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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CÂMPUS DE JABOTICABAL
ESTUDO GENÉTICO QUANTITATIVO DO TEOR DE ÁCIDO
LINOLÉICO CONJUGADO (CLA) EM LEITE DE BÚFALAS
Jeanne Mendes Cattini Duarte Montrezor
Zootecnista
Jaboticabal – São Paulo – Brasil
Março de 2006
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CÂMPUS DE JABOTICABAL
ESTUDO GENÉTICO QUANTITATIVO DO TEOR DE ÁCIDO
LINOLÉICO CONJUGADO (CLA) EM LEITE DE BÚFALAS
Jeanne Mendes Cattini Duarte Montrezor
Orientador: Prof. Dr. Humberto Tonhati
Co-Orientador: Prof. Dr. Dante Pazzanese Duarte Lanna
Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como
parte das exigências para a obtenção do título de
Doutor em Zootecnia (Produção Animal).
Jaboticabal – São Paulo – Brasil
Março de 2006
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DADOS CURRICULARES
JEANNE MENDES CATTINI DUARTE
, nascida em Goiânia / GO, na data
18/07/1975. Entrou na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias em 1994, no
curso de Zootecnia. Em 1995 iniciou Iniciação Científica com o Prof. Dr. Humberto
Tonhati, na área de Melhoramento Genético Animal, vindo a trabalhar com búfalas, e
recebendo bolsa do CNPq para seu desenvolvimento científico. Formou-se em Janeiro
de 1998, e em 2000 retornou a Faculdade para a realização de Mestrado na mesma
área, conseguindo aprovação do projeto pela FAPESP. Em 2002 deu início ao
Doutorado com a aprovação da Bolsa pela FAPESP. Em 2004, foi convidada a
trabalhar na Danone Ltda na área de qualidade do leite, onde encontra-se até o
momento.
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Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo é o meu amor
E a gente canta, a gente dança
A gente não se cansa de ser criança
E a gente brinca na nossa velha infância
AGRADECIMENTOS
-Agradeço ao Prof. Dr. Humberto Tonhati, que foi meu orientador desde o início de
minha carreira científica. Obrigado pelos ensinamentos profissionais e pelo aprendizado
de vida nesta longa caminhada..... 11 anos.
-Ao Prof. Dr. Dante, grande incentivador deste projeto. Obrigada pelo apoio técnico e
científico prestados.
-Agradeço a banca examinadora, que além de excelentes profissionais são
companheiros de profissão: Lúcia, Regina, Lenira e Augusto.
-Aos amigos de graduação que estão sempre presentes nos momentos mais
importantes de minha vida: Dri, Andréa, João Jorge, Longo, Baby
-Aos amigos que muito me ajudaram para que este trabalho fosse finalizado: Murote,
Gregório, Priscila, Beto, Leo
-Aos amigos de última hora: Lindenber e Japonês
-Aos produtores que cederam seus animais para participarem deste projeto,
especialmente, a Sra. Wilma Penteado, que além de incentivadora da pesquisa, tornou-
se uma grande amiga.
Tuca e João que realizaram as análises de cromatografia e me receberam em seus
laboratórios de braços abertos.
-A prof. Janete e Durvalina, que disponibilizaram seus laboratórios para a realização da
extração e metilação da gordura. Obrigada pelo apoio.
-Aos amigos da Danone, que tiveram que me agüentar nos momentos antecedentes à
defesa da tese – puro estresse...
minha segunda família (Araraquara), que tiveram que me agüentar nos domingos
antecedentes aos controles leiteiros, e que terão que me agüentar pelo resto de suas
vidas.......
Aqui encerra-se mais uma fase de minha vida..... Agradeço a todos que passaram por
ela e que deixaram ou levaram algo de importante. Que esta passagem seja mais um
degrau para a felicidade......
SUMÁRIO
Página.
RESUMO................................................................................................................
ii
SUMMARY............................................................................................................. iv
INTRODUÇÃO........................................................................................................
1
REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................
3
MATERIAL E METODOS.......................................................................................
10
RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................
14
Teor do ácido graxo conjugado (CLA)...................................................................
14
Atividade da enzima
9 dessaturase....................................................................
21
Produção de Leite e Constituintes.........................................................................
24
Parâmetros Genéticos para CLA e Produções de Leite, Gordura e Proteína.......
27
CONCLUSÃO.........................................................................................................
30
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA............................................................................
31
ii
ESTUDO GENÉTICO QUANTITATIVO DO TEOR DE ÁCIDO LINOLÉICO
CONJUGADO (CLA) EM LEITE DE BÚFALAS
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi verificar os fatores que afetam o CLA e as
produções de leite, gordura e proteína ao longo da lactação, estudar o perfil de ácidos
graxos e verificar a existência de variação genética aditiva entre os indivíduos e a
possibilidade de incrementar os teores de CLA no leite de búfalas, mediante seleção.
Para tanto, foram analisadas 3929 lactações, provenientes de 2130 búfalas da raça
murrah, pertencentes a 12 rebanhos, localizados no estado de São Paulo, no decorrer
dos anos de 1997 a 2004. Para a estimação dos parâmetros genéticos, incluiu-se no
modelo estatístico o efeito fixo de grupo de contemporâneos (ano de parto, fazenda e
estação) e as covariáveis idade ao parto (linear e quadrática) e duração da lactação
(linear e quadrática). As médias observadas para Produção de Leite (PL), Gordura (PG)
e Proteína (PT) e teor de CLA no leite de búfala foram iguais a 1.481,56 ± 354,65 kg,
90,06 ± 24,59 kg, 56,96 ± 15,24 kg e 0,698 ± 0,161 %, respectivamente. As
herdabilidades para PL, PG, PT e CLA foram iguais a 0,28 ± 0,051, 0,26 ± 0,106, 0,25 ±
0,107 e 0,35 ± 0,140, respectivamente. Estes valores indicam que existe variabilidade
iii
genética para as características estudadas, sendo possível o incremento destas
produções mediante seleção dos animais. Encontrou-se para a relação C
14:1c9
/C
14:0
um
valor igual a 0,052, sinalizando que houve contribuição da enzima
9
-dessaturase na
glândula mamária para os teores destes ácidos graxos.
Palavras-Chave
CLA, Búfalas, Leite, Parâmetros genéticos, Perfil de ácidos graxos
iv
GENETIC-QUANTITATIVE STUDY ABOUT LINOLEIC CONJUGATED ACID (CLA) IN
MILK BUFFALOES
SUMMARY
The aim of this work was to check the factors that affect the Conjugated Linoleic Acid
(CLA) and the milk, fat and protein productions throughout the lactations, besides
studying the fatty acids profile and was to verify the genetic additive variation behind
animals and the possibility of increase the CLA in buffalo milk. For this, 3929 lactations
from 2130 buffaloes of 12 different herds were analyzed, in Sao Paulo state, from 1997
to 2004. In the statistic model was included as a fixed effect the contemporary groups
(year of calving, herd and season of calving). As covariate it was considered the age of
calving (linear and quadratic) and length of lactation (linear and quadratic). The average
milk (PL), fat (PG) and protein (PT) productions and percentage of CLA observed were
equal to 1,481.56 ± 354.65 kg, 90.06 ± 24.59 kg, 56.96 ± 15.24 kg e 0.698 ± 0.161 %,
respectively The heritability to PL, PG, PT and CLA were equal to 0.28 ± 0.051, 0.26 ±
0.106, 0.25 ± 0.107 e 0.35 ± 0.140, respectively. This value indicate that exist a genetic
variation for this characteristics, and it is possible to increase this productions by an
animal selection. It has been observed that the relation C
14:1c9
/C
14:0
is equal to 0,052,
v
indicating that the enzyme dessaturase contribution in the mammary gland for the
percentage of these fatty acids was effective.
Keywords
CLA, Buffalo, Milk, Genetic Parameters, Fatty acid profile
6
INTRODUÇÃO
A prevenção é uma importante estratégia na luta contra o câncer. Alimentos
provenientes dos ruminantes, principalmente o leite, são fontes ricas de componentes
com potencial anticarcinogênico, como os ácidos linoléicos conjugados, comumente
referidos como CLA. Ácido linoléico conjugado (CLA) é o termo usado para descrever
um ou mais isômeros posicional e geométrico do ácido linoléico (cis-9, cis-12, ácido
octadecadienóico), contendo duplas ligações conjugadas. Tais ligações geralmente
encontram-se nas posições 9 e 11 ou 10 e 12, podendo ser de configuração cis ou
trans. Produtos provenientes dos ruminantes, principalmente os lácteos, são as fontes
mais ricas de CLA, sendo os isômeros cis-9, trans-11 e trans-10, cis-12 os que
possuem atividade biológica (PARIZA et al., 2000).
Outros efeitos são atribuídos ao CLA, como a redução nos teores de gordura do
leite e da carcaça, a qual é acompanhada por uma alteração desejável no perfil da
gordura depositada, devido à redução de ácidos graxos de cadeia média como o
mirístico e palmítico, os quais apresentam efeito hipercolesterolêmico (WILLIAMS,
2000). Trabalhos desenvolvidos em bovinos, objetivando incrementar o conteúdo de
CLA no leite por meio de mudanças na alimentação, comprovaram que existem outros
fatores, ainda não estudados, que afetam tal conteúdo em animais provenientes do
mesmo rebanho e submetidos a um mesmo manejo. Acredita-se que exista variação
genética entre os animais para tal característica, sendo interessante quantificá-la, com o
7
intuito de obter ferramentas para que a seleção possa ser aplicada com maior
eficiência, visando aumentar o teor de CLA no leite.
A bubalinocultura vem crescendo no Brasil ao longo dos anos, assim como a
produção de leite. Segundo a ANUALPEC (2004), o rebanho atual no Brasil alcança 1,1
milhões de cabeças. A produção de leite vem sendo melhorada por meio de seleção
dos melhores animais e inseminação artificial em algumas fazendas. No Brasil, a
produção de leite varia entre 1259 a 1517 kg. O rebanho Italiano apresenta médias
superiores a estas, variando entre 1912 a 2286,8 kg de leite (DE FRANSCISCIS e DI
PALO, 1994; ROSATI e VAN VLECK, 2002). Estas diferenças podem ser atribuídas ás
condições ambientais, diferenças na duração da lactação, e principalmente, ás
diferentes constituições genéticas dos rebanhos italianos, os quais regularmente, são
avaliados e melhorados geneticamente.
Foram observadas produções médias de gordura para leite de búfalas de
87,93 kg em rebanhos brasileiros. Rosati e Van Vleck (2002) observaram valor igual a
196,9 ± 45,6 kg para produção de gordura em rebanho italiano. Para a produção de
proteína os mesmos autores observaram valor igual a 104,70 ± 21,70 kg . Esta
diferença nos constituintes do leite está associada a incentivos pagos pelos laticínios
italianos por produção de proteína e matéria gorda, estimulando assim, o aumento de
produção destes constituintes.
O objetivo deste trabalho foi verificar os fatores que afetam o CLA e as
produções de leite, gordura e proteína ao longo da lactação, estudar o perfil de ácidos
graxos e verificar a existência de variação genética aditiva entre os indivíduos e a
possibilidade de incrementar os teores de CLA no leite de búfalas, mediante seleção.
8
REVISÃO DE LITERATURA
Ácido linoléico conjugado (CLA) é o termo usado para descrever um ou mais
isômeros posicional e geométrico do ácido linoléico (cis-9, cis-12, ácido
octadecadienóico), contendo duplas ligações conjugadas. Tais ligações geralmente
encontram-se nas posições 9 e 11 ou 10 e 12, podendo ser de configuração cis ou
trans. Produtos provenientes dos ruminantes, principalmente os lácteos, são as fontes
mais ricas de CLA, sendo os isômeros cis-9, trans-11 e trans-10, cis-12 os que
possuem atividade biológica (PARIZA et al., 2000).
O CLA é um intermediário do processo de biohidrogenação do ácido linoléico por
bactérias ruminais, sendo a Butyrivibrio fibrisolvens a mais conhecida (KEPLER et al.,
1966). Alguns trabalhos demonstraram ainda que o CLA cis-9 trans-11 pode ser
também sintetizado endogenamente por meio da dessaturação do trans-11 18:1, devido
à ação da enzima -9 dessaturase, como observado na Figura 1 (HOLMAN e
MAHFOUZ, 1980; GRIINARI e BAUMAN, 1999). Este mecanismo parece ser
responsável por cerca de 85% do CLA cis-9 trans-11 secretado no leite (GRIINARI et
al., 2000). Os ácidos graxos secretados no leite de ruminantes têm duas origens
distintas: parte é obtida da circulação como ácidos graxos pré-formados oriundos da
dieta ou mobilização das reservas corporais, enquanto que a outra parte é sintetizada
na própria glândula mamária a partir de acetato e beta-hidroxibutirato. Este último
mecanismo é denominado síntese de novo, no qual são formados os ácidos graxos de
cadeia curta (C4-C10) e média (C12-C16) secretados no leite (CHILLIARD et al., 2000).
9
Parte dos ácidos graxos com 16 carbonos e os com mais de 18C são obtidos da
circulação.
Sob certas condições, o início da biohidrogenação é alterada, tendo como
resultado final a produção do CLA trans-10, cis-12, que apesar de constituir pequena
parte do CLA total, possui relação curvilínea entre o percentual deste isômero no CLA e
a redução da produção de gordura do leite (BAUMAN, 2001). Ainda de acordo com este
autor, os mecanismos específicos de ação deste isômero não são bem definidos, no
entanto, recentes descobertas levam a crer que o CLA trans-10, cis-12 provoca
diminuição no RNA mensageiro (RNAm) no tecido mamário, que é chave para a síntese
de ácidos graxos via síntese de novo.
Figura 1 - Representação da biohidrogenação ruminal
dos ácidos linoléico e
linolênico e produção de CLA no tecido mamário (Fonte: Bauman,
2002)
Ácido Linoléico
(C
18:2c9c12
)
CLA
(C
Ácido
vacênico
(C
)
Ácido
Esteárico
(C
)
isomerização
redução
(mais lenta)
Ácido
vacênico
(C
18:1t11
)
CLA
(C
9
-dessaturase
Ácido
Linolênico
(C
)
C
18:3c9t11c15
C
18:2t11c15
redução
Rúmen
Tecido mamário
Grupo
A
Grupo
B
10
Pesquisas sobre câncer vêm sendo realizadas décadas, obtendo-se avanços
significativos em alguns casos. Entretanto, a taxa de mortalidade de pacientes com
carcinoma invasivo e metastático no colon, coração, pulmão, pâncreas, próstata e
bexiga não tem sido reduzida (SPORN, 1996). Sendo difícil a erradicação do câncer,
faz-se necessário o controle sobre o uso do cigarro, poluentes industriais, radiação
ultravioleta e dieta como meio de prevenção (PARODI, 1999). A dieta é a causa de 1/3
das mortes por câncer (DOLL, 1992), sendo a mesma composta por ingredientes que
podem tanto causar como prevenir tal doença. Como exemplo, o consumo de frutas e
vegetais tem aumentado devido à associação de alta ingestão destes com a redução de
câncer em vários locais, por meio de agentes anticarcinogênicos existentes nestes
alimentos (AMES et al, 1995). Além das frutas e vegetais, os produtos lácteos, ricos em
CLA, têm sido estudados como mais uma alternativa utilizada na prevenção do câncer.
O isômero cis-9, trans-11 é reconhecido por sua capacidade anticarcinogênica.
Vários trabalhos confirmaram esta capacidade em modelos animais in vivo e em
cultura de tecido humano. Ip et al. (1994) observaram que a adição de menos de 1% de
CLA na dieta foi suficiente para produzir significativa redução de tumores mamários em
ratos tratados com baixa dose de 7,12 dimethylbenz(a)anthracene (DMBA-
carcinogênico). Alguns autores observaram que o ácido linoléico (LA), fornecido em
diferentes concentrações em dietas de camundongos, estimulou o crescimento de
células epiteliais normais e cancerosas de mama. Em contrapartida, o fornecimento de
CLA nestes experimentos causou inibição do crescimento de tais células
(CUNNINGHAN et al., 1997; CESANO et al., 1998; VISONNEAU et al., 1996). Ip et al.
(1997) prepararam dietas para ratos contendo 2 ou 12% de ácido linoléico, e estas
foram suplementadas com 0 , 0,5 , 1,0 , 1,5 e 2,0% de CLA. A incidência de tumor
induzido por DMBA foi maior no grupo alimentado com dieta contendo 12% de ácido
linoléico em todos os níveis de suplementação com CLA. Pom, a porcentagem da
inibição do tumor foi semelhante nos grupos de 2 e 12% de ácido linoléico. Este
resultado indica que a eficácia na redução dos tumores, pelo CLA, não é afetada pela
quantidade de ácido linoléico ingerida. Os grupos suplementados com 0,5 e 1,0% de
CLA apresentaram redução dose-dependente na incidência e no número de tumores.
Em 1999, Ip et al., em trabalho realizado com ratos ingerindo manteiga com diferentes
11
porcentagens de CLA, observaram que tal dieta, fornecida na puberdade durante o
desenvolvimento da glândula mamária, promoveu um menor crescimento do epitélio
mamário e reduziu o risco de câncer de mama. Além disso, foi observado maior
quantidade de CLA no fígado, gordura mamária, gordura peritoneal e plasma dos
animais que ingeriram as dietas com maior porcentagem de CLA. O isômero
encontrado em maior quantidade nos tecidos foi o cis-9, trans-11.
Além do câncer de mama, estudos comprovaram a eficiência do CLA em inibir o
crescimento de tumores em outros tecidos. Ha et al. (1987,1990) constataram a inibição
de tumores de pele e estômago em ratos tratados com substâncias carcinogênicas. Em
ambos os casos, o CLA foi fornecido em uma única dose anteriormente à indução do
câncer, a qual foi realizada por meio da administração de DMBA (para iniciar os
papilomas na pele) ou benzo(a)perene (para a indução do tumor no estômago). Por
meio destes trabalhos, concluiu-se que dietas contendo CLA podem ser utilizadas, com
sucesso, na prevenção do câncer. Em estudos com cultura de células humanas, uma
concentração fisiológica de CLA inibiu a proliferação de células de melanoma maligno e
câncer de colo-retal e mama (SHULTZ et al., 1992). O CLA foi também efetivo na
redução de tamanho e metástase de células cancerosas de mama e próstata em
camundongos com severa imunodeficiência-SCID (CESANO et al., 1998; VISONNEAU
et al., 1997).
O mecanismo pelo qual o CLA influencia a carcinogênese, embora muito
estudado, não está totalmente elucidado, podendo variar de acordo com o local do
câncer, a idade do animal, a duração da exposição à substância carcinogênica e ao
estágio da carcinogênese (PARODI, 1997).
Outro isômero com reconhecida atividade biológica é o trans-10, cis-12, onde
estudos têm demonstrado que sua infusão abomasal tem diminuído o teor e a produção
de gordura no leite das vacas (CHOUINARD et al., 1999; LOOR e HERBEIN, 1998;
BAUMGARD et al., 2000).
Chouinard et al. (1999) trabalharam com vacas holandesas e promoveram a
infusão de diferentes porcentagens de CLA no abomaso dos animais. Não foi
observado aumento na ingestão de matéria seca, porém houve significante redução na
produção e porcentagem de gordura no leite. Ocorreu diminuição nos ácidos graxos de
12
cadeia curta e média (4:0-14:0) e incremento nos de cadeia longa (18:0, 18:2 e 18:3).
Segundo os mesmos autores, observou-se diferença na eficiência de transferência dos
isômeros para a gordura do leite. Cerca de 33% do CLA cis-9, trans-11 infundido foi
secretado na gordura do leite, enquanto o CLA cis-10, trans-12 foi transferido com
eficiência de apenas 21%.
Baumgard et al. (2001) promoveram a infusão do CLA trans-10 cis-12, em
diferentes doses, no abomaso de vacas holandesas. Todas as doses de trans-10, cis-
12 reduziram, significativamente, a produção e porcentagem da gordura do leite. Esta
redução foi de 25% para a infusão de baixa dose do isômero (3,5g/dia) e 50% para alta
dose (14g/dia). Os autores observaram também que, durante o período de infusão, a
correlação entre a porcentagem de gordura e a quantidade de CLA cis-12, trans-10 na
gordura do leite foi negativa, indicando que este isômero está relacionado com a
depressão da gordura do leite (DGL) em vacas lactantes. Resultados semelhantes
foram observados por Medeiros (2001) e Jiang et al. (1996).
Em recentes estudos têm sido observado que o isômero trans-10, cis-12 é também
responsável pela redução na deposição de gordura corporal de camundongos em
crescimento (PARK et al., 1999). Em 1997, Park e colaboradores forneceram dietas
suplementadas com 0,5% de CLA para camundongos e observaram redução de 57% e
60% na gordura corporal de machos e fêmeas, e 5% e 14% de acréscimo de massa
magra corporal, em relação ao controle, respectivamente. Outros autores têm
comprovado tal redução em espécies como ratos (HOUSEKNECHT et al., 1998; SISK
et al., 1998) e suínos (DUGAN, 1997; COOK et al., 1998). O mecanismo fisiológico para
a redução de gordura corporal em camundongos, promovido pelo CLA, pode envolver a
inibição do acúmulo de gordura no adipócito, devido a diminuição na atividade da
lipoproteína lipase, juntamente com alta
β
-oxidação no músculo esquelético e aumento
da massa destes músculos, por meio do aumento da atividade da enzima carnitina
palmitoil transferase-CPT (PARK et al., 1999).
Outra atividade importante relatada na literatura sobre o CLA é a modulação do
sistema imune do animal. As citoquinas IL-1 (interleukina 1) e TNF
α
(tumor necrose
fator alfa), que são mediadores da imunidade e, principalmente, da resposta
inflamatória, são produzidas pelos macfagos e outras células imunes quando são
13
estimuladas (PARIZA et al., 2000). No entanto, os efeitos catabólicos causados por
essas citoquinas podem resultar em diminuição das taxas de ganho, perdas de
músculo, redução da eficiência alimentar e anorexia (COOK, 2001), uma vez que estas
substâncias redirecionam o fluxo de nutrientes para os produtos relacionados com a
imunidade e induzem a degradação e diminuição de síntese do músculo esquelético
(COOK e PARIZA, 1998). Parece que o CLA age na regulação e/ou ação dessas
citoquinas, não permitindo o catabolismo do músculo esquelético.
Baseado nestas afirmações, em um ensaio de crescimento envolvendo ratos,
Chin e colaboradores (1994) observaram que filhotes que receberam leite de ratas
alimentadas com CLA (0,25 ou 0,50%) em suas dietas cresceram mais rápido do que o
grupo controle (sem CLA nas dietas das mães). Após o desmame, os ratos que
continuaram recebendo dietas suplementadas com CLA apresentaram melhoras
significativas de ganho de peso e conversão alimentar em relação aos animais controle.
Bee (2000), testando o desempenho de leitegadas de porcas que receberam ou
não 2% de CLA, propuseram que os melhores resultados dos leitões de porcas com
CLA podem estar relacionados à regulação da estimulação imune, podendo
disponibilizar mais energia para os processos anabólicos.
A concentração de CLA na gordura do leite, em bovinos, varia entre 3-6 mg/g de
gordura (KELLY e BAUMAN, 1996; RIEL, 1963). Porém, existe variação desta
concentração no decorrer da lactação. O total de CLA na primavera e verão (época em
que existe maior abundância de pasto) é substancialmente maior que no outono e
inverno (época em que ocorre diminuição da oferta de pasto) (RIEL, 1963; PARODI ,
1999). O CLA pode variar também em função do sistema de alimentação adotado
(JAHREIS et al., 1997; JIANG et al., 1996). Dhiman et al (1996), relataram que vacas
que permanecem em pastejo podem apresentar concentrações de CLA de até 22,7
mg/g de gordura. Dhiman et al. (1999) trabalharam com vacas primíparas e multíparas
fornecendo diferentes dietas no decorrer de dez semanas. Como resultado, foi
observado que os animais que permaneceram a pasto no decorrer do experimento
apresentaram aumento de 500% no teor de CLA da gordura do leite, quando
comparados aos animais alimentados com 50% de forragem conservada e 50% de
grãos. Segundo os mesmos autores, existe um aumento linear de CLA no leite de
14
acordo com maior tempo de pastejo. Valores de CLA no leite de vacas da Austrália e
Nova Zelândia, por possuírem maior acesso a pastagens novas e ricas em ácidos
graxos polinsaturados, são duas ou três vezes maiores que os observados nos Estados
Unidos (PARODI, 1996).
Kelly et al. (1998) observaram substancial variação individual (9,9 a 51,7 mg de
CLA/g de gordura) em vacas no mesmo estágio de lactação, consumindo a mesma
dieta e submetidas ao mesmo manejo. Observações semelhantes foram obtidas por
Riel (1963) e Kelly e Bauman (1996). Tais variações individuais podem ser devido às
diferenças genéticas existentes entre os animais. White et al. (2001), observaram
diferenças nas produções de CLA entre as raças bovinas Jersey e Holandesa, dentro
do mesmo sistema de produção (pasto e confinamento) e entre os sistemas. O leite das
búfalas possui teores elevados de gordura (6,87 a 8,59 %) e proteína (3,91 a 4,55%), e
podem ser alterados mediante seleção (TONHATI et al., 2000; ROSATI e VAN VLECK,
2002). Assim sendo, é possível que o teor de CLA na gordura deste leite também seja
maior. Por meio da estimação de parâmetros genéticos para o teor de CLA no leite,
será possível verificar se tal característica poderá ser incrementada por seleção,
ocorrendo então, aumento na qualidade nutricional e no valor econômico deste,
acarretando beneficio à saúde humana.
15
MATERIAL E MÉTODOS
Foram acompanhados 12 rebanhos bubalinos, da raça Murrah, no decorrer dos
anos de 1997 a 2004. Para a produção de leite (PL), foram observadas 3929 lactações
provenientes de 2130 búfalas. Para as produções de proteína (PT) e gordura (PG),
foram observadas 1598 lactações, provenientes de 914 animais. Para a porcentagem
do ácido linoléico conjugado (CLA), foram acompanhadas 225 lactações, provenientes
de 225 animais, pertencentes a quatro rebanhos, no decorrer dos anos de 2003 e 2004.
Cada animal tinha, aproximadamente, 3 amostras de CLA, totalizando 611 amostras
analisadas. Portanto, foi feita uma média de CLA por animal, obtendo-se as 225
lactações. Para estimar o perfil dos ácidos graxos foi utilizado o procedimento Proc
means do pacote estatístico SAS (2004).
Foram consideradas as lactações até a quarta ordem de parto, truncadas aos
270 dias. As lactações com produções de leite (PL) menores que 500 kg e maiores que
3200 kg, durações de lactação menores que 90 dias e idades ao primeiro parto
menores que 700 dias foram excluídas do banco de dados analisado.
Mensalmente, foram realizados controles leiteiros nas fazendas, e as amostras
de leite foram enviadas à Clínica do Leite / ESALQ, para realizar as análises de gordura
e proteína. Tais quantificões foram feitas mediante leitura de absorção de luz
infravermelha, utilizando o equipamento Bentley 2000.
As amostras de leite para análise de CLA foram congeladas para posterior
análise. Para a extração da gordura do leite, com fins na análise do perfil de ácidos
graxos, a amostra foi descongelada e centrifugada (centrífuga refrigerada, sob rotação
de 9.000 g, a 8ºC, por 30 minutos), para se concentrar a gordura. Pesou-se 40 mg de
16
gordura, e adicionou-se solução de hexano-isopropanol, de acordo com metodologia
descrita por Hara e Radim (1978). Para a metilação dos ácidos graxos, seguiu-se a
metodologia descrita por Christie (1982), e adaptada por Chouinard et al. (1999)
empregando-se solução básica de metóxido de sódio.
A quantificação dos ácidos graxos do leite foi realizada por meio de
cromatografia gasosa em equipamento Trace GC 3, aparelhado com detector de chama
(FID), coluna capilar SUPELCO 2-4056 SP
TM
2560, de 100 m x 0.25 mm de diâmetro,
e espessura do filme 0,2
µ
m, e como gás de arraste utilizou-se o hidrogênio, com fluxo
de 40 mL/minuto. A temperatura inicial da rampa foi 70ºC por 4 minutos, em seguida a
temperatura foi elevada a 13ºC/minuto até atingir 175ºC, permanecendo por 27 minutos
nesta temperatura (1
ª
rampa), depois elevou-se a 4ºC/minuto até atingir 215ºC,
permanecendo por 11 minutos nesta temperatura (2
ª
rampa), a 3
ª
rampa foi alcançada
aumentando-se a temperatura a 4ºC/minuto até atingir 240ºC, permanecendo por 4
minutos, sendo a temperatura máxima 250ºC. O tempo de corrida de cada amostra foi
de 70 minutos, com injeção de 1µL/amostra.
Para o estudo dos fatores que afetam as produções estimadas de leite, gordura,
proteína e %CLA, incluiu-se no modelo estatístico os efeitos fixos de ano de parto,
ordem de parto, fazenda e mês do parto, e como efeito aleatório, foi considerado o
animal dentro do rebanho. As análises de variância foram realizadas por meio do
procedimento Proc mixed do SAS (2004). O modelo adotado foi:
17
Y
ijklmn
=
µ
+ C
i
+ x
j
(Ci) + A
k
+ B
l
+ D
m
+ e
ijklmn
Y
ijklm
= Produções observadas de leite, Gordura e Proteína e %CLA
µ
= média geral;
C
i
= efeito fixo da i
ésima
fazenda (1,...,12);
x
j
(C
i
) = efeito aleatório da j
ésima
búfala dentro da i
ésima
fazenda;
A
k
= efeito fixo do k
ésimo
mês de parto (1, ...., 9);
B
l
= efeito fixo do l
ésimo
ano de parto (1997,..., 2004);
D
m
= efeito fixo da m
ésima
ordem de parto (1,...,4);
e
ijklmn
= vetor de efeito residual;
Estimação dos parâmetros genéticos e ambientais
Os parâmetros genéticos foram estimados por meio do método de Máxima
Verossimilhança Restrita, aplicado a um modelo animal utilizando o programa
MTDFREML, desenvolvido por Boldman et al. (1993). Foram feitas análises
unicaracterísticas, e calculou-se as correlações entre os valores genéticos para cada
característica utilizando a saída mtdf78 do programa MTDFREML, mediante
procedimento Proc Corr do SAS (2004). No modelo matemático, considerou-se como
efeito fixo o grupo de contemporâneo (ano de parto, fazenda e estação), e as
covariáveis idade ao parto (linear e quadrática) e a duração da lactação (linear e
quadrática). Para PL, PG e PT, foram considerados os efeitos genético aditivos e de
ambiente permanente. Para o CLA, apenas o efeito genético aditivo, pois foram
consideradas apenas uma lactação por animal. Assim, o modelo matemático, de uma
forma geral, pode ser representado por:
18
Y = X
β
ββ
β
+ Za + Wpe + e, onde
Y = vetor das observações (produções de leite, gordura e proteína e % CLA);
β
= vetor dos efeitos fixos;
a = vetor dos efeitos genéticos diretos do animal;
pe = vetor de efeitos de ambiente permanente para PL, PG e PT;
e = vetor de efeitos residuais;
X, Z e W são matrizes de incidência relacionadas aos vetores de efeito fixo, genético
aditivo e de ambiente permanente, respectivamente.
19
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Teor do Ácido Linoléico Conjugado (CLA)
As médias, desvios padrões e coeficientes de variação para as características
analisadas encontram-se na Tabela 1. As correlações fenotípicas entre estas
características encontram-se na Tabela 2. As correlações fenotípicas observadas entre
o CLA e PL, PG e PT foram baixas, porém, positivas, indicando que o incremento de
uma leva ao aumento da outra característica. E ao selecionar animais para aumento de
PL, PG ou PT, como conseqüência terá o aumento de CLA.
O CLA C18:2 t10c12 foi observado em quantidade muito pequena, não sendo
considerado nas análises dos resultados. Este isômero que apesar de
comprovadamente constituir pequena parte do CLA total possui relação quadrática
entre a redução na porcentagem de gordura do leite e aumento do conteúdo deste
isômero na gordura (PETERSON et al., 2002).
Para o CLA C18:2 c9t11, considerando os dois anos de coleta, houve diferença
estatística apenas para mês do parto e fazenda. A média obtida foi de 0,698 ± 0,161%
com CV de 23,03%. Este valor está próximo do valor obtido por Lock e Garnsworthy
(2003) em leite de bovinos, que observaram no decorrer do ano, valores entre 0,6 a
1,7% para este isômero. Porém este valor ficou abaixo do observado por Fernandes
(2004) para leite de búfalas, que observou variações entre 1,02 a 1,77% para o isômero
20
nas diferentes propriedades avaliadas. As diferenças avaliadas na literatura podem ser
devidas, principalmente, às diferenças na dieta dos animais, que promovem aumento
ou redução deste imero no leite (KELLY et al, 1998). Outro ponto a ser considerado é
a diferença existente entre os animais para a %CLA, onde alguns pesquisadores
observaram a existência de variação individual na produção de CLA, sob as mesmas
condições dietéticas (KELLY et al., 1998; LAWLESS et al., 1998).
Os animais paridos de agosto a dezembro apresentaram as maiores médias de
CLA, coincidindo com os meses de maior PL (Figura 1). Foi observada uma correlação
fenotípica pequena, porém, positiva entre estas duas características igual a 0,17,
indicando que o incremento de uma é seguida pelo aumento da outra. Este acréscimo
no decorrer destes meses era de se esperar, pois à medida que as pastagens
participam da dieta, a tendência de aumento no teor de CLA no leite. O mês de
Outubro foi o que apresentou a maior média de CLA atingindo 1,23% deste isômero.
A fazenda onde o leite apresentou maior valor de CLA foi a 1022, que obteve
média igual a 1,264% (Figura 2). Um dos fatores para o alto teor de CLA está ligado à
alimentação fornecida aos animais, sendo que uma dieta com um maior oferta de
pastagens ricas em ácido linoléico proporcionam a elevação do teor de CLA no leite,
por determinar a elevação da absorção de CLA (C18:2c9t11) produzido pela
isomerização inicial (no rúmen) do ácido linoléico. A PL nesta fazenda foi baixa,
podendo ser devido ao pequeno número de dados, ou pode estar relacionado ao
balanceamento da ração fornecida, além da genética dos animais (Figura 2). Foi
observada uma baixa PG, PT no leite na fazenda 1022 (Figura 3), o que pode ser
explicado pelas baixas, porém negativas correlações entre os valores genéticos obtidos
entre estas características e o CLA, iguais a -0,09 para PT e CLA e -0,15 para PG e
CLA.
A fazenda 1001 foi a que apresentou menor CLA, porém, maior PG e PT (Figura
3). Nesta fazenda os animais recebiam alimentação no cocho, não tendo acesso à
pastagem. Portanto, este baixo valor de CLA pode estar relacionado a baixa oferta de
precursores do CLA, via alimentação.
21
A fazenda 1010 apresentou alto CLA e valores medianos para PG e PT, quando
comparadas às demais fazendas (Figura 3). A fazenda 1012 apresentou valor
intermediário para CLA, porém, foi a que apresentou maior PL. Esta fazenda vem
sofrendo seleção anos para PL, o que explica este alto valor. Era esperado um
maior CLA nesta fazenda, já que a PL foi alta e os animais tinham acesso à pastagens.
Porém, as amostras de leite analisadas deste rebanho eram referentes aos meses de
fevereiro a março, meses que apresentam baixo CLA, como observado na Figura 1.
Portanto, a média desta fazenda ficou prejudicada.
O perfil de ácidos graxos para o leite de búfalas está apresentado na Tabela 3.
Os ácidos graxos identificados nas análises e de maior participação (média da lactação)
em ordem decrescente, foram o C16:0; C18:1c9; C18:0 e o C14:0. Esses também são
os de maior participação no leite de bovinos de acordo com algumas publicações
(PALMQUIST et al., 1993; JENSEN, 2002; LOCK e GARNSWORTHY, 2003).
Observou-se uma maior porcentagem dos ácidos graxos de cadeia longa (>C18:0
49%) em relação aos ácidos graxos de cadeia média (entre C14 a C16 35%) e curta
(<C14 – 16%).
Os teores de ácidos graxos saturados (AGS) e insaturados (AGI) foram iguais a
62,89% e 33,97%, respectivamente (Tabela 3). Estes resultados estão próximos dos
observados por Melicio (2004), que obteve resultado igual a 64,35% para AGS e
35,69% para AGI. A ingestão pelo homem de ácidos graxos saturados não deve
ultrapassar a 10% das calorias totais da dieta, devido à sua associação a problemas
cardíacos. Os ácidos graxos saturados observados em maior porcentagem foram o
palmítico (C16:0), esteárico (C18:0) e merístico (C14:0), sendo que o palmítico e
merístico afetam o nível de LDL (lipoproteína de baixa densidade) no sangue, portanto
é interessante a sua redução no leite (MAIJALA, 2000). Os ácidos graxos insaturados
com maior participação foram o oleico (C18:1 c9) e vacênico (C18:1 t11), com valores
iguais a 22,42% e 2,71%, respectivamente. A relação entre AGI e AGS (Tabela 3) foi
igual a 0,54, sendo que o mínimo aceitável para esta relação é igual a 0,45, logo, a
proporção de AGI para o leite de búfala em relação ao AGS está acima dos padrões
aceitáveis, e neste estudo, foi observada que a %AGI alcançou mais da metade da
22
%AGS. O desejável é que os AGS se transformem em AGI, sendo isto possível para
alguns ácidos graxos na glândula mamária mediante atividade da
9
-dessaturase.
O teor médio observado do C14:0, foi de 7,789% (Tabela 3). A variação
observada por Lock e Garnsworthy (2003) foi entre 9 a 11,3% para bovinos, valores
estes superiores ao observado neste trabalho. Fernandes (2004), em bubalinos, obteve
valores para esta característica, variando entre 5,96 a 8,85%, enquanto Melicio (2004)
obteve média igual a 8,66%, valores estes mais próximos à média obtida neste estudo.
O teor médio observado do C16:0, neste trabalho, foi de 28,67% (Tabela 3). A
média observada por Lock e Garnsworthy (2003), em bovinos, foi de 18,70%, portanto,
inferior à média obtida neste trabalho para búfalas. Porém, os autores Palmquist et al.
(1993) e Jensen (2002) observaram em bovinos, valores para a mesma característica
iguais a 29,87% e 30,70%, respectivamente. Em bubalinos, Fedele et al. (2001)
obtiveram teor do ácido palmítico (C16:0) entre 32,9% e 34,4%, valores semelhantes
aos obtidos por Fernandes (2004) e Melicio (2004), onde as variações encontraram-se
entre 25,3 a 32,4% para o primeiro, e igual a 32,58% para o segundo autor.
O teor médio de C18:0 encontrado no leite de búfalas neste trabalho, foi de
15,67%. Esta média foi superior aos valores relatados por Lock e Garnsworthy (2003),
Palmquist et al. (1993) e Jensen (2002), que foram iguais a 14,7%, 9,0% e 9,7%,
respectivamente. Em bubalinos, Fedele et al. (2001) encontraram média de 12,6% para
o C18:0, enquanto Fernandes (2004) obteve variações entre 7,86% e 13,44% entre
rebanhos. O valor obtido neste estudo foi superior a todas as literaturas consultadas,
exceto ao trabalho de Melicio (2004), que obteve valor igual a 16,67%.
23
Tabela 1 Número de dados, média, desvio padrão e coeficiente de variação para as
características avaliadas Produção de Leite (PL), Produção de Gordura
(PG), Produção de Proteína (PT) e Ácido Linoleico Conjugado (%CLA).
Características N. Dados
Média
Desvio
Padrão
Coeficiente de
Variação
PL
3.929 1481,56 354,65 23,94
PG
1.598 90,06 24,59 27,3
PT
1.598 56,96 15,24 26,75
%CLA
225 0,698 0,161 23,03
**P<0,001, ns = não significantes
Tabela 2 Correlações fenotípicas entre Conjugado de Ácido Linoléico (CLA) e as
Produções de Leite (PL), Gordura (PG) e Proteína (PT)
PT PG CLA
PL
0,466 0,374 0,176
PT
0,788 0,321
PG
0,208
24
Tabela 3 Perfil de ácidos graxos de leite de búfalas e relação entre os produtos da
enzima
9
-dessaturase e seu ácido graxo precursor
Ácidos Graxos Nome %
4:0 Butírico 3,06
6:0 Capróico
1,19
8:0 Caprílico
0,53
10:0 Cáprico
0,96
12:0 Láurico
1,37
14:0 Merístico
7,789
14:1 c9 Miristoleico
0,4
15:0 Pentadecanóico
0,99
16:0 Palmítico
28,67
16:1 c9 Palmitoléico
1,6
17:0 Heptadecanóico
0,59
18:0 Esteárico
15,67
18:1 trans11 Vacênico
2,71
18:1 c9 Oléico
22,42
18:2 c9 c12 Linoléico
1,28
18:03
0,24
18:2 c9 t 11 CLA
0,8
18:2 t10 c12 CLA
0,12
20:0
0,1
Ác. Graxo Insaturado (AGI)
33,97
Ác. Graxo Saturado (AGS)
62,89
14:1/14:0
0,052
16:1/16:0
0,056
18:1/18:0
1,504
CLA/Linoléico
0,625
CLA/Vacênico
0,295
AGI/AGS
0,540
25
1100
1150
1200
1250
1300
1350
1400
1450
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Meses de Parto
Leite (kg)
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
CLA (%)
LEITE CLA
Figura 1 Média da Produção de Leite acumuladas até os 270 dias de lactação e
Teores de CLA de acordo com mês do Parto
0
500
1000
1500
2000
2500
1001 1010 1012 1022
Fazendas
Leite (kg)
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
CLA (%)
LEITE CLA
Figura 2 Média da Produção de Leite acumuladas até os 270 dias de lactação e
Teores de CLA nos diferentes rebanhos
26
0
20
40
60
80
100
120
1001 1010 1012 1022
Fazendas
Proteína e Gordura (kg)
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
CLA (%)
PROTEÍNA GORDURA CLA
Figura 3 Média das Produções de Gordura e Proteína acumuladas até os 270 dias de
lactação e Teores de CLA nos diferentes rebanhos
Atividade da enzima
9
-dessaturase
A atividade da enzima
9
-dessaturase na glândula mamária é medida
indiretamente pela relação existente entre alguns ácidos graxos presentes no leite
(14:1/14:0; 16:1/16:0; 18:1/18:0, CLA/Linoléico, CLA/Vacênico). Dentre essas relações,
a que melhor afere esta atividade é a relação entre o ácido miristoléico e o mirístico
(C14:1c9/C14:0), devido ao fato de o C14:1c9 apresentar teores elevados no leite,
enquanto na digesta sua concentração é baixa ou elemento traço (LOCK e
GARNSWORTHY, 2003; FIEVEZ et al., 2003). Neste trabalho, o valor médio observado
foi de 0,052 para esta relação. Este valor está abaixo dos valores observados por Lock
e Garnsworthy (2003) e Fernandes (2004), que obtiveram valores iguais a 0,062 e
0,065, respectivamente. Apesar do valor estar abaixo dos citados pelos autores acima,
ele indica que houve uma boa participação da atividade da
9
-dessaturase na glândula
mamária no teor destes ácidos graxos. Os fatores que afetam a atividade da
9
-
dessaturase não estão muito bem explicados, mas provavelmente são influenciados por
27
fatores genéticos, estágio da lactação e nutrição dos animais (LOCK e
GARNSWORTHY, 2003).
A relação 16:1/16:0 foi igual a 0,056, sendo este valor semelhante ao
apresentado por Fernandes (2004), que variaram entre 0,050 a 0,063 entre os
rebanhos observados, porém, um pouco inferior ao apresentado por Lock e
Garnsworhty (2003), que observaram valor igual a 0,079 de média. Para a relação
18:1/18:0 e CLA/Vanico foram obtidos valores iguais a 1,504 e 0,295,
respectivamente, valores semelhantes aos obtidos pelos autores citados acima. Estas
relações indicam que houve boa participação da atividade da
9
-dessaturase na
glândula mamária no teor destes ácidos graxos. Griinari et al. (2000) confirmaram em
seu trabalho a importância da
9
-dessaturase na produção do ácido oléico e obser
varam que a atividade desta enzima é a maior fonte dos ácidos miristoléico e
palmitoléico encontrados na gordura do leite. Os mesmos autores comprovaram em seu
estudo que a ntese endógena do CLA, via
9
-dessaturase, é a maior fonte deste
isômero no leite de ruminantes.
Quando comparamos o perfil dos ácidos graxos entre as fazendas, percebemos
diferenças entre as cadeias de carbono, sendo a fazenda 1022 a que apresentou menor
teor de ácidos graxos de cadeia curta (<14) e maior de cadeia longa (>18) (Tabela 4),
corroborando com o resultado de maior teor de CLA (Figura 2). Esta fazenda foi a que
apresentou também menor relação 14:1/14:0, logo, menor contribuição da atividade da
9
-dessaturase. Este fato está de acordo com a literatura, onde diz que o mecanismo
denominado síntese de novo é o que forma os ácidos graxos de cadeia curta (C4-C10)
e média (C12-C16) secretados no leite (CHILLIARD et al., 2000). Assim, reduzindo a
atividade da
9
-dessaturase, como conseqüência irá ocorre a redução nestas cadeias
de carbono. a fazenda 1010 foi a que apresentou maior teor de ácidos graxos de
cadeia curta (<14), logo, maior relação 14:1/14:0. Este fato deve estar relacionado às
diferenças de alimentação fornecida nas fazendas, pois na fazenda 1010 os animais
eram criados a pasto, com suplementação na seca. A fazenda 1022 tinha dieta
semelhante a fazenda anterior, porém, recebiam o resíduo de cervejaria. Segundo
Fernandes (2004), este resíduo possui alto teor de ácido linoléico, que é um precursor
do CLA. Esta alta quantidade de carbono de cadeia longa da fazenda 1022 pode estar
28
relacionada a um maior aporte do ácido linoléico, via alimentação, para os animais.
Considerando que, aproximadamente, 75% do CLA no leite é proveniente da síntese
endógena na glândula mamária (CORL et al., 1999), e observando a existência de
diferenças na atividade da
9
-dessaturase, pode-se sugerir que existe variação, entre
rebanhos, da atividade desta enzima, aumentando ou reduzindo o teor de CLA no leite.
Foi observada por Lock e Garnsworthy (2003) uma possível variação genética entre os
animais para a
9-dessaturase, pois houve significativa diferença na relação 14:1/14:0
entre os animais observados (variações entre 0,039 a 0,121), assim como foram
observadas diferenças para esta relação entre as fazendas estudadas neste trabalho.
Tabela 4 Perfil dos ácidos graxos de cadeia curta (<14), média (14-18) e longa (>18)
nos diferentes rebanhos e relação entre os carbonos 14:1/14:0.
Fazendas
Perfil dos Ácidos
1001 1010 1011 1022
<14
15,5898 16,4879 15,2021 11,9431
14-18
33,8710 32,9767 33,4274 32,2872
>18
47,4896 45,4670 45,9520 50,8020
Relação
14:1/14:0 0,0492 0,0581 0,0466 0,0451
29
Produção de Leite e Constituintes
Para Produção de Leite (PL), houve diferença estatística para todos os efeitos
considerados neste trabalho. A média observada neste trabalho para a produção de
leite foi de 1.481,56 ± 354,65 kg, com Coeficiente de Variação (CV) de 23,94%. Esta
média foi semelhante às encontradas na literatura brasileira, cujos valores variaram
entre 1.029,31 ± 234,29 kg a 1.496,00 ± 605,70 kg (TONHATI et al, 1996; MARQUES,
1991). As médias para PL observadas na Índia (1.853,00 ± 11,50kg KURALKAR e
RAHEJA, 1997) e Itália (2.286,80 ± 492,10 kg ROSATI e VAN VLECK, 2002) foram
superiores à média observada neste trabalho. Este valor vem aumentando com o
passar dos anos (Figura 4). As diferenças existentes entre rebanhos (literatura) e no
decorrer dos anos são devidas a fatores ambientais, de manejo em geral e à
constituição genética dos rebanhos. Os animais que pariram em outubro foram os que
apresentaram maior PL (Figura 5), provavelmente devido a maior disponibilidade de
pastagem nesta época. Houve incremento na produção de leite até a quarta ordem de
parto (Figura 6). Este resultado está de acordo com Villares et al. (1979), que
observaram que a produção máxima ocorreu entre a quarta e quinta ordens de parto,
porém, não concorda com Tonhati et al. (1998), que observaram aumento de produção
de leite até a terceira ordem, havendo decréscimo após este período. Esta diferença
pode ser devido à mantença de animais mais produtivos no rebanho por um período
mais prolongado em uma determinada fazenda ou ano de parto, assim como a entrada
e saída de rebanhos da base de dados analisada. A fazenda que apresentou maior
média foi a 1012, com valor igual a 1.916,07 kg (Figura 7). Os animais desta fazenda
vêem sendo melhorados geneticamente desde 1975, justificando assim uma maior PL.
Para Proteína houve diferença estatística para todos os efeitos estudados
(Tabela 1). A média obtida foi de 56,96 ± 15,24kg com CV igual a 26,75%. Este valor foi
menor que o valor observado nos rebanhos Italianos, onde a média foi igual a 104,70 ±
21,70 kg (ROSATI e VAN VLECK, 2002). A maior média de proteína foi atingida em
2004 (Figura 4), coincidindo com a maior Produção de Leite. Os animais paridos no
mês de Novembro foram os que apresentaram maior PT (Figura 5). Os animais
30
atingiram a maior PT na segunda ordem de parto, apresentando leve decréscimo nas
ordens seguintes (Figura 6). Houve diferença entre as fazendas avaliadas, sendo que a
maior produção atingiu o valor de 86,37 kg de proteína, valor proveniente da fazenda
1009 (Figura 7)
Houve diferença estatística para gordura, considerando todos os efeitos
estudados. A média observada foi de 90,06 ± 24,59 kg com CV de 27,30%. Esta média
foi inferior à observada por Rosati e Van Vleck (2002), que obtiveram um valor igual a
196,90 ± 45,60 kg. O ano que apresentou maior média foi 2004, coincidindo com o
maior valor para PL e PT (Figura 4). Os animais paridos no mês de Outubro foram os
que apresentaram maior PG, provavelmente, devido a uma maior disponibilidade de
forrageiras nesta época (Figura 5). Assim como para PT, a maior PG ocorreu no
segundo parto (Figura 6). A fazenda que apresentou maior PG foi a mesma que
apresentou a maior PT apresentando um valor igual a 122,71kg (Figura 7). Estas
diferenças podem ser devido a diferenças na dieta oferecida aos animais.
1150
1200
1250
1300
1350
1400
1450
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Ano do Parto
Leite (kg)
0
20
40
60
80
100
120
Gordura e Proteína (kg)
LEITE PROTEINA GORDURA
Figura 4
Médias das Produções de Leite, Gordura e Proteína acumuladas aos 270
dias de lactação no decorrer dos anos de parto
31
1100
1150
1200
1250
1300
1350
1400
1450
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Mês do Parto
Leite (kg)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Gordura e Proteína (kg)
LEITE PROTEINA GORDURA
Figura 5 Médias das Produções de Leite, Gordura e Proteína acumuladas aos 270
dias de lactação de acordo com o mês do parto
1050
1100
1150
1200
1250
1300
1350
1400
1 2 3 4
Ordem de Parto
Leite (kg)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Gordura e Proteína (kg)
LEITE PROTEINA GORDURA
Figura 6 Médias das Produções de Leite, Gordura e Proteína acumuladas aos 270
dias de lactação de acordo com a ordem do parto
32
0
500
1000
1500
2000
2500
1001 1002 1003 1004 1005 1006 1007 1009 1010 1012 1021 1022
Fazendas
Leite (kg)
0
20
40
60
80
100
120
140
Gordura e Proteína (kg)
LEITE PROTEÍNA GORDURA
Figura 7 - Médias das Produções de Leite, Gordura e Proteína acumuladas aos 270
dias de lactação de acordo com os diferentes rebanhos
Parâmetros Genéticos para CLA e Produções de Leite, Gordura e Proteína
As variâncias genéticas aditiva (
2
a
), de ambiente permanente (
2
ep
), ambiental (
2
e
) e
fenotípica (
2
p
)
,
assim como a herdabilidade (h
2
) e repetibilidade (t) das características
estudadas encontram-se na Tabela 5. Para CLA, o valor obtido para herdabilidade foi
igual a 0,35. Não existem referências na literatura para se comparar este valor.
Portanto, podemos dizer que, considerável variação genética aditiva entre os
indivíduos, sendo possível realizar ganho genético para o CLA. Porém, como o
ambiente também influencia esta característica, deve-se associar uma alimentação, de
preferência rica em ácido linoleico, incrementando assim o teor de CLA no leite de
búfalas. Esta herdabilidade era esperada, uma vez que vários autores observaram a
existência de variação de CLA entre os animais dentro do mesmo rebanho (KELLY et
al., 1998; LAWLESS et al., 1998; FERNANDES, 2004). Assim, apesar do pequeno
número de dados apresentados neste trabalho, vale ressaltar a importância deste
33
estudo para a bubalinocultura. Portanto, a continuidade deste estudo é importante, pois,
atualmente, o CLA é um dos alimentos lácteos com importância funcional, sendo a
seleção dos animais um dos meios de incrementar este constituinte no leite.
A herdabilidade para PL foi maior que a estimada por Rosati e Van Vleck (2002),
que obtiveram valor igual a 0,14. Porém, Tonhati et al. (2000) obtiveram resultado
semelhante, igual a 0,24. A variância genética aditiva e a de ambiente permanente
foram semelhantes, porém a ambiental foi maior no trabalho do Tonhati et al.(2000),
causando uma redução na herdabilidade estimada pelos autores, provavelmente
causada pela diferença do modelo matemático adotado.
Para PT e PG, as herdabilidades observadas foram iguais a 0,25 e 0,26,
respectivamente. Rosati e Van Vleck (2002) obtiveram resultado inferior a estes para a
característica PT igual a 0,14. Porém, para PG foi observado um valor maior a este,
igual a 0,38. Tais diferenças podem ser devido a métodos de estimação diferentes,
populações, épocas e regiões distintas. Neste trabalho, os valores de herdabilidade
estimados indicam que é possível realizar ganho genético para estas características.
Porém, assim como o CLA, essas características sofrem muita influência do meio,
sendo necessário uma melhora no ambiente e no manejo para que haja um aumento na
produção. E caso apenas o desempenho individual seja utilizado como ferramenta para
se praticar a seleção, maior período de tempo será necessário para aumentar as
Produções de Leite, Gordura e Proteína.
A repetibilidade observada para PL foi de 0,49, sendo este valor maior do que o
observado por Tonhati et al. (2000), que foi igual a 0,38. Este fato pode ser devido a um
maior valor da variância de ambiente temporário. A repetibilidade para PT e PG foram
iguais a 0,56 e 0,58, respectivamente. A repetibilidade é utilizada para predizer futuros
valores para os animais baseado nos valores atuais para as características, portanto,
podemos dizer que para as características estudadas (PL, PT e PG), os valores
preditos para as próximas lactações serão próximos ao real.
34
Tabela 5 Variâncias Genética Aditiva (
2
a
), Ambiente Permanente (
2
ep
), Ambiental
(
2
e
) e Fenotípica (
2
p
), herdabilidade (h
2
) e repetibilidade (t) para as
características Produção de Leite (PL), Produção de Proteína (PT),
Produção de Gordura (PG) e Teor de Ácido Linoleico Conjugado (CLA).
2
a
2
ep
2
e
2
p
h
2
t
PL
34.112,04 27.571,20 58.557,74 120.240,98 0,28 ± 0,051 0,49
PT
37,22 29,04 84,22 150,48 0,25 ± 0,107 0,56
PG
120,48 76,02 272,42 468,92 0,26 ± 0,106 0,58
CLA
0,01366 - - 0,02559 0,03925 0,35 ± 0,140 - -
35
CONCLUSÃO
-Podemos concluir com este trabalho que as Produções de Leite, Gordura e Proteína
são afetadas pelos efeitos de ordem, ano e mês do parto e fazenda. Para CLA, apenas
os efeitos de mês do parto e fazenda afetam significativamente esta característica.
-No perfil do CLA, os ácidos graxos de cadeia longa prevalecem, seguidos pelos de
cadeia média.
-A relação C
14:1c9
/C
14:0
sinaliza que houve contribuição da atividade da enzima
9
-
dessaturase na glândula mamária no teor destes ácidos graxos.
-Mediante os resultados de herdabilidade para as características estudadas, podemos
dizer que existe variabilidade genética, sendo possível o incremento destas produções
por meio da seleção dos animais.
36
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