assim, a subcategoria mais freqüente, tanto na terapia de Mauro como na de Erik, foi a SR-
Informação e, em seguida, as subcategorias que descrevem comportamentos típicos de terapia
infantil (quadriculadas) também obtiveram as mais altas freqüências, ocupando uma parcela
substancial dos atendimentos, especialmente o de Mauro. Na subcategoria Descrição, por exemplo,
a terapeuta descreve o comportamento que observa a criança emitir na própria sessão, sendo a
descrição uma subcategoria tanto da Empatia (EM), como da Aprovação (AP) e da Informação (IF).
A Descrição foi muito mais freqüente na terapia de Erik (12,4%), principalmente como
subcategoria de Informação (IF), com provável função de mostrar à criança como ela está se
comportando. Pode-se hipotetizar se esta seria uma subcategoria mais freqüente na interação com
crianças mais novas.
Outras subcategorias provavelmente típicas de terapia infantil descrevem comportamentos
da terapeuta que ocorrem, por definição, durante o planejamento e/ou execução de jogos e
brincadeiras, como a Estruturação de Brincadeiras e a FA-Narração / Leitura. Por fim, as
subcategorias de Desafio e de Direcionamento foram definidas como estratégias que procuram
aumentar o envolvimento da criança nas atividades: o desafio instigando-a e o direcionamento
colaborando para que ela seja bem sucedida na atividade (RE-Direcionamento), no relato (SR-
Direcionamento) ou que não desista diante de atividades mais difíceis (DI-Direcionamento). Por
exemplo:
T: ...E agora, o que você vai fazer pra me ajudar? (Desafio)
C: (silêncio)
T: Hein? O que eu fiz pra ajudar você? (Direcionamento)
C: Hummm.... (Mauro caminha até as balas e repete os mesmos comportamentos da
terapeuta).
102
Esses dados indicam que tais comportamentos da terapeuta, nas sessões analisadas, ocupam
um papel de destaque. Estudos futuros poderiam fazer um recorte desses tipos de verbalizações em
outras terapias infantis, afim de esmiuçar suas características e verificar a generalidade dos dados
encontrados aqui.
Já as subcategorias baseadas em procedimentos Modelo, Extinção e Bloqueio de Esquiva -
ocorreram com freqüência um pouco menor. Dentre elas, o Modelo foi o procedimento
comportamental mais utilizado pela terapeuta em ambas as terapias. Entretanto, a porcentagem foi
maior na terapia de Mauro (4,7%) do que na de Erik (2,9%). A Extinção também foi mais utilizada
na terapia de Mauro (1,6%, para 0,6% na terapia de Erik). O Bloqueio de Esquiva, ao contrário, foi
mais utilizado na terapia de Erik (1%, para 0,5% com Mauro). Aqui, a análise do Questionário de
Objetivos Terapêuticos novamente traz informações relevantes na interpretação desses dados. A
comparação dos questionários sobre a terapia de Mauro e de Erik mostra que a terapeuta tinha mais
clareza a respeito dos comportamentos do primeiro do que do segundo. As informações fornecidas
pela mãe de Erik ainda eram confusas e a definição exata da queixa só pôde ser formulada ao longo
do processo terapêutico. Como utilizar procedimentos que pressupõem conhecimento da história e
da queixa do cliente, neste caso? Assim, a comparação das duas crianças demonstra a importância
desse conhecimento para a intervenção terapêutica e também para a categorização de sessões.
(d) Quais comportamentos dos clientes sucedem os comportamentos da terapeuta, de acordo com
as subcategorias construídas neste estudo?
Com relação às subcategorias de comportamentos dos clientes que se sucedem aos da
terapeuta, os resultados também serão apresentados salientando-se as associações de maior
freqüência. As subcategorias do cliente foram agrupadas em dois conjuntos mais amplos e opostos,
definidos em termos de sua possível contribuição para a qualidade da interação terapeuta-cliente:
(a) Favoráveis”: subcategorias de comportamentos que potencialmente contribuem para a
qualidade imediata da interação e (b) Desfavoráveis”: subcategorias de comportamentos que
103
potencialmente não contribuem ou prejudicam a qualidade imediata da interação. Este último grupo
abrange as seguintes subcategorias: Relato: Qualquer / “Não sei” e Curto / Monossilábico; Relato
Qualificativo: Competitivo; Explicação Equivocada / Mentirosa; Oposição: Recusa, Insistência,
Crítica e Desafiadora; Registro Insuficiente (sem subcategorias). As demais subcategorias
pertencem ao primeiro grupo.
Na terapia de Mauro, 529 verbalizações (79,7%) pertenceram a subcategorias favoráveis à
qualidade imediata da interação, versus 135 verbalizações (20,3%) que, de imediato, prejudicam a
qualidade da interação. A terapia de Erik, cuja análise focalizou apenas três sessões, contém
relativamente menos verbalizações do cliente. Ainda assim, das 417 verbalizações, 327 (77,7%)
pertencem a subcategorias favoráveis à qualidade da relação, contra 93 (22,3%) do segundo grupo.
Portanto, proporcionalmente, os resultados totais dos dois clientes são semelhantes.
A seguir, a Figura 6 ilustra graficamente a relação entre as subcategorias do terapeuta,
descritas no item anterior como procedimentos comportamentais, com as subcategorias do cliente,
agrupadas em “Favoráveis” e “Desfavoráveis”.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
RE
modelo
AP
modelo
IP modelo IF modelo EM
modelo
SR
extinção
IP
extinção
ES
extinção
AP
extinção
SQ
bloqueio
de esquiva
RE
bloqueio
de esquiva
Subcategorias do Terapeuta
Percentagem
Favorável (Erik)
Desfavorável (Erik)
Favorável (Mauro)
Desfavorável (Mauro)
Figura 6. Subcategorias do terapeuta (baseadas em procedimentos) e sua relação com
comportamentos subseqüentes de Mauro e Erik, favoráveis e desfavoráveis à qualidade da relação.
104
Os valores da Figura 6 indicam a porcentagem de verbalizações em cada subcategoria que
favoreceu (ou desfavoreceu) a interação, em relação ao total de verbalizações da terapeuta em todo
o atendimento do cliente. Por exemplo, RE-Modelo favorecendo a interação com Erik representa
2,4% de todas as verbalizações da terapeuta com esse cliente.
Em um olhar geral para o gráfico da Figura 6, nota-se claramente a diferença entre os dois
atendimentos no que diz respeito à utilização de cada procedimento comportamental, mais
freqüentes e variados no caso de Mauro. Além disso, todos os procedimentos geraram uma
proporção maior de comportamentos de Mauro favoráveis à relação, do que de comportamentos que
desfavoráveis. Este dado mostra que, apesar dos procedimentos visarem a modificação de
comportamentos, ainda assim alcançaram um objetivo paralelo, de favorecimento da relação
terapeuta-cliente.
Já no caso de Erik, a Figura 6 mostra que a subcategoria RE Modelo superou todas as outras
em freqüência, totalizando 2,4% (ou 11 ocorrências) do total com respostas subseqüentes do cliente
favoráveis à qualidade da relação. A aprovação com função de extinção (AP Extinção) e o RE
Bloqueio de Esquiva também obtiveram êxito nesse aspecto. Por outro lado, as subcategorias IP
Modelo e SR Extinção produziram, nas sessões de Erik, respostas subseqüentes do cliente mais
desfavoráveis. A subcategoria SQ Bloqueio de Esquiva produziu alta proporção de respostas do
cliente desfavoráveis à qualidade da relação, o que é de se esperar uma vez ele se esquiva de algo
aversivo, e o terapeuta torna a coloca-lo em contato com esse estímulo.
No gráfico da Figura 7, a seguir, foram agrupadas as subcategorias do terapeuta
consideradas mais particularmente próprias de terapia infantil (conforme discutido anteriormente),
em função das respostas subseqüentes do cliente favoráveis e desfavoráveis à qualidade da relação.
105
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Direcionamento FA narrativa / leitura Descrição Estruturação da
brincadeira
Desafio Exclamação /
humor
Subcategorias do Terapeuta
Percentagens
Favorável (Mauro)
Desfavorável (Mauro)
Favorável (Erik)
Desfavorável (Erik)
Figura 7. Subcategorias do terapeuta que descrevem comportamentos típicos de terapia infantil e
sua relação com respostas subseqüentes de Mauro e Erik que favorecem ou desfavorecem a
qualidade imediata da relação.
Dois fatores devem ser levados em consideração na análise da Figura 7: a freqüência das
subcategorias do terapeuta e a proporção entre cada grupo (“Favorável” e “Desfavorável”), para
cada subcategoria. No caso de Mauro, o Direcionamento obteve maior porcentagem, porém, foi a
Descrição que, proporcionalmente, mais contribuiu para a qualidade da relação. Nesta subcategoria,
a porcentagem de ocorrências no grupo “Favorável” (4,6%) foi mais de nove vezes maior do que a
porcentagem de ocorrências no grupo “Desfavorável” (0,5%). No caso da Descrição (subcategoria
de três categorias do terapeuta: Informação, Aprovação e Empatia) a AP Descrição (aprovação do
tipo descritiva) provocou 100% de respostas do cliente favoráveis à qualidade da relação.
No atendimento de Erik, a Descrição foi a categoria com maior freqüência, mas foram as
verbalizações de Estruturação das brincadeiras (ES Funcionamento da brincadeira e ES Mudança
de brincadeira) que obtiveram a maior proporção de contribuição (“Favorável” alcançou índice 12
vezes maior do que “Desfavorável”). Também é interessante notar que os resultados dos dois
106
clientes foram bastante diferentes, indicando as particularidades desses atendimentos. Esta análise é
importante para se discutir sob que condições determinados tipos de comportamentos do terapeuta
favorecem a relação, na medida em que as subcategorias subseqüentes do cliente têm características
que indicam manutenção ou intensificação do diálogo e da atividade em curso. Em contrapartida,
outros aspectos devem ser levados em consideração na análise do processo terapêutico, como por
exemplo como o terapeuta lida com os comportamentos-problema, o que será abordado no próximo
eixo de análise (do cliente).
(e) A distribuição de freqüência de comportamentos da terapeuta está de acordo com os objetivos
definidos por ela no Questionário de Objetivos Terapêuticos?
Na análise da distribuição de freqüência de comportamentos da terapeuta em sua relação
com os objetivos por ela definidos no Questionário de Objetivos Terapêuticos, o cruzamento dessas
informações constitui uma possibilidade de se comparar aquilo que a terapeuta relata com aquilo
que realmente faz.
Com relação ao Questionário de Objetivos Terapêuticos para o atendimento de Mauro, os
objetivos listados para o início da terapia foram: (1) Estabelecer vínculo com o cliente; (2)
Conhecer o cliente; (3) Promover comportamentos alternativos e incompatíveis com os
comportamentos-queixa e (4) Reduzir a freqüência de comportamentos queixa. De acordo com o
que já foi exposto a respeito de comportamentos da terapeuta e sua relação com respostas
subseqüentes do cliente, pode-se dizer que o processo terapêutico estava sendo conduzido de acordo
com os objetivos delimitados no questionário. Resumidamente, pode-se listar as seguintes
evidências:
(a) A categoria mais freqüente da terapeuta foi a Solicitação de Relato (22%), por meio da
qual a terapeuta obtinha informações sobre Mauro (objetivo nº 2), tanto que a maioria das respostas
subseqüentes do cliente foram Relatos (em 85,8% das vezes). A análise do conteúdo mostrou
também que solicitar relato foi uma estratégia de demonstração de interesse pelo cliente (objetivo
107
nº1). A freqüência desta categoria foi elevada na primeira sessão, decrescendo à medida em que a
terapeuta já ia conhecendo o cliente.
(b) A segunda categoria mais freqüente foi a Aprovação (16,5%), que na maioria das vezes
era seguida de mais Relato do cliente (33,3%). Das 78 ocorrências de Aprovação, 91% antecederam
respostas do cliente que contribuem para a qualidade da relação (objetivo nº1). Além disso, a
terapeuta aprovou, diversas vezes, comportamentos do cliente incompatíveis com os
comportamentos-queixa (objetivos nº 3 e 4), por exemplo, ao elogiar quando Mauro criou regras
para o jogo de Pebolim (Sessão 2).
(c) A diversidade de ocorrências de subcategorias baseadas em procedimentos (Figura 5(a))
é um indicador de que esses comportamentos da terapeuta podiam estar sob controle de observações
e informações de comportamentos-queixa do cliente e do planejamento de comportamentos
alternativos mais desejáveis (objetivos nº 3 e 4).
No atendimento de Erik, os objetivos listados no questionário foram: (1) Conhecer o cliente;
(2) Estabelecer vínculo com o cliente e (3) Lidar com os comportamentos-queixa. Percebe-se
semelhança nos dois primeiros objetivos, porém a definição do terceiro objetivo (ver Anexos 4 e 5)
mostra que a terapeuta possuía pouco conhecimento a respeito dos problemas do cliente e, assim,
não especificou claramente sua intervenção neste aspecto. É provável que o pouco conhecimento
sobre o cliente (problemas e recursos) possa ter alguma relação com os resultados obtidos nesse
atendimento (até o momento dessa análise) e, também, explique a menor incidência de categorias
baseadas em procedimentos. Ainda assim, pode-se afirmar que:
(a) A Solicitação de Relato foi a categoria mais freqüente, atendendo especialmente o
objetivo nº 1, já que a terapeuta possuía poucas informações sobre Erik;
(b) A Empatia com Erik foi a única categoria que produziu 100% de respostas favoráveis à
qualidade da relação. Além disso, sua freqüência aumentou na segunda sessão, que foi
particularmente atípica devido ao incidente com o avô de Erik (conforme relatado anteriormente). É
possível que este dado esteja associado aos objetivos nº 2 e 3.
108
Resultados referentes às categorias e subcategorias do cliente:
(a) Quais os comportamentos mais freqüentes do cliente? Há mudança ao longo das sessões?
Considerando-se os comportamentos mais freqüentes dos clientes e possíveis mudanças ao
longo das sessões, a porcentagem de cada uma das categorias do cliente é apresentada na Figura 8, a
seguir:
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
relato concordância relato
qualificativo
solicitação oposição explicação registro
insuficiente
metas
Categorias do Cliente
Percentagem
Mauro
Erik
Média
Figura 8. Percentagem de Categorias do Cliente nas oito sessões de Mauro e três de Erik.
Os valores indicados no gráfico representam a porcentagem de verbalizações de cada cliente
em relação ao total de verbalizações do atendimento deste. Conforme se observa na Figura 8, a
categoria mais semelhante entre os clientes foi a de Relato, com cerca de 43% de todas as
verbalizações. A análise das subcategorias mostrará, mais adiante que, mesmo nesta categoria, há
detalhes que os diferenciam. A categoria Oposição obteve maiores índices na terapia de Mauro, o
que está de acordo com a descrição de sua queixa (comportamento-opositor). Já Erik emitiu mais
verbalizações categorizadas como Explicação e de Solicitação. Esta última é particularmente
diferenciada das outras categorias, porque indica uma interação iniciada pelo cliente ele pergunta
ao terapeuta, enquanto que nas demais ele responde. Assim, Erik iniciava interações em proporção
109
muito maior do que Mauro (porcentagem quatro vezes maior). Por fim, a alta freqüência de
Registros Insuficientes nas sessões de Erik decorreu de seus problemas fonológicos, que tornavam
sua fala incompreensível tanto para a terapeuta durante as sessões como também no momento de
transcrição e categorização das sessões.
A seguir, são apresentadas as categorias do cliente ao longo de cada sessão de atendimento
de Mauro e Erik:
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
relato concordância solicitação oposição explicação relato
qualificativo
registro
insuficiente
metas
Categorias do Cliente
Percentagem
1a sessão
2a sessão
3a sessão
(a)
110
0
10
20
30
40
50
60
70
relato concordância relato
qualificativo
oposição solicitação explicação metas registro
insuficiente
Categorias do Cliente
Percentagem
1a sessão
2a sessão
3a sessão
4a sessão
5a sessão
Figura 9. Percentagem de Categorias do Cliente ao longo das três sessões do atendimento de Erik
(a) e cinco sessões do atendimento de Mauro (b).
Os valores indicadas no gráfico referem-se à porcentagem de verbalizações da Categoria do
Cliente em relação ao total de verbalizações por sessão. Pode-se perceber, nas sessões com Mauro,
modificações na porcentagem de várias categorias à medida em que as sessões se sucedem
especialmente da primeira para as sessões seguintes. Este dado vai ao encontro da análise das
Categorias do Terapeuta por sessões. A categoria Relato predominou fortemente a primeira sessão
(64,5%), mas sua freqüência caiu e tornou-se mais estável nas sessões seguintes, oscilando entre 34
e 41%; embora ainda seja a categoria mais freqüente de qualquer sessão. Outra diferença marcante
ocorreu na categoria Solicitação, com apenas 2,9% na primeira sessão, elevando-se a cerca de 10%
nas sessões seguintes. Dentro da própria sessão, percebeu-se que a freqüência de solicitações foi
baixa no início, aumentando no decorrer do tempo. A primeira solicitação ocorreu na 38º unidade
de análise, quando a terapeuta introduziu uma brincadeira com carrinhos e colocou uma situação
problema para Mauro:
T: Ah mas e agora? Isso tá muito caro!
C: Você vai ter que achar 20 mil!
(b)
111
Ainda assim, depois desta ocorrência, a próxima Solicitação de Mauro só voltou a ocorrer na
132º unidade, quando ele já estava mais “à vontade” na sessão e conversavam a respeito de objetos
de um jogo (Lince):
T: Ele (seu cachorro) era dessa cor?
C: Era.
T: Ah, era!!!
C: E esse aqui só se vê no zoológico, né? (girafa)
T: Também, um bicho grande...
Assim como nesta primeira sessão Mauro se limitava a responder as perguntas da terapeuta
na maior parte do tempo, também não se opôs com muita freqüência (3,5%). No entanto, nas
sessões seguintes, a porcentagem de Oposição cresceu, chegando a 23,4% na terceira sessão. Não
por acaso, foi nesta sessão que se obteve maior porcentagem de Discordâncias por parte da
terapeuta (12,2% - Figura 3(a)). E, como já discutido anteriormente, a Oposição foi a resposta mais
freqüente de Mauro diante de Discordâncias da terapeuta. Ainda assim, deve-se analisar os dados
com cautela, evitando-se determinar qual resposta “causa” a outra. Tratando-se de uma interação, é
preferível olhar para as respostas de ambos terapeuta e cliente como constantemente
interdependentes ou sob controle um pelo outro (bidirecionalidade do controle).
Várias respostas de Erik, ao longo das sessões, seguiram em direção bastante diferente das
de Mauro. A freqüência de Relatos aumentou (de 38,7% na primeira sessão a 46% na terceira) e a
Oposição, que foi alta na primeira sessão (10,2%), diminuindo drasticamente nas sessões seguintes,
permanecendo em torno de 3,5%. A porcentagem de Solicitações também aumentou, embora já
fosse elevada na primeira sessão (13,3%). Essas diferenças mostram que, provavelmente, os dois
clientes lidam diferentemente com situações novas, como por exemplo o processo inicial de
atendimento terapêutico. Na segunda sessão, que foi atípica devido ao incidente com o avô de Erik,
as maiores diferenças se deram na porcentagem de Relato Qualificativo (13,4%, quase o dobro em
relação às outras sessões) e de Concordância (5,4%, cerca de três vezes menos que nas outras
sessões). Esta particularidade ainda será retomada posteriormente.
112
(b) Qual é a freqüência dos comportamentos de queixa e melhora do cliente? Há mudança ao longo
das sessões?
Com relação à freqüência dos comportamentos de queixa e melhora dos clientes, e às
possíveis mudanças ao longo das sessões, verificou-se que o aparecimento de comportamentos dos
clientes que se assemelhavam às queixas trazidas pelos pais e pela escola ocorreu desde a primeira
sessão. No caso de Mauro, os comportamentos-queixa corresponderam a 14,7% do total de
unidades analisadas, enquanto que os comportamentos opostos ou incompatíveis à queixa
(comportamentos de melhora) corresponderam a 2,9% em média. A análise sessão a sessão mostrou
um crescimento de ambas as percentagens: na primeira sessão foram de apenas 3,5% e 0,6%
respectivamente e, na terceira, atingiram o máximo de 29,8% e 5%. Essa variação deu-se em parte
em função da “inibição” inicial desse cliente, que aos poucos passou a ficar mais “à vontade” com a
terapeuta. Traduzindo em outros termos, o ambiente terapêutico pode ter sido percebido aos poucos
como não-punitivo, de forma que Mauro passou a exibir em sessão os mesmos comportamentos que
exibia fora dela. Depois da terceira sessão, a porcentagem de comportamentos-queixa decresceu nas
duas últimas, para 14,9%. É provável que a terapeuta reagia ao cliente de forma diferente de outros
significantes de Mauro (principalmente os pais), conforme foi descrito no Questionário de
Objetivos Terapêuticos. Sendo assim, seria possível hipotetizar se seus comportamentos-queixa
estavam evoluindo segundo uma típica curva de extinção (aumento inicial e decréscimo posterior)?
Essa é uma questão para pesquisas futuras poderão, caso se analise uma seqüência maior de sessões,
investigando-se se haveria uma regularidade, como se observa em uma típica curva de extinção,
quando há um controle do terapeuta na reação aos comportamentos-queixa da criança.
Outro fator que pode estar associado foi o tipo de brincadeira utilizada durante a sessão. Por
exemplo, na terceira sessão, a incidência da queixa “comportamento-opositor” atingiu 22,7%,
quando Mauro brincou com o Pebolim e tentava burlar as regras do jogo. Por outro lado, o
comportamento de melhora classificado como “seguir / negociar regras” também atingiu o pico
(4,3%), em relação a todas as sessões, quando Mauro negociou as regras da duração do Pebolim e
113
utilizou uma regra que ele próprio criou na sessão anterior a respeito desse jogo, o que foi elogiado
pela terapeuta. Outro comportamento queixa, classificado como “competitividade”, teve seu pico
máximo de incidência na segunda sessão (7,1%), quando o comportamento oposto, “cooperação /
espírito esportivo”, também ocorreu em maior freqüência (4,1%), se comparado às demais sessões.
A terapeuta não respondeu diretamente a verbalizações do tipo “Eu vou ganhar”; “Eu sou o
melhor”, mas em outros momentos deu modelo de verbalizações incompatíveis, como “Com o
treino a gente vai melhorando” e parabenizou o cliente pelo placar final. Na sessão seguinte, em
que o cliente perdeu no mesmo jogo, a terapeuta solicitou que ele a cumprimentasse do mesmo jeito
que ela havia feito quando foi derrotada ao perder. Por fim, outro comportamento queixa, de
“esquiva de expressão de sentimentos positivos”, ocorreu com maior freqüência na quinta sessão
(6,2%), quando foi utilizado um jogo denominado “Brincando com as expressões”, que abordava o
tema.
A análise da ocorrência de comportamentos-queixa e comportamentos de melhora, no caso
de Erik, é mais delicada, em virtude da dificuldade de definição clara da queixa. Provavelmente este
fator influenciou no resultado final, que computou apenas 7,6% de comportamentos-queixa; cerca
da metade se comparado a Mauro. Também é possível que as situações estruturadas nas sessões não
tenham propiciado demandas para tais comportamentos. Os comportamentos de melhora não foram
categorizados, devido à dificuldade de operacionalizá-los e, conseqüentemente, identificá-los
durante as sessões.
Ainda com relação a Erik, pode-se dizer que a evolução dos comportamentos-queixa seguiu
uma direção oposta à de Mauro. Na primeira sessão, os comportamentos enunciados como
“Oposição” e “Complacência” obtiveram maior porcentagem, de 5,3% e 4,0%, respectivamente. No
jogo de “Pega-varetas”, por exemplo, Erik negava-se a aceitar o resultado de empate, exclamando
frases como: “Mentira!”; “Você roubou!”. Ao mesmo tempo, durante o jogo, inventava regras que
favoreciam a própria terapeuta (complacência): “Você mexeu, mas tem uma vida!”. Nas sessões
seguintes, a queixa de “Complacência” caiu pela metade e a de “Oposição” quase desapareceu.
114
Permitir e até sugerir a quebra de regras para o adversário no jogo justificava o mesmo
comportamento quando lhe interessava e, por outro lado, poderia abrandar qualquer tipo de
discordância da terapeuta. A terceira queixa, de “Dificuldades Acadêmicas”, ocorreu apenas na
terceira sessão, quando o cliente brincou com um jogo de letras e fez tentativas de se esquivar da
atividade.
Diante das verbalizações de oposição sobre os resultados do jogo, a terapeuta não ficou
brava (provavelmente esta seria a reação de outras pessoas do ambiente de Erik), mas respondeu:
“Então vamos contar novamente [os pontos]”, até que o cliente concordasse com o empate. No
caso das regras inventadas que a favoreciam, a terapeuta não agradeceu, mas confrontou: “Toda vez
que eu mexo [as varetas] eu ganho uma vida? Ué, essa regra eu não conhecia.” Uma hipótese
provável para a diminuição da freqüência de comportamentos queixa pode ser essa diferença entre
as respostas da terapeuta e as respostas de outras pessoas. Talvez as respostas de outras pessoas
tivessem valor reforçador, à medida que mantinham a freqüência desses comportamentos de Erik, o
que não ocorreu na relação com a terapeuta. Novamente, uma análise de mais sessões poderia
acrescentar dados para a discussão desta hipótese.
(c) Há relação entre comportamentos classificados como queixa e melhora e as categorias e
subcategorias de comportamentos antecedentes da terapeuta?
Na análise da relação entre comportamentos classificados como queixa e melhora e as
categorias e subcategorias de comportamentos antecedentes da terapeuta, no atendimento a Mauro,
a categoria de comportamentos do terapeuta que mais freqüentemente antecedeu comportamentos-
queixa do cliente foi a Discordância (17,4%), seguida de Informação (15,2%). Em último lugar, a
categoria que menos produziu comportamentos-queixa foi a Empatia, com apenas 1,1% - ainda que
também não tenha antecedido nenhum comportamento de melhora. A Estruturação, embora seja
uma categoria por meio da qual o terapeuta estabelece uma série de regras durante a sessão (e o
próprio cliente admitiu que “não gosta de regras”), antecedeu poucos comportamentos-queixa
115
(6,5%) e foi a categoria que mais antecedeu comportamentos de melhora, em 30% dos episódios em
que eles ocorreram. É possível que um dos fatores associados a esta associação seja o fato da
Estruturação estar freqüentemente associada a situações de brincadeira, o que será discutido
posteriormente.
É interessante também que, embora a Discordância tenha produzido a maior porcentagem
de comportamentos-queixa, também obteve altos índices de associação com comportamentos
subseqüentes de melhora (20%). As especificidades delimitadas por meio das subcategorias de
comportamentos do terapeuta elaboradas no presente estudo podem oferecer informações adicionais
a esta discussão. No caso da Discordância, quando o comportamento de discordar, da terapeuta,
tinha função de contestar a ação anterior do cliente (DI Contestação), produziu a maior
porcentagem de comportamentos-queixa (7,1%). Já quando, ao discordar, a terapeuta direcionava o
comportamento do cliente para uma resposta final mais adequada (DI Direcionamento), produziu
maior porcentagem de comportamentos de melhora (10%). Essas duas estratégias foram usadas
diversas vezes, de forma combinada, o que pode ser percebido na análise de seqüências de
interação, como no exemplo a seguir:
C: Vamos [continuar o jogo] até 10... Vai, por favor, por favor, por favor!!!!!!! (OP-
Insistência)
T: A gente não combinou? Então. (DI-Contestação)
C: Então vamos começar de novo, tá 0
a 0!!!! (OP-Insistência)
T: Tira a mãozinha daí (vai retirando o jogo da mesa) (DI-Direcionamento)
Assim, foi a partir do aparecimento de um comportamento-queixa que a terapeuta pôde lidar
com ele. No caso da categoria Informação, houve ocorrência de comportamentos-queixa
subseqüentes em todas as suas subcategorias. Entretanto, quando a terapeuta apresentava modelo de
comportamento alternativo (IF Modelo), as respostas subseqüentes do cliente foram, na maioria, de
melhora. Concluindo, esta análise demonstra que, ainda que determinado comportamento produza
comportamentos-queixa do cliente (como a discordância gerando a oposição), a depender de outras
características (apreendidas na análise das subcategorias), também pode ser um mecanismo de
ensino de comportamentos alternativos (“de melhora”). Em outras palavras, muitas vezes pode ser
116
necessário permitir ou até facilitar o aparecimento dos comportamentos-queixa para então, utilizar
procedimentos que produzirão outros comportamentos mais adaptativos e com boa probabilidade de
serem consequenciados positivamente pelo ambiente natural da criança. Além disso, a emissão de
comportamentos-queixa na sessão permite que o terapeuta tenha uma melhor avaliação da
topografia e da intensidade desses comportamentos, e também da “eficácia” dos procedimentos que
utiliza.
No caso de Erik, o comportamento da terapeuta que mais produziu comportamentos-queixa
foi a Solicitação de Relato Qualificativo (26,7%), principalmente antecedendo aqueles
denominados de “Complacência”. No exemplo a seguir, a terapeuta contestava regras criadas pelo
cliente para ajudá-la (SQ Contestação), e ele continuava a sustentar sua opinião sobre a necessidade
de dar os próprios pontos para os outros:
T: Ih, errei.
C: Você tem uma vida. (complacência)
T: Uma vida?! Quantas vidas eu tenho?!
C: Você vai de novo... e agora tá facinho... (complacência)
T: (erra novamente). Gastei minha vida agora, né.
C: Não... quando você for de novo, você vai ter uma vida. (complacência)
Ainda que a qualidade da relação tenha um papel preponderante para o êxito do processo
terapêutico, não se pode deixar em um segundo plano os procedimentos específicos tanto para
instalar e fortalecer comportamentos, como para reduzir freqüência e intensidade de
comportamentos que competem para a melhor adaptação da criança às situações do ambiente. Pode-
se dizer que a qualidade da relação é condição necessária, mas não suficiente. Por outro lado, ainda
que dependente da relação, o procedimento é, em grande parte, responsável pelo êxito do
atendimento.
(d) Há mudança na freqüência de comportamentos do cliente que contribuem e que não contribuem
para a qualidade imediata da relação, ao longo das sessões? Há associação entre esses
comportamentos e os comportamentos de queixa e melhora?
117
A análise da associação entre comportamentos do cliente que contribuem ou não para a
qualidade da relação, ao longo das sessões, também foi, posteriormente, associada a
comportamentos de queixa e de melhora do próprio cliente. Tomando-se a classificação das
subcategorias do cliente nos grupos “Favorável” e “Desfavorável” à qualidade da relação
terapêutica como um indicador desta qualidade, tem-se que, considerando a importância da relação
terapêutica, as sessões melhor avaliadas seriam a segunda, a quarta e a quinta, com cerca de 84%
das verbalizações de Mauro pertencendo ao grupo “Favorável”. Na primeira sessão, essa
porcentagem foi menor (77, 9%), principalmente devido à maior freqüência de respostas curtas e
monossilábicas dadas pelo cliente, sobretudo no início da sessão. A terceira sessão foi a pior
avaliada segundo este critério, com apenas 68,10% das verbalizações no grupo das que favorecem a
qualidade da relação. Em outras palavras, quando a freqüência de vários comportamentos-queixa
(oposição, competitividade e impulsividade) foi mais elevada (na terceira sessão), também se
elevou a porcentagem de comportamentos do que desfavorecem a qualidade da relação. A Tabela 7,
a seguir, mostra a associação entre essas duas variáveis:
Tabela 7. Porcentagem de comportamentos-queixa, comportamentos de melhora e outros
comportamentos de Mauro que favorecem e que desfavorecem a qualidade da relação terapêutica.
Qualidade da Relação
Comportamentos de Queixa e
Melhora, e outros
comportamentos
Favorável
N=574 (79,6%)
Desfavorável
N=147 (20,4%)
comportamento opositor 3,50% 96,50%
esquiva de expressão de
sentimento
38,50% 61,50%
competitividade 15,40% 84,60%
Comportamentos-queixa
impulsividade 0 100%
segue / negocia regras 100% 0
expressão de sentimento 100% 0
Comportamentos de Melhora
espírito esportivo / cooperação 100% 0
outros comportamentos 91,60% 8,40%
Como mostra a Tabela 7, todos os comportamentos classificados de melhora foram,
simultaneamente, aqueles que supostamente favorecem a qualidade da relação terapêutica. Em
contrapartida, os comportamentos-queixa desfavorecem a relação, especialmente o comportamento
118
opositor e a competitividade. Provavelmente, o perfil das queixas que levaram este cliente à terapia
(problemas externalizantes) seja altamente responsável por essa correlação. Além disso, os dados
demonstram o quanto a relação do cliente com outras pessoas em seu ambiente deve também ficar
prejudicada devido a esses problemas de comportamento. É provável que, caso o perfil das queixas
de Mauro fosse diferente (problemas internalizantes), a relação entre elas e a qualidade da relação
fosse diferente.
Esta é uma hipótese que poderia ser testada pela análise dos dados do atendimento de Erik
pois, dentre seus comportamentos-queixa, inclui-se aquele definido como “complacência”, que é
particularmente diferente dos demais. De fato, quando Erik mostrava-se complacente ou
excessivamente “bonzinho” com a terapeuta, a maioria desses comportamentos (77,8%)
enquadrava-se no grupo dos que, em tese, favoreceriam a qualidade imediata da relação.
Resultados referentes às categorias do brincar
(a) Qual é a freqüência de cada categoria do brincar nas terapias de Mauro e Erik? Há mudanças
ao longo das sessões?
A análise das categorias do brincar se inicia, como nas duas seções precedentes, com a
identificação da freqüência de cada categoria do brincar nos atendimentos de Mauro e Erik, e como
a identificação de mudanças ao longo das sessões. A Figura 10, a seguir, apresenta a porcentagem
dos episódios verbais para cada categoria do brincar nas terapias de Mauro e Erik.
119
0
10
20
30
40
50
60
70
brincadeira-
lúdico
fantasia lúdico brincadeira não-
lúdico
cotidiano extra-
lúdico
cotidiano ludico não-lúdico
Categorias do Brincar
Percentagem
Mauro
Erik
Média
Figura 10. Porcentagem das categorias do brincar nos atendimentos de Mauro e Erik.
Os valores representados na Figura 10 referem-se à porcentagem de verbalizações incluídas
em cada categoria de modo que a soma de todas as categorias, para cada cliente, seja 100%. A
interação terapeuta-cliente mediada pela brincadeira compreendeu a maior parte das verbalizações
dos dois atendimentos. Este dado aponta para a importância do brincar em terapia infantil e para a
especificidade da relação com essa clientela (detalhes das características de cada categoria serão
abordados posteriormente).
Observa-se que as percentagens mais semelhantes entre os dois atendimentos foram aquelas
em que terapeuta e cliente não estavam envolvidos em atividades lúdicas (Não-lúdico e Brincadeira
Não-Lúdico), embora nesta última estivessem conversando sobre brincadeiras e, na maioria das
vezes, planejando a próxima brincadeira ou comentando uma brincadeira recém finalizada.
Nas demais categorias, em que a interação terapeuta-cliente estava sendo mediada por
brincadeiras, as porcentagens de cada uma divergiram bastante entre os dois atendimentos. No
atendimento de Mauro, a Brincadeira-Lúdico (58,8%) e o Cotidiano-Lúdico (10,7%) foram muito
mais freqüentes do que na de Erik. Em contrapartida, na terapia de Erik o uso de fantasia (Fantasia-
Lúdico) correspondeu a 19,8% de todos os episódios verbais. Também com bastante freqüência, a
120
terapeuta e Erik conversavam sobre o cotidiano da criança, enquanto realizavam atividades lúdicas
não associadas ao tema da conversa (Cotidiano Extra-Lúdico, 12,4%).
A Figura 11, a seguir, apresenta os gráficos da distribuição das categorias do brincar ao
longo das sessões terapêuticas de cada criança.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
brincadeira-
lúdico
fantasia lúdico cotidiano ludico cotidiano extra-
lúdico
brincadeira não-
lúdico
não-lúdico
Categorias do Brincar
Percentagem
1a sessão
2a sessão
3a sessão
4a sessão
5a sessão
0
10
20
30
40
50
60
brincadeira-lúdico fantasia lúdico cotidiano ludico cotidiano extra-
lúdico
brincadeira não-
lúdico
não-lúdico
Categorias do Brincar
Percentagem
1a sessão
2a sessão
3a sessão
Figura 11. Porcentagem de episódios verbais em cada Categoria do Brincar, ao longo das sessões
analisadas de Mauro (a) e Erik (b).
(a)
(b)
121
Os valores representados nos gráficos correspondem à porcentagem de verbalizações em
cada Categoria do Brincar, de modo que a soma das categorias seja 100% em cada sessão de
atendimento. As diferenças encontradas entre os dois processos terapêuticos mostram que a
interação da terapeuta com cada uma das crianças teve características diferenciadas e que
particularidades de cada criança podem ter contribuído para tais diferenças. O fato de Mauro saber
ler propiciou o uso de jogos mais estruturados, que por sua vez propiciam verbalizações típicas da
categoria Brincadeira-Lúdico, como por exemplo a leitura e a narrativa dos jogos e a estruturação
de seu funcionamento. Ao brincar com Mauro, principalmente a partir da segunda sessão, ele
começou a emitir Comportamentos-Queixa durante a própria brincadeira (Brincadeira-Lúdico).
Provavelmente esse fator reforçou a terapeuta a manter esse tipo de interação, pela qual ela poderia
observar tais comportamentos acontecendo na própria sessão e buscar alternativas para lidar com
eles. Assim, como se pode observar na Figura 11(a), a Brincadeira-Lúdico foi progressivamente
sendo mais utilizada; ocupou somente 30% da primeira sessão e chegou a 78,7% na quarta.
Paralelamente, as outras categorias lúdicas diminuíram de freqüência: Cotidiano Lúdico, Cotidiano
Extra-Lúdico e Fantasia Lúdico. O recurso da fantasia, entretanto, foi particularmente utilizado na
segunda sessão, com 23,1%, quando a terapeuta criou, junto com a criança, diversos nomes e
características para os “jogadores” do pebolim. O diálogo não envolvendo brincadeira (Não-Lúdico)
decresceu drasticamente a partir da segunda sessão, de 14,20% na primeira para menos de 3% nas
demais, ao contrário do atendimento de Erik, em que a categoria Não-Lúdico aumentou de
freqüência na última sessão (10,1%).
Na interação com Erik, que não sabia ler nem escrever e portanto não poderia utilizar os
mesmos jogos que Mauro, a terapeuta recorreu a outras alternativas, como o desenho e os bonecos.
Nestas atividades, a fantasia e a imaginação puderam ser mais exploradas. Na segunda sessão,
especialmente, a Fantasia-Lúdico atingiu a incidência de 38,7%, em uma atividade de desenho em
que a terapeuta fez perguntas e comentários a respeito dos sentimentos e comportamentos do
bonequinho desenhado pela criança. Por fim, na primeira sessão, a categoria Cotidiano Extra-
122
Lúdico foi muito mais freqüente (24,7%) do que nas sessões seguintes, quando a terapeuta fazia
perguntas para conhecer o cliente, enquanto brincavam: “Quantos anos você tem?”, “Você tá indo
na escola?” etc.
Em síntese, a análise do brincar, sessão a sessão, mostrou que algumas variáveis devem ser
especialmente importantes, destacando-se: (a) as particularidades da primeira sessão nos processos
terapêuticos; (b) as características dos jogos e brincadeiras utilizados em cada sessão; (c) variáveis
externas à terapia, como o incidente com o avô de Erik antes da segunda sessão; (d) as
particularidades de cada criança e (e) a adaptação da terapeuta aos fatores anteriores ao longo da
terapia.
(b) Como se caracterizam os comportamentos da terapeuta em cada tipo de interação lúdica?
Com relação às características dos comportamentos da terapeuta em cada tipo de interação
lúdica, a Tabela 8 a seguir apresenta uma lista das Categorias do Terapeuta, ordenadas da mais
freqüente à menos freqüente em cada Categoria do Brincar, nos atendimentos de Mauro e Erik,
respectivamente.
Tabela 8. Percentagem de ocorrência das Categorias do Terapeuta em cada Categoria do Brincar,
durante os atendimentos de Mauro e Erik.
Mauro
brincadeira-
lúdico (57,4%)
brincadeira não-
lúdico (13,2%)
cotidiano lúdico
(11,3%)
fantasia lúdico (8,3%) não-lúdico (5,1%)
cotidiano extra-lúdico
(4,7%)
aprovação 16,5
solicitação de
relato
30,2
solicitação de
relato
45,1
aprovação 26,9
solicitação de
relato
42
solicitação de
relato
52,6
facilitação 14,5
estruturação 20,8
aprovação 20,9
informação 19,4
solicitação de
relato
qualificativo
12
solicitação de
relato
qualificativo
23,7
recomendação 12,1
aprovação 15,1
solicitação de
relato
qualificativo
16,5
solicitação de
relato
17,9
estruturação 12
empatia 13,2
solicitação de
relato
11,9
informação 10,4
interpretação 5,5
recomendação 14,9
informação 12
aprovação 2,6
estruturação 10,8
recomendação
9,4
recomendação 4,4
empatia 6 aprovação 7,3
informação 2,6
informação 10,6
solicitação de
relato
qualificativo
8,5
empatia 3,3
interpretação 4,5 recomendação
7,3
interpretação 2,6
discordância 10,2
interpretação 2,8
informação 2,2
discordância 4,5 discordância 4,9
discordância 2,6
solicitação de
relato
qualificativo
5,6
discordância 1,9
discordância 2,2
solicitação de
relato qualificativo
3 interpretação
2,4
estruturação 0
empatia 4,1
empatia 0,9
estruturação 0 estruturação 1,5 facilitação 0 facilitação 0
interpretação 3,7
facilitação 0 facilitação 0 facilitação 1,5 empatia 0 recomendação 0
123
Erik
brincadeira-lúdico
(47,1%)
fantasia lúdico
(20,0%)
cotidiano extra-
lúdico
(12,6%)
brincadeira não-lúdico
(11,5%)
não-lúdico (7,2%) cotidiano lúdico (1,6%)
recomendação
32,3
solicitação de
relato
42,3
solicitação de
relato
75,0
solicitação de
relato
44,3
solicitação de
relato
16,1
solicitação de
relato
48,6
aprovação 17,5
solicitação de
relato
qualificativo
15,5
aprovação 12,5
estruturação 11,5
estruturação 28,6
solicitação de
relato
qualificativo
14,3
informação 14,0
informação 10,3
interpretação 12,5
aprovação 9,8 informação 21,4
recomendação
14,3
discordância 10,5
empatia 8,2
solicitação de
relato
qualificativo
0,0
discordância 9,8 recomendação
14,3
aprovação 8,6
solicitação de
relato
10,0
aprovação 8,2 estruturação 0,0
informação 8,2 aprovação 12,5
informação 5,7
solicitação de
relato
qualificativo
7,0 recomendação
7,2 facilitação 0,0
solicitação de
relato qualificativo
6,6 empatia 3,6 interpretação 5,7
estruturação 2,6 discordância 5,2 empatia 0,0
interpretação 4,9
solicitação de
relato
qualificativo
1,8 empatia 2,9
facilitação 2,6 interpretação 3,1 informação 0,0
recomendação 4,9 discordância 1,8 estruturação 0,0
empatia 2,6 estruturação 0,0 recomendação 0,0
facilitação 0,0 facilitação 0 facilitação 0,0
interpretação 0,9 facilitação 0,0 discordância 0,0
empatia 0,0 interpretação
0 discordância 0,00
A comparação entre os dois atendimentos mostra, primeiramente, que as estratégias lúdicas
principais da terapeuta diferiram bastante de um cliente para outro, embora a categoria Brincadeira-
Lúdico tenha predominado no processo terapêutico das duas crianças. Com Mauro, as principais
categorias foram esta e a Brincadeira Não-Lúdico, seguida pela de Cotidiano-Lúdico. Nestas
categorias, respectivamente, a terapeuta e o cliente brincavam com jogos estruturados, planejavam
ou falavam sobre brincadeiras, e fazia-se associações entre aspectos da brincadeira e o cotidiano da
criança. No caso de Erik, as brincadeiras eram menos estruturadas (casinha, desenho), quando então
eles brincavam (Brincadeira-Lúdico), criavam fantasias a respeito de personagens (Fantasia-
Lúdico) ou falavam sobre o cotidiano da criança paralelamente à brincadeira (Cotidiano Extra-
Lúdico). O tipo de brincadeira utilizada para cada cliente parece, portanto, ter contribuído
fortemente para essas diferenças encontradas. Pesquisas futuras poderão investigar se é possível
estabelecer um perfil padrão para interações baseadas em brincadeiras estruturadas e para as não-
estruturadas.
Durante a Brincadeira-Lúdico, o comportamento de Aprovação obteve altos índices para
ambos os clientes, ocupando o primeiro lugar da lista da Tabela 9, no caso de Mauro (16,5%) e o
segundo no caso de Erik (17,5%). Esse dado sugere que esta foi uma situação com maior
124
probabilidade de ser reforçadora à criança e, por esta via, colaborar para a formação do vínculo com
a terapeuta. Além disso, nos dois atendimentos, a Brincadeira-Lúdico foi a interação que mais
propiciou variedade de comportamentos da terapeuta, certamente também por ser a Categoria do
Brincar mais freqüente.
Nas duas categorias em que as verbalizações envolvem aspectos do cotidiano das crianças
(Cotidiano-Lúdico e Cotidiano Extra-Lúdico), a Solicitação de Relato atingiu proporções acima de
45%, para ambos os clientes, indicando que essas duas categorias foram compostas principalmente
de perguntas da terapeuta a eles. Pode-se supor que nestas sessões, de início de terapia, as perguntas
predominaram devido à necessidade de conhecer o cliente e que, talvez, essa distribuição das
categorias se alteraria na análise de sessões mais avançadas da terapia. Outras intervenções
freqüentes, nestas categorias, foram a Solicitação de Relato Qualificativo, a Aprovação, a
Interpretação, Recomendação (no caso de Erik) e a Empatia (no caso de Mauro).
Na Fantasia Lúdico, o padrão dos comportamentos da terapeuta divergiu bastante entre os
dois clientes. No caso de Erik, houve predominância de Solicitações de Relato (42,3%) e de Relato
Qualificativo (15,5%), sugerindo que a fantasia foi um recurso da terapeuta para que o cliente se
expressasse. Em seguida, observa-se que a terapeuta freqüentemente expressava empatia (8,2%) ou
aprovava (8,2%). Por exemplo:
T: Tá bravo esse peixe? (Solicita Relato Qualificativo sobre sentimentos)
E: Não.
T: Não? Ta feliz?(Solicita Relato Qualificativo, contestando o cliente)
E: Ta bravo!!!
T: É, tá até mostrando os dentes! (Aprova verbalização de sentimentos)
(...)
E: E o Picachu soltou raio nele.
T: Deixa eu entender... o Picachu matou a mãe?(Solicita Relato)
E: Não, ele matou a inimiga...
T: A inimiga antes era a mãe... (Interpreta)
E: É, aí ele descobriu que na verdade ela era inimiga, e matou ela.
No atendimento de Mauro, as Categorias mais freqüentes da terapeuta durante a Fantasia-
Lúdico foram a Aprovação (26,9%), a Informação (19,4%) e a Solicitação de Relato (17,9%). A
análise do conteúdo dessas verbalizações confirma que, de fato, a fantasia teve outro papel no caso
125
de Mauro. O primeiro papel foi o de envolvê-lo na brincadeira e, por essa via, fortalecer o vínculo
com a terapeuta. Por exemplo:
T: O meu [jogador] é o Rogério. Opa agora eu faço hein... mais pra cá... com calma e...
(Informação)
C: Uhhhh (T não fez o gol). É, o Ronaldinho Gaúcho é bom. Ai, vai vai vai!!! Mais um
pouquinho e eu faço um gol...
T: É! E o seu atacante, como se chama? (Solicitação de Relato)
C: Ele é... hummm... “Ronaldinho Santana”. Hehehehehe... (sobrenome do cliente)
T: Ih eu conheço esse sobrenome hein! “Ronaldinho Mauro Santana”? (Aprova)
C: Hahahaahah.... Ronaldinho Santana.
Outro papel foi o de levar a criança a seguir as regras dos jogos. No exemplo a seguir,
Mauro tentava desfazer um acordo a respeito dos times do Pebolim e a terapeuta o convence por
meio da fantasia e, em seguida, o aprova:
T: Você vai gostar dos meus. Vou contar pra você: esse aqui é bom, o nome dele é Grafitti...
esse outro aqui dá um chute forte pra caramba que faz gol daqui de trás.
C: Tá bom.
T: E esse outro aqui se chama Rogério (goleiro).
(começam a jogar, C joga bem)
T: Aí você tá indo bem! Os vermelhos gostaram de você!
C: (faz gol) Goooooooooooooool!!!!!!!!
Mais adiante, Mauro incorpora espontaneamente a fantasia, afirmando que “os jogadores [da
terapeuta] já se acostumaram” a ser comandados por ele.
Por fim, na Categoria Não-Lúdico, duas categorias comuns aos atendimentos foram a
Solicitação de Relato e a Estruturação. A terapeuta fazia perguntas a respeito do cliente,
especialmente no início das terapias (“Você sabe como eu me chamo?”) e estruturava o tempo da
sessão, especialmente no caso de Erik, que fazia mais perguntas:
E: Vai dar pra brincar de mais alguma coisa?
T: Não vai dar, o tempo acabou. Você gostou dessa outra brincadeira né? Então semana
que vem eu trago pra gente.
Os dados dos dois atendimentos mostram que a Brincadeira-Lúdico pode ser considerada a
base da interação com essas crianças, com um papel central tanto em termos da sua alta incidência
nas sessões, como também da variedade de comportamentos da terapeuta nesta categoria e da
possibilidade de aprovar os comportamentos do cliente. Entretanto, outras formas lúdicas são
necessárias para que se completem intervenções importantes do atendimento (como, por exemplo, a
126
interpretação e a estruturação). Ainda que seja importante relacionar diretamente os temas tratados
às questões do cotidiano da criança, nem sempre isso foi necessário para que vários procedimentos
terapêuticos fossem realizados. Outra questão importante diz respeito à correspondência entre a
definição das Categorias do Brincar e os comportamentos mais freqüentes da terapeuta em cada
uma delas, como por exemplo, Estruturação durante a Brincadeira Não-Lúdico; Solicitações de
Relato durante Cotidiano-Lúdico e Cotidiano Extra-Lúdico. Essa correspondência pode ser tomada
como um indicador da consistência das categorias do brincar elaboradas neste estudo.
(c) O que as subcategorias do terapeuta elaboradas no presente estudo acrescentam à análise
anterior?
A análise das subcategorias do terapeuta (elaboradas no presente estudo) associadas a cada
Categoria do Brincar, acrescenta novos elementos à análise anterior. A Tabela 9, a seguir, lista as
subcategorias do terapeuta em ordem de freqüência para cada Categoria do Brincar, nos
atendimentos de Mauro e de Erik. Os dados em cinza correspondem às subcategorias específicas à
terapia infantil, conforme descrito anteriormente. Os dados em negrito correspondem às
subcategorias baseadas em procedimentos comportamentais.
Tabela 9. Subcategorias do terapeuta em cada categoria do brincar, durante os atendimentos de
Mauro e Erik.
Mauro
Brincadeira
Lúdico (57,%)
Brincadeira Não-
Lúdico
(13,2%)
Cotidiano
Lúdico (11,3%)
Fantasia
Lúdico (8,3%)
Não-Lúdico (5,1%)
Cotidiano Extra-
Lúdico (4,7%)
Direcionamento 15,3
SR informação 22,6
SR informação 37
SR informação 16,4
SR informação 34
SR informação 50
FA Narrativa
leitura
13,6
ES brincadeira 11,3
Direcionamento 11
Exclamação 11,9
SQ opinião 9,8
SQ opinião 21,1
Exclamação /
humor
8,2 Modelo 9,3
Contestação 8,8
Descrição 9 ES tempo 9,8
EM auto-
revelação
7,9
Descrição 8,2 IF 5,7
SQ opinião 5,5
Desafio 9 RE 7,3
Contestação 5,2
ES brincadeira 7,3 RE 5,7
Exclamação /
humor 5,5
AP concordância
7,5 IF 4,9
Direcionamento 2,6
SR informação 5,8 SQ opinião 4,7
Descrição 5,5
IF confirmação 7,5 IF confirmação 4,9
EM 2,6
Contestação 5,4 Direcionamento 4,7
IP 4,4
Direcionamento 6 Contestação 4,9
Modelo 2,6
AP concordância
4,3 Descrição 4,7
RE 3,3
Modelo 6
SR repetição
confirmação
2,4
AP 2,6
RE 3,5 ES tempo 3,8
Modelo 3,3
IF 4,5 Direcionamento 2,4
Descrição 2,6
Modelo 3,3 Desafio 3,7
AP concordância 3,3
Contestação 4,5 Extinção 2,4
IP 2,6
Desafio 3,3
Exclamação /
humor
3,7
SQ sentimento 2,2
Extinção 3
Bloqueio de
Esquiva
2,4
127
IF 3,2 ES func terapia 2,8
Extinção 2,2
EM 3 ES func terapia 2,4
DI correção 3 Extinção 2,8
SR repetição
confirmação
1,1
RE 3 AP concordância
2,4
IP 2,6 AP 1,9
EM auto-revelação
1,1
FA Narrativa
leitura
1,5 Descrição 2,4
ES tempo 2,2 AP concordância 1,9
EM 1,1
SR repetição
confirmação
1,5 Modelo 2,4
EM 1,7 DI correção 1,9
Desafio 1,1
SQ opinião 1,5
Exclamação /
humor
2,4
IF confirmação 1,7 Contestação 1,8 ES tempo 1,5 IP 2,4
AP 1,3
SR repetição
confirmação
0,9
EM auto-
revelação
1,5
DI desaprovação
1,1 ES acordo 0,9
AP
agradecimento
1,5
Extinção 1 AP agradecimento
0,9
SQ opinião 0,9
Bloqueio de
Esquiva
0,9
ES acordo 0,9
FA não verbal 0,9
EM auto-
revelação
0,9
Bloqueio de
Esquiva
0,4
SR repetição
confirmação
0,4
AP
agradecimento
0,4
% total cinza 55,9
% total cinza 28,1
% total cinza 23,1
% total cinza 37,4
% total cinza 7,2
% total cinza 5,2
% total negrito 4,7 % total negrito 13,0
% total negrito 5,5
% total negrito 9,0 % total negrito 7,2
% total negrito 2,6
Erik
brincadeira-
lúdico
(47,1%)
fantasia lúdico
(20,0%)
cotidiano extra-
lúdico (12,6%)
brincadeira não-
lúdico (11,5%)
não-lúdico (7,2%)
cotidiano lúdico
(1,6%)
Direcionamento 17 SR informação 29,9
SR informação 27,9
RE 14,3
SR informação 37
SR informação 75
Descrição 13,5
Descrição 13,4
SR
Direcionamento
13,1
Descrição 14,3
Descrição 12
AP descrição 13
RE 11,4
SR repetição
confirmação
11,3
ES func terapia 6,6 SR Informação 14,3
SR repetição
confirmação
11
IP 13
Exclamação /
humor
9,7
SQ sentimento 7,2 IF 6,6 ES brincadeira 12,5
SQ bloqueio de
esquiva
8,6
Contestação 9,1
Contestação 5,2 DI Contestação 6,6 ES tempo 8,9 RE desafio 8,6
SR informação 8,3
RE 5,2 ES tempo 4,9 IF 8,9 SQ opinião 5,7
Modelo 5,6
Exclamação /
humor
5,1 AP Descrição 4,9 AP concordância
5,4 IP 5,7
AP concordância 4,4
SQ opinião 4,1 IP 4,9
SR repetição
confirmação
3,6 RE 5,7
DI correção 3,9
EM 3,1 RE 4,9 ES func terapia 3,6
EM Exclamação
humor
2,9
IF 3,1
Direcionamento 3
SR repetição
confirmação
3,3 ES acordo 3,6 IF confirmação 2,9
ES brincadeira 1,7
AP 2,1 SQ opinião 3,3
AP
agradecimento
3,6
AP 1,7
IP 2,1 AP concordância 3,3 SQ opinião 1,8
SR repetição
confirmação
1,3
Desafio 2 AP 1,6 EM 1,8
FA não verbal 1,3
EM auto-
revelação
1
IF Exclamação /
humor
1,6
EM exclamação
humor
1,8
FA narrativa leitura
1,3
Extinção 1 DI correção 1,6 DI contestação 1,8
EM 1,3
IF confirmação 1 DI desaprovação 1,6
SQ opinião 0,9
Modelo 1
128
Bloqueio de
Esquiva
0,9
DI desaprovação
1
Desafio 0,8
Extinção 0,8
ES tempo 0,4
ES acordo 0,4
IP 0,4
% total cinza 43,2
% total cinza 23,5
% total cinza 19,6
% total cinza 28,6
% total cinza 23,5 % total cinza 13,0
% total negrito 5,6
% total negrito 2,0 % total negrito 0,0 % total negrito 0,0 % total negrito 8,6
% total negrito 0,0
Os resultados da Tabela 9 indicam que subcategorias supostamente típicas de terapia infantil
ocorreram durante qualquer forma de interação lúdica, tanto no atendimento de Erik como no de
Mauro. Entretanto, nota-se predominância destas subcategorias durante os momentos de
Brincadeira-Lúdico, o que pode ser percebido mais facilmente no caso de Mauro, onde as cinco
subcategorias mais freqüentes da Brincadeira-Lúdico foram: Direcionamento, Narrativa / Leitura,
Exclamação / Humor, Descrição e Estruturação de Brincadeira. Este é um dado que parece indicar
que, de fato, tais subcategorias descrevem comportamentos da terapeuta talvez muito fortemente
fundamentais no relacionamento com as crianças deste estudo.
Outro dado interessante refere-se à porcentagem de ocorrência de SR-Informação em cada
Categoria do Brincar. A Tabela 9 mostra que esta subcategoria ocorreu com menor freqüência em
Brincadeira-Lúdico do que em qualquer outra categoria, em ambos os atendimentos. No
atendimento de Mauro, SR-Informação foi a mais freqüente em todas as outras categorias do
Brincar. Pode-se deduzir que a situação de Brincadeira-Lúdico não propicie à terapeuta solicitar
informações do cliente. Hipotetiza-se, também, se solicitar informações poderia ser aversivo para a
criança, o que colaboraria para explicar o porquê do brincar ser tão reforçador.
Chama a atenção que, embora a Categoria do Terapeuta mais freqüente em Brincadeira-
Lúdico tenha sido a Aprovação no caso de Mauro e a Recomendação no caso de Erik, na análise das
subcategorias, o Direcionamento ocupou o primeiro lugar, com 15,3% e 17% cada. Esta é uma
subcategoria presente em várias Categorias do Terapeuta (e que aqui foi apresentada agrupando-se
todas as ocorrências), na interação com as duas crianças, o que é um indicador de que o
129
direcionamento do comportamento ou do relato do cliente se constituiu em uma das principais
estratégias da terapeuta.
Já as subcategorias que descrevem procedimentos comportamentais obtiveram porcentagens
mais baixas, com exceção de Modelo, que correspondeu a 9% dos episódios verbais em Brincadeira
Não-Lúdico e a 6% em Fantasia-Lúdico, na terapia de Mauro. No exemplo a seguir, Mauro tinha
reações excessivas (como birras) a cada vez que as casas do Jogo da Vida indicavam algo que o
prejudicasse. A terapeuta dá modelo de reação mais adequada quando o mesmo acontece com ela:
T: Lê para mim???
C: ‘Recebeu visita, fique 1 rodada sem jogar!’ hahahahahaha.....
T: Estou com azar hoje. Tudo bem, é você.(Modelo)
Na terapia de Erik, o Modelo também foi mais utilizado em Brincadeira-Lúdico (5,6%). No
exemplo a seguir, quando Erik relata que tem que dar pontos para quem está perdendo “porque
Deus não gosta disso”, a terapeuta dá modelo de comportamento alternativo: “Tá certo, mas sabe
outro jeito também? Eu posso te ensinar a ganhar pontos!!!!” e, em seguida, solicita que Erik a
ensine como jogar:
T: Então vai, você que tá me ensinando, hein? É esse aqui? Como eu jogo, bem rápido???
C: Não... devagarzinho.
Em seguida, a terapeuta o aprova e descreve que ganhou pontos graças à ajuda dele.
Outra subcategoria que envolve procedimento comportamental foi o Bloqueio de Esquiva,
em Não-Lúdico (8,6%). Entretanto, como esta Categoria do Brincar foi pouco freqüente, a
ocorrência do Bloqueio de Esquiva, na verdade, restringiu-se a poucos episódios verbais. No
exemplo a seguir, a terapeuta e Erik conversavam a respeito do que deixava a mãe dele brava, e ele
colocava-se na posição de “filho bonzinho”. A terapeuta bloqueou a esquiva até que ele assumisse
que também deixava sua mãe irritada:
T: Ah, ficam acordando ela?
C: A Paula, minha irmã.
T: O que ela fala quando ela fica nervosa, Erik?
C: Ela dá bronca.
T: E aí o que ela fala?
C: Ela fala: “Paula, pára!”
T: E pra você o que ela fala, Erik?(Bloqueio)
130
C: Pra mim ela não fala nada, por causa que eu não acordo ela...
T: E quando ela fica brava com você, o que ela fala?(Bloqueio)
C: Ela fala: “Ah, Erik!”
Algumas subcategorias ocorreram em baixa freqüência, nas sessões analisadas. Ainda que a
freqüência seja um possível indicador da eficácia de uma categoria, considerando-a na sua relação
com os comportamentos subseqüentes da criança, outros aspectos podem ser analisados. Uma
subcategoria com baixa freqüência pode ter relevância no conjunto delas, e em como se articulam
formando uma categoria ampla. É possível que, ainda assim, sejam importantes em pesquisas
específicas sobre certos comportamentos do terapeuta (por exemplo: a auto-revelação). De qualquer
forma, algumas subcategorias de fato referiam-se a comportamentos da terapeuta de menor
importância, como é o caso da solicitação para que o cliente confirmasse ou repetisse um relato (SR
Confirmação/Repetição) ou de quando a terapeuta apenas confirmava algo dito pelo cliente (IF
Confirmação). Mesmo este recorte foi útil, na medida em que foi possível separar estas
verbalizações de outras cujo conteúdo parece merecer uma análise mais cuidadosa. O papel das
verbalizações da terapeuta pertencentes a subcategorias típicas da terapia infantil indica que elas
podem ser tomadas como estratégias no manejo clínico com crianças e que os resultados deste
estudo descreveram aspectos importantes destas estratégias, desde uma definição mais estruturada
de cada uma, até a algumas topografias que elas assumem, em quais situações lúdicas ou não-
lúdicas podem ser utilizadas e que comportamentos do cliente as sucedem.
(d) Qual a relação entre as Categorias do Brincar e as Categorias do Cliente propostas por
Zamignani (2006, em elaboração)?
Buscando relacionar as Categorias do Brincar e as Categorias do Cliente, a Tabela 10 a
seguir apresenta uma lista destas para cada Categoria do brincar, em ordem decrescente de
porcentagem, nos atendimentos de Mauro e Erik.
131
Tabela 10. Categorias do Cliente mais freqüentes em cada categoria do brincar, durante os
atendimentos de Mauro e Erik.
Mauro
brincadeira-lúdico
(N=423)
fantasia lúdico
(N=62)
cotidiano lúdico
(N=78)
cotidiano extra-
lúdico (N=37)
brincadeira não-
lúdico (N=85)
não-lúdico (N=36)
relato 38,8 relato 33,9 relato 62,8 relato 73,0 relato 48,2 relato 38,9
concordância
19,1 concordância
29,0
relato
qualificativo
19,2
relato
qualificativo
10,8 concordância
17,6 concordância
30,6
relato
qualificativo
17,5
relato
qualificativo
22,6 concordância
5,1 solicitação 8,1 solicitação 12,9
relato
qualificativo
16,7
oposição 13,0 solicitação 9,7 oposição 5,1 explicação 2,7
relato
qualificativo
10,6 oposição 8,3
solicitação 9,5 oposição 4,8 solicitação 3,8 concordância
2,7 oposição 9,4 solicitação 2,8
explicação 1,7 explicação 0,0 explicação 3,8 oposição 2,7 explicação 1,2 explicação 2,8
metas 0,2 metas 0,0 metas 0,0 metas 0,0 metas 0,0 metas 0,0
registro
insuficiente
0,2
registro
insuficiente
0,0
registro
insuficiente
0,0
registro
insuficiente
0,0
registro
insuficiente
0,0
registro
insuficiente
0,0
Erik
brincadeira-lúdico
(N=211)
fantasia lúdico
(N=96)
cotidiano lúdico
(N=8)
cotidiano extra-
lúdico
(N=58)
brincadeira não-
lúdico
(N=57)
não-lúdico (N=31)
relato 37,4
relato 50,0 relato 75,0 relato 48,3 solicitação 38,6 relato 51,6
concordância
19,4
relato
qualificativo
15,6
relato
qualificativo
12,5 solicitação 15,5 relato 35,1 concordância
16,1
solicitação 16,1
explicação 11,5 explicação 12,5
relato
qualificativo
12,1 concordância
12,3 solicitação 9,7
oposição 11,4
concordância
9,4 solicitação 0 oposição 6,9 metas 5,3
registro
insuficiente
9,7
relato
qualificativo
7,1
registro
insuficiente
7,3 metas 0 explicação 5,2
relato
qualificativo
3,5 explicação 6,5
explicação 7,1 solicitação 4,2 concordância
0
registro
insuficiente
5,2
registro
insuficiente
3,5
relato
qualificativo
3,2
registro
insuficiente
1,4 oposição 2,1 oposição 0 metas 3,4 explicação 1,8 oposição 3,2
metas 0 metas 0
registro
insuficiente
0 concordância
3,4 oposição 0 metas 0
Os resultados da Tabela 10 indicam que, para os dois clientes, o Relato foi mais freqüente
em todas as Categorias do Brincar, exceto em Brincadeira Não-Lúdico, no caso de Erik. Nesta
última, as solicitações compuseram 38,6% de suas verbalizações, o que pode ser entendido como
uma situação em que a criança apresentou mais iniciativa, fazendo diversas perguntas a respeito de
brinquedos e explorando a sala:
C: Que bonitinho, o que é isso?
T: É de pintar.
C: Como é que se pinta?
A análise do conteúdo dos relatos em cada Categoria do Brincar mostra que ele guarda
características distintas. Pode-se dizer que uma das diferenças entre os relatos (e também relatos
qualificativos) dos clientes em cada Categoria do Brincar é que, em algumas categorias, o objeto do
relato está predominantemente fora do contexto de atendimento, como em Cotidiano-Lúdico e
132
Cotidiano Extra-Lúdico e, a depender, em Não-Lúdico. Já em outras categorias, o objeto do relato
está presente nas sessões, como em Brincadeira-Lúdico, Fantasia-Lúdico e, a depender,
Brincadeira-Lúdico. Assim, um Relato durante a Fantasia-Lúdico é bastante diferente de um Relato
durante o Cotidiano-Lúdico, como nos exemplos que se seguem:
(a) Relato em Fantasia-Lúdico:
C: “Bi-bi, caminhão chegando, caminhão chegando!”
C: “E é daqui que sai o raio dele.... Picachuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!”
(b) Relato em Cotidiano-Lúdico:
T: Você faz xixi na calça de dia ou dormindo?
C: É, dormindo.
Essa diferença também é encontrada em outras Categorias do Cliente, como por exemplo a
Concordância, que foi uma resposta de alta freqüência dos clientes. Na subcategoria de
Concordância denominada Seguimento, a criança não apenas concorda com o que foi dito ou
solicitado pela terapeuta, como executa na sessão aquilo que lhe foi pedido. Na terapia de Erik, o
Seguimento ocorreu principalmente durante a Brincadeira-Lúdico, a Fantasia-Lúdico, e a
Brincadeira Não-Lúdico, e não ocorreu durante as categorias Cotidiano-Lúdico e Cotidiano Extra-
Lúdico.
Outra diferença percebida na Tabela 10 refere-se à freqüência de concordâncias, em ambos
os atendimentos, que foi sistematicamente mais alta nas categorias Brincadeira-Lúdico, Fantasia-
Lúdico, Brincadeira Não-Lúdico e Não-Lúdico, do que naquelas categorias que destacam o
cotidiano da criança de alguma forma (Cotidiano-Lúdico e Cotidiano Extra-Lúdico). É possível que
o tema “cotidiano” seja mais aversivo para as crianças do que o tema “brincadeira”, resultando,
assim, em menos concordâncias durante a interação com a terapeuta.
(e) Qual Categoria do Brincar propicia mais comportamentos que favorecem e que não favorecem
a qualidade imediata da relação terapêutica?
133
Relacionando as Categorias do Brincar com os comportamentos que favorecem e que não
favorecem para a qualidade imediata da relação terapêutica, a Figura 12 apresenta a proporção
referente às que contribuem:
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
cotidiano ludico fantasia lúdico brincadeira não-
lúdico
brincadeira-
lúdico
cotidiano extra-
lúdico
não-lúdico
Categorias do Brincar
Percentagem
Mauro
Erik
Média
Figura 12. Percentagem de verbalizações de Mauro e favoráveis à qualidade da relação terapêutica,
em cada Categoria do Brincar.
Não houve um padrão comum às duas crianças a respeito de qual Categoria do Brincar
propiciaria a melhor relação terapeuta-cliente: no caso de Mauro, a maior porcentagem ocorreu na
categoria Fantasia-Lúdico (87,1%), enquanto que na de Erik, foi durante a Cotidiano-Lúdico
(100%). Nota-se que a maioria dos comportamentos-queixa de Mauro ocorreu quando o tema da
fala era a brincadeira (Brincadeira-lùdico e Brincadeira Não-Lúdico), ao passo que os
comportamentos-queixa de Erik ocorriam durante interações mais parecidas com uma terapia de
adultos (Não-Lúdico e Cotidiano Extra-dico), embora ele fosse a criança mais nova. Assim, é
possível que seja mais difícil, na interação com Erik, realizar intervenções diretas sobre o
comportamento, tanto é que sabe-se que a terapeuta utilizou menos procedimentos comportamentais
com ele do que com Mauro.
A análise deve ser vista com cautela, devido a outras variáveis envolvidas, dentre as quais:
(a) a variação na quantidade de episódios verbais em cada Categoria do Brincar e (b) as diferentes
134
intervenções da terapeuta em cada Categoria do Brincar. Assim, a categoria Cotidiano-Lúdico, no
atendimento de Erik, foi composta de apenas oito unidades de análise e, provavelmente, este fator
possibilitou que não ocorresse, durante esta categoria, nenhuma verbalização do cliente que
compusesse o grupo das que não contribuem para a qualidade da relação terapêutica. Já no caso de
Mauro, tem-se que a Discordância da terapeuta ocorreu em maior porcentagem durante a
Brincadeira-Lúdico (10,2%) e tem-se, também, que a Discordância é o comportamento que mais
“provocou” a Oposição do cliente. A Oposição, por sua vez, foi considerada como contra
producente para a relação (exceto no caso de OP Discordância). Esta combinação de variáveis pode
ter contribuído para o resultado apresentado na Figura 12, em que nesta Categoria do Brincar a
porcentagem de comportamentos de Mauro que contribuem para a qualidade da relação foi menor
(77,5%) que em quase todas as outras. Por outro lado, foi nesta mesma categoria, Lúdico-
Brincadeira, que Mauro apresentou a maior parte das verbalizações de exclamação e de humor, que
são fortes indícios de envolvimento com a terapia, a terapeuta e/ou a atividade. Totalizaram-se 70
ocorrências só nesta Categoria, ao passo que a soma das verbalizações de exclamação e humor em
todas as outras Categorias do Brincar chegou a somente a 24. A análise a respeito da Categoria
Não-Lúdico, que obteve a menor freqüência na Figura 12 (75%), já é diferente. Nesta categoria, as
principais respostas do cliente, responsável por esse resultado, foram os relatos curtos e/ou
monossilábicos (16,7%), que também pertencem ao grupo de verbalizações que não contribuem
para a relação.
No caso de Erik, as menores porcentagens ocorreram durante o Não-Lúdico (61,3%) e o
Cotidiano Extra-Lúdico (62,1%). Nesta última, as verbalizações da criança que não contribuíam
para a relação incluíram: (a) frases ininteligíveis, classificadas como Registro Insuficiente; (b)
relatos ou explicações incorretas, em que Erik tentava convencer a terapeuta de que ele era mais
velho, ou de que ele era “bonzinho” com a mãe, ou em que fingia sabia ler as horas e dizer os dias
da semana, dentre outras coisas. Esta é uma análise relevante para a intervenção terapêutica, pois
demonstra que a relação terapêutica se prejudicava quando Erik era solicitado a falar sobre aspectos
135
de seu cotidiano provavelmente aversivos, ao passo que no caso de Mauro os problemas ocorriam
durante o próprio brincar. Esta é uma diferença marcante entre o repertório comportamental das
duas crianças e, portanto, diferenças nas intervenções da terapeuta para cada uma poderiam ser
tomadas como um indício de sensibilidade às contingências.
(f) Qual tipo de interação lúdica propicia maior ocorrência de comportamentos queixa? E de
melhora?
Relacionando quais Categorias do Brincar propiciam maior ocorrência de comportamentos-
queixa, a Figura 13 a seguir apresenta a porcentagem de ocorrência desses comportamentos em
cada categoria, nos atendimentos de Mauro e Erik.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
brincadeira-
lúdico
brincadeira não-
lúdico
fantasia lúdico cotidiano ludico não-lúdico cotidiano extra-
lúdico
Categorias do Brincar
Percentagem
Mauro
Erik
Média
Figura 13. Percentagem de comportamentos-queixa em cada Categoria do Brincar, nos
atendimentos de Mauro e Erik.
A comparação entre esta figura, sobre comportamentos-queixa, e a Figura 11, sobre a
qualidade da relação terapêutica, mostra que há uma relativa coincidência entre a ocorrência de
comportamentos-queixa e os menores índices de qualidade da relação terapêutica. Assim, no caso
de Erik, o Não-Lúdico e o Cotidiano Extra-Lúdico foram as situações mais propícias para o
136
aparecimento de comportamentos-queixa. A Brincadeira-Lúdico também propiciou os
comportamentos-queixa deste cliente, embora em menor proporção, principalmente na primeira
sessão, em que Erik desafiava a terapeuta, recusava-se a aceitar o empate do jogo de Pega-Varetas,
mas afirmava que era preciso dar os próprios pontos para agradar a Deus.
Já no caso de Mauro, a categoria que propiciou maior freqüência de comportamentos-queixa
(Brincadeira-Lúdico) foi também uma das categorias com menor porcentagem de comportamentos
desta criança, associados à qualidade da relação terapêutica. Como já foi discutido anteriormente, o
fato da porcentagem de interações classificadas como Brincadeira-Lúdico ter crescido a cada
sessão, juntamente com as características das verbalizações da terapeuta e de Mauro nesta
Categoria, constituem-se indícios de que esta categoria possibilitou o aparecimento de
comportamentos-queixa mas, também, o lidar com tais comportamentos produzindo
comportamentos de melhora. A interação em Brincadeira-Lúdico pareceu constituir-se
suficientemente envolvente para a criança para que a terapeuta pudesse emitir comportamentos
variados (inclusive a Discordância), sem que colocasse em risco a relação com esse cliente. Este
perfil é bastante diferente do Não-Lúdico, em que a criança dava respostas curtas e/ou
monossilábicas, e onde não aparecia o comportamento-problema tanto que a porcentagem desta
categoria decaiu bruscamente depois da primeira sessão.
É provável que a associação entre qualidade da relação e comportamentos-queixa fosse
diferente caso as queixas das crianças fossem outras, como por exemplo a timidez, que é uma
queixa internalizante. Esta é uma hipótese que poderá ser testada em pesquisas futuras, com
crianças que apresentem outros padrões de comportamento.
137
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo buscou identificar, no processo de terapia analítico-comportamental
infantil, as características do brincar e suas relações com o comportamento da terapeuta e das
crianças atendidas. Esse objetivo, de cunho empírico, foi associado a um objetivo de cunho
metodológico, voltado à adaptação e ao refinamento de um sistema de categorias que subsidiou o
processo de análise de dados.
Sobre os resultados empíricos
Em termos empíricos, este estudo apresentou e descreveu a diversidade de comportamentos
de uma terapeuta com seus dois clientes, sob diferentes condições lúdicas e não-lúdicas de
interação. Esta análise traz implicações práticas para a formação do psicólogo em geral e, em
particular para a capacitação do terapeuta infantil.
O conhecimento produzido por este estudo, sobre o processo terapêutico com duas crianças,
permitiu identificar algumas características mais estáveis da terapia infantil ou, pelo menos, da
terapia infantil conduzida pela terapeuta sob análise, levantando-se a questão de sua possível
generalidade para outros terapeutas. Por outro lado, as diferenças no processo terapêutico conduzido
pela mesma profissional com duas crianças distintas, ainda que com queixas semelhantes, traz
questões pertinentes ao controle exercido pelas características do cliente sobre o desempenho da
terapeuta e sua flexibilidade para se adaptar a essas características.
Considerando-se, inicialmente, a questão da variedade no padrão de comportamentos dos
participantes, a freqüência de categorias identificadas às Categorias do Terapeuta, do Cliente e do
Brincar apontam para algumas reflexões.
Quanto à freqüência das Categorias do Terapeuta, a predominância da Solicitação de Relato
e da Aprovação nos dois atendimentos é congruente não apenas com os objetivos da terapeuta
descritos no Questionário de Objetivos Terapêuticos, mas também com a literatura na área, a
respeito da importância de obter informações diretamente com a criança nas sessões iniciais e de
138
formar vínculo com a mesma, especialmente com o uso de jogos e brincadeiras (por exemplo,
Moura & Azevedo, 2001; Gosch & Vandenberghe, 2004; Moura & Venturelli, 2004). Ao lado das
similaridades na freqüência de várias categorias, foram verificadas diferenças, especialmente em
Recomendações (mais freqüentes para Erik), Facilitações e Estruturações (mais freqüentes para
Mauro). Nesses casos, é possível inferir que a terapeuta, não obstante atuar sob controle das queixas
das crianças, mantinha-se atenta aos seus desempenhos nas sessões, comportando-se diferentemente
em relação a cada uma delas.
Na análise das Categorias do Cliente, destaca-se a alta freqüência de Relatos de Mauro e
Erik e a diferença na freqüência de algumas categorias, como Relato Qualificativo e Oposição
(maiores para Mauro), Solicitações, Explicações e Registros Insuficientes (mais freqüentes para
Erik). Tais diferenças foram ser atribuídas principalmente a intervenções específicas da terapeuta
com cada cliente (comportamentos emitidos e brincadeiras utilizadas) mas também às
particularidades de cada criança (idade, escolarização e comportamentos-queixa). Isso sugere que,
embora as crianças estivessem apresentando problemas que, à primeira vista, pareciam similares,
uma análise minuciosa revela intervenções bastante individualizadas.
A análise de freqüência das Categorias do Brincar demonstrou que a Brincadeira-Lúdico
predominou nos dois atendimentos, mas com diferenças relevantes entre ambas: a Fantasia-Lúdico
e o Cotidiano Extra-Lúdico foram mais freqüentes para Erik, e a Brincadeira-Lúdico e o Cotidiano-
Lúdico para Mauro. Algumas explicações possíveis para estas diferenças apontam para: (a) os
objetivos da terapeuta com cada cliente; (b) diferenças entre os clientes quanto à preferência por
brincadeiras e (c) seleção do tipo de brincadeira potencialmente mais adequada às características de
criança: predominância de brincadeiras não-estruturadas (desenho, bonecos, pintura) com Erik, que
permitiam o uso da fantasia (Fantasia-Lúdico) e a conversa paralela à brincadeira (Cotidiano extra-
Lúdico), ao passo que, com Mauro, utilizou mais jogos estruturados, em que as verbalizações
enquadravam-se em Brincadeira-Lúdico, exceto quando fazia associações com o cotidiano da
criança (Cotidiano-Lúdico).
139
Com relação ao papel do brincar, a análise das sessões permitiu verificar que este assumiu
diversas funções durante o atendimento terapêutico em TACI. A primeira delas foi a promoção de
uma relação altamente reforçadora com a criança, demonstrada pelas características de seus
comportamentos durante o brincar, especialmente pelas falas de Exclamação / Humor, e também
pelas solicitações de ambas as crianças, para que continuassem a brincar ou para que voltassem a
escolher os brinquedos já utilizados. Esse dado sugere uma alta qualidade do relacionamento, o que
permite prever bons resultados e a importância da brincadeira para isso.
Outra função foi a de obter informações por meio de perguntas durante a brincadeira.
Algumas dessas informações talvez seriam obtidas com mais dificuldade, caso não houvesse a
brincadeira concomitante (como no atendimento de Mauro, que emitia respostas monossilábicas
quando não estava brincando). Outras informações foram ainda obtidas ao se relacionar as questões
da brincadeira com o cotidiano da criança; outras ainda foram obtidas no contexto da fantasia (por
exemplo, alguns indícios sobre o relacionamento de Erik com sua mãe) durante as atividades com
desenho e com bonecos. O uso da fantasia com este objetivo vai ao encontro de discussões da
literatura (por exemplo, Regra, 1997; Penteado, 2001), a respeito da utilidade do comportamento de
fantasiar para identificar comportamentos encobertos e manifestos da criança. Segundo Skinner,
“formar imagens”, isto é, ver na ausência da coisa vista é uma visão condicionada que “explica a
tendência que se tem de ver o mundo de acordo com a história prévia” (Skinner, 1991, 1994). Em
terapia, o fantasiar poderia ser considerado uma estratégia de avaliação e intervenção (Regra, 2001),
na qual se identificam comportamentos e contingências de vida do cliente (Regra, 1997).
O brincar também se constituiu em um procedimento que facilitou a observação direta sobre
o modo como a criança se comporta na interação com o brinquedo e com o parceiro da brincadeira
(no caso, a terapeuta). Inclui-se, aqui, as evidências quanto ao modo como as crianças reagiram às
situações-problemas propostas pela terapeuta, à necessidade de se adequar às regras do jogo e às
solicitações para que expresse seus sentimentos. Nestas e em outras situações, pode-se afirmar que
são várias as reações possíveis da criança (aqui não apenas de Mauro e Erik): A criança desiste?
140
Reage de maneira agressiva? Solicita ajuda? Se esquiva mudando o assunto? Faz tentativas na
direção da solução do problema? De todo modo, algumas reações, mais assertivas ou mais criativas,
puderam ser tomadas como indicadores dos recursos comportamentais das crianças, ao passo que
outras reações, passivas ou agressivas, demonstrariam seus déficits.
É nesse sentido que o brincar pode ser entendido como situações que estabelecem
oportunidade para a criança emitir comportamentos clinicamente relevantes (CRBs), no sentido
definido por Kohlemberg e Tsai (2001). Estabelecer a relação entre o brincar e os CRBs da criança
pode ser um instrumento útil para a compreensão de particularidades das sessões de atendimento
com crianças (Conte e Brandão (1999). De fato, a ocorrência de “comportamentos-queixa”
(análogos aos comportamentos que os autores denominaram de CRB1) e “comportamentos de
melhora” (análogos aos CRB2) foi mais freqüente durante momentos de brincadeira, na terapia de
Mauro. A brincadeira é, possivelmente, uma situação mais próxima ao contexto natural de vida fora
da sessão e também de emissão dos comportamentos-problema, o que permitiu à terapeuta agir
diretamente e de forma contingente sobre ele, quando ocorre.
Ainda a respeito do procedimento de brincar enquanto situação que propiciou oportunidade
de observação direta, ele também permitiu inferir o nível de desenvolvimento da criança, incluindo
a sua alfabetização (no caso de Erik). Isso é importante para comparar os comportamentos
observados com o que seria esperado para a idade da criança, e também para ajustar a escolha dos
brinquedos nas sessões seguintes de atendimento.
Além de procedimento para facilitar a coleta de dados sobre a criança, pode-se ainda discutir
o papel do brincar como estratégia de intervenção do terapeuta para a melhora dos comportamentos
da criança. Não obstante as limitações na generalização, devido ao número reduzido de sessões
analisadas, de crianças e de terapeuta, o que impossibilita verificar mudanças nos comportamentos
das crianças em longo prazo, algumas considerações podem aqui ser feitas. Primeiramente, os
procedimentos comportamentais categorizados neste estudo como Modelo, Extinção e Bloqueio de
Esquiva puderam ser emitidos pela terapeuta durante várias brincadeiras, especialmente as que
141
ocorreram durante a categoria Brincadeira-Lúdico. Nesta categoria, a análise de seqüências de
interação mostrou alterações nas respostas das crianças, ao menos em curto prazo como, por
exemplo, o falar sobre raiva, no caso de Erik, e o criar regras para o jogo, no caso de Mauro. O
brincar, no ensino de novos comportamentos, também foi utilizado, conforme De Rose e Gil (2003,
p. 375), “como meio para ensinar outros comportamentos ou como uma condição na qual novos
comportamentos [puderam? ser adquiridos”.
Sobre os aspectos metodológicos
O segundo objetivo implicou em adaptar o sistema de Zamignani (2006, em elaboração)
originalmente elaborado para analisar terapia com adultos e refiná-lo em termos de subcategorias
aplicáveis à terapia infantil. Além de representar uma contribuição metodológica, o sistema aqui
adaptado e, em particular, as subcategorias elaboradas, geraram novas questões e possibilidades de
pesquisas futuras.
Com relação às contribuições metodológicas deste estudo, os resultados mostraram que as
categorias de comportamentos do terapeuta e do cliente, classificadas com o sistema de Zamignani
(2006, em elaboração), foram passíveis de utilização na análise da terapia infantil. No entanto, para
se caracterizar a especificidade da terapia infantil, foi necessário o detalhamento desses
comportamentos por meio da elaboração de subcategorias a partir da análise do conteúdo das
sessões. Nessa análise, foi possível verificar que elas se diferenciavam tanto em termos de
complexidade como de especificidade.
Neste trabalho, optou-se por realizar uma primeira análise a partir das Categorias de
Zamignani (2006, em elaboração) e, em seguida, uma análise mais minuciosa utilizando
subcategorias para cada categoria do terapeuta e do cliente. O resultado dessa opção foi a
possibilidade de analisar o processo terapêutico em dois níveis complementares, especialmente no
caso das verbalizações da terapeuta. Assim, pôde-se verificar que algumas verbalizações tinham
uma função aparente e mais explícita, que as Categorias do Terapeuta abarcavam, e uma função
142
terapêutica subjacente, mais inferencial, abarcada por algumas subcategorias. Fazer uma pergunta
para a criança, por exemplo, pode ter a dupla função de obter uma resposta a respeito do assunto
questionado, e também de bloquear uma esquiva anterior, por exemplo (ou outras funções, como
modelar, extinguir, desafiar...). Esta análise colaborou na compreensão de que o comportamento
pode estar sob controle de mais de uma variável.
No caso das subcategorias do terapeuta, algumas foram destacadas, como mais complexas,
por se caracterizarem como procedimentos comportamentais (Modelo, Bloqueio de Esquiva e
Extinção), que ocorriam em diferentes condições lúdicas e não-lúdicas. Também foram destacadas,
como mais específicas, as subcategorias que descreviam interações consideradas típicas da terapia
infantil, isto é, definidas em função de narrativas de jogos, uso de humor, estruturação de
brincadeira etc, que usualmente não ocorrem na terapia com adultos.
Com relação à análise dos comportamentos do cliente, foi possível realizar um detalhamento
em três níveis: (a) elaboração de subcategorias para as categorias propostas por Zamignani (2006,
em elaboração); (b) elaboração de categorias de comportamentos-queixa e comportamentos de
melhora, individuais para cada cliente e (c) agrupamento das subcategorias em função de
características de suas definições, que poderiam ser tomadas como indicadoras de que aqueles
comportamentos favoráveis ou não à qualidade imediata da interação terapêutica. Por meio do item
(a), foi possível descrever melhor e de forma sistemática como se comportaram as crianças em
sessão. Por meio do item (b), foi possível extrair, do conjunto amplo de comportamentos da criança
em sessão, aqueles que foram considerados mais relevantes para a intervenção terapêutica. Já o item
(c), constituiu uma tentativa de avaliar a qualidade da interação a partir dos comportamentos do
cliente.
Com relação ao processo de elaboração das subcategorias de comportamentos do terapeuta e
do cliente, e de categorias do brincar, é importante ressaltar três aspectos: (a) a elaboração de
categorias a partir das próprias sessões a serem analisadas; (b) a reorganização das subcategorias
143
iniciais em novos agrupamentos pertinentes ao problema de pesquisa e (c) as implicações da
pesquisadora ser a terapeuta.
A elaboração de categorias a partir das próprias sessões, para utilizá-las, em seguida, na
análise dessas sessões, constituiu uma opção metodológica que visou caracterizar o processo
terapêutico a partir de um contexto específico (uma terapeuta e seu atendimento a dois clientes).
Não obstante as possíveis restrições à generalidade dessas subcategorias, os resultados sugerem que
o procedimento de análise foi bastante heurístico, no sentido de produzir uma compreensão
detalhada dos dois processos terapêuticos, ao se organizar os dados, com base no sistema de
categorias e subcategorias, em vários tipos de análise: (a) descrição da freqüência de cada categoria
e subcategoria; (b) comparações entre dois atendimentos; (c) tendências ao longo das sessões; (d)
relações entre as categorias de comportamentos da terapeuta, do cliente e brincadeiras; (e) relação
terapêutica, em termos de comportamentos associados à qualidade da relação; (f) associação dos
dados com a queixa e a melhora dos clientes; (g) recorte de procedimentos comportamentais; (h)
recorte de estratégias típicas de terapia infantil.
A metodologia utilizada produziu, portanto, uma análise inicial essencialmente descritiva e
detalhada, que foi posteriormente reorganizada em novos agrupamentos e em relações para se
explorar mais produtivamente os objetivos da pesquisa. No presente estudo, pode-se destacar o
agrupamento das subcategorias iniciais em um conjunto considerado como interações “mais típicas”
de terapia infantil: Desafio / Solução de Problema; Direcionamento / Dica; Estruturação da
Brincadeira; Narrativa e Leitura de Jogo; Humor / Exclamação e Descrição. Estudos futuros
poderão verificar o quanto tais subcategorias seriam pertinentes a outros atendimentos, e quais
adaptações seriam necessárias (acréscimo de novas subcategorias, retirada de subcategorias menos
utilizadas ou modificações na definição das categorias) em virtude de características como a idade e
a queixa da criança, e a fase da terapia, encaminhando-se ainda mais para as recomendações da
Força Tarefa a respeito da necessidade de tais pesquisas (Levant, 2006).
144
O desenvolvimento deste estudo, no qual a pesquisadora é também a terapeuta, apresenta
vantagens e desvantagens. Além das dificuldades e cuidados em separar tais papéis, uma
desvantagem mais evidente é a possível falta de objetividade na análise das sessões, somada ao fato
de não ter sido realizado teste de concordância entre observadores. O Questionário de Objetivos
Terapêuticos foi uma alternativa para minimizar este problema, ao disponibilizar informações
relevantes acessíveis somente à terapeuta, como o histórico da criança, a operacionalização dos
comportamentos-queixa e comportamentos de melhora e os objetivos para a terapia.
O tipo de categorização realizada pressupôs, portanto, o uso do questionário, considerando
informações não presentes na observação direta das gravações das sessões de atendimento,
baseando-se na premissa de que são múltiplas as variáveis de controle dos comportamentos do
terapeuta e do cliente. A comparação entre as duas crianças demonstrou que a categorização foi
mais completa quanto mais precisas as informações do Questionário de Objetivos Terapêuticos. No
caso de Erik, a dificuldade na formulação da queixa, das hipóteses e dos objetivos levou a uma
dificuldade de análise. Isso significa que é possível que essa precisão seja um importante requisito
para a categorização de um atendimento. Trata-se, portanto, de uma medida a para reduzir a
discrepância entre o conhecimento do caso por parte de um pesquisador-terapeuta e um pesquisador
não-terapeuta.
Concluindo...
Considerando-se as contribuições e os limites do presente estudo, pode-se arrolar algumas
questões de pesquisa pertinentes para novas investigações. Certamente, é importante que estudos
futuros explorem as possibilidades de generalização do presente sistema de categorias e
subcategorias com novos terapeutas e com maior quantidade e diversidade de clientes com queixas
de problemas externalizantes e com outros tipos de queixas. Também seria interessante verificar a
aplicabilidade desse sistema e os resultados por ele produzidos, quando se compara processos de
terapia infantil de diferentes abordagens teóricas. Considerando que, pelo menos no Brasil, ainda
145
não se dispõe de uma tradição de estudos experimentais em terapia infantil, o presente sistema de
categorias poderia ser utilizado para a análise de dados produzidos sob esse delineamento.
Cabe ainda ressaltar que todo o estudo foi realizado com base no atendimento efetuado por
uma terapeuta iniciante, não somente na prática clínica após a conclusão do curso de graduação
(cerca de dois anos), como na vinculação à perspectiva da Análise do Comportamento (graduada há
três anos em um curso com forte base psicanalítica). Certamente, seria interessante explorar, em
estudos futuros, análises semelhantes com terapeutas experientes como forma de aferir a validade
do sistema de categorias e dos tipos de resultados obtidos.
Considerando-se as categorias e subcategorias produzidas neste estudo, também seria
pertinente avaliar a importância dos comportamentos por elas especificados no repertório do
terapeuta infantil, a partir de treinamento desses comportamentos com terapeutas ainda em
formação e da verificação de diferenças na qualidade do atendimento e na melhora da criança. Por
outro lado, o sistema como um todo poderia ser utilizado como instrumento de reflexão e avaliação
do terapeuta sobre variáveis que controlam seu próprio comportamento. Resultados de pesquisa
sobre tais questões poderiam elucidar requisitos relevantes da capacitação do terapeuta infantil,
desde os estágios iniciais do aluno de Psicologia em Clínica até a formação complementar posterior.
Esse último aspecto decorre, em parte, da experiência da própria autora deste trabalho. O
esforço de conduzir, simultaneamente, um processo de intervenção e de pesquisa sobre intervenção
foi, coerentemente com as recomendações de Levant (2005), um investimento de capacitação
profissional. A pesquisa, em termos de esforço para produzir conhecimento sobre a prática, teve
também efeitos positivos sobre a capacitação profissional que não foram aqui descritos mas que se
refletiram, em parte, no encaminhamento bem sucedido com os clientes sob análise no presente
caso. Um breve resumo das condições atuais das duas crianças pode ilustrar esse ponto.
Mauro ainda está em terapia. Em uma fase avançada, quando Mauro já não apresentava os
principais comportamentos-queixa durante as sessões, seu pai e sua irmã mais nova começaram a
participar do atendimento, interagindo com ele e com a terapeuta e favorecendo a generalização dos
146
comportamentos de melhora para sua interação com os familiares. Atualmente, os objetivos da
terapia são os de desenvolver o autocontrole de Mauro e de ensinar o pai a auxiliá-lo nos estudos,
substituindo as ameaças de punição por reforço positivo. Para o próximo semestre, as sessões
passarão a ser quinzenais, iniciando-se o processo de alta.
Erik também está em terapia, assim como sua mãe e seu irmão mais velho (estes com outras
terapeutas). A interação com a mãe melhorou e ele passou a solicitar ajuda da terapeuta para fazer
amizade com outras crianças. Neste ano, os problemas escolares se agravaram, e Erik intensificou a
esquiva do contato com letras e palavras, além de se queixar muito do relacionamento com a
professora. O objetivo da terapia passou a ser o de tornar mais reforçadoras as atividades
acadêmicas, com procedimentos para a redução da aversividade dessa atividade, valorização de
aquisições acadêmicas pela criança e melhora de seu autoconceito quanto à capacidade de
aprendizagem acadêmica. Atualmente, Erik não se esquiva do contato com as letras e já escreve as
primeiras palavras. Sua mãe e sua irmã têm valorizado os seus progressos e a coordenadora da
escola tem relatado melhoras em seu comportamento.
147
REFERÊNCIAS
Achenbach, T. M. (1991). Integrative guide for de 1991 CBCL/4-18, YSR, and TRF Profiles.
Burlington: University of Vermont.
American Psychiatric Associacion (APA, 1995). DSM-IV: Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais. (Dayse Batista, Trad., 4ª edição). Porto Alegre: Artes Médicas.
Banaco, R. A. (1999). Técnicas cognitivo-comportamentais e análise funcional. Em: R. R. Kerbauy
& R. C. Wielenska (Orgs.), Sobre comportamento e cognição: Psicologia comportamental e
cognitiva: Da reflexão teórica à diversidade na aplicação (pp. 75-82). Santo André: ESETec.
Castonguay, L. G. & Beutler, L. E. (2006). Principles of therapeutic change: What do we know and
what do we need to know? Em L. E. Beutler & L. G. Castonguay (Eds.), Principles of
effective therapeutic change that work. New York: Oxford University Press.
Conte, F. C. S. (1997). A criança em seu processo terapêutico: reflexões a partir de um estudo de
caso. Em: M. Delitti (Org.), Sobre Comportamento e Cognição: A prática da análise do
comportamento e da terapia cognitivo-comportamental (vol. 2, pp. 147-154). São Paulo:
ARBytes.
Conte, F.C.S. & Regra, J. A. G. (2002). A psicoterapia comportamental infantil: Novos Aspectos.
Em: E. F. M. Silvares (Org.), Estudos de caso em psicologia clínica comportamental infantil
(vol 1, pp. 79-136), São Paulo: Papirus.
Conte, F. C. S. & Brandão, M. Z. S. (1999). Psicoterapia Analítico-Funcional: A relação terapêutica
e a Análise Comportamental Clínica. Em: R. R. Kerbauy & R. C. Wielenska (Orgs), Sobre
Comportamento e Cognição: Psicologia comportamental e cognitiva: Da reflexão teórica à
diversidade da aplicação (vol. 4, pp. 134-148). Santo André: ESETec.
De Rose, J. C. C. & Gil, M. S. C. A. (2003). Para uma análise do brincar e de sua função
educacional: a função educacional do brincar. Em: M. Z. S. Brandão e cols (Orgs.), Sobre
comportamento e cognição: A história e os avanços, a seleção por conseqüências em ação.
Santo André: ESETec, volume 11, pp. 373-382.
148
Del Prette, G., Del Prette, Z. A. P. & Meyer, S. B. Psicoterapia com crianças ou adultos:
Expectativas e habilidades sociais de graduandos de psicologia. Artigo encaminhado para
publicação na Revista Estudos de Psicologia.
Del Prette, G. Silvares, F. M. & Meyer, S. B. (2005). Validade interna em 20 estudos de caso
comportamentais brasileiros sobre terapia infantil. Revista Brasileira de Terapia
Comportamental e Cognitiva, 7(1), 93-106.
Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2005). Psicologia das habilidades sociais na infância: Teoria
e Prática. Petrópolis: Vozes.
Del Prette, Z. & Del Prette, A. (2001). Inventário de habilidades sociais: manual de aplicação,
apuração e interpretação (IHS-Del-Prette). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Echeburúa, E. & Corral, P. (s.d.). Eficácia de las terapias psicológicas: De la investigación a la
práctica clínica. Resumen.
Estrada, A. U. & Russel, R. L. (1999). The development of the child psychotherapy process scales
(CPPS). Psychotherapy research, 9(2), 154-166.
Falcone, E. O. (2001). A função da empatia na Terapia cognitivo-comportamental. Em: M. L.
Marinho & V. E. Caballo (Orgs.), Psicologia Clínica e da Saúde (pp. 137-152). Londrina:
UEL-APICSA.
Ferster, C. B. (1966). Transition from animal laboratory to clinic. Simpósio da Reunião da
American Psychological Association, Nova York.
Fioravanti, C. (2005). Fragilidades expostas: levantamento mundial mostra que os distúrbios
psiquiátricos são freqüentes e pouco tratados. Pesquisa Fapesp, 107, 38-43.
Follette, W. C., Naugle, A. E. & Callaghan, G. M. (1996). A radical behavioral understanding of the
therapeutic relationship in effecting change. Behavior Therapy, 27, 623-641.
Follete, W. C., Naugle, A. E. & Linnerooth, P. J. N. (2000). Functional alternatives to traditional
assessment and diagnosis. Em: M. J. Dougher (Ed.), Clinical Behavior Analysis (pp. 99-125).
Reno: Context Press.
149
Forsyth, J. P., Kollings, S., Palav, A., Duff, K. & Maher, S. (1999). Has behavior therapy drifted
from its experimental roots? A survey of publication trends in mainstream behavioral journals.
Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry, 30, 205-220.
Gaines, R. (2003). Therapist self-disclosure with children, adolescents, and their parents. Journal of
Clinical Psychology / In Session, 568-580.
Garfield, S. L. (1995). Psychotherapy and eclectic-integrative approach. New York: John Wiley &
Sons.
Gavino, A. (1996). As variáveis do processo terapêutico. Em: V. E. Caballo (Org.), Manual de
técnicas de terapia e modificação do comportamento (pp. 131-143). São Paulo: Santos.
Goldfried, M. R. & Davidson, G. C. (1976). Clinical behavior therapy. New York: Holt, Rinehart &
Winston.
Goldstein, S. & Goldstein, M. (1992). Hiperatividade: como desenvolver a capacidade de atenção
da criança. Tradução de Maria Celeste Marcondes. São Paulo: Papirus, 2
a
ed.
Gosch, C. S. & Vandenberghe, L. (2004). Análise do Comportamento e a Relação Terapeuta-
Criança no tratamento de um padrão desafiador-agressivo. Revista Brasileira de Terapia
Comportamental e Cognitiva, 6(2), 173-181.
Greenberg, L. S. & Pinsoff, W. M. (comps.) (1986). The psychotherapeutic process: A research
handbook. Nova York: Guilford Press.
Guerrelhas, F., Bueno, M. & Silvares, E. F. M. (2000). Grupo de ludoterapia comportamental x
Grupo de espera recreativo infantil. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e
Cognitiva, 2(2), 157-169.
Guilhardi, H. J. (1988). A formação do terapeuta comportamental: Que formação? Em: H. W.
Lettner e B. P. Rangé (Org.), Manual de psicoterapia comportamental (pp. 313-320). São
Paulo: Manole.
Hill, C. E. (1978). The development of a system for classifying counselor responses. Journal of
Counseling Psychology, 25, 461-468.
150
Hill, C. E., Ladany, N. & Tompson, B. J. (2003). Therapist use of silence in therapy: A survey.
Journal of Clinical Psychology, 59, 513-524.
Howe, P. A. & Silvern, L. E. (1981). Behavioral observation of children during play therapy:
Preliminary development of a research instrument. Journal of Personality Assessment, 45(2),
169-182.
Kazdin, A. E. (1988). Child psychotherapy: Developing and identifying effective treatments.
Pergamon General Psychology Series.
Kazdin, A. E. & Weisz (2003). Introduction: Context and background of evidence-based
psychotherapies for children and adolescents. Em: A. E. Kazdin, & J. R. Weisz, Evidence-
based psychotherapies for children and adolescents. New York e London: The Guilford Press.
Kohlenberg, R. J. & Tsai, M. (1991). Psicoterapia analítica funcional: Criando relações
terapêuticas intensas e curativas. Santo André: ESETec.
Kohlenberg, R. J. & Tsai, M. (2001). Psicoterapia analítica funcional. Santo André: ESETec.
Lettner, H. W. (1995). Avaliação Comportamental, Em B. Rangé, (Org.), Psicoterapia
Comportamental e Cognitiva de Transtornos Psiquiátricos (pp. 27-32). Campinas: Editorial
Psy.
Luborsky, L., Singer, B. & Luborsky, L. (1975). Comparative studies of psychotherapies: Is it true
that “Everyone has won and all must have prizes”? Archives of General Psychiatry, 32, 995-
1008.
McLeod, J. (2000). Research evidence on the effectiveness of therapy. Em: C. Felthan & I. Horton
(Orgs.), Handbook of counseling and psychotherapy (pp. 706-709). London: Sage
Publications.
Meyer, S. B. (2001). A relação terapeuta-cliente é o principal meio de intervenção terapêutica? Em:
H. J. Guilhardi, M. B. B. P. Madi, P. P. Queiroz & M. C. Scoz. (Orgs.), Sobre comportamento
e cognição: Expondo a variabilidade (vol. 7, pp. 95-98). Santo André: ESETec.
151
Meyer, S. & Vermes, J. S. (2001). Relação terapêutica. Em: B. Rangé (Org.), Psicoterapias
cognitivo-comportamentais: Um diálogo com a psiquiatria (pp. 101-110). Porto Alegre:
Artmed.
Meyer, S. B. & Donadone, J. (2002). O emprego da orientação por Terapeutas Comportamentais.
Revista brasileira de terapia comportamental e cognitiva, 4(2), 79-90.
Meyer, S. B. (2003). Análise funcional do comportamento. Em: C. E. Costa; J. C. Luzia & H. H. N.
Sant’Anna (Orgs.), Primeiros passos em Análise do Comportamento e Cognição (pp. 75-91).
São Paulo: ESETec.
Moran, D.J. & Tai, W. (2001). Reducing Biases in Clinical Judgment with Single Subject
Treatment Design. The Behavior Analyst Today, 2 (3), 196.
Moura, C. B. & Azevedo, M. R. Z. S. (2001). Estratégias lúdicas para uso em terapia
comportamental infantil. Em: R. C. Wielenska (Org.), Sobre Comportamento e Cognição:
Questionando e ampliando a teoria e as intervenções clínicas e em outros contextos (Vol. 6,
pp. 157-164). Santo André: ESETec.
Moura, C. B. & Venturelli, M. B. (2004). Direcionamentos para a condução do processo terapêutico
comportamental com crianças. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva,
6(1), 17-30.
Neno, S. (2005). Tratamento padronizado: Condicionantes históricos, status contemporâneo e
(in)compatibilidade com a terapia analítico-comportamental. Tese de Doutorado. Programa de
Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará.
Neno, S. (2003). Análise funcional: Definição e aplicação na Terapia Analítico-Comportamental.
Revista brasileira de terapia comportamental e cognitiva, 5(2), 151-166.
Oaklander, V. (1980). Descobrindo crianças: A abordagem gestáltica com crianças e adolescentes.
São Paulo: Summus.
Penteado, L. C. P. (2001). Fantasia e imagens da infancia como instrumento de diagnóstico e
tratamento de um caso de fobia social. Em: R. C. Wielenska (Org.), Sobre Comportamento e
152
Cognição: Cuestionando e ampliando a teoria e as intervenções clínicas e em outros contextos.
Santo André: ESETec. Volume 6, pp. 257-264.
Prado, O. Z. & Meyer, S. B. (2004). Relação terapêutica: A perspectiva comportamental, evidências
e o Inventário de Aliança de Trabalho (WAI). Revista Brasileira de Terapia Comportamental
e Cognitiva, 6(2), 201-209.
Queiroz, P. P. & Guilhardi, H. J. (2002). Redução da agressividade e hiperatividade de um menino
pelo manejo direto das contingências de reforçamento: Um estudo de caso conduzido de
acordo com a Terapia por Contingências. Em: H. J. Guilhardi, M. B. Barbosa, P. Madi, P. P.
Queiroz & M. C. Scoz (Orgs.), Sobre Comportamento e Cognição: Contribuições para a
construção da teoria do comportamento (vol. 10, pp. 249-270). São Paulo: ESETec.
Rangé, B. (1995). Relação Terapêutica. Em: B. Rangé (Org.), Psicoterapia comportamental e
cognitiva de transtornos psiquiátricos (pp. 43-64). Campinas: Editorial Psy.
Rangé, B., Abreu, A. P. & Rodrigues, L. F. (1998). Panorama da Psicoterapia Comportamental no
Brasil. Em: B. Rangé (Org.), Psicoterapia Comportamental e Cognitiva: Pesquisa, prática,
aplicações e problemas (pp. 71-77). Campinas: Editorial Psy II.
Regra, J. A. G. (1997). Fantasia: Instrumento de diagnóstico e tratamento. Em: Delitti, M. (Org.),
Sobre Comportamento e Cognição: A prática da análise do comportamento e da terapia
cognitivo-comportamental. Santo André: ESETec Editores Associados.
Regra, J. A. G. (2000). Formas de trabalho na psicoterapia infantil: mudanças ocorridas e novas
direções. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 2(1), 79-101.
Regra, J. A. G. (2001). A fantasia infantil na prática clínica para diagnóstico e mudança
comportamental. Em: R. C. Wielenska (Org.), Sobre Comportamento e Cognição:
Questionando e ampliando a teoria e as intervenções clínicas e em outros contextos. Santo
André: ESETec, volume 6, pp. 179-186.
153
Silva, A. S. & Banaco, R. A. (2000). Investigação dos efeitos do reforçamento na sessão terapêutica
sobre três classes de respostas verbais do cliente. Revista Brasileira de Terapia
Comportamental e Cognitiva, 2, 137-146.
Silvares, E. F. M. & Banaco, R. A. (2000). O estudo de caso clínico comportamental. Em E. F. M.
Silvares (Org.), Estudos de caso em psicologia clínica comportamental infantil. (vol.1, pp.31-
48). Campinas: Papirus.
Silvares, E.F.M. & Marinho, M. L. (1998). Ampliando la intervención psicológica a la familia en la
terapia conductual infantil. Psicología Conductual, 6(3), 617-627.
Silvares, E. F. M. (1993). O papel preventivo das clínicas-escola de psicologia em seu atendimento
a crianças. Temas em Psicologia, 2, 87-97.
Silvares, E. F. M. (2000). Avaliação e intervenção clínica comportamental infantil. Em: E. F. M.
Silvares, Estudos de caso em psicologia clínica comportamental infantil (Vol. 1, pp. 13-30).
São Paulo: Papirus.
Silveira, J. M. (2002). Avaliação de um programa de treino de habilidades elementares de
terapeutas comportamentais infantis: Condução de atividades lúdicas. Tese de doutoramento.
Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo.
Skinner, B. F. (1982). Sobre o behaviorismo. (M. P. Villalobos, Trad.). São Paulo: Cultrix.
Skinner, B. F. (1991). Questões Recentes na Análise Comportamental. Campinas: Papirus.
(Originalmente publicado em 1989).
Skinner, B. F. (1994). Ciência e comportamento humano. (J. C. Todorov & R. Azzi, Trads., 9ª ed.).
São Paulo: Martins Fontes. (Originalmente publicado em 1953).
Stiles, W. B. (1999). Signs and voices in psychotherapy. Psychotherapy Research, 9(1), 1-21.
Todorov, J. C. (1985). O conceito de contingência tríplice na análise do comportamento humano.
Psicologia, Teoria e Pesquisa, 1(1), 75-88.
Torres, I. M. & Meyer, S. B. (2003). O brinquedo como instrumento auxiliar para a análise
funcional em terapia comportamental infantil. Interação em Psicologia, 7(1), 55-63
154
Ulian, A.L.A.O & Silvares, E. F. M. (2003). O papel do estudo de caso no hiato teoria/prática. Em:
M. Z. S. Brandão & colaboradores (Orgs.), Sobre comportamento e cognição: a história e os
avanços, a seleção por consequências em ação (vol. 11, pp 216-225). São Paulo: ESETec.
Vygostky, L. S. (1984). O papel do brinquedo no desenvolvimento. A formação social da mente
(pp. 105-118). São Paulo: Martins Fontes.
Windholz, M. H. & Meyer, S. B. (1994). Terapias Comportamentais. Em: F. B. Jr. Assumpção
(Org.), Psiquiatria da infância e da adolescência (pp. 543-547). São Paulo: Santos Editora e
Maltese.
Zamignani, D. R. (2006, em elaboração). O desenvolvimento de um sistema multidimensional para
a categorização e análise dos comportamentos na interação terapeuta-cliente. Qualificação de
Doutorado, Universidade de São Paulo.
155
ANEXOS
156
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Anexo 1
Clínica Psicológica da USP
Termo de consentimento livre e esclarecido
Nº de inscrição:........
Nome do cliente:.......................................................................................................................
Nome completo do responsável:...............................................................................................
Grau de parentesco com o cliente: pai? mãe? tutor? outro? :.............................................
Tipo e número do documento apresentado:..............................................................................
Seu filho será atendido na Clínica Psicológica do Departamento de Psicologia Clínica do
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, que oferece atendimento psicológico à
população e, por ser uma Clínica-Escola, tem também objetivos de ensino e pesquisa.
Irei realizar o atendimento de seu filho e estou solicitando sua permissão para utilizar os
registros filmados das sessões em uma pesquisa com o objetivo de analisar o processo terapêutico.
Por se tratar de uma clínica-escola, a filmagem das sessões é uma prática comum, para que os
supervisores orientem o melhor atendimento da criança. Tanto a filmagem como sua utilização em
pesquisa não prejudicarão a qualidade do atendimento que está sendo dispensado ao seu filho.
Além disso, somente os profissionais de Psicologia autorizados pela pesquisadora-terapeuta terão
acesso a tais filmagens. Será resguardado o anonimato quanto à identidade do seu filho. Caso, em
algum momento, você decida que as sessões não devem mais ser filmadas, você tem toda a
liberdade para solicitar isso e ser atendida, sem qualquer prejuízo no atendimento a seu filho.
Declaro que estou ciente do exposto acima e que concordo com as condições apresentadas.
São Paulo,.......de.........................de 20........
Assinatura do cliente ou responsável:...................................................................................
Obs:.........................................................................................................................................................
................................................................................................................................................................
........................................................................................................................
Profissional:
? ...............................................................................................................................................
(nome completo, função e assinatura)
157
Categorias do Terapeuta Anexo 2
Eixo I-1. Categorização do comportamento verbal vocal do terapeuta:
Terapeuta Solicita Informações SOLICITAÇÃO DE INFORMAÇÃO
Definição
Verbalizações nas quais o terapeuta solicita ao cliente que relate eventos, descreva, forneça
informações específicas, detalhes, ou esclarecimentos a respeito de eventos. Os eventos cujo relato
é solicitado podem incluir respostas do cliente e/ou de terceiros, eventos encobertos, aspectos da
história de vida, eventos ambientais relacionados ou não ao comportamento do cliente e podem ter
sido relatados pelo cliente ou observados pelo terapeuta. A solicitação do terapeuta pode se referir a
(a) eventos ocorridos/ relatados imediatamente antes, (b) eventos ocorridos/ relatados em outros
momentos da mesma sessão ou (c) eventos ocorridos/ relatados em sessões anteriores.
Pedidos para que o cliente registre a ocorrência de eventos, como parte de uma técnica terapêutica
ou como estratégia para coleta de dados.
Forma
Solicitações de informação apresentam tipicamente a forma interrogativa, constituindo-se em:
(1) perguntas fechadas - que solicitam respostas curtas, confirmações ou respostas do tipo “sim” ou
“não”.
Ex: ? T
8
: O que você disse? [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
? T: Ontem você foi à aula de capoeira? [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
(2) perguntas abertas - que solicitam que o cliente descreva, relate ou discorra sobre determinado
assunto.
Ex: ? T: “Sobre o que você gostaria de falar hoje?”. [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
? C: “eu não sei como responder quando meu chefe me critica”. [RELATO]
T: “diga-me um exemplo específico do que ele diz, e como você responde”. [SOLICITAÇÃO
DE RELATO ]
(3) Podem também apresentar a forma imperativa, solicitando ou ordenando que o cliente descreva
ou relate eventos.
? T: Fale-me um pouco mais sobre isso. [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
? C: “eu estou tão bravo com meu chefe!” [RELATO QUALIFICATIVO];
T: “Me conte o que aconteceu mais recentemente”. [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
? T: Estive pensando sobre o que conversamos na semana passada e gostaria que você me
falasse um pouco mais sobre aquele assunto. [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
8
C indica uma fala de cliente, T uma fala do terapeuta. Um novo diálogo é iniciado em cada marcador ?.
158
? T: Agora eu preciso que você me fale um pouco sobre a convivência com sua família.
[SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
? T: Eu gostaria que você registrasse as situações que te provocam ansiedade, para que
possamos discutir na semana que vem. [RECOMENDAÇÃO]
? T: Vamos fazer uma coisa... eu quero que você anote em um caderninho o que você comeu
em cada refeição, a que horas você comeu, e se a conteceu algo relevante naquele dia ou logo
antes de você comer. [RECOMENDAÇÃO] Vamos ver se com isso a gente entende melhor em
que momentos você tem maior dificuldade em controlar a comida. [INFORMAÇÃO]
(4) afirmações ou comentários de clarificação, que sugerem a continuidade da descrição do cliente.
? T: Eu ainda não entendi. [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
? C: ... e agora ela está chateada [RELATO]
T: com a discussão de vocês. (sentença afirmativa com função de pergunta) [SOLICITAÇÃO
DE RELATO ]
? T: Tô falando e você tá assim, me olhando.(risos) [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
Contexto
Precedente: Pode ser precedido por qualquer categoria de verbalizações do terapeuta ou cliente ou
por períodos de silêncio.
Subseqüente: Tipicamente, esta categoria é seguida por descrições do cliente, confirmações,
respostas curtas do tipo “sim”, “não” ou verbalizações mínimas do tipo “hum hum”, “sei”.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) Afirmações ou comentários serão considerados SOLICITAÇÃO DE RELATO apenas se não
puderem ser classificados em nenhuma outra categoria, com exceção de OUTRAS.
SOLICITAÇÃO DE RELATO tem precedência sobre OUTRAS.
(b) Se uma pergunta for feita como parte de uma explicação ou como pedido de confirmação de
INTERPRETAÇÃO dada pelo terapeuta, não será considerada SOLICITAÇÃO DE RELATO e
registrar-se-á unicamente a ocorrências da categoria INTERPRETAÇÃO.
(b) Quando o terapeuta solicitar que o cliente forneça explicações ou descreva relações entre
eventos relacionados ao comportamento do cliente ou de terceiros, categorize SOLICITAÇÃO DE
RELATO QUALIFICATIVO.
(c) Quando o terapeuta solicitar ao cliente que relate sua opinião ou avaliação sobre eventos ou seu
sentimento com relação a eventos, categorize SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO.
Terapeuta solicita avaliação, julgamento ou sentimento por parte do Cliente
SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO
Definição
Verbalizações nas quais o terapeuta solicita ao cliente que relate sua opinião ou avaliação sobre
eventos ou seu sentimento com relação a eventos. Os eventos cuja avaliação, opinião ou sentimento
é solicitada podem incluir respostas do cliente e/ou de terceiros, eventos encobertos, aspectos da
159
história de vida, eventos ambientais relacionados ou não ao comportamento do cliente e podem ter
sido relatados pelo cliente ou observados pelo terapeuta. A SOLICITAÇÃO DE RELATO
QUALIFICATIVO do terapeuta pode se referir a (a) eventos ocorridos/ relatados imediatamente
antes, (b) eventos ocorridos/ relatados em outros momentos da mesma sessão ou (c) eventos
ocorridos/ relatados em sessões anteriores.
Ex: ? C: “eu viajei durante o fim de semana”. [RELATO]
T: “você gostou?”. [SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO]
? C: “Meu marido acha que eu sou muito gorda”. [RELATO]
T: “você acha que você é muito gorda?”. [SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO]
? C: “Minha irmã sempre atrai toda a atenção na família”. [RELATO]
T: “Como você se sente com relação a isso?” [SOLICITAÇÃO DE RELATO
QUALIFICATIVO]
? T: Diga-me o que você pensa sobre isso. [SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO]
SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO inclui também verbalizações nas quais o
terapeuta solicita ao cliente que exponha a sua explicação ou interpretação a respeito de seu próprio
comportamento ou a respeito do comportamento de terceiros.
? C: “Mais uma vez eu fui reprovado na entrevista de emprego”. [RELATO]
T: “E você tem alguma hipótese de por que isso aconteceu?” [SOLICITAÇÃO DE RELATO
QUALIFICATIVO]
? T: Avalie seu nível de relaxamento agora. [RECOMENDAÇÃO]
Forma
Solicitações de relato qualificativo apresentam tipicamente a forma interrogativa, constituindo-se
em:
(1) perguntas fechadas - que solicitam respostas curtas, confirmações ou respostas do tipo “sim” ou
“não”.
Ex: ? T: E você se sente bem com isso? [SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO]
? E para você isso é certo? [SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO]
(2) perguntas abertas - que solicitam que o cliente descreva, relate ou discorra sobre seu sentimento,
explicação ou opinião com relação a eventos.
Ex: ? T: “Como você se sente quando seu irmão faz essas coisas?”. [SOLICITAÇÃO DE
RELATO QUALIFICATIVO]
? C: “Você tem alguma explicação para tanta cobrança em seu trabalho?”. [SOLICITAÇÃO
DE RELATO QUALIFICATIVO]
? C: “eu estou tão bravo com meu chefe!”; T: “Há várias semanas você vem relatando
problemas com seu chefe. Você vê alguma relação entre todos esses eventos?”.
[SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO]
? T: Teve uma vez que você falou comigo que nunca tinha feito terapia com homem. Que, era
uma experiência nova. Que era legal de experimentar, de ver como é que era... Como você está
se sentindo?
160
(3) Podem também apresentar a forma imperativa, solicitando ou ordenando que o cliente descreva
ou relate seu sentimento, explicação ou opinião com relação a eventos.
? T: Fale-me o que você sente quando isso ocorre. [SOLICITAÇÃO DE RELATO
QUALIFICATIVO]
(4) afirmações ou comentários de clarificação, que sugerem a continuidade da descrição do cliente.
? T: Você me disse o que você pensa. Eu ainda não sei como você se sente com isso.
[SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO]
5) RECOMENDAÇÃO pode sugerir ações abertas, tarefas, reflexões, pensamentos ou mudanças
em sentimentos. Também serão consideradas verbalizações de RECOMENDAÇÃO aquelas nas
quais o terapeuta declaradamente comporta-se de forma a oferecer modelos de ação para o cliente.
Contexto
Precedente: Pode ser precedido por qualquer categoria de verbalizações do terapeuta ou cliente ou
por períodos de silêncio.
Subseqüente: Tipicamente, esta categoria é seguida por relatos qualificativos do cliente,
explicações, confirmações, respostas curtas do tipo “sim”, “não” ou verbalizações mínimas do tipo
“hum hum”, “sei”.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) Se uma pergunta for feita como parte de uma INTERPRETAÇÃO ou como pedido de
confirmação de INTERPRETAÇÃO dada pelo terapeuta, não será considerada solicitação de relato
qualificativo e registrar-se-á unicamente a ocorrência da categoria INTERPRETAÇÃO.
(b) Quando o terapeuta solicitar ao cliente que apenas descreva situações relacionadas a
sentimentos por ele relatados ou descreva eventos nos quais determinado sentimento foi
experimentado, categorize SOLICITAÇÃO DE RELATO .
? T: Em que situações você costuma se sentir assim? [SOLICITAÇÃO DE RELATO ]
? T: Existem outras situações nas quais você tem um sentimento semelhante? [SOLICITAÇÃO
DE RELATO ]
Terapeuta estrutura sessão - ESTRUTURAÇÃO
Definição
Serão consideradas ESTRUTURAÇÃO verbalizações do terapeuta que estabelecem as condições
nas quais o processo terapêutico será desenvolvido, tais como...
(1) solicitações de atividades, técnicas ou exercícios terapêuticos a serem executadas com a
participação ou não do terapeuta, durante a interação terapêutica no consultório ou extra-
consultório.
? T: Vamos experimentar praticar isso em uma representação? [ESTRUTURAÇÃO]
Dessa vez, tente dizer diretamente o que você sente. [RECOMENDAÇÃO]
161
? T: Agora vamos fazer um exercício de exposição: [ESTRUTURAÇÃO] experimente
pegar na maçaneta dessa porta e ficar por quinze minutos sem lavar as mãos.
[RECOMENDAÇÃO]
(2) descrições ou regras sobre o funcionamento de determinadas técnicas, estratégias, jogos,
exercícios ou programas terapêuticos ou sobre o andamento da própria sessão;
Ex: ? T: Durante a exposição nós vamos trazer para a sessão algo que você teme e você
deverá permanecer em contato com ele sem que você faça o ritual. [ESTRUTURAÇÃO]
? T: O exercício de relaxamento que eu vou te ensinar agora serve para você controlar a sua
ansiedade nas situações mais difíceis [INFORMAÇÃO]... você deve respirar em quatro
tempos, contando até quatro bem devagar em cada um deles... inspira em quatro... segura
quatro... solta em quatro... e segura quatro... [ESTRUTURAÇÃO] mas precisa ser treinado
com freqüência para que você possa ter um melhor domínio sobre sua ansiedade. Se você
deixar pra treinar na hora da crise de ansiedade não vai funcionar. [INFORMAÇÃO]
? T: Esse assunto é bastante importante. [INFORMAÇÃO] Vamos voltar a falar sobre ele
na próxima sessão. [ESTRUTURAÇÃO]
(3) descrições do terapeuta sobre o funcionamento da terapia (contrato, regras, objetivos), acerto
de horários e local para a realização da sessão, para o estabelecimento do contrato
terapêutico (enquadre).
Ex: ? C: “Vou me reunir com você semanalmente?” [SOLICITAÇÃO]
T: “Nós nos encontraremos duas vezes por semana.” [ESTRUTURAÇÃO]
? T: “vamos falar sobre a última semana primeiro, então nós vamos falar um pouco mais
sobre sua situação em casa e vamos terminar com um exercício de relaxamento.”
[ESTRUTURAÇÃO]
? T: “o valor da sessão é $$”. [ESTRUTURAÇÃO]
? T: Não tem nada sistematizado, do tipo “eu vou ter que ir por aqui, depois por aqui,
depois ali, tá?” Então, fica à vontade. A gente vai indo. Não se preocupe com essa coisa
da, dessa resistência, desse receio. É natural. Então relaxa. [ESTRUTURAÇÃO]Com o
andamento das sessões você vai se sentindo mais à vontade [INFORMAÇÃO]
(4) Acertos ocasionais de horário e/ou local da sessão.
? T: “Então, a gente, na semana que vem faz na terça-feira, das três às quatro.”
[ESTRUTURAÇÃO]
(5) Ordens ou pedidos de parada ou mudança do comportamento do cliente dentro da sessão.
? T: “Por favor, preste atenção enquanto eu estou falando”. [ESTRUTURAÇÃO]
? T: “Eu gostaria que você não colocasse os pés no sofá”. [ESTRUTURAÇÃO]
? T: “Sente-se em sua cadeira enquanto conversamos. Eu não consigo conversar com você
andando pela sala”. [ESTRUTURAÇÃO]
Forma
(1) ESTRUTURAÇÃO apresenta tipicamente a forma imperativa.
Ex: ? T: Faça... Quero que você vá...
(2) Pode, eventualmente, ser apresentada em forma interrogativa, como uma pergunta que sugere
uma ação:
Ex: ? T: Você não acha que seria melhor...? E se você fizesse...? Seria possível...?
162
(3) Pode também apresentar a forma afirmativa.
Ex: ? T: Acredito que você deveria... Penso que a melhor alternativa seria...
(4) Pode apresentar a forma de permissão.
Ex: ? T: Você pode começar por onde achar melhor...
(5) Confirmações em resposta a perguntas do cliente sobre como proceder, podem ter a forma de
verbalizações mínimas ou respostas curtas do tipo sim ou não.
Ex: ? C: Eu deveria começar? T: Hum Hum
Contexto
Precedente:
Estruturação pode ou não ser precedida por solicitação por parte do cliente.
Também é comum ser precedida por verbalizações de DESCRIÇÃO do cliente.
Pode também ser precedida por explicações/ interpretações por parte do terapeuta.
Subseqüente:
Tipicamente são seguidas por confirmação do cliente, períodos de silêncio ou questionamento ou
reprovação, mas podem ser seguidos por qualquer tipo de verbalização.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) Verbalizações do terapeuta durante um exercício ou atividade, tal como role-playing ou viagem
de fantasia serão categorizadas de acordo com suas categorias correspondentes, sendo categorizado
ESTRUTURAÇÃO apenas as instruções do terapeuta e a solicitação para o cliente se engajar no
exercício.
(b) comandos que requerem uma ação dentro da sessão serão considerados ESTRUTURAÇÃO,
com exceção de comandos ou perguntas que solicitam descrição ou confirmação de eventos, que
serão categorizados como SOLICITAÇÃO DE RELATO ou SOLICITAÇÃO DE RELATO
QUALIFICATIVO.
(c) Perguntas do terapeuta ou falas em forma imperativa que solicitem que o cliente descreva
eventos, mesmo que sobre temas diferentes daquele em curso na sessão, ou que mudem a direção da
conversação, não serão considerados estruturação.
(d) qualquer permissão do terapeuta a respeito de ações a serem executadas dentro da sessão será
categorizada como ESTRUTURAÇÃO.
(e) Quando o terapeuta oferece um modelo de ação e sugere que o cliente siga o modelo
imediatamente na sessão, será categorizado ESTRUTURAÇÃO.
(f) Quando uma verbalização do tipo “se... então” sugerir que o cliente poderá melhorar caso realize
determinadas ações ou tarefas propostas pelo terapeuta, serão categorizadas ambas as categorias:
RECOMENDAÇÃO e INFORMAÇÃO, cada uma no respectivo segmento da verbalização.
(g) Quando uma ESTRUTURAÇÃO para o uso de determinada técnica ou procedimento inclui
justificativas de porque usar a técnica e/ou porque isso tende a ser efetivo, categorize
ESTRUTURAÇÃO e INFORMAÇÃO cada uma no respectivo segmento da verbalização.
163
(h) A descrição de técnicas e estratégias terapêuticas somente será considerada ESTRUTURAÇÃO
quando o terapeuta tiver como foco o imediato engajamento do cliente nesta técnica, caso
CONTRÁRIO deverá ser registrada a categoria informação.
(i) Quando o comando do terapeuta de ações dentro da sessão implicar em uma proibição ou pedido
de mudança de comportamento do cliente na sessão, categorize CONFRONTAÇÃO.
? T: “Por favor, preste atenção enquanto eu estou falando”. [CONFRONTAÇÃO]
? T: “Eu gostaria que você não colocasse os pés no sofá”. [CONFRONTAÇÃO]
? T: “Sente-se em sua cadeira enquanto conversamos. Eu não consigo conversar com você
andando pela sala”. [CONFRONTAÇÃO]
Terapeuta facilita o relato do cliente - FACILITAÇÃO
Definição:
Esta categoria é usada quando o terapeuta está escutando o cliente, mas fazendo expressões vocais
curtas que sugerem que ele está prestando atenção e que a outra pessoa deveria continuar falando.
Constituída tipicamente por verbalizações mínimas.
Caracteriza-se também por comentários breves apresentados após uma descrição, que resumem em
poucas palavras o essencial do que o cliente disse, ou inferem a continuidade da descrição,
sugerindo interesse no assunto e demonstrando que está atento ao relato.
Ex: ? C: ...deixei bem agradável, a cozinha com toalha bonita, e a sala, tal, e no Sábado
falei pra caseira: "cê lava a varanda, coloca essa toalha na mesa da varanda, nesse tripé de
ferro fundido coloca um vasinho”. Ela até nem colocou o meu, ela foi pegar um dela, de
onze horas amarelas, assim. [RELATO]
T: Todo mundo ajudando. [FACILITAÇÃO]
? C: Daí, ficamos até de noite, fiquei lá, falei, vou dar uma ligada [RELATO]
T: E ele no plano de sedução... [FACILITAÇÃO]
(6) descrição de diálogos ou assuntos anteriormente discutidos, somente em casos nos quais
essa descrição foi solicitada pelo cliente devido a este ter perdido ou esquecido o rumo da
discussão ou após alguma interrupção, para retomada do assunto.
? C: Onde é que eu estava mesmo? [SOLICITAÇÃO]
T: Você estava falando sobre sua viagem de férias. [ESTRUTURAÇÃO].
? T (após interrupção da sessão): Então, você estava me falando sobre o seu receio de
prestar o vestibular. [ESTRUTURAÇÃO].
Forma
(1) Expressões paralinguísticas ou afirmações curtas to tipo “Hum hum”, “Ahã”, “Sei”, “certo”,
“sim”.
Contexto
Precedente:.
Verbalizações de FACILITAÇÃO costumam ocorrer simultaneamente a verbalizações de RELATO
do cliente ou imediatamente após estas, entre pequenas pausas (menores que três segundos).
164
Subseqüente:
Verbalizações de FACILITAÇÃO sugerem a continuidade do relato e, portanto, são tipicamente
seguidas por RELATO do cliente.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) Verbalizações curtas do terapeuta, tais como “certo” , “sim”, “isso”, que ocorrerem durante a
fala do cliente serão categorizadas como FACILITAÇÃO, e não aprovação.
(b) FACILITAÇÃO só é categorizada se acontecer enquanto o cliente tiver a palavra. Não é
codificado quando ocorrer durante pausas de três segundos ou mais na conversação. Verbalizações
curtas do terapeuta, tais como “certo”, “sim”, “isso”, ou “hum hum” que ocorrerem após
solicitação de confirmação do cliente ou imediatamente após o cliente terminar uma fala serão
categorizadas como APROVAÇÃO (quando após o relato de ações do cliente) ou EMPATIA
(quando após a descrição de outros eventos).
(c) Nunca devem ocorrer duas falas seguidas categorizadas como FACILITAÇÃO.
FACILITAÇÃO nunca é categorizada em dobro.
(d) A verbalização “certo”, quando dita sarcasticamente, indicando discordância, deve ser
categorizada como CONFRONTAÇÃO.
(e) APROVAÇÃO precede FACILITAÇÃO. Quando em dúvida entre aprovação e facilitação,
categorize APROVAÇÃO.
(f) EMPATIA precede FACILITAÇÃO. Quando em dúvida entre empatia e facilitação, categorize
EMPATIA.
(g) Verbalizações curtas ou expressões paralinguísticas, quando emitidas pelo terapeuta após um
pedido de confirmação do cliente sobre seu entendimento do que ele está dizendo, serão
categorizadas como INFORMAÇÃO.
Terapeuta demonstra empatia - EMPATIA
Definição
Esta categoria é composta pelas seguintes ações do terapeuta, que indicam afeto, compreensão e
aceitação do cliente:
(1) Verbalizações nas quais o terapeuta demonstra compreender os estados internos e/ou a condição
à qual o cliente está exposto, validando seus atos ou sentimentos, sem julgamento ou avaliação
crítica (Adaptado de Falcone, 2000).
(1a) Terapeuta nomeia ou infere sentimentos, valores e/ou a importância de eventos
experimentados pelo cliente a partir de seu comportamento não vocal, do contexto ou a
partir de sua descrição de eventos.
Ex: ? T: Imagino que isso te deixa ansioso. [EMPATIA]
? T: Isso que você descreve parece mais raiva que tristeza. [EMPATIA]
? T: Você me parece muito irritado. [EMPATIA]
? T: Vejo que essa tem sido uma parte crucial da sua vida. [EMPATIA]
165
(1b) Comentários em forma de exclamação, apresentados após a descrição de eventos que
não ações do cliente, consistentes com o assunto relatado e que indicam interesse nele.
Ex: ? T: “é mesmo?” [EMPATIA]
? T: “que coisa!” [EMPATIA]
? T: “nossa!”. [EMPATIA]
(1c) verbalizações que sugerem que aquilo que o cliente sente ou faz é normal, ou esperado,
unicamente quando essas verbalizações ocorrerem em situações de queixa ou descrição de
sofrimento ou sentimento de inadequação por parte do cliente.
Ex: ? T: É normal que você se preocupe com isso. [EMPATIA]
(1d) verbalizações nas quais o terapeuta demonstra preocupação pessoal com o cliente,
quando não acompanhada de crítica ou explicação.
Ex: ? T: Como é que você está? Na semana passada você estava super resfriada.
[EMPATIA]
(1e) verbalizações nas quais o terapeuta relata sua experiência em situações semelhantes
(auto-revelação) àquela relatada pelo cliente, quando tal relato não sugerir a solução de
algum problema em discussão ou da queixa sendo analisada.
Ex: ? T: Você sabe... eu também já passei por isso... é muito chato quando a gente
investe toda a energia em um negócio e ele não dá certo... posso imaginar o quanto
você está frustrada... [EMPATIA]
(1f) Verbalizações do terapeuta nas quais ele revê suas próprias ações durante o processo
terapêutico, corrigindo sua intervenção, admitindo seus erros ou pedindo desculpas por
alguma ação sua com relação ao cliente.
Ex: ? C: Estou frustrado. Eu fiz tudo o que você me pediu e você não foi capaz de
me ajudar pra que meu filho largasse as drogas. [RELATO QUALIFICATIVO]
T: Eu gostaria muito de tê-lo ajudado para mudar essa situação. Eu me pergunto o
que poderia ter sido diferente, mas o fato é que não foi possível e eu também me
sinto frustrado por isso. [EMPATIA]
(2) Verbalizações que produzem humor ou extraem o lado cômico ou engraçado de determinada
situação. Inclui verbalizações acompanhadas por risadas, que tenham sido humorísticas, mesmo que
remotamente.
Ex: ? C: É, mas eu não dei [o beijo que o namorado havia pedido], claro, falei
"magina, tô dirigindo, olha o trânsito!",[RELATO] nessas alturas o trânsito
ridículo, na Castelo, né? Mas eu nem senti passar... [RELATO
QUALIFICATIVO]
T: Quanto mais trânsito melhor, que cê fica mais tempo com ele. (risos) [EMPATIA]
(3) Verbalizações nas quais o terapeuta apresenta de forma resumida o que foi dito em algum ponto
anterior pelo cliente na mesma sessão, por meio de repetição literal ou reorganização das
verbalizações do cliente, desde que essa reorganização não implique em uma interpretação diferente
daquela descrita no relato do cliente ou não acrescente informações ou opiniões do terapeuta que
não estavam na fala do cliente. A reformulação pode também ser uma paráfrase de qualquer
verbalização imediatamente precedente, apenas quando ela não contiver descrição de sentimentos
do cliente.
166
Ex: ? T: Então você perdeu seu emprego e está muito difícil encontrar um outro.
(sintetizando descrição do cliente). [EMPATIA]
Forma
Não especificada.
Verbalizações de EMPATIA nas quais o terapeuta reformula, sintetiza ou parafraseia a fala do
cliente tipicamente tem a forma afirmativa, e contém menos, mas semelhantes palavras que aquelas
utilizadas pelo cliente e, normalmente são mais concreta e claras que a verbalização do cliente.
Contexto
Precedente:
Verbalizações de EMPATIA tipicamente são precedidas por descrições do cliente, sendo comum
serem precedidas por descrições de queixa por parte deste.
Podem, entretanto, ser precedidas por qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Subseqüente:
Qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) Verbalizações que sugerem que aquilo que o cliente sente ou faz é normal ou esperado, quando
ocorrerem de forma sarcástica ou invalidando a descrição do cliente, serão categorizadas como
CONFRONTAÇÃO.
(b) verbalizações que sugerem que aquilo que o cliente ou terceiros sentem ou fazem é normal ou
esperado, quando ocorrerem em um contexto que não sugerem queixa ou descrição de sentimentos
do cliente, nem contenham o sentido de reprovação, serão categorizadas como INFORMAÇÃO.
(c) declarações que sugerem humor, mas que tenham um conteúdo abertamente hostil ao cliente,
serão categorizadas como CONFRONTAÇÃO. Quando em dúvida, codifique EMPATIA.
(a) Quando um resumo mudar o sentido do que foi dito pelo cliente, classificar como
INTERPRETAÇÃO.
(b) Em caso de paráfrase que explicita uma crítica ou aponta uma falta ou erro do cliente, codificar
como CONFRONTAÇÃO. Na dúvida, categorize EMPATIA.
(c) quando uma verbalização na qual o terapeuta demonstra preocupação pessoal com o cliente é
acompanhada de crítica ou explicação, codifique ambas as categorias: EMPATIA e
CONFRONTAÇÃO ou INFORMAÇÃO, cada uma em seu respectivo segmento da verbalização.
Ex: ? T: “não é possível que você continue bebendo essa quantidade (CONFRONTAÇÃO).
Fico preocupado com as consequências disso (EMPATIA).”.
? T: “o que me preocupa é a função que o álcool está exercendo em sua vida (EMPATIA). O
uso do álcool em situações sociais é tranqüilo, mas você o está usando para alívio da ansiedade,
como se fosse um remédio. E essa função do álcool é perigosa porque favorece a dependência.
(INFORMAÇÃO).
(d) Comentários em forma de exclamação ou risos, apresentados após a descrição de ações do
cliente, serão categorizados como APROVAÇÃO.
167
(e) Comentários em forma de exclamação ou risos, quando apresentados em tom sarcástico, hostil
ou irônico, categorizar CONFRONTAÇÃO.
(f) Verbalizações de auto-revelação, quando sugerem a solução de um problema ou queixa do
cliente, serão categorizadas como RECOMENDAÇÃO.
(g) Relatos do terapeuta de algum evento de sua própria experiência, quando não sugerirem a
solução de problema ou queixa ou a compreensão ou entendimento da experiência do cliente, serão
categorizadas como OUTRAS.
Terapeuta incentiva ou apóia o cliente - INCENTIVO
Definição
Esta categoria é composta pelas seguintes ações do terapeuta, que encorajam ou apóiam o cliente a
enfrentar determinadas situações difíceis:
(1) Verbalizações nas quais o terapeuta encoraja o cliente, sugerindo que ele pode ou é capaz de
mudar determinado comportamento ou de agir em determinado sentido.
(1a) Verbalizações que instilam esperança ao cliente, indicando que é possível superar
determinada dificuldade.
Ex: ? T: Da forma com que você está fazendo, muito breve você estará livre disso.
[INCENTIVO]
? T: Tenho certeza que você é capaz de fazer isso. [INCENTIVO]
? T: Eu posso te ajudar nesse problema. [INCENTIVO]
? T: Conte comigo. [INCENTIVO]
Forma
INCENTIVO apresenta tipicamente a forma afirmativa descritiva.
Contexto
Precedente:
Verbalizações de INCENTIVO tipicamente são precedidas por descrições do cliente.
Podem, entretanto, ser precedidas por qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Subseqüente:
Qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(d) Quando uma verbalização sugerir que o cliente poderá melhorar caso realize determinadas ações
ou tarefas propostas pelo terapeuta, será categorizada RECOMENDAÇÃO.
168
Terapeuta aprova ou concorda com ações ou avaliação do cliente - APROVAÇÃO
Definição
Esta categoria é composta pelas seguintes classes de verbalização, todas elas sugerindo aprovação
ou concordância a ações do cliente.
(1) Verbalizações nas quais o terapeuta expressa julgamento favorável a ações ou características do
cliente (sejam estas relatadas pelo cliente ou observadas pelo terapeuta).
Ex: ? T: Você tomou a decisão certa, está lidando com isso da maneira correta.
[APROVAÇÃO]
(2) Verbalizações nas quais o terapeuta diz ao cliente que ele está indo bem ou elogia suas ações,
características ou aparência.
Ex: ? Você está de parabéns! Sua condução foi perfeita! [APROVAÇÃO]
Ex: ? T: Que lindo esse teu colarzinho! [APROVAÇÃO]
(3) Verbalizações nas quais o terapeuta descreve os progressos ou sucessos do cliente.
Ex: ? Puxa, C., eu estava me lembrando da época em que a gente começou a trabalhar juntos.
Como as coisas estão mudadas! Você lembra que era difícil pra você até mesmo vir sozinha
para cá? E agora você está se virando sozinha, com o maior desprendimento... acho muito legal
isso! [APROVAÇÃO]
(4) Verbalizações nas quais o terapeuta confirma ou relata estar de acordo com afirmações
verbalizadas pelo cliente.
Ex: ? Com certeza! Você tem toda a razão. [APROVAÇÃO]
(5) Verbalizações nas quais o terapeuta discorda do cliente, mas o faz de forma a ressaltar
carcaterísticas positivas do cliente.
Ex: ? C: “Eu só melhorei por causa da medicação”. [RELATO]
T: “De fato, a medicação pode te ajudar, mas se você não tivesse agido, tudo estaria igual”.
[APROVAÇÃO]
(6) Relato de sentimentos que o cliente desperta no terapeuta, que indicam que gosta dele ou que
sente-se bem em sua presença ou que está satisfeito com relação a alguma ação realizada pelo
cliente ou com o andamento da sessão.
Ex: ? T: Gostei muito da nossa sessão de hoje. Acho que falamos de assuntos bastante
importantes. [APROVAÇÃO]
? T: Você conversa super bem! É muito agradável conversar com você. [APROVAÇÃO]
(7) Verbalizações exclamativas após o relato de alguma ação por parte do cliente, sugerindo que tal
ação agradou ao terapeuta.
Ex: ? C: Consegui recuperar a minha nota de matemática. [RELATO]
T: Que máximo!!! [APROVAÇÃO]
(8) Comentários em forma de exclamação ou risos, apresentados após a descrição de ações do
cliente.
Ex: ? C: Consegui caminhar todos os dias essa semana. [RELATO]
T: “é mesmo?” [APROVAÇÃO]
? C: Você não sabe! Consegui fechar o negócio com meu apartamento! [RELATO]
169
T: “não acredito!”, [APROVAÇÃO]
? C: Daí, fomos para a capela e me chamou a atenção o ______, o cachorro do caseiro, porque
desde pequeno ele me acompanha na capela... só que ele não entra. Então ele... põe o pézinho,
ele só olha para mim ele tira o pé do piso e fica no cimento do lado de fora parado olhando, ele
não entra ... é uma coisa bárbara você ver! [RELATO]
T: nossa, e você ensinou ele... [APROVAÇÃO]
(9) Verbalizações nas quais o terapeuta agradece o cliente por alguma ação deste ou após um
elogio.
Ex: ? C: Não, você é uma das responsáveis, eu tinha que dizer, não, eu faço questão, eu sou
muito franca, sabe, de extrema transparência, é, você, de uma forma assim, muito inteligente, tá
sabendo me conduzir assim, entre aspas[CONCORDÂNCIA], porque eu to tendo mais
discernimento, sabendo o que é mais conveniente e o que não é e tô tentando encontrar o
caminho, não é?, Sem tanto medo de ser feliz. [MELHORA]
T: Que bom, brigada, fico muito contente. [APROVAÇÃO]
Forma
Verbalizações de aprovação apresentam tipicamente a forma exclamativa ou afirmativa (do tipo
descritiva).
Podem também ser acompanhadas por perguntas de confirmação por parte do terapeuta.
Contexto
Precedente:.
Verbalizações de aprovação tipicamente são precedidas por verbalizações de descrição de eventos
por parte do cliente.
Também é comum serem precedidas por verbalizações do terapeuta do tipo INFORMAÇÃO ou
INTERPRETAÇÃO.
Subseqüente:
Tipicamente são seguidas por CONCORDÂNCIA do cliente, períodos de silêncio ou OPOSIÇÃO,
mas podem ser seguidos por qualquer tipo de verbalização.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) Quando aprovação for acompanhada de descrição do evento que foi alvo da aprovação, registre
unicamente a ocorrência da categoria APROVAÇÃO
(b) Quando uma aprovação for acompanhada de explicações de porque aquela ação foi boa ou
correta, registrar a ocorrência de ambas as categorias, APROVAÇÃO E INFORMAÇÃO cada uma
no seu respectivo segmento.
(c) Verbalizações curtas do terapeuta, tais como “certo” , “sim”, “isso”, ou “hum hum” que
ocorrerem durante a fala do cliente serão categorizadas como FACILITAÇÃO, e não aprovação.
170
(d) Verbalizações curtas do terapeuta, tais como “certo” , sim”, “isso”, ou “hum hum” que
ocorrerem após solicitação de confirmação do cliente ou imediatamente após o cliente terminar uma
fala serão categorizadas como APROVAÇÃO.
(e) Na dúvida entre aprovação e facilitação, categorize a primeira. APROVAÇÃO precede
FACILITAÇÃO.
(f) Verbalizações exclamativas após o relato de alguma ação por parte do cliente, quando
apresentadas em tom sarcástico ou hostil, categorizar como CONFRONTAÇÃO.
Terapeuta Fornece Informações - INFORMAÇÃO
Definição:
Verbalizações nas quais o terapeuta relata eventos ou informa o cliente sobre eventos, que não o
comportamento do cliente ou de terceiros, estabelecendo ou não relações causais ou explicativas
entre eles.
O evento relatado pode consistir em...
(1) dados ou fatos relacionados a determinado assunto em discussão.
Ex: ? C: Eu penso em fazer uma especialização em biologia. [RELATO]
T: Biologia requer vários cursos adicionais de laboratório. [INFORMAÇÃO]
? T: Eu não conheço um médico com esse nome. [INFORMAÇÃO]
Ex: ? C: Você já atendeu casos como esse? [SOLICITAÇÃO]
T: Sim, muitos. [INFORMAÇÃO]
(2) descrição de relações explicativas ou causais entre eventos - relações do tipo "se... então",
apenas quando não dizem respeito ao comportamento do cliente ou de terceiros.
Ex: ? T: Um ataque de pânico pode ocorrer independentemente de a pessoa ter síndrome do
pânico. Por exemplo, quando a gente entra em contato com alguma coisa da qual a gente tem
muito medo, isso pode provocar um ataque de pânico. [INFORMAÇÃO]
(3) relações de contigüidade - relações temporais entre eventos - relações do tipo “o evento X
ocorre quando Y ocorre...”, apenas quando não dizem respeito ao comportamento do cliente
ou de terceiros;
(4) explicações teóricas ou descrição de achados experimentais relativos ao assunto em discussão,
desde que não envolva a queixa ou o comportamento do cliente ou de terceiros.
Ex: ? T: Não há a necessidade biológica de se dormir por oito horas. A quantidade de sono
necessária para cada um é também aprendida. [INFORMAÇÃO]
Ex: ? T: O seu desempenho em um teste tende a ser melhor depois de uma noite bem dormida.
[INFORMAÇÃO]
(5) Opiniões, avaliação ou julgamento a respeito de eventos, apenas quando essa não diz respeito a
uma ação emitida pelo do cliente, ao cliente propriamente ou à sessão em curso;
Ex: ? C: Eu fiquei realmente chocado com aquela cena. [RELATO QUALIFICATIVO]
? T: Eu acho que a televisão não deveria mostrar esse tipo de coisa. Não acrescenta em nada a
vida das pessoas. [INFORMAÇÃO]
171
? Não-exemplo: T: Eu penso que você poderia, sim, ter comprado o livro. Afinal, o dinheiro é
seu, não é? [RECOMENDAÇÃO] (não é uma opinião do tipo INFORMAÇÃO, porque implica
em uma forma de conselho: compre o livro, além de se referir ao comportamento do cliente)
(6) meta-intervenções, ou intervenções que explicam, justificam ou desculpam as intervenções do
terapeuta.
Ex: ? “eu não gosto desse tipo de procedimento, mas é o único que vai te ajudar nesse
momento” [INFORMAÇÃO].
Forma:
INFORMAÇÃO apresenta tipicamente a forma afirmativa descritiva.
Contexto:
Precedente: Pode ser antecedido ou não por solicitação do cliente.
Subseqüente: Qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(b) A descrição de técnicas e estratégias terapêuticas somente será considerada INFORMAÇÃO
quando o terapeuta não tiver como foco o imediato engajamento do cliente nesta técnica, caso no
qual deverá ser registrada a categoria ESTRUTURAÇÃO.
(c) Quando o terapeuta retomar assuntos ou diálogos discutidos anteriormente estabelecendo
alguma relação explicativa sobre o comportamento do cliente ou de terceiros, não será registrada a
categoria INFORMAÇÃO, e sim INTERPRETAÇÃO.
(d) Quando o terapeuta fornecer descrições de relações explicativas ou causais entre eventos -
relações do tipo "se... então", a respeito do comportamento do cliente ou de terceiros, será
categorizado INTERPRETAÇÃO.
(e) Quando uma opinião, avaliação ou julgamento for emitido a respeito de uma ação do cliente, do
próprio cliente ou da sessão em curso, ela deve ser categorizada como APROVAÇÃO,
CONFRONTAÇÃO OU EMPATIA, aquela que for mais apropriada.
(f) Verbalizações curtas ou expressões paralinguísticas, quando emitidas pelo terapeuta após um
pedido de confirmação do cliente sobre seu entendimento do que ele está dizendo, serão
categorizadas como INFORMAÇÃO.
Terapeuta interpreta - INTERPRETAÇÃO
Definição
Verbalizações nas quais o terapeuta descreve, supõe ou infere relações a respeito do comportamento
do cliente ou de terceiros. As relações estabelecidas devem ter como foco o comportamento do
cliente ou de terceiros e podem dizer respeito a respostas do cliente e/ou de terceiros, sentimentos,
emoções e pensamentos do cliente e/ou de terceiros, aspectos da história de vida do cliente ou de
terceiros, eventos ambientais relacionados ao comportamento do cliente ou de terceiros. As relações
estabelecidas podem se referir a (a) eventos ocorridos/ relatados imediatamente antes, (b) eventos
ocorridos/ relatados em outros momentos da mesma sessão ou (c) eventos ocorridos/ relatados em
sessões anteriores (d) especulações sobre eventos futuros.
172
Essas verbalizações podem incluir:
(1) relações explicativas ou causais entre eventos - relações do tipo "se... então", apenas quando
dizem respeito ao comportamento do cliente ou de terceiros;
Ex: ? T: Porque quando você faz isso, você fica mais em contato com você. Porque se você
começa a negar... ... Você começa a perder contato com aquilo que você sente. Assim: como é
que as coisas que acontecem no mundo me afetam? Entendeu? [INTERPRETAÇÃO]
? T: Muito do que a gente faz, pra que a gente se mantenha fazendo depende da conseqüência
daquilo que a gente faz. Quando a gente faz uma coisa que tem um a conseqüência imediata,
legal. A tendência é que a gente continue fazendo. Quando a conseqüência não é muito legal, a
gente tende não fazer mais. (em situação na qual o cliente relata que não está conseguindo dar
continuidade em seus projetos, pois não se sente motivado) [INTERPRETAÇÃO]
(2) relações de contigüidade - relações temporais entre eventos - relações do tipo “ o evento X
ocorre quando Y ocorre...”, apenas quando dizem respeito ao comportamento do cliente ou de
terceiros;
? T: A impressão que eu tenho é que sempre que ele te faz um elogio, ele é seguido por uma
crítica, do tipo... “você foi ótimo na apresentação, mas...”
(3) explicações teóricas ou descrição de achados experimentais relativos à queixa ou ao
comportamento do cliente ou de terceiros.
(4) apresentação de diagnóstico ou rótulo relativo a algum padrão de interação ou conjunto de
sintomas descritos pelo cliente ou observados pelo terapeuta.
Ex: ? Você acha que eu estou deprimido? [SOLICITAÇÃO]
T: Você parece mais ansioso que deprimido [INTERPRETAÇÃO]
? T: Isso que você acabou de descrever é conhecido pela psiquiatria como Transtorno
Obsessivo-Compulsivo. (após a descrição do cliente de sua queixa) [INTERPRETAÇÃO]
(6) apresentação de conclusão relativa a algum teste, escala ou instrumento de avaliação
psicológica.
Ex: ? C: Quais foram os resultados do teste? [SOLICITAÇÃO]
T: O teste indica que você tem maior interesse por profissões relacionadas ao cuidado e
atendimento de pessoas. [INTERPRETAÇÃO]
(7) sínteses ou conclusões formuladas sobre o comportamento do cliente ou de terceiros, a partir de
eventos relatados pelo cliente, que apresentem uma interpretação diferente daquela descrita no
relato do cliente ou acrescentam informações ou opiniões do terapeuta que não estavam na fala do
cliente.
Ex: ? T: Então, você está dependente de álcool e começa a beber de manhã, eu suponho.
[INTERPRETAÇÃO]
(8) descrição de padrões ou temas recorrentes relativos ao comportamento do cliente ou de
terceiros.
Ex: ? T: Você se dá conta de que suas obsessões sempre são relacionadas a situações nas quais
você age por impulso com outras pessoas e depois se arrepende? Aí você fica ruminando sobre
o que poderia ter sido diferente... é por isso que eu falo que seu problema tem muito mais a ver
com relacionamento do que com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo propriamente dito.
[INTERPRETAÇÃO]
(9) descrições por meio de metáforas ou analogias, que contém, de forma implícita ou direta,
análises sobre padrões de interação do cliente ou sobre relações entre eventos.
173
Ex: ? T: Quando você falou que tinha dor de cabeça, eu lembrei daquelas mulheres que na
hora de transar "ah, eu não posso, estou com dor de cabeça". [INTERPRETAÇÃO]
(9) inferências ou suposições sobre a ocorrência de relações ou eventos até então não relatados pelo
cliente ou não descritos pelo terapeuta, apenas quando essa inferência não diz respeito a
sentimentos e emoções do cliente.
Ex: ? T: Imagino que ele tenha sido extremamente gentil nas primeiras semanas e depois...
[INTERPRETAÇÃO]
(10) previsões sobre o comportamento do cliente ou de terceiros.
Ex: ? T: Acredito que a próxima coisa que ele vai fazer é te convidar para sair...
[INTERPRETAÇÃO]
(3) Verbalizações nas quais o terapeuta aponta discrepâncias ou contradições no discurso do cliente
(seja em tom confrontativo ou agradável).
Forma
(1) Explicações ou Interpretações apresentam tipicamente a forma afirmativa.
(2) Podem, eventualmente, ser apresentadas em forma interrogativa ou ainda...
(3) como uma afirmação seguida de uma pergunta de confirmação.
Contexto:
Precedente: Explicações ou Interpretações são tipicamente precedidas por descrições do cliente ou
do terapeuta.
Podem também ser precedidas por períodos de silêncio.
Outra situação característica é o uso desse tipo de verbalização ao final da sessão, como forma de
encerramento.
Pode, entretanto, ocorrer após qualquer tipo de verbalização do terapeuta ou do cliente.
Subseqüente:
Explicações ou Interpretações podem ser seguidas por confirmações do cliente, por períodos de
silêncio ou ainda por verbalizações de CONCORDÂNCIA ou OPOSIÇÃO por parte deste.
Em algumas interações pode ser observada a ocorrência de seqüências de explicação/ interpretação,
seguidas por RECOMENDAÇÃO do terapeuta.
Podem, entretanto, ser seguidas por qualquer tipo de verbalização do terapeuta ou do cliente.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) Se uma pergunta for feita como parte de uma explicação ou como pedido de confirmação de
explicação dada pelo terapeuta sobre o comportametno do cliente ou de terceiros, registrar-se-á
unicamente a ocorrências da categoria INTERPRETAÇÃO.
(c) Quando uma inferência diz respeito a sentimentos ou emoções do cliente, será categorizada
como EMPATIA.
174
(d) Quando uma verbalização do tipo “se... então” sugerir que o cliente poderá melhorar caso
realize determinadas ações ou tarefas propostas pelo terapeuta, será categorizada
RECOMENDAÇÃO.
(e) A previsão de conseqüências negativas ou aversivas para uma ação (ou não ação) do cliente,
será considerada CONFRONTAÇÃO quando sugerir uma ameaça, julgamento ou avaliação do
terapeuta (implícito ou explícito) contrários à ação do cliente. Na dúvida, categorize
CONFRONTAÇÃO, que tem precedência sobre interpretação.
(f) A mera descrição de conseqüências aversivas a uma ação do cliente por parte do terapeuta,
quando não indica ameaça e/ou não sugere um julgamento ou avaliação por parte do terapeuta será
categorizada como INTERPRETAÇÃO. Na dúvida, categorize CONFRONTAÇÃO, que tem
precedência sobre interpretação.
Terapeuta fornece conselhos ou tarefas - RECOMENDAÇÃO
Definição
Verbalizações do terapeuta que especificam ações ou conjuntos de ações a serem emitidas pelo
cliente, dentro ou fora da sessão.
Ex: ? T: Eu quero que você tente conversar com seu pai durante a semana e lhe falar sobre o
que você sente nessas situações. [RECOMENDAÇÃO]
? T: Faça a prova amanhã, antes que você esqueça a matéria. [RECOMENDAÇÃO]
? T: Você deveria cuidar de sua vida e deixar que seu irmão administre as suas próprias
coisas. [RECOMENDAÇÃO]
? T: Agora me diga o mesmo que você acabou de dizer, só que sem mexer as pernas.
[RECOMENDAÇÃO]
Uma verbalização de RECOMENDAÇÃO pode especificar ações de caráter aberto (respostas
passíveis de serem observadas por outros que não o próprio cliente) ou encoberto (respostas
passíveis de serem observadas apenas pelo próprio cliente - pensamentos especificos ou mudanças
em sentimentos).
Ex: ? T: Você não deve se sentir culpado por uma coisa que não foi sua responsabilidade.
Lembre-se que nem tudo está sob seu controle. [RECOMENDAÇÃO]
Ex: ? T: Quando você for enfrentar a situação, lembre-se de todas as vezes que você teve
sucesso. [RECOMENDAÇÃO]
Não-exemplo: ?T: Quero que você reflita sobre o que estava ocorrendo todas as vezes que
você obteve sucesso no enfrentamento. [SOLICITAÇÃO DE AVALIAÇÃO] * não se trata de
recomendação, porque o que é solicitado pelo terapeuta não é o engajamento do cliente em uma
resposta encoberta de topografia especificada.
Também serão consideradas verbalizações de RECOMENDAÇÃO aquelas nas quais o terapeuta
declaradamente comporta-se de forma a oferecer modelos de ação para o cliente.
Ex: ? T: Agora tente fazer um pedido para mim da mesma forma com que acabei de falar.
[RECOMENDAÇÃO]
Ex: ? T: Tente repetir a sequência do jogo assim como eu fiz. [RECOMENDAÇÃO]
Ex: ? T: Eu vou falar como eu acredito que você deveria conversar com o seu chefe.
[RECOMENDAÇÃO]
175
Ex: ? T: Observe agora como eu estou fazendo para depois você fazer o mesmo.
[RECOMENDAÇÃO]
Forma
(1) Orientações apresentam tipicamente a forma imperativa, consistindo em ordens, conselhos,
avisos, comandos ou instruções.
Ex: ? T: Faça... Quero que você vá...
(2) Podem, eventualmente, ser apresentadas em forma interrogativa, como uma pergunta que sugere
uma ação:
Ex: ? T: Você não acha que seria melhor...? E se você fizesse...? Seria possível...?
(3) Podem também apresentar a forma afirmativa.
Ex: ? T: Acredito que você deveria... Penso que a melhor alternativa seria...
(4) Podem apresentar a forma de permissão, proibição ou obrigação.
Ex: ? C: Eu posso anotar tudo à noite, antes de dormir ou tenho que fazer na hora em que
acontece? [SOLICITAÇÃO]
T: Faça como você achar melhor. O importante é que você registre o máximo de situações que
ocorrerem ao longo do dia. [RECOMENDAÇÃO]
(5) Confirmações em resposta a perguntas do cliente sobre como proceder, podem ter a forma de
verbalizações mínimas ou respostas curtas do tipo sim ou não.
Ex: ? C: Então eu tenho que ficar na situação, mesmo com medo? [SOLICITAÇÃO]
T: Hum Hum [RECOMENDAÇÃO]
Contexto
Precedente:
RECOMENDAÇÃO pode ou não ser precedida por solicitação por parte do cliente.
Também é comum serem precedidas por verbalizações de RELATO do cliente.
Podem também ser precedidas por explicações/ interpretações por parte do terapeuta.
Subseqüente:
Tipicamente, RECOMENDAÇÕES são seguidas por CONCORDÂNCIA do cliente, períodos de
silêncio ou OPOSIÇÃO, mas podem ser seguidos por qualquer tipo de verbalização.
Critérios de inclusão ou exclusão:
Orientações para a emissão de respostas de caráter encoberto só serão consideradas
RECOMENDAÇÃO quando a verbalização do terapeuta especificar a topografia da resposta a ser
emitida pelo cliente. Quando a orientação é genérica no sentido de refletir sobre determinada
questão ou pensar sobre determinado assunto, ela será categorizada como solicitação de avaliação.
(a) Confirmações em resposta a perguntas do cliente sobre como proceder serão consideradas
RECOMENDAÇÃO.
(b) quando sugestões forem apresentadas de modo sarcástico, categorize CONFRONTAÇÃO.
176
(c) qualquer permissão ou proibição do terapeuta a respeito de ações a serem executadas fora da
sessão será categorizada como RECOMENDAÇÃO.
(d) Quando uma verbalização sugerir que o cliente poderá melhorar caso realize determinadas ações
ou tarefas propostas pelo terapeuta, será categorizada RECOMENDAÇÃO.
(e) Verbalizações nas quais o terapeuta revela sua própria experiência com relação ao evento
supõem a proposição do terapeuta como um modelo e, portanto, serão categorizadas como
RECOMENDAÇÃO.
(f) Quando o terapeuta revela informações pessoais de forma a sugerir compreensão ou
entendimento da experiência do cliente, será categorizado EMPATIA.
(h) Relatos do terapeuta de algum evento de sua própria experiência, quando não sugerirem a
solução de problema ou queixa ou a compreensão ou entendimento da experiência do cliente, serão
categorizadas como OUTRAS.
(g) Quando o terapeuta oferece um modelo de ação e sugere que o cliente siga o modelo
imediatamente na sessão, será categorizado ESTRUTURAÇÃO.
(h) Quando uma RECOMENDAÇÃO é acompanhada de explicações do porquê o cliente deve
seguir aquela RECOMENDAÇÃO, registrar a ocorrência de ambas as categorias
RECOMENDAÇÃO e INFORMAÇÃO , cada uma no segmento apropriado da interação.
Ex: ? T: Eu vou sugerir uma coisa. Que você faça um tipo de anotação pra mim, durante essa
semana. Eu vou te dar certinho o que que você precisa anotar e você vai fazer toda vez que
aparecer esse tipo de pensamento, esse tipo de coisa. [RECOMENDAÇÃO] Porque talvez se
você me escrever na hora o que que aconteceu, o que que... talvez eu tenha idéia de quantas
vezes isso ocorreu pela semana. Vou ter idéia do tempo que você demorou pra fazer cada ritual,
vou ter idéia do que está acontecendo. Com isso, a gente tem uma base boa pra estar
trabalhando, se você fizer isso. Durante uma semana, a gente tem uma medida legal de como é
que isso corre durante o dia ao longo de uma semana. [INFORMAÇÃO]
Terapeuta reprova ações ou avaliações do cliente REPROVAÇÃO
Definição
(1) Verbalizações nas quais o terapeuta discorda ou expressa julgamento desfavorável sobre ações,
avaliações afirmações propostas ou características do cliente (sejam estas relatadas pelo cliente ou
observadas pelo terapeuta).
(2) Verbalizações nas quais o terapeuta descreve falhas do cliente ou critica suas ações,
características ou aparência.
Ex: ? T: “eu penso que você faz bem algumas coisas tais como supervisionar, monitorar
[APROVAÇÃO], entretanto às vezes você entra em uma escalada de castigo, castigo, castigo”.
[CONFRONTAÇÃO]
(4) Comentários de qualquer natureza feitos em tom sarcástico ou hostil com relação ao cliente.
Comentários do terapeuta que sugerem incredulidade a respeito de relatos do cliente sobre o que
disse ou fez ou terapeuta ri de algo que o cliente disse ou fez.
Ex: ? T: “Você quer dizer que você o deixa dormir em sua cama e ele a molha toda noite?
[risada]” [CONFRONTAÇÃO]
? T: “Você o deixou escolher seu próprio castigo?” [CONFRONTAÇÃO]
? T: “Você de fato pensa que sua mãe deveria deixá-lo vir para casa quando você quer?”
[CONFRONTAÇÃO]
177
? T: “Eu vou pegar uma xícara de café. Eu estou perdido.” [CONFRONTAÇÃO]
? T: “Você ta fumando com essa tosse? (sorrindo).” [CONFRONTAÇÃO]
? T: “Eles pegaram a recompensa mesmo quando eles não a tinham merecido?” (pergunta
apresentada em tom hostil após a cliente dizer que prometeu recompensa aos filhos após uma
tarefa e que os filhos não cumpriram a tarefa e ela os recompensou). [CONFRONTAÇÃO]
(5) Verbalizações nas quais o terapeuta prevê conseqüências negativas ou aversivas para uma ação
(ou pela não ação) do cliente em forma de ameaça.
Ex: ? T: “Você pode escolher fazer isto deste modo ou ser miserável o resto de sua vida.”
[CONFRONTAÇÃO]
(7) Paráfrase de verbalização anterior do cliente que explicita uma crítica ou aponta uma falta ou
erro do cliente.
(8) Verbalizações nas quais o terapeuta relata sua experiência com relação a um evento do qual o
cliente se queixa, sugerindo que sua atuação foi melhor que a do cliente ou que, se ele conseguiu
solucionar o problema, o cliente também deveria conseguir (auto-revelações desafiadoras).
(9) Verbalizações nas quais o terapeuta insiste na continuidade de algum assunto o qual o cliente
claramente está tentando evitar, por meio de mudanças do assunto ou de silêncio. Vai dividir em
várias categorias
(11) Relato de sentimentos que o cliente desperta no terapeuta que indicam que não gosta dele ou
de algo que ele faça ou que não está sentindo-se bem com algum aspecto relativo ao comportamento
do cliente.
Ex: ? T: “Eu vou continuar a atendê-lo por que para mim é um desafio, mas eu não gostei de
você.” [CONFRONTAÇÃO]
Ex: ? T: “Eu fico muito irritado quando você fala comigo dessa forma. e quando isso acontece,
a vontade que eu tenho é de te tratar da mesma forma”. [CONFRONTAÇÃO]
(12) Verbalizações nas quais o terapeuta diz ao cliente que ele está impedindo o progresso
terapêutico ou o andamento da sessão.
Ex: ? T: “Eu quero ajudá-la, mas é impossível fazermos alguma coisa com tantos atrasos...
hoje você chegou 40 minutos atrasada... o que nós podemos fazer em dez minutos?”
[CONFRONTAÇÃO]
Forma
Verbalizações do tipo CONFRONTAÇÃO tipicamente apresentam a forma afirmativa (do tipo
descritiva).
Podem assumir a forma de pergunta, com entonação sarcástica ou hostil.
Podem também apresentar a forma imperativa quando implicam em um comando para mudança de
comportamento dentro da sessão.
Contexto
Precedente:.
Verbalizações de CONFRONTAÇÃO tipicamente são precedidas por verbalizações de descrição de
eventos por parte do cliente.
Também é comum serem precedidas por verbalizações do terapeuta do tipo INFORMAÇÃO ou
INTERPRETAÇÃO.
178
Subseqüente:
Podem ser seguidos por qualquer tipo de verbalização.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) Quando uma reprovação foi acompanhada de descrição do evento que foi alvo da reprovação,
será registrada unicamente a ocorrência da categoria CONFRONTAÇÃO. CONFRONTAÇÃO
inclui todas as verbalizações que fornecem uma justificativa pela qual o terapeuta discorda ou de
por que não funcionará determinada proposta do cliente.
(b) Quando uma análise do terapeuta apontar para conseqüências negativas ou aversivas da ação do
cliente, sem nenhuma verbalização explícita de discordância ou reprovação, dê preferência à
categoria INTERPRETAÇÃO.
(c) Diferentemente de aprovação que deve ser codificada apenas quando o relato do cliente não está
em curso, um simples “não” proferido pelo terapeuta enquanto o cliente está falando é codificado
CONFRONTAÇÃO se implicar em discordância.
(d) A correção de um engano do cliente, quando não realizada em tom hostil, não é categorizada
como discordância, mas sim como INFORMAÇÃO.
(e) Verbalizações tais como “é mesmo?” ou “não acredito”, quando não indicarem descrença, e sim
interesse no relato do cliente, serão categorizadas como EMPATIA.
(f) Quando o terapeuta ri do relato de ações do cliente, em consonância com a descrição do próprio
cliente, sugerindo interesse em seu relato, categorizar EMPATIA.
(g) A previsão de conseqüências negativas ou aversivas para uma ação (ou não ação) do cliente só
será considerada CONFRONTAÇÃO quando o terapeuta explicitar julgamento ou avaliação
contrários à ação do cliente. A mera descrição de conseqüências aversivas a uma ação do cliente por
parte do terapeuta, quando não indica ameaça e/ou não sugere um julgamento ou avaliação por parte
do terapeuta será categorizada como INTERPRETAÇÃO. Na dúvida, categorize
CONFRONTAÇÃO, que tem precedência sobre interpretação.
(h) Quando uma verbalização do tipo se... então for emitida em tom de ameaça, sugerindo que o
cliente poderá sofrer conseqüências negativas ou aversivas caso realize (ou não) determinadas ações
ou tarefas, será categorizada como CONFRONTAÇÃO.
(i) Quando uma paráfrase de verbalização anterior do cliente não explicita crítica ou não aponta
uma falta ou erro do cliente, categorize EMPATIA. Na dúvida, mantenha EMPATIA.
Outras verbalizações do Terapeuta - OUTRAS
Definição:
Verbalizações do terapeuta não classificadas nas categorias anteriores.
Inclui também verbalizações do terapeuta ao cumprimentar o cliente em sua chegada ou partida,
anúncios de interrupções ou comentários ocasionais alheios ao tema em discussão.
Ex: ? T: Quer uma balinha?
Forma
(1) Qualquer formato.
179
Contexto
Precedente:.
Indefinido
Subseqüente:
Indefinido.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) Quando houver uma terceira pessoa envolvida na sessão, falas do terapeuta dirigidas
exclusivamente a esta terceira pessoa, ou nas quais havia dúvida sobre a quem a verbalização se
dirigia (se apenas cliente, se apenas terceiro ou ambos) será categorizadas como OUTRAS. Já falas
do terapeuta claramente dirigidas a ambos os participantes (cliente e terceiro) serão categorizadas
na categoria correspondente.
(b) Verbalizações do terapeuta a respeito de acerto de horários e local para a realização da sessão
serão categorizadas como ESTRUTURAÇÃO.
(c) Verbalizações do terapeuta do tipo comando, que determinam de que forma a sessão deverá
ocorrer, serão categorizadas como ESTRUTURAÇÃO.
Registro Insuficiente INSUFICIENTE
Definição
Verbalizações do terapeuta cujo conteúdo está ininteligível devido a problemas no áudio do filme,
ou qualquer outro problema que impeça sua identificação e categorização.
Forma
(1) Qualquer formato.
Contexto
Precedente:.
Indefinido
Subseqüente:
Indefinido.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) Verbalizações serão categorizadas como ininteligíveis apenas quando não puderem ser
identificadas mesmo depois de terem sido observadas por três vezes.
(b) Falas interrompidas do terapeuta cujo conteúdo identificável não é suficiente para a
categorização em uma das categorias anteriores serão classificadas como INSUFICIENTE.
180
Categorias do Cliente Anexo 3
Eixo I-2. Categorização do comportamento verbal vocal do cliente:
Cliente solicita informação, asseguramento, recomendações, opiniões ou procedimentos:
SOLICITAÇÃO.
Definição
Esta categoria inclui diferentes tipos de pedidos ou questões efetuados pelo cliente, a saber:
(1) Verbalizações nas quais o cliente solicita ao terapeuta informações, confirmações ou
esclarecimentos a respeito de eventos, da racional da terapia ou do andamento da sessão. Os eventos
cuja informação é solicitada podem incluir (a) eventos ocorridos/ relatados imediatamente antes, (b)
eventos ocorridos/ relatados em outros momentos da mesma sessão ou (c) eventos ocorridos/
relatados em sessões anteriores ou em outros momentos da vida do cliente ou do terapeuta.
Ex: ? C
9
: A conversa tomou outro rumo, né. ? [SOLICITAÇÃO]
T: Não se preocupe. [ESTRUTURAÇÃO]
? C: E comecei. Fui estudar à noite, e... comecei a fumar maconha, foi indo, foi indo, foi indo
e, deu no que deu. Mas porque que a gente falou dessa história toda ? [SOLICITAÇÃO]
? T: Então... (pega um papel).Eu quero que você anota pra mim, não sei se você vai precisar
desse lembrete, você me fala... eu anoto. Das situações dentro da sua casa, em que você faz o
ritual. Então, vai falar assim "olha, quando eu entro no quarto..." né? Então você pode até ir por
ponto;, tipo, no quarto, a torneirnha do gás que está lá fora... algumas das coisas fixas da sua
casa, onde a visão ou simplesmente saber que está lá, inicializa esse ritual.
[RECOMENDAÇÃO]
C: Só que eu não entendi muito bem, como é que é? [SOLICITAÇÃO]
(2) Verbalizações nas quais o cliente solicita ao terapeuta que avalie seu comportamento ou o
comportamento de terceiros, emita um diagnóstico sobre o seu problema ou o problema de terceiros
ou, ainda, solicita que o terapeuta analise seu problema ou de terceiros. A resposta cuja avaliação ou
conselho é solicitada pode ser de caráter aberto (respostas passíveis de serem observáveis por um
observador que não o próprio cliente) ou encoberto (respostas passíveis de serem observáveis
apenas pelo próprio cliente).
Ex: ? C: Aí tinha uns versinhos que eu escrevi para ele que eu trouxe pra você pra ver se eu
não estou exagerando na pedida... [SOLICITAÇÃO]
? C: Você acha que isso é possível para mim?. [SOLICITAÇÃO]
(3) Verbalizações nas quais o cliente solicita ao terapeuta que este sugira alternativas de resposta ou
cursos de ação possíveis
10
.
? C: O que eu poderia fazer se ela começar com isso novamente? [SOLICITAÇÃO]
9
C indica uma fala de cliente, T uma fala do terapeuta. Um novo diálogo é iniciado em cada marcador ?.
10
Esse tipo específico de solicitação, quando encontrado em freqüência elevada e/ou acompanhado de correlatos
verbais não vocais ou não verbais característicos, pode indicar um padrão superdependente do cliente, que é apontado
na literatura clínica como um tipo de comportamento “resistente”.
181
(5) Verbalizações nas quais o cliente solicita que o terapeuta utilize determinados procedimentos ou
técnicas, solicita que ele maneje determinada questão ou tema ou ainda verbalizações nas quais o
cliente sugere ao terapeuta o que este deve fazer com relação ao seu tratamento.
Ex: ? C: O Z. falou que tem que ser trabalhado isso, viu?... [SOLICITAÇÃO]
? C: Eu quero que você me ensine a aplicar a exposição para pânico. [SOLICITAÇÃO]
(6) Verbalizações nas quais o cliente solicita ao terapeuta asseguramento sobre a ocorrência (ou
não) de determinados eventos, sobre fatos ou sobre a correção de sua (do cliente) avaliação ou
opinião a respeito de eventos.
Ex: ? C: Aí eu falei pra ele que isso é por causa de algum trauma de infância. [RELATO] Você
não acha que pode ser isso? [SOLICITAÇÃO]
Forma
SOLICITAÇÕES apresentam tipicamente a forma interrogativa, constituindo-se em:
(1) perguntas fechadas - solicitam respostas curtas, confirmações ou respostas do tipo “sim” ou
“não”.
(2) perguntas abertas - que solicitam que o terapeuta descreva, relate ou discorra.
(3) Podem também apresentar a forma imperativa, solicitando ou que o terapeuta faça algo,
informe, descreva ou relate eventos.
(4) afirmações ou comentários de clarificação, que sugerem a continuidade da descrição do
terapeuta.
Contexto
Precedente: Pode ser precedido por qualquer categoria de verbalizações do terapeuta ou cliente ou
por períodos de silêncio.
Subseqüente: Tipicamente, esta categoria é seguida por categorias do terapeuta do tipo
INFORMAÇÃO, RECOMENDAÇÃO, INTERPRETAÇÃO ou ESTRUTURAÇÃO. Pode também
ser seguida por confirmações do terapeuta, respostas curtas do tipo “sim”, “não” ou verbalizações
do tipo FACILITAÇÃO.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) Embora a categoria SOLICITAÇÃO seja caracterizada tipicamente por perguntas, nem toda
pergunta implica em SOLICITAÇÃO. Quando uma pergunta for feita como parte de uma
explicação dada pelo cliente, ou como pedido de confirmação de explicação dada pelo cliente, não
será registrada a categoria SOLICITAÇÃO; apenas registre a ocorrência da categoria
EXPLICAÇÃO.
(b) Se um pedido for apresentado ao terapeuta em tom claramente hostil, sarcástico ou de desafio,
categorize OPOSIÇÃO. Na dúvida, mantenha SOLICITAÇÃO.
(c) Perguntas do cliente sobre a experiência ou vida pessoal do terapeuta serão categorizados como
SOLICITAÇÃO.
182
Cliente relata fatos passados ou presentes - RELATO
Verbalizações nas quais o cliente descreve ou informa ao terapeuta a ocorrência de eventos, ou
aspectos relativos a eventos, sem estabelecer relações causais ou funcionais entre eles e sem
descrever ou demonstrar nenhum tipo de avaliação, opinião ou sentimento.
Ex: ? C: Ele falou "é, mas pra sair com a F. você sai, né ?". Bom, daí no sábado eu fui lá,
conversei porque eu estava bem e tal, sábado e domingo eu não fui para a chácara porque na
quinta era semana santa tal eu já ia, né, ele me ligou sábado e domingo, ligou segunda tal, ligou
todas as vezes que eu te falei.
? C: Na verdade assim: Eu fazia um... Faço ainda um acompanhamento de hepatite. Que eu
tenho hepatite crônica, sei lá... desde 80. E... aí nesse acompanhamento eu pedi para o médico
fazer um teste de HIV, porquê... meu parceiro não era lá muito confiável. Comissário, cê sabe
como que é. Aí, não sei, bateu. Falei, "Não". Quero fazer, quero ver o que que tá pegando aqui.
Não que tivesse algum problema. Pelo contrário. Não tinha nada, me sentia muito bem.
Forma:
RELATO apresenta tipicamente a forma afirmativa descritiva.
O tom de voz é tipicamente monótono ou sociável, sem pausas significativas ou correlatos corporais
indicativos de sentimentos.
Contexto:
Precedente: Pode ser antecedido ou não por solicitação do terapeuta.
Subseqüente: Qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Critérios de inclusão/exclusão:
(a) RELATO inclui respostas para perguntas do terapeuta ou informações factuais sobre eventos
passados ou presentes.
(b) RELATO Pode ser categorizada tanto em situações nas quais o terapeuta solicita maiores
detalhes ou esclarecimentos sobre a queixa do cliente ou eventos relatados pelo cliente como em
situações de conversa ou “bate-papo” sobre assuntos diversos.
(c) quando, imediatamente após uma análise ou recomendação do terapeuta, o cliente apresenta uma
descrição de eventos que corroboram a análise ou concordam com a recomendação do terapeuta,
categoriza CONCORDÂNCIA, e não relato.
(d) Verbalizações que começam com “eu acho que...”, “penso que o melhor a fazer é...”, quando se
referem a projetos e ações futuras do cliente devem ser classificadas como METAS, e não relato.
(e) Quando o relato do cliente descreve ou demonstra algum tipo de avaliação, opinião ou
sentimento, categorize RELATO QUALIFICATIVO. Na dúvida entre RELATO E RELATO
QUALIFICATIVO, categorize RELATO.
Cliente relata sua opinião, julgamento ou sentimento com relação a eventos RELATO
QUALIFICATIVO
Verbalizações nas quais o cliente relata eventos ao terapeuta de forma que inclui sua opinião,
julgamento ou sentimento sobre tais eventos, desde que tal relato não contenha relações explicativas
ou causais.
183
Ex: ? C: É... foi até engraçado. Chega com um calhamaço de flores (risos). Nunca recebi flores
na minha vida. (risos) Achei aquilo o absurdo do absurdo. Mas, muito legal. foi muito bom.
[RELATO QUALIFICATIVO]
Verbalizações nas quais o cliente descreve ou informa ao terapeuta algum tipo de experiência
emocional vivida por ele ou descreve eventos apresentando correlatos não vocais ou não verbais
indicativos de respostas emocionais (a consideração desse último critério implica também na
categorização correspondente no(s) eixo relativo(s) a respostas não-vocais).
Ex: ? C: E, caiu fora. [RELATO] Então, assim: a cabeça vai a milhão. Eu passei o sábado
assim, que nem um leão feroz na jaula. Aí, quando, foi à noite eu falei "não, pára com isso. Não
vai se deprimir agora por uma pessoa que você mal conhece, nem sabe da onde veio". Não é a
primeira vez, aliás, todas as vezes, me acontece isso. Fico mal prá cacete. Aí, depois eu vou me
reabilitando. [RELATO QUALIFICATIVO]
Forma:
RELATO QUALIFICATIVO apresenta tipicamente a forma afirmativa descritiva. O tom de voz
consiste tipicamente em fala irregular, com pausas e considerações.
Pode também ser acompanhado de respostas emocionais, ou comportamentos não vocais indicativos
de sentimentos (por exemplo, suspiros audíveis, punhos apertados, cabeça baixa, choro, ou posição
de corpo inconstante).
Contexto:
Precedente: Pode ser antecedido ou não por solicitação do terapeuta.
Subseqüente: Qualquer verbalização do cliente ou do terapeuta.
Critérios de inclusão/exclusão:
(a) RELATO QUALIFICATIVO pode ser apresentado com ou sem a solicitação do terapeuta.
(b) quando, imediatamente após uma análise ou recomendação do terapeuta, o cliente apresenta
uma descrição de eventos que corroboram a análise ou concordam com a recomendação do
terapeuta (mesmo que em tom emocionado), categoriza CONCORDÂNCIA, e não Relato
Qualificativo.
(c) Verbalizações que começam com “eu acho que...”, “penso que o melhor a fazer é...”, quando se
referem a projetos e ações futuras do cliente devem ser classificadas como METAS, e não Relato
Qualificativo.
(d) Quando o cliente descreve o sentimento que experimentou em algum evento passado, mas sem
demonstrar nenhum tipo de emoção presente, categorize RELATO.
(e) Na dúvida entre RELATO E RELATO QUALIFICATIVO, categorize RELATO.
Cliente relata melhora ou progresso terapêutico MELHORA
Verbalizações nas quais o cliente relata mudanças ou melhora com relação à queixa clínica, a
problemas médicos, a comportamentos relacionados à sua queixa, ou a comportamentos
considerados, pelo cliente ou pelo terapeuta, como indesejáveis ou inadequados
(independentemente da concordância de ambos quanto à melhora).
Exemplos:
184
Ex: ? C: Estou me sentindo muito bem. Depois da internação assim: todos os meus problemas
acabaram, sabe - fisicamente falando. [MELHORA]
Verbalizações nas quais o cliente relata ganhos em metas importantes ou positivas, ou diminuição
de problemas.
Ex: ? C: Eu fiquei muito orgulhoso quando eu vi que eu dei conta de fazer aquilo.
[MELHORA]
Inclui também o relato de medidas de autocontrole ou medidas que o cliente tomou por conta
própria para mudar certos comportamentos ou situações.
Ex: ? C: então eu comecei a caminhar toda noite, antes de ir dormir. [MELHORA]
? C: Você vê que eu estou bem mais controlada. [MELHORA]
? C: Eu imaginei cenas calmas, e isso me ajudou a relaxar e pegar no sono mais
rapidamente. [MELHORA]
? C: É como eu te disse, na semana passada. Eu tô começando a fazer isso, sabe. Eu tô me
impondo mais pra sair, pra conhecer gente, entendeu? Tá conhecendo mais gente.
[MELHORA]
Verbalizações nas quais o cliente relata que descobriu, tomou consciência ou passou a aceitar ou
compreender de eventos dos quais ele até então não havia se dado conta ou não havia
compreendido, sugerindo explicitamente um ganho do ponto de vista terapêutico (com
verbalizações do tipo “agora eu entendo”, ou agora faz sentido”, “é isso!”, “é claro!” etc.).
Ex: ? C: Eu estou certo agora de que esse é o melhor caminho para mim. [MELHORA]
Forma:
MELHORA apresenta tipicamente a forma afirmativa descritiva.
Contexto:
Precedente: Pode ser antecedido ou não por SOLICITAÇÃO DE RELATO por parte do terapeuta.
Subseqüente: Tipicamente, descrições de melhora são seguidas por verbalizações de
FACILITAÇÃO ou de APROVAÇÃO por parte do terapeuta. Podem também ser seguidas por
SOLICITAÇÃO DE RELATO ou INTERPRETAÇÕES do terapeuta em busca de explicar as
razões da melhora relatada.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) MELHORA diferencia de METAS porque a primeira é apenas um relato de eventos e medidas
já ocorridos. A segunda, por sua vez, inclui planos de ações futuras.
Cliente descreve relações explicativas ou causais entre eventos - EXPLICAÇÃO
Verbalizações nas quais o cliente descreve ou deixa implícito, fazendo ou não uso de metáforas ou
analogias:
(1) relações explicativas ou causais - relações do tipo "se... então”;
(2) relações de contigüidade - relações temporais entre eventos sem explicitar caráter causal;
(3) sínteses ou conclusões formuladas sobre seu comportamento ou sobre outros eventos,
independentemente da concordância do terapeuta.
185
(4) padrões de comportamento do cliente ou de terceiros.
Estas relações podem dizer respeito a eventos ocorridos no passado, no presente, ou a especulações
sobre eventos futuros; podem se referir a sentimentos, emoções, pensamentos, ações públicas,
interações com terceiros e fatos diversos e podem incluir o comportamento do cliente, do terapeuta
ou de terceiros. Exemplos:
Ex: ? C: É um bloqueio, eu estou lutando contra isso...; [EXPLICAÇÃO]
? C: Ah! Pois é, não sei porquê? Não sei porque. Eu acho que é.... É resistência minha contra
a medicação mesmo, ta... [EXPLICAÇÃO]
? C: Em casa é só mulher. Minha mãe, eu e era minha vó. Morava só nós três. Então acho que
é por isso. [EXPLICAÇÃO]
? C: Eu acho que eu trabalho tanto porque assim eu evito discussões em casa.
[EXPLICAÇÃO]
Forma
(1) Explicações apresentam tipicamente a forma afirmativa.
(2) Podem, eventualmente, ser apresentadas em forma interrogativa ou ainda.
(3) como uma afirmação seguida de uma pergunta de confirmação.
Contexto:
Precedente: Explicações são tipicamente precedidas por relato do cliente ou SOLICITAÇÃO DE
RELATO QUALIFICATIVO por parte do terapeuta.
Podem também ser precedidas por períodos de silêncio.
Pode, entretanto, ocorrer após qualquer tipo de verbalização do terapeuta ou do cliente.
Subseqüente:
Explicações podem ser seguidas por SOLICITAÇÃO DE RELATO ou SOLICITAÇÃO DE
RELATO QUALIFICATIVO do terapeuta, por períodos de silêncio ou ainda por verbalizações de
APROVAÇÃO ou CONFRONTAÇÃO por parte do terapeuta.
Podem, entretanto, ser seguidas por qualquer tipo de verbalização do terapeuta ou do cliente.
Critérios de inclusão e exclusão:
(a) EXPLICAÇÂO inclui todo o raciocínio apresentado imediatamente antes da formulação de uma
conclusão ou de uma explicação.
Cliente formula metas METAS
Verbalizações nas quais o cliente descreve comportamentos, estados ou situações que ele gostaria
de atingir com a ajuda do terapeuta.
Ex: ? C: Eu quero aprender como eu posso melhorar a minha relação com meu filho.
[METAS]
186
Verbalizações nas quais o cliente contribui com planos para mudar sua estratégia de ação por conta
própria.
Ex: ? C: Eu acho que um primeiro passo deve ser eu ir com uma amiga a um restaurante.
[METAS]
Verbalizações nas quais o cliente propõe ações futuras (solicitadas ou não pelo terapeuta) para a
solução de problemas específicos.
Ex: ? T: E o que você pretende fazer a respeito disso? [SOLICITAÇÃO DE RELATO]
C: Vou ligar para ela e conversar sobre o que aconteceu. [METAS]
? C: Tomei uma decisão... eu vou pedir a dissociação da sociedade com meus irmãos [METAS]
Forma:
METAS apresenta tipicamente a forma afirmativa descritiva.
Contexto:
Precedente: Pode ser antecedido ou não por solicitação do terapeuta.
Subseqüente: Pode ser seguido por APROVAÇÃO por parte do terapeuta ou qualquer verbalização
do cliente ou do terapeuta.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) METAS diferencia de MELHORA porque a última é apenas um relato de eventos e medidas já
ocorridos, enquanto a primeira inclui descrição de planos, e ações a serem executados no futuro.
Cliente relata concordância ou confiança na terapia e/ou no terapeuta - CONCORDÂNCIA
Verbalizações nas quais o cliente expressa julgamento ou avaliação favorável a respeito de
sugestões, análises ou afirmações emitidas pelo terapeuta, sejam estas imediatamente antecedentes
ou não.
Ex: ? C: É. Você tem razão. Eu ando evitando muito certas coisas. [CONCORDÂNCIA]
Verbalizações nas quais o cliente relata que está motivado para se engajar em algum procedimento
ou recomendação apresentados pelo terapeuta ou que está esperançoso de que o trabalho terapêutico
poderá ajudá-lo.
Ex: ? C: Legal. Ainda hoje vou ligar pro meu orientador... aí vou conversar sobre a data da
defesa com ele. [CONCORDÂNCIA]
Verbalizações nas quais o cliente relata satisfação ou contentamento com os resultados alcançados
com a ajuda do terapeuta.
Ex: ? C: Você é uma das responsáveis, eu tinha que dizer, não, eu faço questão, eu sou muito
franca, sabe, de extrema transparência, é, você, de uma forma assim, muito inteligente, tá
sabendo me conduzir assim, entre aspas [CONCORDÂNCIA], porque eu to tendo mais
discernimento, sabendo o que é mais conveniente e o que não é e to tentando encontrar o
caminho, não é? Sem tanto medo de ser feliz. [MELHORA].
187
Verbalizações nas quais o cliente relata ter refletido a respeito de interpretações ou recomendações
dadas pelo terapeuta.
Ex: ? C: Essa semana eu pensei bastante naquilo que a gente conversou na última sessão
[CONCORDÂNCIA]... de fato, a melhor coisa a fazer é eu ficar em casa por mais um tempo, e
depois eu penso se quero me separar ou não [METAS]... você tinha mesmo razão.
[CONCORDÂNCIA]
Risos ou comentários em forma de exclamação, apresentados após a descrição de eventos por parte
do terapeuta, consistentes com o assunto relatado e que indicam interesse nele.
Ex: ? C: “é mesmo?”
? C: “não acredito!”,
? C: “nossa!”.
Comentários breves apresentados após uma descrição do terapeuta, que resumem em poucas
palavras o essencial do que ele disse, ou inferem a continuidade da descrição, sugerindo interesse
no assunto e demonstrando que está atento ao relato.
Verbalizações que sugerem compreensão ou entendimento de uma INFORMAÇÃO,
INTERPRETAÇÃO ou RECOMENDAÇÃO apresentada pelo terapeuta, seguidas ou não da
descrição de eventos que corroboram a análise ou descrição apresentada.
Expressões vocais curtas emitidas pelo cliente, que sugerem que ele está prestando atenção e que o
terapeuta deveria continuar falando.
Forma
Verbalizações de concordância apresentam tipicamente a forma afirmativa. Podem também
apresentar a forma exclamativa.
Podem ocorrer também na forma de expressões paralinguísticas ou afirmações curtas to tipo “Hum
hum”, “Ahã”, “Sei”, “certo”, “sim”.
Contexto
Precedente:.
Verbalizações de CONCORDÂNCIA tipicamente são precedidas por verbalizações de
INTERPRETAÇÃO, RECOMENDAÇÃO ou INFORMAÇÃO por parte do terapeuta.
Podem também ocorrer simultaneamente a verbalizações do terapeuta ou imediatamente após estas.
Subseqüente:
Podem ser seguidos por qualquer tipo de verbalização.
Quando sugerem a continuidade do relato, são tipicamente seguidas pela categoria de verbalização
do terapeuta que estava em curso antes da verbalização.
Critérios de inclusão / exclusão:
(a) Quando concordância foi acompanhada de descrição do evento que foi alvo da concordância, foi
registrada unicamente a ocorrência da categoria CONCORDÂNCIA.
188
(b) Quando o cliente retoma uma análise apresentada anteriormente pelo terapeuta (mesmo se ele
afirma que concordou com a análise) como justificativa para o seu fracasso em efetuar uma
mudança desejada, ou para o não-engajamento em algo que havia sido planejado, classifique
OPOSIÇÃO.
(c) Quando o cliente refere que concorda ou que refletiu a respeito de alguma interpretação ou
recomendação do terapeuta, mas diz que apesar disso, não consegue mudar ou fazer o que foi
proposto, classifique OPOSIÇÃO.
(d) Quando, imediatamente após uma análise ou recomendação do terapeuta, o cliente emite uma
resposta do tipo concordância e apresenta uma descrição de eventos que corroboram a fala do
terapeuta, mas essa fala sugere que ele não consegue ou que é culpa sua das coisas estarem
assim, categorize OPOSIÇÃO.
(e) Quando, imediatamente após uma análise ou recomendação do terapeuta, o cliente apresenta
uma descrição de eventos que corroboram a análise ou concordam com a recomendação do
terapeuta, categoriza CONCORDÂNCIA, e não relato.
(f) A verbalização “certo”, quando dita sarcasticamente, sugerindo oposição, deve ser categorizada
como OPOSIÇÃO.
(g) Quando o cliente relatar uma MELHORA e, na mesma sentença, atribuir ao terapeuta a
responsabilidade ou o mérito por esta melhora, cada trecho da sentença deverá ser categorizado
de acordo com a categoria apropriada. Na dúvida entre MELHORA E CONCORDÂNCIA,
categorize MELHORA.
(h) Quando uma verbalização curta, do tipo hmm hmm, certo, ok, for apresentada em tom hostil
desafiador ou sugerindo que o terapeuta seja mais rápido ou conclua logo seu raciocínio,
categorize OPOSIÇÃO.
Cliente recusa ou reprova ações ou avaliações do terapeuta ou discorda do terapeuta
OPOSIÇÃO
Verbalizações nas quais o cliente expressa discordância, julgamento ou avaliação desfavorável a
respeito de afirmações, sugestões, análises ou outros comportamentos emitidos pelo terapeuta. Os
comportamentos (verbais ou não-verbais) do terapeuta que são foco da reprovação ou discordância
por parte do cliente podem ter sido solicitados por este (por ex: quando o cliente pede um conselho)
ou não. OPOSIÇÃO inclui:
(1) Verbalizações nas quais o cliente queixa-se do terapeuta ou do tratamento, descreve falhas deste
ou critica suas ações, características ou aparência.
Ex: ? C: Esta técnica de time-out não está funcionando com meu filho. [OPOSIÇÃO]
(2) Verbalizações nas quais o cliente relata seu descontentamento com o terapeuta, a terapia e/ou
certos pontos da terapia ou diz ao terapeuta que ele não o está ajudando em sua queixa.
Ex: ? C: Eu acho que você e seu programa de tratamento não atingem os meus padrões para a
terapia. [OPOSIÇÃO]
(3) Verbalizações nas quais o cliente aponta discrepâncias ou contradições no discurso do terapeuta
(seja em tom confrontativo ou agradável).
Ex: ? C: Até a semana passada, você disse que eu deveria respeitar o meu ritmo e agora você
vem me cobrar que eu estou indo devagar demais... [OPOSIÇÃO]
(4) Relato do cliente de que não gosta do terapeuta ou de algo que ele faça ou que não está sentindo-
se bem com algum aspecto relativo ao comportamento do terapeuta.
Ex: ? C: Eu não gosto do jeito que você me olha... parece que tem dois faróis na minha cara...
[OPOSIÇÃO]
189
(5) Comentários de qualquer natureza feitos em tom sarcástico ou hostil com relação ao terapeuta.
Cliente ri de algo que o terapeuta disse ou fez.
Ex: ? C: Se você pensa que isto vai funcionar, você está louco.[OPOSIÇÃO]
(6) Comentários do cliente que sugerem incredulidade a respeito de qualquer verbalização ou ação
do terapeuta ou que sugerem que o terapeuta não tem conhecimento ou experiência suficiente para
ajudá-lo.
Ex: ? C: Que idade você tem? [SOLICITAÇÃO] Você parece tão novinha... [OPOSIÇÃO]
Ex: ? C: Eu vi no seu currículo Lattes que você tem bastantes publicações. [RELATO] Você
tem experiência mesmo ou é daqueles acadêmicos que fica atrás da escrivaninha? [OPOSIÇÃO]
(7) Ordens ou pedidos de parada ou mudança do comportamento do terapeuta dentro da sessão.
Ex: ? C: Pare de perguntar sobre isso. Eu não quero mais falar sobre esse assunto.
[OPOSIÇÃO]
(8) Verbalizações nas quais o cliente apresente qualquer tipo de ameaça ao terapeuta.
Ex: ? C: Acho que você não ta entendendo... sabe porque eu parei a minha última terapia?
Porque eu arrebentei todo o consultório dele... [OPOSIÇÃO]
(9) Verbalizações nas quais o cliente se recusa a falar a respeito de um tema solicitado pelo
terapeuta ou se recusa a se engajar em algum exercício.
Ex: ? Eu não estou interessado em ensaio comportamental. Eu não sou um ator. [OPOSIÇÃO]
(10) Desvio do assunto Verbalizações do cliente que ocorrem imediatamente após uma
SOLICITAÇÃO DE RELATO ou SOLICITAÇÃO DE RELATO QUALIFICATIVO por parte do
terapeuta e que fogem completamente do assunto solicitado ou verbalizações que sugerem que o
cliente se refere a um assunto tangencial àquele que estava em pauta ou quer discutir um assunto
diferente daquele abordado pelo terapeuta.
Ex: ? T: Você já se deu conta que o seu único critério para a escolha de um curso é o que ele
tem de chato? [INTERPRETAÇÃO] (situação na qual terapeuta e cliente discutem a escolha de
um curso universitário)
C: Minha cabeça está doendo... [OPOSIÇÃO]
(11) verbalizações nas quais o cliente recusa ou discorda de um elogio feito pelo terapeuta.
Ex: ? T: Você está muito bonita hoje. [APROVAÇÃO]
C: Não to bonita. To com uma roupinha velha que eu achei.[OPOSIÇÃO]
(12) Verbalizações nas quais o cliente relata o não seguimento de alguma RECOMENDAÇÃO do
terapeuta ou relata que fez algo que o terapeuta havia desaconselhado, quando apresentadas em tom
hostil ou de desafio ou quando acompanhado de crítica à tarefa proposta.
Forma
Verbalizações do tipo OPOSIÇÃO tipicamente apresentam a forma afirmativa.
Podem assumir a forma de pergunta, com entonação sarcástica ou hostil.
Podem também apresentar a forma imperativa quando implicam em um comando para mudança de
comportamento do terapeuta dentro da sessão.
Contexto
190
Precedente:.
Verbalizações de OPOSIÇÃO tipicamente são precedidas por verbalizações de
INTERPRETAÇÃO, RECOMENDAÇÃO ou INFORMAÇÃO por parte do terapeuta.
Subseqüente:
Podem ser seguidos por qualquer tipo de verbalização.
Critérios de inclusão / exclusão:
(a) Uma resposta do cliente que preencha os critérios acima descritos será considerada
OPOSIÇÃO, mesmo que tenha sido solicitada pelo terapeuta.
(b) Se um pedido de informação for apresentado ao terapeuta como uma ordem, categorize
OPOSIÇÃO. Na dúvida, mantenha SOLICITAÇÃO.
(c) Quando OPOSIÇÃO foi acompanhada de descrição do evento que foi alvo da OPOSIÇÃO, será
registrada unicamente a ocorrência da categoria OPOSIÇÃO.
(d) Simples correção de fatos não é codificado como oposição.
Ex: ? T: Você mora na Rua Cardoso de Almeida, né? [SOLICITAÇÃO DE RELATO]
C: Não, é na Rua Tupi. (RELATO)
(e) Categoria OPOSIÇÃO deve se referir apenas a afirmações, sugestões, análises ou outros
comportamentos emitidos pelo terapeuta. Não inclui reclamações e observações negativas sobre
outros assuntos, pessoas, etc. dentro ou fora da sessão de terapia. Estas declarações entram em
outras categorias, conforme sua adequação.
(f) OPOSIÇÃO inclui todas as declarações que explicam o porque o cliente discorda do terapeuta.
(g) OPOSIÇÃO também é codificado para comportamentos não verbais de não seguimento. Estes
comportamentos devem acontecer em seguida a uma recomendação ou a um comando de parada
do terapeuta dentro da sessão. [ESTRUTURAÇÃO]
Exemplo:
Terapeuta: Sente naquela cadeira até que você fique quieto por um
minuto.[ESTRUTURAÇÃO]
Cliente: Sai de cadeira. [OPOSIÇÃO]
(i) OPOSIÇÃO tem precedência sobre RELATO QUALIFICATIVO. Na dúvida entre os dois,
categorize OPOSIÇÃO.
(j) OPOSIÇÃO inclui verbalizações do tipo “Sim, mas...”.
Ex: ? T: Você pode imaginar como ela deve ter se sentido? [SOLICITAÇÃO DE RELATO
QUALIFICATIVO]
C: Sim, mas eu a conheço melhor que qualquer um e acho que não foi nada demais.
[OPOSIÇÃO]
(k) O Relato do cliente de que não fez alguma tarefa, ou de que fez algo que o terapeuta
desaconselha, será considerado oposição apenas quando em tom hostil ou desafiador, ou quando
acompanhado de crítica à tarefa proposta ou recomendação. Quando não tiver essas
características, utilize a categoria apropriada (RELATO OU RELATO QUALIFICATIVO).
191
Outras verbalizações do Cliente - OUTRAS
Definição:
Verbalizações do cliente não classificadas nas categorias anteriores. Inclui também verbalizações do
cliente ao cumprimentar o terapeuta em sua chegada ou partida, anúncios de interrupções ou
comentários ocasionais alheios ao tema em discussão.
Ex: ? C: Posso fumar?
? C: Nossa, que calor.
? C: Acho melhor marcar o endereço aqui.
Forma
(1) Qualquer formato.
Contexto
Precedente:
Indefinido
Subseqüente:
Indefinido.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) Quando houver uma terceira pessoa envolvida na sessão, falas do cliente dirigidas
exclusivamente a esta terceira pessoa, ou nas quais há dúvida sobre a quem a verbalização se dirige
(se apenas terapeuta, se apenas terceiro ou ambos) devem ser categorizadas como OUTRAS. Já
falas do cliente que são claramente dirigidas a ambos os participantes (terapeuta e terceiro) são
categorizadas na categoria correspondente.
(b) serão considerados comentários ocasionais verbalizações do cliente que não acarretem em
continuidade do assunto (seja por parte do terapeuta ou do cliente). Um comentário desse tipo deve
ser seguido por continuidade do assunto que estava em discussão anteriormente.
Ex: ? C: Esse quadro é novo? Eu nunca havia notado ele aqui.
Registro Insuficiente INSUFICIENTE
Definição
Verbalizações do cliente cujo conteúdo está ininteligível devido a problemas no áudio do filme, ou
qualquer outro problema que impeça sua identificação e categorização.
Critérios de inclusão ou exclusão:
(a) Verbalizações serão categorizadas como ininteligíveis apenas quando não puderem ser
identificadas mesmo depois de terem sido observadas por pelo menos três vezes.
192
(b) Falas interrompidas do cliente cujo conteúdo identificável não é suficiente para a categorização
em uma das categorias anteriores serão classificadas como INSUFICIENTE.
Forma
(1) Qualquer formato.
Contexto
Precedente:.
Indefinido
Subseqüente:
Indefinido.
193
Questionário de Objetivos Terapêuticos - Mauro Anexo 4
Questionário de Objetivos Terapêuticos
Cliente: Mauro
O questionário a seguir compõe perguntas consideradas relevantes para a compreensão do
analista a respeito das sessões transcritas, abrangendo características do cliente (preferências,
comportamento-queixa, antecedentes e conseqüentes para tais comportamentos em seu ambiente,
comportamentos de melhora etc) e objetivos e estratégias do terapeuta (para um período da terapia
e/ou sessão a sessão).
Análise da queixa e definição dos objetivos terapêuticos
Cliente Mauro 8 anos, sexo masculino, 2ª série primária
- Fonte das informações: Entrevistas com os pais de Mauro, aplicação do CBCL, observação da
interação entre Mauro e o pai no consultório, interação de Mauro com terapeuta nas sessões, visita à
escola e entrevista com coordenadora e professora da criança.
- Período da terapia a que se refere o questionário: cinco primeiras sessões, iniciadas em
Outubro de 2004
- Freqüência de sessões: 1 sessão semanal de 1 hora
- Outra intervenção realizada: Orientação de pais quinzenal; visita à escola
1) Quais os comportamentos-queixa (CRB1) do cliente, segundo a análise da terapeuta? Sob
que condições ele emite tais comportamentos em sessão?
Os pais de Mauro relataram com facilidade os comportamentos queixa do cliente, que
ocorrem tanto em casa como na escola. O CBCL foi aplicado com o pai e acusou problemas de
comportamento internalizantes e externalizantes.
1. Comportamento-opositor: alguns comportamentos emitidos pelo cliente na sessão se assemelham
também àqueles relatados pelo pai. Quando M. é contrariado, às vezes simplesmente continua
agindo da mesma maneira (como se não houvesse recebido uma instrução), reclama, ou fica calado,
ou faz algumas birras (insistências com voz chorosa). Quando não consegue realizar alguma
atividade ou está perdendo no jogo, tenta burlar as regras para “sair-se bem”. Se eu tento ensiná-lo a
realizá-la, às vezes ele simplesmente diz que não sabe e desiste, antes de tentar. Também age assim
diante de atividades menos preferidas. Por fim, na escola, M. recebe broncas da professora quando
desobedece, conversa “fora de hora”, fica emburrado, se recusa a fazer a lição. Às vezes, diante
dessas situações, a professora o encaminha para a coordenadora, que é uma moça muito doce e
simpática, que fica conversando longamente com ele sobre o ocorrido.
2. Dificuldade na expressão de sentimento positivo: percebi que o cliente relata com freqüência, e
com certo orgulho, brigas, raivas e desobediências. Entretanto, se esquiva de relatar carinho,
cooperação e amor. Tem dificuldade de identificar e nomear sentimentos.
3. Competitividade: M quer sempre ganhar os jogos e fica abalado quando perde algum. Tem-se a
impressão de que só se diverte com os jogos em função de marcar pontos e ser o melhor. Talvez por
esse motivo ele não goste de jogos menos estruturados, onde não há um vencedor.
4. Impulsividade: A impulsividade (responder sem parar para pensar na pergunta ou responder
qualquer coisa) ocorreu principalmente diante de solicitações para cálculos matemáticos em um
jogo (Jogo da Vida). Percebi que M. agia desta forma para se livrar da tarefa de calcular, mas que
não tinha dificuldades de aprendizagem porque sabia fazer as contas quando parava para pensar
antes de responder.
2) Quais os recursos do cliente que podem favorecer o trabalho terapêutico?
1. Disponibilidade dos pais: Pais se mostraram bastante disponíveis e se comprometeram a
comparecer em sessões de orientação.
194
2. Recursos acadêmicos: Mauro sabe ler e escrever e fazer contas ou demais atividades exigidas
para seu nível escolar (segunda série). Isso contribui inclusive na variabilidade de jogos que podem
ser utilizados em sessão.
3. Escola: Apesar dos problemas escolares, a diretora e a professora se mostraram dispostas a
receber dicas sobre como lidar com Mauro. A escola é particular e as turmas são pequenas (cerca de
20 alunos) e a professora tem um ótimo conhecimento sobre cada aluno.
3) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola e
outros) associados aos comportamentos queixa do cliente?
1. Comportamento-opositor: ocorre diante da solicitação de atividades menos preferidas (arrumar a
cama, fazer a lição, comer comidas menos preferidas, acordar de manhã, tomar banho, escovar os
dentes, trocar de roupa etc). Sua mãe, não raro, desiste de solicitar e acaba fazendo pelo cliente. Em
outros casos (como na alimentação) passa um longo tempo ao lado dos filhos até que eles terminem
de comer. Seu pai também desiste “quando está de bom humor” mas, na maioria das vezes, obriga-o
a executá-las com ameaças de “surras”. Caso M. ainda manifeste oposição, apanha com cinta nas
pernas ou ouve um longo sermão a respeito da importância da obediência, respeito aos mais velhos
etc. Os pais relatam que a oposição se manifesta de forma cada vez mais grave: gritos mais altos,
birras e respostas cada vez mais desafiadoras.
2. Dificuldades na expressão de sentimentos positivos e competitividade: percebi que o pai de M.
supervaloriza comportamentos do filho que demonstram o quanto ele é “independente” e “esperto”,
atitudes que podem estar relacionadas a esta queixa. O próprio pai se utiliza da questão “ganhar /
perder” para motivar a criança a fazer diversas atividades: estudar para ser o primeiro da classe,
jogar um jogo para ver quem vai ganhar mais pontos.
3. Impulsividade: Alguns relatos dos pais indicam que, provavelmente, estes resolvem os problemas
do filho assim que percebem que M. não consegue ou diz que não quer, o que livra o cliente de tais
tarefas.
* É possível que algumas conseqüências relatadas, embora pareçam aversivas, funcionem como
reforçadores para os comportamentos-queixa, mantendo a alta freqüência.
4) Do que o seu cliente gosta de brincar? Do que não gosta?
1. Gosta: de todo tipo de jogos estruturados. Tem preferência, até o momento (quinta sessão), por
Pebolim, Jogo da Vida e Forca. Escolheu o Jogo dos Sentimentos por causa de sua estrutura
(tabuleiro, peões, dado), mas quando começou a jogar e viu que se tratava dos sentimentos,
mostrou-se menos entusiasmado.
2. Não gosta: de atividades livres, como pintar, desenhar, recortar, brincar com bonecos. Quando
sugiro tais atividades, ele relata que não quer. Até a quinta sessão, elas ainda não foram realizadas.
5) Quais os seus objetivos com este cliente? Que comportamentos seriam CRB2?
1. Estabelecer vínculo com o cliente: Para mim, o primeiro objetivo para esse início de terapia deve
ser o estabelecimento de uma relação agradável com o cliente, que o faça gostar de ir à terapia e se
sentir bem na sessão.
2. Conhecer o cliente: Outro objetivo importante é conhecer o cliente, para conseguir caracterizar
detalhadamente os seus recursos e déficits comportamentais e, assim, estruturar melhor as
atividades e os objetivos posteriores.
3. Promover comportamentos alternativos e incompatíveis com os comportamentos-queixa: Esses
comportamentos podem incluir, por exemplo: ajudar a guardar os brinquedos (colaboração);
expressar carinho (expressão de sentimento positivo); ter “espírito esportivo” quando perder em um
jogo (competitividade); desenvolver o gosto pela brincadeira enquanto processo ao invés de
somente resultado (de “ganhar” para “participar”); reduzir a impulsividade diante de situações
problema e ser bem sucedido devido a tal alteração.
195
4. Reduzir a freqüência de comportamentos queixa: Caso a hipótese de que as conseqüências dadas
pelos pais são reforçadoras para esses comportamentos, apresentar outras conseqüências e promover
comportamentos alternativos deverá produzir redução na freqüência dos mesmos.
6) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola e
outros) associados aos comportamentos do cliente que se deseja instalar, citados na questão
anterior?
Quando o cliente se comporta de maneira adequada e diferente dos comportamentos queixa, a mãe
consegue finalmente desligar-se dele para cumprir suas tarefas domésticas e a professora, dar
atenção para outras crianças. Também foi percebido que os elogios que M. recebe por tais
comportamentos são bastante genéricos (“Parabéns”) ou encobrem uma crítica (“Finalmente você
conseguiu, hein, já era tempo!”). Os pais, portanto, não consequenciam contingentemente o
comportamento da criança, se restringindo a elogios que ocorrem na maioria das vezes muito tempo
depois do desempenho.
196
Questionário de Objetivos Terapêuticos Erik Anexo 5
Questionário de Objetivos Terapêuticos
Cliente: Erik
O questionário a seguir compõe perguntas consideradas relevantes para a compreensão do
analista a respeito das sessões transcritas, abrangendo características do cliente (preferências,
comportamento-queixa, antecedentes e conseqüentes para tais comportamentos em seu ambiente,
comportamentos de melhora etc) e objetivos e estratégias do terapeuta (para um período da terapia
e/ou sessão a sessão).
Análise da queixa e definição dos objetivos terapêuticos
Cliente Erik 6 anos, sexo masculino, pré-escolar
- Fonte das informações: Entrevistas com a mãe de Erik, aplicação do CBCL com a mãe,
observação da interação entre ela e o filho no consultório, interação de Erik com terapeuta nas
sessões, visita à casa de Erik, entrevista com coordenadora da escola e professora da criança e
observação de uma aula na escola.
- Período da terapia a que se refere o questionário: As informações a respeito dos
comportamentos-queixa, recursos e controles ambientais, foram obtidas ao longo de cerca de um
ano e meio de TACI. No início da terapia, a terapeuta não dispunha de todas essas informações,
visto que o relato da mãe era bastante confuso. A questão cinco diz respeito aos objetivos da
terapeuta somente para as três primeiras sessões, quando a fonte de informações havia sido, ainda,
somente a entrevista inicial com a mãe de Erik. Portanto, as intervenções realizadas neste período
ainda não eram acompanhadas de todas as informações apresentadas neste questionário.
- Freqüência de sessões: 1 sessão semanal de 1 hora
- Outra intervenção realizada: Visita à escola e à casa, encaminhamento da mãe para terapia
individual.
1) Quais os comportamentos-queixa (CRB1) do cliente, segundo a análise da terapeuta? Sob
que condições ele emite tais comportamentos em sessão?
A identificação dos comportamentos-queixa do cliente foi bastante difícil no início de
terapia e as informações a seguir foram formuladas por mim no decorrer dos meses, visto que Erik
já está em terapia há um ano e meio.
Na entrevista inicial, sua mãe falava com pouca clareza e fornecia poucas informações.
Repetia que Erik era seu filho preferido e pretendia fazer qualquer coisa pelo bem dele, e que sua
família era muito solitária, sem apoio de tios e irmãos. Contradizia a afirmação anterior, ao contar
que tinha vontade de sair pelo mundo e largar os filhos com o pai porque se sentia incapaz de cuidar
de tudo. A escola encaminhou Erik para terapia com queixa de agressividade. O CBCL acusou
problemas internalizantes e externalizantes.
1.Excesso de complacência: Erik esquiva-se de me confrontar ou de tomar decisões, cedendo esta
prerrogativa a mim. Solicita que eu escolha os jogos e faz questão de me ajudar se eu estou
perdendo. Juntamente com isso, é uma criança extremamente graciosa e carinhosa, tendendo ao
exagero. Essa característica se acentua quanto mais Erik se envolve com a terapia e comigo,
parecendo para mim que seu comportamento está relacionado ao medo de ser rejeitado quando é
menos “bonzinho” e perder a terapia e o meu afeto. Essa é uma hipótese corroborada por eventos do
cotidiano relacionados a ameaças da mãe de “dar os filhos e sumir no mundo” sempre que ele
desobedece em casa ou briga com os irmãos.
2. Oposição e agressividade indireta e sutil: Apesar do item anterior, Erik se opõe com razoável
freqüência, mas quase sempre em situações de brincadeiras, e demonstra ficar mais à vontade para
fazer isso quando está interpretando personagens (onde provavelmente lhe parece menos arriscado
agir desse modo). As manifestações de oposição encontradas foram: recusar-se a aceitar o empate
197
em um jogo, encenar discussões entre os bonecos, construir histórias sobre personagem desenhado
nas quais ele é muito bravo, mata a mãe e come os outros.
3. Infantilização: Embora Erik fale bastante, tem problemas fonéticos de voz que tornam muitas de
suas falas de difícil compreensão. Esse problema caracteriza sua fala como sendo bastante
infantilizada para a sua idade. Nas brincadeiras, ele sempre se coloca como o boneco mais novinho,
ou mesmo o bebê.
4. Dificuldades acadêmicas: Erik só sabe escrever o próprio nome. Gosta de escrevê-lo para mim,
mas se esquiva de tentar aprender outras palavras. Não sabe nomear nenhuma letra além das de seu
nome.
5. Enurese: Tem enurese noturna.
2) Quais os recursos do cliente que podem favorecer o trabalho terapêutico?
1. Facilidade na comunicação: Mesmo com o problema de voz, Erik fala bastante e se mostra à
vontade para contar eventos do cotidiano, inclusive quando ele também protagoniza..
2. Criatividade: Grande capacidade de imaginar histórias e criar personagens, abrindo possibilidade
para atividades lúdicas com tais características.
3. Envolvimento: Erik demonstrou envolvimento com a terapia, até solicitando quando poderia
retornar.
3) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola e
outros) associados aos comportamentos queixa do cliente?
1. Oposição e agressividade: ocorre na escola, mas tenho informações confusas a respeito de
desencadeadores. A professora relata que “de repente” ele fica bravo com os colegas, joga suas
coisas no chão e fica muito nervoso. Nessas situações, a professora o retira da classe para beber
água, tomar um pouco de ar e se acalmar. Ele gosta muito de ir conversar com a diretora. Em casa,
impõe suas vontades e briga com o irmão. Diante disso, a mãe fica descontrolada e grita muito com
todos, ameaçando deixá-los com o pai, de quem eles não gostam. Às vezes bate nos filhos e ao
perder o controle emocional chegou a agarrar Erik pelo pescoço. Tenho também a informação de
que os filhos ficam trancados na casa sozinhos enquanto a mãe está no trabalho, sem contato com
outras crianças, espaço e nem brinquedos, o que deve aumentar a irritação entre eles.
2. Excesso de complacência: Erik se destaca entre os irmãos por ser o “mais bonzinho, mais
carinhoso”, ganhando atenção e afeto particular da mãe nos momentos de tranqüilidade. Também
parece plausível que esse excesso de complacência seja uma maneira de tentar reparar os
comportamentos anteriores de oposição e agressividade, perante a mãe e os irmãos. Com
freqüência, reparte suas coisas com eles (objeto, comida).
3. Infantilização: A mãe de Erik o trata como uma criança especial, sentindo que deve protegê-lo,
segundo ela, porque ele teve complicações para nascer e o médico disse que seria uma criança com
problemas. Além disso, é o caçula, sendo protegido inclusive pelos irmãos.
4. Dificuldades acadêmicas: Os métodos de ensino da professora são baseados em punição e
humilhação para tarefas mal realizadas e pouca valorização dos esforços e sucessos das crianças. A
classe é grande (mais de 30 alunos) e ela não tem conhecimento do nível de cada criança. As
crianças aprendem a copiar palavras da lousa sem conhecer o significado e a professora desconhece
quem consegue de fato escrever essas palavras e quem está só copiando o formato das letras. A mãe
é semi-analfabeta, dificultando uma possível ajuda que Erik poderia obter em casa.
4) Do que o seu cliente gosta de brincar? Do que não gosta?
Erik explora todos os brinquedos e jogos disponíveis na sala, optando principalmente por: desenhos,
bonecos, pega-varetas. Aceitou um jogo que envolvia letras mas ficou menos à vontade após
escrever seu nome e ser solicitado para aprender outras letras, tentando se esquivar e guardar o
tabuleiro.
5) Quais os seus objetivos com este cliente? Que comportamentos seriam CRB2?
198
Os objetivos abaixo correspondem somente às três primeiras sessões da terapia de Erik. É
importante lembrar que, naquela época, eu não tinha todas as informações sobre o caso que estão
descritas aqui.
1. Conhecer o cliente: No caso de Erik, meu primeiro objetivo consiste em conhecê-lo melhor para
conseguir caracterizar detalhadamente os seus recursos e déficits comportamentais e, assim,
estruturar as atividades e os objetivos posteriores. Isso é importante até porque as informações da
mãe foram confusas, e a terapia se iniciou com pouca clareza a respeito dos problemas da criança.
2. Estabelecer vínculo com o cliente: Esse objetivo é importante para o início de terapia e parece
fácil de ocorrer, já que desde o começo Erik esteve interessado em interagir comigo, brincar e
retornar mais vezes.
3. Lidar com comportamentos queixa: Apesar de não ter muita clareza a respeito da queixa, meu
objetivo era testar uma variedade de situações e observar como ele reagia a cada uma (por exemplo,
como reagia quando confrontado, como reagia com atividades com letras etc). Tendo em vista que
foi encaminhado com queixa de agressividade e oposição pela escola, eu objetivava ficar atenta a
comportamentos desse tipo para tentar lidar com eles à medida em que aparecessem em sessão.
6) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola e
outros) associados aos comportamentos do cliente que se deseja instalar, citados na questão
anterior?
A mãe trabalha no período noturno e, conseqüentemente, dorme durante o dia. Sendo assim, dá
pouca atenção para os filhos e consegue dormir caso eles fiquem “comportados” e quietos em casa.
Assim, nesses momentos de comportamentos adequados, não há interação com a mãe. Na escola, a
professora precisa monitorar uma classe grande e fica atenta às crianças que estão fazendo bagunça,
desligando-se dos que estão calmos e concentrados nas tarefas.
199
Child Behavior Checklist Mauro Anexo 6
200
201
202
203
Child Behavior Cheklist Erik Anexo 7
204
205
206
207
Transcrição de sessões de Mauro Anexo 8
MAURO 1
A
SESSÃO 27 DE OUTUBRO DE 2004
T: Faz tempo que vocês chegaram?
C: Hã-hã.
T: Você veio de manhã?
C: Não, de manhã eu fui pra escola.
T: Que série você ta?
C: 2
a
série.
T: Segunda... quantos anos você tem, Mauro?
C: Oito.
T: Pode sentar... senta onde você quiser... (ele senta).
T: Você sabe quem eu sou?
C: Hã (negativa).
T: Eu sou a Giovana. Sou psicóloga.
T: Você sabia?
C: Não.
T: não? Seu pai não falou de mim? Não falou meu nome?
C: Não.
T: Psicóloga é aquela pessoa que serve pra conversar com os outros, pra ajudar. E aqui alem de conversar a gente brinca, senão
fica muito chato, não é verdade?
C: Hum-hum.
T: Então, seu pai falou assim que ele queria que eu ajudasse você... porque você estava com problemas na escola. É isso, ou não?
C: (silêncio... sorri)
T: Pela sua carinha eu acertei, não é?
C: Hum-hum (afirmativa).
T: Conta pra mim, como que é isso?
C: (silêncio)
T: Ele disse que você conversa muito... é isso?
C: Hum-hum.
T: Então você é muito falador, hein! Mas e aqui, cadê??? Gastou toda a fala na escola, foi???
C: (silêncio, sorri)
T: Do que você quer brincar, Mauro? Vamos brincar um pouquinho..?
C: Hum-hum.
T: Do que você gosta de brincar?
C: De carrinho.
T: De carrinho? Aqui tem uns... (levanto e pego).
Olha, você já viu esse tipo de caminhão?
C: Hum-hum.
T: Na rua mesmo? Eu acho que eu nunca vi. Pra que é que serve?
C: Carrega os carros.
T: Ó, um pra você e um pra mim.
Qual você quer, o vermelho ou o amarelo?
C: Amarelo.
T: E tem que fazer o quê com o carro, pra ele ir pra lá?
T: Uhhh... o pneu desse aqui ta furado... Olha, olha aqui....
C: (olha o pneu)
T: Vamos chamar esse aqui (caminhão) pra carregar ele? Vou buscar o motorista... (pego um boneco para ser o motorista) “O meu
pneu furou... tem como vc consertar ele pra mim?”
C: (faz que sim com a cabeça. Coloca o carro sobre o caminhão.
T: E o motorista, vai aonde, Mauro?
C: (aponta para a cabine do motorista)
T: Aqui? (dou o boneco pra ele colocar e ele coloca)
T: Vuuuuu...... Ih mas que carrinho devagarzinho!!! (Mauro dirigia muuuuito devagar, com meu comentário ele acelera).
T: Ah, agora ele ta mais rápido...
T: pra onde ele vai?
C: (estaciona num canto da mesa).
T: “Meu carro ta quebrado... você conserta?” Quem é o mecânico??? Pega um bonequinho..
C: (vai e pega um)
T: Super mecânico (me refiro a ele ter pego um boneco muito grande).
T: Como você se chama, mecânico”?
C: “Mauro”
208
T: “Mauro, acho que meu carro quebrou... acho que o pneu ta furado... vem ver... tá furado mesmo?”
C: “Ta”
T: “Ta? E você sabe consertar pra mim?”
C: “Sei”.
T: “Quanto custa?”
C: “Vinte mil”.
T: “Vinte mil! Eu não tenho esse dinheiro!”
C: “Mas tem que ter, senão eu não conserto”.
T: “Ah mas e agora? Isso ta muito caro”.
C: “Você vai ter que achar 20 mil”
T: “E como que eu acho?”
C: “Trabalhando, né?”
T: “Então ta...” (consertou a roda)
“Agora vamos negociar esse dinheiro aí... 20 mil ta muito caro... um pneu custa menos, custa 50 reais...”
C: “Cinqüenta”
T: “Pode fazer por 50? 50 eu tenho” (pago a ele)
C: “Obrigado”
T: “De nada”
C: (pega o caminhão e fica correndo ele sobre a mesa)
T: Você tem carrinho na sua casa?
C: Tenho.
T: Que cor que é? Tem um ou mais de um?
C: Mais de um.
T: E que cor, como eles são?
C: (silêncio)
T: É do tamanho desses, é maior, é menor...
C: É desse tamanho.
T: Desse tamanho!!!
T: E que cor que é?
C: Roxo, azul, verde, amarelo...
T: Ah da cor desse hein.
C: Vermelho... azul claro.
T: Que você gosta de conversar Mauro?
C: De nada.
T: De nada... não é possível...
T: ...do que você conversa na escola?
C: De brinquedo.
T: Ah ta, que brinquedos eles têm? (paramos de brincar)
C: Bayblade...
T: Como que chama? Bayblade? É aquele de puxar assim?
C: É... carrinho também... tem vários brinquedos...
T: Tem um monte de brinquedo então!
T: E de desenhar, você gosta?
C: Não..
T: Não? Ah, eu ia falar pra gente desenhar os brinquedos que você disse... que mais você gosta? Você gosta de jogo? Tem uns
aqui... (levanto) Aqui também tem livro, você gosta de livro?
C: (faz que não com a cabeça)
T: mas jogo você gosta, né... Aqui tem Imagem e Ação... e tem Lince... você conhece algum?
C: Não.
T: Quer conhecer?
C: Hum-hum.
T: Qual dos dois?
C: Lince.
T: Então vamos ver? Eu também não sei jogar, a gente vai aprender junto. (abrimos o jogo)
T: Olha, lê aqui pra mim...
C: “vence quem for mais rápido...”
T: Hum... você é rápido?
C: Não sei...
T: Nem eu, vamos ver...
T: “Você tem que ser muito rápido para achar as figuras do tabuleiro antes dos adversários”. (coloco o tabuleiro na mesa). Ah olha,
e aqui tem as figurinhas, ta vendo... e tem que encaixar elas no tabuleiro aqui... aí você mostra uma figura e a gente tem que tentar
achar ela bem rápido... você entendeu como que faz?
209
T: Vai lá hein, quer começar?
C: (tira uma figura)
T: sorvete... aaaaaaai... (ele achou primeiro que eu)
T: Escova... (achei) Goiaba? Ih até eu pensar vc já colocou!
C: Limão.. não... morango.
T: Leite...
C: Alface.
T: Alface, alface…. Ih você já acabou os pinos? Bom... usa a própria cartelinha, então.
C: Aqui! Vai… É aqui!!! Agora você.
T: O que é? Carroça?
C: Eu estou ganhando.
T: Ué, mas como a gente vai contar os pontos?
C: Eu não sei...
T: Nem eu...
C: Bexiga... bexiga... aqui!
T: Bem no meio do tabuleiro!!!
T: Atenção... cesto...
C: Aqui! E essa outra... cadê... eu vi ela aqui... ah, aqui!!! Televisão... aqui!
T: Muito bem.
C: Celular... aqui! Ê, tava na sua frente!!! Vai...
T: Anel... achei...
C: Eu vou ganhar...
T: Mas como a gente vai contar?
C: Pão...
T: Não é, Mauro? Como?
C: Carrinho...
T: Abacaxi... Nossa, e esse aqui, o que é?
C: Não sei...
T: Não é de desenho animado? Pelicano?
C: Acho que é...
T: Ah, achei...
C: Ai ai ai…
T: Casinha.
C: Aqui. Vai.
T: Não... é você.
C: Ah é.
T: É patinete??? (ele não me mostrou direito)
C: É
T: Hum, ta ficando cheio hein... Vareta.
C: Zíper.
T: Ai, eu tinha visto ele, mas não agora.
C: Eu vou ganhar...
T: Como você sabe?
C: Tem que ver quem tem mais...
T: Mas você lembra quais são os seus? Eu não lembro mais quais são os meus...
C: Peão.
T: Deixa eu ver como que é? (ele não mostrou direito a figura).
C: Aqui.
T: Telefone. Aqui.
C: Ai, eu não acredito!!!
T: Cachimbo.
C: Ai... eu vi... não lembro onde.
T: Aqui... eu lembrei!
C: Ai....
T: Camelo.
C: Aqui.
T: Gato.
C: Eu vi ele...
T: Parece que vai ficando mais fácil, né, quando vai chegando no final.
C: Alfinete.
T: Você não acha, que vai ficando mais fácil?
C: É.
T: O que você gosta de comer daqui?
210
C: Hambúrguer e refrigerante.
T: Só??? De tudo o que tem aqui?
C: Só.
T: Ué, e esse você gosta? (aponto batata-frita)
C: Gosto.
T: Aaahnnn viu... ainda vou descobrir mais...
T: ...E esse aqui?
C: Suco de uva... gosto.
T: E esse, você come? (bife)
C: Ah, esse é o mais fácil de todos... eu gosto...
T: E esse tabuleiro está me dando fome.... a maioria das coisas é de comer...
C: Ovos.
T: Tem que prestar muita atenção nesse jogo hein?
C: Cenoura.
T: Cenoura? Cenoura você come?
C: Minha mãe hoje queria que eu comesse, e ela falou que se eu não comesse eu não ia comer danone.
T: E aí, você ficou sem comer?
C: Não... eu peguei escondido!!! Hehehe...
T: E como você fez pra pegar escondido?
C: Minha mãe tava lavando roupa, aí eu aproveitei e peguei, e saí pra rua. Aí eu tomei, joguei no lixo e depois saí com ela.
T: E se ela descobrir? O que acontece? Ou não acontece nada?
C: Não sei!
T: Já aconteceu outra vez? O que ela faz?
C: Ela fala pra eu não pegar.
T: Ah mas aí não adianta nada, hein, pelo jeito.
C: Vaca. Aqui.
T: Ah esse achamos ao mesmo tempo. Lâmpada.
C: Urso de pelúcia.
T: Aqui uma coisa que você gosta muito!
C: Hahaha...
T: Ué, e isso aí? É urubu?
C: É. (me mostra)
T: Você já foi no zoológico? Tem um bicho aqui q só acha no zoológico... você já viu? Aqui, olha...
C: Não...
T: Tem uns que dá pra ter em casa, que nem coelho... Você tem bicho na sua casa?
C: Eu tinha um cachorro...
T: Um cachorro? Como que ele se chamava?
C: Fredy.
T: Fredy? Como que ele era?
C: Desse tamanho. (mostra com as mãos)
T: Pequenininho? Que raça ele era?
C: Aaahnn...
T: Era vira-lata?
C: Era, meu pai achou aqui na USP, e levou lá pra casa.
T: E que aconteceu com ele?
C: Ele fugiu...
T: Fugiu? Não ficou muito tempo lá com vocês?
C: Ficou.
T: Que triste!
T: E faz tempo que ele fugiu?
C: Faz.
T: E o que mais você tem?
C: Codorna. Eu tinha. Só que a minha mãe vendeu pra amiga do meu pai, e ela vendeu pra outra mulher que tinha um monte de
bichos.
T: Nossa... e como que é codorna???
C: Ela bota ovo.
T: E você comia os ovos delas? Eram muitas ou era uma só?
C: Duas.
T: Vai... agora é você... eu acho que está acabando. (C: pega uma peça)
T: Ih, olha o Fredy! (saiu o desenho de um cachorro).
T: Ele era dessa cor?
C: Era!
T: Ah era!!!...
211
C: Esse aí só se vê no zoológico né? (girafa)
T: Também, um bicho grande!..
T: E fruta, qual você gosta?
C: Banana, laranja... e uva... e melancia.
C: O que é isso aqui?
T: É um alvo.
C: Posso brincar?
T: Pode! Vamos terminar esse jogo aqui primeiro?
C: Ta...
C: Esse aqui eu lembro... ah, aqui!
T: Ah, muito bem. Você está com boa memória. Viu e já lembrou onde estava.
C: Foca... aqui.
T: Bolo.
C: Ah, eu vi, eu vi... aqui, ó!!! Ta acabando... Queijo... ah, aqui!
C: Ih, eu estou ganhando!
T: Você está indo bem.
C: Ah, agora saiu esse que eu adoro!
T: O que é? Ah, a batatinha... E doce, o que você gosta?
C: Chiclete... bala, pirulito.
T: E o que mais?
C: Chiclete de tatuagem.
T: Como ele é?
C: Ele vem com uma tatuagem.
T: Você ta usando alguma?
C: Eu já tirei.
T: E dura muito tempo?
C: Dura.
T: Geladeira.
C: Piano. Acabou!
T: Olha, quantos!
T: Vamos tirar tudo o que você gosta?
C: Isso... isso... esse... esse...
T: Qual mais? Refrigerante você falou...
C: Ah é! E esse... esse...
T: Nossa... pra quem tinha falado no começo que gostava só de hambúrguer e refrigerante... a gente descobriu que tem mais coisa,
né.
T: Quantas são?
C: Um, dois... três... quatro... (...) Dez.
T: Nossa, ta melhorando hein, de duas pra dez!
C: Ah e esse aqui também.
T: Onze coisas!
C: E esse...
T: Doze! Caramba,
T: acho que a gente ainda descobre mais. Frango você gosta?
C: Gosto.
T: Treze então!!
C: E esse.
T: Goiaba? Goiaba é bom.
C: E se tiver beterraba eu também gosto, no suco.
T: Hummm... aqui não tem... mas é bom suco de beterraba. Ah, e macarrão!
C: Um, dois, três.... (quinze).
T: E leite, gosta?
C: Gosto. Dezesseis.
T: “Só” dezesseis?
T: Você acha que é pouco ou é muito?
C: Eu acho que é muito.
T: E batata?
C: Não, só batata-frita. Mas uva sim, no suco. E carne também.
T: Que bom, hein?
T: Quer jogar o alvo ali? Que horas são, Mauro?
C: Cinco e seis.
T: Daqui a pouquinho a gente tem que ir embora, ta?
T: Você gostou de brincar? Quer voltar a semana que vem?
212
C: Eu vou voltar aqui amanhã.. com o meu pai...
T: Ah, mas não aqui na sala, né... Aqui na Usp...
C: Porque minha sala vai fazer uma excursão... e eu não vou...
T: Onde?
C: Lá na USP.
T: Viu o alvo... ele gruda? (ele estava manipulando o alvo)
C: Gruda sim.
T: Vão fazer o quê, o pessoal da sua escola?
C: Vão no parque da Mônica.
T: E porque você não vai?
C: Porque eu não quero.
T: Mas porque não quer?
C: Porque eu já fui lá. Outro dia eu vou.
T: (começo a brincar com ele)
C: Ah, acertei. Um a zero.
T: Opa, acertei...
C: Eu também... dois a um.
(...) T: Três a dois. Nós estamos melhorando, né.
T: Não adianta ficar muito perto.
C: É...
T: Vamos melhor de dez e aí a gente acaba? É que o tempo já está acabando...
C: Ta...
C: está três a dois.
T: (jogo) Quatro a dois.
C: Nossa!!!!
T: Faltam cinco.... seis...
C: Quase... hahahah...
T: Sete...
C: Vai até o dez, né?
T: Isso, até o dez.
T: Oito... Nove... se você fizer agora, você desempata. Dez.
T: Empatamos! Ótimo, se a gente jogar mais, a gente melhora.
T: Vamos guardar as coisas pra gente ir?
(começamos a guardar os brinquedos)
C: Eu tirei dez na prova.
T: É??? De quê?
C: De história.
T: O que você mais gosta na escola?
C: Português.
T: Humm, e o que mais?
C: Matemática eu não gosto.
T: Mas vai bem?
C: Eu tiro de seis pra baixo... eu não consigo tirar mais que sete em matemática.
T: E em português?
C: Em setembro eu tirei vermelho em português...
T: Ixi, então vai ter q estudar mais né.
C: É. Eu tirei 10 em história, e em inglês eu tirei 7 e meio. Se eu tirar todas as azuis agora, eu passo direto. E se eu não tirar azul eu
vou ficar até dezembro.
T: Ih então é melhor você tirar azul hein...
T: vai estudar pra tirar azul?
C: É.
T: O que você ta aprendendo em português?
C: Ah... oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas.
T: E em matemática?
C: Continhas.
T: Do que, de mais?
C: De menos, e de multiplicar.
T: E de dividir, também?
C: Também.
T: E o que caiu na prova que você tirou dez?
C: Caiu quem é o presidente do nosso país.
T: E quem é?
213
C: É... Luis... Marechal... não... Luis Inácio Lula da Silva.
T: Você já viu ele na TV?
C: Não...
T: Depois pergunta pro seu pai... você vai olhar ele e não vai esquecer!
(saímos)
MAURO 2
A
SESSÃO 9 DE NOVEMBRO.
(pebolim sobre a mesa)
C: Nossa!
T: Como você chama isso?
C: De jogo.
T: Mas e o nome dele...? Já ouviu falar de Pebolim?
C: Não... mas eu já joguei.
T: Só não tem bola... alguma idéia?
C: (fica parado... olha para trás...) A gente podia usar aquilo ali, olha... (um bujão de plástico)
T: É... pode ser!
C: (levanta e pega, começamos a jogar por um tempo)
T: Ah, Mauro, mas eu acho que isso aqui não vai passar pelo gol...
C: Passa aqui, ó... ele passa assim, e aí ele passa pelo gol.
T: (continuo jogando)
C: nossa, não é fácil não. Hihihihi...
T: Eu gostei da tua idéia,
mas vamos inventar outra pra bola agora?
C: Ta.
T: Que tal... uma de papel?
C: Ai, ta bom!
T: Aqui, ó! (busco um papel) Pode fazer!
C: Eu não sei! Ah, eu sei... mas... não quero...
T: Ah, porquê?! Eu corto o papel e você faz a bola ta.
C: Ta.
T: (corto) Faz.... isso... bem amassadinho!!! Ai, forçaaa...
C: (aperta forte).
T: Eita! Vamos ver?
C: uôwww!!!
T: É, agora ficou bom de jogar hein. Ai ai ai... ai ai ai...
C: Hahahhaha...
T: Pra que time você torce?
C: Corinthians.
T: E você assiste na TV?
C: Eu não!
T: Só torce? E já foi no estádio?
C: Não...
T: Ih marquei um gol contra. Você quer anotar? Escreve aqui o meu nome e o seu...
C: Eu não sei... o meu pai esqueceu o seu nome...
T: Ah, sério? É Giovana.
T: Depois você fala pra ele?
C: Hã-hã.
C: Seu nome é com G?
T: É sim. Tem umas que é com J né? O meu é com G.
(voltamos a jogar)
T: Nossa, quase! Golaço!!!!! Frango do goleiro!
C: Um a um!!!
T: Ei, porque aí? (recoloca a bola pertinho do meu gol)
C: Ah, deeeeeixa!
T: Não, é aqui no meio! (obedece)
C: Nossa! (jogada) E o goleiro peeeeega! Ai, quase!!! Ta um a um. Quase eu faço gol!!! Estamos brigando pela bola!
T: É, brigando pela bola...
Quem é o seu goleiro?
C: É o Ronaldinho Gaúcho.
T: No gol? Botou ele no gol?
C: Sim, outro dia minha tia falou: Que nome você vai dar pro peixe? Eu falei: Eu vou dar Ronaldinho Gaúcho.
214
T: Você gosta dele?
C: Hã-hã.
T: Quem é o melhor jogador, é ele?
C: É. Do Ronaldinho e do Ronaldinho Gaúcho.
T: Uuu...
C: Quaaaase!
T: O meu é o Rogério. Opa agora eu faço hein... mais pra cá... com calma e...
C: Uhhhh (não fiz o gol). É, o Ronaldinho Gaúcho é bom. Ai, vai vai vai!!! Mais um pouquinho e eu faço um gol...
C: qual é o seu?
T: O Rogério.
C: O Rogério ta mal hein! Ah, Golaço, mais um gol!!! (meu gol)
T: Gol de Grafitti!!!
C: Sabe de que time o Grafitti e o Rogério são?
C: Hum...
T: São do...
C: São Paulo!
T: Há-há.
C: Há, agora foi gol!!!
T: Tem que passar a maioria da bola?
C: Não, ué, é só passar da linha...
T: Qualquer pouquinho da bola que passar pela linha é gol então hein. Ta bom.
T: Com quem você falou que você joga?
C: Ah, com o Vítor. Mas ele não mora na minha casa. Ele mora bem longe da minha casa, aí eu vou de carro. A gente briga mas
depois faz as pazes.
T: Quando vocês se vêem?
C: Nos sábados, domingos e feriados.
T: E ele também gosta de jogar?
C: É.
C: Gol!!!
T: Nossa! Corinthians recupera e já está com 6 gooools!!!
C: E são Paulo... dois goools!
T: Então com o Vítor você briga mas depois fazem as pazes...
C: É...
T: E ele é o seu melhor amigo?
C: É sim. A gente joga vídeo-game todo dia.
T: Vocês são da mesma idade?
C: Não... eu tenho oito e ele tem seis. E eu fiz no dia 25 de setembro.
T: Que jogo de videogame vocês jogam?
C: Tem de arma... de corrida.... e um que corre mais rápido do que o outro pra ganhar....
T: Golaço! Uma bomba de Grafitti!!!
C: Hahaha.... Cara, foi forte mesmo hein!!!!
C: Vamos ver quem vai ganhar?
T: Está concorrido hein? Os dois merecem a vitória. (vou jogar com o Grafitti)
C: Ah não, o Grafitti novamente não!
T: Gol!
C: Ai não... hahaha... o Grafitti é muito bom!
T: É! E o seu atacante, como se chama?
C: Ele é... hummm... Ronaldinho Pereira Rodrigues. Hehehehehe...
T: Ih eu conheço esse sobrenome hein! Ronaldinho Mauro Pereira Rodrigues?
C: Hahahaahah.... Ronaldinho Pereira Rodrigues.
T: Então vamos lá. Ronaldinho e Ronaldinho Gaúcho né!
C: Hahahaha.... E eu peeeeego a bola!!!! O Ronaldinho Gaúcho é o melhor hein... você é muito bom nissooooo!!!
T: Seu pai também é corintiano?
C: Eu acho que ele é brasileiro...
T: Você não vê ele assistindo jogo?
C: Não.... Yurrúuuuuu......
C: Qual é o nome dele?
T: Graffitti.
C: Eu acho que o Grafitti não faz mais gol não hein!
T: O Grafitti ta cansado.....
C: Hahahahaha....
T: Ele já está precisando ser substituído.
C: É, ta cansado...
215
T: Ih, eu não sei mais nome de jogador.
C: E nem eu.
T: Não lembra nem um?
C: Paulo.
T: Então sai o Grafitti e entra o Paulo.
Mas vc ta inventando o nome né?
C: É. Não, então, Bruno.
T: Ta, saiu o Grafitti e entra o Bruno.
C: Gol. É o quarto gol né.
T: Quatro a.
C: Eu vou deixar a bola aqui... (no lugar errado de propósito)
T: Ué, mas é assim a regra?
C: Eu não gosto de regra.
T: Mas a regra é aqui, ta? (coloco a bola no lugar certo)
C: Aê foi gol.
T: Foi? Golaço de Bruno, que substituiu o Grafitti!
(silêncio)
T: Acho que seu jogador ta cansado também né.
C: Aê, Gol!
T: É, foi gol. Acho que esses times são muito bons hein.
C: É, só empata.
T: A gente só vai jogar isso, Mauro?
C: Ah, não sei...
T: O que você quer? São 4:56, a gente fica aqui até as cinco. Se a gente for parar, é melhor parar agora... ou então a gente fica
aqui até terminar... quer terminar o jogo às 5 horas?
C: É, cinco horas acaba o jogo.
C: Aaaaaai, quaaaaaaase..... Não acredito...
T: O seu goleiro deu até um pulo pra trás!!!
C: Hahahaha....
T: Eita o jogador está amassando a bola!
C: Hahahah... Ai não...
T: Vamos ver... se vai ser gol do Bruno hein....
C: E peeeeega a bola (defendeu) Ai não, Bruno... chega... Aêeeeeee..... e o goleiro peeeega a bola!!!
T: O Grafitti é bom!!!!!!!! Mas o goleiro tambéeeeeem é bom!
C: Gol! É o sétimo gol.... o goleiro estava distraído...
T: Estava....
C: Goooooooool! Você viu? De fininho!!!!
T: Esse foi bonito hein!!!
C: A bola veio por aqui, ó!!! Gol!
T: Quanto ta?
C: Ta sete a seis. Ai, eu tenho que fazer um gol pra empatar! Ai, que saco... Goooool!!! Isso foi um golaço daqueles!!!!! (levanta-se)
T: Como seu pai comemora quando tem gol?
C: Assim: Gooooooooool!!!!!
T: E você????
C: Eu nem ligo... eu fico só assistindo a televisão...
T: Ah mas aqui ta comemorando hein.
T: E os jogadores, eles fazem um monte de coisa quando fazem gol né!
C: É, eles tiram a blusa e ficam comemorando.
C: Eu estou conseguindo te ganhar hein... eu estava com cinco e você com sete... e agora eu fiz um gol e depois o outro!
T: É viu só... com o treino a gente vai melhorando.
C: Será que eu ganho?
T: Calma, concentração...
C: Ó, eu vou deixar aqui, é as regras, é as regras.... (coloca a bola onde não deve)
T: Aqui, Mauro.... senão não tem graça... (recoloco a bola)
C: hahahah... Olha, cada um coloca a bola uma vez. Eu coloco uma vez, você uma vez, eu uma vez, você uma vez.
T: Combinado.
T: Você acabou de criar uma regra.
C: Qual?
T: Essa... você é bom de regra.
C: ou, é você (está aplicando a regra criada)
T: É... aqui no meio né.... É você agora... (estou usando a regra dele)
C: Será que eu faço agora??? Ai ai ai...
T: Quem põe a bola é pior, você acha?
216
C: Acho.
C:Gooooooool...... Ó.... eu vou ganhar.....
T: Nossa, que rápido hein... nem vi!
C: Nem viu? Nem viu? Que é isso....
T: Falta 5 minutos de jogo hein.
C: Uhhhh o goleiro conseguiu agarrar né... eu coloquei aqui a bola....... Golaço!!! E nem foi do atacante, foi do meio!!!
T: Uh quatro minutos de jogo hein. Três. Ta feia a coisa pra mim.
C: hehehe.... eu acho que eu vou ganhar.
T: Eu também estou achando (tom neutro).
C: É você, fui eu que coloquei aqui, e aí você jogou pra lá.... (regras q ele criou) Hihihi...
T: Acabou (olho o relógio).
C: Acabou?
T: É. O juiz apita.... fuuuuuuuuu!!!! Corinthians ganha...
C: Com onze!!!
T: E eu?
C: Nove.
T: Ah eu fui bem também. Legal. Vou até escrever “Parabéns” aqui embaixo!!
C: E eu vou dar pro meu pai, pode?
T: Pode, ué... vamos descer?
C: Vamos.
MAURO 3
A
SESSAO 10 DE NOVEMBRO DE 2004
(Terapeuta prepara sessão deixando brincadeira de pebolim sobre a mesa. T e C entram)
T: Você lembra quanto foi nosso último jogo? (sessão anterior)
C: 11 a 9...
T: Isso mesmo, 11 a 9!
T: E se juntar os seus gols com os meus, quantos gols que deu?
C: Não sei...
T: (silêncio)
C: Vamos ver... (conta nos dedos) 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18., 19, 20.
T: Eita, bastante hein!
C: (coloca os jogadores vermelhos todos na horizontal, olhando sarcástico)
T: E esses aqui, os vermelhinhos? Eles estão dormindo?
C: Estão!
T: E porquê?
C: Porque não tem ninguém comandando, né!
T: E eu, faço o quê?
C: Eu vou ser o vermelho. (olhar desafiador)
T: Tá, então eu vou ser o branco.
C: Vai, você lembra das regras de ontem?
T: Lembro, quais eram mesmo? (pergunto porque quero que ele me diga)
C: Aaaaaai....
T: Olha, começar daqui é uma regra, né? E tem uma que foi você que inventou até, qual foi mesmo?
C: Que coloca aqui!!!
T: É isso,
T: e cada vez é um que coloca, né?
C: É.
T: As suas regras são muito boas então hein! (falo para reforçar C ter criado regras)
C: E o Ronaldinho?
T: O Ronaldinho é meu agora, ele é (bonequinho) branco, olha ele aqui. E você agora tem o Grafitti.
C: Ah não, eu vou ser o branco, estou com saudades dele, não dá pra evitar! (C tenta mudar o combinado e vai engatinhando em
minha direção)
T: Ué, mas agora eu já peguei aqui!
C: Ahhhhh não (dá risada).........
T: Você não tinha dado o branco para mim? Quando se dá, não pode pegar de volta assim...
C: Deixa vai, eu me arrependi, estou com muita saudade dele...
T: Tá, mas vamos esperar um pouquinho então. (C volta para seu “lugar”). Fica um pouquinho no vermelho.
T: Você vai gostar dos meus. Vou contar pra você: esse aqui é bom, o nome dele é Grafitti... esse outro aqui dá um chute forte pra
caramba que faz gol daqui de trás.
C: Tá bom.
T: E esse outro aqui se chama Rogério (goleiro).
217
(começam a jogar, C joga bem)
T: Aí você tá indo bem! Os vermelhos gostaram de você!
C: (faz gol) Goooooooooooooool!!!!!!!!
T: Falei!!!!! (dou risada)
C: (pega um papel para anotar o placar, conforme feito na sessão anterior). Ma-tthe-us.... e o seu é Giovana, né?
T: É, estou vendo que agora você não esquece mais! (C tinha esquecido meu nome na sessão anterior)
(a bola cai para fora do campo)
C: É a sua vez (de colocar a bola no lugar conforme o combinado, cada vez que ela fosse para fora, era a vez de um de nós
colocá-la, e C prefere que eu coloque para que ele jogue mais rápido)
T: Não, é você, eu fui antes, lembra-se?
C: Tá (C coloca a bola, mas no lugar errado, deixando-a mais longe do gol dele e assim tentando me trapacear).
T: É aqui (mostro para ele o local correto e ele recoloca).
(voltamos a jogar)
T: Bola para Ronaldinho Pereira Rodrigues! (nome que ele deu ao jogador na sessão anterior)
C: Eles já acostumaram, né?
T: Quais?
C: Os vermelhos.
T: A ir com você?
C: Acho que já. (aqui C incorporou o meu discurso e a “fantasia” de que os jogadores vermelhos gostaram dele).
C: Golaço!!!!
T: É, golaço do Corinthians!!!!
C: (anota no placar a pontuação) Aaaai, quase eu faço um gol....
T: Goooool do Corinthians!!!!!
C: 2 a 3. Mas isso não quer dizer que você vai ganhar.
T: Os dois times são bons.
C: Vai que eu ganho de novo né!
T: Vamos jogar outra coisa quando acabarmos isso aqui?
C: Sim... quando chegar no 11.
T: No 11? Mas aí já vai ter passado muito tempo, Mauro.
C: Então assim que chegar no 10.
T: No 10 é muito tempo.
T: Vamos pegar um número menorzinho?
C: Então quando chegar no 8.
T: Certo,
T: então quem fizer 8 pontos primeiro ganha, e mudamos a brincadeira.
T: Gooooooool!!!!! (dou risada)
C: Não, não foi (ri), o goleiro pegou...
T: Pegou mas a bola passou!
C: Ah, não vale!
T: Não vale?! Ué, bola atrás da linha vale!!! (regra criada por ele na sessão anterior, para definir quando é gol)
C: Tá bom. (marca os pontos no placar). Ai, eu estou 2 pontos atrás de você.....
C: Agora eu quero ser o branco.
T: Tá, agora deu um tempinho bom, né, então vamos trocar. (mostro para ele que aceito pois está dentro do combinado).
C: É, deu um tempinho bom. (mudamos de posição, para ele usar os jogadores brancos e eu os vermelhos).
C: Golaço!!!! de cabeça!!!
C: Anota aí.... (anoto)
T: Huhuhu....
C: Golaço!!! Ou não foi? Ahn foi foi foi, olha só aqui a pontinha da bola passou a linha...
T: Foi! Foi sim. (concordo com ele para ser honesta conforme o combinado e anoto)
C: Vou fazer um de cabeça (tenta e a bola cai para fora, na mesa e na perna de C). Hahaha, é que a mesa também quer jogar, né?
T: É mesmo!!!! O chão ou a sua perna....
T: (jogamos mais, a bola vai para fora.Pego a bola) E agora, qual era a regra? Aqui?
C: É.
(a bola cai novamente para fora do campo)
T: Nossa, essa bola está saltadora hein!
C: Hahahaha.
(a bola volta a cair)
C: Que bola saltadora!!!! (me imitando).
T: Nossa, esse seu goleiro está dormindo aqui!!! (digo porque quase levou um gol).
C: É sim!!!
218
T: Ontem ele estava melhor!!! Aaaah mas agora acordou!!! (ao defender uma)
C: É, ele percebeu que estava perdendo né!
T: É que eu falei pra ele: ‘ô meu, você tá dormindo aí???’ e aí ele: “naaaaao, não!’
C: Ele acordou pra vida!!!! Hahaha.......
T: E o seu pai, você descobriu pra que time ele torce?
C: Não, eu esqueci.
T: Ahn, pergunta pra ele!
E sua mãe, será que torce para algum?
C: Minha mãe? Ah, ela falou: ‘eu torço pra Jesus!!!’
T: Que religião que é a sua mãe?
C: Adventista.
T: E você também?
C: Sou.
C: E meu pai é um pouco nervoso, né? Ele briga com a minha mãe... e quando eu chego da escola ele diz: ‘aaaaah, então você
estava conversando na sala de aula?????’ e aí ele me dá uma surra!!!!
T: Ih, ele bate???
T: Você fez gol contra??? (comento o jogo)
C: Hahahahaha...... foi sem querer....
T: E ele bate como?
C: Ele pega o cinto. Outro dia ele me deu uma surra! (ri um pouco)
T: Ave! E você fala isso desse jeito, tão natural? Não dói?
C: Dói!
C: Você já apanhou?
T: Já, quando eu era pequenininha.
C: É.
(jogamos)
C: Golaço!!!!!!!!
T: (anoto os pontos). Eu estou com 6, a gente vai até 8 né! Mas do que a gente estava falando mesmo?
C: Do meu pai.
T: Ah é mesmo. E ele te bate quando você faz o quê?
C: Eu desobedeço.
T: E ele faz alguma outra coisa além de bater? Ele dá sermão?
C: Ele foi o primeiro menino da minha vó. E foi o primeiro a casar também. As irmãs dele ainda eram pequenininhas. O meu vô
começa com João. E aí veio meu pai, Jocimar, Jaciara, Jerson, aaaai...
T: Cara, já pensou se ele resolve continuar isso com você, que nome que ia sair!
C: Xiiii... João?
T: Jocilvo!
C: Jocimar, igual meu pai.
T: Mas o seu nome é legal, você gosta do seu nome?
C: Eu gosto.
T: Eu também, é um nome bonito.
C: Pra fora!!!!! (joga a bola pra fora do campo com as mãos)
T: Eu não sabia que mão jogava!!!!!
C: Aaaaah (dá risada e volta a bola, só que para a posição errada).
T: É aqui, ó (aponto o lugar certo e ele conserta).
C: Golaço!!!!!! Nossa, foi daqui, ó!!! (de longe do gol)
T: Nossa! Vi, foi assim ó, vuuuuuummmmm!!!!
C: Puta velocidade, a bola estava aqui e o jogador aqui, eu fui lá e golaço!!!!
T: Você viu como foi bom você não ter colocado (a bola) aqui? (burlado as regras) Senão você não ia ter feito o gol!!!!
C: É!!! Empatou!!!
T: É mesmo, empatou...
C: Eu sempre consigo.Será que eu ganho??? Ai, eu tenho que ganhar denovo!!!
T: Ué, porque????
C: Ah porque eu quero né! Vou ser o melhor jogador, quando eu crescer eu vou ganhar um monte.
T: Mas ás vezes não dá pra ganhar sempre não!
(jogamos mais)
C: Quaaaaase!!!! (quase faz gol)
T: Mas meu goleiro é bom, é o Rogério!
C: E o Ronaldinho é bom no gol. (atacante)
T: Golaço!!!!!
C: Não, nãaaaao... (faz voz de choro, mas rindo) Não, não não não não!!! Eu estou com medo!
T: Defende!
219
C: Yurrúuuu (defendeu). Foi pra fora ó!!! (joga a bola pra fora com a mão pra depois colocá-la no meio do campo, furando a regra).
T: É aqui! (coloco no lugar certo), você não se garante não?
T: O seu goleiro é bom!
C: Golaço!!!
(C trás o pebolim para muito perto de si mesmo, “naturalmente” eu puxo um pouco de volta sem falar nada).
T: Goooool! (fiz 8 pontos, o que encerraria a brincadeira, e eu venceria)
C: Não! Vamos até 10, já que está aí, vamos até 10.
T: (ignoro sua fala) 8 a 6, e Giovana venceu....
C: Não!!!!!! (coloca as mãos sobre o placar), vamos até 10, vai, por favor, por favor, por favor...........
T: A gente não combinou? Então.
C: Não!!!!!! Vamos outra partida então, tá 0 a 0!!!!
T: Tira a mãozinha (afasto o placar do alcance dele).
C: Naaaaaao....
T: Eu fiz isso ontem, quando você ganhou?
(C começa a jogar sozinho) C: Não, mas deixa...
T: Ontem foi você, não foi? Hoje fui eu!
C: Mas vamos até 10!!!
T: Outro dia, né.
C: Não é justo.
(ignoro que ele continuou jogando sozinho e vou buscando o outro jogo, conforme combinamos antes)
T: Você é um bom jogador.
C: Ah, mas eu...
T: Vem cá, me cumprimenta que nem eu fiz com você ontem (e estendo a mão para ele).
C: (Ele me cumprimenta, mas sem falar nada)
T: Obrigada.
T: Olha, agora esse jogo é muito legal, é o “Jogo da Vida”.
C: Nossa, que tanto de dinheiro!!!!
T: É assim, ó... deixa eu só ver quanto de tempo a gente vai ter (olho no relógio). Que cor (de carrinho) você quer?
C: Vermelho.
T: E eu quero rosa. Toma um bonequinho pra você, e um bonequinho pra mim.
C: Tem de outra cor?
T: não, só o azulzinho de menino, e o rosinha de menina. Aí eu vou te dar um pouco de dinheiro pra você começar, e um pouco pra
mim. E começa a jogar daqui,
T: olha, o que está escrito?
C: ‘Saída 10 mil e 1 carro’.
T: Isso (dou os 10 mil),
T: aí é só girar a roleta, Mauro, andar o número de casas e ir fazendo o que estiver escrito... você vai ganhando dinheiro, perdendo,
vai comprar coisas...
C: (gira). Deu 9... (começa a ler o que está na 1
a
casa).
T: Não, é assim ó. Não deu 9? Então você só vai ler o que está na nona casa.
C: (lê a nona casa): ‘Médico, salário de 50 mil, ande mais 6 casas’.
T: Viu, agora você vai ser médico, e vai ter esse salário, que eu vou te dar agora.
T: O que mais que mandou você fazer?
C: ‘Ande mais 6 casas’.
T: Anda mais 6, então!
C: 1, 2, 3, 4, 5, 6.
T: O que está escrito?
C: ‘jornaleiro...’ (comete o mesmo erro de ler a casa seguinte)
T: Não, aqui, leia só 6 casas depois.
C: ‘dia do pagamento’.
T: Hummm... quanto você ganha?
C: Deixa eu pensar....
T: Já está dizendo lá! Quanto você ganha? Quanto que médico ganha?
C: 50 mil.
T: Isso, então vou te dar 50 mil.
T: E agora é a minha vez, uma vez você e outra eu tá? (giro a roleta e ando)
T: ‘comprou livros, pague 2 mil’, ixi, já começo gastando.
T: Mauro, me ajuda aqui nas contas? Eu tenho 10 mil e vou gastar 2 mil de livros, quanto que eu vou ganhar de troco?
C: Hummm.. 20 mil.
T: Não, não é isso não...
C: 30? 50?
T: Olha, eu tenho 10 e vou gastar 2... 10 menos 2?
C: 8.
220
T: Isso, muito bem... 8... você é bom de contas, né.
C: Mais ou menos....
C: olha quanto dinheiro eu tenho!!! 50 mil... mais 50 mil....
T: Sua vez de jogar.
C: (gira a roleta). 9... 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9... dia do pagamento, legal!!!
T: Você tá rico! (pago o “salário” dele).
Quanto você tem?
C: 50+50, 1 milhão.
T: 100.
C: Ah é.
T: e mais 50?
C: 150.
T: Isso!!!!
E mais 10?
C: 160!!!!
T: (giro a roleta). Médico, ih, viu, virei médica também... salário de?
C: 50 mil.
T: Faz assim, dá você o dinheiro pra mim, e na sua vez eu que dou pra você.
C: (me dá o $)
T: Obrigada.
Agora é você.
C: 6. ‘comprou mobiliário, pague 6 mil’
T: Isso, paga 6 mil.
C: 6, eeeeeu?
T: Você comprou móveis.
C: Logo eu?
T: Agora você vai ter móveis.
T: Me dá 10 que eu te dou o troco. (ele dá).
1, 2, 3, 4 mil, tá certo o troco?
C: tá.
T: Eu. (giro a roleta). 9. ‘seu tio precisa de ajuda, pague 2 mil’.
C: eu que tenho que pagar? (indignado)
T: não, sou eu. (pago).
C: (gira a roleta) 10. ‘dia do pagamento!’ uh, todo dia é dia do pagamento!!!! (dou os 50 para ele)
T: Agora sou eu. ‘emprestou dinheiro para o sogro 20 mil’.
Olha, eu não tenho 20, vou dar 50 e você me dá o troco.
C: Quanto?
T: Faz as contas...
C: 20?
T: Não, é mais... 50 menos 20...
C: (me dá uma de 300)
T: Essa é de 300! Vai me dar isso????
C: Ah, pode ser... (queria se livrar da tarefa logo)
T: Hahahaha, não, não pode, assim eu fico rica pra sempre!
T: Vai, 50 menos 20... (aí ele acerta e me dá 30 mil)
T: Sua vez.
C: ‘dia de sorte, receba 20 mil ou tente ganhar 300’ Nossa, 300??????????
T: Vou ver como que faz aqui para tentar ganhar 300, porque eu não lembro.... Ih, eu não sei, Mauro.
C: Então tá bom, 20 mil.
T: Tá aqui, duas de 10. Agora sou eu. Caí aqui.
T: Lê para mim???
C: ‘Recebeu visita, fique 1 rodada sem jogar!’ hahahahahaha.....
T: Estou com azar hoje. Tudo bem, é você.
C: ‘Titia deixou 50 gatos para você cuidar, pague 20 mil de despesas’ hahahaha
C: Quantos eu tenho que pagar?
T: É 20 mil.
C: Tó...
T: Agora você joga de novo porque eu estou com visita.
C: ‘Dia do pagamento!’ Yuhuuuuuu!!!!
T: Agora eu acabei de visitar os sogros, e vou jogar. ‘Dia do pagamento’ Aleluia!
C: ‘Nasceram gêmeos, receba os presentes’.
T: Aí faz assim, ó, você quer que nasça 2 meninos, 1 menino e 1 menina, ou 2 meninas?
C: Dois meninos.
221
(dou a ele 2 bonequinhos do jogo)
C: O que é isso???
T: Ué, são seus filhos! Dois menininhos lindos. Agora sou eu. 10.
C: Nossa, você passou de mim hein!!!!!
T: Olha, nosso tempo acabou!
C: Ahn não, é até as 6 horas!
T: Estava tão gostoso que passou rápido, né,
T: mas você chegou as 4 horas, então é até as 5.
C: Vamos ficar até as 5:30?
T: Não posso, nosso tempo acabou mesmo.
C: Ahn, não é justo (começa a jogar sozinho para não acabar)
T: Eu vou guardar as coisas aqui, tá!
C: Não faz isso!!!! Me dá meu dinheiro, eu vou guardar ele aqui (na casinha de bonecas).
C: “Ei, mocinha (fala para a boneca), você pode guardar esse dinheiro aqui para mim?”
T: Semana que vem a gente continua.
C: Na quarta, né?
T: Isso mesmo, toda quarta. Vamos?
(finge que está dormindo. Abro a porta da sala)
T: você vai ficar aí?
(ele se levanta rapidamente, rindo, e sai).
MAURO SESSÃO 4 28 NOVEMBRO 2004
T: E aí, como você ta?
C: Eu to bem...
T: Você sabe que horas são?
C: Cinco horas!
T: Nossa, como eu demorei com o seu pai hein. A gente fica até as seis então, ta? Uma hora.
T: Do que você quer brincar?
C: Daquele joguinho lá... que tem os carrinhos...
T: Ah, o jogo da vida! É mesmo, aquele dia a gente falou que ia continuar né... eu esqueci... então eu vou buscar na outra sala...
C: Ta. (saio da sala)
T: (retorno). Mauro, você se lembra que tinha guardado o dinheirinho do jogo em algum lugar!?
C: Ah é mesmo!!! Ai... eu não me lembro onde eu coloquei...
T: Eu me lembro que era na casinha...
C: Ah é mesmo (vai olhar)...
C: não está...
T: É isso que eu ia falar pra você, eu vi... é que eu acho que não adianta guardar aqui na sala... porque outras pessoas usam aqui,
e aí se perde... (abro a caixa do jogo da vida, e vejo o dinheiro lá)
T: Nossa, será que é esse?
C: Eu acho que é!
T: Eu acho que alguém viu o dinheiro aqui na sala e guardou no jogo.
T: Vamos começar do começo, que eu não lembro mais onde a gente parou.
C: Vamos. Eu tinha três filhos né!
T: É isso mesmo... Mas vamos recomeçar, sem filhos? Porque senão, quando chegar aqui no lugar onde os filhos nascem, você vai
ficar com uns 10 filhos!
C: É.
C: É daqui que começa?
T: Não, é de onde está escrito saída.
C: Ahn... daqui...
T: Iiiisso....
C: Vai, quem começa?
T: Que tal assim? Eu giro uma vez, e você outra vez. Quem tirar numero maior começa...
C: (jogamos) Eu começo...
C: sete.... “Ganhou 12 mil”...
T: ah, esqueci que a gente começa com um tanto né... 10.000... vou dar isso pra cada um...
T: quanto você ganhou agora?
C: “Doze mil”.
T: Doze, ta aqui... agora sou eu.... “Seis”...
T: lê pra mim? Ta de ponta cabeça....
222
C: “Não jogue uma rodada”.... Agora eu... “Quatro. Advogado, salário de 50 mil, ande mais 4 casas... Dia do
pagamentoooooooooooooo!” Hahahaha....
T: Qual é o seu salário, de advogado?
C: 50 mil. Legaaaaaaaal.....
T: Eu.
C: “Jornalista, salário de 24 mil”
T: Nossa, como jornalista ganha pouco hein....
T: Você me dá o dinheiro?
C: Eu vou te dar 25 então.
T: Ué... você quem sabe!
C: Ta bom...
T: Não... hehehe... não pode....
T: mas pode dar uma de 20 e mais 4 de mil...
C: 20... 21, 22... 23... 24...
T: Sua vez.
C: “Você vai abrir um negócio, pague 30 mil”
C: Quem tem que pagar?
T: Você!
C: Ai meu Deus.... (pega o $ do banco)
T: Não, é você quem tem que pagar... pro banco...
C: 30 mil, caramba! (pega o próprio $)
T: Dá 50 que eu te dou o troco... quanto eu tenho que te dar?
C: Não sei...
T: Você dá 50... mas eu quero só 30... 50 menos 30?
C: Vinte.
T: É... (dou o $ a ele)
C: “Seu tio precisa de ajuda, pague 2 mil” Ai....
T: Tio é tio, né...!
C: Nossa, só sobrou 30 mil!
T: Ainda tem dinheiro pra caramba, Mauro...
T: Eu agora... “Você bateu o carro, pague 12 mil”
C: Aêeeee!!!! Legal!!!
T: Doze mil né. Aqui está.
C: Obrigado! (tenta ficar com o dinheiro)
T: É do banco.
C: Cinco... ih empatou (caiu na mesma casa q eu). Ih eu tenho que dar doze mil? (rindo)
T: Hahaha...
C: (dá vinte)
T: Quanto que eu te dou? Vinte menos doze é?
C: Não sei...
T: Então vamos contar juntos? 12, 13, 14... 20... quantos foram?
C: Oito.
C: “Ganhou na loteria, receba 96 mil!!!”Nossa que dinheirão que vou ganhar!!! Hahaha...
T: Vou te dar então... 50... 60... 70... 80... 90... 95... 96... Agora eu... “filha”, êba, dá minha filha...
C: Hahahah... Eu, “Dia de sorte, receba 20 mil ou tente ganhar 300 mil”
T: Eu não sei como faz pra ganhar 300 mil.. teria que achar aqui... (procuro nas instruções)... IH, eu não sei...
C: Vai 20 mil então...
T: Vou te dar. “Dia do pagamento”
C: Ai, quanto que eu tenho que te dar mesmo?
T: É a mesma coisa de antes...
C: Vinte?
T: Não.
C: Vinte e quatro!!!
T: É. (me dá o $)
C: “Nasceram gêmos” Legal!!!! Hahahah...
T: Você quer casal, dois meninos, ou duas meninas?
C: Dois meninos!
T: Ta aqui, ó.
C: Eu estou chegando lá hein... ganhando...
T: “Seu filho nasceu”
C: Menino ou menina?
T: Filho é menino né...
T: Olha só, com você é o contrário... você que é o mais velho... ou é a Midiã a mais velha?
223
C: Sou eu!
T: Olha só, agora eu posso ir por dois caminhos, então eu vou ver primeiro qual deles é o melhor... vejamos... por esse aqui eu não
ganho nada nem perco nada... por esse outro aqui... “receba 280 mil!”
C: Eeeeita!!! O quê???
T: 280 mil!
C: 20... 40... 60... 80... 280... aqui!
C: Agora eu... “Seu filho nasceu”
T: Nossa, que carro cheio de menino!!!
C: eu quero menina agora!
T: Ah uma hora nasce uma menina, vai ver só!
T: Como é o nome deles hein?
C: João... Ronaldinho... Ronaldinho Gaúcho... Francisco... Paulo.
T: E você é qual?
C: Nenhum. Eu sou o motorista.
T: “Receba 50 mil se tiver ações”, eu não tenho...
C: Ah, não acredito!!!
T: Ei, eu nem tenho... Mauro, presta atenção...
C: “Ampliou os negócios, pague 120 mil”
C: Eu??? Com o meu dinheiro???
T: Hã-hã.
C: Ih meu dinheiro não deu, eu vou pegar do banco aqui!
T: Não... você não pode pegar do banco! Pois se você tem que pagar pro banco!!!
C: Ah, eu perdi meu dinheiro...
T: Não é q vc perdeu... vc ampliou os negócios! Tomara que os seus negócios te ajudem depois né!
C: É.
C: “Dez” Dia do pagamentooooooooooo!!! Yurrúuuuuu...
T: Te dou então... 50 mil... Agora eu... Dia do pagamento também!
C: Cinqüenta?
T: Não... eu sou jornalista... você é advogado e eu sou jornalista, lembra?
C: Ah, 24!!! (dá o $) Você ta ficando rica, hein!
T: Eu estou, ta melhorando!
C: “Adote um filho ou uma filha” Hahahahah... (caímos na risada) Ah, não tem mais espaço!!!!!!!!!
T: Ah mas você não queria uma menina? Sua chance....
C: ahahaha.... Nossa, e se eu ganhar mais um filho?!
T: Aí ele vai ter que ir à pé (não cabe mais no carro)
T: Agora eu, dia do pagamento... (ele me dá 25 mil)
Quanto eu te dou de troco?
C: 20 mil.
T: Não... Você me deu 25, mas era pra me dar 24... quanto faltou?
C: Mil... Agora eu... “Dia do pagamento”... 50 mil!!!!
T: Agora eu... ganho 20 mil...
T: olha, me dá 50 que eu te dou o troco... de quanto é o troco?
C: Trinta...
C: pra mim, né?
T: Não, pro banco....
C: Ah, banco não presta!!
C: Agora eu... “Comprou uma casa nova”...
C: ah ah ah ah ah( gritos infantilizados) Eu não tenho mais dinheiro.... olha só... (conta o dinheiro)
T: é, faltou 6 mil reais... então eu vou anotar aqui que você ta devendo pro banco... e aí quando você tiver dinheiro, vai ter que
pagar pro banco... (anoto num papel) “Mauro 6 mil”
C: Ai ai ai....
T: Agora sou eu... “Escreveu um Best Seller” Best Seller é livro, né?
T: “Receba 96 mil de direitos autorais”
C: Aê, eu vou ganhar... (pega o $ pra ele)
T: Não, Mauro, sou eu, quem jogou fui eu, não fui?
T: Você.
C: “Seu bode comeu orquídeas premiadas, pague 3 mil” Hahahaha.... ih, eu não tenho...
T: Então eu vou anotar aqui, ta? Esses 6 mil da casa... e 3 mil do bode...
C: Ai ai ai.... E agora? “Dia do pagamento”!!!!
T: Eu vou te pagar 50 mil então... mas você ta devendo pro banco né... tem que descontar 9...
T:quanto dá, Mauro?
C: Nove vezes zero, zero...
T: Não... Nove para dez?
224
C: Um... Quarenta e um mil!
T: Aê!!! Pronto, toma o dinheiro...
C: Agora eu tenho dinheirooooooo........ finalmente hein!
T: Viu... eu falei q você ia recuperar, não falei?
Ih, cadê o pequenininho (filho)? Que morava aqui meio do carro!
C: Ih, sumiu!!!!
T: Olha ele aqui..... ô coitadinho...... volta pro carro, volta! Olha, nós estamos juntinhos de novo!
C: Nossa!!! “Você deve impostos, pague 50 mil” Ih eu acho que eu não tenho... Vamos ver... só tenho 31... precisava de 50...
T: Ih... olha, vamos fazer o seguinte, eu vou emprestar dinheiro pra você.
C: Yessss!!! “Pague 40 mil” Eu não acreditoooooo....... de novo????
T: Ih..... olha eu vou te ajudar só a metade agora ta?
T: Eu te pago 20 e você fica devendo quanto?
C: Vinte.
T: Você chegou no final!
T: Olha só, tem dois caminhos, vamos ler?
C: “você foi à falência. Aposente-se e vá viver no campo como filósofo” ou “milionário, aposente-se em grande estilo”
T: Qual caminho você escolhe?
C: Esse.
T: Vai ficar milionário?
C: É. Então quem ganhou fui eu!!!
T: Chegou primeiro!
C: olha só, a gente começou daqui e andar tudo isso!!! Vrummmmm....... Ta triste?
T: Não... você ficou milionário! E eu estou com todo esse dinheiro!
C: Vamos de novo?
T: Não dá tempo Mauro.
C: Quanto?
T: Faltam cinco minutos...
Olha, agora você me cumprimenta, e eu te cumprimento, ta? Porque os dois ganharam coisas diferentes.
C: Ta (me dá a mão). E agora que eu estou milionário dá pra pagar o que eu estava devendo...
T: É!!!
C: E agora? Dá pra faze mais alguma coisa?
T: Só se for bem rápido, tipo um desenho por exemplo.
T: Quer fazer?
C: Não. Deixa eu ver aqui... (olha pela sala)
T: Então eu vou fazer um pra você. Escolhe o que você quer...
C: Mickey e a menininha dele...
T: Ta. De que cor?
C: A verde... e a rosinha para ela...
T: Ta, vamos lá!
C: O Mickey é um ratinho né!
T: É.
C: Quando eu crescer eu quero ser um artista!
T: É? Igual a quem?
C: (fala ininteligível) Eu vi na televisão...
T: Que cor coloco aqui?
C: No short... amarelo….
T: E ela, que cor?
C: Laranja no vestido!
C: Ê você sabe desenhar hein!
T: Obrigada! Agora eu vou escrever aqui: “Para Mauro”
T: Vamos?
(saímos da sala)
CLIENTE MAURO 5
A
SESSÃO 1 DE DEZEMBRO DE 2004
T: Hoje eu vou propor uma brincadeira nova...
T: ...você gosta de bala de maçã?
C: Adoro.
T: Então, ta vendo aqui??? (várias balas)
C: Balas!
T: De?
C: Maçã.
T: Ótimo.
225
Então olha, três pra você e três pra mim. Agora escolhe algum lugar da sala pra você jogar elas.
C: (fica quieto)
(jogo as minhas, ele joga as dele)
T: Agora... fica de pé! (fica) Mãozinhas para trás.... é um desafio hein!
C: Hehehehe....
T: (amarro as mãos dele com um lenço) Não é pra tentar desamarrar não, ta? Não é pra isso que serve essa brincadeira...
T: não ta te apertando, ta?
C: Não.
T: Agora eu vou amarrar as minhas mãos... difícil pq vc não pode me ajudar...
C: Eu posso!
T: Será??? Então me ajuda!!!
T: Vai dizendo se eu estou fazendo certo... estou???
C: Está.
T: Pronto, estamos amarrados, né? Agora a brincadeira é assim: a gente tem que comer as balas!!!
C: Iiiiiihhhh... e tem que tirar o embrulho???
T: Ih, eu nunca comi bala com plástico!
T: Tem que tirar sim!!!
C: É fácil.
T: Oh, mesa e cadeira não podem ajudar, ta? Só quem pode ajudar é eu ou você.
C: Hahahahaha..... (está entortando os braços até levar a bala na boca)
T: Ah, assim é muito complicado....
T: Conseguiu?
C: Sim..
T: Posso te ensinar um outro jeito mais fácil? Você jogou três e eu joguei três, né, então a gente vai ter que comer três
cada um... vem cá, [cliente]...
C: Que é? (aproxima-se)
T: Come a bala... (desembrulho e dou para ele comer).
C: Hahaha...
T: Eu não comi nenhuma ainda, mas eu te ajudei...
T: ...E agora, o que você vai fazer pra me ajudar?
C: (silêncio, está pensando)
T: Hein? O que eu fiz pra ajudar você?
C: Hummm.... (vai até as balas e faz do jeito que eu fiz).
T: Oba!!! Hahaha... obrigada!!! Está cheio de bala na boca, né, nem consegue falar!!!! Faz assim, aaaaahhhhh!!!
C: Aaaaaaaahhhhh...
T: Minha nossa senhora!!!
C: Hahahaha.... (ele me dá a última bala)
T: Hahahaha... (como)
Agora eu vou falar “obrigada” e eu quero ver você falar “de nada” com um monte de balas na boca, ta?
C: Hahaha...
T: Obrigada.
C: De nada!
T: Aí!!! Parabéns pra nós dois, toca aí!!! (batemos as mãos, com elas amarradas ainda).
T: Agora acho que já pode desamarrar né?
T: ...Gostou da brincadeira?
C: Hum-hum!
T: (sentamos) Agora... me diz... como que chama quando você deu a bala pra mim?...
É uma palavra, que foi por isso que eu fiz essa brincadeira. Você fez uma coisa super legal, que se você não tivesse feito, eu ia
ficar sem bala, não é???
C: (silêncio, pensando)
T: Quer ver só, você pode adivinhar a palavra... você gosta de charada?
C: Hum-hum.
T: Você vai adivinhar em forma de charada então, ta? (pego um papel)
T: ...Ah, você sabe jogar... forca?
C: Sei.
T: Tá, então eu vou te ensinar a palavra na forma de forca. É um verbo, tá? (faço a forca). Pode começar.
C: “A”.
T: (anoto)
C: “L”.
T: Hummm, não.
C: Ai... “F”.
T: Não... você tá pegando letras boas, só não está acertando por azar.
226
C: “R”.
T: Sim!!! (com entusiasmo)
C: Aêeeee!!!
C: X
T: “X”??? X é uma letra que não aparece muito nas palavras né... (errou)
C: “E”. (acertou).
C: Aêeeee!!!
T: Você acha que já foi todas as vogais???? (dou dica)
C: “O”. (acerta).
T: Aêeee... “B”... (errou) Aiii...
T: Leia a palavra.... “o....
C: ..perou”
T: “Você _o_erou comigo”
C: “Errou”?
T: Não... você me ajudou, né? Só que não é ajudou, é uma palavra parecida com ajudou, que é o que eu quero te ensinar...
C: Ah, não sei.
T: Então vamos tentar adivinhar pela forca.
C: Não seeeeei....
T: Mas ta quase... ainda tem chance...
C: Não sei.
T: Ah você não sabe brincar de forca???
C: Sei.
T: Então vamos lá.
C: “C”.
T: “C”? Muito bom!!!
T: ...Só falta uma...
T: ...“Coo_erou”...
C: “P”
T: Iiiiiisso!!!
T: Você já tinha ouvido a palavra em algum lugar?
C: Não.
T: É, “você cooperou comigo”, porque eu estava com dificuldade e graças a você me ajudar, eu consegui as balas!!!
C: De novo, de novo, de novo!!!!!
T: Gostou, hein?
C: Hum-hum!
T: Ótimo, vamos juntar então a forca com um outro jogo?
T: ...Eu não sabia que você gostava de forca não... eu também gosto!!!
T: Olha, esse jogo aqui... se chama “Brincando com as expressões”.... então a gente só vai poder colocar sentimento nas palavras
que a gente for usar na forca.
T: ...Que sentimento que você conhece?
C: Eu não sei...
T: Não saaaaaaabe????
T: ...Eu falo um e você fala outro. “Medo”.
C: “Arrepio”?
T: Isso, “arrepio” é outro....
T: “Alegria”....
C: “Alegre”.
T: “Alegria” já é “Alegre” né...
C: “Feliz”.
T: Isso!
T: ...E um de quando a gente não está tão bem, quando se sente mal, qual é?
C: (silêncio)
T: “Tristeza”, né?
T: Então vamos lá... eu faço a forca pra você... aqui é a forca... (desenho)...
T: ...eu vou fazer um que eu acho que você está hoje.
C: Feliz!!! Certo???
T: Certo!!
C: Hahaha...
T: Hahaha, sem comentários!!! (acertou a forca na hora)
T: É a sua vez agora.
C: Ai... (faz a forca) pronto.
T: “A”.
C: É fácil!!!
227
T: “E”. Noooossa!!! “I”. Dá uma dica...
C: Você disse a palavra...
T: “O”.
C: Não.
T: “U”.
C: Não.
T: Ah, já foi todas as vogais. “B”.
C: Não.
T: “R”.
C: Não.
T: Não tem “R”??? “C”.
C: Tem.
T: Eu acho que é uma, mas a que eu estou achando que é tem “R”.
T: Não é tristeza???
C: Ai, acertooooooooou!!!
T: E tristeza não tem R?
C: Não.
T: E o que tem entre o T e o I????
C: Aaaai, esqueciiiiiii!!!!
T: Ah mas tudo bem..
C: A sua vez agora. Até que foi difícil né.
(T faz outra forca)
C:O que é? “Triste”?
T: Só chuta uma palavra se você tiver muita certeza, ta?
C: Ta. “A”.
T: Errou.
C: “O”.
T: Acertou.
C: Couro?
T: Não, é só sentimento...
C: “I”. (errou) Ah não... eu não desisto.... “E”. “U”.
C: Aêeeeee!!! Já foi todas as vogais.
T: Já sim.
C: “R”. Ai não. “Z”. Piorou. “T”. Aêee!!!
T: Aê, muito bom!!!
C: “C”. Ai... “D”... ai...
T: Quer combinar assim, ó? Toda vez que chegar na primeira perninha aí eu dou dica. Quer, quer dica?
C: Quero. “P”... (falou ao invés de pedir a dica)
T: Quer a minha dica ou quer arriscar?
C: Quero, quero, quero....
T: Ó... esse menino aqui (do jogo) está com uma cara de quem está assim.
C: “Assustado”!
T: Então olha para a palavra....
C: Ai...
T: É essa a palavra... mas não desse jeito porque não cabe aqui...
C: F.
T: Você não está prestando atenção na minha dica...
T: ...você falou “assustado” e eu falei que era isso mesmo.... assustado cabe aqui? Não cabe... então a palavra é...?
C: Ai.... (silêncio)
T: Fala outros tipos... “assustado”... “assustar”.... “assustei”....
C: Ah, “susto”!!!!
T: Susto!!!!! (preencho a forca, ele acertou).
C: Agora eu. (faz uma forca)
T: “A”.
C: Acertou (escreve A)
T: “E”.
C: Certo. (escreve E)
T: “I”
C: Certo. Nossa, você ta boa hein.
T: Tem bastante vogal essa palavra! “O”.
C: Tem.
T: “U”.
C: Errou.
228
T: “L”.
C: Errou, você ta mal hein.
T: “R”.
C: Tem. Fácil...
T: “Alegria”.
C: Ai, acertou!!!!
T: Já sei qual que eu quero agora... (monto outra forca)
C: Ai, ai ai... (rindo).
C: “Alegre”.
T: Não cabe aí.
C: Cabe, ó... ai, não cabe...
T: Ah mas “alegria” já foi, né... não vai ter alegre porque é parecido. Olha, também já foi “tristeza”, então não é “triste”.
C: “A”.
T: Sim.
C: Yessss!!! “E”. (sim) “I” (sim). “O”. (não) Aaaaahhh... “U”. “R”. “Z”. “A”. “F”. (para cada uma eu ia escrevendo ou fazendo o
bonequinho da forca).
C: Ô, o que é isso aí então hein???
T: “Raí...”…?
C: “Va”!!!!
T: É..... ué!!!!!
C: Ih, eu pensei que fosse “raiza”...
T: Raiza eu não conheço, como que é quando alguém está sentindo raiza???
C: Hahahaha....
C: Ah agora eu, eu vou fazer uma bem difícil... ihhh... esqueci.... ah ta.... (começa a montar a forca)
T: Sete letras? “A”. “E”.
C: Não.
T: É sentimento, né?
C: É, quase igual a esse outro...
T: “I”. “O”. “U”.
C: Ó, eu vou dar uma dica hein.
T: Peraí, ainda não... só quando você estiver pra fazer uma perninha.
C: Ta bom.
T: “D”. “F”. “Raivoso”???
C: Hahahahaha….. isso..
T: Agora vou fazer um difícil... que não apareceu ainda hein.
C: Ihhh... ah, assim que terminar esse daí, eu queria jogar outro...
C: O quêeeeee!!!! (assustado com o tamanho da minha palavra) Nove????
T: Mas você sabe que quando a palavra é grande, é mais fácil??? É porque um monte de letras que você falar, vai aparecer aqui!!!
C: “A”.
T: Viu só! Tem dois “A”.
C: “S”.
T: “S” não.
C: “C”. Huuuummmm... Deixa eu ver…. “T”..... “Z”.....
T: “Z”…. não… vê se já foi todas as vogais!
C: Hum.... “L”.
T: Não. Tenta ler a palavra....
C: (silêncio) “B”.
T: Não... Ai, meu Deus, está na hora da dica... deixa eu ver como eu vou te dar... vou pensar numa dica. É assim, quando você ta
fazendo uma conta de matemática muito difícil, aí você faz e erra, faz e erra, faz e erra... mas você quer fazer...
... aí você tem que ter muita _ _ _ ????
C: Aaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhh!!! Paciência!!!!!!!
T: Iiiiiisso!!!!
C: Vamos jogar jogo da vida????
T: Ih eu não trouxe o Jogo da Vida hoje... é que a gente já jogou ele duas vezes, antes né.
C: Duas???
T: É, já!
C: E qual que tem???
T: Tem aquele lá...
C: Eu quero então.
T: (antes volto a pegar o papel). Olha só quanto sentimento que a gente descobriu hoje??? “Tristeza”....
C: “Triste”; “Raiva”...
T: “Alegria”... e esse grandão...
C: “Paciência”.
229
T: Qual você gosta mais?
C: Esse aqui.
T: “Raivoso”... (circulo)
C: É, e esse aqui também.
T: “Raiva”... (circulo)
C: É, e esse também!!!
T: “Susto”... (circulo)
C: É, de dar...
T: Gosta de dar susto... e de tomar susto?
C: Nãaaao....
T: Raiva, raivoso e susto.
T: E eu gosto desse aqui.... (alegria)...
C: E esse? (aponta)
T: Também...
C: E esse?
T: Esse também (era “paciência”), porque esse ajuda taaaanto!!!
T: Pronto... quer pegar o outro jogo?
C: (pega o jogo)
T: Olha, são quinze para as cinco.
C: Faltam quinze minutos?
T: Hum-hum!!! Esse jogo é assim... aqui estão as cartas.... que cor você quer ser?
C: Azul.
T: Você vai pegar o dado, começa aqui, né? Aí você vai girar, deu 3. Vamos supor que eu estou jogando, então vou andar três..
eu pego uma carta e tem uma emoção na carta, eu tenho que fazer uma mímica dela pra você. Se você acertar de primeira, você
anda três casas. Se você acertar de segunda, anda duas. E se você acertar de terceira, anda uma.
C: Só uma?
T: Só, é ao contrário, três, dois, um.
C: Agora sou eu?
T: Hum, vamos ver quem começa com os dados? Quem tirar número maior começa...
C: (joga). Quatro.
T: (jogo). Cinco. Eu vou começar. (jogo o dado, deu 1). Um. Vai, eu vou fazer a mímica, ta? (faço).
C: Nervoso?
T: Não... Ó, tinha aqui (na outra brincadeira).
C: Ai, não sei....
T: Ó, eu estou até rosnando!!!!
C: Não sei!!!
T: Tinha na forca que a gente fez!!!
C: Tristeza?
T: Não, é bem diferente disso... Era “Raiva”!!!
C: Ai, vai sou eu. (joga o dado). Quatro... uuuui.... aaaai, muito difícil!!!
T: Mas vai ser difícil pra mim também....
C: Tá...
C: (faz a mímica)
T: Alegria???
C: Acertou.
T: De primeira, de segunda ou de terceira, hein [cliente]?
C: De primeira.
T: Então ando 3, né? Vai, agora sou eu...
T: ...nossa, esse vai ser muito difícil...
T: (Faz a mímica)
C: “Chorando”? “Triste”?
T: Não... ó, começa com “M”.
C: “Magoa”???
T: Isso!!! Ó!! Era difícil, e você acertou....!!!
C: (joga o dado). Seis. Ih eu não sei. Esse também não sei (joga fora o cartão)
T: Ah, peraí, [Cliente], não vale...olha... qual era??? (pego o cartão de volta e leio)
T: “Pavor”, como alguém faz quando está apavorado???
C: Faz aaaaaaaaaaahhhhhhh!!!!!!!!!!!! (abre os braços).
T: Olha aí, então, como dá pra fazer!!!
C : Ta....
C: (pega outra carta e faz a mímica)
T: “Emburrado”?
230
C: Não...
T: “Sacana”?
C: É...
T: (jogo o dado e tento fazer a mímica). Olha, esse eu não sei fazer a mímica, então eu vou fazer um desenho ta?
C: Ta.
(começo a desenhar).
C: “Apaixonada”!!!
T: Ela pode estar apaixonada também...
só que ele ta looooonge, então ela ta com _ _ _ ?
C: Saudades!
T: Iiiiiiisso!!!!
C: (vez dele) Ai, meu Deus!!! (larga o cartão e rapidamente tenta pegar outro)
T: Ah não pode, [Cliente], a gente já tinha combinado, lembra??? Se você for mesmo desistir, então volta os 5 que você andou, é
isso que você quer??? (volto as 5 casas dele). E aí é minha vez...
C: Ah, passou de mim, hein!
T: Foi porque você desistiu...
...(começo a fazer a mímica)
C: “Medo”?
T: É uma palavra que já saiu...
C: Ah, eu não sei...
T: Ra...
C: Raiva!
T: É! Já saiu 3 vezes, já saiu na forca e aqui no jogo!!!
C: (vez dele, joga o dado, faz a mímica)
T: Contente. Acertei???
C: Sim.
T: Olha, vamos fazer assim, se for muito difícil, fica valendo falar alguma coisa pra dar a dica ta??? (minha vez).
T: Nossa, essa é difícil.
C: Ah então desiste!!!
T: Não, eu não gosto de desistir. Vou tentar explicar...
De manhã, a minha mãe me chama pra levantar e eu fico meio assim... ai, eu não quero, mãe, eu estou com _ _ _ ...
C: Sono!!!
C: Yesss... agora sou eu… 5… você não vai conseguir me alcançar.
C: ...Ai, eu não sei essa.... desisto... (joga o cartão)
T: Não, volta o cartão pra você (leio),
T: eu vou te dar uma chance pra você não ter que voltar... explica o sentimento pra mim!!! Eu vou explicar de um jeito pra mostrar
como que faz, e aí você explica também.
T: Vai: É aquilo que a namorada sente pelo namorado.
C: Amor!
T: Aí, isso mesmo!!!
T: Agora inventa um jeito você.
C: Eu vou voltar...
T: Não, espera... Quem mais sente amor?
C: Não sei.
T: Você ama alguém?
C: Não.
T: Não ama ninguém?
C: Ah, o meu pai, minha mãe e minha irmã!
T: Pois então!
Se você falar: “É o que eu sinto pelo meu pai, minha mãe e minha irmã” eu acho que você vai acertar...
C: Não sei...
T: Sabe, você acabou de falar. Vai, você acertou.
C: Porquê?
T: “É o que eu sinto pelo meu pai, minha mãe e minha irmã”, ué.
C: Legal!
T: Sou eu.... (faço a mímica)
C: “Com medo”?
T: Não... vou dar uma dica, ta? Faz de conta que é o meu aniversário. Aí eu chego em casa e todo mundo fez uma festa sem eu
saber. Foi uma festa _ _ _ ???
C: Surpresa! Yesss!!! Estou chegando lá!
T: Hum-hum!!!!
C: Agora sou eu!!! Oba!!!! (faz a mímica, com os braços cruzados)
231
T: Emburrado? Raiva?
C: Não.
T: Ih, dá uma dica de quando a pessoa fica assim....
C: Hum.... quando enche o saco.
T: Quando enche o saco??? Mal-humorado?
C: Não.
T: Irritado?
C: Não. É muito fácil.
T: Putz, dá outra dica.
C: Quando não deixam a gente fazer nada, e a gente quer fazer. Aí a gente fica assim.
T: De castigo?
C: Não...
T: Quando não deixam?
C: Eu gostei dessa, gostei sim!
T: A gente fica..... nervoso?
C: Não. Começa com “Z”.
T: Com “Z”? Zangado?
C: Quase, quase, quase!!!
T: Zanga?
C: Acertou.
T: É difícil esse!!!
(faço minha mímica)
C: Medroso?
T: Não, é mais do que medroso, faz de conta que eu estou com muuuuuuuuito, muito medo.... que eu estou vendo um fantasma....
eu fico _ _ _ ?
C: Com muito meeeedo!!
T: Mas qual é a palavra?
C: Não sei...
T: Começa com P... “Pa”..
C: Apavorado!!!!
T: Pavor!!!
C: Sou eu.. (joga três), cheguei na saída.
T: Agora vai ser a última mímica.
C: (faz a mímica)
T: Chateado?
C: Não.
T: Triste?
C: Não, dica eu não sei dar. Ó, é uma das que está escrito aqui, ó...
T: Desânimo???
C: Acertou. Eu sou o vencedor!!!!!!
C: Vai ter que fazer um outro desenho pra mim!!! (igual ao da sessão passada). Cada vez que eu ganhar num jogo, você vai ter que
fazer um desenho.
T: Mas eu faço um desenho pra você, mesmo que você perca.
C: Ta bom.
C: Eu vou querer... Tom e Jerry.
T: Tom e Jerry? E o que você fez com aquele desenho que eu te dei?
C: Eu deixei guardado. Eu vou deixar tudo guardado, pra mostrar pro meu pai.
T: Hum!!! Então eu vou te fazer um desenho, mas num papel especial. Esse aqui, que eu separei pra dar pra você.... (pego o
“pergaminho”)
T: leia aqui...
C: “Pergaminho da alegria”.
T: Esse pergaminho é seu. Só que você tem que trazer pra mim pra semana que vem. Não é o pergaminho da alegria??? Então,
toda vez que você ficar bem alegre, você faz uma caretinha feliz...
C: E se eu ficar triste?
T: Ah, mas esse é o pergaminho da alegria... outro dia a gente faz um pra tristeza.
T: ...Aí você faz a caretinha, e escreve do lado porque que você ficou alegre, ta?
C: Ah, eu não sei...
T: É só uma frase, por exemplo... “tirei nota...”
C: Nota 10!!!
T: Isso, “Tirei nota 10”...
T: ...aí escreve aqui.
C: Mas eu já passei de ano!
T: Mas vale qualquer coisa.... ta?
232
E o Tom e Jerry, que cor você vai querer?
C: Eu quero o Jerry marrom.
C: Você assiste?
T: Eu assisto sim!
Eu vou fazer eles bem alegres, ta? Porque é o Pergaminho da Alegria. (desenho e ele fica prestando atenção)
Pronto... aí agora, é só você fazer as caretinhas, toda vez que você ficar alegre, ta? Eu quero ver semana que vem, ta???
C: Faz o capim e a casa dele? E a árvore???
T: Ih, muita coisa... vou fazer so o capim, ta?
C: Eu sei desenhar a casa do Jerry, é assim, ó! (faz)
T: Ah, é na parede!!!
T: Olha, eu estou curiosa pra ver do que você vai ficar alegre, ta?? Pergaminho da alegria... não vai esquecer?
C: Não.
T: Onde você vai pôr, pra não esquecer de trazer???
C: No meu quarto.
T: Então ta bom.
2
33
Transcrição de sessões de Erik Anexo 9
ERIK (6 anos) 1
A
SESSÃO 22 DE OUTUBRO DE 2004
(T e C entram)
T: E aí, você já tinha vindo aqui antes?
C: Não...
T: Não? (T não ouviu direito FONO)
C: Aqui já só uma vez.
T: Já, você já conhecia aqui?
C: (...) (aponta para um brinquedo)
T: Você quer brincar daquilo lá?
C: Quero.
T: Você sabe como eu me chamo?
C: Não...
T: Eu sei o seu nome!
C: É Erik!
T: Isso, Erik!!! ...
...E o meu?
C: .... não sei.
T: Não sabe? Quer adivinhar?
C: Vou pensar...
T: Tem que olhar para mim, eu tenho cara do quê? (digo isso porque Erik olhava para baixo)
C: Peraí, né...
T: Não, mas olha pra mim!
(ele olha um pouco)
T: Que nome você conhece?
C: Giovana!!!
T: Giovana, isso mesmo!!! Você tem uma boa memória, sabia? Você lembrou direitinho,
...sua mãe falou pra você?
C: É porque tem uma Giovana na minha sala... (está observando os brinquedos)
T: Na sua sala... humm...
...E agora hein, tem bastante brinquedo aqui... fica difícil de escolher?
C: Hum-hum. ... Quero brincar com a casinha.
T: Dá uma olhada nela então!
C: (dirige-se até a casinha de bonecas)
T: (vou até ele e sento no chão ao seu lado). É bonita essa casinha, né, Erik?
C: Hum-hum.
C: Isso aqui está quebrado, nem dá pra consertar isso aqui... (escadinha)
T: Ah, dá sim...
C: Duvido!
T: Duvida? (conserto junto com ele).
C: (...) Agora o boneco vai fazer cocô no vaso (senta ele na privada).
T: Vai fazer cocô, de noite ou de dia? (lembro que havia algo no prontuário sobre enurese ou encoprese)
C: Plof plof plof... de dia.
T: Tá fazendo até barulhinho!
C: E você, faz cocô de noite ou de dia?
C: De noite e de dia, todo dia
T: Mas você faz só no vaso ou faz na calça também? (não me recordo bem se a mãe disse q ele ainda fazia nas calças, por isso
pergunto).
C: Eu faço xixi na calça.
T: Você faz xixi na calça... de dia ou dormindo?
C: É, dormindo.
T: Quantos anos você tem, Erik?
C: (mostra os 6 dedos na mão).
T: Seis?
C: (fala ininteligível)... mudar de...
T: Mudar do quê??? (tento entender a fala FONO)
C: De escola. No ano que vem (Não ouvi)
T: Ih mas você gosta de acordar molhado?
234
C: Não, eu vou no banheiro, às vezes eu nem faço xixi na cama.
T: Ah bom, é melhor né.
C: Às vezes minha mãe me acorda de noite, e me leva pra fazer xixi, aí eu não faço xixi na cama. Só fiz uma vez.
T: Ah, então se você acordar, não faz.
C: Mas um dia eu fiz, por causa que quando acabou a novela eu fui dormir (fala ininteligível).
(C abre o armário de brinquedo da casinha)
T: Nossa quanta coisa q tem aí dentro né!
C: Oito. E um espelho, ta quebrado.
T: É verdade. Será que dá pra consertar?
C: Não sei...
T: A escada deu, não deu? Será que o espelho a gente também consegue? Se tiver cola aqui eu acho que dá... (levanto e vou
procurar cola).
T: Ah, Erik, eu não estou achando cola não... com massinha será que a gente cola?
...Tenta você.
C: (pega a massinha e o espelho, amassa e conserta)
T: Hummmmmm!!!
C: (o espelho cai e desmonta) Hahahaha.... Não dá.
T: (eu o ajudo e o espelho cola) Deu hein!
C: Deu.
T: Toca aí!!! (batemos as mãos).
C: O menino vai dormir no berço (coloca um menino imenso em um bercinho pequeno)
T: Ih mas que berço pequeno pra ele!
C: Então vou colocar aqui (na cama).
T: Ah aí é bem maior.
C: Eu quero ir no banheiro.
T: Vem, vou te mostrar onde é.
C: Hum-hum. (saímos da sala 2 minutos)
C: (tira figurinhas do bolso e me mostra)
T: O que você tem aí?
C: Cavaleiros do Zodíaco!!!
T: Cavaleiros... do Zodíaco... hummm... quem que é esse?
C: É um do mal.
T: O que ele faz de mal?
C: Ele... o do bem, ele tem que... (explica mas não dá pra entender... enquanto isso ele coloca os bonecos sentados).
T: Ta todo mundo sentado aí né, até os bebês sentaram.
T: E esse na mesa, o que ele vai fazer aí?
C: Ele vai cair, e o vô vai correr pra buscar ele.
C: Brinca também!!!!
T: Brinco! Eu vou ser essa aqui... é a vovó, olha o cabelo dela! Então ela é... mulher dele! (aponto o vovô). Ela anda bem
devagarzinho.
C: O meu ta um pouco velho.
T: Ta um pouco velho, né...
T: e esse aqui é o netinho deles, né.
...Adivinha o nome dele.
C: Não sei...
T: Mas você adivinhou o meu nome...
C: Eduardo. E esse outro aqui é o Renan. E esse aqui... Erik!!!
T: Ah, Erik! É bonitinho o Erik, hein.
C: E essa aqui é a Giovana.
T: Sou eu?
C: A Giovana da minha escola.
T: Ah, a da sua escola.
C: Essa é você, Giovana também.
T: Então tem duas Giovanas na casa.
C: É, por causa que tem a da minha escola. E esse aqui é menino.
T: Então deixa eu escolher um nome pra ele. ...... Renato.
C: Renato.
T: Põe ele lá no colo do vovô. (ele põe).
C: Esse aqui é homem, vai se chamar .... (fala ininteligível).
T: O quê???
235
C: (fala ininteligível)
T: Não entendi...
C: Tiamiteli.
T: Ti-a-mi-te-li???
C: É...
T: Nossa, foi você que inventou esse nome?
C: Hum-hum.
C:E a vovó vai ficar aqui?!
T: Não, né, senão ela vai cair, coitada...
T: põe ela lá na cadeira...
(trecho ininteligível em que o Erik imita os bonecos indo ao banheiro).
T: Quando você faz a gente vê, Erik?
C: Não, não pode.
T: (...) Esse aqui é o Erik, né....
C: É neném... Hahahahaha....
T: Que tamanho! E aquele outro ali! É mais neném que esse aqui!
C: Hahahaha....
(solta um pum e me olha com olhar desafiador) hahahaha....
T: Ih você faz isso na frente de todo mundo?
C: não... hahaha...
T: Cuidado hein, que tem gente que não gosta e pode ficar bravo com você...
C: Ta.
C: Esse aqui fez pum (o boneco).
T: E essa aqui saiu de perto porque ela não gostava dessas coisas.
T: Então ela desceu pra fazer café da manhã (movimento a boneca). “Vamos fazer café da manhã?” “Vamos” (imito 2 bonecos).
C: E eles vão descer. Vovô!!!!!!!!!!!!!! Caiiiiiiiiiiiiiiiu........
(joga os bonecos de lá de cima).
C: Tem que fechar as cortinas assim.... é por causa que pode escurecer.
T: Erik, você está indo na escola?
C: (fala ininteligível).
T: E tem lá alguém que te ajuda... que te ensina a falar? (mãe comentou sobre fonoaudióloga)
C: Tem.
T: O que ela faz?
C: Ela olha eu.
T: E é lá na escola ou é em outro lugar?
C: É em outro lugar, no médico.
C: E aí o vovô... (fala ininteligível)
T: Que o quê?
C: (fala ininteligível)
T: Quê?
C: Elas estavam fofocando sobre o vovô.
T: Ah então o vovô tem que fazer alguma coisa. E agora, como é que fica?
C: (Erik imita o “vovô” brigando): “Pede desculpa!”
T: “Desculpa, a gente não vai mais fazer isso”.
C: “Ta bom”.
T: Ela pediu desculpa, ela não quer mais fazer isso. Não adianta só pedir desculpa, né, não pode é fazer de novo.
C: (fala ininteligível).
C: Agora eu não quero mais brincar disso daí.
T: Quer brincar de outra coisa?
C: Daquilo ali! (aponta)
T: O pega-vareta?
C: Hum-hum.
T: (coloco o pega-varetas sobre a mesa)
C: Espera aí... isso aqui vai ficar aqui (Erik retira outros brinquedos que haviam sobre a mesa)... e isso aqui vai ficar aqui!
C: Quando eu era desse tamanhinho eu aprendi a jogar.
T: Assim??? (mostro a altura) Você já foi desse tamanho, Erik?
C: Já. E tem meu irmão grande, depois a Priscila, depois o David, depois eu pequenininho. (segura as varetas).
T: Erik eu não sei se eu brinco do mesmo jeito que você, ta. Vamos ver... às vezes nós sabemos de jeitos diferentes.
C: É assim, tem que jogar e pegar. E não vale roubar, hein?
T: Ta bom, nem eu nem você.
C: (joga as varetas e elas se espalham demais). Aaaahnnn...
T: não pode assim?
C: Não.
236
T: Então faz assim: pega com as duas mãos... assim... e solta as duas ao mesmo tempo (seguro as mãos dele).
C: Assim dá (as varetas caem certo)
T: Dá né... melhorou...
C: Eu vou mostrar como faz. Assim é tesoura, papel e pedra (mostra com as mãos). Vai!
T: Peraí... pra que fazer isso?! Pra ver quem começa?
C: Hum-hum.
T: Então é papel...
C: Pedra...
T: E tesoura?
C: Tesoura.
C: Impar ou par! Cortei (ele jogou tesoura e eu papel). Aêeee!!! (retira uma vareta). Agora você.
T: É difícil, né, Erik, não vale mexer, não é?
C: É.
T: (jogo)
C: Ah é, é isso,né...
T: É isso o que?
C: Vou te pegar!
T: Não, não vá pegar ninguém não! (falo em tom natural) (jogo novamente)
C: Você pegou com a mã-ao!!!!
T: Não pode?
C: Não.
T: Ah, eu não sabia, então deixa eu fazer de novo. Vou tentar pegar uma difícil.
C: Esse aqui ta difícil (fala na vez dele). (A mesa se mexe muito)
T: Eita, mas deixa a mesa! Vamos fazer assim? Segura a mesa aí como seu joelho que eu seguro daqui com o meu.
C: Ta. Eu vou pegar um difícil.
T: Qual é?
C: Esse daqui.
T: (joga)
C: (Erik puxa as varetas, elas se mexem mas ele as pega mesmo assim)
T: Opa, esse não valeu, né.
C: Não valeu, não valeu (devolve)
T: E nem o outro, né.
C: Nem o outro... (devolve).
T: Porque não pode mexer, né...
C: Vou pegar essa...
T: Isso... muito bem!
C: Acabou, agora é contar. Quer ver que eu ganhei de você? (conta em silêncio e eu tb). Dezesseis!
T: E eu também dezesseis.
C: Empate??? Deixa eu ver quantos você fez??? (se levanta, pega as minhas varetas e começa a contar). Dezesseis e o meu deu
dezessete.
T: Você falou dezesseis, lembra?
T: Conta de novo.
C: Um... dois... três..
T: Quatro... (vou contando junto com ele, ambos em voz alta).
C: ... dezesseis.
T: É... dezesseis... vamos ver o meu? Um... dois... três...
C: Quatro... (Erik vai contando junto comigo).... dezesseis.
T: Empatamos!!!!
C: Não... eu.... um, dois, três... (recomeça a contar os seus pontos)... dezesseis.
T: E aí, não empatamos?
C: Não!
T: Se você fez dezesseis, e eu fiz dezesseis, não empatamos?
C: Sim.
C: Agora você que joga ta?
T: Ta. Também é bom empatar, né.
C: Às vezes é bom ganhar, né.
T: Às vezes é bom ganhar sim... às vezes a gente ganha, às vezes a gente empata... e às vezes a gente perde.
C: Às vezes a gente ganha... e aí quem ganha tem que dar ponto pra quem ta perdendo...
T: Mas pode fazer isso?
C: Pode. Porque tem muito. É assim: O outro tem assim: (mostra as mãos vazias), e você tem assim: (mostra os dez dedos da
mão). E aí você tem que dar pro outro...
T: Mas não é contra as regras do jogo?
C: É ruim porque Deus não gosta disso. Tem que ajudar.
237
T: Mas sabe como a gente pode ajudar também? Eu tive outra idéia... Você ta sem pontos, e eu estou com
dez.... você falou que eu podia te dar pontos, né?
C: Hum-hum.
T: Ta certo, mas sabe outro jeito também? Eu posso te ensinar a ganhar pontos!!!!
C: Hum-hum.
C: Vai, joga, você.
T: Então se acontecer isso... se eu estiver sem pontos, você me ensina?
C: Mexeu.
T: Então ensina pra mim... como eu pego?
C: Ó... você pode pegar esse... pode pegar esse...
T: Então vai, você q ta me ensinando hein? É esse aqui? Como eu jogo, bem rápido???
C: Não... devagarzinho.
T: Ah, devagarzinho! Então ta. (jogo). Aaaah! Legal... você ensina bem, hein, Erik!!! Agora eu estou com ponto, viu!!! Ó, bate aqui!!!
(batemos as mãos)
(C joga) T: Caramba!
C: Olha a boca!
T: Porque?
C: Isso aí é palavrão...
T: Não... palavrão é outra coisa parecida com isso... q eu não vou falar.
C: Vai. Joga pra cima.
T: Pra cima? Com força ou devagarzinho?
C: Devagarzinho.
C: Eu acho q vai empatar.
T: É... porque a gente ta os dois jogando muito bem né.
T: E aqui, jogo devagarzinho ou com força? De assim, ou de assim?
C: Devagarzinho... de assim...
T: Ih errei.
C: Você tem uma vida.
T: Uma vida?! Quantas vidas eu tenho?!
C: Você vai de novo.. e agora ta facinho...
T: (erro). Gastei minha vida, agora, né.
C: Não. Quando você for de novo... você vai ter uma vida...
T: Toda vez, eu tenho uma vida?!
C: É.
T: Eu não sabia dessa regra hein.
T: Sabe um jeito que eu jogava? Era assim, ó... não era com a vareta, era com o dedo... assim, ó... aperta aqui...
C: Aaaah, eu sei!!!!! Aperta aqui... aperta aqui... e aí vai... é assim, né?
T: Isso... mas pode continuar... só mostrei porque às vezes não dá pra usar a vareta...
C: Então quando precisar usar a vareta, usa, e quando não, aí vai com o dedo assim.
T: Então vai, é a sua vez.
C: (joga)
T: Esse não precisou do dedo. (jogo)
C: Mexeu!!! Uma vida...
C: Depois vamos brincar daquilo, e daquilo, e daquilo???
T: Não sei se a gente tem tanto tempo, ta? A gente tem uma hora juntos, toda semana. Vai dar tempo de brincar com só mais um
brinquedo, ta... aí você escolhe.
Um... dois... três... (...) dezesseis.
C: (conta em silêncio). Dezesseis....
C: vamos contar de novo.
T: Nós já contamos, Erik... Dezesseis.
C: Então empatou. Agora você joga...
T: Vamos juntos?
C: Vamos.
T: Vai, vamos ver o q q dá, hein?
C: Já!!!! (soltamos as varetas) Agora é com o dedo assim... e tem a pedra...
T: E como é que fala?
C: Você tem que falar “impar ou par”...
T: Ah, não é mais ou pedra papel e tesoura?
C: É, você quer ser ímpar ou par?
T: Par.
C: Eu quero ser ímpar. “ímpar ou par” (colocamos as mãos). “ïmpar ou par” (colocamos novamente).
C: Isso aí não vale.
T: O que é que vale?
238
C: Pedra, papel ou tesoura.
T: Ah, esse aí é outro jogo...
T: sabe como é que faz o ímpar ou par? É assim, ó...
C: (me interrompendo) Oooolha..... se você faze pedra, você ganhou, se você fazer chuva... e tem o buraco também... vai... ímpar
ou par!
T: (jogamos... eu faço a pedra e ele faz a chuva).
C: Ganhei.
T: Porquê, o que a chuva faz?
C: Molhou a pedra.
T: Hahaha... e a pedra não podia bater na chuva?
C: Não...
C: então vai de novo.
T: (faço a tesoura, ele faz a chuva)
C: Ah, ganhei, te enferrujei!!!
T: Me enferrujou???? Hahaha...
C: Vai, você começa.
T: Você ganhou de mim, pode começar.
C: (começa).
T: Quer ver um jeito que eu faço?
C: Vai.
T: Eu seguro assim, na pontinha, sem cair... olha lá...
C: E eu seguro assim, ó...
T: Mexeu...
C: Eu posso pegar...
T: Porquê???
C: Por causa que... (fala ininteligível)
T: Agora tem um monte fácil. Você gosta quando ta só fácil, ou quando ta difícil também?
C: Os dois.
T: Eu também.
C: E agora tem pouco!
T: É, ta acabando.
C: Ah não vale...
T: Claro que vale, o que vale pra você vale pra mim... (uso a regra q ele criou antes).
Agora vamos contar... um, dois, três... dezesseis! Empatou, Erik.
C: Duvido.
T: Viu só... é o mesmo número...
C: E quantos você tem?
T: Dezesseis.
C: Mentira!
T: Empatou.
T: Agora, só dá tempo de brincar de mais uma coisa, ta. Do que você quer brincar?
C: Do que você quer?
T: Pode escolher, olha, que tal desenhar?
C: Tá.
T: Vamos cortar esse papel aqui pra usar... olha a tesoura aqui, eu seguro e você corta ta?
C: Eu queria canetinha...
T: Ela ta aqui...
C: Eu vou fazer o desenho mais bonito.
T: Eu vou usar a canetinha daqui.... e você usa esse (giz).
T: E se todo mundo usar as canetinhas? Aí não fica faltando pra ninguém, não é?
C: Eu posso usar esse aqui também?
T: Pode!
T: O que vamos desenhar?
C: Desenha o que você quiser... Qual desenho ficar mais bonito, ganha.
T: Ganha o quê????
C: É uma brincadeira... não ganha nada...
T: Ahn, não ganha nada...
T: O que você vai desenhar? Vai desenhar um, e eu faço outro, ou vamos fazer juntos?
C: Você faz um. Eu faço outro. Eu vou fazer essa casa aí (a casinha de bonecas).
T: Ahn, legal... vou fazer também.
T: É vermelho, né, deixa eu pegar o vermelho...
T: Começa! (ele está parado).
C: Vamos fazer o desenho até acabar, aí outro dia a gente pinta?
239
T: Pode ser...
T: quer q eu guarde pra você?
C: Hum-hum
(pintamos em silêncio).
C: Quando que eu vou voltar?
T: Você vai voltar sexta-feira que vem.
C: Ah, mas vai demorar muito.....
T: Que dia é hoje, você sabe?
C: Quinta.
T: Não, hoje é sexta. Você vai voltar toda sexta.
C: Amanhã é sexta, e eu vou voltar aqui....
T: Não, amanhã é sábado.
C: Amanhã eu tenho escola?
T: Amanhã não tem. Hoje é o seu último dia de escola da semana, toda vez q for seu último dia de escola é o dia q vc vem, aí fica
fácil de guardar na cabeça.
T: Depois do sábado é???...
C: Quarta!
T: Não... que dia que não tem aula.... sábado e....?
C: Terça! Quarta.
T: Do.....
C: Domingo!
T: Isso, sábado e domingo que não tem escola!
C: Eu estou na creche!
T: Na creche?
C: Eu estou na creche, o David ta na escola... e ele não sabe passar manteiga no pão!
T: Nossa, e quantos anos que ele tem?
C: Não sei.
T: Tem vinte? Ou menos?
C: Vinte.
T: Vinte e não sabe passar a manteiga?
T: Ah, Erik, pergunta a idade dele certinho... se ele tivesse vinte, ele saberia.
T: Quantos anos você acha que eu tenho?
C: Dez.
T: Dez? Não.
C: Nove.
T: Hum-hum. Tenho mais.
C: Oito.
T: Não, não é oito. É mais.
C: É assim? (mostra com as mãos).
T: Não. É mais que dez. E mais que nove. Você ta diminuindo, e eu estou falando que tenho mais. Eu tenho mais que todos os seus
dedos da mão abertos. Tinha que ter mais uma mãozinha aqui.
C: põe a mão aqui então.
T: (coloco minhas mãos abertas também). E mesmo assim eu tenho mais do que tudo isso.
C: Aaaaaaaaaahhhh!!!!!!!
T: É. Se eu escrever você adivinha quanto que é? Vou colocar aqui no papel, como se fosse o número da casa. Essa é a minha
idade.
T: Qual é? (escrevo “22”).
C: Quatro.
T: não, esse é um dois, não é?
C: Dois e dois.
T: dois e dois, isso, vinte e dois.
C: Eu tenho assim (mostra o sete com os dedos).
T: Ué, no começo você disse que era seis. Você vai fazer sete, não é?
C: Não, vou fazer assim (mostra oito dedos).
T: Que dia é o seu aniversário?
C: Não sei, não vai ter bolo.
T: Não, e porquê, Erik?
C: Minha mãe não tem dinheiro.
T: Não tem dinheiro pro bolo... e na escolinha, tem bolo?
C: Tem.
T: Então vai ter lá?
C: A Priscila teve um monte de bolo.
T: A Priscila é pequenininha ou é grande?
240
C: Grande, ta na escola.
T: E você vai sair da creche no ano que vem?
C: Hum-hum, no ano que vem sim.
T: Ó o que eu fiz? (mostra o desenho)
T: Nossa, o que é que é isso?
C: É um pássaro.
T: Era pra ser a casa no começo, né... você mudou e idéia e fez.
C: Ficou legal!
C: Cadê o banheiro (pergunta sobre a casa q estou desenhando).
T: Ah, é mesmo, vou fazer o banheiro aqui no meio (desenho).
T: Legal o que você fez, você começou com uma casa e terminou com um pássaro.
C: Eu fiz só o teto da casa.
T: É, e depois você mudou.
C: Hum-hum. (fala ininteligível)
T: Você ta acabando? O nosso tempo já acabou... se não estiver, a gente pára e continua depois, na semana que vem.
C: Eu queria ir pra escola.
T: A escola do seu irmão?
C: Não, a minha escola.
T: Ah, a creche.
C: É por causa que lá é legal.
T: E aqui, você achou legal?
C: Achei.
T: Você quer voltar de novo?
C: Quero. É amanhã
T: Não, amanhã não vai dar. Amanhã aqui não abre...
C: Porque não?
T: Porque aqui é igual à escola, não abre de fim de semana.
C: Quando eu voltar quero brincar daquilo ali.
T: Hum-hum, você lembra de pedir? Não me deixa esquecer não.
C: Nós temos que pintar rápido.
T: Agora não dá tempo, Erik, o tempo acabou.
T: Olha o vovô, ficou parecido?
C: Ficou. E eu fiquei com cara de vovô.
T: Você ficou!
C: Amanhã quando eu terminar o desenho eu vou brincar com o carro... e a casinha.... (vai enrolando o papel para guardá-lo).
T: ê já pensou um monte de coisas, né... que bom.
C: (me dá o papel).
T: obrigada.
C: De nada. Amanhã a gente vai brincar de tudo isso. (fala ininteligível) Quando eu vier a gente vai brincar de tudo né?
T: É, nunca dá pra brincar de tuuuudo... você vai ter que escolher. Mas não precisa ter pressa não! Vamos?
C: Hum-hum.
ERIK 2
A
SESSÃO 19 DE NOVEMBRO
(OBS: ERIK FALTOU TRÊS VEZES. SEGUNDO SUA MÃE, FOI PORQUE SEU AVÔ FOI ESFAQUEADO)
(C olha para mim e sorri)
T: Mas que cara alegre!!!
T: E aí... o que você achou da conversa com a sua mãe...?
C: Foi bem...
T: Lembra do que eu falei? Se você quiser falar qualquer coisa, você pode falar, ta? Se tiver alguma dúvida... se quiser perguntar...
pode ser muito curioso comigo... ta bom?
T: Quer perguntar alguma coisa agora?
C: Não...
T: Quer brincar?
C: Quero.
T: Do quê?
C: (fala ininteligível Erik explicando que não pôde trazer o papel que eu dei na sessão anterior)
T: Ah, aquele que você levou?
C: Hum-hum.
T: A gente faz outro então. Ta bom assim?
241
C: Hum-hum. Você é muito legal.
T: Eu sou legal? Você também é legal!
C: (fala ininteligível)
T: Fala devagar, Erik... senão eu não entendo...
C: Depois você me ensina como brincar disso daqui, ó?
T: Ah! Claro, só não sei se vai dar tempo... mas se não der, eu guardo e trago de novo na semana que vem ta bom?
C: Eu vou desenhar... adivinha o quê?
T: Você?
C: Não.
T: Uma casa?
C: Não.
T: Dá uma dica.
C: Uma dica? Começa com cá! Cá!
T: Caminhão? Carro? Caminhonete? Carrinho?
C: Não, não é nenhuma coisa de rua!
T: Ah não é de rua... hum....
C: Tem aqui...
T: Câmera??? Aquela lá?
C: Hum-hum.
T: Você vai desenhar?
C: Eu vou tentar.
T: Nossa, é difícil, hein.
C: E também tem aquela luzinha...
T: Ah mas aquela luzinha não é da câmera...
C: É do quê?
T: É da sala. Olha tem um monte de canetinha aqui.
C: Cadê a preta? Ah, não vou fazer isso mais não... vou fazer outra coisa...
C: adivinha...
T: É daqui da sala?
C: Não...
T: Então dá uma dica.
C: Começa o ”ua”
T: “Ua”??? Que dica difícil hein.
C: Tem lá fora.
T: Árvore?
C: Não... tem onde você pegou eu. Você lembra quando eu estava brincando?
T: Ai eu não sei... vai, fala o que é...
C: É um quadro. E tem aqui! Esse daqui, ó. Eu vou tentar fazer esse daqui!
T: Eu vou fazer...
C: Ah, dicaaaaaaaaa!!!!
T: Peraí que eu não pensei ainda... hum.... tem aqui.
C: Isso?
T: não.
C: Isso?
T: não.
C: Isso?
T: Ta na parede.
C: Isso aqui!
T: É, acertou...
C: E eu vou fazer o outro...
T: O que tem nesse quadro hein?
C: Coisas do mar.
T: Coisas do mar! Tem muitas coisas do mar pra se fazer hein....
T: Vamos fazer os dois, coisas do mar?
T: Eu vou fazer um peixe.
C: E eu vou fazer um tubarão.
T: Faz, eu quero ver...
C: Eu não sei se vai ficar bom...
T: Não tem problema se não ficar perfeito viu...
C: Que peixe que é assim???
T: Peixe de desenho é assim. (meu desenho)
C: Eu nunca vi peixe assim.
T: Isso aqui é a escama dele.
242
C: Escama.... Ah eu vou mudar.... eu vou fazer o picachu...
T: Picachu??? Faz...
C: Eu vou tentaaaaaaaar.....
T: Eu sei que você vai tentar!
C: Bem pequenininho....
T: Ta fazendo!!! Oba!
C: Não é um peixe. Isso aqui é a orelha dele...
T: Eu lembro como que é o picachu... ainda tá passando picachu na TV??? Tinha parado...
C: Ta sim. Todo dia.
T: Olha a boquinha dele!!! Ta ficando legal...
C: Vai ficar um pouco errado, porque eu não sei fazer direito um pouco viu...
T: Tudo bem... meu peixe também está um pouco errado... e outra, pra ficar certinho, só se a gente pudesse tirar foto!
C: Agora o rabinho dele...
T: Olha... é assim mesmo o rabinho dele hein... eu nem lembrava! Agora que você desenhou que eu lembrei...
C: Eu estou tentando fazer.... o-ow.... Pronto.
T: Nossa, e como que é o picachu? O que ele fala?
C: “Picaaaaaaaaaaaaaaaaaaa” E é daqui que sai o raio dele...... “Picaaaaaaaaaa......chuuuuuuuuuu..........”
T: Ele ta com raiva?
C: Ele ta tacando raio.....
T: Ele ta bravo?
C: Ele não ta bravo. “Picaaaaaaaaa...... chu!”
T: O que ele ta sentindo?
C: Muito nervoso. Ele vai tacar raio no inimigo....
T: E depois que ele ataca?
C: Aí ele fica correndo rápido.... (corre)
T: Cadê o inimigo dele? Vamos desenhar o inimigo dele?
C: Hum-hum. Vai ser...... um peixe! O Picachu tava tentando pegar um peixe com muitos raios. (desenha muitos raios) Ele tá muito
nervoso e quer atacar tudo. Tudo o que estiver na frente dele, ele ataca.
C: Faz um peixe, por favor?
T: Mas você sabe fazer...
C: Eu não sei bola...
T: olha, eu vou fazer só a bola então ta...
C: Tá....
T: Pode ser de azul?
C: De verde.
T: Ta. (faço a bola e ele completa o desenho)
C: Faço aqui... e aqui... e aqui....
T: Ta bravo esse peixe?
C: Não.
T: Não? Ta feliz?
C: Ta bravo!!!
T: É, ta até mostrando os dentes!
C: E o Picachu soltou raio nele.
T: E porque que o Picachu ta nervoso com ele?
C: Por causa que ele quer comer o peixe.
T: E o peixe, quer o quê?
C: Ele não quer que seja comido..... Picaaaaaaaaa...... chu........... ai, terminei.
T: E depois, ele vai comer?
C: Não. Por causa que ele vai atacar a avó dele. (solta mais raios).
T: E quem vence?
C: O picachu.
T: E depois que ele vence, ele come o peixe?
C: Se o peixe morrer... (fala ininteligível) Ouououou!!! Comeu...
T: Caramba, que batalha hein. Esse picachu ta nervoso mesmo hein... olha só quanto raio!
T: E ele come como, cru, assado, temperado?
C: Ele queima o peixe e come...
T: Queima e come... com sal?
C: Com sal não... doce... e aí ele fica com dor de barriga, e catapora...
T: Catapora! Também... comeu peixe com açúcar...
C: Muita catapora.... e aí fim.
C: Quer fazer a sua história?
T: Vamos pensar o que vai acontecer com o Picachu agora... será que tem alguém pra cuidar dele?
C: Tem. Um menino.
243
T: Então vamos fazer aqui... você fez o começo... e aqui vamos fazer o final... então agora um menino vai cuidar dele...
C: É, um menino vai cuidar do picachu (desenha).
T: O que é isso? É um X no coração?
C: Não, é um X na blusa (do menino).
T: Porque?
C: Porque ele ta muito nervoso, por causa que a mãe dele mandou ele pôr a roupa...
T: E o Picachu, onde que ele entra na história? Ele estava lá, doente...
C: O Picachu ele fugiu, quando ele estava doente. E aí o menino ficou chorando. (desenha). E não era a mãe.
T: Era o quê então?
C: Era uma inimiga. E o picachu vai matar ela (solta raios). Hurrahhhhh.... Picaaaaaa... chuuu.... (fala ininteligível) O Picachu tava
cego. Tava olhudo. Ele comeu os olhos, nham nham.
T: Deixa eu entender... o Picachu matou a mãe?
C: Não, ele matou a inimiga...
T: A inimiga antes era a mãe...
C: É, aí ele descobriu que na verdade ela era inimiga, e matou ela.
T: Ah, ele descobriu e matou ela, com esses raios todos aqui!
T: E quando o menino e o Picachu se encontraram o que aconteceu?
C: Ele ajudou o Picachu, porque o Picachu estava muito guloso, estava comendo tudo...
T: Que bom que o menino conseguiu ajudar ele...
C: Agora vamos fazer um mar pro seu peixe...
T: Vamos sim...
C: No mar tem muita água... você fez só uma!
T: é, tem que fazer mais então... me ajuda? Faz desse lado que eu faço do outro e a gente emenda no meio... (fazemos)
T: Erik, o que esse peixe está sentindo? Ele ta triste? Feliz? Com raiva? Contente? Chorando? Sozinho?
C: Ele ta chorando.
T: Então eu vou colocar lágrima no peixe.
C: Ele ta chorando por causa que a mãe dele ta demorando.
T: Cadê a mãe dele?
C: A mãe dele foi embora, a mãe dele morreu.
T: morreu? Então eu vou fazer ela aqui do lado, pode?
C: Pode. Faz um caixão em volta dela.
T: Um caixão? Aqui? Faço.
T: E agora, o que vai acontecer com o peixe, que ta sozinho e a mãe morreu?
C: O pai dele estava morrendo também. (fala ininteligível).
C: Faz um peixe aqui, por favor.
T: Faço... agora eu faço mas vc segura a minha mão ta?
C: Não, eu consigo, eu sei, eu sei...
T: Então faz...
C: (faz)
C: Ta meio pequeno...
T: Mas termina... vamos ver o que sai...
T: Esse é o pai?
C: é.
C: Ta certo?
T: Ta certo! Esse é o peixe-pai.
C: O peixe salva o pai, ele ta tacando raios.... E o pai está feliz que a mãe morreu.
T: Porquê?
C: Por causa que ele não gosta da mãe dele.
T: Mas ele salva o pai?
C: Não, ele ta triste porque ele ta matando o pai, por causa que ele não gostava da mãe.
T: Mas ele não estava era salvando o pai?
C: Não, ele estava tentando salvar, mas ele estava era matando, por causa que se solta raio no pai, mata o pai!
T: Ah entendi, então ele achou que estava salvando, mas estava matando?
C: Ele não queria matar....
T: E o peixe vai ficar sozinho na água?
C: Ele vai ficar com o amigo dele.
T: Então faz...
C: Mas é um amigo só... só um amigo ele tem...
T: É peixe ou é gente, esse amigo?
C: É gente.
T: Então eu vou fazer ele aqui em cima da água, num barquinho.
T: É menino ou menina?
C: Menino.
244
C: Faz uma bandeira no barco!
T: (faço)
T: O que tem na bandeira?
C: Ouviram do Ipiranga às margens plácidas!!! (canta)
T: Ah é do Brasil?
C: Hum-hum!
C: Eita que menino cabeçudo você fez!
T: É, ele era cabeçudo sim...
C: E ele tem que ter um negócio pra pegar o peixe.
T: Ele pega o peixe com o quê, uma rede?
C: Não , um negocinho...
T: Faz, que eu não sei o que você ta falando...
C: (desenha)
T: O que é, é um bolso?
C: Não, é um quadrinho, onde o peixe vai ficar. Pronto, terminou!
C: Vai dar pra brincar de mais alguma coisa?
T: Não vai dar, o tempo acabou. Você gostou dessa outra brincadeira né? Então semana que vem eu trago pra gente.
Eu gostei muito dos seus desenhos, viu? Você falou que sabe desenhar mais-ou-menos... olha o tanto de coisa que você fez! Você
sabe... Você vai levar?
C: Quer que eu leve, ou não?
T: Eu posso ficar com eles de presente?
C: Você me dá só esse daqui? (o do peixe).
T: Ta.
C: Minha mãe ta cansada, ela chegou aqui e dormiu... Eu vou mostrar o desenho pra ela.
C: E o meu?
T: Eu vou mostrar também.
ERIK 3
A
SESSÃO
(CONVERSO COM A MÃE DE ERIK. ELA FALA NOVAMENTE SOBRE “DAR” OS FILHOS ETC, MESMO ASSUNTO DA OUTRA VEZ... ELA
MESMA PEDIU PARA FALAR COMIGO... QUIS FALAR SEM A PRESENÇA DE ERIK, MAS ELE ENTROU NA SALA E ACABOU
PARTICIPANDO DO FINAL DA CONVERSA).
T: A sua mãe parece estar bem nervosa né...
C: Hum-hum.
C: É que quando ela fica... (fala ininteligível) é quando (...)
T: Como que é?
C: (fala ininteligível)
T: Por causa do que, Erik?
C: (...) acordando ela.
T: Ah, ficam acordando ela?
C: A Priscila, minha irmã.
T: O que ela fala quando ela fica nervosa, Erik?
C: Ela dá bronca.
T: E aí o que ela fala?
C: Ela fala: “Priscila, pára!”
T: E pra você o que ela fala, Erik?
C: Pra mim ela não fala nada, por causa que eu não acordo ela...
T: E quando ela fica brava com você, o que ela fala?
C: Ela fala: “Ah, Erik!”
T: Mas o que você estava fazendo quando ela diz isso?
C: Eu paro!
T: Você pára, mas o que estava fazendo que ela mande parar?
C: Eu esqueci...
T: Você esqueceu? Ah... Era alguma coisa que ela não gosta?
C: Hum-hum!
T: (...) Você queria que a sua mãe ficasse menos nervosa?
C: Hum-hum!
T: Então quando eu chamar ela aqui, vou conversar com ela... pra gente ver se consegue que ela fique menos nervosa ta.
T: Olha o jogo que eu trouxe pra você!
C: Aaaah!!!
245
T: Você tinha falado dele, lembra?
C: Vamos jogar!
T: Você conhece as letras? (jogo das letras)
C: Eu sei um pouco.
T: (começo a tirar as peças) Me ajuda?
C: (tira também)
C: Tem outro “E”?
T: Vamos procurar...
C: (acha)
C: (escreve) Eu escrevi “Erik”...
T: Deixa eu ver?
C: Aqui , ó... “E-ri-e-u-Costa Santana”... (escreveu errado)
T: Você sabe escrever meu nome?
C: Não...
T: Quer que eu te ensine?
C: Hum-hum!
T: Deixa eu mostrar como que escreve o meu nome. Primeiro é o “G”, esse aqui T: (mostro uma letra)
C: (pega a letra)
T: E depois é o “I”. O “I” você conhece...
C: Esse aqui? (aponta uma letra)
T: Não... o “I”... tem no seu nome...
C: Ah eu sei... é esse, não é (mostra)
T: É esse aí!!!
T: Agora “O”
C: Eu tenho?
T: Você não tem.
C: Esse?
T: Parece esse... só que é redondinho... ôoooooooo......
C: Uma bola?
T: É!!!! Gi-o....
T: Agora é o “V” (=“pegue o V”)
C: Esse? (não era)
T: O “V” parece sabe qual? Ele parece o “A” de ponta cabeça.
C: Esse daqui?
T: Esse daqui é o “A”, ta vendo? O “V” parece o A de ponta cabeça, assim (mostro), só que sem esse tracinho do meio.
C: Ah, agora eu sei! (pega)
T: Isso mesmo!
T: Só que aí você deixa ele assim... (viro ele, que estava ao contrário)
C: Giovâ...
T: Quando você colocar o A, vai ficar gi-o-vâ...
C: (coloca)
T: Gi-o-va...
C: na!
T: Isso, só falta o NA!!!
T: Agora coloca o N...
C; É esse aqui?
T: Não... o N... é esse aqui, to... Agora só falta o A....
C: Esse aqui?
T: Não... o A você já até usou...
C: Ah, é esse?
T: Isso mesmo, Erik!!! Giovana!!!
C: Gi-o-va-na.
T: Hum-hum!
C: (fala ininteligível)
T: Põe aqui também, o seu nome... (no tabuleiro)
T: Tem mais letras, o seu nome?
C: Tem, tem mais letras!!! Erik Costa Santana!
T: O seu nome já está aqui... Falta o Costa Santana...
C: Hum-hum. Agora falta uma que é muito fácil... Olha... E-ri-el-cos-ta-san-ta-na.... (está soletrando letras q não são equivalentes,
pois só estava escrito “Erik csta”)
T: Olha... E-ri-el..Csta... tá faltando um O aí, vamos colocar o O que está faltando? O “O” você lembra como que é, né? É a bola,
lembra?
C: Lembro. (pega)
246
T: (coloco no lugar que falta). Vamos?
C: Erik Cós-ta-san-ta-na...
T: O “Santana” ainda não está aí, Erik...
T: Vamos escrever ele?
C: Não, deixa assim...
T: Erik Costa então.... E-ri-el-cos-ta....
C: Vou colocar elas aqui... (coloca as letras no tabuleiro, encerrando o jogo)
T: Ué, cadê o seu nome? Você está só pondo as letras, né?
C: É, eu vou pôr todas as letras aqui...
T: Vamos colocar todas as letras que você conhece?
C: Hum-hum.
T: O “E” você conhece, né? O “R” você conhece também?
C: Hum-hum! (pega) Eu eu também conheço essa daqui!
T: Mas como ela chama? Se você conhece, qual é o nome dela?
C: Erik Costa...
T: Mas isso não é a letra... como chama essa letra? Essa letra chama “A”... olha só quanto “A” aqui....
T: e essa?
C: “E”?
T: Não, é o “I”...
T: será que tem mais “I”?
C: Aqui tem.
T: E o “L”? Você conhece, ta no seu nome também.
C: Esse aqui?
T: É... é o “L”...
T: tem outra que você também já conhece... é a primeira letra do meu nome... Gi-o-va-na...
C: Essa daqui?
T: Não... essa daqui...
C: Essa?
T: Hum-hum... é o “G”... agora você já conhece...
C: Eu vou colocar tudo aqui... vamos ver se cabe tudo... vou colocar bem rápido... eu acho que vai faltar letra... (coloca todas)
T: Vamos escrever no papel, o seu nome? (levanto e pego o papel) Vamos ver se eu sei escrever o seu nome, hein...
C: Eu sei escrever... eu escrevo pra você copiar...
T: Não, não vale copiar não... eu quero ver se eu sei escrever! Então conta pra mim como que escreve?
C: “E”...
T: Assim né? (escrevo)
C: “RI”....
T: Então qual que é a próxima letra? É o R??? Esse, né...
T: E depois do R?
C: Esse...
T: “I”......
T: e depois?
C: “E” de novo...
T: Isso, “E” de novo....
C: e depois esse daqui.....
T: “L”...
C: E esse aqui.
T: “C”...
C: Depois uma bola!
T: “O”, a bola você sabe que é o “O”..... olha só, a minha boca abre igual um “O”, olha... ôoooo...
C: Hahahah...
T: Viu, não tem como esquecer o “O”, faz você...
C: “ôooooo”.... agora esse...
T: O “S”, que é uma cobrinha...
C: (aponta o T e o A)
T: T.. e A....
T: “Erik Costa”!!!!
T: Agora deixa eu ver... escreve o meu?
C: (fala ininteligível)
T: Primeiro é o “G”, o G é esse aqui, ó... (mostro uma pecinha G)
C: IH eu não sei não!
T: Olha, ele parece o O, só que aqui ele vira...
T: Iiiiisso!!!!
T: E agora é o “I”, igual ao que tem no seu nome!
247
C: (escreve)
T: Agora... como chama essa letra?
C: “O”....
T: Isso!!!
T: Agora é o “A”
C: (escreve)
T: O “N”....
C: (escreve)
T: E o “A”...
C: “A” de novo?
T: Isso... pronto!!! Viu, agora temos os nossos nomes escritos!!!
T: Vamos fazer alguma outra coisa no papel, ou não?
C: Não...
T: E o que você quer fazer, Erik?
C: Brincar de outra coisa...
T: Do quê?
C: O que tem ali em cima?
T: Tem tinta... e lápis de cor....
C: Posso subir na cadeira?
T: Pode sim!
Não sobe nas duas juntas não que fica meio bamba.
C: (retira as coisas de cima da cadeira, sobe e pega as tintas)
C: O que é isso?
T: É aquele alvo que estava na parede, tiraram.
C: Eu quero brincar disso...
T: Se você achar a flechinha dá pra brincar....
C: (continua procurando) Que bonitinho, o que é isso?
T: É de pintar...
C: Como que pinta?
T: Cada negocinho desses aí é uma cor... e aí você vai trocando as cores...
C: Não estou achando....
T: O que você ta procurando?
C: A flechinha.
T: Deixa eu ver se eu acho.. Ah, eu achei, Erik... ela está quebrada, olha...
C: Nossa, um relógio
T: É... só que não ta funcionando..
T: você sabe ler a hora?
C: (pega para consertar)
T: É, dá pra brincar com ele, mas funcionar não funciona, ta precisando de conserto...
C: Ah, agora que eu sei do que eu quero brincar... (bate no telhado da casinha)
T: Ãh? Quer brincar de casinha?
C: Hum-hum! Olha o nenê ta chorando.... “Unhe, unhe, unhe!!!!” “Pára de chorar, ouviu??? Tem gente que quer dormir aqui!!!”
T: Eita, agora ela fez igual à sua mãe dormindo, não fez?
C: “Unhe, unhe”... (fala ininteligível) “Ah, socorro, eu vou cair!!!!!” Morreu. “Eu vou te salvar, lá vai eu!!!!!! Iáaaaaaaa, socorro!!!!”
T: Salvou ela?
C: Hum-hum, ela não morreu.
T: Que bom!
C: Mas o neném ainda chorava. “Unhé, unhé” ...vem, nenezinho... “Dorme neném, que a cuca vem pegar....” (Poe no colo)
T: Ah o neném estava era querendo colo!!!
C: Ele dorme assim.... (arruma os bonecos)
T: Ele vai mamar no peito?
C: Claro que sim!
C: Chup chup chup.... ó o peito da mãe como que é!!! “Aaaaaaah, Socorro!!!!!! Vovô, Socorro!!!!!” (começa a jogar os bonecos da
casinha) “Acoooooooode!!!!!!!”
T: Quem é esse?
C: É o pai: “Querida! Querida! Querida!” “Levante, querida, marida!” (fala ininteligível, imitando os bonecos).
C: Dá tempo da gente brincar de mais alguma coisa?
T: Vamos ver, pegue aquele relógio ali....
C: Nove e meeeeia... (fala olhando pro relógio, mas é impossível porque é de tarde)
T: Heheh, não é nove e meia.... (olho o relógio).
T: Olha, dá tempo de brincar só mais um pouquinho.
C: Quer brincar comigo na casinha também?
T: Vamos. Quem que mora aqui então? O vovô... o bebê... a mamãe...
248
C: É, e tem que arrumar a casa... estou tirando tuuuuuudo.... pra arrumar a casa.... (algo do tipo: depois que todos se jogaram da
casa, a casa tinha que ser re-arrumada, mudando todos os móveis de lugar)
T: (tiro junto com ele, de repente acho um boneco pelado dentro do armário) Huuuu... Erik...
C: O quê? Hahahaha... O-oh... ui ui.... olha tem que fazer uma limpeza... isso vai pra fora... pra fora... eles tiraram tudo!!!
T: Esse aqui, é o quarto de quem? (já estamos recolocando os móveis)
C: Esse daqui.... é o quarto do vovô. E isso aqui fica aqui.... O-oh, não cabe aqui não.. fica pra cá. E esse aqui fica pra cá.
T: A cozinha vai ficar aí?
C: Hum-hum.
T: E a sala?
C: A sala..... ela tava aqui, não tava??? Então tem que ficar ali.
T: Hum, e aqui vai ficar sendo o que?
C: Um quarto
T: A florzinha! To... (dou para ele colocar, vamos colocando juntos os móveis todos, em silêncio).
C: Isso vai ficar aqui, e isso ali..... (vai falando o que está fazendo).
T: Aqui então vai ser o quê, Erik?
C: (fala ininteligível)
T: Pegarem o quê?
C: (fala ininteligível, até p/ mim) Vai consertar isso aqui de presente pro vovô.
T: De o quê, surpresa pro vovô?
C: É. (fica arrumando uma cadeira por bastante tempo). Consegui. Agora vou colocar aqui. (a cadeira quebra novamente quando
ele a coloca na casinha). Ah desisto.
T: Desistiu? Não desiste não! (ele volta a tentar)
(mas vejo que ele não vai conseguir). T: Deixa eu te ajudar... pronto.
C: Bibi, Bi-bí, caminhão chegando, caminhão chegando.... (dirige um caminhãozinho)
C: Faltam quantos minutos???
T: Deixa eu ver, acho que já acabou... acabou sim. (olho o relógio)
C: Então vamos arrumar aqui.
T: Gostou de brincar com a casa?
C: hum-hum. E esse aqui que ficou pelado??? Tem que ficar de bermuda... “minha cueca caiiiiiu!!!”
C: Você dá uma folha pra mim???
T: O que você vai desenhar???
C: Três folhas.
T: Porquêeee???
C: Uma pra cada um (dos irmãos).
T: Cadê aquela tesoura que eu usei antes??? Me ajuda a achar? senão não consigo cortar...
C: Eu sei onde que está... (sobe na cadeira).
T: O meu Deus, mas eu usei ela... ela é rosa, Erik.
C: Você usou ela?
T: É, pra cortar esse papel que a gente escreveu o nome...
C: Olha, eu quero desse tamanho!!!
T: Ih desse tamanho só se for pros três juntos, ta?
T: Depois você traz o desenho pra eu ver na semana que vem?
C: Ta. Eu pedi um lápis pro meu irmão pra eu desenhar naquele outro desenho que eu levei da outra vez, mas ele não quis me dar,
sabia?
T: Ih, mas você tem que negociar com ele... não é de todo mundo usar???
C: Hum-hum.
C: Posso pintar aqui?
T: Não, não dá mais tempo... porque o tempo já passou ta?
T: Ih, pega pra mim por favor? (um lápis que caiu, ele pega)
C: Na outra semana então nós vamos brincar disso aqui...
T: Ta, você não esquece de trazer pra mim??? Eu estou curiosa pra ver o seu desenho hein!!!
C: Hum-hum.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo