Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISAS EM
ADMINISTRAÇÃO
LUCIANO ZILLE PEREIRA
NOVAS PERSPECTIVAS PARA A ABORDAGEM DO
ESTRESSE OCUPACIONAL EM GERENTES
ESTUDO EM ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS DE
SETORES DIVERSOS
Belo Horizonte
2005
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
LUCIANO ZILLE PEREIRA
NOVAS PERSPECTIVAS PARA A ABORDAGEM DO
ESTRESSE OCUPACIONAL EM GERENTES
ESTUDO EM ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS DE
SETORES DIVERSOS
Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Administração do
Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Administração da
Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à
obtenção do título de Doutor em Administração.
Área de Concentração: Comportamento Humano nas Organizações
Orientador: Professor Lúcio Flávio Renault de Moraes, PhD
Co-orientador: Professor Hudson de Araújo Couto, Doutor
Belo Horizonte
2005
ads:
Citação especial
Ao meu pai, José Rodrigues Pereira Sobrinho
(Juquinha), in memoriam, que partiu
prematuramente para uma outra vida. Onde
estiver, seus sentimentos são de alegria e seus
gestos são de aplausos por esta importante
realização em prol do crescimento e do
desenvolvimento do ser humano.
À minha mãe, Alzira Helena Zille Pereira, que,
apesar das grandes dificuldades por que passou
durante toda a sua vida, vem sendo incansável e
determinada na viabilização da minha formação
acadêmica plena e de uma carreira profissional
de realizações e sucesso.
Dedicatória especial
Dedico esta tese e presto uma homenagem especial à
minha família, que durante a realização do Curso de
Doutorado, muitas vezes, ficou privada de
compartilharmos momentos especiais. A Maria
Imaculada, Giancarlo e Diego, que sempre estiveram ao
meu lado em momentos de grande importância,
contribuindo, cada um a sua maneira, para que este
trabalho chegasse ao seu final, meu eterno
agradecimento.
Agradecimento especial
Presto um agradecimento especial a Deus, força maior,
que me iluminou para que eu pudesse ter sabedoria,
equilíbrio, determinação e energia, condições
imprescindíveis para se chegar ao fim desta jornada, que
foi determinante para o meu crescimento pessoal e
profissional.
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor Lúcio Flávio Renault de Moraes, meu orientador, companheiro de muitas
jornadas, Coordenador do Núcleo de Estudos Avançados em Comportamento Organizacional,
vinculado ao Centro de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da UFMG, que, além de
orientador e amigo, foi um grande incentivador na realização deste trabalho.
Ao Professor Doutor Hudson de Araújo Couto, que, muito mais que meu co-orientador, foi
conselheiro e amigo, contribuindo com grande incentivo, determinação e parcela significativa de
seu tempo, o que foi determinante para a conclusão desta tese.
À Professora Doutora Marlene Catarina de Oliveira Lopes Melo, amiga e companheira de vários
anos no Departamento de Ciências Administrativas da UFMG, com quem tive o privilégio de
cursar a disciplina Projeto de Tese no Curso de Doutorado em Administração, como também
contar com suas valiosas orientações. Sempre determinada e otimista, incentivou-me com muita
energia, o que foi determinante para realização desta tese.
Ao Professor Doutor Carlos Alberto Gonçalves, que, além de sua imprescindível orientação ao
desenvolvimento metodológico desta tese, foi companheiro e parceiro na importante jornada
quando atuava na Coordenação Geral do Curso de Especialização em Gestão Estratégica da
UFMG (Pós-Graduação Lato Sensu).
À Professora Doutora Zélia Miranda Kilimnik, com quem tive a honra de trabalhar por muitos
anos no Departamento de Ciências Administrativas da UFMG, pelos constantes incentivos para a
realização do Curso de Doutorado.
Ao Professor Doutor Antônio Virgílio Bittencourt Bastos, que, ainda na fase inicial do Projeto de
Tese, com a sua experiência e vocação para pesquisa, proporcionou-me importantes reflexões
acerca de temáticas relacionadas ao comportamento humano nas organizações, que foram
importantes para a minha decisão de pesquisa.
Ao Professor Doutor Antônio Luiz Marques, irmão, amigo, conselheiro e grande incentivador
durante o longo caminho que percorri até a conclusão deste curso.
Ao Professor e amigo Doutor Ricardo Teixeira Veiga, pela sua disponibilidade e contribuições
em parte deste trabalho.
Ao Professor e amigo Doutor José Edson Lara, pelos momentos de reflexão sobre o longo
caminho sinuoso e, muitas vezes, pantanoso da carreira acadêmica.
Aos Professores Doutor Antônio Del Maestro Filho e Doutor Devanir Vieira Dias, pelo apoio
recebido durante a realização do curso de doutorado.
Aos meus Professores do Curso de Doutorado em Administração, que contribuíram de forma
extremamente importante para o meu crescimento pessoal e profissional, culminando com a
conclusão deste curso.
Aos meus colegas do Curso de Doutorado em Administração, com os quais compartilhei alegrias
e eventuais ansiedades no transcorrer desta longa e importante jornada de desenvolvimento
pessoal e profissional.
Ao Departamento de Ciências Administrativas, Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em
Administração e Coordenação do Curso de Doutorado em Administração, pelo apoio constante e
imprescindível à realização do Curso de Doutorado.
A todos os meus colegas, Professores do Departamento de Ciências Administrativas da UFMG,
que de alguma forma me apoiaram e incentivaram no transcorrer da realização do Curso de
Doutorado em Administração.
A todos os colegas do CEGE, CAD e CEPEAD, em especial a Edna Lúcia Pereira Souza, Gracy
Mary de Souza Costa, Maria de Fátima de Souza, Érika Martins Lage e Ana Paula Bezerra de
Deus, esta última atualmente lotada na Secretaria de Colegiados da Graduação da Faculdade de
Ciências Econômicas da UFMG, pelo apoio imprescindível que me foi proporcionado durante
toda a realização do curso.
Ao doutorando Alexandre Teixeira Dias, pelo suporte no tratamento estatísticos dos dados da
pesquisa.
A Anna Carolina Vianna Franco, estagiária de Iniciação Científica, que me apoiou diretamente
nas diversas etapas ao longo do desenvolvimento deste trabalho.
A Natália Real Pereira, estagiária de Iniciação Científica, que me apoiou diretamente em
atividades necessárias à finalização deste trabalho.
Aos estagiários do Núcleo de Estudos Avançados em Comportamento Organizacional (NEACO),
em especial a Pedro Schettini Cunha, Renata Pinal da Costa, Alessandra de Andrade Pires, Júnior
César dos Reis e Filipe Fernandes de Pinho, que contribuíram de forma importante para a
realização e apresentação deste trabalho.
Às funcionárias da Assessoria e Consultoria em Saúde Ocupacional (ERGO) Rosimerie
Aparecida de Souza e a fisioterapeuta Shirley de Castro Bregunci, pelo apoio nas fases de
estruturação do questionário e de coleta de dados da pesquisa.
Ao Professor Afonso Celso Gomes, pela revisão desta tese.
A todos os gestores das organizações pesquisadas, que tiveram a sensibilidade de perceber a
importância deste estudo para a evolução da teoria na área estudada, autorizando e facilitando a
realização do levantamento dos dados necessários à realização deste estudo.
A todos os gerentes das empresas participantes da pesquisa, que colaboraram dedicando parcela
importante do seu tempo, respondendo aos questionários e/ou participando de entrevistas,
imprescindíveis à realização deste trabalho.
Finalmente, a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste
trabalho, o meu reconhecimento.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Modelo de tensão no trabalho ............................................................................... 98
Figura 2 – Modelo dinâmico do estresse ocupacional ........................................................... 102
Figura 3 – Modelo de estresse ocupacional ........................................................................... 104
Figura 4 – Modelo hipotético da pesquisa ............................................................................. 109
Figura 5 – Explicação do construto fontes de tensão no trabalho ......................................... 154
Figura 6 – Explicação do construto fontes de tensão do indivíduo e do papel gerencial ...... 161
Figura 7 – Explicação do construto mecanismos de regulação ............................................. 169
Figura 8 – Explicação do construto outras fontes de tensão .................................................. 173
Figura 9 – Explicação do construto sintomas de estresse ...................................................... 176
Figura 10 – Explicação do construto impactos na produtividade........................................... 183
Figura 11 – Modelo teórico proposto para explicar o estresse ocupacional em
gerentes ............................................................................................................... 191
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Distribuição da amostra da pesquisa, por gênero ................................................ 134
Gráfico 2 – Distribuição do perfil da amostra, por nível hierárquico .................................... 136
Gráfico 3 – Comportamento dos fatores com base na análise dos componentes
principais ............................................................................................................. 303
LISTA DE SIGLAS
AFE – Análise fatorial exploratória
ASSET – Stress screening questionnaire
CEP – Controle estatístico de processo
CAD – Projeto assistido por computador
Cp – Componentes principais
DEG – Diagnóstico do nível de estresse ocupacional em gerentes
DSSC – Doutorado stricto sensu completo
EFC – Ensino fundamental completo
EFI – Ensino fundamental incompleto
ELSC – Especialização lato sensu completa
ELSI – Especialização lato sensu incompleta
EMC – Ensino médio completo
EMI – Ensino médio incompleto
EPI – Equipamento de proteção individual
EUA – Estados Unidos da América do Norte
FTT – Fontes de tensão no trabalho
FTIPD – Fontes de tensão do indivíduo e papel gerencial
GC – Graduação completa
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
IFES – Instituições federais de ensino superior
IMPACTOS – Impactos na produtividade
ISMA – International stress management
JDS – Job diagnostic survey
KMO – Kaiser-Meyer-Olkin
LVPLS – Latent variables partial least squares estimation
MECREGUL – Mecanismos de regulação
MEE – Montagem por equações estruturais
MRP – Material requirement planning
MSSC – Mestrado stricto sensu completo
MSSI – Mestrado stricto sensu incompleto
MTEG – Modelo teórico explicativo do estresse ocupacional em gerentes
OCQ – Organizational commitment questionaire
OFT – Outras fontes de tensão
OIT – Organização Internacional do Trabalho
OMS – Organização Mundial da Saúde
OSI – Occupational stress indicator
PAF – Principal Axis Fatoring
PC – Componentes principais
PCA – Principal component analysis
PLS – Partial least squares
PMMG – Polícia Militar de Minas Gerais
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PUC – Campinas/SP – Pontifícia Universidade Católica de Campinas – São Paulo
PUC-MG – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
QV – Qualidade de vida global
QVT – Qualidade de vida no trabalho
SINTOMAS – Sintomas de estresse
SAP – Sistema de administração da produção
SESMT – Serviço de segurança e medicina do trabalho
SNA – Sistema nervoso autônomo
SNS – Sistema nervoso simpático
SPSS – Statistical package for social sciences
T&D – Treinamento e desenvolvimento
TI – Tecnologia da informação
TQC – Total quality control
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
EU – União Européia
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Visão geral das organizações pesquisadas ........................................................... 113
Tabela 2 – População de gerentes pesquisados, por nível hierárquico................................... 115
Tabela 3 – Caracterização da amostra pesquisada no processo de elaboração do
questionário de diagnóstico de estresse ocupacional........................................... 120
Tabela 4 – Normalidade multivariada – Mardia (PK) ........................................................... 126
Tabela 5 – Classificação da adequação da amostra, de acordo com o teste KMO................. 127
Tabela 6 – Avaliação da adequação da amostra ao método PLS............................................ 130
Tabela 7 – Distribuição do perfil da amostra, por estado civil e trabalho do cônjuge............ 135
Tabela 8 – Distribuição da amostra, por área de atuação........................................................ 137
Tabela 9 – Envolvimentos sociais no âmbito das empresas pesquisadas............................... 139
Tabela 10 – Previsão de promoções........................................................................................ 140
Tabela 11 – Nível educacional ............................................................................................... 141
Tabela 12 – Programa de exercício físico regular .................................................................. 142
Tabela 13 – Hábito de fumar................................................................................................... 143
Tabela 14 – Hábito de beber................................................................................................... 144
Tabela 15 – Variância explicada ............................................................................................ 146
Tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes – final........................................................ 148
Tabela 17 – Confiabilidade composta.................................................................................... 151
Tabela 18 – Jackknifinf para indicadores................................................................................ 152
Tabela 19 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto processos de trabalho.................................................. 156
Tabela 20 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto relações de trabalho..................................................... 158
Tabela 21 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto insegurança na relação de trabalho e convivência
com indivíduos de personalidade difícil..............................................................
159
Tabela 22 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto responsabilidade acima dos limites ............................ 162
Tabela 23 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto estilo e qualidade de vida............................................ 164
Tabela 24 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto aspectos específicos do trabalho do gerente................ 166
Tabela 25 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto desmotivação............................................................... 167
Tabela 26 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto interação e prazos........................................................ 170
Tabela 27 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto descanso regular.......................................................... 171
Tabela 28 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto experiência no trabalho e atividade física.................... 172
Tabela 29 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto outras fontes de tensão................................................ 174
Tabela 30 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto hipersensibilidade e senso de humor........................... 177
Tabela 31 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto sintomas psíquicos, sintomas decorrentes do
sistema nervoso simpático e sintomas gástricos ...............................................
179
Tabela 32 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto sintomas de aumento do tônus, tontura/vertigem,
falta/excesso de apetite e relaxamento ...............................................................
181
Tabela 33 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados
em relação ao construto impactos na produtividade .......................................... 184
Tabela 34 – Coeficientes de caminho .................................................................................... 186
Tabela 35 – Nível de estresse ocupacional – amostra global ................................................ 193
Tabela 36 – Nível de estresse ocupacional – Empresa A ....................................................... 196
Tabela 37 – Nível de estresse ocupacional – Empresa B ....................................................... 198
Tabela 38 – Nível de estresse ocupacional – Empresa C ....................................................... 199
Tabela 39 – Nível de estresse ocupacional – Empresa D ....................................................... 201
Tabela 40 – Nível de estresse ocupacional – Empresa E ....................................................... 203
Tabela 41 – Nível de estresse ocupacional – Empresa F ....................................................... 206
Tabela 42 – Nível de estresse ocupacional – Empresa G ....................................................... 207
Tabela 43 – Nível de estresse ocupacional – Empresa H ....................................................... 209
Tabela 44 – Nível de estresse ocupacional – Empresa I ........................................................ 211
Tabela 45 – Nível de estresse ocupacional – Empresa J ........................................................ 213
Tabela 46 – Nível de estresse ocupacional – Empresa K ....................................................... 215
Tabela 47 – Nível de estresse ocupacional – Empresa L ....................................................... 216
Tabela 48 – Nível de estresse ocupacional – Empresa M ...................................................... 218
Tabela 49 – Nível de estresse ocupacional – Empresa N ....................................................... 219
Tabela 50 – Nível de estresse ocupacional – Empresa O ....................................................... 220
Tabela 51- Visão geral das empresas pesquisadas em relação ao setor de atuação e nível
de estresse identificado ........................................................................................ 222
Tabela 52 – Nível de estresse ocupacional e gênero masculino – Amostra geral .................. 230
Tabela 53 – Nível de estresse ocupacional e gênero feminino – Amostra geral .................... 230
Tabela 54 – Nível de estresse ocupacional e tempo na função – Amostra geral ................... 232
Tabela 55 – Nível de estresse ocupacional e número de horas trabalhadas semanalmente
Amostra global ................................................................................................. 233
Tabela 56 – Nível de estresse ocupacional e realização de exercício físico regular –
Amostra global ................................................................................................... 234
Tabela 57 – Nível de estresse ocupacional e práticas de relaxamento/distensionamento –
Amostra global ................................................................................................... 235
Tabela 58 – Nível de estresse ocupacional e fumantes – amostra global
................................
236
Tabela 59 – Nível de estresse ocupacional e consumo de bebidas alcoólicas – Amostra
global .................................................................................................................. 237
RESUMO
Esta tese teve como objetivo principal estudar o estresse ocupacional em gerentes que atuam em
organizações brasileiras, tendo como foco central agregar à literatura modelo teórico para
explicar essas manifestações, bem como propor instrumento de diagnóstico aderente a esse
modelo. A teoria básica que deu suporte ao desenvolvimento do estudo no que se refere ao
estresse ocupacional foi fundamentada em Cooper et al. (1988, 2000), Karasek (1996, 1998,
2000), Moraes et al. (1990, 1992, 1995, 1998, 2000, 2002, 2003) e Couto (1987). Com relação ao
estudo da função gerencial nas organizações, a fundamentação se deu com base em Katz & Khan
(1976), Kwasnicka (1995), Melo (1999), Srour (1998), Putnam (2000), Tenório (2000) e Sennett
(2001). Em termos metodológicos, a pesquisa caracterizou-se, inicialmente, como uma
investigação empírica de natureza exploratória e, num segundo momento, como explicativa e
descritiva, utilizando-se como estratégia a pesquisa de campo e o estudo de múltiplos casos, com
modelagem estrutural. Foram pesquisadas quinze empresas privadas com atuação no Brasil que
nos últimos anos passaram e/ou estão passando por transformações importantes em termos de
modernização, envolvendo processos de reestruturação produtiva e de gestão, representando
diversos setores da economia nacional. Os principais processos de modernização identificados
foram: internacionalização, estruturas globalizadas, fusões e aquisições, gestão do conhecimento,
banco de talentos, programa de trainees, terceirização, job rotations, downsizing, TQC – total
quality control e reengenharia. Outros aspectos observados na seleção das empresas foram:
atuação no mercado nacional; ser representativa no segmento de atuação; utilizar alta tecnologia
nos processos produtivos e de gestão; e possuir na estrutura organizacional a função gerencial nos
níveis de alta gerência, gerência intermediária e supervisão operacional. A amostra de gerentes
pesquisados foi de 547 indivíduos, sendo 41 (7,5%) pertencentes ao nível de alta gerência, 214
(39%) ao nível de gerência intermediária e 292 (53,5%) ao nível de supervisão operacional. Os
dados foram coletados em três etapas. A primeira etapa foi de identificação, em que foram
levantados dados secundários, a partir de publicações e dos diversos documentos das empresas
participantes, como relatórios, manuais organizacionais e de procedimentos e dados
disponibilizados na Internet. Essas informações foram complementadas com a obtenção de dados
primários, levantados por meio de entrevistas semi-estruturadas, em áreas específicas das
organizações. A segunda etapa consistiu no diagnóstico do estresse ocupacional dos gerentes
participantes, e para tal foi utilizado o Questionário de Avaliação de Estresse Ocupacional em
Gerentes, que teve como objetivo obter os dados necessários, visando a atender aos pressupostos
focais da pesquisa: proposta de modelo teórico para o estudo do estresse ocupacional e
elaboração de instrumento para o seu diagnóstico. Na terceira etapa, foram realizadas entrevistas
semi-estruturadas com uma amostra dos gerentes que responderam aos questionários na segunda
etapa. Foi identificada amostra representativa, por nível de gerência pesquisado, dentre aqueles
indivíduos identificados com ausência de estresse, estresse leve a moderado, estresse intenso e
estresse muito intenso. Posteriormente, realizou-se o tratamento estatístico, em que foram
analisados os dados ausentes e outliers, uni e multivariados, como também adotados critérios de
imputação dos valores ausentes, considerando a sua substituição pela média. Em seguida,
verificou-se o pressuposto da normalidade multivariada, e o tratamento estatístico se deu
mediante a utilização do método PLS – Partial Least Squares. Em relação aos resultados,
desenvolveu-se e propôs-se o Modelo Teórico para Explicar o Estresse Ocupacional em Gerentes
(MTEG) e, em sua aderência, elaborou-se e testou-se o Instrumento de Diagnóstico. Com base no
instrumento proposto, realizou-se o diagnóstico global da amostra, por nível hierárquico, bem
como o diagnóstico em cada empresa pesquisada, nesses mesmos cortes. Em relação ao
diagnóstico global da amostra, o resultado foi o seguinte: 63% dos gerentes com quadro de
estresse, 45% com nível de estresse leve a moderado, 15% com estresse intenso e 3% com nível
de estresse muito intenso. Posteriormente, tendo como referência os resultados dos questionários
e as entrevistas realizadas de forma intencional com parte da amostra, apresentou-se análise
contendo dados qualitativos e quantitativos de quatro casos pesquisados, sendo um caso de cada
nível de estresse identificado (ausência de estresse, estresse leve a moderado, estresse intenso e
estresse muito intenso). As análises centram no diagnóstico do estresse especificado por nível de
intensidade e nas principais causas de tensão excessiva presente de forma importante no ambiente
de trabalho. Foram realizadas ainda análises relacionando os níveis de estresse encontrados na
amostra global, com as seguintes variáveis demográficas: gênero; tempo na função gerencial na
empresa atual; horas trabalhadas; prática de exercício físico; tempo para relaxamento; e hábitos
de fumar e beber como mecanismos de redução de tensão. Finalizando, foram apresentadas as
conclusões e recomendações, bem como algumas limitações identificadas em relação ao
desenvolvimento do trabalho.
Palavras-chave – Estresse ocupacional; Estresse no trabalho; Estresse em gerentes; Estresse em
gestores; Qualidade de vida; Qualidade de vida no trabalho.
.
ABSTRACT
The main objective of this thesis was to study occupational stress in managers who work in
Brazilian companies. Its main purpose was to add a theoretical model to the literature in the field
in order to explain such stress and also to suggest a diagnostic tool consistent with this model. A
basic theory that gave support to the development of this study on occupational stress was based
on Cooper et al. (1988, 2000), Karasek (1996, 1998, 2000), Moraes et al. (1990, 1992, 1995,
1998, 2000, 2002, 2003), and Couto (1987). With reference to the study of the role of
management in organizations, the theoretical foundation was provided by the work of Katz &
Khan (1976), Kwasnicka (1995), Melo (1999), Srour (1998), Putnam (2000), Tenório (2000), and
Sennett (2001). As regards methodology, in its first stage, the research was was empirical and
exploratory in nature. Later, in its second and final stage, the research was descriptive and
explanatory, based on a field study and multiple-case studies, using structural equation modeling.
Fifteen private companies doing business in Brazil and representing various sectors of the
Brazilian economy were investigated. These companies had either undergone or were undergoing
important transformations involving modernization in relation to the restructuring of production
and management processes, principally internationalization, global structuring, fusions and
acquisitions, knowledge management, trainee programs, outsourcing, job rotation, downsizing,
TQC and reengineering. Other aspects of these target companies were taken into consideration
such as: being representative of their industries, use of advanced technology in the production
process and management and having a three-tier organizational structure composed of top,
middle and lower management. Research was carried out on a sample of 647 managers – 41
(7.5%) top executives, 214 (39%) middle management and 292 (53.5%) supervisors. Data were
collected in three stages. First of all, there was an identification stage, during which secondary
data were obtained from publications and various documents belonging to the participating
companies, such as corporate reports, manuals relating to organization and procedures and data
available on the Internet. This information was combined with primary data, obtained from semi-
structured interviews carried out in specific areas of the organizations. The second stage
consisted of the diagnosis of occupational stress among the participating managers. This
diagnosis was based on a questionnaire intended to provide essential data in order to meet the
main objectives of the research: the proposition of a theoretical model to study occupational
stress and the development of a corresponding diagnostic tool. In the third stage, semi-structured
interviews were held with a sample of the respondents of the second stage. A representative
sample of each managerial level was identified, among those individuals classified as having no
occupational stress, low to moderate stress, high levels to
and acute levels of stress. Following
this, statistical analysis was carried out. Outliers and missing data were treated accordingly. The
assumption of multivariate normality was assessed. The LVPLS – Latent Variables Partial Least
Square Estimation – method was used in structural equation modeling. As far as the results of the
research are concerned, the Theoretical Model to Explain Manager’s Occupation Stress was
devised as well as its corresponding diagnostic tool. This diagnostic instrument Was used to carry
out an overall analysis of the sample according to rank as well as in each of the companies under
study, using the same categories of rank. Concerning the overall analysis of the sample, 64% of
managers suffer from stress – 46% suffer from low to moderate stress, 15% have high levels of
stress and 3% have acute levels. Later, based on the results of questionnaires and interviews made
with specific individuals from within the original sample, a qualitative and quantitative analysis
of four selected cases was carried out, with one for each level of occupational stress (no stress,
low to moderate, high and acute). The analyses focused on the diagnosis of stress according with
its level of intensity and on the main sources of tension in the working environment. Other
analyses were also performed concerning the levels of stress in the overall samples, taking into
consideration the following demographic variables: gender, years of experience as a manager in
the company under study, working hours, exercise activities, rest periods, smoking and drinking
habits as a means of coping with stress. Finally, overall conclusions and recommendations were
provided and also some of the limitations of the research were discussed.
Key-words – Occupational stress, Stress at work, Stress among managers, Quality of life,
Quality of life at work.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 24
2 A EVOLUÇÃO DA FUNÇÃO GERENCIAL NAS ORGANIZAÇÕES ...................... 32
2.1 A gerência brasileira e a importação de tecnologia de gestão ..................................... 49
2.2 O gerente e a organização ............................................................................................ 52
3 RESGATANDO A LITERATURA SOBRE ESTRESSE OCUPACIONAL ............... 61
3.1 O surgimento do conceito de estresse ......................................................................... 63
3.2 As abordagens conceituais........................................................................................... 66
3.2.1 Abordagem bioquímica ............................................................................................ 67
3.2.2 Abordagem psicológica ............................................................................................. 70
3.2.3 Abordagem sociológica ............................................................................................. 80
3.3 Pesquisas sobre estresse ocupacional ........................................................................... 83
3.4 Objetivos geral e específicos ........................................................................................ 106
3.5 Apresentação das hipóteses .......................................................................................... 108
4 METODOLOGIA DO ESTUDO EMPIRICO ............................................................... 111
4.1 Tipo de pesquisa ........................................................................................................... 111
4.2 Unidades de análise pesquisadas .................................................................................. 112
4.3 Coleta de dados e etapas da pesquisa de campo .......................................................... 115
4.4 Descrição da metodologia de elaboração do questionário de estresse
ocupacional utilizado para coleta de dados .................................................................. 120
4.5 Preparação das bases de dados ..................................................................................... 123
4.5.1 Ajuste da base de dados ............................................................................................ 125
4.5.2 Verificação do pressuposto de normalidade multivariada ........................................ 126
4.5.3 Critérios para utilização da análise fatorial ............................................................... 126
4. 5. 4 Procedimentos e justificativas para a definição dos parâmetros do
modelo estrutural proposto ...................................................................................... 128
4.6 Pressupostos utilizados para a elaboração do diagnóstico do estresse
ocupacional .................................................................................................................. 131
5 ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ................................................ 133
5.1 Descrição do perfil da amostra ..................................................................................... 133
5.1.1 Distribuição do perfil da amostra, por gênero ........................................................... 134
5.1.2 Distribuição do perfil da amostra, por estado civil e trabalho do cônjuge ................ 134
5.1.3 Distribuição do perfil da amostra, por nível hierárquico .......................................... 136
5.1.4 Distribuição da amostra, por área de atuação nas empresas ..................................... 137
5.1.5 Distribuição da amostra da pesquisa em relação às horas contratadas e
efetivamente trabalhadas ........................................................................................... 138
5.1.6 Envolvimentos sociais no âmbito da empresa .......................................................... 138
5.1.7 Expectativa de previsão de promoção ....................................................................... 139
5.1.8 Nível educacional ...................................................................................................... 141
5.1.9 Programa de exercício físico regular ......................................................................... 142
5.1.10 Hábito de fumar ...................................................................................................... 143
5.1.11 Consumo de bebida alcoólica ................................................................................. 144
5.2 Confiabilidade dos construtos ...................................................................................... 145
5.3 Descrição e análise dos construtos, suas relações e operacionalização ....................... 150
5.3.1 Construto fontes de tensão no trabalho ................................................................ 153
5.3.1.1 construto processos de trabalho ............................................................................ 154
5.3.1.2 construto relações no trabalho .............................................................................. 157
5.3.1.3 construto insegurança na relação de trabalho e convivência com
indivíduos de personalidade difícil ........................................................................ 159
5.3.2 Construto fontes de tensão do indivíduo e papel gerencial ...................................... 160
5.3.2.1 construto responsabilidades acima dos limites ..................................................... 162
5.3.2.2 construto estilo e qualidade de vida ....................................................................... 163
5.3.2.3 construto aspectos específicos do trabalho do gerente .......................................... 165
5.3.2.4 construto desmotivação .......................................................................................... 167
5.3.3 Construto mecanismos de regulação ........................................................................ 168
5.3.3.1 construto interação e prazos .................................................................................. 169
5.3.3.2 construto descanso regular .................................................................................... 170
5.3.3.3 construto experiência no trabalho e atividade física ............................................. 171
5.3.4 Construto outras fontes de tensão ............................................................................. 173
5.3.5 Construto sintomas de estresse ................................................................................. 175
5.3.5.1 construto sintomas de hiperexitabilidade e alterações do senso de humor ............ 177
5.3.5.2 construto sintomas psíquicos, sintomas decorrentes do sistema nervoso
simpático e sintomas gástricos ............................................................................ 178
5.3.5.3 construto sintomas relacionado ao aumento do tônus muscular,
tontura/vertigem, falta ou excesso de apetite e relaxamento ................................. 180
5.3.6 Construto impactos na produtividade ....................................................................... 182
5.4 Análise e verificação das hipóteses .............................................................................. 185
5.5- Proposta de modelo teórico para explicar o estresse ocupacional em
gerentes ........................................................................................................................ 189
5.6 Apresentação do diagnóstico do estresse ocupacional com base no modelo
teórico proposto .......................................................................................................... 192
5.6.1 Diagnóstico do estresse ocupacional, por empresa pesquisada ................................ 195
5.6.2 Diagnóstico individual de estresse – casos ilustrativos ............................................ 222
5.6.3 A relação do estresse com algumas variáveis demográficas ..................................... 229
6 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 239
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 255
APÊNDICES ................................................................................................................... 266
1 INTRODUÇÃO
Os últimos tempos têm sido marcados por importantes transformações tanto do ponto de
vista global, em que os mercados encontram-se abertos para os diversos tipos de transações,
quanto do ponto de vista das organizações, em que essas têm experimentado variados
mecanismos de reestruturação, buscando aumentar os níveis de eficácia e competitividade.
Pode-se dizer que trata-se de um momento especial, que marca a história dos negócios e das
organizações em todas as partes do mundo. Essas mudanças estão relacionadas
principalmente à chamada Era da comunicação, à mundialização, às disfunções do modelo
de desenvolvimento, aos aspectos ecológicos e ao surgimento de novos valores pessoais
relacionados à qualidade de vida (MARQUARDT & ENGEL, 1993). Nesse contexto, um
aspecto de grande relevância diz respeito à importância e, conseqüentemente, à valorização
da gestão das competências humanas como diferencial competitivo para as organizações de
uma forma geral.
As bases para esse novo momento de transformações podem ser inferidas a partir da constatação
de que o mundo dos negócios tem se tornado mais competitivo e global, no qual grande parte das
organizações está, gradativamente, afastando-se dos processos de produção tradicionais e
inserindo-se em novos negócios. Ao mesmo tempo, o foco das atenções tem se deslocado de
mercados locais para o mercado das grandes organizações atuantes em bases mundiais. Da
mesma forma, as leis da economia, a natureza das políticas internacionais, a tecnologia, as
relações e a reestruturação do trabalho, bem como as tecnologias de gestão, vêm, continuamente,
sendo influenciadas por pessoas, eventos e diversas forças cada vez mais difíceis de se preverem,
que se configuram como fatores relevantes e buscam a obtenção de respostas exitosas aos
desafios permanentes do atual contexto mundial e competitivo, no qual estão inseridas as
organizações.
Marquardt & Engel (1993) afirmam que todo esse ambiente exige das organizações e,
conseqüentemente, das pessoas grande capacidade adaptativa, contínua atualização e facilidade
para desenvolver rapidamente novas habilidades, condições essas fundamentais às várias facetas
da mudança por que passa a grande maioria das empresas em todo o mundo.
Nesse mesmo cenário, em momentos mais recentes, Sauter (2005) considera que as práticas
organizacionais vêm, efetivamente, mudando de forma drástica a economia e que, para
competirem de forma mais eficaz, muitas organizações, principalmente aquelas de grande porte,
reestruturaram-se e reduziram de forma significativa o quadro de pessoal. Com isso, as práticas
de emprego não tradicionais que dependem de trabalhadores temporários e de mão-de-obra
terceirizada têm aumentado de forma constante, como também as chamadas “tecnologias
enxutas”, mais flexíveis, estão se disseminado pelas plantas mundiais. Segundo esse autor,
existem indícios importantes de que essas tendências estão resultando em uma série de
circunstâncias potencialmente estressantes. Tais mudanças que ocorrem no local de trabalho,
muitas vezes, ultrapassam as condições de adaptação dos trabalhadores, apresentando sérias
implicações para a qualidade de vida no trabalho (QVT) e, conseqüentemente, afetando a
qualidade de vida (QV) de forma global. Para fins desta tese, a QV e a QVT são entendidas como
um todo, e não a partir de seus componentes.
As profundas mudanças que vêm ocorrendo nas organizações, que agora intensificam a
competição acirrada entre si por clientes e mercados em escala jamais vista, passam
também a competir pelo recurso mais importante: o talento humano. Dessa forma, o
fracasso ou o sucesso de uma organização, cada vez mais, associam-se à capacidade de
gestão desses talentos. Diante desse desafio, têm-se requerido novas competências,
habilidades e, em decorrência, novas formas de produzir e de relacionar-se com o trabalho
e, conseqüentemente, com doenças instigadas por sobrecarga nos mecanismos de adaptação
do corpo e da mente do trabalhador, emergindo, assim, em todo o mundo, grande interesse
pelo valor da saúde. Todos esses aspectos estão diretamente relacionados à qualidade de
vida do ser humano e suas motivações, o que reflete diretamente nos níveis individuais e
globais de produtividade das organizações (SAUTER, 2005).
Os efeitos produzidos pela organização do trabalho à saúde foram reconhecidos nos Estados
Unidos como uma das áreas prioritárias pela Agenda Nacional de Pesquisa Ocupacional,
representando um esforço conjunto do Instituto Nacional de Saúde e Segurança Ocupacional e
seus parceiros na realização e coordenação de pesquisas nessa área.
Levi (2003, 2005) considera que a qualidade de vida global (QV) tem recebido nos últimos anos
maior atenção por parte dos diversos países do mundo, com destaque para aqueles considerados
desenvolvidos e, de forma mais discreta, pelos países em desenvolvimento. Para o autor, o
estresse relacionado ao trabalho pode ser abordado em quatro dimensões: a do trabalhador
individual; a da organização do trabalho; a do país; e a do continente. No caso da União Européia
(UE), o guia de orientações indica a necessidade, em todos os níveis, de identificar os estressores
relacionados ao trabalho e às reações, e os problemas relacionados ao estresse. Afinal, o estresse
é um problema generalizado, pois afeta os trabalhadores, a organização e a sociedade como um
todo. Dessa forma, segundo a diretiva marco da UE sobre saúde e segurança, muitas das
condições estressantes podem ser evitadas pela tomada de medidas de ajustes no âmbito geral do
trabalho. Reforçando esses aspectos mencionados, o autor afirma que os problemas de saúde
mental, entre eles o estresse, estão entre as causas mais importantes que contribuem para o
aparecimento de diversas doenças e disfunções entre a população de trabalhadores dos diversos
países do mundo. Cita como exemplo o caso da Europa Oriental, onde os problemas de saúde
mental constituem a base da dramática diminuição da expectativa de vida nos últimos dez anos,
relacionada à severa recessão econômica e às grandes mudanças sociais ocorridas nesse período.
Observa o autor que os custos reais da doença mental são enormes e alerta que se o quadro atual
persistir deverão crescer significativamente nos próximos vinte anos.
O estresse ocupacional é um condicionante diretamente relacionado à QV, e também, com a
mesma intensidade, vem sendo alvo de atenção dos pesquisadores (KARASEK, 2000, 1998,
1996, 1994; COOPER, 2002, 1988).
Em termos mais amplos, de acordo com o Pnud (2003), elaborado pela ONU sobre a qualidade
de vida, em nível mundial, analisando dados de 2001, os anos noventa significaram um
retrocesso sem precedentes no desenvolvimento humano do planta. O que mais chama atenção é
a extensão da estagnação e dos revezes, fator que não havia sido identificado em décadas
anteriores. Apesar de apontar melhoras importantes em algumas regiões do mundo, os retrocessos
nos países em desenvolvimento ficaram evidentes. Tendo como base o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), utilizado para medir a qualidade de vida desde 1975, o Brasil
ocupa a 65ª posição no ranking de 175 países, tendo piorado o seu índice em quatro pontos,
considerando aos dados constantes no Pnud (2002), que analisou a base de informações relativas
ao ano de 2000.
De acordo com Levi (2003), as megatendências atuais, como aumento da população mundial,
mudanças demográficas, ondas imigratórias, racismo e xenofobia, pobreza mundial endêmica,
aceleração da mundialização e dos avanços tecnológicos, diferenças permanentes e significativas
no mercado de trabalho e desintegração da assistência social do Estado, são aspectos globais
importantes que vêm contribuindo de forma acelerada para reforçar a degradação da qualidade de
vida do ser humano, em termos globais.
Tendo em vista essas importantes questões que afetam o ser humano, o estudo ora proposto
centra o seu foco na temática relacionada ao estresse ocupacional, estudando o gerente,
trabalhador que, pela natureza da função, está exposto a significativos níveis de pressão no
trabalho. Essa pressão decorre principalmente da organização, em termos de seus diversos
ambientes. Para Goldberg (1986), o gerente é o elo entre os diversos níveis organizacionais,
estando, por essa razão, permanentemente submetido a intensa carga de tensão, podendo
constituir-se em fator precipitador de quadros de estresse no trabalho.
Nesse contexto, Sennett (2001, p. 21-25) afirma que o ambiente mais humano que aparentemente
as empresas oferecem é meramente ilusório. O trabalho moderno, com ênfase em projetos, no
curto prazo e na pseudoflexibilidade, não permite que as pessoas desenvolvam efetivamente
experiências que servirão de referência para as suas vidas. Servem, sim, na maioria das vezes,
para deformar e/ou impedir a formação de seu caráter, uma vez que as práticas exigidas pelas
organizações, freqüentemente, são incompatíveis, até mesmo, com preceitos éticos, o que, de
certa forma, foi identificado neste trabalho.
Nos últimos anos, a aceleração das mudanças sob a égide do chamado “novo capitalismo” vem
contribuindo para provocar nesses trabalhadores a degradação da saúde mental, levando-os a
importantes quadros de estresse. Como decorrência, tornam-se vulneráveis a diversos tipos de
doenças, como infarto do miocárdio, derrame cerebral, quadros psiquiátricos graves, úlceras,
colites, manifestações psicológicas diversas, aparecimento de diabetes, distúrbio do sistema
imunológico e câncer, entre outras (GOLDBERG, 1986).
Essa constatação é feita também por Levi (2005) quando menciona que é provável que o estresse
relacionado ao trabalho seja um importante fator determinante da síndrome metabólica, que
abrange uma combinação de acúmulo de gordura abdominal, diminuição na sensibilidade celular
à insulina, dislipidemia (aumento dos níveis do LDL, diminuição nos níveis do HDL colesterol e
aumento nos níveis de triglicérides) e hipertensão, provavelmente, contribuindo para a morbidade
por doença cardíaca isquêmica e diabetes tipo 2.
Esta tese tem como objetivo geral estudar o estresse ocupacional em organizações brasileiras,
tendo como foco central agregar à literatura modelo nomológico operacional e instrumento
aderente que possibilite explicar as manifestações de estresse ocupacional em gerentes. Buscou-
se responder à seguinte questão de pesquisa: Quais são os principais fatores e suas intensidades
em relação à pressão intrínseca ao trabalho, ao indivíduo, às fontes de pressão decorrentes de
outros ambientes não relacionados ao trabalho, à utilização de mecanismos de regulação e aos
sintomas de estresse ocupacional e seus reflexos na produtividade, bem como ao estabelecimento
da direção das relações entre esses fatores?
A teoria básica que deu suporte ao desenvolvimento deste estudo no que se refere ao estresse
ocupacional foi fundamentada em Cooper et al. (1988, 2000), Karasek (1996, 1998, 2000),
Moraes et al. (1990, 1992, 1995, 1998, 2000, 2002, 2003) e Couto (1987). Com relação ao estudo
da função gerencial nas organizações, a fundamentação se deu por intermédio de Katz & Khan
(1976), Kwasnicka (1995), Melo (1999), Srour (1998), Putnam (2000), Tenório (2000) e Sennett
2001).
Para explicar esse problema de pesquisa, em termos metodológicos, tomou-se como referência
Vergara (2004) e Gonçalves e Meirelles (2004). O estudo caracterizou-se, inicialmente, como
uma investigação empírica de natureza exploratória e, num segundo momento, como explicativa
e descritiva, utilizando-se como estratégias a pesquisa de campo e o estudo de múltiplos de casos,
por meio de modelagem estrutural.
Foram pesquisadas quinze empresas privadas com atuação no Brasil que nos últimos anos
passaram e/ou estão passando por transformações importantes em termos de modernização,
envolvendo processos de reestruturação produtiva e de gestão, representando alguns setores da
economia nacional. Os principais processos de modernização identificados foram: estruturas
globalizadas, banco de talentos, programa de trainees, terceirização, job rotations, downsizing,
outsoursing, TQC – total quality control e reengenharia. Outros aspectos observados na seleção
das empresas foram: atuar no mercado nacional; ser representativa no segmento de atuação;
utilizar alta tecnologia nos processos produtivos e de gestão; e possuir na estrutura organizacional
a função gerencial nos níveis de alta gerência, gerência intermediária e supervisão operacional. A
amostra de gerentes pesquisados constituiu-se de 547 indivíduos, sendo 41, ou 7,5%, situados no
nível de alta gerência; 214, ou 39%, de gerência intermediária; e 292, ou 53,5%, de supervisão
operacional.
Os dados foram coletados em três etapas. A primeira etapa foi de identificação. Foram levantados
dados secundários, a partir de publicações e dos diversos documentos das empresas participantes,
como relatórios, manuais organizacionais e de procedimentos, e dados disponibilizados na
internet. Essas informações foram complementadas com a obtenção de dados primários,
levantados por meio de entrevistas semi-estruturadas (Apêndice D), em áreas específicas das
organizações. A segunda etapa consistiu na avaliação do estresse ocupacional dos gerentes
participantes. Para tal, foi utilizado o Questionário de avaliação de estresse ocupacional em
gerentes (Apêndice A), que teve por objetivo obter os dados necessários, visando atender aos
pressupostos focais da pesquisa: proposta de modelo teórico para explicar o estresse ocupacional
e instrumento aderente para o seu diagnóstico. Na terceira etapa, foram realizadas entrevistas
semi-estruturadas (Apêndice B) com uma amostra dos sujeitos que responderam aos
questionários na segunda etapa. Identificou-se a amostra representativa, por nível de gerência
pesquisada, dentre aqueles indivíduos apontados como menos e mais estressados. Posteriormente,
realizou-se o tratamento estatístico, quando foram analisados os dados ausentes e outliers, uni e
multivariados, como também especificados os critérios de imputação dos valores ausentes,
considerando a sua substituição pela média. Em seguida, verificou-se o pressuposto da
normalidade multivariada, e o tratamento estatístico se deu mediante a utilização do método
Partial least squares (PLS).
Em relação aos resultados, foi desenvolvido o Modelo teórico para explicar o estresse
ocupacional em gerentes (MTEG) e, aderente ao modelo em referência, o instrumento
Diagnóstico do nível de estresse ocupacional em gerentes (DEG), constante no Apêndice E. Com
base no instrumento proposto, realizou-se o diagnóstico global da amostra, por nível hierárquico,
bem como o diagnóstico em cada empresa pesquisada, global e por nível hierárquico. Em relação
ao diagnóstico global da amostra, o resultado global foi o seguinte: 63% dos gerentes com quadro
de estresse. Desse percentual, 45% apresentaram nível de estresse leve a moderado; 15%, estresse
intenso; e 3%, nível de estresse muito intenso.
Posteriormente, tendo como referência os resultados dos questionários e das entrevistas
realizadas de forma intencional com parte da amostra, elaborou-se laudo contendo dados
qualitativos e quantitativos de quatro casos pesquisados, como forma de ilustrar a aplicação do
instrumento.
Foram realizadas, ainda, análises relacionadas aos níveis de estresse encontrados na amostra
global, com as seguintes variáveis demográficas: gênero; tempo na função gerencial na empresa
atual; horas trabalhadas; prática de exercício físico; tempo para relaxamento; e hábitos de fumar e
beber como mecanismos de redução de tensão.
Finalizando, foram apresentadas recomendações de caráter geral, bem como algumas limitações
identificadas em relação ao estudo.
O trabalho está estruturado em seis seções:
Na primeira seção, inicialmente, apresentam-se a contextualização da temática estudada, o
objetivo geral, o problema objeto do estudo e as justificativas para sua realização.
Posteriormente, de forma global, introduzem-se os dados relacionados ao contexto teórico, a
apresentação das hipóteses do estudo e a metodologia utilizada. Finalmente, apresentam-se
alguns resultados de caráter geral, bem como a estrutura global do trabalho.
A segunda seção trata da função gerencial nas organizações, contemplando a experiência
brasileira na importação de tecnologias de gestão e o estudo do papel do gerente.
Na terceira seção, resgata-se a literatura sobre o estresse ocupacional.
Na quarta seção, trata-se dos tipos de pesquisa, das unidades de análise, dos critérios utilizados
para a elaboração do instrumento de coleta de dados, das estratégias de coleta e análise dos dados
e dos tratamentos estatísticos que os mesmos foram submetidos.
A quinta seção está estruturada de acordo com as seguintes partes: descrição do perfil dos
profissionais que compõem a amostra pesquisada; análise da confiabilidade dos construtos;
descrição dos construtos, suas relações e operacionalização; análise e verificação das hipóteses,
por meio da utilização de equações estruturais; apresentação de proposta de modelo teórico e
questionário aderente, para explicar o estresse ocupacional em gerentes; e realização de
diagnóstico de estresse da amostra, envolvendo as quinze empresas participantes. Também foram
apresentados quatro casos ilustrativos, com a realização de diagnósticos individuais
aprofundados, por meio de análises quantitativas e qualitativas, sendo estudado um caso em cada
categoria (ausência de estresse, estresse leve a moderado, estresse intenso e estresse muito
intenso). Finalmente, analisa-se o estresse em relação a algumas variáveis demográficas
consideradas pelo estudo.
Na sexta seção, apresenta-se uma síntese dos principais resultados, bem como algumas
recomendações.
Finalmente, constam os apêndices decorrentes do desenvolvimento deste trabalho.
2 A EVOLUÇÃO DA FUNÇÃO GERENCIAL NAS ORGANIZAÇÕES
Esta seção tem como objetivo apresentar, de forma evolutiva, como se deram o surgimento e
o desenvolvimento da função gerencial nas organizações. A abordagem inicia-se focando
épocas mais remotas da história, com o surgimento do capitalismo industrial, na Inglaterra,
passando pelos vários momentos que marcam a evolução do pensamento administrativo e as
suas relações com a função gerencial nas organizações. Posteriormente, aborda-se o chamado
“novo capitalismo”, em que são retratados os seus reflexos nas organizações e, sobretudo, em
relação aos indivíduos que exercem a função gerencial, população essa objeto da pesquisa
empírica realizada neste trabalho.
Com o surgimento do capitalismo industrial, os trabalhadores que realizavam suas tarefas em
pequenos ateliês começaram a se reunir em grandes espaços físicos para produzir de forma
cada vez mais padronizada, sob o comando de gerentes, que inicialmente eram os donos das
fábricas. Esses indivíduos passaram a executar um processo diferente daquele que era
realizado, num primeiro momento, por um sistema mecânico girado por grandes rodas d’água
e, posteriormente, pelos fornos de carvão. Diante desse novo momento, os trabalhadores
passaram, então, a lidar com novas condições de trabalho, em que os tempos de pausa não
eram mais determinados pelo condicionamento físico do trabalhador que operava a máquina,
mas sim pela máquina, que determinava a pausa dos operários que a elas estavam ligados
(MANTOUX, 1983).
Essa época mais remota, que ainda é presente em muitas empresas, era norteada pela
visão mecanicista das organizações, em que a eficiência prendia-se à maneira menos onerosa de
se produzir e à utilização ótima dos potenciais que estavam à disposição do capital. Isso
significava menos gastos de energia humana, de capital e de tempo. Vigorava o conceito do
máximo de prosperidade, em que estavam englobados o crescimento dos lucros do capitalista, a
expansão dos negócios e a melhor utilização dos trabalhadores, no qual a preocupação com o
indivíduo, seus anseios e suas necessidades, era praticamente inexistente e colocada em segundo
plano (TAYLOR, 1957).
Ocorriam manifestações dos trabalhadores, e seus problemas de saúde eram grandemente
relacionados às condições de trabalho às quais estavam submetidos. O mundo começava a
fervilhar de novas invenções, e havia sempre homens dispostos a desenvolver um grande
empreendimento para colocar essas novas propostas em circulação pela sociedade. Esses casos
ainda hoje estão presentes no dia-a-dia, mas a explosão inicial trouxe um grande impacto em toda
a organização da sociedade que até então vigorava, conforme afirma Mantoux (1983).
O início do capitalismo industrial se deu sob um contexto muito singular, em que somente
a Inglaterra estava lidando com essa nova relação de trabalho. O resto do mundo ainda estava
convivendo com pequenos núcleos de trabalhadores livres, que utilizavam o sistema de
manufaturas, no caso do resto da Europa, ou o sistema escravocrata, principalmente nas grandes
plantações nas Américas.
Inicialmente, o indivíduo que controlava a produção no sistema industrial era o próprio
capitalista. Depois, foi introduzida a figura do capataz, que supervisionava a produção de
cada trabalhador ou grupo de trabalhadores. Assim, com o surgimento da figura do gerente, o
papel de estrategista e planejador passou a ser mais específico, e o capitalista transferiu sua
preocupação, que era mais concentrada na produção, para o seu investimento, ou seja, para o
negócio propriamente dito. A partir daí, o gerente passou a ser o estrategista da organização.
Ele precisava ter conhecimento técnico sobre a produção, possuir visão global sobre os
processos produtivos e, ainda, buscar sempre os melhores métodos de trabalho para alcançar a
máxima eficiência na produção. Assim, surgiu o gerente, que por muito tempo foi
considerado no meio acadêmico como tendo o papel de um trabalhador que era empregado do
capital (MANTOUX, 1983).
Na visão de Braverman (1987), existe uma relação entre o capitalismo industrial, que teve o seu
início quando um maior número de trabalhadores começou a ser empregado por um único
capitalista, e o surgimento da gerência. Nesse primeiro momento, a gerência surgiu de forma
rudimentar, mas necessária, para atender a algumas demandas da época, as quais estavam
relacionadas com a coordenação de reuniões; a definição de prioridades, ainda que de forma
precária; a estruturação dos processos de trabalho no interior das oficinas, como a ordenação das
operações; a centralização do suprimento de matéria-prima; a manutenção dos registros de
custos; a preparação das folhas de pagamento; o controle e armazenamento dos produtos
acabados; e as atividades de venda, cadastro de crédito e cálculos de lucros e perdas, entre outras
atividades correlatas.
Em um segundo momento, empresas como estaleiros e fábricas de viaturas passaram a exigir
maior complexidade em relação aos processos de trabalho, como os de engenharia e outros
relacionados. Com o passar dos tempos, surgiram novas indústrias manufatureiras, como as
refinarias de açúcar, as fábricas de sabão e as destilarias. Concomitantemente, surgiam também
novos processos de fabricação importantes, como os de fundição de ferro, laminaria de cobre e
latão, produção de equipamento bélico, papel e pólvora. Todos esses processos exigiam funções
de concepção e coordenação, que na indústria capitalista assumiram a forma de gerência.
Diante desse contexto, o capitalista passou a assumiu essas funções como gerente, em virtude de
sua propriedade do capital. Nas relações capitalistas de troca, o tempo dos trabalhadores
assalariados era propriedade do capital, tanto quanto a matéria-prima e os produtos acabados. No
princípio, isso não era compreendido, uma vez que as regras do aprendizado e os estatutos legais
comuns ao mundo feudal corporativo de produção persistiram por algum tempo. No entanto,
foram gradualmente banidos à medida que o capitalismo consolidava o seu poder na sociedade e
destituía os aspectos jurídicos das formações sociais pré-capitalistas.
Com o passar do tempo, a lei e o costume foram remodelados para refletir o predomínio do
contrato livre entre comprador e vendedor, com o qual o capitalista adquiria o poder virtualmente
irrestrito de determinar os modos técnicos do trabalho.
Braverman (1987) afirma que as primeiras fases do capitalismo industrial foram assinaladas por
um continuado esforço por parte do capitalista para desconsiderar a diferença entre a força de
trabalho e o trabalho por ela realizado. Entendia-se o trabalho com a mesma equivalência que se
adquiria matéria-prima, que, para tal, necessitava-se de uma determinada quantidade de trabalho
completa e incorporada no produto. Essa situação contribuiu para o desenvolvimento de várias
formas de subcontratação e desligamento de trabalhadores nas indústrias.
Nas fábricas de fios de algodão, tecidos, tapetes, linha, metalúrgicas, olarias, indústrias de
construção, obras públicas, transporte e pedreiras, os empregados mais qualificados se tornavam
encarregados da maquinaria e recrutavam seus próprios ajudantes – muitas vezes, crianças –
dentre os familiares e conhecidos. Esse é um exemplo da prática da subcontratação da mão-de-
obra relacionada ao desenvolvimento dos processos de trabalho requeridos pelas indústrias.
Portanto, no século XIX surgia a figura do capataz, que exercia funções de supervisão e
pagamento de salários aos trabalhadores, figura essa ainda presente na sua forma de atuação em
muitas organizações do século XXI.
Essa situação é ilustrada por Dobb (1947), que afirma que por volta de 1870 o empregador
imediato de muitos trabalhadores não era o grande capitalista, mas o subcontratador
intermediário, que, ao mesmo tempo, era empregado e pequeno empregador de mão-de-obra.
Para o autor, o trabalhador especializado de meados do século XIX exercia essa dupla função.
Não era só nos ofícios ainda no estágio de trabalho externo e produção doméstica que esse tipo de
relação predominava, com seus mestres armeiros ou fazedores de pregos, celeiros e ferrageiros de
viaturas, ou agentes e comissários com trabalhadores domiciliares sob suas ordens. Nos ofícios
fabris, o sistema de subcontratação também era comum, como nos altos-fornos, em que havia os
alimentadores e os retiradores, pagos pelo capitalista de acordo com a tonelagem de produção
obtida. Para esse trabalho, eram empregadas turmas de homens, mulheres e meninos, que
utilizavam a tração de animais para abastecer os fornos. Nas minas de carvão, havia os
subempreiteiros, que faziam um contrato com a gerência para explorar uma galeria e
empregavam seus próprios ajudantes. Alguns deles tinha até 150 homens sob suas ordens, o que
exigia um supervisor chamado doggi (cachorrinho) para superintender o trabalho. Nas laminarias,
havia o mestre-laminador; nas fundições de latão e fábricas de correntes, os chefes, que, às vezes,
empregavam até vinte ou trinta trabalhadores. Até operárias em fábricas de botões empregavam
meninas como ajudantes.
Em relação aos pagamentos, Braverman (1987) afirma que eram efetuados por unidade
produzida, sob várias maneiras, o que é ainda muito comum nos dias atuais, representando a
conversão do salário por tempo, numa forma que tenta, de maneira muito desigual, colocar o
trabalhador como cúmplice voluntário da sua própria exploração.
No que se refere às formas de desenvolvimento do trabalho, argumenta o autor, a ênfase era no
empenho de comparar o trabalho acabado em vez de assumir o controle direto sobre a força de
trabalho. Isso era que aliviava o capitalista das incertezas desse sistema, pela fixação de
determinado custo unitário, ao mesmo tempo em que colocava fora do alcance do capitalista
grande parte do potencial de trabalho humano que poderia tornar-se disponível por horas
estabelecidas, o controle sistemático e a reorganização do seu processo. Essa função é a chamada
gerência capitalista, que logo assumiu papel preponderante nas organizações, de forma geral.
As grandes construções, como as pirâmides do Egito e a muralha da China, foram edificadas com
o trabalho excedente de uma população escrava sem outros objetivos senão a glória dos faraós e
imperadores. Estradas e canais foram construídos por sua utilidade civil ou militar, e não, em
geral, para a obtenção de lucro. As manufaturas subsidiadas pelo Estado produziam armas e
artigos de luxo e gozavam de um monopólio real ou legal, tendo as encomendas por compradores
não comerciais, como os tribunais e os exércitos. Dessa forma, a administração exigida era
elementar, e o trabalho era realizado por escravos e, muitas vezes, supervisionado também por
escravos.
Na evolução do sistema, o capitalista – lidando com o trabalho assalariado, que representa um
custo para toda hora não produtiva, com uma tecnologia avançando rapidamente, para a qual os
seus próprios esforços certamente contribuíram, aliando-se a uma necessidade de acumulação de
capital – buscou uma arte totalmente nova de administrar. As suas ações tornaram-se mais
completas, autoconcientes, esmeradas e calculistas, afirma Braverman (1987).
Outro aspecto refere-se ao sistema de controle, que, sem a centralização do emprego, era, se não
impossível, certamente muito difícil, e assim o requisito para a gerência constituía-se na reunião
dos trabalhadores prioritariamente num mesmo ambiente físico. O primeiro efeito dessa mudança
era impor aos trabalhadores horas regulares de trabalho, em contraste com o ritmo auto-imposto,
que incluía muitas interrupções e meios expedientes, que, em geral, impediam a extensão da
jornada de trabalho para fins de produzir um excedente de produção nas condições até então não
existentes.
Nas oficinas, a gerência primitiva assumiu formas rígidas e despóticas, visto que a criação de
uma força de trabalho livre exigia métodos coercitivos para habituar os empregados às suas
tarefas e mantê-los trabalhando durante dias e anos. Havia poucas regiões do país (Inglaterra) em
que as indústrias modernas, sobretudo as têxteis, não estivessem associadas com prisões,
reformatórias e orfanatos. O moderno proletariado industrial foi levado ao seu papel não tanto
pelo atrativo ou recompensa monetária, mas sim pela compulsão, força e medo. As compulsões
legais e uma estrutura informal de castigo no seio das fábricas foram freqüentemente ampliando-
se num completo sistema social que abrangia jurisdições inteiras (POLLAARD, 1965).
Um caso ilustrativo dessa situação é o da empresa Ambrose Crowley, grande metalúrgica, que
em meados do século XVIII empregava mais de mil trabalhadores. Constava um livro com as
seguintes normas e dizeres:
[...] a firma fornecia um médico, um capelão, três professores, uma pensão e
auxílio funeral aos pobres. Crowiey pretendia dominar a vida espiritual de seu
pessoal e induzi-lo voluntariamente e obedientemente à sua máquina. Era sua
intenção expressa que toda a sua vida, inclusive até seu escasso tempo de folga
(tempo normal de trabalho era de 80 horas semanais) revertesse à tarefa de
tornar os ofícios lucrativos (POLLARD, 1965, p. 56).
O capitalismo cria uma sociedade na qual ninguém consulta qualquer coisa senão o interesse
próprio. Os interesses são explicitados em um contrato de trabalho celebrado entre as partes cujo
objetivo principal é regular os diversos níveis de participação. Dessa forma, a gerência torna-se o
instrumento mais perfeito e sutil para administrar esses interesses, em que a tradição, o
sentimento e o orgulho no trabalho desempenham papel cada vez menor e mais esporádico nas
organizações (BRAVERMAN, 1987).
Ainda de acordo com Braverman (1987), o verbo to manage (administrar, gerenciar) vem de
manus, do latim, que significa mão. Antigamente, significava adestrar um cavalo nas suas
andaduras, para fazê-lo praticar o manège. No caso do capitalista, esse se empenha, por meio da
gerência (management), em controlar. O controle é, de fato, o conceito fundamental que impera
nos sistemas gerenciais.
Para Leffingwell (1925, p. 35), “a gerência eficaz implica controle. Em certo sentido os termos
são intercambiáveis, visto que gerência sem controle não é concebível”. Com o decorrer dos
tempos, as novas relações sociais passaram a estruturar o processo produtivo e o antagonismo
entre aqueles que executam o processo e os que se beneficiam dele. Ou seja, os que executam, os
que trazem à fábrica a sua força de trabalho e os que pretendem extrair dessa força de trabalho a
vantagem máxima para o capitalista: o gerente.
Na visão de Kwasnicka (1995), o gerente clássico tem seu trabalho direcionado pelas premissas
da abordagem clássica da administração, inspirada, sobretudo, nas teorias de Taylor e Fayol,
voltadas para um pensamento tecnicista em relação à melhoria de desempenho e à organização
produtiva.
As dificuldades para exercer o controle gerencial e incentivar a produção eram enfrentadas com a
tentativa de colocar o administrador como definidor de regras e sistemas que puniam ou
recompensavam o trabalhador de acordo com a sua eficiência de produção, estando, portanto,
desvinculado de suas ações principais, relacionadas ao papel estratégico. Era comum um turnover
acentuado dos trabalhadores de linha, o que não ocorria com aqueles que ocupavam a função
gerencial. Como afirma Kwasnicka (1995), acreditava-se que ter uma organização estável
significava manter um mercado estável e que a maximização dos lucros era o fator principal do
crescimento organizacional. Os gerentes passavam por tensões importantes, provenientes,
principalmente, da pressão dos trabalhadores sob seu comando, que tinham condições de trabalho
pouco satisfatórias e muitos anseios. De acordo com Katz (1970), as maiores dificuldades para os
gerentes estão relacionadas à sua condição de analista das condições que afetam a sua unidade de
trabalho, identificando as necessidades de alocação de recursos, os relacionamentos interpessoais,
os valores e as normas da organização, como forma de alcançar os melhores resultados do
trabalho. Observa-se, portanto, que a função gerencial é permeada por um significativo nível de
pressão, advindo tanto do capital como do trabalho.
É importante mencionar-se à época a negligência em relação às necessidades humanas,
uma vez que o foco das preocupações da maioria dos estudiosos estava voltado para as
necessidades organizacionais, como as explicitadas na teoria burocrática weberiana, em que são
tratados os conjuntos de normas, o princípio da hierarquia, a competência profissional e o
conhecimento técnico. O princípio da associação entre as necessidades do indivíduo e as
necessidades da organização não era levado em consideração nem mesmo após as premissas
colocadas pela Escola das Relações Humana, abordagem essa anterior ao modelo burocrático de
organização, que surge em meados do século XX, tendo entre os seus principais expoentes
pesquisadores como Elton Mayo, Kurt Lewin e Tannenbaum (KWASNICKA, 1995).
O modelo burocrático trouxe algumas formas de organização que, muitas vezes, dificultam a
comunicação, afastam o gerente do seu pessoal e impõem um controle maior não só sobre o
trabalhador, mas sobre todos os indivíduos envolvidos com a organização. Os gerentes que têm
que lidar com estruturas muito rígidas, constantemente, sofrem impactos vindos das mudanças do
ambiente, que, freqüentemente não são acompanhadas pela organização, principalmente as
mudanças no mercado e os níveis crescentes de especificidades dos produtos e serviços
demandados pelos clientes.
Tendo em vista as demandas do ambiente, e numa visão evolutiva, os gerentes passaram a
assumir posturas diferenciadas em relação às ações administrativas. A Escola de Relações
Humanas e a Escola Comportamental fizeram com que o administrador passasse a dar tratamento
novo às necessidades dos indivíduos, reconhecendo ao fator humano uma importância maior no
ambiente de trabalho. Os gerentes passaram a dar maior atenção à satisfação dos trabalhadores e
ao significado das tarefas que esses realizavam, buscando adotar idéias de como tornar a gerência
mais democrática e o trabalhador mais participativo nas organizações. Como exemplo dessas
ações tem-se o princípio da integração, que prescreve a necessidade da criação das condições que
melhor possibilitem aos trabalhadores realizar suas próprias atividades, mediante a orientação de
seus esforços para resultados. Os fatores de saúde, sociais e psicológicos passaram a ter
importância maior nas organizações, uma vez que o bem-estar do trabalhador passou a ser
considerado como um aspecto de grande importância para se atingir a eficácia no trabalho
(McGREGOR, 1970).
Nessa direção, outra contribuição importante é atribuída a Maslow (1962), que, a partir
das necessidades, considerava que a motivação humana poderia ser organizada segundo uma
hierarquia de cinco níveis básicos, podendo ser utilizada para analisar tanto as necessidades dos
trabalhadores operacionais quanto as necessidades do ponto de vista dos ocupantes da função
gerencial.
A flexibilização nas organizações começou exatamente neste ponto, quando o casamento das
necessidades do indivíduo com as necessidades da organização passou a ser levado em conta,
pois ambos os lados precisavam abrir mão de algumas coisas e adotar um pouco do ponto de
vista do outro lado para construir objetivos em comum, tornando as relações de trabalho mais
colaborativas e construtivas.
Posteriormente, a Escola Sistêmica e a Escola Contingencial vieram trazer para o gerente
uma visão mais organicista sobre as questões de gestão, passando a tratar o sistema
organizacional não mais como uma máquina, mas como um conjunto de sistemas abertos que
interagem e que sofrem grandes influências das decisões das pessoas que constituem a
organização e do meio em que ela está contida. Esse pensamento colocou a organização em uma
posição antagônica à anterior. Se antes o papel do gerente era ter o controle sobre o que a
organização fazia e sobre o seu ambiente, agora a idéia é que não há como ter controle sobre
esses fatores tão complexos como as demandas e restrições do indivíduo, do ambiente e das
relações sociais. Dessa forma, a adequação das pessoas e da organização a esse pensamento traz
uma infinidade de modificações nas relações de trabalho e nos modelos de gestão (KATZ &
KAHN, 1976).
O próprio enfrentamento de todas essas modificações nas visões e nos modos de lidar com a
organização faz com que o gerente receba uma carga ainda maior de tensões, que ele precisa
assimilar e à qual deve adequar-se para continuar tendo condições de gerenciar a organização,
possibilitando a essa alcançar seus objetivos.
Observa Srour (1998) que nessa direção de busca de equilíbrio, procurando minimizar pressões
advindas do ambiente organizacional, compatibilizando-as com o que suporta a estrutura
psíquica, os gerentes buscam mecanismos de regulação. Como exemplos desses mecanismos
estão a conquista de apoio dos pares, superiores e subordinados, a negociação de vantagens e
prerrogativas diversas e a construção de alianças e redes.
A partir da visão da Escolas Sistêmica e da Escola Contingencial, a questão da flexibilidade se
tornou mais evidente, principalmente pelo fato de a teoria sistêmica basear-se na biologia,
levando em conta que evoluir significa adaptar. Ou seja, aqueles que mais rapidamente se
adaptam às pressões do conjunto de fatores que o ambiente impõe mais evoluídos estarão e, por
conseqüência, tenderão a não se extinguirem.
Mattoso & Oliveira (1996) consideram que o contexto global dos tempos contemporâneos faz
grandes alusões à abertura econômica e às interações culturais. As organizações
multinacionais tornaram-se pontos iniciais para mudanças e para a introdução de novas
formas de enfrentamentos nas comunidades geograficamente distantes. Os arranjos que as
empresas passam a fazer para produzirem e comercializarem pelo mundo vêm requerer uma
flexibilidade organizacional muito grande, sobretudo dos gestores.
Na visão de Putnam (2000), esse novo ambiente organizacional induziu mudanças
profundas nas formas de pensar e nos estilos de gerência, sobretudo com a introdução de novas
tecnologias e modificações na estrutura produtiva das organizações. Essas novas tecnologias
foram responsáveis pela substituição gradativa da força de trabalho das pessoas pelo trabalho de
máquinas cada vez mais sofisticadas e inteligentes, operadas por um número cada vez menor de
trabalhadores. A entrada de novas tecnologias foi também responsável por grandes alterações nas
formas de interação social e na cultura da sociedade como um todo.
As estruturas produtivas que passaram a surgir são amplamente questionadas tanto por
Putnam (2000) quanto por Sennett (2001). Esse último critica principalmente as estratégias de
demissão e os processos de reengenharia que foram responsáveis por uma grande instabilidade
tanto na economia quanto na empregabilidade em todo o mundo. Porém, o problema maior
trazido tanto por essas estruturas quanto pelas tecnologias não são as mudanças em si, mas as
formas que os indivíduos passaram a ser pressionados diante de uma pseudoflexibilidade, que, na
maioria das vezes, causa um grande incômodo e significativos níveis de pressão, principalmente
naqueles trabalhadores que ocupam função gerencial, contribuindo, na maioria das vezes, para o
adoecimento físico e psíquico (PUTNAM, 2000 e SENNETT, 2001).
Nesse sentido, Srour (1998, p. 136) afirma que “o medo impera e a vontade do chefe
prevalece, ainda que os subordinados represem tensões ou ofereçam resistências subterrâneas”.
A visão sobre a relação que a organização tinha com os seus subsistemas internos e
externos trouxe uma forma de relação indivíduo – organização diferente do que era praticado no
chamado “velho capitalismo”. Essa mudança de paradigma coloca os indivíduos e as
organizações diante de um novo vínculo, aquele da flexibilidade, considerado por Sennett (2001)
como pseudoflexibilidade, em que o indivíduo torna-se o seu próprio gerente, exercendo, na
plenitude, o máximo de autocontrole e tendo com conseqüência a submissão a elevados níveis de
pressão. Dessa forma, um número crescente de trabalhadores se vê entre a cruz e a espada: de um
lado, o desemprego; de outro, um trabalho cada vez mais absorvente, exigente, instável e,
sobretudo, estressante.
O “novo capitalismo econômico” é uma expressão sintetizadora dessa nova forma de
pensamento dentro das organizações, pois, ao pregar a abertura e a flexibilidade, faz com que
tanto a organização quanto o indivíduo necessitem tornar-se cada vez mais aptos para lidar com
os fatores altamente mutáveis dos ambientes dessa época contemporânea. “A forma de gestão do
próprio sistema empresarial é afetada através das inovações tecnológicas tanto do processo de
produção em si, quanto do gerenciamento da força de trabalho” (TENÓRIO, 2000 p. 158).
O cenário em que o novo capitalismo começou a surgir foi cercado de crises, dando como
saída a “flexibilidade”. Primeiro, uma crise latente do paradigma industrial, com a desaceleração
da produtividade e um crescimento da relação capital/produto, conduzindo a uma queda da
lucratividade nos anos 60. A reação dos empresários, via internacionalização da produção, e do
Estado, via generalização das políticas de austeridade, levou a uma crise do emprego, e daí à crise
do Estado-Previdência, no caso do Brasil. A internacionalização e a estagnação dos rendimentos
desencadearam, por sua vez, a crise “do lado da demanda”, no fim dos anos 70. A “flexibilidade
surgiu então como uma adaptação a esse último aspecto da crise, tornado-se decisivo para as
organizações, em relação às questões de lucratividade e, conseqüentemente, de sobrevivência
(LEBORGNE & LIPIETZ, 1988, p.16).
A reestruturação produtiva, que nas sociedades desenvolvidas começa a partir dos anos
70, tem no Brasil seu início a partir dos anos 90, com reflexos extremamente expressivos em
relação ao trabalho. Verificam-se, principalmente, altos níveis de insegurança em relação ao
emprego e renda, atingindo todas as classes profissionais, até mesmo o grupo gerencial
(MATTOSO, 1995).
Para Melo (2004, p. 37), não existe consenso em relação às demandas da categoria
gerencial, uma vez que “apresenta-se antagônica, na medida em que depende, por um lado, da
classe capitalista, opondo-se a ela em seu esforço de racionalização e reforma do trabalho,
enquanto, por outro lado, trabalha para o controle e exploração da classe”.
Nesse processo evolutivo, Tenório (2000) reconhece três fases por que passou a transição do
modelo de racionalização de trabalho rígido para um mais flexível. A primeira, segundo o autor,
ocorreu durante o período de Taylor, Ford e Fayol; a segunda com a escola das Relações
Humanas; e a terceira com as técnicas japonesas de gestão da produção. Para Boddy (1990, p.
46), esse quadro configura o modelo pós-fordista, em que a “flexibilização na produção
corresponde uma flexibilização dos mercados de trabalho, das qualificações e das práticas
laborais”.
O gerente passa então a ter de lidar com padrões na sua organização e na sociedade, que, muitas
vezes, contradizem o seu próprio pensamento, como também a própria história da organização. A
interação com esse novo ambiente é um fator que gera mais tensões no ambiente organizacional,
e, conseqüentemente, torna-se causa importante para o desencadeamento de quadros de estresse
ocupacional. Alguns padrões passam a ser imperativos nesse contexto:
a) um esforço permanente para a melhoria simultânea da qualidade, dos custos e dos
serviços de entrega; b) manter-se muito próximo dos clientes, para entender suas
necessidades e ser capaz de se adaptar para satisfazê-las; c) busca de uma maior
aproximação com os fornecedores; d) utilizações estratégicas da tecnologia, visando à
obtenção de estratégia competitiva; e) utilização de estruturas organizacionais mais
horizontalizadas e menos compartimentalizadas; f) utilização de políticas inovadoras de
recursos humanos (CASTRO et al., 1996, p. 259).
A incessante busca por melhor atendimento ao cliente, eficiência operacional e qualidade dos
produtos leva sempre à busca pela melhor tecnologia. A tecnologia da informação e a
microeletrônica, que são atualmente importantes ferramentas tecnológicas para alcançar tais
resultados, trazem na sua utilização uma necessidade de flexibilização ainda maior. As
variedades de softwares e as formas de armazenagem, processamento e troca de informação
possibilitam, muitas vezes, a um único indivíduo acumular as tarefas que eram antes realizadas
por vários grupos de indivíduos especializados em somente um desses processos.
As técnicas gerenciais também fazem uma exigência de perfis mais dinâmicos de indivíduos
que atuam no processo produtivo. O just-in-time, por exemplo, traz uma preocupação maior
com os tempos que o produto leva para passar de um estágio a outro, seja na produção, na
entrega ou na manutenção. Anteriormente, os processos de trabalho nessa área exigiam
menos dinamismo dos trabalhadores e, conseqüentemente, do gerenciamento.
A administração da qualidade total (TQM/TQC), os instrumentos de certificação (ISO) e os
sistemas de planejamento participativo são mais alguns dos fatores que acabam por exigir do
trabalhador um perfil de maior criatividade, resistência às tensões, receptividade a novas
idéias e flexibilidade para lidar com as implicações que esse novo ambiente produtivo passa a
exigir (BODDY, 1990).
De acordo com Brod (1985), o ritmo cada vez mais acelerado do trabalho vem contribuindo
para aumentar a impaciência dos trabalhadores, resultando em níveis sem precedentes de
estresse.
Em pesquisas recentes, mais de 75% dos trabalhadores americanos descrevem seus empregos
como estressantes e acreditam que a pressão está aumentando continuamente. No Japão,
dezenas de vítimas de morte por excesso de trabalho (karoshi) geram indenizações pelo
governo, em escala crescente, todos os anos. Na Inglaterra, os trabalhadores batem recordes
de falta ao trabalho em razão do estresse e gastam bilhões para combater o problema. No
mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, 30% dos trabalhadores apresentam
sintomas de depressão e transtornos de ansiedade, como a síndrome do pânico e o estresse
(LEVI, 2003, 2004).
Para Allen et al. (1995), no Brasil, as principais mudanças e incorporações relativas a programas
e tecnologias que são adotados por empresas que se configuram nesse novo modelo de
capitalismo são as seguintes: novas formas de relações de trabalho; fabricação e entrega just-in-
time; utilização do conceito de minifábricas, ou de fábrica dentro de fábricas; ênfase no
treinamento/educação básica; implementação de trabalho em grupo; desenvolvimento de
programa de saúde e segurança do trabalho; redução do setup (tempo de organização); redução
do lead time (tempo de condução); introdução e/ou aprimoramento do controle estatístico de
processo (CEP); aplicação da multifuncionalidade; MRP – material requirement planning;
rearranjo em células; ISSO 9000; manutenção produtiva total; e CAD – projeto assistido por
computador.
Com essas tecnologias, que implicam novas formas de organização do trabalho, surge a
necessidade de ajustamento dos indivíduos às exigências desse novo ambiente organizacional,
que no Brasil passou a instalar-se a partir dos anos 90, enquanto que nos países mais
desenvolvidos essas práticas iniciaram por volta dos anos 70. A adaptação e o desenvolvimento
tornam-se condições básicas para que os trabalhadores mantenham-se competitivos no mercado
de trabalho. “Todas essas inovações modificam profundamente as estruturas de produção e de
organização da produção e do trabalho de uma empresa” (TENÓRIO, 2000, p.172).
A nova estrutura de produção e de relações de trabalho no Brasil exige do trabalhador ou do
gerente não só uma nova postura perante o mundo como também modificações da estrutura em
que a sociedade se organiza, principalmente em relação ao ensino do país, com exigências de
melhor infra-estrutura, estrutura metodológica e curricular.
As novas formas de organização do trabalho enfatizam o desenvolvimento de múltiplas
habilidades por parte do trabalhador, que deve ser capaz não apenas de prever problemas e
desenvolver soluções alternativas, mas também de sugerir novas linhas de ação. Além disso,
incentivam o trabalho em equipe e a cooperação. Para os trabalhadores que continuam em seus
postos, essas inovações exigem maior qualificação, viabilizando o máximo aproveitamento do
progresso tecnológico.
Dessa forma, uma base importante para toda essa aplicação está no sistema educacional do país.
A utilização de equipamentos de base microeletrônica e a adoção de sistemas de controle de
qualidade e de outras medidas destinadas ao aumento da produtividade exigem, além de
formação técnica específica, a educação básica. É justamente a integração dessas formas de
conhecimento que confere flexibilidade ao trabalhador, no sentido de torná-lo apto a interagir de
forma mais intensa no processo produtivo. Se o sistema educacional de um país está ultrapassado,
não será possível fazer a transição para o emprego com base no conhecimento, pois as pessoas
não estarão capacitadas a aprender (WELMOWICKI et al. 1994).
Nessa transição, o trabalho – que antes era realizado mediante a operação direta de máquinas, na
qual não havia a visualização do processo produtivo como um todo por parte do trabalhador, e a
forma de operar essas ferramentas exigia mais um trabalho manual do que intelectual – foi
trocado por um processo em que passaram a predominar as exigências intelectuais. Com a
utilização mais intensiva de computadores e a troca de trabalhadores por sistemas tecnológicos
robotizados, o pessoal operacional e os gerentes que permaneceram nas organizações precisaram
desenvolver uma relação do intelecto com as operações e ter o que Zuboff (1994) define como
“qualificação intelectiva”, que, para ele possui as seguintes dimensões:
a) capacidade de pensar abstratamente, por causa da necessidade de operar
números e símbolos; b) raciocínio indutivo, já que a informação nos
computadores é feita em termos quantitativos e as pessoas devem abordar dados
analiticamente, sendo capazes de fazer relações potenciais e formular hipóteses;
e c) possuir uma concepção teórica dos processos aos quais os dados se referem
(ZUBOFF, 1994, p. 85).
Os administradores dessas organizações passam a exercer um papel mais do que gerencial; o
governo acompanha as manobras; a população exige mais atenção dos moradores que estão às
voltas das instalações; grupos ambientais divulgam os impactos na natureza; e a imprensa
ajuda a personificar as atitudes das organizações no papel dos gerentes. Os indivíduos que
assumem altos postos gerenciais passam a ter que responder por grandes demandas do seu
ambiente, com o respaldo legal que obriga as organizações a assumirem essas
responsabilidades com a sociedade.
Aqueles que ocupam posição de gerenciamento nas organizações têm sofrido os efeitos dessa
revolução, na medida em que a reestruturação organizacional, estimulada pela tecnologia,
reduz os postos de trabalho. Os processos de reengenharia, downsizing ou achatamento das
estruturas da empresa, têm afetado o mundo do colarinho-branco, situação essa também
presente nos níveis técnicos e operacionais das organizações – os colarinhos azuis
(TENÓRIO, 2000).
Mattoso & Oliveira (1996) ilustram esse quadro apresentando dados do estado de São Paulo,
com base na Relação Anual de Informações Sociais e no Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados de 1989. Para os autores, essa situação parece refletir o estado da arte quanto
ao quadro geral de emprego da classe média brasileira, afetado pelas chamadas “novas
tecnologias”. Com base nessas referências, existiam 2,45 milhões de trabalhadores
empregados, representando 36% do total de trabalhadores do setor privado. Ao longo dos
quatro anos e meio que vão de 1990 ao primeiro semestre de 1994, os dados do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados revelaram um corte global nessas ocupações da
ordem de 465 mil postos de trabalho. Essa redução equivale a 19% do contingente de pessoal
empregado em 1989. Estratificando esses dados, percebe-se que o enxugamento mais intenso
ocorreu nos níveis intermediários de gestão: gerentes, 37%; chefes e técnicos administrativos,
41%; e chefes e supervisores de fabricação, 40%. A alta direção reduziu em níveis inferiores,
porém apresenta números igualmente expressivos, atingindo 17% dos diretores e 22% dos
assessores. Esses dados, segundo os autores, revelam uma significativa redução dos níveis
hierárquicos decorrente das novas formas de organização e gestão do trabalho no Brasil.
Além disso, a grande maioria das ocupações criadas é precária e de natureza estressante. Por
exemplo, nos cargos ligados diretamente a trabalhos terceirizados e temporários, em que,
muitas vezes, não se têm as condições necessárias para a realização do trabalho, o nível de
pressão por resultado é intenso. .
Buscando aumentar a eficácia em termos de competitividade, muitas empresas se
reestruturam e diminuíram o quadro de pessoal de forma radical. As práticas de emprego não
tradicionais que dependem de trabalhadores temporários e de mão-de-obra terceirizada têm
aumentado de forma constante, e tecnologias de produção enxutas e flexíveis estão se
disseminado por toda a indústria mundial (SAUTER, 2005).
Para Welch (2001), o gerente exerce influência muito grande tanto na cultura
organizacional quanto na imagem da organização que é refletida na sociedade em que ela está
presente. Ele não é só um trabalhador a serviço do capital, afirma o autor. Do gerente, tem-se o
reconhecimento importante de que suas decisões afetam toda uma cadeia de sistemas que
interagem com a sociedade e com cada indivíduo, e os rumos que a organização segue trazem
conseqüências diretas para as pessoas que com ela se envolvem. Há, em adição, a
responsabilidade com a natureza e o meio ambiente, fonte de recursos e alvo de subprodutos, dos
quais nenhuma organização está livre de prestar contas. Dessa forma, a responsabilidade que a
organização carrega consigo é solidária aos seus gerentes. Ou seja, qualquer problema da
organização que traga conseqüências à sociedade ou ao meio ambiente é também um problema
do administrador que gerencia a organização. O tempo em que a preocupação era só de satisfazer
a empregados e capitalistas foi superado. Ainda na visão de Welch (2001), existe nas
organizações contemporâneas uma grande tendência em incentivar os gerentes de hoje a
adotarem as chamadas “características flexíveis”, decorrentes de exemplos de sucesso. Mas,
apesar de todo o sucesso, não são mostrados os efeitos negativos decorrentes dessas práticas. O
autor faz apologia do conjunto de características que são capazes de levar os administradores ao
sucesso, potencializando o enfrentamento dessas responsabilidades. No período em que esteve à
frente da General Electric, na década de 90, foi capaz de conduzi-la às melhores colocações no
mercado.
Segundo Fagundes (2003), Welch distribuía cartões para os empregados com os dizeres
de que os líderes da General Electric deveriam possuir as seguintes características: integridade
inflexível; ter paixão pela excelência e ódio à burocracia; estar sempre aberto para novas idéias,
vindas de qualquer lugar; viver a qualidade, controlar os custos e ter velocidade para implementar
ações para obter vantagem competitiva; ter autoconfiança para envolver todos e capacidade para
ultrapassar limites; criar uma visão clara e simples baseada na realidade e comunicá-la a todos;
ter uma enorme energia e habilidade para energizar outras pessoas; estabelecer metas agressivas e
premiar os progressos; ver as mudanças como oportunidades, e não como ameaças; ter visão
global; e constituir times globais com diversidade.
Na concepção de Welch (2001), a visão do gerente deverá estar voltada totalmente para a
necessidade de se atingir bons resultados, o que é uma grande indicação de que os fatores de
pressão pela necessidade de resultados, necessariamente, trariam certa disfunção às relações de
demanda e liberdade de tomadas de decisão, pois gerentes de nível médio passam a ser
pressionados não somente pelos seus superiores, mas também pelas metas e pela necessidade de
se mostrar o melhor no que faz. Sucesso não é sinônimo de bem-estar, pois as necessidades de
reconhecimento do indivíduo, em grande parte das vezes, tornam-se maiores do que as
necessidades de segurança ou, até mesmo, as fisiológicas, como o sono e a alimentação. Assim, o
indivíduo troca algumas horas do seu sono para resolver problemas que colocam em xeque sua
responsabilidade pela função gerencial, o que, de acordo com Lobo (2003), é como se o ideal do
operário-máquina da sociedade industrial fosse substituído pelo colaborador-clone pós-
industrial: um ser ao mesmo tempo biológico, microeletrônico e virtual, permanentemente
reprogramável, fruto de técnicas sofisticadas e flexíveis.
2.1 A gerência brasileira e a importação de tecnologia de gestão
De acordo com Wood & Caldas (1997), no caso brasileiro o discurso é aparentemente coeso e
utiliza a retórica generalista, embora a prática seja difusa, diversa, e remeta ao país real, com as
suas ambigüidades e realidades peculiares. O fenômeno de importação de tecnologia gerencial
estaria relacionado à formação do povo, ou seja, à forma de colonização adotada, envolvendo a
influência da economia escravocrata, latifundiária e de monocultura, em relação à constituição
sociocultural brasileira. Os autores apontam como traços essenciais da cultura brasileira: o
personalismo, a ambigüidade, a distância do poder, a plasticidade e o formalismo. Todos esses
fatores são influenciadores na importação e estabelecimento de grande parte do modelo gerencial
adotado pelas empresas brasileiras.
O personalismo está relacionado à tendência de se fazer da importância social ou da necessidade
pessoal do indivíduo a referência maior para a tomada de decisão. A ambigüidade pode ser
definida como o jeitinho brasileiro, que, segundo Barbosa (1992) e DaMatta (1987), é uma
estratégia utilizada para suavizar as formas impessoais que regem as relações pessoais, admitindo
dupla leitura: se, de um lado, pode significar favorecimento, de outro, pode ser visto como uma
forma de sobreviver ao quotidiano, um verdadeiro recurso de resistência cultural. A distância do
poder é um traço que, segundo Barros & Prates (1996) e Barbosa (1992), representa uma
característica autoritária, reagindo ao contexto homogeneizante que ameaça aplicar simplesmente
a norma, como se fosse qualquer um. As seguintes expressões ilustram bem essa definição:
“Você sabe com quem está falando?”, “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, “Como se
eu fosse qualquer um”. A plasticidade é explicada por duas raízes principais: a tendência à
dependência e o gosto pela miscigenação e pelo exótico. Com base nessa herança cultural, o
brasileiro acostumou-se a nutrir uma postura de espectador, sempre dependente de algo ou de
alguém que o leve e o conduza. Segundo Wood & Caldas (1997), outro fator que colaborou para
o desenvolvimento da plasticidade foi a ausência do orgulho de raça do português, caracterizada
pela forte atração pelo sensual e pelo exótico e o seu gosto pela mistura racial. O formalismo é
caracterizado como a apropriação, que pode ser seletiva ou superficial. Para Guerreiro Ramos
(1983), o formalismo brasileiro está presente em nossa tendência de aceitar e provocar a
discrepância entre o formal e o real, entre o dito e o não dito. Esse traço cultural mostra que
somos consideravelmente abertos a modelos estrangeiros e que a eles somente nos submetemos
formalmente.
Para Wood & Caldas (1997), desde a abertura do mercado brasileiro na década de noventa o país
tem importado, de forma crescente, mesmo em alguns momentos do passado, provocando
desequilíbrios na balança comercial. Essas importações não se restringem às “bugigangas
diversas”. A identidade frágil, o desapego à tradição e a superficialidade, muitas vezes, dão à
textura social local caráter difuso e turvo, provocando falsas impressões. É nesse contexto,
segundo os autores, que também vem ocorrendo a importação de tecnologia gerencial no Brasil.
O empresariado brasileiro, procurando respostas para o desenvolvimento das organizações, vai ao
encontro de novas tecnologias gerenciais, praticando a sua “importação”. Essas ações são
reforçadas pelas pressões econômicas sobre os países periféricos, caso do Brasil, e pelo discurso
determinando o que deve ser feito em termos da adoção das melhores práticas mundiais, bem
como a introdução de metodologias e sistemas de gestão importados. Essa situação não se
constitui somente como um problema brasileiro, e sim dos diversos países que se encontram em
estágio semelhante de desenvolvimento.
Dessa forma, como resposta natural à situação, ocorre a disseminação de modelos de excelência
que, presumidamente, poderiam ser transplantados dos países desenvolvidos às nações satélites.
Como importar modelos prontos é muito mais fácil que construir modelos próprios, além de
prover a sensação de modernização ou de queimar etapas, grande parte das organizações opta por
comprar ou, mesmo, mimetizar modelos pré-testados. A adoção das chamadas “práticas de classe
mundial” atinge tanto o nível organizacional quanto o individual. Para ser aceito no mundo das
organizações, os gerentes têm de mostrar que conhecem e comungam com as novas idéias e
tecnologias trazidas do chamado “mundo desenvolvido”. Quanto mais “iniciados” nessas
tendências, mais “civilizados” esses atores são considerados, na visão capitalista.
A postura brasileira é de assimiladores de conceitos e modelos produzidos em outros países.
Assim, as organizações “bebem”, direta ou indiretamente, em fontes estrangeiras, tornando a
gestão empresarial um campo de trabalho e de estudos essencialmente importado. A adoção
dessas tecnologias é pouco crítica, como também a produção acadêmica nacional torna-se pouco
original e muito referenciada em autores estrangeiros, sobretudo os americanos (WOOD &
CALDAS, 1997).
A filtragem, a difusão e a sustentação dessas tecnologias gerenciais no Brasil se dão por meio de
diversos agentes, como o Estado, as instituições de ensino técnico e superior, os meios de
comunicação e as categorias profissionais. O Estado, ao longo de sucessivos governos, de
ideologias distintas, tem apoiado com leis, incentivos fiscais e políticas setoriais, tal tendência,
facilitando e induzindo a importação dessas práticas de gestão. Outro importante agente de
difusão tem sido a multiplicação das instituições de ensino no Brasil, garantindo a permanência
da condição de importação e reforçando a hegemonia estrangeira, sobretudo a norte-americana no
ensino e pesquisa em Administração no país. Um terceiro agente é constituído pelos meios de
comunicação. Um último exemplo é a divulgação intensa de biografias de “supergerentes”, bem
como casos de sucesso, alimentando o imaginário do empresariado e fertilizando o terreno para a
importação. Por último, categorias profissionais compostas, entre outros, de consultores, analistas
e profissionais que vêm atuando como “megaconferencistas”. Muitas vezes, essas categorias
atuam indiretamente como agentes de importação ao escreverem uma literatura “nacional” que
apenas reproduz as idéias e os conceitos importados.
Os processos históricos vivenciados pelo país e pelas organizações aqui instaladas conduziram ao
hibridismo cultural e à diversidade. Decorrente dessa diversidade, as empresas brasileiras
geraram formas de gestão distintas entre si e diferentes dos modelos definidos nos países de onde
foram importadas. Em razão disso, muitas vezes, essas práticas são confrontadas e contestadas.
Wood & Caldas (1995, 1997) e Caldas (1996) demonstram um efeito comum desse choque, que
foi denominado pelos autores de “afastamento entre substância e imagem”, que quer dizer um
distanciamento entre o que ocorre no mundo real e o que projeta o discurso gerencial. Dessa
forma, o discurso pode ser considerado pseudomodernizante, uma vez que utiliza categorias e
elementos da retórica gerencialista norte-americana, tipicamente monoteísta. De acordo com os
autores, ficaram evidenciados três tipos de reações, traduzidos em formas de comportamento, que
são: comportamento “para inglês ver”; “frustração e negação”; e “adaptação criativa”.
Comportamento “para inglês ver”. Segundo os autores, este é o mais típico comportamento
organizacional brasileiro diante da importação de conceitos. Consiste em adotar, de forma
temporária e/ou parcial, a tecnologia em questão para minimizar as pressões de adoção, sem, no
entanto, realizar mudanças substanciais ou ferir aquilo que se considera intocável no status quo.
A mudança se dá “para inglês ver”.
Frustração e negação. Esta situação ocorre quando a dissimulação “para inglês ver”, em relação
à adoção da tecnologia, não tem como funcionar, sendo insuficiente ou, mesmo, impossível. Na
prática, as mudanças propostas costumam esbarrar em estruturas de poder e condições
operacionais não previstas no “pacote” adquirido. O resultado é a frustração diante da
impossibilidade de realizar a transformação desejada sem dor ou a simples negação da
metodologia como inapropriada ao contexto.
Adaptação criativa. Neste caso ocorre uma releitura dos conceitos a partir da realidade local
para atender aos objetivos da organização.
Wood & Caldas (1997) afirmam que a importação de tecnologia gerencial, muitas vezes, além de
ser inapropriada para a solução dos problemas reais locais, tem ainda como conseqüência
desfocar a percepção desses mesmos problemas, não atendendo de forma apropriada às
necessidades das organizações.
2.2 O gerente e a organização
Para Sennett (2001), os líderes empresariais enfatizam o mercado global e o uso de novas
tecnologias como características distintas do capitalismo moderno. No entanto, não vêm outras
dimensões da mudança, como as novas maneiras de organizar o tempo, sobretudo o tempo de
trabalho. Talvez um dos sinais mais tangíveis dessa mudança seja o lema “Não há longo prazo”.
No trabalho, a carreira tradicional, que preconizava uma trajetória de longo prazo, está
desaparecendo, com também a utilização de um único conjunto de qualificações, que se mostrava
suficiente no decorrer de uma vida de trabalho. Segundo o autor, hoje um indivíduo que está
cursando a faculdade pode esperar mudar de emprego várias vezes na sua trajetória profissional,
como também mudar suas aptidões básicas pelo menos outras tantas vezes. As empresas passam
a terceirizar parte significativa de suas atividades para pequenas empresas ou, mesmo, indivíduos,
mediante contratos de curto prazo. No caso americano, a força de trabalho que tem mais crescido
nos últimos anos é aquela constituída de indivíduos que trabalham para agências de emprego
temporário.
Empresas como a Manpower cresceram 240 por cento de 1985 a 1995. A
Manpower tem 600 mil pessoas em sua folha de pagamento, comparadas com 400
mil da General Motors e 350 mil da IBM, sendo hoje a maior empregadora do país
(SENNETT, 2001, p. 22).
Champy (1995) afirma que as pessoas, de uma forma geral, estão muito voltadas para as
mudanças, porque o mercado está sendo motivado pelos consumidores como nunca esteve na
história, tornando-se muito dinâmico para permitir que se façam as coisas da mesma forma ou
que se façam as mesmas coisas ano após ano. Uma explicação para essa situação é o desejo do
retorno rápido dos investimentos, o que não ocorria em meados do século XX, uma vez que a
maioria das economias avançadas produziu uma era de relativa estabilidade.
Para Powell & Smith Doerr (1994), nesse novo contexto as mudanças na estrutura institucional
acompanharam o trabalho de curto prazo, e as empresas buscaram eliminar parte da burocracia,
tornado-se organizações mais planas e flexíveis. Em vez de organizações tipo “pirâmide”, agora a
administração volta-se para o modelo de “redes”, que podem ser mais facilmente decompostas ou
redefinidas do que as hierarquias tradicionais. Isso quer dizer que as promoções e demissões
tendem a basear-se em regras nítidas, fixas, e que as tarefas do trabalho não são claramente
definidas, uma vez que a rede define de forma constante a sua estrutura de operação.
Nesse contexto, Sennett (2001, p. 33) afirma que as condições de tempo no novo capitalismo
criaram um conflito entre caráter e experiência, na medida em que a experiência tornou-se
desarticulada, ameaçando a capacidade das pessoas de transformar seus caracteres em narrativas
sustentadas. “Talvez a corrosão de caracteres seja uma conseqüência inevitável. Desorienta a
ação de longo prazo, afrouxa os laços de confiança e compromisso e divorcia a vontade do
comportamento”.
Buscando analisar a realidade brasileira, Lima (1995) realizou pesquisa sobre as conseqüências
das novas políticas de recursos humanos, fundamentando-se essencialmente em estudos
empíricos, utilizando-se de métodos tanto da psicologia como da sociologia. Com base nesses
estudos, a autora revela como se dá o vínculo do gerente com a organização diante desse novo
cenário do capitalismo.
A empresa estudada atua no setor metalúrgico, mais especificamente na fabricação de
componente essencial para o motor de automóveis, tendo sido fundada há 45 anos, à época da
realização do estudo. Passou a fabricar esse mesmo componente para a indústria aeronáutica,
constituindo-se em grupo bastante poderoso, diversificando a sua linha de produtos. A unidade
estudada foi considerada uma das mais importantes do grupo, contando com cerca de três mil
empregados.
Identificou-se que desde a sua implantação a organização adotou uma atitude voltada para o ser
humano em relação aos seus empregados, tendo sido uma das primeiras organizações brasileiras
a aplicar políticas voltadas para as “relações humanas”. Após a sua implantação, concedeu
benefícios importantes aos empregados, criando uma boa imagem na região onde passou a atuar.
Os indivíduos estudados foram os gerentes, pertencentes aos três níveis da hierarquia: alta
gerência, média gerência e gerência de linha. Em média, tinham entre 30 a 40 anos de idade,
sendo que os ocupantes da gerência intermediária possuíam em torno de 12 anos de vínculo com
a organização. A grande maioria, de nível superior, obteve esse grau após ingresso na
organização, o que foi mencionado pelos participantes como de grande importância para o
desenvolvimento profissional e social.
Segundo a autora, de imediato, o que chamou muita atenção foi o conteúdo do discurso dos
gerentes, completamente impregnado pela ideologia da empresa. Isso levou-a a entender que a
carreira dos gerentes, em grande parte, era decorrente da capacidade desse grupo de conformar-se
às normas, valores, crenças e idéias advindas das políticas da organização. “Ele se esforçava em
corresponder da melhor forma possível às expectativas da empresa, oferecendo a ela o melhor de
si mesmo” (p. 163).
De forma geral, percebeu-se que a atuação dos gerentes era voltada para as novas exigências de
flexibilidade e a abertura nas relações com os subordinados, mas também de aplicação das
medidas disciplinares e de controle dos resultados de trabalho estabelecidas pela empresa. De
acordo com Sennett (2001), essas práticas enfatizam a flexibilidade e a simplificação das formas
burocráticas, entre outras. No entanto, a ideologia e as amarras do controle estão cada dia mais
vivas e presentes nas organizações, tornado-se um grande dilema e conseqüente fonte de pressão
para os gerentes..
Para Lima (1995), os gerentes lutam para desenvolverem-se em suas carreiras, freqüentemente
solitárias, buscando adotar os novos comportamentos exigidos por essa nova era, procurando tirar
o máximo de produtividade do seu grupo de trabalho.
Nesse sentido, Melo (1999, p. 1337), analisando as situações de trabalho, aponta duas lógicas: a
da organização e a da inovação, que são contraditórias, mas que apresentam uma legitimidade
comparável de caráter complementar. A estratégia da inovação busca o aproveitamento dos
recursos disponíveis na organização, utilizando-se das incertezas do processo de trabalho para
rever lógicas sedimentadas ao longo de diversos processos, impulsionando a sua desorganização
e as conseqüentes mudanças. Já a estratégia da organização tende, sobretudo, a atender aos
objetivos planejados, decompondo os processos de trabalho, de forma a reduzir as incertezas do
ambiente. Assim, “um modelo organizacional é, então, um construto social inacabado no qual os
atores/profissionais de inovação se opõem aos atores/profissionais das regras e, em muitos casos,
os mesmos atores/profissionais devem jogar nestes dois campos”. Dessa forma, o que deve ser
gerenciado não é somente o modelo mais adequando, mas, especialmente, os atores desse
modelo. Nesse processo, destacam os gerentes, que são os atores do modelo e administradores de
atores, afirma a autora.
Reportando a pesquisa em referência, apesar de considerar a sua posição de gerente como um
sinal de privilégio, o gerente E vive um cotidiano sobrecarregado, especialmente pelas exigências
de resultados. Raramente se queixa, mostrando-se, na maioria das vezes, bem disposto,
renegando certos estados de espírito e jamais demonstrando qualquer frustração em relação ao
ambiente organizacional. Essa é uma condição natural para reforçar o vínculo com a organização,
demonstrando o seu grau de comprometimento, que, muitas vezes, não corresponde à realidade
vivenciada, mas sim uma condição básica de sobrevivência no sistema.
Em termos da relação da empresa estabelecida com os gerentes, a autora a considera “perversa” e
aponta aqueles indivíduos que possuem um modo de estruturação psíquica também “perverso”
como tendo uma maior facilidade de adaptação a esse ambiente. A personalidade perversa é
descrita por Brelet (1986) como aquela de um indivíduo mistificador, farsante, que falsifica a
realidade, sem deixar transparecer qualquer sentimento de culpa. É um indivíduo que não nega a
realidade, mas a utiliza para finalidades estritamente egoístas, funcionais, operatórias e
calculadas.
O estudo desenvolvido na empresa E veio reforçar as hipóteses, de que o comportamento
instrumental é o que prevalece entre os seus gerentes. Esse tipo de comportamento procura
justificar o bom relacionamento do gerente com colegas e subordinados, visando obter ganhos em
termos de ascensão profissional e melhores resultados no trabalho. “Jamais encontramos neste
grupo qualquer referência a um relacionamento com colegas ou subordinados sem que tal
relacionamento tivesse por finalidade favorecer a própria carreira (LIMA, 1995, p. 176).
Em relação ao poder no trabalho e aos significados atribuídos à empresa, foi identificado pela
autora que os gerentes pesquisados investem psicologicamente na empresa, percebendo-a como
protetora, poderosa e exigente. Alguns gerentes a percebem como um meio para a sua realização
profissional e material, em um contexto fortemente competitivo. Um número significativo de
gerentes considera a sua participação como importante para a empresa, o que, de acordo com a
autora, vem reforçar a identificação desses indivíduos com a organização. Verificou-se que,
embora existindo comportamento de identificação com a empresa, a ocorrência de conflitos é
uma realidade, ainda que haja a intenção de negá-los ou anulá-los.
De acordo com Lima (1995), verificou-se o estabelecimento de controles sobre os gerentes por
parte da empresa. Tais controles se estabeleciam e assumiam a forma de exigências de
aperfeiçoamento profissional constante, traduzido pela expressão “vestir a camisa da empresa”.
Essa exigência de aperfeiçoamento é vivida pelos gerentes como uma ameaça, que se não for
bem entendida pode custar o seu futuro profissional. Em termos das qualidades e atributos
profissionais requeridos, também entendidos como mecanismos de controle, estão relacionados
aos seguintes aspectos: facilidade no estabelecimento de contatos; rapidez nas respostas e tomada
de decisão; honestidade e responsabilidade; interesse e motivação pelo trabalho; e abertura para
mudanças e desafios.
Essas exigências identificadas são compatíveis com as premissas básicas do chamado “novo
capitalismo”, em que cada trabalhador passa a ser o gerente de uma parte da produção, tornando-
se responsável pelo controle de qualidade, produtividade e aperfeiçoamento do processo. A partir
daí, os limites entre o trabalho e o resto da vida tornam-se cada vez mais tênues (SENNETT,
2001).
Melo (1999), numa visão mais ampliada sobre o contexto organizacional, afirma que talvez os
resultados de uma organização dependam mais do modelo de gestão construído e implementado
do que de outros fatores. Isso significa que os avanços em termos de competitividade,
necessariamente, passam pelo modelo de gestão adotado pelas organizações. Essa situação é
reforçada pela autora quando afirma que no plano internacional o fator gestão tem sido
considerado um dos mais importantes elementos de competitividade.
Aliado ao modelo de gestão, encontra-se a função gerencial, que passa por significativas
transformações nos tempos atuais, marcadas por exigências decorrentes de uma nova ordem
mundial, que, de acordo com Sennett (2001), está relacionada às exigências do novo capitalismo.
Nesse sentido, o autor faz referências ao ambiente organizacional moderno, que direciona sua
ênfase para a realização de trabalhos de curto prazo e para a execução de projetos, sobretudo o
chamado “trabalho flexível”. Esses elementos, na sua visão, dificultam ou, mesmo, impedem que
os indivíduos desenvolvam experiências significativas que sirvam de referência para a formação
do seu caráter, constituindo-se em elementos basilares para a própria vida.
Em relação à função gerencial, Melo (1999) afirma que não existe consenso por parte da
literatura nem por parte dos próprios gerentes sobre esse novo papel que lhes é exigido, em
função das constantes e profundas mudanças de caráter social, político, econômico e, sobretudo,
organizacional. A figura do gerente ainda permanece obscura como sujeito das práticas
organizacionais, constituindo-se em importante campo de estudos. A autora realizou pesquisa em
empresas públicas e privadas de grande, médio e pequeno porte, nas quais entrevistou gerentes de
três níveis: alta gerência, gerência intermediária e gerência de linha. Com base nos resultados da
pesquisa, não foi possível obter consenso em relação aos níveis de exigência demandados para a
função gerencial nessas organizações. Essa é a mesma visão de Motta (1994), que considera que
a função gerencial ainda permanece com um certo mistério para aqueles que buscam aproximar-
se de seu conteúdo.
Mintzberg (1973) apresenta importante contribuição nesse sentido quando questiona a idéia
básica de Fayol (1950) de que os administradores apenas planejam, organizam, dirigem e
controlam. Segundo o autor, os gerentes têm outras responsabilidades gerenciais além do
desempenho das funções do processo administrativo. Para chegar às suas conclusões, o autor
estudou um grupo de altos executivos, concentrando-se nas atividades realizadas pelos gerentes.
Com base nos estudos, chegou à conclusão que os gerentes desenvolvem dez papéis gerenciais,
concentrados em três famílias: papéis interpessoais (figura de proa, líder e ligação); papéis
informacionais (monitor, disseminador e porta-voz); e papéis de decisão (empreendedor,
controlador de distúrbio, administrador de recursos e negociador).
Ainda com base nos resultados da pesquisa realizada por Melo (1999), verificou-se em relação
aos gerentes que atuam em grandes empresas que as principais mudanças apontam na direção das
suas relações com o grupo de trabalho. As mudanças, que vêm ocorrendo de forma intensiva nas
organizações, passam a exigir dos ocupantes dessa função alterações importantes no
comportamento gerencial, envolvendo o desenvolvimento de habilidades relacionadas a uma
maior interação com o grupo, implicando um gerenciamento mais participativo e com maior
aproveitamento do potencial da equipe de trabalho. Essas mudanças apontam para um perfil
gerencial proativo, empreendedor e que direciona as ações do gerente na busca de resultados. Isso
tudo em nome da modernização e da produtividade, que até alguns anos atrás era visto como o
caminho para um novo mundo, no qual todos trabalhariam menos e de forma prazerosa, promessa
essa já devidamente enterrada e esquecida, segundo a autora.
Em relação aos desafios a que estão submetidos esses mesmos gerentes, as principais demandas
estão relacionadas às dificuldades de se obter níveis satisfatórios de motivação em relação às
equipes e aos indivíduos em particular. Também foram identificados desafios relacionados ao
ambiente de mudanças por que passam as organizações pesquisadas, como: “saber lidar com
contingências, fazer cada vez mais com cada vez menos recursos, buscar a qualidade e manter a
credibilidade da empresa” (MELO, 1999, p. 1342).
Com relação à média empresa, os resultados também revelaram que os principais desafios estão
relacionados à gestão das pessoas e às questões inerentes ao ambiente de mudança
organizacional, além de aspectos relativos ao desenvolvimento do próprio gerente, mediante o
aperfeiçoamentos e atualizações constantes.
Aprofundando os estudos sobre os desafios impostos à função gerencial, a autora analisou 215
artigos da literatura gerencial especializada produzidos no período de 1995 a 1999. Mesmo assim,
não obteve consenso em relação aos principais desafios impostos aos ocupantes dessa função. As
principais demandas identificadas relacionam-se com as necessidades constantes de mudanças e
adaptações, conhecimento técnico, experiência internacional, gestão da equipe de trabalho,
relação com as pessoas e mudanças no próprio modo de ser e agir do gerente.
Com as exigências demandadas pelo novo capitalismo, segundo Sennett (2001), essas mudanças
vão proporcionar aos gerentes, aparentemente, maior participação e flexibilidade, porém com
maiores níveis de responsabilidades e controle sobre o papel exercido. Diante desse contexto, as
organizações passam a alterar os níveis de exigências, redundando, para esses atores, em
considerável elevação do nível de pressão no trabalho, tornando-se visível um maior desgaste,
com o conseqüente desequilíbrio da sua estrutura psíquica, podendo contribuir para o
desencadeamento de níveis importantes de estresse de origem ocupacional.
O gerente convive com essas situações e pressões, que, em certos momentos, geram problemas
físicos e podem desencadear doenças. O estresse é comum entre esses indivíduos, que nem
sempre têm a opção de assumir menos responsabilidades, e assim, com a dificuldade que têm
para lidar com os fatores estressantes, podem desenvolver determinados tipos de doenças. A
saúde, apesar de todo o avanço tecnológico para melhorá-la, vem sendo continuamente
bombardeada pelas configurações organizacionais, exigindo das pessoas, cada vez mais,
resistência para suportar suas demandas, muitas vezes, de caráter sublimear.
É nesse contexto que foi desenvolvido este trabalho, identificando as reais fontes de pressão,
suas relações, manifestações e decorrências nos três níveis gerenciais pesquisados – alta
gerência, média gerência e supervisão operacional –, cujos resultados são apresentados na seção
5.
3 RESGATANDO A LITERATURA SOBRE ESTRESSE OCUPACIONAL
Esta seção, em primeiro momento, retrata, de forma global, alguns aspectos relevantes por que
vêm passando as sociedades e os impactos dessas mudanças na qualidade de vida dos indivíduos.
Em seguida, aborda o surgimento do conceito de estresse e sua evolução. Com o objetivo de
mostrar a realidade empírica em relação às manifestações de estresse ocupacional, apresenta
resultados de pesquisas, como também modelos teóricos considerados relevantes pela literatura e
que serviram de referência para a proposição do modelo hipotético que serviu de base para a
realização deste trabalho. Posteriormente, insere o objetivo geral e os objetivos específicos. Por
fim, com base no modelo proposto, descreve as hipóteses do estudo.
As sociedades estão passando por um processo de intensificação do ritmo em que as mudanças
acontecem. Aliado a essa conjuntura, verifica-se uma deterioração da qualidade de vida dos
indivíduos. Dessa forma, o estresse apresenta-se como uma variável importante, que vem
atingindo os indivíduos de forma geral. Cada período da história contribui de maneira positiva
para o desenvolvimento global, mas cobra um preço por esse benefício, sendo o estresse um dos
preços mais habituais da atual época de turbulência sociocultural por que passa a humanidade
(LEVI, 2003, 2005; RIO, 1995).
Para Albrecht (1990), tanto a apreensão como os conflitos, as aglomerações humanas, os
transtornos do cotidiano das pessoas, as pressões do trabalho para ganhar a vida e as rápidas e
inexoráveis transformações nos mais diversos graus estão provocando nos indivíduos níveis de
estresse que ameaçam a saúde e o bem-estar. Há uma sensação bastante comum na maioria das
pessoas de que as coisas estão se modificando numa velocidade assustadora, e, muitas vezes, os
indivíduos sentem que não estão dando conta de acompanhar todas essas mudanças na velocidade
que se impõem.
De acordo com Morgan (1976), a mudança faz, e sempre fez, parte da vida, mas mesmo assim as
pessoas ainda ficam inquietas, devido, principalmente, a dois aspectos característicos das
mudanças atuais: a velocidade e a sua profundidade. Essa característica de mudança é bastante
focal em relação ao mundo do trabalho, vista sob a ótica do “novo capitalismo”, retratado na
visão de Sennett (2001).
Não só os especialistas na área de saúde como também os homens de negócios reclamam das
dificuldades para acompanhar os acontecimentos do progresso nos respectivos ramos de
atividades. Verifica-se, pois, um mal-estar generalizado, indicando que o excesso de mudanças
está fora de controle para grande parte das pessoas, principalmente no mundo do trabalho. Nessa
direção, as rápidas mudanças fazem com que o equilíbrio entre as situações que são familiares e
aquelas que são novas seja rompido. As transformações obrigam as pessoas a lidarem com um
fluxo cada vez maior de situações inusitadas, nas quais as experiências que poderiam servir de
suporte para os indivíduos não são suficientes para se ter o equilíbrio desejado e necessário
(TOFFLER, 1972).
Muitas pessoas adotam um ritmo acelerado de vida e abandonam seus hábitos costumeiros para
segui-lo. Em conseqüência, tornam-se indivíduos ansiosos, tensos, vítimas de mal-estar psíquico
e correm o risco de não conseguirem tolerar tal agitação, entrando em estado de desgaste físico e
psicológico acentuado. Mas como as mudanças são inevitáveis, necessárias e representam a
adaptação ao próprio meio, elas deveriam, pelo menos, ocorrer em nível equilibrado. Assim, as
pessoas buscam, na medida do possível, regular e controlar essas mudanças, na tentativa de
impedir que sobrevenham exageradamente rápidas ou de forma muito intensa, gerando impactos
negativos em suas vidas, como afirma Goldberg (1986).
Na mesma linha, Morgan
(1976) faz um alerta para o fato de que se os indivíduos não tentarem,
tanto quanto possível, guiar a mudança, serão por ela guiados e devorados. O homem moderno
tem se submetido mais a pressões e estímulos rápidos e intensos do que em épocas passadas, o
que lhe impõe exigências físicas e mentais, muitas vezes, acima da sua capacidade psíquica de
suportá-las. Dessa forma, várias anomalias, como as neuroses e as doenças resultantes da
sobrecarga dos mecanismos de adaptação do corpo, vêm se manifestando com freqüência na
atualidade. Essas mudanças ocorrem em diversas áreas, como no mundo do trabalho, que
experimenta modificações de forma acelerada, no relacionamento em família e na vida social. A
capacidade de adaptação dos indivíduos está sendo colocada à prova nos níveis físico,
psicológico, e espiritual. O estresse delas decorrente provoca importantes alterações e transtornos
bioquímicos, responsáveis pela maioria dos males considerados da modernidade (ALBRECHT,
1990).
Em relação ao mundo do trabalho, Rifkin (1995) refere-se a uma tendência de mudança
generalizada nos diversos países do mundo. A situação de emprego está se modificando, e
milhares de trabalhadores estão perdendo seus postos de trabalho, uma vez que estão sendo
substituídos com maior intensidade pelas chamadas “tecnologias inteligentes”, que vêm sendo
desenvolvidas em larga escala em todo o planeta. Esse novo mundo do trabalho está deixando os
indivíduos alienados, vítimas de um acentuado estresse proveniente de pressões decorrentes de
um ambiente de trabalho de alta tecnologia e crescente insegurança.
A cada semana, mais trabalhadores são demitidos dos seus postos de trabalho. Em escritórios e
fábricas de todo o mundo, os indivíduos esperam, angustiados, ser poupados por mais um dia que
seja. Trata-se de uma epidemia mortal infiltrada no mercado de trabalho. Estranha e
aparentemente inexplicável, a nova doença econômica se espalha, destruindo vidas e
desequilibrando comunidades inteiras no seu rasto. Sennett (2001) observa que essa é uma
realidade que se impõe ao mundo do trabalho sob a ótica do novo capitalismo.
Ilustrando essa situação, Rifkin (1995) cita pesquisa realizada pelos economistas americanos
Mary Merva e Richard Fowles, da Universidade de Utah
1
, que identificaram ser o desemprego
uma das principais causas do aumento nas ocorrências de infartos e derrames nos indivíduos.
Segundo os resultados dessa pesquisa, os trabalhadores desempregados são mais suscetíveis a
níveis crescentes de estresse e de depressão, ao maior consumo de álcool, droga e de cigarros, e a
dietas menos saudáveis, contribuindo, assim, para o aumento da probabilidade dessas
ocorrências. O desemprego mantém relação direta com o processo de reestruturação produtiva
que se instalou no Brasil a partir da década de noventa, em que a função gerencial foi uma das
mais atingidas.
3.1 O surgimento do conceito de estresse
A palavra stress, do inglês, deu origem ao termo estresse em português, que, de acordo com o
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, significa “conjunto de reações do organismo a
1
Effects of diminished economic opportunities on social stress: heart attacks, strokes, and crime.
Washington, D.C.: Economic Policy Instutute, 16/10/1992, p. 1-2.
agressões de origem diversas, capazes de perturbar-lhe o equilíbrio interno (FERREIRA, p. 233,
1993)”.
Para Cooper e Cooper & Eaker (1988), a raiz da palavra stress vem do latim stringere e tem
como significado "espremer". O autor menciona que a palavra stress consta do vocabulário
anglo-saxônico desde o século XVII, empregada para descrever "adversidade" ou "aflição". Já no
século XVIII, a palavra stress passa a ser empregada para expressar pressão ou forte esforço do
corpo humano. No entanto, somente no século XX é que o termo ganha a conotação científica
dos dias atuais (SELYE, 1956, e ROSSI, 1991).
Foi o pesquisador canadense Hans Selye que utilizou pela primeira vez o termo stress em inglês,
que deu origem ao termo estresse em português, quando publicou o artigo "Síndrome produzida
por vários agentes nocivos". O autor usou o termo para descrever uma síndrome que havia
identificado e que apresentava importantes ligações com o estado de saúde e doença dos seres
vivos. Para fins deste trabalho, a terminologia adotada será “estresse”, ou seja, o equivalente à
palavra stress, grafada em inglês (SELYE, 1936).
De acordo com Selye (1956), desde o início da utilização dessa terminologia muitos erros foram
cometidos com a sua aplicação de forma equivocada. Diante desse contexto, o autor optou por
definir o estresse, em um primeiro momento, com um conceito do que não é estresse.
O termo stress tem sido aplicado de formas tão diversas e tem sido definido de
forma tão confusa que creio que seria mais fácil e instrutivo começar por
estabelecer claramente o que ele não é. Ao contrário de certas observações vagas
e enganosas, feitas hoje em dia (SELYE, p. 62, 1956).
Dessa forma, o autor considera que o estresse não é tensão nervosa, estímulo e descarga
hormonal das glândulas supra-renais, que se restringem apenas às conseqüências de lesões no
corpo, alteração da homeostase (estado de equilíbrio), reação de alarme, agente de estresse ou
estressor e reação específica ou não específica do organismo. O estresse é um estado
caracterizado por uma síndrome específica de fatos biológicos. Ocorrem modificações muito
específicas no sistema biológico que são causadas por uma grande variedade de agentes, mas
deve-se considerar o estresse como sendo inespecificamente induzido. Dessa forma, ele é a
resposta inespecífica do corpo a exigências às quais está sendo submetido. Para Selye, o estresse
se manifesta de duas formas: o distresse, ou estresse da derrota, que é o estresse da forma como o
conhecemos em seu lado negativo; e o eustresse, considerado o estresse positivo. O eustresse, da
mesma forma que o distresse, representa uma reação do corpo a um estímulo externo, só que
nesse caso na forma de superação e prazer. Os dois termos são empregados de forma separada –
eustresse e distresse – para distinguir as conseqüências positivas e negativas do estresse para a
vida do indivíduo, muito embora, quimicamente, do ponto de vista fisiológico, essas duas formas
de reação sejam exatamente iguais. O eustresse é o estresse da realização, do triunfo e do
contentamento. Até certo ponto, algumas pessoas vêem com bons olhos certas experiências e
situações de estresse por causa dos sentimentos positivos que se têm diante delas. O eustresse que
as acompanha é uma parte natural da superação eficaz de desafios, como os de uma função
gerencial ou de um cargo técnico ou de qualquer outro trabalho profissional. Dessa forma, o
eustresse é considerado o "estresse da vitória" (SELYE, 1956).
Outra importante diferenciação entre os tipos de estresse refere-se ao estresse de sobrecarga e ao
estresse de monotonia. Quando a estrutura psíquica do indivíduo se torna incapaz de suportar as
excessivas exigências do meio por um longo período de tempo, fazendo com que o seu
desempenho no trabalho seja reduzido, diz-se que está sob estresse de sobrecarga. Já na situação
inversa, em que o indivíduo está submetido a um nível de exigência muito inferior ao que a sua
estrutura psíquica demanda, poderá ocorrer um outro tipo de estresse, caracterizado como
estresse de
monotonia (SELYE, 1974).
Outros conceitos também são apresentados pela literatura, como os de Couto (1987) e de
Simonton et al. (1987), que consideram o estresse um estado em que ocorre um desgaste anormal
do organismo humano, ocasionando redução em sua capacidade de trabalho, provocada pela
incapacidade prolongada de o indivíduo tolerar e superar as exigências psíquicas da vida ou de
adaptar-se a elas. O desgaste do organismo humano é causado por uma tensão crônica,
característica da vida moderna. Para esses autores, as pessoas mais vulneráveis ao estresse são
aquelas que não conseguem se descontrair, relaxar, mesmo que o desejam.
Couto (1987) diferencia dois tipos de estresse: o agudo e o crônico. Quando perdura por um
período maior, o estresse é caracterizado como crônico, podendo causar um efeito deletério maior
sobre a saúde do indivíduo, afirma o autor. Por outro lado, quando se apresenta de forma mais
breve, caracteriza-se como estresse agudo. Rio (1995, p. 35) apresenta o mesmo entendimento,
ou seja, “o estresse crônico persiste por mais tempo, sem encontrar meios que o desativem
eficientemente. Já o estresse agudo dura alguns momentos, horas ou, mesmo, poucos dias e
depois se dissipa”.
French (1983) contribui no sentido da compreensão do estresse decorrente das situações de
trabalho, o que é denominado pelo autor como estresse ocupacional. Trata-se de uma reação do
indivíduo ao seu ambiente de trabalho, que, de alguma forma, o atinge. Essas ameaças podem ser
entendidas como agentes estressores que caracterizam uma relação pouco produtiva entre a
estrutura do indivíduo e o seu ambiente ocupacional, demonstrando que excessivas mudanças
estão sendo direcionadas ao trabalhador e que ele não está devidamente preparado, do ponto de
vista psicológico, para internalizá-las de forma positiva. O escopo apresentado serviu de
referência teórica, contribuindo para direcionar o estudo em referência.
3.2 As abordagens conceituais
A literatura, referenciada a seguir, que trata dessa temática apresenta três abordagens, que podem
ser consideradas complementares e interligadas. A primeira é a bioquímica, ou seja, a fisiologia
do estresse, que surgiu nas décadas de 1930 a 1950, influenciada pelos estudos de Selye (1936,
1956). A segunda é a psicológica, que apresenta a sua ênfase principal na compreensão da
influência que a percepção e o comportamento do indivíduo são manifestados no processo de
estresse. Esta abordagem apresenta as seguintes vertentes: a psicossomática (GIRDANO &
EVERLLY, 1979, ADAMS, 1980, COOPER, COOPER & EAKER, 1988, KAPLAN &
SADOCK, 1993); a interacionista (LAZARUS, 1974); a behaviorista, a partir da década de
sessenta, com contribuições de Friedman & Rosenman (1974); a psicopatologia do trabalho, que,
segundo Billiard (1996), teve primeiramente as contribuições de Paul Silvadon no ano de 1952 e
seu contemporâneo Le Guillant; e, por fim, a vertente da psicologia social, citada por Lhuilier,
Mignèe & Raix (1990). A terceira é a sociológica, que está relacionada à compreensão das
diversas variáveis que se estabelecem no contexto da sociedade. Grandes contribuições de
estudos nessa abordagem se devem a Albrecht (1990)
2
e Levi (2003, 2005).
Visando a uma maior compreensão dessas abordagens, que foram de fundamental importância
teórica para o desenvolvimento e compreensão deste estudo, as mesmas encontram-se
apresentadas a seguir, na mesma estrutura utilizada por Veloso (2000), tendo em vista a forma
pedagógica elucidativa que proporciona ao leitor.
3.2.1 Abordagem bioquímica
A abordagem bioquímica foi desenvolvida a partir dos estudos de Selye (1936, 1954),
considerado o primeiro pesquisador a fazer uma análise profunda em relação às manifestações do
estresse do ponto de vista bioquímico. O trabalho de Selye foi influenciado por pesquisadores
que não estudaram diretamente o estresse, mas que proporcionaram importantes subsídios para a
sua compreensão, como foi o caso do fisiologista francês Bernard, ao apontar a capacidade de
manter a constância do equilíbrio interno como um dos traços mais característicos de todos os
seres vivos.
Segundo Selye (1956), Adams (1980), Cooper, Cooper & Eaker (1988) e Lipp (1996), o também
fisiologista Cannon retoma o conceito de Bernard sobre a constância do equilíbrio interno,
desenvolvendo e denominando-o de homeostase. Nos estudos de Cannon, foi observado que os
seres vivos, de forma geral, possuíam mecanismos que possibilitavam a mobilização de seus
sistemas para uma reação de combate a eminências de agressão à sua integridade. Essa reação foi
denominada de “síndrome de luta” ou “síndrome de fuga”. De acordo com essa síndrome, o
indivíduo reage às condições adversas (ambientais, emocionais e fisiológicas), preparando-se
para uma resposta rápida e eficaz, visando proteger o seu organismo da situação adversa que está
vivenciando.
Para Selye (1956), a identificação das alterações do corpo em busca do equilíbrio foi a base para
o desenvolvimento do seu estudo teórico sobre o estresse. Dessa forma, o autor avança em
relação às constatações de Bernard e Cannon, uma vez que, além da reação de alarme, outras
2
Primeira edição na década de 70.
duas fases relacionadas à homeostase são descritas. Essas fases, segundo o autor, são: a de
resistência e a de exaustão. A fase de alarme é desencadeada quando o indivíduo percebe, de
forma consciente ou inconsciente, a presença de alguma ameaça à sua integridade que demande
adaptação. Essa ameaça, segundo o autor, é denominada de “fonte de pressão”. Nesse caso,
ocorre uma alteração biológica do organismo, dotando-o de prontidão para uma reação à ameaça
imposta. Nessa situação, as atividades aceleradas que ocorrem no organismo são denominadas de
“tensão”.
Decorrentes do estado de tensão, diversas reações fisiológicas ocorrem no organismo, como o
aumento do fluxo de sangue no cérebro e nos músculos, permitindo um melhor raciocínio e
respostas musculares mais rápidas; elevação da pressão sangüínea; dilatação das pupilas,
proporcionado aumento do campo e da acuidade visual; e aumento dos batimentos cardíacos e da
freqüência respiratória, proporcionado melhoria na oxigenação do sangue e uma conseqüente
melhoria no desempenho de diversos órgãos do corpo. Todas essas reações estão relacionadas à
melhor preparação do organismo para enfrentar e/ou adaptar-se às fontes de pressão ao qual está
sendo submetido.
Tendo como referência Guyton (1976), esse processo ocorre no organismo através do sistema
nervoso, que, juntamente com o sistema endócrino, éão responsável pela maioria das funções de
controle do organismo. O sistema nervoso recebe informações dos órgãos sensoriais e integra e
determina as respostas a serem executadas pelo organismo. A parte do sistema nervoso que
comanda as funções viscerais recebe o nome de “sistema nervoso autônomo” (SNA), sendo
ativado principalmente por centros localizados na medula espinhal, no tronco encefálico e no
hipotálamo. O SNA opera por meio de reflexos viscerais, ou seja, sinais sensitivos provenientes
de outras partes do organismo, que enviam impulsos aos centros medulares, ao tronco encefálico
e ao hipotálamo, e esses transferem respostas reflexas aos órgãos viscerais para controlar as suas
atividades. Os impulsos autônomos são transferidos ao corpo pelas duas principais subdivisões
do SNA: o sistema nervoso simpático (SNS) e o sistema nervoso parasimpático (SNP). As fibras
nervosas simpáticas seguem da medula espinhal, passando pelas cadeias simpáticas e pelos
nervos esplâncnicos, até as medulas supra-renais. Terminam em células especiais, que secretam
noroadrenalina e adrenalina, substâncias que agem no sentido de mudar a fisiologia do
organismo, preparando-o para situações de luta ou fuga, comportamento esse característico da
primeira fase do estresse, denominado por Selye (1956) de “fase de alarme”.
Tendo em vista essas reações, do ponto de vista comportamental, os indivíduos, de forma geral,
ficam mais excitados, agressivos e sensíveis; ou seja, o organismo fica preparado para enfrentar
as ameaças a ele direcionadas. Segundo Couto (1987), de forma errônea e numa linguagem
popular corrente, essas reações são confundidas com estresse, chegando até mesmo a ser
denominadas com este nome. O estresse não é essa reação em que o organismo busca a
adaptação, mais sim uma decorrência deste estado, caso a adaptação e o equilíbrio psíquico não
ocorra, afirma o autor.
Ainda segundo Selye (1956), a fase de resistência pode terminar de duas formas. Na primeira
situação, a fonte de pressão é eliminada, e o organismo retoma a condição de homeostase,
desaparecendo os diversos sintomas observados nas fases de alarme e resistência. Na segunda
situação, com o prolongamento das fontes de pressão, a capacidade de resistência do organismo
fica "minada", culminando com o que o autor denomina de “fase de exaustão”, na qual o
organismo perde a batalha para os agentes estressores, configurando o quadro de estresse,
caracterizado por um desequilíbrio entre os níveis de pressão (estressores), advindos do meio, e a
estrutura psíquica do indivíduo.
Para Levi (2003) e Maslach (2005), a fase de exaustão é também denominada de burnout.
Segundo os autores, esse conceito, que se popularizou na década de noventa nos Estados Unidos,
significa um nível de estresse muito intenso. Quem sofre de burnout apresenta um quadro de
exaustão física e mental, estando presente sintomas como forte cansaço acompanhado de
alteração na pressão arterial e nos batimentos cardíacos, insônia e ganho ou perda de peso. O
burnout traz problemas emocionais e de relacionamento na vida pessoal e profissional. Quem
está sobre os efeitos dessa síndrome é comum sentir-se perseguido no trabalho, tornando-se
agressivo ou apático, e desenvolver quadros de depressão e ansiedade excessiva. Essa mesma
situação pode ser manifestada em outros ambientes, levando o indivíduo ao isolamento e a
dificuldades para se relacionar com amigos e familiares. Ainda de acordo com os autores, as
características individuais também são determinantes para o desenvolvimento dessa síndrome.
Geralmente, o burnout atinge pessoas com baixa autoconfiança, que têm dificuldades em lidar
com limites e frustrações. Costuma ser mais freqüente naqueles indivíduos que lidam de forma
intensiva com as pessoas e as vidas humanas.
A tese de Levi (2003), que define o burnout como uma síndrome associada ao estresse, está
sendo adotada como referência para o controle da doença pela Organização Mundial de Saúde
(OMS), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e União Européia (UE).
Cooper, Cooper & Eaker (1988) criticam os trabalhos de Selye (1956), por considerá-lo uma
perspectiva biologizante do conceito de estresse, chegando a afirmar que se trata de uma visão
quase que estímulo-resposta. Nessa abordagem, segundo os autores, não são levados em
consideração o impacto psicológico do estresse que age sobre o indivíduo nem a condição de
reconhecê-lo. Essas situações são determinantes para que o indivíduo possa agir no sentido de
mudar a situação, adaptando a sua estrutura psicológica para melhor suportar as pressões advidas
do meio.
A abordagem bioquímica apresentada neste item é importante para se ter uma visão global das
manifestações do estresse, principalmente no que se refere ao seu aspecto fisiológico.
Outras abordagens serão apresentadas a seguir, ampliando assim a visão e o entendimento em
relação às causas desse quadro. A abordagem a seguir apresentada, denominada de “psicológica”,
é desmembrada em cinco vertentes: psicossomática, interacionista, behaviorista, psicopatologia
do trabalho e psicologia social.
3.2.2 Abordagem Psicológica
Segundo Cassirer (1994, p. 46), o ciclo de funcionamento do homem não é só quantitativamente
maior do que o dos animais, uma vez que passou por importantes mudanças qualitativas. O autor
afirma que o homem evoluiu no sentido da sua adaptação ao ambiente. Entre o sistema receptor e
o sistema efetuador, que são encontrados em todas as espécies animais, observa-se no homem um
terceiro sistema, denominado de “simbólico”. Assim, o homem, em relação aos animais
irracionais, vive a dimensão da realidade. No caso dos irracionais, uma resposta direta e imediata
é dada a um estímulo externo, enquanto que no caso do homem essa resposta é diferida; ou seja,
ocorrem uma interrupção e um conseqüente retardamento, em função do processo de
pensamento.
Cooper, Cooper & Eaker (1988) contribuíram com importantes estudos para o desenvolvimento
da abordagem psicológica do estresse. Esses estudos ampliaram os entendimentos sobre esse
complexo processo que envolve os seres humanos. Os estudos nessa linha começaram no início
do século XX, a partir do desenvolvimento da psicossomatização, com questionamentos em
relação ao estado emocional dos indivíduos e a suas condições de saúde apresentadas.
Na visão de Cooper, Cooper & Eaker (1988), Lhuilier, Mignèe & Raix (1990), Arnold,
Robertson & Cooper (1991) e Moraes et al. (1998), o trabalho de Lazarus (1974) é considerado o
marco para os estudos da abordagem psicológica, uma vez que o mecanismo psicológico é
percebido como determinante no processo, associando-se ao desencadeamento de quadros de
estresse.
A abordagem psicológica em relação aos estudos sobre estresse não apresenta uma direção única,
embora nas suas diversas vertentes apresente coerência em relação a determinados pressupostos.
As vertentes decorrentes dos estudos relacionados a essa abordagem, a seguir apresentadas, são:
psicossomática, interacionista, behaviorista, da psicopatologia do trabalho e da psicologia social.
a) Psicossomática
Cooper, Cooper & Eaker (1988) e Rosenman (1996) citam o pesquisador William Osler, que, na
penúltima década do século XIX, direcionou suas pesquisas no sentido de compreender a relação
entre a tensão e o aparecimento das doenças. No entanto, tendo em vista o nível de
conhecimentos à época, não foi possível, de forma definitiva, obter o entendimento científico
dessa relação. Segundo Adams (1980), trabalhos posteriores surgiram, como os de Adolf Meyer,
psiquiatra do Hospital Jonh Hopkins, nos Estados Unidos, realizados no final do século XIX e
início do século XX. Esses trabalhos ainda apresentavam-se incompletos, uma vez que
reconheciam a sobrecarga do sistema adaptativo do organismo humano como podendo exaurir-se
por completo, mas não explicava como ocorria esse processo. Tanto Osler como Meyer
desconheciam as reações químicas inerentes ao processo de estresse, o que só foi estudado em
décadas posteriores, tendo como um dos pioneiros Selye (1936).
Girdano e Everly (1979), Adams (1980) e Kaplan & Sadock (1993) citam os trabalhos de Harold
Wolff, também psiquiatra, como importantes contribuições que buscavam entender a relação
entre os estados emocionais dos indivíduos e as doenças, tendo sido considerado como um dos
primeiros estudos sobre psicosomatização nos Estados Unidos.
Posteriormente, Kaplan e Sadock (1993) citam o trabalho de Holmes e Rahe
3
, que associaram o
estresse a um processo de reajustamento social por parte do indivíduo, tendo em vista a
experimentação de acontecimentos percebidos como negativos nos diversos contextos da vida.
Decorrente dessa constatação, Holmes e Rahe (1978) desenvolveram uma pesquisa na qual
constataram 43 fatores (acontecimentos) que apresentavam impactos de importância variada na
vida das pessoas. Os autores denominaram esses fatores de “Escala de Classificação do
Reajustamento Social de Holmes & Rahe
4
”. Eles chegaram à conclusão, com base neste estudo,
de que o acúmulo de mais de duzentas unidades de variação por ano na vida de uma pessoa
aumenta de forma significativa o aparecimento de doenças psicossomáticas.
O estudo de Holmes e Rahe (1978) ainda é muito utilizado pelos estudiosos do estresse. A sua
base não é o estado emocional para explicar a somatização, mas sim fatos concretos acontecidos
na vida dos indivíduos que levam a impactos na saúde.
Em síntese, de acordo com Kaplan e Sadock (1993), a vertente psicossomática considera que as
fortes situações emocionais desencadeiam o processo de estresse nos indivíduos, situações essas
geradoras de doenças, que poderão ser de cunho biológico ou puramente psicológico.
b) Interacionista
A vertente interacionista tem a sua base na psicologia experimental, que considera e
aprofunda a abordagem psicológica nos estudos de estresse. O principal fundamento dessa
3
HOMES, T. Life situation, emotions and disease. Psychoson Med. v.19, n747, 1978.
4
A escala é apresentada com 43 fatores considerados por Holmes Rahe (1978) como sendo os mais representativos
na vida das pessoas.
corrente está relacionado com a compreensão da relação que o indivíduo estabelece com o meio,
os mecanismos de interação e a interpretação dos eventos à sua volta (LAZARUS, 1974).
Nessa concepção, a reação do indivíduo ao estresse depende de como ele percebe, de forma
consciente ou não, o significado de uma ameaça ou desafio advindo do ambiente. Dessa forma,
uma determinada ameaça pode ser considerada estressora para um indivíduo e para outro, não.
Esta constatação permite explicar que as diferenças individuais do ponto de vista da estrutura
psíquica das pessoas determinam a sua maior ou menor vulnerabilidade ao estresse.
Para Kaplan e Sadock (1993), a psicologia experimental avança em relação aos estudos de
estresse no que se refere tanto às questões de aprendizagem quanto aos aspectos relacionados à
percepção. O fato de um evento ser percebido como estressante depende da sua natureza, bem
como dos mecanismos e estruturas psicológicas individuais. Dessa forma, os indivíduos
interagem com as fontes de pressão, aprendendo com elas e também as reconstruindo de forma
diferente.
Lazarus (1974) descreve um processo que ele denomina “período de choque”, o qual ocorre
quando o indivíduo está diante de uma fonte de pressão, quando adota um comportamento,
consciente ou não, visando amenizar ou eliminar a ocorrência do processo de estresse. Trata-se
de um mecanismo essencialmente comportamental, afirma o autor. Assim, os indivíduos
aprendem a lidar com as fontes de pressão desenvolvendo posturas comportamentais de combate,
que são classificadas em duas categorias: as adequadas, que atuam diretamente na fonte de
pressão, visando a sua redução e/ou eliminação, conseqüentemente suavizando a sensação de
ansiedade e pressão no indivíduo; e as inadequadas, que não atuam diretamente na fonte de
pressão, funcionando, portanto, simplesmente como soluções paliativas, ou pseudo-soluções,
estando relacionadas aos sintomas. Podem ser consideradas uma fuga da realidade, e, portanto,
não eliminam os sentimentos de ansiedade e pressão. Um exemplo citado pelo autor para essa
situação é o consumo de álcool ou outras drogas, que nada adiantam como uma resposta efetiva
para a eliminação da causa.
De acordo com Rotter (1966)
5
, a utilização das estratégias de adaptação de forma adequada vai
depender de um mecanismo de percepção denominado lócus de controle, que está relacionado à
forma como os indivíduos interpretam os eventos à sua volta. De acordo com essa descrição, o
lócus pode ser interno ou externo. No interno, o indivíduo acredita que possui controle sobre os
eventos inerentes à sua vida, enquanto no externo acredita não possuir esse controle.
Para Cooper, Cooper & Earke (1988), os indivíduos que possuem lócus interno tendem a ser mais
confiantes quanto à possibilidade de intervir positivamente nas situações adversas, enquanto que
aqueles que possuem a predominância do lócus externo, de maneira geral, não acreditam que
podem interferir de forma positiva na mudança dessas situações adversas. Verifica-se aí uma
relação direta entre a aplicação das estratégias de combate ao estresse e o lócus de controle. As
estratégias de combate são mais efetivas desde que o indivíduo acredite ser capaz de interferir nas
mudanças relativas ao seu contexto ambiental.
Ainda no âmbito da percepção, sob o prisma da psicologia experimental, uma fonte de pressão
considerada intensa pode não gerar tensão se o indivíduo apresentar uma distorção no processo
perceptivo. A situação inversa também poderá ocorrer quando, por exemplo, um indivíduo se
torna pressionado por uma situação que não se apresenta como real.
Bowdicht & Buono (2002, p. 66) definem a distorção perceptiva como expectativas. Segundo
esses autores, nessa situação o indivíduo enxerga o que quer ver, e não o que realmente está
vendo. Trata-se, então, do desenvolvimento de uma percepção seletiva, em que somente os
estímulos que interessam, consciente ou inconscientemente, serão internalizados e utilizados.
“Muitas vezes vemos pessoas de uma forma bem diferente da que elas são, ou daquela como
estas nos são objetivamente apresentadas”.
De acordo com Cox (1978)
6
, o indivíduo vincula-se ao seu meio ambiente mediante uma relação
dinâmica, envolvendo os mecanismos biológicos e psicológicos, de forma que todas as partes se
interagem no processo. Assim, o indivíduo não é submisso ao meio estressor, podendo tanto
5
Citado por Cooper, Cooper & Eaker (1988).
6
Citado por Cooper, Cooper & Eaker (1988).
construir defesas psicológicas como alterá-lo, ao passo que o meio também possui a capacidade
de provocar essas alterações.
Em síntese, a vertente interacionista, tendo em vista os conceitos apresentados, busca
compreender o estresse como sendo decorrente de uma relação estabelecida entre o indivíduo e o
ambiente, permeado pelo mecanismo psíquico.
Hinkle (1973)
7
, associando os conceitos da vertente psicossomática e de vertente interacionista,
afirma que nem todas as doenças são de origem psicossomática, mas que, em sua grande maioria,
existe forte associação entre os aspectos da mente e o ambiente social, no seu aparecimento e
desenvolvimento. Assim, as abordagens psicossomática e interacionista devem ser entendidas de
forma inter-relacionada. Enquanto a primeira estabelece uma relação ente corpo e mente, a
segunda relaciona mente e ambiente.
c) Behaviorista
Na vertente behaviorista, destacam-se os estudos desenvolvidos por Friedman e Rosenman
(1974), que investigaram a associação de determinados tipos de comportamentos relacionados a
problemas cardíacos. Com base nesses estudos, foram caracterizados dois tipos básicos de
comportamentos, denominados “comportamento tipo A” e “comportamento tipo B”. Segundo os
autores, o comportamento tipo A é característico de indivíduos que possuem certo nível de
agressividade e competitividade bastante exacerbada, enquanto o comportamento do tipo B é
próprio de indivíduos mais tranqüilos, apresentando, portanto, características de personalidade
opostas às apresentadas pelo tipo A.
Couto (1987, p. 38) apresenta o detalhamento dessas características, também com base nos
estudos de Friedman e Rosenman (1974), que é apontada como uma das mais importantes
vulnerabilidades ao estresse. Denominado pelo autor de “estilo de vida A”, está relacionado a
uma forma de vida que muitas pessoas praticam, com destaque para os executivos, vivendo uma
sensação constante de premência de tempo, assumindo cada vez mais tarefas ao mesmo tempo.
Essas pessoas, normalmente, reagem às questões do meio ambiente de forma obstinada,
7
Citado por Girdano & Everly (1979).
impaciente e agressiva, apresentando uma característica de grande preocupação com os números
e os aspectos materiais da vida. Ao contrário, os indivíduos que possuem características do estilo
de vida não “A”, ou seja, “estilos de vida B”, conhecem e respeitam os seus limites,
administrando melhor o seu tempo; são calmos, confiantes e seguros de si mesmos;
emocionalmente, são mais estáveis; aceitam as mudanças como um processo natural; e enfrentam
de forma positiva os conflitos nos seus diversos ambientes.
Sabe-se que é difícil a um indivíduo ter somente características do comportamento do tipo A ou
do tipo B. De certa forma, as pessoas se comportam dentro de um continuum entre os dois
extremos de cada tipo de comportamento.
De acordo com Friedman e Rosenman (1974), a associação que se faz entre estresse e doenças
cardíacas, principalmente o infarto do miocárdio, está relacionada aos aspectos comportamentais
apresentados pelos indivíduos. Dessa forma, os estudos desses autores estão relacionados a uma
das principais correntes de pesquisa sobre o estresse, que é a vertente behaviorista, ou
comportamental.
Outro aspecto importante nessa linha de estudos a ser mencionado como gerador de tensão,
segundo Kaplan & Sadock (1993), são as atitudes. De acordo com Bowdicht e Buono (2002), as
atitudes são predisposições que o indivíduo possui para agir mediante determinado estímulo.
Dessa forma, a atitude precede o comportamento, podendo se manifestar ou não, dependendo das
circunstâncias. Em parte, segundo os autores, as atitudes de um indivíduo são determinadas por
suas características de personalidade.
A associação que se pode estabelecer entre atitude e comportamento, em termos da geração de
tensão, está relacionada às diferenças individuais. Ou seja, determinados indivíduos, por
natureza, podem ser mais ou menos tensos. Aqueles que apresentam características mais tensas,
essas, naturalmente, são intrínsecas à sua natureza, constituindo-se na sua forma natural de agir,
podendo não contribuir para a elevação dos níveis de tensão.
Outro conceito importante mencionado por Kaplan e Sadock (1993) é o de dissonância cognitiva,
que, para os autores, significa a incongruência ou desarmonia entre crenças, conhecimentos e
comportamentos do indivíduo. Segundo os autores, existe relação entre dissonância cognitiva e
geração de tensão. Um indivíduo pode ser induzido a mudar de atitude para adequar o seu
comportamento ao contexto da organização, buscando uma harmonia de valores.
Ainda segundo a abordagem psicológica, duas outras vertentes são de grande importância para o
estudo do estresse ocupacional: a da psicopatologia do trabalho e a da psicologia social,
apresentadas a seguir.
d) Psicopatologia do trabalho
Esta corrente vem crescendo de forma significativa como vertente de pesquisa que, apesar
de centrar a sua preocupação em relação aos aspectos relacionados à doença mental, apresenta
novos conceitos que são utilizados nos estudos relacionados ao estresse.
Segundo Billiard (1996), o movimento conhecido como “psicopatologia do trabalho” teve o seu
início na França, após a Segunda Guerra Mundial, e contou com as contribuições da psicologia
social. A relação entre a modernização industrial e o movimento destinado à promoção da saúde
consistiu-se na base principal para o desenvolvimento desse novo campo de estudos, que passou
a aliar as questões do trabalho com os aspectos relacionados à saúde mental.
Ainda segundo Billiard (1996), a terminologia psicopatologia do trabalho foi primeiramente
desenvolvida pelos psiquiatras franceses Silvadon (1952) e Le Guillant, mais ou menos na
mesma época, sendo, portanto, considerados precursores dessa nova corrente de estudos, apesar
de suas perspectivas teóricas serem distintas.
Os trabalhos de Silvadon (1952) são marcados pela herança teórica organicista, cuja visão
da doença mental estava associada a um comprometimento da estrutura biológica do ser humano.
No entanto, o autor procura também compreender como os elementos sociais interferem na saúde
psíquica dos indivíduos.
Segundo Billiard (1996), Silvadon foi considerado o pioneiro na aplicação da ergoterapia, que
consistia na utilização do trabalho como técnica terapêutica para o tratamento das enfermidades
mentais, admitindo, assim, que as questões sociais interferem na saúde mental das pessoas. Para
esse autor, o trabalho pode ser também considerado patogênico, na medida em que apresenta
incompatibilidade em relação ao nível de maturidade do indivíduo.
De acordo com Billiard (1996), as influências teóricas de Le Guillant foram diferentes das
apresentadas por Silvadon, uma vez que ele se apoiou numa visão distinta da corrente organicista.
A sua linha de pensamento vai ao encontro de uma psicologia concreta, que baseia a sua análise
nas condições objetivas do trabalho. Para Le Guillant, os elementos sociais advindos de fatos
reais são os determinantes das enfermidades. Apesar de não negar os fatores orgânicos e
psíquicos no adoecimento, busca nas transformações sócio-históricas os elementos essenciais
para compreender a gênese das doenças mentais. Nesse contexto, Le Guillant dá um papel muito
mais relevante ao trabalho do que o proporcionado por Silvadon, apesar das suas inegáveis
contribuições para o desenvolvimento dos estudos nessa área.
Segundo Chanlat (1990) e Dejours (1992), Guillant, fortemente influenciado pela psicanálise
freudiana, é considerado um dos pilares dessa nova vertente de estudos, e os seus trabalhos
passam a ganhar espaço tanto na França com em outros países.
No Brasil, essa vertente da psicopatologia do trabalho começou a tomar impulso principalmente
com a divulgação dos trabalhos de Dejours (1992, 1996) e Dejours, Abdoucheli e Jayet (1994).
Lima (1998) considera que o trabalho em si é mais responsável pelo surgimento das doenças
mentais do que a simples interpretação subjetiva, individual ou coletiva, conforme preconizado
por Dejours (1992, 1994, 1996). A interpretação de Dejours toma como base a intersubjetividade
dos trabalhadores para a reconstrução da situação real de trabalho, e a partir daí analisa as
contradições intrínsecas e as fontes de sofrimento no ambiente ocupacional. Ainda na visão de
Lima (1988), o ponto crucial na perspectiva de Dejours é a sua preocupação exclusiva com a
subjetividade dos indivíduos, sendo o seu esforço de pesquisa direcionado para o discurso dos
trabalhadores, deixando de lado a análise do trabalho e das condições reais às quais o trabalhador
está inserido.
Dejours (1992, 1994, 1996) procura estudar o sofrimento e o prazer proporcionados pelo
trabalho, independentemente da doença mental que possa ser estabelecida. Busca compreender
como os indivíduos mantêm-se normais, por meio de suas estratégias defensivas, em que a
loucura seria o mais esperado, afirma o autor.
O estresse ocupacional não é o foco principal dessa vertente de estudos. No entanto, os estudos
de estresse são tangenciados pela psicopatologia, sendo apontados como uma alternativa ao
adoecer psíquico. Para Dejours (1992, p. 126), “a desorganização à qual sucumbe o doente não se
traduz por sintomas mentais, mas pelo aparecimento de uma doença somática”. Ou seja, essa
doença está relacionada ao corpo, e não à mente.
Na visão de Dejours (1992), o estresse é desencadeado por uma situação mentalmente opressora
no contexto do trabalho. A busca para manter uma sanidade mental leva ao desencadeamento de
uma agressão somática ao corpo. Assim, o autor justifica a importância da análise da
subjetividade nos estudos de estresse, chegando mesmo a criticar a linha de estudos adotada pelos
países anglofônicos, por não adotarem a análise da subjetividade para a compreensão desse
fenômeno.
e) Psicologia social
Para Davidoff (1983), a psicologia social estuda como as pessoas influenciam umas às outras. Em
relação ao estresse, a preocupação central desta corrente está focada em entender esse fenômeno
social, advindo das relações entre os indivíduos. Não constitui preocupação da corrente da
psicologia social entender como o estresse manifesta individualmente, mas sim como afeta as
relações grupais e como, coletivamente, o grupo reage diante das fontes de pressão. Existe
também a preocupação de como o estresse pode desenvolver-se coletivamente ou, até,
epidemicamente em função de variáveis como: as formas que estão estabelecidas às relações
entre os indivíduos; o contexto comum; o ambiente coletivo dos trabalhadores; os rituais de
transmissão; e a consolidação da cultura nas organizações.
De acordo com Lhuilier, Mignèe e Raix, (1990), a psicologia social, bem como a psicopatologia,
leva em consideração aquilo que ocorre dentro dos grupos, constituindo-se num vasto campo de
pesquisas, essencial para entender as relações do homem com o trabalho e com a organização.
Dentre as correntes apresentadas para a análise do estresse, as contribuições da psicologia
social podem ser consideradas como das mais incipientes no Brasil. O mesmo não ocorre na
França e outros países da Europa, onde existe um forte desenvolvimento, principalmente, em
relações às questões do trabalho e aos impactos na vida e na saúde dos trabalhadores.
A psicologia social relaciona-se com a antropologia para explicar uma outra perspectiva
que influencia no processo de tensão e estresse dos indivíduos. Para essa corrente, a construção
dos valores dos indivíduos, ou construção cultural, emerge de uma situação concreta e
socialmente construída, determinando o que as pessoas vão entender como sendo fonte de
pressão. Nessa vertente da psicologia social, a maior importância se dá em relação aos estudos
sobre cultura e à construção dos valores dos indivíduos como determinantes da sua saúde.
Na visão de Kaplan e Sadock (1993), períodos de transição cultural, com as mudanças de
valores morais e a definição de papéis, podem aumentar a vulnerabilidade do indivíduo em
relação às tensões da vida. Uma transição cultural importante pode gerar tensão e níveis
significativos de sofrimento, afirma o autor.
Para Leontiev (1978), os estudos sobre estresse na corrente da psicologia social
extrapolam as fronteiras organizacionais, buscando entender as opções de desenvolvimento social
e os impactos nas relações entre o indivíduo e o seu trabalho. A partir desse contexto, os estudos
se ampliam, buscando-se uma ampla análise das transformações sociais no contexto das
organizações. Essa corrente aprofunda-se nas questões sociais e culturais em relação à forma
como a sociedade constrói as concepções de mundo em termos grupais. O mesmo não ocorre em
relação à corrente interacionista, cujo foco se concentra nas relações individuais com o meio
organizacional.
3.2.3 Abordagem sociológica
De acordo com Cassirer (1994), na abordagem sociológica percebe-se uma dependência
entre a visão de mundo do indivíduo e a sua realidade social. O indivíduo depende da estrutura
social em que vive para estabelecer o seu universo simbólico, bem como para construir a sua
cultura individual que servirá de base para interpretar os fatos ao seu redor, o que proporciona
elementos para a sua identificação e diferenciação.
A construção simbólica e cultural do indivíduo é fundamental para o desenvolvimento
humano, uma vez que é por meio dessa construção e da transmissão de geração para geração que
a humanidade cresce e desenvolve socialmente, afirma Leontiev (1978). Ainda segundo esse
autor, o desenvolvimento psíquico dos indivíduos está relacionado à estrutura cultural
estabelecida. Nessa dimensão, as alterações culturais afetam diretamente os mecanismos
psicológicos individuais.
Nos dias atuais, a presença mais forte do estresse social revela uma alteração
sociocultural, que influencia o mecanismo psíquico e altera as condições ambientais nas quais o
indivíduo está inserido, provocando influências no mecanismo biológico. Para a compreensão do
estresse, é de fundamental importância entender não só o indivíduo, no que se refere a seu
mecanismo psicológico e a seu ambiente, como também os valores sociais e as suas
transformações. Isso implica compreender um movimento de transformação amplo e contínuo,
entendendo as novas variáveis que se estabelecem dentro da sociedade, possibilitando, assim, a
interpretação das fontes de pressão à luz de cada nova realidade (LEVI, 2003, 2005).
Para Kaplan e Sadock (1993), a complexidade atual da civilização, a rapidez das
mudanças e a perda de valores tradicionais, como os religiosos e os familiares, cria conflitos e
ansiedades para a sociedade, os quais, na percepção dos autores, são responsáveis por um estado
de tensão nos indivíduos que não pode ser compreendido simplesmente como um fenômeno
psicológico isolado, mas sim como um fenômeno coletivo.
Albrecht (1990), à luz das grandes transformações da sociedade, especialmente a
americana, definiu o século XX como exponencial e a era como a da ansiedade. Exponencial
porque as transformações e mudanças ocorreram num ritmo cada vez mais acelerado,
impulsionado ciclicamente pelas inovações, e da ansiedade porque o indivíduo nesse século
exponencial necessitava, a cada momento, adaptar-se às novas condições de natureza quer física,
psicológica ou cultural para minimizar o medo advindo das incertezas em relação ao futuro. Para
o autor, embora o estresse, como processo químico, seja uma manifestação normal de adaptação
do corpo às exigências do meio ambiente e possa ser causado por estressores físicos, quase todo o
estresse crônico experimentado pelos americanos é provavelmente originado pela ansiedade.
Morgan (1998), apontando para os rumos que os valores culturais do processo de trabalho
têm assumido, coloca a organização como elemento gerador de estresse e que, em alguns casos,
afeta de forma endêmica os valores sociais. Ainda na visão desse autor, o estresse, muitas vezes,
tem sido utilizado pelas organizações com o objetivo de maximizar os seus resultados, sendo
disseminado como positivo e produtivo, constituindo-se em um dos motivos pelos quais as
organizações valorizam culturalmente os maníacos pelo trabalho (workaholics) e aqueles que
morrem de trabalhar, que são vitimas de karoshi.
8
A positividade do estresse nesse caso não apresenta fundamentos, uma vez que o
conhecimento acadêmico produzido até então aponta para a improdutividade associada a esse
processo, aliada ao adoecimento das pessoas.
França & Rodrigues (1996) consideram as questões sociais como determinantes de
doenças ocupacionais, e dentre essas o estresse. Para os autores, o ser humano é considerado um
todo, ou seja, biológico, ecológico e socialmente determinado. Dessa forma, o seu bem-estar,
além de físico e psicossocial, está intimamente relacionado às situações que o envolvem, como
membro de um grupo, de uma comunidade e, mais do que isso, do sistema sociocultural em geral.
Analisando esse contexto, Rio (1995) também considera a variável sociocultural como
relacionada ao estresse. Aponta algumas alterações de valores, que, segundo ele, podem se
caracterizar como fontes de pressão importantes; por exemplo, o incentivo social à
competitividade, a pressão do tempo, a ética do lucro, o consumo compulsivo e a aceleração das
mudanças. No entanto, o autor não apresenta nenhum estudo sobre estresse em que relaciona
essas variáveis.
Os diversos contextos apresentados nesse item mostram a importância da abordagem
sociológica nos estudos de estresse, como também a crescente preocupação dos pesquisadores em
8
Terminologia utilizada no Japão para referenciar a morte decorrente do excesso de trabalho.
relação a essa temática. Fica claro que o estresse vem se tornando um problema cada vez mais
crítico para a sociedade e as organizações em todo o mundo.
Para Levi (2003, 2005), as transições mais recentes na vida dos indivíduos, como
mundialização, desenvolvimento crescente de novas tecnologias e novas formas de organização
do trabalho, aliadas às expectativas crescentes em termos da participação do ser humano nos seus
diversos ambientes, vêm contribuindo para o crescimento mundial desse fenômeno.
As abordagens conceituais apresentadas ao longo deste item mostram de diversas óticas
como podem ser entendidas e estudadas as manifestações relacionadas ao estresse, constituindo-
se em importante base teórica para a realização deste estudo, focando o trabalho dos gerentes em
organizações com atuação no Brasil.
3.3 Pesquisas sobre estresse ocupacional
Com o objetivo de estabelecer um conhecimento empírico sobre as investigações nesta
área, serão apresentadas a seguir algumas pesquisa realizadas no Brasil e em outros países sobre
as investigações relacionadas ao estresse ocupacional.
1ª) As dimensões básicas do trabalho, a QVT e estresse: uma análise em profissões de impacto
na sociedade. Esta pesquisa teve como objetivo diagnosticar o grau de satisfação de gerentes de
empresas mineiras com relação à qualidade de vida e o nível de estresse ocupacional. Foram
utilizados os modelos de Hackman & Oldham (1975) para diagnosticar a qualidade de vida no
trabalho e o modelo de Cooper, Sloan & Willians (1988) para analisar o estresse no trabalho. A
metodologia adotada foi o estudo de campo – survey, por meio de perguntas diretas e indiretas. A
amostra foi composta de profissionais que ocupavam o cargo de chefia intermediária nas
organizações pesquisadas. Os principais achados mostraram que, de forma geral, o gerente
pesquisado possui uma percepção de qualidade de vida satisfatória e apresenta um nível de
estresse leve a moderado e um nível de tensão elevado. A pesquisa foi realizada por Moraes et al.
(1992).
2ª) Comprometimento organizacional, qualidade de vida e stress no trabalho: uma abordagem
de diagnóstico comparativo. Esta pesquisa teve como objetivo geral contribuir para uma maior
compreensão dos fatores que interferem na relação do indivíduo com a organização, identificando
as variáveis que afetam a qualidade de vida no trabalho (QVT), bem como aquelas causadoras de
estresse, e, ainda, o que leva o indivíduo a se comprometer, em maior ou menor nível, com a
organização que trabalha. Como objetivo específico, buscou-se pesquisar as inter-relações entre
esses fatores, permitindo analisar a influência da qualidade de vida nos níveis de estresse e no
comprometimento dos indivíduos com a organização, e vice-versa. Também foi analisada a
relação entre essas variáveis e os fatores demográficos e funcionais identificados. Em termos
metodológicos, foi utilizado o método de estudo de casos comparativos. O questionário foi o
instrumento básico de coleta de dados. Foi composto de três partes, que incluem questões do OSI
(Occupational Stress Indicator), elaborado por Cooper, Sloan & Willians (1988), adaptado por
Moraes e Kilimnik (1993), e uma versão reduzida do JDS (Job Diagnostic Survey), elaborado por
Hackman & Oldham (1975), também adaptado por Moraes e Kilimnik (1993). A amostra foi
composta por trabalhadores com escolaridade mínima de segundo grau de três empresas mineiras
do setor de prestação de serviços. Como principais achados, de maneira geral, observaram-se
uma relação inversa entre o estresse e o potencial motivacional; a satisfação no trabalho; e a
QVT. Ou seja, o estresse aumenta à medida que esses três fatores diminuem. Já a variável
comprometimento relaciona-se de forma direta com o potencial motivacional da tarefa, a
satisfação no trabalho e a QVT, elevando-se à medida que esses também aumentam. Assim, os
trabalhadores que estão mais satisfeitos com a organização e que atuam motivados com o
conteúdo de suas tarefas e com uma boa QVT são mais susceptíveis a apresentar altos níveis de
comprometimento com a organização e menores níveis de estresse. A pesquisa foi realizada por
Moraes et al. (1994).
3ª) Comprometimento e stress no trabalho: um estudo do vínculo professor – universidade. Esta
pesquisa teve como objetivo geral investigar os padrões de comprometimento dos servidores
docentes de uma instituição de ensino superior, bem como verificar quais são os elementos
determinantes de tais comprometimentos. Como objetivos específicos, buscou-se: a) identificar
as variáveis pessoais, organizacionais e de trabalho que melhor explicam o comprometimento
com a organização e com a carreira dos docentes da IFES; b) verificar as possíveis correlações
entre os padrões de comprometimento e o nível de estresse ocupacional da categoria pesquisada;
c) avaliar se o nível de estresse ocupacional está diretamente relacionado às variáveis
determinantes do comprometimento dos docentes; e d) investigar os padrões de
comprometimento estabelecidos entre os professores da instituição. Em termos metodológicos,
foi utilizada uma abordagem quantitativa com o delineamento de corte transversal. Como
instrumento de coleta de dados, utilizam-se questionário, análise de documentos, entrevistas
semi-estruturadas e observação não participante. O instrumento utilizado para o diagnóstico do
estresse foi o OSI – Occupational Stress Indicator, de Cooper, Sloan & Willians (1988). Para a
análise do comprometimento organizacional, foram utilizados um questionário proposto por
Bastos (1994) e o OCQ – Organizational Commitment Questionaire, de Monday et al. (1979). A
amostra foi composta por 99 professores da Universidade Federal de Lavras lotados nos
Departamentos de Educação Física e Educação. Um dos principais achados foi o seguinte: de
modo geral, o estado de saúde física e mental foi considerado normal e não foi observada relação
entre o estresse e os escores de comprometimento. O autor conclui que o estresse não pode ser
avaliado apenas em termos globais – observando somente a maioria –, pois, em se tratando de
seres humanos, é importante analisar cada caso de forma individualizada. A pesquisa foi
realizada por Brito (1995).
4ª) A dinâmica do stress no trabalho: um estudo de caso com profissionais de enfermagem. Esta
pesquisa teve como objetivo geral aprofundar o conhecimento de algumas inter-relações
possíveis entre: a) as fontes de pressão no trabalho (intrínsecas e extrínsecas); b) as características
individuais (atitudes e comportamentos frente à vida); c) as estratégias de combate ao stress; e d)
os impactos dessas variáveis no bem-estar físico e psíquico dos trabalhadores de uma equipe de
enfermagem hospitalar. Os objetivos específicos consistiram em realizar a) o diagnóstico dos
níveis de estresse físico e mental da amostra; e b) o cálculo e a discriminação dos escores
específicos para o grupo em análise, no que se refere às variáveis construtivas do processo –
fontes de pressão no trabalho, característica individuais (lócus de controle e tipo de
comportamento), bem como das estratégias de combate ao estresse. A metodologia utilizada,
segundo o autor, pode ser caracterizada como uma pesquisa aplicada, de natureza descritiva e
comparativa, de caráter quantitativo e qualitativo. O método de abordagem utilizado foi de
natureza hipotética-dedutiva. A profissão escolhida para a pesquisa foi a dos trabalhadores em
enfermagem, subdivididos nas funções de enfermeiros-chefe, técnicos e auxiliares de
enfermagem. Participaram do estudo 166 profissionais de enfermagem do setor médico-cirúrgico
de um importante complexo médico-hospitalar do estado de Minas Gerais. Para o diagnóstico do
estresse, foi utilizado o modelo de Cooper, Sloan & Willians (1998). Os principais resultados
foram os seguintes: alguns fatores de pressão contextuais foram apontados como fontes
potenciais de tensão para o grupo; os fatores ligados ao clima e à estrutura da organização, bem
como ao desenvolvimento e progresso na carreira, foram citados pelos respondentes como fontes
potenciais de pressão, e as queixas mais freqüentes estiveram relacionadas à carga excessiva e ao
ritmo desgastante do trabalho, à não programação de pausas durante o expediente e à pouca
valorização desses trabalhadores pela classe médica, pelos pacientes e pela própria coordenação e
diretoria do hospital. A pesquisa foi realizada por Ladeira (1996).
5ª) Fatores de pressão e insatisfação em áreas de atendimento ao público: um estudo de caso em
empresa mineira do setor de serviços. Esta pesquisa teve como objetivo geral investigar fatores
de pressão e de insatisfação em áreas de teleatendimento e atendimento direto ao público de uma
grande empresa mineira do setor de serviços, bem como a relação entre esses fatores e o nível de
tensão revelado por seus membros, por meio dos modelos propostos por Hackman e Oldham
(1975) e Cooper, Sloan & Willians (1988). Como objetivos específicos, a pesquisa se propôs a: a)
proceder a um estudo descritivo e analítico das funções de teleatendimento e de atendimento
direto ao público, o qual serviu de base para a realização da pesquisa; b) identificar fatores de
insatisfação em áreas de teleatendimento e de atendimento direto ao público da organização
pesquisada em relação a variáveis de contexto, bem como verificar a intensidade da presença de
dimensões básicas da tarefa, considerados indicadores de qualidade de vida no trabalho, segundo
o modelo de Hackman e Oldham (1975); c) identificar fatores de pressão intrínsecos ao trabalho,
bem como os níveis de tensão dos diversos grupos pesquisados, por meio do modelo de Cooper,
Sloan & Willians (1988); d) comparar a qualidade de vida no trabalho, as fontes de pressão
intrínsecas ao trabalho e os níveis de tensão entre empregados de teleatendimento e empregados
de áreas de atendimento que lidam diretamente com o público; e) verificar a relação entre os
fatores demográficos (idade, sexo, estado civil, nível de escolaridade) e organizacionais (tempo
de casa, cargo, setor de trabalho) com os níveis de tensão apresentados pelos sujeitos da pesquisa;
f) sugerir medidas que contribuam para a melhoria da QVT dos empregados de teletendimento e
dos atendentes que lidam diretamente com o público, em atuação na organização pesquisada, bem
como fornecer subsídios para uma possível política de administração e controle do estresse
ocupacional dirigida a esses dois grupos de empregados; e g) contribuir com os resultados das
pesquisas que vêm sendo realizadas no sentido de verificar a consistência dos modelos propostos
por Hackaman & Oldham (1975) e por Cooper, Sloan & Willians (1988), para a aplicação em
empregados que atuam em níveis operacionais. Grande parte das pesquisas nessa linha realizadas
no Brasil tem como objeto de estudo os profissionais de nível superior e/ou ocupantes de cargos
gerenciais. Em termos de metodologia, segundo o autor, o trabalho pode ser classificado como
uma pesquisa descritivo-analítica, por meio de survey, de caráter quantitativo e qualitativo. A
população constou de empregados efetivos das áreas de teleatendimento (telefonistas e atendentes
de serviços) e de empregados efetivos de agências de atendimento pessoal dos clientes
(atendentes comerciais) da empresa pesquisada atuantes na região metropolitana de Belo
Horizonte/MG. Foram distribuídos 312 questionários, sendo 71 para o grupo de atendentes
comerciais, 106 para o grupo de atendentes de serviços e 135 para o grupo de telefonistas. O
questionário utilizado na pesquisa contemplou os itens do Job Diagnosstic Survey (JDS) e do
Occupational Stress Indicator (OSI). Com base nos resultados da pesquisa, constatou-se que os
principais agentes estressores percebidos pelos empregados encontram-se sob controle da
organização, podendo, portanto, serem administrados por meio de políticas estratégicas de
recursos humanos. A pesquisa foi realizada por Sant’Ana (1996).
6ª) Qualidade de vida e estresse organizacional: um estudo comparativo em profissões de risco.
Esta pesquisa teve como objetivos identificar as variáveis preditoras de qualidade de vida no
trabalho (QVT) e o nível de estresse dos aeronautas atuantes em empresas aéreas brasileiras.
Houve, ainda, a intenção de pesquisar se as características pessoais desses trabalhadores
determinavam os níveis de estresse e se ocorria relação entre a QVT e o estresse organizacional
na categoria pesquisada. Em termos metodológicos, o estudo foi caracterizado como de natureza
quantitativo-descritivo. A amostra analisada foi composta de aeronautas (comandantes, co-pilotos
e comissários de bordo). A coleta dos dados relativa à QVT e ao estresse organizacional foi
realizada por meio de questionário fechado tipo Likert, elaborado com base nos modelos de
Hackman & Oldham (1975) e Cooper et al. (1988). A amostra constituiu-se de 496 aeronautas,
sendo 220 comandantes, 97 co-pilotos e 179 comissários. Os principais achados dessa pesquisa
são os seguintes: os aeronautas, de modo geral, estão satisfeitos com o trabalho em si, estando,
porém, insatisfeitos com a organização em que trabalham. Os fatores que mais desagradam são: a
forma como a comunicação é realizada dentro das empresas e a maneira como os conflitos são
resolvidos. Outros fatores que causam insatisfação são: as poucas possibilidades de crescimento,
a baixa segurança na relação de emprego e a compensação (salários) abaixo da expectativa dos
participantes. Todos os grupos pesquisados estão satisfeitos com os colegas de trabalho, porém
insatisfeitos com o inter-relacionamento. Um dos aspectos que explica essa insatisfação é o fato
de os aeronautas trabalharem sob tensão, tendo pouco tempo para interagirem uns com os outros
e, até mesmo, com os clientes (passageiros). Com relação à variável estresse, os resultados
indicaram que se apresenta dentro de padrões de normalidade. A pesquisa foi realizada por
Moraes et al. (1998).
7ª) Qualidade de vida no trabalho e stress de profissionais docentes: uma comparação ente o
público e o privado. Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar diferenças entre
professores de instituições de ensino superior, públicas e privadas, relacionadas a variáveis de
qualidade de vida no trabalho, estresse e situações de trabalho. Os objetivos específicos foram os
seguintes: a) identificar relações entre as variáveis do modelo utilizado que afetam os
profissionais docentes de cursos superiores; b) identificar relações entre tais variáveis e dados
funcionais; c) verificar a existência e a natureza de sintomas do estresse; d) identificar atitudes e
comportamentos dos professores em termos de reação ao estresse, ou seja, indicar suas estratégias
de defesa e/ou resistência a esse processo; e e) apontar alternativas para professores e instituições
de ensino no sentido de favorecer e realçar aspectos que se relacionam de forma positiva com a
QVT e que minimizem os impactos negativos na mesma, até mesmo o estresse. Em termos
metodológicos, a pesquisa é de natureza descritiva e de caráter comparativo, realizada por meio
da estratégia de survey, com enfoque quantitativo e qualitativo. A amostra pesquisada foi
composta por professores de cursos superiores de departamentos afins (Engenharia Civil, Elétrica
e Mecânica) de uma universidade pública (UFMG) e de outra priva (PUC-MG), ambas
localizadas no município de Belo Horizonte/MG. Foi composta de 40 professores da instituição
pública e 45 da instituição privada, totalizando 95 docentes. A coleta de dados foi realizada
mediante a aplicação de três questionários: JDS – Job Diagnostic Survey de Hackman & Oldham
(1975); OSI – Occupational Stress Indicator de Cooper et al. (1988) e o instrumento denominado
de “Situação de Trabalho”, elaborado especificamente para o levantamento dos dados da
pesquisa. Os principais resultados obtidos foram os seguintes: quando analisados separadamente,
os professores da instituição privada, de dedicação exclusiva, apresentaram maiores níveis de
estresse do que os de dedicação parcial da mesma instituição. Praticamente, o mesmo ocorreu na
instituição pública. O autor concluiu que a concentração em atividades de natureza semelhante
em um mesmo ambiente de trabalho e numa mesma instituição parece contribuir para levar os
indivíduos a um nível de estresse superior ao daqueles indivíduos cujas tarefas são mais variadas
e desenvolvidas em ambientes diversos. Esta pesquisa foi desenvolvida por Paiva (1999).
8ª) Qualidade de vida no trabalho – estresse ocupacional e o sistema just in time no setor
automobilístico: o caso Betim. Como objetivo geral a pesquisa propôs diagnosticar os níveis de
QVT e de estresse ocupacional de operários e gerentes/supervisores de uma indústria do setor de
autopeças envolvidos no processo de produção just in time, a partir do levantamento de fatores de
satisfação/insatisfação e pressão existentes no contexto organizacional. Os objetivos específicos
foram os seguintes: a) identificar os fatores de satisfação/insatisfação dos gerentes e operários da
industria pesquisada; b) identificar as fontes de pressão exercidas pelo trabalho de gerentes e
operários; c) comparar as fontes de insatisfação/satisfação e pressão identificadas entre os
gerentes/supervisores e operários, com base nos modelos utilizados na pesquisa; e d) descrever a
empresa quanto aos aspectos relacionados a sua origem, estrutura organizacional, ambiente
mercadológico, políticas de recursos humanos e forma de gestão just in time. Em termos
metodológicos, a pesquisa caracterizou-se como um estudo descritivo-analítico, de caráter
comparativo. A coleta dos dados foi realizada por meio dos instrumentos OSI – Occupational
Stress Indicator, de Cooper et al. (1988), utilizado para mensurar o estresse ocupacional, e o JDS
– Job Diagnostic Survey, de Hackman & Oldham (1975), adaptado à realidade da organização
pesquisada, para medir a QVT. Além dos questionários descritos, foram utilizadas entrevistas. A
amostra, composta por gerentes/supervisores e operários do setor automobilístico mineiro, foi
aleatória, assim composta: 192 operários, 6 gerentes e 12 supervisores. Em termos de resultados,
identificou-se que a maior propensão a altos níveis de estresse está relacionada com o grau de
impaciência, a carga de trabalho, a precariedade no relacionamento interpessoal, o desequilíbrio
entre a vida pessoal e a profissional, a insatisfação com o papel gerencial e a falta de
possibilidade de crescimento profissional na empresa. Esta pesquisa foi realizada por Santos
(1999).
9ª) Situação de trabalho e estresse ocupacional: um estudo de caso com os motoristas de
transporte urbano por ônibus. Esta pesquisa teve como objetivo global identificar: a) os aspectos
da situação de trabalho dos motoristas de transporte urbano por ônibus da Viação Gama
apontados por esses condutores como desencadeadores de estresse; b) as estratégias de defesa
mais indicadas como sendo utilizadas pelos motoristas; e c) os sintomas físicos e emocionais
apresentados como potenciais resultados desse processo. Os objetivos específicos foram assim
definidos: a) verificar a existência de sintomas de estresse na percepção dos motoristas e da
empresa; b) identificar as principais fontes de pressão no trabalho em relação aos motoristas; c)
identificar atitudes e comportamentos dos motoristas em termos de reação ao estresse (estratégias
de combate/defesa); e d) identificar se o trânsito em si configura-se como elemento estressor da
situação de trabalho dos motoristas. Em termos metodológicos, a pesquisa foi caracterizada como
quantitativa e de cárter descritivo-explicativo. Como método de análise, utilizou-se o estudo de
caso. Para a coleta de dados, utilizou-se o OSI – Occupational Stress Indicator, testado e
validado no Brasil por Moraes et al. (1993). A amostra foi composta de 101 motoristas de ônibus
do transporte coletivo urbano de Belo Horizonte. Como principais resultados a pesquisadora
constatou que, aparentemente, o grupo com maior tempo na empresa encontra-se mais propenso a
desenvolver quadros de estresse. Essa constatação pode indicar que com o passar dos anos a
profissão de motorista de ônibus torna-se mais desgastante, podendo causar danos à saúde desses
profissionais, levando-os a sentir o desejo de desligarem-se da organização que trabalham,
podendo até mesmo mudar de profissão ou se aposentarem prematuramente. Quando necessário,
os motoristas recorrem à estratégias de combate ao estresse como tentativa de garantir um bom
nível de saúde física e de controle emocional, diante das pressões do dia-a-dia de trabalho. Esta
pesquisa foi realizada por Aguiar (2000).
10ª) Diagnóstico de qualidade de vida e estresse no trabalho da Polícia Militar de Minas Gerais.
Os objetivos dessa pesquisa foram os seguintes: a) identificar as variáveis preditoras de QVT e de
estresse organizacional dos integrantes da Polícia Militar de Minas Gerais em serviço na cidade
de Belo Horizonte/MG; b) identificar fatores relativos à QVT dos diversos extratos funcionais
desse grupo e fazer comparações em relação aos resultados obtidos; c) identificar as
características pessoais (tipo de personalidade) que possam explicar os níveis de estresse; d)
verificar os fatores de pressão no trabalho que mais afetam o grupo em estudo e as estratégias de
combate que são utilizadas; e e) extrair dos resultados obtidos indicações que possam subsidiar
políticas de recursos humanos que privilegiem na instituição pesquisada a satisfação das pessoas
e a qualidade dos serviços prestados à população. Em termos metodológicos, a pesquisa
caracteriza-se como um estudo descritivo analítico de caráter quantitativo, realizado por meio da
estratégia de survey. A amostra foi composta de 1152 membros da policia Militar de Minas
Gerais, retirada de uma população de 7607, sendo o número de mulheres da amostra equivalente
a 5,5% da população. A coleta de dados foi realizada pelos instrumentos OSI – Occupational
Stress Indicator, de Cooper et al. (1988), adaptado por Moraes et al. (1997), para mensurar o
estresse, e o questionário JDS – Job Diagnostic Survey, aplicado para medir a QVT. Além dos
questionários, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas e análise documental. Os principais
achados foram os seguintes: o estresse revelou-se principalmente por meio dos baixos níveis de
satisfação com a organização. Os policiais gostam do trabalho que executam, no entanto têm
restrições com relação à instituição (PMMG). A instituição revelou-se irradiadora das principais
fontes de pressão que agem sobre os seus integrantes. Verificou-se na literatura que a razão para
resultados como este está na permanência de estímulos estressores no ambiente de trabalho,
problema esse relacionado à competência administrativa e que expõe o trabalhador a um estresse
permanente e crônico, o que parece ser o caso da corporação estudada. A pesquisa foi realizada
por Moraes et al. (2000).
11ª) Implicações do treinamento na qualidade de vida e estresse no trabalho. Esta pesquisa visou
alcançar os seguintes objetivos: a) identificar os impactos que o treinamento e o desenvolvimento
de pessoal (T&D) geraram na QVT e no estresse no trabalho dos indivíduos da amostra; b)
diagnosticar os níveis de QVT e de estresse no trabalho em dois grupos amostrais distintos:
treinamento eficaz e treinamento não eficaz; c) identificar os principais fatores de pressão no
trabalho em relação aos dois grupos pesquisados; d) identificar as estratégias utilizadas pelos
indivíduos dos dois grupos para aumentar a QVT e reduzir o estresse no trabalho; e e) extrair dos
resultados obtidos indicações que possam subsidiar a definição de políticas de gestão de pessoas
que privilegiem a satisfação e a QVT no contexto das organizações. Adotou-se uma metodologia
de caráter avaliativo-descritivo, por meio da utilização de técnicas qualitativas e quantitativas.
Como instrumento de coleta de dados, com relação à técnica qualitativa, empregou-se a entrevista
semi-estruturada. Em relação à técnica quantitativa, utilizou-se questionário, validado em sua
forma e conteúdo, cujos dados tabulados sofreram tratamento estatístico. Os questionários foram
elaborados a partir do referencial teórico que levou em consideração os modelos de Hackman &
Oldham (1975) para QVT, o modelo de Cooper et al. (1988) para estresse e Borges-Andrade
(1999a e 1999b) para treinamento. As perguntas centrais da pesquisa foram as seguintes: 1ª)
Quais são os impactos gerados pelo T&D nos indivíduos dos grupos pesquisados?; 2ª) Quais são
as relações entre Treinamento, QVT e Estresse Organizacional?; 3ª) Quais são os níveis de QVT
e de estresse identificados nos grupos de treinamento eficaz e não-eficaz?; 4ª) Quais são os
principais fatores de pressão no trabalho identificados em relação aos dois grupos pesquisados?;
5ª) Quais eram as estratégias utilizadas pelos indivíduos dos dois grupos pesquisados para
aumentar a QVT e reduzir os níveis de estresse?; e 6ª) Quais foram as principais indicações
obtidas na pesquisa que poderiam subsidiar a gestão de pessoas nas organizações? A amostra
analisada foi de 253 indivíduos, de uma população de 493 alunos do curso de pós-graduação lato-
sensu de uma instituição federal de ensino superior do estado de Minas Gerais. O grupo 1 –
Treinamento Eficaz constou de 86 indivíduos; e o grupo 2 – Treinamento Não Eficaz, de 167.
Como conclusões gerais do estudo, obteve-se que, de forma geral, os grupos analisados
apresentaram alto nível de qualidade de vida pessoal e no trabalho, sendo esses indicadores
menos acentuados para os indivíduos mais jovens. Em relação à eficácia do treinamento, os
grupos pesquisados percebem as fontes de pressão no trabalho num nível de intensidade baixo.
As manifestações de estresse foram mais bem justificadas pelas variáveis satisfação com o
trabalho; satisfação com a organização; energia vital; sintomas mentais; fadiga psíquica e bem-
estar mental. Em termos gerais, os autores afirmaram que o treinamento eficaz mostrou-se de
fundamental importância para capacitar os indivíduos, aprimorando suas habilidades. A aplicação
satisfatória dos conhecimentos adquiridos no treinamento por parte dos indivíduos tornou-os
mais capazes de tomar decisões de forma independente, levando-os a um melhor desempenho de
suas funções e, conseqüentemente aumentando o nível de confiança por parte dos gerentes
superiores, reduzindo assim os níveis de tensão no trabalho e, em decorrência, o estresse
ocupacional. Essa pesquisa foi realizada por Moraes et al. (2002).
Ressaltam-se, ainda, as pesquisas desenvolvidas e/ou orientadas por Lipp (1996, 2004) no
Laboratório de Estudos Psicofisiológicos do Stress e no Centro Psicológico de Controle do
Stress, da PUC-Campinas/SP. São pesquisas que, de forma geral, relacionam os mecanismos
psicofisiológicos do estresse; analisam as diversas ocupações e os níveis de estresse relacionados;
discutem a incidência do estresse em populações de risco; e descrevem métodos e técnicas que
podem ser empregadas no controle do estresse.
Em relação às pesquisas brasileiras, das onze apresentadas, oito focam os temas qualidade de
vida e estresse no trabalho, uma relaciona comprometimento organizacional com estresse e duas
pesquisas tratam especificamente do tema estresse no trabalho. Em todas elas, foi utilizado o
modelo de Cooper et al. (1988), com aplicação do OSI – Occupational Stress Indicator, para
diagnóstico e analises dos diversos contextos inerentes ao estresse ocupacional.
Um aspecto que chamou atenção em relação a essas pesquisas é que na maioria delas os
resultados apresentados não respondem à totalidade dos objetivos estabelecidos. Em algumas os
resultados identificados por meio das respectivas publicações mostram-se superficiais e
incompletos.
A seguir, serão apresentadas algumas referências sobre pesquisas internacionais centradas na
temática do estresse ocupacional, tema central deste trabalho.
1ª) Cooper & Arbose (1984) desenvolveram estudos sobre estresse ocupacional pesquisando
gerentes em dez países (Egito, Brasil, Inglaterra, Suécia, Alemanha, Japão, Singapura, Estados
Unidos, Nigéria e África do Sul). Os resultados mostraram que os índices mais elevados de
estresse se encontraram nos executivos do Egito (41,6%) e do Brasil (40,9%). O critério para
diagnóstico do estresse teve como base a ocorrência de instabilidade psíquica, com tendência à
ansiedade e depressão originária de doenças psicossomáticas. Os índices mais baixos de estresse
foram verificados nos executivos da Alemanha Ocidental (10,8%) e da Suécia (14,5%). Destaca-
se no estudo que dos executivos brasileiros, considerados altamente estressados, 50%
encontravam-se na categoria de risco elevado de instabilidade mental, segundo os autores.
2ª) Guadamaris (1988), tendo como referência o modelo teórico de Karasek (1984), desenvolveu
estudo relacionado ao estresse ocupacional com empregados de diversos setores, portadores ou
não de hipertensão arterial. O estudo teve como objetivo relacionar o estado de hipertensão com
fatores ambientais, profissionais e sociais.
3ª) Landsbergis (1993), com base no modelo de Karasek (1984), desenvolveu estudos com
relação ao estresse ocupacional com trabalhadores nova-iorquinos, de diversos setores, buscando
relacionar as pressões decorrentes do trabalho com as doenças cardíacas. Foram identificados os
efeitos das pressões no trabalho em relação a pressão sangüínea, associada a fatores como idade,
apoio socioeconômico e estado hipertensivo. Os pesquisados foram trabalhadores do sexo
masculino atuante em diversos setores de trabalho na cidade de Nova York.
4ª) Kumlin (1993), com base no modelo de Karasek (1984), buscou identificar em funcionários
da Volvo na Suécia e da Renault na França diferenças de adoecimentos em relação ao estresse
ocupacional.
5ª) Alfredson et al. (1995) realizaram pesquisa com trabalhadores de 15 a 64 anos de idade
residentes na cidade de Estocolmo com objetivo de relacionar estresse organizacional com
doenças cardíacas.
6ª) Croplet & Steptoe (1999) realizaram pesquisa com o objetivo de identificar o impacto da
pressão no trabalho em relação a doenças cardíacas. Os indivíduos pesquisados foram professores
de escolas de ensino variados.
7ª) Hasselhorn et al. (1999) realizaram pesquisa visando identificar as diferenças nos impactos de
tensão relacionados ao trabalho, com fatores de risco para doenças cardíacas. Fizeram parte da
amostra trabalhadores de diversos setores.
8ª) Littman et al. (1999), tendo como base o modelo de Karasek (1984), realizaram pesquisa
buscando relacionar o estresse a fatores de risco cardiovascular. Foram pesquisados trabalhadores
da construção pesada que atuavam em rodovias.
9ª) Schnall (1999), buscando associar os efeitos da pressão no trabalho com a pressão sangüínea,
realizou estudo com trabalhadores considerados pelo pesquisador como saudáveis, do sexo
masculino, que trabalhavam na cidade americana de Nova York.
10ª) A International Stress Management Association (2003) realizou pesquisa no período de
03/2001 a 03/2002 sobre estresse ocupacional em oito países (Estados Unidos, Alemanha,
Franças, Brasil, Israel, Japão, China e Fiji). Os resultados apontaram o Japão liderando o ranking
em que os trabalhadores são os mais estressados do mundo; 70% vivem em estado de exaustão
física e mental. Na segunda colocação aprece o Brasil, com cerca de 30%. Os países e os
respectivos índices do terceiro ao oitavo lugar são os seguintes: China, 24%; EUA, 20%;
Alemanha, 17%; Franças, 14%; Israel, 9%; e Fiji 2%. A pesquisa revela ainda o número médio
de horas trabalhadas pelos executivos por semana nos respectivos países: EUA, 50,9; Japão, 49,8;
Alemanha, 48,7; França, 47,2; Brasil, 44,9; Israel, 44,5; China, 43,5; e Fiji, 39,2.
O índice de estresse dos trabalhadores brasileiros apontado pela pesquisa (30%) é o mesmo
identificado pelo Laboratório de Psicologia do Trabalho da Universidade de Brasília em pesquisa
realizada com professores de escolas particulares do Brasil em março de 2002 (UnB, 2002).
Com relação às pesquisa apresentada, num total de 21, sendo 11 nacionais e 10 internacionais,
faz-se a análise a seguir.
No que se refere aos estudos realizados no plano internacional, das 10 pesquisas apresentadas, 8
centram o foco de análise na relação do estresse com hipertensão e/ou doenças cardíacas. Dessas
pesquisas, 4 utilizaram o modelo de Karasek (2000, 1998, 1996). A abordagem do modelo de
Karasek – Tensões do Trabalho (figura 1) – mostra que o maior risco à saúde mental e física
decorrente do estresse ocorre com os trabalhadores que lidam com altas demandas psicológicas e
pressão física, combinadas com baixa abrangência de controle e/ou decisão.
Ainda no plano internacional, em uma das pesquisas apresentadas constatou-se a utilização do
modelo de Cooper et al. (1988) (figura 2), que serviu de referência teórica para o
desenvolvimento do presente estudo e será abordado neste item. Observa-se, também, que em
algumas das pesquisas internacionais referenciadas os resultados ou achados são dispersos e, até
mesmo, ausentes.
Em relação às pesquisas realizadas por Karasek (1998) ou por meio da utilização do seu modelo
teórico – Tensão do Trabalho – nos últimos quinze anos, dois elementos-chave têm se
evidenciado como importantes estressores. Segundo o autor, os maiores riscos à saúde mental e à
saúde física pelo estresse ocorrem com os trabalhadores que lidam com as altas demandas
psicológicas ou pressão relacionadas com a capacidade de usar as habilidades no trabalho e a
autoridade de tomada de decisões, combinadas com uma baixa abrangência de controle ou
decisão ao deparar com essas demandas. As demandas têm relação com o ato de trabalhar muito e
rapidamente, sem ter tempo suficiente para realizar o trabalho.
De acordo com Karasek (1998), em estudos realizados mais recentemente, o modelo de tensão do
trabalho foi expandido para incluir um terceiro fator, que está relacionado aos efeitos benéficos
do suporte social no local de trabalho. Dessa forma, o modelo em referência passa a enfatizar a
interação entre as demandas e os controles na causa do estresse, evidenciando ações no ambiente
do trabalho e as perspectivas individuais ou ajustes no ambiente pessoal. Esse princípio também é
compartilhado por Chanlat (1990).
O modelo proposto por Karasek (1998, 2000) enfatiza ainda outra conseqüência negativa da
organização do trabalho, que é a linha de montagem e os princípios tayloristas. Esses princípios
pautam-se pela redução das habilidades e influências dos trabalhadores, induzindo-os a produzir
passivamente e a aprender sem ajuda, bem como pela falta de participação no trabalho, na
comunidade e na política. De acordo com o autor, essa visão tem como objetivo mostrar a
importância de uma maior autonomia do trabalhador, bem como aumentar a democracia no local
de trabalho, como condições importantes para obter uma melhor qualidade de vida e,
conseqüentemente, reduzir e/ou evitar o estresse ocupacional.
Karasek (2000, 1998) afirma que o estresse é uma grande preocupação e está diretamente
relacionado à saúde da comunidade e dos trabalhadores. Os custos econômicos do estresse no
trabalho (ausência, perda de produtividade, entre outros) são, em geral, difíceis de serem
estimados, podendo ser tão altos quanto centenas de bilhões por ano. Mais de 50 milhões de
americanos têm pressão sangüínea alta, e em 95% dos casos a causa é desconhecida. De acordo
com Karasek & Theorell (1990), 23% das doenças cardíacas podem ser prevenidas (150 mil
mortes anuais nos EUA) com a redução do nível de tensão no trabalho em ocupações com níveis
extremos de tensão, em relação à média das ocupações que apresentam maior equilíbrio em
relação a esse contexto.
O Modelo de tensão do trabalho, ilustrado na figura 1, considera que a combinação de altas
demandas no trabalho e a baixa abrangência de tomada de decisão gera resultados negativos na
saúde física, como hipertensão e doenças cardiovasculares. Adaptação crítica para controles
baixos – situações de demandas baixas (trabalho passivo na figura 1) – pode resultar em
habilidades reduzidas para resolver problemas ou realizar mudanças. A falta de ajuda para
aprender potencializa e pode resultar em sentimentos e comportamentos depressivos.
Inversamente, quando as altas demandas do trabalho são compatíveis com o grau de autoridade e
as habilidades requeridas (estressores controláveis, ou trabalhos “ativos”) ocorrem mais
aprendizagem ativa e maior lócus interno no desenvolvimento do controle. Essa situação pode
capacitar indivíduos a desenvolverem uma escala mais ampla de estratégias de enfrentamentos no
ambiente de trabalho.
A operacionalização do modelo está estruturada da seguinte forma: a medida de tensão do
trabalho é derivada do questionário de satisfação do trabalho; um questionário de 42 itens,
desenvolvido por Karasek (1998), tendo como base questões retiradas das pesquisas de qualidade
de emprego realizadas pelo Departamento do Trabalho da Universidade de Michigan – EUA.
Duas escalas são utilizadas para definir tensão do trabalho: abrangência de decisão e demandas
psicológicas. A abrangência de decisão é definida pela soma de duas outras escalas, que são juízo
de habilidades e autoridade de decisão. A primeira é medida pelos seguintes indicadores:
manter-se aprendendo novas coisas; capacidade de desenvolver novas habilidades; habilidades
requeridas no trabalho; variedade de tarefas; repetição; e criatividade requerida pelo trabalho. A
segunda é medida por: liberdade para a tomada de decisões; escolha de como executar o trabalho;
e o quantitativo de expressão no trabalho. A demanda psicológica do trabalho é constituída pelos
seguintes indicadores: trabalho excessivo; demandas conflituosas; tempo insuficiente para a
realização do trabalho; e trabalhar rápido e trabalhar muito. As questões são dispostas numa
escala tipo Likert.
A seguir, será apresentada a figura 1, que mostra a configuração gráfica do Modelo de tensão do
trabalho de Karasek (1998).
(Alta)
Decisões
no trabalho
(autoridade +
habilidades
utilizadas)
( Baixa)
( Baixa) Demandas do trabalho (Alta)
Figura 1 – Modelo de tensão do trabalho
Fonte: SCHNALL, P. L. et al. Job strain and cardiovascular disease. Annual Review of Public Health: 15; 381-411,
1994.
Outro estudo de relevância na literatura sobre o estresse no trabalho foi desenvolvido por Cooper
et al. (1988), que consideram os agentes estressores como parte integrante de todas as ocupações
profissionais, podendo ser classificados de acordo com seis grandes categorias: fatores
intrínsecos ao trabalho; papel do indivíduo na organização; relacionamento interpessoal;
desenvolvimento na carreira; clima e estrutura organizacional; e interface casa/trabalho.
Para os autores, o grau como os estressores irão afetar o indivíduo vai depender da sua
vulnerabilidade individual e de suas estratégias para enfrentar o estresse. Essas estratégias,
cognitivas e comportamentalmente planejadas, irão orientar o trabalhador, que procura
posicionar-se, ativa ou passivamente, em seu ambiente de trabalho, de forma que esteja atento às
demandas internas e aos conflitos que o estejam atingindo, objetivando, ainda, impedir situações
ameaçadoras ou conseqüências desagradáveis.
BAIXA TENSÃO
ATIVO
PASSIVO
ALTA TENSÃO
Desenvolvimento
ativo:
Motivação para
desenvolver novos
padrões
comportamentais
Os principais indicadores dos efeitos causados pelo estresse incluem: baixa moral, performance
deficiente, alta apatia e índices significativos de absenteísmo, e rotatividade de pessoal. Esses
efeitos provocam reflexos na organização em termos da sua produtividade e, conseqüentemente,
dos níveis de competitividade, estando, portanto, diretamente relacionados ao desempenho dos
trabalhadores.
Os autores propuseram um modelo que vem demonstrar a dinâmica do estresse e traz à tona suas
fontes, as categorias individuais, as estratégias de combate e os efeitos da variável sobre o
indivíduo e a organização. A partir desse modelo, segundo Cooper et al. (1988), obtiveram-se as
bases necessárias para criar um instrumento capaz de diagnosticar, com precisão, os níveis e
outras variáveis referentes ao estresse ocupacional, que é o OSI – Occupational Stress Indicator.
Esse instrumento foi revisto por Evers, Frese & Cooper (2000), uma vez que, de acordo com os
autores, apresentava confiabilidade baixa em algumas de suas escalas.
Foram realizados estudos de melhorias das escalas, sendo todas elas testadas para a
unidimensionalidade. Comparadas ao OSI original, as escalas de personalidade tipo A lócus de
controle e estilos de vida foram alteradas, e grande parte dos indicadores originais foi substituída.
As outras escalas foram revistas com alguns indicadores sendo suprimidos, reescritos ou
adicionados. Foi incluída uma nova escala para mensurar a satisfação com remuneração. Todas,
com exceção de duas escalas revistas, mostraram confiabilidade e unidimensionalidade
suficientes.
De acordo com os autores, essa revisão permitiu a proposição de duas versões para o OSI, uma
versão com 28 escalas e 188 indicadores e outra reduzida, com 15 escalas e 94 indicadores.
Para Cooper et al. (1988), o OSI é uma importante ferramenta para avaliar áreas problemáticas e
implementar intervenções efetivas para problemas relacionados ao estresse nas organizações.
Pela identificação das fontes de pressão e o conseqüente desenvolvimento de estratégias
apropriadas para o seu combate, um problema sério em potencial pode ser contornado com
antecedência. O OSI proporciona resposta para quatro perguntas chave: a) Que efeitos do estresse
normalmente são experimentados por um indivíduo ou grupo de indivíduos?; b) De que forma o
comportamento geral do indivíduo ou grupo aumenta a natureza estressante das demandas
presentes?; c) Que aspectos da organização e da atuação no trabalho estão sendo percebidos
como estressores?; e d) Que estratégias estão sendo normalmente utilizadas para enfrentar as
situações estressantes e quão efetivas estão sendo elas?
Como antecedentes, Cooper et al. (1988) apontam que os questionários que compõem o OSI
foram desenvolvidos para medir tanto as fontes como os efeitos do estresse ocupacional, temática
que tem sido muito pesquisada e para a qual existem várias definições. Para os autores, de forma
genérica, o estresse ocupacional é considerado como uma resposta do organismo a situações e
circunstâncias que coloca demandas especiais para o indivíduo, com resultados negativos. Essa
foi a base de entendimento considerada na construção e revisão do instrumento (OSI).
Cooper (2002) apresenta também outro questionário, desenvolvido posteriormente, o ASSET –
Stress screening questionnaire,
que tem o propósito de auxiliar as organizações a avaliarem o
risco do estresse na sua força de trabalho. Mede a exposição potencial ao estresse em relação aos
estressores comuns do local de trabalho e, conseqüentemente, pode representar um primeiro
passo da organização na direção de um efetivo gerenciamento do estresse no trabalho. O
instrumento provê um rápido e confiante método de avaliação e monitoramento de áreas de risco
potencial e ajuda a focar a atenção e os recursos organizacionais nessas áreas.
Segundo o autor, esse questionário permite examinar o nível de estresse que existe na
organização e a extensão a que grupos são diferentemente afetados; e identificar quais são as
fontes de pressão para os diferentes grupos na organização. Portanto, o questionário permite
coletar importantes dados relacionados com estresse por meio de perguntas diretas sobre as fontes
e os efeitos do estresse no local de trabalho.
Em termos estruturais, é dividido em quatro seções. Começa perguntando sobre informações
biográficas gerais. As três seguintes perguntam sobre as percepções relativas às pressões no
trabalho. A primeira delas diz respeito ao trabalho em si e ainda inclui algumas questões
relacionadas às pressões da vida social e familiar. A seção seguinte diz respeito às atitudes em
relação à organização. A seção final é relativa aos aspectos de saúde. Cada uma dessas partes foi
desenvolvida para medir a exposição do indivíduo ao estresse, levando-se em consideração um
amplo alcance de estressores comuns ao ambiente de trabalho.
Para Cooper et al. (2002), as fontes de estresse são múltiplas, como são os seus efeitos. Não é
somente uma função de “estar sob pressão”. Para os autores, as fontes devem ser relacionadas
primeiramente ao trabalho, mas a vida familiar também está relacionada. Os efeitos em termos de
saúde do ponto de vista físico e as reações comportamentais são importantes tanto em termos do
trabalho como em casa e em outros ambientes do indivíduo.
Os indicadores têm sido desenvolvidos para obter informações relacionadas às diversas variáveis
relacionadas ao estresse no trabalho. A sua principal intenção é minimizar os efeitos do estresse
para benefício mútuo de indivíduos e organizações.
A seguir, será apresentado na figura 2, com o objetivo de possibilitar uma maior compreensão da
abordagem teórica em referência, o Modelo dinâmico do estresse ocupacional, desenvolvido por
Cooper et al. (1988).
FONTES DE
ESTRESSE
SINTOMAS DO
ESTRESSE
DOENÇAS
Fatores
intrínsecos ao
trabalho
INDIVIDUAIS
Aumento da
pressão arterial
Dores nos ombros-
coluna
Depressão
Aumento do
consumo de álcool
Irritabilidade
acentuada
Infarto
precoce do
miocárdio
Esgotamento
mental
Papel na organização
Relacionamento
interpessoal
INDIVÍDUO
Desenvolvimento na
carreira
ORGANIZACIONAIS
Aumento do
absenteísmo
Turnover acentuado
Dificuldades nas
relações de trabalho
Qualidade
deficiente
Greves
Acidentes
freqüentes e graves
Apatia/indiferença
Clima e estrutura
organizacional
Interface casa/trabalho
Figura 2 - Modelo dinâmico do estresse ocupacional
Fonte – Cooper et al. (1988, p. 95)
Este modelo também serviu como referencial importante para a definição do arcabouço teórico-
metodologico desenvolvido neste estudo.
Outra visão teórica importante na literatura para explicar o estresse ocupacional e que também foi
considerada no desenvolvimento deste trabalho é apresentada por Chanlat (1990, 2001), que será
ilustrada na figura 3.
O modelo em referência pode ser explicado por meio de seis variáveis principais: a) a forma de
gestão e as exigências profissionais requeridas; b) a carga de trabalho (física, mental e afetiva);
c) grau de autonomia que o trabalhador possui para desenvolver as suas atividades (poder,
controle e domínio); d) o grau de reconhecimento que lhe é despendido (conhecimento,
experiência, know-how, sabedoria de vida); e) o nível de apoio social (hierarquia, pares,
subordinados, grupos externos, família, amigos); e f) o nível de estresse profissional, que está
diretamente relacionado com a saúde mental e física das pessoas.
Essa referência teórica também foi considerada para a definição do modelo estrutural básico
proposto para este estudo.
CARGA DE TRABALHO
GRAU DE AUTONOMIA
GRAU DE RECONHECIMENTO
NÍVEL DE APOIO SOCIAL
NÍVEL DE STRESS PROFISSIONAL
FORMAS DE GESTÃO
E
Ê
Figura 3 – Modelo de estresse ocupacional
Fontes:
(a) CHANLAT, J. F. Traveil e santé mentale: théories du stress et psycopathologie du travail. Prevenir. France:
Universite Grenoble II, Coopérative d’édition de la vie mutualiste, n. 20, premier semestre, 1990.
(b) Notas de Aula do Curso de Doutorado em Administração CEPEAD/UFMG (2001).
Tendo como referência Goldberg (1986), nos três modelos teóricos apresentados, para que o nível
de exigências seja mantido nos limites compatíveis com uma vivência cotidiana saudável é
importante entender quais os tipos de pressões psíquicas estão impactando os indivíduos de
forma acentuada, na tentativa de encontrar soluções adequadas para cada uma delas. Para esse
autor, existe um reconhecimento da necessidade de cuidar das emoções que podem causar
prejuízos à saúde, tanto física quanto mental, como também em relação ao trabalho.
Nos últimos tempos, acentua-se a priorização das empresas no sentido de contar com
profissionais que possam cuidar da saúde mental dos seus empregados. A idéia de que as
empresas precisam reconhecer a importância de considerar o ambiente psicológico no qual o
indivíduo está inserido já se faz presente em um número significativo de organizações em todo o
mundo (LEVI, 2003).
É fundamental que se considere, portanto, como um dos influenciadores do estresse não somente
o ambiente de trabalho no qual o indivíduo está inserido como também a sua vulnerabilidade
individual aos fatores de pressão e às tensões existentes no ambiente de uma forma geral.
Assim, pode-se dizer que a intensidade da vulnerabilidade irá depender, principalmente, da
estrutura psicofísica de cada indivíduo. Uma elevada vulnerabilidade pode ser encontrada em
pessoas com essa estrutura mais frágil, enquanto a baixa vulnerabilidade ao estresse pode ser
encontrada em pessoas com tendência ao equilíbrio em relação a esse fator.
Toda organização ostenta um ambiente psicológico próprio, que influencia muito os processos
emocional-cognitivos gerais das pessoas que nela trabalham. Sendo assim, fica evidente a
importância de pesquisas sobre o impacto do trabalho e do seu ambiente no bem-estar dos
trabalhadores. Nos estudos sobre o estresse ocupacional, já ficou demonstrada a existência dessa
variável em todos os contextos e nos diversos níveis da estrutura organizacional, contrariando
uma primeira idéia de que o estresse estaria associado a uma doença reservada apenas aos
executivos de primeira linha. Existem, no entanto, diferenças entre os tipos de agentes estressores
e a potência de sua manifestação sobre o trabalhador de acordo com a situação, o contexto
ocupacional e as suas características individuais (GOLDBERG, 1986).
Couto (1987, p. 35) considera que a superposição de agentes estressores no trabalho e a
vulnerabilidade do indivíduo ao estresse são fortes determinantes para o seu aparecimento no
ambiente ocupacional. Dessa forma, a inter-relação entre contexto, agentes estressores e
vulnerabilidade do indivíduo pode estabelecer um ambiente propício ao aparecimento de quadros
de estresse. Ainda na visão desse autor, agentes estressores do ambiente de trabalho são
fenômenos que ocorrem no ambiente funcional e podem ser considerados por muitos como
normais. Esses agentes podem ser classificados como ligados ao comportamento das pessoas, ao
trabalho propriamente dito e à organização. Por outro lado, o estresse pode ser considerado
também um produto do contexto econômico, em que a grande competitividade do mercado
obriga as empresas a exigirem maior produtividade de seus trabalhadores. O fato é que quando a
relação entre a estrutura psíquica do indivíduo e as pressões psicológicas advindas do ambiente
são desequilibradas o indivíduo pode vir a manifestar um quadro de estresse, seja por sobrecarga
ou por monotonia.
Para subsidiar o desenvolvimento do presente estudo, são apresentados a seguir os objetivos e as
hipóteses, tendo como referência a teoria apresentada nas seções 2 e 3, sobre gerência e estresse
no trabalho.
3.4 Objetivos geral e específicos
Visando à orientação e ao direcionamento do presente estudo, os objetivos a seguir apresentados
estão estruturados em geral e específicos. O objetivo geral define o propósito do trabalho,
enquanto os objetivos específicos, além de detalharem o objetivo geral, proporcionam uma visão
dos diversos contextos que se pretende desenvolver com a realização deste estudo (VERGARA,
2004; GONÇALVES E MEIRELLES, 2004).
a) Objetivo geral
Desenvolver e testar modelo teórico capaz de explicar o estresse no trabalho, relacionado ao
exercício da função gerencial nos níveis de alta gerência, gerência intermediária e supervisão
operacional, de profissionais que atuam em empresas brasileiras.
b) Objetivos específicos
1º) Desenvolver e testar questionário aderente ao modelo teórico proposto capaz de diagnosticar
o nível de estresse em relação aos ocupantes da função gerencial (alta gerência, gerência
intermediária e supervisão operacional), determinando o nível de intensidade do fenômeno e o
impacto dos diversos fatores causadores (trabalho, natureza pessoal e contexto);
2º) Analisar a confiabilidade dos construtos que compuseram o modelo hipotético;
3º) Analisar os construtos decorrentes da análise fatorial, visando à proposição de modelo teórico
capaz de explicar o estresse ocupacional em gerentes, demonstrando as suas relações e
operacionalização (fontes de tensão no trabalho; fontes de tensão do indivíduo; outras fontes de
tensão não relacionadas ao trabalho; mecanismos de regulação; sintomas de estresse; e impactos
na produtividade);
4º) Apresentar e analisar o diagnóstico de estresse global da amostra e por empresa pesquisada,
de acordo com os níveis hierárquicos, tendo como referência o modelo teórico proposto;
5º) Apresentar casos ilustrativos de diagnóstico de estresse, de intensidades variadas: (ausência
de estresse, estresse leve a moderado, estresse intenso, e estresse muito intenso);
6º) Fazer recomendações às organizações, visando sugerir práticas relacionadas ao trabalho
compatíveis com a menor incidência de estresse entre os seus gestores, tendo como referência os
fatores prevalentes identificados na pesquisa;
7º) Fazer recomendações aos gestores, visando sugerir práticas pessoais e hábitos de vida
compatíveis com ausência ou baixos níveis de estresse, segundo os fatores prevalentes
identificados na pesquisa; e
8º) Sugerir agenda de pesquisa que possa contribuir par ampliar e aprofundar os estudos nessa
área.
3.5 Apresentação das hipóteses
A seguir, são apresentadas as hipóteses relativas ao estudo em questão, que têm como
objetivo responder à seguinte questão de pesquisa em relação aos gerentes que atuam em
empresas brasileiras:
Quais são os fatores determinantes de pressão intrínseca em relação ao trabalho e ao
indivíduo, às fontes de pressão decorrente de outros ambientes não relacionados ao trabalho, à
utilização de mecanismos de regulação e a sua relação com os sintomas de estresse ocupacional
e os reflexos desses na produtividade, bem como o estabelecimento da intensidade e direção das
relações entre esses fatores?
As hipóteses a seguir apresentadas foram elaboradas tendo como orientação
metodológica Lakatos (1983) e Gonçalves e Meirelles (2004). Embasaram-se no
Modelo hipotético da pesquisa, que consta da figura 4, e teve como base teórica
em relação ao estresse os estudos de Cooper at al. (1998, 2000, 2002), Moraes
(1990, 1992, 1995, 1998, 2000, 2002, 2003), Couto (1987) e Karasek (2000, 1998). As
contribuições de Selye (1936, 1956, 1974), Friedman & Rosenman (1974), French
(1983), Goldberg (1986), Albrecht (1990), Chanlat (1990, 2001), Levi (2003, 2005) e
Sauter (2005) também foram de grande importância. Com relação ao estudo da
função gerencial nas organizações, a fundamentação se deu principalmente com
base em Katz & Khan (1976), Kwasnicka (1995), Melo (1999), Srour (1998), Putnam
(2000), Tenório (2000) e Sennett (2001).
+
+
_
+
FONTES DE TENSÃO
NO TRABALHO
(FTT)
MECANISMOS
DE REGULAÇÃO
(MECREGUL)
Figura 4 – Modelo hipotético da pesquisa
Fonte: dados da pesquisa
Hipóteses da pesquisa:
Ho,1- Existe relação direta entre as fontes de tensão no trabalho e as fontes de tensão do
indivíduo.
Ho,2- Existe relação direta entre as fontes de tensão no trabalho e os mecanismos de
regulação.
Ho,3- Existe relação direta entre as fontes de tensão do indivíduo e do papel gerencial e as
fontes de tensão no trabalho.
Ho,4- Existe relação direta entre as fontes de tensão do indivíduo e do papel gerencial e
os mecanismos de regulação.
+ +
+
+
Ho,5- Existe relação direta entre as fontes de tensão do indivíduo e do papel gerencial e
os sintomas de estresse.
Ho,6- Existe relação direta entre outras fontes de tensão que não as do ambiente de
trabalho e os mecanismos de regulação.
Ho,7- Existe relação inversa entre os mecanismos de regulação e os sintomas de estresse.
Ho,8- Existe relação direta entre os sintomas de estresse e os impactos na produtividade.
Na seção 3, são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados para o desenvolvimento
deste estudo.
4 METODOLOGIA DO ESTUDO EMPÍRICO
Esta seção tem como objetivo apresentar o referencial metodológico utilizado
neste estudo. Serão abordados o tipo de pesquisas, as unidades de análise que
compuseram a amostra e as respectivas justificativas, os procedimentos
realizados para a elaboração do questionário de diagnóstico de estresse, que foi
um dos instrumentos utilizados para coleta dos dados (Apêndice A), as
estratégias para obtenção desses dados e os tipos de tratamentos a que foram
submetidos esses dados.
4.1 Tipo de pesquisa
Este estudo, de acordo com Vergara (2004) e Gonçalves & Meirelles (2004), caracterizou-se,
inicialmente, como uma investigação empírica de natureza exploratória e, num segundo
momento, como explicativa e descritiva, utilizando-se da pesquisa de campo e de estudo de
múltiplos de casos, com modelagem estrutural.
A pesquisa exploratória é realizada em área sobre a qual há pouco conhecimento acumulado e
ainda não se conhece de forma suficiente o problema raiz, mas somente alguns sintomas que
servem de orientação.
A pesquisa explicativa tem como principal objetivo tornar algo inteligível, justificando os
motivos. Objetiva, portanto, esclarecer quais são os fatores que contribuem, de alguma forma,
para a ocorrência de determinados fenômenos.
Com relação ao enfoque descritivo, o mesmo evidencia características de determinada população
ou de determinado fenômeno, buscando estabelecer correlações entre variáveis, definindo sua
natureza e servindo de base para explicar os fenômenos que descreve. Dessa forma, os enfoques
exploratórios, explicativos e descritivos fizeram parte das investigações realizadas neste estudo
empírico. Foram utilizadas como estratégias a pesquisa de campo e o estudo múltiplo de casos. A
pesquisa de campo está diretamente relacionada a uma investigação empírica realizada nas
unidades de análise onde ocorrem ou ocorreram os fenômenos objeto da investigação. E o estudo
comparativo de casos está circunscrito a determinadas unidades de análise, caracterizando-se pelo
objetivo de conhecer e compreender a organização por intermédio de comparações entre elas, por
meio de exame intensivo tanto em amplitude como em profundidade.
Greenwood (1973, p. 117-120) reforça a sua principal virtude, que é a de permitir a possibilidade
da compreensão profunda do fenômeno, tal como ele se dá no contexto estudado. Dessa forma, o
pesquisador centra sua atenção em realidades específicas, podendo, com maior grau de detalhes e
profundidade, analisar as variáveis objeto da investigação. Ainda segundo o autor, esse grau de
amplitude e profundidade não se pode obter com a utilização de nenhum outro método empírico.
Portanto, o método de estudo de casos foi o mais indicado para complementar o estudo em
questão.
Num primeiro momento, realizou-se um survey, utilizando-se do questionário (Apêndice A).
Posteriormente, o aprofundamento do estudo se deu mediante a realização de entrevistas semi-
estruturadas, cujo roteiro encontra-se no Apêndice B.
Em síntese, pode-se considerar que o método em referência permitiu o aprofundamento dos casos
estudados, gerando, a partir dos instrumentos de pesquisa utilizados (questionário, entrevistas
semi-estruturadas, observações e pesquisa documental), um número significativo de informações
quantitativas e qualitativas, que foram analisadas e confrontadas tendo como base às hipóteses da
pesquisa.
4.2 Unidades de análise pesquisadas
Com relação às unidades de estudo, foram pesquisadas empresas que atuam no Brasil e que nos
últimos anos passaram e/ou estão passando por transformações importantes em termos de
modernização, envolvendo processos de reestruturação produtiva e de gestão, e que representam
os diversos setores da economia nacional. A tabela 1 oferece uma visão geral dessas organizações
no que se refere aos setores de atuação, ao quantitativo de empresas convidadas, ao quantitativo
daquelas que efetivamente aceitaram participar da pesquisa e ao nível de abrangência de
comercialização de seus produtos e/ou serviços.
Tabela 1 - Visão geral das organizações pesquisadas
Setor de Atuação Empresas
Convidadas
Empresas
Participantes
Abrangência
Comercialização
Automobilístico 01 - Nacional e
Internacional
Call Center 03 03 Nacional
Celulose e Papel 01 01 Nacional e
Internacional
Informática 01 01 Nacional
Distribuição e Logística 01 - Internacional
Químico 01 01 Nacional
Internacional
Serviços Bancários 01 01 Nacional
Industrial-Mecânico 05 05 Nacional e
Internacional
Telecomunicações - Telefonia fixa 01 - Nacional
Telecomunicações - Telefonia móvel 03 03 Nacional
Total 18 15 -
Fonte: dados da pesquisa
Todas as empresas pesquisadas são de natureza privada, tendo sido selecionadas de forma
intencional, atendendo a requisitos básicos estabelecidos para a pesquisa, que foi ter passado e/ou
estar passando, nos últimos anos, por intensos processos de mudanças na busca de modernização
(internacionalização, fusão, aquisição, estruturas globalizadas, gestão do conhecimento, banco
de talentos, programa de trainees, terceirização, job rotations, downsizing, TQC – total quality
control, automatização e reengenharia, entre outros de mesma natureza), envolvendo a
reestruturação dos processos produtivos e de gestão. Outros aspectos observados para a
participação foram os seguintes: atuar em mercado brasileiro; ser representativa no segmento de
atuação; utilizar alta tecnologia nos processos produtivos e de gestão; e possuir na estrutura
organizacional a função gerencial nos três níveis básicos: alta gerência, gerência intermediária e
supervisão operacional. A formalização do convite se deu por meio de correspondência e contato
pessoal, conforme consta no Apêndice C.
Ocorreu grande dificuldade para a obter a aprovação de participação das empresas na pesquisa,
tendo sido possível constatar que esse nível de decisão está centralizado no primeiro escalão das
organizações, e o tempo médio para a decisão final foi de aproximadamente três a quatro meses.
Ressalta-se, ainda, que duas empresas convidadas, até a redação final desta tese, não haviam se
manifestado em relação ao convite formalizado para a participação na pesquisa, apesar de várias
interações nesse sentido terem sido feitas pelo pesquisador. São empresas de expressão nacional,
com atuação nas áreas automotiva, de telecomunicações (telefonia fixa) e siderurgia. Foi
possível constatar que a negativa de participação de uma dessas empresas convidadas se
fundamentou na falta de disponibilidade do seu corpo gerencial, por estar participando da
implantação de sistema (software) interno. Com relação a essa situação, tendo em vista
informações obtidas, a implantação referida já tinha sido realizada há pelo menos um ano. Outro
aspecto observado foi de que nas organizações em que ocorreram indicações de profissionais que
já haviam tido contatos anteriores (consultoria, treinamento, etc.) houve maior receptividade ao
convite para participação da pesquisa, facilitando, portanto, a decisão favorável dessas
organizações. Constatou-se, no caso deste estudo, que a relação de confiança é uma condição de
fundamental importância para o “aceite” de uma empresa em participar de pesquisa dessa
natureza.
Outra estratégia utilizada para motivar as empresas a participarem foi o compromisso do
pesquisador de disponibilizar os resultados finais, até mesmo discutindo-os em forma de
seminários. Essa estratégia foi avaliada como muito positiva, uma vez que gerou grande
expectativa em algumas das empresas participantes, até dos gerentes, que colaboraram com a
disponibilização dos dados solicitados.
As unidades de observação foram os gerentes das empresas selecionadas, ocupantes dos níveis de
alta gerência, gerência intermediária e supervisão operacional. A distribuição dos indivíduos
pesquisados, por organização participante, está apresentada na tabela 2.
Tabela 2 – População de gerentes pesquisados, por nível
hierárquico
Empresas Setor de Atuação Alta Gerência Gerência
Intermediária
Supervisão
Operacional
Total
A Bancário - 10 03 13
B Metalurgia - 05 12 17
C Metalurgia 07 39 51 97
D Industrial/Químico 09 20 31 60
E
Call Center
- - 10 10
F Celulose e Papel 13 35 01 49
G Informática 03 31 25 59
I Telefonia MóvelCall Center - 05 29 34
J
Telefonia Móvel – Call
Center
01 07 31 39
K
Telefonia Móvel – Call
Center
- 05 13 18
L Call Center 03 05 34 42
N Metalurgia 02 04 07 13
M Metalurgia 02 04 09 15
O Metalurgia - 08 09 17
H Telefonia Móvel 01 36 27 64
Total 15 41 214 292 547 (*)
Fonte: dados da pesquisa
(*) 3 casos sem informações para o nível hierárquico.
(**) As empresas B, C, N, M e O pertencem ao mesmo grupo empresarial, são juridicamente independentes e
atuam em áreas geográficas distintas.
(***) As empresas E e L pertencem ao mesmo grupo empresarial, com atuação em áreas geográficas distintas.
(****) As empresas J e K pertencem ao mesmo grupo empresarial, são juridicamente independentes e atuam em
áreas geográficas distintas.
(*****) As empresas I e H constituem-se numa única empresa. Foram desmembradas por interesse da pesquisa, o
que é explicado no item 5.6.1 – Empresa I.
4.3 Coleta de dados e etapas da pesquisa de campo
Os dados preliminares coletados em cada empresa participante foram de natureza qualitativa e
quantitativa. Identificaram-se: setor de atuação, histórico, missão, produtos e serviços,
participação no mercado, filosofia de atuação, objetivos globais e funcionais, políticas gerais,
principais ações de modernização adotadas, conseqüências gerais do processo de modernização
para a empresa e empregados, políticas de gestão de pessoas e aqueles dados específicos
coletados dos indivíduos da amostra, por meio do questionário que consta do Apêndice A. Esses
dados forneceram importantes subsídios para a explicação dos fenômenos estudados. A
combinação desses dois conjuntos de informações (quantitativo e qualitativo) permitiu acessar
diferentes níveis da realidade organizacional e comparar os achados no plano das empresas
estudadas.
A coleta de dados foi realizada em três etapas. A primeira foi a de identificação, em que foram
levantados dados secundários, por meio de publicações e dos diversos documentos das empresas
participantes, como relatórios, manuais organizacionais e de procedimentos e dados
disponibilizados na internet, entre outros. Essas informações foram complementadas com a
obtenção de dados primários, levantados por meio de entrevistas semi-estruturadas, em áreas
específicas das organizações (Apêndice D).
A segunda etapa consistiu na avaliação do estresse ocupacional dos gerentes participantes, e para
tal foi utilizado o Questionário de avaliação do estresse ocupacional em gerentes (Apêndice A),
que teve por objetivo obter os dados necessários para atender aos pressupostos focais da
pesquisa: proposta de Modelo teórico para o estudo do estresse ocupacional e instrumento
aderente para o seu diagnóstico (Apêndice E).
O questionário inicial foi construído especificamente para este estudo e apoiou-se na literatura
pesquisada sobre estresse: Cooper et al. (1988, 2000), Karasek (1996, 1998, 2000), Moraes et al.
(1990, 1992, 1995, 1998, 2000, 2002, 2003) e Couto (1987). O objetivo foi possibilitar a
obtenção dos dados necessários ao desenvolvimento e teste do modelo teórico e à construção e
validação de instrumento de diagnóstico. Esse instrumento possibilitou avaliar o grau de estresse
ao qual estão submetidos os gerentes das organizações pesquisadas, medindo a exposição
potencial em relação aos estressores presentes nas diversas áreas de trabalho. O instrumento de
diagnóstico possibilitou identificar os níveis de estresse existentes; examinar até que ponto os
gerentes estão sendo afetados de forma diferenciada; identificar as principais fontes de pressão
presentes no ambiente organizacional; e identificar as principais causas de estresse ocupacional e
de outras naturezas às quais os gerentes estão sendo submetidos.
A versão inicial do questionário (Apêndice A) foi organizada em oito partes, de acordo com a
estrutura apresentada a seguir.
a) Parte 1
Dados de identificação: nome do respondente, empresa em que atua, órgão de lotação,
cargo/função que ocupa, data de nascimento, cidade e estado onde reside, telefone para contato e
data de resposta do questionário. Também em relação a este item, buscou-se identificar o nível
hierárquico que o gerente ocupa na estrutura organizacional e o tempo de exercício na função
atual.
b) Parte 2
Esta parte do questionário visou obter informações relativas aos dados biográficos dos
respondentes, abordando aspectos do trabalho atual, questões próprias do indivíduo em si, sua
família, educação, estilo de vida, saúde e interesses específicos.
c) Parte 3
Esta parte foi composta de 47 questões fechadas e 1 questão aberta, em que foram pesquisados os
principais sintomas de estresse apontados pela literatura, além de outros indicadores relacionados
ao estresse, como estilo de vida, lócus de controle, impactos na produtividade, mecanismos de
administração de conflitos e equilíbrio financeiro. Pesquisaram-se também neste item as
principais estratégias pessoais utilizadas pelos indivíduos, visando à redução das situações
tensionantes no contexto de trabalho.
d) Parte 4
Esta parte constou de 51 questões, sendo 48 fechadas e 3 abertas. As questões fechadas visaram
pesquisar 24 indicadores que, segundo Cooper et al. (1988, 2000), Karasek (1996), Moraes et al.
(1998, 2000, 2002, 2003) e Couto (1987), explicam as principais causas de tensão excessiva no
trabalho dos gerentes. Esses indicadores são os seguintes: trabalho de alta complexidade; carga
excessiva de trabalho; número excessivo de horas dedicadas ao trabalho; pressão excessiva da
tecnologia no contexto do trabalho; alto grau de simultaneidade e de cobrança em relação à
execução do trabalho; muitos prazos e prazos sempre urgentes na execução do trabalho; alta
cobrança por resultados, sem ter as ferramentas adequadas para a realização do trabalho; aspectos
éticos – para atender ao exigido pela empresa, de forma explícita ou implícita, faz-se necessário
defrontar com situações em que a atitude prevista faz com que o indivíduo aja fora do que
considera eticamente correto, entrando em conflito consigo mesmo; insegurança e medo
decorrentes do ambiente ocupacional; obsessão e compulsão como filosofia gerencial
predominante nos altos escalões da empresa; paranóia por resultados – estimular de forma
excessiva que as pessoas estejam constantemente muito preocupadas com a concorrência, prazos
e ações imediatas, criando-se palavras de ordem, slogans e práticas exageradamente
competitivas; técnicas de racionalidade levadas ao extremo; excesso de metas de trabalho;
processo de tomada de decisões e suas repercussões – acatar decisões tomadas por outros níveis
sem o mínimo de participação dos indivíduos diretamente envolvidos no processo; conviver com
indivíduos de difícil relacionamento – “espalha brasas”, personalidade difícil – estressores;
pressão excessiva decorrente do contexto de trabalho; desrespeito humano – situações em que o
respeito humano não é levado em consideração; humilhação – práticas de humilhação explícita
ou implícita na empresa; ocorrência de alto impacto emocional – assalto, acidente do trabalho
fatal, entre outras de mesma natureza; frustração importante decorrente do ambiente ocupacional;
inibição da autenticidade e coerência no exercício das atividades; inibição da liberdade;
perversidade – manter as pessoas em clima de insegurança e medo; decisões tomadas por pessoas
neuróticas/mentalmente desequilibradas; e assédio moral – prática de isolamento/perseguição de
pessoas consideradas inadequadas à empresa.
Em relação às questões abertas, uma delas visou investigar outros fatores que na percepção do
respondente possam ser de pressão excessiva no trabalho. A outra questão busca identificar os
três aspectos mais importantes, também na percepção do respondente, que podem contribuir para
tornar o ambiente da empresa menos tenso e estressante para os empregados. Por último, nesta
parte, procurou-se identificar quais são os três itens mais difíceis/complexos na realidade atual da
empresa para reduzir os atuais níveis de tensão no trabalho.
e) Parte 5
Esta parte objetivou identificar aspectos específicos do trabalho do gerente causadores de tensão
excessiva. Os nove aspectos relacionados tiveram como base a literatura estudada sobre gerentes:
Mintzberg (1973), Melo (1999), Chanlat (1990, 2001) e Sennett (2001), bem como observações
empíricas do pesquisador em diversas organizações brasileiras, oportunidade em que pôde atuar
como gerente e consultor durante aproximadamente 20 anos.
f) Parte 6
Constam desta parte do questionário oito mecanismos de regulação, que, segundo Melo (1999) e
Couto (2001), podem ser utilizados pelos gerentes para minimizar/atenuar níveis de pressão
excessivos no trabalho. Nesta parte, buscou-se identificar o grau de intensidade que esses
mecanismos de regulação estão sendo utilizados pelos respondentes. Os mecanismos pesquisados
são os seguintes: experiência profissional utilizada na solução/minimização de dificuldades
relacionadas ao trabalho; possibilidade de realizar alterações nos cronogramas de trabalho;
possibilidade de questionar os prazos e prioridades com os superiores, quando necessário;
possibilidade de gozar férias regularmente; possibilidade de descanso semanal regular; canal
aberto na empresa para a discussão das situações de dificuldades e tensão; periodicidade
estabelecida para cobrança/apresentação de resultados; e cooperação entre os pares (gerentes).
g) Parte 7
Constam outras fontes de tensão excessiva que não as relacionadas com o trabalho, como as de
natureza familiar, social e questões de natureza própria relacionadas às características pessoais,
de formação, rigor excessivo e conflitos consigo mesmo, entre outras de naturezas diversas.
h) Parte 8
Nesta parte do questionário, consta uma tabela que permite ao respondente, de acordo com a sua
percepção, fazer uma distribuição percentual da importância relativa do grau de tensão sofrido
por áreas/contextos pesquisados. De acordo com essa distribuição, tem-se a visão da importância
relativa de cada área pesquisada (trabalho, familiar, social, questões próprias e questões de outra
natureza) em relação ao grau de tensão sofrido pelo gerente. Ainda nesta parte final, é pesquisado
o interesse do respondente em contribuir com informações adicionais à pesquisa, numa segunda
etapa, quando foram realizadas as entrevistas semi-estruturadas com parte da amostra. Essa
referência contribuiu de forma significativa para o estabelecimento dos contatos e o agendamento
de entrevistas com os participantes selecionados.
4.4 Descrição da metodologia de elaboração do questionário de estresse ocupacional
utilizado para coleta de dados
Após a elaboração preliminar do questionário de estresse (Apêndice A), a partir da literatura –
Cooper et al. (1998, 2000); Karasek (1996, 1998, 2000); Moraes et al. (1990, 1992, 1995, 1998,
2000, 2002, 2003); Couto (1987, 2001); Mintzberg (1973); Melo (1999); Chanlat (1990, 2001);
Sennett (2001) – e observações empíricas em organizações que atuam no Brasil e que utilizam
tecnologia avançada em gestão e processos de trabalho, realizaram-se os procedimentos
apresentados a seguir, visando ao ajustamento do instrumento de coleta de dados.
Foi solicitado ao Serviço de Medicina Ocupacional de quatro empresas que colocasse à
disposição do pesquisador gerentes que na avaliação do médico do trabalho dessas empresas nos
últimos seis meses “estavam apresentando” e gerentes que “não estavam apresentando” quadros
de estresse. A exceção se fez no caso de uma empresa em que a indicação foi de um gerente
sênior, que alegou conhecer o comportamento dos gerentes indicados, por serem seus
subordinados há bastante tempo. A amostra pesquisada para a elaboração do questionário
apresentou a seguinte caracterização, conforme explicitado na tabela 3.
Tabela 3 – Caracterização da amostra pesquisada no processo de elaboração do
questionário de diagnóstico de estresse ocupacional
Setor de Atuação da Empresa Gerentes Avaliados 1(*) 2(*) 3(*) 4(*)
Industrial Celulose e Papel 01 - 01 - -
Industrial/Mecânico 04 01 02 01 -
Mineração 04 02 02 - -
Serviços Bancários 04 02 01 01
Total 13 03 07 02 01
Fonte: Dados da pesquisa.
(*) Legenda – Diagnóstico de estresse: (1) Ausência de estresse; (2) Estresse leve a moderado; (3) Estresse intenso;
(4) Estresse muito intenso.
Posteriormente, os gerentes indicados para subsidiar o processo de construção do questionário de
estresse ocupacional (Apêndice A) foram atendidos em local físico preparado especificamente
para esse fim, onde foi realizado o protocolo apresentado a seguir.
Os gerentes foram recepcionados pelo pesquisador, que os informou sobre o processo a ser
realizado. Primeiramente, responderam ao questionário sobre estresse, fizeram duas ou quatro
entrevistas, dependendo do resultado das entrevistas iniciais, e, posteriormente, no final do
processo, que teve duração média de quatro horas por indivíduo, receberam um feedback sobre o
diagnóstico do seu caso específico. A exceção se fez em relação ao indivíduo com atuação no
setor industrial de celulose e papel, tendo em vista o seu local de trabalho estar situado na cidade
de São Paulo. Para essa etapa de validação do questionário de coleta de dados, foram realizadas
aproximadamente 52 horas de investigação.
Após a recepção e a exposição de informações gerais, os gerentes, em um primeiro momento,
responderam ao questionário objeto de elaboração. Posteriormente, foram entrevistados de
acordo com o roteiro (Apêndice D) pelo autor da tese e por um pesquisador convidado, com
formação em medicina e especialista em estresse. As entrevistas tiveram como objetivo
estabelecer o diagnóstico clinico de cada caso, de forma a ser comparado com o diagnóstico
obtido com a aplicação do questionário em elaboração (validação de conteúdo).
Imediatamente após a realização das entrevistas pelo autor e pelo pesquisador especialista, esses
passaram a discutir os resultados obtidos em termos do diagnóstico clínico de estresse de cada
caso. O diagnóstico obtido com a entrevista foi enquadrado de acordo com os seguintes
parâmetros: ausência de estresse; estresse leve a moderado; estresse intenso; e estresse muito
intenso.
Chegando-se ao consenso do diagnóstico em cada caso a partir das entrevistas realizadas pelo
autor e pelo pesquisador especialista, os resultados do questionário eram apurados: era de se
esperar que estivessem coerentes com o resultado das entrevistas (consenso). Ao longo dos
atendimentos dos treze casos indicados para fins de elaboração do questionário de estresse
ocupacional (Apêndice A), os conteúdos do questionário foram sendo ajustados, sempre tendo
como referência a literatura sobre estresse e as análises qualitativas obtidas com base nas
entrevistas que levavam ao diagnóstico clínico de cada caso.
Quando o diagnóstico das duas entrevistas (consenso) e do questionário eram coincidentes e
apontavam para a presença de estresse (leve a moderado, intenso ou muito intenso), o gerente era
submetido a uma segunda entrevista (Apêndice G), que teve por objetivo confirmar com o
indivíduo o estado em que se encontrava à vista dos sintomas diagnosticados, como também
identificar as principais fontes de pressão excessiva às quais estava submetido. Essa segunda
entrevista também foi realizada em separado pelo autor e pelo pesquisador especialista
convidado. Na conclusão dessas entrevistas, os casos eram novamente discutidos, para se buscar
o consenso em relação aos dados obtidos, fazendo-se os ajustes no questionário de diagnóstico de
estresse ocupacional, quando necessário.
Após a conclusão dessa segunda etapa, os participantes (gerentes) receberam
feedback/orientações específicas sobre os seus casos. Esse momento foi percebido como de muito
interesse pelos participantes, uma vez que, em sua maioria, fizeram diversas perguntas e
solicitaram indicação de ações/alternativas que deveriam priorizar para minimizar e/ou eliminar
as fontes de pressão ora vivenciadas e identificadas no processo de diagnóstico, bem como na
redução dos níveis de estresse, nos casos em que esse diagnóstico ficou configurado.
Demonstraram importante nível de satisfação em poder contribuir com a pesquisa e ficaram
gratificados com as orientações recebidas. Registraram, também, interesse em ter acesso à tese,
possibilidade essa assegurada pelo pesquisador.
O processo de elaboração/validação do questionário de estresse se deu em três planos: forma,
conteúdo e reprodutibilidade. Visando atender a esses requisitos, o questionário foi aplicado e
reaplicado na mesma amostra entre 21e 30 dias após a primeira aplicação, sendo que em todos os
casos o diagnóstico da primeira aplicação foi confirmado. Portanto, o instrumento atendeu aos
três requisitos e foi considerado adequado para ser utilizado na pesquisa.
Após essa etapa de validação, o questionário foi estruturado em forma de
“caderno de pesquisa” (Apêndice A) e impresso em gráfica para aplicação nos
gerentes das 15 empresas participantes, visando medir o nível de exposição ao
estresse nos diversos ambientes organizacionais pesquisados.
Na terceira etapa do trabalho, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com uma amostra
intencional dos sujeitos que responderam ao questionário na segunda etapa. Identificou-se uma
amostra representativa, por nível de gerência pesquisado, dentre aqueles indivíduos
prognosticados na segunda etapa com ausência de estresse, estresse leve a moderado, estresse
intenso e estresse muito intenso. O roteiro da entrevista utilizado nessa etapa (Apêndice B) foi
elaborado após a análise dos resultados obtidos com a aplicação do Questionário de diagnóstico
de estresse ocupacional em gerentes (Apêndice A).
As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas em consonância com os
pressupostos de Lakatos (1983), que considera a entrevista uma conversação
realizada face a face, de forma metódica, proporcionando ao pesquisador, de
maneira verbal, as informações necessárias em relação ao contexto pesquisado. A
escolha dos sujeitos obedeceu às condições e requisitos mínimos mencionados
por Triviños (1987), tais como: envolvimento no fenômeno; conhecimento amplo e
detalhado das circunstâncias envolvidas na questão de pesquisa; e capacidade
para exprimir a essência e o detalhe para a compreensão do fenômeno, requisitos
esses considerados na presente pesquisa. Esta etapa teve como objetivo principal
confirmar e aprofundar os achados da etapa anterior, no que se refere à
caracterização dos sujeitos categorizados nos quatro níveis diagnosticados
(ausência de estresse, estresse leve a moderado, estresse intenso e estresse
muito intenso), bem como obter informações da organização em relação ao
contexto da pesquisa.
Para a análise dos dados qualitativos, foi utilizado o método de análise de
conteúdo, que, segundo Bardin (1979), está relacionado a um conjunto de técnicas
de comunicação que visa obter, mediante procedimentos sistemáticos e objetivos
de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores, quantitativos ou não, que
permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de entendimento
dessas mensagens.
Os dados quantitativos foram codificados e digitados em planilha do Excel e posteriormente
processados com a utilização do software LVPLS – Latent Variable Partial Least Squares,
desenvolvido pelo Department of Psychology da University of Virginia - EUA e disponibilizado
para a comunidade científica, com aplicação na área de Ciências Sociais Aplicadas.
4.5 Preparação das bases de dados
Após a preparação inicial dos dados por meio da planilha Excel, realizou-se a análise exploratória
dos mesmos, que, de acordo com Hair et al. (2005), teve por objetivo definir possíveis relações de
forma, com vistas a analisar a pertinência da utilização de técnicas multivariadas para a estimação
das relações entre os construtos em estudo.
Foram analisados os dados ausentes e outliers, uni e multivariados, como também adotados
critérios de imputação dos valores ausentes, considerando a sua substituição pela média, a análise
exploratória dos dados e a verificação do pressuposto da normalidade multivariada, apresentado a
seguir.
O tratamento estatístico dos dados se deu com a utilização do método PLS Partial least squares,
que se caracteriza como uma técnica preditiva, mostrando-se adequada para analisar as relações
entre mais de uma variável dependente e um conjunto de variáveis independentes, o que se
enquadra perfeitamente para os fins da pesquisa em questão. A utilização desse método para a
definição dos parâmetros do Modelo teórico proposto justificou-se tendo em vista as propriedades a
seguir apresentadas.
a) É um modelo de análise não paramétrico, que trabalha com dados amostrais com elevados
níveis de não-normalidade multivariada, não necessitando, portanto, das premissas de
normalidade e linearidade;
b) Utiliza a variância explicada ao invés da co-variância, possibilitando análises mais
individualizadas das variações (influências) de uma variável sobre a outra;
c) Permite maior flexibilização em relação à distribuição e ao tamanho da amostra, o que
garante maior consistência dos resultados;
d) Considera as variáveis latentes como combinações lineares das variáveis observadas,
evitando a ocorrência de não-determinação dos modelos, além de possibilitar a definição
exata dos escores dos componentes; e
e) Estima as variáveis latentes como agregados lineares, englobando métodos de
componentes principais e de correlação canônica, não havendo, portanto, restrições em
relação às características dos dados.
4.5.1 Ajuste da base de dados
Tendo como referência Hair et al. (2005), o ajuste da base de dados teve como objetivo analisar
os dados ausentes, que se referem às informações que não estão disponíveis na amostra, como
também os outliers uni e multivariados, que são dados que apresentaram discrepâncias em
relação à amostra pesquisada.
Ainda tendo como referência Hair et al. (2005), em relação aos dados ausentes, optou-se pela
imputação dos mesmos a partir da substituição pela média. Essa decisão foi tomada tendo em
vista a importância de se manter uma amostra de tamanho compatível com a aplicação de
modelagem por meio da técnica de equações estruturais, possibilitando a utilização do método
dos mínimos quadrados parciais (PLS), o que foi utilizado neste estudo. A tabela constante do
Apêndice I apresenta as freqüências absolutas e relativas dos dados ausentes obtidos para cada
uma das variáveis pesquisadas.
Em relação à análise de outliers uni e multivariados, que teve por objetivo verificar a existência
de dados discrepantes na amostra, procedeu-se da seguinte forma: para o tratamento dos outliers
univariados, verificaram-se os casos cujos valores da variável objeto de análise se distanciaram
três desvios-padrão da média amostral. Para os outliers multivariados, adotou-se a avaliação por
intermédio da análise da distância de Mahalanobis – D², tomando-se como nível de significância
0,001. Os casos foram analisados individualmente, levando-se em consideração a natureza da
variável, sua forma de mensuração e os objetivos da pesquisa. Adotando-se essa metodologia,
chegou-se a uma amostra válida de 550 casos, que foram efetivamente estudados (Apêndice J).
Tendo como base a análise em referência, os casos 306, 347 e 518 foram retirados da amostra
para minimizar possíveis distorções na análise dos dados, como também para possibilitar a
aplicação da análise dos componentes principais – principal components e análise fatorial –
principal axis fatoring (PAF).
4.5.2 Verificação do pressuposto de normalidade multivariada
Esta verificação teve como objetivo identificar o grau em que a distribuição dos dados da amostra
correspondia a uma distribuição normal. O teste utilizado, Mardia – PK, baseia-se em funções
estatísticas de assimetria e de curtose da curva de dados e estabelece como ponto de corte valor
menor que 3, para que se tenha o pressuposto de normalidade multivariada.
O teste em referência apresentou um índice de Mardia – PK de 688,048, com valor crítico de
66,342, o que confirma a não-normalidade multivariada dos dados, uma vez que o valor crítico
deveria ser < 3, de acordo com os pressupostos de Arbuckle & Worthke (1999). Dessa forma, o
teste reforça a opção pela utilização do Partial Least Squares (PLS) como método de estimação
dos parâmetros do modelo estrutural, considerado suas características de flexibilização quanto à
distribuição amostral e ao tamanho da amostra. A tabela 4 apresenta o teste Mardia – PK para os
dados amostrais.
Tabela 4 – Normalidade multivariada – Mardia (PK)
Kurtosis Valor Crítico
688,048 66,342
Teste de Normalidade Multivariada
Fonte: dados da pesquisa
4.5.3 Critérios para utilização da análise fatorial
Tendo como referência os pressupostos de Hair et al. (2005), a análise fatorial consiste em uma
classe de métodos estatísticos multivariados que tem por objetivo principal promover a redução
de um grande número de dados, possibilitando a definição de matriz subjacente. Dessa forma,
em termos gerais, a análise fatorial analisa a estrutura das inter-relações (correlações) envolvendo
um grande número de variáveis, que é o caso desta pesquisa, definindo um conjunto de
dimensões latentes comuns, denominadas de “fatores”.
Segundo esses autores, a análise fatorial permite identificar as dimensões separadas da estrutura,
determinando o grau em que cada variável é explicada por fator. Uma vez que essas dimensões e
a explicação de cada variável estejam determinadas, os dois principais usos da análise fatorial –
resumo e redução de dados – podem ser obtidos. Ao resumir os dados, a análise fatorial obtém
dimensões latentes que, quando interpretadas e compreendidas, descrevem os dados em um
número muito menor de conceitos do que as variáveis individuais originais. Portanto, a sua
principal vantagem é a possibilidade de acomodar múltiplas variáveis em uma tentativa de
compreender as relações complexas que não são possíveis com a utilização de métodos uni e
bivariados, principal justificativa da sua utilização nesta pesquisa.
Para Hair et al. (2005), a análise fatorial tem como objetivo específico verificar se todos os
indicadores constantes nas medições são realmente relevantes para a pesquisa. São destacados
pelos autores os seguintes aspectos significativos para constatar essa relevância:
a) Identificação das correlações entre os indicadores, com a presença de um número
significativo de correlações bivariadas com valores superiores a 0,30. Essa ocorrência
indica a presença de indicadores relevantes, embora os autores reconheçam que não existe
uma regra objetiva para definir de forma clara a expressividade desses indicadores; e
b) Constatação da relevância dos indicadores, que consiste na verificação da medida de
adequação da amostra, obtida pelo teste KMO – Kaiser-Meyer-Olkin, cujos valores estão
contidos no intervalo entre 0 e 1 (0,00 e 1,00). No caso desta pesquisa, o valor obtido foi
0,951. Do ponto de vista da análise, quanto mais próximo de 1,00 for o valor obtido,
melhor a adequação da amostra. De acordo com esse pressuposto, a amostra apresentou-
se “excelente”, conforme o grau de adequação, que pode ser observado na tabela 5.
Tabela 5- Classificação da adequação da amostra de acordo com o teste KMO
Intervalo Grau de Adequação da Amostra
0,80 a 1,00 Excelente
0,70 a 0,79 Média
0,60 a 0,69 Medíocre
0,50 a 0,59 Muito Ruim
0,00 a 0,49 Inaceitável
Fonte: adaptado pelo autor de Hair et al. (2005)
4.5.4 Procedimentos e justificativas para definição dos parâmetros do modelo estrutural
proposto
Em relação à abordagem do método de modelagem por equações estruturais, utilizado neste
trabalho, são apresentados, a seguir, alguns conceitos e justificativas que recomendam a
utilização dessa configuração de análise estatística dos dados.
A análise multivariada, segundo Hair et al. (2005), tem como objetivo analisar múltiplas
variáveis em um único relacionamento ou conjunto de relações que se constituem de um grupo de
técnicas estatísticas. “A menos que um problema seja tratado como multivariado, será tratado
superficialmente” (p. 25).
Para os autores, de forma geral, a análise multivariada refere-se a todos os métodos estatísticos
que simultaneamente analisam múltiplas medidas sobre cada indivíduo ou objeto de investigação.
Qualquer análise simultânea de mais de duas variáveis, que é o caso desta pesquisa, de certa
forma, pode ser considerada análise multivariada.
A análise multivariada apresenta uma aplicação bem direcionada quando se buscam a
mensuração e o entendimento das análises das relações entre os construtos, como também o
entendimento da consistência interna das relações entre as variáveis estabelecidas para se obter
um modelo conceitual teórico, como foi o caso deste estudo.
De acordo com Hair et al. (2005), Hox & Bechger (1998) e Nacchtingall et al. (2003), a
modelagem por equações estruturais pode ser entendida como uma combinação de análise
fatorial, regressão múltipla, correlação canônica e Manova, que tem como origem as técnicas de
modelagem múltiplas de equações aplicadas aos estudos de econometria aliadas às técnicas de
mensuração utilizadas nas áreas de Sociologia e Psicologia. O objetivo principal desse tipo de
modelagem centra-se nas relações existentes entre as variáveis latentes – não observadas, que são
expressas pelos coeficientes de caminho (path coefficientes) – e possibilita as bases de
sustentação para a análise de covariâncias entre as variáveis observadas (latentes), sendo o
modelo representado por um sistema de equações matriciais.
Os modelos de equações estruturais são compostos de um modelo estrutural, que representa as
relações entre as variáveis latentes, e de modelos de mensuração, que expressam as relações entre
as variáveis latentes e as observadas (HAIR et al. 2005; HOX & BECHGER, 1998;
NACCHTINGALL et al., 2003).
A representação gráfica desse tipo de modelagem é realizada por intermédio dos diagramas de
caminho, que correspondem às setas que ligam as variáveis observadas, expressas por meio de
retângulos, às variáveis latentes (elipses), as quais se unem a outras variáveis latentes, que podem
ser exógenas, quando não sofrem influências de nenhuma outra, ou endógenas, quando existe
uma relação de predição em relação a outras variáveis latentes do modelo, o que pode ser
observado no Modelo teórico da pesquisa (figura 11).
Hox & Bechger (1998) consideram que algumas critícas são feitas à modelagem por equações
estruturais (MEE). Entre elas, destacam aquelas referentes aos pressupostos estatísticos em
relação à distribuição de dados, tanto multi como univariada, bem como as exigências de
tamanho da amostra selecionada, necessária à estimação dos parâmetros do modelo estrutural.
Para os autores, essas críticas estão fundamentadas, principalmente, em razão da dificuldade de
se encontrar pesquisas de natureza econométrica nas áreas de Ciências Sociais Aplicadas, em que
os dados atendem aos pressupostos de normalidade exigidos. Outro aspecto que tem sido motivo
de críticas à metodologia fundamenta-se na constatação de que não se tem conhecimento da
existência de consenso na literatura sobre o número mínimo de casos a serem considerados como
adequados para uma amostra aceitável (pequena, média e grande).
No caso específico deste estudo, os dados não atenderam aos pressupostos de normalidade,
optando-se, portanto, pela utilização do método PLS, pelas razões a seguir explicitadas.
Tendo como referência Nashtigall (2005), a principal característica da modelagem por equações
estruturais é permitir que o modelo e os dados empíricos sejam comparados, recorrendo-se às
estatísticas de ajustes, que, de acordo com os parâmetros de aceitação, indicam que as relações do
modelo de mensuração e do modelo estrutural têm suporte nos dados, sendo, portanto aceito.
No caso desta pesquisa, a análise foi realizada por meio de coeficientes de regressão, tendo em
vista que o objeto central do estudo foi definir os parâmetros do modelo hipotético (figura 4).
Definindo-se as relações testadas pelo modelo, realizou-se a estimação dos parâmetros, o que
possibilitou a identificação e interpretação das relações entre as variáveis por meio do método de
mínimos quadrados parciais. Tendo como referência Lohmöller (1984), este método não exige o
estabelecimento de pressupostos em relação à distribuição amostral. Dessa forma, significa que o
PLS pode ser utilizado de forma adequada quando a amostra apresenta comportamento
assimétrico, configurando-se a não normalidade dos dados, o que foi o caso desta pesquisa.
No caso específico do PLS, é importante ressaltar que este método está adequado ao tamanho da
amostra utilizada (550 casos), o que se configurou como um dos fatores determinantes para a sua
aplicação. Em relação ao número de casos, o PLS admite a adoção das seguintes regras: deverá
ser dez vezes a quantidade de caminhos direcionados para um determinado construto do modelo
estrutural ou dez vezes o número de variáveis observadas para o construto com maior número de
indicadores (CHIN, 1997). Essas relações são demonstradas na tabela 6.
Tabela 6 – Avaliação da adequação da amostra ao método PLS
Requisitos do PLS
Amostra
Mínima
Amostra
Real
Diferença
Absoluta
Diferença
Relativa %
Condição
Dez vezes o número de variáveis
observadas
(
14 fatores
)
140 550 410 293% Atendida
Dez vezes o número de caminhos do
modelo (8)
80 550 470 588% Atendida
Fonte: dados da pesquisa
Os métodos de estimação apresentados podem ser aplicados nas pesquisas em que as relações
entre variáveis latentes e variáveis observadas são classificadas como reflexivas, pelo fato de se
considerar que as variáveis observadas são influenciadas pelas latentes, o que se enquadra no
caso desta pesquisa (LOHMÖLLER, 1984).
Neste estudo, em síntese, optou-se pelo método PLS para estimar os parâmetros do modelo
hipotético, pelas seguintes razões básicas: não normalidade multivariada dos dados que
compuseram a amostra, identificada pelo índice de Mardia – Kurtosis 688, 048 (tabela 4), em que
o limite máximo de aceitação é de 1,00; e o tamanho da amostra analisada, que se configurou em
550 casos.
4.6 Pressupostos utilizados para elaboração do diagnóstico do estresse ocupacional
Tendo como base o modelo teórico proposto para este estudo
(figura 11), o estresse ocupacional dos indivíduos
participantes da pesquisa foi diagnosticado de acordo com os
cortes: global, nas quinze organizações pesquisadas,
envolvendo os níveis de alta gerência, gerência intermediária
e supervisão operacional; por nível gerencial, nas quinze
organizações pesquisadas, envolvendo cada nível gerencial
de forma específica; global, em cada organização pesquisada,
envolvendo os níveis de alta gerência, gerência intermediária
e supervisão operacional; e por nível gerencial, em cada
organização pesquisada, envolvendo cada nível gerencial de
forma específica.
Para a análise dos dados quantitativos, foram utilizados parâmetros da estatística descritiva. Com
relação ao contexto qualitativo, os dados foram analisados tendo como referência as informações
obtidas por meio da realização de entrevistas semi-estruturadas com gerentes pesquisados
(Apêndice B) e questões abertas do questionário de diagnóstico de estresse ocupacional
(Apêndice E).
Visando obter maior confiabilidade em relação às conclusões da pesquisa, utilizou-se também o
critério da intersubjetividade, por meio da realização de entrevistas semi-estruturadas (Apêndice
D) com ocupantes de funções em níveis superiores aos dos gerentes entrevistados, possibilitando
maior consistência na análise dos dados.
Ainda nesta etapa, realizaram-se entrevistas semi-estruturadas (Apêndice D) com a administração
superior de três empresas (D, I e J), visando obter informações relacionadas a estrutura
organizacional, organização de processos de trabalho, tecnologias de gestão e produção
utilizadas, bem como às principais políticas em aplicação. Com relação às demais empresas, esse
nível de acesso não foi possível, constituindo-se numa limitação deste estudo.
Como forma de ilustrar o diagnóstico a partir do Modelo teórico proposto, apresentou-se, em
forma de casos ilustrativos, a avaliação do estresse ocupacional de quatro casos. Posteriormente,
utilizando-se parâmetros da estatística descritiva, realizou-se uma análise relacionando os níveis
de estresse encontrados na amostra global, com as seguintes variáveis demográficas: gênero;
tempo na função gerencial; horas trabalhadas; prática de exercício físico; tempo para
relaxamento; e hábitos de fumar e beber como mecanismos de redução de tensão.
Na seção 5, serão apresentados e analisados os resultados deste estudo.
5 ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Esta seção tem por objetivo analisar e apresentar os resultados do presente
estudo. Esta organizada conforme descrito a seguir.
Na primeira parte, consta a descrição do perfil da amostra pesquisada, no que
refere às seguintes variáveis demográficas: gênero; estado civil e trabalho do
cônjuge; nível hierárquico; área de atuação na empresa; número de horas
contratadas e efetivamente trabalhadas; envolvimentos sociais; expectativa de
promoções; nível educacional; tempo de exercício na função gerencial; prática de
exercícios físicos; tempo para relaxamento; e hábitos de fumar e ingerir bebida
alcoólica.
Num segundo momento, desenvolveu-se a análise da confiabilidade dos
construtos que compõem o modelo hipotético da pesquisa; a descrição do
mesmo; e as suas relações e operacionalização. Posteriormente, apresentam-se a
análise e a verificação das hipóteses propostas e o Modelo teórico proposto para
explicar o estresse ocupacional em gerentes.
Utilizando o Modelo teórico proposto decorrente deste estudo, são apresentadas
as análises em relação à amostra pesquisada. Num primeiro momento, em
relação às empresas participantes, em termos globais, e, posteriormente, por
empresa pesquisada. Na seqüência, são apresentados casos ilustrativos em que
o diagnóstico de estresse é aprofundado e focado nos indivíduos participantes da
pesquisa. Finalmente, faz-se a análise dos níveis de estresse identificado,
relacionado-os a algumas variáveis demográficas pesquisadas.
5.1 Descrição do perfil da amostra
Este item tem como objetivo apresentar a descrição da amostra pesquisada, que,
após os procedimentos estatísticos iniciais, ou seja, a análise exploratória para a
verificação dos dados ausentes e outliers uni e multivariados, chegou-se a uma
amostra final de 550 casos, que são apresentados a seguir.
5.1.1 Distribuição do perfil da amostra, por gênero
O gráfico 1 apresenta a distribuição da população pesquisada, por gênero.
Gráfico 1 – Distribuição da amostra da pesquisa, por gênero
Fonte: Dados da pesquisa
Com base nos dados constates do gráfico 1, observa-se que 73% dos gerentes
pesquisados, ou 402, são do sexo masculino e que somente 26%, ou 141, são do
sexo feminino. Observa-se também que 1% dos gerentes ou 7, não respondeu a
este item do questionário.
Outros dados revelam que a faixa etária da amostra varia de 21 a 65 anos, sendo
que o maior número de gerentes (20) encontra-se com 37 anos. No caso do
gênero feminino, essa relação se dá numa faixa mais reduzida de idade: 24
gerentes estão com idades variando de 25 e 30 anos. Com relação à
nacionalidade, 71,9% são de origem brasileira.
5.1.2 Distribuição do perfil da amostra, por estado civil e trabalho do cônjuge
A tabela 7 apresenta a distribuição da amostra pesquisada, por estado civil e a
sua relação com o trabalho do cônjuge.
Tabela 7 - Distribuição do perfil da amostra, por estado civil e trabalho do cônjuge
Estado Civil
Cônjuge
Trabalha
Total
Sim Não
Solteiro Quantidade 7 12 19
% em relação a cônjuge
trabalha
3,0% 7,9% 5,0%
% do Total 1,8% 3,1% 5,0%
73%
26%
1%
Maculino
Feminino
o Responderam
Casado Quantidade
194 128 322
% em relação a cônjuge
trabalha
83,6% 84,8% 84,1%
% do Total
50,7% 33,4% 84,1%
Separado Quantidade 1 2 3
% em relação a cônjuge
trabalha
0,4% 1,3% 0,8%
% do Total 0,3% 0,5% 0,8%
Divorciado Quantidade 2 1 3
% em relação a cônjuge
trabalha
0,9% 0,7% 0,8%
% do Total 0,5% 0,3% 0,8%
Segundo ou terceiro casamento Quantidade 13 3 16
% em relação a cônjuge
trabalha
5,6% 2,0% 4,2%
% do Total 3,4% 0,8% 4,2%
Vive com cônjuge em relação
informal
Quantidade 15 4 19
% em relação a cônjuge
trabalha
6,5% 2,6% 5,0%
% do Total 3,9% 1,0% 5,0%
Viúvo Quantidade 0 1 1
% em relação a cônjuge
trabalha
0,0% 0,7% 0,3%
% do Total 0,0% 0,3% 0,3%
Total Quantidade 232 151 383
% em relação a cônjuge
trabalha
100,0% 100,0% 100,0%
% do Total 60,6% 39,4% 100,0%
Fonte: dados da pesquisa
Dos 550 indivíduos que compõem a amostra, 30,3%, ou 167, não responderam
esta questão. Dos respondentes, 60,6%, ou 232, informaram que o cônjuge possui
atividade profissional; e 39,4%, ou 151, que no momento não estão trabalhando.
Dos respondentes, 84,1% são casados. As respostas que aparecem com as
menores freqüências são: viúvo, separado e divorciado, esses últimos com a
mesma freqüência. Um dado que chamou atenção foi o baixo número de solteiros
ocupando funções gerenciais, o que corresponde a 5%, ou 19, da amostra
pesquisada para a variável estado civil.
5.1.3 Distribuição do perfil da amostra, por nível hierárquico
O gráfico 2 apresenta a distribuição da população pesquisada, por nível
hierárquico.
Gráfico 2 – Distribuição do perfil da amostra, por nível hierárquico
Fonte: dados da pesquisa
Observa-se no gráfico 2 que o nível hierárquico predominante em termos do
número de ocupantes é o de Supervisão Operacional, com 53% da amostra, ou
291 gerentes. Essa situação é explicada pelo fato de nas organizações
pesquisadas a estrutura predominante ser a funcional/piramidal, concentrando-se
maior número de gestores na base da hierarquia. Outros dados revelam que
desse contingente 33,7% têm um tempo na função que varia de 1 a 3 anos. Ainda
com base no gráfico 2, verifica-se que o segundo maior contingente, 39%, ou 214,
é composto de gerentes intermediários. Com relação ao tempo na função, outros
dados mostram que 36,0% estão concentrados na faixa de 1 a 3 anos.
Os gestores ocupantes do nível correspondente à Alta Gerência são 7%, ou 41, do
total da amostra pesquisada. O número mais reduzido nesse caso é explicado
pelas mesmas razões em relação ao nível de Supervisão Operacional. Nesse
nível, as maiores concentrações em termos do tempo na função se dão nas faixas
de 1 a 3 anos e mais de 6 anos, com um percentual de 29,3%, o que corresponde
a 12 ocupantes em cada intervalo de tempo mencionado.
5.1.4 Distribuição da amostra, por área de atuação nas empresas
A tabela 8 mostra como os gerentes pesquisados estão distribuídos pelas
diversas áreas de atuação.
Tabela 8 – Distribuição da amostra, por área de atuação
7%
39%
53%
1%
Alta Gerência Gerência Intermediária Supervisão Operacional o Responderam
Áreas de Atuação Quantidade Percentual Percentual Acumulado
Administrativa em Geral 22 4,0 4,0
Administração de Pessoal (aspectos legais) 2 0,4 4,4
Comercial/Vendas/Atendimento
206 37,6 42,0
Engenharia/Projetos 29 5,3 47,3
Finanças 9 1,6 48,9
Logística/Suprimentos 20 3,6 52,6
Manutenção 46 8,4 60,9
Marketing 6 1,1 62,0
Pesquisa e Desenvolvimento 22 4,0 66,1
Produção
74 13,5 79,6
Recursos Humanos/Gestão de Pessoas 24 4,4 83,9
Segurança e Medicina no Trabalho 9 1,6 85,6
Tecnologia da Informação 12 2,2 87,8
Outras 67 12,2 100,0
Total
548 100,0
Não Responderam 2
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme pode ser observado na tabela 8, a área Comercial (vendas/atendimento)
é responsável por 37,6%, ou 206, dos gerentes pesquisados, nos seus diversos
níveis hierárquicos. Em segundo lugar vem a área de Produção, com 13,5%, ou 74
gerentes. As áreas de menor incidência são: Administração de Pessoal (aspectos
legais), Marketing, Segurança e Medicina do Trabalho, Finanças e Tecnologia da
Informação, que, no caso das empresas pesquisadas, servem de suporte às
atividades fins, o que explica um número menor de gerentes alocados nas
respectivas estruturas funcionais.
5.1.5 Distribuição da amostra pesquisada em relação às horas contratadas e
efetivamente trabalhadas
Este item analisa as horas contratadas (no caso da legislação trabalhista
brasileira, máximo de 44 horas semanais) e as horas efetivamente trabalhadas
(horas extras e trabalho em dias considerados não úteis).
Tendo como base a distribuição da freqüência das respostas dos sujeitos
pesquisados, verificou-se que 47,6% dos gerentes ou 259, apontaram o número
de 40 horas semanais contratadas; e 48,2%, ou 262 gerentes, informaram que o
total de horas semanais contratado é de 44. Tendo em vista os dados obtidos,
verifica-se que há empresas que optam por jornada de 40 horas semanais
(liberalidade de 4 horas ou acordo nesse sentido) e empresas que cumprem
efetivamente o que determina a legislação brasileira, ou seja, jornada mensal de
44 horas.
Perguntados sobre o número de horas efetivamente trabalhadas e/ou
relacionadas ao trabalho, obteve-se que 78,3% trabalham mais que 44 horas
semanais. De uma amostra de 544 respondentes, a moda foi de 50 horas
trabalhadas, o que foi respondido por 23,9% dos gerentes, ou 130. A pesquisa
revelou que 16 gerentes trabalham de 70 a 84 horas semanais, o que equivale a
uma jornada variando de 10 a 12 horas diárias numa semana de 7 dias.
Essa situação, como pôde ser observado na análise dos dados, é um dos fatores
que proporcionam elevado nível de pressão no ambiente de trabalho, gerando
excessivo desgaste para os gerentes, constituindo-se em causa importante de
precipitação de quadros de estresse.
5.1.6 Envolvimentos sociais no âmbito da empresa
Pesquisou-se também a freqüência dos envolvimentos sociais dos gestores no
âmbito das empresas, o que pode ser observado pela tabela 9.
Tabela 9 – Envolvimentos sociais no âmbito das empresas pesquisadas
Sim % Às vezes %
Raramente
ou nunca
%Total
A 5 38,46 5 38,46 3 23,08 13
B 6 35,29 10 58,82 1 5,88 17
C 30 30,93 39 40,21 28 28,87 97
D 27 45,00 20 33,33 13 21,67 60
E 6 60,00 4 40,00 0 0,00 10
F 13 26,00 26 52,00 11 22,00 50
G 20 32,79 32 52,46 9 14,75 61
I 15 44,12 16 47,06 3 8,82 34
J 17 43,59 15 38,46 7 17,95 39
K 7 38,89 8 44,44 3 16,67 18
L 23 54,76 15 35,71 4 9,52 42
N 2 15,38 8 61,54 3 23,08 13
M 10 66,67 5 33,33 0 0,00 15
O 8 47,06 6 35,29 3 17,65 17
H 26 40,63 26 40,63 12 18,75 64
Total 215 39,09 235 42,73 100 18,18 550
Freqüência
Empresa
Fonte: Dados da pesquisa
Tendo como base os dados apresentados na tabela 9, verifica-se que 83% dos
gerentes, ou 450, envolvem-se socialmente com os colegas de trabalho.
Aproximadamente 40% de forma constante e 43% de forma mais eventual.
Observa-se também que esse nível de participação se dá preponderantemente
nas empresas E (Call center) e M (Siderurgia) e em menor intensidade na empresa
C (Siderurgia), apesar de ainda ocorrer um nível de participação elevado.
Os níveis de participação demonstrados com base nos dados apresentados, de
certa forma, podem ser explicados pela própria natureza da função gerencial. É
função do gerente buscar a integração da equipe, e, como uma das estratégias
para tal, o envolvimento social com os colegas de trabalho é uma ação
importante.
5.1.7 Expectativa de previsão de promoção
A tabela 10 apresenta uma visão das expectativas dos gerentes pesquisados em
relação a futuras promoções, entendidas como mudança de cargo/função e/ou
salário.
Tabela 10 – Previsão de promoções
Em 1 ano ou
menos
%
Entre 2 e 5
anos
%
Mais de 5
anos
%Sem previsão%
Total
A
2 15,38 0 0,00 1 7,69 10 76,92 13
B
0 0,00 3 17,65 0 0,00 14 82,35 17
C
17 17,89 18 18,95 5 5,26 55 57,89 95
D
19 32,20 14 23,73 0 0,00 26 44,07 59
E
8 80,00 1 10,00 0 0,00 1 10,00 10
F
3 6,12 22 44,90 4 8,16 20 40,82 49
G
26 42,62 17 27,87 0 0,00 18 29,51 61
I
3 9,09 13 39,39 1 3,03 16 48,48 33
J
11 28,21 18 46,15 0 0,00 10 25,64 39
K
8 44,44 4 22,22 0 0,00 6 33,33 18
L
16 38,10 7 16,67 1 2,38 18 42,86 42
N
1 7,69 1 7,69 0 0,00 11 84,62 13
M
2 13,33 1 6,67 1 6,67 11 73,33 15
O
2 11,76 4 23,53 2 11,76 9 52,94 17
H
26 41,27 20 31,75 0 0,00 17 26,98 63
Total 144 26,47 143 26,29 15 2,76 242 44,49 544
Empresa
Previsão
Fonte: Dados da pesquisa
Não responderam = 6
Tendo como referência a resposta dos 544 gestores, verifica-se que
aproximadamente 50%, ou 242, dentro de suas expectativas, consideram “sem
previsão” a próxima promoção. Excetuado 2,76%, ou 15, os demais dividem a
expectativa de serem promovidos em dois intervalos de tempo: em menos de 1
ano ou entre 2 a 5 anos.
Ao analisar as empresas de forma individualizada, verifica-se que nas empresas
A, B, C, N, M e O mais de 50% dos gerentes não têm expectativas com relação à
próxima promoção. Os gestores mais otimistas são os das empresas E, onde 80%
consideram que vão ser promovidos em menos de 1 ano.
Relacionando esses resultados com o diagnóstico de estresse, verifica-se que na
empresa E (tabela, 40) 70% dos gerentes apresentaram ausência de estresse e
30%, estresse leve a moderado. Em relação às outras empresas, ocorreu a
incidência de níveis de estresse importante (intenso e/ou muito intenso), variando
de 12% dos gerentes pesquisados na empresa C (tabela 38) a 38% no caso da
empresa A (tabela 36).
5.1.8 Nível educacional
A tabela 11 mostra o nível de escolaridade formal da amostra pesquisada nas 15
empresas participantes.
Tabela 11 – Nível educacional
EFC EFI EMC EMI GC ELSC ELSI MSSC MSSI DSSC Total
A
00 1 23 4 2 0 1 0
13
B
11 3 16 1 3 0 1 0
17
C
0014 0232423 6 4 2
96
D
1 0 20 0 8 16 6 3 1 4
59
E
00 0 03 5 0 2 0 0
10
F
00 0 0120 25 7 5 1
50
G
0 0 2 0 15 13 21 7 2 0
60
I
00 0 01216 6 0 0 0
34
J
00 2 01911 5 2 0 0
39
K
00 0 04 9 1 4 0 0
18
L
00 5 01321 1 2 0 0
42
N
00 3 03 2 4 1 0 0
13
M
01 5 03 2 3 0 0 1
15
O
00 4 04 5 4 0 0 0
17
H
00 1 06 7 31 14 1 3
63
Total 2 2 60 3 134 136 135 48 15 11
546
Empresa
Nível acadêmico
Fonte: Dados da pesquisa
Não responderam = 4
Legenda:
EFC-Ensino Fundamental Completo; EFI- Ensino Fundamental Incompleto; EMC- Ensino Médio
Completo; EMI- Ensino Médio Incompleto; GC- Graduação Completa; ELSC- Especialização Lato
Sensu Completa; ELSI- Especialização Lato Sensu Incompleta; MSSC- Mestrado Stricto Sensu
Completo; MSSI- Mestrado Stricto Sensu Incompleto; DSSC- Doutorado Stricto Sensu Completo.
Analisando a escolaridade formal em termos globais, verifica-se que 50% dos
gerentes possuem o nível de especialização lato sensu. Desse contingente, 136 já
concluíram o curso e 135 estão em fase de conclusão. Apenas 4 possuem o nível
de ensino fundamental. Outro dado que chama atenção é que 14% dos gerentes,
ou 74, possuem formação em nível de mestrado e doutorado. Desse percentual,
48 possuem mestrado completo; 15, com mestrado em fase de conclusão; e 11,
curso de doutorado completo.
Na análise por empresa, verifica-se que os doutores prestam serviço nas
empresas C (2); D (4); F e M (1) cada uma e H (3). Essas empresas atuam nas
áreas de siderurgia, química, celulose e papel, e call center. Ainda analisando por
empresa, as que possuem os melhores níveis de escolaridade formal de seus
gestores são F, G, N e H, ao passo que as que possuem os menores são D e M.
5.1.9 Programa de exercício físico regular
A tabela 12 mostra a freqüência com que os gerentes realizam programa de
exercício físico regular. Os dados possibilitam uma visão geral da amostra
pesquisada nas 15 empresas participantes.
Tabela 12 – Programa de exercício sico regular
Sempre % Às vezes %
Raramente ou
nunca
%Total
A
2 15,38 4 30,77 7 53,85 13
B
3 17,65 8 47,06 6 35,29 17
C
26 26,80 30 30,93 41 42,27 97
D
6 10,00 12 20,00 42 70,00 60
E
5 50,00 3 30,00 2 20,00 10
F
16 32,00 18 36,00 16 32,00 50
G
17 27,87 18 29,51 26 42,62 61
I
8 23,53 6 17,65 20 58,82 34
J
3 7,69 10 25,64 26 66,67 39
K
3 16,67 4 22,22 11 61,11 18
L
5 11,90 7 16,67 30 71,43 42
N
6 46,15 1 7,69 6 46,15 13
M
7 46,67 6 40,00 2 13,33 15
O
3 17,65 6 35,29 8 47,06 17
H
17 26,56 16 25,00 31 48,44 64
Total 127 23,09 149 27,09 274 49,82 550
Freqüência
Empresas
Fonte: Dados da pesquisa
Verifica-se que aproximadamente 50% da amostra raramente ou nunca realiza
atividades físicas com regularidade. Somente 23% dos indivíduos pesquisados
realizam essa prática com habitualidade. Em algumas empresas essa realidade é
mais crítica, como L, D, J e K, em que esse percentual é superior a 60% do quadro
de gestores. Essa prática ocorre com maior regularidade nas empresas E, M e N,
porém a freqüência fica em torno de 50%.
Fazendo uma relação com o tempo destinado para relaxamento, verifica-se que
somente 26% da amostra realiza essa prática com regularidade; 61% às vezes
praticam; e 12% raramente ou nunca praticam. Esses dados podem ser
identificados no Apêndice L.
5.1.10 Hábito de fumar
Como pode ser observado na tabela 13, 87.61% dos gerentes, ou 481, não fumam.
Dos 12,39%, ou 68, que fumam, 55 consomem menos de um maço de cigarros por
dia, enquanto que 17 fumam de um a dois maços. Somente um gerente fuma mais
de dois maços de cigarro por dia, da empresa J, que atua na área de
telecomunicações.
Tabela 13 – Hábito de fumar
Sim % o % Total
A
430,77969,2313
B
1 5,88 16 94,12 17
C
9 9,28 88 90,72 97
D
10 16,67 50 83,33 60
E
0 0,00 10100,0010
F
3 6,00 47 94,00 50
G
3 5,00 57 95,00 60
I
4 11,76 30 88,24 34
J
10 25,64 29 74,36 39
K
3 16,67 15 83,33 18
L
7 16,67 35 83,33 42
N
430,77969,2313
M
1 6,67 14 93,33 15
O
1 5,88 16 94,12 17
H
8 12,50 56 87,50 64
Total 68 12,39 481 87,61 549
Empresas
Freqüência
Fonte: Dados da pesquisa
Não respondeu = 1
5.1.11 Consumo de bebida alcoólica
A tabela 14 mostra o hábito de beber dos gerentes pesquisados nas 15 empresas
que fazem parte da amostra.
Tabela 14 – Habito de beber
Sim % o % Total
A
969,23430,7713
B
15 88,24 2 11,76 17
C
70 72,16 27 27,84 97
D
48 80,00 12 20,00 60
E
660,00440,0010
F
37 74,00 13 26,00 50
G
45 73,77 16 26,23 61
I
20 60,61 13 39,39 33
J
22 56,41 17 43,59 39
K
950,00950,0018
L
24 57,14 18 42,86 42
N
11 84,62 2 15,38 13
M
13 86,67 2 13,33 15
O
14 82,35 3 17,65 17
H
48 75,00 16 25,00 64
Total 391 71,22 158 28,78 549
Empresas
Freqüência
Fonte: Dados da pesquisa
Não respondeu = 1
Como pode ser observado na tabela 14, dos 549 respondentes, 71,22%, ou 391,
fazem uso de bebida alcoólica semanalmente. Desses, 64% bebem de uma a
cinco doses
9
semanais; 22%, 6 a 10 doses; 9%, de 11 a 20 doses; e 3%, mais de
21 doses. Verifica-se também, pelas tabelas 16 e 17, Apêndices M e N, que 128
gerentes, nos últimos seis meses, têm bebido mais que de costume. De acordo
com os dados obtidos, alguns desses indivíduos justificam essa situação em
função de o nível de pressão excessiva que sofrem no ambiente de trabalho ter
aumentado nos últimos meses. Dessa forma, a bebida serve como válvula de
escape, proporcionado um pseudo-relaxamento de curta duração, mas com
reflexos comprometedores na saúde dos indivíduos.
No item seguinte, será tratada a análise da dimensionalidade relativa aos
construtos que compõem o modelo hipotetico da pesquisa.
5.2 Confiabilidade dos construtos
A análise da confiabilidade dos construtos que compõem o modelo hipotético da pesquisa
(Figura 4) iniciou-se com a extração dos fatores (Análise Fatorial Exploratória – AFE) a
partir da análise dos Componentes Principais (PC), para, num segundo momento, realizar-
se as análises fatoriais especificas por meio da técnica Principal Axis Fatoring (PAF).
9
Uma dose corresponde a uma taça de vinho, uma caneca/tulipa de chope ou uma dose de destilados.
Para a extração dos componentes, utilizou-se o método de análise por componentes
principais, que revelou uma matriz composta de 18 fatores, como pode ser observado na
tabela 15. Para a verificação da aplicação da análise fatorial exploratória, usou-se o teste de
KMO – K aiser-Meyer-Olkin, assim como o de esfericidade de Bateled. A adoção da (AFE) se
mostrou adequada (favorável), tendo em vista que o KMO foi igual a 0,951, o que
classificou a amostra como “excelente”, de acordo com os parâmetros definidos por Hair et
al. (2005), constantes da tabela 5.
Com relação aos fatores, a indicação de até 18 obedeceu ao critério de distribuição dos
autovalores (eigenvalue) superiores a 1,0, representado por 62,471% da variância total
explicada. No entanto, optou-se por trabalhar com 17 fatores, tendo em vista uma melhor
coerência com a base teórica que sustenta a pesquisa e devido à proximidade do valor da
variância individual dos fatores 17 (1,276%) e 18 (1,254%) – tabela 15.
Tabela 15 – Variância explicada
Total
% da
Variância
%
Acumulado Total
% da
Variância
%
Acumulado Total
% da
Variância
%
Acumulado
1 26,430 28,419 28,419 26,430 28,419 28,419 9,977 10,728 10,728
2 5,377 5,781 34,201 5,377 5,781 34,201 8,016 8,620 19,348
3 3,632 3,906 38,107 3,632 3,906 38,107 6,890 7,408 26,757
4 2,474 2,660 40,767 2,474 2,660 40,767 4,276 4,597 31,354
5 2,234 2,402 43,169 2,234 2,402 43,169 3,478 3,740 35,094
6 1,905 2,049 45,218 1,905 2,049 45,218 3,417 3,674 38,767
7 1,760 1,893 47,111 1,760 1,893 47,111 2,980 3,205 41,972
8 1,700 1,828 48,939 1,700 1,828 48,939 2,554 2,747 44,719
9 1,536 1,651 50,590 1,536 1,651 50,590 2,101 2,259 46,978
10 1,438 1,546 52,137 1,438 1,546 52,137 2,074 2,230 49,208
11 1,390 1,495 53,632 1,390 1,495 53,632 1,840 1,978 51,187
12 1,296 1,393 55,025 1,296 1,393 55,025 1,803 1,939 53,125
13 1,291 1,389 56,414 1,291 1,389 56,414 1,766 1,898 55,024
14 1,209 1,300 57,714 1,209 1,300 57,714 1,595 1,715 56,739
15 1,165 1,252 58,966 1,165 1,252 58,966 1,510 1,623 58,362
16 1,109 1,193 60,159 1,109 1,193 60,159 1,468 1,579 59,941
17 1,088
1,169
61,328 1,088 1,169 61,328 1,187
1,276 61,217
18
1,063
1,143
62,471 1,063 1,143 62,471 1,166
1,254 62,471
Componen
te (Fator)
Auto-valores iniciais
Extração - Soma dos Quadrados
das Cargas
Rotação - Soma dos Quadrados
das Cargas
Fonte: dados da pesquisa
Método de extração: Análise por componentes principais
Os resultados apresentados na tabela 15 e no gráfico 3 – Comportamento dos fatores com base na
análise dos componentes principais (Apêndice H) mostram o ponto de corte para valores
superiores ou iguais a 1,0. O fator 17 apresenta variância de 1,169% e o fator 18, 1,143%. No
entanto, por razões já explicadas, serão considerados 17 fatores que explicam 61,217% da
variância observada. Esses fatores serão explicados de forma analítica por meio do modelo
teórico proposto (figura 11), como decorrência deste estudo.
Os componentes obtidos, em princípio, podem sugerir estruturas fatoriais parcimoniosas. No
entanto, nem todos eles podem ser considerados com a mesma relevância em relação aos
pressupostos teóricos estabelecidos pelo do modelo hipotético (figura 4).
A tabela 16 apresenta a matriz rotacionada de componentes, contendo os 17 fatores extraídos com
base nos dados da tabela 15, bem como os seus respectivos indicadores. Esses fatores deram
origem ao modelo teórico proposto para explicar o estresse ocupacional em gerentes.
Após a apresentação da referida tabela, os seus componentes foram agrupados
em 4 construtos de segunda ordem e 15 de primeira ordem, que serão detalhados
e apresentados de forma seqüencial, como também analisados em relação ao
diagnóstico de estresse global realizado nas 15 empresas participantes da
pesquisa (figuras 5, 6, 7, 8, 9 e 10).
A análise será realizada com o objetivo de mostrar a importância de cada
construto e seus respectivos indicadores nas manifestações de estresse.
Tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes – final (continua)
Fatores
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
PIV470,708
PIV430,696
PIV160,688
PIV330,687
PIV5 0,675
PIV100,675
PIV120,655
PIV130,651
PIV460,649
PIV110,648
PIV4 0,638
PIV1 0,582
PIV140,438
PIV27 0,784
PIV28 0,779
PIV25 0,730
PIV23 0,686
PIV26 0,671
PIV32 0,671
PIV22 0,670
PIV21 0,669
PIV24 0,622
PIV31 0,617
PIV41 0,546
PIV40 0,402
PIII29 0,763
PIII30 0,709
PIII27 0,669
PIII35 0,658
PIII28 0,646
PIII34 0,418
PIII33 0,396
PIII13 0,674
PIII15 0,609
PIII12 0,592
PIII25 0,579
PIII14 0,512
PIII2 0,426
PIII8 0,417
PIII5
0,416
Indicador
Fonte: dados da pesquisa
Tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes – final (conclusão)
Fatores
1234567891011121314151617
PIII4 0,661
PIII7 0,621
PIII1 0,594
PIII18 0,494
PV7 0,724
PV6 0,594
PV8 0,579
PV5 0,553
PV3 0,543
PV9 0,506
PV4 0,398
PIII46 0,656
PIII36 0,581
PV1 0,496
PII13A 0,496
PIII37 0,495
PV2 0,470
PIII40 0,456
PIII9 0,582
PIII16 0,558
PIII11 0,507
PIII17 0,505
PIII6 0,353
PIII10 0,333
PIV19 0,906
PIV30 0,899
PVII1 0,698
PVII3 0,580
PVII2 0,542
PVI5A 0,743
PVI4A 0,687
PVI2A 0,670
PVI3A 0,655
PVI6A 0,452
PVI7A 0,330
PIII44 0,753
PIII45 0,652
PVI1A 0,723
PII9A 0,535
PIII21 0,751
PIII22 0,718
PIII31 0,421
PIII32 0,394
PIV34 0,443
PIV15
0,434
Indicador
Método de Extração- Análise por componentes principais.
Método de Rotação- Varimax com
Kaiser Normalization.
Fonte: dados da pesquisa
A tabela 16 é composta de 17 fatores e 93 indicadores, obtidos com base nos 140
indicadores constantes do questionário de análise do estresse ocupacional em
sua primeira versão (Apêndice A).
Para se chegar a essa matriz em sua versão final, foram necessários cinco ciclos
de processamento, analisando-se a representatividade dos indicadores e seus
respectivos fatores (construtos de primeira ordem) à luz do referencial teórico
sobre estresse Cooper et al. (1988, 2000), Karasek (1996, 1998, 2000), Moraes et al,
(1990, 1992, 1995, 1998, 2000, 2002, 2003) e Couto (1987).
O exame da dimensionalidade dos construtos foi realizado a partir da técnica de componentes
principais – Principal Component Analysis – PCA – com rotação Varimax, que objetivou
explicitar e compreender, inicialmente, o número de componentes da matriz, além de analisar sua
multicolinearidade e fatorabilidade. Essa análise considerou também o tamanho da amostra, as
correlações entre as variáveis (acima de 0,30), a distribuição dos autovalores (Eigenvalues) e o
teste de esfericidade de Bartlett com p <0,001 (AIC), bem como a análise de Kaiser-Meyer-Olkin
(KMO). Para essas análises, foram considerados os 550 casos obtidos após o tratamento
estatístico inicial dos dados e os 146 itens do questionário (Apêndice A).
5.3 Descrição e análise dos construtos, suas relações e operacionalização
A tabela 17 mostra que após a realização da análise fatorial (tabela 16) os fatores
foram agrupados em indicadores, e esses foram relacionados a cada construto,
com o estabelecimento das suas respectivas cargas.
Tabela 17- Confiabilidade composta
Constructo Indicador Carga Erro Comunalidade Redundância
Confiabilidade
Com
p
osta
FATOR 1 0,9 0,2000 0,8000 ---------- ----------
FATOR 2 0,8 0,2969 0,7031 ---------- ----------
FATOR 17 0,8 0,3243 0,6757 ---------- ----------
SOMA 2,5000 0,8212 0,8839
FATOR 14 -0,7 0,4621 0,5379 0,0614 ----------
FATOR 11 -0,7 0,4068 0,5932 0,0677 ----------
SOMA -1,4000 0,8689 0,6928
FATOR 13 0,4 0,7767 0,2233 0,1414 ----------
FATOR 7 0,8 0,3741 0,6259 0,3965 ----------
FATOR 6 0,8 0,3039 0,6961 0,4410 ----------
FATOR 16 0,7 0,4191 0,5809 0,3680 ----------
SOMA 2,7000 1,8738 0,7955
FATOR 5 0,8 0,2725 0,7275 0,3369 ----------
FATOR 4 0,9 0,2118 0,7882 0,3650 ----------
FATOR 8 0,8 0,2500 0,7500 0,3473 ----------
SOMA 2,5000 0,7343 0,8949
SINTOMAS
FTT
MECREGUL
FTIPG
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
FTT – Fontes de tensão no trabalho
MECREGUL – Mecanismos de regulação
FTI – Fontes de tensão do indivíduo e do papel gerencial
SINTOMAS – Sintomas de estresse
Em razão da grande quantidade de fatores (17), entendeu-se que nova redução
teórica seria mais conveniente, fatorando o modelo para quatro construtos de
segunda ordem (FTT, MECREGUL, FTIPG, SINTOMAS), como pode ser observado
na tabela 17. Assim, por meio da técnica de confiabilidade composta, foram
identificados os quatro construtos de segunda ordem, que são explicados por
construtos de primeira ordem e seus respectivos indicadores.
Posteriormente, por meio do teste bicaudal, nível de significância a 5%, foram
identificados mais dois construtos de primeira ordem: Outras Fontes de Tensão
(OFT) e Impactos na Produtividade (IMPACTOS), que são explicados pelos seus
respectivos indicadores. Os construtos e seus fatores de indicação constam da
tabela 18.
Tabela 18- Jackknifing para indicadores
Constructo Indicador
Carga no constructo
Intervalo de confiança Q2 para Q2 para
Estimado por
Jackknifing
a 5%*
Estimado pelo
PLS
Média
Desvio-
padrão
Limite
inferior
Limite
superior
indicador constructo
FATOR 1 0,9 ** 0,9 0,001 0,9 0,9 0,643
FATOR 2 0,8 ** 0,8 0,002 0,8 0,8 0,335
0,416
FTT
FATOR 9, 17 0,8 ** 0,8 0,002 0,8 0,8 0,269
OFT
FATOR 10 -1,0 0,0 0,0
FATOR 14 -0,7 ** -0,7 0,004 -0,7 -0,7 -0,266
FATOR 12 -07 ** -0,7 0,004 -0,7 -0,7 -0,203
MECREGUL
FATOR 11 -0,7 ** -0,7 0,004 -0,7 -0,7 -0,141
-0,203
FATOR 13 0,4 ** 0,4 0,003 0,4 0,4 -0,019
FATOR 7 0,8 ** 0,8 0,002 0,8 0,8 -0,011
FATOR 6 0,8 ** 0,8 0,002 0,8 0,8 0,265
FTI
FATOR 16 0,7 ** 0,7 0,002 0,7 0,7 0,223
0,114
FATOR 5 0,8 ** 0,8 0,002 0,8 0,8 0,335
FATOR 4 0,9 ** 0,9 0,002 0,9 0,9 0,219
SINTOMAS
FATOR 8, 15 0,8 ** 0,8 0,002 0,8 0,8 0,252
0,269
IMPACTOS
FATOR 3 1,0 ** 1,0 0,002 1,0 1,0 0,331
0,331
* Teste
bicaudal
** Significante a 5%
Fonte: dados da pesquisa
Legenda de Construtos: FTT – Fontes de tensão no trabalho; OUTRAS – Fontes de tensão de outras
naturezas que não o trabalho; MECREGUL – Mecanismos de regulação; FTIPG – Fontes de tensão
do indivíduo e do papel gerencial; SINTOMAS – Sintomas de estresse; IMPACTOS – Impactos na
produtividade.
Legenda de Fatores: Fator 1 – Processo de trabalho; Fator 2 – Relações no trabalho; Fator 17 –
Insegurança na relação de trabalho e convivência com indivíduos de personalidade difícil; Fator
10 – Outras fontes de tensão de natureza familiar, social e questões próprias do indivíduo; Fator
12- Interações e prazos; Fator 14 – Descanso regular; Fator 11 – Experiência no trabalho e
atividade física; Fator 13 – Responsabilidades acima dos limites; Fator 7 – Estilo e qualidade de
vida; Fator 6 – Aspectos específicos do trabalho do gerente; Fator 16 – Desmotivação; Fator 5 –
Hiperexitabilidade e senso de humor; Fator 4- Sintomas psíquicos, decorrentes do sistema
nervoso central e gástricos; Fator 8 – Aumento do tônus muscular, tontura/vertigem e falta ou
excesso de apetite; Fator 3 – Impactos na produtividade.
Com base nos dados constantes da tabela 18, foram apresentados os construtos
de segunda e primeira ordens, e seus respectivos indicadores, que serviram de
base para a construção, por meio deste estudo, do modelo teórico proposto para
explicar o estresse ocupacional em gerentes (figura 11).
O modelo foi apresentado gradativamente, em seis passos, nas figuras 5 a 10, e a
sua operacionalização se dá por meio da média aritmética das cargas dos fatores
constantes da tabela 16.
À medida que for sendo apresentado, o modelo teórico vai sendo ilustrado com a
apresentação dos níveis de pressão observada em decorrência dos
agrupamentos dos indicadores em relação aos seus respectivos construtos
(tabela 16). Esse aprofundamento da análise se dará em relação aos grupos de
gerentes identificados com ausência de estresse/estresse leve a moderado (203
casos) e em relação ao grupo identificado com estresse intenso/muito intenso (98
casos).
5.3.1 O construto fontes de tensão no trabalho
A figura 5 tem por objetivo facilitar a visualização e o conseqüente entendimento
do construto de segunda ordem fontes de tensão no trabalho (FTT), que, como
pode ser observado na figura em referência, é constituído por três construtos de
primeira ordem: processos de trabalho; relações no trabalho; insegurança na
relação de trabalho e convivência com indivíduos de personalidade difícil. Por
sua vez, cada um desses construtos de primeira ordem é explicado pelos seus
indicadores, que são apresentados após a inserção da figura em referência.
+
+
+
+
_
+
+
+
MECANISMOS
DE REGULAÇÃO
(MECREGUL)
RELAÇÕES
NO TRABALHO
(FATOR 2)
INSEGURANÇA NA
RELAÇÃO DE
TRABALHO E
CONVIVÊNCIA COM
INDIVÍDUOS DE
PERSONALIDADE
DIFÍCIL
(
FATORES 9
,
17
)
FONTES DE
TENSÃO DO
INDIVÍDUO E DO
PAPEL
EXPERIÊNCIA NO
TRABALHO
ATIVIDADE FÍSICA
(FATOR 14)
INTERAÇÃO E
PRAZOS
(FATOR 12)
SINTOMAS PSÍQUICOS
SINTOMAS DE
HIPEREXCITABILIDADE
E SENSO DE HUMOR
(FATOR 5)
ASPECTOS
ESTILO E
QUALIDADE DE VIDA
(FATOR 7)
RESPONSABILIDADES
ACIMA DOS LIMITES
(FATOR 13)
SINTOMAS
DE ESTRESSE
(SINTOMAS)
IMPACTOS NA
PRODUTIVIDADE
(IMPACTOS)
(FATOR 3)
FONTES DE
TENSÃO NO
TRABALHO
(FTT)
PROCESSOS DE
TRABALHO
(FATOR 1)
DESCANSO
REGULAR
(FATOR 11)
Figura 5 – Explicação do construto fontes de tensão no trabalho
Fonte: dados da pesquisa.
5.3.1.1- Construto processos de trabalho
O fator 1 – processo de trabalho –, construto de primeira ordem, é explicado
pelos seguintes indicadores: trabalho complexo e desgastante; sobrecarga em
decorrência da tecnologia (e.mail, softwares e sistemas integrados de gestão,
entre outros de mesma natureza); realização de várias atividades ao mesmo
tempo, com alto grau de cobrança; filosofia de trabalho pautada pela obsessão e
compulsão por resultados; realizar, de forma exagerada, o máximo de trabalho
com o mínimo de condições/recursos (paranóia por resultados); princípios de
racionalidade levados ao extremo (aproveitamento máximo de tempo e recursos),
com aplicação de técnicas cada vez mais exigentes e sofisticadas de
produtividade; excesso de metas de trabalho; decisões relacionadas ao trabalho
sem a participação dos envolvidos; pressão excessiva no trabalho; muitos prazos
e cronogramas apertados, gerando incômodo e tensão excessiva; carga
excessiva de trabalho, ultrapassando os limites suportáveis pelos indivíduos; e
número excessivo de horas de trabalho.
A tabela 19 retrata a intensidade de cada indicador relacionado a esse construto,
observado-se os grupos de gerentes identificados com ausência de
estresse/estresse leve a moderado (grupo 1) e estresse intenso/muito intenso
(grupo 2).
Tabela 19 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto processos de trabalho
% %
PIV5- Realização de várias atividades ao mesmo tempo, com alto
g
rau de cobran
ç
a.
33 16,26% 67 68,37%
PIV10- Filosofia de trabalho pautada pela obsessão e compulsão
p
or resultados.
24 11,82% 49 50,00%
PIV43- Muitos prazos e cronogramas apertados, gerando
incômodo e tensão excessiva.
17 8,37% 46 46,94%
PIV33- Pressão excessiva no trabalho.
15 7,39% 43 43,88%
PIV13- Excesso de metas de trabalho.
18 8,87% 43 43,88%
PIV4- Sobrecarga em decorrência da tecnologia (e.mail,
softwares, sistemas integrados de gestão, entre outros de mesma
natureza
)
.
32 15,76% 41 41,84%
PIV1- Realizar trabalho com
p
lexo e des
g
astante.
14 6,90% 40 40,82%
PIV11- Realizar de forma exagerada o máximo de trabalho com o
mínimo de condi
ç
ões/recursos
(p
aranóia
p
or resultados
)
.
15 7,39% 37 37,76%
PIV12- Prinpios de racionalidade levados ao extremo
(aproveitamento máximo de tempo e recursos) com aplicação de
técnicas cada vez mais exigentes e sofisticadas de produtividade.
18 8,87% 33 33,67%
PIV46- Número excessivo de horas de trabalho.
15 7,39% 31 31,63%
PIV47- Carga excessiva de trabalho, ultrapassando os limites
su
p
orveis
p
elos indivíduos.
7 3,45% 29 29,59%
PIV14- Decisões relacionadas ao trabalho, sem participação dos
envolvidos.
7 3,45% 29 29,59%
Média
----- 8,83% ----- 41,50%
Indicadores
Gerentes com Ausência
de Estresse/Leve a
Moderado
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Como pode ser observado na tabela 19, os indicadores que mais explicam os
níveis de tensão excessiva no trabalho (acima de 40%) são os seguintes, em
ordem de importância:
o Realização de várias atividades ao mesmo tempo, com alto grau de
cobrança;
o Filosofia de trabalho pautada pelo obsessão e compulsão por resultados;
o Conviver com muitos prazos e cronograma apertado;
o Pressão excessiva no trabalho;
o Excesso de metas;
o Sobrecarga em decorrência da tecnologia (e.mail, softwares, sistemas
integrados de gestão, entre outros de mesma natureza); e
o Trabalho complexo e desgastante.
Observa-se também que para o grupo de gerentes diagnosticados com ausência
de estresse ou estresse leve a moderado esses mesmos indicadores apresentam
um percentual relativamente reduzido, o que reforça a condição de serem
importantes prognosticadores em relação ao construto processo de trabalho.
5.3.1.2 Construto relações no trabalho
O fator 2 – relações no trabalho –, construto de primeira ordem, é explicado pelos
seguintes indicadores: inibição da autenticidade e coerência (PIV 21); inibição da
liberdade (PIV 22); práticas de isolamento imposta pela empresa – assédio moral
(PIV 23); clima de insegurança e medo; decisões tomadas por pessoas
mentalmente desequilibradas, perversas e/ou neuróticas; práticas de humilhação
implícita ou explicita; situações de desrespeito humano; percepção da relação de
emprego insegura/instável; e orientações superiores implícitas ou explicitas no
sentido de agir fora do que é considerado eticamente correto.
Com base nos dados da tabela 20, verifica-se a intensidade de cada indicador
relacionado a este construto, observado-se os grupos de gerentes identificados
com ausência de estresse/estresse leve a moderado (grupo 1) e estresse
intenso/muito intenso (grupo 2).
Tabela 20 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto relações no trabalho
% %
PIV41- Orientações superiores implícitas ou explícitas no sentido
de a
g
ir fora do
q
ue é considerado eticamente correto.
3 1,48% 15 15,31%
PIV40- Perceber a relação de em
p
re
g
o inse
g
ura/instável.
3 1,48% 15 15,31%
PIV21- Inibição da autenticidade e coerência.
5 2,46% 13 13,27%
PIV22- Inibição da liberdade.
4 1,97% 12 12,24%
PIV24- Decisões tomadas por pessoas mentalmente
dese
q
uilibradas
,
p
erversas e/ou neuróticas.
4 1,97% 11 11,22%
PIV23- Práticas de isolamento impostas pela empresa – assédio
moral.
4 1,97% 10 10,20%
PIV31- Práticas de humilhação im
p
lícita ou ex
p
licita.
2 0,99% 8 8,16%
PIV32- Situações de desres
p
eito humano.
1 0,49% 7 7,14%
Média
----- 1,60% ----- 11,61%
Indicadores
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Gerentes com Ausência
de Estresse/Leve a
Moderado
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Os dados da tabela 20 mostram que quanto ao construto em análise – relações
no trabalho – os indicadores referentes ao grupo de gerentes diagnosticados com
estresse intenso/muito intenso estão presentes de forma menos importante, o
que indica menor capacidade de explicação deste construto em relação à
incidência de estresse no grupo 2. Apesar da menor capacidade de explicação, os
indicadores que se revelaram com maior incidência foram: ter que seguir
orientações superiores implícitas ou explicitas no sentido de agir fora do que é
considerado eticamente correto (15,31%); perceber a relação de emprego
insegura/instável (15,31%); e submeter-se na empresa a ações de inibição da
autenticidade e coerência (13,27%).
Por outro lado, verifica-se também que em relação aos gerentes com ausência de
estresse/estresse leve a moderado esses mesmos indicadores apresentam
incidência bastante reduzida (variação 1,48% a 2,46%), o que significa que neste
grupo de gerentes tais indicadores não são representativos como
prognosticadores de tensão excessiva no trabalho.
5.3.1.3 Construto insegurança na relação de trabalho e convivência com
indivíduos de
personalidade difícil
Os fatores 9 e 17 – Insegurança na relação de trabalho e convivência com
indivíduos de personalidade difícil –, construto de primeira ordem, é explicado
pelos seguintes indicadores: alto impacto emocional (assalto, morte, acidente de
trabalho fatal, entre outros de mesma natureza); e conviver com indivíduos de
difícil relacionamento (ansioso, estressado, desequilibrado emocionalmente).
A tabela 21 mostra a intensidade de cada indicador relacionado ao construto
insegurança na relação de trabalho e convivência com indivíduos de
personalidade difícil nos grupos de gerentes identificados com ausência de
estresse/estresse leve a moderado (grupo 1) e estresse intenso/muito intenso
(grupo 2).
Tabela 21 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto insegurança na relação de trabalho e convivência com indivíduos
de personalidade difícil
% %
PIV34- Conviver com indivíduos de difícil relacionamento
(
ansioso
,
estressado
,
dese
q
uilibrado emocionalmente
)
.
22 10,84% 34 34,69%
PIV30- Alto impacto emocional (assalto, morte, acidente de
trabalho fatal
,
entre outros de mesma natureza
)
.
0 0,00% 0 0,00%
Média
----- 5,42% ----- 17,35%
Indicadores
Gerentes com Ausência
de Estresse/Leve a
Moderado
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Os dados da tabela 21 mostram a importância mediana do indicador conviver com
indivíduos de difícil relacionamento na explicação dos níveis de estresse
identificados no grupo 2. Este indicador representa um nível de tensão da ordem
de 34,69%. Em relação ao grupo de gerentes com ausência de estresse/leve a
moderado, este mesmo indicador aparece com uma incidência de 10,84%,
confirmando assim um grau moderado de discriminação como indicador de
estresse.
Verifica-se também que o indicador alto impacto emocional não apresenta
incidência nos dois grupos estudados, o que mostra que não explica o construto
em análise.
Em síntese, observa-se que em relação às fontes de tensão no trabalho (FTT) o
construto de primeira ordem mais importante para explicar o estresse entre os
gerentes pesquisados é o processos de trabalho, em relação ao qual, em média,
41,60% dos gerentes pertencentes ao grupo 2 o consideraram como provocador
de estresse intenso/muito intenso. Em relação ao grupo de gerentes com
ausência de estresse/leve a moderado, a incidência, em média, é de 8,83%,
podendo ser considerada baixa.
Em nível de importância mediana vem o construto insegurança nas relações de
trabalho e convivência com indivíduos de personalidade difícil, em média, com
17,35%, em relação aos gerentes do grupo 2. Sobre este construto, é importante
ressaltar que a média foi influenciada por não ter havido incidência em relação
aos grupos 1 e 2 do indicador alto impacto emocional. Dessa forma, é importante
observar que o indicador conviver com indivíduos de difícil relacionamento
apresenta carga de 34,69% no grupo 2 e 10,84% no grupo 1, colocando-o com
importância moderada na explicação de ocorrências de estresse.
Com menor nível de importância explicativa, carga média de 11,61% no grupo 2 e
1,60% no grupo 1, aparece o construto relações de trabalho.
5.3.2 Construto fontes de tensão do indivíduo e do papel gerencial
A figura 6 tem como objetivo facilitar a visualização e o conseqüente
entendimento relativo ao construto de segunda ordem fontes de tensão do
indivíduo e do papel gerencial (FTIPG), que é explicado por quatro construtos de
primeira ordem: responsabilidades acima dos limites; estilo e qualidade de vida;
trabalho dos gerentes; e desmotivação. Cada um desses construtos de primeira
ordem pode ser explicado pelos seus respectivos indicadores, que são
destacados após a apresentação da figura 6.
+
+
+
+
_
+
+
+
MECANISMOS
DE REGULAÇÃO
(MECREGUL)
RELAÇÕES
NO TRABALHO
(
FATOR 2
)
INSEGURANÇA NA
RELAÇÃO DE
TRABALHO E
CONVIVÊNCIA COM
INDIVÍDUOS DE
PERSONALIDADE
DIFÍCIL
FONTES DE
TENSÃO DO
EXPERIÊNCIA NO
TRABALHO
ATIVIDADE FÍSICA
(FATOR 14)
INTERAÇÃO E
PRAZOS
(FATOR 12)
SINTOMAS DE
HIPEREXCITABILIDADE
E SENSO DE HUMOR
(FATOR 5)
ESTILO E
QUALIDADE DE VIDA
(FATOR 7)
RESPONSABILIDADES
ACIMA DOS LIMITES
(FATOR 13)
SINTOMAS
DE ESTRESSE
(SINTOMAS)
IMPACTOS NA
PRODUTIVIDADE
(IMPACTOS)
(FATOR 3)
FONTES DE
TENSÃO NO
TRABALHO
(FTT)
PROCESSOS DE
TRABALHO
(FATOR 1)
DESCANSO
REGULAR
(FATOR 11)
Figura 6 – Explicação do construto fontes intrínsecas de tensão do indivíduo e do
papel gerencial
Fonte: dados da pesquisa
5.3.2.1 Construto responsabilidades acima dos limites
O fator 13 – responsabilidades acima dos limites –, construto de primeira ordem,
é explicado pelos indicadores compromissos muito desafiadores; e realização de
atividades bem acima da capacidade técnica e/ou atividades de aprendizado
recente sem ter domínio pleno.
A tabela 22 retrata a intensidade de cada indicador relacionado a este construto,
observado-se os grupos de gerentes identificados com ausência de
estresse/estresse leve a moderado (grupo 1) e estresse intenso/muito intenso
(grupo 2).
Tabela 22 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto responsabilidade acima dos limites
% %
PIII44- Com
p
romissos muito desafiadores.
84 41,38% 48 48,98%
PIII45- Realização de atividades bem acima da capacidade técnica
e/ou atividades de aprendizado recente, sem ter domínio pleno.
16 7,88% 21 21,43%
Média
----- 24,63% ----- 35,20%
Indicadores
Gerentes com Ausência
de Estresse/Leve a
Moderado
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Fonte: dados da pesquisa
Elaborado pelo autor
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na Tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Os dados da tabela 22 mostram que o indicador assumir compromissos muito
desafiadores não apresenta capacidade de explicar a incidência de estresse, uma
vez que retrata a ocorrência desse indicador com pequena variação nos dois
grupos de gerentes.
Em relação ao indicador PIII45, verifica-se capacidade moderada de explicação,
com incidência de 21,43% no grupo 2 e 7,88% no grupo 1.
5.3.2.2 Construto estilo e qualidade de vida
O fator 7 – estilo e qualidade de vida –, construto de primeira ordem, é explicado
pelos seguintes indicadores: estilo de vida corrido, realizando cada vez mais
trabalho em menos tempo, mesmo quando não existe necessidade para tal;
realização freqüente de duas ou mais atividades ao mesmo tempo, com
dificuldade de conclusão, mesmo quando não há exigência para tal; dificuldade
em desligar-se de contextos relacionados ao trabalho; tempo muito tomado com
compromissos assumidos, com pouco ou nenhum tempo livre, até mesmo após o
expediente e finais de semana; conhecer o que é qualidade de vida e sua
importância e não ter como praticar; dificuldades de desligar-se de contextos
relacionados ao trabalho; e não ter tempo para relaxar/descansar.
Com base na tabela 23, é possível identificar a intensidade de cada indicador
relacionado a este construto, observado-se os grupos de gerentes
diagnosticados com ausência de estresse/estresse leve a moderado (grupo 1) e
estresse intenso/muito intenso (grupo 2).
Tabela 23 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto estilo e qualidade de vida
% %
PIII40- Dificuldade em desligar-se de contextos relacionados ao
trabalho.
31 15,27% 62 63,27%
PIII46- Tempo muito tomado com compromissos assumidos, com
pouco ou nenhum tempo livre, inclusive após o expediente e finais
de semana.
50 24,63% 57 58,16%
PV1- Conhecer o que é qualidade de vida e sua imporncia e não
ter como
p
raticar.
30 14,78% 52 53,06%
PIII36- Estilo de vida corrido, realizando cada vez mais trabalho
em menos tempo, mesmo quando não existe necessidade para tal.
40 19,70% 50 51,02%
PIII37- Realização freqüente de duas ou mais atividades ao mesmo
tempo, com dificuldade de conclusão, mesmo quando não há
exi
g
ências
p
ara tal.
20 9,85% 49 50,00%
PV2- Dificuldade de compatibilizar os compromissos de trabalho
com os com
p
romissos de família e outros.
18 8,87% 46 46,94%
PII13A- Não ter tem
p
o
p
ara relaxar/descansar.
10 4,93% 27 27,55%
Média
----- 14,00% ----- 50,00%
Indicadores
Gerentes com Ausência
de Estresse/Leve a
Moderado
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na Tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Este construto, como mostra a tabela 23, apresenta praticamente todos os
indicadores como muito significativos para explicar os níveis de tensão em
relação ao ambiente ocupacional dos gerentes. No grupo 2, só um indicador,
tempo para relaxar, aparece abaixo dos 46,94% de ocorrência. O grau de maior
importância recai nos seguintes indicadores: dificuldade de desligar-se de
contextos relacionados ao trabalho (63,27%); e tempo muito tomado com
compromissos assumidos, com pouco ou nenhum tempo livre, até mesmo após o
expediente e finais de semana (58,16%).
Em relação ao grupo 1, os percentuais de incidência variam de 4,93% a 15,27%, o
que demonstra e confirma a importância deste construto como importante
prognosticador do estresse nos gerentes pesquisados.
5.3.2.3 Construto aspectos específicos do trabalho do gerente
O fator 6 – aspectos específicos do trabalho do gerente –, construto de primeira
ordem, é explicado pelos seguintes indicadores: não poder agir de forma
autoritária e ter que ser autoritário em determinadas circunstâncias; dificuldade
de trabalhar em modelo participativo e a necessidade de isolamento em função da
competitividade; convivência com situações de tensão inerentes às relações
humanas no trabalho; compatibilização entre necessidades de descentralização e
a concentração de poder no topo da organização; conflitos por ter que, ao mesmo
tempo, ser inovador e dotado de autonomia e estar sujeito às normas da
organização; perceber os resultados dentro do esperado, não podendo
manifestar essa percepção para a organização, tendo que solicitar à equipe
resultados mais desafiadores; e conflitos em função de sobrecarga de trabalho e
a impossibilidade de questionar a situação por ocupar função gerencial.
A tabela 24 possibilita a identificação da intensidade de cada indicador
relacionado a este construto, observado-se os grupos de gerentes
diagnosticados com ausência de estresse/estresse leve a moderado (grupo 1) e
estresse intenso/muito intenso (grupo 2).
Tabela 24 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto aspectos específicos do trabalho do gerente
% %
PV3- Conflitos por ter que ao mesmo tempo ser inovador e dotado
de autonomia e estar sujeito às normas da organização.
19 9,36% 43 43,88%
PV4- Conflitos em função de sobrecarga de trabalho e a
impossibilidade de questionar a situação por ocupar função
g
erencial.
10 4,93% 36 36,73%
PV9- Resultados dentro do esperado, não podendo manifestar essa
percepção para a organização, tendo que solicitar à equipe
resultados mais desafiadores.
16 7,88% 34 34,69%
PV8- Convivência com situações de teno inerentes às relações
humanas no trabalho.
10 4,93% 33 33,67%
PV7- Não poder agir de forma autoritária e ter que ser autoritário
em determinadas circunstâncias.
3 1,48% 26 26,53%
PV5- Compatibilização entre necessidade de descentralização e a
concentra
ç
ão de
p
oder no to
p
o da or
g
aniza
ç
ão.
12 5,91% 26 26,53%
PV6- Dificuldade de trabalhar em modelo participativo e a
necessidade de isolamento em fun
ç
ão da com
p
etitividade.
4 1,97% 14 14,29%
Média
----- 5,21% ----- 30,90%
Indicadores
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Gerentes com
Ausência de
Estresse/Leve a
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Em relação a este construto, observados os dados da tabela 24, os indicadores
expressam uma importância significativa para explicar a incidência de estresse
nos gerentes pesquisados. Os indicadores que se apresentam como mais
significativos, em ordem de importância, são:
o Conflitos por ter que, ao mesmo tempo, ser inovador e dotado de
autonomia e estar sujeito às normas da organização;
o Conflitos em função de sobrecarga de trabalho e a impossibilidade de
questionar a situação por ocupar função gerencial;
o Perceber os resultados dentro do esperado, não podendo manifestar essa
percepção para a organização, tendo que solicitar à equipe resultados
mais desafiadores; e
o Conviver com situações de tensão inerentes às relações humanas no
trabalho.
Em relação aos gerentes do grupo 1, esses mesmos indicadores estão presentes
de forma pouco significativa, com percentuais variando de 4,93% a 9,36%, o que
confirma essa capacidade de explicação.
5.2.2.4 Construto desmotivação
O fator 16 – Desmotivação –, construto de primeira ordem, é explicado pelos
indicadores desejo de trocar de emprego com freqüência; e desmotivação
importante com o trabalho.
Com base na tabela 25, é possível identificar a intensidade de cada indicador
relacionado a este construto, observados os grupos de gerentes diagnosticados
com ausência de estresse/estresse leve a moderado (grupo1) e estresse
intenso/muito intenso (grupo 2).
Tabela 25 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto
desmotivação
% %
PIII32- Desmotivação im
p
ortante com o trabalho.
3 1,48% 35 35,71%
PIII31- Dese
j
o de trocar de em
p
re
g
o com fre
q
üência.
4 1,97% 24 24,49%
Média
----- 1,72% ----- 30,10%
Indicadores
Gerentes com
Ausência de
Estresse/Leve a
Moderado
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Os indicadores expressos pela tabela 25 indicam boa capacidade para explicar o
estresse na amostra pesquisada. O indicador “desmotivação importante com o
trabalho” revela-se mais significativo e apresenta um percentual maior de
incidência (35,71%) se comparado com o indicador “desejo de trocar de emprego
com freqüência” (24,49). Em relação ao grupo 1, a incidência pode ser
considerada bastante reduzida, confirmando que os indicadores relativos a este
construto constituem-se em importantes prognosticadores de estresse no
trabalho em relação ao grupo pesquisado.
Em síntese, observa-se que em relação às fontes de tensão do indivíduo e do
papel gerencial (FTIPG) o construto de primeira ordem mais importante para
explicar o estresse entre os gerentes pesquisados é estilo e qualidade de vida.
Em relação a este construto, em média, 50% dos gerentes diagnosticados no
grupo 2 o consideraram como provocador de altos níveis de estresse no trabalho.
Em nível de importância mediana estão os construtos responsabilidades acima
dos limites (35,20%, em média), aspectos específicos do trabalho do gerente
(30,90%, em média), e desmotivação (30,10%, em média), na opinião dos gerentes.
5.3.3 Construto mecanismos de regulação
A figura 7 facilita a visualização e o conseqüente entendimento relativo ao
construto de segunda ordem mecanismos de regulação (MECREGUL), que é
explicado pelos construtos de segunda ordem interação e prazos; descanso
regular; experiência no trabalho e atividade física. Esses construtos de primeira
ordem são explicados pelos seus respectivos indicadores, apresentados na
seqüência.
Figura 7 – Explicação do construto mecanismos de regulação
Fonte: dados da pesquisa
5.3.3.1 Construto interação e prazos
O fator 12 – interação e prazos –, construto de primeira ordem, é explicado pelos
seguintes indicadores: possibilidade de atrasar cronogramas de trabalho;
possibilidade de questionar prazos e prioridades; canal aberto na empresa para
discutir situações de dificuldades e tensão; e periodicidade de cobranças.
A tabela 26 possibilita a identificação da intensidade de cada indicador
relacionado a este construto, observados os grupos de gerentes diagnosticados
com ausência de estresse/estresse leve a moderado (grupo 1) e estresse
intenso/muito intenso (grupo 2).
+
+
+
+
_
+
+
+
DESMOTIVAÇÃO
(
FATOR 16
)
MECANISMOS
DE REGULAÇÃO
(MECREGUL)
RELAÇÕES
NO TRABALHO
(
FATOR 2
)
INSEGURANÇA NA
RELAÇÃO DE
TRABALHO E
CONVIVÊNCIA COM
INDIVÍDUOS DE
PERSONALIDADE
DIFÍCIL
FONTES DE
TENSÃO DO
INDIVÍDUO E DO
PAPEL
GERENCIAL
(FTIPG)
EXPERIÊNCIA NO
TRABALHO
ATIVIDADE FÍSICA
(FATOR 14)
INTERAÇÃO E
PRAZOS
(FATOR 12)
SINTOMAS DE AUMENTO TÔNUS
TONTURA/ VERTIGEM
FALTA/ EXCESSO DE APETITE
RELAXAMENTO
(FATORES 8, 15)
SINTOMAS PSÍQUICOS
SNS
GÁSTRICOS
(FATOR 4)
SINTOMAS DE
HIPEREXCITABILIDADE
E SENSO DE HUMOR
(FATOR 5)
ASPECTOS
ESPECÍFICOS
DO TRABALHO DO
GERENTE
FATOR (6)
ESTILO E
QUALIDADE DE VIDA
(FATOR 7)
RESPONSABILIDADES
ACIMA DOS LIMITES
(FATOR 13)
OUTRAS
FONTES
DE TENSÃO
(
OFT
)
SINTOMAS
DE ESTRESSE
(SINTOMAS)
IMPACTOS NA
PRODUTIVIDADE
(IMPACTOS)
(FATOR 3)
FONTES DE
TENSÃO NO
TRABALHO
(FTT)
PROCESSOS DE
TRABALHO
(FATOR 1)
DESCANSO
REGULAR
(FATOR 11)
Tabela 26 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto interação e prazos
% %
PVI7A- Periodicidade de cobranças.
31 15,27% 57 58,16%
PVI2A- Possibilidade de atrasar crono
g
ramas de trabalho.
66 32,51% 37 37,76%
PVI6A- Canal aberto na empresa para discutir situações de
dificuldades e teno.
18 8,87% 30 30,61%
PVI3A- Possibilidade de
q
uestionar
p
razos e
p
rioridades.
15 7,39% 23 23,47%
Média
----- 16,01% ----- 37,50%
Indicadores
Gerentes com Ausência
de Estresse/Leve a
Moderado
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Observa-se, com base na tabela 26, que os indicadores que compõem o construto
interação e prazos apresentam grau de importância significativa para explicar os
níveis de estresse intenso/muito intenso em relação aos gerentes pesquisados. A
exceção se faz ao indicador “possibilidade de atrasar cronogramas de trabalho”,
que está presente de forma quase que equivalente nos dois grupos pesquisados
(32,51% no grupo 1 e 37,76% no grupo 2).
Os indicadores mais importantes nesse sentido são: “periodicidade de
cobranças” (58,16%) e “canal aberto na empresa para discutir situações de
dificuldades e tensão” (30,61%), este último pouco expressivo nas empresas
pesquisadas.
5.3.3.2 Construto descanso regular
O fator 11 – descanso regular –, construto de primeira ordem, é explicado por
dois indicadores: “não descansar de forma regular nos finais de semana”; e “não
gozar férias regulares”.
A tabela 27 mostra a intensidade de cada indicador relacionado a este construto,
observados os grupos de gerentes diagnosticados com ausência de
estresse/estresse leve a moderado (grupo 1) e estresse intenso/muito intenso
(grupo 2).
Tabela 27 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto
descanso regular
% %
PVI4A- Não
g
ozar férias re
g
ulares.
14 6,90% 14 14,29%
PVI5A- Não descansar de forma re
g
ular nos finais de semana.
6 2,96% 7 7,14%
Média
----- 4,93% ----- 10,71%
Indicadores
Gerentes com Ausência
de Estresse/Leve a
Moderado
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Com base nos dados da tabela 27, verifica-se que os níveis de incidência dos
indicadores nos dois grupos ocorrem de forma baixa a moderada, o que permite
inferir que a capacidade de explicar a incidência de estresse nos grupos
pesquisados por meio deste construto é reduzida.
5.3.3.3 Construto experiência no trabalho e atividade física
O fator 14 – experiência no trabalho e atividade física –, construto de primeira
ordem, é explicado pelos indicadores “experiência pessoal na solução de
dificuldades em relação ao trabalho”; e “não praticar atividades físicas
regulares”.
A tabela 28 mostra a intensidade de cada indicador relacionado a este construto,
observados os grupos de gerentes diagnosticados com ausência de
estresse/estresse leve a moderado (grupo 1) e estresse intenso/muito intenso
(grupo 2).
Tabela 28 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto experiência no trabalho e atividade física
PII9A- Não
p
raticar atividade física re
g
ular.
77 37,93% 70 71,43%
PVI1A- Experiência pessoal na solução de dificuldades em relação
ao trabalho.
1 0,49% 11 11,22%
Média
----- 19,21% ----- 41,33%
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Este construto apresenta condição mediana de explicar a ocorrência de estresse
nos gerentes pesquisados. Observa-se que em relação ao indicador “não praticar
atividade física regular” a sua incidência é significativa no grupo 2 (estresse
intenso/muito intenso), porém ocorre de forma importante em relação ao grupo 1
(ausência/estresse leve a moderado).
Em relação ao indicador “experiência pessoal na solução de dificuldades em
relação ao trabalho”, o poder explicativo é baixo, tendo em vista os percentuais
apresentados: 11,22% no grupo 2 e 0,49% no grupo 1.
Os mecanismos de regulação são importantes para reduzir os sintomas de
estresse. Este construto apresenta uma relação inversa, ou seja, quanto mais são
ativados os mecanismos expressos por meio dos construtos de primeira ordem
interação e prazos, descanso regular e experiência no trabalho, e atividade física,
menor é a intensidade de sintomas de estresse a se manifestarem.
Em relação a esses três construtos de primeira ordem analisados, o que se
mostrou mais importante para explicar o estresse nos gerentes pesquisados foi
“interação e prazos”, com poder de explicação em grau médio para alto.
5.3.4 Construto outras fontes de tensão
A figura 8 facilita a visualização e o conseqüente entendimento relativo ao
construto de primeira ordem outras fontes de tensão (OFT), que é explicado pelos
seus respectivos indicadores, apresentados na seqüência.
+
+
+
_
+
+
+
MECANISMOS
DE REGULAÇÃO
(MECREGUL)
RELAÇÕES
NO TRABALHO
(
FATOR 2
)
INSEGURANÇA NA
RELAÇÃO DE
TRABALHO E
CONVIVÊNCIA COM
INDIVÍDUOS DE
PERSONALIDADE
DIFÍCIL
EXPERIÊNCIA NO
TRABALHO
ATIVIDADE FÍSICA
(FATOR 14)
INTERAÇÃO E
PRAZOS
(FATOR 12)
SINTOMAS DE
HIPEREXCITABILIDADE
ESTILO E
RESPONSABILIDADES
ACIMA DOS LIMITES
(FATOR 13)
SINTOMAS
DE ESTRESSE
(SINTOMAS)
IMPACTOS NA
PRODUTIVIDADE
(IMPACTOS)
(FATOR 3)
FONTES DE
TENSÃO NO
TRABALHO
(FTT)
PROCESSOS DE
TRABALHO
(FATOR 1)
DESCANSO
REGULAR
(FATOR 11)
Figura 8 – Explicação do construto outras fontes de tensão
Fonte: dados da pesquisa
Este construto de primeira ordem outras fontes de tensão (OFT) é explicado pelos
seguintes indicadores: fatores de natureza familiar (conflito com cônjuge, nas
relações com ex-cônjuge, filhos, familiares em geral, questões relacionadas a
herança, pensão alimentícia e outros de mesma natureza); fatores de natureza
social (viver na cidade grande com todas a suas conseqüências, violência, coisas
que não funcionam como deveriam, relacionamentos sociais e outros nessa
esfera); e questões próprias (características pessoais, de formação, rigor
excessivo, conflitos consigo mesmo, entre outros de mesma natureza).
A tabela 29 mostra a intensidade de cada indicador que compõe este construto
em relação aos grupos de gerentes diagnosticados com ausência de
estresse/estresse leve a moderado (grupo1) e estresse intenso/muito intenso
(grupo 2).
Tabela 29 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto
outras fontes de tensão
% %
PVII3- Questões de natureza própria (características pessoais, de
formação, rigor excessivo, conflitos consigo mesmo, entre outros
de mesma natureza
)
.
9 4,43% 36 36,73%
PVII2- Fatores de natureza social.
26 12,81% 29 29,59%
PVII1- Fatores de natureza familiar.
8 3,94% 23 23,47%
Média
----- 7,06% ----- 29,93%
Indicadores
Gerentes com Ausência
de Estresse/Leve a
Moderado
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Tendo em vista a literatura estudada sobre estresse, Levi (2003, 2005), Sauter
(2005), Cooper et al. (1998, 2000, 2002), Karasek (2000, 1998) Moraes (1990, 1992,
1995, 1998, 2000, 2002, 2003), Albrecht (1990), Goldberg (1986), Couto (1987) e
Selye (1936, 1956, 1974), a sua manifestação está relacionada ao desequilíbrio
acentuado entre os níveis de tensão que o indivíduo recebe do meio (diversos
ambientes) e à sua capacidade de psíquica de suportá-los.
Apesar de este estudo centrar-se no estresse ocupacional, outros ambientes,
como os relacionados ao construto em referência também foram pesquisados,
com o objetivo de verificar a importância dessas outras fontes de tensão nas
manifestações de quadros de estresse. A importância dos níveis de pressão
advindos desses ambientes está sendo analisado neste item.
Excetuando os níveis de tensão advindos do ambiente de trabalho, verifica-se,
com base nos dados da tabela 29, que as questões de natureza própria são as
que mais pressionam os gerentes do grupo 2, apontadas por 36,73% dos
participantes deste grupo. Com percentual bastante próximo estão as “fontes de
pressão de natureza social” (29,59%) e, de forma menos intensa, mas ainda com
certo grau de importância, as de “natureza familiar”, presentes em 23,47% dos
gerentes com grau de estresse intenso/muito intenso.
Por outro lado, verifica-se a importância do equilíbrio em relação a esses
ambientes, identificado no grupo 1 (ausência/estresse leve a moderado), no qual
os níveis de pressão nessas áreas aparecem de forma moderada, variando de
3,94% a 12,81%, este último percentual em relação aos fatores de natureza social,
como “viver numa cidade grande com todas a suas conseqüências”, “violência”,
“coisas que não funcionam como deveriam” e “relacionamentos sociais”, entre
outros de mesma natureza.
Dessa forma, o construto outras fontes de pressão, de forma moderada, explica a
incidência de estresse na amostra pesquisada, reforçando assim que os maiores
níveis de pressão são advindos do ambiente de trabalho, que é o foco central
desta pesquisa.
5.3.5 – Construto sintomas de estresse
A figura 9 facilita a visualização e o conseqüente entendimento relativo ao
construto de segunda ordem sintomas de estresse (SINTOMAS). Como pode ser
observado na figura 9, é explicado por três construtos de primeira ordem:
sintomas de hiperexitabilidade e alterações do senso de humor; sintomas
psíquicos, decorrentes do sistema nervoso simpático (SNS) e gástricos; e
sintomas relacionados ao aumento do tônus muscular, tontura/vertigem, falta ou
excesso de apetite e relaxamento.
Estes construtos de primeira ordem são explicados pelos seus respectivos
indicadores, que são apresentados na seqüência.
+
_
+
MECANISMOS
DE REGULAÇÃO
(MECREGUL)
RELAÇÕES
NO TRABALHO
(
FATOR 2
)
INSEGURANÇA NA
RELAÇÃO DE
TRABALHO E
CONVIVÊNCIA COM
INDIVÍDUOS DE
EXPERIÊNCIA NO
TRABALHO
ATIVIDADE FÍSICA
(FATOR 14)
INTERAÇÃO E
PRAZOS
(FATOR 12)
FONTES DE
TENSÃO NO
TRABALHO
(FTT)
PROCESSOS DE
TRABALHO
(FATOR 1)
DESCANSO
REGULAR
(FATOR 11)
Figura 9 – Explicação do construto sintomas de estresse
Fonte: dados da pesquisa
5.3.5.1 Construto sintomas de hiperexitabilidade e alterações do senso de humor
O fator 5 – sintomas de hiperexitabilidade e alterações do senso de humor –,
construto de primeira ordem, é explicado pelos seguintes indicadores:
nervosismo, ímpetos de raiva, irritabilidade fácil (irritação sem motivos aparentes)
e perda e/ou oscilação do senso de humor.
A tabela 30 mostra a intensidade de cada indicador relacionado a este construto,
observados os grupos de gerentes diagnosticados com ausência de
estresse/estresse leve a moderado (grupo1I) e estresse intenso/muito intenso
(grupo 2).
Tabela 30 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto
hiperexitabilidade e senso de humor
% %
PIII1- Nervosismo.
7 3,45% 72 73,47%
PIII7- Irritabilidade fácil (irritação sem motivos aparentes).
1 0,49% 47 47,96%
PIII18- Perda e/ou oscilação do senso de humor.
1 0,49% 44 44,90%
PIII4- Ím
p
etos de raiva.
1 0,49% 29 29,59%
Média
----- 1,23% ----- 48,98%
Indicadores
Gerentes com Ausência
de Estresse/Leve a
Moderado
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Os dados constantes da tabela 30 mostram que os sintomas de hiperexitabilidade
e senso de humor estão presentes de forma importante no grupo 2 e de forma
reduzida no grupo 1. Portanto, este construto apresenta grande capacidade de
explicação do estresse na amostra pesquisada. O indicador mais representativo
neste grupo, com 73,47% de incidência, é “nervosismo”.
5.3.5.2 Construto sintomas psíquicos, sintomas decorrentes do sistema nervoso
simpático e sintomas gástricos
O fator 4 – sintomas psíquicos, sintomas decorrentes do sistema nervoso
simpático (SNS) e sintomas gástricos –, construto de primeira ordem, é explicado
pelos seguintes indicadores: ansiedade (incerteza aflitiva, hiato entre o agora e o
futuro, associado a medo/apreensão); angústia (aflição, agonia, relacionado à
sensação de impotência diante de problemas que afligem o indivíduo); períodos
de depressão (tristeza, apatia, isolamento, falta de energia); nó na garganta
(sensação de sufocamento); pânico (sensação de estar fora de si e/ou do mundo,
medo de perder o controle da situação, podendo acarretar os seguintes sintomas:
queda de energia, sensação de falta de ar e de sufocamento, palpitação, dor no
peito, náusea, tontura/sensação de desmaio, boca seca, formigamento nos dedos,
ondas de frio/calor, sentimento de culpa por estar vivendo essa situação); dor
discreta no peito, sob tensão; palpitações (sentir o coração bater forte em alguns
momentos); e indisposição gástrica e/ou dor no estomago que se acentuam
diante de exigências emocionais.
A tabela 31 mostra a intensidade de cada indicador relacionado a este construto,
observados nos grupos de gerentes diagnosticados com ausência de
estresse/estresse leve a moderado (grupo 1) e estresse intenso/muito intenso
(grupo 2).
Tabela 31 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto sintomas psíquicos, sintomas decorrentes do sistema nervoso simpático
e sintomas gástricos
%
%
PIII2- Ansiedade (incerteza aflitiva, hiato entre o agora e o futuro,
associado a medo/a
p
reensão
)
.
17 8,37% 72 73,47%
PIII5- Angústia (aflição, agonia, relacionado à sensação de
im
p
otência diante de
p
roblemas
q
ue afli
g
em o indivíduo
)
.
2 0,99% 47 47,96%
PIII14- Indisposiçãostrica e/ou dor no estomago que se
acentuam diante de exi
g
ências emocionais.
4 1,97% 25 25,51%
PIII8- Períodos de depressão (tristeza, apatia, isolamento, falta de
ener
g
ia
)
.
0 0,00% 23 23,47%
PIII13- Palpitação (sentir o coração bater forte em alguns
momentos
)
.
0 0,00% 14 14,29%
PIII15- Nó na
g
ar
g
anta
(
sensação de sufocamento
)
.
0 0,00% 9 9,18%
PIII12- Dor discreta no
p
eito sob teno.
0 0,00% 9 9,18%
PIII25- Pânico (sensação de estar fora de si e/ou do mundo, medo
de perder o controle da situação, podendo acarretar: queda de
energia, sensação de falta de ar e de sufocamento, palpitação, dor
no peito, náusea, tontura/sensação de desmaio, boca seca,
formigamento nos dedos, ondas de frio/calor, sentimento de culpa
por estar vivendo essa situação).
0 0,00% 7 7,14%
Média
----- 1,42% ----- 26,28%
Indicadores
Gerentes com Ausência
de Estresse/Leve a
Moderado
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Em relação a este construto, o sintoma que evidencia como mais importante nos quadros de
estresse/intenso e muito intenso é ansiedade, seguida de angústia. Em menor intensidade,
verifica-se indisposição gástrica e/ou dor no estômago, que se acentua diante de exigências
emocionais, bem como nos períodos de depressão.
Observa-se em relação ao grupo 1 que cinco dos sintomas que compõem este construto não
apresentam manifestação (períodos de depressão, palpitação, nó na garganta/sensação de
sufocamento, dor discreta no peito sob tensão, e pânico). As demais são: angustia (0,99%),
indisposição gástrica (bastante baixas) e ansiedade (8,37%). Dessa forma, o construto em
referência mostra-se como muito importante para a explicação do estresse nos gerentes
pesquisados.
5.3.5.3 Construto sintomas relacionado ao aumento do tônus muscular,
tontura/vertigem, falta ou excesso de apetite e relaxamento
Os fatores 8 e 15 – sintomas relacionado ao aumento do tônus muscular,
tontura/vertigem, falta ou excesso de apetite e relaxamento –, construto de
primeira ordem, é explicado pelos seguintes indicadores: fadiga (baixo nível de
energia vital, sentir o corpo um “bagaço”, sentir-se cansado precocemente ao
longo do dia, sonolência); dor de cabeça por tensão; insônia (dificuldade para
conseguir dormir, sono entrecortado, acordar durante a noite e ter dificuldades
para dormir novamente); dor nos músculos do pescoço e ombros por tensão;
tontura/vertigem (sensação de ver os objetos girarem em torno de si); falta ou
excesso de apetite; uso de cigarro para aliviar a tensão; e uso de bebida alcoólica
para aliviar a tensão.
A tabela 32 mostra a intensidade de cada indicador que compõe este construto
em relação aos grupos de gerentes diagnosticados com ausência de
estresse/estresse leve a moderado (grupo 1) e estresse intenso/muito intenso
(grupo 2).
Tabela 32 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto
sintomas de aumento do tônus, tontura/vertigem, falta/excesso de apetite e
relaxamento
% %
PIII6- Fadiga (baixo nível de energia vital, sentir o corpo um
“bagaço”, sentir-se cansado precocemente ao longo do dia,
sononcia
)
.
3 1,48% 60 61,22%
PIII11- Dor nos músculos do
p
escoço e ombros
p
or teno.
7 3,45% 59 60,20%
PIII10- Insônia (dificuldade para conseguir dormir, sono
entrecortado, acordar durante a noite e ter dificuldades para
dormir novamente
)
.
6 2,96% 46 46,94%
PIII17- Falta ou excesso de a
p
etite.
4 1,97% 35 35,71%
PIII9- Dor de cabeça
p
or teno.
1 0,49% 31 31,63%
PIII21- Uso de ci
g
arro
p
ara aliviar a tensão.
1 0,49% 22 22,45%
PIII22- Uso de bebida alcoólica
p
ara aliviar a tensão.
0 0,00% 11 11,22%
PIII16- Tontura/vertigem (sensação de ver os objetos girarem em
torno de si
)
.
00,00%77,14%
Média
----- 1,35% ----- 34,57%
Indicadores
Gerentes com Ausência
de Estresse/Leve a
Moderado
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Os sintomas que ocorrem com mais freqüência e intensidade no grupo 2, em
ordem de importância, são os seguintes: fadiga; dor nos músculos do pescoço e
ombros por tensão; insônia; falta ou excesso de apetite; e dor de cabeça por
tensão.
Em relação ao grupo 1, as incidências não são manifestadas para os indicadores
“tontura/vertigem” e “uso de bebida alcoólica para aliviar a tensão”. Quando
ocorrem, os percentuais são bastante baixos, variando de 0,49% a 3,4%.
Portanto, os dados constantes desta tabela indicam que quase a totalidade
desses sintomas é importante para explicar a ocorrência de estresse.
Em síntese, com relação aos sintomas de estresse (SINTOMAS), o construto de
primeira ordem que se revelou mais importante foi sintomas de hiperexitabilidade
e senso de humor, seguido dos sintomas de aumento do tônus, tontura/vertigem,
falta/excesso de apetite e relaxamento. É importante salientar que o construto de
segunda ordem sintomas de estresse revelou-se muito importantes para o
diagnóstico do estresse ocupacional nos gerentes da amostra pesquisada.
5.3.6 Construto impactos na produtividade
A figura 10 facilitar a visualização e o conseqüente entendimento relativo ao
construto de primeira ordem impactos na produtividade. Este construto é
explicado pelos seus respectivos indicadores, que são apresentados na
seqüência.
A Figura 10 tem como objetivo facilitar a visualização e o conseqüente
entendimento relativo ao construto de primeira ordem, Impactos na
Produtividade. Esse construto é explicado pelos seus respectivos indicadores,
que são apresentados após a apresentação da Figura em referência.
Figura 10 - Explicação do construto impactos na produtividade (IMPACTOS)
Figura 10 – Explicação do construto impactos na produtividade
+
+
+
+
_
+
+
+
DESMOTIVAÇÃO
(
FATOR 16
)
MECANISMOS
DE REGULAÇÃO
(MECREGUL)
RELAÇÕES
NO TRABALHO
(
FATOR 2
)
INSEGURANÇA NA
RELAÇÃO DE
TRABALHO E
CONVIVÊNCIA COM
INDIVÍDUOS DE
PERSONALIDADE
DIFÍCIL
FONTES DE
TENSÃO DO
INDIVÍDUO E DO
PAPEL
GERENCIAL
(FTIPG)
EXPERIÊNCIA NO
TRABALHO
ATIVIDADE FÍSICA
(FATOR 14)
INTERAÇÃO E
PRAZOS
(FATOR 12)
SINTOMAS DE AUMENTO TÔNUS
TONTURA/ VERTIGEM
FALTA/ EXCESSO DE APETITE
SINTOMAS PSÍQUICOS
SNS
GÁSTRICOS
(FATOR 4)
SINTOMAS DE
HIPEREXCITABILIDADE
E SENSO DE HUMOR
(FATOR 5)
ASPECTOS
ESPECÍFICOS
DO TRABALHO DO
GERENTE
FATOR (6)
ESTILO E
QUALIDADE DE VIDA
(FATOR 7)
RESPONSABILIDADES
ACIMA DOS LIMITES
(FATOR 13)
OUTRAS
FONTES
DE TENSÃO
(
OFT
)
SINTOMAS
DE ESTRESSE
(SINTOMAS)
IMPACTOS NA
PRODUTIVIDADE
(IMPACTOS)
(FATOR 3)
FONTES DE
TENSÃO NO
TRABALHO
(FTT)
PROCESSOS DE
TRABALHO
(FATOR 1)
DESCANSO
REGULAR
(FATOR 11)
Fonte: dados da pesquisa
Este construto de primeira ordem – impactos na produtividade (IMPACTOS) – é
explicado pelos seguintes indicadores: redução da eficiência no trabalho;
dificuldades em lembrar fatos recentes relacionados ao trabalho que
anteriormente eram lembrados com naturalidade; dificuldades em relação à
tomada de decisões; fuga em relação às responsabilidades do trabalho; perda do
controle em relação aos eventos da vida (trabalho, família, contexto social, entre
outros); desgaste nos relacionamentos interpessoais no trabalho e fora dele; e
dificuldade de concentração no trabalho.
A tabela 33 mostra a intensidade de cada indicador que compõe este construto
em relação aos grupos de gerentes diagnosticados com ausência de
estresse/estresse leve a moderado (grupo 1) e estresse intenso/muito intenso
(grupo 2).
Tabela 33 – Explicação da intensidade dos níveis de estresse dos gerentes pesquisados em relação ao
construto
impactos na produtividade
% %
PIII28- Dificuldades em lembrar fatos recentes relacionados ao
trabalho, que anteriormente eram lembrados com naturalidade.
2 0,99% 25 25,51%
PIII35- Dificuldade de concentração no trabalho.
1 0,49% 19 19,39%
PIII34- Desgaste nos relacionamentos interpessoais no trabalho e
fora dele.
1 0,49% 19 19,39%
PIII33- Perda do controle em relação aos eventos da vida
(
trabalho
,
família e contexto social
,
entre outros
)
.
0 0,00% 18 18,37%
PIII27- Redução da eficiência no trabalho.
0 0,00% 13 13,27%
PIII29- Dificuldades em relação à tomada de decisões.
0 0,00% 8 8,16%
PIII30- Fu
g
a das res
p
onsabilidades do trabalho.
10,49%88,16%
Média
----- 0,35% ----- 16,03%
Indicadores
Gerentes com Ausência
de Estresse/Leve a
Moderado
Gerentes com Estresse
Intenso/Muito Intenso
Fonte: dados da pesquisa
Legenda:
a) A codificação dos indicadores refere-se aos códigos constantes na tabela 16 – Matriz rotacionada de componentes –
final.
b) Gerentes diagnosticados com ausência de estresse/leve a moderado (203).
c) Gerentes diagnosticados com estresse intenso/muito intenso (98).
Os dados constantes da tabela 33 mostram que no grupo de gerentes com
ausência/estresse leve a moderado nenhum dos sete indicadores relativos a este
construto constitui fonte de tensão importante e, conseqüentemente,
manifestação de estresse (variação de 0,00% a 0,99).
Com relação ao grupo de gerentes com estresse intenso/muito intenso, os
indicadores com maior freqüência são os seguintes, por ordem de importância:
“dificuldades em lembrar fatos recentes relacionados ao trabalho que
anteriormente eram lembrados com naturalidade”; “dificuldade de concentração
no trabalho e desgaste nos relacionamentos interpessoais no trabalho e fora
dele” (mesmo nível de importância); “perda do controle em relação aos eventos
da vida (trabalho, família, contexto social, entre outros)”; e “redução na eficiência
no trabalho”.
Com base nesses dados, pode-se afirmar que o construto em referência explica
de forma moderada os impactos do estresse intenso/muito intenso na situação de
trabalho dos gerentes pesquisados.
A seguir, com base no modelo teórico constante da figura 10, serão analisadas e
verificadas as hipóteses estabelecidas para este estudo.
5.4 Análise e verificação das hipóteses
Tendo em vistas os testes a que foram submetidos os dados coletados dos
sujeitos da pesquisa – gerentes dos três níveis hierárquicos – no exercício de
suas atividades em quinze
10
empresas sediadas no Brasil que atuam nos diversos
segmentos da economia nacional, comprovou-se a ausência de normalidade ou
assimetria de distribuição. Dessa forma, conforme indicado no Capítulo 4, optou-
se por utilizar o método PLS para a análise dos dados, tendo em vista ser o mais
adequado para estimar os parâmetros em amostras consideradas não-
paramétricas, conforme define e recomenda (CHIN, 1997).
Para a avaliação das significâncias dos parâmetros estimados pelo PLS, utilizou-
se o teste JackKnifing (não-paramétrico), conforme consta da tabela 34, com
nível de significância igual a 5%.
Tabela 34- Coeficientes de caminho
10
Uma empresa foi dividida em duas, tendo em vista interesse da pesquisa.
Média
Desvio-
p
adrão
Limite
inferior
Limite
su
p
erior
FTT ->
FTIPG
0,8 0,6 0,001 0,6 0,6
FTT ->
MECREGUL
-0,1 ** -0,1 0,002 -0,1 -0,1
FTIPG ->
FTT
0,8 ** 0,8 0,001 0,8 0,8
FTIPG ->
SINTOMAS
0,6 ** 0,6 0,001 0,6 0,6
FTIPG->
MECREGUL
-0,2 -0,3 0,002 -0,3 -0,3
OFT ->
MECREGUL
0,0 ** 0,0 0,002 0,0 0,0
SINTOMAS ->
IMPACTOS
0,6 ** 0,6 0,001 0,6 0,6
MECREGUL ->
SINTOMAS
-0,1 ** -0,1 0,001 -0,1 -0,1
* Teste bicaudal
** Significante a 5%
Constructos
Coeficiente de caminho
Intervalo de confiança a
5%*
Estimado pelo
PLS
Estimado por
Jackknifing
Fonte: dados da pesquisa
Legenda: FTT- fontes de tensão no trabalho; FTIPG- fontes de tensão do indivíduo e da função
gerencial; OFT- outras fontes de tensão; SINTOMAS- sintomas de estresse; MECREGUL-
mecanismos de regulação; IMPACTOS- impactos na produtividade.
As hipóteses definidas para o presente estudo foram analisadas tendo como
referência a fundamentação teórica que suporta o Modelo teórico proposto para
explicar o estresse ocupacional em gerentes: Cooper et al. (1988, 2000), Karasek
(1996, 1998, 2000), Moraes et al. (1990, 1992, 1995, 1998, 2000, 2002, 2003) e Couto
(1987), utilizando-se para tal o teste Jackknifing para coeficientes de caminho. Os
resultados desta análise são apresentados a seguir.
Ho,1- Existe relação direta entre as fontes de tensão do trabalho e as fontes de tensão do
indivíduo.
Como pode ser observado na tabela 34 e no Modelo hipotético de referência da
pesquisa (figura 4), esta hipótese foi rejeitada. De acordo com Jackknifing para
coeficientes de caminho, o PLS e o parâmetro Jackknifing foram estimados em
0,8, ficando, portanto, fora do limite esperado (0,6), considerando o intervalo de
confiança de 5%.
Ho,2- Existe relação direta ente as fontes de tensão do trabalho e os mecanismos de regulação.
Com base na tabela 34 e no Modelo hipotético de referência da pesquisa (figura
4), esta hipótese não foi rejeitada. Os coeficientes de caminho expressos pelo
PLS e a média Jackknifing foram estimadas em –0,1, apresentando-se dentro do
limite esperado, considerando o intervalo de confiança de 5%. O sinal negativo
significa que quanto maiores as fontes de tensão no trabalho, maior a busca
pelos mecanismos de regulação, considerando a carga negativa dos fatores para
o construto Mecanismos de Regulação (MECREGUL).
Ho,3- Existe relação direta entre as fontes de tensão do indivíduo e do papel gerencial em relação
às fontes de tensão do trabalho.
Como pode ser observado na tabela 34 e no Modelo hipotético de referência da
pesquisa, (figura 4), esta hipótese não foi rejeitada. De acordo com Jackknifing,
para coeficientes de caminho o PLS e o parâmetro Jackknifing foram estimados
em 0,8, ficando, portanto, dentro do limite esperado, considerando o intervalo de
confiança de 5%.
Ho,4- Existe relação direta entre as fontes de tensão do indivíduo e do papel gerencial com os
mecanismos de regulação.
Ainda tendo como referência a tabela 34 e o Modelo hipotético de referência da
pesquisa, (figura 4), essa hipótese foi rejeitada. Os coeficientes de caminho
expressos pelo PLS e a média Jackknifing foram estimadas em -0,2, não ficando,
portanto, dentro do limite esperado, que neste caso específico foi de –0,3 (inferior
e superior).
Ho,5- Existe relação direta entre as fontes de tensão do indivíduo e do papel gerencial e os
sintomas de estresse.
Observada a tabela 34 e o Modelo hipotético de referência da pesquisa, (figura 4),
esta hipótese não foi rejeitada. Os coeficientes de caminho expressos pelo PLS e
o parâmetro Jackknifing foram estimados em 0,6, apresentando-se, portanto,
dentro do limite esperado, considerando o intervalo de confiança de 5%.
Ho,6- Existe relação direta entre outras fontes de tensão que não as do ambiente de trabalho e os
mecanismos de regulação.
Tendo como referência a tabela 34 e O Modelo hipotético de referência da
pesquisa (figura 4), esta hipótese foi rejeitada. Os coeficientes de caminho
expressos pelo PLS e o parâmetro Jackknifing foram estimados em 0,0, o que
significa não identificação de relação para a mostra pesquisada.
Ho,7- Existe relação inversa entre os mecanismos de regulação e os sintomas de estresse.
Com base nos dados da tabela 34 e no Modelo hipotético de referência da
pesquisa (figura 4), a hipótese não foi rejeitada. Os coeficientes de caminho
expressos pelo PLS e o parâmetro Jackknifing foram estimados em -0,1. O sinal
negativo nessa relação indica que a adoção de mecanismos de regulação leva a
uma menor incidência de sintomas de estresse no trabalho; ou seja, quando os
mecanismos são mais ativados, os sintomas diminuem.
Ho,8- Existe relação direta entre os sintomas de estresse e os impactos na produtividade.
A hipótese não foi rejeitada, tendo como referência os dados da tabela 34 e do
Modelo hipotético de referência da pesquisa (figura 4). Os coeficientes de
caminho expressos pelo PLS e a média Jackknifing foram de 0,6, ficando,
portanto, dentro do limite esperado, considerando o intervalo de confiança de 5%.
Com relação às hipóteses Ho1, Ho,4 e Ho,6, presume-se a necessidade de
aprofundar os estudos, buscando-se melhor compreender esses relações.
Recomendações nesse sentido foram apresentadas no capítulo final deste
trabalho.
5.5- Proposta de Modelo teórico para explicar o estresse ocupacional em gerentes
Tendo como referência o estudo realizado, propõe-se o modelo teórico para
explicar o estresse ocupacional em gerentes (MTEG), que pode ser visualizado
graficamente na figura 11.
Com base na visão dos gerentes pesquisados, o modelo, que foi centrado na
realidade brasileira, constitui-se em mais uma importante contribuição para a
academia e organizações, no sentido de possibilitar o aprofundamento dos
estudos relacionados ao estresse ocupacional, considerado um tema relevante
em nível mundial. De acordo com Levi (2003, 2005), Sauter (2005) e Quick (2005), o
estresse ocupacional é uma das principais preocupações de vários países do
mundo. Essa preocupação é reforçada pela Organização Mundial da Saúde e pela
Organização Internacional do Trabalho, que consideram o estresse como uma
epidemia global.
Ainda segundo esses autores, principalmente os Estados Unidos e os países
integrantes da União Européia vêm despendendo grande volume de recursos
orçamentários com o pagamento de auxílios e indenizações/seguros relativos a
afastamentos de trabalhadores por problemas de saúde mental em decorrência
de fatores de ordem ocupacional, sendo que grande parte das causas dos
adoecimentos está relacionada ao elevado nível de estresse no trabalho (LEVI,
2005; SAUTER, 2005).
O diagnóstico de estresse ocupacional realizado nessas 15 organizações
brasileiras, representativas dos vários segmentos da economia nacional, com
ocupantes da função gerencial nos seus diversos níveis hierárquicos, revela
dados preocupantes com relação ao nível de estresse desses trabalhadores. Dos
550 gerentes pesquisados, 63%, ou 345, foram diagnosticados como estressados,
sendo que 18%, ou 98, estão com esse quadro bastante agravado, não reunindo,
portanto, as condições de saúde psíquicas e orgânicas necessárias à execução
das suas atividades normais de trabalho.
O resultado obtido está bastante próximo da pesquisa realizada pela ISMA–Brasil
em 2004, com trabalhadores brasileiros que atuavam em diversas ocupações, a
qual revelou que 70% dos pesquisados apresentavam quadro de estresse.
Moraes et al. (1998, 2000), em pesquisas realizadas com aeronautas
(comandantes, co-pilotos e pessoal de bordo) e integrantes da Corporação da
Policia Militar de Minas Gerais, também identificaram índices significativos de
estresse. Com relação aos resultados da pesquisa relacionada à Policia Militar, os
dados anteciparam as conclusões da pesquisa da ISMA– Brasil, que colocou os
trabalhadores com atuação na área de segurança como a categoria mais
estressada, seguida dos controladores de vôo e em terceiro lugar os gerentes.
Em relação a essa última categoria, o trabalho em questão vem confirmar.
Também como uma referência importante da realidade brasileira, Couto (1987)
realizou pesquisa com amostra de 552 altos executivos que revelou, já naquela
década, que 68% estavam estressados. Observa-se que os dados apresentam
coerência e revelam uma situação preocupante, tanto no caso da realidade
brasileira como nos demais paises mundo, que necessita de atenção especial de
pesquisadores, agentes de saúde, gestores e organizações, no sentido de
implementar medidas preventivas nessa área. Este trabalho tem como objetivo
contribuir nessa direção.
A seguir, com base no estudo realizado, apresenta-se Modelo teórico proposto
para explicar o estresse ocupacional em gerentes.
+
(-0,1)
MECANISMOS
DE REGULAÇÃO
(MECREGUL)
INTERAÇÃO E
PRAZOS
(FATOR 12)
FONTES DE
TENSÃO NO
TRABALHO
PROCESSOS DE
TRABALHO
(FATOR 1)
DESCANSO
Figura 11 – Modelo teórico proposto para explicar o estresse ocupacional em
gerentes
Fonte: dados da pesquisa
Na seqüência, apresenta-se e analisa-se, por meio de diversos cortes, o
diagnóstico da amostra pesquisada referente ao estresse ocupacional, já tendo
como referência o Modelo teórico proposto para explicar o estresse ocupacional
em gerentes.
5.6 Apresentação do diagnóstico do estresse ocupacional com base no modelo teórico
proposto
Este item tem como objetivo apresentar o diagnóstico de estresse ocupacional
realizado com a amostra pesquisada, que constituiu de 550 indivíduos ocupantes
da função gerencial, níveis de alta gerência, gerência intermediária e supervisão
operacional.
Foram 15 empresas pesquisadas com sede no Brasil que atuam nos seguintes
segmentos da economia nacional: serviços bancários, indústria metalúrgica,
indústria química, call center, celulose e papel, informática e telecomunicações
(telefonia móvel).
Optou-se por pesquisar gerentes com atuação nesses segmentos tendo em vista
que as empresas com atuação nesses mercados, nos últimos anos, vêm
passando por intensos processos de reestruturação em termos de gestão, como
também no que se refere aos processos de atualização tecnológica, o que,
conseqüentemente, está relacionado a uma intensa reestruturação dos processos
-
produtivos e de gestão. Outro aspecto que influenciou a decisão foi a
oportunidade de acesso a essas empresas.
Essas mudanças estão relacionadas ao acirramento da competitividade,
principalmente em função da abertura de mercado, em termos mundiais, que se
verifica na economia já há alguns anos. Como o estresse está relacionado ao
desequilíbrio da relação entre as demandas psíquicas do ambiente e a estrutura
psíquica dos indivíduos capazes de suportá-las, como afirmam Cooper et al.
(1988, 2000), Moraes et al. (1990, 1992, 1995, 1998, 2000, 2002, 2003) e Couto
(1987), o ocupante da função gerencial pode ser considerado um ator de destaque
nesse quadro. O gerente, tendo em vista a natureza do trabalho que executa,
sofre tensões significativas de diversos contextos, sobretudo as de natureza
organizacional, nos seus diversos planos (KATZ & KHAN, 1976; GOLDBERG,
1986; KWASNICKA, 1995; MELO, 1999; SROUR, 1998; PUTNAM, 2000; TENÓRIO,
2000; e SENNETT, 2001).
Em análise mais pontual e aprofundada das diversas situações de trabalho nas
quais estão envolvidos os gerentes, Melo (1999) aponta duas lógicas presentes
nesse contexto: a lógica da organização e a lógica da inovação, que, na sua forma
de ver, são contraditórias, mas que, em última análise, são complementares. A
estratégia da inovação busca o aproveitamento dos recursos disponíveis na
organização, utilizando-se das incertezas do processo de trabalho para rever
lógicas sedimentadas ao longo de diversos processos, impulsionando a sua
desorganização e as conseqüentes mudanças. Já a estratégia da organização
tende, sobretudo, a atender aos objetivos planejados, decompondo os processos
de trabalho, de forma a reduzir as incertezas do ambiente. Assim, “um modelo
organizacional é, então, um construto social inacabado, no qual os
atores/profissionais de inovação se opõem aos atores/profissionais das regras. E,
em muitos casos, os mesmos atores/profissionais devem jogar nesses dois
campos” (p. 1337). Dessa forma, segundo a autora, o que deve ser gerenciado
não é somente o modelo mais adequando, mas, especialmente, os atores desse
modelo. Assim, no palco das organizações estão presentes os atores gerentes e
os processos, destacando-se os gerentes que são os atores do modelo e
administradores dos atores, afirma a autora.
Diante desse contexto, observa-se que as demandas gerenciais são de naturezas
diversas, mas o nível de pressão acentuado está presente de forma importante
em todas elas. Esse foi um dos determinantes que influenciou a decisão de
centrar este estudo nesses sujeitos, tão importantes para que as organizações
possam atingir os seus objetivos e, conseqüentemente, apresentarem resultados
positivos, apesar das grandes tensões, muitas vezes, quase ou até insuportáveis,
advindas dos diversos contextos e, mais especificamente, do ambiente
ocupacional.
A partir da tabela 35, será apresentada uma visão geral do diagnóstico de
estresse ocupacional realizado nas 15 empresas brasileiras participantes deste
estudo, em que foi pesquisada uma amostra de 550 gerentes.
Tabela 35 – Nível de estresse ocupacional – amostra global
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 19 46% 74 34% 108 37% 201 37%
Leve a moderado 18 44% 98 46% 133 46% 249 45%
Intenso 3 7% 34 16% 44 15% 81 15%
Muito intenso 1 3% 8 4% 7 2% 16 3%
Total 41 100% 214 100% 292 100% 547 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Observação: 3 casos sem informação para o nível hierárquico.
Fonte: dados da pesquisa
Como pode ser observado na tabela 35, 63% dos indivíduos pesquisados, ou 345,
apresentam manifestações de estresse. Desse percentual, 45%, ou 246, estão no
nível de estresse leve a moderado; 15%, ou 82, com um quadro de estresse
intenso; e 3%, ou 16, no nível de estresse muito intenso.
Analisando a incidência do estresse em relação aos níveis hierárquicos pesquisados, a maior
ocorrência de estresse intenso/muito intenso se dá na gerência intermediária e, em seguida, na
supervisão operacional. Uma explicação para essa ocorrência pode ser o próprio nível de atuação
em relação à hierarquia das empresas (gerência intermediaria). Ou seja, o nível de pressão tende a
ser mais acentuado, uma vez que esse nível gerencial tem que conviver com pressões advindas da
base da estrutura, como também do seu topo, o que torna essa categoria gerencial mais propensa
a níveis mais elevados de pressão no trabalho.
Tendo com referência Couto (1987), a seguir serão discutidos os conceitos de
ausência de estresse, estresse leve a moderado, estresse intenso, e estresse
muito intenso.
Ausência de estresse – significa a ocorrência de um bom equilíbrio entre a estrutura psíquica do
indivíduo e as pressões psíquicas advindas de situações tais como trabalho, família, aspectos
sociais e características próprias, entre outras.
Estresse leve a moderado – já indica a ocorrência de manifestações de estresse, no entanto em
grau compensado, podendo não gerar impactos muito importantes no indivíduo. Caso esse estado
persista por um período mais longo de tempo (três a quatro semanas), pode ocorrer uma
tendência de agravamento na sua intensidade, passando a comprometer a estrutura psíquica do
indivíduo, podendo afetar aspectos comportamentais/emocionais e orgânicos, com reflexos nas
atividades profissionais.
Estresse intenso – nesta situação, o indivíduo já convive com alguns dos principais sintomas de
estresse de forma importante, como nervosismo acentuado, ansiedade (sensação de vazio,
expectativa acentuada), angústia (aflição, sensação de impotência diante dos problemas), fadiga
(baixo nível de energia), dificuldade de concentração no trabalho, insônia, dor nos músculos do
pescoço e ombros por tensão, dor de cabeça por tensão, indisposição gástrica, palpitações (sentir
o coração bater forte em alguns momentos) e auto-estima baixa, entre outros. Neste nível, o
indivíduo apresenta problemas de concentração, tendo dificuldades de realizar as suas atividades
de maneira geral. O trabalho passa a ser impactado de forma importante, gerando queda na
produtividade. As condições orgânicas e psíquicas apresentam alterações, e a maioria dos casos
requer tratamento.
Estresse muito intenso – este quadro é bastante agravado, e o indivíduo perde quase que
totalmente a sua capacidade de trabalho. É iminente a necessidade de tratamento clínico e
psicológico, visando à eliminação das causas de desequilíbrio da relação entre a estrutura
psíquica e as pressões psíquicas advindas do ambiente. A capacidade de concentração fica
seriamente comprometida, e as dificuldades se acentuam em termos gerais. O trabalho passa a ser
impactado de forma muito importante, gerando queda significativa de produtividade ou, mesmo,
a impossibilidade da sua realização. A maioria dos casos exige afastamento das atividades
inclusive do trabalho.
A seguir, é apresentada uma análise do nível de estresse ocupacional diagnosticado nas quinze
empresas participantes deste estudo.
5.6.1 Diagnóstico de estresse ocupacional, por empresa pesquisada
Por solicitação das empresas participantes, sem nenhum prejuízo para o trabalho em questão, o
diagnóstico individualizado ora apresentado guardará o anonimato das mesmas. Para tal, serão
codificadas por meio de letras do alfabeto, que vão de A a 0. Os dados para esta parte do trabalho
foram obtidos a partir de entrevistas semi-estruturadas (Apêndice D), complementados por
buscas na internet. Os sites não serão referenciados, visando resguardar o anonimato das
empresas, condição esta assumida pelo pesquisador quando da interação com vista à participação
das mesmas na pesquisa. Em algumas empresas, os dados disponibilizados foram mais restritos,
porém sem prejuízo para o trabalho como um todo.
Os diagnósticos são apresentados com base na seguinte estrutura: localização da empresa em
relação à área de atuação; apresentação de tabela, constando de forma sintética o diagnóstico de
estresse ocupacional, por nível de intensidade em relação aos três níveis hierárquicos pesquisados
(alta e média gerências e supervisão operacional); e comentários relativos aos resultados do
diagnóstico.
Empresa A
A empresa A atua no segmento de prestação de serviços bancários, tendo a sua origem na década
de 40, constituindo-se atualmente numa das principais instituições financeiras privadas do país. O
seu patrimônio líquido ultrapassa R$ 11,5 bilhões e os ativos são superiores a R$ 119,0 bilhões.
Opera no Brasil com uma rede de atendimento com mais de 3 mil pontos, possuindo
aproximadamente 20 mil caixas eletrônicos. Atua também no exterior, por meio de agências
próprias, subsidiárias e coligadas. Possui política de investimento em tecnologia, que visa a
constantes melhorias na qualidade de seus produtos e serviços, colocando-se na vanguarda no que
se refere à inovação tecnológica. Os investimentos nessa área, já em 2002, ultrapassavam a casa
dos R$ 1,2 bilhão. A partir de 2003, com a tecnologia disponível, passou a permitir que mais de
75% das transações dos clientes fossem efetuadas por meio dos canais de auto-atendimento,
proporcionando redução significativa de despesas para a instituição, principalmente aquelas
relacionadas a pessoal. A estrutura organizacional superior da instituição está assim organizada:
conselho de administração; presidente; vice-presidente; conselheiros; diretoria composta de
diretor-presidente; vice-presidentes executivos; consultor jurídico e diretores executivos.
A amostra pesquisada refere-se a gerentes lotados em agências com atuação no município de
Belo Horizonte/MG. A tabela 36 apresenta o resultado global do diagnóstico de estresse
ocupacional de gerentes realizado na instituição.
Tabela 36 – Nível de estresse ocupacional – Empresa A
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Leve a moderado 0 0% 6 60% 2 67% 8 62%
Intenso 0 0% 2 20% 0 0% 2 15%
Muito intenso 0 0% 2 20% 1 33% 3 23%
Total 0 0% 10 100% 3 100% 13 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Nessa instituição, só foi possível obter amostra de ocupantes das funções de gerência
intermediaria e supervisão operacional. Apesar da amostra reduzida, verifica-se que 100% dos
gerentes pesquisados apresentam quadro de estresse. A situação identificada nesta empresa é
única, se comparada com as outras 14 empresas participantes da pesquisa. Outro aspecto que
chama atenção é que 38% dos indivíduos encontram-se em nível de estresse intenso ou muito
intenso. Este quadro pode ser considerado importante, uma vez que esses indivíduos já estão
apresentado dificuldades em relação à execução das atividades de trabalho, o que foi comprovado
pela de realização de entrevistas. Da mesma forma que na amostra total, o nível de gerência
intermediária é o que sofre maior intensidade de pressão advinda do contexto de trabalho, o que,
conseqüentemente, tende a apresentar maior incidência de estresse. Chamou atenção nas
entrevistas o fato de que esta instituição tem como referência acreditar que as pessoas são a base
da construção do capital intelectual da organização, preocupação que orienta as políticas de
gestão de pessoas. A realidade identificada, como se vê, alerta para uma maior atenção em
relação a esta área.
Os principais problemas identificados na pesquisa estão relacionados ao estabelecimento de
metas sem a participação dos envolvidos, muitas vezes, com objetos definidos muito além da
capacidade de realização, associado ao excesso e rigor nas cobranças. A relação com o público
externo também se constitui em elemento importante de pressão no trabalho.
Tendo em vista a realidade identificada com base na amostra pesquisada e as intenções de
práticas de gestão de pessoas explicitadas pela instituição, recomenda-se a ampliação deste
estudo. Isso será importante para que essas evidências possam ser mais bem compreendidas e os
casos possam ser tratados de acordo com as prioridades estabelecidas pela instituição, relativas às
práticas e políticas adotadas em relação à gestão de pessoas, que indicam intenção nessa direção.
Empresa B
Instalada no estado de São Paulo, a empresa B desenvolve atividades na área de metalurgia e
produtos trefilados, possuindo um quatro de aproximadamente 240 empregados. A amostra
pesquisada representa 68% do quadro de gerentes. A tabela 37 apresenta o resultado global do
diagnóstico realizado na referida empresa.
Tabela 37 – Nível de estresse ocupacional – Empresa B
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 0 0% 2 40% 3 25% 5 29%
Leve a moderado 0 0% 2 40% 7 58% 9 53%
Intenso 0 0% 1 20% 2 17% 3 18%
Muito intenso 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Total 0 0% 5 100% 12 100% 17 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
No caso específico desta empresa, verifica-se que não foi identificada freqüência
de ocupantes do nível de alta gerência. Dos 17 gerentes pesquisados, 71%, ou 12,
apresentam quadro de estresse classificado nos níveis leve a moderado e
intenso. No nível intenso, o mais preocupante, são 3 casos, sendo 1 gerente
intermediário e 2 supervisores operacionais. Considera-se importante o
aprofundamento do diagnóstico para se ter uma visão clara das causas de
pressão excessiva no trabalho, permitindo ações no sentido de promover o re-
equlíbrio, para que essas manifestações possam ser reduzidas ou, mesmo,
buscar a situação ideal, que é um quadro de pessoal sem manifestações de
estresse, conforme orientam alguns autores (COOPER et al. 1988, 2000;
KARASEK, 1996, 1998, 2000; MORAES et al. 1990, 1992, 1995, 1998, 2000, 2002,
2003; e COUTO 1987).
Empresa C
Fundada no final da década de 90, a empresa C atua na área de metalurgia e produtos trefilados.
Produz aços longos sob a forma de laminados e trefilados, com capacidade instalada para
produzir anualmente 4,2 milhões de toneladas de laminados e 1,4 milhão de toneladas de
trefilados. A unidade pesquisada está instalada em cidade localizada na região da Grande Belo
Horizonte/MG, tendo a sua produção focada em trefilados, constituindo-se na maior produtora
brasileira de fio-máquina e de arames industriais e comerciais. Ao longo dos anos, vem
experimentando uma constante atualização tecnológica na área de produção. A partir do final da
década de 90, vem implantando sistema de administração da produção, denominado SAP R/3.
Obteve a certificação nas normas da ISO 14001 (meio ambiente), BS 8800 (segurança e saúde
ocupacional) e ISO 9002. Possui a mais moderna tecnologia existente nos respectivos setores de
atividade. A empresa lidera um dos maiores grupos privados do país e faz parte do maior grupo
siderúrgico do mundo, com capacidade instalada para produzir 46 milhões de toneladas de aço
bruto por ano, com faturamento anual da ordem de 30 bilhões de dólares. Possui um quadro de
pessoal estimado em 110 mil empregados, estando presente em mais de 60 países. No Brasil, o
grupo já está instalado há mais de 80 anos e possui mais de 7 mil empregados, lotados em 12
organizações, além de instituições internas e fundações. Do ponto de vista organizacional, no que
se refere à sua parte estratégica, a unidade pesquisada possui um conselho consultivo e diretoria.
Em relação à área de Gestão de Pessoas, coloca à disposição dos empregados e dependentes
programa de atendimento e prevenção nas áreas médica e odontológica, destacando a sua atuação
em relação à medicina preventiva. Desenvolve ações de treinamento e desenvolvimento de seus
empregados, possuindo também programa de educação voltado para aqueles empregados que
demandam essa necessidade. Na área de Segurança, desenvolve ações de treinamento,
consistindo na realização de palestras e campanhas de mobilização voltadas para ações
preventivas, como o uso de EPI. De acordo com informações da empresa, os seus índices de
acidentes do trabalho estão entre os menores do país nos setores de siderurgias e trefilarias.
Desenvolve também parcerias com as comunidades onde está presente, apoiando projetos nas
áreas de Educação, Saúde, Lazer, Esporte e Cultura. O quadro de pessoal é de aproximadamente
1.050 empregados, sendo que 136 ocupam a função gerencial. A amostra pesquisada corresponde
a 71,3% dos gerentes da empresa. A tabela 38 apresenta o resultado global do diagnóstico
realizado na referida empresa.
Tabela 38 – Nível de estresse ocupacional – Empresa C
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 3 43% 14 36% 20 39% 37 38%
Leve a moderado 4 57% 17 44% 27 53% 48 50%
Intenso 0 0% 8 20% 4 8% 12 12%
Muito intenso 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Total 7 100% 39 100% 51 100% 97 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Tendo em vista a estrutura organizacional funcional, o quantitativo da amostra decresce à medida
que se elevam os níveis hierárquicos. Em termos gerais, observa-se que 62% dos indivíduos
pesquisados foram diagnosticados com níveis de estresse que variam de leve a moderado (48) e
estresse intenso (12) casos. Como mostra a tabela 38, a concentração dos níveis de estresse
intenso se dá no grupo de gerentes intermediários (8) e no nível de supervisão operacional (4).
Em relação ao nível de estresse leve a moderado, a maior incidência em termos percentuais se dá
na alta gerência (57%), seguida do nível de supervisão operacional (53%) e gerência
intermediária (44%).
Observando-se o resultado geral da pesquisa em relação à alta gerência (tabela 35), os dados
obtidos estão mais favoráveis do que aqueles identificados na amostra global (41 casos), em que
ocorrem 10% de indivíduos nos níveis de estresse intenso e muito intenso. O resultado obtido na
empresa C indica que está havendo uma boa relação de equilíbrio em termos das pressões
psíquicas advindas do ambiente de trabalho e a capacidade psíquica de suportá-las, apesar do alto
grau de pressão presente nesse nível ocupacional, que é próprio da natureza do trabalho. A
situação mais preocupante (estresse intenso) ocorre no nível da gerência intermediária, com 8
casos, e supervisão operacional, com 4.
Essas situações demandam uma investigação mais profunda para se obter as reais causas desse
desequilíbrio, para que possam ser tratadas de forma adequada. Esse aprofundamento de casos
específicos foge ao escopo deste trabalho, no entanto a empresa será procurada, e as orientações
necessárias serão fornecidas.
Empresa D
A empresa D é uma indústria química, instalada na região norte do Brasil, que atua na área de
produção de alumina calcinada. Possui um quadro de pessoal de aproximadamente 640
empregados, com predominância do sexo masculino (97%). O pessoal da área de produção
trabalha em turnos de oito horas e o pessoal da área administrativa trabalha em horário diurno,
com jornada diária também de oito horas. Os principais riscos a que os empregados estão
submetidos são: ruído, aerodispersóides alcalinos, ácido sulfúrico, poeira de alumina e bauxita,
esforço físico, vibração nos membros superiores e trabalho em turno e noturno. Esses riscos
aplicam-se de forma mais direta ao pessoal alocado na área de produção.
Pela natureza do trabalho desenvolvido, possui grau de risco 3, sendo o SESMT composto por 1
médico do trabalho, 1 engenheiro de segurança e 3 técnicos de segurança no trabalho. Em relação
à área de saúde ocupacional, as atividades estão pautadas pelo desenvolvimento de programas e
atividades que promovem a saúde e previnem doenças em seus trabalhadores, principalmente em
decorrência dos agentes agressivos e das condições em que o trabalho é realizado.
Tendo como referência a entrevista realizada com o médico do trabalho, observa-se elevado nível
de estresse físico e psíquico, muitos trabalhadores realizando tratamentos fisioterápicos, um
número significativo com alteração na pressão arterial, peso excessivo ou obeso em decorrência
de hábitos alimentares inadequados, bem como problemas significativos de audiometrias
alteradas. Em termos da estrutura organizacional, a empresa atua em três níveis: diretoria geral,
gerências de áreas e supervisão operacional, com um total geral de 60 gerentes. A pesquisa
realizada contemplou 100% da população de gerentes. A tabela 39 mostra o resultado global do
diagnóstico.
Tabela 39 – Nível de estresse ocupacional – Empresa D
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 3 33% 4 20% 9 29% 16 27%
Leve a moderado 5 56% 12 60% 15 48% 32 53%
Intenso 0 0% 3 15% 7 23% 10 17%
Muito intenso 1 11% 1 5% 0 0% 2 3%
Total 9 100% 20 100% 31 100% 60 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Como pode ser observado na tabela 39, 73% dos gerentes foram diagnosticados com quadro de
estresse. Desses, 20%, ou 12, apresentam situação mais grave, enquadrando-se nos níveis de
estresse intenso e muito intenso, que, pela intensidade do quadro, provoca dificuldades
importantes na execução do trabalho, com reflexos na produtividade. Este resultado vem
comprovar as observações prévias da área de medicina do trabalho da empresa em relação a esta
questão.
Tendo como base o diagnóstico realizado, que constou também de entrevistas com indivíduos da
população identificados com o quadro de estresse muito intenso (2) e estresse intenso (10), os
sintomas que apareceram com maior intensidade foram os seguintes: nervosismo e ansiedade
(sensação de vazio, lacuna, hiato entre o agora e o futuro associado a medo/apreensão em relação
ao futuro). Em seguida, apareceu o sintoma de fadiga (baixo nível de energia, sentir o corpo um
“bagaço”, sentir-se cansado precocemente ao longo do dia, sonolência). Depois apareceram os
sintomas de angústia (aflição, sensação de impotência diante de problemas que afligem o
indivíduo) e de dor nos músculos do pescoço e ombros – “dor em cabide”. Outros sintomas
também apareceram, porém com intensidades menores: dificuldade de concentração no trabalho,
insônia (dificuldade de conseguir dormir, sono entrecortado, acordar de madrugada e ter
dificuldade para dormir de novo), períodos de depressão (tristeza, apatia, isolamento e falta de
energia), perda/oscilação do senso de humor e falta ou excesso de apetite.
As principais queixas identificadas relacionadas à saúde apontadas pelos gerentes foram: alergia
de pele, colesterol elevado, colite, diabetes, dor nas costas por tensão, hipertensão, taquicardia e
úlcera. Observa-se que estas manifestações estão presentes na literatura e são evidenciadas por
Levi (2005), Cooper et al. (1988, 2000), Karasek (1996, 1998, 2000), Moraes et al. (1990, 1992,
1995, 1998, 2000, 2002, 2003), e Couto (1987).
Neste caso, as principais fontes de tensão excessiva no trabalho identificadas, por ordem de
importância, foram: o trabalho executado está sempre amarrado a muitos prazos, e esses prazos
são sempre urgentes; obsessão por resultados como filosofia predominante na empresa; número
excessivo de horas dedicadas ao trabalho; alto grau de simultaneidade e de cobranças em relação
à execução do trabalho; técnicas de racionalidade levadas ao extremo; conviver com indivíduos
de difícil relacionamento; excesso de metas; práticas de desrespeito humano (de forma
acentuada); e alto nível de cobranças por resultados, muitas vezes, sem ter os recursos
necessários para a sua realização.
Os casos de estresse intenso (10) e muito intenso (2) são preocupantes, uma vez que provocam
impactos importantes no contexto do trabalho, com reflexos na produtividade, como também nos
próprios gerentes. Caso esses estados persistam por um período maior de tempo (estresse
crônico), os indivíduos tendem a sofrer um desequilíbrio maior na relação entre as pressões
psíquicas advindas do meio e a estrutura psíquica, relação essa responsável pelo estado de
equilíbrio e de bem-estar interno. Nesses casos, identificou-se que as pressões psíquicas advindas
do meio, de forma quase que total, são de origem ocupacional, ou seja, da ambiência do trabalho
em si, situação essa que precisa ser analisada pela empresa.
Empresa E
Empresa com atuação na área de prestação de serviços de call center, sediada em Salvador/BA.
Está vinculada a uma empresa holding com atuação no segmento de tecnologia de informação,
tendo como produtos diversos softwares aplicativos, estando entre as maiores empresas de TI do
país. Do ponto de vista da estrutura organizacional, está vinculada à empresa de call center,
sediada em Belo Horizonte/MG. Possui um diretor executivo geral, que acumula a gerência das
empresas de Belo Horizonte e de Salvador. A estrutura da empresa em Salvador é composta de
10 supervisores operacionais, que gerenciam 10 equipes, compostas cada uma delas de
aproximadamente 12 atendentes, perfazendo um quadro de pessoal total de aproximadamente 120
atendentes ou consultores de atendimento. Em relação ao trabalho, 100% dos ocupantes da
função de supervisão operacional foram pesquisados. Para oferecer os serviços e garantir a
qualidade dos mesmos, a empresa está estruturada em três pilares básicos: tecnologia, recursos
humanos e banco de dados. Como principais clientes, atende empresas com atuação nos diversos
setores da economia, como telecomunicações, seguridade, processamento de dados, apoio social
e saúde. Possui certificação ISO 9001/2000, relacionada ao atendimento eletrônico, via voz e
dados, nas formas receptiva e ativa. A tabela 40 mostra o resultado global do diagnóstico de
estresse ocupacional realizado na referida empresa.
Tabela 40 – Nível de estresse ocupacional – Empresa E
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 0 0% 0 0% 7 70% 7 70%
Leve a moderado 0 0% 0 0% 3 30% 3 30%
Intenso 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Muito intenso 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Total 0 0% 0 0% 10 100% 10 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Conforme descrição da empresa, foram pesquisados 100% da população de supervisão
operacional, sendo que 70% foram diagnosticado com ausência de estresse e 30% com estresse
leve a moderado. Esse resultado merece algumas considerações, uma vez que se apresenta
bastante discrepante em relação aos resultados obtidos na empresa de mesma natureza – atuação
na área de call centersediada em Belo Horizonte/MG, pertencente ao mesmo grupo (holding).
É possível que a estratégia metodológica de coleta de dados tenha interferido nos resultados, uma
vez que os questionários foram enviados pelo malote da empresa aos supervisores operacionais
em Salvador, tendo sido recebidos, após o preenchimento, pelo gerente da empresa, que também
é gerente geral da empresa do grupo sediada de Belo Horizonte. Essa forma de coleta de dados,
tendo em vista que os questionários foram identificados pelos respondentes, pode ter inibido os
indivíduos em relação à expressão das reais situações vivenciadas, fazendo com que os resultados
apresentassem de forma sub dimensionada.
Para aprofundar a análise dessa hipótese, observa-se que os resultados da empresa do mesmo
grupo e que desenvolve as mesmas atividades em Belo Horizonte (L), onde o processo de coleta
de dados foi realizado pelo pesquisador, portanto sem interferência direta do gerente geral,
apresentou resultados bastante divergentes. Nesse caso, 74% dos indivíduos pesquisados
apresentaram quadro de estresse, sendo 40% no nível de leve a moderado e 34% de estresse
intenso e muito intenso.
Para reforçar ainda mais essa hipótese, três outras empresas foram pesquisadas em relação a essa
área (call center), e os resultados também se apresentaram discrepantes em relação aos da
empresa E, em análise:
Empresa I – ausência de estresse, 38%; estresse leve a moderado, 50%; e estresse intenso, 12%.
Empresa J – ausência de estresse, 38%; estresse leve a moderado, 36%; e estresse intenso e muito
intenso, 26%.
Empresa K – ausência de estresse, 50%; estresse leve a moderado, 33%; e estresse intenso e
muito intenso, 17%.
Fica evidente a discrepância entre os resultados obtidos na empresa E, em análise, e os obtidos
nas empresas I, J, K e L. Dessa forma, conclui-se que a estratégia de coleta de dados utilizada em
relação à empresa E provavelmente pode ter se constituído em limitação deste estudo.
Empresa F
A empresa analisada é uma das líderes do setor de papel e celulose no Brasil. Pertence a um dos
maiores complexos industriais privados da América Latina. Em 2003, com base em dados
divulgados em 2005, aparece como a terceira maior produtora de celulose no Brasil: 1, 131
milhões de tonelada representando 12,3% da participação na produção nacional. Em relação à
produção mundial, o Brasil é o sétimo no ranking, com 9,5 milhões de tonelada (os EUA estão no
topo, com uma produção de 52,3 milhões de toneladas). Em relação ao setor de atuação, a
empresa F opera o ciclo integrado de produção, que consiste na produção da madeira e no
processamento da matéria-prima para atender às unidades integradas de produção de celulose e
papel. Do ponto de vista da estrutura acionária (100% do capital total), está vinculada a quatro
grupos, sendo que um deles detém a maioria das ações. As ações, por sua vez, são negociadas
nas bolsas de valores de São Paulo e Nova York.
A empresa em análise, pertencente ao grupo em referência, contribui com aproximadamente 17%
da sua receita líquida (R$ 10,6 bilhões). A estrutura organizacional estratégica é composta das
seguintes áreas: presidência, diretoria técnica e industrial, diretoria de desenvolvimento humano e
organizacional, diretoria de negócios, diretoria de finanças e relações com investidores, diretoria
de tecnologia da informação e diretoria de logística integrada. Do ponto de vista do
desenvolvimento humano e organizacional, o capital humano está sempre entre as prioridades da
empresa. Investe de forma significativa no desenvolvimento profissional e social de seus
empregados, adotando modelo de gestão de pessoas centrado em competências. A estrutura de
desenvolvimento humano e organizacional está estruturada em seis gerências matriciais: relações
trabalhistas, compensação e organização, planejamento e desenvolvimento de pessoas,
comunicação organizacional e social, higiene, segurança e medicina do trabalho (área esta que
acompanhou o desenvolvimento dessa pesquisa na empresa) e gerência geral de qualidade total.
A tabela 41 mostra o resultado global do diagnóstico de estresse ocupacional realizado na
referida empresa.
Tabela 41 – Nível de estresse ocupacional – Empresa F
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 9 69% 15 43% 0 0% 24 49%
Leve a moderado 4 31% 18 51% 1 100% 23 47%
Intenso 0 0% 2 6% 0 0% 2 4%
Muito intenso 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Total 13 100% 35 100% 1 100% 49 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Do total de 105 gerentes da empresa, foi pesquisada uma amostra de 49, o que representa
aproximadamente 47% da população de gestores. Em termos gerais, verifica-se que 51% dos
gerentes, ou 25, foram diagnosticados como sendo portadores de quadro de estresse. Desse
número, 23 encontram-se na faixa de estresse leve a moderado, o que, de certa forma, retrata um
quadro de quase normalidade, exceto os casos que possam estar na faixa limítrofe superior desse
quadrante. Os dois casos restantes, diagnosticados com nível de estresse intenso, merecem maior
preocupação por parte da empresa, uma vez que a sintomatologia apresentada tende a interferir
nas atividades profissionais, gerando certo desconforto para os indivíduos em termos de saúde,
bem como reflexos nas atividades desenvolvidas. Observa-se também que esses indivíduos são
pertencentes ao nível de gerência intermediária, que, pelo nível hierárquico e natureza da função,
estão mais vulneráveis a um maior nível de pressão no ambiente ocupacional. Se os resultados da
empresa forem comparados com o nível geral da amostra (tabela 35), em termos gerais, a
situação observada apresenta-se com um certo grau de conforto.
Empresa G
A empresa pesquisada tem a sua sede no município de Belo Horizonte/MG, com filiais nas
cidades de São Paulo/SP, Rio de Janeiro/RJ, Uberlândia/MG, Ribeirão Preto/SP, Curitiba/PR e
Porto Alegre/RS. Tem uma unidade operacional em Portugal, além de uma rede de mais de 40
unidades de vendas em todo o Brasil. Foi fundada na década de 80. É especializada em software
de gestão, sendo líder no mercado brasileiro de soluções para a gestão de recursos humanos,
segmento de atuação em que a empresa teve origem. Em 2004, o faturamento da empresa foi de
aproximadamente R$ 121 milhões, com crescimento 30% maior do que o do ano anterior, que
teve resultado de R$ 93 milhões. É hoje a maior empresa de software com capital nacional,
contando com uma carteira de 19 mil clientes ativos. Em 2004, ficou em primeiro lugar no
ranking mineiro de informática realizado pela Assespro-MG, tendo também sido eleita pela
revista Info200 como a melhor empresa de software do Brasil. Fez parte do Guia Exame das 150
melhores empresas para se trabalhar no período de 2000 a 2004. Essa avaliação identifica no
universo das empresas brasileiras aquelas que têm as melhores práticas de gestão de pessoas e
ambiente de trabalho.
Em relação à pesquisa de estresse ocupacional, de uma população informada de 124 gestores,
foram pesquisados 59, o que corresponde a um percentual aproximado de 48% da população de
gerentes da empresa, envolvendo a matriz em Belo Horizonte e filiais de São Paulo, Rio de
Janeiro, Uberlândia, Curitiba e Porto Alegre. A tabela 42 mostra o resultado global do
diagnóstico de estresse ocupacional realizado na referida empresa.
Tabela 42 – Nível de estresse ocupacional – Empresa G
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 1 33% 13 42% 6 24% 20 34%
Leve a moderado 2 67% 14 45% 15 60% 31 53%
Intenso 0 0% 4 13% 2 8% 6 10%
Muito intenso 0 0% 0 0% 2 8% 2 3%
Total 3 100% 31 100% 25 100% 59 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Em termos gerais, os dados indicam uma proximidade em relação aos resultados globais da
pesquisa. No caso da empresa G, 66% dos gerentes, ou 39, apresentaram quadro de estresse. A
maior incidência se dá no grupo de supervisão operacional, com 76% dos supervisores, ou 19.
Ainda em termos gerais, observa-se que dos 66% dos gerentes diagnosticados com quadro de
estresse, 53%, ou 31, manifestam um quadro de estresse leve a moderado e 10%, ou 6, e 3%, ou
2, com estresse intenso e muito intenso.
Do grupo de alta gerência, 3 indivíduos foram pesquisados, sendo que 1 apresentou ausência de
estresse e 2 estresse leve a moderado. É importante esclarecer que o nível de estresse leve a
moderado está quase dentro da faixa de normalidade, exceto os casos que se enquadram na faixa
superior desse quadrante. Portanto, no caso desta empresa a maior preocupação recai nos casos
de estresse intenso e muito intenso, que são 8, sendo 6 identificados com estresse intenso e 2 com
estresse muito intenso. Nesses níveis, os indivíduos já passam a apresentar sintomas importantes
com reflexos psíquicos e orgânicos, atuando no comportamento e, conseqüentemente, no
resultado do trabalho desses gerentes.
Empresa H
Empresa com atuação na área de telefonia móvel, atende mais de um milhão e meio de clientes.
Investe na satisfação de seus clientes, promovendo inúmeros eventos culturais e esportivos,
patrocina grupos artísticos e apóia projetos de interesse da comunidade. Foi a primeira operadora
brasileira a receber o selo internacional de qualidade em atendimento. Proporciona uma cobertura
no estado, operando em mais de 5 mil quilômetros em estradas, além de cobrir mais de 325
localidades. Fora da sua área de concessão, oferece o serviço de roaming nacional automático
para outras localidades do Brasil, como também o roaming internacional. Iniciou suas operações
a partir de 1998, com base na lei geral das telecomunicações, quando ocorreu a privatização do
Sistema Telebrás na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. A empresa opera mais de 500 pontos de
vendas, incluindo os próprios e os credenciados, que são distribuídos pelos diversos municípios
do estado onde atua.
Em termos organizacionais, tem-se o grupo de acionistas. No plano estratégico, a área
institucional da operadora encontra-se assim constituída: apoio técnico-negocial, constituído das
áreas de engenharia, rede, tecnologia de informação e marketing; apoio funcional, com as áreas
de planejamento, organização, recursos humanos e administração; jurídico; finanças e RI;
Regulação, REC e Interconexão; e RC. Em relação aos mercados delegados, as áreas são
estruturadas em unidades de negócios: varejo e corporativo. O varejo opera em quatro áreas:
negociação de crédito pré-pago; canais diretos; agentes; e varejo. O corporativo está estruturado
com áreas de pequenas contas e grandes contas.
Possui código de ética, que se aplica a todos os empregados, no qual são definidas as práticas
relacionadas à divulgação de informações sobre a empresa, deveres de sigilo e probidade, e
normas de atuação em casos de conflitos de interesses. Define também os princípios éticos gerais
que devem ser respeitados por todos os atores da organização. Percebe-se que o código de ética
em relação à divulgação de informações da empresa é seguido à risca. As informações
necessárias à pesquisa foram obtidas, ainda que de forma parcial, após o compromisso de
assinatura de protocolo por parte do pesquisador com aval da instituição de ensino
(CEPEAD/UFMG).
A administração de pessoal está pautada pelo modelo de gestão por competências, que assegura
uma visão estratégica do negócio e direciona para o desenvolvimento de pessoal. Esse modelo
visa, sobretudo, assegurar a evolução no que se refere ao processo de gestão de pessoas na
empresa. O modelo é composto por quatro subsistemas: recrutamento e seleção; programa de
avaliação; universidade corporativa; e sistema de remuneração. Dentre esses subsistemas,
destaca-se a universidade corporativa, que direciona o desenvolvimento dos empregados segundo
o modelo de gestão por competências. É um sistema de aprendizagem contínua, tendo como
propósito incentivar a empresa a trabalhar com novos processos e soluções vinculados às metas
organizacionais.
A tabela 43 mostra o resultado global do diagnóstico de estresse ocupacional realizado na
referida empresa.
Tabela 43 – Nível de estresse ocupacional – Empresa H
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 1 100% 12 33% 13 48% 26 40%
Leve a moderado 0 0% 15 42% 8 30% 23 36%
Intenso 0 0% 7 19% 5 18% 12 19%
Muito intenso 0 0% 2 6% 1 4% 3 5%
Total 1 100% 36 100% 27 100% 64 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
A empresa pesquisada pertence à área de telecomunicações, mais especificamente relacionada ao
setor de telefonia móvel, que teve uma amostra aproximada de 30% dos seus gerentes
pesquisados. Por estratégia da pesquisa, a área de call center desta empresa foi pesquisada em
separado, uma vez que contou com uma amostra bastante significativa, abrangendo
aproximadamente 90% da população gerencial ali alocada (empresa I). Essa decisão foi reforçada
pelo fato de duas outras operadoras de telefonia móvel só terem sido pesquisadas em relação às
áreas de call center (empresas J e K), como também devido à realização de pesquisa em empresas
específicas de call center (empresas E e L). Essa estratégia foi adotada com o objetivo de
realizar comparações em relação à área específica de atuação call center.
Em termos gerais, a empresa em referência tem 60% dos seus empregados, ou 38, diagnosticados
com quadro de estresse. Se comparado com os dados da amostra global, apresenta 3% abaixo do
quantitativo geral. No entanto, observa-se que a situação da empresa H é mais acentuada, uma
vez que 24% do quadro de gerentes, ou 15, encontram-se no nível de estresse intenso ou muito
intenso, enquanto que na amostra geral (todas as empresas pesquisadas) o percentual de
indivíduos nessa faixa é de 18%, ou seja, 6% a menos do que a realidade da empresa em análise.
Com relação aos 36%, ou 23, no nível de estresse leve a moderado, pode não ser motivo de
grande preocupação, uma vez que esse nível de estresse está pouco além da faixa de normalidade,
exceto os casos que porventura estejam no limite superior desta faixa, portanto com tendência ao
nível de estresse intenso.
Ao analisar a situação por nível hierárquico, observa-se que a maior incidência de estresse
intenso e muito intenso ocorre nos níveis de gerência intermediaria (25%) e supervisão
operacional (22%), o que, de certa forma, era esperado, uma vez que esses níveis gerenciais,
respectivamente, são os que sofrem mais pressão na empresa advindas do ambiente ocupacional.
No plano da alta gerência, a amostra foi muito reduzida, o que, de certa forma, colaborou para o
resultado obtido, ausência de estresse. No entanto, mostra-se coerente com o resultado global
desta pesquisa para esse nível ocupacional.
Empresa I
A empresa I foi desmembrada da estrutura organizacional da empresa H, por constituir uma área
específica de call center, possibilitando, de forma mais direta, a comparação dos resultados com
as empresas J, K e L. Nas duas primeiras, a pesquisa foi focada na área de call center, ao passo
que a última atua especificamente nessa área. Com relação à descrição da empresa, podem ser
consideradas as informações apresentadas na descrição da empresa H.
A amostra pesquisada foi de aproximadamente 80% da população de gestores, que se dividiu em
gerência intermediária e supervisão operacional. Portanto, pode ser considerada uma amostra
bastante representativa desse extrato organizacional.
A tabela 44 mostra o resultado global do diagnóstico de estresse ocupacional realizado na
referida empresa.
Tabela 44 – Nível de estresse ocupacional – Empresa I
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 0 0% 3 60% 10 34% 13 38%
Leve a moderado 0 0% 2 40% 15 52% 17 50%
Intenso 0 0% 0 0% 4 14% 4 12%
Muito intenso 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Total 0 0% 5 100% 29 100% 34 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Em termos gerais, os dados apontam que 62% dos gerentes, ou 21, apresentam quadro de
estresse. Desse percentual, 50%, ou 17, estão no nível de estresse leve a moderado e 12%, ou 4,
no nível de estresse intenso, quadro que admite certa preocupação. Todos os indivíduos
diagnosticados com manifestação de estresse ocupam a função de supervisão operacional.
Comparando esses resultados com os obtidos em relação à empresa H, na qual está inserida essa
área de call center, verificou-se que em níveis globais de estresse na empresa H esses são
superiores em 2%. Se a comparação for em termos da sua intensidade, verifica-se também que
esses níveis são superiores na empresa H, que apresenta 24% dos gestores, ou 15, com níveis de
estresse intenso e muito intenso, enquanto que na empresa I esse percentual é de 12%, ou 4, para
o quadro de estresse intenso.
É possível inferir que o nível de estresse mais intenso na empresa H pode ser explicado em
função de parte significativa da amostra pesquisada ser oriunda da área comercial, que, por
natureza do trabalho, pode gerar maior nível de pressão nos indivíduos que nela atuam.
Entretanto, pelas mesmas razões explicitadas, a natureza do trabalho realizado em ambientes de
call center é bastante tensionante, o que pode ser verificado nos dados obtidos em relação à
empresa L, que atua especificamente nesse setor de atividades.
Empresa J
Empresa de telecomunicações, com atuação na área de telefonia móvel, tem sede em São
Paulo/SP. Pertence a um grupo internacional que possui outras empresas no Brasil, abrangendo
as regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Norte, com atuação na área de telefonia móvel, tendo uma
base de clientes que já ultrapassa 10 milhões de assinaturas. É líder em tecnologia, possibilitando
grande diversidade de planos e serviços, com atuação em todo o território nacional, oferecendo
também o roaming internacional para diversos países.
O modelo organizacional, formado por elementos que constituem as políticas, estratégias,
programas e ações, apresenta estreita relação com a cultura organizacional, liderança, gestão dos
processos, pessoas, disponibilização da informação e resultados do negócio. Esta empresa
considera que o centro é as pessoas, que constituem o seu principal diferencial competitivo. Por
meio dos processos de gestão e desenvolvimento, os empregados são preparados para criar e
oferecer produtos e serviços aos clientes. Para a empresa, os recursos humanos representam o
capital intelectual da empresa. Os principais valores reconhecidos estão relacionados a: pro-
atividade, transparência, velocidade, excelência profissional, foco no cliente, espírito de equipe,
inovação e espírito empreendedor. Os princípios norteadores da gestão de recursos humanos
estão embasados em pessoas com talentos individualizados, como capital intelectual da empresa e
como responsáveis pelo próprio crescimento e desenvolvimento profissional.
O modelo gerencial busca representar a síntese dos comportamentos nos quais todos os gestores
devem inspirar-se para a realização dos objetivos do negócio. Permite apoiar e estimular a
integração cultural do grupo e o orgulho de pertencer a ele e tornar reconhecível o estilo gerencial
dentro e fora do grupo, representando um elemento de coesão e reconhecimento de todo o corpo
gerencial. Os seus elementos principais estão relacionados às seguintes ações: foco no cliente,
criação de valor, valorização das pessoas e gestão da mudança, networking e integração. Possui
também um modelo de competências que orienta a identificação do conjunto de capacidades,
conhecimentos e habilidades requeridas para se alcançar os objetivos organizacionais. Essas
competências estão relacionadas à capacidade de gestão e à solução de problemas relacionais, de
realização e de base, neste último caso envolvendo aprendizado e estabilidade emocional.
Os processos de gestão de pessoas compõem-se das seguintes subfunções: recrutamento e
seleção, remuneração e benefícios, treinamento e desenvolvimento de pessoal, comunicação
interna, gestão de RH local e desenvolvimento organizacional.
Esta empresa teve 95% da população de gestores pesquisada, constituída somente de pessoal
gerencial, nos seus diversos níveis, lotado na área de call center. A tabela 45 mostra o resultado
global do diagnóstico de estresse ocupacional realizado.
Tabela 45 – Nível de estresse ocupacional – Empresa J
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 1 100% 2 29% 12 39% 15 38%
Leve a moderado 0 0% 2 29% 12 39% 14 36%
Intenso 0 0% 2 29% 7 22% 9 23%
Muito intenso 0 0% 1 13% 0 0% 1 3%
Total 1 100% 7 100% 31 100% 39 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Dos 39 gestores pesquisados 62%, ou 24, apresentam quadro de estresse, sendo 36% no nível
leve a moderado e 26% variando de estresse intenso a muito intenso. A maior concentração dos
casos de estresse em termos percentuais se deu no nível de gerência intermediária. Se comparada
com a empresa I, também com atuação específica na área de call center, em termos gerais, o
quadro de estresse é idêntico 62%. Mas se a comparação se der em relação aos níveis de estresse
mais importantes (intenso e muito intenso), a empresa em análise apresenta um percentual
bastante superior, mais que o dobro de casos (26%) em relação à empresa I. Se a comparação se
der somente no nível de estresse muito intenso – estado crítico de estresse –, a empresa J
apresenta um caso, enquanto que a empresa I não apresenta ocorrência nesse nível.
Essa situação pode ser justificada pelo fato de a empresa I operar com consultores de atendimento
pertencentes ao próprio quadro de pessoal, enquanto que essa situação na empresa J se dá por
meio de um quadro de consultores de atendimento terceirizado. Decorrente dessa situação, pode-
se inferir que possivelmente os processos de seleção e treinamento dos atendentes na empresa I
são mais ajustados à sua realidade. Se essa realidade for confirmada, pressupõe-se que haja maior
envolvimento e ajustamento dos empregados na realização das suas atividades quando esses
pertencem ao quadro próprio da empresa. No entanto, para se ter uma visão mais específica dessa
situação é necessário realizar pesquisa focando prioritariamente essa realidade.
Empresa K
A empresa K atua na área de telecomunicações, especificamente no segmento de telefonia móvel.
Pertence ao mesmo grupo descrito na apresentação da empresa J, analisada anteriormente.
De acordo com as informações obtidas, esta empresa preocupa-se com a responsabilidade social
na condução de seus negócios. Ouve os interesses das diferentes partes (acionistas, empregados,
prestadores de serviços, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e agentes do meio
ambiente), procurando incorporar as demandas no seu planejamento estratégico. Considera que o
pensamento da co-responsabilidade pela sociedade, pelo meio ambiente e pelo país constitui
diferencial competitivo e agrega importantes valores à organização.
A empresa desenvolve programas direcionados à comunidade, tendo parceiros em projetos de
educação, cultura e meio ambiente. Na área de Educação, desenvolve projetos de educação de
jovens e adultos: nos últimos anos, alfabetizou mais de 10 mil alunos em mais de 375 turmas,
abrangendo diversos municípios da região onde atua. Nesta área, também prepara jovens com
freqüência escolar para inserção no mercado de trabalho, e na área cultural tem disponibilizado
verbas para a promoção de eventos e realizado festivais. Em relação ao meio ambiente, inicia
pela educação dos próprios empregados, como também participa de programas promovidos pelos
diversos níveis de governo e ONGs.
Do ponto de vista organizacional, incentiva à integração de seus empregados, por meio de
atividades sociais, e realiza o monitoramento do clima organizacional. Nesta área, tem como
objetivo desenvolver projetos que possam oferecer maior autonomia aos empregados e melhoria
contínua na comunicação interna, bem como no relacionamento entre os níveis hierárquicos.
Difundir os valores da empresa e planejar o desenvolvimento profissional e o ambiente de
trabalho são práticas contínuas na empresa.
Nesta empresa foi diagnosticado aproximadamente 95% do quadro de gestores que estão lotados
na unidade de call center, estruturada em oito áreas técnicas. A tabela 46 mostra o resultado
global do diagnóstico de estresse ocupacional realizado na referida empresa.
Tabela 46 – Nível de estresse ocupacional – Empresa K
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 0 0% 2 40% 7 54% 9 50%
Leve a moderado 0 0% 2 40% 4 30% 6 33%
Intenso 0 0% 1 20% 1 8% 2 11%
Muito intenso 0 0% 0 0% 1 8% 1 6%
Total 0 0% 5 100% 13 100% 18 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Em termos globais a empresa possui 50% dos gestores, ou 9, com manifestações de estresse,
sendo 33%, ou 6, com quadro de estresse leve a moderado e 17%, ou 3, variando de estresse
intenso a muito intenso. O nível da gerência intermediária possui um caso de estresse intenso e na
supervisão operacional um caso de estresse intenso e um caso de estresse muito intenso. Nesta
empresa o gerente geral do call center não participou do diagnóstico e os demais gestores se
dividiram em coordenadores e supervisores, enquadrando-se, portanto no nível de supervisão
operacional.
Comparando esta empresa com as de call center já analisadas (I e J), observa-se que o seu
ambiente organizacional é menos tensionante, como também os gestores tendem a estar mais
ajustados ao ambiente. Enquanto as empresas referenciadas possuem 62% do quadro de gestores
com manifestações de estresse, a empresa K possui 50%, sendo que desse percentual 17%
enquadram-se nos níveis de estresse intenso e muito intenso. No caso das empresas I e J, esses
níveis são 12% e 26%, respectivamente. Dessa forma, se comparada em relação aos níveis mais
intensos de estresse, a situação da empresa I mostra-se mais favorável.
Empresa L
A empresa L possui a matriz em Belo Horizonte/MG. Atua na área de prestação de serviços, por
meio de call center, tendo sido descrita de forma mais completa no conteúdo relativo à empresa
E, que é uma filial que atua na cidade de Salvador/BA. Está vinculada a uma empresa holding
que atua no segmento de Tecnologia da Informação (TI), sendo uma das principais empresas do
ramo com atuação no Brasil. Na sua estrutura organizacional, possui um diretor executivo geral,
que acumula essa função nas empresas de Belo Horizonte/MG e também da filial de Salvador.
A pesquisa em referência abrangeu 100% do quadro de gestores, num total de 42, sendo 3 no
nível de alta gerência, 5 no de gerência intermediária e 34 no de supervisão operacional, que é o
que faz a gestão direta dos consultores de atendimento, os quais, em equipe, desenvolvem as
atividades por meio da operação de computadores, com apoio de softwares específicos para esse
tipo de atendimento. Como principais clientes, atende empresas com atuação nos diversos
setores, como telecomunicações, seguridade, processamento de dados, apoio social e saúde.
Possui certificação ISO 9001/2000, relacionada ao atendimento eletrônico, via voz e dados, nas
formas receptivas e ativas. A tabela 47 mostra o resultado global do diagnóstico de estresse
ocupacional realizado na referida empresa.
Tabela 47– Nível de estresse ocupacional – Empresa L
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 0 0% 1 20% 10 29% 11 26%
Leve a moderado 2 67% 1 20% 14 41% 17 40%
Intenso 1 33% 2 40% 9 27% 12 29%
Muito intenso 0 0% 1 20% 1 3% 2 5%
Total 3 100% 5 100% 34 100% 42 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Em termos globais, a empresa está com 74% do seu quadro de gestores, ou 31, estressados. O
grau de estresse varia de leve a moderado, 40%, ou 17; estresse intenso, 29%, ou 12; e estresse
muito intenso, 5%, ou 2. A maior concentração dos níveis de estresse intenso e muito intenso
concentra-se na gerência intermediária, 60%.
Comparando esses resultados com os das demais empresas com atuação na área de call center (I,
J e K), o quadro de estresse geral da empresa em análise está mais elevado. Em relação ao nível
de estresse leve a moderado, só está mais baixo do que a empresa I, que apresentou percentual de
50%, contra um percentual de 40% da empresa em referência. Nos níveis de estresse elevado e
muito elevado, o percentual de 34% é significativamente maior do que os identificados nas
demais empresas com atuação nesta área.
Comparando a empresa L com a média geral da amostra em relação ao nível geral de estresse,
esta se encontra 11% acima. Na comparação com os níveis de estresse intenso e muito intenso,
está 16% acima. Tendo como base os dados de entrevistas realizada com alguns gestores,
observou-se que o nível de cobrança superior é muito forte e que essa mesma postura é
transferida em cascata para os demais níveis hierárquicos. Aspectos como metas de resultados
estabelecidas pelos clientes em patamares muito desafiadores e interferência dos mesmos na
gestão das equipes contribuem para aumentar ainda mais os níveis de tensão no ambiente
organizacional. As questões das vaidades pessoais dos gestores e dificuldades de relacionamento
também foram colocadas como elementos importantes e que potencializam os níveis de tensão na
empresa.
Tendo em vista o resultado apresentado, é importante que esse diagnóstico seja aprofundado para
se ter maiores evidências das situações de geração de tensão e conseqüente desestabilização da
estrutura psíquica de grande parte dos empregados, principalmente aqueles gestores
diagnosticados nos níveis de estresse intenso e muito intenso (14). A continuação ou, mesmo, o
agravamento desses níveis de estresse poderão trazer conseqüências extremamente negativas para
a saúde dos gestores e também, de certa forma, apresentarão reflexos negativos para a empresa,
tanto em termos de absenteísmo involuntário de caráter médico (saúde) como em relação à queda
de produtividade.
Empresa M
A empresa em referência pertence ao grupo descrito na apresentação da empresa C. Possui 211
empregados e um quadro aproximado de 15 gerentes. Atua no ramo de metalurgia e produtos
trefilados, localizando-se numa das principais cidades do interior do estado da Bahia.
A tabela 48 mostra o resultado global do diagnóstico de estresse ocupacional realizado na
referida empresa. A amostra pesquisa foi de 100% do seu quadro de gestores.
Tabela 48 – Nível de estresse ocupacional – Empresa M
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 1 50% 3 75% 7 78% 11 74%
Leve a moderado 0 0% 1 25% 1 11% 2 13%
Intenso 1 50% 0 0% 1 11% 2 13%
Muito intenso 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Total 2 100% 4 100% 9 100% 15 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Os resultados globais indicam que 74% do quadro de gestores, ou 11,
apresentam ausência de estresse, situação extremamente desejável. Os demais
gestores, 26%, ou 4, apresentam quadro de estresse variando de leve a moderado
(2) e estresse intenso (2). Os níveis de estresse intenso estão localizados na alta
gerência (1) e no nível de supervisão operacional (1). Comparando esses
resultados com as demais empresas do grupo (C, N e O), tem-se a situação
apresentada a seguir.
Em relação à empresa C – no global, apresenta maior percentual de gestores com
ausência de estresse: 74% contra 38%; em relação ao nível de estresse leve a
moderado, apresenta menor percentual: 13% contra 50%; em relação ao nível de
estresse intenso, o percentual é quase equivalente: 13% contra 12%. Em síntese,
com base nos dados obtidos, pode-se afirmar que a situação da empresa M em
relação à empresa C é mais favorável.
Em relação à empresa N – no global, apresenta percentual bem mais significativo
de gestores com ausência de estresse: 74% contra apenas 8%; em relação ao
nível de estresse leve a moderado, apresenta menor percentual: 13% contra 69%,
situação compensada pelo alto percentual de ausência de estresse na empresa
em análise; em relação aos níveis de estresse intenso e muito, a sua situação é
bastante favorável, uma vez que em relação ao quadro de estresse intenso
apresenta um percentual menor: 13% contra 15%; em relação ao nível de estresse
muito intenso, verifica-se a ocorrência somente na empresa N (8%). Dessa forma,
em síntese, pode-se afirmar que a situação da empresa M é bastante favorável
quando comparada com a empresa N.
Em relação à empresa O – no global, apresenta um percentual bem mais
significativo de gestores com ausência de estresse: 74% contra 35%; em relação
ao nível de estresse leve a moderado, apresenta menor percentual: 13% contra
41%, situação, de certa forma, compensada pelo percentual de ausência de
estresse na empresa em análise (74%); em relação aos níveis de estresse intenso
e muito, a situação da empresa M é favorável, uma vez que em relação ao quadro
de estresse intenso apresenta percentual menor: 13% contra 18%; em relação ao
nível de estresse muito intenso, verifica-se a ocorrência somente na empresa O
(6%). Em síntese, pode-se afirmar que a situação da empresa M é favorável se
comparada com a situação apresentada pela empresa O.
Em termos gerais, recomenda-se que os níveis de estresse intenso e muito
intenso possam ter a sua análise aprofundada, para que as empresas em
referência possam tomar as medidas necessárias para cada caso diagnosticado
nesses níveis.
Empresa N
A empresa em referência, como a empresa analisada anteriormente (M), pertence ao grupo
descrito na apresentação da empresa C. Possui 215 empregados no seu quadro de pessoal.
A tabela 49 mostra o resultado global do diagnóstico de estresse ocupacional realizado na
referida empresa, cuja amostra pesquisada foi bem próxima do total da população de gestores.
Tabela 49 – Nível de estresse ocupacional – Empresa N
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 0 0% 0 0% 1 14% 1 8%
Leve a moderado 1 50% 3 75% 5 72% 9 69%
Intenso 1 50% 0 0% 1 14% 2 15%
Muito intenso 0 0% 1 25% 0 0% 1 8%
Total 2 100% 4 100% 7 100% 13 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Em termos globais, a empresa em análise apresenta 92% dos seus gestores, ou
12, com quadro de estresse. No nível de estresse leve a moderado, são 69%, ou 9,
e nos níveis de estresse intenso e muito intenso, 23%, ou 3. Os casos de estresse
intenso ocorrem nos níveis de alta gerência e supervisão operacional, e o caso de
estresse intenso está localizado no nível da gerência intermediária. Os níveis de
estresse intenso e muito intenso, se comparados com a média geral da pesquisa,
encontram-se em patamar mais elevado: 23% contra 18% na média geral do
conjunto de empresas analisadas.
Empresa O
A empresa em referência, como as empresas analisadas anteriormente (M e N), pertence ao grupo
descrito na apresentação da empresa C. Possui 194 empregados e 18 gestores.
A tabela 50 mostra o resultado global do diagnóstico de estresse ocupacional realizado na
referida empresa, cuja amostra pesquisa foi da ordem de 94% dos seus gestores.
Tabela 50 – Nível de estresse ocupacional – Empresa O
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência 0 0% 3 38% 3 33% 6 35%
Leve a moderado 0 0% 3 37% 4 45% 7 41%
Intenso 0 0% 2 25% 1 11% 3 18%
Muito intenso 0 0% 0 0% 1 11% 1 6%
Total 0 0% 8 100% 9 100% 17 100%
Nível de estresse
Nível Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Em termos globais, a empresa em análise apresenta 65% dos seus gestores, ou
11, com quadro de estresse. No nível de estresse leve a moderado, são 41%, ou 7,
e nos níveis de estresse intenso e muito intenso, 24%, ou 4. Os casos de estresse
intenso ocorrem nos níveis da gerência intermediária e supervisão operacional, e
o caso de estresse muito intenso está localizado no da supervisão operacional.
Os níveis de estresse intenso e muito intenso, se comparados com a média geral
da pesquisa, encontra-se em patamar mais elevado: 24% contra 18% na média
geral do conjunto de empresas analisadas.
Em síntese, foram analisadas as 15 empresas que compuseram a mostra da
pesquisa, sendo que 8% dos gerentes estão no nível de alta gerência, 39% no de
gerência intermediária e 53% no nível de supervisão operacional.
A análise foi efetuada tendo como base o diagnóstico realizado por meio de
instrumento de pesquisa ajustado em decorrência do modelo teórico proposto
para explicar o estresse ocupacional em gerentes (MTEG).
O Modelo teórico (figura 11) e o instrumento de pesquisa aderente (Apêndice E)
constituem-se em resultados deste trabalho, encontrando-se à disposição dos
pesquisadores, como alternativa adicional para o desenvolvimento de estudos
nessa área.
Em termos gerais, observou-se que 63%, dos indivíduos pesquisados apresentam
manifestações de estresse. Desse percentual, 45%, estão no nível de estresse
leve a moderado; 15%, com um quadro de estresse intenso; e 3%, no nível de
estresse muito intenso. Ressalta-se que da amostra considerada para a pesquisa,
de 550 casos, 3 não foram incluídos nesta análise, uma vez que não foi possível
identificá-los do ponto de vista do enquadramento no nível hierárquico que estão
posicionados nas respectivas empresas que atuam.
A tabela 51 apresenta uma visão geral das empresas pesquisadas por setor de
atuação e nível de estresse, tendo em vista dois grupos de gerentes. No grupo 1
estão aqueles diagnosticados por intermédio do MTEG com ausência de
estresse/estresse leve a moderado e no grupo 2, os gerentes com estresse
intenso/muito intenso.
Tabela 51 – Visão geral das empresas pesquisadas em relação ao setor de
atuação e nível de
estresse identificado
Empresas Setor de Atuação Grupo 2 Grupo 1
A Bancário 38% 62%
J Telefonia Móvel – Call Center 26% 74%
H Telefonia Móvel 24% 76%
O Metalurgia 24% 76%
N Metalurgia 23% 77%
D Industrial Química 20% 80%
B Metalurgia 18% 82%
K Telefonia Móvel – Call Center 17% 83%
L Call Center 17% 83%
G Informática 13% 87%
M Metalurgia 13% 87%
I Telefonia Móvel – Call Center 12% 88%
C Metalurgia 12% 88%
F Celulose e Papel 4% 96%
E Call Center - 100%
Fonte: dados da pesquisa
Como pode ser observado na tabela 51, o setor pesquisado que apresenta maior
incidência de estresse nos níveis intenso e muito intenso é o bancário. Num
segundo nível de importância estão presentes empresas dos setores de telefonia
móvel e metalurgia. Como pode ser observado com base na tabela em referência,
só o setor de atuação não é suficiente para explicar as manifestações de estresse
no grupo gerencial.
5.6.2 Diagnóstico individual de estresse – casos ilustrativos
Com o objetivo de aprofundar o diagnóstico e a análise do estresse ocupacional
no plano individual da amostra, serão apresentados a seguir quatro casos
ilustrativos, sendo um de cada nível diagnosticado (ausência de estresse,
estresse leve a moderado, estresse intenso e estresse muito intenso). Os casos
foram identificados aleatoriamente, sendo que os nomes das empresas foram
omitidos para preservar o anonimato pactuado com as mesmas e com os
respectivos respondentes por ocasião do levantamento de dados, que ocorreu
por meio da aplicação de questionário e da realização de entrevistas semi-
estruturadas (Apêndices A e B).
Para subsidiar a análise em referência, os resultados foram obtidos por meio da
média aritmética das cargas dos respectivos fatores da tabela 16 – Matriz
Rotacionada de Componentes. Os limites identificados para a análise dos níveis
de estresse são os seguintes, considerando uma escala com variação de 1,00 a
5,00: I) ausência de estresse < 1,75; II) estresse leve a moderado > ou = 1,75 a <
2,46; III) estresse intenso > ou = 2,46 a < 3,16; IV) estresse muito intenso > ou =
3,16.
a) Caso de estresse muito intenso
O nível muito intenso indica a ocorrência de manifestações de estresse num grau muito elevado,
gerando impactos significativos nos diversos ambientes onde o indivíduo opera. As condições
orgânicas e psíquicas apresentam alterações importantes, e os casos dessa intensidade necessitam
de tratamento/acompanhamento clínico e/ou psicológico.
Este nível de estresse apresenta problemas de concentração, gerando dificuldades nas atividades
em geral. O trabalho é impactado de forma importante, ocasionado queda significativa na
produtividade, entre outras manifestações. Caso esse estado persista por um período mais longo
(acima de três meses), poderá ocorrer tendência de agravamento do quadro, passando a
comprometer de forma muito importante a estrutura psíquica, afetando aspectos
comportamentais/emocionais e orgânicos, com conseqüentes impactos nos diversos ambientes
onde o indivíduo está presente, ocasionado o afastamento das atividades, até mesmo do trabalho.
Esse caso analisado é de um gerente que atua em empresa do ramo de
metalurgia, possui curso superior incompleto, ocupa a função de gerência
intermediária e à época da pesquisa encontrava-se com 37 anos. Trabalha na
empresa entre 4 a 6 anos, atua na área de manutenção e sua jornada de trabalho é
em torno de 50 horas semanais. Trabalha de forma extraordinária com certa
freqüência aos sábados e de acordo com a sua percepção não tem previsão de
ser promovido nos próximos anos. É casado, sua esposa trabalha em tempo
integral e tem um filho. Raramente realiza atividade física, fuma de um a dois
maços de cigarros por dia e nos últimos seis meses vem fumando mais que de
costume. Bebe regularmente, raramente encontra tempo para relaxar/descansar,
não possui hobbie e quase nunca se envolve socialmente com os colegas de
trabalho. Em termos de saúde, há aproximadamente cinco anos está com gastrite.
Os principais sintomas identificados em grau muito freqüente foram: nervosismo acentuado, dor
nos músculos do pescoço e ombros, indisposição gástrica e uso de cigarros para aliviar os níveis
de tensão. Foram identificados, também de forma importante, os sintomas de ansiedade, ímpetos
de raiva, fadiga (baixo nível de energia, sentindo-se cansado precocemente ao longo do dia),
irritabilidade sem motivos aparentes, períodos de depressão, falta ou excesso de apetite, perda
e/ou oscilação do senso de humor e uso de bebidas alcoólicas para aliviar a tensão.
A escala apresentada a seguir tem como objetivo mostrar, de forma ilustrada, o nível de
intensidade de estresse que o gerente em análise apresenta.
Escala de avaliação:
1,0
5,0
3,86
Ausência de estresse < 1,75
Estresse leve a moderado > ou = 1,75 a < 2,46
Em relação a este caso, as principais causas de tensão excessiva no trabalho presentes de forma
muito importante foram: realizar várias atividades simultâneas, com alto grau de cobranças;
trabalhar sempre amarrado a prazos e com prazos urgentes; ter que apresentar os resultados,
muitas vezes, sem ter as condições necessárias para tal (material, pessoal, equipamentos
adequados); conviver com a falta de ética e entrar em conflito consigo mesmo; na maior parte do
tempo sentir-se inseguro/instável na relação com a empresa; deparar constantemente com
exageros de ter que fazer o máximo com o mínimo de recursos – comportamentos paranóicos;
não participar de decisões que afetam a área de trabalho; passar constantemente por situações de
humilhação e inibição da liberdade; estar envolvido no dia-a-dia com excesso de metas de
trabalho; ser cobrado de forma excessiva na aplicação de técnicas sofisticadas de produtividade;
por estímulo da empresa, estar constantemente preocupado com a concorrência, prazos, ações
imediatas e práticas exageradamente competitivas; e conviver com a filosofia da empresa no
sentido do estabelecimento de prazos e desafios de trabalho cada vez mais exigentes e apertados.
b) Caso de estresse intenso
O nível intenso indica a ocorrência de manifestações de estresse num grau elevado, podendo
gerar impactos importantes no indivíduo. As condições orgânicas e psíquicas já podem estar
apresentando alterações, e em alguns casos os indivíduos necessitam de
tratamento/acompanhamento psicológico, podendo necessitar também de tratamento clínico.
Neste nível de estresse, o indivíduo apresenta dificuldades de concentração, o que gera perda de
qualidade nas atividades em geral. Especificamente em relação ao trabalho, na maioria das vezes,
é impactado de forma importante, ocasionado queda na produtividade, entre outras ocorrências,
relacionadas ao ambiente ocupacional. Caso este estado persista por um período mais longo
(acima de três meses), poderá ocorrer uma tendência de agravamento do quadro, passando a
comprometer de forma muito importante a estrutura psíquica, afetando aspectos
comportamentais/emocionais e orgânicos, com conseqüentes impactos nos diversos ambientes
que o indivíduo opera, podendo ocasionar o afastamento das atividades diárias, até mesmo do
trabalho.
Esse caso analisado é de um gerente que atua em empresa do ramo de
metalurgia, possui curso superior completo na área de administração e
atualmente está realizado pós-graduação (especialização). Ocupa a função de
gerência intermediária e à época da pesquisa encontrava-se com 48 anos.
Trabalha na empresa há mais de seis anos, atuando na área comercial e sua
jornada de trabalho é em torno de 48 horas semanais. Sempre trabalha de forma
extraordinária aos sábados e, de acordo com a sua percepção, não tem previsão
de ser promovido nos próximos anos. É casado, sua esposa não trabalha
atualmente e tem dois filhos. Realiza atividade física com certa regularidade, não
fuma e bebe socialmente, sendo que nos últimos seis meses tem bebido menos
que de costume. Às vezes, encontra tempo para relaxar/descansar. Possui como
principais hobbie leitura, cinema e televisão. Quase nunca se envolve
socialmente com os colegas de trabalho. Em termos de saúde física/orgânica,
considera que está bem.
Os principais sintomas identificados em grau muito freqüente foram: nervosismo acentuado, dor
nos músculos do pescoço e ombros, falta ou excesso de apetite e perda e/ou oscilação do senso de
humor. Identificaram-se também sintomas em grau freqüente, como ansiedade (sensação de
vazio, associado à medo/apreensão em relação ao futuro), dor de cabeça por tensão e perda e/ou
oscilação do senso de humor.
A escala apresentada a seguir tem por objetivo mostrar, de forma ilustrada, o nível de intensidade
de estresse que o gerente em análise apresenta.
Escala de avaliação:
1,0
5,0
2,49
Ausência de estresse < 1,75
Estresse leve a moderado > ou = 1,75 a < 2,46
Estresse intenso
>
ou
=
2,46 a
<
3,16
Estresse Muito intenso > ou = 3,16
Em relação a este caso, as principais causas de tensão excessiva no trabalho presentes de forma
importante foram: submeter-se à filosofia pautada pela obsessão e compulsão por resultados;
sofrer pressão excessiva decorrente do contexto de trabalho; e ter o tempo dominado pela
tecnologia (e-mail, softwares e sistemas integrados de gestão).
c) caso de estresse leve a moderado
O nível de estresse leve a moderado indica a ocorrência de manifestações de estresse, no entanto
em grau compensado, podendo não gerar impactos importantes nos diversos ambientes de
interação do indivíduo. Caso este estado persista por um período mais longo (acima de três
meses), poderá ocorrer tendência de agravamento da sua intensidade, passando a comprometer a
estrutura psíquica, afetando aspectos comportamentais/emocionais e orgânicos, com
conseqüentes impactos nos seus diversos ambientes, até mesmo no trabalho.
Esse caso analisado é de um gerente que atua em empresa do ramo de Call
Center, possui curso superior incompleto na área de ciências contábeis e ocupa a
função de supervisão operacional. À época da pesquisa encontrava-se com 26
anos. Trabalha na empresa entre 1 a 3 anos, atua na área comercial/atendimento e
sua jornada de trabalho é em torno de 44 horas semanais. Raramente trabalha de
forma extraordinária e, de acordo com a sua percepção, deverá ser promovido no
máximo em um ano. É solteiro e tem um filho. Raramente realiza atividade física,
não fuma e não bebe, nem mesmo socialmente. Às vezes, encontra tempo para
relaxar/descansar, e os seus principais hobbie são viajar, ir ao cinema, teatro e
futebol. Em geral, envolve-se socialmente com os colegas de trabalho. Em termos
de saúde, há aproximadamente 26 anos sofre de bronquite asmática.
Os principais sintomas identificados foram: fadiga (baixo nível de energia, sentindo-se cansado
precocemente ao longo do dia e, em alguns momentos, com a ocorrência de sonolência); e
insônia (dificuldade para conseguir dormir, sono entrecortado).
A escala apresentada a seguir tem por objetivo mostrar, de forma ilustrada, o nível de intensidade
de estresse que o gerente em análise apresenta.
Escala de avaliação:
As principais causas de tensão excessiva no trabalho
identificadas neste caso foram relacionadas ao processo
decisório, em que grande parte das decisões que afetavam
diretamente o trabalho do gerente era tomada sem a sua
participação, e à convivência com indivíduos de difícil
relacionamento, principalmente pares e superiores.
d) caso de ausência de estresse
Ausência de estresse significa um estado de bom equilíbrio entre as demandas psíquicas advindas
do ambiente, tais como trabalho, família e social, entre outras, e a estrutura psíquica do indivíduo.
Este caso analisado é de um gerente que atua em empresa do ramo de
metalurgia, possui curso superior completo de engenharia e função de gerência
intermediária, estando à época da pesquisa com 32 anos. Trabalha na empresa
entre 4 a 6 anos, atua na área de vendas e sua jornada de trabalho é em torno de
44 horas semanais. Raramente ou nunca trabalha de forma extraordinária e de
acordo com a sua percepção, será promovido entre dois a cinco anos. É casado,
sua esposa trabalha em tempo integral e não tem filhos. Sempre realiza atividade
física de forma regular, não fuma e bebe socialmente. Sempre encontra tempo
para relaxar/descansar. Os seus principais hobbie são corrida e caminhada, e
sempre se envolve socialmente com os colegas de trabalho. Não apresenta
nenhuma queixa em termos de saúde.
1,0
5,0
1,81
Ausência de estresse < 1,75
Estresse leve a moderado > ou = 1,75 a <2,46
Estresse inten
so
>
ou
=
2,46 a
<
3,16
Estresse muito intenso > ou = 3,16
Nesta situação específica, verifica-se que o gerente em questão está conseguindo um equilíbrio
ótimo em relação aos seus diversos contextos, o que contribui para um ajustamento positivo nos
ambientes de interação, redundado em bom nível de qualidade de vida e, conseqüentemente,
ausência de manifestações de estresse. Neste caso não ocorreram sintomas importantes de
estresse que mereçam serem destacados.
A escala apresentada a seguir tem por objetivo mostrar,de forma ilustrada, o nível de intensidade
de estresse que o gerente em análise apresenta, que neste caso enquadra-se na faixa verde de
ausência de estresse.
Escala de avaliação:
Nest
Neste caso as principais fontes de pressão identificadas relacionadas ao trabalho são de natureza
eventual e não apresentam nível excessivo de tensão. A exceção se faz em relação ao incômodo
decorrente da direção da empresa, que tem como filosofia de trabalho a obsessão e compulsão
por resultados, causando tensão excessiva no ambiente ocupacional. Outro aspecto que merece
1,0
5,0
1,56
Ausência de estresse < 1,75
Estresse leve a moderado > ou = 1,75 a < 2,46
Estresse intenso
>
ou
=
2,46 a
<
3,16
Estresse muito intenso > ou = 3
,
16
destaque nesse sentido é o excesso de tempo gasto com tecnologias no trabalho, como e.mails,
software e sistemas integrados de gestão, entre outras.
5.6.3 A relação do estresse com algumas variáveis demográficas
Neste item são analisados os níveis de estresse referentes à amostra global em
relação às seguintes variáveis demográficas: gênero, tempo na função atual,
horas efetivamente trabalhadas, realização de exercício físico regular, tempo para
relaxar, hábito de fumar e hábito de consumir bebida alcoólica, visando reduzir os
níveis de tensão excessiva no trabalho.
a) O estresse e o gênero
As tabelas 52 e 53 apresentam o resultado do diagnóstico de estresse, por níveis,
relacionados à variável gênero. Num primeiro momento, a tabela 52 refere-se aos
gerentes do sexo masculino e, num segundo momento, a tabela 53 refere-se aos
gerentes do sexo feminino.
Tabela 52 – Nível de estresse ocupacional e gênero masculino - Amostra geral
Fonte: dados da pesquisa
Teste Qui-quadrado p<0,01
Com relação ao sexo masculino, com base na tabela 52, observa-se que 62% dos
gerentes foram diagnosticados com quadro de estresse. Desse percentual, 15%
com estresse intenso e muito intenso. Em relação ao quadro de estresse intenso
e muito intenso, essa mesma situação praticamente ocorre nos níveis de gerência
intermediária e supervisão operacional. Esses percentuais são mais reduzidos
quando se analisa o nível da alta gerência.
Tabela 53 – Nível de estresse ocupacional e gênero feminino - Amostra geral
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência de estresse 17 46% 60 38% 79 38% 156 38%
Estresse leve a moderado 16 43% 74 47% 100 47% 190 47%
Estresse intenso 3 8% 21 14% 28 13% 52 13%
Estresse muito intenso 1 3% 2 1% 4 2% 7 2%
Total 37 100% 157 100% 211 100% 405 100%
%
vel Hierárquico
vel de estresse
Total por
nível de
estresse
Fonte: dados da pesquisa
Teste Qui-quadrado p<0,01
Em relação ao sexo feminino, que representa 25,6% da amostra total dos gerentes pesquisados,
em termos globais, se comparado ao sexo masculino, apresenta um percentual maior de gerentes
com quadro de estresse, 68%. Analisando a intensidade do estresse, níveis intenso e muito
intenso, esse percentual apresenta-se ainda mais acentuado: 27% contra 15% dos gerentes de
sexo masculino. Em relação aos três níveis de estresse na amostra do sexo feminino, verifica-se
uma predominância no nível da gerência intermediária, 75%, enquanto que na supervisão
operacional apresenta um percentual de 64%.
Com base nos dados apresentados nas tabelas 52 e 53, conclui-se que o estresse ocorre com maior
freqüência e intensidade no sexo feminino, em que os gerentes mais estressados são aqueles
ocupantes do nível de gerência intermediária. O teste de inferência estatística permite generalizar
que a mulher na função gerencial tem mais estresse do que os homens (p < 0,01).
A ocorrência de um maior nível de estresse no sexo feminino pode ser explicada tendo em vista o
tipo e a intensidade de hormônios produzidos, o que leva as mulheres a terem essa maior
propensão ao estresse, se comparadas aos homens (LUZ, 2005). Outras razões também podem
contribuir para explicar essa situação. De certa forma, as mulheres, além da jornada de trabalho
na empresa, assumem outras atividades no plano familiar, como realizar e/ou orientar atividades
domésticas e dedicar atenção especial à família em relação a atividades educacionais, entre
outras. Essas peculiaridades em relação ao trabalho da mulher podem gerar um maior nível de
tensão e extrapolar o ambiente ocupacional. Dessa forma, somando-se aos aspectos orgânicos e
fisiológicos inerentes ao sexo feminino, essas outras fontes de pressão podem contribuir para
explicar o maior nível de estresse identificado nos gerentes de sexo feminino.
Alta Gerência %
Gerência
Intermediária
%
Supervisão
O
p
eracional
%
Ausência de estresse 2 50% 14 25% 29 36% 45 32%
Estresse leve a moderado 2 50% 24 42% 32 40% 58 41%
Estresse intenso 0 0% 13 23% 16 20% 29 21%
Estresse muito intenso 0 0% 6 10% 3 4% 9 6%
Total 4 100% 57 100% 80 100% 141 100%
Nível de estresse
vel Hierárquico
Total por
nível de
estresse
%
Melo (2003) reforça essa explicação afirmando que a superposição de responsabilidades e o
cuidado com a casa e a família, paralelamente à atividade profissional, geram níveis de
sobrecarga no trabalho, estresse e conflitos.
b) O estresse e o tempo na função
A tabela 54 mostra o resultado do diagnóstico de estresse, por nível de
intensidade, relacionado-o à variável tempo na função.
Tabela 54– Nível de estresse ocupacional e tempo na função – Amostra geral
Menos de 1
ano
%
De 1 a 3
anos
%
De 4 a 6
anos
%
Mais de 6
anos
%
Ausência 55 49% 63 34% 31 36% 54 33% 203 37%
Leve a moderado 40 36% 81 43% 43 50% 84 52% 248 45%
Intenso 14 12% 37 20% 8 9% 22 13% 81 15%
Muito intenso 3 3% 6 3% 4 5% 3 2% 16 3%
Total 112 100% 187 100% 86 100% 163 100% 548 100%
Total por
nível de
estresse
%
Tempo na função
Nível de estresse
Observação: 2 casos sem informação
Fonte: dados da pesquisa
Com base nos dados da tabela 54, verifica-se que a situação de ausência de estresse é mais
freqüente naqueles indivíduos com menos tempo na função gerencial, ou seja, até um ano. À
medida que aumenta o tempo na função, o percentual de ausência de estresse tende a reduzir, mas
não apresenta grande discrepância em relação aos intervalos de tempo estudados. No entanto,
com base nos dados obtidos, é possível afirmar que a situação de ausência de estresse ocorre em
menor grau em relação aos gerentes com mais tempo na função (intervalo mais de 6 anos), em
que o percentual atinge 33%.
Em relação ao nível de estresse leve a moderado, verifica-se que, à medida que o tempo na
função vai aumentando, aumenta o percentual de gerentes com este nível de estresse. Essa mesma
regularidade e intensidade não são observadas em relação aos níveis de estresse intenso e muito
intenso. No caso do estresse intenso, a maior concentração ocorre no intervalo de 1 a 3 anos; no
caso do estresse muito intenso, de 4 a 6 anos. Em síntese, conclui-se que o tempo na função não é
um indicador discriminante capaz de explicar os níveis de estresse identificados na amostra
estudada.
c) O estresse e o número de horas trabalhadas
A tabela 55 proporciona a base de dados para analisar a relação dos níveis de estresse com a
jornada de trabalho dos gerentes pesquisados.
Tabela 55 – Nível de estresse ocupacional e número de horas trabalhadas semanalmente –
Amostra global
Até 44
%
Entre 45
e 50
%
Entre
51 e 60
%
Mais de
60
%
Ausência 52 42% 84 39% 61 35% 6 17% 203 37%
Leve a moderado 55 44% 101 46% 76 44% 17 47% 249 45%
Intenso 16 13% 29 13% 25 15% 12 33% 82 15%
Muito intenso 1 1% 4 2% 10 6% 1 3% 16 3%
Total 124 100% 218 100% 172 100% 36 100% 550 100%
Nível de estresse
Horas trabalhadas
Total por
nível de
estresse
%
Fonte: dados da pesquisa
Teste Qui-quadrado p<0,01
Tendo como referência os dados constantes da tabela 55, observa-se que a ausência de estresse
tem relação indireta com o número de horas trabalhadas; ou seja, à medida que a jornada de
trabalho aumenta, reduz o percentual de indivíduos com ausência de estresse. Numa jornada
considerada padrão, no caso brasileiro, de 44 horas semanais, o percentual de ausência de estresse
é de 42%. À medida que essa jornada aumenta, vai decrescendo esse percentual, até chegar em
17%, isso no caso daqueles gerentes que possuem jornada superior a 60 horas semanais.
Em relação ao nível de estresse leve a moderado, também ocorre uma relação direta e contínua;
ou seja, à medida que a jornada de trabalho aumenta, o percentual de indivíduos estressados
também aumenta. Passa de 44% no intervalo de até 44 horas semanais para 47% no caso daqueles
gerentes que têm jornada acima de 60 horas. No caso de estresse intenso essa situação é mais
agravada, uma vez que a mesma relação é verificada. No entanto, o percentual da primeira faixa
em relação à última (mais de 60 horas) passa de 13% para 33%, ou seja, quase que triplica. Em
relação ao nível de estresse muito intenso, essa tendência também é confirmada, apresentando
concentração maior no intervalo entre 51 e 60 horas.
Esse resultado vem confirmar que o descanso regular, construto de primeira ordem, constante do
modelo teórico apresentado, explica o construto de segunda ordem mecanismo de regulação, que
apresenta uma relação indireta com os sintomas de estresse e, conseqüentemente, com impactos
na produtividade.
O teste de inferência estatística realizado permite generalizar que gestores com carga semanal de
trabalho de até 44 horas têm menos estresse que aqueles que trabalham mais de 60 horas
semanais (p<0,01).
d) O estresse e a realização de exercício físico regular
A tabela 56 permite a análise da relação entre o estresse e a realização de programa de exercício
físico regular.
Tabela 56 – Nível de estresse ocupacional e realização de exercício físico regular – Amostra global
Sempre % Às vezes %
Raramente ou
nunca
%
Ausência 60 47% 66 44% 77 28% 203 37%
Leve a moderado 55 43% 67 45% 127 46% 249 45%
Intenso 10 8% 13 9% 59 22% 82 15%
Muito intenso 2 2% 3 2% 11 4% 16 3%
Total 127 100% 149 100% 274 100% 550 100%
Nível de estresse
Realiza Exercício Físico
Total %
Fonte: dados da pesquisa
Teste Qui-quadrado p<0,01
A realização de programa de exercício físico planejado e regular de pelo menos 30 a 40 minutos,
como corrida e caminhada, entre outros de mesma natureza, durante pelo menos três vezes por
semana é muito importante para melhorar as condições gerais de saúde dos indivíduos. Exceção
se faz a casos especiais, em que determinadas atividades físicas possam ser contra-indicadas em
função de questões de natureza específica.
Com base no teste de inferência estatística realizado, é possível generalizar que gestores que
praticam exercício físico regular têm menos estresse que aqueles que não utilizam essa prática (p
< 0,01).
Os dados constantes da tabela 56 comprovam essa relação. Observa-se que o maior percentual de
ausência de estresse ocorre entre os indivíduos que realizam atividades físicas de forma
freqüente. Esse percentual vai se reduzindo à medida que essa prática passa a ocorrer de forma
muito reduzida ou, mesmo, não ocorre. Em relação aos níveis de estresse, verifica-se que à
medida que a atividade física regular e planejada vai sendo reduzida ou, mesmo, não ocorre, a
incidência percentual de gerentes com quadro de estresse vai aumentado. Dessa forma, pode-se
considerar que existe relação inversa entre estresse e atividade física planejada e regular.
Pesquisas nessa área poderiam ser interessantes, objetivando identificar de forma mais específica
essa relação, além de apontar as atividades físicas mais adequadas para se obter maiores
benefícios em termos de distensionamento e melhoria das condições de saúde de forma sistêmica.
e) O estresse e o tempo utilizado para relaxamento/distensionamento
Esta análise será realizada tomando-se como base os dados constantes da tabela 56.
Tabela 57 – Nível de estresse ocupacional e a prática de relaxamento/distensionamento –
Amostra global
Sempre % Às vezes %
Raramente
ou nunca
%
Ausência 79 53% 114 34% 10 15% 203 37%
Leve a moderado 53 36% 167 50% 29 44% 249 45%
Intenso 16 11% 45 13% 21 32% 82 15%
Muito intenso 0 0% 10 3% 6 9% 16 3%
Total 148 100% 336 100% 66 100% 550 100%
Nível de estresse
Tempo para Relaxar
Total %
Fonte: dados da pesquisa
Teste Qui-quadrado p<0,01
Como no item anterior, percebe-se uma relação inversa entre o estresse e o tempo que os
indivíduos destinam para atividades de relaxamento/distencionamento. Juntamente com as
estratégias de controle cognitivo, atitude mental positiva e refratariedade, a estratégia de
relaxamento/distensionamento constitui meio eficaz de combate ao estresse (COUTO, 1987).
Com relação ao tempo para relaxamento/distensionamento, os dados da tabela 57 evidenciam a
sua efetividade. A ausência de estresse está relacionada com a importância que os indivíduos
atribuem a essa prática. Quanto mais encontraram tempo para essas atividades, maior foi o
percentual de ausência de estresse verificado na amostra pesquisada. O mesmo ocorreu em
relação aos níveis de estresse. Em todos os níveis (leve a moderado, intenso e muito intenso),
quanto maior foi a freqüência dessa prática, menores foram os percentuais de gerentes
estressados nesses respectivos níveis.
O teste de inferência estatística realizado permite generalizar que os gestores que preservam
tempo para relaxamento e práticas de distensionamento têm menos estresse que aqueles que não
utilizam essas estratégias (p < 0,01).
f) O estresse e o consumo de cigarro
A tabela 58 apresenta dados relacionando aos níveis de estresse identificados na amostra
pesquisada e o consumo de cigarro por parte desses indivíduos.
Tabela 58 – Nível de estresse ocupacional e fumantes – Amostra global
Si
m
%Não%
Ausência 10 15% 192 40% 202 37%
Leve a moderado 29 43% 220 46% 249 45%
Intenso 20 29% 62 13% 82 15%
Muito intenso 9 13% 7 1% 16 3%
Total 68 100% 481 100% 549 100%
Nível de estresse
Fuma
Total %
Observação: 1 caso sem informação
Fonte: dados da pesquisa
Analisando a amostra global, verifica-se que somente 12,3% são fumantes. Desse
percentual, 10% fumam menos de um maço por dia e 3,3% fumam entre um e dois
maços. Foi constatado que somente um gerente de toda a amostra pesquisa fuma
além de dois maços de cigarro por dia. De acordo com as suas informações,
obtidas na entrevista, essa prática objetiva minimizar as tensões decorrentes do
ambiente de trabalho. Esse indivíduo foi diagnosticado com quadro importante de
estresse.
g) O estresse e o consumo de bebida alcoólica
A tabela 59 apresenta dados que possibilitam essa análise.
Tabela 59 – Nível de estresse ocupacional e consumo de bebidas alcoólicas – Amostra global
Si
m
%Não%
Ausência 135 35% 68 43% 203 37%
Leve a moderado 180 46% 68 43% 248 45%
Intenso 64 16% 18 11% 82 15%
Muito intenso 12 3% 4 3% 16 3%
Total 391 100% 158 100% 549 100%
Nível de estresse
Toma bebidas alcoólicas
Total %
Observação: 1 caso sem informação
Fonte: dados da pesquisa
Em relação à amostra global pesquisada, 71,22% dos pesquisados, ou 391, fazem uso de bebida
alcoólica semanalmente. Desses, 64% bebem de uma a cinco doses
10
semanais; 22%, de 6 a 10
doses; 9%, de 11 a 20 doses; e 3%, mais de 21 doses por semana. Desses indivíduos, 128 nos
últimos seis meses têm bebido mais que de costume (Apêndice N). De acordo com os dados
obtidos, alguns justificam essa situação em função de o nível de pressão no ambiente de trabalho
ter aumentado nos últimos meses. Dessa forma, observa-se que a bebida está servindo como
válvula de escape, proporcionado um pseudo-relaxamento de curta duração, mas com possíveis
reflexos comprometedores da saúde dos gerentes. Essa situação pode ser observada na tabela 59.
Em todos os níveis de estresse identificados, a grande parte dos gerentes faz uso de bebida
alcoólica. Chama a atenção também o fato de que do grupo em que ocorre ausência de estresse
66,5% dos indivíduos também bebem, na sua grande maioria, de forma moderada (socialmente).
Em síntese, esta unidade teve como objetivo apresentar e analisar os resultados
do estudo, em que se abordou a descrição dos principais dados relativos ao perfil
da amostra pesquisada e posteriormente, analisou-se a confiabilidade dos
construtos. Esses construtos foram descritos e foram verificadas suas relações,
visando à orientação de operacionalização.
Em seguida, realizou-se a análise e verificação das hipóteses do estudo, que teve
como resultado a proposta do Modelo teórico para explicar o estresse
ocupacional em gerentes. Já com base no modelo teórico proposto decorrente do
estudo, foram apresentadas análises em relação ao estresse ocupacional da
amostra no global e por empresa.
Apresentou-se também a análise de casos ilustrativos em relação ao diagnóstico
de estresse por nível de intensidade, em que foram apontadas as principais
situações estressantes no ambiente de trabalho.
10
Uma dose corresponde a uma taça de vinho, uma caneca/tulipa de chope ou uma dose de destilados.
Por fim, foram realizados cruzamentos das principais variáveis demográficas
consideradas no estudo, relacionando-as com o diagnóstico de estresse global
de acordo com os níveis hierárquicos pesquisados (alta gerência, gerência
intermediária e supervisão operacional).
Na unidade seguinte, serão apresentadas as principais conclusões e recomendações em relação a
este estudo.
6 CONCLUSÃO
Esta seção tem como objetivo apresentar uma síntese dos principais resultados deste trabalho,
incluindo o Modelo teórico proposto para explicar o estresse ocupacional em gerentes, como
também oferecer recomendações às organizações no sentido de refletirem sobre os diversos
contextos ocupacionais da realidade organizacional, para que, de forma menos tensionante,
possam atingir os seus objetivos. A promoção de um ambiente de trabalho mais equilibrado pode
contribuir de forma significativa para alcançar um diferencial positivo em termos da qualidade de
vida dos trabalhadores, constituindo-se em condição importante para que, de forma sinérgica, as
organizações possam atingir com plenitude os resultados almejados.
.Objetiva-se também, apresentar recomendações dirigidas aos trabalhadores que exercem funções
gerenciais para que, de forma consciente, possam atuar com maior equilíbrio pessoal, buscando,
sobretudo, atingir os resultados desejados pelas organizações, compatibilizando-os com os
objetivos e expectativas pessoais. Essa forma mais equilibrada nas relações de trabalho torna-se
condição importante para a saúde, tanto psíquica como orgânica, contribuindo para um maior
equilíbrio, em que todos os atores envolvidos possam estar diante de uma situação de ganha-
ganha.
Também, são apresentadas recomendações teóricas, tendo como objetivo principal construir uma
agenda de pesquisa que possa contribuir para o desenvolvimento e aprofundamento de estudos
nessa área, tão importantes para indivíduos quanto pra as organizações. Nesse contexto, algumas
limitações deste trabalho foram mencionadas.
Dessa forma, a presente unidade está estruturada em três partes: a) síntese dos principais
resultados, discussões e conclusões; b) apresentação de recomendações para as organizações e
trabalhadores gerentes no sentido de tornar o ambiente ocupacional mais equilibrado e,
conseqüentemente, mais produtivo, contribuindo assim, para melhorar a qualidade de vida no
trabalho e minimizar os altos níveis de pressão no contexto ocupacional; e c) apresentação de
sugestões de agenda de pesquisa para direcionar futuras pesquisas nesta área, como também
destacar algumas limitações identificadas no presente estudo.
Principais resultados obtidos
Tendo em vista os objetivos deste trabalho, desenvolveu-se o Modelo teórico
para explicar o estresse ocupacional em gerentes (MTEG), validado por meio de
equações estruturais e suportado com base nas teorias sobre estresse
ocupacional, tendo como referência os estudos de Cooper et al. (1998, 2000,
2002), Karasek (1996, 1998, 2000), Moraes (1990, 1992, 1995, 1998, 2000, 2002,
2003) e Couto (1987). As contribuições de Selye (1936, 1956, 1974), Friedman &
Rosenman (1974), French (1983), Goldberg (1986), Albrecht (1990), Levi (2003,
2005) e Sauter (2005) também foram de grande importância para o presente
estudo.
Modelo teórico proposto para explicar o estresse ocupacional em gerentes
O Modelo teórico (figura 11) proposto neste estudo, se comparado com o Modelo
dinâmico de estresse ocupacional, de Cooper et al. (1988), que teve suas escalas
de avaliação (OSI) revisadas por Evers, Frese & Cooper (2000), bem como o
Modelo de tensão do trabalho, de Karasek (1988), apresenta os aspectos
estruturais a seguir mencionados.
As fontes de estresse são apresentadas por meio de dois construtos de segunda
ordem, tendo sido separadas em fontes de tensão no trabalho (FTT) e fontes de
tensão do indivíduo e do papel gerencial (FTIPG). O FTT é explicado por
construtos de primeira ordem: processos de trabalho; relações no trabalho;
insegurança nas relações de trabalho e convivência com indivíduos de
personalidade difícil (dificuldades no relacionamento). Cada um desses
construtos de primeira ordem foi explicado por um conjunto de indicadores. O
FTIPG é explicado por quatro construtos de primeira ordem: responsabilidades
acima dos limites; estilo e qualidade de vida; trabalho dos gerentes (de natureza
gerencial); e desmotivação. Esses construtos de primeira ordem são explicados
por um conjunto de indicadores.
Apresentam-se também dois outros construtos de segunda ordem: mecanismos
de regulação (MECREGUL); e sintomas de estresse (SINTOMAS). O MECREGUL é
explicado por três construtos de segunda ordem: interação e prazos; descanso
regular; experiência no trabalho e atividade física. Esses construtos de primeira
ordem também são explicados pelos seus respectivos indicadores. O construto
SINTOMAS é explicado por três construtos de segunda ordem: sintomas de
hiperexitabilidade e senso de humor; sintomas psíquicos, sintomas decorrentes
do sistema nervoso simpático (SNS) e os de origem gástrica; e aumento do tônus
vital, tontura/vertigem, falta/excesso de apetite e relaxamento. O modelo proposto
leva ainda em consideração outro construto de primeira ordem, o qual, por meio
dos seus indicadores, explica os impactos na produtividade (IMPACTOS).
Como pode ser observado, o MTEG avança teoricamente à medida que contribui
para o aprofundamento das explicações relacionadas às fontes de pressão,
relacionando-as a tensões decorrentes do trabalho, com explicações por meio de
três construtos de primeira ordem e 23 indicadores.
O mesmo ocorre em relação às fontes de tensão do indivíduo e do papel
gerencial, que são explicadas por quatro construtos de primeira ordem e 14
indicadores. Avança também, à medida que insere no Modelo teórico proposto
o
construto de primeira ordem aspectos específicos do trabalho do gerente (tabela
24), que explicou de forma importante a incidência de estresse neste grupo
funcional.
Constam ainda do Modelo teórico proposto os mecanismos de regulação, que
explicam as ações e/ou comportamentos que os gerentes colocam em prática
visando compensar e/ou neutralizar situações tensionantes no ambiente
ocupacional, os quais atuam no sentido de amenizar as pressões decorrentes do
ambiente de trabalho e, conseqüentemente, minimizar as causas e os sintomas
de estresse. Permite, também, de forma mais completa e aprofundada, categorizar
por tipo de sintoma e estabelecer o diagnóstico de estresse, por meio de
instrumento aderente ao modelo teórico proposto (Apêndice E).
Outro aspecto importante que contempla o modelo em referência foi a introdução
de um construto ainda não presente na literatura estudada que objetiva explicar
os impactos na produtividade decorrentes dos sintomas de estresse.
Procurou-se estudar também os impactos decorrentes de outras fontes de tensão
decorrentes de outros ambientes que não o ocupacional. No entanto, não se
obteve uma relação direta desse construto com outros construtos do modelo.
Tendo em vista esta constatação, este construto não faz parte do modelo teórico
proposto, sendo recomendado o aprofundamento de estudos nesta direção
quando da apresentação das sugestões que compõem a agenda para a realização
de novas pesquisas nesta área, constante desta unidade.
Em síntese, analisando o Modelo teórico proposto por este estudo em relação ao
Modelo dinâmico do estresse ocupacional de Cooper et al. (1988) e ao Modelo de
tensão do trabalho, de Karasek (1998), o Modelo teórico proposto para explicar o
estresse ocupacional em gerentes apresenta os seguintes aspectos principais a
serem considerados.
- Introduz o construto aspectos específicos do trabalho do gerente, explicado a
partir de sete indicadores (item 5.3.2.3).
- Enfatiza e amplia os mecanismos de regulação, que são explicados a partir três
construtos: interação na organização e prazos, descanso regular, experiência no
trabalho e atividade física, e sete indicadores (item 5.3.3).
- Categoriza e amplia os sintomas de estresse por meio dos seguintes construtos:
sintomas de hiperexitabilidade e senso de humor; sintomas psíquicos, sintomas
decorrentes do sistema nervoso simpático e gástricos; e sintomas de aumento do
tônus vital, tontura/vertigem e falta/excesso de apetite. Esses construtos são
explicados a partir de vinte indicadores (item 5.3.5).
- Amplia os aspectos relacionados aos impactos na produtividade, que são
explicados por construto específico, a partir de sete indicadores, para medir
situações tais como: eficiência no trabalho; dificuldades relacionadas à memória
e concentração no trabalho; comportamentos de fuga de responsabilidades;
perda de controle dos eventos relacionados à vida (trabalho, família e social,
entre outros); e desgastes nos relacionamentos no trabalho e fora dele.
- Propõe questionário aderente ao Modelo teórico (Apêndice E) capaz de diagnosticar o nível de
estresse de ocupantes da função gerencial em atuação no Brasil, determinando o nível de
intensidade do fenômeno e o impacto dos diversos fatores causadores (trabalho, natureza pessoal
e contexto).
Diagnóstico do estresse ocupacional
Com base no Modelo teórico proposto para explicar o estresse ocupacional em
gerentes (MTEG), apresenta-se a síntese do diagnóstico realizado em uma
amostra de 547 gerentes, ocupantes de três níveis hierárquicos (alta gerência,
gerência intermediária e supervisão operacional), que desenvolvem suas
atividades em 15 empresas de diversos setores com atuação no Brasil.
Verificou-se que 63% dos gerentes, ou 345, foram diagnosticados com quadro de
estresse, sendo 45%, ou 246, com estresse leve a moderado; 15%, ou 82, com
estresse intenso; e 3%, ou 16, com manifestações de estresse muito intenso.
Apresar da utilização de metodologias diferentes, mas com o mesmo propósito,
esses resultados são comparados com algumas pesquisas realizadas no Brasil e
em outros países. A primeira comparação se dá em relação ao estudo realizado
por Couto (1987), pesquisando executivos e gerentes com atuação em empresas
brasileiras, principalmente aquelas em atividades nos estados de São Paulo,
Bahia, Espírito Santo e Distrito Federal. Do total de indivíduos pesquisados (552),
verificou-se que 68,1% dos gestores, ou 376, encontavam-se estressados naquela
oportunidade. Em relação ao diagnóstico realizado no presente trabalho, o
percentual de estressados é bastante próximo (63%). Ainda em relação a essa
pesquisa, os níveis identificados foram: ausência de estresse, 31,9%; estresse
leve a moderado, 23,9%; estresse intenso, 35,1%; e estresse muito intenso, 9,1%.
Nessa mesma década, pesquisa realizada por Cooper & Arbose (1984) mostra que
entre dez países os índices de estresse mais elevados se encontravam entre os
executivos do Egito, 41,6%, e do Brasil, 40,9%. Destes últimos, em torno de 50%
enquadravam-se na categoria de risco elevado de instabilidade mental. Os índices
de estresse mais baixos foram encontrados entre os executivos da Suécia, 14,5%,
e Alemanha, 10,5%.
Estudos mais recentes realizados por Cooper et al. (1998) em 37 países revelaram
que o Brasil passou do 17º para o 2º lugar como tendo os gerentes mais
estressados em relação aos países pesquisados. A Índia ficou em 1º lugar e as
Ilhas Fiji em 37º.
De acordo com pesquisas realizadas pela International Stress Management
Association (ISMA, 2003), verifica-se incidência importante de burnout (fase mais
grave do estresse) em relação aos profissionais brasileiros. Em situação mais
crítica estão os profissionais japoneses e com índices menores do que os
identificados no Brasil estão China, Estados Unidos, Alemanha. França e Israel.
Os menores índices foram identificados em Hong Kong e nas Ilhas Fiji. A
pesquisa também revela as profissões no Brasil nas quais os níveis de estresse
são os mais altos, em ordem de importância: profissionais de áreas de
segurança, controladores de vôo, gerentes/executivos em geral, profissionais de
áreas de saúde e jornalistas.
Os indivíduos atingidos pela síndrome de burnout deixam de ser funcionais,
tornando-se agressivos e apáticos, podendo desenvolver doenças
cardiovasculares, no sistema digestivo, diabetes e depressão, entre outras,
conforme relatado pela pesquisa.
Ainda segundo os dados da ISMA (2003), os altos índices de estresse
encontrados na pesquisa internacional estão relacionados com as fusões e o
enxugamento do quadro de pessoal das empresas, provocados, principalmente,
pelos efeitos da globalização. Essa situação tem modificado de forma acentuada
a organização das empresas, sobretudo com a horizontalização das estruturas,
refletindo-se na organização do trabalho e aumentando o grau de tensão dos
trabalhadores. Essa visão também é compartilhada por Sauter (2005), ao
considerar que as práticas organizacionais, além de terem mudado drasticamente
a economia para aumentar os níveis de competitividade, fizeram com que muitas
empresas, principalmente as de grande porte, reduzissem de forma significativa
os seus quadros de pessoal. Outra estratégia marcante, segundo o autor, é o
aumento significativo da contratação de trabalhadores temporários e mão-de-
obra terceirizada, que atualmente nos EUA são os maiores empregadores. Além
desses aspectos, menciona as tecnologias de produção enxutas e mais flexíveis,
que estão disseminadas por toda a indústria, nas diversas partes do mundo.
Em relação à realidade brasileira, foi constatado que mesmo nas 150 melhores
empresas para se trabalhar a grande queixa do pessoal está relacionada à carga
excessiva de trabalho (VOCÊ S/A, 09/2005).
Na visão de Cooper (2005), à medida que as organizações terceirizam, um número
cada vez maior de indivíduos passa a vender seus serviços às organizações
mediante contratos de curto prazo ou prestação de serviço autônomo. Essa
situação contribui para a criação de uma cultura corporativa de empregados
temporários, já fortemente presente nos diversos níveis das organizações,
aumentando a incerteza nas relações de trabalho e, conseqüentemente, gerando
níveis importantes de pressão, podendo constituir-se em importante indutor do
estresse ocupacional.
Além das questões de ordem organizacional, é importante ressaltar que as
características individuais também são determinantes para a assimilação de
níveis mais elevados de tensão. Os indivíduos mais vulneráveis são aqueles com
menor grau de confiança e que possuem dificuldades para lidar com limites e
frustrações, principalmente quando relacionados com a vida humana (ISMA,
2003; COUTO, 1987).
Para Levi (2003), numa análise mais ampla dessa situação, as principais causas
do estresse estão relacionadas com o alto esforço e a baixa gratificação e
reconhecimento dos trabalhadores. Para ele, a solução passa por ações
integradas, que vão desde o comprometimento de cada individuo e organização,
no sentido do estabelecerem condições e estilo de vida mais saudável, até o
envolvimento do governo, que deveria abraçar políticas de prevenção de altos
níveis de estresse. Isso porque, mais do que um ônus para as empresas, as
doenças causadas pelo excesso de trabalho em situações tensionantes custam,
por exemplo, aos estados membros da União Européia cerca de 300 bilhões de
dólares por ano ao sistema de saúde. Como exemplo desse nível de
envolvimento, a Volvo desenvolveu na Suécia programa de prevenção de
estresse entre os seus principais executivos. A empresa acredita que medidas
como conscientização sobre a quebra do ciclo de excesso de trabalho
tensionante e prática regular de atividades físicas podem ajudar a reverter
problemas causados pelos altos níveis de estresse. Nos últimos três anos, desde
que o programa foi implantado, nenhum executivo apresentou níveis elevados de
estresse. Acredita-se que a economia da empresa tenha sido de 17 milhões de
dólares referente ao não afastamento dos seus principais executivos (LEVI, 2003).
Ainda segundo Levi (2005), muitas causas e conseqüências do estresse
relacionado ao trabalho encontram-se disseminadas nos 15 estados membro da
União Européia. Dos 160 milhões de trabalhadores, 56% relatam que trabalham
num ritmo aceleradíssimo e 60%, com prazos apertados. Mais de 30% não têm
influência sobre a ordem das atividades que executam e 40% relatam possuir
tarefas monótonas. Essas mesmas causas foram apontadas, de forma importante,
pelos 550 gerentes pesquisados nas quinze empresas brasileiras objeto deste
estudo, exceto a realização de tarefas monótonas, que não foi identificada.
Recomendações
Apresentam-se aqui recomendações tanto para as organizações como para os trabalhadores que
exercem funções gerencias, com o propósito de tornar o ambiente ocupacional mais equilibrado
e, conseqüentemente, mais produtivo, bem como orientar em relação ao fortalecimento da
estrutura psíquica dos indivíduos, condições essas consideradas fundamentais para melhorar a
relação indivíduo-trabalho. A resultante dessa integração atuará no sentido de equilibrar a relação
entre as pressões psíquicas advindas do ambiente ocupacional e a capacidade psíquica dos
indivíduos para suportá-las. Havendo, portanto, esse maior equilíbrio, tende-se a obter melhor
ajuste em relação ao contexto do trabalho, o que conseqüentemente tenderá, de forma proativa, a
reduzir as possibilidades de desenvolvimento de quadros de estresse na população gerencial.
Recomendações às organizações
As recomendações ora apresentadas têm como base os dados obtidos na pesquisa realizada, tanto
com a aplicação de questionário em 550 gerentes das 15 empresas participantes como também na
realização de entrevistas com aproximadamente 25% da amostra. Ressalta-se que essas
recomendações têm caráter genérico. Portanto, ao serem aplicadas, é importante analisar, de
forma específica, cada realidade em questão.
É importante mencionar que o trabalho gerencial enquadra-se na categoria do chamado “trabalho
de alta densidade”, que, de acordo com Couto (1995), apresenta duas características básicas: uso
constante da memória imediata; e grande número de microdecisões. Em certas situações, pode
haver um terceiro fator, que é a existência de carga afetiva na tarefa.
Essas características, aliadas àquelas específicas do trabalho dos gerentes, são responsáveis por
tornar a função gerencial mais susceptível a significativos níveis de tensão do ponto de vista
psíquico. Muitas empresas, em função da sua cultura, valores e crenças dos seus dirigentes,
potencializam essa situação adotando práticas, muitas vezes, geradoras de tensão excessiva no
trabalho, levando os trabalhadores a romperem o equilíbrio em relação a sua estrutura psíquica.
Diante desse contexto e tendo como base os resultados obtidos neste estudo, propõem-se as
recomendações apresentadas a seguir, com o objetivo de contribuir para um maior equilíbrio em
relação às pressões excessivas advindas do ambiente de trabalho e à capacidade dos indivíduos de
suportá-las. Tendo em vista que o trabalho ocupa um papel central na vida das pessoas e na
constituição das sociedades, esse maior ajuste contribuirá de forma muito importante para a
melhoria da qualidade de vida no trabalho e, conseqüentemente, para a preservação da saúde
psíquica e orgânica dos trabalhadores, sobretudo daqueles que exercem funções gerenciais. As
recomendações serão apresentadas em forma de itens, tendo em vista considerar-se que essa é
uma forma didática de pontuar objetivamente as questões mais importantes.
1ª) Ter noção clara de que a demanda excessiva de trabalho e a simultaneidade de atividades são
os principais fatores estressantes. Desincentivar práticas de pressão excessiva e dar ênfase às
ações de planejamento, visando, sobretudo, à integração dos objetivos organizacionais, à
definição de prioridades, ao estabelecimento de indicadores de resultados, à alocação de recursos,
à elaboração de cronogramas compartilhados de execução e aos procedimentos de
acompanhamento. Atenção especial deverá ser dada para o nível excessivo de cobranças e
comportamentos paranóicos por resultados, situações essas geradoras de excesso de pressão no
ambiente de trabalho.
2ª) Ter noção dos limites das pessoas, adotando filosofia de trabalho pautada na valorização e
participação, a partir da definição, de forma adequada, dos processos de trabalho, estabelecendo
objetivos desafiadores, porém factíveis de realização, e levando em consideração as competências
gerenciais e as condições operacionais instaladas.
3ª) Estar atento a um número razoável de metas a serem desenvolvidas e ter noção de prazos
factíveis, incentivando a utilização racional da tecnologia disponível, observando sempre as
necessidades de adequação em função das necessidades da organização.
4ª) Acompanhar periodicamente os gerentes por intermédio do serviço médico e demais áreas
especializadas, avaliando o impacto do trabalho e a existência de gerentes obsessivo-compulsivo.
Identificar sinais precoces de fadiga crônica e desequilíbrio mental e de conduta, promovendo as
ações preventivas que cada caso requerer, e atentar para os casos identificados como de difícil
relacionamento no ambiente de trabalho (personalidade difícil), que deverão ser devidamente
orientados e acompanhados, visando à mudança de comportamento.
5ª) Monitorar, periodicamente, a forma de atuação dos gerentes, buscando orientá-los na adoção
de práticas equilibradas de gerenciamento, valorizando a participação, o bom relacionamento no
âmbito do seu grupo e da empresa, o equilíbrio na interação com os empregados e o
estabelecimento de metas factíveis, tudo isso segundo as diretrizes estabelecidas pela empresa.
6ª) Adotar postura ética nas relações de trabalho como ponto crítico, incentivando a participação
dos empregados e tomando como filosofia a valorização, o respeito humano e a liberdade de
ação, de forma autêntica e coerente.
7ª) Atentar para que o ocupante da função gerencial, não importando o nível hierárquico que
ocupa ou ocupará na organização, necessariamente deverá estar apto a desenvolver as suas
atribuições funcionais, devendo-se considerar aspectos de personalidade, como equilíbrio
emocional e capacidade psíquica para suportar níveis mais elevados de pressão decorrentes do
ambiente de trabalho, que são inerentes à função gerencial, e a posse de conhecimentos,
habilidades técnicas e comportamentais, bem como formação educacional compatível e
preparação gerencial específicos para esse fim.
8ª) Conscientizar os gerentes sobre os efeitos do estresse na produtividade e em relação aos
impactos no comportamento e saúde, realizando atividades que possam transmitir e conscientizar
sobre os aspectos essenciais nessa área.
9ª) Flexibilizar a padronização dos processos de trabalho, permitindo aos gerentes um certo grau
de liberdade, para que, no âmbito do nível de responsabilidade atribuída, possam ter autonomia
de participação e decisão.
10ª) Estruturar fisicamente o ambiente organizacional de forma a reduzir o nível excessivo de
ruído, calor e interrupções constantes, e atentar para a relação adequada do indivíduo com seu
posto de trabalho, observando os princípios ergonômicos.
11ª) Incentivar a prática de atividades físicas como rotina, na empresa e/ou fora dela, o que
proporcionará ao indivíduo mais disposição no desenvolvimento das suas atividades, e incentivar,
adicionalmente, a realização de atividades de distencionamento ao longo da jornada de trabalho
(pequenas pausas para relaxamento). Para os trabalhos que envolvem alta densidade, essas
pausas, de uma forma geral, podem ser de dez minutos a cada duas horas de trabalho, cabendo a
cada indivíduo buscar a melhor adequação de acordo com as suas características e necessidades.
Recomendações aos gerentes
1ª) Aprender a realizar atividades de distensionamento ao longo da jornada de trabalho (pequenas
pausas para relaxamento), observando que nos trabalhos que envolvem alta densidade essas
pausas, de forma geral, podem ser em torno de dez minutos a cada duas horas de trabalho,
cabendo a cada indivíduo buscar a melhor adequação de acordo com as suas características e
necessidades, lembrando que durante as pausas é importante exercitar a musculatura, andar e
conversar.
2ª) Procurar não assumir responsabilidades acima dos limites pessoais, realizando atividades de
acordo com a competência que possui (cognitiva, técnica e atitudinal/comportamental), buscando
de forma constante o crescimento/desenvolvimento pessoal e profissional. Adotar ações de
incentivo ao treinamento, desenvolvimento e educação da equipe de trabalho, atuando como
gerente coach.
3ª) Gozar férias regulares, como também utilizar os finais de semana para descanso.
4ª) Após o expediente, desligar-se das situações de trabalho, destinando tempo livre para a
realização de atividades prazerosas, atentando para a importância do repouso mínimo entre
jornadas de trabalho, que deverá ser de 11 horas, dormindo-se pelo menos 6 horas por noite.
5ª) Controlar o estilo de vida corrido e competitivo, procurando valorizar as ações de
planejamento, definindo recursos, cursos de ações e prioridades factíveis de acordo com a jornada
de trabalho, e atentar para a utilização de tecnologias (e.mail e softwares, entre outras de mesma
natureza) de forma racional, evitando as pressões excessivas decorrentes da sua utilização.
6ª) Desenvolver programa de qualidade de vida, buscando equilíbrio entre os diversos contextos
da vida (profissional, familiar, social, cultural, espiritual e a própria individualidade), tendo como
conseqüência níveis satisfatórios de saúde e realização.
7ª) Realizar programa de atividade física regular, pelo menos três vezes por semana, durante
quarenta minutos por dia, alimentando-se adequadamente.
8ª) Trabalhar as questões próprias, quer individualmente ou por intermédio de profissionais que
possam apoiar em relação às dificuldades/problemas vivenciados.
9ª) Aprender a questionar/negociar prazos e prioridades múltiplas que são determinadas no
contexto de trabalho.
10ª) Desenvolver o trabalho, pautado pela conduta ética, valorização, respeito humano e
liberdade de ação, de forma autêntica e coerente.
11ª) Realizar rodízio de tarefas, intercalando atividades de alta densidade com atividades de
densidade menor ao longo da jornada de trabalho.
Por fim, é importante recomendar que os profissionais de gestão de pessoas e de medicina do
trabalho estejam vigilantes aos primeiros sinais de tensão excessiva entre os gerentes. Essa
intervenção poderá ser realizada por meio de diagnóstico periódico dos níveis de estresse,
utilizando para tal o questionário proposto neste estudo (Apêndice E). Para que o ambiente de
trabalho mantenha-se em equilíbrio, é importante também identificar e controlar as práticas
sabidamente obsessivo-compulsivas, que, muitas vezes são, até mesmo, incentivadas dentro das
organizações.
Recomendações teóricas e limitações do trabalho
Apresentam-se aqui algumas recomendações no sentido de construir uma agenda de pesquisa que
possa contribuir, de forma sistematizada, para que a academia possa dar continuidade aos estudos
relacionados ao estresse, focando a realidade organizacional. Alguns problemas importantes
foram identificados ao longo do desenvolvimento deste trabalho, mas em função dos seus
objetivos e recortes anteriormente definidos e do tempo disponível para sua realização não foi
possível tratá-los na intensidade necessária.
Tem como objetivo também apresentar as principais limitações ocorridas ao longo do
desenvolvimento do estudo, que ocorreram por questões de ordem metodológica ou de outra
natureza, como dificuldades de acesso à amostra pesquisada, que foi uma constante nas diversas
etapas deste estudo. Ressalta-se ainda a grande dificuldade de acesso às empresas, que, para tal,
exige estratégias específicas, experiência esta que poderá gerar subsídios importantes para os
pesquisadores, principalmente aqueles que estão iniciando a sua trajetória.
Recomendações teóricas
As recomendações teóricas constituem-se de sugestões visando à elaboração de agenda de
pesquisa que possa contribuir para ampliar e aprofundar as conclusões desta pesquisa e o
desenvolvimento de outros estudos nessa área.
1ª) Aplicar o modelo teórico proposto, por meio dos instrumentos de diagnóstico aderentes, com
o objetivo de possibilitar possíveis ajustes na sua estrutura.
2ª) Procurar, de forma mais específica, entender por que não se verificou a relação do construto
fontes de tensão no trabalho (FTT) com o construto fontes de tensão do indivíduo e do papel
gerencial (FTIPG) – a relação estimada pelo PLS foi de 0,8 e a relação encontrada foi de 0,6
(limites inferior e superior), como pode ser verificado na tabela 34.
3ª) Procurar, de forma mais específica, entender por que não se verificou a relação do construto
outras fontes de tensão (OFT) – tensões de natureza familiar, social, e de outras naturezas – com
os construtos mecanismos de regulação (MECREGUL) e sintomas de estresse (SINTOMAS).
(tabela 31).
4ª) Tendo em vista o alto impacto dos custos do estresse e suas decorrências nas organizações e
estados, realizar estudo com esse enfoque em relação à realidade brasileira.
5ª) Aprofundar o estudo em relação aos mecanismos de regulação adotados pelos gerentes para
minimizar as situações estressantes decorrentes do exercício da função gerencial nas
organizações.
6ª) Ainda tendo como referência o Modelo teórico proposto para explicar o estresse
ocupacional em gerentes, buscar derivação teórica e metodológica para o diagnóstico de
profissionais não gerentes com atuação nas diversas áreas de trabalho na realidade brasileira.
7ª) Desenvolver estudo centrado especificamente na identificação de ações que possam ser
implementadas nas organizações e condutas a serem desenvolvidas pelos gerentes, visando à
prevenção e ao tratamento do estresse decorrente de causas prioritariamente ocupacionais.
8ª) Realizar pesquisas nas empresas brasileiras consideradas pela revista Exame e/ou outras
fontes como as melhores para se trabalhar, analisando as condicionantes relacionadas aos níveis
de pressão no ambiente ocupacional aliado a possíveis quadros de estresse.
9ª) Realizar pesquisas nas empresas brasileiras consideradas pela revista Exame e/ou outras
fontes como as mais rentáveis, analisando as condicionantes relacionadas ao estresse.
10ª) Realizar pesquisa focando a “mulher gerente”, no intuito de melhor entender as causas do
estresse no gênero feminino.
Algumas limitações do estudo
Serão apresentadas a seguir algumas limitações/dificuldades encontradas no desenvolvimento
deste estudo.
1ª) Aplicação de técnicas de análise multivariada sem o prévio planejamento para atender ao
pressuposto de normalidade. Esta é uma limitação que transcende esta pesquisa, sendo peculiar,
de forma geral, às pesquisas realizadas na área de Ciências Sociais, uma vez que a maioria dos
dados coletados nesse campo não apresenta distribuição amostral segundo os padrões de
normalidade requeridos. No caso deste estudo, tal limitação foi minimizada com a aplicação de
estimação dos parâmetros dos modelos de mensuração e estruturação denominado de Latent
variables partial least squares estimation (LVPLS), indicado para analisar dados cuja
distribuição é assimétrica.
2ª) Ausência de critérios previamente testados e aceitos de forma universal para a avaliação dos
resultados das análises multivariadas a que foram submetidos os dados. Em várias situações, o
pesquisador teve de tomar decisões com relação à aceitação ou rejeição das medidas obtidas,
sem, muitas vezes, ter um parâmetro concreto para subsidiar tal decisão.
3ª) O Modelo teórico para explicar o estresse ocupacional em gerentes é limitado a essa categoria
funcional, não podendo ser utilizado de forma generalizada para diagnóstico de estresse em
trabalhadores que atuam em outras funções/profissões.
4ª) Ocorreu grande dificuldade para se obter a aprovação de participação das empresas na
pesquisa. Observou-se que esse nível de decisão está centralizado no primeiro escalão das
organizações, cujo tempo médio para a decisão final foi de aproximadamente três meses.
Ressalta-se, ainda, que duas empresas convidadas, até a redação final desta tese, não haviam se
manifestado em relação ao convite formalizado para a participação na pesquisa, apesar de várias
interações nesse sentido terem sido feitas pelo pesquisador. São empresas com atuação nas áreas
automotiva, telecomunicações (telefonia fixa) e siderurgia. Foi possível, também, constatar que a
negativa de participação da empresa de siderurgia se fundamentou na falta de disponibilidade do
seu corpo gerencial, tendo em vista estar realizando a implantação de sistema (software) interno
de administração da produção (SAP). Com relação a essa situação, tendo em vista informações
obtidas, a implantação referida já havia sido realizada há pelo menos um ano. Outro aspecto
importante observado foi o de que nas empresas onde o pesquisador foi apresentado por
profissionais que já tinham tido contatos anteriores mediante a realização de consultorias,
treinamentos, etc. houve maior receptividade ao convite para participação na pesquisa,
facilitando, portanto, a decisão favorável dessas organizações. Constatou-se no caso deste estudo
que a relação de confiança é uma condição de fundamental importância para o “aceite” de uma
empresa em participar de pesquisa dessa natureza e porte.
Outra estratégia utilizada para motivar as empresas a participarem foi o compromisso do
pesquisador de disponibilizar os resultados finais, até mesmo discutindo-os em forma de
seminários. Essa estratégia foi avaliada como muito positiva, uma vez que gerou grande
expectativa em algumas das empresas participantes, até em relação aos gerentes que colaboraram
com a disponibilização dos dados solicitados.
O grande interesse do pesquisador na realização deste trabalho tem relação direta com a
importância que os transtornos relacionados ao estresse têm provocado na população de uma
forma geral, constituindo-se, em muitos países, na principal causa de morte precoce (ROSSI,
PERREWÉ & SAUTER, 2005).
A realidade brasileira não é diferente da mundial e merece atenção especial. Pesquisa realizada
pela ISMA-BR no período de 2002/2003 com 1000 profissionais que trabalhavam em empresas
no Brasil constatou que 70% sofrem de níveis significativos de estresse. Só esse dado é
suficientemente significativo para indicar a importância e necessidade de trabalhos nessa área.
Foi com este objetivo que enfocamos este tema, procurando contribuir com os resultados deste
estudo, embora com parcela ainda pequena, mas reconhecemos ser de grande importância para
que possamos, de forma determinada, avançar e permitir às organizações a construção de
ambientes ocupacionais mais saudáveis, que possam proporcionar melhor qualidade de vida e
maior alegria de viver aos trabalhadores, sobretudo aqueles que ocupam a função gerencial.
REFERÊNCIAS
ADMAS, J.D. Understanding and managing stress: a book of readings. San Diego: University
Associates, 1980.
ALBRECHT, K. O gerente e o estresse: faça o estresse trabalhar para você. Rio de Janeiro:
Zahar, 1990.
ALLEN, D. J. et al. Indicadores para competitividade do BNDS. Revista do BNDS. Rio de
Janeiro: BNDS, 2(3): 69-88, Jun, 1995.
ARBUCKLE, J. & WORTHKE, W. Amos 4. user’s guide. Chicago: IL, Smallwater Corporation,
1999.
ARNOLD, J., ROBERTSON, I. T, & COOPER, C. L. Work psychology: understanding human
behaviour in the workplace. London: Pitman, 1991.
ARROBA, T., JAMES, K. Pressão no trabalho-stress: um guia de sobrevivência. São Paulo:
McGraw-Hill, 1988.
BARBOSA, F. V. Implications of restructuring and privatisation for competitiveness and
companies. Aston: University of Aston, 1996.
BARBOSA, L. O jeitinho brasileiro
. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
BARCLAY, I. The new product development process: improving the process of new product
development. R&D Management, v.22, n.4, p.307-317, 1992.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979.
BARKER III, V. & DUHAIME, I. Strategic change in the turnaround precess: theory and
empirical evidence. Strategic Management Journal, V. 18, p. 13-38, 1997.
BARROS, B. T. & PRATES, M. A. S. O estilo brasileiro de administrar. São Paulo: Atlas, 1996.
BARTLETT, C. & GHOSHAL, S. Managing across borders. Cambridge: Havard Business
School Press, 1987.
BASIL, D. C. & COOK, C. W. The management of change. Maidenhead: McGraw-Hill, 1974.
BILLIARD, I. Les conditiones historiques et sociales de l'apparition de la psychopathologie du
travail em France (1929-1952). In: Les histories de la psychologie du travail. Paris: Octarès,
1996.
BISHO, J. A. et al. Asymptoticaly distribuiton free: statistical inference for generalized Lorentz
curves. The Review of Economics and Statistics. v. 71, n. 4, p. 725-727, 1989.
BODDY, M. Reestruturação industrial, pós-fordismo e novos espaços industriais: uma crítica.
São Paulo: Nobel, 1990.
BOWDITCH, J. L. & BUONO, A. F. Elementos do comportamento organizacional. São Paulo:
Pioneira, 2002.
BRAVERMAN. H. As origens da gerência in: Trabalho e capital monopolista: a degradação do
trabalho no século XX. 3ª edição. CAIXEIRO, N. C. (Trad.) Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1987.
BRELET, F. Le T.A.T.fantasme et situation projective. Paris: Dunond, 1986.
BROD, C. Techno-stress. The Human Cost of the Computer Revolution. Reading, MA: Addison
– Wesley Publications, 1984.
CALDAS, M. Toward a More Comprehensive Model of Managerial Inovation Diffusion: Why
consultants are not the only ones to blame. Annual Meeting of the Academy of Management.
Anais . . . Cincinati (s/d).
CASTRO, A. B. et al. Estratégias empresariais na indústria brasileira: discutindo mudanças.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1996.
CASTRO, J. M. Burocracia ideologia e controle: um estudo de caso. Belo Horizonte:
CEPEAD/UFMG, 1989. (Dissertação de Mestrado)
CASSIRER, E. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. Tomás
Rosa Bueno (trad.) São Paulo: Martins Fontes, 1994.
CHAMPY, James. Reengenharia da gerência: o mandato da nova liderança. Rio de Janeiro:
Campus, 1995.
CHANLAT, J. F. Notas de aula. Belo Horizonte: CEPEAD/UFMG, 2001.
CHANLAT, J. F. Traveil e santé mentale: théories du stress et psycopathologie du travail.
Prevenir. France: Universite Grenoble II, Coopérative d’édition de la vie mutualiste, n. 20,
premier semestre, 1990.
CHEVALIER, A. et al. Occupational factors of anxienty and depressive disorders in
the French National Eletricity and Gas Company. Journal of Occupational and
Environmental Medicine, v. 38, n. 11, p. 1098-1107, nov. 1996.
CHIN, W. W. Overview of the pls method, 1997. Disponível em http//disc-
nt.cba.uh.Edu/chin/PLSINTRO. Acesso em 04/04/2005.
CLARK, K. B. , FUJIMOTO, T. Product development performance: strategy,
organization and management in the world auto industry. Boston-Massachusetts:
HBS Press, 1991.
COOPER, C. L. A natureza mutante do trabalho: o novo contrato psicológico e os estressores
associados. In: Stress e qualidade de vida no trabalho: perspectivas atuais da saúde ocupacional.
São Paulo: Atlas: 2005.
COOPER, R. ASSET Stress screening questionnaire. London: Robertson Cooper Limited, 2002.
COOPER, C. L. , COOPER, R. D. & EAKER, L. H. Living with stress. London: Penguin Books,
1988.
COOPER, C. L. et al. Occupational stress indicator: test souces of pressure in job.
England: Windsor, 1988.
COOPER, C. L. , SLOAN, S. J. & WILLIANS, J. Occupational stress indicator
management guide. Windsor: NFER – Nelson, 1988.
COOPER, C. L. & ARBOSE, J. Stress entre executivos de diversos países do mundo.
International Management, 1984.
COUTO, H. A. Stress e qualidade de vida dos executivos. Rio de Janeiro: COP, 1987.
COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho: manual técnico da máquina humana. Belo
Horizonte: ERGO Editora, v. II, 1995.
COUTO, H. A. Novas perspectivas na abordagem preventiva das LER/DORT no Brasil:
natureza, determinantes e alternativas das organizações e demais atores sociais para lidar com a
questão. Belo Horizonte: CEPEAD/UFMG, 2000. (Tese de Doutorado)
COUTO, H. A. & MORAES, L. F. R. A reestruturação produtiva do final do século e o
impacto em ergonomia. Belo Horizonte: Revista de Saúde Ocupacional, 2001.
DaMATTA, R. O que faz o Brasil, Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 1989.
DAVIDOFF, L. L. Introdução à psicologia. Auriphebo Berrance Simões (trad). São Paulo:
McGraw-Hill, 1983.
DEJOURS, C. Uma nova visão do sofrimento humano nas organizações. In. CHANLAT, J. F
(Coord). O indivíduo na organização - dimensões esquecidas. 3ª ed. Arakcy Martins Rodrigues et
al. (trad). v. I. São Paulo: Atlas, 1996.
DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 5ª ed. Ana Isabel
Paraguay e Lúcia Leal Ferreira (Trads). São Paulo: Cortez, 1992.
DEJOURS, C., ABDOUCHELI, E. & JAYET, C. Psicodinâmica do trabalho: contribuições da
escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. Maria Irene Stocco Betiol
(coord e trad). São Paulo: Atlas, 1994.
DOBB, M. Studies in the development of capitalism. New York: 1947.
ENZ, Cathy. Power and shared values in the corporate culture. Ann Arbor: Umi Research Press,
1986.
EVERS, A., FRESE, M, & COOPER, C. L. Revisions and further developments of the
Occupational Stress Indicator: LISREL results from four Dutch studies. Journal of Occupational
and Organizational Psychology., 73, p.221-240, 2000.
FAGUNDES, E. M. Jack Welch and the GE way.
http://www.efagundes.com/resenhas/jack%20welch%20and%20the%20ge%way.htm
2003.
FAYOL, H. Administração industrial e geral. São Paulo: Atlas, 1950.
FERREIRA, A. B. H. Minidicinário da língua portuguesa. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1993.
FRANÇA, A. C. L. & RODRIGUES, A. L. Stress e trabalho: guia básico como abordagem
psicossomática. São Paulo: Atlas, 1996.
FRENCH, W. L. Organization development: theory, pratice, research. Texas: Business
Publications, 1983.
FRIEDMAN & ROSENMAN. Type A behavior and your heart. 1974.
GARCON, G. D. Qantitative research in public administration: structural equation modeling.
Disponível em: http://www2.chass.ncsu.edu/pa765/structur.htm
. Acesso em 04/04/2005.
GIRDANO, D. & EVERLY, G. Controling stress & tension: a holistic approach. London:
Prentice-Hall, 1979.
GOLDBERG, P. A saúde dos executivos: como identificar sinais de perigo para a saúde e levar a
melhor contra o estresse. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
GONÇALVES, C. A. & MEIRELLES, A. M. Projetos e relatórios de pesquisa em
administração. São Paulo: Atlas, 2004.
GRANOVETTER, M. The Strength of Weak Ties. In: American Journal of Sociology 78. 1973.
GUERREIRO, R. A administração e contexto brasileiro. Rio de Janeiro: FGV, 1983.
GREENWOOD, E. Metodos principales de investigacion social empirica. In:
Metodologia de la ingestigacion social. Buenos Aires: Paidos, cap. 6, p. 106-26,
1973.
GREENWOOD, R., LACHMAN, R. Change as an underlyinng theme in
professional service organizations: an introducion. Organization Studes, v. 17, n.4,
p. 563-572, 1996.
GUYTON, A. C. Tratado de fisiologia médica. Rio de Janeiro: Interamericana, 1976.
HACKMAN, J. R. & OLDHAM, G. R. Development of the job diagnostic survey. Journal of
Applied Psychology. Arlington: v.60, n. 2, p. 159-70, 1975.
HAMMER M. & CHAMPY, J. Re-engineering the corporation: a manifesto for business
revolution. Nova Iorque: HarperCollins, 1993.
HAIR, J. F., et al. Análise multivariada de dados. Porto Alegre: Bookman, 2005.
HININGS, C. & GREENWOOD, R. The dynamics of strategic change. New York: Basil
Blackwell, 1989.
HERZOG, J. P. People: the critical factor in managing change. Journal of Systems
Management. Cleveland: v. 66, n. 6, p. 6-11, Mar. 1991.
HOLMES, T & RAHE. Life situations, emotions and disease. Psychosom Med. v. 19, n. 747,
1978.
HOX, K. & BECHGER, T. M. An introducion to structural equation modeling. Family Science
Review, v. 11, p. 534-573, 1998.
ISMA – International Stress Managment Association. Estocolmo – Suécia, 2003. (Bulletin).
JAQUES, M. G. & CODO, W. (Orgs.) Saúde mental e trabalhos: leituras. Petrópolis: Vozes,
2002.
KAPLAN, H. I. & SADOCK, B. J. Compêndio de psiquiatria: ciências
comportamentais/psiquiatria clínicas. 6ª ed. Dayse Batista (trad). Porto Alegre: Artes Médicas
Sul, 1993.
KARASEK, R. et al. Psychosocial factores: review of the empirical data among men.
Philadelphia: Hanley & Belfus, Inc. Occupaational Medicine, v. 15, n. 1, january-march, 2000.
KARASEK, R. et al. The job content questionnarie (JCQ): an instrument for internationally
comparative assessments of psychosocial job characteristics. Educational Publishing Fundation.
Journal of Occupational Health Psychology. v.3, n. 4, p. 322-355, 1998.
KARASEK, R. & TORRES, T. Current issues relating to psychosocial job strain and
cardiovascular. Journal of Occupational Health Psychology. v.1, n.1, p. 9-26, 1996.
KATZ, D. & KAHN, R. L. Psicologia social das organizações. São Paulo: Atlas, 1976.
KATZ, R. L. Management of the total enterprise. New Jersey: Prentice-Hall, 1970.
KOTTER, J. The new rules. Nova York: Dutton, 1995.
KWASNICKA, E. L. Teoria geral da administração: uma síntese. São Paulo: Atlas, 1995.
LAND, G. & JARMAN, B. Ponto de ruptura e transformação: como entender e moldar as forças
da mutação. São Paulo: Cultrix, 1981.
LAKATOS, E. M. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa
bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalho científico. São Paulo: Atlas, 1983.
LAPLANCHE, J. & PONTALIS, J. Vocabulaire de psychanalyse. Paris: PUF, 1967.
LAZARUS, R. S. Personalidade e adaptação. 3ª ed. Álvaro Cabral (trad). Rio de Janeiro: Zahar,
1974.
LEBORGNE, D. & LIPIETZ, A. O pós-fordismo e seu espaço. Espaço & Debates, 8 (25), p. 12-
28, 1988.
LEFFINGWELL, W. H. Oficce management: principles and practice. Chicago, New York e
Londres: 1925.
LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Horizonte Universitário, 1978.
LEVI, Lennart. Sociedade, Stress e Doença – Investimentos para a saúde e desenvolvimento:
causas, mecanismos, conseqüências, prevenção e promoção. III Congresso de Stress da ISMA –
BR (International Stress Management Associaation) e V Fórum Internacional de Qualidade de
Vida no Trabalho. Porto Alegre: Anais ... 2003.
LEVI, Lennart. Sociedade, stress e doença – investimentos para a saúde e desenvolvimento:
causas, mecanismos, conseqüências, prevenção e promoção. V Congresso de Stress da ISMA –
BR (International Stress Management Associaation) e VII Fórum Internacional de Qualidade de
Vida no Trabalho. Porto Alegre: Anais ... 2005.
LIMA, M. E. A. Os equívocos da excelência: as novas formas de sedução na empresa. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1995.
LIMA, M. E. A. A psicopatologia do trabalho: origens e desenvolvimentos recentes na França.
Psicologia, ciência e profissão. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, ano 18, n. 2, p. 10-15,
1998.
LIPP, M. E. A. O stress no Brasil: pesquisas avançadas. São Paulo: Papirus, 2004.
LIPP, M. E. N. Stress: conceitos básicos. In: LIPP, M. (org.) Pesquisas sobre stress no Brasil:
saúde, ocupações e grupos de risco. Campinas, São Paulo: Papirus, 1996.
LHUILHIER, D. , MIGNÉE, C. & RAIX, A. Approches Psychosociales du stress. In: XXI
Journées Nationales, Thème 3: Santé Mentale em Milieu de Travail, Rouen, p. 257-261, 1990.
LOBO, F. Vida e morte no trabalho. In: Carta Capital. Ano X, nº 263, Out. 2003.
LOHMÖLLER, J. B. LVPS Program Manual: latent variables path analysis with partial least-
squares estimation. Köln: Zentralarchiv für empirische Sozialforschung, 1984.
LONG, J. S. Confirmatory factor analysis: a prefase to LISREL. Sage Iniversity Paper Series on
Quantitative Applications in the Social Sciences. n. 7 p. 33. Beverly Hills and London: Sage
Publicationn, 1987.
LUZ, C. Stress, hormônios e estilo de vida – diferenças da longevidade entre homens e mulheres.
V Congresso de Stress da ISMA – BR (International Stress Management Associaation) e VII
Fórum Internacional de Qualidade de Vida no Trabalho. Porto Alegre: Anais ... 2005.
MANTOUX, P. A revolução industrial do século XVIII. São Paulo: UNESP, 1988.
MARQUARDT, M. J. & ENGEL, D. W. Global human resource development. New
Jersey: Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1993.
MASLACH, C. Entendendo o burnout. In: Stress e qualidade de vida no trabalho: perspectivas
atuais da saúde ocupacional. São Paulo: Atlas, 2005.
MASLOW, A. H. Introdução à psicologia do ser. Rio de Janeiro: Eldorado, 1962.
MATTOSO, J. A. A desordem do trabalho. São Paulo: Página Aberta, 1995.
MATTOSO, J. & OLIVEIRA, C. A. B. Crise e trabalho no Brasil, modernidade ou volta ao
passado? São Paulo: Scritta, 1996.
McGREGOR, D. Aspectos humanos da empresa. Lisboa: Clássica, 1970.
MENDES, R. et al. Saúde dos trabalhadores. In: ROUQUAYROL, M. Z. & FILHO, N. A.
Epidemiologia & Saúde.5 ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 1999.
MELO, M. C. O. L. Gerentes e função gerencial no novo capitalismo. In: Tecnologias de gestão:
por uma abordagem multidisciplinar. Vitória: Flor&cultura, 2004.
MELO, M. C. O. L. A mulher gerente: um estudo de caso numa companhia mineradora em Belo
Horizonte/MG. In: Intenational Conference of the Iberoamerican Academy of Mamagement,. 3,
São Paulo. Anais... São Paulo: 2003.
MELO, M. C. O. L. O gerente e a função gerencial nas organizações pós reestruturação
produtiva. In: Encontro Nacional de Estudos do Trabalho. Anais ...o Paulo: ABET, 1999.
MINTZBERG, H. The nature of managerial work. New York: Harper & Row, 1973.
MORAES, L. F. R. et al. As dimensões básicas do trabalho, qualidade de vida e stress: uma
análise em profissões de impacto na sociedade. In: XIV ENANPAD, SC. Anais..., Belo
Horizonte: ANPAD, 1990.
MORAES, L. F. R. et al. As dimensões básicas do trabalho, qualidade de vida e stress: uma
análise em profissões de impacto na sociedade. Belo Horizonte: CEPEAD/UFMG, 1992.
(Relatório de Pesquisa)
MORAES, L. F. R. et al. Comprometimento organizacional, qualidade de vida e stress no
trabalho: uma abordagem de diagnóstico comparativo. Revista Brasileira de Administração
Contemporânea. Rio de Janeiro: v. 1, n. 9, p. 170-85, 1995.
MORAES, L. F. R., MARQUES, A. L. & PEREIRA, Luciano Zille. Qualidade de vida e estresse
organizacional: um estudo comparativo em profissões de risco. Belo Horizonte:
CEPEAD/UFMG, 1998. (Relatório de Pesquisa)
MORAES, L. F. R., MARQUES, A. L. & PEREIRA, Luciano Zille. Diagnóstico de qualidade de
vida e estresse no trabalho da Policia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte:
CEPEAD/UFMG, 2000. (Relatório de Pesquisa)
MORAES, L. F. R., MARQUES, A. L. & PEREIRA, Luciano Zille. Implicações do treinamento
na qualidade de vida e estresse no trabalho (I). Belo Horizonte: CEPEAD/UFMG, 2002.
(Relatório de Pesquisa)
MORAES, L. F. R., MARQUES, A. L. & PEREIRA, Luciano Zille. Implicações do treinamento
na qualidade de vida e estresse no trabalho (II). Belo Horizonte: CEPEAD/UFMG, 2003.
(Relatório de Pesquisa)
MORGAN, G. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996.
MORGAN, J. S. Administração da mudança: estratégias para tirar proveito das mudanças. Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1976.
MOTTA, P. R. Gestão contemporânea: a ciência e a arte de ser dirigente. Rio de Janeiro: Record,
1994.
MYRDAL, G. O valor em teoria social. São Paulo: Pioneira, 1965.
NACHTIGALL, C. et al. (Why) should we use SEM? Pros and cons structural equation
modeling. Methods of Psychological Research Online. v. 8, n. 2, p. 22, 2003. Disponível em
http://www.mpr-online.de
. Acessado em 04/04/2005.
OLIE, R. Shades of culture and institutions in international mergers. Organization Studies, v. 15,
n. 3, p. 381-405, 1994.
PAGÈS, M. et al. O poder das organizações. São Paulo: Atlas, 1987.
PETTIGREW, A. & FERLIE, et al. Shaping stretegic change: making change in large
organizations. London: Sage, 1992.
POWELL, W. & SMITH DOERR, L. Networks and Economic Life. In: The Handbook of
Economic Sociology. Princeton: Princeton University Press, 1994.
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. disponível no site www. pnud.
org.br
POLLAARD, S. The genesis of modern management a study of the industrial revolution in Great
Britain. Cambridge: Mass. 1965.
PORTER, M, E. The competitive advantage of nations. London: Mcmillan, 1990.
PUTNAM, R. D. Bowling alone: the collapse and revival of american community. New York:
Simon and Schuster, 2000.
QUICK, J. C. Promoção da saúde e produtividade no trabalho. In: V Congresso de Stress da
ISMA – BR (International Stress Management Association) e VII Fórum Internacional de
Qualidade de Vida no Trabalho. Porto Alegre: Anais ... 2005.
RIFKIN, J. O fim dos empregos. São Paulo: Makron Books, 1995.
REVISTA EXAME, Julho/2002.
RIO, R. P. O fascínio do stress. Belo Horizonte: Del Rey, 1995.
ROSENMAN, R. H. Type a behavior pattern and its implication for health and life. In: I
Simpósio sobre stress e suas implicações: um enfoque internacional. Anais... Campinas, São
Paulo: Departamento de Pós-Graduação em Psicologia - Universidade Católica de Campinas, 5 a
9 de Agosto de 1996.
ROSSI, A. M., PERREWÉ, P. L. & SAUTER, S. L. Stress e qualidade de vida no trabalho:
perspectivas atuais da saúde ocupacional. São Paulo, Atlas, 2005.
ROSSI, A. M. Autocontrole: nova maneira de controlar o estresse. Rio de Janeiro: Editora Rosa
dos Tempos, 1991.
SALK, J. E. Generic and type-specific challenge in the strategic legitimation and
implementation of mergers and acquisitions. International Bussiness Review, v. 3, n.
4, 1994.
SANTOS, C. M. Q., MORAES, L. F. R. & KILIMNIK, Z. M. Qualidade de vida no trabalho,
estresse ocupacional e o sistema just in time: um estudo de caso no setor automobilístico mineiro.
XXIII Encontro da ANPAD. Angra dos Reis: RJ, Área de RH, p.1-15, 1999.
SANTOS, D. Ninguém morre de trabalhar: o mito do stress. São Paulo: IBCB, 1988.
SAUTER, S. L. As constantes mudanças no trabalho e o bem-estar dos profissionais. V
Congresso de Stress da ISMA – BR (International Stress Management Association) e VII Fórum
Internacional de Qualidade de Vida no Trabalho. Porto Alegre: Anais ... 2005.
SCHNALL, P. L. et al. Job strain and cardiovascular disease. Annual Review of Public Health:
15; 381-411, 1994.
SELYE, H. A syndrome produced by diverse nocuous agents. Nature, v. 138, n.32, 1936.
SELYE, H. Stress: a tensão da vida. São Paulo: IBRASA, 1956.
SELYE, H. Stress wthout distress. Filadélfia: Lippincott, 1974.
SENNETT, R. A corrosão do caráter: as conseqüências pessoais do trabalho no novo
capitalismo. 5ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2001.
SIMONTON, C. et al. Com a vida de novo: abordagem de auto-ajuda para pacientes
com câncer. São Paulo: Summus, 1987.
SOUZA, E. P. Treinamento para o futuro. In: RAE. Rio de Janeiro: abr/jun. 1979.
SOUZA, M. C. F. & TOLEDO, J. C. Gestão do desenvolvimento de produto: estudo de casos na
industria brasileira de autopeças. In: RAUSP - Revista de Administração. São Paulo: FEA/USP,
v.36, n. 3, jul/set, 2001.
SROUR, R. H. Poder, cultura e ética nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
TAYLOR, F. Princípios de administração científica. São Paulo: Atlas, 1957.
TENÓRIO, F. G. Flexibilização organizacional, mito ou realidade? Rio de Janeiro: FGV, 2000.
TOFFLER, A. O choque do futuro. Rio de Janeiro: Artenova, 1972.
TOLEDO, J. C. Gestão da mudança da qualidade de produto. São Paulo: Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, 1993. (Tese Doutorado)
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em
educação. São Paulo: Atlas, 1987.
TURNER, A. N. & LAWRENCE, P. R. Industrial jobs and the worker. Boston: Havard
University Graduate School of Business Administration, 1973.
UnB – Laboratório de Psicologia do trabalho da Universidade de Brasília. Brasília: UnB, 2002.
(Relatório de Pesquisa)
VELOSO, H. M. O que o coração sente mesmo quando os olhos não vêem: levantamento e
análise dos agentes estressores do trabalho bancário. Belo Horizonte: CEPEAD/UFMG, 2000.
(Dissertação Mestrado)
VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2004.
VOCÊ S/A Exame. São Paulo: Editora Abril, Setembro, 2005.
WELCH, J. London: Headline, 2001.
WELMOWICKI, M. et al. A dualidade do mercado de trabalho: quantidade ou qualidade na
geração de emprego? Revista do BNDS. Rio de Janeiro: BNDS (2) 99-114, dez., 1994.
WOOD, T. & CALDAS, M. P. Importação de tecnologia gerencial no Brasil: o divórcio entre
substância e imagem. XXI ENAPAD. Anais . . . Rio das Pedras, RJ: ANPAD, 1997.
ZUBOFF, S. Automatizar/informatizar: as duas faces da tecnologia inteligente. Revista de
Administração de Empresas. São Paulo: FGV/EAESP, 34(6): 80-91, nov./dez., 1994.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo