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Mandel (1980, p.154) observa que, “para Marx, o essencial era pôr em evidência a
pauperização relativa do proletariado, o fato de que, mesmo quando os seus salários
aumentam, aumentam bem menos do que as riquezas do Capital”. O destaque da teoria
marxiana dos salários não está focado na baixa absoluta do valor da força de trabalho mas,
essencialmente, na categoria de ‘salário relativo’
110
, na perda de poder de compra dos
salários vis-à-vis a mais-valia dos capitalistas
111
.
Ao renegar a teoria do pauperismo absoluto, Marx revê posições da sua produção
teórica da juventude e admite a hipótese dos trabalhadores, seja através das flutuações dos
ciclos econômicos, seja através da luta parcial dos sindicatos, conseguirem aumentos
absolutos dos salários. Mas, se comparados aos aumentos da riqueza nacional e da renda
dos capitalistas, a tendência geral é que os trabalhadores fiquem mais pobres, pois se
apropriam de pequenas parcelas da riqueza produzida por eles próprios. Ironia da história?
Marx (2003 [1867], p.748) descarta esta hipótese explicativa do pauperismo das classes
dominadas e sentencia a lei geral da acumulação capitalista, um mecanismo social capaz de
ser desvelado pela razão científica:
Quanto maiores a riqueza social, o capital em função, a dimensão e
energia de seu crescimento e, conseqüentemente, a magnitude absoluta
do proletariado e da força produtiva de seu trabalho, tanto maior o
exército industrial de reserva. A força de trabalho disponível é ampliada
pelas mesmas causas que aumentam a força expansiva do capital. A
magnitude relativa do exército industrial de reserva cresce, portanto, com
as potências da riqueza, mas, quanto maior esse exército de reserva em
relação ao exército ativo, tanto maior a massa da superpopulação
consolidada, cuja miséria está na razão inversa do suplício de seu
trabalho. E, ainda, quanto maiores essa camada de lázaros da classe
trabalhadora e o exército industrial de reserva, tanto maior, usando-se a
terminologia oficial, o pauperismo. Esta é a lei geral, absoluta, da
acumulação capitalista. (grifo do autor)
médio normal do salário, mas, ao contrário, para fazê-lo baixar, empurrando o valor do trabalho mais ou
menos até seu limite mínimo” (MARX, 1982 [1865], p.184, grifos do autor).
110
A categoria salário relativo aparece na obra marxiana já em 1847, quando o revolucionário alemão fez
algumas palestras para a Associação dos Operários Alemães em Bruxelas, posteriormente publicadas na
forma de livreto – Trabalho Assalariado e Capital. A importância desta categoria foi descoberta por Marx a
partir da leitura dos textos de David Ricardo. “Um dos grandes méritos de Ricardo é ter examinado, fixado
como categoria, o salário relativo ou proporcional. Até então, o salário sempre fora considerado algo simples,
e o trabalhador, em conseqüência, um animal” (MARX, 1980 [1862-63], p.850).
111
No quarto volume de O Capital, intitulado na edição brasileira de Teorias da Mais-Valia, Marx (1980
[1862-63], p.850) anota que “a posição recíproca das classes depende mais dos salários relativos que do
montante absoluto dos salários”.