Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Mauricio Soares do Vale
DIRETRIZES PARA RACIONALIZAÇÃO
E ATUALIZAÇÃO DAS EDIFICAÇÕES:
Segundo o conceito da qualidade
e sobre a ótica do Retrofit.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Arquitetura, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários
à obtenção do título de Mestre em Ciências em
Arquitetura, área de concentração em Racionalização
do Projeto e da Construção.
Orientador:
Prof.° Eduardo Linhares Qualharini, D. Sc.
Rio de Janeiro, março de 2006.
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ii
DIRETRIZES PARA RACIONALIZAÇÃO E ATUALIZAÇÃO DAS EDIFICAÇÕES:
Segundo o conceito da qualidade e sobre a ótica do Retrofit.
Mauricio Soares do Vale
Orientador:
Prof.° Eduardo Linhares Qualharini, D. Sc.
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em
Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título
de Mestre em Ciências em Arquitetura, área de concentração em Racionalização
do Projeto e da Construção.
Aprovada em 07 de março de 2006, por:
_____________________________________________
Presidente, Prof. Eduardo Linhares Qualharini, D.Sc.
_____________________________________________
Prof. Gilson Brito Alves Lima, D.Sc.
_____________________________________________
Prof. Leopoldo Gonçalves Bastos, D.Sc.
Rio de Janeiro, março de 2006.
ads:
iii
FICHA CATALOGRÁFICA
Vale, Mauricio Soares do,
V149 Diretrizes para racionalização e atualização das edificações:
segundo o conceito da qualidade e sobre ótica do retrofit/
Mauricio Soares do Vale. - Rio de Janeiro: UFRJ/FAU, 2006.
xiii,206f.: il.; 30 cm.
Orientador: Prof. Eduardo Linhares Qualharini, D.Sc.
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ PROARQ/ Programa
de Pós-graduação em Arquitetura, 2006.
Referências bibliográficas: f. 183-195.
1. Edifícios – Reparos e reconstrução. 2. Retrofit .
I. Qualharini, Eduardo Linhares. II. Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de
Pós-graduação em Arquitetura. III. Título.
CDD 690
iv
“Porque o SENHOR dá a sabedoria; da sua
boca é que vem o conhecimento e o entendimento.
Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos”.
PROVÉRBIOS 2:6-7
“Confia no SENHOR de todo o teu coração, e
não te estribes no teu próprio entendimento”.
PROVÉRBIOS 3:5
v
AGRADECIMENTOS
A DEUS por me abençoar com, mas esta oportunidade, auxiliando em todos
os momentos, me dando tranqüilidade, perseverança, clareza de
entendimento e discernimento em todos os momentos desta caminhada, e
acima de tudo pelo seu imenso e eterno Amor.
Aos meus pais Paulo Roberto e Marlene pelo amor, carinho, apoio e
compreensão ao longo deste período em que me deram todas as condições
necessárias para a realização deste trabalho.
A minha noiva Claudia, que com todo amor e carinho soube compreender e
aceitar o tempo em que precisei me afastar para que pudesse me dedicar aos
estudos e a realização deste trabalho.
Ao meu professor, orientador e amigo Eduardo Linhares Qualharini que ao
longo deste período demonstrou atenção, dedicação e muita competência,
fazendo com que fosse possível à concretização deste trabalho.
Aos meus parentes e amigos pela compreensão de terem sido privados da
minha atenção, convívio e carinho no decorrer deste período.
Aos professores Aldo Carlos M. Gonçalves, Angela Maria Gabriella Rossi,
Angela Maria Moreira Martins, Beatriz Santos de Oliveira, Camilo Michalka,
Carlos Alberto Cosenza, Ceça Guimaraens, Cláudia Barroso Krause, Claudia
Nóbrega, Cristiane Rose Duarte, Eduardo Linhares Qualharini, Elizabete
Martins, Eunice Bomfim, Fernanda Magalhães, Fernando Rodrigues Lima,
Giselle Arteiro, Guilherme Lassance, Gustavo Rocha Peixoto, Ivani Bursztyn,
Jules Ghislain Slama, Leopoldo Gonçalves Bastos, Luiz Manoel Gazzaneo,
Maria Maia Porto, Mauro César de Oliveira Santos, Mônica Santos Salgado,
Olínio Gomes Coelho, Oscar Daniel Corbella, Paulo Afonso Rheingantz,
Rosina Trevisan Ribeiro, Vera Regina Tângari e Walmor José Prudêncio que
compõem o corpo de docentes do Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura (PROARQ) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Aos amigos e companheiros de turma do Curso de Pós-Graduação em
Arquitetura (PROARQ) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
pelas discussões e convívio durante o decorrer do curso.
vi
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
ix
LISTA DE TABELAS
x
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS xi
RESUMO
xii
ABSTRACT
xiii
I – INTRODUÇÃO
1.1 Apresentação 01
1.2 Objetivo 12
1.2.1 Enfoque Geral 12
1.2.2 Enfoque Específico 13
1.3 Limitações do Trabalho 13
1.4 Estado da Arte 14
1.5 Metodologia e Organização da Dissertação 19
1.5.1 Método de Pesquisa 19
1.5.2 Estrutura do trabalho 20
II – A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL E OS PROCESSOS DE
RACIONALIZAÇÃO
2.1 Os Desafios de Mercado e a Indústria da Construção Civil 22
2.1.1 O Ambiente do Setor da Construção Civil no Brasil 25
2.1.2 Tendências de Mercado para a Construção Civil 28
2.1.3 A Competitividade no Setor da Construção Civil 34
2.2 Ferramentas para Implementação da Racionalização Construtiva 42
2.2.1 Os Conceitos de Racionalização 44
2.2.2 O Fator Projeto no Processo da Racionalização Construtiva 47
2.2.2.1 Transmissão de dados do Projeto a Produção 50
2.2.3 O Fator Produção no Processo da Racionalização Construtiva 53
2.2.3.1 Relacionamento Cliente e Fornecedor 56
2.3 A Importância dos Processos de Racionalização na Construção Civil 61
2.3.1 Sistema Industrial no Processo da Racionalização na Construção Civil 61
2.3.2 A Coordenação Modular e o Projeto Arquitetônico 64
2.3.3 A Normalização Técnica Referente a Projetos
68
vii
III – A GESTÃO DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL
3.1 O Conceito da Qualidade 70
3.1.1 Histórico e Evolução 71
3.1.2 Conceitos e Definições 79
3.1.3 As Múltiplas Dimensões da Qualidade 91
3.2 A Qualidade no Setor da Construção Civil 103
3.2.1 Conceitos e Aspectos da Gestão da Qualidade 105
3.2.2 Controle do Projeto e Qualidade no Projeto 107
3.2.3 Controle de Execução em Obras e Qualidade no Gerenciamento 113
3.3 Sistema ISO 9000 para a Gestão da Qualidade na Construção Civil 115
3.3.1 Aplicabilidade aos Escritórios de Projeto 119
3.3.2 Aplicabilidade na Execução Obras 122
3.3.3 Aplicabilidade na Construção Civil 122
IV –RACIONALIZAÇÃO E ATUALIZAÇÃO DAS EDIFICAÇÕES SOB A ÓTICA DO
RETROFIT
4.1 Conceituação e Caracterização dos Processos de Retrofit 126
4.1.1 Histórico e Conceitos 129
4.1.2 Retrofit como Tendência na Construção Civil 131
4.1.3 Referências Nacionais e Internacionais de Processos de Retrofit 139
4.2 Retrofit como Ferramenta para Atualização das Edificações 145
4.2.1 As Vantagens e Desvantagens dos Processos de Retrofit 146
4.2.2 Aspectos Técnicos dos Processos de Retrofit 149
4.3.3 Parâmetros para Sustentabilidade Ecológica nos Processos de Retrofit 155
4.3 Condicionantes para Aplicação dos Processos do Retrofit 162
4.3.1 Mudança do Perfil de Uso da Edificação 162
4.3.2 Patologias, Vida Útil e Degradação dos Materiais e da Construção 164
4.3.3 Recursos Construtivos e Processos mais Usuais 169
V – CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 Introdução 177
5.2 Quanto ao Enfoque Geral do Trabalho 177
5.3 Quanto ao Enfoque Específico do Trabalho 178
5.4 Sistema de Gestão Integrada como Tendência para a Construção Civil 181
5.5 Quanto as Limitações e Recomendações aos Trabalhos Futuros 182
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
183
viii
ANEXOS
Anexo 01: Principais normas técnicas brasileiras relativas a projeto no âmbito da
ABNT
196
Anexo 02: Principais normas brasileiras relativas a projeto no âmbito de instituições
e empresas
198
Anexo 03: Principais normas estrangeiras relativas a projeto correspondentes a
normas não existentes no Brasil
199
Anexo 03 A: Normas do American Institute of Architects - AIA 199
Anexo 03 B: Normas da American Society for Testing and Materials – ASTM 199
Anexo 03 C: Normas da British Standards Institution - BSI 199
Anexo 03 D: Normas ISO - International Standartization Organization 200
Anexo 03 E: Outras 200
Anexo 04: Manuais de projeto 201
Anexo 05: Normas a serem revisadas e elaboradas 202
Anexo 06: Instituições Técnicas / Organizações de Aprovações Técnicas 204
Anexo 07: Organizações de certificação de produtos ou sistemas da qualidade
atuando no Brasil.
206
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1: Idade dos imóveis da cidade do Rio de Janeiro. 09
Figura 2.1: O contexto da Estratégia competitiva. 38
Figura 2.2: Círculo de Deming ou PDCA. 54
Figura 3.1. Fases Evolutivas da Qualidade. 79
Figura 3.2: Círculo de Deming ou PDCA. 84
Figura 3.3. Hiatos da Qualidade – Comunicação Vertical. 97
Figura 3.4. Hiatos da Qualidade – Comunicação Horizontal. 98
Figura 3.5. Hiatos da Qualidade – Poder X Processos. 98
Figura 3.6. Hiatos da Qualidade – Organização X Fornecedor. 99
Figura 3.7. Hiatos da Qualidade – Indivíduo X Equipe. 99
Figura 3.8. Hiatos da Qualidade – Integrar voz do cliente com a voz do processo. 100
Figura 3.9. Hiatos da Qualidade – Divisão do trabalho. 100
Figura 3.10. Hiatos da Qualidade – Falta de alinhamento entre os objetivos da
empresa e dos indivíduos.
101
Figura 3.11. Hiatos da Qualidade – Falta de conhecimento da empresa. 101
Figura 3.12: Capacidade de influenciar o custo final de um empreendimento ao
longo de suas fases.
109
Figura 3.13: O avanço do empreendimento em relação a chance de reduzir o custo
de falhas.
110
Figura 4.1: Visão panorâmica do mercado da construção civil nos países da União
Européia.
132
Figura 4.2: Distribuição dos imóveis do Rio de Janeiro, segundo sua idade. 136
Figura 4.3: Graus de intervenção em obras de retrofit.
151
Figura 4.4: Origem das patologias nas edificações. 165
Figura 4.5: Evolução das propriedades de um material. 167
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1. Acidentes do trabalho em 2000 no Brasil. 05
Tabela 3.1. As Quatro Principais Eras da Qualidade. 78
Tabela 3.2. As Oito Dimensões da Qualidade de David A. Garvin. 80
Tabela 3.3. Os Quatorze Princípios de W. E. Deming. 84
Tabela 3.4. Aferidor de Maturidade da Gerência da Qualidade nas Empresas. 90
Tabela 3.5. Abordagens Relacionadas às Dimensões da Qualidade. 97
Tabela 3.6: Normas NB 9000 e suas aplicações. 118
xi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT
Associação Brasileira de Normas Técnicas
CCQ
Círculos de Controle de Qualidade
CDHU
Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de
São Paulo
CIB
International Council for Research and Innovation in Building and
Construction
CMI
Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais
CSN
Companhia Siderúrgica Nacional
CTE
Centro Tecnológico de Edificações
CVRD
Companhia Vale do Rio Doce
DNIC
Diagnóstico Nacional da Indústria da Construção
ENTAC
Encontro Nacional de Tecnologia no Ambiente Construído
EUROSTAT
European Statistical System
FJP
Fundação João Pinheiro
Fundacentro
Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do
Trabalho
ISO
International Organization for Standardization
IST
Instituto Superior Técnico
LNEC
Laboratório Nacional de Engenharia Civil
MTE
Ministério do Trabalho e Emprego
NBR
Norma Brasileira
NSC
National Safety Council
OIT
Organização Internacional do Trabalho
OSHA
Occupational Safety and Health Administration
PBQP-H
Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade da Construção
Habitacional
PIB
Produto Interno Bruto
PROARQ
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura
SGA
Sistema de Gestão Ambiental
SGQ
Sistema de Gestão da Qualidade
SGSST
Sistema de Gestão de Saúde e Segurança no Trabalho
SIQ-Construtoras Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços e Obras
SST
Segurança e Saúde do Trabalho
WFTAO
World Federation of Technical Assessment Organizations
xii
RESUMO
DIRETRIZES PARA RACIONALIZAÇÃO E ATUALIZAÇÃO DAS EDIFICAÇÕES:
Segundo o conceito da qualidade e sobre a ótica do Retrofit.
Mauricio Soares do Vale
Orientador:
Prof.° Eduardo Linhares Qualharini, D. Sc.
A Construção Civil no Brasil é propícia para que ocorram certas alterações em posturas
tradicionais, uma vez que vem ocorrendo uma nova tendência no setor, quando da
necessidade de se repensarem as antigas formas de produção, passando a adoção de
certificações no modelo de uma atividade industrial, visando atender a um contexto
altamente competitivo, que possa satisfazer as necessidades do cliente e os parâmetros
de auditoria internacionais. Assim, a implementação de Sistemas Integrados de Gestão
na Indústria da Construção Civil vem a ser uma ferramenta útil na otimização dos
recursos e na gestão da qualidade dos processos, como também uma necessidade
presente. Somado a isto, o déficit habitacional na ordem de milhões de unidades, e a
necessidade de expansão e modernização do parque industrial e comercial, nos faz
concluir que o setor se apresenta como um campo favorável para investimentos técnicos,
científicos e financeiros.
Não obstante, temos que a racionalização pela integração dos procedimentos da
qualidade, da segurança e saúde, além das questões ambientais na construção civil,
implica num maior controle de todas as etapas nos processos da construção, da
manutenção e nas alterações pós-ocupação. Invariavelmente temos nos deparado com o
termo retrofit arquitetônico como referência em intervenções nacionais e internacionais,
para revitalização de áreas urbanas e atualização das edificações. Com a tradução liberal
de “colocar o antigo em boa forma”, o termo retrofit tem sido amplamente empregado com
o sentido de renovação, de atualização, com preservação das características intrínsecas
do bem “retrofitado”. Este aspecto é confirmado pela constatação de que nas principais
cidades do mundo, existem prédios de ótima localização que estão ficando subutilizados.
São construções que demonstram os sinais do tempo, com infra-estrutura obsoleta e
equipamentos ultrapassados, que por isso se tornaram difíceis de administrar e
comercialmente inviáveis. Logo, neste contexto urbano mundial, pode-se perceber no
retrofit uma oportunidade de negócio para o setor da construção civil, uma vez que cresce
a cada dia o número de imóveis carentes de reabilitação e atualizações, sejam elas
físicas e/ou tecnológicas, por motivos de segurança, atendimento a novas normas ou
ainda para satisfazer ao trinômio de Qualidade, Segurança e Saúde, sem deixar de lado
as questões Ambientais.
Palavra Chave: 1. Retrofit Edificações; 2. Atualização das Construções; 3.
Racionalização da Construção Civil; 4. Qualidade na Construção Civil.
Rio de Janeiro, março de 2006.
xiii
ABSTRACT
GUIDELINES FOR RATIONALIZATION AND UPDATING OF THE CONSTRUCTIONS:
According to the concept of the quality and on the optics of Retrofit.
Mauricio Soares do Vale
Advisors:
Prof.° Eduardo Linhares Qualharini, D. Sc.
The Building site in Brazil is favorable so that they already happen certain alterations in
postures traditional, once it is happening a new tendency in the section, when of the need
of if they rethink the old production forms, passing the adoption of certifications in the
model of an industrial activity, seeking to assist to a context highly competitive, that can
satisfy the customer's needs and the international auditing parameters. Like this, the
implementation of Integrated Systems of Administration in the Industry of the Building site
comes to be an useful tool in the optimization of the resources and in the administration of
the quality of the processes, as well as a present need. Added this, the habitational deficit
in the order of million of units, and the expansion need and modernization of the industrial
and commercial park, makes to conclude us that the section comes as a favorable field for
investments technical, scientific and financial.
In spite of, we have that the rationalization for the integration of the procedures of the
quality, of the safety and health, besides the environmental subjects in the building site,
implicates in a larger control of all of the stages in the processes of the construction, of the
maintenance and in the alterations powder-occupation. Invariably we have been coming
across ourselves the term architectural retrofit as reference in national and international
interventions, for revitalização of urban areas and updating of the constructions. With the
liberal translation of "putting the old in good form", the term retrofit has been used
thoroughly with the renewal sense, of updating, with preservation of the intrinsic
characteristics of the good "retrofitado". This aspect is confirmed by the verification that in
the main cities of the world, buildings of great location that are being subutilizados exist.
They are constructions that demonstrate the signs of the time, with obsolete infrastructure
and outdated equipments, that for that if they turned difficult to administer and
commercially unviable. Therefore, in this world urban context, it can be noticed in the
retrofit a business opportunity for the section of the building site, once it grows every day
the number of immobile lacking of rehabilitation and updatings, be them physics and/or
technological, because of safety, service to new norms or still to satisfy to the trinômio of
Quality, Safety and Health, without leaving aside the Environmental subjects.
Kew-words: 1. Retrofit Constructions; 2. Updating of the Constructions; 3. Rationalization
of the Civil Construction; 4. Quality in the Civil Construction.
Rio de Janeiro, março de 2006.
1
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO
As mudanças que vêm ocorrendo no contexto social, econômico, político e tecnológico no
mundo impõem às organizações a necessidade de se adotar novas estratégias
empresariais e deixam evidente a necessidade permanente de monitorar, rever e
atualizar suas políticas, acarretando na reformulação de seus modelos de gestão para
que contemplem o cenário adequado à época, considerando, inclusive, a resposta aos
desafios que permitam sobreviver e vencer a competitividade do mercado globalizado.
Prahalad e Hamel (1995) observam que os desafios para que as organizações
assegurem sua sobrevivência nesse cenário, as obrigam a abordar de forma diferenciada
e sistêmica seus problemas e a se reinventarem continuamente.
As empresas que sobrevivem são aquelas capazes de responder aos desafios do
contexto atual de mudanças constantes e aceleradas. Assim, segundo Nadler (1994), as
empresas que têm êxito são as que prevêem as mudanças e desenvolvem
antecipadamente as suas estratégias. A diferença está na natureza proativa das ações
empresariais, determinando o nível de sucesso alcançado.
Senge (1998) acrescenta que as empresas que sobreviverão e se manterão líderes são
as voltadas para o futuro, as que são capazes de assimilar as novas informações, se
adaptar, mudar, ou seja, as que tenham capacidade de aprender.
Nas últimas décadas, a crescente competição do mercado, bem como o aumento da
exigência pelos clientes públicos e privados levou as organizações a implementarem
Sistemas de Gestão da Qualidade (SGQ) baseados nos modelos da série ISO-9000
estabelecidos pela International Organization for Standardization (ISO).
Esse fato também foi evidenciado no setor da construção civil brasileira, em especial na
última década, na qual ocorreu um grande número de certificações em empresas
2
construtoras com base na norma ISO-9001 e em normas de gestão da qualidade
desenvolvidas especificamente para o setor
1
.
Os trabalhos de Picchi (1993), Souza (1997) e Reis (1998) apresentam diversos
resultados positivos e uma série de vantagens competitivas obtidas com a
implementação do SGQ em empresas construtoras brasileiras, podendo-se afirmar que
essa mudança, na forma de gestão, resultou em um significativo avanço para o setor.
Ao enquadrarmos a Construção Civil como um setor da indústria nacional que tem uma
importante participação no Produto Interno Bruto (PIB), respondendo aproximadamente
por mais de 10% deste, podemos dizer que este é responsável pelo emprego direto de
milhares de brasileiros em todos os níveis de especialização, sejam eles: operários,
arquitetos, engenheiros, vendedores e administradores.
Desta forma o setor torna-se gerador de expressiva quantidade de empregos diretos e
indiretos. Compreende-se que esta importância é fundamental para o desenvolvimento
do país, mas esbarra em problemas alarmantes, no que diz respeito aos desperdícios e a
gestão de resíduos gerados na produção, a falta de qualidade do produto final e aos altos
índices de acidentes do trabalho, provocados a primeira vista por uma falha no sistema
de gerenciamento do processo da construção, ou mesmo pela falta deste.
A situação social, política e econômica, pela qual o Brasil vem passando atualmente, é
propícia para que ocorram certas alterações em algumas posturas já tradicionais no setor
da Construção Civil, e em especial, no subsetor da produção e reabilitação das
edificações.
Novos referenciais estão presentes no mercado de produção e comercialização de
edifícios, tais como: a nova Lei de Licitações e Contratos e a abertura do mercado
nacional para a integração com empresas de construção civil estrangeiras. Neste
contexto, Vargas (1993), afirma que estes referenciais vieram a proporcionar uma
modificação e uma nova tendência no setor da Construção Civil, no Brasil.
1
Normas para o Sistema de Gestão da Qualidade para o Setor da Construção Civil brasileira podem citar: o
Sistema de Certificação QUALIHAB, adotado pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do
Estado de São Paulo (CDHU); o Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços e Obras (SIQ-
Construtoras), que é uma ação do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade da Construção
Habitacional (PBQP-H), além da própria serie de Normas NBR ISO 9000.
3
Portanto, é notório que a competitividade, a busca pela excelência, as transformações
nas relações de mercado entre as empresas x clientes, o novo papel do Estado nas
relações setoriais, entre outros aspectos, têm definido paradigmas e imposto novos
referenciais de competência para as organizações e participantes do processo de
produção na Indústria da Construção Civil.
Em função deste novo referencial de mercado, alguns empresários têm notado a
necessidade de repensarem as antigas formas de produção do setor, para uma atividade
industrial, onde esta esteja inserida num contexto altamente competitivo, estimulado pelo
desafio de oferecer um produto economicamente acessível e que satisfaça as
necessidades do cliente.
Todo este contexto evidencia uma realidade, onde as relações entre preço e custo das
edificações precisam tomar novos rumos. Segundo o Centro Tecnológico de Edificações
– CTE (1994), a antiga equação em que o preço do produto era o resultado do custo
acrescido do lucro que se pretendia atingir, vem sendo substituído por uma nova
equação, onde, o lucro é o resultado do preço definido pelo mercado, subtraído dos
custos de sua produção, ao longo do empreendimento. De uma forma simplificada
podemos expressar esta equação da seguinte forma:
Preço do Produto = Custo do Empreendimento + Lucro Desejado
Lucro Estimado = Preço de Mercado – Custos ao longo do Empreendimento
Entendendo que esta realidade começa a tomar-se irreversível, com modificações na
cadeia produtiva do setor, que engloba desde o planejamento, passando pelo projeto e
produção, chegando até as intervenções do pós-venda. Portanto, numa economia
competitiva, como a que atualmente está sendo configurada, a redução dos custos de
produção e dos empreendimentos torna-se um fator decisivo para a sobrevivência das
empresas.
Assim, como em qualquer outra atividade do setor privado, a construção civil visa,
fundamentalmente, o lucro para suas empresas e, muitas vezes, a forma escolhida para
obter maiores lucros se dá através da redução irrestrita dos custos, sendo um deles o da
segurança no trabalho. Outro fator importante é a falta de gerenciamento do processo
construtivo e o foco na qualidade, com ênfase na qualificação profissional, capacitação
(treinamento) dos funcionários e conseqüentemente no produto final. Como alguns
profissionais do setor não percebem o impacto do gerenciamento do processo, da
4
segurança do trabalho e da qualificação dos profissionais na produtividade da empresa,
com freqüência ela é deixada para um segundo plano, advindo daí a problemática dos
acidentes de trabalho, que por dados divulgados pela Organização Internacional do
Trabalho (OIT), são indicados números entre 1,9 e 2,3 milhões de mortes por ano no
mundo como resultantes de acidentes relacionados aos processos de trabalho
(equivalente a 5.500 mortes por dia), nas quais:
- 12.000 são de crianças;
- 360.000 são relativas a acidentes no local de trabalho;
- 1.600.000 ocorrem em razão de doenças adquiridas no trabalho.
Nos países de economia central, o número de acidentes do trabalho é aproximadamente
2,5 vezes maior que nos países de economia periférica, contudo, para se ter uma idéia
de valores, basta compará-los aos resultados do conflito no Vietnã, que em 7 anos de
guerra registrou cerca de 1,5 milhões de mortes. Também pode ser feita a comparação
com os números divulgados sobre a epidemia de AIDS no mundo pela United Nations
Programme on HIV (UNAIDS, 2003), que, em um período de cinco anos (1997-2002),
registrou aproximadamente 11,7 milhões de mortes (equivalente a 2,34 milhões por ano).
No Brasil, a situação não é diferente haja vista a quantidade de acidentes do trabalho
divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) apresentada na Tabela 1.1.
A construção civil está fortemente envolvida com esses números, pois é um setor que
apresenta uma série de características produtivas e peculiaridades que o torna um dos
líderes em acidentes de trabalho, tanto no Brasil como em diversos países.
5
TOTAL: 358.124 acidentes no ano
Número
Classificação de acidentes definida pela legislação previdenciária
brasileira
292.793
Incapacidade
Temporária
O trabalhador fica afastado do trabalho por um
período, até que esteja apto para retomar sua
atividade profissional.
11.746
Incapacidade
Permanente
O trabalhador fica incapacitado de exercer a atividade
profissional que desempenhava na época do
acidente. Essa incapacidade permanente pode ser
total ou parcial. No primeiro caso, o trabalhador fica
impossibilitado de exercer qualquer tipo de trabalho e
passa a receber uma aposentadoria por invalidez. No
segundo caso, o trabalhador recebe uma indenização
pela incapacidade sofrida (auxílio-acidente), mas é
considerado apto para o desenvolvimento de outra
atividade profissional.
51.028
Simples
Assistência
Médica
O trabalhador recebe atendimento médico e retorna
imediatamente às suas atividades profissionais.
2.557 ÓBITOS
O trabalhador falece em virtude de um acidente de
trabalho.
Tabela 1.1. Acidentes do trabalho em 2000 no Brasil.
Fonte
: Dados do MTE (2003)
Segundo dados divulgados pelo MTE no ano 2000 (MTE, 2003), a construção civil
brasileira, dentre todas as atividades econômicas, é a que possui a segunda colocação
quanto ao número total de acidentes de trabalho, totalizando 25.429 casos, ficando logo
após o setor de prestação de serviços que apresentou 26.978 casos. No mundo, a pesca
é a atividade onde acontece o maior número de mortes (aproximadamente 70 mortes por
dia), a mineração é a atividade onde acontece o maior número de doenças ocupacionais
e a construção civil é onde acontece o maior número de acidentes do trabalho.
Roto (1998) cita que a indústria da construção civil, na maioria dos países do mundo,
responde por 5 a 15% da economia e freqüentemente se encontra entre os três setores
industriais com as maiores taxas de acidentes relacionados ao trabalho.
6
Segundo o National Safety Council - NSC (2003), nos Estados Unidos à construção civil
emprega 5% da força de trabalho e apresenta em torno de 11% do total dos acidentes
incapacitantes e 18% do total de acidentes fatais.
Na Europa, segundo o levantamento estatístico do European Statistical System -
EUROSTAT (2003), aproximadamente um terço dos acidentes fatais de trabalho da
Europa envolvem trabalhadores da construção civil. Na Itália, segundo Finelli et al.
(2001), o setor de construção civil registra o maior número de acidentes de trabalho de
todos os setores produtivos. Para as empresas e para a comunidade italiana, os
prejuízos chegam a totalizar 28 milhões de Euros, sendo que 18% deste montante são
relativos ao setor da construção civil.
Os números apresentados são extremamente significativos, mesmo sem considerar o
fato de que esses podem ser bem maiores em face de uma cultura de subnotificação
existente, como a que vigora no Brasil. Nesse sentido, algumas características
específicas das legislações contribuem para a subnotificação por não exigirem a
notificação de diversos acidentes relacionados ao trabalho, como o que ocorre no Brasil
em relação aos acidentes envolvendo trabalhadores informais e outros contratados de
formas alternativas, como as que ocorrem nas áreas rurais entre cooperados e
autônomos.
No entanto, a redução dos acidentes de trabalho no setor da construção civil, inclusive
nos países desenvolvidos, não é algo de fácil solução, pois apesar da melhoria de
qualidade da legislação a prevenção de acidentes de trabalho ainda necessita de
avanços significativos. Estes avanços passam não só por uma implantação de um
sistema de gestão, mas principalmente por uma modificação na cultura existente nas
empresas, desde a alta direção até os seus funcionários.
Porém para a implementação de modificações significativas nos modelos de gestão da
Segurança e Saúde do Trabalho (SST) nas
http://www.a-pdf.com/empresas construtoras há
7
que se considerar o Desenvolvimento Sustentável
2
e os princípios de Responsabilidade
Social
3
como base para a política de gestão integrada nas organizações.
Segundo Picchi (1993), para atender às necessidades dos clientes internos e externos,
deve-se ter não só um bom produto, antes, este deve ser produzido em um bom
ambiente de trabalho, possibilitar o crescimento do ser humano (trabalhadores), respeitar
a legislação e o meio ambiente, possibilitando dessa forma o progresso social (vizinhos e
sociedade de maneira geral). Tal afirmação demanda a reavaliação dos modelos de
gestão, ou seja, as empresas que avaliam o seu desempenho, exclusivamente, com base
nos seus resultados financeiros encontram-se fora do atual paradigma.
Não obstante, temos que a racionalização pela integração dos procedimentos da
qualidade, da segurança e saúde ocupacional e do meio ambiente nos processos da
construção civil, implica num maior controle de todas as etapas nos processos da
construção, da manutenção e nas alterações pós-ocupação. Somado a isto, o déficit
habitacional na ordem de milhões de unidades, e a necessidade de expansão e
modernização do parque industrial e comercial, nos faz concluir que este setor apresenta-
se como um campo favorável para investimentos técnicos e conceituais, além de
financeiros.
Segundo Souza (1995), a era em que o Brasil esteve à margem do desenvolvimento
tecnológico parece chegar ao fim, a modernização e o crescimento industrial estão se
instalando no país. É premente que a construção civil, célebre pelos desperdícios, alto
custos de produção, mão de obra desqualificada acompanhe este processo.
Neste contexto, temos que a indústria da construção civil no Brasil, como já visto
anteriormente, encontra-se em um processo de transição, uma vez que busca o aumento
da competitividade, gerando assim, grandes mudanças organizacionais. Estas mudanças
geram uma forma de gerenciamento, baseado em novos conceitos de qualidade e
2
O termo "Desenvolvimento Sustentável" incorpora conceitos políticos, econômicos, ambientais e sociais
para justificar a importância de uma relação harmoniosa da sociedade com o meio em que vivemos. Esse
termo foi definido e difundido no relatório elaborado pela World Commission on Environment and
Development (1987), denominado "Our Commom Future" - também conhecido como "Relatório Brundtland" -
para designar ações que permitam satisfazer às necessidades da população atual sem comprometer a
capacidade de atender às gerações futuras.
3
Responsabilidade Social: "Responsabilidade Social é uma forma de conduzir os negócios da empresa de
tal maneira que a torne parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente
responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas,
funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente) e
conseguir incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não
apenas dos acionistas ou proprietários" (Ethos, 2003).
8
produtividade. Contudo, a indústria da construção civil, ainda conserva traços tradicionais
de técnicas construtivas e de organização do trabalho, como por exemplo, o da
terceirização de alguns serviços. Estes, por sua vez geram diversos problemas, tais
como:
a) A falta de qualidade do produto final;
b) Baixa produtividade;
c) Elevados índices de refugos (desperdícios);
d) E, elevados índices de acidentes do trabalho.
Podemos assim afirmar que, estes problemas se dividem em quatro grupos distintos: I -
De tempo; II - De materiais; III - De mão de obra; IV - De ordem financeira.
Os conceitos de qualidade e segurança, como fatores de influência, no que diz respeito à
racionalização dos custos, podem não ser novidades. Mas no mundo, onde a
globalização não é mais uma promessa e sim uma realidade, e o crescimento das
cidades chegou a níveis alarmantes, a arquitetura precisa oferecer respostas, como já o
fez em outras épocas.
As grandes cidades apresentam hoje, uma urbanização bastante densa, certas vezes
confusas. Quando existe a possibilidade de centros urbanos migrarem de uma região
para outra, encontrando espaços para a construção de novas edificações, pode-se
aplicar os novos conceitos e parâmetros de segurança, qualidade e meio ambiente
inerente ao período em que estão sendo construídos. Em outros casos, esta
possibilidade de migração não existe ou então se apresentam com custos de
empreendimento muito elevado, não sendo propício a investimentos que viabilizem estas
propostas.
A estes casos, pode-se propor uma reabilitação das edificações para os novos conceitos
da segurança, qualidade e meio ambiente. O que leva a uma valorização dos imóveis, em
um ambiente onde já se encontra toda uma infra-estrutura montada e adequada a sua
demanda, como por exemplo, as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo.
A cidade do Rio de Janeiro apresenta hoje uma grande quantidade de edificações,
residenciais e não residenciais, com idade aproximada de 50 anos de construção ou
preste a completá-la, em função de seu processo de urbanização e evolução da cidade.
9
Porém este fato, não se restringe apenas a cidade do Rio de Janeiro, mas podemos
observar estas edificações em grande parte do território nacional, ocorrendo com mais
freqüência nas principais cidades.
Segundo Ducap (1999), que apresentou em seu trabalho um estudo sobre a idade dos
imóveis na cidade do Rio de Janeiro, ver Figura 1.1, há uma grande carência na
reabilitação do patrimônio construído, pois em função da dinâmica das cidades estes
números estão em constante modificação, mas pode-se adotar, de acordo com Ducap
(1999), uma idade média aproximada de 30 anos. Também se conclui que o decréscimo
na construção observada na última década (constatado pelo número de imóveis com
menos de 11 anos) acompanha a tendência de outros países, levando inevitavelmente a
processos de atualização das edificações, ou seja, retrofit.
Figura 1.1: Idade dos imóveis da cidade do Rio de Janeiro.
Fonte:
DUCAP, 1999.
Porém quando estas edificações são confrontadas aos padrões de qualidade e
segurança, que temos hoje em dia, deixam a desejar, uma vez que foram concebidas e
projetadas segundo seu período na história. O que nos leva a concluir que as mesmas
devam, na medida do possível, passar por um processo de atualização, através de
estudos conceituais, que focam a técnica e a arte – Engenharia e Arquitetura. Cabendo
ao arquiteto a função de projetar e gerenciar, levando em conta, os conceitos de
sustentabilidade, segurança (física e social), manutenção e nas possíveis alterações pós-
ocupação.
10
Por outro lado, quando se fala sobre “atualização das edificações”, pode-se relacionar
este termo, as novas técnicas e materiais para renovação e restauração de construções
históricas e antigas. Estas técnicas são conhecidas hoje como Retrofit Predial.
Qualharini (2000), em seu trabalho descreve Retrofit como o processo de interferir em
uma benfeitoria, que foi executada em padrões inadequados as necessidades atuais. O
processo de retrofit constitui-se num conjunto de ações realizadas para o beneficiamento
e a recuperação de um bem, objetivando a melhoria do seu desempenho, com qualidade
ou a um custo operacional viável da utilização da benfeitoria no espaço urbano.
O conceito de retrofit surgiu ao final dos anos 90 na Europa e nos Estados Unidos, sua
etimologia vem do latim “retro”, que significa mover-se para trás e do inglês “fit”
significando adaptação e ajuste. Seus conceitos foram primeiramente desenvolvidos na
indústria da aeronáutica, e aos poucos outros ramos passaram a adotar seus conceitos
adaptando-os as suas realidades. Desta forma a construção civil aplica seus conceitos no
campo da modernização e atualização das edificações, tornado-as compatíveis as
tecnologias atuais.
O informe Nora-Minc
4
apresenta uma classificação de acordo com os trabalhos a serem
desenvolvidos, e que é adotada pela maioria dos pesquisadores do assunto, o qual
identificamos, a seguir:
- Retrofit Rápido: Engloba serviços de recuperação de instalações e
revestimentos internos;
- Retrofit Médio: Além dos serviços de intervenção rápida, nesta
categoria também entram as intervenções em fachadas e mudanças
nos sistemas de instalações da edificação;
- Retrofit Profundo: Nesta categoria, além das atividades anteriores,
estão as intervenções em que há mudanças de layout que engloba,
desde a compartimentação até a própria estrutura dos telhados;
4
Manifesto francês publicado em 1978 que abordava o tema da informatização da sociedade. Através da
iniciativa governamental buscava respostas para as crises industriais e energéticas dos anos 70, nas
tecnologias alternativas de informação e de comunicação.
11
Portanto, este trabalho tem por finalidade identificar visões, métodos e ferramentas
propondo uma metodologia para a logística de processos da construção civil, com o
sentido de se obter maior racionalização pela integração dos procedimentos da
qualidade, o meio ambiente e a segurança nos processos de adaptações das edificações
existentes. E, por conseguinte, gerando maior capacidade competitiva para as empresas
que investem no setor, em um mercado cada vez mais exigente de qualidade e
produtividade. Sem, contudo deixar de lado a qualidade da concepção arquitetônica e a
sua relação com o entorno.
Desta forma, segundo o proposto por Cardoso (1997), todos os agentes setoriais da
construção civil envolvido neste contexto, devem buscar um único objetivo, baseado na
busca de melhor organização, maior produtividade, menores desperdícios, melhor
emprego dos recursos, menor impacto ambiental, menor preço dos “produtos”
construídos, e menores custos de operação ao longo da vida útil dos mesmos, entre
outros pontos.
Fica claro a necessidade de se buscar uma implementação dos Sistemas Integrados de
Gestão na Indústria da Construção Civil, envolvendo a qualidade, o meio ambiente e a
segurança. O Sistema Integrado de Gestão tem sido reconhecido internacionalmente
como uma ferramenta útil na otimização dos recursos que são necessários para
implementar e manter de forma separada sistemas de gestão de qualidade, ambiental e
da segurança e saúde no trabalho. O objetivo, portanto, consiste em promover a melhoria
da qualidade do produto construído, reduzindo a poluição ambiental resultante da
atividade de construção e os acidentes de trabalho e doenças profissionais quer durante
a fase de construção, ou durante as intervenções posteriores na fase de utilização.
Nesse contexto, este trabalho apresenta sua importância, pois apresenta informações
relevantes que podem ser utilizadas pelas empresas construtoras, além de projetistas
que venham utilizar as informações encontradas nesta dissertação para desenvolvimento
de projetos no subsetor da produção e reabilitação das edificações.
Outro fator importante é a apresentação e conceituação dos principais elementos dos
Sistemas de Gestão da Qualidade, de Segurança e Saúde Ocupacional e Ambiental, com
a finalidade de se buscar um Sistema Integrado de Gestão. O presente trabalho também
apresenta uma visão global da indústria da construção civil e os seus desafios de
mercado, além de discutir algumas ferramentas para a implementação da Racionalização
da Construção e a importância de seus processos para a Indústria da Construção Civil.
12
13
1.2 OBJETIVO
O objetivo maior que se faz presente neste trabalho é a melhoria do conhecimento do
produto final, “a edificação”, buscando o avanço dos processos da Indústria da
Construção Civil, sob o conceito de “Qualidade” e segundo a ótica do “Retrofit”.
1.2.1 ENFOQUE GERAL
Para os propósitos deste trabalho, procura-se aqui responder à seguinte interface, no
objetivo:
Que ações de natureza organizacional, gerencial e prática podem ser
desenvolvidas pelos arquitetos, com o sentido de se obter, maior
racionalização nos processos da construção civil, pela integração dos
procedimentos da qualidade, da segurança e saúde no trabalho, além
das questões relacionadas ao meio ambiente nos processos de
adaptações das edificações existentes?
Com base na questão acima proposta, este trabalho tem como objetivo geral identificar
visões, métodos e ferramentas propondo uma metodologia para a logística de processos
da construção civil. Com o sentido de se obter uma maior racionalização da construção,
propondo uma atualização das edificações, para os novos conceitos da qualidade, da
segurança e saúde no trabalho, além das questões relacionadas ao meio ambiente.
Desta forma, serão consideradas e apresentadas as questões abaixo relacionadas, em
seu caráter generalista, cabendo um maior aprofundamento em trabalhos posteriores.
- Apresentar e discutir conceitos relacionados à Gestão da Segurança e
Saúde Ocupacional no Trabalho (SST) na Construção Civil;
- Apresentar e discutir conceitos relacionados à Gestão Ambiental na
Construção Civil;
- Apresentar e discutir conceitos relacionados à Integração dos Sistemas
de Gestão para a Indústria da Construção Civil.
14
1.2.2 ENFOQUES ESPECÍFICOS
Também são considerados neste trabalho os seguintes enfoques específicos, no objetivo:
- Apresentar e discutir conceitos relacionados à Gestão da Qualidade na
Construção Civil;
- Apresentar e discutir conceitos relacionados para Atualização das
Edificações, segundo as Técnicas e aos os aos Processos de Retrofit;
Chegou-se a estes objetivos com o intuito de se buscar uma maior capacidade
competitiva para as empresas que investem no setor da construção civil, em um mercado
cada vez mais exigente de qualidade e produtividade. Sem, contudo deixar de lado as
questões da qualidade na concepção arquitetônica e a sua relação com o entorno.
Portanto, este trabalho visa contribuir com a comunidade acadêmica, assim como com as
empresas do setor da construção civil, além de projetistas que venham utilizar as
informações encontradas nesta dissertação para desenvolvimento de projetos no
subsetor da produção e reabilitação das edificações.
Cabe ressaltar que este trabalho não tem como objetivo a criação e validação de um
modelo, ou a proposição de uma metodologia para a logística de processos na
construção civil. Logo, tais assuntos poderão ser objetos da continuidade e
aprofundamento desta pesquisa, para desenvolvimento de trabalhos futuros.
1.3 LIMITAÇÕES DO TRABALHO
Este trabalho não deverá esgotar o assunto, uma vez que sua complexidade gera um
grande potencial para a pesquisa acadêmica. Dessa forma, o presente trabalho traz
como limitação à impossibilidade do levantamento da totalidade das pesquisas realizadas
com relação à implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade – SGQ, na Indústria
da Construção Civil, assim como a dos Processos de Atualização das Edificações, pelas
técnicas e procedimentos do Retrofit, como ferramenta para atualização e reabilitação
das edificações em empresas da construção civil.
15
Não se pretende, também, a proposição de modelos, pois, o tempo disponível não
permite a validação prática através da implantação em empresas do setor.
Espera-se contribuir, através dos conhecimentos acadêmicos e práticos do autor e da
bibliografia pesquisada, para a melhoria das condições de trabalho nas indústrias de
construção civil através da instrumentalização e estímulo a formação de uma consciência
crítica de seus gerenciadores.
Portanto, tais limitações poderão ser supridas com a continuidade de pesquisas em
relação ao tema.
1.4 ESTADO DA ARTE
Em decorrência do assunto proposto e do estudo realizado pelo autor, através de suas
experiências profissionais e acadêmicas, além de uma revisão bibliográfica, busca-se
apresentar aqui algumas citações tendo como objetivo a fundamentação teórica, assim
como uma visão global e atual do tema para o desenvolvimento do respectivo trabalho.
Desta forma vale ressaltar mais uma vez a questão proposta como base para
desenvolvimento desta dissertação, seja:
Que ações de natureza organizacional, gerencial e prática podem ser
desenvolvidas pelos arquitetos, com o sentido de se obter, maior
racionalização nos processos da construção civil, pela integração dos
procedimentos da qualidade, da segurança e saúde no trabalho, além
das questões relacionadas ao meio ambiente nos processos de
adaptações das edificações existentes?
Vargas (1993), esclarece que:
novos referenciais estão presentes no mercado de produção e
comercialização de edifícios, tais como: o fim da ciranda financeira e
do processo inflacionário; a abertura do mercado nacional e a
integração da América Latina, através do MERCOSUL; a falência do
Estado e a eliminação do seu intervencionismo (quanto
propulsionador e financiador da indústria da construção civil); a
queda de renda do mercado consumidor; a privatização de empresas
estatais; a nova Lei de Licitações e Contratos; o Código de Defesa
16
do Consumidor; e a exigência de qualidade por parte dos clientes
privados.
Neste novo contexto, Prahalad e Hamel (1995) observam que:
os desafios para que as organizações assegurem sua sobrevivência
nesse cenário, as obrigam a abordar de forma diferenciada e
sistêmica seus problemas e a se reinventarem continuamente.
Enquanto, Senge (1998) acrescenta que:
as empresas que sobreviverão e se manterão líderes são as voltadas
para o futuro, as que são capazes de assimilar as novas
informações, se adaptar, mudar, ou seja, as que tenham capacidade
de aprender.
Portanto, é notório que a competitividade, a busca pela excelência, as transformações
nas relações de mercado, têm definido paradigmas e imposto novos referenciais,
conduzindo a uma realidade praticamente irreversível.
Cardoso (1997), demonstra de forma clara que:
todos os agentes setoriais da construção civil envolvido neste
contexto, devem buscar um único objetivo, baseado na busca de
melhor organização, maior produtividade, menores desperdícios,
melhor emprego dos recursos, menor impacto ambiental, menor
preço dos “produtos” construídos, e menores custos de operação ao
longo da vida útil dos mesmos, entre outros pontos.
Grilo e Huang (1999) afirmam que:
o ambiente competitivo tem estimulado as empresas a buscarem
inovações tecnológicas e gerenciais. Acordos setoriais impuseram a
certificação compulsória do sistema da qualidade como requisito para
a participação em licitações públicas. No setor privado, os clientes
preocupam-se cada vez mais com a geração e preservação do valor
em seus empreendimentos.
Os trabalhos de Picchi (1993), Souza (1997) e Reis (1998) apresentam diversos
resultados positivos e uma série de vantagens competitivas obtidas com a
17
implementação do Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) em empresas construtoras
brasileiras.
Porém a implementação do Sistema de Gestão da Qualidade, não foi o suficiente para
acabar com certos problemas do setor da construção civil, principalmente quando se foca
as atenções nos aspectos relacionados a segurança e saúde do trabalho, além das
questões ambientais agravadas pelo alto índice de refugo dos processos construtivos.
Entendemos que, Qualidade, Segurança e Saúde Ocupacional e Meio Ambiente são
indissociáveis e é muito difícil conseguir a qualidade de um processo ou produto sem um
ambiente de trabalho em condições adequadas e seguras, respeitando o meio ambiente,
que propicie ao trabalhador direcionar toda a sua potencialidade ao trabalho que está
sendo executado.
Portanto fica claro a necessidade de se buscar uma implementação dos Sistemas
Integrados de Gestão na Indústria da Construção Civil, envolvendo a qualidade, o meio
ambiente e a segurança.
O objetivo, portanto, consiste em promover a melhoria da qualidade do produto
construído, reduzindo a poluição ambiental resultante da atividade de construção e os
acidentes de trabalho e doenças profissionais quer durante a fase de construção, ou
durante as intervenções posteriores na fase de utilização.
Os processos de intervenções ocorridos posteriores a fase de utilização, serão adotados
neste trabalho através dos processos de retrofit.
Qualharini (2000), descreve Retrofit como sendo:
o processo de interferir em uma benfeitoria, que foi executada em
padrões inadequados as necessidades atuais. O processo de retrofit
constitui-se num conjunto de ações realizadas para o beneficiamento
e a recuperação de um bem, objetivando a melhoria do seu
desempenho, com qualidade ou a um custo operacional viável da
utilização da benfeitoria no espaço urbano.
Tomando por base a definição dada por Qualharini aos processos de retrofit, e as
conflitando com os dados do Iplanrio para a cidade do Rio de Janeiro, sejam elas:
18
Iplanrio (2002) nos revela que:
na cidade do Rio de Janeiro existe cerca de 128.970.132 m2 de área
edificada (69,70% residencial, 24,40% comercial e 5,90% industrial),
sendo 25 anos a idade media dos imóveis.
Temos que, estas edificações quando confrontado aos padrões de qualidade e
segurança, que temos hoje em dia, deixa muito a desejar, uma vez que foram concebidas
e projetadas segundo seu período na história. O que nos leva a concluir que as mesmas
devam, na medida do possível, passar por um processo de atualização e reabilitação de
modo a se adaptarem aos padrões exigidos pelo mercado.
LANZINHA, et al (2000) sustentam que:
a reabilitação de edifícios é um mercado em expansão, onde na
Europa este já representa 33% do setor da construção, e afirma que
em Portugal o investimento na reabilitação de edifícios está
superando os montantes utilizados na construção de novos.
Chimenti (2000) em seu estudo de caso do edifício da Faculdade de Direito da UFRJ e
Leal U. (artigo na revista Téchne), na Bolsa de Valores e Futuros de São Paulo e da sede
da OAB do Rio de Janeiro, propuseram a aplicação do Retrofit em edificações históricas
e a compatibilizarão entre a obra de arte e os sistemas inseridos.
CURCIO, et al (2000) afirma que:
existe uma necessidade crescente de manutenção, reparo e
restauração de edificações. Portanto, daí a necessidade de uma
metodologia de projetar a inspeção de edificações, que visará a sua
reutilização, com a adequabilidade ao seu comportamento no futuro.
Em 2003, na sua edição do mês de Abril a Revista Téchne apresenta um artigo onde
mostra que, a indústria nacional ainda não possui tantos produtos para o segmento do
retrofit, como são encontrados nos Estados Unidos e na Europa. Mas nos últimos anos
este segmento vem crescendo e apresenta uma grande quantidade de obras
implementadas no país, o que aumenta o seu campo de estudo no setor da construção
civil.
19
Ainda no artigo de abril de 2003, a Revista Téchne nos informa que em decorrência do
avanço do segmento de retrofit nos Estados Unidos e principalmente na Europa, já foram
desenvolvidos softwares próprios para projetar Retrofits, como o ESPr e o DOE.
Andrada, Ornstein e Maleronka (2002), em um artigo publicado no ENTAC, descrevem o
processo de requalificação de um edifício da década de 40, situado na região central de
São Paulo, projetado para abrigar uma loja de departamentos e posteriormente adaptado
para o uso de escritórios, em decorrência de novos requerimentos de infra-estrutura,
conforto e desempenho.
Ainda como referências nacionais, podemos citar a Estação Júlio Prestes, localizada na
região central da capital paulistana, tem a premiada Sala São Paulo como átrio do
edifício. O prédio passou por um trabalho de retrofit comandado pelo arquiteto Nélson
Dupré, que, aliado às soluções acústicas, tornaram a obra referência e até inspiraram
intervenções semelhantes no exterior. Outra obra é o Edifício Rizkallah Jorge, construído
nos anos 40 em estilo clássico e que já foi um hotel de luxo, voltou a ser referência no
Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo.
No Rio de Janeiro, podemos citar a adaptação e mudança de uso, de uma antiga fábrica,
para onde hoje funciona o Shopping Nova América. Outra obra de grande importância é a
restauração e adaptação do Hotel Guanabara, no centro da cidade do Rio de Janeiro.
Além de todo o processo de renovação urbana promovida pela cidade, através do projeto
Corredor Cultural.
Mostrando a relevância e atualidade do assunto, ocorreu em Julho de 2004 na cidade do
Rio de Janeiro, um congresso denominado RETROFIT PAN 2007, que teve como
objetivo promover a discussão de soluções para as reformas de modernização e
expansão, visando os investimentos necessários, além do planejamento para os
próximos três anos na cidade carioca que cediará os Jogos Pan Americanos de 2007.
Desta forma pode-se dizer que se inicia a discussão sobre os assuntos relativos a
habilitação das edificações, pela aplicação das técnicas e dos processos de retrofit,
segundo os conceitos da segurança, qualidade e meio ambiente nos processos da
construção civil, exigido pelo mercado.
20
1.5 METODOLOGIA E ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
1.5.1 MÉTODO DE PESQUISA
A metodologia adotada nesta dissertação de acordo com as considerações de Gil (1991),
a classificam como exploratória, descritiva e qualitativa.
A pesquisa é exploratória por envolver levantamento bibliográfico e entrevistas com
pessoas que vivenciaram o problema pesquisado, permitindo ao pesquisador uma
familiarização com a realidade estudada.
Por outro lado, a pesquisa é descritiva porque pretende descrever as principais
características inerentes à realidade de determinado setor econômico, estabelecendo
relações entre suas variáveis.
E enfim, a pesquisa é qualitativa por considerar o processo e seu significado como
enfoques principais de abordagem, ou seja, o objetivo maior está na compreensão dos
fatos e não na sua mensuração. Os dados identificados são avaliados analiticamente,
sem a aplicação de métodos estatísticos.
Portanto, para o desenvolvimento deste trabalho o autor tomou por base e adotou os
seguintes procedimentos:
- Aquisição de conhecimentos sobre sistemas de gestão, gerenciamento e
processos sobre as particularidades de empresas construtoras, por meio de uma revisão
bibliográfica e das atividades profissionais realizada pelo autor, adquirida ao longo dos
anos atuando no setor da construção civil;
- Análise de documentação e procedimentos de algumas empresas que
apresentam Sistemas de Gestão da Qualidade, Segurança e Saúde no Trabalho e
Ambiental na Construção Civil. As análises foram feitas com o objetivo de enriquecer os
conhecimentos do autor sobre o assunto, além de conhecer as práticas adotadas pelas
organizações;
- Levantamento e revisão bibliográfica em bases de dados nacionais e
internacionais, contemplando entidades conceituadas em relação à Qualidade,
21
Segurança e Saúde no Trabalho, além das questões relacionadas ao Meio Ambiente,
como o Fundacentro
5
, OSHA
6
, CIB
7
e a Série de Normas ISO
8
e BS-8800
9
.
1.5.2 ESTRUTURA DO TRABALHO
Para atender aos objetivos propostos, além de organizar metodológica e claramente esta
dissertação, o texto divide-se em 05 capítulos estruturados da seguinte forma:
- O capítulo I tem por objetivo apresentar, conceituar e delimitar esta dissertação,
de modo a ser constituído por uma Apresentação, seguida pelos Objetivos Geral e
Específico, incluindo ainda, as Limitações do Trabalho, o Estado da Arte, além da
Metodologia e Organização do desenvolvimento do texto;
- O capítulo II apresenta uma visão global da situação da indústria da construção
civil e os desafios de mercado, além de apresentar os principais aspectos conceituais dos
processos de racionalização para a construção civil. Este capítulo vai tratar ainda da
importância dos processos de racionalização e suas ferramentas para implementação na
indústria da construção civil;
- O capítulo III traz uma conceituação e caracterização do Sistema de Gestão
Qualidade, além de uma revisão do histórico e evolução, dos conceitos e definições e das
múltiplas dimensões da qualidade. O capítulo busca ainda, a partir do aspecto da
qualidade, a sua aplicabilidade com base no sistema ISO 9000, para os diversos setores
da indústria da construção civil;
5
Fundacentro - Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, entidade
vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego, que é o centro brasileiro de pesquisas em segurança, saúde
e meio ambiente no trabalho.
6
OSHA - Occupational Safety and Health Administration, entidade dos E.U.A que atua na definição de
normas de proteção, em pesquisas técnicas e na fiscalização na área de Segurança e Saúde no Trabalho no
país.
7
CIB - International Council for Research and Innovation in Building and Construction, entidade fundada em
1953 que objetiva a cooperação internacional e a troca de informações entre os institutos de pesquisas e
demais agentes do setor da construção civil (empresas, universidades, etc.) sobre temas de interesse geral,
dentre os quais está a SST.
8
ISO é a sigla da Organização Internacional de Normalização (International Organization for
Standardization), com sede em Genebra, Suiça e que cuida da normalização (ou normatização) em nível
mundial. A ISO ficou popularizada pela série 9000, ou seja, as normas que tratam de Sistemas para Gestão e
Garantia da Qualidade nas empresas.
9
BS 8800 é uma norma de origem inglesa (British Standards), que originalmente era numerada como BS
8750. Trata-se de uma norma direcionada para os Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho,
sendo considerada o que há de mais atual em todo o mundo para a implantação de um sistema eficaz de
gerenciamento das questões relacionadas à prevenção de acidentes e doenças ocupacionais. Tem esta
norma para a área prevencionista a mesma importância que as Normas ISO 9.000 para a área de Qualidade
Total e ISO 14.000 para a área de Gestão Ambiental.
22
- O capítulo IV apresenta uma proposta para a atualização das edificações,
através das técnicas e dos processos adotados pelo Retrofit. Desta forma, este capítulo
parte de uma conceituação e caracterização dos processos de retrofit, além de
apresentá-lo como uma ferramenta para os processos de atualização das edificações e
as condicionantes para sua aplicação;
- O capítulo V trata das considerações finais, assim como das limitações desta
pesquisa, o atendimento ao objetivo, além de apresentar sugestões e recomendações
para futuros trabalhos na área. E, por último finaliza a dissertação, as referências
bibliográficas e os anexos.
23
CAPÍTULO II
A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL E OS
PROCESSOS DE RACIONALIZAÇÃO
2.1 OS DESAFIOS DE MERCADO E A INDUSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL
No final da década de 60, no ocidente, houve um grande crescimento nas indústrias dos
países centrais e alguns periféricos, como por exemplo, o Brasil. No início dos anos 70,
este crescimento se inverte com a primeira crise do petróleo (1973) alterando a lógica de
produção, onde o mercado, agora é definido pelo consumidor, exigindo melhores
produtos.
As exigências dos consumidores geram uma necessidade de resposta rápida da
empresa, ou seja, estas devem ser ágeis, competitivas, a fim de atender tanto ao
mercado interno como ao externo.
Portanto, as empresas têm despertado um maior interesse nos assuntos inerentes a sua
formação, desenvolvimento e permanência no cenário econômico, bem como seu
comportamento diante das mudanças que ocorrem no micro e macro contexto da
economia.
As organizações humanas têm sido objeto de estudo de diversos cientistas sociais, de
acordo com o que asseveram Katz e Kahan (1987). Com a intenção de conhecê-las e
compreendê-las, no que tange a sua formação, aspectos e funções, os pesquisadores
desejam desvendar a ascensão e o declínio de seus ciclos de vida, bem como explicar os
seus efeitos produzidos no ambiente organizacional das empresas. De posse desses
conhecimentos, podem ser tomadas medidas para adequar as organizações às
necessidades humanas.
Com o intuito de enriquecer esta dissertação buscou-se a conceituação de empresa
segundo os ensinamentos de Sá (1995), Figueiredo e Caggiano (1997), Mosimann e
Fisch (1999).
24
Segundo Sá (1995), define a empresa como “um aspecto da classificação das aziendas
que apresenta aquela que possui o patrimônio aplicado à obtenção de lucros; as
empresas são as aziendas
10
de fins lucrativos; nelas o patrimônio recebe o nome de
capital”.
Para Figueiredo e Caggiano (1997) a empresa “é uma unidade produtora que visa criar
riquezas, transacionando em dois mercados, um fornecedor, outro consumidor”. Os
mesmos autores, afirmam ainda que os recursos econômicos, sociais e humanos
apresentados como um conjunto organizado, denomina-se empresa.
Lauzel apud Mosimann e Fisch, (1999) apresenta o seguinte conceito, “empresa é um
agrupamento humano hierarquizado que põe em ação meios intelectuais, físicos e
financeiros, para extrair, transformar, transportar e distribuir riquezas ou produzir
serviços, conforme objetivos definidos por uma direção, individual ou de colegiado,
fazendo intervir em diversos graus, motivação, de benefício e de utilidade social”.
Souza e Clemente (1999) afirmam que a empresa, entendida sob o ponto de vista da
administração, é considerada uma organização que, para alcançar seus objetivos, utiliza
um conjunto de recursos, dos quais são empregados nas atividades de planejamento e
controle.
Muitos autores e empresários vêem a solução na modernização industrial, para que se
tenham melhores empresas atendendo o mercado mundial com produtos diferenciados,
de melhor qualidade e menor custo.
No processo de “Modernização Industrial” vivenciado nos últimos anos, vários têm sido
as opções tecnológicas e gerenciais disponíveis para o empresariado. Todavia, muitas
vezes, tais opções são sob a ótica da velocidade com que há retorno financeiro, sem se
preocupar com o todo que envolve a empresa.
Quando se fala do todo, significa considerar os fatores que envolvem a empresa em
sentido amplo, ou seja, uma análise macroeconômica, e estes mesmos devem estar em
harmonia para que se possa obter sucesso completo nas oscilações que passam a
ocorrer no mercado.
10
Azienda é o patrimônio considerado juntamente com a pessoa que tem sobre ele poderes de administração
e disponibilidade. O conceito de Azienda, reúne o patrimônio e a pessoa que o administra, ou seja: Azienda =
Patrimônio + Gestão.
25
Para Bolwing (1990), a década de 90 foi marcada pela globalização do mercado mundial.
Esta globalização direcionou as empresas a possuírem padrões idênticos de eficiência,
qualidade e flexibilidade. Por conseqüência os consumidores passaram a utilizar outras
formas para diferenciar os vários produtos do mercado. Essa diferenciação dos
consumidores deve ser buscada pelas empresas que desejam ser mais competitivas no
mercado.
Com o mercado mundial globalizado e abertura do mercado brasileiro, as empresas
brasileiras deverão alterar suas regras de competição até agora adotadas, pois a
instabilidade no crescimento do produto nacional na década de 80 e a forte recessão do
início dos anos 90 indicam que o mercado brasileiro não apresentou estímulo à
competitividade da indústria.
Segundo Coutinho (1994), nunca a formação de capital, historicamente, constituiu uma
proporção tão pequena do produto - 17,5% em 1992, o que mostrou a insuficiência do
investimento agregado para a renovação da estrutura produtiva, especialmente em uma
época em que se difunde internacionalmente um novo paradigma industrial. Assim, a
retração do mercado chega a colocar em risco a sobrevivência dos segmentos
produtores de bens de capital brasileiro.
No início da década de 90 tem-se observado que a heterogeneidade de capacitações
competitivas é elevada na indústria brasileira, principalmente nos setores voltados para o
consumo pessoal interno e nos principais fornecedores desses setores, agravada pela
disparidade nos níveis de renda e consumo da população.
Com uma população estimada em 150 milhões de habitantes e cerca de US$ 2.700 de
renda per capita, o Brasil representa um dos maiores mercados do mundo. Esta é a
principal vantagem competitiva do país, fator básico responsável pela existência atual de
um parque industrial complexo e diversificado e pela instalação, ao longo dos anos, de
empresas transnacionais de todas as procedências.
Portanto, para que a indústria brasileira passe a ser possuidora de uma fatia desse novo
mercado, ou seja, ser competitiva, esta deve incorporar desafios que vão da qualidade
dos produtos, preços, variedades até a revisão das metas de médio e longo prazo, enfim,
assumir regras mais modernas e modernizadoras.
26
Segundo Gomes e Salas (1999), as organizações estão inseridas em um ambiente
bastante turbulento, o que as força à flexibilidade para se manterem competitivas,
adequando seu funcionamento interno às exigências do ambiente externo. Como o meio
ambiente está em constante mutação, as empresas precisam definir sua política
organizacional, de forma a aproveitar as oportunidades que surgem, com base na
capacidade e nos recursos de que dispõem.
Portanto, ao analisar a Construção Civil, observa-se que ela também requer uma visão
maior, voltada ao seu macro-complexo, pois a natureza do seu processo produtivo é
substancialmente diferenciada da maioria dos processos industriais contemporâneo.
Essa diferenciação diz respeito às relações intra e inter-setoriais, a composição de
tecnologias requeridas pelo processo produtivo, a quantidade e características dos bens
intermediários envolvidos na produção, a intensidade dos vários fatores de produção, a
organização industrial e o valor agregado aos produtos finais.
Dada a natureza e as características intrínsecas da indústria da construção civil há
necessidade de criar e adaptar novas formas de modernizar-se, que permitam as
empresas não só competir, mas sobreviver à abertura de mercado e medidas
protecionistas não mais existentes.
Desta forma fica clara a necessidade de se fazer uma revisão do ambiente no setor da
construção civil brasileira e sua evolução nos últimos anos, além de se buscar uma
conjectura para as tendências do mercado, assim como discutir a competitividade
estabelecida no setor.
2.1.1 O AMBIENTE DO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL
Ao final da década de 80 e início da década de 90, muitas das empresas da indústria da
construção civis, não priorizaram investimentos na busca por inovações tecnológicas,
melhoria da produtividade e qualidade para seus produtos, ou serviços, e nem na gestão
da sua produção.
Este comportamento foi influenciado por fatores tais como: a ação do Estado na
sociedade e na economia brasileira, representada pela facilidade de financiamentos para
a produção e comercialização de imóveis, a reprodução da força de trabalho proveniente
27
do campo e o processo inflacionário, que direcionou as empresas para o gerenciamento
financeiro onde era possível se alcançar padrões de rentabilidade satisfatórios para a
atividade, mesmo sem a preocupação com produtividade e qualidade.
Segundo Vargas (1993), a margem de lucro obtida pelo gerenciamento financeiro
superava qualquer aumento de produtividade. Logo, não era interessante investir em
qualidade e produtividade, uma vez que no modo “tradicional” de se trabalhar no setor,
com toda a facilidade para se obter recursos para financiamento e mercado favoráveis,
era possível alcançar padrões de rentabilidade satisfatórios. Esta visão fica clara quando
analisamos a pesquisa realizada pela Fundação João Pinheiro (FJP), como é
demonstrado a seguir.
Em novembro de 1984 a Fundação João Pinheiro (FJP), como órgão de pesquisa sócio-
econômicas da secretaria de Planejamento de Minas Gerais, publicou os resultados do
Diagnóstico Nacional da Indústria da Construção (DNIC) realizado no período de
dezembro de 1982 a outubro de 1984. O diagnóstico teve por objetivo caracterizar os
aspectos dominantes do setor, sua contribuição ao processo de desenvolvimento
brasileiro e a participação e especificidade de cada um de seus sub-setores
11
.
Segundo dados da fundação, a indústria da construção civil mostra grandes
particularidades, que singularizam o processo construtivo, em face do processo
construtivo vigente em outras indústrias, como a de transformação, por exemplo.
Destaca-se, em primeiro lugar, o caráter não homogêneo e não seriado de seu produto,
estando, pois, na dependência de encomendas que implicam a elaboração de um bem
singular, não reproduzível. Disso decorre, em segundo lugar, a importância do projeto
singular, para cada produto, o que não se faz presente como regra geral na indústria de
transformação.
A terceira especificidade é o fato de que o processo construtivo depende dos fatores
climáticos, pois este ocorre ao ar livre, implica a manipulação de insumos perecíveis e
processos que são aviltados pela ação da água. Em quarto lugar, o período de
construção é relativamente longo, contado em termos de meses e anos, enquanto o
processo produtivo predominante na indústria manufatureira dura apenas horas, dias ou
semanas. Em fim, em termos gerais, a imobilização de capital circulante é muito maior no
11
Adota-se, segundo a Fundação João Pinheiro (FJP) para fins de análise, três grandes sub-setores para a
Indústria da Construção Civil, são elas: as edificações, as construções pesadas e as montagens industriais.
28
setor da construção, exigindo vultosos recursos financeiros até que o produto atinja a
fase final.
Em quinto lugar, o produto da atividade construtora é extremamente heterogêneo se
comparado com a grande homogeneidade dos produtos da indústria de transformação.
Em sexto, a complexa divisão do setor. Em sétimo lugar, o processo de construção sofre
a interferência de diferentes participantes (usuários, clientes, projetistas, financiadores,
construtores), cujos objetivos nem sempre são compatíveis, o que dificulta a sua
efetivação. Em oitavo lugar, não existem alternativas de localização para o setor, uma
vez que o processo de construção ocorre em lugares, determinado pelas condições de
demanda.
Finalmente, o processo construtivo está sujeito apenas a uma mecanização parcial, de
modo que, embora as máquinas e equipamentos sejam essenciais e determinantes para
o processo construtivo, ainda existe dependência em relação às habilidades do
trabalhador. Isso significa que as bases artesanais da atividade construtora não se
encontram inteiramente superadas, apesar da profunda divisão técnica do trabalho dentro
do canteiro de obras.
Outra conseqüência é a baixa relação valor dos insumos e equipamentos/salários na
indústria da construção, fazendo com que a intensificação do ritmo e o aumento da
jornada de trabalho sejam expedientes corriqueiros para superar as dificuldades do
processo construtivo.
No entanto, as mudanças na conjuntura econômica, na política nacional, nas relações
sociais, na oferta de mão de obra, na cultura da população e na limitação da capacidade
de pagar do público têm induzido as empresas a buscar inovações tecnológicas e
gerenciais, e a mudar a linha de pensamento tradicional encontrada no setor da
construção civil brasileira.
A economia nacional hoje está bastante diferente do que era há vinte anos atrás, época
em que o mercado da construção civil esteve bem aquecido. Muitos investimentos foram
feitos neste mercado, havia facilidade de se conseguir recursos para a produção. Hoje
estes recursos são escassos. Para viabilizar seus empreendimentos as empresas
precisam buscar não só novas alternativas de financiamento, como também a redução de
seus custos.
29
O perfil do operário da construção civil mudou quantitativa e qualitativamente, de acordo
com Vargas (1993). Não há mais aquele contingente proveniente da região rural, apesar
das altas taxas de desemprego que o país vive hoje, e a formação dos sindicatos deu
força ao trabalhador para reivindicar melhores condições de trabalho.
O cliente do mercado de hoje está mais exigente e conhecedor dos seus direitos. A
criação do “Código de Defesa do Consumidor” é um exemplo desta mudança. As
empresas devem ter como premissa atender às necessidades e aos anseios dos clientes
para competir no mercado atual.
A velocidade da informação, nestes últimos tempos, e a globalização da economia
trouxeram a concorrência com recursos e tecnologia estrangeiros com um diferencial de
competitividade em relação às empresas nacionais.
Para aumentar a competitividade, conquistar e manter um espaço no mercado atual, as
empresas devem procurar identificar e atender às necessidades do seu mercado alvo,
oferecendo um produto, ou serviço, com a qualidade desejada por este mercado, dentro
do seu poder de compra, e obtendo a qualidade do empreendimento para o
empreendedor, caracterizado pelo aumento do poder de compra do empreendedor e pela
inserção de mercado pretendida pela empresa.
2.1.2 TENDÊNCIAS DE MERCADO PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL
As empresas são importantes para a sociedade, tendo em vista que são organismos
econômicos geradores de riquezas, os quais empreendem esforços para impulsionar o
crescimento de seu patrimônio revertendo-o em benefício da sociedade. Diferem, entre
si, de acordo com seu ramo de atividade, no que tange à tributação e contabilização,
como é o caso das empresas de construção civil.
As empresas de construção civil têm contribuído de modo relevante para a melhoria das
condições de vida da sociedade ao proporcionar moradias e empregos, além de
contribuir para o crescimento econômico do País.
Entretanto, para que isso se estenda ao desenvolvimento social e econômico, é preciso
alcançar excelência nos negócios. Em face das mudanças no ambiente organizacional,
as empresas têm encontrado dificuldades para se manterem. Por isso, vale salientar a
30
importância de se estabelecer metas e objetivos, ou seja, definir a visão bem como a
missão da empresa, aspectos relevantes para que as organizações possam se sustentar
no cenário econômico mundial atual.
De acordo com Quigley (1994), a visão empresarial é considerada uma das questões
mais importantes no que se refere a valores, aspirações e metas de uma empresa. Deve
indicar, com bastante nitidez, o ponto no qual a empresa se encontra no momento atual e
oferecer um mapa para o seu futuro.
Define-se a visão da organização respondendo a algumas indagações, como por
exemplo: Quais as convicções que a empresa defende? Quais são seus valores? O que
ela é hoje e o que deseja ser? Essas indagações deverão ser respondidas quando a
missão da organização for elaborada, considerando seus compromissos, para onde está
indo e quais os seus objetivos. As respostas a essas questões formam os elementos
essenciais da visão empresarial.
A consecução da missão empresarial precisa estar direcionada às necessidades e
exigências do ambiente externo e não ao que a empresa quer produzir, devendo-se
trabalhar com as prioridades dos clientes. Se o ambiente externo mudar, a empresa
também deve adaptar-se a essas mudanças. Por isso, a execução da missão escolhida
deve estar alicerçada na flexibilidade.
Baetz e Bart (1996) afirmam que a missão é considerada importante por proporcionar um
objetivo comum que transcende às necessidades individuais e departamentais da
organização. Portanto, não adianta a organização definir sua visão e não colocá-la em
prática, ou estabelecer um caminho e seguir outro.
Devido ao acirramento cada vez maior da concorrência, as empresas têm procurado
investir em qualidade. Portanto, não basta apenas produzir, mas sim, produzir com
qualidade, o que, além de satisfazer o cliente, reverte em benefício para a empresa,
aumentando a carteira de clientes e reduzindo os custos de fabricação.
De acordo com Juran (1997), o dicionário traz duas definições para o vocábulo qualidade.
A primeira está referendada nas características do produto, ou seja, será atribuído ao
produto o conceito de boa qualidade, se este estiver de acordo com o gosto do cliente. A
segunda é vista Sob a perspectiva do cliente, de modo que, quanto menores forem as
31
deficiências do produto, maior será sua qualidade. Juran (1997) descreve as duas
espécies de qualidade citadas, com uma única expressão “adequação para uso”.
Paladini (1997) comenta que esta definição é bem apropriada para a qualidade, apesar
de haverem inúmeras outras. Entende que traz um fato concreto que veio para esclarecer
a extensão significativa do termo, dado o grande número de conceitos existentes.
Desse modo, segundo o mesmo autor, a qualidade deve ser sempre determinada de
forma que possa orientar-se para atingir seu alvo: o consumidor. Explica que a expressão
adequação ao uso norteia as bases do que se chama de qualidade total, direcionada ao
consumidor. O conceito, por sua própria essência, envolve a todos na organização,
sendo conduzidos esforços coletivos com o objetivo de alcançá-lo.
Assim, Paladini (1997) pondera que no conceito de Juran (1997) já está implícito que não
existe qualidade que não seja total.
No entanto, será dada, uma maior, visão e exemplificação do assunto qualidade no
próximo capítulo. Neste serão tratados assuntos como histórico e evolução, dos
conceitos e definições e das múltiplas dimensões da qualidade. O capítulo vai tratar
ainda, do aspecto da qualidade no setor da construção civil e da aplicabilidade do
sistema ISO 9000, para a gestão da qualidade na indústria da construção civil.
As mudanças que vêm ocorrendo no cenário econômico modificaram as regras
estabelecidas anteriormente. Atento ao conceito de custo/benefício, o cliente ficou mais
exigente. Além disso, também foi elaborado o Código de Defesa do Consumidor para
reiterar e enfatizar seus direitos, obrigando as organizações avaliarem o mercado sob
outro prisma.
Esse fato é constatado por Paladini (1997) quando explicita que o conceito de qualidade
dentro do ambiente produtivo modificou-se em virtude das mudanças ditadas pelo cenário
econômico. Quem as acompanhou conseguiu manter seus produtos, de modo que
fossem aceitos com satisfação no mercado, permanecendo, assim, competitivo. Porém,
quem não se amoldou a estas mudanças, quem manteve as velhas tradições, afastou-se
da realidade exigida pelo mercado, acabando por estagnar ou perecer.
O exposto nos dá a medida da importância da qualidade no atual cenário econômico. As
empresas, em sua maioria, têm procurado adequar sua estrutura a essa nova realidade,
32
para satisfazer às exigências do mercado, que tem impulsionado essas mudanças.
Desse modo, pode-se dizer que a busca pela qualidade faz parte dos objetivos da
organização, e que esta a incorporou à sua missão.
Porém, para o setor da construção civil é necessário o reconhecimento por parte das
organizações de alguns pressupostos, para que obtenham êxito, entre eles, pode-se
citar:
a) Reconhecer que, a realidade do país e do setor da construção modificou-se
radicalmente nos últimos anos e que é preciso mudar para sobreviver;
b) Reconhecer nos clientes internos e externos da empresa a razão de sua
existência, e que a qualidade é a satisfação total desses clientes;
c) E, reconhecer que o ser humano é em essência um ser criativo que aceita, gosta
e é capaz de superar os mais difíceis desafios.
A construção civil difere muito da indústria de transformação, a partir da qual nasceram e
se desenvolveram os conceitos e metodologias relativos à qualidade. Nos últimos anos
vêm sendo realizados grandes esforços no sentido de introduzir na construção a
qualidade total, que já predomina em outros setores.
Ocorre, porém, que a construção possui características singulares que dificultam a
utilização na prática das teorias modernas da qualidade. Em outras palavras, a
construção requer uma adaptação específica de tais teorias, devido à complexidade do
processo, no qual intervêm muitos fatores.
Algumas peculiaridades da construção, que dificultam a transposição de conceitos e
ferramentas da qualidade aplicados na indústria podem ser ressaltadas, são elas:
- A construção é uma indústria de caráter nômade;
- Cria produtos únicos e não produtos seriados;
- Não é possível aplicar a produção em cadeia (produtos passando por operários
fixos), mas sim a produção centralizada (operários móveis em torno de um produto fixo);
33
- É uma indústria muito tradicional, com grande inércia às alterações;
- Utiliza mão-de-obra intensiva e pouco qualificada, sendo que o emprego dessas
tem caráter eventual e suas possibilidades de promoção são escassas, o que gera baixa
motivação no trabalho.
- A construção, de maneira geral, realiza seus trabalhos sob intempéries;
- O produto é único, ou quase único, na vida do usuário;
- São empregadas especificações complexas, quase sempre contraditórias e
muitas vezes confusas;
- As responsabilidades são dispersas e poucos definidas;
- E, o grau de precisão com que se trabalha na construção é, em geral, muito
menor do que em outras indústrias, qualquer que seja o parâmetro que se contemple:
orçamento, prazo, resistência mecânica, etc.
Além desses aspectos, é importante ressaltar que a cadeia produtiva que forma o setor
da construção civil é bastante complexa e heterogênea. Ela conta com uma grande
diversidade de agentes intervenientes e produtos parciais gerados ao longo do processo
de produção, produtos estes que incorporam diferentes níveis de qualidade e que irão
afetar a qualidade do produto final.
A qualidade na indústria da construção civil deve ser vista como um todo, porém este
todo é representado pelas várias etapas do processo de produção e uso, que podem ser
subdivididos em: Necessidades do Usuário; Planejamento; Projeto; Fabricação de
Materiais e Componentes; Execução de Obras e Uso; Operação e Manutenção.
O ciclo tem inicio com a identificação das necessidades do usuário em relação ao produto
final e vai passando pelas várias etapas do processo produtivo, sendo agregado em cada
uma delas produtos e serviços com diferentes níveis de qualidade, até chegar a um
produto final que satisfaça às necessidades do cliente definida na primeira etapa, não
esquecendo que, a qualidade é considerada adequada quando há satisfação total dos
clientes internos e externos à empresa.
34
Assim, as organizações do setor da construção civil, em virtude das exigências do cliente,
têm buscado se organizar, no intuito de conseguir certificação de qualidade, tal como a
ISO 9000. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2000), as
empresas que pleitearem a certificação denominada Norma Brasileira (NBR) ISO 9001
devem adaptar sua estrutura aos requisitos nela estatuídos.
Assevera, mais, que as empresas devam adotar um sistema de gestão de qualidade
advinda de uma decisão estratégica da organização. Essa busca pela qualidade é um
avanço no setor de construção civil, haja vista que a atual preocupação dos empresários,
com as questões relacionadas à qualidade do produto no setor, têm proporcionado aos
clientes maior tranqüilidade ao adquirir o produto final.
O objetivo do Sistema da Qualidade de uma empresa é assegurar que seus produtos e
diversos processos satisfaçam às necessidades dos usuários e às expectativas dos
clientes externos e internos.
Segundo o enfoque sistêmico, as normas internacionais definem o Sistema da Qualidade
como "estrutura organizacional, responsabilidades, procedimentos, processos e recursos
para implementação da gestão da qualidade", ressaltando que o sistema deve ser tão
abrangente quanto necessário para atingir os objetivos da qualidade.
A International Organization for Standartisation (ISO), entidade internacional de
normalização, criou na década de 80 uma comissão técnica para elaborar normas
voltadas ao Sistema da Qualidade, com o intuito de uniformizar conceitos, padronizar
modelos para a garantia da qualidade e fornecer diretrizes para implantação da gestão da
qualidade nas organizações, resultando deste trabalho à série ISO 9000.
A ISO 9000 reúne as normas mais completas e atualizadas sobre o assunto, hoje
adotadas, por mais de 45 países, entre os quais da comunidade Européia.
Como os elementos definidos na série da norma ISO 9000 são genéricos, e a construção
civil possui especificidade, é fundamental para indústria da construção civil demonstrar o
atendimento aos tópicos da norma, desenvolvendo Sistemas da Qualidade adequado ao
setor e o mais eficaz possível.
35
No entanto, as questões relacionadas ao de Gestão da Qualidade, ao Sistema de
Normas ISO 9000 e sua aplicabilidade ao setor da construção civil, seja nos escritórios
de projeto ou no canteiro de obras, serão tratados no próximo capítulo desta dissertação.
2.1.3 A COMPETITIVIDADE NO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL
O posicionamento estratégico de uma empresa dentro da sua indústria é fundamental
para o alcance de sua vantagem competitiva. Para Porter (1998), basicamente, uma
empresa pode posicionar-se de forma a obter sua vantagem competitiva através da
diferenciação de seu produto, percebida pelo cliente, ou por uma produção a custos mais
baixos, em relação à concorrência. Assim caracterizam-se três estratégias genéricas de
competição dentro das indústrias, sejam elas: O custo, a diferenciação e o enfoque.
Segundo Betts e Ofori (1992), uma empresa deve fazer uma análise crítica da sua
posição estratégica em relação ao mercado e à concorrência, procurando identificar qual
das três estratégias genéricas deverá ser seguida.
Uma empresa pode obter liderança no custo total quando: o seu custo de produção é
mais baixo que o da concorrência, seu produto possui um padrão de qualidade próximo
ao oferecido no mercado, e o preço deste produto está na média, ou perto dos preços da
concorrência.
Assim, uma empresa que optou pela liderança de custo consegue obter retornos mais
altos que os da concorrência, desde que os atributos de seu produto, considerados
importantes pelo cliente, sejam equivalentes aos atributos dos produtos concorrentes
oferecidos no mercado, e que o preço também seja equivalente ao da concorrência.
Desta forma, a empresa vai conseguir descobrir e explorar todas as fontes de vantagem
de custo dentro da sua cadeia de produção.
Para uma empresa que procura competir pela vantagem de custo, cada atividade dentro
do seu processo produtivo deverá ser analisada isoladamente e também como ocorre
sua interação com as demais atividades. Investimentos em tecnologia, racionalização da
produção, procurando-se diminuir desperdícios e não conformidades, buscando-se a
eficiência em cada atividade, são formas de se conseguir uma redução nos custos de
produção.
36
De acordo com Cardoso (1997), uma empresa pode competir por custos integrando as
atividades de produção (internalização), ou mesmo contratando estas atividades no
mercado (externalização).
Segundo Silva (1995), com investimentos em pesquisa, desenvolvimento e gestão da
qualidade, empresas construtoras têm conseguido competir pela liderança nos custos
através de ganhos significativos de produtividade. Mesmo assim, ainda existem no setor,
segundo a autora, empresas com uma visão distorcida da competição por custos através
da não conformidades dos produtos.
A formação do preço de um produto do setor da construção civil possui uma dificuldade,
intrínseca de sua natureza, e não encontrada na indústria seriada: o preço deve ser
equacionado antes do empreendimento ficar pronto.
Portanto, mesmo com a redução de custos no processo de produção, as empresas
devem dispor de mecanismos para compensar desvios que podem ocorrer durante o
processo, para que o preço oferecido ao mercado não venha a sofrer alterações que
possam prejudicar o resultado do empreendimento.
De acordo com Porter (1998), a segunda estratégia para uma empresa conseguir obter
liderança por diferenciação é quando a mesma oferece um produto cujos atributos são
diferenciados da concorrência, percebidos e valorizados pelo cliente, indo ao encontro de
suas expectativas.
Segundo o mesmo autor, a empresa “é recompensada pela sua singularidade por um
preço-prêmio”. Os custos de produção devem ser semelhantes aos da concorrência, e
seu preço-prêmio deve superar o custo dessa singularidade.
Ainda para Porter (1998), uma empresa que deseja obter liderança pela diferenciação
deve oferecer um produto com um diferencial de atributos que o torne único no mercado,
de forma que o cliente seja convencido a pagar mais por ele. Ainda assim, a empresa
não deve se descuidar dos custos inseridos em seu produto, uma vez que estes não
devem ficar muito acima da concorrência. A empresa deve, portanto, procurar reduzir o
custo em todos os elos da sua cadeia de modo que não afetem a diferenciação de seu
produto.
37
A terceira estratégia, descrita por Porter (1998), que pode ser adotada por uma empresa
é o enfoque. Quando uma empresa decide pela estratégia do enfoque, ela estará
concentrando sua estratégia para um determinado segmento estreito dentro de uma
indústria, procurando obter vantagem competitiva dentro deste segmento, atendendo às
necessidades deste de forma mais eficiente que os seus concorrentes.
Portanto, a empresa que busca a liderança no enfoque deve explorar as diferenças que
existem em um determinado segmento em relação à indústria. Esta empresa deverá
descobrir e aproveitar a sub-otimização de um segmento estreito por concorrentes com
amplos segmentos de atuação.
Porter (1998), ainda descreve duas variações para a estratégia do enfoque: o enfoque no
custo e o enfoque na diferenciação. No primeiro, uma empresa busca vantagem de custo
no seu segmento escolhido, explorando as diferenças no comportamento do custo neste
segmento; no segundo a empresa busca a diferenciação no seu segmento de atuação
explorando as necessidades especiais dos seus clientes neste segmento.
Num ambiente onde a concorrência tem alvos amplos de atuação, uma empresa pode ter
vantagem competitiva por enfoque no custo apenas procurando atender um pequeno
segmento, pois a concorrência atende o mesmo segmento arcando com custos mais
altos que o necessário.
Numa situação semelhante, uma empresa também pode obter vantagem competitiva por
enfoque na diferenciação, quando a concorrência com alvos amplos de atuação falha no
atendimento às necessidades de um segmento específico.
Na indústria da construção civil, dificilmente uma empresa irá competir com alvos amplos
de atuação. Devido a características intrínsecas da natureza dessa indústria, as
empresas direcionam seu enfoque de atuação para um determinado segmento.
A ocorrência das três estratégias competitivas no ambiente da indústria da construção
civil é observada por Silva (1995), em seu estudo sobre estratégias competitivas na
construção civil. De acordo com a autora, a liderança no custo total na indústria da
construção civil ainda é utilizada pelas empresas de forma distorcida.
38
Encontram-se, na mesma indústria, empresas que buscam menor custo através da não
conformidade de seus produtos e empresas que investem em pesquisa e
desenvolvimento, e gestão da qualidade, alcançando ganhos em produtividade.
Na indústria da construção civil, a estratégia do enfoque é identificada por Silva (1995),
principalmente, pelas construtoras que se especializam em um determinado tipo de
empreendimento, por exemplo, edifícios residenciais de alto padrão, para clientes de uma
faixa de renda alta, edifícios comerciais, shopping centers, etc. Segundo a autora, esta
estratégia não é muito utilizada na indústria de materiais, destacando-se apenas aquelas
empresas especializadas em materiais mais sofisticados, ou aquelas concentradas numa
determinada região.
As empresas devem optar por uma estratégia para competir no mercado, e não tentar
combinar as três, pois certamente não alcançará nenhuma e ficará no “meio-termo”. De
acordo com Porter (1998), uma empresa no “meio-termo” não possui nenhuma vantagem
competitiva, e está em desvantagem em relação aos seus concorrentes que optaram por
uma das estratégias genéricas, ficando em melhor posição competitiva.
Para Silva (1995), “a empresa que pretenda ficar no meio-termo não alcança nenhuma
rentabilidade elevada e sofre de uma falta de identidade empresarial que prejudica a sua
imagem”. Portanto, a escolha da estratégia é de fundamental importância para se obter
vantagem competitiva tanto na indústria da construção civil, como em qualquer outra.
Para decidir sobre a estratégia competitiva a ser adotada, as empresas devem observar
determinados fatores do contexto dentro do qual esta decisão será tomada.
Segundo Krippaehne et al. (1992), para uma empresa construtora adotar com sucesso
uma estratégia competitiva, ela deve estar atenta a dois grupos de fatores: fatores
internos e fatores externos à empresa, representados esquematicamente na Figura 2.1.
39
Figura 2.1: O contexto da Estratégia competitiva.
Fonte:
Krippaehne et al. 1992.
Portanto, estes dois grupos de fatores interagem entre si e influenciam diretamente sobre
a estratégia competitiva que a empresa irá adotar.
Os fatores internos à empresa podem ser divididos em dois grupos que juntos
determinam os limites internos da estratégia competitiva que a empresa poderá adotar,
são eles:
a) Os pontos fortes e fracos da empresa, incluindo todas as habilidades e
diferenciais de vantagens em relação à concorrência, como recursos
financeiros, ou tecnologia;
b) E, os valores pessoais da empresa: as necessidades e a motivação
daqueles que serão responsáveis pela implementação da estratégia
escolhida.
Assim como os internos, os fatores externos à empresa também podem ser divididos em
dois grupos, são eles:
a) As ameaças e oportunidades da indústria: caracterizam o ambiente
competitivo onde atua a empresa, incluindo os riscos e as gratificações
inerentes ao ambiente;
40
b) E, as expectativas em relação à sociedade: representam o impacto que
políticas governamentais, ou de cunho social, pode ter na empresa.
Logo, para Krippaehne et al. (1992), o sucesso da implementação de uma estratégia
competitiva depende desses fatores estarem identificados e direcionados de acordo com
os objetivos e políticas da estratégia adotada pela empresa.
Não obstante, o atual contexto torna mais acirrada a concorrência e, por conseqüência,
impulsiona, sobremaneira, as empresas a se valerem de mecanismos que sejam
sensíveis a esse ambiente e aos aspectos ligados à competitividade do mercado. Assim
sendo, suscita um desafio para alcançar os resultados almejados pelos investidores.
As mudanças de cenário dos últimos anos induziram as organizações a modificarem
tanto sua estratégia de negócio como sua forma de competir, uma vez que, acostumadas
a impor seu produto de acordo com as suas prioridades e interesses não levavam em
conta a satisfação do cliente. Também não havia preocupação com informatização,
planejamento e execução racional das atividades.
No entanto, com as mudanças do cenário econômico mundial, nacional e regional, os
recursos precisam ser mais bem administrados, fato que obrigou as empresas a se
adaptarem à nova realidade, e a conduzir seus negócios de forma diferente. A satisfação
do cliente passou a ser a prioridade das empresas.
Deixar de definir, segundo seus parâmetros, a oferta de bens e serviços, em atendimento
às necessidades e às exigências do cliente, não tem sido tarefa fácil. Assim, a
sustentabilidade das empresas está na capacitação de seu quadro de gestores e
empregados cujo objetivo é identificar as necessidades e as aspirações do cliente,
colocar à sua disposição o produto adequado, com vistas à sua satisfação, de forma tal
que não sinta necessidade de buscar o concorrente.
Em se tratando das empresas do ramo da construção civil, nota-se que nem todas
conseguiram adaptar-se à nova estrutura econômica. Algumas se informatizaram,
passaram a trabalhar com quantidade mínima de empregados, terceirizaram alguns
serviços, por entenderem que assim o custo seria menor, elegendo, ainda, a busca da
qualidade como meta principal, até chegar à certificação da International Organization for
Standardization (ISO) 9000. Contudo, outras empresas do setor não conseguiram
adaptar-se às novas exigências do mercado, inviabilizando, desse modo, o negócio.
41
Hirschfeld (2000) menciona que a construção civil é um setor que tem despertado
interesse, por ser uma das áreas de maior impacto na economia do País. Com o
aquecimento desse setor, problemas como o desemprego e a falta de habitações tendem
a ser minimizados, tornando viável maior estabilidade social. Salienta ainda, que o Brasil
tem sido considerado o quinto maior mercado no mundo no ramo da construção civil. O
segmento tem contribuído de forma relevante para o crescimento do País, com
participação que chega a 15% do Produto Interno Bruto - PIB, além de proporcionar
novos empregos. Constitui, desse modo, uma alavanca para o desenvolvimento da
economia.
Confirma-se, portanto, que o setor de construção civil tem fomentado o número de
empregos no País. De forma direta, gera empregos ao construir escolas, hospitais,
shopping center, repartições públicas, entre outros. Indiretamente, também, está
contribuindo para que empregados sejam contratados, no sentido de viabilizar esses
empreendimentos. Entretanto, para que essa situação perdure, são necessários projetos
de relevante envergadura e construtores capacitados para essa atividade específica.
Segundo o Hirschfeld (1996), a construção civil é setor da indústria visto como dos mais
relevantes no Brasil, por suas características particulares no que tange a volume de
produção, capital circulante, número de pessoas empregadas e utilidade dos produtos.
No entanto, isto não é suficiente para assegurar o crescimento econômico do setor.
Fundamental é que essa atividade seja gerenciada sob o ponto de vista da qualidade de
processos e produtos.
Hirschfeld (1996) afirma que não há como abordar a construção civil sem ressaltar a
importância da qualidade nesse setor, a qual pode ser detectada de acordo com as
seguintes premissas básicas:
a) Se a construção será executada dentro do prazo e de acordo com o projeto;
b) Se o custo acompanhará o orçamento;
c) Se a obra será executada sem agredir as condições ambientais, resguardando-se
manutenção futura;
42
d) E, se os lucros previstos serão alcançados e se convergirão em reconhecimento
salutar da obra realizada, bem como se haverá cooperação das equipes nesse
sentido.
Para o desencadeamento dessas premissas é importante que as organizações tenham
fluxo de informação adequado, com controles contábeis de gestão, de forma tal que
promovam o acompanhamento das atividades, bem como verificar se a condução dessas
atividades está de acordo com o estabelecido.
43
2.2 FERRAMENTAS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA RACIONALIZAÇÃO
CONSTRUTIVA
Muitas medidas de racionalização construtiva baseiam-se na aplicação de princípios que
visam o aumento do nível organizacional dos empreendimentos. Estes se constituem em
ferramentas básicas, que orientam as decisões, em todo o processo de produção, que vai
desde a concepção dos projetos, ao planejamento e organização da execução, chegando
até as intervenções do pós-venda. Dentre estes, podem ser destacados os seguintes
princípios: projeto integral, construtibilidade, análise e engenharia do valor, desempenho
e ferramentas de qualidade.
Definir uma ferramenta para implementação da racionalização construtiva significa
estabelecer um plano de ação para enfrentar o problema e conduzir, de modo otimizado,
o processo de sua resolução.
Segundo Barros (1996), o objetivo do plano de ação é tornar operacional a implantação
da racionalização construtiva, no processo de produção, substituindo o processo
construtivo tradicional, de maneira que se tenha elevada probabilidade de sucesso.
Freqüentemente ouve-se falar em racionalização do canteiro de obras. É de fato na obra
que se realizaram as primeiras tentativas de aplicação dos princípios de racionalização.
Porém estas tentativas são fadadas ao insucesso quando são frutos de intervenções
isoladas. Para tanto deve prevalecer o princípio da continuidade, nas várias acepções da
palavra, para que a racionalização do canteiro tenha seu início na fase de concepção do
projeto.
Desta forma verifica-se que todo o processo para a racionalização tem seu início, ainda
na fase de concepção do projeto de arquitetura, sendo seguido no detalhamento, na
análise dos componentes, na sua fabricação, na sua associação e relação com seus
fornecedores, e continua na fase de utilização, com a observação, registro e
interpretação do comportamento do produto, do seu desempenho no uso, para através da
retroação, otimizar sua qualidade.
Desde que teve início a corrida pela certificação da qualidade pelas empresas
construtoras brasileiras, muito se discutiu acerca dos procedimentos utilizados nos
processos construtivos. No entanto, este era verificado apenas nas fases de recebimento
44
de material, execução e controle dos serviços nas obras. Como dito anteriormente,
resumia-se a ações isoladas, que na maioria das vezes, eram fadadas ao insucesso.
Entretanto, sabe-se que o projeto é um dos principais vilões e/ou culpados pela falta de
procedimentos com relação à racionalização da construção, além do favorecimento, ao
aparecimento de algumas patologias encontradas nas edificações.
Muitos são os fatores que contribuem para essa distorção, o principal deles é o fato do
projeto ser desenvolvido sem levar em conta o processo construtivo. Como resultado
desse desencontro, verificam-se projetos que, não raro, omitem informações, obrigando
que alguns detalhes sejam resolvidos nas obras (fase de execução).
Assim, verifica-se que projeto, processo e produto se caracterizam por uma dependência
recíproca que enfatiza a necessidade da integração, conseguida através da normalização
e da organização, o que podemos chamar de Projeto Integral.
Para Rosso (1980), o Projeto Integral pode aqui ser entendido como, o instrumento de
normalização e organização. Este se torna integral nas duas acepções da palavra, que
expressa a soma e a combinação das partes e que resulta no completo, coordenado,
contínuo e definitivo. Em antítese ao sistema atual, que se mostra fragmentário,
descontínuo, parcial e freqüentemente provisório.
Desta forma, através do Projeto Integral poderão ser definidos perfeitamente os requisitos
do produto como um todo, e dos seus componentes intermediários. Encontrará aqui o
arquiteto condições para aplicar a sua capacidade de análise e síntese, ou seja, no
fracionamento do organismo arquitetônico em suas partes principais concebendo por
meio do desenho industrial os componentes intermediários de catálogo.
Para o arquiteto o domínio da tecnologia é fundamental, eis que por seu intermédio pode
ver materializado o objetivo que concebeu no projeto. Mas o arquiteto tem um papel
social a cumprir, representado pela satisfação da necessidade humana de abrigo e
somente o domínio da tecnologia permite a máxima eficiência do processo de edificação.
45
2.2.1 OS CONCEITOS DE RACIONALIZAÇÃO
No setor da construção civil, o termo racionalização, tem sido entendido e aplicado de
diversas formas ao longo do tempo e em realidades diferentes. Verifica-se, portanto, a
necessidade de entender melhor este conceito e as suas aplicações.
Segundo Rosso (1980), a racionalização é o processo mental que governa a ação contra
os desperdícios temporais e materiais dos processos produtivos, aplicando o raciocínio
sistemático, lógico e resolutivo, isento do influxo emocional.
Em outras palavras, pode-se entender por racionalização de um processo de produção,
como um conjunto de ações reformadoras que se propõe substituir as práticas rotineiras
convencionais por recursos e métodos baseados em raciocínio sistemático, visando
eliminar a casualidade nas decisões.
No entanto, Quelhas et al. (2002), afirmam que mais importante do que discutir o
significado da palavra racionalização, é descobrir como ela é entendida, não só para a
comunidade acadêmica, mas para toda a sociedade.
Para Sabbatini (1989), os conceitos de racionalização construtiva e racionalização da
construção se distinguem. O primeiro, em um plano micro-econômico, refere-se à
racionalização das técnicas construtivas. Já no último, há um caráter mais abrangente, de
grande complexidade e importância.
Logo, temos que a racionalização construtiva pode ser entendida em uma dimensão
“micro”, como sendo uma ferramenta indispensável para a industrialização, que é
essencial para chegar aos seus objetivos.
Desta forma, Sabbatini (1989) define racionalização construtiva como um processo
composto pelo conjunto de ações que tenham como objetivo otimizar o uso dos recursos
materiais, humanos, organizacionais, energéticos, temporais e financeiros disponíveis na
construção em todas as suas fases.
Da mesma forma, para Melhado (1994) a racionalização construtiva se destaca como
uma importante ferramenta no que diz respeito aos programas de melhoria da qualidade,
com aplicações e resultados mesmo que em curto prazo.
46
Já Melighender (1976), observa que a racionalização dos métodos construtivos
tradicionais implica em uma total revisão na estrutura organizacional das empresas.
Logo vemos que os propósitos para os processos da racionalização construtiva
convergem para alguns pontos, tais como:
a) A racionalização construtiva é uma importante ferramenta para a melhoria da
qualidade, visando a sobrevivência e a competitividade no mercado;
b) E, não faz sentido pensar em racionalização através de ações isoladas, ou
limitadas a algumas fases da construção. Estas devem fazer parte de uma
estratégia empresarial e fazerem parte de todo o processo.
Por outro lado, a racionalização da construção, segundo Farah (1992) surgiu com a
proposta de industrialização do setor, quando esta defendia que a indústria da construção
deveria se aproximar dos paradigmas de uma indústria fabril seriada.
Em outras palavras, inicialmente o conceito de racionalização confundia-se com a lógica
taylorista, segundo o próprio Farah (1992).
Vários autores, porém, têm uma idéia de industrialização mais ampla do que a simples
adoção de princípios de pré-fabricação do sistema produtivo, caracterizando-a como um
processo essencialmente de organização da atividade produtiva.
Agora, Sabbatini (1989) define racionalização da construção, em sua dimensão “macro”,
como o processo dinâmico que torna possível a otimização do uso dos recursos
humanos, materiais, organizacionais, tecnológicos e financeiros, visando atingir objetivos
fixados nos planos de desenvolvimento de cada país e de acordo com a realidade sócio-
econômica própria.
Para Farah (1992), no Brasil o conceito de racionalização tende a se tornar um meio
termo entre construção tradicional e industrializada e ao mesmo tempo, uma opção
estratégica para o setor.
Segundo Quelhas et al. (2002), atualmente o conceito de racionalização torna-se cada
vez mais sistêmico, abrangendo todos os intervenientes da cadeia produtiva da
construção civil.
47
Neste sentido, percebe-se algumas iniciativas, como a da normalização e certificação de
produtos e serviços, assim como programas educacionais promovidos por instituições
públicas e privados. Porém, tais esforços, são ainda incipientes frente à realidade atual.
No Brasil, percebe-se que o conceito de racionalização vem de encontro às necessidades
da maioria das construtoras, uma vez que propõe a otimização dos recursos utilizados.
Entretanto, na adoção de ações de racionalização seria interessante acrescentar os
conceitos de qualidade, destacando-se os seguintes pontos:
a) Necessidades dos clientes/usuários dos produtos ou serviços;
b) Diagnóstico dos processos atuais, identificando e atuando sobre os pontos
críticos;
c) Participação dos funcionários ao longo do processo de implantação das
melhorias, juntamente com uma estratégia e comprometimento da direção da
empresa;
d) E, planejamento, implementação e medição das melhorias de forma contínua.
Nesta análise global observa-se que, apesar de estar inerente em sua conceituação à
idéia de racionalização do produto na construção civil. Porém, na prática os autores
ligados à engenharia civil a têm deixado para outras disciplinas e áreas, como a
arquitetura e a engenharia de produção.
Por outro lado, percebemos que áreas desnecessárias, estruturas superdimensionadas,
entre outros, são aspectos que devem ser analisados na racionalização do projeto.
Amorim (1995) acredita que a própria legislação de obras, em muitas ocasiões, prejudica
ou mesmo impede soluções alternativas mais racionais.
Finalmente, nota-se que, apesar da distinção em termos práticos da racionalização da
construção e racionalização construtiva, esta última não será plenamente viável se não
ocorrer a primeira.
48
Segundo Quelhas et al. (2002), é urgente a adoção de uma política de racionalização da
construção, em nível do macro-complexo da sua cadeia produtiva, para uma efetiva
racionalização de todos os processos construtivos.
2.2.2 O FATOR PROJETO NO PROCESSO DA RACIONALIZAÇÃO
CONSTRUTIVA
A partir do início da década de 90 algumas construtoras, movidas por uma melhor
colocação e afirmação no mercado vêm buscando melhorias, tanto técnicas quanto
financeiras e mais recentemente em relação ao consumidor final do seu produto (cliente),
começando a se movimentar no sentido de alcançar novas metas.
Temas como falta de qualidade, produtividade e desperdício tornaram-se evidentes e a
partir das primeiras pesquisas ficou comprovado que um dos maiores vilões era o setor
de projetos, como identificado anteriormente.
Logo, verifica-se uma tendência a resumir os problemas julgando apenas algumas
questões isoladas, tais como: a falta de coordenação e compatibilização entre projetos; e
a inadequação aos processos tecnológicos e construtivos.
Segundo Salgado (2002), o que realmente se faz necessário é uma abordagem mais
ampla e profunda discutindo-se questões referentes à gestão, comunicação e prazos
adequados para definição dos objetivos e da transmissão das informações pertinentes ao
empreendimento, objetivando um real planejamento do mesmo com etapas claras e
definidas podendo o projeto cumprir então o seu papel fundamental.
Atualmente o projeto vem sofrendo uma evolução conceitual significativa, que não só
amplia o seu escopo como reposiciona o seu papel no contexto do processo construtivo
das edificações.
Nesse sentido, vários estudos e pesquisas vêm sendo realizados com intuito de modificar
o conteúdo da atividade do projeto, introduzindo uma filosofia baseada em princípios de
racionalização, construtibilidade e evolução tecnológica. A soma destes conceitos,
aliados a instrumentos de normalização e organização buscam ao que chamamos de
Projeto Integral. Este tem como objetivo definir os requisitos do produto como um todo, e
dos seus componentes intermediários.
49
A implementação da qualidade nos projetos não é tarefa simples. Depende de muitos
aspectos, entre os quais, destaca-se a necessidade de criação de uma nova estrutura de
desenvolvimento dos projetos, que facilite a obtenção de todo o potencial da
racionalização construtiva presente nesta fase.
Neste sentido, torna-se essencial e eficaz a coordenação dos projetos. Esta pode ser
entendida como a atividade que dá suporte ao desenvolvimento dos projetos.
O objetivo primordial desta atividade é a realização de projetos que sejam elaborados de
forma a atender as necessidades e aos objetivos do empreendimento, proporcionando
assim na fase de execução a qualidade e eficiência desejadas e esperadas.
A preocupação com o projeto tornou-se mais evidente, por ser este considerado como
um dos principais fatores na busca da melhoria para o desempenho do produto
(edificação), diminuição dos custos de produção, diminuição de ocorrência de falhas tanto
no produto quanto no processo e otimização das atividades de execução.
Com este mesmo enfoque, Franco (1992) considera o projeto como a fase onde as
decisões tomadas “trazem maior repercussão nos custos, velocidade e qualidade dos
empreendimentos, alem de ser a origem da maioria dos problemas patológicos dos
edifícios”. Por este motivo, a importância da tomada de decisões ainda na fase de
projeto, torna-se evidente, necessária e irrevogável.
Um aspecto fundamental no desenvolvimento dos projetos é que estes tenham coerência
com as reais condições da etapa de execução, principalmente no que diz respeito à
facilidade de execução, assimilação e aprendizagem das técnicas evidenciadas na fase
de projeto, em relação aos grupos que irão executar seus serviços.
Segundo Cornick (1989), a qualidade só pode ser atingida dentro de um empreendimento
com a perfeita definição das necessidades a serem atendidas, pois "se a qualidade é a
conformidade com requisitos, uma clara definição das necessidades indica o que é
factível e abre a possibilidade de se avaliar objetivamente à conformidade com estes
requisitos".
Evidenciando a abrangência do novo conceito de projeto, Melhado (1995) cita Marques
(1979) que diferencia o seu enfoque de processo e produto, da seguinte forma:
50
- Conceito Estático: Referente ao projeto como "... um produto,
constituído de elementos gráficos e descritivos, ordenados e elaborado
segundo uma engrenagem apropriada, visando atender às necessidades
da fase de execução...";
- Conceito Dinâmico: Referente ao projeto como "... processo através do
qual são produzidas soluções para os problemas que deram causa ao
empreendimento e que justificam o investimento".
A partir desses conceitos verifica-se que as dimensões do conceito de projeto, enquanto
produto, na forma de documentos contendo discriminações técnicas e geométricas,
confundi-se com o produto final do empreendimento.
Por outro lado, as dimensões de conceito enquanto processo, visa atender necessidades
e exigências requeridas, portanto buscando soluções para os problemas de construção
do produto final. Ficando clara nesse momento a caracterização do projeto como serviço.
Com este mesmo enfoque Melhado (1994) afirma que o projeto deve ser entendido como
"uma atividade ou serviço integrante do processo de construção, responsável pelo
desenvolvimento, organização, registro e transmissão das características físicas e
tecnológicas especificadas para uma obra, a serem considerados na fase de execução".
Colocados os conceitos e analisadas as propostas, nota-se que é de fundamental
importância que o empresário da construção valorize a fase de projeto, pois o projeto
pode assumir o encargo fundamental de agregar eficiência e qualidade ao produto se for
incorporado adequadamente ao processo construtivo e explorado o seu caráter
estratégico de indutor da racionalização do processo construtivo e redutor dos custos dos
empreendimentos.
Nesse sentido, é necessário que a etapa de projeto receba atenção especial e a exemplo
de outras indústrias, seja dilatado o seu prazo de modo a incorporar neste momento
todas questões inerentes à fase de construção, minimizando improvisações no canteiro
de obras e assim eliminando parte das incertezas encontradas nos processos executivos,
existentes hoje e que acarreta graves problemas ao setor da construção.
51
É neste contexto que o projeto deve ser encarado como informação, que segundo
Melhado (1994) pode ser de natureza tecnológica (indicações de detalhes construtivos,
locação de equipamentos), nesse caso o produto projeto é evidenciado ou de cunho
puramente gerencial (servindo como suporte ao planejamento e programação da obra),
aparecendo o seu caráter processual e o seu verdadeiro papel, no processo da
racionalização construtiva.
2.2.2.1 TRANSMISSÃO DE DADOS DO PROJETO A PRODUÇÃO
Segundo Martucci (1990) a tecnologia para a construção está embutida nos processos
construtivos através dos projetos. Entretanto, a realidade das práticas construtiva mostra
que nem sempre o projeto incorpora a tecnologia construtiva efetivamente empregada no
canteiro de obras, na fase de execução.
Para Barros (1996), na maioria das vezes, o projeto limita-se à definição do produto sem
incorporar-lhe os métodos e processos construtivos, os materiais e equipamentos.
A tarefa de elaboração de um projeto compreende diversas etapas com características
próprias, interagindo com diferentes agentes e voltadas para um determinado objetivo.
Logo, durante a fase de elaboração do projeto para execução, são definidas as técnicas
construtivas a serem empregadas no processo construtivo, para que então sejam
projetados os detalhes para execução no decorrer da obra.
O objetivo deste projeto é minimizar ao máximo as incertezas durante a execução da
obra, pela antecipação das atividades de execução em projeto, aplicadas aos diversos
subsistemas da edificação, proporcionando uma visão local detalhada em termos de
soluções pré-estudadas e uma visão geral de todo o sequenciamento da execução de
suas partes.
Assim, a função básica do projeto para a produção e execução da edificação, é a
transmissão de todos os condicionantes que envolvem a tecnologia construtiva escolhida,
de modo a subsidiar a etapa de execução da obra da forma mais completa possível,
evitando com isso improvisações, paralisações, retrabalho e a implantação de uma
solução não planejada, durante a execução. Levando a um processo construtivo com
foco na racionalização construtiva, beneficiando desta forma todos os envolvidos no
empreendimento.
52
Portanto o projeto executivo é, na realidade, o orientador de todo o processo e o meio de
comunicação, exigindo do arquiteto uma atitude de coordenador. Da mesma forma,
Mascaró (1990) coloca o arquiteto, como não sendo apenas “um idealizador isolado de
novas realidades, mas grupos de competência diversa, agindo com perfeito sinergismo e
de modo integrado desde o início, para conseguir resultados capazes de dilatar-se no
tempo, ou seja, capazes de conter o conceito de transformação, antecipação, provisão,
controle e regulação”.
Deste modo o projeto executivo tem fator primordial no processo da racionalização da
construção, onde o projeto executivo torna-se um eficaz instrumento, capaz de otimizar o
uso dos materiais, levando em conta suas dimensões e evitando assim desperdícios na
hora de sua colocação e de orientação nas melhores soluções de integração dos
sistemas construtivos utilizados evitando assim incompatibilidades entre os mesmos.
A apresentação do projeto para produção, tomando como base a proposta feita por
Barros (1991), deve ser feita através de desenhos e informações sintetizadas das
especificações e dos procedimentos para execução.
É importante ressaltar que esse projeto deve apresentar uma linguagem clara e acessível
não só aos engenheiros, mas também às pessoas que vão efetivamente utilizá-lo nas
frentes de serviço, que são os mestres de obras, encarregados e operários. Além disso,
deve ser feito em tamanho de folha adequada ao fácil manuseio.
Barros (1991), ainda chama a atenção para que todas as correções e alterações feitas
posteriormente, na fase de execução, devem ser devidamente registradas. Isso faz com
que haja uma realimentação das informações entre as fases de projeto e de execução,
trazendo resultados positivos para a melhoria do processo de produção, além de
fomentar uma base de dados para resoluções futuras.
Finalmente é importante a incorporação ao projeto para produção dos princípios da
construtibilidade e racionalização construtiva, construindo no papel alternativas de
especificações e detalhes que otimizem a construção da edificação.
53
2.2.3 O FATOR PRODUÇÃO NO PROCESSO DA RACIONALIZAÇÃO
CONSTRUTIVA
Em economia produzir é criar ou aumentar as utilidades. Todas as vezes que
aumentamos a utilidade de uma coisa, isto é a tornamos mais apta para satisfazer a
necessidades humanas, estamos produzindo.
Segundo Rosso (1980), transformar matéria-prima bruta, materiais amorfos em
componentes é produzir, da mesma forma que montar componentes numa edificação.
Num sistema industrial o objetivo da produção é o produto, pois através de um processo
transformamos insumos em produtos.
Produção é, portanto a formação do produto conseguida através de transformações
industriais que aumentam a utilidade dos bens e serviços, de modo a atender as
necessidades dos usuários.
Portanto, na indústria da construção civil, definir uma ferramenta para implementação da
racionalização no processo de produção construtiva significa estabelecer um plano de
ação para enfrentar o problema e conduzir, de modo otimizado, o processo de sua
resolução.
Desta forma, na busca de melhor conseguir a racionalização no processo produtivo da
construção, pode-se aplicar alguns princípios com o intuito de racionalizar os processos
construtivos. São eles, os conceitos de construtibilidade, análise e engenharia do valor e
ferramentas de qualidade. Estes conceitos vêm sendo utilizados ultimamente, no setor da
construção civil e serão melhores analisados a seguir.
Para Sabbatini (1989), pode-se definir construtibilidade como a habilidade ou facilidade
de algo, seja ele a edificação ou qualquer outro produto da construção civil, em ser
construído.
O conceito surgiu nos anos 80, no Reino Unido conhecido como buildability, e nos
Estados Unidos como constructability. O primeiro, é considerado no seu local de origem
como o estágio em que a etapa de concepção procura facilitar os processos construtivos.
Por sua vez, constructability está ligado à idéia de integração do conhecimento e da
experiência construtiva em todas as fases do empreendimento. Na prática, os dois
conceitos se complementam, e são entendidos como um só no Brasil.
54
Para Oliveira (1995), a construtibilidade pode ser entendida, como a habilidade ou
facilidade deste em ser construído. Inicialmente sinônimo de facilitar a construção através
do projeto, atualmente o conceito vem sendo ampliado, significando a integração do
conhecimento e experiência construtiva durante as fases de concepção, planejamento,
projeto e execução da obra, visando à simplificação das operações construtivas.
O estudo da construtibilidade sugere que a separação entre as fases do projeto e da
execução seja responsável pela menor eficiência do processo construtivo. A abordagem
tradicional do processo de projeto é a elaboração dos projetos pelos projetistas e depois
construídos pelos engenheiros.
A comunicação entre esses agentes geralmente não acontece antes da execução,
apesar do fato de que para maioria dos projetistas falta experiência adequada em
execução das construções. Nesse sentido, a construtibilidade procura fazer a integração
entre o conhecimento e experiência em execução das construções com a elaboração dos
projetos.
Evidencia-se, assim, a importância da incorporação tanto da filosofia da construtibilidade
como da racionalização construtiva nos processos de projeto (concepção) e execução
(produção), para uma maior eficiência na indústria da construção civil e
conseqüentemente em seu produto final.
Com relação ao conceito de análise do valor (AV) e engenharia do valor (EV), pode-se
resumidamente, as definir como um método que visa identificar e remover custos
desnecessários de um produto, sistema ou serviço, sem prejuízo de seu desempenho.
Para Freitas (1994) e Guedert (1994), estes sistemas vêm sendo muito utilizados nos
processos gerenciais, e sua aplicação vem ocorrendo em diversas empresas no setor da
construção civil.
Outro princípio importante para o processo da racionalização construtiva é a ferramenta
para a melhoria da qualidade. Neste sentido, existem várias ferramentas que podem ser
utilizadas para análise e melhoria de processos, onde é muito importante a participação
das pessoas envolvidas.
55
A qualidade na execução de uma obra é resultado de um conjunto de operações como:
planejamento, gerenciamento, organização do canteiro de obras, condições de higiene e
segurança no trabalho, correta operacionalização dos processos administrativos em seu
interior, controle de recebimento e armazenamento de materiais e equipamentos e da
qualidade na execução de cada serviço específico do processo de produção.
Para Deming (1990), especialista norte-americano em processo da qualidade, além dos
quatorze princípios básicos para desenvolvimento e gestão da qualidade, deve-se
considerar um contínuo monitoramento das ações de planejamento, execução, controles
e realimentação, também conhecido como Círculo de Deming ou PDCA. Que pode ser
assim entendido, além da Figura 2.2:
Círculo de Deming Î ÎÎ P – Plan (planejar) D – Do (executar)
C – Check (conferir) A – Act (realimentar)
Figura 2.2: Círculo de Deming ou PDCA.
Fonte: SOUZA et al, 1994.
Estes sistemas podem ser aplicados em qualquer setor produtivo, independentemente da
tecnologia utilizada, sempre serão possíveis a racionalização dos processos, a economia
de insumos, o desenvolvimento do produto e a otimização da sua qualidade.
O sistema de qualidade pode ser entendido como o conjunto de procedimentos (o que
fazer, quando fazer, como verificar), responsabilidades (quem faz) e recursos (com que
fazer), visando a gestão aperfeiçoada e o controle de todas as atividades do negócio ou
do empreendimento.
56
Outras ferramentas podem também ser utilizadas além do Ciclo PDCA, proposto por
Deming, são elas:
a) Fluxograma: descrição gráfica de todos os passos que integram um processo,
permitindo a identificação das suas entradas e saídas, assim como das diversas
atividades produtivas. É muito importante no diagnóstico do processo;
b) Fluxograma ou Harmonograma: Descrição gráfica de todos os passos que
integram um processo, permitindo a identificação das suas entradas e saídas,
assim como das diversas atividades produtivas. É muito importante no diagnóstico
do processo;
c) Diagrama de Pareto: É uma forma de gráfico em barras que permite identificar os
problemas prioritários. Desta forma são atacados somente os pontos vitais;
d) Brainstorming: É uma técnica de reunião em grupo, onde na primeira etapa, a
criatividade é liberada no levantamento dos problemas. Na segunda fase, os
esforços são direcionados para a análise e crítica das idéias geradas na primeira
etapa;
e) Diagrama de Ishikawa: É um diagrama utilizado na fase de análise dos
problemas levantados pelo grupo, onde se procuram identificar as suas causas. É
conhecido também como diagrama, de causa e efeito. Neste processo pode ser
utilizada a técnica de brainstorming;
Nos últimos anos, e de uma forma bem positiva, pode-se perceber um movimento pela
busca da qualidade no setor da construção civil brasileira tendo envolvido diversas
empresas, dos diferentes estados.
Segundo Silva (2000), ele se manifesta basicamente na difusão e na busca pela
implantação dos Sistemas de Gestão da Qualidade (SGQ), tais como: o Sistema de
Certificação QUALIHAB, adotado pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e
Urbano do Estado de São Paulo (CDHU); o Sistema de Qualificação de Empresas de
Serviços e Obras (SIQ-Construtoras), que é uma ação do Programa Brasileiro de
Qualidade e Produtividade da Construção Habitacional (PBQP-H); e a própria serie de
Normas NBR ISO 9000.
57
Além dos princípios acima apresentados como fatores que auxiliam, ou ainda, facilitam,
os procedimentos no processo de racionalização construtiva, podemos destacar outro
elemento de grande importância no que diz respeito à indústria da construção civil, que é
o foco na relação cliente/fornecedor, que será melhor desenvolvida a seguir.
2.2.3.1 RELACIONAMENTO CLIENTE E FORNECEDOR
A lógica de uma relação mais avançada entre cliente e fornecedor não só está presente
em todas as evoluções estratégicas em curso, como também já se faz corriqueira no
ambiente empresarial.
Segundo Merli (1990), através de conceitos como o preço ser apenas um componente do
custo total da compra (onde qualidade, prazo, garantias, assistência e outros são também
considerados), ou a qualidade e a garantia do produto final são resultado de todo esforço
da cadeia cliente/fornecedor, ou ainda, a idéia de que a transformação começa no
fornecedor e termina na casa do cliente.
Uma vez que na nova lógica os fornecedores serão parceiros, há necessidade de se
reduzi-los a um número bastante pequeno para que seja viável proceder-se à integração
necessária dos sistemas operacionais, principalmente no tangente ao suprimento dos
insumos estratégicos.
Para Alves (1997), tais fornecedores devem ser selecionados, avaliados em sua lógica de
custos globais, nas suas potencialidades de aperfeiçoamento e na disponibilidade em se
iniciar o longo caminho de colaboração.
Este novo conceito impõe que se conheça melhor o mercado, praticando o marketing de
compra e que se aumente os volumes concedidos a um fornecedor, para que se reduza o
risco ligado a cada relacionamento cliente/fornecedor.
No entanto, na indústria da construção civil, observa-se que existe uma tendência à
manutenção de relacionamentos mais duradouros com fornecedores preferenciais, na
medida em que se torna possível manter-se uma constância de determinados insumos
nas obras.
58
Desta forma o mercado de produtores e fornecedores precisa ser conhecido a fundo,
uma vez que existe a necessidade de se manter um cadastro bem elaborado, completo e
atualizado dos fornecedores, tanto de materiais, quanto de serviços. Estas informações
são bastante importantes, e devem ser avaliados os seguintes itens: os antecedentes das
empresas, a situação fiscal e financeira, a idoneidade, o porte (que deve ser compatível
com o tamanho da obra), a capacidade instalada, dentre outras.
Vale ressaltar que os empresários da construção civil já trabalham, ou vão trabalhar com
fornecedores conhecidos e depositário de confiança, onde esta relação passa a se tornar
um imperativo, uma vez que o material vai diretamente para a linha de produção. Ou
seja, o canteiro de obra, onde praticamente são inviáveis uma inspeção mais cuidadosa,
por questão de espaço, tempo e produtividade. Dificilmente vai detectar se os materiais
não conformes, excluindo apenas os defeituosos.
Desta forma, evidencia-se uma grande perda de material devido ao manuseio durante o
transporte e distribuição. Assim é interessante evoluir juntamente com o fornecedor para
entregas paletizadas ou em embalagens especiais que, além de diminuir as perdas traz
ganho de tempo nos processos de execução da obra.
No entanto, com relação ao transporte dos materiais, a indústria da construção civil
apresenta problemas singulares.
Dado à peculiaridade do processo produtivo, que ao contrário das demais indústrias, na
construção civil a linha de produção é que passa pelo produto, que, no caso, é fixo,
fazendo-se necessário chegar com os insumos até ele.
Pode-se com sua devida proporção, comparar o processo de construção de uma
edificação ao processo de construção de um navio, onde o produto permanece estático
enquanto a linha de produção passa por ele ao longo da execução dos serviços. Por
outro lado, a maioria dos materiais utilizados durante o processo de execução, tem em
uma determinada época, onde sua presença se faz mais forte na obra, e desaparecem
logo depois, como por exemplo, tubulações, azulejos e outros.
O segundo aspecto que desfavorece o transporte é o fato de que a aquisição da maioria
dos insumos, por questão de economia, em função da quantidade e da padronização,
geralmente é feita diretamente com os produtores, que se concentram no sul do país,
enquanto que as obras se espalham pelos mais distantes pontos do território nacional.
59
Para Alves (1997), o transporte da mercadoria, em alguns casos se mostra demorado e
caro, em função das distâncias, entre outras coisas. O que prejudica o processo de
pagamento que geralmente está vinculado à entrega do produto, que muitas vezes
extrapola o prazo previsto, gerando títulos em atraso. Portanto, ficam prejudicados cliente
e fornecedor.
As alternativas que as empresas vem buscando, é prolongar os prazos com os
fornecedores ou receber a mercadoria em algum almoxarifado de uma filial mais próxima,
contabilizá-lo e transferir a responsabilidade do transporte do material para o seu nome,
durante o restante do trajeto.
Neste caso, a logística do transporte deve ser bem estudada e programada para que o
material chegue a tempo e hora, não prejudicando assim o processo construtivo. Outra
alternativa utilizada pelas empresas que costumam atuar em diferentes estados é
desenvolver parcerias com as transportadoras ou transformá-las em empresas coligadas.
Mais uma vez, a questão da qualidade se faz presente no relacionamento
cliente/fornecedor, tornando-se indispensável uma vez que os produtos aqui tratados vão
influenciar diretamente o cliente final, comprometendo assim todo o processo.
Portanto, a qualidade do fornecedor não é um item a ser negociado, devem realizar-se
segundo um processo de melhoria contínua, apoiada em um relacionamento em longo
prazo, baseado na confiança mútua, na cooperação e na responsabilidade com o cliente
final. Esse processo deve conter os seguintes padrões:
a) Criar um ambiente de melhoria contínua;
b) Desenvolver a capacidade para medir a melhoria da qualidade;
c) Definir metas em curto prazo para atingir padrões de zero defeito;
d) Definir metas em longo prazo para continuar dentro dos padrões de zero defeito;
e) E, ser orientado para a prevenção.
60
As empresas fornecedoras apresentam níveis diferenciados quanto ao processo de
qualidade. Estes níveis deverão ser identificados para que se possa evoluir
adequadamente no relacionamento, de maneira a orientar corretamente o
desenvolvimento do fornecedor.
Para o caso particular do relacionamento cliente/fornecedor, pode-se encontrar
fornecedores nos mais diversificados níveis organizacionais, e apresentando,
conseqüentemente, diferenciadas estruturas para a garantia da qualidade. Determinados
fornecedores não sabem sequer identificar os itens de controle do seu produto, ao passo
que outros já têm sistema de qualidade implantado e certificação do seu produto pela
série de Normas ISO 9000.
Para alcançar o estágio de certificação o fornecedor deverá estabelecer um programa,
que, mesmo sendo próprio para cada empresa, uma vez que está sujeita a
características específicas de mercado, de destino para o produto, normas de referência,
níveis de relacionamento e conscientização, deve conter pontos básicos que podem ser
sintetizados em três fases: fase do comprometimento, fase operacional, fase de
manutenção.
As normas da série ISO 9000 definem procedimentos gerais para a Garantia da
Qualidade, validadas internacionalmente e incorporadas pelas normas de diversas
nações.
A aplicação de alguns dos conceitos encontrados nas normas da série ISO 9000 pode
dar início a formatação de um padrão de relacionamento cliente/fornecedor. Aonde a
constante evolução venha beneficiar a relação entre as partes e por conseqüência obter
um produto final com mais qualidade.
Portanto, para se falar em qualidade dos processos da construção civil em seu sentido
mais amplo, é preciso considerar que a qualidade dos elementos que constituem a
edificação seja controlada.
Logo, para que isso seja necessário, devemos deixar claro e bem definidos alguns
critérios de controle de qualidade destes elementos. Ao tratarmos os critérios de
qualidade dos elementos, devemos falar em uma industrialização, que leva a uma
padronização destes elementos, que também pode ser entendida como uma
61
coordenação modular. Esta terá influência direta no processo de racionalização da
construção e pode ser melhor compreendida no decorrer dos próximos itens.
62
2.3 A IMPORTÂNCIA DOS PROCESSOS DE RACIONALIZAÇÃO NA
COSNTRUÇÃO CIVIL
A indústria da construção civil é considerada como um dos setores de maior atraso
tecnológico no país e, muito dependente de processos tradicionais ou não padronizados.
Deste modo ela acaba por não estar apta a desempenhar de forma otimizada o papel
pela qual é exigida e esperada.
Para que isto venha a ocorrer é necessário que a mesma esteja capacitada a produzir
edificações que, além de respeitarem condições indispensáveis, como habitabilidade,
funcionalidade, durabilidade, segurança e acabamento, também apresentem
características como construtividade, produtividade, baixo custo e desempenho quanto às
questões ambientais, de segurança e saúde ocupacional.
2.3.1 SISTEMA INDUSTRIAL NO PROCESSO DA RACIONALIZAÇÃO NA
CONSTRUÇÃO CIVIL
O conceito de método industrial é aquele que entre as várias modalidades de produção é
baseado essencialmente em processos organizados de natureza repetitiva e nos quais a
variabilidade incontrolável e casual de cada fase de trabalho, que caracteriza as ações
artesanais, é substituída por graus pré-determinados de uniformidade e continuidade
executiva.
Característica estas que representam as modalidades operacionais parciais e/ou
totalmente mecanizadas, onde os elementos determinantes do método são a repetição e
a organização.
Segundo Rosso (1980), a repetição de caráter essencialmente tecnológico decorre de
uma ação estabilizante dos processos de produção, enquanto a organização de caráter
econômico administrativo decorre principalmente de ações de controle.
Assim, estes conceitos levam direta ou indiretamente às séries de produção (fruto da
repetição) e à racionalização (fruto da ação de organização). Logo o produto
industrializado é o elemento de uma série não casual de produção.
O sistema industrial torna-se fundamental nos processos de racionalização da
construção, pois implica em uma maior produtividade. Para ter produtividade é
63
necessário que haja uma padronização. A padronização, por outro lado, nos permite um
controle de qualidade mais efetivo de cada etapa do processo.
Em seu trabalho sobre coordenação modular, Michalka (2004) procura deixar bem claro
que a padronização se aplica aos elementos que compõem a construção e não à
construção propriamente dita. O mesmo autor afirma que não se trata de construções
iguais, e muitas menos estas acarretarão em prejuízos de liberdade no ato de criar e
projetar pelos arquitetos.
Pode-se dizer, que a liberdade de projetar aumenta quando seus meios de expressão
estão relacionados entre si, ou seja, quando as necessidades a serem satisfeitas são
claras e a relação entre os elementos de projeto é conhecida e controlada.
Sobre método industrial, Rosso (1980) o articula da seguinte forma, segundo suas
principais fases:
- Quanto ao objeto de produção: classificada como pesquisa pura e
aplicada, marketing, desenho industrial, desenvolvimento de produto e
normalização;
- Quanto ao processo de produção: a caracteriza como engenharia de
processo, a pesquisa operacional, a pesquisa tecnológica, a engenharia de
produção e a gestão industrial;
- Quanto à utilização: a engenharia de manutenção e a de operação define
o desempenho no uso e a durabilidade do produto.
Desta forma o autor define três fases principais, no método industrial, sejam elas a
concepção, produção e o consumo. A todas estas fases aplica-se o controle que através
da retro-ação conduz à otimização do produto e do processo.
Ao se tratar de método industrial na construção civil como fator de racionalização, é
fundamental considerarmos a normalização como um instrumento e fator de grande
importância para que a industrialização seja efetivamente implantada.
64
A indústria da construção civil, ainda que tardiamente e não efetivamente, foi a que mais
tempo levou para se adequar no processo de industrialização, porém ainda apresenta
características que remetem ao seu processo artesanal.
E este fato tem provocado um baixo rendimento operacional da indústria da construção,
que pode ser verificado em um conjunto de fatores, tais como:
a) Dispersão e independência das decisões;
b) Descontinuidade e fragmentação na produção;
c) E, baixa produtividade da mão-de-obra e elevado desperdício de tempo, materiais
e conseqüentemente custos;
A coordenação modular, como sistema integrado composto de leis e princípios gerais,
necessita para sua aplicação prática, de uma hierarquia de normas que deverão ir do
universal (unificação) ao particular (simplificação).
Michalka (2004), concluí que neste ponto a normalização é aplicada para se conseguir
tanto a estabilidade de um produto como do seu procedimento de produção.
Ainda sobre a normalização, é importante colocá-la como uma ferramenta fundamental
para implementação de um sistema de pré-fabricação, seja ela fechada ou total, ou
ainda, em um sistema aberto ou por componentes. Sendo este último o mais apropriado
ao subsetor da produção de edifícios, por permitir uma industrialização dos componentes
intermediários, que por serem menores e mais leves oneram menos o processo e podem
ser estocados.
Sendo a construção um processo aditivo, a montagem na obra dos produtos acabados,
depende da inter-relação de suas medidas. Atualmente poucas são as medidas que
estejam relacionadas entre si, o que dificulta a aplicação da industrialização na
construção.
Isto leva à necessidade da simplificação das medidas dos componentes industriais, com
proveito tanto para a indústria quanto para o projetista. Com o fim de apresentar ao
arquiteto uma vasta gama de produtos que proporcione máximas possibilidades de
65
escolha e eficácia, devendo ocorrer uma relação aditiva entre todas as medidas dos
produtos industrializados.
2.3.2 A CORDENAÇÃO MODULAR E O PROJETO ARQUITETÔNICO
Apesar de o Brasil ter sido um dos primeiros países, a nível mundial, a aprovar uma
norma de Coordenação Modular (NB 25 em 1950, hoje NB 1350 em 1991) e de ter tido
os anos 70 e início dos 80 tomados pelos seus conceitos e estudos a respeito, muitas
questões incidiram para que ela não fosse totalmente implantada. Poucos objetivos foram
alcançados mesmo com toda a promoção para a racionalização da construção.
Tendo como pressuposto que a coordenação modular não é utilizada de forma plena na
construção civil do país, a coordenação modular implica necessariamente em uma
padronização, que só vem a ocorrer em sua plenitude em função de uma industrialização
de todo o setor.
Segundo Michalka (2004), entende-se por coordenação dimensional ou correlação
dimensional como um mecanismo de simplificação e conexão de magnitudes relativas de
objetos vários, de diversas procedências que devem acoplar-se na fase de montagem,
sem retoques ou ajustes.
Para que isto ocorra é necessário efetuar-se entre todas as dimensões possíveis de
materiais ou componentes da construção, uma seleção conveniente (sucessão de
valores), apta a facilitar sua produção industrial permitindo adequado controle destas
dimensões.
Na arquitetura é fundamental o uso das proporções, afim de que se defina a plasticidade
do objeto construído. Com isso, a prática da coordenação das dimensões dos
componentes de construção em projeto objetiva compatibilizar dimensionalmente e de
forma racional, os ambientes de uma edificação e seus invólucros.
Para que se possa compatibilizar a padronização das dimensões dos elementos com a
possibilidade do uso das proporções, é necessária uma escala de valores que simplifique
e coordene as dimensões de toda produção da edificação.
66
Para Andrade (2001), quando a coordenação dimensional faz uso de uma dimensão
básica para coordenar o tamanho de todos os componentes e equipamentos do edifício,
passa a ser regido por um módulo, e denominado de coordenação modular.
Portanto, a coordenação modular é um instrumento geométrico, físico e econômico que
tem por função compatibilizar dimensionalmente os espaços, disponíveis e ocupados, de
uma edificação.
A implantação de uma coordenação modular requer o estabelecimento de um sistema
que coordene as dimensões do projeto, aliado ao ordenamento racional dos
componentes de construção, em suas partes e totalidade. Para que isso ocorra, a
coordenação modular faz uso de três princípios, considerados como fundamentais, são
eles:
- O Sistema de Referência: Consiste num sistema espacial de referência para o
projeto, possibilitando o posicionamento e dimensionamento dos componentes sob um
sistema de linhas bases;
- O Módulo: É a unidade básica de medida para a coordenação dimensional dos
componentes e das partes da construção;
- O Ajuste Modular: Estabelece a junção entre os componentes e o sistema de
referência.
Desta forma, se torna possível com estes princípios básicos para a coordenação modular
criar uma metodologia sistêmica para o projeto e a produção. Temos que o termo
módulo, do qual deriva a expressão coordenação modular, contem, ao mesmo tempo, os
conceitos de unidade de medida e fator numérico.
Devido à industrialização do processo construtivo, formou-se uma nova concepção do
módulo sendo empregado agora com fins técnicos, utilitários e produtivos. O módulo,
como agora se entende, é denominador comum das magnitudes existentes na
construção.
Michalka (2004), conclui que o módulo é simplesmente uma unidade de medida abstrata
que se propõe como dimensão base para o dimensionamento dos elementos da
edificação produzidos industrialmente.
67
Porém não devemos associar a coordenação modular somente a construção. Esta vai
mais além, deve ser introduzida na fase de projeto, o que vai determinar seu sucesso na
etapa seguinte, ou seja, na fase de execução.
Assim, o processo de projeto desenvolve papel fundamental, não se apresentando mais,
como uma representação gráfica dos projetos convencionais (seja de arquitetura,
estrutura, instalações, etc.) onde traduz uma concepção que atribui aos mesmos
(projetos) o valor de uma entidade acabada (produto), associando suas dimensões com
alguns aspectos gerais do edifício, e, desconsiderando o processo de construção, a
tecnologia utilizada e os componentes constituintes da edificação.
Esta forma de conceber o projeto, refletida numa representação gráfica que dissocia o
produto (edificação acabada) do processo (produção), vai implicar, como assinala Barros
(1999), na necessidade de adaptações, complementações e compatibilizações, dos
projetos originais, adaptando-os aos limites de dimensão dos materiais e aos processos
construtivos.
Este tipo de procedimento, do projeto, acarretaria em um aumento dos custos de
produção, e um tempo maior de execução no processo de produção da edificação, além
de poder influenciar significamente na qualidade do produto acabado.
Portanto, o uso de uma coordenação modular implica numa reformulação de todo o
processo construtivo, ou seja, do projeto à execução. No entanto, diversas questões
deverão ser discutidas e solucionadas para sua implantação.
A grande diferença em relação ao processo construtivo atual são que estas questões
deverão ser tratadas ao nível de projeto, afastando-se as "soluções" no nível de
execução.
Para Michalka (2004), aqui se encontra a grande mudança qualitativa do processo, onde
a etapa de projeto terá necessariamente um peso maior em todo o processo de produção
das edificações.
Nesse sentido, é importante que o projeto, em sua concepção, vislumbre a articulação de
cada componente entre si e a sua relação com a edificação. Mas, para isso, é necessária
68
a elaboração do projeto sob um sistema espacial de referência, valorizando a disposição
e articulação dos componentes na edificação e o processo de produção da mesma.
Assim, por meio de uma representação gráfica menos abstrata e que vincule os
componentes de construção à edificação, é possível articular a concepção do projeto com
o processo de construção, viabilizando uma sistemática de produção mais racionalizada
e econômica.
A coordenação modular, enquanto instrumento de projeto, tem como objetivo contribuir
para a melhoria da qualidade da edificação, auxiliando nas etapas de concepção,
elaboração e construção dos edifícios.
Andrade (2001), afirma que o seu uso está associado a ações de sistematização e
integração dos processos de produção, a criação de regras gerais para o
dimensionamento dos componentes e detalhes construtivos e a redefinição das formas
de representação gráfica dos projetos, valorizando os componentes de construção.
É conveniente destacar que a substituição das formas de representação convencionais
(bidimensionais), abstratas e desvinculadas de uma prática construtiva, por uma que
contemple a concepção e elaboração dos projetos sob um sistema espacial modular de
referência, que terá como vantagens:
a) A redução do tempo de projeto;
b) A melhoria do entendimento das relações dimensionais dos componentes, e da
construção;
c) O aumento da integração entre os diferentes profissionais de projeto, na medida
em que os componentes poderão ser sobrepostos em um único projeto,
facilmente visível;
d) A elaboração do desenho de forma conjunta com a produção industrial;
e) A redução do retrabalho, fato característico do setor da construção civil;
f) E, a redução do tempo de montagem dos componentes, entre algumas outras
vantagens.
69
Assim, ao avaliar as formas de representação gráfica dos projetos modulares observa-se
a importância em articular o desenho dos componentes ao desenho do projeto,
concebendo o primeiro como uma entidade vinculada ao segundo.
Logo, a representação de ambos em um único sistema espacial de referência, enquanto
instrumento gráfico, permite essa articulação viabilizando associar o edifício a um padrão
de dimensão caracterizado por um módulo e/ou seu múltiplo.
2.3.3 A NORMALIZAÇÃO TÉCNICA REFERENTE A PROJETOS
Assim como toda a cadeia produtiva da construção civil o setor de projetos tem sido
motivado nos últimos anos a dar início a um processo de modernização, visando não só
atingir melhores condições de qualidade e produtividade nas empresas de
desenvolvimento de projetos, mas, sobretudo, melhorar a qualidade do projeto gerado,
uma vez que este é o elemento-chave na qualidade e produtividade dos bens finais.
A divisão e organização do trabalho do setor de projetos apresentam características
diferentes, conforme o tipo de empreendimento e o tipo de contratante dos serviços.
Estas variáveis se apresentam em função das características do empreendimento e do
tipo de contrato, que irá estabelecer maior ou menor grau de integração entre os serviços
técnicos e projetos a serem desenvolvidos, afetando assim os demais agentes da cadeia
produtiva.
O desenvolvimento do projeto é um processo compartilhado entre os projetistas das
várias especialidades envolvidas e o contratante, uma vez que, a exemplo do
desenvolvimento de um produto industrial, envolve a identificação das necessidades dos
clientes/usuários e a interação com a tecnologia que viabiliza a construção da edificação
projetada ou outro elemento do ambiente construído.
O processo de desenvolvimento do projeto como um todo envolve ainda fatores
condicionantes de ordem regulatória, legislação urbana e normas relacionadas aos
serviços públicos, e de características técnicas de interação do bem produzido com os
demais elementos do ambiente construído.
70
Desta forma, as responsabilidades pela qualidade e produtividade do processo de
desenvolvimento e do produto final gerado são assim divididas entre os vários
intervenientes do processo.
O processo de produção do setor é intensivo em conhecimento técnico, fazendo com que
as maiores necessidades de investimento estejam centradas no desenvolvimento dos
recursos humanos.
O processo de desenvolvimento de projeto está atualmente em fase de transição, para
uma intensificação do uso de recursos da informática e tecnologia da informação,
fazendo com que estes aspectos também se constituam em fatores de capacitação do
setor.
Busca-se, assim, um incremento significativo na produtividade atingida pelos profissionais
e empresas e na garantia da qualidade no que diz respeito à confiabilidade possibilitada
pela padronização de etapas e automação por meio de sistemas informatizados
específicos.
Dentro desta perspectiva que vem sendo apresentada para o desenvolvimento na área
de projetos na construção civil, fica clara a definição de uma visão sistêmica sobre a
questão da normalização.
Podem ser verificadas ao final desta dissertação, na parte referente aos anexos, algumas
descrições cuidadosas sobre a questão da normalização técnica de projetos. Onde as
normas técnicas de projeto não se referem somente as normas encontradas na ABNT –
Associação Brasileira de Normas Técnicas, mas também às normas de entidades e
instituições públicas e privadas, bem como às normas das concessionárias de serviços
públicos de cada localidade, além de normas internacionais relativas ao projeto.
Vale ressaltar que nos anexos, não estão sendo identificados todos os documentos
relativos as normas técnicas relacionadas a projeto, porém encentram-se descritas as
principais normas das várias áreas de conhecimento envolvidas com o setor de projetos.
71
CAPÍTULO III
A GESTÃO DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL
3.1 O CONCEITO DA QUALIDADE
As questões relacionadas à qualidade de produtos e serviços se tornaram pontos fortes
de competições entre as empresas nos últimos anos. Esta passou a ser o foco das
questões empresarias, recebendo grande atenção em função da ação conjunta de uma
onda de importações, programas federais e estaduais, além e principalmente, por uma
maior sensibilidade por parte dos consumidores.
As pressões exercidas pelos consumidores finais levaram as empresas a intensificarem a
busca por produtos e serviços de maior qualidade e conseqüentemente maior
confiabilidade. O resultado foi um interesse cada vez maior e constante pela
administração da qualidade em muitas empresas, além de um reconhecimento cada vez
maior da importância estratégica da qualidade para os negócios da empresa.
A necessidade de melhoria dos processos, com foco na qualidade, pode ser um caminho
difícil e longo, muitas vezes sua trajetória torna-se penosa, porém seus resultados
facilmente percebidos. No entanto, apesar de toda a aplicação e do tempo destinado aos
processos pela busca da qualidade, além é claro, das altas quantias gastas em
programas de gestão, seus resultados são lentos e seu sucesso depende do grau de
comprometimento da direção das empresas.
Segundo especialistas, críticos e estudiosos do assunto, a qualidade tem seu conceito
um tanto quanto “escorregadio”, de fácil visualização, porém de difícil definição. Além do
mais, quando a qualidade é definida com precisão, os programas carecem de um maior
impacto, em toda a empresa e na concorrência. Muitos programas têm se voltado para a
fábrica, outros, porém, tem seu foco em métodos tradicionais de controle da qualidade.
No entanto, pouco tem se falado nas fontes que explicam a qualidade superior, como as
contribuições relativas ao projeto dos produtos, da seleção e gerenciamento dos
fornecedores, além é claro do gerenciamento da produção e da força de trabalho.
72
3.1.1 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO
Como conceito, a qualidade é conhecida a centenas de anos, seja por intuição,
percepção e até mesmo pela seleção natural de objetos, artefato e alimento. Porém,
somente na última década é que esta surgiu como função de gerência formal. Em sua
forma original era relativa e voltada para a inspeção, hoje em dia a atividade relacionada
à qualidade dos processos e serviços se ampliou e tornou-se essencial para o sucesso
estratégico das empresas. Antes era dirigida pelos departamentos de produção e
operações, hoje engloba funções diversificadas e multidisciplinares, como compras,
produção e marketing.
Quase todas as mudanças ocorridas nos assuntos relacionados à qualidade, ocorreram
de forma lenta, porém progressiva, sendo caracterizada por uma evolução regular e não
por inovações marcantes. Esta evolução pode ser considerada como o produto de uma
série de descobertas que remontam ao século passado.
Segundo Garvin (1992), estas comprovações aconteceram nos Estados Unidos e podem
ser organizadas em quatro etapas, denominadas de “Quatro eras da Qualidade”, assim
descriminadas: inspeção, controle estatístico da qualidade, garantia da qualidade e
gestão estratégica da qualidade.
O Aparecimento da Inspeção
O surgimento da inspeção nos processos industriais surgiu nos séculos XVIII e XIX,
quando não existia o controle da qualidade, tal como o conhecemos hoje, com regras e
procedimentos bem definidos e delimitados pelas organizações.
Nesta época segundo Garvin (1992), quase tudo era fabricado por artesãos e artífices
habilidosos ou ainda, por trabalhadores experientes e aprendizes sob a supervisão de
seus mestres de ofício. A produção era realizada em pequena quantidade, e os produtos
eram o resultado da união de peças ajustadas manualmente e a inspeção quando ocorria
para assegurar a qualidade do produto final, era realizada de forma informal. Portanto,
um produto que funcionava bem, era visto como o resultado natural da confiança nos
artífices qualificados.
A inspeção formal só passou a ser uma realidade com o surgimento da produção em
massa e conseqüentemente com a necessidade de se obter peças intercambiáveis. Este
73
aumento da produção levou a necessidade de uma grande quantidade de mão de obra
qualificada, que tornava o processo caro e inviável, frente à renda média do mercado
consumidor.
Pressões por qualidade e baixo custo deu origem ao que se denomina por O Sistema
Norte-americano de Produção. A princípio todas as iniciativas, segundo Juran (1984),
estavam relacionadas à necessidade de armamento por parte dos militares e eram
coordenados de perto pelo Departamento de Material Bélico do Exército dos Estados
Unidos, pelo arsenal de Springfield, Massachusetts, e pelo Harpers Ferry Armory. Já nos
bens de consumo, destaca-se a Singer Company, que fabricava máquinas de costura, e
a McCormick Harvesting Company, que produzia equipamentos agrícolas.
Do ponto de vista de controle da qualidade a principal conquista foi da criação de um
sistema racional de medidas, gabaritos e acessórios no início do século XIX. Com o
amadurecimento do Sistema Norte-Americano de Produção, as medições tornaram-se
mais refinadas, assegurando assim os processos de inspeção. No início do século XX,
Frederick W. Taylor, pai da “Administração Científica” deu maior legitimidade a atividade.
As atividades de inspeção foram relacionadas mais formalmente com o controle da
qualidade em 1922, com a publicação da obra The Control of Quality in Manufacturing, de
G. S. Radford. Pela primeira vez, a qualidade foi vista como responsabilidade gerencial
distinta e como função independente. A ênfase era sempre na conformidade e em sua
relação com a inspeção. Logo, de acordo com o próprio Radford, o principal interesse do
comprador na qualidade era a igualdade ou uniformidade que se obtém quando o
fabricante atende as especificações estabelecidas.
Controle Estatístico da Qualidade
A qualidade tratada de forma estatística foi sem sombra de dúvidas um grande avanço
para os padrões que encontramos hoje em dia. Mas não se pode falar em controle
estatístico da qualidade sem mencionar a obra Economic Control of Quality of Product
12
de W. A. Shewart, publicada em 1931, ano que representou um marco no movimento da
qualidade, conferindo pela primeira vez um caráter científico à disciplina.
12
W. A. Shewhart. Economic Control of Quality of Product. Nova Iorque: D. Van Nostrand Company,
1931.
74
Grande parte do movimento moderno de controle da qualidade que atingimos nos dias de
hoje deve-se àquele livro. Nele Shewart deu uma definição precisa e mensurável de
controle de fabricação, criando poderosas técnicas de acompanhamento e avaliação da
produção diária, além de propor diversas maneiras de se melhorar a qualidade.
Vale resaltar que Shewart fazia parte de um grupo de estudiosos e pesquisadores dos
Bell Telephone Laboratories
13
. Grupo este que mais tarde se tornou no Departamento de
Garantia da Qualidade dos Bell Laboratories, criado pela Western Eletric. Este grupo
contava ainda com Harold Dodge, Harry Romig, C. D. Edwards e Joseph Juran.
Shewart foi o primeiro a reconhecer que a variabilidade era um fato concreto na indústria
e que ela seria entendida por princípios de probabilidade e estatística. No entanto, a
questão não se tratava mais da existência na variabilidade nos processos, mas sim em
como distinguir as variações aceitáveis ou as que poderiam indicar problemas. Toda esta
análise resultou no conceito de controle estatístico de Shewart.
Enquanto Shewart trabalhava no controle estatístico dos processos, outros
pesquisadores, tais como Dodge e Harry Roming, dos Bell Laboratories trabalhavam no
processo da prática de amostragem.
Mas foi com o surgimento da Segunda Guerra Mundial e com a necessidade de produzir
armas em grande escala é que os conceitos de controle estatístico da qualidade
passaram a ter um público maior e a despertar o interesse em outros segmentos da
indústria americana.
Ao fim dos anos 40, o controle da qualidade já estava estabelecido. Porém novas
mudanças só voltaram a ocorrer nos anos 50 e início da década de 60, quando novas
obras foram publicadas, dando início a “era da garantia da qualidade”.
Garantia da Qualidade
Com o início da “era da garantia da qualidade” a mesma deixou ser vista apenas como
ferramenta de inspeção e controle, passando a ganhar conceitos mais amplos, sendo
tratada a partir deste momento de forma gerencial.
13
Grupo de engenheiros que investigava os problemas relacionados à qualidade. Pesquisas estas solicitadas
pela Western Eletric, responsável pela produção do Sistema Bell, que estava na busca de uma maior
padronização e uniformidade na rede nacional de telefonia amaricana.
75
A prevenção dos problemas continuou sendo o seu foco principal, mas os instrumentos
de avaliação deixaram de ser apenas a inspeção e o controle estatístico. Neste novo
momento, surgem quatro elementos importantes para a garantia da qualidade, são eles:
quantificação dos custos da qualidade, controle total da qualidade, engenharia da
confiabilidade e zero defeito.
Quanto aos custos da qualidade, até a década de 50, a mesma era feita de forma quase
que empírica. Somente em 1951 com a publicação do livro Quality Control Handbook
14
,
de Joseph Juran, foi que esta situação começou a ser modificada. Juran observou que os
custos para se atingir um determinado nível de qualidade podiam ser divididos em custos
evitáveis e custos inevitáveis.
Segundo Juran, os custos evitáveis eram aqueles relacionados aos defeitos e falhas dos
produtos, neste ainda são considerados os materiais sucateados, horas de trabalho
necessárias a se refazer o produto ou repará-lo, processamento das reclamações e
principalmente o prejuízo da imagem da empresa em função da reclamação dos clientes
insatisfeitos. Em contra partida os custos inevitáveis seriam todos aqueles associados à
prevenção, são eles: inspeção, amostragem, classificação e outras relacionadas ao
controle da qualidade.
Em 1956, Armand Feigenbaum ampliou os conceitos existentes e desenvolveu o conceito
de “controle total da qualidade”, este observou que todos os novos produtos à medida
que chegavam ao mercado, seguiam aproximadamente as mesmas atividades. Ou seja,
do ponto de vista da qualidade estes poderiam ser agrupados em três categorias, são
elas: controle de novos projetos, controle de material recebido e controle de produção
dos produtos.
No entanto, para que este conceito funcionasse de modo satisfatório, era necessário o
envolvimento e a cooperação de muitos departamentos, uma vez que os produtos iam
passando pelas três categorias, estes iam recebendo a participação de grupos distintos,
como: marketing, engenharia, compras, fabricação, expedição e atendimento ao cliente.
Contemporâneos a Feigenbaum e Juran, outros pesquisadores e estudiosos, surgem
com novos conceitos relacionados ao controle da qualidade dos produtos e processos.
Estes acreditavam que a qualidade dos produtos, não se restringia apenas a produção e
76
comercialização, mas este iria além, atingindo o desempenho do produto ao longo do
tempo de uso. Surge assim o conceito da engenharia da confiabilidade.
A princípio, era preciso definir com precisão o conceito de confiabilidade, sob o ponto de
vista da probabilidade de um produto desempenhar uma função especificada sem falhas,
durante um certo tempo e sob condições preestabelecidas.
Com o objetivo de melhorar a confiabilidade e reduzir as taxas de falhas ao longo do
tempo, eram aplicadas técnicas como, análise de modo e efeito de falhas, que examinava
sistematicamente como um produto poderia falhar. Estes estudos levariam a uma ação
corretiva nos processos, buscando assim um produto de confiabilidade e
conseqüentemente com qualidade.
Como o controle total da qualidade, a engenharia de confiabilidade visava, antes de
qualquer coisa, prevenir a ocorrência de defeitos, enfatizando total atenção durante todo
o processo de projeto. Por outro lado, o zero defeito, a última inovação significativa da
era da garantia da qualidade, seguiu uma trilha diferente, pois esta se concentrava nas
expectativas de gerenciamento e nas relações humanas.
O Programa Zero Defeito, criado pela Martin Company
15
, ressaltava a filosofia da
motivação e conscientização. A grande contribuição deste programa foi o
desenvolvimento de uma filosofia de que o único padrão de qualidade aceitável era o
“zero defeito”. No entanto, para que se chegasse a este nível de qualidade, era primordial
a participação dos empregados, através de treinamentos, de eventos especiais, da
divulgação de resultados relacionados com a qualidade, do estabelecimento de metas e
do feedback pessoal.
O Programa Zero Defeito juntamente com a engenharia da confiabilidade, o controle total
da qualidade e os custos da qualidade, contribuíram de forma ímpar para o
desenvolvimento dos assuntos relacionados à qualidade dos produtos e serviços. Neste
momento atividades de projeto, engenharia, planejamento e serviços passaram a ser tão
importantes quanto à estatística e o controle da produção.
14
Juran J. M. Quality Control Handbook – Nova York: Mc Graw-Hill, 1951.
15
A Martin Company era uma empresa americana que construía mísseis do tipo Pershing para o exército
americano.
77
No entanto, todas estas atividades levaram a necessidade de novas habilidades
gerenciais, principalmente na área de relações humanas. Neste momento o campo se
torna favorável a criação e o desenvolvimento de novos conceitos que levam a qualidade
a ser tratada de forma global e estratégica para as empresas, surgindo assim a gestão
estratégica da qualidade.
Gestão Estratégica da Qualidade
Diferentemente de outros momentos que marcaram a evolução dos assuntos
relacionados à qualidade, através da publicação de livros e programas específicos, a
gestão estratégica da qualidade não pode ter seu início definido com exatidão.
Estas mudanças não ocorreram da noite para o dia, mas diversas forças, contribuíram
para este avanço ao nível de gestão estratégica da qualidade. Podemos citar as perdas
de rentabilidade e de participação no mercado consumidor com a má qualidade, como
fatores importantes e decisivos para esta mudança.
Portanto temos que entre as influências mais importantes, podemos citar, uma maior
concorrência externa, principalmente por parte de empresas japonesas, e um significativo
aumento do número de processos de indenização, no mercado americano.
Devido às grandes quantias envolvidas, essas forças tiveram o efeito previsível de
sensibilizar a alta gerência para a qualidade dos produtos. Com a reputação, a
participação no mercado e a rentabilidade das companhias em risco, o assunto não mais
podia ser ignorado. Portanto, surge a partir deste momento uma nova abordagem da
qualidade, fortemente influenciada pelas preocupações da alta gerência das
organizações.
Novas tendências de mercado levaram muitos gerentes a se convencerem de que a
melhoria da qualidade era uma meta rentável. Logo, diante de tais evidências um número
cada vez maior de empresas buscou na qualidade uma ferramenta poderosa para
enfrentarem a concorrência e a se firmarem no mercado.
As metas da qualidade tornaram-se alvos móveis, nos quais seriam sempre reformulados
buscando alcançar níveis cada vez mais altos. Surge então neste momento o conceito da
melhoria contínua, fato este que segue até os nossos dias. Este compromisso por parte
78
da alta gerência das empresas era considerado essencial para se estabelecer uma
cultura de seriedade, propósitos e dedicação em longo prazo aos assuntos da qualidade.
De fato, muitas empresas constataram que só depois de seus mais altos executivos
terem destinado algum tempo a qualidade é que seus funcionários perceberam a sua
importância.
A abordagem estratégica da qualidade também faz novas exigências aos profissionais da
área de qualidade. A especialização técnica continua sendo desejável, mas passa a ser
mais importante uma compreensão dos objetivos estratégicos da empresa. A educação e
o treinamento tornaram-se responsabilidades vitais, assim como a avaliação de
programas, o estabelecimento de metas e o trabalho de consulta a todos os
departamentos envolvidos.
Nesta nova fase de encarar a qualidade de forma gerencial, através de um processo de
gestão, podemos perceber dois momentos bastante semelhantes, porém com um
diferencial fundamental no foco das organizações, são elas: Gestão Integrada da
Qualidade Total e a Gestão Estratégica da Qualidade Total.
A gestão integrada caracteriza-se pelo fato de a qualidade permear toda a organização e
não ficar restrita à linha de produção. Neste momento surge o conceito de cliente interno.
Em decorrência deste fato, verificou-se, também, que o relacionamento entre
organização e fornecedores deveria mudar e passar para um trato entre parceiros e não
entre adversários.
Já a gestão estratégica vai além, dando um passo à frente com relação à fase anterior,
pois assume que qualidade é feita exclusivamente para o mercado. Deve, além de
privilegiar os clientes internos e fornecedores, privilegiar o cliente externo e precaver-se
sempre contra a concorrência.
Portanto temos que a gestão estratégica da qualidade torna-se mais uma extensão de
suas antecessoras, do que propriamente uma negação a elas. Pode-se ver tanto aspecto
de garantia da qualidade quanto de controle estatístico da qualidade e principalmente da
inspeção, na gestão estratégica. Porém não se pode confundir estes quatro movimentos,
uma vez que a abordagem da gestão estratégica da qualidade é mais ampla que suas
antecessoras.
79
A gestão estratégica caracteriza-se por estar mais intimamente ligada a lucratividade e
aos objetivos empresariais básicos, sendo mais sensíveis às necessidades da
concorrência e do ponto de vista do consumidor, e conseqüentemente mais associada ao
conceito de melhoria contínua.
Portanto, a nova abordagem da qualidade incorpora elementos importantes dos três
primeiros movimentos da era da qualidade, mas esta dá um passo adiante, vinculando a
qualidade ao sucesso com a concorrência e a afirmação da empresa no mercado
consumidor. Para uma melhor visualização desta evolução nos quatro movimentos da era
da qualidade acompanha-se a tabela 3.1 e ao gráfico 3.1.
Etapas do Movimento da Qualidade
Identificação
de
Características
Inspeção Controle
Estatístico da
Qualidade
Garantia da
Qualidade
Gerenciamento
Estratégico da
Qualidade
Preocupação
básica e Visão da
Qualidade
Verificação um
problema a ser
resolvido.
Controle um
problema a ser
resolvido.
Coordenação um
problema a ser
resolvido, mas
que seja
enfrentado
proativamente.
Impacto
estratégico uma
oportunidade de
concorrência.
Ênfase Uniformidade do
produto.
Uniformidade do
produto com
menos inspeção.
Toda a cadeia da
produção, desde
o projeto até o
mercado, e a
contribuição de
todos os grupos
funcionais,
especialmente os
projetistas, pra
impedir falhas de
qualidade.
As necessidades
de mercado e do
consumidor.
Métodos Instrumento de
medição.
Instrumentos e
técnicas
estatísticas.
Programas e
sistemas.
Planejamento
estratégico,
estabelecimento
de objetivos e a
mobilização da
organização.
Papel dos
profissionais da
qualidade
Inspeção,
classificação,
contagem e
avaliação.
Solução de
problemas e a
aplicação de
métodos
estatísticos.
Mensuração da
qualidade,
planejamento da
qualidade e
projeto de
programas.
Estabelecimento
de objetivos,
educação e
treinamento,
trabalho
consultivo com
outros
departamentos e
delineamento de
programas.
Quem é o
responsável pela
qualidade
O departamento
de inspeção.
Os
departamentos de
produção e
engenharia.
Todos os
departamentos,
embora a alta
gerência só se
Todos na
empresa, com a
alta gerência
exercendo forte
80
envolva
perifericamente
com o projeto, o
planejamento e a
execução das
políticas da
qualidade.
liderança.
Orientação e
abordagem
“Inspeciona” a
qualidade.
“Controla” a
qualidade.
“Constrói” a
qualidade.
“Gerencia” a
qualidade.
Tabela 3.1. As Quatro Principais Eras da Qualidade.
Fonte
: GARVIN, David A. Gerenciamento da Qualidade (1992).
Figura 3.1. Fases Evolutivas da Qualidade.
Fonte
: Adaptado de Material do Curso de MBA em
Gestão pela Qualidade Total – LATEC – UFF (2003)
3.1.2 CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Apesar de altamente discutida, estudada e conceituada, a qualidade continua sendo um
tema facilmente mal entendido. Portanto, é essencial um melhor entendimento do termo
para que a qualidade possa assumir seu papel estratégico.
Desta forma serão apresentados alguns conceitos e definições sobre a qualidade,
segundo a visão de alguns especialistas que ajudaram a construir a história e a evolução
da qualidade.
81
Para David A. Garvin:
Pode-se identificar oito dimensões da qualidade conforme mostrada na Tabela 3.2
abaixo:
Dimensões Definições
1 - Desempenho Refere-se às características operacionais básicas de um produto. Os
atributos dos serviços ou produtos podem ser mensurados e as marcas
classificadas objetivamente.
2 - Características São os "adereços" dos produtos, aquelas características secundárias
que suplementam o funcionamento básico do produto.
3 – Confiabilidade Reflete o mau funcionamento de um produto ou serviço. Esta dimensão
tornou-se importante dado o sucesso dos japoneses.
4 – Conformidade Significa o grau com que um produto ou serviço está de acordo com
padrões preestabelecidos. Nesta dimensão temos duas abordagens:
aquela que se relaciona ao cumprimento de especificações e outra que
se relaciona ao grau de variabilidade dentro dos limites de
especificação.
5 – Durabilidade Refere-se ao tempo de vida útil do produto ou serviço, envolvendo
dimensões econômicas e técnicas. Esta abordagem sugere uma
ligação íntima com a confiabilidade.
6 – Atendimento Rapidez, cortesia ou facilidade do reparo. Os consumidores
preocupam-se com a pontualidade, freqüência de chamadas, prontidão
etc. variáveis estas objetivas e que podem ser facilmente medidas.
Outras são mais subjetivas como a forma do atendimento (amabilidade,
cortesia, sentimento, etc).
7 - Estética Diz respeito à aparência de um produto, o que se sente com ele, qual o
seu som, sabor ou cheiro, sendo um reflexo de preferências pessoais.
8 - Qualidade Percebida É dada por medidas indiretas, ou seja, nem sempre o consumidor tem
como avaliar o produto, portanto deduz a partir de diversos aspectos
tangíveis e intangíveis do produto ou serviço. Neste momento as
circunstâncias, inferências e outros artifícios tornam-se importantes.
Tabela 3.2. As Oito Dimensões da Qualidade de David A. Garvin.
Fonte:
Adaptado de Garvin, D. A., Gerenciando a Qualidade, Qualitymark Ed.,1992.
Ainda segundo o mesmo autor pode-se identificar cinco abordagens principais para
definição da qualidade, são elas: a transcendente; a baseada no produto, a baseada no
82
usuário, a baseada na produção e a baseada no valor. Estas cinco abordagens podem
ser melhor compreendidas abaixo:
I. Transcendente:
A qualidade dificilmente pode ser definida com precisão, ela é uma característica que
torna o produto aceitável, não pela análise feita, mas pela prática e muitas vezes pela
experiência. Assim pode-se dizer que a qualidade é apenas observável pela sua estética,
mas não pode ser definida. Esta abordagem tem muito a ver com a beleza, o gosto e o
estilo do produto.
"Qualidade não é uma idéia ou uma coisa concreta, mas uma terceira
entidade independente das duas... embora não possa se definir qualidade,
sabe-se o que ela é". (Pirsig, Robert M. Zen end the Art osf Motocycle
Maintenance, Nova Yorque, Bontam Books, 1974, pp.185, 123).
"... uma condição de excelência que implica em ótima qualidade, distinta de
má qualidade... Qualidade é atingir ou buscar o padrão mais alto em vez de
contentar com o mal feito ou fraudulento". (Tuchmam, Bárbara W. "The
Decline os Quality", New York Times Magazine, 2 de novembro de 1980, p.
38).
II. Baseado no Produto:
Esta abordagem vê a qualidade como uma variável precisa e mensurável. A diferença da
qualidade está na diversidade de algumas características dos elementos, ou de acordo
com a quantidade de atributos de um produto; são características adicionais que
agregam valor ao produto.
"Diferenças de qualidade correspondem a diferenças de quantidade de algum
ingrediente ou atributo desejado". (Lawrence Abbott, Quality and Competition,
Nova Iorque: Columbia University Press, 1955, pp. 126-27).
"Qualidade refere-se às quantidades de atributos sem preço presentes em
cada unidade do atributo com preço". (Laffler, Keith B. "Ambiguous Changes
in Product Quality" American Economic Review, dezembro de 1982, p. 956).
III. Baseado no Usuário:
A definição da qualidade está baseada no usuário, procura-se desenvolver um produto
que atenda às necessidades dos consumidores. Produtos de alta qualidade são os que
83
satisfazem de maneira geral todos os consumidores. Trata-se das funções básicas do
produto.
“Qualidade consiste na capacidade de satisfazer desejos...” (Corwin D.
Edwards, “The Meaning of Quality”, Quality Progress, outubro de 1968, p. 37).
"Na análise final de mercado, a qualidade de um produto depende de até que
ponto ele se ajusta aos padrões das preferências do consumidor". (Kuehn,
Alfred A. e Day, Ralph L. "Strategy of Product Quality", Harvard Business
Review, novembro - dezembro de 1962, p. 101).
"A qualidade é o grau com o qual um produto específico atende às
necessidades dos consumidores específicos". (Gilmore, H. L. Productt
Conformance Cost. Quality Progress, june, 1974 p.16).
"Qualidade é adequação ao uso". (J. M. Juran, org, Quality Control Hadbook,
3 edição, Nova Iorque: McGraw-Hill, 1974, pp.2-2).
IV. Baseada na Produção:
Esta abordagem está baseada na produção concentrando-se no lado da oferta da
equação, e se interessa basicamente pelas práticas relacionadas com a engenharia e a
produção. A idéia é que, para produzir um produto que atenda plenamente às suas
especificações, qualquer desvio implica numa queda de qualidade. As melhorias da
qualidade levam a menores custos, pois evitam defeitos, tornando mais baratos os
produtos, uma vez que para corrigi-los ou refazer o trabalho aumentam-se os custos.
"Qualidade é a conformidade do produto às suas especificações". (Crosby,
Philip B. Quality is Free. New York: McGraw-Hill, 1979).
"Qualidade é o grau em que um produto específico está de acordo com um
projeto ou especificação". (Gilmore, Harold L. "Product Conformance Cost",
Quality Progress, junho de 1974, p. 16).
V. Baseado no Valor:
Esta abordagem agrega qualidade em termos de custo e preço. Enfatiza a necessidade
de um alto grau de conformação a um custo aceitável, para que o produto possa ser de
qualidade. Um produto é de qualidade quando ele oferece um desempenho ou
conformidade a um preço que seja aceitável pelo consumidor. As organizações procuram
produzir os produtos com qualidade, mas com um custo baixo para ter uma aceitação no
mercado e com um baixo preço para obter lucro.
84
"Qualidade é o grau de excelência a um preço aceitável e o controle da
variabilidade a um custo aceitável". (Broh, Robert A. Managing Quality for
Higher Profits, Nova Iorque: McGrew-Hill, 1982, p. 3).
"Qualidade quer dizer o melhor para certas condições do cliente. Esses
condições são (a) o verdadeiro uso e (b) o preço de venda do produto".
(Feigenbeum, Armand V. Total Quality Control. Nova Iorque: McGraw-Hill,
1961, p. 1).
Como visto anteriormente a preocupação com a qualidade teve início na década de 50
(pós-guerra) nas empresas japonesas, que contaram com o auxílio de consultores norte-
americanos como: W. E. Deming, J. M. Juran, A. e V. Feighenbaun. Posteriormente a
preocupação com a qualidade se intensificou nos Estados Unidos e ganhou
características de gerenciamento.
Para W. Edwards Deming:
A qualidade não significa luxúria. Qualidade é um grau previsível de uniformidade
dependência, baixo custo, satisfação do mercado. Em outras palavras, qualidade é aquilo
que sempre o cliente necessita e quer. E desde que as necessidades e desejos dos
clientes estão sempre mudando, a solução para definir qualidade termos do cliente é
redefinir as especificações constantemente.
Deming é muito crítico do gerenciamento americano e defende claramente a participação
dos trabalhadores no processo decisório. Ele reclama que gerenciamento é responsável
por grande parte dos problemas com qualidade. Deming insiste que um dos primeiros
passos para o gerenciamento é remover as barreiras que impedem os trabalhadores de
realizarem um bom trabalho. Para ele programas motivacionais que oferecem serviços
superficiais não compensam, uma vez que os trabalhadores sabem distinguir entre
slogans e delegação.
Desta forma Deming, contribui para o avanço dos assuntos relativos a qualidade
estabelecendo quatorze princípios básicos para desenvolvimento e gestão da qualidade,
que pode ser visto na tabela 3.3 a seguir.
85
Princípios Básicos de Deming para Gestão da Qualidade
Princípios Definições
1° Princípio
Estabelecer constância de propósitos (objetivos);
2° Princípio Adotar a nova filosofia assumindo a liderança da transformação;
3° Princípio Acabar com a dependência da inspeção em massa;
4° Princípio Cessar com a prática de aprovar orçamentos com base apenas no menor preço;
5° Princípio Melhorar constantemente o sistema de produção e de serviço;
6° Princípio Instituir o treinamento no local de trabalho;
7° Princípio Instituir liderança;
8° Princípio Afastar o medo no sentido de superar a resistência ao aprimoramento;
9° Princípio Eliminar as barreiras entre os departamentos;
10° Princípio Eliminar os slogans substituindo-os pelo incentivo ao aumento de produtividade;
11° Princípio Eliminar cotas numéricas substituindo-as pela “administração por processo”;
12° Princípio Remover os fatores de insatisfação dos trabalhadores com a produção;
13° Princípio Estimular a formação e o auto-aprimoramento;
14° Princípio Engajar toda a empresa no processo de transformação.
Tabela 3.3. Os Quatorze Princípios de W. E. Deming.
Fonte:
SOUZA et al, 1994.
Deming vai adiante e afirma que além dos quatorze princípios básicos para
desenvolvimento e gestão da qualidade (Vide Tabela 3.3), deve-se considerar ainda um
contínuo monitoramento das ações de planejamento, execução, controles e
realimentação, também conhecidos como Círculo de Deming ou PDCA. Que pode ser
assim entendido, além da Figura 3.2:
Círculo de Deming Î Î P – Plan (planejar) D – Do (executar)
C – Check (conferir) C – Check (conferir)
Figura 3.2: Círculo de Deming ou PDCA.
Fonte:
SOUZA et al, 1994.
86
Para Joseph M. Juran:
Juran define a qualidade como sendo constituída de duas formas diferentes.
A primeira forma da qualidade é orientada pela entrada, e consiste daquelas
características do produto que encontram as necessidades do cliente e desse
modo produzem ganhos. Nesse sentido usual, a altíssima qualidade terá um
custo maior.
Uma segunda forma da qualidade definida por Juran, é a orientada pelo custo
e consiste da liberdade das falhas e deficiências. Nesse sentido usual, a
altíssima qualidade terá um custo menor.
No entanto, entre os conceitos introduzidos por J. M. Juran para o gerenciamento da
qualidade destaca-se a “Trilogia Juran” que inclui: planejamento, controle e melhoria da
qualidade, que podem ser melhor compreendidos a seguir:
a) O planejamento da qualidade é o conjunto de atividades que determinam os
requisitos e objetivos para se conseguir a qualidade. Corresponde à etapa de
identificação do cliente, definição de suas necessidades e desenvolvimento de
produtos para satisfazê-las;
b) O controle da qualidade corresponde ao processo de medir, comparar e corrigir
de modo a assegurar que os produtos e serviços sejam confeccionados e
fornecidos de acordo com os requisitos planejados;
c) Já, a melhoria da qualidade corresponde às ações a serem implementadas em
toda organização para que a empresa obtenha benefícios adicionais com suas
atividades e processos. Trata-se da eliminação incansável das práticas que
causam o desperdício e do constante esforço de melhoria da qualidade dos
produtos e serviços para a satisfação dos consumidores, reduzindo-se, assim, o
custo da não-conformidade.
Os três processos da Trilogia de Juran estão inter-relacionados e refere-se às
deficiências do produto. O resultado da redução das deficiências é a queda do custo da
má qualidade, o melhor atendimento aos prazos de entrega e a redução da insatisfação
dos clientes.
87
Juran através de seus estudos identifica os “ingredientes” da revolução da qualidade
obtida pelas empresas japonesas e faz uma proposta às empresas americanas e outras
empresas ocidentais. Estas devem adotar e seguir estratégias similares às japonesas a
fim de alcançar e manter o status de qualidade no mercado consumidor.
Desta forma segue abaixo os cinco “ingredientes” identificados por Juran nas empresas
japonesas, são elas:
01 - Os altos gerentes tomaram a investida do Gerenciamento para a qualidade;
02 - Treinaram todos os níveis hierárquicos nos processos de Gerenciamento
para a qualidade;
03 - Comprometeram-se a melhorar a qualidade a uma taxa revolucionária;
04 - Forneceram participação à força de trabalho;
05 - Agregaram metas de qualidade ao planejamento dos negócios.
Para Armand V. Feigenbaum:
Feigenbaum (1961) introduziu o termo Controle de Qualidade Total nos Estados Unidos.
O Controle de Qualidade Total aborda a qualidade como uma estratégica que requer
percepção para todos na companhia, justamente como custo e planejamento em muitas
companhias hoje. Neste caso a qualidade se estende além dos defeitos no chão de
fábrica, tornando-se uma filosofia e um compromisso para com a excelência.
Segundo Feigenbaum,
A qualidade é um método de vida corporativa, um modo de gerenciamento. O
Controle de Qualidade Total produz impacto por toda a empresa, que envolve
a implantação das atividades de qualidade orientadas para os clientes.
Portanto, essa é uma responsabilidade fundamental do gerenciamento geral, desta forma
o autor afirma que:
As operações de linha de marketing, engenharia, produção, relações
industriais, finanças e serviços são função de controle de qualidade nos vários
níveis econômicos.
Logo para Faigenbaum o Controle de Qualidade Total é significa ser guiado para a
excelência, em vez de ser guiado pelos defeitos. O autor, ainda apresenta uma visão
88
geral sobre os quatro pecados mortais cometidos pelas companhias para com a
qualidade, são elas:
01- Interesse inicial pela qualidade levado de maneira tempestiva;
02- Racionalização de desejo;
03- Negligenciar a produção para além-mar;
04- Confinamento da qualidade somente na fábrica.
De acordo com os estudos de Faigenbaum, percebemos que a Qualidade Total obtém-se
com o envolvimento de todos os colaboradores da empresa, sem exceções, abrangendo
todos os processos. Pois se trata de uma nova “cultura” a ser implantada uma vez que
compreende o entendimento, a aceitação e a prática de novas atitudes e valores a serem
incorporados definitivamente ao dia-a-dia da empresa.
De forma resumida apresentamos os dez princípios da Qualidade Total:
01- Total satisfação dos clientes; 06- Gerência de processos;
02- Gerência participativa; 07- Delegação;
03- Desenvolvimento dos recursos humanos; 08- Disseminação de informações;
04- Constância de propósitos; 09- Garantia da qualidade;
05- Aperfeiçoamento contínuo; 10- Não aceitação de erros.
Para Kaoru Ishikawa:
Ishikawa trabalhava com sete ferramentas para resolver os problemas e buscar a qualidade dos
produtos, são elas:
01- Gráfico de Pareto; 05- Gráfico de disperção;
02- Diagrama de causa-efeito; 06– Fluxogramas;
03– Histogramas; 07- Cartas de controle.
04- Folhas de verificação;
Enquanto Ishikawa observava que nem todos os problemas poderiam ser resolvidos por
essas ferramentas, ele percebeu que ao menos 95% poderiam ser, e que qualquer
trabalhador fabril poderia efetivamente utilizá-las. Embora algumas dessas ferramentas já
89
fossem conhecidas, Ishikawa as organizou especificamente para aperfeiçoar o Controle
de Qualidade.
Ishikawa criou o diagrama de causa-efeito, descritivamente chamado de diagrama
espinha de peixe, e algumas vezes chamado de diagrama de Ishikawa, para distingui-lo
das diferentes formas de diagramas de causa-efeito utilizados na área computacional.
Talvez o alcance maior dessas ferramentas tenha sido a introdução dos Círculos de
Controle de Qualidade (CCQ). Seu sucesso surpreendeu a todos, especialmente quando
foram exportados do Japão.
Ishikawa pode perceber o quão importante eram os Círculos de Controle de Qualidade
(CCQ), uma vez que esse aspecto essencial do Gerenciamento da Qualidade foi
responsável por muitos dos acréscimos na qualidade dos produtos japoneses nas últimas
três décadas.
Como a indústria se desenvolve e o nível de civilização se eleva, no decorrer dos anos,
logo o Controle de qualidade cresce em importância. Alguns dos benefícios básicos da
filosofia de Ishikawa se enquadram perfeitamente aos tempos modernos e estão
sumarizados a seguir, são elas:
01- A qualidade começa e termina com a educação;
02- O primeiro passo na qualidade é conhecer as especificações do cliente;
03- O estado ideal do Controle de Qualidade é quando a inspeção não é mais
necessária;
04- Remova a causa fundamental e não os sintomas;
05- Controle de Qualidade é responsabilidade de todos os trabalhadores e de
todas as divisões;
06- Não confunda os meios com os objetivos;
07- Coloque a qualidade em primeiro lugar e estabeleça suas perspectivas de
longo prazo;
90
08- O marketing é a entrada e a saída da qualidade;
09- A alta gerência não deve mostrar reações negativas quando os fatos forem
apresentados pelos subordinados;
10- Noventa e cinco por cento dos problemas na companhia podem ser
resolvidos pelas sete ferramentas do Controle de Qualidade;
11- Dados sem informação de sua dispersão são dados falsos - por exemplo,
estabelecer a média em fornecer o desvio padrão;
Para Philip Crosby:
De acordo com Crosby, o maior problema da gerência da qualidade não é o que as
firmas ignoram a respeito, mas o que pensam que sabem. Ele define cinco estágios que
compõem o “Aferidor de Maturidade da Gerência da Qualidade nas Empresas”,
expressos pelo autor da seguinte forma na Tabela 3.4:
De acordo com Crosby, o “Aferidor” deve ser utilizado quando houver necessidade de
projetar uma visão da companhia, de fácil compreensão por todos os interessados, sendo
especialmente útil na comparação do status de diferentes companhias ou divisões,
funcionando, também, como fonte contínua na orientação quanto ao que precisa ser feito
em seguida.
Entretanto, mesmo com uma melhor definição e coordenação, todas as principais
abordagens da qualidade apresentam problemas em comum, uma vez que todas elas
são vagas e imprecisas. Este fato ocorre pelo fato de que os assuntos relativos à
qualidade apresentam múltiplas dimensões que serão observadas no próximo tópico.
91
Estágios
Definições
1- Incerteza
- Busca a qualidade de forma sazonal;
- Considera cada problema como único, mesmo quando se repete várias vezes;
- Pratica o individualismo;
- Desconhece o custo da qualidade;
- Pratica a agenda oculta;
- Baliza sua atuação emocionalmente.
2- Despertar
- Aplica inspeções e testes aleatórios;
- Identifica os problemas com maior velocidade;
- Estimula o treinamento e a sinergia de grupo;
- Toma providências a curto prazo;
- Divulga a filosofia da empresa;
- Existe conscientização para a qualidade ao nível dos gerentes.
3- Esclarecimento
- Define e divulga os níveis de qualidade da produção;
- Enfrenta os problemas sem “caçar” os culpados;
- Promove a premiação como incentivo participativo;
- Estabelece as bases para o cálculo da não-qualidade;
- Cria o “departamento da qualidade” como unidade organizada e independente
das atividades produtivas;
- Gera e implementa sistemas para racionalizar a produção.
4- Sabedoria
- Possui marca de conformidade dos seus produtos (formal e/ou informalmente);
- Desenvolve as tarefas com segurança de sucesso;
- Promove premiações nos vários níveis;
- Reduz os custos sem prejuízos na qualidade;
- Reconhece e recicla periodicamente as normas e procedimentos da empresa
com a participação das equipes de trabalhadores;
- Realiza as mudanças em função do planejamento a longo prazo.
5– Certeza
(Utopia)
- Mantém os níveis de qualidade por auto-controle;
- Impede a execução de atividades que gerem problemas através do sistema de
prevenção;
- Atinge alto desempenho na qualidade de vida dos recursos humanos;
- Reduz o custo da qualidade;
- Considera a gerência da qualidade como parte vital da empresa;
- Adota o planejamento a longo prazo para estabelecer as bases das
mudanças.
Tabela 3.4. Aferidor de Maturidade da Gerência da Qualidade nas Empresas.
Fonte:
Adaptado de material do Curso na disciplina de Gerência de Equipe, ministrado no
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura (PROARQ/FAU/UFRJ), 2004.
92
3.1.3 AS MÚLTIPLAS DIMENSÕES DA QUALIDADE
O sucesso da Gestão Estratégica da Qualidade, normalmente requer uma íntima
coordenação das atividades de cada função, por este motivo os departamentos de forma
alguma devem trabalhar isolados.
Desta forma, podemos exemplificar os trabalhos de uma companhia da seguinte forma,
de modo que os engenheiros possam tirar proveito do contato com os clientes e com
suas necessidades, adequando os produtos, da mesma forma que o pessoal do
marketing possa trabalhar em contato íntimo com a produção, a fim de compreender as
limitações do maquinário e do equipamento disponível. Somente assim a abordagem da
qualidade baseada no usuário, no produto e na produção pode ser combinada e
coordenada.
No entanto, para que se possa haver uma compreensão mais ampla de todo o processo
de Gestão Estratégica da Qualidade, antes é necessário identificar e conceituar as
múltiplas dimensões da qualidade. Portanto, com objetivo de melhor compreender estas
múltiplas dimensões da qualidade, partiremos do estudo realizado por David A. Garvin,
em seu livro Gerenciando a Qualidade.
Segundo Garvin (1992), pode-se identificar oito dimensões ou categorias da qualidade
como esquema de análise, são elas: Desempenho; Características; Confiabilidade;
Conformidade; Durabilidade; Atendimento; Estética e Qualidade percebida.
O autor afirma que cada categoria é estanque e distinta, uma vez que um produto ou
serviço pode ser bem cotado em uma dimensão, porém mal classificado em uma outra.
Contudo, em muitos casos estas dimensões podem estar inter-relacionadas, de forma
que a melhora em uma dimensão pode ser conseguida através de uma outra. Em outros
casos, duas dimensões podem andar juntas, como no caso da confiabilidade e
conformidade.
Não só cada dimensão específica, mas principalmente as inter-relações provenientes de
um processo de gestão, fazem da qualidade um assunto estratégico para as
organizações. Portanto, como dimensões múltiplas permitem estratégias múltiplas, a
concorrência pela qualidade torna-se muito mais complexa. Logo a importância de se
avaliar e conceituar cada dimensão isoladamente.
93
Desempenho
A primeira dimensão caracterizada por Garvin é o desempenho, que se refere às
características operacionais básicas de um produto. Esta dimensão da qualidade
combina elementos com base no produto e no usuário.
Os atributos do produto e do serviço são mensuráveis e geralmente são classificadas
objetivamente com base no desempenho. Todavia, torna-se mais difícil estabelecer
classificações gerais de desempenho, quando se trata de atrativos não específicos.
Para efeito de ilustração consideremos duas escavadeiras motrizes, ambas com
capacidade de 60 m3/h, porém esta capacidade é atingida de forma diferenciada pelos
dois equipamentos. Uma delas possui uma pá de 1 m3, trabalhando a sessenta ciclos
por hora, enquanto a outra possui uma pá de 2 m3, trabalhando a trinta ciclos por hora. A
princípio a capacidade das duas escavadeiras seriam iguais, porém suas possibilidades
seriam completamente diferentes. Onde a escavadeira com a pá maior poderia trabalhar
com pedras maciças, enquanto a escavadeira com a pá menor poderia fazer um trabalho
com mais precisão. Neste caso qual das duas escavadeiras possibilitaria um
desempenho superior? Isso dependeria exclusivamente do trabalho a ser executado.
Características
As características são os adicionais dos produtos, aqueles itens secundários que
suplementam o funcionamento básico do mesmo. Em alguns casos é difícil separar as
características do desempenho, pois as duas dimensões baseiam-se no funcionamento
básico do produto.
As características, como desempenho do produto, envolvem atributos objetivos e
mensuráveis, sua tradução em diferenças da qualidade é afetada por preferências
pessoais. Para efeito de ilustração, podemos citar as cores de um determinado produto
ou mesmo os sabores de um outro produto, onde a preferência pessoal influenciará
diretamente nesta dimensão da qualidade.
Confiabilidade
A confiabilidade, como dimensão da qualidade, reflete a probabilidade de mau
funcionamento de um produto ou a possibilidade do mesmo falhar num determinado
94
período. Dentre as medidas mais comuns da confiabilidade estão o tempo médio para a
primeira falha, o tempo médio entre falhas e a taxa de falhas por unidade de tempo.
Contudo, vale ressaltar que esta dimensão da qualidade está associada ao uso durante
um determinado tempo. Logo, esta dimensão está mais associada aos bens duráveis do
que aos produtos e serviços consumidos de forma imediata.
Sem sombra de dúvidas a confiabilidade tornou-se um elemento importante nos aspectos
relacionados à qualidade. Este fato se deve, em muito, ao sucesso dos fabricantes
japoneses, cuja superioridade nesta dimensão da qualidade, deu-lhes uma vantagem na
concorrência em indústrias variadas, como por exemplo, a automobilística e a de
produtos eletrônicos.
Conformidade
Outra dimensão da qualidade é a conformidade, ou ainda o grau em que o projeto e as
características operacionais de um produto estão de acordo com os padrões
preestabelecidos. No entanto, existem duas abordagens distintas para esta dimensão da
qualidade.
A primeira, predominante em todo o pensamento norte-americano, iguala a conformidade
ao cumprimento das especificações. Este pensamento parte do princípio de que todos os
produtos e serviços envolvem algum tipo de especificação. Portanto, quando se
desenvolvem novos projetos ou modelos, é preciso primeiro estabelecer padrões
dimensionais para as peças e requisitos específicos para as matérias primas.
Esta visão da conformidade está intimamente associada a técnicas de controle de
processo e amostragem. Comparam-se limites de especificação às capacidades
intrínsecas de um processo de produção, onde a maior precisão e a menor variabilidade
que se é capaz de produzir em condições normais de operação. Desta forma o processo
é centrado dentro de uma padronização, onde a maioria das peças é produzida de
acordo com os limites especificados.
Um defeito desta abordagem é o problema do “desencontro de tolerâncias”. Imaginemos
duas peças que têm que serem unidas, onde uma delas encontra-se no limite superior de
tolerância e a outra no limite inferior. Pode-se imaginar que provavelmente não se
95
consiga um bom ajuste entre elas. Portanto, para resolver este problema, surge a
segunda abordagem da conformidade.
A segunda abordagem da conformidade está associada aos fabricantes japoneses e
principalmente ao trabalho de Genichi Taguchi
16
. Taguchi, parte do princípio da idéia de
uma “função de perda” que mede as perdas provocadas por um produto para a
sociedade a partir do momento em que ele sai da fábrica. Podemos considerar por
perdas nos trabalhos de Taguchi os custos de garantia, fregueses insatisfeitos e outros
problemas devidos à falhas de desempenho.
Portanto, podemos considerar a conformidade como o grau em que o projeto e as
características operacionais de um produto estão de acordo com padrões
preestabelecidos. Nesta fase chegamos ao campo da industrialização e da produção.
Este item está associado às técnicas de controle do processo, na verificação dos itens de
controle e limites de especificações. Nesta visão um defeito se tornará um problema.
Tanto a confiabilidade quanto a conformidade estão intimamente associadas à
abordagem da qualidade baseada na produção. Logo, melhoras em ambas as
dimensões, normalmente se refletirá em ganhos da qualidade, porque os defeitos, a falha
após a venda e os erros de processamento é considerada indesejável por todos os
consumidores.
Durabilidade
A durabilidade como uma das dimensões da qualidade, enquadra-se nas questões
técnicas e econômicas. Esta se apresenta com a vida útil do produto e pode ser definida
como o uso proporcionado por um produto até ele se deteriorar fisicamente.
Em certos produtos fica difícil interpretar a durabilidade, principalmente quando é possível
fazer reparos, ou ainda quando este apresenta uma vida útil grande. Neste caso, a
durabilidade passa a ser o uso que se consegue de um produto antes de ele se quebrar e
a substituição ser considerada preferível aos constantes reparos.
16
Genichi Taguchi foi um estatístico japonês que em 1960 ganhou o Prêmio Deming do Japão pelo seu
trabalho estatístico. A continuação de seus trabalhos lhe renderam ainda outros três diferentes Prêmios
Deming de Literatura.
96
Esta abordagem da durabilidade nos remete a duas implicações importantes. Primeiro,
ela sugere que a durabilidade e a confiabilidade estejam intimamente associadas. Uma
vez que um produto que falha com freqüência, provavelmente não será mais tão
confiável.
Em segundo lugar, esta abordagem sugere que os dados de durabilidade devem ser
interpretados com cuidado, uma vez que estes possam ser mascarados por fatores
externos como econômicos e sociais, ao invés de ser encarado apenas com
aperfeiçoamento técnico ou simplesmente a utilização de materiais de maior durabilidade.
Atendimento
A sexta dimensão da qualidade é o atendimento, este diretamente relacionado ao
consumidor. O atendimento também pode ser encarado como a rapidez, cortesia e
facilidade com que um produto seja reparado.
Neste aspecto o consumidor não se preocupa apenas com a possibilidade de um produto
estragar, mas também com o tempo necessário para que as condições normais do
produto sejam restabelecidas, como a pontualidade do atendimento às chamadas, o
relacionamento com o pessoal do atendimento e ainda a freqüência com que as
chamadas para serviços e reparos deixam de resolver os problemas solicitados.
Outro fator importante na dimensão do atendimento é o grau de insatisfação do cliente,
mesmo quando este tem seus problemas solucionados. Em alguns casos existe a
reclamação pela insatisfação no atendimento ou mesmo por outros motivos, inclusive ao
não atendimento do problema ocorrido.
Estes descontentamentos muitas vezes levam as reclamações, que dependendo da
forma como são tratadas exercem influência na qualidade e atendimento das empresas.
Nestes casos, os problemas podem atingir a lucratividade, uma vez que afetam
diretamente a imagem da empresa.
Estética
A estética é a sétima dimensão da qualidade, que juntamente com a qualidade (a oitava)
percebida, são as mais subjetivas. Estas duas dimensões estão intimamente
relacionadas com a abordagem da qualidade baseada no usuário.
97
A estética relaciona-se com a aparência do produto, o que se sente com ele, qual seu
som, sabor, cheiro e etc. Esta se mostra como uma questão de julgamento pessoal e
reflexo das preferências individuais.
Qualidade Percebida
A oitava e última dimensão da qualidade, mostra que os consumidores nem sempre
possuem informações completas sobre um produto, ou mesmo, sobre os atributos de um
serviço.
Portanto, a qualidade percebida é o resultado da falta de informações completas sobre
um produto ou os atributos de serviço que levam os consumidores a fazer comparação
entre marcas e daí inferir sobre qualidade.
Neste ponto, são necessárias outras inferências, além de outros artifícios indicativos,
para se chegar a uma definição quanto à qualidade. Nestes casos, a reputação é um dos
principais fatores que contribuem para a qualidade percebida.
Desta forma, completou-se a lista com as oito dimensões da qualidade, juntas estas
abarcam uma vasta gama de conceitos. Várias dimensões envolvem atributos
mensuráveis dos produtos, outras refletem preferências pessoais. Algumas são objetivas
e intemporais, outras variam de acordo com a moda. Algumas são características
intrínsecas dos produtos, ao passo que outras são características atribuídas.
Essa lista das oito dimensões junta, envolve vários conceitos da qualidade. A variedade
destes conceitos explica a diferença entre cada abordagem, sendo que cada uma
concentra-se numa diferente dimensão da qualidade, tais como vista na tabela 3.5.
Um reconhecimento das oito dimensões é sem sombra de dúvidas muito importante para
os fins estratégicos de uma empresa, que busca trabalhar a qualidade sob a forma de
gestão estratégica. Neste ponto a competição em qualidade torna-se muito mais
complexa, uma vez que dimensões múltiplas implicam que os produtos podem ser
diferenciados de inúmeras maneiras.
98
Relacionando Abordagens e Dimensões da Qualidade
Abordagens Dimensões da qualidade
Baseada no Produto. Desempenho; Durabilidade.
Característica;
Baseada no Usuário. Atendimento Qualidade Percebida.
Estética;
Baseada na Produção. Conformidade; Confiabilidade.
Tabela 3.5. Abordagens Relacionadas às Dimensões da Qualidade.
Fonte:
Próprio Autor.
Não obstante, as empresas não devem se fechar apenas ao tratamento da oito
dimensões da qualidade. Uma vez que como empresas e tratando a qualidade sob a
forma de gestão, podem incorrer em erros internos muitas vezes não perceptíveis aos
próprios olhos da gerência.
A estes problemas encontrados dentro das organizações nos assuntos relacionados à
qualidade, podemos chamar de hiatos da qualidade. Estes podem ser classificados em
nove hiatos da qualidade, que podem ser mais bem exemplificados através das
ilustrações a seguir:
1° Hiato da Qualidade: Comunicação Vertical.
Este é representado pela falha na comunicação entre os diferentes níveis hierárquicos
dentro da empresa.
Figura 3.3. Hiatos da Qualidade – Comunicação Vertical.
Fonte
: Adaptado de Material do Curso de MBA em
Gestão pela Qualidade Total – LATEC – UFF (2003)
99
2° Hiato da Qualidade: Comunicação Horizontal.
Este é representado pela falha na comunicação entre os diferentes setores durante o
andamento dos processos dentro da empresa.
Figura 3.4. Hiatos da Qualidade – Comunicação Horizontal.
Fonte
: Adaptado de Material do Curso de MBA em
Gestão pela Qualidade Total – LATEC – UFF (2003)
3° Hiato da Qualidade: Poder X Processos.
Este mostra a interferência do fluxo do poder em relação ao fluxo do processo com
relação ao cliente.
Figura 3.5. Hiatos da Qualidade – Poder X Processos.
Fonte
: Adaptado de Material do Curso de MBA em
Gestão pela Qualidade Total – LATEC – UFF (2003)
100
4° Hiato da Qualidade: Organização X Fornecedor.
Este mostra a interferência da organização sobre o fornecedor, ao invés de se buscar o
trabalho em parceria.
Figura 3.6. Hiatos da Qualidade – Organização X Fornecedor.
Fonte
: Adaptado de Material do Curso de MBA em
Gestão pela Qualidade Total – LATEC – UFF (2003)
5° Hiato da Qualidade: Indivíduo X Equipe.
Este mostra um problema muito comum nas organizações, onde algumas pessoas ou
departamentos buscam centralizar as tarefas ao invés de buscar o trabalho em equipe.
Figura 3.7. Hiatos da Qualidade – Indivíduo X Equipe.
Fonte
: Adaptado de Material do Curso de MBA em
Gestão pela Qualidade Total – LATEC – UFF (2003)
6° Hiato da Qualidade: Integrar a Voz do Cliente com a Voz do Processo.
Este mostra a falta de ajuste nas empresas entre a vozes dos clientes e os processos
nas empresas.
101
Figura 3.8. Hiatos da Qualidade – Integrar voz do cliente com a voz do processo.
Fonte
: Adaptado de Material do Curso de MBA em
Gestão pela Qualidade Total – LATEC – UFF (2003)
7° Hiato da Qualidade: Divisão do Trabalho.
Este mostra a importância da divisão das tarefas em uma empresa, para que não ocorra
a sobrecarga em alguns funcionários.
Figura 3.9. Hiatos da Qualidade – Divisão do trabalho.
Fonte
: Adaptado de Material do Curso de MBA em
Gestão pela Qualidade Total – LATEC – UFF (2003)
8° Hiato da Qualidade: Falta de Alinhamento entre os Objetivos da Empresa e dos
Indivíduos.
Este mostra que a falta de alinhamento e diretrizes entre os objetivos da empresa e de
seus indivíduos, fatalmente levará a um colapso, com graves prejuízos a organização.
102
Figura 3.10. Hiatos da Qualidade – Falta de alinhamento entre os objetivos da
empresa e dos indivíduos.
Fonte
: Adaptado de Material do Curso de MBA em
Gestão pela Qualidade Total – LATEC – UFF (2003)
9° Hiato da Qualidade: Falta de Conhecimento da Empresa.
Este mostra a falta de conhecimento da empresa pela alta gerência da mesma, que
muitas das vezes estão voltadas para o externo, sem antes ter uma visão completa de
todo seu potencial e falhas.
Figura 3.11. Hiatos da Qualidade – Falta de conhecimento da empresa.
Fonte
: Adaptado de Material do Curso de MBA em
Gestão pela Qualidade Total – LATEC – UFF (2003)
As empresas bem sucedidas acabam procurando vincular seus programas de melhoria
da qualidade às atividades de grupos de trabalho separados, a partir de um total
conhecimento da própria empresa.
Após uma visão global da qualidade, onde foram abordados assuntos como histórico e
evolução, além de uma abordagem sobre os vários conceitos e definições sob a ótica dos
melhores especialistas no assunto, finalizamos esta etapa com uma visão das múltiplas
103
dimensões da qualidade e uma rápida abordagem sobre os problemas internos nas
organizações denominados hiatos da qualidade.
Portanto, acreditamos que a partir deste momento e com uma visão mais consolidada do
assunto, podemos ingressar nos assuntos da qualidade direcionada à construção civil.
104
3.2 A QUALIDADE NO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL
Podemos notar que os conceitos gerais de qualidade, apesar de terem sido
desenvolvidos em setores industriais com realidades diferentes da construção civil, têm
se demonstrado como universais podendo ser adaptados as particularidades de qualquer
setor.
A questão da qualidade na construção civil vem recebendo uma atenção crescente nos
últimos anos, ganhando cada vez mais espaço em eventos técnicos e publicações do
setor, sendo ainda objeto de iniciativas de programas de melhoria. Porém a indústria da
construção civil apresenta características peculiares ao setor, que carecem de um maior
estudo.
A dispersão das responsabilidades, uma das características marcantes deste segmento,
é provocada pelo distanciamento existente entre os projetistas e os construtores (projeto
e execução). Quando dúvidas aparecem em uma obra, o profissional envolvido com a
execução vê-se na contingência de “improvisar” uma solução. Este desencontro entre os
profissionais envolvidos provoca desperdícios e problemas nos mais diferentes níveis,
como por exemplo:
01- Do potencial humano disponível no canteiro de obras;
02- De materiais de construção;
03- De tempo;
04– E, de qualidade.
Estes desperdícios abrangem uma grande quantidade de fatores a serem considerados
para avaliação e tratamento de sua redução, pelo fato destes não estarem somente
ligados à atividade de construção civil.
O fato da indústria da construção civil absorver mão-de-obra não qualificada, se por um
lado ameniza o problema do desemprego, por outro, atinge a capacidade gerencial das
empresas por criar uma centralização excessiva das decisões, obrigando que até
pequenos problemas sejam resolvidos nos níveis mais elevados da organização. O
resultado desse desencontro é, em última instância, o desperdício de recursos
financeiros.
105
Portanto, podemos concluir que somente através da elevação dos índices de
produtividade com uma contínua melhoria da qualidade das edificações produzidas, será
possível equilibrar os custos e o tempo de execução das edificações. Para isso, devemos
considerar que a produtividade está diretamente relacionada com o nível de organização
nas empresas. Neste aspecto a gerência da qualidade na construção civil torna-se um
dos caminhos para o aumento dos lucros, a redução dos custos e conseqüentemente à
modernização do setor.
No entanto, para tratarmos dos assuntos da gestão da qualidade na construção civil,
torna-se necessário uma revisão das técnicas desenvolvidas por Juran, Crosby, Deming,
e outros “gurus da qualidade”, a fim de viabilizar a sua utilização na indústria da
construção civil. Porém, torna-se necessário a sua adaptação, tomando por base as
características que distinguem esse setor produtivo dos demais, quais sejam:
a) Apresenta caráter nômade, onde a indústria da construção civil,
representada pelo canteiro de obras, move-se em função da edificação
que se está construindo;
b) A falta de padronização e da normatização do setor, exceto nas
construções de grandes conjuntos de unidades “idênticas”, como por
exemplo, as habitacionais;
c) A utilização de mão-de-obra pouco qualificada, acrescida de uma
baixa mecanização dos processos de execução, que contribui em muito
para a grande quantidade de acidentes e doenças ocupacionais no
setor;
d) A falta de uma melhor programação e gerenciamento das atividades
considerando principalmente a influência das intempéries (sol ou chuva);
e) A falta de uma melhor definição das responsabilidades, ocasionando
na centralização das decisões, problema este característico do setor.
Segundo Salgado (2000), a qualidade na construção civil é o cumprimento satisfatório do
conjunto de requisitos do bem construído, necessários à satisfação dos usuários. A
mesma autora, ainda afirma que os caminhos para minimizar os custos da construção
106
civil estão na organização do trabalho, nas mudanças tecnológicas e principalmente no
projeto e planejamento da execução das edificações.
Conclui-se então que somente um Sistema de Gestão Integrada para o setor da
construção civil, pode levar a mudança deste quadro desfavorável no setor. Mas o
processo de mudança já iniciado no setor foca todas as suas vertentes nos aspectos
relativos a qualidade.
3.2.1 CONCEITOS E ASPECTOS DA GESTÃO DA QUALIDADE
As organizações têm procurado estruturar-se melhor para alcançar incremento na
qualidade. Essa busca se dá em decorrência das exigências crescentes, por parte dos
clientes, fato este que despertou nas empresas a necessidade de buscar a qualidade,
sem que isso implique em crescimento nos custos de produção.
Entende-se que a qualidade diminui sobremaneira a reposição de peças defeituosas,
bem como o reprocessamento de produtos devolvidos por clientes. Assim, os custos
poderiam ser minimizados com a adoção da gestão da qualidade, propiciando maior
competitividade às organizações. Logo, atender às expectativas do cliente e do mercado
e, também, conseguir um incremento na receita da organização passou a ser uma das
prioridades das empresas bem geridas e com foco em resultados.
Todo organismo econômico tem como mola propulsora à receita oriunda da venda de
bens e/ou serviços. Por outro lado, Juran (1997) enfatiza que a satisfação do cliente o
leva a adquirir o produto, ou seja, se o produto for considerado satisfatório será um
estímulo à sua aquisição. Conseqüentemente, a satisfação do consumidor/cliente
viabilizará a receita, desejada, proporcionando à empresa maior participação no
mercado.
Portanto com o acirramento cada vez maior da concorrência, as empresas têm procurado
investir em qualidade. Chegou-se à conclusão de que não basta produzir, mas deve-se
produzir com qualidade, o que, além de satisfazer o cliente, reverte em benefício para a
empresa, aumentando a carteira de clientes e reduzindo os custos de fabricação.
De acordo com Juran (1997), o dicionário traz duas definições para o vocábulo qualidade.
A primeira está referendada nas características do produto, ou seja, será atribuído ao
107
produto o conceito de boa qualidade, se este estiver de acordo com o gosto do cliente. A
segunda é vista sob a ótica do cliente, de modo que, quanto menores forem as
deficiências do produto, maior será sua qualidade. De toda a forma Juran (1997)
descreve as duas espécies de qualidade citadas, com uma única expressão “adequação
para uso”.
Paladini (1997) comenta que esta definição é bem apropriada para a qualidade, apesar
de haver inúmeras outras. Entende que traz um fato concreto que veio para esclarecer a
extensão significativa do termo, dado o grande número de conceitos existentes. Desse
modo, segundo ele, a qualidade deve ser sempre determinada de forma que possa
orientar-se para atingir seu alvo: o consumidor. Explica que a expressão adequação ao
uso norteia as bases do que se chama de qualidade total, direcionada ao consumidor.
As mudanças que vêm ocorrendo no cenário econômico modificaram as regras
estabelecidas anteriormente. Atento ao conceito de custo/benefício, o cliente ficou mais
exigente. Além disso, também foi elaborado o Código de Defesa do Consumidor para
reiterar e enfatizar seus direitos, obrigando as organizações avaliarem o mercado sob
outro prisma. Assim, para manter-se no mercado, competindo, as empresas viram-se
obrigadas a desvendar os mistérios da qualidade, que até a pouco era objeto de
apreciação de escassos organismos econômicos.
Esse fato é constatado por Barbosa (2003) apud Paladini (1997) quando explicita que o
conceito de qualidade dentro do ambiente produtivo modificou-se em virtude das
mudanças ditadas pelo cenário econômico. Desta forma, quem as acompanhou
conseguiu manter seus produtos e serviços aceito, com satisfação, no mercado,
permanecendo, assim, competitivo. Porém, quem não se amoldou a estas mudanças e
manteve as velhas tradições, afastou-se da realidade exigida pelo mercado, acabando
por estagnar ou perecer.
As empresas, em sua maioria, têm procurado adequar sua estrutura a essa nova
realidade, para satisfazer às exigências do mercado, que tem impulsionado essas
mudanças. Desse modo, pode-se dizer que a busca pela qualidade faz parte dos
objetivos da organização, e que esta se faz presente no dia-a-dia das organizações.
Em seus estudos Paladini (1997) afirma que quando a organização consegue atender às
expectativas da sociedade, em que está inserida, pode-se dizer que está atendendo à
missão básica de todo empreendimento econômico. Logo, ao definir sua missão, a
108
empresa estará também firmando seus objetivos, que, por sua vez, a levarão a
conquistar o espaço almejado no cenário econômico. Após definir a missão, a empresa
precisa planejar como imprimir qualidade aos produtos para a satisfação da sociedade.
O planejamento da qualidade tem como prioridade determinar as metas e encontrar o
meio de conduzi-las até o objetivo desejado. Após o planejamento da qualidade é preciso
pensar nos meios de controlá-la. Assim, é necessário haver um monitoramento das
operações, de tal forma que se possam identificar as oscilações entre o desempenho real
e as metas.
Portanto, o planejamento da qualidade deve estar ligado à fixação das metas de
qualidade, de modo que a organização terá que desenvolver produtos e processos úteis
para a sua realização. Dentro de uma organização, a declaração de visão, deve ser
convertida em uma lista de metas específicas a serem alcançadas. Essa conversão
ocorre por meio do processo de planejamento.
Tanto a declaração de visão abordada na forma de metas, defendida por Juran (1997),
quanto à missão, entendida por Paladini (1997) para satisfazer as necessidades da
sociedade trazem a certeza de que as prioridades percebidas pelos gestores estão
direcionadas aos interesses dos clientes.
É certo que esse fato não indica que as empresas tenham declinado de seus lucros em
favor do cliente, mas significa não onerar os produtos em decorrência de melhor
qualidade. Investir em qualidade, para atender às expectativas dos clientes, implica em
redução nos custos. Assim, a principal preocupação das empresas tem sido identificar
seus clientes e suas respectivas necessidades.
Portanto, conclui-se que deve ser feito um trabalho na empresa para viabilizar a
identificação dos motivos pelos quais determinados clientes não foram impactados pelos
produtos. Após essa análise é necessário desenvolver um trabalho de adaptação às
exigências não contempladas visando atender ao mercado.
3.2.2 CONTROLE DO PROJETO E QUALIDADE NO PROJETO
O desenvolvimento do projeto arquitetônico é tarefa complexa, incluindo atividades tais
como: imaginar (conceber), representar e testar. Estas três etapas são, às vezes,
109
absorvidas umas pelas outras, não havendo uma ordenação clara e definida. A
imaginação aqui está no sentido de ir além das informações disponíveis, enxergando
além, muitas vezes, do próprio cliente.
Dependendo do estágio de desenvolvimento do projeto e até das informações
disponíveis, pode-se optar pelo desenho, maquete ou apenas um “croqui”, no início do
trabalho. Após a representação de sua idéia, o profissional passa a uma nova etapa, à
análise crítica do produto. Neste momento é fundamental o feedback do processo, onde
são ajustados os requisitos do cliente ao projeto pré-concebido.
O processo de projeto constitui uma das interfaces mais complexas e um dos principais
desafios para a modernização da indústria da construção. Os empreendimentos
apresentam requisitos técnicos e gerenciais cada vez mais rígidos. Portanto, o
gerenciamento do processo de projeto caracteriza-se pela distribuição de
responsabilidades, pela formação de um sistema de análise e transferência de
informações, pelo conhecimento de todas as interfaces do processo e busca constante
de melhorias deste processo.
Para Melhado (1992), o empreendedor, o construtor e o usuário podem ser considerados
clientes do projeto, dentro da ótica da qualidade. Sendo clientes do projeto, este deveria
levar em conta as necessidades do empreendedor, do construtor e do usuário, para
então melhor satisfazê-los. Neste sentido, o autor atribui a cada um destes clientes um
conjunto de aspectos que denotam o ponto de vista pelo qual a qualidade de um dado
projeto deveria ser avaliada, são eles:
a) O empreendedor avaliaria a qualidade do projeto a partir do alcance
de seus objetivos empresariais, que envolvem seu sucesso quanto à
penetração do produto no mercado, a formação de uma imagem junto
aos compradores, bem como - ou até principalmente - pelo retorno que o
projeto oferece em proporcionar a seus investimentos, pela manutenção
dos custos previstos.
b) O construtor avaliaria a qualidade do projeto com base na qualidade
gráfica e de conteúdo, importantes para facilitar o trabalho de
planejamento da execução, em que a clareza e abrangência das
informações podem reduzir a margem de dúvida ou necessidade de
correções durante a execução, além de analisar o potencial econômico
110
de materiais e de mão-de-obra, capazes de proporcionar redução de
custos e de desperdícios;
c) E, o usuário avaliaria a qualidade do projeto na medida da satisfação
de suas intenções de "consumo", envolvendo conforto, bem-estar,
segurança e funcionalidade, somando-se a estas, baixos custos de
operação e de manutenção.
No entanto, o peso da satisfação de cada cliente no conjunto destas relações pode vir a
ser diferenciado, na medida em que o empreendedor tenha função de maior
ascendência, como contratante do projetista, por exemplo. Ou ainda, dependendo do
caso, construtor e projetista se constituírem partes da mesma empresa - os clientes
internos, logo em cada caso, podem ter importâncias diferenciadas.
É fundamental, para a obtenção da qualidade, que o empreendedor valorize a fase de
projeto. Na defesa desse ponto de vista, pode-se citar as considerações feitas pelo grupo
do Construction Industry Institute - CII acerca da importância das fases iniciais do
empreendimento. Afinal nestas primeiras fases, as decisões tomadas oferecem a maior
capacidade de influenciar o custo final. Esta influência é ilustrada pela figura 3.12.
Fases do Empreendimento ao longo do Tempo considerando os Custos
envolvidos.
Figura 3.12: Capacidade de influenciar o custo final de um empreendimento ao
longo de suas fases.
Fonte:
Adaptado de Melhado (1992).
111
Outros autores como Hammarlund e Josephson (1992), também defendem a idéia de que
as decisões tomadas nas fases iniciais do empreendimento são importantes, atribuindo-
lhes a principal participação na redução dos custos de falhas do edifício, como pode ser
visto na figura 3.13.
É muito expressiva a importância atribuída pelos autores às fases iniciais do
empreendimento. Logo, do estudo de viabilidade à conclusão do projeto, em que, apesar
do baixo dispêndio de recursos, concentra-se boa parte das chances de redução da
incidência de falhas e dos respectivos custos.
Figura 3.13: O avanço do empreendimento em relação a chance de reduzir o custo
de falhas.
Fonte:
Hammarlund e Josephson (1992).
Portanto, a qualidade de um projeto pode ser avaliada sob três aspectos distintos,
conforme o interesse do cliente em questão: a qualidade do empreendimento, da solução
proposta e da descrição do projeto (representação gráfica). Desta forma temos que:
112
Qualidade do Empreendimento
Refere-se à viabilidade econômica do empreendimento como um todo, especialmente
considerando a obsolescência funcional que pode ocorrer durante a produção da
edificação.
Qualidade da Solução Proposta
Envolve o atendimento aos requisitos do usuário e às exigências do órgão competente,
tais como: prefeitura municipal, através da obediência ao Código de Obras e das
concessionárias locais.
Mas não se restringe apenas a estes itens, indo além, uma vez que os tipos e
quantidades de operações do processo de execução, o grau de dependência entre as
mesmas, as condições de transporte e circulação nos canteiros de obras, a quantidade e
habilidade requerida da mão-de-obra, resultam das decisões estabelecidas durante a
etapa de projeto.
Logo as formas, dimensões, configuração da planta baixa, posicionamento dos
elementos, componentes e materiais, determinam o grau de complexidade, a
continuidade de execução e o grau de repetição das operações.
Vale ressaltar, ainda, que pelo fato dos vários projetos serem desenvolvidos de forma
completamente separada, muitas vezes levam a situações em que a solução final do
elemento construtivo ou da unidade funcional não é a solução mais adequada em termos
do grau de complexidade, continuidade e desempenho.
Assim, por exemplo, determinadas soluções arquitetônicas podem dificultar a execução
de operações que envolvam os elementos estruturais e estas, por sua vez, podem impor
restrições excessivas ao trajeto de passagem das tubulações e componentes das
instalações hidráulicas, elétricas e telefônicas.
Portanto, o projeto e a organização do seu processo de elaboração detêm, um grande
potencial de racionalização do processo de execução e, conseqüentemente, de elevação
da produtividade global, a partir da simplificação de métodos e técnicas requeridas.
113
Qualidade na Descrição do Projeto (comunicação)
Relacionada à clareza com que as informações sobre o projeto são transmitidas. Esse
aspecto é fundamental para viabilizar a produção da edificação. Para um maior
entendimento deste aspecto, ver o tópico 2.2.2.1 Transmissão de dados do projeto a
produção, encontrada no Capítulo II, deste trabalho.
Portanto, para que estas informações saiam com clareza dos escritórios de projetos e
cheguem sem ruídos aos canteiros de obras, faz-se necessário uma coordenação de
todo o processo.
Logo, a coordenação é uma função gerencial a ser desempenhada no processo de
elaboração do projeto, com a finalidade de assegurar a qualidade do projeto como um
todo. Trata-se de garantir que as soluções adotadas tenham sido suficientemente
abrangentes, integradas e detalhadas e que, depois de terminado o projeto, a execução
ocorra de forma contínua, sem interrupções e/ou improvisos.
Em termos ideais, o projeto pode assumir o encargo fundamental de agregar eficiência e
qualidade ao produto, para isso faz-se necessário à valorização dos interesses em
comum, uma vez que a qualidade interessa tanto ao empreendedor, ao projetista, ao
construtor e ao usuário. Concomitantemente, esta atua a favor da evolução tecnológica e
da qualidade dos produtos nesse setor de atividade econômica.
Porém, na prática corrente, muitas vezes o projeto é entendido como um ônus que o
empreendedor deve ter antes do início da obra, encarado, portanto como uma despesa a
ser minimizada o quanto for possível, já que não se tem inicialmente o recurso financeiro
necessário e suficiente para executar o empreendimento, antes de aprovar o projeto junto
aos órgãos competentes. (Barros & Melhado, 1993).
Conclui-se que apesar dos esforços realizados por universidades, órgãos públicos e
entidades de classe, observa-se uma grande resistência na implementação das
alternativas para melhoria na gestão do processo de projeto pelos agentes da cadeia
produtiva, evidenciando a necessidade de:
a) Converter os resultados das pesquisas em produtos aplicáveis no
ambiente das empresas;
114
b) Proporcionar fóruns para a troca de informações entre indústria,
órgãos governamentais e comunidade;
c) Intensificar a transferência tecnológica a partir dos estudos
desenvolvidos;
d) E, estabelecer canais de comunicação entre o meio acadêmico e o
setor produtivo, permitindo a transferência tecnológica e a identificação
das demandas em termos de desenvolvimento tecnológico e gerencial.
3.2.3 CONTROLE DE EXECUÇÃO EM OBRAS E QUALIDADE NO
GERENCIAMENTO
Após uma avaliação sobre o controle e a qualidade do projeto, e a verificação de sua
importância através de uma relação direta com a etapa de execução de obras no setor da
construção civil. Abordaremos agora o controle de execução em obras, sob o aspecto da
qualidade em seu gerenciamento.
Entre os principais aspetos a serem considerados, para um melhor controle na execução
de obras, destacam-se:
a) A qualidade no gerenciamento dos serviços;
b) A qualidade no recebimento de materiais e equipamentos;
c) E a qualidade na execução dos serviços.
Qualidade no Gerenciamento dos Serviços
O primeiro aspecto da qualidade nas obras refere-se ao gerenciamento dos serviços.
Este deve ser homogêneo para todas as obras da empresa, além de seguir diretrizes pré-
estabecidas e bem definidas pela alta administração e pela gerência técnica da mesma.
Normalmente, as empresas de construção civil possuem um corpo técnico formado por
diversos engenheiros e arquitetos, que trabalham de forma simultânea em diversas
obras. Logo, se faz necessário a criação de um padrão de gerenciamento que
estabeleçam as diretrizes de forma clara e bem definida. Pois somente assim os
profissionais envolvidos poderão gerenciar de forma homogênea as suas obras,
115
atendendo aos objetivos da alta administração da empresa, segundo sua cultura
tecnológica e a especificidade de suas obras.
Para um perfeito gerenciamento durante o andamento de uma obra, deve-se considerar
alguns aspectos, tais como:
- Conhecimento do empreendimento; - Gerenciamento de equipamentos e
ferramentas;
- Análise do projeto e das especificações; - Gerenciamento de materiais;
- Projeto e implantação do canteiro de
obras;
- Gerenciamento da produção;
- Planejamento e programação da obra; - Gerenciamento da segurança do trabalho;
- Gerenciamento da mão-de-obra; - Finalização e entrega da obra.
Qualidade no Recebimento de Materiais e Equipamentos
A elaboração de especificações discriminando as características e os limites de tolerância
que os materiais devem cumprir, além do funcionamento adequado dos equipamentos é
condição necessária, porém estes procedimentos não são suficientes para que se
garanta a qualidade.
Também é preciso verificar se o material entregue na obra está realmente de acordo com
o pedido de compra e se estes se enquadram nas especificações desejadas. Com
relação aos equipamentos, é de fundamental importância a verificação de seu estado
(manutenção), além é claro do bom funcionamento do mesmo.
Portanto, faz-se necessário realizar na obra um controle da qualidade do recebimento de
equipamentos e materiais. Com relação aos materiais recebidos, deve-se ter um cuidado
maior, pois dependendo do tipo do material e dos ensaios e verificações a serem feitos, o
controle pode ser delegado a um laboratório especializado, contratado para tal fim -
terceirização do serviço.
116
3.3 SISTEMA ISO 9000 PARA A GESTÃO DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO
CIVIL
O tema qualidade na construção assume cada vez mais importância nos meios
acadêmicos e profissionais, devido ao elevado nível de prejuízos que se manifestam nas
edificações. Grande número de instituições técnicas nacionais e internacionais vêm
concentrando seus esforços no que diz respeito à qualidade na construção civil. Assuntos
estes que envolvem questões relacionadas com a normalização técnica, avaliação de
desempenho, sistemas de aprovação técnica, processos de certificação e gestão da
qualidade.
Para Thomaz (2001), os problemas da qualidade na construção brasileira não podem ser
atribuídos a falta de conhecimentos técnicos. Pois, segundo o autor, a análise de um
grande número de documentos revela que os trabalhos nacionais apresentam, em geral,
nível equivalente aos melhores trabalhos internacionais.
Mundialmente, além dos estudos tecnológicos de materiais, processos e técnicas
construtivas, verifica-se a tendência dos centros de pesquisa atuarem na certificação da
conformidade de materiais e em processos de aprovação técnica de componentes e
sistemas construtivos inovadores. Segundo Cavani (1989), estes processos estão
inspirados no sistema francês de “avis technique”, que se baseiam na verificação do
atendimento do produto a requisitos e critérios de desempenho, concomitantemente aa
aprovação do sistema da qualidade adotado pelo produtor.
Mitidieri (1998), relata que diversas instituições já implantaram tais processos. Com a
principal finalidade de homogeneizar os critérios para a concessão e mútuo
reconhecimento das aprovações técnicas, foi criada no ano de 1996 a WFTAO – World
Federation of Technical Assessment Organizations. Ao final desta dissertação no Anexo
06, pode-se ver a relação das instituições que a integram em diversos países.
Relativamente à certificação de sistemas da qualidade, nos moldes das normas ISO
9000, já existe um número bastante significativo de certificadoras atuando no Brasil, que
podem ser vistas no Anexo 07 desta dissertação, conforme levantamento realizado por
Kiss (1998).
117
Portanto, observa-se que os problemas das construções brasileiras resultam de uma
grande conjugação de fatores, podendo-se citar principalmente a falta de investimentos, a
impunidade que vigora no país e a visão distorcida de certos empresários.
Diversos outros fatores contribuem ainda para esta situação, como a péssima
remuneração dos profissionais de projeto e de construção, um certo obsoletismo nos
currículos e o ensino compartimentado nas várias disciplinas da arquitetura e da
engenharia civil, a pouca reciclagem técnica dos profissionais envolvidos na área, além
de outras questões mais.
No entanto, este quadro começa a mudar a partir do momento que vêm ocorrendo
mudanças no cenário econômico modificando as regras estabelecidas anteriormente.
Agora, atento ao conceito de custo/benefício, o cliente ficou mais exigente. Além disso,
também foi elaborado o Código de Defesa do Consumidor para reiterar e enfatizar seus
direitos, obrigando as organizações avaliarem o mercado sob outro prisma.
Assim, para manter-se no mercado, competindo, as empresas viram-se obrigadas a
desvendar os mistérios da qualidade. Estas empresas em sua maioria têm procurado
adequar sua estrutura a essa nova realidade, para satisfazer às exigências do mercado,
que tem impulsionado essas mudanças.
Com o exposto, as empresas do setor da construção civil não poderiam ficar de fora e
têm investido em qualidade como resposta às exigências de seus clientes e também
visando a reduzir seus custos de produção.
A crise ocorrida nos anos 90, a falência do Estado quanto propulsionador de obras, além
da exigência dos clientes, através de uma nova visão de mercado, promoveu o aumento
da competitividade no setor, que vislumbrou na certificação ISO / NBR 9000 da empresa,
um argumento importante para concorrer no mercado. Atualmente, programas nacionais
tipo QUALIHAB e PBQP-H fundamentam-se nos princípios de qualidade do sistema ISO
9000.
Visando manter-se competitivas, as empresas não têm economizado esforços na
obtenção da certificação ISO 9000. Segundo Hirschfeld (1996), as normas NB-9000
originaram-se de textos britânicos BS-5750, canadenses da série CSA-Z 2999 e também
da norma americana ANSI/ASQZ l.15, com algumas modificações em seus conceitos.
118
A série ISO 9000 é um padrão que concebe a filosofia que deve ser seguida para obter
qualidade, segundo critérios aceitos internacionalmente. Pode ser adquirida tanto por
uma pequena indústria como por um complexo industrial, desde que a organização
consiga produzir com qualidade. O balanço ou o resultado anual do faturamento não é a
preocupação da ISO 9000, mas sim a qualidade de bens e serviços.
Cabe ao cliente averiguar se essa exigência está sendo cumprida. Conseguida a
certificação, a organização recebe a visita de um agente, após um lapso de tempo, para
verificar a perenidade do sistema de garantia da qualidade. Se não estiver de acordo com
as exigências da certificação de qualidade, a empresa poderá perdê-la.
As organizações brasileiras têm procurado buscar a certificação de qualidade para
competir com as empresas estrangeiras, que vêem no mercado brasileiro de construção
civil uma excelente opção para investimentos. Essa expectativa decorre do crescimento
desse setor de atividades e do fato de que as empresas estrangeiras consideram-se mais
capacitadas em relação às expectativas dos clientes. Diante dessa realidade, as
empresas brasileiras têm procurado obter a certificação de qualidade, com o intuito de
continuar dominando o mercado nacional, além de aumentar sua competitividade.
As normas NB 9000 são oriundas dos padrões ISO 9000 e foram criadas para auxiliar as
empresas na implantação dos métodos de gestão e garantia de qualidade, e constituem
uma coletânea de orientações, recomendações e diretrizes elaboradas para viabilizar a
escolha e o uso de outras quatro normas: NB 9001, NB 9002, NB 9003 e NB 9004, que
podem ser melhor compreendidas segundo a tabela 3.15.
119
Normas NB 9000 Registro no INMETRO Aplicabilidade
NB 9001 ou ISO 9001 NBR 19001 - Refere-se a Sistemas da Qualidade-Modelo
para garantia de qualidade em projetos,
desenvolvimento, produção, instalação e
assistência técnica. Compreende 20 requisitos
de adequação, como o comprometimento com a
política de qualidade pela alta direção da
empresa.
NB 9002 ou ISO 9002 NBR 19002 - Refere-se ao Sistema da Qualidade-Modelo
para garantia da qualidade em produção e
instalação. Propõe 18 requisitos, que são os
mesmos da NB 9001, com exceção daqueles
referentes a projeto e assistência técnica.
NB 9003 ou ISO 9003 NBR 19003 - Refere-se ao Sistema da Qualidade-Modelo
para garantia de qualidade em inspeção e
ensaios finais, com o intuito de auditar esses
sistemas. Dispõe de 12 requisitos, semelhantes
às demais normas da série, direcionadas para
as áreas específicas.
NB 9004 ou ISO 9004 NBR 19004 - Refere-se a Gestão de Qualidade e os
elementos do Sistema da Qualidade-Diretrizes.
É vista como um guia para todas as
organizações que queiram implantar um sistema
de garantia da qualidade.
Tabela 3.6: Normas NB 9000 e suas aplicações.
Fonte:
Próprio Autor.
A ISO 9000 originou-se no Mercado Comum Europeu, sendo reconhecida em todos os
mercados internacionais. Várias empresas de engenharia e de arquitetura submeteram-
se a uma auditoria dos órgãos certificadores com a intenção de conseguir o referido
certificado, o qual, certamente, viabilizará vantagens no sentido de ganhar concorrências.
Pode-se dizer que a conscientização por parte das organizações e dos clientes da
necessidade da certificação ISO 9000 modificou sobremaneira, em todos os aspectos, a
120
demanda da construção civil. As próprias empresas, desse ramo, fazem questão de
comprovar que possuem o certificado ISO de qualidade. Portanto, passou a ser uma de
suas prioridades organizacionais, visando a atender às exigências do mercado.
Dessa forma cabe aqui mostrar a aplicabilidade do sistema ISO 9000 aos escritórios de
arquitetura, na execução das obras e de uma forma geral a construção civil brasileira.
3.3.1 APLICABILIDADE DO SISTEMA ISO 9000 AOS ESCRITÓRIOS DE
PROJETO
A aplicabilidade do sistema ISO 9000 aos escritórios de projeto na construção civil,
através a certificação começa a se tornar uma realidade, apesar de lenta e ainda com
muitas restrições e dificuldades por parte dos profissionais do setor. No entanto, a busca
de diversas empresas do setor em relação à melhoria dos seus processos de produção
pode ser explicada pelo aumento da competitividade.
As realidades econômicas mundiais e no País, quais sejam, globalização, maior
exigência de qualidade por parte dos clientes, redução dos preços das obras públicas e
privadas, entre outras, tem levado o setor da construção civil a buscar formas de
melhorar sua eficiência no processo de produção, quer seja com o desenvolvimento de
novas tecnologias, quer seja racionalizando o processo tradicional e desenvolvendo
novas formas de gestão, ou ainda desenvolvendo novas formas de relacionamento entre
os seus diversos agentes, com o objetivo de competir neste "novo" mercado, mais
acirrado competitivo.
Entendendo que esta realidade econômica começa a tomar-se irreversível, novos rumos
traçam a cadeia produtiva do setor, quais sejam: o planejamento, o projeto e a produção,
e ainda, com todas as suas ligações (fornecedores, clientes, projetistas, vendas, etc.).
Logo, cada agente desta cadeia produtiva deve evoluir e buscar soluções de melhoria de
processos e serviços.
Os projetos, integrantes fundamentais da cadeia produtiva no setor da construção civil,
participam diretamente dos resultados finais dos empreendimentos em dois aspectos:
Primeiro como instrumento de decisão sobre as características geométricas, funcionais,
econômicas, ambientais, mercadológicas e etc., do produto edifício; E, segundo, como
ferramenta de auxílio à produção, fornecendo subsídios ao seu desenvolvimento.
121
Devido à importância que o projeto representa na produção de edifícios, o estudo do
comportamento dos escritórios de projetos, bem como a identificação das iniciativas que
estão sendo implementadas para melhorar a qualidade dos projetos em benefício da
qualidade final do edifício e seus requisitos tornam-se fundamentais. A qualidade final da
obra, recém-acabada ou ao longo da sua vida útil, dependerá mais do que tudo da
qualidade do projeto.
Thomaz (2001), define projeto como um conjunto de desenhos, cálculos, modelagens,
memoriais justificativos da concepção, memoriais de construção, quantificações,
fluxogramas de atividades, cronogramas, especificações de materiais, equipamentos e
processos necessários à perfeita construção da obra e sua manutenção preventiva ao
longo da vida útil que lhe foi prevista.
Ainda, segundo o autor, no Brasil muitos profissionais e empreendedores ainda
entendem o projeto como um conjunto de pranchas. E estas pranchas, na maioria das
vezes, apresentam-se falhas no que diz respeito aos detalhamentos, simbologia,
legendas, abreviações e omissões quanto às características dos materiais ou ainda a
especificação de similares.
A falta de qualidade em projetos pode ser compreendida pela baixa remuneração dos
profissionais, pela falta de coordenação dos projetos, e ainda pela falta de visitas dos
projetistas as obras, o que acarreta na falta da retroalimentação do processo de projeto,
no que diz respeito aos aspectos de construtibilidade, real desempenho das soluções
propostas e etc.
Em contrapartida a diminuição da qualidade em projetos, pode-se perceber o aumento da
complexidade das novas edificações, que passam a abordar assuntos cada vez mais
restritos e complexos, tais como:
Paisagismo; Decoração; Condicionadores de ar;
Torres de refrigeração; Elevadores; Escadas fixas e rolantes;
Água; Combate a incêndio; Telefonia;
Interfones; TVs a cabo; Circuitos internos de TV;
Portões automáticos; Iluminação; Calefação;
Fibra ótica; Antenas; Impermeabilizações;
Sistemas de identificação; Lazer em geral; Serviços gerais;
122
Shafts; Centrais de gás; Escadas pressurizadas;
Acessos para deficientes; Estruturas; Instalações gerais e etc.
Se não bastasse o aumento da complexidade das edificações, percebe-se o aumento das
exigências dos códigos de construção, municipalidades, corpo de bombeiros, órgãos de
defesa ambiental, concessionárias de serviços públicos e outros cada vez mais severos.
As novas concepções de projetos devem abordar cada vez mais soluções complexas e
flexíveis, e nos casos de adaptações de construções antigas a novas tecnologias estes
projetos ainda se tornam mais complexos, tendo de abordar assuntos como:
Instalações visitáveis,
facilitando manutenção;
Sistemas abertos a mudança
de layouts;
Plenuns para alojamento de
sistemas prediais;
Introdução de shafts; Pisos suspensos; Reciclagem de materiais;
Custo de operação e
economia de energia;
Desenvolvimento sustentável; Facilidade de fornecimento e
reposição de peças;
Coordenação modular; Aproveitamento de materiais; Preocupação com o meio
ambiente e etc.
Portanto, o projetista em sua área específica, deve adquirir conhecimentos gerais sobre
patologias de edificações, fenômenos agressivos e durabilidade dos materiais, e ainda,
ter noções de construtibilidade, interações entre as partes da construção, funcionamento
e qualidade global da obra. Para Melhado (1994) estas características devem ser
acompanhadas de constante reciclagem e freqüentes visitas a obra.
Cabe ressaltar que todos estes aspectos podem e devem ser desenvolvidos em uma
empresa que tenha a certificação ISO 9000, porém, decorrentes da iniciativa da própria
empresa, não pela exigência da norma, com o intuito apenas da certificação para
competir no mercado. Uma vez que a empresa não permanece certificada para sempre,
esta pode perder sua certificação, desde que deixe de cumprir os requisitos necessários.
Logo deve ocorrer uma mudança de cultura nos escritórios de projetos.
Concluindo pode-se dizer que é inegável a possibilidade de melhorias provocadas pelas
normas ISO 9000 na busca pela racionalização dos processos de elaboração de projetos,
porém a qualidade do produto, neste caso o projeto, não é afetado substancialmente
pelas normas, pois são normas de garantia de sistemas e não de produtos.
123
3.3.2 APLICABILIDADE DO SISTEMA ISO 9000 NA EXECUÇÃO OBRAS
Uma vez verificado a aplicabilidade do Sistema ISO 9000 aos escritórios de arquitetura,
cabe agora mostrar como este funciona em relação à execução de obras e as suas inter-
relações no setor da construção civil. Falar em sistemas ISO 9000 e construção civil
parece, a princípio, um pouco contraditório, mas somente com investimentos tecnológicos
e humanos, através do capital intelectual nas empresas, somado a muita dedicação e
esforço é que este quadro pode e começa a ser mudado.
Os desperdícios na construção civil são muito acentuados quando comparados a outras
indústrias, principalmente as chamadas indústrias fixas. Pois diferentemente de uma
indústria de automóvel, componentes eletrônicos, ou qualquer outra com sede fixa,
equipamentos e força de trabalho bem definido, a construção civil apresenta
características muito particulares.
Estas características podem ser entendidas como fatores de uma produção intermitente,
planejamentos falhos, intempéries, prazos políticos, falta de normatização e desperdícios
bastante acentuados.
Segundo Souza et al (1998), que considerando uma pesquisa realizada pela EPUSP em
19 estados brasileiros sobre desperdícios físicos mensuráveis na produção, constatou-se
que para diferentes materiais em diversos canteiros de obras, revelou-se um desperdício
de 9% de concreto usinado, 10% de aço e 17% de blocos ou tijolos, para citar alguns
materiais.
Desta forma, podemos concluir que ao analisarmos o setor da construção civil sobre o
aspecto da organização e gerenciamento de obras, verificamos que o sistema de normas
ISO 9000 pode constituir um excelente mecanismo para o crescimento e o
desenvolvimento da construção civil brasileira. Assim o próximo tópico contemplará o
aspecto da aplicabilidade do sistema ISO 9000 na construção civil do Brasil.
3.3.3 APLICABILIDADE DO SISTEMA ISO 9000 NA CONSTRUÇÃO CIVIL
A construção civil brasileira apresenta indicadores de desperdício altamente
preocupantes. Segundo Pichi (1993), estes desperdícios chegam próximos aos 30%,
124
enquanto que Vargas (1997), demonstra que somente 40% do tempo empregado, são
em atividades produtivas.
Assim, enquanto o consumidor não tinha a mínima noção de seus direitos, e a
especulação financeira cobria todos os desperdícios oriundos da construção do
empreendimento, repassando de forma maquiavélica aos seus consumidores. Portanto,
agora com o mercado estabilizado, e o consumidor conhecendo seus direitos, este
quadro começou a mudar, dando novos rumos à construção civil brasileira.
Assim, para analisarmos os principais problemas da construção civil brasileira, a serem
devidamente considerados nos sistemas e planos da qualidade, adotaremos por base os
trabalhos realizados por Freut et. al (1993) junto a 45 pequenas e médias construtoras da
região metropolitana de Porto Alegre. Este trabalho apontou os principais problemas
relativos ao gerenciamento das empresas, que podem ser vistos a seguir:
a) Grande utilização de trabalho subempreitado no setor:
- 70% das empresas utilizavam mão-de-obra própria e terceirizada;
- 30% utilizavam somente mão-de-obra terceirizada.
b) A maioria das empresas contratava até três subempreiteiras para cada tipo de
serviço, com destaque para os serviços de instalações de hidráulica e elétrica,
onde quase todas terceirizavam estes serviços;
c) Mais de 70% das empresas utilizavam o tempo de registro em carteira, como
forma de comprovar habilidade profissional;
d) Apenas 5% das empresas adotavam programas de treinamento de mão-de-obra,
sendo ministrada por engenheiros e mestres do próprio quadro;
e) Com relação à informação anterior, 82,5% das empresas manifestaram problemas
com a falta de qualificação da mão-de-obra;
f) Aproximadamente 60% das empresas adotavam prêmios em dinheiro como forma
de motivação, enquanto apenas 7% utilizavam o treinamento profissional, como
fator motivante;
g) Mais de 90% das construtoras efetuam modificações nos projetos durante o
desenvolvimento das obras;
h) Aproximadamente 85% das compras eram realizadas por profissionais
administrativos;
i) Com relação à informação anterior, 60% das empresas manifestaram problemas
com material diferente do especificado, e somente 13% possuíam procedimentos
125
escritos para recebimento de materiais e efetuavam algum tipo de ensaio no
recebimento;
j) Em quase 60% dos casos, os gerentes de obra exerciam funções relativas ao
planejamento, projeto, produção e realização de compras, com taxas variáveis,
em alguns casos as funções abrangiam ainda os serviços de marketing, controle
financeiro e administração de pessoal;
k) Como recursos de planejamento, 55% das empresas utilizavam o gráfico de Gantt
e 9% adotavam PERT/COM, enquanto 13% declararam não utilizar nenhuma
técnica específica;
l) Outros dados importantes relativos à mão-de-obra:
- Falta de motivação dos operários, cerca de 60%;
- Não entendimento ou não atendimento preciso às ordens de serviço,
cerca de 48%;
- Uso inadequado de equipamentos, cerca de 45%;
- Problemas com absenteísmo, cerca de 35%.
m) Outros dados importantes obtidos com entrevistas realizadas durante a pesquisa:
- Desconhecimento total das normas ISO 9000, cerca de 71%;
- Inexistência de procedimentos escritos para execução de serviços,
cerca de 71%;
- Inexistência de listas de verificação para recebimento de serviços,
cerca de 91%;
- Inexistência de controle de custos incorrido com reparos em obras
entregue, cerca de 91%;
- Prática de reuniões nas obras para planejamento e
acompanhamento dos serviços, cerca de 27%;
- Problemas gerais de comunicações falhas, indefinição de
responsabilidades, etc.
Fato interessante registrado pelos autores no desenvolvimento desta pesquisa, é que
nenhuma empresa forneceu indicadores relativos a acidentes de trabalho. Embora o
setor da construção civil ser considerada como a líder nacional no campo de acidentes
pelo MTb - Ministério do Trabalho e Emprego.
Resguardados os limites da pesquisa realizada pelos autores acima citados, pode-se a
partir deste momento extrair algumas considerações que devem ser consideradas para a
aplicação dos sistemas e planos para a qualidade.
126
A princípio os dados da pesquisa conduzem a conclusão de um dos principais problemas
encontrados no setor da construção civil nacional, que é a desqualificação e imperícia da
mão-de-obra. Fato este que pode ser comprovado por pesquisa realizada pelo SESI –
Serviço social da Indústria
17
, no início dos anos 90.
Portanto, pode-se concluir que a aplicabilidade das normas ISO 9000, com seu sistema
de gestão da qualidade, para a construção civil brasileira não deve ser considerada como
o único caminho, pois estas ainda precisam de boas técnicas de projeto e execução de
obras. Acrescenta-se ainda uma melhor relação capital/trabalho, uma busca pela
profissionalização e um constante aperfeiçoamento da mão-de-obra e da busca de
melhores condições no ambiente de trabalho. Acredita-se que a soma destes valores
pode conduzir o setor construção civil a alcançar patamares mais altos.
17
Pesquisa publicada na Revista Qualidade na Construção, n° 15, pp 6-18 – São Paulo, 1999. Matéria de
Edmilson Conceição.
127
CAPÍTULO IV
RACIONALIZAÇÃO E ATUALIZAÇÃO DAS EDIFICAÇÕES
SOB A ÓTICA DO RETROFIT
4.1 CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS PROCESSOS DE RETROFIT
RETROFIT – RETROFITAR - RETROFITADO. De algum tempo para cá estas palavras
tem sido pronunciadas e ouvidas com uma freqüência crescente no dia-a-dia de todos
aqueles que militam tanto no mundo da construção quanto em outras atividades
econômicas.
Invariavelmente temos nos deparado com o termo retrofit arquitetônico como referência
em intervenções urbanas, nacionais e internacionais, especialmente quando se aborda a
questão da revitalização de áreas e atualização de construções.
Com a tradução liberal de “colocar o antigo em boa forma”, o termo retrofit tem sido
amplamente empregado com o sentido de renovação, de atualização, com preservação
das características intrínsecas do bem retrofitado. Logo, não se trata de reconstrução,
pois esta implicaria em destruição. Busca-se, ao invés da destruição, o renascimento.
Este conceito, cujo significado seria reconversão, manteve o termo de origem inglesa
retrofit. Para Qualharini (2000), retrofit apresenta-se como o processo de interferir em
uma benfeitoria, que foi executada em padrões inadequados as necessidades atuais.
Portanto, o processo de retrofit constitui-se num conjunto de ações realizadas para o
beneficiamento e a recuperação de um bem, objetivando a melhoria do seu desempenho,
com qualidade ou a um custo operacional viável da utilização da benfeitoria no espaço
urbano.
Surgido na Europa e nos Estados Unidos, onde é bastante corriqueira, esta prática tem o
objetivo de revitalizar antigos edifícios, conforme dito por Qualharini (2000), aumentando
então sua vida útil, através da incorporação de modernas tecnologias e utilização dos
mais avançados materiais.
128
A prática do retrofit, bastante difundidos na Europa e nos Estados Unidos, ocupa
importância crescente e tem como motivação principal revitalizar antigos edifícios,
aumentando sua vida útil, através da incorporação de avançadas tecnologias em
sistemas prediais e materiais, compatibilizando com as restrições urbanas locais que
objetivam a preservação do patrimônio histórico, sobretudo o arquitetônico.
Nos Estados Unidos e nos países europeus, a rígida legislação não permitiu que o rico
acervo arquitetônico fosse substituído, abrindo assim espaço para o surgimento do retrofit
como ferramenta de solução para os problemas urbanos existentes. Esta ao mesmo
tempo em que preserva o patrimônio histórico, também permite a utilização adequada do
imóvel.
No Brasil, com a ampliação da preocupação com a defesa de áreas tombadas, aliada ao
desenvolvimento das cidades, cria-se uma grande demanda para este tipo de solução,
que é uma opção a ser considerada em duas situações, sejam elas:
a) Quando a recuperação reduz custo em comparação com uma construção nova;
b) E, no caso de uma edificação histórica, quando esta solução, cria condições para
novas funções e/ou facilitando seu uso.
Em qualquer das situações o retrofit tem o sentido de renovação, onde se pressupõe uma
intervenção integral, obrigando-se ao encontro de soluções nas fachadas, instalações,
elevadores, proteção contra incêndio e demais itens que caracterizam seu
posicionamento no que exista de melhor no mercado.
Neste sentido percebe-se que a técnica do retrofit difere substancialmente da simples
restauração, que consiste na restituição do imóvel à sua condição original, ou da reforma,
que visa à introdução de melhorias, sem compromisso com suas características
anteriores.
Desta forma, percebe-se que o retrofit pode e deve buscar, com eficiência, dotar o
edifício de atualidade tecnológica que possa traduzir-se em conforto, segurança e
funcionalidade para o usuário, e em viabilidade econômica para o investidor.
A obtenção de valores tangível e intangível para o imóvel, estimula cada vez mais a
adoção desta prática que requer uma especificidade na análise da viabilidade econômica,
129
posto que a mera análise por parâmetros convencionais pode conduzir ao equívoco na
conclusão. Uma vez que, poderá negligenciar tanto:
a) Valores Tangíveis:
- Valorização objetiva do imóvel;
- Aproveitamento do potencial construtivo;
- E, melhoria da eficiência energética.
b) Valores Intangíveis:
- Preservação da memória;
- Melhoria do padrão de segurança;
- E, melhoria do padrão de conforto.
Portanto, de tudo o que foi exposto, percebe-se que o retrofit deve buscar a eficiência,
pois é mais difícil do que iniciar uma obra, em função das limitações físicas da antiga
estrutura, entretanto, a redução do prazo e a adequação geográfica do imóvel certamente
estimulam cada vez mais a adoção desta prática.
Desta forma este trabalho apresentará a partir dos próximos tópicos uma melhor
caracterização e conceituação das técnicas do retrofit, assim como, sua tendência para o
setor da construção civil, sua aplicabilidade ao setor, suas vantagens e desvantagens e
por último suas condicionantes para utilização.
130
4.1.1 HISTÓRICO E CONCEITOS
O termo retrofit surgiu ao final da década de 90 nos Estados Unidos e na Europa. Sua
origem provém do prefixo “retro”, do latim, que significa movimentar-se para trás, e do
sufixo “fit”, do inglês, que significa adaptação, ajuste.
A princípio o termo começou a ser utilizado na indústria aeronáutica, quando se referia à
atualização de aeronaves, adaptando-as aos novos e modernos equipamentos
disponíveis no mercado. Com o passar do tempo, o termo e o conceito de retrofit
começou a ser empregado em outras indústrias, inclusive na Construção Civil.
Portanto, a idéia presente no termo retrofit diz respeito ao processo de modernização e
atualização de edificações, visando torná-las contemporâneas.
A compreensão e a conceituação de alguns termos relacionados ao retrofit é de suma
importância para que se consiga uma melhor caracterização de seus processos e sua
aplicabilidade, além é claro de uma melhor familiarização com o público. Cabe aqui a
apresentação de alguns termos, que muitas vezes são utilizadas de forma equivocada, e
não o questionamento de seus conceitos. Logo, segue algumas definições
18
:
a) Diagnóstico: Descrição do problema patológico incluindo sintomas, causas,
mecanismo e caracterização da gravidade do problema;
b) Conservação: De caráter sistêmico, corresponde a um conjunto de ações
destinadas ao prolongamento do desempenho da edificação, auxiliando assim, o
processo de controle da construção;
c) Manutenção: Conjunto de ações com o objetivo de reduzir a velocidade de
deterioração dos materiais e de partes das edificações. Esta pode ser subdividida
em: manutenção preventiva (ideal) e na manutenção corretiva;
d) Profilaxia: Forma de organização, através da listagem de todos os materiais e
procedimentos necessários, visando a correção de anomalias existente;
18
As definições apresentadas, são o resultado de pesquisas realizadas nas seguintes fontes: Dicionário
Aurélio Buarque de Holanda; Kutter (1999) e em normas sobre áreas históricas protegidas.
131
e)
Reforma: Intervenção que consiste na restituição do imóvel à sua condição
original;
f) Reparos: Intervenções pontuais em patologias localizadas;
g) Reconstrução: Renovação total ou parcial das edificações desativadas ou
destinadas à reabilitação.
h) Recuperação: Compreende a correção das patologias de modo a reconduzir a
edificação a seu estado de equilíbrio;
i) Reabilitação: Ações com o objetivo de recuperar e beneficiar edificações, por
meio de mecanismos de atualização tecnológica;
j) Restauração: Corresponde a um conjunto de ações desenvolvidas de modo a
recuperar a imagem, a concepção original ou o momento áureo da história da
edificação em questão. A expressão tem sua utilização no que se refere a
intervenções em obras de arte;
k) Terapia: Procedimento que visa às especificações para recuperação e eliminação
dos problemas patológicos das edificações.
O termo retrofit de caráter técnico é utilizado no setor da construção civil, de forma a
significar uma atualização tecnológica. Com o objetivo de valorizar edifícios antigos
prolongando sua vida útil, seu conforto e funcionalidade através da incorporação de
avanços tecnológicos e da utilização de materiais de última geração, os conceitos do
retrofit vem sendo amplamente difundidos no mercado nacional.
Para o arquiteto paulista Carlos Faggin, a questão do retrofit está ligada à revitalização e
atualização das construções e tem como principal objetivo aumentar a vida útil dos
imóveis através da incorporação de tecnologias modernas e materiais de qualidade
avançada. Segundo o próprio arquiteto "a solução preserva o patrimônio histórico e ao
mesmo tempo permite a utilização adequada do imóvel", explica.
Já para Leal (2000), o termo retrofit é motivo de discussão. Em geral, a palavra designa
intervenções realizadas no edifício com o objetivo de adequá-lo ecologicamente, mas, na
prática, pode significar uma simples reforma ou troca de um componente de um sistema.
132
Porém, o conceito do retrofit arquitetônico vai além, não se limitando à restauração de
edifícios antigos de valor arquitetônico e tombado pelo patrimônio histórico. Como se
pode observar, em alguns casos, edificações de pouco mais de 15 anos, já podem
necessitar de alterações em seus sistemas.
A aplicação das técnicas do retrofit faz com que edificações antigas ou não, ganhem
fachadas renovadas e valorizadas, instalações com comodidade e conforto tecnológico,
melhorias na relação custo/benefício de seus equipamentos. Ou seja, a aparência pode
mudar ou não (fachadas), mas com certeza os valores serão incrementados, embora a
edificação e todas as suas referências permaneçam preservadas.
Segundo Barrientos (2004), o retrofit diferente de uma reforma, é a modernização de uma
edificação, inserindo a ela especificações tecnológicas sem precisar, necessariamente,
substituir os componentes da edificação.
Logo, concluímos que o retrofit arquitetônico vem a ser a busca pela sincronicidade do
edifício com o tempo presente, de modo a vitalizá-lo com novos materiais e tecnologias,
evitando que se torne obsoleto e permitindo que acompanhe o desenvolvimento
tecnológico dos grandes centros urbanos.
Desta forma, pode-se concluir que a aplicabilidade das técnicas do retrofit arquitetônico,
mostra-se como uma ótima oportunidade financeira, prática e conceitualmente ao
mercado da construção civil brasileira.
Portanto no decorrer deste trabalho serão analisadas as tendências do retrofit
arquitetônico, na construção civil, assim como algumas referências nacionais e
internacionais.
4.1.2 RETROFIT COMO TENDÊNCIA NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Nas principais cidades do mundo, enquanto incorporadores brigam por cada metro
quadrado de terreno, prédios de ótima localização estão ficando cada vez mais vazios.
São construções que demonstram os sinais do tempo, com infra-estrutura obsoleta e
equipamentos ultrapassados, por isso se tornaram difíceis de administrar e
133
comercialmente inviáveis. É neste contexto urbano mundial, que podemos perceber no
retrofit uma oportunidade de negócio para o setor da construção civil.
Segundo Barrientos (2004), uma avaliação do mercado mundial revela que a reabilitação
do patrimônio urbano tem sido superior ao volume de novas construções, dentro da
totalidade dos serviços prestados pela indústria da construção civil.
Isso pode ser comprovado ao analisar o gráfico, da figura 4.1 a seguir, que demonstra a
porcentagem do mercado da construção destinado à manutenção e à construção de
novos empreendimentos nos países da União Européia.
Figura 4.1: Visão panorâmica do mercado da construção civil nos países da União
Européia.
Fonte:
Euroconstruct (1997).
Em países como Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Itália, Holanda,
Noruega, Suécia e Inglaterra as atividades de reabilitação são superiores as próprias
construções novas, como demonstra a figura 4.1. Esses países perceberam que é muito
mais caro colocar uma construção abaixo para construir outra, do que empreender ações
de reabilitação.
No entanto, as razões financeiras não podem ser consideradas como motivo único para
decisões de reabilitação. Outros aspectos podem ser considerados tão importantes
quanto, como por exemplo, a preservação da história de uma cidade ou nação, através
de seu patrimônio arquitetônico.
134
O Brasil é um país essencialmente urbano, segundo dados recentes do IBGE, - Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - mais de 80% de sua população vive nas cidades.
Segundo Brit (2004), o modelo tradicional de desenvolvimento urbano adotado no país, o
qual privilegiou o processo de crescimento, adensamento e renovação urbana, entrou em
colapso, dado o quadro urbano encontrado nas principais cidades brasileiras.
Esta crise urbana na qual o país se encontra pode verificar-se pela baixa qualidade de
vida urbana, na destruição e descaracterização do patrimônio edificado e urbanístico das
cidades e principalmente pela falta de sustentabilidade ecológica nos processos
decorrentes das ações urbanas implementadas, com uma crescente agressão ambiental
na relação entre os espaços construídos e naturais existentes.
Portanto, ao analisarmos o crescimento urbano no Brasil, podemos perceber que na
década de 50 existiam poucas cidades com mais de um milhão de habitantes, ao passo
que em 1990 já existiam dezenas de cidades, com cerca de um milhão de habitantes,
Barrientos (2004).
Muitas cidades expandiram tanto seus limites que acabaram se encontrando com os
limites de outros municípios vizinhos, formando enormes aglomerações denominadas
regiões metropolitanas. Estas aglomerações urbanas apresentam-se como fruto de uma
expansão urbana provocada, sobretudo, pelo desenvolvimento industrial e pelo avanço
tecnológico dos meios de transporte e das comunicações, além é claro, da ilusória busca
por uma melhor qualidade de vida na cidade grande.
As últimas décadas levaram o Brasil a experimentar grandes transformações no cenário
urbano. O aumento das taxas de urbanização e o adensamento dos centros urbanos
contribuíram para a valorização do solo urbano e a intensificação de investimentos no
setor imobiliário.
O Brasil difere de outros países europeus por ser um país relativamente jovem, com isso
seu parque edificado começou a envelhecer recentemente. Situação esta, bem diferente
da maioria daqueles países europeus cuja deteriorização do parque habitacional, em
função da elevada idade, levou ao desenvolvimento de metodologias e procedimentos
técnicos, visando promover a reabilitação daquelas construções que, ao longo de sua
vida útil, foram perdendo sua funcionalidade e se deteriorando.
135
No entanto, a evolução histórica das cidades mundiais apresenta aspectos bastante
semelhantes. Nesse contexto, centros urbanos mais jovens, como no caso brasileiro,
começam a passar pelas mesmas dificuldades enfrentadas pelas grandes metrópoles
mundiais há alguns anos atrás.
Seguindo a mesma trilha de sucesso, já adotada em outros países cujo parque edificado
encontra-se em idade mais elevada, grandes centros urbanos nacionais como Rio de
Janeiro e São Paulo, vem apresentando nos últimos anos propensos sinais para
requalificação e regeneração de suas edificações.
Desta forma, apesar de jovem, o Brasil se mostra como um mercado bastante promissor
para as intervenções de retrofit arquitetônico. Dentro do setor imobiliário percebemos
uma maior procura por retrofit das edificações de uso comercial. As empresas,
geralmente, têm maior capital para investir nessa área, aliada a uma busca constante da
minimização de gastos.
Romero et al (1999), em seus estudos para FAU-USP revelou que as empresas que já
passaram por algum tipo de intervenção, visando proporcionar maior conforto a seus
funcionários, apresentaram índices de produtividade superiores aos praticados
anteriormente à intervenção.
Portanto, no novo contexto econômico mundial, a redução de custos é a palavra de
ordem em tempos de economia desacelerada. Medidas drásticas acontecem em todas as
áreas e, assim, grande parte dos investimentos acaba sendo postergada. No setor da
construção civil não podia ser diferente. Logo, frente às perspectivas que começam a ser
traçadas para a área de retrofit arquitetônico, podemos perceber um mercado bastante
promissor a investimentos futuros.
A fórmula parece bem simples, ou seja, basta aproveitar a depreciação do custo
imobiliário, a oferta existente, as técnicas de reabilitação e a atratividade que as áreas
centrais exercem para conjugar esses fatores e lançar grandes empreendimentos
comerciais, atraindo novamente a demanda para essas áreas.
Neste contexto, grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo vem buscando
resgatar a importância de suas regiões centrais através de procedimentos de
requalificação e modernização de suas edificações.
136
Portanto, o retrofit urbano pode ser considerado com uma importante alternativa para
melhoria das condições ambientais, sem deixar de lado a importância e o peso histórico
das edificações. Essa nova mentalidade não surgiu do nada, foi construído depois de
longo período de abandono e descaso pelo que passaram as regiões centrais e pelo fruto
do sucesso destes empreendimentos em outras cidades mundiais.
O Caso da Cidade do Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro pode ser considerado um caso diferenciado, se comparado a outras
cidades estrangeiras. Enquanto nestas as iniciativas partiram de grupos alternativos
como artistas, profissionais liberais e estudantes. Já no caso da cidade do Rio de Janeiro,
as iniciativas partiram do próprio governo, que na década de 80 reconheceu na política
de renovação urbana um excelente negócio.
Com isso, iniciaram-se investimentos para os processos de reversão do quadro de
deterioração do centro da cidade, não só nos imóveis antigos da área central, mas,
também, de todo um espaço público, mediante a processos de melhorias na infra-
estrutura urbana.
Essa política de preservação recebeu o nome de Corredor Cultural e tentou focalizar a
atenção na importância do acervo histórico e arquitetônico ali concentrado, dando início
assim a todo um programa de revitalização urbana para o centro da cidade do Rio de
Janeiro.
A requalificação das edificações não atraiu somente a procura de imóveis na região,
como também aos poucos, grandes empresas começaram a retornar ao centro da
cidade. Outro aspecto positivo foi o surgimento de novos centros culturais, lojas
sofisticadas, há muito tempo ausente na região, assim como, de universidades e grandes
garagens subterrâneas.
Segundo Barrientos (2004), a região central passou a atuar como pólo atrativo de
grandes bancos e grandes negócios. A proximidade do bairro com aeroportos, rodoviária,
metrô, cartórios e fórum tornou-se fator determinante na hora da escolha.
A cidade do Rio de Janeiro apresenta hoje uma grande quantidade de edificações,
residenciais e não residenciais, com idade aproximada de 50 anos de construção ou
137
preste a completá-la, em função de seu processo de urbanização e evolução da cidade,
Ducap (1999).
Dados conforme fornecido pelo Anuário Estatístico da Cidade do Rio de Janeiro em 1999,
mostram um mercado propulsor para os investimentos em reabilitação e requalificação
das edificações existentes. Conforme mostra a figura 4.2, baseada em pesquisa realizada
pelo anuário estatístico da cidade nos anos de 1988 e 1999.
Figura 4.2: Distribuição dos imóveis do Rio de Janeiro, segundo sua idade.
Fonte:
Barrientos (2004).
Desta forma, segundo as informações da figura 4.2, pode-se perceber que à quantidade
de imóveis com idade superior a 20 anos, é superior à quantidade de imóveis novos ou
recén construído. O que demonstra claramente, que existe um mercado em potencial
para o setor de reabilitação dentro da indústria da construção civil, na cidade do Rio de
Janeiro.
Portanto, segundo Ducap (1999), se considerarmos que exista a necessidade de uma
reabilitação a cada 25 anos de idade de uma edificação, teremos que reabilitar mais de
55.000 imóveis a cada ano nos próximos 55 anos. Esta conclusão fixa somente nas
reabilitações das edificações por idade, sem levarmos em conta, a possibilidade do
incremento de outras construções, fato este que é bastante comum.
138
O Caso da Cidade de São Paulo
O caso da cidade de São Paulo mostra-se diferenciado quando comparado à cidade do
Rio de Janeiro. Enquanto esta viu nos investimentos públicos, o grande propulsionador
dos processos de revitalização e reabilitação urbana, a cidade de São Paulo encontra-se
em um outro patamar, a da migração de seus centros para regiões menos saturadas.
Apesar de experiências de reabilitações e revitalizações arquitetônicas isoladas e
pontuais, como nos casos da Bolsa de Mercadorias e Futuros, Estação Julio Prestes e
edifício Dops, podemos perceber uma outra realidade para o centro de negócios da
cidade de São Paulo.
O centro de negócios da cidade de São Paulo, a princípio se concentrava nas imediações
da Praça de Sé
19
, marco histórico e urbanístico da cidade.
Para Neves (2002), o passar dos anos fez com o centro de negócios da cidade de São
Paulo sofresse grandes alterações, fato este que não foi percebido na cidade do Rio de
Janeiro. A princípio o eixo de negócios passou da Praça da Sé, para o outro lado do vale
Anhangabaú; mais tarde, foi a vez de ocupar a Avenida Paulista e, em seguida, a Faria
Lima.
Com a saturação imobiliária da Paulista e da Faria Lima, era necessário encontrar um
outro local para se estabelecer os novos escritórios. No entanto, era necessário fugir dos
problemas em que as velhas estruturas estavam mergulhadas, e buscar edificações que
pudessem absorver a nova tecnologia presente no mercado.
Segundo Barrientos (2004), a mudança na dinâmica da cidade foi fundamental e o velho
conceito de pólo econômico, como sendo um conglomerado de escritórios, um ao lado do
outro, deu lugar a um espaço, onde foi implementada uma estrutura longitudinal as
margens do rio Pinheiros.
Desta forma, a região da Avenida Engenheiro Luis Carlos Berrini, situada entre a Ponte
do Morumbi e a Ponte Engenheiro Ary Torres, recebeu uma grande concentração de
empreendimentos com tecnologia de ponta, dos quais, podemos citar: O World Trade
19
A Praça da Sé, em 1934 transformou-se em marco zero da cidade de São Paulo. Em 1952, foi
reurbanizada para as celebrações do IV Centenário da cidade. Já na década de 70 foi novamente reformada
para abrigar a Estação Sé do Metrô, englobando a Praça Beviláqua.
139
Center, o Centro Empresarial das Nações Unidas, Hotéis Hyaltt e Hilton, sedes regionais
de grandes multinacionais como a Hewlett Packard, Philips, Andersen Consulting, Nokia,
Mastercard, Walt Disney, Microsoft, bancos como o Bank Boston, Banco Sudameris,
Banco Chase Manhattan e emissoras de TV como a Globo.
A escolha da Avenida Engenheiro Luis Carlos Berrini, deveu-se a seu zoneamento
diversificado, e a maior oferta de terrenos incorporáveis, além das intervenções urbanas,
que garantiram uma melhor infra-estrutura à região, principalmente no que diz respeito ao
acesso.
Para Barrientos (2004), a explosão da região da Avenida Engenheiro Luis Carlos Berrini,
se deu exatamente quando a região do centro deixou de ser interessante, devido à falta
de terrenos, à falta de vagas de garagem e, principalmente, às edificações que ficaram
obsoletas e não se adequaram às novas épocas.
Além da região da Berrini, podemos citar a marginal Pinheiros, e mais recentemente, o
bairro da Barra Funda como sendo os atuais pólos comerciais da cidade de São Paulo,
apresentando uma continuidade nesta demanda urbana, característica da cidade de São
Paulo.
Portanto, o exposto vem mostrar que o centro de negócios da cidade de São Paulo ainda
se encontra na fase da migração para regiões ainda não saturadas, mas que,
provavelmente, ficarão saturadas, sendo apenas uma questão de tempo, como foram os
casos da Paulista e da Faria Lima.
O caso paulista é bem interessante, pois o que a princípio pode se mostrar como um
mercado ruim às práticas do retrofit arquitetônico e urbano, na verdade pode se
caracterizar como o pontapé para este tipo de prática.
Ao analisarmos as novas construções erguidas em São Paulo, podemos perceber que
estas estão alinhadas com as mais modernas tendências mundiais, não apenas no
âmbito comercial, mas também no segmento de condomínios residenciais de alto padrão.
Os "edifícios inteligentes", que agregam avançados serviços, moderna arquitetura e
sistemas integrados de transmissão de dados e voz, lançaram um desafio ao mercado
imobiliário, sobretudo aos síndicos, proprietários e investidores.
140
A lógica é simples: com um volume cada vez maior de novas e modernas edificações, as
mais antigas necessitam urgentemente de um verdadeiro banho de loja, interno e
externo, sob pena de sucumbirem diante da infra-estrutura obsoleta, dos equipamentos
ultrapassados e dos desgastes naturais proporcionados pelo tempo. É uma questão de
sobrevivência, especialmente na cada vez mais competitiva São Paulo.
Assim, a revitalização de edificações antigas vem recebendo cada vez mais atenção por
parte dos profissionais envolvidos, dos investidores e do governo local, fazendo com que
o mercado do retrofit arquitetônico e urbano seja cada vez mais propenso a investimentos
futuros.
4.1.3 REFERÊNCIAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS DE PROCESSOS DE
RETROFIT
Grandes cidades americanas e européias mostram-se repletas de bons exemplos de
reabilitações prediais. Surgido na Europa e Estados Unidos, onde é bastante corriqueira,
esta prática, também conhecida como retrofit, tem o objetivo de revitalizar antigos
edifícios, aumentando sua vida útil, através da incorporação de modernas tecnologias e
utilização dos mais avançados materiais.
Como visto anteriormente, a rígida legislação destes países (Europeus e Estados Unidos)
não permitiu que o rico acervo arquitetônico fosse substituído, abrindo espaço para o
surgimento desta solução, que preserva o patrimônio histórico, ao mesmo tempo em que
permite a utilização de forma adequada do imóvel.
No Brasil, com a ampliação da preocupação com a defesa de áreas tombadas, aliada ao
desenvolvimento das cidades, fez com que as técnicas do retrofit se mostrassem como
uma ótima ferramenta neste mercado que se mostra em ampla expansão.
Desta forma, percebe-se hoje uma tendência pela busca da moderna face do antigo,
onde, prédios tradicionais das grandes cidades escapam da decadência, adotando
fachadas arrojadas, aparato tecnológico e novas utilizações para seus espaços.
Neste contexto, máquinas demolidoras dão lugar a guindastes que içam placas de
alumínio e vidros temperados. As antigas instalações são substituídas por tecnologias de
ponta, com o que de melhor o mercado pode oferecer. Em vez da destruição, o
141
renascimento. Em cidades com Rio de Janeiro e São Paulo, o retrofit, mostra-se como
uma nova tendência arquitetônica, muito próspera ao setor da construção civil.
Esta técnica vem recuperando prédios que estavam condenados a uma triste
decadência. O processo de retrofit predial trata-se de conservar a estrutura original do
edifício, acrescentando a ela materiais e equipamentos modernos. É como se os prédios
fossem submetidos a uma cirurgia plástica radical, dependendo é claro do nível de
atuação do retrofit implementado.
Na cidade do Rio de Janeiro, o Centro e a Zona Sul, apresentam-se como os pontos
fortes destes processos de intervenção, sejam por razões econômicas e/ou históricas.
Para o engenheiro Rogério Zylbersztajn, “as áreas populosas e valorizadas da cidade
não oferecem mais terrenos vazios”, portanto, “só resta reformar o que já existe”, conclui.
Sócio da RJZ Cosntrutora, o engenheiro foi o responsável pelo profundo retrofit,
implementado no Hotel Ebony (hoje Diamond Hotel) situado na Glória, o qual ganhou
visual futurista e instalações modernas. Atualmente, o engenheiro está modernizando um
antigo prédio em Copacabana e já se prepara para retocar outros dois endereços no
mesmo bairro.
No centro da cidade, o Rio de Janeiro apresenta o histórico Amarelinho, prédio da
cinelândia erguido nos anos 30, tornou-se hoje um centro empresarial. Depois de passar
dez anos desocupado, a construção de linhas clássicas foi reformada e se transformou
num edifício inteligente, com rede interna de computadores e outros luxos tecnológicos.
Ganhou reparos também em seu exterior, mas sem prejuízo do estilo arquitetônico,
característico da edificação.
Desta forma, o exemplo do Amarelinho, mostra-se como um processo de retrofit, ainda
que mantendo sua fachada preservada, fato este que não ocorreu no exemplo do
Diamond Hotel, que segundo o arquiteto responsável Juan Carlos Belay, só foi
preservada a vista para a Baía de Guanabara. Outro exemplo é o Hotel Excelsior, em
Copacabana, que foi completamente remodelado.
Já no Hotel Guanabara, no centro da cidade, podemos perceber outra obra de grande
importância nos aspectos da reabilitação predial, onde vidros temperados passaram a
recobrir a fachada e novas instalações foram aplicadas, melhorando as condições de uso
do hotel, oferecendo maior conforto e comodidade aos seus usuários.
142
O centro da cidade do Rio de Janeiro, ainda apresenta outro bem sucedido caso de
retrofit, o do Centro Empresarial RB53, situado na Avenida Rio Branco. A edificação, de
mais de 40 anos, passou por uma reforma completa, que durou 16 meses, com grandes
resultados finais.
A valorização do Centro Empresarial pode ser atribuída às ações contempladas em seu
retrofit. Além da preocupação com a arquitetura, foram observados os serviços básicos
exigidos atualmente pelos locatários de escritórios de alto padrão: ar-condicionado,
segurança, infra-estrutura de telecomunicações e informática.
Com isso, os valores de locação do Centro Empresarial RB53, por sua vez, passaram de
R$ 13 o metro quadrado, em 1993, para R$ 55 o metro quadrado em 2005, segundo
informações da Jones Lang LaSalle, empresa de consultoria imobiliária.
Saindo da área central e da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, percebe-se uma outra
obra bastante interessante, que foi a adaptação e mudança de uso, de uma antiga
fábrica, para receber as instalações comerciais do Shopping Nova América.
A cidade de São Paulo apresenta-se de forma diferenciada quando comparado à cidade
do Rio de Janeiro, nos aspectos da reabilitação predial. Enquanto esta viu nos
investimentos públicos, o grande propulsionador dos processos de revitalização e
reabilitação urbana, a cidade de São Paulo encontra-se em um outro patamar, a da
migração de seus centros para regiões menos saturadas, como visto anteriormente nesta
dissertação.
Apesar de experiências de reabilitações e revitalizações arquitetônicas isoladas e
pontuais, a cidade de São Paulo apresenta bons exemplos de retofits prediais. Podemos
citar a Estação Júlio Prestes, localizada na região central da capital paulistana, tem a
premiada Sala São Paulo como átrio do edifício. O prédio passou por um trabalho de
retrofit comandado pelo arquiteto Nélson Dupré, que, aliado às soluções acústicas,
tornaram a obra referência e até inspiraram intervenções semelhantes no exterior.
Outra obra é o Edifício Rizkallah Jorge, construído nos anos 40 em estilo clássico e que
teve sua utilização modificada, transformando-se em um hotel de luxo. A edificação
voltou a ser referência no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo.
143
Um outro exemplo bem sucedido de retrofit na cidade de São Paulo, foi Aasp
(Associação dos Advogados de São Paulo), um antigo edifício situado na rua Álvares
Penteado, comprado junto a Bovespa. A edificação precisou passar por uma grande
reforma, o prédio construído entre 1920 e 1940 estava fechado há mais de dez anos.
Além da defasagem tecnológica, a edificação havia sido tombada pelo Patrimônio
Histórico, logo a opção de reconstruí-lo teve de ser descartada. A obrigatoriedade de
refazer e adaptar suas instalações as novas necessidades dos novos usuários, fizeram
com que as técnicas do retrofit se tornassem em uma ótima solução.
Ainda na cidade de São Paulo, o projeto do arquiteto Telesforo Giorgio Cristofani
20, de
1970, o Edifício-Sede da Telefônica passou por um retrofit em 2001, acompanhando a
mudança de imagem da antiga Telesp no país. Para isso, o edifício de 23 andares, na rua
Martiniano de Carvalho, no Paraíso, em São Paulo, sofreu alterações expressivas.
O prédio, em concreto protendido aparente, foi construído em 1975, utilizando técnicas
artesanais para a execução das fôrmas, o que resultou em imperfeições, problemas de
alinhamento, distorções e desníveis. Em função desses problemas, o edifício passou por
três reformas e recuperações de fachadas antes do retrofit, com intervenções que
chegaram a durar até dois anos.
Objetivando solucionar as distorções, optou-se pelo revestimento das fachadas com
painéis de alumínio composto Alucobond®, valendo-se da sua excelente planicidade, da
facilidade de instalação e da possibilidade de adoção de grandes módulos, aliado à
leveza dos painéis, característica importante em casos de retrofit, uma vez que não
acrescenta carregamentos significativos na estrutura existente.
No processo de revitalização e re-adequação, o prédio recebeu escadas de segurança
com estrutura de aço, fechamento em blocos de concreto sílico-calcáreo e revestimento
de alumínio composto Alucobond®. As escadas colocadas à frente dos volumes das
caixas dos elevadores, também foram revestidas com painéis de alumínio composto
Alucobond®. Essa solução respeitou a originalidade do projeto e atendeu às normas de
segurança. Todas as soluções do retrofit aplicadas na arquitetura, estrutura, hidráulica,
20
Nascido em 1929, na cidade de Viareggio, na Itália e falecido em 2002, o arquiteto Telésforo Giorgio
Cristofani pertence à segunda geração do modernismo brasileiro e foi um precursor da arquitetura de
interiores no Brasil. Projetou, por exemplo, o memorável restaurante vertical do Fasano, no centro de São
Paulo, que recebeu Medalha de Prata na 8ª Bienal de São Paulo. Entre os edifícios que desenhou, destaca-
se o Giselle, que recebeu menção honrosa na premiação do IAB-SP de 1974, e a sede da Telesp, ambos em
São Paulo. Foi professor na FAU-USP, na FAU-Santos e no Mackenzie além de participar de diversas
diretorias do IAB-SP.
144
elétrica, ar condicionado, dados e telefonia, são de autoria da INTARCO, Projetos e
Consultoria
21
.
Outros projetos de reabilitação podem ser observados na cidade de São Paulo, como a
do edifício Dops. Na área residencial, um bom exemplo é o projeto de reforma do edifício
Marambaia, de autoria do escritório Roberto Candusso Arquitetos Associados, que
recebeu menção honrosa na categoria retrofit do Prêmio Asbea 2003. A reabilitação tem
na inserção de terraços com estrutura metálica na fachada, a parte mais visível do seu
processo de intervenção.
Porém, comparada a outras cidades mundiais, percebe-se que as cidades brasileiras
podem e devem seguir o mesmo caminho de sucesso obtido naquelas. Para isso, a
expectativa é de que o cenário mude com a manifestação de preocupação das últimas
gestões dos principais municípios do País quanto à recuperação de áreas degradadas.
No entanto, o exemplo vem de fora, de cidades como Oslo, Beirute, Buenos Aires,
Estocolmo e Paris, que passaram por um processo de revitalização de áreas degradadas,
e que de quebra demandou uma série de obras de recuperação da infra-estrutura e das
edificações do entorno.
Em muitas cidades do mundo, a recuperação do centro exigiu vultosos investimentos
públicos e privados, criando regiões diversificadas, com comércio, escritórios, centros
culturais, históricos e turísticos e edifícios residenciais para diferentes classes sociais.
As experiências observadas em outras cidades demonstram que a atração de
investidores depende principalmente de uma política pública. Profissionais da área
reforçam a necessidade de o poder público buscar parcerias no setor privado e oferecer
incentivos tributários, fiscais e até mesmo no aproveitamento de coeficientes da
edificação.
Porém algumas medidas começam a ser tomadas, na cidade do Rio de Janeiro, o
proprietário que preserva um imóvel tombado tem isenção de IPTU e o construtor,
isenção de ISS. Além disso, um programa vinculado à Secretaria de Habitação,
21
A INTARCO é uma empresa de Consultoria, Projetos e Gerenciamento nas áreas de Engenharia e
Arquitetura, atuando no Brasil e na América Latina há mais de 35 anos. Dentre os principais produtos
oferecidos pela INTARCO estão os projetos integrados de arquitetura, engenharia civil, estruturas, elétrica e
mecânica
145
denominado "Novas Alternativas", incentiva a recuperação de imóveis em vazios urbanos
dotados de infra-estrutura no centro da cidade.
Já em São Paulo, a restauração de fachadas de prédios tombados é incentivada com a
redução do IPTU, segundo informa Andréa Matarazzo, subprefeito da região da Sé
(Centro da capital paulista).
146
4.2 RETROFIT COMO FERRAMENTA PARA ATUALIZAÇÃO DAS
EDIFICAÇÕES
De acordo com o que foi analisado anteriormente, podemos perceber um mercado
bastante promissor para os procedimentos das técnicas do retrofit arquitetônico e urbano.
Desta forma, a recuperação, manutenção e restauração de edifícios têm por objetivo
possibilitar a readequação e a reinserção destes à estrutura da cidade, contribuindo para
a maximização e otimização do espaço construído, assim como para a preservação dos
valores arquitetônicos e paisagísticos das cidades.
Além de ser uma forte ferramenta em prol da sustentabilidade do sítio arquitetônico, o
retrofit também pode contribuir para o desenvolvimento sócio-econômico da cidade. No
primeiro caso podemos citar o exemplo da revitalização e valorização do bairro de Soho
em Nova York, enquanto que no segundo caso, podemos citar os índices franceses da
construção civil, onde se atesta que o retrofit corresponde a 53% do mercado de
construção deste país Euroconstruct (1997).
Desta forma podemos dizer que o retrofit arquitetônico vem a ser a busca pela
sincronicidade do edifício com o tempo presente, de modo a equipá-lo com novos
materiais e tecnologias, evitando que se torne obsoleto e permitindo que acompanhe o
desenvolvimento tecnológico dos grandes centros urbanos.
Ainda, na busca pela sincronicidade, o retrofit tem um sentido de renovação integral do
edifício e sua perfeita adequação às necessidades dos atuais usuários, com a
reestruturação dos sistemas prediais.
Assim pode-se perceber ações como a implementação de soluções de domótica no
controle do gasto energético, segurança e conforto, na introdução de sistemas de
telefonia e cabeamento para informática, instalação de sprinklers e demais itens de
segurança contra incêndio, além da reforma ou substituição de todo sistema hidráulico e
elétrico do edifício. Outro aspecto importante é a renovação dos materiais de
revestimentos, quando necessários, sem que se altere a feição original do edifício no
caso das edificações históricas.
Desta forma pode-se averiguar que o processo de retrofit não se trata apenas de uma
simples restauração do patrimônio histórico da cidade, ou de uma reforma. O retrofit vai
147
além, ele busca a eficiência do edifício e sua sincronicidade com o tempo presente,
dentro das limitações físicas de sua antiga estrutura; com a vantagem da redução do
prazo de construção e a adequação geográfica do imóvel dentro do contexto da cidade.
4.2.1 AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS PROCESSOS DE RETROFIT
A busca por atualização, requalificação, readaptação e valorização do imóvel, faz com
que as técnicas do retrofit ganhem cada vez mais importância nos meios acadêmicos e
profissionais. Sinônimo de atualização predial, o retrofit busca melhorar não só o
desempenho das edificações, mas também adequá-las as perspectivas de uma nova
utilização.
Em princípio, a relação entre retrofit arquitetônico e valorização do imóvel é direta. O
diretor-superintendente da Lello Condomínios
22
, Antonio Pacheco Couto, acredita que o
investimento de cada proprietário na valorização patrimonial representa cerca de 10% da
valorização total do imóvel. Por exemplo, uma reforma que custasse para cada
condômino R$ 5 mil valorizaria em cerca de R$ 50 mil o imóvel. Portanto, podemos
perceber que recuperar fachadas, investir em elevadores, equipamentos e mobiliário
valoriza imediatamente o imóvel.
Se não bastasse a valorização direta do imóvel, existem ainda inúmeras outras razões
para se realizar uma obra de retrofit entre elas, podemos ressaltar: Uma maior
comodidade proporcionada aos usuários, e a redução dos custos de operação da
edificação.
Vale ressaltar, que se entende por custos de operação de uma edificação o gasto
necessário para o funcionamento da mesma, como por exemplo, o consumo energético,
a mão de obra e os gastos com segurança. Estes custos de operação, dependendo dos
novos sistemas utilizados, podem chegar à ordem de 30%, segundo informações obtidas
do Ministère de l'equipement – Direction de la cosntruction- Rehabilitacíon de la vivenda,
França,1980.
Como visto anteriormente, nos casos das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, a
demanda por retrofit é sentida quase que apenas nos centros das grandes cidades.
22
Fundada na cidade de São Paulo, a Lello Condomínios iniciou suas operações em 1955, atua nas áreas de
administração, locação e venda de imóveis.
148
Nesses locais, a infra-estrutura de serviços e comércio é mal aproveitada, já que muitos
prédios, por terem tecnologia obsoleta para os novos conceitos e necessidades das
empresas modernas, encontram-se abandonados.
João D'Ávila, diretor técnico da Amaral D'Ávila Engenharia de Avaliações
23
, acredita na
viabilidade de tornar locais abandonados em regiões habitáveis. Segundo ele a forma de
estancar a degradação é a fixação da população residencial, em face da enorme infra-
estrutura não utilizada, especialmente no período noturno. Este ainda defende a
revitalização de microrregiões centrais em vez de procedimentos de retrofit de uns
poucos edifícios que não resgatam a ocupação de todo o entorno.
O arquiteto Alberto D’Ávila, professor do curso de MBA de mercado imobiliário oferecido
pela CMI (Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais) também concorda. Segundo
ele vale a pena o investimento nas técnicas do retrofit, pois além do valor histórico
desses locais, outro argumento seria a própria durabilidade das estruturas.
Para o engenheiro e advogado Francisco Maia, da Precisão Empreendimentos, uma
estrutura de concreto pode durar décadas. Portanto, por que demolir um prédio em boas
condições se este pode ser reformado? Questiona.
Aliás, em alguns casos, nem a demolição é tão fácil, principalmente no que tange as
áreas de edifícios tombados, dependendo da legislação da cidade. Desta forma, os
investimentos em retrofit teriam a vantagem das proporções dos edifícios antigos, com
coeficiente de aproveitamento maior do que o da legislação atual. Ou seja, se demolir
não vai poder reconstruir com o mesmo coeficiente, então porque não requalificar.
Embora o setor da construção civil admita que números como os vistos nos casos das
cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, representem uma grande oportunidade de
negócio, o segmento ainda não deslanchou.
Observa-se que o setor se divide quanto às vantagens de investir na recuperação de
empreendimentos antigos e abandonados. Um dos principais empecilhos são os
aspectos técnicos. Quanto mais antigo o prédio, maior a necessidade de adaptações
para torná-lo moderno, o que pode onerar e muito o empreendimento e assim inviabilizar
23
Fundada em 1990, a Amaral D'Ávila Engenharia de Avaliações, atua nas áreas de avaliações econômicas,
patrimoniais, mercados e investimentos de base imobiliária, sistemas de informações geográficas, gestão de
carteiras imobiliárias, avaliações aduaneiras e seguros.
149
o projeto. Por isso, há quem afirme que, a não ser em casos de cidades onde não há
mais terrenos disponíveis, o investimento em construção nova vale mais a pena.
Segundo Sandra Ralston, diretora da Jones Lang LaSalle
24
, empresa especializada em
consultoria imobiliária, o investimento em retrofit é alto demais, e o “upgrade” não garante
que o edifício se tornará competitivo.
A equação, no entanto, não é tão simples assim e tem de ser analisada caso a caso na
opinião do engenheiro Fábio Elias Cury, da Cury Empreendimentos Imobiliários
25
,
empresa que já recuperou quatro edifícios antigos na capital paulista. Segundo ele,
desde que a fundação e a estrutura estejam em boas condições, à economia pode ser
de, no mínimo, 20% do custo de uma obra nova.
Ainda, segundo o engenheiro Fábio Elias Cury, da Cury Empreendimentos Imobiliários,
muitos prédios comerciais são interessantes e fáceis de reformar, porém existem outros
em geral hotéis com muitas divisões, ou ainda edificações muito antigas, que
tecnicamente são muito complicados a sua recuperação.
De uma forma geral, em função das condições estruturais, os bons empreendimentos
para reforma são aqueles com até 50 anos de construção. Destes, segundo o engenheiro
Fábio Elias Cury, se aproveitariam, basicamente, a fundação, a alvenaria e a estrutura.
Para ele, instalações prediais, elevadores e caixilharia sempre teriam de ser refeitos
completamente para que haja um bom resultado do produto final.
Portanto, viabilizar um retrofit no que tange os aspectos técnicos chega a ser a parte
mais simples do processo. Porém quando o assunto chega ao aspecto da legalização do
imóvel, a situação muda um pouco de figura.
O obstáculo, a princípio, é a ausência de uma legislação específica. A rigidez dos atuais
códigos de obras não corresponde aos critérios de construção empregados em tais
prédios, baseados na legislação da época em que foram construídos. Para o Secretário
de Habitação da capital paulista, Orlando de Almeida Filho, a solução seria a criação de
24
A Jones Lang LaSalle está entre as líderes mundiais de consultoria imobiliária e gerenciamento de
investimentos. A empresa atende seus clientes de forma local, regional e global, com escritórios em mais de
100 mercados, distribuídos em 36 países.
25
Fundada em 1962, a Cury Empreendimentos Imobiliários desenvolve empreendimentos nos variados
segmentos, seja residencial (Edifícios, Condomínios de Casas e Conjuntos Habitacionais), comercial (built to
suit), industrial e pública.
150
uma legislação específica, mais flexível para a aprovação dos projetos de retrofit
arquitetônico.
Logo, podemos concluir que o mercado de retrofit oferece oportunidade de negócios
muito variados, se considerarmos os aspectos residenciais, comerciais e institucionais.
Porém sua viabilidade ainda gera muita polêmica. Assim, cabem as instituições
acadêmicas e segmentos profissionais do setor, criarem condições e meios para a
discussão dos assuntos relacionados ao retrofit arquitetônico e urbano, a fim de formar
uma consciência crítica e um melhor entendimento dos aspectos técnicos, legais e
financeiros do assunto.
4.2.2 ASPECTOS TÉCNICOS DOS PROCESSOS DE RETROFIT
Ao tratarmos os aspectos técnicos dos processos de retrofit, temos que ter sempre em
mente o grau de intervenção que vai ser utilizada, os profissionais envolvidos, os custos e
as normas necessárias, os materiais e sua degradação, as patologias que podem
ocorrer, além da mudança do perfil de seus usuários. Muitos acreditam que a aplicação
das técnicas do retrofit em uma edificação implica em reforma generalizada do partido
arquitetônico, que na verdade não é bem assim.
Entende-se por partido arquitetônico as soluções dadas em resposta a um programa
previamente definido. A este partido podemos considerar soluções como: pisos,
revestimentos, iluminação, elevadores, fachadas, ar condicionado central, sistemas
hidráulicos, segurança, automação predial, pavimentação, entre muitos outros tópicos.
Segundo Barrientos (2004), vários são os aspectos que devem ser levados em
consideração, mas sem sombra de dúvidas a idade da edificação, deve ser um dos
pontos fundamentais a serem considerados pelos profissionais envolvidos na
reabilitação.
A autora, ainda cita o exemplo, de que é muito mais fácil fazer um retrofit em uma
edificação com mais de 30 anos, do que nas mais recentes. Isto se deve aos padrões de
arquitetura, pois naquela época, utilizavam-se pés direitos mais altos e vãos mais largos,
que facilitam a utilização de recursos como pisos elevados, rodapés técnicos e forros.
Hoje em dia, os novos padrões arquitetônicos, onde o espaço é excessivamente
reduzido, dificultam e muito qualquer tipo de previsão para uma intervenção futura.
151
Portanto, as intervenções a serem empreendidas em um imóvel dependem de suas
características e de seu estado. A tentativa de estabelecer níveis de intervenção é um
tanto quanto superficial, já que, muitas vezes, é difícil prever antecipadamente o grau de
intervenção que será adotado ao longo do desenvolvimento dos trabalhos.
O informe Nora-Minc
26
apresenta uma classificação de acordo com os trabalhos a serem
desenvolvidos, e que é adotada pela maioria dos pesquisadores do assunto, o qual
identificamos, a seguir:
- Retrofit Rápido: Engloba serviços de recuperação de instalações e
revestimentos internos;
- Retrofit Médio: Além dos serviços de intervenção rápida, nesta categoria
também entram as intervenções em fachadas e mudanças nos sistemas de instalações
da edificação;
- Retrofit Profundo: Nesta categoria, além das atividades anteriores, estão as
intervenções em que há mudanças de layout que engloba, desde a compartimentação
até a própria estrutura dos telhados;
- Retrofit Excepcional: Esse tipo de intervenção ocorre, principalmente, em
edificações históricas ou localizadas em áreas protegidas.
Por outro lado, essa classificação permite que se tenha idéia da abrangência dos
trabalhos a serem realizados. Outro fator importante a considerar é que, nem sempre,
toda a edificação necessita passar por um processo de retrofit. Em grande parte dos
casos, apenas alguns sistemas ou componentes da edificação necessitam ser
atualizados.
Barrientos (2004), apresenta em seus estudos um gráfico, representado pela figura 4.3,
da porcentagem de ocorrência de cada uma dessas categorias listadas pelo informe
Nora-Minc.
26
Manifesto francês publicado em 1978 que abordava o tema da informatização da sociedade. Através da
iniciativa governamental buscava respostas para as crises industriais e energéticas dos anos 70, nas
tecnologias alternativas de informação e de comunicação.
152
Figura 4.3: Graus de intervenção em obras de retrofit.
Fonte:
Barrientos (2004).
Como podemos perceber pela figura 4.3, grande parte das obras de retrofit que vem
sendo realizadas, acontecem de caráter médio e profundo, o que nos leva a dimensionar
a proporção das ações a serem realizadas e também da qualificação dos profissionais
envolvidos.
Segundo Barrientos (2004), grande parte das obras de retrofit executadas são realizadas
por profissionais sem muita qualificação e respaldo técnico. Os resultados, em geral, são
intervenções mal sucedidas que aliam custos elevados a problemas em curto prazo.
Sendo assim, é cada vez mais importante criar uma metodologia eficiente que oriente os
processos de retrofit e os profissionais responsáveis, de modo a obter uma maior
otimização dos recursos disponíveis.
Em âmbito geral, espera-se que uma intervenção pelos processos de retrofit, deve
sempre ser realizada e supervisionada por arquitetos e engenheiros, cujas
responsabilidades são as de definir, junto ao proprietário, um programa de intervenção
viável, fazer todos os levantamentos que resultaram em um diagnóstico, elaborar o
projeto e seu detalhamento, além de elaborar o planejamento e orçamento da obra,
controlar custos, fechar contratos, coordenar desocupações (quando necessárias), enfim,
resolver todo e qualquer problema e imprevisto que possa aparecer durante as ações de
intervenção.
A falta de profissionais qualificados, conhecedores e com experiências nos processos de
retrofit, pode ocasionar graves problemas ao processo, que vai desde a própria
153
funcionalidade e qualidade esperada no final da intervenção, assim como em custos que
podem surgir em função de vários aspectos, como por exemplo, a falta de conhecimento
nos processos de reabilitação.
Vários são os fatores que podem influenciar nos custos dos processos de retrofit, dos
quais podemos citar, por exemplo: a natureza dos trabalhos a serem realizados, os
materiais gastos, os profissionais necessários, a presença de ocupantes e a dificuldade
de acesso.
Portanto, os custos com a reabilitação de uma edificação, envolvem vários aspectos, em
função do grau de intervenção e de outras variáveis como encargos com mão de obra,
materiais, equipamentos, custos indiretos, planejamento, gestão e indenizações.
Outro aspecto importante com relação aos custos de uma reabilitação, é a facilidade ou
não que o partido arquitetônico pode oferecer. Pois muitas vezes é muito mais difícil
realizar um retrofit do que uma obra que parte do zero, em função da necessidade de se
respeitar às limitações físicas da estrutura da edificação.
De forma geral, estudos portugueses realizados pelo LNEC – Laboratório Nacional de
Engenharia Civil
27
e IST – Instituto Superior Técnico
28
, recomendam que durante os
primeiros 20 anos de vida útil de um edifício ele sofra intervenções em duas etapas, são
elas:
a) Primeira Etapa - Nos primeiros três anos, a qual correspondem encargos da
ordem de 0,3 a 0,8% do valor total da construção;
b) Segunda Etapa - A intervenção deveria ocorrer entre o oitavo e décimo quinto
ano, a qual correspondem encargos que variam de 1 a 5 % do valor da obra.
27
O Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) é uma instituição de Ciência e Tecnologia do sector do
Estado Português, sob a tutela do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, que exerce a
sua ação nos múltiplos domínios da engenharia civil. O LNEC foi criado em 19 de Novembro de 1946 a partir
do Laboratório de Ensaio e Estudo de Materiais do Ministério das Obras Públicas e do Centro de Estudos de
Engenharia Civil, sediado no Instituto Superior Técnico. Esta dupla vertente, investigação e experimentação,
iria enformar decisivamente o futuro desenvolvimento do LNEC.
28
A origem do Instituto Superior Técnico – IST, remonta ao Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, criado
na segunda metade do século XIX, no qual se formavam os engenheiros industriais. O Instituto Superior
Técnico tem como missão contribuir para o desenvolvimento da sociedade, promovendo um ensino superior
de excelência e qualidade nas áreas de Engenharia, Ciência e Tecnologia, nas vertentes de graduação e
pós-graduação, e desenvolvendo as atividades de Investigação e Desenvolvimento essenciais para ministrar
um ensino ao nível dos mais elevados padrões internacionais. O IST está integrado na Universidade Técnica
de Lisboa (UTL), que integra, igualmente, a Faculdade de Medicina Veterinária (FMV), o Instituto Superior de
154
Apesar das estimativas com relação aos custos dos processos de retrofit, como se pode
perceber nos estudos do LNEC e IST em Portugal, país com grande desenvolvimento
técnico nas áreas de reabilitação predial, ainda não se percebe uma normatização
específica para as questões de reabilitação predial, assim como o de responsabilidades,
como percebido em outras áreas, que de forma geral pode dificultar os processos de
intervenção.
A falta de uma normatização específica faz com o setor de retrofit ou reabilitação predial,
tenha que respeitar normas e diretrizes elaboradas para edificações novas. Estas, na
maioria das vezes, conduzem a freqüentes impossibilidades, lamentáveis demolições e
gastos desnecessários.
Segundo Barrientos (2004), para os processos de retrofit ligados à automação da
edificação, o que se tem utilizado são as normas brasileiras NBR 14565 de 2000 e
algumas normatizações internacionais, como as americanas ISO/IEC 11801 e as
ANSI/EIA/TIA 568 e 569.
Desta forma, até pouco tempo os profissionais do mercado de reabilitação predial, para
os casos de cabeamento utilizavam-se, em geral, das normas internacionais
ANSI/TIA/EIA-568 e 569 (Comercial Building Telecommunications Cabling Standard) e
ISO/IEC 11801 (Information Technology – Generic Cabling for Customer Premises) para
executar os projetos de Sistemas de Cabeamento Estruturado. Porém com a publicação
pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, a norma NBR 14565 –
Procedimento básico para elaboração de projetos de cabeamento de telecomunicações
para rede interna estruturada, veio facilitar os procedimentos nesta área.
No entanto, pode-se perceber que as questões de normatização não são os únicos
problemas encontrados para o desenvolvimento dos processos de retrofit. As questões
de responsabilidades, também aparecem como um entrave, uma vez que o Código Civil
não aborda, de maneira clara, a questão das responsabilidades de alterações em
edificações já existentes.
Sabemos que, para as construções novas, a construtora é responsável, tanto civil quanto
criminalmente. Já, para obras de modificação, a responsabilidade tem sido atribuída aos
Agronomia (ISA), o Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), o Instituto Superior de Ciências Sociais
e Políticas (ISCSP), a Faculdade de Motricidade Humana (FMH) e a Faculdade de Arquitetura (FA).
155
proprietários. Evidentemente, em casos particulares, cabe ao Tribunal interpretar a
responsabilidade, da maneira mais adequada.
Desta forma, esta brecha na legislação tem sido utilizada, de maneira maquiavélica, por
muitas construtoras para se esquivarem de suas responsabilidades, atribuindo às
intervenções posteriores a causa de possíveis problemas nas construções.
Para exemplificarmos alguns dos problemas existentes nos aspectos técnicos dos
processos de reabilitação, citamos o arquiteto Roberto Candusso, que define o retrofit
como uma cirurgia plástica na edificação.
O arquiteto Roberto Candusso comentou sobre a obra de reabilitação que realizou no
Edifício Marambaia, juntamente com Rodrigo Fairbanks, sócio-diretor da Construtora
Plano e Plano.
A princípio a obra seria apenas para uma reforma de fachada, de uma edificação de
aproximadamente 28 anos. Porém, argumentou o arquiteto: “Bastava simplesmente
trocar ou recuperar o revestimento, composto de granito e mármore. No entanto, com
uma arquitetura comum de 30 anos atrás, o prédio poderia ser revestido de ouro que
continuaria com as mesmas características”, contou. “Sugeri então a instalação de dois
terraços, um no living e outro, menor, no dormitório principal, com possibilidade para
instalação de ar-condicionado”, complementou.
Dentre os entraves, o primeiro capítulo, conforme Candusso, foi obter autorização do
autor do projeto original para executar a reforma. Vencida esta etapa, por tratar-se de um
empreendimento residencial, também havia a necessidade de aprovação de todos os
condôminos. “Apresentei duas propostas, uma delas com faltando alguns terraços,
oferecendo a opção para aqueles que não quisessem construí-los. Conseguimos
aprovação unânime para a obra na fachada, mas com instalação da varanda de acordo
com o desejo de cada morador”, conta o arquiteto.
A falta de legislação específica sobre o assunto também se constituiu, num primeiro
momento, em impasse para o desenvolvimento do projeto. “A Prefeitura de São Paulo e
outros órgãos foram consultados, mas, até então, não haviam analisado nada nesse
sentido. De qualquer forma, o projeto dos terraços foi aprovado, e no menor tempo”,
completa o arquiteto.
156
O arquiteto Roberto Candusso – também morador do prédio à época da intervenção –
disse que, apesar dos entraves, o resultado superou as expectativas. “Durante a obra,
‘rodaram’ três síndicos e vários casamentos acabaram. Mas chegamos num final feliz”,
brincou. “A grande surpresa do projeto, que nem na melhor das hipóteses poderíamos
imaginar, foi a excelente valorização das unidades, que tiveram suas áreas ampliadas em
40 metros, com os dois terraços. Além disso, o prédio ganhou uma fachada moderna e
atual”, concluiu.
Concluímos que ao analisarmos os processos de intervenção em uma edificação,
buscando sua reabilitação, não devemos nos deter apenas aos aspectos técnicos da
mesma. Porém, temos que ter consciência do meio urbano e ambiental que a edificação,
está inserida. E neste aspecto é de fundamental importância avaliarmos as questões de
sustentabilidade e meio ambiente nos processos de retrofit.
4.3.3 PARÂMETROS PARA SUSTENTABILIDADE ECOLÓGICA NOS
PROCESSOS DE RETROFIT
A atual busca pela reabilitação e requalificação das edificações, através das técnicas e
dos processos do retrofit, devem ser realizadas de modo a encontrar uma sinergia com
os valores ecológicos existentes na sociedade atual. Logo parâmetros de
sustentabilidade ecológica, alinhados com os processos do retrofit devem contribuir para
minimizar o impacto ambiental do meio construído.
A importância reside no intento de se postergar o ciclo de vida das edificações,
maximizando sua utilização de forma a possibilitar a revitalização de áreas degradadas,
assim como preservar aspectos históricos citadinos relevantes, concomitantemente a
preservação e a recuperação do meio ambiente dos grandes centros urbanos.
Segundo Rosso (1980), o homem constrói para criar espaços onde determinadas
necessidades possam ser satisfeitas, certas funções cumpridas, e determinadas
atividades domésticas, sociais e econômicas realizadas, ao abrigo das ações do meio
ambiente.
A partir do momento que estas construções tornam-se obsoletas e não mais possam
satisfazer a estas necessidades de forma eficaz, são subutilizadas ou simplesmente
157
descartadas, ficando a mercê da deterioração do tempo e do vandalismo depredatório
que é inerente aos grandes centros urbanos.
O Brasil é um país essencialmente urbano, segundo dados recentes do IBGE - Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatístico (2003) mais de 80% de sua população vive nas
cidades e o modelo tradicional de urbanização entrou em colapso, visto o quadro urbano
encontrado nas principais cidades brasileiras.
A baixa qualidade de vida urbana, sua destruição e descaracterização do patrimônio
edificado e urbanístico das cidades, aliado a falta de sustentabilidade ecológica nos
processos decorrentes das ações urbanas implementadas, concorrem para uma
crescente agressão ambiental na relação entre os espaços construídos e naturais
existentes.
Portanto, a recuperação, manutenção e restauração de edifícios, tecnicamente
denominados de retrofit, objetiva possibilitar a readequação e a reinserção destes à
estrutura da cidade, contribuindo para a maximização e otimização do espaço construído,
assim como para a preservação dos valores arquitetônicos e paisagísticos das cidades.
Portanto, o retrofit busca a eficiência do edifício e sua sincronicidade com o tempo
presente, dentro das limitações físicas de sua antiga estrutura, com a vantagem da
redução do prazo de construção e a adequação geográfica do imóvel dentro do contexto
da cidade.
A todos estes fatores se faz necessário à conscientização dos usuários e dos gestores da
construção civil, que desenvolvem ou venham a desenvolver esta modalidade de
reabilitação. Pois, a prática dos processos retrofit, apresenta por si só, parâmetros de
sustentabilidade ecológica que se revela como uma veemente ferramenta de
sustentabilidade que deve ser apreciada e implementada principalmente nos grandes
centros urbanos do país.
Segundo Boff (2001), o grande estigma do tempo presente é a falta de cuidado.
Descuidou-se de tudo, do planeta, das cidades, dos bairros, do habitat humano, enfim,
perdeu-se os valores do reto agir. Logo, a preocupação com a sustentabilidade ecológica
nos procedimentos referentes ao retrofit vem em contraponto ao descuido instituído pelo
paradigma mecanicista imposto pela revolução industrial, onde se baseou o
158
desenvolvimento civilizatório no antropocentrismo centralizador, que acabou por
comprometer a própria vida sobre o planeta.
Pode parecer insignificante esta preocupação diante da grave problemática ambiental
que o planeta atravessa. Mas Braun (2001), descreve que, se 1% de 1% da população
mundial (mais ou menos seis milhões de pessoas) iniciasse um processo de
transformação ou mudança de hábitos socioculturais, haveria uma grande probabilidade
de ocorrer um desencadeamento geométrico, envolvendo por sintonia todas as outras
pessoas restantes, até chegar ao ápice do movimento.
Desta forma, a utilização de parâmetros de sustentabilidade ecológicos na recuperação,
manutenção e restauração de edifícios podem em muito contribuir para salvaguardar um
desenvolvimento urbano sustentável dentro de novos paradigmas ambientais.
Estes princípios que delineiam a consciência ecológica devem ser as diretrizes para a
mudança de paradigma que, ao espraiarem-se por todos os setores da sociedade,
servirão de premissas para a sustentabilidade do Planeta neste terceiro milênio que se
pronuncia.
O setor da construção civil quando propõe um retrofit arquitetônico deve compartilhar
desta mesma consciência, tendo como foco a visão sistêmica delineada por Capra
29
.
Logo, os profissionais envolvidos no processo, devem ter em mente que cada ato de
construção resulta em uma alteração do seu entorno, e que este fator pode ter
conseqüências que podem se desencadear em proporções geométricas, atingindo a
salubridade de determinadas áreas.
Para que se possa minimizar o impacto do meio construído sobre o meio natural, faz-se
necessário analisar cada fase de seu ciclo de vida, no intento de detectar e buscar
soluções para os impactos ambientais de cada fase, a este processo dá-se o nome de
Análise do Ciclo de Vida (ACV).
Esta análise apresenta-se como um instrumento que permite uma visão mais completa
da problemática para os gestores da construção civil, possibilitando o conhecimento dos
29
Capra (1996) apud Cianciardi (2004), referindo-se aos problemas ambientais, o autor argumenta que
existem soluções para os principais problemas da contemporaneidade, mas que para solucioná-los se faz
necessário uma mudança radical na percepção, no pensamento e nos valores que o ser humano atribui às
coisas, acreditando que a humanidade está no limiar de mudança tão radical quanto foi o da revolução
copernicana.
159
subprodutos gerados a cada fase da construção e os seus impactos sobre o meio
ambiente, de forma a poder reduzi-los ou até mesmo eliminá-los.
Desta forma, através da ACV, pode-se evitar ou minimizar os impactos indesejáveis,
podendo-se conectar o meio edificado aos ecossistemas do planeta de forma menos
impactante, no intuito de se buscar uma relação mutuamente benéfica para ambas às
partes.
Portanto, cabe aos gestores da construção civil, em particular aos que irão embrenhar-se
na recuperação, manutenção e restauração das edificações, considerar que os aspectos
ambientais de uma construção, assim como a salubridade deste, devem ser tão
relevantes quanto os aspectos técnicos, econômicos e de preservação do patrimônio
arquitetônico.
Assim, a cidade como um todo acabará por ter que absorver e gerenciar o impacto desta
readequação, seja na produção do entulho, na poluição atmosférica por partículas em
suspensão, ou ainda, por outros fatores inerentes às atividades da construção civil.
A evidência deste quadro torna-se melhor delineada, se imaginarmos a grande
quantidade de imóveis somente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, aptas aos
processos de retrofit. Pois a partir do montante destas edificações, tem-se a noção da
importância dos gestores da construção civil de adotarem posturas técnicas que
contribuam para minimizar a interface entre o meio construído e o meio natural.
Desta forma, calcado nas proposições de Adam (2001) e de Araújo (2004), pode-se
delinear as seguintes posturas técnicas arquitetônicas na recuperação, manutenção e
restauração de edifícios dos grandes centros urbanos como em demais localidades onde
se faça necessária a readequação de suas edificações:
a) O projetista deve delinear suas proposições projetuais objetivando a otimização
do uso do edifício, flexibilidade e adaptabilidade arquitetônica dos espaços,
minimizando a utilização de recursos naturais de forma a racionalizar materiais e
energia na execução do processo do retrofit;
b) Na elaboração do projeto de readequação da edificação, onde se deve antever os
impactos ambientais resultantes da interface entre o meio construído e o meio
natural, possibilitando desta maneira minimizar as resultantes desta interação.
160
Logo, faz-se necessário planejar a adequada destinação dos materiais resultantes
das demolições, sendo sempre que possível utilizá-los na própria obra; na forma
de reaproveitamento ou através da reciclagem;
c) Utilizar sempre que possível os princípios bioclimáticos integrados aos
condicionadores artificiais (aos quais devem ser inserir conceitos de auto-
sustentabilidade energética) para o controle térmico dos espaços internos da
edificação. Neste ponto, o partido arquitetônico deve procurar possibilitar a
integração dos sistemas naturais aos sistemas artificiais (mesclando iluminação,
ventilação e aeração natural a sistemas artificiais de tecnologia limpa). Assim os
recursos técnicos e energéticos devem adequar-se à função do edifício;
d) Cabe ao produtor do entulho e outros resíduos resultantes da obra a destinação
correta destes, sendo que a sua participação passa a ser decisiva na
sustentabilidade das atividades de recuperação, manutenção e restauração das
edificações. Desta forma faz-se necessária à separação seletiva do entulho para
que este possa ter uma destinação ambientalmente correta. Desta forma, três são
as destinações passíveis em uma obra, são elas: a sua utilização na forma de
reuso ou reciclagem na própria obra; no envio para reciclagem ou reuso (usinas
de reciclagem, depósitos de materiais de demolição, cemitério de azulejos); ou em
última hipótese destiná-lo para aterros sanitários legalizados;
e) A utilização dos sistemas naturais de controle térmico (insolação, ventilação) deve
ser explorada ao máximo e os mecanismos artificiais devem ser eficientes;
f) Deve-se incorporar ao edifício, no processo de retrofit arquitetônico, materiais
ambientalmente corretos que possam, na medida do possível, atender as
recomendações de ser renovável e/ou não esgotar os recursos naturais, não
agredir o meio ambiente e contribuir para a sua melhoria;
g) E, por último, deve agregar valores de sustentabilidade ecológicos à tecnologia
voltada para a construção civil.
Para Adam (2001), o que torna uma tecnologia sustentável é a qualificação que esta
possui de gerar tecnologia limpa, ecologicamente fiel e não poluente, utilizadas em
pequena ou grande escala e que possua a possibilidade de ser absorvida pela sociedade
como um todo.
161
Portanto, as preocupações dos processos de retrofit, aliado a “ecotecnologia” devem
possuir alguns princípios básicos, são eles:
- Aproveitar recursos naturais disponíveis, normalmente não utilizados ou
subutilizados na habitação, como por exemplo, o sistema de captação e
aproveitamento de águas pluviais e o solatub, que é um duto para
iluminação natural de áreas escuras, existente na Europa e Austrália;
- Tratar os efluentes (água e esgoto) domésticos e proporcionar seu reuso
na habitação sustentável, contribuindo para economia dos recursos
hídricos, como por exemplo, a mini-estação de tratamento (ETE biológica)
e o gerador de ozônio;
- Economizar energia elétrica na habitação sustentável ou gerá-la no próprio
edifício, pelo uso de fontes renováveis, como eólicas, solar, biomassa,
marítima, geotérmica, outras. Como exemplo, podemos citar, as placas
fotovoltaicas, os aquecedores solares e a turbina eólica.
Desta forma, os parâmetros de sustentabilidade ecológica para a construção civil não
almejam apenas resguardar os direitos biocêntricos do ecossistema como um todo, mas
buscam objetivamente a construção de um edifício saudável, que propicie proteção,
conforto e salubridade ao ser humano.
Atualmente, a salubridade dos edifícios dos grandes centros de todo o mundo, está
comprometida pela poluição atmosférica das águas e do solo, assim como pela sonora,
que ocorrem dentro dos próprios ambientes interiores, a conjugação destes problemas
recebe o nome de Síndrome do Edifício Enfermo (SEE), a qual pode ser prevenida com
procedimentos na etapa de projeto.
Desta forma, os processos de retrofit devem avaliar sistematicamente o desempenho
ecológico do edifício de forma a possibilitar a sistematização de informações que
subsidiem um maior conhecimento para as alterações que se fizerem necessárias para
uma correta interface entre o meio construído e o meio natural.
Pode-se concluir que por si só os processos de retrofit, quais sejam a recuperação, a
manutenção e a restauração de edifícios, são ferramentas de sustentabilidade ecológicas
162
do sítio arquitetônico por propiciar a maximização do ciclo de vida das edificações
existentes, de forma a adequá-las às necessidades dos novos usuários, tornando-as
funcionais para o tempo presente.
Assim, as edificações são reinseridas à estrutura da cidade de forma a contribuir para a
vitalização de áreas degradadas dos grandes centros urbanos, para a preservação do
patrimônio paisagístico e histórico citadino, além de contribuir para a redução do
consumo de novos recursos naturais. Logo, a inserção de parâmetros de sustentabilidade
ecológicos no retrofit arquitetônico vem a reforçar os esforços preservacionistas
ambientais que se fazem presente na interface do meio construído como o meio natural.
163
4.3 CONDICIONANTES PARA APLICAÇÃO DOS PROCESSOS DO RETROFIT
O mercado disponível as técnicas e aos processos de retrofit, é muito amplo e abrange
uma área multidisciplinar de conhecimento e informações técnicas. Cabendo aos
profissionais envolvidos a constante busca por informações, referências internacionais e
atualização profissional.
Desta forma ao se falar em condicionantes para aplicação dos processos de retrofit,
deve-se ter em mente uma gama de fatores, que vai desde a obsolescência da edificação
e mudança de seu perfil, em função do usuário. Como também, das questões técnicas
relacionadas às patologias, vida útil e degradação dos materiais e componentes da
edificação.
Assim, pode-se observar nos próximos tópicos desta dissertação, aspectos referentes ao
assunto acima citado, como também aos recursos construtivos e processos mais usuais
nas questões relacionadas à reabilitação das edificações.
Vale ressaltar que este trabalho não tem a finalidade estabelecer métodos e
procedimentos para a utilização das técnicas de retrofit, mas sim de apresentá-las e
discuti-las, cabendo seu desenvolvimento e aprofundamento a trabalhos futuros.
4.3.1 MUDANÇA DO PERFIL DE USO DA EDIFICAÇÃO
A mudança do perfil do uso de uma edificação está intimamente ligada a mudança do
perfil por parte dos usuários. Esta mudança pode ser em função de um novo usuário o
que caracteriza a mudança do layout ou até mesmo do partido arquitetônico. Já no caso
de mudança pelo mesmo usuário, esta pode ser feita em função de mudanças e avanços
tecnológicos.
A constante evolução tecnológica vivenciada nos dias atual pode num primeiro momento
causar impacto. Mas percebe-se que esta rapidamente se insere ao cotidiano, tornando-
se um condicionante de conforto e praticidade para os seus usuários. Portanto a busca
por novos produtos e serviços é uma das principais preocupações da sociedade
capitalista em que vivemos e condiciona uma constante mudança nas necessidades dos
usuários, que muitas vezes são refletidas nas edificações.
164
Segundo Neves (2002), em 1914 Antonio San't Elia
30
em seu manifesto de "Arquitetura
Futurista" pedia que os arquitetos utilizassem materiais flexíveis, em detrimento dos
materiais pesados, permitindo assim, maior mobilidade e dinamismo, uma vez que
acreditava que a arquitetura deveria ser efêmera e não permanente.
A necessidade de flexibilidade das edificações já era anunciada em 1950 pelo arquiteto
Siegfred Giedion
31
, ao falar da necessidade do arquiteto de prever modificações nas
edificações, a fim de prestar os serviços que pudessem responder às necessidades dos
usuários a cada momento e de forma rápida e eficiente.
Nos anos 60, um grupo de arquitetos ingleses denominados “Archigram” previa que a
excessiva duração dos edifícios não se acomodava às mudanças tecnológicas e
culturais, desenvolvidas em ciclos cada vez mais curtos. Enquanto os ingleses previam,
os arquitetos "metabolistas" japoneses propunham isolar os componentes duráveis dos
edifícios, suscetíveis a sofrerem mudanças.
Desta forma, flexibilidade torna-se a palavra chave, para que se possa inserir as novas
tecnologias e equipamentos, que promovem as mudanças no ambiente das edificações,
caracterizando sua reabilitação.
Segundo Barrientos (2004), as necessidades de uso da edificação, desde a revolução
industrial até os dias atuais foram evoluindo com o passar das décadas, pois até então, o
Homem vivia basicamente da manufatura. Com o advento da industrialização, este se
interiorizou e passou a usar com mais freqüência os espaços interiores para execução de
novas tarefas. Dessa forma, a evolução tecnológica agregou às edificações necessidades
de uso que, até aquele momento não existiam.
Assim, as transformações pelas quais o mundo vem passando, somadas as
necessidades humanas de produção, competitividade e crescente necessidade de venda,
sejam de produtos ou de serviço, geraram a necessidade de espaços mais dinâmicos,
flexíveis e adaptáveis a cada nova necessidade.
30
Arquiteto italiano (1888-1916) que obteve projeção por sua visão futurista, criador da Cittá nuova, série de
desenhos realizados dentro do espírito "da estética da dinâmica", rompendo com todos os princípios de
organização urbana que consideravam o tráfego de veículos um fator de mutilação e depreciação da cidade,
constitui uma vigorosa prefiguração da cidade contemporânea.
31
Arquiteto (1888-1968) autor de Espaço,Tempo e Arquitetura, em que aborda os problemas urbanos.
165
Desta forma, percebe-se que a constante evolução tecnológica mudou por completo a
relação do homem com o espaço construído. Atualmente, o crescente conceito de
sustentabilidade, faz com que se busquem respostas rápidas e positivas da edificação,
no que diz respeito aos aspectos da eficiência energética, conforto do ambiente
construído e a eficiência dos materiais utilizados.
Assim, as propostas de readaptação das edificações, ou seja, a implementação dos
processos de retrofit, deve ter como foco principal o usuário. Logo, cabe aos arquitetos e
aos profissionais envolvidos nos processos a responsabilidade de facilitar e intermediar o
diálogo entre Homem e Espaço construído.
Portanto, a mudança do perfil do uso da edificação faz com que os profissionais
envolvidos nos processos de retrofit, busquem atender as necessidades dos clientes
internos e externos na busca por um produto final com qualidade superior ao anterior.
Assim, os profissionais envolvidos estão cada vez mais preocupados em captar as
opiniões e expectativa dos consumidores e transferi-las ao projeto, produção e
manutenção pós-ocupação, proporcionando uma maior satisfação do cliente.
4.3.2 PATOLOGIAS, VIDA ÚTIL E DEGRADAÇÃO DOS MATERIAIS E DA
CONSTRUÇÃO
Patologia é um ramo da Arquitetura e Engenharia que estuda as anomalias das
edificações, mediante seus sintomas visando à identificação da origem, causas e a
caracterização do nível de deterioração. O termo Patologia vem de origem Grega, sendo
o resultado da união de duas palavras: “pathos” que significa doença e “logos” que
significa estudos.
As patologias são consideradas as grandes motivadoras das intervenções nas
edificações. Para alguns estudiosos dos assuntos de reabilitação predial, consideram
obras de reforma ou correção de anomalias como uma das vertentes mais usadas para
os processos de retrofit.
Para Thomaz (2001), alguns aspectos podem ser colocados como os principais
problemas relativos às patologias nas edificações, são eles:
a) Problemas relativos às fundações e estruturas;
166
b) Problemas relativos às vedações, caixilhos e revestimentos;
c) Problemas relativos aos pisos e impermeabilizações;
d) E, problemas relativos às instalações prediais elétricas e hidráulicas.
É importante salientar que a decisão de intervir na edificação por motivos relativos as
patologias acaba por motivar aos clientes a executarem outras intervenções que já se
encontravam latentes, faltando apenas um estímulo inicial. Seria o mesmo que dizer: "já
que vamos fazer obras, então por que não, aproveitar e realizar as outras alterações que
há muito vêm sendo pensadas?". Logo, é assim que começa o processo, como em uma
cadeia em que um fator propicia o outro e, assim, sucessivamente.
Segundo Barrientos (2004), entre os vários agentes que podem causar a degradação de
uma edificação pode-se ressaltar o próprio usuário através do uso, além das causas
imprevistas, tais como: fenômenos naturais e guerras, e a ação do próprio meio ambiente
em que a edificação está inserida.
Em estudos de casos realizados por Motteau (1987), no qual foram avaliados de que
forma as patologias se enquadram em função de suas origens. Desta forma a figura 4.4
mostra o percentual das origens das patologias nas construções.
Figura 4.4: Origem das patologias nas edificações.
Fonte:
Motteau (1987) in Barrientos (2004).
Mais uma vez percebe-se que a etapa de projeto caracteriza-se como o maior
responsável pelos problemas patológicos na edificação, seguido pela etapa de execução,
na qual tem grande relação com o projeto, como visto no capítulo 02 desta dissertação.
167
Assim deve-se concentrar todos os esforços nestas etapas a fim de se buscar uma
melhor qualidade do produto final.
O gráfico da figura 4.4, também nos mostra que os materiais apresentam-se como um
grande fator nas patologias das edificações. Estas podem ser caracterizadas pela vida
útil e/ou degradação em função de seu uso, por parte dos usuários.
Assim a vida útil de uma edificação está também relacionada aos aspectos físicos, no
caso a durabilidade dos materiais utilizados na edificação. Outros são os aspectos
relacionados a vida útil, como por exemplo os fatores funcionais e econômicos, a estes
podemos citar a capacidade de adaptabilidade e a rentabilidade da edificação
respectivamente.
Esses fatores não trabalham isoladamente, fazem parte de um ciclo em que decisões
tomadas, visando um determinado aspecto interferem nos demais. Outro aspecto
relevante é o fato de, tanto a durabilidade quanto à rentabilidade, possuírem métodos
para determinar o fim da vida útil, ao passo que, a funcionalidade não pode ser definida
por valores quantificáveis.
Evoluções tecnológicas e necessidades dos consumidores (usuários), fazem com que o
comércio busque novos materiais. No entanto, o resultado desta busca não deveria
comprometer a qualidade e a durabilidade das construções. No entanto, na prática, o que
se percebe, infelizmente, é que a utilização de certos materiais vem prejudicando a vida
útil das edificações.
Portanto, é cada vez mais importante avaliar a qualidade e a eficiência de cada material a
ser utilizado na edificação, pois falhas na constituição dos mesmos pode vir a
comprometê-la, o que se torna ainda mais grave, se estes materiais desempenharem
funções estruturais.
Desta forma, podemos perceber que os materiais além de satisfazerem as exigências
dos clientes (usuários finais), ainda devem responder a uma série de outras exigências,
sejam elas de caráter mecânico, propriedades térmicas, aparência, propriedades físicas,
químicas entre outras.
Assim, a vida útil de um material, na qual podemos chamar de sua capacidade em
cumprir com todas as exigências estabelecidas para um dado propósito, em condições
168
operacionais normais, pode ser limitada pela dificuldade de se prever as ações
ambientais sobre as quais os mesmos estarão efetivamente submetidos. Logo, para que
um determinado material seja considerado adequado, ele precisa que todas as suas
características funcionais se mantenham dentro dos níveis aceitáveis em um determinado
momento, o que se pode chamar de vida útil do material.
Segundo Barrientos (2004), o processo de análise das características dos materiais pode
ser ilustrado por uma curva, onde F(t) representa o desempenho de uma característica ao
longo do tempo. Esta curva pode ser representada pela figura 4.5, a seguir:
Figura 4.5: Evolução das propriedades de um material.
Fonte:
Problems in Service Life Prediction of Building and construction material (1985) in
Barrientos (2004).
Assim, as características de aparência poderiam ser representadas, por exemplo, pela
curva F1 e as características mecânicas pela curva F2. A interseção das curvas com a
linha reta paralela ao eixo X descreve o limiar Fs além do qual o desempenho é
considerado inadequado. Essa interseção define o limite de vida útil daquele material,
segundo uma dada característica.
Logo, com todo o exposto pode-se concluir que o conhecimento estimado da vida útil dos
materiais, assim como sua correta especificação e utilização, são fundamentais no que
se refere as condicionantes para sua aplicação nos processos de retrofit. Outro aspecto
importante, que deve ser levado em conta é a degradação destes materiais pelo seu uso.
Neste ponto devem ser consideradas questões com a má utilização e manutenção dos
mesmos.
169
Desta forma o processo de degradação pelo uso deve ser cuidadosamente avaliado, uma
vez que todas as edificações, sofrem algum tipo de degradação de seus materiais e
componentes ao longo dos anos de sua utilização.
Portanto, são adaptáveis ou flexíveis aquelas edificações com grande longevidade no
tempo e com características arquitetônicas intrínsecas que lhes possibilitam sobreviver
fisicamente e aceitar diferentes usos, sem se tornarem obsoletas.
Anterior aos processos de retrofit, a manutenção é um dos mecanismos mais utilizados
com o objetivo de se aumentar o tempo de vida das edificações, uma vez que impede o
envelhecimento precoce da mesma.
Logo, a manutenção consiste em uma série de atividades com o objetivo de garantir
níveis mínimos de qualidade, através de melhorias e modernizações. Infelizmente, a ação
de manutenção, em geral, possui aspecto corretivo de caráter emergencial, que se
caracteriza um erro, uma vez, que dessa maneira, não há a erradicação do problema e
sim, sua postergação para um futuro não muito distante.
Segundo Brito et al (2001), dentre as diversas modalidades de manutenção existentes,
pode-se ressaltar três como as mais importantes, são elas:
a) Manutenção preventiva: consiste em empreender ações de reabilitação com base
em planejamentos de periodicidade fixas;
b) Manutenção predicativa ou preditiva: consiste em inspecionar regularmente a
edificação, planejando as ações necessárias a serem implantadas;
c) Manutenção de melhoramento: consiste em grupo de atividades com o objetivo de
melhorar as características iniciais de alguns elementos da edificação.
Desta forma, problemas como patologias, vida útil e degradação dos materiais e
equipamentos de uma edificação, podem e devem ser evitados nas fases iniciais, quais
sejam: projeto e execução. Porém, tais preocupações e recomendações devem ser
levadas em conta com freqüência igual ou maior, quando da execução de procedimentos
para reabilitação das edificações, uma vez que estes oferecem características ímpares
aquelas encontradas na construção de uma nova edificação.
170
4.3.3 RECURSOS CONSTRUTIVOS E PROCESSOS MAIS USUAIS
A busca por edificações que satisfaçam as novas exigências do mercado, em um
ambiente de inovações tecnológicas cada vez mais velozes, faz com que os recursos
construtivos nos procedimentos do retrofit sejam cada vez mais estudados e analisados
pelos profissionais envolvidos em tais processos.
Para a viabilização destes aspectos, é de fundamental importância a flexibilidade da
edificação, ou seja, do partido arquitetônico. Com isso, pode-se perceber que algumas
soluções construtivas têm sido empregadas não só para as novas construções, mas
também e principalmente, nos processos de reabilitações das edificações existentes.
Desta forma, certos recursos construtivos mostram-se cada dia mais presente nos
escritórios de projetos e nas construtoras do setor da construção civil brasileira.
Assim, a seguir serão apresentados alguns dos recursos construtivos mais utilizados no
mercado, que facilitam os profissionais envolvidos nos procedimentos de reabilitação das
edificações.
Fachadas Ventiladas
Esta técnica surgiu na Europa na década de 80, com o objetivo de atender ao mercado
de retrofit, como solução aos problemas de fachadas das antigas edificações.
Segundo Barrientos (2004), o sistema caracteriza-se por um espaço intersticial entre a
camada de revestimento e a parede que é permanentemente ventilado no sentido vertical
por convecção. Assim, a constante circulação de ar reduz a possibilidade de formação de
pontos de umidade na estrutura, além de proporcionar melhor isotermia da edificação em
diferentes épocas do ano.
Desta forma, a câmara, entre a estrutura e o paramento externo, varia geralmente de 5 a
15 cm. Existem aberturas, tanto no topo quanto na base da fachada. Há a transferência
de calor por convecção, desenvolvendo-se um fluxo contínuo de substituição do ar
quente por ar frio, aspirado pelas aberturas inferiores.
171
Esse sistema exige o perfeito nivelamento das paredes de vedação. Diferenças de prumo
superiores a cinco centímetros inviabilizam o processo, não só pela descontinuidade de
nivelamento das placas que gera uma estética indesejável, mas, também, porque
comprometem a estanqueidade e a circulação do ar.
Shaft
São passagens onde as tubulações de uma edificação devem passar. O objetivo principal
é que estas sejam ventiladas e de fácil acesso para a manutenção.
Nos processos de retrofit das edificações, o shaft tem sido empregado como uma grande
solução, uma vez que, na maioria dos casos, as tubulações existentes são de pequeno
diâmetro e não comportam as novas necessidades seja com relação à parte elétrica e/ou
hidráulica.
Portanto, as novas tubulações requeridas, muitas vezes não encontram espaço físico
para se instalar dentro da edificação, isto sem falar da “quebradeira” necessária. Logo,
adota-se como solução o shaft, seja ele em fachadas ou nas laterais da edificação,
necessitando de tratamento arquitetônico que o suavize sua aplicação para que não seja
perceptível a adaptação necessária.
Gesso Acartonado ou Drywall
O drywall é um sistema construtivo a seco de alta tecnologia que utiliza chapas de gesso
acartonado fixadas sobre estruturas metálicas, que compõe as paredes internas das
edificações.
Segundo Barrientos (2004), esta técnica surgiu por volta de 1895 nos Estados Unidos,
criado por Augustine Sackett, juntando a resistência à tração, que é proporcionada pelo
cartão e a resistência à compressão, proporcionada pelo gesso. Chegou ao Brasil junto
com a abertura econômica.
O sistema é bem simples, composto por três camadas: cartão-gesso-cartão. As placas de
gesso apresentam espessura bruta de 7,50 a 15,50 mm, com o revestimento em ambos
os lados por múltiplas camadas de papel e as espessuras finais resultantes são de 10 a
18 mm.
172
Segundo Ciocchi (2003), as placas possuem bordas rebaixadas para execução das
juntas, que se diferem pelo tipo de utilização a qual se destinam: as normais são para
paredes sem exigência especifica, as resistentes à umidade possuem as bordas tratadas
com produtos hidrofugantes, como o silicone e as resistentes ao fogo possuem aditivos
para retardar a liberação de água da chapa, evitando o colapso da peça.
Desta forma, o sistema é constituído basicamente de uma estrutura leve em perfis de aço
galvanizado formada por guias e montantes, sobre os quais são fixadas placas de gesso
acartonado, em uma ou mais camadas, gerando uma superfície apta a receber
acabamentos finais, como: pintura, papel de parede, cerâmica, etc.
Vale ressaltar que as áreas molhadas recebem chapas especiais de drywall, apropriadas
para áreas úmidas. Dentro do box estas chapas são impermeabilizadas antes de receber
o revestimento cerâmico, garantindo um perfeito isolamento em todas as áreas expostas
à umidade.
Piso Elevado
Os pisos elevados surgiram na década de 70, sendo originalmente desenvolvidos para a
interligação dos equipamentos e dar vazão ao ar condicionado insuflado pelo piso em
centros de processamento de dados (CPDs). Com o tempo sua utilização foi ficando cada
vez mais comum por possibilitar a implantação de instalações não previstas no projeto
original e hoje é peça imprescindível no setor corporativo, tanto para agilizar as
mudanças de layout quanto para permitir a flexibilidade no acesso ao cabeamento, entre
outras soluções de caráter arquitetônico e funcional.
O ideal é que a opção por este sistema seja na fase de concepção arquitetônica para
poder compatibilizar as saídas de elevadoras escadas e altura de janelas com o nível
acabado do piso. Mas o que se vê é um maior emprego desse sistema em edificações
concebido pelos sistemas convencionais, principalmente nos ambientes comerciais.
A maior vantagem é que pode comportar o cabeamento das linhas de comunicação, dos
computadores, ar condicionado e até mesmo das tubulações de hidráulicas, facilitando o
acesso às instalações e a rápidas mudanças de layout e manutenção.
Trata-se, portanto, de uma solução muito interessante no caso das reabilitações prediais,
uma vez que possibilita a passagem de tubulações atendendo a nova proposta
173
arquitetônica, que não existiam no projeto original, de maneira fácil e rápida, permitindo
também uma manutenção constante.
Cabeamento Estruturado
O cabeamento estruturado, também conhecido como pré-cablagem ou cable systems é
utilizado para interligar sinais elétricos de baixa intensidade, tais como: transmissão de
voz (telefonia), imagens (vídeo conferência), dados (comunicação entre computadores) e
gestão de empreendimentos (sistemas de automação da edificação).
Trata-se de um sistema de "arquitetura aberta", composto por um conjunto de conectores
e cabos, reunidos de forma modular e baseado na padronização das interfaces e meios
de transmissão, de modo a tornar o cabeamento independente da aplicação e do layout.
A maior vantagem do cabeamento estruturado é facilitar as modificações do layout dos
postos de trabalho, dando total flexibilidade à construção. Porém, o sistema possui a
mesma desvantagem de qualquer sistema novo, o elevado custo de implantação.
No entanto, estes não devem ser avaliados somente pelos investimentos iniciais, mas
também por outros fatores importantes durante a vida útil da infra-estrutura de
cabeamento e da manutenção do sistema na edificação.
Forros
Forros podem ser definidos como barreiras entre a estrutura e o ambiente interno,
visando proporcionar funções variadas, como: conforto térmico, absorção e isolamento
acústico, abrigo de instalações prediais e acabamento estético entre outras finalidades.
A escolha do forro mais adequado é uma atividade que envolve uma comparação das
exigências de projeto com as propriedades dos materiais disponíveis no mercado. Para
os forros instalados em ambiente externo é importante observar também a agressividade
do meio e ação de intempéries.
Geralmente para o segmento residencial são utilizados fechamentos em placas de gesso
60x60 cm, ou ainda mais recentemente tem se usada às placas de gesso acartonado.
174
O segmento comercial e industrial dá preferência aos forros modulares que atuam como
facilitadores, uma vez que permite acesso a manutenção de cabos e tubulações, de
maneira rápida e limpa. Na área comercial mais do que estética, a contribuição dos forros
é funcional, sobre eles passam milhares de cabos e tubulações que são responsáveis
pelas funções vitais das edificações.
Nos processos de retrofit o forro desempenha importante papel, auxiliando o acabamento
das instalações. Nas edificações com pé direito razoável, e que ainda não disponham
dessa tecnologia pode ser adotado para resolver o problema das novas tubulações que
não podem ficar expostas. Já nas edificações que já possuem o sistema, muitas vezes, a
troca por um outro tipo de forro mais adequado à utilização já se configura em um
processo de retrofit.
Sistema PEX
O sistema PEX é um sistema hidráulico flexível formado por tubos de polietileno
reticulado, compatível tanto com alvenarias tradicionais, ou com inovações construtivas,
do tipo drywall. Estes tubos são produzidos através de processos físico-químicos,
gerados pelo cruzamento da cadeia de carbono, formando a retícula característica do
tubo.
O conceito do Sistema PEX é o mesmo de uma instalação elétrica convencional, ou seja,
na elétrica temos o fio dentro do conduíte e na hidráulica temos o tubo PEX dentro do
tubo guia. O funcionamento do sistema é bem simples, uma vez, que o tubo reticulado é
colocado dentro de um conduíte ou bainha de PVC corrugado.
Segundo Barrientos (2004), os tubos são ligados a uma prumada por meio de uma
válvula esférica, dotada de um adaptador que se encaixa em um distribuidor de latão
denominado Mainfold que funciona como ponto central da distribuição dos ramais.
O Mainfold se localiza dentro de uma caixa metálica que pode ser embutida debaixo de
pias de banheiro ou cozinha e tem capacidade de interligar de 5 a 11 pontos. Desse
distribuidor partem os ramais que atenderão pontos diferentes. Esses ramais se
caracterizam por uma grande redução do número de conexões, desta forma, só haverá
uma conexão no início e um cotovelo no final ligando o ponto. O mesmo tubo pode ser
utilizado para água quente ou fria, diferenciando-se pelo tubo corrugado externo que será
representado pela cor azul para água fria e vermelha para água quente.
175
O principal apelo do Sistema PEX é a rapidez e simplicidade das instalações. Além de
sua praticidade, pode-se citar alguns pontos favoráveis as utilizações deste sistema, são
eles:
a) Totalmente higiênico, não tóxico, livre de ferrugem e livre de crescimento de
microorganismos, evitando assim a contaminação da água;
b) Facilmente dobrável este sistema elimina uma série de conexões comparadas às
instalações tradicionais o que reduz a perda de carga do sistema;
c) A água corre por um sistema de tubos extremamente flexíveis e de elevada
resistência, ausente de conexões intermediárias, o que permite a inspeção, troca
e manutenção sem quebras de revestimentos e paredes;
d) Apresenta baixa condutibilidade térmica e menor nível de ruído alem de grande
durabilidade;
Com isso, o Sistema PEX apresenta-se como um importante instrumento para os
processos de reabilitação das edificações. Porém o sistema esbarra em graves
problemas para a sua utilização, quais sejam a falta de conhecimento do sistema, a
preferência por sistemas tradicionais, já dominados pelo mercado e o custo inicial alto,
inerente a qualquer sistema novo.
Desta forma pode-se observar que todos estes recursos construtivos podem e vem
contribuindo e muito para os processos de reabilitação das edificações, no setor da
construção civil nacional e internacional.
Logo em função dos recursos construtivos apresentados e dos estudos realizados por
Barrientos (2004), serão apresentados a seguir alguns dos processos mais utilizados em
retrofit predial no mercado nacional.
176
A diversificação e evolução das atividades desenvolvidas pelos usuários têm aumentado
a complexidade e a interação entre os Sistemas Prediais
32
. Assim três variáveis passam
a reger a otimização dos sistemas, são eles: desempenho, custos e prazos.
Assim, os sistemas prediais passam a se configurar como sistemas físicos e
independentes dos edifícios que interagem para obter a otimização do aproveitamento
dos recursos e proporcionar a satisfação das necessidades dos usuários.
A evolução tecnológica dos sistemas prediais vai gradativamente se incorporando a
prática profissional, mas, para isso, é necessária uma divulgação competente em que são
apresentadas as vantagens e desvantagens de todo o processo, permitindo ao
profissional eleger as técnicas que acreditar serem mais apropriadas para cada caso.
Não caindo assim no erro da falta de uso pelo desconhecimento das técnicas e
processos.
Portanto, a universidade apresenta papel fundamental, na pesquisa, desenvolvimento e
divulgação das novas tecnologias, recursos e processos para o mercado da construção
civil.
Desta forma, de acordo com os trabalhos realizados por Barrientos (2004), serão
apresentados e comentados a seguir alguns dos processos mais utilizados no setor de
reabilitação das edificações.
Retrofit de Fachada
As fachadas sofrem constantes modificações ao longo do tempo da vida útil de uma
edificação, devido a inúmeros fatores. Porém, é importante ressaltar que uma intervenção
na fachada de uma edificação pode agregar valor as suas unidades, mesmo que as
mesmas não sejam reabilitadas.
Um exemplo claro de valorização de unidades, se encontra no processo de reabilitação
de fachadas em edificações comerciais.
32
Para o professor da EPUSP e diretor da Tesis-Tecnologia de sistemas em Engenharia Orestes M.
Gonçalves, a denominação usual de instalações prediais é inadequada, em função das novas tecnologias. A
designação correta seria, Sistemas Prediais.
177
Portanto, além das questões estéticas, outros fatores devem ser avaliados, tais como
conforto e características climáticas. Estes devem ter grande peso no processo de
decisão da reabilitação da fachada, uma vez que pode proporcionar maior eficiência à
edificação.
Os maiores equívocos de projeto ocorrem na especificação das fachadas. As grandes
fachadas envidraçadas, propícias para climas temperados foram importadas e utilizadas
indiscriminadamente, sem que tivessem seu comportamento térmico avaliado. A
característica principal desse sistema é proporcionar um maior aquecimento do ambiente,
o que torna sua utilização em larga escala no Brasil, um contra-senso.
Nos casos brasileiros, uma solução bastante eficaz para minimizar os efeitos da radiação
solar sobre as fachadas é a implantação de brises ou protetores solares exteriores.
Segundo Romero apud Sayegh (2001), o sistema reduz em até 30% a carga térmica
incidente nos vidros, isto para um posicionamento correto dos protetores.
Desta forma, com todo o exposto pode-se observar que tanto nos aspectos de recursos,
quanto nos processos mais utilizados, o mercado do retrofit apresenta-se como um
grande setor para investimentos tecnológicos, científicos e financeiros. Uma vez que
cresce a cada dia o número de imóveis carentes de reabilitação e atualizações, sejam
elas físicas e/ou tecnológicas, por motivos de segurança, atendimento a novas normas ou
ainda para satisfazer aos desejos de seus usuários.
178
CAPÍTULO V
CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 APRESENTAÇÃO
Neste capítulo são apresentadas as principais considerações em relação aos objetivos
propostos e como estes foram desenvolvidos ao longo desta dissertação.
Em seguida, são apresentadas as considerações em relação ao “Sistema de Gestão
Integrada” como tendência para o setor da Construção Civil, as limitações deste trabalho,
e são sugeridos assuntos para trabalhos futuros em relação aos processos de
reabilitação e adaptação das edificações, segundo a ótica do Retrofit.
5.2 QUANTO AO ENFOQUE GERAL DO TRABALHO
O objetivo deste trabalho consiste em identificar visões, métodos e ferramentas propondo
uma metodologia para a logística de processos da Construção Civil, com o sentido de se
obter uma maior racionalização da construção, propondo uma atualização das
edificações, para os novos conceitos da Qualidade e sobre a ótica do Retrofit.
A identificação das visões métodos e ferramentas propondo uma maior racionalização
para os processos da construção civil se desenvolveram ao longo do capítulo 02 desta
dissertação.
Com base em uma revisão bibliográfica que parte dos desafios do mercado para a
indústria da construção civil, foram tratados nesta dissertação, assuntos relativos ao
ambiente do setor, assim como das tendências e da competitividade.
Em função do exposto, ficou clara a necessidade de aumentar a competitividade,
conquistar e manter um espaço no mercado atual. Para tanto, as empresas devem
procurar identificar e atender às necessidades do seu mercado alvo, oferecendo um
produto, ou serviço, com a qualidade desejada por este mercado, dentro do seu poder de
179
compra, e obtendo a qualidade do empreendimento para o empreendedor e
conseqüentemente a inserção de mercado pretendida pela empresa.
O capítulo 02, ainda tratou da conceituação e caracterização das ferramentas e
processos que buscam esta racionalização para o setor. Outro aspecto importante
tratado neste capítulo foi mostrar a importância destes processos, através da busca por
uma produção industrial, da coordenação modular e da normalização técnica referentes
aos projetos e execução das edificações na construção civil.
A partir do exposto, ficou demonstrado que independente do momento pela qual se
encontra o setor da construção civil, a busca pela implantação de Sistemas Integrados de
Gestão no setor, vem a ser não só uma ferramenta útil na otimização dos recursos e na
gestão de qualidade dos processos, como também uma necessidade presente.
Portanto, com base no que foi apresentado, pode-se considerar o enfoque geral desta
dissertação atendido, uma vez que foram apresentadas diversas informações, teóricas e
práticas, que proporcionam conhecimentos essenciais para as empresas construtoras no
desenvolvimento e implementação de um Sistema de Gestão Integrado para o setor, que
ainda carece de avanços significativos.
5.3 QUANTO AO ENFOQUE ESPECÍFICO DO TRABALHO
O enfoque específico deste trabalho consiste em apresentar e discutir os conceitos
relacionados à Gestão da Qualidade na Construção Civil, assim como os conceitos
referentes à atualização das edificações, segundo as técnicas e aos processos do
Retrofit.
Estes enfoques foram desenvolvidos de modo a buscar uma maior capacidade
competitiva para as empresas que investem no setor, pois há um mercado cada vez mais
exigente de qualidade e produtividade, sem, contudo deixar de lado as questões da
qualidade na concepção arquitetônica e a sua relação com o entorno.
Outro aspecto identificado, que serviu de balizador para a definição do enfoque
específico desta dissertação foi à constatação de que nas principais cidades do mundo,
existem prédios de ótima localização que estão ficando subutilizados. São construções
que demonstram os sinais do tempo, com infra-estrutura obsoleta e equipamentos
180
ultrapassados, que por isso se tornaram difíceis de administrar e comercialmente
inviáveis. Logo, neste contexto urbano mundial, pode-se perceber no retrofit uma
oportunidade de negócio para o setor da construção civil, além da revitalização de todo
um parque arquitetônico.
Para tanto, no que concerne ao primeiro enfoque específico desta dissertação, temos no
tema qualidade na construção, uma importância cada vez maior nos meios acadêmicos e
profissionais, devido ao elevado nível de prejuízos que se manifestam nas edificações.
Um grande número de instituições nacionais e internacionais vem concentrando seus
esforços no que diz respeito à qualidade na construção civil. Assuntos estes que
envolvem questões relacionadas com a normalização técnica, avaliação de desempenho,
sistemas de aprovação técnica, processos de certificação e gestão da qualidade.
Assim, o capítulo 03 foi desenvolvido com base em uma revisão bibliográfica que trata
dos assuntos referentes à qualidade, desde sua conceituação até as suas múltiplas
dimensões, passando por seu histórico, definições e principais nomes. Foi desenvolvida,
ainda, uma visão da qualidade dentro da indústria da construção civil, englobando a fase
de projeto (concepção), execução e na sua utilização.
Para encerrar, o mesmo capítulo 03, faz uma revisão no Sistema ISO 9000 para Gestão
da Qualidade, com foca na construção civil, visando sua aplicabilidade aos escritórios de
projeto, na execução das obras e na construção civil como um todo, pela forma de
gerenciamento.
Através do exposto e dos assuntos desenvolvidos ao longo do capítulo 03, concluiu-se
que a aplicabilidade das normas ISO 9000, com seu sistema de gestão da qualidade,
para a construção civil brasileira não pode ser considerada como o único caminho. Uma
vez que o setor ainda precisa de boas técnicas de projeto e execução de obras, além é
claro, de uma melhor relação capital/trabalho, uma busca pela profissionalização e
constante aperfeiçoamento da mão-de-obra e da busca de melhores condições no
ambiente de trabalho.
Para complementar a visão sobre o proposto como enfoque específico para esta
dissertação, foram tratados os assuntos relacionados à atualização das edificações
através das técnicas e dos processos do retrofit, ao longo do capítulo 04.
181
Desta forma, o capítulo 04 abordou assuntos referentes à racionalização e atualização
das edificações sob a ótica do retrofit. Buscou-se através da conceituação e da
caracterização uma melhor compreensão dos processos do retrofit, assim como sua
tendência para o mercado da construção civil.
Foram apresentadas referências nacionais e internacionais, além de informações
relevantes que comprovaram a importância do assunto proposto. As técnicas do retrofit
como ferramentas para implementação da atualização das edificações, assim como suas
condicionantes para aplicação dos processos, também foram desenvolvidas no decorrer
do capítulo 04.
Portanto, pelo que foi exposto pode-se observar que tanto nos aspectos de recursos,
quanto nos processos mais utilizados, o mercado do retrofit apresenta-se como um
grande setor para investimentos tecnológicos, científicos e financeiros. Uma vez que
cresce a cada dia o número de imóveis carentes de reabilitação e atualizações, sejam
elas físicas e/ou tecnológicas, por motivos de segurança, atendimento a novas normas ou
ainda para satisfazer aos desejos de seus usuários.
Desta forma, conclui-se que o mercado de retrofit oferece oportunidade de negócios
muito variados, se considerarmos os aspectos residenciais, comerciais e institucionais.
Porém sua viabilidade ainda gera muita polêmica. Assim, cabem as instituições
acadêmicas e segmentos profissionais do setor, criarem condições e meios para a
discussão dos assuntos relacionados ao retrofit arquitetônico e urbano, a fim de formar
uma consciência crítica e um melhor entendimento dos aspectos técnicos, legais e
financeiros do assunto.
Portanto, com base no que foi apresentado, pode-se considerar o enfoque específico
desta dissertação atendida, uma vez que foram apresentadas diversas informações,
teóricas e práticas, que proporcionam conhecimentos essenciais para as empresas
construtoras no desenvolvimento e implementação do Sistema de Gestão da Qualidade,
assim como nos assuntos referentes à atualização das edificações, segundo as técnicas
e aos os aos processos do Retrofit.
182
5.4 SISTEMA DE GESTÃO INTEGRADA COMO TENDÊNCIA PARA A
CONSTRUÇÃO CIVIL
A partir dos estudos realizados durante o desenvolvimento desta dissertação, é possível
concluir que o assunto relacionado aos Sistemas de Gestão Integrada no setor da
Construção Civil vem sendo cada vez mais discutido pela comunidade técnico-científica,
podendo ser visto como uma ótima tendência para este setor, carente de modificações e
evoluções em sua forma de gestão.
Essa conclusão baseia-se nos fatos identificados, que podem ser vistos a seguir:
a) Quantidade crescente de pesquisadores envolvidos com o tema e o conseqüente
aumento dos trabalhos acadêmicos publicados sobre o tema como artigos,
dissertações e teses;
b) Crescimento do número de profissionais capacitados face ao aumento de cursos
de pós-graduação, cursos de nível técnico e outros que abordam a questão dos
Sistemas Integrados de Gestão;
c) Quantidade crescente de congressos e seminários nas áreas da Qualidade,
Segurança e Saúde Ocupacional e Meio Ambiente no setor da Construção Civil
que abordam o tema;
d) Divulgação de empresas construtoras que obtiveram a certificação de seus
Sistemas de Gestão em revistas e outras publicações do meio;
e) E, o aumento das exigências por parte dos grandes contratantes de obras, os
quais incentivam ou passam a exigir a implementação de Sistemas de Gestão das
empresas contratadas, como por exemplo, o que ocorre em relação a
PETROBRAS, Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN).
Assim, independente do momento pela qual se encontra o setor da construção civil,
acredita-se que a busca pela implantação de Sistemas Integrados de Gestão no setor,
vem a ser não só uma ferramenta útil na otimização dos recursos e na gestão de
qualidade dos processos, como também uma ótima tendência para o mesmo.
183
5.5 QUANTO AS LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES AOS TRABALHOS
FUTUROS
O tema retrofit como ferramenta para reabilitação e adaptação das edificações ainda
pode ser considerado como um assunto novo em termos de Brasil. No entanto, o seu
caráter inovador, além de sua complexidade gera um grande potencial para a pesquisa
acadêmica.
Dessa forma, esta dissertação acabou por apresentar algumas limitações que já eram
esperadas, mas que podem ser supridas com a continuidade das pesquisas e a
publicação de futuros trabalhos relacionados ao assunto.
Portanto, ficam aqui algumas sugestões a futuros trabalhos:
a) Aplicabilidade dos processos de retrofit nas áreas hospitalares, residenciais,
hotelaria e escolares, visando atender ao trinômio de Qualidade, Segurança e
Saúde, sem deixar de lado as questões Ambientais;
b) Identificação de cada etapa dos processos de retrofit, com suas respectivas
análises e propostas;
c) A influência dos assuntos relacionados ao retrofit nas edificações atuais, de modo
a facilitar suas futuras reabilitações, com a pesquisa de novos materiais e
tecnologias que venham a facilitar os processos;
d) E, a importância dos processos de retrofit para a preservação dos valores
arquitetônicos e paisagísticos das cidades.
Desta forma, o retrofit arquitetônico, mostra-se como uma excelente ferramenta para as
edificações, evitando que se tornem obsoletas e, assim, permitindo que acompanhem o
desenvolvimento tecnológico dos grandes centros urbanos.
184
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBOTT, Lawrence. Quality and Competition. Nova Iorque: Columbia University Press,
1955, pp. 126-27.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Sistemas de gestão da qualidade -
requisitos. NBR ISO 9001. Rio de Janeiro, dez 2000.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 19011 – diretrizes para
auditorias de sistema de gestão da qualidade e/ ou ambiental. Rio de Janeiro, 2002.
ACKOF, L. R. Recreation corporation: a design of organizations for the 21st century.
New York: Oxford University, 1999. 336p.
ADAM, Roberto Sabatella. Princípios do eco-edifício: interação entre ecologia,
consciência e edifício. São Paulo: Aquariana, 2001. 128 p.
ALVES, Patrícia M. C. Relacionamento cliente/fornecedor na indústria da construção
civil: Novas tendências voltadas para um contexto de qualidade e produtividade.
Tese (Doutorado) 1997. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e
Sistemas. Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.
AMERICAN INSTITUTE OF CHEMICAL ENGINEERS. Guidelines for process safety
management, environment, safety, health and quality. New York, 1996.
ANDRADE, Max. A representação gráfica de projetos modulares. 15° Simpósio
Nacional de Geometria Descritiva e Desenho Técnico. São Paulo, 2001.
ARANTES, Nélio. Sistemas de Gestão Empresarial: conceitos permanentes na
administração de empresas válidas. São Paulo. Atlas. 1994.
ARAÚJO, Márcio Augusto. Materiais ecológicos e tecnologias sustentáveis para
arquitetura e construção civil: conceito e teoria. São Paulo: IDHEA, 2004.
ARY, T. C. Quality assurance and quality control in construction. Tese (Mestrado)
apresentada ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Leeds. Leeds,
1985.
AYOADE, A.; GIBB, A. G. F. I. Integration of quality, safety and environmental
systems. In: Implementation of Safety and Health on Construction Sites. Proceedings of
the first international conference of CIB working commission W99. Lisbon. Portugal. Set.
1996.
BAETZ, Mark C. e BART, Christophen K. Developing mission statements which work.
Long Range Planning. 1996.
BARBOSA, Edna A. As Informações contábeis de suporte ao processo de gestão
nas diferentes fases do ciclo de vida de empresas da construção civil de Goiânia.
Dissertação (Mestrato) – Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção, 2003.
BARREIROS, D. Gestão da segurança e saúde no trabalho: estudo de ummodelo
sistêmico para as organizações do setor mineral. 317p. Tese (Doutorado) – Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2002.
185
BARRIENTOS, M. G. G.; QUALHARINI, E.L. Intervenção e Reabilitação nas
Edificações. Artigo no V Congresso de Engenharia Civil UFJF, Juiz de Fora, MG, 2002.
BARRIENTOS, M. G. G. Adaptação das Edificações Antigas às Necessidades
Atuais. Dissertação (mestrado). Universidade Federal do Rio de Janeiro, FAU/PROARQ.
Rio de Janeiro, 2004.
BARROS, M.M.B., DORNELES, V.P. Racionalização de Métodos e Processos
construtivos: ação no plano da obra. São Paulo. Departamento de Engenharia de
Construção Civil/EPUSP, 1991/ Seminário de Apresentação no curso de pós-graduação
da EPUSP.
BARROS, M.M.S.B.; MELHADO, S.B. Racionalização do projeto de edifícios
construídos pelo processo tradicional. São Paulo, 1993. Seminário (pós-graduação) –
Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.
BARROS, M. M. B. Metodologia para implantação de tecnologias construtivas
racionalizadas na produção de edifícios. São Paulo, 1996. 422p. Tese (Doutorado) –
Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.
BARROS, M. M. B. O processo de projeto e a busca de inovação tecnológica nas
empresas construtoras. In: Simpósio Brasileiro de Gestão da Qualidade e Organização
do Trabalho, 1, 1999, Recife.
BECKMERHAGEN I. A.; BERG, H. P.; KARAPETROVIC, S. V., WILLBORN, W. O.
Integration of Standardized Management Systems: focus on safety in the nuclear
industry. International Journal of Quality & Reliability Management, Vol. 20, No. 2, pp.
210-228, 2003.
BERTALANFY, L. V. Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis: Editora Vozes, 1973.
BETTS, M.; OFORI, G. Strategic planning for competitive advantage in construction.
Grã-Bretanha, Construction Management and Economics, vol. 10, E. & F. N. Spon, 1992.
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano: compaixão pela terra. Petrópolis:
Vozes, 2001. 199 p.
BOLWIN, P.T., KUMPE, T. Manufacturing's in the 1990's - productivity, flexibility and
inovation. Long Range Planning, v23, n4, p 44 - 57, august 1990.
BRANCHINI, O. J. A ISO 9000:2000 sem mistérios ou segredos. Revista Banas
Qualidade. N° 117 Ano XI. Fevereiro de 2002. p 18 – 21.
BRAUN, Ricardo. Desenvolvimento ao ponto sustentável: novos paradigmas
ambientais. Petrópolis: Vozes, 2001. 183 p.
BRIT, Marcelo. Os desafios da preservação urbana nas cidades. São Paulo, 2004.
BRITO, J. e Branco, F. Manutenção Pró-Activa de Obras de Arte. In Ingenium, nº57,
Lisboa, 2001.
BROCKA, B. Gerenciamento da Qualidade. Implementando TQM, passo a passo,
através dos processos e ferramentas recomendadas por Juran, Deming, Crosby e
outros mestres. São Paulo: Markon Books, 1994.
186
BROH, Robert A. Managing Quality for Higher Profits. Nova Iorque: McGrew-Hill, 1982,
p. 3).
CAPRA, Fritjof. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996. 256 p.
CARDOSO, Francisco F. Importância dos estudos de preparação e da logística na
organização dos sistemas de produção de edifícios. In: 1° Seminário Internacional:
Lean Construction. São Paulo, 1996.
CARDOSO, Francisco F.; PINTO, César A. P. O Sistema de Certificação QUALIHAB
de empresas construtoras. In: Anais do XVII Encontro Nacional de Engenharia de
Produção (ENEGEP), Gramado-RS, 1997 (CD-ROM).
CARDOSO, Francisco F.; ALBUQUERQUE, Edson T.; SILVA, Fred B.; VIVANCOS,
Adriano G. Acompanhamento da implantação do Programa Setorial da Qualidade do
Setor de Obras do Programa QUALIHAB – Nível "B". Relatório do convênio entre a
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - Departamento de Engenharia de
Construção Civil e o Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade da Construção (ITQC).
São Paulo, maio de 1999, 122p.
CARDOSO, Francisco F. Novos enfoques sobre a gestão da produção – Como
melhorar o desempenho das empresas de construção civil. In Avanços em
Tecnologia e Gestão da Produção de Edificações – ENTAC – 93. Anais, pp 557-569.
CARVALHO, Alexandre e FROSINI, Luiz Henrique. Auditoria de Sistemas da
Qualidade e Ambiental. Revista Controle da Qualidade. nº 37. São Paulo. Junho de
1995.
CARVALHO, Alexandre e FROSINI, Luiz Henrique. Segurança e saúde na qualidade e no
meio ambiente. Revista Controle da Qualidade. nº 38. São Paulo. julho de 1995.
CASTRO, João Antônio. Abrangência do Conceito Qualidade Apoiado em Sistemas
de Gestão: um estudo de caso. Dissertação submetida à defesa de Mestrado em
Engenharia de Produção. Universidade Federal de Santa Maria. 1997.
CATARINO, J.; SILVA, V.; PAULO, P. MATTEC - Sistema de Apoio à Decisão na
Reabilitação de Construções. Artigo no Congresso Construção 2000, Portugal, 2000.
CAVANI, G. R. O certificado de homologação como instrumento para o controle da
qualidade de produtos e sistemas construtivos inovadores. Dissertação (Mestrado) –
Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, 81 p. São Paulo, 1998.
CBIC. Revista Brasileira da Indústria da Construção. Câmara Brasileira da Indústria da
Construção. Ano 2, n.13, nov/dez, 1997.
CHIAVENATO, I. Gerenciando Pessoas: O passo decisivo para a administração
participativa. São Paulo: Makron Books, 1992.
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. São Paulo.
Makron. 1993.
CHIMENTI, B. N. Avaliação Pós-Ocupação aplicada para Reabilitação de
Edificações Históricas. Tese de mestrado em arquitetura na área de Conservação e
Restauração do Patrimônio Cultural, PROARQ / UFRJ, Rio de Janeiro, 2000.
187
CHURCHMAN, C. W. Introdução à teoria dos sistemas. Petrópolis; Editora Vozes,
1972.
CIANCIARDI, Glaucus. A casa ecológica: premissas para a sustentabilidade
ecológica na arquitetura residencial unifamiliar paulistana. Dissertação (Mestrado).
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2004.
CIOCCHI, Luiz. Sistemas Construtivos: Use corretamente o gesso acartonado. In:
revista téchne nº 76 pp 42-45, São Paulo, 2003.
COELHO, P.E.; CHAVES A.P. Reciclagem de entulho - Uma opção de negócio
potencialmente lucrativa e ambientalmente simpática. Areia e Brita, São Paulo, v. 2,
n. 5, p. 31-35, 1998.
COLLINS, C. J. Feitas para Durar - Práticas bem sucedidas de empresas visionárias.
Ed. Rocco, 3a.edição, Rio de Janeiro,1996.
CORNICK, T. Quality management model for building projects: a developed
research model in practice. In: CIB TRIENNIAL CONGRESS, 11., Paris, 1989. Quality
for building users throughout the world. s.l., CIB, 1989.
CORWIN, D. Edwards. “The Meaning of Quality”., Quality Progress, outubro de 1968, p.
37.
CORREDOR CULTURAL. Como Recuperar, Reformar ou Construir seu Imóvel no
Corredor Cultural. Rio Arte/IPP. 4° ed., Rio de Janeiro, RJ, 2002.
COUTINHO, L., FERRAZ, J. C. Estudo da competitividade da indústria brasileira.
Campinas: Papirus, 1994.
CROSBY, Philip B. Quality is Free. New York: McGraw-Hill, 1979
CRUZ, Sybele M.S. da. O Ambiente do Trabalho na Construção Civil: um estudo
baseado na norma. Monografia submetida a defesa de Especialização em Engenharia
de Segurança do Trabalho da Universidade Federal de Santa Maria. 1996.
CTE, Centro Tecnológico de Edificações. Sistema de gestão da qualidade para
empresas construtoras. São Paulo, SEBRAE / SINDUS-COM, 1994.
DAVIS, P. R. The contribution of ergonomics to present and future industrial safety
and health. In: Nicholson A. S.; Ridd, J. E. Health Safety and Ergonomics. London:
Butterworths, 1988, p. 3-9.
DAVIS, V. J; TOMASIN, K. Construction safety handbook. London: Thomas Telford,
1990.
DE CICCO, Francesco. Manual sobre Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no
Trabalho. Vol. II. São Paulo. Risk Tecnologia. 1996.
DE CICCO, Francesco. Comparações versão 2000x1994. Revista Banas Qualidade. N°
93, Ano IX. Fevereiro de 2000, p18.
188
DEGANI, C. M. Sistemas de Gestão Ambiental em empresas construtoras de
edifícios. 2003. 223p. Tese (Mestrado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.
São Paulo, 2003.
DEMING, W. E. Qualidade: A Revolução da administração. Tradução de Clave
Comunicações. Título original “Out of Crisis”. Editora Marques – Saraiva. Rio de Janeiro,
1990.
DIAS, Luís M. Alves & CURADO, Miguel Torres. Integration of quality and safety in
construction companies. in Implementation of Safety and Health on Construction Sites
– Proceedings of the first international conference of CIB working commission W99.
Lisboa. Portugal. Setembro de 1996.
DIAS, L.A. Integrated Management Systems in Construction (IMSinCONS). In:
Proceedings. CIB W 99 - Safety and Health on Construction Sites International
Conference on Construction Project Management Systems: the Challenge of the
Integration. International Council for Research and Innovation in Building and
Construction and University of Sao Paulo - Escola Politécnica, São Paulo, Brazil, 25 - 28
march 2003. CD-ROM. 14p.
DUCAP, V.M.B.C.L. Reflexões sobre a Manutenção e Reabilitação das Instalações
Prediais. Dissertação de Mestrado do PROARQ / FAU/ UFRJ, Rio de Janeiro, 1999.
EUROSTAT. Apresenta estatística européia sobre acidentes. Disponível em:
<http://europa.eu.int/comm/eurostat>.
FARAH, M.F.S. Formas de racionalização do processo de produção na indústria da
construção. Construção São Paulo nº 2294, jan 1992.
FARAH, M.F.S. Estratégias empresariais e mudanças no processo de trabalho na
construção habitacional no Brasil. In Avanços em Tecnologia e Gestão da Produção
de Edificações – ENTAC-93. Anais, pp 581-590.
FEIGENBAUM, Armand V. Total Qualiaty Control, Harvard Business Review, Novembro
- Dezembro 1961.
FERREIRA, Emerson. Apostila do Curso na disciplina de Gestão e Tecnologia da
Construção de Edifícios. Ministrado no Curso de Especialização da Universidade
Federal da Bahia – Escola Politécnica, 2005.
FIGUEIREDO, Sandra e CAGGIANO, Paulo César. Controladoria: teoria e prática. 2.
ed. São Paulo: Atlas, 1997.
FORMOSO, C.T., LIMA, I.S. Uma experiência de desenvolvimento cooperativo de um
modelo de desenvolvimento cooperativo de um modelo para a gestão da qualidade.
In: FORMOSO, C.T. Gestão da Qualidade na Construção Civil: uma abordagem para
empresas de pequeno porte. Porto Alegre, Programa de Qualidade e Produtividade na
Construção Civil no Rio Grande do Sul, 1995, p. 11-35.
FRANCO, Luiz S. Aplicação de diretrizes de racionalização construtiva para a
evolução tecnológica dos processos construtivos em alvenaria estrutural não
armada. São Paulo, 1992. 319p. Tese (Doutorado) – Escola politécnica Universidade de
São Paulo.
189
FRANCO, Luiz S. Racionalização construtiva, inovação tecnológica e pesquisas. In:
Curso de formação em mutirão EPUSP, São Paulo, 1996.
FREITAS, A. A. F. de et al; Aplicação de técnicas de engenharia e análise de valor no
ambiente da construção civil. In, XIV ENEGEP, Anais, ABEPROIUFPB, João Pessoa,
1994, vol II, pág 865-969.
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Desenvolvimento da Indústria da Construção em
Minas Gerais: Impacto na evolução tecnológica e na qualificação das forças de
trabalho. Belo Horizonte. Centro de Estudos Econômicos, 1992.
GARVIN, David A. Gerenciamento da Qualidade: A visão estratégica e competitiva.
Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 1992.
GIBELLI, A. As Teorias de Restauração e suas aplicabilidades. Dissertação de
mestrado em arquitetura na área de Conservação e Restauração do Patrimônio Cultural,
PROARQ / UFRJ, Rio de Janeiro, 1999.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.
GILMORE, Harold L. Productt Conformance Cost. Quality Progress, june, 1974 p.16.
GITLOW, Howard S. Planejando a Qualidade, a Produtividade e a Competitividade.
Rio de Janeiro: Qualitymark,1993. 190 p.
GOMES, Josir Simeone e SALAS, Joan M. Amat. Controle de gestão: uma abordagem
contextual e organizacional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
GRILO, L. M.; HUANG, J. Knowledge sharing and innovation in distributed design:
implications of Internet based media on design collaboration. In: International Journal
of Design Computing, 1999. Disponível em: <http://www.arch.usyd.edu.au/kdcc/journal>.
Acesso em: junho de 2001.
GUEDERT, L. 0. Programa de melhoria de qualidade das alvenarias - o caso do.
Convênio Frechal / UFSC. Notas do curso "Novas tendências no gerenciamento da
produtividade e da qualidade na indústria da construção", ministrado pelo prof Heineck,
XIV ENEGEP, João Pessoa, PB, 1994.
GUEDES, Ana Kelly R. (1); QUELHAS, Osvaldo L.G. (2). Racionalização: Conceitos e
experiências na construção civil. IX Encontro Nacional de Tecnologia do ambiente
Construído (ENTAC 2002).
GUINTA, Lawrence & PRAIZLER, Nancy. Manual do QFD - o uso de equipes para
solucionar problemas e satisfazer clientes pelo desdobramento da função da
qualidade. LTC - Livros Técnicos e Científicos Editora. Rio de Janeiro, 1993.
HAMMARLUND, Y.; JOSEPHSON, P.E. Qualidade: cada erro tem seu preço. Trad. De
Vera M. C. Fernandes Hachich. Téchne, n. 1, p.32-4, nov/dez 1992.
HINZE, J. W. Construction Safety. New Jersey: Prentice Hall, 1997.
HIRSCHFELD, Henrique. A construção civil e a qualidade: informações e
recomendações para engenheiros, arquitetos, gerenciadores, empresários e
colaboradores que atuam na construção civil. São Paulo: Atlas, 1996.
190
HIRSCHFELD, Henrique. A construção civil fundamental: modernas tecnologias.
São Paulo: Atlas, 2000.
HORTENSIUS, D. ISO develops unique standard for auditing ISO 9000 and ISO
14000 systems. ISO Management Systems, Zurique, Dez. 2001. Disponível em
<http://www.iso.ch>.
INDÚSTRIA IMOBILIÁRIA PRODUÇÃO E MERCADO. Ano 6, n.72, nov.1997.
INTERNATIONAL ORGANISATION FOR STANDARDIZATION. Classification of
information in the construction industry ISO/TR 14177. Geneve, 1994.
ISO MANAGEMENT SYSTEM: Special report – Fedback on ISO 9001:2000 – Worldwide
Roundup of Early Market Reactions. ISO Management System. Genova: ISO Central
Secretariat, January – February 2002 p.19 – 29. Disponível em <htpp://www.iso.ch>.
JURAN, J.M.; Consumerism and Product Quality. 2. ed. New York, 1984.
JURAN, J.M.; GRYNA, F.M. Quality Control Handbook. 4.ed. New York: McgrawHill,
1988.
JURAN, J. M. A qualidade desde o projeto: os novos passos para o planejamento da
qualidade em produtos e serviços. 3. ed. São Paulo, Pioneira, 1997.
JURAN, J.M. Planejando para qualidade. Tradução João Mário Csillag. São Paulo:
Pioneira, 1990.
KARATSU H. e IKEDA, T. Mastering the Tools of Learming through Diagrams and
Illustrations. PHP Institute, INC : Tokyo, 1985.
KATZ, Daniel e KAHAN, Robert L. Psicologia social das organizações. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 1987.
KAUFMAN Jr., D. L. Sistemas Um: uma introdução ao pensamento sistêmico.
Minneapolis: S.A. Carlton Publisher, 1980.
KRAUSE, T. R. Employee-driven systems for safe behavior: integrating behavioral
and statistical methodologies. New York: Van Nostrand Reinhold, 1995.
KRIPPAEHNE, R.; McCULLOUCH, B.; VANEGAS, J. Vertical business integration
strategies for construction. Journal of Management in Engineering, vol. 8, nº2 , April,
1992, ASCE.
KUEHN, Alfred A. e DAY, Ralph L. Strategy of Product Quality. Harvard Business
Review, novembro - dezembro de 1962, p. 101.
KUME, H. Métodos Estatísticos para a Melhoria da Qualidade. Japão, 1988.
KUTTER, Vivian Polack. Modelo de abordagem para edificações em situação de
reciclagem. Dissertação (mestrado) apresentada a FAU –USP , São Paulo, agosto de
1999.
LAFFLER, Keith B. "Ambiguous Changes in Product Quality". American Economic
Review, dezembro de 1982, p. 956.
191
LEAL, U. Retrofit: Edifícios também fazem up grade. Revista Téchne, São Paulo, SP,
2000, p.79, mai/jun n°46.
LEUSIN, Sérgio Roberto Amorim. O gerenciamento de Projetos de edifícios: fator de
eficiência para a construção civil leve no Brasil. In: Encontro Nacional de Engenharia
de Produção (ENEGEP), 1995.
LEUSIN, Sérgio Roberto Amorim. Tecnologia, organização e produtividade na
construção. Tese de Doutorado em Engenharia de Produção apresentada a
COPPE/UFRJ, 1995.
LEVY, S.M.; MARTINELLI, F.A.; HELENE, P.R L. A influência de argamassas
endurecidas e resíduos cerâmicos, finamente moídos, nas propriedades de novas
argamassas. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DAS ARGAMASSAS, 2.,
Salvador, 1997, Anais... p. 50-63, Salvador.
LIMA JR., J. M. “Legislação sobre segurança e saúde no trabalho na indústria da
construção”. In: II Congresso Nacional sobre Condições e Meio Ambiente do Trabalho
na Indústria da Construção, 1995. Rio de Janeiro, RJ. Anais (Rio de Janeiro:
FUNDACENTRO, 1995).
LISKA, R. W. et al. Zero accident techniques. Austin: The Construction Industry
Institute, 1992. 292p.
LUCINI, H. C. Gestão da Complexidade: O Projeto de Recuperação das Edificações
Existentes. Artigo no 2° Workshop Nacional, Porto Alegre, RS, 2002.
MACIEL, J. Elementos de Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis: Editora Vozes, 1974.
MACIEL, J. L. L. Proposta de um modelo de integração da gestão da segurança e da
saúde ocupacional à gestão da qualidade total. 2001. 127p. 147p. Dissertação
(Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2001.
MACIEL, L.L; MELHADO, S. B. Qualidade na construção civil: fundamentos. São
Paulo, 1995. Texto Técnico. Escola Politécnica da USP. Departamento de Engenharia de
Construção Civil, TT/PCC/15.23 p.
MARQUES, G.A C. Projeto na Engenharia Civil. São Paulo, 1979. Dissertação
Mestrado. Escola Politécnica da USP.
MARTINS, A. I. S. Desenvolvimento de um modelo para a avaliação de impactos e
danos na indústria química. 2000. 131p. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2000.
MARTUCCI, R. Projeto Tecnológico para edificações habitacionais: Utopia ou
desafio? São Paulo, 1990. Tese Doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
USP.
MASCARÓ, Lúcia (coord.). Tecnologia e Arquitetura. São Paulo: Nobel, 1989.
MELHADO, S. B. Qualidade do projeto na construção de edifícios: aplicação ao
caso das empresas de incorporação e construção. Tese de doutorado em engenharia
civil, EP-USP, São Paulo, 1994.
192
MELHADO, S.B., AGOPYAN, V. O conceito de Projeto na Construção de edifícios:
diretrizes para sua elaboração e controle. BT/PCC/139, 1995.
MELHADO, S.B.; BARROS, M.M.S.B.; SOUZA, A.L.R. Qualidade do projeto de
edifícios: fluxograma e planilhas de controle de projeto. São Paulo, EPUSP-PCC,
1995. (Documento CPqDCC n.20091 - EP/SC-1)
MELIGHENDER, M. Os desperdícios na construção civil. III Encontro Nacional da
Construção – 111 EXPO-ENCO de 3 a 11 de abril de 1976, Porto Alegre, Vol 2.
MERLI, Giorgio. Comakership: a nova estratégia para os suprimentos. Rio de Janeiro,
Qualitymark, 1990.
MESEGUER, A. G. Controle e garantia da qualidade na construção. Tradução:
Roberto J. F. Bauer, Paulo R. L. Helene e Antonio Carmona Filho. Co-edição:
SINDUSCON-SP – Projeto Editores, 1991.
MICHALKA, Camilo Jr. Apostila do Curso na disciplina de Coordenação Modular.
Ministrado no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura (PROARQ/FAU/UFRJ), 2004.
Ref.: Carporioni, Garlatti, Tenca-Montini. La Coordinación Modular. Instituto Universitário
de Arquitetura de Vencia. Ediorial Gustavo Gili, S. A, - Barcelona, 1971.
MILES, R. E., SNOW, C.C. Organizational Strategy, Structure and Process. New York:
Mc Graw Hill, 1978.
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Apresenta estatísticas sobre acidentes
de trabalho no Brasil. Disponível em: <http://www.mte.gov.br>.
MITIDIERI FILHO, C. V. Avaliação de desempenho de componentes e elementos
construtivos destinados a habitações – Proposições específicas à avaliação do
desempenho estrutural. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade de São
Paulo, 218 p. São Paulo – 1998.
MOSIMANN, Clara Pellegrinello e FISCH, Sílvio. Controladoria: seu papel na
administração de empresas. 2. ed.São Paulo: Atlas, 1999.
MOTT, J. D. ISO 9000 – Além da certificação. Philip Crosby Associates II Ltda.
Disponível em <http://www.philipcrosby.com.br>.
NADLER, D.A. Arquitetura Organizacional: Metáfora para Mudança. In: NADLER, D.A
et. al Arquitetura Organizacional: a chave para a mudança empresarial. Rio de Janeiro:
Campus, 1994.p.29-49.
NATIONAL SAFETY COUNCIL. Apresenta estatísticas norte americanas sobre
acidentes. Disponível em: <http://www.nsc.org>.
OLIVEIRA, R. R. Sistematização e Listagem de fatores que afetam a
construtibilidade. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP), 1995.
OLIVEIRA, S. T. Ferramentas para o Aprimoramento da Qualidade. São Paulo:
Pioneira,1995.
ORNSTEIN, S.; BRUNA, G.; ROMÉRO, M. Ambiente Construído & Comportamento /
A Avaliação Pós-ocupação e a Qualidade Ambiental. Studio Nobel: FAUUSP, 1995.
193
PALADINI, Edson P. Controle de qualidade: uma abordagem abrangente. São Paulo:
Atlas, 1990.
PALADINI Edson. P. Qualidade Total na Prática. Implantação e avaliação de
sistemas de qualidade total. São Paulo: Atlas, 1994.
PALADINI, Edson P. Qualidade total na prática: implantação e avaliação de sistemas
de qualidade total. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
PAPE, E.D. Measurement and the management of quality, safety and environmental
affairs. Proc. MANOSAF’93: Management of Environmental Protection and Safety.
London. IChemE. 1993.
PARSAYE, K.;CHIGNELL, H. The Eighth, Ninth, and 10th Tools of Quality. Quality
Progress Vol 26 no 9, 1991.
PEIXOTO, A. C. G. Qualidade: como ter sucesso com o Zé, se não temos o Toshio
ou o Fritz. Artigo publicado na Revista Qualidade, n° 16, pp 49-56, Editora Banas. São
Paulo, 1993.
PICHI, F.A. Sistemas de Qualidade: uso em empresas de construção de edifícios.
1993. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo,
1993.
PINTO, J. K.; MILLET, I. Successful information system implementation: the human
side. 2. th ed. Pennsylvania: Project Management Institute, 1999.
PINTO, P.T. Resultados da gestão diferenciada. Téchne, São Paulo, n. 5, p. 31-34,
nov/dez. 1997.
PIRSIG, Robert M. Zen end the Art osf Motocycle Maintenance, Nova Yorque, Bontam
Books, 1974, pp.185, 123.
PORTER, M. Estratégia competitiva. Ed. Campus, Rio de janeiro, 1986.
PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise da indústria e da
concorrência. Capítulo 9. Rio de janeiro, 9ªed., Campus, 1995.
PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho
superior. Rio de Janeiro, 14ªed., Campus, 1998.
PRAHALAD, C. K.;HAMEL, G. Competindo pelo futuro. Rio de Janeiro: Campus, 1995.
400p.
PRUDÊNCIO, W. J. Base Ética da Restauração de Patrimônio Cultural. Rio de
Janeiro, RJ, 1998.
QUELHAS, Osvaldo L.G.; GUEDES, Ana Kelly R. Racionalização: conceitos e
experiências na construção civil. Artigo 2002.
QUIGLEY, Joseph V. Visão: como os líderes a desenvolvem, compartilham e
mantêm. Trad. Lenke Peres Alves de Araújo. Rev. Téc. Heitor José Pereira. São Paulo :
Mc Graw-Hill, Makron Book do Brasil, 1994.
194
QSP - Centro da Qualidade, Segurança e Produtividade. Apresenta pesquisa sobre
sistemas integrados de gestão no Brasil. Disponível em: <http://www.qsp.com.br>.
QUALHARINI, E.L.; ROCHA, M. H. Modelagem Gerencial de Sistemas de Manutenção
e Restauração Predial em Edificações Históricas. Relatório FAPERJ, Rio de Janeiro,
RJ, 2001.
QUALHARINI, E.L.; DUCAP, V.; ORIOLLI, A. Considerações sobre Manutenção e
Reabilitação Predial frente às Questões de Auto-Sustentabilidade. Artigo no
Congresso Construção 2000, Portugal, 2000.
REIS, P. FARINAZZO. Análise dos impactos da implementação de sistemas de
gestão da qualidade nos processo de produção de pequenas e médias empresas
de construção de edifícios. 1998. 253p. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo. São Paulo, 1998.
Revista Téchne. Edição 73, p. 40, abril/2003.
Revista Projeto Design. Edição 256, junho/2001.
ROMERO, Marcelo, AZEVEDO, Juliete. Avaliação comportamental e energética do
edifício da FAU USP. In: cadernos técnicos AUT nº 3 pp 29-50, São Paulo, 1997.
ROSALES, C. M. B. Situação da Implementação da Qualidade Total no Setor Metal
Mecânico da Santa Catarina. Florianópolis: UFSC Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Produção) Programa de Pós Graduação em Engenharia de Produção,
Universidade Federal de Santa Catarina, 1994, 109 p.
ROSSO, Teodoro. Racionalização da construção. Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo – Universidade de são Paulo (USP), 1980.
ROTO, P. 1998 Preventive health services in construction. In: Stellman, J. M.
Encyclopaedia of Occupational Health and Safety. Geneva: International Labour Office,
1998. pp. 93.1-93.12, v. 3, 4 th ed.
SABBATINI, E H. Desenvolvimento de métodos, processos e sistemas construtivos:
formulação e aplicação de uma metodologia. Tese de doutorado, EP-USP, São Paulo,
1989.
SÁ, Antônio Lopes de. Dicionário de contabilidade. 9. ed. São Paulo: Atlas, 1995.
SALGADO, Mônica Santos. Gestão da Qualidade Administração de Equipes. Apostila
organizada para o Curso de Mestrado em Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo/UFRJ – 2000.
SAMPAIO, J. C. A. FMEA – Um jeito de prevenir para não ter de remediar. Artigo
publicado na Revista Qualidade na Construção, n° 15, pp 30-31, SINDUSCON – SP. São
Paulo, 1999.
SAYEGH, Simone. Eficiência energética: força domada quilowatts de economia. In:
revista téchne nº 53 pp 56-65, São Paulo, 2001.
SAYEGH, Simone. Elevadores: subiu de conceito. In: revista téchne nº 59, pp 40-43,
São Paulo, 2002.
195
SENAI. Estudo Setorial da Construção Civil: Características Estruturais do Setor.
Rio de Janeiro, 1995.
SENGE, M. P. A quinta disciplina: arte e prática da organização que aprende. São
Paulo: Best Seller, 1998. 441p.
SILVA, Fred Borges da. Ferramentas e diretrizes para a gestão da logística no
processo de produção de edifícios - São Paulo. EPUSP, 2000.
SILVA, H.; HEITOR, T. O Elemento "Fachada" em Projetos de Conversão /
Requalificação. Artigo no Congresso Construção 2000, Portugal, 2000.
SILVA, M. A. C. Estratégias competitivas na indústria da construção civil. Anais
ENTAC, “Qualidade e Tecnologia da Habitação”. Rio de Janeiro, 1995.
SOUZA, A.L.R., BARROS, M.M.S.B., MELHADO, S.B. “Qualidade, projeto e inovação
na construção civil” In: Anais do Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente
Construído, ENTAC-95 vol. 1, pp 243-248.
SOUZA, U. E. L; PALIARI, J. C; ANDRADE, A. C; AGOPYAN, V. Perdas de materiais
nos canteiros de obra: a queda do mito. SINDUSCON – SP. Revista Qualidade na
Construção, n° 23, 1998.
SOUZA, Alceu e CLEMENTE Ademir. Decisões financeiras e análise de
investimentos: fundamentos, técnicas e aplicações. São Paulo: Atlas, 1999.
SOUZA, R. Metodologia para desenvolvimento e implantação de sistemas de gestão
da qualidade em empresas construtoras de pequeno e médio porte. 1997. 335p. São
Paulo, Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo,
1997.
SYMANSKI, R. Último andar, por favor. In: Construção v. 351, pp 12-16. São Paulo,
novembro de 1995.
THOMAZ, Ercio. Tecnologia, gerenciamento e qualidade na construção. São Paulo:
Editora Pini, 2001.
TUCHMAM, Bárbara W. "The Decline os Quality", New York Times Magazine, 2 de
novembro de 1980, p. 38).
UNAIDS - THE JOINT UNITED NATIONS PROGRAMME ON HIV/AIDS. Apresenta
estatística sobre a epidemia de AIDS no mundo. Disponível em: <http://www.unaids.org>.
VARGAS, Nilton. Tendências de mudança na indústria da construção. Obra, n.44,
p.25-9, Fev. 1993.
VARGAS, Nilton. Contabilidade das Perdas. Téchne – Revista de Tecnologia da
Construção, n° 27, pp 14-29. Editora Pini, 1997.
VILLARI, A.C. Transformar entulho em material útil reduz o custo da construção. O
Estado de São Paulo, São Paulo, Caderno de Negócios e Oportunidades, p. 1, 18 de out.
1992.
YEANG, Ken. Proyectar com la naturaleza. Rubí, Barcelona: Editora Gustavo Gili S.A.,
1999. 198 p.
196
WARING, A.; GLENDON, I. A. Managing Risk: critical issues for survival and
success into 21st century. London: International Thomson, 1998. 493p.
WARING, A. Safety management system. London: Chapman & Hall, 1996.
197
ANEXOS
Do Anexo 01 ao Anexo 05 foi utilizado como fonte de consulta o Programa Setorial da
Qualidade / PSQ / Setor de Projetos – QUALIHAB.
Anexo 01: Principais normas técnicas brasileiras relativas a projeto no âmbito da ABNT
NÚMERO/ANO TÍTULO
NBR 6118 (1978) Projeto e execução de obras de concreto armado (em revisão)
NBR 8800 (1986) Projeto e execução de estruturas de aço de edifícios - método dos
estados limites
NBR 7197 (1989) Projeto de estruturas de concreto protendido (em revisão)
NBR 9062 (1985) Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado
NBR 7190 (1951) Projeto de estruturas de madeira (em revisão)
NBR 6119 (1978) Cálculo e execução de lajes mistas (em revisão)
NBR 6120 (1978) Cargas para cálculo de estruturas de edificações
NBR 5665 (1982) Cálculo de tráfego de elevadores
NBR 6122 (1996) Projeto e execução de fundações
NBR 5413 (1991) Iluminâncias de interiores
NBR 9575 (1985) Elaboração de projetos de impermeabilização
NBR 10837 (1989) Cálculo de alvenaria estrutural de blocos de concreto (em revisão)
NBR 12190 (1990) Seleção da impermeabilização
NBR 13707 (1996)
Projeto de revestimento de paredes e estruturas com placas de
rocha
NB 024 (1965) Instalações hidráulicas prediais contra incêndio sob comando
NBR 5410 (1990) Instalações elétricas de baixa tensão
NBR 5419 (1970) Proteção de edificações contra descargas elétricas atmosféricas
NBR 5626 (1980) Instalações prediais de água fria (texto revisto em votação)
NBR 7198 (1993) Instalações prediais de água quente
NBR 8160 (1983) Instalações prediais de esgotos sanitários
NBR 9818 (1986) Projeto e execução de piscinas
NBR 10339 (1987)
Projeto e execução de piscinas - sistemas de recirculação e
tratamento
NBR 10810 (1988)
Projeto e execução de piscinas - casa de máquinas, vestiários e
banheiros
NBR 11238 (1990) Segurança e higiene de piscinas
NBR 11239 (1990)
Projeto e execução de piscinas - equipamento para borda do
tanque
NBR 9077 (1983) Saídas de emergência em edifícios
NBR 09050 (1983)
Adequação das edificações e do mobiliário urbano à pessoa
deficiente
NBR 8039 (1983) Projeto e execução de telhados com telhas cerâmicas
NBR 7199 (1988) Projeto, execução e aplicações - vidros na construção
NBR 6123 (1987) Forças devidas ao vendo em edificações
NBR 6492 (1994) Representação de projetos de arquitetura
NBR 12219 (1980) Elaboração de caderno de encargos para execução de edificações
NBR 6506 (1973) Uso do solo no planejamento urbano
NBR 5706 (1969) a
NBR 5717 (1981) e
NBR 5721, 22, 23,
25 a 31 (1981/82)
* Conjunto de normas relativas à coordenação modular
198
NB 1350 (1991) Normas para elaboração de Plano Diretor
NBR 13532 (1995) Elaboração de projetos de edificações - arquitetura
NBR 13531 (1995) Elaboração de projetos de edificações - atividades técnicas
NBR 6401 (1987)
Instalações centrais de ar-condicionado para conforto - parâmetros
básicos de projeto
NBR 10152 - CB
CENI
Níveis de ruído para conforto acústico
NBR 13133 (1994) Execução de levantamento topográfico - Procedimento
NBR 12722 (1992) Discriminação de serviços técnicos para construção de edifícios
NBR 10844 (1988) Instalações prediais de águas
NBR 8044 (1982) Projeto Geotécnico
NBR 7191 (1951)
NBR 8196 (1992)
NBR 8402 (1983)
NBR 8403 (1983)
NBR 8404 (1983)
NBR 10067 (1985)
NBR 10068 (1987)
NBR 10126 (1986)
NBR 10582(1988)
NBR 10647 (1989)
NBR 12288 (1991)
NBR 12298 (1991)
NBR 12519 (1994)
NBR 12520 (1994)
NBR 12523 (1994)
NBR12524 (1994)
Normas relativas a desenho de projeto e representação.
NBR 9284 (1985) Equipamento urbano
NBR 9649 (1986) Projetos de redes coletoras de esgoto
NBR 00891 (1984)
Execução de redes prediais de gases combustíveis para uso
doméstico
NBR 00953 (1985) Usos de centrais de GLP
NBR 9283 (1985) Mobiliário urbano
NB 00049 Projeto e execução de obras de concreto simples
NBR 5670 (1977)
Seleção e contratação de serviços e obras de engenharia e
arquitetura de natureza privada
NBR 5671 (1989)
Participação dos intervenientes em serviços de engenharia e
arquitetura
NBR 5678 (1977)
Estudos de viabilidade de serviços e de obras de engenharia e
arquitetura
NBR 5679 (1977) Elaboração de projetos de obras de engenharia e arquitetura
199
Anexo 02: Principais normas brasileiras relativas a projeto no âmbito de instituições e
empresas
01- CORDE - Coordenadoria Nacional para Integração de Pessoa Portadora de
Deficiência/ CEAPD - Conselho Estadual para Assuntos da Pessoa Deficiente.
Elementos básicos para a eliminação de barreiras arquitetônicas e ambientais;
02- Encol - Critérios e parâmetros de projetos estruturais de edificações. Ditec -
fevereiro de 1994;
03- Encol - Novos procedimentos para instalações prediais – Novatec – 01
Dezembro, 1993;
04- Encol - Serviços de projetos de coberturas;
05- Encol - Normas de serviço de projeto e especificação de impermeabilização.
1989;
06- FDE - Fundação para o Desenvolvimento da Educação. Especificações da
edificação escolar de primeiro grau, 1996;
07- Petros-Fundação Petrobrás de Seguridade Social. Norma de projeto e
contratação;
08- Companhia do Metropolitano de São Paulo. Cadernos de detalhes e normas
de apresentação de projeto;
09- Sehab-SP. Roteiro legal de parcelamento do solo;
10- CTE - Centro de Tecnologia de Edificações. Procedimentos para
especificação de materiais e componentes, 1996/97;
11- CTE - Centro de Tecnologia de Edificações. Procedimentos gerenciais e
operacionais de desenvolvimento de projeto.
200
Anexo 03: Principais normas estrangeiras relativas a projeto correspondentes a normas
não existentes no Brasil
Anexo 03
A: Normas do American Institute of Architects - AIA
NÚMERO/ANO TÍTULO
AIA A 191-85 Standard form of agreements between owner and design/builder
AIA A 491-85
Standard form of agreements between design/builder and
contractor
AIA B141-87 Standard form of agreements between owner and architect
AIA B151-87
Abbreviated form of agreement between owner and architect for
construction projects of limited scope
AIA B161-77
Standard form agreement between owner and architect for
designated services
AIA B162-77 Scope of designated services
AIA B 352-79
Duties, responsabilities and limitations of authority of the architects
project representative
AIA B 431-79 Architect's qualification statement
AIA C 141-87 Standard form agreement between architect and consultant
AIA C 801-79 Joint-venture agreement for professional services
AIA D 200-82 Project checklist
AIA G601-79 Land survey agreement
AIA G 602 Geotechnical services agreement
AIA G809-70 Project data
AIA 1.5 -88 Professional conduct and ethics
AIA 1.13 -88 Interprofessional relationships
AIA 1.14 Marketing and public relations
AIA 2.3-87 Predesign services
AIA2.4-87 Site analysis
AIA 2.5-87 Building design
AIA 2.9-87 Postconstruction services
Anexo 03
B: Normas da American Society for Testing and Materials – ASTM
NÚMERO/ANO TÍTULO
E 1699 -95
Standard practice for performing value analysis (VA) of building
systems.
E 1765 -95
Standard practice for applying analytical hierarchy process (AHP)
to multiattribute decision analysis of investments related to
buildings and building systems
E18 04-96
Standard practice for performing and reporting cost analysis during
the design phase of a project
Anexo 03
C: Normas da British Standards Institution - BSI
NÚMERO/ANO TÍTULO
BS 5234: Part 1-92
Partitions (including) matching linings) Part 1: Code of practice for
design and installation
BS 8200-85
Code of practice for design of nowload bearing external vertical
enclosures of buildings
BS 8103-95 Structural design for low-rise buildings
BS 8207-85 Code of practice for energy in buildings
201
BS DD 67-80 Basic data for the design of buildings:sunlight
BS 525 2F 76
Framework for colour coordination for building purposes:colour
matching fan
BS 7543-92
Durability of buildings and building elements, products and
components
Anexo 03
D: Normas ISO - International Standartization Organization
NÚMERO/ANO TÍTULO
ISO 9699-94
Performance standards in building - checklist for briefing-contents
of brief for building design
ISO 3766-95
Construction drawings-simplified representation of concrete
reinforcement
ISO TR 10127-90
Computer aided design (CAD) technique-use of computers for the
preparation of construction drawings
ISO 6242-1-92
Building construction-expression of user's requirements-Part 1:
Thermal requirements; Part 2 - air purity requirements; Part 3 -
acoustical requirements
ISO 2848-84 Building construction - modular coordination-principles and rules.
Anexo 03 E: Outras:
Normas sobre coordenação modular:
AFNOR (França);
BSI;
AIA;
DIN.
Normas sobre aspectos específicos de projeto, como: Juntas, proteção contra
fogo, impermeabilização, proteção ao intemperismo:
BSI;
AFNOR;
ISSO.
Ministerio de Obras Públicas y Urbanismo (Espanha):
Norma Básica de la edificación - condiciones térmicas en los edificios;
condiciones acústicas en los edifícios;
condiciones de protección contra incendios en los edifícios.
202
Anexo 04: Manuais de projeto
01- AsBEA. Manual de contratação dos serviços de arquitetura e urbanismo. Pini,
São Paulo;
02- CDHU - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de
São Paulo. Manual para execução de serviços e produção de projetos;
03- CEESP / Nossa Caixa. Manuais técnicos para projetos das agências da
CEESP, São Paulo, 1990;
04- COSTA, E.R.R; DOUCHKIN,T. Thesaurus Experimental de Arquitetura. São
Paulo, FUPAM/FAUUSP;CNPq, 1982.;
05- IE - Instituto de Engenharia. Critérios para fixação de preços de serviços de
engenharia;
06- IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
Loteamentos: manual de recomendações para elaboração de projeto. São
Paulo, 2ª ed., SNM/SICCT/EMPLASA/IPT, 1987;
07- IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
Implantação de conjuntos habitacionais:recomendações para adequação
climática e acústica. São Paulo, SICCT, 1986;
08- FUSCO Jr.; CHOLFE, L. Lajes: projeto com tela soldada.Pini/IBTS, 1989;
09- METRÔ-SP. Cia. do Metropolitano de São Paulo. Cadernos de detalhes e
normas de apresentação de projeto;
10- SINDUSCON / SEBRAE-PR. Diretrizes gerais para compatibilização de
projetos. Curitiba, 1995;
11- PETROS. Fundação Petros de Seguridade Social. Norma de projeto e
contratação da Petrobrás;
12- ASCE - AMERICAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS. Quality in the
constructed project: a guide for owners, designers and constructors;
13- ASCE - AMERICAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS. Urban planning guide;
14- ASCE - AMERICAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS. Engineering survey
manual;
15- AIA - American Institute Architects. Handbook of architectural design
competitions;
16- AIA - American Institute Architects. CAD Layer Guidelines: recommended
designations for Architecture, Engineering and Facility Management Computer
Aided-Design. Washington, 1990;
17- ASHRAE. Energy - efficient design of new low-rise residential buildings,
1995/1994.
203
Anexo 05: Normas a serem revisadas e elaboradas
As normas a serem elaboradas ou revisadas abrangem um vasto conjunto de
temas. Deverá ser uma preocupação do setor identificar as "normas-mãe" de cada área
de projeto (as que tratam da metodologia geral de projeto de cada área) e a partir das
mesmas estabelecer uma hierarquia adequada para desenvolvimento e revisão.
Revisão:
Normas que estabelecem as atividades de projeto e seu conteúdo;
Todas as normas de coordenação modular;
As normas de representação gráfica e de apresentação de projeto
(incorporando-se as práticas de emprego de sistemas informatizados);
Todas as normas com mais de 5 anos sem revisão.
Elaboração:
Normas relativas à padronização de terminologia e classificação de cores para
uso em projeto e produtos;
Padronização de medidas para emprego em projeto;
Normas relativas a todas as relações entre os vários participantes do processo
(vide normas AIA);
Normas de projeto urbanístico;
Normas de projeto de paisagismo;
Normas de projeto de drenagem;
Normas de requisitos de desempenho para projeto: conforto térmico, acústico e
lumínico*; antropodinâmico; segurança ao uso; etc segundo as várias tipologias
construtivas;
Normas que estabelecem os elementos e conteúdo dos vários projetos segundo
as tipologias construtivas envolvendo: a inserção no contexto urbano; a implantação no
terreno; à proteção ao meio-ambiente; à interação edificação/equipamentos urbanos;
Normas de padronização de procedimentos para uso de sistemas informatizados na
elaboração de projeto;
Norma de padronização dimensionais de materiais e componentes;
Normas relativas à conservação de água e energia a partir do projeto;
Normas de levantamento de dados e informações para projeto;
Normas de apresentação de memoriais descritivos de projeto - para vendas e
memorial executivo;
Normas de procedimentos para especificação de materiais e componentes em
projeto.
* As normas relativas ao desempenho térmico e acústico de edificações estão em
processo de desenvolvimento sob a responsabilidade do SC3 (Conforto e Energia) do
Comitê Brasileiro de Construção Civil - Cobracon - da ABNT por meio de financiamento
da FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos e são compostas de:
Conforto térmico:
Desempenho térmico de edificações: Definições, símbolos e unidades;
Desempenho térmico de edificações: cálculo de transmitância térmica de
elementos e componente;
Desempenho térmico de edificações: procedimento para o tratamento de dados
climáticos;
Desempenho térmico de edificações: zoneamento bioclimático brasileiro;
204
Desempenho térmico de edificações: avaliação de desempenho térmico de
edificações unifamiliares;
Método de ensaio: medição da condutividade térmica pelo princípio da placa
quente protegida.
Iluminação natural:
Iluminação natural: conceitos básicos;
Iluminação natural: disponibilidade da luz natural;
Iluminação natural: método de determinação da iluminação natural em interiores;
Iluminação natural: medição;
Conforto acústico:
Medição do isolamento acústico de materiais;
Medição da absorção sonora em câmara reverberante;
Conforto acústico;
Poluição sonora.
205
Anexo 06: Instituições Técnicas / Organizações de Aprovações Técnicas
País Organização Técnico Responsável
EOTA – European Organization for Technical
Approvals
Paul CALUWAERTS
32/2.502.38.14 (fax)
Continente Europeu
UEAtc – Union Européene pour l´Agrément
techinique dans la construcción
Emile FARHI
1-45 25 61 51 (fax)
Alemanha
DIBt – Deutsches Institut für Bautechnik *
H. G. MEYER
49 30.264.87.320 (fax)
Áustria
FGW – Forschungsgesellschaft Wohen, Bauen und
Planen
Bélgica
UBAtc – Union Belge pour l´Agrément techinique
dans la construcción
L. BUSSCHAERT
322/287.31.51
SBI – Statens Byggeforsknings Institut
Dinamarca
ETA – Danmark *
IETcc – Instituto de Ciências de la Construción
Eduardo Torroja *
Antonio BLÁZQUEZ
34- 1 30 20 700 (fax)
Espanha
ITEC – Instituto de Tecnologia de la Constucctión
de Catalunya
Joaquim MARTELL
343-300 48 52 (fax)
Finlândia
VTT – Valtion Teknillinen Tutkimuskeskus *
Markku SALUSJARVI
358 0 460 419 (fax)
França
CSTB – Centre Scientifique et Technique du
Batiment *
Pierre FRANÇOIS
33-1-45-25-61-51 (fax)
Holanda
SBK – Stichting Bouwkwaliteit
Hungria
ÉMI – Építésügyi Minóségellenórzó Intézet *
Zoltán GEREBEN
Inst. De C. Q. de Edifícios
Irlanda
IAB / EOLAS – Irish Agrément Board – National /
Standards Authority of Ireland
Itália
ICITE – Istituto Centrale per l´Industrializzazione e
la Tecnologia Edilizia *
Giulio BALLIO
392-982 000 88 (fax)
Noruega
NBI – Norges Byggforskningsinstitut
Polônia
ITB – Instytut Techniki Budowlanej *
Jadwiga A. TWOREK
48-22 25.52.86 (fax)
Portugal
LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil *
J. V. PAIVA
351/1-849-76-60 (fax)
Reino Unido
BBA – British Board of Agrément *
P. C. HEWLETT
(01923) 662133 (fax)
EUROPA
Suécia
SBA – Sventsk Byggodkännande Ab
(*) Instituições associadas a WFTAO – World Federation of Technical Assessment Organizations
Fonte: Mitidieri (1998)
206
País Organização Técnico Responsável
Canadá
CCMC – Canadian Construction Materials Centre
*
J. F. BERNDT
HITEC – Highway Innovative Technology
Evaluation Center *
J. Peter KISSINGER
ICBO ES – International Conference of Building
Officials Evaluation Service *
John NOSSE
310/695.4694 (fax)
EUA
NES – National Evaluation Services, Inc. *
Tom FROST
Argentina
INTI / DC – Instituto Nacional de Tecnologia
Industrial – Construcciones
Rubén Alberto FELIX
Brasil
IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do
Estado de São Paulo AS *
Marco Antonio D´Elia
Cláudio V. Mitidieri Filho
AMÉRICA
Chile
IDIEM – Instituto de Investigaciones y Ensayes de
Materiales
China
CBTDC - China Building Technology
Development Center
Índia
CBRI – Central Building Research Institute
R. N. IYENGAR
Israel
NBRI – National Building Research Institute *
Rachel BECKER
curbekr@techunix.technion.ac.il
SII – The Standards Institut of Israel
BCJ – Building Center of Japan *
BRI – Building Research Institute *
CBL – Center of Better Living *
ÁSIA
Japão
HOWTEC – Japan Housing and Wood
Technology Center *
ASA – Agrément South África *
Joop van WAMELEN
ÁFRICA
África do Sul
SABS – Suid-Afrikaanse Buro vir Standaarde
I M. BENNIE
(2712) 344 1568 (fax)
ABSAC – Australian Building Systems Appraisal
Council *
Barry SCHAFER
Austrália
CSIRO / DBCE – Commonwealth Scientific and
Industrial Research Organization – Building
Construction Engieering
Paul WILLIANS
BIA – Building Industry Authority
John HUNT
(64-4) 471 0798 (fax)
OCEANIA
Nova Zelândia
BTL – Bulding Technology Limited *
Dennis WAPLE
(64-4) 235 6070 (fax)
(*) Instituições associadas a WFTAO – World Federation of Technical Assessment Organizations
Fonte:
Mitidieri (1998)
207
Anexo 07: Organizações de certificação de produtos ou sistemas da qualidade atuando
no Brasil.
Simbologia Organização
ABNT
Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABS
Group Services do Brasil
BRTUV
Avaliações de Qualidade
BSI
British Standards Institution
BVQI
Bureau Veritas Quality International
CCB
Centro Cerâmico do Brasil
DNV
Det Norske Veritas
DQS
DQS do Brasil
FCAV
Fundação Carlos Alberto Vanzolini
Gennanisher
Lloyd do Brasil
IFB
Falcão Bauer Instituto da Qualidade
IRAM
Instituto Argentino de Racionalización de Materiales
LRQA
Lloyd´s Register Quality Assurance
NSAI
National Standarts Authotity of Ireland
SGS ICS
SGS ICS Certificadora
SQS
Schweiz Vereiningung für Qualitatssicherungzertifikate
TUV
Bayern Brasil
UCIEE
União Certificadora
UL
Underwriters Laboratories
Fonte: Kizz (1998)
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo