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FÁBIA HIROMI HAYAMA
ESTUDO DA EXPRESSÃO DA p16 EM CASOS DE
LÍQUEN PLANO BUCAL
São Paulo
2006
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Fábia Hiromi Hayama
Estudo da expressão da p16 em casos de
líquen plano bucal
São Paulo
2006
Tese apresentada à Faculdade de Odontologia
da Universidade de São Paulo, para obter o título
de Doutor, pelo Programa de Pós-Graduação em
Odontologia.
Área de Concentração: Diagnóstico Bucal
Orientador: Prof. Dr. Jayro Guimarães Jr.
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Catalogação-na-Publicação
Serviço de Documentação Odontológica
Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo
Hayama, Fábia Hiromi
Estudo da expressão da p16 em casos de líquen plano bucal /
Fábia Hiromi Hayama; orientador Jayro Guimarães Jr. -- São Paulo,
2006.
77p. : fig., tab., graf., 30 cm.
Tese (Doutorado - Programa de Pós-Graduação em Odontologia.
Área de Concentração: Diagnóstico Bucal) -- Faculdade de
Odontologia da Universidade de São Paulo.
1. Líquen plano bucal – Marcadores p16 e Ki-67 – Estudo 2.
Diagnóstico bucal
CDD 617.63
BLACK D62
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA,
DESDE QUE CITADA A FONTE E COMUNICADO AO AUTOR A REFERÊNCIA DA CITAÇÃO.
São Paulo, ____/____/____
Assinatura:
E-mail: fabhh@uol.com.br
FOLHA DE APROVAÇÃO
Hayama FH. Estudo da expressão da p16 em casos de líquen plano bucal [Tese de
Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2006.
São Paulo, / /2006.
1) Prof(a). Dr(a)._____________________________________________________
Titulação: __________________________________________________________
Julgamento: _____________________ Assinatura: _________________________
2) Prof(a). Dr(a)._____________________________________________________
Titulação: __________________________________________________________
Julgamento: _____________________ Assinatura: _________________________
3) Prof(a). Dr(a)._____________________________________________________
Titulação: __________________________________________________________
Julgamento: _____________________ Assinatura: _________________________
4) Prof(a). Dr(a)._____________________________________________________
Titulação: __________________________________________________________
Julgamento: _____________________ Assinatura: _________________________
5) Prof(a). Dr(a)._____________________________________________________
Titulação: __________________________________________________________
Julgamento: _____________________ Assinatura: _________________________
A
o Padua,
Pelo amor e carinho,
em todos os momentos
de nossa vida
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Jayro Guimarães Jr., querido professor, foi um privilégio tê-lo
como orientador, exemplo de profissional e pessoa humana. A minha admiração,
pela seriedade com que atua em todos os momentos.
Ao Prof. Dr. Antonio de Padua Gomes da Silva, médico patologista, pelo
estímulo, contribuições e sugestões. Admiro-o mais, a cada dia que passa. Continuo
me esforçando a seguir o seu exemplo de dedicação ao trabalho e generosidade
com as pessoas, sempre.
À Disciplina de Semiologia, seus professores, funcionários e amigos,
especialmente ao Prof. Dr. Gilberto Marcucci e à Profa. Dra. Esther Goldenberg
Birman, pelo apoio desde a minha chegada a esta casa.
Ao Prof. Dr. Dante Antonio Migliari, pela preciosa colaboração em
compartilhar os pacientes do grupo de estudo de líquen plano bucal.
À Disciplina de Patologia Bucal, pela cessão dos preparados histológicos.
À Dra. Maria Fernanda S. Soares, médica patologista, pela colaboração na
análise do material deste trabalho.
À Audrey Behrens de O Viana, bióloga responsável pela realização dos
exames imuno-histoquímicos.
Ao Prof. Dr. Aguinaldo J. Nascimento, pelas análises estatísticas realizadas
neste trabalho.
Ao Laboratório Citopar e à BioSB, pelo suporte dos exames imuno-
histoquímicos.
Hayama FH. Estudo da expressão da p16 em casos de líquen plano bucal [Tese de
Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2006.
RESUMO
Realizar estudo imuno-histoquímico com os marcadores p16 e Ki-67 nas lesões de
líquen plano bucal em pacientes assintomáticos e sintomáticos, verificando a
presença e modo de marcação, analisando se existe correlação entre os resultados
que possa indicar os riscos de transformação maligna. MATERIAL E MÉTODOS:
nove pacientes assintoticos e 12 sintomáticos de líquen plano bucal. Cinco
amostras de hiperplasia fibrosa inflamatória foram empregadas como grupo controle.
Foram utilizados anticorpos p16 (pré-diluído – BioSB/EUA) e Ki-67 (clone MIB-1 –
DAKO/EUA) pela técnica Envision Labelled (DAKO). Os resultados foram analisados
de acordo com os parâmetros baseados no estudo de Klaes et al. (2001) avaliando a
porcentagem de células marcadas, a distribuição pela camada epitelial e a
intensidade da marcação. A análise estatística procedeu ao estudo do risco relativo
entre pacientes assintomáticos e sintomáticos com relação ao local da expressão
celular (nuclear, citoplasmática ou ambas), com as localizações mais prevalentes da
lesão (mucosa jugal e língua) e com os tipos clínicos mais comuns (reticular e
atrófico). RESULTADOS: a correlação entre pacientes assintomáticos e sintomáticos
foi estatisticamente significativa (p<0,05) quando avaliamos a distribuição da p16
pela camada epitelial com relação ao local da expressão celular e com a localização
da lesão. Odds ratio da marcação nuclear foi de 4,091. A total (nuclear e
citoplasmática) foi de 5,179. Já a marcação somente citoplasmática teve odds ratio
de 8,461. A correlação com a localização resultou num odds ratio de 5,130 para a
língua e 14,234 para a mucosa jugal. As outras categorias avaliadas, porcentagem e
intensidade da p16, as características clínicas avaliadas e os resultados do Ki-67,
não foram significativos em nenhum item avaliado. CONCLUSÕES: o risco relativo
maior quando da marcação somente citoplasmática nos mostra que este é um
importante sítio de expressão da p16, não devendo ser desprezado, como sugerido
por alguns estudos. A localização apontada na literatura como de maior prevalência
nos casos de transformação maligna é a língua, porém o risco relativo no nosso
estudo foi maior na mucosa jugal. Como a distribuição foi o único item
estatisticamente significativo, faz-se necessário estudo futuro para incluir ou excluir a
presença do vírus do papiloma humano nas lesões de líquen plano bucal, visto que
a proteína p16 vem sendo indicada para detectar anormalidades celulares nas
amostras de cérvice uterina, sendo atribuída a sua superexpressão com a presença
de HPV de alto riso, além de estudo da p16 nos casos de displasias liquenóides.
Palavras-Chave: líquen plano bucal, p16, imuno-histoquímica
Hayama FH. p16 immunoexpression in oral lichen planus [Tese de Doutorado]. São
Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2006.
ABSTRACT
We realized immunohistochemical procedures with p16 and Ki-67 in lesions of oral
lichen planus to verify the presence and kind of its immunoexpression amog the two
groups of patients, asymptomatic and symptomatic, correlating the clinical and
histopathological diagnosis with the immunohistochemical data in order to verify if
oral lichen planus can be considered a lesion with risk of malignant transformation.
MATERIAL AND METHOD: nine asymptomatic patients and 12 symptomatic of oral
lichen planus. Five cases of inflammattory fibrous hyperplasia were included as
control group. For immunohistochemical studies we used p16 (prediluted–
BioSB/USA) and Ki-67 (clone MIB-1–DAKO/USA) by Envision Labelled techniques
(DAKO). Results were annalyzed according to parameters based on Klaes et al.
(2001) evaluating the immunomarked cell rates, the distribution through the epithelial
layer and the immunoexpression intensity. The statistics analysis proceeded the
study of relative risk between asymptomatic and symptomatic patients regarding to
its cellular immunoexpression (nuclear, cytoplasmic or both), the more prevalent
topography of the lesion (buccal mucosa and tongue) and clinical characteristics
(atrophic and reticular types). RESULTS: the correlation between asymptomatic and
symptomatic patients was statistically significant (p<0.05) when comparison was
made of the distribution of p16 throug the epithelial layer by analysis its cellular
imumunoexpression. The nuclear immunoexpression of p16 showed an odds ratio of
4.091. The nuclear and cytoplasmatic were 5.179. The odds ratio for cytoplasmatic
expression was 8.461. The correlation between immunoexpression and topography
resulted in an odds ratio of 5.130 for tongue and 14.234 for buccal mucosa. The
other categories availed as percentage and intensity of the p16 immunoexpression,
clinical characteristics, besides the Ki-67 results gave non significant results.
CONCLUSIONS: The citoplasmatic expression results indicates that this
immunoexpression must not be discarded, as suggested by some studies. The high
relative risk saw in buccal mucosa rather than tongue was an unexpected result,
because the localization pointed as with greater involvement in cases of malignat
transformation is the tongue. The distribution was the only one that reached a
statistically significant result, so further studies must be made in order to include or
exclude the human papillomavirus presence in oral lichen planus lesions, since the
p16 protein is currently nowadays used as an indicator of cellular abnormalities in
cervical lesions, where its overexpression is related to the presence of high risk
human papillomavirus, beyond study of p16 in the cases of liquenoid dysplasia.
Keywords: Oral lichen planus, p16, immunohistochemistry
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 5.1- Risco relativo da distribuição da p16 pela camada epitelial entre
pacientes assintomáticos e sintomáticos.......................................... 57
Tabela 4.1 - Características clínicas dos pacientes.................................................. 47
Tabela 5.1 - Resultados da p16................................................................................ 54
Tabela 5.2 - Resultados do Ki-67.............................................................................. 55
Tabela 5.3 - Risco relativo entre pacientes assintomáticos e sintomáticos para as
avaliações da p16 e Ki-67 com relação ao local da expressão
celular................................................................................................ 56
Tabela 5.4 - Risco relativo entre pacientes assintomáticos e sintomáticos para as
avaliações da p16 e Ki-67 com relação à localização da lesão........ 56
Tabela 5.5 - Risco relativo entre pacientes assintomáticos e sintomáticos para as
avaliações da p16 e Ki-67 com relação à característica clínica da
lesão.................................................................................................. 57
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS
CDK proteína quinase dependente de ciclina
CDKI inibidores de CDK
HFI hiperplasia fibrosa inflamatória
HPV rus do papiloma humano
LP líquen plano
LPB líquen plano bucal
NIC neoplasia intra-epitelial cervical
PCR reação em cadeia da polimerase
pRb proteína do retinoblastoma
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13
2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 15
3 PROPOSIÇÃO ...................................................................................................... 40
4 MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 41
5 RESULTADOS ...................................................................................................... 48
6 DISCUSSÃO ......................................................................................................... 58
7 CONCLUSÕES ..................................................................................................... 67
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 68
ANEXOS .................................................................................................................. 72
13
1 INTRODUÇÂO
O líquen plano é uma doença inflamatória mucocutânea crônica que pode ter
manifestações na cavidade bucal. De etiologia desconhecida, os mecanismos
imunológicos, principalmente celulares, com alterações estruturais relatadas na
membrana basal epitelial, proteínas da matriz extracelular, integrinas, citoplasma dos
queratinócitos basais, citoqueratinas e antígenos nucleares, têm sido implicados na
patogênese do líquen plano. Clinicamente, o líquen plano bucal pode apresentar-se
sob as formas reticular, papular, em placa, erosiva, ulcerada e atrófica.
Essa doença tem importância devido à incidência na população em geral, ao
polimorfismo muito intenso e à tendência de malignização (SCULLY et al., 1998).
O diagnóstico de líquen plano deve ser feito pela associação das
características clínicas com os achados histopatológicos. Entretanto, os estudos
utilizam-se de metodologias diferentes, colaborando para a controvérsia sobre os
riscos de transformação maligna do líquen plano ou se os casos relatados são
resultados de má interpretação inicial da lesão. Podemos ter ainda, anormalidades
genéticas que ainda não foram traduzidas clinicamente.
Dessa forma, com os avanços verificados na área da biologia celular e
molecular, temos observado estudos empregando marcadores imuno-histoquímicos
para um melhor diagnóstico e prognóstico dos pacientes com lesões displásicas,
cancerizáveis e neoplásicas. Dentre eles, os marcadores da via p16/ciclina D/CDK 4
e 6/pRbm sendo testados em lesões variadas de cérvice uterino, pulmão, mama,
cabeça e pescoço. Seus resultados têm-se mostrado confiáveis e reproduzíveis,
14
melhorando a qualidade do diagnóstico e, conseqüentemente, o tratamento e
prognóstico desses pacientes.
Este estudo foi proposto para avaliar a p16 nas lesões de líquen plano bucal,
e sua possibilidade de ser utilizada como um marcador de valor prognóstico
promissor nessas lesões, verificando se apresentam um resultado no estudo imuno-
histoquímico de forma padronizada para cada grupo de queixa clínica da lesão,
assintomático e sintomático, e se esta marcação pode ser utilizada como parâmetro
de prognóstico nestes pacientes.
15
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Líquen plano
Líquen plano (LP) é uma doença mucocutânea inflamatória crônica de
etiologia desconhecida, descrito clinicamente por Erasmus Wilson em 1869.
Afeta geralmente indivíduos de meia-idade, com prevalência maior no sexo
feminino, sendo raro em jovens e crianças.
Aproximadamente 1% da população pode manifestar LP cutâneo que se
caracteriza por lesões nas superfícies flexoras das extremidades como pápulas
poligonais, purpúreas e pruriginosas. A glande peniana, a mucosa vulvar e as unhas
também podem ser envolvidas.
Na mucosa bucal, dependendo da população estudada, o líquen plano bucal
(LPB) atinge entre 0,1% a 4% dos indivíduos e, clinicamente, pode se manifestar
como os tipos reticular, em placa e papular, em geral assintomáticos, e os tipos
erosivo, ulcerado e atrófico, geralmente sintomáticos (NEVILLE et al., 1998; SCULLY
et al., 1998; HUBER, 2004).
O LPB reticular é a forma mais comum, atingindo a mucosa jugal
bilateralmente (90% dos casos), língua (30%), gengiva (13%) e, raramente, o palato
ou lábios. Em geral com padrão característico de linhas ou estrias hiperceratóticas
entrelaçadas (estrias de Wickham), podendo surgir como pápulas ou placas
hiperceratóticas que se localizam preferencialmente na borda ou dorso da língua. As
lesões são mutáveis, aumentando ou diminuindo de tamanho em tempos variáveis.
16
Os LPBs erosivo, ulcerado e atrófico incidem em menor proporção, porém,
são mais significativos para o paciente devido à sintomatologia associada, como
ardência ou dor na área envolvida. A periferia dessas regiões normalmente es
cercada por finas estrias radiadas. Na forma atrófica adiciona-se um componente
eritematoso à forma hiperceratótica, enquanto que na forma erosiva acrescenta-se
um componente ulcerativo raso à hiperceratose. O processo é bastante dinâmico,
mudando sempre o seu aspecto clínico e os pacientes podem se apresentar com
qualquer combinação dos tipos de lesão e, em alguns casos, a característica
hiperceratótica pode ser mínima ou estar totalmente ausente. O sítio mais atingido é
a língua e, quando presente na gengiva inserida (10% dos casos), pode produzir
quadro de gengivite descamativa.
A forma erosiva tem sido mais associada a doenças crônicas do fígado,
especialmente a hepatite C (NEVILLE et al., 1998; SCULLY et al., 1998; HUBER,
2004).
As células epiteliais basais são os alvos principais da reação autoimunitária
do LP (Anexo C). O mecanismo do dano parece estar relacionado com um processo
de imunidade celular envolvendo as células de Langerhans, os linfócitos T e os
macrófagos. Graus variáveis de hiperortoceratose e hiperparaceratose podem estar
presentes na superfície do epitélio, a espessura da camada espinhosa pode variar e
apresentar acantose. As cristas interpapilares podem estar ausentes ou
hiperplásicas, mas, classicamente, se projetam no tecido conjuntivo em forma de
“dentes de serra”. A destruição da camada de células basais (degeneração
hidrópica) (Anexo D) é acompanhada por um infiltrado intenso, semelhante a uma
faixa, principalmente de linfócitos T e histiócitos, imediatamente subjacente ao
epitélio. Há um depósito de fibrinogênio na zona da membrana basal e ceratinócitos
17
degenerados podem ser vistos na interface epitélio-tecido conjuntivo (corpos de
Civatte, colóides, citóides ou hialinos).
A imunofluorescência direta revela a presença de fibrina e fibrinogênio ao
longo da zona da membrana basal em 90% a 100% dos casos. IgM e componentes
do complemento, principalmente C3, C4 e C5m sido observados.
Nenhum grau significativo de atipia epitelial é esperado do LPB, embora as
lesões que apresentem superinfecção por Candida albicans possam trazer motivo de
preocupação, devendo ser histopatologicamente reavaliadas após tratamento da
infecção fúngica (NEVILLE et al., 1998; SCULLY et al., 1998).
Para estabelecer o diagnóstico do LP é necessária a associação das
características clínicas com os achados histopatológicos. O diagnóstico diferencial
pode incluir a leucoplasia, candidíase, lupus eritematoso, pênfigo vulgar, penfigóide
das membranas mucosas, eritema multiforme, entre outros.
De acordo com Barnard et al. (1993) muitos autores baseiam-se somente nas
características clínicas e a falta do exame histopatológico em muitos estudos de LP
dificulta a análise dos resultados.
Durante o exame clínico inicial a lesão pode não se apresentar como LP, mas
possuir características liquenóides ao exame histológico, ou pode ser clinicamente
diagnosticado como LP e o exame histopatológico evidenciar atipias, justificando a
necessidade da correlação clínica com a histologia. Além disso, como não há critério
diagnóstico específico para LPB que seja aceito universalmente, alguns critérios de
inclusão aplicados em estudos de série mostram diferenças nos resultados. A
literatura ainda debate sobre a possibilidade de transformação maligna do LP ou se
os casos relatados são resultados de má interpretação inicial da lesão (SCULLY et
al., 1998).
18
2.2 Transformação maligna do LPB
A transformação maligna do LPB para o carcinoma epidermóide é a
complicação mais temida, desde que foi descrita em 1910 por Hallopeau
1
(apud van
der Meij et al., 2003).
Diversos estudos na literatura têm reportado um risco significativo entre 0,4%
e 5,6% de transformação maligna em períodos de acompanhamento de 0,5 a 22
anos (FATAHZADEH; RINAGGIO; CHIODO, 2004).
Há divergências quanto à taxa de incidência justamente porque alguns
estudos se utilizam somente de características clínicas ou histopatológicas, como
explicado anteriormente.
As razões da malignização não são plenamente conhecidas, sendo
consideradas fatores de risco o fumo e o álcool, e, provavelmente, as infecções por
rus do papiloma humano (HPV), Candida albicans e o vírus do herpes simples.
Os LPBs erosivo, ulcerado e atrófico têm sido apontados como os de maior
risco de sofrer transformação maligna, sendo a língua e a gengiva os sítios mais
afetados (BARNARD et al., 1993, SCULLY et al., 1998; HUBER, 2004).
A Organização Mundial da Saúde considera o LPB uma condição
cancerizável (SCULLY et al., 1998) e esses pacientes devem ser acompanhados
periodicamente devido à possibilidade do risco de desenvolvimento de câncer bucal
ser maior que na população em geral.
Alguns autores acreditam na existência de uma capacidade de transformação
maligna inata do LPB, enquanto outros acreditam que somente as lesões com
1
Hallopeau H. Sur um cas de lichen de Wilson gingival avec néoplasie voisine dans la region
maxillaire. Bull Soc Fr Dermatol Syphiligr 1910;17:32.
19
displasia que se assemelham a LPB, tenham potencial de carcinogênese
(FATAHZADEH; RINAGGIO; CHIODO, 2004).
Durante o exame histopatológico de LPB, se for encontrado displasia epitelial,
tem sido proposto que essas lesões sejam consideradas displasias pré-malignas
com aparência liquenóide, ou simplesmente, displasias liquenóides (EISENBERG;
KRUTCHKOFF, 1992; SCULLY et al., 1998).
Os achados histológicos de displasia epitelial não são exclusivos de lesões
pré-neoplásicas. Assim, a presença de displasia epitelial discreta no LPB não
necessariamente sugere quadro inicial de carcinoma, podendo ser uma resposta
reativa.
Embora as alterações displásicas sejam freqüentemente encontradas
adjacentes ao foco de carcinoma invasivo, e os estudos de longos períodos com
fumantes mostrem que a displasia epitelial antecede o surgimento do câncer, não
necessariamente progridem para câncer. Anormalidades leves a moderadas que não
envolvam toda a espessura do epitélio podem sofrer remissão se a causa for
removida (CONTRAN; KUMAR; ROBBINS, 1994; FATAHZADEH; RINAGGIO;
CHIODO, 2004).
Além do quadro de displasia liquenóide, que já havia sido considerado como
uma entidade histopatológica distinta com real predisposição maligna por Krutchkoff
e Eisenberg (1985), podemos encontrar lesões que são definidas como reações
liquenóides. Estas lesões são semelhantes às lesões de LP no exame clínico e/ou
histológico, porém, possuem agente etiológico estabelecido, como medicamentos e
materiais restauradores, e tendem a desaparecer com a retirada destes (NEVILLE et
al., 1998).
20
Acompanhando 241 pacientes com diagnóstico inicial de LPB durante 10
anos, Barnard et al. (1993) observaram transformação maligna para carcinoma
epidermóide bem diferenciado em oito casos e evolução para displasia severa em
um caso. Todos os nove casos tinham diagnóstico inicial de LPB erosivo ou atrófico,
embora quatro pacientes também apresentassem lesão tipo placa
concomitantemente. Seis pacientes tinham mais de 65 anos e seis carcinomas
ocorreram na língua. Os autores ressaltam que a lesão tipo placa homogênea, pode
ter sido subestimada em alguns estudos porque estas placas freqüentemente
parecem se tornar ulceradas ou atróficas quando há malignização, o que indicaria a
necessidade de seu acompanhamento clínico periódico, especialmente se acometer
o dorso da língua.
van der Meij et al. (2003) acompanharam pacientes com LPB (62 casos) e
lesão liquenóide bucal (LLB) (111 casos) por um período médio de 32 meses. Os
autores consideraram como LLB os casos em que as características clínicas e/ou
histopatológicas eram somente compatíveis com o LPB segundo os critérios
diagnósticos revistos e modificados da Organização Mundial de Saúde (Anexo B),
porém sem presença de displasia epitelial. Três casos, todos do grupo da LLB,
localizados na língua e clinicamente com uma mistura dos aspectos reticulares,
atróficos e ulcerados, sofreram transformação maligna num período entre 11 a 70
meses (média de 33 meses).
Como as más interpretações constituem-se numa das causas de erro no
diagnóstico inicial de LP, além da possibilidade de já existir uma alteração genética
que venha a ser traduzida clinicamente por displasia ou carcinoma e que não pode
ser evidenciada durante o exame clínico/anatomopatológico, nos últimos anos,
diversos estudos vêm analisando anormalidades na citogenética de lesões de
21
diferentes partes do organismo, entre elas as pré-malignas e malignas bucais, na
tentativa de demonstrar uma correlação entre presença de anormalidades genéticas
com alterações na expressão das proteínas do ciclo celular e mecanismos de
transformação maligna.
A perda de heterozigosidade nos loci de três cromossomos (3p, 9p e 17p)
vem sendo associada com diminuição da atividade de genes de supressão tumoral
com subseqüente anomalia na expressão das proteínas correspondentes no ciclo
celular nos diversos tumores avaliados (KRESTY et al., 2002).
De acordo com Huber (2004), o LP é a doença dermatológica com
manifestação bucal mais comum e, o LPB, uma doença que o cirurgião dentista
encontra freqüentemente na prática clínica. Sendo uma doença crônica, sem
tratamento específico e com relatos de transformação maligna durante o seu curso
que ainda não foram totalmente confirmados, justifica-se a procura por um marcador
que possa fornecer melhor perspectiva a respeito do diagnóstico e prognóstico do
paciente com LPB.
2.3 Ciclo celular
As células eucarióticas realizam o ciclo celular duplicando seu conteúdo e
dividindo-se em duas células idênticas. Esta divisão compreende duas fases: 1) fase
M, onde ocorre a mitose; 2) interfase: fase de intensa atividade que está subdividida
em fase G1 (entre o final da mitose e o início da síntese de DNA), fase S (replicação
do DNA) e fase G2 (final da replicação e início da mitose). Para que cada fase
22
aconteça de forma organizada, os eventos são controlados separadamente e
regulados por diversos “pontos de checagem”, não avançando no ciclo se a fase
anterior não estiver completa.
Essa seqüência de eventos é dirigida por um “sistema de controle do ciclo
celular” que ativam ciclicamente os processos essenciais de reprodução celular,
como replicação do DNA e segregação dos cromossomos. Este controle é baseado
numa família de proteínas ativadoras especializadas denominadas de ciclinas que
se ligam a uma família de moléculas, as proteínas quinases dependentes de ciclina
(CDKs), controlando sua habilidade de fosforilar proteínas alvos específicas
(ALBERTS et al., 1994).
A progressão da fase G1 para S depende da atividade das ciclinas dos tipos
D e E. A ciclina D atinge o nível máximo de expressão e forma complexos com as
CDK4 ou 6 durante o meio da fase G1, enquanto a ciclina E é expressa e associada
com a CDK2 próximo à passagem de G1 para a fase S (VICENTE et al., 2002;
SHINTANI et al.., 2002). O complexo ciclina D-CDK4 ou 6 faz a fosforilação da
proteína do retinoblastoma (pRb), com subseqüente liberação do fator de transcrição
E2F que codifica diversos promotores que iniciam a replicação do DNA e conduzem
o ciclo celular para a entrada na fase S (PANDE et al., 1998; ZHENG; LEE, 2001;
KRESTY et al., 2002; MATSUMOTO et al., 2003; PIENTONG et al., 2003).
Como forma de regulação negativa do complexo descrito acima temos os
inibidores de CDKs (CDKIs). Os CDKIs, classificados como supressores tumorais,
são os responsáveis pela manutenção do ciclo celular e bloqueio da proliferação
quando o desenvolvimento celular é atingido. Temos duas sub-famílias de CDKIs
baseadas nas semelhanças de suas seqüências e no espectro de CDKs que eles
23
inibem. O primeiro grupo é constituído pelas proteínas p21, p27 e p57 e o segundo
grupo pelas p15, p16, p18 e p19 (PAPADIMITRAKOPOULOU et al., 1997).
2.4 p16
Dentre os CDKIs, este estudo irá se concentrar na análise da expressão da
proteína p16 em lesões de LPB. Desde que foi descoberta em 1993 (HEICHMAN;
ROBERTS, 1994), os estudos vêm demonstrando que a expressão dessa proteína
está freqüentemente alterada em neoplasias humanas como melanomas, leucemias,
linfomas e carcinomas da cérvice uterina, do esôfago e do pulmão, assim como nos
carcinomas epidermóides de cabeça e pescoço.
No ciclo celular normal, a p16 possui habilidade bioquímica de se ligar ao
complexo ciclina D-CDK4 ou 6, inibindo a fosforilação da pRb e retornando a
formação do complexo pRb/E2F. Com isso, temos a finalização dos processos do
“ponto de checagem” G1-S do ciclo celular (ROCCO; SIDRANSKY, 2001; von
KNEBEL DOEBERITZ, 2002; AI et al., 2003; MATSUMOTO et al., 2003).
A proteína p16, produto do gene quinase dependente de ciclina nº2 (CDKN2),
também conhecido como gene supressor tumoral múltiplo nº1 (MTS1), localizado no
cromossomo 9p21, possui o locus INK4a/ARF. Nos últimos anos a literatura vem
apresentando estudos envolvendo o cromossomo e seu locus, demonstrando que é
freqüente a ocorrência de anormalidades nos genes, assim como alterações na
expressão da proteína nas células dos diversos tumores acima descritos (CHEN et
al., 1999; MORTIER et al., 2002).
24
Visto que a p16 inibe a proliferação celular somente nas células com pRb
funcional, anormalidades na expressão da p16, e da mesma forma, anormalidades
na pRb, ciclina D ou de CDKs devem predispor a célula a apresentar uma
progressão anormal do ciclo celular. Uma relação recíproca tem sido vista entre
expressão da p16 com a da pRb, sugerindo a presença de uma alça de controle de
retroalimentação (“feedback”) negativa que permite a pRb limitar a concentração da
p16 (MURPHY et al., 2003).
A inativação desses genes deve interferir com a diferenciação terminal e levar
a uma proliferação irrestrita e processo tumoral. Desta forma, é esperado que a
ausência ou inativação da p16
(na expressão gênica, na estrutura ou função da
proteína) resulte em rompimento do controle do ciclo celular, com conseqüente
desenvolvimento do tumor, o que está associado com carcinogênese de tumores
que mostram deficiência da p16 (PAPADIMITRAKOPOULOU et al., 1997; MORTIER
et al., 2002; WING YUEN et al., 2002; AI et al., 2003).
Os estudos vêm demonstrando que anormalidades no gene da p16 ocorrem
por deleção (33%), metilação (20%) ou mutação (10%) (PANDE et al., 1998; TSAI et
al., 2001; SHAHNAVAZ et al., 2001). Nos carcinomas epidermóides de cabeça e
pescoço, Reed et al. (1996) demonstraram que a inativação do gene da p16 está
presente em quase 80% dos casos, sendo a deleção responsável por quase 50%
dos casos.
Além dos tumores malignos, a inativação do gene da p16 também tem sido
freqüentemente reportada em lesões bucais pré-malignas, sugerindo um papel
precoce importante desse gene no desenvolvimento do carcinoma epidermóide de
cabeça e pescoço (PANDE et al., 1998).
25
Em acordo com os resultados das análises genéticas nos carcinomas
epidermóides de cabeça e pescoço, a expressão da proteína p16 também se
mostrou anormal. A ausência da expressão da proteína pelo método da imuno-
histoquímica nesses tumores variou de 55% a 90%, com média de 74% nos estudos
avaliados (AI et al., 2003).
Kresty et al. (2002) avaliaram alterações no locus INK4a/ARF pela técnica da
reação em cadeia da polimerase (PCR) em 28 amostras bucais com diagnóstico de
displasia epitelial bucal severa, para verificar a existência de correlação entre a
presença de anormalidades cromossômicas com o risco de transformação maligna.
Segundo os autores, perda de heterozigosidade no braço curto do cromossomo 9p é
o defeito mais comum relatado nos carcinomas epidermóides de cabeça e pescoço,
e também em lesões pré-malignas, encontrando correlação positiva dessa perda de
heterozigosidade com a progressão histológica, desenvolvimento e recorrência do
câncer bucal. Neste estudo, perda de heterozigosidade foi a alteração molecular
mais freqüente (42,1%), significativa nas lesões do assoalho bucal. Metilação no
gene da p16 esteve presente em 57,7% dos casos, sendo que os maiores índices
ocorreram nos casos de língua e assoalho bucal. Deleção ou mutação ocorreram em
15% e 7,7%, respectivamente. Estes resultados demonstraram que essas lesões
pré-malignas já possuem aberrações genéticas comumente encontradas nos
estágios finais de carcinoma epidermóide bucal, indicando a p16 como marcador de
acompanhamento preditivo do risco desses pacientes.
Para analisar se a perda de heterozigosidade no cromossomo 9p21 e a
inativação da expressão da proteína p16 eram eventos importantes no processo de
carcinogênese das lesões pré-malignas bucais, Papadimitrakopoulou et al. (1997)
analisaram 74 lesões de leucoplasia por PCR e imuno-histoquímica. Dessas
26
biópsias, 23 demonstravam displasia epitelial e a p16 foi negativa na marcação em
10 casos (43%). Nos 51 casos restantes sem displasia epitelial, a perda ocorreu em
18 casos (35%). Dentre os casos com ausência da p16, os autores encontraram
ainda perda de heterozigosidade em 80% dos casos na região 9p21. Oito pacientes
do grupo de estudo desenvolveram carcinoma epidermóide invasivo, sendo que
cinco (63%) eram do grupo que apresentava perda da p16. Os resultados
confirmaram a hipótese de que a inativação da p16 seria um dos múltiplos eventos
precoces no processo de carcinogênese, e poderia indicar que os pacientes com
perda de heterozigosidade no cromossomo 9p21 poderiam desenvolver carcinoma
num período menor que o grupo sem alteração genética.
Zhang et al. (1997) pesquisaram perda de heterozigosidade no cromossomo
9p21 nas displasias epiteliais bucais e nos LPBs sem displasia. Notaram um
aumento progressivo na perda de heterozigosidade dos casos de displasia leve
(40%), moderada (46%) a severa (81%), comparados com os LPBs (6%), o que
levou os autores a concluir que os casos diagnosticados como LPB mas com
evidência de perda de heterozigosidade devem ser seguidos criteriosamente, pois
apresentariam tendência a ter um risco aumentado de transformação maligna
comparado com os LPB sem perda.
Estudo imuno-histoqmico, confirmado por Western Blot, da expressão de
ciclinas, CDKs e CDKIs da fase G1-S em mucosa normal, displasia epitelial e
carcinoma epidermóide da cavidade bucal foi realizado por Shintani et al. (2002).
Neste estudo, a p16 foi detectada em todas as mucosas normais e nas displasias de
grau leve. Nas displasias com grau moderado a severo, a p16 não foi detectada em
7% e 30% dos casos, respectivamente, aumentando para quase 70% nos casos de
carcinoma epidermóide bucal.
27
Avaliando casos de queilite actínica e carcinoma epidermóide bucal, Mortier et
al. (2002) observaram que, além da mutação no gene supressor tumoral p53, a
carcinogênese envolve desregulação nos caminhos da progressão celular
controlados pela pRb, incluindo inativação da p16. Para determinar se
anormalidades na região 9p21 resultam em anulação na expressão da p16, os
autores pesquisaram perda de heterozigosidade por PCR e a expressão da p16 por
imuno-histoquímica nessas lesões. Encontraram perda de heterozigosidade em 46%
dos carcinomas epidermóides bucais e em 10% das queilites actínicas. A proteína
p16 foi marcada em 66% das biópsias de queilite actínica e em apenas 10% dos
casos de carcinoma epidermóide bucal, sugerindo que a progressão da lesão
cancerizável para carcinoma envolve a inativação do supressor tumoral p16. Além
disso, observaram que a proteína p16 não era vista em áreas altamente displásicas
dentro das lesões de queilite actínica, justificando a natureza heterogênea destas
lesões e a recomendação da aplicação deste marcador para a diferenciação dos
casos de displasia pré-neoplásica das reacionais.
Para avaliar o significado clínico-patológico da p16 no tratamento cirúrgico,
Wing Yuen et al. (2002) analisaram 225 casos de carcinomas epidermóides da
cavidade bucal, orofaringe, hipofaringe e laringe, encontrando marcação nuclear
fraca para p16 em 48% dos casos. Houve correlação significativa entre a tênue
expressão da proteína p16 com estadio T mais avançado, comparado com os
carcinomas precoces, e com tumores que tiveram fracasso na radioterapia. Não se
observou relação significativa da proteína com o sexo, idade, grau do tumor,
metástase nos linfonodos ou recorrência pós-cirúrgica. Como uma grande
quantidade de carcinomas epidermóides da laringe demonstrou fraca marcação
quando comparada com as outras áreas avaliadas, os autores concluíram que a
28
localização do tumor foi o fator independente mais importante afetando a expressão
da proteína. Apesar de histologicamente semelhantes, há diferença significativa nas
características clínicas, risco de metástase nos linfonodos e prognóstico entre os
carcinomas avaliados. As diferentes expressões da p16 nessas áreas são algumas
das anormalidades genéticas que, para os autores, devem contribuir para as
diferenças no comportamento clínico.
Pande et al. (1998) analisaram por imuno-histoquímica as proteínas p16 e
pRb em 35 casos de carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço, 22 lesões pré-
malignas (leucoplasias) e 30 tecidos bucais normais, procurando correlação com o
processo de tumoração bucal. Ausência da expressão da pRb foi vista em 66% dos
carcinomas epidermóides e 64% das lesões pré-malignas. Para a p16, a ausência foi
observada em 63% dos carcinomas epidermóides e 59% das leucoplasias.
Reatividade fraca para pRb e p16 foi observada no epitélio bucal normal em 93%
dos casos para ambos os marcadores. Um resultado bastante significativo foi que
nas lesões bucais pré-malignas com ausência de níveis detectáveis da proteína pRb,
encontraram superexpressão da p16 em praticamente todos os casos, o que
reforçaria a forte correlação entre as duas proteínas no ciclo celular normal. Além
disso, ausência na expressão da p16 foi significativa quando correlacionada com
estadiamento tumoral mais avançado. Para os autores a ausência de marcação para
as duas proteínas, na sua maioria, em pacientes com câncer bucal que eram
grandes usuários de betel e tabaco foi um resultado especialmente importante visto
que o estudo foi realizado na Índia, onde há alta correlação entre câncer bucal e
consumo de fumo, indicando, talvez, um marcador que possa melhorar o
prognóstico, especialmente dos casos de displasia leve ou moderada.
29
Para Tsai et al. (2001), anormalidades no gene da p16 são eventos comuns
no carcinoma epideride bucal, sendo que o índice dessas anormalidades
aumenta de forma progressiva do grau histológico bem diferenciado para o pouco
diferenciado. Foram incluídas 48 amostras estudadas por PCR e pela técnica de
Western Blot. Do total, 26 (54%) espécimes não expressaram a proteína p16, sete
(14,6%) continham deleções e cinco (10,4%) apresentavam mutações. Dos 12
espécimes com anormalidades genéticas, a proteína não pode ser detectada em 11
casos. Apesar de não demonstrarem nenhuma correlação com a localização e
estadiamento clínico do câncer, as anormalidades genéticas demonstraram
correlação significativa com metástases para linfonodos cervicais, contribuindo
também com o grau histológico das células cancerosas. Para os autores, este
resultado coincide com pior prognóstico visto nos casos de leucemias linfoblásticas
agudas com deleção da p16, nos quais, a perda de expressão dessa proteína se
correlaciona com doença metastática.
Ai et al. (2003) analisaram ocorrência de metilação no gene com expressão
da p16 em 100 casos de carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço para
determinar se a hipermetilação ou a aparente perda da expressão da proteína
poderiam afetar outros fatores prognósticos, a taxa de recorrência do tumor ou a
sobrevida do paciente. Detectaram hipermetilação da p16 por PCR em 27% dos
casos e perda da proteína por imuno-histoquímica em 74%. Vinte e três, dos 27
casos com hipermetilação demonstraram perda na expressão da proteína também,
enquanto 22 dos 26 casos com alto nível da proteína eram livres da hipermetilação
no gene. Não foi possível correlacionar os fatores investigados com a recorrência do
tumor ou sobrevida do paciente. Entretanto, observaram que nos pacientes com
estadiamento T
1
N
0,
a sobrevida de cinco anos foi de 80% nos tumores p16 positivos
30
e 40% nos negativos. Em contraste, nos pacientes com tumor em estadiamento mais
avançado T
2-4
N
1-2
, a sobrevida de cinco anos foi semelhante entre os casos
positivos e negativos para p16, variando de 25% a 35%. Além disso, o uso de
tabaco e álcool foi significativo quando correlacionado com a perda da proteína p16,
mas não com a presença de hipermetilação, como havia sido demonstrado nos
carcinomas de pulmão. Para os autores, essa discrepância deve refletir mecanismos
diferentes envolvendo a inativação da p16 entre estes dois tumores relacionados
com fumo.
O estudo da p16, na expressão da proteína ou nas anormalidades
cromossômicas, vem sendo indicado como mais uma ferramenta a ser aplicada na
pesquisa do processo carcinogênico em diversas neoplasias humanas,
especialmente nas lesões da cérvice uterina, onde tem sido amplamente difundida.
Nas lesões da cavidade bucal, malignas e pré-malignas, alguns estudos relataram
diminuição progressiva da expressão da proteína p16 do tecido normal, passando
pelas displasias e para o carcinoma, como vistos nos estudos já descritos.
Entretanto, esta proteína não tem demonstrado resultados uniformes e a
superexpressão da p16 também tem sido relatada em alguns tipos de tumores,
incluindo cabeça e pescoço.
Chen et al. (1999) analisaram por imuno-histoquímica a expressão da p16 e
da CDK4 na cavidade bucal em 10 casos de hiperqueratose, 30 lesões pré-malignas
(displasia leve, moderada e severa, 10 casos de cada), 15 carcinomas epidermóides
(sete invasivos sem metástases e oito com metástases) e nove linfonodos dos casos
com metástases. Ocorreu marcação positiva para p16 e CDK4 em 82% dos casos.
De uma forma geral, houve marcação positiva da p16 no citoplasma celular, com
superexpressão progressiva, a partir dos casos de tecidos normais,
31
hiperqueratóticos, displásicos até os carcinomas epidermóides sem metástases. Nos
espécimes de carcinomas epidermóides sem metástases, a localização da
expressão da p16 no tecido parecia refletir o grau de diferenciação do tumor. Nos
bem diferenciados, as células positivas localizavam-se principalmente nas camadas
celulares basalóides mais externas dos blocos celulares, diminuindo gradualmente
em direção ao centro, onde eram negativas. Nos tumores pouco diferenciados, as
células positivas foram distribuídas irregularmente, de forma difusa e fraca. Por outro
lado, ocorreu decréscimo da p16 nos casos de carcinomas epidermóides
metastáticos e metástases nos linfonodos, ocorrendo marcação citoplasmática,
porém, bem mais fraca que as anteriores. Analisando o aumento da intensidade da
marcação durante a progressão de tecido bucal normal para pré-maligno e
finalmente carcinoma epidermóide invasivo sem metástase, houve correlação
significativa entre a p16, o nível de CDK4 e o grau da displasia.
Com o objetivo de elucidar os padrões de expressão de diversas proteínas
associadas com o ciclo celular, Saito, Nakajima e Mogi (1999) analisaram a p16,
p27, pRb, p53 e Ki-67 em lesões da cavidade bucal (10 mucosas normais; 23
displasias leves, 23 moderadas, 11 severas; 44 carcinomas epidermóides; 15
carcinomas verrucosos) por imuno-histoquímica. O resultado para p16 foi
progressivo de mucosa normal (2,0%), displasia leve (2,65%), displasia moderada
(5,35%), displasia severa (5,09%), carcinoma epidermóide (11,3%) até carcinoma
verrucoso (44,9%). Para os autores, o surgimento de poucas células positivas nas
displasias epiteliais deve ser o reflexo da expressão que ocorre no tecido normal e
não a perda de p16 funcional. Assim, quanto mais leve for a displasia, maior a
semelhança com o tecido normal, menor expressão da p16. Por outro lado, o
resultado imuno-histoquímico da p16 nos carcinomas epidermóides seria resultado
32
da inativação do gene. O estudo destas proteínas associadas com o ciclo celular
claramente demonstrou uma grande diferença de comportamento entre os
carcinomas epidermóides e verrucosos. Neste sentido, os autores fazem uma
importante análise a respeito da superexpressão da p16 nos casos de carcinomas
verrucosos. Com base na revisão de literatura feita, afirmam que, etiologicamente, o
fator de risco mais importante para o carcinoma verrucoso parece ser o HPV. Como
alguns estudos têm demonstrado que a superexpressão da p16 e pRb em lesões
malignas e pré-malignas da cérvice uterina são associadas com HPV de alto risco, a
inativação da pRb deve ocorrer nos carcinomas verrucosos bucais atingidos pela
infecção por HPV, resultando na superexpressão da p16.
2.5 Participação do vírus do papiloma humano
Entre os diversos tumores onde a p16 tem sido estudada, a sua
superexpressão é reportada de forma comum na neoplasia cervical. O papel central
de tipos específicos de HPVs na patogênese de lesões displásicas e neoplásicas do
colo uterino está amplamente relatado na literatura, sendo os HPVs de alto risco, em
particular os tipos 16 e 18, identificados em mais de 99% dos carcinomas de colo
uterino. Assim sendo, a superexpressão da p16 em neoplasias cervicais tem sido
associada com a infecção por HPV de alto risco e uma correlação inversa tem sido
encontrada entre a função da proteína Rb e a superexpressão da p16. Dois
oncogenes virais, E6 e E7, são expressos nas células cancerosas associadas ao
33
HPV de alto risco, e sua expressão é essencial para iniciar e manter o fenótipo
maligno (KLAES et al, 2001, BIBBO et al, 2002).
A oncoproteína E6 inicia a degradação prematura do supressor tumoral p53.
A oncoproteína E7 liga-se na pRb e favorece a liberação do fator de transcrição E2F
do seu complexo ativo com pRb hipofosforilada. Como conseqüência, a transcrição
dos genes regulados pela pRb é ativada e, desse modo, promove a progressão da
fase G1 para S do ciclo celular. Além disso, a E7 pode mimetizar a inativação da
pRb por mutação ou deleção do gene ou pelo aumento de fosforilação pela
superexpressão das CDK4 ou 6 que são mecanismos oncogênicos freqüentemente
observados em muitos outros tipos de carcinomas (KLAES et al., 2001).
Como já visto anteriormente, em células normais, a atividade das CDK4 e 6 é
firmemente regulada por diversos CDKIs, incluindo a p16. Em muitos tumores
malignos a inativação do gene da p16 resulta em redução ou ausência da expressão
da sua proteína. Isto leva a um aumento da atividade das CDK4 e 6 com
conseqüente fosforilação prematura e, por fim, inativação da pRb.
Se a pRb é diretamente inativada, seja no nível do ácido nucléico ou da
proteína, as respectivas células são liberadas do estímulo de supressão do
crescimento mediado pela p16, cujo gene continua funcionando normalmente. Cada
célula prolifera mesmo na presença de níveis muito altos de p16. Além disso, como
o complexo pRb-E2F faz um feedback negativo no gene da p16 (MATSUMOTO et
al., 2003; VOLGAREVA et al., 2004), a redução ou perda da função da pRb deve
resultar em aumento dos níveis de p16 nas respectivas células. Desta forma, a
inativação da pRb pelo oncogene E7 do HPV de alto risco resulta em aumento da
expressão da p16 que deve, portanto, ser um biomarcador sensível e específico de
34
células em atividade por HPV de alto risco (KLAES et al., 2001; von KNEBEL
DOEBERITZ, 2002; PIENTONG et al., 2003).
Klaes et al. (2001) fizeram avaliação imuno-histoquímica para p16 e PCR
para os subtipos de HPV. Observaram superexpressão difusa e forte da p16 em 150
das 152 lesões displásicas do colo uterino de alto grau (neoplasia intraepitelial
cervical (NIC) II e III) e carcinomas invasivos. Não houve expressão da p16 em
epitélio cervical normal (42 casos) e em sete casos de NIC I associados com HPV de
baixo risco. Um caso de metaplasia e dois casos de NIC I, infectados por HPV de
alto risco, apresentaram marcação difusa e intensa para p16.
Volgareva et al. (2004) também realizaram estudo em amostras do colo
uterino, demonstrando que a superexpressão da proteína p16 é um achado típico
em algumas amostras de forma progressiva de NIC I – II – III para carcinoma
epidermóide invasivo. Não encontraram expressão nos tecidos normais de controle.
Nos casos em que a lesão apresentava mais de um grau histológico no mesmo
corte, como regra, a p16 apresentou-se mais pronunciada nas células pertencentes
a lesão mais avançada. Entretanto também encontraram cinco NICs I, cinco NICs II
e dois carcinomas epidermóides invasivos negativos para p16, embora todos os
casos fossem positivos para HPV de alto risco detectados por PCR, o que estaria de
acordo com os resultados de Klaes et al. (2001) que também obtiveram dois casos
de carcinoma invasivo negativos para p16, porém, positivos para HPV de alto risco.
O oposto também foi observado por estes últimos autores onde 14 dos 32 NICs II,
nove dos 60 NICs III e cinco dos 60 carcinomas cervicais, sem infecção por HPV de
alto risco, expressaram p16 de forma difusa nas células displásicas. Assim,
Volgareva et al. (2004) concluem que ter um resultado negativo para p16 parece não
ser uma razão suficiente para excluir a paciente do grupo de HPV de alto risco.
35
Matsumoto et al. (2003) analisaram a expressão da p16 por imuno-
histoquímica em 10 casos de carcinoma de pequenas células de colo uterino,
correlacionando os resultados com a tipagem de HPV por PCR. Encontraram
positividade para superexpressão de p16 em todos os 10 casos. Desses, nove foram
positivos para HPV tipo 18 e um caso para HPV 16. Em relação ao HPV 16, os
autores relatam que normalmente é o tipo mais comum nos casos de carcinoma
epidermóide de colo uterino, e que, coincidentemente, o único caso positivo que
encontraram também apresentava um componente de carcinoma epidermóide
adjacente à região do carcinoma de pequenas células. Os autores ressaltam que a
p16 está deficiente em muitos carcinomas humanos, incluindo melanoma, câncer do
pulmão e leucemia, no entanto, a associação entre a expressão da p16 e
carcinogênese do colo uterino comporta-se de maneira inversa.
Fregonesi et al. (2003) pesquisaram p16 e sua correlação com o HPV em
lesões bucais, abrangendo hiperplasias, papilomas, lesões pré-malignas e
carcinomas epidermóides. Para os autores, a presença focal da p16 (>10 a 30% das
células marcadas) ou difusa (>30%) era preferencialmente encontrada em lesões
pré-malignas e malignas, enquanto o padrão esporádico (5 a 10%) era associado
com lesões benignas. Observaram forte associação entre a superexpressão da
proteína p16 com as lesões bucais que eram malignas ou com alto potencial de
malignização. Um dado interessante foi que a lesão de hiperplasia bucal infectada
com HPV 16/18 produziu um padrão difuso de marcação da p16. Por outro lado,
algumas lesões pré-malignas e malignas, negativas para o HPV de alto risco, foram
p16 negativas ou tiveram marcações esporádicas. Estes resultados indicariam uma
íntima associação entre a infecção de HPV de alto risco e os padrões imuno-
histoquímicos da p16. Entretanto, os autores também encontraram expressão focal
36
de p16 em nove (32%) lesões bucais, oito carcinomas epidermóides e um papiloma,
que foram negativos para DNA-HPV. Este resultado sugere que a expressão
moderada na ausência de DNA viral poderia ser associada com o tipo histológico e
que a disfunção da p16 poderia ser causada por outro co-fator carcinogênico. Por
outro lado, eles encontraram biópsias com HPV 6/11 ou 16/18 com padrão p16
negativo ou esporádico, respectivamente. Lesões com HPV 6/11 ou 16/18, mas p16
negativas foram marcadas em papilomas bucais, enquanto as combinando HPV 6/11
ou 16/18 com expressão esporádica de p16 foram encontrados em lesões pré-
malignas e malignas bucais. Estes resultados também sugerem que, em algumas
lesões, o HPV parece não estar envolvido na desregulação da p16.
Na cavidade bucal, Jontell et al. (1990) realizaram estudo com 20 pacientes
apresentando LPB do tipo erosivo para estabelecer presença e subtipo de HPV pela
técnica de hibridização Southern Blot e por PCR. Pela hibridização, o tipo 11 foi
encontrado em seis lesões. Por PCR, HPV 11 foi detectado em oito amostras,
incluindo todos os casos positivos pela hibridização. Em adição, HPV 6 foi
encontrado em cinco amostras e o HPV 16 em três amostras.
2.6 Correlação com outras proteínas do ciclo celular
Sendo a p16 uma proteína presente no ciclo celular normal que se mostra
com expressão alterada em diferentes tumores, embora não de forma homogênea e
padronizada, outros componentes do grupo das ciclinas, CDKs ou CDKIs também
devem demonstrar alterações durante o ciclo celular e, nesse sentido, diversos
37
estudos têm sido realizados procurando correlacionar as lesões pré-malignas e
malignas com outras proteínas do ciclo celular.
No ciclo celular normal, após a ligação da p16 com as CDK4 ou 6, a ciclina D
livre é degradada por uma via dependente de ubiquitina e há completa inibição do
complexo ciclina E-CDK2, dependentes da fosforilação da pRb. A superexpressão
da ciclina D reportada em diversos tumores humanos, incluindo carcinoma
epidermóide de cabeça e pescoço, resulta em aceleração na progressão pela fase
G1 e entrada na fase S, com diminuição da dependência dos fatores de crescimento
para proliferação (ROCCO; SIDRANSKY, 2001; von KNEBEL DOEBERITZ, 2002).
A superexpressão da ciclina D vem sendo correlacionado com grau
histológico, padrão de crescimento infiltrativo do tumor e metástases nos linfonodos.
Vicente et al. (2002) encontraram expressão de ciclina D em 71,4% dos casos de
carcinoma epidermóide bucal estudados. Superexpressão foi vista em 17,1% (
50%) sendo significativo quando correlacionado ao grupo com linfonodos positivos,
assim como com o tamanho do tumor (T
3
e T
4
). Este risco relativo de metástase nos
linfonodos nos tumores que superexpressam a ciclina D poderia sugerir um
carcinoma com comportamento clínico mais agressivo e mais invasivo, apesar de
não ter sido significativa a correlação com o grau histológico do tumor.
Alguns estudos também defendem que a marcação da capacidade de
proliferação presente nas células cancerosas possa ter aplicação clínica e, nesse
sentido, muitos têm empregado o anticorpo Ki-67. Esse marcador de proliferação
celular é expresso em todas as fases do ciclo celular, exceto em G
0
. Aumento na
sua expressão tem sido reportado como um bom indicador da atividade celular
proliferativa. Cheung et al. (2004) demonstraram que a expressão do Ki-67 tem
relevância no prognóstico do carcinoma de colo uterino.
38
Vicente et al. (2002) encontraram correlação significativa entre o índice de Ki-
67 e o grau histológico de diferenciação do tumor, visto que nove dos 10 casos de
carcinoma epidermóide da cavidade bucal do grupo com alto índice proliferativo
correspondiam aos tumores pouco ou moderadamente diferenciados, o que seria
interessante do ponto de vista biológico mas não como fator preditivo clínico.
Shintani et al. (2002) não detectaram as ciclinas D e E na mucosa bucal
normal e nas displasias epiteliais leves. Houve marcação positiva progressiva da
displasia moderada (6,3%; 6,2%), para severa (7,1%; 57,1%) e para carcinoma
epidermóide (35,9%; 62,4%). As CDK2 e 4 também marcaram progressivamente de
displasia leve (0%; 16,7%), para moderada (0%; 31,3%), severa (21,4%; 35,7%) e
carcinoma epidermóide (66,7%; 58,9%). A perda dos CDKIs, assim como o aumento
na expressão das ciclinas D e E e das CDK2 e 4 devem contribuir para a natureza
multifatorial da carcinogênese bucal, elevando a fosforilação da pRb e permitindo
rápida entrada das células cancerosas na fase S do ciclo celular. A superexpressão
de ciclina D teve associação com pior prognóstico. Para os autores, os resultados
indicam que a maioria das alterações dos reguladores do ciclo celular ocorrem nos
estágios precoces do carcinoma epidermóide e não durante a fase de displasia.
O LP é uma doença que não possui tratamento específico. Considerando a
discussão presente na literatura a respeito do risco de transformação maligna do LP,
e observando que até o momento os aspectos clínicos e a gradação das atipias
epiteliais baseada nos achados histológicos são os principais recursos disponíveis
para a previsão do comportamento dessas lesões, e que muitas vezes essa
avaliação histológica é subjetiva (TURATTI; MARTINS; ARAÚJO, 2005), além de
não termos um critério diagnóstico aceito universalmente, e que, mesmo entre um
grupo experiente de patologistas temos discrepâncias entre os observadores
39
(KLAES et al., 2001), a existência de um biomarcador deve melhorar a padronização
e controle de qualidade dos diagnósticos histológicos.
Para tanto, realizamos estudo imuno-histoquímico da p16 em lesões de LPB.
A p16 vem sendo indicada como marcador para displasias epiteliais, e a literatura
relata seu emprego em diversas lesões pré-malignas e malignas, incluindo a
cavidade bucal, não havendo, entretanto o relato da p16 em lesões de LPB. Este
estudo foi proposto para avaliar se a p16 pode ser utilizado como um marcador de
valor prognóstico promissor nas lesões de LPB.
40
3 PROPOSIÇÃO
O presente estudo propõe-se a:
1. Realizar o estudo imuno-histoquímico com o marcador p16
em lesões de líquen
plano bucal para verificar a presença e o modo de expressão entre os grupos de
pacientes assintomáticos e sintomáticos;
2. Avaliar o índice de proliferação celular nas lesões utilizando o anticorpo Ki-67;
3. Analisar os diagnósticos clínico/histopatológicos com os dados de imuno-
histoquímica para verificar se os mesmos poderiam aumentar nosso entendimento
sobre a possibilidade de malignização do líquen plano bucal.
41
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Pacientes
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Odontológica da
Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP) (Anexo A).
Foram selecionados 21 pacientes atendidos pela Disciplina de Semiologia da
FOUSP, com diagnóstico histopatológico de LPB. Nove pacientes eram clinicamente
assintomáticos e 12 pacientes eram sintomáticos. Os blocos de LPB eram
provenientes dos arquivos da Disciplina de Patologia Bucal da FOUSP. Para
controle de mucosa, foram selecionadas cinco amostras de quatro pacientes
atendidos na Clínica de Diagnóstico Bucal da Universidade Federal do Paraná
(UFPR) com diagnóstico histológico de hiperplasia fibrosa inflamatória (HFI) (Anexo
E e F). Um paciente apresentava lesão em lábio inferior e fundo de vestíbulo
superior (paciente nº23 – amostra a; b). Para inclusão, estes pacientes deveriam
apresentar lesão de crescimento tecidual séssil ou pediculado, associado ao uso de
prótese total. A mucosa deveria estar com aspecto preservado, livre de ulcerações.
O grupo de estudo foi composto por seis homens e 19 mulheres. Destes, 21
eram causasianos e quatro não-caucasianos, com idade entre 19 e 72 anos (média
de 49,08 anos). A Tabela 4.1 sumariza as características dos pacientes, os aspectos
clínicos, as localizações e o tempo de duração das respectivas lesões.
42
4.2 Material
As amostras teciduais foram fixadas em formalina e emblocados em parafina.
Todos os casos apresentavam confirmação diagnóstica histopatológica, de LPB ou
HFI, pela coloração de hematoxilina e eosina (HE).
Para estudo imuno-histoquímico, foram feitos cortes de aproximadamente 4
µm que foram montados em lâminas preparadas com adesivo (CytoCoat, LUPE,
SP).
Foram empregados o anticorpo monoclonal de rato p16 (pré-diluído) da BioSB
(Santa Barbara, CA, EUA) e o anticorpo monoclonal de coelho Ki-67 (clone MIB-1,
1:100) da DAKO (CA, EUA).
4.3 Métodos
4.3.1 Imuno-histoquímica
O estudo imuno-histoquímico foi realizado pela técnica da Envision LaBelled
(DAKO). Os cortes seguiram para desparafinização em xilol, desidratação em álcool
e rehidratação em solução de TBST (“tris-buffered-saline-twin”). Peroxidase
endógena foi bloqueada por imersão das lâminas em metanol com 0,5% de peróxido
de hidrogênio por 15 minutos. Os cortes seguiram para recuperação antigênica em
43
panela de pressão por 15 minutos imersos em solução da BioSB, seguido de
resfriamento na bancada por mais 15 minutos. Os cortes foram incubados com o
anticorpo primário em câmara úmida e deixados por 30 minutos. Foram lavados com
TBST e incubados com o anticorpo secundário e o polímero por mais 30 minutos.
Após lavar com TBST, utilizou-se cromógeno DAB (DAKO) para revelação por cinco
minutos. Foi lavado com água destilada, contra-corado com hematoxilina e montado
com resina permanente.
O controle positivo para p16 foi realizado em lâmina de controle fornecida
pelo fabricante (BioSB) contendo três amostras de células de cultura de linhagem
SiHa, HeLa e CaSki (Anexo G). O controle positivo para Ki-67 foi realizado em corte
de tonsila palatina com hiperplasia linfóide (Anexo H). O controle negativo para
ambos os anticorpos foi realizado em corte de tonsila palatina sem a utilização do
anticorpo primário.
4.4 Análise dos resultados
Os cortes submetidos ao exame imuno-histoquímico foram analisados por
dois patologistas independentes em microscópio óptico Nikon Eclipse E200. A
avaliação foi feita pela estimativa visual das áreas coradas positivamente.
De acordo com o fabricante (BioSB), a marcação positiva para p16 é nuclear
e citoplasmática. Neste estudo, optamos por realizar análise da marcação nuclear e
citoplasmática separadamente.
44
A expressão da p16 foi avaliada de acordo com parâmetros baseados no
estudo de Klaes et al. (2001).
a) Avaliação da porcentagem de células marcadas:
- negativo;
- esporádico (<5% das células positivas);
- focal (5% a 25% das células positivas);
- difusa (>25% das células positivas).
b) Distribuição da marcação na camada epitelial:
- terço inferior;
- terço inferior e médio;
- de 2/3 a espessura completa.
c) Intensidade da marcação: de zero (negativo) a 3+ (superexpressão).
Os resultados da p16 foram classificados como positivos e negativos.
Consideramos como positivo todos os casos 5% das células marcadas (focal e
difuso), incluindo marcação no núcleo, no citoplasma, ou em ambos. O item negativo
incluiu os resultados esporádicos e negativos.
Para o Ki-67, somente a marcação nuclear foi considerada positiva.
Utilizamos como parâmetros:
a) Avaliação da porcentagem de células marcadas: de zero a 100%
b) Distribuição da marcação na camada epitelial:
- camada basal,
- terço médio;
- espessura completa.
45
c) Intensidade da marcação: de zero (negativo) a 3+ (superexpressão).
4.5 Análise estatística
Realizou-se estudo do risco relativo entre os pacientes assintomáticos e
sintomáticos de LPB com os resultados imuno-histoqmicos da p16 e do Ki-67. Para
correlacionar a presença e modo de marcação quanto à porcentagem, distribuição e
intensidade com os dados clínicos e histopatológicos, procedemos à análise pela
razão de possibilidades (odds ratio), com intervalo de confiança (IC) de 95%.
Devido à variedade de sítios afetados pelo LPB, a correlação estatística foi
feita com as duas localizações clínicas mais envolvidas no grupo de estudo, a
mucosa jugal e a língua. O mesmo critério foi adotado com relação às características
clínicas, escolhendo os dois tipos presentes em maior quantidade, os reticulares e
os atróficos.
Foi realizada análise de regressão logística (logit), tendo como variável
dependente a natureza do paciente e, como independente, diversos resultados
imuno-histoquímicos. As variáveis foram codificadas da seguinte maneira:
A) Variável dependente: “0” para pacientes assintomáticos e “1” para sintomáticos.
B) Variáveis independentes:
a) avaliação da porcentagem de células coradas positivamente – p16(%): “0”
para negativo (negativo ou esporádico), “1” para positivo (focal ou difuso);
46
b) distribuição da marcação na camada epitelial - p16(Dt): “0” para negativo,
“1” para terço inferior, “2” para terço inferior e médio e “3” para 2/3 a espessura
completa;
c) intensidade da marcação - p16(I): “0” para negativo, “1” para 1+, “2” para
2+ e “3” para 3+;
d) avaliação da porcentagem de células coradas positivamente - Ki-67(%): de
0 a 100%;
e) distribuição da marcação na camada epitelial - Ki-67(Dt): “0” para negativo,
“1” para camada basal, “2” para terço médio e “3” para espessura completa;
f) intensidade da marcação - Ki-67(I): “0” para negativo, “1” para 1+, “2” para
2+ e “3” para 3+.
Os dados foram analisados para as seguintes categorias:
1) Local da expressão celular: nuclear, citoplasmática e total (nuclear +
citoplasmática);
2) Localização da lesão: mucosa jugal e língua;
3) Característica clínica da lesão: atrófico e reticular.
Foi utilizado, para análises, o pacote estatístico para microcomputador
Statistica 6.0 (Statsoft).
47
Tabela 4.1 Características clínicas dos pacientes (n=25)
Pacientes
Idade Raça
Localização da lesão
Característica clínica
Tempo da
doença
(meses)
ASSINTOMÁTICOS
01 65 C MJ (E) A 24
02 31 NC MJ (D) A 05
03 63 C MJ (D) LG (Bd) R R ---
04 45 C MJ (E) R ---
05 * 48 C MJ (B) LG (Ds) LB (I) R P P 12
06 61 C MJ(B) GV R P 48
07 38 NC MJ (B) LG (Bd) AB R R R 12
08 60 C MJ (B) R 12
09 40 C MJ (B) GV R R 36
SINTOMÁTICOS
10 68 NC LG (Vt-Ds) PD R – E A 02
11 48 C MJ (B) R 10
12 54 C MJ (B) A ---
13 48 C MJ (B) A 24
14 * 37 C MJ (B) LG (Ds) PD R R R 48
15 42 C LG (Bd) R 156
16 46 C MJ (B) LB (I) A A 24
17 * 60 C MJ (B) LG(Bd-Ds) LB (S-I)-AB-PD R R - P R 02
18 61 NC MJ (D) LG (Ds) A R 144
19 42 C LG (Bd) P / U 12
20 42 C MJ (B) LG (Ds) RA (I) P P P 06
21 27 C LG (Bd) U 48
GRUPO CONTROLE
22 19 C MJ (D) HFI 12
23 (a; b) 72 C LB (I) – FV (S) HFI 12
24 66 C PD HFI 36
25 44 C FV (S) HFI 24
* Pacientes apresentando lesões cutâneas concomitantemente
(a; b) = amostra a; amostra b
C = caucasiano; NC = não caucasiano
MJ = mucosa jugal; E = esquerda; D = direita; B = bilateral
LG = língua; Bd = borda; Ds = dorso; Vt = ventre
LB = lábio; GV = gengiva; AB = assoalho bucal; PD = palato duro
RA = rebordo alveolar; FV = fundo de vestíbulo
I = inferior; S = superior
HFI = hiperplasia fibrosa inflamatória
A = atrófico; R = reticular; P = placa; E = erosivo; U = ulcerado
- - - = período indeterminado da doença
48
5 RESULTADOS
5.1 Distribuição e característica das lesões de LPB
Os pacientes do nosso grupo de estudo apresentaram, em sua maioria,
lesões de LPB distribuídas em vários locais da cavidade bucal, sendo que a mucosa
jugal estava envolvida em 18 casos; língua em 11 casos; lábio e palato duro, em
quatro casos cada um; gengiva, assoalho bucal e fundo de vestíbulo, em dois casos
cada; um caso envolvendo rebordo alveolar inferior.
Verificando a característica clínica da lesão presente, independente da
localização envolvida, temos:
- entre os nove pacientes assintomáticos, dois apresentavam somente lesões
atróficas e cinco pacientes tinham lesões do tipo reticular;
- entre os 12 pacientes sintomáticos, somente a forma reticular estava presente em
três indivíduos, a forma atrófica em três pacientes, um apresentava somente a forma
ulcerada e um paciente a forma em placa.
Cinco pacientes do grupo de estudo apresentavam mais de uma
característica clínica de LPB distribuídos em localizações diferentes. Somente um
paciente apresentou lesão em borda de língua em placa e com ulcerações ao
mesmo tempo.
Entre os sintomáticos, sete pacientes tinham queixa de ardência, quatro de
dor e somente um de desconforto.
49
5.2 p16 em pacientes assintomáticos
Dos nove pacientes deste grupo, cinco (55,6%) foram negativos para p16,
nuclear e citoplasmático. Três, desses cinco, apresentavam lesões do tipo reticular.
Apenas um paciente apresentou marcação de forma esporádica no citoplasma,
sendo considerado como negativo para p16.
Quatro pacientes foram positivos para p16. Dois, dos quatro pacientes
(22,2%), um com lesão atrófica e outro reticular, apresentaram marcação focal
nuclear e citoplasmática. Marcação difusa somente no citoplasma e focal no núcleo
foi visto nos outros dois pacientes, um com lesão atrófica e outro reticular. Nenhum
paciente deste grupo assintomático demonstrou marcação difusa no núcleo e no
citoplasma ao mesmo tempo (Anexo L e M).
No item distribuição avaliada, quando presente, a p16 nuclear e
citoplasmática, ocorreu no terço inferior. Os resultados estão apresentados na
Tabela 5.1.
5.3 p16 em pacientes sintomáticos
Quatro pacientes (33,3%) foram considerados como negativos para p16,
sendo que dois tinham lesões reticulares e um paciente o tipo atrófico. Neste grupo
tivemos mais marcações esporádicas comparadas com o grupo dos pacientes
assintomáticos, sendo quatro ocorrências no núcleo e três no citoplasma.
50
Do total de 12 pacientes, três tiveram resultados positivos de padrão difuso no
núcleo e no citoplasma, sendo que um deles apresentava lesão reticular e, os
demais, em placa.
O resultado da marcação positiva focal foi muito heterogêneo. A marcação
simultânea no núcleo e no citoplasma ocorreu em dois casos. Um caso do tipo
atrófico e o segundo numa lesão ulcerada. A marcação focal somente citoplasmática
ocorreu em três casos, sendo um do tipo atrófico e dois em associações de
características e localizações clínicas (Anexo N e O).
Na distribuição, a p16 nuclear ocorreu no terço inferior em cinco casos e no
terço inferior e médio em quatro casos. A p16 citoplasmática ocorreu no terço inferior
em oito casos, no terço inferior e médio em dois casos e somente um caso teve
distribuição na espessura completa (Anexo P). Os resultados estão demonstrados
na Tabela 5.1.
5.4 Ki-67
Dentre os 21 pacientes com LPB, 19 tiveram marcações positivas, todos na
camada basal, variando de 10 a 90% (média de 52,6%) (Anexo Q, R, S e T). Os
resultados estão apresentados na Tabela 5.2.
Uma amostra foi negativa (lesão atrófica na mucosa jugal), e uma amostra
mostrou-se insatisfatória por dobra no corte.
51
Uma amostra apresentou marcação no terço médio, além da camada basal,
de forma intensa (3+). Este resultado ocorreu numa amostra de língua, a única lesão
exclusivamente ulcerada dentro da amostra pesquisada.
5.5 Pacientes do grupo controle
O resultado da p16 foi negativo, nuclear e citoplasmático, nas cinco amostras
testadas (Anexo I).
O Ki-67 marcou, na camada basal, em todas as amostras testadas (Anexo J).
5.6 Resultado estatístico
Avaliamos o risco relativo dos diversos resultados imuno-histoquímicos da
p16 e do Ki-67 obtidos no estudo considerando o grupo de pacientes assintomáticos
e sintomáticos do LPB. As correlações ocorreram com o local da expressão celular
(nuclear, citoplasmática ou total), com a localização clínica da lesão (mucosa jugal
ou língua) e com a característica clínica (reticular ou atrófico).
5.6.1 local da expressão celular
52
Ao correlacionarmos os pacientes assintomáticos com os sintomáticos e os
resultados do local da expressão celular, somente nuclear, citoplasmática ou total,
os resultados foram estatisticamente significativos (p<0,05), nas três localizações,
quando consideramos a distribuição da p16 pela camada epitelial, como mostra a
Tabela 5.3.
a) total, a curva de declividade dos pacientes assintomáticos para os sintomáticos foi
de 5,179 (IC:1,856 a 14,450), p<0,05;
b) nuclear, a razão de possibilidades foi de 4,091 (IC: 1,074 a 15,587), p<0,05;
c) citoplasma, a razão de possibilidades foi de 8,461 (IC: 1,538 a 46,554), p<0,05.
5.6.2 localização da lesão
Avaliando as duas localizações clínicas mais prevalentes, também tivemos
resultados estatisticamente significativos (p<0,05) na distribuição da p16 pela
camada epitelial dos pacientes assintomáticos para os sintomáticos, como mostra a
Tabela 5.4.
a) mucosa jugal, a razão de possibilidades foi de 14,234 (IC: 3,287 a 61,629),
p<0,05;
b) língua, a razão de possibilidades foi de 5,130 (IC:1,153 a 22,827); p<0,05.
As outras duas categorias avaliadas, porcentagem e intensidade da marcação
da p16 pela camada epitelial, não foram estatisticamente significativas. Da mesma
53
forma, as características clínicas avaliadas, atrófico e reticular, e os resultados do Ki-
67, também não foram significativos em nenhum item avaliado.
O gráfico 5.1 exemplifica a curva de declividade que demonstra o risco
relativo da incidência da distribuição da p16 pela camada epitelial entre o grupo de
pacientes assintomáticos e sintomáticos. Os pacientes assintomáticos tiveram
marcação negativa ou distribuída no terço inferior da camada epitelial. Por outro
lado, os pacientes sintomáticos tiveram marcação em todos os níveis, porém,
somente estes apresentaram distribuição pelo terço inferior e médio e em toda a
espessura da camada epitelial.
54
Tabela 5.1 Resultados da p16 (n=26)
Pacientes n (%) n (Dt) n (I) c (%) c (Dt) c (I)
ASSINTOMÁTICOS
1 P (F) A 3 P (D) A 3
2 P (F) A 3 P (F) A 2
3 N N N N N N
4 N N N N N N
5 N N N N N N
6 N N N N N N
7 P (F) A 2 P (D) A 2
8 N N N N (E) A 1
9 P (F) A 1 P (F) A 2
SINTOMÁTICOS
10 N N N N (E) A 1
11 P (D) B 3 P (D) D 3
12 P (F) A 2 P (F) A 2
13 N (E) A 1 P (F) A 1
14 N (E) A 1 N (E) A 1
15 N N N N N N
16 N (E) A 1 N (E) A 1
17 N (E) A 2 P (F) A 2
18 N N N P (F) A 1
19 P (D) B 3 P (D) B 3
20 P (D) B 2 P (D) B 2
21 P (F) B 2 P (F) A 3
GRUPO CONTROLE
22 N N N N N N
23 a) (LB) N N N N N N
23 b) (FV) N N N N N N
24 N N N N N N
25 N N N N N N
n = nuclear; c = citoplasmático
% = porcentagem; Dt = distribuição; I = intensidade
P = positivo; F = focal; D = difuso
N = negativo; E = esporádico
A = terço inferior
B = terço inferior e médio
D = 2/3 a espessura completa
LB = lábio; FV = fundo de vestíbulo
55
Tabela 5.2 Resultados do Ki-67 (n=26)
Pacientes
n (%) n (Dt) n (I)
ASSINTOMÁTICOS
1 90 C 3
2 20 C 3
3 Insat. Insat. Insat.
4 80 C 3
5 10 C 1
6 40 C 3
7 80 C 3
8 90 C 3
9 90 C 3
SINTOMÁTICOS
10 10 C 1
11 40 C 3
12 40 C 3
13 N N N
14 40 C 3
15 25 C 3
16 25 C 3
17 15 C 3
18 15 C 3
19 90 C 3
20 90 C 3
21** 90 C 3
GRUPO CONTROLE
22 10 C 2
23
a) (LB) 80 C 3
23 b) (FV) 75 C 3
24 90 C 3
25 75 C 3
n = nuclear
% = porcentagem; Dt = distribuição; I = intensidade
C = camada basal
N = negativo
Insat. = insatisfatório
LB = lábio; FV = fundo de vestíbulo
** Apresentou adicionalmente 10% de marcação no terço médio de forma intensa (3)
56
Tabela 5.3 Risco relativo entre pacientes assintomáticos e sintomáticos para as avaliações da p16 e
Ki-67 com relação ao local da expressão celular
Expressão Ensaios
Razão de
possibilidades
Intervalo de confiança p
Total p16 (%) 1,477 0,434 a 5,031 p>0,05
ns
(nuclear + citoplasmática) p16 (Dt) 5,179 1,856 a 14,450 p<0,05 *
p16 (I) 1,509 0,856 a 2,659
p>0,05
ns
Ki-67 (%) 0,979 1,007 a 0,952
p>0,05
ns
Ki-67 (Dt) 0,000 --- --- p>0,05
ns
Ki-67 (I) 0,783 2,347 a 0,261
p>0,05
ns
Nuclear p16 (%) 0,893 5,116 a 0,156
p>0,05
ns
p16 (Dt) 4,091 1,074 a 15,587 p<0,05 *
p16 (I) 1,381 0,642 a 2,968
p>0,05
ns
Ki-67 (%) 0,979 1,007 a 0,952
p>0,05
ns
Ki-67 (Dt) 0,000 --- --- p>0,05
ns
Ki-67 (I) 0,783 2,347 a 0,261 p>0,05
ns
Citoplasmática p16 (%) 2,500 0,430 a 14,540 p>0,05
ns
p16 (Dt) 8,461 1,538 a 46,554 p<0,05 *
p16 (I) 1,696 0,723 a 3,981 p>0,05
ns
Tabela 5.4 Risco relativo entre pacientes assintomáticos e sintomáticos para as avaliações da p16 e
Ki-67 com relação à localização da lesão
Localização da
lesão Ensaios
Razão de
possibilidades Intervalo de confiança p
Mucosa Jugal p16 (%) 1,607 0,416 a 6,210 p>0,05
ns
p16 (Dt) 14,234 3,287 a 61,629 p<0,05 *
p16 (I) 1,618 0,835 a 3,138
p>0,05
ns
Ki-67 (%) 0,969 1,001 a 0,937
p>0,05
ns
Ki-67 (Dt) 0,838 2,702 a 0,260
p>0,05
ns
Ki-67 (I) 0,000 --- ---
p>0,05
ns
Língua p16 (%) 2,000 0,291 a 13,725 p>0,05
ns
p16 (Dt) 5,130 1,153 a 22,827 p<0,05 *
p16 (I) 2,095 0,814 a 5,394
p>0,05
ns
Ki-67 (%) 1,002 0,958 a 1,048
p>0,05
ns
Ki-67 (Dt) 2,000 --- ---
p>0,05
ns
Ki-67 (I) 2,646 0,466 a 15,009
p>0,05
ns
% = porcentagem; Dt = distribuição; I = intensidade.
* significativo.
ns
não significativo.
% = porcentagem; Dt = distribuição; I = intensidade.
* significativo.
ns
não significativo.
57
Tabela 5.5 Risco relativo entre pacientes assintomáticos e sintomáticos para as avaliações da p16 e
Ki-67 com relação à característica clínica da lesão
Característica
Clínica Ensaios Razão de possibilidades Intervalo de confiança p
Atrófico p16 (%) 0,000 --- --- p>0,05
ns
p16 (Dt) 0,000 --- --- p>0,05
ns
p16 (I) 0,000 --- --- p>0,05
ns
Ki-67 (%) 0,945 --- --- p>0,05
ns
Ki-67 (Dt) 0,000 --- --- p>0,05
ns
Ki-67 (I) 0,000 --- --- p>0,05
ns
Reticular p16 (%) 0,500 7,078 a 0,035
p>0,05
ns
p16 (Dt) 2,757 0,449 a 16,912
p>0,05
ns
p16 (I) 1,852 0,585 a 5,860
p>0,05
ns
Ki-67 (%) 0,939 --- --- p>0,05
ns
Ki-67 (Dt) 1,000 --- --- p>0,05
ns
Ki-67 (I) 1,000 --- --- p>0,05
ns
Gráfico 5.1 Risco relativo da distribuição da p16 pela camada epitelial entre pacientes assintomáticos
e sintomáticos
% = porcentagem; Dt = distribuição; I = intensidade.
ns
não significativo.
Eixo Vertical:
0 = paciente assintomático
1 = paciente sintomático
Eixo Horizontal
:
0 = negativo
1 = terço inferior
2 = terço inferior e médio
3 = 2/3 a espessura completa
58
6 DISCUSSÃO
Avanços recentes na área da biologia celular e molecular têm elucidado
mecanismos do sistema de controle do ciclo celular, demonstrando que a
desregulação em algumas de suas vias são fatos comuns encontrados em tumores
de várias partes do organismo. Desta forma, nos últimos anos, diversos marcadores
moleculares vêm sendo descobertos e empregados na tentativa de avaliar melhor o
diagnóstico e prognóstico desses pacientes.
A literatura tem relatado anormalidades genéticas ocorrendo no cromossomo
9p21, que codifica, entre outras, a proteína p16, demonstrando o papel e o
significado desta proteína na regulação do ciclo celular. Ela vem sendo testada em
lesões pré-malignas e malignas, na tentativa de marcar anormalidades celulares que
possam esclarecer o processo de transformação maligna dessas lesões. Este
estudo aplicou a p16 em lesões de LPB, procurando observar se os resultados
imuno-histoquímicos, correlacionados com os dados clínicos e histológicos, possam
aumentar nosso entendimento sobre a possibilidade de transformação maligna do
LPB. Foi usada a técnica de imuno-histoquímica que tem se mostrado efetiva na
detecção da expressão da p16.
Nas células normais, a função bioquímica da p16 é regular a fosforilação da
pRb e conseqüentemente a progressão do ciclo celular pelo “ponto de checagem’
G1/S (ROCCO; SIDRANSKY, 2001) sendo um dos responsáveis pela manutenção e
parada do ciclo celular (PANDE et al., 1998). Muitos estudos demonstram alta
expressão dessa proteína em tecido normal, a qual vai diminuindo conforme
aumenta o grau de displasia epitelial até o quadro de carcinoma epidermóide
59
invasivo, o que caracterizaria a sua inativação como um fator importante no
processo de carcinogênese (PANDE et al., 1998; MORTIER et al., 2002; SHINTANI
et al., 2002). Se observarmos os resultados de diversos estudos, tanto na área de
cabeça e pescoço, como em outros órgãos, vamos obter um leque de resultados,
revelando um complexo panorama para este marcador (CHEN et al, 1999; SAITO et
al, 1999; KRESTY et al, 2002).
Papadimitrakopoulou et al. (1997) já demonstraram expressão negativa para
p16 em maior quantidade no grupo de lesões bucais com displasias epiteliais,
comparadas com o grupo sem alteração celular, o que indicaria que a proteína
diminui a sua expressão conforme aumenta o grau da displasia.
Mortier et al. (2002), ao determinarem que as lesões de queilite actínica sejam
relativamente livres de alterações no cromossomo 9p21, ao contrário dos casos de
carcinoma epidermóide bucal, mostraram dados que indicaram que a progressão da
lesão pré-neoplásica para neoplasia requer inativação da p16. As áreas altamente
displásicas dentro da lesão de queilite actínica negativas para p16 poderiam indicar
a presença de transformação precoce dessas células, o que contribuiria para o
desenvolvimento de carcinoma epidermóide. Sendo assim, o estudo da p16 estaria
indicado para verificar o grau de inativação desta proteína e estabelecimento do
protocolo de tratamento, pois lesões com diferentes expressões podem ter
comportamento clínico distintos.
Entre os resultados obtidos por Pande et al. (1998), observou-se também que
dois casos de mucosa normal adjacente ao local das lesões bucais analisadas foram
negativos para p16, enquanto as demais mucosas normais, contra-laterais a lesão
ou de indivíduos sadios, apresentaram expressão positiva. Esse resultado indicaria a
presença de uma alteração celular, porém, sem tradução clínica e histopatológica
60
ainda. Correlação significativa entre marcação negativa com aumento da severidade
do tumor (T
3
e T
4
) também foi determinada, o que foi mais tarde confirmado no
estudo de Wing Yuen et al. (2002) que observaram subexpressão da proteína p16
contribuindo para um carcinoma de comportamento mais proliferativo.
Chen et al. (1999) obtiveram resultado inverso. Observaram superexpressão
da p16 nos casos de carcinomas avaliados. A alta proporção de células tumorais
positivas para p16 foi associada com estadio e grau avançado do tumor, além de
pior prognóstico nas pacientes com câncer ovariano.
Outros estudos demonstraram aumento da expressão da p16 em células
tumorais, sendo baixa, ou mesmo ausente, a sua expressão no tecido normal e nas
displasias leves (NG et al, 2002; BIBBO et al, 2002; SAQUI et al, 2002).
No presente estudo, fizemos a divisão dos pacientes de acordo com as
queixas clínicas iniciais, em assintomáticos e sintomáticos. Não foi possível realizar
divisão por característica clínica ou localização, visto que muitos pacientes
apresentavam mais de um local envolvido; cinco pacientes apresentavam mais de
uma forma clínica da doença, distribuída em diferentes locais da cavidade bucal.
Dois pacientes assintomáticos apresentavam lesões atróficas, que usualmente são
classificadas como sintomáticos na literatura. Três pacientes sintomáticos tinham a
forma reticular e um, a forma em placa, geralmente classificada como
assintomáticos.
Como nem sempre foi possível verificar o local exato da origem do fragmento
da biópsia que estudamos, nos casos em que a doença acometia vários locais na
cavidade bucal, não foi realizado a correlação de cada um dos dados obtidos da p16
com características específicas da lesão para cada paciente. Definimos, para tanto,
que seria realizado estudo considerando os resultados de uma forma global,
61
correlacionando com as localizações mais comuns, de forma generalizada, entre os
pacientes assintomáticos e sintomáticos. A análise estatística comparou o cálculo
do risco relativo entre esses dois grupos e pacientes com os vários resultados
imuno-histoquímicos obtidos.
A distribuição da p16 foi dividida em terço inferior, terço inferior e médio e 2/3
a espessura completa. Os resultados estatísticos indicaram que o risco relativo para
a distribuição da p16 quando passamos do grupo de pacientes assintomáticos para
o grupo dos sintomáticos é significativo quando correlacionamos os resultados
imuno-histoquímicos com o local da expressão celular e com a localização clínica da
lesão.
Quando analisamos somente a distribuição, podemos verificar, pelo Gráfico
5.1, que nos pacientes assintomáticos a expressão foi negativa ou só ocorreu
expressão da p16 no terço inferior. Para os pacientes sintomáticos, essa distribuição
ocorreu em todas as camadas. Isso significa que quando passamos a ter um
paciente sintomático, o risco dele apresentar expressão positiva da p16 em camadas
mais altas no epitélio é significativo.
Com relação ao local da expressão celular, todas as marcações, (nuclear,
citoplasmática ou total), foram estatisticamente significativas. As marcações nuclear
e total produziram um risco relativo do grupo de pacientes assintomáticos para os
sintomáticos de forma muito próxima, tendo razão de possibilidades de 4,091 e
5,179, respectivamente. A chance de ocorrer marcação citoplasmática foi
praticamente o dobro da marcação nuclear, resultando numa razão de
possibilidades de 8,461.
O resultado acima indica que a marcação citoplasmática é um sítio importante
e expressivo, resultado semelhante ao estudo de Klaes et al. (2001) que observaram
62
expressão predominantemente citoplasmática, não devendo ser desprezado, como
sugerido por alguns estudos que consideram a marcação nuclear como único
resultado positivo para p16. Os nossos resultados estão de acordo com as normas
do fabricante do anticorpo empregado neste estudo, que orienta que ambas as
marcações sejam consideradas como resultados positivos para p16.
Correlacionando a distribuição com a localização da lesão, observamos que
na língua, o risco relativo dessa distribuição entre o paciente assintomático e o
sintomático resultou numa razão de possibilidades de 5,130. Resultado inesperado
foi com relação à mucosa jugal, onde a razão de possibilidades foi de 14,234, uma
possibilidade quase 2,8 vezes maior que na língua. Esse último resultado foi
surpreendente, visto que a localização apontada como de maior envolvimento nos
casos de transformação maligna é a língua. Além disso, a mucosa jugal é o local
mais comumente envolvido nas lesões de LPB.
Os demais itens avaliados de porcentagem e intensidade da p16, além da
correlação com as características clínicas, não foram estatisticamente significativas,
embora a literatura relate que as lesões erosivas, ulceradas e atróficas são os tipos
com maiores chances de sofrerem transformação maligna.
Os resultados do Ki-67 não foram estatisticamente significativos em nenhum
item avaliado.
O fato da distribuição da marcação da p16 pela camada epitelial ser
estatisticamente significativa, em relação ao local da expressão celular e a
localização da lesão, é particularmente expressivo ao observarmos que o estudo
imuno-histoquímico da p16 vem sendo indicado para análise das displasias da
cérvice uterina, e, por conseqüência, das displasias epiteliais (KLAES et al., 2001;
KALOF et al., 2005).
63
No estudo de Klaes et al. (2001), 28 dos 47 (60%) NIC I exibiram expressão
difusa e forte das células displásicas dentro do terço inferior do respectivo epitélio.
Nos 2/3 superiores, a p16 estava geralmente ausente ou, quando presente, de forma
fraca. Em 10 dos 47 (21%) NIC I foi observada marcação focal. Expressão
esporádica ou negativa foi vista em nove de 47 (19%). Todos os 92 casos de
displasias de alto grau (32 NIC II e 60 NIC III) demonstraram marcação difusa e
intensa para p16 nas células epiteliais displásicas. Células epiteliais diferenciadas na
camada superficial do NIC demonstraram expressão reduzida da p16, enquanto
todas as camadas epiteliais dos casos de NIC III marcaram fortemente pela p16.
Correlacionando os resultados acima com a presença de HPV de alto ou
baixo risco, Klaes et al. (2001) obtiveram correlação significativa de HPV de alto
risco com expressão difusa e intensa da p16. Isso significa que, quanto maior o grau
da displasia, temos envolvimento das camadas epiteliais mais altas pelas alterações
celulares e, portanto, maior distribuição da expressão da p16 pelas camadas
epiteliais. Transferindo estes resultados para o carcinoma cervical, sabemos que
essa neoplasia é resultado de infecção por HPV de alto risco, e que, conforme
aumenta o grau da displasia, o vírus vai se disseminando pelas camadas epiteliais,
desde a camada basal até a superficial, sendo esperado que, quanto maior o grau
da displasia, maior envolvimento da altura da camada epitelial e, maior distribuição
da marcação da p16 pela camada epitelial.
O fato de ocorrer carcinogênese e, portanto, proliferação celular, significa que
a p16 está livre e não exercendo sua função de supressão tumoral. Então, deve
ocorrer alta marcação conforme aumenta o grau de proliferação tumoral, o que foi
uma conclusão do estudo de Chen et al. (1999), porém os autores não realizaram
pesquisa para HPV.
64
O HPV tem sido implicado na patogênese de vários tipos de tumores
malignos. Na mucosa bucal, o HPV também tem sido envolvido em diferentes tipos
de doenças, embora o tecido bucal normal também possa apresentar presença de
HPV. Estudos investigativos a respeito da participação do HPV, em especial os de
alto riso, nas lesões de LPB fazem-se necessários para melhor estabelecimento se
os resultados da expressão da p16 nestas lesões podem ser uma resposta anormal
pela presença do E7 do HPV de alto risco.
O nosso grupo controle foi negativo para p16, indicando ausência de
displasias e de efeito citopático viral por HPV de alto risco, sendo a positividade do
Ki-67, indicador de atividade/proliferação celular.
A possibilidade de transformação maligna do LPB ainda é um tema bastante
debatido na literatura. Se observarmos os resultados presentes na literatura,
podemos concluir que entre 1% e 5% dos pacientes com LPB desenvolverão
carcinoma epidermóide se forem observados ao longo dos anos.
Não se sabe, exatamente, se existe ou não qualquer predisposição. Ao invés
disso, se existe um potencial pré-maligno verdadeiro no LPB, isto não tem sido
adequadamente demonstrado.
Se as alterações displásicas incipientes na presença de características
liquenóides não são reconhecidas ou são subestimadas, uma má interpretação
diagnóstica pode acontecer. Além disso, alterações genéticas, que ainda não foram
traduzidas clinicamente, ou mais de uma doença podem estar presentes
concomitantemente no mesmo paciente (FATAHZADEH; RINAGGIO; CHIODO,
2004).
A existência de um marcador que possa indicar a existência de
anormalidades celulares, contribuindo no prognóstico das lesões com riscos de
65
transformação maligna, seria de grande utilidade no estudo de diversas lesões, não
somente nos casos de LP.
De acordo com Krutchkoff e Eisenberg (1985) a displasia epitelial com
características liquenóides constitui-se numa entidade histopatológica distinta, esta
sim, com verdadeira predisposição de sofrer transformação maligna. Dessa forma,
análise futura da p16 nas displasias liquenóides comparando-as com o LPB também
se fazem necessários. Em publicação de 1992, os mesmos autores ressaltam que
muitos dos estudos publicados sobre transformação maligna em LP ocorreram em
pacientes com história conhecida de exposição a substâncias reconhecidamente
carcinógenas, como fumo e álcool, o que contribuiria para a manutenção da
controvérsia a respeito do potencial de transformação maligna.
Para Fatahzadeh, Rinaggio e Chiodo (2004), embora alguns exemplos de
transformação maligna do LPB tenham sido adequadamente demonstrados, o
verdadeiro índice deste evento provavelmente é muito menor do que o estimado nos
estudos de série.
Faz-se necessário que todo caso com suspeita de LP seja confirmado
histologicamente. O acompanhamento minucioso e prolongado é especialmente
importante se a lesão inicial for de LP atrófico ou erosivo e estiver localizado na
língua. Lesões de LP tipo placa, homogênea, particularmente envolvendo dorso da
língua, também devem ser avaliados com maior cuidado e critério.
Mesmo que, hipoteticamente, a malignização ocorra só em 0,4% a 0,5% dos
casos de LPB, isso já significa uma chance 10 a 20 vezes maior de carcinoma
epidermóide bucal que na população em geral (BARNARD et al., 1993), o que
justificaria o seguimento cuidadoso dessa população.
66
O presente estudo obteve correlação significativa da distribuição da p16 pela
camada epitelial com o local da expressão celular e com a localização clínica da
lesão. Face ao exposto sobre a correlação da p16 como marcador de displasia
epitelial e com o envolvimento do HPV, faz-se necessário a complementação deste
estudo para incluir ou excluir o HPV nas lesões de LPB além de estudo comparativo
com os casos de displasias liquenóides.
67
7 CONCLUSÕES
Os resultados desse estudo permitiram concluir que:
1) A distribuição da p16 pela camada epitelial foi estatisticamente significativa
quando calculamos o risco relativo entre pacientes assintomáticos e
sintomáticos de LPB com relação ao local da expressão celular e com a
localização clínica da lesão;
2) Os demais itens analisado, porcentagem e intensidade da p16, correlação
com a característica clínica de LPB e os resultados do Ki-67 não foram
estatisticamente significativos;
3) Faz-se necessário estudo futuro para incluir ou excluir a presença do HPV
nas lesões de LPB e estudo comparativo da p16 nos casos de displasias
liquenóides.
68
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72
ANEXO A
f)
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
F A C ULDAD E O E ODONT OLOG IA
PARECER DEAPROVAÇÃO
Protocolo 237/04
o Grupo" de Trabalho indicado pelo Comitê de Ética em Pesquisa,
APROVOU o protocolo de pesquisa "Estudo da imunomarcação do p1fiNK4anas
lesões de líquen plano bucal", de responsabilidade da Pesquisadora Fábia Hiromi
Hayama, sob orientação do Professor Doutor Jayro Guimarães Júnior.
Tendo em vista a legislação vigente, devem ser encaminhados a este
Comitê relatórios anuais referentes ao andamento da pesquisa e ao ténnino cópia
do trabalho em "ceI".Qualquer emenda do projeto original deve ser apresentada a
este CEP para apreciação, de forma clara e sucinta, identificando a parte do
protocolo a ser modificada e suas justificativas.
São Paulo, 13 de dezembro de 2004
. /)/;/;, iC'T}b..a~
"'l4U .~ - .
profi Dra ROSA HEl" MIRANDAGRANDE
Coordenadora d CEP-FOUSP .
..
Av. Prof. Lineu Prestes, 2227 - CidadeUniversitária. Annando de SalIes Oliveira" CEP 05508-900
São Paulo - SP FAX (011) 814.9281 - TELEX (011) 36950 - Tels.: PABX (011) 813.6944-
Diretoria (011) 814.0062 - Contabilidade/Compras (011)814.9281
Impresso 1108.D.0.
73
ANEXO B
Proposta de critérios diagnósticos modificados da OMS para LPB e LLB
Critério clínico *
Presença de lesão bilateral, geralmente simétrica
Presença de finas estrias esbranquiçadas (padrão reticular)
Lesão erosiva, atrófica, bolhosa e em placa (aceito como um subtipo somente na
presença de lesões reticulares em qualquer outro local da mucosa bucal)
Critério histopatológico #
Presença de um zona bem definida de infiltrado celular, principalmente de linfócitos, em
faixa, confinado ao córion superficial
Sinais de “degeneração hidrópica” na camada de células basais
Ausência de displasia epitelial
Diagnóstico final de LPB e LLB
Para atingir o diagnóstico final, devem-se incluir os critérios clínico e histopatológico
O diagnóstico de LPB requer o preenchimento de ambos os critérios.
O termo LLB deve ser usado somente sob as seguintes condições:
1. Clinico: LPB típico; Histopatólogico: somente compatível com LPB
2. Clínico: somente compatível com LPB; Histopatológico: LPB típico
3. Clinico e Histopatológico: somente compatível com LPB
OMS: Organização Mundial da Saúde.
LPB: Líquen plano bucal.
LLB: Lesão liquenóide bucal.
* Em todas as outras lesões que lembrem LPB mas que não completam os critérios acima
mencionados, o termo “compatível clinicamente” deve ser usado.
# Quando as características histopatológicas são menos evidentes, o termo
“compatível histopatologicamente” deve ser usado.
74
ANEXO C - LPB - HE(40X)
ANEXO D - LPB - HE (400X)
Degeneração hidrópica na camada basal
ANEXO E - HFI - HE (100X)
ANEXO F – HFI - HE (400X)
75
ANEXO G - p16 controle positivo (400X)
ANEXO H - Ki-67 controle positivo (100X)
ANEXO I - HFI – p16 negativo(100X) ANEXO J - HFI – Ki-67 positivo (100X)
76
ANEXO L - LPB - p16 positivo
(100X)
A
NEXO M - LPB -
p
16
p
ositivo
(
400X
)
ANEXO N - LPB - p16 positivo - (100X)
ANEXO 0 - LPB - p16 positivo - (400X)
ANEXO P - LPB - p16 positivo (100X)
77
ANEXO Q - LPB – Ki-67 positivo (100X)
ANEXO R - LPB
Ki-67 positivo (400X)
ANEXO S - LPB – Ki-67 positivo (100X)
A
NEXO T - LPB
Ki-67
p
ositivo
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