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JULIANA ALVARES DUARTE BONINI CAMPOS
ESTADO NUTRICIONAL E EXPERIÊNCIA DE CÁRIE EM ESCOLARES
DA CIDADE DE ARARAQUARA (SP).
Tese apresentada à Faculdade de Odontologia
de Araraquara, Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”, UNESP, como parte
dos requisitos para a obtenção do título de
Doutor em Ciências Odontológicas (Área de
Concentração: Odontopediatria).
Orientadora: Profa. Dra. Ângela Cristina Cilense Zuanon
ARARAQUARA
2005
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2
JULIANA ALVARES DUARTE BONINI CAMPOS
ESTADO NUTRICIONAL E EXPERIÊNCIA DE CÁRIE EM ESCOLARES
DA CIDADE DE ARARAQUARA (SP).
Tese apresentada à Faculdade de Odontologia
de Araraquara, Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”, UNESP, como parte
dos requisitos para a obtenção do título de
Doutor em Ciências Odontológicas (Área de
Concentração: Odontopediatria).
Orientadora: Profa. Dra. Ângela Cristina Cilense Zuanon
ARARAQUARA
2005
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Campos, Juliana Alvares Duarte Bonini
Estado nutricional e experiência de cárie em escolares da
cidade de Araraquara (SP) / Juliana Alvares Duarte Bonini
Campos. – Araraquara : [s.n.], 2005.
118 f. ; 30 cm.
Tese (Doutorado) Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Odontologia.
Orientador: Profa. Dra. Ângela Cristina Cilense Zuanon
1. Estado nutricional 2. Antropometria 3. Cárie dentária
4. Estudos epidemiológicos 5. Saúde escolar I. Título.
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Marley Cristina Chiusoli Montagnoli CRB 8/5646
Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Odontologia de Araraquara / UNESP
4
DADOS CURRICULARES
Juliana Alvares Duarte Bonini Campos
NASCIMENTO 02.06.1974 – ARARAS (SP)
FILIAÇÃO Itacir Clóvis Bonini
Jandyra Maria Álvares Duarte Bonini
1994/1997 Curso de Graduação
Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP
1998/1999 Curso de Especialização em Odontopediatria
Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP
2000/2002 Curso de Pós-Graduação, Nível Mestrado, em
Alimentos e Nutrição. Área de Concentração:
Ciências Nutricionais.
Faculdade de Ciências Farmacêuticas – UNESP,
campus de Araraquara.
2002/2005 Curso de Pós-Graduação, Nível Doutorado, em
Ciências Odontológicas. Área de Concentração:
Odontopediatria.
Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP
5
DEDICATÓRIA
À minha mãe;
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...por mais que eu tente, as
palavras são instrumentos imprecisos e insuficientes para traduzir a gratidão, a
saudade e o desejo que sinto de tê-la novamente comigo.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço meu marido André e minha filha Bianca
pela paciência e incentivo às minhas incansáveis horas de
trabalho, pelo tempo roubado de nossos finais de semana,
pela compreensão de que atrás da enchente de papéis
presente em nossas vidas encontram-se ideais e sonhos... e
pela sinceridade do afeto que nos une
...
Agradeço a minha orientadora Profa. Ângela
Cristina Cilense Zuanon pela permissão da realização deste
estudo que é a concretização de um objetivo pessoal de
iniciar-me a caminho da interdisciplinaridade
...
Agradeço aos escolares, a seus responsáveis e à
Direção das Escolas pela autorização e participação neste
estudo... e que os resultados aqui encontrados possam
nortear a elaboração de projetos que melhorem a qualidade
de vida desta comunidade
.
7
“...tão longe de chegar, mas perto de algum lugar...”
(Zélia Duncan)
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 7
ARTIGO 1 14
Desnutrição em escolares de ensino fundamental – estudo transversal
em uma população da cidade de Araraquara (SP). CAMPOS, J.A.D.B.;
ZUANON, A.C.C.
ARTIGO 2 37
Sobrepeso e Obesidade em Crianças e Adolescentes: Estudo
Transversal (2004). CAMPOS, J.A.D.B.; ZUANON, A.C.C.
ARTIGO 3 52
Experiência de cárie em escolares da cidade de Araraquara (SP) –
estudo transversal. CAMPOS, J.A.D.B.; ZUANON, A.C.C.
ARTIGO 4 71
Cárie dental e estado nutricional de escolares. CAMPOS, J.A.D.B.;
ZUANON, A.C.C.
ARTIGO 5 86
Experiência de cárie em escolares segundo o nível econômico e
escolaridade dos pais. CAMPOS, J.A.D.B.; ZUANON, A.C.C.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 107
9
ANEXOS 109
INTRODUÇÃO
Um número crescente de profissionais mostra-se
preocupado em redimensionar o papel social de suas atribuições devido à
complexidade das relações existentes em sua rotina de trabalho. Para
tanto, tem ocorrido a busca de significação do ato de ensinar/aprender
indicando para a necessidade de um constante aprimoramento e da
aceitação de conceitos e práticas até então alheias à sua atuação.
Esta atitude tangencia o conceito de interdisciplinaridade
que, segundo Rabuske (2001), define-se como a interação de disciplinas
científicas, de seus conceitos básicos e dados para a construção de
novas perspectivas que favoreçam o crescimento profissional. Neste
sentido, o redimensionamento das políticas do Ministério da Saúde regido
pelo conceito de promoção de saúde apontou a necessidade do
desenvolvimento de propostas intersetoriais (BRASIL, 2002).
Faine (1990) e Palmer (1990) reportaram que a nutrição
assume um papel importante na prevenção, manutenção e tratamento
das doenças bucais e portanto, estes conceitos deveriam ser
incorporados e discutidos nos cursos de formação de odontólogos, por
docentes qualificados, com intuito de melhorar a capacidade diagnóstica e
o prognóstico dos casos atendidos, o que foi reiterado em documento
publicado pela American Dietetic Association (ADA, 1996).
A nutrição é vital para o crescimento, desenvolvimento e
manutenção da vida. Sabendo-se que este processo depende da
10
adequação da alimentação e que esta é realizada por meio da cavidade
bucal, pode-se entender o impacto local e sistêmico destes processos na
saúde bucal (SÖDERLING, 2001; MARSHALL, 2003).
Marshall (2003) ressalta ainda a importância de um
equilíbrio nutricional, devido sua influência no desenvolvimento cognitivo,
comportamental, emocional e físico da criança.
Outro aspecto salientado na literatura é a prevenção da
doença cárie que requer uma atenção multidisciplinar, uma vez que
possui etiologia multifatorial e já demonstrou ser uma infecção alimento-
dependente (KUUSELA et al., 1999; LOVEREN & DUGGAL, 2001;
CASTRO et al., 2002; MOBLEY, 2003).
De acordo com Palmer (1990) e Romito (2003) o
cirurgião-dentista deve entender o impacto da nutrição na saúde geral de
seu paciente devido às implicações bucais referentes ao processo de
alimentação e de inadequação nutricional. Romito (2003) afirma ainda
que, dentre os profissionais de saúde, os dentistas são os que encontram-
se mais privilegiados quanto à execução de estratégias de promoção de
saúde, pois atuam durante maior tempo em consultas, além de realizarem
muitas vezes tratamentos odontológicos extensos.
A American Dental Association (ADA, 1987) salienta que
o cirurgião-dentista deve ser competente para promover aconselhamento
dietético e educação nutricional a seus pacientes, com o intuito de
promover a saúde bucal. Deste modo realizou-se este trabalho com o
11
objetivo de estudar o estado nutricional e a experiência de cárie em
escolares da cidade de Araraquara (SP) por meio dos seguintes artigos:
1 - Desnutrição em escolares de ensino fundamental – estudo transversal
em uma população da cidade de Araraquara (SP);
2 - Sobrepeso e Obesidade em Crianças e Adolescentes: Estudo
Transversal (2004);
3 - Experiência de cárie em escolares da cidade de Araraquara (SP) –
estudo transversal.
4 - Cárie dental e estado nutricional de escolares.
5 - Experiência de cárie em escolares segundo o nível econômico e
escolaridade dos pais.
12
REFERÊNCIAS
AMERICAN DENTAL ASSOCIATION. Procedures for evaluation
requeriments and guidelines for dental education programs. Chicago:
ADA, 1987.
AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION. Oral health and nutrition. J. Am.
Dietetic Association, Chicago, v.96, n.2, p.184-189, Feb. 1996.
BRASIL. Secretaria de Políticas de Saúde. A promoção de saúde no
contexto escolar. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v.36, n.2, p.533-535,
ago. 2002.
CASTRO, F.A.F.; PEREIRA, C.A.S.; PRIORE, S.E.; RIBEIRO, S.M.R.;
BITTENCOURT, M.C.B.; QUEIROZ, V.M.V. Educação Nutricional: a
importância da prática dietética. Nutrição em Pauta, São Paulo, v.10, n.
52, p. 9-15, jan./fev. 2002.
FAINE, M.P. Nutrition in the dental curriculum: Seattle model. J. Dent.
Educ., Washington, v.54, n.8, p.510-512, Aug. 1990.
KUUSELA, S.; KANNAS, L.; TYNJÄLÄ, J.; HONKALA, E.; TUDOR-
SMITH, C. Frequent use of sugar products by schoolchildren in 20
European countries, Israel and Canada in 1993/1994. Int. Dent. J.,
London, v. 49, n. 2, p. 105-114, Apr. 1999.
LOVEREN, C.; DUGGAL, M.S. The role of diet in caries prevention. Int.
Dent. J., London, v.51, n. 6, p. 399-406, June 2001.
MARSHALL, TA. Diet and nutrition in pediatric dentistry. Dent. Clin. North
Am., Philadelphia, v. 47, n. 2, p.279-304, Apr. 2003.
13
MOBLEY, C.C. Nutrition and dental caries. Dent. Clin. North Am.,
Philadelphia, v. 47, n. 2, p.319-336, Apr. 2003.
PALMER, C.A. Applied nutrition in the dental education; issues and
challenges. J. Dent. Educ., Washington, v.54, n.8, p.513-518, Aug. 1990.
RABUSKE, C.H.S.A. Interdisciplinaridade como condição na intervenção
psicopedagógica. Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v.9, n.1, p.85-91,
jan./jun. 2001.
ROMITO, L.M. Introduction to nutrition and oral health. Dent. Clin. North
Am., Philadelphia, v. 47, n. 2, p.187-208, Apr. 2003.
SODERLING, E. Nutrition, diet and oral health in the 21 st century. Int.
Dent. J., London, v.51, n. 6, p. 389-391, 2001.
14
DESNUTRIÇÃO EM ESCOLARES DE ENSINO FUNDAMENTAL –
ESTUDO TRANSVERSAL EM UMA POPULAÇÃO
DA CIDADE DE ARARAQUARA (SP).
“O direito humano à alimentação só se concretiza quando
o alimento se transforma em cidadãos bem nutridos,
saudáveis, críticos e participativos.”
(Flávio Valente)
RESUMO
A partir do conhecimento de que a desnutrição é
considerada um importante problema de saúde pública, este estudo teve
por objetivo avaliar sua prevalência em escolares de 7 a 14 anos de idade
da cidade de Araraquara (SP). Para tanto a amostra foi composta por
2401 estudantes de escolas da rede pública, localizadas no centro e na
periferia da cidade, e escolas particulares, todas escolhidas
aleatoriamente. O peso das crianças foi obtido com o auxílio de uma
balança portátil e a altura com uma fita métrica, milimetrada. Para
classificação do estado nutricional, a amostra foi subdividida por sexo e
faixa etária (de 7 a 10 anos; de 11 a 14 anos), assim como foram
utilizados três indicadores antropométricos: peso para idade (P/I), altura
para idade (A/I), e peso para altura (P/A). A curva de referência adotada
foi a do National Center for Health Statistics (NCHS, 2000), e para
avaliação nutricional utilizou-se a distribuição dos indicadores expressos
em escores z. Os escolares de 7 a 10 anos foram ainda classificados pelo
15
critério de WATERLOW (1976). Os dados foram analisados por meio de
estatística descritiva e a comparação entre os sexos e as faixas etárias foi
realizada pelo Teste Binomial e qui-quadrado. Os resultados
demonstraram prevalência de 1,1%, 0,7% e 5,8% para desnutrição
crônica (A/I), para baixo peso (P/I) e desnutrição aguda (P/A)
respectivamente, nas crianças de 7 a 10 anos e em média, 8,8%, 1,6% e
0,9% destas crianças apresentaram deficiência nutricional leve, moderada
e grave. Na faixa etária de 11 a 14 anos, a prevalência foi de 1,4%, 0,8%
1,9% para desnutrição crônica, baixo peso, e desnutrição aguda
respectivamente e em média 10,9%, 2,9% e 0,4% das crianças
apresentaram deficiência nutricional leve, moderada e grave
respectivamente. Pela classificação de WATERLOW (1976) pode-se
verificar prevalência média de desnutrição atual de 5,4%, pregressa de
0,35% e crônica de 0,35%. A diferença entre os sexos, na faixa etária de
7 a 10 anos, foi observada apenas no indicador P/A, e as meninas
apresentaram maior prevalência do que os meninos de desnutrição aguda
moderada. Já entre as idades de 11 a 14 anos os meninos apresentaram
maiores valores de desnutrição aguda leve. Deste modo, pode-se concluir
que a população estudada apresentou baixa prevalência de desnutrição
crônica e baixo peso, havendo um leve aumento apenas na porcentagem
de desnutrição aguda na faixa etária de 7 a 10 anos de idade.
Palavras-Chave: Desnutrição; Escolares; Alimentação; Crianças;
Adolescentes; Antropometria.
16
INTRODUÇÃO
O diagnóstico e a vigilância das condições nutricionais de
crianças e adolescentes constituem, segundo Buvinich (1998) e Onis et al.
(2000), uma maneira prática e sensível de avaliar as condições, as
tendências de saúde e o grau de atendimento dos direitos humanos
elementares da população.
Valente (2002) ressalta que na história da humanidade,
têm sido raras as situações em que as sociedades conseguiram garantir
uma alimentação de qualidade para todos os seus membros. A sociedade
brasileira, segundo o autor, convive atualmente com a existência das
doenças associadas à pobreza e à exclusão, tais como a fome e a
desnutrição.
Sabendo-se que o comprometimento nutricional está
relacionado com a maior incidência de doenças infecciosas, elevação nas
taxas de mortalidade e retardo no crescimento, dentre outras agressões
(MONTEIRO & CONDE, 2000), entende-se que o diagnóstico da
desnutrição faz-se necessário para elaboração de estratégias para
promoção de saúde.
Neste sentido, têm-se utilizado as medidas
antropométricas, as quais de acordo com Onis et al. (2000) são
empregadas, não apenas como um meio de avaliação da saúde e do
estado nutricional, mas também como uma medida das desigualdades do
desenvolvimento humano nas diferentes populações. Portanto, estas
17
devem ser utilizadas como auxiliares na definição de prioridades no
planejamento, implementação e avaliação de programas (WHO, 1995).
Considerando-se que a desnutrição é um importante
problema de saúde pública, reconhecido mundialmente, devido a seus
devastadores efeitos no desenvolvimento humano, saúde e sobrevivência
(ONIS et al., 2004) este trabalho teve como objetivo estudar a prevalência
de desnutrição em escolares de 7 a 14 anos da cidade de Araraquara
(SP).
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi realizado após aprovação do Comitê de
Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP
(protocolo n°97/02) (Anexo 1).
A amostra foi composta por 2401 estudantes de 7 a 14
anos de idade, de primeira e segunda fase do ensino fundamental, da
cidade de Araraquara (SP). Dentre as escolas da rede pública do
município, sorteou-se duas instituições localizadas no centro e duas na
periferia da cidade, além de escolher aleatoriamente duas da rede
privada. A inclusão dos escolares esteve vinculada ao correto
preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, pelos
seus responsáveis (Anexo 2).
Realizou-se as medidas antropométricas de peso e altura,
feita por um único examinador devidamente calibrado (repetibilidade intra-
18
examinador de 1,00 - Teste de regressão linear) (Anexo 3). O peso foi
obtido com o auxílio de uma balança portátil digital (G-Tech, GLICOMED–
Glass II) com precisão de 0,1Kg, com os estudantes descalços e
utilizando o mínimo de roupa possível. Para a medida da altura utilizou-se
uma fita métrica, milimetrada, presa à parede e esquadro de madeira
apoiado acima da cabeça do escolar.
Para classificação do estado nutricional foram utilizadas
as medidas de peso para idade (P/I), altura para idade (A/I), e peso para
altura (P/A) aplicados na amostra subdividida por sexo e faixa etária (de 7
a 10 anos; de 11 a 14 anos). Para avaliação da relação peso para altura
na faixa etária de 11 a 14 anos optou-se por utilizar o IMC (Índice de
Massa Corpórea = P/A
2
) conforme orientação da OMS (Organização
Mundial de Saúde) (WHO, 1995; PRISTA et al., 2003).
A curva de referência adotada foi a do National Center for
Health Statistics (NCHS, 2000). Para avaliação nutricional utilizou-se a
distribuição dos indicadores expressos em escores z (Anexo 4) (COLE,
1990; WHO, 1995) classificados como apresentado no Quadro 1.
Quadro 1: Classificação do estado nutricional de acordo com os valores
do escore z.
Estado Nutricional Escore z
Sobrepeso
z 2
Eutrofia -1 < z < 2
Desnutrição leve
-2 < z -1
Desnutrição moderada
-3 < z -2
Desnutrição grave
z -3
19
Em seguida, os escolares de 7 a 10 anos foram
classificados pelo critério de Waterlow (1976) (Quadro 2), o qual baseia-
se nas medidas de altura para idade (A/I) e peso para altura (P/A) para
determinar o tipo de desnutrição presente. Este sistema só é
recomendado para crianças até 10 anos pois nesta faixa etária o
crescimento é mais lento e constante, sendo a altura predominante, ou
seja, o peso varia de acordo com a altura e a idade.
Quadro 2: Classificação do tipo de desnutrição de acordo com o critério
de Waterlow (1976).
Indicadores ZPA
ZAI
z -2
z < -2
z -2
Eutrofia Desnutrição atual
z < -2
Desnutrição pregressa Desnutrição crônica
Para análise descritiva dos dados, utilizou-se o programa
Excel e realizou-se a comparação entre os sexos e as faixas etárias pelo
Teste Binomial e qui-quadrado, com nível de significância de 5%.
RESULTADOS
Na Tabela 1, estão apresentadas as freqüências
(absolutas e relativas) de escolares dos diferentes sexos, na faixa etária
de 7 a 10 anos, classificados pelo escore z para os indicadores A/I, P/I e
P/A seguindo-se como referência os valores do NCHS (NCHS, 2000).
20
Tabela 1: Distribuição de freqüências dos escolares de 7 a 10 anos, por
sexo, de acordo com o escore z para os indicadores altura para idade
(AI), peso para idade (PI), e peso para altura (PA).
Escore z Masc. Fem. Total
n % n % n %
Escore z Altura para Idade
ZAI2
a
54 8,2 77 10,5 131
9,5
-1<ZAI<2
a
549 83,8 576 78,9 1125 81,2
-2<ZAI-1
47 7,2 66 9,0 113 8,2
-3<ZAI-2
4 0,6 10 1,4 14 1,0
ZAI-3
1 0,2 1 0,1 2 0,1
Escore z Peso para Idade
ZPI2
a
39 6,0 66 9,0 105
7,6
-1<ZPI<2
571 87,2 613 84,0 1184 85,5
-2<ZPI-1
41 6,3 45 6,2 86
6,2
-3<ZPI-2
4 0,6 6 0,8 10 0,7
ZPI-3
0 0,0 0 0,0 0 0,0
Escore z Peso para Altura
ZPA2
46 7,0 43 5,9 89 6,4
-1<ZPA<2 503 76,8 545 74,7 1048
75,7
-2<ZPA-1
75 11,5 92 12,6 167 12,1
-3<ZPA-2
a
13 2,0 32 4,4 45
3,2
ZPA-3
18 2,7 18 2,5 36
2,6
Total 655 100,00 730 100,00 1385 100,00
a
diferença estatística entre os sexos (p<0,05, Teste Binomial)
Na Tabela 2, estão apresentadas as freqüências
(absolutas e relativas) de escolares dos diferentes sexos, na faixa etária
de 11 a 14 anos, classificados pelo escore z para os indicadores P/I, A/I e
IMC seguindo-se como referência os valores do NCHS (2000).
21
Tabela 2: Distribuição de freqüências dos escolares de 11 a 14 anos, por
sexo, de acordo com o escore z para os indicadores altura para idade
(AI), peso para idade (PI), e índice de massa corpórea (IMC).
Escore z Masc. Fem. Total
n % n % n %
Escore z Altura para Idade
n % n % n %
ZAI2
a
47 8,9 17 3,5 64 6,3
-1<ZAI<2
a
423 80,0 427 87,7 850 83,7
-2<ZAI-1
53 10,0 35 7,2 88 8,7
-3<ZAI-2
6 1,1 6 1,2 12 1,2
ZAI-3
0 0,0 2 0,4 2 0,2
Escore z Peso para Idade
ZPI2
26 4,9 13 2,7 39 3,8
-1<ZPI<2 440 83,2 408 83,8 848 83,5
-2<ZPI-1
62 11,7 59 12,1 121 11,9
-3<ZPI-2
1 0,2 5 1,0 6 0,6
ZPI-3
0 0,0 2 0,4 2 0,2
Escore z Peso para Altura
2
(IMC)
ZIMC2
a
36 6,8 16 3,3 52 5,1
-1<ZIMC<2
a
408 77,1 414 85,0 822 80,9
-2<ZIMC-1
a
78 14,7 45 9,2 123 12,1
-3<ZIMC-2
4 0,8 7 1,4 11
1,1
ZIMC-3
3 0,6 5 1,0 8 0,8
Total 529 100,00 487 100,00 1016 100,00
a
diferença estatística entre os sexos (p<0,05, Teste Binomial)
Na Tabela 3, encontram-se as freqüências (absolutas e
relativas) de escolares das diferentes faixas etárias, classificados pelo
escore z para os indicadores A/I, P/I, P/A e IMC seguindo-se como
referência os valores do NCHS (2000).
22
Tabela 3: Distribuição de freqüências dos escolares, por faixa etária, de
acordo com o escore z para os indicadores altura para idade (AI), peso
para idade (PI) e IMC.
Escore z 7 a 10 anos 11 a 14 anos
n % n %
Escore z Altura para Idade
n % n %
ZAI2
131
9,5 64 6,3
-1<ZAI<2
1125 81,2 850 83,7
-2<ZAI-1
113 8,2 88 8,7
-3<ZAI-2
14 1,0 12 1,2
ZAI-3
2 0,1 2 0,2
Escore z Peso para Idade
ZPI2
105
b
7,6 39
b
3,8
-1<ZPI<2 1184 85,5 848 83,5
-2<ZPI-1
86
b
6,2 121
b
11,9
-3<ZPI-2
10 0,7 6 0,6
ZPI-3
0 0,0 2 0,2
Escore z Peso para Altura
ZPA2
89 6,4 - -
-1<ZPA<2
1048
b
75,7 - -
-2<ZPA-1
167 12,1 - -
-3<ZPA-2
45
b
3,2 - -
ZPA-3
36
b
2,6 - -
ZIMC2
- - 52 5,1
-1<ZIMC<2
- - 822
b
80,9
-2<ZIMC-1
- - 123 12,1
-3<ZIMC-2
- - 11
b
1,1
ZIMC-3
- - 8
b
0,8
Total 529 100,0 487 100,0
b
diferença estatística entre as faixas etárias (p<0,05, Teste Binomial)
Na Tabela 4, estão apresentadas as freqüências
(absolutas e relativas) de escolares dos diferentes sexos, na faixa etária
de 7 a 10 anos, classificados segundo o tipo de desnutrição apresentado,
de acordo com o critério de Waterlow (1976).
23
Tabela 4: Classificação do estado nutricional, dos escolares de 7 a 10
anos de idade, de acordo com os indicadores antropométricos pelo critério
de Waterlow (1976).
Masculino*
Feminino*
Estado Nutricional
n % n %
Eutrofia
622 95,0 677 92,7
Desnutrição atual
29 4,4 47 6,4
Desnutrição pregressa 2 0,3 3 0,4
Desnutrição crônica 2 0,3 3 0,4
Total 655 100,0 730 100,0
*Teste qui-quadrado: p>0,05
a
Teste Binomial: p>0,05
DISCUSSÃO
Onis et al. (2000) e Onis & Blössner (2003) afirmam que a
falta de comparabilidade entre os resultados das diversas pesquisas
realizadas sobre estado nutricional, decorrente da diversidade existente
entre as metodologias e as formas de análise dos resultados, dificulta o
monitoramento das diferentes populações.
Este estudo, seguindo as orientações da OMS (WHO,
1995), utilizou os indicadores de P/I, A/I e P/A comparando-os à
população de referência definida pelo NCHS (2000).
O indicador P/I reflete a relação entre a massa corporal e
a idade, levando em conta tanto a desnutrição aguda como crônica, onde
valores abaixo de -2 são classificados como baixo peso. A relação de
altura para idade indica o crescimento linear da criança, sendo que
quando em déficit, está relacionado as alterações acumulativas de longo
24
prazo, e os valores abaixo de -2 indicam desnutrição crônica. Já o
indicador P/A mede a massa muscular em relação ao comprimento do
corpo e descreve o estado nutricional atual. Valores de P/A abaixo de -2
indicam desnutrição aguda (WHO, 1995; PNDS, 1996).
Segundo relatório da OMS (2000), nos países em
desenvolvimento, 35% das crianças apresenta desnutrição crônica, e na
América do Sul a prevalência é de 9,3%.
De acordo com os dados apresentados pela Pesquisa
Nacional sobre Demografia e Saúde (PNDS, 1996), 11% das crianças
brasileiras apresentaram desnutrição crônica, 2% desnutrição aguda e 6%
baixo peso. Entretanto, deve-se salientar que a prevalência de déficits
nutricionais mostrou-se maior em algumas regiões do país como norte,
nordeste e na zona rural.
Na Tabela 1 pode-se notar que nas crianças de 7 a 10
anos de idade houve, no total, uma prevalência de 1,1%; 0,7%; 5,8% de
desnutrição crônica, baixo peso e desnutrição aguda respectivamente.
Outro dado a ser observado é que em média 8,8%, 1,6% e 0,9% das
crianças apresentaram desnutrição leve, moderada e grave
respectivamente.
Pela classificação de Waterlow (1976) pôde-se verificar
prevalência média de desnutrição atual de 5,4%, pregressa de 0,35% e
crônica de 0,35% (Tabela 4).
25
Na faixa etária de 11 a 14 anos a prevalência total foi de
1,4%; 0,8%; 1,9% para desnutrição crônica, baixo peso e desnutrição
aguda respectivamente e em média 10,9%, 2,9% e 0,4% das crianças
apresentaram deficiência nutricional leve, moderada e grave
respectivamente (Tabela 2).
Estes valores estão abaixo dos verificados pela PNDS
(1996), provavelmente pelo fato da cidade de Araraquara (SP) estar
situada longe dos bolsões de pobreza, possuindo uma renda “per capita”
anual de cinco mil dólares (ARARAQUARA, 2004).
Avaliando crianças de 1 a 5 anos de idade, Bueno et al.
(2003) e Strufaldi et al. (2003) encontraram, na cidade de São Paulo e no
município de Embu respectivamente, baixo número de crianças com
déficit de P/A (0,2%); P/I (2,9%) e A/I (7,1%). Araujo et al. (2004) porém,
estudando as medidas antropométricas de crianças de famílias com renda
máxima de 6 salários mínimos, aferiram uma prevalência de déficit de
altura para idade de 2,5%, ou seja abaixo das encontradas por Bueno et
al. (2003) e Strufaldi et al. (2003).
Assim como os dados apresentados neste estudo,
Teixeira (2003) encontrou baixa prevalência de déficit nutricional sendo
que para o indicador A/I o valor foi de 1,93%; para P/A de 0,8% e para P/I
de 1,23% em escolares de 7 a 10 anos da cidade de Araraquara. Destes,
4,2%, 1,2% e 0,26% apresentaram deficiências leves, moderadas e
graves, respectivamente.
26
Onis et al. (2000) verificaram decréscimo significativo na
desnutrição crônica na América do Sul, a qual, na década de 80 se
apresentava em torno de 35,1%, passando para 9,3% no ano 2000 e com
estimativa de 5,3% em 2005. Assim, nota-se que importante decréscimo
têm ocorrido na grande maioria dos países em desenvolvimento, o que
tem colaborado com a diminuição na taxa de mortalidade infantil nas
últimas três décadas (ONIS et al., 2004).
Du et al. (2003) encontraram prevalência de 32,2% de
baixo peso em crianças e adolescentes chineses do sexo feminino e
Prista et al. (2003), analisando crianças de 6 a 18 anos em Moçambique,
verificaram prevalência elevada de desnutrição aguda (15,9%). Venkaiah
et al. (2002) encontraram valores ainda maiores em adolescentes
indianos (A/I<-2=39%; P/I<-2=46,3%), assim como Khongsdier &
Mukherjee (2003), os quais avaliaram crianças indianas de 3 a 18 anos e
obtiveram prevalência de desnutrição crônica de 60%, baixo peso de 29%
e desnutrição aguda de 6%. Valores semelhantes também foram
verificados por Zoakah et al. (2000) em uma população nigeriana.
Este fato pode ser justificado pelas características,
econômicas e culturais peculiares a estes países. Quando do
mapeamento da desnutrição no mundo apresentado por Onis et al.
(2004), pôde-se notar que estas localidades, acima citadas encontram-se
nas áreas de grande prevalência de desnutrição.
27
Monarrez-Espino et al. (2004) encontraram prevalência
baixa (2,1%) de desnutrição aguda e prevalência alta de desnutrição
crônica (22,3%) entre crianças mexicanas de 6 a 14 anos de idade. De
acordo com os autores estes índices podem ser atribuídos às
peculiaridades da amostra, a qual caracterizava-se por ser uma
população indígena que vive em condições de extrema pobreza e
marginalização.
Quanto a diferença entre os sexos, este estudo aponta
prevalência de desnutrição na faixa etária de 7 a 10 anos apenas para o
indicador P/A, onde as meninas apresentaram maior prevalência de
desnutrição aguda moderada do que os meninos (Tabela 1). Já entre as
idades de 11 a 14 anos, os meninos apresentaram maiores valores de
desnutrição aguda leve (Tabela 2).
Jackson et al. (2002) em uma amostra de crianças
jamaicanas com idade de 11 a 12 anos, também encontraram maior
prevalência de desnutrição aguda em meninos, enquanto Zoakah et al.
(2000) não encontraram diferença estatisticamente significante entre os
sexos.
A divisão por faixa etária e sexo realizada neste estudo
para a determinação do estado nutricional deve-se às particularidades de
crescimento e desenvolvimento. Comparando-se as faixas etárias pôde-
se observar maior ocorrência de baixo peso leve nas idades entre 11 e 14
28
anos e desnutrição aguda moderada e grave na faixa etária de 7 a 10
anos (Tabela 3).
Florencio et al. (2001) verificaram diferença
estatisticamente significante apenas para o indicador de P/I, sendo que as
crianças acima de 10 anos apresentaram maior prevalência de baixo peso
do que as mais jovens.
Sabendo-se que a adolescência é um período de rápido
crescimento e desenvolvimento (SEIDENFELD et al., 2004), esta faixa
etária deve ser acompanhada e orientada, pois a desnutrição crônica está
associada com a baixa oxidação de gordura que, por sua vez, é um dos
fatores predisponentes da obesidade (HOFFMAN et al., 2000; SAWAYA &
ROBERTS, 2003).
A desnutrição aguda apresentada principalmente pelas
crianças de 7 a 10 anos (Tabela 1) deve ser estudada e corrigida, pois,
em condições favoráveis pode ser, segundo Zoakah et al. (2000)
facilmente revertida.
Após 22 anos de estudo, Monteiro & Conde (2000)
concluíram que a desnutrição tem se mostrado controlada até mesmo na
cidade de São Paulo, que é um dos bolsões de pobreza do país,
apresentando-se rara até entre as famílias mais pobres. Os autores
salientaram ainda, que no Brasil o declínio na prevalência de déficits
nutricionais têm sido evidenciado, sendo porém complexa a análise desta
tendência.
29
As ações e programas direcionados às áreas da saúde e
da educação têm sido apontados como importantes fatores para evolução
do perfil epidemiológico da população. Onis et al. (2004) enfatizam que o
reconhecimento da relevância da nutrição como pilar para o
desenvolvimento social e econômico tem levado, no início deste milênio,
ao desenvolvimento de programas para “erradicar a fome e a pobreza”.
Estas iniciativas podem ser observadas no Brasil pelas políticas de
Segurança Alimentar (BRASIL, 2003).
Apesar dos bons resultados expostos nas Tabelas de 1 a
3, deve-se ressaltar que este é um estudo local e que no Brasil as
estimativas da magnitude da fome ainda são, segundo Valente (2002),
ultrajantes, devendo portanto haver grande comprometimento
governamental no direito à alimentação de toda população.
Outro aspecto a ser ressaltado é a transição nutricional
que vêm paulatinamente ocorrendo no país (DUTRA de OLIVEIRA et al.,
1996; BATISTA FILHO & RISSIN, 2003). Apesar da medida de escore z
não estar estabelecida na literatura como ponto de corte para diagnóstico
de sobrepeso, pode-se notar pela observação das Tabelas 1 e 2 a
evidência de escolares com sobrepeso (z 2). Doak et al. (2000) e
Hoffman et al. (2000) evidenciaram a coexistência de desnutrição e
obesidade nas populações de países em desenvolvimento, o que têm
causado um grande impacto, gerando sobrecarga para o sistema de
saúde e para estrutura social e econômica.
30
Desta maneira, verifica-se a necessidade evidente de
elaboração de programas de intervenção preventiva e reabilitadora que
enfoque a educação nutricional, visando corresponder às tendências
atuais de saúde das populações (DUTRA de OLIVEIRA et al., 1996;
JACKSON et al., 2002).
CONCLUSÃO
Frente ao exposto, pode-se concluir que, a população
estudada apresentou uma baixa prevalência de desnutrição crônica e
baixo peso e valores maiores apenas na porcentagem de desnutrição
aguda na faixa etária de 7 a 10 anos de idade.
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36
SOBREPESO E OBESIDADE EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES.
ESTUDO TRANSVERSAL (2004).
RESUMO
Sabendo-se que o excesso de peso tem um grande
impacto na saúde e acomete com freqüência crianças e adolescentes,
realizou-se um estudo transversal com o intuito de verificar a prevalência
de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes da cidade de
Araraquara (SP) no ano de 2004. Para tanto, 2401 estudantes do ensino
fundamental, de 7 a 14 anos de idade (1184 do sexo masculino e 1217 do
sexo feminino), foram pesados e medidos para realização do cálculo do
Índice de Massa Corpórea (IMC), o qual foi comparado aos dados de
referência propostos por Cole et al. (2000). Os dados foram analisados
estatisticamente por meio de freqüência relativa e erro padrão de acordo
com o sexo e a idade. Estes foram comparados com o auxílio do Teste
Binomial e em seguida calculou-se os valores de risco relativo. Os
resultados demonstraram prevalência média de sobrepeso de 18,7% nos
meninos e 18,3% das meninas e de obesidade de 10,0% e 7,8%,
respectivamente, não havendo diferença estatisticamente significante
entre os sexos (p=0,19, RR=1,06). O risco de desenvolvimento de
sobrepeso e obesidade mostrou-se 1,3 vezes maior nas crianças de 7 a
10 anos do que nas de maior idade. Estes achados refletem a tendência
mundial de aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade, sendo
37
importante portanto a elaboração de programas preventivos de grande
abrangência voltados à população de crianças e adolescentes.
Palavras-Chave: Sobrepeso; Obesidade; Crianças; Adolescentes; IMC.
INTRODUÇÃO
A obesidade é uma desordem nutricional, com grande
impacto na saúde, e vem acometendo com freqüência crianças e
adolescentes em todo mundo (GORTMAKER et al., 1987; MORENO et
al., 2000; WABITSCH, 2000; WANG et al., 2000; AL-SENDI et al., 2003;
PRISTA et al., 2003).
Devido sua magnitude, transcendência, incapacitações,
seqüelas associadas e sua viabilidade de controle, o sobrepeso e a
obesidade são atualmente considerados como problemas de saúde
pública (VEIGA, 2000).
Frelut et al. (1995) afirmaram, baseados em estudos
epidemiológicos, que a prevalência de obesidade infantil na França
aumentou 28% entre 1980 e 1986. Na Grã-Bretanha, entre 1972 e 1981,
este aumento variou de 21 a 65% de acordo com a faixa etária e o sexo e
no Japão a prevalência de sobrepeso aumentou 53% entre 1979 e 1988.
Estudando a população de crianças dos Estados Unidos
Gortmaker et al. (1987) verificaram aumento de 54% na prevalência de
obesidade e de 98% na obesidade mórbida em crianças de 6 a 11 anos
de idade. Para a faixa etária de 12 a 17 anos, observaram índices de 39%
38
e 64% respectivamente para as mesmas alterações no período de 1971 a
1980.
De acordo com Lamounier (2000), nota-se uma crescente
prevalência de obesidade no Brasil. Dietz (1998) considera que o Brasil
está entre os quatro países que apresentam rápida elevação de
prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes,
mesmo nas populações mais carentes.
Deste modo, realizou-se um estudo transversal com o
intuito de verificar a prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e
adolescentes da cidade de Araraquara (SP) no ano de 2004.
MATERIAL E MÉTODOS
Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP (protocolo 97/02)
(Anexo 1) e o correto preenchimento do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, pelos responsáveis pelas crianças (Anexo 2), a amostra
esteve composta por 2401 estudantes de 7 a 14 anos de idade (1184 do
sexo masculino e 1217 do sexo feminino) matriculados em escolas do
ensino fundamental da cidade de Araraquara (SP), determinadas
aleatoriamente por estratos, segundo sua localização geográfica e o tipo
de escola (pública ou privada).
As medidas antropométricas de peso corporal e estatura,
foram realizadas, por um único examinador devidamente calibrado (Anexo
39
3), seguindo-se as recomendações da Organização Mundial de Saúde
(WHO, 1995). Para tomada de peso utilizou-se uma balança portátil (G-
Tech, GLICOMED–Glass II) com precisão de 0,1 Kg, e para altura, uma
fita métrica com marcações em milímetros afixada em uma parede lisa e
sem rodapé, sempre com o auxílio de um esquadro de madeira
posicionado acima da cabeça da criança. Os escolares foram orientados a
retirar os sapatos e permanecer com o mínimo de roupa possível.
Em seguida realizou-se o cálculo do Índice de Massa
Corpórea (IMC) (peso (Kg)/altura (m)
2
) o qual foi comparado aos dados de
referência propostos por Cole et al. (2000) (Anexo 5) para verificar a
prevalência de sobrepeso e obesidade na população estudada.
Os dados foram analisados estatisticamente por meio de
freqüência relativa e de erro padrão para a ocorrência de sobrepeso e
obesidade na população de acordo com o sexo e a idade. Estes foram
então comparados com o auxílio do Teste Binomial e em seguida
calculou-se os valores de risco relativo, com nível de significância de 5%.
RESULTADOS
Representado na Tabela 1 e nos Gráficos 1 e 2, o erro
padrão (Ep) demonstra a semi-amplitude de um intervalo de confiança de
95% para a média populacional, em cada sexo e idade.
40
Tabela 1: Distribuição de freqüência relativa e risco relativo de sobrepeso
e obesidade de acordo com sexo e idade, em escolares de ensino
fundamental da cidade de Araraquara - SP.
Sexo Idade
(anos)
n Sobrepeso
(%)
Ep Obesidade
(%)
Ep
Masculino 7 140 21,4 6,797 8,6 3,880
8 216 19,9 5,325 10,6 4,114
9 133 24,8* 7,341 12,8 5,675
10 166 16,3* 5,614 8,4 4,227
11 145 13,1 5,492 15,2* 5,839
12 153 19,0 6,211 5,2 3,527
13 114 14,9 6,539 14,0* 6,376
14 117 20,5 7,317 5,1 3,997
Total 1184 18,7 6,329 10,0 4,704
Feminino 7 161 16,8 5,771 7,5 4,057
8 175 14,9 5,270 14,3 5,185
9 217 16,1* 4,894 8,3 3,670
10 177 28,2* 6,633 13,0 4,954
11 114 16,7 6,841 7,0* 4,689
12 119 20,2 7,209 2,5 2,817
13 126 16,7 6,507 5,6* 4,000
14 128 17,2 6,536 3,9 3,356
Total 1217 18,3 6,207 7,8 4,090
Risco Relativo
1,06
p
0,19
Limite Inferior 0,93
Limite Superior 1,20
*Diferença estatisticamente significante entre os sexos nas diferentes idades;
Teste Binomial: p<0,05.
41
0
5
10
15
20
25
30
35
6 7 8 9 10 11 12 13 14
Idade (anos)
% crianças com sobrepeso
Masc.
Fem.
Gráfico 1: Distribuição de freqüência relativa de sobrepeso na amostra
estudada de acordo com o sexo e a idade.
0
5
10
15
20
25
30
6 7 8 9 10 11 12 13 14
Idade (anos)
% crianças obesas
Masc.
Fem.
Gráfico 2: Distribuição de freqüência relativa de obesidade na amostra
estudada de acordo com o sexo e a idade.
Na Tabela 2 encontra-se o cálculo de risco relativo para o
desenvolvimento de sobrepeso e obesidade de acordo com a faixa etária
dos escolares.
42
Tabela 2: Risco relativo do desenvolvimento de sobrepeso e obesidade
de acordo com a faixa etária dos escolares.
Faixa etária sobrepeso/obesidade
presente ausente Total
7 a 10 anos* 418 967 1385
11 a 14 anos* 250 766 1016
Total 668 1733
Risco relativo 1,22
p 0,001
Limite Inferior 1,07
Limite Superior 1,40
*Diferença estatisticamente significante entre as
faixas etárias;Teste Binomial: p<0,05.
DISCUSSÃO
Obesidade é definida por Wabitsch (2000) como sendo
uma condição onde o excesso de gordura corporal torna-se patológica ao
indivíduo. Entretanto, como a quantificação de gordura propriamente dita
tem sido difícil de ser determinada com exatidão em estudos
populacionais (COLE et al., 2000), tem-se utilizado o IMC para identificar
indivíduos com peso acima da referência.
Embora este índice reflita apenas o estado nutricional
energético-proteico, estudos de Sichieri & Allam (1996), Cole et al. (2000)
e Al-Sendi et al. (2003) têm demonstrado que o IMC é capaz de identificar
com relativa precisão a condição de sobrepeso e obesidade.
Apesar de Woodruff & Duffield (2002) afirmarem que a
relação de peso dividido pela altura (P/A) é o índice mais apropriado para
crianças abaixo da idade de 10 anos (pré-puberal), Cole (2002) indica a
utilização do IMC (P/A
2
) por julgar que possui maior acurácia.
43
Existem ainda, muitas dificuldades em quantificar ou
comparar internacionalmente a prevalência de sobrepeso e obesidade em
diferentes populações devido à variedade de referências utilizadas para
classificação deste estado nutricional (KUCZMARSKI & FLEGAL, 2000;
FLEGAL et al., 2001; WANG & WANG, 2002; WRIGHT et al., 2002).
Deste modo, neste estudo optou-se pela utilização dos
valores de referência de Cole et al. (2000), devido ao seu caráter de
representatividade internacional, pois baseiam-se em populações de 6
países, inclusive o Brasil (LAMOUNIER, 2000).
Assim, pela classificação dos escolares de acordo com
sobrepeso e obesidade, utilizando-se os valores de referência propostos
por Cole et al. (2000) pode-se notar que em média 18,7% dos meninos e
18,3% das meninas estavam acima do peso ideal enquanto 10,0% e
7,8%, respectivamente, apresentaram-se obesos, não havendo diferença
estatisticamente significante entre os sexos (p=0,19, RR=1,06) (Tabela 1).
Quando da observação dos escolares por idade e sexo, verificou-se que a
prevalência de sobrepeso foi significativamente maior nos meninos aos 9
anos, e nas meninas aos 10 anos de idade (Tabela 1, Gráficos 1),
enquanto para obesidade maior prevalência ocorreu para os meninos aos
11 e aos 13 anos de idade e para as meninas aos 8 e 10 anos (Tabela 1,
Gráficos 2).
Observando os dados brasileiros que contribuíram para
formulação dos dados de referência de Cole et al. (2000), nota-se
44
prevalência média de sobrepeso e obesidade semelhantes aos
encontrados neste estudo. Dados similares na prevalência de sobrepeso
foram relatados por Silva & Balaban (2000), quando estudaram 430
escolares e encontraram prevalência de sobrepeso de 20%. Os autores
encontraram diferença estatisticamente significante no que diz respeito ao
sobrepeso e obesidade entre os sexos, o que não ocorreu neste estudo.
Embora alguns autores tenham verificado que as meninas
apresentaram maior sobrepeso (MUST et al., 1991; ELLIS, 1999; AL-
SENDI et al., 2003) Moreno et al. (2000) encontraram maiores índices
para os meninos.
Gortmaker et al. (1987) e Prista et al. (2003) estudando
crianças e adolescentes de 6 a 18 anos, verificaram que os meninos
apresentaram maior prevalência de obesidade aos 11 anos de idade do
que as meninas, o que foi também encontrado entre os escolares
araraquarenses (Tabela 1 Gráfico 2).
Pode-se observar também que os estudantes analisados
neste estudo possuem prevalência de sobrepeso próximo aos valores
encontrados por Wang & Wang (2002), quando estudaram crianças na
Rússia (15,4%) e nos Estados Unidos (25%). Quanto à obesidade,
Lamounier (2000) descreveu cinco estudos populacionais realizados em
Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro e Florianópolis, que
demonstraram prevalência total de obesidade de 8,5%, 15,6%, 12,2% e
22,3% respectivamente.
45
Estes valores, segundo Gortmaker et al. (1987) e
Kuczmarski & Flegal (2000) representam sério problema de saúde
pública, devido à possibilidade de desenvolvimento de obesidade na fase
adulta. Welss (2003) indica também ser um fator de risco ao
desenvolvimento de doenças crônicas.
Neste estudo (Tabela 2), o risco de desenvolvimento de
sobrepeso e obesidade foi de 1,22 (p<0,05) apontando para uma maior
ocorrência na faixa etária de 7 a 10 anos. Condição semelhante, foi
encontrada por Wang & Wang (2002), os quais observaram que a
ocorrência de sobrepeso e obesidade foi duas vezes maior nas crianças
de 6 a 9 anos do que nas de maior idade. Já Wang et al. (2000)
,examinando crianças de 6 a 13 anos, observaram um risco 3,8 vezes
maior na faixa etária de 10 a 13 anos.
Frente aos dados apresentados, faz-se necessário
destacar a importante prevalência de sobrepeso e obesidade na infância
e na adolescência, uma vez que esta poderá ter implicações na
morbidade e mortalidade da população, sendo portanto um problema não
somente médico mas também social.
Gortmaker et al. (1987) ressaltam ainda que o tratamento
é sempre menos efetivo do que a prevenção, concordando com Veiga
(2000) quando afirma ser necessária a implementação de estratégias que
alcancem níveis de cuidados primários tanto familiar quanto escolar.
Segundo o autor, a escola deveria centrar sua estratégia de ação em
46
programas preventivos ao excesso de peso, uma vez que grande parte
das crianças e adolescentes a freqüentam, e seus hábitos alimentares e
de atividade física fazem parte rotineira da sistemática de ensino.
CONCLUSÃO
Os dados aqui encontrados refletem a tendência mundial
de aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade, sendo importante,
portanto a elaboração de programas preventivos de grande abrangência
voltados à população de crianças e adolescentes.
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50
EXPERIÊNCIA DE CÁRIE EM ESCOLARES DA CIDADE DE
ARARAQUARA – ESTUDO TRANSVERSAL.
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar a experiência de cárie
em escolares da cidade de Araraquara (SP) a partir da média dos índices
ceod, CPOD e do índice de Knutson. Para tanto, a amostra esteve
composta por 1738 escolares, de 7 a 14 anos de idade, matriculados no
ensino fundamental de escolas públicas e privadas do Município. O
exame clínico bucal foi realizado na própria escola, por um único
examinador calibrado e os critérios de diagnóstico utilizados foram os
estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1997). Os
dados foram analisados por meio de estatística descritiva e os diferentes
sexos comparados pelo Teste de Mann-Whitney e Binomial com nível de
significância de 5%. Os resultados médios do ceod e CPOD demonstram
que os escolares da cidade de Araraquara apresentam baixa prevalência
de cárie (abaixo de 2,6) em todas as idades. O percentual de escolares
livres de cárie (ceo=0) para aos 7 anos de idade foi de 58,65% para o
sexo masculino e 63,93% para o sexo feminino. Na dentição permanente,
observou-se, aos 12 anos de idade, percentual de 63,25% (meninos) e
56,84% (meninas), não havendo diferença estatisticamente significante
entre os sexos. Assim, pôde-se concluir que a experiência de cárie de
51
escolares da cidade de Araraquara (SP) acompanha a tendência
brasileira de declínio da doença.
Palavras-Chave: Cárie dentária; Prevalência de Cárie; Epidemiologia.
INTRODUÇÃO
A cárie dentária, ainda nos dias atuais, representa um dos
principais problemas de saúde bucal (GOMES et al., 2004; PETERSEN &
LENNON, 2004). Reduções significativas têm sido encontradas na
prevalência desta doença em crianças em idade escolar, de países
desenvolvidos (MARTHALER et al., 1996; PENG et al., 1997;
BOURGEOIS et al., 2004) e em desenvolvimento (FERREIRA, 1998;
MARCENES et al., 2001; CYPRIANO et al., 2003; BASTOS et al., 2004;
GOMES et al., 2004; RONCALLI, 2004).
As causas mais prováveis para esta queda, estão
associadas ao uso generalizado de fluoretos, acesso aos serviços
odontológicos e ampliação das ações de promoção e educação em saúde
bucal (NADANOVSKY & SHEIHAM, 1995; CYPRIANO et al., 2003).
Esta tendência também pôde ser observada no Brasil, nos
estudos epidemiológicos realizados pelo Ministério da Saúde nos anos de
1986 e 1996, quando o índice CPOD para a idade de 12 anos passou de
6,67 para 3,06 apontando uma redução de 54% (BRASIL, 1986; BRASIL,
1996), apesar deste último levantamento ter recebido críticas sobre o
critério adotado para o diagnóstico da lesão de cárie (RONCALLI, 2004).
52
Marcenes et al. (2001), avaliando o impacto que
diferentes critérios de diagnóstico poderia exercer sobre os índices de
cárie, realizaram um estudo longitudinal (1971-1997) em escolares de
Florianópolis (SC) e verificaram que não houve diferença estatisticamente
significativa nos resultados apresentados por diferentes critérios.
Entretanto, deve-se atentar que estes levantamentos
(BRASIL, 1986; BRASIL, 2004) foram realizados apenas nas capitais
brasileiras, não refletindo necessariamente a realidade de uma
determinada localidade, pois segundo Tagliaferro et al. (2004), o tamanho
da cidade e seu nível de desenvolvimento podem afetar a distribuição da
experiência de cárie.
Em 2003 realizou-se um novo levantamento das
condições de saúde bucal da população brasileira, considerando além
das capitais outros municípios, sorteados de forma ponderada de acordo
com a sua contribuição no total de habitantes de cada região (BRASIL,
2004). Verificou-se que, na região Sudeste, 44,92% das crianças de 6
anos de idade apresentavam-se livres de cárie e que aos 12 anos o
CPOD encontrado foi de 2,3, valores inferiores aos de 1996 (BRASIL,
1996) .
Deste modo, o objetivo deste estudo foi avaliar a
experiência de cárie de escolares da cidade de Araraquara (SP) a partir
da média dos índices ceod, CPOD e do índice de Knutson.
53
MATERIAL E MÉTODOS
Para o desenvolvimento deste estudo optou-se pela
obtenção de uma amostra probabilística cujas unidades amostrais foram
as escolas registradas na Delegacia Regional da Educação da cidade de
Araraquara.
Assim, a amostra esteve composta por 1738 escolares,
de 7 a 14 anos de idade, matriculados da 1° a 8° série do ensino
fundamental em duas escolas públicas localizadas na região central do
município, duas da área periférica e duas instituições privadas da cidade
de Araraquara (SP).
A realização deste estudo esteve vinculada ao correto
preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2)
pelos responsáveis pelos alunos e a aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP
(protocolo n°97/02) (Anexo 1).
O exame clínico bucal foi realizado na própria escola, por
um único examinador, sob luz natural e com o auxílio de espátulas de
madeira. Os dados foram anotados em fichas apropriadas para posterior
análise (WHO, 1993 e OMS, 1997) (Anexo 6). O pesquisador passou por
exercício de calibração prévio ao trabalho de campo, segundo descrito
por WHO (1993) e OMS (1997). Adotou-se o teste Kappa, tomando-se o
dente como unidade de análise para aferir a concordância intra-
examinador (Anexo 7) (PERES et al., 2001).
54
Foram utilizados os valores médios dos índices ceod
(dentes decíduos cariados, com extração indicada e obturados) e CPOD
(dentes permanentes cariados, perdidos e obturados) (KLEIN et al., 1938)
para possibilitar a comparação entre diversos estudos. Para o cálculo do
índice de Knutson (KNUTSON, 1944) foram utilizados os mesmos índices
distribuindo os escolares em dois grupos: com ausência de sinais atuais
ou passados de lesão de cárie até o momento do exame; e escolares que
apresentaram pelo menos um dente acometido pela cárie.
Os resultados foram analisados por meio de estatística
descritiva e os diferentes sexos comparados pelo Teste de Mann-Whitney
e Binomial com nível de significância de 5%.
RESULTADOS
Nas Tabelas 1 e 2 estão expostos os dados referentes à
estatística descritiva do índice ceod e CPOD, respectivamente, da
população de escolares, de acordo com o sexo e a idade.
55
Tabela 1: Estatística descritiva do índice ceod da população de escolares,
de acordo com o sexo e a idade.
Sexo
ceod
Masculino*
Idade
(anos)
n
máximo mínimo média
desvio
padrão
7 104
13 0 2,038 3,050
8 135
9 0 1,763 2,250
9 128
9 0 2,195 2,569
10 94
8 0 1,340 2,019
11 90
6 0 0,500 1,183
12 117
8 0 0,222 0,957
Total
668
13 0 1,343 2,005
Feminino*
7 122
8 0 1,295 2,119
8 137
8 0 1,577 2,229
9 169
8 0 1,544 2,024
10 122
8 0 1,148 1,789
11 77
6 0 0,312 0,936
12 95
3 0 0,074 0,393
Total 722
8 0 0,992 1,581
*Teste de Mann-Whitney: p>0,05
Tabela 2: Estatística descritiva do índice CPOD da população de
escolares de acordo com o sexo e a idade.
sexo
CPOD
Masculino*
Idade
(anos) n
máximo mínimo média
desvio
padrão
7 104
7 0 0,837 1,415
8 135
6 0 0,756 1,346
9 128
6 0 0,797 1,245
10 94
6 0 0,638 1,252
11 90
8 0 0,756 1,501
12 117
6 0 1,179 1,770
13 77
8 0 1,468 1,930
14 95
9 0 1,737 2,303
Total
840
9 0 1,021 1,595
Feminino*
7 122
6 0 0,689 1,234
8 137
4 0 0,613 1,009
9 169
6 0 0,817 1,252
10 122
4 0 0,492 1,030
11 77
5 0 0,831 1,380
12 95
10 0 1,463 2,177
13 105
10 0 1.629 2.284
14 71
9 0 1.958 2.369
Total 898
10 0 1.061 1.592
*Teste de Mann-Whitney: p>0,05
56
A distribuição de freqüências da ausência e presença da
lesão de cárie na dentição decídua e permanente, nos diferentes sexos e
idades, encontra-se nas Tabelas 3 e 4.
Tabela 3: Distribuição de freqüências da ausência e presença da lesão de
cárie na dentição decídua de acordo com o sexo e a idade.
Experiência de Cárie
ausência
presença
Sexo idade
n
%
n
%
Masculino* 7
61
58,65
43
41,35
8
71
52,59
64
47,41
9
59
46,09
69
53,91
10
56
59,57
38
40,43
11
70
77,78
20
22,22
12
108
92,31
9
7,69
Total
425
73,38
243
26,62
Feminino* 7
78
63,93
44
36,07
8
79
57,66
58
42,34
9
88
52,07
81
47,93
10
75
61,48
47
38,52
11
67
87,01
10
12,99
12
91
95,79
4
4,21
Total
478
77,24
244
22,76
*Teste Binomial: p>0,05
57
Tabela 4: Distribuição de freqüências da ausência e presença da lesão de
cárie na dentição permanente de acordo com o sexo e a idade.
Experiência de Cárie
ausência
presença
Sexo idade
n
%
n
%
Masculino* 7
67
64,42
37
35,58
8
92
68,15
43
31,85
9
80
62,50
48
37,50
10
69
73,40
25
26,60
11
64
71,11
26
28,89
12
74
63,25
43
36,75
13
40
51,95
37
48,05
14
49
51,58
46
48,42
Total
535
63,30
305
36,70
Feminino* 7
84
68,85
38
31,15
8
89
64,96
48
35,04
9
102
60,36
67
39,64
10
92
75,41
30
24,59
11
53
68,83
24
31,17
12
54
56,84
41
43,16
13
56
53,33
49
46,67
14
32
45,07
39
54,93
Total
562
61,71
336
38,29
*Teste Binomial: p>0,05
DISCUSSÃO
A investigação da experiência de cárie em escolares, nos
diferentes municípios, tem papel relevante no planejamento de estratégias
de políticas públicas de promoção de saúde bucal, pois levantamentos
epidemiológicos já demonstraram que existem grandes disparidades entre
as diversas localidades (CANGUSSU et al., 2002; BALDANI et al., 2004;
HOFFMANN et al., 2004). Conforme preconiza a lei 8080 de 1990
(BRASIL, 1990), a epidemiologia deve ser utilizada nesse processo a fim
58
de que medidas apropriadas para redução e controle das doenças
possam ser implementadas.
A cidade de Araraquara possui uma população de
174.381 habitantes com densidade demográfica de 172,89 hab./km
2
e
está localizada ao Nordeste do Estado de São Paulo na região Sudeste
do Brasil. Desde 1987, o serviço odontológico municipal tem sido
responsável pela administração, implementação, monitoramento e
avaliação dos programas de promoção de saúde bucal (ARARAQUARA,
2004).
Os valores médios do índice de cárie expressos na
Tabela 2 demonstram que os escolares da cidade de Araraquara
apresentam baixa e muito baixa prevalência de cárie, segundo a
classificação da OMS (NARVAI, 1996) (Anexo 8). Dini et al. (1993) ao
examinar 392 escolares de 6 a 12 anos da zona rural da cidade de
Araraquara e Dini & Silva (1994) avaliando 1472 escolares de 7 a 12 anos
de idade da zona urbana e 355 da zona rural do mesmo município
encontraram um índice CPOD médio aos 12 anos de 4,0 (prevalência
moderada). A diferença observada com relação aos resultados obtidos
neste estudo pode ser atribuída às peculiaridades das amostras, uma vez
que, neste estudo participaram apenas crianças da zona urbana, que
como já descrito por Mello & Antunes (2004) possuem, em geral, maior
acesso aos serviços odontológicos, água fluoretada, e informação sobre
saúde bucal.
59
Outro aspecto a ser ressaltado é o intervalo de tempo
existente entre os estudos (10 anos) o que pode ter refletido em 2004, a
tendência de declínio da prevalência da doença cárie (BASTOS et al.,
2004). Em Itapetininga, Mello & Antunes (2004), também relataram que os
levantamentos epidemiológicos recentes em saúde bucal permitiram
identificar uma expressiva redução da prevalência de cáries em crianças
de idade escolar.
O percentual de escolares livres de cárie (ceo = 0) aos 7
anos de idade foi de 58,65% no sexo masculino e 63,93% no sexo
feminino (Tabela 3) e na dentição permanente aos 12 anos, de 63,25%
(meninos) e 56,84% (meninas). Desta forma, estes resultados superam a
meta sugerida pela OMS (NARVAI, 1996) para o ano de 2000, quando
50% das crianças de 5 anos de idade deveriam apresentar-se sem
experiência de cárie.
Dini et al. (1993) também encontraram um significativo
percentual de crianças livres de cárie aos 6 anos (72,9%), sendo que na
dentição permanente aos 12 anos apenas 8,7% dos escolares
apresentaram esta condição. Os autores alertam para o fato das crianças
não terem recebido informações sobre saúde bucal, medidas preventivas
e água fluoretada durante a infância, pois estas medidas passaram a ser
enfatizadas apenas no período de início da filosofia preventiva da
odontologia.
60
Nas Tabelas de 1 a 4 pode-se notar que não houve
diferença estatisticamente significante (p>0,05) entre os sexos quanto à
experiência de cárie (média do Índice ceod e CPOD e Índice de Knutson),
o que também foi observado por Bastos et al. (2004). Peng et al. (1997)
apesar de não ter encontrado diferença significativa entre os sexos na
dentição decídua pôde verificá-la na dentição permanente, a qual
demonstrou que as meninas possuíam maior experiência de cárie.
Gomes et al. (2004), estudando 860 indivíduos de 5 a 12
anos de idade residentes na cidade de Paulínia (SP), encontraram aos 7
anos um ceod médio de 2,3 com 54,2% das crianças sem experiência de
cárie e aos 12 anos um CPOD de 1,0 e 46,4% livres de cárie. Assim,
pode-se notar que apenas na média de CPOD aos 12 anos os escolares
araraquarenses (Tabela 2) demonstraram maiores valores do que os
acima apresentados.
A experiência de cárie observada neste estudo (Tabela de
1 a 4) é comparável ainda a encontrada no Reino Unido, onde o ceod em
crianças de 7 anos foi de 2,47 e aproximadamente 60,0% delas estavam
livres de cárie (PITTS et al., 2003). Em outro estudo Pitts et al. (2000)
observaram que aos 14 anos, o CPOD médio foi de 1,76 e 46% das
crianças não possuíam experiência de cárie.
Em Rio Claro (SP) os valores médios de ceod (2,8 aos 7
anos) e CPOD (2,7 aos 12 anos) apresentaram-se mais elevados e o
índice Knutson referente à porcentagem de crianças livres de cárie
61
diminuída (42,2% aos 7 anos e 28,9% aos 12 anos) (HOFFMANN et al.,
2004) quando comparada aos escolares de Araraquara (Tabelas de 1 a
4).
Do mesmo modo, a população de escolares da região de
Sorocaba (n=3731) demonstrou maiores índices de experiência de cárie
(aos 5 anos apresentou ceod médio de 3,1 e 37,6% das crianças estavam
livres de cárie; aos 12 anos o CPOD foi de 2,6 e 32,3% das crianças não
possuíam experiência de cárie). Deve-se ressaltar que nem todos os
municípios estudados apresentavam água fluoretada, além de existir
amplas diferenças quanto ao tamanho dos municípios e densidade
demográfica (CYPRIANO et al., 2003).
Frente ao exposto e sabendo-se que o reconhecimento
das necessidades da população é imprescindível para adequar os
cuidados de promoção em saúde bucal, compatibilizando os recursos
assistenciais e preventivos às necessidades da população (MELLO &
ANTUNES, 2004), salienta-se aqui a importância da utilização da
epidemiologia no planejamento de programas e serviços de saúde bucal
de um município.
CONCLUSÃO
1- A experiência de cárie nos escolares da cidade de
Araraquara (SP) mostrou-se baixa e muito baixa, acompanhando a
tendência brasileira de declínio da doença.
62
2 - A aplicação e manutenção de um sistema de vigilância
e monitoramento da condição de saúde bucal da população, torna-se uma
estratégia interessante visando minimizar a ocorrência da doença ao
longo dos anos.
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68
CÁRIE DENTAL E ESTADO NUTRICIONAL DE ESCOLARES.
RESUMO
O objetivo deste estudo foi verificar a relação entre a cárie
dental e o estado nutricional de 1831 escolares, de ensino fundamental,
da cidade de Araraquara (SP). Foi realizado levantamento dos índices
ceod e CPOD, análise do índice de Knutson e avaliação antropométrica
por meio das medidas de peso e altura. Para classificação do estado
nutricional utilizou-se a referência do National Center for Health Service
(NCHS) (2000). Os dados foram analisados por meio de estatística
descritiva e da razão de chances (odds ratio) para o desenvolvimento de
lesão de cárie nos diferentes estados nutricionais. Pode-se observar
maiores valores médios de ceod na dentição decídua em crianças com
desnutrição. Estas apresentaram também maior porcentagem de sinais
atuais e passados da doença cárie (54%) do que as crianças não
desnutridas (31,9% em média), além do maior risco de desenvolvimento
de lesões de cárie (OR=1,66). Na dentição permanente não observou-se
relação entre o déficit nutricional e a prevalência de lesão de cárie. Pode-
se concluir que houve relação de causa-efeito apenas entre a presença
de lesões de cárie e a desnutrição na dentição decídua.
Palavras-Chave: Cárie dental; Estado nutricional; Antropometria; Saúde
bucal.
69
INTRODUÇÃO
A enfermidade nutricional caracteriza-se como um
problema sério sob o ponto de vista social e de saúde pública, uma vez
que está diretamente relacionada com fatores sub-humanos de vida. As
crianças, particularmente, apresentam maior vulnerabilidade a esta
condição em virtude de seus requerimentos nutricionais aumentados pelo
seu acelerado crescimento (GUIMARÃES et al., 2002).
Estudos têm evidenciado a existência de uma relação
entre o estado nutricional e a cárie dental (ALVAREZ & NAVIA, 1989;
JOHNSON & NAVIA, 1995; CLEATON-JONES et al., 2000) a qual, ainda
nos dias atuais, caracteriza-se por uma afecção bucal de alta prevalência
na população.
A cárie é uma doença multifatorial, sendo que todas as
variáveis envolvidas no seu processo de desenvolvimento devem ser
amplamente estudadas e consideradas no momento da elaboração de um
programa de prevenção e/ou tratamento. Entretanto, Toledo et al. (1989)
ressaltam que a higiene bucal, a microbiota e a alimentação têm sido
estudadas freqüentemente, enquanto a nutrição tem sido pouco
considerada.
Deste modo, considerando-se a importância do
desenvolvimento de pesquisas sobre estado nutricional e a cárie dental
no Brasil, realizou-se este estudo com o intuito de verificar a relação
existente entre estas duas variáveis.
70
MATERIAL E MÉTODOS
A amostra deste estudo foi composta por 1831 escolares
matriculados de 1° a 8° série do ensino fundamental em escolas públicas
e privadas da cidade de Araraquara (SP), escolhidas aleatoriamente. A
execução deste trabalho este vinculada à aprovação do Comitê de Ética
em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Araraquara (protocolo n°
97/02) (Anexo 1) e a participação das crianças, ao correto preenchimento
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos seus responsáveis
(Anexo 2).
O exame clínico das crianças foi realizado na própria
escola durante o período regular de aulas, por um único examinador
previamente calibrado (Anexo 7), sob luz natural e com o auxílio de
espátulas de madeira. O exame clínico bucal constou do levantamento
dos índices ceod (dentes decíduos cariados, com extração indicada e
obturados) e CPOD (dentes permanentes cariados, perdidos e obturados)
(KLEIN et al., 1938), os quais foram obtidos e registrados em fichas
apropriadas (Anexo 6) seguindo-se as orientações da Organização
Mundial de Saúde (OMS) (1997).
A avaliação do estado nutricional constou de análise
antropométrica na qual observaram-se as medidas de peso e altura. O
peso foi aferido com o auxílio de uma balança portátil (G-Tech,
GLICOMED–Glass II) de precisão de 0,1Kg, com os estudantes descalços
e utilizando o mínimo de roupa possível. A altura foi obtida com o auxílio
71
de um esquadro de madeira posicionado acima da cabeça do escolar e
com uma fita métrica milimetrada fixada em uma parede totalmente reta e
sem rodapé. As crianças foram orientadas a encostar as nádegas e os
calcanhares na parede.
A referência utilizada para classificação do estado
nutricional foi a do National Center for Health Statistics (NCHS, 2000).
Considerou-se desnutrição moderada e grave aqueles
casos que apresentaram valores de escores z de peso para altura (ZPA),
peso para idade (ZPI) e altura para idade (ZAI) menores ou iguais a -2,
desnutrição leve quando estes indicadores estavam entre -2 e -1 e
sobrepeso e obesidade quando o Índice de Massa Corpórea (IMC)
encontrava-se acima do percentil 85 (WHO, 1995; WHO, 2000).
Os dados foram inicialmente analisados por meio de
estatística descritiva e em seguida os indivíduos foram agrupados,
segundo o índice de Knutson (KNUTSON, 1944; CHAVES, 1977) de
acordo com a ausência de sinais atuais ou passados de ataque pela cárie
até o momento do exame (ceo ou CPO = 0) e aqueles que apresentaram
pelo menos um dente atacado pela cárie (ceo ou CPO>0), para os
diferentes estados nutricionais. Calculou-se também a razão de chances
(odds ratio) para o desenvolvimento de lesão de acordo com os diferentes
estados nutricionais.
72
RESULTADOS
Os valores médios de ceod e CPOD estão apresentados
na Tabela 1 segundo o estado nutricional, onde pode-se observar maiores
valores para a dentição decídua em crianças com desnutrição.
Tabela 1: Estatística descritiva dos índices de cárie (CPOD e ceod) na
amostra estudada, segundo o estado nutricional.
Desnutrição
Moderada e Grave
Desnutrição
Leve
Eutrofia Sobrepeso Obesidade
ceod
n 75 170 759 210 194
Média 2,05 1,57 1,26 0,96 1,02
DP 2,87 2,22 2,11 1,74 1,83
CPOD
n 81 215 1040 266 229
Média 0,69 1,00 1,18 0,94 0,86
DP 1,22 1,66 1,83 1,73 1,55
Na Tabela 2 encontra-se disposta a distribuição de
freqüências absoluta e relativa dos escolares classificados pelo índice de
Knutson em cada estado nutricional.
73
Tabela 2: Distribuição de freqüências da presença ou ausência de sinais
presentes ou passados de ataque pela lesão de cárie nos diferentes
estados nutricionais.
Estado Nutricional Experiência de cárie na
dentição decídua
Experiência de cárie na
dentição permanente
ausente presente Ausente Presente
Desnutrição
Moderada e grave
34 (45,3) 41 (54,7) 55(67,9) 26 (32,1)
Desnutrição Leve
77 (45,3) 93 (54,7) 132 (61,4) 83 (38,6)
Eutrofia
495 (65,2) 264 (34,8) 609 (58,6) 431 (41,4)
Sobrepeso
147 (70,0) 63 (30,0) 180 (67,7) 86 (32,3)
Obesidade
134 (69,1) 60 (30,9) 155 (67,7) 74 (32,3)
Total
910 (100,0) 498 (100,0) 1131 (100,0) 700 (100,0)
Nas Tabelas 3 e 4 estão apresentados os valores da
razão de chances (odds ratio) utilizada para avaliar a medida de risco do
desenvolvimento da doença cárie nos diferentes estados nutricionais.
Tabela 3: Medida de risco da relação existente entre a doença cárie na
dentição decídua e o estado nutricional.
Desnutrição Total Sobrepeso/
Obesidade
Total Experiência de
cárie na
dentição
decídua
Presente Ausente Presente Ausente
Presente 134 776 910 123 375 498
Ausente 111 387 498 281 629 910
Total
245 1163 1408 404 1004 1408
p 0,0047 0,0169
Odds Ratio 1,66 0,73
Limite Inferior 1,26 0,57
Limite Superior 2,20 0,94
74
Tabela 4: Medida de risco da relação existente entre o estado nutricional
e a doença cárie na dentição permanente.
Desnutrição Total Sobrepeso/
Obesidade
Total Experiência de
cárie na
dentição
permanente
Presente Ausente Presente Ausente
Presente 187 944 1131 160 540 700
Ausente 109 591 700 335 796 1131
Total
296 1535 1831 495 1336 1831
p 0,0105 0,001
Odds Ratio 0,99 0,70
Limite Inferior 0,83 0,57
Limite Superior 1,39 0,87
No Gráfico 1 encontra-se esquematizada a prevalência de
estudantes com experiência de cárie (índice de Knutson) maior do que
zero nos diferentes grupos de estado nutricional, podendo-se observar
diferença significante na prevalência de cárie na dentição decídua dos
escolares desnutridos quando comparada com os demais grupos.
0
10
20
30
40
50
DGM DL Eutr. Sob. Obes.
Estado Nutricional
% de escolares com ceo ou
CPO>0
ceo CPO
DGM: Desnutrição grave e moderada; DL: desnutrição leve; Eutr.: Eutrofia;
Sob.: Sobrepeso; Obes.: Obesidade.
Gráfico 1: Porcentagem de escolares que apresentaram ceo e CPO
maior do que zero, na dentição decídua e permanente nos diferentes
estados nutricionais.
75
DISCUSSÃO
As ações de saúde, segundo Narvai (1999), devem ser
planejadas considerando as condições da população e o diagnóstico deve
ser, sempre que possível, realizado associando-se diferentes aspectos da
condição de saúde. Deste modo, apoiados em estudos da literatura
(ALVAREZ & NAVIA, 1989; JOHNSON & NAVIA, 1995; CLEATON-
JONES et al., 2000) que sugerem evidente relação entre a prevalência da
doença cárie e o estado nutricional, realizou-se este estudo buscando
encontrar possível relação entre as condições de saúde da cavidade
bucal e o estado nutricional de escolares de Araraquara.
Na Tabela 1, verifica-se que a grande maioria dos
estudantes avaliados apresentou-se eutrófica e que os maiores valores
médios do índice de cárie foram encontrados na dentição decídua em
crianças com desnutrição. Alvarez et al. (1988), analisando 285 crianças,
de 3 a 9 anos de idade, também verificaram que aquelas desnutridas
apresentaram porcentagem significativamente maior de lesões de cárie,
concluindo que o déficit nutricional esteve relacionado com a maior
suscetibilidade à cárie.
Estes achados podem ainda ser verificados na Tabela 2,
quando agrupa-se os estudantes de acordo com a ausência ou presença
de experiência atual ou passada de cárie. Nota-se experiência de cárie na
dentição decídua de 54% para as crianças com desnutrição, valor
significativamente maior dos que nas demais condições nutricionais.
76
Sawyer & Nwoku (1985), avaliando 52 crianças nigerianas
verificaram que aquelas que apresentavam desnutrição possuíam
prevalência de 11,63% de cárie enquanto as bem nutridas não
apresentaram lesões. Alvarez et al. (1988) também verificaram maior
prevalência de cárie (40%) na dentição decídua em crianças desnutridas,
quando comparadas com aquelas não desnutridas (29%). Este achado foi
confirmado por estudos posteriores realizados com delineamento
transversal, avaliando-se 1481 crianças (ALVAREZ et al., 1990) e em
estudo longitudinal com 209 crianças (ALVAREZ et al., 1993).
Diorio et al. (1973) afirmam que o aumento da
suscetibilidade à cárie está relacionado com alterações morfológicas das
superfícies dentárias que ocorrem devido à deficiência protéica no
momento da formação do elemento dental. Johnson & Navia (1995)
sugerem ainda que as propriedades de defesa do organismo encontram-
se comprometidas em indivíduos com deficiência protéica podendo ser
fator contribuinte para o desenvolvimento de lesões de cárie.
Na dentição permanente não observou-se relação entre o
déficit nutricional e a experiência de cárie (Tabela 2 e 4) o que de acordo
com Alvarez & Navia (1989) pode ter ocorrido devido ao período de
formação do dente permanente ser mais tardio quando comparado com o
decíduo. De acordo com o autor, este fator proporciona maior proteção às
alterações estruturais, decorrentes de situações de deficiências
nutricionais.
77
A relação do sobrepeso e obesidade com a experiência
de cárie esteve inversamente relacionada tanto na dentição decídua
(OR=0,73) quanto na permanente (OR=0,70), ou seja, este estado
nutricional atuou positivamente na prevenção do desenvolvimento da
doença cárie (Tabela 3 e 4; Gráfico 1).
Este fato pode ser justificado pelo sobrepeso e a
obesidade estarem comumente relacionados à alta ingestão de lipídios,
(MAFFEIS, 2000; ZWIAUER, 2000) que segundo Newbrun (1993), são
substâncias capazes de causar mudanças na permeabilidade celular
bacteriana, atuando como antimicrobiano, além de serem agentes
emulsificantes da superfície do esmalte, dificultando a aderência do
biofilme.
Assim como relatado por Alvarez et al. (1988), este
estudo demonstrou que as crianças com desnutrição apresentaram maior
porcentagem de experiência da doença na dentição decídua (Tabela 2 e
Gráfico 1), assim como demonstraram maior risco de desenvolvimento de
lesões de cárie (OR=1,66), apresentando 1,66 vezes mais chances do
que aquelas encontradas em outros estados nutricionais (Tabela 3).
Os dados apresentados neste estudo confirmam a
existência de uma relação de causa e efeito entre a desnutrição e o
aumento da experiência de cárie.
As significativas alterações na experiência de cárie em
crianças de acordo com seu estado nutricional, segundo Alvarez et al.
78
(1990), têm importantes implicações nos estudos epidemiológicos da cárie
dental, porque possibilita um ajuste na prevalência de cárie quando da
comparação entre diferentes países ou regiões com características
distintas de estado nutricional.
Alvarez & Navia (1989) afirmam que a existência de uma
significante inter-relação entre o estado nutricional e o desenvolvimento
de lesões de cárie é clara e advém de uma interação complexa entre
muitos fatores, como por exemplo, qualidade, consistência e freqüência
de ingestão dos alimentos.
Miller et al. (1986) ressaltaram ainda que as crianças com
déficits nutricionais que apresentam lesão de cárie devem ser
identificadas e atendidas o mais precocemente possível, pois estas lesões
apresentam sintomatologia dolorosa, dificultando ou impedindo o
processo de alimentação e contribuindo muitas vezes para o agravamento
da deficiência nutricional.
CONCLUSÃO
Pelos dados observados neste estudo pode-se concluir
que houve correlação entre a presença de desnutrição e lesões de cárie
na dentição decídua e que a obesidade atuou como fator de proteção ao
desenvolvimento de lesões tanto na dentição decídua quanto
permanente.
79
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82
EXPERIÊNCIA DE CÁRIE EM ESCOLARES SEGUNDO O NÍVEL
ECONÔMICO E ESCOLARIDADE DOS PAIS.
RESUMO
Sabendo-se da influência dos fatores sociais na etiologia
da doença cárie, realizou-se um estudo com o objetivo de verificar a
experiência de cárie de escolares do ensino fundamental da cidade de
Araraquara (SP) segundo o nível econômico e a escolaridade de seus
pais. Para tanto, um único examinador, previamente calibrado, realizou o
exame bucal por meio do índice de ceod e CPOD em 1831 escolares de
1° a 8° série de escolas públicas e particulares do Município. A avaliação
do nível econômico e da escolaridade do chefe da família foi realizada por
meio do preenchimento de um questionário proposto pela ANEP
(Associação Nacional de Empresas de Pesquisa). Posteriormente, os
escolares foram agrupados segundo o índice de Knutson. Os dados foram
analisados por meio de estatística descritiva e pela medida de risco de
razão de chances (odds ratio). Os resultados demonstraram que os
valores médios de ceod e CPOD apresentados pelos escolares
aumentaram progressivamente com a diminuição da renda familiar e do
nível de escolaridade dos pais. A presença de sinais atuais ou passados
de lesão de cárie também aumentou inversamente proporcional ao nível
econômico e escolaridade. A chance de o escolar ter experiência de cárie
presente ou passada mostrou-se mais elevada nos escolares de nível
83
econômico mais baixo (OR=2,03 e 1,34, na dentição decídua e
permanente respectivamente) e a exposição à doença cárie mostrou-se
83% e 59% maior na dentição decídua e permanente, respectivamente,
quando o chefe de família era analfabeto ou possuía apenas o primário
incompleto. Assim, pôde-se concluir que a experiência de cárie foi
significativamente maior no grupo de escolares de famílias com menores
níveis econômicos e de baixa escolaridade, ressaltando a influência de
fatores de ordem sócio-econômica na determinação do processo de
desenvolvimento da doença cárie.
Palavras-chave: Cárie dentária, Nível econômico, Escolaridade,
Epidemiologia.
INTRODUÇÃO
A cárie dentária ainda caracteriza-se como um sério
problema de saúde bucal (PERES et al., 2003), e a identificação de seus
fatores determinantes tem sido descrita como uma estratégia fundamental
na avaliação do impacto destas lesões na saúde da população e para o
delineamento e implementação de intervenções efetivas (DYKES et al.,
2002).
O desenvolvimento das lesões de cárie está relacionado,
segundo Newbrun (1993) com a justaposição de quatro fatores: as
características do hospedeiro, a microbiota, o substrato e o tempo.
Entretanto, Moysés (2000) salienta que, apesar dos fatores ambientais
84
serem considerados como mascaradores e não determinantes, de
maneira geral, todas as doenças são expressões biológicas de fatores
sociais que estão inseridos em uma hierarquia complexa e portanto
devem ser considerados.
Nadanovsky (2004) verificou em seu estudo que apenas
3% das mudanças no índice CPOD, em crianças de dezoito países,
ocorreu pela intervenção odontológica nos quatro fatores considerados
determinantes. Quanto aos fatores sociais como a educação, nível e
distribuição de renda, foram atribuídas 65% das alterações, concluindo
que a odontologia depende principalmente da atuação nos fatores
indiretos.
Lalloo & Myburgh (2002) alertam ainda que para o
estabelecimento de políticas públicas de prevenção à doença cárie, é
importante examinar as condições sociais e econômicas da população,
pois estas podem ser fatores determinantes que devem ser incluídos no
planejamento de intervenções.
Deste modo, realizou-se um estudo para verificar a
experiência de cárie em escolares da cidade de Araraquara (SP) segundo
o nível econômico e a escolaridade dos pais.
85
MATERIAL E MÉTODOS
A realização deste estudo esteve vinculada à Aprovação
do Comitê de ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de
Araraquara (protocolo n° 97/02) (Anexo 1).
Participaram deste estudo 1831 escolares de 1° a 8° série
matriculados em escolas públicas e privadas da cidade de Araraquara
(SP), cujos pais preencheram corretamente o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (Anexo 2).
Para determinação da amostra, considerou-se
inicialmente o total de escolas e sua localização segundo informações
cedidas pela Delegacia Regional da Educação do município. O cálculo do
tamanho amostral foi determinado de acordo com o critério de Luiz &
Magnanini (2001). Em seguida realizou-se uma estratificação segundo a
localização e o tipo de instituição, de maneira que foram selecionadas
duas escolas públicas centralizadas, duas localizadas na periferia e duas
escolas particulares.
A avaliação do nível econômico e a escolaridade do chefe
da família foram realizadas por meio do preenchimento de um
questionário proposto pela ANEP (Associação Nacional de Empresas de
Pesquisa) (ANEP, 2000) (Anexo 9). Este sistema de classificação baseia-
se na determinação do poder de compra das famílias urbanas, avaliando
o grau de instrução do chefe de família, posse de itens de consumo e
presença de empregada mensalista. As respostas foram registradas pelo
86
sistema de pontos, onde a pontuação total refletiu no agrupamento em
classes (Quadro 1).
Quadro 1: Descrição do critério de pontuação das classes econômicas.
Classes Pontos Renda Familiar
A1 30 ou mais acima de 45 SM*/mês
A2 25 a 29 entre 25 e 45 SM*/mês
B1 21 a 24 entre 15 e 25 SM*/mês
B2 17 a 20 entre 10 e 15 SM*/mês
C 11 a 16 entre 4 e 10 SM*/mês
D 6 a 10 entre 2 e 4 SM*/mês
E 0 a 5 até 2 SM*/mês
*SM = salários mínimos
Para avaliação da escolaridade, foram propostos escores
de acordo com o Quadro 2.
Quadro 2: Escores utilizados para classificação do nível de escolaridade
do chefe da família.
Escore Escolaridade
1 Analfabeto ou primário incompleto
2 Primário completo ou ginasial incompleto
3 Ginasial completo ou colegial incompleto
4 Colegial completo ou superior incompleto
5 Universitário completo
O exame clínico bucal foi realizado, por um único
examinador, na própria escola com auxílio de luz natural e espátulas de
madeira e os dados foram anotados em fichas apropriadas (Anexo 6). Os
critérios utilizados para classificação do índice ceod e CPOD foram os
preconizados pela Organização Mundial da Saúde (1997).
87
Para assegurar a uniformidade de interpretação e
aplicação dos critérios utilizados para o exame clínico bucal foram
realizadas duas avaliações prévias com o objetivo de realizar a calibração
do examinador (Anexo 6).
Em seguida, os escolares foram divididos em dois grupos
segundo a presença (ceo ou CPO > 0) ou ausência (ceo ou CPO = 0) de
experiência presente ou passada de cárie (índice de Knutson)
(KNUTSON, 1944; CHAVES, 1977), para posteriormente realizar a
avaliação da distribuição em cada grupo econômico e nível de
escolaridade do chefe da família.
Os dados foram analisados por meio de estatística
descritiva e pela medida de risco de razão de chances (odds ratio).
RESULTADOS
Tabela 1: Estatística descritiva dos índices de cárie (ceod e CPOD) na
amostra estudada, segundo o nível econômico.
Nível
econômico A1+A2 B1 B2 C D+E
ceod
n 104 159 272 566 307
média 0,55 0,88 1,06 1,32 1,78
DP 1,47 1,70 1,98 2,12 2,38
CPOD
n 137 205 334 766 389
média 0,22 0,60 1,04 1,30 1,14
DP 0,73 1,31 1,74 1,94 1,66
88
Tabela 2: Distribuição de freqüências da presença ou ausência de sinais
atuais ou passados de lesões de cárie nos diferentes níveis econômicos,
na dentição decídua e permanente.
Nível econômico Experiência de cárie na
dentição decídua
Experiência de cárie na
dentição permanente
ausente presente ausente Presente
A1+A2
86 (82,7) 18 (17,3) 120(87,6) 17 (12,4)
B1
116 (73,0) 43 (27,0) 151 (73,7) 54 (26,3)
B2
192 (70,6) 80 (29,4) 211 (63,2) 123 (36,8)
C
358 (63,3) 208 (36,7) 430 (56,1) 336 (43,9)
D+E
158 (51,5) 149 (48,5) 219 (56,3) 170 (43,7)
Total
910 (100,0) 498 (100,0) 1131 (100,0) 700 (100,0)
Tabela 3: Risco para o desenvolvimento de lesões de cárie, na dentição
decídua, segundo o nível econômico.
Nível A1+A2 Total Nível D+E Total ceod
Presente Ausente Presente Ausente
Presente 18 480 498 149 158 307
Ausente 86 824 910 349 752 1101
Total
104 1304 1408 498 910 1408
p 0,0000 0,0000
Odds Ratio 0,36 2,03
Limite Inferior 0,21 1,57
Limite Superior 0,60 2,63
Tabela 4: Risco para o desenvolvimento de lesões de cárie, na dentição
permanente segundo o nível econômico.
Nível A1+A2 Total Nível D+E Total CPOD
Presente Ausente Presente Ausente
Presente 17 683 700 170 219 389
Ausente 120 1011 1131 530 912 1442
Total
137 1694 1831 700 1131 1831
p 0,0000 0,0145
Odds Ratio 0,21 1,34
Limite Inferior 0,13 1,06
Limite Superior 0,35 1,68
89
0
10
20
30
40
50
60
A1+A2 B1 B2 C D+E
Nível Econômico
% de escolares com ceo ou CPO>
0
CPO ceo
Gráfico 1: Porcentagem de estudantes que apresentaram ceo, CPO
maior do que zero, na dentição decídua e permanente para os diferentes
níveis econômicos.
Tabela 5: Estatística descritiva dos índices de cárie (ceod e CPOD) na
amostra estudada, segundo o nível de escolaridade dos pais.
Escolaridade 1 2 3 4 5
ceod
n 175 338 252 421 222
média 1,87 1,49 1,46 1,31 0,72
DP 2,60 1,86 2,17 2,16 1,57
CPOD
n 253 446 343 502 287
média 1,37 1,33 1,12 0,89 0,59
DP 1,94 1,95 1,84 1,46 1,36
90
Tabela 6: Distribuição de freqüências da presença ou ausência de sinais
atuais ou passados de lesões de pela cárie nos diferentes níveis de
escolaridade dos pais para a dentição decídua e permanente.
Escolaridade Experiência de cárie na
dentição decídua
Experiência de cárie na
dentição permanente
ausente presente ausente presente
1
91 (52,0) 84 (48) 132(52,2) 121 (47,8)
2
229 (67,8) 109 (32,2) 246 (55,2) 200 (44,8)
3
147 (58,3) 105(41,7) 214 (62,4) 129 (37,6)
4
273 (64,8) 148 (35,2) 322 (64,1) 180 (35,9)
5
170 (76,6) 52 (23,4) 218 (76,0) 69 (24,0)
Total
910 (100,0) 498 (100,0) 1131 (100,0) 700 (100,0)
Tabela 7: Risco para o desenvolvimento de lesões de cárie, na dentição
decídua, segundo o nível de escolaridade dos pais.
Escolaridade
1 Total 5 Total ceod
Presente Ausente Presente Ausente
Presente 84 414 498 52 170 222
Ausente 91 819 910 446 740 1186
Total
175 1233 1408 498 910 1408
p 0,0003 0,0001
Odds Ratio 1,83 0,51
Limite Inferior 1,33 0,36
Limite Superior 2,51 0,71
Tabela 8: Risco para o desenvolvimento de lesões de cárie, na dentição
permanente, segundo o nível de escolaridade dos pais.
Escolaridade
1 Total 5 Total CPOD
Presente Ausente Presente Ausente
Presente 121 578 699 69 218 287
Ausente 132 1000 1132 630 914 1544
Total
253 1578 1831 699 1132 1831
p 0,0000 0,0000
Odds Ratio 1,59 0,46
Limite Inferior 1,21 0,34
Limite Superior 2,07 0,61
91
0
10
20
30
40
50
60
12345
Escolaridade
% de escolares com ceo ou CPO>
0
CPO ceo
Gráfico 2: Porcentagem de estudantes que apresentaram índice de cárie
maior do que zero, na dentição decídua e permanente segundo o nível de
escolaridade dos pais.
DISCUSSÃO
As desigualdades em saúde bucal têm sido interpretadas
como o termo geral que se refere a distribuições assimétricas de
condições de saúde em uma população (MOYSÉS, 2000), podendo estas
ser representadas por suas características demográficas e sociais.
Petersen (1990) ressaltou porém, que poucos estudos
associam em suas metodologias a avaliação da renda e educação do
indivíduo com o desenvolvimento de lesões de cárie. Este fato pode ser
justificado devido às diferentes explicações teóricas envolvidas na relação
entre saúde bucal e a desigualdade social (teoria estatística, teoria de
seleção natural ou social, teoria materialista ou estruturalista, explicações
92
culturais/comportamentais) que geralmente não são claramente
entendidas ou aceitas pelos estudiosos.
Apesar de conhecer as limitações que podem permear
uma avaliação do envolvimento de fatores sociais na saúde, Moysés
(2000) em seu estudo, verificou a presença de uma relação entre
aspectos de desenvolvimento humano e qualidade de vida na saúde
bucal das populações, sugerindo que estes devam ser avaliados sempre
que possível.
Dykes et al. (2002) afirmaram ainda que uma variedade
de fatores pode influenciar o comportamento da população frente à saúde
e, para que se faça qualquer tipo de intervenção, devem-se considerar as
características do grupo avaliado para que se conheça o impacto de cada
fator na saúde bucal.
A escolha do Critério de Classificação Econômica
proposto pela ANEP (2000) neste estudo deveu-se ao fato deste estimar
apenas o nível econômico da população, que são variáveis envolvidas na
determinação da qualidade de vida, abandonando a classificação da
população em termos “sociais” que envolveria processos metodológicos
mais específicos e complexos.
Na Tabela 1 pode-se observar que a grande maioria dos
alunos envolvidos neste estudo possui nível econômico C, concordando
com os achados de Capote (2000). Pôde-se verificar também que os
valores médios de ceod e CPOD apresentados pelos escolares
93
aumentaram progressivamente com a diminuição da renda familiar, o que
corrobora com as evidências encontradas por Locker (1993).
Este mesmo padrão pode ainda ser observado na Tabela
2 e no Gráfico 1, onde verifica-se que a presença de sinais atuais ou
passados de lesão de cárie aumentou inversamente ao nível econômico
não havendo diferença quando analisados os níveis C e D+E para a
dentição permanente.
A chance de o escolar ter experiência de cárie presente
ou passada mostrou-se mais elevada naqueles de nível econômico mais
baixo (OR=2,03 e 1,34, na dentição decídua e permanente
respectivamente) (Tabela 3 e 4). Dykes et al. (2002) estudando 2382
escolares, também verificaram que para o nível econômico mais baixo a
chance da lesão de cárie ocorrer foi 86% maior do que nos níveis mais
elevados.
O nível econômico mais elevado pôde ser considerado
um fator protetor à exposição à doença (OR=0,36 e 0,21, na dentição
decídua e permanente respectivamente) (Tabela 3 e 4) o que também foi
relatado por Antunes et al. (2002) que verificaram na cidade de São Paulo
uma importante associação entre os índices de cárie e os níveis
econômicos.
Dentro dos indicadores sócio-econômicos capazes de
influenciar na saúde da população de escolares encontra-se o nível de
escolaridade dos pais (VANOBBERGEN et al., 2001; FREIRE et al.,
94
2002). Na Tabela 5 pode-se notar que quanto maior o nível de
escolaridade do chefe da família menor a média dos índices de cárie
(ceod e CPOD). Da mesma maneira, Vanobbergen et al. (2001),
analisando 1500 escolares e Freire et al. (2002) estudando 664
adolescentes, encontraram resultados estatisticamente significativos
demonstrando que a média dos índices de cárie foram menores quanto
maior o nível de escolaridade dos pais.
Quando da avaliação do índice de Knutson (Tabela 6 e
Gráfico 2) pode-se verificar que em torno de 48% dos escolares, cujo
chefe de família possui baixo nível de escolaridade, apresentou
experiência de cárie (tanto na dentição decídua quanto permanente) ao
passo que este número diminuiu para 24% quando o chefe de família
apresentava nível superior completo.
A exposição à doença cárie mostrou-se 83% e 59% maior
na dentição decídua e permanente respectivamente, quando o chefe de
família era analfabeto ou possuía apenas o primário incompleto,
demonstrando haver uma proteção à doença nos grupos de maior nível
de escolaridade (Tabelas 7 e 8).
A relação encontrada neste estudo entre os níveis
econômico e de escolaridade, com os índices de cárie é semelhante ao
verificado na literatura (CHEN, 1986; LALLOO & MYBURGH , 2002;
TOMITA et al., 1996; TOMITA et al., 2000; DYKES et al., 2002; SAYEGH
et al., 2002; PERES et al., 2003; BALDANI et al., 2004; RONCALLI,
95
2004), que têm salientado que a experiência, a prevalência e a
severidade das lesões de cárie estão relacionadas a fatores de risco
socialmente determinados, dentre os quais encontram-se a escolaridade e
o nível econômico.
A influência destes fatores nas variações da experiência
de cárie em grupos sócio-econômicos diferentes é geralmente explicada
pelas diferenças existentes nos mais importantes hábitos de saúde bucal
(WITT, 1992). Witt (1992) encontrou que as pessoas mais pobres e de
menor nível econômico apresentavam maior dificuldade de acesso aos
cuidados odontológicos, os quais quando presentes apresentaram-se de
maneira irregular. O autor verificou também maior freqüência de ingestão
de alimentos açucarados pela população menos favorecida concordando
com os achados de Monteiro et al. (2000). Bhandari et al. (2002), também
afirmaram que os fatores econômicos e a escolaridade dos pais
interferem diretamente na qualidade e na freqüência de ingestão dos
alimentos de seus filhos.
Para Locker (1993) as desigualdades em saúde bucal
oferecem evidência convincente de que os mais pobres estão expostos a
privação de acesso às políticas públicas e privação de coesão social.
Seow (1998) verificou maior consumo de medicamentos
açucarados pela população menos favorecida, devido à maiores
debilidades orgânicas. Limitações também foram encontradas por Nunes
(2001) quanto ao uso de creme dental e por Baldani et al. (2004) e Peres
96
et al. (2004) quanto ao acesso a água fluoretada nos grupos de menor
nível econômico e escolaridade.
Deste modo, entende-se que as variáveis sócio-
econômicas devem ser incluídas dentro de estudos populacionais,
visando a realização de intervenções que sejam capazes de minimizar as
diferenças de saúde bucal que possam existir (DYKES et al., 2002;
BALDANI et al., 2004).
Segundo Roncalli (2004), a cárie, como qualquer outra
doença, é socialmente determinada e o único ponto em comum a ser
ressaltado entre todos os países que experimentaram redução em seus
índices é a melhoria nas condições globais de qualidade de vida. Este
fato é confirmado por Moysés (2000) o qual afirma que a epidemiologia
social tem uma grande contribuição a dar para o entendimento da saúde
bucal.
CONCLUSÃO
Baseados no fato de que a experiência de cárie foi
significativamente maior no grupo de escolares pertencentes às famílias
com menores níveis econômicos e de baixa escolaridade, este estudo
apresentou fortes evidências de que fatores de ordem sócio-econômica
influenciam na determinação do processo de desenvolvimento da doença
cárie.
97
REFERÊNCIAS
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classificação econômica Brasil. 2000. Disponível em:
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102
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. A população de escolares estudada apresentou desnutrição,
sobrepeso e obesidade sugerindo assim que o estado nutricional é
uma variável que deve ser considerada.
2. Considerando o estado nutricional e a experiência de cárie
observou-se correlação entre a presença de desnutrição e lesões
de cárie na dentição decídua e que a obesidade atuou como fator
de proteção ao desenvolvimento de lesões tanto na dentição
decídua quanto permanente.
3. Foram encontradas fortes evidências de que fatores de ordem
econômica e o nível de escolaridade influenciam na determinação
do processo de desenvolvimento da doença cárie.
4. A definição do estado nutricional de crianças e adolescentes e a
inclusão de uma política interdisciplinar são etapas importantes, no
âmbito da saúde pública, para a elaboração de estratégias que
visem a promoção de saúde, tanto geral quanto bucal.
103
ANEXO 1: Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de
Odontologia de Araraquara – UNESP.
104
ANEXO 2: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido entregue aos
responsáveis pelos escolares.
Pesquisadora: Juliana Alvares Duarte Bonini Campos, aluna do curso de Doutorado em
Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP.
Orientadora: Prof. Dra. Ângela Cristina Cilense Zuanon
Objetivo da pesquisa: Verificar se existe correlação entre a qualidade da merenda
escolar, nível econômico e a saúde geral e bucal da criança e do adolescente.
Na pesquisa a ser realizada, as crianças serão pesadas e medidas para
verificação da relação peso/altura e as lancheiras serão analisadas para verificação dos
alimentos a serem consumidos. Será realizado também o exame bucal para detectar a
presença de cárie. Entretanto vale a pena salientar que não será realizado nenhum
tratamento dentário e que não será feito comentário à respeito do diagnóstico com a
criança, pois os dados serão guardados em sigilo.
O horário para avaliação será estipulado pelo(a) diretor(a) da escola e a mesma
somente será realizada nas crianças as quais os pais consentirem. Os pais têm a
liberdade de consentir ou não que seu filho participe da pesquisa.
Os dados serão anotados e analisados e servirão para obtermos informações
sobre a qualidade da alimentação e a sua influência na saúde geral da criança. Desta
maneira será possível realizar uma proposta de orientação à escola e aos familiares com
o objetivo de melhorar a qualidade da alimentação e conseqüentemente da saúde. Faz
parte da pesquisa uma avaliação do nível econômico que será feita através de um
questionário respondido pelos pais das crianças.
Se houver dúvidas, serão fornecidos os esclarecimentos necessários. Se for
vontade do responsável receber informações sobre a avaliação realizada em seu filho,
essa também será fornecida imediatamente quando solicitada à pesquisadora por escrito
ou verbalmente.
Nome da criança:____________________________________________________
Nome do responsável:________________________________________________
Você consente seu filho a participar desta pesquisa? Sim ( ) Não ( )
Araraquara, de de
RG n°__________________________
105
ANEXO 3: Medidas de peso e estatura realizadas em 20 escolares, em
dois dias diferentes (com intervalo de uma semana), para calibração do
examinador.
Peso
Estatura
Identificação
dos
escolares
medida
medida
medida
medida
1
35 35
129 129
2
40,4 40,4
130,6 130,6
3
21 21
123 123
4
22,2 22,2
124,1 124,1
5
25,7 25,7
118,8 118,8
6
18,7 18,7
118,2 118,1
7
20,3 20,3
117,2 117,2
8
24 24
124 124
9
30 30
126 126
10
30,2 30,2
126,2 126,2
11
24,1 24
123,3 123,3
12
40 40,2
133 133
13
28,1 28,1
122,2 122,2
14
19,9 19,9
116,3 116,3
15
35 35
128 128
16
44,2 44,2
131,4 131,4
17
23,1 23,1
123,1 123,1
18
27,3 27,3
120,3 120,6
19
33 33
130 130
20
25 25
127 127
r
2
Coef. angular
Coef. linear
1
1
0,07
1
0,999
0,188
106
ANEXO 4: Cálculo do escore z, utilizando-se os parâmetro LMS
propostos por COLE (1990) e preconizada pelo NCHS (2000).
Z =
((X/M)**L) - 1
-------------------
LS
Onde:
M: mediana
S: coeficiente de variação
L: transformação Box-Cox
107
ANEXO 5: Valores de referência propostos por COLE et al. (2000) para
classificação de sobrepeso e obesidade.
Idade
(anos)
Sobrepeso
Obesidade
Masculino Feminino
Masculino Feminino
2 18,41 18,02 20,09 19,81
3 17,89 17,56 19,57 19,36
4 17,55 17,28 19,29 19,15
5 17,42 17,15 19,30 19,17
6 17,55 17,34 19,78 19,65
7 17,92 17,75 20,63 20,51
8 18,44 18,35 21,60 21,57
9 19,10 19,07 22,77 22,81
10 19,84 19,86 24,00 24,11
11 20,55 20,74 25,10 25,42
12 21,22 21,68 26,02 26,67
13 21,91 22,58 26,84 27,76
14 22,62 23,34 27,63 28,57
15 23,29 23,94 28,30 29,11
16 23,90 24,37 28,88 29,43
17 24,46 24,70 29,41 29,69
18 25,00 25,00 30,00 30,00
108
ANEXO 6: Ficha utilizada para anotação do exame clínico bucal.
Identificação:
Nome: ______________________________ Data de nasc.: __________
Escola: ___________________________________Série: ____________
Sexo: F ( ) M ( )
Índice de Cárie:
ceod CPOD
c C
e P
o O
Total
Total
ANEXO 7: Reprodutibilidade dos valores de ceod e CPOD obtidos no
primeiro e segundo exame bucal realizados com intervalo de 7 dias.
ceod CPOD
Identificação
1° exame 2° exame 1° exame 2° exame
1 8 8 4 4
2 0 0 0 0
3 0 0 0 0
4 6 6 0 0
5 0 0 3 2
6 0 0 5 5
7 8 8 2 2
8 12 11 2 2
9 6 6 0 0
10 0 0 0 0
11 13 13 0 0
12 7 7 1 1
13 2 2 0 0
14 4 4 4 4
15 0 0 3 3
16 1 1 0 0
17 0 0 0 0
18 3 3 0 0
19 3 3 0 0
20 0 0 6 5
Kappa
0,90 0,8608
p
0,0001 0,0001
Concordância
0,95 0,9048
ANEXO 8: Classificação da prevalência de cárie dentária, segundo a
Organização Mundial de Saúde, com base nos valores de CPO aos 12
anos de idade.
Prevalência Valores médios do
Índice ceo/CPO
Muito Baixa 0,0 a 1,1
Baixa 1,2 a 2,6
Média 2,7 a 4,4
Alta 4,5 a 6,5
Muito Alta 6,6
ANEXO 9: Questionário para avaliação do nível econômico proposto pela
ANEP (2000).
DATA:___________________
NOME (criança) : ______________________________________
IDADE:___________ SEXO a.( ) masculino b. ( ) feminino
ENDEREÇO:__________________________________________
BAIRRO : ____________________________________________
ESCOLA: ____________________________________________
GRAU DE INSTRUÇÂO DO CHEFE DE FAMÌLIA:
a. ( ) analfabeto ou primário incompleto
b. ( ) primário completo ou ginasial incompleto
c. ( ) ginasial completo ou colegial incompleto
d. ( ) colegial completo ou superior incompleto
e. ( ) universitário completo
VOCÊ POSSUI:
Televisão em cores?
a.( ) não b. ( ) 1 c. ( ) 2 d. ( ) 3 e. ( ) 4 f. ( ) 5 g. ( ) 6
Rádio?
a.( ) não b. ( ) 1 c. ( ) 2 d. ( ) 3 e. ( ) 4 f. ( ) 5 g. ( ) 6
Banheiro?
a.( ) não b. ( ) 1 c. ( ) 2 d. ( ) 3 e. ( ) 4 f. ( ) 5 g. ( ) 6
Automóvel?
a.( ) não b. ( ) 1 c. ( ) 2 d. ( ) 3 e. ( ) 4 f. ( ) 5 g. ( ) 6
Empregada mensalista?
a.( ) não b. ( ) 1 c. ( ) 2 d. ( ) 3 e. ( ) 4 f. ( ) 5 g. ( ) 6
Aspirador de pó?
a.( ) não b. ( ) 1 c. ( ) 2 d. ( ) 3 e. ( ) 4 f. ( ) 5 g. ( ) 6
Máquina de lavar roupa?
a.( ) não b. ( ) 1 c. ( ) 2 d. ( ) 3 e. ( ) 4 f. ( ) 5 g. ( ) 6
Videocassete?
a.( ) não b. ( ) 1 c. ( ) 2 d. ( ) 3 e. ( ) 4 f. ( ) 5 g. ( ) 6
Geladeira?
a.( ) não b. ( ) 1 c. ( ) 2 d. ( ) 3 e. ( ) 4 f. ( ) 5 g. ( ) 6
Freezer?
a.( ) não b. ( ) 1 c. ( ) 2 d. ( ) 3 e. ( ) 4 f. ( ) 5 g. ( ) 6
“Meus amigos são diferentes.”
Bianca Bonini Campos (9 anos) – 20 de dezembro de 2004
“Você diz: É cansativo conviver com crianças.
Você tem razão...
E acrescenta: Porque é necessário colocar-se à altura delas,
abaixar-se, inclinar-se, curvar-se, tornar-se criança.
Nesse aspecto, você está enganado!
Não é isso o que cansa mais.
Mas, antes, a circunstância de ser obrigado a
erguer-se até a altura de seus SENTIMENTOS.
De esticar-se, alongar-se, colocar-se
na ponta dos pés.
Para evitar machucá-las.”
JANUSZ KORCZAK, 2000
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