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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
SORAYA CORRÊA DOMINGUES
Cultura Corporal e Meio Ambiente
Na Formação de Professores
Salvador
2005
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2
SORAYA CORRÊA DOMINGUES
Cultura Corporal e Meio Ambiente:
Na Formação de Professores
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
graduação em Educação, Faculdade de
Educação, Faculdade de Educação, Universidade
Federal da Bahia, como requisito parcial para
obtenção do grau de mestre em educação.
Orientadora: Pr.ª Dr.ª Celi Nelza Zülke Taffarel
Salvador
2005
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Biblioteca Anísio Teixeira Faculdade de Educação - UFBA
D671 Domingues, Soraya Corrêa,
Cultura corporal e meio ambiente na formação de professores / Soraya
Corrêa Domingues. 2005.
289 f.; il.
Dissertação (mestrado) Universidade Federal da Bahia, Faculdade de
Educação, 2005.
Orientadora: Profa. Dra. Celi Nelza Zülke Taffarel.
1. Formação de professores. 2. Meio ambiente. 3. Educação ambiental.
I. Taffarel, Celi Nelza Zülke. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade
de Educação. III. Título.
CDD 370.71
4
Dedico
A
Humanidade, em especial aos que assumem a responsabilidade de
com determinação política construir novas relações com a Natureza e
com seus semelhantes que superem as atuais destrutivas relações de
exploração.
5
Agradecimentos
Esta é provavelmente a parte mais difícil desta dissertação, pois
compreendo que todos que existem, vivos ou não contribuíram de alguma forma
com essa produção. Posso afirmar que a vida e não somente a minha que permite
a complexa produção do conhecimento é dela que tudo se torna possível e é para
ela que retornamos nossos esforços.
Mas seria pouco justo não citar alguns nomes que trabalharam de uma
forma mais próxima na minha vida acadêmica, e culmina nessa pesquisa.
No Grupo LEPEL, em especial agradeço aos estudantes por segurar o
núcleo duro no dia-a-dia do trabalho coletivo de uma linha de pesquisa no NE do
Brasil, à Telma Cristina, Silvana Rosso, Cristina Paraíso, Amália Catharina, David
Romão, e Marcio Barbosa. Aos professores do Departamento de Educação Física
e Departamento II por todas as orientações oficiais e extras oficiais desde 1996:
Maria Cecília de Paula, Nair Casagrande, Ney Santos, Romilson Santos, César
Leiro, Pedro Abib e Carlos Roberto Colavolpe. Agradeço aos que mesmo distantes
e algumas vezes presentes contribuíram com a reflexão: Professor Dr. Jurgen
Dieckert, Elenor Kunz, Reiner Hildebrandt-Stramann, Márcia Chaves, Silvio
Gamboa, Helena Freitas. Reconheço também as relevantes contribuições de
Felipe Serpa.
Agradeço também às contribuições teóricas e militantes de professores de
educação física de várias partes do Brasil Solange Lacks, Marcelo Russo, Renato
Sadi e Renan de Almeida.
Nesta trajetória algumas relações se transformaram na minha vida, uns se
afastaram e outros resistiram. Agradeço por compartilhar comigo as dificuldades e
6
as conquistas que envolvem produzir ciência no campo da educação e da
educação física, no nordeste do Brasil. Henriqueta Q. C. Domingues, Marcus
Vinícius do Carmo, Marcio Guedes, Sérgio Morelli, Álvaro Luiz Corrêa, Paulo
Gurgel, Durval Q. C. de Almeida, Marcela e Raquel Girardi.
As orientações não só para as construções destes estudos, mas para toda
a vida, Celi Nelza Zulke Taffarel.
Enfim, os agradecimentos aos trabalhadores brasileiros que com seu
trabalho e suas reivindicações mantém as instituições públicas de ensino superior,
como a UFBA e as agências de financiamento para a pesquisa, como o CNPq e,
de formação de docentes para o ensino superior como a CAPES, sem as quais
não seria possível desenvolver o presente trabalho.
7
"O trabalho é a fonte de toda riqueza, afirmam os economistas. Assim é, com
efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer os materiais que ele converte
em riqueza. O trabalho, porém, é muitíssimo mais do que isso. É a condição
básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto,
podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem”.
Friederich Engels
8
RESUMO
O presente trabalho trata de analisar as relações e contradições entre
educação, cultura corporal e meio ambiente e suas expressões na
organização do trabalho pedagógico na formação de professores,
apresentando elementos sobre possibilidades de essência no trato com o
conhecimento, exemplificando-as em um Projeto Piloto de Atividades
Curriculares em Comunidades da UFBA ACC 465 Cultura Corporal e Meio
Ambiente que articula o ensino, pesquisa e extensão.
Palavras Chave: Formação de professores, meio ambiente, cultura
corporal.
9
ABSTRACT
The present work treats to analyze the relations and contradictions between
education, corporal culture and environment and its expressions in the
organization of the pedagogical work in the formation of professors, presenting
elements on possibilities of essence in the treatment with the knowledge,
exemplify them in a Project Pilot of Curricular Activities in Communities of the
UFBA - 465 ACC Corporal Culture and Environment that education articulates,
search and extension.
Keywords: Formation of professors, environment, corporal culture.
10
Siglas
ED - Educação Ambiental
ACC - Atividade em Comunidade Curricular
EDC - Educação
GRUPO LEPEL - Linha de Estudos e Pesquisa em Educação Física & Esporte e
Lazer
NEPEL - Núcleo de Estudos e Pesquisa em Educação Física Esportes e Lazer
UFBA - Universidade Federal da Bahia
MEC - Ministério da Educação
SESu - Secretaria de Ensino Superior
ANFOPE - Associação Nacional dos Profissionais em Educação
UNE - União Nacional dos Estudantes
CRUB - Conselho de Reitores de Universidades Brasileira
ANDIFES - Associação Nacional dos Dirigentes Federais Ensino Superior
FASUBRA - Federação de Sindicatos de Trabalhadores das Universidades
Brasileiras
ANDES - Sindicato Nacional dos Docentes no Ensino Superior
FORGRAD - Fórum de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras
PNE - Programa Nacional de Educação
IES - Instituições de Ensino Superior
ONU - Organização das Nações Unidas
MMA - Ministério do Meio Ambiente
PRONERA - Programa Nacional de Erradicação do Analfabetismo
PRONEA Programa Nacional de educação Ambiental
11
SEMA - Secretaria Especial do Meio Ambiente
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a
Cultura
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente
PNEA - Política Nacional de Educação Ambiental
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
ALCA - Área de Livre Comércio das Américas
OMC Organização Mundial do Comércio
OMS - Organização Mundial da Saúde
FMDI - Federação Internacional de Medicina Desportiva
FMI Fundo Monetário Internacional
PIB - Produto Interno Bruto
IES Instituições de Nível Superior
PNE Plano nacional de Educação
12
Quadro
QUADRO - Programação Curso de formação de Agentes Ambientais
13
SUMÁRIO
I. INTRODUÇÃO 15
1. PROBLEMTIZANDO O TEMA E DELIMITANDO OBJETIVOS 26
2. DELIMITAÇÂO DO PROBLEMA 26
3. PARÂMETRO TEÓRICO METODOLÓGICO 37
II. DESENVOLVIMENTO 54
4. O DESAFIO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA UFBA 55
4.1 A política de reformulação curricular: o princípio da indissociabilidade 66
4.2 O currículo e a organização do trabalho pedagógico 79
5. A DISCUSSÃO TEORICA: Relação ser humano trabalho - cultura 91
5.1. Educação ambiental 106
5.2. A cultura corporal 130
6. A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA ACC: Cultura Corporal e Meio
Ambiente 173
6.1 Atividade curricular em comunidades 175
6.2 Caracterização da ação pedagógica 181
6.2.1. A região 184
6.2.2. Os encontros 189
14
6.2.3. A avaliação/ Objetivos 215
6.2.4. Conhecimento Construído 219
III. CONCLUSÕES 229
7. Proposta para o trato com o conhecimento na formação de professores 235
8. Limites e Possibilidades para a formação de professores 242
9. A continuidade da problematização e novas hipóteses de estudo 249
IV. BIBLIOGRAFIA 251
V. ANEXOS 265
VI. APÊNDICE A 289
15
1 Introdução
O máximo que faz o animal é colher para
consumir; ao passo que o homem produz, cria
meios de subsistência no mais amplo sentido do
termo, os quais, sem ele, a Natureza jamais
produziria”. (Engels, 1979, p.163)
16
1. PROBLEMTIZANDO O TEMA E DELIMITANDO OBJETIVOS
Esta pesquisa localiza-se entre as que estudam a relação Educação,
Sociedade e Práxis Pedagógica a partir das relações trabalho-educação e parte
da crítica aos conteúdos tratados na prática pedagógica da Formação do
Professor de Educação Física, em especial, a formação da UFBA Universidade
Federal da Bahia.
Vinculou-se com a Linha de Pesquisa Currículo e Tecnologias de
Informação e Comunicação em seu inicio e está sendo defendida na Linha
Educação Física Esporte e Lazer do Programa de Pós-Graduação em Educação
da FACED/ UFBA
1
que concentra interesses de estudos sobre as relações
currículo, trabalho, conhecimento, cultura e comunicação nos seus aspectos
epistemológicos, históricos, sócio-políticos, e institucionais tendo a prática
educacional como base instituinte e ao Grupo LEPEL
2
.
Trata particularmente da problemática da formação dos professores e
da organização do trabalho pedagógico no trato com conhecimentos científicos
referente às relações e contradições entre Homem e Meio Ambiente”.
Reconhecendo, espaços, situações, tempos, saberes e conhecimentos
significativos para a Educação Ambiental e a Cultura Corporal.
Busca especificamente, contribuir com a construção teórica incentivada
a partir da pesquisa matricial do Grupo LEPEL (Linha de Estudo e Pesquisa em
1
A Linha Educação Física Esporte e Lazer , enquanto Linha na Pós-Graduação foi aprovada em 2004 em
reuniões dos colegiados do Departamento de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em Educação
respondendo a uma demanda histórica no nordeste do Brasil onde não existem programas consolidados de
Pós-Graduação em Educação Física.
2
O Grupo LEPEL/FACED/UFBA é certificado pela UFBA desde 2000 e está cadastrada no CNPq - Diretório
Nacional dos Grupos de Pesquisa do Brasil.
17
Educação Física & Esporte e Lazer) que investiga problemáticas significativas no
campo da prática, na formação de professores, produção do conhecimento e
políticas públicas da Educação e Educação Física & Esporte e Lazer.
Análises anteriores sobre a prática pedagógica do professor de
Educação Física na escola pública de Salvador, realizadas pelo coletivo do
NEPEL (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Esportes e Lazer)
3
,
apresentavam indícios de uma prática centrada em tendências pedagógicas
questionáveis cujo enfoque era a perspectiva da aptidão física, com ênfase nas
dimensões biológicas do conhecimento e que privilegiavam o esporte com
referência em práticas Olímpicas. Tais trabalhos foram publicados na Revista
Monitoria da UFBA/ 1997 e confirmam estudos anteriores sobre o assunto como,
por exemplo, as investigações de Castellani Filho (1991), Guiraldhelli Junior
(1988), entre outros.
Com a inserção do Grupo de Pesquisa LEPEL/ FACED/ UFBA no
Programa de Pós-Graduação em Educação em 2000 e o desenvolvimento da
pesquisa matricial, cujo eixo articulador da produção do conhecimento é a prática
e suas problemáticas significativas foi possível planejar, implementar e avaliar
uma experiência concreta que abordasse a questão do trabalho pedagógico no
trato com o conhecimento na formação de professores. Especificamente
conhecimentos científicos que permitem ampliar as referências e as possibilidades
de ações na perspectiva do enfrentamento de contradições como, por exemplo, a
contradição da negação do conhecimento na formação de professores.
3
O NEPEL foi criado em 1997 na FECD/ UFBA.
18
Na condição de auxiliar técnica de pesquisa, financiada pelo CNPq, vim
participando das atividades de instalação e consolidação do Grupo de Pesquisa
LEPEL/ FACED/ UFBA, condição institucional que permitiu a apresentação da
presente pesquisa desenvolvida em sua parte empírica com o oferecimento da
ACC Atividade Curricular em Comunidade EDC 465 Cultura Corporal e Meio
Ambiente.
As ACC Atividades curriculares em Comunidades constituem um
projeto piloto de grande alcance, desenvolvido pela UFBA que visa alterações
curriculares nos cursos de graduação da universidade, através da incidência na
organização do trabalho pedagógico e no trato com o conhecimento.
Outra referência no delineamento da proposta de pesquisa foi a:
experiência acumulada pela professora Celi Taffarel que, ao ministrar junto ao
curso de Educação Física da UFPE a disciplina Sociologia do Esporte para o
curso de licenciatura em educação física, o faz desenvolvendo de forma
problematizadora a temática ”Esporte e Meio Ambiente”, com a colaboração do
Professor Jesus Trasanco
4
no ano de 1999.
Em 2000 realizamos também um estudo sobre a inclusão da temática
“Cultura Corporal e Meio Ambiente” nos currículos de formação de professores da
FACED/ UFBA e nos currículos das escolas de Educação Física do Nordeste do
Brasil, onde constatamos a inexistência do trato com tal conteúdo nos currículos
analisados. (DOMINGUES, 2001).
4
Professor da Universidade de Pinar Del Rio, CUBA.
19
Inquietava-nos o fato de que o homem constrói sua existência em
relações com a natureza e com seus semelhantes, mas o faz de forma a
assegurar um padrão de relação de exploração e explotação, o que está
acentuando a tendência à destruição das forças produtivas o trabalho, o
trabalhador e a natureza. A construção da cultura em geral e em especial a cultura
corporal continua mantendo um padrão destrutivo de relações, no entanto, estes
temas não entram de forma organizada, sistemática nos currículos de formação de
professores.
Contribuíram para ampliar esta nossa hipótese inicial: visita cientifica,
organizada pelo Grupo LEPEL/ FACED/ UFBA, entre as quais, a do Professor
Doutor JURGEN DIECKERT
5
da Universidade de Oldenburg - Alemanha. As
discussões teóricas daí decorrentes acerca da formação dos professores frente às
necessidades e exigências contemporâneas contribuíram para delimitar o
presente estudo.
Reconhecendo, portanto, como problemática de estudo o trabalho
pedagógico no trato com conhecimento de forma a ampliar as referencias para
uma ação pedagógica que enfrente as contradições internas aos currículos, como
é a negação do conhecimento, bem como externas, como é a questão tendência à
destruição da natureza em função do padrão de exploração nas relações sociais
formulamos inicialmente a pergunta cientifica “como pode ser organizado o
conhecimento sobre as relações cultura corporal e meio ambiente na formação de
5
O Professor Dr. Dieckert é especialista em Desporto e Meio Ambiente e nos trouxe uma rica contribuição
sobre os estudos hoje existentes acerca do tema. Constatamos que praticamente não existem produções
teóricas sobre o tema no Brasil.
20
professores?” Para responder a esta questão levantamos a hipótese de que
existem possibilidades de essência de alterações do currículo da graduação,
através da organização do trabalho pedagógico na produção do conhecimento,
integrando-se ações com a pós-graduação, nas ações diretas com a comunidade
pesquisada e por fim na elaboração de políticas públicas vez que o enfrentamento
da questão requer iniciativas de conjunto em vários âmbitos.
A experiência com a ACC “Cultura Corporal e Meio Ambiente” não é a
única experiência em desenvolvimento pelo Grupo da LEPEL/ FACED/ UFBA.
Podemos mencionar também a ACC EDC 464 Ensino e Pesquisa na Roda de
Capoeira e a ACC EDC 456 “Ações pedagógicas interdisciplinares em áreas de
reforma agrária”; Outro projeto, também relevante, desenvolvido pelo Grupo foi o
projeto Agente Jovem” UFBA/ SETRADS. Estes projetos se desdobram junto a
escolas públicas, a Escola Aberta do Calabar; as experiências pedagógicas com
tutorias desenvolvidas junto a disciplinas do curso de graduação, por exemplo, a
disciplina: Ginástica Escolar integrada com a Escola Estadual Evaristo da Veiga, a
disciplina Didática da Educação Física desenvolvida no CEFET/ Bahia. São alguns
projetos, os quais nossa atuação, se deu na perspectiva de construção de uma
unidade teórico-metodológica que nos possibilitasse enfrentar, de conjunto,
contradições presentes na formação de professores de educação física e na
escola pública.
Na condição de Tutora e Auxiliar Técnica de Pesquisa (CNPq) foi
possível acumular elementos da crítica a didática e a organização do trabalho
21
pedagógico e ampliar as referências sobre os nexos, relações e determinações da
prática e do projeto histórico.
A proposta inicial da investigação, denominada: “Ecoesporte:
indicações curriculares para a formação de professores” foi apresentado para
crítica em eventos científicos - Seminário Científico e Tecnológico de Educação
Física (2000) e, exposto na Reunião Especial da SBPC Manaus (2001), cujo
tema central foi Meio Ambiente. A aprovação em um evento da SBPC e as
discussões e interesses suscitados nos estudos preliminares permitiram visualizar
um importante e relevante tema a ser discutido e aprofundado enquanto projeto
investigativo. As contribuições de tais estudos poderão incidir na formação, tanto
de professores em geral, quanto especificamente dos professores de Educação
Física.
O projeto desenvolvido na ACC 465 “Cultura Corporal e Meio
Ambiente” contou a minha participação na condição de tutora e com o professor
Ney Santos do Departamento III/ FACED/ UFBA. Contou, também, com
estagiários científicos do grupo LEPEL a professora Terezinha Perin, com os
estudantes cuja relação segue em anexo, com monitorias. Foi desenvolvido,
conjuntamente, com a Prefeitura Municipal de Vera Cruz/ Bahia/ Brasil e a
Associação de Moradores de Matarandiba, colônia de pescadores da contra costa
da ilha de Itaparica, na Bahia de Todos os Santos.
As ações desenvolvidas no ACC durante os semestres letivos foram
registradas, relatadas e sistematizadas nos relatórios finais, apresentados para a
Pró-reitoria de extensão.
22
A partir destas aproximações com a realidade pesquisada que nos
perguntamos: Como está configurado o trato com o conhecimento a respeito das
relações e contradições entre Cultura Corporal e Meio Ambiente na graduação da
FACED/ UFBA?
Quais as possibilidades e limites dentro da organização do trabalho
pedagógico da FACED/ UFBA de tratarmos da inserção de tal temática na
formação de professores e especificamente dos professores de Educação Física?
Como organizar, implementar e avaliar experiências abertas intercursos
de formação de professores, existentes na FACED, Educação Física, Ciências e
Pedagogia, para introduzir a problemática das relações e contradições entre
“homem e natureza?”.
Um dos pontos centrais do estudo é a crítica a organização do trabalho
para daí criticarmos a organização do trabalho pedagógico e o trato com o
conhecimento, que se expressa atualmente em currículos fragmentados,
extensivos e alienantes. Em outras palavras é a critica as relações estabelecidas
nas práticas educacionais e suas funções e objetivos no que concerne à
socialização para o mundo do trabalho capitalista, onde as forças produtivas, força
de trabalho, ciência e tecnologia e os meios de produção, entram em contradição
com as condições do meio ambiente que vem sendo altamente explorado.
A pesquisa assumiu uma abordagem qualitativa e se desenvolveu com
procedimentos próprios da pesquisa-ação. Foram levadas em consideração as
discussões que analisam relações sociais e as práticas educacionais, suas
23
funções e objetivos no que concerne a sociabilização para o trabalho (ENGUITA,
1989).
Analisamos a educação como prática social que constrói a partir de
conflitos e contradições a socialização para as relações de trabalho, partindo das
relações econômicas do capitalismo o qual, o trabalho humano, vem sendo
determinado historicamente pelas relações de exploração da mais valia através do
trabalho assalariado.
A relação homem e meio ambiente, tendo o trabalho como mediador
alienante e alienador, se intensifica, principalmente a partir da revolução industrial
que com avanço da ciência e da tecnologia, ampliou a produção em larga escala
conseqüentemente, aprofundando a exploração e destruição da natureza.
A respeito da alienação estamos considerando as contribuições de
Chauí (2001, p.172-174) que nos apresenta três formas de alienação existentes
nas sociedades modernas ou capitalistas, a saber: a) alienação social, os homens
não se reconhecem como produtores das instituições sócios-políticos e oscilam
entre duas atitudes ou aceitam passivamente ou se rebelam individualmente; b)
alienação econômica, na qual os produtores não se reconhecem como produtores
e nem se reconhecem nos objetos produzidos; c) alienação intelectual, resultante
da separação social entre trabalho material e trabalho intelectual.
O processo de alienação a que estamos sujeitos no modo de produção da
vida permite que se assegure a dicotomia entre ser humano e natureza, dicotomia
esta expressa nos fatos de que os seres humanos não se reconhecem na
natureza e a destroem. Não existe possibilidade de separação entre homem e
natureza. Esta dicotomia, no entanto, é assegurada pela produção social de bens,
24
pela apropriação privada do resultado do trabalho humano e pela propriedade
privada dos meios de produção. È a forma que o trabalho humano assume no
capitalismo, com seu caráter explorador que separa o ser humano da Natureza.
A relação ser humano, natureza e trabalho é a base para entendermos
porque, inclusive, os esportes, principalmente os esportes de alto rendimento, de
espetáculo, são destruidores do meio ambiente.
O trabalho definido como a atividade prática, mediadora entre o ser
humano e a natureza, é abordado nesta dissertação como eixo central para o
enfrentamento da contradição geral preservação/ destruição do meio ambiente.
Assim como o trabalho nas relações capitalistas, o esporte ou a prática
esportiva também segue a lógica da alienação, ele passa do valor cultural para o
mercantilista resultando em uma relação destruidora da natureza que deve ser
modificada através da construção de uma outra organização do trabalho
pedagógico a partir da concepção da cultura corporal.
Nossa discussão considerou a temática Cultura Corporal e Meio
Ambiente na formação de professores em meio às discussões sobre
reestruturação curricular dos cursos de graduação. Novas diretrizes para a
formação estão sendo definidas o que implica necessariamente na consideração
de concepções curriculares.
As discussões sobre currículo extensivo e intensivo são tomadas de
forma crítica a partir das contribuições de Pedro Demo (2000, p.116) que nos
apresenta uma análise sobre os limites de currículos fragmentado e extensivo e
traz a proposta de currículo intensivo, onde a pesquisa, o ensino e a extensão
trabalham juntos para a formação profissional. De Pistrak (1924) nos valemos das
25
contribuições sobre fundamentos da escola do trabalho e sobre os complexos. Tal
discussão reconhece novas possibilidades de organizar o trabalho pedagógico e
problematiza, de forma interdisciplinar, temas que se configuram como temas
contemporâneos, necessários e que devem perpassar o programa escolar na
perspectiva de um programa de vida, onde a auto-organização, a
autodeterminação, a co-participação, a responsabilidade social são elementos
cruciais.
A transformação do currículo atual levando em consideração a
organização do trabalho pedagógico e o trato com o conhecimento exige intensos
trabalhos investigativos que abordem aspectos históricos da produção do
conhecimento e das políticas públicas. Por isto reconhecemos imediatamente, que
este é um dos muitos estudos que deveremos realizar para aprofundar a temática
visto sua complexidade e abrangência.
Buscamos as bases teóricas que apontaram para a necessidade de
construção de um currículo crítico que saia dos “muros” da escola e da
Universidade utilizando espaços, tempos, implementos, recursos diversos naturais
ou artificiais do meio ambiente atentando para as relações, conexões,
contradições e contribuições entre saber, identidade e poder o que exige
pesquisas que envolvam coletivos que possam ser sujeitos da investigação.
Neste sentido, apresentamos a presente pesquisa que está sendo
consolidada na dinâmica do trabalho da Pós-Graduação em Educação/ UFBA,
perspectivando uma ação impulsionadora para a reconceptualização do currículo
de formação de professores/ UFBA.
26
2 - Delimitação do problema
Sob as condições de uma crise estrutural do
capital, seus conteúdos destrutivos aparecem em
cena trazendo uma vingança, ativando o espectro
de uma incontrolabilidade total, em uma forma que
prefigura a autodestruição tanto do sistema
reprodutivo social como da humanidade em geral”
( Mészáros,2002; 18)
27
Caminhamos para a delimitação do problema a partir de dois
procedimentos: a análise da bibliografia específica da Cultura Corporal, Meio
Ambiente e Formação de Professores; e o desenvolvimento da prática pedagógica
no ACC onde levantamos e analisamos dados empíricos organizados em
relatórios.
Apontamos aqui alguns indicadores destas duas fontes de dados que
permitiram delimitar o problema investigativo.
Os estudos de Enguita (1989) nos apontam que existem contradições
entre educação e trabalho que se expressam, não de maneira mecânica e
reprodutivista, mas sim por mediações, no interior do currículo das escolas. A
escola no seu papel de socialização para o trabalho capitalista e assalariado
cumpre funções na realidade, acompanhada de uma série de conflitos,
mediações, disfunções e processos entrópicos. Tais conflitos, mediações e
disfunções podem ser identificados nos Cursos de Formação de Professores, na
organização do trabalho, no trato com o conhecimento. Especificamente sobre
Cultura Corporal e Meio Ambiente.
Os estudos de Reigota (2001), Guimarães (2000) Cascino (2000),
Penteado (2000) problematizam a questão da formação dos professores e a
problemática do meio ambiente. Distinguindo-se pelas ênfases nos estudos, ora
nas dimensões históricas, ou nas polêmicas, ou nos recursos metodológicos. Os
autores apresentam um elemento comum em suas análises, não é mais possível
imaginar a formação de professores sem trazer com radicalidade a
problematização das relações do “homem com o meio ambiente”.
28
Da idéia de progresso como sendo a exploração do trabalho humano e
a exploração da natureza, hoje se coloca a necessidade de “salvar” o planeta que
está sendo devastado pela lógica do modelo econômico vigente, o sistema
capitalista e seus padrões de dominação e exploração.
A relação de exploração do homem com a natureza e com seus
semelhantes no processo de produção dos meios para viver indicam a
necessidade vital de alteração de padrões de relações, o que passa
necessariamente pelo processo de formação humana, de educação, de
escolarização. Portanto, a problemática torna-se significativa porque é vital para a
própria sobrevivência da terra enquanto meio ambiente em que a vida é possível.
Os padrões de dominação e exploração perpassam também o âmbito
da cultura corporal, ou seja, o âmbito das atividades que assumiram ao longo da
história sentidos e significados diversos entre os quais localizamos as atividades
esportivas. O Esporte enquanto fenômeno social contemporâneo também veio
sendo desenvolvido ao longo dos anos com traços agente agressor da natureza.
O esporte foi considerado dentre outras atividades humanas, como agressora para
a natureza e destruidora do meio ambiente a partir da constatação que para
construir espaços para práticas esportivas a natureza era destruída, os espaços
de práticas corporais populares eram dizimados e projetos agressivos as culturas
locais eram instalados. Desde 1992 quando da realização do Rio Eco o esporte foi
considerado e reconhecido como poluente. Podemos identificar algumas
problemáticas específicas da área: 1 - Os esportes ambientais não atendem as
demandas e as necessidades das questões ambientais, mas sim da indústria
produtora de artigos de esportes em geral; 2 - As práticas geralmente são muito
29
agressivas como o desmatamento para a construção da infra-estrutura e a
destruição de reservas por transportes de materiais necessários para a prática
esportiva específica; 3- Não existe indicador de um comprometimento com áreas
naturais mais sensíveis à destruição que outras mais resistentes a qualquer
agressão; 4 A ausência de consciência política na população em geral e mais
especificamente dos praticantes de esportes permite a destruição de culturas
locais; 5 Não existem leis que garantam uma harmonia entre meio ambiente, a
população local, a fauna e a flora; 6 - A escassez no monitoramento e fiscalização
por parte dos órgãos responsáveis de áreas freqüentadas por atletas naturalistas
e praticantes de esportes radicais.
A evidência de que as práticas esportivas destroem a natureza, mesmo
aquelas que nasceram e existem, hoje, para “proteger” a natureza, como os
esportes radicais e o ecoesporte, nos indicam a necessidade de uma abordagem
educacional a partir da formação de professores.
As proposições de possíveis enfrentamentos dessa e outras
problemáticas da área específica dos Esportes e Meio Ambiente foram
construídas no processo do trabalho pedagógico e de pesquisa-ação entre o
coletivo de alunos da graduação, mestrandos, doutorandos e comunidade local na
disciplina ACC 465 Cultura Corporal e Meio Ambiente. A investigação que se
consolidou em seminários, fóruns de discussão, mesas redondas e com ações
locais permitiu um profícuo diálogo em que, a base teórica explicativa sobre o
fenômeno da destruição da natureza e as relações estabelecidas no âmbito da
cultura corporal foram discutidas. Ficou evidente aos participantes que era
30
necessário conhecer, também, a situação geral da problemática do Meio Ambiente
no Brasil e no mundo.
Muitos autores defendem que é necessária uma nova ética na relação
do homem com a natureza e que isto passa por uma ação pedagógica de caráter
educativo para formar o homo ecologicus. Para analisarmos a situação da relação
esporte e natureza nos valemos da obra de Da Costa 1997 e em especial o texto
produzido por Meinberg (1997) sobre Desporto e Meio Ambiente. O autor destaca
as medidas que permitem evidenciar o quanto à problemática esporte e meio
ambiente está na agenda de praticantes e na agenda política de vários países. As
evidências desta preocupação ambiental em relação ao esporte pode ser
identificada, segundo o autor nas seguintes evidências:
1 Aumento do interesse comum entre o governo o esporte e o meio
ambiente para manter o ambiente sadio;
2 Limites legais bem estabelecidos através do reconhecimento das
políticas públicas nacionais sobre meio ambiente/ esportes e proposições de
acordo com as demandas identificadas;
3- Monitoramento para proteção de áreas mais sensíveis e mapeamento
para o uso de áreas menos sensíveis;
4 - Conscientização da população local e dos atletas que deve ser
conquistada através da educação dentro e fora da escola;
5- Criação de um conselho de ética do desporto e meio ambiente;
6 Criação de um modelo que simbolize a relação homem natureza
HOMO ECOLOGICUS respeitando seu corpo e estabelecendo limites;
31
7 - Ações e discussões do Comitê Olímpico Internacional que está
aliando suas medidas e o seu discurso às idéias novas da ética ambiental e do
desporto.
Nas palavras do Eckhard Meinberg
“... define-se nossa contribuição que enfatiza uma
nova reflexão sobre a ética do desporto. Tendo o
Homo Ecologicus como modelo é pertinente
entender que as pessoas praticando desportos
devem se comportar de modo a minimizar o
conflito desportomeio ambiente. E para que isso
aconteça, a educação se faz necessária: a ética é
dependente da pedagogia”. (MEINBERG apud Da
COSTA, 1997 p.196).
Identificamos, portanto, como prioridade a ação pedagógica, em
especial a ação teórica-prática no curso de formação de professores, para alterar
o trato como o conhecimento, já que ao longo dos anos a Educação Física
brasileira, poucas vezes, esteve articulado com projeto político pedagógico e
social que reconhecesse as atividades do campo da cultura corporal como
elementos constitutivos de uma política cultural para as amplas massas.
Na história da Educação Física, principalmente no período em que se
consolida o modo capitalista de organizar a produção, vamos encontrar as
influências médicas, militares e da instria consolidando um corpo produtivo e os
espaços onde pudessem ser apresentados os mais altos, mais fortes e mais
velozes em competições e com aprimoramento da técnica para altos rendimentos.
32
As questões de ordem ecológica como, por exemplo, as práticas corporais em
contato com a natureza e ao natural, conforme defendiam os filantropistas e
pedagogos do renascimento foram paulatinamente dando lugar a práticas
artificiais, em ambientes artificiais e cada vez mais orientadas pelos padrões
decorrentes das necessidades do mundo do trabalho produtivista, tecnicista e
competitivista. O planeta terra está deixando evidente que não tem condições de
continuar suportando tal relação entre os seres humanos e a natureza. Estamos
hoje, vivendo em um planeta que tem vida e precisa ser cuidado.
Os problemas ambientais estão evidentes tanto no meio urbano, com
altos índices de poluição ambiental, quanto no meio rural, principalmente no
desmatamento e no uso de agrotóxicos. São conseqüências de nossa sociedade
capitalista, consumista e com tendências acentuadas a destruição das forças
produtivas. A lógica desta relação inconseqüente e irresponsável necessita ser
alterada e para tanto a questão deve ser enfrentada por dentro dos cursos de
formação de professores. O trato com o conhecimento na prática pedagógica deve
caminhar na direção de propor ações que alterem a lógica, o trato com o
conhecimento, constatar, explicar, propor e alterar, para o enfrentamento com a
política neoliberal de globalização, política que representa, um dos principais
motivos de destruição do planta.
Ao afirmarmos que as relações entre homem e natureza não são
tratadas na formação de professores, ou quando o são isto se dá a partir de uma
lógica assentada em padrões de dominação e exploração, o fazemos
considerando os resultados do estudo preliminar que realizamos junto a
universidades do nordeste do Brasil.
33
Para conhecermos e nos certificarmos da existência e abordagens da
área específica “Cultura Corporal e Meio Ambiente” realizamos um estudo em
2001 onde consultamos 17 currículos de cursos de educação física de
Universidades do Nordeste do Brasil. Constatamos que não existem evidências
de disciplinas oferecidas com a temática “Cultura Corporal e Meio Ambiente” ou
então de abordagens sistemática de tal conteúdo. Constatamos também que a
produção do conhecimento sobre o tema no nordeste do Brasil é ínfima.
Localizamos precisamente um trabalho na UFPE, desenvolvido pela professora
Celi N. Z. Taffarel na disciplina de Sociologia do Esporte, e que trata justamente
das relações e contradições entre “homem e natureza”.
O enfrentamento da questão da destruição da natureza e das forças
produtivas para preservação do meio ambiente e a garantia da existência humana
no planeta passa pela alteração do trabalho em geral no modo de produção
capitalista e, especificamente, do trabalho pedagógico e sua lógica no trato com o
conhecimento.
Com esta base explicativa aprofundamos a discussão sobre a Formação
de Professores e mais especificamente dos professores de Educação Física da
UFBA: articulando conhecimentos do campo da cultura corporal e do meio
ambiente; oferecendo subsídios teóricos e práticos a respeito da problemática
ambiental e da cultura corporal, buscando construir uma ação político pedagógica
na área Meio Ambiente Cultura Corporal e Formação de Professores que
apontasse para possibilidades de essência na abordagem da problemática
educativa “Cultura Corporal e Meio Ambiente”.
34
Considerando que as relações mais gerais do capital não param na
porta dos cursos de formação de professores, mas neles penetra, não
mecanicamente, mas por mediações no trabalho pedagógico nos propomos a
discutir as contradições do movimento geral do capital que produz socialmente as
mercadorias, em relações destrutivas e as distribui privadamente, e sua expressão
no trabalho pedagógico.
Especificamente nos perguntamos sobre o trabalho pedagógico e o trato
com o conhecimento curricular na FACED/ UFBA, que mantém disciplinas em 19
licenciaturas mais o curso de pedagogia. Perguntamos-nos, como organizar o
trabalho pedagógico e o trato com o conhecimento para ampliar referências e
consolidar base teórica sobre Cultura Corporal e Meio Ambiente na Formação de
Professores. Particularmente nos aprofundamos nos estudos com o Curso de
Educação Física da UFBA
6
onde realizamos a pesquisa-ação, planejando,
implementando e avaliando a ACC 465 Cultura Corporal e Meio Ambiente.
Como questões específicas norteadoras da pesquisa foram levantadas
as seguintes:
- Como o tema cultura corporal e meio ambiente es presente nos cursos de
Pedagogia, Ciências Naturais e Educação Física, a partir da grade curricular?
- Como o tema se apresenta nos currículos de formação de professores de
educação física do nordeste?
6
Esta licenciatura desde sua implantação em 1988 vem buscando a partir de intensos debates, atender as
demandas e exigências identificadas no processo de Formação de Professores da UFBA, situando-a mais
especificamente no contexto escolar, alvo principal de um curso de licenciatura.
35
- Quais as possibilidades do trato com o conhecimento sobre o meio ambiente
e cultura corporal através da atividade curricular em comunidade ACC,
desenvolvida na UFBA?
- Quais os resultados da vivência e experiência de um ACC para os cursos de
Formação de Professores na UFBA que integra ensino, pesquisa e extensão
no trato do complexo temático cultura corporal e meio ambiente?
A pergunta científica que será respondida na presente pesquisa é sobre
qual a possibilidade de essência de alterar a organização do trabalho pedagógico
e o trato com conhecimento sobre Cultura Corporal e Meio Ambiente na Formação
de Professores na FACED/ UFBA? .
Como objetivo, propomos apresentar elementos teóricos que explicam e
justificam alternativas na organização do trabalho pedagógico e trato com o
conhecimento nos currículos enquanto possibilidade de essência para tratar do
complexo temático “Cultura Corporal e Meio Ambiente” na formação de
professores.
São hipóteses do trabalho investigativo:
1. A lógica das relações de produção expressas no mundo do trabalho
através da organização do trabalho capitalista e a relação com a natureza se faz
presente no interior dos cursos de formação de professores, por mediações
ideológicas no trabalho pedagógico e trato com o conhecimento;
2. Existem possibilidades de essência para alterar a lógica na
organização do trabalho pedagógico e no trato com o conhecimento sobre “Cultura
Corporal e Meio Ambiente” na perspectiva do enfrentamento dos mecanismos
ideológicos e de alienação presentes nos cursos através da auto-organização e
36
autodeterminação dos envolvidos no processo pedagógico.
A contrastabilidade de tais hipóteses foi possível pela abordagem de
fontes secundárias, a bibliografia sobre trabalho pedagógico, cultura corporal e
meio ambiente e, fontes primárias, a experiência na ACC “Cultura Corporal e Meio
Ambiente”.
O fio condutor de nosso trabalho é que o homem produz as condições
de sua existência e criando condições objetivas pode frear ou não tendências à
destruição das forças produtivas, sendo que isso passa, necessariamente pelos
processos de formação humana e em especial pelos processos educacionais, e
conseqüentemente, pela formação dos professores.
37
3 Parâmetros teóricos metodológicos
As leis da dialética são, por conseguintes,
extraídas da história da Natureza, assim como da
história da sociedade humana. Não são elas
outras senão as leis mais gerais de ambas essas
fases do desenvolvimento histórico, bem como do
pensamento humano. ( Engels, 1979; p.34)
38
A organização e apropriação do conhecimento contribuem
historicamente com a construção coletiva da ciência. Na realidade na qual nos
situamos, sociedade dividida em classes opostas e contraditórias, os resultados
das pesquisas, organizados e sistematizados em dissertações de mestrado e
teses de doutorado, como também livros e outros produtos científicos da
academia, têm se convertido em força produtiva, política e ideológica. Produtiva
porque interfere no processo de trabalho e na produção de bens, política porque
age, quando adotada em políticas públicas, sobre a vida de todos os cidadãos e,
ideologicamente porque incide sobre as classes sociais, beneficiando umas em
detrimento de outras.
Isto nos indica que o método de investigação é determinante nesta
caracterização do conhecimento científico, indicando o caminho, as técnicas, as
interpretações e o juízo de valores para construir o conhecimento científico. Não
somos neutros no processo de produção do conhecimento científico e sua
apropriação social e, muito menos podemos ser ingênuos.
Os métodos de pesquisar são diversos. Basicamente pode-se resumir
em três grupos. Os que se aproximarem da realidade pesquisada com o intuito de
“testar” e fazer experimentos com grupos para responder a hipóteses previamente
articuladas no pensamento dos intelectuais. Outros que partem da realidade
pesquisada participando no cotidiano das pessoas com o intuito de descrever os
processos da subjetividade das relações inter pessoais. Mas existe o método que
além de partir da critica ao real, de constatar, explicar, levantar hipóteses testá-las
o faz buscando a lógica interna dos processos e suas determinações históricas na
perspectiva da práxis revolucionária para alterar a situação presente.
39
Entendemos que constatar, descrever, sistematizar e organizar são
procedimentos imprescindíveis para a construção do conhecimento, o que exige
instrumentos de pensamento como análise, síntese, generalizações, avaliações
Por isso a aproximação do objeto pesquisado utilizou algumas dessas técnicas,
entendendo que o a produção do conhecimento e o próprio conhecimento em si
não é neutro. Por isto estamos nos situando a partir de interesses de classe, a
classe que vende sua força de trabalho, é explorada e subsumida pelos interesses
do capital. Em assim sendo, colocamos a presente produção científica a serviço
do bem social comum na perspectiva das transformações sociais, para além das
relações sociais capitalista.
Nesta pesquisa, a opção por um método que parte da realidade
concreta, ou seja, da base material, que permite a análise das partes e do todo e
que entende esses elementos construídos historicamente é uma questão de
princípio. Entendemos que a ciência não existe para atender os anseios ideais de
um grupo de intelectuais e pesquisadores, mas sim para contribuir com
elaborações e propostas transformadoras atendendo às problemáticas
significativas, necessárias e vitais da nossa vida em sociedade.
O aprofundamento sobre os estudos na área de Meio Ambiente, Cultura
Corporal e Formação de Professores da UFBA, mas especificamente dos
professores de Educação Física se construiu junto à comunidade pesquisada, em
uma perspectiva inovadora de ação pedagógica. Esta inovação pode ser
localizada na pretensão da pesquisa em ser uma ação pedagógica transformadora
da realidade. Buscamos na base teórica do Materialismo Histórico Dialético e na
proposta pedagógica de Pistrak (2000), não somente o método de análise para
40
compreender a essência dos fenômenos sociais em suas relações recíprocas,
mas também o método de ação eficaz para transformar a ordem existente, no
sentido determinado pela análise.
O fenômeno segundo Kosik (2002) é aquilo que se manifesta
imediatamente, primeiro e com maior freqüência. Mas “a coisa em si“, a estrutura
da coisa não se manifesta imediata e diretamente. É necessário um percurso para
compreendê-la, pois ela foge a percepção imediata, mas não está completamente
oculta, se considerarmos que ao iniciarmos qualquer investigação, devemos
necessariamente possuir uma segura consciência do fato de que existe algo
susceptível de ser definido como estrutura da coisa, essência da coisa, “coisa em
si”, e de que existe uma oculta verdade da coisa, distinta dos fenômenos que se
manifestam imediatamente.
A partir da compreensão de que a essência se manifesta no fenômeno, e
que por isso a existência da “coisa em si”, que não se manifesta imediatamente, é
considerada ao iniciar qualquer investigação, é que se assegura a razão de existir
da ciência e da filosofia, pois “se a aparência fenomênica e a essência das coisas
coincidissem diretamente, a ciência e a filosofia seriam inúteis”. (Ibdem pág. 13)
O diálogo com Goldman permitiu explicitar a importância de construir
uma pesquisa científica através do materialismo histórico e dialético.
Ele identifica a inovação científica de integrar:
O pensamento dos indivíduos ao conjunto da
vida social e notadamente pela análise da função
histórica das classes sociais o fundamento
positivo e científico do conceito de visão de
41
mundo, retirando dele qualquer caráter arbitrário,
especulativo e metafísico. O método dialético
analisa os indivíduos e a relação desses
indivíduos com a realidade e com a totalidade”.
(GOLDMANN, 1979 p. 23).
O materialismo acrescenta Goldman, se constitui uma filosofia
inovadora e aqui, nossa opção por tal base filosófica, pois:
1 - Há na base de uma filosofia materialista e dialética, afirmações de
fato e, sobretudo julgamentos de valor que pretendem ser universal. Em suma, há
julgamentos ontológicos referentes à natureza do cosmos e da realidade humana.
Tomamos aqui posições frente a possibilidades explicativas;
2 Enquanto pensamento filosófico, o humanismo materialista e
dialético exprime no plano conceitual uma concepção específica do mundo e não
pode ser reduzido a um dos múltiplos sistemas filosóficos antes dele;
3 - O humanismo materialista dialético constitui um conjunto coerente de
resposta à maioria dos problemas epistemológicos, práticos e estéticos
apresentados pelas relações entre os seres humanos e suas ações sobre a
natureza.
A caracterização da teoria materialista histórica dialética define e
estabelecem conceituações que se diferenciam das outras vertentes filosóficas. É
exatamente esse ponto que faz dela a teoria capaz de fornecer nexos entre o
nosso processo de pesquisa, ou seja, nexo entre a teoria e a prática entre as
partes e o todo.
42
Quanto à relação das partes e do todo Kosik (2000) nos explica que
considerar o total não é a acumulação de fatos. Os fatos são conhecimentos da
realidade se são compreendidos como fatos de um todo dialético, eles são a parte
estrutural do todo. A realidade é, portanto a totalidade concreta que se transforme
em estrutura significativa para cada fato ou conjunto de fatos, não é pretensão
dialética conhecer todos os aspectos da realidade. A relação recíproca entre as
partes e o todo significa dizer que os fatos isolados são abstrações, são
momentos artificiosamente separados do todo, os quais só quando inseridos no
todo correspondente adquire verdade e concreticidade. Do mesmo modo, o todo
de que não foram diferenciados e determinados os momentos é um todo vazio.
A verdade, segundo a metodologia do materialismo histórico dialético
não é nem inatingível, nem alcançável de uma vez para sempre, mas que ela se
faz, logo se desenvolve, se realiza e se efetua a partir:
1) da critica revolucionária da práxis da humanidade;
2) do pensamento dialético, que dissolve o mundo feitichizado da aparência
para atingir a realidade e a “coisa em si”;
3) das realizações da verdade e criação da realidade humana em um
processo ontogenético, visto que para cada individuo humano o mundo da
verdade é, ao mesmo tempo, uma criação própria e espiritual, como
indivíduo social e histórico.
Analisar a verdade significa entender a lógica da práxis humana nos
seus processos sociais e históricos. O humanismo materialista e dialético afirma
como um valor supremo à realização histórica de uma comunidade autêntica que
passa a existir entre seres humanos inteiramente livres, comunidade que
43
pressupõe a supressão de todos os entraves sociais, jurídicos e econômicos à
liberdade individual, a supressão das classes sociais e da exploração.
O conceito de ser humano presente nesta pesquisa é também um
conceito historicamente definido pelo materialismo dialético. Parte da análise do
ser social, cuja natureza, é agir em colaboração com outros homens para
transformar, por sua ação, o universo e a sociedade no sentido de uma crescente
relação de equilíbrio dos seres humanos sobre o mundo físico, de uma
comunidade cada vez mais ampla e de uma liberdade cada vez maior na vida
social.
É a união desses quatro elementos ação
comum para realizar uma dominação crescente
sobre a natureza, uma comunidade autêntica e
uma liberdade integral que encontramos em
todos os grandes escritos que explicam a idéia
socialista do homem. (GOLDMANN, 1979 p.34).
O imprescindível é entender que sempre haverá relações humanas, pelo
menos enquanto houver vida, e por isso relações históricas e que elas se farão
sempre entre antagonismos e transformações bruscas, essas contradições
estarão sempre em conjunção íntima com o meio social, físico e cósmico.
Os seres humanos vivem em sociedade. No capitalismo a grande
maioria, na base, pertence à classe do proletariado, classe esta que aspira, cada
vez mais, a uma melhoria da qualidade de vida. Não suportam mais as relações
de exploração e dominação. As relações sociais, por serem construções humanas,
podem passar de capitalistas para socialistas. É preciso construir possibilidades
44
de transformações sociais por via da ciência, e mais especificamente da educação
e da formação de professores.
Esta é a luta da presente pesquisa, construir ao longo desses cinco
semestres, através da prática pedagógica, discutindo a formação de professores,
possibilidade de essência para alterar a lógica no trabalho pedagógico que vem
negando, ocultando, silenciando, invertendo, agindo ideologicamente e
contribuindo para a alienação humana, contraditoriamente em um processo
educacional que deveria contribuir para a emancipação. Este é segundo Freitas e
contradição principal do presente momento histórico.
Partindo de uma base teórica marxista os fins e os meios constituem a
totalidade estruturada e dialética, da qual ele deve renovar cada vez a análise
concreta, evitando os dois obstáculos opostos: o maquiavelismo
7
expresso no
ditado os fins justificam os meios; e/ ou o moralismo
8
abstrato que se manifestaria
como uma questão de princípio e de modo absoluto para certos valores ou
instituições a liberdade, a justiça, independente de sua função no conjunto.
Mas a “ação” não é solta no ar, não representa apenas um ativismo. Em
Marx, o pensamento claro e verdadeiro é um valor, pois, através dele podem-se
estabelecer as condições de uma ação eficaz para transformar a sociedade e o
mundo.
Sem reduzir a vida psíquica ao pensamento teórico, e ainda menos o
homem a razão, a filosofia da ação e da comunidade é a filosofia de uma classe
que quer transformar o mundo e que, visando suprimir toda exploração, não tem
7
Terminologia utilizada por Lucien Goldmenn página 33 da Publicação Dialética e Cultura, 1979.
8
Ibidem.
45
mais na sucessão dos fatos, nenhum interesse em impedir uma tomada da
consciência qualquer da realidade social ou um progresso qualquer das ciências
da natureza, mas sim aqueles que contribuam para alterar a realidade.
O materialismo dialético é uma atitude prática diante da vida. É a
ideologia de uma classe que quer transformar o mundo para realizar esse máximo
de comunidade de liberdade humana que será quem sabe, um dia, a sociedade
socialista.
O método dialético nos aproxima verdadeiramente dos meios e dos fins
propostos por nossa pesquisa, pois, este estudo trata de problemáticas
significativas e vitais identificadas e sistematizadas pelo coletivo: a comunidade,
os professores, os alunos da graduação e da pós-graduação, no projeto piloto
interdisciplinar e intercursos ACC 465 “Cultura Corporal e Meio Ambiente”, que
tem como objetivo pedagógico concretizar vivências, experiências e atividades em
comunidade tratando do conhecimento específico a cerca das manifestações da
cultura corporal e suas relações com o meio ambiente. Elementos que foram
tratados dentro do processo de Formação dos Professores de Educação Física da
UFBA.
A pesquisa-ação foi o método de pesquisa que possibilitou a ação
propositiva, comunicativa, dialógica, de ação concreta na realidade e contribuiu
teoricamente para a construção do saber cientificamente elaborado que passamos
a expor.
Os motivos que nos mobilizaram trabalhar na formação de professores
através do projeto piloto ACC EDC 465 Cultura Corporal e Meio Ambiente em
46
comunidade, especificamente na comunidade de Matarandiba
9
, está relacionado
com a necessidade de trabalhar este conhecimento historicamente negado nos
curso de formação de professores em geral assim como a formação de
professores de educação física dentro de uma lógica que permitisse superar a
visão baseada em pseudoconceitos e no senso comum.
Os professores que são responsáveis pelas formações inicial, básica e
continuada dos seres humanos representam uma categoria estratégica para a
disseminação do conhecimento a camadas da população que precisam vender
sua força de trabalho para viver, ou seja, a primeira classe na história, que pode
chegar a uma consciência verdadeiramente autêntica, sair da alienação e
conquistar a transformação e a classe que por força de seu trabalho gera riquezas
e agrega valor em tudo o que produz. Por estar ela na base do processo produtivo
e da pirâmide social é a única que tem a possibilidade de lutar pela transformação
e não pela conservação da sociedade estratificada em classes sociais. Portanto, a
ação da classe é tão importante quanto o plano teórico-ideológico na construção
do conhecimento científico, considerando a sobrevivência coletiva no meio
ambiente. Indivíduos que cooperam para a realização de um mesmo objetivo
necessitam da comunicação para organizar a divisão social do trabalho e
necessitam de instrumentos de pensamento para superar a pseudo
concreticidade
10
e as visões do senso comum sobre os fenômenos sociais e
naturais.
9
Comunidade localizada na contra-costa da Ilha de Itaparica, escolhida pelo coletivo do primeiro semestre da
disciplina ACC EDC 465 Cultura Corporal em Meio Ambiente.
10
Terminologia utilizada por Karel Kosik em sua obra Dialética do Concreto, publicado em sua sétima edição
2002 pela Paz e Terra.
47
Uma pesquisa em que o elemento chave para investigação seja
justamente o componente cultural, ou seja, a relação homem, trabalho e natureza,
presente no cotidiano dos sujeitos pesquisados não pode, segundo Abib (1997),
abrir mão da interação e de uma participação mais efetiva por parte dos
pesquisadores em relação ao contexto onde estes estão inseridos.
Essa interação implica em um contato mais direto do pesquisador e
também nas ações que aproximam a graduação com a comunidade, na
perspectiva de procurar interpretar de forma ampla a dinâmica, as relações que
constituem seu dia-a-dia, apresentando as forças que impulsionam ou que a
retém, identificando as estruturas de poder e os modos de organização de
trabalho, buscando compreender o papel e a atuação de cada sujeito nesse
complexo interacional, onde ações, relações e conteúdos são construídos,
negados, reconstruídos ou modificados.
A escola, espaço de investigação é segundo André (1995), um espaço
social onde se criam e recriam conhecimentos, valores e significados, é um
terreno cultural de múltiplas relações. Este espaço, que sua lógica interna para
organizar o trabalho e tratar do conhecimento, segundo Freitas (1995), está
determinado pelo que está além da escola.
Para compreendermos esta lógica e suas determinações através do
trabalho científico, necessitamos de procedimentos técnicos, teóricos,
metodológicos, que procuramos clarificar de início.
As análises de dados em fontes primárias e secundárias, as
observações participantes, as entrevista intensiva, a construção coletiva de
48
soluções de problemas identificados no processo de pesquisa, a participação em
encontros científicos foram procedimentos que garantiram uma atuação dinâmica
e precisa no decorrer da pesquisa.
As leituras sobre o Trabalho em geral, trabalho pedagógico e trato com
o conhecimento, cultura corporal e meio ambiente, nos levam a entender as
relações na sociedade capitalista construída de forma que assumem o trabalho e
a propriedade. Da propriedade, tribal, comunal, feudal a propriedade privada dos
meios de produção a terra, os instrumentos e a força de trabalho.
Estas relações com base no princípio político da propriedade privada
que não permitem a valorização do ser humano e do seu trabalho livre assim
como não respeita o equilíbrio natural das espécies no planeta.
O motivo primordial de adotarmos esta base teórica, e somente esta, é
porque a mesma responde e ajuda, a construir e analisar exatamente o que nós
identificamos ao longo desse processo como sendo as problemáticas significativas
vitais na área da cultura corporal e do meio ambiente para a formação de
professores, apontando possibilidades de organização do trabalho pedagógico na
perspectiva da integração entre ensino pesquisa e extensão.
A concreticidade, segundo Kosik (2002) está no mundo real que é o
mundo da práxis humana, da realidade humano-social que se apresenta como
unidade de produção e produto, de sujeito e objeto, de gênese e estrutura. Mundo
real em que as coisas, as relações e os significados são considerados como
produtos do ser humano social, e o próprio ser humano, se revela como sujeito
real do mundo social.
49
O coletivo de pesquisadores e a comunidade participante da
investigação e da construção da prática pedagógica na disciplina ACC EDC 465
Cultura Corporal e Meio Ambiente reconheceu-se, portanto, como sujeitos e o
aprofundamento teórico no projeto ACC EDC 465 - Cultura Corporal e Meio
Ambiente permitiu uma ação concreta na comunidade de Matarandiba.
Deste trabalho pedagógico de caráter científico delimitamos e
organizamos um conteúdo específico da área abordada e indicamos o eixo teórico
e norteador de investigações no campo da “Cultura Corporal e Meio Ambiente”.
O estudo nos permitiu reconhecer que a abordagem a partir das
relações e contradições entre Trabalho, Meio Ambiente e Cultura Corporal se
mostra capaz de responder e explicar as necessidades e as representações
sociais da comunidade pesquisada. Entendendo e identificando as leis gerais que
regem o trabalho no modo de produção capitalista e suas relações com o meio
ambiente e compreendendo a lógica interna das partes constituintes deste todo,
as micro-relações, como são o trabalho pedagógico e o trato com o conhecimento,
poderemos estabelecer os nexos e determinações dos fatos e acontecimentos.
A este respeito, nos explica Goldmann, que existe a permanente
oscilação entre as visões de conjunto e as análises de detalhes, o que caracteriza
metodologicamente a presente pesquisa. Negamos o método cartesiano racional
com sua ordem para explicar com racionalidade o objeto. Partimos da totalidade e
entendemos que as partes não podem ser compreendidas nelas próprias, fora de
sua relação com o todo, assim como o todo não pode ser compreendido sem as
suas partes. Por isso, nos propomos a entender as relações e o movimento mais
geral do capital para compreender a relação do homem com o meio ambiente.
50
A preocupação está em descrever a realidade e analisar teóricos que
trazem a discussão mais aprofundada de cada um desses conceitos, para a
compreensão de como o ser humano, e por tanto indivíduo, que possui
consciência individual constitui a consciência coletiva e se relaciona com a
natureza na dinâmica dessa sociedade capitalista.
O aprofundamento de cada um desses termos se faz urgente e
necessário para uma elaboração qualitativa de reestruturação curricular do
processo de formação de professores concretizada a partir desta pesquisa e na
construção da prática pedagógica na ACC.
Para sistematizar os dados levantados em fontes secundárias, livros,
dissertações e teses, e em fontes primárias, a experiência pedagógica, foram
necessários procedimentos investigativos entre os quais destacamos:
- Levantamento, análise e sistematização do conhecimento acerca das
relações trabalho & educação, funções, objetivos, concernentes à socialização
para o trabalho e suas relações com meio ambiente.
- Levantamento e análise das práticas pedagógicas nos cursos de
formação de professores da FACED/ UFBA, no concernente ao trato com o
conhecimento sobre cultura corporal e meio ambiente, a partir de professores,
alunos e administradores dos cursos.
- Planejamento, implementação e avaliação do estudo piloto para
analisar as possibilidades de essência de transformação na organização do
trabalho pedagógico e no trato com o conhecimento a partir da problemática
cultura corporal e meio ambiente. Portanto, analisamos criticamente a proposição
51
do projeto piloto Atividade Curricular em Comunidade - ACC 465 “Cultura
Corporal e Meio Ambiente” para a formação de professores da UFBA.
- Como atividades para subsidiar os estudos levantamos e
analisamos, também, os documentos, oficialmente registrados e publicados em
Encontros e Fóruns Regionais e Mundiais, bem como as medidas governamentais
e não-governamentais (ONG`s) na área de Meio Ambiente e Educação Física.
Os procedimentos metodológicos para o ensino foram construídos no
coletivo da disciplina ACC EDC 465 “Cultura Corporal e Meio Ambiente” e
constaram de atividades para elaboração de instrumentos científicos para
entrevistas, reuniões preparatórias, seminários interativos, festivais e assembléia
na comunidade e demais vivências que se constituem em fonte de dados
primários.
Para a realização das observações utilizamos instrumentos como:
relatório denso e descritivo dos encontros, aulas, reuniões e visitas científicas em
comunidade. Sistematizamos os relatórios parciais semestrais, dos quais,
intensionadamente, selecionamos o mais denso para analisar seus dados. As
técnicas de elaboração de relatórios seguiram as normas próprias da elaboração
de relatórios técnicos científicos.
A produção do conhecimento exposto na presente dissertação decorreu
de três dimensões do trabalho investigativo:
1. Uma mais interna, relacionada com as atividades de ensino e dizem
respeito à delimitação do “estado da arte”, Foi realizada com professores e alunos
a partir da seguinte pergunta científica: O que existe hoje acerca do tema,
acumulado em estudos de dissertações, teses, periódicos, eventos? Como o tema
52
se apresenta na legislação vigente? Como está o debate sobre o tema e as
discussões em fóruns locais, estaduais, regionais, nacionais e internacionais?
2. Outra referente às atividades de pesquisa desenvolvidas com os
alunos junto à comunidade. Coletamos os dados para esta pesquisa a partir da
vivência e experiência na comunidade, levantando documentos, registros não
publicados, periódicos, como também materiais construídos pelo coletivo da
disciplina: relatórios, vídeos e avaliações. Isto implicou em utilizarmos técnicas de
pesquisa, principalmente da pesquisa-ação.
3. Uma terceira dimensão da investigação diz respeito à elaboração de
uma dissertação de mestrado, onde, com a colaboração dos estudantes e demais
pesquisadores do Grupo LEPEL/ FACED/ UFBA e de pesquisadores externos,
formularam-se proposições teóricas e ocorreram os debates científicos. Um
momento formal relevante foi à qualificação da dissertação, da qual participou a
pesquisadora da UNICAMP, Helena Freitas, o professor Felipe Serpa
11
da UFBA
além da orientadora do trabalho. O diálogo científico caracterizado como um
colóquio de pesquisadores
12
contribuiu para a delimitação do estudo e definição
de seus procedimentos. Outros momentos não formais foram às exposições e
explicações que eram dadas ao Grupo LEPEL toda a vez que ocorriam as
avaliações internas dos trabalhos em desenvolvimento pelo Grupo.
11
Esta foi a última participação de Felipe Serpa em banca de qualificação de mestrado, pois o mesmo veio a
falecer em 18 de outubro de 2004, antes da defesa da dissertação.
12
Colóquio de Pesquisadores para a qualificação de projetos de mestrado, realizado na FACED/ UFBA no dia
18 de outubro de 2004 com contribuições dos Professsores Felipe Serpa da UFBA e Helenma de Freitas da
UNICAMP, não se apresenta como exigência do programa de pós-graduação em educação sendo esta
iniciativa apenas da Linha de Estudos e Pesquisa em Educação Física Esportes e Lazer, sob a coordenação da
professora Celi Nelza Zulke Taffarel. Realizado na FACED/ UFBA no dia 18 de outubro de 2004 com
contribuições dos Professsores Felipe Serpa da UFBA e Helenma de Freitas da UNICAMP.
53
Na seqüência exporemos o arcabouço teórico decorrente destas
dimensões da investigação científica.
54
II - DESENVOLVIMENTO
Vivemos numa época de crise histórica sem
precedentes que afeta todas as formas do sistema
do capital, e não apenas o capitalismo. (....)
Apesar de termos de estar alertas para os
imensos perigos que surgem no horizonte, não
basta negá-los para enfrentá-los com todos os
meios ao nosso alcance. É também necessário
definir uma alternativa....” (MÉSZÁROS, 2002;
p.21)
No desenvolvimento do trabalho continuamos a problematizar o tema
agora delimitado as categorias analíticas e empíricas que nos permitem confrontar
as hipóteses do trabalho e apresentar alternativas.
55
4 - O desafio na formação de professores na UFBA
Exatamente por estarmos em um momento
histórico em que o ser humano aparece em perigo;
então estamos sendo convocados a fazer algumas
escolhas decisivas sobre como será o futuro da
humanidade, de todos nós. (CALDART, 2004; p.
17).
56
A elaboração da presente investigação exigiu a organização de
informações sobre a formação de professores e propostas para reestruturação
curricular na graduação. Trata-se aqui de reconhecer a necessidade de alteração
da lógica na organização do trabalho pedagógico e no trato com o conhecimento.
Para exemplificar isto mencionamos a área de estudos que relaciona
educação e meio ambiente, denominada de educação ambiental (EA). Ela propõe
uma racionalidade baseada na complexidade e pode, como afirma Gadotti
13
(2000), influenciar a formação dos sistemas de ensino, tendo como princípio a
descentralização e a gestão democrática, o princípio da autonomia e da
participação. Representa um projeto ecologista cuja idéia central é
... a de que uma modificação no impacto
destrutivo da atual sociedade sobre o meio
ambiente só poderá ser conseguida, de forma
profunda e duradoura, a parir de um amplo
processo de descentralização da economia, do
poder e do espaço social. Isso porque um dos
principais motivos da destruição do atual modelo
está no seu gigantismo e na sua tendência
centralizadora, que tornam cada vez mais difícil o
controle da sociedade sobre o seu
funcionamento”. (LAGO e PÁDUA, 1994 apud
GADOTTI, 2000, p. 93).
13
Professor Titular da Universidade de São Paulo, diretor do Instituto Paulo Freire.
57
A EA entra nos currículos através da transdisciplinaridade e
interdisciplinaridade como afirma o documento base do programa nacional de
educação ambiental
14
. Oferece, portanto, as possibilidades de construção de um
outro currículo, não mais baseado na pedagogia dos conteúdos nascida no
Iluminismo. Ela não pode ser tomada somente como conteúdo pedagógico porque
faz parte de uma lógica educativa. Ter um pensamento ecológico significa pensar
complexidade da vida em equilíbrio no planeta.
Com o objetivo de contribuir com esta discussão sobre outra lógica nas
relações entre o homem e a natureza é que planejamos a ACC EDC 465 “Cultura
Corporal e Meio Ambiente”. Ela representa uma iniciativa conjunta do Grupo
LEPEL/ FACED/ UFBA, sob a coordenação da professora Celi Taffarel, do
Colegiado de Educação Física, do Departamento de Educação Física, com a
colaboração do professor Ney Santos. Integram-se o projeto piloto das Atividades
Curriculares em Comunidade da UFBA criado com o objetivo de construir o
conhecimento sob o tripé da integração ensino-pesquisa-extensão, articulando
alunos da graduação e da pós-graduação, professores da universidade e da
comunidade pesquisada. O Projeto desenvolvido na comunidade de Matarandiba,
Município de Vera Cruz, Bahia, foi desenvolvido durante seis semestres letivos:
2002.1, 2002.2, 2003.1, 2003.2, 2004.1.
Neste tópico procuraremos discutir a legalidade e como foi construída
historicamente, a legitimidade das ACC´s no cotidiano das relações acadêmicas
na UFBA. Reconhecemos esses processos legais e legítimos como fundamentais
14
Documento disponível no Ministério do Meio Ambiente, diz respeito às diretrizes gerais sobre Educação
Ambiental no Brasil.
58
para a estruturação e concretização da ACC EDC 465 - Cultura Corporal e Meio
Ambiente.
Localizamos o processo de construção desta pesquisa dentro das
propostas de reformulação curricular estabelecida pelo MEC para todos os cursos
de nível superior do país. Nesse aspecto nos deteremos a analisar as proposições
de reforma curricular para a formação de professores, por ser o objeto central
dessa pesquisa. Para isso tomamos como documento básico à formulação da
ANFOPE de 2004, as proposições aprovadas no Fórum das Licenciaturas da
UFBA e a Tese de Doutorado da professora Solange Lacks. As informações
específicas sobre o projeto piloto da ACC UFBA tiveram como referência a análise
do documento da Pró-Reitoria de Extensão que atribui suas condições legais e de
funcionamento na graduação.
Segundo Lacks, em 1999 foi elaborado um documento de Política de
Reestruturação dos Currículos dos cursos de graduação da UFBA, seguindo as
determinações da legislação educacional em especial nº 9394/ 96 do MEC e o
edital da SESu, Edital nº 04/ 97, este determina mais especificamente a
reestruturação.
Este documento enfatiza quatro princípios básicos que estão de acordo
com a legislação nacional: a flexibilidade curricular; a autonomia do sujeito em
fase de formação como a condição básica de sua competência; articulação
direcionada à superação e dispersão dos conteúdos ministrados em múltiplas
disciplinas; e atualização dos conteúdos e meios de ensino.
Lacks (2003) aponta a existência de alguns problemas na graduação
identificados pelo Fórum Permanente de Reconstrução Curricular da UFBA como:
59
muitas disciplinas de fundamentação teórica, poucas disciplinas optativas, pouca
flexibilização e atualização dos currículos, desarticulação de conteúdos
curriculares, muitos pré-requisitos, problemas com algumas disciplinas lotadas em
outros departamentos, desatualizarão metodológica, inexistência de avaliação
sistemática, não exigência de trabalhos de conclusão de cursos, pouco
envolvimento de professores nas questões de currículo, dificuldade para elaborar
projetos pedagógicos para os cursos, embates quanto à definição do perfil
profissional, necessidade de ampliação da pós-graduação, número pequeno de
projetos de extensão, falta de estrutura física para os cursos e finalmente a
evasão.
A pró-reitoria de graduação da UFBA estabeleceu um plano de trabalho
a ser realizado entre 2002 até 2006, onde se encontram as propostas para a
reestruturação dos cursos de licenciatura da UFBA. A reestruturação curricular
das licenciaturas aponta para a necessidade de construção de um projeto político
pedagógico que enfrenta as problemáticas apontadas e apresenta um eixo comum
para a reestruturação servindo de base para a elaboração do projeto pedagógico
de cada curso. Os aspetos gerais para orientação no processo e reformulação
curricular das licenciaturas
15
foram propostos pela p-reitoria de Graduação e
15
Os cursos de licenciaturas da Ufba são: ÁREA I (3): Física / Física Noturno, Matemática e Química; ÁREA
II (2): Ciências Biológicas e Ciências Naturais; ÁREA III (6): Ciências Sociais, Educação Física, Filosofia,
Geografia, História e Psicologia; ÁREA IV (3): L. Vernáculas, L. Vernáculas com Língua Estrangeira e
Língua Estrangeira; ÁREA V (4): Dança, Desenho e Plástica, Música e Teatro.
60
aprovados em reuniões específicas para este fim
16
. Este documento especifica as
seguintes diretrizes:
» Os componentes curriculares devem ser definidos pelo Colegiado, de
acordo com o projeto pedagógico do curso.
» Os componentes pedagógicos podem ser ministrados ou não pela
Faculdade de Educação, a critério do Colegiado.
» Os departamentos aprovam a oferta dos componentes curriculares
propostos pelos colegiados.
» O currículo deve estar organizado de modo a possibilitar a oferta dos
componentes semestrais em turno único.
» A duração mínima das licenciaturas deve ser de três anos e a
máxima de quatro anos.
» Os componentes pedagógicos dos currículos das licenciaturas
devem ser, tanto quanto possível, unificados.
» Os colegiados devem concluir as propostas de reformulação
curricular até julho, no máximo.
» Às 400 horas de Prática, previstas na Resolução do CNE 02/02,
deverão ser cumpridas ao longo de todo curso e assumirão formas diversas, a
critério do Colegiado do Curso. Partes desses componentes deverão compor
também o Eixo Pedagógico.
» Às 200 horas de Atividades Complementares podem ser cumpridas
em qualquer instituição, como: cursos livres, participação em atividades de
16
Atas de reuniões da pró-reitoria de graduação datadas no ano de 2003 nos meses de março no dia 18, abril
nos dias 02, 14 e 24, maio no dia 14 e 27, junho no dia 17, julho no dia 30, setembro nos dias 25 e 30 e
novembro nos dias 8, 16 e 30.
61
pesquisa e extensão, bolsas de trabalho, participação em eventos, cursos
seqüenciais, monitorias e outras atividades similares. Poderão ser
aproveitados também componentes curriculares de graduação que não tenham
sido utilizados na integralização do curso.
» Na estruturação do currículo deve ser levada em consideração a:
inclusão apenas dos componentes indispensáveis à construção de uma base a
partir da qual o egresso continuará seu processo de formação; a não
fragmentação e a superposição de conteúdos; a organização de estrutura
curricular flexível, referente principalmente aos pré-requisitos: promover a
interdisciplinaridade; orientação do curso para a conquista da autonomia pelos
estudantes; e inclusão de componentes voltados para a pesquisa na área
específica.
O documento da p-reitoria de graduação refere-se ao eixo pedagógico
e considera as propostas do Departamento de Educação I da Faculdade de
Educação/ UFBA. Este documento sobre as licenciaturas da UFBA aprovado na
pró-reitoria atende às exigências legais sobre formação de professores. O
documento estabelece alguns componentes disciplinares obrigatórios e optativos e
dispões sobre a carga horária da grade curricular entre: conteúdos específicos
1600 horas, prática pedagógica 400 horas, conteúdo pedagógico 204 horas,
estágio supervisionado 400 horas e atividades complementares 200 horas dando
um total de 2804 horas.
Análise realizada por Lacks (2004) que examinou detalhadamente a
proposta de reestruturação curricular das Licenciaturas da UFBA permite constatar
que a proposta da UFBA:
62
... Coaduna-se, perfeitamente com
orientações do ministério da Educação... Perde
assim a oportunidade de defender e implementar
um projeto à altura de sua verdadeira função
social e científica, estendendo-se para além do
capital, com base nas demandas e nas
reivindicações imediatas, históricas e futuras da
sociedade, em particular da classe trabalhadora...
(LACKS, 2003, p. 165).
As críticas de Lacks estão baseadas na compreensão do que é o projeto de
educação neoliberal implementado no Brasil e consideram as reivindicações da
Sociedade Brasileira para a formação de educadores, expressas em documentos
oriundos de encontros nacionais, por exemplo, o documento final do XII Encontro
Nacional da ANFOPE
17
que teve como tema principal Políticas Públicas de
Formação dos Profissionais da Educação: Desafios para as Instituições de Ensino
Superior
18
, e oferece uma posição crítica em relação aos estabelecimentos do
governo federal para a formação de professores.
O documento da ANFOPE de 2004, parte da crítica do concreto, ou seja, a
proposta legal sobre a reformulação dos currículos de formação de professores, e
constrói proposições superadoras. Podemos citar algumas críticas às diretrizes
para estruturação dos currículos de formação de professores como: o fosso entre
17
Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação.
18
Realizou-se em Brasília/ DF, no período de 11 a 13 de agosto de 2.004, com o apoio da Faculdade de
Educação da UnB e da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação.
63
a formação bacharel e licenciado; o estabelecimento das horas para os novos
currículos que permitem ao estudante aproveitar 800 horas como prática
comprovada; a possibilidade de realização do curso no mínimo em 3 anos,
reduzindo sua carga horária e a fragmentação teoria e prática.
A proposta da base comum nacional que vem sendo construída
coletivamente no interior do movimento pela reformulação dos cursos dos
profissionais da educação, entendendo-o como instrumento de luta pela igualdade
nas condições de formação e resistência contra a degradação da profissão do
magistério não é contemplada nas discussões na UFBA.
Outro ponto central na proposta da ANFOPE e a política global de formação
do educador o que implica em uma base comum nacional que integre ensino,
pesquisa, extensão.
"Haverá uma única base comum
nacional para todos os cursos de formação do
educador. Esta base comum será aplicada em
cada instituição de forma a respeitar as
especificidades das várias instâncias formadoras
(Escola Normal, Licenciatura em Pedagogia,
demais Licenciaturas específicas)”. (ANFOPE,
2004 p.13).
Essa proposta busca ser uma superação a proposta oficial que representa
uma concepção fragmentada e instrumental de formação, como também, uma
concepção individualista na sua essência e imediatista em relação ao mercado de
64
trabalho. A proposta oficial pode ser caracterizada como uma concepção limitada
em relação à perspectiva da formação humana omnilateral que defende uma
consistente base teórica onde a se deve:
Dominar o conhecimento específico de sua
área, articulado ao conhecimento pedagógico, em
uma perspectiva de totalidade do conhecimento
socialmente produzido que lhe permita perceber
as relações existentes entre as atividades
educacionais e a totalidade das relações sociais,
econômicas, políticas e culturais em que o
processo educacional ocorre, sendo capaz de
atuar como agente de transformação da realidade
em que se insere”. (ANFOPE, 2004, p.15).
A docência, entendida como trabalho pedagógico, é a base de
identidade de todo trabalhador em educação e requer: a) Sólida formação teórica
e interdisciplinar; b) Unidade entre teoria /prática; c) Gestão democrática; d)
Compromisso social; e) Trabalho coletivo e interdisciplinar; f) Incorporação da
concepção de formação continuada; e g) A avaliação permanente.
O processo de reestruturação curricular das licenciaturas na UFBA
parece desconsiderar as proposições político pedagógico da ANFOPE, e
consolida, sem questionamentos, diretrizes para os cursos de formação de acordo
com as normas estabelecidas pelo governo federal, MEC.
65
Ao questionar os rumos da reestruturação curricular em curso na UFBA
o fazemos para nos situar no embate de projetos entre as propostas da sociedade
brasileira e as propostas de governos neoliberais.
Situamo-nos no presente trabalho de investigação, a partir da ACC EDC
465 - Cultura Corporal e Meio Ambiente de acordo com o que vem defendendo a
ANFOPE. Neste sentido buscamos articulação entre as atividades de ensino,
pesquisa e extensão e o enfrentamento da reformulação curricular, considerando
as possibilidades de flexibilidade curricular, relação teoria/ prática, formação
profissional omnilateral, considerando a docência como a base do perfil do
educador.
66
4.1 - A política de reformulação curricular: o princípio da
integração ensino pesquisa extensão
A dissociação e fragmentação entre ensino - pesquisa - extensão,
perpassam a história da universidade brasileira. As exigências e reivindicações
para que o ensino não seja dissociado da pesquisa e estes da extensão
conformam pautas tanto de professores quanto de estudantes. É uma exigência
também da comunidade que quer uma universidade pautada nas questões e
necessidades vitais para a população. Para responder a este desafio da
integração ensino, pesquisa e extensão a UFBA vêm desenvolvendo propostas
pilotos. Uma delas é a ACC atividade curricular em comunidade.
O projeto da ACC Atividade Curricular em Comunidade representa um
projeto de fôlego da Universidade Federal da Bahia, que teve início nas lutas de
diversos segmentos envolvidos no processo de reformulação curricular e
reestruturação do currículo de professores. Para analisar a consolidação desse
67
projeto nos valemos dos documentos editados e publicados pela Pró-Reitoria de
Extensão/ UFBA sobre as ACC´s.
O projeto piloto da ACC foi consolido na UFBA a partir do semestre
de 2001.2. As influências para associar a graduação ao trabalho de campo
contam, com iniciativas existem desde a década de 60. A União Nacional dos
Estudantes/ UNE, o MEC, o CRUB, entre outros, estiveram envolvidos em ações
comunitárias. Em 68 é divulgado pela Lei de Diretrizes e Bases para Educação a
(lei nº 5540), a idéia de trabalhar ensino, pesquisa e extensão, apresentam-se
ainda segundo o documento sobre a ACC da pró-reitoria de Extensão da UFBA,
de forma tecnicista e fragmentária. Ao final da ditadura militar, abrem-se e
fortalecem instituições democráticas como ANDES, UNE e FASUBRA além do
CRUB e ANDIFES, retornando ao debate sobre Projeto de Universidade e sobre a
extensão universitária. O movimento pela extensão toma fôlego e promove em
1987 I Encontro Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades
Públicas Brasileiras trazendo a discussão para primeiro plano e garantindo a
construção do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Brasileiras.
Inaugura-se, assim, um processo de revisão do conceito da extensão e de
construção coletiva de uma política de extensão para as universidades públicas,
num nível diferenciado. O Fórum retoma as bases do debate sobre a extensão,
recuperando e ressignificando as propostas do movimento estudantil da década
de 60 e do Plano de Trabalho de Extensão Universitária de 1975, que defendia a
indissociabilidade do ensino-pesquisa-extensão na formação acadêmica, sem
fragmentação e sem assumir o valor funcionalista e assistencialista exigida pela
política educacional da época.
68
Na UFBA a concepção de indissociabilidade entre ensino-pesquisa-
extensão veio sendo debatida e fomentada durante a década de 90, intensificando
durante o reitorado do Professor Felipe Serpa, com a implementação do projeto
UFBA em Campo através da Pró-Reitoria de Extensão.
Em 1998, o Plano Nacional de Extensão, elaborado no âmbito do Fórum
de Pró-Reitores toma sua forma definitiva, é publicado e amplamente divulgado,
com o reconhecimento e adesão da Secretaria do Ensino Superior (SESu/ MEC).
Seus conceitos e diretrizes básicas ajudam a implementar, nas universidades
públicas, experiências inovadoras de extensão, que se assentam na busca da
institucionalização e da indissociabilidade, bem como na articulação das funções
acadêmicas com a sociedade.
O conceito de extensão universitária, consignado no Plano Nacional de
Extensão, que constitui a base sobre a qual se assentam às experiências de
extensão empreendidas pela UFBA, particularmente a ACC é:
A Extensão Universitária é os
processos educativos, culturais e científicos, que
articulam o Ensino e Pesquisa de formas
indissociáveis e viabiliza a relação transformadora
entre Universidade e Sociedade. A Extensão é
uma via de mão-dupla, com trânsito assegurado à
comunidade acadêmica, que encontrará, na
sociedade, a oportunidade de elaboração da
práxis de um conhecimento acadêmico. No
69
retorno à Universidade, docentes e discentes
trarão um aprendizado que, submetido à reflexão
teórica, será acrescido àquele conhecimento.
Esse fluxo, que estabelece a troca de
saberes sistematizado, acadêmico e popular, terá
como conseqüências a produção do conhecimento
resultante do confronto com a realidade brasileira
e regional, a democratização do conhecimento
acadêmico e a participação efetiva da comunidade
na atuação da Universidade. Além de
instrumentalizadora deste processo dialético de
teoria/ prática, a Extensão é um trabalho
interdisciplinar que favorece a visão integrada do
social. (UFBA, 2003, p. 6)
O Plano Nacional de Extensão enfatizado pelo projeto da UFBA,
também estabelece princípios que constituem os balizadores da construção da
ACC: a ciência, a arte e a tecnologia devem alicerçar-se nas prioridades do local,
da região, do país; a universidade deve estar sensível a seus problemas e apelos,
quer através dos grupos sociais com os quais interage, ou através das questões
que surgem de suas atividades próprias de ensino, pesquisa e extensão; a
universidade deve participar dos movimentos sociais, priorizando ações que visem
à superação das atuais condições de desigualdade e exclusão existentes no
Brasil; deve entender a população como objeto e sujeito de suas pesquisas, tendo
70
ela, portanto, pleno direito de acesso às informações resultantes dessas
pesquisas; a prestação de serviços deve ser produto de interesse acadêmico,
devendo ser encarada como um trabalho social, que se constitui a partir da
realidade e sobre a realidade objetiva, produzindo conhecimentos que visa à
transformação social; a atuação junto ao sistema de ensino público deve se
constituir em uma das diretrizes prioritárias para o fortalecimento da Educação
Básica através de contribuições técnico-científicas e colaboração na construção e
difusão dos valores da cidadania.
Por sua vez, o Fórum de P-Reitores de Graduação das Universidades
Brasileiras (FORGRAD) também gerou o seu Plano Nacional de Graduação.
Nesse Fórum, a atenção voltou-se para a definição de novas perspectivas para as
universidades e para os seus cursos de graduação. Um de seus textos propõe que
o projeto pedagógico deve garantir uma formação global e crítica capacitando os
profissionais para a cidadania, capazes de transformar a realidade com
formulações de respostas para os grandes problemas da contemporaneidade.
Neste sentido, no diagnóstico sobre o ensino superior no Brasil,
apresentado no Plano Nacional de Educação destaca-se que a universidade
brasileira:
... Começa a perceber que, no que
concerne à graduação, a liberdade acadêmica e a
autonomia se traduzem concretamente na
possibilidade de apresentar soluções próprias
71
para os problemas da educação superior e não
reproduzir fórmulas pré-determinadas. Essas
soluções passam, necessariamente, por
experimentar novas opções de cursos e
currículos, ao mesmo tempo em que alternativas
didáticas e pedagógicas são implementadas.
(Ibidem, p. 7)
No entanto, em 1996, quando das formulações da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (artigo 43 Lei 9394/ 96) não são aproveitadas devidamente as
contribuições contidas nos documentos gerados nos movimentos sociais
organizados como, por exemplo, os documentos resultantes dos Fóruns de Pró-
Reitorias sobre o ensino, pesquisa e extensão. Mesmo assim, o PNE concretiza
em seu documento algumas proposições que se volta para a extensão, o ensino e
a pesquisa como estratégias de formação, que exigem reflexão e ação das IES
quanto à avaliação, currículos, temáticas curriculares e planejamento institucional
da extensão.
No caso específico da UFBA, isto significou a criação de espaços para
atividades curriculares para além da grade curricular. Significou o espaço de
criação de ACC e de outras atividades de extensão nos projetos pedagógicos de
seus cursos.
O Conselho Nacional de Educação (criado pela lei 9131 em seu
Parecer 776/CES de 13.12.97), também estabelece orientações para a formulação
de diretrizes curriculares, nas quais podem ser verificados traços que constituem o
72
pensamento atual sobre a configuração dos cursos de graduação, como assegurar
maior flexibilidade na organização de cursos e carreiras, atendendo à crescente
heterogeneidade tanto da formação prévia como das expectativas e dos
interesses dos estudantes, intensificando-se e aprofundando-se a revisão de toda
a tradição que burocratiza os cursos e se revela contraditório com as tendências
contemporâneas de considerar a boa formação no nível de graduação como uma
etapa inicial da formação continuada.
Os currículos universitários devem desenvolver no estudante
capacidade intelectual e profissional autônomo e permanente.
“Devem induzir a implementação de
programas de iniciação científica nos qual o aluno
desenvolva sua criatividade e análise crítica.
Finalmente, devem incluir dimensões éticas e
humanísticas, desenvolvendo no aluno atitudes e
valores orientados para a cidadania... Abandonar
as características de que muitas vezes se
revestem, quais sejam as de atuarem como meros
instrumentos de transmissão de conhecimento e
informações,... Preparando o futuro graduado para
enfrentar os desafios das rápidas transformações
da sociedade, do mercado de trabalho e das
condições de exercício profissional”. (ibidem, p.
10).
73
A conjuntura favorece a oficialização e as condições objetivas para a
organização da extensão universitária. Em termos de normatização encontramos:
A Resolução 02/96 da Câmara de
Extensão do Conselho de Coordenação da UFBA, Art.
1 º. Sobre a extensão universitária.
A política de reestruturação dos Currículos
dos Cursos de Graduação da UFBA, proposta pela Pró-
Reitoria de Graduação e aprovada pela Câmara de
Graduação em 7/10/99
19
;
A Resolução n º 02/00 do Conselho de
Coordenação da UFBA, no § 7 º do Art. 8 º. Estabelece
a obrigatoriedade de extensão em todos os currículos
da UFBA. (Idem p. 10)
Temos, portanto, elementos suficientes para legitimar a necessidade de
avaliação e de reestruturação dos currículos da UFBA. No entanto, a experiência
de implementação das ACC, conforme expresso em Documento da Pró-Reitoria
de Extensão está sendo um processo lento de reconhecimento oficial. Admite o
documento, que existem diversos tipos de resistências às transformações
necessárias para a estruturação de uma nova “ordem”. O maior entrave é
reconhecer a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão como princípio
educativo. Embora, a ACC seja aproveitada em créditos para o histórico
19
Fator determinante legalmente para o favorecimento da proposta ACC EDC Cultura Corporal e Meio
Ambiente como permanente nos currículos de formação de professores da UFBA. Documento em anexo.
74
acadêmico ainda existem resistências. No entanto, conforme ressalta o
documento da Pró-Reitoria de Extensão:
“É necessário experimentar desenhos
curriculares em que a extensão e a pesquisa
estejam inseridas não como apêndices
curriculares opcionais, mas como práticas
essencialmente pedagógicas, vinculadas
visceralmente ao processo de formação”. (Ibidem,
p. 11).
Oficialmente, a ACC integra, a partir de 2001.1
20
, os currículos de
formação profissional como disciplinas de projetos de extensão universitária
reconhecida, registrada e comprovada nos históricos acadêmicos, com carga
horária de 60 horas e 4 créditos.
Anterior a ACC desenvolvia-se o projeto denominado, UFBA em Campo.
Com a nova formatação das atividades estas passaram a não ser mais chamada
de UFBA em CAMPO, mas ACC - Atividade Curricular em Comunidade cuja
mudança apresentou algumas diferenciações e reafirmações.
Reafirmam-se, na ACC, as seguintes características do “UFBA EM
CAMPO”:
“Compromisso de colocar o
conhecimento a serviço das parcelas da
população que dele são privadas; experiência de
20
A aprovação do projeto piloto das ACC´s na Câmara de Ensino de Graduação se deu em 19.11.2000.
75
produção compartilhada de conhecimento;
compreensão do conhecimento como ferramenta
de transformação; compreensão da necessidade
de um enfoque multidisciplinar dos problemas da
realidade (superando-se a visão fragmentada e
fragmentária das disciplinas fechadas nos
currículos); reflexão sobre temas desafiadores tais
como: conhecimento e poder, conhecimento
cidadania, conhecimento e transformação da
realidade e outros”. (Idem, p. 16).
A ACC propõe a realização de diferentes atividades que podemos
destacar aqui: o desenvolvimento de atividades pedagógicas de intercâmbio de
conhecimentos entre a universidade e a população; a promoção dos meios de
conhecimento de realidades específicas, elaborando, coletivamente pesquisas de
campo buscando soluções de problemas da realidade; vivência práticas
profissionais de forma cooperativa e multidisciplinar em situações concretas de
demandas da população; acompanhamento, apoio e assessoramento de projetos
comunitários em desenvolvimento; desenvolvimento de atividades artísticas ou de
resgate da memória cultural em comunidades; agregação de aspectos qualitativos
de interesse ou de necessidade da população nas ações promovidas pelo poder
público ou por organizações da sociedade civil.
76
As ACC´s integram atividades de extensão e contam com um coletivo
de pesquisadores entre estudantes da graduação e da pós-graduação, monitores
(as), coordenadores e agregados.
Foi determinado também que os procedimentos de avaliação das
atividades desenvolvidas pelo coletivo devem se dá ao longo de todo o semestre
letivo através de reuniões, encontros e seminários. É exigido o relato das
atividades mensais dos monitores de cada ACC e também o relato minucioso por
cada ACC. Estes documentos são entregues a Pró-Reitoria de Extensão ao final
do semestre.
Os resultados e os produtos apresentados são os relatórios, as
monografias, vídeos, materiais imagéticos em geral e a produção de teses de
Doutorado e Dissertações de Mestrado como a nossa, que vêm consolidar o
trabalho da ACC “Cultura Corporal e Meio”. Hoje, a ACC/ UFBA está em fase de
reformulação, pois apresenta alguns entraves no dia-a-dia acadêmico que
precisam ser superados pela comunidade científica envolvida no processo.
A reestruturação dos currículos de Formação dos Professores em curso
na UFBA permite a implementação de nossa proposta que trata a temática
específica “Cultura Corporal e Meio Ambiente” como um dos conhecimentos
exigidos para a formação dos professores/ UFBA. Em documento elaborado pelo
Grupo LEPEL/ FACED/ UFBA
21
são apresentados aos cursos de Licenciatura da
UFBA os argumentos que justificam porque tal conteúdo deve compor o currículo
dos cursos de graduação de professores. O Grupo LEPEL, após vários semestres
21
O conteúdo deste documento pode ser verificado em anexo A.
77
de experiências com as ACC`s defende também que o curso de licenciatura
ampliada seja constituído por conhecimentos identificadores da área,
conhecimentos de formação ampliada e conhecimentos identificadores de
aprofundamento de estudos, sendo 50% destes organizados em disciplinas e
atividades de caráter obrigatório e 50% de caráter opcional.
O conhecimento da cultura corporal e do meio ambiente está proposta
como um dos pontos para a formação ampliada nos seguintes termos. No
parágrafo primeiro sobre os conhecimentos de formação ampliada abrange entre
outras as seguintes dimensões: relação ser humano e natureza e no parágrafo
segundo sobre os conhecimentos identificadores da educação física abrange a
dimensão da Cultura Corporal Natureza Humana
22
.
A proposta de incluir o conhecimento sobre a Cultura Corporal e Meio
Ambiente, tanto no curso de Educação Física, quanto nas demais licenciaturas
esta em discussão na FACED/ UFBA, na congregação da Faculdade de Educação
e no Fórum de reestruturação curricular da UFBA, tanto para o curso de
licenciatura em Educação Física, quanto para os demais cursos que foram
professores na UFBA.
Portanto, foi a partir da crítica às realidades atuais, no que diz
respeito, ao currículo de graduação especificamente na organização do trabalho
pedagógico e no trato com o conhecimento, que vai se consolidar a proposta de
integração entre ensino, pesquisa e extensão.
22
O documento referido está em anexo.
78
Portanto, concomitante com as propostas dos Fóruns de Graduação
e Extensão são iniciadas experiências curriculares, entre as quais o projeto UFBA
em CAMPO e posteriormente as Atividades Curriculares em Comunidade que
apontam para a reestruturação dos currículos de formação de professores da
UFBA.
79
4.2 - O currículo e a organização do trabalho pedagógico
O desenvolvimento desta pesquisa requer também uma compreensão
geral sobre Formação de Professores, Meio Ambiente e Cultura Corporal e
específica sobre organização do trabalho pedagógico e trato com o conhecimento.
O currículo deve representar um espaço de construção coletiva do
saber. Um espaço de relações de poder, de conflitos e de resistência, onde
professor e estudante tratam do conhecimento para a construção e transformação
deste currículo e da sociedade, através do trabalho pedagógico.
A compreensão sobre a importância do trabalho pedagógico para a
reformulação curricular é bem sistematizada por Taffarel (1993), e concordamos
quando ela afirma que o processo de trabalho é reproduzido e reafirmado para
formar novo e futuro trabalhador.
80
A crítica elaborada nos estudos de Taffarel, (1993) aponta para a
permanência de currículos fragmentados em grades de disciplinas fechadas e pré-
determinadas na formação de professores de educação física. A organização, no
processo de construção do conhecimento, é fragmentada, correspondendo ao
modelo de fabricação de mercadorias, onde encontramos os que projetam e os
que fazem, ou seja, o trabalho intelectual e braçal. O trabalho em geral determina
as relações também na gestão pedagógica, passando a gestão a ser um dos
pontos cruciais para modificar a organização do processo pedagógico.
A este respeito nos diz Freitas que:
A organização do processo de trabalho
pedagógico da escola como um todo, constitui-se
hoje, em uma grande trava para as mudanças de
conteúdo, métodos e objetivos da escola, porque
ela encarna as necessidades da organização
capitalista que atribui à escola uma função social
seletiva e preparatória para as relações sociais de
produção capitalista. Esta organização do trabalho
pedagógico da escola como um todo, é apoiada (e
ao mesmo tempo apóia) pela organização do
trabalho em sala de aula (...) onde os objetivos,
métodos e conteúdos são categorias que
organizam a sala de aula e estão perpassados por
relações de poder que se sustentam a partir das
81
práticas de avaliação do professores (...) relações
que são uma antecipação na escola, das relações
de poder no interior da fábrica. (FREITAS 1991,
p. 121).
A busca por novas organizações do trabalho pedagógico, na escola,
com a finalidade de formar um novo homem, engloba um conjunto de novos
enunciados, com o objetivo de alterar o ensino tradicional proposto pela escola
capitalista.
Um destes enunciados fundamentais é o do trabalho como princípio
educativo. Pistrak (2000) na pedagogia socialista traz a aplicação do “princípio da
pesquisa” a partir do próprio trabalho produtivo para a organização do trabalho
pedagógico, significando isto, segundo Taffarel,
... O conteúdo do ensino consiste em
armar o educando para a luta e a criação de uma
nova sociedade, compreendendo-se o que é
preciso construir, e de que maneira é necessário
fazê-lo, valorizando-se o trabalho coletivo e
formas organizacionais eficazes, sendo o
conhecimento do real e a auto-organização do
coletivo escolar os elementos fundamentais de
uma escola inserida na luta pela criação de novas
relações sociais. Isto implica que a ciência deve
ser ensinada como um meio para conhecer e
82
transformar a realidade, permitindo que os alunos
se apropriem solidamente dos métodos científicos
fundamentais para analisar as manifestações da
vida”. (TAFFAREL,1993 p 102).
Criticamos a educação que intencionalmente, ou não, reproduz e ratifica
as relações sociais da indústria e da produção capitalista e acreditamos que a
teoria pedagógica pode e deve ser revolucionária, mas para isso é necessária
uma teoria revolucionária que guie a prática pedagógica para outra orientação,
uma outra lógica no trato com o conhecimento, ou seja, uma outra teoria do
conhecimento.
Esses indicadores advêm de experiências históricas da classe
trabalhadora como foram as experiências para implementar a escola socialista, no
inicio do século XX. Eles podem ser considerados válidos para a escola
capitalista, partindo do pressuposto dialético que o novo nasce das contradições
internas do antigo e o modo de produção capitalista ainda não foi superado.
Pistrak (2000) leva em consideração elementos essenciais para a
concretização da escola do trabalho: auto-organização dos alunos e a relação dos
processos pedagógicos com a realidade atual. O primeiro, permitindo que o aluno
tenha um conhecimento e desenvolvimento mais amplo e participativo em todos
os níveis de relações na sociedade, na gestão pedagógica, na participação
política, no processo de ensino e fora dele. O segundo, refere-se aos fenômenos e
suas relações como um processo histórico geral o que se torna possível quando
os temas geradores de conteúdos partem especialmente da realidade concreta.
83
O ponto central de nossa pesquisa é organizar o trabalho pedagógico a
partir do trabalho social e produtivo, pois este oferece subsídios para uma
aproximação da realidade concreta, identificando as problemáticas significativas e
compondo um projeto político alternativo que as responda e as solucione.
A nossa construção segue o mesmo caminho e orientações teóricas
trazidas por Freitas (1996) e também Pistrak (1924) entendendo que a prática
pedagógica tem como eixo articulador e princípio pedagógico: o trabalho.
A construção da ACC EDC - Cultura Corporal e Meio Ambiente, como é
proposto pelo próprio projeto piloto da UFBA, deve integrar a teoria e prática como
práxis pedagógica e estabelecer no currículo de formação de professores a
relação com o trabalho produtivo.
Para a formação de professores temos hoje determinado pela LDB
9394/ 96, a obrigatoriedade de 400 horas no mínimo de prática pedagógica nos
seus currículos. A necessidade da busca pela realidade do trabalho docente é
legalizada, mas, é necessário legitimar e definir como essa relação se constituirá
por dentro do currículo de formação de professores.
Para tanto viemos ao longo dessa pesquisa nos orientando
teoricamente com alguns autores que compreendem a prática pedagógica no
sentido mais amplo, ou seja, no sentido de práxis pedagógica, onde a relação
teoria e pratica está intrinsecamente indissociável.
84
Concordamos com Taffarel, Escobar e França em um artigo da Revista
Motrivivência, dezembro de 1995, quando elas afirmam ser o objetivo da
materialização do eixo curricular através da prática pedagógica a ampliação da:
Capacidade de reflexão crítica dos
alunos ação-reflexão-ação manifesta em suas
competências e capacidades humanas
relacionais, no processo de sistematizar organizar
dados da realidade, compreendê-los, interpretá-
los, explicá-los e assim intervir criticamente no
âmbito da cultura corporal e esportiva, sendo
essas as aprendizagens escolares indicadas e
privilegiadas no currículo, ou seja, competências
humanas relacionais, na construção coletiva do
conhecimento, que pressupõe as aprendizagens
individuais, a partir de vivências coletivas das
atividades corporais e esportivas. (TAFFAREL,
ESCOBAR, FRANÇA, 1995, p. 125).
Neste mesmo sentido, Freitas (1996) destaca que a relação teoria-
prática, na formação dos professores, expressa diferentes concepções de
conhecimento, que é representação da divisão social entre teoria e prática do
processo de produção capitalista.
Portanto, sendo o trabalho a forma com que o homem se apropria da
natureza, e é através dele que se abre a possibilidade de conhecimento e de
85
desenvolvimento científico é pelo trabalho nas comunidades que vamos nos
apropriar do real, valendo-nos de instrumentos de pensamento e instrumentos
científicos que superem as falsas visões do real. Segundo Freitas (1996, p.43) o
trabalho é a possibilidade concreta de articulação entre objetivação e
apropriação.
A ACC tem possibilitado esta construção coerente da prática
pedagógica na formação de professores, partindo do trabalho pedagógico em
realidades concretas, como no nosso caso particular, trabalhamos com a
comunidade de Matarandiba tratando das questões relacionadas ao Meio
Ambiente e Cultura Corporal.
A nossa proposta que se consolida na práxis pedagógica tem seus fins
na implementação do currículo de formação de professores, mas qual o currículo
que estamos nos referindo? Anunciamos que seja um currículo que garanta a
formação profissional baseado no princípio da indissociabilidade entre ensino-
pesquisa-extensão. Neste sentido Pistrak (1924), bem como, Pedro Demo (2000)
propõem um currículo organizado para o trabalho e para a transformação da
sociedade a partir de ações críticas.
Para o método de ensino e pesquisa buscamos subsídios da educação
problematizadora, onde os problemas são complexos que se articula em sistema
de temas geradores de discussão e representam os temas significativos para a
construção dos conteúdos do nosso currículo. A proposta de currículo intensivo é
discutida porque através da pesquisa, do questionamento, da investigação, da
86
resolução de problemas é possível uma contribuição efetiva a ampliação da
compreensão sobre o tema.
A constituição deste currículo exige uma revisão e aprofundamento de
alguns conceitos e algumas relações do processo pedagógico. Os estudantes
devem ingressar na universidade e encontrar um campo, onde possam contribuir
na construção do conhecimento científico, desenvolver suas idéias, expressar sua
cultura e responder às demandas e aos problemas que estão dispostos na
realidade.
A questão ambiental é uma questão emergente em nossa sociedade
capitalista que se apresenta na sua forma e em seu conteúdo como destruidora
dos recursos naturais e não-renováveis. Partimos desta problematização junto à
graduação nos cursos de Formação de Professores. A realização do projeto parte
do levantamento de questões relacionada a essa problemática buscando abalizá-
la, vivenciá-la junto a comunidades e contribuir na teorização científica desta
temática.
Temos na UFBA uma grade curricular de caráter extensivo o que
significa, fechada e fragmentada, aulas expositivas, alunos e professores presos
em um mesmo ambiente acadêmico (a sala de aula) passeio genérico e superficial
pelos conteúdos, prática como puro treinamento e absorção do conhecimento
despejado pelo professor, o único dono do saber. Esse tipo de currículo resulta na
formação, alienada do professor. Dados de pesquisa realizada pelo NEPEL em
1997 em escolas da rede pública de Salvador evidenciam isto. Para uma ação
pedagógica na escola ou em qualquer outro ambiente de ensino aprendizado, são
87
necessários instrumentos suficientes para intervir e transformar a realidade social
em que estamos inseridos.
Apontamos para a possibilidade de construção de um complexo
curricular que possa problematizar uma de nossas problemáticas significativas.
Permitindo alterar a organização do trabalho pedagógico a partir da prática
pedagógica nos cursos de Formação de Professores. Juntamente com o coletivo
de pesquisadores do doutorado, do mestrado e da própria graduação, a ACC EDC
465 Cultura Corporal e Meio Ambiente lança a oportunidade de construir o
conhecimento atualizado e inovador, ocorrendo isto desde o primeiro semestre na
faculdade.
A proposta do currículo intensivo persegue um pensamento sistemático,
elaboração própria, intervenção qualitativa na realidade. A capacitação, tendo por
base o currículo intensivo, define como cidadão competente aquele dotado de
capacidade construtiva de conhecimento, tendo em vista desempenhar sua função
de sujeito histórico autônomo e inovador, apresentando assim os instrumentos
necessários para a transformação de nossa realidade através da ação pedagógica
qualitativa no processo de construção do conhecimento.
Tal abordagem de currículo, segundo Demo (2000), exige professores
preparados, no entanto constatamos que a qualificação dos nossos professores é
precária e defasada. Essa preparação profissional é extremamente necessária
para a composição de uma formação que exige participação efetiva e dinâmica na
orientação dos alunos para a construção de saber próprio e autônomo. Além da
precária capacitação dos professores, apontamos também, a falta de
compromisso sócio-político na prática pedagógica acadêmica, visto que neste na
88
formação de professores a intervenção para a transformação é direta na
sociedade. Alguns questionamentos se impõem frente a tal realidade, a saber:
Será que temos o direito de lutar por mudanças sem antes definir nossa própria
política de ação? A favor de quem estaremos lutando? Quando o professor define
no projeto político-pedagógico sua postura filosófica e política, sua ação pode
acarretar na manutenção ou não da sociedade estratificada, desigual e injusta
altamente destrutiva. Qual é a nossa proposição?
A proposta de uma nova formação a qualidade do curso depende da
atuação do professor como pesquisador legítimo, de conhecimentos
comprovados, atualizados, mantendo-se na vanguarda do conhecimento,
sinalizando as condições do futuro para novas pesquisas e novas teorias,
orientando os alunos para a construção sistemática do conhecimento, com vistas
a qualificar a intervenção inovadora da realidade. Para que esta prática exista
precisamos de professores que consigam transpor os muros da Universidade,
construindo uma pedagogia que supere a proposta tradicional de ensino bancário.
É necessário que o professor favoreça uma atitude de intervenção na
prática social, e não ficar somente restrito a transmissão do conhecimento do
professor para o aluno em sala de aula. A construção do conhecimento se
desenvolve priorizando a qualidade política e formal. A teoria não se constitui
como redutora da realidade à simples partes fragmentadas, mas procura entender
a realidade como ela é na sua complexidade e na sua globalidade.
Para contribuir com esta reflexão o Grupo LEPEL experimenta a idéia
da organização do trabalho pedagógico a partir da pesquisa matricial, conforme
proposto inicialmente por Demo. A pesquisa matricial construída e vivenciada no
89
Grupo LEPEL representa uma metodologia para consolidar a proposta de
reformulação curricular, possibilitando aos professores trabalharem com um
método que estabelece uma unidade teórico-metodológica entre os envolvidos no
processo de pesquisa. As soluções buscadas são de conjunto e visam transformar
de forma múltipla e complexa a realidade escolhida intencionalmente e
dialogicamente pelo coletivo de pesquisadores representado por estudantes da
pós-graduação e da graduação.
A noção de matricial significa conexões, nexos e relações e suas
principais características são as seguintes: a) o problema se caracteriza como
uma matriz de problemas e a solução é também processada em matriz; b) a
metodologia indica para a unidade e considera que as partes só têm sentido e
significado dentro da visão do todo, e vive-versa; c) apresentando três patamares
de unificação, o primeiro nos diz que a unificação do trabalho de pesquisa deve
seguir o mesmo caminho metodológico para todos os seus participantes; o
segundo patamar de unificação é a problemática globalizada única, representando
o mesmo desafio de tratamento e solução; o terceiro patamar de unificação é a
permeação das teorias e práticas envolvidas, tendo como ponto de partida o real
concreto para elevação do concreto no pensamento e a práxis revolucionária, o
que depende, obviamente, do compromisso dos pesquisadores.
Acrescentamos também que para intervenção qualitativa na sociedade
e na educação o professor necessita de instrumentos de pensamento e
instrumentos de pesquisa que vão dar possibilidade de uma ação pedagógica
qualitativa. Portanto, a intervenção na realidade só será possível a partir da
articulação do ambiente acadêmico com a comunidade através da pesquisa.
90
Sintetizando, destacamos que nossa proposta parte de uma pesquisa
matricial defende a indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extensão, o currículo
intensivo, a prática pedagógica problematizadora, o trabalho como princípio
educativo, a realidade como ponto de partida. E a realidade atual nos aponta a
problemática de meio ambiente em franca decomposição. O ser humano não está
em harmonia com a natureza. A dicotomia entre ser humano e natureza deverá
ser redimensionada através do redimensionamento do trabalho humano. A
corporeidade construída historicamente na relação com a natureza necessita ser
questionada e reconceptualizada.
91
5 Relações Ser humano - trabalho - cultura
“(...) e finalmente, entre eles, o vertebrado em quem
a Natureza adquire consciência de si mesma: o
homem” (Engels; 1979, p. 25)
92
“Homem Natureza”: partimos da análise desses dois elementos, pois é
da relação do homem com a natureza que a sociedade se constitui e, se hoje,
temos que debater as questões relativas à destruição ambiental é porque
historicamente o homem sempre manteve relações com a natureza para sua
sobrevivência na perspectiva do domínio e da explotação.
Buscamos em Marx e sua crítica ao modo de produção do capital
organizar a produção, os elementos para compreendermos as contradições de
nosso tempo. Consideramos Marx um autor ainda não superado e, portanto, um
clássico cujos subsídios para explicar as relações no mundo capitalista moderno
continuam válidas. Nos diz Marx:
“O trabalho é antes de tudo um processo entre o
homem e a natureza, um processo no qual o
homem por sua atividade realiza, regula e controla
suas trocas com a natureza. Ele põe em
movimento as forças naturais que pertencem à
sua natureza corporal, braços e pernas, cabeças e
mãos, para se apropriar das substanciais naturais
sob uma forma utilizável para sua própria vida.
Agindo assim, por seus movimentos sobre a
natureza exterior e transformando-a, o homem
transforma ao mesmo tempo a sua natureza”.
MARX (2001, p. 211).
93
O homem busca manter sua vida na natureza, mas estabeleceu ao
longo da história relação com o meio ambiente
23
de transformações, hoje
reconhecida como destrutivas. Ele vive em sociedade e se destaca dos animais
por não conseguir como fazem os animais, acomodar-se e adaptar-se ao meio
ambiente em que vive sem estabelecer uma relação de transformação e
modificação do seu habitat. A relação ser humano e natureza se estabelece
através da produção dos meios de trabalho, ou seja, é a partir de seus
instrumentos de trabalho que ele domina e transforma para atender as suas
necessidades individuais e coletivas.
O processo de trabalho, ao atingir certo nível de desenvolvimento, exige
meios de trabalho mais elaborados e tecnologicamente avançados, devastando e
destruindo mais o espaço natural em que vivemos.
Marx nos coloca em sua análise que, tudo disposto no planeta que não
seja ainda virgem é resultado do trabalho humano e, por tanto, representa os
meios e a produção final com valor de uso para a sociedade. É a, segundo ele,
apropriação social da natureza.
Na sociedade capitalista historicamente, as relações de ser humano,
natureza e trabalho são determinadas pela lógica econômica, base estrutural
desse sistema. O produto e o trabalho humano estão sob o poder dos que detêm
os meios de produção e eles são os responsáveis por fixar um valor capital e
rentável, para gerar a mais-valia. Seguindo esta lei, a mercadoria que deveria ter
23
Meio Ambiente é aqui compreendido como a complexidade do mundo. Segundo Leff (2001) é um saber
sobre as formas de apropriação do mundo e da natureza através das relações de poder que se inscreveram nas
formas dominantes de conhecimento.
94
somente um valor de uso passa a ter também o valor de troca e valor excedente,
garantindo a lei básica do capitalismo: o lucro e a acumulação de capital.
Esse é o marco para compreendermos os motivos pelos quais não
acreditamos que é possível construir uma Educação verdadeiramente Ambiental
em defesa da vida, não somente humana no planeta com a forma de organização
capitalista. As leis do mercado não permitem a garantia de preservação da
natureza, já que basicamente é ela que ainda fornece a matéria-prima para a
produção.
Para alguns teóricos a solução de estabelecimento equilibrado entre a
natureza e o ser humano, não passa pela transformação das questões de ordem
econômica e apontam ser possível garantir através da educação ambiental entre
outras iniciativas a lógica do desenvolvimento sustentável. (LIMA, 1997 apud
GADOTTI 2000, p. 65) crítica a concepção de desenvolvimento sustentável e
apresenta o conceito de ecodesenvolvimento que é baseado nos seguintes
princípios:
A satisfação das necessidades básicas da população;
A solidariedade com as gerações futuras;
A participação da população envolvida;
A preservação dos recursos naturais e do e meio ambiente em
geral;
A elaboração de um sistema social que garanta emprego,
segurança social e respeito a ouras culturas;
Programas de educação.
95
Nesse sentido, Frigotto (2000), afirma que os avanços das ciências e
das tecnologias, apesar de prometerem o contrário, ajudaram a fomentar, a maior
destruição da natureza, o acúmulo exorbitante de capital, a exponencial produção
de desemprego, trabalho precário, miséria e destruição dos direitos humanos.
Segundo esse autor, hoje entendemos que o capitalismo acumula um
montante de riquezas concentrado apenas nas mãos de poucos. Em nome desta
acumulação produzimos e exploramos a natureza para atender as necessidades
do sistema vigente, lucro e acumulação de capital e não das necessidades
básicas de vida humana no planeta.
A centralidade da análise entre homem e meio ambiente vem sendo
considerada em pesquisa sobre formação de professores. Clássicos da pedagogia
socialista especificamente Pistrak (2000), afirma ser o trabalho a centralidade para
entendermos e conhecermos questões da realidade atual. A realidade atual
poderia ser definida como: luta pelas formas sociais novas de trabalho.
As generalizações possíveis, a partir da análise de trabalho humano de
transformar a natureza, nos permitem reconhecer o indivíduo e sua ação na
coletividade. A análise materialista histórica entende que todo indivíduo dedica a
maior parte de sua vida ao trabalho e este trabalho se caracteriza pelas relações
sociais existentes no capitalismo. Essas relações de trabalho são determinadas
pela divisão social do trabalho e garantem a alienação do ser humano.
Marx (2000) considera o ato de alienação da atividade humana prática,
o trabalho sob dois aspectos: a relação do trabalhador com o produto do trabalho
como um objetivo estranho que o domina e a relação do trabalho como o ato de
produção dentro do trabalho. Nesses dois aspectos dirá: Não obstante, alienação
96
aparece não só como resultado, mas como o processo de produção, dentro da
própria atividade produtiva. Como poderia o trabalhador ficar numa relação
alienação com o produto de sua atividade se não alienasse a si mesmo no próprio
ato de produção. O produto é resumidamente apenas o resultado da produção. A
alienação do objeto do trabalho resume a alienação da própria atividade do
trabalho. As formas de alienação são ainda sob as formas do trabalho alienado:
aliena a natureza do ser humano; Aliena o ser humano de si mesmo, de sua
própria função ativa, de sua atividade vital, assim também o aliena da espécie, ele
transforma a vida da espécie em uma forma individual e fragmentada.
Segundo Freitas (1995), ao longo da história o trabalho ganha
características particulares oriunda das várias formas de como o ser humano
organiza a produção da vida material. No presente momento, portanto o trabalho
está em antagonismo com o capital, se valoriza cada vez mais por intermédio da
exploração da força de trabalho contratada. Esse antagonismo básico faz com que
os homens não se apresentem iguais perante a natureza. A configuração deste
sistema, seguindo a interpretação do materialismo histórico dialético, é definida
por classes sociais que lutam e possuem interesses opostos. O trabalho, portanto
está no centro dessa relação entre ser humano trabalho e natureza, sendo
definido suas características mais particulares pelo modo de produção capitalista.
A importância do trabalho humano nos ajuda a entender o eixo trabalho,
ser humano e natureza e também, como veremos mais adiante, a importância do
trabalho pedagógico para a reestruturação do currículo de formação dos
professores.
97
Após a revolução industrial na sociedade moderna, o capitalismo,
organiza o processo de produção em empresas que se fortalecem nos países
desenvolvidos e invadem os espaços dos países em desenvolvimento através da
implementação de organizações e multinacionais, com a promessa de acabar com
a pobreza e tornar essas nações soberanas. Mas o que vemos é um crescimento
econômico sem, necessariamente, um simultâneo crescimento e desenvolvimento
social e uma real distribuição dos bens de produção e de consumo. Entendemos
que o eixo da engrenagem capitalista é: lucro e acumulação de capital. Com elas
penetram também as tecnologias de devastação do meio ambiente.
A lógica da racionalização rejeita necessariamente qualquer modo de
organização social digna para todos, ou pelo menos para a maioria, o bem estar
dos trabalhadores, o meio ambiente, a cultura os valores sociais e éticos da vida
em nome do lucro máximo para a manutenção do capitalismo.
Lowy citado por Gentili (1999) nos coloca sistematicamente a discussão
do processo de racionalização que vem desde a revolução industrial e suas
conseqüências:
“1 - A Zweckrationalität racionalidade como
finalidade, isto é a utilização de meios racionais
para alcançar objetivos que nada tem de racional,
cuja expressão racional típica é a burocracia. A
lógica do funcionamento da economia
capitalista....
2 A diferenciação e autonomização das esferas
como resultado da separação entre o econômico,
98
o social, o político, e o cultural. A economia de
mercado torna-se um sistema auto-regulado que
já não se encontra encaixado na sociedade (para
retomar a célebre expressão de Karl Polanyi) e
escapa a quaisquer controles sociais, morais ou
político.
3 A Rechenhaftigkeit, ou espírito do cálculo
racional, isto é a tendência geral a quantificação.
Os valores qualitativos éticos, sociais ou naturais
estão condenados a ser destruído, degradados ou
neutralizados por tal quantificação que encontra
sua expressão mais direta na dominação total de
valor de troca das mercadorias e na
monetarização das relações sociais.” (LOWY apud
GENTILI 1999, p 90).
O modelo desenvolvimentista do pós-guerra atribuiu o fim da pobreza a
essas formas de organização econômica, o resultado é mostrado hoje até em
dados estatísticos da ONU
24
, onde a pobreza do mundo aumenta e tem uma
relação diretamente proporcional com acumulação de bens também, um quadro
cada vez maior de contrastes. Além da crescente destruição da natureza e
aniquilação dos bens não renováveis do planeta e a poluição do ar, da água e da
terra em nome da evolução tecnológica, o que resta está sob ameaça da
privatização. Estes dados têm chamado atenção das organizações mundiais que
24
Pesquisa realizada na internet no endereço < http://www.onu-brasil.org.br/>, em 2004.
99
se reúnem em conferências, fóruns e encontros, em prol de garantir as condições
de vida no planeta, e estabelecer diretrizes que garanta ao capitalismo formas de
se reestruturar e sobreviver também a este ataque, o ataque implosivo da falta de
matéria prima bruta tanto para os meios de produção como para a própria
produção.
Esta forma de organização das sociedades capitalistas industriais, não
abrange somente o ambiente empresarial, mas também todos aqueles que
participam desse sistema, vendendo/ sendo explorado ou comprando/ explorando,
a força de trabalho.
A questão ambiental, preservação da vida, ou seja, o equilíbrio entre o
ser humano e a natureza, é totalitária, concreta. Ela envolve as variáveis da
cultura, do trabalho, da história e das relações sociais. Segundo Kosik (2002), do
ponto de vista da totalidade, compreende-se a dialética da lei e da causalidade
dos fenômenos, da essência interna e dos aspectos fenomênicos da realidade,
das partes e do todo, do produto e da produção e assim por diante. O que significa
que tudo está em conexão com tudo, e que o todo é mais que as partes.
Tomamos essa categoria dialética da totalidade concreta para
analisamos o macro, sistema de funcionamento de nossa sociedade, e o micro,
entendendo o movimento entre as ações individuais e comportamentais, que
envolve a cultura, a religião e de trabalho. Nesse sentido, não basta trabalhar com
a comunidade para transformar as ações perante a natureza, não basta que nós
professores tenhamos uma visão crítica de nossa sociedade e busquemos a
preservação da natureza, não basta agir localmente em Matarandiba. É
necessário implementarmos políticas públicas que garantam a vida do homem
100
com dignidade, onde cada um possa ter o direito do trabalho, da escola, da
moradia, da cultura, da saúde, enfim da vida digna.
Na democracia em que vivemos todos têm o direito de falar e participar
para construir um espaço de convivência na sociedade, mas não vemos isso, o
que vemos é a negação de oportunidades, de escolhas, e do conhecimento para
as camadas desfavorecidas da população. O que vemos é a pobreza a negação
de participação na divisão dos bens da humanidade. A democracia capitalista é
um engodo, que prega os valores burgueses, a liberdade, fraternidade e igualdade
como possíveis de serem atingidas, mas na realidade isto não acontece.
As manobras do capitalismo para sobrevivência são muitas e no campo
ambiental, algumas diretrizes e conceitos são difundidos sobre a questão da
preservação da natureza e da vida humana. A carta de Joanesbugo
25
, por
exemplo, afirma que a questão ambiental está diretamente relacionada com a
eqüidade entre as nações, princípio básico da sustentabilidade
26
. Esse conceito
tem sido disseminado mundialmente pelos relatórios do Worlwattch Institute
durante a década de 80 e pelo relatório Nosso Futuro Comum produzido pela
Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1987,
afirmando que o desenvolvimento poderia ser o processo integral que inclui
dimensões culturais, éticas, políticas, sociais e ambientais e não só econômicas.
Outro termo usado também é o do desenvolvimento humano,
sustentável, que conceitualmente coloca o ser humano no centro do
desenvolvimento, com as idéias de eqüidade e participação, concebendo-se que a
25
Reunião mundial para avaliação da RIO ECO 92 e foi apoilidada Rio mais dez.
26
Esse termo foi utilizado pela primeira vez na assembléia Geral das Nações Unidas em 1979.
101
sociedade é eqüitativa, possível somente, pela participação e vontade das
pessoas, o que não corresponde com os fatos.
As Nações Unidas passaram a usar esse termo como indicador de
qualidade de vida, fundado nos índices de saúde, longevidade, maturidade
psicológica, educação ambiente limpo, espírito comunitário e lazer criativo
representando uma sociedade sustentável, ou seja, uma sociedade capaz de
satisfazer as necessidades das gerações de hoje sem comprometer as gerações
futuras. Mas na desigualdade do mundo neoliberal a coisa muda de figura. Os
países desenvolvidos fazem um grande esforço para preservar as suas grandes
áreas naturais e avançar sobre áreas onde se localizam fontes energéticas e
diversidade biológica. As guerras em curso, em regiões petrolíferas são exemplos
destes interesses. A questão ecológica não é somente uma questão ambiental. É
uma questão política econômica.
A luta ecológica depende da capacidade de entendimento da maior
parte da população, os pobres, de que não é somente limpando os rios,
despoluindo o mar, o ar, reflorestar os campos, mas tomando consciência de que
é necessária a transformação das relações sociais e econômicas de produção da
vida no marco do capital. A questão ambiental diz respeito à vida no planeta onde
o trabalhador preenche o eixo central na sua relação ser humano com a natureza.
O trabalho alienado é um instrumento de devastação e de antagonismo, de
predatoriedade. Só o trabalho livre, onde o trabalhador se encontra no produto
final, onde ele tem consciência do seu papel na sociedade é que pode oferecer
condições de vida em equilíbrio e harmonia.
102
A teoria do desenvolvimento humano, não se sustenta. A idéia de
satisfazer as necessidades do presente sem colocar em risco gerações futuras,
representa uma fórmula vazia, de solidariedade dentro do capitalismo. Esse
princípio implica um distanciamento da realidade, um distanciamento da lógica do
lucro. As proposições resultantes de debates e fóruns destinados à questão
ambiental criam à crença de que é realmente possível erigir no plano nacional
uma economia que poupa o meio ambiente. O desenvolvimento se torna
insustentável na medida em que busca economia eficiente, ecologicamente
suportável, politicamente democrático e socialmente justo na lógica fordista do
modo de produção do capitalismo.
Segundo Gadotti (2000) a organização de estruturas econômicas e
sociais são sustentáveis apenas do modo condicional, somente quando não se
colide com as restrições de uma sociedade capitalista industrial, o lucro, a
competitividade, a imposição das condições objetivas. Falar de ambientalismo, no
entanto, não é fazer “jardinagem”, mas questionar e buscar alternativas para a
transformação das bases que fundam o sistema capitalista. Acreditar num modelo
de sociedade sustentável sem a revolução do que está posto socialmente é o
mesmo que
“Ecologizar a economia” objetiva questionar as
bases desse consagrado modelo econômico que
ele considera ”evangelicano” (evangelho +
americano), no interior do qual eficácia econômica
e justiça distributiva seriam o mesmo que a
quadratura do círculo. (GADOTTI, 2000, p. 59).
103
Para Gadotti 2000 o conceito de desenvolvimento sustentável é
impensável e inaplicável nesse contexto. O fracasso da agenda 21 é uma prova
deste fato. Não seria possível afirmar que um crescimento sustentável, com
equidade, seria possível regida pelo lucro pela acumulação ilimitada e pela
exploração do trabalho. Ela só tem sentido na organização de uma sociedade sem
propriedade privada, numa economia solidária. A utopia posta pelos ecologistas
de uma sociedade sustentável é inválida, se não tocarmos na questão central, as
bases da economia. (ELMAR ALTAVATER apud GADOTTI, 2000, p. 59).
O desenvolvimento tecnológico e o avanço da ciência aliados à lógica
capitalista levaram a exploração exacerbada da natureza e a destruição das
possibilidades de vida futura.
O encontro do ser humano com a natureza através do trabalho é
definido pelas relações sociais, econômicas e culturais que podem ser
modificadas a partir da verdadeira conscientização de que tratar de preservação
ambiental não é somente desenvolver programas de Educação Ambiental em
pequenas localidades, nem somente modificar os costumes da vida cotidiana, mas
sim construir as possibilidades de ações que integram transformações da base
desse sistema e as ações locais. É a busca pela revolução, que segundo
Luxemburgo (2000), é necessária, a completa destruição de todas as leis que
regem o sistema atual, para a construção de outras novas relações livre do lucro,
da exploração/ alienação do trabalho e da acumulação de capital. Assim seria
realmente possível falar de uma relação equilibrada entre o ser humano e a
natureza estabelecida através do trabalho livre e produtivo, o trabalho onde o ser
104
humano se encontra no produto final, construído por ele, individualmente ou
coletivamente.
...A realidade pode ser mudada de modo
revolucionário só porque e só na medida em que
nós mesmos produzimos a realidade, e na
medida em saibamos que a realidade é
produzida por nós. A diferença entre a realidade
natural e a realidade humano-social está em que
o homem pode mudar e transformar a natureza,
enquanto pode mudar de modo revolucionário a
realidade humano-social porque ele próprio é o
produto desta última. (KOSIK, 2002, p. 22).
A utopia da revolução, de construir uma outra sociedade onde, o
respeito, a dignidade, e o reencontro do ser humano com a natureza possam ser
reais, encontra sintonia com as possibilidades na educação, não uma educação
qualquer, mas uma educação que se comprometa politicamente com a formação
do ser humano no sentido mais amplo, omnilateral e que esteja articulado com o
projeto histórico para além do capital.
Sem negar que os problemas hoje de destruição ambiental são
conseqüências do modelo econômico, a educação em particular a educação
comunitária e ambiental tem um papel importante. A educação ambiental
proposta por Gadotti (2000), representa uma pedagogia das coisas a partir da vida
cotidiana. Para ele a preservação do meio ambiente depende também de uma
consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação. Mas,
105
nossos estudos nos demonstram que, sem uma forte e clara articulação com um
projeto histórico socialista não avançaremos na compreensão do rumo que pode e
deve ter a preservação ambiental.
Indicamos uma possível apropriação desse conhecimento pelos cursos
de formação de professores os quais representam à base da formação dos
trabalhadores em educação que por fim vão tornar possível a acessibilidade do
conhecimento sobre a questão ambiental.
Trabalhar com meio ambiente e educação na formação de professores
significam trabalhar com cada indivíduo que constitui nossa sociedade e também
com as leis gerais que regem o nosso planeta. Significa oferecer subsídios a partir
da prática pedagógica que construa elementos para a revolução, ou seja, da
sociedade, para a superação do capitalismo, na infra-estrutura e na
superestrutura. Somente a partir disso poderemos pensar em um mundo
saudável, com vida digna para todos.
106
5.1 Educação Ambiental
A necessidade de trabalhar na formação de professores na área
especifica “Cultura Corporal e do Meio Ambiente”, não surge de idéias abstratas
de pensadores nas academias, mas sim, de um conhecimento construído
historicamente sobre as problemáticas ambientais do mundo capitalista, que vêm
se consolidando entre as mais diversas áreas científicas.
A educação ambiental é um campo de estudos e pesquisas que a partir
do quadro emergencial do planeta, de destruição e necessidade de preservação,
tem crescido e ocupado espaços de grande relevância social por dentro de
discussões para o ensino em todos os níveis no Brasil e no Mundo. Ela representa
um processo pelos quais os indivíduos e a comunidade toma consciência do seu
meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e
107
determinação que os tornem aptos a agir e resolver problemas ambientais,
presentes e futuros.
Nossos esforços para construir um conhecimento científico na área da
Cultura Corporal e Meio Ambiente encontram terreno legal e legítimo nas bases do
movimento pela educação ambiental que oferece um acúmulo histórico de
elementos essenciais sobre as questões ambientais e a educação.
Para delimitarmos e analisarmos a Educação Ambiental no Brasil e no
Mundo é plausível que façamos, breve histórico e análise dos dados pesquisados
e sistematizados particularmente pelo coletivo de professores e alunos na própria
ACC EDC - 465 Cultura Corporal e Meio Ambiente. Para isso, entendemos que se
faz necessário o entendimento do movimento ambientalista, que representa a
gênese de todo o processo que hoje ocupa posição privilegiada tanto em encontro
científicos como em estratégias governamentais para o planejamento do
“desenvolvimento humano” na sociedade capitalista.
Para tal discussão encontramos em Dias (2000) a contribuição, no
sentido de que, este traz na publicação “Educação Ambiental. Princípios e
Práticas” um verdadeiro dossiê de documentos necessários para a compreensão e
análise sobre a temática do Meio Ambiente para a Educação. Os elementos que
caracterizam a Educação Ambiental são trazidos para análise também através do
debate com a obra Pedagogia da Terra de Moacir Gadotti. Os documentos
citados, em sua grande maioria, estão reunidos nesta mesma obra assim como
também foram consultados em sites da Internet, principalmente do Governo
Federal, no Ministério do Meio Ambiente e da Educação Ambiental, como também,
em amplas referências bibliográficas, em jornais e revistas da atualidade.
108
O surgimento da preocupação com a preservação da vida no planeta
para as gerações futuras, ou seja, a consciência ambiental, segundo, Cascino
(2000) nasceu no século XVIII, quando o ser humano conquistou espaços naturais
como o pico da montanha Mont Blanc e as grandes navegações dos anos 1400 e
1500. Ao explorar esses novos espaços o ser humano ao mesmo tempo
caracteriza o reencontro com a natureza, como também os traços do ser humano
moderno, que explora, e descobre novos territórios, e é capaz de dominar
antagonicamente a natureza transformando suas ferramentas de trabalho e cria as
máquinas favorecendo o processo da revolução industrial.
Em meio à revolução dos meios de produção alteram-se as idéias nas
ciências. A crença de que o planeta não é mais o centro do universo e não seria o
ser humano um predestinado mágico com a sabedoria de dominar e modificar o
mundo. Alteraram-se as relações sociais da sociedade com o surgimento de duas
classes sociais distintas.
A sociedade passa de artesanal a produção industrial e com ela a
formação da burguesia com a promessa de concretização dos seus valores:
liberdade, fraternidade e igualdade. Redefinem-se os espaços da modernidade
sendo as cidades, construídos sob a polis, o local onde cidadãos determinavam
uma nova forma de organização social.
A partir do advento da modernidade e do surgimento do modo de
produção industrial ocorreu uma particularidade e interessante articulação, o
progresso científico, o crescimento da mobilidade pessoal, o crescimento da
produção industrial, a vertiginosa ampliação dos assentamentos humanos, das
109
cidades determinando amplas e profundas mudanças nas relações sociais e
econômicas.
Em contraposição os espaços naturais começam a receber uma
atenção especial. A natureza não tinha mais um valor apenas de espaço a ser
conquistado e sim de um lugar para relações mais humanas.
Cascino (2000) afirma que esta ressignificação ocorreu pela própria
conquista humana da tecnologia na construção de diversos instrumentos e
equipamentos voltados para aventura e exploração em espaços naturais ou
virgens. Essa ressignificação entre outros aspectos da história contribuiu com o
movimento ambientalista.
O livro “A Origem das espécies” de Darwin comentado por Serpa (1991),
traz a noção de que os seres humanos se desenvolvem da sua forma de vida mais
simples para a mais evoluída, a partir da relação estabelecida com o meio
ambiente. Segundo Darwin às ciências o conceito de evolucionismo, ou seja, as
transformações qualitativas na evolução das espécies, colocaram em cheque o
determinismo mecanicista. Este pensamento influenciou o comportamento do ser
humano perante a natureza, pois é a partir da relação do ser humano - natureza
que a natureza é transformada, numa escala evolucionária. Mas foi com o poeta
Henry David Thoreau e o filósofo Ralph Waldo Emerson, que segundo Dias
(2000), trouxeram a bandeira do movimento ambientalista ao mundo. A partir de
seus escritos sobre a natureza e o ser humano em harmonia e equilíbrio que
movimento Hippie dos Estados Unidos da América entre a década de 40 e 60
reafirmaram esses valores e fortaleceram a luta pela construção de um mundo
melhor para a vida humana.
110
Identificado outras duas obras de grande importância para a reflexão
sobre os problemas ambientais causados pela relação homem e natureza: as
contribuições de Thomas Huxley no livro “Evidências sobre o lugar do homem na
natureza(1863), onde a interdependência dos seres humanos com os demais
seres vivos é abordada e também a obra de George Pekin intitulada O homem e
a natureza: ou geografia física modificada pela ação do homem” (1864). Estas
obras apresentam análises das relações do homem com a natureza no processo
civilizatório e como essas relações vêm esgotando o meio ambiente natural. No
entanto, a preocupação não passava dos aspectos meramente descritivos do
mundo natural, onde as inter-relações eram pouco abordadas e a noção do todo
ficava circunscrita a análises idealistas e filosóficas.
A Educação Ambiental, mais especificamente, é sistematizada
primeiramente por Patrick Geddes (1854 1933), expressava a preocupação com
os efeitos da revolução industrial
27
, pelo desencadeamento do processo de
urbanização e suas conseqüência para o meio ambiente. Nesta mesma época, o
mundo já começava a se mobilizar para a questão ambiental, mas, o Brasil não
anunciou nem mesmo a terminologia na sua constituição de 1891 já que aqui a
exploração já estava em larga escala.
As medidas internacionais para implementação da Educação Ambiental
só vão aparecer a partir do momento em que se torna vital discutir os impactos
destrutivos e devastadores da relação entre o ser humano e a natureza.
27
Segundo Dias 2000 iniciaram-se em 1779 na Inglaterra.
111
O avanço do capitalismo construiu um mundo neoliberal de
desigualdades sociais, de pobreza, de diferenças e de lutas, mas também um
mundo de alta tecnologia e avanços científicos.
No quadro mundial principalmente, após as guerras, o mundo redefine
sua organização em grandes impérios e as culturas, as tecnologias sofrem
profundas transformações. Mais especificamente no Brasil, a partir, principalmente
do plano desenvolvimentista, enquadrou ou tenta-se enquadrar o plano nacional
nos moldes dos parâmetros mundiais econômicos e sociais. A nossa agricultura
que teve sua herança no latifúndio começou a deixar espaço para o grande
desenvolvimento do parque industrial, definido como agro-negócio.
O avanço da tecnologia contraditoriamente
28
nos faz destruir a natureza,
pois hoje, ela está a serviço, das leis do capitalismo, o lucro e a acumulação de
capital, mas também nos serve para evidenciar que nós fazemos parte da terra e
somos apenas uma pequena parte dela, e apesar disso construímos uma relação
social de destruição e devastação.
Dias (2000) menciona que em 1952 a primeira catástrofe ambiental
ocorreu em Londres com a poluição do ar que provocou a morte em torno de 1600
pessoas desencadeando o processo de sensibilização. Evento que culminou na lei
do ar puro pelo parlamento da Inglaterra em 1956 e desencadeou o debate a
28
Dos termos em Grego. technologia < téchne, arte + lógos, tratado significa teoria geral e estudos
especializados sobre os procedimentos, instrumentos e objetos próprios de qualquer técnica, arte ou ofício;
técnica moderna e sofisticada; linguagem específica de uma arte ou ciência. Ou seja, pela sua definição a
tecnologia deveria ser uma forma de fazer o ser humano se relacionar com a natureza através do trabalho da
forma melhor possível, estabelecendo técnicas de uso e apropriação da natureza com menos impacto
ambiental e maior aproveitamento do produto final. Um reencontro do ser humano com a natureza e não o
antagnismo.
112
cerca do ambientalismo em outros países como a influencia do movimento dos
hippes nos Estados Unidos.
O reconhecimento de que o modelo econômico capitalista devasta e
destrói a natureza foi reconhecido pela ONU em 1969, constituindo o primeiro
fórum sobre a questão ambiental, oficialmente reconhecida, defendendo a
existência de soluções globalizastes para deter a destruição do planeta.
Mas em 1965 durante a conferência em Educação na Universidade
Keele, Grã - Betanha surgia o termo Educação Ambiental para os currículos
afirmando que ela não poderia mais estar de fora das discussões mais gerais da
educação. No Brasil neste mesmo período, o regime ditatório apresentava ao
mundo, junto ao seu projeto desenvolvimentista, o Projeto Carajás e a Usina
Hidrelétrica de Tucuruí. Contraditoriamente, no sul do país, nascia à primeira
organização dos ambientalistas AGAPAN Associação Gaúcha de Proteção ao
Ambiente Natural.
Os encontros, no Brasil e no mundo, apontavam para um caminho de
desenvolvimento da tecnologia e das ciências simultaneamente numa relação
diretamente proporcional, com a destruição de nossas riquezas naturais.
Politicamente esses documentos não foram reconhecidos e divulgados.
Enfim podemos falar da importante Conferência de Estocolmo 1972 ou a
conferência da ONU sobre o “Ambiente Humano”, que garantiu pela primeira vez,
a reunião de 113 países, na discussão sobre as questões ambientais, gerando a
declaração que indicou um plano de ação mundial e recomendaram o
estabelecimento de um programa internacional para educação ambiental no intuito
de disseminar a idéia de combate às crises ambientais do planeta.
113
No Brasil, a Secretaria Especial do Meio Ambiente - Sema (no Ministério
do Interior) é criado, e estabeleceram as propostas para as leis ambientais e
estabelece os programas de estação ecológicos para pesquisa e preservação.
O Encontro Internacional sobre Educação Ambiental com especialistas
de 65 países ocorreu em 1975 na cidade de Belgrado promovido pela UNESCO.
Desse encontro foram elaboradas as diretrizes para a formulação do programa de
Educação Ambiental segundo as quais, ela deveria ser contínua, multidisciplinar,
integrada às diferenças regionais e votada para os interesses nacionais. A carta
de Belgrado expressa também a necessidade de erradicação da pobreza, da fome
e do analfabetismo, da poluição e da dominação e exploração humana. Mas, ao
longo desses anos, prevaleceu uma educação ambiental reduzida em movimento
ecologista, ou seja, a luta do verde pelo próprio verde, subsumindo a discussão
socioeconômica.
Outro encontro de Educação Ambiental foi feito em Tbilisi, na Geórgia,
que foi a primeira conferência inter-governamental sobre Educação Ambiental,
organizada pela ONU e pela PNUMA
29
. Essa conferência estabeleceu os
princípios, objetivos e características formulando recomendações e estratégias
pertinentes aos planos regional, nacional e internacional. Lançaram-se medidas
para a incorporação, nas diretrizes curriculares dos conteúdos e atividades
referentes à educação ambiental. Nessas diretrizes ficaram estabelecidas as
recomendações e considerações de todos os aspectos da sociedade humana que
compõem a questão ambiental: os aspectos políticos, sociais, econômicos,
29
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
114
científicos, tecnológicos, culturais, ecológicos e éticos, facilitando a visão integrada
do ambiente envolvendo as diversas disciplinas em um projeto interdisciplinar.
Desse modo, segundo as diretrizes, a Educação Ambiental passou a ter
como objetivo a compreensão da existência e da importância da interdependência
econômica, política, social e ecológica da sociedade, desenvolvendo o
conhecimento a fim de formar pessoas capazes de entender, respeitar e proteger
a natureza, buscando soluções para as problemáticas ambientais através da
coletividade, da ação comunitária.
No Brasil, as ações do MEC, primeiramente, firmaram em “protocolos de
intenções”, a inclusão de temas transversais como ecologia. Mas foi a pressão dos
órgãos ambientais que conquistou a abertura de cursos em todo o país sobre a
questão ambiental e adicionaram, aos currículos, principalmente das áreas como
engenharia entre outras a disciplina envolvendo tal discussão como obrigatória.
Outros cursos em sua maioria ficaram de fora como, por exemplo, em geral os
Cursos de Formação de Professores.
Após o encontro de Tbilisi o MEC, reduziu a Educação Ambiental ao
Ecologismo, com a proposta de Ecologia, uma proposta para o ensino de 1º e 2º
graus, ficando restrito somente nos pacotes fechados dos livros de ciências
biológicas, se distanciando cada vez mais da realidade concreta.
A preocupação em inserir nos currículos, de todos os níveis escolares e
de formação continuada, foi intensificada no congresso de Moscou em 1987, que
levantou alguns problemas específicos relacionados ao desequilíbrio do
ecossistema, como a poluições do ar, do solo, da água e dos mares, a perda da
biodiversidade, a proliferação de epidemias e o quadro agravante e generalizado
115
de pobreza em todo o mundo. Os países participantes se comprometeram de levar
um documento explicitando a dificuldades e os avanços durante o processo de
implantação da Educação Ambiental. O Brasil por sua vez não entregou tal
documento nem em Tbilisi e nem em Moscou, se ausentando das discussões
mundiais a cerca da destruição ambiental.
A Educação Ambiental brasileira teve nos anos de 1986, 1987 e 1988 a
instalação do seu primeiro curso de especialização. Neste mesmo período o
governo aprova em seu parecer 226/ 87 a inclusão da Educação Ambiental dentre
os conteúdos a serem explorados pelas propostas curriculares nos 1º e 2º graus,
de modo transversal, como é até hoje é estabelecido até hoje e pode ser
verificado nos Documentos Política Nacional de Educação Ambiental e Programa
Nacional de Educação Ambiental. Enfim concluímos estar no mínimo o país, muito
atrasado no que diz respeito às questões ambientais, já que uma década depois
das orientações de Tbilisi, o MEC oficialmente começa a tratar da questão
ambiental.
Em 1988 as associações ambientalistas elaboram um documento
universal, apresentando as pressões dos países desenvolvidos para o pagamento
da dívida externa dos países em desenvolvimento, acusando eles, de serem os
responsáveis pelas transformações drásticas na economia e da sociedade. Na
verdade, isso representa a configuração de um sistema internacional em crise o
sistema capitalista, que acaba com as perspectivas do desenvolvimento das
nações, e acentua as diferenças das classes sociais, estabelecendo um ambiente
insustentável para a qualidade de vida.
116
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis, IBAMA (surge em 1989) com o objetivo de formular, coordenar e
executar a Política Nacional para o Meio Ambiente e também a preservação, a
conservação, o controle e o fomento de iniciativas em defesa do meio ambiente.
Apesar de iniciativas para a implementação de programas sobre a
questão Ambiental e Educação Ambiental como: leis; curso de educação
ambiental continuada; e a criação do IBAMA, as ações da Educação Ambiental
continuava ser esporádicas, até que forçosamente o MEC elabora um documento
informativo de premissas básicas da Educação Ambiental, dirigido aos professores
de 1º e 2º graus, veiculado pela revista Nova Escola. Foi então que no Governo
Collor de Melo, a Secretaria do Meio Ambiente do MEC publicou o Projeto de
Informações sobre Educação Ambiental, constituído por questionários sobre a
questão ambiental.
No final de 1989 é criado o Grupo de Trabalho para a Educação
Ambiental e a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento
e o Meio Ambiente conhecida como RIO 92 que reuniu 170 países, promovida
pela ONU, foram realizadas inúmeras iniciativas para promover a Educação
Ambiental. Esse encontro pretendia contribuir com a Educação Ambiental
colocando a necessidade de erradicação do analfabetismo ambiental e atividades
de capacitação de recursos humanos para a área.
Um dos resultados do encontro RIO 92 foi construção da agenda 21 e o
tratado de educação ambiental. Ele teve como objetivo, examinar a situação
ambiental do mundo e as mudanças ocorridas após a Conferência de Estocolmo
(1972): identificar estratégias regionais e globais para ações apropriadas
117
referentes às principais questões ambientais; recomendar medidas a serem
tomadas nacionais e internacionalmente quanto à proteção ambiental através de
políticas públicas de desenvolvimento sustentável; promover o aperfeiçoamento
da legislação ambiental internacional; examinar estratégias de promoção do
desenvolvimento sustentável e de eliminação da pobreza nos países em
desenvolvimento, entre outros.
O grupo de trabalho passou a ser permanente (portaria 773 de
10/05/93) com o objetivo de coordenar, apoiar, acompanhar, avaliar e orientar as
ações metas e estratégias para a implantação da Educação Ambiental nos
sistemas de ensino em todos os níveis e modalidades. Foi conseguido a partir
disso, encontros com Secretarias de Educação dos Estados e Municípios para o
planejamento de ações práticas.
Hoje, as oportunidades de cursos oferecidos na área da Educação
Ambiental se encontram concentradas nas Universidades de Santa Catarina, São
Paulo, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Acompanhamos o crescimento pelo
interesse das Universidades Particulares para oferecerem o curso de Gestão
Ambiental com o intuito de discutir o desenvolvimento sustentável, garantindo
profissionais que saibam difundir a idéia de que é possível estabelecer uma
relação harmoniosa e sem destruição entre os seres humanos, determinados por
sua relação social capitalista e a natureza.
Concordamos com Dias (2000), quando ele alerta que os últimos
encontros de Educação Ambiental deixaram os professores fora do processo,
colocando a questão ambiental como algo das idéias, das cabeças dos
especialistas, “devaneios epistemológicos”, completamente fora da realidade
118
humana e educacional. Não é discutido o que realmente interessa como os
ordenamentos legais e as metas para solucionar as problemáticas da área
específica.
No Brasil as políticas públicas apresentam diretrizes e bases formuladas
a partir de 1994 pelo MEC, e o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos
Hídricos e da Amazônia Legal (MMA) com a intervenção do Ministério da Ciência
e da Tecnologia e o Ministério da Cultura, formulando o Programa Nacional de
Educação Ambiental, cujos esforços culminaram no documento da Política
Nacional de Educação Ambiental (lei 9795 de 27/04/99).
O documento Política Nacional de Educação ambiental dispõe as leis
sobre a Educação Ambiental no Brasil. A saber:
Decreto Nº 4.281, de 25 de junho de 2002:
Regulamenta a Lei que institui a Política Nacional
de Educação Ambiental e dá outras providências.
Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999: Dispõe sobre
a educação ambiental, institui a Política Nacional
de Educação Ambiental e dá outras providências.
Lei nº 9.649, de 27 de maio de 1998: Dispõe sobre
a organização da Presidência da República e dos
Ministérios, entre os quais o Ministério do Meio
Ambiente e dá outras providências.
Lei nº 8.028, de 12 de Abril de 1990: Dispõe sobre
a organização da Presidência da República e dos
119
Ministérios, entre os quais o Ministério do Meio
Ambiente e dá outras providências.
Lei nº 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe
sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus
fins e mecanismos de formulação e aplicação, e
dá outras providências. Texto atualizado em
07.02.2000 Última alteração: Lei nº 9.960, de
28.01.2000. (PNEA, 1999, p. 1)
O documento do ProNEA, propõe ações que destinam-se a assegurar,
no âmbito educativo, a integração equilibrada das múltiplas dimensões da
sustentabilidade - ambiental, social, ética, cultural, econômica, espacial e política -
ao desenvolvimento do país, resultando em melhor qualidade de vida para toda a
população brasileira, por intermédio do envolvimento e participação social na
proteção e conservação ambiental e da manutenção dessas condições ao longo
prazo. Nesse sentido, assume também quatro diretrizes do Ministério do Meio
Ambiente: Transversalidade; Fortalecimento do SISNAMA; Sustentabilidade;
Participação e controle social.
A proposta do ProNEA representa um exercício de Transversalidade,
criando espaços de interlocução bilateral e múltipla para internalizar a educação
ambiental no conjunto do governo, chamada a agenda transversal, que tem o
objetivo de estabelecer o diálogo entre as políticas setoriais ambientais,
educativas, econômicas, sociais e de infra-estrutura, de modo a participar das
decisões de investimentos desses setores e a monitorar e avaliar, sob a ótica
educacional e da sustentabilidade, o impacto de tais políticas. Indicando que tal
120
exercício deve ser expandido para outros níveis de governo e para a sociedade
como um todo.
Com a regulamentação da Política Nacional de Educação Ambiental, o
ProNEA compartilha a missão de Fortalecimento do Sistema Nacional de Meio
Ambiente (SISNAMA), por intermédio do qual a PNEA deve ser executada, em
sinergia com as demais políticas federais, estaduais e municipais de governo. A
idéia é descentralizar as diretrizes com o MMA e o MEC para a implementação da
PNEA, no sentido de consolidar a sua ação no SISNAMA.
O documento considera a Educação Ambiental como um dos elementos
fundamentais da gestão ambiental, o ProNEA busca desempenhar um importante
papel na orientação de agentes públicos e privados para a reflexão e construção
de alternativas que almejem a Sustentabilidade. Assim propicia-se a oportunidade
de se ressaltar o bom exemplo das práticas e experiências exitosas.
A Participação e o Controle Social também são diretrizes que permeiam
as estratégias e ações do ProNEA, por intermédio da geração e disponibilização
de informações que permitam a participação social na discussão, formulação,
implementação, fiscalização e avaliação das políticas ambientais voltadas à
construção de valores culturais comprometidos com a qualidade ambiental e a
justiça social; e de apoio à sociedade na busca de um modelo socioeconômico
sustentável.
Mas essas iniciativas governamentais precisam ser mais bem
analisadas e se possível desenvolver estudos crítico sobre políticas públicas na
área da educação ambiental. Pois se há uma iniciativa de implementação de
projetos ambientais e sobre a educação ambiental, há por parte do governo e mais
121
especificamente do ministério se posicionar quanto à relação de essência que há
nas questões sobre a preservação do meio ambiente. Não há interesse em discutir
e questionar como é verdadeiramente possível garantir a soberania nacional na
lógica da globalização sem agredir, explorar e destruir o meio ambiente.
É importante para este estudo nos situarmos no âmbito local, nacional e
internacional, por isso a necessidade de conhecer as leis que garantem no estado
nacional a Educação ambiental e as propostas de intervenção social.
Além desses documentos a Agenda 21, Brasileira e o tratado de
educação ambiental são de grande relevância para o desenvolvimento de ações
sobre as questões ambientais.
A agenda 21 braseira está articulada com a Agenda 21 internacional,
estabelece um plano de ações para o século XXI, visando a sustentabilidade da
vida na terra que trata de dimensões econômicas e sociais, conservação e manejo
de recursos naturais, fortalecimento da comunidade e meios de implementação
como estratégias de sobrevivência no planeta terra.
As diretrizes sobre o trato com o conhecimento das questões ambientais
estão no tratado de educação ambiental para as sociedades sustentáveis e
responsabilidade global
30
e foi resumida nesses tópicos:
A EA deve ter como base o pensamento crítico e
inovador, em qualquer tempo ou lugar, em seus
30
Esses tratado foi construído na Jornada Internacional de educação ambientalrealizada no Fórum Global em
1992 no Rio de Janeiro (Rio-92), organizada pelo Icae Conselho internacional de Educação de adultos com
apoio das ONG´s, como o SUM Serviço Universitário Mundial e a Icea Associação Internacional de
Educação comunitária.
122
modos formal, não formal e informal, promovendo
a transformação e a construção da sociedade;
A EA é individual e coletiva. Tem o propósito de
formar cidadãos com consciência locais e
planetárias, que respeitem a autodeterminação
dos povos e a soberania das nações.
A EA deve envolver uma perspectiva holística,
enfocando a relação entre o ser humano, a
natureza e o universo de forma interdisciplinar.
A EA deve estimular a solidariedade, a igualdade
e o respeito aos direitos humanos, valendo-se da
estratégia democrática e interação entre as
culturas.
A EA deve integrar conhecimentos, aptidões,
valores, atitudes e ações. Deve converter cada
oportunidade em experiências educativas das
sociedades sustentáveis.
A EA deve ajudar a desenvolver uma consciência
ética sobre todas as formas de vida com as quais
compartilhamos este planeta, respeitar seus ciclos
vitais e impor limites à exploração dessas formas
de vida pelos seres humanos. (GADOTTI, 2000 p.
95).
123
Podemos considerar que o resultado dessas últimas reuniões
manifestado em documentos influenciaram as diretrizes do ProNEA e o PNEA.
Neste âmbito está também a Conferência Internacional sobre o meio Ambiente e
Sociedade, centrada no tema educação, realizada em Tessalônica Grécia
patrocinada pela UNESCO em 1997 e se reconheceu que a educação ambiental
não poderia dar conta de solucionar os problemas ambientais. Alguns fatores que
agravam a insustentabilidade: o rápido crescimento da população mundial, a
persistência da pobreza generalizada, a expansão da indústria em todo o mundo,
o uso de modalidades de novos e mais intensivos aparatos tecnológicos de
exploração, a negação da democracia e a violação dos direitos humanos.
31
Em 2002 tivemos o encontro em Joanesburgo ou Rio Mais Dez -
Conferência da ONU Sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento Humano. Um
dos principais informativos adicionais para o mundo, foi à necessidade de fazer os
países em desenvolvimento terem a tão famosa soberania nacional e se
posicionarem com equidade e perante o mundo, transformação essa que seria
propiciada pelos países desenvolvidos, em acordos econômicos como a ALCA
32
.
Hoje, a luta por uma Educação Ambiental, enfrenta as modificações das
relações econômicas estabelecidas pela globalização - modelo de
desenvolvimento vigente, imposto pelos países desenvolvidos por meio de
diversos processos e instituições como: o Sistema Financeiro Internacional, o
Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional - que vai desde as articulações
de empresas multinacionais em manobras absurdamente devastadoras, como a
31
Esses fatores foram reconhecidos também na Carta do Rio Mais Dez na Conferência realizada em
Joanesburgo em 2002.
32
Área de Livre Comércio das Américas.
124
legalização dos transgênicos, até o comportamento consumista e uniformizado
dos indivíduos que compõem esta sociedade.
Podemos afirmar que a sociedade contemporânea capitalista é uma
sociedade desequilibrada no sentido ecológico e podemos identificar seus
sintomas nas alterações ambientais mais globais com o meio ambiente: efeito
estufa; buraco na camada de ozônio; alterações na superfície da terra;
exacerbações das mudanças climáticas; desflorestamento; queimadas; erosão do
solo; areificação/ desertificação; destruição de habitats; perda da biodiversidade;
poluição; escassez de água potável; erosão e perda da diversidade cultural e
exclusão social.
Portanto o questionamento radical, de conjunto e com totalidade é
imprescindível para que se compreenda esta complexa temática do Meio
Ambiente.
A proposta de ação no curso de formação de professores na UFBA com
o projeto piloto ACC 465 Cultura Corporal e Meio Ambiente representa a
necessidade de trabalhar com o conhecimento sobre a questão ambiental nos
cursos de formação de professores entendo que este tema não pode mais ser
negado pela ciência e pela sociedade. Os princípios para o desenvolvimento
desse projeto piloto na UFBA teve como base o conhecimento já construído no
campo do ambientalismo e da Educação Ambiental, articulando este
conhecimento com a proposta de organização do trabalho pedagógico a partir da
prática pedagógica. O trabalho faz parte de uma luta pela reformulação curricular
que garanta o trato com conhecimentos concretos, complexos da vida real, como
é o caso das questões relativas ao meio ambiente.
125
Ao analisarmos os processos históricos a cerca da Educação Ambiental
percebemos que ela vai se constituindo a partir do reconhecimento científico e
popular da gravidade sobre as questões ambientais que envolvem as relações ser
humano e natureza. O modelo social capitalista determina a exploração dos
recursos naturais renováveis e não renováveis sem medir as drásticas
conseqüências para a vida no planeta. Os movimentos populares ambientalista, e
as políticas públicas implementadas, por sua vez, nem sempre radicalizaram a
questão da preservação ambiental com lógica do funcionamento social capitalista,
ou seja, identificam o fenômeno, mas não analisa a relação das partes com o todo,
resultando em ações unicamente locais.
A educação ambiental hoje traça diretrizes para a formação nos
currículos de formação de professores e nas escolas.
Como contribuição para a problemática apresentada, Gadotti (2000)
coloca que a tarefa da EA para o futuro imediato deve construir um paradigma
curricular para as escolas que nos possa ajudar, da melhor forma possível, a
recuperar um modo humano autêntico da relação com o mundo natural e enfrentar
de modo direto os desafios ecológicos com os quais nos deparamos atualmente,
esse movimento deve ter como base a dialética, que constitui, segundo Gadotti,
no melhor referencial teórico para abordar questões filosóficas como esta.
Construir possibilidades do trato com o conhecimento sobre as questões
ambientais é necessariamente como afirma a metodologia dialética relacionar tudo
com tudo, o todo nas partes. Pensar em termos de relações e encadeamentos das
hierarquias para as redes cooperativas comunidades de aprendizagem das
estruturas para os processos.
126
O trato com o conhecimento sobre as questões ambientais e a
preservação da vida planetária necessita primeiramente da conscientização. A
proposta de preservação do meio ambiente depende da transformação desse
sistema social e a transformação só pode ser construída a partir das necessidades
objetivas, que depende da democratização do conhecimento possível através
também da educação. Uma educação das coisas a partir da vida cotidiana, a partir
do trabalho e da cultura.
As diretrizes para o desenvolvimento de uma ecopedagogia estão
baseadas principalmente na vida cotidiana, que busca sentido a cada momento, a
cada ato, que pensa a prática em todos os momentos evitando a burocratização
do conhecimento. Pistrak (2002) desenvolve um planejamento educacional para
as escolas socialistas com base no sistema dos complexos, e aponta que a escola
é parte integrante da comunidade e não pode estar dissociada das conquistas e
dificuldades do seu cotidiano. Seu programa deve representar um programa de
vida.
A iniciativa da educação ambiental busca o reencontro do mundo da
natureza com o mundo da cultura. O simples fato de aprender a economizar, a
reciclar, a compartilhar, a complementar, a preservar, a aceitar a diferença pode
representar uma revolução no corpo do sistema social, é a possibilidade da união
da natureza com a cultura. Para Gadotti (2000) a ecopedagogia assume uma
posição na consciência quando conscientiza o ser humano de que a cultura
capitalista é cristã e por isso predatória, que a terra continuará sendo considerada
como espaço de sustento e de domínio técnico-tecnológico.
127
Entendemos que nesse processo tratar das questões relativas à
Educação Ambiental para um futuro sustentável é mais amplo do que a educação
que se restrinja aos processos da educação escolar ou ambiental curricular em
qualquer nível de ensino, ela está fora e dentro da escola ela se apresenta como
um objeto complexo a ser analisado de forma dialética.
Para Gadotti (2000) a educação ambiental no modelo de escola e
currículo tradicional foi reduzida à intenção de incorporar uma consciência
ecológica, e não é capaz de exercer o papel interdisciplinar, sendo entendido
como a formação de habilidades para apreender a realidade complexa. Não se
pode limitar ao ambiente externo sem se confrontar com os valores sociais, a
solidariedade, não pondo em questão a política de educação e do conhecimento e
a relação entre ser humano e natureza mediada pelo trabalho.
Leff citado por Gadotti (2000) reconhece a necessidade de uma
educação ambiental que não se reduza ao ambientalismo, para ele é a vertente da
teoria crítica da educação com a tória da complexidade que determina o que é
ambientalismo. É um objeto complexo que implica a desconstrução do
pensamento disciplinário e simplificador. A pedagogia da complexidade ambiental
reconhece o conhecimento, enxerga o mundo como potencia e possibilidade,
entende a realidade como construção social mobilizada por valores, interesse e
utopias.
A sustentabilidade é um princípio que reorienta a educação
principalmente quanto aos currículos, objetivos e métodos. Tendo como referência
o projeto histórico socialista.
128
A ecopedagogia é um movimento que surge no âmbito político e social,
no seio da sociedade civil, nas organizações tanto de educadores quanto de
ecologistas, e de trabalhadores e empresários, preocupados com o meio
ambiente. É apenas através da ação integrada que se pode combater e
revolucionar as relações entre o se humano e a natureza. O instituto Paulo Freire
com seu programa de ecopedagogia e o Movimento pela Ecopedagogia
33
tem a
concepção de que as ações devem integrar medidas governamentais para a
implementação de projetos de estatais de despoluição e de preservação do meio
ambiente, assim como a concretização de ações que permita a democratização do
conhecimento.
As contribuições dos estudiosos sobre a complexidade ambiental são
imprescindíveis, mas reconhecemos que não basta a sensibilização e as
formações políticas de setores cada vez maiores da opinião pública são
essenciais para concretizar um processo mais sólido e criar condições sociais
propícias que possibilitem a sustentabilidade social e econômica do nosso planeta.
É necessário entender que para atingir este patamar devemos falar primeiramente
em construir possibilidades para mudanças de estruturas sociais e econômicas
que regem a nossa vida.
Acreditar que é possível trabalhar a ecopedagógia é acreditar num
processo de educação que diz respeito à preservação da natureza, o impacto de
sociedades humanas sobre os ambientes naturais, acreditando em possibilidades
para a construção de um projeto histórico socialista. Uma civilização sustentável
do ponto de vista ecológico, que implica as mudanças nas estruturas econômicas,
33
Criado em agosto de 1999 durante o primeiro encontro Internacional da Terra na Perspectiva da Educação.
129
sócias e culturais. Ela está relacionada com o projeto utópico de mudar as
relações humanas, sociais e ambientais que temos hoje.
Neste sentido, a contribuição que esta pesquisa traz está, justamente,
na luta da Educação Ambiental contra destruição da natureza, contra a
globalização e o sistema capitalista neoliberal. A partir do paradigma da
organização do trabalho pedagógico da “Cultura Corporal e do Meio Ambiente”
para a valorização da cultura humana, do trabalho digno e da vida no planeta.
130
5.3 - A Cultura Corporal
As relações entre cultura corporal e meio ambiente na sociedade
capitalista são estabelecidas, predominantemente, pelas atividades esportivas.
Autores como Kunz (2003), Bracht (1999) e Da Costa (1997) entre outros tratam
da questão da destruição dos espaços em decorrência construção e das práticas
do esporte, principalmente o esporte competitivo de alto rendimento. As relações
entre o ser humano e as atividades esportivas são determinadas pela lógica da
cultura capitalista. O esporte deve ser caracterizado a partir do reconhecimento
que ele é um dos importantes fenômenos culturais da modernidade, portanto falar
do esporte sem buscar criticamente as relações com o modo de produção
capitalista, o trabalho e a destruição com a natureza é ter uma visão ingênua e
romântica do fenômeno esportivo.
A partir dessa crítica ao esporte reconhecemos a necessidade de
construir propostas para responder as problemáticas significativas relativas ao ser
131
humano e meio ambiente através da cultura corporal, que vem se constituindo
como uma proposta superadora no campo da Educação Física e também na
formação de professores.
O esporte é uma das principais atividades do ser humano na
modernidade no final do século passado e início do novo milênio. A contribuição
da Universidade do Porto para Agenda 21 com a publicação do livro Meio
Ambiente e Desporto uma perspectiva internacional, reúne artigos de vários
autores que abordam temas relacionados à teoria geral do meio ambiente e do
esporte, a ética, a cidadania e as políticas públicas. Esta publicação foi analisada
por reconhecemos o esforço dos pesquisadores em relacionar as questões
relativas ao meio ambiente e o esporte.
È bom que fique esclarecido, não é objetivo de esta pesquisa negar o
esporte enquanto possibilidades de constituir o conhecimento a cerca da cultura
corporal e meio ambiente na formação de professores. É imprescindível entender
que quando falamos de atividades físicas devemos reconhecer a dimensão que
tem o esporte para a formação social e para a vida humana. E a partir daí
construir possibilidades de desenvolver ações, estudos e pesquisas no campo da
cultura corporal e meio ambiente. A relação entre Meio Ambiente e esporte deve,
portanto ser entendida pelo reconhecimento do esporte enquanto uma
manifestação da cultura, um fenômeno social que deve ser questionado com
maior radicalidade. Os encontros mundiais em defesa do meio ambiente apontam
as possibilidades de construção de atividades esportivas não destruidoras do meio
ambiente, e é necessário definir como o fenômeno esportivo pode se constituir
uma das manifestações da cultura corporal e suas relações com o meio ambiente.
132
Entendemos que a destruição da natureza se caracteriza pela destruição
das forças produtivas por isso, para iniciar, é preciso destacar que a discussão
sobre Esporte e Meio Ambiente deve ser situada no interior das denúncias
formuladas pelas organizações de trabalhadores sobre a acentuação da tendência
a destruição das forcas produtivas, natureza, homem, relações de produção, sob o
modo de produção capitalista. Para os trabalhadores dos grandes centros como
Europa e Estados Unidos às questões detonadoras das reações contra o
capitalismo são as questões do desemprego estrutural, a destruição ambiental, os
direitos humanos e individuais, as usinas nucleares, a possibilidade da guerra
atômica, os acordos multilaterais de investimentos, enquanto que para os
trabalhadores da América Latina, Ásia e África são ainda as condições objetivas
de existência material. Para identificar concretamente tais reações podemos
examinar o esforço do Acordo Internacional dos Trabalhadores e o Manifesto
Ecosocialista da Europa entre outras
34
. Deve ser situada também no interior dos
movimentos ecológicos, que buscam superar visões românticas, e avançar na
compreensão e na ação frente à realidade complexa e contraditória, objetivas e
construídas. Nunca se soube tanto e nunca se destruiu tanto. Por fim, deve ser
situado dentro dos esforços de cientistas e suas instituições que vem
fundamentando a importância dos ecossistemas e da complexidade do que é ser
vivo, na linha da defesa da bio-diversidade como fundamentos da ecologia social e
política. Destaca-se aí o trabalho do Latino-americano H. Maturana
35
.
34
Manifesto Ecosocialista da Europa
35
Humberto Maturama. Emocões e Linguagem em Educação e Política, 1989.
133
As denúncias sobre “limites de crescimento” eclodem na Europa, em vários
países, destacando-se aí, as denúncias referentes à acentuação da tendência a
destruição do meio ambiente em decorrência das relações de exploração com a
natureza, à exploração do trabalho e do trabalhador, pela reserva de mercado,
pela perda de direitos sociais e, do Estado de Bem Estar Social. Trata-se dos
recursos naturais básicos que fundamentam a economia (relações de produção e
troca), em decomposição, desaparecimento e destruição. O que temos assinalado
é que é impossível fazer economia ou política que não parte destes bens e fontes
energéticas renováveis ou não renováveis.
O clube de Roma
36
, na década de 70, denunciou a degradação do meio
ambiente, produzida por um desenvolvimento não-sustentável destacando-se nas
denúncias: a) ameaças à biodiversidade; b) efeito estufa; c) camada de ozônio; d)
poluição do ar-água-solo; e) consumo excessivo de recursos.
As Nações Unidas organizaram a “Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento” , em junho de 1992, no Rio de Janeiro e
lançou-se o conceito de “desenvolvimento sustentável”, ampliando-se o debate em
torno dos movimentos ecológicos e da conservação da natureza. Os
compromissos e resoluções foram firmados na denominada Agenda 21.
Inicialmente é preciso esclarecer o que significa “desenvolvimento não-
sustentável” e “desenvolvimento sustentável” Gadotti (2000). O balanço da
36
Reunindo chefes de estado, economistas, pedagogos, humanistas, industriais, banqueiros, líderes políticos,
cientistas, entre outros membros de diversos países, o Clube de Roma nasceu na década de 60, sendo
marcado por uma série de encontros, visando analisar a situação mundial e oferecer previsões e soluções
para o futuro da humanidade. Fonte http://www.ibps.com.br fragmento do texto história problema, desafios e
probabilidade. Identificando que as reservas de matéria prima e energia estariam incompatíveis com a
capacidade de reposição de recursos naturais e absorção dos resíduas dessa produção pelo planeta.
134
literatura marxista, especialmente, mostra que a forma capital de relações sociais,
evidência, neste final de século, indicadores deste “desenvolvimento não-
sustentável” significando isto, esgotamento, exaustão desta forma de
desenvolvimento. O problema crucial não é o “desenvolvimento não-sustentável”
mas sim, a lógica consumista e destrutiva do sistema capitalista.
Neste contexto de acentuada destruição discute-se esporte e meio
ambiente considerando que o esporte não é “um fim” em si, tem razões sociais e
estas devem ser reconhecidas no contexto do desenvolvimento econômico que,
ao contrário dos postulados da harmonia da ideologia liberal, é profundamente
marcado por relações de poder e de forças assimétricas que se conjugam em
dadas relações de produção. A sociedade capitalista afluente possui um lado
ordeiro ao Norte, e um lado desordeiro ou caótico ao Sul, alerta Altvater (1995).
Algumas questões são essenciais, nos debates sobre esporte e meio
ambiente como a ciência, ética e educação. Os ensaios críticos sobre as práticas
corporais, especificamente os esportes, como nocivos à natureza, principalmente
quando praticados sem medidas de proteção para o meio ambiente vem se
constituindo como objeto de estudo em todo o mundo. A maioria deles aponta
para a questão como uma questão ética, educativa, regulativa. Cabe perguntar,
frente aos inúmeros trabalhos que partem deste pressuposto. O problema é ético,
é educativo, é regulativo, ou é um problema econômico e político?
Pelas reflexões correntes identificamos uma predominância da abordagem
ética. Como exemplo pode ser mencionado o estudo de Eckard Meinberg (1997)
que analisou o conflito entre desporto e meio ambiente a partir de considerações
135
éticas. Defende o autor a necessidade de um modelo ético que simbolize a
integração do homem com a natureza e este símbolo é o Homo Ecologicus que
respeita seu corpo e que estabelece limites. É pertinente entender a partir daí, que
as pessoas praticando esporte devem se comportar de modo a minimizar o
conflito esporte e meio ambiente, e para que isto aconteça, a educação se faz
necessária: a ética depende da pedagogia finaliza o autor.
Nesta linha da abordagem ética encontramos também o trabalho do
Douglas A. Brown
37
que examina a política do Comitê Internacional Olímpico (CIO)
em relação ao meio ambiente estudando as idéias que constituem os discursos,
identificando o diálogo filosófico e político. Estabelece as diferenças
epistemológicas e ontológicas da teoria dos valores, concluindo que o CIO insere-
se no discurso da ética ambiental.
No ensaio “Ética e Violência”,
38
Marilena Chauí analisa o retorno á ética
considerando como um mito da não-violência. O que está na radicalidade da
questão segundo a autora, é a desigualdade social econômica, base estrutural de
nossa sociedade, o que jamais proporcionará um estado de conhecimento e
democracia suficientes para garantir uma relação ética entre o ser humano e a
natureza. Acrescenta que uma ação só será ética se for consciente, livre e
responsável e; virtuosa se for realizada em conformidade com o bom e o justo, se
for livre, necessariamente, autônoma, resultado de uma decisão interior ao próprio
agente, não sendo uma obediência de ordem a uma pressão externa.
37
Do Centro de Estudos Olímpicos da Universidade de Western Ontario, Canadá.
38
Chauí, Marilena. Publicado pela Revista Teoria e Debate, n. 39 de out/ dez de 1998.
136
A questão de ética ambiental e do esporte, não se reduz a uma questão
de código ético esportivo, pois estaríamos reduzindo as relações entre ser
humano e natureza em regulamentações e fiscalizações. A regulação das
atividades que proporcionam o consumo ativo da natureza não depende de um
arsenal de normas de utilização e de comportamento que deve ser seguida pelos
atletas.
Neste aspecto a autora Jesus apud Bruns (2003), aponta uma
problemática identificada em práticas esportivas em áreas de ecoturismo. A autora
chama atenção para a questão da gestão em ecoturismo, sob o aspecto da
leviana territorialidade dos esportes de aventura, afirmando que as práticas
esportivas principalmente as que buscam uma reintegração entre o ser humano e
a natureza são transitórias, estão sempre à procura de novos lugares
preferencialmente virgens, além de estabelecer uma relação de destruição cultural
nas comunidades onde se instalam. Essas características dificultam a fiscalização
e o monitoramento nas áreas exploradas.
Sobre a questão da ética, muitos autores, trabalham em busca construir
estabelecer um código de ética necessário para o desenvolvimento de um esporte
que preserve a natureza, acreditando ser a solução para a problemática.
Nossa base teórica nos permite entender que há estudos, pesquisas e
constatações sobre práticas esportivas e a destruição ambiental é muito mais
complexa do que simplesmente normatização e fiscalização nos padrões da ética
ambiental de ações esportivas.
Outra abordagem evidente é a sociológica, que parte da reflexão das
relações esporte e sociedade e admitem que o futuro da sociedade esteja em
137
perigo, fazendo-se necessárias avaliações críticas sobre o desenvolvimento do
esporte. Como exemplo, mencionamos a posição de Hans Jãgemann
39
(1997) que
aponta tanto para o sentido da responsabilidade, que não é um esporte de meios
medidas, mas, aquele que dá mais alegria à vida do que causa problemas nocivos
à natureza e ao entorno, bem como para a responsabilidade das autoridades
públicas. Aponta a planificação e monitoração e ainda ações competentes pela
educação ambiental. Hans foi dirigente do Jornal Sport Stutzt Umwelt (O esporte
protege o meio ambiente) que em 1986, por iniciativa da DSB Federação Alemã
de Esportes, inicia um Movimento a favor de proteção ambiental nas práticas
esportivas.
Na Europa podem ser encontradas outras abordagens e, para exemplificar
menciono o trabalho de Charles Pigeassou (1997)
40
. Partindo de uma abordagem
sócio-histórica Pigeassou faz referência a paradigmas econômicos e a revolução
cultural do tempo livre. Admite que compreender a trajetória do esporte é realizar
uma démarche sócio-histórica que se define a partir daí. Define esporte como um
espelho da sociedade, em que se projetam seus fantasmas, valores, excessos,
laboratório onde se passa uma intensa atividade social. Admite ser o esporte um
processo de educação para a cidadania e suscita uma reflexão acerca da noção
de natureza que hoje permeia as relações esportivas. Pigeassou demonstra
também que a temática ambientalista no âmbito do esporte é recente e teve
somente importância periférica. Questiona ainda se a dificuldade de consideração
nas análises sociológicas das mudanças do esporte está relacionada ao sistema
39
Da Federação de Esportes da Alemanha Departamento de Desenvolvimento e Facilitação do Esporte
40
Da Universidade de Montpellier I, UFR STAPS, França.
138
ambientalista de valores, e reconhece, por fim, que o pensamento ambientalista
molda o esporte, indicando que o estudo sociológico da sensibilidade
ambientalista no interior do esporte é uma premissa digna de atenção em futuras
investigações.
No Simpósio Internacional sobra Formação de Professores e Intercâmbio
Científico e Tecnológico na Área de Educação Física/ Ciências do Esporte
41
, o
professor Doutor Dieckert
42
contribuiu com a discussão indicando por que o
esporte quando praticado sem meios de proteção ambiental é nocivo à natureza.
Suas análises levam em consideração desde os ambientes esportivos, quanto às
práticas, os excessos, a perda de limites e referências humanas. O Esporte assim
torna-se desumano, não colocando no centro o ser humano, mas sim o esporte
em si. Até hoje pesquisando sobre a literatura esportiva, especificamente sobre os
conceitos sociais, identifica-se déficits que apontam para esta constatação, o ser
humano não é o centro. Segundo este pesquisador, a grande revolução de
paradigma reside nisto, o ser humano, sua vida digna, em equilíbrio com a
natureza, em sistemas de base comunitarista.
Vale destacar que na década de 70, na cidade de Oldenburg, construía-
se uma Universidade totalmente orientada para o Movimentar-se e a Harmonia
com a natureza e com as tradições locais. Tratava-se, não somente da
observação de uma dimensão social, as práticas corporais e esportivas e seu
41
Evento realizado pela LEPEL linha de estudos e pesquisa em educação física esportes e lazer no ano de 22
a 27 de julho de 2002, Universidade Federal da Bahia, cidade de Salvador, Bahia, Brasil.
42
Outras contribuições do Professor Dieckert para a área de conhecimento esporte e meio ambiente pode se
verificado no apêndice A.
139
caráter formador, mas sim de uma visão geral e abrangente de educação e, de
totalidade da vida universitária.
Para a construção desta Universidade, mencionada como exemplar nos
periódicos na Alemanha, a equipe interdisciplinar o Professor Doutor Dieckert, um
dos principais responsáveis pela concepção filosófica relacionada à formação
humana em uma vida de movimento, em equilíbrio com a natureza, com o
entorno, já observava os seguintes pontos
43
:
Ø Uso de terrenos em condições de eficiência máxima;
Ø Economia no uso de energia;
Ø Visibilidade e ênfase no cenário natural e tradições locais;
Ø Planejamento para luz solar passiva;
Ø Integração com o planejamento urbanístico da cidade;
Ø Reciclagem de materiais;
Ø Rejeição a materiais tóxicos;
Ø Práticas de gerência responsável pelo lixo;
Ø Reciclagem de água usada;
Ø Maximização do transporte público;
Ø Redução da dependência no automóvel;
Ø Programação diversificada e multifacetada também para a comunidade.
43
Os pontos mencionados acima podem ser reconhecidos nas preposições para manejo do meio
na construção do ambiente para os Jogos Verdes, os Jogos de Sydney do ano 2000.
140
À arquitetura, soma-se um programa de práticas corporais multivariado,
segundo Taffarel
44
, oferecido pela Hoschulle enquanto um programa de vida para
universitários e a comunidade, desenvolvido com a criatividade excepcional do
pedagogo do esporte WOOP
45
.
Outra contribuição importante na discussão vem do Clube de Colônia,
na pessoa de Volker Rittner da German Sport University, Universidade de
Esportes de Colônia, Alemanha.
No Brasil temos contribuições dos estudos de Kunz (2003) que chama
atenção para as dimensões inumanas do esporte como o treinamento precoce, o
doping no esporte de rendimento e a busca do talento esportivo.
A exaustão do esporte, no diz Rittner, podem ser identificadas por
limitações evidentes na performance humana, e daí recorrer-se ao dopping para
ultrapassar limites humanos, e ainda, no reconhecimento social, bloqueando as
relações entre mente e natureza, corpo e sociedade, evidenciando-se isto nos
prejuízos provocados pelo esporte na natureza.
Como sintoma da exaustão do esporte Rittner menciona a excessiva
comercialização, uma vez que o patrocínio desportivo apresenta sinais de
estagnação seja pela recessão ou pela degeneração moral do esporte.
Merece destaque ainda na posição de Rittner as abordagens cínicas
das relações entre o esporte atual e suas relações sócio-econômicas, o que
confirma a tensão e os indicativos da exaustão.
44
Relatório técnico-científico apresentado ao CNPq em 1999. Base da tese de pós-doutoramento apresentado
na UFBA para concurso público para professor titular da UFBA.
45
Christian Woop. Entwicklug und Perspektiven des Freizeitsportes Aechen.
141
Existe uma tradição de liberdade e ludicidade do esporte que está em
vias de desaparecer. Esta tradição genuína diz respeito a moral dos esportistas,
as responsabilidades e sensibilidades com a natureza, a preservação, do que diz
respeito a todos.
Tais bases estão ameaçadas na perspectiva de preservação do meio
ambiente, e pelo comercialismo, profissionalismo e individualismo. Nesse aspecto,
Rittner é taxativo e define a crise atual do esporte pelo seguinte:
a) O esporte não garante uma atenção ao corpo como parte da natureza
humana;
b) O sistema esportivo está perdendo a sua capacidade regulatória nas
relações entre atividades corporais e o meio ambiente;
c) O esporte está dissolvendo o seu potencial de socialização;
d) A progressiva instrumentalização do corpo que hoje caracteriza o esporte
rejeita as potencialidades da promoção da saúde que reside no interior da
atividade esportiva;
e) O esporte contemporâneo contribuiu para a destruição das bases naturais
da existência humana, opondo-se as suas próprias tradições e, portanto,
perdendo a sua legitimidade social.
Com base neste diagnóstico, o Clube de Colônia, tem promovido ações
que merecem destaque: a) esclarecimentos; b) mobilizações; c) intervenções. Elas
se desenvolvem por seis modos principais: Análises científicas do problema;
Trabalhos interdisciplinares; A apreensão da realidade e as possibilidades ou não
de soluções; Cooperação entre centros de decisão em política, cultura e negócios;
142
A informação a grupos representativos dos esportes e da comunidade; A
cooperação internacional.
O Clube tem consciência dos diferentes problemas e suas áreas,
considerando relevante à constituição de grupos de trabalho interdisciplinares
concernentes as seguintes problemáticas:
a) Performance humana e saúde;
b) Cultura e sistema social;
c) Ética, leis e política;
d) Ecologia e desenvolvimento;
e) Grande mídia (mais média) e comunicação;
f) Trabalho, tecnologia e economia.
O Clube de Colônia está associado à Organização Mundial da Saúde
(OMS) e à Federação Internacional de Medicina Desportiva (FIMD). Por aí se
veiculam e disseminam-se conhecimentos. Este conjunto de iniciativas estas
sintetizadas no documento “Apelo à Ação” e é dirigido a governos de diferentes
países, apresentando planos de ação conjunta entre a OMS e a FIMD.
Mas as críticas evoluem e podemos encontrá-las em vários âmbitos,
tanto restritos ao esporte, quanto a manifestações de outros setores da sociedade
que defendem o meio ambiente e exigem normas de proteção ambiental. E isto
vem impactando a Organização Esportiva.
A Carta Olímpica, documento fundamental do Movimento Olímpico e da
operacionalização do Comitê Internacional Olímpico estipula que o Comitê deverá
“verificar se os jogos Olímpicos são organizados em condições que demonstrem
responsabilidade quanto aos assuntos do meio ambiente”.
143
O Congresso referente ao Centenário Olímpico, realizado em Paris,
1994 identificou fatores essenciais para o desenvolvimento do esporte, entre eles
destaca-se o tema do meio ambiente.
Importante destacar na discussão referente à Esporte e Meio Ambiente a
diretiva principal formulada pelo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de
Sydney, Olimpíadas 2000, que prevê a mobilização de 15.000 atletas e dirigentes
de 14 modalidades esportivas. Como por exemplo, os locais das modalidades
esportivas foram inter-relacionadas por caminhadas de duração máxima de 30
minutos. O que evitava o uso de automóveis.
Sallyamne Attkinson
46
apresentam uma análise interessante sobre “Os
impactos físicos e o meio ambiente”. Afirma Atkinson (1997) que “A diretiva
principal dos Jogos refere-se. Á promoção da consciência ambiental e de
inovações técnicas de proteção ambiental por via de exemplos práticos e de
adesão a um conjunto consensual de princípios”. Os Jogos devem ter padrões que
respeitem normas de proteção ambiental. O GREENPEACE apóia o Comitê
quanto à orientação geral das Olimpíadas.
Esta diretiva geral decorre dos princípios emitidos pela Conferência das
Nações Unidas para o Meio Ambiente, 1992 (RIO 92) e seguem os compromissos
do desenvolvimento sustentável para a área ecológica. Os temas gerais da
proteção ambiental, aos quais se articula a especificidade do esporte são:
ameaças a biodiversidade; efeito estufa; camada de ozônio; poluição ar-água-solo;
e consumo excessivo de recursos.
46
Do Comitê Organizacional dos Jogos Olímpicos de Sydney –2000.
144
Medidas foram tomadas para garantir um encontro mundial esportivo, as
Olimpíadas 2000 que constitua um meio de renovação urbana prevendo-se
também, os seguintes manejos do meio ambiente: Uso de terrenos em condições
de eficiência máxima; Economia no uso de energia; Visibilidade e ênfase no
cenário natural e tradições locais; Planejamento a luz solar passivo; Integração
com o planejamento urbanístico da cidade; Reciclagem de materiais; Rejeição a
materiais tóxicos; Práticas de gerência responsável do lixo; Reciclagem de água
usada para irrigação; Maximização do transporte público; e Redução da
dependência no automóvel.
Os organizadores pretendiam oferecer os Jogos Olímpicos da era
moderna de maior harmonia, mais orientados para atletas tecnicamente
excelentes e de maior sentido cultura. Estes jogos mobilizaram um acréscimo no
PIB do país em torno de 7,3 bilhões de US$ no período de 1994-2004, gerando
150 mil empregos e 1,3 milhões de visitantes estrangeiros foram verificar os Green
Games, Os Jogos Verdes.
Analisar o fenômeno esportivo é identificá-lo como um campo de ludicidade
de lazer, mas também de trabalho e de produção e acumulação de capital.
Entendemos que o fenômeno esportivo e o meio ambiente passam pela base
material de existência humana, a economia. Para entrar na discussão sobre
Esporte e Meio Ambiente, imprescindível se faz explicitar de que estamos falando.
O Esporte não é algo mágico que paira sobre nossas cabeças. É algo concreto,
situado, em construção. É um dos fenômenos sócio-culturais da mais alta
relevância no mundo contemporâneo e constitui o processo civilizatório. É preciso
145
reconhecer e situar a discussão, a partir da complexidade do novo tecido social.
As formas, como o capitalismo se reorganiza, renovando alguns elementos com o
propósito de manter e reconstruir sua hegemonia, procurando ajustes
(reestruturação produtiva) conducente a um novo modelo de acumulação
(flexibilização), tem conseqüências significativas sobre o mundo do trabalho e
intervenção estatal (Ajuste Estrutural) na questão social, na produção e,
conseqüentemente, no esporte, enquanto prática social. A reestruturação
produtiva representa, também, uma nova estética e uma nova psicologia. Os
novos métodos de trabalho não são inseparáveis de um modo específico de viver,
de pensar e, de sentir a vida.
Taffarel (1999) destaca que é necessário reconhecer que o novo tecido
social apresenta hoje três complexos sistemas: a) a economia empresarial
capitalista; b) a economia estatal (empresarial-capitalista estatal e empresarial-
estatal não regida pelo lucro; c) e a economia popular. Onde afinal, estamos
localizando o esporte neste complexo econômico? De qual esporte estamos
falando? O esporte praticado por pouquíssimos homens e mulheres excepcionais,
excelentes e, consumido simbolicamente pelas massas através de subprodutos da
industrial cultural de massas?
A economia empresarial capitalista é baseada na reestruturação
produtiva e tem como estratégias a competitividade, a produtividade, a qualidade
total, a lucratividade. É extremamente centralizadora e gera uma repercussão
social destrutiva catastrófica, visível na crise de desemprego estrutural, na
destruição do mundo do trabalho.
146
A Economia capitalista Estatal, por sua vez, é baseada em duas
estratégias, uma de cunho lucrativo, imbricada com a economia capitalista
monopolista, que visa lucros e hoje tem setores lucrativos nos mecanismos de
privatização de empresas estatais de mineração, telefonias, eletricidade, petróleo,
e outra de cunho “não lucrativo” como a educação, saúde, previdência, seguridade
social, segurança pública, que os Governos aliados com as políticas de Ajustes
Estruturais, vêm sistematicamente se desobrigando e forçando a privatização
destes setores, que passam a constituir setores lucrativos ao capital.
A economia popular cujas estratégias objetivam: a) sobrevivência
humana; b) subsistência humana; c) estratégia de vida anticapitalista.
Merece destaque nesta reflexão o que significa Esporte e como ele se
manifesta em relações econômicas capitalistas empresariais, estatal lucrativa ou
não e ao nível da Economia Popular.
Para a economia empresarial capitalista e Esporte é o “negócio do
século” porque mobiliza paixões, emoções, frustrações, consumos diversificados
ao infinito, enfim grandes negócios. Isto pode ser perfeitamente detectado deste
as operações de compra e venda de atletas de alto rendimento, até as empresas
de marketing, propaganda e na imprensa que vendem sonhos e desejos
irrealizáveis.
Para a economia estatal representa a mobilização de negócios, uma
forma de revitalizar a economia com a geração de empregos e circulação de
mercadorias, sejam elas supérfluas ou não. Representa também investir em
setores de interesse do grande capital, como por exemplo, a construção de um
147
mega estádio, para as mega estrelas, em detrimento da generalização de espaços
urbanos adequados para as práticas corporais comunitárias. Representa também
uma forma de controle ideológico via educação, com as campanhas de busca de
talentos esportivos, com as campanhas de aceitação passiva da condição de não
praticante ativo do esporte, “quem não joga bate palma”.
Para a economia popular representa meio de sobrevivência que vai
deste o negócio ilegal na compra e venda de ingressos, a venda de “bugigangas”
até a venda em massa dos subprodutos da empresa capitalista ligada ao esporte
(bebida, cigarro, vestuário) aos negócios das empresas comunicacionais e
informacionais e da cultura de massa, das empresas do supérfluo, de fantasias, de
ilusões. Significa também meio de subsistência com os pequenos negócios
forjados em torno dos grandes espetáculos, o comércio ambulante de
alimentação, etc.
Os agentes da economia popular, em uma dinâmica cuja organização
está na circulação de mercadoria materiais e não materiais interagem com os
setores altamente lucrativos da economia, os grandes empresários, alimentando o
círculo dos negócios, que em última instância se expressam nos negócios
especulativos, alienados do que significa esta estrutura social.
Para avançarmos na compreensão do Esporte, temos que entender que
a economia popular vai para além de cooperativas e grupos de produção. Luiz
Rezeto
47
nos apresenta, por exemplo, a economia popular (equivocadamente
denominada de “subterrânea”, “invisível”, “informal”), composta por cinco tipos de
47
REZETO, Luiz Empreze de Trabajadores y Ecoconomia de Mercado. PET, Santiago do Chile, 1991.
148
atividades e empreendimentos, que não representam mais estratégias de
subsistência e de sobrevivência, contra os mecanismos capitalistas de exclusão e
de exploração da força de trabalho, mas como de integração econômica, a saber:
1. Solução assistencial, mendingância de rua, subsídios oficiais para indigentes,
sistema organizada de beneficência pública ou privada orientados a setores de
extrema pobreza; 2. Iniciativas individuais não estabelecidas e informais como
comércio ambulante, serviços domésticos, entregadores, guardadores, coletores,
vendedores; 3. Microempresas e pequenos ofícios e negócios de caráter familiar/
individual, como oficinas, lojas, bares, biroscas de bairros, dirigidos pelos próprios
proprietários, com a colaboração da família; 4. Atividades ilegais e com pequenos
delitos, como prostituição, inclusive infanto-juvenil, trabalho infantil, furtos, pontos
de venda de drogas, armas, documentos falsos e outras atividades consideradas
ilícitas ou à margem das normas culturais socialmente aceitas; 5. Organizações
econômicas populares, de pequenos grupos que buscam associativa e
solidariamente encarar o problema do desemprego e suas manifestações sociais e
culturais imediatas, surgidos de paróquias, associações de bairros e comunitárias,
sindicatos, partidos e outras organizações populares.
Pelo exposto, percebe-se que nem toda a Economia Popular é de
solidariedade visto que não estão presentes as iniciativas de cooperação,
companheirismo, colaboração, comunidade, comunitarismo, coletividade,
coordenação, valores que caracterizam uma ação conjunta e solidária. Este
complexo de organizações econômicas populares pode por um lado, interagir de
forma completamente dependente e subalterna à economia empresarial
capitalista, a economia empresarial do estado lucrativa, ou então, significarem
149
iniciativas cujos processos de trabalho trazem em si a gênese de uma nova cultura
do trabalho, a partir dos quais pode se tornar visível à elaboração de um projeto
de desenvolvimento tendo em vista interesses dos setores populares, ou seja, a
economia popular solidária.
O rumo que deve ter este processo depende, em muito, do papel
estratégico das organizações dos trabalhadores identificadas com a superação do
capitalismo e com a construção de Projeto Histórico Socialista.
O grande capital empresarial buscará intensamente manter tal
movimento da economia popular sob a órbita de sua influência desumana. O
sentido de solidariedade neste complexo econômico popular pode assumir as
características meramente assistencialista, filantrópica e compensatória, ou então,
pela ação concreta e pela organização dos setores populares, representarem à
consciência da classe agindo para superar o que a explora.
Pelo exposto podemos reconhecer que se colocam aos setores
engajados com a superação do capitalismo, aos setores populares em geral que
buscam a sobrevivência, a subsistência ou uma opção de vida anticapitalista, uma
tarefa essencial que tem três, concomitantes, simultâneas e interligadas
dimensões, a saber: a) a educação ideológica, de classe; a educação popular; b) a
conscientização política que se dá na ação concreta, na luta, na defesa de
reivindicações; c) a organização revolucionária.
O desemprego estrutural forja uma alternativa e ela se apresenta aos
setores populares que, para garantirem a vida, lançam mão de três estratégias: de
sobrevivência: emergencial e transitória; de subsistência para satisfazer
necessidades básicas sem acumulação ou crescimento; e como estratégia de
150
vida, para valorizar a liberdade, companheirismo, a autogestão, a solidariedade,
representando uma opção autônoma de sujeitos. O desemprego, fantasma que
ronda a o mundo todo, trazendo em si o espectro do comunismo, não é tempo
livre, mas tempo de escassez, a “sociedade de risco e de incerteza” segundo Beck
(1944 apud Taffarel 1999). O capitalismo se constitui justo nesta desvinculação
entre a economia e o contexto cultural e as necessidades humanas.
Não é o fim dos partidos revolucionários e do sindicalismo combativo,
muito pelo contrario é nessas organizações que a consciência de classe adquire
um caráter ativo e prático sobre o desdobramento da evolução histórica permitindo
que as ações individuais adquiram um sentido histórico consciente. Junto com
demais setores organizados, mais do que nunca, estas organizações jogam um
papel decisivo nos rumos do processo histórico de superação do capitalismo,
como por exemplo, a luta pela preservação ambiental.
Sob a égide do capitalismo as atividades culturais estão sujeitas à
abstração do dinheiro. O capitalismo, como já foi analisado, arruinou a utopia do
trabalho humanizado, prostituindo-o, ou melhor, dito, subsumi-o pela dupla e super
exploração da mais-valia absoluta e relativa, transformando-o em trabalho
abstrato, encerrado em um tempo espaço depurado de todos os elementos da
vida que pudessem perturbá-lo, como a vida pessoal, a moradia, a cultura,
fazendo surgir à separação moderna entre tempo do trabalho e tempo livre,
diferente do tempo morto e vazio do trabalho, arrebatado à vida como um
pesadelo, tempo de trabalho impingido ao indivíduo até pela violência. Mas
arruinou também o que criou, arruinou o “tempo livre”. Arruinou a utopia do tempo
151
livre ao transformar o ócio em consumo acelerado de mercadorias, transformando
o tempo livre num consumo de mercadorias de crescimento constante,
substituindo as formas de descanso por hedonismos que comprimem o tempo livre
da mesma forma que antes, o horário de trabalho conforme nos alerta Robert
Kurz, co-editor da revista “Krisis”. O que se apresenta hoje é um tempo-espaço
capitalista acelerado para uns, os ainda empregados, e desemprego estrutural de
massa para outros. Mas o que fazem estes outros, desempregados. Desenvolvem
a economia popular solidária ou não e nesta base constrói a cultura esportiva. Que
cultura é esta? A cultura impregnada dos valores de um esporte que interessa ao
grande capital, altamente lucrativo, ou valores relacionados com a vida centrada
no dia a dia, na economia da solidariedade?
A crença baseada na idéia de que a racionalização e o aumento da
produtividade diminuiriam proporcionalmente o tempo de trabalho global
necessário; permitindo que os trabalhadores dispusessem de crescentes e
maravilhosos lazeres, leva o lazer para o centro das preocupações dos
estudiosos, abrem-se núcleos de estudos, para tentar remediar antecipadamente,
a tendência da deteriorização das massas, pela alienação muitos acreditaram que
o lazer, nova disponibilidade de tempo, desenvolveria melhores formas de
sociabilidade, mais satisfatórias, nos tornaria, mais respeitosos de nosso planeta e
seus recursos. O lazer produziria o fim de desemprego, tornando-se um campo de
trabalho em expansão, e introduziria enfim, um novo pacto ecológico e social. Esta
era a utopia que não se realizou. O sonho americano de satisfação (impossível) de
desejos (infinitos) faliu. Esgotaram-se as possibilidades da própria natureza e do
processo em si, que é automático. O pacto ecológico e social faliu.
152
Como se situam o Esporte e a questão ambiental, abordados a partir do
complexo social, cultural, da economia empresarial capitalista; ou da economia
estatal (empresarial-capitalista estatal e empresarial, estatal não regida pelo lucro)
ou da economia popular solidária ou não solidária? Onde afinal, estamos
localizando, enfocando, privilegiando a discussão sobre o esporte de alto
rendimento, o esporte espetáculo, o esporte de turismo e a ecologia, neste
complexo econômico, social e cultural? Que papel estratégico joga as instâncias
organizativas de classe e a educação neste complexo?
Encontramos muitas abordagens sobre Esporte e Meio Ambiente que
desconsideram a base econômica e política em suas análises. Estas abordagens
não radicalizam a reflexão e a ação para a construção de uma nova cultura,
considerando o esgotamento do processo civilizatório capitalista, alimentando a
perspectiva da humanização do capitalismo, via ética ciência educação,
regulação/ normatização monitoramento, sem especificação das bases objetivas,
materiais e não materiais das conseqüências, buscando a minimização da
destruição causada por relações baseadas na lógica do mercado capitalista.
Acreditam ainda, no processo regulador, quando o capitalismo altamente
regulador, contraditoriamente não poupou sequer o Estado regulador, e vem
destruindo paulatinamente o Estado de Bem Estar Social, com retirada de direitos
e conquistas sociais e, vem intervindo brutalmente em economias populares,
infiltrando seus setores altamente lucrativos, o setor das drogas, da prostituição,
da especulação e o setor armamentista.
Ocultam com isto uma catástrofe que se avizinha, silenciam quanto ao
holocausto em que estão submetidos 2/3 da humanidade que sobrevive ou
153
subsistem com base na economia popular, e mais ainda, manipulam o imaginário
popular em relação ao Esporte na Sociedade com a idéia das relações neutras e
exclusivamente positivas entre Esporte e saúde, Esporte e Qualidade de Vida,
Esporte e Educação, Esporte e regulação Social. (GADOTTI, 2000).
O Esporte de alto rendimento, o esporte de espetáculo, o esporte turismo,
tem por base a economia capitalista e só sobreviverá com base nele e, com ele,
expressa suas avassaladoras conseqüências. Dessa forma o esporte com é
nocivo ao meio ambiente porque, na base, não se assegura o pacto ecológico e
social.
Cabe agora fazer uma análise em busca de proposições no que diz
respeito à organização pedagógica interdisciplinar no trato com o conhecimento da
cultura corporal e meio ambiente. Já que partimos do pressuposto que o esporte
deve ser valorizado e ressignificando dentro das possibilidades de construção de
uma nova cultura.
A valorização da Cultura acompanha o movimento pela preservação do
equilíbrio ecológico está registrada em todos os documentos resultantes de
encontros mundiais sobre a questão ambiental, sendo que a grande maioria deles
já foi citada anteriormente.
Especificamente no documento final do encontro em Joanesburgo 2002,
“Rio Mais Dez”, que avaliou as metas do RIO ECO 92, ficou estabelecido para
todos os países do mundo, como uma das necessidades fundamentais para a
preservação ambiental a perspectiva de preservar a cultura para preservação da
vida.
154
Podemos citar entre os documentos “globais” que estabelecem
diretrizes para ações educativas para a preservação da vida, o tratado da
Educação Ambiental, estabelecendo que:
“Deve estimular a solidariedade, a
igualdade e o respeito aos direitos humanos,
valendo-se da estratégia democrática e interação
entre as culturas”. (GADOTTI, 2000 p. 95).
Na publicação da Unesco Educação para um Futuro Sustentável: uma
visão transdisciplinar para as ações compartilhadas” onde encontramos a
afirmação de que o modelo atual de globalização ameaça a diversidade cultural da
humanidade, sendo que diversidade cultural pode ser considerada como uma
forma de diversidade por adaptação e como tal, condição prévia para a
sustentabilidade. E coloca que a tendência atual para a globalização ameaça a
riqueza das culturas humanas e muitas culturas tradicionais já foram destruídas. O
argumento a favor de se por um fim ao desaparecimento de espécies também é
aplicável a perdas culturais e ao conseqüente empobrecimento do acervo coletivo
dos meios de sobrevivência da humanidade.
As iniciativas no Brasil também seguem as orientações internacionais e
estabelecem no Programa de Educação Ambiental diretriz para o desenvolvimento
de ações como pode ser verificado nesse fragmento de texto.
E nesse contexto onde os sistemas sociais
atuam na promoção da mudança ambiental a
educação assume posição de destaque para
construir os fundamentos da sociedade
155
sustentável, apresentando uma dupla função a
essa transição societária: propiciar os processos
de mudanças culturais em direção à instauração
de uma ética ecológica e de mudanças sociais em
direção ao empoderamento dos indivíduos, grupos
e sociedade que se encontram em condições de
vulnerabilidade face aos desafios da
contemporaneidade. Com a proposta de mudança
cultural na sociedade, entende-se que são
necessárias mudanças nos desejos e formas de
olhar a realidade, nas utopias e nas necessidades
materiais e simbólicas, nos padrões de produção e
consumo, lazer e religiosidade. (MMA, 2005, p 09
e 10).
Neste sentido a proposta de mudanças culturais exige a necessidade de
transformações nas relações sociais e no muno do trabalho.
O trabalho desenvolvido na formação de professores, através do projeto
ACC que articula ensino, pesquisa e extensão no trato com o conhecimento da
Cultura Corporal e Meio Ambiente, representa a possibilidade de transformação
nas relações entre o ser humano, cultura corporal e natureza. Está, portanto
articulada com uma necessidade historicamente construída e negada até então
pelos cursos de formação de professores.
Mas alertamos, quando falamos de Cultura Corporal e Meio Ambiente não
estamos propondo mais uma proposta de apropriação da natureza pelos esportes
156
alternativos
48
, ou ainda novos esportes que se dizem em contraposição direta a
modalidades esportivas tradicionais que se realizam sob condições espaço
temporais minuciosamente controladas e preestabelecidas. Essas atividades vêm
apresentando mudanças das características das atividades esportivas apenas
fenomênicas, sem transformações de essência.
Além disso, contribuições de estudos no campo do ecoturismo, lazer e
natureza apontam que as atividades físicas que promovem o reencontro artificial
da natureza com o ser humano podem causar a destruição ambiental e
desequilíbrio cultural, elas não apresentam um estudo sistemático dos impactos
ambientais e são difíceis de fiscalização segundo nos alerta Jesus (2003).
Nossa pesquisa buscou a análise crítica dos documentos e manifestos
mundiais em defesa da preservação da vida e do meio ambiente e propõe
contribuir cientificamente a partir de experiências interdisciplinares em atividade
Curricular em Comunidade. No campo da cultura corporal nos perguntamos que
cultura deve ser valorizada? A diretriz mundial e brasileira para educação
ambiental e para o movimento ecológico visa manter e garantir a cultura capitalista
ou apontam para relações soias e econômicas para além do capital?
Nesse sentido foi construído, a partir de referenciais teóricos do
materialismo histórico dialético, a representação da cultura explicando como o
campo de conhecimento da cultura corporal se constitui como um objeto de estudo
nas relações ser humano e natureza. Deixando claro que este estudo tem a
pretensão de identificar reconhecendo a urgência de aprofundamento teórico
48
Também é chamado esportes extremos, ou ainda esporte em liberdade, esporte selvagem, esporte
californianos, esporte técnico - ecológicos, esportes livres, lúdicos, esporte outdoor.
157
sobre as questões ambientais e mais especificamente da cultura corporal e meio
ambiente.
Abib (2004) em seus estudos de doutoramento admite que o debate atual
em torno do conceito de cultura é caracterizado por sua complexidade e a precisão de
conceitos está a exigir esforços teóricos para situá-los em um contexto em que a
conotação política inerente aos conceitos possa ser explicitada mais concretamente e
delimitada com maior clareza.
Ao analisar os documentos que estabelecem o ordenamento legal e
legítimo para a educação ambiental, é perceptível o não questionamento crítico do
sistema social e econômico. Os documentos parecem não tocar radicalmente na
essência das problemáticas ambientais, relação ser humano e natureza mediada
pelo trabalho, e não é qualquer trabalho, mas um trabalho capitalista, um trabalho
alienado. As análises dialéticas de sentido e significado da Cultura Corporal nos
ajudam a entender e explicar os nexos entre o valor da cultura para a preservação
da vida no planeta e como pode contribuir para o processo de formação dos
professores.
Sobre a cultura podemos dizer que enquanto elaboração humana e
social é fruto do trabalho humano na relação com a natureza, com seus
semelhantes e consigo mesma para a manutenção e reprodução da vida. Da
necessidade de preservar a vida, e, portanto, de comer, morar, se reproduzir, a
humanidade desenvolveu a cultura alimentar, habitacional, relacional, entre outros.
Ater-nos-emos no presente estudo à cultura corporal, admitindo que no modo de
158
produção capitalista o ser humano aprofundou a dicotomia com a natureza,
consigo mesmo, e com seus semelhantes.
A Cultura Corporal tida como eixo teórico norteador do nosso trabalho é
uma contribuição paradigmática dos que estudam a Educação Física. Hoje
encontramos algumas publicações como teses, livros e artigos, a respeito desta
temática específica nos aspectos da metodologia do ensino da educação física, na
epistemologia, na história, e na prática pedagógica.
A complexidade para definir e explicar a cultura, fica claro na tentativa
desta pesquisa de sintetizar as principais idéias sobre a cultura e poder definir em
linhas gerais a Cultura Corporal apresentada na publicação do Coletivo de Autores
em 1993 com o titulo Metodologia do Ensino da Educação Física. Contudo nos
valemos de alguns autores para dialogarmos e dissertarmos nesta temática.
Segundo Marilena Chauí (2001) com quem temos acordo, podemos
caracterizar a cultura a partir dos seguintes elementos:
1 - Vinda do verbo latino colere, que significa
cultivar, criar, tomar conta e cuidar. Cultura
significa o cuidado do homem com a natureza.
Donde agricultura. Significava também, cuidado
dos homens com os deuses. Donde: culto.
Significava ainda, o cuidado com a alma e com o
corpo das crianças, com sua educação e
formação. Donde: puericultura (em latim puer
significa menino; pura menina). A cultura era o
cultivo ou a educação do espírito das crianças
159
para tornarem-se membros excelentes ou
virtuosos da sociedade pelo aperfeiçoamento e
refinamento das qualidades naturais (caráter,
índole, temperamento);
2 A partir do século XVIII, cultura passa a
significar os resultados daquela formação ou
educação dos seres humanos, resultados
expressos em obras, feitos, ações e instituições:
as artes, as ciências, a filosofia, os ofícios, a
religião e o Estado. Torna-se sinônimo de
civilização, pois os pensadores julgavam que os
resultados da formação educação aparecem com
maior clareza e nitidez na vida social e política ou
na vida civil (apalavra civil vem do latim cives,
cidadão; civitas, a cidade estada). (CHAUÍ, 2001,
p. 292).
A cultura se apresenta segundo Chauí, com dois sentidos. No primeiro a
cultura é vista como aprimoramento das crianças pela educação em seu sentido
mais amplo, ou seja, não somente pela alfabetização, mas também pela iniciação
a vida coletiva, por meio da aprendizagem de manifestações como a dança,
ginástica, gramática, poesia, retórica, História, Filosofia, Matemática. A cultura
enquanto política consciente e participativa representa a virtuosidade, forma um
indivíduo intelectualmente desenvolvido pelo conhecimento das ciências. Nesse
sentido a natureza e a cultura não se opõem, pois os seres humanos são
160
considerados seres vivos e naturais com capacidade de desenvolver cultura. A
cultura seria uma segunda natureza que a educação e os costumes acrescentam
à natureza bruta do homem, uma natureza adquirida e construída ao longo de
toda uma vida em sociedade.
No segundo sentido vemos a separação entre a natureza e a cultura,
que é explicado, segundo Chauí, por Kant, que coloca o homem como um ser que
é dotado de liberdade e de razão e a natureza mecânica, ou seja, que opera
mecanicamente de acordo com as leis naturais. A modernidade, sob influência das
idéias iluministas, traz o conceito de natureza como a própria escuridão e a cultura
ou o homem culto seria a Luz, o reino da finalidade livre, das escolhas racionais,
dos valores, da distinção entre o bem e o mal, verdadeiro e falso, justo e injusto;
sagrado e profano; belo e feio. É a própria caracterização da cultura capitalista.
O segundo sentido trazido pelo positivismo passa a dar a cultura um
valor de obras humanas que se exprimem numa civilização e, também, passou a
significar as relações que os homens socialmente organizados estabelecem com o
tempo e com o espaço, com os outros humanos e com a natureza, relações que
se transformam. A cultura é o reino da transformação, é a relação dos homens
com o tempo e no tempo. A cultura é construída historicamente.
A relação entre cultura e história foi enfatizada primeiramente por Hegell
e depois por Marx, segundo Chauí (2001). A história-cultura é o modo como, em
condições determinadas e não escolhidas, os homens produzem materialmente,
pelo trabalho, pela organização econômica, sua existência e dão sentidos a essa
produção material. A cultura como história tem a capacidade de narrar as lutas
reais dos seres humanos reais, que produzem e reproduzem suas condições
161
materiais de existência, isto é, produzem e reproduzem as relações sociais pelas
quais distinguem-se da natureza e diferenciam-se uns dos outros em classes
sociais antagônicas.
Esse movimento da cultura como história é concretizado pela luta de
classes, já que não somente no capitalismo (mas nos detemos nele, pois é nele
que nos situamos), entendemos as estruturas sociais como classes sociais que
lutam entre si, uma para manter sua posição na sociedade e, a outra, para
emergir, para transformar as relações de dominação política, de opressão social e
exploração econômica.
Para a antropologia a cultura humana é determinada pela definição de
uma lei universal ou para um povo, ou para uma comunidade, sendo lei um
imperativo social que organiza toda a vida dos indivíduos e da comunidade,
determinando o modo como os costumes são transmitidos ao longo das gerações,
como fundam as instituições sociais. A lei não é uma proibição, mas a prova de
que os humanos são capazes de criar uma ordem de existência que não é mais
natural, é uma ordem simbólica. É por isso que os humanos em comunidades são
capazes de se relacionar através de símbolos como o trabalho, palavra, memória
e atribuir valores às coisas e aos homens.
A cultura e suas manifestações são então tudo isso: a comunicação, o
trabalho, relação com o tempo e espaço enquanto valores, criação de formas
expressivas para a relação com o outro com o sagrado e com o tempo (a dança,
música, rituais, guerra, paz, pintura, escultura, construção da habitação, culinária,
tecelagem e vestuário).
162
Cultura seria enfim a criação da ordem simbólica da lei; criação de uma
ordem simbólica do trabalho; conjunto de práticas, comportamentos ações e
instituições pelas quais os humanos se relacionam entre si e com a natureza e
dela se distinguem, agindo sobre ela ou através dela, modificando-a. Formando a
organização social, sua transformação e sua conservação para as futuras
gerações.
Partimos do pressuposto, que vivemos em uma organização econômica
a que pertencem comunidades apresentando cada uma delas individualidades que
precisam ser respeitadas, mas sem perder a noção do todo, e buscamos no
desenvolvimento da pesquisa trabalhar com a valorização da cultura da
comunidade através das relações Cultura Corporal e Meio Ambiente, em que
particularmente uma se apresenta diferente da outra. As transformações históricas
da humanidade se caracterizam pela amplitude e, por tanto, entendemos que a
contribuição de estudos sobre as culturas é de extremo valor, mas não podemos
perder de vista a análise histórica da sociedade.
Se, porém, reuniremos o sentido amplo e o
sentido restrito, compreendemos que a cultura é a
maneira pela qual os humanos se humanizam por
meio de práticas que criam a existência social,
econômica, política, religiosa, intelectual e
artística. (CHAUÍ, 2001 p.295).
A cultura é invenção da relação com o outro, sendo o outro a natureza,
os deuses e os outros humanos, não em uma relação de destruição e de
antagonismo, mas em uma relação harmoniosa. Em sociedades como a nossa
163
onde existe a estratificação das classes o outro também é a outra classe que não
a nossa, de modo que, não podemos entender o outro em uma outra sociedade,
mas sim na mesma, definindo relações de conflitos, exploração e lutas.
Temos então uma sociedade que constrói cultura e que são seres
culturais. A cultura, portanto, não pode de forma nenhuma ser reduzida à arte,
música, ou mesmo, a um conhecimento escolar, e sim, como já foi dito, um bem
que todos os homens criam ao estabelecerem relações sociais entre si e entre a
natureza. O ser humano é então um ser cultural.
Reduzir a cultura a manifestações culturais aprendidas em escola
significa negar que vivemos em uma sociedade de classes onde uns podem
produzir livremente e ter acesso (conhecer os sentidos) às artes e outros
trabalham sem se identificar ao menos no produto final de seu trabalho.
A disciplina ACC EDC 465 “Cultura Corporal e Meio Ambiente”, constrói
uma ação direcionada com o objetivo de organizar o trabalho pedagógico a partir
da complexidade da vida real, respondendo as problemáticas sobre as questões
ambientais e a cultura corporal na comunidade. Essa comunidade, por exemplo,
representa uma parte de um todo social capitalista, uma sociedade dividida em
classes. Os indivíduos constituem um coletivo de uma classe social ou de outra,
onde seus valores são diferentes e até mesmo opostos. As relações não são
apenas pessoais, subjetivas, são também, sociais e se estabelecem em
instituições como igreja, família, fábrica e partidos políticos. A atividade Curricular
em Comunidade oferece a possibilidade de superação da dicotomia trabalho
manual e intelectual, através da proposta de organização do trabalho pedagógico
centrada no trabalho docente produtivo.
164
Na sociedade os acontecimentos estão sempre se transformando, a
origem e as transformações são contadas de maneiras diversas e de acordo com
a funcionalidade e interesses das classes sociais. A sociedade é histórica,
construída por classes diferentes e antagônicas e cada um delas estabelece uma
visão distinta da realidade e interpreta os fatos diferentemente uma da outra,
vemos o que prevalece hegemonicamente na indústria cultural, são as
interpretações da classe dominante. E o que prevalece nesta pesquisa é a posição
de trabalhar com a classe que está na base da pirâmide, a explorada.
A cultura corporal destaca-se como objeto de estudo da educação física
no Brasil a partir da contribuição do Coletivo de Autores em 1992. O livro
Metodologia do Ensino da Educação Física” coloca como eixo teórico da prática
pedagógica a cultura corporal
49
e passa a orientar pesquisas e a construção do
trabalho pedagógico no sentido de valorizar as culturas existentes e da ação
cultural construída pelo homem, ou seja, a ação histórica.
Trabalhar as questões relativas ao meio ambiente e a cultura corporal
exige um entendimento das relações sociais em que vivemos, da cultura
construída por essas relações. E a valorização da cultura local, através da
valorização das manifestações da cultura corporal para compreensão, construção
e reificação de uma autêntica cultura específica da comunidade. O primeiro passo,
49
É importante lembrar que entendemos o corpo como a superação da fragmentação entre o corpo e mente.
Alguns teóricos principalmente na área da Educação Física buscaram a superação desta fragmentação entre
eles podemos citar as contribuições de Medina no livro intitulado, A educação Física cuida do corpo e
“mente”, sua primeira edição foi publicada em 1990.
165
para tanto é, a partir da conscientização e do reconhecimento do estado de ser e
estar no mundo enquanto ser histórico e cultural.
O Coletivo de Autores parte da critica ao conhecimento delimitado e
reconhecido como conhecimento da Educação Física para construir uma
Educação Física superadora que como uma prática pedagógica no âmbito escolar,
tematiza formas de atividades expressivas corporais construídas historicamente,
pela cultura que possuem signos, sentidos e significados: jogo, esporte, dança,
ginástica, formas que configuram uma área do conhecimento chamado Cultura
Corporal.
Para a compreensão de signo consideramos os estudos de Bakhtin
(1979, p. 30) que o considera como uma representação ideológica que não pode
entrar no domínio da ideologia sem não tomar forma, criar raízes e adquirir um
valor social.
As atividades lúdicas e os jogos na complexidade da Cultura Corporal,
trazem em sua forma e sua operação a carga cultural construída historicamente
ao longo do desenvolvimento de cada indivíduo. Lúria (2001) afirma que essas
marcas culturais se identificam dentro dos processos sociais de organização dos
homens, na nossa sociedade capitalista dividida e antagônica.
A história da Educação Física demonstra que a sua legitimação se deu
a partir da valorização de práticas e atividades corporais para a valorização e
manutenção de corpos saudáveis, buscou cunhar um homem cada vez mais forte,
mais ágil, mais veloz e mais empreendedor. Na escola o quadro é ainda pior, a
Educação Física assumiu a função também eugenista, higienista, militarista
disciplinadora de corpos. Ao longo de sua história outras influências, como a
166
Psicomotricidade, o humanismo e a proposta de Esporte Para Todos vieram
traçando outros caminhos para a Educação Física, contribuindo para consolidar o
que hoje chamamos de Cultura Corporal, delimitado como campo teórico que
apresenta elementos possíveis de estabelecer relações entre o homem e a
natureza.
“O homem se apropria da cultura corporal
dispondo sua intencionalidade para o lúdico, o
artístico, o agonístico, o estético ou outros, que
são representações, idéias conceitos produzidos
pela consciência social e que chamaremos de
significações objetivas. Em face delas, ele
desenvolve um sentido pessoal que exprime sua
subjetividade e relaciona as significações objetivas
com a realidade da sua própria vida, do seu
mundo e de suas motivações... Por tanto os temas
da cultura corporal, representa um sentido
significado onde se interpretam, dialeticamente a
intencionalidade/ objetivos do homem e as
intenções objetivas da sociedade”. (Coletivo de
Autores, 1993, p. 62).
Se o Campo da Educação Física se consolida a partir e para valores da
burguesia capitalista a proposta da cultura corporal caminha em outro sentido. O
das possibilidades de construir elementos necessários para revolução social,
econômica e cultural.
167
A cultura corporal permite que cada pessoa participe das mais diversas
atividades de forma integral, pois ela pode estabelecer conexões entre sua própria
realidade social, interpretando-a e explicando-a a partir interesses e objetivos
claros e definidos.
Leontiev (2001) em seus estudos sobre o desenvolvimento da criança e
os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar acrescenta que a ação na
atividade corporal.
Não provem da situação imaginária, mas pelo
contrário, é esta que nasce da discrepância entre
operação e ação; assim não é a imaginação que
determina a ação, mas são as condições da ação
que tornam necessária a imaginação e dão origem
a ela. (LEONTIEV, 2001, P 127).
O movimento entre o imaginário e o real, representa muito mais do que
uma simples atividade corporal criada e imaginada, seja ela completamente
competitiva, puramente saudável ou mesmo ingenuamente lúdica. As atividades
da cultura corporal são repletas de sentidos e significados da sociedade em geral
e, mais especificamente, de cada indivíduo construído socialmente e carregado de
representações sociais e de ética.
A complexidade de desenvolver um trabalho que articula Meio Ambiente
e Cultura Corporal não pode simplesmente estar pautado nas questões éticas,
como sugerem alguns pesquisadores, já citados neste texto. O casamento entre o
esporte e meio ambiente não é infeliz, mas esta relação não pode ser reduzida ao
estabelecimento de código de ética, de normatizações e fiscalizações. O código
168
de ética sem autonomia é uma violência o que esta em contradição com a
apropria ética que diz respeito à liberdade de ação.
Segundo Chauí a ética como ideologia a ser seguida e respeitada
significa que, em lugar da ação reunir os seres humanos em torno de idéias e
práticas positivas de liberdade e felicidade, ele os reúne pelo consenso sob o mal.
Torna-se perversa porque toma o presente como fatalidade e anula a marca
essencial do sujeito ético e da ação ética, isto é, a liberdade.
A questão central de toda a discussão na área das ciências humanas
parece ter um fim em comum, a garantia da qualidade de vida no planeta. Não se
pode, portanto debater as questões relativas ao meio ambiente e a cultura
corporal, ou mesmo a destruição causada pela prática esportiva, pela necessidade
de retorno à ética. A questão parece não ser tão simples. A imposição de uma
ética para o comportamento humano diante das desigualdades de vida e de
oportunidades do atual sistema capitalista representa uma iniciativa violenta e
incentiva a criação de mitos e crenças utópicas. É necessário buscar na essência
da nossa cultura a essência da destruição ambiental, o modo de produção
capitalista, o trabalho humano explorado.
O fenômeno esportivo no âmbito da cultura corporal se projeta numa
dimensão complexa do fenômeno que envolve códigos, sentidos e significados da
sociedade que o cria e o pratica. Questionar suas normas, suas condições de
adaptação à realidade social e cultural da comunidade que o pratica e o
transforma, e resgatando dele o valor que privilegiam o coletivo sobre o individual,
defendendo o compromisso da solidariedade e respeito humano, a compreensão
de que jogo se faz a dois e de que é preciso jogar com e não contra. Talvez assim
169
o esporte possa contribuir com as possibilidades de construir relações mais justas
entre os seres humanos.
Nesta perspectiva, os estudos sobre o esporte escolar, com contribuição
significativa da fenomenologia, trazida pelo professor Kunz, (2003) traz a análise
de que o esporte pode ser tematizado com vistas ao desenvolvimento do aluno em
relação a determinadas competências da autonomia, da interação social e da
competência objetiva, imprescindíveis na formação de sujeitos livres e
emancipados. Segundo ele o fenômeno social do esporte pode ser compreendido
na sua dimensão polissêmica quando é transformado numa atividade de interesse
real dos participantes. Conforme Brodtmann Trebels (1979, apud Kunz 2003), isso
significa que compreender o esporte nessa dimensão deve abranger também:
1- Ter a capacidade de saber se colocar na
situação de outros participantes do esporte,
especialmente aqueles que não possuem aquelas
devidas competências ou habilidades para a
modalidade em questão; 2- ser capaz de visualizar
componentes socioculturais no campo esportivo (a
mercantilização, por exemplo); 3- saber questionar
o verdadeiro sentido do esporte por intermédio
dessa visão crítica poder avaliá-lo”. (TREBELS,
1979 apud KUNZ, 2003 p 28).
No contexto escolar a proposta de construir possibilidades para um
esporte “educativo” significa dizer que ele precisa de uma transformação didático-
pedagógica que deve ser oportunizada a reflexão e diálogo sobre essas práticas
170
para conduzir uma verdadeira superação do esporte e do ensino tradicional. E é
na Cultura Corporal que ele encontra base teórica metodológica para a sua
ressignificação.
O projeto piloto desenvolvido na UFBA da disciplina ACC EDC 465 -
Cultura Corporal e Meio Ambiente assume esse campo de conhecimento como
uma possibilidade de concretizar ações entre os pesquisadores da graduação e a
própria comunidade. A ação pedagógica pode constatar e explicar as
manifestações da cultura corporal seus sentidos e significados na comunidade e
suas relações com o trabalho humano para a manutenção da vida, em relação à
natureza.
Alguns autores como, Leff (2001), Guimarães (2000), Dias (2000),
Gadotti (2000) e Reigota (2001) afirmam que não dá para construir teoria como
também implementar projetos de pesquisa na área da Educação Ambiental sem
falar da cultura dos povos e das comunidades, sem buscar a valorização de cada
expressão cultural advindas dos processos de relação entre o homem e a
natureza. A delimitação teórica da ACC EDC 465 - “Cultura Corporal e Meio
Ambiente” busca essa construção teórico-metodológica na ação em comunidade.
A valorização da Cultura Corporal como possibilidade de valorização da
vida no planeta é uma problemática que deve ser tratado de modo emergencial na
formação de professores e está articulada com as relações de trabalho, ou seja,
as sociais, culturais e econômicas. É onde o esporte de alto rendimento voltado
para o lucro dá vez à economia solidária e passa a representar uma prática
cultural da vida humana, uma prática que seja impossível dissociar das atividades
naturais e de sobrevivência, entre elas: o trabalho, a cultura e o lazer. Falar sob
171
esta base teórica é sem dúvida reconhecer a produção que nasce das relações de
vida de sobrevivência. O centro do debate está na base material da vida, a
economia, que encontra nas relações de trabalho as formas culturais de
sobrevivência. Trabalhar com a cultura corporal para a preservação da vida no
planeta significa trabalhar com o dia a dia dos trabalhadores, significa oferecer a
possibilidade de trabalhar não mais na lógica do esporte espetáculo, mas, em uma
lógica que tem como estratégia, a valorização da liberdade, companheirismo, a
autogestão, a solidariedade, representando uma opção autônoma de sujeitos.
É a possibilidade de uma economia não mais centrada na acumulação
de bens e de capital, mas na valorização da solidariedade, as iniciativas de
cooperação, companheirismo, colaboração, comunidade, comunitarismo,
coletividade, coordenação, valores que caracterizam uma ação conjunta e
solidária. Esta proposta traz como pressuposto a gênese de uma nova cultura de
trabalho, a partir dos quais pode se tornar visível à elaboração de um projeto de
desenvolvimento tendo em vista interesses dos setores populares. Isto significa
trabalhar de acordo com a economia popular proposta por Guitierrez e Gadotti
(1999) cujas estratégias objetivam: sobrevivência humana; subsistência humana;
e estratégia de vida anticapitalista.
É nas possibilidades de valorização das manifestações da cultura
corporal na perspectiva de transformações das relações entre o ser humano,
trabalho e meio ambiente que atividades como canoagem, natação, caminhadas,
“samba de roda”, pesca, entre outras, que o coletivo da ACC EDC 465 Cultura
Corporal e Meio Ambiente, vêm valorizando na consolidação de ações locais sem
perder a noção do geral que preserve o trabalho livre, a cultura local e a vida
172
humana no planeta terra. Essa ação só foi possível pela organização do trabalho
pedagógico na formação de professores que tem como centro articulador da
construção do conhecimento o trabalho docente, a partir de uma perspectiva
interdisciplinar e intercursos que articula ensino, pesquisa e extensão no trato com
o conhecimento sobre a Cultura Corporal e Meio Ambiente.
173
6 - A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA ACC: CULTURA
CORPORAL E MEIO AMBIENTE
“Com o homem entramos na história (....) os
homens fazem eles a sua própria história ...”
(Engels, 1979; p. 26)
174
A construção do conhecimento enquanto atividade humana está sujeito
a leis gerais que regem o desenvolvimento do conhecimento e aos instrumentos
criados pela humanidade para superar as limitações humanas de sua capacidade
de percepção e observação. Dentro, portanto, de limites históricos levantamos
uma possibilidade para a construção do conhecimento a partir de vivência e
experiência pedagógica aberta a uma problemática vital para a comunidade, a
preservação do meio em que se produz e reproduz a vida. A seguir passaremos a
relatar e refletir sobre tal possibilidade.
175
6.1 - A atividade curricular em comunidade
Nossa pesquisa se encontra entre as que estudam a reestruturação
curricular. Atende a uma demanda que foi reconhecida e constatada em estudos
anteriores que comprovam a negação, no processo de formação dos professores
de Educação Física, o conhecimento sobre a “Cultura Corporal e Meio Ambiente”.
Para respondermos as demandas sobre tal conhecimento
desenvolvemos a ACC 465 - “Cultura Corporal e Meio Ambiente”, uma proposta
para a reestruturação curricular na formação de professores.
As atividades são oferecidas para os estudantes como atividade
curricular que pode ser aproveitada como uma carga horária eletiva ou optativa
para a integralização curricular.
É na ação em comunidade que a extensão e a pesquisa se integram
com a atividade de ensino. A ACC “Cultura Corporal e Meio Ambiente”
originalmente vinculada ao Departamento de Educação Física, Faculdade de
176
Educação, UFBA foi inicialmente proposto pela Professora Celi N. Z. Tafffarel que
assumiu a disciplina na condição de coordenadora, contando também com uma
monitora, a estudante do curso de licenciatura em Educação Física, Silvana Rosso
e com a minha participação na condição de Auxiliar Técnica de Pesquisa
Científica e Tutora desta disciplina.
Este coletivo foi reformulado a partir do segundo semestre de
funcionamento que correspondeu o período letivo da UFBA de 2002.2, com a
colaboração do professor Ney Santos na Coordenação (a) da ACC. Professor Ney
na condição também de representante da SETUR, Secretaria de Turismo e
Cultura, do município de Vera Cruz e Professor do Departamento de Educação
Física/ Faculdade de Educação UFBA tem contribuído significativamente com os
estudos. Participaram também os monitores. Em 2002.2 foi o estudante de
pedagogia Raimundo dos Santos passando para a estudante de Licenciatura em
Ciências Naturais Telma Critiane em 2003.1. que permaneceu na monitoria até
2004.1.
Os dados coletados a partir de fontes primárias e secundárias
permitiram sistematizar dados analisados a partir de uma delimitação intencional
orientada para o semestre letivo de 2003.2. Este semestre apresentou,
cientificamente, contribuições a respeito da produção do conhecimento
significativo e foi o semestre letivo completo no que diz respeito ao planejamento e
implementação das atividades acadêmicas. A observação e análise dos encontros
permitiram reconhecer nas ações nos seminários, participação em congresso,
planejamento e vivência da ação pedagógica em comunidade, estudos e debates
entre outros, as categorias que emergiram de tais práticas e que permitiram a
177
discussão sobre a organização do trabalho pedagógico e o trato com o
conhecimento a partir do real concreto da comunidade e suas problemáticas vitais.
A ementa da ACC apresenta como elementos centrais os estudos e
vivências práticas acerca da Cultura Corporal e Meio Ambiente no enfrentamento
de problemas comunitários concretos e as possibilidades de alterar o trato com o
conhecimento no currículo de formação de professores. O objeto e a
problematização estão relacionados à organização do trabalho e o trato com o
conhecimento sobre o complexo temático Cultura Corporal e Meio Ambiente”. A
ementa constitui elementos significativos para a análise de dados como, por
exemplo, os objetivos-avaliação, a organização do trabalho e o trato com o
conhecimento, as ações das atividades na comunidade.
A ausência de conhecimentos de caráter interdisciplinar, dialético,
contemporâneos e de relevância para a formação de jovens e adultos como
Cultura Corporal e Meio Ambiente demonstra que a atual forma de organização
das relações de produção capitalista acentua a tendência a destruição do meio
ambiente, trabalho, trabalhador, natureza, e que, estas relações se mantém e se
reproduzem no interior dos currículos, por mediações na organização do trabalho.
A disciplina propõe, a partir desse reconhecimento, alterações significativas no
trato com o conhecimento sobre “homem e meio ambiente”.
Os procedimentos metodológicos ao início do trabalho letivo e muitas
vezes, reformulado ao longo do semestre se configuram em garantir o
desenvolvimento do projeto em uma perspectiva científica e se constitui de vários
momentos.
178
O primeiro momento foi de constatação dos dados da realidade e diz
respeito à produção do conhecimento, legislação, Fóruns e organizações.
Identificando e analisando criticamente o “estado da arte” sobre o meio ambiente e
cultura corporal, em cada uma destas fontes. O segundo momento foi à
preparação e levantamento de dados práticos, teóricos para a compreensão e
intervenção no espaço tempo social onde foram realizadas as vivências;
planejamento das vivências e seminários interativos e domínio das técnicas de
coleta de dados. O terceiro momento foi de ação pedagógica e de influências
recíprocas na inter-relação com a comunidade, através de seminários interativos
acerca da cultura corporal e meio ambiente e suas relações com a educação.
Estágio de vivência interdisciplinar com oficinas, seminários, cursos intensivos,
durante um semestre letivo. O quarto momento foi à sistematização teórica que se
traduziu em relatório técnico-científico e que se desdobrou em textos para
divulgação em periódicos e eventos científicos e na presente dissertação de
mestrado.
Os processos avaliativos foram desenvolvidos ao longo do semestre e
tiveram como princípios: a avaliação interativo-participativa descritiva e dialógica.
Os dados para a avaliação foram coletados em observações e foram relacionados
aos objetivos propostos, definidos e assumidos coletivamente. As dimensões
cognitivas processuais foram apreendidas através de diversos instrumentos: fichas
de registros, entrevistas, relatórios, seminários.
A proposta foi avaliar coletivamente com os participantes, mensalmente
todo o processo para redimensionar as ações pedagógicas na formação de
179
professores. Foi traçado um cronograma de trabalho buscando garantir a
organização de todas as tarefas objetivadas no início do trabalho:
Etapas Básicas: Implementar e acompanhar o projeto; Divulgar o
projeto, mobilizar a comunidade; Diagnosticar a realidade; Construção dos
instrumentos para coleta e sistematização dos dados; Elaboração de projetos
participativos, planejamento detalhado da programação específica das oficinas e
vivências na comunidade, para atender as necessidades apresentadas;
Seminários mensais interativos; Avaliação do processo e seus resultados;
Sistematização de todo o material coletado em campo; e Elaboração dos relatórios
e divulgação dos resultados.
A ACC/ UFBA propõe que nossa pesquisa assim como qualquer outra
atividade dessa espécie produza conhecimentos científicos que possa ser
socializado e divulgado garantindo a construção histórica da ciência, neste
sentido, como indicadores de produção na ACC EDC - Cultura Corporal em Meio
Ambiente, foi apresentado: Produção de textos monográficos em forma de
relatório técnico científico elaborado individualmente e pela equipe de 10
estudantes com a coordenação, que foram encaminhados para publicação em
periódicos e exposição em evento científico e nos seminários interativos
avaliativos na comunidade; Produção coletiva de material didático em forma de
vídeo e painel para trabalhar as problemáticas significativas da prática
pedagógica; Dissertação de mestrado sobre cultura corporal e meio ambiente; e
projetos de doutorado na área de educação ambiental.
Portanto, a base teórica sobre o desenvolvimento do conhecimento
considera os graus deste conhecimento, ou seja, os graus de apreensão da
180
realidade no pensamento, que pressupõe constatações, explicações, proposições,
avaliação para novas investigações.
Isto corresponde ao conhecimento organizado de forma espiralada, em
ciclos. O ciclo da constatação, da sistematização e generalização, da ampliação e
aprofundamento teórico. É pela prática que se elabora teoricamente.
181
6.2 Caracterização da ação pedagógica
Caracterização da disciplina
1 - Dados de Identificação
1.1 - Denominação
1.1.1 - Título: CULTURA CORPORAL E MEIO AMBIENTE
1.1.2 - Código: ACC EDC 465
1.1.3 - Órgão Proponente: Pro Reitoria de Extensão/ Departamento III Educação
Física FACED/ UFBA
1.2. Vínculos Institucionais:
Internos: LEPEL/ NEPEC
Externo: UFS; UFAL; Dow Química; Prefeitura de Vera Cruz; IBAMA.
1.3 - Participantes
182
1.3.1 -Professores do Departamento III de Educação Física: Profª Drª Celi Nelza
Zülke Taffarel e Profº Jose Ney Santos.
1.3.2 -Monitores (as): Silvana Rosso semestre 2002.1; Raimundo dos Santos
semestre 2002.2; Telma Cristiane semestre 2003.1; Telma Cristiane semestre
2003.2; 2004.1 e Rosineide da Silva.
1.3.2 -Tutores (as): Soraya Corrêa Domingues, Terezinha Perin.
1.3.4 - Estudantes: Eliene Campos; Edlena Santos; Denílson Araújo; Katyuche da
Costa; Lédna Texeira; Mariane Victal; Quênia Ribeiro; Rosineide da Silva
50
.
1.4 - Voluntários participantes do ACC
1.4.1 - Médico Voluntário do Plano de Saúde da Família: Marcus Vinícius do
Carmo
1.4.2 - Apoio técnico de Acessória Ambiental: Professor Doutorando Manuel
1.4.3 Professoras Pedagogas: Andréa Xavier; Nívia Telles.
1.5 - Participantes do Distrito de Matarandiba e Prefeitura de Vera Cruz
1.5.1 - Outros moradores de Matarandiba: Sr. Julivaldo Silva dos Santos; Sr.
Valfredo dos Santos Calmon; Sr. José Carlos dos Santos.
1.5.2 - Secretaria de Turismo e Meio Ambiente
Secretária da SETUR, Sra. Eliana Brito Rocha; Assessor de Comunicação de
Matarandiba e a Prefeitura de Vera Cruz: Sr. Ubirani.
1.5.3 - Prefeitura de Vera Cruz/ 2003
Secretária de Turismo Jaciara Pimenta
1.5.4 - IBAMA
50
Outros estudantes contribuíram na construção da atividade curricular em comunidade e pode ser verificado
em anexo D.
183
José Magalhães Gerente regional de pesca
Ciomara - Departamento de Educação Ambiental
1. 5. 5 - ESCOLA JUVENAL GALVÃO
Diretora Vera Lúcia
184
6.2.1 - A região
A atividade curricular em comunidade se propõe trabalhar e desenvolver
ações no mundo concreto. A disciplina ACC 465 - “Cultura Corporal e Meio
Ambiente” desenvolve o ensino, pesquisa e extensão com os estudantes da
graduação e da pós-graduação na comunidade de Matarandiba.
O trabalho desenvolvido em uma comunidade considerou o espaço local
histórico e temporal e representa o mundo e as relações de trabalho e de cultura
globais construídas historicamente. Segundo Milton Santos
Cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto
de uma razão global e de uma razão local,
convivendo dialeticamente. (SANTOS, 2002, p.
339).
A importância de analisar como as atividades curriculares em comunidade
se desenvolveu em um povoado, está no fato de que, os problemas relacionados
185
à destruição ambiental, nesta localidade, estão intrinsecamente relacionados com
as organizações de trabalho no mundo capitalista. Não é organizar o trabalho
pedagógico para a construção do conhecimento sobre cultura corporal e meio
ambiente em qualquer lugar, mas entender como um determinado espaço pode
representar socialmente respeitando como afirma Milton Santos, (2002) as
características da territorialidade do local e sua relação com o global.
A caracterização da região é uma possibilidade de identificação dos
elementos que contribuíram para a construção desta pesquisa. Matarandiba é
uma pequena ilha que fica na contra costa da ilha de Itaparica e apresenta em seu
litoral Mata Atlântica ainda primária e mangue. A população vive basicamente da
pesca e da catação de mariscos. Matarandiba representa uma das áreas com
sérias ameaças de destruição é o litoral baiano, inclusive o litoral das ilhas, entre
as quais a Ilha de Vera Cruz. A escolha da localidade se deve por três razões:
1. Atender as necessidades do objeto de investigação da pesquisa, meio ambiente
e cultura corporal;
2. As demandas da comunidade pesquisada, ameaças de deteriorização do meio
ambiente;
3. As necessidades educacionais da região pesquisada em relação à formação de
professores.
Primeiramente foi considerado o reconhecimento prévio da região pelo
Professor e ex-secretário de Turismo da Ilha de Vera Cruz, Ney Santos que
apresentou para o nosso coletivo de pesquisadores a possibilidade de trabalhar
em comunidades como Baiacu e Matarandiba, cujas condições sociais e relações
econômicas estão centradas no turismo. Secundariamente foi identificada a região
186
de Matarandiba estratégica para a ação pedagógica, especificamente, na escola e
em toda a comunidade. A caracterização de Matarandiba foi realizada a partir da
análise de dados coletados por relatórios resultantes de observações realizadas
diretamente no local, questionário
51
com os moradores, fotos
52
, filmagens
53
e
conversas informais.
A análise desses relatórios nos permite afirmar que Matarandiba é uma
região ou povoado da contra costa da Ilha de Itaparica regida pela prefeitura de
Vera Cruz, possui entre 400 a 500 moradores entre crianças, jovens, adultos e
idosos. A população vive na costa da Ilha à beira mar, muitos são descendentes
da mesma família, ou são amigos e vizinhos desde a infância.
O serviço público do local se restringe a duas escolas de ensino infantil e
fundamental até a 4º série e um posto médico-odontológico que funciona muito
raramente, segundo depoimentos dos moradores, pois não há funcionários
trabalhando diariamente no local.
As áreas de lazer correspondem: uma quadra poliesportiva, um campo
de futebol de grama, um campo de futebol de areia e uma pracinha com
brinquedos infantis. Possui também duas igrejas, sendo uma católica e outra
protestante. Além disso, existem uns cinco bares ou boteco que também
funcionam à tarde e à noite com músicas populares, regionais e nativas.
A população hoje está restrita a atividades de manifestação da cultura
corporal como dança, esporte e jogos, seguindo os padrões sugeridos pelos meios
51
O questionário foi elaborado pelo coletivo de estudantes, professores e pesquisadores que participaram das
atividades curricular em comunidade.
52
As fotos foram registradas ao longo dos cinco semestres de atividades curricular em comunidade, ocupando
o valor de dados coletados tanto para esta pesquisa quanto para os estudantes que ao iniciarem o semestre
conhecem a comunidade através de depoimentos e dos registros relatórios, fotos e filmagens.
53
Idem a nota 40.
187
de comunicação de massa como televisão e rádio. Segundo os questionários
aplicados, as atividades corporais estão relacionadas ao futebol, ao pagode
“Baixaria”, e as atividades ligadas ao trabalho corporal, como caça, caminhadas,
natação, pesca, canoagem entre outros. Algumas atividades como o samba de
roda e o festival de canoa faziam parte da cultura local e com o tempo foi
desaparecendo.
As condições físicas das casas são descritas segundo o seu aspecto
físico. São rebocadas, na sua grande maioria e possuem fossa séptica e luz
elétrica
54
.
A comunidade possui uma Associação de Moradores que é liderada por
Lico e Bira. Nossas relações com a comunidade se estabelecem através,
primeiramente, dessa Associação de Moradores, com as escolas e diretamente
com os próprios moradores.
É importante também deixar registrado que existe e funciona o
Telecurso segundo grau além de outros projetos ligados a TV Futura e à Dow
Química. No semestre de 2003.2, formou-se a primeira turma do Telecurso
Segundo Grau.
A Dow Química é uma das indústrias da região que manipula produtos
químicos e emprega trabalhadores não especializados. Os técnicos de alta
especialização são de fora da região. A empresa é uma das que compromete a
qualidade e preservação do meio ambiente no local, apesar dos cuidados que
toma em transportar produtos químicos pelo subsolo. A indústria retém a maior
54
Segundo resultados de questionários aplicados durante três semestres na comunidade. Identificando dados a
respeito do trabalho, atividades da cultura corporal, escolaridade, moradia e saneamento básico.
188
parte das terras, que segundo as informações em relatos de entrevistas
representa cerca de 90%, e a população em geral fica restrita a uma pequena
parcela, chamada colônia dos pesquisadores, localizada a beira mar. A questão
ambiental em decorrência da indústria foi um ponto de restrição no nosso trabalho.
189
6.2.2 - Os encontros
A ACC/ UFBA, caracterizado como atividade de ensino, pesquisa e
extensão, foram concretizadas no relato e exposição detalhada do
desenvolvimento das atividades do ACC 465 Cultura Corporal e Meio Ambiente,
também na discussão sobre a base legal e a proposta da UFBA de atividades
curriculares em comunidade. Após a exposição dos dados que nos identificam
institucionalmente, é apresentada a série de atividades desenvolvidas no
Semestre de 2003.2 que perfazem um total de 21 (vinte e uma) atividades, sendo
que 18 foram aulas dentro do horário previamente estipulado e 3 foram encontros
fora da UFBA. Todas estas atividades que inter-relacionaram alunos da graduação
e da pós-graduação e participantes do Projeto Cultura Corporal e Meio Ambiente.
A confrontação com dados da realidade, a problematização
conseqüente, a organização de instrumentos para coleta de dados, a
sistematização e interpretação crítica dos dados e, por fim, a exposição,
190
propositiva caracteriza outra perspectiva que supera os limites do ensino
tradicional, de caráter reprodutivista, bancário, como diria Paulo Freire (1982).
Apresentamos aqui uma proposta empírico-analítica que entende o pesquisador
não como um ser onipotente, não questionável e os demais meros auxiliares ou
objetos investigativos, mas sim como agentes que constroem juntamente com a
comunidade soluções para as problemáticas significativas investigadas nesta
realidade.
Professores, alunos e participantes assumem responsabilidades na
produção e desenvolvimento das ações e as elaborações teóricas são exigidas de
todos. Portanto, busca-se superar a perspectiva fragmentada e divisionista entre
uns que pensam e outros que fazem, esta pesquisa buscou desenvolver através
da autogestão dos alunos o conhecimento científico a respeito da Cultura Corporal
e Meio Ambiente.
Encontro 1 - 14 DE JANEIRO DE 2004
Tema
Apresentação da disciplina
Objetivo
Apresentação dos alunos e diálogo sobre o tema da disciplina. Conhecimento,
análise e contribuições para as propostas e os objetivos.
Procedimento de ensino
Exposição sobre nexos teóricos da disciplina, seu nascimento e desenvolvimento.
O conhecimento cultura corporal e meio ambiente e a relação com o Grupo
LEPEL/ FACED/ UFBA, a pós-graduação e a reestruturação curricular e com a
191
comunidade de Matarandiba. Foram estabelecidos em coletivo às metas, a
metodologia e a avaliação de acordo com o objetivo da atividade.
Conteúdo: Critica ao modo de produção da vida capitalista e sua expressão na
organização do trabalho pedagógico na universidade.
Encaminhamentos
Leitura e debate para a próxima aula dos textos PEA e PNEA
Indicação de data para a 1º viagem: 07/02/2004
Encontro 2 - 21 DE JANEIRO DE 2004
Tema
Política Nacional de Educação Ambiental e Programa de Educação Ambiental.
Objetivo
Análise crítica e debate para a sistematização da temática sobre a política de
educação ambiental e programa de educação ambiental.
Procedimento de ensino
Apresentações e debate sobre o conteúdo dos documentos PEA e PNEA,
coordenados pelos seus respectivos grupos.
Conteúdo: Relações entre Estado e Sociedade: A questão das políticas públicas
de Estado e de Governo.
Encaminhamentos
Elaboração teórica: resenha de textos PEA e PNEA, para entregar no dia
28/01/2004.
Leitura e debate do livro A Modernidade Insustentável de Héctor Ricardo
Leis, para dia 28/01/2004.
192
Encontro 3 - 28 DE JANEIRO DE 2004
Tema
A questão ambiental, sociedade, mercado e estado.
Objetivo
Sistematização do conhecimento a respeito do meio ambiente, apresentação e
socialização do conhecimento com o grupo sobre as relações entre questão
ambiental, sociedade, mercado e estado.
Procedimento de ensino
Apresentação dos grupos sobre o livro do autor Enrique Leff: Saber Ambiental.
Debate dos aspectos relevantes para a disciplina e a identificação das relações
entre esses conhecimentos e a cultura corporal e meio ambiente. Temas
abordados: A Revolução ambiental da sociedade civil; A chegada da ecologia ao
estado; O mercado e o desenvolvimento sustentável.
Conteúdo: Organização do trabalho: ontogênese Como o homem se transforma
em homem pelo trabalho humano. A dupla caracterização do trabalho. O trabalho
no modo de produção capitalista. A exploração/ explotação e a alienação humana.
Encontro 4 - 04 DE FEVEREIRO DE 2004
Tema
O conhecimento sistematizado e acumulado por esta disciplina.
Objetivo
Conhecimento do material produzido pelo coletivo de semestre passado para
síntese, avaliação e superação.
Procedimento de ensino
193
Leitura dos relatórios das atividades em comunidade curricular dos
semestres passados. Debate e questionamentos destacando as ações já
consolidadas por este coletivo e as demandas futuras para a comunidade.
Vivência da atividade da cultura corporal trabalhando a confiança.
Conteúdo: A forma. Os relatórios: Descrição densa da realidade. Análise de
conteúdo dos documentos produzidos. O conhecimento acumulado. O método do
conhecimento. Do singular ao geral.
Encaminhamentos
Organização de um cronograma de atividades da cultura corporal proposta pelos
estudantes, sendo em cada encontro um estudante se responsabilizou por uma
atividade da cultura corporal relacionando com a temática ambiental.
Informes
Abertura da ACC, no Palácio da Reitoria as 19h00minh, com entrega das camisas
e lançamento do livro: rascunho digital em homenagem a Felipe Serpa do qual
consta texto com o dialogo entre Felipe Serpa e a professora Celi Taffarel sobre
as determinações históricas do processo de destruição das forças produtivas.
Encontro 5 - 11 DE FEVEREIRO DE 2004
Tema
Organização pedagógica da visita científica na comunidade.
Objetivo
Apropriação dos instrumentos de abordagem e de coleta de dados.
Procedimento de ensino
194
Realização de debate sobre a importância do trabalho em comunidade e os
cuidados ao se aproximar de uma comunidade pelos meios da ciência,
respeitando e valorizando a cultura local.
Leitura e análise do instrumento de abordagem, o questionário, construído
pelos estudantes dos semestres anteriores.
Vivência da atividade da cultura corporal, título: Forma de figura em
coletivo; e depois a avaliação da atividade.
Conteúdo: O método para conhecer o Real. Os instrumentos de pensamento e de
pesquisa para apreender o real. A preparação dos instrumentos: de pensamento e
de pesquisa.
Informes
Reunião do MST, oficinas dias 5, 6, 7 e 8 de março no centro de
convivência em Ondina.
Aula extra no dia 17/02/04 (terça-feira) 18h30minh, para organização da ida
a campo, comentários e discussão da oficina do MST.
Pré - Programação da Visita Científica nº 1 dia 14/02/2004
Chegada na lancha 06h30minh para travessia da Bahia de Todos os
Santos. Todos os detalhes do meio ambiente são levantados para a
reflexão sobre a deteriorização do meio ambiente, em decorrência dos
hábitos de vida e dos costumes da população em geral. A mão do homem
construindo a cultura e a geografia.
Atividades: diagnóstico da comunidade pelos instrumentos de pesquisa,
entrevistas abertas, questionários. Estes instrumentos inicialmente
195
esboçados na Universidade em forma de minuta foram amplamente
explicados e reformulados de acordo com as contribuições da comunidade.
Volta: 17h00min em Mar Grande, chegada em Salvador as 18h00minh.
Equipamentos necessários: caderno, papel, caneta, protetor solar,
vestimenta leves.
Encontro 6 - 14 DE FEVEREIRO DE 2004
1º Visita científica à comunidade
A primeira atividade foi de diagnóstico da comunidade realizado através da
caminhada no povoado e no seu entorno, para o reconhecimento físico da região,
entrevistas e aplicação dos questionários. Os dados anotados, registrados em
fotos, filmagens foram sistematicamente organizados em mapas de dados de
onde abstraímos os elementos para a reflexão.
Conteúdo: As constatações dos dados da realidade. O contexto e sua construção
histórica. As possibilidades de registros e documentações para posteriores
análises.
Encontro 7 - 17 DE FEVEREIRO DE 2004
Tema
Avaliação da visita científica
Objetivo
Avaliação e Socialização das atividades vivenciadas na comunidade de
Matarandiba por cada estudante através da indicação de categorias analíticas que
permitiram organizar o pensamento e aprofundar o debate identificando as
conquistas, os avanços e indicando os pontos de superação nas ações
pedagógicas.
196
Procedimento de ensino
Relato oral de cada estudante, sistematização das contribuições e o debate
coletivo identificando as conquistas, os avanços e indicando os pontos de
superação com a elaboração de nova síntese.
Observações
Registro sintético do depoimento dos estudantes sobre a primeira visita científica.
Os aspectos considerados em geral dizem respeito à:
Troca de conhecimento entre a comunidade acadêmica e a comunidade de
Matarandiba, reconhecendo ser importante para os estudos na formação
profissional o contato com a realidade em atividades científicas, assim
como é importante para a comunidade a ação com a abordagem de
problemas vitais como são as questões relacionadas com a Cultura
Corporal e Meio Ambiente;
Reconhecimento físico da comunidade associando às questões relativas ao
meio ambiente, como a vegetação, lixo, saneamento básico, moradia,
instrumentos de trabalho, área para lazer entre outros. Identificando esses
como aspectos que incidem em problemas de saúde.
A condição econômica da comunidade constituída de trabalhadores de
baixa renda
Recepção da comunidade calorosa e afável, demonstrando-se respeito e
consideração mutua.
Aspectos relacionados a evidências de indústria e exploração como o
portão que solicita identificação ao entrar em Matarandiba, canos e dutos
197
instalado por toda a ilha, a exploração subterrânea com uma mínima
alteração no solo.
Percepção de aspectos da cultura e do trabalho como a caça, para a sua
própria alimentação a pesca com bomba, proibida, mas ainda realizada.
Identificação da falta de políticas públicas relacionadas principalmente a
educação, saúde, moradia e transporte.
O reconhecimento das casas de comércio da região, o que vendem como
trabalham e como são reconhecidos. O comércio local é de pequeno porte.
O nível de educação e escolaridade dos moradores é baixo e o grau de
escolarização não completa 8 anos para a maioria dos moradores.
A atividade da visita científica como um instrumento de integração entre os
estudantes e professores da disciplina e as influencias recíprocas com a
comunidade.
O trato com o corpo. As mulheres e os homens evidenciam marcas
corporais resultantes do trabalho duro e pesado tanto na lida doméstica das
mulheres na casa e na pesca e caça, ou no trabalho na fabrica, na roça e
no comércio.
Existem evidencia do mau trato da mulher. A falta de informação, de
cuidados básicos.
Falta percepção dos problemas ambientais gerados tanto pelas pessoas,
pelas famílias, pela indústria e pelo comércio. A caça e pesca depredatória
são evidencias da falta de consciência da relação com o meio ambiente.
198
Destacou-se a capacidade de auto-organização dos estudantes quando
estão na realidade concreta, resolvendo problemas concretos.
Registro de sugestões dos estudantes para ações na comunidade:
Trabalhar a cultura corporal e meio ambiente para a valorização do mar e
da terra;
Realização de uma peça de teatro para apresentação na comunidade com
a comunidade, para conscientizá-la das questões ambientais.
Realização de exames médicos básicos para identificar condições de saúde
da população, as doenças parasitárias e infectas contagiosas.
Elaboração de um mini projeto para tratamento do lixo doméstico, comercial
e industrial.
Realização de mutirão para limpeza e cursos sobre reciclagem;
Participação das atividades da cultura corporal da comunidade como,
festivais, folguedos, brincadeiras, jogos, danças.
Conteúdo: Das constatações, as explicações às avaliações e proposições
superadoras. As categorias do pensamento. Categorias analíticas: o real, as
contradições e a superação. As categorias empíricas: a organização do trabalho,
da vida e a relação com o meio ambiente e o trabalho pedagógico.
Encontro 8 - 03 DE MARÇO DE 2004
Tema
Planejamento pedagógico dia Internacional da Mulher
Objetivo
199
Elaboração do planejamento das oficinas oferecidas no Acampamento de
Comemoração do Dia Internacional da Mulher, Atividades pedagógicas com as
trabalhadoras rurais sem terra do MST.
Procedimento de ensino
Construção em coletivo de oficinas pedagógicas. Exposição de uma matriz
teórico-metodológica e detalhamento dos conteúdos a serem tratados por cada
oficina a ser oferecida.
Leitura e debate sobre a história e as bases políticas de lutas contra
o latifúndio e a propriedade privada da terra. O papel da mulher nas
lutas campesinas. Os Instrumentos de ensino e pesquisa: sitio
www.globus.com.br/cjbnet/mst/ e www.mst.org.br.
Sistematização das oficinas a partir de uma matriz teórico-
metodológica que explica a luta pela terra, o trabalho e a educação
no campo.
Vivência e debate sobre a atividade proposta pela estudante Lédna,
título: Dança e liberdade.
Conteúdo: A autodeterminação e auto-organização a partir do real concreto, na
luta contra a divisão social do trabalho e a propriedade capitalista.
Encontro 9 e 10 - 06 e 07 de MARÇO DE 2004
Tema
Acampamento em homenagem ao dia internacional da mulher.
Objetivo
200
Conhecimento do MTS e sua importância para os estudos sobre cultura corporal e
meio ambiente. Vivência de coordenação em atividades pedagógicas.
Procedimento de ensino
Participação e realização no acampamento em homenagem ao dia internacional
da mulher e do Movimento MST. Participação na organização do evento como um
todo e na coordenação das oficinas sistematizadas a seguir:
Teatro e meio ambiente/ Estudantes coordenadoras: Telma e Paulla
Amamentação/ Estudantes coordenadoras: Quênia e Edlena
Lixo: reciclagem e reaproveitamento/ Estudantes coordenadoras: Eliene e
Katyuche
Lixo: higiene e manuseio/ Estudantes coordenadoras: Lédna e Roseneide
Conteúdo: A divisão social do trabalho e a propriedade privada da terra. A luta
contra o latifúndio.
Encontro 11 -10 DE MARÇO DE 2004
Tema
Cultura Corporal
Objetivo
Socialização e debate sobre as possibilidades de desenvolver a atividade de
cultura corporal proposta pela estudante Edlena na comunidade de Matarandiba.
Procedimento de ensino
Vivência da atividade de cultura corporal proposta pela estudante Edlena,
analisando e refletindo sobre as possibilidades de desenvolver esta atividade na
comunidade.
201
Conteúdo: As necessidades humanas para manter a vida. O trabalho humano
para manter a vida. A cultura para produzir e reproduzir os meios de garantir a
vida. As atividades referenciadas na corporalidade. A cultura corporal. Os jogos,
danças, folguedos, ginástica, esporte.
Encaminhamentos
Entrega do relatório técnico científico das atividades desenvolvidas no dia
internacional da Mulher.
Indicação de datas para apresentação dos grupos responsáveis em
trabalhar com os seguintes temas: Planetariedade e terra a vista!
(17/03/2004); Sociedade sustentável (24/03/2004); Cidadania planetária
(31/03/2004); A terra como paradigma (07/04/2004).
Encontro 12 - 17 DE MARÇO DE 2004
Tema
Educação ambiental
Objetivo
Conhecimento dos aspectos históricos, pedagógicos, culturais da Educação
Ambiental.
Procedimento de ensino
Vivência da atividade coordenada pela estudante Roseneide, título Roda Viva.
Debate sobre a Educação Ambiental a partir da leitura crítica, análise, socialização
no coletivo Instrumento de ensino: texto Planetariedade e terra à vista!
Corresponde um capítulo do Livro Pedagogia da Terra autor Moacir Gadotti, 2000.
202
Conteúdo: A relação do homem com o meio ambiente. O padrão da relação.O
padrão de explotação/exploração. A educação pela preservação do meio
ambiente.
Informes
25/03/04 - palestra com Enrique Leff dia na associação comercial, Comercio
às 19h00minh;
25/03/04 reunião de monitoria na pró-reitoria de extensão às 17h00minh.
Encontro 13 - 24 DE MARÇO DE 2004
Tema
IV Congresso Nacional do Ministério do Meio Ambiente
Objetivo
Conhecimento e análise crítica das políticas públicas propostas pelo ministério do
Meio Ambiente.
Procedimento de ensino
Participação da palestra de abertura do IV Congresso Nacional do Ministério do
Meio Ambiente, presidida pela Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Local do
congresso Salvador, Ondina, Hotel Othon.
Conteúdo: A relação Sociedade-Estados. As políticas de Estado e as políticas de
Governo. O Bloco Histórico Hegemônico as políticas ambientais.
Informes.
Reunião de monitores no dia 25/03/04 na pró-reitoria de extensão
Encontro 14 - 31 DE MARÇO DE 2004
Tema
Educação e Sociedade Sustentável
203
Objetivo
Conhecer e analisar as questões relativas às relações entre a sociedade
capitalista e a possibilidade de construção de uma educação para preservação do
meio ambiente.
Procedimento de ensino
Vivência da atividade da cultura corporal, título: “passeio pela FACED,
reconhecendo seu espaço”, coordenada pela estudante Paulla. Debate sobre
temática educação e sociedade sustentável. Instrumento de ensino: texto
Educação e Sociedade Sustentável (Ibdem, Idem).
Conteúdo: A escola capitalista e as possibilidades da educação emancipatória. A
superação da alienação.
Encaminhamentos
Indicativo de viagem 17/04/2004
Informes
Relato sintético sobre a reunião de monitores das ACC realizada dia
25/03/04 na pró-reitoria de extensão;
1º e 14 de abril, paralisação dos servidores públicos federal; Congresso de
Meio Ambiente, a maioria dos alunos foram;
Inscrição efetivada do trabalho no Coned (Congresso Nacional de
Educação) que será realizado em Recife - Pernambuco no período de 2 a 5
de maio de 2004;
Visita ao Ibama 25/04/2004;
204
Exposição do calendário aprovado pela congregação da UFBA para o
semestre de 2004.1 e 2004.2.
Encontro 15 - 07 DE ABRIL DE 2004
Tema
Cidadania Planetária e Cultura Corporal
Objetivo
Aprofundamento e análise crítica das relações entre cidadania, globalização e a
valorização da cultura.
Procedimento de ensino
Vivência da atividade da cultura corporal proposta pela estudante Mariane, título:
“Retrato imaginado”. Debate sobre a temática específica e as relações entre a
atividade da cultura corporal vivenciada. Instrumento de ensino: texto Capítulo
Cidadania Planetária do livro Pedagogia da terra de Moacir Gadotti, 2000.
Conteúdos: O Projeto de mundialização do capital e da educação. A globalização
dos interesses do capital. As resistências. A luta pela cidadania.
Encontro 16 - 14 DE ABRIL DE 2004
Tema: Cultura Corporal e Meio Ambiente
Objetivo
Conhecimento e reconhecimento dos elementos constitutivos da atividade
vivenciada e contextualização nos ciclos temáticos de desenvolvimento
sistematizado pelo livro Metodologia do Ensino da Educação Física do coletivo de
autores. Identificação da importância da valorização da cultura corporal para a
preservação ambiental. Sistematização de ações para a visita científica.
Procedimento de ensino
205
Vivência da atividade da cultura corporal proposta por Katiuche título: no escuro,
debate sobre as possibilidades de experimentar esta atividade na comunidade.
Planejamento das atividades a serem desenvolvidas na comunidade.
Conteúdos: A organização do conhecimento em ciclos de ensino constatar,
generalizar, explicar, propor, superar.
Informes
Lançamento do processo eleitoral no ANDES - SN
Encontro 17 - 17 de abril
2º ida à comunidade
Os objetivos da viagem e a organização das atividades foram alterados.
Chegamos a Matarandiba às 10h00min horas. Reunião entre os estudantes e os
professores para a reorganização em coletivo das atividades propostas. A
reorganização estabeleceu como novo objetivo desta visita: a realização do
convite domiciliar a todos os moradores para participarem do curso de formação
de agentes ambientais que será realizado no dia 08 de maio de 2004.
Programação para esta visita científica foi à participação dos estudantes em
atividades pedagógicas desenvolvidas na formatura dos alunos do Telecurso 2º
grau. O convite foi feito pelos próprios formandos e a Associação de Moradores.
Mas ocorreu um imprevisto e a formatura foi antecipada para sexta-feira, dia 16 d
abril. Por falta de comunicação, não foi possível antecipar a viagem.
O destaque da visita foi às observações coletadas pelos estudantes em
contato direto e informal com os moradores, em uma vivencia rica de diálogos.
206
Conteúdos: O conhecimento imediato da realidade. As representações a partir
dos dados sensitivos. O conhecimento elaborado cientificamente. A proposta de
curso de formação de agentes ambiental.
Encontro 18 - 28 DE ABRIL DE 2004
Tema
Terra, elemento indispensável para a vida.
Avaliação
Objetivo
Reconhecimento da importância da terra saudável para a preservação da
vida, assim como a identificação de que todos são necessários para
equilibrar à relação ser humano e meio ambiente.
Avaliação de todos os aspectos relativos à presença, produtividade,
pendências Esta avaliação tem como objetivo, a identificação dos limites e
de dificuldades do grupo e a proposição de superação para os próximos
encontros.
Procedimento de ensino
Vivência da atividade da cultura corporal proposta pela estudante Eliene,
título: “Atividade Lúdica” relacionando com os elementos centrais do texto a
Terra como Paradigma do livro Pedagogia da Terra de Moacir Gadotti,
2000, lido e apresentado pelo grupo.
Em coletivo a exposição de todas as atividades vivenciadas até o momento,
identificando o que foi produzido e o que ficou de pendências.
207
Conteúdos: A relação do homem com a terra. Da propriedade tribal a propriedade
privada da terra. Meios e procedimentos para a elaboração do conhecimento
sobre os padrões de relação. O balanço do conhecimento produzido. Da
superação do senso comum, pela pratica, a consciência filosófica.
Encontro 19 - 05 DE MAIO DE 2004
Tema
Organização pedagógica da visita à comunidade
Objetivos
Exposição, organização e programação de ação para a visita científica.
Identificação dos aspectos a serem superados, buscando atender a demanda
tanto da comunidade quanto dos estudantes da disciplina. Vivência da atividade
proposta pelo estudante Denílson discutindo e contextualizando na cultuar
corporal meio ambiente.
Procedimento de ensino
Organização em coletivo da programação de ações do dia da visita
científica. O coletivo propôs a realização do curso de agentes ambientais
garantindo desenvolvimento de atividades para adultos e crianças e a
sistematização de temas relevantes e possíveis de ser trabalhado nas
oficinas. Observações sobre o curso: esta programação pode ser
modificada de acordo com as demandas locais da comunidade.
Vivência da atividade corporal proposta pelo estudante Denílson.
Conteúdos: Possibilidades de organizar o trabalho pedagógico na atividade
curricular em comunidade. O conhecimento e a aprendizagem. A
autodeterminação e auto-organização
208
Encontro 20 - 08 DE MAIO DE 2004
Visita científica à comunidade
ATIVIDADE NA ILHA
Curso de formação de Agentes Ambientais, Local: Matarandiba dias: 08 e 09 de
maio de 2004.
Programação
Hora Atividade local responsável
9:00 às 10:00h
Convite Rua Todos
10:30 às 12:30h
Ciranda Escola Todos
14:00 às 15:00h
Palestra de abertura Escola Ney Santos
15:00 às 18:00h
Oficinas (3)* Salas Escola Todos
18:00 às 20:30h
Encerramento Escola Soraya, Telma
e Ney
As oficinas: 15:00 às 18:00h
1 Saúde
Responsáveis Marcus Vinícius do Carmo e Quênia
Detalhamento da atividade: Dinâmica da caixa; Xerox do material de higiene; Ida
ao mangue.
2 Lixo, Reciclagem e Coleta seletiva.
Responsáveis Eliene, Lédna e Rose.
209
Detalhamento da atividade: Recolher material; Tempo de decomposição na
natureza; Caixa de coleta seletiva (pedir nos estabelecimentos de lá); Material
reciclado; Reutilização/ plástico e papel.
3 O Teatro e Meio Ambiente
Responsáveis Telma, Paulla e Katyuche.
Detalhamento da atividade: da cultura corporal proposta por Edlena; Peça leitura
e modificações; Ensaio geral e apresentação; Discussão.
4 Comércio
Responsáveis Denílson e Lena
Detalhamento da atividade: Apresentação dos dados; Material do SEBRAE para
abrir empresa; Higiene sanitária.
5 Alfabetização
Responsáveis Andréa, Nívia e Mariane
Detalhamento da atividade: exposição oral da importância da leitura para o
conhecimento da vida.
6 Ciranda
Todos os estudantes são responsáveis:
De idade entre 2 a 7 anos: Quênia, Denílson, Katyuche, Mariane e Roseneide.
De idade entre 8 a 14 anos: Paulla, Eliene, Lédna e Telma.
Relatório sintético da 3º visita científica à comunidade.
Vivência de jogos e outras afetividades lúdicas com as crianças
relacionando o tema cultura corporal e meio ambiente.
210
Palestra de abertura do curso sobre o projeto da UFBA/ ACC EDC 465
Cultura Corporal e Meio Ambiente presidida pelos professores e
estudantes. Tema o que já foi construído e ações futuras desse projeto.
Desenvolvimento de oficinas teórico-práticas.
Encerramento - Debate avaliando em coletivo, moradores, estudantes e
professores as ações desenvolvidas por este projeto e identificação de
expectativas da comunidade.
Os resultados da 3º visita científica à comunidade.
O resultado desta visita foi à participação de dezenove moradores da
comunidade de Matarandiba que participaram das atividades e receberam um
certificado de agentes ambientais. Esses agentes têm a responsabilidade de
multiplicar os conhecimentos construídos neste curso e integrar junto com os
estudantes da UFBA/ ACC Cultura Corporal e Meio Ambiente um coletivo que lute
pela valorização da vida em Matarandiba e no planeta.
Sugestões dos estudantes a partir da avaliação do evento
A sugestão para o próximo semestre é que este curso pode ser algo mais amplo,
articulando pesquisadores da área do meio ambiente e cultura corporal, com carga
horária de 16 horas em Salvador, levando o grupo para conhecer a Faculdade, ir
ao Instituto de Química ver a coleta seletiva de lixo, parque de Pituaçu, conhecer
os projetos da LIMPURB, usar os espaços e equipamentos da Faculdade de
Educação.
Conteúdos: O trato com o conhecimento sobre as relações cultura corporal e
meio ambiente e a ação desenvolvida na comunidade
211
Encontro 21 - 12 DE MAIO DE 2004
Tema
Avaliação das atividades do semestre.
Objetivo
Identificação dos objetivos propostos inicialmente pelo coletivo apontando o que
foi realmente alcançado e que não foi e os pontos de superação, assim como
sugestões para o próximo semestre.
Procedimento de ensino
Exposição oral de todos os elementos relevantes para a avaliação das atividades
do semestre, identificação dos pontos de superação e os limites da disciplina.
Observações sobre as avaliações dos estudantes
Desenvolvimento de trabalho em um coletivo. O grupo produziu
conhecimento no campo do meio ambiente e cultura corporal, planejou e
implementou ações pedagógicas, identificou e avaliou as demandas da
comunidade e os limites do grupo e buscou a superação dessas condições.
Os conteúdos trabalhados foram relacionados com a formação social do
homem através do trabalho, suas relações sociais, os padrões existentes
de produção, dominação e exploração da natureza e dos homens entre si,
as conseqüências sociais de tais relações às possibilidades de alteração.
Sentido e significação dos conteúdos relacionados com ávida na terra. A
capacidade de articulação entre a teoria e a prática problematiza o tema
central da disciplina contextualizando com a realidade.
212
A participação nas ações concretas na comunidade como um elemento de
superação da fragmentação do conhecimento científico. Trazendo para o
centro do processo de formação de professores o trabalho produtivo neste
caso docente possibilitado pela proposta da ACC/ UFBA que articula o
ensino, a pesquisa e a extensão.
A relação estudante professor, passa da centralidade dos conhecimentos
trazidos pelo professor para a possibilidade de professores e estudantes
trabalharem na realidade concreta, sendo este o ponto e a matriz para a
formação de professores.
Compromisso social ao construir o conhecimento a partir da relação
comunidade e universidade, organizando o trabalho pedagógico de acordo
com as necessidades da comunidade pesquisada e não mais com os
interesses puramente científicos.
Participação em movimentos sociais. As atividades “extras” como a
participação no acampamento em homenagem ao dia internacional da
mulher no MST contribui com a organização do trabalho pedagógico nos
aspectos: do planejamento e coordenação de oficinas pedagógicas, da
produção de conhecimento e do reconhecimento sobre a importância da
organização política na luta pela vida na terra, enfrentando a propriedade
privada da terra.
O redimensionamento dos significados da avaliação. A avaliação passa a
ter um papel fundamental na construção da disciplina, pois é através dela
213
que pode ser organizado o procedimento futuro tendo como base aos
avanços e os limites passados.
A articulação intercursos para a produção do conhecimento. A possibilidade
de articular diferentes cursos da UFBA trabalhando os conhecimentos a
respeito da cultura corporal e meio ambiente permite uma diversidade,
amplitude e complexidade na organização do trabalho pedagógico.
A capacidade de solucionar problemas diante da demanda social que se
apresenta.
A reorganização do tempo pedagógico que não está mais relacionada com
o horário da grade curricular, mas as necessidades da complexidade da
Cultura Corporal e Meio Ambiente tratada na comunidade.
O reconhecimento de Universidade pública gratuita e o retorno social. O
trabalho realizado na comunidade representa uma possibilidade de
transformar o conhecimento abstrato em conhecimento científico concreto
de alta relevância social.
Limites
Poucas viagens, prejudicando o trabalho na comunidade e a construção do
conhecimento. Os recursos financeiros da UFBA estão escassos. A
atividade curricular em comunidade necessita de investimento, como
equipamentos, recursos humanos, transporte e alimentação o que não é
suprido pelos recursos disponíveis para o ensino, pesquisa e extensão.
A continuidade das atividades. O trabalho realizado pelos estudantes
durante um semestre é insuficiente e não facilita a construção do
214
conhecimento cientifico nesta complexidade e interrompe as atividades
desenvolvidas na comunidade.
Conteúdos: As possibilidades de essência e os limites. Proposições para superar
dificuldades e avançar no trato com o conhecimento sobre cultura corporal e meio
ambiente nas atividades curriculares em comunidade.
215
6.2.3 Avaliação/ Objetivos
Os estudos desenvolvidos por esta pesquisa buscaram a construção de
um campo teórico relacionado à cultura corporal e meio ambiente na Atividade
Curricular em Comunidade, nesta complexidade nos delimitamos a tratar
especificamente através das análises de ações do projeto piloto, as possibilidades
de organização do trabalhão pedagógico que responda as necessidades do
mundo do trabalho docente.
Para a construção dessa teoria utilizamos a análise de dados sobre as
atividades desenvolvidas durante um semestre da disciplina ACC EDC 465 -
Cultura Corporal e Meio Ambiente e destacamos três aspectos da organização do
trabalho pedagógico apontadas por Freitas 1995, Taffarel 1993 e Lacks 2003.
Segundo Freitas 1995, essa análise de dados busca a regularidade, ou
seja, a essência, o que há de constante e substancial no concreto empírico, o
universal, as leis que regulam o movimento da realidade contraditória. Trata-se de
216
entender a prática pedagógica da Atividade Curricular em Comunidade,
examinando categorias da organização do trabalho pedagógico: objetivo/
avaliação e conteúdo/ forma.
A avaliação é entendida como momento real concreto o resultado de
uma objetivação anterior. A concepção de avaliação na escola moderna e
capitalista está relacionada com os seguintes objetivos: qualificação necessária
para o funcionamento da economia e a formação de métodos e quadros para o
controle político. Sem resistência a formação pode ser um aparelho de controle
estatal.
A experiência da ACC EDC 465 - Cultura Corporal e Meio Ambiente têm
demonstrado elementos de superação para a atual formação de professores que
atende às necessidades da lógica capitalista, que se expressa na avaliação formal
em normas e orientações, avaliam o conhecimento, atitudes e valores reduzindo
às aprovações e às reprovações.
Na descrição dos encontros podemos identificar a avaliação como um
processo avaliativo que considera os aspectos da produção do conhecimento em
todo o processo de construção da prática pedagógica cotidiana. Esse aspecto
pode ser verificado nos encontros nº 4, 7, 18 e 21 que tratam sobre:
O conhecimento produzido pelo coletivo nos semestres
anteriores, identificando as conquistas, o trabalho realizado, e as
demandas, os limites a serem superados pelo atual semestre. O
curso com a comunidade tratando de conhecimentos
relacionados com problemáticas vitais e necessárias.
217
O relatório de atividades em comunidade. Os relatórios de visita
científica resgatam os objetivos propostos e os resultados
alcançados, estabelecendo e restabelecendo as ações para as
próximas visitas;
Avaliação final do semestre. As atividades, apesar de sofrer
alterações ao longo do semestre, têm uma proposição que se
desenvolvem através de leituras, debates, seminários,
planejamento de ações na comunidade, vivências e experiências.
Essas atividades são revistas em coletivo ao final do semestre
identificando os reais resultados para a comunidade e para os
estudantes da disciplina.
Esses elementos nos ajudam a perceber o valor da avaliação nesta
organização do trabalho pedagógico que é de um instrumento de identificação da
concretização dos objetivos propostos, a avaliação assume o valor de
representação das conquistas e das possibilidades de ações futuras.
Os encontros em que os estudantes avaliam o que foi produzido
identificam a avaliação como elemento fundamental na construção do
conhecimento superando a separação semestral na formação de professores,
possibilita a ACC um caráter contínuo e histórico na sua essência. A avaliação
evidencia o próprio trabalho produtivo docente e social quando estabelece como
objetivo o ensino, pesquisa e extensão em atividades curriculares em
comunidades no trato com o conhecimento da cultura corporal e meio ambiente.
Na avaliação final o estudante tem a possibilidade de verificar a
proposta inicial, recuperando os objetivos primeiros e posteriormente o que foi
218
efetivamente realizado, quais foram os avanços individual e coletivo, quais as
influncias recíprocas entre a universidade e a comunidade. Esse processo
demonstra a capacidade autônoma de organização e identificação por parte dos
estudantes se o grupo foi capaz de atender as demandas sociais valendo-se de
instrumentos de pensamento que permitem relacionar o particular com o
movimento mais geral e o local com o internacional.
A avaliação da produção do conhecimento produzido processual se
concretiza nos seguintes aspectos: participação e assiduidade, entrega de
relatórios, realização de seminários, resenhas, planejamento de oficinas e
participação nas atividades em comunidade. Elaborações de análises, sínteses,
avaliação. Ações, reflexões, ações. Sendo que essa produção científica é avaliada
em um todo articulado com o objetivo geral da disciplina proposto pelo próprio
coletivo no início do semestre. A produção científica e o aprofundamento do
conteúdo específico, Cultura Corporal e Meio Ambiente estão articulados com a
atividade curricular em comunidade. A avaliação deixa de ser individual
momentânea e passa a ter um valor fundamental para o processo coletivo de
produção do conhecimento.
219
6.2.4 O conhecimento construído
Analisamos o conteúdo e forma, juntos, por entender a não existência
de conteúdo que não expresse estruturalmente uma determinada forma, assim
como no método existe um conteúdo específico. (Freitas 1995). Destacamos três
aspectos da ACC em relação à problemática teoria/ prática ou trabalho material e
a fragmentação do conhecimento. Freitas ainda acrescenta a gestão da escola,
mas nos ateremos somente aos dois aspectos primeiros.
A valorização do trabalho material que no caso da ACC EDC 465
Cultura Corporal e Meio Ambiente é uma atividade de trabalho pedagógico que
ocupa uma posição central na análise por representar como já analisado, para a
vida humana, o processo pelo qual o ser humano se relaciona com a natureza
para a própria sobrevivência. O trabalho da sociedade capitalista é caracterizado
pelas amplas massas pelo trabalho assalariado, alienado e tecnológico. Essas
determinações históricas orientam também a própria concepção de conhecimento,
220
separando o sujeito que conhece do objeto a conhecer. Separando os
trabalhadores que vende a sua força de trabalho dos que detêm os modos de
produção. Separando a intelectualidade da força bruta. A teoria da prática.
A articulação indissociável, entre o ensino, pesquisa e extensão pode
ser verificada, em todo o processo pedagógico e redefine a organização do
trabalho pedagógica no que diz respeito à relação teoria e prática na realidade.
Não se tratou de realizar atividades corporais em si mesmas, mas sim de
relacionar o ambiente com as possibilidades de atividades que ampliassem o grau
de consciência da comunidade sobre o seu meio ambiente. Isto requer diálogo,
atividades práticas, reflexões e ações de influências recíprocas. Sem instrumentos
de pensamento, sem métodos de investigação isto não se torna possível.
1. A continuidade dos estudos, apesar de serem semestrais, deixa de ser
fragmentado e interrompido entre o trabalho de um semestre e outro, quando os
estudantes se apropriam do conhecimento produzido pela disciplina analisando e
avaliando o que já foi construído, quais são as problemáticas significativas a
serem respondidas. A definição do objetivo da disciplina deve ser organizada de
acordo com essa estruturação. Pode ser verificado nos encontros:1, onde se
expõe os objetivos da disciplina, seu caráter de pesquisa e a necessidade de
continuidade do trabalho desenvolvido pelos estudantes no semestre passado; nº
4, quando os estudantes se apropriam do conhecimento produzido no semestre
passado para estabelecer as possibilidades de construção do conhecimento no
semestre atual; e nº 2, na avaliação final um dos aspectos relevantes destacados
pelos estudantes é a descontinuidade das atividades curricular em comunidade.
221
2. O trato com conhecimento está relacionado com as problemáticas
significativas, as questões da destruição ambiental e as possibilidades de
construção de uma atividade curricular em comunidade que articule os
conhecimentos adquiridos na academia com o movimento complexo da realidade.
Representa a articulação entre teoria e prática no trabalho material, no trabalho
pedagógico. Como por exemplo, construção do Curso de Agentes Ambientais
proporcionou aos estudantes a possibilidade organizar o conhecimento científico
para a realização de uma ação pedagógica na comunidade, e pode ser verificado
nos encontros: nº 5, 6 e 7 que respectivamente tratam do planejamento, atuação e
avaliação da primeira visita científica, ela relaciona os conhecimentos específicos
da cultura corporal e meio ambiente e procedimentos de pesquisa como a
apropriação de instrumentos para a coleta de dados, realização de diagnóstico e
produção de relatórios científicos; nº 8, 9 e 10 planejamento de oficinas
pedagógicas e atuação no MST, esta atividade permite ao estudante a vivência na
organização política de um movimento social que luta contra o latifúndio e a
propriedade privada da terra, lutam pela vida digna para todos , lutam pela reforma
agrária; e nº 19 e 20 tratam do planejamento e atuação da terceira visita científica,
que realizou o Curso de Agentes Ambientais. Esses encontros possibilitaram ao
coletivo o planejamento das ações articulando os conhecimentos construídos na
disciplina sobre Cultura Corporal e Meio Ambiente, a especificidade e qualificação
de cada estudante (cursos distintos) e as necessidades da comunidade.
3. O redimensionamento do tempo pedagógico. A estruturação das Atividades
Curricular em Comunidade não fica presa ao horário determinado pela
fragmentação da grade curricular, ela está diretamente relacionada com as
222
necessidades identificadas pelos estudantes como problemáticas significativas a
serem respondidas e, portanto nem sempre se enquadram nos horários pré-
determidados acadêmicos. A intensividade de ações desenvolvidas pelos
estudantes demonstra uma superação no que diz respeito à sua atitude enquanto
um pesquisador e um profissional consciente do seu compromisso social. O dia
estabelecido para o desenvolvimento desta disciplina é quarta- feira de dezoito às
vinte horas, mas alguns encontros foram realizados em outros dias e outros
horários com o objetivo de atender as necessidades sociais. Pode ser verificado
quando realizamos os encontros: de nº 6 quando foi realizada a primeira visita
científica à comunidade utilizando todo o dia de sábado; nº 9 e 10 sobre o
acampamento em homenagem ao dia internacional da mulher no MST foram
atividades desenvolvidas durante dois dias inteiros do fim de semana, o sábado e
o domingo; nº 17 que utilizou o dia de sábado para a realização da segunda visita
científica à comunidade; e o nº 20 que foi o Curso de Formação de Agentes
Ambientais, onde o trabalho foi realizado em dois dias do final de semana, o
sábado e o domingo. O tempo pedagógico é redimencionado e ampliado de
acordo com as necessidades do trabalho e se organiza em reuniões, visitas,
assembléias, festivais, oficinas, seminários entre outras atividades.
4. O trabalho pedagógico, ou trabalho material a partir do real concreto exigem
a interdisciplinaridade, ou seja, uma outra lógica de tratar o conhecimento, a partir
do enfrentamento do problema. Uma das principais características da Atividade
Curricular em Comunidade é esta. Partir do real concreto, superar as falsas visões
do real e retornar com ações concretas. O ACC é um projeto piloto intercursos
articula, portanto estudantes de diferentes áreas de conhecimento, no semestre a
223
que nos referimos, há estudantes de pedagogia, ciências naturais, educação
física, contabilidade e história que mobilizam seus conhecimentos específicos para
responder a uma problemática comum, no caso as relações da cultura corporal e
meio ambiente na perspectiva de enfrentar a destruição do meio ambiente. A
busca por construir uma atividade na formação profissional que envolva ensino,
pesquisa e extensão na comunidade têm como finalidade a construção do
conhecimento a partir de um complexo. Designamos sistema de complexo porque
é partir desta temática, que se pode conhecer, também, o que está na raiz do
problema, a destruição do ser humano, bem como, as relações com a totalidade e
com o conjunto de fatos e acontecimentos.
5. O complexo temático Cultura Corporal e Meio Ambiente constitui-se em um
sistema de questionamentos a partir do qual chega-se a essência da questão da
destruição das forças produtivas sem o que não se atinge o ponto central a ser
compreendido que estrutura a vida na sociedade e mantém os padrões de
dominação exploração e destruição.
6. Para atender as demandas da realidade que se configura na forma
complexa é necessária a construção de um conhecimento também complexo, que
entenda a realidade na sua multiplicidade. As atividades propostas pelos
estudantes são advindas de diferentes áreas com a mesma finalidade:
desenvolver ações na comunidade sobre as questões a cerca da Cultura Corporal
e Meio Ambiente. No Curso de Formação de Agentes Ambientais é um evento que
materializa o trabalho produtivo dos estudantes na comunidade. O conhecimento
construído retorna à sociedade imediatamente quando, por exemplo, no encontro
nº 20, é oferecido oficinas, à comunidade, de reciclagem, teatro, higiene pessoal e
224
saúde, jogos, festivais entre outras. A organização e realização de uma iniciativa
como esta deixa evidente a importância da organização do trabalho pedagógico
tendo como eixo articulador do conhecimento o trabalho produtivo, assim como
traz as categorias centrais da relação cultura corporal e meio ambiente, o trabalho,
o ser humano e a cultura e o trato com o conhecimento.
7. A atividade em comunidade curricular articula a ciência e a ações para a
preservação ambiental, no mundo e em Matarandiba. Nesse sentido Kedrov
coloca que
“Como se sabe, a lógica dialética
materialista exige enfocar concretamente todo
fenômeno ou tese, tomando-o na conexão e nas
relações em se acha no processo de
desenvolvimento, mudança e movimento”.
(KEDROV, 1976 apud FREITAS 1995 p. 109).
8. A auto-organização dos estudantes. Este aspecto está relacionado como
organizado por Pistrak (2000), quando o estudante sai do processo pedagógico da
alienação, fragmentação do conhecimento, separação teoria prática, não se
identificando com a produção final, para atingir um patamar de apropriação dos
processos de produção do conhecimento. Quanto por autodeterminação ele
participa do planejamento do trabalho pedagógico conforme podemos verificar nos
encontros nº 5, 8 e 16, propondo ações na comunidade, encontros nº 6, 9, 10 17 e
20, avaliando as atividades realizadas identificando os passos seguintes e auto-
avaliando, em coletivo e individualmente, conforme demonstrado nos encontros nº
4,7,18 e 21. A auto-organização desencadeia a proposta de um curso. No entanto
225
ela deve ultrapassar e fortalecer as organizações de classe na comunidade. O
conhecimento gerado e tratado dialeticamente deverá ser elemento de
fortalecimento das organizações, associação de moradores, e organização de
estudantes.
Seguindo esta análise a organização do trabalho pedagógico proposta
por este projeto piloto busca a superação da formação de professores dos atuais
currículos dos cursos da UFBA predominantes na lógica formal para uma lógica
dialética que implica reflexão, ação, reflexão para novas ações pedagógicas.
Os aspectos analisados da avaliação/ objetivo e conteúdo/ forma como
interdisciplinaridade, auto-organização dos estudantes, avaliação processual, a
continuidade dos estudos entre os semestres e a centralidade no trabalho
material, proporcionam a construção de um conhecimento a ser tratado nos cursos
superando a fase da ausência de métodos e de conteúdos conforme constamos
que vinha ocorrendo.
O que foi historicamente construído no campo das possibilidades de
uma educação ambiental e a valorização da cultura corporal está sendo não
apenas o conteúdo, mas representa a base para o desenvolvimento do trabalho
pedagógico da disciplina. As características apontadas e analisadas de acordo
com os dados adquiridos em observação participante durante um semestre
indicam uma área de conhecimento estratégica porque trata da dicotomia do ser
humano com a terra a ser recomposta em um outro patamar de relação que
transcenda a exploração e explotação, que predominam no processo civilizatório.
226
Os elementos que articulam o conhecimento no currículo são, portanto,
o trabalho, a partir do real, com caráter interdisciplinaridade, visando à
conscientização na perspectiva da formação humana emancipatória.
As atividades curriculares em comunidade buscam transformações na
relação entre homem, trabalho e meio ambiente. A valorização de manifestações
da cultura corporal como atividades de jogos, brincadeiras, folguedos, dança e
esportes de identidade cultural, representa a valorização do ser humano em
harmonia com a natureza. É a partir dessa outra relação não predatória de
valorização cultural do ser humano que trabalho, mas trabalho livremente se
reconhecendo no produto final. Mas para a concretização desse projeto que
também é histórico necessita-se de objetivos bem definidos em relação a
formação da sociedade e a persistência do trabalho contínuo.
Quando realizamos atividades com a comunidade estamos valorizando
a possibilidade de estabelecer uma relação de valorização do seu ambiente físico,
o mar, a floresta, os animais assim como da sua cultura e do trabalho livre,
superando a dicotomia entre ser humano e natureza. Levando o estudante da
graduação a organizar implementar e analisar ações na própria comunidade, e
garantindo através dessas mesmas ações a valorização da cultura local
historicamente construída.
As relações de destruição da natureza verificadas na comunidade de
Matarandiba é uma realidade local que representa a complexidade social global. O
desemprego, a pobreza, a ignorância causada pela lógica capitalista da
acumulação de capital, propriedade privada e exploração do trabalho são os
princípios da destruição ambiental. Destruição que já foi amplamente comprovada
227
por diversos Fóruns e Encontros sobre o meio ambiente e o desenvolvimento,
como abordado no capítulo da Educação Ambiental, e que mostra a sua face
monstruosa através das poluições de águas, na crise energética, no buraco da
camada de ozônio, na devastação de florestas, nos resíduos sólidos e nos
transgênicos
55
. O desenvolvimento tecnológico perece que atingiu o seu ápice,
quando nos torna escravo da destruição ambiental.
A luta pela preservação da vida no planeta é a luta pelo
desenvolvimento de ações que possam contribuir diretamente na realidade
concreta, agindo no particular sem perder de vista que as transformações estão na
base da estrutura social, ou seja, na infra-estrutura da sociedade.
As ações na comunidade elaboradas através do trabalho pedagógico
disciplinar ao longo do semestre letivo indicam que dessa forma é possível
trabalhar este conteúdo específico na graduação a partir tendo como perspectiva
uma outra lógica curricular de ensino pesquisa e extensão na formação de
professores.
O trabalho ocupa uma posição privilegiada na construção da disciplina
por representar a relação entre o ser humano e a natureza sendo por isso o objeto
de transformação que se apresenta através da cultura corporal em um campo de
expressão das manifestações construídas nas relações sociais, no trabalho
humano produtivo.
55
A publicação do livro Subsídios para Implantar a Campanha das Sementes, contribuiu com essa análise
afirmando que a monocultura aliada aos transgênicos é uma ameaça a biodiversidade, pois a monocultura
desequilibra o ecossistema e os transgênicos é uma forma de dominação pelo capitalismo sobre os alimentos e
o cultivo da terra, impedindo a produção agrícola natural e diversificada.
228
Assim como a proposição de superação das condições objetivas da
atual formação de professores para uma nova perspectiva de formação está
articulada com a proposta de transformação das relações sociais capitalistas,
também as relações do homem com a terra passam pela alteração do mundo do
trabalho. A possibilidade de construção de uma outra lógica para a formação de
professores, no que diz respeito currículo a questão ambiental e a cultura corporal
está expressa através das categorias analisadas da organização do trabalho
pedagógico, no trato com o conhecimento, conteúdo/ forma e avaliação/ objetivo.
Esta possibilidade é concreta, está relacionado ao projeto histórico
socialista e não poderá ser ignorada, visto ter sua inserção na comunidade e estar
expressão em conhecimento científico que adquirirá força produtiva, ideológica e
política.
229
III - CONCLUSÕES
“...daí a razão por que a chamada luta pela
existência assume a seguinte forma: proteger os
produtos e as forças produtivas da sociedade
capitalista burguesa, do efeito destrutivo e
aniquilador desta mesma ordem capitalista,
assumindo a direção da produção e distribuição
social (arrebatando-a das mãos da classe
capitalista dominante) e tansferindo-a às massas
produtoras; assim é que se realiza a revolução
socialista. (Engels; 1979; p.164)
230
A destruição da natureza, a degradação do meio ambiente, os impactos
negativos da ação humana são denominações para designar um fenômeno social
e cultural que ameaça a existência humana. As formas de relações estabelecidas
entre os homens e a natureza. Este padrão que pode ser verificado pelos fatos ao
longo da história da humanidade está baseado na dominação e exploração. O
planeta está indicando que já não suporta mais tais relações. As florestas
dizimadas, como por exemplo, a zona da mata, o solo desertificado, como por
exemplo, no sertão, as águas poluídas, como por exemplo, os mananciais
próximos a centros urbanos, as calotas polares derretendo em função do
aquecimento da terra, em função da ruptura na camada de ozônio, em função do
uso humano de agentes poluentes. Enfim, a humanidade colocou em risco a sua
própria existência com a sua forma de organizar a vida. Hoje nações como os
Estados Unidos, responsáveis por expelir altas doses de agentes poluentes na
natureza não se dispõe a assinar acordos internacionais que visam restringir e
controlar a ação dos poluentes.
Mas a destruição não é somente evidente na natureza, as forças
produtivas, ou seja, os componentes do processo de produção da vida,
trabalhador, trabalho, recursos naturais e cultura, também estão sofrendo o
impacto da tendência à destruição própria do modo do capital organizar a vida na
sociedade. O metabolismo social está em franca decomposição.
A cisão do homem com a natureza é um processo histórico e perpassou os
modos de produção, desde o modo tribal de organizar a vida, ao modo comunal,
feudal e ao modo do capital organizar a produção. As formas de propriedade da
231
terra, dos instrumentos de trabalho e da força produtiva trabalho humano
delinearam, acentuaram e consolidaram a cisão do homem com a terra, com seus
semelhantes e consigo mesmo. Este processo de alienação da humanidade tem
levado a uma ação humana altamente depredatória nas relações com o meio
ambiente, o que exige uma reflexão radical da práxis utilitária da humanidade,
baseada no senso comum e na ignorância, para uma práxis revolucionária.
Nossos estudos nos apontaram que são depositadas expectativas no
estabelecimento de marcos regulatórios, nas políticas publicas, na educação, na
ética, na consciência, na formação do homem ecológico, na formação de
professores.
Planos de ação mundiais, regionais e locais são traçados. Por exemplo, a
Agenda 21 que é um plano de ação para ser adotado global, nacional e
localmente, por organizações do sistema das Nações Unidas, governos e pela
sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio
ambiente. Constitui-se na mais abrangente tentativa já realizada de orientar para
um novo padrão de desenvolvimento para o século XXI, cujo alicerce é a sinergia
da sustentabilidade ambiental, social e econômica, perpassando em todas as
ações propostas. Além da Agenda 21, resultaram desse mesmo processo quatro
outros acordos: a Declaração do Rio, a Declaração de Princípios sobre o Uso das
Florestas, a Convenção sobre a Diversidade Biológica e a Convenção sobre
Mudanças Climáticas. A comunidade internacional concebeu e aprovou a Agenda
21 durante a Rio 92, assumindo, assim, compromissos com a mudança da matriz
de desenvolvimento no século XXI. O termo "Agenda" foi concebido no sentido de
232
intenções, desígnio, desejo de mudanças para um modelo de civilização em que
predominasse o equilíbrio ambiental e a justiça social entre as nações.
No entanto, nossas análises que buscam “a coisa em si”, para além das
aparências, evidenciam a tendência à destruição do modo do capital organizar a
vida. As guerras desencadeadas pelos imperialistas para dominar fontes
energéticas, dominar subsolo, solo, mar, e terra em regiões ricas e diversificadas
evidenciam a tendência à dominação, ao imperialismo, a destruição.
Portanto, para além dos elementos da super estrutura, da cultura em geral,
das leis, da educação, das Agendas, são necessárias alterações profundas, de
caráter revolucionário, na base material da produção da vida. Isto significa que a
humanidade está chamada a pautar um outro projeto histórico para além do
capital.
O padrão de relação do homem com a natureza, com seus semelhantes e
consigo mesmo expresso nas formas como se organiza o trabalho humano para
produção de bens que garantam a vida necessita ser alterado. Isto é vital para a
humanidade.
Nos limites do marco referencial da educação reconhecemos que um ponto
estratégico a ser abordado na linha das alterações situa-se na formação de
professores.
As criticas a formação de professores em geral e em especial dos
professores de educação física foi resgatada no presente estudo. Destacamos a
233
lógica da organização do trabalho pedagógico e o trato com o conhecimento
relacionado a esta problemática vital, o meio ambiente. Especificamente
observamos a cultura corporal, onde constatamos que o esporte, elemento da
cultura corporal, tem caráter destrutivo quando pautado na idéia do alto
rendimento, da competição, do individualismo, em desacordo com o meio
ambiente. Constatamos também que esta temática enquanto um sistema de
complexos que permite compreender e agir em relação ao todo, não é tratada,
sistematicamente, nos currículos de formação de professores.
Observamos que em pequenas comunidades como Matarandiba, litoral da
Bahia, as evidências da destruição do meio ambiente estão presentes. A cultura
local é depredatória e poluente. Os parcos recursos presentes na cultura corporal
como jogos, brincadeiras, folguedos, festas, estão cada vez mais impregnados por
uma ideologia global que mata a cultura local.
Este processo de alienação assegurado pelas formas de organização do
trabalho humano, pela mídia, pela escola e demais meios culturais necessita ser
abordado, atacado, tratado, enfrentado. E este enfrentamento passa
necessariamente pelo desenvolvimento de instrumentos de pensamento que
permitam ultrapassar as visões sincréticas do real, os pseudoconceitos, ou seja, a
aparência dos fenômenos. Os instrumentos de pensamento, negados pelas
escolas e pela universidade devem ser desenvolvidos dentro da lógica que
permita apreender o movimento do real, as leis gerais da sociedade e as relações
entre o particular e o geral. Isto passa necessariamente pela alteração dos
currículos, em especial dos currículos de formação de professores.
234
Neste sentido desenvolvemos uma experiência com atividades curriculares
em comunidade.
235
7 - Proposta para o trato com o conhecimento na formação de professores
As análises dos documentos sobre a educação no país nos permitem
constatar dados catastróficos. A educação no Brasil vai muito mal. O
financiamento não corresponde às necessidades, as políticas em geral são de
perfil neoliberal de adaptação ao sistema do capital, o magistério não é
valorizado, as diretrizes e os sistemas de avaliação são representações da
ideologia das classes dominantes e de seus interesses em uma formação para a
alienação e manutenção do sistema.
Para explicar esta situação e perspectivar saída é exigida uma teoria do
conhecimento que permita estabelecer nexos e relações entre o particular e o
geral, uma teoria que explique as determinações históricas das situações, dos
fatos e fenômenos e aponte possibilidades de enfrentamento de contradições na
perspectiva da superação.
De forma singular, esta pesquisa nos permitiu interferir na realidade do
currículo de formação de professores da UFBA, inserida no projeto de
reestruturação das licenciaturas da UFBA implementamos o projeto piloto, ACC
236
EDC 465 - Cultura Corporal e Meio Ambiente para responder a desafios do real
concreto, destruição do meio ambiente.
Os dados analisados a partir de encontros entre pesquisadores e
professores estudantes e comunidade demonstram as possibilidades de tratar
sobre as questões ambientais e destruição da natureza, suas relações e nexos
com a organização do trabalho humano e com a cultura em geral na comunidade.
A comunidade de Matarandiba, com a qual desenvolvemos A ACC 465
- Cultura Corporal e Meio Ambiente nos propiciou o ambiente necessário para que
juntos enfrentássemos a questão local.
A alteração na lógica da organização do trabalho, no trato com o
conhecimento foi possível na proposta de romper com as relações tradicionais do
ensino bancário, como dizia Freire (1994) passando a construir outras relações
pedagógicas baseadas no trabalho material, no trabalho docente, apresentando
uma possibilidade de organização do trabalho pedagógico que supere a antiga
forma fragmentária de ensino proposta pela formação acadêmica capitalista.
Lidamos, portanto, com o método e conteúdo através do trabalho
pedagógico. A este respeito podemos concluir ao analisar os documentos
referentes à Cultura Corporal, a crítica ao esporte e a educação ambiental, que o
próprio conhecimento que estamos propondo como emergente representa na sua
essência a metodologia de trabalho na formação de professores. A complexidade
desta temática só é possível ser abordada de forma ampla, interdisciplinar com
base na complexidade da realidade concreta a partir do trabalho material. Tratar
da temática ambiental relacionando com as manifestações da cultura corporal
237
requer um processo de construção não fragmentado do conhecimento
enfrentando-se assim a perspectiva curricular fragmentada, dissociada, diluída
difusa, dos atuais currículos que acentuam a dicotomia teoria-prática, mente-
corpo, trabalho manual e intelectual.
As análises que realizamos da literatura demonstram que o esporte,
enquanto componente da cultura corporal é uma atividade que no capitalismo está
sujeito à abstração do dinheiro, como as demais atividades do campo da cultura
corporal. Quanto ao trabalho humano, o capitalismo arruinou a utopia do trabalho
humanizado, prostituindo-o, ou melhor, dito, subsumiu-o pela dupla e exploração
da mais-valia absoluta e relativa, transformando-o em trabalho abstrato, trabalho
alienado, encerrado em um tempo espaço depurado de todos os elementos da
vida que pudessem perturbá-lo, como a vida pessoal, a moradia, a cultura,
fazendo surgir à separação moderna entre tempo do trabalho e tempo livre,
arrebatado à vida como um pesadelo, tempo de trabalho impingido ao indivíduo
até pela violência. Com isto a forma como o capital subsume o trabalho, arruinou
o que criou, o “tempo livre”. Arruinou a utopia do tempo livre ao transformar o ócio
em consumo acelerado de mercadorias, transformando o tempo livre num
consumo de mercadorias de crescimento constante.
Nossos estudos indicam que as abordagens sobre Esporte e Meio
Ambiente que desconsideram a base econômica e política em suas análises, não
radicalizam a reflexão e a ação para a construção de uma nova cultura, não
consideram as conseqüências do processo civilizatório capitalista, e contribuem
com a perspectiva da humanização do capitalismo, via ética/ ciência/ educação,
238
regulação/ normatização monitoramento, sem especificação das bases objetivas,
materiais da educação e da ética. O que constatamos é que o esporte de alto
rendimento, o esporte espetáculo, o esporte turismo, tem por base a economia
capitalista e só sobreviverá com base nele e, com ele, expressa suas
conseqüências. As atividades de lazer e do tempo livre, aqui mais principalmente
o esporte, são nocivas ao meio ambiente porque, na base, não se assegura o
pacto ecológico e social, a lei que prevalece é a lei do lucro.
O que estamos propondo para as comunidades a partir de nossos
estudos é a construção de tempo/ espaço que valorize as manifestações da
cultura corporal com base na relação ser humano trabalho e meio ambiente, que
garanta a possibilidade de transformação social, a possibilidade de consolidação
de um outro projeto de sociedade. Rompendo com a relação funcionalista de
representação e reprodução dos valores capitalistas garantida pelas atividades
corporais representada principalmente pelo esporte moderno, na perspectiva de
construção de uma outra cultura.
Muitos estudos já permitem identificar indícios desta construção mais
geral de uma cultura solidária, como por exemplo, as contribuições de Gutierrez
(1999); Razeto (1991). Assim como propostas para a organização do trabalho
pedagógico e metodologia de ensino trazida pelo Coletivo de Autores 1993, Kunz
(2003), Sávio de Assis (2001), entre muitos outros, apontam à educação física e
as práticas corporais na perspectiva da cultura corporal, ou seja, na perspectiva
da valorização das manifestações corporais historicamente construídas
estabelecendo uma harmonia entre as relações de trabalho livre e cultura.
239
Segundo Gramsci (1982), a defesa de uma nova cultura é a
centralidade da questão. Criar uma nova cultura não significa apenas fazer
individualmente descobertas “originais” significa, também e, sobretudo, difundir
criticamente verdades já descobertas, “socializá-las” por assim dizer transformá-
las, portanto, em base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem
intelectual e moral.
Abib (2004) também defende que O indivíduo pode ser o cidadão do
mundo (...) sem prejuízo de ser, ao mesmo tempo, membro de uma coletividade
local e regional, além de sua condição de membro desta ou daquela classe
social”.
O que elaboramos, a partir de uma leitura crítica da realidade, a
realidade em movimento, nos permite sustentar que a cultura corporal construída
nas relações do ser humano com o meio ambiente pode ser uma possibilidade
história de construção de princípios éticos e educacionais, para uma nova cultura,
onde inclusive os valores tradicionais, tão decantados do lazer e do esporte, e os
pactos sociais e ecológicos sejam preservados. Esta tarefa exige as interações
sistemáticas, concomitantes e simultâneas de três dimensões, a saber: a) a
educação popular; b) a conscientização política; c) a organização revolucionária.
No Brasil ainda temos poucas referências de experiências pedagógicas
cientificamente abordadas sobre Cultura Corporal e Meio Ambiente. A área é
emergente, mas entendemos que é uma demanda da sociedade atual e por isso
se faz urgente reconhecer, conhecer, aprofundar teoricamente e propor
alternativas superadoras.
240
A publicação do livro “Meio Ambiente e Desporto: Uma perspectiva
Internacional” editado por Lamartine Pereira da Costa representa uma das poucas
referências teóricas que podemos acessar. O Livro conta com a contribuição de
diversos autores, muitos dos quais mencionados nas análises desta pesquisa.
É a partir desses referencias que propomos estudos e vivências
práticas no campo da Cultura Corporal e Meio Ambiente, isto significa aceitar uma
perspectiva interdisciplinar, que exige enfim, uma base social, filosófica e
metodológica unificadora, uma visão de mundo e sociedade que nos permita uma
perspectiva teleológica na nossa reflexão pedagógica, ou seja, a perspectiva de
um projeto histórico par além do capital.
Na atual conjuntura onde é preciso manter-se vivo para continuar
lutando por justiça social, dentro do que consta o acesso às práticas corporais,
elegemos as relações de trabalho, ser humano e natureza, como um sistema de
complexo a partir do qual se traçam programas escolares enquanto programas de
vida, eixos articuladores de um conhecimento que permita enfrentar a cisão entre
o homem e a terra, o homem e seus semelhantes. Enfim uma proposta para a
formação de professores, um projeto de escolarização, onde a economia política
dos trabalhadores é o centro na construção da sociedade onde, o sistema de
complexo temático “cultura corporal e meio ambiente” reflita em si o significado da
solidariedade internacional dos trabalhadores.
A semente para uma nova cultura vem do trabalho humano, e a
valorização do trabalho humano livre e não alienado, do lazer e das mais diversas
atividades relativas à cultura e mais especificamente a cultura corporal é uma
241
escola para descobrirmos que é possível uma nova maneira de fazer e conceber
as relações econômicas e sociais para além do capital.
242
8 - Limites e possibilidades para a formação de professores
Atualmente estão em discussões as diretrizes sobre a formação de
professores. Projetos antagônicos estão em confronto. Como vimos na análise
anterior à situação de reformulação curricular dos cursos de graduação da UFBA e
em especial das licenciaturas está em curso. A proposta do projeto piloto
implementando as ACC´s já é o resultado da luta que envolve por um lado às
reivindicações dos movimentos sociais e por outro, as reformas do Estado na
perspectiva do projeto neoliberal.
As análises documentais que realizamos confirmaram que a relação,
entre ser humano e a natureza, mediada pelo trabalho, é desequilibrada e
destruidora. É exatamente nas relações de trabalho que encontramos a
possibilidade de construção do conhecimento sobre a cultura corporal e meio
ambiente na formação de professores.
243
O trabalho é, portanto, categoria central na proposta de organização do
trabalho pedagógico na integração ensino, pesquisa e extensão. É também
categoria central na relação entre ser humano, cultura e natureza. Ele assume
esse valor por representar conceitualmente a garantia da vida do ser humano no
planeta, é através do trabalho que se sobrevive. Nesta perspectiva o trabalho é
princípio educativo, ou seja, a educação tem no trabalho humano, na atividade
humana para produzir a vida, a cultura, o articulador do conhecimento no
currículo.
Retomamos a hipótese preliminar de que se expressa no interior da
escola e dos cursos a organização do mundo do trabalho em geral e que esta
expressão se da por mediações presentes na organização do trabalho pedagógico
e no trato com o conhecimento. Confirmamos a hipótese ao constatar a negação
tanto de conhecimentos, conteúdos e métodos de tratar o conhecimento sobre
cultura corporal e meio ambiente na formação de professores.
Outra hipótese que confirmamos e de que é possível sim propor
alternativas de essência para alterar a organização do trabalho pedagógico que se
apresenta fragmentado, alienado e alienador para outra lógica no trato com o
conhecimento que permite compreender “o fenômeno em si” suas relações, nexos
e determinações históricas.
Podemos defender a partir daí que a categoria organização do trabalho
pedagógico e do trato com o conhecimento é moduladora de possibilidades outras
para tratar de conhecimentos emergentes, necessários e vitais no currículo. A
experiência pedagógica na ACC - Atividades Curriculares em Comunidade,
tratando do sistema de complexo temático “Cultura Corporal e Meio Ambiente” foi
244
o fio condutor empírico que viabilizou esta formulação teórica.
A partir daí compreendemos que o trabalho pedagógico na formação de
professores é uma antecipação, pacífica ou de resistência, das relações de poder
no interior das relações econômicas. (Freitas, 1991). A organização do trabalho
pedagógico a que nos referimos parte da crítica ao trabalho alienado do
capitalismo, a fragmentação do conhecimento, a reprodução social, a separação
teoria e prática que estão representados nos pares dialéticos objetivos-avaliação,
método-conteúdo, organização do trabalho-trato com o conhecimento.
A construção da ACC EDC 465 - Cultura Corporal e Meio Ambiente,
como é proposto pelo próprio projeto piloto da UFBA, integra a teoria e prática
como práxis pedagógica revolucionária porque parte da critica a práxis utilitária da
humanidade estabelecida nas relações de produção da vida.
Parte também do enfrentamento e quebra de estruturas rígidas como a
hierarquia acadêmica quando, integram pesquisadores de todos os níveis um
coletivo de estudantes da graduação e da pós-graduação, monitores (as),
coordenadores e agregados.
A construção deste projeto piloto na graduação da UFBA encontrou alguns
entraves burocráticos e políticos, que dizem respeito ao funcionamento dos cursos
como, por exemplo, muitas disciplinas de fundamentação teórica, poucas
disciplinas optativas, pouca flexibilização e atualização dos currículos,
desarticulação de conteúdos curriculares, muitos pré-requisitos, problemas com
algumas disciplinas lotadas em outros departamentos, desatualizarão
metodológica, inexistência de avaliação sistemática, não exigência de trabalhos de
245
conclusão de cursos, pouco envolvimento de professores nas questões de
currículo, dificuldade para elaborar projetos pedagógicos para os cursos, embates
quanto à definição do perfil profissional, necessidade de ampliação da pós-
graduação, número pequeno de projetos de extensão, falta de estrutura física para
os cursos e finalmente a evasão.
O enfrentamento destas dificuldades é uma tarefa do coletivo tanto no
interior da Universidade como da sociedade organizada. O pequeno exemplo da
ACC no trabalho com a comunidade deixa evidências de possibilidades.
O estudo não se encerra aqui. O conhecimento não é imutável e avança,
mediante delimitação de novos problemas científicos. O que nos cabe continuar
investigando agora são as proposições que afloram no âmbito das práticas
corporais, especificamente do esporte, em relações sociais baseada não somente
no projeto histórico capitalista, mas sim em sua radical crítica na perspectiva da
construção do projeto histórico socialista.
O que se anuncia o que se inventa, o que se reinventa, no âmbito da
cultura corporal meio ambiente, na formação de professores com possibilidade
de construção de relações econômicas populares e solidárias são questões a
serem aprofundadas.
Cabe-nos agora propormos no âmbito da educação, da política, da
organização do trabalho pedagógico, outras possibilidades de essência. Isto exige
enfrentar novas perguntas científicas. Uma delas diz respeito ao conhecimento do
real e a perspectiva de futuro e a determinação dos conteúdos curriculares,
conforme formula Suchodolski (1967) em seu livro “Fundamentos da Pedagogia
246
socialista”. Ou seja, o que e como ensinar considerando a realidade e a
perspectiva do projeto histórico.
A Sociedade Brasileira organizada em fóruns como o Fórum Nacional
em Defesa da Escola Pública, a ANPED, o CEDES e a ANFOPE, por exemplo,
encaminham reivindicações educacionais, principalmente relacionadas à
formação de professores. Defende-se uma formação docente sob uma base
comum nacional, representando um instrumento de luta pela igualdade nas
condições de formação e resistência contra a degradação da formação dos
professores conforme postula o neoliberalismo. A base comum nacional e o
padrão unitário de qualidade são indicadores para a reestruturação dos cursos de
formação de professores.
Consideramos que a formação de professores deve ser omnilateral,
permite o domínio dos conhecimentos específicos de sua área, articulado ao
conhecimento pedagógico, percebendo-se as relações existentes entre as
atividades educacionais e a totalidade das relações sociais, econômicas, políticas
e culturais sendo capaz de construir possibilidades de transformação da
realidade.
O projeto piloto da ACC da UFBA viabiliza a relação transformadora entre
Universidade e Sociedade, e entende a extensão como um campo de elaboração
científica da práxis estreitando as relações entre a comunidade acadêmica e a
sociedade. É entre o acadêmico e o popular que a produção do conhecimento
pode responder as demandas das problemáticas sociais da realidade brasileira e
mais especificamente, a regional.
247
A análise de documentos sobre Educação Ambiental nos coloca
questões imprescindíveis para entender a necessidade de trabalhar com a
temática Cultura Corporal nos cursos de formação profissional. As bases que
estruturam a sociedade capitalista representam um sistema de autodestruição. Os
principais fóruns e encontros mundiais e regionais em geral afirmam que é
possível construir uma relação entre o ser humano e a natureza sem destruição, a
partir de ações que busque a transformação das relações culturais. Isto passa
necessariamente pela reconciliação do ser humano com a terra, consigo mesmo e
com seus semelhantes, em última instância com alterações na base material de
construção da existência humana.
A educação representa um dos instrumentos de luta nesta
harmonização cultural. Mas não é qualquer educação, mas sim uma educação
que se coloque no marco da emancipação humana.
No Brasil as diretrizes educacionais afirmam que Educação Ambiental
deve estar na formação inicial e continuada de forma interdisciplinar, tratando de
estudar a complexidade ambiental nas diferentes áreas de conhecimento. Na ACC
a experiência de desenvolver as atividades intercursos nos permite construir o
conhecimento da cultura corporal e meio ambiente nas atividades curriculares em
comunidades com a contribuição de estudantes dos estudantes de áreas distintas.
Conhecimentos são mobilizados na lógica de compreender os fenômenos para
além da aparência buscando “o fenômeno em si”.
O paradigma da cultura corporal traz nos seus pressupostos teóricos
básicos elementos significativos, como o conceito de cultura como atividade
248
própria da relação entre o ser humano, trabalho e natureza, deslocando o debate
sobre atividades corporais espetaculares como o esporte para atividades que
fazem parte do cotidiano das pessoas. A cultura corporal é, portanto, uma
dimensão da vida humana que nos permite compreender e agir na base da
questão da dissociação entre o homem e a terra.
Identificamos como limites para a organização do trabalho pedagógico
na formação de professores os limites colocados no sistema capitalista como um
todo que subjuga o trabalho aos interesses do capital. A burocracia universitária, a
política publica de governos de perfil neoliberal, o trabalho alienado é expressão
dos limites gerais na organização do trabalho pedagógico. No entanto, sendo obra
dos homens o que está posto, será obra dos homens a emergência do novo no
seio do velho.
249
9 - A continuidade da problematização e novas hipóteses de estudo
Um dos maiores problemas da educação neste inicio de século é
encontrado na contradição entre a necessidade de elevação dos graus de
educação e ao aprofundamento da alienação humana. A contradição educação/
alienação necessita, portanto ser aprofundada em seus conteúdos, em sua lógica,
em suas relações e determinações.
Os impactos do projeto mundial de educação orientado pelos interesses
do capital e monitorado pelas agencias multilaterais como banco Mundial e FMI,
como a Organização Mundial do Comércio estão ainda por ser avaliada.
Podem ainda ser aprofundadas as possibilidades da construção de um
sistema de complexos temáticos no currículo, que constituam um programa de
250
escolarização, na perspectiva de um programa de vida e que exige o trabalho
como eixo articulador do conhecimento.
Provavelmente a alteração desta lógica depende, em parte, da
aproximação da universidade com os movimentos sociais de caráter
revolucionários. Mas o momento em que vivemos, contraditoriamente, tem
exposto os movimentos revolucionários a processos de cooptação, destruição,
criminalização. Isto nos leva a perguntar pelos rumos da construção de um projeto
contra hegemônico a mundialização da educação.
A pedagogia aprofunda sua crise e não responde mais aos desafios da
atualidade. No seio desta crise gesta-se proposições superadoras. Acompanhar
este embate teórico e o desenvolvimento da teoria como categorias da pratica é
nosso próximo desafio para contribuir, na continuidade dos estudos, agora no
doutorado, com a construção da teoria pedagógica da educação física.
251
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V. ANEXOS
ANEXO A
MINUTA PARECER E RESOLUÇÃO
JUSTIFICATIVA E MINUTA DE RESOLUÇÃO SOBRE DIRETRIZES
CURRICULARES
EM DISCUSSÃO NO COLEGIADO DO CURSO DE LICENCIATURA EM
EDUCAÇÃO FÍSICA E PLENO DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
DA FACED/ UFBA
MARÇO DE 2005
A presente proposta de diretrizes curriculares para o curso de licenciatura em
educação física da FACED/ UFBA está assentada em uma série de argumentos que
apresentamos a seguir na forma de um arrazoado que justifique as decisões encaminhadas.
Apresentada, enquanto minuta em discussão, decorreu de pesquisas na área de currículo e
formação de professores desenvolvidas pelo grupo LEPEL/ FACED/ UFBA, do processo
de avaliação interna e do plano estratégico para reestruturação curricular do curso de
educação física e ainda, de amplo debate que considerou os âmbitos local, estadual,
regional e nacional. Está situada entre as propostas que se colocam como alternativas ao
projeto de mundialização da educação sob os fundamentos e princípios de interesse da
mundialização do capital. Disputa, portanto, com o projeto das políticas de perfil
neoliberal, os rumos da formação de professores, especificamente dos professores de
educação física. Considera o Artigo 207 da Constituição Nacional que atribui à
Universidade o pleno exercício da autonomia acadêmica, didático-pedagógica, financeira,
de gestão e administrativa da universidade.
Para formular a proposta foram também reunidos documentos sobre o tema,
elaborados dossiês com contribuições de outros cursos, áreas, instituições, pesquisadores,
bem como, reunidos os documentos legais sobre a questão da formação de professores.
Considerou-se, também, a posição apresentada pelo CBCE, no Fórum de Campinas
em 2002, e outros fóruns de debate e discussão como o Movimento Estudantil e seus
eventos nacional e regionais, Grupos de Pesquisa de Instituições de Ensino Superior,
ENDIPE, SBPC, ANDES-SN.
Dos documentos analisados destacamos os abaixo relacionados:
1. Diretrizes para a graduação - SESu/ MEC
2. Diretrizes para formação de professores para o ensino básico fundamental
e médio;
3. Diretrizes elaboradas e propostas pelo grupo da SESu MEC área da saúde;
4. Diretrizes elaboradas e propostas pela Comissão de especialistas do MEC
5. Diretrizes propostas, aprovadas e homologadas pelo CNE
6. Diretrizes propostas por Instituições de Ensino Superior
7. Propostas para as diretrizes apresentadas por Conselhos Estaduais e pelo
Conselho Federal de Educação Física.
266
8. Proposta apresentada por entidade científica CBCE (Fórum de Campinas
2002)
9. Proposta construída juntamente com os estudantes de educação física no
ENEEF (2003 Curitiba/ PR)
A partir daí apresentamos para o debate público uma contribuição, em forma de um
arrazoado, para substituir o teor do Parecer 138 do CNE e seu dispositivo posterior Parecer
CNE/ CES 58/2004, de 18 de fevereiro de 2004 que subsidiou RESOLUÇÃO N° 7, DE
31 DE MARÇO DE 2004 , ainda em discussão no CNE e, uma Minuta de Resolução sobre
diretrizes curriculares para a Educação Física a ser definida como as diretrizes adotadas
para o Curso de Licenciatura em Educação Física da FACED/ UFBA.
Os argumentos aqui colocados que explicitam uma concepção de sociedade, projeto
histórico, educação, formação humana, cultura corporal, universidade, currículo, trabalho
pedagógico, ensino-aprendizagem, ensino-pesquisa-extensão estão assentados em uma
dada teoria do conhecimento e teoria pedagógica colocada no campo das teorias críticas e
em um dado projeto histórico que aponta para a superação do modo do capital organizar a
produção da vida na sociedade. Os argumentos apresentados servem para contribuir com o
debate local e nacional que está sendo travado, vez que existem posições antagônicas
acerca da matéria e que interesses opostos estão determinando a disputa de projetos de
formação humana e de sociedade, o que não pode ser desconhecido, principalmente no
momento em que está em curso a construção do “consenso possível”, que merece ser
questionado, vez que a base é falsa, considerando que os projetos de sociedade e de
formação humana são antagônicos.
PROPOSTA EM DISCUSSÃO ARRAZOADO PARA FUNDAMENTAR
MINUTA DE RESOLUÇÃO
1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Reconhecemos ser imperiosa a compreensão do caráter multidisciplinar que
caracteriza a formação e a atividade profissional/ acadêmica na Educação Física, como
também a necessidade da presença nos currículos de conhecimentos originários tanto do
campo das Ciências Biológicas/ Saúde como no das Ciências Humanas/ Sociais, da Terra,
das Ciências Exatas, da Filosofia e das Artes.
Na perspectiva de superar a concepção fragmentada de ciência, propomos como
matriz científica para a formação dos professores a HISTÓRIA: a história do homem e sua
relação com a natureza, dos homens entre si e consigo mesmo. Tal proposta assegura-se
quando da colocação da primeira pergunta ontológica para compreensão do ser humano
como o homem torna-se homem e como se dá o conhecimento?
A relação estabelecida pelo ser humano com a natureza e demais seres, para garantir
sua existência, dá-se no curso da história, portanto, somente a partir da história enquanto
ciência é possível tanto apreender e compreender o passado, o presente quanto o futuro do
ser humano. Ao longo da história, também se configura a cultura corporal e o trabalho
pedagógico, pontos centrais que dão identidade à atividade do professor de educação física.
267
A educação física se caracteriza historicamente pelo trabalho pedagógico, da
docência no campo da cultura corporal, ou seja, a atividade pedagógica no trato com o
conhecimento da cultura corporal. Em qualquer campo de trabalho seja de produção de
bens materiais ou imateriais educação, lazer, saúde, competição de alto rendimento,
produção de tecnologias esportivas e outros -, a atividade pedagógica e o trato com o
conhecimento da cultura corporal são as bases da formação acadêmica e do trabalho do
professor de educação física. Isto nos aponta a necessidade de considerarmos o princípio de
estruturação do conhecimento científico no currículo de formação de professores.
A docência, entendida como trabalho pedagógico, é, portanto, a identidade
profissional do professor de Educação Física. Isto pode ser verificado pelos fatos quando
nos reportamos à atividade profissional e identificamos seu sentido, significados,
finalidades, meios e métodos ao longo da história.
Caracteriza-se, também, por tratar de um campo de conhecimento que se estrutura a
partir das práticas históricas, socialmente produzidas, cientificamente estudadas e
investigadas e, criativamente ensinadas de geração a geração, referentes à cultura corporal.
A consolidação desta identidade do professor de educação física para o exercício
profissional requer, durante a sua formação acadêmica, de:
1) Sólida formação teórica de base multidisciplinar e interdisciplinar na
perspectiva da formação omnilateral;
2) Unidade entre teoria/ prática, que significa assumir uma postura em relação a
produção do conhecimento científico que impregna a organização curricular dos cursos,
tomando o trabalho como princípio educativo e como práxis social;
3) Gestão democrática que permitam a vivência e o trabalho com relações de
poder democráticas, e não autoritárias;
4) Compromisso social com ênfase na concepção sócio-histórica do trabalho,
estimulando análises políticas sobre as lutas históricas pela superação da sociedade de
classes, para que seja garantido o acesso aos bens a todos que dele participam em sua
produção, especificamente no campo da cultura corporal;
5) O trabalho coletivo, solidário e interdisciplinar, o trabalho pedagógico como
eixo articulador do conhecimento para a formação omnilateral;
6) Formação continuada para permitir a relação entre a formação inicial e
continuada no mundo do trabalho;
7) Avaliação permanente como parte integrante das atividades curriculares, de
responsabilidade coletiva a ser conduzida à luz do projeto político pedagógico da
instituição, abarcando as dimensões da avaliação da aprendizagem, do docente, dos
programas e projetos, da instituição.
2. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA PROPOSTA
As Diretrizes Curriculares para os Cursos de Licenciatura Ampliada em Educação
Física foram desenvolvidas em consonância com os princípios enunciados no Parecer n
o
.
776/97, da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CES/ CNE),
constituindo-se num conjunto articulado de princípios e de orientações que devem ser
considerados na proposição e no desenvolvimento curricular desta modalidade de curso.
Nelas, o currículo é concebido como um fenômeno histórico, resultado das relações
sociais, políticas e pedagógicas que se expressam na organização de saberes vinculados à
268
formação do ser humano. Pressupõe a organização interativa de conhecimentos pautados
nas tradições cultural e científica do nível e/ ou da área de formação, que são estabelecidos
a partir das questões que emergem do contexto sócio-cultural, superando as visões de
currículo que se caracterizam pela organização formal, linear e fragmentada de disciplinas
convencionais, e por uma excessiva carga de disciplinas obrigatórias com grandes vínculos
de pré-requisitos. A intenção é consolidar uma consistente base teórica, fazendo-o a partir
da Teoria do Conhecimento que possibilita a construção do conhecimento como categorias
da prática, permitindo a organização do conhecimento em ciclos da constatação de dados
da realidade, às sistematizações, generalizações, ampliações e aprofundamentos
configurando os sistemas de complexos temáticos que por sua vez estruturam programas
como programas de vida para a formação humana. Para consolidar uma base teórica a
prática, enquanto práxis social, deve ser o eixo articulador do conhecimento no currículo,
tendo a história como matriz científica.
Concebemos currículo, portanto, como uma referência de organização do trabalho
pedagógico que dá direção política e pedagógica à formação comum, unificadora
nacionalmente. Está relacionada ao padrão unitário de qualidade para oferecimento de
cursos e, se desdobra considerando as especificidades e particularidades do Brasil.
As Diretrizes aqui apresentadas foram formuladas a partir do reconhecimento de que
a autonomia e a flexibilidade preconizadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei nº 9394/96) são inequívocas e representam um ponto de apoio para a ação
pedagógica. A autonomia institucional diz respeito ao preceito legal, estabelecido na
Constituição Federal em seu Artigo 207.
Para garantir a unidade nacional em torno de uma consistente formação acadêmica à
área de Educação Física, assumimos a idéia da base comum nacional - que deverá permitir
uma consistente formação teórica, interdisciplinar, a unidade teoria/ prática, a gestão
democrática, o compromisso social, o trabalho coletivo, a formação continuada, a avaliação
permanente, na formação acadêmica, para que o graduado compreenda criticamente os
determinantes e as contradições do contexto em que está inserido e seja capaz de
reconhecer possibilidades, atuando na criação de condições objetivas para a transformação
social.
A base comum nacional deverá, portanto, permitir o domínio do conhecimento e seus
meios de produção, em uma perspectiva de totalidade, radicalidade e de conjunto, do
conhecimento produzido e que permita relações e ações transformadoras na realidade,
tendo no horizonte um projeto histórico de superação do modo do capital organizar a vida
na sociedade modo este criado nas relações humanas, com caráter duplo,
contraditoriamente, de desenvolvimento das forças produtivas e de sua concomitante
destruição. Em sendo resultante de ação humana é, portanto, factível de ser alterado.
A partir dessas considerações gerais, as Diretrizes Curriculares para os Cursos de
Licenciatura Ampliada em Educação Física foram desenvolvidas de modo a:
Assegurar a autonomia das Instituições de Ensino Superior na composição
da carga horária e duração dos cursos, bem como na especificação das unidades de estudo,
observando-se o indicado na resolução que decorre deste parecer;
Assegurar a sólida formação básica na área e o aprofundamento de estudos em
campos temáticos de ação profissional ou de formação acadêmica, principalmente os que
são motivo de estudos e investigações pelos grupos de pesquisa da instituição;
269
Assegurar um processo de formação crítica que considere a articulação entre os
conhecimentos de fundamentação e da atividade profissional com as dimensões política,
humana e sociocultural;
Indicar os campos de conhecimento que comporão o currículo;
Estimular e aproveitar práticas independentes, visando estudo de formação
complementar para fins de integralização do curso;
Encorajar o reconhecimento de conhecimentos adquiridos fora do ambiente
universitário, inclusive experiências profissionais relevantes para a área de formação;
Fortalecer as unidades teoria-prática, tendo a prática como eixo articulador do
currículo, a pesquisa como princípio educativo, por meio de atividades planejadas e
sistematizadas em pesquisas, estágios, monitorias e atividades curriculares em
comunidades e de extensão que deverão constituir-se como atividades essenciais do
currículo da graduação;
Nortear a formação acadêmica tendo como referência os critérios da atualidade, da
adequabilidade às capacidades dos estudantes, a discussão acumulada pela área, bem como
as referências cientificamente atualizadas em áreas afins, que se mostram relevantes para a
formação e para responder aos desafios educacionais da contemporaneidade;
Compreende uma concepção de formação humana omnilateral, em contra-ponto a
concepção de competências, não incorrendo o reducionismo que induz a formação a um
sentido meramente instrumental, mas sim, como uma política global que compreende
dimensões humanas como a científica, pedagógica, técnica, ético-moral e política.
Assegurar tanto o domínio dos meios de produção do conhecimento as categorias
e leis do pensamento científico -, quanto os instrumentos referentes a métodos e técnicas de
pesquisa, bem como, o acumulado historicamente acerca da cultura corporal objeto de
estudo dos cursos de formação do professor de educação física.
3. DADOS DA PROPOSTA
3.1. DENOMINAÇÃO DO CURSO: Licenciatura Ampliada em Educação
Física. Entendendo-se aqui como licenciado o que está apto a agir, atuar, desenvolver a
atividade docente em diferentes campos de trabalho, mediado pelo objeto cultura
corporal.
3.2. PERFIL DO GRADUADO:
Licenciado Pleno em Educação Física com formação pautada em princípios éticos,
políticos, pedagógicos e com base no rigor científico, de natureza generalista, humanista,
crítica e reflexiva.
Profissional qualificado para o exercício de atividades profissionais no campo da
cultura corporal, que tenham como objeto as atividades corporais e esportivas, entendida
como um campo de estudo e ação profissional multidisciplinar cuja finalidade é possibilitar
a todo cidadão o acesso aos meios e ao acumulado historicamente, e que possibilite a
construção deste acervo compreendido como direito inalienável de todos os povos, parte
importante do patrimônio histórico da humanidade e do processo de construção da
individualidade humana.
3.3. O TRABALHO O MUNDO DO TRABALHO, OS CAMPOS DE
TRABALHO E O MERCADO DE TRABALHO.
270
Para fundamentar as diretrizes curriculares, estamos nos valendo da realidade do
trabalho estabelecendo referências claras sobre o que entendemos a respeito do trabalho
humano, dos campos de trabalho e do mercado de trabalho.
O conceito de trabalho humano com o qual lidamos nos diz que “O primeiro pressuposto
de toda a história humana é naturalmente a existência de indivíduos humanos vivos” (MARX,
1987, p. 27). E para se manter vivo, teve o homem que produzir seus meios de vida, meios
estes que foram sendo modificados no curso da história, pelas ações dos próprios homens, em
contato com a natureza, com os outros homens e consigo mesmo. Esta produção dos meios de
vida, que tanto gera bens materiais quanto espirituais, se deu com base no trabalho humano.
O trabalho é uma condição da existência humana, independentemente de qual seja a
forma de sociedade. Ainda segundo MARX (1987), o trabalho é uma necessidade que medeia
o metabolismo entre o homem e a natureza e, portanto, o da própria vida humana. O processo
de trabalho é uma condição da existência humana; é comum a todas as formas de sociedade,
mas se diferencia pelas relações sociais estabelecidas.
O trabalho útil ou trabalho concreto é uma atividade produtiva de um determinado tipo,
que visa a um objetivo determinado; seu produto é um valor de uso. O trabalho abstrato, ou
trabalho socialmente necessário, por sua vez, é o dispêndio de força de trabalho humana que
cria valor, mas com aspecto diferente. Está relacionado com a medida quantitativa do valor,
pois determina a magnitute do valor, e está relacionado com o tempo de trabalho socialmente
necessário à produção de um produto.
O trabalho útil, concreto, e o trabalho abstrato ou socialmente necessário são, portanto,
uma mesma atividade considerada em seus aspectos diferentes. Ao desenvolver esta
conceituação, MARX leva em conta que o trabalho abstrato é uma abstração social, um
processo social real bem específico do capitalismo.
O processo de trabalho é aquele em que o trabalho é materializado em valor de uso,
resultante da interação entre as pessoas e a natureza, ocorrendo aí modificações com base em
propósitos humanos.
Constituem elementos do processo de trabalho: o trabalho em si, enquanto atividade
produtiva com um objetivo; os objetos ou processos sob os quais o trabalho é realizado; e os
meios que facilitam o processo de trabalho.
Todo o produto do trabalho que entra no processo de troca converte-se em mercadoria.
Tudo o que o homem produz, inclusive sua própria força de trabalho para gerar algo, é
mercantilizado, pois no processo de trabalho isto passa a ser trocado por outras mercadorias.
Portanto, a mercadoria é a forma que os produtos, resultantes do trabalho humano,
assumem quando a produção é organizada por meio da troca. A mercadoria assume valor de
uso por satisfazer alguma necessidade humana e adquire também um valor de troca por obter,
por seu intermédio, outra mercadoria que serve como valor de uso.
O trabalho converte-se em valor de troca tornando-se única “mercadoria” de uma
parcela dos homens vendida por salários (MARX, 1989, p. 41-93). Estas relações de troca
estabelecem referências de campos de trabalho no caso da educação física, os campos da
educação, lazer, saúde, treino, entre outros e os mercados de trabalho, considerados os locais
específicos onde ocorre a troca de mercadorias, ou seja, o trabalhador vende sua força de
trabalho, em troca de salário.
Entre os produtos que o trabalho do homem é capaz de gerar, existem aqueles que são
produtos materiais, que se integram à lógica do valor de troca e se transformam em
mercadoria nas relações sociais capitalistas. Mas existem também os produtos não-materiais
que não se conformam facilmente à lógica capitalista de valor de troca. Encontramos aí os
271
produtos que são consumidos no ato da produção, como o é a aula de um professor. Aqui
estamos privilegiando este tipo de produto não material, que se consome no ato de produção, e
que, apesar das resistências, está sujeito ao processo de mercantilização, sofrendo alterações
em suas qualidades mais intímas (MARX, 1969, pp. 108-20).
Ao analisar o processo de trabalho, MARX deixa evidente que a utilização da força de
trabalho é o próprio trabalho, e que a força de trabalho em ação é o próprio trabalhador que
vai reaparecer em forma de mercadoria, mercadoria esta trocada por salários com os quais os
trabalhadores obtêm seus meios de subsistência (1989, p. 201).
Portanto, em troca dos meios de subsistência, o trabalhador vende sua força de trabalho.
Esta, além de pagar a si mesma, agrega valor à mercadoria durante o processo de produção,
aumentando o seu valor de troca.
Esta forma específica de apropriação dos resultados do trabalho excedente não-pago, ou
seja, sem que um equivalente seja dado em troca, é a extração da mais-valia, que é a forma
específica que assume a exploração no modo de produção capitalista. É o processo de
objetivação do trabalho não-pago (MARX, 1969, p. 57). É a etapa da evolução sócio-
econômica em que a exploração não ocorre mais na forma grosseira da apropriação de
homens através da escravidão ou servidão, mas na forma de apropriação do trabalho etapa
em que o trabalhador não é condição de produção, mas somente o seu trabalho, que é
apropriado por meio de troca.
Se o trabalho puder ser executado por máquinas, tanto melhor. A determinação
capitalista do trabalho é, portanto, a destruição do trabalhador, a negação de sua liberdade, a
sua alienação. Toda a produção capitalista tem esta característica: em vez de dominar as
condições de trabalho, o trabalhador é dominado por elas.
A força de trabalho é, portanto, na sociedade capitalista, uma mercadoria, mas é uma
mercadoria especial, visto que cria valores. Enquanto fonte de valor, gera valor maior do que
ela própria possui.
E para ampliar ao máximo as possibilidades desta fonte de valor, o capital se desenvolve
e se mantém enquanto relações econômicas e sociais, engendrando formas para a sua
perpetuação, segundo suas próprias leis.
É nesse quadro referencial teórico que pretendemos compreender o trabalho no campo
da Educação Física, mais especificamente, sua objetivação na formação de profissionais do
ensino nos cursos de Licenciatura Ampliada e responder à problemática sobre a
materialização das relações de trabalho capitalista no processo de trabalho pedagógico e no
trato com o conhecimento no Curso de Licenciatura Ampliada em Educação Física.
Privilegiamos esta abordagem por reconhecermos que a Educação Física, dentro do
modo de produção capitalista, desenvolve-se a partir do confronto e do conflito entre os
interesses de classes sociais antagônicas, na luta pela hegemonia de seus projetos históricos.
Confrontam-se, portanto, forças sociais e políticas que estão relacionadas com a estrutura
social, com a divisão da sociedade em classes sociais.
Consideramos imprescindível a explicitação não só dessas posições - visto que estamos
tratando do rumo que deve ter, dentro de determinado projeto histórico, a formação dos
professores de educação física -, como do papel que vêm exercendo a organização do trabalho
pedagógico, a produção e a apropriação do conhecimento, dentro de uma dada conjuntura, de
reconstituição mundial do capital frente ao agravamento da crise do capitalismo.
É nesta perspectiva que entendemos que devam ser colocadas as contribuições advindas
de segmentos sociais organizados em torno da formação do professor de educação física, para
272
levantar dados desta realidade, compreendê-los, interpretá-los, explicá-los e atuar sobre eles, à
luz dos interesses de classe.
A Educação Física é um campo profissional tradicional e contraditório existente no
Brasil. Sofre, como todos os campos de atuação profissional, os mesmos determinantes
próprios de uma sociedade organizada em classes onde a maioria da população não tem
acesso aos bens culturalmente produzidos.
Está localizada enquanto área de conhecimento em campos que fazem interface com
o das ciências humanas e sociais, saúde e ciências da terra, com a filosofia e as artes.
A relevância, importância, legalidade e legitimidade da educação física também
apresenta profundas contradições visto ser ela um bem cultural, produzido socialmente,
apropriado historicamente. Logo, como vivemos em uma sociedade de classes a
apropriação, o conhecimento e reconhecimento deste bem está na dependência da situação
de classe e da consciência histórica da classe, ou seja, de sua capacidade de organização,
reivindicação e conquistas.
No que diz respeito aos professores, estão sujeitos, como os trabalhadores em geral, a
um processo de destruição, visto vivermos um período de forte tendência à destruição das
forças produtivas, pela decomposição acelerada do modo de produção capitalista.
Quanto às inovações, estas existem, como os avanços científicos e tecnológicos, mas
contraditoriamente, estão colocados no marco da dependência dos grandes centros
internacionais e são de acesso a poucos, o que se expressa no grande número de marcas e
de atletas que buscam superar as dificuldades nacionais recorrendo aos centros desportivos
no exterior.
Por entendermos a necessidade de mudanças profundas e urgentes na formação do
professor de Educação Física para que o mundo do trabalho, os campos de trabalho e o
mercado de trabalho sejam entendidos, compreendidos e reestruturados na perspectiva dos
interesses dos trabalhadores e não na lógica do capital , é que estamos nos propondo a
identificar uma política global de formação do professor de Educação Física que permita
uma consistente básica teórica para a atividade pedagógica no campo da cultura corporal.
3.4. A POLÍTICA GLOBAL DE FORMAÇÃO:
A política global de formação que dará identidade profissional e que é
necessariamente caracterizada historicamente pelo trabalho profissional tem o ato
pedagógico no trato com o conhecimento acerca da cultura corporal como identidade,
abrangendo as dimensões humana e político-social, e tem por finalidade a formação
omnilateral que significa, em última instância a superação da formação unilateral,
altamente especializada e limitada.
A configuração das dimensões científicas, técnicas, pedagógicas, éticas, morais e
políticas deve ser a concepção nuclear na orientação do currículo de formação inicial do
professor de Educação Física. Além de dominar os processos lógicos de construção e os
meios, técnicas e métodos de produção do conhecimento científico que fundamentam e
orientam sua ação profissional, é imperioso que saiba mobilizar esses conhecimentos,
transformando-os em ação moral, ética e política libertadoras, emancipatórias, na
perspectiva da superação da sociedade de classes e, portanto, na perspectiva de uma
filosofia da práxis social.
273
O professor de Educação Física, além do domínio dos conhecimentos específicos para
sua ação profissional deve, necessariamente, compreender e enfrentar as questões
envolvidas com o trabalho capitalista, seu caráter e organização. Isto implica em
compreender e agir sobre o duplo caráter que assume o trabalho, um ontológico de
formação do ser humano e outro de trabalho alienado no modo de produção capitalista.
Nesta perspectiva deve-se criticar a base técnica e tecnológica do trabalho do professor de
educação física e buscar a construção de novas bases científicas para organização do
trabalho, a saber, um trabalho na linha do trabalhar emancipatório, solidário, em grupo,
com autonomia e auto-organização, para tomar decisões, bem como se responsabilizar
pelas opções feitas. É preciso também que o professor saiba avaliar criticamente sua
própria atuação e o contexto em que atua, e que saiba interagir cooperativamente tanto com
sua comunidade profissional, quanto com a sociedade em geral.
O desenvolvimento de tais dimensões requeridas na formação do professor de
Educação Física deverá ocorrer a partir de experiências de interação teoria e prática, em
que toda a sistematização teórica deve ser articulada com as situações de ação profissional
balizadas por posicionamentos reflexivos com consistência e coerência conceitual.
Tais dimensões da formação humana não podem ser adquiridas apenas no plano
teórico, dos fundamentos, nem no estritamente instrumental. É imprescindível, portanto,
que haja coerência entre a formação oferecida, as exigências práticas esperadas do futuro
profissional e a necessidade de emancipação e democratização política, humana e
sociocultural.
Portanto, tais dimensões da formação humana não podem ser compreendidas e nem
reduzidas às dimensões do aprender a aprender, do aprender a fazer, do aprender a ser e
aprender a conviver. Implicam também a consciência de classe, a formação política e a
organização revolucionária.
O pressuposto dessas diretrizes identifica-se, portanto, com uma concepção de
currículo compreendido como processo de formação da competência humana histórica para
a emancipação. Sendo assim, a formação é, sobretudo, a condição de refazer
permanentemente as relações com a sociedade e a natureza, objetivando a superação da
alienação humana.
Nesta perspectiva, a formação em Educação Física deve privilegiar:
A cultura científica de base em ciências humanas, da terra, exatas, sociais e
biológicas de modo a contribuir para formação humana emancipatória e omnilateral, para a
adequação e o enriquecimento da ação profissional ética, bem como para possibilitar que a
cultura corporal, tematizada nas manifestações clássicas e emergentes da Educação Física,
seja compreendida e analisada a partir da articulação das suas dimensões científica, técnica,
moral e ética, política, pedagógica;
A capacidade para analisar reflexivamente e para agir eticamente nas situações da
atividade profissional, a partir de uma atitude crítica identificada com os ideais e valores de
uma sociedade democrática que supere as relações do modo de produção capitalista;
O domínio tanto dos meios de produção como de conhecimentos clássicos e
essenciais relacionados à cultura geral e à formação específica que são objetos das
atividades humanas e profissionais, adequando-os às necessidades de emancipação
sociocultural dos seres humanos e ao desenvolvimento democrático da sociedade;
274
A atitude crítico-reflexiva sobre os resultados de pesquisa para a adequação e o
aprimoramento das ações humana e profissional em prol da consecução dos objetivos
específicos e de formação sociocultural planejados para o público alvo e a sociedade em
geral;
A compreensão e o domínio do processo de ação profissional nos campos de
trabalho relacionados à tradição e com base no emergente da área e nas suas relações com o
contexto no qual estão inseridos;
A resolução de problemas concretos da prática profissional e da dinâmica das
instituições afins, zelando pela aprendizagem e pelo desenvolvimento das pessoas;
A consideração crítica das características, interesses e necessidades das pessoas nos
momentos de planejamento, aplicação e avaliação dos programas de intervenção
profissional;
A sistematização e socialização da reflexão sobre a prática profissional;
A compreensão e as implicações sociocultural, política, econômica e ambiental do
campo da cultura corporal e esportiva de modo a agir de forma crítica-reflexiva;
A demonstração da capacidade de lidar crítica e autonomamente com a literatura
pertinente e atualizada e com os diversos tipos de produção dos conhecimentos afins,
reconhecendo a transitoriedade dos mesmos;
O uso de recursos da tecnologia da informação e da comunicação de forma a
ampliar e diversificar as formas de interagir e compartilhar com as fontes de produção e
difusão de conhecimentos e de tecnologias, bem como para qualificar a intervenção
profissional;
A demonstração de sentido de cooperação, auto-determinação, auto-organização,
solidariedade na relação com as pessoas, clareza, adequação e objetividade nas formas de
comunicação escrita, verbal e não-verbal e desenvoltura no fazer didático, de modo a
conduzir e compartilhar adequadamente sua atividade profissional;
A capacidade de argumentação de modo a saber justificar e articular sua visão de
mundo e sua prática profissional com a construção do projeto histórico para além do
capital, bem como balizar sua ação profissional à luz da crítica às teorias produzidas a
partir dos campos de conhecimento específicos e afins.
As dimensões gerais da formação deverão ser contextualizadas e complementadas
considerando as relações entre o geral da formação humana, o específico próprio à ação do
professor, em particular do professor de Educação Física, definidas pela Instituição de
Ensino Superior.
4. CONTEÚDOS CURRICULARES:
O conhecimento é fruto da práxis humana e a origem dos conteúdos decorre da
atividade prática do homem para atender interesses específicos de classes sociais
específicas. Os fenômenos da realidade são parte de um processo inerente ao
desenvolvimento histórico geral e por isso a cientificidade e historicidade do processo
cognitivo. O pensamento teórico científico explica que a base e o critério para separar as
classes de objetos são os diferentes tipos de atividade encaminhadas a satisfazer
necessidades sociais. Assim faz-se evidente que o objeto de estudo da Educação Física é o
fenômeno das práticas cuja conexão geral ou primigênia essência do objeto e o nexo
interno das suas propriedades determinante do seu conteúdo e estrutura de totalidade, é
275
dada pela materialização em forma de atividades sejam criativas ou imitativas das
relações múltiplas de experiências ideológicas, políticas, filosóficas e outras, subordinadas
às leis histórico-sociais. O geral dessas atividades é que são valorizadas em si mesmas; seu
produto não material é inseparável do ato da produção e recebe do homem um valor de uso
particular por atender aos seus sentidos lúdicos, estéticos, artísticos, agonísticos,
competitivos e outros relacionados à sua realidade e às suas motivações. Elas se realizam
com modelos socialmente elaborados que são portadores de significados ideais do mundo
objetal, das suas propriedades, nexos e relações descobertos pela prática social conjunta.
No momento damos, a essa área de conhecimento que se constrói a partir dessas atividades,
a denominação de “Cultura Corporal”.
Os currículos plenos para os Cursos de Licenciatura Ampliada em Educação Física
terão, portanto, como objeto a cultura corporal, como eixo articulador do conhecimento a
prática social (práxis) e como matriz científica a história.
Os conhecimentos serão tratados por sistemas de complexos temáticos e relacionados
a: Conhecimentos de Formação Ampliada, Conhecimento Identificador da Área e
Conhecimento Identificador do Aprofundamento de Estudos.
Os Conhecimentos de Formação Ampliada são aqueles que permitem uma
compreensão de conjunto, radical e de totalidade comum a qualquer tipo de formação
profissional. Compreendem os estudos acerca das relações do ser humano com a natureza,
com os demais seres humanos na sociedade, com o trabalho e com a educação.
O Curso de Licenciatura Ampliada em Educação Física, nesta parte, será guiado pelo
critério da orientação científica, da integração teoria-prática e pelo critério do
conhecimento das relações do ser humano, do mundo do trabalho, da cultura corporal e da
sociedade. Isto possibilitará uma formação abrangente para a competência profissional de
um trabalho em contextos histórico-sociais específicos, promovendo um contínuo diálogo
entre as áreas de conhecimento científico e a especificidade da Educação Física. Guiar-se-
á, também, pelo estudo das distintas manifestações clássicas e emergentes da cultura
corporal & esportiva, identificadas com a tradição da Educação Física.
O Conhecimento Identificador da Área compreende o estudo das relações entre
cultura corporal e natureza humana, cultura corporal e territorialidade, cultura corporal e
mundo do trabalho, cultura corporal e política cultural.
Os Conhecimentos Identificadores do Aprofundamento do Estudo serão delimitados
por cada Instituição de Ensino Superior (IES), partindo de sua capacidade de investigação,
de sua instalação de grupos de pesquisa, de seus programas de pós-graduação integrados
com a graduação. Desta estrutura de organização e sistematização do conhecimento, a IES
poderá propor um ou mais campos de aprofundamento de estudos, de acordo com suas
investigações, grupos e linhas de estudos e pesquisas a ser organizado a partir dos
complexos temáticos.
Quanto ao tempo de integralização dos Cursos de Licenciatura Ampliada em
Educação Física será definido pelas Instituições de Ensino Superior, respeitando o mínimo
de duração e de carga horária de 4 anos e de 2.800 h, respectivamente, das quais 800 horas
serão destinadas à prática do ensino e estágio supervisionado, 1.800 para os conteúdos
científico-culturais e 200 horas para outras formas de atividades acadêmico-científicas.
A Prática do Ensino e o Estágio Profissional Curricular Supervisionado são
obrigatórios, devendo ser desenvolvidos em campos de ação profissional e com
cumprimento de carga horária mínima de acordo com legislação específica do CNE, a
saber, de 400 horas para a Prática do Ensino e 400 para o Estágio Profissional Curricular
276
Supervisionado. O Estágio e a Prática de Ensino deverão ser implementados ao longo do
curso em ciclos de ensino, estruturados para viabilizarem a articulação da produção do
conhecimento científico a partir da prática. A Prática do Ensino compreenderá os ciclos de
constatação de dados da realidade, sistematizações, generalizações, confrontos de teorias,
ampliação e aprofundamento com vivências e experiências práticas em projetos de pesquisa
sob a coordenação e orientação de professores pesquisadores da instituição. O Estágio
Profissional Curricular Supervisionado somente iniciará na metade do curso, metade da
carga horária total cumprida e contará, além da orientação de professor do Curso, com
supervisão, que deve ser de profissionais formados, devidamente contratados nos locais de
trabalho.
Para os cursos de Licenciatura Ampliada de Educação Física será exigida a orientação
científica desde o primeiro ciclo de formação, com inserção em grupos e linhas de
pesquisa, que culminará, também, na elaboração de um trabalho de conclusão de curso, sob
forma de monografia de base, a partir de orientação acadêmica de professores
pesquisadores.
As atividades complementares deverão ser implementadas, acompanhadas e avaliadas
durante todo o curso. As Instituições de Ensino Superior criarão mecanismos para
aproveitamento dos conhecimentos adquiridos pelo estudante por meio de estudos e
práticas independentes presenciais e/ou à distância.
A avaliação do Curso, dos docentes e discentes será permanente, integrada às
atividades curriculares, tendo como referência o padrão nacional unitário de qualidade e, a
base comum nacional para a formação de professores, para a consolidação de uma
consistente base teórica interdisciplinar na formação acadêmica da graduação.
5. CONSIDERAÇÕES GERAIS
O Curso de Licenciatura Ampliada em Educação Física deverá ter um projeto
pedagógico construído coletivamente por meio da articulação entre ensino, pesquisa e
extensão, referenciado em um projeto histórico claro e explícito, que supere as relações do
modelo do capital organizar a vida na sociedade e, que tenha como matriz científica a
história e como eixo articulador do conhecimento a prática enquanto práxis social. O
currículo do Curso de Licenciatura Ampliada em Educação Física deverá, necessariamente,
ser estruturado tendo as atividades de pesquisa e de extensão como mediadora da formação.
A pesquisa como possibilidade de acesso ao conjunto de conhecimentos produzidos, aos
seus modos de produção e como instância de reflexão crítica sobre a realidade; a Extensão
considerada como possibilidade de interlocução e ação na realidade social, a partir da
pesquisa.
277
ANEXO B
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR
MINUTA DE RESOLUÇÃO.
Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de
Licenciatura Ampliada em Educação Física.
O Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, tendo
em vista o disposto no Art. 9º, do § 2º, alínea “C”, da Lei 9.131, de 25 de novembro de
1995, e com fundamento no Parecer CNE/CES _____/____, de __ de ______ de_____,
peça indispensável do conjunto das presentes Diretrizes Curriculares Nacionais,
homologado pelo Senhor Ministro da Educação em __ de _________ de ___, RESOLVE:
Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Licenciatura Ampliada em Educação Física, a serem observadas na organização curricular
das Instituições do Sistema de Educação Superior do País.
Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Licenciatura Ampliada em
Educação Física definem os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da
formação de professores de Educação Física, estabelecidas pela Câmara de Educação
Superior do Conselho Nacional de Educação, para aplicação em âmbito nacional na
organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos Cursos de
Licenciatura Ampliada em Educação Física das Instituições do Sistema de Ensino Superior.
Art. 3º A Educação Física é um campo acadêmico-profissional que se fundamenta em
conhecimentos das ciências humanas, sociais, da saúde, exatas e da terra, da arte e da
filosofia. Portanto, sua matriz científica é a história, do homem, da natureza e suas relações,
contradições e possibilidades.
Art. 4º O Curso de Licenciatura Ampliada em Educação Física deverá assegurar uma
formação generalista, humanista e crítica, qualificadora da atividade acadêmico-
profissional, fundamentada no rigor científico e na reflexão filosófica tendo o trabalho
como princípio educativo.
Parágrafo Único O Curso de Licenciatura Ampliada em Educação Física deverá estar
qualificado para conhecer, compreender e analisar criticamente a realidade social para nela
agir por meio das diferentes manifestações e expressões da cultura corporal.
Art. 5º A estrutura curricular do Curso de Licenciatura Ampliada Educação Física deverá
pautar-se em uma política global de formação humana omnilateral que observe os
seguintes princípios:
1) trabalho pedagógico como base da identidade do professor de Educação Física;
2) compromisso social da formação na perspectiva da superação da sociedade de classes e
do modo do capital organizar a vida;
3) sólida e consistente formação teórica;
4) articulação entre ensino, pesquisa e extensão;
5) indissociabilidade teoria-prática;
6) tratamento coletivo, interdisciplinar e solidário na produção do conhecimento científico;
7) articulação entre conhecimentos de formação ampliada, formação específica e
aprofundamento temático, a partir de sistemas de complexos temáticos que assegurem a
compreensão radical, de totalidade, e de conjunto da realidade, na perspectiva da superação.
278
8) avaliação em todos os âmbitos e dimensões (estudante, professor, técnico-
administrativos, gestores, planos, projetos e instituição), permanentemente.
9) formação continuada;
10) respeito à autonomia institucional;
11) gestão democrática;
12) condições objetivas adequadas de trabalho;
13) financiamento público para o ensino-pesquisa público.
Art. 6º A identidade profissional baseada no trabalho pedagógico e a formação humana
no sentido amplo, omnilateral, de natureza político-social, ético-moral, científico-
pedagógica e técnico-profissional, deverão constituir a concepção nuclear do currículo de
formação do licenciado em Educação Física.
Art. 7º O currículo para o Curso de Licenciatura Ampliada em Educação Física será
constituído por Conhecimentos de Formação Ampliada, Conhecimentos Identificadores da
Área da Educação Física e Conhecimentos Identificadores do Aprofundamento dos
Estudos. 50% destes conhecimentos serão organizados em disciplinas e atividades de
caráter obrigatório e 50% de caráter opcional.
Parágrafo 1º Os Conhecimentos de Formação Ampliada abrangem as seguintes
dimensões:
a) Relação ser humano natureza
b) Relação ser humano sociedade
c) Relação ser humano trabalho
d) Relação ser humano educação
Parágrafo 2º Os Conhecimentos Identificadores da Área da Educação Física abrangem as
seguintes dimensões:
a) Cultura corporal e natureza humana
b) Cultura corporal e territorialidade
c) Cultura corporal e trabalho
d) Cultura corporal e política cultural
Parágrafo 3º Os Conhecimentos Identificadores do Aprofundamento dos Estudos são
compreendidos como o conjunto de fundamentos específicos que tratam de singularidades e
particularidades na elaboração, implantação, implementação e avaliação das ações
acadêmico-profissionais em sistemas de complexos temáticos.
I Cada Instituição de Ensino Superior deverá propor seus sistemas de complexos
temáticos, definindo a articulação de conhecimentos e experiências que os caracterizarão
devendo para tanto, desenvolverem-se condições para as ações de ensino-pesquisa-
extensão.
Art. 8º O tempo de integralização do Curso de Licenciatura Ampliada em Educação
Física será definido pelas Instituições de Ensino Superior, respeitando o mínimo de duração
e de carga horária de 4 anos e de 2.800 horas, respectivamente.
Parágrafo Único Da carga horária total, 30% (trinta por cento) será destinada ao
Conhecimento de Formação Ampliada, 40% aos Conhecimentos Identificadores da
Educação Física, e 30% aos Conhecimentos Identificadores de Aprofundamento de
Estudos, admitindo-se uma variação de até 5% para mais ou para menos. Do total 50% são
créditos em disciplinas ou atividades de caráter obrigatório e 50% créditos opcionais.
Art. 9º A Prática de Ensino será desenvolvida desde o início do curso e deverá respeitar
um mínimo de 400 horas e o Estágio Profissional Curricular Supervisionado será
obrigatório, a partir do cumprimento de 50% da carga horária total para integralizar o
279
currículo, respeitando o mínimo de 400 horas, sendo, necessariamente, supervisionado pela
instituição formadora e articulado a projetos de ensino-pesquisa-extensão.
Parágrafo 1º Da carga horária total do Estágio Profissional Curricular Supervisionado,
60% deverá ser cumprida em diferentes campos de trabalho da Educação Física ao longo do
curso saúde, educação, lazer, treino de alto rendimento e, 40% no campo de trabalho
vinculado ao sistema de complexo temático de aprofundamento.
Parágrafo 2º A carga horária do Estágio Profissional Curricular Supervisionado a ser
cumprida ao longo do curso deverá ser computada no conjunto da carga horária destinada
aos Conhecimentos Identificadores da Educação Física.
Parágrafo 3º A carga horária do Estágio Profissional Curricular Supervisionado a ser
cumprida no campo de trabalho vinculado ao sistema de complexo temático de
aprofundamento deverá ser computada no conjunto da carga horária destinada aos
Conhecimentos do Campo de Aprofundamento.
Art. 10 Para os Cursos de Licenciatura Ampliada em Educação Física será exigida a
iniciação científica orientada por professores pesquisadores articulados a grupos e linhas de
pesquisa, financiada com recursos públicos, que culmine com a elaboração de um trabalho
científico de conclusão, que caracterize uma monografia de base, articulados aos programas
de iniciação científica, na forma definida pela própria Instituição de Ensino Superior.
Art. 11 As atividades complementares deverão perfazer 200 horas e serem incrementadas
ao longo do curso, devendo ser entendidas como conhecimentos adquiridos de forma
autônoma pelo graduando por meio de estudos e de práticas independentes, presenciais e/ou
à distância, sob a forma de estágios extracurriculares, programas de extensão, congressos,
seminários e cursos, atividades estas a serem avaliadas e reconhecidas pela Instituição de
Ensino Superior.
Art. 12 Na organização do Curso de Licenciatura Ampliada em Educação Física deverá
ser indicada a modalidade: seriada anual, seriada semestral, sistema de créditos ou modular.
Art. 13 O Curso de Licenciatura Ampliada em Educação Física deverá obedecer à
legislação específica emanada do Conselho Nacional de Educação para a Formação de
Professores da Educação Básica.
Art. 14 A implantação e o desenvolvimento do projeto pedagógico do Curso de
Licenciatura Ampliada em Educação Física deverão ser acompanhados e permanentemente
avaliados, a fim de permitir os ajustes que se fizerem necessários a sua contextualização e
aperfeiçoamento.
Parágrafo 1º A avaliação dos graduandos deverá basear-se nos princípios norteadores que
assegurem uma consistente base teórica e as dimensões da formação omnilateral de
natureza político-social, ético-moral, científico-pedagógica e técnico-profissional e
estabelecer nexos com a avaliação docente, dos planos e programas e avaliação
institucional.
Parágrafo 2º As metodologias e critérios empregados para acompanhamento e avaliação
do processo ensino-aprendizagem e do próprio projeto pedagógico do curso deverão estar
em consonância com o sistema de avaliação e o contexto curricular adotados pela
Instituição de Ensino Superior.
Art. 15 Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.
Brasília, DF, ______de________________ de________
Presidente da CES/CNE
280
ANEXO C
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR
RESOLUÇÃO N° 7, DE 31 DE MARÇO DE 2004. (*)
Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de
graduação em Educação Física, em nível superior de
graduação plena.
O Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, tendo em
vista o disposto no Art. 9º, do § 2º, alínea “c”, da Lei 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com
fundamento no Parecer CNE/CES 58/2004, de 18 de fevereiro de 2004, peça indispensável do
conjunto das presentes Diretrizes Curriculares Nacionais, homologado pelo Senhor Ministro de
Estado da Educação em 18 de março de 2004, resolve:
Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação
em Educação Física, em nível superior de graduação plena, assim como estabelece orientações
específicas para a licenciatura plena em Educação Física, nos termos definidos nas Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica.
Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de graduados em Educação Física
definem os princípios, as condições e os procedimentos para a formação dos profissionais de
Educação Física, estabelecidos pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de
Educação, para aplicação em âmbito nacional na organização, no desenvolvimento e na avaliação
do projeto pedagógico dos cursos de graduação em Educação Física das Instituições do Sistema de
Ensino Superior.
Art. 3º A Educação Física é uma área de conhecimento e de intervenção acadêmico-profissional que
tem como objeto de estudo e de aplicação o movimento humano, com foco nas diferentes formas e
modalidades do exercício físico, da ginástica, do jogo, do esporte, da luta/arte marcial, da dança, nas
perspectivas da prevenção de problemas de agravo da saúde, promoção, proteção e reabilitação da
saúde, da formação cultural, da educação e da reeducação motora, do rendimento físico-esportivo,
do lazer, da gestão de empreendimentos relacionados às atividades físicas, recreativas e esportivas,
281
além de outros campos que oportunizem ou venham a oportunizar a prática de atividades físicas,
recreativas e esportivas.
Art. 4º O curso de graduação em Educação Física deverá assegurar uma formação generalista,
humanista e crítica, qualificadora da intervenção acadêmico-profissional, fundamentada no rigor
científico, na reflexão filosófica e na conduta ética.
§ 1º O graduado em Educação Física deverá estar qualificado para analisar criticamente a realidade
social, para nela intervir acadêmica e profissionalmente por meio das diferentes manifestações e
expressões do movimento humano, visando à formação, a ampliação e o enriquecimento cultural
das pessoas, para aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e
saudável.
§ 2º O Professor da Educação Básica, licenciatura plena em Educação Física, deverá estar
qualificado para a docência deste componente curricular na educação básica, tendo como referência
a legislação própria do Conselho Nacional de Educação, bem como as orientações específicas para
esta formação tratadas nesta Resolução.
Art. 5º A Instituição de Ensino Superior deverá pautar o projeto pedagógico do curso de graduação
em Educação Física nos seguintes princípios:
a) autonomia institucional;
b) articulação entre ensino, pesquisa e extensão;
c) graduação como formação inicial;
d) formação continuada;
e) ética pessoal e profissional;
f) ação crítica, investigativa e reconstrutiva do conhecimento;
g) construção e gestão coletiva do projeto pedagógico;
h) abordagem interdisciplinar do conhecimento;
i) indissociabilidade teoria-prática;
j) articulação entre conhecimentos de formação ampliada e específica.
Art. 6º As competências de natureza político-social, ético-moral, técnico profissional e científica
deverão constituir a concepção nuclear do projeto pedagógico de formação do graduado em
Educação Física.
282
§ 1º A formação do graduado em Educação Física deverá ser concebida, planejada,
operacionalizada e avaliada visando a aquisição e desenvolvimento das seguintes competências e
habilidades:
- Dominar os conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais específicos da Educação
Física e aqueles advindos das ciências afins, orientados por valores sociais, morais, éticos e
estéticos próprios de uma sociedade plural e democrática;
- Pesquisar, conhecer, compreender, analisar, avaliar a realidade social para nela intervir acadêmica
e profissionalmente, por meio das manifestações e expressões do movimento humano, tematizadas,
com foco nas diferentes formas e modalidades do exercício físico, da ginástica, do jogo, do esporte,
da luta/arte marcial, da dança, visando a formação, a ampliação e enriquecimento cultural da
sociedade para aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e
saudável;
- Intervir acadêmica e profissionalmente de forma deliberada, adequada e eticamente balizada nos
campos da prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, da formação cultural, da
educação e reeducação motora, do rendimento físico-esportivo, do lazer, da gestão de
empreendimentos relacionados às atividades físicas, recreativas e esportivas, além de outros
campos que oportunizem ou venham a oportunizar a prática de atividades físicas, recreativas e
esportivas;
- Participar, assessorar, coordenar, liderar e gerenciar equipes multiprofissionais de discussão, de
definição e de operacionalização de políticas públicas e institucionais nos campos da saúde, do
lazer, do esporte, da educação, da segurança, do urbanismo, do ambiente, da cultura, do trabalho,
dentre outros;
- Diagnosticar os interesses, as expectativas e as necessidades das pessoas (crianças, jovens,
adultos, idosos, pessoas portadoras de deficiência, de grupos e comunidades especiais) de modo a
planejar, prescrever, ensinar, orientar, assessorar, supervisionar, controlar e avaliar projetos e
programas de atividades físicas, recreativas e esportivas nas perspectivas da prevenção, promoção,
proteção e reabilitação da saúde, da formação cultural, da educação e reeducação motora, do
rendimento físico-esportivo, do lazer e de outros campos que oportunizem ou venham a oportunizar
a prática de atividades físicas, recreativas e esportivas;
- Conhecer, dominar, produzir, selecionar, e avaliar os efeitos da aplicação de diferentes técnicas,
instrumentos, equipamentos, procedimentos e metodologias para a produção e intervenção
283
acadêmico-profissional em Educação Física nos campos da prevenção, promoção, proteção e
reabilitação da saúde, da formação cultural, da educação e reeducação motora, do rendimento
físico-esportivo, do lazer, da gestão de empreendimentos relacionados às atividades físicas,
recreativas e esportivas, além de outros campos que oportunizem ou venham a oportunizar a prática
de atividades físicas, recreativas e esportivas;
- Acompanhar as transformações acadêmico-científicas da Educação Física e de áreas afins
mediante a análise crítica da literatura especializada com o propósito de contínua atualização e
produção acadêmico-profissional;
- Utilizar recursos da tecnologia da informação e da comunicação de forma a ampliar e diversificar as
formas de interagir com as fontes de produção e de difusão de conhecimentos específicos da
Educação Física e de áreas afins, com o propósito de contínua atualização e produção acadêmico-
profissional.
§ 2º As Instituições de Ensino Superior poderão incorporar outras competências e habilidades que
se mostrem adequadas e coerentes com seus projetos pedagógicos.
§ 3º A definição das competências e habilidades gerais e específicas que caracterizarão o perfil
acadêmico-profissional do Professor da Educação Básica, licenciatura plena em Educação Física,
deverá pautar-se em legislação própria do Conselho Nacional de Educação.
Art. 7º Caberá à Instituição de Ensino Superior, na organização curricular do curso de graduação em
Educação Física, articular as unidades de conhecimento de formação específica e ampliada,
definindo as respectivas denominações, ementas e cargas horárias em coerência com o marco
conceitual e as competências e habilidades almejadas para o profissional que pretende formar.
§ 1º A Formação Ampliada deve abranger as seguintes dimensões do conhecimento:
a) Relação ser humano-sociedade;
b) Biológica do corpo humano;
c) Produção do conhecimento científico e tecnológico.
§ 2º A Formação Específica, que abrange os conhecimentos identificadores da Educação Física,
deve contemplar as seguintes dimensões:
a) Culturais do movimento humano;
b) Técnico-instrumental;
c) Didático-pedagógico.
284
§ 3º A critério da Instituição de Ensino Superior, o projeto pedagógico do curso de graduação em
Educação Física poderá propor um ou mais núcleos temáticos de aprofundamento, utilizando até
20% da carga horária total, articulando as unidades de conhecimento e de experiências que o
caracterizarão.
§ 4º As questões pertinentes às peculiaridades regionais, às identidades culturais, à educação
ambiental, ao trabalho, às necessidades das pessoas portadoras de deficiência e de grupos e
comunidades especiais deverão ser abordadas no trato dos conhecimentos da formação do
graduado em Educação Física.
Art. 8º Para o Curso de Formação de Professores da Educação Básica, licenciatura plena em
Educação Física, as unidades de conhecimento específico que constituem o objeto de ensino do
componente curricular Educação Física serão aquelas que tratam das dimensões biológicas, sociais,
culturais, didático-pedagógicas, técnico-instrumentais do movimento humano.
Art. 9º O tempo mínimo para integralização do curso de graduação em Educação Física será
definido em Resolução específica do Conselho Nacional de Educação.
Art. 10. A formação do graduado em Educação Física deve assegurar a indissociabilidade teoria-
prática por meio da prática como componente curricular, estágio profissional curricular
supervisionado e atividades complementares.
§ 1º A prática como componente curricular deverá ser contemplada no projeto pedagógico, sendo
vivenciada em diferentes contextos de aplicação acadêmico-profissional, desde o início do curso.
§ 2º O estágio profissional curricular representa um momento da formação em que o graduando
deverá vivenciar e consolidar as competências exigidas para o exercício acadêmico-profissional em
diferentes campos de intervenção, sob a supervisão de profissional habilitado e qualificado, a partir
da segunda metade do curso:
I - o caso da Instituição de Ensino Superior optar pela proposição de núcleos temáticos de
aprofundamento, como estabelece o Art. 7º, § 1º desta Resolução, 40% da carga horária do estágio
profissional curricular supervisionado deverá ser cumprida no campo de intervenção acadêmico-
profissional correlato.
§ 3º As atividades complementares deverão ser incrementadas ao longo do curso, devendo a
Instituição de Ensino Superior criar mecanismos e critérios de aproveitamento de conhecimentos e
de experiências vivenciadas pelo aluno, por meio de estudos e práticas independentes, presenciais
285
e/ou à distância, sob a forma de monitorias, estágios extracurriculares, programas de iniciação
científica, programas de extensão, estudos complementares, congressos, seminários e cursos.
§ 4º A carga horária para o desenvolvimento das experiências aludidas no caput deste Artigo será
definida em Resolução específica do Conselho Nacional de Educação.
Art. 11. Para a integralização da formação do graduado em Educação Física poderá ser exigida,
pela instituição, a elaboração de um trabalho de do curso, sob a orientação acadêmica de professor
qualificado.
Art. 12. Na organização do curso de graduação em Educação Física deverá ser indicada à
modalidade: seriada anual, seriada semestral, sistema de créditos ou modular.
Art. 13. A implantação e o desenvolvimento do projeto pedagógico do curso de graduação em
Educação Física deverão ser acompanhados e permanentemente avaliados institucionalmente, a fim
de permitir os ajustes que se fizerem necessários a sua contextualização e aperfeiçoamento.
§ 1º A avaliação deverá basear-se no domínio dos conteúdos e das experiências, com vistas a
garantir a qualidade da formação acadêmico-profissional, no sentido da consecução das
competências político-sociais, ético-morais, técnico-profissionais e científicas.
§ 2º As metodologias e critérios empregados para o acompanhamento e avaliação do
processo ensino-aprendizagem e do próprio projeto pedagógico do curso deverão estar em
consonância com o sistema de avaliação e o contexto curricular adotados pela Instituição de
Ensino Superior.
Art. 14. A duração do curso de graduação em Educação Física será estabelecida em Resolução
específica da Câmara de Educação Superior.
Art. 15. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em
contrário.
EDSON DE OLIVEIRA NUNES
Presidente da Câmara de Educação Superior em exercício
286
ANEXO D
Estudantes que participaram da ACC EDC 465 Cultura Corporal e Meio Ambiente
Semestre de 2002.1
Amália Catharina Santos Cruz
André Luiz de Santana Franca
Cláudia Ferreira Esquivel
Cristina Souza Paraíso
Francisco Leal de Andrade
José Hermógenes Moura da Costa
Oriana Maria Ribeiro Barbosa
Raimundo dos Santos
Semestre de 2002.2
Betânia Almeida
Bárbara Ornellas
Breno Braga
Bruno Celeste
Consuelo Chaves
Flora Ribeiro
Jarbiane
Marta Caires
Miguel Marcelino
Vanessa Gomes
Andréa Xavier
Telma Cristina
Nívia Telles
Semestre de 2003.1
Ana fausta Azevedo maia
Arquimedes Batista Lima Reis Filho
Ivana Maria Goveia de Cabral
Martha machado Almeida
Myna Lizzie Oliveira Silveira
Quênia carvalho Ribeiro
Soani Barreto Rios
Semestre 2003.2
Eliene Campos;
Edlena Santos;
Denílson Araújo;
Katyuche da Costa;
Lédna Texeira;
Mariane Victal;
Paulla Dailyane;
Quênia Ribeiro;
287
Rosineide da Silva
Semestre de 2004.1
Michelle Costa de Brito Lopes
Luciene Rogério de Souza
Saadia Carneiro Maciel
Alexsandra Nascimento Silva
Vicente Paulo Maia Rebouças Filho
Eraldo Brito Santos
Célia Ribeiro dos Santos
Alcione silva de oliveira
Luciana Santos de Souza
288
ANEXO E
Participantes do curso de agentes ambientais
1. Jéssica Ferreira dos Santos
2. Leila Moraes Calmon
3. Maria Juliana Costa da Silva
4. Alessandra Santos da Silva
5. Ana Lucia da Silva
6. Magali Cruz Campos
7. Viviane Vitorino dos S. Silva
8. Zilda Palmira Gonçalves
9. Margarida Côrrea dos Santos
10. Maria do Carmo S. Pereira
11. Maria Ângela do Rosário
12. Josiene Souza da Rocha
13. Raquel Lélis São José
14. Maiane Pereira
15. Crislane Santos Pereira
16. Mileide Oliveira Rocha
17. Nelma Freitas
18. Bárbara Eunice Nazaré
19. Josiene Ferreira
289
VI. APÊNDICE A
Cronologia das contribuições do Jürgen Dieckert para o campo de estudos Meio Ambiente
e Esportes
1972 - Artigo na Alemanha, apontando o esporte como nocivo à natureza, quando praticado
sem meios de proteção ambiental.
1979 - Jürgen Dieckert transfere-se da Universidade de Oldenburg na Alemanha para a
Universidade de Santa Maria no Brasil, iniciando pesquisas envolvendo, desporto, lazer,
cultura local e meio ambiente.
1983 - A Universidade de Santa Maria publica o livro com os temas desenvolvidos por
Jürgen Dieckert nos anos anteriores, com textos de Floriano D. Monteiro e introdução de
Lamartine P. da Costa editado em português.
1986 Jurgen Dieckert já orientou trabalhos em varias regiões do Brasil versando sobre
ambientes e arquitetura para as praticas esportivas coerentes em relação a preservação do
meio ambiente e adequadas as culturas locais e regionais.
2001 - Participação do Simpósio Internacional realizado no período de 22 a 27 de julho na
Faculdade de Educação da UFBA, na cidade de Salvador, BA. O simpósio teve caráter
interdisciplinar Educação, Educação Física, Saúde, Lazer, Turismo e Meio Ambiente e
comemorou os 25 Anos de contribuição acadêmica do Professor Dieckert no Brasil. Nesta
oportunidade professor Jurgen Dieckert colabora conosco discutindo os pontos essenciais
das relações entre a educação física e o meio ambiente recuperando por um lado a tradição
alemã de consideração da natureza, por outro as necessidades vitais atuais dos seres
humanos que nos levam a considerar esta relação homem-natureza como a principal relação
a ser investigada estudada e assegurada nos cursos de formação de professores para
entendermos e agirmos em processos de formação humana.
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Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
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Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
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