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A estes aprendizados no âmbito da família e da escola, somam-se as
contribuições da mídia na forma de programas e seriados de TV, comerciais
nas páginas de revistas, jornais e em outras produções culturais como
cinema. Tais produtos reafirmam, de modo intencional ou não, a dicotomia
entre gêneros.
Em uma nova era de desafios, a escola pode e deve lidar concretamente com
essas questões e trabalhar de forma corajosa com as diferenças que unem meninos
e meninas. É bom lembrarmos que as crianças não criam os estereótipos de gênero
do nada, mas, sim, de um padrão que acultura a espécie desde o nascimento. Não
precisamos negar as diferenças entre os sexos e nem exaltá-las, para que
possamos construir uma condição em que o masculino e o feminino se mantenham
singulares e, sobretudo, plurais. Para isso, identidade de gênero precisa ser um
conceito mais entendido pelas educadoras. Neste sentido, compartilhamos com o
pensamento de Beauvoir (1980, p. 21-22), sobre o que ela afirma a respeito do
modo como aprendem meninas e meninos:
[...] Ele faz o aprendizado de sua existência como livre movimento para o
mundo; rivaliza-se em rudeza e em independência com os outros meninos.
Despreza as meninas. Subindo nas árvores, brigando com colegas,
enfrentado-os em jogos violentos, ele apreende seu corpo com um meio de
dominar a natureza e um instrumento de luta; orgulha-se de seus músculos
como de seu sexo; através de jogos, esportes, lutas, desafios, provas,
encontra um emprego equilibrado para suas forças; ao mesmo tempo
conhece as lições severas da violência; aprende a receber pancada, a
desdenhar a dor, a recusar as lágrimas da primeira infância. Empreende,
inventa, ousa. Sem dúvida, experimenta-se também como “para outrem”,
põe em questão sua virilidade, do que decorrem, em relação aos adultos e a
outros colegas, muitos problemas. [...] Ao contrário, na mulher há, no início,
um conflito entre sua existência autônoma e seu “ser-outro”; ensinam-lhe
que para agradar é preciso procurar agradar, fazer-se objeto; ela deve,
portanto, renunciar à sua autonomia. Tratam-na como uma boneca viva e
recusam-lhe a liberdade; fecha-se assim um círculo vicioso, pois quanto
menos exercer sua liberdade para compreender, apreender e descobrir o
mundo que o cerca, menos encontrará nele recursos, menos ousará
afirmar-se como sujeito; se a encorajassem a isso, ela poderia manifestar a
mesma exuberância viva, a mesma curiosidade, o mesmo espírito de
iniciativa, a mesma ousadia que um menino.
Essa forma de educar pode ser desgastante e frustrante, quando não há
possibilidade de escolha para as crianças e impedimos que as brincadeiras e seus
movimentos sejam livres, alegres, prazerosos e com várias possibilidades de
escolha.
Percebemos que estes mal-estares nas relações presentes nas brincadeiras
das crianças proporcionam certa rivalidade entre elas, porém aceitamos como