Download PDF
ads:
ANA AUGUSTA MONTEIRO CAVALCANTE
CONSUMO ALIMENTAR, PERFIL NUTRICIONAL E DE SAÚDE
DE CRIANÇAS NO 2
o
E 3
o
ANOS DE VIDA ATENDIDAS
EM SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE DO MUNICÍPIO
DE VIÇOSA MINAS GERAIS
Tese apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Nutrição,
para obtenção do título de Magister
Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS BRASIL
2004
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ads:
Tese apresentada à
Universidade
Federal d
e Viçosa, como parte das
exigências do Programa de Pós-
Graduação em Ciência da
Nutrição,
para obtenção do título de
Magister
Scientiae.
ii
“Nenhuma alteração na forma de pensar
ou agir pode ser mais importante do que
isto: nós devemos colocar os seres
humanos no centro de tudo que
fazemos. Não há clamor mais nobre ou
responsabilidade maior do que oferecer
condições para que homens, mulheres e
crianças, nas cidades e aldeias ao redor
do mundo, possam tornar suas vidas
melhores”
Kofi A. Annan
iii
DEDICO ESTE TRABALHO
Mesmo que eu falasse a língua dos anjos,
se não houvesse amor, de nada adiantaria”.
São Paulo Apóstolo
Ao meu querido amor Fernando, pela constante presença, confiança,
amor, suporte financeiro e apoio emocional, incentivos permanentes e
incondicionais para realização deste trabalho.
Aos meus queridos filhos Alessandro e Erildo, razões da minha vida,
pelas estimulantes e essenciais demonstrações de amor, carinho, confiança,
paciência, sabedoria, cooperação e senso de partilha, que alimentaram minha
perseverança e determinação.
As mães e crianças de Viçosa e do mundo, sempre na busca incessante
de ultrapassar obstáculos pela vida, pela cooperação inestimável e
desprendimento, sem as quais não teria sido possível a realização deste
trabalho, minha alegria e meu especial carinho.
iv
MEUS SINCEROS AGRADECIMENTOS
O essencial é invisível aos olhos, só se vê
bem com o coração”.
St. Exupéry
A Deus, pela constante presença, iluminando meu caminho e
fortalecendo meu interior.
Aos Anjos de Guarda, participantes da construção do nosso processo de
vida.
A Universidade Federal de Viçosa e ao Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Nutrição do Departamento de Nutrição e Saúde pela oportunidade
de realizar um antigo sonho.
Ao Professor Adelson Luiz Araújo Tinoco, meu orientador, pela acolhida,
orientação, paciência, carinho, apoio e, principalmente, pela sua obstinada
missão em expandir conhecimentos, que elevaram meu nível de reflexão e
saber críticos. A sua sabedoria, confiança e amizade acrescentaram valores
imprescindíveis a minha evolução.
A Professora Josefina Bressan Resende Monteiro pelo apoio e atenção
em todos os momentos, particularmente, de decisão.
A Professora Rosangela Minardi Mitre Cotta, os seus ensinamentos,
colaborações, força, otimismo, presença e valiosa amizade, bem como, a
consideração que sempre me dedicou, fortaleceram a minha vontade de
realizar este trabalho.
v
A Professora Rita de Cássia Lanes Ribeiro pelo apoio, confiança,
atenção, valiosas colaborações, palavras de sabedoria e carinho, estímulos
essenciais para me manter firme nas árduas jornadas.
A Professora Conceição Angelina dos Santos Pereira, a sua confiança,
tranqüilidade e palavras de estímulo foram essenciais para esta minha
trajetória.
A Professora Sylvia do Carmo Castro Franceschini, indiscutivelmente
suas valiosas idéias engrandeceram este trabalho, mas foram os seus
ensinamentos e a sua confiança que estimularam minha esperança. O seu
carinho e amizade renovaram a minha crença que tudo podemos se colocamos
amor no que nos determinamos a realizar.
A Professora Silvia Eloísa Priore, o seu exemplo de profundo senso de
igualdade, justiça e respeito pelas pessoas, sua paciência, ensinamentos,
amizade e apoio incondicionais são valores que me seguirão pela vida afora.
A todos os Professores do Departamento de Nutrição e Saúde, pelos
ensinamentos, respeito, confiança e amizade que me dedicaram.
Aos funcionários do Departamento, especialmente, a Solange Brandão
Starling, pela amizade, contribuições e presença angelical no decorrer deste
curso.
A todos os colegas da Pós, com os quais tive o privilégio de viver
momentos enriquecedores, especialmente Sandra, Ivonilce, Guto, Ronaldo,
Silvia, Viviana, Juliana, Conceição e Frederico, pelas trocas permanentes,
dedicação, generosidade, presença, apoio, carinho e amizade, que
favoreceram o nosso crescimento.
As meninas e meninos “poderosos” da Graduação, pelas trocas, respeito
e carinho.
vi
A Poliana Martins, a sua colaboração inestimável, disponibilidade,
otimismo, apoio, dedicação e carinho me estimularam a realizar este trabalho
com muita alegria.
As Nutricionistas e Enfermeiras da Secretaria Municipal de Saúde de
Viçosa (MG): Nerilda, Ariadna, Silvinha, Úrsula, Claudete e Mônica pela
acolhida e apoio na realização desta pesquisa.
A Cristina Maria Gomes do Monte, minha amiga e mestre, obstinada
pesquisadora, sempre trabalhando em prol da saúde e nutrição das crianças. O
seu exemplo me estimula a continuar lutando por esta causa.
A Agromídia, em especial Alisson e Eduardo, pela concessão do
software DietPRO4 e pelo suporte técnico, contribuições inestimáveis para a
realização deste trabalho.
vii
MEUS AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
É preciso amar as pessoas como se não
houvesse amanhã”.
Renato Russo
Aos meus pais, Maria José e Erildo (in memoriam), esteios da minha
evolução como gente, desde cedo me ensinando a “correr atrás do saber” e a
amar as pessoas.
Aos meus irmãos Erildo Jr, Goretti, Cecília, Rosália e Alice que, mesmo
distantes, emanaram força, confiança e amor nesta caminhada.
Ao meu marido Fernando e aos meus filhos Alessandro e Erildo, amores
da minha vida, minhas palavras seriam pequenas para externar a grande
alegria que sinto por tê-los em minha vida. Com vocês meus dias são sempre
cheios de luz, alegrias, confiança, estímulos e esperança, redobrando minhas
forças pelos caminhos da existência.
Aos meus sogros, Antonia e Luiz, anjos terrenos da minha vida.
Seguramente, sem o apoio de vocês, não teria conseguido.
viii
BIOGRAFIA
ANA AUGUSTA MONTEIRO CAVALCANTE, filha de Maria José Lins
Monteiro e Erildo L’Eraistre Monteiro, nasceu em 16 de junho de 1959, na
cidade de Natal, no Rio Grande do Norte (RN).
Em 1978, iniciou o Curso de Nutrição na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, onde concluiu em 1982. No mesmo ano, foi selecionada pelo
governo belga para participar de Curso de Especialização na Universidade do
Estado de Gent (Bélgica), na área de Nutrição e Saúde Pública, onde concluiu
em 1983.
Nos anos que se seguiram atuou como Nutricionista em organizações
governamentais e não-governamentais. A partir de 1999 foi convidada para
fazer parte do grupo de colaboradores técnicos da Coordenação-Geral da
Política de Alimentação e Nutrição/Investigação e Monitoramento em
Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde.
No ano 2000 foi convidada pela Secretaria de Saúde do Estado do
Ceará para ser Assessora Técnica na Coordenação Regional da Área Técnica
de Alimentação e Nutrição/Célula da Criança, onde atuou até o ano 2001,
quando se afastou para realizar o Mestrado.
No mês de agosto de 2002, iniciou o Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Nutrição, Nível Stricto Sensu (Mestrado), na Universidade Federal
de Viçosa, em Minas Gerais.
ix
CONTEÚDO
Página
LISTA DE TABELAS .............................................................................. xii
LISTA DE QUADROS ............................................................................ xiv
LISTA DE GRÁFICOS............................................................................ xv
LISTA DE FIGURA................................................................................. xvii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................. xviii
RESUMO................................................................................................ xx
ABSTRACT ............................................................................................ xxii
1. INTRODUÇÃO................................................................................... 1
2. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................. 5
2.1. Saúde e Nutrição na Infância...................................................... 5
2.2. Abordagem Histórica dos Inquéritos Dietéticos........................... 9
2.3. Consumo Alimentar..................................................................... 11
2.3.1. Metodologia de Consumo Alimentar...................................... 13
2.3.2. Principais Métodos Dietéticos................................................ 15
2.3.2.1. Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar
QFCA..............................................................................
15
2.3.2.2. Recordatório 24 Horas - R24H ........................................ 19
2.3.2.3. Registro Alimentar........................................................... 23
x
Página
2.3.2.4. Pesagem de Alimentos................................................... 24
2.3.2.5. História Dietética ............................................................ 25
2.3.3. Metodologia de Consumo Alimentar Aplicada a Crianças e
Adolescentes........................................................................................
26
3. OBJETIVOS....................................................................................... 29
3.1. Objetivo Geral ............................................................................. 29
3.2. Objetivos Específicos.................................................................. 29
4. CASUÍSTICA E MÉTODOS ............................................................... 31
4.1. Desenho Geral ............................................................................ 31
4.2. Casuística.................................................................................... 31
4.3. Coleta de Dados.......................................................................... 32
4.4. Operacionalização das Variáveis................................................ 33
4.4.1. Identificação da Situação Socioeconômica, Demográfica e
de Assistência à Saúde.........................................................
33
4.4.2. Avaliação do Consumo Alimentar.......................................... 34
4.4.2.1. Estimativa de Consumo do Leite Materno....................... 36
4.4.2.2. Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar....... 37
4.4.2.3. Recordatório 24 horas..................................................... 38
4.4.3. Caracterização da Morbidade Referida................................. 39
4.4.4. Avaliação do Estado Nutricional............................................ 39
4.4.5. Recomendações Nutricionais para Melhoria do Padrão
Alimentar das Crianças Estudadas........................................
41
4.5. Pré-Teste..................................................................................... 41
4.6. Análise Estatística....................................................................... 42
4.7. Aspectos Éticos........................................................................... 43
4.8. Contribuição................................................................................ 44
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................... 45
5.1. Distribuição por Sexo e Faixa Etária da População Estudada .... 45
5.2. Condições Socioeconômicas e Demográficas ............................ 46
5.2.1. Escolaridade dos Pais........................................................... 47
5.2.2. Situação Ocupacional dos Pais............................................. 48
5.2.3. Renda.................................................................................... 49
5.2.4. Composição Familiar e Moradia............................................ 51
5.3. Assistência à Saúde.................................................................... 53
xi
Página
5.3.1. Morbidade Referida............................................................... 53
5.3.2. Peso ao Nascer..................................................................... 55
5.3.3. Assistência pelo Programa Bolsa Alimentação...................... 56
5.4. Estado Nutricional ....................................................................... 57
5.4.1. Peso/Idade............................................................................ 59
5.4.2. Peso/Estatura........................................................................ 62
5.4.3. Estatura/Idade....................................................................... 64
5.5. Características do Consumo Alimentar....................................... 66
5.5.1. Consumo Habitual de Energia e Nutrientes .......................... 67
5.5.2. Contribuição Percentual dos Macronutrientes em Relação a
Ingestão de Energia..............................................................
69
5.5.3. Necessidade Estimada de Energia EER............................ 71
5.5.4. Ingestão de Micronutrientes, Cálcio e Fibra .......................... 74
5.5.5. Hábito Alimentar.................................................................... 76
5.5.5.1. Hábito alimentar das crianças de 12 a 23 meses de
idade ...............................................................................
78
5.5.5.2. Hábito alimentar das crianças de 24 a 35 meses de
idade................................................................................
82
5.5.5.3. Freqüência relativa de consumo alimentar das crianças
de 12 a 35 meses de idade estimada pelo Questionário
de Freqüência de Consumo Alimentar QFCA...............
85
5.6. Associação entre o Consumo Alimentar e o Estado Nutricional
do Grupo Estudado.....................................................................
85
5.7. Associação entre Variáveis Socioeconômicas e o Estado
Nutricional do Grupo Estudado...................................................
88
6. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................. 91
7. RECOMENDAÇÕES.......................................................................... 98
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................... 100
9. ANEXOS ............................................................................................ 112
xii
LISTA DE TABELAS
Página
1 Crianças de 12 a 35 meses, de acordo com sexo e faixa
etária. Viçosa - MG, 2004..........................................................
45
2 Nível de escolaridade materna e paterna de acordo com o
sexo das crianças. Viçosa-MG, 2004........................................
47
3 Situação ocupacional dos pais das crianças. Viçosa-MG, 2004 49
4 Nível de renda materna e paterna. Viçosa-MG, 2004............... 50
5 Composição familiar e condições de moradia das famílias das
crianças estudadas. Viçosa-MG, 2004......................................
52
6 Morbidades referidas pelas mães ou responsáveis das
crianças nos últimos 15 dias que antecederam a pesquisa, de
acordo com o sexo e a faixa etária. Viçosa-MG, 2004..............
54
7 Consumo habitual de energia, macro e micronutrientes
estimado pela média de dois inquéritos dietéticos em crianças,
segundo sexo. Viçosa - MG, 2004 ............................................
68
8 Percentual de macronutrientes das crianças com relação à
ingestão habitual de energia, por faixa etária. Viçosa-MG,
2004..........................................................................................
69
9 Necessidade Estimada de Energia e ingestão habitual de
energia dos alimentos em crianças de 12 a 35 meses de
idade, segundo sexo e faixa etária. Viçosa - MG, 2004............
72
xiii
Página
10 Freqüência das refeições/dia realizadas pelas crianças, a
partir do recordatório 24 horas. Viçosa - Minas Gerais, 2004 ...
77
11 Hábito alimentar estimado pelo QFCA, das crianças na faixa
etária de 12  24 meses de idade. Viçosa Minas Gerais,
2004..........................................................................................
79
12 Hábito alimenta estimado pelo QFCA, das crianças na faixa
etária de 24  36 meses de idade. Viçosa-Minas Gerais, 2004
83
13 Associação entre ocorrência de desnutrição e risco nutricional
em crianças com o consumo inadequado de ferro. Viçosa-
Minas Gerais, 2004 ...................................................................
86
14 Associação entre ocorrência de desnutrição e risco nutricional
em crianças com o consumo inadequado de retinol. Viçosa-
MG, 2004 ..................................................................................
87
15 Associação entre ocorrência de desnutrição e risco nutricional
das crianças com a escolaridade materna. Viçosa - Minas
Gerais, 2004..............................................................................
89
16 Associação entre ocorrência de desnutrição e risco nutricional
das crianças com a escolaridade paterna. Viçosa-Minas
Gerais, 2004..............................................................................
89
17 Associação entre ocorrência de desnutrição e risco nutricional
das crianças com a renda paterna. Viçosa-Minas Gerais, 2004
89
xiv
LISTA DE QUADROS
Página
1 Taxa de distribuição aceitável de macronutrientes (AMDR)...... 36
2 Ingestão de leite materno segundo o tipo de aleitamento......... 37
xv
LISTA DE GRÁFICOS
Página
1 Peso ao nascer das crianças. Viçosa-MG, 2004....................... 55
2 Freqüência de crianças beneficiadas pelo Programa Bolsa
Alimentação. Viçosa-MG, 2004..................................................
56
3 Estado nutricional das crianças, de acordo com os índices
peso/idade e peso/estatura. Viçosa-MG, 2004..........................
57
4 Estado nutricional das crianças, de acordo com o índice
estatura/ idade. Viçosa-MG, 2004.............................................
58
5 Estado nutricional das crianças, de acordo com o índice de
peso/ idade, por faixa etária. Viçosa-MG, 2004.........................
60
6 Estado nutricional das crianças, de acordo com o índice peso/
estatura, por faixa etária. Viçosa-MG, 2004..............................
63
7 Estado nutricional das crianças, de acordo com o índice
estatura/ idade, por faixa etária. Viçosa-MG, 2004 ...................
65
8 Ingestão de micronutrientes pelas crianças. Viçosa-MG, 2004. 74
8a Ingestão de nutrientes pelas crianças. Viçosa-MG, 2004 ......... 76
9 Consumo diário de alimentos protéicos, de acordo com a faixa
etária. Viçosa-MG, 2004............................................................
80
xvi
Página
10 Consumo diário de alimentos energéticos, de acordo com a
faixa etária. Viçosa-MG, 2004...................................................
80
11 Consumo diário de alimentos reguladores, de acordo com a
faixa etária. Viçosa-MG, 2004...................................................
81
xvii
LISTA DE FIGURA
Página
1 Fator de Risco e Doença (Goulart, 1999).................................. 42
xviii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
OMS Organização Mundial da Saúde
OPAS Organização Pan-Americana de Saúde
FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
ENDEF Estudo Nacional de Despesa Familiar
POF Pesquisa de Orçamento Familiar
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
QFCA Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar
R24H Recordatório 24 horas
QSQFA Questionário Semi-Quantitativo de Freqüência Alimentar
CDC Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Estados Unidos)
PSF Programa de Saúde da Família
EAR Necessidade Média Estimada
AI Ingestão Adequada
RDA Necessidade Dietética Recomendada
UL Limite Superior Tolerável de Ingestão
DRI Ingestão Dietética Recomendada
IOM Instituto de Medicina
EER Necessidade Estimada de Energia
GET Gasto Energético Total
xix
AMDR Níveis Aceitáveis de Distribuição de Macronutrientes
P/I Peso para a Idade
P/E Peso para a Estatura
E/I Estatura para a Idade
ΧΧ
2
Qui-quadrado
OR Razão de Chances
p Probabilidade
IRAs Infecções Respiratórias Agudas
MS Ministério da Saúde (Brasil)
SISVAN Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional
PBA Programa Bolsa Alimentação
PNDS Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde
Inadeq Inadequação
xx
RESUMO
CAVALCANTE, Ana Augusta Monteiro Cavalcante, M.S., Universidade Federal
de Viçosa, junho de 2004. Consumo alimentar, perfil nutricional e de
saúde de crianças no 2
o
e 3
o
anos de vida atendidas em serviços
públicos de saúde do município de Viçosa Minas Gerais. Orientador:
Adelson Luiz Araújo Tinôco. Conselheiros: Rosângela Minardi Mitre Cotta,
Rita de Cássia Lanes Ribeiro e Conceição Angelina dos Santos Pereira.
Objetivo: Caracterizar o consumo alimentar, perfil nutricional e de saúde
de crianças no 2
o
e 3
o
anos de vida, atendidas nos serviços públicos de saúde
do município de Viçosa, Minas Gerais. Metodologia: Em 174 crianças de
ambos os sexos foi realizado durante três meses, estudo transversal no qual se
caracterizou o padrão alimentar. Foram aplicados a cada criança dois
inquéritos dietéticos (Recordatório 24 horas e Questionário de Freqüência
Alimentar) e um questionário socioeconômico, demográfico e de assistência à
saúde, e comparadas, pela média encontrada nos dois inquéritos, a AMDR
(Taxa de Distribuição Aceitável de Macronutrientes), aos EER (Necessidade
Estimada de Energia) e à prevalência de inadequação de micronutrientes.
Foram calculados scores z para os índices de peso/idade, peso/estatura e
estatura/idade, e comparados ao padrão do NCHS/CDC (Centro Nacional para
Saúde e Estatística/Centro de Controle e Prevenção de Doenças) e associados
ao consumo alimentar. Composição centesimal dos alimentos foi calculada
utilizando-se o software Diet Pro4. Para a construção do banco e análise
xxi
estatística utilizou-se o software Epi-Info (6.4) por meio do qual foram
realizados o Teste X
2
, Teste t Student e a Razão de Chances (Odds Ratio).
Resultados: A análise dos dados demonstrou que o consumo alimentar
habitual de energia e nutrientes foi estatisticamente significante e maior entre
as crianças do sexo masculino, p<0,0001, à exceção de fibra e vitamina C. A
quantidade de energia proveniente de macronutrientes mostrou maior
proporção (81,5%) de crianças de ambas as faixas de idade com valores
abaixo do limite mínimo para lipídio. Ainda nas duas faixas de idade, a maioria
das crianças (80,2% e 96,4% e 87,3% e 96,8%) permaneceu com a ingestão
de carboidrato e proteína na faixa recomendada. A quantidade média de
energia fornecida pela dieta excedeu a EER para ambos os sexos, com
p<0,0001. As mais altas prevalências de inadequação foram observadas para
as vitaminas C e A (96,6 e 36,8%) e os minerais ferro e zinco (13,2 e 99,4%).
Alimentos mais consumidos foram feijão, carne de frango, arroz, angu, couve,
banana e óleo. Prevalências de desnutrição encontradas foram 13,2% para P/I,
13,8% para P/E e 4,0% para E/I. Conclusão: Considerando a variabilidade
referente ao consumo alimentar das crianças pode-se concluir que, apesar do
fornecimento de energia por meio da dieta ter excedido a recomendação para a
grande maioria das crianças estudadas, foram observadas elevadas
prevalências de inadequação para a maior parte dos micronutrientes, a
exemplo das vitaminas A e C e dos minerais ferro e zinco, essenciais para
prevenir a morbi-mortalidade nos primeiros anos de vida. Encontrou-se
associação positiva entre baixo nível socioeconômico e inadequação no
consumo alimentar com os déficits nutricionais destas crianças.
xxii
ABSTRACT
CAVALCANTE, Ana Augusta Monteiro Cavalcante, M.S., Universidade Federal
de Viçosa, June 2004. Food consumption, nutritional and health profile
of children in 2
th
and 3
th
years of life assisted in public health services
of Viçosa - Minas Gerais. Adviser: Adelson Luiz Araújo Tinôco. Committee
members: Rosângela Minardi Mitre Cotta, Rita de Cássia Lanes Ribeiro and
Conceição Angelina dos Santos Pereira.
Objective: To characterize the food consumption, nutritional and health
profile of children who are in second and third years of life, assisted in the public
health services of Viçosa municipality, at Minas Gerais State. Methodology: A
three months cross sectional study was carried out in 174 children of both
sexes to determine the food consumption pattern. Two questionnaires were
applied to collect the dietary data (a 24 hours recall and a Food Frequency
Questionnaire) and a third questionnaire to collect socioeconomic, demographic
and health assistance data, and compared, for the average found in the two
inquiries, the AMDR (Acceptable Macronutrient Distribution Ranges), EER
(Estimated Energy Requirement) and inadequacy prevalence of micronutrients.
Scores z were calculated for the indices of Weight/Age, Weight/Stature and
Stature/Age, and they were compared the NCHS (National Center for Health
Statistics) and associated to the food consumption. Centesimal composition of
foods was calculated in DietPro4 software. The Epi-Info (6.4) software was
used for organize the data basis and for the data analysis in which ×
2
Test, Test
xxiii
t Student and Odds Ratio were carried out. Results: The analysis of usual food
consumption of energy and nutrients was statistically significant and higher for
boys than for girls, p<0,0001 exception being made for fiber and vitamin C. The
amount of energy from macronutrients showed the greater ratio (81,5%) in
children of both age ranges with values below of the minimum fat limit. In both
age groups studied most children (80,2% and 96,4% and 87,3% and 96,8) had
a carbohydrate and protein intake within the recommended range. The average
amount of energy supplied by the diet exceeded the EER for both sex,
p<0,0001. The highest inadequacy prevalence has observed for vitamins C and
A (96,6 and 36,8%) and for minerals iron and zinc (13,2 and 99,4%). Foods
more commonly consumed were beans, chicken, rice, angu, borecole, banana
and oil. Malnutrition prevalence’s was found for weight/age (13,2%),
weight/stature (13,8%) and stature/age (4,0%). Conclusion: Considering the
children´s food consumption variability it can be concluded that despite the
energy provision from the diet exceeds the dietary recommendation for most of
the studied children, high prevalences of nutritional inadequacy were found for
most of the micronutientes under study such as vitamins A and C and minerals
such as iron and zinc which are essential to prevent morbimortality within the
early life. Positive association was found between low socioeconomic level and
comsumption inadequacies and those children´s mutritional deficits.
1
1. INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) junto com os demais
organismos das Nações Unidas, responsáveis pela nutrição e saúde da
população mundial, afirmam que a boa nutrição deve ter início na vida intra-
uterina, se estendendo pela infância, período considerado crítico para
assegurar o crescimento adequado do ser humano e prevenir o surgimento de
doenças crônicas como obesidade, hipertensão, diabetes e certos tipos de
câncer na vida adulta (UNICEF, 1998).
Atualmente o desafio enfrentado pelos governos e profissionais de
saúde, particularmente os que atuam na promoção da saúde, é conhecer o
consumo alimentar da população brasileira, com base no conhecimento
científico disponível sobre as condições de saúde e nutrição dos grupos
populacionais, objetivando assim, assegurar se a população, especialmente a
infantil, exerce o direito inalienável de se alimentar para crescer e se
desenvolver de maneira saudável”, e o direito a cuidados especiais e
assistência” (Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948; Monte et al.,
2001).
O potencial de crescimento de um indivíduo é determinado
geneticamente e cada indivíduo irá desenvolver uma curva de crescimento pré-
determinada se as condições de saúde e nutrição lhe forem favoráveis
(Ashworth et al., 1986). O bem-estar da criança está pautado, dentre outros
fatores, numa tríade constituída pela alimentação, os cuidados e o ambiente
2
onde está inserida e, se algum destes aspectos está comprometido por
condições desfavoráveis, as conseqüências mais imediatas são o retardo no
crescimento e a perda da saúde, repercutindo de forma bastante negativa
sobre o desenvolvimento humano (Monte, 2000).
Portanto, nos primeiros anos de vida, para promover o crescimento e
desenvolvimento da criança é essencial uma alimentação qualitativa e
quantitativamente adequada, pois ela proporciona ao organismo a energia e os
nutrientes necessários para o bom desempenho de suas funções e para a
manutenção do bom estado de saúde (Monteiro et al., 1995).
As práticas alimentares são importantes determinantes das condições de
saúde e nutrição na infância e estão fortemente condicionadas ao poder
aquisitivo das famílias, do qual dependem a disponibilidade, quantidade e
qualidade dos alimentos consumidos (Aquino et al., 2002).
A complexidade da dieta humana tem instigado pesquisadores a
procurar os meios mais adequados para avaliar qualitativa e quantitativamente
o consumo de alimentos, dimensionar a adequação de nutrientes e estudar a
relação entre dieta e diferentes doenças (Margetts et al., 1997).
Estudos sobre consumo alimentar de crianças brasileiras são escassos.
Ressalta-se a importância de se conhecer a prática alimentar de crianças antes
da formulação e implementação de qualquer programa de intervenção
nutricional e para avaliação adequada do impacto de qualquer medida
implementada. Assim torna-se indispensável a realização sistemática de
inquéritos dietéticos para avaliar o consumo alimentar em todos os seus
aspectos, a fim de se observar as mudanças no padrão alimentar e sua
influência no aparecimento ou redução dos desvios nutricionais que acometem
a população estudada (Oliveira & Thebaud-Mony, 1997).
Pesquisas de consumo alimentar constituem instrumentos eficazes e de
baixo custo para obtenção de informações sobre as características da ingestão
dietética de grande parte da população, entretanto, devido ao uso e as
limitações de cada método, a escolha do instrumento para medir a informação
dietética não constitui tarefa fácil (Bonomo, 2000).
Dados sobre consumo alimentar são coletados com diversos propósitos
e os mais relevantes são estimar a ingestão dietética de grupos populacionais,
investigar a relação entre a dieta, saúde e estado nutricional e avaliar
3
programas de intervenção nutricional (Majem, 1995; Margetts et al., 1997;
Bonomo, 2000; Fisberg et al., 2000; Villar, 2001; Nowak et al., 2003).
O avaliação do consumo alimentar pode ser realizada por meio de vários
métodos dietéticos que determinam de forma indireta o estado nutricional de
grupos ou indivíduos. Os inquéritos dietéticos podem fornecer informações
quantitativas e qualitativas a respeito da ingestão de alimentos, sendo de
inestimável valor na redefinição das ações de educação nutricional (Cintra et
al., 1997; Sigulem et al., 2000).
Os métodos dietéticos apresentam como principal vantagem, a
possibilidade de mensuração do consumo de alimentos, o que possibilita
condições para inferir, com maior precisão, a quantidade de alimentos
efetivamente consumida por famílias ou mesmo indivíduos (Mondini &
Monteiro, 1994).
Atualmente, métodos como o recordatório 24 horas, história dietética e
registro de alimentos continuam sendo muito usados na avaliação dietética,
entretanto existem poucos estudos que indicam o Questionário de Freqüência
de Consumo Alimentar - QFCA para estudos em crianças (Rockett & Colditz,
1997).
A idade e a capacidade de resposta são importantes razões para
designar diferentes métodos dietéticos de entrevista. Avaliação dietética em
crianças é difícil e os pesquisadores devem estar atentos para considerar as
influências do ambiente sobre a criança, interferindo na sua escolha alimentar
(Frank, 1994).
Para pré-escolares, as informações devem ser obtidas dos familiares,
muito comumente, por meio da mãe. Admite-se apenas uma pessoa para
repassar as informações. Se a informação é obtida de um só entrevistado,
maiores serão as chances das respostas serem mais completas. As evidências
têm mostrado que, se as informações forem repassadas pela criança e o
responsável, há uma tendência de superestimação (Baranovski et al., 1991).
A medição da informação dietética por meio das pesquisas de consumo
alimentar representa, portanto, um grande avanço que possibilita fazer
levantamentos mais precisos da ingestão de alimentos e a conversão dessas
quantidades em calorias, macro e micronutrientes (Vasconcelos, 2000).
4
A necessidade de se conhecer o consumo alimentar das crianças na
faixa etária entre 12 e 35 meses de idade decorre também de uma
complexidade de fatores como: a alimentação deve ser capaz de suprir
demandas de macro e micronutrientes; fase de incorporação de novos hábitos
alimentares, implicando o conhecimento de novos sabores, texturas e cores e,
experiências sensoriais que influenciarão diretamente o padrão alimentar a ser
adotado pelo infante. Além disto, nesta faixa etária, as crianças apresentam
maior estabilidade no crescimento, devido à diminuição da velocidade de
ganho de peso e estatura, o que condiciona diminuição do apetite, causando
diminuição das demandas de energia e proteínas por quilo de peso, em
comparação com as necessidades durante o primeiro ano de vida (Bartrina,
1995).
Lessa e colaboradores (2003) destacam ainda que a faixa etária de 12 a
24 meses é considerada um fator de risco nutricional.
Particularmente importante é que a criança
de 12 a 35 meses de idade
deve consumir a quantidade de alimento necessária para alcançar seu
potencial genético de crescimento. Assim, o tamanho corporal a ser alcançado
na vida adulta não é de primordial importância; entretanto, o atraso no
crescimento, devido às circunstâncias nutricionais e ambientais, está associado
com maiores taxas de morbidade e mortalidade, com deficiências no
aprendizado e com menor capacidade física e intelectual na vida adulta
(Ashworth & Millward, 1986; Philippi et al., 2000).
Em face à importância da alimentação na promoção da saúde e nutrição
das crianças, o crescente interesse da relação entre dieta e doença e a
ocorrência de distúrbios nutricionais, o presente estudo de base institucional,
realizado entre outubro de 2003 e janeiro de 2004, objetivou caracterizar o
consumo alimentar, o perfil de saúde e nutrição de crianças no 2º e 3º anos de
vida atendidas nos serviços públicos de saúde do município de Viçosa, Minas
Gerais.
5
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Saúde e Nutrição na Infância
Ashworth & Millward (1986) estudando o crescimento de crianças
demonstraram que o potencial de crescimento de um indivíduo é determinado
geneticamente e cada indivíduo irá desenvolver seu potencial se as condições
de saúde e nutrição lhe forem favoráveis.
O crescimento e desenvolvimento das crianças menores de 5 anos são
resultado da interação de muitos fatores, dentre os quais se insere o consumo
alimentar. O bem-estar da criança está pautado, dentre outros fatores, numa
tríade constituída pela alimentação, os cuidados e o ambiente onde está
inserida e, se algum destes aspectos está comprometido devido às condições
desfavoráveis, as conseqüências mais imediatas são o retardo do crescimento
e a perda da saúde, repercutindo de forma bastante negativa sobre o
desenvolvimento humano e o crescimento de uma nação (Monte, 2000).
Diversos fatores concorrem para a instalação de carências nutricionais
que impedem que a criança alcance seu potencial de crescimento e
desenvolvimento e, em geral, os principais são desmame e a introdução da
alimentação complementar precoces, que coincidem com o início do déficit de
crescimento (Monte, 2000).
Documento recente da Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura - FAO aponta que entre 1998 e 2002, existiam 840
6
milhões de pessoas desnutridas no mundo, das quais 799 milhões vivem em
países em desenvolvimento, 30 milhões em países em transição e 11 milhões
em países industrializados. Em um nível ligeiramente superior ao de penúria
vive atualmente 2 bilhões de pessoas carentes em micronutrientes, cuja dieta
carece de vitaminas, sobretudo A e C, e minerais como o ferro, o iodo e o
zinco, essenciais para o desenvolvimento e o crescimento dos seres humanos
(Fogel, 2002).
Embora a associação entre desnutrição e as principais causas de
mortalidade infantil estejam bem conhecidas e referendadas, existem as
atribuições específicas dos micronutrientes e sua contribuição no combate às
doenças. A má-nutrição pode comprometer a saúde da comunidade,
especialmente dos grupos mais vulneráveis: crianças menores de 5 anos. No
Brasil os distúrbios mais freqüentes são anemia ferropriva, desnutrição infantil,
hipovitaminose A e obesidade (Monte et al., 2001; Ministério da Saúde, 2002).
Segundo o Relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância
UNICEF, Situação da Infância Brasileira (2001) “o Brasil, apesar dos avanços,
ainda deve superar grandes desafios para garantir o direito das crianças”.
Todas as dificuldades a serem enfrentadas afetam mais diretamente as
crianças, principalmente nos seus primeiros anos de vida.
O crescimento, portanto, tem sido reconhecido por vários autores, como
um processo dependente da ingestão adequada de energia, proteína e
micronutrientes, particularmente o ferro, a vitamina A e o zinco. Normalmente
as deficiências destes micronutrientes não ocorrem isoladamente, e, em
processo de doença, especialmente um quadro infeccioso, a demanda de
nutrientes é ainda mais elevada (Monteiro et al., 1995; Waterlow, 1996;
Ashworth, 2001).
A deficiência de vitamina A pode aumentar as taxas de mortalidade por
diarréia e sarampo, a deficiência de zinco pode reduzir o funcionamento do
sistema imunológico, bem como interferir no crescimento e desenvolvimento,
uma vez que é um mineral essencial para este fim. A deficiência de ferro é
considerada a carência nutricional mais prevalente em todo o mundo,
especialmente nos países em desenvolvimento, afetando lactentes, pré-
escolares, adolescentes e gestantes (Paiva et al., 2000; UNICEF, 2001;
WHO (OMS), 2001).
7
O retardo do crescimento pode ser causado por vários fatores e, em
países de economia dependente como o Brasil é, primariamente, resultante da
interação entre má nutrição e infecções. Além disto, outras condições como o
grau de severidade e duração da doença, idade da criança afetada pelo
agravo, condições socioeconômicas, grau de escolaridade da mãe, renda
familiar e ocupação, presença de muitas crianças na família, um dos pais ou
ambos com problemas de comportamento como o alcoolismo, crianças que
convivem apenas com o pai ou a mãe, pobreza na família devido ao
desemprego ou outras causas, contribuem para a magnitude deste quadro
(Monte et al., 2001).
Segundo o UNICEF cada tipo de carência nutricional é resultante de
uma complexa interação de fatores que envolvem elementos diversos como o
acesso adequado da família ao alimento, cuidados disponíveis para a mulher e
a criança, disponibilidade de água limpa e saneamento e acesso aos serviços
básicos de saúde (UNICEF, 1998).
As anemias nutricionais constituem o maior problema nutricional da
atualidade, estimando-se que cerca de dois bilhões de pessoas apresentam
deficiência de ferro ou baixos níveis de hemoglobina tanto nos países
desenvolvidos como em desenvolvimento, afetando principalmente, lactentes,
pré-escolares, adolescentes e gestantes (Viteri, 1993; Szarfarc et al., 1995;
Monteiro et al., 1995; Monteiro et al., 2000; Paiva et al., 2000).
Portanto, é consenso entre os estudiosos, que a deficiência de ferro é a
responsável principal pela anemia nutricional e esta representa, em termos de
magnitude, o principal problema carencial do Brasil, aparentemente sem
grandes diferenças geográficas, afetando em proporções semelhantes todas as
macrorregiões do país (Batista Filho & Ferreira, 1996; Batista Filho & Rissin,
1999; Osório, 2000; Santos, 2002a)
Teoricamente a carência nutricional de ferro ocorre no organismo de
forma gradual e progressiva, considerando-se três estágios até que a anemia
se manifeste. O primeiro estágio representa um período de maior
vulnerabilidade em relação ao balanço marginal de ferro e se caracteriza por
uma depleção de ferro, o segundo estágio caracteriza-se por deficiência de
ferro e reflete as alterações bioquímicas e o terceiro e último estágio, a anemia
ferropriva, cuja característica principal é provocar prejuízos funcionais, por
8
vezes graves, ao organismo acarretando sintomas clínicos como fraqueza,
apatia, diminuição da capacidade respiratória, atraso do crescimento e
distúrbios neurocognitivos, podendo contribuir para uma maior morbidade
(Cook et al., 1992; Paiva et al., 2000; WHO(OMS), 2001; Guia Alimentar,
2002).
Dentre os fatores que lideram as causas da anemia ferropriva
possivelmente a dieta inadequada em ferro e, especialmente, a baixa
biodisponibildade deste nutriente, são causas determinantes. A utilização do
ferro é muito baixa nas dietas em que menos de 10% deste mineral provém de
produtos de origem animal (Batista Filho, 1999).
Revisando a multicausalidade da anemia ferropriva em crianças
menores de 5 anos, Osório (2002) cita como principais fatores determinantes
da anemia, o consumo alimentar, as condições socioeconômicas, a assistência
à saúde, o estado nutricional, a morbidade e os fatores biológicos. Em
concordância com Osório, Monte e colaboradores (2001) apontam o baixo peso
ao nascer, a desnutrição, o baixo nível socioeconômico, as dietas inadequadas
e as infecções como fatores contribuintes para o aparecimento da anemia
ferropriva.
As pesquisas produzidas em várias regiões do Brasil permitem identificar
qual grupo populacional encontra-se em maior risco para a anemia. Monteiro &
Szarfarc (1987), Vannucchi et al. (1992), Karr e al. (1996), Assis et al. (2000),
Silva et al. (2001), Osório (2000), Crispim et al. (2003) e Silva (2003)
analisaram a anemia ferropriva por grupos etários e são unânimes em
demonstrar que a prevalência mais acentuada de anemia por deficiência de
ferro no Brasil encontra-se significantemente maior entre as crianças de 6 a 24
meses de idade que entre as de 24 a 59 meses.
Nas últimas décadas, evidências apontam para a redução da
prevalência da desnutrição infantil na população brasileira, mas, o
comportamento da anemia ferropriva é muito preocupante, pois não parece
acompanhar esta tendência de melhoria do estado nutricional, como
demonstram os estudos realizados nos estados de São Paulo (Monteiro et al.,
1995; Monteiro et al., 2000), Pernambuco (Osório, 2000) Minas Gerais (Silva et
al., 2002; Miranda et al., 2003; Silva, 2003) Santa Catarina (Crispim et al.,
2003) e Paraná (Uchimura et al., 2003). Estes dados reforçam a necessidade
9
de se avaliar o consumo alimentar em populações de risco, especialmente
crianças menores de 5 anos.
2.2. Abordagem Histórica dos Inquéritos Dietéticos
No Século XIX a maioria dos estudos de consumo alimentar de
populações tinha por finalidade estabelecer padrões dietéticos e em geral,
eram levantamentos dietéticos. Muitos pesquisadores baseavam as
recomendações de nutrientes e energia nestes levantamentos (Schaik, 1976;
Trigo, 1993; Lustosa, 2000).
Um século mais tarde os estudos sobre consumo alimentar evoluíram e
passaram a ser realizados, em muitos países, por organismos oficiais, com o
objetivo de estabelecer as recomendações de energia e nutrientes e, orientar
as políticas governamentais no campo da Saúde Pública, sobretudo nos
programas de fortificação de alimentos, suplementação alimentar e educação
nutricional para as populações.
O primeiro estudo internacional consistiu em comparar sistematicamente
a oferta nacional de alimentos e as variações observadas no consumo entre
Estados Unidos, Canadá e Inglaterra. Assim, o relatório produzido pelo
Combined Food Broad (1944), buscou orientar a alocação internacional de
alimentos (Lustosa, 2000).
Ainda no Século XX, o segundo grande marco para os estudos de
consumo alimentar foi o World Food Survey, publicado em 1946 pela FAO -
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, que teve a
função de compilar estimativas de oferta de alimentos de mais de 70 países
antes da Guerra, através do Método de Balanço de Alimentos que identifica a
disponibilidade de alimentos para consumo, comparando a produção às
diferentes utilizações dos alimentos existentes em um país. Refletem, portanto,
a disponibilidade de alimentos (Farnsworth, 1961; Lustosa, 2000).
Esses documentos foram muito criticados porque não corresponderam
às expectativas de servirem como parâmetro para decisões políticas, além de
terem suscitado críticas as suas estimativas da extensão e distribuição
geográfica da fome mundial. Entretanto, tiveram papel relevante ao despertar a
10
atenção de pesquisadores, governos e organismos internacionais sobre os
diferentes padrões característicos de consumo alimentar dos diferentes países,
estimulando governos a avaliar e aprimorar a qualidade de suas estatísticas
alimentares no decorrer dos anos (Lustosa, 2000).
No Brasil, os primeiros relatos de pesquisa de consumo alimentar de
populações são da década de 30. Coimbra e colaboradores (1982) e
Vasconcelos (2001) relatam a pesquisa realizada por Josué de Castro com
famílias da classe operária do município de Recife (PE), que se baseou na
metodologia de orçamento e padrão de consumo alimentar. A pesquisa
intitulada Condições de Vida das Classes Operárias no Recife evidenciou
regime alimentar de péssima qualidade nutricional e a incapacidade deste de
suprir as necessidades energéticas do grupo populacional.
Salvo & Gimeno (2003) ressaltam que foi durante a década de 60,
período marcado por grandes mudanças sociais e surgimento de uma
consciência global e doméstica da fome e das questões de saúde, que foram
conduzidos os primeiros estudos epidemiológicos com grande número de
indivíduos, na tentativa de estabelecer uma ligação entre dieta e o
aparecimento de doenças.
Em relatos de Vasconcelos (2001) encontra-se a descrição histórica do
primeiro convênio firmado entre o Instituto de Nutrição da Universidade Federal
de Pernambuco e o Interdepartmental Committee on Nutrition for National
Development (ICNND) dos Estados Unidos em 1962, para realização de uma
investigação nutricional na Região Nordeste do Brasil. Tratava-se de um
levantamento populacional denominado Northeast Brazil Survey cuja
metodologia consistiu na aplicação de inquéritos dietéticos (recordatório 24
horas e folhas de balanço de alimentos), exames clínicos nutricionais e exames
laboratoriais. A população examinada foi composta por 5009 indivíduos de
todas as faixas de idade, dos quais 875 eram crianças menores de cinco anos.
Para Batista Filho, relatado por Vasconcelos (2001), esta pesquisa
quantificou no Nordeste brasileiro, deficiências alimentares de grande
relevância para a saúde pública, como a desnutrição e a hipovitaminose A, mas
tinha falhas na metodologia, principalmente na amostra, que era pequena”.
Na opinião de Galeazzi (2000) “a análise de consumo alimentar de base
populacional no Brasil se pauta em três estudos realizados pelo IBGE, em
11
1974/75 - ENDEF Estudo Nacional de Despesa Familiar, e as POFs -
Pesquisas de Orçamentos Familiares, em 1987 e 1996”, entretanto aponta para
as possíveis aplicações e limitações da metodologia utilizada para medir as
informações nutricionais, chamando a atenção para a escolha correta da base
de dados e os perfis nutricionais, que devem ser provenientes de metodologias
que se proponham a investigar o consumo alimentar de forma acurada.
O ENDEF, pesquisa domiciliar de abrangência nacional que coletou
dados sobre os orçamentos familiares e o consumo de alimentos em 55.000
domicílios, cobrindo quase todo o território nacional, com exceção das áreas
rurais das macrorregiões Norte e Centro-Oeste, foi concebido com objetivos
múltiplos, dentre os quais se destaca a análise da situação nutricional das
famílias (Vasconcelos, 2000).
A metodologia de pesquisa aplicada no ENDEF consistia em visitar cada
domicílio ao longo de sete dias consecutivos, para verificar as diferenças de
ritmos alimentares entre os dias úteis e o fim de semana, por meio do método
da pesagem dos alimentos (IBGE, 1976; Vasconcelos, 2000).
As séries históricas dos estudos do ENDEF e POFs são importantes
dados para as informações das tendências, sempre procurando validá-las com
outras bases de informação (Galeazzi, 2000).
2.3. Consumo Alimentar
Para pesquisadores como Majem (1995), Margetts & Nelson (1997),
Bonomo (2000), Fisberg et al. (2000), Villar (2001), Nowak et al. (2003) os
dados sobre consumo alimentar são coletados com diversos propósitos e os
mais relevantes para a Epidemiologia Nutricional são estimar a adequação da
ingestão dietética de grupos populacionais, investigar a relação entre dieta,
saúde e estado nutricional e avaliar a educação nutricional, a intervenção
nutricional e os programas de suplementação alimentar.
A complexidade da dieta humana tem instigado pesquisadores a
procurar os meios mais adequados para avaliar qualitativa e quantitativamente
o consumo de alimentos, dimensionar a adequação de nutrientes e relacionar
dieta à doença (Margetts & Nelson, 1997).
12
A avaliação do consumo alimentar tem um papel crítico na área de
pesquisa em nutrição e saúde, bem como, no desenvolvimento de programas.
Entretanto, para avaliar o consumo alimentar, são necessários métodos de
avaliação dietética apropriados para estimar a ingestão de alimentos e
nutrientes de grupos populacionais (Frank, 1994).
A escolha do método deve fundamentar-se nos objetivos da pesquisa ou
no tipo de estudo, além de considerar os recursos disponíveis. Fundamental
também é a escolha dos instrumentos de avaliação do consumo, que devem
conferir validade e reprodutibilidade, além de caracterizarem fielmente a dieta
do indivíduo (Willett, 2000).
Para alguns pesquisadores, independente da finalidade de um estudo
dietético, o objetivo intrínseco da avaliação alimentar consiste em proporcionar
uma estimativa, quantitativa ou qualitativa, da ingestão de alimentos e
nutrientes de grupos populacionais durante um determinado período de tempo
(Buzzard, 1994; López, 1995; Lopez et al., 2000).
Para Margetts & Nelson (1997) virtualmente todos os métodos
dependem da habilidade do indivíduo para fornecer informações exatas e
ainda, estas informações precisam ser validadas”. O propósito do processo de
validação é avaliar a extensão para a qual, indivíduos podem ser classificados
erroneamente usando as medidas instrumentais escolhidas.
Fatores como a complexidade da dieta, os hábitos alimentares, a
qualidade da informação, a idade, a imagem corporal, a memória do
entrevistado, as crenças, o comportamento, a cultura, o status socioeconômico
e de exposição são variáveis que interferem e tornam muito difícil o ato de
registrar a ingestão de um indivíduo, sem exercer influência sobre o mesmo
(Margetts & Nelson 1997; Fisberg et al., 2000).
Estudos de consumo alimentar constituem instrumentos eficazes e de
baixo custo para obtenção de informações sobre as características da ingestão
alimentar de grande parte da população e representam um grande avanço que
possibilita fazer levantamentos mais precisos da ingestão de alimentos e a
conversão dessas quantidades em calorias, macro e micronutrientes.
Entretanto, devido ao uso e as limitações inerentes a cada método, a escolha
do instrumento para medir a informação dietética não constitui tarefa fácil
(Bonomo, 2000; Vasconcelos, 2000).
13
Segundo considerações de alguns autores, a exposição acima
demonstra o desafio que se impõe aos pesquisadores na avaliação correta do
consumo alimentar em estudos epidemiológicos (Margetts & Nelson, 1997;
Bonomo, 2000; Willett, 2000).
Os métodos mais freqüentemente usados em grupos populacionais de
crianças e adolescentes normalmente são semelhantes aos empregados em
estudos de adultos. Cada um dos métodos tem vantagens e limitações quando
aplicado em crianças e adolescentes. Fundamentalmente todos os
levantamentos dependem da motivação, confiança e habilidade dos sujeitos
envolvidos e dos pais, particularmente, para informarem acuradamente a
ingestão alimentar habitual dos filhos (FAO/WHO/UNU, 1989).
As evidências têm demonstrado que, para um determinado método
dietético ser válido, a informação mensurada deverá refletir exatamente o que
pretende medir, assim os resultados poderão ser generalizados de maneira
eficaz (Block & Hartman,1989; Willett, 1990; López, 1995; Margetts & Nelson,
1997; Dwyer, 1999).
Várias metodologias vêm sendo utilizadas com maior precisão para
avaliar o consumo dietético de indivíduos em estudos epidemiológicos. Dentre
estes métodos se destacam o questionário de freqüência de consumo
alimentar, o recordatório 24 horas, o método do inventário, o registro diário ou
diário alimentar e a história dietética. Entretanto, cada método tem suas
vantagens e desvantagens (Bonomo, 2000; Schaefer et al., 2000).
2.3.1. Metodologia de Consumo Alimentar
Várias metodologias vêm sendo utilizadas com maior precisão para
avaliar o consumo dietético de indivíduos em estudos epidemiológicos, no
sentido de obter dados válidos, reprodutíveis e comparáveis (Vasconcelos,
2001).
Os métodos dietéticos têm o objetivo de medir a informação dietética e
podem ser classificados em qualitativos e quantitativos (Schaik, 1976; Cintra et
al., 1997; Marr, 1971). Marr (1971) simplifica a classificação dos métodos
definindo-os em duas categorias: os que registram o consumo atual de
14
alimentos (pesagem de alimentos, registro alimentar e o recordatório 24 horas)
e métodos que recordam o consumo passado de alimentos (história dietética e
questionário de freqüência de consumo alimentar).
Para Bingham (1987) as técnicas de avaliação dietética, provenientes de
registros de peso de alimentos, questionários de freqüência de consumo
alimentar e marcadores biológicos vem sendo criticamente revisados com o
objetivo de avaliar a exatidão de cada método.
Preocupados com o surgimento de muitos métodos e o crescente
interesse em estudar a relação causa-efeito de doenças em estudos
epidemiológicos, muitos pesquisadores se especializaram no Questionário de
Freqüência de Consumo Alimentar (Bingham, 1987; Block et al., 1992; Willett,
1996).
A FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura tem reconhecido a necessidade de avaliar o consumo alimentar e o
estado nutricional de populações para desenvolver programas de saúde e
nutrição (FAO/WHO/UNU, 1989).
A escolha do método deve fundamentar-se nos objetivos da pesquisa ou
no tipo de estudo, além de considerar os recursos disponíveis. Fundamental
também é a escolha dos instrumentos de avaliação do consumo, que devem
conferir validade e reprodutibilidade, além de caracterizarem fielmente a dieta
do indivíduo (Willett, 2000).
Segundo considerações de alguns autores, a exposição acima
demonstra o desafio que se impõe aos pesquisadores na avaliação correta do
consumo alimentar em estudos epidemiológicos (Margetts & Nelson, 1997;
Willett, 2000; Bonomo, 2000).
Na epidemiologia nutricional descritiva, os estudos transversais e
ecológicos, permitem o conhecimento da dieta atual dos indivíduos e na
epidemiologia nutricional analítica, os estudos de caso-controle e de coorte
possibilitam que se conheça a dieta habitual. Nos estudos de coorte,
caracterizados por serem estudos de segmento, que demandam mais tempo, o
trabalho metodológico requer maiores cuidados (Bonomo, 2000).
Além disto, para se avaliar a dieta atual e habitual em estudos
epidemiológicos pode-se utilizar outras abordagens, como testes bioquímicos e
avaliação das dimensões ou composição corporal. Dentre estas abordagens
15
Willett (1996) considera que, a medida das dimensões ou composição corporal
reflete os efeitos da dieta em períodos mais prolongados.
Segundo Lustosa (2000) grandes progressos metodológicos foram
alcançados e significantes indicadores de consumo alimentar puderam ser
construídos, como, por exemplo, os métodos de história dietética, registro
diário de alimentos, recordatório 24 horas e, o mais recente destes,
questionário de freqüência de consumo alimentar. Contudo, a disponibilidade
de dados adequados continua sendo a principal restrição.
Os métodos utilizados para avaliar o consumo alimentar são comumente
encontrados conjugados entre si ou associados a outros parâmetros de
avaliação do estado nutricional ou clínico de indivíduos. Essa junção pode
propiciar melhor compreensão e interpretação dos resultados obtidos em
determinado estudo (Burke, 1947; Klesges et al., 1987; An & Shin, 2001;
Fontanive et al., 2002).
Salvo & Gimeno (2003) consideram que os métodos para avaliar o
consumo alimentar vêm evoluindo ao longo do tempo, evidenciando as
limitações das metodologias empregadas, frente às necessidades de avaliar o
hábito alimentar dos indivíduos.
Crispim e colaboradores reconhecem também a necessidade de medir o
consumo dietético de indivíduos ou populações de maneira fidedigna e
confiável, mas, como muitos autores citados no presente estudo, reconhecem
que esta tarefa ainda impõe desafios, dadas as dificuldades metodológicas
impostas para se alcançar esses objetivos (Crispim et al., 2003).
2.3.2. Principais Métodos Dietéticos
2.3.2.1. Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar QFCA
Este método tem sido citado por muitos autores como um dos principais
instrumentos metodológicos para estudos epidemiológicos que relacionam a
dieta à ocorrência de doença, por ser capaz de caracterizar a dieta habitual de
indivíduos numa única aplicação, avaliar a ingestão alimentar de populações,
ter boa reprodutibilidade, validade aceitável, além de ser mais prático,
16
informativo, de fácil aplicação e de baixo custo (Willett, 1994; Bonomo, 2000;
Villar, 2001; Salvo & Gimeno, 2002; Crispim et al., 2003).
Foi atribuído a Bertha Burke, do Departamento de Nutrição da
Universidade de Harvard USA, o desenvolvimento do Questionário de
Freqüência de Consumo Alimentar - QFCA, na década de 40, descrito pela
autora como “um instrumento contendo detalhada entrevista de história
alimentar, incluindo três recordatórios de 24 horas, registros de cardápios de
três dias e uma lista de alimentos consumidos no ultimo mês” (Burke, 1947).
Durante as décadas de 60 e 70, pesquisadores desenvolveram e
utilizaram os QFCA em estudos de incidência de câncer. Na mesma época,
pesquisadores britânicos estabeleceram as bases teóricas que fundamentaram
o Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar - QFCA. Estes
pesquisadores defenderam a idéia que consumo de alimentos é determinado
primeiramente pela freqüência (Willett, 1994).
Os primeiros questionários de freqüência alimentar elaborados com
maior rigor metodológico datam do final da década de 60 e basearam-se num
banco de dados que correspondia a sete dias de diário alimentar (Villar, 2001).
A construção de questionários pode ser feita a partir de um banco de
dados de alimentos. Em geral este banco de dados é composto pelos
alimentos e preparações mais freqüentemente consumidos pela população que
irá ser estudada ou, construído a partir de Tabelas de Composição de
Alimentos.
Salvo & Gimeno (2002) ao verificarem a reprodutibilidade e validade de
QFCA em população com excesso de peso, previamente construíram um
questionário a partir de um levantamento em prontuários de pacientes obesos.
O QFCA é um instrumento desenvolvido para se obter informação
qualitativa e quantitativa sobre o padrão alimentar e a ingestão de alimentos ou
nutrientes específicos e seu principal objetivo é conhecer o consumo habitual
de um determinado grupo populacional. Pode ser quantitativo, semiquantitativo
ou apenas, qualitativo (Pereira & Koifman, 1999).
A utilização do QFCA oferece vantagem na sua rapidez de aplicação,
necessitando menos treinamento do entrevistador, uma vez que pode ser
aplicado em entrevista, auto-administrado ou enviado pelo correio. Esta
vantagem pode ser traduzida em menor custo e eficiência na prática
17
epidemiológica (Sichieri & Everhart, 1998).
Estudando a possível validade e reprodutibilidade de um QFCA para
adolescentes do 4
o
e 5
o
períodos de uma escola americana, Domel e
colaboradores (1994) compararam semanalmente e mensalmente um QFCA
de frutos e vegetais com os alimentos registrados pelos adolescentes e não
observaram nenhuma relação significante entre a ingestão e as informações
registradas nos questionários.
Pereira & Koifman (1999) analisaram treze artigos, cujo critério de
inclusão foi uso do QFCA em validação e concluíram que o QFCA é um
instrumento útil e tem ganho importância principalmente no estudo do papel da
dieta na etiologia das doenças crônicas, relacionando o consumo alimentar de
nutrientes, ou outros componentes alimentares, ao risco de desenvolver
doenças.
Chiara & Sichieri (2000) desenvolveram um QFCA simplificado para
auto-avaliação em adolescentes de alimentos associados ao risco de doenças
coronarianas. Cerca de 650 adolescentes participantes da Pesquisa de
Nutrição e Saúde do Rio de Janeiro (1996) foram entrevistados para
participarem da avaliação do QFCA simplificado. Após exclusões, 526
adolescentes participaram do estudo. O QFCA contendo 80 itens de alimentos
foi simplificado por meio da equação proposta por Mensink e Katan (DCt) que
permitiu reduzir o QFCA para 10 itens. Esta equação reflete a variação do
colesterol sérico por influência da dieta. A inclusão de alimentos no QFCA
simplificado se baseou nos alimentos que explicavam até 85% da variância
total de colesterol sérico por influência da dieta, bem como o Valor Calórico
Total da dieta e que fossem fontes de ácidos graxos trans na alimentação
habitual dos adolescentes. Estes autores sugeriram que, tendo conhecimento
do seu padrão de consumo, os adolescentes pudessem balancear sua dieta
por meio de um questionário simplificado.
An & Shin (2001) compararam dados antropométricos e ingestão de
alimentos e nutrientes de adolescentes de áreas urbanas e ilhas de Kyungnam
para identificar seus problemas nutricionais utilizando um QFCA que foi
distribuído entre 383 adolescentes. O QFCA incluiu questões sobre ingestão
dietética e situação socioeconômica. O peso e a altura foram medidos no início
do estudo. Os resultados demonstraram que não houve diferença
18
estatisticamente significante entre o peso dos estudantes de áreas estudadas,
o consumo de energia foi menor entre estudantes homens das áreas urbanas,
e estes, tinham maior tendência a serem obesos, embora sua ingestão total de
nutrientes fosse mais baixa que dos estudantes das ilhas.
Villar (2001) desenvolveu um QFCA específico para adolescentes entre
14 e 19 anos de uma escola particular de Guarulhos, São Paulo.
Preliminarmente foram necessárias algumas tarefas. Foi elaborada uma lista
de alimentos, identificados alimentos de maior contribuição energética, a
freqüência de consumo de alimentos foi sistematizada em unidades de tempo e
porções foram estabelecidas para cada item alimentar. A lista de alimentos e
as porções de alimentos referidas no instrumento foram elaboradas a partir de
um banco de dados pertencente a outra pesquisa. Após definição da estrutura
preliminar do QFCA realizou-se um teste piloto, no qual o QFCA foi aplicado a
26 alunos de ambos os sexos e na faixa etária de 14 a 17 anos (representavam
10% do total de alunos do 2
o
ano do ensino médio da escola), que permitiu a
avaliação do instrumento, o grau de exatidão do consumo alimentar e a
detecção de possíveis problemas.
MacKeown et al. (2003) utilizaram um Questionário Semi-Quantitativo de
Freqüência de Consumo Alimentar em estudo de coorte longitudinal durante
quatro anos para determinar a ingestão de energia, macro e micronutrientes
em crianças sul africanas negras de 5, 7, 9 e 10 anos de idade. Estes
pesquisadores obtiveram as informações de parentes ou responsáveis das
crianças e a escolha do método tomou como base um estudo anterior realizado
em outra província da África do Sul, o qual demonstrou boa reprodutibilidade e
validade para avaliar a ingestão dietética de população negra do país.
Entretanto, ao discutir sobre a metodologia aplicada neste estudo, os autores
chamam a atenção do leitor que, ingestão dietética é tão somente uma
estimativa do consumo alimentar, jamais será considerada um padrão-ouro,
porque a ingestão dietética não pode ser avaliada sem erros. Os autores
demonstram preocupação com a validação deste instrumento.
Silva (2003), estudando os fatores determinantes da anemia ferropriva
em crianças de 6 a 12 meses do município de Viçosa (MG), utilizou um
Questionário Semi-Quantitativo de Freqüência de Consumo Alimentar com
itens alimentares selecionados dentre os alimentos fontes de ferro. Os
19
resultados obtidos sugeriram que, a ocorrência de anemia ferropriva nas
crianças no 1
o
ano de vida do município de Viçosa tem como principais
determinantes os fatores econômicos e a prática alimentar atual e habitual.
Nowak et al. (2003), ao estudarem a relação entre tabus alimentares e o
comportamento na ingestão alimentar em adolescentes australianos de quatro
escolas privadas, utilizaram um QFCA que também continha questões
socioeconômicas, demográficas, atividades físicas, ambientais e
comportamentais. Os resultados demonstraram uma relação altamente
significante entre crenças alimentares, consumo de alimentos, comportamento,
ganho de peso e conhecimentos sobre nutrição. Estes pesquisadores
sugeriram que a associação de questionários permitiu identificar algumas
variáveis que interferiram significativamente no consumo alimentar.
2.3.2.2. Recordatório 24 Horas - R24H
Este método consiste em obter informações escritas ou verbais sobre a
ingestão alimentar das últimas 24 horas, com dados sobre os alimentos
atualmente consumidos e informações sobre peso/tamanho das porções que
deveriam ser, em tese, fornecidas através de fotografias ou modelos de
porções.
O método recordatório 24 horas foi utilizado pela primeira vez no Brasil
nos anos 30 (Coimbra et al., 1982) e, assim como o QFCA, este método foi
desenvolvido por Bertha Burcke com a finalidade de ensinar as mães a
registrarem o consumo de alimentos dos filhos das últimas 24 horas (Vilar,
2001).
Bastante usado em todo o mundo o método recordatório 24 horas é um
instrumento de avaliação da ingestão de alimentos e nutrientes de indivíduos e
grupos populacionais, mas requer um nutricionista ou entrevistador bem
treinado para a realização de coleta de dados. Em geral este instrumento é
bem aceito pelos entrevistados, o tempo de aplicação é curto, o custo é baixo e
não promove alteração da dieta habitual (Salvo & Gimeno, 2003).
No Brasil este método foi utilizado em grandes pesquisas como Saúde e
Nutrição das Crianças da Cidade de São Paulo, realizada pelo NUPENS/USP
20
Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição da Universidade de São
Paulo, realizada em 1995 e 1996, que embasou os estudos de Monteiro et al.
(2000). Estes pesquisadores utilizaram as estimativas com base nos cálculos
da amostra desta pesquisa e descreveram a tendência secular de declínio da
desnutrição e aumento discreto da obesidade em crianças menores de cinco
anos, em meados dos anos 90, na cidade de São Paulo.
Outra pesquisa foi o Estudo Multicêntrico de Salvador intitulada
Condições de vida, saúde e nutrição na infância em Salvador, realizado por
meio de parceria da Universidade Federal da Bahia e o Ministério da Saúde.
Esta pesquisa identificou os padrões de saúde e nutrição de crianças menores
de cinco anos da cidade de Salvador (BA). Dados sobre o padrão alimentar e
adequação das dietas consumidas pelas crianças foram obtidos por meio da
aplicação do recordatório 24 horas associado à freqüência alimentar. As
informações foram obtidas através das mães e agrupadas por faixa etária.
Considerou-se o uso de álbum com desenhos de alimentos em suas
dimensões normais e a utilização de medidas-padrão de líquidos, elementos
facilitadores para auxiliar o entrevistado e aumentar o grau de confiabilidade
das respostas (Assis et al., 2000).
A utilização do recordatório 24 horas em estudos epidemiológicos
apresenta muitas vantagens, principalmente porque é rápido, relativamente
barato e de fácil aplicação. Permite que a população estudada não seja
alfabetizada e pouco altera o comportamento alimentar. Este método avalia a
dieta atual e estima valores absolutos ou relativos da ingestão de energia e
nutrientes amplamente distribuídos no total de alimentos oferecidos ao
indivíduo (Bonomo, 2000).
Entretanto, o entrevistado tem que recordar, definir e quantificar sua
ingestão alimentar do dia anterior à entrevista. Outras limitações importantes
inerentes a este método é que não representa os hábitos alimentares, não
permite considerar a sazonalidade e a ingestão real pode estar omitida pelo
sub-registro.
Dentre todas as limitações do recordatório 24 horas, a mais preocupante
é que ele não fornece uma estimativa segura da absorção de nutrientes devido
à variação do dia a dia e, quando usado em estudos epidemiológicos, à
habilidade de descrever relações significantes entre dieta e risco de doença
21
será reduzida drasticamente (Margetts & Nelson, 1997).
Bingham (1987) recomenda o emprego do método recordatório 24 horas
por três dias para avaliar o total da ingestão de alimentos e nutrientes, sendo
este método, capaz de estimar as diferenças existentes entre grupos de
indivíduos em pesquisas epidemiológicas.
Em estudo realizado em Viçosa (MG), Teodoro (2002) aplicou o método
recordatório 24 horas por três vezes para analisar o padrão de consumo de
macronutrientes em adultos de três níveis de renda da população urbana de
Viçosa (MG). Esta abordagem considerou a ingestão alimentar do início, meio
e final do mês, relacionando o consumo alimentar a renda dos indivíduos
pesquisados. A renda mostrou-se um fator limitante, tanto na qualidade como
na quantidade de alimentos consumidos, nos três estratos de renda.
Abreu (2003), estudando aspectos econômicos, de saúde e nutrição em
idosos institucionalizados no município de Viçosa (MG), caracterizou o padrão
alimentar por meio da aplicação de um método recordatório 24 horas,
encontrando como principais fatores associados negativamente à ingestão
alimentar, situação socioeconômica, solidão, uso de medicamento e
sedentarismo.
As informações obtidas por meio do recordatório 24 horas são
determinadas pela habilidade do indivíduo de recordar e, esta habilidade, é
influenciada pelo sexo, idade e nível de escolaridade. A idade é o fator que
mais influencia. Apesar de todas as limitações e significativas fontes de erro,
este método é muito usado (Majem, 1995).
Nos Estados Unidos, uma pesquisa de abrangência nacional com o
objetivo de avaliar a ingestão adequada de nutrientes por meio de dietas em
crianças de 4 a 24 meses de idade, intitulada Feeding Infants and Toddlers
Study (2004) utilizou o método recordatório 24 horas para determinar a
ingestão dietética. Após seleção da amostra, os dados foram obtidos por meio
da aplicação de dois recordatórios 24 horas em dois dias não-consecutivos,
sendo a primeira aplicação no domicílio e a segunda, 7a 10 dias depois, por
telefone (Devaney et al., 2004).
Como o método requer informação detalhada sobre o consumo de
alimentos por meio de um relato, é necessária uma criteriosa preparação do
desenho do estudo. Utilização de medidas caseiras, programas de computador
22
e álbuns de fotografias devem fazer parte desta metodologia. A única maneira
de amenizar as fontes de erro (viés de memória, tamanho de medidas caseiras
e estimação das porções) é associar ao recordatório 24 horas o uso de
fotografias, réplicas de alimentos e kits com medidas caseiras, além de repetir
a entrevista (Bonomo, 2000; Salvo & Gimeno, 2003).
Estes recursos foram utilizados no Estudo Multicêntrico de Salvador e
garantiu maior confiabilidade às informações adquiridas (Assis et al., 2000).
Quando o recordatório 24 horas é aplicado em crianças é necessário
que as perguntas possibilitem quantificar as sobras, para se saber exatamente
as quantidades consumidas pela mesma. Avaliar o consumo alimentar de
crianças por meio deste método requer a ajuda de um adulto, entretanto,
alguns autores sinalizam que, a partir de 12 ou 13 anos, isto não se faz
necessário (Baxter et al., 1994; Frank, 1994).
Trigo (1993) comparou o método recordatório 24 horas com o método de
pesagem de alimentos para verificar a validade do recordatório. Verificou baixa
especificidade do método recordatório 24 horas, o que sugere ser este método,
mais adequado para ser utilizado em trabalho preventivo de educação
nutricional.
Baxter & Thompson (2002), em estudo de análise retrospectiva,
compararam a acurácia dos componentes e porções da alimentação escolar,
por meio do método recordatório 24 horas. Separaram os estudantes em dois
grupos de estudo e os entrevistaram para obter dados sobre os componentes
das refeições (Estudo 1) e as porções das refeições (Estudo 2). Os resultados
mostraram erros de memória e inabilidade das crianças em informar os
componentes e porções das refeições, em ambos os grupos, sendo maiores no
Estudo 2. Estes resultados sugeriram que estudos validados são necessários
para guiar o desenvolvimento de protocolos de entrevistas, os quais
maximizem a acurácia dos recordatórios dietéticos de crianças.
Eck et al. (1989) relatam que alguns pesquisadores observam que, se a
criança e seus pais combinam respostas no método recordatório 24 horas, a
informação parece mais acurada que uma entrevista realizada apenas com um
dos pais.
23
2.3.2.3. Registro Alimentar
Este método consiste em um indivíduo anotar em formulários,
previamente estruturados, todos os alimentos e bebidas consumidas e suas
respectivas quantidades durante determinado período, em geral, ao longo de
um dia. Se o indivíduo for orientado a anotar os seus dados de consumo logo
após as refeições, este método poderá ser mais completo e preciso. Requer o
uso de balança ou a ajuda de diferentes tamanhos de porções e a
representação do que foi consumido em medidas caseiras tradicionalmente
usadas.
Segundo Marr (1971), o registro alimentar que inclui o uso de balança
para pesar os alimentos pode ser considerado um método de avaliação de
ingestão bastante preciso, entretanto, requer treinamento, esforço e muita
colaboração, por parte do entrevistado, fatores que fazem com que este
método seja pouco usado, principalmente em estudos populacionais.
Para Bonomo (2000) uma das principais vantagens deste método é que
ele independe de memória, sendo assim considerado, o método mais válido
para medir a ingestão alimentar. Entretanto, a autora concorda com Marr
(1971), reconhecendo que sua utilização envolve mais tempo do entrevistado,
que deverá estar muito motivado, pois o resultado dependerá da sua
cooperação. Além disso, os alimentos consumidos fora do lar, também devem
ser registrados.
Segundo Thompson & Byers (1994) a aplicação deste método não deve
ultrapassar sete dias consecutivos, pois compromete os resultados devido à
fadiga do entrevistado.
A principal desvantagem é o sub-registro alimentar ou omissão de
alimentos, pois é difícil conhecer os ingredientes de uma preparação,
principalmente quando esta é preparada e consumida fora do lar. Assim, as
quantidades não refletirão com exatidão um hábito alimentar real. Este método,
como o recordatório 24 horas, recolhe informação sobre a ingestão atual de um
indivíduo ou grupo populacional. As limitações mais relevantes são a
impossibilidade de aplicar o método em pessoas não alfabetizadas,
impaciência natural de crianças e adolescentes para preencher todos os
formulários e seu alto custo.
24
2.3.2.4. Pesagem de Alimentos
Este método consiste no registro, pelo entrevistador, das quantidades de
alimentos que efetivamente irão ser consumidas pelo entrevistado, em medidas
caseiras ou por meio da pesagem direta dos alimentos, com auxílio de uma
balança doméstica (Bonomo, 2000).
Ao descrever a metodologia de pesquisa aplicada ao ENDEF,
Vasconcelos (2000) demonstra a notória interferência e possível influência do
entrevistador sobre o indivíduo, que se constituem as maiores dificuldades no
uso deste método. “A metodologia consistia em visitar cada domicílio ao longo
de sete dias consecutivos e cabia ao entrevistador pesar os alimentos que
seriam consumidos na refeição seguinte, antes de sofrerem quaisquer
alterações ou transformações e deixava sacos plásticos para que fossem
guardadas as sobras, para pesagem posterior”.
Cruz (2001), estudando o consumo alimentar de crianças entre 1 e 6
anos de idade de três creches da cidade de São Paulo, utilizou o método da
pesagem direta para obter o peso médio das porções de alimentos oferecidas
às crianças, dados de consumo alimentar e avaliar a concordância de dados de
consumo por esse método. Com base nos resultados obtidos, a pesquisadora
relata concordância na comparação da pesagem direta de alimentos em nível
individual e total, embora o individual seja mais preciso, e sugere que, este
método pode ser usado com bons resultados para definir, em curto prazo,
políticas de nutrição e saúde.
Embora este método seja considerado, o mais exato para determinar a
ingestão de alimentos, é mais demorado, oneroso, reflete uma pesquisa
altamente invasiva e requer alto nível de cooperação das famílias e indivíduos
(Bonomo, 2000; Vasconcelos, 2000).
Klesges et al. (1987) mediram a ingestão dietética de 30 crianças entre
24 a 48 meses durante 24 horas utilizando dois métodos: o recordatório 24
horas, estimado pelo registro dos pais, habitualmente a mãe, e a pesagem
direta de alimentos por um observador treinado, que pesou todo o alimento
preparado e o alimento que não foi consumido. Os resultados obtidos pelo
método recordatório 24 horas estavam altamente correlacionados com aqueles
encontrados pelo registro do método da pesagem dos alimentos ingeridos.
25
2.3.2.5. História Dietética
Este método consiste em uma associação de métodos em que,
obrigatoriamente, o QFCA associa-se com outro método que pode ser o
recordatório 24 horas ou registro da pesagem, para verificar e validar os dados
coletados inicialmente. Usualmente utiliza-se três dias de registros alimentares
por meio de medidas caseiras, observando, dentre outras coisas, o tamanho da
porção. Permite estimar a ingestão alimentar habitual, mas é desaconselhável
para estudos populacionais, pois requer tempo para execução e, seu custo, é
alto (Bonomo, 2000).
Burke (1947) descreveu o uso dos métodos da história dietética e do
recordatório 24 horas por meio da avaliação do estado nutricional de pacientes
adultos hospitalizados. Nutricionistas questionaram sobre seus hábitos de
saúde e padrão alimentar, anotaram as quantidades e variedades de alimentos
consumidos em cada refeição. A informação foi cruzada com uma entrevista
recente e, o paciente, em três dias consecutivos, registrou as quantidades, em
medidas caseiras, dos alimentos consumidos em cada dia. Os resultados,
comparados com dados clínicos ou laboratoriais, mostraram relação entre dieta
e doença.
Fontanive et al. (2002) utilizaram a história dietética associado ao QFCA,
em estudo de caso-controle, para comparar o estado nutricional de
adolescentes eutróficas com adolescentes com sobrepeso, no Brasil. A história
dietética demonstrou não haver diferença entre os grupos com relação à
ingestão de nutrientes e energia. O QFCA foi capaz de demonstrar que a
ingestão de alimentos gordurosos era bem maior no grupo de adolescentes
com sobrepeso, que entre as eutróficas.
Para Domel et al. (1994), instrumentos como, o QFCA, recordatório 24
horas e registro de alimentos, já foram usados para avaliar dietas de crianças,
os quais mostraram-se muito mais desafiantes que avaliar dietas de adultos.
Entretanto, a junção do QFCA com um destes métodos citados, pode propiciar
uma melhor interpretação dos resultados obtidos.
26
2.3.3. Metodologia de Consumo Alimentar Aplicada a Crianças e Adolescentes
Em documento científico (1989), o Comitê de Expertos da
FAO/OMS/UNU para Nutrição Humana chama atenção para as dificuldades de
se medir a ingestão de crianças e adolescentes. Segundo este Comitê, os
critérios mais importantes a considerar na escolha do método para coletar
dados sobre a ingestão de alimentos de crianças e adolescentes são: que a
técnica não interfira com os hábitos dietéticos, que os dados possam ser
representativos da dieta usual ou habitual e que a técnica possa ser,
preferencialmente, aplicada em estudos de grupos.
Os métodos mais freqüentemente usados em grupos populacionais de
crianças e adolescentes normalmente são semelhantes aos empregados em
estudos de adultos. Cada um dos métodos apresenta vantagens e limitações
quando aplicado em crianças e adolescentes. Fundamentalmente, todos os
levantamentos dependem da motivação, confiança e habilidade dos sujeitos
envolvidos e, particularmente, dos pais, para informarem acuradamente a
ingestão alimentar habitual dos filhos (Widdownson, 1946/47; FAO/WHO/UNU,
1989; Baranovski et al., 1991; Margetts & Nelson, 1997; Rockett & Colditz,
1997; Bonomo, 2000; Willett, 2000; Vilar, 2001; Salvo & Gimeno, 2003).
Citado por Rockett & Colditz (1997), um dos primeiros trabalhos sobre
ingestão de nutrientes em crianças foi publicado em 1882 por Hasse, que
estudou a dieta de crianças e adolescentes suíças e russas de 2 a 11 anos de
idade, utilizando o método da pesagem de alimentos e uma duplicata de cada
alimento consumido que foi analisado para energia, proteínas, carboidratos e
gorduras.
Posteriormente, na década de 40, Widdowson (1946/47) observou que
crianças britânicas estavam comendo quantidades semelhantes de proteínas,
gorduras e carboidratos, como havia sido relatado por Hasse, cinqüenta anos
antes.
Rockett & Colditz (1997) consideraram esses estudos como precussores
para, nas décadas seguintes, surgirem diversas pesquisas sobre dietas de
crianças. Porém, o objetivo principal destas pesquisas nutricionais era
estabelecer os requerimentos nutricionais para crianças.
27
Paralelamente, nos Estados Unidos, Burke desenvolveu em 1940 o
método da história dietética para um estudo longitudinal sobre a saúde e o
desenvolvimento da criança. O método de Burke para determinar a ingestão de
um indivíduo envolveu o registro de hábitos dietéticos, a quantidade e
freqüência de alimentos consumidos, bem como, um recordatório 24 horas.
Este método foi amplamente utilizado em crianças e adolescentes por
pesquisadores nos Estados Unidos e na Europa (Burke, 1947).
Nos anos 60, o estado nutricional de crianças e adolescentes
americanas foi avaliado por meio do estudo Ten State Nutritional Survey que
usou o método recordatório 24 horas para obtenção dos dados dietéticos (Beal,
1997).
Durante os anos 70 iniciaram-se nos Estados Unidos dois grandes
estudos dietéticos: NHANES National Health and Nutritional Examination
Survey e o NFCS Nationalwide Food Comsumption Survey, cujos dados,
levantados por meio do método recordatório 24 horas, representaram os
hábitos alimentares das crianças (CDC, 2000).
No final da década de 90, estudo realizado no México intitulado
Encuesta Nacional de Nutrición, visando quantificar o consumo de energia e
nutrientes e sua adequação em crianças pré-escolares e escolares, utilizou
dados resultantes da aplicação de um recordatório 24 horas. Os resultados
deste estudo demonstraram importantes riscos de inadequação para vários
micronutrientes, colocando em risco, a saúde e nutrição das crianças daquele
país (Barquera et al., 2003).
Devaney et al. (2004) descrevem a metodologia de uma pesquisa
realizada nos Estados Unidos (Feeding Infants and Toddlers Study), de
abrangência nacional, com o objetivo de avaliar a ingestão adequada de
nutrientes em dietas de crianças de 4 a 24 meses de idade, que também
utilizou o método recordatório 24 horas para determinar a ingestão dietética.
Após seleção da amostra, os dados foram obtidos por meio da aplicação de
dois recordatórios 24 horas, em dois dias não-consecutivos, sendo a primeira
aplicação no domicílio e a segunda, sete a dez dias depois, por meio de
telefone.
Ao estudarem a transição alimentar do aleitamento materno à
alimentação complementar durante a infância, Briefel et al. (2004) observaram
28
que, os dados provenientes do método recordatório 24 horas, forneceram uma
medida mais acurada do consumo de alimentos por idade quando em
combinação com a entrevista dos pais.
No Brasil ainda são escassos os estudos de consumo alimentar de
maior abrangência, aplicados em crianças, destacando-se os estudos
multicêntricos de saúde materno-infantil realizados nos estados de Sergipe,
Pernambuco e Bahia (PESMISE, 1998; II PESNPE, 1998; Assis et al., 2000)
Atualmente, métodos como o recordatório 24 horas, história dietética e
registro de alimentos, continuam sendo muito usados na avaliação dietética,
entretanto, existem poucos estudos que indicam o QFCA para estudos em
crianças (Rockett & Colditz 1997).
Baxter & Thompson (2002) salientam que o método recordatório 24
horas é o mais comumente usado para obter dados sobre a ingestão dietética
de crianças.
Para pré-escolares, as informações devem ser obtidas dos familiares,
muito comumente, por meio da mãe. Admite-se apenas uma pessoa para
repassar as informações. Se a informação é obtida de um só entrevistado,
maiores serão as chances das respostas serem mais completas (Baranovski et
al., 1991).
A idade e a capacidade de resposta são importantes razões para
designar diferentes métodos dietéticos de entrevista. Embora tenha havido um
considerável aumento na capacidade das crianças, em responder questões
sobre seu comportamento alimentar, expressar atitudes de decisão sobre o que
comer e expressar seus conceitos sobre nutrição antes de 7 ou 8 anos de
idade, tem-se observado que, somente por volta dos 10 a 12 anos, a criança
tem capacidade de dar suas próprias respostas sobre sua ingestão alimentar.
Avaliação dietética em crianças é difícil e os pesquisadores devem estar
atentos para considerar as influências do ambiente sobre a criança, interferindo
na sua escolha alimentar (Frank, 1994).
29
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo Geral
Caracterizar o hábito alimentar e o perfil de saúde e nutrição de
crianças, na faixa etária de 12 a 35 meses de idade, atendidas nos serviços
públicos de saúde do município de Viçosa, Minas Gerais.
3.2. Objetivos Específicos
1. Caracterizar as condições socioeconômicas, demográficas e de
assistência à saúde do grupo estudado.
2. Caracterizar a morbidade referida no grupo estudado.
3. Avaliar o estado nutricional do grupo estudado.
4. Avaliar a prevalência de inadequação da ingestão de macro e
micronutrientes do grupo estudado.
5. Avaliar o consumo alimentar das crianças de 12 a 35 meses e 29 dias
de idade.
30
6. Verificar a associação entre o estado nutricional e o consumo
alimentar do grupo estudado.
7. Verificar a associação entre o estado nutricional e as variáveis
socioeconômicas do grupo estudado.
8. Recomendar estratégias nutricionais para melhoria do padrão
alimentar das crianças estudadas.
31
4. CASUÍSTICA E MÉTODOS
4.1. Desenho Geral
Trata-se de estudo epidemiológico nutricional de corte transversal, pelo
qual foi avaliado, o consumo alimentar de 174 crianças de 12 a 35 meses de
idade, atendidas nos serviços públicos de saúde do município de Viçosa MG.
4.2. Casuística
Localizado a 220 Kilômetros da capital do estado, Belo Horizonte, na
Zona da Mata mineira, o município de Viçosa é composto por 64.854
habitantes, dos quais, 5.424 são crianças na faixa etária de 0 a 59 meses
(8,4%), sendo 2.170 as da faixa etária de 12 a 35 meses (IPEA, 2000; IBGE,
2000).
A população geral de Viçosa corresponde a 0,36% da população de
Minas Gerais (IBGE, 2000; IPEA, 2000).
O universo deste estudo constituiu-se de 2.170 crianças na faixa etária
de 12 a 35 meses. Objetivando-se obter uma maior representatividade deste
grupo, trabalhou-se com a demanda dos serviços públicos de saúde por um
período de 3 meses, totalizando 174 crianças, que representam 8% das
crianças de 12 a 35 meses do município.
32
Visando verificar o poder estatístico da amostra utilizou-se o Programa
Epi-Info 6.04d que preconiza uma amostra entre 64 e 261 indivíduos,
considerando-se um intervalo de confiança de 95% e erro amostral de 5%.
Para assegurar a representatividade da unidade amostral, calculou-se a
cobertura média de atendimentos realizados nos últimos 12 meses em cada
um dos serviços públicos de saúde pesquisados e coletou-se os dados da
demanda mensal de cada serviço, totalizando 100% a cobertura da demanda
no Centro de Saúde e em dois Postos de Saúde com atendimento ambulatorial
e, 87%, nos Programas de Saúde da Família (PSFs). O município de Viçosa
dispõe de sete unidades de saúde (IBGE, 2000). Dentre as unidades de saúde,
duas dispõem de equipes do Programa de Saúde da Família. Foram escolhidos
os serviços que dispunham de um profissional nutricionista realizando o
acompanhamento nutricional das crianças, totalizando seis, dos sete existentes
em Viçosa.
4.3. Coleta de Dados
A coleta de dados foi realizada no período de outubro de 2003 a janeiro
de 2004. Foram responsáveis pela coleta de dados, o investigador principal e
uma nutricionista, previamente treinada para realizar a coleta de dados.
Durante treinamento foi abordada a conduta adequada de um entrevistador;
preenchimento correto dos formulários para uniformização dos dados, assim
como, os aspectos éticos necessários.
Para as crianças participarem do estudo foi realizado um contato
pessoal com as mães ou responsáveis nos respectivos serviços de saúde,
quando se explicou, detalhadamente, o objetivo do estudo e os procedimentos
utilizados na pesquisa. A permissão das mães ou responsáveis foi obtida
mediante assinatura do termo de consentimento (Anexo 1) previamente
aprovado pelo Comitê de Ética na Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade Federal de Viçosa (Anexo 2). Posteriormente foi realizada a
entrevista com as mães ou responsáveis para preenchimento dos formulários
(Anexo 3 e 4), composto de três questionários:
33
1
o
- Inquérito Dietético Recordatório 24 horas (Anexo 3);
2
o
- Inquérito Dietético Questionário de Freqüência de Consumo
Alimentar (Anexo 3);
3
o
- Identificação da situação socioeconômica, demográfica e de
assistência à saúde (Anexo 4).
Sistematicamente foi realizada a coleta dos dados antropométricos das
crianças participantes.
Foram coletados dados de 174 crianças pré-escolares de 12 a 35 meses
e 29 dias de idade atendidas nos serviços públicos de saúde (Centro de Saúde
da Mulher e da Criança, Fundão, Cachoeirinha, PSF Amoras, PSF Nova Viçosa
e Colégio Viçosa) localizados no município de Viçosa, que têm como principal
peculiaridade, atender a clientela de baixa renda da zona urbana e rural da
cidade de Viçosa, Minas Gerais.
Todos os questionários utilizados na coleta de dados foram preenchidos,
na sua totalidade, respeitando-se a amostra pré-estabelecida.
4.4. Operacionalização das Variáveis
4.4.1. Identificação da Situação Socioeconômica, Demográfica e de
Assistência à Saúde
A situação socioeconômica, demográfica e de assistência à saúde das
famílias foi identificada por meio da aplicação de um questionário (Anexo 3)
adaptado de instrumento de diagnóstico de saúde infantil de um estudo
realizado em Minas Gerais, intitulado Saúde Materno-Infantil em Minas Gerais
e no Norte de Minas, realizado pela Secretaria de Estado da Saúde de Minas
Gerais (1997).
Este questionário foi aplicado uma única vez e teve como objetivo
caracterizar a situação socioeconômica e demográfica em que estão inseridas
as famílias da população estudada. Coletou-se dados sobre idade da mãe,
renda, escolaridade dos pais, ocupação dos pais, número de filhos, posição da
criança na família, moradia e número de dependentes.
34
Quanto à assistência à saúde coletou-se dados referentes a peso, idade,
peso ao nascer, comprimento ao nascer, atualização do cartão da criança
quanto às vacinas imunopreveníves, freqüência de visitas ao serviço público de
saúde, benefícios de programas de alimentação e qual o profissional que
acompanha o crescimento da criança.
4.4.2. Avaliação do Consumo Alimentar
O consumo alimentar das crianças estudadas foi obtido por meio da
aplicação de dois inquéritos dietéticos, o questionário de freqüência de
consumo alimentar e o recordatório 24 horas. As entrevistas foram realizadas,
em sua grande maioria, com as mães.
O consumo de energia, macro e micronutrientes das crianças
participantes deste estudo foi avaliado utilizando-se a média dos dois inquéritos
dietéticos: o recordatório 24 horas e o Q FCA.
Avaliou-se a ingestão de energia, macronutrientes (lipídio, carboidrato,
proteína) e micronutrientes (ferro, vitamina A, vitamina C e zinco). A avaliação
da ingestão dietética foi realizada com base nas Ingestões Dietéticas de
Referencia (Dietary Reference Intakes DRIs) do Instituto de Medicina
(Institute of Medicine/Food and Nutrition Board), grupo de quatro valores de
referência para ingestão de nutrientes (EAR, AI, RDA, UL), cada qual com usos
específicos (2002). Estas novas recomendações têm maior abrangência que as
Recomendações Nutricionais (Recommended Dietary Allowances) publicadas
desde 1941 pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, e foram
concebidas para substituí-las. As DRIs reúnem conceitos e conhecimentos
científicos mais atualizados e, basicamente, são utilizadas no planejamento e
avaliação das dietas, estimando a ingestão alimentar de indivíduos e de grupos
populacionais (IOM, 2000; IOM, 2001; IOM, 2002).
A estimativa de prevalência de inadequação de nutrientes pelas crianças
foi estimada considerando-se a Necessidade Média Estimada (Estimated
Average Requirement EAR) como ponto de corte, método proposto por
Beaton (1994) que faz parte das quatro recomendações propostas pelas
Ingestões Dietéticas de Referência (Dietary Reference Intakes DRIs) do
35
Instituto de Medicina (Institute of Medicine/Food and Nutrition Board (2002) que
é utilizado para estimar a ingestão de um grupo populacional.
Para aqueles micronutrientes cuja EAR não está disponível, cálcio e
fibra, comparou-se a mediana de ingestão com o valor da Ingestão Adequada
(Adequate Intakes AI), uma das quatro recomendações das DRIs
1
, usada
quando não há dados suficientes para determinar a EAR (IOM,1997; IOM,
2002).
Para o cálculo da energia, as necessidades dietéticas foram expressas
em termos de EER Requerimentos Estimados de Energia. A EER para
crianças é definida como, a quantidade de ingestão de energia necessária para
manter o balanço energético de um indivíduo de mesmo peso e idade, mais
uma quantidade de energia extra para deposição, visando promover o
crescimento (Devaney et al., 2004).
EER = GET + Energia de Deposição. A EER para crianças de 12 a 35
meses de idade é calculada utilizando-se a seguinte equação (IOM,2002):
Meninos: EER = (60,9 x peso da criança (kg) - 54)
Meninas: EER = (61x peso da criança (kg) - 51)
Para crianças de 1 a 3 anos de idade, as DRIs também incluem a AMDR
Níveis Aceitáveis de Distribuição de Macronutrientes (Quadro 1) para a
ingestão de lipídios, proteína e carboidrato, como porcentagem de energia
(IOM, 2002).
1
Grupos das DRIs Dietary Reference IntakesRDA Ingestão Dietética de Referência nível
de ingestão dietética diária suficiente para atender as necessidades nutricionais de quase
todos (97 a 98%) dos indivíduos saudáveis de um determinado grupo do mesmo sexo e
estágio de vida. EAR Necessidade Média Estimada - valor da ingestão dietética diária de
um nutriente que se estima que supra a necessidade da metade (50%) dos indivíduos
saudáveis de um grupo do mesmo sexo e estágio de vida. AI Ingestão Adequada utilizada
quando não há dados suficientes para a determinação da RDA. UL Limite Superior
Tolerável de Ingestão valor mais alto de ingestão diária continuada de um nutriente que
aparentemente não oferece efeitos adversos à saúde de todos os indivíduos de um estágio
de vida ou gênero. Não é um nível de ingestão recomendado (IOM, 2000).
36
Quadro 1 Taxa de distribuição aceitável de macronutrientes (AMDR)
Percentual de Energia
Macronutrientes
Crianças
1 3 anos
Crianças
4 18 anos
Adultos
Lipídios
Carboidrato
Proteína
30 40
45 65
05 20
25 35
45 65
10 30
20 35
45 65
10 35
Fonte: IOM, 2002.
A AMDR representa a ingestão que minimiza o potencial para doenças
crônicas em longo prazo, permite a ingestão de nutrientes essenciais em níveis
adequados e está associada com a ingestão adequada de energia e atividade
física para manter o balanço energético (IOM, 2002).
Embora primariamente tenha sido direcionada para indivíduos, a AMDR
também permite avaliar a ingestão dietética de grupos populacionais.
Determinando a proporção de um grupo que está acima ou abaixo da AMDR é
possível avaliar a população aderente às recomendações e determinar a
porção populacional que está fora das faixas de distribuição de
macronutrientes. Se uma significante porção da população está fora das faixas
de distribuição aceitável, possivelmente estará sujeita a efeitos e
conseqüências adversos para a saúde e nutrição (IOM, 2002). Planejamento
de mensagens educativas de saúde pública poderão ser instituídas para
prevenção de doenças relacionadas ao consumo alimentar excessivo ou
deficiente.
4.4.2.1. Estimativa de Consumo do Leite Materno
Para estimar a ingestão alimentar das crianças em aleitamento materno,
considerou-se as recomendações da OMS (1998) sobre ingestão de leite
materno das crianças de países em desenvolvimento e a capacidade gástrica
(Quadro 2) (WHO, 1998).
37
Quadro 2 Ingestão de leite materno segundo o tipo de aleitamento
Ingestão de Leite (mL/kg de peso/dia)
Faixa Etária (meses)
Tipo de
Aleitamento
0 2 3 5 6 8 9 11 12 33
Exclusivo 156,81 126,19 106,97 - -
Parcial - 111,94 105,71 87,23 61,16
Fonte: WHO/UNICEF (1995).
Neste estudo encontrou-se 18 crianças (10.34%) entre 12 e 23 meses
de idade que estavam em aleitamento materno parcial, ou seja, consumindo o
leite materno e outros alimentos sólidos e/ou líquidos (OPAS/OMS, 1991). Para
estimar este consumo foram utilizados os valores de ingestão das crianças em
aleitamento materno parcial na faixa de 12 a 23 meses de idade, conforme o
Quadro 2 e, considerou-se a capacidade gástrica, para aquelas crianças que
recebiam leite materno apenas 1 ou 2 vezes ao dia.
A capacidade gástrica de crianças entre 12 e 23 meses de idade é
pequena, em torno de 30 a 40 mL/Kg de peso/mamada (Giugliani & Victora,
2000).
Considerando este dado, estimou-se o consumo de leite materno por
meio do valor médio de 35 mL/Kg de peso/mamada, para se estimar a
quantidade de leite materno consumido por aquelas crianças que recebiam
leite materno apenas 1 ou 2 vezes ao dia.
4.4.2.2. Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar
O Questionário de Freqüência Alimentar (QFCA) utilizado neste estudo
foi adaptado a partir de um questionário desenvolvido pelo Departamento de
Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa, em projeto de iniciação
científica, durante o ano de 2000, o qual apresenta caráter regionalizado,
validado para a população de Viçosa, MG (Sales et al., 2000).
38
O QFCA adaptado (Anexo 3) dispõe de 62 itens alimentares usualmente
presentes no hábito alimentar da região. Foram estabelecidas 11 unidades de
tempo como categorias de resposta à freqüência do consumo alimentar, sendo
estas: 1 a 7 correspondendo a quantos dias na semana efetuou-se o consumo.
Além das opções T, Q, R e N, correspondendo estas a: três vezes ao mês,
quinzenalmente, raramente ou nunca, respectivamente. Para quantificar o
consumo, o questionário também dispõe da opção medida caseira em gramas
ou mililitros, descrevendo a quantidade das porções consumidas. As medidas
caseiras foram transformadas em gramas ou mililitros com o auxilio de uma
tabela apropriada para este fim (Pinheiro et al., 1994).
Para se obter um padrão diário de ingestão de cada alimento contido no
QFCA estabeleceu-se constantes para cada dia de ingestão. Assim, em
relação a uma semana obtiveram-se as seguintes constantes: 1 dia = 0,14 (1 ÷
7); 2 dias = 0,28 (2 ÷ 7); 3 dias = 0,42 (3 ÷ 7); 4 dias = 0,57 (4 ÷ 7); 5 dias =
0,71 (5 ÷ 7); 6 dias = 0,85 (6 ÷ 7); 7 dias = 1 (7 ÷ 7); 3 x mês = 0,1 (3 ÷ 30); 2 x
mês = 0,06 ( 2 ÷ 30). Raramente e nunca não se considerou ingestão (Sichieri,
1998).
Após a realização dos cálculos (multiplicando-se a constante encontrada
pela medida caseira do alimento considerado) obteve-se a ingestão de um dia,
ou seja, a contribuição usual de cada alimento na ingestão alimentar das
crianças estudadas. Com estes dados construiu-se o QFCA no software Diet
PRO (versão 4.0).
Com a soma obtida das médias dos dois inquéritos dietéticos utilizados
neste estudo, obteve-se a média de ingestão habitual das crianças
pesquisadas.
4.4.2.3. Recordatório 24 horas
O recordatório 24 horas é um instrumento validado, muito usado para
avaliar a ingestão atual de indivíduos, sejam crianças, adolescentes ou adultos,
em geral bem aceito pelos entrevistados, de baixo custo e grande praticidade
na aplicação (Salvo & Gimeno, 2003).
39
Cada criança foi avaliada pelo método recordatório 24 horas (Anexo 3).
Este inquérito foi aplicado uma única vez à mãe ou responsável pela criança,
logo em seguida ao QFCA. Um álbum composto de desenhos de alimentos nas
três dimensões normais pequeno, médio e grande e utensílios e medidas-
padrão foram utilizados como recursos para auxiliar o entrevistado a recordar a
porção do alimento servido à criança e aumentar a confiabilidade das
informações fornecidas (Galeazzi et al., 1996). As informações dos alimentos
consumidos foram anotadas seguindo a ordem das refeições principais
intercaladas pelos lanches, incluindo a primeira até a última refeição.
Registrou-se o tipo de alimento, a quantidade, a forma de preparação, bem
como, a hora do consumo. A composição centesimal das dietas foi calculada
no software Diet PRO (versão 4.0).
O hábito alimentar foi avaliado por meio da freqüência de consumo de
alimentos. Considerou-se como hábito alimentar a ingestão diária de
determinado alimento por 70% ou mais das crianças avaliadas.
4.4.3. Caracterização da Morbidade Referida
O padrão de morbidade referida por diarréia, pneumonia, infecções da
garganta, dos olhos e do nariz e, por outras enfermidades comuns na infância,
foi elaborado com base nas informações referidas pela mãe e/ou responsável
pela criança.
Adotou-se como período de identificação do padrão de morbidade, as
queixas referidas pelas mães, no período correspondente aos últimos 15 dias
que antecederam a entrevista. Este período pré-fixado teve como propósito
detectar as ocorrências mais recentes e as presentes durante a pesquisa
(Assis et al., 2000).
4.4.4. Avaliação do Estado Nutricional
O estado nutricional das crianças foi avaliado utilizando-se as medidas
de peso, comprimento e estatura, realizadas por meio do método de avaliação
antropométrico, bastante usado em estudos populacionais pela sua praticidade,
40
facilidade de aplicação e, sobretudo, por tratar-se de um instrumento de baixo
custo, capaz de detectar modificações no crescimento infantil (Waterlow, 1996;
Sigulem et al., 2000).
Além disto, a antropometria tem um importante papel na Epidemiologia
Nutricional. É uma medida sensível do estado nutricional porque o crescimento
e o tamanho do corpo são influenciados pela ingestão dietética, gasto
energético e a saúde geral e, também, porque o retardo ou a parada do
crescimento é uma resposta precoce à inadequação nutricional (Ulijaszek,
1997).
O peso das crianças foi aferido utilizando-se balança eletrônica digital
pesa bebê, capacidade máxima 15 kg e mínima de 125 g, com variação de 5 g,
marca CEF e balança para adultos, capacidade máxima de 150 kg com
variação de 100 g, marca WELMY. Utilizou-se também balança pesa bebê não
eletrônica com capacidade máxima de 15 kg, marca WELMY. As balanças
foram aferidas pelo INMETRO.
O comprimento foi obtido utilizando-se antropômetro infantil de madeira,
do tipo horizontal, com régua graduada em centímetros e subdividida em
milímetros, com extensão de 1,5 metro e a estatura foi verificada com fita
métrica metálica (Microtoiose Stanley Ltda; CMS Weighting Equipment Ltd),
com extensão de 2 metros, dividida em centímetros e subdividida em
milímetros, com visor plástico e esquadro acoplado em uma das extremidades.
As crianças foram pesadas e medidas de acordo com as
recomendações e procedimentos técnicos (OMS, 1983).
Os indicadores antropométricos
2
Peso/Estatura (P/E), Estatura/Idade
(E/I) e Peso/Idade (P/I) foram adotados para diagnosticar o estado nutricional
das crianças, uma vez que refletem diferentes processos biológicos e
fisiológicos. Estes indicadores foram expressos em z escore ou unidades de
desvio-padrão e comparados a referência do Center for Disease Control and
2
Índices Antropométricos Complementares Peso/Estatura (P/E), Peso/Idade (P/I) e Estatura/Idade
(E/I) de fácil aferição e consideradas técnicas não invasivas, culturalmente aceita pelas
mães. P/E indicado para detectar deficiências recentes de peso (desnutrição aguda) e
recomendado pela OMS para avaliar o sobrepeso. P/I indicado para detectar qualquer
deterioração ou melhora do estado de saúde, é usado para acompanhar o crescimento e o
estado de saúde e nutrição da criança. E/I indicado para acompanhar o crescimento linear
da criança, identificando as deficiências de estatura, que representam o efeito cumulativo do
estresse nutricional sobre o crescimento esquelético (MS, 2002; Batista Filho & Rissin,
2003).
41
Prevention/National Center for Health Statistics CDC/NCHS do ano 2000
(CDC, 2000).
Para classificar o estado nutricional das crianças do estudo de acordo
com a relação Peso/Estatura (P/E), Peso/Idade (P/I) e Estatura/Idade (E/I)
foram utilizados os pontos de corte recomendados pelos valores de referência
normalizados do NCHS/OMS e considerou-se: desnutrição (< -2 z-score), risco
nutricional ( -2 a -1) e eutrofia (-1 a +1). Especificamente para os índices P/I e
P/E considerou-se: risco de sobrepeso (+1 até +2) e sobrepeso ( +2).
As curvas de crescimento do CDC (CDC Growth Charts) foram
desenvolvidas com dados melhorados e procedimentos estatísticos, e são
recomendadas para substituírem gradativamente as curvas do NCHS de 1977
(NCHS, 1977). O CDC é recomendado para ser utilizado em práticas clínicas e
pesquisa, com o objetivo de avaliar e acompanhar o crescimento de lactentes,
crianças e adolescentes da população americana (CDC, 2000).
4.4.5. Recomendações Nutricionais para Melhoria do Padrão Alimentar
das Crianças Estudadas
As recomendações e sugestões nutricionais constantes neste trabalho
foram embasadas no conhecimento científico atual existente na área de saúde
e nutrição materno-infantil, bem como, nos próprios resultados encontrados
neste estudo.
4.5. Pré-Teste
Foi realizado um estudo piloto com o objetivo de testar e calibrar os
instrumentos e assegurar que estes fossem aceitos e entendidos por uma
população semelhante àquela na qual seriam aplicados. Os instrumentos da
pesquisa foram aplicados em uma amostra de 12 crianças nas faixas etárias de
12 a 35 meses e 29 dias atendidas no Centro de Saúde da Mulher e da
Criança, no período de 25 a 29 de setembro de 2003. Estas crianças foram
excluídas da amostra ao final do estudo.
42
4.6. Análise Estatística
Os bancos de dados foram elaborados nos softwares Epi Info versão
6.04, DietPRO versão 4.0 e Excel 7.0. Para a análise estatística dos dados
foram utilizados testes paramétricos e não paramétricos, levando em
consideração a natureza das variáveis estudadas.
Os programas utilizados nas análises dos dados foram: Word 7.0 for
Windows (na edição de texto); Excel 7.0 (na elaboração de banco de dados e
gráficos); Epi-info versão 6.04 (na elaboração de banco de dados e nas
análises estatísticas) e DietPRO versão 4.0 (na avaliação do consumo
alimentar).
Na análise descritiva dos dados de consumo alimentar foram calculadas:
média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo.
O delineamento epidemiológico utilizado neste estudo foi o estudo
transversal, estudo epidemiológico no qual o fator de risco e o efeito associado
são observados em um único momento histórico (Goulart, 1999). Buscou-se,
portanto, testar a associação entre dois fatores. A amostra foi analisada e, de
cada um dos indivíduos que a compõe, foram coletadas informações referentes
ao fator de risco e a doença (Fig. 1).
TEMPO
Figura 1 Fator de Risco e Doença (Goulart, 1999).
MOMENTO
Indivíduos
selecionados
para estudo
Com
alteração
em estudo
Sem
alteração
em estudo
43
Comparou-se a proporção de indivíduos expostos ao fator de risco que
desenvolveram a doença com a proporção de indivíduos que não
desenvolveram a doença.
Para a comparação de duas proporções empregou-se o teste Χ
2
(Qui-
quadrado) e para tal usou-se as freqüências absolutas. Como resultado sabe-
se que os números obtidos têm distribuição ao acaso ou se existe associação
entre exposição e doença ou não-exposição e não-doença. O resultado é a
probabilidade (“p”) de que a distribuição dos números possa se dar por mera
chance. O valor de (“p”) considerado como associação estatisticamente
significante é p<0,05 (Goulart, 1999).
O Qui-quadrado è Χ
2
= [ (ad bc) ½ n ]
2
n / (a + ) (a + c) (b + d) (c +
d) é um delineamento que não permite inferir sobre causalidade (Goulart,
1999).
Calculou-se também a OR è Odds Ratio (Razão de Chances), utilizada
para avaliar os fatores de risco envolvidos na ocorrência de desnutrição e risco
nutricional, entre as crianças do presente estudo. O Intervalo de confiança foi
95% com o valor de (“p”) considerado estatisticamente significante, p<0,05.
Foi verificado, por meio do Teste t - Student, as diferenças de médias do
consumo de energia e nutrientes, segundo sexo.
4.7. Aspectos Éticos
A participação das crianças no estudo foi voluntária, mediante
autorização da mãe ou responsável, não envolvendo riscos à saúde das
mesmas.
O projeto inicial deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa-MG
no dia 24 de setembro de 2003 (Anexo 2) e a coleta de dados iniciou-se após
prévio consentimento das mães ou responsáveis pela criança, por meio da
assinatura do Consentimento Livre Esclarecido (Anexo 1).
44
4.8. Contribuição
Após a realização deste estudo será elaborado e encaminhado um
relatório contendo sugestões, embasadas nos resultados encontrados e no
conhecimento científico existente, para a Coordenação de Alimentação e
Nutrição da Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de Viçosa,
Minas Gerais.
45
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. Distribuição por Sexo e Faixa Etária da População Estudada
A amostra estudada foi constituída de 174 crianças de 12 36 meses,
sendo 96 (55,2%) do sexo masculino e 78 (44,8%) do feminino, atendidas nos
serviços públicos de saúde do município, não apresentando uma distribuição
homogênea entre os sexos, como observado na Tabela 1.
A mediana de idade do grupo de crianças estudadas foi 21,2 meses.
Tabela 1 Crianças de 12 a 35 meses, de acordo com sexo e faixa etária.
Viçosa - MG, 2004
Sexo
Masculino Feminino Total
Faixa Etária
(meses)
n % n % n %
12 24
63 65,6 48 61,5 111 63,8
24 36
33 34,4 30 38,5 63 36,2
Total
96 55,2 78 44,8 174 100,0
46
5.2. Condições Socioeconômicas e Demográficas
As condições sociais e econômicas são fatores determinantes do estado
de saúde e nutrição nas crianças. As evidencias indicam que o meio ambiente,
permeado pelas condições materiais de vida e pelo acesso aos serviços de
saúde e educação, imprime características singulares à saúde e doença na
infância (Monte, 2000; Assis et al., 2000).
As estratégias para se ter crianças bem nutridas e saudáveis devem ser
implementadas em várias frentes. Em vários países, melhorias do estado
nutricional foram viabilizadas por meio de ações concentradas em áreas
essencialmente distintas, tais como, a melhoria de acesso da mulher à
educação, qualificação, ampliação de mensagens educativas de alcance
prático, promoção do aleitamento materno, incentivo às imunizações, vigilância
do crescimento e do desenvolvimento, diagnóstico precoce e tratamento das
infecções respiratórias agudas, terapia de reidratação oral e fortificação de
alimentos básicos com nutrientes essenciais à promoção do crescimento da
criança (UNICEF, 1998).
Estudos têm demonstrado a importância da capacitação materna como
um fator fundamental para a melhoria da nutrição tanto da própria mãe quanto
da criança (ONU Report, 1996).
Nos últimos trinta anos se tem observado uma melhoria favorável no
perfil nutricional das crianças brasileiras e entre os fatores apontados estão o
aumento da cobertura do saneamento básico e ampliação do acesso aos
serviços de saúde. Embora se tenha alcançado estas melhorias, ainda
persistem no Brasil milhares de crianças que vivem em condições ambientais
extremamente desfavoráveis ao crescimento e desenvolvimento.
Para Monte (2000), o bem-estar da criança está pautado, sobretudo,
numa tríade constituída pela alimentação, os cuidados e o ambiente onde está
inserida e, se algum destes aspectos está comprometido devido às condições
desfavoráveis, as conseqüências mais imediatas são o retardo no crescimento
e o comprometimento da saúde, repercutindo de forma bastante negativa sobre
o desenvolvimento humano e o crescimento de uma nação.
47
5.2.1. Escolaridade dos Pais
O nível de escolaridade dos pais está retratado na Tabela 2.
Considerou-se três faixas de anos formais de estudo e o sexo das crianças
estudadas.
Tabela 2 Nível de escolaridade materna e paterna de acordo com o sexo das
crianças. Viçosa-MG, 2004
Crianças
Masculino Feminino Total
Escolaridade Materna
(anos formais)
n % n % N %
< 4 anos 27 28,1 24 30,8 51 29,3
4 7 anos 34 35,4 25 32,0 59 33,9
7anos
35 36,5 29 37,2 64 36,8
Total
96 100,0 78 100,0 174 100,0
Crianças
Masculino Feminino Total
Escolaridade Paterna
(anos formais)
n % n % N %
< 4 anos 31 32,3 37 48,7 68 39,5
4 7 anos 35 36,5 25 32,9 60 34,9
7 anos
30 31,2 14 18,4 44 25,6
Total
96 100,0 76 100,0 172 100,0
Segundo o IPEA Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada, no ano
2000, 60,6% da população de 25 anos e mais do município tinha menos de 8
anos de estudo, sendo que a média de escolaridade era de 5,87 anos.
Neste estudo 63,2% das mães e 74,4% dos pais tinham menos de 8
anos de estudo formais (Tabela 2).
Os pais e as mães não concluíram o ensino fundamental, sugerindo uma
precariedade no acesso à educação para ambos.
48
Batista Filho & Rissin (2003) destacam que uma das grandes
contribuições às mudanças registradas nos indicadores do estado nutricional
da população brasileira decorre de outras variáveis não referidas no
desempenho da economia: elevação do nível de escolaridade materna e
modificações nos perfis de consumo alimentar. Esta é a linha de análise
dominante que se encontra nos estudos de Monteiro et al. (1987, 2000), Assis
et al. (2000), Osório (2000, 2001), Monte (2000), Monte et al. (2001), Lessa et
al. (2003).
5.2.2. Situação Ocupacional dos Pais
A Tabela 3 indica a situação ocupacional dos pais. Este aspecto é
importante para a compreensão do cenário de consumo alimentar e do estado
nutricional das crianças desse estudo.
Dentre as mães envolvidas neste estudo 75,3% não trabalhavam e
24,7% trabalhavam fora do domicílio. Dentre as mães que trabalhavam, a
maioria (58,1%) trabalhava como empregada doméstica. Por ocasião da
entrevista se verificou, por meio de conversas com as mães, que a profissão de
empregada doméstica, com raras exceções, não garante direitos trabalhistas e
salário correspondente ao cargo, sendo a grande maioria caracterizada como
diarista (Tabela 3).
Quanto aos pais, a maior parte (82,0%) estava trabalhando, com
destaque para as ocupações de trabalhadores do comércio (26,2%), auxiliar de
serviços gerais (26,2%) e da agricultura (17,0%). Entre os pais que
trabalhavam (82,0%), grande parte das ocupações não exigia níveis elevados
de escolaridade (Tabela 3).
A situação encontrada neste estudo é comumente encontrada entre as
famílias pertencentes a grupos populacionais de nível socioeconômico baixo de
municípios menores, onde, a responsabilidade de provedor do domicílio é
exercida pelos homens, cabendo às mulheres, a responsabilidade de cuidar
das crianças e da casa, impedindo-os de elevar os conhecimentos por meio da
educação.
49
Tabela 3 Situação ocupacional dos pais das crianças. Viçosa-MG, 2004
Crianças
Ocupação dos Pais
N %
Mãe trabalha
Sim 43 24,7
Não 131 75,3
Total
174 100,0
Ocupação da mãe
Empregada doméstica 25 58,1
Comércio 11 25,6
Auxiliar serviços de alimentação 4 9,3
Outras 3 7,0
Total
43 100,0
Pai trabalha
141 82,0
Sim 31 18,0
Não 172 100,0
Total
Ocupação do pai
Comércio 37 26,2
Auxiliar serviços gerais 37 26,2
Agricultura 24 17,0
Construção civil 22 15,6
Transporte 9 6,4
Auxiliar serviços de alimentação 7 5,0
Outras 5 3,6
Total
141 100,0
5.2.3. Renda
As desigualdades sociais imprimem acesso diferenciado aos bens
materiais, aos serviços de saúde e à educação refletindo, por conseguinte, na
carga de morbidade e no perfil de crescimento das crianças (Assis et al., 2000).
Considerando que o salário-mínimo vigente durante a coleta de dados
deste estudo correspondia a R$ 240,00 (duzentos e quarenta reais) e, 85,1%
das crianças apresentaram domicílio composto em média por 3 pessoas pôde-
se inferir que a renda per capita não ultrapassou R$ 80,00 (oitenta reais)
(Tabela 5) mostrando a maioria das crianças deste estudo inserida entre
famílias pobres do município, o que era de se esperar, dadas às características
dos serviços de saúde do município de Viçosa que atendem a população de
baixa renda.
50
Como pode ser observado na Tabela 4, a maior parte dos homens
trabalhavam e ganhavam entre 1 e 3 salários-mínimos (69,9%). Quando se
compara ao número de mulheres que trabalhava (43) e tinha renda equivalente
(12) conclui-se que, na família, a atribuição de gerir recursos era
predominantemente masculina. Assis et al. (2000) encontraram dados
semelhantes no município de Salvador onde a chefia do domicílio ficava a
cargo dos homens (78,6%).
Quando se observou que a maior parte dos pais tinha a sua
remuneração entre 1 e 3 salários-mínimos (Tabela 4) e se comparou com as
ocupações presentes nesse estudo se supôs que, a maioria dos chefes de
família estava, possivelmente, sendo remunerado com um salário mínimo.
Tabela 4 Nível de renda materna e paterna. Viçosa-MG, 2004
Crianças
Renda Materna (SM)*
n = 36
N %
< 1 30 69,8
1 a 3 12 27,9
> 3 1 2,3
Total 43 100,0
Renda Paterna (SM)*
n = 146
< 1 38 26,0
1 a 3 102 69,9
> 3 6 4,1
Total 146 100,0
Nota:* SM equivalente a R$ 240,00 no mês de Outubro de 2003.
Desigualdades em saúde entre grupos de diferentes condições
socioeconômicas, étnicas, de gênero, idade e de território têm sido
evidenciadas internacionalmente. A saúde tende a ser pior para aqueles em
piores condições socioeconômicas, os que vivem em zona rural ou favela e
entre grupos étnicos cuja representação social é associada a estigmas, como
os negros e os índios (Drachler et al., 2003).
51
Embora o município de Viçosa esteja dentre aqueles entre 50.000 e
100.000 habitantes, a situação de renda para 22,7% da população (IPEA,
2000) permite-lhe viver de forma absolutamente precária, repercutindo
negativamente sobre a situação de saúde e nutrição das famílias.
Em conformidade com estes resultados, indicadores de renda, pobreza e
desigualdade do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2000) estimam que
22,7% das famílias do município de Viçosa vivem com renda per capita inferior
a R$ 75,50* (setenta e cinco reais e cinqüenta centavos) que confere a estas
famílias inserção entre 30 milhões de pessoas no Brasil vivendo abaixo da
linha de pobreza.
É importante ressaltar ainda que as práticas alimentares, importantes
determinantes das condições de saúde e nutrição das crianças, estão fortemente
condicionadas ao poder aquisitivo das famílias, do qual dependem a
disponibilidade, quantidade e qualidade dos alimentos consumidos (Aquino, 2002).
Taddei (2000) destaca “que as desigualdades que evidenciam a
vulnerabilidade socioeconômica são mais extensas que a conferida pelo risco
biológico de ser menor de 24 meses de idade”.
5.2.4. Composição Familiar e Moradia
A Tabela 5 apresenta a composição familiar e as condições de moradia
das crianças. A maioria das crianças (48,9%) era o primeiro filho, omero de
integrantes por domicílio variou de 1 a 17, sendo que na maioria, esta variação
foi de 1 a 5. Os dados mostram que 77,0% das crianças tinham apenas um
irmão, o que sugere ser a renda per capita em torno de R$ 80,00 (oitenta reais).
Mais da metade das crianças moravam em casa própria (55,1%),
abastecidas com água da rede pública (87,4%). Das famílias entrevistadas
12,6% ainda usavam água do poço. Menos da metade dos domicílios (47,7%)
referiu presença de rede de esgoto.
Um percentual expressivo de entrevistados (29,9%) referiu morar em
domicílios cedidos (Tabela 5). Durante a entrevista, ao se indagar sobre este
domicílio cedido, todas as mães entrevistadas referiram tratar-se de pequenos
cômodos cedidos pelos parentes, em geral, seus pais e sogros.
52
Tabela 5 Composição familiar e condições de moradia das famílias das
crianças estudadas. Viçosa-MG, 2004
Crianças
Posição da criança na
família
N %
Primeiro 85 48,9
Segundo 58 33,3
Terceiro 20 11,5
Quarto 6 3,4
Quinto 2 1,2
Outras 3 1,7
Total 174 100,0
Residentes no domicílio
1 a 5 pessoas 148 85,1
6 a 10 pessoas 22 12,6
11 e +pessoas 4 2,3
Total 174 100,0
Moradia
Própria 96 55,1
Cedida 52 29,9
Alugada 25 14,4
Invadida 1 0,6
Total 174 100,0
Número de filhos
1
a 2 134 77,0
3 a 4 35 20,1
5 a 7 4 2,3
> 7 1 0,6
Total 174 100,0
Rede de esgoto
Sim 83 47,7
Não 91 52,3
Total 174 100,0
Água
Rede pública 152 87,4
Poço 22 12,6
Total 174 100,0
53
5.3. Assistência à Saúde
5.3.1. Morbidade Referida
Os pré-escolares constituem o grupo de idade entre 1 e 6 anos.
Crianças menores de 5 anos e, particularmente as menores de 2 anos,
constituem o grupo-alvo onde se concentram as metas de prevenção e
promoção da saúde, visando seu crescimento e desenvolvimento saudáveis.
Estas metas estão inseridas nas ações básicas de saúde preconizadas pela
Organização Mundial da Saúde, órgão das Nações Unidas responsável pela
saúde dos povos do mundo, e, adotadas pelo Ministério da Saúde do Brasil
(MS, 2002).
As chamadas enfermidades comuns na infância de maior relevância no
Brasil são as diarréias e as infecções. Quando estas enfermidades encontram-
se associadas ao consumo alimentar e a condições de higiene e saúde
inadequadas são responsáveis, em grande parte, pelas altas taxas de
morbimortalidade observadas nos países em desenvolvimento (UNICEF,
1998).
Com relação aos dados de morbidade no Brasil, 22% das internações
hospitalares realizadas em 1995 no sistema público de saúde eram de crianças
menores de 1 ano de idade, tendo como causas principais a pneumonia (30%),
a diarréia (25%) e afecções perinatais (13%) (OPAS/OMS, 1998).
A Tabela 6 apresenta as morbidades das crianças referidas pelas mães
ou responsáveis nos últimos 15 dias que antecederam o estudo.
As morbidades referidas foram agrupadas em: Gastroenterites
(diarréias), IRAs Infecções Respiratórias Agudas (infecções da garganta,
pneumonia, gripe e bronquite) e Outras (infecções cutâneas, dos olhos e ouvido).
Considerou-se também febre e vômitos como sintomas de quadro de infecção.
Das crianças pesquisadas, 54,6% apresentaram algum tipo de
morbidade na quinzena que antecedeu a pesquisa e, dentre essas, as
Infecções Respiratórias Agudas foi o grupo de enfermidades mais referendado
pelas mães (73,7%) (Tabela 6). Dentre as IRAs, a gripe foi a que apresentou
maior ocorrência, acometendo 63% das crianças de ambos os sexos.
54
Tabela 6 Morbidades referidas pelas mães ou responsáveis das crianças nos
últimos 15 dias que antecederam a pesquisa, de acordo com o sexo
e a faixa etária. Viçosa-MG, 2004
Freqüência
Masculino Feminino Total
12 a 23
meses
24 a 35
meses
12 a 23
meses
24 a 35
meses
Morbidades
n % n % n % n %
N %
Sim 35 36,8 23 24,2 23 24,2 14 14,8 95 54,6
Não 28 35,4 10 12,7 25 31,6 16 20,3 79 45,4
Distribuição das morbidades referidas
Gastroenterites 2 5,7 2 8,7 2 8,7 - - 6 6,3
Infecções
Respiratórias
Agudas - IRAs
27
77,2
17
73,9
15
65,2
11
78,6
70
73,7
Outras 6 17,1 4 17,4 6 26,1 3 21,4 19 20,0
Total
35 100,0 23 100,0 23 100,0 14 100,0 95 100,0
* Dados classificados de acordo com a CID10/MS.
Estudo de meta-análise de artigos disponíveis no Medline sobre
desnutrição infantil, causas especificas de mortalidade infantil (infecções
respiratórias agudas, diarréia, malária, sarampo ou estas situações
combinadas) e avaliação nutricional, mostrou que a má nutrição está
fortemente associada a um risco aumentado de mortalidade por IRAs e
pneumonia (Rice et al., 2000).
No presente estudo, provavelmente as condições climáticas do
município dão consistência aos resultados encontrados, pois uma das
principais características do município de Viçosa é a elevada umidade, que cria
um ambiente propício ao desenvolvimento de fungos no interior dos domicílios,
favorecendo o desenvolvimento de quadros alérgicos e gripes.
Durante o período de coleta dos dados a maioria das crianças
apresentava algum tipo de IRA Infecção Respiratória Aguda, especialmente
durante o verão do corrente ano que se caracterizou por mudanças abruptas
no clima.
55
5.3.2. Peso ao Nascer
O Gráfico 1 mostra o peso ao nascer das crianças pesquisadas. Embora
a maior parte das crianças estudadas (58,0%) tenha apresentado peso normal
ao nascimento, 42% apresentaram baixo peso e peso insuficiente ao nascer. O
baixo peso ao nascer acometeu 14,4% das crianças, mostrando-se mais
elevado que o encontrado no município (9,0%) (SISVAN, 2003). Estes dados
sugerem que, possivelmente a cobertura do pré-natal ainda não atinge todas
as gestantes.
14,4
27,6
58,0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
%
Crianças
2500
2500-2999
3000
Baixo Peso è <2500
a
Peso Insuficiente è 2500- 2999
b
Normal è 3000
c
Gráfico 1 Peso ao nascer das crianças. Viçosa-MG, 2004.
O baixo peso ao nascer pode ser influenciado por fumo, álcool e outras
drogas, hipertensão arterial, doenças infecciosas crônicas, intervalo interpartal
inferior a 2 anos, elevada paridade, idade materna inferior a 19 anos e superior
a 35 anos, dentre outros fatores (MS, 2002). Entretanto, os antecedentes
pessoais e a história clínica das mães não foram o objeto deste estudo.
Importante citar que muitos destes fatores têm causas socioeconômicas
e podem ser prevenidos com boa cobertura dos serviços de saúde e controle
pré-natal.
56
Além disto, o baixo peso (<2500) pode ser decorrente de prematuridade
e/ou déficit de crescimento intra-uterino. O peso ao nascer é um excelente
indicador do estado de saúde de uma população sendo considerado pela OMS
o mais importante determinante isolado das chances de sobrevivência das
crianças e do seu estado nutricional nos primeiros anos de vida (Guia
Alimentar, 2002; MS, 2002).
Os resultados deste estudo com relação ao estado nutricional das
crianças sugerem que o baixo peso ao nascer pode ter sido causa
predisponente à desnutrição pré ou pós-natal. Sabe-se que o estado nutricional
das mães durante a gravidez pode causar déficit no crescimento intra-uterino e
determinar a prematuridade. Após o nascimento, concorrem para a
desnutrição: a falta de aleitamento materno ou retardo da introdução de
alimentos complementares adequada e falta de conhecimento das mães sobre
saúde e nutrição da criança (Monte, 2000; MS, 2002).
5.3.3. Assistência pelo Programa Bolsa Alimentação
Com relação aos benefícios provenientes do PBA - Programa Bolsa
Alimentação, programa de incentivo do governo federal que repassa recursos
financeiros para as crianças, o Gráfico 2 mostra a freqüência de crianças
beneficiadas. Dentre as crianças estudadas 28,2% participavam do Programa
Bolsa Alimentação.
28%
72%
Sim Não
Gráfico 2 Freqüência de crianças beneficiadas pelo Programa Bolsa Alimentação.
Viçosa-MG, 2004.
57
No presente estudo, observou-se uma baixa cobertura do PBA -
Programa Bolsa Alimentação entre as crianças pesquisadas, visto que, com
relação à renda paterna, 26,0% das crianças pertenciam a famílias de renda
inferior a 1 salário mínimo.
Um dos trunfos desse programa é a manutenção do vínculo entre a
criança e sua família às ações básicas para prevenção e controle de doenças,
especialmente as imunopreveníveis e as deficiências nutricionais, monitora-
mento do crescimento e desenvolvimento e, enfim, promoção da saúde,
repercutindo positivamente sobre a saúde da criança e do seu núcleo familiar.
Com relação ao monitoramento do crescimento, dentre as crianças
assistidas pelo PBA (28,2%), mais de 70% apresentaram o estado nutricional,
avaliado pelo índice P/I, seguindo o caminho da saúde.
5.4. Estado Nutricional
O estado nutricional de uma população, em especial das crianças, é um
excelente indicador de sua saúde e qualidade de vida, espelhando o modelo de
desenvolvimento de uma determinada sociedade.
Considerando a análise dos índices antropométricos de P/I, P/E e E/I,
expressos por score z, o estado nutricional das crianças pode ser visualizado
nos Gráficos 3 e 4, respectivamente.
1,7
7,5
50,0
28,7
13,2
0,6
5,7
57,5
13,8
21,3
0
10
20
30
40
50
60
70
Desnutrição Risco
Nutricional
Eutrofia Risco de
Sobrepeso
Sobrepeso
%
Peso/ Idade Peso/Estatura
Gráfico 3 Estado nutricional das crianças, de acordo com os índices
peso/idade e peso/estatura. Viçosa-MG, 2004.
58
4
20,1
75,9
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Desnutrição Risco Nutricional Eutrofia
%
Gráfico 4 Estado nutricional das crianças, de acordo com o índice estatura/
idade. Viçosa-MG, 2004.
Para Ashworth & Millward (1986), embora o potencial de crescimento do
indivíduo seja determinado geneticamente, cada indivíduo irá desenvolver uma
curva de crescimento pré-determinada se as condições de saúde e nutrição lhe
forem favoráveis.
A antropometria é uma técnica largamente usada para avaliar o estado
nutricional de indivíduos e de grupos populacionais, pela praticidade na
aplicação, efetividade e baixo custo e, as medidas de prevalências de déficits
são utilizadas para caracterizar o estado nutricional de grupos populacionais
(Victora et al., 1998; Monteiro & Conde, 2000; Monte, 2000; Rice et al., 2000).
Os indicadores antropométricos Peso/Idade (P/I), Peso/Estatura (P/E) e
Estatura/Idade (E/I) foram adotados para o diagnóstico do estado nutricional
das crianças envolvidas neste estudo, uma vez que refletem diferentes
processos biológicos e fisiológicos.
Os resultados revelaram, para todos os índices, que metade ou mais das
crianças estavam eutrófilas (50,0% para P/I, 57,5% para P/E e 75,9% para E/I).
Assis et al. (2000) evidenciam que o padrão de distribuição dos déficits
de P/I e E/I, tradicionalmente observados até recentemente no Brasil, é
caracterizado por exibir altas taxas de inadequação de altura em relação à
idade, seguidas por taxas menores de inadequação de peso com relação à
idade.
59
Com relação à desnutrição, as prevalências encontradas, analisadas
para todos os índices antropométricos foram 13,2% para o índice P/I, 13,8%
para o índice P/E e 4,0% para o índice E/I, revelando que estes déficits ainda
representam um problema importante entre as crianças de 12 a 35 meses de
idade do município de Viçosa.
A prevalência de crianças em risco nutricional foi elevada para todos os
índices analisados, sendo 28,7% para P/I, 21,3% para P/E e 20,1% para E/I.
Com relação a risco de sobrepeso foram encontradas prevalências de
7,5% pelo índice P/I e 5,7% pelo índice P/E.
Estes resultados evidenciam a preocupação mundial de que excesso de
peso é um problema de saúde na infância e pode persistir pela vida adulta,
fase na qual a morbidade e a mortalidade irão se manifestar com maior
intensidade.
As prevalências de sobrepeso pelo índice P/I foi 0,6% e para P/E foi
1,7%, foram inferiores ao esperado para uma população saudável (2,3%)
(CDC, 2000).
Para Monteiro e colaboradores (2000) estas prevalências apontam que a
transição nutricional está ocorrendo no Brasil. Entretanto, apesar do
aparecimento do sobrepeso e da obesidade, ainda existem áreas onde a
desnutrição persiste como principal problema.
5.4.1. Peso/Idade
Com relação ao indicador P/I observa-se que a variação de peso com
relação à idade da criança é muito mais sensível do que a estatura e reflete
muito mais rapidamente qualquer deterioração ou melhora no estado de saúde,
mesmo em processos agudos.
O Gráfico 5 mostra as prevalências de desnutrição por faixa etária
avaliadas pelo índice P/I, sendo 10,8% na faixa etária de 12 a 23 meses de
idade e 17,5% entre as de 24 a 35 meses de idade.
60
10,8
17,5
28,8
28,6
50,5
49,2
9,0
4,8
0,9
0,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
%
Desnutrição Eutrofia Sobrepeso
12 - 23 meses 24 - 35 meses
Gráfico 5 Estado nutricional das crianças, de acordo com o índice de peso/
idade, por faixa etária. Viçosa-MG, 2004.
Com relação à prevalência de desnutrição, os resultados do presente
estudo são bem inferiores aos encontrados por Lima (2002) ao avaliar a
evolução do estado nutricional de crianças menores de 5 anos após
implantação do SISVAN Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional no
município de Viçosa (MG), quando encontrou para o ano de 2001, prevalências
de 31% entre crianças de 12 a 23 meses de idade e 22,1% entre as de 24 a 35
meses de idade.
Os resultados obtidos no presente estudo sugerem que, dentre outras
ações de saúde, provavelmente o monitoramento do estado nutricional por
meio da vigilância alimentar e nutricional tenha contribuído positivamente para
a redução da prevalência de desnutrição.
Entretanto, ao se comparar os resultados obtidos às prevalências de
desnutrição encontradas no Brasil pela PNSN (1989) para a região Sudeste
(6,7%), pela PNDS (1996) na última avaliação nutricional das crianças em nível
nacional que apontou para uma prevalência de 5,7% de desnutrição pelo índice
peso/idade e por Assis et al. (2000) que encontraram por este índice,
prevalência de 6,4% de desnutrição entre crianças de 12 a 24 meses de idade
e 4,7% entre as de 24 a 36 meses no município de Salvador, se observa que a
prevalência encontrada no presente estudo foi elevada.
12 24 meses 24 36 meses
61
Ainda com relação ao Gráfico 5, Miranda et al. (2003), estudando a
anemia ferropriva e o estado nutricional de crianças de 12 a 60 meses do
município de Viçosa (MG), encontraram prevalência de desnutrição de 13,5%
entre as crianças de 12 a 23 meses e 7,0% entre as de 24 a 35 meses de idade.
Além do estudo de Lima (2002), vários estudos têm mostrado que as
crianças mais comprometidas pela desnutrição estão na faixa etária de 6 a 24
meses de idade, coincidindo com o período que abrange o desmame,
introdução dos alimentos complementares e a consolidação de uma
alimentação variada (PNDS, 1996; Victora et al.,1998; Monteiro, 2000; Taddei,
2000; Guia Alimentar, 2002; Silva et al., 2002; Miranda et al., 2003).
Contrariando esta tendência, no presente estudo, a prevalência de
desnutrição pelo índice P/I aumentou com a idade, sendo as crianças mais
acometidas pela desnutrição aquelas na faixa etária de 24 a 35 meses de idade
(17,5%), sugerindo que, à medida que aumenta a idade da criança, seu estado
nutricional piora.
Este resultado, aliado à prevalência de crianças que se encontravam em
risco nutricional, sugere que o déficit ponderal ainda representa um problema
importante quando se focaliza populações vivendo em situações
socioeconômicas desfavoráveis semelhantes às crianças deste estudo. Além
disso, é provável que os resultados tanto podem estar apontando para o
passado nutricional das crianças como para perda de peso atual, resultante
das condições de saúde das crianças, a exemplo das morbidades subjacentes.
Mas, provavelmente, podem estar refletindo deficiência conjunta de peso e de
altura.
A prevalência de desnutrição encontrada neste estudo é considerada
pela Organização Mundial da Saúde (1997a) como sendo de baixa magnitude
(10 a 19,9%), mas encontra-se ainda mais elevada que a média encontrada
(10,7%) em estudos brasileiros (Victora et al., 1998), pela PNSN (6,7%) em
1989 e pela PNDS (5,7%) em 1996.
Com relação ao risco nutricional encontrou-se, para ambas as faixas
etárias, 28,7% de risco nutricional para o índice de P/I.
No presente estudo, quando somadas as prevalências de desnutrição e
risco nutricional para o índice P/I (41,9%) se observou um percentual elevado
de agravo nutricional entre as crianças estudadas.
62
No risco de sobrepeso encontrou-se para o índice P/I prevalência de
9,0% para as crianças de 12 a 23 meses de idade e 4,8% para as de 24 a 35
meses de idade. Dados de Lima (2002) mostraram prevalência de 11,1% de
risco de sobrepeso entre as crianças menores de 5 anos do município de
Viçosa (MG).
É importante o constante monitoramento do estado nutricional das
crianças menores de 5 anos para acompanhar o crescimento e o estado de
saúde e nutrição da criança e, neste sentido, o índice de P/I funciona como um
instrumento clínico-nutricional útil para avaliação contínua do progresso
nutricional, pois incide sobre modificações estruturais causadas por distúrbios
nutricionais que afetam lactentes e pré-escolares, repercutindo no crescimento.
5.4.2. Peso/Estatura
O índice P/E é utilizado para detectar deficiências recentes de peso
(desnutrição aguda) e é também o índice recomendado pela Organização
Mundial da Saúde (OMS, 1997) para avaliar sobrepeso.
O Gráfico 6 mostra o estado nutricional das crianças segundo o índice
P/E por faixa etária. Encontrou-se prevalências de 8,1% de desnutrição na
faixa etária de 12 a 23 meses de idade e 23,8% na faixa etária de 24 a 35
meses de idade.
Com relação ao risco nutricional encontrou-se prevalências de 23,4% na
faixa etária de 12 a 23 meses de idade e 17,4% na faixa etária de maior idade.
Verificou-se uma prevalência de 13,8% de déficit ponderal com relação à
estatura entre as crianças pesquisadas (Gráfico 3). Comparando-se este
resultado a três estudos de base populacional infantil de crianças menores de 5
anos de idade (Victora et al., 1998; Post et al., 1999; Assis et al., 2000) que
encontraram prevalências de desnutrição pelo índice peso/estatura de 2,6%
(média de estudos nacionais), 3,5% e 1,4% respectivamente, verificou-se no
presente estudo, prevalência superior.
Embora Lima (2002) tenha encontrado 1,3% de prevalência de
desnutrição pelo índice P/E no município de Viçosa (MG), esta prevalência se
refere ao conjunto de crianças menores de 5 anos.
63
8,1
23,8
23,4
17,5
58,6
55,6
7,2
3,2
2,7
0,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
%
Desnutrição Risco
Nutricional
Eutrofia Risco de
Sobrepeso
Sobrepeso
12 24 meses 24 36 meses
Gráfico 6 Estado nutricional das crianças, de acordo com o índice peso/
estatura, por faixa etária. Viçosa-MG, 2004.
As elevadas prevalências de desnutrição e risco nutricional encontradas
para o índice P/E (Gráfico 3) parecem reforçar a maior susceptibilidade das
crianças deste estudo (Tabela 6) de desenvolverem repetidos quadros de
infecções respiratórias agudas (IRAs), exacerbadas pelas adversas condições
climáticas do município, particularmente entre àquelas da faixa etária de 24 a
35 meses de idade, onde a prevalência de desnutrição se mostrou maior.
Com relação ao risco de sobrepeso avaliado pelo índice P/E (Gráfico 3)
encontrou-se, para o conjunto das crianças estudadas, prevalência de 5,7%.
Esta prevalência ultrapassa a encontrada no Brasil pela PNDS (1996) (4,9%),
indicando risco moderado de ocorrência de obesidade na população estudada.
A prevalência de sobrepeso (2,7%) encontrada na faixa etária de 12 a 23
meses de idade pelo índice P/E (Gráfico 6) foi superior a encontrada pela
PNDS (1996) (2,3%), bem como ao percentual esperado pela distribuição de
referencia (CDC, 2000). Entretanto, para o conjunto das crianças estudadas
(Gráfico 3) a prevalência de sobrepeso pelo índice de P/E (1,7%) foi inferior ao
encontrado nestas pesquisas.
Na avaliação de Lima (2002), no ano 2001, no município de Viçosa
(MG), a prevalência para sobrepeso era de 4,2% para as crianças menores de
5 anos, superior a encontrada neste estudo.
12 24 meses 24 36 meses
64
As conseqüências das crianças se tornarem e permanecerem
desnutridas envolvem aumento de risco de morbidade e mortalidade, atraso no
desenvolvimento psicomotor e mental, diminuição da capacidade de aprendizagem,
além da má-nutrição potencializar os estados infecciosos (Frongillo, 1999).
O pico de prevalência do emagrecimento ocorre no segundo ano de
vida, coincidindo com a introdução de alimentos complementares e uma alta
incidência de infecções (Dwyer, 1999).
5.4.3. Estatura/Idade
O índice de E/I é muito usado para acompanhar o crescimento linear da
criança e identifica as deficiências de estatura. Este índice pode ser
relacionado com o P/E tornando-se um índice interessante para avaliar
desnutrição aguda e sobrepeso (MS, 2002).
O Gráfico 7 apresenta o estado nutricional das crianças por faixa etária
segundo o índice E/I. Neste estudo, as prevalências de desnutrição avaliadas
pelo índice E/I para as crianças da faixa etária de 12 a 23 meses de idade foi
4,5% e de 24 a 35 meses de idade foi 3,2% mostrando-se inferiores à prevalência
de déficit estatural média encontrada no país (10,5%) por meio da PNDS (1996).
Comparando-se os resultados do presente estudo aos encontrados por
Lima (2002) no município de Viçosa (MG) no ano 2001 (27,6% dentre as
crianças de 12 a 23 meses de idade e 8,6% naquelas de 24 a 35 meses de
idade), observou-se, no presente estudo, um declínio da desnutrição.
Ainda no Gráfico 7 encontrou-se uma prevalência elevada de crianças
em risco nutricional, sobretudo na faixa etária de 24 a 35 meses de idade
(22,2%) indicando que, historicamente, estas crianças não vêm obtendo os
meios necessários para promoção adequada do seu crescimento.
O déficit estatural indica que a criança tem o crescimento comprometido
em um processo de longa duração, um processo lento, gradual e cumulativo de
crescimento deficiente. Ocorre geralmente antes dos três anos de idade e não
é facilmente revertido. Durante a fase de lactente e nos primeiros anos de vida,
a altura com relação à idade é o indicador mais sensível para detectar nanismo
nutricional. Se a intervenção ocorre precocemente, a ocorrência de desnutrição
crônica pode ser prevenida nestas fases da vida (Romani & Lira, 2004).
65
4,5 3,2
18,9 22,2
76,5
74,6
0
10
20
30
40
50
60
70
80
%
Desnutrição Risco nutricional Eutrofia
12 24 24 36
Figura 7 Estado nutricional das crianças, de acordo com o índice estatura/
idade, por faixa etária. Viçosa-MG, 2004.
Estudando a saúde e o estado nutricional de crianças de 0 a 59 meses
de idade residentes em Campo Grande (MS), Ribas et al. (1999) encontraram
déficits de estatura/idade de 6,3% numa amostra representativa da população.
A Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN, 1989) revelou que
31% das crianças brasileiras menores de cinco anos apresentavam alguma
forma de desnutrição e que o déficit mais freqüente estava na relação
estatura/idade, indicando predomínio de desnutrição crônica (INAN/MS, 1990).
Os relatórios anuais da OMS Organização Mundial da Saúde (WHO
Report) elegem o índice de estatura/idade como um dos mais importantes
índices para medir o bom desempenho de saúde e nutrição das crianças ao
redor do mundo (Frangillo, 1999).
Soares & Parente (2001), ao caracterizarem a prevalência de
desnutrição e os resultados de reabilitação nutricional em 163 crianças de 12 a
35 meses de idade, assistidas por programa de suplementação alimentar no
município de Fortaleza (CE), encontraram prevalência de desnutrição de 30%
para o índice de E/I, bastante superior ao encontrado no presente estudo.
12 24 meses 24 36 meses
66
Em muitos países a situação nutricional das crianças é muito grave,
comprometendo todo o desenvolvimento da nação. Estudo retrospectivo
realizado em Nairobi (Kenya) encontrou, entre as crianças de 12 a 23 meses
de idade, 71% de prevalência de desnutrição crônica (moderada e grave)
analisada pelo índice estatura/idade e comparada as novas curvas de
crescimento do CDC, 2000 (Hacker & Ryan, 2003).
Segundo Victora (1992) os determinantes de ganho de peso e do
crescimento linear possuem alguns componentes distintos. O déficit de estatura
está associado de forma predominante às condições socioeconômicas, como
trabalho e escolaridade dos pais e, possivelmente à deficiência crônica de
micronutrientes; de outro modo, o déficit de peso reflete, em maior grau, as
condições vividas no momento, como por exemplo, a ocorrência de doenças.
O estado nutricional é o retrato do indivíduo e da população, da forma de
estruturação do modelo de desenvolvimento de uma sociedade. Deve-se
reconhecer que as formas de enfrentamento destas questões passam por
mudanças estruturais profundas nessa sociedade.
A desnutrição, apesar da redução mundial da sua prevalência, continua
a ser o problema de saúde pública mais importante dos países em
desenvolvimento. Com base nos trabalhos de Pelletier et al. (1993) e Murray &
Lopes (1996) a Organização Mundial da Saúde estima que a desnutrição tenha
sido um dos fatores responsáveis por mais de 50% de todas as mortes infantis
ocorridas nos países em desenvolvimento no ano de 1995.
O desafio que se impõe atualmente é reduzir estas prevalências de
desnutrição no município buscando, não somente a aplicação do conhecimento
científico disponível, mas, sobretudo, estratégias para melhoria da renda familiar.
Algumas sugestões, baseadas em experiências bem sucedidas, serão
apontadas nas contribuições que este trabalho propõe, como retorno aos
serviços de saúde públicos do município e as crianças e famílias envolvidas.
5.5. Características do Consumo Alimentar
A despeito do padrão alimentar da população brasileira, principalmente
da população infantil, os estudos ainda são escassos no Brasil. Em nível
nacional um dos mais importantes levantamentos foi o ENDEF Estudo
67
Nacional de Despesa Familiar realizado nas décadas de 70 e 80 que permitiu
caracterizar os padrões de alimentação da população urbana do Brasil
(Monteiro et al., 2000; Aquino & Philippi, 2002).
Dados sobre consumo alimentar são coletados com diversos propósitos
e os mais relevantes são estimar a ingestão dietética de grupos populacionais,
investigar a relação entre a dieta, saúde e estado nutricional e avaliar
programas de intervenção nutricional (Majem, 1995; Margetts & Nelson, 1997;
Bonomo, 2000; Fisberg et al., 2000; Villar, 2001; Nowak et al., 2003).
Segundo Monteiro et al. (2000) a investigação direta do consumo
alimentar a partir da aplicação de inquéritos dietéticos é a forma ideal para se
caracterizar os padrões dietéticos vigentes em uma dada população e a sua
evolução ao longo do tempo. Entretanto, a grande variabilidade que
usualmente caracteriza o consumo alimentar dos indivíduos exige o estudo de
grandes amostras populacionais por períodos relativamente longos, condição
que encarece os inquéritos dietéticos e os tornam pouco factíveis.
Para Willett (2000) a escolha do método dietético deve fundamentar-se
nos objetivos da pesquisa ou no tipo de estudo, além de considerar os recursos
disponíveis. Ademais, a escolha dos instrumentos de avaliação do consumo
devem conferir validade e reprodutibilidade, além de caracterizarem fielmente a
dieta do indivíduo.
O consumo de energia, macro e micronutrientes está claramente associado
a um padrão geográfico de morbimortalidade que explica algumas características
da transição nutricional e epidemiológica. Em outra via, informações sobre o
consumo de micronutrientes sugerem importantes riscos de deficiência em crianças.
5.5.1. Consumo Habitual de Energia e Nutrientes
Na Tabela 7 encontram-se as análises descritivas de consumo habitual
de energia, micro e macronutrientes, estimadas pela média do recordatório 24
horas e do QFCA.
Ao se comparar às ingestões médias de energia e nutrientes entre as
crianças do sexo masculino com as do sexo feminino, verificou-se que houve
diferenças estatisticamente significantes e maiores entre os meninos, com
p<0,05, com exceções para o consumo de vitamina C e de fibras.
68
Tabela 7 Consumo habitual de energia, macro e micronutrientes estimado
pela média de dois inquéritos dietéticos em crianças, segundo sexo.
Viçosa - MG, 2004
Nutrientes Sexo n Média
±± DP
Mediana Mínimo Máximo Estatística
Energia (Kcal) Masculino 96 1058,04 326,50 978,50 482,00 1796,00
Feminino 78 955,00 314,72 943,00 340,00 1710,00
Total 174 1009,10 324,06 961,00 340,00 1796,00
p<0,0001*
Carboidrato(g) Masculino 96 151,22 50,60 144,00 62,00 291,00
Feminino 78 132,17 41,31 127,00 39,00 224,00
Total 174 142,69 47,50 133,50 39,00 291,00
p<0,0001*
Proteína (g) Masculino 96 34,03 13,38 34,50 6,00 65,00
Feminino 78 32,98 17,00 31,00 0,00 98,00
Total 174 33,60 15,07 32,50 0,00 98,00
p<0,0001*
Lipídio (g) Masculino 96 36,44 14,66 37,00 0,00 97,00
Feminino 78 33,77 12,70 33,00 4,00 71,00
Total 174 35,24 13,83 35,00 0,00 97,00
p<0,0001*
Vit A (µµgER)
Masculino 96 459,36 497,91 313,00
0,00 2987,00
Feminino 78 319,21 311,81 236,50 0,00 1511,00
Total 174 396,54 429,30 280,50 0,00 2987,00
p<0,0001*
Vit C (mg) Masculino 96 2,72 17,00 0,00 0,00 163,00 p=0,116
Feminino 78 1,92 10,04 0,00 0,00 81,00 p=0,090
Total 174 2,36 14,27 0,00 0,00 163,00 p=0,028
Ferro (mg) Masculino 96 5,94 2,66 6,00 2,00 14,00
Feminino 78 4,91 2,47 4,00 0,00 14,00
Total 174 5,47 2,62 5,00 0,00 14,00
p<0,0001*
Cálcio (mg) Masculino 96 639,37 309,50 625,50 102,00 1327,00
Feminino 78 611,43 329,41 582,00 19,00 1388,00
Total 174 625,19 317,89 604,50 19,00 1388,00
p<0,0001*
Fibra (g) Masculino 96 0,78 4,44 0,00 0,00 35,00 p=0,084
Feminino 78 0,65 4,00 0,00 0,00 33,00 p=0,150
Total 174 0,72 4,24 0,00 0,00 35,00 p= 0,024
*Teste t Student p<0,05.
69
O consumo médio de fibras pelas crianças desse estudo está exposto na
Tabela 7. Os resultados relativos ao consumo de fibras não foram consistentes
e isto pode ser explicado dada às limitações impostas pelas tabelas de
composição de alimentos com relação a este nutriente.
5.5.2. Contribuição Percentual dos Macronutrientes em Relação a
Ingestão de Energia
A Tabela 8 apresenta a composição de macronutrientes da dieta em
termos de contribuição percentual dos macronutrientes com relação ao total da
ingestão de energia (DRIs/AMDR, 2002).
Tabela 8 Percentual de macronutrientes das crianças com relação à ingestão
habitual de energia, por faixa etária. Viçosa-MG, 2004
Ingestão usual como percentual de ingestão de energia
Grupos de Idade
(meses)
Lipídio
30 40%*
Carboidrato
45 65%*
Proteína
5 20%*
< 30
45,0%
< 45
2,7%
< 5
3,6%
30 40
42,3%
45 65
80,2%
5 - 20
96,4%
12  24
n = 111
> 40
12,6%
> 65
17,1%
> 20
0,0
< 30
36,5%
< 45
1,6%
< 5
0,0
30 40
47,6%
45 65
87,3%
5 - 20
96,8%
24  36
n = 63
> 40
15,7%
> 65
11,1%
> 20
3,2%
Media Total
31,6% 57,0% 13,0%
* DRIs/AMDR (2002).
As ingestões de lipídios, carboidratos e proteínas foram calculadas
considerando o percentual de energia fornecido por cada um desses
macronutrientes.
No presente estudo, embora a proporção de crianças com ingestão de
energia proveniente dos lipídios abaixo dos valores recomendados tenha sido
maior entre aquelas da faixa etária de 12 a 23 meses (45,0%), se observou,
para as duas faixas etárias, uma elevada proporção de crianças abaixo do
70
limite mínimo recomendado, 45% e 36,5% respectivamente.
Estes dados são importantes, particularmente com respeito as faixas
etárias estudadas e evidenciam comprometimento no aporte de ácidos graxos
essenciais destas crianças. Os ácidos graxos, nos primeiros 18 meses de
idade e, posteriormente até os 3 anos de vida, desempenham papel
fundamental na promoção do desenvolvimento físico e mental das crianças.
Encontrou-se uma proporção de 47,6% de crianças de 24 a 35 meses de
idade com ingestão energética proveniente de lipídios dentro da faixa recomendada.
Ainda com relação à energia proveniente dos lipídios se encontrou uma
proporção relativamente elevada de crianças, em ambas as faixas etárias,
consumindo acima do limite máximo permitido para lipídios pela AMDR, sendo
12,6 e 15,7% respectivamente. Estes resultados provavelmente possam estar
refletindo uma introdução precoce e inadequada de alimentos da família.
Em ambas as faixas etárias se observou uma acentuada tendência de
inadequação de energia proveniente dos lipídios visto que, cerca de 81,5% das
crianças estudadas não alcançaram o limite mínimo da recomendação para
este macronutriente, que é 30% (Tabela 13).
Para carboidratos, uma grande proporção de crianças, em ambas as
faixas etárias, 80,2 e 87,3%, permaneceu dentro da faixa recomendada.
Considerando o limite máximo de energia proveniente de carboidratos
(65%) se verificou, crianças em ambas as faixas etárias, 17,1 e 11,1%
respectivamente, ultrapassando este limite. Embora esta diferença não seja
significante do ponto de vista estatístico, biologicamente é significativa, pois
reflete o não prolongamento do aleitamento materno até o final do segundo ano
de vida com precoce e inadequada introdução de alimentos da família.
A alimentação complementar de menores de dois anos em países em
desenvolvimento tem, freqüentemente, focalizado os aspectos de adequação
nutricional (Guia Alimentar, 2002).
Embora se saiba que as crianças no segundo e terceiro anos de vida
apresentam maior estabilidade no crescimento devido à diminuição da
velocidade de ganho de peso e estatura, o que condiciona perda de apetite, as
demandas de energia e proteína diminuem com relação ao primeiro ano de
vida. Assim mesmo, a alimentação deve ser capaz de suprir as necessidades
de macronutrientes de maneira equilibrada (Philippi et al., 2003).
71
Para Monte (2000) diversos fatores concorrem para a instalação de
carências nutricionais, impedindo que a criança alcance seu potencial de
crescimento e desenvolvimento, mas, em geral, os principais são desmame e a
introdução da alimentação complementar precoces, que coincidem com o início
do déficit de crescimento.
O prolongamento do aleitamento materno até o final do segundo ano de
vida foi estabelecido pela Organização das Nações Unidas no Encontro
Mundial de Cúpula pela Criança (UNICEF, 1998) e preconizada pela
Organização Mundial da Saúde como meio eficaz de promover o crescimento e
desenvolvimento saudável das crianças e prevenir morbimortalidade. Esta
estratégia é adotada pelo Ministério da Saúde do Brasil.
Neste estudo encontrou-se um elevado percentual de crianças de 12 a
23 meses de idade consumindo alimentos energéticos tais como pão (80,2%),
óleo (93,7%), angu (99,1%) e arroz (99,1%) como observado no Gráfico 10.
Assis et al. (2000) estudando o perfil de consumo alimentar das crianças
menores de 5 anos do município de Salvador encontraram, dentre as crianças
maiores de 24 meses de idade, uma acentuada tendência de inadequação de
energia proveniente dos macronutrientes, variando de 42% entre as crianças
de 24 a 36 meses de idade a 20,9% para aquelas de 48 a 60 meses de idade.
Com relação ao consumo de energia proveniente da ingestão de
proteínas, a maior parte das crianças de ambas faixas etárias (96,4 e 96,8%)
encontrava-se nos limites recomendados da AMDR (5 20%) embora 3,6% de
crianças de 12 a 23 meses ficaram abaixo do limite mínimo recomendado.
Segundo Nóbrega, em termos mundiais, nas áreas onde prevalece a
desnutrição não há propriamente problemas inerentes à composição protéica
das dietas e sim, uma deficiência absoluta, quantitativa, naquilo que representa
a dieta básica da população (Nóbrega, 1981).
5.5.3. Necessidade Estimada de Energia EER
A Tabela 9 mostra a média, o desvio-padrão e a mediana de ingestão
proveniente da ingestão de energia, estimada a partir do cálculo da EER
Necessidade Estimada de Energia para os sexos masculino e feminino, uma
72
vez que este cálculo considera estas diferenças e, ainda, considerando as duas
faixas etárias estudadas. Os cálculos obtidos foram comparados com a EER
recomendada (IOM, 2002).
Tabela 9 Necessidade Estimada de Energia e ingestão habitual de energia
dos alimentos em crianças de 12 a 35 meses de idade, segundo
sexo e faixa etária. Viçosa - MG, 2004
Ingestão Habitual Média de Energia (kcal)
Faixa Etária
(meses)
N
EER
calculado
MédiaDP) Mediana Adequação Estatística
Masculino
12  24
63 886,89 1006,27 ±315,29 952,00
13,5% EER
24  36
33 1050,92 1142,33 ±333,68 1157,00
8,7% EER
p<0,0001*
Feminino
12  24
48 864,50 925,69 ±327,83 844,00
7,0% EER
24  36
30 968,60 1001,93 ±291,76 966,00
3,4% EER
p<0,0001*
*Teste t Student p < 0,05.
Importante observação com relação a este estudo é que a média de
ingestão de energia das crianças pesquisadas demonstrou ter excedido as
necessidades calculadas utilizando as equações do IOM (2002) sendo
estatisticamente significante entre os sexos, de acordo com as faixas etárias
(p<0,05).
Possivelmente a diferença entre a EER estimada e a média de ingestão
habitual de energia possa estar associada aos métodos utilizados para coletar
os dados de consumo alimentar (R 24 horas e QFCA) e aos erros inerentes à
entrevista. Apesar dos cuidados que se cercaram o entrevistador, utilizando-se
de recursos para minimizar as fontes de erros, é possível que os entrevistados
tenham superestimado a ingestão no relato de entrevista (Devaney et al., 2004).
Com relação ao método recordatório 24 horas utilizado para estimar o
consumo alimentar atual do grupo, há uma tendência de subestimar em
crianças a ingestão, porque se torna difícil para as mães e/ou responsáveis
quantificar com precisão o que a criança consome.
73
Para as crianças de 12 a 23 meses de idade do sexo masculino, a média
de ingestão habitual de energia ultrapassou 13% a EER recomendada
enquanto que para as crianças de 24 a 35 meses este percentual apresentou
um declínio, embora permanecendo 8,7% acima da EER recomendada.
Para o sexo feminino, crianças na faixa etária de 12 a 23 meses de
idade apresentaram a média de ingestão habitual de energia 7% acima da EER
recomendada e para àquelas na faixa etária de 24 a 35 meses de idade, o
percentual de ingestão também declinou, embora ultrapassando 3,4% da EER
recomendada.
Embora se tenha observado uma diferença estatisticamente significante
em ambos os sexos e faixas etárias, com ingestão média de energia
excedendo a necessidade estimada de energia (EER) não se pode afirmar que
este aumento na ingestão de energia seja prejudicial à saúde e nutrição da
criança. Provavelmente a ingestão excessiva de energia possa estar associada
ao hábito alimentar de consumir grandes quantidades de alimentos
fornecedores de carboidratos e lipídios (Gráfico 10) e isto possa influenciar no
futuro, no aparecimento de doenças associadas ao consumo alimentar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatiza que a boa nutrição
deve ter início na vida intra-uterina, se estendendo pela infância, período
considerado crítico para assegurar hábitos alimentares saudáveis que
assegurem o crescimento adequado e previnam o surgimento de doenças
crônicas como obesidade, hipertensão, diabetes e certos tipos de câncer na
vida adulta (OMS/UNICEF, 1998).
Devaney et al. (2004) ao estudarem o consumo alimentar de lactentes e
pré-escolares americanos constataram diferenças entre a EER calculada a
partir de equações do Instituto de Medicina (2002) e a ingestão habitual de
energia obtida a partir da aplicação do método recordatório 24 horas, aplicado
por duas vezes, e o relato das mães.
Resultados semelhantes aos deste estudo foram encontrados no México
e nos Estados Unidos que também utilizaram as novas recomendações do
Institute of Medicine (IOM). Estes estudos encontraram diferenças, sempre
superiores, entre a EER estimada e a média de ingestão habitual de energia
(Barquera et al., 2003; Devaney et al., 2004).
74
5.5.4. Ingestão de Micronutrientes, Cálcio e Fibra
O Gráfico 8 apresenta os dados referentes à ingestão de micronutrientes
e a prevalência de inadequação que no presente estudo se denominou PI.
Estes dados são provenientes da média de dois inquéritos dietéticos:
recordatório 24 horas e QFCA.
96,6
36,8
13,2
99,4
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Prevalencia de inadequação
%
VitC (mg/d)
VitA (mg,Req)
Fe (mg/d)
Z (mg/d)
Figura 8 Ingestão de micronutrientes pelas crianças. Viçosa-MG, 2004.
Observou-se, para todos os micronutrientes, quando comparados com a
EAR, que a prevalência de inadequação mostrou-se elevada entre as crianças
desse estudo (Gráfico 8).
Considerando a ingestão de nutrientes das crianças pesquisadas, a
média de ingestão foi 2,38 mg/d para vitamina C (PI = 96,6%); 396,50 mcgER/d
para vitamina A (PI = 36,8%); 5,41mg/d para ferro (PI = 13,2%) e 0,04 mg/d
para zinco (PI= 99,4%). Para este último observou-se uma subestimação
devido às limitações das tabelas de composição centesimal de alimentos
utilizadas nesse estudo, a exemplo das fibras (Pinheiro et al., 1994).
Conforme os resultados encontrados, as crianças deste estudo
apresentaram risco de inadequação para micronutrientes essenciais, a
exemplo do zinco, vitamina A, vitamina C e ferro. Embora se possa apenas
constatar que o risco de inadequação está presente entre as crianças
75
pesquisadas, a deficiência de micronutrientes como a vitamina A, o ferro e o
zinco comprometem o crescimento e desenvolvimento normais das crianças e
diminuem à resistência as doenças, especialmente as infecções.
Alguns estudos reconhecem que as deficiências de micronutrientes são
ainda os maiores problemas de saúde pública com conseqüências diretas
sobre o estado de saúde da criança, porém quando estas deficiências se
manifestam nos primeiros 2 anos de vida, têm sido largamente associadas ao
retardo de crescimento, retardo do desenvolvimento psicomotor e diminuição
da capacidade de aprendizagem (Ashworth & Millward, 1986; Monteiro et al.,
1995; UNICEF, 1998; Monte, 2000).
Estas deficiências criam condições e favorecem a instalação de quadros
infecciosos, a exemplo das Infecções Respiratórias Agudas, referidas pelas
mães como a morbidade mais prevalente entre as crianças deste estudo
(Tabela 6).
A deficiência de vitamina A pode aumentar as taxas de morbidade e
mortalidade por diarréia e sarampo, a deficiência de zinco pode reduzir o
funcionamento do sistema imunológico, bem como interferir no crescimento e
desenvolvimento, uma vez que é um mineral essencial para este fim. A
deficiência de ferro é considerada a carência nutricional mais prevalente em
todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento, afetando lactentes,
pré-escolares, adolescentes e gestantes (Batista Filho & Ferreira, 1996; Paiva
et al., 2000; UNICEF, 2001; OMS, 2001; Osório, 2002; Silva et al., 2002).
O Encontro Mundial de Cúpula pela Criança realizado em 1990 pelas
Nações Unidas, do qual participaram mais de 180 países, dentre os quais, o
Brasil, salientou a deficiência de três micronutrientes: ferro (países em
desenvolvimento e desenvolvidos) e, iodo e vitamina A (países em
desenvolvimento e subdesenvolvidos) (UNICEF, 1998).
Neste estudo, as prevalências de inadequação observadas para os
micronutrientes se assemelham aos resultados encontrados em outros estudos
como a PESMISE Pesquisa de Saúde Materno-Infantil do Estado de Sergipe
(1998), PESNPE II Pesquisa de Saúde e Nutrição do Estado de Pernambuco,
1998 ; Condições de vida, saúde e nutrição na infância em Salvador (Assis et
al., 2000) e Estudo de Consumo de Energia e Nutrientes em pré-escolares e
escolares realizado no México (Barquera et al., 2003).
76
O Gráfico 8a mostra os dados referentes a ingestão de fibra e de cálcio.
Comparadas a AI Ingestão Adequada pode-se inferir que as crianças
estudadas estão com a ingestão adequada com relação ao mineral cálcio. Com
relação a fibra, embora a ingestão esteja abaixo da recomendação, não se
pode inferir que a ingestão das crianças esteja inadequada devido às
limitações impostas pelas tabelas de composição de alimentos com respeito a
este nutriente.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
Fibra Cálcio
g
Fibra
Cálcio
Gráfico 8a Ingestão de nutrientes pelas crianças. Viçosa-MG, 2004.
5.5.5. Hábito Alimentar
As crianças menores de 5 anos e, particularmente aquelas nos três
primeiros anos de vida apresentam necessidades nutricionais especificas,
relacionadas principalmente, às peculiaridades do processo de crescimento e
desenvolvimento do ser humano.
A criança necessita de nutrição adequada nos primeiros anos de vida,
especialmente até o final do segundo ano, para assegurar o crescimento e
desenvolvimento saudável.
Para as crianças de 12 a 35 meses de idade a alimentação deve ser
capaz de suprir as demandas de energia, macro e micronutrientes. A
77
necessidade de redobrar os cuidados com relação à alimentação deste grupo
decorre principalmente de, nesta fase da vida, ocorrer a formação dos hábitos
alimentares.
A formação de hábitos alimentares envolve uma complexidade de
fatores que implicam não somente no conhecimento de novos sabores e
texturas, como também, experiências sensoriais, meio ambiente, cultura e
tradições próprias de cada povo, que influenciarão diretamente o padrão
alimentar adotado pela criança.
Fatores como o local das refeições, estabelecimento de horários
regulares, seleções de utensílios adequadas à idade apresentam-se também
como condição importante para aceitação dos alimentos (Philippi et al., 2003).
Na Tabela 10 encontram-se as freqüências das refeições realizadas
pelas crianças, estimadas pelos dados obtidos do inquérito dietético
recordatório 24 horas.
Tabela 10 Freqüência das refeições/dia realizadas pelas crianças, a partir do
recordatório 24 horas. Viçosa - Minas Gerais, 2004
Freqüência
Refeições/dia
N %
2 a 4 33 19,0
5 a 6 123 70,7
> 6 18 10,3
Total
174 100,0
Verificou-se que 19% das crianças realizaram apenas 2 a 4 refeições por
dia; 70,7% entre 5 e 6 refeições e 10,3% mais que 6 refeições por dia (Tabela 10).
Embora a demanda e os gastos de energia e nutrientes sejam
contínuos, a ingestão de alimentos é periódica. A ingestão de alimentos e,
portanto, a qualidade da dieta, é função da quantidade de alimentos
consumidos em cada refeição, do intervalo e do número de refeições por dia
(Guia Alimentar, 2002).
78
As crianças no 2
o
e 3
o
anos de vida necessitam receber no mínimo 5
refeições por dia, em quantidade suficiente e qualidade variada, contendo
todos os nutrientes necessários para manter o crescimento e desenvolvimento
saudáveis (Guia Alimentar, 2002; Philippi et al., 2003).
No presente estudo se observou uma proporção importante (19,0%) de
crianças recebendo de 2 a 4 refeições por dia (Tabela 10).
5.5.5.1. Hábito alimentar das crianças de 12 a 23 meses de idade
Os alimentos mais comumente consumidos pelas crianças foram
agrupados em quatro grandes grupos: protéicos, energéticos, reguladores e
gorduras e óleos.
Diferentemente das crianças menores de 12 meses, a faixa etária de 12
a 23 meses de idade já consome os alimentos da família, sem necessidade de
mudança na textura, mas estes devem ser apresentados a criança em
pequenos pedaços e freqüência regular de pelo menos 5 vezes ao dia (Monte
et al., 2001).
Dentre as crianças da faixa etária de 12 a 23 meses de idade (Tabela 11
e Gráficos 9, 10 e 11) os alimentos mais consumidos no grupo protéico foram o
feijão e a carne de frango, consumidos por 98,4 e 96,8% das crianças
estudadas respectivamente.
Segundo Priore et al. (2002), o feijão e a carne de frango, bem como a
carne de porco, os folhosos, a mandioca, o milho e o leite são os alimentos
típicos que compõem a história da cozinha mineira.
Ao avaliarem as mudanças ocorridas no padrão alimentar da população
urbana brasileira no período de 1962 1988, Mondini e Monteiro (1994)
observaram um aumento no consumo de carnes, especialmente, carne de
frango.
Contrário a esta tendência, estudo de Assis et al. (2000) no município de
Salvador encontrou, dentre as crianças de 12 a 24 meses, um baixo consumo
de carne de frango.
O hábito alimentar das crianças de 12 a 23 meses de idade está
apresentado na Tabela 11 e nos Gráficos 9, 10 e 11.
79
Tabela 11 Hábito alimentar estimado pelo QFCA, das crianças na faixa etária
de 12 24 meses de idade. Viçosa Minas Gerais, 2004
Faixa Etária (12 24)
Grupo
N %
Protéicos
Leite 99 81,2
Carne de porco 84 75,7
Carne de boi 99 89,2
Carne de frango 105 96,8
Ovo 96 86,5
Feijão 108 98,4
Energéticos
Pão 89 80,2
Biscoito 90 81,1
Arroz 110 99,1
Angu 104 93,7
Reguladores
Frutas (banana) 102 92,0
Hortaliças (couve) 90 81,1
Legumes (batata) 86 77,5
Bebidas
Café -
-
Gorduras e óleos
Óleo 104 93,7
Nota: Os valores de freqüência de consumo alimentar expressos nessa tabela refletem o
consumo habitual
No grupo de alimentos energéticos, o arroz e o angu foram consumidos
respectivamente por, 99,1 e 93,7% das crianças de 12 a 24 meses do estudo.
Para Priore et al. (2002), juntamente com o feijão e a couve, o angu de
fubá
3
complementa a base que compõe a tríade da comida mineira e está
presente na mesa do habitante rural e urbano.
3
O angu mineiro é um prato à base da mistura de fubá, água e óleo, engrossado no fogo,
adicionado ou não de sal.
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
Leite Carne de
porco
Carne de boi Carne de
frango
Ovo Feijão
12 a 23 meses 24 a 35 meses
Figura 9 Consumo diário de alimentos protéicos, de acordo com a faixa
etária. Viçosa-MG, 2004.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
Pão Biscoito Arroz Angu Óleo
12 a 23 meses 24 a 35 meses
Figura 10 Consumo diário de alimentos energéticos, de acordo com a faixa
etária. Viçosa-MG, 2004.
12 23 meses
24 35 meses
12 23 meses
24 35 meses
12 24 meses 24 36 meses
12 24 meses 24 36 meses
81
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
Frutas
(banana)
Hortaliças
(couve)
Legumes
(batata)
12 a 23 meses 24 a 35 meses
Figura 11 Consumo diário de alimentos reguladores, de acordo com a faixa
etária. Viçosa-MG, 2004.
Com relação ao grupo de alimentos reguladores se observou um
consumo muito baixo de frutas, com predomínio absoluto para a banana,
consumida por 92,0% das crianças deste estudo na faixa etária de 12 a 23
meses de idade (Tabela 11).
As frutas e hortaliças representam bons fornecedores de vitaminas,
minerais, fibras e hidratos de carbono complexos, mas verificou-se no presente
estudo que as crianças não tinham o hábito de consumir frutas variadas.
Provavelmente, a banana tenha sido a fruta mais consumida por ser mais
acessível economicamente.
O Gráfico 9 observou-se maior consumo de alimentos protéicos pelas
crianças na faixa etária de 24 a 35 meses de idade. Os Gráficos 10 e 11
mostraram que o maior consumo de alimentos reguladores e energéticos
também se encontrou entre as crianças desta mesma faixa etária.
Entre as hortaliças, a couve foi o alimento mais consumido diariamente,
atingindo 81,1% das crianças (Tabela 11). Este resultado mostra consonância
com o descrito por Priore et al. (2002) que mostram a couve como a hortaliça
mais comumente consumida, tradicionalmente incorporada aos hábitos
alimentares do povo mineiro.
As gorduras, em geral os óleos vegetais, estavam presentes na
alimentação diária de 93,7% das crianças desta faixa etária. De acordo com os
relatos das mães se observou que grande parte das preparações alimentares
12  23 meses
24  35 meses
12 24 meses 24 36 meses
82
tem o óleo entre seus componentes, inclusive preparações à base de vegetais crus.
“O hábito marcante do mineiro de ingerir vegetais cozidos, inclusive os
folhosos refogados, em preferência aos crus, tem suas raízes na época da
mineração. Os novos habitantes inconscientemente, tinham necessidade de
opor-se à cultura do índio que já habitava a região e comia muitos alimentos
crus” (Priore et al., 2002).
Monteiro et al. (2000), analisando a tendência secular das mudanças na
composição e adequação das dietas nas áreas metropolitanas do Brasil (1988-
1996), observaram uma tendência ascendente da participação das gorduras na
dieta das regiões Norte e Nordeste e aumento da participação de ácidos graxos
em todas as áreas metropolitanas do país, concomitantemente a redução do
consumo de carboidratos complexos, leguminosas, verduras, legumes e frutas.
5.5.5.2. Hábito alimentar das crianças de 24 a 35 meses de idade
As crianças na faixa etária de 24 a 35 meses de idade apresentam maior
estabilidade no crescimento devido à diminuição da velocidade de ganho de
peso e estatura, o que condiciona diminuição do apetite. Por conseguinte, as
demandas de energia e proteínas diminuem em comparação as necessidades
durante o primeiro ano de vida (Philippi et al., 2003).
Em relação ao apetite e aos hábitos alimentares nesta faixa etária de
idade, em geral são irregulares, havendo uma variedade de aceitação alimentar
de um dia para o outro.
O hábito alimentar das crianças de 24 a 35 meses de idade está
apresentado na Tabela 12 e nos Gráficos 9, 10 e 11. Nesta idade, os itens
alimentares que compõem o cardápio das crianças são semelhantes daqueles
de 12 a 23 meses.
Dentre os alimentos que compõem o grupo protéico, as crianças desta
faixa etária também consumiram mais feijão e carne de frango, sendo estes
itens alimentares consumidos por 97,3 e 94,5% das crianças. Em seguida,
como alimentos mais consumidos neste grupo estão os ovos e o leite, este
último com uma participação ainda maior que na faixa etária anterior, sendo
consumido por 92,0% das crianças (Tabela 12).
83
Tabela 12 Hábito alimenta estimado pelo QFCA, das crianças na faixa etária
de 24 36 meses de idade. Viçosa-Minas Gerais, 2004
Faixa Etária (24 36)
Grupo
n %
Protéicos:
Leite 58 92,0
Carne de porco 56 88,9
Carne de boi 55 87,3
Carne de frango 61 94,5
Ovo 59 93,7
Feijão 62 97,3
Energéticos:
Pão 61 96,8
Biscoito 50 79,4
Arroz 62 98,4
Angu 57 90,5
Reguladores:
Frutas (banana) 59 93,7
Hortaliças (couve) 53 84,1
Legumes (batata) 52 82,5
Bebidas:
Café 56 88,9
Gorduras e óleos:
Óleo 59 93,7
Nota: Os valores de freqüência de consumo alimentar expressos nessa tabela refletem o
consumo habitual.
No presente estudo, em conformidade com outros estudos de consumo
de alimentos realizados na população brasileira (Assis et al., 2000) e
americana (Fox et al., 2004), o leite também representou um item importante
no esquema alimentar diário das crianças sendo, por vezes, o maior fornecedor
de nutrientes para o organismo.
Diferentemente, a carne de frango se mostrou mais consumida pelas
crianças deste estudo (94,5%) que dentre as crianças da mesma faixa etária do
município de Salvador (Assis et al., 2000).
84
Monteiro et al. (2000), analisando a tendência secular de mudanças no
consumo alimentar de brasileiros das áreas metropolitanas do país, verificaram
uma intensificação no consumo relativo de carnes, leites e derivados (exceto
manteiga) em todas as áreas e declínio do consumo de ovos, especialmente
nas regiões Sudeste e Sul do Brasil.
Possivelmente a grande participação do ovo no cardápio deste grupo
etário, sendo consumido por 93,7% das crianças, se deve ao fato de ser um
alimento mais acessível economicamente, além de fonte protéica de alto valor
biológico.
No grupo dos alimentos energéticos o arroz e o pão foram os alimentos
mais consumidos pelas crianças nesta faixa etária, sendo consumido por 98,4
e 96,8% das crianças estudadas, respectivamente (Tabela 12).
Estes resultados se assemelham aos obtidos no estudo multicêntrico do
município de Salvador (Assis et al., 2000) e na análise da tendência secular
das mudanças na composição e adequação da dieta dos brasileiros (Monteiro
et al., 2000). Estes estudos mostram também a crescente participação de
cereais e derivados no cardápio dos brasileiros.
Ainda na Tabela 12, o grupo dos alimentos reguladores, integrado pelas
frutas, hortaliças e legumes mostrou que, à semelhança das crianças da faixa
etária de 12 a 23 meses de idade, as maiores participações se atribuíram a
banana, couve e batata inglesa, sendo estes itens alimentares consumidos por
93,7, 84,1 e 82,5% das crianças de 24 a 35 meses de idade respectivamente.
Os alimentos reguladores representam os maiores contribuintes de
micronutrientes como vitaminas e minerais podendo, provavelmente, esta
monotonia alimentar estar relacionada ao percentual de crianças que
apresentaram prevalências de inadequação para micronutrientes essenciais ao
crescimento saudável, a exemplo das vitaminas A e C, e dos minerais ferro e
zinco (Gráfico 8).
Estudo internacional que avaliou o risco de ingestão inadequada em pré-
escolares, utilizando o inquérito dietético recordatório 24 horas, encontrou
crianças com alto risco de inadequação para as vitaminas A e C e para os
minerais ferro, zinco e cálcio (Barquera et al., 2003).
Nesta faixa etária encontrou-se ainda um elevado consumo de café,
sendo este item alimentar consumido por 88,9% das crianças maiores. Embora
85
relatado pelas mães ou responsáveis que o café era adoçado com açúcar, não
se pôde prever a quantidade de açúcar adicionada por imprecisão do relato dos
entrevistados.
No grupo das gorduras foi encontrado, entre as crianças desta faixa
etária, consumo semelhante de óleo vegetal (93,7%) quando se comparou ao
consumo da faixa etária de 12 a 23 meses de idade.
Entre as crianças deste grupo etário, comparado as do grupo de 12 a 23
meses de idade, se observou que, alguns alimentos como o angu, tiveram seu
consumo mais reduzido (90,5%). Entretanto, a participação dos demais itens
alimentares dos grupos de alimentos, em geral, se assemelharam nas duas
faixas etárias estudadas.
5.5.5.3. Freqüência relativa de consumo alimentar das crianças de 12 a 35
meses de idade estimada pelo Questionário de Freqüência de
Consumo Alimentar QFCA
Quando se analisou todos os itens alimentares consumidos pelas
crianças de ambas faixas etárias, se verificou que foram consumidos por mais
de 70% das crianças estudadas, por ordem crescente de consumo e por grupo,
os seguintes alimentos: leite e derivados (leite), carnes e derivados (porco, boi,
ave e ovo), hortaliças (alface e couve), legumes (cenoura, abóbora e batata
inglesa) e óleo vegetal.
5.6. Associação entre o Consumo Alimentar e o Estado Nutricional do
Grupo Estudado
Buscando testar a existência de associação entre consumo alimentar e
estado nutricional calculou-se o Χ
2
para verificar se a distribuição dos
resultados deu-se ou não por mera chance. Considerou-se como associação
estatisticamente significante valor de p<0,05, porem é preciso deixar claro que
apenas estabeleceu-se a associação entre os eventos, sem portanto definir
causalidade entre eles.
86
Nas Tabelas 13 e 14 se encontram os resultados da associação e as
razões de chance entre o consumo alimentar e o estado nutricional das
crianças estudadas.
A Tabela 13 apresenta o resultado da associação e as razões de chance
entre prevalência inadequada do consumo de ferro e ocorrência de desnutrição
e risco nutricional nas crianças estudadas.
Tabela 13 Associação entre ocorrência de desnutrição e risco nutricional em
crianças com o consumo inadequado de ferro. Viçosa-Minas
Gerais, 2004
Índices
Antropométricos
Inadeq (%) OR (IC 95%)
ΧΧ
2
Valor de p
P/I
( - 2 <- 1)
9,8
2,84
(1,13<OR<7,25)
6,14
p = 0,01*
P/E
( - 2 <- 1)
5,7
2,18
(0,80<OR<5,93)
2,95
p = 0,08
E/I
( - 2 <- 1)
6,9
3,37
(1,37<OR<10,27)
8,67
p = 0,01*
* p < 0,05.
Os resultados indicaram que há associação estatisticamente significante
entre a ocorrência de déficit nutricional e prevalência de inadequação de ferro
entre as crianças estudadas para os índices antropométricos de peso/idade e
estatura/idade, com p<0,05, mostrando que houve uma possível associação
entre déficits nutricionais ( - 2 <- 1) e a prevalência de inadequação deste
micronutriente.
Pela análise da OR (Tabela 13), os resultados também indicam que as
crianças que consumiam menos ferro tiveram maior chance de apresentar
déficit nutricional de peso para a idade e estatura para a idade.
Estudos têm apontado dietas inadequadas entre os fatores
determinantes para ocorrência de déficits nutricionais, morbidades na infância e
anemia ferropriva (Osório, 2000; Monte et al., 2001; Silva, 2003).
87
A Tabela 14 demonstra a associação e as razões de chance entre os
déficits nutricionais com relação a prevalência de inadequação de retinol.
Observou-se uma associação estatisticamente significante entre desnutrição e
risco nutricional das crianças estudadas e a prevalência de consumo
inadequado de retinol, apenas para o índice de E/I (p<0,05), mostrando que a
inadequação de retinol pode ter sido um fator de risco para a ocorrência de
déficit estatural ( -2 < -1).
Tabela 14 Associação entre ocorrência de desnutrição e risco nutricional em
crianças com o consumo inadequado de retinol. Viçosa-MG, 2004
Índices
Antropométricos
Inadeq (%) OR (IC 95%)
ΧΧ
2
Valor de p
P/I
( - 2 <- 1)
19,0
1,85
(0,95<OR<3,63)
3,77
p = 0,05
P/E
( - 2 <- 1)
12,1
1,20
(0,58<OR<2,46)
0,29
p = 0,58
E/I
( - 2 <- 1)
14,4
2,21
(1,07<OR<4,59)
5,44
p = 0,01*
* p < 0,05.
Pela análise da OR, as crianças que apresentaram prevalência inadequada
de consumo de retinol tiveram uma chance maior de apresentar déficit nutricional
pelo índice de estatura para a idade, OR 2,21 (1,07; 4,59) (Tabela 14).
O retardo do crescimento pode ser causado por vários fatores e, em
países de economia dependente como o Brasil, é primariamente, resultante da
interação entre má nutrição e presença de infecções (Monte et al., 2001).
As evidencias têm demonstrado que o crescimento é um processo que
depende da ingestão adequada de energia, proteína e, especialmente micronutrientes
essenciais como o ferro, a vitamina A e o zinco. Entretanto, as deficiências de
micronutrientes não ocorrem isoladamente, e, especialmente na presença de
doença, a demanda de nutrientes é ainda mais elevada. A deficiência de vitamina
A, portanto, pode aumentar as taxas de mortalidade por diarréia e sarampo, visto
que a função especifica deste micromutriente é reduzir a morbimortalidade na
88
infância (Monteiro et al., 1995; Waterlow, 1996; Ashworth, 2001).
Alguns estudos de saúde e nutrição da população infantil realizados no
Brasil utilizando também métodos bioquímicos além dos métodos dietéticos
para medir o consumo alimentar, encontraram prevalências elevadas de
hipovitaminose A entre pré-escolares, evidenciando o risco a que está exposto
este grupo populacional (Diniz, 1997; PESMISE, 1998; II PESNPE, 1998).
5.7. Associação entre Variáveis Socioeconômicas e o Estado Nutricional
do Grupo Estudado
Ao se tentar estabelecer associação entre o nível socioeconômico e o
estado nutricional em geral, a tendência inicial, sem realizar estudos
epidemiológicos apropriados para detectar relação causal, é presumir que,
quanto pior o nível econômico, maior será a implicação negativa sobre o déficit
nutricional, e o inverso (Motta et al., 2001).
As associações entre os déficits nutricionais e a escolaridade dos pais
podem ser visualizadas nas Tabelas 15, 16 e 17.
Observou-se uma associação estatisticamente significante entre
desnutrição e risco nutricional das crianças estudadas e o nível de escolaridade
materna para os três índices antropométricos avaliados (p<0,05) mostrando
que houve uma associação entre os déficits nutricionais ( -2 < -1) e a baixa
escolaridade da mãe (< 4 anos de estudos formais) (Tabela 15).
Verificou-se também que, a criança, cuja mãe tinha menor nível de
escolaridade, tinha uma chance maior de apresentar desnutrição e risco
nutricional para os índices de P/I e E/I, OR 3,49 (1,68; 7,33) e OR 3,06 (1,44;
5,56), respectivamente.
Victora (1992) enfatiza que, dentre os determinantes do déficit estatural,
estão associados, predominantemente, as condições socioeconô-micas como
trabalho e escolaridade dos pais.
Guimarães et al. (1999) visando identificar o efeito dos principais fatores
que interferem na baixa estatura de pré-escolares de uma cidade interiorana de
São Paulo, encontraram associações entre a baixa escolaridade materna e a
renda familiar per capita e a baixa estatura das crianças.
89
Tabela 15 Associação entre ocorrência de desnutrição e risco nutricional das
crianças com a escolaridade materna. Viçosa - Minas Gerais, 2004
Índices
Antropométricos
Inadeq (%) OR (IC 95%)
ΧΧ
2
Valor de p
P/I
( - 2 <- 1)
18,4
3,49
(1,68<OR<7,33)
13,58
p = 0,00*
P/E
( - 2 <- 1)
12,1
2,08
(0,98<OR<4,39)
4,39
p = 0,03*
E/I
( - 2 <- 1)
13,2
3,06
(1,44<OR<6,56)
10,23
p = 0,001*
* p < 0,05.
Tabela 16 Associação entre ocorrência de desnutrição e risco nutricional das
crianças com a escolaridade paterna. Viçosa-Minas Gerais, 2004
Índices
Antropométricos
Inadeq (%) OR (IC 95%)
ΧΧ
2
Valor de p
P/I
( - 2 <- 1)
20,3
1,92
(0,98<OR<3,76)
4,27
p = 0,03*
P/A
( - 2 <- 1)
14,0
1,48
(0,73<OR<3,02)
1,37
p = 0,24
E/I
( - 2 <- 1)
14,5
1,94
(0,94<OR<4,01)
3,78
p = 0,05
* p < 0,05.
Tabela 17 Associação entre ocorrência de desnutrição e risco nutricional das
crianças com a renda paterna. Viçosa - Minas Gerais, 2004
Índices
Antropométricos
Inadeq (%) OR (IC 95%)
ΧΧ
2
Valor de p
P/I
( -2 < -1)
20,9
2,45
(1,24<OR<4,85)
7,85
p = 0,005*
P/E
( - 2 <- 1)
15,1
2,08
(1,01<OR<4.26)
4,73
p = 0,03*
E/I
( - 2 <- 1)
14,5
2,16
(1,04<OR<4,49)
5,10
p = 0,02*
90
* p < 0,05.
Estudos têm demonstrado que o nível de escolaridade materna influi na
determinação do crescimento visto que está relacionado diretamente com uma
melhor compreensão da prática dos cuidados infantis, além de que, um maior
nível de instrução contribuirá para uma melhor oportunidade de emprego e, por
conseguinte, melhoria salarial (Romani & Lira, 2004).
Na Tabela 16 se verificou uma associação estatisticamente significante
entre desnutrição e risco nutricional das crianças estudadas e o nível de
escolaridade paterna com relação ao déficit ponderal para a idade (p<0,05)
mostrando que houve uma associação entre os déficits nutricionais ( -2 < -1) e
a baixa escolaridade do pai (< 4 anos formais de estudo).
Os resultados do presente estudo estão em consonância com outros
estudos que evidenciam a associação entre o nível de escolaridade dos pais e
o estado nutricional da criança (Victora, 1992; UNICEF, 1998; Ribas et al.,
1999; PESMISE, 1998; PESNPE, 1998; Nowak et al., 2003; Romani & Lira, 2004).
Ao avaliar o estado nutricional de crianças menores de 5 anos
residentes em Campo Grande (MS) Ribas et al. (1999) encontraram os déficits
nutricionais influenciados pelas condições socioeconômicas, especialmente, a
renda das famílias.
Verificou-se uma associação estatisticamente significante entre
desnutrição e risco nutricional das crianças estudadas e a renda paterna com
relação a todos os índices antropométricos avaliados (P/I, P/E e E/I), com
p<0,05, mostrando que houve uma associação entre os déficits nutricionais
( -2 < -1) e o nível de renda do pai (Tabela 17).
Pela análise da OR e seus respectivos intervalos de confiança (Tabela
17), os resultados também indicaram que a criança cujo pai tinha menor renda
tinham maior chance de apresentar desnutrição e risco de desnutrição.
Em conformidade com os resultados da Tabela 17, Monteiro (1997)
analisando o papel da renda do chefe da família e do número de bens do
domicílio, nos dados das pesquisas nacionais de 1974, 1989 e 1996, confirmou
a importante influência desses fatores sobre o crescimento e o estado de
nutrição das crianças.
91
6. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados apresentados neste estudo se concluiu que:
Na análise dos métodos dietéticos:
1. A conjugação dos métodos e a associação ao estado nutricional das
crianças certamente propiciou melhor compreensão e interpretação dos
resultados obtidos.
Na análise das características familiares:
2. Mais da metade das crianças estudadas moravam em casa própria
(55,1%), abastecidas com água da rede pública (87,4%);
3. Verificou-se que 12,6% das famílias ainda usavam água de poço e
47,7% dos domicílios referiu presença de rede de esgoto;
4. Os domicílios eram compostos, em média, por 3 pessoas;
5. As crianças estudadas pertenciam, na sua grande maioria, as famílias
de baixa renda do município;
6. A grande maioria dos pais tinha menos de 7 anos de estudos formais,
sugerindo uma precariedade no acesso à educação;
7. A responsabilidade de provedor do domicílio foi predominantemente
exercida pelos homens;
92
8. A quase totalidade das mães não exercia ocupação ou tinha trabalho
remunerado.
Na análise das características de morbidade referida e participação em
programas:
9. As IRAs acometeram 73,7% das crianças cujas mães referiram alguma
morbidade;
10. Entre as ocorrências referidas pelas mães e presentes no dia da
entrevista, a gripe foi a mais freqüente, acometendo 63% das crianças
de ambos os sexos.
11. A proporção de beneficiados pelo Programa Bolsa Alimentação foi baixa,
atingindo apenas 28,2% das crianças.
Na análise do estado nutricional:
12. A incidência de baixo peso ao nascer neste grupo estudado foi 14,4%;
13. Prevalência de Desnutrição:
§ As prevalências de desnutrição encontradas no presente estudo
foram 13,2% para P/I, 13,8% para P/E e 4,0% para E/I. Em
aproximadamente 3 anos, observou-se um declínio nos déficits de
desnutrição, segundo os índices P/I e E/I, quando comparados aos
dados passados do município de Viçosa.
14. Prevalência de Risco Nutricional:
§ As elevadas prevalências de crianças em risco nutricional para os
índices de E/I e P/I, sobretudo entre as crianças de 24 a 35 meses de
idade mostraram que, historicamente estas crianças não vêm
obtendo os meios necessários para promover adequadamente seu
crescimento e, refletiram também, as condições vividas no momento
atual do estudo, como a ocorrência de morbidades.
15. Prevalências de Risco de Sobrepeso e Sobrepeso:
§ As prevalências de risco de sobrepeso encontradas no presente
estudo foram 7,5% para o índice P/I e 5,7% para P/E e deverão
constituir-se em alerta para o risco de obesidade, no futuro, na
população estudada.
93
Na análise da ingestão de energia, macro e micronutrientes:
16. O consumo alimentar habitual de energia e nutrientes, estimada pela
média da aplicação dos dois inquéritos dietéticos (R24h e QFA), foi
maior e estatisticamente significante (p<0,0001) entre as crianças do
sexo masculino;
17. Ingestões de energia, macronutrientes, vitamina A e ferro foram
quantificados igualmente em ambos os inquéritos dietéticos pela análise
de médias, indicando consistência nas estimativas provindas da
associação dos dois métodos para estes nutrientes;
18. Os resultados relativos ao consumo médio de fibras e vitamina C não
foram consistentes devido às limitações impostas pelas tabelas de
composição de alimentos;
19. Contribuição percentual de macronutrientes:
§ Encontrou-se 81,5% das crianças de ambos os sexos com ingestão
de lipídio abaixo do limite mínimo, sugerindo comprometimento no
aporte de ácidos graxos essenciais;
§ Em ambas faixas etárias observou-se uma proporção relativamente
elevada de crianças consumindo lipídios acima do limite máximo
refletindo possivelmente introdução precoce e inadequada de
alimentos da família;
§ A maior parte das crianças (80,2 e 87,9%) permaneceu com a
ingestão de carboidratos e proteínas nas respectivas faixas de
referência.
20. Prevalência de inadequação de micronutrientes
§ Os resultados demonstraram importantes riscos de inadequação
para vários micronutrientes, como as vitaminas A e C, e os minerais
ferro e zinco, os quais são essenciais para promover o crescimento e
desenvolvimento normal de crianças e prevenir a morbimortalidade.
Isto pode colocar em risco a saúde e o estado nutricional das
crianças;
94
Na análise dos hábitos alimentares e do consumo alimentar:
21. Os resultados mostraram que a maior parte das crianças (70,7%) realiza
5 a 6 refeições/dia;
22. Os hábitos alimentares das crianças não diferiram muito do encontrado
na população geral, especialmente com relação ao consumo de arroz e
feijão, estando estes itens alimentares presentes habitualmente na dieta
de mais 98,0% das crianças;
23. A carne mais consumida pelas crianças, em ambas faixas etárias, foi a
de frango;
24. O angu esteve mais presente na alimentação das crianças de 12 a 23
meses de idade, sendo consumida habitualmente por 93,7% das
crianças desta faixa etária;
25. Dentre os alimentos reguladores, encontrou-se predomínio absoluto de
consumo de banana e couve, esta última normalmente encontrada
arraigada entre os hábitos alimentares da população estudada;
26. Verificou-se que o leite estava presente nos hábitos alimentares das
crianças, sendo mais consumido pelas crianças da faixa etária maior,
contrariando os dados da literatura, que mostram este item alimentar
como base da alimentação de crianças menores de 24 meses de idade;
27. Dentre os 62 itens alimentares do QFCA alguns alimentos foram
consumidos habitualmente por 70% ou mais das crianças estudadas.
Dentre estes estavam: leite; carnes de porco, boi e ave; ovo; alface e
couve; cenoura, abóbora e batata inglesa; óleo vegetal.
Na análise da associação entre o consumo alimentar e o estado nutricional do
grupo estudado:
28. O estado antropométrico das crianças estudadas mostrou-se associado
com consumo alimentar, especialmente com relação às prevalências de
inadequação de consumo de ferro e vitamina A;
§ Verificou-se associação estatisticamente significante (p<0,05) entre a
ocorrência de déficit nutricional e a prevalência de consumo
inadequado do ferro tanto para o índice P/I quanto para E/I;
95
§ As crianças que apresentaram consumo inadequado do ferro tiveram
maior chance de apresentar déficits nutricionais de P/I e E/I;
§ Verificou-se associação estatisticamente significante (p<0,05) entre o
déficit nutricional ( - 2 <- 1) e a prevalência de inadequação de
retinol, apenas para o índice de E/I;
§ As crianças que apresentaram consumo inadequado de vitamina A
tiveram maior chance de apresentar deficiência de E/I.
Na análise da associação entre variáveis socioeconômicas e o estado
nutricional do grupo estudado:
29. O estado antropométrico das crianças estudadas mostrou-se associado
com algumas das condições socioeconômicas das famílias,
particularmente escolaridade e renda dos pais, semelhante ao que se
observa na literatura disponível.
§ Os resultados indicaram uma associação estatisticamente
significante (p<0,05) entre o déficit nutricional das crianças e o nível
de escolaridade materna em todos os índices antropométricos
avaliados;
§ A criança cuja mãe tinha menor nível de escolaridade mostrou uma
chance maior de apresentar déficit nutricional tanto para os índice de
P/I como de E/I;
§ A associação, estatisticamente significante (p<0,05), entre
escolaridade paterna e o déficit nutricional das crianças estudadas foi
observada apenas no índice P/I;
§ Os resultados também indicaram uma associação estatisticamente
significante (p<0,05) entre a renda paterna e o déficit nutricional das
crianças, observadas em todos os índices antropométricos avaliados;
§ Os resultados também indicaram que a criança cujo pai tinha menor
renda tinha maior chance de apresentar desnutrição e risco de
desnutrição.
Este estudo se propôs a apresentar o hábito alimentar de crianças no 2
o
e 3
o
anos de vida atendidas nos serviços públicos de saúde do município de
Viçosa (MG) por meio do estudo das características de saúde e nutrição das
96
crianças, bem como, das suas características familiares.
Ao estudar estas características, se procurou manter rigor metodológico
e detalhamento da situação de saúde e nutrição das crianças e famílias
envolvidas. Portanto, o presente estudo deve ser entendido como uma
contribuição para todos aqueles que se preocupam com a situação da infância
em nosso meio.
Com relação ao estado nutricional se observou que as crianças
comprometidas pela desnutrição pelo índice P/I, que reflete deterioração
recente do estado de saúde, foram aquelas da faixa etária de 24 a 35 meses
de idade, sugerindo que, à medida que a idade avança, as condições de
nutrição se tornam mais precárias, aumentando a prevalência de desnutrição
por este índice.
Para o índice P/E, indicador das deficiências recentes de peso, ou seja,
o emagrecimento, os resultados também sugeriram aumento para o risco de
morbidade e a incapacidade das famílias de assegurarem as condições para
satisfação das necessidades básicas de sobrevivência, seguramente no
concernente a nutrição adequada.
Com relação ao déficit estatural, que reflete o quadro crônico da desnutrição,
a prevalência mostrou-se levemente inferior a encontrada no país (5,7%).
Considerando a grande variabilidade referente ao consumo alimentar
das crianças pôde-se concluir que, o fornecimento de energia por meio da dieta
excedeu a recomendação para a grande maioria das crianças estudadas,
enquanto que foram observadas elevadas prevalências de inadequação para a
maior parte dos micronutrientes estudados, a exemplo de vitaminas A e C e
minerais ferro e zinco.
A importância da AMDR (Níveis Aceitáveis de Distribuição de
Macronutrientes) é determinar a proporção de um grupo que está acima ou
abaixo da AMDR e assim, avaliar a população aderente às recomendações e
determinar a porção populacional que está fora das faixas de distribuição de
macronutrientes.
Se uma significante porção da população está fora das faixas de
distribuição aceitável, possivelmente estará sujeita a efeitos e conseqüências
adversos para a saúde e nutrição. No presente estudo chamou atenção o
97
percentual de crianças abaixo e acima do limite mínimo recomendado para o
lipídio (81,0 e 15,7% respectivamente).
O hábito alimentar das crianças de 12 a 23 meses de idade não diferiu
muito das crianças da faixa etária de 24 a 35 meses. Necessariamente a dieta
de cada dia não precisa conter todos os nutrientes, tão pouco todas as
refeições. Entretanto a preocupação se estabelece quando a média de
ingestão de energia e nutrientes, proveniente da aplicação dos dois inquéritos
dietéticos, reflete desequilíbrio na cobertura das necessidades de energia,
macro e micronutrientes.
Ao se analisar a associação entre o consumo alimentar, o estado
nutricional e as variáveis socioeconômicas das famílias das crianças estudadas
encontrou-se associações estatisticamente significantes entre as prevalências
de inadequação de ferro e retinol e os níveis de escolaridade e renda dos pais.
Diante do exposto se concluiu que a ocorrência de desnutrição e as
carências específicas de alguns micronutrientes existentes, associadas às
condições socioeconômicas adversas, mostraram que ainda há muito a ser
feito para se melhorar a situação de saúde e nutrição das crianças do
município.
98
7. RECOMENDAÇÕES
Com base nos resultados obtidos neste estudo, foram feitas algumas
recomendações que se acredita, a médios e longos prazos, possam contribuir
positivamente com a melhoria da saúde e nutrição das crianças menores de 5
anos atendidas nos serviços públicos de saúde do município.
1. Procurar conhecer e explorar todos os recursos disponíveis a nível
local, estadual, regional e federal, no sentido de manter e criar condições
favoráveis que mantenham as crianças e suas famílias protegidas das
adversidades do meio ambiente, como exemplo de programas educativos e de
suplementação alimentar, qualificação profissional, educação para adultos,
programas de geração de renda, dentre outros;
2. Planejamento de mensagens educativas de saúde pública poderão
ser instituídas para prevenção de doenças relacionadas ao consumo alimentar
excessivo ou deficiente;
3. Planejamento de mensagens educativas de saúde pública visando
implementar medidas de higiene ambiental e individual com o objetivo de
diminuir a incidência de doenças, especialmente as infecciosas;
99
4. Reorganização dos programas específicos existentes, a exemplo do
Programa de Estimulo ao Aleitamento Materno, procurando assim, ampliar a
duração do aleitamento materno exclusivo até 6 meses de idade e
predominante até 2 anos de idade;
5. Fortalecer os atuais programas de suplementação alimentar
existentes, com fins de garantir a todas as crianças, acesso a uma alimentação
saudável e nutricionalmente adequada para promover seu crescimento e
desenvolvimento;
6. Treinar e capacitar os profissionais de saúde com estratégias como
AIDIPI Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância, Os Dez
Passos para Aleitamento Materno bem Sucedido e os Dez Passos para uma
Alimentação Saudável Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos;
7. Estimular as famílias a cultivarem hortas caseiras e, para reforçar esta
estratégia, procurar o apoio da Universidade Federal de Viçosa e de órgãos
governamentais competentes como a EMATER, bem como de organizações
não-governamentais;
8. A escolha dos alimentos da família influenciará quais alimentos serão
oferecidos às crianças. Portanto, orientações neste sentido, deverão ser dadas
para criar hábitos alimentares saudáveis para toda a família;
9. Investir em políticas sociais e econômicas com vistas a geração de
empregos e melhoria de renda da população.
100
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU W C. Aspectos econômicos, de saúde e nutrição, com ênfase no
consumo alimentar de idosos atendidos pelo Programa Municipal da Terceira
Idade de Viçosa, Minas Gerais. Tese de Mestrado. Departamento de Nutrição
e Saúde da Universidade Federal de Viçosa, 2003.
AN GS & SHIN DS. A Comparison of the nutrient intake of adolescents
between urban areas and islands in south Kyungnam. Korean J of Community
Nutr 2001; 6 (3) 271-81.
AQUINO RC, PHILIPPI ST. Consumo infantil de alimentos industrializados e
renda familiar na cidade de São Paulo. Rev Saúde Pública 2002; 36 (6): 655-
60.
ASHWORTH A, MILLWARD DJ. Catch-up growth in children. Nutrition
Reviews 1986; 44(5).
ASHWORTH A. Treatment of Severe Malnutrition. J Pediatr Gastroenterol
Nutr 2001; 32 (5).
ASSIS AMO, SANTOS LMP, PRADO MS, MARTINS MCM, BARRETO ML.
Tolerância à aplicação de megadoses de vitamina A associada à vacinação em
crianças no Nordeste do Brasil. Cadernos de Saúde Pública (RJ) 2000; 16
(1): 51-7.
ASSIS AMO, BARRETO ML, SANTOS MLP, SAMPAIO LR, MAGALHÃES LP,
PRADO MS et al. Condições de vida, saúde e nutrição na infância em
Salvador. Universidade Federal da Bahia/Instituto de Saúde Coletiva e
Ministério da Saúde. Salvador - BA, 2000.
101
BARANOVSKI T, SPRAGUE D, BARANOVSKI JH, HARRISON JA. Accuracy
of maternal dietary recall for preschool children. J Am. Diet. Assoc 1991; 91:
669-674.
BARTRINA JA. Nutrición en la edad evolutiva. In: Serra Majem L, Bartrina JA,
Verdú JM. Nutrición y salud pública:métodos, bases científicas y aplicaciones
Masson (Madrid) 1995; 90 -106.
BARQUERA S, RIVERA JA, SAFDIE M, FLORES M, CAMPOS-NONATO I,
CAMPIRANO F. Energy and nutrient intake in preschool and school age
Mexican children: National Nutrition Survey 1999. Salud Publica de México
2003; 45, (Suplemento 4): S540-50.
BATISTA FILHO M, FERREIRA LOC. Prevenção e tratamento da anemia
nutricional ferropriva: novos enfoques e perspectivas. Cad Saúde Publica
1996; 12 (3):411-15.
BATISTA FILHO M. A Transição Nutricional no Brasil: Tendências Regionais e
temporais. Cad de Saúde Pública 2003; Rio de Janeiro, 19 (Suplemento1):
S181-91, 2003.
BATISTA FILHO M, RISSIN A. Alimentação, Nutrição e Saúde. In: Rouquayrol
ZM, Almeida Filho N. 5ª Ed.; MEDSI, 1999; 353-74.
BAXTER SD, BARANOWSKI T, DAVIS H, LEONARD SB, RILEY P,
BARANOWSKI J. Fruit and vegetable food frequencies by fourth and fifth grade
students: validity and reliability. J Am Coll Nutr, 1994.
BAXTER SD, THOMPSON WO. Accuracy by meal component of fourth-
graders’ school lunch recalls is less when obtained during a 24-hour recall than
as a single meal. Nutriton Research 2002; 22: 679-84.
BEAL VA. Nutritional status in children. In: ROCKETT HRH, COLDITZ GA.
Assessing diets of children and adolescents. Am J Clin Nutr 1997; 65 Suppl:
1116S 22S.
BEATON GH. Criteria of an adequate intake. In: SHILS ME, OLSON JA, SHIKE
M. Modern Nutrition in Health in Desease. 8ª ed. Philadelfia: Lea & Febiger,
1994.
BENFAM. Pesquisa Nacional de sobre Demografia e Saúde. Indicadores e
dados básicos. Brasil, 1998. Brasília:BENFAM, 1999.
BINGHAM SA. The dietary assessment of individuals: methods, accuracy, new
thechniques and recommendations. Absracted of Nutrition Abstracts and
Reviews 1987; 57 (10): 705-42.
BLOCK G, HARTMAN AM. Issues in reproducibility and validity of dietary
studies. Am J Clin Nutr 1989; 50: 1133-38.
102
BLOCK G. et al. Comparison of two dietary questionnaires validated against
multiple dietary records collected during a one year period. Am J Diet Ass,
1992.
BONOMO E. Como medir a ingestão alimentar? In: DUTRA DE OLIVEIRA JE.
Obesidade e anemia carencial na adolescência. Instituto Danone - São
Paulo/SP, 2000.
BRIEFEL RR, REIDY K, KARME V, DEVANEY B. Feeding Infants and Toddlers
Study: Improvements Needed in Meeting Infant Feeding Recommendations.
Supplement of The Journal of the American Dietetic Association
2004.
BURKE B. The dietary history as a tool in research. (Depart Maternal and Child
Health, Harvard University, Boston, Mass). J Am Diet Assoc 1947; 23; 1041-
1046
BUZZARD IM. Rationale for an international conference series on dietary
assessment methods. Am J Clin Nutr 1994; 59 (Suppl): 143S-5S.
CDC Growth Charts for the United States: Methods and Development. Series
11 (246): 2000.
CHIARA VL, SICHIERI R. Consumo alimentar em adolescentes. Questionário
simplificado para avaliar o risco cardiovascular. Arq Bras Cardiol, 2000; 77 (4):
332-6.
CINTRA IP, VON DER HEYDE MED, SCHIMITZ BAS, FRANCESCHINI SCC,
TADDEI JÁ, SIGULEM DM. Métodos de inquéritos dietéticos. Cad de Nutrição
Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição 1997; 13: 11-23.
COIMBRA M, MEIRA JFP, STARLING MBL. Comer e Aprender: uma história
da alimentação escolar no Brasil. In: A alimentação escolar no Brasil: política e
instituição. Belo Horizonte/ MG, 1982.
COOK JD, BAYNES RD, SKIKNE BS. Iron deficiency and the measurement of
iron status. Nutr Res Rev 1992; 5: 189 202.
CRISPIM SP, LIMA ES, CALIL J, FELIPE MR, GRILLO LP. Anemia ferropriva
em crianças e adolescentes pertencentes à rede de ensino do município de
Bombinhas SC. Nutrição Brasil 2003; 2 (4): 196 202.
CRISPIM SP, FRANCESCHINI SCC, PRIORE SE, FISBERG RM. Validação de
inquéritos dietéticos - uma revisão. Revista Nutrire 2003; 26 (2): 127-41.
CRUZ ATRO. Consumo alimentar de crianças: avaliação pelo “método da
pesagem direta” em três creches no Município de São Paulo SP.
Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Farmacêuticas. São
Paulo/SP, 2001.
103
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assembléia Geral das Nações
Unidas 1948; artigo 25.
DEVANEY B, KALB L, ZAVITSKY-NOVAK T, CLUSEN N, ZIEGLER P. Feeding
Infants and Toddlers Study: Overview of the Study Design. Supplement of The
Journal of the American Dietetic Association 2004.
DINIZ AS. Aspectos clínicos, subclínicos e epidemiológicos da hipovitaminose
A no Estado da Paraíba. Tese de Doutorado. Universidade Federal de
Pernambuco. Recife/PE, 1997.
DOMEL SB, BARANOWSKI T, LEONARD SB, DAVIS H, RILEY P,
BARANOWSKI J. Accuracy of fourth and fifth-grade students’ food records
compared with school-lunch observations. Am J Clin Nutr 1994; 59 (Suppl):
218S-20S.
DRACHLER ML, CORTES SMV, CASTRO JD, LEITE JCC. Proposta de
metodologia para selecionar indicadores de desigualdade em saúde visando
definir prioridades de políticas públicas no Brasil. Ciência e Saúde Coletiva
2003; 8 (2): 461-470.
DWYER JT. Dietary assessment. In: SHILLS ME, OLSON JA, SHIKE M.
Modern nutrition health and disease. 9ed. Philadelphia: Lea & Febiger 1999,
937-59.
ECK IH, KLESGES RC, HANSON CL. Recall of a child’s intake from one meal:
are parents accurate? Am Diet Assoc 1989; 89: 669-74.
FAO/WHO/UNU Expert Consultation Report of a Joint. WHO (1985). Energy
and Protein Requirements. In: Recommended Dietary Allowances 10 ed.
National Academy Press, Washington, DC, 1989.
FAO/OMS. Estudo da insegurança alimentícia no mundo em 2002. Publicação
da FAO por Robert Fogel, 2002.
FARNSWORTH H. Defects, Uses and Abuses of National Food Supply and
Consumption Data, Food Research Institute Studies. Stanford University,
1961.
FILHO MB, FERREIRA LOC. Prevenção e tratamento da anemia nutricional
ferropriva: novos enfoques e perspectivas. Cad de Saúde Publica 1996; 12
(3): 411-15.
FISBERG M, BANDEIRA CRS, BONILHA EA, HALPERN G, HIRSCHBRUCH
MD. Hábitos alimentares na adolescência. Pediatria Moderna, 2000.
FONTANIVE RS, COSTA RS, SOARES EA. Comparison between the
nutricional status of eutrophic and overweight adolescents living in Brazil.
Nutrition Research 2002; (22): 667-78.
104
FOX MK, PAC S, DEVANEY B, JANKOWSKY L. Feeding Infants and Toddlers
study: what foods are infants and toddlers eating? American Dietetic
Association Journal 2004.
FRANK GC. Environmental influences on methods used to collect dietary data
from children. Am J Clin Nutr 1994; 59 (Suppl): 207S 11S.
FRONGILLO EA. Causes and etiology of stunting, Introdution. J Nutr 1999;
129: 529-30.
GALEAZZI MAM, MEIRELES AJA, VIANA RPT, ZABOTTO CB, DOMENE
SAM. Registro Fotográfico para Inquéritos Dietéticos Utensílios e porções.
NEPA/UNICAMP, DNUT/UFG, INAN/MS. Goiânia, MT, 1996.
GALEAZZI MA. Aplicações e limitações ao uso das Pesquisas de Orçamentos
Familiares. In: Consumo alimentar: grandes bases de informação. Simpósio
São Paulo, SP. Instituto Danone, 2000.
GIUGLIANI ERJ, VICTORA CG. Alimentação Complementar. J Pediatria 2000;
76 (Suplemento 3): S253-S62.
GOULART EMA. Metodologia Científica Informática na Pesquisa Médica.
Belo Horizonte, MG, 1999.
GUIA ALIMENTAR PARA CRIANÇAS BRASILEIRAS MENORES DE 2 ANOS,
Ministério da Saúde/OMS/OPS, Brasília, DF, 2002.
GUIMARÃES LV, LATORRE MRD, BARROS MBA. Fatores de risco para
ocorrência de déficit estatural em pré-escolares. Cad Saúde Pública 1999; 15
(3): 605-15.
HACKER A, RYAN C. Prevalence of infant stunting in a urban Kenyan
population. Comparison to the 1998 Kenyan Health and Demographic Survey
and the 2000 CDC Growth Grids. Nutrition Research 2003; 23:1643-49.
IBGE. Estudo Nacional de Despesa Familiar ENDEF. Publicação do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro, RJ, 1976.
IBGE. Dados estatísticos provenientes do Censo Demográfico. Publicação do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Brasil, 2000.
Institute of Medicine. Food and Nutrition Board. Dietary Reference Intakes for
Calcium, Phosphorous, Magnesium, Vitamin D, and Fluoride. Washington, DC:
National Academy Press, 1997.
Institute of Medicine. Food and Nutrition Board. Dietary Reference Intakes for
Vitamin C, Vitamin E, Selenium and Carotenoids. Washington, DC: National
Academy Press, 2000.
Institute of Medicine. Food and Nutrition Board. Dietary Reference Intakes for
105
Vitamin A, Vitamin K, Arsenic, Boron, Chromium, Copper, Iodine, Iron,
Manganess, Molybdenum, Nickel, Vanadium, and Zinc. Washington, DC:
National Academy Press, 2001.
Institute of Medicine. Food and Nutrition Board. Dietary Reference Intakes for
Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein, and Amino
Acids. Washington, DC: National Academy Press, 2002.
Institute of Medicine. Dietary Reference Intakes: applications in dietary
assessment. Washington DC. National Academy Press, 2002.
INAN - Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição. Pesquisa Nacional sobre
Saúde e Nutrição (PNSN, 1989): Resultados preliminares. Brasília (DF):
Ministério da Saúde; 1990.
KARR M, ALPERSTAIN G, CUSER JC, MIRA M. Iron status and anaemia in
preschool children in Sydney. Australia N Z Journal Public Health 1996;
20(6): 618-22.
KLESGES RC, KLESGES LM, BROWN G, FRANK GC. Validation of the 24
hour dietary recall in preschool children. J Am Diet Assoc 1987(10).
LESSA AC, DEVICENZI UM, SIGULEM DM. Comparação da situação
nutricional das crianças de baixa renda no segundo ano de vida, antes e após a
implantação de programa de atenção primária à saúde. Cad de Saúde Publica
2003; 19 (2): 505-14. Mai-Abr.
LIMA NMML. Evolução do Estado Nutricional de Crianças Menores de 5 Anos,
após Implantação do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional no Município
de Viçosa MG. Monografia da Especialização. Universidade Federal de
Viçosa. Viçosa, Minas Gerais, 2002.
LÓPEZ JV. Validez de la evaluación de la ingesta dietética. In: MAJEM LS,
BARTRINA JA, VERDÚ JM. Nutrición y Salud Pública. Métodos, bases
científicas y aplicaciones. Barcelona: Masson, 1995; 132-36.
LOPEZ-MORENO S, GARRIDO-LA TORRE F, HERNÁNDEZ-ÁVILA M.
Desarrollo histórico de la epidemiologia: su formación como disciplina científica.
Salud Pública de México 2000.
LUSTOSA TQO. Para que servem os dados sobre consumo alimentar? In:
Consumo alimentar: grandes bases de informação. Simpósio São Paulo:
Instituto Danone, 2000.
MacKEOWN JM, CLEATON-JONES PE, NORRIS SA. Nutrient intake among a
longitudinal group of urban black South African children at four interceptions
between 1995 e 2000. Nutrition Research 2003; 23;185-97.
106
MAJEM SLI. Tipos de estúdios em epidemiologia nutricional. In: Majem SLI,
Bartrina, JA, Verdú MJ. Nutrición y Salud Pública Métodos, bases
científicas y aplicaciones. Espanha: Masson, S/A, 1995.
MARGETTS BM, NELSON M. Design concepts in Nutritional Epidemiology. 2
ed. New York: Oxford University Press, 1997.
MARR JW. Dietary surveys: purposes and methods. Rev. Nutr e Diet 1971.
MINISTÉRIO DA SAÙDE. Saúde da Criança. Acompanhamento do
Crescimento e Desenvolvimento Infantil. Cadernos de Atenção Básica
11. Brasília, 2002.
MIRANDA AS, FRANCESCHINI SCC, PRIORE SE, EUCLYDES MP, ARAÚJO
RMA, RIBEIRO SMR, NETTO MP, FONSECA MM, ROCHA DS, SILVA DG,
LIMA NMM, MAFFIA UCC. Anemia ferropriva e estado nutricional de crianças
com idade de 12 a 60 meses do município de Viçosa, MG. Rev Nutrição 2003;
16(2): 163-69.
MONDINI D, MONTEIRO, CA. Mudanças no padrão de alimentação da
população urbana brasileira (1962-1988). Rev Saúde Pública 1994; 28 (2):
433-39.
MONTE MCG. Desnutrição: um desafio secular. J Pediatria 2000; 76
(Suplemento 3): S285-S97.
MONTE CG, MUNIZ HC, FILHO SD. Promoção da nutrição de crianças
menores de 5 anos no dia-a-dia da comunidade: Manual para médicos,
enfermeiros, nutricionistas e agentes comunitários de saúde. UFES, Gráfica
Universitária, Vitória, ES, 2001.
MONTEIRO CA, SZARFARC SC. Estudos das condições de saúde das
crianças do município de São Paulo, SP (Brasil), 1984-1985 V Anemia. Rev
Saúde Pública 1987; 21:255-60.
MONTEIRO CA, BENÍCIO MHD, IUNES RF, GOUVEIA NC, CARDOSO MA. A
evolução da desnutrição infantil. In: Monteiro, CA. Velhos e novos males da
saúde pública no Brasil: a evolução do país e de suas tendências. São Paulo,
HUCITEC, 1995.
MONTEIRO CA. O panorama da nutrição infantil nos anos 90. In: Cadernos de
Políticas Sociais. UNICEF 1997; Série Documentos para Discussão, 1. Brasília,
DF.
MONTEIRO CA. La transición epidemiológica en el Brazil. In: La obesidad en la
pobreza: un nuevo reto para la salud pública. Publicación Científica de la
Organization Panamericana de la Salud 2000; 576, 73-83. Washington, D.C.
107
MONTEIRO CA, CONDE, WL. Tendência secular da desnutrição e da
obesidade na infância na cidade de São Paulo (1974 1996). Rev Saúde
Pública 2000; 34 (Suplemento): 52-61.
MONTEIRO CA, SZARFARC SC, MONDINI L. Tendência secular da anemia
na infância na cidade de São Paulo (1984-1996). Rev Saúde Pública 2000; 34
(Suplemento 6): 62 72.
MONTEIRO CA, MONDINI L, COSTA RBL. Mudanças na composição e
adequação nutricional da dieta familiar nas áreas metropolitanas do Brasil
(1988-1996). Rev Saúde Pública 2000; 34 (3): 251-8.
MOTTA MEFA, SILVA GAP. Desnutrição e obesidade em crianças:
delineamento do perfil de uma comunidade de baixa renda. J Pediatria 2001;
77 (4): 288-93.
MURRAY CJL, LOPES, AD. The Global Burden of Disease. Harvard
University Press, 1996; Cambridge, EUA.
NCHS National Center of Health Statistics. Growth Charts for the United
States. Vital Health Stat, 1977.
NOBREGA FJ. Desnutrição Intra-Uterina e Pós-Natal. Panamed Editorial, São
Paulo, 1981.
NOWAK M, BÜTTNER P. Relationship between adolescents food-related
beliefs and food intake behaviors. Nutrition Research 2003; 23: 45-55.
OLIVEIRA SP, THÉBAUD-MONY A. Estudo do consumo alimentar: em busca
de uma abordagem multidisciplinar. Rev Saúde Pública 1997; 31(2): 201-08.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Global database on child growth and
malnutrition. Program of Nutrition Family and Reproductive Health. Geneve:
World Health Organization, 1997a.
ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Médición del cambio del estado
nutricional. Genebra: OMS, 1983.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕS UNIDAS. Encontro de Cúpula pela Criança.
Nova York, 1996.
ORGANIZACIÓN PAN-AMERICANA DE LA SALUD. Organización Mundial de
la Salud. Indicadores para evaluar las practicas de lactancia materna. Genebra:
OPAS/OMS, 1991.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA SAUDE. Saúde no Brasil. Representação
da OPS/OMS, 1998.
OSÓRIO MM. Fatores determinantes da anemia em crianças. J Pedriatria
2002; 72 (4): 269-78.
108
OSÓRIO MM. Perfil Epidemiológico das Anemias e Fatores Associados à
Hemoglobina em Crianças de 6 a 59 meses de idade no Estado de
Pernambuco. Tese de Doutorado. Departamento de Nutrição da Universidade
Federal de Pernambuco, 2000.
PAIVA AA, RONDÓ PHC, GUERRA-SHINOHARA EM. Parâmetros para
avaliação do estado nutricional de ferro. Rev Saúde Pública 2000; 34 (4): 421-
26.
PELLETIER DL, FRONGILLO EA, HABICHT JP. Epidemiological evidence for a
potentiating effect of malnutrition on child mortality. American Journal of
Public Health 1993; 83.
PEREIRA RA, KOIFMAN S. Uso do questionário de freqüência na avaliação do
consumo alimentar pregresso. Rev Saúde Pública 1999; 33 (6): 610-21.
PESMISE III PESQUISA DE SAÚDE MATERNO-INFANTIL DO ESTADO DE
SERGIPE. Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe/UFBA-Escola de
Nutrição/Mestrado em Nutrição, 1998.
PESNPE II PESQUISA DE SAÚDE E NUTRIÇÃO DO ESTADO DE
PERNAMBUCO. INAN, IMIP, DN/UFPE, Secretaria do Estado da Saúde de
Pernambuco, 1998.
PHILIPPI ST, CRUZ ATTR, COLUCCI ACA. Pirâmide Alimentar para crianças
de 2 a 3 anos. Rev Nutrição 2003; 16 (1): 5-9.
PHILIPPI ST, COLUCCI ACA, CRUZ ATR, FERREIRA MN, COUTINHO RLR.
Alimentação saudável na infância e na adolescência. In:Curso de atualização
em alimentação e nutrição para professores da rede pública de ensino.
Piracicaba, SP, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz; 2000; 46-60.
PINHEIRO ABV, LACERDA EMA, BENZECRY EH, GOMES MCS, COSTA VM.
Tabela para Avaliação de Consumo Alimentar em Medidas Caseiras. Grupo de
Pesquisa em Nutrição Materno-Infantil. 2ª Ed 1994.
PNSN PESQUISA NACIONAL SOBRE SAÚDE E NUTRIÇÃO. Ministério da
Saúde, 1986.
POST CLA, VICTORA CG, BARROS AJD. Baixa prevalência de déficit de peso
para estatura: comparação de crianças brasileiras com e sem déficit estatural.
Rev Saúde Pública 1999; 33 (6): 575-85.
RIBAS DLB, PHILPPI ST, TANAKA ACd’A, ZORZATTO JR. Saúde e estado
nutricional de uma população da região Centro-Oeste do Brasil. Rev Saúde
Pública 1999; 33 (4): 358-65.
RICE AL, SACCO L, HYDER A, BLACK RE. Malnutrition as an underlying
cause of childhood deaths associated with infections diseases in developing
countries. WHO. Bulletin of the World Health Organization 2000; 78 (10).
109
ROCKETT HRH, COLDITZ GA. Assessing diets of children and adolescents.
Am J Clin Nutr 1997; 65 (Suppl): 1116S 22S.
ROMANI SAM, LIRA PIC. Fatores Determinantes do Crescimento Infantil. Rev
Bras de Saúde Mater Infantil 2004; 4 (1): 15-23.
SALES RL, ECKHARDT VF, COSTA NMB, SILVA MMS, EUCLYDES MP,
COELHO AIM. Desenvolvimento e validação de instrumentos para avaliação da
ingestão alimentar de grupos populacionais. Anais do VII Simpósio de
iniciação científica. Universidade Federal de Viçosa, MG, 1997.
SALVO VLMA, GIMENO SGA. Reprodutibilidade e validade do questionário de
freqüência de consumo alimentar. Rev Saúde Pública 2002; 36 (4); 505-12.
SALVO VLMA, GIMENO SGA. Métodos de Investigação do Consumo
Alimentar. Entrevista no Site Nutrição em Pauta
www.nutricaoempauta.com.br , 2003.
SANTOS MLP. Bibliografia sobre deficiências de micronutrientes no Brasil,
1990 2000. Brasília: Organização Panamericana da Saúde/OMS, 2002a e
2002b.
SCHAEFER EJ, AUGUSSIN MMS, RASMUSSEN H, ORDOVAS JMO, DWYER
JT. Lack of efficacy of a food-frequency questionnaire in assessing dietary
macronutrient intakes in subjects consuming diets of know composition. Am J
Clin Nutr 2000; 71:746-51.
SCHAIK TFSM. Nutrition surveys in a population. Nutr Metab 1976.
SECRETARIA DO ESTADO DA SAÚDE DE MINAS GERAIS. Saúde Materno-
Infantil em Minas Gerais (1994) e no Norte de Minas (1993). Coordenadoria
de Promoção à Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Belo
Horizonte, MG, 1997.
SICHIERI R, EVERHART JE. Validity of a brazilian food frequency questionary
against dietary recalls and estimated energy intake. Nutrition Research 1998;
18: 1649-59.
SICHIERI R. Epidemiologia da Obesidade. Coleção Saúde e Sociedade 1998;
3: 140p. Universidade Estadual do Rio de Janeiro, RJ.
SIGULEM DM, DEVINCENZI MU, LESSA AC. Diagnóstico do estado
nutricional da criança e do adolescente. J Pediatria 2000; 76 (Suplemento 3):
S275-S84.
SILVA LSM, GIUGLIANI ERJ, AERTS DRGC. Prevalência e determinantes de
anemia em crianças de Porto Alegre, RS, Brasil. Rev Saúde Pública 2001; 35
(1): 66-73.
110
SILVA DG, FRANCESCHINI SCC, PRIORE SE, RIBEIRO SMR, SZARFARC
SC, SOUZA SB, ALMEIDA LP, LIMA NMM, MAFFIA UCC. Anemia Ferropriva
em crianças de 6 a 12 meses atendidas na rede pública de saúde do município
de Viçosa, Minas Gerais. Rev Nutrição 2002; 15 (3): 301-08.
SILVA DG. Fatores de Risco para Anemia Ferropriva em lactentes do município
de Viçosa, Minas Gerais. Tese de Mestrado. Departamento de Nutrição e
Saúde/ Universidade Federal de Viçosa. Viçosa-MG, 2003.
SOARES NT, PARENTE WG. Desnutrição e resultados de reabilitação em
Fortaleza. Rev Saúde Pública 2001; 14 (2): 103-10.
SZARFARC SC, STEFANINI MLR, LERNER BR. Anemia Nutricional no Brasil.
Cadernos de Nutrição 1995; 9: 5 - 24.
TADDEI CAAB. Desvios Nutricionais em Menores de 5 Anos: Evidencias dos
Inquéritos Nacionais. Tese de Livre-Docência. Escola Paulista de Medicina,
UNIFESP. São Paulo-SP, 2000.
TEODORO KCG. Análise do padrão de consumo de macronutrientes de
indivíduos adultos Zona Urbana de Viçosa/MG. Tese de Mestrado.
Departamento de Economia Doméstica da Universidade Federal de Viçosa.
Viçosa-MG, 2002.
THOMPSON FE, BYERS T. Dietary Assessment Resource Manual J Nutr
1994; (Supplement).
TRIGO M. Estudo da Metodologia de Inquérito Dietético: Validade de Método
Recordatório de 24 Horas. Tese de Doutorado em Saúde Pública. USP/São
Paulo, 1993.
UCHIMURA TT, SZARFARC SC, LATORRE MRDO, UCHIMURA NS, SOUZA
SB. Anemia e peso ao nascer. Rev Saúde Pública 2003; 37 (4): 397-403.
ULIJASZEK SJ. Anthropometric Measures. In: Margetts, BM and Nelson, M.
Design Concepts in Nutritional Epidemiology. Oxford University Press, 1997.
UNICEF. Relatório da Situação da Infância Brasileira. Publicação do UNICEF,
Brasília, DF, 2001.
UNICEF. Situação Mundial da Infância. Publicação do UNICEF, Brasília, DF,
1998.
VANNUCCHI H, FREITA MLS, SZARFARC SC. Prevalência de anemias
nutricionais no Brasil, Cadernos de Nutrição 1992; 4: 7-25.
VASCONCELOS M. Caracterização geral e principais aspectos metodológicos
do ENDEF - Estudo Nacional de Despesas Familiares. In: Consumo alimentar:
grandes bases de informação. Simpósio São Paulo: Instituto Danone, 2000.
111
VASCONCELOS FG. Como nasceram meus anjos brancos. A Constituição do
Campo da Nutrição em Saúde Pública em Pernambuco. Recife: Ed. Bagaço,
2001. 174 p.
VICTORA CG. The association between wasting and stunting: As international
perspectives. Journal of Nutrition 1992; 112:1105-110.
VICTORA CG, GIGANTE DP, BARROS AJD, MONTEIRO CA, ONIS M.
Estimativa da prevalência de déficit de altura/idade a partir da prevalência de
déficit de peso/idade em crianças brasileiras. Rev Saúde Pública 1998; 32 (4):
321-27.
VILLAR BS. Desenvolvimento e validação de um questionário semi-quantitativo
de freqüência alimentar para adolescentes. Tese de Doutorado em Saúde
Pública. USP/São Paulo, 2001.
VITERI FE. Absorption of iron supplements administered daily or weekly: a
collaborative study. Nestlé Foundation/Annual Report 1993; 83-96.
WATERLOW JC. Malnutrición proteico-energética. Publicación Científica de
la Organización Mundial de la Salud 1996; Washington (USA), p. 501.
WHO/UNICEF. Consultation on complementary feeding in Monpellier. WHO
Raport, 1995.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Complementary feeding of young children
in developing countries: a review of current scientific knowledge. WHO
Publication, 1998.
WORLD HEALTH ORGANIZATION Iron Deficiency Anaemia assessment,
prevention and control. A guide for programme managers. WHO Publication,
2001.
WIDDOWSON EM. A study of individual children’s diets. In: Reports of The
Medical Research Council. London/UK, 1946-947.
WILLET WC. Foods and Nutrients. In: Nutritional Epidemiology. New York:
Oxford University Press, 1990.
WILLETT WC. Diet and Nutrition. In: SCHOTTENFELD D, FRAUMENI JF.
Cancer
epidemiology and prevention. 2
nd
. Oxford: Oxford University Press; 1996.
WILLETT WC. Future directions in the development of food-frequency
questionnaires. Am J Clin Nutr 1994; 59 (Suppl): 171S-4S.
WILLETT WC. Nutricional Epidemiology. New York: Oxford University Press,
1989:92-126. In: SCHAEFER EJ, AUGUSSIN MMS, RASMUSSEN H,
ORDOVAS JMO, DWYER JT. Lack of efficacy of a food-frequency
questionnaire in assessing dietary macronutrient intakes in subjects consuming
diets of know composition. Am J Clin Nutr 2000; 71:746-51.
112
9. ANEXOS
113
ANEXO 1
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
NOME: ____________________________________________
Fui informado detalhadamente que está sendo desenvolvido um estudo
no Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa
denominado PADRÃO DE CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NO 2º E
3º ANOS DE VIDA ATENDIDAS EM SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE DO
MUNICÍPIO DE VIÇOSA MG”. Estou plenamente esclarecido que, para
participar desse estudo, meu filho (a) será submetido à avaliação do consumo
alimentar por meio de entrevista, quando serão aplicados um questionário de
freqüência alimentar, um recordatório de 24 horas e questionário
socioeconômico e à avaliação das medidas antropométricas (peso e altura).
As entrevistas que avaliarão o consumo alimentar do meu filho (a) serão
respondidas por mim, responsável direto pela sua alimentação.
Todo procedimento a que meu filho (a) se submeterá é indolor, não
invasivo e será aplicado por pessoas previamente treinadas a desenvolver tais
técnicas de coleta, após sua explicação.
Os dados serão sigilosos e privados e a divulgação dos resultados
visará apenas mostrar os benefícios obtidos pela pesquisa, inclusive após a
publicação da mesma.
Qualquer doença ocorrida durante a pesquisa não será de
responsabilidade da equipe de pesquisa, uma vez que a mesma não está
associada a nenhum dano à saúde.
Diante do que me foi exposto, aceito participar deste estudo e permito
que meu filho (a) também participe.
Viçosa (MG), ___/___/___
Nome do participante ___________________________________________
Nome do responsável ___________________________________________
Entrevistadora: Ana Augusta M.
Cavalcante __________________________
Telefone: 31-38913473
114
ANEXO 2
PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA COM SERES HUMANOS
115
ANEXO 3
INQUÉRITOS DIETÉTICOS
(Recordatório 24 horas e Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar)
Projeto: PADRÃO DE CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NO 2
o
E 3
o
ANOS DE VIDA
ATENDIDAS EM SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE VIÇOSA MINAS GERAIS.
Nome:_______________________________________ Sexo: ____ Data ____________
Nascimento:___/___/___
Data entrevista:___/___/___ Dia da semana: ________ Identificação formulário:______
Entrevistador:____________________________ Ass: ________________________
Horário
refeições
Alimentos/preparações Quantidade Observações
116
QUEST FREQ DE CONS ALIM NOME _______________ IDENT _______
ALIMENTOS FREQ SEMANAL FREQ MENSAL MED CASEIRA
(g/ml)
Porco 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Vísceras (miúdos) 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Carne Bovina 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Frango 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Lingüiça 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Peixe 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Ovo 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Leite de V Integ 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Leite em Pó 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Queijo 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Yogurte 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Angu 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Arroz 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Aveia 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Biscoito 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Bolo Básico 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Farofa/Farinha 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Fubarina 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Macarrão 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Maisena 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Mucilon 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Pão Francês 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Pipoca Salgada 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Feijão Cozido 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Alface /Taioba 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Almeirão 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Couve 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Mostarda 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Serralha 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
117
Tomate 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Abóbora 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Cenoura 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Beterraba 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Vagem 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Batata 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Mandioca 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Acerola 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Laranja 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Banana 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Fruta de Conde 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Goiaba 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Mamão 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Chocolate em pó 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Cocada 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Doce de Leite 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Doce de Abóbora 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Doce de Mamão 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Gelatina 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Goiabada 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Pipoca Doce 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Café 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Refrigerante 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Suco de Laranja 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Suco de Limão 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Suc Artif em pó 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Banha de Porco 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Margarina 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Óleo Vegetal Soja 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Torresmo 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
Sopa de Legumes 7 6 5 4 3 2 1 T Q R N
118
ANEXO 4
INQUÉRITO DA SITUAÇÃO SOCIOECONÔMICA, DEMOGRÁFICA E DE
ASSISTÊNCIA À SAÚDE
IDENTIFICAÇÃO DA SITUAÇÃO SOCIOECONÔMICA, DEMOGRÁFICA E
DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE
Identificação do formulário _____ Data Entrevista ___/___/___ Dia da Semana ___________
Nome ______________________________________________ Sexo M ( ) F ( ) DN ____/____/____
Peso ___________ Altura _________cm Peso ao Nascer _______________ Comprimento ao Nascer _______ cm
Endereço ______________________________________________________________________________________
Cartão da criança Sim ( ) Não ( ) Vacinação Atualizada Sim ( ) Não ( )
Freqüência de visitas as Unidades de Saúde
Hospital 2 x mês ( ) 1 x mês ( ) Nenhuma x mês ( )
Centro de Saúde da Mulher e da Criança 2 x mês ( ) 1 x mês ( ) Nenhuma x mês ( )
Posto de Saúde 2 x mês ( ) 1 x mês ( ) Nenhuma x mês ( )
Programa de Saúde da Família 2 x mês ( ) 1 x mês ( ) Nenhuma x mês ( )
Com quem consulta Médico Pediatra ( ) Médico Clínico Geral ( ) Nutricionista ( ) Enfermeiro ( ) Auxiliar de
Enfermagem ( )
Cadastrado no Programa Bolsa Alimentação Sim ( ) Não ( )
Nome da Mãe ou responsável __________________________ Ocupação _______________________
Data Nascimento: ___/___/___
Renda Salarial: Sem Renda ( ) < 1 SM ( ) 1 - 3 SM ( ) 3 - 6 SM ( ) 6 - 8 SM ( ) 8 - 10 SM ( ) >10
SM ( )
Escolaridade Materna Analfabeta ( ) 1 - 4 anos ( ) 4 - 7 anos ( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Médio
Incompleto ( ) Ensino Superior ( )
N
o
de filhos: ____
Posição da criança na família ____
Nome do Pai ou responsável __________________________ Ocupação _______________________
Renda Salarial: Sem renda ( ) < 1 SM ( ) 1 - 3 SM ( ) 3 - 6 SM ( ) 6 - 8 SM ( ) 8 - 10 SM
( ) >10 SM ( )
Escolaridade Paterna Analfabeto ( ) 1 - 4 anos ( ) 4 - 7 anos ( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Médio
Incompleto ( ) Ensino Superior ( )
Morbidade referida dos últimos 15 dias Diarréia ( ) Febre ( ) Vômitos ( ) Infecções cutâneas ( ) Infecções do
Ouvido ( ) Infecções dos Olhos ( ) Infecções da Garganta ( ) Pneumonia ( ) Gripe ( ) Bronquite ( )
Nenhuma ( )
Moradia Própria ( ) Cedida ( ) Alugada ( ) Invadida ( ) Rede de Esgoto ( ) Saneamento ( ) Água
encanada ( ) Poço ( )
N
o
pessoas morando na casa ( ) N
o
de pessoas dependentes ( )
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo