(...) Foi em 1910 que nos chegaram aos ouvidos referências a um
moço que diziam dotados das mais sólidas qualidades de
compositor. Não nos deixamos impressionar, mas sentimo-nos
tomados por curiosidade. (...) Pois bem, no fim da audição do Trio
para violino, violoncelo e piano estávamos conquistados. A obra de
arte maravilhosa vencera a nossa resistência, subjugara uma
indiferença, cativara a nossa inteira admiração. (...) dir-se-ia que a
música de Glauco, como força estética, atestando as transformações
de uma evolução, se emancipa das influências ambientais da
humanidade. (...) Conhecido e admirado num pequeno círculo de
amigos que lhe aclamavam o talento, urgia que se exibisse ao grande
público com sua obra, já então muito discutida. As composições de
Glauco Velásquez extasiaram os que lhe penetravam à finíssima
sensibilidade, deliciavam os que lhes compreendia a emotividade
íntima”. (ibidem, p. 107).
Sabemos dos três últimos anos de vida de Velásquez que ele obteve fama
meteórica no cenário musical carioca, foi considerado como uma esperança para a
música brasileira e produziu 26 obras, das quais quatro canções originalmente
compostas para voz e piano e “Alma Minha Gentil”
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. Há uma mensagem dirigida ao
Congresso Nacional pela elite de compositores brasileiros datada de 1912. Nesse
documento, pleiteava-se um auxílio do governo brasileiro para Glauco Velásquez a fim
de criar-lhe a oportunidade para que pudesse apresentar sua obra. Esta carta foi
publicada no Jornal do Commercio de 4 de junho de 1913. Reproduziremos na íntegra o
seu texto, pois é um testemunho público, oficial e assinado por Alberto Nepomuceno,
Henrique Oswald, Francisco Braga, Cândida de Nova Kendal, Stela Parodi, Matilde
Aschoff, Paulina d’Ambrosio, Alfredo Gomes, Frederico Nascimento e muitos outros:
Srs. Membros do Congresso Nacional.
Não fôra extraordinário o fenômeno intelectual que a todos nos
impressiona e enche de admiração, e não viríamos por certo ante vós
solicitar uma providência legislativa, que aproveitará grandemente ao
nome brasileiro, porque permitirá (que) se torne conhecido no mundo
civilizado um compositor nacional que pela sua genialidade faz jus a
um brilhante renome.
Brasileiro, com idade de 28 anos de idade, ex-aluno do Instituto
Nacional de Música, que lhe foi a fonte de saber, o Sr. Glauco
Velásquez tem-se revelado um compositor de admirável fecundidade
e – o que é mais – de uma originalidade maravilhosa.
Em boa hora apresentada ao público por um dos mais abalizados
órgãos da imprensa carioca, o jovem brasileiro tem causado
verdadeiro assombro com as suas produções que se realçam na
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Também foram compostas, nesse período, obras vocais com acompanhamento de quarteto de cordas,
orquestra de câmara e uma ópera inacabada (ibidem, p.79-81).