270
Para fundamentar as diretrizes curriculares, estamos nos valendo da realidade do
trabalho estabelecendo referências claras sobre o que entendemos a respeito do trabalho
humano, dos campos de trabalho e do mercado de trabalho.
O conceito de trabalho humano com o qual lidamos nos diz que “O primeiro pressuposto
de toda a história humana é naturalmente a existência de indivíduos humanos vivos” (MARX,
1987, p. 27). E para se manter vivo, teve o homem que produzir seus meios de vida, meios
estes que foram sendo modificados no curso da história, pelas ações dos próprios homens, em
contato com a natureza, com os outros homens e consigo mesmo. Esta produção dos meios de
vida, que tanto gera bens materiais quanto espirituais, se deu com base no trabalho humano.
O trabalho é uma condição da existência humana, independentemente de qual seja a
forma de sociedade. Ainda segundo MARX (1987), o trabalho é uma necessidade que medeia
o metabolismo entre o homem e a natureza e, portanto, o da própria vida humana. O processo
de trabalho é uma condição da existência humana; é comum a todas as formas de sociedade,
mas se diferencia pelas relações sociais estabelecidas.
O trabalho útil ou trabalho concreto é uma atividade produtiva de um determinado tipo,
que visa a um objetivo determinado; seu produto é um valor de uso. O trabalho abstrato, ou
trabalho socialmente necessário, por sua vez, é o dispêndio de força de trabalho humana que
cria valor, mas com aspecto diferente. Está relacionado com a medida quantitativa do valor,
pois determina a magnitute do valor, e está relacionado com o tempo de trabalho socialmente
necessário à produção de um produto.
O trabalho útil, concreto, e o trabalho abstrato ou socialmente necessário são, portanto,
uma mesma atividade considerada em seus aspectos diferentes. Ao desenvolver esta
conceituação, MARX leva em conta que o trabalho abstrato é uma abstração social, um
processo social real bem específico do capitalismo.
O processo de trabalho é aquele em que o trabalho é materializado em valor de uso,
resultante da interação entre as pessoas e a natureza, ocorrendo aí modificações com base em
propósitos humanos.
Constituem elementos do processo de trabalho: o trabalho em si, enquanto atividade
produtiva com um objetivo; os objetos ou processos sob os quais o trabalho é realizado; e os
meios que facilitam o processo de trabalho.
Todo o produto do trabalho que entra no processo de troca converte-se em mercadoria.
Tudo o que o homem produz, inclusive sua própria força de trabalho para gerar algo, é
mercantilizado, pois no processo de trabalho isto passa a ser trocado por outras mercadorias.
Portanto, a mercadoria é a forma que os produtos, resultantes do trabalho humano,
assumem quando a produção é organizada por meio da troca. A mercadoria assume valor de
uso por satisfazer alguma necessidade humana e adquire também um valor de troca por obter,
por seu intermédio, outra mercadoria que serve como valor de uso.
O trabalho converte-se em valor de troca tornando-se única “mercadoria” de uma
parcela dos homens vendida por salários (MARX, 1989, p. 41-93). Estas relações de troca
estabelecem referências de campos de trabalho – no caso da educação física, os campos da
educação, lazer, saúde, treino, entre outros – e os mercados de trabalho, considerados os locais
específicos onde ocorre a troca de mercadorias, ou seja, o trabalhador vende sua força de
trabalho, em troca de salário.
Entre os produtos que o trabalho do homem é capaz de gerar, existem aqueles que são
produtos materiais, que se integram à lógica do valor de troca e se transformam em
mercadoria nas relações sociais capitalistas. Mas existem também os produtos não-materiais
que não se conformam facilmente à lógica capitalista de valor de troca. Encontramos aí os