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ANDRÉ GUSTAVO VASCONCELOS COSTA
COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DO LEITE HUMANO E
SUA CORRELAÇÃO COM VARIÁVEIS MATERNAS:
ESTUDO PROSPECTIVO
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das exigências
do Programa de Pós-Graduação em Ciência
da Nutrição, para obtenção do título de
Magister Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2006
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i
ANDRÉ GUSTAVO VASCONCELOS COSTA
COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DO LEITE HUMANO E SUA
CORRELAÇÃO COM VARIÁVEIS MATERNAS:
ESTUDO PROSPECTIVO
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das exigências
do Programa de Pós-Graduação em Ciência
da Nutrição, para obtenção do título de
Magister Scientiae.
APROVADA: 26 de julho de 2006.
______________________________
Profª Maria do Carmo G. Peluzio
(Co-orientadora)
______________________________
Profª Sylvia do Carmo C. Franceschini
(Co-orientadora)
______________________________
Profª Neuza Maria Brunoro Costa
______________________________
Profª Lina Enriqueta F. P. de Lima Rosado
______________________________
Profª Céphora Maria Sabarense
(Orientadora)
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ii
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, pessoas iluminadas, alicerce da minha vida, que
me ensinaram e me ensinam valores grandiosos e indispensáveis para
minha formação pessoal e profissional.
Ao Ique e ao Nando, verdadeiramente irmãos, que me apoiaram e
sempre me incentivam em ir mais além.
Vocês, meus pais e meus irmãos, que compreenderam minha
ausência e festejaram minha presença, o meu eterno agradecimento,
amor e admiração!
iii
AGRADECIMENTOS
A toda minha família, em especial à Dé, Fernando, Lívia, tia Lilice,
Ane, Melissa, Fernanda, Rosão, José Ângelo, Marli; pelo constante
incentivo, carinho e respeito. Também, à Maria Laura, Ana Beatriz e
Lucas; por transmitirem tanta paz e alegria.
À Universidade Federal de Viçosa, instituição responsável pela
minha formação, por sua excelência em ensino e pesquisa.
Ao Departamento de Nutrição e Saúde e seus funcionários, em
especial à Mimo e Dona Terê, pela agradável convivência.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Nutrição, por
proporcionar a realização de meu curso e deste estudo.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), pela concessão da bolsa de estudos.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), pelo financiamento deste estudo.
À Agromídia, pela concessão do software Diet Pro®.
À Professora Céphora Maria Sabarense, pela orientação, pela
incansável dedicação, por cada palavra de incentivo e pelos muitos votos
de confiança. Foi um grande prazer ser seu primeiro orientado!
À Professora Maria do Carmo Gouveia Peluzio, pela alegria nos
estudos científicos e pelo constante apoio nas tarefas laboratoriais.
À Professora Sylvia C. C. Franceschini, pela positiva e significante
(p<0,05) contribuição no desenvolvimento deste trabalho.
À Professora Neuza Maria Brunoro Costa, pela amizade e por me
conduzir para o empolgante caminho da ciência (Costa & Costa).
iv
À Professora Lina Enriqueta F. P. de Lima Rosado, por seu
dissernimento e valoriosas sugestões para com este estudo.
À Professora Josefina Bressan, pelos seus inúmeros conselhos,
pela sincera amizade e confiança e por cada momento nestes anos.
Ao Hospital São Sebastião, em especial à Helô, ao Centro de
Saúde da Mulher e da Criança da Prefeitura Municipal de Viçosa e a toda
a equipe do PROLAC, por contribuírem para o desenvolvimento deste
trabalho.
Às mães, sem as quais não seria possível este estudo, e aos seus
filhos Alicia Ana Júlia, Ana Luísa, Ana Luíza, Beatriz, Camilly, Daniela,
Davi, Emanuelle, Emmanuel, Eric, Estefani, Evelyn, Felipe, Gabriel,
Grazielly, Grazielly Luísa, Gustavo, Isabella, Isadora, Lucca, Marcos,
Marcus, Maria, Marlon, Natália, Nicoly, Pedro, Rafael, Rafaela, Tauã,
Wanderson, Yasmin; que com poucos dias de vida já contribuíram para a
evolução da ciência.
À Dani Cabrini, pelo companheirismo neste estudo e à Vanessa,
Bárbara e Fernanda, importantes colaboradoras, pela grande ajuda na
coleta de dados, especialmente do leite humano.
Aos meus amigos do mestrado e companheiros de laboratório Ana
Cris, Ana Paula Boroni, Angélica, Cris Morango, Duque e Vanessa e aos
demais pesquisadores do Laboratório de Bioquímica e de Análise dos
Alimentos. Ao Cassiano, por sua grande ajuda com a cromatografia.
A todos os amigos do mestrado, pela alegria na sala 307.
Aos amigos da república Claudinei, Felipe, Jardel e Tobias; por
todos os momentos compartilhados, pela amizade e pelas ajudas com as
planilhas.
Aos grandes amigos Túlio, Kiri, Dennys, Gabi, Régis, Géria, Polly,
Glauce, Fafá, Daninha e Mimi; pelas ajudas e incentivos. Vocês estão
“guardados do lado esquerdo do peito”.
Por fim, mas de forma especial, agradeço infinitamente a Deus,
pelo dom da vida, por iluminar-me e guiar-me para o caminho da ciência e
por permitir que eu tenha essa família maravilhosa e esses amigos
fantásticos.
v
BIOGRAFIA
ANDRÉ GUSTAVO VASCONCELOS COSTA, filho de José Flávio
Costa e Geralda Marlene Vasconcelos Costa, nasceu em 11 de agosto de
1978, na cidade de Carmópolis de Minas, Minas Gerais (MG).
Em março de 2000, iniciou o curso de Nutrição na Universidade
Federal de Viçosa – MG, concluindo-o em julho de 2004. Em agosto do
mesmo ano iniciou o curso de Mestrado no Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Nutrição da Universidade Federal de Viçosa, na área de
Valor Nutricional de Alimentos e de Dietas.
vi
ÍNDICE
Página
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS x
RESUMO.............................................................................................. xii
ABSTRACT.......................................................................................... xv
1. INTRODUÇÃO................................................................................ 1
1.1. Referências Bibliográficas........................................................ 3
2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................ 6
2.1. ARTIGO DE REVISÃO 1: Perfil de ácidos graxos do leite
humano: modulação, composição e efeitos na saúde do recém-
nascido............................................................................................
6
2.1.1. Resumo........................................................................... 6
2.1.2. Abstract........................................................................... 7
2.1.3. Introdução........................................................................ 8
2.1.4.Fatores que modulam a composição do leite humano..... 9
2.1.5. Teor de ácidos graxos do leite humano de diferentes
regiões.......................................................................................
16
2.1.6. Efeitos dos ácidos graxos saturados............................... 17
2.1.7. Importância dos ácidos graxos monoinsaturados........... 19
2.1.8. Malefícios dos ácidos graxos trans.................................. 19
2.1.9. Benefícios dos ácidos graxos poliinsaturados................. 21
2.1.10. Conclusão...................................................................... 23
2.1.11. Referências Bibliográficas............................................. 24
vii
Página
2.2. ARTIGO DE REVISÃO 2: Questionário de freqüência de
consumo alimentar e recordatório de 24 horas: aspectos
metodológicos para avaliação da ingestão de lipídios....................
33
2.2.1. Resumo........................................................................... 33
2.2.2. Abstract........................................................................... 33
2.2.3. Introdução........................................................................ 34
2.2.4. Avaliação da ingestão alimentar populacional................ 35
2.2.5. Questionário de freqüência de consumo alimentar e
recordatório de 24 horas: aspectos relacionados à sua
utilização....................................................................................
36
2.2.6. Variação intrapessoal da ingestão de lipídios................. 38
2.2.7. Reprodutibilidade e validade de instrumentos dietéticos
na avaliação da ingestão lipídica...............................................
42
2.2.8. Avaliação do consumo de lipídios relacionado a
marcadores bioquímicos...........................................................
44
2.2.9. Conclusão........................................................................ 47
2.2.10. Referências Bibliográficas............................................. 48
3. OBJETIVOS..................................................................................... 53
3.1. Geral........................................................................................ 53
3.2. Específicos............................................................................... 53
4. METODOLOGIA GERAL.................................................................. 54
4.1. Delineamento do Estudo.......................................................... 54
4.2. Casuística................................................................................ 54
4.2.1. Critérios de inclusão e exclusão...................................... 55
4.3. Método..................................................................................... 55
4.3.1. Coleta de dados.............................................................. 55
4.4. Antropometria.......................................................................... 58
4.5. Avaliação dietética................................................................... 59
4.5.1. Recordatório de 24 horas................................................ 59
4.5.2. Questionário de Ingestão Habitual.................................. 59
4.5.3. Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar....... 60
4.5.4. Lista de Disponibilidade de Alimentos............................. 60
4.5.5. Recursos visuais............................................................. 61
viii
Página
4.5.6. Padronização das medidas............................................. 62
4.5.7. Adequação dietética........................................................ 62
4.6. Coleta do leite humano............................................................ 63
4.7. Análises Laboratoriais.............................................................. 63
4.7.1. Análise do teor de gordura e de energia do leite
humano......................................................................................
63
4.7.2. Extração de ácidos graxos do leite humano.................... 64
4.7.3. Determinação e identificação dos ácidos graxos do leite
humano......................................................................................
66
4.7.4. Quantificação dos ácidos graxos do leite humano.......... 66
4.8. Análise Estatística.................................................................... 68
4.9. Referências Bibliográficas....................................................... 71
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................ 73
5.1. Caracterização da Amostra..................................................... 73
5.1.2. Recrutamento.................................................................. 73
5.1.3. Indivíduos estudados....................................................... 74
5.2. ARTIGO ORIGINAL 1: Composição de ácidos graxos do
leite humano relacionado às variáveis maternas e às dos recém-
nascidos: um estudo prospectivo em Viçosa, MG..........................
77
5.2.1. Resumo........................................................................... 77
5.2.2. Abstract........................................................................... 78
5.2.3. Introdução........................................................................ 79
5.2.4. Metodologia..................................................................... 81
5.2.4.1. Casuística................................................................ 81
5.2.4.2. Coleta de dados...................................................... 81
5.2.4.3. Análise da quantidade de lipídios totais e de
energia do leite humano.......................................................
82
5.2.4.4. Extração de ácidos graxos do leite humano........... 82
5.2.4.5. Determinação dos ácidos graxos do leite humano. 83
5.2.4.6. Análise estatística................................................... 84
5.2.5. Resultados....................................................................... 85
5.2.6. Discussão........................................................................ 87
5.2.7. Conclusão........................................................................ 93
ix
Página
5.2.8. Referências Bibliográficas............................................... 94
5.3. ARTIGO ORIGINAL 2: Influência da alimentação materna
sobre o perfil de ácidos graxos do leite humano de mulheres de
baixa renda de Viçosa – MG...........................................................
111
5.3.1. Resumo........................................................................... 111
5.3.2. Abstract........................................................................... 112
5.3.3. Introdução........................................................................ 113
5.3.4. Metodologia..................................................................... 114
5.3.4.1. Casuística................................................................ 114
5.3.4.2. Coleta de dados...................................................... 115
5.3.4.3. Análise dietética...................................................... 115
5.3.4.4. Análise da quantidade de lipídios totais e de
energia do leite humano.......................................................
116
5.3.4.5. Extração de ácidos graxos do leite humano........... 117
5.3.4.6. Determinação dos ácidos graxos do leite humano. 117
5.3.4.7. Análise estatística................................................... 118
5.3.5. Resultados....................................................................... 119
5.3.6. Discussão........................................................................ 121
5.3.7. Conclusão........................................................................ 126
5.3.8. Referências Bibliográficas............................................... 127
6. CONCLUSÃO GERAL...................................................................... 140
7. ANEXOS........................................................................................... 142
x
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
% = Porcentagem
= Somatório
AG = Ácidos Graxos
AGM = Ácidos Graxos Monoinsaturados
AGP = Ácidos Graxos Poliinsaturados
AGS = Ácidos Graxos Saturados
AGT = Ácidos Graxos Trans
DP = Desvio Padrão
g = Grama
IMC = Índice de Massa Corporal
Kcal = Quilocaloria
kg = Quilos
kg/m
2
= Quilogramas por Metros ao Quadrado
LT = Lipídios Totais
mg/dL = Miligramas por Decilitro
mg% = Miligramas por Cento
Max = Máximo
Mi = Mediana
Min = Mínimo
mL = Mililitro
n = Amostra
p = Nível de Significância Estatística (Probabilidade)
QFCA = Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar
xi
r = Coeficiente de Correlação de Spearman
R24H = Recordatório de 24 Horas
TG = Triacilgliceróis
X = Média
n-3 = Ácidos Graxos da Série Ômega 3
n-6 = Ácidos Graxos da Série Ômega 6
xii
RESUMO
COSTA, André Gustavo Vasconcelos. M. S. Universidade Federal de
Viçosa. Julho de 2006. Composição nutricional do leite humano e
sua correlação com variáveis maternas: estudo prospectivo.
Orientadora: Céphora Maria Sabarense. Co-Orientadoras: Maria do
Carmo Gouveia Peluzio e Sylvia do Carmo Castro Franceschini.
A fração lipídica do leite humano é especialmente importante para
o recém-nascido e pode ser modulada pelas condições maternas e dos
recém-nascidos. Este estudo prospectivo analisou os percentuais de
ácidos graxos (AG), de lipídios totais (LT) e de energia do leite humano de
33 nutrizes do município de Viçosa – MG, ao longo de três meses de
lactação (períodos medianos de 1, 7, 32, 62 e 91 dias pós-parto).
Relacionou-se o comportamento desses parâmetros frente às seguintes
variáveis: período de lactação, escolaridade, peso ao nascer, tipo de
parto, paridade, etnia materna, idade gestacional, ganho de peso do
recém-nascido e alimentação materna. Esta última foi avalida de acordo
com o Recordatório de 24 Horas (R24H), aplicado aos 7, 32, 62 e 91 dias
pós-parto; o Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar (QFCA) e
a Lista de Disponibilidade de Alimentos (LDA) foram aplicados aos 91 dias
pós-parto. Observou-se que as nutrizes apresentaram baixa renda (R$
652,00 ± R$ 367,00) e baixa escolaridade (8,8 ± 2,5 anos de estudo). Em
relação ao período de lactação, encontraram-se diferenças
significantemente inferiores (p<0,001) para os ácidos graxos C10:0 e
C14:0 no período de 1 dia em relação aos demais períodos. O C16:0 de
32 dias foi significantemente menor (p=0,03) que no período de 1 dia e o
xiii
C16:1 apresentou menores percentuais no período de 1 dia em relação
aos demais períodos (p=0,01). A relação n-6:n-3 e o total da síntese de
novo (C10:0, C12:0 e C14:0), ao longo do estudo, foi de 10 a 14 e de 5,6
a 17,9 mg%; respectivamente. Os percentuais de LT e de energia foram
significantemente menores (p=0,03) no período de 1 dia em relação aos
períodos de 32 e 91 dias. Do total de amostras de leite humano coletado
(n=156), observou-se fortes correlações (p<0,001) entre o C18:2n-6 com
o C18:3n-3, com o somatório de n-3, de ácidos graxos poliinsaturados
(AGP) e de AG totais. Assim também ocorreu para o conteúdo de C18:3n-
3 relacionado ao somatório de n-6, de AGP e de AG totais. A
escolaridade, o peso ao nascer, o tipo de parto, a paridade e idade
gestacional não modificaram significantemente os parâmetros analisados
no leite humano. Em relação ao ganho de peso, a média geral deste
parâmetro correlacionou-se de forma inversa e significante com os
percentuais de C12:0 (r=-0,468; p=0,03), de C14:0 (r=-0,062; p=<0,001) e
de ácidos graxos saturados (AGS) (r=-0,443; p=0,02). Não foram
observadas correlações significantes entre os parâmetros investigados
pela média dos quatro R24H com os percentuais de AG, de LT e de
energia do leite humano. De acordo com o QFCA e com a LDA, o
consumo de leite de vaca integral pela nutriz correlacionou-se
positivamente (p<0,05) com o total de AGS, de ácidos graxos
monoinsaturados, de AGP, de AG totais e com os percentuais de C18:2n-
6 do leite humano. Boas correlações negativas foram observadas entre a
ingestão de carne suína com os percentuais de C18:2n-6 (r=-0,630, p=-
0,035). O consumo de peixe, apesar de ter sido equiparável ao consumo
per capita diário de carne bovina, não apresentou alterações relevantes
nos parâmetros estudados do leite humano. Esse estudo confirma que o
conteúdo lipídico do leite humano pode ser modulado de acordo com o
período de lactação e pela alimentação materna. Acredita-se que as
demais variáveis maternas e dos recém-nascidos também possam
contribuir para a modulação da composição lipídica do leite humano,
embora não tenham demonstrado seus efeitos neste estudo. O consumo
diário de leite de vaca provocou alterações positivas no perfil de ácidos
graxos do leite humano; diferentemente do consumo de carne suína. Não
xiv
foram observadas as presenças de ácidos graxos docosahexaenóico e de
eicosapentaenóico no leite humano, pois o leite integral não é fonte
desses ácidos graxos. A utilização dos inquéritos QFCA e LDA, que têm a
característica de avaliar a ingestão habitual, foram mais eficazes para a
análise da interferência alimentar materna sobre o perfil de ácidos graxos
do leite humano, em relação à média dos quatro R24H. Ressalta-se a
pouca disponibilidade na literatura científica de estudos prospectivos, que
avaliem a evolução da composição lipídica do leite humano ao longo dos
estágios inciais da amamentação.
xv
ABSTRACT
COSTA, André Gustavo Vasconcelos. M. S. Universidade Federal de
Viçosa. July 2006. Breast milk composition and correlation with
maternal variables: a prospective study. Adviser: Céphora Maria
Sabarense. Co-Advisers: Maria do Carmo Gouveia Peluzio and Sylvia
do Carmo Castro Franceschini.
Due to its biological superiority, the lipid fraction of human milk is
especially important to newborns. However, the lipid fraction can be
affected by factors associated to the mother’s and the newborn’s health
and nutritional conditions. This prospective study analyzed the fatty acid
(FA) percentage, total lipids (TL), and the energy of the human milk of 33
mothers of the city of Viçosa – MG, Brazil; during three months of lactation
(median periods of 1, 7, 32, 62, and 91 days after delivery). The behavior
of these parameters was correlated to the following variables: period of
lactation, education level, newborn’s weight at birth, newborn’s weight
gain, type of delivery, parity, maternal ethnicity, gestational age, and
maternal food consumption. The latter was evaluated through 24-Hour
Dietary Recall (R24H) at 7, 32, 62, and 91 days after delivery;
Questionnaire of Frequency of Food Consumption (QFFC), and Food
Availability List (FAL) applied during the 91 days after delivery. The
women studied had low income (R$ 652.00 ± R$ 367.00) and low level of
education (8.8 ± 2.5 years of study). In relation to the breast-feeding
period, we found less significant differences (p < 0.001) for C10:0 and
C14:0 for the 1-day period in relation to the other periods. C16:0 was
significantly smaller (p = 0.03) for the 32-day than for the 1-day period and
xvi
C16:1 presented lower percentage for the 1-day period in relation to those
of the other periods (p = 0.01). The n-6:n-3 and the total de novo synthesis
(C10:0. C12:0 and C14:0) ratio throughout the study period were 10 to 14
and 5.6 17.9 mg%, respectively. The percent TL and energy were
significantly smaller (p = 0.03 each) for the 1-day period in relation to the
32- and 91-day periods. Of the total human milk samples collected (n =
156), one showed strong correlations (p < 0.001) between C18:2n-6 and
C18:3n-3 and the summation of n-3, polyunsaturated fatty acid (PUFA),
and total FA. The same occurred for C18:3n-3 relative to the n-6 sum of
total PUFA and FA. The education level, newborn’s weight at delivery,
type of delivery, parity, and gestational age did not affect the human milk
parameters analyzed significantly. In relation to the newborn's weight gain,
the general average of this parameter correlated inversely and significantly
with the percentages of C12:0 (r = -0.468; p = 0.03), C14:0 (r = -0.062; p =
< 0.001), and saturated fatty acid (SFA) (r = -0.443; p = 0.02). Concerning
maternal food consumption, it was not observed significant correlations
between the parameters investigated for the average of the four R24H and
the percent FA, TL, and the energy of human milk. In accordance with
QFFC and FAL, the maternal consumption of cow whole milk correlated
positively (p < 0.05) with total SFA, monounsaturated fatty acid (MUFA),
PUFA, total FA and with the percentages of C18:2n-6 in human milk.
Strong negative correlations were observed between the ingestion of pork
and the percentages of C18:2n-6 (r = -0.630; p = -0.035). Although fish
consumption was comparable to that of beef, it did not affect the human
milk parameters studied. This study confirms that the lipid content of
human milk can be affected by the lactation period and maternal diet. We
believe that the other maternal and newborn variables studied can
contribute to the lipid composition of human milk. However, such effects
have not been demonstrated in this study. These results evidenced that
the daily consumption of cow whole milk led to positive alterations in the
fatty acid profile of human milk, differently from the daily consumption of
pork. The use of QFFC and FAL to evaluate habitual ingestion was more
efficient in the analysis of the fatty acid profile of human milk than the
average of the four R24H was. We point out that prospective studies that
xvii
evaluate the evolution of the lipid composition of human milk throughout
the initial periods of breast-feeding are scarce in the scientific literature.
1
1. INTRODUÇÃO
O leite humano é considerado um alimento completo e suficiente
para suprir as necessidades nutricionais de recém-nascidos durante os
seis primeiros meses de vida (ESPGAN Committee, 1982; Uauy et al.,
2001). Biologicamente é um fluído complexo, contendo proteínas,
carboidratos, vitaminas, minerais, substâncias imunocompetentes (IgA,
enzimas, interferón), além de fatores tróficos ou moduladores de
crescimento (Buts, 1998; Jensen, 1999; Euclydes, 2000). Não obstante,
a superioridade biológica desse alimento está relacionada ao seu conteúdo
lipídico, o qual é a principal fonte de energia para o recém-nascido,
contribuindo com 40 a 55% do total de energia quando consumido por
esses indivíduos em aleitamento materno exclusivo (Jensen, 1999;
Koletzko, 2001).
A fração lipídica é responsável, ainda, por prover ao recém-nascido
ácidos graxos essenciais, como o ácido linoléico (C18:2n-6) e ácido α-
linolênico (C18:3n-3), além de seus importantes metabólitos, como o ácido
araquidônico – AA (C20:4n-6), o ácido eicosapentaenóico – EPA (C20:5n-
3) e o ácido docosahexaenóico – DHA (C22:6n-3) (Koletzko, 2001). A
presença desses metabólitos no leite está relacionada ao adequado
desenvolvimento neurológico e à acuidade visual dos indivíduos (Makrides
et al., 1995; Dijck-Brouwer et al., 2005; Hart et al., 2006). Por outro lado, da
mesma forma que esse fluído veicula ácidos graxos essenciais, pode
também ser um carreador de ácidos graxos trans (AGT) para o recém-
nascido, os quais podem competir pelas enzimas de dessaturação dos
2
ácidos graxos essenciais (Scrimgeour et al., 2001). Segundo Larqué et al.
(2000) e comprovado por Assumpção et al. (2004) as concentrações de
AGT consumidos pela nutriz estão associadas às concentrações de trans
encontradas no leite, sendo dose-dependente.
Entretanto, o conteúdo total de lipídios e a composição de ácidos
graxos do leite humano são variáveis, como pode ser observado em
diversos estudos (Bitman et al., 1983; Rueda et al., 1998; Rodriguez et al.,
1999; Jensen 1999; Innis & King, 1999; Hayat et al., 1999; Fidler &
Kolotzko, 2000; Koletzko et al., 2001; Prado et al., 2001; McManaman &
Neville, 2003; Mandel et al., 2005; Anderson et al., 2005; Yamawaki et al.,
2005). Diversos fatores contribuem para essa modulação, entre os
principias destacam-se o estágio de lactação (Mandel et al., 2005;
Yamawaki et al., 2005), o hábito alimentar materno (Hayat et al., 1999;
Innis & King, 1999; Fidler & Kolotzko, 2000; Prado et al., 2001; Cunha et
al., 2005; Anderson et al., 2005) e a adiposidade materna (Koletzko et al.,
2001; Prado et al, 2001).
Destaca-se que a modulação lipídica do leite não se dá por efeitos
isolados; mas por fatores intrínsecos e extrínsecos à nutriz, que agem de
forma concomitante e, assim, dificultam a avaliação de tal modulação. É
possível que a alimentação materna seja o principal fator modulador o
perfil de ácidos graxos do leite humano.
Neste contexto, é de grande interesse, em estudos que avaliam a
composição lipídica do leite materno, a avaliação da ingestão de lipídios
pela nutriz por meio dos inquéritos alimentares.
Os métodos mais utilizados para avaliação do consumo alimentar
são o Recordatório de 24 Horas (R24H) e o Questionário de Freqüência de
Consumo Alimentar (QFCA), sendo, contudo inevitável que essa avaliação
seja realizada sem erros. Os tipos de erros para avaliação dietética,
particularmente inerente ao R24H, são devido às tabelas de composição
de alimentos; às diferentes interpretações dos tipos de alimentos ou
preparações, bem como o peso dos alimentos; aos alimentos informados
erroneamente; à sazonalidade da alimentação e aos erros sistemáticos
(bias), como a variação intrapessoal. Por outro lado, os erros relacionados
ao QFCA são os mesmos descritos para o R24H, exceto a sazonalidade
3
da alimentação. O método mais adequado para avaliação dietética seria a
pesagem de alimentos, porém é um método de maior custo e mais invasivo
do que os demais (Bingham 1987). Contudo, um dos principais erros dos
estudos envolvendo consumo alimentar está relacionado à medida de
variabilidade diária de ingestão alimentar.
Para uma adequada avaliação do consumo de lipídios em adultos,
com uma média de variação intrapessoal de 31% e com uma precisão de
±20%, são necessários 10 recordatórios de um mesmo indivíduo. Por outro
lado, para avaliação energética, com uma variação média intrapessoal de
23% e com uma precisão de ±20%, são necessários apenas 5
recordatórios de um mesmo indivíduo (Bingham 1987; Willett, 1998).
Porém, a aplicação de um maior número de inquéritos, como forma de
minimizar o erro devido à variação intrapessoal, implica questões
logísticas, além de um maior custo e de um maior tempo de estudo (Willett,
1998). Portanto, uma adequada avaliação dos objetivos do estudo é
fundamental para definir o número de inquéritos a serem aplicados,
assumindo os erros inerentes à variabilidade intrapessoal.
Essas premissas acentuam a importância da avaliação da
composição lipídica do leite humano, contudo a verificação do
comportamento desse perfil lipídico com variáveis maternas e dos recém-
nascidos é complexa. Assim, pretende-se com este estudo contribuir para
o conhecimento científico nessa área.
1.1. Referências Bibliográficas
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6
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. ARTIGO DE REVISÃO 1
Perfil de ácidos graxos do leite humano: modulação,
composição e efeitos na saúde do recém-nascido.
2.1.1. Resumo
O leite humano é um fluido complexo, considerado como um
alimento completo e suficiente para suprir as necessidades nutricionais de
recém-nascidos durante os seis primeiros meses de vida. A fração lipídica
do leite materno é a principal fonte de energia para o neonato e possui
ácidos graxos essenciais e seus produtos poliinsaturados, como o ácido
araquidônico (AA) e o ácido docosahexaenóico (DHA), indispensáveis ao
crescimento. Tanto o conteúdo lipídico quanto o tipo de ácido graxo do leite
humano podem ser modulados por fatores inerentes ou não à mãe. Dentre
esses fatores, destacam-se a adiposidade, o estilo de vida, o estado
nutricional e a ingestão alimentar materna; os quais agem de forma
concomitante e interdependente, dificultando as análises dos estudos que
se propõem investigar tal modulação. Porém, poucos estudos enfocam o
consumo alimentar como um fator modulador. Por outro lado, não se
observa grandes diferenças entre as composições de ácidos graxos do
leite materno de estudos realizados na América Latina e em países
desenvolvidos. Entretanto, o leite das nutrizes de algumas regiões
brasileiras apresenta uma melhor composição de ácidos graxos essenciais
e de seus produtos, especialmente de AA e DHA, e um menor percentual
7
de ácidos graxos saturados e trans. Assim, o presente trabalho tem como
objetivo discutir os principais fatores que modulam a composição lipídica
do leite humano, bem como, sua composição de ácidos graxos em
diferentes nacionalidades e os efeitos desses componentes sobre a saúde
do recém-nascido.
Palavras-chave: leite humano, hábito alimentar, ácidos graxos,
amamentação.
2.1.2. Abstract
Human milk is a complex fluid and it is considered a complete food
and sufficient to meet the newborn's nutritional needs during the first six
months of life. The lipid fraction of maternal milk is the newborn’s main
source of energy and it contains essential fatty acids and metabolites
indispensable to growth such as arachidonic acid (AA) and
docosahexaenoic acid (DHA). The higher the lipid content of human milk,
the more its fatty acid profile can be modulated by inherent factors other
than maternal ones. Among these factors, adiposity, life style, maternal
nutritional status and diet stand out, which act concomitantly and make
investigating such modulation difficult. However, few studies deal with
maternal diet as a modulating factor. In contrast, few differences have been
observed between the fatty acid composition of human milk in studies
carried out in Latin America and developed countries. Furthermore,
women’s milk, from some regions of Brazil, presents a better essential fatty
acid and metabolite compositions, especially of AA and DHA, and a smaller
percentage of saturated and trans fatty acid. Thus, the present work
investigates the main factors that modulate the lipid composition of human
milk, in particular the fatty acid composition of milk of women of different
nationalities and the effect of these milk components on the newborn’s
health.
Keywords: human milk, food consumption, fatty acid, breast-feeding.
8
2.1.3. Introdução
O leite humano é um fluido complexo, contendo lipídios, proteínas,
carboidratos, vitaminas, minerais, substâncias imunocompetentes (IgA,
enzimas, interferón), além de fatores tróficos ou moduladores de
crescimento (Buts, 1998; Jensen, 1999; Euclydes, 2000). Devido à sua
composição nutricional balanceada, o leite humano é considerado um
alimento completo e suficiente para suprir as necessidades nutricionais de
recém-nascidos durante os seis primeiros meses de vida (ESPGAN
Committee, 1982; Uauy et al., 2001).
Nas duas últimas décadas, as intensivas campanhas de incentivo ao
aleitamento materno no Brasil vêm acompanhando o aumento de
pesquisas relacionadas à composição e aos benefícios do leite humano.
Neste contexto, por ser a principal fonte de energia para o neonato e por
possuir ácidos graxos fundamentais ao desenvolvimento do recém-nascido
os lipídios do leite humano é um tema extremamente relevante (Jensen,
1999; Koletzko, 2001).
A fração lipídica apresenta um conteúdo médio de 4,2 g/dL, sendo
encontrado principalmente na forma de triacilgliceróis (98%) e contribui
com 40 a 55% do total de energia consumida pelo recém-nascido em
aleitamento materno exclusivo (Jensen, 1999; Koletzko, 2001).
Essa fração é responsável, ainda, por prover ao recém-nascido
ácidos graxos essenciais, como o ácido linoléico (C18:2n-6) e ácido α-
linolênico (C18:3n-3), além de seus importantes metabólitos, como o ácido
araquidônico – AA (C20:4n-6), o ácido eicosapentaenóico – EPA (C20:5n-
3) e o ácido docosahexaenóico – DHA (C22:6n-3) (Koletzko, 2001). Esses
ácidos graxos são componentes fundamentais do cérebro, retina e outros
tecidos neurais, além de serem precursores de eicosanóides (Uauy et al.,
2001). Dessa forma, o leite materno, provendo tais ácidos graxos, propicia
ao organismo materno a utilização dos ácidos graxos essenciais em outros
processos fisiológicos e, assim, favorecendo o crescimento adequado do
recém-nascido.
Porém, tanto o conteúdo lipídico quanto o tipo de ácido graxo do
leite humano podem ser modulados por diversos fatores, como por
exemplo, o estilo de vida, o estado nutricional e a ingestão alimentar
9
materna (Rodriguez et al., 1999; Innis & King, 1999; Jensen, 1999; Fidler &
Koletzko, 2000; Koletzko, 2001; Anderson, 2005).
Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo discutir os
principais fatores que modulam a composição lipídica do leite humano,
bem como, sua composição de ácidos graxos em nutrizes diferentes
nacionalidades e os efeitos desses componentes sobre a saúde do recém-
nascido.
2.1.4. Fatores que modulam a composição do leite humano
O conteúdo total de lipídios e a composição de ácidos graxos do
leite humano são variáveis, como pode ser comprovado em diversos
estudos (Bitman et al., 1983; Rueda et al., 1998; Rodriguez et al., 1999;
Jensen 1999; Innis & King, 1999; Hayat et al., 1999; Fidler & Kolotzko,
2000; Koletzko et al., 2001; Prado et al., 2001; McManaman & Neville,
2003; Mandel et al., 2005; Anderson et al., 2005; Yamawaki et al., 2005).
Os principais fatores que modulam a fração lipídica, descritos na literatura,
estão agrupados no Quadro 1.
10
Quadro 1: Fatores que modulam o conteúdo lipídico do leite
Modulação Fatores
Positiva
Adiposidade
Duração do período de lactação
1
Estágio da lactação
1, 2
Idade materna
Negativa
Desnutrição materna
Infecções (mastite) e desordens metabólicas (diabetes
3
)
Pode modular
Hábito alimentar
3, 4, 6, 7,8
e composição da dieta materna
(alto teor de carboidrato e baixo teor lipídico)
4, 5
Fatores genéticos
6
Hormônios
9
Idade gestacional ao nascimento (pré-termo x a termo)
10
Paridade
Variação diária entre as lactações
11
Sazonalidade
Adaptado de Jensen, 1999
1) Mandel et al., 2005; 2) Yamawaki et al., 2005; 3) Fidler & Koletzko,
2000; 4) Cunha et al., 2005; 5) Prado et al., 2001; 6) Anderson et al., 2005;
7) Innis & King, 1999; 8) Hayat et al., 1999; 9) McManaman & Neville, 2003
(estudo em ratos); 10) Bitman et al., 1983; 11) Kent et al., 2006.
Mandel e colaboradores (2005) estimaram o conteúdo de gordura do
leite humano pelo método do crematócrito, que consiste na mensarução
das quatidades de creme e de soro, após a centrifugação de capilares
contendo uma alíquota de leite humano. Também, mensuraram o conteúdo
de energia do leite humano, por bomba calorimétrica. A amostra
contemplou 34 mulheres com um período de lactação maior que 1 ano e
27 mulheres com período de lactação de 2 a 6 meses. Os resultados
indicaram uma correlação positiva e significante entre os níveis de gordura
e o conteúdo de energia com o período de amamentação superior a 1 ano.
Verificou-se, após uma análise de regressão multivariada, que os teores de
gordura e de energia não foram influenciados pela idade materna, dieta e
índice de massa corporal. Este estudo, sendo do tipo transversal, não
11
permitiu avaliar a evolução do teor lipídico e do conteúdo de energia do
leite. Assim, para a verificação mais minuciosa de uma possível
interferência da alimentação materna seria indicado um estudo
prospectivo, que além de permitir a análise de tal evolução possibilitaria
aplicar mais de um questionário de consumo alimentar, com maior
detalhamento da ingestão ao longo do período.
A fase de lactação – colostro, leite de transição e leite maduro –
também influencia o conteúdo total de lipídios (Jensen 1999; Yamawaki et
al. 2005). O Quadro 2 relaciona as principais classes lipídicas do leite
humano em diferentes períodos de lactação. Observa-se que os
triacilgliceróis são os componentes mais abundantes e não sofrem grandes
alterações entre as fases de lactação. Diferentemente ocorre para os
fosfolipídios e o colesterol, que podem sofrer alterações de mais de 50 e
60%, respectivamente, no primeiro trimestre de lactação.
Quadro 2: Principais classes de lipídios do leite humano em diferentes períodos
de lactação
Período de lactação (número de dias)
Classe de Lipídio
Colostro
(3 dias)
Transição
(7 dias)
Maduro
(21 dias)
Maduro
(42 dias)
Maduro
(84 dias)
Lipídios Totais, %
a
2,04 2,89 3,45 3,19 4,87
Colesterol, %
b
1,3 0,7 0,5 0,5 0,4
mg/dL 34,5 20,2 17,3 17,3 19,5
Fosfolipídios, %
b
1,1 0,8 0,8 0,6 0,6
Triacilglicerol, %
b
97,6 98,5 98,7 98,9 99
Adaptado de Jensen (1999).
a) Porcentagem no leite (g/dL).
b) Teor expresso em peso%, em relação ao conteúdo total de lipídios.
Apesar do conteúdo de colesterol do leite humano reduzir com os
períodos de lactação é considerado alto se comparado ao leite de vaca,
sendo que no leite humano maduro o teor encontra-se entre 10 a 20 mg/dL
(Jensen 1999; Euclydes, 2001). A elevada ingestão de colesterol pelo
recém-nascido, comparado à ingestão do adulto, tem sido sugerida como
um fator benéfico, uma vez que o colesterol está envolvido na síntese de
12
mielina, indispensável para o desenvolvimento do sistema nervoso central,
além de ser utilizado para a produção de ácidos biliares e hormônios.
Porém, o feto humano é capaz de sintetizá-lo a partir da 11ª semana de
gestação e a justificativa para esses altos teores presentes no leite não
está totalmente elucidada (Euclydes, 2001).
Jensen (1999) sugere que as diferenças nos níveis de colesterol
entre os estágios de lactação se devem ao diâmetro e espessura dos
glóbulos de gordura secretados pelas células alveolares mamárias. Esse
autor relata ainda, que os únicos componentes do leite que podem ser
modulados pela alimentação materna são os ácidos graxos.
Em um estudo com 1197 nutrizes, de diferentes regiões do Japão,
foi avaliada a composição do leite em diferentes estágios de lactação (1 a
365 dias pós-parto). As amostras foram coletadas no verão (julho a
setembro de 1998) e no inverno (dezembro de 1998 a março de 1999)
japonês. O conteúdo lipídico aumentou durante os estágios de lactação,
sendo encontrado em maior teor no período de 11 a 20 dias (3,90 g/dL) e
21 a 89 dias (3,75 g/dL); os quais apresentaram diferença estatística
(p<0,05) em relação ao colostro (2,68 g/dL), ao leite de transição (2,77
g/dL), ao leite maduro de 90 a 180 dias (3,20 g/dL) e ao leite maduro de
181 a 365 dias (3,17 g/dL). Não foram encontradas diferenças entre as
estações do ano e nem entre as regiões dos indivíduos. Os autores
concluíram que a composição do leite humano é afetada por fatores como
o estágio da lactação e fatores individuais, como a adiposidade. Relatam
ainda, que as atuais modificações do hábito alimentar japonês, com maior
consumo de alimentos processados, parece influenciar negativamente a
composição do leite dessas mulheres (Yamawaki et al. 2005). Essas
quantidades corroboram aquelas demonstradas no Quadro 2, exceto para
o leite maduro de 84 dias, cujo teor foi maior no estudo de Jensen (1999).
É possível que a alimentação materna seja o principal fator que
modula o perfil de ácidos graxos do leite humano. Tal fato é relatado por
Fidler & Koletzko (2000), em uma revisão sobre a composição lipídica do
colostro de 16 regiões geográficas e confirmado por Serra et al (1997), que
encontraram altos níveis de monoinsaturados no leite de mulheres
italianas, indicando que o hábito alimentar Mediterrâneo, rico em ácidos
13
graxos monoinsaturados e baixo consumo de ácidos graxos saturados,
influencia em tal conteúdo.
Sobre a influência da alimentação materna, Anderson et al (2005)
relatam que o consumo de ácidos graxos trans (AGT) reduz o conteúdo
total de lipídios do leite. Neste estudo, a alimentação de 12 mulheres foi
randomizada com o objetivo de avaliar o efeito de 3 produtos: margarina
regular com alto teor de gordura vegetal parcialmente hidrogenada –
GVPH (rica em AGT), margarina com baixo teor de GVPH (abaixo teor de
AGT) e manteiga (alto teor de AGT hidrogenados naturalmente). Os
resultados demonstraram que o consumo de margarina regular, rica em
trans, comparado ao consumo de margarina com baixo teor desse tipo de
ácido graxo diminuiu o percentual lipídico do leite. No estudo de Innis &
King (1999) foi investigada a relação entre os AGT do leite de nutrizes
(n=103) e sua incorporação nos triacilgliceróis de recém-nascidos em
amamentação exclusiva (n=62). Os resultados sugerem uma incorporação
dos AGT, oriundos da alimentação materna, nos tecidos dos recém-
nascidos, uma vez que foi detectada a presença destes isômeros no leite
materno e nos triacilgliceróis plasmáticos dos lactentes.
Cunha et al. (2005), em um estudo envolvendo 77 nutrizes de baixa
renda residentes em Brasília - DF (Brasil), observaram uma mescla de
hábitos alimentares tradicionais e ocidentais, com consumo elevado de
gordura e de açúcar; caracterizando a transição nutricional dessa
população. A distribuição de macronutrientes na alimentação materna foi
similar à de mulheres norte-americanas em amamentação, fato que refletiu
na composição de ácidos graxos do leite. Por outro lado, em um estudo
realizado no município de Viçosa - MG (Brasil), com 8 nutrizes durante 10
semanas, observou-se que o alto consumo de AGP pelas nutrizes foi
refletido em um alto conteúdo de ácido linoléico e ácido α-linolênico no leite
(Silva et al., 2005). Resultados semelhantes ao do estudo de Silva et al.
(2005) foram encontrados por Patin et al. (2006), que investigaram a
ingestão de sardinha fresca, rica em ácidos graxos da série n-3, sobre a
composição de ácidos graxos do leite de 31 nutrizes brasileiras. Cada
indivíduo recebeu 4 kg de sardinha (2 kg no início do experimento e 2 kg
no 15º dia) e foram instruídas a ingerir tal alimento ao menos duas vezes
14
por semana. O leite das voluntárias foi analisado no pós-parto imediato,
aos 15 e 30 dias pós-parto e foram comparados ao Recordatório de 24h.
Os resultados demonstraram que a incorporação de 300g de sardinha por
semana na alimentação das nutrizes contribuiu para aumentar os teores de
ácidos graxos da série n-3 no leite. Os autores sugerem que para manter
elevado o teor destes ácidos graxos as nutrizes devem ingerir peixes de
água salgada duas a três vezes por semana.
Bener et al (2000) estudaram o efeito do jejum sobre a composição
lipídica do leite de mulheres muçulmanas, durante o mês do Ramadan nos
Emirados Árabes Unidos. Foram recrutadas 26 voluntárias, sendo 9
clinicamente obesas, com idade entre 20 a 38 anos. Os autores não
observaram diferença estatisticamente significante do perfil lipídico do leite
antes e após o período de estudo. Porém, neste trabalho os autores não
analisaram a influência da alimentação materna em nenhum dos
momentos, a qual poderia ser realizada utilizando-se a análise de
regressão multivariada. Esse tipo de análise estatística permite controlar
variáveis de confusão que poderiam mascarar a composição e conteúdo
lipídico como o teor de carboidratos consumidos pela nutriz, o índice de
massa corporal materno, a paridade e a idade materna. Por outro lado, em
um outro estudo com população também muçulmana, Hayat et al (1999)
investigaram o teor de lipídios do leite materno de mulheres do Kuwaiti,
cuja alimentação é rica em gordura, carboidrato e proteína. Neste estudo o
conteúdo de ácidos graxos do leite humano foi afetado significantemente
pela alimentação materna.
Estes estudos demonstram que o perfil de ácidos graxos do leite
humano pode ser modulado pela escolha alimentar, pelo hábito alimentar e
pelo estilo de vida materno.
Por outro lado, Koletzko et al. (2001) relataram que em estudos com
isótopos estáveis, a maior proporção de ácidos graxos poliinsaturados não
é oriunda da alimentação materna, mas do metabolismo lipídico dos
estoques corporais maternos. Segundo os autores, do total de ácido
linoléico excretado no leite humano 70% originam-se de depósitos
corporais e 30% são oriundos da alimentação materna. Corroborando esta
afirmativa, Prado et al. (2001) relatam que a alimentação de populações
15
rurais do México é composta de 70% de carboidrato e 17% de lipídios do
total de energia consumida. Neste estudo, objetivou-se avaliar a
contribuição da dieta e da síntese endógena de ácido araquidônico (AA) no
leite de 10 mulheres, com consumo alimentar nas mesmas proporções de
macronutrientes da população rural. As mulheres receberam por via oral
2,5mg de [
13
C]ácido linoléico/kg de peso corporal. Os resultados indicaram
que os estoques maternos são os principais responsáveis pela presença
de AA no leite, bem como de seu precursor o ácido linoléico; tal como
relata Koletzko et al. (2001).
Os diferentes graus de oxidação dos ácidos graxos estocados nos
tecidos maternos também podem contribuir para a modificação da
composição destes componentes no leite. Segundo DeLany et al. (2000), o
ácido láurico (C12:0) é altamente oxidado no tecido humano, seguido pelos
ácidos graxos essenciais e pelo ácido oléico (C18:1). Além disso, quanto
maior a cadeia carbônica do ácido graxo saturado menor será seu poder
de oxidação, o que resulta em um maior estoque e, possivelmente, uma
maior mobilização destes ácidos graxos para o leite.
Assim, a modulação dos ácidos graxos do leite humano também
está, em grande parte, relacionada à composição corporal da nutriz. Não
obstante, a alimentação materna é um dos principais fatores, senão o
principal, responsáveis por essa composição. Desse modo, os estudos que
avaliam a relação entre a composição corporal materna e o perfil de ácidos
graxos do leite humano devem também considerar a alimentação materna,
com o objetivo de excluir a interferência deste fator.
Outros fatores, menos estudados, podem também contribuir para a
modulação da fração lipídica do leite humano. Bitman et al. (1983)
relataram maiores teores de AGP de cadeia longa no leite de mulheres que
tiveram filhos pré-termo em relação ao leite de mães de filhos a termo.
Porém, tal fato não foi comprovado nos estudos de Genzel-Boroviczeny et
al. (1997) e de Rueda et al. (1998).
McManaman & Neville (2003), em estudo com ratos, sugerem que
hormônios podem regular a secreção lipídica do leite. Além disso,
destacam que diversas vias de transporte e complexos processos
16
secretores das células alveolares mamárias modulam a composição do
leite.
Kent et al. (2006) em um estudo com 71 nutrizes, com filhos de 1 a 6
meses de idade, objetivaram avaliar a relação entre o número de
amamentações diárias e o conteúdo de gordura do leite. Os resultados
demonstraram que em cada amamentação a criança ingere 67% do
conteúdo total de leite disponível. O conteúdo lipídico das voluntárias
variou de 2,23 a 6,16 g/dL de leite, podendo também variar durante e entre
as amamentações, porém a quantidade de lipídios ingeridos pelo lactente
independe da freqüência.
Além dos fatores inerentes ao par mãe/filho, alguns fatores
metodológicos podem interferir nas análises desse conteúdo, como por
exemplo: amostras não representativas, tipos de metodologias
empregadas na extração de ácidos graxos, na identificação e na
determinação dos ácidos graxos. Além disso, a forma de expressar os
resultados dificulta as comparações entre os teores lipídicos (Jensen,
1999).
Em resumo, a modulação lipídica do leite não se dá por efeitos
isolados; mas por diversos fatores intrínsecos e extrínsecos à nutriz, que
agem de forma concomitante e, assim, dificultando a avaliação de tal
modulação. Ressalta-se que são poucos os estudos que avaliam a
modulação dos ácidos graxos do leite humano pelo consumo materno
desses nutrientes. Neste sentido, destaca-se que a alimentação materna,
se não considerada, pode ser um gerador de bias nos estudos; o que
sugere sua criteriosa avaliação.
2.1.5. Teor de ácidos graxos do leite humano de diferentes
regiões
A análise do perfil de ácidos graxos do leite humano é tema de
investigação em diversas regiões do mundo, como pode ser observado nos
estudos: na Espanha (Sala-Vila et al., 2005), Austrália (Mitoulas et al.,
2003), Canadá (Innis & King, 1999; Chen et al., 1995), Alemanha (Genzel-
Boroviczény et al., 1997; Koletzko et al., 1988), França (Chardigny et al.,
1995), Argentina (Marín et al., 2005), Brasil (Cunha et al., 2005; Silva et al.,
17
2005), Cuba (Krasevec et al., 2002), Região do Caribe (Smit et al., 2002),
Kuwaiti (Hayat et al., 1999), Nigéria e Nepal (Glew at al., 2002).
Nesta revisão, com objetivo de comparar os níveis de ácidos graxos
do leite humano de diferentes regiões foram selecionados 5 estudos
realizados em países desenvolvidos (Espanha, Austrália, Canadá,
Alemanha e França) e 5 estudos realizados em países subdesenvolvidos
ou em desenvolvimento (Brasil, Argentina, Cuba e Região do Caribe)
(Quadro 3, 4 e 5). A região caribenha compreende as seguintes regiões:
Antígua, Belize, Curaçao, Dominica, Santa Lúcia, São Vicente e Suriname
(Smit et al., 2002).
Nos estudos apresentados nos Quadros 3, 4 e 5, a composição de
ácidos graxos do leite humano de países da América Latina é semelhante
aos níveis relatados nos estudos de países industrializados. Porém,
observa-se que o leite das nutrizes brasileiras, em relação às quantidades
encontradas nos demais países, apresenta um melhor perfil de ácidos
graxos essenciais e de seus metabólitos (AA e DHA) e menor teor de
ácidos graxos trans e de saturados. Possivelmente, a alimentação materna
e a adiposidade sejam os principais fatores que contribuem para esse
perfil.
2.1.6. Efeitos dos ácidos graxos saturados
A quantidade de ácidos graxos saturados (AGS) apresentados nos
estudos do Quadro 3 variou de 37,80 % do total de ácidos graxos (Canadá)
a 56,52 mol % (Caribe). Menores percentuais foram também descritos por
Hayat et al. (1999), os quais encontraram 42,86 peso% no leite de 19
mulheres kuwatianas e por Patin et al. (2006), que descreveram um
conteúdo de 41,44 % do total de ácidos graxos no leite maduro de 31
mulheres brasileiras. Semelhante aos teores encontrados no Caribe,
Kuipers et al. (2005) também encontraram altos níveis de AGS no leite de
mulheres que residem em Doromoni (Tanzânia), com mediana de 55,57
mol % (mínimo: 40,75 e máximo:73,39) e na população vegetariana de
Mwanga (Tanzânia), com mediana de 56,08 mol% (mínimo: 41,80 e
máximo: 66,94).
18
Estes ácidos graxos são considerados como fonte energética ou
como substrato para síntese de compostos intermediários (Giovannini et al,
1991). Além disso, parte dos teores desses ácidos graxos, encontrados no
leite, pode ser sintetizada pela via de novo na glândula mamária, a partir
da glicose, cujo primeiro resultado é a formação de AGS com 10 a 14
átomos de carbono. A geração desses ácidos graxos é intensificada
quando a alimentação materna é composta por baixos teores de lipídios e
alto teor de carboidratos (Koletzko et al., 2001). Tal fato foi comprovado no
estudo de Glew et al. (2002), os quais relatam que do total de calorias
consumidas pelos Fulani, nômades do norte da Nigéria, 50% é composta
de AGS e entre os Kanuri, nômades do mesmo país, que possuem
alimentação composta basicamente por cereais. O teor de AGS e o total
referente à síntese de novo (C10:0, C12:0 e C14:0) de 34 mulheres Fulani
foi de 51,22 peso% e 21,9 peso% e os mesmos parâmetros em 89
mulheres Kanuri foi de 54,80 peso% e 29,2 peso%. Silva et al. (2005)
encontraram 15,9 peso% de AGS advindos da síntese de novo (C10:0,
C12:0 e C14:0), no leite maduro de mulheres brasileiras.
Entretanto, Carlson et al. (1997) considera que os ácidos láurico
(C12:0) e o ácido mirístico (C14:0) são potencialmente mais
colesterolêmicos que os ácidos graxos trans e estes são mais
colesterolêmicos que seus isômeros cis. Dessa forma, o elevado consumo
de carboidratos podem originar ácidos graxos promotores do processo
aterosclerótico.
Aproximadamente 60% do total de ácido palmítico (C16:0)
encontrado no leite ocupa a posição sn-2 (posição β) do triacilglicerol
(Koletzko et al., 2001). Durante o processo de digestão, a lipase
pancreática atua nas posições sn-1 e sn-3, gerando ácidos graxos livres e
2-monoacilglicerol (López-López et al, 2001). A absorção do
monoacilglicerol é facilitada quando o ácido palmítico está presente, por
ser mais polar que os demais monoacilgliceróis e por ser mais solúvel em
água do que o C16:0 livre (Koletzko et al., 2001). Dessa forma, a
ocorrência de um alto teor C16:0 no leite materno garante maior
digestibilidade, facilitando seu uso como fonte energética, para a geração
de outros ácidos graxos ou, ainda, para ser estocado pelo recém-nascido.
19
Nos estudos apresentados no Quadro 3 os níveis de C16:0 apresentam-se
sem grandes diferenças, exceto no estudo de Silva et al. (2005), que
encontraram os menores teores desse ácido graxo (17,3 peso%).
O ácido esteárico (C18:0) é encontrado em níveis mais moderados,
em relação ao ácido palmítico; além disso, no tecido humano, esse
componente é rapidamente convertido a ácido oléico (C18:1) (Jensen,
1999). Os demais ácidos graxos apresentam pequenas proporções.
2.1.7. Importância dos ácidos graxos monoinsaturados
Nos estudos apresentados no Quadro 4 não se observa grandes
diferenças nas quantidades de ácidos graxos monoinsaturados (AGM).
Porém, foram encontrados menores teores no Brasil (27,60 peso%) (Silva
et al., 2005) e na região do Caribe (28,06 mol%) e níveis superiores na
Espanha e no Canadá. Kuipers et al. (2005) encontraram um menor
conteúdo de AGM na população de Doromani (Tanzânia), com mediana de
22,38 mol% e teores semelhantes (37,25 peso%) foram relatados por
Hayat et al. (1999) no Kuwaiti.
Embora possam ser sintetizados pelo organismo humano, a
composição e o percentual de AGM do leite humano podem ser
modificados pela alimentação materna. Estes ácidos graxos são utilizados
pelo recém-nascido como fonte energética e para compor a estrutura de
membrana (Giovannini et al, 1991; Jensen, 1999), sendo o C18:1 (oléico) o
tipo mais encontrado. Como já foi relatado o ácido esteárico (C18:0) é
dessaturado rapidamente a oléico no tecido humano, porém Jensen (1999)
relata que o mesmo não ocorre na glândula mamária humana.
Outro aspecto interessante da presença dos AGM, juntamente aos
ácidos graxos poliinsaturados (APG), é o fato de auxiliarem na manutenção
da viscosidade e fluidez da porção lipídica do leite humano, devido às
duplas ligações de suas moléculas (Jensen, 1999).
2.1.8. Malefícios dos ácidos graxos trans
No Quadro 4, apenas os estudos realizados na Austrália, Canadá,
Alemanha, França e Brasil (Silva et al., 2005) relatam a presença de ácidos
graxos trans (AGT). Os maiores percentuais foram encontrados no Cana
20
(7,10%) e a menor quantidade foi encontrada na França (1,91 peso%).
Koletzko et al. (2001) relataram que os altos teores de AGT no leite de
nutrizes da América do Norte e da Europa em relação aos países africanos
sugerem que o conteúdo desses isômeros no leite reflete o hábito
alimentar materno, pois os AGT não podem ser sintetizados pelo
organismo humano. Em geral, as concentrações de trans consumidos pela
lactante estão associadas às concentrações encontradas no leite materno,
sendo dose-dependente (Larqué et al., 2000).
Os AGP, como os ácidos graxos essenciais linoléico (C18:2n-6) e α-
linolênico (C18:3n-3), são importantes para a formação de membranas
celulares e são precursores para a síntese de eicosanóides. Para tal,
esses ácidos graxos devem sofrer um aumento de sua cadeia carbônica,
sob a ação de enzimas elongases, e inserção de duplas ligações, pelas
enzimas Δ5 e Δ6 dessaturase. Os isômeros trans do ácido α-linolênico
competem com o ácido α-linolênico (C18:3n-3) pela Δ6-dessaturase. O
AGT C18:3n-3 também é capaz de inbir a Δ5-dessaturase e
conseqüentemente impedir a formação de ácido araquidônico (Scrimgeour
et al., 2001). Portanto, os isômeros trans podem inibir a biossíntese de
compostos importantes para o organismo humano.
Outro fato agravante seria a possibilidade desses ácidos graxos
contribuírem para a gênese precoce do processo aterosclerótico. A
hipótese para tal fato estaria relacionada à deficiência de ácido linoléico
ocasionada pela ação dos AGT (Chiara et al., 2002).
Os AGT também podem exercer efeito negativo sobre a saúde fetal.
No estudo de Elias & Innis (2001) foi pesquisada a associação entre as
condições de nascimento e as concentrações de AGT e de DHA dos
triacilgliceróis plasmáticos de recém-nascidos. A ingestão materna de AGT,
no período gestacional, foi significantemente associada (P<0,05) às
concentrações plasmáticas desses isômeros presentes nos fosfolipídios,
ésteres de colesterol e triacilgliceróis maternos. Observaram ainda uma
relação inversa e significante entre as concentrações de AGT dos
triacilgliceróis plasmáticos dos recém-nascidos com o comprimento ao
nascer. A mesma relação foi observada entre as concentrações de trans e
de DHA presentes nos triacilgliceróis plasmáticos dos recém-nascidos. Os
21
resultados deste estudo sugerem que os efeitos deletérios dos AGT podem
iniciar-se na fase intra-uterina.
A teoria da “origem fetal das doenças” sugere que a má nutrição e
disfunções endócrinas no feto resultam em um processo de adaptação
permanente com modificações na estrutura, na fisiologia e no metabolismo
dos indivíduos. Assim, várias doenças crônicas não transmissíveis,
incluindo doenças cardiovasculares, hipertensão e diabetes do tipo 2
podem ter sido “programadas”, ou seja, terem sua origem na fase fetal
(Godfrey & Barker, 2000). O consumo de AGT pela nutriz e a conseqüente
presença desses isômeros no leite, somada a uma predisposição a
doenças, talvez possa potencializar os malefícios provocados à saúde do
recém-nascido.
Dessa forma, os estudos apontam para um efeito negativo do
consumo de AGT. Porém, os mecanismos que sustentam essa afirmativa
não estão totalmente elucidados, o que sugere novos estudos, em
especial, relacionados à saúde materno-infantil.
2.1.9. Benefícios dos ácidos graxos poliinsaturados
A Figura 1 apresenta o teor de ácidos graxos poliinsaturados do leite
humano dos países analisados, bem como o total de ácidos graxos da
série n-3 e da série n-6 e sua relação. Observa-se que os dois estudos
realizados no Brasil e o realizado em Cuba apresentam os maiores teores
de AGP totais e de ácidos graxos da série n-6. A verificação da relação n-
6/n-3 é importante, pois se sabe que as séries de ácidos graxos (n-3, n-6,
n-7 e n-9) competem entre si pelas vias metabólicas de alongamento e
dessaturação e tal harmonia é importante para o adequado funcionamento
do organismo (Calder, 2001). Somente os estudos desenvolvidos na
Austrália, Canadá, Alemanha, Brasil (Cunha et al., 2005) e Caribe
apresentaram uma relação adequada, que segundo Simopoulos (2002) é
de 5:1 a 10:1. Por outro lado, altas relações podem ser observadas nos
estudos realizados na Argentina e na Espanha.
De acordo com o Quadro 5, os maiores percentuais de ácidos
graxos essenciais foram encontrados nos dois estudos realizados no
Brasil. Nóbrega et al. (1986) relatam que a população brasileira apresenta
22
um alto consumo de alimentos ricos em ácido linoléico (C18:2n-6), o que
sugere um alto consumo de óleo de soja e de peixes de água doce. Os
maiores níveis de ácido α-linolênico (C18:3n-3,) encontrados nos estudos
brasileiros, pode ser devido ao consumo de peixes de águas frias, embora
as cidades destes estudos não sejam litorâneas. Por outro lado, menores
conteúdos de C18:3n-3 foram encontrados no leite de mulheres da
Espanha e da região do Caribe, localidades em que o acesso a produtos
marinhos é maior. Essa aparente controvérsia, entre os resultados de
ácidos graxos essenciais observados nos estudos brasileiros e nos
demais, pode ser devido à adiposidade materna, ao estado nutricional, à
metodologia de extração empregada ou mesmo devido a uma possível
discrepância entre o tipo de alimentação da população estudada, em
relação às reais características alimentares desses países. Hayat et al.
(1999), no Kuwaiti, encontraram níveis semelhantes de C18:2n-6 (17,44
peso%) e menores teores de C18:3n-3 (0,37 peso%), em relação aos
estudos do Quadro 5. Da mesma forma, foi observado no estudo de Glew
et al. (2002), em que a quantidade de C18:2n-6 do leite humano nas tribos
Kanuri e Fulani foi de 14,1 e 13,4 peso%, respectivamente; e o teor de
C18:3n-3 nas mesmas tribos foi de 0,51 e 0,21 peso%, respectivamente.
A presença do ácido araquidônico (AA) (C20:4n-6), metabólito do
C18:2n-6, e a presença do ácido eicosapentaenóico (EPA) (C20:5n-3) e
docosahexaenóico (DHA) (C22:6n-3), metabólitos do C18:3n-3, foram
maiores no Brasil (Cunha et al., 2005). Estes ácidos graxos merecem uma
atenção especial, pois o cérebro, retina e outros tecidos neurais são ricos
em ácidos graxos essenciais e em seus metabólitos. Além disso, esses
ácidos graxos são precursores de eicosanóides, cuja função é regular a
atividade de células e tecidos corporais (Uauy et al., 2001).
Dessa forma, esses metabólitos, especialmente o DHA e o AA,
estão relacionados com o desenvolvimento neurológico e com a acuidade
visual dos indivíduos. Hart et al. (2006) encontraram associação positiva
entre as concentrações de DHA no leite e os pontos obtidos no teste NBAS
(Neonatal Behavioral Assessment Scale), que avalia o comportamento
neurológico do neonato. Os resultados confirmam que o DHA, presentes
no leite materno, é importante para um comportamento neurológico ótimo
23
dos neonatos. Dijck-Brouwer et al. (2005) analisaram os ácidos graxos da
veia umbilical de 317 neonatos a termo e classificaram as crianças
segundo o teste NOS (Neurological Optimality Score). As crianças
classificadas como neurologicamente anormais apresentaram menor teor
de DHA e de ácidos graxos essenciais da veia umbilical. Além disso,
encontraram relação positiva entre os pontos obtidos na escala e os níveis
de ácidos graxos essenciais, AA e DHA. Os autores concluíram que baixos
teores destes ácidos graxos parecem influenciar negativamente a condição
neurológica do neonato.
Makrides et al. (1995) demonstraram atraso na acuidade visual de
crianças de 4 a 6 meses de vida que receberam fórmula deficiente em
DHA. Ainda, as crianças em aleitamento materno por mais de 16 semanas
apresentaram um melhor potencial visual em relação às amamentadas por
um curto período. Semelhante a esses resultados, Lauritzen et al. (2004)
observaram associação positiva entre a acuidade visual e os níveis de
DHA das hemácias de crianças aos 4 meses de idade. Tais resultados
sugerem que esses ácidos graxos estão relacionados à maturação visual.
Dessa forma, os estudos evidenciam a importância do consumo de
alimentos ricos em ácidos graxos essenciais pela mãe, os quais,
compondo o leite materno, assegurarão o adequado desenvolvimento
infantil.
2.1.10. Conclusão
Como demonstrado, a modulação lipídica do leite não se dá por
efeitos isolados, mas por diversos fatores intrínsecos e extrínsecos à
nutriz, que agem de forma concomitante. Nessas circunstâncias, destaca-
se a importância de estudos na área com o objetivo de aclarar a ação de
tais fatores sobre a composição lipídica, especialmente sobre o perfil de
ácidos graxos. Ainda como aspecto metodológico, salienta-se que a
alimentação materna, se não considerada, pode ser um gerador de bias
nos estudos, o que sugere sua criteriosa avaliação.
De um modo geral, a composição de ácidos graxos do leite humano,
relatados nos estudos realizados na América Latina, é semelhante aos
teores descritos nos estudos de países industrializados. Porém, observa-se
24
que o perfil de ácidos graxos do leite das nutrizes brasileiras apresenta-se
mais adequado em relação aos demais, no que condiz aos ácidos graxos
essenciais.
Até o momento, não estão totalmente elucidados todos os
benefícios dos ácidos graxos essenciais e seus metabólitos no leite
humano, todavia sabe-se que se deficientes podem comprometer o
desenvolvimento fetal e do recém-nascido. Não estão determinados, ainda,
os possíveis malefícios dos ácidos graxos trans sobre a saúde desses
indivíduos, o que sugere moderação no consumo de alimentos ricos
nesses isômeros.
O conhecimento do conteúdo lipídico e do perfil de ácidos graxos do
leite de diferentes regiões é de grande importância devido às
peculiaridades dos efeitos dos ácidos graxos sobre a saúde materno-
infantil, o que demonstra a necessidade de novas pesquisas nessa área.
2.1.11. Referências Bibliográficas
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49. Uauy R, Hoffman DR, Peirano P, Birch DG, Birch EE. Essential fatty
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50. Yamawaki N, Yamada M, Kan-no T, Kojima T, Kaneko T, Yonekubo
A. Macronutrient, mineral and trace element composition of breast milk
from Japanese women. Journal of Trace Elements in Medicine and Biology
2005;19:171-81.
29
Figura 1: Teor de ácidos graxos polinsaturados (AGP) totais e AGP da
série n-6 e n-3 do leite humano em diferentes países
0
5
10
15
20
25
30
Espanha
Austrália
Canadá
A
l
emanha
F
r
ança
Ar
g
enti
n
a
Bra
s
i
l
(
a
)
Bra
s
i
l
(b)
Cuba
Caribe
peso %
AGP
n3
n6
n6/n3
Brasil (a): Cunha, et al. (2005)
Brasil (b): Silva, et al. (2005)
30
Quadro 3 – Composição de ácidos graxos saturados do leite humano em diferentes regiões
Referência
Sala-Vila
et al.
(2005)
Mitoulas
et al.
(2003)
Innis &
King
(1999)
Genzel-
Boroviczény
et al. (1997)
Chardigny
et al.
(1995)
Marín
et al.
(2005)
Cunha
et al.
(2005)
Silva
et al.
(2005)
Krasevec
et al.
(2002)
Smit
et al.
(2002)
País Espanha Austrália Canadá Alemanha França Argentina Brasil (a) Brasil (b) Cuba Caribe
n 19 69 103 38 10 21 77 80 52 159
Período 15-30 d 60 d 60 d 30 d DEL 30-90 d 15 d 30-97 60 DEL
Unidade Peso % Peso % % % Peso % Peso % Peso % Peso % % mol %
C8:0 ND ND ND ND 0,19 ND 0,11 0,20 0,17 0,67
C10:0 ND 1,23 0,60 1,01 1,23 0,91 1,35 1,68 1,57 3,62
C12:0 ND 5,24 4,10 5,21 5,15 4,67 5,30 6,88 7,81 13,82
C14:0 ND 7,43 6,10 6,90 6,93 6,02 5,64 7,02 8,97 11,54
C15:0 ND 0,48 ND ND 0,50 0,43 0,53 0,27 ND ND
C16:0 21,08 25,14 19,40 22,47 21,74 20,58 19,21 17,3 19,39 20,89
C17:0 ND 0,43 ND ND 0,36 ND 0,40 0,32 ND ND
C18:0 7,62 9,14 7,20 7,40 7,64 9,78 7,94 5,43 4,62 5,45
C20:0 ND 0,71 0,20 ND 0,22 0,26 0,28 0,12 ND 0,20
C22:0 ND 0,07 0,10 ND ND 0,05 0,13 ND ND 0,09
C24:0 ND 0,07 0,10 ND ND ND 0,20 ND ND 0,07
AGS 44,15
a
49,94
37,80 44,30
a
44,32
a
54,30
a
41,46
a
39,7
a
42,54 56,52
a
: Somatório; AGS: Ácidos Graxos Saturados; d: dias pós-parto; DEL: diferentes estágios de lactação; ND: não demonstrado no estudo; a)
Inclui ácidos graxos não apresentados.
31
Quadro 4 – Composição de ácidos graxos monoinsaturados do leite humano em diferentes regiões
Referência
Sala-Vila
et al.
(2005)
Mitoulas
et al.
(2003)
Innis &
King
(1999)
Genzel-
Boroviczény
et al. (1997)
Chardigny
et al.
(1995)
Marín
et al.
(2005)
Cunha et
al. (2005)
Silva
et al.
(2005)
Krasevec
et al.
(2002)
Smit
et al.
(2002)
País Espanha Austrália Canadá Alemanha França Argentina Brasil (a) Brasil (b) Cuba Caribe
n 19 69 103 38 10 21 77 80 52 159
Período 15-30 d 60 d 60 d 30 d DEL 30-90 d 15 d 30-97 60 DEL
Unidade Peso % Peso % % % Peso % Peso % Peso % Peso % % mol %
C16:1 ND 2,62 0,30 ND 2,15 3,22 2,45 1,99 4,07 2,58
C17:1 ND ND ND ND ND ND ND 0,17 ND ND
C18:1 n-9t ND 1,12 ND ND 1,91 ND ND 2,25 ND ND
C18:1 n-9c 34,57 31,40 33,90 31,50 32,15 33,36 30,12 25,00 29,68 21,38
C20:1 ND 0,27 ND ND 0,78 0,08 0,60 0,26 0,51 0,38
C24:1 n-9 0,07 ND ND ND ND ND ND ND ND 0,05
AGM 37,14
a
34,29
39,30
a
31,50 35,58
a
36,94
a
33,31
a
27,60
a
34,25
a
28,06
a
AGT ND 2,19
a
7,10
a
1,13
a
1,91 ND ND 2,36
a
ND ND
: somatório; AGM: Ácidos Graxos Monoinsaturados cis; AGT: Ácidos Graxos Monoinsaturados trans; d: dias pós-parto; DEL: diferentes
estágios de lactação; ND: não demonstrado no estudo; a) Inclui ácidos graxos não apresentados.
32
Quadro 5 – Composição de ácidos graxos poliinsaturados do leite humano em diferentes regiões
Referência
Sala-Vila
et al.
(2005)
Mitoulas
et al.
(2003)
Innis &
King
(1999)
Genzel-
Boroviczény
et al. (1997)
Chardigny
et al.
(1995)
Marín
et al.
(2005)
Cunha et
al. (2005)
Silva
et al.
(2005)
Krasevec
et al.
(2002)
Smit
et al.
(2002)
País Espanha Austrália Canadá Alemanha França Argentina Brasil (a) Brasil (b) Cuba Caribe
n 19 69 103 38 10 21 77 80 52 159
Período 15-30 d 60 d 60 d 30 d DEL 30-90 d 15 d 30-97 60 DEL
Unidade Peso % Peso % % % Peso % Peso % Peso % Peso % % mol %
C18:2 n-6 15,93 8,43 12,10 11,33 14,67 16,61 20,62 20,30 19,37 11,26
C18:3 n-3 0,49 0,69 1,40 0,90 0,70 0,47 1,72 1,43 0,92 0,67
C20:2 n-6 0,50 0,12 0,30 0,30 0,52 0,36 0,75 0,42 ND 0,32
C20:3 n-6 0,37 0,32 0,30 0,38 0,39 0,40 ND 0,42 0,47 0,38
C20:4 n-6 0,41 0,36 0,40 0,45 0,50 0,45 0,71 0,53 0,67 0,50
C20:5 n-3 0,06 0,08 0,10 0,05 0,02 0,09 0,16 ND 0,12 0,05
C22:4 n-6 0,02 0,08 0,10 0,08 0,17 0,09 ND ND 0,15 0,12
C22:5 n-3 0,10 0,16 0,20 0,15 0,16 0,03 ND ND 0,15 0,13
C22:6 n-3 0,18 0,17 0,20 0,23 0,32 0,13 0,34 0,14 0,43 0,33
AGP 18,06 10,41 15,10 16,34
a
18,07
a
19,39
a
25,03
a
23,40
a
23,20
a
15,85
a
n-6 17,23 9,31 13,20 14,34
a
16,39
a
18,61
a
22,08 21,80
a
21,58
a
14,20
a
n-3 0,83 1,1 1,90 2,00
a
1,32
a
0,78
a
2,22 1,59
a
1,62 1,50
a
n-6/n-3 20,75 8,46 6,94 7,17 12,41 23,85 9,94 13,71 13,32 9,46
: somatório; AGP: Ácido Graxo Poliinsaturado; d: dias pós-parto; DEL: diferentes estágios de lactação; ND: não demonstrado no estudo; a)
Inclui ácidos graxos não apresentados.
33
2.2. ARTIGO DE REVISÃO 2
Questionário de freqüência de consumo alimentar e
recordatório de 24 horas: aspectos metodológicos para avaliação da
ingestão de lipídios.
2.2.1. Resumo
É de interesse em estudos populacionais a adequada avaliação da
ingestão lipídica por meio de inquéritos alimentares, visto que os lipídios
estão envolvidos tanto no desenvolvimento quanto na prevenção de
doenças arteriais coronarianas. Os inquéritos de consumo alimentar
consistem em métodos indiretos de avaliação do estado nutricional, que
estão sujeitos a erros inerentes ao indivíduo e à metodologia do estudo. É
fundamental que tais métodos, particularmente o questionário de
freqüência de consumo alimentar e o recordatório de 24 horas, sejam
validados para a população em estudo. Dentre os principais erros que
envolvem a avaliação de consumo de lipídios, incluem-se a variabilidade
intrapessoal, que pode ser minimizada com o aumento do número de
recordatórios analisados ou por técnicas estatísticas. O uso de
biomarcadores para estimar o consumo alimentar a longo prazo é cada vez
mais utilizado e apresenta um importante papel na correta avaliação do
consumo real de lipídios. Neste contexto, pretende-se com este trabalho
discutir aspectos metodológicos para estimar a ingestão de lipídios pela
população. Discutem-se aspectos relacionados aos erros de avaliação da
ingestão alimentar, aspectos relacionados à utilização do questionário de
freqüência de consumo alimentar e do recordatório de 24 horas, a
importância de estudos utilizando biomarcadores e a utilização de
inquéritos alimentares para estimar o consumo de lipídios.
Palavras chave: registros de dietas, hábitos alimentares, consumo de
alimentos, ácidos graxos.
2.2.2. Abstract
It is important in population studies the correct evaluation of lipid
intake through dietary instruments, since lipids are involved in the
34
development and in the prevention of chronic heart diseases. The dietary
instruments consist of indirect methods for the nutritional status evaluation.
These methods are subject to errors inherent in the individual and the
methodology of the study. It is crucial that such methods, particularly the
food frequency questionnaire and 24-hour recall, be validated for the
population in study. Among the main errors involving lipid intake evaluation
is the intrapersonal variation, which can be minimized with the increase in
the number of recalls analyzed or by statistical techniques. The use of
biomarkers as indicators to estimate long term dietary intake is increasing,
and they play an important role in the correct evaluation of the real lipid
intake. In this context, this work proposed to discuss methodological
aspects to estimate the lipid intake of the population. Aspects related to
errors of food intake evaluation, the use of the food frequency questionnaire
and 24-hour recall, the importance of studies using biomarkers and the use
of dietary instruments to estimate lipid intake are discussed.
Keywords: diet records, dietary habits, eating, fatty acids.
2.2.3. Introdução
O inquérito dietético consiste em um método indireto de avaliação
do estado nutricional do indivíduo
1
. Dessa forma, os instrumentos
dietéticos, particularmente o questionário de freqüência de consumo
alimentar (QFCA) e o recordatório 24 horas (R24h), estão sujeitos a erros
inerentes ao indivíduo e ao planejamento, aplicação e análise dos
dados
2,3,4,5,6
. No entanto, atualmente, as pesquisas contam com técnicas
estatísticas, que têm a finalidade de aproximar as informações relatadas
pelos entrevistados com a real ingestão de nutrientes e de energia
2,7,8,9
.
Os elevados níveis de ácidos graxos saturados, que compõem as
dietas ocidentais, estão envolvidos com o aumento da incidência de
doenças arteriais coronarianas (DAC). Os tipos de lipídios da dieta são
capazes de modular os níveis plasmáticos de colesterol
10,11
. Este é o
principal fator dietético envolvido na ocorrência de DAC
12
. De acordo com
Wilson
13
, dados do clássico estudo de Framingham sugerem que níveis
sanguíneos aumentados de lipoproteína de baixa densidade (LDL) e
35
diminuídos de lipoproteínas de alta densidade (HDL) estão associados com
o aumento do risco dessas doenças. Além disso, evidências
epidemiológicas, obtidas a partir de estimativas da ingestão de ácidos
graxos trans, utilizando-se inquéritos alimentares, apresentam uma forte
correlação entre o consumo desses tipos de lipídios com a incidência de
DAC
14
. Por outro lado, a ingestão de ácidos graxos monoinsaturados, da
série n-9, e poliinsaturados, da série n-3, está associada à redução do
risco de DAC
10,11,12
.
Dessa forma, é de grande interesse em estudos populacionais a
adequada avaliação da ingestão de lipídios por meio dos inquéritos
alimentares. Neste contexto, pretende-se com este trabalho discutir
aspectos metodológicos para estimar a ingestão de lipídios pela
população, enfocando os erros relacionados à avaliação do consumo
alimentar individual e populacional, utilizando-se questionário de freqüência
de consumo alimentar e do recordatório de 24 horas, bem como a
importância de estudos utilizando-se biomarcadores.
2.2.4. Avaliação da ingestão alimentar populacional
É de interesse das pesquisas de caráter populacional o
conhecimento da proporção de indivíduos que apresentam ingestão acima
ou abaixo das recomendações dietéticas, uma vez que, o planejamento de
ações de saúde; monitoramento, intervenção ou regulamentação de
atividades comerciais; requer o conhecimento prévio do consumo de
nutrientes pela população
2,15
.
Os dados sobre consumo alimentar integrados com outros
indicadores do estado nutricional, segurança alimentar, morbidade e risco
de doenças; são as bases para o monitoramento das tendências dietéticas
e definição de políticas para agricultura, economia e saúde. Paralelo a isso,
esses dados podem auxiliar no desenvolvimento de guias dietéticos e
materiais de educação nutricional
15
, que são
fundamentais para o
desenvolvimento e condução de pesquisas científicas; estes contribuem
para a produção de novos estudos sobre consumo alimentar.
Segundo Harrison
15
, os estudos de consumo alimentar em países
em desenvolvimento devem considerar: a integração do consumo
36
alimentar com outros dados, como saúde, estado nutricional e/ou despesas
domésticas; o tamanho e a distribuição geográfica da amostra; a variação
sazonal da ingestão alimentar; o desenvolvimento adequado do protocolo
de estudo; utilização dos instrumentos dietéticos adequados; variação
intrapessoal e interpessoal da ingestão dietética; aspectos culturais
específicos e comparação dos dados com os de outros países ou regiões.
Dentre as metodologias empregadas para avaliação do estado
nutricional, os métodos dietéticos são os mais adequados para detectar a
deficiência nutricional em seu estágio inicial, sendo por isso, utilizados em
estudos epidemiológicos de associação entre exposição ao fator e
desfecho
16
.
Willett & Stampfer
17
alertam para a complexidade da relação entre
os fatores dietéticos e a ocorrência de doenças, visto que, os
determinantes biológicos e a exposição a outros fatores podem gerar
vieses durante as análises. Dessa forma, os autores salientam que a coleta
de dados, para avaliação dietética, deve ser feita de forma criteriosa.
2.2.5. Questionário de freqüência de consumo alimentar e
recordatório de 24 horas: aspectos relacionados à sua utilização
Os métodos de inquérito de consumo alimentar podem ser
classificados em retrospectivos (história dietética e QFCA), que avaliam o
consumo passado (recente e remoto), e os prospectivos (registro dietético
e análise bromatológica dos alimentos consumidos), que tem a finalidade
de avaliar a ingestão atual
20
. Ferro-Luzzi
18
classifica o R24h como um
método retrospectivo, porém devido à característica de tal método em
avaliar o consumo alimentar 24 horas anteriores à entrevista é mais
prudente classificá-lo como um método prospectivo.
Devido às variações da ingestão alimentar inerentes aos indivíduos
e, também, à falta de padronização dos instrumentos de inquérito alimentar
e à de treinamento dos entrevistadores
5
é impossível que o consumo
alimentar seja avaliado sem erros
6
.
O QFCA consiste em um “checklist” de um número de alimentos,
que podem variar de acordo com os objetivos do estudo. Ele foi
desenvolvido por Wiehl em 1960 e é freqüentemente utilizado em estudos
37
em que há limitações financeiras e de tempo, sendo rotineiramente
empregado em estudos epidemiológicos
18,19
que relacionam a dieta com a
ocorrência de doenças crônicas
20,21,22
.
Hoje, existem variações do QFCA em relação ao seu desenho
original, como o QFCA qualitativo, que visa avaliar os tipos de alimentos
consumidos e sua freqüência e o semi-quantitativo, que visa, além de
avaliar os principais alimentos consumidos, estimar o seu consumo. O
QFCA tanto em sua forma original quanto em suas variações são capazes
de avaliar a freqüência de consumo alimentar diária, semanal, quinzenal,
mensal ou sazonal
18
.
Segundo McPherson et al.
19
, a utilização do QFCA é um método
relativamente simples, objetivo e facilmente adaptável à população em
estudo. Jiménez & Martín-Moreno
23
acrescentam que uma das vantagens
da utilização do QFCA é a rapidez e, de acordo com Willett
24
, ele oferece a
possibilidade de uma correta estratificação dos resultados em quartis de
consumo, o que possibilita analisar níveis extremos de ingestão.
Por outro lado, o QFCA sendo uma listagem de alimentos pré-
estabelecida, pode não contemplar todos os alimentos disponíveis para o
consumo, além de utilizar medidas padronizadas
24
. Villar
5
acrescenta que o
pesquisador necessita de um esforço preliminar no desenho do
questionário antes de utilizá-lo em campo.
O R24h foi utilizado pela primeira vez por Wiehl e consiste em
quantificar todo o consumo de alimentos 24 horas anteriores à entrevista
ou durante o dia anterior
24
. Por ser um método que descreve uma grande
variedade de alimentos, o R24h é utilizado quando se deseja comparar a
ingestão de nutrientes e energia de diferentes populações
25
.
Dentre as vantagens de utilização desse método incluem-se a
rápida aplicação, recordação recente do consumo
25
, a população estudada
não precisa ser alfabetizada, além de ser o método que menos propicia
alteração no comportamento alimentar
5
.
Por outro lado, esse método requer memória e cooperação do
entrevistado, assim como da capacidade do entrevistador em estabelecer
um diálogo com o entrevistado
5
. A idade, sexo e nível de escolaridade têm
influência sobre a habilidade do entrevistado em informar corretamente o
38
consumo
26
. Além disso, um único recordatório não reflete a ingestão
habitual do indivíduo, devido à variação intrapessoal.
Segundo Villar
5
, o QFCA, comparado ao R24h, requer menos
treinamento do entrevistador e pode ser aplicado em entrevista pessoal ou
auto-administrado e postado ao centro de estudo.
2.2.6. Variação intrapessoal da ingestão de lipídios
Os tipos de erros para avaliação dietética, particularmente inerente
ao R24h, são devido às tabelas de composição de alimentos; às diferentes
interpretações dos tipos de alimentos ou preparações, bem como o peso
dos alimentos; aos alimentos informados erroneamente; à sazonalidade da
alimentação e aos erros sistemáticos (bias), como a variação intrapessoal.
Por outro lado, os erros relacionados ao QFCA são os mesmos descritos
para o R24h, exceto a sazonalidade da alimentação. O método mais
adequado para avaliação dietética seria a pesagem de alimentos, porém é
um método de maior custo e mais invasivo que os demais
3
.
Assim, um dos principais erros dos estudos envolvendo consumo
alimentar está relacionado à medida de variabilidade diária de ingestão
alimentar. Entende-se como variação intrapessoal a probabilidade do
consumo refletir o verdadeiro hábito dietético do indivíduo, a qual pode ser
minimizada aumentando-se o número de dias analisados
3,4
.
A variabilidade da dieta do indivíduo está sujeita à variação real dos
alimentos consumidos, influenciada pela diversificação e heterogeneidade
da dieta e pelas preferências
2
. Além disso, a sazonalidade; dias da
semana, como por exemplo, um dia atípico; seqüência da aplicação do
inquérito, induzindo o indivíduo a não responder de forma fidedigna o real
consumo e a aplicação do inquérito por diferentes entrevistadores pode
gerar erros na avaliação da ingestão
24
.
Segundo Beaton et al.
7
, é possível calcular o número de dias
necessários para estimar a real ingestão diária individual de um
determinado nutriente, utilizando-se a seguinte fórmula:
39
n = (Z
α
CV
w
/ D
0
)
2
Na qual:
n = o número de dias necessários
Z
α
= desvio padrão na curva normal reduzida
CV
w
= coeficiente de variação intrapessoal
D
0
= especificidade limite (porcentagem máxima que se pretende no
coeficiente de variação intrapessoal)
Utilizando-se os dados de Willett
24
, o número de dias necessários
para avaliação do consumo de lipídios, considerando 1,96 (desvio padrão,
ao nível de significância de 5%) e 10% de especificidade limite, estão
apresentados na Tabela 1. Observa-se que quando as médias de consumo
são ajustadas para o total de energia consumida, utilizando-se análise de
regressão, o coeficiente de variação diminui.
40
Tabela 1: Número de dias necessários para se estimar a ingestão de
lipídios totais, ácidos graxos saturados (AGS), ácidos graxos
monoinsaturados (AGM), ácidos graxos poliinsaturados (AGP) e colesterol;
ajustados ou não para o total de energia consumida, considerando uma
especificidade limite de 10%.
Média (g) CV
w
(%)
Número de dias
necessários
Energia (kcal) 1620 27,0 28
Lipídios Totais A 68,6 38,4 57
B 27,3 29
AGM A 24,2 42,5 69
B 27,8 30
AGP A 11,1 64,2 158
B 47,3 86
Colesterol A 311 62,2 149
B 61,5 145
Dados baseados em recordatórios de 194 mulheres (Willett
24
)
A) Não ajustado para o total de energia consumida.
B) Ajustado para o total de energia consumida, utilizando análises de
regressão.
Segundo Bingham
3
, para uma adequada avaliação do consumo de
lipídios em adultos, com uma média de variação intrapessoal de 31% e
com uma precisão de ± 20%, são necessários 10 recordatórios de um
mesmo indivíduo. Por outro lado, para avaliação energética, com uma
variação média intrapessoal de 23% e com uma precisão de ± 20%, são
necessários apenas 5 recordatórios de um mesmo indivíduo. Superior a
isso, é a avaliação da ingestão de vitamina C, com uma média de variação
intrapessoal de 60% e precisão de ± 20%, são necessários 36
recordatórios.
Analisando os dados de Willett
24
e de Bingham
3
, observa-se que a
variabilidade intrapessoal difere não somente entre os nutrientes
analisados, mas também entre os diferentes estudos e entre os grupos
41
populacionais. Dessa forma, não se tem uma variação intrapessoal
estabelecida como regra e universalmente aplicável. Além disso, observa-
se que quanto maior o coeficiente de variação intrapessoal maior serão os
dias necessários para uma correta avaliação da ingestão real. Portanto,
uma adequada avaliação dos objetivos do estudo é fundamental para
definir o número de inquéritos a serem aplicados, assumindo os erros
inerentes à variabilidade intrapessoal. O uso de análise de regressão
ajustando os dados para energia é adequado para minimizar o efeito de
erros sistemáticos.
A aplicação de um maior número de inquéritos, como forma de
minimizar o erro devido à variação intrapessoal, implica em questões
logísticas, como a distância entre diferentes localidades, além de um maior
custo e de um maior tempo de estudo
24
. Outra forma de aproximação à
real ingestão seria a utilização de métodos estatísticos, os quais fazem
uma aproximação semi-paramétrica para transformar os dados de ingestão
observado, que não apresentam uma distribuição normal, em dados com
distribuição normal, removendo a variação intrapessoal
18,27
. A utilização
destes métodos estatísticos possibilita amenizar a variabilidade do dia-a-
dia, de forma que a distribuição reflita somente a variação interpessoal
2
.
De forma semelhante, para se calcular a prevalência de
inadequação de consumo, com base na EAR (“Estimated Average
Requirement”, que é definida como o valor de ingestão do nutriente
estimado para cobrir as necessidades de aproximadamente 50% dos
indivíduos saudáveis de determinado estágio de vida e gênero
2
), utiliza-se
a seguinte fórmula
24
:
Y = µ + indivíduo
i
+ ε
Na qual:
Y = ingestão do nutriente ou energia
µ = média do consumo verdadeiro
Indivíduo
i
= efeito da variância interpessoal
ε = termo erro (erro de medição do instrumento utilizado – diferença
encontrada entre o valor observado e a verdadeira ingestão)
42
Observa-se que nesta equação a variação intrapessoal não é
incluída, uma vez que, por cálculos estatísticos e matemáticos, esta
variação é amenizada
2
. Para tal, deve-se verificar a normalidade das
variáveis energia e nutriente e para aqueles que não apresentarem
distribuição normal, deve-se transformá-los em seu logaritmo natural e
novamente testá-los quanto à normalidade. Por análise de variância
calcula-se a variação intrapessoal e interpessoal, obtendo-se um resíduo
comum
28
. Por fim, utiliza-se uma equação para remover a variabilidade
intrapessoal, obtendo-se o valor ajustado do nutriente, que será utilizado
para verificar a prevalência de inadequação no grupo populacional
2
.
2.2.7. Reprodutibilidade e validade de instrumentos dietéticos
na avaliação da ingestão lipídica
Reprodutibilidade, replicabilidade ou precisão
29
é a capacidade de
um instrumento reproduzir a mesma estimativa em mais de uma ocasião,
assumindo que nenhuma variação tenha ocorrido nos diferentes momentos
dos procedimentos
29,30
. A reprodutibilidade pode certificar, em parte, a
validade de um instrumento; descobrir problemas na aplicação do
instrumento e atuar como um controle de qualidade
30
. López
29
relata que,
na prática, pode indicar a consistência e concordância dos dados.
Segundo Block & Hartman
30
, os estudos mostram uma correlação
entre as repetições de QFCA na ordem de 0,5 a 0,8; porém esses valores
não são para nutrientes específicos e, segundo López
29
os períodos de
estudo podem oscilar de 1 há vários anos, como ocorre no estudo de Hu et
al.
11
com um intervalo de 1 ano entre as aplicações dos QFCA e no estudo
de Willett et al.
31
com um intervalo de aplicação de 3 a 4 anos. Intervalos
menores (6 meses) entre as repetições dos QFCA foram utilizados por
Pietinen et al.
32
.
Dentre os fatores que afetam a reprodutibilidade incluem-se a
incapacidade de estimar a dieta, idade e nível de escolaridade
33
. Além
disso, a complexidade do instrumento é outro fator que afeta a
reprodutibilidade de um instrumento
28
.
43
Diferentemente, a validade de um instrumento é a sua capacidade
de mensurar o que, realmente, deve ser mensurado
29,30
. Segundo López
29
diz-se que um instrumento é válido quando ele está isento de erros
sistemáticos, que superestimam ou subestimam o que se pretende aferir.
Em geral, a validação de instrumentos necessita de um padrão ouro
com o qual será comparado. Assim, para que um método seja validado
deve haver uma forte correlação entre eles, porém os erros de cada
instrumento não devem estar correlacionados
29
. Comumente, a validação
de inquéritos dietéticos se dá pela sua correlação com parâmetros
bioquímicos e/ou pela sua correlação com outro instrumento dietético que
seja mais fidedigno ao real consumo, como por exemplo, a pesagem de
alimentos e o registro alimentar. Não existe padrão-ouro para estimar a
ingestão habitual, visto que todos os instrumentos dietéticos contêm erros
em diferentes graus
28
.
Segundo Fisberg et al.
28
, para o planejamento e execução de um
estudo de validação, deve-se considerar o propósito da avaliação dietética,
eleger a técnica mais apropriada, ter definido o marco de referência e
identificar os fatores de confusão do processo de validação.
Os estudos sobre reprodutibilidade e validade dos instrumentos
dietéticos são elaborados considerando grupos populacionais de regiões
específicas como o estudo de Pisani et al.
34
com italianos; Ocké et al.
20
com alemães; Woo et al.
35
com chineses e Sichieri et al.
36
com brasileiros.
Podem também ser realizados com grupos populacionais com
características específicas, como o estudo de Salvo & Gimeno
37
com
indivíduos obesos e Erkkola et al.
38
que avaliaram gestantes. Neste último
estudo, os pesquisadores encontraram, no estudo de reprodutibilidade,
uma correlação para o QFCA intraclasses de 0,62 a 0,67 para diferentes
tipos de lipídios analisados e no estudo de validade encontraram uma
correlação entre o QFCA e registro de alimentos de 0,48; 0,64; 0,55; 0,34;
0,47; 0,39 e 0,49 para lipídios totais, triacilgliceróis, AGS, AGM, AGP,
ácidos graxos da série n-3 e ácidos graxos da série n-6, respectivamente.
Correlações mais fortes, no estudo de validação, foram encontradas por
Pietinen et al.
32
, utilizando o registro de alimentos como método de
referência, na ordem de 0,75; 0,79; 0,68; 0,85 e 0,75 para lipídios totais,
44
AGS, AGM, AGP e colesterol, respectivamente e no estudo de
reprodutibilidade, encontraram uma correlação semelhante (0,63 a 0,73).
De acordo com esses estudos, apenas os dois últimos utilizaram o registro
de alimentos como instrumento de referência, os demais utilizaram o R24h.
Comparando o QFCA e R24h, quanto à reprodutibilidade, observa-
se que uma aplicação repetida e imediata do inquérito dietético pode gerar
uma reprodutibilidade artificial, devido à memória recente; por outro lado,
se a aplicação necessitar da memória remota pode gerar uma
reprodutibilidade baixa. Neste caso, a utilização do QFCA é mais
recomendada. Por outro lado, em populações de países subdesenvolvidos
a reprodutibilidade, possivelmente, é elevada devido à monotonia da dieta.
Assim, a utilização do R24h talvez seja mais aconselhável.
2.2.8. Avaliação do consumo de lipídios relacionado a
marcadores bioquímicos
O uso de biomarcadores para avaliar o consumo de alimentos tem
sido cada vez mais empregado, pois são métodos com maior acurácia,
refletem a ingestão a longo prazo, não requerem memória e não sofrem
interferências de erros sistemáticos (bias). Por outro lado, a concentração
de nutrientes dos tecidos e de fluidos corpóreos pode ser afetada por
fatores genéticos, tabagismo, obesidade, atividade física e metabolismo
24
.
Acrescentam-se ainda as doenças, que mesmo na forma sub-clínica
podem afetar os níveis dos marcadores bioquímicos.
Ocké & Kaaks
39
desenvolveram um método de avaliação da
ingestão (“método da tríade”) baseado na correlação entre três variáveis,
quais sejam o QFCA, um método de referência e um biomarcador. O
método assume que todos os padrões de análise são passíveis de erro, no
entanto, é um método que pode ser empregado para estudos de validação
de QFCA
24
, uma vez que se corrige o erro devido a bias
40
. A figura 1 ilustra
o que foi explicitado, em que as letras maiúsculas representam QFCA (A),
marcador bioquímico (B) método de referência (C), correlação entre QFCA
e marcador bioquímico (X), correlação entre QFCA e método de referência
(Y) e correlação entre marcador bioquímico e método de referência (Z). As
45
letras minúsculas a, b e c representam os coeficientes de validação e são
determinados pelas seguintes fórmulas:
Kabagambe et al.
40
utilizaram tal metodologia em seu estudo e
detectaram que as análises do tecido adiposo dos voluntários
apresentaram fracas correlações com a ingestão de AGS e AGM,
informados no R24h e QFCA, porém apresentaram boa correlação para os
AGP. Concluíram que os biomarcadores utilizados no estudo não foram tão
eficazes na avaliação da ingestão em relação ao QFCA.
Hu et al.
41
estudaram a reprodutibilidade e validade da dieta padrão
de homens participantes de um estudo prospectivo sobre os fatores de
risco associados ao câncer e às doenças cardiovasculares. Foram
recrutados 127 voluntários que completaram por duas vezes um mesmo
Figura 1: A) QFCA; B) marcador bioquímico; C) método de referência; a,
b e c são coeficientes de validação e X, Y e Z são correlações entre as
variáveis. As linhas externas e internas do triângulo representam as
correlações entre os parâmetros analisados e a correlação com a
ingestão real, respectivamente. Adaptado de Willett, 1998.
a = ((Y x X) / Z)
b = ((X x Z) / Y)
c = ((Z x Y) / X)
Y
Z
a
c
b
A
C B
X
Ingestão
real
46
QFCA (131 itens), com intervalo de um ano entre cada aplicação e foram
coletadas amostras de sangue para análise de triacilgliceróis e colesterol
plasmático. Apenas indivíduos fumantes (n=11) foram excluídos das
análises bioquímicas e não houve controle de idade dos participantes,
tampouco controle de outros parâmetros que poderiam influenciar nos
níveis de lipídios plasmáticos. Houve correlação positiva entre os níveis de
triacilgliceróis e colesterol total plasmáticos dos voluntários que consumiam
a dieta ocidental, rica em colesterol e AGS. Por outro lado, houve
correlação negativa entre os mesmos parâmetros plasmáticos dos
voluntários que consumiam uma dieta adequada, com baixos teores de
colesterol e AGS.
Woo et al.
35
, em um estudo semelhante ao de Hu et al.
41
,
encontraram correlação positiva entre o consumo de lipídios totais com os
níveis plasmáticos de HDL (p0,05). Assim também, entre a ingestão de
AGS com os níveis plasmáticos de HDL (p0,01) e correlação negativa
entre consumo de AGS e triacilgliceróis plasmáticos (p0,05). Os
pesquisadores encontram poucas associações significantes entre a
ingestão e os níveis plasmáticos de lipídios, porém concluíram que o
QFCA desenvolvido é satisfatório em estudos de avaliação do consumo
alimentar para a população analisada.
Em um estudo na Costa Rica, envolvendo 503 indivíduos,
correlacionou-se a média de consumo de alimentos relatada em QFCA
com 50 amostras de tecido adiposo dos participantes. Após os ajustes para
idade, sexo, índice de massa corporal e tabagismo o coeficiente de
correlação foi calculado. De acordo com os resultados o ácido graxo C15:0
e C17:0 apresentaram-se como os melhores marcadores para avaliação da
ingestão de AGS e para produtos lácteos. Os ácidos graxos da série n-6
consumidos apresentaram correlações significantes com os encontrados
no tecido adiposo: C18:2 (r=0,58) e C18:3 (r=0,24). Para os ácidos graxos
trans os melhores indicadores foram o C18:2ct n-6 e C18:2tc n-6
42
.
Lemaitre et al.
43
também encontraram correlação significantes de 0,67,
para homens, e de 0,58, para mulheres, entre o total de ácidos graxos
trans encontrados no tecido adiposo e a ingestão de trans, relatada em
QFCA. Após os ajustes para ingestão energética, idade e índice de massa
47
corporal a correlação elevou-se para homens (r=0,76) e reduziu-se para
mulheres (r=0,52).
Fornés et al.
44
em um estudo no Brasil, avaliaram a associação a
freqüência de consumo de grupos de alimentos com os níveis séricos de
lipoproteínas, em adultos. Os dados apresentaram uma correlação positiva
e significante para o consumo de carne processada, frango, carne
vermelha, ovos e produtos lácteos com os níveis de LDL. Por outro lado, o
consumo diário de frutas e vegetais foram envolvidos na redução da LDL.
Em 2002, Fornés et al.
45
, compararam os valores médios de lipoproteínas
com os escores quintilares de alimentos considerados de risco para DAC
(R) e escores quintilares de alimentos considerados protetores para DAC
(P). Observou-se um aumento significante dos níveis de colesterol total e
LDL relacionados ao consumo de R e de forma inversa e significante para
o consumo de P. Romon et al.
46
sugeriram que o conteúdo de ácido oléico
presente em eritrócitos é um marcador para avaliar a ingestão real de
ácidos graxos saturados e monoinsaturados.
No estudo de Vriese et al.
47
foi avaliada a ingestão de AGP durante
o primeiro e terceiro trimestre de gravidez e sua relação com os teores de
fosfolipídios presentes no plasma materno e umbilical. Verificaram
correlação positiva entre o ácido linoléico, eicosapentaenócio (EPA) e
docosahexaenóico (DHA) do plasma materno com a ingestão desses
ácidos graxos durante o período de gravidez. Da mesma forma, no plasma
umbilical, houve correlação entre a presença de EPA e do total de ácidos
graxos da série n-6 com a ingestão materna desses ácidos graxos. Porém,
não houve correlação entre o consumo materno de ácidos graxos
essenciais (C18:2 e C18:3) e sua presença no plasma umbilical.
2.2.9. Conclusão
Os erros presentes nos estudos envolvendo consumo alimentar são
inerentes ao próprio método utilizado (instrumentos dietéticos), aos fatores
presentes no delineamento do estudo, ao tamanho amostral, à
heterogeneidade dos padrões de consumo alimentar, destacando-se a
variabilidade intrapessoal, e relacionados às análises dos dados. Porém,
os estudos contam com o auxilio de modelos estatísticos que permitem
48
minimizar tais erros, aproximando o que foi relatado à ingestão real do
indivíduo.
O questionário de freqüência de consumo alimentar é um
instrumento eficaz para avaliar o consumo passado de lipídio alimentar,
desde que seja validado com instrumentos de referência, como o
recordatório de 24 horas ou registro alimentar. No entanto, tais
instrumentos também devem ser validados para o grupo populacional que
se deseja estudar.
A utilização de biomarcadores, presentes no plasma e em tecidos, é
uma excelente contribuição para os estudos de avaliação da ingestão de
lipídios, visto que, alguns deles podem correlacionar-se ao
desenvolvimento ou à prevenção de doenças crônico-degenerativas não
transmissíveis.
Devido às dificuldades de se avaliar o consumo alimentar de um
indivíduo e devido à necessidade de planejamento de estratégias de
intervenção nutricional para combater as doenças relacionadas ao elevado
consumo de lipídios, esforços devem ser feitos para o aprimoramento das
técnicas de avaliação deste consumo em populações.
Assim, o estímulo ao uso de biomarcadores em estudos
epidemiológicos, que reflitam com maior acurácia a ingestão real,
associados a instrumentos dietéticos validados para a população em
estudo é uma estratégia para otimizar a avaliação do consumo lipídico.
2.2.10. Referências Bibliográficas
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53
3. OBJETIVOS
3.1. Geral
Avaliar a evolução da composição de ácidos graxos do leite humano
no primeiro trimestre de lactação e sua relação com a alimentação materna
e com o crescimento do recém-nascido.
3.2. Específicos
Determinar a evolução do conteúdo em ácidos graxos do leite
humano durante o período de lactação.
Verificar a associação entre composição em ácidos graxos do leite
humano com variáveis maternas (período de lactação, escolaridade,
idade, tipo de parto, paridade e etnia) e dos recém-nascidos (peso
ao nascer, ganho de peso e idade gestacional).
Investigar o perfil de ácidos graxos dos alimentos consumidos pelas
nutrizes durante o período de estudo.
Correlacionar os teores de lipídios totais, de energia e de ácidos
graxos do leite humano com os mesmos parâmetros consumidos
pelas nutrizes.
54
4. METODOLOGIA GERAL
4.1. DELINEAMENTO DO ESTUDO
Trata-se de um estudo prospectivo, longitudinal, de seleção
incompleta, observacional e tendo como unidade de estudo o indivíduo.
4.2. CASUÍSTICA
Foram recrutadas 272 nutrizes no pós-parto imediato e seus
respectivos recém-nascidos, no período de 01 de outubro a 10 de
dezembro de 2005. A maioria dos pares mãe/filho (57%) não participou do
estudo por morarem na zona rural de Viçosa ou em outros municípios e
18% dos indivíduos não aceitaram participar ou já haviam recebido alta
hospitalar no momento do recrutamento. Aproximadamente 3% das mães
não puderam participar do estudo por apresentar alguma enfermidade,
sendo observadas, principalmente, diabetes, pré-eclampsia e distúrbios
neurológicos. Cerca de 6% dos recém-nascidos não puderam ser incluídos
no estudo por apresentar baixo peso, por ser pré-termo ou por estar retido
na Unidade de Tratamento Intensiva.
Do total de indivíduos aptos a participar, 8 mães não quiseram
continuar ou a mãe não conseguia amamentar ou a criança retornou ao
hospital para algum tipo de tratamento. Assim, 33 pares mães/filhos
(12,1%) foram acompanhados até o terceiro mês pós-parto.
55
O estudo foi realizado nos setores de Alojamento Conjunto e
Programa de Apoio à Lactação (PROLAC) do Hospital São Sebastião,
Viçosa – MG;
4.2.1. Critérios de inclusão e exclusão
Foram adotados critérios de inclusão para conferir maior
homogeneidade a amostra e os de exclusão que justificariam alterações na
produção do leite, que poderiam causar viés ao estudo, e devido a
aspectos éticos.
Os seguintes critérios de inclusão foram adotados:
Ausência de enfermidades crônicas antes ou durante a gestação;
Idade gestacional entre 37 e 42 semanas;
Parto único;
Mulheres residentes na zona urbana do município de Viçosa.
Como critérios de exclusão foram considerados:
Retenção do recém-nascido na Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal ou Berçário Intermediário;
Bebês portadores de anomalias congênitas;
Baixo peso ao nascer (< 2500g)
Mulheres fumantes;
4.3. MÉTODO
4.3.1. Coleta de dados
Inicialmente, propôs-se acompanhar as mulheres no pós-parto
imediato e aos 7, 30, 60 e 90 dias subseqüentes ao parto, tendo um desvio
padrão igual a ± 1. Entretanto, esse acompanhamento foi feito o mais
próximo possível das datas previstas, de acordo com a disponibilidade da
população (Quadro 1).
56
Quadro 1: Períodos de acompanhamento pós-parto dos pares
mãe/filho, Viçosa – MG.
Encontros
Idade de recém-nascido correspondente ao dia do
acompanhamento de cada par mãe/filho
X ± DP Mi
1,1 ± 0,4 1
8,3 ± 3,1 7
35,5 ± 8,3 32
63,5 ± 6,3 62
94,4 ± 6,4 91
X: média; DP: desvio padrão; Mi: mediana
Os procedimentos adotados nos 5 encontros são descritos abaixo:
1º encontro:
As mulheres, atendidas no setor particular e do Sistema Único de
Saúde do Hospital São Sebastião, foram convidadas a participar do estudo
e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para sua
inclusão e a de seu filho na amostra (Anexo 1), previamente aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, da Universidade
Federal de Viçosa. Após, prosseguiu-se com a coleta de dados com
informações auto-referidas e com busca em prontuários:
Aplicação de uma entrevista estruturada (Anexo 2) contendo
informações pessoais, caracterização socioeconômica, condições de
habitação, dados obstétricos e gestacionais, dados do recém-nascido e
dados da nutriz.
Verificação do tipo de aleitamento do lactente (Anexo 2);
Neste primeiro encontro não foi realizada a avaliação antropométrica
do recém-nascido, pois tais dados foram obtidos dos prontuários de suas
respectivas mães;
Aferição do peso e estatura maternos;
Aplicação do inquérito de Ingestão Habitual (Anexo 3) para avaliar o
hábito alimentar recente;
57
Aplicação do primeiro Questionário de Freqüência de Consumo
Alimentar (Anexo 4) e Lista de Disponibilidade de Alimentos (Anexo 5) para
avaliar o hábito alimentar recente;
Coleta do leite humano;
Agendamento para o 2º encontro.
2º encontro:
As mulheres e seus filhos foram atendidos em seus respectivos
domicílios ou no Centro de Saúde da Mulher e da Criança da Prefeitura
Municipal de Viçsa – MG, quando a mãe levava seu filho para fazer o
Teste do Pezinho (5º ao 11º dia pós-parto).
Verificação do tipo de aleitamento do lactente;
Avaliação antropométrica do recém-nascido;
Aferição do peso materno;
Aplicação do primeiro Recordatório de 24 Horas (Anexo 6);
Coleta do leite humano;
Agendamento para o 3º encontro.
O 3º, 4º e 5º atendimento de cada par mãe/filho foi realizado
preferencialmente no Programa de Apoio à Lactação (PROLAC), porém
quando a mãe não podia comparecer foi realizado atendimento domiciliar.
3º encontro:
Verificação do tipo de aleitamento do lactente;
Avaliação antropométrica do recém-nascido;
Aferição do peso materno;
Aplicação do segundo Recordatório de 24 Horas (Anexo 6);
Coleta do leite humano;
Agendamento para o 4º encontro.
4º encontro:
Verificação do tipo de aleitamento do lactente;
Avaliação antropométrica do recém-nascido;
58
Aferição do peso materno;
Aplicação do terceiro Recordatório de 24 Horas (Anexo 6);
Coleta do leite humano;
Agendamento para o 5º encontro.
5º encontro:
Verificação do tipo de aleitamento do lactente;
Avaliação antropométrica do recém-nascido;
Aferição do peso materno;
Aplicação do quarto Recordatório de 24 Horas (Anexo 6);
Aplicação do segundo Questionário de Freqüência de Consumo
Alimentar (Anexo 4) e Lista de Disponibilidade de Alimentos (Anexo 5)
relativo aos 3 últimos meses;
Coleta do leite humano.
Apesar da característica do estudo ser do tipo observacional em
todos os atendimentos foi incentivado o aleitamento materno exclusivo,
bem como, foi enfocada a importância de uma alimentação saudável. Esta
conduta foi adotada devido aos aspectos éticos, porém não foi oferecido à
nutriz qualquer tipo de plano alimentar.
4.4. ANTROPOMETRIA
As técnicas para obtenção do peso e comprimento do lactente e do
peso e estatura maternos foram as propostas por Jelliffe (1966).
Peso do lactente
Foi verificado com balança pediátrica com capacidade de 16 kg e
divisão de 10g.
Comprimento do lactente
Foi verificado em antropômetro infantil, com extensão de 150 cm,
dividido em centímetros e subdividido em milímetros.
59
Peso materno
Foi obtido pela pesagem em balança eletrônica, da marca TANITA®,
com capacidade de 150 kg e divisão de 50g.
Estatura materna
Foi obtida com o auxílio de um estadiômetro, com extensão de dois
metros, dividido em centímetros e subdividido em milímetros, com visor
plástico e esquadro acoplado a uma de suas extremidades.
Índice de Massa Corporal
A partir das medidas de peso e estatura da nutrizes, foi calculado o
Índice de Massa Corporal (IMC), que representa a relação kg/m
2
(WHO,
1995).
4.5. AVALIAÇÃO DIETÉTICA
Foram aplicados, individualmente, os seguintes inquéritos
alimentares: Questionário de Ingestão Habitual (IH), Questionário de
Freqüência de Consumo Alimentar (QFCA), Recordatório de 24 Horas
(R24H) e Lista de Disponibilidade de Alimentos (LDA).
Os instrumentos dietéticos foram aplicados por 5 observadores,
sendo dois nutricionistas e três estudantes do curso de Nutrição. Todos os
observadores foram previamente treinados para tal finalidade.
4.5.1. Recordatório de 24 horas
O R24H foi aplicado em quatro encontros: 2º, 3º, 4º e 5º.
As voluntárias foram orientadas a relatarem todos os alimentos
sólidos e líquidos, com exceção de água, consumidos no dia anterior,
informando os horários de consumo e as quantidades em medidas
caseiras ou unidades (Serra-Majem & Aracenta-Bartrina, 1995).
4.5.2. Questionário de Ingestão Habitual
O IH foi aplicado uma única vez, no período em que a nutriz
permaneceu no hospital, ou seja, no 1º encontro.
60
Semelhante ao R24H, as voluntárias foram orientadas a relatarem
todos os alimentos sólidos e líquidos, com exceção de água, consumidos
em sua alimentação habitual, informando os horários de consumo e as
quantidades em medidas caseiras ou unidades (Serra-Majem & Aracenta-
Bartrina, 1995).
4.5.3. Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar
O QFCA foi desenvolvido para este estudo e foi elaborado a partir
de um levantamento em supermercados, do município de Viçosa, dos
principais alimentos ricos em lipídios e que eram consumidos
freqüentemente pela população do município.
O formato do instrumento compreende um questionário com 70 itens
alimentares. Estabeleceram-se 11 unidades de tempo como categorias de
resposta à freqüência do consumo alimentar, sendo: uma vez por dia, duas
vezes por dia, de 1 a 6 vezes por semana, quinzenal, mensal e não
consome / raramente. O QFCA foi do tipo semi-quantitativo, contendo
informações quanto à quantidade consumida dos alimentos listados.
Essas características do instrumento foram estabelecidas com o
objetivo de promover maior aproximação do consumo real, possibilitando o
relato de alimentos do padrão alimentar da população, da freqüência
consumida e da quantidade.
O QFCA foi aplicado em dois momentos do estudo: no 1º encontro o
QFCA foi aplicado, com o objetivo de avaliar o consumo alimentar da nutriz
no período gestacional, e no 5º encontro, com o objetivo de avaliar o
consumo alimentar nos três meses subseqüentes ao parto.
4.5.4. Lista de Disponibilidade de Alimentos
A LDA foi aplicada juntamente com o QFCA, ou seja, no 1º e 5º
encontros, considerando a freqüência de compra/aquisição/doação de
gêneros alimentícios pela família e considerando sua quantidade. Para o
cálculo da quantidade disponível para o consumo bruto per capita diário, foi
dividida a quantidade mensal de alimentos pelo número de moradores da
casa, maiores que 1 ano, e pelo número de dias do respectivo mês.
61
O formato da LDA compreende um questionário contendo 8
alimentos que são de difícil avaliação do consumo, tanto dos entrevistados
quanto dos entrevistadores. Destes alimentos, 6 são fontes importantes de
lipídios (óleo, gordura vegetal parcialmente hidrogenada, banha animal,
manteiga, margarina e torresmo) e 2 alimentos (açúcar e sal), que apesar
de não serem fontes lipídicas, são frequentemente utilizados para
caracterização do consumo alimentar de uma população.
Estabeleceram-se como adequadas, para óleo e açúcar, as
quantidades per capita diárias propostas pelo guia da pirâmide alimentar
adaptada à população brasileira, sendo 2 colheres de sopa de óleo (16 mL)
e açúcar (56g) (Philippi et al, 1999). Para o sal estabeleceu-se como
adequada a proposta da I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento
da Síndrome Metabólica, sendo 6 g/dia (Sociedade Brasileira de
Cardiologia, 2005).
4.5.5. Recursos visuais
Foram utilizados como recursos visuais um álbum fotográfico
(Zabotto et al., 1996) e medidas caseiras, para auxiliar na estimativa da
quantidade de alimentos e das porções relatadas.
Os utensílios para medidas caseiras utilizados foram:
62
Caneca
Colher de Café
Colher de Chá
Colher de Servir Grande
Colher de Servir Média
Colher de Servir Pequena
Colher de Sobremesa
Colher de Sopa
Colher para sorvete
Concha Grande
Concha Pequena
Copo Americano
Copo de Massa de Tomate
Copo de Requeijão
Copo Duplo
Copo Duplo Americano
Escumadeira Grande
Escumadeira Pequena
Faca de Mesa Arredondada
Faca de Mesa Pontiaguda
Garfo de Mesa
Garfo de Sobremesa
Pegador de Macarrão
Pires de Chá
Prato de Sobremesa
Prato Fundo
Prato Raso
Xícara de Café
Xícara de Chá
4.5.6. Padronização e conversão das medidas caseiras
A padronização e conversão das quantidades em medidas caseiras
e/ou unidades relatadas pelas nutrizes em peso e volume, foram realizadas
segundo Barbosa (2006).
Os cálculos dietéticos foram realizados utilizando-se o programa de
análises de dietas DietPro®, versão 4.0 (Esteves et al, 1998).
4.5.7. Adequação dietética
Analisou-se a partir dos instrumentos dietéticos: energia, proteína,
carboidrato, lipídios totais, colesterol e ácidos graxos.
A adequação de energia foi avaliada segundo a Estimated Energy
Requirement (EER) do Instituto de Medicina (2002). Para avaliar o
percentual de proteína, carboidrato, lipídios totais, colesterol, ácidos graxos
saturados, monoinsaturados e poliinsaturados em relação a Valor
Energético Total (VET); utilizou-se a proposta I Diretriz Brasileira de
Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (2005).
63
4.6. COLETA DO LEITE HUMANO
A coleta do leite humano foi realizada por ordenha manual em todos
os 5 encontros, de acordo com as técnicas preconizadas pela Rede
Nacional de Bancos de Leite Humano (http://www.redeblh.fiocruz.br/).
Foram retirados até 5 mL de leite humano em cada coleta, de acordo com
a disponibilidade materna. O período de cada coleta está descrito no
Quadro 1.
O colostro, correspondente ao 1º encontro, foi coletado durante a
internação hospitalar, no momento e em quantidade que não prejudicasse
a alimentação do recém-nascido.
O leite de transição, correspondente ao 2º encontro, foi coletado no
domicílio de cada par mãe-filho ou quando a mãe levava o recém-nascido
para a realização do teste do pezinho no Centro de Saúde da Mulher e da
Criança do município de Viçosa – MG, após uma mamada com duração
entre 10 e 15 minutos.
O leite maduro, encontros 3º, 4º e 5º, foram coletados durante as
consultas agendadas no Programa de Apoio à Lactação (PROLAC), após
uma mamada com duração entre 10 e 15 minutos.
4.7. ANÁLISES LABORATORIAIS
A análise do teor de gordura e de energia foi realizada no setor de
Banco de Leite Humano do Hospital São Sebastião, Viçosa – MG.
A extração e a determinação de ácidos graxos foram realizadas no
Laboratório de Análises Bioquímicas e de Alimentos e no Laboratório de
Nutrição Experimental do Departamento de Nutrição e Saúde da
Universidade Federal de Viçosa.
4.7.1. Análise do teor de gordura e de energia do leite humano
Após a coleta do leite humano foi realizada determinação do teor de
creme pela técnica do crematócrito, originalmente descrita por Lucas et al.
(1978) e adaptada para a rotina operacional da Rede Nacional de Bancos
de Leite Humano (http://www.redeblh.fiocruz.br/).
64
Os capilares contendo uma alíquota variável de leite foram
centrifugados, por 15 minutos, em uma centrífuga micro-hematócrito da
marca Evlab® a 11.500 rotações por minuto. A centrifugação provoca a
separação do creme e do soro do leite, em que o creme ocupa a parte
posterior do capilar e corresponde à fração de coloração mais densa,
enquanto o soro apresenta-se abaixo do creme.
Para mensurar o teor de creme utilizou-se o cremômetro, que
consiste de uma régua milimetrada e de uma lupa acoplados a uma
lâmpada para leitura capilar. Foi mensurado o comprimento da coluna de
creme (mm) e da coluna total do produto (coluna de creme e coluna de
soro, expressos em mm). Após a mensuração, o leite foi armazenado a -
20°C até o momento da extração lipídica.
De posse desses valores, utilizou-se a seguinte fórmula para estimar
o percentual creme do leite (http://www.redeblh.fiocruz.br/):
Teor creme (%) = [Coluna de creme (mm) / Coluna total de produto (mm)] x 100
A partir do teor de creme pode-se estimar o teor de gordura e teor
de energia, de acordo com as seguintes fórmulas
(http://www.redeblh.fiocruz.br/):
Teor de gordura (%) = [Teor creme (%) – 0,59] / 1,46
Energia (Kcal/litro) = 66,8 x Teor de creme (%) + 290
O teor de gordura foi convertido para teor de lipídios totais (g/100mL
de leite) e o teor de energia foi expresso em kcal/litro de leite. Tais
procedimentos foram realizados em duplicatas e utilizaram-se as médias
para as análises estatísticas.
4.7.2. Extração de ácidos graxos do leite humano
A utilização dessa metodologia para extração de ácidos graxos se
justifica devido à sua rapidez, por requerer pequenas quantidades de
amostra e, principalmente, por ser uma técnica que permite uma melhor
extração de ácidos graxos do leite humano, com um aumento de 15,8% na
65
concentração de ácidos graxos, em relação à clássica técnica de Folch
(1957) (Lepage & Roy, 1986).
A extração dos ácidos graxos foi feita segundo a metodologia de
trans-esterificação direta, proposta por Lepage & Roy (1986), de acordo
com o seguinte protocolo:
1) As amostras foram agitadas em Vórtex e 100µL de leite materno
foi adicionado em um tubo de vidro;
2) Adicionou-se à amostra 2mL de álcool metílico P.A. (Vetec®) –
benzeno (Labsynth®) na proporção de 4:1 e 100µg de padrão interno -
C13:0 (Sigma-Aldrich®), previamente pesado e dissolvido à solução de
metanol-benzeno;
3) Acrescentou-se uma pequena barra magnética ao tubo;
4) Sob agitação, adicionou-se vagarosamente, por um período de 1
minuto, 200µL de cloreto de acetila (Vetec®);
5) Retirou-se a barra magnética do tubo com o auxílio de uma pinça;
6) Os tubos foram fechados com tampa de rosca, revestida com
Teflon®;
7) Os tubos foram levados para o processo de metanólise a 100º C,
por um período de 60 minutos;
8) Transcorrido esse tempo, os tubos foram esfriados em água
ambiente, por um período de 3 minutos;
9) Adicionou-se vagarosamente 5mL de K
2
CO
3
P.A. (Vetec®) a 6%
com o objetivo de neutralizar a mistura;
10) Os tubos foram agitados em um agitador de tubos por 30
segundos;
11) Os tubos foram centrifugados a 2.500 rotações por minuto, por
um período de 10 minutos;
12) Com o auxílio de uma pipeta de Pasteur transferiu-se o
sobrenadante para um tubo âmbar, o qual foi armazenado a -20°C até o
momento da determinação de ácidos graxos.
66
4.7.3. Determinação e identificação dos ácidos graxos do leite
humano
O perfil de ácidos graxos do leite humano foi determinado em
cromatografia a gás, utilizando um aparelho Shimadzu Modelo 17A,
equipado com um detector de ionização de chama e software Class-CG 10
versão 2.0. Os ácidos graxos foram separados em coluna cromatográfica
de sílica fundida SP-2560 (biscianopropil polysiloxane) de 100m de
comprimento e 0,25mm de diâmetro. A temperatura inicial da coluna foi de
100°C com aquecimento de 10°C por minuto até atingir a temperatura de
180°C e então aquecimento de 1ºC por minuto até atingir a temperatura de
240ºC, permanecendo nessa temperatura por 10 minutos. A temperatura
do injetor foi de 250°C e a do detector de 270°C. O gás de arraste foi o
hidrogênio (Aga®) com velocidade linear de 14,8 cm/seg. A razão de
divisão da amostra no injetor foi de 1:40. Injetou-se 1µL da solução.
Os ácidos graxos das amostras foram identificados por comparação
entre o tempo de retenção dos picos gerados com o tempo de retenção
dos picos da mistura de 37 ésteres metílicos (C4:0 – C22:6) (Supelco®,
Bellefonte, PA, USA), utilizados como padrão externo.
4.7.4. Quantificação dos ácidos graxos do leite humano
A quantificação dos ácidos graxos procedeu-se segundo
Satchithanandam et al. (2002), em que se empregam fatores de correção e
de conversão para aproximação do teor real, em peso, dos ácidos graxos
da amostra. Os passos para a quantificação adotada foram os seguintes:
a) Padronização e calibração do cromatógrafo a gás – cálculo do
fator resposta (FR) para cada ácido graxo do padrão externo, em relação
às condições do cromatógrafo:
67
FR = (APE) (P
C13:0
) / (A
C13:0
) (PPE)
Onde: APE = área do pico de cada ácido graxo do padrão externo;
P
C13:0
= peso (mg) de C13:0 do padrão externo; A
C13:0
= área do pico de
C13:0 do padrão externo; PPE = peso (mg) de cada ácido graxo do padrão
externo (Quadro 2).
b) Cálculo do teor de cada ácido graxo (TAG) da amostra,
correspondendo a ésteres metílicos:
TAG = (AA) (PA
C13:0
) (1,006) / (AA
C13:0
) (FR)
Onde: AA = área do pico de cada ácido graxo da amostra; PA
C13:0
=
peso (mg) do padrão interno (C13:0) adicionado na amostra (neste estudo
foi de 100µg); 1,006 = fator de conversão de C13:0 na forma de
triacilglicerol para C13:0 na forma de éster metílico; AA
C13:0
= área do pico
do padrão interno (C13:0) adicionado na amostra; FR = fator resposta para
cada ácido graxo.
c) Cálculo do teor de cada ácido graxo, ajustado de acordo com os
fatores de conversão teóricos (DeVries et al., 1999) (Quadro 2) para cada
ácido graxo (TAGFC):
TAGFC = (TAG) (FC)
Onde: TAG = teor de cada ácido graxo, correspondendo a ésteres
metílicos; FC = fator de conversão teórico para cada ácido graxo.
O teor de ácido graxo pode ser expresso em mg / 100µL de leite,
porém neste estudo optou-se por expressar o teor de ácidos graxos em mg
/ 100mg de gordura, ou seja, mg%; como efetuado pela regra de 3 simples,
do próximo cálculo:
68
d) Cálculo do teor de ácido graxo em mg% (TAG mg%):
Onde: PG = peso (mg) de gordura de cada amostra, obtida pela
análise de crematócrito; 100 mg = fração correspondente a 100%; TAGFC
= teor de cada ácido graxo, após ajuste com os fatores de conversão
teóricos.
4.8. ANÁLISE ESTATÍSTICA
Devido ao tamanho amostral e à assimetria das variáveis optou-se
por utilizar testes não paramétrico.
Utilizou-se a Análise de Variância por postos de Friedman para
acompanhar a evolução dos percentuais de ácidos graxos, de lipídios
totais e de energia nos cinco momentos do estudo (1, 7, 32, 62 e 91 dias
pós-parto). Para os resultados que apresentaram diferença
estatisticamente significante (p<0,05) complementou-se com o teste de
Comparações Múltiplas de Dunn.
O teste de Mann-Whitney foi aplicado para comparar o nível de
escolaridade ( 8 e 8 anos de estudo), peso ao nascer ( 2999 e 3000
g), tipo de parto (cesária ou normal), paridade (primípara ou multípara) com
os percentuais médios de ácidos graxos, lipídios totais e energia do leite
humano.
Utilizou-se o teste de Kruskall Wallis para relacionar a etnia
observada das nutrizes com as médias de ácidos graxos, de lipídios totais
e de energia. Quando os resultados apresentaram diferença estatística
(p<0,05) complementou-se com o teste de Comparações Múltiplas de
Dunn.
O teste de Spearman foi utilizado para correlacionar entre si as
quantidades médias de ácidos graxos essenciais, de n-6, de n-3, de ácido
araquidônico, de ácidos graxos poliinsaturados totais e de ácidos graxos
TAGFC PG
TAG mg% 100 mg
69
totais. Esse mesmo teste foi utilizado para correlacionar a idade
gestacional, a média de ganho de peso por período de estudo (1 e 7 dias,
7 e 32 dias; 32 e 62 dias e 62 e 91 dias) com as médias de ácidos graxos,
de lipídios totais e de energia.
Foi utilizado o teste de Spearman para correlacionar as médias de
consumo de ácidos graxos, de lipídios totais, de carboidrato e de energia
dos quatro R24H com os percentuais médios desses mesmos parâmetros,
exceto de carboidratos, presentes no leite humano. O mesmo teste foi
empregado para correlacionar as quantidades médias, em g ou em mL, de
alimentos do QFCA e da LDA com as médias de ácidos graxos essenciais,
bem como de saturados, de monoinsaturados, de poliinsaturados, de
ácidos graxos trans, de lipídios totais e de energia presentes no leite.
Para a compilação dos dados utilizou-se o programa Excell e para
as análises estatísticas foi utilizado o programa Sigma Statistic® for
Windows versão 2.03 (Fox et al., 1994). O nível de rejeição para a hipótese
de nulidade, para todos os testes aplicados, foi de 0,05.
70
Quadro 2: Característica do padrão externo de ésteres metílicos
(Supelco®, Bellefonte, PA, USA) e valores dos fatores de conversão para
ácidos graxos livres.
Padrão de ésteres metílicos
Pico
Cadeia
Carbônica
Ácido Graxo
Quantidade
mg/mL
Fator de
Conversão
1 C4:0 Butírico 0,4 ND*
2 C6:0 Capróico 0,4 0,8923
3 C8:0 Caprílico 0,4 0,9114
4 C10:0 Cáprico 0,4 0,9247
5 C11:0 Undecanóico 0,2 ND*
6 C12:0 Láurico 0,4 0,9346
7 C13:0 Tridecanóico 0,2 0,9386(PI)
8 C14:0 Mirístico 0,4 0,9421
9 C14:1 Miristoléico 0,2 0,9416*
10 C15:0 Pentadecanóico 0,2 0,9453
11 C15:1 cis-10-Pentadecenóico 0,2 ND*
12 C16:0 Palmítico 0,6 0,9481
13 C16:1 Palmitoléico 0,2 0,9477
14 C17:0 Hepatadecanóico 0,2 0,9507
15 C17:1 cis-10-Heptadecenóico 0,2 0,9503
16 C18:0 Esteárico 0,4 0,9530
17 C18:1trans Elaídico 0,2 0,9526
18 C18:1 Oléico 0,4 0,9527
19 C18:2trans Linoelaídico 0,2 0,9524*
20 C18:2n-6 Linoléico 0,2 0,9524
21 C20:0 Araquídico 0,4 0,9570
22 C18:3n-6 Gama-Linolênico 0,2 0,9520
23 C20:1 cis-11-Eicosenóico 0,2 0,9568
24 C18:3n-3 Alfa-linolênico 0,2 0,9520
25 C21:0 Heneicosanóico 0,2 ND
26 C20:2 Eicosadienóico 0,2 0,9604**
27 C22:0 Behênico 0,4 0,9604
28 C20:3n-6 Eicosatrienóico 0,2 0,9950**
29 C22:1n-9 Erúcico 0,2 ND*
30 C20:3n-3 Eicosatrienóico 0,2 0,9950**
31 C20:4n-6 Araquidônico 0,2 0,9950
32 C23:0 Tricosanóico 0,2 ND*
33 C22:2n-6 Docosadienóico 0,2 0,9633**
34 C24:0 Lignocérico 0,4 0,9633
35 C20:5n-3 Eicosapentaenóico 0,2 0,99***
36 C24:1n-6 Nervônico 0,2 0,9632
37 C22:6n-3 Docosahexaenóico 0,2 0,97***
ND = Não determinado por DeVries et al. (1999); PI = utilizado como padrão
interno; * Não utilizado para os cálculos neste estudo, devido a não determinação
do ácido graxo; ** Não determinado por DeVries et al. (1999). Neste estudo,
utilizou-se o mesmo fator de conversão do ácido graxo mais próximo; ***
Determinado por AOCS (1993).
71
4.9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. AOCS Official Method Ce 1b-89. Sampling and analysis of
commercial fats and oils: Fatty acid composition by GLC. 1993.
2. Barbosa KBF. Métodos para avaliação do consumo alimentar e sua
relação com marcadores de risco para a síndrome metabólica em
adolescentes do sexo feminino. Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Viçosa. Viçosa, MG. 2006. 228p.
3. Devries Wj, Kjos I, Groff l, Martin B, Cernohous K, Patel H, Payne M,
Leichtweis L, Shay M, Newcomer I Studies in Improvement of Official
Method 996.06. Journal of AOAC International 1999;82(5):1146-1155.
4. Esteves EA, Siqueira AD, Monterio JBR, Ludwig A. Sistema de
apoio à decisão para avaliação do estado nutricional e prescrição de
dietas. Archivos Lationamericanos de Nutrición. 1998;48:236-241.
5. Fox E, Kuo J, Tilling L, Ulrich C. User’s manual – Sigma Stat:
Statistical Software for Windows. Germany: Jandel Scientific Software,
1994.
6. I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome
Metabólica. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 2005;84(Supl I).
7. Jelliffe DB. The assessment if the nutrition status of the community.
Geneva, WHO, 1966.
8. Lepage G, Roy CC. Direct transesterification of all classes of lipids in
one-step reaction. J Lipid Res 1986;27:114-120.
9. Lucas A, Gibs JAH, Lyster RLJ, Baun JD. Crematocrit: simple clinical
technique for estimating fat concentration and energy value of human milk.
Br Med J 1978;1:1018-20.
10. Phillippi ST, Latterza AR, Cruz ATR, Ribeiro LC. Pirâmide alimentar
adaptada: guia para a escolha dos alimentos. Revista de Nutrição
1999;12(1): 65-80.
11. Rede Nacional de Bancos de Leite Humano. Disponível em
http://www.redeblh.fiocruz.br/.
72
12. Satchithanandam S, Fritsche J, Rader J. Gas chromatographic
Analysis of infant formulas for total fatty acids, includind trans fatty acids.
Journal of AOAC International 2002;85(1): 86-94.
13. Serra-Majem L, Aracenta-Bartrina J. Introducióm a la epimiologia
nutricional. In: SERRA-MAJEM, L.; ARACENTA-BARTRINA, J.; MATAIX-
VERDÚ, J. Nutrición y Salud Pública. Barcelona: Masson, 59-65, 1995.
14. Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Brasileira de
Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica. Arquivos Brasileiros de
Cardiologia 2005;84(Supl 1).
15. World Health Organization. Physical status: The use and
interpretation of anthropometry. Geneva, WHO, 1995. (Technical Report
Series, 854).
16. Zobotto CB, Viana RPT, Gil MF. Registro fotográfico para inquéritos
dietéticos: utensílios e porções. Campinas, SP: UNICAMP; Goiânia: UFG,
1996. 74p.
73
5) RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
5.1.2. Recrutamento
Dos 272 pares mãe/filho recrutados 92,65% (252 pares) foram
atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS); 56,99% das gestantes
tiveram partos normais e 52,63% eram multíparas. Do total de filhos
52,63% era do sexo masculino. A idade da mãe no parto, o peso e o
comprimento ao nascer estão caracterizados no Quadro 1.
Quadro 1: Idade materna no parto, peso ao nascer (PN) e comprimento
ao nascer (CN) dos indivíduos da fase de recrutamento (n=272)
Variáveis X (DP) Mediana Min Max
Idade materna (anos) 25 (±6) 24 15 41
Peso ao nascer (g) 3130 (±521) 3185 2535 3920
Comprimento ao nascer (cm) 49,1 (±2,6) 49 46,0 54,5
X: média; DP: desvio padrão; Min: mínimo; Max: máximo
A Figura 1 caracteriza os indivíduos de acordo com os critérios de
inclusão e exclusão adotados. Observa-se que a maioria dos pares
mãe/filho (57%) não participou do estudo por morarem na zona rural de
Viçosa ou em outros municípios e 18% dos indivíduos não aceitaram
participar ou já haviam recebido alta hospitalar no momento do
recrutamento. Aproximadamente 3% das mães não puderam participar do
74
estudo por apresentar alguma patologia, sendo observadas,
principalmente, diabetes, pré-eclampsia e distúrbios neurológicos. Cerca
de 6% dos recém-nascidos não puderam ser incluídos no estudo por
apresentar baixo peso, por ser pré-termo ou por estar retido na Unidade de
Tratamento Intensiva. Não foi encontrada nenhuma mãe praticante do
vegetarianismo.
5.1.3. Indivíduos estudados
Do total de indivíduos aptos em participar (41 pares mãe/filho) 8 não
quiseram continuar ou a mãe não conseguia amamentar ou a criança
retornou ao hospital para algum tratamento, o que inviabilizou a
permanência desses indivíduos no estudo. Portanto, foram acompanhados
33 pares mãe/filho do pós-parto imediato aos 90 dias de vida da criança.
De acordo com os dados socioeconômicos 78,8% dos pais eram
casados ou tinham relação estável. Das 33 mães, 14 (42,4%) não
trabalhavam ou eram “do lar” e 16 (48,5%) trabalhavam em emprego
formal (36,4%) ou informal (12,1%) e 3 mães (9,1%) estavam
desempregadas. A maioria das mães era doméstica (33,3%). Entre os
Figura 1: Caracterização dos indivíduos de acordo com os
critérios de inclusão e exclusão na fase de recrutamento
4%
14%
6%
51%
1%
3%
1%
1%
4%
15%
Alta hospitalar
Não aceitou
Zora rural
Outras localidades
Fumante
Patologias
Baixo peso
Pré-termo
UTI
Apto
75
pais, 29 (87,9%) trabalhavam, sendo 60,6% em emprego formal e 27,3%
em emprego informal; 3 pais (9,1%) estavam desempregados e 1 não
trabalhava. Os dados sobre escolaridade dos pais, renda, número de
dependentes, número de pessoas residentes no domicílio, número de
quartos e cômodos estão descritos no Quadro 2.
Quadro 2: Caracterização das condições socioeconômicas dos pais (n=33)
Variáveis X (±DP) Mediana Min Max
Escolaridade materna (anos) 8,8 (±2,5) 8 3 15
Escolaridade paterna (anos) 8,0 (±3,3) 8 3 17,5
Renda familiar (R$) 651,60 (±367,10) 600,00 150,00 2500,00
Número de dependentes da renda 4,4 (±1,8) 4 2 10
Número de residentes no domicílio 4,3 (±1,8) 4 2 10
Número de cômodos do domicílio 6,2 (±2,5) 6 2 10
Número de quartos do domicílio 2,4 (±1,1) 2 3 14
X: média; DP: desvio padrão; Min: mínimo; Max: máximo
Sobre as condições de moradia 100% dos indivíduos tinham
abastecimento de água, energia elétrica, coleta pública de lixo e tinham o
esgoto como destino dos dejetos.
De acordo com os dados obstétricos e gestacionais, 100% das
mães relataram ter feito pelo menos uma consulta de pré-natal e 51,5%
das crianças nasceram por parto normal, sendo 19 do sexo feminino
(57,6%). A mediana do peso ao nascer foi de 3070 gramas (mínimo: 2535
e máximo: 3920) e a mediana do comprimento ao nascer foi de 49 cm
(mínimo: 46 e máximo de 54,5). A média da idade materna no parto foi de
25,4 anos (± 6,9), com mediana de 24 anos (mínimo: 15 e máximo: 41).
Entre as mães o Índice de Massa Corporal médio, em kg/m
2
, foi de
22,7(±3,5) e mediana de 22,1. Outros dados obstétricos e gestacionais são
apresentados no Quadro 3.
76
Quadro 3: Caracterização dos dados obstétricos e gestacionais (n=33)
Variáveis X (±DP) Mediana Min Max
Número de gestações 1,5 (±0,8) 1 1 4
Número de consultas pré-natal 5,8 (±2,2) 6 1 13
Idade gestacional (semanas) 39,1 (±1,3) 39 37 42
Peso pré-gestacional (kg) 54,3 (±8,3) 54 39 77
Índice de Massa Corporal (kg/m
2
) 22,7 (±3,5) 22,1 17,6 31,6
Ganho de peso na gestação (kg) 11,8 (±3,8) 12 4 18
X: média; DP: desvio padrão; Min: mínimo; Max: máximo
Durante o período estudado observou-se modificação no tipo de
aleitamento oferecido aos recém-nascidos (Quadro 4). O principal
argumento das mães sobre o não aleitamento exclusivo foi o fato da
necessidade de se ausentarem para trabalhar. Entretanto, em todos os
encontros foi enfocada a importância do aleitamento materno exclusivo até
o sexto mês de vida.
Quadro 4: Freqüência do tipo de aleitamento materno
AME AMP AM
Pós-parto imediato 100% (n=33) - -
7 dias 84,8% (n=28) 15,2% (n=5) -
32 dias 74,2% (n=23) 16,1% (n=5) 9,7% (n=3)
62 dias 77,4% (n=24) 12,9% (n=4) 9,7% (n=3)
91 dias 71,0% (n=22) 9,7% (n=3) 19,3% (n=6)
AME: aleitamento materno exclusivo (apenas leite materno); AMP:
aleitamento materno predominante (leite e outros alimentos líquidos); AM:
aleitamento misto (leite materno e outros tipos de leite).
77
5.2. ARTIGO ORIGINAL 1
Composição de ácidos graxos do leite humano relacionado às
variáveis maternas e às dos recém-nascidos: um estudo prospectivo
em Viçosa, MG.
5.2.1. Resumo
A fração lipídica do leite humano é especialmente importante para o
recém-nascido. Este estudo prospectivo analisou os percentuais de ácidos
graxos, de lipídios totais e de energia do leite humano de 33 nutrizes do
município de Viçosa – MG, ao longo de três meses de lactação (períodos
medianos de 1, 7, 32, 62 e 91 dias pós-parto). Relacionou-se o
comportamento desses parâmetros frente as variáveis maternas e as do
recém-nascido. Encontraram-se diferenças significantemente menores
(p<0,001) para C10:0 e C14:0 no período de 1 dia em relação aos outros
períodos. O ácido palmítico de 32 dias foi significantemente menor
(p=0,03) que no período de 1 dia. Em relação ao ácido palmitoléico os
menores percentuais foram observados para o período de 1 dia em relação
aos demais períodos (p=0,01). A relação n-6:n-3 e o total de ácidos graxos
oriundos da síntese de novo (C10:0, C12:0 e C14:0), ao longo do estudo,
foi de 10 a 14 e de 5,6 a 17,9 mg%; respectivamente. Os percentuais de
lipídios totais (LT) e de energia foram significantemente menores (p=0,03
para cada) no período de 1 dia em relação aos períodos de 32 e 91 dias.
Fortes correlações (p<0,001) foram verificadas entre o C18:2n-6 com o
C18:3n-3, com o somatório de n-3, de AGP e de AG totais. Assim também
ocorreu para o conteúdo de C18:3n-3 relacionado ao somatório de n-6, de
AGP e de AG totais. Por outro lado, a escolaridade, o peso ao nascer, o
tipo de parto, a paridade e idade gestacional não influenciaram os
parâmetros analisados no leite humano. A média geral de ganho de peso
do recém-nascido correlacionou-se de forma inversa e significante com os
percentuais de C12:0 (r=-0,468; p=0,03), C14:0 (r=-0,062; p=<0,001) e
AGS (r=-0,443; p=0,02). Esse estudo confirma que o conteúdo lipídico do
leite humano sofre modificações ao longo do período de lactação, com
tendência a aumentar, possivelmente devido à alimentação e adiposidade
materna, uma vez que as variáveis maternas e dos recém-nascidos
78
estudados não demonstraram efeitos. Destaca-se que na literatura
científica há poucos estudos prospectivos como este que avalia a evolução
do teor lipídico e de ácidos graxos ao longo dos estágios de amamentação.
Palavras chave: leite humano, ácidos graxos, amamentação, mulheres
brasileiras.
5.2.2. Abstract
The lipid fraction of human milk is especially important to newborns.
This prospective study analyzed the percentages of fatty acids, lipids, and
the energy of human milk of 33 mothers of Viçosa – MG, Brasil, during
three months of lactation (median periods of 1, 7, 32, 62, and 91 days after
delivery). These parameters were related to maternal and newborn
variables. We found little significant differences (p < 0.001) for C10:0 and
C14:0 for the 1-day period in relation to the other periods. The 32-day
palmitic fatty acid content was significantly lower (p = 0.03) than that of the
1-day period. In relation to palmitoleic fatty acid, a lower percent content
was observed for the 1-day period in relation to those of other periods (p =
0.01). The n-6:n-3 ratio and the total de novo synthesis (C10:0, C12:0 and
C14:0) were from 10 to 14 and from 5.6 and 17.9 mg%, respectively,
throughout the study. The percentages of total lipids (LT) and energy were
significantly lower (p = 0.03 each) in the 1-day period in relation to those of
the 32- and 91-day periods. Strong correlations (p < 0.001) were observed
between C18:2n-6 and C18:3n3, total n-3, total PUFA and total fatty acids.
The same occurred for the C18:3n-3 content relative to the total n-6, total
PUFA and total fatty acid. On the other hand, the education level, weight at
birth, type of delivery, parity, and gestational age did not affect the human
milk parameters analyzed significantly. The newborn's average weight gain
correlated inversely and significantly with the percentages of C12:0 (r = -
0.468; p = 0.03), C14:0 (r = -0.062; p = < 0.001) and SFA (r = -0.443; p =
0.02). This study confirms that the lipid content of human milk varies
throughout the lactation period, possibly due to the maternal diet and
adiposity while the maternal and the newborn variables studied did not
demonstrate any effect. It is highlighted that few prospective studies in the
79
scientific literature investigate the fatty acid content and its evolution
throughout the breast-feeding period as done here.
Keywords: human milk, fatty acid, breast-feeding, Brazilian women.
5.2.3. Introdução
O leite humano é considerado um alimento completo e suficiente
para suprir as necessidades nutricionais de recém-nascidos durante os
seis primeiros meses de vida (ESPGAN Committee, 1982; Uauy et al.,
2001). Biologicamente é ainda considerado um fluído complexo, devido
aos seus inúmeros componentes, entre os quais estão presentes
macronutrientes, micronutrientes, nutrientes essenciais, substâncias
imunocompetentes, além de fatores tróficos ou moduladores de
crescimento (Buts, 1998; Jensen, 1999; Euclydes, 2000).
Não obstante, a superioridade biológica desse alimento está
relacionada ao seu conteúdo lipídico, o qual é a principal fonte de energia
para o recém-nascido, contribuindo com 40 a 55% do total de energia
consumida pelo recém-nascido em aleitamento materno exclusivo (Jensen,
1999; Koletzko, 2001). Ainda, é responsável por prover, a esses indivíduos,
de ácidos graxos essenciais (ácido linoléico – C18:2n-6 e ácido α-linolênico
– C18:3n-3), além de seus importantes metabólitos, como o ácido
araquidônico – AA (C20:4n-6), o ácido eicosapentaenóico – EPA (C20:5n-
3) e o ácido docosahexaenóico – DHA (C22:6n-3) (Koletzko, 2001). Esses
ácidos graxos são particularmente interessantes, pois são componentes
fundamentais do cérebro, retina e outros tecidos neurais, além de serem
precursores de eicosanóides (Uauy et al., 2001). Assim, a presença desses
metabólitos no leite está relacionada ao adequado desenvolvimento
neurológico e à acuidade visual dos indivíduos (Makrides et al., 1995;
Dijck-Brouwer et al., 2005; Hart et al., 2006).
Da mesma forma que veicula ácidos graxos essenciais, o leite
humano pode também ser um carreador de ácidos graxos trans (AGT) para
o recém-nascido, os quais podem competir pelas enzimas de dessaturação
dos ácidos graxos essenciais (Scrimgeour et al., 2001). Entre os efeitos
adversos desses isômeros, Elias & Innis (2001) observaram uma relação
80
inversa e significante entre as concentrações de AGT dos triacilgliceróis
plasmáticos de recém-nascidos com o comprimento ao nascer. Segundo
Larqué et al. (2000) e comprovado por Assumpção et al. (2004) as
concentrações de AGT consumidos pela nutriz estão associadas às
concentrações de trans encontradas no leite, sendo dose-dependente.
Vale ressaltar que há possibilidade desses isômeros contribuírem
para a gênese do processo aterosclerótico devido à deficiência de ácidos
essenciais ocasionada pela ação dos AGT, podendo reduzir a fluidez da
membrana endotelial (Chiara et al., 2002).
Sabe-se que o conteúdo total de lipídios e a composição de ácidos
graxos do leite humano são variáveis. Esse é um tema de investigação em
diversas partes do mundo, como na França (Chardigny et al., 1995), em
Cuba (Krasevec et al., 2002), na Austrália (Mitoulas et al., 2003), na
Espanha (Sala-Vila et al., 2005), na Argentina (Marín et al., 2005) e no
Brasil (Cunha et al., 2005; Silva et al., 2005). Diversos fatores contribuem
para essa modulação, entre os principais destacam-se o estágio de
lactação (Mandel et al., 2005; Yamawaki et al., 2005), o hábito alimentar
materno (Hayat et al., 1999; Innis & King, 1999; Fidler & Kolotzko, 2000;
Prado et al., 2001; Cunha et al., 2005; Anderson et al., 2005) e a
adiposidade materna (Koletzko et al., 2001; Prado et al, 2001). Porém,
outros fatores menos estudados, mas relatados por Jensen (1999),
também podem contribuir para esse efeito, como a paridade e a idade
gestacional.
Nesse contexto, o presente trabalho objetivou avaliar a evolução do
perfil de ácidos graxos, do percentual de lipídios totais e do conteúdo de
energia do leite humano, ao longo de 3 meses, bem como verificar a
interferência de variáveis maternas e dos recém-nascidos sobre esses
parâmetros.
81
5.2.4. Metodologia
5.2.4.1. Casuística
O estudo foi realizado nos setores de Alojamento Conjunto e
Programa de Apoio à Lactação (PROLAC) do Hospital São Sebastião,
Viçosa – MG.
Foram recrutadas 272 nutrizes no pós-parto imediato e seus
respectivos recém-nascidos, no período de 01 de outubro a 10 de
dezembro de 2005. Do total de indivíduos, 33 pares mães/filhos (12,1%)
encaixaram-se no perfil deste estudo e foram acompanhados até o terceiro
mês pós-parto.
Os critérios de exclusão adotados foram: retenção do recém-nascido
na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal ou Berçário Intermediário;
crianças portadoras de anomalias congênitas; baixo peso ao nascer (<
2500g); mulheres fumantes e mulheres vegetarianas. Da mesma forma,
foram adotados critérios de inclusão: ausência de enfermidades crônicas
antes ou durante a gestação; idade gestacional entre 37 e 42 semanas;
parto único e mulheres residentes na zona urbana de Viçosa.
As mães assinaram um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido para sua inclusão e a de seu filho na amostra, previamente
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade Federal de Viçosa.
5.2.4.2. Coleta de dados
Cada par mãe/filho foi avaliado nos períodos medianos de: pós-
parto imediato (1 dia), 7, 32, 62 e 91 dias pós-parto.
No primeiro encontro (pós-parto imediato) as voluntárias
responderam a um questionário contendo as seguintes informações:
identificação, caracterização socioeconômica, condições de habitação,
dados obstétricos e gestacionais, dados do recém-nascido e dados da
nutriz.
Em todos os encontros foram avaliados o peso e o comprimento da
criança, de acordo com a metodologia proposta por Jelliffe (1966). A coleta
de leite humano foi realizada por ordenha manual em todos os 5 encontros,
82
de acordo com as técnicas preconizadas pela Rede Nacional de Bancos de
Leite Humano (http://www.redeblh.fiocruz.br/). Foram retirados até 5 mL de
leite humano em cada coleta, de acordo com a disponibilidade materna,
após uma mamada com duração de aproximadamente 10 minutos, exceto
no pós-parto imediato.
5.2.4.3. Análise da quantidade de lipídios totais e de energia do
leite humano
Após a coleta do leite humano foi realizada determinação do teor de
lipídios totais pela técnica do crematócrito, originalmente descrita por
Lucas et al. (1978) e adaptada para a rotina operacional da Rede Nacional
de Bancos de Leite Humano (http://www.redeblh.fiocruz.br/).
Os capilares contendo uma alíquota de leite foram centrifugados,
por 15 minutos, em uma centrífuga micro-hematócrito da marca Evlab® a
11.500 rotações por minuto. Foi mensurado o comprimento da coluna de
creme (mm) e da coluna total do produto (coluna de creme e coluna de
soro, expressos em mm) com o auxilio de um cremômetro; que consiste de
uma régua milimetrada e de uma lupa acoplados a uma lâmpada para
leitura capilar.
De posse desses valores, utilizaram-se fórmulas para estimar as
quantidades de lipídios totais e de energia (http://www.redeblh.fiocruz.br/).
Os lipídios totais foram expressos em g/dL de leite e o teor de energia foi
expresso em kcal/litro de leite. Tais procedimentos foram realizados em
duplicata e utilizaram-se as médias para as análises estatísticas.
Posteriormente as amostras foram estocadas a -20º C até o momento da
extração de ácidos graxos.
5.2.4.4. Extração de ácidos graxos do leite humano
A extração dos ácidos graxos foi realizada segundo a metodologia
de trans-esterificação direta, proposta por Lepage & Roy (1986).
Primeiramente, as amostras foram agitadas em Vórtex e uma alíquota de
100µL de leite humano foi adicionado em um tubo de vidro. Em seguida,
adicionou-se à amostra 2mL de álcool metílico P.A. (Vetec®) e benzeno
(Labsynth®) na proporção de 4:1 e 100µg de padrão interno - C13:0
83
(Sigma-Aldrich®), previamente pesado e dissolvido à solução de metanol-
benzeno. Acrescentou-se uma pequena barra magnética e sob agitação,
adicionou-se vagarosamente, por um período de 1 minuto, 200µL de
cloreto de acetila (Vetec®). Os tubos foram fechados com tampa de rosca,
revestida com Teflon® e levados para o processo de metanólise, por 60
minutos a 100°C. Transcorrido esse tempo, os tubos foram resfriados em
água a temperatura ambiente por 3 minutos e adicionou-se,
vagarosamente, 5mL de K
2
CO
3
P.A. (Vetec®) a 6%. Os tubos foram
agitados por 30 segundos e conduzidos à centrifugação por 10 minutos a
2500 rotações por minuto. O sobrenadante foi transferido para um tubo
âmbar e armazenado a -20°C até o momento da determinação de ácidos
graxos.
5.2.4.5. Determinação dos ácidos graxos do leite humano
O perfil de ácidos graxos do leite humano foi determinado por
cromatografia a gás (Shimadzu Modelo 17A), equipado com um detector
de ionização de chama e software Class-CG 10 versão 2.0. Os ácidos
graxos foram separados em coluna cromatográfica de sílica fundida SP-
2560 (biscianopropil polysiloxane) de 100m e 0,25mm de diâmetro. A
temperatura inicial da coluna foi de 100°C com aquecimento de 10°C por
minuto até atingir a temperatura de 180°C e então aquecimento de 1ºC por
minuto até atingir a temperatura de 240ºC, permanecendo nessa
temperatura por 10 minutos. A temperatura do injetor foi de 250°C e a do
detector de 270°C. O gás de arraste foi o hidrogênio (Aga®) com
velocidade linear de 14,8 cm/seg. A razão de divisão da amostra no injetor
foi de 1:40. Injetou-se 1µL da solução.
Os ácidos graxos das amostras foram identificados por comparação
entre o tempo de retenção dos picos gerados com o tempo de retenção
dos picos da mistura de 37 ésteres metílicos (C4:0 – C22:6) (Supelco®,
Bellefonte, PA, USA), utilizados como padrão externo.
A quantificação dos ácidos graxos procedeu-se segundo
Satchithanandam et al. (2002), em que se empregam fatores de correção e
de conversão para aproximação do teor real, em peso, dos ácidos graxos
da amostra. Os percentuais de ácidos graxos foram expressos em mg%.
84
5.2.4.6. Análise estatística
Devido ao tamanho amostral e à assimetria das variáveis foram
aplicados testes não paramétrico.
Utilizou-se a Análise de Variância por Postos de Friedman para
acompanhar a evolução dos percentuais de ácidos graxos, de lipídios
totais e de energia nos cinco momentos do estudo (1, 7, 32, 62 e 91 dias
pós-parto). Para os resultados que apresentaram diferença
estatisticamente significante (p<0,05) complementou-se com o teste de
Comparações Múltiplas de Dunn’s.
O teste de Mann-Whitney foi aplicado para comparar o nível de
escolaridade ( a 8 e a 8 anos de estudo), peso ao nascer ( a 2999 g e
3000 g), tipo de parto (cesária ou normal), paridade (primípara ou
multípara) com os percentuais médios de ácidos graxos, lipídios totais e
energia do leite humano.
Utilizou-se o teste de Kruskall Wallis para relacionar a etnia
observada das nutrizes com as médias de ácidos graxos, de lipídios totais
e de energia. Quando os resultados apresentaram diferença estatística
(p<0,05) complementou-se com o teste de Comparações Múltiplas de
Dunn’s.
O teste de Spearman foi utilizado para correlacionar entre si as
quantidades médias de ácidos graxos essenciais, de n-6, de n-3, de ácido
araquidônico, de ácidos graxos poliinsaturados totais e de ácidos graxos
totais. Esse mesmo teste foi utilizado para correlacionar a escolaridade, o
peso ao nascer, a idade gestacional, a média de ganho de peso da criança
por período de estudo (1 e 7 dias, 7 e 32 dias; 32 e 62 dias e 62 e 91 dias)
e a média geral de ganho de peso com as médias de ácidos graxos, de
lipídios totais e de energia.
Para a compilação dos dados utilizou-se o programa Excell e para
as análises estatísticas foi utilizado o programa Sigma Statistic® for
Windows versão 2.03 (Fox et al., 1994). O nível de rejeição para a hipótese
de nulidade, para todos os testes aplicados, foi de 0,05 (5%).
85
5.2.5. Resultados
Do total de indivíduos recrutados (272 pares mãe/filho) a maioria
(57%) não participou do estudo por morarem na zona rural de Viçosa ou
em outros municípios e 18% dos indivíduos não aceitaram participar ou já
haviam recebido alta hospitalar no momento do recrutamento.
Aproximadamente 3% das mães não puderam participar do estudo por
apresentar alguma patologia, sendo observadas, principalmente, diabetes,
pré-eclampsia e distúrbios neurológicos. Cerca de 6% dos recém-nascidos
não puderam ser incluídos no estudo por apresentarem baixo peso, por
serem pré-termo ou por estarem retidos na Unidade de Tratamento
Intensiva. Não foi encontrada mãe praticante do vegetarianismo.
Do total de indivíduos aptos em participar (41 pares mãe/filho) 8 não
quiseram continuar ou a mãe não conseguia amamentar ou a criança
retornou ao hospital para algum tratamento, o que inviabilizou a
permanência desses indivíduos no estudo.
Em relação aos indivíduos efetivamente acompanhados (n=33),
51,5% das crianças nasceram por parto normal, sendo 19 do sexo feminino
(57,6%). Dados obstétricos e gestacionais são apresentados na Tabela 1.
Entre as nutrizes, a média de escolaridade materna foi de 8,8 (±2,5) anos
de estudo e a etnia observada foi de: 36,4% brancas; 33,3% negras e
30,3% pardas.
A Tabela 2 apresenta a média da composição de ácidos graxos, de
lipídios totais e de energia das 156 amostras de leite humano. Os
resultados dos percentuais de ácidos graxos foram agrupados de acordo
com a presença de insaturação e do número e do tipo de duplas ligações
que possui: ácidos graxos saturados (AGS), ácidos graxos
monoinsaturados (AGM), AGT e ácidos graxos polinsturados (AGP). Da
mesma forma, agruparam-se o total de ácidos graxos oriundos da síntese
de novo (C10:0, C12:0 e C14:0) e agruparam-se os ácidos graxos da série
n-6 e da série n-3, além do somatório de todos os ácidos graxos (AG
totais).
Os percentuais de lipídios totais (LT) e de energia foram
significantemente menores (p=0,03 para cada) no período de 1 dia em
relação aos períodos de 32 e 91 dias. As Tabelas 3 e 4 demonstram a
86
evolução dos ácidos graxos, dos lipídios totais e de energia ao longo do
período experimental. Foram encontradas diferenças significantemente
menores (p<0,001) para C10:0 e C14:0 no colostro (período de 1 dia), em
relação aos demais tempos experimentais. O total da síntese de novo para
os períodos 1, 7, 32, 62 e 91 dias foi, respectivamente, 5,6; 15,1; 15,6; 17,9
e 17,1 mg%. Também com relação ao colostro o C16:0 do período de 32
dias foi significantemente menor (p=0,03). Para o C16:1 os menores
percentuais foram encontrados para o período do colostro em relação aos
períodos de 32, 62 e 91 dias (p=0,01). O isômero trans identificado em
todos os períodos foi o C18:1n9t e em nenhum momento foi determinada a
presença de EPA e DHA. Para os períodos de 1, 7, 32, 62 e 91 dias a
relação n-6:n-3 comportou-se da seguinte forma: 9,8; 12,5; 13,8; 11,6 e
11,8; respectivamente.
Foram observadas correlações negativas (Tabela 5), mas não
significantes entre o somatório de AGT com o ácido α-linolênico e o ácido
araquidônico (Tabela 5). Por outro lado, fortes correlações (r=0,79;
p<0,001) foram verificadas entre o C18:2n6c com o C18:3n3, com o
somatório de n-3 (r=0,87; p<0,001), de AGP (r=0,98; p<0,001) e de AG
totais (r=0,85; p<0,001). Assim também, procedeu-se o conteúdo de
C18:3n3 relacionado ao somatório de n-6, de AGP e de AG totais. Esses
resultados demonstram que estatisticamente não houve competição, entre
os ácidos graxos poliinsaturados e AGT, pelas enzimas de dessaturação
Δ-5 e Δ-6. Porém não foram encontrados os ácidos graxos EPA e DHA,
metabólitos dos ácidos graxos essenciais, no leite humano.
Com relação às variáveis maternas, não foram observadas
diferenças significantes entre a escolaridade ( 8 e 8 anos de estudo)
(Tabela 6), o peso ao nascer ( 2999 e 3000 g) (Tabela 7), o tipo de
parto (normal ou cesária) (Tabela 8) e paridade (primíparas ou multíparas)
(Tabela 9). Correlações significantes e negativas foram verificadas entre os
ácidos C12:0 (r=-0,34; p<0,05) e C20:2 (r=-0,43; p<0,05) com o peso ao
nascer (Tabela 7).
Em relação à etnia materna (Tabela 10), observou-se diferença
significante do conteúdo de C20:1 entre as mães de etnia branca e aquelas
87
pardas (p=0,006). Assim também, foi observado entre as mães negras e
pardas para o C20:2 (p=0,033).
Para a média de ganho de peso por período de estudo (Tabelas 11
e 12), verificou-se diferença significante e negativa (r=-0,523; p=0,03)
somente para o C16:1 quando comparado ao ganho de peso inicial
(período de 1 a 7 dias). Entretanto, a média geral de ganho de peso
correlacionou-se de forma inversa com os AGS, sendo que apresentaram
diferença estatisticamente significante os percentuais de C12:0 (r=-0,468;
p=0,03), C14:0 (r=-0,062; p=<0,001) e AGS (r=-0,443; p=0,02). Da mesma
forma ocorreu para o C20:2 (r=-0,437; p=0,02).
Com relação à idade gestacional, não foram observadas correlações
significantes (p>0,05) com os parâmetros investigados no leite materno
(Tabela 11 e 12).
5.2.6. Discussão
Os percentuais médios de ácidos graxos demonstrados neste
estudo são semelhantes aos dados de outros estudos realizados em
diversas partes do mundo (Chardigny et al., 1995; Genzel-Boroviczény et
al., 1997; Innis & King, 1999; Krasevec et al., 2002; Smit et al., 2002;
Mitoulas et al., 2003; Sala-Vila et al., 2005; Marín et al., 2005). Foi
encontrada uma média de 4,5 g/dL de lipídios totais, os quais são
semelhantes aos percentuais do leite maduro (4,87%), descritos por
Jensen (1999).
A Tabela 2 demonstra percentuais menores de AGS e AGM (36,84 e
26,20 mg%, respectivamente) em relação aos teores descritos em Cuba
(42,54 e 34,25 mol%) (Krasevec et al., 2002), na Austrália (49,94 e 34,29
peso%) (Mitoulas et al., 2003), na Espanha (44,15 e 37,14 peso%) (Sala-
Vila et al., 2005) e na Argentina (54,30 e 36,94 peso%) (Marín et al., 2005).
Os AGS são considerados como fonte energética ou como substrato
para a síntese de compostos intermediários (Giovannini et al., 1991) e sua
ocorrência no leite humano pode ser intensificada quando a alimentação
materna é composta por baixos teores de lipídios e rica em carboidratos
(Koletzko et al., 2001).
88
Semelhante aos AGS, os AGM são utilizados pelo organismo
humano como fonte energética e participam da estrutura das membranas
celulares (Giovannini et al., 1991; Jensen, 1999). No presente estudo, o
C18:1n9c foi o que apresentou os maiores percentuais no leite humano,
porém esse ácido graxo apresentou menores quantidades em relação aos
percentuais descritos na literatura (Chardigny et al., 1995; Genzel-
Boroviczény et al., 1997; Innis & King, 1999; Krasevec et al., 2002;
Mitoulas et al., 2003; Sala-Vila et al., 2005; Marín et al., 2005). Tal fato
pode ser devido a uma menor mobilização, desse ácido graxo, dos
estoques corporais maternos para compor os ácidos graxos do leite
humano.
De acordo com os percentuais de AGT (Tabela 2), observaram-se
percentuais semelhantes aos demonstrados por Mitoulas et al. (2003) (2,19
peso%) e Chardigny et al. (1995) (1,91 peso%). Para esse mesmo
parâmetro Innis & King (1999), no Canadá, encontraram quantidades bem
mais elevadas (7,10%). Esses isômeros não podem ser produzidos no
organismo humano, portanto a ocorrência destes no leite humano pode
demonstrar a qualidade da alimentação materna. Assim, as concentrações
de trans consumidas pela lactante estão associadas às concentrações
encontradas no leite, sendo dose-dependente (Larqué et al., 2000).
Em relação ao estudo de Cunha et al. (2005) realizado em Brasília
e, especialmente, ao estudo de Silva et al. (2005) realizado no município
de Viçosa nossos dados apresentaram uma grande semelhança. No que
se refere ao total de ácidos graxos sintetizados pela via de novo (C10:0,
C12:0 e C14:0) (Tabela 2), a partir da glicose, nossos dados corroboram os
estudos destes autores, que encontraram 15,9 peso% (Silva et al., 2005) e
aproximadamente 13 peso% (Cunha et al., 2005) de AGS oriundos dessa
via. De acordo com a razão n-6:n-3, nossos resultados mantiveram-se
entre 10:1 a 14:1, o que demonstra um equilíbrio desses ácidos graxos e
dentro do padrão desejável descrito na literatura que é de 5:1 a 15:1.
Assim também, foi verificado no estudo de Cunha et al. (2005) e de Silva et
al. (2005), que encontraram 10:1 e 14:1; respectivamente.
A similaridade entre esses estudos pode ser devido à característica
da alimentação da população brasileira, com alto consumo de gordura e de
89
açúcar, refletindo a transição nutricional com tendência para a dieta
ocidental. Outra semelhança estaria no fato do estudo de Silva et al. (2005)
ter sido realizado em uma cidade de baixa renda per capita e a população
estudada por Cunha et al. (2005) ter apresentou um baixo poder aquisitivo,
apesar de ter sido realizado na capital brasileira, onde a renda per capita é
alta. Ainda, a população de nosso estudo apresentou o Índice de Massa
Corporal (IMC) médio de 22,7 (±3,5) e a média da idade materna foi de
25,4 (6,9) anos (Tabela 1); semelhante ao estudo de Cunha et al., em que
a população apresentou IMC de 23,7 (±3,2) e idade materna de 23,6 (±4,5)
anos. Tais similaridades entre esses estudos reforçam a premissa de que
as condições socioeconômicas e o estado nutricional das mulheres podem
influenciar na composição de ácidos graxos do leite humano.
Os percentuais de AGP e de ácidos graxos essenciais encontrados
foram maiores em relação aos demonstrados na literatura. As quantidades
de AA foram semelhantes neste estudo em relação aos percentuais
descritos na literatura (Chardigny et al., 1995; Genzel-Boroviczény et al.,
1997; Innis & King, 1999; Smit et al., 2002; Mitoulas et al., 2003; Sala-Vila
et al., 2005; Marín et al., 2005). Assim também ocorreu para os teores de
C20:3n6 (Smit et al., 2002; Marín et al., 2005; Silva et al., 2005). Além
disso, encontraram-se elevados percentuais de C20:3n3, que normalmente
são encontrados em quantidades bem menores em outros estudos (Marín
et al., 2005; Cunha et al., 2005) ou são relatados como traços (Silva et al.,
2005) ou não são citados (Smit et al., 2002). Os percentuais elevados de
AA e de C20:3n3 e a ocorrência de C20:3n6, sugere uma possível
metabolização dos ácidos graxos essenciais, oriundos dos estoques
corporais maternos. Tal fato pode ser entendido de acordo com o estudo
de DeLany et al. (2000), que descreveram uma maior facilidade de
oxidação dos ácidos graxos essenciais em relação a outros tipos de ácidos
graxos. Entretanto, em nosso estudo não foi detectada a presença de EPA
e de DHA, semelhante aos resultados encontrados por Silva et al. (2005)
que encontraram quantidades muito pequenas de EPA e 0,14 peso% de
DHA, sendo menores que os percentuais descritos por outros autores
(Krasevec et al., 2002; Smit et al., 2002; Cunha et al., 2005).
90
Destaca-se a importância do EPA e do DHA, produtos
intermediários derivados do ácido α-linolênico, e do AA, produto
intermediário derivado do ácido linoléico, por comporem as células
neuronais do cérebro e da retina, por serem precursores de eicosanóides e
por participarem de muitas outras funções fisiológicas (Uauy et al., 2001).
Assim, esses ácidos estão envolvidos no desenvolvimento neurológico e
na acuidade visual dos recém-nascidos (Uauy et al., 2001; Lauritzen et al.,
2004; Dijck-Brower et al., 2005; Hart et al., 2006). Soma-se a isso, a
essencialidade desses ácidos graxos para recém-nascidos pré-termos, em
que a incorporação destes ácidos ocorre no último trimestre de gestação
(Al et al., 2000). Dessa forma, a adequada alimentação das gestantes e
das nutrizes, com consumo de peixes, de óleos e de vegetais ricos em
ácidos graxos essenciais e seus metabólitos, é fundamental para o
desenvolvimento do feto e para garantir uma melhor qualidade do leite
humano.
As Tabelas 3 e 4 demonstram, de forma geral, que os percentuais
de ácidos graxos são menores no colostro (1 dia) e maiores no leite
maduro (32, 62 e 91 dias). Ao longo do período de lactação observa-se
para o total de AGS um aumento dos percentuais e para os AGM e AGP
observa-se uma constância. Apesar de nossos resultados apresentarem,
no período do colostro, menores percentuais para C12:0, C14:0, C16:0 e
C16:1 em relação a outros estágios de lactação não se pode sugerir uma
ascendência do teor de ácidos graxos do leite humano. Possivelmente,
isso se deve ao tamanho amostral deste estudo ou uma modulação efetiva
da alimentação materna ou, ainda, a uma modificação da composição
corporal das nutrizes. Nessa última hipótese, Franceschini (1999), em um
estudo prospectivo de 180 dias com 50 mulheres de baixa renda do
município de São Paulo, concluiu que a composição corporal no período
pós-parto sofre alterações em função da idade, da paridade, do índice de
massa corporal pré-gestacional e do estado nutricional durante a gestação.
Paralelo a isso, os resultados do presente estudo apresentaram uma
evolução do conteúdo de AG totais, LT e de energia. Para os LT e energia
os resultados foram maiores que os obtidos por Yamawaki et al. (2005),
que também constataram um aumento do conteúdo desses parâmetros ao
91
longo do período de lactação, sendo menores nos períodos do colostro
(2,68 g/dL e 60 kcal/dL) e de 6 a 10 dias pós-parto (2,77 g/dL e 63 kcal/dL)
e significantemente maiores (p<0,05) para os períodos de 11 a 20 (3,9
g/dL e 68,5 kcal/dL) e de 21 a 89 dias pós-parto (3,75g/dL e 69,1 kcal/dL).
De acordo com os dados de LT relatados por Jensen (1999) os resultados
do presente estudo foram também mais expressivos. Contudo, destaca-se
a deficiência de estudos prospectivos relacionados ao perfil de ácidos
graxos do leite humano, fato esse que dificulta as comparações dos
resultados.
Na Tabela 5 (n=156), observou-se correlação negativa, porém não
significante, entre o conteúdo de AGT com os percentuais de ácido α-
linolênico e AA. A ação do AGT sobre o ácido α-linolênico pode ser devido
ao acaso, uma vez que para o ácido linoléico não foi verificada correlação
negativa. O efeito sobre o AA pode ser devido a uma competição pela
enzima de dessaturação Δ-5 do ácido α-linolênico (Innis & King, 1999;
Larqué et al., 2000; Chiara et al., 2002). As fortes correlações (r=0,79,
p<0,001) obtidas entre os ácidos graxos essenciais e, da mesma forma as
verificadas entre o ácido linoléico e o somatório de n-3 e de AGP (p<0,001)
e entre os percentuais de α-linolênico com o somatório de n-6 e de AGP
(p<0,001) são de grande importância para a saúde do recém-nascido; pois
sabe-se que os ácidos graxos da série n-3, n-6, n-7 e n-9 competem entre
si pelas vias metabólicas de alongamento e de dessaturação (Calder,
2001). As altas correlações dos ácidos graxos essenciais com os AG totais
podem ser devido à presença desses ácidos graxos na alimentação das
nutrizes.
O nível de escolaridade da nutriz e o peso ao nascer podem, de
certa forma, afetar o conteúdo lipídico do leite humano. No estudo de
Simard et al. (2005) objetivou-se avaliar os fatores que influenciavam a
iniciação e a duração do aleitamento materno de 196 mulheres de baixa
renda do Canadá. Os resultados encontrados sugerem que mulheres que
receberam educação universitária (completa ou não) e aquelas com filhos
com baixo peso ao nascer (< 2500 g) tiveram maior probabilidade em
iniciar a amamentação mais cedo. Em relação à escolaridade, uma maior
formação acadêmica pressupõe uma melhor condição de vida, melhor
92
estado nutricional materno e melhor entendimento da importância da
amamentação. Por outro lado, mães de filhos com baixo peso ao nascer
são incentivadas a permanecer no hospital por mais tempo, em relação
àquelas com filhos acima de 2500 g, e neste ambiente são mais
estimuladas pela equipe de saúde. Soma-se a isso, o fato de que o
conteúdo de lipídios e o tipo de ácido graxo do leite materno podem ser
influenciados pelo estágio da lactação (Jensen, 1999; Mandel et al., 2005;
Yamawaki et al., 2005). Assim, a escolaridade materna e o peso ao nascer
podem influenciar na iniciação da amamentação e, consequentemente, na
composição lipídica do leite humano. Entretanto, os estudos não
apresentam a interferência desses fatores. Encontraram-se diferenças
significantes entre a divisão em classes da escolaridade materna. Somente
para os ácidos graxos monoinsaturados, exceto AGT, foram observadas
correlações positivas com a escolaridade. Isso pode ser devido a uma
melhor seleção dos alimentos consumidos pelas mães com melhor nível de
escolaridade, reduzindo o consumo de alimentos ricos em gordura vegetal
parcialmente hidrogenada, como produto de padarias, batatas frita,
pastelarias, bolos, biscoitos recheados e “snacks”. Semelhante à
escolaridade, não foi observada diferenças significantes entre o peso ao
nascer dividido em classes (Tabela 6 e 7).
No estudo de Simard et al. (2005) a multiparidade foi positivamente
associada com a duração da amamentação, por outro lado Jensen (1999)
relata que a paridade afeta negativamente o conteúdo lipídico do leite
humano. Nossos resultados não demonstraram diferenças significantes
entre primíparas e multíparas (Tabela 9). Da mesma forma, não se
encontrou diferença estatística entre o tipo do parto (cesária ou normal)
(Tabela 8) relacionado ao conteúdo de ácidos graxos, de LT e de energia.
De acordo com a Tabela 10, nossos resultados não permitem
sugerir diferenças entre a etnia materna e o perfil de ácidos graxos do leite
humano. Porém, como já mencionado Yamawki et al. (2005), em um
estudo realizado com mulheres japonesas, relataram menores teores de
LT e de energia no leite materno em relação a este estudo. Além disso,
sabe-se que o perfil de ácidos graxos do leite é variável em diversas
regiões do mundo e a alimentação materna é um modulador da
93
composição corporal, fato este que parece ser importante na composição
dos ácidos graxos do leite humano.
De acordo com as Tabelas 11 e 12, somente os ácidos graxos
C12:0, C14:0 e C20:2 apresentaram correlações significantes (p<0,05) com
a média geral de ganho de peso das crianças, sendo essas correlações
negativas. Da mesma forma comportou-se o somatório de AGS do leite
humano para o mesmo parâmetro analisado. A comparação por período de
ganho de peso da criança e a comparação da média geral de ganho de
peso com os percentuais de ácidos graxos não apresentou de forma clara
seu comportamento, uma vez que teores destes ácidos graxos variaram ao
e não apresentaram uma linearidade de aumento, como o ganho de peso
ao longo dos 3 primeiros meses. Tal fato pode ser observado analisando o
comportamento, no decorrer do estudo, dos ácidos graxos que apresentam
os maiores percentuais no leite humano (C16:0, C18:1n9c e C18:2n6c).
Segundo Rocquelin et al., (2003) a razão linoléico:α-linolênico, estando
entre 5:1 e 15:1, conduz ao ganho de peso de crianças nos 5 primeiros
meses de vida. No presente estudo, essa relação do leite humano por
período foi de 14,6:1 (colostro); 13,7:1 (7 dias); 13,4:1 (32 dias); 12,3:1 (62
dias) e 12,4:1 (91 dias). Assim, a relação manteve-se nos limites
desejáveis para todos os períodos estudados, porém de acordo com média
geral (n=156) tal relação foi de 17:1.
Todas as gestantes encontravam-se entre 37 e 42 semanas, como
critério de inclusão, de maneira que não se pode determinar uma relação
entre a idade gestacional e o comportamento de um tipo específico de
ácido graxo (Tabela 11 e 12).
5.2.7. Conclusão
Este estudo confirma uma modificação do conteúdo lipídico e de
ácidos graxos ao longo da amamentação. Confrontando os nossos
resultados com outros estudos realizados no Brasil encontrou-se uma
semelhança nos percentuais de ácidos graxos e de lipídios totais. Tal fato
sugere que a alimentação materna pode ser um dos principais fatores que
modulam o perfil de ácidos graxos do leite humano. Todavia, novos
94
estudos devem ser realizados com o objetivo de elucidar o efeito da
alimentação.
Os elevados percentuais dos produtos poliinsaturados dos ácidos
graxos essenciais, encontrados nas fases de lactação, demonstram uma
mobilização destes ácidos graxos em detrimento de outros; com melhor
fornecimento de ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa,
metabólitos dos ácidos graxos essenciais, para o recém-nascido. Destaca-
se a importância de tal fato, uma vez que o fornecimento de tais ácidos
graxos preformados ao lactente contribuirá para o adequado crescimento e
desenvolvimento.
As variáveis maternas e dos recém-nascidos estudados não
apresentaram de forma clara seus efeitos sobre a composição do leite
humano. Dessa forma, parece que a modulação se dá por vários fatores
intrínsecos e extrínsecos à nutriz.
Destaca-se a escassez de estudos prospectivos que permitam
avaliar a evolução do conteúdo lipídico e de ácidos graxos ao longo dos
estágios iniciais da amamentação.
5.2.8. Referências Bibliográficas
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Tabela 1: Caracterização dos pares mãe/filho (n=33)
Variáveis X (±DP) Mi Min Max
Dados dos recém-nascidos
Peso ao nascer (g) 3136 (±347) 3070 2535 3920
Comprimento ao nascer (cm) 49,5 (±1,9) 49 46,0 54,5
Dados maternos
Idade materna no parto (anos) 25,4 (±6,9) 24 15 41
Número de gestações 1,5 (±0,8) 1 1 4
Número de consultas pré-natal 5,8 (±2,2) 6 1 13
Idade gestacional (semanas) 39,1 (±1,3) 39 37 42
Peso pré-gestacional (kg) 54,3 (±8,3) 54 39 77
Índice de Massa Corporal (kg/m
2
) 22,7 (±3,5) 22,1 17,6 31,6
Ganho de peso na gestação (kg) 11,8 (±3,8) 12 4 18
Condições socioeconômicas
Escolaridade materna (anos) 8,8 (±2,5) 8 3 15
Renda familiar (R$) 651,60 (±367,10) 600,00 150,00 2500,00
Número de dependentes da renda 4,4 (±1,8) 4 2 10
X: média; DP: desvio padrão; Mi: mediana; Min: mínimo; Max: Máximo
100
Tabela 2 – Teores médios de ácidos graxos (mg%), lipídios totais (g/dL) e
energia (kcal/L) do leite humano (n=156).
Parâmetro X (±DP) Mi
C6:0 0,30 (±0,16) 0,27
C10:0 1,46 (±0,41) 1,49
C12:0 5,71 (±1,56) 5,55
C14:0 6,29 (±1,97) 5,86
Total de novo 13,46 12,90
C16:0 15,51 (±3,49) 15,35
C17:0 0,74 (±0,84) 0,74
C18:0 7,64 (±2,17) 7,16
C24:0 0,80 (±0,64) 0,59
AGS 36,84 (±8,31) 36,59
C16:1 1,47 (±0,42) 1,45
C18:1n9c 23,78 (±5,56) 23,63
C20:1 0,95 (±0,75) 0,81
AGM 26,20 (±5,99) 25,72
AGT 1,73 (±1,05) 1,29
C18:2n6c 22,80 (±8,10) 20,95
C18:3n3 1,35 (±0,72) 1,25
C20:2 0,84 (±0,48) 0,78
C20:3n6 0,27 (±0,17) 0,22
C20:3n3 0,44 (±0,51) 0,34
C20:4n6 0,42 (±0,25) 0,37
AGP 25,98 (±9,01) 23,69
n-6 23,39 (±8,16) 21,39
n-3 1,79 (±0,84) 1,59
n-6:n-3 13,06 14,89
AG Totais 90,75 (±20,81) 88,37
LT 4,50 (±1,40) 4,45
Energia 750,66 (±153,22) 748,80
X: média; DP: desvio padrão; Mi: mediana; : somatório; Total de novo: somatório
de C10:0, C12:0 e C14:0; AGS: ácidos graxos saturados; AGM: ácidos graxos
monoinsaturados; AGT: ácidos graxos trans; AGP: ácidos graxos poliinsaturados;
AG: ácidos graxos; LT: lipídios totais.
101
Tabela 3 – Evolução do teor, em mg%, de ácidos graxos saturados e monoinsaturados (cis e trans) do leite humano em diferentes
períodos de lactação.
1 dia (n=31) 7 dias (n=33) 32 dias (n=31) 62 dias (n=31) 91 dias (n=30)
Parâmetro
X (±DP) Mi X (±DP) Mi X (±DP) Mi X (±DP) Mi X (±DP) Mi
p**
C6:0 1,91 (±1,42) 1,91 1,04 (±0,39) 1,09 1,09 (±0,65) 0,95 0,82 0,48) 0,70 0,95 (±0,54) 0,75 ***
C10:0 ND ND 1,38 (±0,53) 1,27 1,53 (±0,60) 1,45 1,85 (±1,03) 1,57 1,58 (±0,62) 1,59 0,185
C12:0 1,78 (±1,17) 1,43
a
6,68 (±2,87) 5,81
b
7,04 (±3,18) 7,13
b
8,04 (±3,98) 7,09
b
7,56 (±3,42) 7,55
b
< 0,001 *
C14:0 3,78 (±1,88) 3,68
a
6,99 (±2,88) 6,45
b
7,03 (±3,70) 6,74
b
7,96 (±3,52) 7,11
b
7,92 (±3,82) 7,64
b
< 0,001 *
C16:0 17,58 (±9,34) 18,49
a
16,84 (±5,20) 16,61
a,b
14,35 (±5,24) 13,56
b
17,49 (±6,38) 17,30
a,b
15,70 (±6,31) 14,79
a,b
0,030 *
C18:0 10,88 (±7,18) 9,41 7,37 (±2,95) 7,00 6,79 (±2,84) 6,34 7,98 3,32) 6,99 7,41 (±3,01) 6,55 0,126
AGS 33,36 (±18,07) 32,89 39,53 (±10,64) 39,32 37,19 (±13,58) 36,34 43,84 (±16,11) 39,28 40,95 (±15,38) 37,08 0,289
C16:1 1,15 (±0,46) 1,17
a
1,72 (±0,73) 1,64
a,b
1,81 (±0,86) 1,53
b
2,05 (±1,06) 1,70
b
1,69 (±0,76) 1,59
b
0,013 *
C18:1n9c 22,92 (12,64) 25,09 26,04 (±9,25) 25,41 22,64 (±8,03) 21,12 28,16 (±11,23) 24,62 25,99 (±12,04) 23,84 0,165
C20:1 ND ND 1,05 (±0,68) 0,92 0,99 (±0,63) 0,84 0,99 (±0,59) 0,91 1,11 (±0,78) 0,82 ***
AGM 25,92 (±13,68) 27,91 28,03 (±10,04) 27,20 25,06 (±9,02) 22,71 31,04 (±12,26) 26,57 28,50 (±12,85) 26,38 0,277
AGT 2,72 (±2,89) 1,65 1,67 (±1,42) 1,24 1,82 (±1,53) 1,25 2,41 2,21) 1,46 1,97 (±1,15) 1,73 0,308
Teste de Friedman (**) complementado pelo teste de Comparações Múltiplas de Dunn’s (*), quando p<0,05. Letras diferentes indicam diferença
estatística (p<0,05). X: média; DP: desvio padrão; Mi: mediana; : somatório; AGS: ácidos graxos saturados; AGM: ácidos graxos
monoinsaturados; AGT: ácidos graxos trans; ND: não determinado; (***): Teste de Friedman não realizado.
102
Tabela 4 – Evolução do teor de ácidos graxos poliinsaturados (mg%), de lipídios totais (g/dL) e de energia (kcal) do leite humano em
diferentes períodos de lactação.
1 dia (n=31) 7 dias (n=33) 32 dias (n=31) 62 dias (n=31) 91 dias (n=30)
Parâmetro
X (±DP) Mi X (±DP) Mi X (±DP) Mi X (±DP) Mi X (±DP) Mi
p**
C18:2n6c
21,96 (±13,21) 21,63 24,27 (±9,42) 24,66 21,20 (±8,96) 19,87 26,86 (±19,09) 23,61 26,36 14,25) 25,57
0,754
C18:3n3
1,50 (±0,67) 1,33 1,75 (±0,73) 1,69 1,58 (±0,66) 1,45 2,18 (±1,81) 1,85 2,13 (±1,25) 1,85
0,284
C20:2
2,28 (±2,21) 1,73
a
0,95 (0,33) 0,89
a
0,63 (±0,18) 0,56
a
0,89 (±0,53) 0,75
a
1,08 (±0,59) 0,89
a
0,019 *
C20:3n6
0,94 (±0,46) 0,98 0,84 (±0,36) 0,79 0,58 (±0,22) 0,53 0,59 (±0,21) 0,56 0,51 (±0,14) 0,56
***
C20:3n3
2,37 (±2,26) 1,54 1,18 (±0,82) 0,72 0,97 (±0,56) 0,86 0,76 (±0,40) 0,63 1,26 (±0,86) 0,85
***
C20:4n6
1,38 (±0,80) 1,18 0,92 (±0,45) 0,89 0,61 (±0,19) 0,57 0,73 (±0,23) 0,66 0,71 (±0,20) 0,63
***
AGP
26,17 (±15,18) 27,26 27,92 (±10,66) 28,37 24,01 (±9,67) 21,71 29,94 (±20,84) 27,68 29,40 (±15,60) 28,56
0,752
n-6
22,83 (±13,59) 23,09 25,21 (±9,76) 26,37 21,76 (±8,93) 20,36 27,29 (±19,13) 25,05 26,65 14,34) 25,73
0,760
n-3
2,32 (±1,80) 2,04 2,01 (±0,98) 1,76 2,01 (±1,00) 1,77 2,35 (±1,89) 1,98 2,26 (±1,36) 1,99
0,300
AG Totais
88,16 (±49,82) 89,71 97,15 (±32,75) 96,14 88,08 (±33,80) 82,02 107,23 (±51,54) 94,99 100,81 (±44,98) 93,75
0,742
LT
2,97 (±2,23) 2,49
a
4,58 (±1,70) 4,24
a,b
5,52 (±2,64) 5,13
b
5,14 (±2,55) 4,58
a,b
5,64 (±2,49) 5,46
b
0,003 *
Energia
618,86 (± 217,23) 571,85
a
776,43 (±165,41) 743,39
a,b
868,14 (±257,28) 829,72
b
831,06 (±248,32) 775,98
a,b
879,19 (±242,55) 862,29
b
0,003 *
Teste de Friedman (**) complementado pelo teste de Comparações Múltiplas de Dunn’s (*), quando p<0,05. Letras diferentes indicam diferença
estatística (p<0,05). X: média; DP: desvio padrão; Mi: mediana; : somatório; AGP: ácidos graxos poliinsaturados; AG: ácidos graxos; LT: lipídios
totais; (***): Teste de Friedman não realizado.
103
Tabela 5 – Correlação entre os percentuais de ácidos graxos essenciais e
de ácidos graxos trans com os ácidos graxos poliinsaturados e os ácidos
graxos totais.
C18:3n3
(X de n=156)
C18:2n6c
(X de n=156)
AGT
(X de n=156)
Parâmetro
(X de n=156)
r p r p r p
C18:2n6c - - - - 0,057 0,747
C18:3n3 - - 0,790 < 0,001* -0,147 0,411
C20:4n6 0,252 0,178 0,203 0,280 -0,162 0,389
n-6 0,800 < 0,001* - - 0,053 0,764
n-3 - - 0,871 < 0,001* 0,010 0,953
AGP 0,777 < 0,001* 0,983 < 0,001* 0,092 0,604
AG Totais 0,586 < 0,001* 0,855 < 0,001* 0,225 0,205
Correlação de Spearman; (*) p<0,05. X: média; : somatório; AGP: ácidos
graxos poliinsaturados; AG: ácidos graxos.
104
Tabela 6 – Valores medianos de ácidos graxos (mg%), de lipídios totais
(g/dL) e de energia (kcal) relacionados à escolaridade materna, sendo 8
ou 8 anos de estudo e correlação entre estes parâmetros..
8 anos
(n=17)
8 anos
(n=16)
Parâmetro
(X de n=156)
X (±DP) Mi X (±DP) Mi
p* r** p**
C6:0 0,32 (±0,19) 0,27 0,28 (±0,10) 0,25 0,620 -0,264 0,271
C10:0 1,47 (±0,41) 1,49 1,46 (±0,41) 1,49 1,000 0,053 0,764
C12:0 5,75 (±1,49) 5,44 5,66 (±1,69) 6,42 0,732 0,003 0,984
C14:0 6,48 (±2,17) 5,86 6,10 (±1,78) 6,23 0,759 -0,173 0,332
C16:0 15,96 (±3,63) 15,35 15,03 (±3,38) 15,11 0,871 -0,032 0,855
C18:0 7,90 (±2,62) 7,14 7,36 (±1,62) 7,24 0,900 0,003 0,986
AGS 37,90 (±9,19) 36,58 35,72(±7,38) 37,86 0,787 -0,025 0,886
C16:1 1,43 (±0,47) 1,39 1,52 (±0,37) 1,61 0,407 0,187 0,295
C18:1n9c 24,12 (±5,80) 23,63 23,43 (±5,47) 23,43 0,957 0,055 0,758
C20:1 1,09 (±0,99) 0,80 0,81 (±0,36) 0,81 0,851 0,070 0,698
AGM 26,61 (±6,41) 25,72 25,76 (±5,69) 25,80 1,000 0,075 0,674
AGT 1,99 (±1,17) 1,62 1,46 (±0,85) 1,03 0,135 -0,029 0,869
C18:2n6c 23,62 (±7,42) 21,78 21,93 (±8,93) 20,42 0,305 -0,166 0,353
C18:3n3 1,40 (±0,74) 1,36 1,31 (±0,72) 1,17 0,528 -0,125 0,485
C20:2 0,93 (±0,54) 0,82 0,75 (±0,39) 0,75 0,407 -0,153 0,393
C20:3n6 0,31 (±0,19) 0,24 0,20 (±0,10) 0,20 0,157 -0,342 0,092
C20:3n3 0,52 (±0,65) 0,38 0,35 (±0,26) 0,32 0,614 -0,177 0,356
C20:4n6 0,50 (±0,27) 0,44 0,33 (±0,21) 0,26 0,071 -0,316 0,087
AGP 27,20 (±8,25) 25,83 24,69 (±9,84) 23,40 0,288 -0,185 0,299
n-6 24,37 (±7,56) 23,03 22,35 (±8,88) 20,99 0,340 -0,150 0,401
n-3 1,89 (±0,79) 1,87 1,59 (±0,89) 1,39 0,986 -0,300 0,089
AG Totais 93,70 (±21,22) 88,67 87,62 (±20,57) 86,93 0,505 -0,043 0,808
LT 4,58 (±1,72) 4,69 4,42 (±1,01) 4,37 0,815 -0,068 0,702
Energia 756,64 (±188,07) 786,64 744,30 (±110,76) 747,51 0,843 -0,101 0,574
(*) Teste de Mann Whitney, (**) Correlação de Spearman, obtida a partir da média
do parâmetro comparada ao tempo total (anos) de escolaridade. X: média; DP:
desvio padrão; Mi: mediana; : somatório; AGS: ácidos graxos saturados; AGM:
ácidos graxos monoinsaturados; AGT: ácidos graxos trans; AGP: ácidos graxos
poliinsaturados; AG: ácidos graxos; LT: lipídios totais.
105
Tabela 7 – Valores medianos de ácidos graxos (mg%), de lipídios totais
(g/dL) e de energia (kcal) relacionados ao peso ao nascer (peso
insuficiente – 2999 g ou peso normal – 3000 g) e correlação entre estes
parâmetros.
2999 g
(n=14)
3000 g
(n=19)
Parâmetro
(X de n=156)
X (±DP) Mi X (±DP) Mi
p** r*** p***
C6:0 0,27 (±0,09) 0,26 0,34 (±0,21) 0,28 0,713 0,093 0,699
C10:0 1,55 (±0,44) 1,56 1,40 (±0,38) 1,45 0,466 -0,329 0,060
C12:0 6,11 (±1,43) 6,42 5,41 (±1,63) 4,97 0,196 -0,346 0,048*
C14:0 6,97 (±2,21) 7,38 5,80 (±1,65) 5,63 0,109 -0,331 0,059
C16:0 15,93 (±3,64) 15,40 15,20 (±3,44) 14,58 0,841 -0,078 0,660
C18:0 8,09 (±2,67) 7,36 7,31 (±1,72) 7,14 0,455 -0,200 0,263
AGS 38,91 (±9,30) 37,04 35,32 (±7,38) 36,52 0,334 -0,256 0,149
C16:1 1,36 (±0,37) 1,25 1,56 (±0,44) 1,62 0,216 0,182 0,309
C18:1n9c 23,70 (±5,47) 23,39 23,85 (±5,79) 23,70 0,985 -0,131 0,465
C20:1 1,23 (±1,06) 0,85 0,76 (±0,34) 0,77 0,328 -0,128 0,484
AGM 26,21 (±6,14) 25,88 26,18 (±6,04) 25,72 0,971 -0,120 0,501
AGT 1,91 (±1,24) 1,64 1,60 (±0,90) 1,26 0,500 -0,241 0,175
C18:2n6c 21,92 (±7,31) 20,76 23,45 (±8,78) 21,78 0,597 -0,020 0,908
C18:3n3 1,23 (±0,63) 1,23 1,45 (±0,78) 1,25 0,512 0,078 0,663
C20:2 1,03 (±0,59) 0,82 0,71 (±0,32) 0,66 0,196 -0,435 -0,011*
C20:3n6 0,24 (±0,16) 0,20 0,28 (±0,18/) 0,28 0,739 0,121 0,561
C20:3n3 0,52 (±0,78) 0,21 0,39 (±0,26) 0,39 0,369 0,192 0,314
C20:4n6 0,32 (±0,20) 0,29 0,49 (±0,27) 0,45 0,090 0,274 0,141
AGP 25,04 (±8,15) 23,47 26,68 (±9,75) 25,83 0,572 -0,012 0,943
n-6 22,36 (±7,29) 21,17 24,15 (±8,86) 23,03 0,512 -0,007 0,964
n-3 1,64 (±0,86) 1,49 1,82 (±0,84) 1,67 0,392 0,049 0,783
AG Totais 92,08 (±20,72) 86,81 89,78 (±21,39) 89,98 0,841 -0,087 0,624
LT 4,54 (±1,56) 4,48 4,48 (±1,32) 4,45 0,884 0,112 0,531
Energia 757,85 (±167,78) 766,50 745,35 (±146,06) 748,80 0,841 0,096 0,589
(**) Teste de Mann Whitney; (***) Correlação de Spearman, obtida a partir da
média do parâmetro comparada ao peso ao nascer (g); (*) p<0,05. X: média; DP:
desvio padrão; Mi: mediana; : somatório; AGS: ácidos graxos saturados; AGM:
ácidos graxos monoinsaturados; AGT: ácidos graxos trans; AGP: ácidos graxos
poliinsaturados; AG: ácidos graxos; LT: lipídios totais.
106
Tabela 8 – Valores medianos de ácidos graxos (mg%), de lipídios totais
(g/dL) e de energia (kcal) relacionados ao tipo de parto.
Normal
(n=18)
Cesária
(n=15)
Parâmetro
(X de n=156)
X (±DP) Mi X (±DP) Mi
p*
C6:0 0,22 (±0,07) 0,24 0,33 (±0,17) 0,29 0,211
C10:0 1,32 (±0,33) 1,32 1,59 (±0,43) 1,60 0,063
C12:0 5,24 (±1,37) 5,13 6,09 (±1,65) 6,42 0,134
C14:0 5,77 (±1,72) 5,63 6,73 (±2,10) 7,07 0,240
C16:0 15,25 (±3,27) 15,92 15,72 (±3,74) 14,10 0,842
C18:0 7,41 (±1,71) 7,22 7,83 (±2,53) 7,14 0,899
AGS 35,18 (±6,85) 36,58 38,23 (±9,32) 37,04 0,481
C16:1 1,39 (±0,37) 1,25 1,54 (±0,45) 1,55 0,396
C18:1n9c 23,42 (±5,23) 23,70 24,09 (±5,96) 23,39 0,814
C20:1 0,89 (±0,35) 0,92 1,01 (±0,98) 0,74 0,355
AGM 25,70 (±5,49) 25,72 26,61 (±6,50) 25,88 0,814
AGT 1,71 (±0,70) 1,62 1,75 (±1,29) 1,19 0,504
C18:2n6c 22,38 (±6,19) 21,78 23,15 (±9,57) 20,87 0,957
C18:3n3 1,34 (±0,45) 1,25 1,37 (±0,90) 1,23 0,600
C20:2 0,85 (±0,38) 0,81 0,84 (±0,55) 0,77 0,759
C20:3n6 0,31 (±0,20) 0,31 0,22 (±0,13) 0,18 0,415
C20:3n3 0,42 (±0,30) 0,39 0,46 (±0,65) 0,26 0,392
C20:4n6 0,44 (±0,25) 0,38 0,40 (±0,26) 0,37 0,575
AGP 25,63 (±6,68) 25,83 26,27 (±10,76) 23,40 0,759
n-6 23,07 (±6,26) 23,03 23,66 (±9,64) 21,37 0,914
n-3 1,71 (±0,54) 1,61 1,78 (±1,04) 1,43 0,492
AG Totais 88,22 (±17,83) 91,95 92,86 (±23,30) 86,93 0,986
LT 4,96 (±1,44) 5,01 4,12 (±1,28) 4,11 0,100
Energia 795,56 (±163,17) 818,17 713,24 (±137,85) 729,90 0,108
Teste de Mann Whitney (*). X: média; DP: desvio padrão; Mi: mediana; :
somatório; AGS: ácidos graxos saturados; AGM: ácidos graxos monoinsaturados;
AGT: ácidos graxos trans; AGP: ácidos graxos poliinsaturados; AG: ácidos
graxos; LT: lipídios totais.
107
Tabela 9 – Valores medianos de ácidos graxos (mg%), de lipídios totais
(g/dL) e de energia (kcal) relacionados à paridade.
Primípara
(n=20)
Multípara
(n=13)
Parâmetro
(X de n=156)
X (±DP) Mi X (±DP) Mi
p*
C6:0 0,28 (±0,08) 0,26 0,34 (±0,25) 0,27 0,966
C10:0 1,47 (±0,38) 1,50 1,46 (±0,47) 1,49 0,782
C12:0 5,55 (±1,37) 5,33 5,95 (±1,86) 6,33 0,495
C14:0 6,13 (±1,81) 5,83 6,55 (±2,25) 6,66 0,726
C16:0 15,28 (±3,14) 15,40 15,86 (±4,08) 14,58 0,985
C18:0 7,41 (±1,37) 7,27 7,99 (±3,07) 7,10 0,699
AGS 35,98 (±6,15) 37,04 38,17 (±11,00) 35,71 0,782
C16:1 1,55 (±0,42) 1,56 1,36 (±0,41) 1,39 0,185
C18:1n9c 24,04 (±5,78) 24,52 23,39 (±5,42) 21,96 0,387
C20:1 0,88 (±0,52) 0,77 1,06 (±1,00) 0,84 0,893
AGM 26,44 (±5,89) 26,59 25,82 (±6,36) 24,61 0,407
AGT 1,71 (±1,05) 1,36 1,77 (±1,09) 1,29 0,754
C18:2n6c 22,61 (±7,83) 20,98 23,11 (±8,83) 20,79 0,782
C18:3n3 1,41 (±0,62) 1,36 1,27 (±0,87) 1,03 0,302
C20:2 0,82 (±0,46) 0,77 0,88 (±0,52) 0,85 0,825
C20:3n6 0,25 (±0,19) 0,20 0,29 (±0,15) 0,31 0,262
C20:3n3 0,31 (±0,25) 0,29 0,61 (±0,70) 0,45 0,079
C20:4n6 0,39 (±0,25) 0,37 0,46 (±0,26) 0,41 0,421
AGP 25,61 (±8,62) 23,60 26,55 (±9,90) 23,94 0,754
n-6 23,13 (±7,88) 21,52 23,79 (±8,88) 20,99 0,927
n-3 1,66 (±0,79) 1,53 1,88 (±0,93) 1,67 0,428
AG Totais 89,75 (±18,11) 88,01 92,30 (±25,13) 88,67 0,897
LT 4,48 (±1,24) 4,46 4,54 (±1,68) 4,30 0,868
Energia 750,11 (±140,34) 764,16 751,49 (±177,24) 746,37 0,956
Teste de Mann Whitney (*). X: média; DP: desvio padrão; Mi: mediana; :
somatório; AGS: ácidos graxos saturados; AGM: ácidos graxos monoinsaturados;
AGT: ácidos graxos trans; AGP: ácidos graxos poliinsaturados; AG: ácidos
graxos; LT: lipídios totais.
108
Tabela 10 – Valores medianos de ácidos graxos (mg%), de lipídios totais
(g/dL) e de energia (kcal) relacionados à etnia materna observada.
Branca
(n=12)
Negra
(n=11)
Parda
(n=10)
Parâmetro
(X de n=156)
X (±DP) Mi X (±DP) Mi X (±DP) Mi
p**
C6:0 0,24 (±0,11) 0,22 0,32 (±0,08) 0,27 0,39 (±0,25) 0,26 0,365
C10:0 1,52 (±0,44) 1,55 1,45 (±0,47) 1,43 1,41 (±0,32) 1,41 0,679
C12:0 5,55 (±1,57) 5,73 5,74 (±1,60) 5,55 5,85 (±1,68) 6,04 0,891
C14:0 5,83 (±1,65) 5,82 6,75 (±2,48) 5,86 6,35 (±1,75) 6,28 0,616
C16:0 14,63 (±2,28) 14,92 16,76 (±4,53) 17,82 15,18 (±3,33) 14,13 0,408
C18:0 7,39 (±1,41) 7,11 8,09 (±3,07) 7,32 7,44 (±1,87) 7,12 0,818
AGS 35,06 (5,94) 35,68 39,09 (±11,04) 37,19 36,51 (±7,50) 36,55 0,572
C16:1 1,60 (0,36) 1,71 1,43 (±0,48) 1,25 1,37 (±0,42) 1,35 0,286
C18:1n9c 23,28 (±3,43) 23,39 24,35 (7,33) 24,90 23,77 (±5,93) 21,66 0,901
C20:1 1,02 (0,27) 0,95
a
1,27 (±1,20) 0,85
a,b
0,55 (±0,27) 0,52
b
0,006*
AGM 25,90 (±3,68) 25,88 26,97 (±8,03) 26,65 25,69 (±6,19) 23,65 0,801
AGT 1,89 (±0,94) 1,91 1,98 (±1,31) 1,29 1,27 (±0,76) 0,92 0,204
C18:2n6c 22,89 (±7,74) 20,87 21,19 (±5,86) 20,26 24,47 (±10,76) 22,89 0,754
C18:3n3 1,39 (±0,71) 1,21 1,09 (±0,48) 1,03 1,60 (±0,91) 1,48 0,455
C20:2 0,78 (±0,39) 0,80
a,b
1,13 (±0,59) 0,91
a
0,60 (±0,26) 0,61
b
0,033*
C20:3n6 0,29 (±0,14) 0,31 0,29 (±0,20) 0,24 0,21 (±0,16) 0,14 0,508
C20:3n3 0,45 (±0,35) 0,39 0,59 (±0,88) 0,29 0,31 (±0,18) 0,21 0,802
C20:4n6 0,33 (±0,21) 0,23 0,48 (±0,33) 0,41 0,45 (±0,17) 0,48 0,325
AGP 26,00 (±8,68) 23,67 24,61 (±6,77) 23,51 27,47 (±11,86) 26,10 0,889
n-6 23,37 (±7,82) 21,18 21,96 (±6,09) 21,39 24,99 (±10,74) 23,51 0,840
n-3 1,84 (±0,87) 1,56 1,51 (±0,62) 1,59 1,88 (±1,02) 1,56 0,779
AG Totais 88,86 (±15,78) 90,16 92,64 (±24,49) 89,98 90,95 (±23,67) 87,25 0,993
LT 4,22 (±1,13) 4,38 4,96 (±1,71) 5,01 4,35 (±1,34) 4,05 0,452
Energia 724,21 (±135,78) 756,91
794,74 (±184,02) 818,17 733,89 (±140,31) 709,26 0,509
Teste de Kruskall Wallis (**) complementado pelo teste de Comparações Múltiplas
de Dunn’s (*), quando p<0,05. Letras diferentes indicam diferença estatística
(p<0,05). X: média; DP: desvio padrão; Mi: mediana; : somatório; AGS: ácidos
graxos saturados; AGM: ácidos graxos monoinsaturados; AGT: ácidos graxos
trans; AGP: ácidos graxos poliinsaturados; AG: ácidos graxos; LT: lipídios totais.
109
Tabela 11 – Correlação entre a média de ganho de peso dos recém-nascidos e a idade gestacional com os percentuais de ácidos
graxos saturados e monoinsaturados (cis e trans) em diferentes períodos de lactação.
Ganho de peso por período
1d–7d
(n=33)
7d–32d
(n=31)
32d–62d
(n=29)
62d–91d
(n=29)
Média Geral
(X de n=149)
Idade
Gestacional
(n =33)
Parâmetro
(X de n=156)
r p r p r P r p r p r p
C10:0 - - - - - - - - -0,054 0,831 -0,278 0,245
C12:0 - - -0,106 0,583 0,046 0,814 -0,075 0,707 -0,468 0,014* -0,035 0,840
C14:0 0,019 0,919 -0,270 0,140 -0,089 0,641 -0,217 0,264 -0,062 < 0,001* -0,025 0,888
C16:0 -0,101 0,585 -0,110 0,554 0,166 0,388 0,006 0,974 -0,241 0,223 0,035 0,843
C18:0 -0,188 0,310 -0,200 0,278 0,162 0,399 -0,241 0,215 -0,143 0,473 -0,128 0,475
AGS -0,116 0,531 -0,243 0,186 0,117 0,543 -0,166 0,395 -0,443 0,020* -0,059 0,742
C16:1 -0,523 0,030* 0,038 0,841 -0,101 0,607 -0,001 0,992 0,002 0,989 0,132 0,462
C18:1n9c 0,028 0,877 0,096 0,603 0,033 0,861 0,017 0,928 -0,202 0,309 -0,109 0,545
C20:1 -0,279 0,175 -0,314 0,564 0,147 0,566 -0,006 0,977 0,084 0,678 0,096 0,597
AGM -0,025 0,892 0,105 0,570 0,016 0,930 0,039 0,840 -0,195 0,325 -0,081 0,652
AGT 0,218 0,209 -0,022 0,916 0,165 0,447 -0,345 0,097 -0,009 0,962 0,250 0,159
Correlação de Spearman; (*) p<0,05. : somatório; AGS: ácidos graxos saturados; AGM: ácidos graxos monoinsaturados; AGT:
ácidos graxos trans.
110
Tabela 12 – Correlação entre o ganho de peso dos recém-nascidos e a idade gestacional com os percentuais de ácidos graxos
poliinsaturados, de lipídios totais e de energia em diferentes períodos de lactação.
Ganho de peso por período
1d–7d
(n=33)
7d–32d
(n=31)
32d–62d
(n=29)
62d–91d
(n=29)
Média Geral
(n=149)
Idade
Gestacional
(n=33)
Parâmetro
(X de n=156)
r p R p r P r p r p r p
C18:2n6c -0,060 0,743 -0,187 0,310 0,016 0,930 0,287 0,137 0,058 0,769 -0,014 0,934
C18:3n3 0,069 0,817 -0,237 0,262 0,043 0,844 0,334 0,147 0,144 0,470 -0,097 0,588
C20:2 -0,090 0,670 -0,392 0,106 0,339 0,225 -0,260 0,356 -0,437 0,023* 0,005 0,977
C20:3n6 - - -0,214 0,578 0,500 1,000 - - 0,057 0,809 0,292 0,154
C20:3n3 - - - - - - - - 0,104 0,633 0,250 0,188
C20:4n6 -0,333 0,356 0,095 0,755 0,571 0,150 -0,500 1,000 0,187 0,377 0,056 0,764
AGP -0,083 0,635 -0,216 0,241 0,045 0,813 0,296 0,125 0,047 0,811 -0,008 0,961
n-6 -0,067 0,715 -0,209 0,257 0,033 0,859 0,301 0,118 0,066 0,739 -0,014 0,936
n-3 0,081 0,720 -0,182 0,379 0,108 0,620 0,394 0,076 0,056 0,776 -0,056 0,754
AG Totais -0,166 0,369 -0,163 0,379 0,075 0,695 0,046 0,812 -0,139 0,485 -0,003 0,984
LT 0,134 0,471 0,095 0,606 -0,037 0,843 0,023 0,906 0,011 0,953 0,272 0,125
Energia 0,134 0,471 0,095 0,606 -0,032 0,865 0,023 0,906 0,057 0,776 -0,003 0,984
Correlação de Spearman; (*) p<0,05. : somatório; AGP: ácidos graxos poliinsaturados; AG: ácidos graxos; LT: lipídios totais.
111
5.3. ARTIGO ORIGINAL 2
Influência da alimentação materna sobre o perfil de ácidos
graxos do leite humano de mulheres de baixa renda de Viçosa – MG
5.3.1. Resumo
A correta avaliação do conteúdo lipídico e do perfil de ácidos graxos
consumidos pelas nutrizes é de grande importância para os estudos que
avaliam a composição desses mesmos parâmetros no leite humano. No
presente estudo, analisou-se os percentuais de ácidos graxos, de lipídios
totais e de energia do leite humano de 33 nutrizes do município de Viçosa
– MG, ao longo de três meses de lactação (períodos medianos de 1, 7, 32,
62 e 91 dias pós-parto). Avaliou-se a correlação entre com o consumo
lipídico das mulheres, avaliado por meio de inquéritos dietéticos:
Recordatório de 24 Horas (R24H), aplicado aos 7, 32, 62 e 91 dias pós-
parto; Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar (QFCA) e Lista
de Disponibilidade de Alimentos (LDA) que foram aplicados aos 91 dias
pós-parto, relativos ao período estudado. Observou-se que as nutrizes
estudadas apresentaram baixa renda (R$ 652,00 ± R$ 367,00) e baixa
escolaridade (8,8 ±2,5 anos de estudo). Do total de amostras de leite
humano coletado, ou seja, em todos os tempos (n=156) verificou-se uma
semelhança com os resultados encontrados em outros estudos,
principalmente com de estudos brasileiros. Não foram encontradas
correlações significantes entre os parâmetros investigados pelo R24H com
os percentuais de ácidos graxos, de lipídios totais e de energia do leite
humano. De acordo com o QFCA e com a LDA, o consumo de leite de
vaca integral pela nutriz correlacionou-se positivamente (p<0,05) com o
total de ácidos graxos saturados (AGS), de monoinsaturados, de
poliinsaturados, de ácidos graxos totais e com os percentuais de C18:2n6
do leite humano. Semelhante a isso, porém de forma inversa,
correlacionou-se o consumo de margarina, de manteiga e de carne suína
com os percentuais de ácidos graxos poliinsaturados do leite humano.
Boas correlações negativas foram observadas entre a ingestão de carne
suína com os percentuais de C18:2n-6 (r=-0,630, p=-0,035). O consumo de
peixe, apesar de ter sido equiparável ao consumo per capita diário de
112
carne bovina, não apresentou alterações relevantes nos parâmetros
estudados do leite humano. O consumo de leite de vaca provocou
alterações positivas no perfil de ácidos graxos do leite humano. Esse
mesmo fato não foi observado para o consumo de carne suína. Ressalta-
se a ausência dos ácidos graxos EPA e DHA nas amostras de leite
analisadas, o que sugere uma má adequação da alimentação das nutrizes
em relação a esses componentes alimentares. Além disso, observou-se
que os inquéritos: QFCA e LDA foram mais eficazes para a análise da
interferência alimentar materna sobre o perfil de ácidos graxos do leite
humano.
Palavras chave: leite humano, ácidos graxos, amamentação, mulheres
brasileiras, hábitos alimentares, consumo de alimentos.
5.3.2. Abstract
The appropriate evaluation of the lipid content and the fatty acid
profile of maternal diet have great importance for the investigation of their
composition in human milk. The present study analyzed the fatty acid and
lipid contents and the energy of the human milk of 33 women of Viçosa –
MG, Brazil, during three months of lactation (median periods of 1, 7, 32, 62,
and 91 days after delivery) and correlated them with the mothers’ lipid
consumption evaluated by means of dietary inquiries, 24-hour Dietary
Recall (R24H), at 7, 32, 62, and 91 days after delivery, Questionnaire of
Frequency of Food Consumption (QFFC), and Food Availability List (FAL)
at 91 days after delivery relative to the studied period. It was observed that
the women studied had low income (R$ 652.00 ± R$ 367.00) and low
education level (8.8 ± 2.5 years of study). A similarity was observed
between the human milk samples collected (n = 156) and the results of
other studies, mainly Brazilian ones. We did not find significant correlations
between the R24H parameters investigated and the fatty acid and lipid
percentages and the energy of human milk. According to the QFFC and the
FAL results, the maternal consumption of cow whole milk correlated
positively (p < 0.05) with the total saturated (SFA), monounsaturated
(MUFA), polyunsaturated (PUFA), and total fatty acids and with the
113
percentages of C18:2n-6 of human milk. However, the consumption of
margarine, butter, and pork correlated inversely with the percentages of
PUFA in human milk. Strong negative correlations were observed for pork
consumption and the percentages of C18:2n-6 (r = -0.630; p = -0.035).
Although the daily fish consumption was similar to the daily per capita
consumption of beef, it did not affect the human milk parameters studied.
These results demonstrated that the daily consumption of cow whole milk
affects the fatty acid profile of human milk positively, which was not
observed for the daily consumption of pork. Furthermore, it was observed
that the QFFC and FAL inquiries were more efficient in the analysis of the
effects of maternal diet on the fatty acid profile of human milk.
Keywords: human milk, fatty acid, breast-feeding, Brazilian women, dietary
habits, food consumption.
5.3.3. Introdução
O adequado crescimento e desenvolvimento do recém-nascido
parecem ser dependentes da qualidade da alimentação materna. Vários
estudos demonstram a interferência da alimentação sobre a composição
lipídica do leite humano (Hayat et al., 1999; Innis & King, 1999; Fidler &
Kolotzko, 2000; Prado et al., 2001; Anderson et al., 2005; Cunha et al.,
2005; Silva et al., 2005). Os ácidos graxos poliinsaturados (AGP),
especialmente os ácidos graxos essenciais (ácido linoléico – C18:2n-6 e
ácido α-linolênico – C18:3n-3) e os metabólitos destes, como o ácido
araquidônico – AA (C20:4n-6), o ácido eicosapentenóico – EPA (C20:5n-3)
e o ácido docosahexaenóico – DHA (C22:6n-3) estão envolvidos com o
desenvolvimento neurológico e com a acuidade visual dos recém-nascidos
(Uauy et al., 2001; Lauritzen et al., 2004; Dijck-Brower et al., 2005; Hart et
al., 2006). Além disso, o leite humano é importante por fornecer ácidos
graxos saturados, que podem ser utilizados como fonte energética para os
recém-nascidos (Giovannini et al., 1991) e, também, ácidos graxos
monoinsaturados, utilizados como fonte energética e para a composição
das membranas celulares (Giovannini et al., 1991; Jensen, 1999).
Entretanto, os ácidos graxos trans (AGT) podem ser veiculados também
114
para o recém-nascido via leite humano, podendo inibir a biossíntese de
EPA, DHA e AA, devido à competição pelas enzimas de dessaturação dos
ácidos graxos essenciais (Scrimgeour et al., 2001).
Assim, são de grande interesse estudos que verifiquem a
composição lipídica do leite materno, e sua relação com a ingestão de
lipídios por meio dos inquéritos alimentares. Porém, é inevitável que uma
aplicação de instrumentos dietéticos seja realizada sem erros.
Particularmente o Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar
(QFCA) e o Recordatório de 24 Horas (R24H) estão sujeitos a erros
inerentes ao indivíduo e ao planejamento, aplicação e análise dos dados
(Bingham, 1987; Tarasuk et al., 1992; Beaton, 1994; Slater et al., 2004;
Costa et al., 2006b). Não obstante, o método mais adequado para
avaliação dietética seria a pesagem de alimentos, porém é um método de
maior custo, mais invasivo e requer um maior tempo para sua aplicação,
em relação ao QFCA e R24H (Bingham, 1987). Devido a isso, o QFCA e o
R24H são os tipos de inquéritos alimentares mais utilizados em pesquisas
científicas (Buzzard, 1998; McPhearson et al., 2000; Ferro-Luzzi, 2002).
A proposta deste estudo foi investigar o conteúdo lipídico, de
energia e a composição de ácidos graxos do leite humano de nutrizes do
município de Viçosa – MG e correlacionar esses parâmetros com a
ingestão alimentar materna.
5.3.4. Metodologia
5.3.4.1. Casuística
O estudo foi realizado nos setores de “Alojamento Conjunto” e
“Programa de Apoio à Lactação” (PROLAC) do Hospital São Sebastião,
Viçosa – MG.
Foram recrutadas 272 nutrizes no pós-parto imediato e seus
respectivos recém-nascidos, no período de 01 de outubro a 10 de
dezembro de 2005. Do total de indivíduos, 33 pares mães/filhos (12,1%)
foram acompanhados até o terceiro mês pós-parto.
Os critérios de exclusão adotados foram: retenção do recém-nascido
na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal ou Berçário Intermediário;
115
crianças portadoras de anomalias congênitas; baixo peso ao nascer (<
2500g); mulheres fumantes e mulheres vegetarianas. Da mesma forma,
foram adotados critérios de inclusão, a saber: ausência de enfermidades
crônicas antes ou durante a gestação; idade gestacional entre 37 e 42
semanas; parto único e mulheres residentes na zona urbana de Viçosa.
As voluntárias assinaram um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido para sua inclusão e a de seu filho na amostra, previamente
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, da
Universidade Federal de Viçosa.
5.3.4.2. Coleta de dados
Cada par mãe/filho foi avaliado nos períodos: pós-parto imediato, 7,
32, 62 e 91 dias pós-parto.
No primeiro encontro (pós-parto imediato) as voluntárias
responderam a um questionário contendo as seguintes informações:
identificação, caracterização socioeconômica, condições de habitação,
dados obstétricos e gestacionais e dados do recém-nascido.
A coleta de leite foi realizada por ordenha manual em todos os cinco
encontros, de acordo com as técnicas preconizadas pela Rede Nacional de
Bancos de Leite Humano (http://www.redeblh.fiocruz.br/). Foram retirados
até 5 mL de leite humano em cada coleta, de acordo com a disponibilidade
materna, após uma mamada com duração de aproximadamente 10 a 15
minutos, exceto no pós-parto imediato, em que a coleta de leite humano foi
feita de acordo com a disponibilidade materna.
5.3.4.3. Análise dietética
Nos períodos de 7, 32, 62 e 91 dias pós-parto foram aplicados o
Recordatório de 24 Horas (R24H). As nutrizes foram orientadas a
relatarem todos os alimentos sólidos e líquidos, com exceção de água,
consumidos no dia anterior, informando os horários de consumo e as
quantidades em medidas caseiras ou em unidades (Serra-Majem &
Aracenta-Bartrina, 1995). Ainda, no período de 91 dias foi aplicado um
Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar (QFCA) do tipo semi-
quantitativo relativo ao período recente de consumo alimentar, composto
116
por 71 itens sobre o consumo semanal de alimentos ricos em lipídios e que
são habitualmente consumidos pela população estudada. Para os cálculos,
foi dividido o consumo pelo número de dias relatados (uma vez ao dia,
duas vezes ao dia, 3, 4, 5, 6 vezes por semana), dessa excluindo os
alimentos de consumo quinzenal e mensal.
Juntamente, com o QFCA foi aplicada uma Lista de Disponibilidade
de Alimentos (LDA), considerando a freqüência de
compra/aquisição/doação de gêneros alimentícios pela família e
considerando sua quantidade. Para o cálculo da quantidade disponível
para o consumo bruto per capita diário, foi dividida a quantidade mensal de
alimentos pelo número de moradores da casa, maiores do que 1 ano, e
pelo número de dias do respectivo mês. O formato da LDA compreende
um questionário contendo seis alimentos, ricos em lipídios, sal e açúcar
que são de difícil avaliação do consumo, tanto dos entrevistados quanto
dos entrevistadores.
Foram utilizados como recursos visuais um álbum fotográfico
(Zabotto et al., 1996) e medidas caseiras, para auxiliar na estimativa da
quantidade de alimentos e das porções relatadas. A padronização e
conversão das quantidades em medidas caseiras e/ou unidades relatadas
pelas nutrizes em peso e volume, foram realizadas segundo Barbosa
(2006).
Os cálculos dietéticos foram realizados utilizando-se o programa de
análises de dietas DietPro®, versão 4.0 (Esteves et al, 1998).
5.3.4.4. Análise da quantidade de lipídios totais e de energia do
leite humano
Após a coleta do leite humano foi realizada determinação do teor de
lipídios totais pela técnica do crematócrito, originalmente descrita por
Lucas et al. (1978) e adaptada para a rotina operacional da Rede Nacional
de Bancos de Leite Humano (http://www.redeblh.fiocruz.br/).
Os capilares contendo uma alíquota de leite foram centrifugados,
por 15 minutos, em uma centrífuga micro-hematócrito da marca Evlab® a
11.500 rotações por minuto. Foi mensurado o comprimento da coluna de
creme (mm) e da coluna total do produto (coluna de creme e coluna de
117
soro, expressos em mm) com o auxilio de um cremômetro; que consiste de
uma régua milimetrada e de uma lupa acoplados a uma lâmpada para
leitura capilar.
De posse desses valores, utilizaram-se fórmulas para estimar os
percentuais lipídios totais e de energia (http://www.redeblh.fiocruz.br/). Os
lipídios totais foram expressos em g/dL de leite e o teor de energia foi
expresso em kcal/litro de leite. Tais procedimentos foram realizados em
duplicatas e utilizaram-se as médias para as análises estatísticas.
Posteriormente, as amostras foram estocadas a -20º C até o momento da
extração de ácidos graxos.
5.3.4.5. Extração de ácidos graxos do leite humano
A extração dos ácidos graxos foi feita segundo a metodologia de
trans-esterificação direta, proposta por Lepage & Roy (1986).
Primeiramente, as amostras foram agitadas em Vórtex e uma alíquota de
100µL de leite humano foi adicionado em um tubo de vidro. Após,
adicionou-se à amostra 2mL de álcool metílico P.A. (Vetec®) – benzeno
(Labsynth®) na proporção de 4:1 e 100µg de padrão interno - C13:0
(Sigma-Aldrich®), previamente pesado e dissolvido à solução de metanol-
benzeno. Acrescentou-se uma pequena barra magnética e sob agitação,
adicionou-se vagarosamente, por um período de 1 minuto, 200µL de
cloreto de acetila P.S. (Vetec®). Os tubos foram fechados com tampa de
rosca, revestida com Teflon® e levados para o processo de metanólise, por
um período de 60 minutos a 100°C. Transcorrido esse tempo, os tubos
foram esfriados em água ambiente, por um período de 3 minutos e
adicionou-se, vagarosamente, 5mL de K
2
CO
3
P.A. (Vetec®) a 6%. Os
tubos foram agitados por 30 segundos e conduzidos à centrifugação por 10
minutos a 2500 rotações por minuto. O sobrenadante foi transferido para
um tubo âmbar e armazenado a -20°C até o momento da determinação de
ácidos graxos.
5.3.4.6. Determinação dos ácidos graxos do leite humano
O perfil de ácidos graxos do leite humano foi determinado por
cromatografia a gás (Shimadzu Modelo 17A), equipado com um detector
118
de ionização de chama e software Class-CG 10 versão 2.0. Os ácidos
graxos foram separados em coluna cromatográfica de sílica fundida SP-
2560 (biscianopropil polysiloxane) de 100m e 0,25mm de diâmetro. A
temperatura inicial da coluna foi de 100°C com aquecimento de 10°C por
minuto até atingir a temperatura de 180°C e então aquecimento de 1ºC por
minuto até atingir a temperatura de 240ºC, permanecendo nessa
temperatura por 10 minutos. A temperatura do injetor foi de 250°C e a do
detector de 270°C. O gás de arraste foi o hidrogênio (Aga®) com
velocidade linear de 14,8 cm/seg. A razão de divisão da amostra no injetor
foi de 1:40. Injetou-se 1µL da solução.
Os ácidos graxos das amostras foram identificados por comparação
entre o tempo de retenção dos picos gerados com o tempo de retenção
dos picos da mistura de 37 ésteres metílicos (C4:0 – C22:6) (189-
19/Supelco®, Bellefonte, PA, USA), utilizados como padrão externo.
A quantificação dos ácidos graxos procedeu-se segundo
Satchithanandam et al. (2002), em que se empregam fatores de correção e
de conversão para aproximação do teor real, em peso, dos ácidos graxos
da amostra. Os percentuais de ácidos graxos foram expressos em mg%.
5.3.4.7. Análise estatística
Foi utilizado o teste Spearman para correlacionar as médias de
consumo de ácidos graxos, de lipídios totais, de carboidrato e de energia
dos quatro R24H com os percentuais médios desses mesmos parâmetros,
exceto de carboidratos, presentes no leite humano. O mesmo teste foi
empregado para correlacionar as quantidades médias, em gramas ou em
mililitros, de alimentos do QFCA e da LDA com as médias de ácidos
graxos essenciais, bem como de saturados, de monoinsaturados, de
poliinsaturados, de ácidos graxos trans, de lipídios totais e de energia
presentes no leite.
Para a compilação dos dados utilizou-se o programa Excell e para
as análises estatísticas foi utilizado o programa Sigma Statistic® for
Windows versão 2.03 (Fox et al., 1994). O nível de rejeição para a hipótese
de nulidade, para todos os testes aplicados, foi de 0,05 (5%).
119
5.3.5. Resultados
Foram recrutados 272 pares mãe/filho, porém 57% não puderam
participar do estudo por residirem na zona rural ou fora do município de
Viçosa e 18% não quiseram participar ou já haviam recebido alta hospitalar
no momento da entrevista. Além disso, foram excluídos 3% das mães, por
apresentarem algum tipo de patologia, e 6% dos recém-nascidos, por
apresentar baixo peso ao nascer, por ser pré-termo ou por estar retido na
Unidade de Tratamento Intensivo. Não se encontrou mãe praticante do
vegetarianismo.
Do total de indivíduos aptos a participar, 8 mães não quiseram
continuar ou a mãe não conseguia amamentar ou a criança retornou ao
hospital para algum tipo de tratamento. Portanto, foram acompanhados 33
pares mãe/filho do pós-parto imediato até terceiro mês de vida da criança.
A Tabela 1 apresenta o perfil socioeconômico, obstétrico e
gestacional dos indivíduos acompanhados. Observa-se uma baixa
escolaridade entre as mulheres, baixa renda familiar e elevado número de
dependentes da renda, caracterizando uma população de baixo nível
socioeconômico.
A composição de 156 amostras de leite humano é apresentada na
Tabela 2. Os resultados dos percentuais de ácidos graxos foram
agrupados de acordo com número de insaturações e do número e do tipo
de duplas ligações que possui: AGS, AGM, AGT e AGP. Da mesma forma,
agruparam-se o total de ácidos graxos oriundos da síntese de novo (C10:0,
C12:0 e C14:0) e os ácidos graxos da série n-6 e da série n-3, além do
somatório de todos os ácidos graxos (AG totais).
As Tabelas 3 e 4 apresentam, respectivamente, as quantidades
médias de consumo diário per capita de alimentos ricos em lipídios,
relatados no QFCA e na LDA, e os percentuais de ácidos graxos, de
energia, de lipídios totais e a relação n-6:n-3 obtidos a partir da média dos
quatro R24H. Observa-se na Tabela 3 um baixo consumo de azeite de
oliva e um alto consumo de óleo de soja. Entretanto, verificam-se
equiparáveis consumos de carne bovina e de peixe pelas nutrizes. A
Tabela 4 apresenta os percentuais de EPA e de DHA, apesar desses
ácidos graxos não terem sido utilizados para a análise estatística, uma vez
120
que tais ácidos graxos não foram identificados nas amostras de leite
estudadas.
De acordo com a Tabela 5, não foram observadas correlações
significantes entre os ácidos graxos do leite humano e os ácidos graxos da
alimentação materna, obtidos a partir da média dos quatro R24H; bem
como, entre o total da síntese de novo (C10:0, C12:0 e C14:0) do leite
humano com a média de consumo de carboidrato. Porém, foram
verificadas correlações negativas e não significantes (p>0,05) entre os
seguintes parâmetros do leite humano e da alimentação materna: C6:0,
ácidos graxos essenciais, C20:4n6 e total de ácidos graxos
poliinsaturados.
Correlacionou-se, na Tabela 6, o consumo diário per capita de
alimentos ricos em lipídios, relatados no QFCA, com os percentuais de
ácidos graxos (AGS, AGM, AGP, AGT e AG totais) e de lipídios totais do
leite humano. Correlações positivas e significantes (p<0,05) e
moderadamente fortes foram obtidas entre o consumo de leite e os AGS,
AGM, AGP e AG totais. Assim também ocorreu entre o consumo de ovo e
os percentuais de AGP. Por outro lado, foram verificadas correlações
negativas e significantes (p<0,05) e moderadamente fortes entre o
consumo de manteiga, de margarina, de carne suína em relação aos AGP;
entre o consumo de carne suína e os percentuais de AG totais e o
consumo de ovo e o teor de lipídios totais. Os AGT correlacionaram-se
negativamente com a maioria dos alimentos analisados (Tabela 6).
Moderadas correlações negativas também foram obtidas entre o
consumo de carne suína e os percentuais de AGS (p=0,076), de ovo e
AGM (p=0,087), de óleo de soja e de carne suína e o teor de AGT
(p=0,071 e p=0,055, respectivamente) e entre o consumo de manteiga e o
percentual total de ácidos graxos (p=0,079) (Tabela 6).
É apresentado na Tabela 7 o comportamento de ácidos graxos
essencias e de seus metabólitos em relação aos alimentos que
apresentaram diferença estatística (p<0,05), a saber: leite, manteiga,
margarina, carne suína e ovo. Observou-se correlação positiva e
significante entre o a ingestão de leite e de ovo com os percentuais de
C18:2n-6 do leite humano (r=0,382; p=0,045 e r=0,529; p=0,020;
121
respectivamente). Melhores correlações, porém negativas, foram obtidas
entre o consumo de carne suína e os percentuais de C18:2n6 (r=-0,630;
p=0,035), de C20:2 (r=-0,751; p=0,005) e de C20:3n6 (r=-0,774; p=0,021).
5.3.6. Discussão
Neste estudo encontrou-se que a paridade, o peso ao nascer, o tipo
de parto, a idade gestacional, a escolaridade e a etnia materna, de um
modo geral, não interferiram significantemente no perfil de ácidos graxos,
de lipídios totais e de energia do leite humano nos três primeiros meses de
vida do recém-nascido (dados não apresentados). Por outro lado, vários
estudos demonstram que o hábito alimentar materno tem um efeito
preponderante sobre o conteúdo lipídico e sobre a composição de ácidos
graxos do leite humano (Innis & King, 1999; Hayat et al., 1999; Fidler &
Koletzko, 2001; Prado et al., 2001; Cunha et al., 2005; Anderson et al.,
2005; Patin et al., 2006).
Os percentuais de ácidos graxos do leite humano, obtidos em nosso
estudo (Tabela 2), são comparáveis aos teores encontrados na América
Latina e na Europa (Chardigny et al., 1995; Genzel-Boroviczény et al.,
1997; Innis & King, 1999; Krasevec et al., 2002; Smit et al., 2002; Sala-Vila
et al., 2005; Marín et al., 2005). Semelhanças ainda maiores podem ser
verificadas entre nosso estudo com os resultados encontrados por Cunha
et al. (2005), realizado em Brasília – DF, e por Silva et al. (2005), realizado
em Viçosa – MG. Nesses dois últimos estudos, observa-se que o perfil
socioeconômico e as características maternas são parecidos com as do
presente estudo e acredita-se que a alimentação materna seja uma
importante fator para tal similaridade entre os parâmetros lipídicos do leite
humano.
Sobre a ingestão de alimentos, observou-se um alto consumo de
óleo de soja e um baixo consumo de azeite de oliva (Tabela 3) e uma boa
ingestão de peixe pelas nutrizes, sendo equiparáveis ao consumo de carne
bovina. Sabe-se que tanto o óleo de soja quanto o peixe, especialmente os
de água doce, são ricos em ácido linoléico. Esses resultados, de certa
forma, justificam os elevados percentuais de C18:2n-6 do leite humano
(Tabela 2), sendo maiores que os teores relatados por Chardigny et al.
122
(1995), Genzel-Boroviczény et al. (1997), Innis & King (1999), Krasevec et
al. (2002), Smit et al. (2002), Mitoulas et al. (2003) Sala-Vila et al. (2005),
Marín et al. (2005), Cunha et al. (2005) e Silva et al. (2005). Entretanto, o
consumo de peixe pode ter sido influenciado pela religiosidade da
população estudada, uma vez que o período de estudo abrageu o período
quaresmal, em que há um maior consumo de peixes, causando assim um
erro na avaliação do consumo desse alimento.
Patin et al. (2006), em um estudo com nutrizes brasileiras,
verificaram que o consumo de peixes de água salgada, ricos em ácidos
graxos da série n-3, foi eficaz na elevação dos percentuais de AGP do leite
humano. Os resultados de ácido linoléico encontrados no presente estudo,
bem como os resultados verificados por Cunha et al. (2005) e Silva et al.
(2005) confirmam os estudos realizados por Nóbrega et al. (1986) no
Brasil, que descreve altos percentuais de C18:2n-6 no leite humano de
mulheres brasileiras.
Verificou-se semelhança dos percentuais de AA e de C20:3n-6 do
leite humano deste presente estudo (Tabela 2) com as quantidades
descritas por outros autores (Chardigny et al., 1995; Genzel-Boroviczény et
al., 1997; Innis & King, 1999; Smit et al., 2002; Mitoulas et al., 2003; Sala-
Vila et al., 2005; Marín et al., 2005; Cunha et al., 2005 e Silva et al., 2005).
Além disso, encontrou-se ainda elevados teores de C20:3n-6, comparados
a outros estudos (Cunha et al., 2005; Marín et al., 2005; Silva et al., 2005).
A presença desses componentes alimentares sugere uma possível
metabolização dos ácidos graxos essenciais dos estoques corporais
maternos, considerando que tais componentes são produtos intermediários
dos ácidos graxos de cadeia longa poliinsaturados.
De acordo com os percentuais de AGT do leite humano (Tabela 2),
encontraram-se percentuais semelhantes aos descritos por outros autores
(Chardigny et al., 1995; Mitoulas et al., 2003) e menores que as
quantidades relatadas por Innis & King (1999), sendo este de 7,1%. Entre
os alimentos descritos na Tabela 3, a margarina foi o que apresentou os
maiores teores de AGT, porém o consumo diário per capita, em gramas,
desse produto foi baixo (6 g ±4). Quantidades menores de isômeros trans
podem ser encontradas em carnes e produtos lácteos vindos de animais
123
ruminantes, uma vez que nesses animais ocorre a produção de ácido
trans-vacênico (C18:1-11t) e em menor proporção de ácido elaídico
(C18:1-9t). A presença de altos percentuais de AGT na alimentação de
gestantes e de nutrizes caracteriza a qualidade da alimentação desses
indivíduos. Dentre os efeitos negativos dos AGT, destaca-se a competição
desses isômeros pelas enzimas de dessaturação Δ-5 e Δ-6 dos ácidos
graxos essenciais, podendo inibir a produção de ácidos graxos importantes
para o feto e para o recém-nascido, como o EPA, DHA e AA (Innis & King,
1999; Larqué et al., 2000; Chiara et al., 2002). Dessa forma, Koletzko
(1995) sugere que a associação inversa entre os percentuais de AGT com
a razão C20:4n-6:C18:2n-6 reflete a inibição da enzima de dessaturação Δ-
6, que atua na conversão de ácido linoléico a AA.
Observa-se na Tabela 4, que a alimentação materna apresentou-se
adequada quanto à quantidade de lipídios totais (33%) e de carboidratos
(50%) consumidas, de acordo com as médias dos quatro R24H. Esses
resultados estão de acordo com o preconizado pelas I Diretrizes Brasileiras
de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (2005), que sugere
que o consumo de lipídios totais esteja entre 25-35% das calorias totais e o
consumo de carboidratos deve ser de 50-60% das calorias totais. Assim, a
população estudada não apresentou semelhança das proporções de
macronutrientes com a dieta ocidental, diferentemente do verificado por
Cunha et al. (2005). A relação n-6:n-3 de nosso estudo (Tabela 4) foi de
9:1, razão comparável a países que consomem peixes de água salgada
regularmente, ricos em n-3, como os países do Mediterrâneo, cuja razão
está entre 10 a 12:1 (Patin et. al, 2006). As quantidades de EPA e de DHA
ingeridas pelas nutrizes foram baixas. Segundo Makride & Gibson (2000),
as mulheres em fase de lactação podem perder de 70 a 80 mg de DHA/dia,
sendo as perdas associadas aos processos oxidativos e às necessidades
corporais. Assim, o consumo de alimentos ricos em ácidos graxos
essenciais e em seus metabólitos pelas mulheres em período de lactação
é de grande importância para manter o adequado funcionamento fisiológico
e para suprir as quantidades necessárias para o adequado
desenvolvimento do recém-nascido.
124
Sobre o conteúdo de AGT, neste estudo não foi possível avaliar o
consumo desses ácidos graxos pelas nutrizes, devido à deficiência de
informações das quantidades desses ácidos graxos nas tabelas de
composição química de alimentos, tanto brasileiras quanto estrangeiras.
Tal deficiência também foi descrita por Costa et al. (2006a), em relação
aos percentuais de AGT em rótulos e em tabelas de composição de
alimentos. De acordo com a Resolução número 360 da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária as empresas brasileiras tiveram o prazo até 31 de
julho de 2006 para colocarem no rótulo nutricional de alimentos a
informação da quantidade de AGT (BRASIL, 2006). Entretanto, este estudo
foi anterior ao prazo estabelecido em tal Resoluçao. Segundo Bingham
(1987) e Willett (1998), para uma adequada avaliação do consumo de
lipídios em adultos, com uma média de variação intrapessoal de 31% e
com uma precisão de ±20%, são necessários 10 R24H de um mesmo
indivíduo. Por outro lado, para avaliação energética, com uma variação
média intrapessoal de 23% e com uma precisão de ±20%, são necessários
cinco R24H de um mesmo indivíduo. Porém, a aplicação de um maior
número de inquéritos, como forma de minimizar o erro devido à variação
intrapessoal, implica em questões logísticas, em maior custo e de um
maior tempo de estudo (Willett, 1998).
Neste estudo, utilizando o R24H, não foram observadas correlações
significantes entre o consumo de ácidos graxos, de carboidratos, de
lipídios totais e de energia, com, respectivamente, os ácidos graxos, o total
da síntese de novo (C10:0, C12:0 e C14:0), de lipídios totais e de energia
do leite humano (Tabela 5). Esse fato pode ser justificado devido aos erros
envolvendo consumo alimentar, sendo que tais erros são inerentes ao
próprio método utilizado (instrumentos dietéticos), aos fatores presentes no
delineamento do estudo, ao tamanho amostral, à heterogeneidade dos
padrões de consumo alimentar, destacando-se a variabilidade intrapessoal,
e relacionados às análises dos dados (Costa et al., 2006b). Além disso, os
vários fatores que modulam a composição lipídica do leite humano podem
ser intrínsecos ou extrínsecos às condições maternas, destacando-se o
estágio da lactação, a adiposidade materna, o estado nutricional e a
alimentação materna (Bitman et al., 1983; Rueda et al., 1998; Rodriguez et
125
al., 1999; Jensen 1999; Innis & King, 1999; Hayat et al., 1999; Fidler &
Kolotzko, 2000; Koletzko et al., 2001; Prado et al., 2001; McManaman &
Neville, 2003; Mandel et al., 2005; Anderson et al., 2005; Yamawaki et al.,
2005).
Resultados interessantes deste estudo foram encontrados para o
consumo de leite de vaca integral pelas nutrizes (Tabela 6). Observou-se
que o consumo diário de aproximadamente 230 mL, em média, de leite
correlacionou-se de forma positiva e significante (r=0,410, p=0,03) com o
percentual total de ácidos graxos poliinsaturados do leite humano.
Entretanto, tal alimento, por não ser fonte de ácido α-linolênico, não se
correlacionou com o mesmo ácido graxo presente no leite humano (Tabela
7), explicando, de certa forma, a ausência de EPA e de DHA nas amostras
analisadas.
Por outro lado, o consumo, em média, de 7 g de manteiga, de 6 g de
margarina e de 23 g de carne suína correlacionou-se inversamente com os
percentuais de AGP (Tabela 6), sendo que o consumo de manteiga
apresentou correlação inversa com o conteúdo de C18:2n6 do leite
humano (Tabela 7). Assim também foi verificado para o consumo de carne
suína, porém de forma mais expressiva, quando comparados aos
percentuais de C18:2n6c (r=-0,630, p=0,035), de C20:2 (r=-0,751, p=0,035)
e de C20:3n3 (r=-0,774, p=0,021). Ainda, o consumo de óleo de soja
correlacionou-se de forma inversa, com tendência a significante, com os
percentuais de AGT encontrados no leite humano (r=-0,334, p=0,071).
O consumo de peixe, aparentemente, não provocou alterações
relevantes sobre os percentuais de ácidos graxos do leite humano.
Destaca-se a importância do consumo de alimentos, por gestantes e
nutrizes, ricos em ácidos graxos essencias e em seus ácidos graxos
preformados, uma vez que esses componentes alimentares estão
relacionados ao adequado desenvolvimento fetal e do recém-nascido, além
de serem os precursores de eicosanóides (Uauy et al., 2001; Lauritzen et
al., 2004; Dijck-Brower et al., 2005; Hart et al., 2006). Soma-se a isso, a
importância dos ácidos graxos essenciais para o desenvolvimento dos
recém-nascidos pré-termos, pois a incorporação desses ácidos graxos
ocorre no último semestre de gestação (Al et al., 2000).
126
O R24H é o tipo de inquérito alimentar mais utilizado em pesquisas
científicas, devido à sua relativa facilidade de aplicação e por ser o método
que descreve uma grande variedade de alimentos (Buzzard, 1998).
Entretanto, nossos resultados demonstraram que a utilização do QFCA e a
LDA, em relação à média dos quatro R24H, foram mais eficientes para a
verificação da interferência da alimentação materna sobre o perfil de
ácidos graxos do leite humano. Isso sugere que o emprego de outros tipos
de inquéritos que avaliam a ingestão habitual, tal como é a característica
do QFCA e da LDA.
5.3.7. Conclusão
Nossos resultados sugerem que a alimentação materna pode ser
capaz de modular o perfil de ácidos graxos do leite humano. Não se
descartam, entretanto, a ação concomitante de outras variáveis, como o
nível de escolaridade e as condições socioeconômicas maternas.
Ressalta-se, ainda, que vários estudos demonstram uma importante
modulação exercida pela adiposidade materna e pelo estágio de lactação
do recém-nascido.
Constatou-se que o consumo diário de aproximadamente 230 mL de
leite de vaca integral exerceu influências positivas sobre o conteúdo de
ácidos graxos poliinsaturados, especialmente sobre o ácido linoléico.
Porém, tal alimento não foi capaz de exercer o mesmo efeito sobre o ácido
α-linolênico. Por outro lado, o consumo diário de 23 g de carne suína
favoreceu negativamente esses parâmetros. Assim, destaca-se a
importância da educação nutricional de gestantes e de nutrizes, com o
objetivo de assegurar o adequando desenvolvimento fetal e do recém-
nascido.
Por fim, este estudo sugere que a utilização de Questionários de
Freqüência de Consumo Alimentar e a Lista de Disponibilidade de
Alimentos foram mais eficazes para verificar a interferência da alimentação
de nutrizes sobre o perfil de ácidos graxos do leite humano, em
comparação com a média dos quatro Recordatórios de 24 Horas aplicados
no período pós-parto.
127
5.3.8. Referências Bibliográficas
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Tabela 1: Caracterização dos pares mãe/filho (n=33)
Variáveis X (±DP) Mi Min Max
Dados dos recém-nascidos
Peso ao nascer (g) 3136 (±347) 3070 2535 3920
Comprimento ao nascer (cm) 49,5 (±1,9) 49 46,0 54,5
Dados maternos
Idade materna no parto (anos) 25,4 (±6,9) 24 15 41
Número de gestações 1,5 (±0,8) 1 1 4
Número de consultas pré-natal 5,8 (±2,2) 6 1 13
Idade gestacional (semanas) 39,1 (±1,3) 39 37 42
Peso pré-gestacional (kg) 54,3 (±8,3) 54 39 77
Índice de Massa Corporal (kg/m
2
) 22,7 (±3,5) 22,1 17,6 31,6
Ganho de peso na gestação (kg) 11,8 (±3,8) 12 4 18
Condições socioeconômicas
Escolaridade materna (anos) 8,8 (±2,5) 8 3 15
Renda familiar (R$) 651,60 (±367,10) 600,00 150,00 2500,00
Número de dependentes da renda 4,4 (±1,8) 4 2 10
X: média; DP: desvio padrão; Mi: mediana; Min: mínimo; Max: Máximo
134
Tabela 2 – Teores médios de ácidos graxos (mg%), lipídios totais (g/dL) e
energia (kcal/L) do leite humano (n=156).
Parâmetro X (±DP) Mi
C6:0 0,30 (±0,16) 0,27
C10:0 1,46 (±0,41) 1,49
C12:0 5,71 (±1,56) 5,55
C14:0 6,29 (±1,97) 5,86
Total de novo 13,46 12,90
C16:0 15,51 (±3,49) 15,35
C17:0 0,74 (±0,84) 0,74
C18:0 7,64 (±2,17) 7,16
C24:0 0,80 (±0,64) 0,59
AGS 36,84 (±8,31) 36,59
C16:1 1,47 (±0,42) 1,45
C18:1n9c 23,78 (±5,56) 23,63
C20:1 0,95 (±0,75) 0,81
AGM 26,20 (±5,99) 25,72
AGT 1,73 (±1,05) 1,29
C18:2n6c 22,80 (±8,10) 20,95
C18:3n3 1,35 (±0,72) 1,25
C20:2 0,84 (±0,48) 0,78
C20:3n6 0,27 (±0,17) 0,22
C20:3n3 0,44 (±0,51) 0,34
C20:4n6 0,42 (±0,25) 0,37
AGP 25,98 (±9,01) 23,69
n-6 23,39 (±8,16) 21,39
n-3 1,79 (±0,84) 1,59
n-6:n-3 13,06 14,89
AG Totais 90,75 (±20,81) 88,37
LT 4,50 (±1,40) 4,45
Energia 751 (±153) 749
X: média; DP: desvio padrão; Mi: mediana; : somatório; Total de novo: somatório
de C10:0, C12:0 e C14:0; AGS: ácidos graxos saturados; AGM: ácidos graxos
monoinsaturados; AGT: ácidos graxos trans; AGP: ácidos graxos poliinsaturados;
AG: ácidos graxos; LT: lipídios totais.
135
Tabela 3 – Quantidades médias de consumo diário per capita dos
principais alimentos, ricos em lipídios, investigados pelo Questionário de
Freqüência de Consumo Alimentar e pela Lista de Disponibilidade de
Alimentos (n=33).
Alimento relatado X (±DP) Mi
Presunto (g) 13 (±10) 9
Azeite de Oliva (mL) 3 (±3) 2
Óleo de Soja (mL) 29 (±19) 30
Queijo (g) 12 (±8) 9
Leite (mL) 228 (±188) 181
Manteiga (g) 7 (±4) 6
Margarina (g) 6 (±4) 5
Carne Bovina (g) 44 (±26) 44
Carne Suína (g) 23 (±24) 13
Carne de Frango (g) 18 (±12) 14
Peixe (g) 44 (±32) 43
Lingüiça (g) 20 (±15) 17
Ovo (g) 19 (±13) 14
X: média; DP: desvio padrão; Mi: mediana.
136
Tabela 4 – Percentuais médios de ácidos graxos (g), de energia (kcal), de
lipídios totais (g) e de carboidratos (g) investigados pelo Recordatório de
24 Horas (n=33).
Parâmetro X (±DP) Mi
C6:0 0,21 (±0,12) 0,16
C10:0 0,29 (±0,17) 0,26
C12:0 0,33 (±0,19) 0,28
C16:0 11,14 (±3,62) 11,60
C18:0 5,34 (±1,89) 5,36
AGS 19,85 (±6,35) 20,06
C16:1 1,36 (±0,61) 1,21
C18:1n9c 20,40 (±7,82) 20,05
AGM 22,14 (±8,27) 21,30
C18:2n6c 8,16 (±4,23) 7,62
C18:3n3 0,89 (±0,31) 0,90
C20:4n6 0,08 (±0,05) 0,06
C20:5n3 0,01 (±0,02) 0,01
C22:6n3 0,04 (±0,04) 0,02
AGP 9,14 (±4,43) 8,59
n-6 8,24 (±4,24) 7,72
n-3 0,93 (±0,32) 0,93
n-6:n-3 9:1 8:1
LT 56,4 (±17,66) 54,2
Energia 1524 (±368) 1506
Carboidratos 191,2 (±51,5) 196
X: média; DP: desvio padrão; Mi: mediana; : somatório; AGS: ácidos graxos
saturados; AGM: ácidos graxos monoinsaturados; AGP: ácidos graxos
poliinsaturados; LT: lipídios totais.
137
Tabela 5 – Correlação entre os percentuais de ácidos graxos, de lipídios
totais e de energia do leite humano com os mesmos parâmetros da
alimentação materna, obtidos pela média de quatro Recordatório de 24
Horas.
Parâmetro
(Leite Humano)
vrs
Parâmetro
(Dieta Materna)
r p
C6:0 X C6:0 -0,038 0,876
C10:0 X C10:0 0,237 0,182
C12:0 X C12:0 0,157 0,380
C16:0 X C16:0 0,243 0,171
C18:0 X C18:0 0,206 0,248
AGS
X
AGS 0,282 0,110
C16:1 X C16:1 0,220 0,217
C18:1n9c X C18:1n9c 0,099 0,579
AGM
X
AGM 0,124 0,488
C18:2n6c X C18:2n6c -0,264 0,136
C18:3n3 X C18:3n3 -0,062 0,730
C20:4n6 X C20:4n6 -0,224 0,231
AGP
X
AGP -0,202 0,257
Total de novo X Carboidrato 0,031 0,859
LT X LT 0,184 0,304
Energia X Energia 0,172 0,335
Correlação de Spearman. X: versus; : somatório; AGS: ácidos graxos saturados;
AGM: ácidos graxos monoinsaturados; AGP: ácidos graxos poliinsaturados; Total
de novo: somatório de C10:0, C12:0 e C14:0; LT: lipídios totais.
138
Tabela 6 – Correlação entre o consumo de alimentos ricos em lipídios, relatados no Questionário de Freqüência de Consumo
Alimentar, com os percentuais dos tipos de ácidos graxos e de lipídios totais do leite humano.
AGS
(n=156)
AGM
(n=156)
AGP
(n=156)
AGT
(n=156)
AG Totais
(n=156)
LT
(n=156)
Alimento
(n=30)
R P r P r p r p r p r p
Presunto 0,167 0,614 0,143 0,653 0,052 0,860 -0,009 0,968 0,009 0,968 0,009 0,968
Azeite de Oliva -0,204 0,580 -0,051 0,878 -0,553 0,111 -0,358 0,331 -0,306 0,407 0,008 0,948
Óleo de Soja 0,109 0,566 -0,029 0,877 0,285 0,126 -0,334 0,071 0,140 0,456 0,245 0,190
Queijo -0,042 0,878 -0,294 0,407 -0,075 0,809 -0,336 0,356 -0,168 0,643 0,109 0,742
Leite
0,551 0,002* 0,514 0,005* 0,410 0,030*
0,274 0,157
0,550 0,002*
0,172 0,377
Manteiga -0,246 0,429 -0,468 0,117
-0,570 0,047*
-0,084 0,783 -0,518 0,079 0,465 0,123
Margarina -0,077 0,728 0,171 0,441
-0,422 0,050*
0,091 0,679 0,029 0,896 0,208 0,350
Carne Bovina 0,230 0,342 -0,051 0,826 0,052 0,821 -0,124 0,599 0,021 0,927 -0,009 0,962
Carne Suína -0,542 0,076 -0,233 0,467
-0,681 0,018*
-0,578 0,055
-0,690 0,016*
0,065 0,839
Carne de Frango -0,003 0,986 0,134 0,493 0,236 0,225 -0,060 0,759 0,121 0,534 0,110 0,574
Peixe -0,600 0,417 0,000 1,000 0,400 0,750 -0,200 0,917 0,000 1,000 0,400 0,750
Lingüiça -0,350 0,331 -0,446 0,205 0,184 0,612 0,297 0,407 -0,069 0,844 0,324 0,381
Ovo 0,378 0,109 0,401 0,087
0,624 0,004*
-0,359 0,127
0,498 0,029* -0,568 0,011*
Correlação de Spearman; (*) p<0,05; Sublinhados: tendência estatística; AGS: ácidos graxos saturados; AGM: ácidos graxos
monoinsaturados; AGP: ácidos graxos poliinsaturados; AGT: ácidos graxos trans; AG: ácidos graxos LT: lipídios totais.
139
Tabela 7 – Correlação entre consumo diário per capita de leite, de carne suína e de ovo relatados no Questionário de Freqüência de
Consumo Alimentar com os percentuais de ácidos graxos essenciais e ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa do leite
humano.
Leite
(n=30)
Manteiga
(n=30)
Margarina
(n=30)
Carne Suína
(n=30)
Ovo
(n=30)
Parâmetro
Leite Humano
(n=156)
R
p
R
p
r
p
r
p
r
p
C18:2n6c
0,382 0,045*
-0,560 0,054 0,110 0,621
-0,630 0,035* 0,529 0,020*
C18:3n3 0,231 0,233 -0,228 0,456 0,358 0,101 -0,231 0,484 0,231 0,334
C20:2 0,336 0,082 -0,391 0,197 -0,342 0,118
-0,751 0,005*
0,252 0,294
C20:3n6 0,314 0,174 -0,337 0,387 0,244 0,354
-0,774 0,021*
-0,144 0,602
C20:3n3 0,084 0,687 -0,252 0,491 0,197 0,399 -0,128 0,709 0,482 0,056
C20:4n6 0,098 0,636 0,153 0,656 0,343 0,126 0,249 0,491 0,006 0,974
Correlação de Spearman; (*) p<0,05; Sublinhados: tendência estatística.
140
6. CONCLUSÃO GERAL
A modulação dos ácidos graxos do leite humano se dá por fatores
intrínsecos e extrínsecos à nutriz. Tais variáveis parecem agir de foram
concomitante, o que torna complexa a avaliação dessa interferência, sobre a
composição do leite humano, de forma isolada.
Em nossos estudos a paridade, o tipo de parto, a idade gestacional, o
peso ao nascer, a escolaridade materna e a etnia materna não apresentaram
efeitos expressivos sobre a composição de ácidos graxos, sobre o conteúdo
de lipídios totais e de energia. Entretanto, não se descarta uma ação
modulatória e concomitante dessas variáveis.
O perfil de ácidos graxos do leite de mulheres do município de Viçosa –
MG (Brasil) foi semelhante aos dados obtidos em estudos realizados em
outros países. Paralelo a isso, no presente estudo não foi encontrada a
presença do ácido eicosapentaenóico e do ácido docosahexaenóico,
indispensáveis ao adequado desenvolvimento do feto e do recém-nascido.
Possivelmente, a oxidação desses ácidos graxos nos tecidos corporais das
nutrizes ou a deficiência desses ácidos graxos na alimentação materna
contribuiu para tal fato. Por outro lado, observamos uma elevada incorporação
de metabólitos dos ácidos graxos essenciais no leite humano, os quais podem
favorecer o desenvolvimento do recém-nascido.
Os resultados deste estudo demonstraram que a alimentação materna
apresenta um efeito importante sobre a composição de ácidos graxos do leite
humano. Entretanto, a ausência dos ácidos graxos eicosapentaenóico e
docosahexaenóico nos leite analisados sugerem uma inadequação da desses
141
componentes alimentares e de seu precursor, o ácido α-linolênico, na dieta
das nutrizes.
A aplicação do Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar e da
Lista de Disponibilidade de Alimentos apresentou-se mais eficazes na
avaliação da dieta materna e sua correlação com o perfil de ácidos graxos do
leite humano. Assim, sugere-se que as futuras pesquisas nessa área
considerem esses dois tipos inquéritos em sua metodologia.
Salienta-se ainda a escassez na literatura científica de estudos como o
nosso que objetivou avaliar o comportamento de ácidos graxos do leite
humano frente às variáveis maternas e às dos recém-nascidos nos estágios
iniciais da amamentação.
Por fim, recomenda-se que as novas pesquisas nessa área sejam
também direcionadas para a verificação de qual momento da lactação
apresenta uma melhor composição de ácidos graxos para as condições
fisiológicas dos recém-nascidos pré-termos e, assim, contribuindo para a
implantação de Bancos de Leite Humano nos hospitais brasileiros.
142
7. ANEXOS
Anexo 1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Anexo 2: Entrevista Estruturada
Anexo 3: Ingestão Habitual
Anexo 4: Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar
Anexo 5: Lista de Disponibilidade de Alimentos
Aneso 6: Recordatório de 24 Horas
143
ANEXO 1
Termo de Consentimento Livre Esclarecido
Estou ciente que:
Os procedimentos que serão adotados no estudo “Perfil lipídico do
leite humano: relação com a ingestão alimentar materna e com o
desenvolvimento do recém-nascido” constam da aplicação de
questionários para obtenção de informações relacionadas à alimentação e ao
estilo de vida materno; de avaliações antropométricas não invasivas (peso e
comprimento do recém-nascido e peso e altura da mãe) e coleta de amostra
de leite humano nos períodos: pós-parto imediato, 7, 30, 60 e 90 dias após o
parto. Em cada período, será coletado até 5 mL de leite humano de acordo
com a disponibilidade materna, no momento e em quantidade que não
prejudique a alimentação do recém-nascido. O período do estudo será de três
meses subseqüentes ao parto.
Como participante do estudo não serei submetido a nenhum tipo de
intervenção que possa causar danos à minha saúde e nem a de meu filho(a),
visto que as condutas a serem adotadas objetivam a promoção da mesma e
são respaldadas na literatura científica.
A minha participação e a de meu filho(a) é voluntária, assegurando que
as informações obtidas serão sigilosas e facultando a mim o afastamento do
estudo se eu assim desejar, sem a necessidade de justificativa e sem que
haja nenhum tipo de constrangimento ou pressão contra minha vontade.
Minha participação e a de meu filho(a) neste estudo será voluntária,
sendo que não receberei remuneração.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO E SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA NUTRIÇÃO
144
Os dados obtidos estarão disponíveis para a agência financeira e
equipe envolvida na pesquisa e poderão ser publicados com a finalidade de
divulgação das informações científicas obtidas, sem que haja identificação
das pessoas que participaram do estudo.
Se houver descumprimento de qualquer norma ética poderei recorrer
ao Comitê de Ética na Pesquisa com Seres Humanos da Universidade
Federal de Viçosa, dirigindo-me ao seu Presidente: Prof. Dr. Gilberto Paixão
Rosado no telefone: 3899-1269.
De posse de todas as informações necessárias, concordo em participar do
estudo:
____________________________________________________________________________
Voluntária
André Gustavo Vasconcelos Costa
(Nutricionista / Mestrando)
Viçosa – MG
Data: ___/___/___
145
ANEXO 2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
Departamento de Nutrição e Saúde
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Nutrição
Data: / /
Identificação:
Nome da Nutriz:
Nome do Lactente:
End.:
Bairro:
Referência: Tel:
Dados Socioeconômicos:
Estado civil: ( ) Solteira ( ) Casada ( ) Relação estável ( ) Outro ___________
Escolaridade materna (anos completos): Profissão materna:
Condição atual de trabalho da nutriz:
( ) emprego formal ( ) emprego informal ( ) desempregada
Escolaridade paterna (anos completos): Profissão paterna:
Condição atual de trabalho do cônjuge:
( ) emprego formal ( ) emprego informal ( ) desempregada
Renda familiar (R$): Número pessoas que dependem da renda:
Número pessoas na casa: Número de cômodos/quartos:
Condições de Habitação:
Abastecimento de água: ( ) Público ( ) Poço ( ) Outro
Energia elétrica: ( ) Sim ( ) Não
Destino do lixo: ( ) Coleta pública ( ) Enterra/queima ( ) Quintal ( ) Outro
Destino de dejetos: ( ) Esgoto ( ) Fossa ( ) Céu aberto ( ) Outro
Dados obstétricos e gestacionais:
Número de gestações: Número de partos: Ordem da criança:
Assistência pré-natal: ( ) Sim ( ) Não Número consultas:
Intervalo último parto: Idade gestacional (sem):
Tipo de parto: ( ) normal ( ) cesárea ( ) fórceps
Peso pré-gestacional: Ganho de peso na gestação:
REC:
146
Dados do Recém-nascido:
Data de Nascimento: / / Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Peso ao nascer: Comprimento ao nascer:
Índice de Apgar:
Dados da Nutriz:
Data de Nascimento: / / Idade:
Estatura materna: Raça (observada):
Dados do Lactente:
Parâmetro Pós-parto 7 dias 30 dias 60 dias 90 dias
Idade
Peso
Comprimento
Tipo de aleitamento*
* Tipo de Aleitamento
AME: Aleitamento materno exclusivo
AMP: Aleitamento materno predominante
AM: Aleitamento misto
AC: Introdução alimentação complementar
147
ANEXO 3
Nome: ________________________________________ Data: ____/_____/_____
Ingestão Habitual
Refeição/horário Alimento/preparação Medida caseira Gramas (g)
Desjejum:
Colação:
Almoço:
Lanche:
Jantar:
Ceia:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO E SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA NUTRIÇÃO
REC:
148
ANEXO 4
Nome: ______________________________________________________________ Data: _____/_____/_____
Questionário de Freqüência de Consumo Alimenta
Consumo
Diário Semanal
Alimento
1X 2X 1X 2X 3X 4X 5X 6X
Quinzenal Mensal
Não Consome ou
Raramente
Quantidade (medidas
caseiras)
Abacate
Achocolatado em pó
Amendoim
Apresuntado / Presunto /
Mortadela
Arroz
Azeite de oliva
Bacon
Batata frita
Bebida láctea
Bife de Hambúrguer
Biscoito água e sal
Biscoito amanteigado
Biscoito cream craker
Biscoito maisena
Biscoito recheado
Bolo simples
Bombom
Brigadeiro
Carne bovina costela
Carne bovina fígado
Carne bovina moída
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO E SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA NUTRIÇÃO
REC:
149
ANEXO 4
Consumo
Diário Semanal
Alimento
1X 2X 1X 2X 3X 4X 5X 6X
Quinzenal Mensal
Não Consome ou
Raramente
Quantidade (medidas
caseiras)
Carne bovina músculo
Carne de frango com pele
Carne de frango sem pele
Carne suína pernil / lombo
Carne suína costela
Cereal matinal
Chocolate em barra
Creme de leite
Farinha láctea
Feijão
Iogurte
Leite condensado
Leite cru
Leite desnatado
Leite em pó desnatado
Leite em pó integral
Leite integral
Lingüiça
Maionese
Manteiga
Margarina
Mistura para bolo
Ovo
Pão de forma
Pão de queijo
Pão doce
Pão francês
150
ANEXO 4
Consumo
Diário Semanal
Alimento
1X 2X 1X 2X 3X 4X 5X 6X
Quinzenal Mensal
Não Consome ou
Raramente
Quantidade (medidas
caseiras)
Peixe
Peixe Sardinha / Atum
Pele de porco (pururuca)
Pipoca
Pizza
Pudim
Queijo cottage
Queijo minas
Queijo mussarela
Queijo parmesão
Queijo prato
Queijo provolone
Queijo cheddar
Requeijão
Ricota
Salgadinho tipo “chips”
Salgado frito
Salgado assado
Salsicha (cachorro quente)
Sorvete
Steak de frango
Torresmo
151
ANEXO 5
Nome: ______________________________________________________________ Data: _____/_____/____
Lista de Disponibilidade de Alimentos
Alimento Quantidade que compra
mensalmente
Freqüência de consumo
Óleo
Gordura Vegetal (GVPH)
Banha animal
Manteiga
Margarina
Torresmo
Açúcar
Sal
Número de moradores da casa com as
idades:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO E SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA NUTRIÇÃO
REC:
152
ANEXO 6
Nome: _______________________________________ Data: ____/_____/_____
Recordatório de 24 Horas
Refeição/horário Alimento/preparação Medida caseira Gramas (g)
Desjejum:
Colação:
Almoço:
Lanche:
Jantar:
Ceia:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO E SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA NUTRIÇÃO
REC:
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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