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pelo fato de os vencimentos não serem atrativos
16
, nestes termos, a situação
que já não era boa tendeu a piorar. No caso da formação do clero, nos cem
anos seguintes após 1759, e com vários seminários fechados, a única iniciativa
que teve sucesso foi a fundação do seminário diocesano de Olinda
17
pelo
padre lusitano D. José de Azeredo Coutinho, em 1800, tornando-se o berço da
difusão do liberalismo religioso e político entre vários padres do norte do País.
José Murilo de Carvalho diz que
(...) o Seminário de Olinda, foi concebido na melhor tradição do
Iluminismo português. O Seminário teve grande impacto na formação
nordestina e afetou as idéias e o comportamento político de toda
uma geração de padres
18
.
Sobre esta tendência intelectual, diferentemente do iluminismo francês
e apesar da postura truculenta do Marquês de Pombal para com os Jesuítas,
diz José Murilo que o Iluminismo português não era de espírito revolucionário,
anti-histórico, nem anti-religioso, aproximando-se mais do Iluminismo italiano,
que era progressista, reformista, nacionalista, humanista e também
essencialmente católico
19
. Por isso mesmo a Ilustração portuguesa andava de
mãos dadas com o regalismo
20
, doutrina que transferia poderes exclusivos da
Igreja para um rei, mas que, na verdade, neste caso específico, diminuiu em
muito a influência do poder papal nos territórios da Coroa portuguesa. Essa
relação correspondia a uma forma de compromisso entre Roma e o Estado
português que já se estendia desde 1319, conhecida como Padroado Régio,
autorizando o monarca escolher e apresentar à autoridade eclesiástica
16
Em a História do ensino no Ceará, de Plácido Castelo, temos que de 1759 a 1822, isto é, da
expulsão dos jesuítas à Independência, decorridos, portanto, 63 anos, foram criadas, no
Ceará somente 18 escolas. Neste tempo a população era estimada em 200.000 habitantes,
ou seja, teríamos 11.112 pessoas para uma unidade escolar. Ver: CASTELO, Plácido
Aderaldo. História do Ensino no Ceará. Fortaleza: Departamento de Imprensa Oficial, 1970,
p.41.
17
Para esse Seminário era mandada boa parte do clero cearense até a fundação do Seminário
episcopal de Fortaleza, em 1864.
18
CARVALHO, José Murillo de. A Construção da Ordem: Teatro de Sombras. Rio de Janeiro:
UFRJ / Relume Dumara, 1996, p.58- 59.
19
CARVALHO, José Murillo de. Op. Cit., p.47.
20
Segundo Brasil Gerson, em O Regalismo Brasileiro, Rio de Janeiro: Cátedra, 1978, p. 14:
“Esse nome, de regalismo, quem o deu ou, pelo menos, quem codificou a doutrina regalista
na antiguidade foi Palatino, um teólogo de Pádua, autor do ‘Defensorium Paces’. Para ele
sua origem divina residia na congregação dos fiéis, por um direito comum a todas as
sociedades. Essa potestade podia ser transferida aos príncipes, se fiéis, ou aos bispos, se
infiéis fossem os príncipes (....) Ela se tornaria uma doutrina por demais controvertida,
principalmente depois da Reforma do início do século XVI, (....) a tal ponto que o Concílio
Tridentino de decênios mais tarde, reunido exatamente para dar armas à Igreja para manter
sua força sua unidade, não chegaria a um acordo definido a respeito”.