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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA
CELSO SUCKOW DA FONSECA – CEFET/RJ
DIRETORIA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENADORIA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA
DISSERTAÇÃO
A PROTOTIPAGEM RÁPIDA COMO PROPOSTA PARA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS
TÉCNICOS NA PRODUÇÃO DE JÓIAS NO RIO DE JANEIRO
Joaquim da Hora Oliveira Fonseca
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE
PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS
PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM TECNOLOGIA
Orientadores
Leydervan de Souza Xavier, D. C.
José Antonio Assunção Peixoto, D.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL.
ABRIL/2006
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ii
F 676 Fonseca, Joaquim da Hora Oliveira.
A Prototipagem Rápida como proposta para solução de problemas
técnicos na produção de jóias no Rio de Janeiro / Joaquim da Hora
Oliveira Fonseca. - 2006
xv, 105 + [2]f.: il. (algumas color.), grafs. color., tabs. color., mapa
color.; enc.
Dissertação (Mestrado) Centro Federal de Educação Tecnológica
Celso Suckow da Fonseca, 2006.
Bibliografia: f. 100-105
Apêndice
1. Processo de fabricação - Inovações tecnológicas 2. Jóias -
História 3. Jóias - Inovações tecnológicas - Rio de Janeiro (RJ) I - Título
CDD 658 575
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iii
Ao Ente Supremo que rege o universo por me permitir superar mais um desafio na
minha trajetória de vida, dotando-me de uma ferramenta excepcional para continuar
contribuindo para um mundo melhor.
À minha mãe (in memoriam) e, a meu pai, pelo exemplo de tenacidade e determinação
nas suas vidas repletas de desafios, comuns na saga dos emigrantes.
À minha esposa Maria Thereza, pelo exemplo de perseverança para o sucesso nas
artes plásticas, depois de outra carreira de êxito no magistério público.
Às minhas filhas Adriana e Elaine como exemplo demonstrativo de que nunca é tarde
para perseguir e concretizar novos sonhos, seguindo o preconizado por Mahandas
Karamchand Gandhy de que ”se deve viver como se fosse morrer amanhã e aprender como se
fosse viver para sempre”.
À minha neta, a pequenina e maravilhosa Lílian, recém chegada para a alegria geral da
família.
iv
AGRADECIMENTOS
- Aos professores Leydervan de Souza Xavier e José Antonio Assunção Peixoto, pela
orientação para o encontro dos melhores caminhos para a consecução deste trabalho.
- À professora Cristina Gomes de Souza do CEFET/RJ e ao Professor Rogério de Aragão
Bastos do Valle da UFRJ, pelas suas valiosas participações na Banca Examinadora.
- Aos demais professores do Mestrado que, com a sua experiência e dedicada atuação,
também muito contribuíram para a jornada ora concluída.
- Aos funcionários do Mestrado especialmente a Abraão Ferreira e Braulio Tito, pela paciência
e cooperação no dia a dia das atividades do Curso.
- Aos excelentes profissionais e amigos do Instituto Nacional de tecnologia, Domingos
Manfredi Naveiro e Jorge Roberto Lopes dos Santos, bem como a Guilherme Lorenzo,
todos da Divisão de Desenho Industrial, pelas importantes contribuições sobre a
Prototipagem Rápida e a sua utilização na modelagem física de jóias.
- Ao SEBRAE/RJ, através do Engenheiro Renato Dias Regazzi e de Andréia de Cássia
Lopes, respectivamente Gerente da Área e Coordenadora de Projetos, da Área de
Desenvolvimento Empresarial/Setorial do SEBRAE/RJ, pela participação na adoção do foco
desta dissertação e cooperação durante a elaboração do trabalho.
- A Ângela Andrade, Ida Benz e Cidda Siqueira da Associação dos Joalheiros e Relojoeiros
do Estado do Rio de Janeiro (AJORIO), pelo apoio e pelas informações valiosas para a
elaboração deste trabalho.
v
- Aos excelentes profissionais Carlos Fernando Barros da FIRJAN e Ana Videla do
SESI/SENAI – Escola de Ourivesaria, pelas informações preciosas e oportunidade de
vivenciar o ambiente joalheiro.
- A Ricardo Amaral da M Modelística pela colaboração importante para as pesquisas sobre a
criação e produção de modelos de joalheria.
- A Irina Aragão dos Santos competente professora e designer especialista em ourivesaria
pelas oportunas informações e opiniões sobre o mercado joalheiro e o futuro da
modelagem virtual e física.
- A Carlo Boti da empresa CRIA pelas contribuições sobre equipamentos de Prototipagem
Rápida e suas aplicações no setor joalheiro em geral.
- A Carlos Roberto Salém pelas preciosas informações sobre técnicas artesanais de
produção de jóias.
- A Edmundo Calhau Filho e Maisa Caixeta do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais
Preciosos (IBGM), pelas diversas informações que também muito contribuíram para a
execução deste trabalho.
- Aos colegas de Mestrado pelos momentos prazerosos vividos ao longo do Curso.
- A todos enfim que, de maneira direta ou indireta, contribuíram para a elaboração deste
trabalho.
vi
Resumo da dissertação apresentada ao DEPPG/CEFET-RJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Tecnologia (M. T.)
A PROTOTIPAGEM RÁPIDA COMO PROPOSTA PARA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS
TÉCNICOS NA PRODUÇÃO DE JÓIAS NO RIO DE JANEIRO
Joaquim da Hora Oliveira Fonseca
Abril/2006
Orientadores
Leydervan de Souza Xavier, D. C.
José Antonio Assunção Peixoto, D. Sc.
Departamento: DEPPG
Esta dissertação tem como objetivo analisar a possível contribuição da Prototipagem
Rápida na solução de problemas técnicos na produção de jóias na Cidade do Rio de Janeiro,
um dos maiores pólos produtores e principal exportador de jóias do País. Considera-se,
sobretudo, que no contexto atual, crescentemente globalizado e agressivo de concorrência, as
empresas em geral, independentemente do seu porte, têm que estar permanentemente atentas
para dois principais aspectos da competitividade que são os custos finais de seus produtos e a
sua diferenciação qualitativa, especialmente, quanto à inovação e agregação de valores em
relação aos produtos oferecidos pelos seus concorrentes nos mercados nacionais e
internacionais. Também se considera a intenção de agentes públicos que buscam incentivar o
setor joalheiro na perspectiva de aglomerados locais, cuja principal característica é a busca
constante da cooperação entre as empresas e demais atores que deles participam, tendo que
adotar estratégias concorrenciais conjuntas e que compartilhar recursos, processos e
equipamentos, que sejam os mais adequados para manter e/ou ampliar a sua participação
nesses mercados. No contexto considerado, a produção joalheira, uma das atividades mais
antigas da humanidade, não constitui exceção. Neste setor produtivo, a competitividade
também cresce continuamente, notadamente no mercado internacional, aonde, vem sendo
promovida a adoção de novas tecnologias, entre elas a da Prototipagem Rápida, com possíveis
reflexos positivos, não só nos custos finais, mas, também nos valores agregados aos seus
produtos. É do que se trata no presente trabalho, focando especialmente o possível emprego
de tal tecnologia na produção de jóias na Cidade do Rio de Janeiro.
Palavras-chave: Prototipagem rápida, Aglomerados locais, Jóias.
vii
Abstract of dissertation presented to COCPG/CEFET/RJ as a partial fulfillment of the
requirements for degree of Master of Technology (M. T.)
RAPID PROTOTYPING AS PROPOSAL FOR SOLUTION OF TECHNICAL PROBLEMS IN
PRODUCTION OF JEWELS IN THE RIO DE JANEIRO
Joaquim da Hora Oliveira Fonseca
April/2006
Advisors
Leydervan de Souza Xavier, D.C.
José Antonio Assunção Peixoto, D.Sc.
Department: DEPPG
This dissertation aims at analyzing the possible contribution of Rapid Prototyping in the
solution of technical problems in the production of jewelry in the City of Rio de Janeiro, one of
the largest productive poles and main exporter of jewelry in the Country. It is considered, above
all, that in the current context, of increasingly globalized and aggressive competition, companies
in general, independently of their small, medium or large size, have to be permanently attentive
to two main aspects of the competitiveness that are final costs of their products and their
qualitative differentiation, especially, as for innovation and the adding of values in relation to the
products offered by their competitors in the national and international markets. Also the Local
Agglomerates that they have as main characteristic the constant looks for the cooperation
among the companies and other actors that participate in them, they have to adopt
concorrencial strategies, resources, processes and equipments, which are the most appropriate
to maintain and/or to enlarge their participation in those markets. In the considered context,
jewelry production, one for the humanity’s oldest activities, doesn’t constitute exception. In this
productive sector, competitiveness also grows continually, especially in the international market,
where the adoption of new technologies has been promoted, among them the one of Rapid
Prototyping, with possible reflexes, not only in final costs, but, also, in the values added to their
products. It is that what this work deals with, especially focusing its possibly use in the
production of jewelry in the City of Rio de Janeiro.
Keywords: Rapid prototyping, Local Agglomerates, Jewelry.
viii
LISTA DE FIGURAS
P
ág.
Figura I.1 - Conchas utilizadas em Jóias (75 000 a.C.).........................................................9
Figura I.2 - Mapa Gemológico Brasileiro..............................................................................13
Figura I.3 - Porte das Empresas do Segmento Produtivo de Jóias do Brasil.......................15
Figura I.4 - Produção de Jóias por Estampagem.................................................................17
Figura I.5 - Parte Inferior de Matriz para Produção de Jóias................................................17
Figura I.6 - Processo de Eletrólise/eletroformação...............................................................18
Figura I.7 - Jóias produzidas por Eletrólise/eletroformação..................................................18
Figura I.8 - Fluxograma das Etapas de um Ciclo Clássico Completo da Produção
de Jóias pelo Processo de Fundição por Cera Perdida....................................19
Figura I.9 - Produção Automatizada de Correntes...............................................................20
Figura II.1 - Marca Brasileira da Produção de Gemas e Jóias.............................................36
Figura II.2 - Critérios de Seleção para Fóruns de Competitividade......................................37
Figura III.1 - Participação das Empresas nas Decisões/Ações do Setor..............................41
Figura III.2 - Participação das Empresas do Setor em Órgãos/Associações de Classe.......42
Figura III.3 - Turismo Receptivo – Estrangeiros no Brasil e no Rio de Janeiro......................43
Figura III.4 - Perfil dos Principais Dirigentes das Empresas do Setor...................................44
Figura III.5 - Dificuldades para Utilização da PR na Produção de Jóias................................47
Figura IV.1 - Processos Subtrativos.......................................................................................55
Figura IV.2 - Processos Aditivos............................................................................................55
Figura IV.3 - Processos Formativos.......................................................................................56
Figura IV.4 - Tipos de modelos e Protótipos..........................................................................57
Figura IV.5 - Modelo CAD/3D.................................................................................................61
Figura IV.6 - Modelo 3D/STL..................................................................................................61
Figura IV.7 - Superposição de Camadas...............................................................................62
ix
Pág.
Figura IV.8 - Esquema do Processo de Estereolitografia.......................................................63
Figura IV.9 - Esquema do Processo de SLS..........................................................................64
Figura IV.10 - Esquema do Processo 3 DP..............................................................................65
Figura IV.11 - Esquema do Processo FDM..............................................................................65
Figura IV.12 - Esquema do Processo LENS.............................................................................66
Figura IV.13 - Evolução da Complexidade dos Protótipos e Tempos de Projetos...................66
Figura IV.14 - Custos das Alterações de Produtos conforme o Estágio de Identificação.........72
Figura IV.15 – Fluxograma das Etapas de Produção de Jóias (Processo de Fundição
por Cera Perdida), utilizando a PR.....................................................................74
Figura IV.16 - Modelagem Virtual de Jóia.................................................................................80
Figura IV.17 - Perfilados de Cera para Modelagem Artesanal de Jóias...................................81
Figura IV.18 - Algumas Ferramentas utilizadas para Modelagem Artesanal de Jóias.............82
Figura IV.19 - Equipamento da Solidscape e Protótipos de Jóias Produzidos.........................84
Figura IV.20 - Modelagem Física de Jóia através de Prototipagem Rápida.............................84
Figura IV.21 - Modelo/protótipo ainda com base......................................................................85
Figura IV.22 - Modelo/protótipo pronto.....................................................................................85
Figura IV.23 - Peças e Parte interna de Molde de Silicone para produzir “Múltiplos”..............86
Figura IV.24 - Exemplo de “Árvore” com Fundição Simultânea de diversas peças de uma
Jóia......................................................................................................................90
x
LISTA DE TABELAS
Pág.
Tabela I.1 - Principais Países Exportadores de Jóias.............................................................11
Tabela I.2 - Quantidade de Empresas no Setor de Jóias, por Segmento de atuação............15
Tabela I.3 - Exportações Brasileiras de Gemas e metais Preciosos.......................................16
Tabela II.1 - Empresas Formais no Brasil por Porte e Setor de Atividade................................28
Tabela II.2 - Pessoas Ocupadas nas Empresas Formais no Brasil 2002.................................28.
Tabela III.1 - .Participação do Rio de janeiro na Exportação de Jóias do Brasil......................42
xi
LISTA DE ABREVIATURAS SIGLAS E/OU SÍMBOLOS
Abreviatura
Símbolo
Significado
Unid.
a.C Antes de Cristo -
AJORIO Associação dos Joalheiros e Relojoeiros do Rio de Janeiro -
APEX Agência de Promoção de Exportação -
APL Arranjo Produtivo Local -
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social -
CAD Computer Aided Design -
CAE Computer Aided Engineering -
CAM Computer Aided Manufacturing -
CAMEX Câmara de Comércio Exterior -
CAPP Computer Aided Process Planning -
CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica -
CNC Computer Numerical Control -
CT Computed Tomography -
C&T Ciência e Tecnologia -
ct quilate métrico (0,20g) -
DARPA Defense Advanced Project of Manufactured Parts -
d.C depois de Cristo -
DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral -
3DP 3D Printing -
EUA Estados Unidos da América do Norte -
EVTE Estudo de Viabilidade Técnico Econômica -
FDM Fused Deposition Modeling -
GT Grupo de Trabalho -
GTI Global Trade Information System -
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -
IBGM Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos -
IBQN Instituto Brasileiro da Qualidade Nuclear -
IDS Institute of Development Studies -
INPI Instituto Nacional de Propriedade Industrial -
INT Instituto Nacional de Tecnologia -
ISI Institute of Scientific Information -
LDA Lei de Direitos Autorais -
LENS Laser Engineering Net Shaping -
LTM Layer Manufacturing Technologies -
MCT Ministério de Ciência e Tecnologia -
MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior -
MIT Massachusetts Institute of Technology -
MME Ministério de Minas e Energia -
MPEs Micro e Pequenas Empresas -
MRI Magnetic Resonance Imagining -
OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico -
P&D Pesquisa e Desenvolvimento -
PDM Product Data Management -
PME Pequenas e Médias Empresas -
PPA Plano Plurianual -
PR Prototipagem Rápida -
PROGEX Programa de Apoio Tecnológico à Exportação -
xii
Abreviatura
Símbolo
Significado
Unid.
Pt Ponto (0,01 ct) -
QFD Quality Function Deployment -
RAMP Rapid Acquisition Of Manufactured Parts -
RMS Root Mean Square (Rugosidade Média Quadrada) -
RT Rapid Tooling -
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa -
SEBRAETEC Programa de Apoio Tecnológico á Micro e Pequena Empresa -
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial -
SDP Secretaria de Desenvolvimento da Produção -
SINDIJÓIAS Sindicato de Joalheria e Lapidação de Pedras Preciosas -
SIS Selective Inhibition of Sintering -
SLS Selective Laser Sintering -
SNCAPP Sindicato Nac. de Comércio Atacadista de Pedras Preciosas -
SPI Secretaria de Política Industrial -
SPILs Sistemas Produtivos e Inovativos Locais -
STI Secretaria de Tecnologia Industrial -
STL Steriolitografia -
UE União Européia -
UV Ultra Violeta -
WGC World Gold Council -
xiii
SUMÁRIO
Pág.
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................1
I - A PRODUÇÃO DE JOIAS NO BRASIL E A PARTICIPAÇÃO DO
RIO DE JANEIRO........................................................................................................8
I.1 - Breve Histórico da Produção de Jóias.........................................................................8
I.2 - As possíveis Dubiedades sobre Jóias e seus Componentes.....................................11
1.2.1 - Caracterização de Jóias, Bijuterias e Folheados........................................................12
1.2.2 - Caracterização de Pedras Preciosas e Semi-preciosas. Gemas...............................12
1.2.3 - Caracterização de Gemas Sintéticas e Gemas Reconstituídas.................................13
I.3 - A Produção Brasileira de Jóias...................................................................................14
I.3.1 - A Participação do Rio de Janeiro na Produção e Exportação de Jóias......................16
1.4 - Processos e Técnicas Empregadas na Produção de Jóias........................................16
1.4.1 - Processo de Estampagem..........................................................................................17
I.4.2 - Processo de Eletrólise ou Eletroformação..................................................................17
I.4.3 - Processo de Fundição por Cera Perdida....................................................................18
I.4.4 - Outros Processos........................................................................................................20
1.5 - Técnicas Especiais de Acabamento de Jóias.............................................................20
II- OS AGLOMERADOS LOCAIS............................................................................................25
II.1 - As Tipologias dos Aglomerados..................................................................................27
II.2 - A Importância das Micro e Pequenas Empresas no Brasil.........................................28
II.3 - A Caracterização das Micro e Pequenas Empresas...................................................29
II.4 - Perspectivas para a Competitividade das Micro e Pequenas Empresas
Brasileiras...................................................................................................................30
II.5 - Arranjos Produtivos Locais (APLs). Uma Vantagem Competitiva...............................30
II.5.1 - Território......................................................................................................................31
II.5.2 - Governança.................................................................................................................32
II.5.3 - Grau de Enraízamento................................................................................................34
II.6 - As Iniciativas para a Promoção de Arranjos Produtivos Locais..................................34
II.6.1 - O Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias.......................36
III - CENÁRIO/PAISAGEM DO SETOR PRODUTIVO DE JÓIAS DO RIO DE
JANEIRO..........................................................................................................................39
III.1 - O Reconhecimento da Importância da Produção de Jóias do Rio de Janeiro..........39
xiv
Pág.
III.2 - A Composição do Setor........................................................................................ ....40
III.3 - Níveis de Participação, Cooperação e Governança..................................................41
III.3.1 - Participação das Empresas nas Decisões/Ações Relacionadas com as suas
Atividades..................................................................................................................41
III.3.2 - Participação em Órgãos/Associações de Classe......................................................41
III.4 - Outras Características do Setor.................................................................................41
III.4.1 - Perfil dos Principais Dirigentes das Empresas.........................................................44
III.4.2 - Dificuldades para a Utilização da PR no Setor.........................................................45
III.5 - O Estágio de Desenvolvimento da Produção de Jóias no Rio de Janeiro................47
III.5.1 - Capacitação da Mão-de-obra....................................................................................49
III.5.2 - Inadequação Tecnológica........................................................................................51
III.5.3 - Inovação Tecnológica..............................................................................................51
IV - A PROTOTIPAGEM RÁPIDA.....................................................................................53
IV.1 - Breve Histórico de Produção de Protótipos e Modelos.............................................53
IV.2 - Processos de Produção de Protótipos......................................................................55
IV.3 - Tipos de Modelos e Protótipos e suas Aplicações na Elaboração de Projetos.........56
IV.4 - Finalidades dos Modelos e Protótipos na Criação e Desenvolvimento
de Produtos................................................................................................................58
IV.5 - A Caracterização da Prototipagem Rápida e seu Desenvolvimento........................60
IV.5.1 - Caracterização do Processo e Tecnologias.............................................................61
IV.6 - O Estágio Atual da Prototipagem Rápida.................................................................67
IV.6.1 - Quanto à Precisão e Estabilidade Dimensional........................................................68
IV.6.2 - Quanto ao Acabamento Superficial (Rugosidade)....................................................69
IV.6.3 - Quanto às Necessidades de Pós-acabamento.........................................................69
IV.6.4 - Quanto à Aplicação dos Protótipos/modelos Produzidos ........................................69
IV.7 - Principais Impactos e Desdobramentos para Inovações e Processos,
Decorrentes da Utilização da Prototipagem Rápida.................................................70
IV.7.1 - Tempos de Projeto na Criação e/ou Desenvolvimento de Produtos.......................70
IV.7.2 - Ciclos de Prova/Erro na Criação e/ou Desenvolvimento de Produtos.....................72
IV.7.3 - Melhorias no Design................................................................................................74
IV.8- As Múltiplas Aplicações da Prototipagem Rápida....................................................74.
IV.8.1 - No Design.................................................................................................................75
IV.8.2 - Na Engenharia de Produtos.....................................................................................76
IV.8.3 - Nos Processos de Fabricação..................................................................................77
IV.8.4 - O Processo Típico de Produção de Jóias Utilizando a PR.......................................78
xv
Pág.
ANÁLISE FINAL E RECOMENDAÇÕES.............................................................................91
CONCLUSÃO.......................................................................................................................98
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................99
APÊNDICES........................................................................................................................ A1
Apêndice 1 - Formulário para Pesquisa............................................................................... A2
1
INTRODUÇÃO
A competição entre empresas sempre foi fator crucial para a sua sobrevivência e
desenvolvimento. Através de seus produtos e serviços as empresas competem entre si,
buscando continuamente a liderança num mercado consumidor cada vez mais exigente e
complexo. Vai longe o tempo em que produtos permaneciam por décadas em mercados cativos
locais, regionais, nacionais e/ou internacionais, sem ameaças relevantes de superação,
permitindo às empresas um ganho de escala graças principalmente à padronização de tais
produtos e à utilização de equipamentos exclusivos para a sua produção e venda
permanentes, voltadas para um mercado em expansão contínua e pouco exigente. Nesse
cenário de pouca competição, as empresas podiam, sem riscos relevantes, planejar o
lançamento de novos produtos com relativa tranqüilidade, analisando entre outros aspectos
dados estatísticos de vendas, ciclos de vida desses produtos e possíveis movimentos das
poucas empresas concorrentes. Nos dias atuais essa prática não é mais possível sob pena de
estagnação, rápida perda de competitividade e consequentemente de mercados e séria
ameaça à sua sobrevivência, notadamente, quando se trata de micro e pequenas empresas
(MPEs), com as suas dificuldades para, isoladamente, investir adequadamente em tecnologia,
treinamento/aprendizado e inovação, fatores indispensáveis para a superação dos óbices
inerentes à competição em um mercado globalizado e crescentemente agressivo. Diante disso,
ressalta-se a importância dos Arranjos Produtivos Locais (APLs), balizados, segundo Lastres
&Cassiolato, “num atendimento mais apropriado sobre os conceitos-chave da literatura neo-
schumpeteriana – aprendizado e inovação e, numa dimensão espacial, o território sócio-
técnico, que seja capaz de captar esses conceitos”.
A sinergia resultante da cooperação entre os vários atores envolvidos nas atividades de
um Arranjo Produtivo Local (APL), por exemplo, pode apresentar vantagens competitivas
significativas, considerando, sobretudo, que as empresas em geral, qualquer que seja o seu
porte, têm que estar permanentemente atentas para dois principais aspectos na
competitividade, que são os custos finais dos seus produtos e a sua diferenciação qualitativa,
2
especialmente quanto à agregação de valores, em relação aos produtos oferecidos pelos seus
concorrentes.
Na contextualização até aqui descrita, o setor joalheiro não constitui exceção.
Historicamente, de um estágio inicial, quando um artesão altamente especializado produzia
peças únicas e exclusivas para ornar realezas e aristocracias, passou-se para o atendimento,
em certo grau padronizado, de parcelas numericamente expressivas das populações, para por
fim, sem perder a capacidade de atender com exclusividade a poucos, atender também a
grandes parcelas populacionais com certo grau de exclusividade, ou seja, um grau de
customização que leve em conta não só o poder aquisitivo, mas que considere sobretudo os
perfis multifacetados dos possíveis consumidores, como abordado pelo designer
TP
1
PT
gráfico e
industrial Eduardo Barroso Neto (2005), tais como os metrosexuais
TP
2
PT
, os mediáticos que vivendo
em constante exposição na mídia, tendem a usar jóias que sejam valorizadas/realçadas pelo
“olhar eletrônico”, os ultra-pragmáticos, termo que busca definir os emergentes sociais com
rápida ascensão social, personalidade marcante e desejo constante de vencer a qualquer
preço, os visionários constituídos por indivíduos com atitudes vanguardistas, excêntricas,
ousadas e inovativas, direcionadas para lançar modas e estimular tendências inconformistas
com padrões estéticos já estabelecidos, os contemplativos que, minimalistas, sensitivos,
discretos e afetuosos, buscam jóias para serem tocadas e sentidas, atribuindo-lhes energia
própria e influência para cura e serenidade, os esportistas e os notívagos, entre outros,
agrupados no que se pode denominar de “tribos urbanas”. Nesse sentido, entre os diversos
aspectos envolvidos, vale destacar em especial a criação das jóias e a sua produção.
No que diz respeito à criação de jóias, pode-se intuir que cabe privilegiar cada vez mais
a preparação/formação de profissionais altamente especializados, dotados de conhecimentos
não só relacionados com a criação propriamente dita, mas também das suas interfaces com
aspectos de produção e que sejam sistematicamente treinados para o acompanhamento
TP
1
PT
Palavra inglesa que corresponde a projetista, desenhista. Relativo a criação, concepção (obra de arte).
TP
2
PT
Neologismo criado em 1994 pelo jornalista inglês Mark Simpson, para definir os homens supostamente
heterossexuais, apesar de conectados com a moda, vaidosos e não preconceituosos. O perfil antagônico denominado
de agrossexuais, é constituído geralmente por jovens ruralistas, apegados aos valores tradicionais, moralistas e
provincianos que adotam o country como paradigma estético.
3
adequado das constantes evoluções dos processos, substituindo gradativamente o artesão
tradicional que, no passado, com base na sua interpretação dos anseios dos clientes,
imaginava para em seguida produzir a jóia desejada.
Quanto à produção propriamente dita das jóias, tradicionalmente realizada com forte
conteúdo artesanal, pode-se também intuir que, embora a atuação de artesãos especializados
continue indispensável, notadamente nas etapas de montagem e acabamento envolvendo
atividades como lapidação, cravação, gravações diversas e polimento, entre outras, existe uma
necessidade crescente de modernização das tecnologias empregadas, não só para agregar
valor à produção, mas em especial para torná-la mais rápida e versátil, principalmente para
viabilizar a construção física das criações crescentemente complexas e/ou inovadoras,
advindas da utilização de softwares específicos para joalheria. Nesse contexto se insere a
utilização de tecnologias de Prototipagem Rápida
TP
3
PT
.
Neste trabalho, se analisa a possível contribuição da Prototipagem rápida na solução de
problemas técnicos na produção de jóias na Cidade do Rio de Janeiro, envolvendo um
conjunto de empresas de produção e comercialização que a credenciam como o 4
P
0
P
maior pólo
produtor e maior exportador de jóias do País, a ponto de ser cogitada a sua transformação
efetiva em um Arranjo Produtivo Local (APL). .
As razões para a escolha do tema
O aprofundamento do autor no interesse pela Tecnologia de Prototipagem Rápida teve
início quando, em 1997, como Consultor do Instituto Brasileiro da Qualidade Nuclear (IBQN),
trabalhou junto ao Instituto Nacional de Tecnologia (INT), para a elaboração de Estudo de
Viabilidade Técnico Econômica (EVTE), tratando da possibilidade da instalação de Laboratório
de Prototipagem Rápida naquela instituição de fomento tecnológico. Na oportunidade, através
das informações e da intensa interação com o INT e ainda, de numerosos contatos com
fornecedores de serviços de Prototipagem Rápida (Bureaus), fornecedores de equipamentos e
TP
3
PT
Processos de fabricação por adição sucessiva de camadas, denominadas internacionalmente de Layer
Manufacturing Technologies (LMT). A natureza e características das tecnologias de Prototipagem Rápida serão
detalhadas no Capítulo IV.
4
usuários efetivos e/ou potenciais dessa tecnologia, o autor foi compreendendo a sua
importância impactante em vários segmentos produtivos e as múltiplas vantagens competitivas
resultantes da sua utilização, notadamente para as inovações. Foi possível também, naquela
oportunidade, na pesquisa realizada junto ao mercado nacional, ter uma visão ampliada do
conhecimento e da utilização da tecnologia de Prototipagem Rápida (PR) no País, nos vários
segmentos pesquisados constituídos por usuários potenciais da Prototipagem Rápida na
indústria, por instituições de ensino e pesquisa, empresas de design, bureaus de serviços e
usuários de equipamentos.
Com efeito, um Laboratório de Prototipagem Rápida foi instalado no INT em 1998/1999
e hoje, sensivelmente melhorado com novos equipamentos, se constitui em um eficaz recurso
para a disseminação dessa tecnologia e para realização de numerosos projetos desenvolvidos
na Divisão de Desenho Industrial do INT em parcerias com diversas empresas, entidades e
associações, entre elas a Associação dos Joalheiros e Relojoeiros do Rio de Janeiro (AJORIO)
com o apoio e financiamento de entidades como o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e
Pequena Empresa (SEBRAE), principalmente dentro do Programa de Apoio Tecnológico à
Pequena e Média Empresa (SEBRAETEC), entre outros.
O espectro de utilização da Prototipagem Rápida (PR) por adição, vem sendo ampliado
incessantemente nos primeiros anos deste século. Da aplicação inicial imaginada, privilegiando
a primeira visualização física tridimensional (protótipo) de um objeto e as provas conceituais e
de apresentação e marketing de modelos, se evoluiu rapidamente para outras aplicações
envolvendo não só atividades de pesquisa, mas também para atividades de produção direta ou
indireta de peças, favorecidas de forma notável não só pela evolução das tecnologias e dos
equipamentos utilizados, mas também, e principalmente, pelo desenvolvimento contínuo de
novos materiais direcionados para os processo e suas aplicações. Este é o caso da produção
de jóias.
As primeiras experiências da aplicação da PR na produção de jóias, realizadas no fim
do século passado e logo no início do século atual, aí incluindo as realizadas no INT,
esbarraram em dificuldades relacionadas principalmente com os equipamentos e os materiais
5
então utilizados. Entretanto, como será tratado ao longo deste trabalho, as contínuas melhorias
introduzidas nos equipamentos e na utilização de novos materiais, permitiram que a PR se
constitua hoje em uma nova alternativa na produção de jóias, sobretudo na melhoria de
processos produtivos de joalheria, podendo também, por extensão, contribuir expressivamente
para a modernização tecnológica e para a inovação de design do setor joalheiro da Cidade do
Rio de Janeiro.
Também a mobilização de agentes públicos dando apoio ao setor joalheiro, dentro de
uma perspectiva de configuração como Arranjo produtivo Local (APL), se inclui entre as razões
para escolha do tema.
Objetivos da dissertação
Esta dissertação se insere na Área de Concentração em Processos Tecnológicos e,
coerentemente com a Linha de Pesquisa de Modernização dos Processos Tecnológicos do
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia do CEFET/RJ, tem como objetivo geral analisar
as possíveis contribuições da Prototipagem Rápida (PR) para a solução de problemas técnicos
na produção de jóias no Rio de Janeiro.
Como objetivos específicos, são analisados aspectos estatísticos relativos à produção
joalheira nacional com destaque para a Cidade do Rio de janeiro, diante da sua importância,
notadamente para a exportação de jóias do País. De forma resumida, também se analisa os
Aglomerados Locais e as suas características e tipologias, bem como, as suas possíveis
contribuições para a melhoria da competitividade, sobretudo, para as micro e pequenas
empresas, numericamente predominantes no setor joalheiro considerado. Na mesma vertente,
se destaca as iniciativas e o interesse governamental para a criação/desenvolvimento de
Arranjos Produtivos Locais (APLs), entre eles o do setor de jóias da Cidade do Rio de Janeiro,
onde o autor, entre outros aspectos, analisa o cenário/paisagem reinante em termos de níveis
de participação e cooperação das empresas e o perfil dos seus principais dirigentes,
identificando vínculos de apoio que vêm sendo criados pela mobilização de agentes públicos,
assim como, possíveis dificuldades para a utilização da Prototipagem Rápida (PR).
6
Metodologia da pesquisa
Cabe enfatizar inicialmente, o caráter extremamente reservado do setor, que
apresentou significativa resistência para a facilitação das pesquisas “in loco” do autor. Ao longo
do trabalho, porém, houve expressiva redução na referida resistência, sobretudo, quanto à
aproximação e contatos efetivos com associações de empresas como a FIRJAN e a AJORIO,
com instituições de ensino e pesquisa como a Escola de Ourivesaria do Senai e o Instituto
Nacional de Tecnologia (INT) e, sobretudo, com empresas e especialistas de alguma forma
ligados ou atuando efetivamente no meio joalheiro.
Pode-se intuir que, diante dos materiais envolvidos nas atividades de produção do setor,
constituídos geralmente por gemas e metais preciosos de expressivo valor e, portanto,
atraentes para a criminalidade, tal atitude de reserva/desconfiança de certa forma se explica.
Entretanto, o que em primeira instância parece defender as empresas do setor joalheiro do Rio
de Janeiro, pode se transformar em obstáculo relevante para a compreensão nítida de todo o
cenário/paisagem do setor e de seus respectivos problemas, e, por conseqüência, dificultar,
sobremaneira, o planejamento e a concretização de ações para a solução dos possíveis
problemas existentes e para o desenvolvimento integrado de todos os atores envolvidos nas
atividades do setor, na busca de níveis crescentes de participação e cooperação, essenciais
para o seu sucesso.
Inobstante a dificuldade inicial apontada, o autor, para atingir o objetivo da dissertação,
contemplou e laborou especialmente as vertentes de pesquisa a seguir resumidamente
descritas.
Primeiramente se impunha a necessidade de um conhecimento suficientemente claro,
não só das tecnologias de PR, dos materiais, dos produtos e da sua evolução nos últimos
anos, mas, também e principalmente, da produção de jóias em geral, quanto às técnicas, aos
processos, aos materiais e aos equipamentos, entre outros aspectos.
Não menos importante, impunha-se também, uma visão nítida da importância do
desenvolvimento dos Aglomerados Locais e, diante da intenção do Governo Federal de,
considerando a importância da produção joalheira do Rio de Janeiro, cogitar a sua
7
configuração e funcionamento efetivo como Arranjo Produtivo Local (APL) de Jóias da Cidade
do Rio de Janeiro, analisar entre outros aspectos, a sua composição quantitativa e qualitativa,
em termos de empresas participantes, níveis de participação nas decisões/ações de seu
interesse e de relacionamento com associações e entidades de classe, os seus mercados mais
representativos, o perfil dos principais dirigentes e da mão-de-obra empregada e as estratégias
para a introdução de novas tecnologias e processos de trabalho, buscando uma visão
sóciotécnica do ambiente de produção joalheira local. Cabe aqui, ressaltar a importância do
acesso a dados de pesquisa específica, realizada pelo SEBRAE/RJ, que contribuiu
expressivamente para enriquecer o universo das informações coletadas e para a compreensão
adequada do cenário/paisagem predominante.
Foi então desenvolvida revisão bibliográfica, envolvendo livros, periódicos e artigos
publicados em revistas e/ou apresentações em congressos, seminários e simpósios. Além
disso, foram ainda realizadas pesquisas em dissertações de mestrado e teses de doutorado e
até mesmo em sites da Internet, especialmente sobre a produção de jóias, assunto a respeito
do qual, a literatura disponível é relativamente escassa.
Como ação indispensável e, de certa forma voltada para a validação de abordagens a
adotar na dissertação, foram realizadas visitas e entrevistas em órgãos, entidades, associações
e empresas e, sobretudo, com profissionais/especialistas, direta ou indiretamente relacionados
com a produção joalheira.
Cabia ainda, identificar e analisar as dificuldades possivelmente existentes, que
explicassem a ainda incipiente utilização da PR na produção joalheira do Rio de Janeiro. Então,
utilizando questionário preparado para tal finalidade, foi procedida uma pesquisa junto a
profissionais/especialistas de reconhecida competência, constituídos principalmente por
designers e produtores de modelos/protótipos e de jóias.
Assim, com base em todas as pesquisas realizadas, aliadas à experiência do autor no exercício
da Engenharia Mecânica e na Qualidade, tornou-se possível analisar as possíveis
contribuições da PR para a solução de problemas técnicos na produção de jóias no Rio de
Janeiro e, por extensão para a modernização tecnológica e inovação do design joalheiro local.
8
Organização do texto
O Capítulo I após um breve histórico sobre a produção de jóias, analisa aspectos e
características da produção brasileira do setor joalheiro e a importância da participação do Rio
de Janeiro para tal produção, assim como, apresenta os processos e técnicas mais
empregadas no setor joalheiro, detendo-se por fim no processo clássico/tradicional de fundição
por cera perdida, o mais utilizado na produção joalheira, quando se trata de jóias de maior
complexidade geométrica e com maior valor agregado, no qual a utilização da Prototipagem
Rápida (PR), poderá representar vantagem competitiva considerável, solucionando problemas
técnicos e contribuindo expressivamente para a modernização produtiva do setor joalheiro.
O capítulo II aborda a importância dos Aglomerados Locais e respectivas tipologias,
notadamente, as voltadas para o apoio das micro e pequenas empresas e sua dimensão e
caracterização no contexto produtivo brasileiro. Trata principalmente dos Arranjos Produtivos
Locais e das iniciativas governamentais para a sua identificação e incentivo.
Por fim, focaliza o Fórum da Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias,
destacando as suas conclusões no seu Resumo Executivo, sobretudo, as de natureza
tecnológica, alinhadas com o tema da dissertação.
O Capítulo III, considerando a intenção resultante do Fórum de Competitividade da
Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias para transformação do setor de jóias da cidade do Rio de
Janeiro em um Arranjo Produtivo Local (APL) e com base nas pesquisas desenvolvidas pelo
autor e pelo SEBRAE/RJ, analisa a oportunidade e as dificuldades para a utilização da
Prototipagem Rápida (PR) para a solução de problemas técnicos na produção de jóias e para a
modernização do setor como um todo.
O Capítulo IV trata das tecnologias de Prototipagem Rápida (PR), caracterizando a
produção de protótipos/modelos e suas destinações principais na criação e desenvolvimento de
produtos, incluindo as jóias e mostrando em seguida a evolução de tais tecnologias,
9
especialmente em termos de materiais empregados. São comentados os principais impactos e
desdobramentos para inovações em processos de várias atividades, entre elas, a produção de
jóias e, por fim, focando processo típico de produção de jóias utilizando a PR, destaca suas
principais vantagens em relação ao processo clássico/tradicional.
Na Análise Final e Recomendações são comentadas as possíveis vantagens da
utilização da PR na produção de jóias, bem como, os óbices e dificuldades detectadas para a
sua aplicação efetiva no universo de produção do setor de Jóias da Cidade do Rio de Janeiro,
oferecendo, quando pertinentes, sugestões para a melhoria dos vários aspectos envolvidos,
bem como, contribuições para futuras pesquisas de alguma forma relacionadas com o tema.
Na Conclusão, considerando a potencialidade da PR para a solução de problemas
técnicos e como fator de modernização tecnológica na produção de jóias, o autor resume a
situação do setor de jóias da Cidade do Rio de Janeiro quanto à sua efetiva utilização na
produção nos seus ambientes produtivos.
10
CAPÍTULO I
A PRODUÇÃO DE JÓIAS NO BRASIL E A PARTICIPAÇÃO DO RIO DE JANEIRO
A produção de jóias é considerada uma atividade fortemente artesanal, sendo o uso de
máquinas praticamente restrito à produção repetida de séries expressivas de peças de baixa
complexidade geométrica e a algumas etapas da fabricação e acabamento na produção
seriada de partes comuns a vários tipos de jóias, tais como fechos e outros elementos de
ligação como correntes, cordões, etc. Entretanto, principalmente por força da competição
exacerbada nos mercados em geral, tanto locais quanto internacionais, decorrente, sobretudo,
da ininterrupta e crescente globalização econômica mundial, torna-se indispensável uma
freqüente releitura dos processos e técnicas de joalheria, desde a criação até à produção
propriamente dita, objetivando produtos finais com maior agregação de valores, mais inovativos
e, além disso, com preços mais adequados aos perfis dos seus possíveis consumidores. Só
assim, será possível manter e/ou desenvolver a participação nos mercados joalheiros.
A produção brasileira de jóias é modesta, quando se considera que o País é,
reconhecidamente, detentor de grandes jazidas minerais, que são insumos básicos da maior
importância para essa produção. Portanto, potencialmente, segundo conclusões do Fórum de
Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias, criado pelo governo Federal em 2004,
as possibilidades de crescimento do setor produtivo joalheiro são extremamente positivas,
notadamente no Rio de Janeiro, 4
P
0
P
maior pólo produtor e maior exportador de jóias do País.
I.1 – Breve Histórico da Produção de Jóias
A história da produção de jóias emerge da bruma dos tempos. Pode-se dizer que a
produção de jóias se iniciou com a confecção dos primeiros adornos utilizados pela espécie
humana, tendo como objetivo fundamental a distinção do seu possuidor, evidenciando a sua
função social no grupo como líder, guerreiro, caçador, etc.
Em razão da utilização de materiais mais duráveis para a sua confecção, as jóias
descobertas em sítios arqueológicos, têm contribuído excepcionalmente para um melhor
conhecimento da história da espécie humana, seus conhecimentos tecnológicos, seus
11
costumes, sua crenças, sua estrutura econômica e outros aspectos importantes. Também,
graças ao hábito de sepultar os mortos com as suas jóias, foi possível preservar as peças para
o conhecimento atual.
As jóias mais antigas de que se tem notícia, segundo o geólogo e pesquisador Pércio
de Moraes Branco (2005), foram recentemente encontradas por cientistas de cinco países
(Noruega, Reino Unido, França, EUA e África do Sul), em uma caverna denominada Blombos
na África do Sul. Embora confeccionadas apenas com conchas, sem emprego de nenhum
metal, podem e devem ser classificadas como jóias, diante do fato de que foram feitas para
adorno pessoal e terem sido confeccionadas com matéria orgânica, o que não invalida a
classificação, considerando-se que também o marfim, o coral, a pérola e o âmbar serem
orgânicos e utilizados como gemas na produção atual de jóias.
Com cerca de 75 000 anos de idade, as peças encontradas foram consideradas pelos
cientistas como utilizadas em jóias, diante da presença de cores, tamanhos semelhantes e
principalmente pelas furações, todas nos mesmos lugares e demonstrando desgastes
compatíveis com o atrito de um elemento de ligação em que elas estivessem montadas e em
uso efetivo. As peças encontradas são mostradas na figura I.1 abaixo.
Figura I.1 – Conchas utilizadas em jóias (75 000 anos)
Fonte:
TU
http://www.portaldasjoias.com.br
UT
A técnica da utilização de matérias orgânicas, relacionadas com os animais, perdurou
por muitos milênios, considerando que foram encontradas várias jóias confeccionadas com
dentes e garras de animais, conchas e outros materiais similares, utilizadas no período
neolítico (1 500 a.C.).
Mais tarde, as jóias tiveram uma disseminação no uso, fundamentada nos sentimentos
de vaidade, de superstição e desejo de poder e de riqueza dos seus possuidores. Dados
históricos apontam os Celtas, povos que por volta do século V a.C. habitavam a Europa, em
12
um vasto território incluindo os territórios atuais da península ibérica (Espanha e Portugal), da
França, da Bélgica e da Itália, estendendo-se até à Escócia e Irlanda, como detentores de um
alto nível de desenvolvimento artesanal na confecção de jóias. Colares, braceletes e anéis,
entre outras jóias, eram muito comuns e de alta complexidade de elaboração para a época.
Outro marco histórico significativo ocorreria por volta de 330 d.C. diante do declínio do
império romano e da transferência da capital do império para Bizâncio, depois chamada
Constantinopla. As novas características políticas e outros fatores contribuíram para
estabelecer uma nova estrutura religiosa cristã e a joalheria foi direcionada para o atendimento
das exigências voltadas para os cerimoniais e rituais em vez da ornamentação pessoal, até
então predominante. A joalheria bizantina contrastando com a simplicidade das jóias do final do
império romano era extremamente elaborada considerando-se as técnicas e recursos naquela
época disponíveis.
Outro registro histórico sobre a confecção de jóias se situa no século IV ao início do
século VII e se refere aos povos que na visão greco-romana eram denominados bárbaros.
Esses povos que delinearam a Europa Medieval produziram uma joalheria bastante elaborada
com resultados altamente refinados, direcionados principalmente para os broches, fivelas e
fechos em geral e, eventualmente, para coroas confeccionadas para as sepulturas reais.
A cronologia histórica sobre a confecção e uso de jóias, aponta o século XIII no período
medieval, como um marco onde, por força da centralização dos poderes reais e religiosos, não
se produziam jóias para uso diário e generalizado para os que tivessem recursos financeiros
para adquiri-los. As jóias eram reservadas apenas para cerimônias e usadas exclusivamente
pelas classes privilegiadas, tendo sido inclusive aprovada uma lei na França que explicitamente
proibia os cidadãos comuns de usarem pedras preciosas, pérolas e jóias em ouro e prata. O
período compreendido entre o século XIII e o início do século XIV foi marcado pelas grandes
jóias reais, especialmente coroas e diademas. Em relação a épocas anteriores a moda não
tinha mudado, excetuando-se apenas broches e crucifixos que eram então costurados sobre os
tecidos das roupas, na altura do colo.
13
A partir dali, com as mudanças generalizadas e contínuas ocorridas nas sociedades
humanas, o uso de jóias se disseminou a tal ponto que se constitui nos dias atuais, num
potente ramo de negócios, envolvendo valores estimados pelo Instituto Brasileiro de Gemas e
Metais Preciosos (IBGM) em cerca de US$ 18 bilhões anuais, somente em exportações
mundiais de artefatos de joalheria de ouro em 2003, (últimas estatísticas disponíveis), tendo a
Itália como o maior exportador, conforme quadro apresentado na tabela a seguir.
Países Exportações em 2003 em US$
Itália 3.840.714. 336
Estados Unidos 2. 043.767.827
Hong Kong 1.821.738.285
Suíça 1.900.986.202
China 1.241.671.673
Índia 1.599.221.768
Reino Unido 1.217.369.283
Tailândia 719.559.879
França 711.945.034
Malásia 410.002.155
Alemanha 552.866.593
Coréia do Sul 883.259.741
Canadá 193.139.329
Espanha 155.500.932
Japão 118.856.508
Bélgica 87.643.591
África do Sul 62.188.591
Brasil 25.871.580
Dinamarca 21.902 400
Áustria 26.230.893
Grécia 19.497.237
Taiwan 11.806.640
Suécia 7.340.329
Países Baixos 10.656.526
Portugal 11.062.130
Irlanda 6.940.008
Finlândia 4.631.725
Luxemburgo 3.266.038
Venezuela 573.801
Argentina 399.201
Chile 18.300
Total 17.710.628.625
Tabela I.1 – Principais Países Exportadores de Artefatos de Joalheria em Ouro
Fonte: IBGM/Global Trade Information System - GTI - 2003
I.2 – As Possíveis Dubiedades sobre Jóias e seus Componentes
Por vezes, podem existir dubiedades quanto ao que se pode denominar jóia, bijuteria ou
folheado, assim como, sobre o que se pode classificar como pedra preciosa, sintética,
reconstituída e composta. É oportuno então, de forma resumida, esclarecer possíveis dúvidas.
14
I.2.1 – Caracterização de jóias, Bijuterias e Folheados.
Em princípio, segundo o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), a
jóia geralmente está associada ao ouro, à platina, ao titânio, ao nióbio, à prata e até ao couro,
e, mais recentemente até à madeira e outros materiais alternativos cada vez mais utilizados.
Outra característica é que a jóia tem um design próprio, geralmente mais elaborado e
identificado com a cultura da região onde se encontra o seu produtor. Os desenhos de jóias
são em geral exclusivos e mais trabalhados. Outro detalhe característico das jóias é que
quando empregam pedras/gemas, estas são fixadas por cravação, enquanto que nas bijuterias
elas são geralmente coladas.
As bijuterias ainda de acordo com o IBGM, são produzidas com materiais como o latão,
o zamack e outras ligas pré-prontas. Enquanto na jóia normalmente é usado apenas o metal
com a qual é fabricada, a bijuteria é por vezes apenas banhada com materiais mais nobres a
fim de valorizá-la, tornando-a mais atraente e durável, neste caso são denominadas de
folheados. Enquanto nas jóias os detalhes são em geral bem definidos, na bijuteria os detalhes
são maiores e freqüentemente menos elaborados e definidos.
I.2.2 – Caracterização de Pedras Preciosas e Semi-preciosas. Gemas
De acordo com o Manual Técnico de Gemas do Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM) e com o IBGM, os termos pedra preciosa e semi-preciosa, ora denominadas
genericamente no mercado joalheiro como gemas, estão em desuso. No passado, o termo
pedra preciosa era utilizado para distinguir o diamante, o rubi, a safira e a esmeralda das
demais pedras, denominadas semi-preciosas. A diferenciação era baseada no valor de
mercado das pedras. Na atualidade, tal distinção perde freqüentemente o sentido, quando se
considera que gemas ditas semi-preciosas como turmalinas e alexandritas entre outras, podem
alcançar valores de mercado superiores aos das chamadas pedras preciosas. Por oportuno,
acrescente-se ainda o fato da possibilidade crescentemente utilizada de valorização das gemas
com realce e/ou modificação da sua coloração, através de técnica de tratamento com radiação
ionizante e outras. Tende-se então a designar todas como gemas, ressalvando-se, entretanto,
15
que nos exemplos de melhor qualidade, o custo unitário por quilate
TP
4
PT
das ditas preciosas ainda
tende a ser mais alto do que as demais. O Brasil segundo o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDES, 1999), é detentor de cerca de 60% das gemas e metais
preciosos. A figura I.2 a seguir, mostra o Mapa Gemológico Brasileiro, indicando as principais
ocorrências de gemas no território nacional.
Figura I.2 - Mapa Gemológico Brasileiro
Fonte: DNPM/IBGM
TP
4
PT
Quilate métrico, ou simplesmente quilate (ct) é a unidade de peso utilizada para gemas lapidadas em geral ou para
diamantes brutos e lapidados. 1 ct = 0,20g e tem como submúltiplo o ponto (pt) que equivale a 0,01ct, ou seja 100
pontos equivalem a 1 quilate.
16
I.2.3 – Caracterização de Gemas Sintéticas, Gemas Artificiais, Gemas Reconstituídas e
Gemas Compostas.
As gemas sintéticas, as gemas artificiais, as gemas reconstituídas e as gemas
compostas, não ocorrem na natureza, sendo, portanto resultado da criação humana.
No caso das gemas sintéticas, segundo o Gem Reference Guide (1995) e o Manual
Técnico de Gemas (2001), além de normas técnicas específicas nacionais (ABNT) e
internacionais (ISO) e outras, as gemas sintéticas são produzidas em laboratório, mas também
existem na natureza e possuem composição química, propriedades e estruturas cristalinas em
muito assemelhadas às das gemas que imitam. São bem conhecidas no mercado joalheiro a
esmeralda sintética, o rubi sintético e até mesmo o diamante sintético, que é produzido,
principalmente, para aplicações industriais em ferramentas para corte e perfuração. Outro
exemplo é da moissanita sintética, produzida e comercializada desde 1998 pelas empresas
norte americanas Cree Research Inc. e C3 Inc., respectivamente e que vem sendo utilizada
como substituta do diamante na joalheria e em aplicações industriais diversas.
Ainda segundo os documentos técnicos já citados, as gemas denominadas artificiais,
são também produzidas em laboratório, entretanto, não existem na natureza. O exemplo mais
conhecido é o da zircônia cúbica, uma imitação do diamante. A zircônia cúbica é caracterizada
como gema artificial, porquê embora exista a zircônia na natureza, ela não é cúbica e
apresenta propriedades e estrutura cristalina diferentes.
As gemas reconstituídas resultam da fusão/aglomeração de fragmentos de gemas pré-
existentes. Quanto às gemas compostas, estas são corpos cristalinos ou amorfos, compostos
de duas ou mais partes, unidas por método artificial e seus componentes podem ser tanto
gemas artificiais ou outros materiais, como também, gemas sintéticas ou artificiais.
I.3 – A Produção de Jóias no Brasil
A produção de jóias no Brasil, tem a sua origem na tradição joalheira portuguesa que,
segundo a pesquisadora e designer Julieta Pedrosa (2004), viveu seu esplendor no século
XVIII, após a descoberta de ouro e diamantes no Brasil no final do século XVII. Com a
17
mudança da família real portuguesa para a colônia brasileira, por força da invasão napoleônica
de Portugal, veio também a arte joalheira.
Embora, como já comentado em 1.2.2, o Brasil seja detentor de cerca de 60% das
reservas mundiais de gemas e metais preciosos, em 2003, (últimas estatísticas disponíveis),
ocupava apenas o 24
P
0
P
lugar na produção de jóias e o 18
P
0
P
lugar como país exportador de
artefatos de joalheria em ouro, conforme apresentado em I.1, sendo o 14
P
0
P
produtor de ouro e
responsável pela produção em volume de aproximadamente 1/3 das gemas do mundo,
excetuados, segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM),
o rubi e a safira que, quando utilizados na produção joalheira nacional, são importados,
principalmente da Birmânia, do Ceilão, de Burna e da Austrália e de alguns tipos de diamantes,
importados de vários países do continente africano, além de alguns tipos de esmeraldas,
sobretudo, as importadas da Colômbia, famosas pela sua coloração mais intensa. Ainda
segundo o IBGM, os segmentos produtivos relacionados diretamente com a produção e
comercialização de jóias, como mostrado na tabela I.2, totalizavam em 2004, 1 970 empresas
na indústria englobando a lapidação de pedras, a joalheria e a produção de folheados e 16 000
no comércio, não incluindo nesses totais o mercado informal, estimado em índices superiores a
50%.
Lapidação/Obras de Pedras 730
Joalheria de Ouro 650
Folheados 590
INDÚSTRIA
Total de Empresas na Indústria 1.970
COMÉRCIO - Total de Empresas 16.000
Tabela I.2 - Quantidade de empresas no setor de jóias por segmento de atuação.
Fonte – MDIC/IBGM
Pesquisas desenvolvidas pelo Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa
(SEBRAE), pelo World Gold Council (WGC) e pelo IBGM, constataram que os segmentos de
empresas produtoras de jóias são constituídos majoritariamente (73%) por micro empresas,
com até 19 empregados, 23% por empresas de pequeno porte, com efetivo de 20 a 99
empregados e por apenas 3,9% de empresas de médio porte, com mais de 100 empregados,
conforme mostrado no gráfico da Figura I.3 a seguir.
18
Figura I.3 – Porte das Empresas do Segmento Produtivo de Jóias do Brasil
Fonte: Pesquisa IBGM – 2004
A contribuição dos segmentos produtores de jóias, quando são analisadas as
exportações brasileiras do Setor de Gemas e Metais, mostradas na tabela I.3, é constituída em
sua maior parte por produtos de baixo valor agregado. Num total exportado de US$ 742
milhões em 2004, apenas US$ 219 milhões, ou seja, 29,5% corresponderam a produtos
industrializados, sendo que desse total, a produção de jóias, incluindo joalheria de metais
preciosos e folheados, produtos com maior valor agregado, corresponderam a apenas US$ 152
milhões ou 20% do total exportado no ano considerado.
Principais Itens 2001 2002 2003 2004
Pedras em Bruto 34.494 44.655 47.629 47.550
Pedras Lapidadas 62.650 74.157 55.697 77.299
Obras e Artefatos de Pedras 10.180 13.017 13.456 14.775
Ouro em Barras, Fios e Chapas 335.339 349.131 327.119 412.813
Produtos de Metais Preciosos para Indústrias 34.463 41.299 40.032 31.584
Joalheria/Ourivesaria de Metais Preciosos 67.512 60.155 67.691 93.063
Folheados de Metais Preciosos 65.532 53.530 58.170 59.019
Bijuteria de Metais Comuns 3.070 1.613 2.730 4.766
Outros produtos 11.401 3.749 1.470 879
Totais 624.641 641.306 613.994 741.748
Tabela I.3 – Quadro das exportações brasileiras de gemas e metais preciosos
Fonte: MDIC/IBGM
I.3.1 - A Participação do Rio de Janeiro na Produção e Exportação de Jóias
Segundo o IBGM, o Rio de Janeiro, figura como o 4
P
0
P
maior pólo produtor e o maior
exportador de jóias do Brasil. Vários fatores contribuíram para essa posição de destaque, a
começar pelo pioneirismo na produção de jóias no Brasil como comentado em I.3, tendo,
portanto, longa tradição no desempenho dessa atividade. Além disso, o fato de ser o principal
pólo de atração de turistas, sobretudo estrangeiros, também favorece a comercialização de
73%
23%
3,90%
mic ro
empresas
pequenas
empresas
empresas
médias
19
jóias e conseqüentemente a sua produção. Outros fatores também relevantes serão
comentados no Capítulo III, na parte relativa a pesquisas realizadas pelo SEBRAE/RJ e pelo
autor no setor joalheiro da cidade do Rio de Janeiro.
I.4 – Processos e Técnicas Empregadas na Produção de Jóias
Os processos, as técnicas e suas respectivas etapas, em um ciclo completo de
produção de uma jóia, podem variar de acordo com as suas características de complexidade
geométrica, com as quantidades a produzir e com os materiais a serem empregados, entre
outros aspectos. A seguir são apresentados os principais processos e técnicas de produção de
jóias.
I.4.1 -
U
Processo de Estampagem
U
. .Geralmente realizado em máquinas prensadoras e
utilizado para produção de jóias simples, de pouca complexidade geométrica e para séries
expressivas de peças que justifiquem economicamente a confecção de ferramentas especiais
conforme mostrado nas figuras I.4 e I.5, produzidas em máquinas-ferramentas, (tornos,
frezadoras, retíficas, etc.), convencionais ou comandadas por CNC (Computer Numerical
Control);
Figura I.4 – Produção de Jóias por Estampagem
20
Figura I.5 - Parte Inferior de Matriz para Estampagem de Jóias
I.4.2 -
U
Processo de Eletrólise ou Eletroformação
U
. Consiste na deposição eletrolítica de metal
sobre modelos, (figura I.6). Produz jóias ocas, com espessuras que podem variar de 0,15 mm a
0,25 mm e de extrema leveza, conforme exemplos apresentados na figura I.7, mas, pouco
apreciadas nos mercados em geral.
Este processo, pela sua natureza, não permite a execução de jóias em ouro abaixo de
18 quilates e ainda apresenta problemas quanto a possíveis deformações na cravação de
pedras e na realização de acabamentos especiais que envolvam impacto e/ou compressão.
Além disso, pela sua complexidade e tempos de execução, sua participação não é expressiva
no universo produtivo mundial de jóias. Segundo informações colhidas junto a produtores e
varejistas de jóias, o custo das peças produzidas por Eletrólise/eletroformação, não incluindo
pedras e acabamentos especiais, gira em torno de 4 (quatro) a 5 (cinco) vezes o custo do ouro
aplicado na sua produção.
Figura I.6 - Processo de Eletrólise ou Eletroformação
21
Figura I.7 - Jóias produzidas por Eletrólise ou Eletroformação
I.4.3 -
U
Processo de Fundição em Cera Perdida.
U
.Processo dominante para a produção de
peças com maior complexidade geométrica e com maior valor agregado. Neste aspecto, é o
processo mais utilizado na joalheria mundial e dele resultam jóias mais elaboradas mais sólidas
e pesadas e mais apreciadas no mercado mundial. A espessura mínima pode alcançar 0,5 mm
e, ainda segundo informações colhidas junto a produtores e varejistas, o custo das peças gira
em torno de 1,2 a 1,5 vezes o custo do ouro empregado na sua produção, não incluindo pedras
e possíveis acabamentos especiais.
Ao analisar-se o ciclo clássico completo de produção de uma jóia através do processo
de fundição por cera perdida, são identificadas as etapas apresentadas no fluxograma da
Figura I.8, que, no Capítulo IV, em IV.8.4, serão descritas e comentadas, assinalando-se e
analisando-se, onde couber, a contribuição da PR na solução de problemas técnicos na
produção de jóias através desse processo no conjunto de empresas produtoras de jóias da
Cidade do Rio de Janeiro.
22
I.4.4 -
U
Outros processos
U
para produção de componentes como correntes, cordões, etc.,
normalmente utilizando equipamentos especiais para produção seriada. A figura I.9 mostra a
produção de correntes em equipamento especial.
Figura I.9 - Produção Automatizada de Correntes
2. Modelagem Física
3. Moldes de
borracha ou silicone
4. Injeção de cera
6. Revestimento de
árvores
7. Deceração
8. Calcinação do
revestimento
9. Preparação da liga
metálica
10. Fusão da liga
metálica
11. Inclusão da liga
metálica
12. Quebra do
revestimento
13. Limpeza das
árvores
14. Identificação de
defeitos
15. Acabamento
Reutilização de metal
Granulação da liga
metálica
1. Projeto gráfico
Figura I.8 - Fluxograma das etapas de um ciclo clássico completo de produção de jóias pelo
processo de fundição por cera perdida
5. Montagem de
árvores
23
I.5 – Técnicas Especiais de Acabamento de jóias
Várias técnicas de acabamento são empregadas de forma isolada ou combinada,
objetivando a criação de efeitos contrastantes, padrões e estilos para embelezamento e
valorização das jóias produzidas. Entre as técnicas mais empregadas na joalheria, cabe
destacar:
- acabamento polido. Forma mais comum de acabamento, que tem como resultado
superfícies reluzentes, brilhantes e com alta capacidade de reflexão;
- acabamento acetinado. Aparência suave e lustrosa, promovida por delicadas linhas
paralelas que reduzem sensivelmente a capacidade de refletir do metal;
- acabamento fosco. Sem brilho, mas com lustro suave, acabamento com aparência
aveludada;
- acabamento escovado. Produzido por uma série de escovas de metal. Pode ser aplicado em
padrão linear ou circular. Resulta num acabamento com aparência acetinada;
- acabamento florentino. Resultante da contraposição de linhas paralelas gravadas em uma
direção, com hachuras cruzadas ou traços curvos mais suaves, executados em direção oposta.
As linhas são mais profundas do que em um acabamento escovado ou acetinado;
- acabamento martelado. Desenho criado através de martelamento direto sobre as
superfícies, que pode ser discreto ou profundo, dependendo da aparência desejada;
- acabamento laser de diamante. Resultante de martelamento das superfícies com uma
ferramenta com ponta de diamante em forma facetada. É também um acabamento com alta
capacidade de reflexão;
- acabamento corte de diamante. Obtido com delicados cortes em ângulos nas superfícies,
gerando uma aparência facetada e com brilho;
- acabamento granulado. Resultante da deposição de pequenas partículas arredondadas de
ouro sobre superfícies também de ouro e a elas unidas por um processo de aquecimento
controlado;
24
- acabamento em filigrana. Técnica que consiste em torcer finos fios de ouro, juntos, e
posteriormente achatá-los e curvá-los em desenhos complexos. Normalmente os delicados
padrões obtidos são emoldurados por ouro mais firme;
- acabamento esmaltado. Obtido através da fundição de vidro colorido sobre a superfície do
metal;
- gravação em relevo. Formação de um padrão em relevo sobre metal laminado;
- entalhe. Técnica em que um desenho é cortado com uma ferramenta de ponta afiada.
25
CAPÍTULO II
OS AGLOMERADOS LOCAIS
São freqüentes as narrativas e citações sobre a atuação exitosa de empresas, reunidas
num determinado espaço territorial/geográfico e com atividades direcionadas para segmentos
de produção idênticos e/ou complementares.
Numa primeira análise, a reunião/cooperação entre empresas pode parecer antinatural
e paradoxal, visto que não é incomum se assistir à concorrência agressiva entre elas, em que,
não raro, muitas sucumbem. Entretanto, uma análise mais cuidadosa permite compreender
que, diante da concorrência crescentemente globalizada e complexa, a reunião/cooperação
entre empresas, pode de fato, contribuir para a melhoria da competitividade e até mesmo
garantir a sobrevivência, que, através da atuação isolada, poderia estar seriamente ameaçada.
Contudo, a simples reunião/associação/ cooperação entre empresas, ainda que fortemente
motivada para uma atuação que resulte benéfica para todos os atores envolvidos, não é, por si
só, suficiente. Há que reunir características e tratar de inúmeros aspectos para que o sucesso.
possa ser alcançado.
Como parte das estratégias concorrenciais das empresas, objetivando alcançar e/ou
manter adequados níveis de competitividade no enfrentamento da concorrência tanto no âmbito
de mercados internos, quanto nos internacionais, figura de forma relevante a abordagem dos
chamados Aglomerados Locais. Lastres e Cassiolato (2003) sustentam que em tal abordagem
se considere:
“Em primeiro lugar, o reconhecimento de que o aproveitamento das sinergias
coletivas , geradas pela participação em aglomerações produtivas locais
efetivamente fortalece as chances de sobrevivência e crescimento,
particularmente das micro e pequenas empresas (MPEs), constituindo-se em
importante fonte geradora de vantagens competitivas duradouras. Em segundo
lugar, que os processos de aprendizagem coletiva, cooperação e dinâmica
inovativa desses conjuntos de empresas, assumem importância ainda mais
fundamental para o enfrentamento dos novos desafios colocados pela difusão
da chamada Sociedade da informação ou Era do Conhecimento
crescentemente globalizado. Em terceiro lugar, que o entendimento desse
conjunto de questões passou a constituir uma das principais preocupações e
alvos das novas políticas de promoção de desenvolvimento tecnológico e
industrial, com ênfase especial para as formas e instrumentos de promoção
das MPEs”
26
Os aglomerados locais, como a terminologia indica, têm como tônica comum a
proximidade geográfica dos seus atores e precisam reunir características conforme resumido
no quadro apresentado abaixo.
Localização
Proximidade ou Concentração Geográfica
Atores
. Grupos de empresas.
. Pequenas empresas nucleadas por grande empresa.
. Associações, instituições de suporte, serviços, ensino e
pesquisa, fomento, financeiras, etc.
Características
. Intensa divisão de trabalho entre as empresas.
. Flexibilidade de produção e de organização.
. Especialização.
. Mão-de-obra qualificada.
. Estreita colaboração entre empresas e demais agentes.
. Fluxo intenso de informações.
. Identidade cultural entre agentes.
. Relação de confiança entre os agentes.
. Complementaridades e sinergias.
Quadro II.1 – Aspectos comuns das abordagens de aglomerados
Fonte: Lemos, C. (1997)
A observação ainda que superficial das principais características que devem estar
presentes em aglomerados locais, dá uma idéia da complexidade envolvida para atingir o
sucesso. É freqüente a citação de exemplos exitosos, resultantes de aglomerados locais,
sendo emblemático o caso dos arranjos produtivos locais nos distritos italianos, na chamada
Terceira Itália”, geograficamente situada no nordeste e centro da Itália que, após a Segunda
Grande Guerra Mundial, teve notável crescimento econômico em setores tradicionais da
indústria, baseado principalmente na dinâmica das micro, pequenas e médias empresas.
Também emblemáticos são os casos de sucesso relativos à área hi-tech como o do Vale do
Silício nos EUA (Cassiolato e Szapiro, 2003) e ao Complexo produtivo eletrônico de Taiwan e
de telecomunicações da Finlândia (Lastres et al, 2003). Entretanto, a simples
consideração/formação de aglomerados locais, não garante, a priori, o êxito. Ao contrário,
diante da natureza, diversidade e interação dos aspectos envolvidos, constitui um desafio de
extrema complexidade.
27
II.1 – As Tipologias dos Aglomerados
Dentro da abrangência do termo aglomeração, estão incluídos diferentes tipos de
formação/atuação, envolvendo algum tipo de especialização e/ou complementaridade com
finalidades produtivas, científicas, tecnológicas e/ou inovativas e, segundo Lastres e Cassiolato
(2005), “tendo como aspecto central a proximidade territorial de agentes econômicos, políticos,
sociais, (empresas e outras organizações públicas e privadas).”. Uma consideração importante
refere-se às tipologias específicas dos aglomerados. Amin (1993) propõe que os aglomerados
podem ser fundamentados nas seguintes tipologias:
- aglomerados industriais envolvendo setores tradicionais ou artesanais que, pela sua natureza,
ressaltam a importância da cooperação especializada da produção e arranjos sociais e
institucionais, entre outros aspectos;
- aglomerados hi-tech como, por exemplo, o Vale do Silício nos EUA, que naturalmente
suscitam gastos altos e contínuos em P&D, entre outras necessidades ligadas à natureza
desses aglomerados;
- aglomerados fundamentados na presença de grandes empresas, indicando a importância de
suporte institucional regional, de infra-estrutura, com treinamento de alta qualidade, P&D e
telecomunicações, entre outras necessidades.
Outra forma de abordagem das tipologias dos aglomerados é sugerida pelo Institute of
Development Studies (IDS). Em síntese, a abordagem sugere aglomerados baseados em dois
tipos, ou seja, as cadeias caracterizadas por setores intensivos em capital e tecnologia,
dominadas em sua produção por grandes empresas que coordenam as ligações e interações
necessárias e as cadeias caracterizadas por setores de bens de consumo intensivos em mão-
de-obra, tendo nesse caso, grandes consumidores, trading companies, etc., no desempenho de
papel fundamental na organização de redes produtivas descentralizadas. Diante disso,
Cassiolato e Szapiro, (2003), interpretam que o ponto principal da visão da escola do IDS,
tendo como foco a inserção dos aglomerados locais no processo de globalização é “que o
desenvolvimento de qualquer aglomeração, dependerá tanto da sua posição na cadeia e da
sua interação com outros elementos, quanto da sua estrutura e dinâmica internas”. Tal
28
interpretação sugere que a busca e adoção de uma tipologia para aglomerados deve começar
por um entendimento sobre os processos de governança a serem adotados ao longo da
cadeia. Entre os tipos de aglomeração cabe destacar entre outros, os pólos industriais, os
distritos, as redes de empresas, os clusters e os arranjos produtivos e inovativos locais. Trata-
se aqui especificamente dos Arranjos Produtivos Locais (APLs), considerando-se o interesse
manifesto do Governo Federal em estimular o desenvolvimento de um APL de jóias na Cidade
do Rio de Janeiro.
II.2 – A Importância das Micro e Pequenas Empresas no Brasil
De acordo com as mais recentes estatísticas disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e pelo SEBRAE, em 2002 existiam 476.240 micro e pequenas
empresas (MPEs) na indústria brasileira, o que corresponde a cerca de 98,4% de todas as
indústrias no mercado formal de trabalho, empregando 3.042.862 pessoas, ou seja, cerca de
55,9% de todo o mercado formal de empregos da indústria brasileira. Os quadros apresentados
nas tabelas II.1 e II.2 a seguir, resumem a participação das MPEs por porte e setor de
atividade, assinalando-se em cada um dos quadros a sua participação relativa ao setor
industrial, alinhada com a abordagem desta dissertação.
Micro Pequenas Médias Grandes Total Setores
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. % Quant.
Indústria
439.013 90,7 37.227 7,7 6.548 1,4 1.430 0,3 484.218
Construção
116.287 91,9 8.282 6,5 1.694 1,3 221 0,2 126.484
Comércio
2.337.889 95,4 105.891 4,3 4.862 0,2 2.846 0,1 2.451.488
Serviços
1.712.418 92,3 122.609 6,6 10.548 0,6 10.605 0,6 1.856.180
Total
4.605.607 93,6 274.009 5,6 23.652 0,5 15.102 0,3 4.918.370
Tabela II.1 - Empresas formais no Brasil por porte e setor de atividade – 2002
Fonte: IBGE/SEBRAE
Micro Pequenas Médias Grandes Total Setores
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. % Quant.
Indústria
1.571.608 23,7 1.471.254 22,2 1.322.673 20,0 2.256.721 34,1 6.622.256
Construção
356.660 27,3 339.777 26,0 327.135 25.0 284.005 21,7 1.307.577
Comércio
4.664.545 58,9 1.772.233 22,4 327.443 4,1 1.161.426 14,7 7.925.647
Serviços
3.374.388 28,8 2.206.611 18,8 722.852 6,2 5.402.593 46,2 11.706.444
Total
9.967.201 36,2 5.789.875 21,0 2.700.103 9,8 9.104.745 33,0 27.561.924
Tabela II.2 - Pessoas ocupadas nas empresas formais no Brasil – 2002
Fonte: IBGE/SEBRAE
No Brasil as micro e pequenas empresas, têm a possibilidade de tratamento
diferenciado assegurada pelos Artigos 146, 170 e 179 da Constituição Federal. O tratamento
29
diferenciado visou, em principio, o incentivo pela simplificação e/ou redução das obrigações
administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, através de leis específicas para tal
finalidade.
A primeira medida legal voltada efetivamente para tratamento especial às empresas de
pequeno porte, foi a instituição pela Lei n
P
o
P
7256, do Estatuto da Micro Empresa em 1984. Um
segundo Estatuto aprovado em 1994, através da Lei n
P
o
P
8864, também contemplava tratamento
favorecido para as micro e pequenas Empresas (MPEs) nos campos trabalhista, previdenciário,
fiscal, creditício e de desenvolvimento empresarial. Mais recentemente, em 1999, pela Lei n
P
o
P
9841, fundamentada nos artigos 170 e 179 da Constituição Federal, foi aprovado o novo
Estatuto da Micro Empresa e da Empresa de Pequeno Porte, estabelecendo diretrizes para
concessão de tratamento diferenciado aos pequenos negócios nos campos administrativo,
tributário, previdenciário, trabalhista, creditício e de desenvolvimento empresarial.
Como se pode depreender dos aspectos legais até aqui apresentados, a ênfase tem
sido predominantemente administrativa e tributária, cabendo ressaltar que diversas ações
previstas não só no Estatuto como também no Decreto 3474 que o regulamenta, estão
necessitando de implementação, entre eles a aplicação nas Micro e Pequenas Empresas
(MPE) de vinte por cento dos recursos federais em pesquisa e capacitação tecnológica (Artigo
20).
II.3 - Caracterização das Micro e Pequenas Empresas
Dois critérios são normalmente utilizados no Brasil para caracterizar o porte das
empresas. O primeiro critério utilizado pela Área de Pesquisas do Serviço de Apoio à Micro e
Pequena empresa (SEBRAE), é o apresentado no quadro a seguir.
Porte das empresas Quantidade de empregados
Micro empresa Até 19 empregados
Empresa pequena De 20 até 99 empregados
Empresa média De100 até 499 empregados
Empresa grande Mais de 499 empregados
Quadro II.2 - Porte das empresas industriais conforme o n
P
0
P
de empregados
Fonte: SEBRAE
30
O segundo critério diz respeito ao faturamento bruto anual das empresas. Segundo este
critério, as Micro e Pequenas Empresas (MPEs), de acordo com a Lei Federal n
P
0
P
9841 do
Estatuto das MPEs são caracterizadas conforme a mostrado no quadro a seguir.
Porte das Empresas Faturamento Anual em Reais
Micro empresa Inferior a R$ 433 755,14
Empresa pequena Superior a R$ 433 755,14 e igual ou inferior a 2 133 222,00
Quadro II.3 - Porte das empresas conforme o faturamento anual
Fonte: Lei Federal 9841 de 05/10/99
II.4 – Perspectivas para a Competitividade das MPEs Brasileiras
O cenário nacional e especialmente o internacional, não se apresentam favoráveis à
atuação das MPEs brasileiras, diante da crescente flexibilização na produção, gestão e
relações de trabalho, da formação e fortalecimento dos blocos econômicos mundiais e
notadamente da tendência de formação de grandes conglomerados empresariais sob a forma
de fusões e aquisições, só para citar alguns dos aspectos mais influentes no acirramento e
complexidade da concorrência entre empresas. Embora tal cenário também contemple
oportunidades, parece claro que é cada vez mais necessário incentivar e apoiar as MPEs para
que sobrevivam e se desenvolvam de forma inovadora e competitiva num contexto
crescentemente adverso e complexo. Dentre as estratégias possíveis para apoiar as MPEs,
destaca-se o estimulo ao desenvolvimento dos Arranjos Produtivos Locais (APLs).
II.5 - Arranjos Produtivos Locais (APLs): Uma vantagem Competitiva
Segundo o SEBRAE, os Arranjos Produtivos Locais (APLs), “são aglomerações de
empresas localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e
mantêm algum vínculo de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com
outros atores locais como governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e
pesquisa”.
Lastres e Cassiolato (2003) apontam a definição proposta pela REDESIST
TP
5
PT
para os
APLs como sendo:
TP
5
PT
A REDESIST é uma rede de pesquisa interdisciplinar, formalizada desde 1997, sediada no Instituto de Economia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro e que conta com a participação de várias universidades e institutos de
pesquisa no Brasil, além de manter parcerias com outras instituições da América Latina, Europa e Ásia.
31
“(...) aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, com
foco em um conjunto específico de atividades econômicas que apresentam
vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a
interação de empresas que podem ser desde produtoras de bens e serviços
finais até fornecedores de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria
e serviços, comercializadoras e clientes, entre outros e suas variadas formas
de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições
públicas e privadas voltadas para: a formação e capacitação de recursos
humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento
e engenharia; política, promoção e financiamento.
Ainda segundo Lastres e Cassiolato (2003), na abordagem de APLs há que considerar
fundamentalmente, em primeiro lugar, o “aproveitamento da sinergias coletivas”, objetivando
fortalecer as chances de sobrevivência e crescimento especialmente da Micro e Pequenas
Empresas (MPEs). Em segundo lugar, que os “processos de aprendizagem coletiva e
especializada, cooperação e dinâmica inovativa” desses conjuntos de empresas, sejam
prioritários e permanentes, diante da dinâmica dos desafios decorrentes da “sociedade de
informação ou era do conhecimento” em permanente expansão globalizante. Em terceiro lugar,
o reconhecimento de que a ênfase especial para as formas e instrumentos de promoção das
MPEs “é uma tendência mundial para o desenvolvimento tecnológico e industrial”, e se constitui
numa das principais preocupações e alvos de políticas específicas, inclusive nos países mais
desenvolvidos, considerando a importância das pequenas empresas no contexto produtivo
mundial, especialmente quanto às inovações e contribuições para as exportações.
Apesar dos inúmeros casos exitosos de APLs em todo o mundo, o sucesso de qualquer
arranjo produtivo, dependerá fundamentalmente da cuidadosa e permanente análise e/ou
constante monitoramento de alguns aspectos especialmente relevantes, para que não se
frustrem expectativas. A seguir são apresentados aspectos especialmente relevantes para a
atuação eficiente e eficaz dos APLs.
II.5.1 – Território
Destaca-se da definição de APLs o primeiro aspecto de relevância, o território, não
apenas como a localidade, a região, o contorno geográfico de atuação do APL na sua
dimensão material ou concreta. Santos, M. (2004) comenta que “um inventário dos estudos
empreendidos pela técnica deixa ver que esse fenômeno é freqüentemente analisado como se
32
a técnica não fosse parte do território, um elemento de sua constituição e de sua
transformação”. Lastres e Cassiolato (2005) sustentam que o território apresenta uma
variedade de dimensões, tais como a “dimensão física” relativa ao clima, solo, relevo,
vegetação, subsolo, a “dimensão econômica”, que diz respeito à organização espacial dos
processos de produção econômica, ou seja, o que, como e quem nela produz, a “dimensão
sócio política” correspondente ao meio para as interações e relações de dominação e poder,
isto é, quem e como o domina e influencia, a “dimensão simbólica” que inclui as ligações
afetivas, culturais e de identidade do indivíduo ou grupo social com seu espaço geográfico e a
dimensão cognitiva” relativa às condições para a geração, uso e difusão do conhecimento.
Resulta óbvio então, que um APL deve em primeiro lugar, estar baseado em um território
amigável, próprio para o seu adequado e contínuo desenvolvimento. Corroborando com este
raciocínio, Santos, M. (2004) afirma que:
“os lugares se distinguem pela diferente capacidade de oferecerem
rentabilidade aos investimentos. Essa rentabilidade é maior ou menor, em
virtude das condições locais de ordem técnica (equipamentos, infra-estrutura,
acessibilidade organizacional (leis locais, impostos, relações trabalhistas,
tradição laboral, etc.). Essa eficácia mercantil não é um dado absoluto do lugar
mas se refere a um determinado produto e não a um produto qualquer”.
II.5.2 – Governança
Um segundo aspecto de relevante importância nos APLs é a governança.
Genericamente o conceito de governança diz respeito às diversas forças/ações, através das
quais, indivíduos e organizações (públicas e privadas), procuram acomodar interesses por
vezes conflitantes ou no mínimo diferenciados, objetivando adequações corporativas. Sobre a
governança nos APLs, vale citar Cassiolato e Szapiro, (2003) quando concluem que:
“ em um mundo crescentemente globalizado, as possíveis articulações entre os
agentes locais inexoravelmente se relacionam a (e dependem de) outras
articulações com agentes localizados fora do território. Deve-se portanto,
buscar entender sob que sistema de coordenação se estabelecem (ou podem
ser estabelecidas) as relações de caráter local entre empresas e instituições. A
governança portanto é crucial”.
Como se pode intuir, o exercício da governança tende a ser extremamente complexo,
dependendo por princípio da tipologia do Arranjo Produtivo para o estabelecimento de práticas
democráticas locais na administração da intervenção e participação de diferentes categorias de
33
atores como, por exemplo, do estado em diferentes níveis, trabalhadores e cidadãos em geral
de alguma forma relacionados com os APLs, empresas privadas locais, direta ou indiretamente
ligadas ao tipo de produtos objeto dos Arranjos Produtivos, só pra citar alguns dos agentes que
podem condicionar significativamente os processos decisórios locais e por conseqüência o
desempenho dos APLs.
Segundo Lastres e Cassiolato (2005), basicamente existem dois tipos de governança
aplicáveis nos arranjos produtivos em geral. O primeiro tipo de governança, a hierárquica, onde
a autoridade é exercida por grandes corporações com capacidade potencial para a
coordenação das relações produtivas, mercadológicas e tecnológicas no âmbito local de
aglomeração de empresas de porte mais expressivo. O segundo tipo de governança, a não
hierárquica, é mais característico nas aglomerações de micro, pequenas e médias empresas e
outros atores, onde nenhum deles se mostra dominante. Neste caso, a governança local
pública e privada, pode exercer papel importante para o fomento da competitividade das
empresas participantes dos APLs. A parte pública pode e deve atuar através da formulação e
da aplicação prática de leis de incentivo específicas e da ação de órgãos oficiais de fomento,
centros de treinamento e formação profissional e de prestação de serviços tecnológicos de
entidades de ensino e pesquisa entre outros. A parte privada, atuando sob a forma de
associações de classes, sindicatos e organizações não governamentais diversas, pode e deve
fomentar a competitividade nos APLs, desenvolvendo atividades de aglutinação e coordenação
nas ações conjuntas das empresas participantes, em especial as voltadas para a inovação e
aprendizados interativos e, sobretudo, direcionando adequadamente para os órgãos
governamentais as reivindicações das empresas participantes que estejam alinhadas com os
objetivos de desenvolvimento permanentemente dos APLs que representem. Em síntese, a
governança tem como objetivo fundamental e permanente a harmonização de interesses e o
incentivo da sinergia resultante da atuação de todos os atores envolvidos, identificando
necessidades, gargalos de natureza diversa e outras dificuldades, desenvolvendo então ações
eficientes e eficazes que as minimizem e/ou eliminem, promovendo o crescimento sustentado e
contínuo dos APLs que representem.
34
II.5.3 – O Grau de Enraízamento
O terceiro aspecto de especial relevância é o grau de enraízamento nos contextos em
que se inserem os APLs. Se refere principalmente ao grau de envolvimento dos diferentes
atores dos APLs. Quanto maior for o envolvimento em termos de capacitações e os recursos
humanos, materiais, técnico-científicos, financeiros e empresariais, bem como a interação com
outras organizações e com os mercados em geral (nacionais e internacionais), maior será a
chance de um APL se desenvolver de forma exitosa. Há que ter cuidado para que a dinâmica
dos APLs não se restrinja apenas à presença de um certo número de empresas operando no
mesmo tipo de atividade produtiva e em certos níveis de proximidade espacial (território),
transformando-se assim numa mera atitude social compensatória de resgate de determinado
local ou região, sem levar em conta o efetivo potencial para um maior dinamismo econômico
que possa se transformar em fonte geradora de vantagens competitivas duradouras
decorrentes do enraízamento de capacidades produtivas e inovativas, configuradas pelas
potencialidades, vocações e oportunidades devidamente identificadas e desenvolvidas.
II.6 – As Iniciativas para a Promoção de Arranjos Produtivos Locais
A exemplo do praticado nos países mais desenvolvidos, que praticam intensamente
políticas voltadas para o apoio e incentivo às pequenas empresas, reconhecendo nelas um
expressivo potencial para inovações e para a competitividade como um todo, assim como para
uma contribuição para exportações que segundo Souza et al (2003), alcançam de 25% a 35%
das exportações de manufaturados, o Brasil vem desenvolvendo nos últimos anos, ações
voltadas para as micro, pequenas e médias empresas, ações essas, em grande parte
direcionadas para a identificação de aglomerados produtivos que tenham potencial para serem
classificados dentro de critérios definidos para Arranjos Produtivos Locais que, segundo O
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos do Ministério de Ciência e Tecnologia, considerem
principalmente os seguintes fatores, que indiquem a relevância econômica e social e a
capacidade de inovação:
35
' quanto à relevância econômica e social, devem ser avaliados:
- importância econômica do Arranjo para a região e potencial para alavancar o
desenvolvimento local e regional;
- diminuição das disparidades inter-regionais e intra-regionais;
- oportunidade de geração de emprego e renda;
- presença de micro, pequenas e médias empresas;
- interiorização do desenvolvimento e a dinamização de regiões estagnadas;
- impacto na balança de pagamentos (aumento das exportações e substituição competitiva de
importações);
- inserção nas prioridades de Estados e Municípios.
' Quanto à capacidade inovativa, devem ser avaliados:
- possibilidade de inserção de ciência e tecnologia (C&T) no Arranjo;
- a existência de instituições coordenadoras ou lideranças locais dispostas a implementar
projetos cooperativos e de interesse comum;
- participação de instituições de cunho tecnológico que ofertem serviços e/ou possibilidades de
desenvolvimento tecnológico para as empresas do arranjo;
- a possibilidade de cooperação das empresas entre si e com os atores locais por meio da
constituição de uma governança que resulte no efetivo desenvolvimento do Arranjo,
possibilitando a geração de economias externas e de sinergias ao Arranjo.
Conforme relatado por Lemos, C. et al (2004), desde o final de 2002 e a partir de um
mapeamento das várias iniciativas então em curso, a questão dos APLs passou a merecer uma
atenção mais focada e a criação do Grupo Interministerial de APLs no primeiro semestre de
2003 parece confirmar tal fato.
O Grupo Interministerial de APLs, reunindo inicialmente alguns ministérios que de
alguma forma já atuavam no assunto, tais como o de Desenvolvimento Indústria e Comércio
Exterior, o da Ciência e Tecnologia, o do Planejamento e o da Integração Nacional. A esse
núcleo inicial, juntaram-se outros ministérios como o de minas e Energia e outros organismos
de governo e não governamentais, cujos recursos são públicos, tais como a Agência de
36
Promoção da Exportação (APEX) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (SEBRAE). Finalmente, com o lançamento do Plano Plurianual (PAA) 2004/2007,
parece ter-se institucionalizado o Programa de APLs em nível federal sob a coordenação do
Ministério de Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e que tem como focos
principais das suas ações, o crédito e financiamento, o desenvolvimento tecnológico, a
capacitação empresarial e dos trabalhadores e a promoção das exportações.
II.6.1 – O Fórum da Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias
Em 2004, como parte das estratégias governamentais para a melhoria da
competitividade em diversas cadeias produtivas, foi implantado o Fórum da Competitividade
da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias, buscando identificar e solucionar/eliminar as suas
principais dificuldades/gargalos, buscando assim alcançar níveis de competitividade
equiparados com os melhores níveis da concorrência internacional e tendo como meta principal
o aumento do volume e qualidade das exportações do setor, estabelecido pelo Instituto
Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM) pela Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) e
pela Agência de Promoção de Exportações (APEX) e dentro do Programa de Apoio
Tecnológico à Exportação (PROGEX), passando-se dos US$ 741 milhões em 2002 para US$ 1
bilhão em 2006, priorizando o segmento de produtos industrializados, ou seja, com maior valor
agregado, que inclui a produção de jóias, folheados, artefatos e pedras lapidadas, buscando a
consolidação mundial da imagem do Brasil e da marca brasileira da produção de Gemas e
Jóias, mostrada na figura II.1 a seguir.
Figura II.1 - Marca Brasileira da Produção de Gemas e Jóias
Fonte: IBGM
37
Saliente-se por oportuno, que a Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias foi selecionada
pelos critérios do MDIC por possuir excelente potencial em termos de promoção das
exportações, pela capacidade de promover a inclusão social via desenvolvimento de produções
regionais, pela geração de emprego e renda, com redução da informalidade e muito bom
potencial em termos de competição com as importações e desenvolvimento regional e local,
sintetizados no quadro da figura II.2 abaixo.
Critérios para a
Cadeia
Produtiva
Emprego e
Renda
Desenvolviment
o Produtivo
Regional
Exportação Competição
com Importação
Gemas e Jóias
. Simbologia Excelente Potencial Muito Bom Potencial
Figura II.2 - Critérios de Seleção para Fóruns de Competitividade
Fonte: MDIC
Entre as dificuldades (gargalos) da Cadeia Produtiva de Jóias, alinhadas de alguma
forma com o foco desta dissertação, cabe transcrever as conclusões de natureza tecnológica
do Fórum da Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias e, especificamente,
quanto ao segmento da indústria joalheira de ouro e folheados contidos no Resumo Executivo
do Fórum já citado, a seguir apresentadas:
“ reduzida Capacitação de Mão-de-Obra – a par do esforço realizado pelas
entidades de classe e do governo, que têm incentivado a criação de cursos e o
fortalecimento de escolas de joalheria, principalmente do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI) e Escolas Técnicas, dada a evolução do
processo de competitividade associado ao universo de empresas e
autônomos, tais iniciativas ainda se apresentam muito aquém das
necessidades da indústria joalheira e folheados.
U
A baixa qualificação da mão-
de-obra tem sido considerada um grave problema nas áreas de modelagem,
desenho de jóias por computador, cravação
U
e técnicas de vendas, tanto no
varejo, quanto no exterior;
- inadequação Tecnológica – embora as jóias brasileiras apresentem design
moderno e qualidade crescente,
U
os diversos processos de produção têm sido
utilizados com distintos graus de eficiência, causados pela boa ou má
utilização da tecnologia disponível, das máquinas e equipamentos e das
ferramentas empregadas
U
. Na pesquisa do IBGM sobre o perfil da indústria de
jóias, realizada em 2000, 34,7% das empresas tinham em toda a sua
produção com peças feitas em série, o que permite grandes ganhos de escala.
Considerando que 63% das empresas terceirizam alguma etapa do processo
produtivo, que pela ordem de importância são cravação, fundição, acabamento
e montagem, há um grande “espaço” para incorporação de tecnologias;
- insuficiente Inovação Tecnológica – a nova geração de joalheiros
internacionais trabalha com tecnologia de ponta, a exemplo do uso de laser
para a solda de materiais,
U
o desenvolvimento rápido de protótipos (CAD/CAM)
U
o uso de plásticos da indústria aeroespacial. “Da mesma forma, matérias
primas e insumos, como pré-ligas de alta qualidade, revestimento (refratários),
ceras, borrachas e silicones, precisam ser mais amplamente utilizados pela
indústria joalheira nacional.” (Resumo Executivo do Fórum de
Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias – 2004).
38
Como se pode depreender da parte destacada do Resumo Executivo, a inadequação e
a insuficiente inovação tecnológica são dificuldades consideradas relevantes para alavancar o
desenvolvimento da competitividade da cadeia produtiva de gemas e jóias. É nesse aspecto
que se inserem as possíveis contribuições a utilização de tecnologias de Prototipagem Rápida
(PR).
39
CAPÍTULO III
O CENÁRIO/PAISAGEM DO SETOR PRODUTIVO DE JÓIAS DO RIO DE JANEIRO
A intenção de transformar efetivamente o setor de jóias da cidade do Rio de Janeiro em
um Arranjo Produtivo Local (APL) de Jóias de insere na estratégia do Governo Federal, para o
incremento da produção joalheira nacional, voltada, sobretudo, para a ampliação substancial
das exportações, que, como abordado em I.3, são incompatíveis com o potencial do País,
constituído principalmente pelas suas reservas de gemas e metais preciosos. Entretanto, para
aumentar substancialmente e continuamente as exportações de jóias, é necessário reunir
condições que permitam igualar e/ou superar a competição internacional. Há que remover
óbices de natureza diversificada e, entre eles, os de natureza tecnológica, alinhados com esta
dissertação e identificados pelo Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas e
Jóias, referentes à reduzida capacitação de mão-de-obra, à inadequação tecnológica e à
insuficiente inovação tecnológica, o que, grifo do autor, basicamente configura a falta de
modernização do setor produtivo joalheiro no Brasil como um todo e do Rio de Janeiro em
particular.
Neste capítulo, com base nos dados e demais informações, resultantes não só das
conclusões do Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias, mas,
também e principalmente, das observações e pesquisas desenvolvidas pelo autor, bem como
de pesquisas desenvolvidas pelo SEBRAE/RJ, se analisa a oportunidade e as dificuldades para
a utilização da Prototipagem Rápida (PR), para a solução de problemas técnicos na produção
de jóias e para a modernização do setor como um todo.
III.1 – O Reconhecimento da Importância da Produção de jóias na Cidade do Rio de
Janeiro
Com base na seleção da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias pelo MDIC, como relatado
no Capítulo II, foi instalado o seu Fórum de Competitividade em 14 de junho de 2004 em
Brasília e logo após, constituídos vários Grupos de Trabalho (GTs), ressaltando-se entre eles o
GT1 – Inovação Tecnológica e Modernização Industrial, coordenado pelo Ministério de
40
Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior (MDIC) através da Secretaria de Tecnologia
Industrial (STI) e Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) através da Secretaria de Política
Industrial (SPI) e IBGM, o GT2 – Inserção Externa e Capacidade Exportadora, coordenado pelo
MDIC através da Câmara de Comércio Exterior e IBGM e o GT3 – Desenvolvimento Produtivo
Local e Responsabilidade Social, coordenado pelo MDIC através da Secretaria de
Desenvolvimento da Produção (SDP) e Ministério de Minas e Energia (MME) e IBGM.
Da atuação dos Grupos de Trabalho, com a participação de diversas instituições de
diferentes áreas de competência e a partir da análise das dificuldades/gargalos apontados
pelas entidades de classe e empresas do setor, resultaram diversas propostas voltadas para a
melhoria da competitividade da Cadeia Produtiva de gemas e Jóias como um todo. Entre as
propostas cabe destacar, pelo alinhamento com o tema deste trabalho, da intenção declarada
de estimular o desenvolvimento de um APL de Jóias na Cidade do Rio de Janeiro.
III.2 – O Setor de Jóias do Rio de Janeiro. Composição
O setor de Jóias da Cidade do Rio de Janeiro reúne na sua fase atual, cerca de 80
empresas produtoras de jóias e em torno de 1000 empresas na comercialização (varejo), num
conjunto onde, segundo o SEBRAE e a AJORIO, 96% das empresas são constituídas por
micro e pequenas empresas e, o restante, por empresas médias e grandes, todas situadas na
Cidade do Rio de Janeiro, especialmente no Centro, em Ipanema e na Barra da Tijuca, onde
predominantemente se concentram as empresas de produção e/ou comercialização de jóias. A
composição do setor é resumida no quadro III.1 a seguir apresentado.
QUANTIDADE DE
EMPRESAS
PORTE DAS EMPRESAS
TERRITÓRIO ABRANGIDO
Indústria
Comércio
Micro e
Pequenas %
Médias e
Grandes %
Espaço territorial compreendido
pela Cidade do Rio de Janeiro,
com maiores concentrações no
Centro, Ipanema e Barra da
Tijuca.
80
1.000
96 %
4 %
Quadro III.1 – Composição do APL de Jóias do Rio de Janeiro
Fonte : AJORIO
41
III.3 – Níveis de Participação e Cooperação.
Nestes aspectos, especialmente importantes para a dinâmica geral do setor no Rio de
Janeiro, pesquisas realizadas pelo SEBRAE/RJ, revelaram a existência de grandes espaços,
onde atuações adequadamente direcionadas e aplicadas poderão alavancar as suas
atividades. A seguir, são resumidas as principais constatações, das citadas pesquisas,
alinhadas com os objetivos principais desta dissertação.
III.3.1 – Participação das Empresas nas Decisões/Ações Relacionadas com as suas
Atividades.
Segundo pesquisas do SEBRAE/RJ e como mostrado no gráfico da figura III.1, apesar
de cerca de 83% das empresas declararem terem tido conhecimento de ações voltadas para o
desenvolvimento do setor e de cerca de 52% reconhecerem benefícios dessas ações para as
suas atividades, é importante ressaltar que a maioria, cerca de 74%, se declararam não
participantes do processo de decisões relacionadas com as suas atividades.
Figura III.1 – Participação das Empresas nas Decisões/Ações do Setor
Fonte: SEBRAE/RJ
III.3.2 - Participação em Órgãos/Associações de Classe
Nesse aspecto, segundo o SEBRAE/RJ, constata-se que a maioria das empresas, ou
cerca de 68%, é filada à Associação dos Joalheiros e Relojoeiros do Rio de Janeiro (AJORIO),
cerca de 20%, são filiadas ao Sindicato das Indústrias de Joalheria e Lapidação de pedras
preciosas (SINDIJÓIAS) e 10% à Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), além
de 8% filiadas à Federação Nacional do Comércio (FECOMÈRCIO) e de outras participações
Participação das Empresas nas Decisões/Ações Relacionadas com as
suas Atividades
74%
52%
83%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%
Conhecimento de ações para desenvolvimento do
setor
Reconhecimento de benefícios para as enpresas
Não participação nas decisões relacionadas com
o setor
42
menores em outros Órgãos e Associações de Classes, como o Sindicato Nacional do Comércio
Atacadista de Pedras Preciosas (SNCAPP) e o Centro Industrial do Rio de Janeiro (CIRJ),
conforme apresentado no gráfico da figura III.2 abaixo.
Figura III.2 – Participação das Empresas do Setor em Órgãos/Associações de Classe
Fonte: SEBRAE/RJ
O autor teve conhecimento e constatou que, a partir da intenção do Governo Federal
explicitada em 2004 no Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias para
configurar efetivamente um APL de Jóias na Cidade do Rio de Janeiro, a AJORIO com o apoio
do SEBRAE/RJ, vem liderando o projeto de desenvolvimento do setor. Ações de planejamento
e de desenvolvimento, como o diagnóstico das empresas, a criação de um Centro Tecnológico
e a capacitação das empresas em várias áreas de interesse do setor, entre outras ações, têm
como objetivos, a elevação da competitividade industrial, a redução da carga tributária e a
geração de empregos e renda, entre outros, buscando o fortalecimento, a modernização e a
dinamização do setor no Rio de Janeiro e dando às jóias produzidas maior visibilidade e
posição de destaque nos mercados nacional e internacional. As ações incluem, ainda, a
criação da marca “Jóia do Rio”, alinhada com a posição de 4
P
0
P
maior pólo produtor de jóias do
país e da liderança na exportação de jóias onde o Rio de Janeiro, no total de jóias exportado
pelo Brasil, sempre teve uma contribuição majoritária, com participações que já atingiram em
2002, cerca de 79% das exportações brasileiras de jóias, conforme apresentado na tabela III.1
a seguir.
Participação em Orgãos/Associações de Classe
68%
20%
10%
8%
4%
3%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%
AJORIO
SINDIJÓIAS
FIRJAN
FECOMÉRCIO
SNCAPP
CIRJ
Percentagens de Participação das Empresas
43
Ano 2002 2003 2004
Exportação RJ (em US$) 47.801 000 47.810 000 56.093 000
Exportação BRASIL (em US$) 60.155 000 67.691 000 93.063 000
RJ/BRASIL %
79% 70% 60%
Tabela III.1 - Participação do Rio de Janeiro na Exportação de Jóias do Brasil
Fonte: AJORIO
Vale acrescentar que, em sua maior parte, as exportações ocorrem através das vendas
realizadas para não residentes no País, em trânsito/turismo no Rio de Janeiro, que, conforme
as últimas estatísticas disponibilizadas pela Prefeitura do Município, para o período de 1998 a
2003, giraram em torno de 1,5 milhões de pessoas/ano, conforme apresentado no gráfico da
figura III.3 a seguir.
Figura III.3 - Turismo Receptivo. Estrangeiros no Brasil e no Rio de Janeiro
Fonte: Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR)
Tais fatos, por si sós já seriam relevantes para o reconhecimento da importância do
setor. Também não restam dúvidas quanto a essa importância quando analisada à luz dos
critérios sucintamente descritos em II.6, verifica-se a convergência de vários fatores positivos,
como por exemplo, quando no critério referente à relevância econômica e social, se considera
a importância econômica do setor e o seu potencial para o desenvolvimento local e regional, a
presença de micro, pequenas e médias empresas e o impacto na balança de pagamentos do
País, através do aumento das exportações e possível diminuição de importações. Também,
quando se considera o critério referente à capacidade inovativa, outros fatores positivos
emergem, como por exemplo, a possibilidade da inserção de C&T no setor, favorecida,
44
sobretudo, pela existência de instituições tecnológicas como o Instituto Nacional de Tecnologia
(INT), o CEFET/RJ e o SENAI, entre outras, que ofertam serviços e/ou possibilidades de
pesquisa e desenvolvimento tecnológico e de produtos para as empresas do setor.
Saliente-se ainda, o grau de enraízamento já existente, identificável na capacidade de
produção já instalada, na tradição e reputação local quanto à qualidade do design e das jóias
produzidas, na presença de importantes instituições locais de alguma forma envolvidas com o
setor, tais como universidades, escolas técnicas, centros de pesquisa, entre outras, que em
muito podem contribuir para o desenvolvimento do setor de jóias da Cidade do Rio de Janeiro.
III.4 – Outras características do Setor
Outras características, pela sua importância fundamental, notadamente para futuras
ações de incentivo/desenvolvimento do setor, são apresentadas a seguir.
III.4.1 – Perfil dos Principais Dirigentes das Empresas
O gráfico da figura III.4, a seguir apresenta dados obtidos pelo SEBRAE/RJ, sobre a
atividade anterior exercida, a escolaridade e o sexo dos principais dirigentes das empresas do
setor de jóias da Cidade do Rio de Janeiro.
Figura III.4 - Perfil dos Principais Dirigentes das Empresas do APL
Fonte: SEBRAE/RJ
Perfil dos Principais Dirigentes das Empresas
66%
34%
5%
26%
58%
9%
2%
14%
16%
52%
4%
14%
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
Masculino
Feminino
Nível fundamental
Nível médio
Nível superior
Pós-Graduação
Não Informado
Setor de jóias
Outras atividades
Sem qualquer atividade anterior
Funcionário público
Outras não especificadas
SEXO ESCOLARIDADE
ATIVIDADE
ANTERIOR
45
Vale ressaltar a importância dos dados colhidos, a seguir comentados, pela sua
expressividade e especial relevância para futuras ações de gerenciamento no setor, sobretudo,
as relacionadas com treinamentos gerenciais e específicos relativos à produção joalheira, ou
seja:
- a procedência dos dirigentes, onde, somente 14% deles, desenvolviam atividades
anteriores no setor de jóias, enquanto que 34% desenvolviam outras atividades não
relacionadas com o meio joalheiro. A pesquisa do SEBRAE/RJ ainda registra que cerca de
52% dos dirigentes de empresas não tinham desenvolvido outra atividade antes de se dedicar
à atividade joalheira;
- a escolaridade dos dirigentes, onde se constata que, a maioria, cerca de 93%, tem
formação escolar que vai do nível médio até à pós-graduação, destacando-se nesse universo
os 58% com nível superior e os 9% com nível de pós-graduação..
III.4.2 – Dificuldades para a Utilização da PR no Setor
Das visitas, consultas e entrevistas ao longo da elaboração deste trabalho, resultaram
argumentações diversas, que buscavam explicar os motivos/dificuldades para a não utilização
da PR na produção de jóias. Tais motivos/dificuldades freqüentemente alegados, levaram o
autor à realização de uma pesquisa que identificasse a sua possível relevância. Foi então
realizada uma pesquisa no mercado, consultando 18 renomados especialistas, notadamente
entre produtores de jóias, designers e bureaus de prestação de serviços em PR.
A pesquisa constou do envio de formulário especialmente preparado para tal, contendo
5 (cinco) alternativas de respostas, envolvendo as 4 (quatro) dificuldades mais freqüentemente
citadas, que foram a quebra de paradigma/receio de mudanças, o custo dos equipamentos e
softwares, a falta de conhecimento/treinamento específico e o receio quanto à
confidencialidade, (propriedade intelectual do design), durante o processo. O formulário ainda
incluía uma quinta alternativa, destinada a outras dificuldades possivelmente identificadas e
que deveriam ser descritas pelos respondentes.
46
A resposta solicitada, consistia em atribuir graus de importância, desde 5 (cinco), para a
maior dificuldade, até 1 (um) para a menor importância, a cada uma das dificuldades
envolvidas. Contatos adicionais foram estabelecidos com os respondentes, explicando a
motivação da pesquisa e esclarecendo possíveis dúvidas.
III.4.2.1 – Os Resultados da Pesquisa.
Da amostra selecionada para a pesquisa, ou seja, 18 especialistas foram obtidas 12
respostas, sendo 3 (três) de especialistas ligados a associações de empresas (AJORIO e
FIRJAN), 3 (três) de especialistas ligados instituições de ensino e pesquisa (PUC/RJ, Escola de
Ourivesaria do SENAI/RJ e INT, 2 (duas) de designers de renome, 2 (duas) de Bureaus de
prestação de serviços de PR para jóias, 1 (uma) de grande empresa produtora de jóias do Rio
de Janeiro e 1 (uma) de representante no Brasil de fabricantes de equipamentos de PR, o que
correspondeu a cerca de 67% do universo consultado. A distribuição das respostas ocorreu da
seguinte forma:
- 66,7% dos respondentes, atribuíram grau máximo 5 (cinco), para a dificuldade
relacionada com o custo dos equipamentos e softwares;
- 58,3% dos respondentes, atribuíram grau 4 (quatro), ou segunda maior dificuldade, à
falta de conhecimento e/ou treinamento específico sobre a PR;
- 33,3% dos respondentes, atribuíram grau 3 (três), ou terceira maior dificuldade, à
quebra de paradigma/receio de mudanças no setor joalheiro;
- 58,3% dos respondentes, atribuíram grau 2 (dois), ou quarta maior dificuldade, ao
receio quanto à confidencialidade durante o processo, (propriedade intelectual do
design);
Por último, segundo cerca de 66,7% dos respondentes, foram apontadas como
menores dificuldades, as relacionadas com:
- a falta de informações sobre a importância da PR para o design, inovação e produção
de jóias;
47
- a insuficiência de pesquisas específicas sobre a utilização da PR no universo joalheiro
nacional;
- a escassez de material bibliográfico para pesquisas;
- a inexistência de uma rede de troca de conhecimentos e experiências em relação a
softwares, hardwares e especificações sobre o uso da PR na produção joalheira;
- o volume de produção, (custo/benefício);
- a dependência tecnológica e possíveis problemas quanto à presteza e qualidade de
suporte na manutenção dos equipamentos;
- o licenciamento de aplicativos.
O gráfico da figura III.5 a seguir, sintetiza os resultados da pesquisa realizada..
Figura III-5 – Dificuldades para a Utilização da PR na Produção de Jóias
III.5 - O Estágio de Desenvolvimento na Produção de Jóias no Rio de Janeiro
Na visão do autor, os dados apresentados em III.2, III.3 e III.4, já explicam e definem
parte do cenário/paisagem predominante no setor de Jóias da Cidade do Rio de Janeiro.
A presença majoritária, cerca de 96%, de MPEs na sua composição, e a sua natural
baixa capacidade para investir, não só em equipamentos, mas, sobretudo, em
treinamento/desenvolvimento de recursos humanos, por si só, já estabelece uma dificuldade
relevante para a sua evolução.
Dificuldades para a Utilização da PR na Produção de
ias
66,7%
58,3%
33,3%
58,3%
66,7%
0% 20% 40% 60% 80%
vel 5
vel 4
vel 3
vel 2
vel 1
Percentagens de Respondentes
Simbologia
- Custo dos equipamentos e
softwares.
- Falta de conhecimento e/ou
treinamento específico em PR.
- Quebra de paradigma/receio
de mudança no setor.
- Receio quanto à
confidencialidade (propriedade
intelectual do design).
- Outras Dificuldades.
48
Outro aspecto de especial influência é o relacionado com a falta de experiência anterior
no setor de jóias, da expressiva maioria dos dirigentes das empresas, cerca de 86% deles,
segundo pesquisa do SEBRAE/RJ.
A possível influência desses dois aspectos é de fundamental importância, tendendo a
dificultar o estabelecimento de uma dinâmica voltada para a modernização e inovação no setor,
ainda que sejam disponibilizados recursos específicos para tal finalidade.
Nas atividades desenvolvidas pelo autor neste trabalho, sobretudo, nas visitas e
entrevistas realizadas, foi se definindo uma “paisagem”, que parece comum nos ambientes de
produção joalheira em geral e no setor do Rio de Janeiro em especial. Tal “paisagem”
evidencia a predominância das atividades tradicionais, notadamente na criação e modelagem,
atividades essas que, por serem as primeiras na “genética” das jóias, acabam por determinar a
qualidade e a complexidade de todos os processos que se seguem, consolidando o “status
quo” vigente, ou seja, por serem atividades predominantemente artesanais e, portanto, sujeitas
às limitações da habilidade manual humana, por melhor que ela seja, tendem a gerar peças
com baixa complexidade geométrica e “inventividade” e/ou inovação, realimentando assim o
“ciclo vicioso” de não se precisar de tecnologias e processos mais modernos e avançados para
produzi-las.
Os equipamentos disponíveis são, em sua maioria, os mais tradicionais, alguns
utilizados há décadas na joalheria, e, quando mais modernos, praticamente se restringem às
atividades de moldagem e acabamento. Equipamentos como, por exemplo, de soldagem a
laser, essenciais para a realização de trabalhos refinados, com alta qualidade e produtividade,
não são ainda utilizados.
A criação/design das jóias através de softwares específicos para joalheria, é muito
pouco utilizada e com restrições, considerando que ousar/inovar no design, através desse
recurso, freqüentemente esbarra nas limitações da habilidade humana para a sua reprodução
/modelagem física. Neste aspecto em especial, a utilização da PR, como veremos no próximo
capítulo, a exemplo do que ocorre crescentemente nos países líderes na produção joalheira,
pode promover uma modernização expressiva no setor.
49
Quanto à mão-de-obra empregada, esta é majoritariamente constituída por artesãos
com conhecimento adequado para a realidade percebida nos ambientes de produção, mas,
distante de aspectos de modernização já praticados nos países líderes na produção joalheira
mundial. No que diz respeito aos artífices especializados em modelagem física artesanal, os
Modelistas, o autor teve informações de que são profissionais cada vez mais raros no mercado,
o que, crescentemente, vem obrigando algumas empresas a contratarem modelagens de jóias
no exterior. Este fato reforça a importância da introdução da modelagem virtual e física
utilizando a PR, como fatores de modernização, inovação e competitividade.
Diante da inexistência de dados oficiais sobre o perfil da mão-de-obra na produção de
jóias no APL, o autor pesquisou junto a empresas e consultou especialistas que vêm operando
efetivamente no setor joalheiro. Dessas pesquisas e consultas resultou a constatação de que,
majoritariamente, a mão-de-obra utilizada na produção de jóias, é resultante de formação no
próprio ambiente joalheiro, acumulando experiência e habilidades ao longo do tempo de
atuação. O autor também obteve informações, dando conta de que, a situação vem evoluindo,
em função das imposições legais, existentes para o treinamento de menores dentro das
empresas, que estão levando as, notadamente as de médio e grande porte, a buscar e/ou
treinar mão-de-obra especializada nas escolas de ourivesaria. A Escola de Ourivesaria do
SENAI/RJ, vem treinando cerca de 300 (trezentos) alunos em cursos com duração de 2 (dois)
anos.
Parece evidente então, segundo a visão percebida pelo autor que, a par da resolução
de dificuldades/gargalos de natureza tributária e de financiamento, entre outros, não
diretamente alinhados com o foco desta dissertação e que dependem fundamentalmente de
ações governamentais voltadas para um tratamento semelhante ao utilizado pelos países que
competem com o Brasil no mercado internacional, precisam ser, atentamente analisadas e
adequadamente resolvidas, questões de natureza tecnológica, relacionadas diretamente com
os processos produtivos, objetivando modernizá-los e dinamizá-los para que atinjam e/ou
superem os níveis de competitividade necessários para a superação da concorrência,
50
sobretudo, no mercado internacional, quando se considera a expressiva participação
majoritária do Rio de Janeiro nas exportações brasileiras.
Confirmando a “paisagem” percebida pelo autor, especialistas consultados, constituídos
por gerentes de produção e outros especialistas de alta experiência e renome no meio
joalheiro, foram unânimes em apontar, em linhas gerais, os mesmos aspectos abordados nas
conclusões do Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias, transcritos
em II.6.1 e a seguir resumidamente comentados.
III.5.1 – Capacitação de Mão-de-obra
Quanto a este aspecto, confirmado pela pesquisa “in loco” do autor e resumidamente
comentada em III.5, o Resumo Executivo do Fórum da Competitividade da Cadeia Produtiva de
Gemas e Jóias é incisivo quando aponta que “a baixa qualificação de mão-de-obra, tem sido
considerada um grande problema nas áreas de modelagem e desenho de jóias por computador
(...)”. Com efeito, os avanços do design, dos materiais e dos processos de produção, entre
outros aspectos relacionados com o setor joalheiro, precisam ser acompanhados pelos
artífices, pelos designers e por todos os demais atores de alguma forma envolvidos na
produção e comercialização de jóias do setor. Atividades e processos de trabalho
tradicionalmente artesanais, como por exemplo, o design e a modelagem de jóias, vêm sendo
paulatinamente desenvolvidas nos centros internacionais mais avançados, com a utilização de
softwares específicos e equipamentos de PR e, tal tendência, pode acelerar-se e se disseminar
com a participação crescentemente agressiva de países como a China e a Índia e que tendem
a ocupar as primeiras posições, na medida em que ao seu diferencial representado pela mão-
de-obra e respectivos encargos, de baixo custo, seja reforçado por uma utilização mais
intensiva de inovações tecnológicas para a manutenção/aumento do seu poder de competir
vantajosamente. Vale lembrar que, conforme estatística apresentada em I.1, em 2003 a China
e a Índia, já ocupavam respectivamente a 5
P
a
P
e 6
P
a
P
posições como principais exportadores de
artefatos de joalheria em ouro, num ranking onde a Itália ocupava a 1
P
a
P
posição com
exportações da ordem de US$ 4,5 bilhões, enquanto o Brasil estava num modesto 18
P
0
P
lugar
51
com exportações da ordem de apenas US$ 26 milhões, incompatíveis principalmente com as
suas reservas de ouro e gemas.
É fato, que o incremento do design de jóias através da utilização de softwares
específicos, vem sendo dificultado pela carência de profissionais treinados para tal, o que, além
de retardar e dificultar o processo criativo coloca restrições na qualidade do design, na
agregação de valores e no atendimento cada vez mais customizado dos consumidores de jóias
e no enfrentamento da concorrência internacional. Por outro lado, a produção de protótipos,
modelos de cera e moldes, com a utilização da Prototipagem Rápida, também esbarra na falta
de profissionais com experiência na produção de jóias, que dominem os conhecimentos
necessários para a transição do exclusivo artesanato para a utilização crescente de
equipamentos específicos como os de PR.
Na visão do autor, um “mixing” de fatores, onde se destacam, como já comentado, a
composição do setor no Rio de Janeiro, majoritariamente de MPEs e a falta de experiência
anterior na produção de jóias, da maioria dos dirigentes das empresas, entre outros fatores,
dificulta o planejamento e o desenvolvimento efetivo de ações para a adequada capacitação da
mão-de-obra, alinhada com objetivos de modernização e inovação, o que demanda atuações
adequadas de gerenciamento, direcionadas para a sua superação.
III.5.2 – Inadequação Tecnológica
Também neste aspecto, é enfático o Fórum da Competitividade da Cadeia Produtiva
de Gemas e Jóias, quando em seu Resumo Executivo afirma que “os diversos processos de
produção têm sido utilizados com distintos graus de eficiência, causados pela boa ou má
utilização da tecnologia disponível, das máquinas e equipamentos e das ferramentas
empregadas”
O autor deste trabalho entende que, embora o design moderno e a qualidade das jóias
no setor de Jóias do Rio de Janeiro sejam reconhecidos internacionalmente, tendo sido,
inclusive, objeto de algumas premiações, cresce a tendência de tais aspectos positivos serem
reduzidos e/ou anulados, diante da necessidade da utilização eficiente e eficaz das tecnologias
52
disponíveis, bem como, das máquinas, equipamentos e ferramentas empregadas. Cabe
ressaltar então, neste aspecto, que uma utilização mais eficiente e eficaz das tecnologias e dos
recursos constituídos por máquinas, equipamentos e ferramentas, está diretamente relacionada
com as atividades de gerenciamento e com a intensidade e, sobretudo, com a qualidade do
treinamento da mão-de-obra no ambiente joalheiro, como abordado em III.5.1.
III.5.3 – Inovação Tecnológica
Neste aspecto, o Resumo Executivo do Fórum da Competitividade da Cadeia Produtiva
de Gemas e Jóias, salienta que, “a nova geração de joalheiros internacionais trabalha com
tecnologias de ponta, a exemplo do uso de laser para a solda de materiais e o desenvolvimento
rápido de protótipos CAD/CAM”.
É fato que, a tendência mundial da utilização de softwares específicos e de
equipamentos e tecnologias de ponta, é crescente. No que diz respeito à utilização da PR, a
par do desenvolvimento dos materiais e do processo de prototipagem como um todo, o acesso
aos equipamentos tem sido facilitado, diante principalmente dos seus custos atuais. Pesquisas
desenvolvidas pelo autor, constataram que, de custos que giravam em torno de US$ 200 000 a
US$ 300 000 em 1998, quando da realização do Estudo de Viabilidade Técnico-Econômica
(EVTE) para a instalação do Laboratório de PR no INT, evoluiu-se num período de 5 a 6 anos
para custos em torno de US$ 75 000 como é o caso do modelo Modelmaker da Sanders
Prototype e do Benchtop da Solidscape, ressaltando-se ainda que os equipamentos além de
mais baratos, tornaram-se menores e mais customizados, ou seja, mais direcionados para
determinadas aplicações, como por exemplo os direcionados para a produção de
protótipos/modelos de dimensões reduzidas, como os destinados à produção joalheira. Além
disso, esses equipamentos de última geração produzem protótipos/modelos e moldes de muito
melhor qualidade, graças a melhoramentos dos próprios equipamentos e ao emprego de novos
materiais. Acrescente-se também que o acesso a tais equipamentos, pode ser ainda mais
facilitado através da utilização de bureaus especializados em PR ou, o que parece mais
adequado para o caso em estudo, com a utilização cooperativada/compartilhada de
53
equipamentos adquiridos pelo conjunto de atores diretamente envolvidos na composição do
setor de jóias da cidade do Rio de Janeiro.
Ressalte-se por fim, que estes aspectos principais, influentes na produtividade joalheira,
extraídos do Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias e
complementados pelas observações e pesquisas do autor, precisam caminhar e se
desenvolver de forma integrada e harmônica, sem o que, seus efeitos positivos serão
diminuídos ou anulados, o que reforça a necessidade da atuação eficiente e eficaz de
gerenciamento no setor, contemplando tais questões.
54
CAPÍTULO IV
A PROTOTIPAGEM RÁPIDA E SUAS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES PARA A
SOLUÇÃO DE PROBLEMAS TÉCNICOS NA PRODUÇÃO DE JÓIAS NO RIO DE
JANEIRO
Etimologicamente, a palavra protótipo tem origem no grego prototypu (proto = primeiro e
typu = tipo), segundo Aurélio primeiro tipo, modelo ou molde. Concretamente o protótipo é
qualquer modelo tridimensional ou não de peça, componente ou produto destinado a, antes da
sua industrialização, ser analisado para validação parcial ou total das suas características e
funções. Em síntese, o protótipo é a primeira versão física de um objeto projetado e, assim
sendo, é um elemento fundamental e indispensável para o desenvolvimento e produção de
qualquer produto, constituindo-se numa condição não única, mas, sobretudo essencial para
minimização das incertezas na produção, na sua aceitação pelos consumidores e para a
melhoria da competitividade das empresas. Além disso, o contínuo desenvolvimento das
tecnologias de PR e, sobretudo, dos equipamentos e materiais empregados, vem permitindo o
surgimento de novas aplicações, favorecendo não só a produção de protótipos/modelos, como
inicialmente imaginado, mas, também, a produção de dispositivos/ferramentas e até mesmo de
peças em séries limitadas, gerando impactos e desdobramentos relevantes para a
modernização tecnológica de processos, favorecendo a inovação e a competitividade em geral.
IV.1 - Breve Histórico da Produção de Protótipos e Modelos
A utilização de modelos e protótipos remonta à Antiguidade e, por que não dizer, à pré-
história, quando a espécie humana nos seus primórdios, confeccionava as primeiras inovações,
as armas, as ferramentas e os utensílios para o enfrentamento dos seus desafios cotidianos.
Por tentativa e erro, tais artefatos eram confeccionados e testados no uso e, se não atendiam
às necessidades, eram aperfeiçoados ou substituídos por outros modelos. Desde a Era da
Pedra Lascada, passando pela Era da Pedra Polida e pela Era do Bronze, até aos dias atuais,
as inovações foram e são elementos de permanente atenção e aceleração crescente, fazendo
com que progressos antes obtidos em milênios e séculos, passassem a ocorrer em decênios,
55
anos ou até mesmo meses, num ritmo vertiginoso, determinado pela globalização da
competitividade e pela evolução das tecnologias de informação na Era do Conhecimento.
Contudo, em toda a evolução ocorrida ou por ocorrer, estavam, estão e sempre estarão os
protótipos, a primeira versão concreta, física de qualquer produto desejado e idealizado.
Modernamente, após o advento do computador pessoal, a modelagem geométrica e a
prototipagem, tiveram em conjunto, um incremento notável. De uma primeira fase em que a
modelagem geométrica se resumia no emprego das técnicas tradicionais de desenho e a
prototipagem acontecia de forma tradicional, isto é manual, evoluiu-se para a fase atual, onde a
modelagem em 3D de sólidos em computador, precede a prototipagem rápida realizada em
equipamentos especiais, tendo como fonte o desenho em CAD. O quadro a seguir resume os
paralelos ao longo dos últimos decênios entre a modelagem geométrica e a prototipagem.
MODELAGEM GEOMÉTRICA
PROTOTIPAGEM
Primeira Fase – 2D
(começo em meados dos anos 60):
- linhas básicas definem os contornos dos
objetos;
- exemplo de aplicação – Caminho de circuito
impresso;
- Projeções em diedros (frontal, superior e
lateral);
- emprego da técnica de desenho tradicional.
Primeira Fase – Prototipagem Manual
(prática tradicional por muitos séculos):
- prototipagem qualificada como arte;
- praticada de forma tradicional (manual);
- técnica de prototipagem natural.
Segunda Fase – Modelagem de Curvas e
Superfícies em 3D
(meados dos anos 70):
- complexidade crescente;
- Informações precisas quanto a tamanho e
contornos das partes e superfícies dos
objetos.
Segunda Fase
Prototipagem Virtual
(meados dos anos 70):
- complexidade crescente;
- o protótipo virtual já pode ser objeto de
simulações em termos mecânicos e outras
propriedades relacionadas com o uso.
Terceira Fase – Modelagem de Sólidos.
(Início dos anos 80):
- são definidos todos os detalhes do objeto;
- o computador define todos os contornos
através de softwares específicos de CAE
baseados em análise por elementos finitos,
que podem ser utilizados para cálculos de
tensões, deslocamentos, vibrações,
transferência de calor, etc., (Engenharia
Virtual)
Terceira Fase – Prototipagem Rápida.
(Meados dos anos 80):
- vantagem de um protótipo físico disponível em
tempo curto, tendo como fonte principal o
CAD;
- o protótipo pode ser usado de forma limitada
em simulação de funcionamento (modelo
funcional);
- o protótipo também pode ser usado para a
fabricação de peças em séries limitadas.
Quadro IV.1 – Paralelos entre a Modelagem Geométrica e a Prototipagem
Baseada em Chua, C. K. (2003)
56
IV.2 – Processos de Produção de Protótipos
Tecnicamente os modelos ou protótipos podem ser produzidos através de três
processos fundamentais, caracterizados como de natureza subtrativa, aditiva, formativa e
hibrida, conforme apresentado a seguir.
- Processos Subtrativos
Nos processos subtrativos, como mostrado na figura IV.1, a peça protótipo resulta de
operações de usinagem, caracterizadas pela retirada de material a partir de um bloco inicial de
matéria-prima. Como exemplos mais comuns de processos subtrativos, pode-se apontar entre
outros o torneamento, o plainamento e o frezamento, realizados em máquinas comuns
(tradicionais), operadas manualmente, ou em equipamentos automatizados, denominados
originalmente de Computer Numerical Control (CNC).
Figura IV.1 – Processos Subtrativos
- Processos Aditivos
Ao contrário dos processos subtrativos, os processos aditivos são caracterizados pela
adição sucessiva de camadas de material, partindo ou não de uma base (substrato) já
existente, até se atingir a forma final do objeto desejado, como mostrado na figura IV.A maioria
das tecnologias de prototipagem rápida está incluída nesta categoria de processos.
Figura IV.2 – Processos Aditivos
material adicionado
formato inicial
material retirado
ferramenta
bloco de material
t
r
aba
lh
ado
57
- Processos Formativos
Nesta categoria de processos, caracterizada pelo emprego de forças mecânicas para
moldagem de peças através de ferramentas pré-definidoras de formatos, conforme mostrado
na figura IV.3, estão incluídos entre outros os processos de estampagem e forjamento.
Figura IV.3 - Processos formativos
- Processos Híbridos
Não raro, formas híbridas de produção podem resultar da combinação de dois ou mais
processos de natureza subtrativa, aditiva e/ou formativa, como por exemplo, num processo
completo de prensagem que inclua operações de puncionamento/furação, retirando partes do
material conformado ou a conformar.
IV.3 - Tipos de Modelos e Protótipos e suas Aplicações na Elaboração de Projetos
Segundo Santos (1999), conforme a aplicabilidade na elaboração de um projeto, os
modelos e protótipos físicos podem ser classificados conforme mostrado na figura IV.4 abaixo e
descritos sucintamente a seguir.
Figura IV.4 - Tipos de Modelos e Protótipos
peça formada
ferramentas
formadoras
Diretrizes do
Pr
ojeto
Projeto
Co
n
ce
i
tua
l
Projeto
Pr
e
limin
ar
Projeto
D
eta
lh
ado
Modelos
Volumétricos e
Mock-up
Modelos de
Apresentação
Protótipos Alfa,
Beta e de
Pré-produção
58
- Modelos Volumétricos
Os modelos volumétricos correspondem aos primeiros estudos quanto à dimensão
básica e visualização do espaço ocupado pelo produto.
- Mock-up
O mock-up corresponde a um modelo voltado para estudos ergonômicos e/ou testes
simulados para as equipes de projeto, permitindo reavaliações a custos baixos e que podem
conduzir a mudanças relevantes.
- Modelos de Apresentação
São modelos que apresentam a maioria das características imaginadas para o produto
final. Têm a finalidade de mostrar formas, superfícies e acabamentos para os clientes, para as
áreas de marketing e de comercialização e para a mídia em geral, buscando opiniões, e
subsídios para a melhoria do projeto e diminuição do nível de incertezas.
- Protótipos Alfa
Os protótipos denominados alfa são produzidos geralmente com materiais e geometrias
similares às peças que serão usadas na produção final do produto e se destinam basicamente
à avaliação do seu funcionamento em relação ao funcionamento pretendido. Tais protótipos
dependendo da geometria, da complexidade e do material a ser usado no produto final,
poderão ser feitos por processos tradicionais ou por prototipagem rápida, cada vez mais usada
em função da notável ampliação da gama de materiais que podem ser utilizados nesse
processo.
- Protótipo Beta
São fundamentalmente protótipos voltados para a avaliação da confiabilidade no
funcionamento do produto final. Não raro, esses protótipos são passados para determinados
clientes/usuários para testes de funcionamento em ambientes iguais ou em muito
59
assemelhados aos ambientes para os quais foram projetados. A exemplo dos protótipos alfa,
os protótipos beta são freqüentemente passados a determinados clientes/usuários para testes
funcionais e de durabilidade. Normalmente são feitos pelos processos de produção verdadeiros
nas oficinas de protótipos e usando os materiais especificados para o produto.
- Protótipos de Pré-Produção
Em determinado momento, embora os processos de produção ainda não estejam
trabalhando plenamente na produção do produto, eles já começam a produzir as primeiras
unidades desse produto, denominadas geralmente de protótipos cabeça de série, pré-produção
ou produção piloto. Essas unidades produzidas são em tudo reais, ou seja, iguais ao produto
projetado. Além de serem usadas para avaliar a capacidade dos processos de produção,
representam na prática a última oportunidade para a identificação de problemas, razão pela
qual tanto em âmbito interno quanto através de determinados clientes, serem submetidas a
maiores e mais severos testes.
IV.4 – Finalidades dos Modelos e Protótipos na Criação e Desenvolvimento de Produtos
Segundo Chua et al (2003), na criação e/ou desenvolvimento de produtos, a produção
dos protótipos está voltada para as seguintes principais finalidades a seguir descritas de forma
sucinta.
- Experimentação e Aprendizagem
O primeiro questionamento que envolve a criação e/ou desenvolvimento de determinado
produto, é se esse produto conseguirá atender as necessidades dos clientes/usuários já
previamente identificadas. Constitui então uma vantagem competitiva, disponibilizar protótipos
que, experimentados, respondam de forma satisfatória a tal questionamento, ou que permitam
de forma rápida a realização de modificações que tornem isso possível.
60
- Ensaios e Apresentação
Freqüentemente os questionamentos extrapolam o simples “funciona” ou “não
funciona”, no que diz respeito ao atendimento das necessidades dos clientes/usuários.
Diante de novas formas, dimensões e outras características torna-se necessário
também avaliar o comportamento do produto em termos, por exemplo, da distribuição e
resistência a esforços de utilização e funcionamento e outras condições e características do
produto. Também nestes aspectos, dispor de protótipos que de alguma forma permitam essa
avaliação, também pode representar uma vantagem competitiva relevante.
- Comunicação e Interação
A disponibilização de protótipos favorece a comunicação entre os vários segmentos da
empresa, especialmente entre os administradores de alto escalão, vendedores, clientes e
possíveis fontes de financiamento. É comum que nestes pontos não exista familiaridade com
descrições verbais de técnicas de produção e com desenhos e outras formas de representação
de um produto, sendo então difícil a adequada compreensão sobre as diversas características
e diferenciais de qualidade e funcionamento possivelmente existentes. Então uma
representação visual, tátil e tridimensional de um produto, favorece a comunicação e interação
entre os atores envolvidos, podendo também estimular a sinergia entre as equipes para o
adequado desenvolvimento, produção, divulgação/promoção e venda do produto. Esta é sem
dúvida a destinação mais comum dos protótipos/modelos de jóias.
- Definição e Integração
Dispor de protótipos que permitam a análise e a certeza de que componentes e
subsistemas se encaixam e funcionam em conjunto como o esperado pelos projetistas,
também representa uma vantagem competitiva, visto que minimizam/eliminam futuros
problemas nas linhas de produção e montagem, favorecendo o cumprimento de prazos até à
entrada do produto no mercado. O chamado protótipo compreensivo é de extrema utilidade
61
para a rápida definição do que se pretende produzir e para a adequada integração entre as
diferentes equipes envolvidas na criação e/ou desenvolvimento do produto.
- Demarcação das Etapas de Desenvolvimento e/ou criação
Não é raro que a administração superior e por vezes até mesmo os clientes exijam a
apresentação de um protótipo que demonstre certas funções e/ou características, para só
então autorizarem a continuidade dos projetos. Os protótipos demarcadores denominados
comumente de milestones, permitem o estabelecimento e acompanhamento de metas
tangíveis, demonstrando o progresso no cumprimento do cronograma do projeto e
disponibilização do produto para colocação no mercado. Saliente-se também que existe uma
tendência mundial crescente da exigência de órgãos governamentais de regulamentação, de
um teste de primeira peça, para aprovação da fabricação seriada de uma gama também
crescente de determinados produtos.
IV.5 – A Caracterização da Prototipagem Rápida e seu Desenvolvimento
As pesquisas para o desenvolvimento de tecnologias voltadas para a produção de
objetos tridimensionais a partir de um modelo projetado em um programa CAD (Computer
Aided Design), apresentaram os seus primeiros resultados no final da década de 80. Tais
tecnologias foram denominadas de Prototipagem Rápida (PR) pelo fato de permitirem de forma
rápida a produção de uma primeira versão do objeto projetado, o protótipo.
A denominação Prototipagem Rápida (PR) sofreu inicialmente alguma rejeição, por dois
motivos principais. O primeiro é que por esse processo, não se produzem apenas protótipos,
mas por vezes, são produzidas também peças em séries limitadas. O segundo motivo é que
através de outras tecnologias e processos, especialmente através de equipamentos de CNC
(Computer Numerical Control), também se produzem protótipos com rapidez, embora com
limitações quanto à complexidade geométrica das peças a produzir. Entretanto, inobstante o
questionamento inicial, já existe consenso na comunidade científico/tecnológica quanto a
considerar-se Prototipagem Rápida todos os processos de fabricação por adição sucessiva de
62
camadas, denominados internacionalmente de Layer Manufacturing Technologies (LMT).
Tome-se, por exemplo, a produção de uma lanterna traseira de veículo, mais especificamente a
parte externa a ser produzida em material plástico. Uma vez elaborado o design e o desenho
detalhado de tal componente a ser montado em determinado veículo, é indispensável produzir
uma primeira peça, o protótipo, que poderá ser testada no seu local de montagem no ponto
predeterminado do veículo e até mesmo verificar a sua funcionalidade e harmonia com o
produto, ou seja, o veículo.
Na prática, vários processos de fabricação poderiam ser utilizados na produção do
protótipo em questão, entretanto os processos de Prototipagem Rápida apresentam outras
vantagens competitivas, notadamente quanto à complexidade geométrica, como será analisado
mais adiante neste trabalho, especialmente na produção de protótipos/modelos para a
produção de jóias.
IV.5.1 - Caracterização do Processo e Tecnologias
O processo de PR começa com uma representação tridimensional do objeto que se
quer produzir, partindo-se de um software de CAD (figura IV.5), com arquivos de saída
usualmente no formato STL, sigla que se originou da extração de letras da palavra
Stereolitography, que se constitui basicamente numa representação em malha triangular (figura
IV.6)
Figura IV.5 – Modelo CAD/3D Figura IV.6 – Modelo 3D/STL
Na seqüência, a partir do modelo 3D/STL, se passa para um sistema CAM (Computer
Aided Manufacturing), em geral empregado de forma específica para cada
tecnologia/equipamento, onde então o modelo é seccionado em finas fatias, paralelas entre si e
perpendiculares ao eixo de construção Z. A partir daí o sistema CAM define o trajeto do
63
dispositivo de deposição do material em cada uma das camadas bidimensionais, geralmente
com espessuras da ordem de décimos de milímetros, gerando o comando numérico do
equipamento de PR propriamente dito, obtendo-se ao final do processo, uma primeira versão
do objeto, aí denominado protótipo. A figura IV.7 a seguir, mostra de maneira simplificada a
formação da peça desejada.
Figura IV.7 – Superposição de Camadas
As várias tecnologias de PR através do processo sucintamente descrito e da utilização
de diversos materiais sob a forma de pós, fios e resinas líquidas e outros, que permitem a
produção de protótipos tridimensionais em tempos geralmente menores e com vantagens
adicionais, especialmente a de uma maior certeza na posterior produção de moldes metálicos e
outros recursos para a produção seriada na escala e quantidades desejadas, ou seja, tem-se
uma peça (protótipo), antes de se definir recursos e ferramental para a sua produção, o que
representa vantagens competitivas importantes como apresentado em IV.3.
As tecnologias de PR vêm se desenvolvendo constantemente. Desde os primeiros
resultados positivos no final da década de 80, conseguidos pela empresa 3D Systems dos
Estados Unidos da América do Norte (EUA), através da foto-polimerização de resina e pela
utilização de uma tecnologia denominada de estereolitografia, outras tecnologias foram
desenvolvidas, além do emprego de uma variedade de materiais que vem permitindo a
expansão do emprego da PR para aplicações antes inimagináveis.
A seguir são apresentadas de forma resumida algumas das tecnologias mais utilizadas
e outras mais recentes e também promissoras.
64
- Estereolitografia
O principio básico da estereolitografia, concebida pela 3D Systems, consiste na foto-
polimerização de uma resina através da incidência de um feixe de laser UV (ultravioleta) que é
direcionado para a superfície de uma cuba com resina foto-sensível através de um conjunto de
espelhos, resultando na polimerização da resina e formando uma camada do objeto a produzir.
Polimerizada uma camada, a plataforma do equipamento se desloca para baixo,
possibilitando a adição de nova camada de resina sobre a camada já polimerizada, repetindo-
se a operação, camada após camada, polimerizando-as e unindo-as até à completa produção
do objeto tridimensional pretendido. A figura IV.8 apresenta esquematicamente como se
desenvolve o processo nessa tecnologia de PR.
Figura IV.8 – Esquema do Processo de Estereolitografia da 3D Systems
Fonte –
TU
http://www.cimjrct.ufsc.br/knoledge
UT
- Selective Laser Sintering (SLS)
Nesta tecnologia, materiais metálicos, cerâmicos ou poliméricos, em pó, são ligados
através de uma fonte de calor fornecida por um feixe de laser e sinterizados
TP
6
PT
seletivamente de
forma direta ou indireta. Na forma direta o material é sinterizado pela ação direta do laser. Na
forma indireta, utilizada somente para materiais metálicos e cerâmicos, é empregado um
TP
6
PT
A sinterização é um processo de metalurgia do pó que permite a mistura de pós metálicos com pontos de fusão por
vezes extremamente diferenciados. A mistura uma vez configurada sofre um aquecimento sob condições
controladas, abaixo do ponto de fusão do metal base, para promover a ligação metalúrgica entre as partículas.
65
material aglomerante para dar forma ao objeto a produzir, o material deverá ser sinterizado
posteriormente em forno.
O princípio de funcionamento dos equipamentos na tecnologia SLS, se baseia no
depósito de camadas de pó em uma plataforma, que são atingidas uma a uma por um feixe de
laser que, incidindo sobre espelhos galvanométricos, o direcionam para a superfície do pó,
fazendo com que esta seja sinterizada e unida à camada anterior e assim sucessivamente até
à finalização do objeto a produzir, conforme esquematicamente apresentado na figura IV.9 a
seguir.
Figura IV.9 – Esquema do Processo SLS
Fonte –
TU
http://www.cimject.ufsc.br/knolrdge
UT
- 3D Printing (3DP)
A tecnologia 3D Printing tem como princípio de funcionamento a aglutinação de pós
metálicos, cerâmicos e poliméricos, aspergidos em gotículas por um cabeçote assemelhado
com os cabeçotes utilizados em impressoras de jato de tinta, o que deu origem ao nome do
processo. O jato de líquido aglutinante é aspergido sobre cada camada de pó depositada sobre
uma plataforma que se movimenta na direção Z, conforme mostrado de forma esquemática na
figura IV.10. No processo é também utilizado um rolo, a fim de depositar adequadamente e
compactar as camadas uma a uma até a formação final do objeto a produzir. Posteriormente,
em forno, o objeto deve sofrer um processo de infiltração com cera ou selador.
66
Figura IV.10 – Esquema do Processo 3DP
Fonte –
TU
http://www.cimject.ufsc.br/knoledge
UT
- Fused Deposition Modeling (FDM)
A tecnologia de modelagem por fusão e deposição se baseia na extrusão de filamentos
de materiais termoplásticos que forçados por guias rotativas, passam através de dois bicos
extrusores aquecidos situados em um cabeçote que se desloca no plano horizontal (plano XY).
Por um dos bicos extrusores passa o material a ser utilizado como suporte. Pelo outro bico
passa o material para a produção do objeto tridimensional. O cabeçote ao movimentar-se no
plano horizontal deposita através da extrusão o material fundido, formando sucessivas
camadas pelo deslocamento vertical da plataforma do equipamento, até à conclusão do objeto
requerido (figura IV.11).
Figura IV.11 – Esquema do Processo FDM
Fonte –
TU
http://www.cimject.ufsc.br/knoledge
UT
67
- Laser Engineering Net Shaping (LENS)
Desenvolvida pelos Laboratórios Sandia (EUA), esta tecnologia, também denominada
de Laser Cladding é similar a outras tecnologias de PR e à Estereolitografia e à sinterização
Seletiva a Laser. Os pós metálicos são aspergidos com um gás inerte através de um feixe de
laser focalizado. O laser funde as partículas sobre um substrato. O substrato é movido sob o
feixe de laser por meio de uma mesa coordenada, conforme apresentado na figura IV.12.
Camadas sucessivas são depositadas até que se forme a peça tridimensional desejada. Entre
as vantagens da utilização da tecnologia LENS estão a utilização de ligas metálicas de titânio e
aços e a construção de peças com alta dureza e baixa porosidade, entretanto tem limitações
geométricas para superfícies complexas e precisão dimensional baixa, necessitando
freqüentemente de operações de acabamento em equipamentos convencionais como
frezadoras e tornos.
Figura IV.12 – Esquema do processo LENS
Fonte –
TU
http://www.cimject.ufsc.br/knoledge
UT
- Selective Inhibition of Sintering (SIS)
A mais recente tecnologia de PR, a SIS, em desenvolvimento na Southern University
(EUA), permite a geração de protótipos tridimensionais a partir do CAD, utilizando materiais
particulados plásticos ou metálicos e, segundo os pesquisadores envolvidos, com menores
custos do que as demais tecnologias de PR até então conhecidas.
Ao contrário das tecnologias de PR ora predominantes, que constroem os objetos
tridimensionais pela deposição repetida de camadas de materiais particulados sobre uma área
68
de trabalho, para a seguir, serem sintetizadas ou fundidas em áreas selecionadas, a tecnologia
SIS trata automaticamente uma parte dos particulados para que se tornem resistentes à
ligação com particulados adjacentes, submetendo-se a peça em produção a um calor uniforme
e de alta intensidade, ocorrendo então a sinterização apenas nas áreas não tratadas dos
materiais particulados.
Segundo o Dr. Behrokh Khoshnevis que chefia as pesquisas da tecnologia SIS, ela
apresentará várias vantagens sobre os equipamentos a laser, considerando que os
equipamentos de laser e de escaneamento ora utilizados são mais caros, mais sensíveis a
defeitos e mais consumidores de energia que os componentes da SIS, onde se utiliza uma
chama a gás ou mesmo resistências elétricas de aquecedores comuns. O pesquisador ainda
sustenta que o equipamento desenvolvido para a SIS seja mais rápido do que os
equipamentos a laser ora dominantes, visto que estes têm que passar repetidamente sobre
toda a peça em produção para fundir e/ou sinterizar partes específicas, fazendo com que as
peças de maiores dimensões e geometrias mais complexas, levem até dias para serem
produzidas, enquanto que pela utilização da tecnologia SIS, uma peça padrão pode ser
produzida em até frações de minuto.
Trata-se de uma tecnologia ainda em fase experimental. Entretanto, se as expectativas
dos pesquisadores forem plenamente viabilizadas, esta tecnologia poderá revolucionar a PR,
tornando-a mais ágil e mais útil no cenário tecnológico, ampliando substancialmente o leque
de suas aplicações.
IV.6 – O Estágio Atual da Prototipagem Rápida
Os avanços da PR têm sido notáveis e rápidos. As poucas restrições existentes em
passado recente, relacionadas com a precisão e estabilidade dimensional, com o acabamento
superficial (rugosidade), com as necessidades de pós-processamento e com a aplicação direta
dos protótipos/modelos produzidos, em função dos materiais utilizados, foram na sua maior
parte removidas, como comentado a seguir.
69
IV.6.1 – Quanto à Precisão e Estabilidade Dimensional
Uma das restrições mais comumente apontadas na PR, decorria da própria natureza do
processo nas várias tecnologias, conforme descrito de IV.5.1, ou seja, a deposição em
camadas sucessivas de material e a foto-polimerização, secagem ou sinterização, feitas
simultaneamente ou em atividade de pós-processamento. A espessura das camadas era
normalmente da ordem de décimos de milímetros, o que originava a ocorrência de degraus,
visíveis a olho nu e/ou sensíveis pelo tato. Por outro lado, as temperaturas utilizadas no
processo, não eram adequadamente controladas, o que, além de afetar a precisão
dimensional, freqüentemente, dependendo da configuração geométrica, dava origem a
deformações relevantes. Estes aspectos eram especialmente restritivos para a produção de
protótipos/modelos de jóias, conforme relatado por Chua, C. K. (2003), sobre as primeiras
experiências na produção de protótipos/modelos de jóias utilizando resina foto polimerizável,
no final dos anos 90 no século passado, restringindo a utilização da PR para tal finalidade.
Equipamentos de última geração para PR, já disponíveis no mercado, como o
MODELMAKER da empresa Sanders Prototype ou o BENCHTOP da empresa Solidscape,
ambas dos EUA, especialmente orientados para a produção de protótipos/modelos com
elevado nível de exigência quanto à precisão e estabilidade dimensional, como no caso de
jóias, podem ser programados para depositar camadas de material com espessuras que vão
desde 0,013mm (treze milésimos de milímetro), até 0,127mm (cento e vinte e sete milésimos
de milímetro). A deposição sucessiva de camadas de material com espessuras tão reduzidas,
bem como o adequado controle das temperaturas geradas pelo processo e suas
conseqüências, permite a obtenção de protótipos/modelos com geometrias extremamente
complexas e esbeltas, com precisão dimensional nos eixos x, y e z, da ordem de 0,025mm
(vinte e cinco milésimos de milímetro) e sem a ocorrência deformações relevantes em qualquer
um dos eixos considerados.
70
IV.6.2 – Quanto ao Acabamento Superficial (Rugosidade)
Com a utilização de equipamentos como os citados em IV.6.1, em função das
reduzidíssimas espessuras de camadas de material depositadas e do adequado controle das
temperaturas envolvidas no processo, além de outros melhoramentos introduzidos nos
equipamentos e materiais, podem ser produzidos agora, protótipos/modelos com acabamento
superficial (rugosidade) da ordem de 32 a 63 micro inches (RMS)
TP
7
PT
, ou seja, não são
perceptíveis a olho nu, quaisquer tipos de riscos ou irregularidades superficiais. Isto é
especialmente importante na produção de jóias, como será tratado com detalhes em IV.8.4.
IV.6..3 – Quanto às Necessidades de Pós-acabamento
Em razão das melhorias excepcionais no que diz respeito à precisão e estabilidade
dimensional, bem como, e principalmente, ao acabamento superficial dos protótipos/modelos
obtidos através dos equipamentos já citados, não existe necessidade de nenhum pós-
processamento para melhoria das suas características finais e, no caso de protótipos/modelos
de jóias, como se tratará em IV.8.4 seria praticamente impossível fazê-lo, diante das
complexidades geométricas envolvidas e da fragilidade dos materiais empregados para a
modelagem.
IV.6.4 - Quanto à Aplicação dos Protótipos/modelos Produzidos
Na fase inicial da PR, não era um dos objetivos principais declarados, a aplicação
funcional dos protótipos/modelos produzidos, diante principalmente da baixa resistência
mecânica das resinas então utilizadas no processo, para a grande maioria das aplicações
funcionais que se imaginasse.
Mais adiante, o emprego de novos materiais metálicos, cerâmicos ou poliméricos,
tornou possível um expressivo incremento na utilização funcional dos protótipos/modelos
produzidos. Entretanto, ainda persistiam restrições principalmente quanto às propriedades
TP
7
PT
Root Mean Square (RMS). Desvio médio quadrado da linha média do perfil rugoso ou rugosidade média quadrada,
medida em microns η (0,001mm), no Sistema Métrico ou em micro inches ( 2,5 centímicrons), no Sistema
Americano.
71
mecânicas dos materiais utilizados. Mais recentemente, superando as restrições iniciais, a PR
começou a prestar-se para a produção de séries limitadas de peças para determinadas
aplicações de baixa exigência quanto à resistência estrutural. Atualmente, diante das melhorias
dos equipamentos e dos novos materiais, o universo de aplicações dos protótipos/modelos
produzidos através da PR está se ampliando incessantemente, como abordado resumidamente
a seguir.
IV.7 – Principais Impactos e Desdobramentos para Inovações e Processos, decorrentes
da Utilização da Prototipagem Rápida
Como já comentado, a Prototipagem Rápida não é o único processo para a produção de
protótipos. Para protótipos de geometria simples e simétrica, os processos tradicionais,
automatizados ou não, são e continuarão a ser utilizados, reunindo a um só tempo a rapidez na
confecção e a utilização do mesmo material utilizado na peça idealizada, permitindo ainda
testes mais completos de aplicação e funcionalidade para validação da peça desejada.
Entretanto, a maioria dos protótipos a serem produzidos é constituída por geometrias
complexas envolvendo curvas, reentrâncias, ressaltos, furos e outras configurações
freqüentemente assimétricas, não executáveis ou executáveis com grande dificuldade em
equipamentos tradicionais. Para isso, as principais vantagens competitivas decorrentes da
utilização da Prototipagem Rápida são a seguir comentadas.
IV.7.1 - Tempos de Projeto na Criação e/ou Desenvolvimento de Produtos
Um dos principais desafios enfrentados pelas empresas na atualidade, inclusive no
meio joalheiro, é a redução do ciclo de criação e/ou desenvolvimento dos seus produtos, sem
perda de qualidade ou aumento de custos. Até ao advento da primeira tecnologia de
Prototipagem Rápida no final dos anos 80 do século passado, o único caminho para a criação
e/ou desenvolvimento de produtos, passava invariavelmente pelo desenho, pela confecção de
moldes e ferramentas, até à produção em série de um objeto. Em função disso, o tempo
decorrido entre a imaginação do produto e a materialização de uma peça para testes era
72
freqüentemente medido em semanas ou meses, podendo chegar a mais de um ano quando se
tratasse de geometria e detalhes complexos. Além disso, o nível de riscos e incertezas para as
empresas envolvidas era grande, pois um erro, em qualquer fase do projeto, além do prejuízo
financeiro decorrente do desperdício de matéria prima e outros insumos, alongava ainda mais
os tempos de projeto e disponibilização do produto para comercialização, abrindo ainda espaço
para empresas concorrentes que eventualmente pudessem colocar, antes, os seus produtos no
mercado, obtendo assim uma expressiva vantagem competitiva. Com efeito, especialmente nos
últimos anos, a complexidade e a variação de formas dos produtos chegados ao mercado,
aumentaram excepcionalmente. Tal fato torna-se óbvio quando, por exemplo, se comparam os
automóveis, os eletrodomésticos e os produtos industrializados, em geral, atuais com os
produzidos nos anos 70. Segundo Chua, C. K. (2003), em uma escala de 1 a 3 a complexidade
duplicou até meados dos anos 80 e triplicou até meados dos anos 90. Em contraposição, ainda
segundo Chua, C. K. (2003), principalmente por força da utilização de novos processos e novas
tecnologias, entre elas, as de prototipagem rápida, os tempos de projeto foram reduzidos de
forma notável, como mostrado na figura IV.13 a seguir.
Figura IV.13– Evolução da Complexidade dos Protótipos e Tempos de Projetos em 25 anos
Baseada em Chua, C. K. (2003)
3 vezes
2 vezes
1 vez
1970 1975 1980 1985 1990 1995
Moldes e Protótipos
produzidos por
processos
convencionais
2D/3D
CAD
CN - 3D
CCN e Laser
Prototipagem
Rápida SLA, SLS,
FDM, 3DP, etc.,
Tempos relativos
de conclusão do
projeto
Complexidade
relativa dos
protótipos
16 sem.
8 sem.
3 sem.
73
Embora não existam estudos conclusivos a respeito, diante das melhorias introduzidas
nos últimos 10 anos, não só nos equipamentos de PR como comentado em IV.6, mas, também,
nas
possibilidades da engenharia virtual, através da utilização de softwares específicos cada
vez mais interativos, como por exemplo o Rhinoceros, para o design de jóias, pode-se intuir
que os tempos de projeto vêm se encurtando ainda mais.
IV.7.2 - Ciclos de Prova/Erro na Criação e/ou Desenvolvimento de Produtos
Consumir um período prolongado de tempo para a confecção de protótipos e ter retardo
e aumento de custos no desenvolvimento e/ou lançamento dos seus produtos em relação aos
seus concorrentes nacionais ou internacionais pode ser fatal para a sobrevivência das
empresas, seja qual for a estratégia de competição adotada, é indispensável, portanto, que os
ciclos de prova/erro na criação e/ou desenvolvimento dos seus produtos, sejam reduzidos ao
mínimo em quantidade e duração, considerando que, dependendo da fase de criação em que
se constate um erro e/ou necessidade de alteração em um produto, desde o modelo conceitual
até ao produto fabricado, os custos evoluem conforme a figura IV.14 a seguir.
Figura IV.14 – Custo das Alterações de Produtos conforme o Estágio de sua Identificação
Fonte: Wohlers Associates – Rapid Guide to Rapid Prototyping
Além de reduzir o nível de incertezas quanto ao desenvolvimento de um produto,
tornando possível a visualização e contato com a peça imaginada através do protótipo/modelo,
a PR constitui um recurso para favorecer a prática da Engenharia Simultânea ou Concorrente,
termo que surgiu em 1988, como resultado de estudos conduzidos pela DARPA (Defense
Advanced Research Project Agency) nos EUA que a definiu como relatado por Winner et al,
(1988) apud Prasad (1996) da seguinte forma:
74
“Engenharia Simultânea é uma abordagem sistemática para o desenvolvimento
integrado e paralelo do projeto de um produto e os processos relacionados,
incluindo manufatura e suporte. Essa abordagem procura fazer com que as
pessoas envolvidas no desenvolvimento considerem, desde o início, todos os
elementos do ciclo de vida do produto, da concepção ao descarte, incluindo
qualidade, custos, prazos e requisitos dos clientes”.
Em linhas gerais, utilizando crescentemente recursos computacionais como
CAD/CAE/CAM/CAPP (Computer Aided Process Planning) e PDM (Product Data
Management)
TP
8
PT
e metodologias como o QFD
TP
9
PT
, entre outras, a Engenharia Simultânea, com foco
no cliente, objetiva a superação de produtos concorrentes, através de uma maior e melhor
integração dos vários segmentos das empresas, especialmente os de projeto e fabricação,
objetivando fundamentalmente a obtenção de um produto com características superiores,
custos menores e tempos de produção mais curtos, permitindo ganhos expressivos na
competitividade.
Outra prática voltada para a aceleração do criação/desenvolvimento de produtos é a
chamada Engenharia Reversa que, a partir de modelos existentes, busca entender e
freqüentemente reproduzir novos conceitos e/ou características presentes em tais modelos,
dando-lhes uma configuração diferenciada e não raro melhorada. É, também, constantemente
utilizada para a reprodução de peças e/ou componentes para manutenção de equipamentos
não mais produzidos no mercado. Vale ressaltar a especial importância do escaneamento
tridimensional para a prática da Engenharia Reversa, através de scaners de vários tipos como
apalpadores, sensores a laser e sensores óticos por luz branca ou sensores por ondas
magnéticas, gerando uma massa de dados a ser processada pelos programas CAD.
Acrescente-se que o escaneamento tridimensional, surgiu no final da década dos anos 80 nos
EUA, através do projeto RAMP (Rapid Acquisition of Manufactured Parts), cujo objetivo era
reduzir o tempo e o custo para reprodução de peças utilizadas pela marinha norte-americana,
cuja produção normal, por algum motivo, tinha sido descontinuada no mercado normal de
fornecedores. A partir de então, a evolução tem sido constante, permitindo aplicações antes
TP
8
PT
Product Data Management (PDM), para garantia de que todos os envolvidos utilizem as versões atualizadas dos
documentos técnicos.
TP
9
PT
QFD – Quality Function Deployment, é um processo de planejamento, direcionado para o cliente, tendo como
objetivo fundamental a otimização da concepção, produção e marketing dos produtos.
75
inimagináveis, graças à sua associação com outras tecnologias e processos, entre eles à
Prototipagem Rápida.
IV.7.3 - Melhorias no Design
A importância do design cresce continuamente nos últimos anos, aliando aos aspectos
restritos à execução de desenhos, outros aspectos, alguns até com forte grau de subjetividade
e até então pouco considerados ou não considerados adequadamente, relacionados com
necessidades explícitas ou não e até mesmo aspectos lúdicos dos consumidores. Tais
aspectos são transformados pelos designers em formas, funções e outras características,
objetivando o estabelecimento de diferenciais competitivos em relação aos concorrentes. Na
Prototipagem Rápida o espectro de criação dos designers pode ser substancialmente facilitada
a partir do CAD e pela utilização de softwares específicos como, por exemplo, o Rhinoceros
para o design de jóias, como será tratado no IV.8.4.
IV.8 – As Múltiplas Aplicações da Prototipagem Rápida
O universo de utilização das tecnologias de prototipagem rápida não para de crescer.
Dependendo da destinação e das características do produto desejado a utilização da
tecnologia de PR mais adequada permite uma imensa gama de aplicações possíveis, resumida
no quadro IV.2 e comentadas de forma resumida a seguir.
76
Quadro IV.2 - Resumo das aplicações da Prototipagem Rápida
(Baseado em Chua, C.K. (2003)
IV.8.1 – Aplicação no Design
A contribuição das tecnologias de PR para a dinamização das atividades de design vem
se tornando crescente. As limitações, quando existem, estão geralmente relacionadas com o
inadequado conhecimento e domínio do conjunto das técnicas de desenho através do CAD,
das tecnologias de PR e das suas respectivas interfaces, bem como das técnicas e softwares
PROTOTIPAGEM RÁPIDA
Processos de Acabamento (pós-processamento)
Usinagem (Fresagem, torneamento, broqueamento,
esmerilhamento, etc.);
Jateamento Revestimento
Polimento Pintura
Aplicações
CAD – verificação de Avaliação de forma e função Moldes para a produção
(desenho de de modelos
especificação); Análise de fluxos; - Ferramentas Rápidas
(Rapid Tools), para
Estampagem, injeção, etc.
Visualização de objetos; Análise de distribuição de
esforços (tensões); - Moldes ou modelos para
Prova de conceito; fundição:
Produção preliminar de peças; - em areia;
Apresentação e marketing
de modelos; Diagnóstico e planejamento de - por cera perdida;
operações cirúrgicas;
Etc. – outros processos de
fundição.
Desenho e fabricação de
próteses e implantes Produção direta de peças
individualizados; (séries limitadas).
Etc.
Design Engenharia, Análises e Fabricação e Moldagem
Pl
a
n
eja
m
e
n
to
Principais Setores Industriais Usuários
Aeroespacial
Automotivo
Biomédico
Joalheria Produção de moedas Utensílios de mesa e cozinha
Eletroeletrônicos
Eletrodomésticos
77
específicos, relativos ao produto a ser desenvolvido e produzido, aí incluídos os processos de
fabricação, conjunto esse raramente presente nos designers na atualidade nacional. Este é o
aspecto de relevância que vem dificultando a aceitação e uso da PR em alguns segmentos
produtivos, como por exemplo, o setor produtivo de jóias, como já analisado e comentado no
Capítulo III.
Antes do advento da PR, através do processo aditivo de produção, passar da
imaginação para um protótipo físico, era, freqüentemente, um exercício exaustivo, demorado e
repleto de incertezas. Atualmente, elaborado o desenho em CAD, se pode, rapidamente,
chegar à visualização do objeto pretendido e à sua concretização num protótipo físico que pode
ir do modelo volumétrico e moch-up, ao projeto conceitual até ao projeto detalhado, passando
pelo projeto preliminar com os modelos para apresentação e outras finalidades, conforme já
tratado neste capítulo.
Com efeito, se constata que, atualmente, a maior fonte de inovações, inclusive no
Brasil, está apoiada no desenho industrial, através do qual são obtidas rapidamente melhorias
estéticas ou funcionais nos produtos em geral a fim de estabelecer diferenciais que estimulem
as vendas e a competitividade como um todo.
IV.8.2 – Aplicação na Engenharia dos Produtos
A evolução do desenho básico para o detalhamento, especificações e fabricação de um
produto envolve em suas diversas fases, dificuldades e problemas cujo enfrentamento e
solução demandam a participação de uma variada gama de atores em atividades que podem
ser extremamente facilitadas e aceleradas pela adequada utilização da PR.
As dificuldades/problemas começam normalmente logo após a idealização do produto,
quando se parte para a elaboração de um desenho básico. Nessa fase, são necessárias as
provas de conceito envolvendo principalmente aspectos estéticos e de adaptação/aceitação do
objeto ao ambiente e à utilização pretendida. Através de modelos conceituais (volumétricos e
mock-up), se pode avaliar os detalhes referentes às principais características que se deseja
criar ou incrementar, no caso de se tratar de um produto já existente. Em tal fase, mais que em
78
qualquer outra, é indispensável a participação dos órgãos especialistas de engenharia,
principalmente os ligados à fabricação, assim como à divulgação, à comercialização e a outros
para que se chegue a um resultado de conceito que realmente acrescente aspectos
diferenciados vantajosos em relação a produtos de possíveis competidores.
Mais adiante, numa evolução normal do projeto, uma vez superada a questão
conceitual, as preocupações passam a ser relacionadas com a parte funcional do produto. O
dimensionamento das partes e peças, sua montagem adequada e a sua funcionalidade,
considerando-se entre outros, os aspectos ligados aos processos de produção, aos materiais
empregados e ao desempenho e durabilidade do produto em serviço. Nesta fase podem e
devem ser feitos ensaios e testes diversos, inclusive de distribuição de esforços (tensões),
estabilidade dimensional (empenos) e de operação, entre outros, que possam garantir que o
produto não apresentará, em serviço efetivo, problemas que possam prejudicá-lo e, por
conseqüência, prejudicar a imagem da marca e da empresa fabricante junto ao mercado
consumidor. A PR permite que, através de modelos funcionais, sejam analisadas essas
questões, diminuindo/eliminando a hipótese de que deficiências/erros sejam constatados
tardiamente e, que para uma adequada correção, demandem altos custos e transtornos, devido
à possível interrupção da produção e/ou mudanças nos materiais, processos e/ou ferramentas.
Por vezes, tais deficiências/erros obrigam a execução de um recall, ou seja, uma chamada dos
consumidores, para que, através de assistência técnica, tenham os seus produtos reparados
em função de problemas detectados, causando obviamente prejuízos à imagem dos produtos e
das empresas envolvidas.
IV.8.3 - Aplicação nos Processos de Fabricação
As tecnologias de PR vêm sendo crescentemente empregadas também em outros
processos de fabricação, incluindo mais recentemente a produção joalheira especialmente nos
processos de moldação e fundição, através não só da produção de modelos/protótipos, mas,
também, da produção das chamadas Ferramentas Rápidas ou Rapid Tools (RT). É sabido que
a produção de ferramentas é uma das etapas mais lentas e caras nos processos de produção,
79
considerando-se a exigência de uma qualidade alta e diante das características normalmente
requeridas relacionadas com a dureza, a resistência ao desgaste e à baixa rugosidade, nunca
superior a 0,5 RMS. Por força das exigências da qualidade e das características já citadas,
tradicionalmente tais ferramentas são confeccionadas através dos processos de usinagem em
CNC, por eletro-erosão ou até mesmo em equipamentos convencionais, processos esses caros
e demorados. Com a evolução das tecnologias de PR em termos de materiais, precisão
dimensional e acabamento, segundo Gorni, A. A. (2001) “é possível produzir ferramentas
rápidas com economia de cerca de 75% do tempo e dos custos envolvidos na fabricação de
ferramentas”. Cabe ressaltar entretanto que tais ferramentas só são recomendadas
normalmente para a produção de séries limitadas de peças, já que geralmente a sua
durabilidade é ainda inferior ao das ferramentas produzidas pelos processos tradicionais já
citados.
Cabe citar ainda a chamada “Manufatura Rápida”, muito adequada, quando se precisa
produzir pequenos lotes de peças e/ou componentes de geometria complexa, especialmente
para atividades de manutenção de peças ou partes não mais produzidas no mercado. A
“Manufatura Rápida” vem sendo crescentemente empregada, pela utilização de pós metálicos
na PR, que resulta em peças com propriedades mecânicas cada vez mais próximas das
apresentadas pelos materiais tradicionalmente aplicados na fabricação de peças.
IV.8.4 - O Processo Típico de Produção de Jóias Utilizando a PR
Como já comentado em I.4.3, o Processo de Fundição por Cera Perdida é o processo
mais empregado na indústria joalheira, na produção de peças com maior complexidade
geométrica e com maior valor agregado.
No fluxograma apresentado na figura IV.15, são representadas todas as etapas
clássicas de produção de jóias através do processo de fundição por cera perdida, que serão
resumidamente comentadas a seguir, assinalando-se e comentando-se, onde couberem, as
possíveis contribuições da PR para a solução de problemas técnicos e para modernização
tecnológica desse processo e do setor produtivo de Jóias da Cidade do Rio de Janeiro.
80
U
Etapa 1 - Projeto Gráfico/Modelagem Virtual
U
É a etapa comum a todos os processos de
produção e que corresponde à criação/idealização da jóia, através de um desenho que
expresse os desejos implícitos e/ou explícitos dos clientes. Desenhos adicionais podem ser
necessários para definir detalhes de produção relativos à lapidação e fixação (cravação) de
pedras e detalhes de acabamento, entre outros. Atualmente, de acordo com o sistema de
produção predominantemente tradicional/artesanal no setor, os desenhos são elaborados de
forma tradicional, ou então, utilizando programas CAD não específicos para a produção de
jóias. Entretanto, a exemplo do que vem acontecendo em todo o segmento produtivo joalheiro
mundial, começa a desenvolver-se um crescimento da utilização de softwares específicos para
4. Injeção de cera
2. Modelagem Física
3. Moldes de
borracha ou
silicone
4. Injeção de cera
6. Revestimento de
árvores
7. Deceração
8. Calcinação do
revestimento
9. Preparação da liga
metálica
10. Fusão da liga
metálica
11. Inclusão da liga
metálica
12. Quebra do
revestimento
13. Limpeza das
árvores
14. Identificação de
defeitos
15. Acabamento
Reutilização de metal
Granulação da liga
metálica
Simbolo
g
ia
Etapas com a possível
contribuição da PR
Figura IV.15 - Fluxograma das etapas de produção de jóias ( fundição por cera perdida)
utilizando a PR
5. Montagem de
árvores
1. Projeto Gráfico
Modelagem Virtual
81
a modelagem/design de jóias, entre eles, o Rhinoceros, o Jewel CAD, o Flamingo 3D e o 3D
MAX. O crescimento da utilização de tais softwares ocorre, notadamente, no âmbito das
empresas especializadas (bureaus) e em empresas de médio e grande porte no ramo joalheiro,
assim como, entre os designers de maior expressão e renome. A figura IV.16 mostra um
exemplo de modelagem virtual de uma jóia, utilizando um dos softwares citados.
Figura IV.16 - Modelagem virtual de jóia
Acrescente-se que a modelagem virtual de jóias pela utilização de softwares específicos
para tal finalidade, constitui uma inovação tecnológica que a médio/longo prazo, como já
comentado neste trabalho, fará com que a criação de jóias seja uma atividade quase
exclusivamente exercida por designers especializados que consideram não só os aspectos
objetivos dos produtos, diretamente ligados ao uso, mas também e principalmente, em se
tratando de jóias, consideram os aspectos subjetivos relacionados com necessidades
abstratas, anseios e até com aspectos lúdicos de possíveis consumidores, transformando-os
em formas e outras características capazes de estabelecerem diferenciais positivos que
favoreçam a sua produção e posterior comercialização. Acrescente-se ainda que a modelagem
virtual pode ser aplicada à criação de qualquer tipo de jóia, a ser produzida por qualquer
processo, dispondo de recursos como o “Rendering
TP
10
PT
Foto Realista
TP
11
PT
, ferramenta importante
para apresentação da jóia a possíveis produtores e/ou compradores, valorizando o produto e o
designer.
TP
10
PT
Rendering ou renderização – Última etapa da modelagem virtual, onde se escolhe um ângulo/câmera para
visualização do modelo/cenário, para definir sombras, reflexos, refrações, foco, etc.
TP
11
PT
Foto Realista – Termo usado para identificar a qualidade do Rendering, significando que a imagem gerada se
aproxima de uma imagem real, podendo até confundir o observador para identificar se é real ou virtual.
82
Saliente-se, sobretudo, que a modelagem virtual através de softwares específicos, é
essencial para a passagem imediata para a modelagem física da jóia projetada, através da
Prototipagem Rápida. Esta é, sem dúvida, a primeira contribuição da PR para a melhoria do
processo e por extensão natural para a modernização tecnológica do setor no Rio de Janeiro.
Por fim, cabe comentar a essencialidade da modelagem virtual de jóias para a
modernização tecnológica do processo e do setor, considerando-se a não limitação da
criatividade do designer, diante dos crescentes recursos disponibilizados nos softwares já
existentes, o que, além da modernização tecnológica propriamente dita, possibilita saltos de
inovação, geradores de jóias com prêmios internacionais, produzidas por designers nacionais,
que, em esforços isolados, vêm utilizando tais recursos, que incluem a prototipagem rápida
para viabilizar a sua modelagem física.
U
Etapa 2 - Modelagem física
U
Tradicionalmente, esta etapa corresponde à modelagem em
cera sólida especial, própria para esculpir, disponibilizada no mercado sob a forma de tubos,
perfis especiais, blocos maciços e lâminas e fios flexíveis, em várias formas e tamanhos como
mostrado na figura IV.17 a seguir.
Figura IV.17 - Perfilados de cera para modelagem artesanal de jóias
A modelagem tradicional predominante no setor produtivo nacional e no setor do RJ em
análise, é caracterizada pela utilização intensiva de ferramentas manuais que inclui fresas,
brocas, buris, bisturis e até esculpidores dentários, entre muitas outras, conforme exemplos
mostrados na Figura IV.18. Nessa etapa de modelagem também são utilizadas ceras no estado
pastoso ou líquido para realizar eventuais reparos.
83
Figura IV.18 - Algumas ferramentas utilizadas para modelagem artesanal de jóias
Dependendo da complexidade geométrica da jóia a ser produzida, a modelagem
tradicional pode consumir horas, dias ou até semanas de trabalho de um artesão
especializado, denominado geralmente de Modelista, que tende a retardar e, sobretudo a
encarecer a produção da jóia. Dependendo da configuração geométrica, espessuras de
material e outros detalhes imaginados pelo designer/criador no projeto gráfico, a modelagem
tradicional/artesanal como praticada atualmente no setor, pode ser inviável, diante das
limitações do Modelista e da fragilidade do material utilizado para a modelagem, obrigando um
retrabalho do design, para superação do problema. Também na modelagem virtual realizada
Limas
Frezas
Esculpidores
84
utilizando softwares específicos, a modelagem física, através de recursos artesanais, pode não
ser possível, em razão da complexidade geométrica e de outros detalhes do design.
Com efeito, os designers e produtores de jóias consultados, foram unânimes em
apontar a modelagem artesanal como um fator restritivo para a inovação no design de jóias.
A utilização da inovação tecnológica, representada pela Prototipagem Rápida na etapa
da modelagem física, se apresenta como a principal potencialidade do emprego dessa
tecnologia na produção de jóias, sendo as primeiras experiências relatadas por Chua, Long e
Lim (2003). Como já sucintamente comentado em IV.6.1, tais experiências realizadas no final
dos anos 90 do século passado, evidenciaram problemas e restrições, principalmente quanto
ao acabamento, à estabilidade e precisão dimensional e ao material dos protótipos produzidos.
Quanto ao acabamento, os protótipos produzidos apresentavam degraus perceptíveis a olho nu
e/ou ao contato tátil, decorrentes da espessura da camada do material depositado, da ordem
de décimos de milímetro e do inadequado controle das temperaturas envolvidas no processo,
que também influenciavam negativamente a estabilidade e a precisão dimensional. Tais
problemas obrigavam a execução de operações de pós-acabamento, demoradas e
conseqüentemente onerosas e que por vezes, diante da fragilidade do material então utilizado,
acabavam por inutilizar o protótipo produzido. Por outro lado, o material empregado na época,
resina foto polimerizável, apresentou também restrições expressivas, visto que não conseguia
reproduzir adequadamente detalhes de maior complexidade geométrica, presentes em jóias a
serem produzidas pelo processo de fundição por cera perdida.
Além do conjunto e interação das restrições já comentadas, ocorria ainda a restrição
quanto ao emprego do protótipo da jóia produzida como modelo primário para fundição.
Quando muito, o protótipo se prestava à produção de moldes de borracha e/ou silicone para
posterior produção de modelos em cera, denominados “múltiplos”, a serem utilizados
diretamente na fundição das jóias.
Atualmente, conforme apontado em IV.6, diante principalmente das melhorias
introduzidas nos equipamentos e nos materiais empregados na PR, praticamente todas as
restrições comentadas deixaram de existir, permitindo obter peças com estabilidade e precisão
85
dimensional e acabamento superficial que superam as produzidas através de processos
tradicionais/artesanais até então utilizados, conforme apresentado na figura IV.19 a seguir.
Figura IV.19 - Equipamento da SOLIDSCAPE e protótipos/modelos de jóias produzidos
Com efeito, a partir de um desenho elaborado através de softwares específicos para
jóias como o Rhinoceros e o Jewel CAD, entre outros, pode-se utilizar equipamentos de PR,
obtendo-se num tempo muito menor do que na forma tradicional, um modelo/protótipo da jóia a
produzir, conforme mostrado na figura IV.20, relativo à modelagem virtual apresentada na
figura IV.16.
Figura IV.20 - Modelagem física de jóia através de PR em cera e/ou outro material
Equipamento de PR
Benchtop da
Solidscape
Protótipos/modelos produzidos
p
elo e
q
ui
p
amento
86
Os equipamentos depositam dois materiais, (base de apoio e material de cera) ou base
de apoio e acrílico, conforme mostrado nas figuras IV.21 e IV.22 a seguir.
Posteriormente, encerrada a modelagem, a base é retirada em banho especial,
resultando então um modelo/protótipo da jóia a produzir, sem qualquer necessidade de pós-
processamento.
Figura IV.21 - Modelo/protótipo na base. Figura IV.22 - Modelo/protótipo em acrílico
3D Systems – Tecnologia FDM 3D Systems – Tecnologia FDM
Assim, modelagens que poderiam consumir dias ou semanas, são concluídas em no
máximo algumas horas, com a vantagem adicional de serem elaboradas em materiais mais
adequados à utilização nas etapas seguintes de produção de jóias como em cera para
aplicação direta no processo de fundição
.
Cabe comentar também que a utilização da PR na
modelagem física, associada à utilização de softwares específicos para jóias, torna
praticamente ilimitada a passagem do virtual imaginado pelo designer para o concreto,
estabelecendo a tendência de decréscimo paulatino da participação do modelista tradicional
nessa atividade. Cabe aqui acrescentar também, que, nas pesquisas de campo, a autor teve
informações de que, diante do aumento da complexidade geométrica e de outros detalhes de
design moderno de jóias e da falta de modelistas artesãos para a sua modelagem física, não
são raros os casos de aquisição, no exterior, de modelos/protótipos para a produção de jóias
no Brasil e no Rio de Janeiro em particular.
Esclareça-se por fim, que nesta etapa pode ser obtido um protótipo/modelo da jóia em
material durável e resistente como, por exemplo, o acrílico fotopolimerizável, como já
apresentado na figura IV.22, mais adequado para produção de moldes em borracha ou
silicone, de que trata a etapa 3, ou, no que é cada vez mais freqüente, dependendo da relação
custoxbenefício, obtidos múltiplos modelos em cera, para a formação de uma “árvore”, como
87
descrito na etapa 5 para serem utilizados diretamente na etapa 6, correspondente ao
revestimento, preparando o molde para a fundição.
U
etapa 3 - Molde de Borracha ou Silicone
U
. A partir de modelos físicos obtidos na fase 2, se
confecciona o molde em borracha natural, borracha sintética, silicone ou borracha vulcanizada
a frio, conforme mostrado na figura IV.23, no caso de se utilizar modelos sensíveis a calor
como, por exemplo, a cera. O objetivo da confecção de moldes é a produção posterior dos
denominados “múltiplos” em cera, ou seja, tantas peças em cera especial para o processo de
fundição por cera perdida, quantas forem as unidades da jóia a produzir.
Figura IV.23 - Peças e parte interna de molde para produzir “múltiplos”
Esta etapa apresenta alguma críticidade, já que a tiragem do modelo do interior do
molde, dependendo da complexidade geométrica da peça, frequentemente danifica ou inutiliza
o modelo produzido em cera. Objetivando contornar tal dificuldade, e como já comentado,
podem ser produzidos modelos por PR em acrílico, mais resistentes e adequados, para serem
utilizados nesta etapa.
Na forma tradicional de produção e dependendo da quantidade de peças a produzir, o
modelo produzido na etapa 2 pelo artesão, em cera especial para modelagem, diante da sua
fragilidade e custo, é geralmente utilizado somente para a fundição de uma peça em metal que,
depois de cuidadosamente acabada e especialmente preparada é utilizada para a confecção
Parte Interna de
molde de silicone
Peça produzida por
PR em cera
Peça Preparada para
confecção de molde
88
do molde de borracha ou silicone, para a produção dos “múltiplos” em cera da jóia a ser
produzida.
Também é notável, nesta etapa, a contribuição da PR para a produtividade e para a
inovação e, conseqüentemente, para a competitividade. Na maior parte dos casos, para peças
únicas ou séries limitadas de peças, equipamentos de PR disponíveis no mercado, como o
Modelmaker da Sanders Prototype e Benchtop da Solidscape, mostrado na figura IV.19
produzem vantajosamente modelos em cera, própria para a utilização no processo de fundição
por cera perdida. Neste caso, a etapa de confecção de molde de borracha ou silicone, pode
tornar-se desnecessária;
U
etapa 4 - Injeção de Cera
U
. Utilizando os moldes produzidos na etapa anterior, através
normalmente de máquinas especiais (injetoras), se faz a injeção desses moldes com cera,
obtendo-se dessa maneira os “múltiplos” do modelo produzido. São injetados tantos “múltiplos”,
quantas forem as unidades de jóia a serem produzidas. Nessa etapa são usadas ceras naturais
e resinas poliméricas/plásticas de acordo com a qualidade de reprodução requerida. A exemplo
do comentado na etapa anterior e também dependendo da quantidade a ser produzida, esta
etapa pode ser desnecessária, diante da produção de “múltiplos” de cera através da PR, o que,
representa uma expressiva contribuição, diante da rapidez e da repetitibilidade da produção,
sem erros nem perdas de material, comuns na produção tradicional.
U
etapa 5 - Montagem de árvores
U
. Consiste em montar um arranjo envolvendo vários modelos
resultantes da injeção de cera (múltiplos), objetivando a produção de uma série de peças de
uma só vez, em metal (ouro normalmente), prevendo canais e demais detalhes necessários
para a correta “alimentação” de todos os modelos e assim evitar falhas nas peças de metal a
serem produzidas. Novamente a contribuição da PR pode, no futuro, ser expressiva,
considerando-se a possibilidade de produzir através da PR, árvores em cera, prontas para
serem utilizadas na próxima etapa. Neste caso, cabe ressaltar que precisa existir conhecimento
específico, bastante amplo, a fim de dimensionar adequadamente os pontos críticos para o
89
enchimento dos moldes formados pelas árvores, evitando porosidades e falhas diversas nas
peças de jóias a produzir e procurando fazer um aproveitamento máximo do potencial produtivo
das máquinas de PR. Trata-se aqui de um aspecto a ser contemplado para desenvolvimento
futuro, pelos produtores de jóias e de equipamentos de PR, direcionados para essa produção.
U
etapa 6 - Revestimento das árvores
U
. Consiste em envolver de forma adequada, normalmente
em tubos especiais, as árvores produzidas na etapa anterior. Basicamente o revestimento é
composto por cristobalita, em torno de 70%, gesso em torno de 25% e outros elementos como
quartzo e fosfato e ainda aditivos como ácido bórico, grafite, cloreto de sódio, bórax, etc.,
conforme necessidades e de acordo com os metais a serem utilizados e as configurações das
peças a serem produzidas;
U
etapa 7 - Deceração
U
. Consiste na retirada da cera do interior do revestimento das árvores.
Dois processos são utilizados. Por “via seca” em que o cilindro contendo as árvores é colocado
em estufa com temperatura em torno de 150
P
0
P
C. A cera derrete e escoa naturalmente do
interior do revestimento, liberando espaço para preenchimento com metal fundido. Por “via
úmida” o processo é semelhante, só que em forno com a temperatura de cerca de 150
P
0
P
C,
onde circula vapor de água. Embora menos utilizado, é o mais indicado para evitar resíduos de
cera no interior do revestimento. Da deceração, resultam cavidades que têm o formato das
jóias a serem produzidas e que serão preenchidas com o metal no estado líquido;
U
etapa 8 - Calcinação do revestimento
U
. Trata de dar mais resistência ao revestimento. É
realizada normalmente em forno a uma temperatura inicial de 350
P
0
P
C
P
P
e depois a cerca de 700
P
0
P
C
P
P
para queima de possíveis resíduos de cera e garantir uma qualidade adequada da jóia
produzida;
U
etapa 9 - Preparação das ligas metálicas
U
. Simultaneamente ou não à etapa 8, é preparada a
liga metálica a ser empregada para a produção da/s jóia/s, envolvendo materiais como
90
latão/alpaca para a produção de folheados, ligas de prata e principalmente ligas de ouro
(amarelo, vermelho ou branco), resultantes das percentagens de emprego de materiais como o
cobre e a prata, entre outros metais na sua composição.
U
etapa 10 - Fusão da liga metálica
U
. Trata da fusão da/s liga/s metálica/s adequada/s à
produção da/s jóia/s, através da utilização de maçaricos a oxigênio e GLP ou ar comprimido e
GLP, forjas elétricas ou a gás e fornos elétricos resistivos ou indutivos;
U
etapa 11 - Inclusão da liga metálica no revestimento das árvores
U
. A liga metálica no estado
líquido é vertida para o interior do revestimento moldador, utilizando-se processos de fundição
por centrifugação, vácuo/estática, etc.;
U
etapa 12 - Quebra do revestimento/retirada das árvores
U
. Uma vez solidificado o metal, o
cilindro de revestimento moldador é mergulhado em água à temperatura ambiente em torno de
25 a 30
P
0
P
C, quando, então, o revestimento fragiliza e trinca, sendo então possível liberar as
“árvores” com as peças metálicas produzidas;
U
etapa 13 - Limpeza das árvores metálicas
U
. Trata de limpar as peças, retirando incrustações,
aderências e sujidades diversas, pela utilização de jatos de água, ácidos, ultra-som, agulhas
magnéticas, tambores rotativos, vibradores, etc., para adequada visualização das peças
produzidas. A figura IV.24 a seguir, mostra uma “árvore” produzida através da fundição por
cera perdida;
91
Figura IV.24 - Exemplo de “árvore” com fundição de diversas peças de uma jóia
U
etapa 14 - Identificação de defeitos
U
. Identificação de possíveis falhas resultantes do processo
e seleção de peças boas e peças a serem descartadas para posterior fusão e reutilização. As
peças não aproveitadas são disponibilizadas para posterior reutilização, através da sua
fragmentação/ granulação e posterior reaproveitamento na fundição de peças que utilizem a
mesma liga;
U
Etapa 15 - Acabamento
U
. Envolvendo atividades diversas, tais como gravações especiais e
montagens e acabamentos diversos, incluindo a cravação de pedras e outros possíveis
elementos complementares, como fechos, por exemplo.
Ramos com as
jóias a produzir
Entrada do
metal e canais
de alimentação
92
ANÁLISE FINAL E RECOMENDAÇÕES
Diante das pesquisas realizadas, tendo como pano de fundo e principal cenário, o
universo do setor produtivo de Jóias da Cidade do Rio de Janeiro, pode-se inferir que a
utilização da Prototipagem Rápida (PR) na produção de jóias, a exemplo dos impactos e
desdobramentos positivos em várias atividades de outros setores produtivos, como comentado
em IV.7, apresenta potencialidade para o desenvolvimento das jóias, através da solução de
problemas técnicos e da modernização tecnológica, promovida em várias etapas do principal
processo da produção joalheira, o Processo de Fundição por Cera Perdida, conforme analisado
em IV.4.8, podendo gerar expressivas melhorias para a competitividade do setor. Para isso,
entretanto, precisam ser removidas dificuldades de natureza diversa que, abordadas ao longo
do trabalho, se objetiva aqui e agora resumir.
A consideração das dificuldades de natureza tecnológica, apontadas pelo Fórum da
Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias em seu Resumo Executivo, assim
como, dos dados resultantes da pesquisa do SEBRAE/RJ, complementada pela pesquisa
realizada pelo autor, permitiu uma visão ampliada e mais nítida dos aspectos envolvidos e seus
inter-relacionamentos, como a seguir apresentada.
Inicialmente, cabe ressaltar que, considerando a intenção declarada de transformar
efetivamente o setor de jóias atuante na Cidade do Rio de Janeiro em Arranjo Produtivo Local
(APL), constante no Resumo Executivo do Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva de
Gemas e Jóias, há que buscar continuamente a contribuição das instituições de pesquisa e de
ensino tecnológico presentes no Rio de Janeiro, tais como o INT, o CEFET/RJ e o SENAI/RJ,
entre outras, a fim de acelerar o domínio e a absorção dos conhecimentos e das tecnologias,
indispensáveis para a participação eficiente e eficaz de todos os atores de alguma forma
envolvidos na produção joalheira do Rio de Janeiro.
Outro aspecto de natureza fundamental, diz respeito à reduzida capacitação da mão-
de-obra. É fato constatado pelo autor ao longo da elaboração deste trabalho, que grande parte
93
da atual mão-de-obra utilizada no setor joalheiro, é constituída por artesãos de reconhecida
habilidade, construída através de muitos anos na prática das atividades de produção de jóias.
Outra parte da mão-de-obra, que vêm crescendo nos últimos anos, é constituída por
trabalhadores treinados em escolas de design e de ourivesaria em geral. Todos esses atores,
entretanto, laboram e produzem, com base na realidade gerencial e tecnológica do setor na
cidade do Rio de Janeiro, presentes no seu entorno, o que nos remete para os aspectos da
inadequação tecnológica e da insuficiente inovação tecnológica, também ressaltadas no
Resumo Executivo do Fórum da Competitividade da Cadeia Produtiva de Gemas e Jóias e que,
como constatado pelo autor, também estão presentes e compondo o mesmo cenário. Pode-se
intuir então, diante do cenário/paisagem sucintamente descrito no capítulo III, que os 3 (três)
aspectos/dificuldades se relacionam e, por conseqüência, precisam desenvolver-se em
conjunto.
A percepção mais clara da necessidade e importância da melhoria contínua na
capacitação da mão-de-obra, será facilitada pela disponibilização crescente de recursos e pela
adoção de novas tecnologias e processos que, naturalmente, requerem especialização e
treinamento melhorados e ampliados, para a sua utilização eficiente e eficaz. Entretanto,
analisando dados de pesquisa desenvolvida pelo SEBRAE/RJ no setor do Rio de Janeiro,
quanto ao perfil dos dirigentes das empresas, constata-se que, na sua maioria, não são
originários do setor joalheiro, conforme apresentado em III.4.1, indicando, segundo a
interpretação do autor deste trabalho, a necessidade de treinamentos gerenciais, direcionados
para uma melhor compreensão do estado da arte joalheira em termos mundiais e nacionais e,
especialmente no Rio de Janeiro, para, a partir daí, buscar o incremento da motivação e
sobretudo, da cooperação entre todos os atores envolvidos e da contribuição de instituições
tecnológicas e de pesquisa atuantes no Rio de Janeiro, assim como, buscar os demais
recursos para prover a efetiva solução de problemas técnicos e a conseqüente modernização e
dinamização crescente do setor.
94
Constata-se que várias ações específicas, voltadas para a capacitação da mão-de-obra
no setor, vêm sendo desenvolvidas, principalmente através da AJORIO, com o apoio do
SEBRAE e em parcerias com o Sistema FIRJAN/SENAI. Entre tais ações, vale destacar a
criação da Escola de Ourivesaria, que oferece cursos para qualificação de profissionais para
atuarem em diversos segmentos da produção joalheira. Destaca-se também, a parceria da
Escola de Ourivesaria com a Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio de Janeiro, em um
curso de especialização Lato Sensu em desenho de jóias, com duração de um ano. Entretanto,
tais ações, embora altamente positivas e necessárias, como constatado na pesquisa realizada
pelo autor, onde a falta de conhecimento e/ou treinamento, foi apontada como a segunda maior
dificuldade para a utilização da PR, podem estabelecer algum nível de frustração, quando, na
prática, não se encontram os recursos para dar continuidade a conhecimentos adquiridos no
treinamento. É o caso da utilização de softwares específicos para o design/modelagem virtual
de jóias e de equipamentos de Prototipagem Rápida (PR) para a modelagem física. A
associação desses dois recursos, como abordado em IV.8.4, pode, como fator de solução de
problemas técnicos e promovendo por extensão a modernização tecnológica e a inovação do
design, alavancar a competitividade do setor, possibilitando, ainda, uma concorrência menos
assimétrica, em relação a outros produtores de jóias no mercado mundial, que vêm
crescentemente utilizando tais recursos.
Informações colhidas junto à empresa representante no Brasil de um dos mais
importantes produtores mundiais de equipamentos de PR, a SOLISCAPE Inc. dos EUA, dão
conta de que cerca de 1 400, (um mil e quatrocentos), equipamentos de mesa, semelhantes ao
mostrado em IV.4.6 (figura IV.19), especialmente dedicados à produção de peças/protótipos
em ateliers de design modelisticos, para vários setores produtivos, entre eles o setor joalheiro,
já estão sendo crescentemente utilizados na produção de jóias, notadamente nos países
líderes na produção joalheira, como a Itália e os EUA. A mesma fonte, informou ainda, que na
China, inobstante contar com mão-de-obra especializada abundante e de baixo custo, já
contava em 2004 com 12 (doze) desses equipamentos de PR, diretamente ligados aos
95
departamentos de design e produção de jóias. No Brasil, atualmente, só se conta com duas
unidades desses equipamentos, sendo uma delas, de penúltima geração (4
P
a
P
) no INT do Rio de
Janeiro, no momento com pouca utilização na pesquisa e produção de jóias e a outra unidade,
esta de última geração (5ª), em São Paulo, operando em empresa de modelagens diversas,
incluindo jóias.
Um fator restritivo, freqüentemente apontado nas visitas e entrevistas realizadas ao
longo do trabalho, é a dificuldade relacionada com o custo dos equipamentos e softwares. A
restrição apontada é, sem dúvida, de alta relevância, como resultou demonstrado pela
pesquisa realizada pelo autor, onde tal dificuldade foi apontada como a mais importante e,
portanto, o fator mais impeditivo para disseminação da utilização da PR na produção joalheira.
Com efeito, os equipamentos já citados, segundo o seu representante no Brasil, já
mencionado, custam nos EUA, cerca de US$ 50.000, podendo chegar ao nosso País, com
tributações e outros encargos a um custo em torno de US$ 80.000, custo esse que,
praticamente, impede a sua aquisição pelas empresas do setor na Cidade do Rio de Janeiro
que, conforme detalhado em III.2, é composto em sua maioria, cerca de 96%, por micro e
pequenas empresas.
Acrescente-se, que na pesquisa realizada pelo autor, ainda foram identificadas outras
dificuldades, de alguma forma relacionadas com as questões até aqui apresentadas, tais como,
a falta de informações sobre a importância da PR para o design, inovação e produção de jóias,
a insuficiência de pesquisas específicas sobre a utilização da PR no universo joalheiro
nacional, a escassez do material bibliográfico disponível para pesquisas, a inexistência de uma
rede de troca de conhecimentos e experiência em relação a softwares, hardwares e
especificações, sobre o uso da PR na produção joalheira, o licenciamento de aplicativos e a
dependência tecnológica e possíveis problemas quanto à presteza e qualidade de suporte na
manutenção dos equipamentos utilizados.
96
Para a superação das dificuldades até aqui tratadas, podem ser desenvolvidas ações
como a de incentivo crescente para o conhecimento da modelagem virtual com softwares
específicos e de modelagem física com PR, através de treinamento no âmbito do setor ou fora
dele, preparando/motivando a mão-de-obra e os profissionais em geral para as mudanças que
já vêm ocorrendo e que tendem a acelerar-se diante da concorrência globalizada.
Outra ação é a disseminação/incremento da utilização da PR na modelagem física de
jóias, através da aquisição e utilização efetivamente compartilhada de equipamentos de última
geração, disponibilizando tal recurso para todas as empresas do setor no Rio de janeiro. Esta
ação, indispensável segundo a visão do autor, é extremamente crítica e por isso, merecedora
de apurada reflexão, especialmente quanto ao local e gerenciamento da utilização
compartilhada de tal recurso, aí incluída a utilização de softwares específicos para o design de
jóias. Considerando-se a constatação de pesquisa do SEBRAE/RJ sobre o nível de
participação das empresas do setor nas decisões/ações relacionadas com as suas atividades,
como tratado em III.3.1, seria recomendável a realização de consultas específicas aos
atores/participantes do setor, sobre tão importante questão, crucial para o uso futuro de tais
recursos e, conseqüentemente, para os resultados, em termos de modernização tecnológica e
competitividade.
O autor entende que, a formação de um bureau de PR, exclusivo para o atendimento do
setor no Rio de janeiro, seria uma forma de acumular conhecimento e, sobretudo, de ganhar
confiança na utilização da tecnologia e disseminar o seu uso.
Outro aspecto também relevante e merecedor de ações específicas é o referente à
propriedade intelectual do design que é reconhecida pela Lei de Direitos Autorais (LDA),
especialmente nos seus Artigos 7
P
0
P
e 11
P
0
P
, entre outros. O receio quanto à confidencialidade
durante o processo de elaboração das jóias, foi apontado como uma das mais importantes
dificuldades para a utilização da PR. No Brasil e no setor do Rio de Janeiro em particular, o
índice de registros de propriedade intelectual de design de jóias é muito baixo, fato que foi
97
confirmado em pesquisa realizada pelo autor junto ao Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (INPI), onde se contatou que, no último ano, tais registros para todo o Brasil, se
situaram em cerca de 60 (sessenta), restringindo-se, na prática à iniciativa de alguns poucos
designers profissionais de renomado prestígio no mercado e de empresas de médio e grande
porte, produtoras de jóias. Em função dessa realidade percebida no ambiente joalheiro
pesquisado, paira uma sensação/atitude de desconfiança quanto ao trato de informações
relativas ao design não só para a modelagem virtual, mas, também e principalmente, para
modelagem física através da PR, feita por terceiros, profissionais autônomos, bureaus de
serviços e até mesmo por instituições de ensino e/ou pesquisa. Nas visitas e entrevistas
realizadas pelo autor, várias explicações/justificativas foram apresentadas para tal situação,
relatando, principalmente, dificuldades para apresentação de documentação no INPI, demora
do processo de registro e pagamento julgado impróprio e excessivo por cada registro, que
estariam inibindo/dificultando o tratamento adequado desta questão. A pesquisa do autor junto
ao INPI constatou que tais alegações, talvez fundamentadas em realidades do passado, não
correspondem fielmente à realidade atual.
Fruto dos trabalhos realizados no Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva de
Gemas e Jóias foi criada em agosto de 2005, uma Cartilha com o título de “A Proteção Legal
das Jóias”, reunindo informações sobre os novos procedimentos para proteção da propriedade
intelectual das jóias que, a critério do seu autor, poderá ser feito através de duas modalidades
de registro, ou seja, o Registro de Desenho Industrial, no INPI, protegendo “a forma nova e
original de uma jóia passível de fabricação industrial, desde que não seja uma obra de caráter
puramente artístico”, ou então o Registro de Direito do Autor, que pode ser feito na Escola de
Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA/UFRJ), protegendo “a forma de
expressão artística original contida na jóia, não sendo necessário o requisito de fabricação
industrial”. Segundo informações colhidas junto ao INPI, um processo de registro de jóia, em
condições normais, se concretiza num prazo máximo de 40 (quarenta dias).
98
Neste aspecto, seria desejável uma ação específica a ser desenvolvida em contato
estreito com o INPI e a EBA, objetivando o adequado entendimento e adoção destes
procedimentos para o registro dos designs gerados no setor da Cidade do Rio de Janeiro.
A adoção das ações, até este ponto descritas, entre outras, certamente contribuirá
expressivamente para a diminuição das dificuldades que vêm inibindo a implantação das
mudanças decorrentes das inovações tecnológicas, em particular da modernização tecnológica
constituída pela PR, objeto desta dissertação, contribuindo também para o desenvolvimento da
produção joalheira e da já importante participação do setor do Rio de Janeiro, não só no
mercado interno, mas, sobretudo, nas exportações brasileiras de jóias, onde ainda ocupa a
primeira posição.
Por fim, considerando os impactos e desdobramentos para modernizações e inovações
em processos, decorrentes da utilização da PR, como tratado em IV.7, o autor sugere a
continuidade de pesquisas na produção joalheira, focando outros aspectos, entre eles, a
produção de “árvores”, para a fundição de séries limitadas de peças/jóias.
Outro foco, ainda incipiente, sobretudo, no contexto nacional e que, na visão do autor,
deveria ser objeto de pesquisa em futuro próximo, é o relativo à utilização da PR na área
biomédica, a partir de imagens de Ressonância Magnética (Magnetic Resonance Imaging –
MRI) e Tomografia Computadorizada (Computed Tomography - CT), bem como, de
escaneamento tridimensional, para a produção de modelos anatômicos, próteses e implantes
diversos, crescentemente personalizados, além de simulações cirúrgicas, entre outras
aplicações possíveis na referida área.
99
CONCLUSÃO
Com base em todas as pesquisas realizadas, pode-se concluir que o emprego da PR na
produção de jóias no setor de Jóias da Cidade do Rio de Janeiro, a exemplo do que já vem
ocorrendo nos países líderes na produção joalheira mundial, contribuirá para a solução de
problemas técnicos diversos e para a sua modernização e melhoria do design, podendo
alavancar expressivamente a inovação e as condições de competitividade no mercado nacional
e, especialmente, no mercado internacional.
Ressalte-se que as possíveis vantagens da utilização da PR no setor joalheiro não se
restringem ao processo de Fundição por Cera Perdida, mas também, como tratado ao longo do
capítulo IV, poderão estabelecer, no setor como um todo, vantagens competitivas,
especialmente nos tempos de criação e desenvolvimento de jóias e, sobretudo, na melhoria do
design e na maior agregação de valores à produção, como conseqüência natural da utilização
de softwares específicos, na prática, indispensáveis quando se utiliza a PR.
Também se pode concluir que, na atualidade, a utilização da PR na produção de jóias
no setor é incipiente, restringindo-se, na prática, às iniciativas ainda tímidas de alguns poucos
designers e empresas.
Por fim cabe salientar a necessidade premente de enfrentamento adequado das
dificuldades existentes, viabilizando a utilização efetiva da PR para a produção de jóias no
setor instalado na Cidade do Rio de Janeiro, o que contribuirá para desenvolver a sua posição
de destaque no setor produtivo joalheiro nacional e para ampliar a sua condição de
competitividade no mercado internacional.
100
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