PRIMEIRA
LINHA
julho de 2003 • CIÊNCIA HOJE • 67
xilitol pelas mães, durante os últimos meses de
gravidez e amamentação, ajuda a prevenir a trans-
missão de S. mutans para a criança nos seus pri-
meiros seis anos de vida.
O xilitol tem ainda várias aplicações clínicas. É
indicado para substituir os açúcares na dieta de
diabéticos, já que seu metabolismo não ocorre por
vias dependentes de insulina. Também é recomen-
dado para obesos, por ser menos calórico e diminuir
o nível de ácidos graxos livres no sangue. Pode ser
usado no tratamento de desordens metabólicas, como
a anemia hemolítica (causada por deficiência da
enzima glicose-6-fosfato-desidrogenase). Sua utili-
zação em nutrição parenteral (intravenosa) já é aceita
em muitos países: estudos mostraram que a admi-
nistração de xilitol associado a aminoácidos preser-
va as proteínas do paciente de modo mais eficiente
que o uso apenas de aminoácidos ou destes combi-
nados com glicose.
Outras pesquisas vêm descobrindo novas aplica-
ções para o xilitol. Foi demonstrado que esse álcool
pode ser usado para a prevenção de otite média agu-
da (infecção aguda do ouvido médio) por inibir o
crescimento e a adesão de espécies de Pneumococcus
e a adesão de Haemophilus influenzae em células
da nasofaringe. Testado na forma tanto de xarope
um pó cristalino e branco, sem odor. Suas caracte-
rísticas químicas proporcionam sensação de frescor
quando dissolvido na saliva, efeito explorado em
pastilhas, chicletes e balas. Sua doçura relativa é
igual à da sacarose e superior à de outros polióis,
como sorbitol e manitol, também usados como
adoçantes.
Devido à doçura e ao baixo valor calórico (apenas
2,4 calorias por grama), o xilitol vem sendo usado
como adoçante desde os anos 60 no Japão e em al-
guns países da Europa. Uma vantagem desse com-
posto, em relação a outros adoçantes, é o fato de não
apresentar sensação desagradável após o uso.
Seu emprego também oferece importantes van-
tagens para a indústria alimentícia. Quando proteí-
nas são aquecidas na presença de açúcares reduto-
res, em altas temperaturas, ocorrem reações de
Maillard (caramelização), que provocam o escure-
cimento do produto. O xilitol, por não apresentar
grupos redutores em sua molécula, não participa
dessas reações, evitando assim o efeito do escureci-
mento. Além disso, ele não é fermentado por diver-
sos microrganismos, possibilitando seu uso em pro-
dutos, como refrescos, sem a necessidade de pasteu-
rização e de adição de conservantes, quando este é
estocado por até cinco meses em frascos fechados,
representando uma redução nos custos do processo.
Ainda em relação à indústria alimentícia, esse com-
posto pode substituir a lactose em alimentos infan-
tis, permitindo seu consumo por crianças intoleran-
tes a esse açúcar.
A propriedade cariostática (prevenção de cáries)
desse álcool deve-se ao fato de não ser metabolizado
por microrganismos da biota bucal, principalmen-
te a bactéria Streptococcus mutans (figura 2), o que
impossibilita a proliferação das bactérias e, em con-
seqüência, impede a produção de ácidos que ata-
cam o esmalte dos dentes. Além disso, também pode
ser classificado como anticariogênico, por estimu-
lar a produção de saliva, que possui capacidade
tamponante (manutenção do pH), o que, juntamente
com o aumento na concentração de íons cálcio e
fosfato, induz a remineralização (figura 3), rever-
tendo lesões de cáries recém-formadas.
Pesquisas revelam benefícios
Estudos do finlandês Pentti Alanen e colaboradores,
em 2000, constataram que o consumo diário de chi-
cletes contendo xilitol por crianças de 10 anos redu-
ziu em 53,5% a incidência de cáries (figura 4). Os
efeitos cariostático e anticariogênico vêm impul-
sionando o uso do composto em cremes dentais, an-
ti-sépticos bucais, pastilhas, gomas de mascar e ou-
tros produtos para controle e prevenção de cáries.
Outra pesquisa, realizada por Eva Soderling e co-
laboradores em 2001, descobriu que o consumo de
Figura 2. Efeito do xilitol na inibição do crescimento
de
Streptococcus mutans
na placa bacteriana
Figura 3. Capacidade de remineralização de lesões
nos dentes pelo uso de chicletes com diferentes
adoçantes
FONTE: ADRIAN MANNING E COLABORADORES, 1992 FONTE: KAUKOMAKINEN E COLABORADORES, 1989