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da Festa. As crianças o recriam a cada ano, introduzindo novos elementos, de
acordo com a constelação daquele grupo. Na montagem do presépio, surgem
elementos significativos próprios de cada um, como lagos, cachoeiras, sítios,
caminhos com pedras, conchas, cidades, animais, fadas, etc. O céu é feito por eles,
com o desafio de pendurar as estrelas no alto, enfeitado com os planetas, asteróides
e tudo mais que pode ter no céu: flores, árvores, nuvens, anjos, sol, lua, vento, etc.
Depois do presépio pronto (foto 20), enfeitam-no com flores de girassóis, por
eles plantadas na Primavera. Cada criança acende a sua vela no presépio. As que
vão sair passam um bastão com uma vela para que os pais, ao entrarem, possam
acender as velas de uma guirlanda central. Ao finalizar, a guirlanda é erguida até o
andar de cima, onde as crianças se encontram escondidas. Os pais sentam-se no
quadrado interno e as crianças começam a jogar a chuva de estrelas. Após este
momento, há o encontro entre pais e filhos. São coisas indescritíveis, que passam
pelo olhar, pelo abraço, pela emoção, pelas lágrimas e pela música. É a experiência
vivida, sentida e incorporada.
Depois desta primeira parte, as crianças montam um presépio vivo (foto 21 e
22). Cada ano, ele se configura em um espaço diferente da escola: na árvore-mãe,
no gramado, no redondo formado pelas árvores, na casinha de pau a pique, etc.,
lugares que fazem sentido para aquele grupo. Os personagens também são
escolhidos por eles, podendo ter várias “Marias”, anjos, Reis Magos, pastores e
pastoras, guardiões, palhaços ou animais diversos, como dinossauro, besouro,
dragão, sapo, carneirinho, respeitando o que é significativo para cada criança.
As músicas tambérm são escolhidas pelas crianças, a partir do repertório
apresentado pelos educadores. Atualmente, trabalhamos o repertório de cantigas,
introduzido por Lydia Hortélio, já citada anteriormente, que em sua pesquisa na
região de Grota Funda, zona rural de Serrinha, Bahia, recolheu inclusive o “Baile do
Deus menino”. Segundo Lydia Hortélio, a festa em Serrinha se dá diante da lapinha,
o presépio, e dura a noite toda, até o amanhecer. Marchas/jornadas cantadas,
dançadas e representadas por um terno de pastores e pastoras contam a história do
Natal, a peregrinação para Belém e a “santa festejação”. Tudo para a louvação ao
Menino, festejado com loas, versos e personagens que fazem parte do imaginário do
povo brasileiro, na proposta de reafirmar a cultura brasileira, de fazer um
contraponto à comercialização e ao consumismo das festas natalinas.