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Quando perguntada sobre as mudanças nas crianças brancas que
participaram dos cursos do CENEG, ela ressalta a mudança no uso das palavras e
no tratamento delas com relação as crianças negras:
“Tendo mais cuidado em usar as palavras, e quando são usadas, elas falam assim,
não mais ...porém ele é negro mas é o meu amigo, ...... a criança é negra mas não
faz parte da minha vida, é problema do negro, hoje não é problema do negro e do
branco. As formas como o CENEG está falando, tem uma visão melhor, mudou.”
Cristina também observou a mudança nas crianças brancas que participaram
no esporte solidário:
“Passam a enxergar e ter cuidado com a questão, então você pega o projeto esporte
solidário, que é um projeto, que atendeu mais de 1500 crianças, quase 2000
crianças, todas de escola pública, e crianças realmente de poder aquisitivo, muito
pequeno, mas muito pequeno, famílias problemáticas, quando elas vão para o
CENEG, você conversa com as crianças, o comportamento delas, é completamente
destrutivo, é aquela criança preconceituosa, discrimina o coleguinha, ele começa a
trabalhar e freqüentar o CENEG, quando ele saí, quando vai chegando ao final do
projeto é a coisa mais linda, é a coisa mais linda, sabe você não acredita o quanto
ele se educa, o quanto ele adquire aquele sentimento de respeito. Como ele trata o
colega negro. Você fica assim, não é possível, será que nós conseguimos isso, ...”.
Uma das atividades mais ilustrativas do Ceneg é o dia da Beleza, segundo
Cristina, nessa ocasião as crianças brancas e negras, estando juntas, aprendem a
vivênciar e respeitar a diversidade dos padrões de beleza:
“
....o dia da beleza no CENEG, são os cabeleireiros que se prontificam, já tem os
salões da cidade, elas ficam o dia todo no CENEG, então ali eles arrumam o cabelo,
faz trancinha, os que querem alisar a mãe autoriza, cortam o cabelo, as crianças
ficam assim lindas maravilhosas, no dia da beleza, aquilo ali a criança branca ela vai
vendo e respeitando, o cabelo dessa é crespo, é assim, é raça dela, não o meu é
liso, é minha raça, eles vão entendendo,... Tudo ao mesmo tempo. Tudo junto
convive com aquilo ali, a coleguinha tem um cabelo hipercrespo, Às vezes até
quebra o pente, a outra tem o cabelo super liso, olhos azuis, então eles vão
aprender. Tem um psicólogo que sempre vai dar uma palestra, sobre brincadeira
aquela coisa toda, então eles saem dali com uma outra concepção, inclusive
cobrando dos pais, quando os pais, tem o hábito da discriminação, ....trabalhar com
a criança, porque a própria criança, cobra do pai, ....”.