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Universidade Federal de Uberlândia
Instituto de Psicologia
Programa de Pós
-
Graduação em Psicologia
-
Mestrado
VIOLÊNCIA CONJUGAL:
ESTUDO SOBRE A PERMA
NÊNCIA DA MULHER EM
RELACIONAMENTOS ABU
SIVOS
TÂNIA MENDONÇA MARQU
ES
Uberlândia
2005
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TÂNIA MENDONÇA MARQUES
VIOLÊNCIA CONJUGAL:
ESTUDO
SOBRE A
PERMANÊNCIA DA
MULHER
EM
RELACIONAMENTOS ABUSIVOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Psicologia da Universidade Federal
de Uberlândia, como requisito para obtenção do
título de Mestre em Psicologia.
Área de concentração: Psicologia Social e do
Trabalho.
Orientadora: Dra. Marília Ferreira Dela Coleta.
Uberlândia
2005
ads:
Tânia Mendonça Marques
Violência conjugal: estudo sobre a permanência da mulher em relacionamentos
abusivos
.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Psicologia da Universidade Federal
de Uberlândia, como requisito para obtenção do
título de Mestre em Psicologia.
Área de concentração: Psicologia Social e do
Trabalho.
Banca Examinadora:
Uberlândia, 31 de março de 2005.
___________________________________________________
Prof. Drª
Maria Alice Magalhães D Amorim
URFJ
____________________________________________________
Prof. D
r. Antônio Wilson Pagotti
-
UNITRI
___________________________________________________
Prof. Drª Marília
Ferreira
Dela Coleta
-
UFU
AGRADECIMENTOS
Ao Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia, pela oportunidade e apoio
à minha
capacitação
, em especial à prof. Drª Maria do Carmo Fernandez Martins, que
estimulou e valorizou minhas iniciativas como pesquisadora, e por ser a primeira
coordenadora do Programa de s-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de
Uberlândia.
À Professora Drª Marília Dela Coleta, minha gratidão, por sua disponibilidade, interesse e
orientações, muito acima e além do dever.
A todos os funcionários da Delegacia Adida ao Juizado Especial Criminal, particularmente à
Delegada Drª Karine A. M. C. Oliveira, pela amizade e apoio oferecido durante todo o
período de realização deste trabalho, especialmente nas etapas de entendimentos institucionais
e ao escrivão Marcelo, ponto de apoio sempre disponível.
Aos professores Drª Renata Ferrarez Fernandes Lopes
e
Dr. Sinésio Gomide Junior, membros
da banca do Exame de Qualificação, pelo incentivo e valiosos comentários e sugestões
apresentados.
À Ludimilla de Sousa Chaves e Rafaela Arantes Marengo pela inestimável ajuda na fase de
coleta de dados dos arquivos das instituições. Sem suas ajudas, ela dificilmente teria sido
realizada no período previsto.
Ao amigo Frederico Augusto Queiroz pela sua disponibilidade imediata e valiosa colaboração
com seus conhecimentos e domínio da informática.
À Maria Inês Bachin que cooperou comigo nesta pesquisa do começo ao fim na procura de
inúmeros artigos, revisão bibliográfica, por estar sempre disponível, por oferecer
encorajamento e por seu grande coração.
À
psicóloga Sonia de Toledo Cezar,
amiga,
conselheira, incentivadora de primeira hora, pela
valiosa e efetiva ajuda, através do envio de livros e material necessários a este trabalho de
Amarillo, Texas EUA.
Finalmente agradeço muito especialmente a várias mulheres que não podem ser mencionadas
por seu nome
mulheres que me confidenciaram suas experiências, seus problemas e
dificuldades e cuja privacidade prometi proteger.
RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido em duas fases. A primeira teve como objetivo caracterizar as
mulheres que sofrem violência conjugal e seus parceiros agressores e determinar a
prevalência das diferentes queixas, tipos de violência e incidência penal. Para cumprir a
primeira etapa, foi realizado um levantamento nos arquivos da Delegacia da Mulher Adida ao
Juizado Especial Criminal e do Juizado Especial Criminal de Uberlândia. Foram examinados
876 registros encontrados nos Boletins de Ocorrência (BO) no primeiro semestre de 2004, e
390 casos em andamento nos Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCO), no período de
janeiro de 2003 a maio de 2004. A análise dos resultados demonstrou que a idade média das
mulheres foi de 30,8 anos e de 32,31, respectivamente para BO e TCO, sendo que entre
amásias e ex-amásias encontra-se a maior concentração de mulheres vítimas de violência
conjugal. As mulheres residem em diferentes bairros de Uberlândia e suas ocupações variam
de desempregadas e do lar até empresárias e profissionais liberais. A prevalência das queixas
nos TCOs foi fim de relacionamento, e nos BOs foi motivos fúteis, seguido por ausência de
motivo
s. A ameaça à integridade física foi o mais freqüente crime denunciado, tanto nos
registros dos BOs quanto nos registros dos TCOs, respectivamente denominados, descrição da
violência e incidência penal. As denúncias de violência conjugal ocorreram para casais cujo
relacionamento variaram de um mês até 40 anos de vida em comum. A maior incidência de
BOs ocorreu com uma periodicidade de sete dias, revelando especificamente alta taxa de
violência nos finais de semana. Observou-se uma maior prevalência de ameaças devido à não
aceitação do fim de relacionamento, o que evidencia que é altamente justificado o temor de se
romper uma relação conjugal violenta.
Na segunda fase da pesquisa, foram avaliadas as atribuições causais para o primeiro e o
último episódio de violência em uma amostragem de 71 mulheres que procuraram
espontaneamente a Delegacia da Mulher de Uberlândia para registrar queixa crime contra o
parceiro conjugal (TCO). A idade média das mulheres foi de 34,69 anos, com idade variando
entre 17 e 59 anos, sendo a maioria branca, oriunda de diferentes religiões, profissões e
bairros, e com filhos. A fase do namoro revelava a problemática da violência para 31% das
mulheres. Ciúmes, nervosismo, agressividade, uso de álcool, desconfiança de ser traído por
ela e traição dele foram os fatores mais referidos como desencadeantes das agressões. As
agressões físicas e psicológicas são uma rotina vivida pelas mulheres. Todas as mulheres
entrevistadas conviviam com parceiros violentos. Para o estudo das causas percebidas pelas
mulheres para as agressões foi apresentado um modelo proposto por Weiner que prevê que
um estímulo provoca as cognições sobre suas causas, as cognições ou atribuições causais
determinam respostas afetivas e expectativas de meta, assim como os
comportamentos
subseqüentes.
Foi verificado se o foco da atribuição, sentimentos e expectativas estariam
relacionados
com a intenção da mulher permanecer ou romper o relacionamento conjugal. A
metodologia utilizada permitiu às
entrevistadas
classificar as categorias de atribuição
conforme preconizadas por Weiner, e também categorizar seus sentimentos. As atribuições
causais foram classificadas pelas mulheres como internas para a primeira e última agressão,
caracterizando
-se como instáveis e controláveis para a primeira e estáveis e incontroláveis
para a última.
Além disso, as mulheres exibiram uma alta freqüência
de culpa
d
o parceiro por
ambos os episódios de violência. As mulheres que atribuíram causas
internas
estáveis à
violência do parceiro, que manifestaram sentimentos contra o parceiro, que apresentaram
expectativas de que a situação ficaria pior caso permanecessem na relação, demonstrando
perceber
intenções negativas no parceiro e, expectativas de vida digna se deixar o parceiro,
relataram
t
er
intenção de romper o relacionamento. Os resultados sugerem que as mulheres
têm particular dificuldade
em
romper
o relacionamento quando atribuem causas internas
instáveis
e controláveis ao parceiro e mostram maior facilidade quando atribuem causas
internas estáve
is
incontroláveis à violência cometida pelo parceiro conjugal. Esses resultados
dão suporte aos modelos
psicossociais
que postulam que atribuições estão relacionadas ao
comportamento
e, particularmente, ao que foi proposto neste estudo.
Palavras chave: Vi
olência conjugal, Mulher, Psicologia Social, Atribuição Causal.
ABSTRACT
This work was developed in two phases. The first aimed to characterize women who suffer
abuse from their husbands/partners and determine the prevalence of the different complaint
s,
types of violence and penal incidence. To achieve the first phase, a survey of the files at the
Women s Police Station Attaché to the Special Criminal Judgeship and the Special Criminal
Judgeship of Uberlândia was performed. Eight hundred and seventy-
si
x Police Reports (PRs),
from the first semester of 2004 as well as three hundred and ninety cases in progress in
Circumstanced Term Reports (CTRs) from January 2003 to May 2004 were examined.
Analysis revealed that the average age of the women was 30.8 years and 32.3 years for PRs
and CTRs, respectively. A higher concentration of violence was encountered in lovers and
former lovers who lived or had lived together with their partners. The women reside in
various neighborhoods in Uberlândia and their occupations varied from unemployed and
housewives to businesswomen and liberal professionals. The prevalence of complaints in the
CTRs was end of relationship, and in the PRs were futile motives, followed by lack of
motives. Threatening of physical integrity was
the most frequent disclosed crime in the PRs as
well as in the CTRs. Accusations of violence committed by spouses occurred in couples
whose relationships varied from one month to forty years of living together. The greatest
incidence of PRs occurred within a periodicity of seven days and revealed a specifically
higher rate of violence on the weekends. A greater prevalence of threats due to non-
acceptance of ends of relationships was observed which makes it evident that the fear of
ending a violent relations
hip is justified.
In the second phase of the research, causal attributions of the first and last violent episodes
were evaluated in a sampling of seventy-one women who spontaneously sought out the
Women s Police Station of Uberlândia to press charges against partners (CTRs). The average
age of the women was de 34.69 years, varying from 17 to 59 years. The majority of the
women was white, had children and came from different religious, professional and
geographical backgrounds. The dating phases of these women revealed the problematic of
violence for 31% of them. Jealousy, angriness, aggressiveness, alcohol use, and suspicion of
being betrayed by female partner or the actual betrayal of the male partner were the factors
referred as to trigger the aggressions. Physical and psychological aggressions were routine for
the women. All of the women interviewed lived with their violent partners. For the study of
causes of the aggression perceived by the women, the model proposed by Weiner which
foresees that a stimul
us provokes cognitions upon the causes of the stimulus and cognitions or
causal attributions determine affective responses and hopes of goals as well as subsequent
behaviors, was presented. It was verified if the focus of attribution, feelings and expectan
cies
would be related to the intention of the woman to remain or terminate the relationship. The
methodology used permitted the women interviewed to classify their attributions as proposed
by Weiner, and also categorize their feelings. Attributions of cause were classified by the
women as being internal for the first and last aggression characterized as unstable and
controllable for the first and stable and controllable for the last. Women also reported a high
frequency of partner s fault for both of the violent episodes. Women who reported stable
internal causes to partner s violence, who manifested feelings against their partners and who
presented expectancies that the situation would worsen if they remained in the relationship
revealing perceived negative intentions in their partners and hopes of dignifying lives if they
were to leave their them, reported intentions of ending their relationships. Results suggest that
women particularly have difficulty in terminating a relationship when they attribute unsta
ble
and controllable internal causes to their partners and reveal greater facility when they attribute
stable and uncontrollable internal causes to the violence committed by the partner. These
results support psychosocial models, which assume that attributions are related to behavior
and particularly to the model proposed in this study.
Key
-
words:
Marriage violence, Woman, Social Psychology, Causal Attribution.
LISTA DE TABELAS
1. Faixa etária das vítimas de violência conjugal, registrados nos Boletins
de
Ocorrência e nos Termos Circunstanciado de Ocorrência.
.......................................
174
2. Tipo de relacionamento entre vítima e agressor de violência conjugal,
registrados em Boletins de Ocorrências e Termo Circunstanciado de Ocorrência.
.
175
3. Faixa etária dos autores de violência conjugal registrado nos Boletins de
Ocorrência e no Termo Circunstanciado de Ocorrência.
..........................................
177
4. Principais tipos de queixas das vítimas de violência conjugal, registradas nos
Boletins de ocorrências e Termos Circunstanciado de Ocorrência.
..........................
178
5.
Descrições de violência sofrida pelas mulheres registradas nos Boletins de
Ocorrência e registros de Incidência penal conforme Termo Circunstanciado de
Ocorrência relativos à violência conjugal.
................................................................
181
6. Análise conjunta da relação autor/vítima e descrição da violência conjugal
conforme Boletins de Ocorrências registrados na Delegacia da Mulher de
Uberlândia.
................................................................................................................
183
7.
Análise conjunta da relação autor/vítima e incidência penal dos casos
registrados no Juizado Especial Criminal de Uberlândia, relativos à violência
conjugal.
....................................................................................................................
184
8. Análise conjunta da relação autor/vítima e queixa relativa à violência conju
gal.
Boletins de Ocorrências registrados na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
..........
185
9. Análise conjunta da relação vítima/autor e tipo de queixa dos casos registrados
no Juizado de Uberlândia, relativos à violência conjugal.
...................
.....................
186
10. Análise conjunta da descrição da violência e da queixa relativa a violência
conjugal registrados nos Boletins de Ocorrências.
...................................................
187
11. Análise conjunta da incidência pena
l e tipo de queixas dos casos registrados
no Juizado de Uberlândia, relativos à violência conjugal.
........................................
188
12. Distribuição de idade das mulheres vítimas de violência conjugal,
entrevistadas na Delegacia da Mulher d
e Uberlândia.
..............................................
192
13. Distribuição do estado civil das mulheres vítimas de violência conjugal,
entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
..............................................
193
14. Dis
tribuição da religião das mulheres vítimas de violência conjugal,
entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
..............................................
194
15. Distribuição por freqüência do nível de escolaridade das mulheres vítimas de
viol
ência conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
..............
194
16. Distribuição da faixa etária dos parceiros das mulheres vítimas de violência
conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
........................
......
196
17. Escolaridade dos parceiros das mulheres vítimas de violência conjugal,
entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
..............................................
197
18. Número de filhos das mulheres vítimas de violência conjuga
l, entrevistadas
na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
....................................................................
198
19. Início das agressões sofridas por mulheres vítimas de violência conjugal,
entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlând
ia.
..............................................
200
20. Freqüência da violência sofrida pelas mulheres entrevistadas na Delegacia da
Mulher de Uberlândia.
..............................................................................................
200
21. Porcentagem de ocorrência das causas
gerais
da violência sofrida, relatadas
por mulheres vítimas de violência conjugal, entrevis
tadas na Delegacia da Mulher
de
Uberlândia.
............................................................................
....
...........................
201
22. Classificação das causas da violência dos parceiros, segundo as mulheres
entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
..............................................
202
23. Porcentagem de ocorrência dos
tipos de agressão utilizada pelo parceiro, na
violência conjugal, conforme entrevistas realizadas na Delegacia da Mulher de
Uberlândia.
................................................................................................................
203
24. Porcentagem de ocorrência dos tipos de agressão psicológica utilizada pelo
parceiro, relatadas por mulheres entrevistadas na Delegacia da Mulher de
Uberlândia.
.............................................................................................
...................
205
25. Causas da primeira e da última agressão relatadas por mulheres entrevistadas
na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
....................................................................
207
26. Freqüência e porcentagem das d
imensões causais, lócus e estabilidade
classificadas por mulheres vítimas de violência conjugal entrevistadas na
Delegacia da Mulher.
................................................................................................
209
27. Média, desvio
padrão e porcentagem das categorias causais de culpa na
primeira e última agressão, classificada pelas mulheres vítimas de violência
conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
..............................
212
28. Intencionalidade at
ribuída à agressão do parceiro relativa à primeira e última
agressão pelas mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na Del
egacia
da Mulher de Uberlândia...........................................................................................
215
29. Evitabilidade atribuída à agressão sofrida, relativa à primeira e última
agressão, segundo entrevistas realizadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
...
215
30. Distribuição percentual dos sentimentos da vítima após a primeira e ultima
agressão.
...................................................................................................................
216
31. Distribuição de freqüência e porcentagem do comportamento das mulheres
após a primeira agressão.
..........................................................................................
219
32. Distribuição de freqüência e porcentagem das dimensões básicas de
enfrentamento (coping) adotado pelas mulheres, após a primeira agressão.
...........
220
33. Distribuição de
freqüência e porcentagem dos motivos de permanência no
relacionamento após a primeira agressão, conforme narrativa das mulheres
entrevistadas na Delegacia da Mulher.
......................................................................
221
34. Expectat
ivas após a queixa (TCO) às autoridades, conforme entrevistas
realizadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
...................................................
223
35. Intenção da mulher e do parceiro em continuar o relacionamento conjugal
após a últi
ma agressão, conforme percepção das mulheres entrevistadas na
Delegacia da Mulher de Uberlândia.
.........................................................................
223
36. Expectativas das mulheres diante de sua permanência no relacionamento
conj
ugal após a última agressão.
...............................................................................
224
37. Expectativas da mulher diante da possibilidade de romper o relacionamento
conjugal.
......................................................
..............................................................
225
38. Médias em atribuição de culpa, intenção e evitabilidade e resultados de
análises de variância para cada tipo de causa atribuída à primeira agressão
...........
229
39. Coeficient
es de correlação (r de Pearson) entre as atribuições de culpa, de
intenção e de evitabilidade da primeira agressão.
.....................................................
230
40. Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com o comportamento da
mulhe
r após a primeira agressão.
..............................................................................
231
41. Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com coping após a primeira
agressão.
.......................................................
.............................................................
232
42. Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com as expectativas sobre a
qualidade do relacionamento (positivas ou negativas) após a primeira agressão.
....
232
43. Freqüências c
ruzadas da direção dos sentimentos com a ação queixa, após a
primeira agressão.
.....................................................................................................
233
44. Freqüências cruzadas das expectativas quanto ao relacionament
o e reação de
coping, após a primeira agressão.
.............................................................................
233
45. Freqüências cruzadas das expectativas quanto ao relacionamento e denunciar
o parceiro após a primeira agressão.
.........
................................................................
234
46. Médias em atribuição de culpa, intenção e evitabilidade e resultados de
análises de variância para cada tipo de causa atribuída à última agressão.
..............
237
47. Coeficie
ntes de correlação (r de Pearson) entre as atribuições de culpa, de
intenção e de evitabilidade da última agressão.
........................................................
238
48. Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com a intenção de continu
ar
com ele após a última agressão.
................................................................................
239
49. Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com as expectativas se
continuar com ele após a última agressão.
..................
..............................................
239
50. Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida para a última agressão com
expectativas após a queixa.
.......................................................................................
240
51. Re
-
análise com calculo da correção de Yates das freqüências cruzadas da
direção dos sentimentos com a intenção de continuar com ele após a última
agressão.
...............................................................................................
.....................
241
52. Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com as expectativas se
continuar com o parceiro após a última agressão.
....................................................
241
53. Freqüências cruzadas da direção dos sen
timentos com as expectativas se
deixar o parceiro após a última agressão.
..................................................................
242
54. Freqüências cruzadas das expectativas se continuar com ele com a intenção de
continuar com ele após a últ
ima agressão.
................................................................
243
55. Freqüências cruzadas das expectativas se deixar o parceiro com a intenção de
continuar com ele após a última agressão.
.................................................
...............
243
56. Re
-
análise do cruzamento das expectativas se deixar o parceiro com a
intenção de continuar com ele após a última agressão.
.............................................
244
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS
...........
.
............
...........................................................
09
RESUMO
..................
.
....................................................................................
05
INTRODUÇÃO
.......
.
..........................................................
...........................
16
1. AGRESSÃO HUMANA
...............
.
............................................................
23
1.1 Agressão, violência e abuso: definições
...................................................
27
1.2 As razões da violênc
ia: explicações teóricas para a agressão humana
.....
37
1.2.1 Teorias clássicas da agressividade humana
..........................................
38
1.2.2 Teorias psico
-
sociais da agressão ..........................................................
51
1. 2. 3 Variáveis relacionadas ao comportamento agressivo
........................
60
a) Fatores pessoais
..........................................................................................
61
b) Fatores situacionais
............................
........................................................
64
c) Processos
....................................................................................................
66
2. VIOLÊNCIA CONJUGAL
.......
...
....
.........................................
.................
71
2.1 Dados epidemiológicos da violência conjugal no exterior e no Brasil
....
77
2.2 Formas de abuso e agressão
.....................................................................
84
2.1.1
Abuso emocional
........................
.......................................................
85
2.1.2
Abuso físico
.......................................................................................
91
2.1.3
Abuso sexual
..............................................................
........................
92
2.1.4
Abuso econômico ...............................................................................
94
2.3 Causas da violência contra a mulher
.......................................................
96
2.3.1 Causas psico
lógicas
...............................................................................
96
2.3.2 Causas culturais
.....................................................................................
101
2.4 Porque a mulher permanece no relacionamento
abusivo
.......................
108
3. ATRIBUIÇÃO DE CAUSALIDADE ...................................
...
.................
124
3.1 Teoria da atribuição de causalidade e percepção
.....................................
124
3.2 Atribuição de causalidade e re
ações emocionais
.....................................
135
3.3 Atribuição de causalidade e reações ao conflito interpessoal
.................
137
3.4 Atribuição de causalidade e reações comportamentais: um modelo
integrativo ...........................
............................................................................
141
3.5 Atribuição de causalidade e violência conjugal
.......................................
146
4. JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS
...............................
....
............
............
155
4.1 Justificativa
..............................................................................................
155
4.2 Objetivos ..................................................................................................
156
5.
MÉTODO
..................................
.
................................................................
159
5.1 Amostra
....................................................................................................
159
5.1.1 Primeira fase
.....
.....................................................................................
159
5.1.2 Segunda fase
.........................................................................................
162
5.2 Instrumentos
.................................
............................................................
163
5.2.1 Instrumento utilizado na primeira fase
..................................................
163
5.2.2 Instrumento utilizado na segunda fase
.............................................
.....
163
5.3 Procedimentos
..........................................................................................
166
5.3.1 Procedimentos de coleta de dados na primeira fase
..............................
166
5.3.2 Procedimento de análise dos dados
na primeira fase
............................
167
5.3.3 Procedimento de coleta de dados na segunda fase
................................
167
a) Validação semântica
...................................................................................
167
b) Entrevistas
..................................................................................................
168
5.3.4 Procedimento de análise dos dados na segunda fase
............................
169
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
..................
.
..
..........................................
171
6.1 Caracterização dos casos de violência conjugal registrados nos boletins
de ocorrência e termos circunstanciados de ocorrência.
.................................
171
6.1.1 Caracterização da vítima ....
...................................................................
172
6.1.2 Caracterização do autor
.........................................................................
176
6.1.3 Magnitude da violência conjugal.
....................................
......................
177
6.1.4 Tipo de relação entre vítima e agressor, e sua associação à descrição
da violência.
....................................................................................................
182
6.1.5 Tipo de queixa e descrição penal / incidência penal.
.............................
186
6.1.6 Proporção de boletins de ocorrências com violência contra a mulher
no período de janeiro a junho de 2004.
...........................................................
188
6.2 Caracterização
dos casos de violência conjugal, conforme entrevistas
realizadas.
........................................................................................................
191
6.2.1 Descrição das participantes das entrevistas
.............................
..............
191
6.2.2 Descrição dos parceiros
.........................................................................
195
6.2.3 Descrição das características comuns ao casal
......................................
198
6.2.4 Descrição da violência
..
.........................................................................
199
6.3 Análise das atribuições, sentimentos, expectativas e reações dos
sujeitos após a agressão
.................................................................................
207
6.3.1 Análise comparativa à primeira e à última agressão
.
....................
.........
207
6.3.2 Análise das relações entre as variáveis do estudo
................................
226
a) Atribuições de causalidade, de culpa, de intenção e de evitab
ilidade da
primeira agressão
............................................................................................
227
b) Relação entre atribuições, sentimentos, expectativas e ações decorrentes
da primeira agressão
...............................
.......................................................
230
c) Atribuições de causalidade, de controlabilidade, de culpa, de intenção e
de evitabilidade da última agressão
................................................................
235
d) Relação
entre atribuições de causalidade, sentimentos, expectativas e
ações decorrentes da última agressão.
.............................................................
238
7. CONCLUSÕES
............................
...............................................
..............
245
7.
1
Conclusões a respeito da primeira fase
...................................................
245
7. 2 Conclusões a respeito da segunda fase
....................................................
251
REFERÊNCIAS BIBLIOGR
ÁFICAS
...........................
....................
............
264
ANEXO A
Ficha de registro para transcrição dos dados de boletins de
ocorrência
.......................................................................................................
281
ANEXO
B
Questionário sobre violência conjugal
......................................
282
ANEXO C
Consentimento da instituição para realização da pesquisa
.......
289
ANEXO D
Termo de esclarecimento e consentimento
...............................
290
ANE
XO E
Exemplos de categorização
.......................................................
291
INTRODUÇÃO
A violência faz parte da humanidade e é um fenômeno de difícil manejo e solução e
está presente na vida da maioria das pessoas em graus maiores ou
menores.
Um dos grandes problemas sociais atuais é a violência praticada em todos os níveis,
seja o criminoso para roubar, o estudante para vingar-se dos colegas que o humilharam ou o
pai de família que espanca e mata esposa e filhos.
uma presença constante da violência ao longo de toda a história
.
A Bíblia relata
vários assassinatos e tentativas de homicídios. A poesia, a dramaturgia e a mitologia contam
casos de guerras, crueldade, violência e morte causadas por seres humanos a seus
semelhantes. Da mesma forma, historicamente a violência conjugal é personagem importante
na literatura. Cônjuges e amantes conspiram, condenam e se executam mutuamente, e na
maioria das vezes permanecem juntos até que a morte os separe, como pode ser visto, por
exemplo, em
Otelo de Shakespeare (1956, p.124) que falava dos ciúmes exagerados:
Desdêmona
Dia aziago, se nunca lhe dei motivo para tanto.
Emília
Para os ciumentos isso pouco importa,
pois eles não preci
sam de motivo
para terem ciúme. São ciumentos.
São porque são. É só. O ciúme é um monstro
que a si mesmo se gera e de si mesmo nasce.
A permanência em uma relação altamente conturbada também
pode ser vista no retrato
mítico mais famoso de relacionamento afetivo, o de Zeus e Hera, clássicos rei e rainha dos
deuses na mitologia grega (GREENE; SHARMAN-BRUKE, 2001). Sua vida conjugal é um
catálogo de casos, temperados com ciúme, vingança e filhos ilegítimos, no entanto, de algum
modo seu casamento sobrevive. Depois de uma corte altamente romântica, Zeus casou
-
se com
Hera e parecia inebriado com ela. Entretanto, desde o início foi infiel à parceira, que se sentia
17
magoada e furiosamente enciumada. Os dois brigavam constantemente, e Zeus não via
problemas em de vez em quando bater em Hera para silenciar suas acusações e protestos.
Hera passava a maior parte do tempo sentindo-se ferida e rejeitada. Concentrava suas
energias na elaboração de planos astuciosos para humilhá-lo e se vingar. Por vezes isso
parecia dar sentido à sua vida, que ela fazia pouca coisa, além disso. No entanto, mesmo
com todos esses percalços, o relacionamento dos dois continuava e a paixão entre eles
ressuscitava periodicament
e.
Zeus era tão ciumento quanto Hera e se mostrava adepto da postura dois pesos duas
medidas . Até onde se sabe, é possível que os dois ainda estejam brigando e se reconciliando,
magoando, enganando e quem sabe, amando um ao outro.
Porque esses dois deus
es tão poderosos, ambos perfeitamente capazes de se divorciar e
escolher um parceiro menos estressante, continuavam juntos?
Não solução no casamento de Zeus e Hera. A menos que se descubra o segredo
desses deuses, continuaremos perplexos com os casamentos em que essas estripulias míticas
são postas em prática.
Os anos recentes trouxeram novas informações sobre a alta incidência de conflitos e
violência entre casais e este problema começou a receber atenção científica.
A violência conjugal, também denominada violência na relação do casal, tem se
apresentado como um grave problema social. Trata-se de um assunto permanente na mídia e
que tem se convertido em alvo de políticas públicas e iniciativas privadas. É um problema que
afeta o cotidiano das cidades do país e do mundo e perpassa todas as classes sociais, todos os
tempos e todos os lugares e que possui proporções epidêmicas e custo social elevado.
As pesquisas nos Estados Unidos indicam que a violência contra a parceira conjugal é a
primeira causa de lesões entre mulheres e isto provoca mais atendimentos médicos do que
estupro, acidente de carro e assalto combinados; a cada dia quatro mulheres são assassinadas
18
por seu companheiro ou ex-companheiro (SOARES, 1999) e a cada quinze segundos uma
mulher é vítima de agressão. Cerca de dois milhões de mulheres são, anualmente, vítimas de
agressões graves (STRAUS; GELLES ; STEINMETZ, 1980; STRAUS, 1993).
Aos danos físicos somam-se os psicológicos como perda de identidade, perda de auto-
estima, aniquilamento, depr
essão, medo, estresse, crises de angústia, insônia, dentre outros.
As conseqüências afetam não só a mulher, mas o casamento, os filhos e outros que
convivem e sofrem indiretamente com as agressões.
As formas típicas de violência contra a mulher são, segundo Soares (1999): abuso físico,
violência psicológica, abuso sexual e violência
patrimonial.
A violência física diz respeito à ação ou omissão que coloca em risco ou causa dano à
integridade física de uma pessoa; a violência psicológica refere-se a ações ou omissões que
visam degradar, dominar, humilhar outra pessoa, controlando seus comportamentos, crenças e
decisões através de intimidações e ameaças que impedem ou prejudicam o exercício da
autodeterminação e desenvolvimento pessoal; a violência sexual inclui estupro, violação,
maus tratos e abuso sexual, entre outros. A violência patrimonial consiste em roubar ou
destruir objetos pessoais, maltratar animais domésticos, tomar dinheiro, negar necessidades
básicas como alimentação e vestuário (SOARES, 1999, p. 67). Por outro lado, existe
também a violência denominada assédio moral , divulgado pela primeira vez pela psiquiatra
e psicanalista francesa Hirigoyen (2002). Trata-se de uma tentativa de destruição psíquica ou
até física do outro, através de agressões sutis, não raramente bem sucedidas. Neste tipo de
agressão a mensagem não-dita é: Eu não te amo! , mas ela permanece oculta para que o
outro não embora e atua sobre ele de maneira indireta (HIRIGOYEN, 2002, p. 22). Além
disso, é comum que essas man
ifestações de violência ocorram de forma simultânea.
A reação natural de um indivíduo diante da ameaça, da possibilidade de ser agredido,
deveria ser evitar esta ocorrência. Entretanto, na situação conjugal observa-se a repetição
19
cíclica dos eventos de violência contra a mulher, evidenciando a continuidade do
relacionamento abusivo.
Estudos realizados entre 1993 e 1999, em sete países (Canadá, Bangladesh, Camboja,
Chile, Egito, Irlanda e Moldávia), demonstraram como reagiram as mulheres que sofreram
violênc
ia por seu parceiro conjugal. Estes estudos verificaram que poucas são as mulheres que
procuram ajuda das autoridades. A maioria busca ajuda junto à família ou amigas/os ou
silencia por medo de represálias, preocupação com os filhos, falta de apoio de pess
oas
próximas e esperanças de que a situação de violência venha a ter um fim (DOSSIÊ violência
contra a mulher, 2004).
No Brasil, ainda não se conhece a incidência desse fenômeno, principalmente pela falta de
estudos sistemáticos que permitam sua compreensão global, com exceção de algumas
pesquisas isoladas (SOARES, 1999; SCHRAIBER; D OLIVEIRA, 1999; SAFIOTI;
ALMEIDA, 1995).
O drama da violência conjugal manifesta-se tanto nas relações entre cônjuges, ex-
cônjuges ou ex-parceiros, como também em outras relações afetivas incluindo noivos ou
namorados. Assim, é um tipo de violência que ocorre entre homens e mulheres que se amam
ou se amaram, ou que se relacionam ou se relacionaram na intimidade. Em geral o agressor
conhece bem os hábitos, os sentimentos e maneiras de agir e reagir de sua vítima, o que a
torna mais vulnerável aos seus ataques (TELES ; MELO, 2002). A maior prevalência de
violência entre o casal é praticada pelo homem contra a parceira, apesar de também ocorrerem
casos em que a mulher é a agressora
do homem.
A expressão violência contra a mulher foi trazida à tona pelo movimento feminista, sendo
concebida inicialmente por ser praticada contra pessoa do sexo feminino, apenas e
simplesmente pela sua condição de mulher (TELES ; MELO, 2002).
20
Alpert (1995); Saffioti e Almeida (1995) identificam o caráter endêmico da violência
contra a mulher e se deparam com várias indagações: como realizar intervenções efetivas e
preventivas nessa área? Por que as intervenções não atingem o objetivo proposto? O que
man
tém mulheres em relações conjugais violentas? O que faz com que as mulheres desistam
de levar adiante um processo de separação conjugal, ou mesmo uma denúncia de violência
doméstica?
Para Braghini (2000), conforme uma visão psicanalítica, as mulheres vítimas de violência
estão envolvidas em uma situação ambígua onde o amor e o ódio convivem lado a lado. Por
esta razão, elas não sabem se querem ficar com o companheiro ou não, sentindo-
se
impossibilitadas de tomar uma decisão e de agir em consonância com a me
sma. Estabelece
-
se,
desta maneira, uma união entre estas mulheres e seus maridos violentos em nome de um laço
simbólico difícil de ser desfeito. Elas, por um lado, não querem ser espancadas, e por outro,
não querem perder o companheiro ideal projetado nele, aquele que vai amá-la em qualquer
circunstância (BRAGHINI, 2000, p.49).
Para Soares (1999), romper o ciclo da violência é um processo prolongado e, por natureza,
cheio de hesitações. Supor que o ato da denúncia às autoridades seja um momento definitiv
o
desse processo é não conhecer o ciclo da violência. É ignorar a dinâmica das relações
abusivas. Portanto, permanece a questão: porque uma mulher continuidade a uma relação
violenta, mesmo depois de ter constatado que o ciclo é repetitivo, que as promessas não se
cumprem e que as fases de lua-
de
-mel são invariavelmente sucedidas por outro período de
tensão e de explosão de violência?
Muitas são as abordagens para o estudo da agressão humana nas relações interpessoais,
entretanto ainda não foi possível o efetivo controle de suas manifestações. Faz-se necessária a
compreensão das variáveis preditoras do comportamento violento nas relações conjugais, bem
como uma análise do relacionamento violento sob o ponto de vista da vítima. Assim, este
21
estudo se propõe a abordar o problema com este último objetivo, buscando conhecer como se
a relação entre agressor do sexo masculino e agredido do sexo feminino, mais
especificamente como a mulher percebe seu relacionamento, quais suas expectativas na
relação com e sem o companheiro freqüentemente violento. Por que ela permanece como
vítima desta violência, sofre danos físicos e/ou psicológicos e não procura romper o ciclo da
agressão? Se ela tentou sem sucesso várias alternativas para resolver o problema, por que
co
ntinua em um relacionamento que outras pessoas evitariam naturalmente, até mesmo pela
própria preservação da integridade do organismo, por serem relações perigosas,
desconfortáveis ou perniciosas?
Assim, seria possível supor, conforme a Teoria da Atribuição Causal desenvolvida por
Heider (1970), especificamente conforme as categorias causais propostas por Weiner (1972),
que a permanência da mulher em um relacionamento violento está relacionada à causa por ela
mesma atribuída, ao comportamento do parceiro vi
olento.
Dessa forma, fundamentada em uma perspectiva da psicologia social e tendo como base a
Teoria da Atribuição de Causalidade, a presente pesquisa foi proposta para compreender-
se
melhor as atribuições causais pessoais ou impessoais ao comportamento violento do parceiro
na relação de casal e a permanência da parceira e continuidade do relacionamento abusivo,
segundo a percepção de mulheres que passaram por este tipo de vivência e que procuraram a
delegacia da mulher para dar queixa de seus parceiros. De modo complementar, investigou-
se
algumas variáveis biográficas relacionadas com a ocorrência da violência conjugal, conforme
dados coletados nos Boletins de Ocorrência e nos Termos Circunstanciados de Ocorrência.
O conteúdo deste trabalho foi dividido em sete tópicos. No primeiro item intitulado
AGRESSÃO HUMANA procurou-se não perder de vista a explicação do fenômeno da
violência. Para tal, fez-se uma preliminar revisão teórica sobre as possibilidades geradoras de
agressividades e violências.
22
O segundo capítulo denominado VIOLÊNCIA CONJUGAL, refere-se ao problema da
violência conjugal, aos processos psicológicos que constituem o tópico de discussão, como a
mulher experimenta esta situação e as razões de sua permanência em relacionamentos
abusivos.
No capítulo três deste estudo: ATRIBUIÇÃO CAUSAL foram abordadas as principais
contribuições de Fritz Heider e de Weiner. Foram esclarecidos o conceito de explicação
causal e o modelo de investigação de atribuição de Weiner. Contemplaram-se brevemente
estudos sob
re atribuição
de
causalidade no âmbito da violência conjugal.
No capítulo quatro: JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS,
apresentou
-se as justificativas, os
objetivos e hipóteses da presente investigação, bem como o modelo proposto nesse estudo.
No capítulo cinco:
TODO
descreveu-se a amostra, os instrumentos e procedimentos
para coleta de dados, fazendo-se também uma exposição a respeito dos procedimentos usados
para análise de dados.
Os resultados da pesquisa foram descritos e interpretados no capítulo seis:
RESULT
ADOS E DISCUSSÃO.
O ultimo capítulo foi reservado para uma breve discussão sobre as CONCLUSÕES E
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS a respeito dos dados obtidos com a
pesquisa.
Entende
-se que abordar os obstáculos presentes no rompimento de uma relação conjugal
violenta constitui um desafio.
Com os resultados desse estudo espera-se trazer maior conhecimento sobre a ocorrência
da violência conjugal e sobre a manutenção do relacionamento abusivo, e, assim, oferecer
subsídios a profissionais que trabalham com essa
importante questão.
CAPÍTULO 1
AGRESSÃO HUMANA
Uma das problemáticas de fundo, a ser discutida antes da questão principal
permanência da mulher em relações conjugais violentas
é a violência em seu sentido mais
amplo. Esta apresentação aponta como
diferentes estudiosos explicam a violência e demonstra
a existência de implicações e complicações vinculadas ao entendimento desse fenômeno. Este
aparece diluído nas relações subjetivas e interpessoais
no trânsito, na vida em família, na
criminalidade,
na brutalidade das relações de trabalho, na pobreza, nas relações entre casais
que se acentuam na realidade de nossos tempos.
Para melhor compreender a violência, existe a necessidade de ultrapassar o limite das
justificativas econômicas, pois ela se apresenta em múltiplas formas, sem reducionismos ou
expansionismos. A violência apresenta um entrelaçamento de inúmeros fatores que são
concorrentes. A violência ultrapassa os limites dos padrões de comportamento esperados pela
ordem legal e social, e deixa para trás a idéia bastante difundida de que é um fenômeno que
tem origem na pobreza ou em países de terceiro mundo.
A questão da violência é um desafio que ganhou atualidade, e neste estudo, ganha um
relevante significado. Buscar inicialmente esclarecer o fenômeno da violência, destacando-
se
as contribuições das teorias clássicas e das teorias ambientais, constituiu importante aporte à
compreensão da permanência da mulher em relacionamentos violentos, conforme poderá ser
visto, por exemplo, através das explicações teóricas relativas à percepção da vítima sobre a
intenção do agressor, dada principalmente pela Psicologia Social conforme Berkowitz (1993
24
a); Geen (2001); Rodrigues; Assmar; Jablonski (2001) e propiciou o reconhecimento das
causas, motivações e objetivos do agente violento; das características da ação violenta; do
efeito da violência para quem a sofre, bem como da própria definição da violência.
A violência não é um fenômeno novo, e sua complexidade remete um número cada vez
maior de cientistas a e
studá
-lo. A qualidade e a profundidade do trabalho científico nessa
área, contudo, pode-se assim dizer, encontram-se ainda em estágios iniciais. É difícil,
portanto, saber se há realmente um interesse profundo pela destrutividade básica do ser
humano normal, uma vez que, mesmo agora, os tratados sobre psicologia raramente incluem
uma descrição de como a personalidade normal inclui uma propensão para a destrutividade.
Desse modo, questiona-se porque as análises apresentam um caráter que nega a
problemática da violência. Charny (1998) sugere que existem duas razões básicas para isso,
conforme explicações abaixo.
A priori, o homem nega a realidade da violência interminável porque se sente impotente
para enfrentar o problema. Enquanto se julgar incapaz para limitar ou prevenir a violência, é
bom para sua estabilidade emocional não se tornar consciente demais da possibilidade, bem
real, de manifestações da mesma, sobre as quais virtualmente nada poderá fazer.
A
posteriori
, o homem nega também as realidades da violência porque não pode suportar
sua própria destrutividade desconhecida. Esquiva-se de seu próprio potencial de cometê-la e
de praticar atos destrutivos. A civilização ocidental acostumou-se a banir todos os impulsos e
energias que, de qualquer maneira, estejam comprometidos com a violência, ao reino do feio,
doentio, perturbado e imoral. Se se chega a reconhecer que raízes de violência na natureza,
ela é considerada como os aspectos mais primitivos ou patológicos, e em absoluto como
aspectos necessários
e desejáveis do ser.
Nesse sentido, para Charny (1998), o homem tenta, tanto quanto possível, afastar da
consciência seu potencial destrutivo. Mesmo quando enfrenta por algum motivo a necessidade
25
de reconhecer a perigosa destrutividade à sua volta, ele ain
da procura isolar a realidade desses
fatos de qualquer reconhecimento dos impulsos violentos que identifica em sua personalidade.
Ao longo dos anos existem tentativas de formular explicações sobre a violência humana,
que em sua grande maioria ocorrem através da compreensão de como forças históricas,
políticas e econômicas se reúnem para legitimar a violência. Esta colocação não tem a
intenção de ignorar ou minimizar de qualquer maneira a importância desses processos sócio-
históricos. O problema é que, em si mesmos, esses eventos jamais explicam realmente o
fenômeno do homem agredir seu semelhante.
Por conseguinte, as Ciências Sociais carecem de uma linguagem que torne possível pensar
em como um ser humano, que não está clinicamente louco nem é moralmente pe
rvertido,
pode tornar-se violento. Em suas raízes, a violência do homem constitui o resultado de
processos naturais, mas esses processos em si não são absolutamente idênticos aos atos
concretos de violência.
Circulam numerosas opiniões no sentido de que a violência é natural e instintiva no
homem, conforme pode ser visto em Freud (1930); Lorenz (1973). A conclusão mais
simplista tirada desse pensamento pela maioria, no entanto, foi a de que, se é normal para o
homem ser violento, então para ele não esperança. A suposição equivocada que
desencadeia essa reação é a crença em que se alguma coisa é natural ao homem, ela tem que
ser sempre expressada em sua totalidade e não pode ser regulada. Poucos vêem a
possibilidade alternativa de que possa haver processos naturais que sirvam a fins inteiramente
sadios e que se transformarão em processos patológicos ou destrutivos apenas se não forem
regulados e liberados corretamente.
Segundo Charny (1998) a natureza introduz no ser humano tanto o sentimento natural de
que
rer destruir outros homens, quanto os desejos profundos de defender a vida e jamais
liberar o potencial de destrutividade.
26
A natureza coloca uma série de dilemas, paradoxos e contradições interligados. A razão
mais importante para as pessoas aceitarem a indicação de si mesmas como agressivas é
encontrada na doutrina do pecado original.
Campbel (1990), em O Poder do Mito, usa a linguagem alegórica - expressão típica dos
mitos
-, a respeito da agressividade, alertando para a perda dos valores humanos, entre eles o
sentido de mundo, e a razão de existir. Para falar sobre essas questões, recorre à mitologia e a
história da criação do gênesis:
Gênesis 1: No início Deus criou os céus e a terra. A terra era sem
forma e vazia, e a escuridão vagava sobre a face do abismo. E o
espírito de Deus se moveu sobre a face das águas. E Deus disse:
Faça-se a luz , e a luz se fez. Então Deus criou o homem à sua
própria imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.
E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Sede férteis e multiplicai-
vos .
Gênesis 2: Então o céu e a terra ficaram prontos e todos os seus
hóspedes. E no sétimo dia Deus terminou o trabalho que tinha
realizado...
Gênesis 1: E Deus viu tudo o que tinha feito e eis que tudo era bom
Mas o Gênesis continua: Vós comestes da árvore da qual ordenei que
não comêsseis? O homem disse: A mulher que me destes para estar
comigo, essa mulher me deu o fruto da árvore e eu comi . Então o
Senhor Deus disse à mulher: Que fizestes vós? E a mulher disse: A
serpente me enga
nou e eu comi .
Na tradição bíblica, a vida é corrupta e todo impulso natural é
pecaminoso, a menos que tenha havido o batismo. A serpente traz o
pecado ao mundo. A mulher oferece a maçã ao homem. A idéia da
mulher como pecadora aparece na mitologia de Pandora, mas este
mito não trata dos mesmos aspectos tratados no Gênesis. Na tradição
bíblica, a idéia é que a natureza, tal como a conhecemos, é corrupta,
o sexo em si é corrupto, e a fêmea, como epítome do sexo, é um ser
corruptor.
(CAMPBEL, 1990, p.49).
Ao questionar porque o conhecimento do bem e do mal foi proibido a Adão e Eva,
Campbel (1990) responde, que sem esse conhecimento, seriamos todos um bando de bebês,
ainda no Éden, sem nenhuma participação na vida.
A milenar história religiosa cristã diz que os homens são concebidos no pecado, nascem
em pecado, vivem e, finalmente, morrem em pecado. A doutrina do pecado original é um dos
27
mais poderosos princípios relativos à perversidade do homem. Esta se caracteriza pela crença
de que a humanidade é pecadora e assim permanecerá por toda a eternidade, a não ser que
seja salva pelo batismo.
O estudo da violência e da agressividade é um empreendimento difícil e complexo,
envolvendo uma variedade de técnicas, métodos e modos de conceitualizar a natureza e o
comp
ortamento humanos.
Para explorar alguns caminhos teóricos faz-se necessário, em primeiro lugar, definir
agressividade e violência, suportes para a compreensão da natureza das teorias da
agressividade, que levam o ser humano a agir de forma violenta.
Essas
teorias manifestam-se claramente em duas esferas intelectuais. Uma diz respeito às
concepções sobre a natureza humana, isto é, sobre as propriedades pulsionais intrínsecas com
que os seres humanos vêm ao mundo. A segunda concerne às concepções sobre a sociedade e
seu papel na moldagem da condição do homem.
1.1 Agressão,
violência e abuso: definições
Numerosos profissionais, incluindo os de Saúde Mental e Ciência Política, usam a palavra
agressão para se referir a intenções hostis. Muitos pensadores, entretanto, consideraram a
agressão como vitalidade e energia e usam diferentes palavras para descrever as aplicações da
agressão, de maneira construtiva ou destrutiva.
Para Johnson (1979) uma das dificuldades encontradas para o estudo da agressão é que os
seus proponentes tendem a se concentrar em sua própria disciplina e ignorar contribuições de
disciplinas vizinhas. Isto faz com que os resultados de cada análise sejam uma abundância de
28
amplas generalizações, supersimplificadas, tais como: a) a agressão é
um instinto universal; b)
a agressão é um processo motivacional único subjacente; c) a agressão tem uma causa ou
antecedente, como a dor ou a frustração; d) toda agressão é má, etc. Esta amplitude de
teorizações sobre o comportamento agressivo é, ao mesmo tempo, uma indicação de
ignorância, como também de preocupação. Reconhece-se que contribuições importantes
podem provir de muitos campos, incluindo a Biologia, a Psicologia, a Antropologia, a
Sociologia e as Ciências Políticas. A natureza do problema exige uma abordagem
interdisciplinar, tanto na conceitualização como na pesquisa. Existem limitações ao tratar a
agressão como um conceito estreito e unitário. Ele é um conceito multifacetado. A agressão
pode ser aplicada a uma resposta específica como matar; pode ser usada para se referir a
estados emocionais e atitudinais como raiva ou ódio; pode ser concebida como um traço de
personalidade, um hábito aprendido, um processo biológico subjacente, etc. Além de tudo,
existe a definição usual do dicionário
agressão: ação ou efeito de agredir; pancada,
bordoada, investida, ataque; provocação, hostilidade; ofensa; conduta caracterizada por intuito
destrutivo (FERREIRA, 1986)
que se preocupa principalmente com o aspecto moral de um
ato. Violência, por sua vez é definida como
qualidade de violento; ato violento; ato de
violentar; constrangimento físico ou moral; uso da força; coação.
A dificuldade de concordar com uma definição exata e precisa da agressão revela algo
sobre sua natureza, indicando que não se está
lidando com um processo unitário. Por um lado,
qualquer definição estreita e precisa, facilmente se depara com dificuldades. Por outro lado,
conceitos mais compreensivos são tão gerais que possuem pouca utilidade. Entretanto, as
definições podem ajudar a identificar a natureza geral do problema e a compreender a
dinâmica do comportamento agressivo, mesmo que não haja uma única e absoluta definição.
A agressão desafia definições, e em suas formas extremas é uma tragédia humana sem igual.
29
Em seus estudos, Saul (1956) estabelece diferença entre hostilidade e agressão,
determinando que a primeira é a tendência de um organismo de fazer qualquer coisa danosa a
outro ou a si mesmo. Não é simplesmente agressão: a agressão, palavra derivada do latim, e
que significa mover-se ativamente, pode revestir-se de um sentido construtivo, como realizar
um bom trabalho, não tem que ser hostil e, reciprocamente, a hostilidade não precisa ser
agressiva e pode ser manifestada passivamente. Tampouco a hostilidade é necessariamente
raiva, porquanto a raiva reflete um sentimento transitório que pode ser compatível com o
amor.
Este autor considera que se pode, da forma mais completa, sem interrupção ou alteração,
amar alguém, a despeito de períodos de raiva, como bem o sabe todo marido, mulher, filho,
pais e amigos; isto porque, ele explica, a hostilidade é o mal fundamental no homem. Neste
sentido a agressão é entendida como força natural que pode ser aplicada de forma positiva ou
negativa.
Eibl
-Eibesfeldt (1974) aceita basicamente a premissa de que a tendência para a agressão é
inerente ao homem, mas frisa que os mecanismos de pacificação e controle são igualmente
inerentes à natureza humana.
Michaud (1989, p. 11) reconhece que, etimologicamente, a raiz da palavra violência é
`vis`,
que significa força, energia, potência, valor, força vital. Entendendo que existe violência quando
[...]
numa situação de interação, um ou vários atores agem de
maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a
uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade
física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas
participações simbólicas e culturais.
Yentzen
et al. (1994) afirmam que a violência é fruto de uma história de relações
humanas, de frustrações e confli
tos e, ao mesmo tempo, distingue agressividade de hostilidade
destrutiva, identificando hostilidade com violência. A agressividade tem raízes instintivas, a
30
hostilidade tem uma história de relações humanas. Assim, a violência tem suas raízes nos
conflitos
e frustrações decorrentes das relações interpessoais, da mesma forma que a
hostilidade.
Amoretti (1992, p. 41), define violência como [...] o ato de violentar, determinar danos
físico, moral ou psicológico através da força ou da coação, exercer pressão ou tirania contra
a vontade e a liberdade do outro.
De acordo com Costa (2003, p. 30) na teoria psicanalítica, a palavra violência [...] é
empregada em contextos que tornam sua compreensão problemática [...] . Em alguns
contextos ela é associada à agressividade instintiva do homem para matar ou fazer seus
semelhantes sofrer. Em outros contextos, a violência está associada a uma forma de resolução
de conflitos, ou seja, [...] não existe um instinto de violência, o que existe é um instinto
agressivo que pode coexistir perfeitamente com a possibilidade do homem desejar a paz e
com a possibilidade do homem empregar a violência
[...] (COSTA, 2003, p.35).
Para o autor acima referido, existem muitos equívocos a respeito da diferença entre
violência e agressividade, onde, por vezes, um conceito é tomado pelo outro, como também é
equivocada a idéia de que violência decorre imediatamente da agressividade. Identificar
violência com agressividade significa atribuir-lhe uma qualidade biológica, mesmo que sua
potência
tenha suas raízes no instinto agressivo. Ainda, para ele, da mesma forma, existem
confusões relativas entre a violência e o irracional e entre a violência e o descontrole
emocional. A primeira não é algo necessariamente irracional e nem resulta necessariam
ente
de descontrole emocional. A violência racional é a que se de maneira premeditada. A
violência irracional, por sua vez, se através da substituição de objeto, como por exemplo,
por meio de desforra contra esposa e ou filhos, de alguma situação viv
ida com outras pessoas.
A distinção básica entre violência irracional e agressividade instintiva é que a [...]
violência é o emprego desejado da agressividade, com fins destrutivos [...] (COSTA, 2003,
31
p. 39). Ainda que de forma irracional, a violência traz a marca de um desejo que pode ser
deliberado e racional ou involuntário e irracional. Por sua vez, a ação agressiva não é
traduzida como violenta quando se manifesta com expressão do instinto e não exprime um
desejo de destruição.
O instinto agressivo destina-se à luta pela sobrevivência e é próprio da natureza animal.
No homem o instinto agressivo é uma marca de sua conduta animal. A agressividade, nesse
sentido, não implica em nenhum desejo de destruir o outro, ainda que possa destruir, para
atingir se
u objetivo de sobrevivência. Trata-
se, portanto, de necessidade e não de desejo.
As definições de violência, conforme visão do psicanalista Costa (2003), são sempre
provisórias e inferidas de casos particulares, sendo usado nos mais diferentes contextos e
com
diferentes significados, inclusive em função das diferentes linhas ideológicas e teóricas do
pensamento.
Costa (2003) condiciona que o caráter de violência é a representação que a vítima faz da
força coercitiva que o atinge. É porque o sujeito violentado (ou o observador externo `a
situação) percebe no sujeito violentador o desejo de destruição (desejo de morte, desejo de
fazer sofrer) que a ação agressiva ganha o significado de ação violenta. (COSTA, 2003, p.
39).
Para o objeto em estudo, a representação da violência é o que interessa mais
particularmente, posto que revela o aspecto subjetivo da mesma. Esta vista sob a ótica da
vítima, pode não coincidir necessariamente com seu aspecto objetivo, ou seja, não coincidir
com a ótica de quem a pratica. Quem pratica a violência faz uma representação que, apesar de
possuir um caráter violento, não é necessariamente captada como tal por quem a recebe.
Dessa forma tem-se uma violência que ocorreu objetivamente, da parte de quem a
praticou, mas não ocorreu subjetivamente por parte da vítima. Ou, ao contrário, é possível
atribuir uma representação de natureza violenta, quando, na realidade quem a exerceu não
teve nenhuma motivação neste sentido.
32
Costa (2003) considera que a atribuição indevida se dá por razões t
ais como: a relação que
a vítima associa a experiências anteriores, ainda que de forma inconsciente, com a atual; a
representação que o autor faz da violência cometida - poderá representar a violência apenas
em nível inconsciente, e em nível consciente, esta será representada através das melhores
intenções
-, a vítima captará mesmo que inconscientemente esta última representação da
violência.
Uma definição adequada do termo violência deve, pois, justificar o julgamento ou a
atribuição que considera um ato
violento.
Neste sentido, segundo Costa (2003), é impossível considerar a violência no ser humano
como um evento em si, emancipada das circunstâncias. Primeiramente precisa-se considerar a
agressão a partir do agente agressor, depois, a partir do agredido e, finalmente, a partir de um
observador. É muito provável que se encontre três representações diferentes de um mesmo
evento.
Em síntese, do ponto de vista do agressor, deve
-
se considerar a intencionalidade do ato, ou
seja, do desejo do mesmo transmitir estímulos nocivos a outro. Para o agredido, deve-
se
considerar o sentimento de estar sendo agredido (percepção de intenção do agressor lhe causar
danos) ou prejudicado e, quanto ao observador, deve-se considerar seus sentimentos críticos a
respeito da possibilidade de ter havido nocividade no ato em questão, bem como a
intencionalidade de promover a violência.
Na perspectiva da Psicologia Social, Rodrigues (1981, p. 366) define agressão como
sendo [...] qualquer comportamento cuja finalidade é causar dano a
outrem
[...] . As noções
de causalidade pessoal e impessoal desempenham um papel de extrema relevância para se
definir um ato agressivo. Se um ato praticado por uma pessoa A causa dano a uma pessoa B, é
necessário que se estabeleça se o ato de A foi intencional (causalidade pessoal) ou se foi
devido a fatores não intencionais (causalidade impessoal). Um ato poderá ser considerado
33
agressivo quando existir causalidade pessoal. Esta definição tem como elemento fundamental
a intencionalidade e a liberdade de escolha por parte do agente. De modo geral, a agressão
tem sido definida como todo ato realizado com a intenção de provocar dano a um ser vivo,
tanto em seu aspecto físico como psicológico.
A Psicologia Social, ao estudar o fenômeno da agressão, restringe seu foco de análise às
suas características psicossociais, e a considera em termos da interação entre agressor e
vítima. Investiga os processos cognitivos, afetivos e comportamentais das relações suscitadas
pelas interações sociais instigadoras de violên
cia e de hostilidade de uns contra outros.
Os estudos da Psicologia Social sobre a agressão humana destacam a intencionalidade por
parte do agressor, e caracterizam como agressivo apenas o ato deliberado com o objetivo de
causar danos físicos e psicológicos a alguém. Na ótica desta disciplina a agressão não precisa
ser necessariamente física. Neste tipo de agressão simbólica a vítima pode ser agredida por
insultos, calúnias ou impedida de atingir seu objetivo. O assédio, considerado uma forma de
agressão ps
icológica, provoca ansiedade e depressão na vítima.
Rodrigues; Assmar; Jablonski (2001) afirmam que nem sempre é possível avaliar a
intencionalidade do agressor de forma inequívoca.
De modo geral, a Psicologia Social distingue a agressão humana em função das intenções
subjacentes a tais comportamentos. Refere-se à agressão hostil, que decorre de estados
emocionais fortes, como a raiva, e tem como objetivo básico causar dano a uma pessoa ou
objeto a fim de satisfazer impulsos hostis (RODRIGUES, ASSMAR; JABLONSKI, 2001, p.
207). Por sua vez, a agressão instrumental visa ferir, magoar ou prejudicar alguém apenas
para alcançar a finalidade de proporcionar algum objetivo ou ganho ao agressor
(BERKOWITZ, 1993a
).
Para Berkowitz (1993
a);
Baron e Richardson (1994); Bushman e Anderson (2001); Geen
(2001), a agressão humana é qualquer comportamento direcionado a outro indivíduo cuja
34
finalidade é a de causar danos (ferir). Além disso, o agressor precisa acreditar que o
comportamento irá danificar o alvo e que este é mo
tivado a evitar o comportamento.
De acordo com Baumeister (1989), danos acidentais não o agressivos porque não são
intencionais. Danos que são um produto incidental, ações de ajuda também não são
agressivos, porque quem provocou o dano acredita que o alvo não esmotivado a evitar a
ação, como por exemplo, uma dor causada durante uma intervenção odontológica.
Similarmente, a dor administrada no masoquismo sexual também não é agressiva porque a
vítima não está motivada a evitá-
la
- deveras, a dor é efetivamente solicitada a serviço de um
objetivo maior (BAUMEISTER, 1989).
Por outro lado, a violência é a agressão que têm como objetivo causar danos extremos,
podendo levar à morte. Toda violência é agressão, mas muitas instâncias da agressão não são
violenta
s. Por exemplo, uma criança empurrando outra de um triciclo é um ato de agressão,
mas não é um ato de violência, segundo Anderson e Bushman (2002).
Ampliando este conceito, pode-se ainda falar de agressão hostil e agressão instrumental.
Análises recentes de Bushman e Anderson (2001) concebem estas definições em dois
sentidos. Primeiro, distinguindo os objetivos imediatos e dos definitivos ou últimos, deixando
clara a intenção de causar danos como uma característica necessária a toda agressão, como em
modelo
s puros de agressão hostil. Segundo são identificados diferentes tipos de agressão em
termos do nível do objetivo definitivo. Assim, tanto o roubo quanto o ataque físico são atos de
agressão porque ambos incluem a intenção de causar danos à vítima em um nível imediato.
No entanto, eles tipicamente se diferenciam dos objetivos definitivos, com o roubo servindo
primeiramente a objetivos relacionados ao lucro e o ataque servindo primariamente para ferir.
Em resumo, estas definições permitem discutir as semelhanças e as distinções entre
agressão hostil algumas vezes chamada de afetiva, impulsiva ou agressão reativa e
instrumental, ao mesmo tempo em que se percebe que as mesmas têm motivos mistos.
35
Outro elemento a ser considerado é se a violência está atrelada à agressão. Na verdade
[...] podemos ter agressão com ou sem violência e, igualmente, violência com ou sem
agressão
[...]
(BALLONE ; ORTOLANI IV, 2003a).
Portanto, uma mulher pode, por exemplo, sentir-se agredida pelo silêncio do marido, caso
estivesse
ansiosamente esperando por algum comentário ou diálogo, mesmo em se tratando de
comentário hostil. O marido deve, por sua vez, ser consultado sobre suas intenções lesivas ao
optar pelo silêncio. O silêncio pode ser motivado tanto pelo fato do marido ser calmo e
amistoso, quanto por ele ter planejado ferir a mulher através do silêncio. Neste ultimo caso,
conforme Ballone (2003), estaríamos diante de um ato de agressão sem violência. Podemos
observar também que a mesma cena poderia não ter um resultado agressivo, caso a mulher
não se sinta agredida ou não atribua agressividade ao comportamento do marido, apesar da
eventual intencionalidade agressiva do mesmo.
Assim, o constrangimento parece ser uma condição necessária da violência, mas não é
uma condição suficiente. Toda violência é um ato de constrangimento, mas nem todo
constrangimento é violento. A violência não precisa necessariamente da força física para se
manifestar.
A violência sugere a idéia de ação, de atitude dirigida especificamente para fins
avass
aladores.
Costuma
-se definir a violência como sendo toda ação intencional que implique a morte de
uma ou mais pessoas, o constrangimento, o sofrimento ou lesões físicas ou psicológicas
contra a sua vontade.
Múltiplas visões com recortes diferenciados analisam a violência de acordo com o campo
conceitual onde esta se situa, seja este psíquico, social ou biológico.
É importante esclarecer ainda, que do ponto de vista psicológico, é necessário explicitar
que a definição de violência como ato que causa dor ou provoca ferimentos pode ser muito
36
limitada para este tema, uma vez que exclui determinadas formas de abuso, como o emocional
e sexual. Por outro lado, não é menos problemático incluir a negligência, a omissão, as
ameaças, no rol das manifestações de violência, uma vez que estas dependem do contexto em
que são proferidas e da dinâmica de cada relação. Conforme alertam Straus e Gelles (1990),
não são poucas as implicações metodológicas e conseqüentemente práticas das definições de
violência, abuso, negligênci
a, etc.
A definição de violência de forma geral envolve o uso da força física ou ações brutais
impostas sem consentimento. Contudo, de acordo com Lloyd (1994) violência e abuso
subentendem um mesmo comportamento, sobretudo se o significado semântico da pal
avra
violência for ampliado. A diferença entre abuso e violência é que o abuso tem uma conotação
crônica de um comportamento não aceitável. O termo abuse, em inglês recobre tanto a
agressão física, como a negligência, a violência sexual e emocional. Entre
tanto, sua tradução é
sempre perigosa, pela conotação marcadamente sexual que a palavra têm em português.
Termos como violência e abuso em diferentes línguas tem diferentes significados, por isso a
precisão de comparar atos reais que ocorrem em uma cultura com os que ocorrem em outra se
torna mais difícil de ser obtida. Em vista disso, ao coletar dados é preciso descrever os atos
reais sobre os quais as informações serão requeridas.
Isto posto, vale ressaltar que o conceito de violência pode ser desdobrado num outro
conceito: o de abuso. Por conseguinte, este é mais amplamente entendido com conotação
sexual, porém, para Osório (2004), o conceito de abuso engloba todos os tipos possíveis de
agressão e violência, não sendo visto apenas com conotação sexual.
Em síntese, verifica-se que a agressividade humana tem sido objeto de estudo de muitas
disciplinas ou áreas do conhecimento, tais como Biologia, Medicina, Psicologia Social,
Psicanálise, dentre outras, decorrendo daí diferentes explicações do que é a agressividade, e
em que ela se constitui. Para alguns teóricos, ela é considerada como tendo uma função de
37
adaptação na luta pela vida, e para outros, a agressividade não pertence à natureza humana em
seu estado natural, mas é uma criação da sociedade, mediante processo de aprendizagem
social.
Destarte, apesar de ser um tema difícil e vasto, na maioria das obras pesquisadas a
agressão tem sido apresentada como tendo dois significados. Por um lado, constitui, direta ou
indiretamente, uma reação à dor da frustração e dos fracassos; por outro, é uma das muitas
fontes de energia do indivíduo. Assim, o impulso agressivo é comum a todos os seres
humanos e pode ser manobrado de maneiras distintas pelas pessoas.
1.2 As razões da violência: explicações teóricas para a a
gressão humana
Em tempo algum da história da humanidade foram tão generalizados e intensos a
preocupação e o interesse com os problemas da violência humana. O homem reconhece que
continua hoje, como nos séculos passados, sendo uma vítima de si mesmo. Assim, o homem
teme os outros homens e, para dominar esse medo, tem de compreender a espécie humana e o
que organiza seu comportamento.
Violência é um tema do presente e não apenas do passado. Além do mais, é um tema com
o qual se aprende uma verdade sobre a natureza real da espécie humana descobrindo-se o que
o homem é realmente capaz de fazer.
Para Berg (1965, p. 5 ):
O problema básico
[...]
da psicologia e de outras ciências do
comportamento consiste em como lidar com a violência.
[...]
Pode
parecer absurdo sugerir com seriedade que isso possa ser feito
mesmo que aceitemos uma ou duas gerações como necessárias para
38
atingir essa meta. Deve ter parecido igualmente absurdo aos antigos
romanos ouvir dizer que os combates sangrentos e mortais entre
gladiadores d
everiam ser proibidos.
O objetivo dessa seção é apresentar algumas teorias da agressividade, e examinar as
formas pelas quais as diferentes teorias lidam com a questão da agressividade humana.
Serão comentados alguns autores importantes na história da psicologia e outros autores
contemporâneos.
1.2.1
Teorias clássicas da agressividade humana
A origem do comportamento agressivo para um primeiro grupo de estudiosos é instintiva.
Sob este prisma, o comportamento agressivo estaria relacionado a componentes biológicos e
psicológicos e a agressividade é vista como um fenômeno de caráter universal, independente
de movimentos classistas e históricos, estando atrelada ao ser humano, em sua essência.
Observa-se que a violência é um fenômeno pluridimensional, onde se destacam duas
grandes tendências. Sigmund Freud e Konrad Lorenz figuram na linha de frente defendendo
uma posição instintivista do comportamento agressivo. Nessa abordagem, o conflito humano
é decorrente da discrepância entre os anseios biológicos (normalmente em busca do prazer) e
as possibilidades sociais. Esse conflito resultaria na violência. A outra tendência explica o
comportamento agressivo como resultante da conjugação de aprendizagens e de fatores
situacionais desencadeantes.
A agressão se apresenta sob muitas nuances dentro de uma mesma perspectiva. Para
Freud, existe nos homens uma agressividade inata que os instiga a comportamentos
39
agressivos. Lorenz (1973) postula que o instinto agressivo é condição indispensável para o
próprio progress
o do ser humano.
Sigmund Freud
A importância do pensamento de Freud em nosso universo cultural deriva do fato de que,
embora referido a um campo do saber, articula suas formulações a outros campos, como
História, Antropologia, Filosofia, Biologia, Física, dentre outros, dando a sua obra uma
pluridimensionalidade. Seu interesse para os fenômenos culturais e sociológicos é revelado
principalmente quando escreve Por Que a Guerra
(1914),
O Futuro de uma Ilusão
(1927),
e
O Mal Estar na Civilização
(1930
).
Sua obra é marcada por um ceticismo em relação ao homem, posto que na sua visão, a
natureza humana é determinada, sobretudo, por pulsões e forças irracionais, oriundas do
inconsciente, pela busca de um equilíbrio homeostático e pelas experiências vividas na
primeira infância.
Em sua teoria, enfatiza as pulsões em duas categorias: os instintos de vida (Eros), que
contribuem para a sobrevivência da pessoa e da espécie (por exemplo a sexualidade), e os
instintos de morte (Thanatos), que compreendem as forças autodestrutivas, passíveis de
voltarem
-se para fora, em direção a outrem, e produtoras da agressão e da guerra. Desse
modo, a abordagem freudiana encara todo o comportamento como uma manifestação de
conflitos intrapsíquicos ou, de maneira mais geral, de interações dinâmicas entre forças
antagônicas existentes em seu interior.
Freud (1930) mostra como o desamparo no qual o ser humano chega à vida é decisivo
para a estruturação de seu psiquismo e revela que na pulsão destrutiva, agressiva, advinda da
pulsã
o de morte, está o maior perigo à civilização.
40
Em sua concepção, o homem está condenado a uma forma radical de intersubjetividade
que implica, a um tempo, aproximação e afastamento. Freud (1921) utiliza na Psicologia
de grupo e análise do eu a metáfora dos porcos espinhos para afirmar que o homem não
suporta uma aproximação demasiado íntima com o próximo, principalmente porque a deseja.
Freud afirma que as relações amorosas estão carregadas de hostilidade, nem sempre
perceptível por causa do recalcamento. As relações sociais articulam-se no sentido da busca
da experiência de satisfação, dado as dificuldades da condição humana, com seu desamparo,
seu desconhecimento, sua perplexidade frente à morte. O laço social tem aí sua origem,
estabelecendo
-
se nele
a regulamentação moral.
Em
O mal estar na civilização , o autor estabelece uma verdadeira genealogia da
consciência moral, demonstrando que uma de suas funções consiste em manter a vigilância
sobre as ações e intenções do eu e julgá
-
las, exercendo censur
a
(FREUD, 1930, p. 139).
No texto referido, é formulada a noção da impossibilidade de cumprir a ordem expressa de
um mandamento cultural, que é o de amar o próximo como a ti mesmo. Diante desta máxima,
Freud sugere que para amar uma pessoa ela tem que ser
merecedora desse amor. Para merecer
o amor é necessário que ambos sejam de tal forma semelhantes que, em aspectos importantes,
um possa se amar através do outro, podendo assim amar o ideal de seu próprio eu. Assim, ele
descobre várias dificuldades relativas ao cumprimento desse preceito enunciado com tanta
solenidade e sugere outro mandamento para substituí-
lo
Ama o teu próximo como este te
ama
(1930, p. 115), e critica um segundo mandamento que lhe parece ainda mais incorreto,
que é o que diz:
Ama os teus inimigos
(1930, p. 115).
O amor é algo muito valioso que não pode ser jogado fora sem reflexão, um amor que não
discrimina é privado de uma parte de seu próprio valor e, além disso, nem todas as pessoas
são merecedoras de amor. Mais do que isso, mui
tas tem mais direito ao ódio e à hostilidade do
que ao amor. Por trás disso tudo está a noção de pulsão de morte, formulada em 1920 em
41
Além do principio do prazer , que é incorporada sobre a forma de agressividade, para
pensar a relação ao próximo. É depois desse estudo que Freud passa a falar mais
enfaticamente da violência existente na natureza humana e na natureza das relações
interpessoais.
[
...
] os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e
que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário,
são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma
poderosa cota de agressividade. Em resultado disso, o seu próximo é,
para eles, não apenas um ajudante potencial ou um objeto sexual,
mas também alguém que os tenta a satisfazer sobre ele a sua
agressividade, a explorar sua capacidade de trabalho sem
compensação, utilizá-lo sexualmente sem o seu consentimento,
apoderar
-se de suas posses, humilhá-lo, causar-lhe sofrimento,
torturá
-lo e matá-
lo.
__ 'Homo homini lupus
.(FREUD, 1930, p.
116).
A autodetecção da existência de uma inclinação para a agressão leva a supor com justiça
que ela espresente nos outros. Isso constitui um fator que perturba os relacionamentos com
o próximo e força a civilização a um tão elevado dispêndio de energia. Para Freud, as paixões
instintivas são mais poderosas que a razão. Nesse sentido, revela que é necessário estabelecer
limites para os instintos agressivos do homem, mantendo-os sob controle, através de métodos
destinados a incitar ide
ntificações entre as pessoas, daí a importância do mandamento de amar
ao próximo, sendo ele plenamente justificado pelo fato de nada ir tão fortemente contra a
natureza original do homem.
A coerção é um mal necessário à civilização, onde a moral atua na contenção da
agressividade mútua que caracteriza o relacionamento entre os homens. Ao elaborar sua
ultima teoria das pulsões, o autor mantém o dualismo pulsional, opondo pulsões de vida e
pulsões de morte, e, neste sentido, afirma que esse conflito é posto em ação sempre que os
homens se propõem a viverem em comum. O sentimento de culpa é inevitável, que a
42
agressividade está na base de toda relação de amor entre as pessoas e, ao ser recalcada,
manifesta
-
se sob esta forma.
O sadismo e o masoquismo constituem claras manifestações da pulsão de morte mesclada
ao erotismo, entretanto, Freud não despreza a onipresença da agressividade e da
destrutividade não eróticas em toda parte.
Na obra O mal estar na civilização
(1930), a pulsão de morte, é tomada como
d
estrutividade pura, distinta e autônoma em relação à libido, manifestando
-
se como inclinação
para a agressão [...] adoto, portanto, o ponto de vista de que a inclinação para a agressão
constitui, no homem, uma disposição pulsional original e auto-
subsiste
nte, e retorno à minha
opinião de que ela é o maior impedimento à civilização.
(FREUD, p. 125).
Em decorrência dessa análise, ênfase à face invisível da pulsão de morte, que é a
agressividade humana, entendida como disposição inata, inclinação original do homem para a
crueldade e para o mal. Não vê, pois, a agressividade como um desvio, mas pensa a maldade
como constitutiva do ser humano, presente em cada um como uma disposição pulsional inata
-
a natureza profundamente moral da humanidade está relacionada a esta inclinação humana
para o mal.
Enquanto Eros atua no sentido dos reforços dos laços, da união dos indivíduos, através da
identificação, a pulsão de morte atua no sentido oposto, como disjunção dessas unidades,
recusa da permanência, subvertendo
a força conservadora de Eros.
O mandamento ama a teu próximo como a ti mesmo é a base da mais forte defesa contra
a agressividade humana. Entretanto, os homens não prestam atenção a tudo isso, e o preceito,
apenas tem o mérito de advertir sobre o quanto
é difícil obedecê
-
lo.
No livro o Mal Estar na Civilização
os instintos destrutivos do homem são tidos como
responsáveis pelo mal estar na civilização, e em Porque a Guerra , Freud emprega
freqüentemente a palavra violência associada à agressividade in
stintiva. Desta forma, a pulsão
43
de morte poderia gerar a violência existente na natureza humana e na natureza das relações
sociais.
Freud foi o primeiro a sublinhar a autonomia fundamental dos instintos em geral, embora
muito mais tarde tenha reconhecido o instinto da agressão. Mostrou igualmente que a falta
de contatos sociais e, sobretudo a sensação de não ser amado, predispõem à agressão e a
facilitam
-
na.
Comentando a obra o O mal estar na Civilização , Gay (1989), afirma que este foi o
livro mais sombrio de Freud, por estar baseado no dualismo instintivo e no sistema estrutural.
Os grandes antagonistas, o amor (Eros) e o ódio (Thanatos), lutam pelo controle da vida social
do homem. A agressividade visível é a manifestação exterior da invisível pulsão de morte.
Peter Gay destaca que a principal preocupação de Freud era a forma como a cultura inibe a
agressividade, o que se constitui na fundação do que se convencionou chamar de superego.
Todavia, exalta que nem toda experiência surge do mundo exterior, e que a constituição inata,
inclusive a herança filogenética de uma pessoa, desempenha seu papel, refletindo assim sobre
as respectivas participações da constituição e do ambiente no desenvolvimento mental. O
autor refaz a pergunta de Freud, inquirindo se
a civilização é capaz de conter a pulsão humana
para a agressão e a destruição.
É importante, entretanto, lembrar que Freud, ao formular os conceitos de Eros e Thanatos,
sabe que o ser humano tem tanto a possibilidade de amar quanto a possibilidade de odi
ar.
Konrad Lorenz
A observação dos hábitos dos animais e a comparação do instinto de agressão animal com
o comportamento humano foi a grande preocupação de Lorenz. Suas explicações para a
agressividade humana foram expostas principalmente no livro A Agressão: uma história
44
natural do mal
(LORENZ, 1973). Nesta obra, o autor ressalta que nos animais em geral a
agressividade tem um papel positivo para a sobrevivência da espécie, e que também no
homem a agressividade poderia ser orientada para comportamentos
socialmente úteis.
O autor defende a tese de que a espécie humana traz uma forte herança de territorialidade
e agressividade, instintos estes que devem ser extravasados para se evitar distúrbios sociais.
Sugere que as espécies animais estão geneticamente construídas para aprenderem tipos
específicos de informação que são importantes para a sobrevivência da espécie. Descreveu o
aprendizado de patos e gansos recém-nascidos: os filhotes, logo que nasciam, aprendiam a
seguir a mãe, ou então, uma falsa mãe. O processo, que é chamado
imprinting
(gravação)
compreende sinais visuais e auditivos do objeto "mãe" que são gravados, mesmo que sejam
enganosos. Isto provoca uma resposta de acompanhamento que depois vai afetar o adulto.
Para Lorenz (1973), a agressão intra-específica, longe de ser um princípio diabólico,
destruidor, como a psicanálise apresenta, é indubitavelmente uma parte essencial da
organização dos instintos em vistas da proteção da vida. Mas isso é válido para qualquer outra
função de qualquer outro s
istema. Entretanto, o instinto da agressão destinado originalmente à
conservação da espécie, pode ser avaliado em todo o seu perigo, isto é, é a espontaneidade
desse instinto que o torna temível.
Se ele fosse apenas uma reação contra certos fatores exter
iores, como
pretendem numerosos sociólogos e psicólogos, a situação da
humanidade não seria tão perigosa como é, porque nesse caso os
fatores que suscitam tais reações poderiam ser estudados e
eliminados com alguma esperança de êxito.
(LORENZ, 1973, p. 63)
.
Ao estudar o comportamento de peixes em aquário descobre que, para evitar que o macho
mate a fêmea, é necessário deixar no aquário um "bode expiatório", ou seja, um peixe da
mesma espécie, para que o macho possa descarregar sua ira sobre o vizinho do mesmo sexo.
Segundo Lorenz (1973), pode-se verificar coisa parecida nos seres humanos, uma vez que o
45
recalcamento da agressão se torna mais perigoso quanto mais intimamente os membros de
uma espécie se conhecem, e quanto mais se compreendem e se gostam. Em tais situações,
todos os estímulos que podem desencadear a agressão e o comportamento combativo intra-
específico sofrem um forte abaixamento de seu limiar. Para exemplificar, cita as reações
contra os movimentos dos melhores amigos, a sua tosse, a maneira de se assoarem, como se
tivesse recebido uma bofetada. Entender o mecanismo fisiológico deste fenômeno, impede o
assassinato do amigo, mas não diminui o sofrimento. A única solução para uma pessoa
razoável é, no fundo, abandonar ante-pé a barraca (tenda ou igloo) dirigindo-se a
qualquer objeto, fazê-lo voar em estilhas com o maior barulho possível. (LORENZ,1973, p.
69). Isto é o que se chama de comportamento desviado ou reorientado.
O autor questiona sobre a possibilidade de impedir que a agressão intra-
específica
prejudique seriamente a conservação da espécie, [...] sem que por esse fato sejam eliminadas
as suas funções indispensáveis ao interesse dessa espécie? (LORENZ, 1973, p.123) e sobre
o por que é que as espécies que tiram proveito de uma vida
social não renunciam à agressão.
As respostas para tais questões evidenciam-se no fato de que a espécie mantém inalterada
a pulsão, de um modo geral útil, ou até indispensável. A solução deste problema poderia
residir, na instalação, nos casos particulares onde ela poderia ter um efeito nocivo, de um
mecanismo especial de inibição criado ad hoc. Neste ponto vê-se uma analogia com a
evolução cultural do homem, vislumbrada nos imperativos mais importantes da lei de Moisés
que, tal como qualquer outra lei, sã
o interdições e não mandamentos.
O homem preserva-se no erro de não gostar de se imaginar fazendo parte do resto da
natureza, opõe-se a ela como se fosse um ser de essência diferente, e em razão a isso,
despreza o famoso Conhece-te a ti mesmo , atribuído a Sócrates, mas expressado por
Quilon. Neste sentido, a preocupação de Lorenz é de alertar sobre a falta de autocrítica da
humanidade.
46
São vários os exemplos que podem ser citados a este respeito: quando Darwin descobriu
que os homens descendiam dos animais, não faltaram tentativas para reduzi-lo ao silêncio.
Freud foi censurado ao tentar analisar o comportamento humano e torná-lo compreensível.
Assim, falta humildade e todos os meios servem à humanidade para defender o seu amor
próprio.
Lorenz (1973, p. 247) afirma que um observador imparcial nunca [...] teria a idéia de
que o comportamento humano seria dirigido pela razão, e ainda menos por uma moral
responsável [...] . Para esse autor os fenômenos são causados pela natureza humana e, tal
como se repetem
sempre, não têm causas racionais.
O entendimento deste fato não é suficiente e torna-se necessário perguntar sobre os
motivos que levam os seres dotados de racionalidade a se comportar de maneira irracional. É
provável que existam fatores poderosos para que os homens sejam capazes de ultrapassar os
mandamentos da razão individual e sejam refratários à experiência e ao ensino.
Em capítulo sobre os mecanismos de comportamento funcionalmente análogos à moral,
Lorenz (1973) fala de inibições que controlam a agressão nos diferentes animais sociais que
impedem de ferir ou matar seus irmãos de raça. Na evolução do homem, tais mecanismos
contra o assassinato se mostraram supérfluos, uma vez que não havia possibilidade de matar
rapidamente, pois a vítima em potencial tinha muitas ocasiões para obter a graça do agressor
por gestos obsequiosos e atitudes de apaziguamento.
Portanto, durante a pré-história da humanidade, não existiu nenhuma pressão para se
produzir um mecanismo inibitório que impedisse o assassinato dos congêneres. Falta na
espécie humana, como em outros animais menos agressivos, o respeito ao gesto de submissão
feito pelo perdedor.
47
Isso não significa que, numa fase desprovida de responsabilidade moral, o homem fosse o
mal em pessoa, nessa fase ele era dotado de instintos sociais e das mesmas inibições de um
chimpanzé, que apesar de sua irritabilidade, é uma criatura social e amável.
O comportamento agressivo e a inibição de matar representam um caso particular entre
tantos outros em que as rápidas transformações da ecologia e da sociologia humanas pelo
desenvolvimento cultural desequilibram mecanismos do comportamento que antes eram filo-
geneticamente adaptados. A função da moral é, portanto, restabelecer um equilíbrio aceitável
entre os instintos do
homem e as necessidades de uma ordem social.
Lorenz (1973) critica alguns filósofos contemporâneos que compartilham a idéia de que
todo tipo de comportamento que serve para o bem estar da sociedade são ditados por um
pensamento racional. Não apenas esta opinião é errada, mas é a sua contrária que é
verdadeira. (LORENZ, 1973, p. 255). Explica ainda que se o homem não tivesse sido
dotado de instintos sociais, nunca se elevaria acima do mundo animal, posto que, as tradições,
a responsabilidade moral, dentre outras faculdades especificamente humanas, desenvolveram-
se num ser que vivia em sociedades organizadas antes do pensamento conceitual. A força
motriz que aciona a razão provém de mecanismos de comportamento instintivo muito mais
antigos que a própria razão, sendo eles a fonte do amor e da amizade, do calor afetivo, da
apreciação da beleza, da insaciável curiosidade que aspira ao conhecimento científico. Com
base nisso, o ser humano edificou uma enorme estrutura de normas e ritos sociais cuja função
é estritamente análoga à ritualização filogenética. Quer tenham evoluído pela filogênese ou
pela cultura, as normas de comportamento representam para cada ser humano normal,
motivações, e são por eles sentidas como valores.
Neste sentido, para Lorenz (1973), a moral é apenas um mecanismo compensador de
eficácia limitada. Dessa maneira, a dinâmica das pulsões, os diferentes tipos de
comportamentos ritualizados pela filogênese ou cultura, em conjunto com a moral
48
responsável, formam um todo organizado. Vale ress
altar que todos os sistemas de atividades e
reações inatas do homem foram construídos pela filogênese e calculados pela evolução de
maneira tal que necessitam de ser completados pela tradição cultural, isto é, o homem
depende tanto da tradição cultural e da responsabilidade racional, assim como as funções
destas duas dependem da motivação instintiva.
No crescimento das culturas humanas existe um mecanismo incorporado em previsão de
modificações gradativas. Tal fenômeno pode ser observado na tendência existente, durante a
puberdade e imediatamente depois, nos seres humanos em afrouxar a obediência a todos os
ritos e normas sociais, o que permite ao pensamento conceitual procurar novos ideais e talvez
melhores. Neste período pós-púbere, a necessidade instintiva de pertencer a um grupo
estreitamente ligado e que luta por determinados ideais é tão forte que a questão de saber o
que são esses ideais não possuem valor intrínseco nem são essenciais. Neste sentido a
formação de um bando de jovens reconstitui provave
lmente as sociedades primitivas.
O autor citado exemplifica isso por meio do entusiasmo militante, ilustra como um
comportamento filogeneticamente evoluído atua juntamente com as normas e ritos culturais e
que, embora seja necessário ao funcionamento do sistema composto, pode trazer
conseqüências trágicas se não for controlado por uma responsabilidade racional.
O entusiasmo militante é uma forma particular de agressão em comum, nitidamente
distinta das formas primitivas da agressão individual. Entretanto, toda pessoa exposta a
emoções fortes conhece os fenômenos subjetivos que acompanham as reações do entusiasmo
militante: fica pronto a abandonar tudo ao apelo daquilo que, no momento em que essa
emoção particular se produz, aparece como um dever sagrado; todos os obstáculos se tornam
insignificantes; a instintiva inibição de ferir ou matar o próximo perde muito de sua força; as
considerações de ordem racional, o espírito crítico e todos os argumentos racionais contra o
comportamento ditado pelo entusiasmo militante ficam reduzidos ao silêncio por uma
49
espantosa inversão de valores, fazendo surgir argumentos indefensáveis, baixos e vis. Não
obstante as atrocidades, pessoas que têm a sensação de estarem absolutamente no seu
direito. O pensamento e a responsabi
lidade moral atingem o seu nível mais baixo.
Lorenz (1973) argumenta que a tensão dirigida para um único alvo que caracteriza essa
reação deve ter possuído um enorme valor de sobrevivência. Tal como o cerimonial do triunfo
no ganso cendrado, o entusiasmo
militante do homem é um instinto autônomo verdadeiro, tem
seu próprio comportamento de apetência e os seus mecanismos de desencadeamento e, nisso,
é comparável ao instinto sexual e a outras necessidades imperiosas, além do que, gera uma
sensação especial de intensa satisfação. A sua força e a sua sedutora atração explicam porque
homens inteligentes se comportam, por vezes, de modo tão irracional e imoral.
Esse entusiasmo surge com a previsibilidade de um reflexo, diante das seguintes
situações: 1) é necessário que a unidade social com a qual o sujeito se identifica seja
ameaçada; 2) presença de um inimigo detestável do qual emana o perigo que ameaça os
valores do grupo; 3) a figura inspiradora de um líder; 4) presença de outros indivíduos
entregues à mesma
emoção.
Diante de tudo isto, Lorenz (1973) recomenda que é necessário controlar, por uma sábia
responsabilidade moral, todas as adesões sentimentais, bem como é necessário anular as
outras pulsões. Recomendando métodos para aliviar a agressão. Sendo um deles o de
reorientar a agressão para algum objeto de substituição, como a prática de esportes. Esse
método é a muito conhecido pela humanidade. O conceito de
catharsis
, ou descarga
purificadora, era familiar aos gregos. Segundo esse autor, o método mais evidente para
diminuir a agressão encontra
-
se aplicado ao adágio "conhece
-
te a ti mesmo".
Assim sendo, Lorenz (1973) descobriu que muitos dos mais importantes padrões de
comportamento dos animais - aqueles tradicionalmente chamados instintivos -, eram inatos e
não podiam ser explicados behavioristicamente.
50
O comportamento do homem é fundamentalmente semelhante ao dos outros animais e
está sujeito às mesmas leis causais da natureza. O critério para determinar que um certo
padrão de comportamento é inato, é que este seja mostrado por todos os indivíduos normais
da espécie, de determinada idade e sexo, sem nenhum aprendizado anterior e sem tentativas e
erros. E este é o caso do comportamento agressivo, entre outros.
O autor explica o comportamento por causas naturais, o que não exclui ou afeta
necessariamente a dignidade ou as escala de valores, - que os behavioristas consideram falsos
-, nem mostra tampouco que os homens não sejam livres. Ao contrário, para Lorenz o
crescente autoconhecimento aumenta o poder de autocontrole e assenta em bases sólidas as
vontades. Quanto mais se compreende a causa material da agressão, mais aptos os indivíduos
se tornam para tomar medidas racionais para controlá
-
la.
Desta forma, Lorenz (1973), em seu livro A agressão: uma história natural do mal
trata do instinto do combate do animal e do homem dirigido a seu próprio congênere. Opõe
-
se
à noção de pulsão de morte, que segundo Freud, seria diametralmente oposta a todos os
instintos conservadores da vida. Para o autor, a agressividade, cujos efeitos são
freqüentemente idênticos ao da pulsão de morte, é um instinto como qualquer outro e, em
condições naturais contribui como todos os outros, para a preservação da vida e da espécie.
Para ele, no homem que, pela sua própria ação modificou demasiado depressa as suas
condições de vida, o instinto da agressão produz muitas vezes efeitos nocivos, mas os outros
instintos têm resultados análogos, ainda que menos dramáticos.
51
1.2.2 Teorias psico
-
sociais da agressão
A segunda tendência, na explicação do comportamento agressivo, considera-o como
resultante do aprendizado e dos fatores situacionais. O fator aprendizagem funcionaria como
responsável pela formação da personalidade mais ou menos agressiva, ou seja, mais ou menos
pronta a reagi
r agressivamente diante de determinados fatores situacionais.
Os processos tradicionais de aprendizagem (condicionamento clássico e operante)
explicam grande parte do comportamento agressivo exibido pelas pessoas. Dentre os fatores
situacionais capazes de provocar comportamento agressivo destacam-se a frustração, a
provocação, dentre outros. As formulações teóricas de Berkowitz (1989) mostram-se bastante
úteis para o entendimento do que se segue psicologicamente a uma frustração.
Segundo Anderson e Bushman (2002), cinco teorias principais sobre agressão guiam a
maioria das pesquisas atuais em psicologia social. Nestas se inserem o segundo grupo
anteriormente citado. Suas teorias coincidem razoavelmente, como se poderá ver a seguir.
Teoria da neoassociaçã
o cognitiva
O modelo teórico de Berkowitz (1989) procura aperfeiçoar a teoria da frustração-
agressão
de Dollard e Milller (DOLLARD et al., 1939). Para tal, recorre ao conceito de instinto de
Tinbergen, que se refere a um mecanismo biológico interno que para manifestar-se exige um
objeto ou situação externa apropriada . Para Berkowitz (
1993a
), existe uma resposta
agressiva inata à frustração e à raiva e a outros estados emocionais que podem ter efeitos
similares à frustração, apenas quando estão presentes certos estímulos ou indícios. São eles:
52
alvos (pessoas ou grupo de pessoas), objetos (por exemplo, armas) e situações (um lugar, por
exemplo).
Para Berkowitz (
1993a
) a manifestação do comportamento agressivo depende, de uma
interação complexa entre as propensões inatas, respostas inibidoras aprendidas, bem como a
natureza da situação social.
Berkowitz (1989, 1990,
1993a
) propôs que eventos aversivos como as frustrações,
provocações, ruídos altos, temperaturas inconfortáveis e odores desagradáveis produzem
afeto
negativo. O afeto negativo produzido por experiências desagradáveis automaticamente
estimula vários pensamentos, memórias, reações motoras expressivas e respostas psicológicas
associadas tanto com as tendências de luta e de fuga. As associações de luta dão vida a
sentimentos rudimentares de raiva, enquanto as associações de fuga fazem surgir sentimentos
de medo. Além disto, a teoria da neoassociação cognitiva assume que as pistas presentes
durante um evento aversivo acabam se associando ao evento e às respostas emocionais e
cognitivas desencadeadas por ele.
Na teoria da neoassociação cognitiva, pensamento agressivos, emoções e tendências
comportamentais são interligadas na memória (COLLINS ; LOFTUS, 1975). Conceitos com
significados similares - machucar, causar danos -, e conceitos que freqüentemente são
ativados simultaneamente - atirar, arma -, desenvolvem fortes associações. Quando um
conceito é carregado ou ativado, esta ativação estende-se a outros conceitos relacionados,
assim como aumenta sua ati
vação.
A teoria da neoassociação cognitiva também inclui processos cognitivos de ordem maior,
tais como avaliações e atribuições. Se as pessoas são motivadas a fazê-lo, elas podem pensar
sobre como se sentem, fazendo atribuições causais para o que as levam a sentir-se de tal
forma, e considerar as conseqüências de agir de acordo com seus sentimentos. Tal
53
pensamento deliberado produz mais claramente sentimentos diferenciados de raiva, medo, ou
ambos. Isto pode também suprimir ou aumentar as tendências da açã
o com estes sentimentos.
A teoria da neoassociação cognitiva não apenas soma-se à hipótese anterior da
frustração
-agressão (DOLLARD et al., 1939), mas também provê um mecanismo causal para
explicar porque eventos aversivos aumentam as inclinações agressivas, isto é, via afeto
negativo (BERKOWITZ, 1989). Este modelo é particularmente apropriado para explicar a
agressão hostil.
Teoria da aprendizagem social
De acordo com as teorias da aprendizagem social (BANDURA, 1983; 2001;
MISCHEL,1973, 1999; MISCHEL ; SHODA, 1995), pessoas adquirem respostas agressivas
da mesma forma que adquirem outras formas complexas de comportamento social - tanto por
experiência direta quanto por aprendizagem por observação de outros
.
A teoria da aprendizagem social explica a aquisição dos comportamentos agressivos via
processo de aprendizado pela observação das ações de outras pessoas designadas como
modelos , e provê uma útil gama de conceitos para entender e descrever as crenças e
expectativas que guiam o comportamento social. A teoria da aprendizagem social,
especialmente seus conceitos
-chave a respeito do desenvolvimento e mudança de expectativas
e como construir o mundo social é particularmente útil para entender a aquisição do
comportamento agressivo e em explicar a agressão instrumental. A aprendizagem
instrumental ocorre de acordo com o princípio do reforço ou recompensa. A probabilidade de
repetir um comportamento que recebe reforçamento direto (como aprovação social, por
exemplo) é grande (BARON, 1974). Pode-se citar como exemplo, o trabalho de Patterson;
54
Debaryshe; Ramsey (1989); Patterson; Reid; Dishion (1992) sobre interações familiares e
desenvolvimento de padrões de comportamento anti
-
social.
Teoria do enredo (
script
)
Huesmann (1986, 1998) propôs que quando as crianças observam violência da mídia de
massa, aprendem enredos agressivos. Enredos definem situações e guiam o comportamento,
ou seja, a pessoa ativa ou seleciona um enredo para representar a situação e então assume um
papel neste enredo. Uma vez que um enredo foi aprendido, ele pode ser retomado algum
tempo depois e ser usado como um guia para comportamento. Este método pode ser visto
como uma consideração mais específica e detalhada dos processos de aprendizado social.
Enredos são grupos de particularmente bem ensaiados conceitos, altamente associados na
memória, freqüentemente envolvendo ligações causais, objetivos e planos de ação
(ABELSON, 1981; SCHANK ; ABELSON, 1977). Quando itens são tão fortemente ligados
que formam um enredo, eles tornam-se um conceito unitário no esquema da memória.. Além
disto, mesmo um enredo pouco ensaiado pode mudar as expectativas e intenções de uma
pessoa envolvendo comportamentos sociais importantes (ANDERSON, 1983; ANDERSON;
GODFREY, 1987; MARSH; HICKS; BINK, 1998). Um enredo freqüentemente ensaiado
ganha acessibilidade e força de dois jeitos. Múltiplos ensaios criam ligações adicionais para
outros conceitos na memória, aumentando assim um grande número de caminhos pelos quais
ele pode ser ativado. Ensaios múltiplos também aumentam a força das próprias ligações.
Assim, uma criança que testemunhou milhares de vezes o uso de armas para resolver uma
disputa na televisão é propensa a ter este tipo de enredo facilmente acessível sendo
generalizado para muitas situações. Em outras palavras, o enredo torna-se cronicamente
acessível. Esta teoria é particularmente útil considerando-se a generalização dos processos de
55
aprendizagem social e da automatização (e simplificação) dos complexos processos
percepção
-
julgamento
-
decisão
-
comportamen
tal.
Teoria da transferência de excitação
De acordo com Zillmann (1983a) pessoas em estado de excitação fisiológica tendem a
ficar mais agressiva do que as pessoas que não se encontram fisiologicamente excitadas.
Quanto maior o grau de excitação, maior a agressividade. Zillmann (1983) postulou que a
excitação gerada por uma situação pode ser transferida para outra e intensificar o estado
emocional subseqüente.
Zillmann (
1983b
) notifica que a excitação fisiológica dissipa-se lentamente. Se dois
eventos excitantes são separados por um curto período de tempo, a excitação proveniente do
primeiro evento pode causar uma confusão de atribuição para o segundo. Se o segundo evento
é relacionado à raiva, então a excitação adicional deve deixar a pessoa ainda mais raivosa. A
noção de transferência de excitação também sugere que a raiva pode ser estendida através de
longos períodos de tempo se uma pessoa conscientemente atribuiu a sua alta excitação à raiva.
Assim, mesmo depois da excitação se dissipar, a pessoa conti
nua pronta para agredir enquanto
o rótulo auto
-
gerado de raiva persistir.
A agressão ocorre quando o indivíduo reconhece a presença da excitação, mas a atribui à
situação atual. Conforme essa teoria a agressão depende de três fatores: das disposições
apre
ndidas ou hábitos, de uma fonte de energização da excitação e por ultimo da interpretação
do estado de excitação.
56
Teoria da interação social
Tedeschi e Felson (1994) interpretam o comportamento agressivo, ou ações coercivas,
como comportamentos influenciados socialmente, isto é, um ator usa ações coercivas para
produzir alguma mudança no comportamento de seu alvo. Ações coercivas podem ser usadas
por um ator para obter alguma coisa de valor, como por exemplo, informação, dinheiro, bens,
sexo, serviços e segurança, para estabelecer justiça retributiva de erros percebidos, etc. De
acordo com esta teoria, o ator é um tomador de decisões cujas escolhas são direcionadas por
recompensas esperadas, custos e probabilidades de obter diferentes resultados.
A Teoria da Interação Social provê explicações de atos agressivos motivados por altos
níveis de objetivos definitivos ou últimos. Mesmo agressão hostil pode ter algum objetivo
racional por trás, tais como punir o provocador a fim de reduzir a probabilidade de fu
turas
provocações. Esta teoria proporciona um excelente meio de entender os achados recentes de
que a agressão é freqüentemente o resultado de ameaças à auto-estima, especialmente para
uma alta auto-estima sem justificativa, como no caso do narcisismo (BAU
MEISTER;
SMART; BODEN, 1996; BUSHMAN ; BAUMEISTER, 1998).
Assim, de acordo com os psicólogos sociais, os atos agressivos estão baseados em
múltiplos motivos e m por característica fundamental as estruturas do conhecimento de uma
pessoa. Tais estruturas se desenvolvem a partir da experiência, que por sua vez influenciam a
percepção em múltiplos níveis desde padrões visuais básicos até complexas seqüências
comportamentais; podem tornar-se automatizadas com o uso; são ligadas a estados afetivos e
crenças, e
são usadas para orientar as interpretações e respostas comportamentais das pessoas.
57
Finalmente, existe ainda um outro grupo de teorias que sintetiza os dois anteriores, ou
seja, compatibiliza o biológico com o psicológico e o social. Trata-se do enfoque b
io
-
psico
-
social. Essas teorias valorizam as descobertas da biologia, psicologia, genética e
neurofisiologia, fundamentais para a compreensão do aspecto sócio-filosófico do ser humano.
Igualmente, valorizam os mecanismos que resultam na transformação do biológico pelo
social, como apelo da adaptação do biológico às circunstâncias vivenciais, assim como as
adequações do psiquismo às exigências existenciais.
De acordo com esta tendência, uma complementação dinâmica entre o biológico, o
psicológico e o social, de forma que toda atividade humana repercute nas relações sociais,
culturais e emocionais, afetando tanto a constituição biológica quanto a consciência humana.
O enfoque bio-
psico
-social não crê que a violência resulte apenas dos problemas de
natureza econômica, como a pobreza, ou política (enfoque sociológico
papel dos fatores
sociológicos no comportamento agressivo), embora entenda que estas questões sejam
significativas. Desacredita também, que o aumento da violência no mundo seja
exclusivamente devido ao aumento dos casos de sociopatas, psicopatas ou congêneres,
embora estejam presentes na criminalidade e, ainda, que a violência não se deve aos traumas
de pais separados, frustrações e conflitos com a educação infantil, etc. O enfoque bio-
psico
-
socia
l corrobora a fórmula Fenótipo = genótipo + ambiente (BALLONE, 2003
a
).
Em síntese, pode-se dizer que devido à ampla variedade de definições para a agressão,
varias perspectivas teóricas respondem sobre a gênese deste comportamento. Psicólogos
sociais (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2001) agruparam três categorias gerais de
explicações:
a) o ser humano está, de alguma forma, programado para a violência por sua natureza.
A base biológica para os comportamentos agressivos é defendida por psicanalistas, etólogos e
sociobiólogos. Destacam-se ainda outras teorias que, embora não qualificadas como
58
instintivas, enfatizam a agressão como biologicamente determinada. A genética
comportamental põe em evidência o papel de fatores biológicos herdados na agressão
humana.
Ainda numa perspectiva biológica, pesquisadores identificaram sistemas neurais que,
quando ativados, aumentam a agressão. Estudos demonstram a influência bioquímica (uso de
drogas, especialmente o álcool), bem como os efeitos da ação hormonal na agressivi
dade
humana.
b) a agressão é uma resposta natural à frustração, a resposta agressiva é decorrente de um
impulso básico eliciado por variáveis externas. Nesta categoria enquadram-se os psicólogos
sociais, que concebem a agressão através da hipótese frustraç
ão
-agressão, em primeira
formulação e suas revisões posteriores.
c) a agressão é resultado da aprendizagem, obtida através de normas sociais, culturais e de
experiências de socialização. Esta explicação situa-se na categoria dos teóricos da
aprendizagem in
strumental e observacional.
Conforme foi descrito até aqui, as explicações para o comportamento agressivo
encontram
-se relacionadas a diferentes fatores.
Diante das colocações acima se destacam a teoria de Lorenz e a teoria psicanalítica
predominantemente
intrapsiquica, e as teorias psico-sociais que consideram o indivíduo como
uma resultante não dos instintos e dos objetos interiorizados, mas sim do interjogo
estabelecido entre o sujeito e os objetos internos e externos, em uma predominante relação de
inte
ração, a qual se expressa através de certas condutas. Aproxima a investigação psicanalítica
da investigação da Psicologia social, no que diz respeito às representações e atribuições
relativas ao comportamento agressivo, as quais de uma maneira ou de outra influenciarão o
comportamento da vítima. A psicologia social estuda o indivíduo não como um ser isolado,
mas incluído dentro de um grupo, e empreende assim, sua investigação.
59
A agressividade configura uma estrutura que funciona acionada por motivações
psic
ológicas. A psicanálise ao estudá-la se ocupa mais do vínculo interno, enquanto que a
psicologia social se ocupa mais do externo.
A psicanálise, embora sendo o método com maiores possibilidades de investigação
profunda, contribuiu pouco para o desenvolvime
nto de estudos na área da interação social, por
lhe faltar a verificação e a confrontação necessárias para o desenvolvimento de estudos
concebidos a partir das relações sociais.
Através da psicologia social podemos obter um quadro dos motivos e das causas, em
termos gerais que levam uma pessoa a se comportar de forma violenta ou mesmo permanecer
em uma relação violenta enquanto vítima.
O que mais interessa do ponto de vista psicossocial é a interação (estímulos externos),
enquanto que do ponto de vista da
psicanálise o que mais interessa são os aspectos internos.
Importante ressaltar que os psicólogos sociais, ao responder a questão da origem da
agressão humana, diferenciam-se apenas no grau em que consideram a agressão como algo
inato ou aprendido, na medida em que levam em conta a influencia de fatores pessoais ou
ambientais como instigadores de atos agressivos e, ainda quanto aos meios que sugerem para
o controle ou a prevenção da agressão.
A Psicologia social refuta a explicação da agressão em termos
ex
clusivamente biológicos, visto que, atos instintivos para a agressão
não são coerentes com a idéia da intenção do agente causar dano.
Porém, isto não significa que ela negue qualquer influência de base
biológica na deflagração do comportamento agressivo. Entre muitos
atos agressivos a Psicologia Social reconhece a influencia de alguns
fatores biológicos na predisposição de certos indivíduos para a
agressão .
(RODRIGUES;
ASSMAR ; JABLONSKI 2001, p. 213).
Considerando
-se as explicações em qualquer das abordagens desenvolvidas nas diferentes
áreas do conhecimento, seja no enfoque biológico, no psico-social, ou no bio-
psico
-social a
60
violência consiste em ações que ocasionam a morte de seres humanos ou que afetam
prejudicialmente sua integridade física, moral, mental ou espiritual. O aspecto mais relevante
da violência não está necessariamente nas lesões físicas, que muitas vezes têm um
prognóstico razoavelmente bom, mas nas lesões emocionais que costumam evoluir de
maneira negativa. As vítimas diretas ou indiretas (familiares, testemunhas) correm um risco
de desenvolver algum transtorno emocional. Ações violentas sobre o psiquismo humano são
aquelas que afetam profundamente a vida psíquica do ser humano. Submetida a ações
violentas, a pessoa deixa de se auto-governar e de se auto-determinar, perdendo
conseqüentemente, o domínio de seu ser e de sua liberdade.
1. 2. 3 Variáveis relacionadas ao comportamento agressivo
Pesquisas baseadas na teoria da agressão podem reduzir o nível de violência na sociedade
ao
aumentar o entendimento das causas da agressão e violência. Estas pesquisas mostram que
fatores biológicos, ambientais, psicológicos e sociais influenciam o comportamento agressivo.
Os fatores que influenciam a agressão podem ser categorizados em função das características
da situação ou em função das características da pessoa na situação.
Anderson e Bushman (2002); Rodrigues; Assmar; Jablonski (2001) indicam os tipos de
processos fundamentais para examinar como vários inputs de variáveis pessoais e situaci
onais
levam ao comportamento agressivo.
61
a)
Fatores Pessoais
Estes incluem todas as características que uma pessoa traz à situação, como características
pessoais, atitudes, e predisposições genéticas. Os fatores pessoais são estáveis e demonstram
consis
tência através do tempo, através das situações ou através de ambos. Tal consistência é o
resultado do uso de esquemas, de enredos, e de outras estruturas do conhecimento
(MISCHEL, 1999; MISCHEL ; SHODA, 1995). Esquema perceptivo é usado para identificar
fe
nômenos simples como os objetos comuns do dia a dia, tais como, cadeira e pessoa, ou
fenômenos complexos como eventos pessoais. Esquema de pessoa inclui crenças sobre uma
pessoa particular ou grupo de pessoas. Enredos contêm informações sobre como as pesso
as
comportam
-se sob variadas circunstâncias. As estruturas de conhecimento influenciam quais
situações uma pessoa irá seletivamente procurar e quais situações ela evitará, o que contribui
para uma consistência das características pessoais. Juntos os fatores pessoais podem
compreender uma disposição individual para a agressão.
Assim, c
ertas
características pessoais predispõem indivíduos a altos níveis de agressão.
Um recente avanço nesta área foi a descoberta de que certos tipos de pessoas que
freqüentemente
agridem outros, o fazem em grande parte por causa de uma suscetibilidade em
direção à atribuição hostil, percepção, e expectativas preconceituosas (CRICK ; DODGE,
1994; DILL et al., 1997 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002).
Outro recente avanço contradiz crenças duradouras de muitos teóricos: um tipo de alta
auto
-estima (e não baixa auto-estima) produz alta agressão. Especificamente, indivíduos com
auto
-estima inflada ou instável (narcisistas) tendem a raiva e são altamente agressivos quando
sua alta auto-
ima
gem é ameaçada (BAUMEISTER ; SMART; BODEN, 1996; BUSHMAN ;
BAUMEISTER 1998).
62
Outro aspecto mostra que homens e mulheres diferem nas tendências agressivas,
especificamente no que diz respeito à maioria dos comportamentos violentos de homicídio e
ataques agravados. A proporção de homens para mulheres assassinados nos Estados Unidos é
cerca de 10:1 (FEDERAL BUREAU INVESTIGATION, 1999). Estudos de laboratório
freqüentemente mostram o mesmo tipo de efeito do gênero, mas a provocação
dramaticamente reduz as diferenças dos gêneros em agressão física e, especificamente, os
tipos de provocação diferencialmente afetam a agressão masculina e feminina
(BETTENCOURT ; MILLER, 1996).
Os tipos preferidos de agressão também diferem para homens e mulheres. Homens
preferem usar agressão direta, enquanto as mulheres preferem agressão indireta
(OESTERMAN et al., 1998). Estudos sugerem que muitas destas diferenças resultam de
experiências diferenciadas de socialização (OESTERMAN et al., 1998). No entanto,
explicações evolucionárias de algumas diferenças de gênero também receberam suporte
empírico (BUSS ; SHACKELFORD, 1997; CAMPBELL, 1999; GEARY, 1998 apud
ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Por exemplo, homens ficam mais preocupados
(entristecidos) por infidelidade sexual de suas parceiras do que por infidelidade emocional,
enquanto o padrão oposto ocorre com as mulheres (GEARY et al., 1995).
Em todos estes exemplos, os entendimentos sobre diferenças de gênero na agressão são
fortemente aumentados pela descoberta de diferenciadas reações af
etivas.
Da mesma forma, muitos tipos de crenças desempenham um papel na disposição para
agressão. Crenças relacionadas à eficácia são particularmente importantes (BANDURA, 1977
apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Aqueles que acreditam que podem cometer com
suc
esso atos agressivos específicos
(auto
-
eficácia
), e que estes atos irão produzir os resultados
desejados
(eficácia de resultados), são muito mais propensos a selecionar comportamentos
agressivos do que aqueles que não são tão confiantes na eficácia de atos agressivos. Crenças
63
relacionadas à agressão significativamente prevêem futuros níveis de comportamento
agressivo (HUESMANN ; GUERRA, 1997). A origem de tais crenças em crianças é
freqüentemente a família (PATTERSON; DEBARSHE; RAMSEY, 1989; PATTERSON;
REID
; DISHION, 1992).
Um quarto aspecto inclui as atitudes que são de forma geral avaliações que pessoas
mantêm delas mesmas, de outras pessoas, de objetos e de problemas (PETTY ; CACIOPPO
1986 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Atitudes positivas direcionadas à violência
em geral também preparam certos indivíduos para a agressão. Mais especificamente, atitudes
positivas sobre violência contra grupos de pessoas específicos também aumentam a agressão
contra estas pessoas. Por exemplo, atitudes sobre violência contra a mulher são positivamente
relacionadas à agressividade sexual contra a mulher (MALAMUTH et al., 1995). Homens que
tendem para agressão contra mulheres não são geralmente agressivos contra pessoas em todas
as situações; particularmente, eles vão contra as mulheres, mas não contra homens que os
provocaram (ANDERSON, 1996 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002).
Valores e crenças sobre o que se deve ou não deve fazer, também desempenham um papel
na disposição à agressão. Para muitas pessoas, violência é um método perfeitamente aceitável
de se lidar com conflitos interpessoais, talvez seja até mesmo o método preferido. Por
exemplo, o sistema de valores em partes das regiões sul e oeste dos Estados Unidos dita que
afrontes contra a honra pessoal devem ser respondidos, preferivelmente, com violência
(NISBETT ; COHEN 1996 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Existem evidências de
que a violência de jovens gangues, resultam de códigos similares de honra e respeito pessoal
(BAUMEISTER ; BODEN, 1998 apud ANDERSON; BUSHMAN, 200
2).
Em longo prazo, objetivos abstratos também influenciam a disposição do indivíduo para a
agressão. Por exemplo, os objetivos principais de alguns membros de gangue são ser
respeitados e temidos (HOROWITZ ; SCHWARTZ, 1974; KLEIN ; MAXSON, 1989 apud
64
ANDER
SON ; BUSHMAN, 2002). Tais objetivos obviamente caracterizam as percepções de
episódios, valores, e crenças de alguém sobre a adequabilidade de vários direcionamentos de
uma ação. Similarmente, um objetivo pessoal de vida de obter riquezas pode aumentar
di
sposição da pessoa para agressão instrumental.
Da mesma forma, os enredos de interpretação e os enredos de comportamento que uma
pessoa traz para situações sociais influenciam a disposição da pessoa para a agressão
(HUESMANN, 1988, 1998). Enredos são compo
stos de muitos dos elementos precedentes, na
estrutura do conhecimento.
b)
Fatores Situacionais
Fatores situacionais incluem quaisquer características importantes da situação, tais como a
presença de uma provocação ou uma pista agressiva. Como os fatores pessoais, os fatores
situacionais influenciam a agressão ao influenciar a cognição, o afeto e a excitação.
Pistas a
gressivas são os objetos que ativam conceitos relacionados à agressão na memória.
Por exemplo, Berkowitz e LePage (1967) descobriram que a mera presença de armas (
versus
raquetes de
beisebol
) aumenta o comportamento agressivo de participantes raivosos
pesquisados. Mais recentemente, o entendimento do efeito de armas tem sido aumentado pelo
descoberta de que figuras de armas e palavras automaticamente ativam pensamentos
agressivos (ANDERSON et al., 1998). Outras variáveis situacionais que aumentam a
agressão, como a exposição a programas televisivos, filmes ou videogames violentos também
o fazem via cognitiva (ANDERSON ; DILL, 2000; BUSHMAN, 1998
).
Talvez a causa mais importante da agressão humana seja a provocação interpessoal
(BERKOWITZ, 1993a
; GEEN, 2001). Provocações incluem insultos e outras formas de
agressão verbal, agressões físicas, interferência nos esforços de alguém na tentativa de se
65
chegar a um importante objetivo e coisas assim. Uma linha emergente de pesquisas preocupa-
se com a violência no ambiente de trabalho, agressão e intimidação (COWIE et al., 2001 apud
ANDERSON; BUSHMAN, 2002; FOLGER; BARON, 1996 apud ANDERSON;
BUSHMAN, 2002). Baron (1999) descobriu que a percepção de injustiça foi positivamente
relacionada à agressão no espaço de trabalho.
A frustração pode ser definida como o empecilho na obtenção de um objetivo. A maior
parte das provocações pode ser vista como um tipo de frustração na qual uma pessoa foi
identificada como o agente responsável pela falha ao tentar alcançar um objetivo. Mesmo as
frustrações que são plenamente justificadas têm mostrado aumentar agressão contra o agente
frustrante (DILL ; ANDERSON, 1995) e contra uma pessoa que não foi responsável pela
falha ao tentar alcançar um objetivo (GEEN, 1968 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002).
Pesquisas mais recentes mostraram que agressão deslocada, na qual o alvo da agressão não é a
pessoa que causou a frustração inicial, é um fenômeno sólido (MARCUS-NEWHALL et al.,
2000; PEDERSEN; GONZALES; MILLER, 2000). Se tais efeitos da frustração operam
primariamente influenciando as cognições, o afeto ou a excitação, isto ainda não é claro.
Outro estudo mostrou que mesmo condições n
ão
-sociais aversivas tais como temperaturas
quentes, barulhos altos, odores desagradáveis, aumentam a agressão (BERKOWITZ,
1993a
).
Condições aversivas agudas, como a dor produzida pela imersão de uma mão em um balde de
água extremamente gelada, aumentam a agressão (BERKOWITZ et al., 1981 apud
ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Desconforto geral, tal como o produzido por sentar-
se
numa sala quente, pode também aumentar a agressão; este efeito é mediado ativamente por
afeto negativo aumentado.
Várias drogas tais como o álcool e a cafeína podem também aumentar a agressão
(BUSHMAN, 1993 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Estes efeitos são mais indiretos
que diretos; Bushman (1997 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002) descobriu que fatores
66
facilitadores da agressão, tais como provocação, frustração, pistas agressivas, têm um efeito
muito mais forte em pessoas que estão sob a influência de drogas do que em pessoas que não
estão.
Os tipos de incentivos que podem aumentar a violência são tão numerosos quanto o
número de objetos que as pessoas querem ou desejam. Realmente, toda a indústria de
propaganda centra-se no objetivo de fazer as pessoas quererem mais coisas (KILBOURNE,
1999 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Ao aumentar o valor de um objeto, a pessoa
muda implícita ou explicitamente as proporções percebidas de custo/benefício, por isso,
aumenta a agressão premeditada e a instrumental. A aparição momentânea de um incentivo,
tal como o dinheiro deixado em cima de uma mesa, pode também influenciar a agressão de
uma forma menos premedit
ada.
c)
Processos
Variáveis
input
s influenciam o resultado do comportamento final através do
estado
-
interno atual que elas criam. Por exemplo, a característica pessoal de hostilidade e a
exposição a cenas violentas de filmes interativamente influenciam a acessibilidade a
pensamentos agressivos (ANDERSON, 1997), afeto agressivo e comportamento agressivo
(BUSHMAN, 1995 ). Os estados internos de maior interesse dizem respeito à cognição, afeto
e excitação.
Em relação à cognição, algumas variáveis
inputs
influenciam o comportamento
agressivo
ao aumentar a relativa acessibilidade de conceitos agressivos na memória. Freqüentes
ativações de um conceito resultam em torná-lo cronicamente acessível, enquanto uma
ativação situacional resulta em fazer o conceito acessível por curto período (BARGH et al.,
1988 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002; SEDIKIDES ; SKOWRONSKI, 1990). O
aumento temporário em sua acessibilidade é freqüentemente chamado de preparação. Um
67
grupo de fatores, tais como a violência na mídia, podem ativar pensamentos agressivos
(ANDERSON ; DILL, 2000; BUSHMAN, 1998).
Huesmann (1998) descreveu em detalhes o processo básico que sustenta o
desenvolvimento de enredos agressivos altamente acessíveis. Similarmente, a atribuição
hostil, característica tendenciosa, de crianças agressivas pode ser vista como instância de
enredos relacionados à hostilidade (CRICK ; DODGE, 1994; DODGE ; COIE, 1987 apud
ANDERSON ; BUSHMAN, 2002).
V
ariáveis
input
s podem também influenciar diretamente o afeto, produzindo a cena para
efeitos
posteriores de comportamentos agressivos. Por exemplo, a dor aumenta o estado de
hostilidade ou raiva (BERKOWITZ,
1993a
; ANDERSON, et al., 1998). Temperaturas
desconfortáveis produzem um pequeno aumento no afeto negativo geral e um grande aumento
no afeto agressivo (ANDERSON; ANDERSON; DEUSER, 1996a apud ANDERSON;
BUSHMAN, 2002). Exposição a filmes violentos também aumenta os sentimentos hostis
(ANDERSON, 1997; BUSHMAN, 1995 ; BUSHMAN ; GEEN, 1990 apud ANDERSON ;
BUSHMAN, 2002; HANSEN ; HANSEN, 1990 apud AN
DERSON ; BUSHMAN, 2002).
Muitas variáveis da personalidade estão ligadas ao afeto relacionado à hostilidade. Por
exemplo, a característica pessoal de hostilidade medida por escalas auto-avaliadas (como as
PANAS) é positivamente relacionada ao estado de hostilidade (ANDERSON, 1997;
ANDERSON; BENJAMIN; BARTHOLOW, 1998 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002;
BUSHMAN, 1995).
Respostas motoras expressivas são as reações automáticas que ocorrem em conjunção
com emoções específicas, principalmente na face. Mesmo na infância mais tenra, a dor
inesperada (injeções de imunização) rapidamente produz uma palidez, e uma expressão de
raiva por todo o rosto (IZARD, 1991 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Berkowitz
(
1993a
) postula que experiências aversivas ativam diretamente programas motores que vão
68
além de meras expressões faciais. Esta noção combina bem com o modelo de estrutura de
conhecimento em suas muitas estruturas de conhecimento (tais como os enredos) incluindo
tendências de ação que são ativadas uma vez que a própria estr
utura de conhecimento atingem
o limite.
Excitação pode influenciar a agressão de três modos diferentes. Em primeiro lugar, a
excitação proveniente de uma origem irrelevante pode energizar ou fortalecer as tendências
dominantes de ação, incluindo tendências agressivas. Se uma pessoa é provocada ou de outra
forma instigada a agredir no momento em que ocorre um aumento da excitação, pode resultar
em altos níveis de agressão (GEEN; O NEAL, 1969 apud ANDERSON; BUSHMAN, 2002).
Em segundo lugar, a excitação produzida por origens irrelevantes (exercícios) pode ser
rotulada erroneamente como raiva em situações envolvendo provocação, produzindo, assim,
comportamento agressivo motivado na raiva. Este processo errôneo de rotulação tem sido
demonstrado em muitos estudos de Zillmann (
1983b
), que nomeou o fenômeno de
transferência de excitação.
A teoria da transferência de excitação sugere que este tipo de efeito da excitação pode
persistir por de um longo período. Mesmo depois da excitação dissipar-se, o indivíduo pode
ma
nter uma agressividade potencial por tanto tempo quanto o rótulo autogerado de raiva
persistir. Uma terceira, e ainda não testada, possibilidade é que raramente altos e baixos níveis
de excitação podem ser estados aversivos, e podem por isso estimular a agressão do mesmo
modo como outro estímulo aversivo ou doloroso.
Um grande número de variáveis situacionais influencia tanto a excitação fisiológica
quanto a psicológica. Exercícios aumentam ambos, enquanto o álcool diminui ambos.
Interessantemente, mudanças na excitação fisiológica e psicológica nem sempre coincidem.
Altas temperaturas aumentam a freqüência cardíaca enquanto simultaneamente diminuem a
69
excitação percebida. Isto sugere que o calor pode aumentar a agressão através do processo de
excitação (AN
DERSON et al., 2000 apud ANDERSON; BUSHMAN, 2002).
Os conteúdos destes três processos são altamente interconectados. A influência das
cognições e excitação sobre o afeto é uma idéia que remonta a muitas gerações anteriores,
como em Schachter e Singer (1962 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002) e William James
(1890 apud ANDERSON; BUSHMAN, 2002). O afeto também influencia a cognição e a
excitação (BOWER, 1981 apud ANDERSON; BUSHMAN, 2002). Estudos têm mostrado
que as pessoas freqüentemente usam seu estado afetivo p
ara guiar os processos de inferência e
julgamento (FORGAS, 1992; SCHWARZ; CLORE, 1996 apud ANDERSON; BUSHMAN,
2002). Em um nível teórico, alguém pode ver o afeto como uma parte da memória semântica
que pode ser ativada via propagação do processo de ativação. Cognições hostis podem
provocar sentimentos hostis mais acessíveis e vice
-
versa.
Dessa forma, os resultados dos
inputs
entram nos processos de avaliação e decisão através
de seus efeitos na cognição, no afeto e na excitação. De acordo com Anderson et al. (1996
apud ANDERSON; BUSHMAN, 2002) os processos de avaliação e decisão estão
relacionados aos processos de explicação e atribuição.
Neste sentido os processos de explicação e atribuição se estabelecem sempre em função
da cognição, do afeto e da excitação. Assim, um relacionamento pode ser mais amoroso ou
mais agressivo de acordo com a explicação causal construída pelo percebedor na dinâmica da
relação interpessoal. Além disso, não se pode concluir que o comportamento violento deva-
se
apenas a uma causa. Como foi visto, recentes estudos sobre tal questão mostram que fatores
biológicos, ambientais, psicológicos e sociais influenciam o comportamento agressivo. Dessa
forma a violência pode ser entendida como um elemento intrínseco e fundante na constituição
do ser humano, favorecendo assim a existência de uma cultura da violência. A violência não é
apenas produto da sociedade.
70
As descobertas do Projeto Genoma Humano abrem novas compreensões do intelecto e das
emoções, mostra que a hereditariedade tem um papel no pensamento e comportamento
humano, e nos traz novos desafios. Admitir a natureza humana, não significa endossar a
violência, nem negar que a cultura não é nada. Reconhecer a natureza humana pode por os
fenômenos da cultura em seu devido lugar, sem segr
egá
-los e não implica em se obter os
resultados negativos que muitos temem. Pelo contrário podem ajudar na condução de um
humanismo realista e fundamentado na biologia (PINKER, 2004).
De qualquer maneira, pode-se falar em uma agressividade constitucional, e ao mesmo
tempo, pode-se falar também que o mundo interno é construído pela experiência externa. Em
razão a isso é fundamental descobrir como uma mulher se posiciona, diante da violência do
parceiro, procurando compreender ao mesmo tempo a permanência dessas mulheres no
relacionamento a partir das causas atribuídas por elas que estão em contato direto com a
violência do parceiro. Para tanto, o próximo capítulo abordará, o fenômeno da violência
conjugal apresentando conceitos, dados epidemiológicos, formas da violência, suas causas e
fatores que ajudam a explicar a permanência da mulher em um relacionamento conjugal
violento.
CAPÍTULO 2
VIOLÊNCIA CONJUGAL
O fenômeno da violência conjugal acontece no mundo inteiro e atinge mulheres em todas
as classes sociais, raças, etnias, graus de instrução e em quase todas as idades. Este fenômeno
tem sido conceitualizado com base na violência de gênero, também chamada violência
doméstica e violência contra a mulher.
A revisão inicial da literatura nos mostra que a violência de gênero é um fenômeno
complexo e polissêmico, começando pela diversidade de termos que se utilizam para se referir
a este tipo específico de violência. Violência contra a mulher, violência intrafamiliar,
violência conjugal, violência doméstica contra a mulher, mulher golpeada ou espancada ou
mais recentemente, violência de gênero, para citar somente alguns exemplos.
Conforme definição do Conselho da Europa, violência contra a mulher é:
Qualquer ato, omissão ou conduta que serve para infligir sofrimentos
físicos, sexuais ou mentais, direta ou indiretamente, por meio de
enganos, ameaças, coação ou qualquer outro meio, a qualquer
mulher, e tendo como objetivo e como efeito intimidá-la, puni-la ou
humilhá
-la, ou mantê-la nos papeis estereotipados ligados ao seu
sexo, ou recusar-lhe dignidade humana, a autonomia sexual, a
integridade física, mental e moral, ou abalar a sua segurança pessoal,
o seu amor próprio, ou a sua personalidade, ou diminuir as suas
capacidades físicas ou intelectuais.
(BALLON
E, 2003b, p. 2
-
3)
Segundo o Conselho Social e Econômico das Nações Unidas (1992), violência contra a
mulher consiste em "Qualquer ato de violência baseado na diferença de gênero, que resulte
em sofrimentos e danos físicos, sexuais e psicológicos da mulher; inclusive ameaças de tais
atos, coerção e privação da liberdade seja na vida pública ou privada . (IPAS e a violência
contra a mulher, 2004).
72
A Comissão da APA sobre Violência e Família (AMERICAN PSYCHOLOGICAL
ASSOCIATION
- APA, 1996) definiu violência doméstica como um padrão de
comportamentos abusivos incluindo uma ampla gama de maus tratos físicos, sexuais e
psicológicos usados por uma pessoa para conquistar poder injustamente e ou manter o abuso
do poder, controle e autoridade, definição essa que está de acordo com a ótica do gênero, que
é aceita em todo o mundo.
A violência praticada contra a mulher nessa ótica tem como base comum as desigualdades
predominantes na sociedade, e se apresenta num continuum que vai de desigualdades salariais
a tráfego in
ternacional de mulheres e meninas (BRASIL, 2003).
Existe, portanto, um nódulo na prática e na literatura em torno da demarcação da violência
doméstica e conseqüentemente em torno da violência conjugal, tanto em relação aos termos,
quanto em relação às perspectivas teóricas. A APA (1996) focalizou pesquisas em psicologia
sobre violência doméstica em áreas como: abuso de parceiros, violência em namoro, abuso
contra crianças, abuso contra idosos e adultos sobreviventes de violência infantil. Termos
como violência conjugal, violência doméstica, violência contra a mulher e violência de
gênero, são utilizados indistintamente por estudiosos e ativistas, e eles se tornam
intercambiáveis e acabam com freqüência se confundindo.
Os termos originalmente utilizados nos estudos na América do Norte para identificar
violência doméstica incluem abuso contra as esposas, violência masculina contra parceiras,
abuso de mulheres, mulheres espancadas e abuso de parceiros (
GOODMAN
et al., 1993).
Alguns autores continuam a usar o termo violência familiar sinonimamente a violência
doméstica . Muitos psicólogos norte-americanos continuam a usar o termo violência
doméstica para definir violência contra mulheres por seus parceiros, para serem mais
consistentes com as definições legais, a despeito dos problemas que surgem (WALKER,
1999).
73
Análise da literatura de pesquisa e experiência clinica em psicologia sobre violência
doméstica realizada por uma comissão da APA (1996) mostrou que cada disciplina que estuda
o problema usa diferent
es termos, para descrever violência doméstica. Isso atrasa a habilidade
de coletar estatísticas precisas devido à dificuldade de se identificar o que deveria ser
considerada violência conjugal e, por sua vez, complica a comparação de um estudo ao outro.
De
ssa forma, existem, dificuldades para a delimitação do fenômeno em questão, como foi
constatado no panorama mundial, conforme apontado pela Organização Mundial de Saúde
OMS (2002)
De acordo com Azevedo (1985); Gregori (1993); Grossi (1998); Saffioti (2002), o
conceito de violência conjugal é freqüentemente usado como sinônimo de violência doméstica
ou violência contra a mulher, em razão de ocorrer na maioria das vezes no espaço doméstico e
da violência ser perpetrada principalmente pelos homens.
Da mesma forma, as diferentes perspectivas que definem e classificam a violência contra
a mulher, freqüentemente se superpõem e se confundem, mas apontam ao mesmo tempo para
rumos diversos.
Sob uma perspectiva feminista o problema da violência conjugal é recortado pelo ângulo
do gênero e, é um problema que está ligado ao poder onde, de um lado, impera o domínio dos
homens contra as mulheres e, de outro, uma ideologia que lhe sustentação (SOARES,
1999).
Os profissionais que trabalham dentro de um enfoque de violência familiar não
compartilham a visão feminista, para eles a violência é multidirecionada, e tanto homens
quanto mulheres podem ser vítimas ou agressores. Nesses termos, a violência conjugal
adquire sentido mais abrangente no que diz respeito à luz do referencial teórico da violência
de gênero (SOARES, 1999).
74
Pode
-se dizer que o ultimo enfoque apontado, é compatível com o modelo ecológico de
violência contra a mulher, proposto pela Organização Mundial de Saúde (2002), no qual
qualquer tipo de violência é resultante de uma interligação de fatores individuais,
compreendidos pelos aspectos biológicos e de história de vida do sujeito, dos fatores de
relacionamento que caracterizam a relação entre vítima e agressor e dos fatores culturais e
ambientais, conforme
comunidade e sociedade.
Ainda sobre o problema da definição, não na literatura sobre o tema definições claras
sobre quais situações constituem e quais não constituem, violência doméstica contra a mulher.
Esta categorização tem sido, até agora, muito ma
is intuitiva do que formal (OSÓRIO, 2004).
De acordo com Osório (2004), a violência doméstica pode ser definida segundo duas
variáveis:
quem
agride, e
onde
agride. Para que a violência sofrida por uma mulher esteja
enquadrada na categoria CONJUGAL , é necessário que o agressor seja uma pessoa que
freqüente sua casa, ou cuja casa ela freqüenta, ou pessoa que more com ela
e que seja
marido, noivo, namorado, amante, etc. O espaço doméstico, portanto, se torna a segunda
variável delimitando o agressor como pessoa que tem livre acesso ele.
É interessante ressaltar ainda que até os anos de 1970, pouca atenção era dada ao papel da
violência no espaço domestico; este era um assunto quase impensável. Quando, no entanto, os
investigadores começaram a examinar a violência familiar, eles rapidamente descobriram que
ela era muito mais comum e muito mais severa do qualquer um poderia ter pensado
(BREHM, 1985)
Dada a enunciação do problema da violência conjugal, que foi mantido em segredo
durante décadas, este passou a ser reconhecido e a exigir soluções (SCHRAIBER;
D OLIVEIRA, 1999). Em um Encontro Feminista Latino-americano e do Caribe (Bogotá,
Colômbia), o dia 25 de novembro de 1981 foi declarado o Dia Internacional de Não
Violência Contra a Mulher (IPAS e a violência contra a mulher, 2004). A partir daí, Políticas
75
públicas foram implementadas para trabalhar com o problema que atualmente é considerado
crime. As Delegacias de Defesa da Mulher foram os primeiros recursos encontrados como
busca de solução à violência contra a mulher e especialmente à sua forma mais conhecida
que é a violência conjugal. O crime de violência conjugal é uma transgressão da norma social
e, enquadra
-
se na lei, sendo passível de responsabilização e punição.
Dentre os artigos do Código Penal Brasileiro (BRASIL, 1940) que descrevem a maioria
dos atos que se encaixam nos crimes de violência contra a mulher encontram
-
se:
Título I
Dos Crimes Contra a Pessoa
Homicídio Simples - Artigo 121: Matar alguém; Artigo 122: Induzir ou
instigar alguém a
suicidar
-se ou prestar-lhe auxilio para que o faça (Capítulo I
Dos
Crimes Contra a Vida)
Lesão corporal - Artigo 129: Ofender a integridade corporal ou a saúde de
outrem
(Capítulo II
Das Lesões Corporais)
Calúnia
- Artigo 138:
Caluniar alguém, imputand
o-
lhe falsamente fato definido
como crime; Artigo 139: Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua
reputação;
Artigo 140: Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro
(Capítulo V
Dos Crimes Contra a Honra)
Constrangimento ilegal
Artigo
146:
Constranger alguém, mediante violência
ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a
capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não
manda;
Artigo 147: Ameaçar alguém por palavra, escrito ou gesto, ou por qualquer
outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave; Artigo 148: Privar alguém
de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado (Capítulo VI
Dos Crimes
Contra a Liberdade Individual: Seção I
-
Dos Crimes Contra a
Liberdade Pessoal)
76
Título II Dos Crimes Contra o Patrimônio
Dano
Artigo 163: Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia
(Capítulo IV
Do Dano)
Título IV
Dos Crimes Contra os Costumes
Estupro
Artigo 213: Constranger mulher à conjunção carnal, mediante
violência ou grave ameaça; Artigo 214: Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso
da conjunção carnal
(Capítulo I
Dos Crimes Contra a Liberdade Sexual).
No Brasil, a lei 9.099/95 do Código Penal determina que a violência contra a mulher é
crime doloso e estabelece penas alternativas para condenações. Estas penas são aplicadas aos
agressores de mulheres e tem sido pago em dinheiro ou cesta básica.
Esses crimes contra a mulher podem ser de Ação Penal Pública (quem oferece denuncia é
o Promotor de Justiça) ou Privada (a ação penal é encaminhada pela vítima). A lei 9099/95
que disciplina os delitos de pequeno potencial ofensivo, como lesão corporal leve e ameaça,
dep
ende da representação criminal da vítima contra o agressor.
Além disso, violência conjugal é reconhecida pela Constituição Federal do Brasil em seu
parágrafo 8º., Artigo 226: O Estado assegurará assistência à família, na pessoa de cada um
dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito das relações . O
Brasil é signatário de vários acordos internacionais que remetem, direta ou indiretamente, à
questão do abuso, da agressão ou violência conjugal. O primeiro relatório apresentado à
Or
ganização das Nações Unidas (ONU) sobre o cumprimento do Brasil à convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (CEDAW, 1981 apud
BRASIL, 2003), destaca o compromisso do Brasil com o Programa de Prevenção, Assistência
e
Combate à Violência Contra a Mulher. Em janeiro de 2003, foi constituída a Secretaria
77
Especial de Políticas para Mulheres
SPM, da presidência da República, com status de
ministério, como referência governamental de elaboração e execução de políticas e
ar
ticulações da igualdade de gênero no governo federal. A Secretaria constituída, reafirma o
compromisso firmado no primeiro relatório acima citado apresentado à ONU.
Vários acordos internacionais, como, por exemplo, a Declaração da Eliminação da
Violência
Contra a Mulher , aprovado na Assembléia Geral das nações Unidas em 1993
(SÃO PAULO, s. d.), evidenciam a magnitude do problema, que e em todas as suas formas
pode ter implicações para a saúde física e psíquica da mulher, tendo tanto efeitos de longo,
quan
to de curto prazo.
A ONU em 1993 buscando unificar critérios estabeleceu o termo Violência Contra as
Mulheres , que tem por base o gênero (OMS, 2002).
Neste trabalho o termo foi adotado de acordo com uma categoria mais ampla, presumindo
que tanto homens quanto mulheres podem ser vítimas ou agressores, e sendo compreendida
como relação de união estável formal ou informal, incluindo namoro. Neste sentido, violência
conjugal será conceituada como Ato agressivo perpetrado pelo parceiro(a) intimo(a), que
determ
ina dano físico, moral, psicológico ou econômico, através da força ou da coação, que
se produz de uma forma contínua através do tempo. O conceito encerra o sujeito violento e o
sujeito violentado, sua reiteração no tempo e suas conseqüências imediatas e dr
amáticas.
Finalizada a discussão relativa ao conceito de violência conjugal, a seguir serão
apresentados dados epidemiológicos de vários paises incluindo o Brasil.
2.1 Dados epidemiológicos da violência conjugal no exterior e no Brasil
78
milhares de mulheres que sofrem de alguma forma de violência nas mãos de seus
maridos, noivos e namorados a cada ano. São muito poucas as que contam a alguém, seja um
amigo(a), um familiar, um vizinho(a) ou à polícia. Essas mulheres provêm de vários estilos de
vida, culturas, grupos, idades e religiões. Todas partilham de sentimentos de insegurança,
isolamento, medo e vergonha.
De acordo com a Avaliação Nacional sobre Violência em Família (National Family
Violence Survey)
um estudo feito com uma amostragem nacionalmente representativa de
famílias americanas, desenvolvido pelos sociólogos Murray Straus, Richard Gelles e Suzanne
Steinmetz de New Hampshire (1980)
em mais de um, de seis lares americanos, um cônjuge
agrediu fisicamente seu (sua) parceiro(a) pelo menos uma vez durante o ano de 1975
(STRAUS; GELLES; STEINMETZ, 1980).
Dados produzidos e divulgados nos Estados Unidos, onde a violência doméstica é
abundantemente pesquisada e quantificada, são eloqüentes: a cada quinze segundos uma
mulher é vítima de agressão; cerca de dois milhões de mulheres são anualmente, vítimas de
agressões graves (STRAUS; GELLES; STEINMETZ, 1980; STRAUS,1993) e a cada quatro
dias mulheres são assassinadas por seus parceiros ou ex-parceiros, o que significa mil e
quatrocentas mulheres mortas, por ano, nestas condições (SOARES, 1999). Nos Estados
Unidos, violência no lar é a maior causa isolada de ferimentos em mulheres, responsável por
mais internações hospitalares do que estupros, assaltos e acidentes de trânsito juntos .
(GRANT, 1995, p
.25).
No Japão , a associação de investigação sobre a violência conjugal concluiu no ano de
1993, que 78,5% das mulheres que vivem com seus maridos ou companheiros sofrem maus
tratos. Destas, mais da metade foram vítimas de golpes no rosto. No entanto, menos que 5%
denunciaram a violência sofrida (CAMPAÑA INTERAGENCIAL CONTRA LA
VIOLENCIA HACIA LAS MUJERES Y LAS NIÑAS, 1998).
79
Calcula
-se que 40% das mulheres assassinadas no Canadá foram vítimas de homicídio
pelo parceiro de relações amorosas e sexuais estáveis (THE TORONTO STAR
,
1996 apud
WILLIAMS, 2004). Nos Estados Unidos esta porcentagem salta para 52%
(MEICHENBAUM, 1994) e no Brasil a incidência de homicídios femininos pelo parceiro é
mais alta ainda, sendo cerca de 66% (MACHADO, 1998).
Segundo informe divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em novembro de
2002, quase metade das mulheres que morrem por homicídio no mundo é assassinada por seus
maridos ou ex-companheiros. A violência causa aproximadamente 7% dos problemas de
saúde das mulheres entre 15 e 44 anos. Além de destruir centenas e milhares de vida, a
violência contra a mulher causa lesões físicas, dores crônicas, depressão, comportamentos
suicidas. (BALONE ; ORTOLANI IV, 2003b).
Segundo a Organização Mundial de Saúde
(2002),
foram agredidas fisicamente por seus
parceiros entre 19% a 52% das mulheres da América Latina em algum momento de sua vida,
enquanto que na Suíça, Canadá, e Nova Zelândia e outros países industrializados essas taxas
variam entre 20 e 29% .
Dados epidemiológicos da violência contra a mulher são bastante expressivos. Na
verdade, em 1989 o Worlwatch Institute declarou a violência contra a mulher como sendo o
tipo de crime mais freqüente do mundo (MEICHENBAUM, 1994).
Estatísticas dão uma noção da prevalência ao redor do mundo e principalmente em alguns
países do continente americano, ainda que com importantes diferenças metodológicas de
coleta de dados.
80
País e autor
Amostra
Tipo de
amostra
Achados
Canadá
(Statistics Canada,
1993)
2.300 mulheres de 18
anos ou mais
A
mostra
nacional
representativa
25% das mulheres (29% das
que alguma vez foram
casadas) informam haver sido
atacadas fisicamente por
companheiro atual ou anterior
desde os 16 anos de idade
Chile
(Larrain,1993)
1.000 mulheres entre 22
e 55 anos em Santiago
envolvidas em uma
relação por 2 ou mais
anos
Amostra
aleatória
estratificada
60% foram abusadas por
companheiro, 26,2% foram
fisicamente abusadas
Colômbia,
1990
3.272 mulheres urbanas;
2.118 mulheres rurais
Amostra
nacional
representativa
20% abusadas fi
sicamente,
33% abusadas
psicologicamente, 10%
estupradas pelo marido
Nicarágua,
Leon (Ellsberg et
al., 1998)
488 mulheres de 15 a 49
anos
Amostra
representativa
52% de violência física
EUA, 1986
2.143 casais
oficialmente casados ou
coabitando
Amostra
pro
babilística a
nível nacional
28% reportam ao menos um
episódio de violência física
QUADRO 1
-
Estatística da Prevalência da Violência Contra a Mulher em Países do
Continente Americano.
FONTE: Adaptado de Heise et al.(1994 apud SCHRAIBER ; D OLIVEIRA, 199
9)
Embora se tenha que ter cuidados com os resultados de pesquisas epidemiológicas, por
diversas razões metodológicas, estima-se que um quarto das mulheres de todo o mundo seja
vítima da violência em seus próprios lares (
WILLIAMS
, 2004). Dados específicos de cada
país apresentam altas diferenças entre seus índices
até 50% na Tailândia, 60% em Papua,
Nova Guiné e Coréia e 80% no Paquistão e no Chile (GRANT,1995).
No Brasil, conforme o Informe Nacional sobre a Situação da Violência de Gênero contra
as Mulheres de dezembro de 1998, a única pesquisa nacional sobre violência no país,
elaborada através de metodologia que permite comparabilidade, foi produzida em 1988 pelo
IBGE, no âmbito da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD). Esse suplemento
mos
trou que no conjunto das vítimas de agressões físicas (lesões corporais), cerca de 44,77%
81
eram mulheres. As grandes diferenças entre vítimas mulheres e vítimas homens dizem
respeito ao autor e ao local de ocorrência da agressão. Para as mulheres, 63% das a
gressões
foram majoritariamente praticadas por parentes e conhecidos, na maioria homens do círculo
afetivo da vítima (CAMPAÑA INTERAGENCIAL CONTRA LA VIOLENCIA HACIA
LAS MUJERES Y LAS NIÑAS, 1998).
A Câmara dos Deputados divulgou pesquisa feita de janeiro de 1991 a agosto de 1992,
apresentando um quadro de distribuição por tipo de violência registrada contra a mulher no
país, onde se destacam os crimes de lesão corporal, ameaças e estupros como os mais
recorrentes.
Tipo de crime cometido
contra a mulher
R
epresentatividade no
conjunto da criminalidade contra
a mulher
Lesão corporal
26,2%
Ameaças
14,4%
Estupro
1,8%
Homicídios
0,5%
Outros
60%
QUADRO 2
-
Dados da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Violência contra a
Mulher, 1991
-
1992.
FONTE: Campaña
Interagencial Contra La Violencia Hacia Las Mujeres Y Las Niñas
(1998).
Na ausência de dados estatísticos nacionais oficiais sistematizados e mais atualizados, os
únicos dados existentes são oriundos de organizações não governamentais ou das Secretarias
de Segurança Pública dos estados brasileiros.
No estado de Minas Gerais, dados da Delegacia da Mulher de Belo Horizonte apresentam
a magnitude das ocorrências mais comuns da violência contra a mulher: lesões corporais,
ameaças e estupro.
82
Tipos
1998
Lesã
o corporal dolosa
2.296
Estupro
410
Ameaças
1.573
Total
4.279
QUADRO 3
-
Dados Estatísticos sobre Violência contra a Mulher
Belo Horizonte
FONTE: Campaña Interagencial Contra La Violencia Hacia Las Mujeres Y Las Niñas,
(1998).
O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) apresentou dados que mostram
411.213 mulheres vítimas de agressões leves e graves em 1999. Comparando-se esse mero
aos 123.131 registros obtidos pela CPI da Violência contra a Mulher em 1993, percebe-se um
aumento de 70% em apenas seis anos. Entre esses casos, a lesão corporal foi o crime mais
denunciado por mulheres, 113.727 ocorrências, sendo seguida pelos maus tratos psicológicos
com 107.999 casos (BRIGA de marido e mulher: chegou a hora de meter a colher, 2004).
A Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (BRASIL, 2003) aponta que o número
estimado de mulheres que relatam ter sido agredidas por seus maridos ou companheiros é de
300.000 mulheres a cada ano. Conforme Heise (1994) mais da metade das mulheres
assassinadas
no Brasil foram mortas por seus companheiros íntimos.
De acordo com a pesquisa A mulher brasileira nos espaços públicos e privados , que
entrevistou 2502 mulheres, distribuídas em uma amostra estratificada por cotas de idade e
áreas urbana e rural de 24 Estados brasileiros, realizada pela Fundação Perseu Abramo (FPA)
em 2001, calcula-se que perto de 6,8 milhões de mulheres foram espancadas ao menos uma
vez na vida (11%), sendo a projeção da taxa de espancamento anual de 2,1 milhões. Estima
-
se
ainda que quatro mulheres sejam espancadas por minuto, uma em cada quinze segundos
(AGRAVAMENTO da violência de gênero, 2004). Os resultados da referida pesquisa
indicam que dentre as formas mais comuns de violência destacam-
se os tapas e empurrões, ou
seja, as agressões físicas mais brandas (20%); a violência psíquica como xingamentos e
83
ofensa à conduta moral com 18%, e as ameaças indiretas através de quebra de objetos e de
roupas rasgadas com 15%. As agressões físicas mais graves que provocam marcas, cortes ou
fra
turas foram relatadas por 11% das mulheres que sofreram espancamento (LIANE ;
ROVINSKI, 2004).
De acordo com a pesquisa apresentada pela FPA ainda é muito pequeno o número de
mulheres que denunciam a ocorrência da violência, e na maioria dos casos, somente quando a
violência atinge meros extremos. Segundo a pesquisa, 55% das denúncias informais se dão
por ameaça à integridade física; 53% por espancamento; 46% por ameaça de espancamento;
44% tapas e empurrões e 43% insinuações e xingamentos que ofendem a conduta moral. Já as
denuncias oficiais registradas em Delegacias de Polícia e da Mulher caem para 31% ameaça à
integridade física; 21% para espancamento com marcas, fraturas ou cortes e 19% para
ameaças de espancamento da própria mulher e dos filhos. (
VIOL
ÊNCIA
contra a mulher: o
inimigo dorme ao lado, 2004).
O índice assustadoramente alto da violência conjugal faz com que a própria casa da
mulher seja o local em que ela mais corre perigo: é de senso comum o fato de que os homens
morrem nas ruas e as mulhe
res morrem em casa. (BANDEIRA, 1998, p.68).
Apesar das Delegacias de Defesa da Mulher (DDM s) e do aumento de denúncias que elas
propiciaram, a impunidade continua e muitos processos não são instaurados, poucos chegam a
julgamento e o mero de condenados é ínfimo. A retirada da queixa, procedimento muito
comum, atinge cerca de 70% dos registros (BRANDÃO, 1996), e este é um fato recorrente
que vem minando a credibilidade da estratégia, que reforça o mito de que as mulheres não
querem mudar a sua situação e gostam de apanhar .
De acordo com Schraiber e D Oliveira (1999), as mulheres que procuram a DDM têm
uma visão global de seu problema, e dão um sentido bem mais complexo do que os crimes
tipificados em lei, como a lesão corporal. A agressão física para algumas delas pode não ser o
84
problema, já que a perturbação da ordem familiar indicada por elas pode ser bem mais
importante. Brandão (1996) nota, entretanto, que logo que as mulheres pesquisadas percebem
que sua queixa não pode ser reconhecida pela instituição policial, tratam de tentar adequar
sua demanda à linguagem jurídica do crime, denunciando, por exemplo, uma ameaça , para
legitimar a reclamação de um marido que está perturbando a ordem doméstica, que o
problema assim enunciado não se
enquadra em nenhum crime previsto em lei.
Considerando a expressividade dos números, e por mais objetiva que seja a pesquisa sobre
a violência conjugal, esta não consegue abranger a totalidade do fenômeno, posto que
os
dados subestimam a verdadeira extensão do problema. Contudo, uma compreensão mais
ampla pode ser adquirida ao tratar dos vários tipos de abuso que acontecem em
relacionamento íntimos.
2.2 Formas de abuso e agressão
Neste trabalho, um ponto preliminar importante, diz respeito aos termos abuso e
agressão que serão empregados de forma intercambiáveis ou equivalentes. Existem,
contudo, autores que fazem uma diferença entre esses termos, que também são objetos de
debates e disputas, como considerado no capítulo 1. Aqui, eles serão utiliza
dos
para se referir
a tentativas deliberadas de ferir alguém física, psicológica, sexual e economicamente. Desta
forma eles não estão envolvendo atos de omissão, a não ser que a motivação seja prejudicar.
O comportamento abusivo causa nos parceiros íntimos, e freqüentemente em outras
pessoas, sofrimento e injúrias emocionais e/ou físicas. Em casos extremos, comportamentos
abusivos terminam em mortes de um ou dos dois parceiros. Abusos não-letais podem cessar
85
quando o relacionamento acaba. No entanto, freqüentemente, o abuso continua ou piora
quando o relacionamento termina. Isto pode acontecer tanto se o relacionamento termina por
vontade de um dos parceiros quanto se termina por consenso.
Há diversas formas de abuso que ocorrem entre parceiros conjugais, tais como o físico e o
psicológico. É freqüente o caso em que dois ou mais tipos ocorram no mesmo
relacionamento.
Tolman (1992), no entanto, sugere que de alguma maneira pode ser
superficial separar o abuso psicológico das formas físicas de abuso, dado que a
s formas físicas
de abuso também infligem danos emocionais e psicológicos às vítimas. Entretanto, também é
possível que qualquer um destes tipos de abuso ocorram separadamente. Na verdade, o abuso
emocional ocorre freqüentemente na ausência dos outros tipos de abuso. Por isso, apesar de
algumas coincidências conceituais e empíricas, as várias formas de abuso também são
separáveis conceitualmente e empiricamente. Além disso, os tipos de abusos são
freqüentemente tratados separadamente pela comunidade científ
ica.
A fim de otimizar o entendimento das formas de abuso e agressão elas serão desdobradas
em quatro categorias relacionais, a saber: abuso emocional, abuso
físico, abuso
sexual e abuso
econômico.
2.1.1
-
Abuso emocional.
O abuso emocional é também chamado abuso ou agressão psicológica, abuso ou agressão
verbal, abuso ou agressão simbólica e abuso ou agressão não física.
Straus (1979, p. 77) o conceitua como sendo o uso de atos verbais e não-verbais que
ferem simbolicamente outra pessoa, ou o uso de
ameaças para ferir outra pessoa
. Shepard e
86
Campbell (1992, p. 291) consideram que o abuso emocional compreende comportamentos
que podem ser usados para aterrorizar a vítima... que não envolvam o uso de força física.
Gondolf (1987), argumenta que este é um processo que provoca a influição direta de danos
mentais através de ameaças ou limitações contra o bem-estar da vítima. Para Loring (1994,
p.1), este é: [...] um processo contínuo no qual um indivíduo deprecia sistematicamente e
destrói o círculo pessoal de outra pessoa. As idéias essenciais, sentimentos, percepções e
características da personalidade da vítima são constantemente depreciados.
Pode
-se assim dizer que o abuso emocional ameaça os limites do bem estar da vítima,
aterroriza e provoca danos mentais. É um processo em que o agressor sistematicamente
diminui e destrói o self do outro. As percepções, e as características essenciais da
personalidade da vítima são reduzidas constantemente.
A violência psicológica ou agressão emocional é tão ou mais prejudicial que a física. É
caracterizada por rejeição, depreciação, humilhação, desrespeito e punições exageradas.
Trata
-
se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa
cicatrizes indeléveis para toda a vida. O abuso psicológico/emocional é considerado uma
forma importante de abuso porque muitas mulheres relatam que é tão ou mais danoso que o
abuso físico que elas sofrem (
Follingstad
et al., 1990;
Walker, 1984
).
Em relacionamentos violentos, o agressor encontra múltiplas formas de subjugar sua
vítima. Segundo Miller (1999), são diversas as técnicas de abuso psicológico, descritas a
seguir.
Para a autora, as finalidades do abuso psicológico, conscientes ou não, são abalar a
segurança da mulher com relação ao raciocín
io lógico em que ela se baseou durante toda a sua
vida.
Num relacionamento abusivo, a mulher é visivelmente submetida a um condicionamento
operante: mesmo não gostando, ela está condicionada a antecipar aquilo que agradará ao
87
marido, que não o irritará. O que o marido abusivo faz muitas vezes é desvirtuar o sistema de
causa e efeito sobre o qual vivem, determinando um sentimento de auto
-
perda e de confusão.
O homem psicologicamente abusivo pode, também, tentar controlar a mulher por meio de
propaganda em relação à auto-imagem dela. Assim, dia após dia ele utiliza palavras de baixo
calão para referir
-
se a ela. Maximiza os erros da mulher e os cria quando não os encontra. Aos
poucos a propaganda do homem é enraizada profundamente na auto
-
percepção da mulher.
A lavagem cerebral é outro meio de abuso psicológico. Esse método consiste em subjugar
a mente da pessoa, pelo controle coercivo à sua vontade. Para isso, destrói
-
se a saúde e a força
da pessoa oferecendo apenas o alimento suficiente para a sua sobrevivência, privando-a de
sono adequado, isolando-a completamente do meio social em que vive, submetendo-a as
idéias de que se quer introjetar de forma repetida e finalmente mantendo-a sob ansiedade
constante, acabando por submeter-se ao apoio do capturador. Alter
na
-se o abuso verbal com a
bondade e a fúria com a proteção, com o intuito de desequilibrar a pessoa completamente. Os
maridos abusivos adaptam as técnicas de lavagem cerebral para manipular a vontade da
esposa.
Manter a mulher em estado de ansiedade é outro método utilizado para o controle
psicológico. O homem toma providências para que ela nunca tenha certeza se ele irá
machucá
-la, se os seus esforços irão agradá-lo, enfurecê-lo, ou se pode cumprir suas ordens
adequadamente. A incerteza é uma maneira de
desestabilizar a mulher psicologicamente.
Outra forma de criar ansiedade é o uso de ameaças. O homem faz-se assustador e de
forma sutil desestabiliza
-
a através de ameaças que nunca se sabe se serão verdadeiras ou serão
irreais. A ameaça pode ser dirigida a
os pais da mulher, aos filhos, etc.
A privação do sono é comum. Homens não acordam as mulheres à noite como também
muitos forçam
-
na a manter relações sexuais a noite inteira. Assim, a saúde e a força da mulher
aos poucos é deteriorada e praticamente destruída. Destrói-se a saúde tanto física como
88
mental. Mulheres que se convencem ser loucas aos poucos deixam de comer, entram em
depressão e perdem toda a esperança de obter saúde mental. A mulher enfraquecida pela
doença torna
-se cada vez mais suscetível à
s influências do marido abusivo.
O cativeiro psicológico é outro tipo de abuso. Diferentemente dos seqüestros em que a
pessoa fica confinada a um recinto, o marido psicologicamente abusivo mantém a mulher
presa pelo desamparo aprendido, um estado mental no qual a mulher é incapaz de resistir às
pressões manipuladoras do homem. Alguns profissionais se opõem à tese do desamparo
aprendido, admitem, no entanto que a mulher vítima de abuso psicológico entra em depressão
clínica, com sintomas semelhantes ao desamparo aprendido: perda de iniciativa, resignação,
incapacidade para lidar com as tarefas mais simples do dia-a-dia. Estando completamente
desorientada, a mulher busca apoio na parede mais próxima: o próprio homem que a levou
para o mundo da confusão. Dessa maneira a depressão é a única saída encontrada pela mente
para escapar da morte psicológica, torna
-
se, portanto, uma fuga para a sobrevivência.
O isolamento da mulher de todos os seus ambientes sociais também é outra técnica de
abuso psicológico. Esta pod
e ser considerada uma sub categoria do abuso emocional, podendo
ser distinguida por seu foco em interferir e destruir ou danificar a rede de apoio social da
vitima, e fazê-la inteiramente, ou amplamente dependente do parceiro abusivo para obter
informações
, interações sociais e satisfação de necessidades emocionais. O isolamento social
aumenta o poder do agressor sobre a vítima, mas também o protege. Se a vítima não tem
contato com outras pessoas o agressor terá uma probabilidade menor de ter que enfrentar
conseqüências legais ou sociais que podem encerrar o relacionamento.
Rompem
-se ligações com os amigos da mulher, com seus familiares e proíbem-na de ter
emprego. Assim, pelo isolamento torna-se impossível a reconstrução de sua auto-imagem e
fica mais fácil o controle mental por parte do homem abusivo. O objetivo do isolamento
social é o controle. O confinamento é a maneira mais fácil de disciplinar o outro porque
89
através dele perde-se as próprias forças para resistir e também não se pode recorrer a forças
externas. O isolamento gera o desespero. A forma de o homem isolar a mulher baseia-se na
manipulação e arranjo de situações, tais como: proíbem-se os jantares de domingo, muda-se o
local do encontro e aos poucos a afasta de sua família. Articulando as situações, desmarcando
compromissos, cortando as reuniões de amigos, o homem socialmente abusivo passa a reduzir
o mundo da mulher a seu único mundo, obrigando-a a relacionar-se somente com os amigos
dele.
Se a manipulação não funciona, o homem usa o despotis
mo e dá ordens. Ele pode também
recorrer à intimidação para exercer o controle ameaçando-a de espancá-la, matá-la, seqüestrar
os filhos, etc. Somente o medo permite a manutenção do controle, não necessitando que o
homem cumpra nenhuma dessas ameaças e, des
sa maneira, consegue isolá
-
la como deseja.
Devido à autonomia que é possível atingir-se por meio do trabalho, muitos maridos não
permitem que suas mulheres trabalhem. Já a escola representa outra ameaça ao
relacionamento abusivo, porque permite à mulher derrubar a parede do isolamento construída
pelo homem, uma vez que adquirindo conhecimento, ela pode facilmente tornar-
se
independente financeiramente do marido, podendo arrumar empregos e se auto
-sustentar.
O isolamento também se por meio de privação da liberdade. O ato de trancar a mulher
fora ou dentro de casa é muito usado pelo homem socialmente abusivo principalmente quando
ela viola alguma regra imposta. Outro meio de vingança utilizado caso haja desobediência é
privação do carro, mbolo associado à liberdade, tirando toda a gasolina, cortando fios do
sistema de partida, escondendo as chaves, ou furando o pneu.
Outros comportamentos que podem levar ao isolamento social incluem: agir com ciúmes
ou com suspeitas em relação aos contatos sociais da vítima; monitorar o tempo e aonde a
parceira vai; restringir o uso do telefone; agir de forma que visa colocar outras pessoas contra
90
a parceira; evitar que a parceira busque ajuda médica ou outros tipos de ajuda e ameaçar a
vida ou bem estar de outras pessoas
com quem a parceira tem contato.
Para Russell (apud MILLER, 1999), o abuso emocional inclui o abuso social e
psicológico, e assemelham-se às técnicas coercitivas. O controle coercitivo assume o mesmo
padrão da lavagem cerebral antes discutida e pode se tornar um outro meio de exercer o
controle do abuso não
-
físico.
A violência verbal normalmente se concomitante à violência psicológica. Em
decorrência de sua menor força física, a mulher tende a se especializar na violência verbal,
mas de fato, esse tipo d
e violência não é de monopólio das mulheres (BALONE; ORTOLANI
IV, 2003b).
Por razões psicológicas íntimas, algumas pessoas utilizam a violência verbal
infernizando a vida de outras, querendo ouvir, obsessivamente, confissões de coisas que não
fizeram. At
ravessam noites nessa tortura verbal sem fim.
Este tipo de violência existe até na ausência da palavra, ou seja, até em pessoas que
permanecem em silêncio. O agressor verbal, ao ver que um comentário é esperado para o
momento, se cala, emudece e, evidentemente, esse silêncio machuca mais que se tivesse
falado alguma coisa.
Sendo assim, a arte do agressor está, nesses casos, exatamente, em demonstrar que tem
algo a dizer e não diz.
As ameaças de agressão física ou de morte, bem como as crises de quebra de
utensílios,
mobílias e documentos pessoais, também são consideradas violência emocional, pois não
houve agressão física direta.
Dutton e Painter (1993); Loring (1994) consideram que o abuso emocional estabelece e
mantém toda a dinâmica do abuso no relacio
namento.
91
2.1.2
-
Abuso físico
Também chamado de agressão ou abuso físico, violência ou abuso do parceiro íntimo,
violência conjugal, doméstica, marital, no namoro ou no flerte. A agressão física no contexto
das relações íntimas tem sido definida como atos carregados com a intenção, de causar dor
ou injúrias físicas contra outra pessoa (STRAUS ; GELLES, 1986). Violência física é o uso
da força com o objetivo de ferir, deixando ou não marcas evidentes. Segundo Soares (1999),
no abuso físico são comuns: bater, esbofetear, empurrar, chutar, socar, queimar, sufocar,
impedir de sair de casa, usar instrumentos contundentes, tais como armas e facas. Além desses
aspectos apontados por Soares, o agressor pode ainda causar queimaduras por objetos e
líquidos quente
s.
Os ataques físicos do agressor podem variar desde ferimentos até assassinatos. Começam
freqüentemente com comportamentos como ameaças, xingamentos, violência na presença da
vítima, como esmurrar uma mesa ou uma parede, e danos a objetos e animais. Podem
chegar a
privações, empurrões, dar um tapa ou um soco, atos dos quais procura se desculpar
inicialmente. A agressão pode incluir esfaqueamento, pontapés, mordidas, jogar a vítima no
chão. Finalmente, pode chegar a tal ponto que representa ameaça à vida ou ferimentos sérios,
como fraturas (ENTENDENDO a agressão, 2004). Pode ocorrer somente uma vez ou
esporadicamente e raramente em um relacionamento, mas em muitos relacionamentos é
repetitivo e crônico e aumenta em freqüência e severidade através do tempo. P
assa
-se assim
de agressões físicas leves, que aumentam e tornam
-
se ataques mais freqüentes e sérios.
O abuso do álcool e drogas é um forte agravante da violência física. A embriaguez é um
estado onde a pessoa que bebe pode tornar-se extremamente agressiva, às vezes nem
lembrando com detalhes o que tenha feito durante essas crises de furor e ira Nesses casos,
92
além das dificuldades práticas de coibir a violência, geralmente porque quando o agressor não
bebe é excelente pessoa , segundo as próprias esposas, ou porque é o esteio da família
(BALLONE; ORTOLANI IV, 2003b).
Também portadores de Transtorno Explosivo da Personalidade são agressores físicos
contumazes. Vale lembrar que estes dois tipos de transtorno podem ser tratados (BALLONE;
ORTOLANI IV, 2003b).
Outros fatores que podem intensificar o abuso físico estão associados a fatores
estressantes, como tensões no trabalho, desemprego, privações, doenças graves etc, e também
a fatores situacionais, como presença de crianças ou adolescentes, gravidez e eventos
associados a altos níveis de emoções desagradáveis e a frustração em relação ao agressor, até
mesmo feriados ou esportes televisionados podem influenciar a severidade e a freqüência do
abuso (
WALKER, 1994).
2.1.3
-
Abuso sexual
Caracteriza
-
se pela açã
o que inclui comportamentos que se encaixam nas definições legais
de estupro e ataques físicos a partes sexuais do corpo de uma pessoa e, a fazer demandas
sexuais excessivas, com as quais a parceira não está confortável (MARSHALL, 1992;
SHEPARD;
CAMPBELL
,
1992).
Também é definido como incluindo:
[...] sexo sem consentimento, ataque sexual, estupro, controle sexual
sobre os direitos reprodutivos e todas as outras formas de
manipulação impetradas pelo abusador com a intenção ou intenção
percebida de causar degradações emocionais, sexuais e físicas a
outra pessoa.
(
ABRAHAM, 1999, p. 592).
93
De acordo com Walker (1994), o abuso sexual dentro do contexto de uma relação de
espancamento inclui uma variedade de atividades coercitivas como gestos sexuais
indesejado
s, insistência em manter contato sexual forçado, violação dos genitais, seios ou
ânus da mulher.
O abuso sexual em relações onde existe violência ocorre tipicamente nas dimensões
físicas e psicológicas, mas não necessariamente ao mesmo tempo. Mulheres normalmente se
entregam às demandas sexuais do homem numa tentativa de evitar mais violência física,
apesar de não ser incomum que afirmem ter experiências sexuais positivas com o mesmo
homem que, em certos momentos as força a atos indesejados. A mulher normalmente é
incapaz de prever se, num dado momento, ocorrerá um ato positivo ou negativo (WALKER,
1994).
Assim, considera-se violência sexual a ão que obriga uma pessoa a manter contato
sexual ou a participar de relações sexuais com o uso da força, intimidação, coerção,
chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule ou limite
a vontade pessoal. Considera-se também como violência sexual o fato de o agressor obrigar a
vítima a realizar atos sexuais com terceiros. Consta do Código Penal Brasileiro que: a
violência sexual pode ser caracterizada de forma física, psicológica ou com ameaça,
compreendendo o estupro, a tentativa de estupro, a sedução, o atentado violento ao pudor e o
ato obsceno (DOSSIÊ Violência contra a mulher, 2004).
Ataques físicos pelo agressor são acompanhados freqüentemente por ou culminam em
violência sexual em que a mulher é forçada a ter relações sexuais com o agressor ou até
mesmo a participar em atividade sexual não desejada (ENTENDENDO a agressão, 2004).
94
2.1.4
-
Abuso econômico
Ainda, segundo Miller (1999) outra forma que o homem tem de exercer controle sobre a
mulher é através da supressão econômica. Esta forma de abuso pode ser considerada uma
subcategoria de abuso emocional uma vez que ele exerce muito das mesmas funções do abuso
emocional e tem alguns dos mesmos efeitos emocionais nas vítimas. No entanto, ele pode ser
distinguido por seu foco em evitar que a vítima possua ou mantenha qualquer tipo de auto-
suficiência financeira ou recursos e forçar uma dependência material da vítima em relação ao
parceiro abusivo. Assim, este comportamento intenciona fazer com que a vítima dependa
inteiramente do parceiro abusivo para suprir suas necessidades materiais básicas como
comida, roupas e abrigo ou para suprir os meios de satisfazê-las. Cabe ainda o esclarecimento
de que o desejo de isolar a vítima das outras pessoas também pode ser um dos motivos para o
abuso econômico. Alguns comportamentos que podem levar uma vítima de abuso à
dependência material do abusador foram listados na categoria Abuso Emocional, mas não
se limitam a eles.
O homem economicamente abusivo oferece quantias tão pequenas de dinheiro que a
mulher é forçada a pedir mais. A humilhação aqui é a arma do controle. Torna a mulher
completamente
dependente e a deixa indefesa. Muitos nem sequer dão qualquer quantia à
mulher, a qual permanece sem saber o quanto ele ganha e o porque, tendo uma vida financeira
aparentemente boa, o marido ainda se recusa a dar condições melhores para a criação dos
pró
prios filhos
.
Geralmente, o homem economicamente abusivo, ao casar, toma posse das economias da
mulher dizendo que vai administrar o dinheiro. Nesse caso, o homem não proíbe a mulher de
trabalhar, mas exige dela o suplemento mensal de dinheiro em sua conta. O homem
95
economicamente abusivo exerce o controle deixando claro que pode privar sua mulher a
qualquer momento do lar, de alimentos e roupas, tornando-a submissa com uma única
alternativa de ir para as ruas.
Em síntese, devido às circunstancias em que o abuso e a agressão ocorrem, e a freqüente
dependência da vítima de seu agressor, de forma geral, a vítima os mantém em sigilo, e tem
ainda grande dificuldade para denunciá
-
las.
Diante das várias modalidades do abuso, coloca-se ainda a questão das conseqüências do
abuso.
Ao sofrimento pessoal decorrente das várias modalidades do abuso, somam-se prejuízos
orgânicos e psíquicos, com graves conseqüências nas relações interpessoais, na família e no
ambiente social. Além disso, a esses danos, também se associam perdas ou danos materiais e
econômicos.
Camargo (2000) ao estudar as repercussões da violência nas mulheres revela que as
ocorrências mais freqüentes são os traumas, principalmente o neurológico, por pancada na
cabeça, queda ou empurrões; a gravidez indesej
ada, as doenças sexualmente transmissíveis; as
hemorragias, lesões e infecções ginecológicas e urinárias; os distúrbios gastrintestinais que se
cronificam, e os danos psicológicos causados pelo estresse constante, que podem levar à
depressão e ao suicídio.
De acordo com Cascardi; Langhinrichsen; Viviam (1992) a agressão dos homens contra
suas parceiras está associada a uma abundância de conseqüências psicológicas e físicas
negativas para as mulheres. Segundo esses autores, mulheres que são vítimas de abuso e
agressão por parte de seus parceiros, apresentam seqüelas emocionais tais como: transtornos
alimentícios, gastrintestinais e do sono; crises de choro e ansiedade; diminuição da auto-
estima, depressão e pensamentos suicidas. A medida em que o tempo transcorre, usualmente
descuidam de seu aspecto físico e recorrem ao álcool ou a drogas; no trabalho seu
96
desempenho diminui de forma significativa, chegando muitas vezes a abandonar seu emprego,
ou por uma decisão pessoal ou porque seu parceiro a proíbe. A violência conjugal também
ocasiona perturbações emocionais severas nos filhos, que se traduzem em dificuldades
escolares, alterações do sono, interações defeituosas, ansiedade e depressão.
Tais considerações enfatizam a importância do fenômeno estudado. Buscan
do
aprofundamento do estudo da violência conjugal, o próximo tópico tratará das causas da
violência conjugal, particularmente a contra a mulher.
2.3 Causas da violência contra a mulher
2.3.1 Causas psicológicas
um consenso considerável entre os investigadores sobre os grandes fatores associados
ao abuso de esposas (GELLES, 1980 apud BREHM, 1985; STEINMETZ, 1978 apud
BREHM, 1985).
Primeiro, o ciclo da violência parece desempenhar um papel maior. Crianças que
observam a violência entre seus pais ou que são elas mesmas abusadas por seus pais são mais
propensas a ter casamentos violentos. Esta história parece valer tanto para os maridos que
abusam, quanto para as mulheres que são vítimas.
A experiência de violência na infância é um indicador importante do
uso
da violência
quando adulto. Em um dos poucos estudos que coletaram informação sobre maridos que se
reconheciam abusivos, Rosenbaum e O Leary (1981 apud BREHM, 1985) descobriram que
97
estes homens eram mais propensos a ter tido um lar violento quando crianças do que maridos
satisfeitos ou insatisfeitos que não eram violentos em seus casamentos. Os maridos que
abusaram de suas esposas tendiam mais a ter sido agredidos quando crianças e era maior a
probabilidade de terem testemunhado violência entre s
eus pais.
Dados de uma pesquisa nacional analisados por Kalmuss (1984 apud BREHM, 1985) )
demonstraram um padrão similar: o nível de violência conjugal era maior para indivíduos
(tanto homens quanto mulheres) que cresceram em famílias onde eram agredidos e onde
presenciaram os pais agredindo um ao outro. Assim, vítimas e agressores, tanto homens
quanto mulheres, dividem o mesmo tipo de experiências com a violência na infância.
Alguns dados coletados por Rosenbaum e O Leary (1981 apud BREHM, 1985
)
sugerem
que as crianças do sexo masculino de lares violentos podem se tornar maridos violentos
porque não sabem nenhuma outra forma de lidar com conflitos.
A classe socioeconômica também é importante, sendo apontada como o segundo fator. A
violência conjugal ocorre em todas as classes socioeconômicas, mas ela ocorre mais
freqüentemente entre os pobres do que entre os ricos.
O terceiro fator associado com a violência conjugal pode explicar, em algum grau, esta
associação entre status econômico e violência. A violência conjugal tende mais a ocorrer
quando o casal está sob estresse de eventos como o desemprego do marido, problemas
financeiros de qualquer tipo e gravidez da esposa. Finalmente, casais violentos são também
casais isolados; eles não têm muitos amigos e eles carecem de relações próximas com
parentes. Pode ser que os atos de isolamento social sejam tanto uma causa como um efeito da
violência conjugal. Estar isolado pode aumentar o estresse e provocar a violência; ter um
casamento violento pode levar a um retra
imento nos contatos sociais.
Teorias ambientais puras continuam prevalecendo para explicar as causa da violência, e
segundo essas teorias o comportamento violento é aprendido. Esta ótica, no entanto, é
98
questionada por outros pesquisadores. Pinker (2004), por exemplo, afirma que pais agressivos
têm filhos agressivos com freqüência. No entanto, o referido autor refuta a conclusão de que a
agressão é aprendida dos pais em um ciclo de violência , e leva em conta a possibilidade de
que tendências violentas pode
m ser herdadas além de aprendidas (PINKER, 2004, p.421).
Para Miller (1999), não existe um perfil para homens abusivos. Psiquiatras admitem a
existência de psicopatologias em homens abusivos. Identificando três tipos que levam ao
abuso: a) Borderline: distúrbio de personalidade que caracteriza o homem anti-
social,
introvertido, temperamental e hipersensível ao desrespeito interpessoal. Ele reage
excessivamente, tem súbitas explosões de raiva e pode ter problemas de alcoolismo; b)
Narcisista e anti-social: esse homem é autocentrado, tomando dos outros e dando apenas
quando lhe convém; c) Compulsivo-dependente: esse homem é inflexível, tem baixa auto-
estima e exige apoio contínuo da acompanhante.
Ainda segundo Miller (1999), pode
-se identificar oito tipos de h
omens abusivos:
1.
Incapazes de controlar seus impulsos que mudam constantemente;
2. Que exigem obediência total às regras e aplicam castigos àqueles que as
infringem;
3.
Rebeldes, hostis, dependentes, com baixa auto
-
estima;
4.
Agressivos e anti
-
sociais;
5.
Grandes e ine
xplicáveis mudanças de humor;
6. Externamente agradáveis, mas incapazes de lidar com a rejeição e agressivos
quando sentem decepção por parte de sua companheira;
7.
Excessivamente, dependentes, ansiosos e deprimidos;
8. Que só apresentam pequenos sinais das outras sete características sem que
tenham nenhuma psicopatologia.
99
Embora traumas na infância possam resultar em psicopatologias, acredita-se que certos
comportamentos derivam da utilização de mecanismos de defesa imaturos e neuróticos para
atender a desejos que
talvez nunca tenham sido atendidos.
Mecanismos de defesa, segundo Miller (1999), são métodos pelos quais o ser humano
pode lidar com os conflitos da vida. Cada um utiliza uma defesa que funcione para si. Estes
são processos inconscientes e, portanto, não tem nada a ver com decisões conscientes. A
pessoa que atribui o seu fracasso a outra ou bate no filho para ficar livre desse sentimento de
fracasso tem total consciência do que faz, mas não sabe o porque faz. O importante é que isso
lhe traz satisfação. C
lassifica
-se os mecanismos de defesa em três níveis de maturidade.
Defesas imaturas: fantasia, projeção, agressão passiva, hipocondria, acting out; Defesas
neuróticas: intelectualização, repressão, formação reativa, deslocamento, dissociação; Defesas
madur
as: altruísmo, contenção, humor, antecipação, sublimação. Deste modo, os homens
abusivos utilizam, geralmente, três mecanismos de defesa, sendo um neurótico e/ou outros
dois imaturos. A saber, repressão,
acting
-
out
e projeção.
A repressão é mecanismo neurótico que tira as representações sentimentais frustrantes e
ameaçadoras ao ego do consciente para o inconsciente. Entretanto, quando essa gama de
sentimentos não expressados vai aumentando no cleo traumático do inconsciente, cria-
se
uma tensão libidinal extremamente intensa que pode ser expelida como uma erupção
vulcânica por meio da violência física e não
-física que trazem alívio. Esse mecanismo pode se
repetir continuamente pois é uma maneira de adquirir estabilidade no aparelho psíquico.
Estatísticas indicam que uma grande quantidade de homens que sofreram abuso na
infância torna-se abusivos como meio de aliviar e expelir todas as tensões psíquicas,
apaziguando os conflitos do aparelho psíquico. Uma criança que sofreu abuso passa por um
processo de ident
ificação com o agressor.
100
No
acting
-
out
, para evitar a raiva, o homem vitimizador grita com a mulher, rasga suas
roupas, quebra janelas do seu carro, ou seja, fazem algo para não sentir a tensão criada pelos
seus sentimentos que no caso seriam demais para serem suportados. Um exemplo comum é o
chute na cadeira ou o murro na parede quando se está com raiva.
Crianças que recebem educação com excesso de tolerância onde os pais o
superprotetores e nunca lhe negam nada, são incapazes de desenvolver habilidades maduras
para lidar com adversidades. Quando entram no mundo adulto, estes facilmente desenvolvem
esse mecanismo de defesa, revelado principalmente quando a sua mulher não lhe proporciona
o mesmo nível de tolerância que a mãe lhe oferecia.
A inconsistência dos pais é outra maneira de proporcionar esse mecanismo de defesa na
formação da personalidade da criança. Os pais que negam, mas cedem em meios aos gritos e
chutes, estão contribuindo para que mais tarde essa criança recorra ao abuso físico e não-
físico
para intimidar sua mulher.
Por outro lado, na projeção a pessoa mantém sua imagem íntegra e perfeita, atribuindo
seus erros e fracassos a outra pessoa. O homem abusivo atribui à mulher os próprios
sentimentos de fraqueza que ele não reconhece e, portanto, é capaz de agredi-la em vez de
agredir a si mesmo. Através desse mecanismo, conscientemente, o homem se considera o
marido perfeito e ao mesmo tempo alivia sua tensão no inconsciente.
Uma outra faceta de uma defesa inadequada está no território dos usuários de drogas,
posto que estas aumentam o grau de violência, mas não podem ser tomadas como desculpas
que livram o homem abusivo de sua culpa.
O agressor divide as explicações em dois grupos: desculpas e justificativas, sempre
negando e projetando o abuso (na droga ou na falta de controle). Não é minha culpa . O
espancador recorre a racionalizações padronizadas para dar sentido e normalizar seu
comportamento. É culpa da mulher ou ela é que não é boa esposa ou foi em autodefesa.
101
Em síntese, o perfil do vitimizador relaciona-se a: abusos na infância, excesso da
valorização masculina pela sociedade, baixa auto-estima, necessidade de reforçar a auto-
imagem por jogos de poder, incapacidade para projetar uma afetividade salutar e também
imaturidade para assumir seu
s próprios atos incluindo problemas pessoais e interpessoais.
Apesar destes fatores serem consistentemente citados como sendo associados à violência,
outros fatores podem ser usados para ajudar a entender o que causa e mantém a violência
conjugal. Muitas destas teorias ligam a violência ao poder masculino e à desvalorização da
mulher.
2.3.2 Causas culturais
Segundo Miller (1999), a desvalorização da mulher é pré-histórica. O homem das
cavernas arrastava a sua mulher pelos cabelos para que ela cuidasse da fogueira e dos filhos.
No Egito, os homens cuidavam de suas riquezas e quebravam os dentes da mulher se elas os
criticassem. Na Grécia antiga, somente ao homem era atribuída a capacidade de sentir as
paixões da vida e por isso o homossexualismo era uma prática tão normal, sendo que o
casamento com mulheres era visto como um mal necessário. Quando os romanos
conquistaram a Grécia, as mulheres foram rotuladas como servas e como uma propriedade do
homem, devendo-lhe obediência como uma escrava. Na Idade Média essa realidade
permaneceu e a mulher era vista ainda como um ser inferior. O abuso físico era permitido
desde que o homem espancasse a mulher com uma vara menos grossa do que o seu polegar.
Os colonizadores incentivavam o espancamento de mulheres com at
itudes inaceitáveis.
102
Na América recém
-colonizada a mulher era exposta a torturas por aborrecer o marido, não
tendo o direito de declarar posse de propriedades, não podendo solicitar divórcio onde o
adultério era somente condenado para elas e não para o homem. Aquelas que rompiam
relacionamentos eram vistas como tolas ou levianas. A história cuidou da perpetuação dessa
mentalidade em diversos níveis, dentre eles tem-se o casamento. Este vínculo era uma
maneira legal de subjugar a mulher, onde a mesma se via como a administradora do
relacionamento, sendo ela a responsável por fazer tudo o que agradasse ao marido. O fato de
ela renunciar ao nome de sua família e adotar o do marido é um indício forte desse
subjugamento.
Um outro fator que contribui para a desvalorização da mulher é o próprio tratamento
jurídico. Estatísticas indicam que os homens recebem melhor tratamento nos tribunais do que
as mulheres. Não havia até recentemente uma Lei para a punição de estupro dentro do
casamento e até hoje muitos homens acham que o sexo, seja ele forçado ou consensual, é de
seu direito. Muitos advogados de defesa tentam transferir o papel de vítima da mulher para o
homem, pois se ela foi estuprada foi porque ela pediu e quis. Esses advogados tentam destruir
a imagem da mulhe
r, focalizando possíveis erros e atitudes promíscuas passadas.
Para as Ciências Humanas, parte do pensamento antifeminista é atribuída a Freud que
discursa a respeito da inveja que a mulher tem do pênis, símbolo de poder e autoridade.
Assim, atribuíam
-
se
níveis mais elevados de maturidade aos homens que às mulheres.
Estudos demonstram que após a década de setenta é que foi considerada a necessidade
de avaliar o abuso cometido contra esposas, sendo isto um reflexo da revolução feminista do
final dos ano
s sessenta.
As artes reforçam mais o trabalho de artistas masculinos, sendo pouco lembradas as
artistas do sexo feminino. A dificuldade de receber apoio é muito grande, principalmente
103
devido aos preconceitos machistas e paternalistas que elas vem sofrendo durante décadas.
Muitas tiveram que usar pseudônimos para publicar suas obras.
Nas Forças Armadas existe uma completa desconsideração pelo papel feminino. Nas mais
diversas guerras as mulheres são tidas como prêmios de conquista do território inimigo. O
ab
uso sexual de mulheres em convenções também é comum pelos militares que, na maioria
das vezes, saem impunes. Muitas mulheres são rotuladas de lésbicas simplesmente por rejeitar
as propostas dos oficiais.
No campo da Medicina há introjeção culturalmente est
abelecida de que ela é feita somente
de mão-
de
-obra masculina, que os homens são os que melhor desempenham os serviços
médicos. Isso induz a pensar sempre que quando se faz uma cirurgia, quem ali estará é um
homem. Apesar das comprovações de que as mulheres o mais delicadas e cuidadosas para
fazer cirurgias, nunca se imagina ser uma mulher quem realiza esse trabalho. O preconceito
também atinge mulheres que são espancadas e que procuram o serviço médico para curar suas
feridas.
Tradicionalmente, as instit
uições religiosas reforçam a inferioridade da mulher colocando
-
a apenas como a pessoa responsável por cuidar do esposo e dos filhos, seria este o único papel
da mulher na sociedade. Além disso, em certas crenças, como na judaico-cristã, os líderes
religios
os reafirmam as diferenças sexuais por meio de ensinamentos e práticas. O mal teria
surgido pela mão feminina de Eva que induz o seu inocente homem ao pecado mortal. A
supremacia masculina é garantida depois que o papel feminino na história foi criado a pa
rtir
da imagem de santa e frágil e de prostituta promíscua.
Uma das formas de discriminação mais comum imposta às mulheres ocorre no mercado
de trabalho, que durante longos períodos da história culturalmente instituiu-se o império
machista onde ao homem foram reservados os pagamentos mensais e as glórias trabalhistas,
104
enquanto que a mulher somente foi considerada capaz de exercer um tipo de trabalho - o
doméstico.
Mesmo que atualmente a mulher tenha conseguido ampliar o seu espaço profissional, as
di
ferenças ainda existem, seja no salário menor, seja nos cargos que sempre são inferiores aos
dos homens. E mesmo quando estas estão em alguma posição semelhante à do homem, ainda
permanecem recebendo salários inferiores aos deles.
Em suma, a história parece continuar. Enquanto muitos esforços são empreendidos na
separação de brigas entre homens na rua, a briga de um homem com uma mulher somente
desperta a atenção, sem que nada venha a ser feito. A noção de que briga entre marido e
mulher ninguém "mete a colher" ainda permanece. Existe uma crença de que quando o
homem bate na esposa é porque existe um bom motivo. O espancamento se transforma em
piada, quando o homem diz que quando está bravo ele simplesmente um murro na esposa,
um chute no cachorro e sai p
ara a rua para refrescar a cabeça.
Muitos crimes ainda são cometidos contra a mulher. Na China ainda se valoriza o
nascimento de meninos e não de meninas. No Sudão e na Somália a mutilação do clitóris
ainda é feita. Em Burma e na Tailândia meninas são forçadas à prostituição. No Congo o
adultério é ilegal para as mulheres. Mulheres são obrigadas a alongar seus pescoços com
aros de metal. A história e os costumes sempre prepararam o palco para os homens se
sentirem livres para espancar as mulheres e subju
-
las.
Assim, por séculos as mulheres sofreram um tratamento parcial baseado em suposições
sobre diferenças entre sexos. Leis e costumes puniam severamente as mulheres. Autoridades
tratavam com descaso vítimas de assédio, de perseguição e de espancamento, supondo que
tais crimes eram características da corte e do casamento.
A evidência de cada um dos aspectos descritos acima, relativa ao papel desempenhado
pelas influências sociais, em especial pelas normas e valores no que se refere a quem é
105
dominante na família, e de que maneira a autoridade poderia ser impingida, foi amplamente
reconhecida por pesquisadores.
Diante de tudo isso, no decorrer das ultimas décadas o problema da violência contra a
mulher foi examinado, através da análise feminista de gênero, que aborda a questão de forma
diferenciada por correntes do movimento
feminista.
Sommers (1994), distingue duas escolas do pensamento feminista. A escola que defende o
feminismo da equidade que se opõe a qualquer forma de injustiça e discriminação contra
mulheres, apresenta uma doutrina de igualdade e não se envolve em questões de psicologia e
biologia. Por outro lado, a escola que defende o feminismo de gênero, é vinculada ao
marxismo, afirma que as mulheres continuam a serem escravizadas pelo sistema de
dominância masculina e possui três pressupostos sobre a natureza humana. Pinker (2004, p.
461) os coloca explicitamente:
1º) as diferenças entre homens e mulheres são construídas
socialmente; 2º) o poder é o único motivo social que o ser humano
possui, e a única maneira de compreender a vida social deve ser
baseada na forma como ele é exercido; 3º) a interação humana não
emerge dos motivos das pessoas em relação as outras como
indivíduos, mas de motivos de grupos, como o sexo masculino
dominando o feminin
o.
Sob essa perspectiva, nas ciências sociais o conceito de violência de gênero, é entendido
como uma relação de abuso, dominação e de poder do homem sobre a mulher ao longo da
história e reforçado pelo processo de socialização. Essa ótica rejeita qualquer hipótese que
possa ser considerada inata ou induzida biologicamente em função da diferença de sexo.
Dobash e Dobash (1979) explicam o espancamento às esposas em grande parte ao
aprendizado masculino de que poderiam bater em suas parceiras para preservar sua posição
tradicionalmente superior. Os referidos autores sustentaram que Homens que agridem suas
mulheres , estão na verdade mantendo vivas as prescrições compartilhadas na sociedade
agressividade, dominância masculina, e subordinação feminina
e eles estão usando a força
106
física como um meio para reforçar esta dominância. Procurando ir mais além, alguns
pesquisadores da família argumentaram que as normas sociais definem, basicamente, quem é
poderoso e quem é fraco dentro da família, e vêem a violência doméstica como uma
manifestação de diferenças de poder numa sociedade dominada pelo sexo masculino,
patriarcalmente orientada.
Entretanto, mesmo sob a perspectiva social, a visão do tema mostra-se ainda muito
estreita. Para Berkowitz (1993b) pesquisadores e teóricos mostram atualmente uma crescente
ênfase na natureza interacional dos fatores que produzem violência no lar. As condições
exteriores à família, tais como desemprego, baixos salários, ou crenças e valores derivados
culturalmente, podem ser impi
ngidos aos membros da família afetando
-
lhes o relacionamento.
Até mesmo o comportamento da vítima pode ter uma influência significativa na conduta do
agressor.
Além disso, sabe-se agora, entre outras coisas, que as mulheres tanto quanto os
homens podem ser agressivas, que a violência pode ser o resultado de conflitos dentro da
família, que uma proporção significativa de agressores foram, eles mesmos, expostos à
violência durante a infância, e que muitos dos que espancam tendem a ser agressivos com
suas espo
sas e filhos.
Como tem também notado um crescente número de investigadores, uma boa parte do que
se tem aprendido sobre outros aspectos da agressão humana pode ajudar a explicar os motivos
pelos quais esposas apanham e sofrem abusos (Berkowitz ,1993b).
Os
escritores que enfatizam o papel das expectativas sociais no espancamento de esposas,
basicamente culpam mais a sociedade do que os indivíduos que cometem o abuso. Sustentam,
que as mulheres sofrem brutalidades porque todos nós vivemos em um sistema patriarcal que
é governado por regras e padrões que apóiam a dominação do homem sobre a mulher. Nas
palavras de Dobash e Dobash (1979), o problema jaz na dominação da mulher .
107
Segundo Berkowitz (1993b), pesquisas demonstram atualmente que a situação das pessoas
na sociedade como um todo, a personalidade de cada membro da família, o relacionamento
familiar, e até mesmo a situação imediata, podem operar conjuntamente para afetar as chances
de que um agrida o outro em casa. A hipótese é a de que muitos casos de violência doméstica
são basicamente semelhantes a outros atos de agressão que foram discutidos anteriormente no
capítulo 1. Muitas das mesmas condições que afetam a probabilidade de uma pessoa atacar
outra fora de casa, podem também influenciar as chances de que brigas e agressões ocorram
no lar.
De acordo com afirmações de Berkowitz (1993b), qualquer abordagem realmente
abrangente da violência doméstica deve reconhecer que a agressão é precipitada pelo encontro
entre agressor e vítima. As predisposições pessoais e estresses situacionais são somente
facilitadores. Essa facilidade tem que ser ativada por um evento desagradável. Embora poucos
investigadores tenham dado atenção suficiente ao encontro precipitante, as pesquisas
disponíveis mostram que brigar constantemente leva a mais briga e que a agressão de uma
parte tem grande probabilidade de estimular a contra agressão da outra parte.
Apesar das contribuições de Berkowitz (1993b), os trabalhos sobre o tema ainda não
transpuseram os muros restritos de pesquis
as com base em uma concepção feminista.
De acordo com
Walker (1999),
a perspectiva feminista na violência doméstica é aceita em
todo o mundo, onde mulheres e meninas são os primeiros alvos do abuso masculino. Para a
referida autora, a violência não pode ser erradicada sem olhar cuidadosamente os assuntos
relativos à socialização dos gêneros que mantém, se não facilitam realmente, tal violência nos
lares.
Uma Declaração das Nações Unidas sobre Eliminação da Violência Contra Mulheres
anunciou que a violência é parte de um processo histórico, e não é natural nem nascida do
108
determinismo biológico (PINKER, 2004, p. 418). Muitas explicações atribuem a violência à
cultura. Nessa perspectiva, o problema são as crenças culturais sobre masculinidade.
Nesse contexto, parece justo dizer como uma regra geral, que homens têm mais poder que
suas parceiras. Este poder maior é baseado na autoridade masculina sustentada pela cultura,
no controle sobre os recursos econômicos e na força física.
Entretanto, parece possível afirmar que a sociedade encontra-se num estágio de
transição do patriarcalismo para o igualitarismo. Mais e mais mulheres são empregadas e
ganham acesso a bem-estar e posições de prestígio na sociedade, tanto a autoridade masculina
quanto a base econômica
do poder masculino estão sendo gradativamente reduzidos.
Considerando o conhecimento obtido a respeito da violência contra a mulher em termos
de conceitos, dados epidemiológicos, tipos de violência e causas,
permanecem ainda várias
questões sem resposta. Uma delas refere-se à permanência da mulher no relacionamento
abusivo. O tópico seguinte tratará dessa questão.
2.4 Porque a mulher permanece no relacionamento abusivo
A questão - Por quê uma mulher de quem o marido tem abusado fisicamente permanece
com ele? - é uma das mais freqüentemente formuladas tanto por profissionais como pelo
público leigo no curso de discussões sobre violência em família, e uma das mais difíceis de
serem respondidas adequadamente.
A falta de conhecimento sobre esse assunto geralmente leva a interpretações errôneas, e
surgem explicações superficiais e estereotipadas como: a mulher quer ser vítima ; a mulher
109
merece a violência ou a mulher gosta de apanhar . Estas são concepções populares que
transferem a culpa do agressor p
ara a vítima.
A questão em si deriva da suposição de que qualquer indivíduo racional tendo apanhado e
sido espancado por outra pessoa, evitaria ser vitimado novamente, ou pelo menos evitaria o
agressor, inclusive por questões de sobrevivência. Infelizmente, o motivo pelo qual uma
mulher permanece com seu marido abusivo não é tão simples quanto a suposição subjacente à
questão.
De acordo com Gelles (1976) a decisão de ficar com um marido agressivo ou de procurar
intervenção ou a dissolução de um matrimônio não está relacionada somente à extensão ou
severidade da agressão física. Algumas esposas sofrem seguidos espancamentos severos ou
mesmo agressões e simplesmente chamam o vizinho, enquanto outras chamam a polícia após
um gesto coercitivo do marido.
Para o
pesquisador acima mencionado, a suposição de que a vítima fugiria de um agressor
conjugal é uma visão superficial do complexo significado subjetivo da violência intrafamiliar,
da natureza do comprometimento e do enredo com a família como um grupo social e
do
constrangimento externo que limita a habilidade de uma mulher de procurar ajuda de fora.
Truninger (1971) encontrou que mulheres tentaram dissolver um matrimônio violento
somente depois de uma história de conflito e reconciliação. De acordo com essa análise, uma
esposa toma a decisão de obter o divórcio de seu marido abusivo quando não mais pode
acreditar nas promessas dele de que não vai haver mais violência e nem esquecer os episódios
passados de violência. Truninger (1971) postula que algumas das razões pelas quais as
mulheres não rompem o relacionamento com os maridos abusivos são: (1) elas têm
autoconceito negativo; (2) acreditam que seus maridos mudarão; (3) dificuldade financeira;
(4) têm filhos que necessitam do suporte econômico do pai; (5) duvidam que conseguem
prosseguir sozinhas; (6) acreditam que o divórcio é estigmatizado; e (7) é difícil para
110
mulheres com filhos conseguir trabalho. Embora a análise de Truninger (1971) tente explicar
porque as mulheres permanecem com maridos abusivos, a lista não especifica quais fatores
são mais relevantes na decisão da esposa de permanecer, ou buscar ajuda, ou romper o
relacionamento.
Há uma quantidade de outros fatores que ajudam a explicar a decisão da esposa de
permanecer, ou romper o relacionamento em ca
sos de violência.
Segundo Miller (1999), existe uma lógica consciente ou inconsciente que, para a mulher,
justificam sua permanência no relacionamento abusivo. Nesse sentido, a permuta, a falta de
recursos para a sobrevivência, o medo e outros fatores emocionais são explicações que
justificam a submissão feminina ao marido abusivo.
A mulher permanece em um relacionamento abusivo porque obtém alguma coisa que ela
deseja (permuta) e apesar de pagar caro, ela faz uma escolha consciente, considerando os prós
e os contras.Uma das permutas feitas está relacionada ao dinheiro. A mulher coloca-se em
atitude de escolha entre desfrutar benefícios materiais e sofrer humilhação e dependência ou ir
embora e se tornar livre dos sofrimentos. Outra permuta feita é a de evitar a solidão. Para
muitas o maior medo não é a pobreza, mas a solidão. Uma terceira permuta é realizada para a
garantia do bem estar dos filhos. O que estas mulheres não percebem é que, grandes traumas
na infância derivam de brigas entre o casal.
No que diz respeito à falta de recursos para a sobrevivência, evidencia-se muitas vezes, o
despreparo econômico para sair de casa, a necessidade de uma fonte de renda, e a necessidade
de amparo social.
O medo do aumento do abuso caso deixe o marido é outro motivo pelo qual a mulher
permanece no relacionamento. A separação é temida pela mulher, dado que o homem abusivo
sente
-se mais desafiado quando a mulher se liberta do seu controle. Ao sentir a perda da
autoridade, o homem abusivo fará o necessário para recuperar o controle, seja através de uma
111
briga, seja através do assassinato da mulher. Mais mulheres são mortas depois de abandonar o
relacionamento abusivo, do que quando aí permanecem.
O último fator apontado por Miller (1999) como explicação da permanência da mulher no
relacionamento são os obstáculos emocionais relativos à auto-imagem. Muitas mulheres,
cujas imagens foram completamente destruídas, costumam perpetuar seu sentimento de
fracasso, atribuindo o problema a si mesmas e não ao marido abusivo, outras simplesmente
sentem
-se incapazes de ir embora devido a esse sentimento de inutilidade e de baixa auto-
estima. Fatores como a culpa introjetada, a esperança da resolução do problema, ou o
entorpecimento emocional, também contribuem para que a mulher não deixe seu
relacionamento abusivo e doloroso.
Não obstante tais explicações, as razões pelas quais as mulheres permanecem num
relacionamento abusivo são complexas e não compreendidas plenamente, gerando várias
hipóteses explicativas.
Segundo Miller (1999), o masoquismo é uma explicação popular, e transfere a culpa do
agressor para a vítima, o que se torna uma condição famosa como também uma permissão. A
base para determinar que as mulheres são vítimas do abuso porque o desejam está, em grande
parte, em Sigmund Freud, que propôs a idéia de que as mulheres tendiam a desejar a dor.
Assim, as pessoas estão prontas a considerar o homem abusivo como um instrumento da
necessidade de realização de uma mulher, acreditando que, na verdade, ela pode tê-
lo
escolhido por
causa de sua habilidade para fazer justamente isto.
Dessa forma, a respeito do abuso permanece a idéia de que as mulheres dão continuidade
ao relacionamento para extrair dele algum tipo de prazer ou seriam mulheres moralmente
debilitadas, doentes ou perve
rsas. Porém, há uma grande diferença entre submeter
-
se ao abuso
e desejá
-
lo.
112
Para Emerson e Dobasch (1995 apud MILLER, 1999), as afirmações que atribuem a
permanência de uma mulher numa situação abusiva ao masoquismo não somente apresentam
uma explicação
simplista como reforçam o direito do homem de cometer o abuso.
Se esta explicação é simplista, como justificar a permanência e o eterno retorno das
parceiras que tentam escapar à relação? Como explicar o comportamento das mulheres que,
mesmo depois de dar a queixa dos parceiros abusivos às autoridades das Delegacias da
Mulher, retiram as queixas e retornam ao velho e conhecido ciclo da violência?
O modelo de mudança de relações familiares de Scanzoni (1972) postula que a proporção
de recompensas às punições é definida subjetivamente pelas esposas e é o fator determinante
da decisão de ficarem ou não casadas. A decisão de buscar ou não intervenção ou dissolução
do matrimônio pode estar parcialmente baseada nas definições subjetivas arraigadas à
violência (punição) e parcialmente na proporção dessa punição a outras recompensas
conjugais (segurança, companheirismo, etc).
Straus (1973) afirma que o autoconceito e as expectativas de papel dos outros
freqüentemente influenciam o que é considerado um nível intolerável de violência pelos
membros da família. Straus (1980 apud BREHM, 1985), enfatiza que a maioria das mulheres
é muito mais presa ao casamento em termos de dependência econômica e responsabilidades
no cuidado com os filhos do que a maioria dos homens. Por isso, embora tanto o homem
quanto as mulheres sofram violência em seus casamentos, é mais difícil para as mulheres
escapar disso.
Nos estudos de Gelles (1976); Strube e Barbour (1983 apud BREHM, 1985), a
independência econômica é crucial. Mulheres que deixam os relacionamentos abusivos são
mais propensas a conseguirem um emprego do que aquelas que permanecem.
Strube e Barbour (1983 apud BREHM, 1985) descrevem como o comprometimento com o
casamento, pode se tornar uma armadilha para esposas abusadas. Em seu estudo, as mulheres
113
eram mais propensas a deixar um relacionamento abusivo se o relacionamento era
relativamente mais curto (quatro anos ou menos); elas também tendiam mais a deixar se não
citavam espontaneamente o amor como razão para ficar no relacionamento. Então, quanto
mais estas mulheres investiram no relacionamento em termos de tempo e afeto, mais difícil
era para abandoná
-
lo. Assim elas permaneciam, investiam mais e mais adiante eram abusadas.
Gelles (1976), considera que o ciclo de vitimação desempenha um papel vicioso: esposas
que permanecem num relacionamento abusivo e não procuram assistência tendem mais a
terem sido agredidas quando crianças.
Existem duas razões inter-relacionadas pelas quais mulheres que foram expostas ou
foram vítimas de
violência intrafamiliar estariam inclinadas a ser vítimas de violência familiar
como adultas. É possível que quanto mais experiência com a violência tenha uma mulher,
maior seja sua tendência a aprovar o uso da violência na família.
Ela pode crescer com a expectativa de que maridos devem bater em esposas, e esta
expectativa de papel pode em contrapartida se tornar o motivador para o marido usar a
violência com ela. A outra explicação desses resultados integram a teoria da violência da
subcultura (Wolfgang e Ferracuti, 1967, apud GELLES, 1976) com a teoria homogâmica da
seleção do parceiro (Centers, 1949 apud GELLES, 1976; Ecklund, 1968 apud GELLES,
1976;
HOLLINGSHEAD, 1950, apud GELLES 1976). Assim, pode-se argumentar que
mulheres que cresceram em ambientes que incluíram e aprovaram a violência familiar, m
maior probabilidade de se casarem com uma pessoa que tende a usar violência.
Diante do fato de que a exposição e a experiência com a violência quando criança torna a
mulher mais vulnerável a se tornar vítima da violência conjugal, pode-se questionar, até que
ponto isto afeta as ações de uma esposa agredida.
Para Gelles (1976) duas previsões alternativas que podem ser feitas. A primeira delas
enfatiza que quanto menos a mulher experimenta violência em sua família de orientação,
114
maior a probabilidade de que veja a violência intrafamiliar como desvio, e assim, mais
desejará buscar intervenção ou divórcio quando atacada por seu marido. A segunda destaca
que, a exposição à violência pode proporcionar um papel modelo para a mulher de como agir
quando atacada. Assim, quanto maior a violência a que foi exposta, mais saberá sobre como
obter ajuda externa e buscará mais esta ajuda.
Entretanto, nenhuma das previsões alternativas é fortemente corroborada pelos dado
s
sobre experiência e exposição à violência.
Por outro lado, de acordo com Gelles (1976) algumas linhas sugerem que a exposição à
violência conjugal torna a mulher menos tolerante à violência familiar e mais desejosa de
finalizar um matrimônio violento, como se verá mais adiante nesta sessão. Contudo, os dados
não dão suporte à argumentação de que esta posição é generalizada entre as esposas que
testemunharam a violência durante seu crescimento.
Em seu trabalho, Gelles (1976) descobriu três fatores preponderantes que influenciam a
decisão das mulheres de permanecer com o marido abusivo ou de procurar intervenção.
Primeiro, quanto menos severa e menos freqüente for a violência, mais a esposa
permanecerá com seu marido e não procurará socorro externo. Este resultado é quase auto-
evidente no que postula que as mulheres procuram intervenção quando são severamente
agredidas. Todavia, o problema é mais complexo, uma vez que severidade e freqüência da
violência explicam somente parte da variância no comportamento da
s esposas agredidas.
Um segundo fator é quanta violência a esposa experimentou quando criança. Quanto mais
foi espancada pelos pais, mais inclinada é para permanecer com o marido abusivo. Parece que
a vitimação quando criança aumenta a tolerância da esposa para com a violência quando
adulta.
115
Por último, fatores educacionais e ocupacionais estão associados à permanência com o
marido abusivo. As esposas que não procuram intervenção têm menor probabilidade de haver
completado o ensino médio e de estar desempre
gadas. Conclui
-se que quanto menos
recursos,
menos poder e mais presas as mulheres estiverem ao matrimônio, mais sofrem nas mãos de
seu marido sem pedir ajuda de fora da família.
Embora Gelles (1976) tenha apresentado alguns fatores que parcialmente exp
licam porque
mulheres que sofrem abuso permanecem com seus maridos, não foi proporcionada uma
resposta completa à questão levantada. A razão disto é que os fatores que influenciam as
reações de uma esposa agredida são tremendamente complexos. Não se trata simplesmente da
freqüência ou da severidade com que uma esposa é agredida, nem do nível de escolaridade ou
renda que tenha.
Algumas teorias tentam explicar as razões pelas quais uma mulher se mantém em uma
relação violenta.
Strube (1988 apud ECHEBURÚA, 1998), analisa a situação baseada em três modelos
teóricos que buscam dar respostas a esse fenômeno: a Teoria dos Custos e Benefícios, a
Teoria da Ação Racional e a Teoria da Dependência Psicológica.
A Teoria dos Custos e Benefícios se baseia no modelo de Thibaut e Kelly (1959), o qual
sugere que a decisão de ficar em uma relação violenta depende de que o benefício total dessa
decisão seja maior que o custo de permanecer na situação.
A Teoria da Dependência Psicológica assinala que uma mulher permanece em uma
relação violenta por seu compromisso estabelecido através do matrimonio.
Strube (1988 apud ECHEBURÚA, 1998) sugere que uma mulher só sairá de uma relação
violenta assim que comparar as conseqüências positivas com as negativas e depois que
analisar as possi
bilidades de êxito percebidas, como através do apoio de seus entes queridos.
116
O modelo feminista, segundo Soares (1999), oferece duas soluções básicas para esse
problema.
A primeira é de ordem social e diz respeito aos comportamentos-padrão das vítimas e à
s
atitudes e recursos da comunidade.
Rangel (2004) afirma que, que se levar em conta o processo histórico de opressão das
mulheres. Da mesma forma, razões de ordem econômica agravam as condições da vida das
mulheres diante da separação. No caso das mul
heres de baixa renda, esta situação pode chegar
a ser dramática. No entanto a dependência econômica, segundo a pesquisadora, é apenas uma
das facetas da opressão feminina. Rangel (
2004
) reconhece que é fundamental descobrir os
mecanismos psíquicos, sociais e econômicos que mantêm a submissão feminina,
particularmente a submissão de mulheres em situação de violência, para que estas possam
romper os laços de dependência que as mantêm oprimidas e comecem a tomar seus destinos
em suas próprias mãos, num process
o de empoderamento.
Bleichmar (s. d.) enfatiza que mulheres que superam a dependência econômica
permanecem envolvidas em situação de violência. Como sinaliza, o referido autor, é preciso
levar em conta a dependência e a função maternal que existe em toda relação amorosa.
Homens, mulheres e crianças, necessitam ser ouvidos, compreendidos e reconhecidos. As
mulheres fazem isso em relação aos filhos, e os homens esperam que elas façam o mesmo em
relação a eles. Da mesma forma, as mulheres esperam a mesma atitude dos homens,
entretanto, os estereótipos da masculinidade se opõem a esta necessidade mútua.
O trabalho realizado por Bleichmar (s.d.) indica que, não é difícil conceber que as
mulheres ao ver uma relação ameaçada, sejam capazes de mantê
-
la a qualquer p
reço.
Trata
-se de uma questão vital. Uma mulher é avaliada por sua
capacidade de criação (maternagem), de desenvolvimento (criação e
amor) e de cuidado (do casal, da família, dos doentes) do outro.
Tanto a identidade como a auto
-
estima feminina se consti
tuem não em
117
torno do êxito pessoal, da execução de uma obra ou empresa, mas se
constituem e se matem através de relações interpessoais.
(BLEICHMAR, s.d., p. 49).
Para
Puget (1990 apud RANGEL, 2004) a violência destrói vínculos, mas também
constrói laços, e dessa forma acaba se tornando necessária, da mesma forma que a bebida o é
para o alcoólatra.
Assim, as explicações delineadas por Bleichmar (s.d.); Puget (1990 apud RANGEL,
2004
),
procuram explicar, as razões pelas quais ainda que um relacionamento intimo seja
violento, ele pode permanecer por décadas.
Segundo Bleichmar (s.d.) o que mantém a mulher nessa condição de violência, e a faz
preferir manter uma relação mesmo que violenta a perdê-la é sua identidade feminina. Em
suas investigações Bleichmar (s.d.), sugere que a mulher ao romper uma relação sente que
falha enquanto pessoa e entra em depressão. Dessa forma, [...], não apenas se separa e
perde um vinculo, mas também se desequilibra, se desorganiza e se desvaloriza
completamente porque esta falha
ndo enquanto pessoa
(
BLEICHMAR
, s.d., p.50).
De acordo com essa ótica, as mulheres se valorizam em função dos sacrifícios que são
capazes de fazer pelos outros, e não por si mesmas, dado a inserção de valores patriarcais em
sua subjetividade.
A segunda solução oferecida pela perspectiva feminista se refere a uma patologia
desenvolvida como reação a experiências traumáticas repetidas e, nos casos de violência
conjugal, seria produzida pela própria relação abusiva: trata-se da Síndrome de Estresse Pós-
Trau
mático .
Segundo os critérios do DSM-
III
-R (MANUAL de diagnóstico e estatística de distúrbios
mentais, 1989) a síndrome de estresse pós-traumático engloba os seguintes critérios: 1)
presença de um fator de estresse capaz de causar uma resposta traumática; 2) sintomas que
prevalecem por mais de mês; 3) mudanças mensuráveis na memória e na cognição; 4) pelo
118
menos três sintomas mensuráveis de evitação; 5) pelo menos três sintomas mensuráveis de
excitação (WALKER, 1993). Essas síndromes e desordens vêm freqüe
ntemente
acompanhadas do que se chamou de desamparo aprendido.
Seligman (1967 apud HUNZIKER, 1982), levou a teoria do condicionamento de Pavlov
um passo à frente e desenvolveu a Teoria do Desamparo Aprendido, de acordo com a qual os
maus
-tratos intermitentes, durante um período de tempo tornam o indivíduo incapaz de fazer
valer a sua vontade e, como resultado, submetem
-
se à vontade do controlador.
Esta teoria foi utilizada para analisar o comportamento das mulheres vítimas de abuso por
Walker (1979).
Desam
paro aprendido explica a perda da habilidade de prever resultados contingentes
depois da exposição a repetidas e variáveis aleatórias de estímulos aversivos inevitáveis. Este
modelo ajuda no entendimento das mudanças psicológicas em mulheres espancadas que
parcialmente contam para sua permanência em relacionamentos abusivos.
Walker (1984) mediu, se os padrões aleatórios e variáveis de tratamentos de
espancamento e amor administrado a mulheres espancadas por seus agressores não teriam tido
um impacto psicológico similar para as cuidadosamente medidas variáveis aleatórias de
estímulos aversivos administradas aos sujeitos nos laboratórios de Seligman
(WALKER,
1984
). Para a referida pesquisadora, isto poderia explicar a aparente perda de das mulheres
espanca
das em sua própria habilidade de prever se seus parceiros podem parar com a
violência. Como aqueles nos experimentos de Seligman, mulheres espancadas parecem perder
sua habilidade de escapar. No entanto, como nos animais de laboratório e nos sujeitos
human
os, elas se adaptam às situações aversivas e aumentam sua habilidade de lidar com
estímulos aversivos e minimizar sua dor.
A análise de Walker sugeriu que a mulher presa a um padrão de abuso, embora a
princípio tenha tentado controlar o abuso do parceiro, com o tempo, ela percebia que nada do
119
que fizesse alteraria o relacionamento ou a libertaria. Anos depois, Walker (1993) reafirmou
esta posição, e acrescentou que mais do que desamparo aprendido na submissão de uma
mulher vítima de abusos. Para a autora, mulheres submetidas cronicamente ao abuso físico e
psicológico, sofrem mudanças na percepção de suas possibilidades objetivas, e perdem a
capacidade plena de reagir e as esperanças de escapar das mãos do agressor.
Distorções cognitivas, tais como a mini
mização,
negação
, e dissociação, ou
divisão
da
mente e do corpo particularmente durante épocas ruins, parecem ajudar as mulheres
espancadas (e de fato ajudam, a maioria das vítimas de abusos e traumas) a enfrentar a
gravidade dos incidentes. Freqüentemente este comportamento é mal interpretado como
passividade, quando, de fato, mulheres espancadas têm gamas de habilidades de confronto
altamente desenvolvidas de aumentar a probabilidade de sobrevivência. Quando é percebido
que aquelas habilidades de confronto não mais irão protegê-las ou à suas crianças, as
mulheres espancadas usualmente tentam escapar, algumas vezes com a percepção de ter que
matar o agressor para conseguir fazê-lo. Para Walker (1984), as percepções de mulheres
espancadas de que a violência alcançou o estágio de escolha de vida ou morte, são
freqüentemente bem precisas.
No decorrer desse processo, a mulher introjeta a nulificação que o parceiro tenta lhe impor
e, acaba desenvolvendo, em relação a ele, um sentimento de gratidão e reconheciment
o.
Assim, uma variante da desesperança aprendida, também aproximada à violência
doméstica na literatura feminista, é a chamada Síndrome de Estocolmo , segundo a qual
prisioneiros ou reféns recebendo tratamento sub-humano, temendo permanentemente por suas
vidas e seguranças, e vivendo em absoluto isolamento, tendem a desenvolver mecanismos de
identificação e de submissão voluntária aos seus algozes (
SOARES
, 1999).
O conceito de desamparo aprendido aplicado às vítimas de violência doméstica foi
contestado por pesquisas que sugeriam que as mulheres vitimizadas não reproduziam
120
eternamente um comportamento passivo, mas tendiam, crescentemente, a procurar ajuda, à
medida que a violência se tornava mais freqüente e intensa (GONDOLF, 1988).
Até mesmo algumas feministas criticaram o modelo de desamparo aprendido, por
considerar perigosa qualquer forma de patologização da mulher submetida à violência
mesmo que essa patologização se dê a posteriori.
Não uma resposta simples a esta questão, mas um corpo crescente de informações a
respeito.
De acordo com Walker (1994) algumas das barreiras mais comuns que impedem as
mulheres de sair e/ou buscar ajuda são as seguintes:
a) Medo de Retribuição:
Em casos de extrema violência, a mulher espancada pode ficar para
manter as crianças, ou
porque teme o risco de violência maior se tentar fugir do relacionamento. Infelizmente, esse
medo é totalmente justificado. Dados indicam que o período mais perigoso para uma mulher
que sofre agressão é durante os dois primeiros anos após ter ido embora (BROWNE;
WILLIAMS, 1989). De acordo com a Investigação Nacional do Crime realizada em 1994
pelo Departamento de Justiça dos E.U.A., 70% dos incidentes relatados de espancamento
ocorrem após a separação. De acordo com Hart do
National
Coalition Against Domestic
Violence (1988, apud Walker, 1994), mulheres que abandonam seus agressores têm um risco
75% maior de serem assassinadas por eles do que aquelas que permanecem.
b) Mecanismos de Resistência:
Minimização.
Um sinal de que a mulher pode estar minimizando o abuso é quando
diz coisas como poderia ter sido pior . Mesmo que a afirmativa seja objetivamente
verdadeira, não significa que não estava em perigo
.
Negação.
Sendo uma solução de resistência mais extrema, a negação é um modo de
d
efender
-se de um conhecimento que seria muito doloroso de admitir. A negação pode
também ocorrer quando o reconhecimento da verdade pode acarretar uma revolta para a qual
121
a mulher não está preparada, ou quando duas emoções conflitantes, tais como amar e te
r medo
do agressor, não podem ser conciliadas. Mulheres que sofrem agressão e outras vítimas de
trauma freqüentemente oscilam entre os estados de negação e de reconhecimento.
Repressão.
No caso da repressão, a lembrança de um evento doloroso é eliminada
da
consciência.
Dissociação.
Refere
-se a uma alteração da consciência ou a uma ruptura da
personalidade tal, que eventos que envolvem a pessoa podem ser excluídos do estado de
consciência. Por exemplo, uma mulher que sofre agressão pode não vivenciar a dor de um
espancamento no momento em que este ocorre. Ou pode, num outro momento, recontar
estórias horríveis sobre o que ela tem sofrido como se estivesse descrevendo algo que assistiu
na TV ou que aconteceu com outra pessoa. A dissociação é comumente descrita como uma
ruptura do corpo com a mente.
c) Vergonha, Culpa, ou Falta de Confiança:
Mulheres que são espancadas geralmente apresentam desculpas para o agressor, refletindo
sua crença de que são de alguma forma responsáveis ou culpadas pela violência.
Mu
itas acreditam que são as únicas a sofrer abusos, que são fracassadas, ou que não
merecem ajuda.
d) Confusão ou Disfunção Cognitiva:
Confusão Cognitiva. As tentativas para conciliar as intenções não abusivas do
agressor com a própria experiência da mulher do acontecido podem levar a uma confusão
sobre o que é verdadeiro.
Disfunção Cognitiva. A diminuição da atenção e da concentração pode levar a
déficits na habilidade para processar a informação que pode, em conseqüência, levar a uma
inabilidade de ter atitudes realistas. Em casos de danos neurológicos, mulheres que apanham
122
podem também exibir tipos mais extremos de déficits na habilidade para processar
informação, tal como a perda total da memória de fatos recentes.
e) Medo de Perder o Controle.
Devido
à maneira pela qual as memórias são armazenadas, o ato de pensar a respeito do
abuso ou de contar o que aconteceu pode fazer com que o fato seja revivido, repleto de
sentimentos de terror, confusão ou dor que acompanharam o evento real.
f) Medo de Não Ser
Levada a Sério ou de que o Abuso seja Trivializado.
Medo de não ser acreditada ou ter seus sentimentos com relação à importância dos
eventos diminuídos. Por ignorância ou medo de tornarem-se vítimas, os ouvintes
freqüentemente minimizam os relatos de mulhe
res agredidas.
g) Medo de que a Culpem pelo Abuso.
A tendência da vítima de culpar-
se
uma atribuição que ajuda a reter a ilusão de controle
sobre o futuro
é comumente reforçada não somente pelo perpetrador, que tem um interesse
velado em que a mulher (a) não o abandone, ou (b) não mova uma ação legal contra ele, mas
também pela sociedade em geral, e muito freqüentemente pelos terapeutas. Segundo Walker
(1994), para se defender de seus próprios medos de represália ou de vítimização
ou do
agressor ou
de si mesma, a mulher agredida pode virar-se contra o terapeuta como uma forma
de apaziguar o agressor enfurecido
os terapeutas podem minimizar o perigo à mulher.
Mulheres espancadas freqüentemente descrevem os agressores como tendo uma
personalidade
Dr
. Jekyll / Sr. Hyde. Uma mulher espancada acredita que se de alguma forma
ela encontrar a forma certa de ajudar seu homem, com quem ela tem um forte laço de amor,
então a parte má dele desaparecerá. Esta crença é freqüentemente reforçada pelos ajudantes
maus informados. Uma mulher espancada pode tentar elucidar os lados bons do homem,
que é freqüente o único lado que ela observa durante uma relativamente curta, mas
123
emocionalmente intensa fase de flerte. Obviamente, isto não acontece; ao invés, o bom lado
se encolhe na medida em que o comportamento abusivo aumenta em freqüência e severidade.
Em razão a isso, a mulher geralmente tem sentimentos confusos a respeito do agressor.
Ela pode amar o bom parceiro, e temer o abusivo . Qualificá-
lo como abusivo
pode fazê
-
la
sentir que deve escolher um lado.
Desta forma, fica claro, que as mulheres que sofrem abuso são as primeiras a
minimizar o perigo e não a superestimá
-
lo.
A mulher vítima de abuso, que permanece lá não o faz porque deseja, mas porque se sente
incapaz de ir embora. Permanece a questão porque uma mulher fica por décadas ou anos em
uma relação violenta.
Este cenário nos auxilia a pensar que embora exista pouca concordância quanto às causas
das dificuldades da mulher romper com o ciclo da violência e quanto à melhor maneira de
controlá
-la, existe concordância de que este é um tema de considerável magnitude, uma vez
que vários pesquisadores tentam desvendá-
lo.
Diante disto, a investigação sobre as percepções das causas que levam um contingente
enor
me de mulheres a permanecer em situações de violência conjugal poderá trazer novas
luzes a este problema. Nesta perspectiva, uma das vertentes teóricas em Psicologia Social que
teve significativo desenvolvimento a partir da segunda metade do século XX e que continua
gerando grande número de pesquisas é a Atribuição de causalidade. Baseando-se nesta
orientação, o próximo capítulo trará o desenvolvimento desse conceito, o modelo integrativo
de investigação de Weiner, e estudos de atribuição no campo da violên
cia conjugal.
CAPÍTULO 3
ATRIBUIÇÃO DE CAUSALIDADE
A atribuição de causalidade, isto é, a busca de explicações a cerca do porquê das
ocorrências, seria elemento poderoso para que o ser humano pudesse compreender
e controlar seu comportamento, o comportamento do seu semelhante e seu próprio
mundo.
(DELA COLETA, 1982, p.5).
3.1 Teoria da Atribuição de Causalidade e Percepção
A abordagem da temática da percepção das pessoas, especificamente pela forma como
elas explicam o seu comportamento e o dos outros, através do processo de imputação de
causalidade tem origens no trabalho pioneiro de Heider (1970).
A sua emergência como domínio de investigação, os seus desenvolvimentos nos anos
70 e as suas recentes extensões para o campo da cognição social influenciaram muitos outros
domínios de investigação, como por exemplo, a Psicologia do Desenvolvimento nos trabalhos
de Frieze (1981); a Psicologia Educacional, com os trabalhos de Weiner (1986); a Psicologia
Judicial, através dos trabalhos de Lloyd
-
Bostock
(1979).
Heider (1970) foi dos primeiros investigadores a defender a idéia de que o equilíbrio
cognitivo depende em grande parte dos processos intelectuais, inscrevendo-se assim na
corrente cognitivista da Psicologia Social.
Heider (1970) centra a sua análise em dois aspectos: a) a forma como os indivíduos
ajustam internamente as suas cognições de forma a estar em equilíbrio consigo próprios, e, b)
os ajustamentos que fazem ao meio social em que se inserem.
125
Esse autor sustenta que muitos dos princípios subjacentes à percepção dos objetos sociais,
isto é, das pessoas, tem paralelo na percepção de objetos não sociais. Quem percebe procura
regularidades subjacentes aos fenômenos de forma a torná-los previsíveis e controláveis,
ainda que no domínio dos objetos s
ociais, o resultado seja imperfeito.
Vale dizer que no processo perceptivo, os aspectos principais da configuração da
estimulação são representados cognitivamente e sujeitos a uma interpretação. A interpretação,
preferencialmente busca por estados de harmo
nia ou equilíbrio. Dessa forma, as situações que
se caracterizam pela semelhança com as cognições são equilibradas. Por outro lado, quando
existe conflito entre a situação e a cognição, por exemplo, quando A tem um comportamento
negativo e o percebedor gostar de A, aquele que percebe reavaliará toda a configuração da
estimulação de forma a torná
-la consonante às suas cognições.
Segundo Heider (1970), a imputação de causalidade é fundamental neste trabalho
cognitivo. Quem percebe, procura as razões que motivam o comportamento ou um
determinado efeito social, questiona
-se sobre as capacidades pessoais e intenções do agente, o
contexto específico em que a ação se desenrolou, a desejabilidade social e os desejos pessoais
do agente.
Dessa forma, o processo de atribuição calca-se na busca de propriedades disposicionais
que possam explicar a ocorrência do evento, ou seja, na existência de fatores pessoais e
ambientais mais invariáveis, isto é, que não mudam, e quando mudam seguem leis
macroscopicamente visíveis (DE
LA COLETA, 1982).
Heider (1970) esclarece que o processo de análise das causas de um evento depende de
dois conjuntos de condições, isto é, de uma combinação de forças pessoais e de forças
ambientais.
Os fatos que tem origem na força pessoal, ou seja, os fatos em que a pessoa percebida
causa um acontecimento intencionalmente, classificada como Causalidade Pessoal, são
126
analisados através de dois fatores: fator poder e fator motivacional. Heider (1970) sugere que
o fator poder seja representado por
capacida
de
, embora existam outras características
como,
por exemplo, o temperamento
que influem no poder, a capacidade (ser capaz) é aceita como
a mais importante. Por outro lado, o fator motivacional (tentar) diz respeito àquilo que a
pessoa tenta fazer (sua intenção) e à intensidade com que tenta fazê-lo (esforço)
(HEIDER,
1970, p.100). Assim, na causalidade pessoal a causa dos fatos se localiza na pessoa.
O modelo teórico de Heider postula a existência de uma relação entre a capacidade (p é
capaz de causar x
indicando a possibilidade de uma ação) e intenção e esforço (p tenta
causar
x
indicando o que p tenta fazer e até que ponto o faz, ou seja, indicando
respectivamente a direção e a intensidade da motivação). As duas forças dos fatores pessoais,
são n
ecessárias à ação e, portanto devem estar presentes, caso uma delas seja nula, a ação será
explicada pelas forças ambientais.
Por outro lado, os acontecimentos estimulados pelas forças efetivas ambiental,
classificadas como Causalidade Impessoal, tem sua origem fora da pessoa percebida e
abrange
os acontecimentos concretos causados pelo ambiente e que a pessoa
deve enfrentar
por exemplo, aquilo que a outra pessoa lhe faz, os
golpes de felicidade ou infelicidade, etc.. Deve ficar claro que os
acontecime
ntos que tem sua origem fora da pessoa incluem os
provocados por outra pessoa, bem como os que decorrem do
ambiente inanimado.
(HEIDER, 1970, p. 188).
Neste caso os acontecimentos são heterônomos, governados de fora , induzidos pelo
campo, e neste sentido, opostos aos autônomos, que tem sua origem na pessoa. Esse fator
pode ser representado pelo contraste entre ação pessoal
versus
o que acontece à pessoa:
empurrar ou ser empurrado, ser o malho ou bigorna. Neste caso, quem percebe raciocina em
termos dos
fatos provocados por outra pessoa
(elogiar, ajudar, ensinar, proteger e estimular,
por exemplo, são consideradas de forma geral como ações valiosas e benéficas, enquanto que
127
insultar, menosprezar, causar embaraço, impedir, servir de obstáculo, ferir, condenar, são
casos típicos de maus-tratos), do grau da dificuldade da tarefa e das circunstâncias do
momento, ou seja,
oportunidade
e
sorte
, sendo estes últimos os fatores mais variáveis do
ambiente, do ambiente inanimado (barreiras, por exemplo), e da pressão potencial
(promessas de benefícios, ameaça de maus tratos).
Neste sentido, o percebedor faz uma avaliação quando atribui o resultado da ação
principalmente à pessoa, principalmente ao ambiente ou à conjunção das duas coisas.
O modelo teórico de Heider designa como causalidade pessoal a ação intencional. No
entanto essa não é a única característica. Pode-se caracterizar a causalidade pessoal
pela
equifinalidade, pela invariabilidade dos fins, das metas, e pela variabilidade dos meios
utilizados para alcan
çá
-las, onde a intenção do sujeito é o fator central e o esforço do
indivíduo pertence ao núcleo de causalidade pessoal, recebendo a capacidade uma
importância secundária atuando mais na periferia do fenômeno (DELA COLETA, 1982,
p.9).
Nesse sentido fala-se em uma causa local, o que implica dizer que a pessoa com intenção
muda os meios para atingir o efeito específico ou um fim invariável. A causa local de um
acontecimento é a pessoa. A essência da causalidade pessoal caracteriza-se por equifinalidade
e cau
salidade local.
De outro lado, na causalidade impessoal, os efeitos produzidos são diferentes, ou seja,
num acontecimento impessoal, não existe causalidade local, nem eqüifinalidade (excluindo o
caso especial de equifinalidade nos sistemas físicos) isto é, não existe a convergência de
diferentes meios pelos quais o mesmo objetivo pode ser alcançado. Na causalidade impessoal,
diferentes condições ambientais conduzirão a uma grande amplitude de efeitos
(HEIDER,
1970, p.121).
128
Diferente de como ocorre na causalidade impessoal, na causalidade pessoal, uma fonte
externa à situação não pode alterar, de maneira simples, o resultado. Outra pessoa só poderá
influenciar o resultado final através da alteração da intenção do agente, ou através da criação
de uma circunstância que torne impossível para o agente, a criação do resultado. Nas palavras
de Heider, A causalidade pessoal caracteriza o tentar e é esse fato que grande peso às
nossas interpretações de ações e ao que fazemos para influenciar as ações dos outros
(HEIDER, 1970, p.128).
Para Heider (1970) Acima de tudo, é o objetivo de uma ação, sua origem na intenção da
pessoa, que determina freqüentemente, o que uma pessoa faz realmente, ou o que está
acontecendo
(HEIDER, 1970, p.137)
Desta forma, a intenção
é o fator central na causalidade pessoal, e isto significa que [] as
pessoas são consideradas responsáveis por suas intenções e esforços, mas não por suas
capacidades
(HEIDER, 1970, p.132). A responsabilidade pessoal varia com a relativa
contribuição de
fatores originados na força ambiental e pessoal. A pessoa que percebe procura
identificar, qual entre as várias condições da ação recebe maior peso, a força pessoal ou a
força ambiental. Assim, a questão da responsabilidade inclui a atribuição da ação.
Alé
m das intenções da pessoa, dos fatores de poder pessoal ou das forças ambientais
(atribuição da ação), outras indicações que se referem menos à estrutura da ação, revelam
intenções, dado que as intenções também podem ser, por exemplo, inferidas do conhecim
ento
que se tem a respeito da pessoa, seu caráter, seus motivos usuais, seus desejos, suas
necessidades e suas emoções.
O referido pesquisador esclarece que a atribuição de uma ação a uma determinada
intenção pode estar condicionada pelas necessidades do percebedor. Nesse sentido,
expectativas, necessidades, desejos, afetos e emoções, determinam a atribuição, o que pode
levar a uma ausência de correlação entre os dados da situação e a atribuição. Pode-se, por
129
exemplo, pensar erroneamente que outra pessoa pretende fazer alguma coisa, apenas porque
se deseja que isso aconteça. Nesses casos o percebedor seleciona o que é importante para ele,
e não o que na realidade orientou as ações do agente. Tal Como as idéias da pessoa quanto
ao que deve ser e ao que gostaria que fosse , bem como quanto ao que é a atribuição e a
cognição são influenciadas por simples forças subjetivas de necessidades e desejos [...]
(HEIDER, 1970, P. 141).
Nas relações interpessoais, os acontecimentos psicológicos são representados em cada
um dos participantes. A esse respeito o autor enfatiza que:
Quando
A observa o comportamento de B, esse comportamento
através de entidades psicológicas (e suas reações, como são
orientadas por seus sentimentos expectativas e emoções, só podem
ser
entendidas em função de conceitos psicológicos). A, através de
processos psicológicos em si mesmo, percebe esses processos em B
.
[...]. Evidentemente, essa análise dos processos separados existentes
na percepção de outra pessoa ignora a usual interação entre p e o, e
na qual as percepções que p tem de o são constantemente modificadas
por aquilo que p acredita serem as percepções que o tem dele, bem
como por outras questões.
(HEIDER, 1970, P. 47
-
48).
Portanto, a percepção de pessoa não é uma via de mão única como a percepção das
coisas, na percepção de pessoa existe uma reciprocidade de perspectivas.
Heider (1970) explica que uma pessoa não apenas reage ao que a outra pessoa faz, mas de
forma geral reage ao que pensa que a outra percebe, sente e pensa. Por essa razão, o que
geralmente determina os aspectos essenciais da relação é a suposição daquilo que ocorre no
interior do outro, isto é, as idéias que se tem a respeito das condições e das percepções da
outra pessoa constituem a base de nossas cognições e ações em um relacionamento
interpessoal.
De acordo com a posição de Heider (1970), deve-se esperar uma correspondência entre a
percepção e o objeto distal, isto é, as coisas precisam ser percebidas com suas propriedades
130
invariantes. Entretanto, o percepto busca reduzir elementos que causam tensão, bem como
promover o equilíbrio interno. Dessa forma, a elaboração da imagem é mediada por variáveis
intervenientes, que se pode dizer, consistem em um sistema particular de conceitos e
esquemas interligados de
forma complexa, e não apenas pelos estímulos proximais.
A explicação do outro, de si mesmo ou da situação pode ser resultado de distorções, erros
e diferentes formas de perceber, determinados por algumas variáveis do ambiente e do próprio
percebedor, que
dificultam a cognição.
Fontes comuns de erro se encontram na inclusão deformadora como, por exemplo, na
ilusão de ótica que provoca julgamentos incorretos de comprimento de linhas, e na percepção
social através do efeito halo resultado da sugestão de gloria e prestígio que promove a
tendência para associar o valor de um comportamento a simpatia ou antipatia pelo ator tais
como: um ato é bom quando realizado por um amigo, é mau quando realizado por alguém que
não gostamos ou do impacto das primeiras impress
ões negativas nas interações subseqüentes.
Também nas relações interpessoais a percepção pode ser dificultada quando a situação
significativa é parcial ou totalmente ignorada; quando existe a falsa idéia da constância da
personalidade ou das motivações que persistem por trás da variabilidade comportamental;
quando a situação é percebida egocentricamente, ou seja, quando a situação do outro é
implicitamente suposta como igual a do percebedor; quando as propriedades de uma pessoa
são mediadas por aquilo que outras pessoas dizem ou escrevem sobre elas, através de boatos;
quando se forma uma idéia da pessoa a partir daquilo que ela tem, desconhecendo as razões
que determinaram a propriedade das coisas em questão; e devido à tendência para integrar
novos dados co
mportamentais em falsas crenças. Tudo isso permite ao percebedor perpetuar a
crença de controle que se ajusta à sua necessidade de equilíbrio, bem como interferem
conseqüentemente nas interpretações ou explicações dadas ao próprio comportamento ou ao
compo
rtamento do outro.
131
Existe ainda a questão de que o processo perceptivo permite abordagens idiossincráticas
do mundo, devido a estilos pessoais de perceber. Pode-se destacar alguns estilos perceptuais
individuais através de alguns conceitos, por exemplo: ni
veladores
versus
acentuadores,
autoritários
versus
não autoritários, otimista versus pessimista. Essa forma pessoal de
perceber, por sua vez, também provoca a interpretação dos eventos.
Portanto, a percepção constitui a base para a elaboração das interpretações, e m
fundamental importância tanto na determinação da ação do percebedor, quanto naquilo que
ocorre para ele mesmo.
É necessário ressaltar que de forma geral a interpretação dos eventos se ajustam à imagem
que a pessoa faz de si mesma, dos outros e do ambiente, e em razão a isso, nem sempre elas se
ajustam à realidade objetiva. Entretanto à vezes a situação é tão inflexível que o percebedor
tem pouca possibilidade de não reconhecê
-la. Nesta situação, quem percebe, procura mudar o
ser capaz e o
tent
ar
, tentando eliminar uma delas, com o objetivo de impedir uma ação
indesejável. Nas palavras de Heider (1970):
Especificamente, se o é capaz de fazer
x,
p precisa fazer com que o
não deseje fazer x , a fim de que possa impedir
x,
ou, pelo menos, p
preci
sa impedir que o desejo se torne ativado como uma força na
direção de
x.
Ou, se p sabe que o deseja x
,
p precisa tomar cuidado
para impedir que o seja capaz de provocar x
.
(HEIDER, 1970, p.
141
-
142).
Heider (1970) afirma que são duas as condições para as possibilidades de p ser
maltratado: quando o é capaz de maltratar p
e quando o tenta maltratar p . Se p puder
afastar uma delas estará seguro.
Importa explicar que as relações significativas podem ser representadas em uma
dimensão de graus de gostar,
e graus do poder de
o ,
conforme quadro 4
.
132
O
é capaz
O
não é capaz
O
gosta de p
++
+
O
não gosta de p
_ _
_
QUADRO 4
Dimensões de grau de gostar, e graus de poder de
o.
FONTE:
HEIDER
, 1970, p.142
Na situação em que o
tem grande poder para fazer algo positivo ou negativo, mas sua
atitude é menos positiva em relação a p
(canto inferior esquerdo), surgirão forças para
provocar o afastamento o não gosta de p , isto é, p desejará que o goste mais dele e pode
aproximar
-se de o para conseguir isso. No caso em que as evidencias mostram que o não
gosta de p, a força será na direção de que o não seja capaz de maltratar p, ou para reduzir o
poder de
o,
p
poderá ainda tentar lançar
-
se contra
o
, (canto inferior direito).
Os princípios que orientam os esforços de p se focalizam no ser capaz ou nas condições
de motivação, isto é, no tentar (intenção e esforço).
Assim, tal como em outros fenômenos psicológicos
como percepções e ações
a
atribuição aparece no caso de motivos e afeto
s.
Considerando
-se que a atribuição causal e a significação afetiva de um acontecimento
exercem entre si influência mútua e são interdependentes, decorre-se que a significação
afetiva do acontecimento influi nitidamente em sua determinação causal
(HEIDE
R, 1970, p.
195). Neste sentido, a pessoa escolhe entre as possíveis causas subjacentes, que pertencem ao
nível das atitudes e traços relativamente invariáveis, a que melhor se ajusta às idéias e desejos
que tem tanto a seu respeito quanto a respeito das outras pessoas.Assim, as atitudes em
relação ao eu também exercem influência fundamental para as interpretações das ações de
outras pessoas.
Na interação entre atribuição causal e sentido afetivo, a pessoa procura incluir fatores que
considera significativos de forma a elaborar uma atribuição aceitável. o dois os fatores que
determinam a escolha da atribuição aceitável. O primeiro refere-se à significação afetiva do
133
acontecimento. A pessoa encontra uma razão que se ajuste aos desejos e necessidades de seu
espaço de vida, isto é, procura uma razão que seja pessoalmente aceitável. . Em segundo lugar
o que é escolhido como aceitável precisa também se ajustar às expectativas cognitivas, e
devem, portanto atender às exigências derivadas da razão a respeito de ligações entre motivos
atitudes, comportamento, etc. De acordo com Heider (1970, p. 197), O segundo fator é o da
racionalidade em qualquer racionalização .
Desse modo, o que influi nas ações da pessoa é aquilo que ela considera ser verdade, uma
vez que
a realidade só tem significação psicológica de forma indireta.
Em síntese, a teoria de Heider traz, para a psicologia científica, a maneira pela qual o ser
humano lida com os problemas de relações interpessoais.
As explicações que as pessoas oferecem para as causas de seus próprios comportamentos
ou do comportamento dos outros, denominado atribuição causal, é segundo Heider (1970)
construído no processo de percepção interpessoal. Assim, ao mesmo tempo em que a
atribuição sofre a influência do processo perceptivo, ela determina a direção das relações
interpessoais.
Seu estudo mostra que as pessoas tendem a utilizar causas internas (disposicionais,
próprias do indivíduo) ou externas (situacionais, conforme as circunstâncias físicas ou sociais)
para explicar os
acontecimentos com os quais se confrontam em seu dia a dia.
Assim, o julgamento de uma situação, de suas perspectivas de desenvolvimento futuro, e
da conseqüente ação do percebedor, pode depender do fato de ser feita uma atribuição causal
pessoal ou impessoal. A atribuição revela o tipo de pessoa que se acredita que o outro seja,
como também determinará a aproximação ou o afastamento do outro. Para Heider (1970,
p.330)
[...] tem muita importância para a interpretação do mundo social, a separação entre
fat
ores localizados nas pessoas e os que têm sua origem no ambiente das pessoas .
134
Muitas das idéias em matéria de atribuição sistematizadas por Heider foram
posteriormente desenvolvidas. Perdeu-se, no entanto, a articulação com o princípio do
equilíbrio. No âmbito de uma teoria geral dos processos de atribuição, Jones e Davis (19
65
,
apud RODRIGUES 1981); Kelley (1973) foram os investigadores que mais marcaram esse
campo da Psicologia Social.
Jones e Davis (1965, apud RODRIGUES 1981), se detiveram no estudo dos mecanismos
através dos quais um observador realiza atribuições internas (disposições pessoais) para as
ações de determinados atores, enquanto o modelo de covariação de
Kelley
(1967, apud
VALA; MONTEIRO, 1996),
procurou analisar como os indivíduos process
am as informações
disponíveis no mundo social e as combinam para chegar às causas dos eventos.
Segundo
Kelley (1967, apud MALUF, 1994) os conceitos atribucionais foram
desenvolvidos em muitas áreas da Psicologia Social por pesquisadores que analisaram
dif
erentes fenômenos em várias direções teóricas. Em razão a isso, conforme Kelley (1978,
apud MALUF, 1994), é mais indicado falar em teorias de base atribucional nos vários
campos, ou então, é necessário
[...] que se faça a distinção entre teoria da atribuição (a teoria
sobre dados, regras, inferências, a parte cognitivo-inferencial do
processo) e teorias atribucionais (que admitem conceitos
atribucionais e especificam suas implicações nos vários domínios
sócio
-
psicológicos).
(KELLEY, 1978 apud MALUF, 19
94, p.40).
Finalizando, a teoria da atribuição está interessada em como os indivíduos interpretam
eventos, no âmbito da análise ingênua, e como isto se relaciona a seu pensamento e
comportamento, supõe que as pessoas tentam determinar porque as pessoas fazem o que
fazem, isto é atribuem causas ao comportamento.
Para os nossos propósitos, tão fundamental quanto conhecer a teoria da atribuição é
verificar as dimensões causais propostas por Weiner, e como essas dimensões afetarão as
reações emocionais e conf
litos interpessoais, que serão tratados nos próximos tópicos.
135
3.2 Atribuição de causalidade e reações emocionais
A constante busca de explicações causais por parte do ser humano dirige
-
se a diferentes
eventos vivenciados por ele. Dentre estes, observa
-
se a necessidade das pessoas em saber
porque alguém por quem se interessam , ou se dedicam, não lhe correspondem a atenção e
o afeto, ou porque obtiveram fracasso ou sucesso na realização de uma tarefa (DELA
COLETA; GODOY, 1986)
Weiner (1972), tendo como referência o trabalho de Heider (1970), desenvolveu um
modelo de atribuição aplicado ao ultimo aspecto acima citado, ou seja, à busca de explicações
para o sucesso e o fracasso no desempenho de tarefas. De acordo com o autor, as explicações
causais para situações dessa natureza se enquadram freqüentemente em quatro categorias
básicas: capacidade, esforço, sorte e dificuldade da tarefa (WEINER et al., 1972). Estas
categorias resultariam da combinação de duas dimensões: locus da causa (interno ou externo)
e
es
tabilidade da causa (estável ou instável). Posteriormente, Weiner (1979) classificou essas
explicações causais em três dimensões distintas. São elas:
a)
Locus da causa, que se refere à localização da causa no próprio indivíduo (interna) ou
na situação (externa). Às causas internas são freqüentemente associados o esforço, a
capacidade e o estado de ânimo, enquanto ajuda de outras pessoas, dificuldade de tarefa e
acaso estão associadas às causas externas;
b)
Estabilidade,
que diz respeito à natureza temporal da causa, isto é, ao fato de ela
perdurar no tempo (estável) ou não (instável). Esforço estável, capacidade, dificuldade da
tarefa e ajuda estável estão relacionadas a fatores estáveis, enquanto esforço instável, estado
de ânimo, ajuda instável e acaso rel
acionam
-
se a fatores instáveis;
136
c)
Controlabilidade,
que se associa à influência volitiva que pode (controlável) ou não
(incontrolável) ser exercida sobre a causa. A esse grupo são freqüentemente associados
esforços estáveis, esforço instáveis e ajuda como sendo controláveis, enquanto acaso,
capacidade e ânimo como incontroláveis.
Dessa forma, a habilidade constitui uma causa interna, estável e incontrolável; o esforço,
uma causa interna, instável e controlável; o acaso, uma causa externa, instável e incont
rolável
e a dificuldade da tarefa, uma causa externa, estável e incontrolável.
Weiner (1995) postula que nem todas as pessoas sentem a mesma emoção quando
expostas a uma mesma situação (HASTORF; SCHNEIDER ; POLEFKA, 1973, apud DELA
COLETA; GODOY, 1986), o que mostra a importância dos aspectos cognitivos, bem como
da atribuição de causalidade com relação às emoções. Assim, conforme Dela Coleta e Godoy
(1986), diferentes atribuições a um mesmo evento são capazes de gerar variadas e até mesmo
antagônicas reaç
ões emocionais.
Pesquisas sobre atribuição de causalidade e reações emocionais têm demonstrado que as
conseqüências afetivas da obtenção de sucesso ou de fracasso na realização de uma tarefa
variam em intensidade, conforme a importância do evento, a expect
ativa do sujeito em relação
ao resultado e a atribuição causal que faz (WEINER, 1979).
As reações emocionais dos indivíduos variarão diante do sucesso ou fracasso na
realização de uma tarefa, visto que são influenciadas, direta ou indiretamente, por fatores de
sua história de vida (antecedentes) e pelas causas a que ele atribui o resultado, tomando-se em
consideração as dimensões em que se enquadram tais causas, e que exercem influência sobre
as expectativas e o comportamento futuro dos indivíduos (WEINER; RUSSELL; LERMAN,
1978).
137
3.3 Atribuição de causalidade e reações ao conflito interpessoal
O conflito humano é uma área de estudo onde a teoria da atribuição tem muitas
implicações por serem as atribuições extremamente evidentes no conflito (SILLARS,
1981).
Diversos problemas ocorrem nos conflitos interpessoais devido às atribuições, tema que
foi estudado inicialmente por teóricos da família (BATESON; JACKSON, 1964 apud
SILLARS, 1981; WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 1967 apud SILLARS, 1981).
Esses autor
es usam o termo pontuação para se referirem a exemplos
em que duas pessoas têm diferentes percepções no que diz respeito a
qual ato numa seqüência é estímulo e qual é resposta (i,e., quem está
iniciando um conflito). A designação de causa e efeito é assu
mida
pelos teóricos como arbitrária por causa da causalidade recíproca
em interações interpessoais. Ainda assim, pessoas são freqüentemente
cegas para a causalidade recíproca. Ambos os indivíduos de um par
podem perceber suas ações como provocadas por ações anteriores de
seu parceiro e , assim, demonstrar comportamentos que contribuem
pra um ciclo destrutivo ou disfuncional. (SILLARS, 1981,
p.
282).
Por quê os parceiros falham em perceber a causalidade mútua dos conflitos no
relacionamento? Sillars (1981) sugere que as características da relação interpessoal criam
confusão de informações. Numa situação onde as ações de uma pessoa são baseadas em
atribuições à outra pessoa, as verdadeiras intenções e disposições desta serão difíceis de
acessar porque suas próprias ações são, da mesma forma, baseadas nas atribuições feitas ao
comportamento da primeira pessoa. Além disso, os principais envolvidos podem ter uma
necessidade de simplificar suas estruturas cognitivas para reduzir a sobrecarga de informações
e facil
itar a ação.
138
Diferenças atribucionais ator-parceiro são provavelmente mais comuns e pronunciadas em
conflitos interpessoais do que na maioria dos contextos sociais. Os sujeitos atores tendem a
interpretar mal a intenção do parceiro, a superatribuir responsabilidade pelos conflitos ao
parceiro, a superestimar a estabilidade dos conflitos. As atribuições estáveis estão implícitas
na tendência de dar explicações negativas, estáveis para o comportamento do parceiro. As
três
dimensões de atribuições afetarão tipicamente a escolha da estratégia de resolução do conflito
pelo indivíduo.
Atribuições de intenção foram definidas como um importante agente em conflitos
(intencionalidade da causa). Os estudos nesta área demonstram que a cooperatividade de um
indivíduo depende das intenções atribuídas ao parceiro ou oponente. Do mesmo modo,
estratégias integrativas terão pouca utilidade se for esperado que o parceiro resista a propostas
integrativas ou de compromissos e assim por diante. Desse modo, podemos supor que
estra
tégias de conflito integrativo serão utilizadas principalmente quando é esperado que o
parceiro coopere. (SILLARS, 1981).
O local percebido da causalidade ou responsabilidade pelo conflito (
locus
da causa) é um
fator determinante primário de reações emocionais e avaliativas. A esse respeito, Sillars
(1981, p. 286) sugere que estratégias integrativas de conflito são mais prováveis quando os
conflitos são atribuídos à própria pessoa e estratégias distributivas são mais prováveis
quando a responsabilidade é a
tribuída ao parceiro .
A atribuição de causalidade estável versus instável (estabilidade da causa) para o conflito
afeta o incentivo à comunicação entre os principais envolvidos. Causas de conflito estáveis,
tais como características da personalidade, são difíceis de mudar ou controlar.
Conseqüentemente, se as pessoas atribuírem os conflitos a fatores como conflito de
personalidade ou total incompatibilidade , haverá pouco incentivo para a comunicação. A
passividade é, por conseguinte, uma estratégia plausível para lidar com o conflito. Assim,
139
estratégias de conflito integrativas são menos prováveis, enquanto as passivo-indiretas são
mais prováveis quando os conflitos são atribuídos a fatores estáveis versus instáveis.
Os resultados de dois estudos de Sillars (1981) sobre conflitos entre companheiros de
quarto numa universidade indicaram que os sujeitos atores tendem a superatribuir a
responsabilidade pelo conflito ao parceiro ou adversário e a subestimar os efeitos do seu
próprio comportamento. Em ambos os estudos, a culpa direcionada ao outro e a estabilidade
percebida dos conflitos foram maiores quando a satisfação foi menor, os conflitos foram mais
importantes e a freqüência de conflitos entre companheiros de quarto foi maior.
Isso parece sugerir que grandes diferenças entre ator e parceiro são indicativas de
relacionamentos em deterioração e inabilidade para lidar com conflitos.
A intensidade dos conflitos pode aumentar as discrepâncias atribucionais ator-
parceiro
pelas seguintes razões: (a) os conflitos mais importantes e intensos são mais uma ameaça à
auto
-estima e, dessa forma, deve aumentar a tendência ego-defensiva; (b) conflitos mais
emocionais devem exagerar os efeitos evidentes do comportamento emocional; (c)
a
comunicação é tipicamente constrangida em conflitos mais emocionais e a comunicação que
de fato ocorre pode ser usada para enganar ou coagir. Assim sendo, enquanto os conflitos se
intensificam, as discrepâncias informacionais ator-parceiro são exageradas porque os
participantes dividem menos informações e a informação que é compartilhada tenderá ao
descrédito.
Sillars (1981) conclui que as atribuições e tendências atribucionais podem afetar o ajuste
do relacionamento pela influência na maneira com que os indivíduos manipulam os conflitos.
Grandes diferenças atribucionais ator-parceiro provavelmente reduzem a habilidade do par na
condução de conflitos através de uma comunicação construtiva.
140
Outro modelo cognitivo para o estudo do conflito é apresentado por Brehm (1985). As
várias conexões que existem entre a perda do controle, atribuições causais, e esforços para
estabelecer o controle estão diagramados na Figura 1.
A respeito dos processos demonstrados na Figura 1, é possível perceber que, exceto pelas
atribuições a fatores situacionais controláveis, nenhuma das outras atribuições (até aquelas
direcionadas a outros fatores controláveis) estão fora de seus custos psicológicos. Quando o
sujeito ator acredita que o parceiro é o culpado pelo conflito no relacionamento,
provavelmente sentirá uma grande parcela de raiva. Particularmente, haverá sentimento de
raiva se pensar que o parceiro poderia ter controlado seu comportamento, porém não o fez.
FIGURA 1
-
Controle e Atribuições Causais Durante o Conflito
FONTE:
BREHM
,
1985.
Neste modelo Brehm (1985) propõe que a controlabilidade da causa atribuída ao conflito
determina as emoções (culpa, raiva, etc.) e o comportamento subseqüente.
Na seqüência será apresentado o modelo integrativo proposto por Weiner.
141
3.4 Atribuição de causal
idade e reações comportamentais: um modelo
integrativo
Weiner (1972) seguiu de perto as contribuições dos princípios teóricos de Heider, e
desenvolveu uma estrutura teórica que se tornou um paradigma de pesquisa de grande
importância na psicologia socia
l.
A teoria de Weiner (2004) foi aplicada extensamente na educação, na lei, na psicologia
clinica e no domínio da saúde mental
Weiner (1974) como citado, identificou a capacidade , o esforço, a dificuldade da
tarefa, e a sorte como os fatores mais importantes que afetam atribuições de realização.
Classificou as atribuições ao longo de três dimensões causais: lócus da causa, da estabilidade
e da controlabilidade.
Estudos sobre atribuição de causalidade relacionada ao comportamento foram
desenvolvidos a partir dos anos 60. Destes estudos, Weiner (1972) concluiu que poderiam ser
retirados dois paradigmas. Um dos paradigmas de pesquisa relaciona a atribuição causal à
expressão afetiva. Em um
dos
experimentos, (LAZARUS et al., 1965 apud WEINER, 1972),
foram
obtidos resultados que confirmam a hipótese básica de que a cognição afeta as reações
emocionais. O estudo mostrou que as avaliações cognitivas diminuem a resposta emocional
ao filme exibido no experimento se comparadas ao grupo de controle, não exposto ao
estímulo.
Em resumo, Lazarus e seus associados mostraram que as reações emocionais são uma
função das cognições relacionadas ao estímulo percebido. Além disso, sugerem que a
seqüência emoção-motivação postulada seja alterada, e motivação e emoção sejam am
bas
vistas como respostas que seguem a avaliação cognitiva da situação de estímulo. As emoções,
142
então, tornam-se importantes em si mesmas, e a motivação torna-se mais intimamente
associada à cognição do que ao afeto.
O segundo paradigma relaciona a atribu
ição causal à expectativa de sucesso.
Deste modo, Weiner et al.
(1972) sugerem que um modelo de ação atribucional geral deva
incorporar a influência da atribuição causal em ambos, afeto e expectativa, assumindo a forma
conforme demonstrado na Figura 2.
FIGURA 2
-
Modelo atribucional de ação (WEINER et al., 1972)
O modelo de Weiner indica que um estímulo provoca as cognições sobre as causas de um
resultado comportamental, as cognições determinam respostas afetivas e expectativas de met
a
assim como comportamentos subseqüentes. Pode
-
se dizer que o estímulo envolve
as condições antecedentes, que por sua vez determinam ou co-
determinam a mediação cognitiva que resulta numa atribuição
causal, onde são identificadas as seguintes dimensões: lócus da
causa, estabilidade e controlabilidade, que terão efeitos primários
diferenciados a nível cognitivo, afetivo e da ação e que serão
acompanhados de outras conseqüências, como por exemplo
intensidade de desempenho, persistência e escolha (WEINER,
1979,
p. 18
).
Vale ressaltar ainda que, de acordo com Weiner (1979) a conceituação das dimensões da
atribuição causal ainda estão em processo de construção, sendo, portanto, este o motivo de
controvérsias na análise das pesquisas.
Embora pareça haver consenso de que uma atribuição é uma explicação dada para um
evento (FINCHAM, 1983
;
SILLARS, 1985), pouca atenção explícita foi devotada para a
143
especificaç
ão mais precisa no que concerne às dimensões necessárias para caracterizar uma
explicação causal. Isso talvez não seja surpreendente, pois são comuns na literatura básica
sobre psicologia social controvérsias a respeito da conceituação e medida das atribui
ções.
Pode
-se argumentar, no entanto, que uma resolução para a confusão das atribuições
causais, ou explicações para a ocorrência de um evento, adviria da definição de um conjunto
de dimensões irredutível e finito no qual todas as causas possam ser julgad
as.
Weiner (1986, p. 44) voltou-se para essa tarefa, e através de uma revisão do corpo de
pesquisa e teoria concluiu que há uma agradável simplicidade para a estrutura atribucional
[...] umas poucas dimensões básicas subjazem à organização da explicação causal . Em
particular, parece que a taxonomia das atribuições causais abrange o lócus, a estabilidade e as
dimensões de controle de tal forma que uma causa é julgada de acordo com sua localização,
até que ponto flutua ou permanece constante, e até que grau
é controlável ou incontrolável.
Weiner (1986) também reconheceu a possibilidade de que uma taxonomia causal
abrangente pode requerer inclusão das dimensões: específica versus global e não intencional
versus intencional. Entretanto, a dimensão específica versus global não emergiu em análises
empíricas das dimensões subjacentes das causas
percebidas
(WIMER; KELLEY, 1982
),
em
pesquisas realizadas em áreas de conteúdo relativamente circunscritas (por exemplo
sucesso
e fracasso no domínio da realização).
Por outro lado, a segunda dimensão considerada por Weiner (1986), não intenci
onal
versus intencional, diferente das dimensões de lócus, estabilidade e controlabilidade, não é
propriedade de uma causa, mas uma característica imputada a um indivíduo que realiza um
evento. Como conseqüência, Weiner(1986) designou à dimensão da intenção um papel menor
em sua taxonomia causal. É importante notar, contudo, que a ênfase do trabalho de Weiner é
nas dimensões da atribuição causal.
144
Sobre as dimensões de atribuição é importante esclarecer que alguns psicólogos
(BREWIN; ANTAKI, 1987
apud FINCHAM; BRADBURY, 1988; FINCHAM; JASPARS,
1980
apud FINCHAM; BRADBURY, 1988; SHULTZ; SCHLEIFER, 1983) na tentativa de
especificar os tipos de atribuição distinguem atribuições causais das atribuições de
responsabilidade e, além
disso, distinguem ambas das atribuições de culpa. Assim, enquanto a
atribuição causal pertence aos fatores que produzem um evento, a atribuição de
responsabilidade envolve um julgamento relacionado à responsabilidade final de um
indivíduo pelo evento e, atribuição de culpa é um julgamento avaliativo que concerne à
imputabilidade do indivíduo implicado para a censura.
Para
Shaver (1985)
a responsabilidade é um julgamento feito antes que uma razão seja
dada e avaliada. A partir desta perspectiva a culpa não pode ser determinada veridicamente
sem se conhecer o motivo da pessoa para seu comportamento. Porém, para Bradbury e
Fincham (1990), no relacionamento intimo, os cônjuges prontamente designam culpa na
ausência de um input do parceiro e sem a aparente necessidade de tal input. É então
improvável que esta seja uma característica distintiva relevante entre responsabilidade e culpa
no relacionamento conjugal. Nesse sentido, a distinção entre responsabilidade e culpa no
relacionamento conjugal, parece repousar apenas na extensão em que o julgamento é
avaliativo com relação à falta e à i
mputabilidade para censura.
Além disso
,
Shultz e Schleifer (1983), argumentam que as atribuições de causa,
responsabilidade e culpa podem ser fenômenos distintos, mas também são provavelmente
desdobráveis em uma seqüência ordenada. Esse ordenamento é conhecido como o modelo do
vínculo ou da pressuposição (SHULTZ; SCHLEIFER, 1983), de forma que a designação da
culpa pressupõe um julgamento de responsabilidade que, em contrapartida, pressupõe uma
atribuição de causa. Ademais, questões referentes à responsabilidade tipicamente emergem
145
somente quando um indivíduo causou algum evento, e julgamentos de culpa tipicamente
emergem somente quando um indivíduo é
considerado responsável pelo evento.
Diante do exposto, verifica-se que diferente da responsabilidade, a culpa é primariamente
um julgamento avaliativo que envolve falta e imputabilidade para a censura. Assim, quem
atribui pode manter alguém responsável por um evento, mas não culpá-lo por isso. Essa
ultima característica realmente parece ser relevante para estudos sobre violência,
especialmente a violência conjugal.
Weiner (1986), porém, explicitou não ser necessário manter a distinção entre atribuições
de causa, atribuições de responsabilidade e atribuições de culpa. Em seus estudos,
julgamentos de intenção e volição são identificados como atribuições causais em vez de
atribuições de
responsabilidade (
CAMPER et al., 1988
).
Entretanto, por ser a intenção uma dimensão central na determinação da violência, pode-
se argumentar que não deve ser vista como um elemento menor da atribuição causal, mas
como um elemento básico da atribuição nos estudos sobre violência. Dimensões adicionais de
atribuição que combinam com a intenção para definir o domínio da atribuição da violência
tais como evitabilidade e culpa devem ser consideradas da mesma forma. Essa contribuição
foi baseada nos estudos sobre de psicologia social sobre violência conforme capítulo 1.
Apesar das lacunas, estudos no campo da violência conjugal sob a base da teoria da
atr
ibuição serão apresentados a seguir alguns estudos nesse campo.
146
3.5 Atribuição de causalidade e violência conjugal
Uma suposição comum dos modelos de atribuição em psicologia social é que as
atribuições de um indivíduo afetarão seu comportamento subseqüente (HEIDER, 1970;
KELLEY, 1973). Por exemplo, Heider (1970) notou que a nossa reação a uma experiência
desagradável é fortemente influenciada pela atribuição a uma fonte, a qual podemos ver em
uma outra pessoa, nos trabalhos do acaso ou em nós mesmos. Quando um dano é atribuído a
um agente pessoal, é mais provável que leve a uma reação agressiva. Esta noção é básica
também para aplicações de modelos de atribuição, particularmente na área do matrimônio e
relacionamentos íntimos (BAUCOM ; EPSTEIN, 1990).
recentemente os pesquisadores começaram a estudar o papel potencial dos processos
cognitivos na violência conjugal. Um enfoque comum de pesquisa nessa literatura em
desenvolvimento são as atribuições ou explicações que os cônjuges fazem para eventos que
ocorrem em seu matrimônio. Especificamente tem havido um interesse em examinar as
atribuições causais oferecidas pelos próprios cônjuges.
Segundo Bradbury e Fincham (1992), duas questões que guiaram quase todas as pesquisas
em atribuições conjugais concernem se uma associação entre as atribuições dos cônjuges
para eventos conjugais e satisfação conjugal e se essa associação é causal.
Um outro tema que emerge na investigação das atribuições é o problema da violência
conjugal. Em particular o fenômeno da auto culpa atraiu atenção considerável para explicar
eventos violentos ocorridos nos relacionamentos (ANDREWS ; BREWIN, 1990).
Algumas pesquisas desenvolvidas em torno desse problema tratam de discursos de
esposas como um processo atribucional para atos e eventos violentos do parceiro íntimo que
são usados com o propósito de manter o relacionamento.
147
Como explica Eisikovits (1996), a teia de discursos criada pelas parceiras, envolvidas na
violência íntima, é funcional para a permanência da união e limita a
violência de forma que se
torne suportável.
Tais pesquisas são relativamente limitadas e m-se referido, por exemplo, a temas como:
justificativas
discursos nos quais a pessoa aceita a responsabilidade pelo ato em questão,
mas nega a qualidade pejorativa associada a ele, como por exemplo a tima mereceu
e
desculpas, que são discursos nos quais a pessoa reconhece a impropriedade do ato, mas nega
totalmente a responsabilidade pela sua ocorrência.
por ex. colocar a culpa nela.
(ANDREWS; BREWIN, 1990;
HOLTZWORTH
-MUNROE; HUTCHINSON, 1993;
HOLTZWORTH
-MUNROE et al., 1992; STAMP; SABOURIN, 1995); técnicas de
neutralização, que equilibram o impacto negativo do ato violento alterando seu significado ou
direcionando
-o para a esperança de uma vida boa (HYDEN, 1994); racionalizações
(FERRARO, 1983; FERRARO; JOHNSON, 1983), e estratégias de resistência em
relacionamentos violentos (FERRARO, 1983; JONES, 1993).
Contudo, alguns estudos utilizam o termo discursos para comparar respostas de homens
e mulheres com relação aos tipos, às injúrias e à prevalência dos comportamentos violentos
(DOBASH et al., 1998).
A maior parte das pesquisas sobre violência íntima toca apenas indiretamente no tema dos
discursos. Os assuntos tratados que fornecem informações relevantes a t
ais discursos incluem:
permanecer ou deixar o relacionamento abusivo (GELLES, 1976; JONES, 1993); atribuição
da culpa pela decisão de permanecer ou sair (ANDREWS; BREWIN, 1990; BARNETT;
MARTINEZ; KEYSON, 1996) ; maneiras de lidar com a responsabilidade e de assumir a
culpa pela violência a outros (CANTOS; NEIDIG; O'LEARY, 1993; HOLTZWORTH-
MUNROE et al., 1992); assumindo responsabilidade pelas situações que levam conflitos à
violência (HOLTZWORTH-MUNROE et al., 1992; JONES, 1993); perda da esperança e
1
48
avalia
ção da decisão de deixar o relacionamento violento (BERGEN, 1995; EISIKOVITS;
BUCHBINDER; MOR, 1998; FERRARO; JOHNSON, 1983) ; fatores que levam uma
mulher sem antecedentes criminais a cometer um ato extremo como o assassinato de seu
parceiro (BROWNE, 1986
).
Embora os estudos previamente mencionados proporcionem importantes informações
sobre as atribuições de mulheres em relacionamentos abusivos o pequeno corpo de pesquisa
conduzido sobre os processos de atribuição das mulheres envolvidas em violência conj
ugal
produziu resultados conflitantes.
Enquanto, vários relatos iniciais enfatizam que mulheres que sofrem abuso culparam a si
mesmas pela violência (WALKER, 1984), uma revisão dessa literatura concluiu que mulheres
fisicamente agredidas freqüentemente listam mais de uma causa para a violência, e
normalmente culpavam a si mesmas e ao parceiro ou algum aspecto de sua interação com o
parceiro (HOLTZWORTH
-
MUNROE, 1988).
Frieze (1979), aponta que a literatura sobre os processos de atribuição de mulheres
espanc
adas sugere razões para que se façam previsões opostas sobre os tipos de atribuições
sustentadas por
essas mulheres.
Isso pode ser evidenciado em pesquisas sobre antecedentes da atribuição relativa ao que
leva uma mulher envolvida em um relacionamento conjugal violento a culpar a si mesma e
outra a culpar seu agressor. Embora uma das mais importantes pistas situacionais para culpar
o parceiro quando a violência é experimentada possa ser sua severidade (HOLTZWORTH-
MUNROE, 1988), variáveis como as influências sociais também podem desempenhar um
papel importante na formação das atribuições, devido à tendência reportada pelos
perpetradores e observadores de culpar a vítima. Em tais situações, a auto culpa pode ser
reforçada pelas reações dos outros. A literatura evidencia que o abuso em família parece
ocorrer dentro de um contexto de exploração psicológica, em que os que abusam usam seu
149
poder para manipular a percepção de realidade das vítimas. Por exemplo, Walker (1979),
apresenta alguns aspectos que evidenciam que esposas que sofrem abuso podem ser
persuadidas por seus maridos de que são incompetentes, histéricas e frígidas.
Frieze (1979); Andrews e Brewin (1990), encontraram que as mulheres são mais
inclinadas a culpar a si mesmas enquanto estão no relacionamento do que após o terem
abandonado e quando realmente culpam a si mesmas, tendem a fazer atribuições instáveis ou
comportamentais, culpando algum aspecto modificável de seu comportamento em vez do
caráter.
Bradbury e Fincham (1990), demonstraram que não gostar do cônjuge torna maior a
probabilidade de se perceber a causa de eventos negativos como internas ao parceiro.
Shields e Hanneke (1983) reconheceram que a auto-culpa nos estágios iniciais de
vitimação pode representar uma tentativa por parte da mulher de manter o relacionamento
conjugal, enquanto que uma culpa-
do
-marido posterior pode representar um rompimento
emocional no relacionamento. Essas hipóteses são consistentes com pesquisa sobre mulheres
espancadas que encontra uma alteração de auto-culpa para culpa-
do
-marido no decorrer do
tempo (SHIELDS; HANNEKE, 1983).
Uma possível explicação para esses resultados é de que uma tendência à auto culpa
com relação ao primeiro episódio de violência, mas não em geral, conforme sugeriu Frieze
(1979).
A violência conjugal tende a envolver incidentes repetidos, e isso pode levar a alterações
da culpa no decorrer do tempo. Além disso, uma revisão indica que estudos existentes sobre
violência conjugal não distinguem entre atribuições feitas pelas mulheres que estão em
relacionamentos violentos daquelas feitas pelas mulheres que não vivenciam mais a
violência conjugal (HOLTZWORTH-MUNROE, 1988). Dessa forma, a culpa pode ser
modificada uma vez que a mulher está fora do relacionamento violento.
150
Nessa perspectiva, poder-
se
-ia esperar que a pesquisa que enfoca a vitimação precoce
produza atribuições que indiquem causas externas para a violência do marido (externas a ele),
e que a pesquisa que enfoca a vitimação tardia produza atribuições que indiquem causas
internas
para a violência do marido (internas a ele), e respectivamente apontem para a
permanência ou para o rompimento da relação.
Entretanto, vale lembrar ainda que muitos pesquisadores que trabalham a partir da
perspectiva de atribuição de um mundo justo encontraram uma tendência tanto em relação
aos observadores de culpar as vítimas por seus destinos (COATES; WORTMAN; ABBEY,
1979 apud Shields; Hanneke, 1983 ; LERNER; MILLER, 1978 apud Shields e Hanneke,
1983), quanto encontraram a auto culpa entre as vítimas (CHODOFF; FRIEDMAN;
HAMBURG, 1964 apud Shields; Hanneke, 1983; ROSS; DITECCO, 1975 apud Shields;
Hanneke, 1983; WORTMAN, 1976 apud SHIELDS; HANNEKE, 1983).
Por outro lado, condizente com alguns relatos (HOLTZWORTH-MUNROE, 1988;
HOLTZWORTH
-MUNROE et al., 1992; SHIELDS; HANNEKE, 1983) e condizente com a
tendência geral de atribuir coisas boas a si mesmo e coisas ruins a fatores exteriores
(HEIDER, 1970; FRIEZE; WEINER, 1971), Cantos; Neidig; O Leary (1993) encontraram
que tanto homens quanto mulheres são mai
s inclinados a culpar o cônjuge (locus de atribuição
de culpa) com maior freqüência do que a si mesmos para o primeiro e o ultimo episódios de
violência. Contudo, significativamente mais maridos que mulheres culparam a si mesmos pelo
último episódio de vio
lência, por exemplo, 61% e 32% respectivamente.
Cantos; Neidig; O Leary (1993) explicam ainda, que mulheres agredidas tendem a
designar menos culpa a si mesmas e mais aos maridos com o aumento da severidade da
violência a qual são sujeitas e foram mais inclinadas a ver as causas do abuso como estáveis
se tiverem sido mais severamente feridas.
151
Os resultados apresentados pelos autores acima citados estão de acordo com as previsões
da teoria da atribuição, afirmando que comportamentos mais extremos são geralmente vistos
como mais prováveis de serem causados pelo agente e com maior intenção do agente
(JONES; DAVIS, 1965 apud CANTOS; NEIDIG; O LEARY, 1993).
Entretanto, no intuito de manter o relacionamento, os parceiros utilizam discursos
atribucionais mutuament
e validados.
Eisikovits; Goldblatt; Winstok (1999) demonstraram que para tornar um discurso
plausível, quando um casal precisa responder por violência severa por tentar permanecer
unido, é provável que dê uma explicação relacionada à perda de controle como causa de sua
ocorrência (por quê aconteceu). Apontam ainda, três condições preliminares para que sejam
gerados discursos baseados na perda de controle. São eles: 1) temperamento explosivo,
caracterizado como uma característica inata transmitida de geração em geração e, que está
além do controle da pessoa, possui curta duração, proporciona alívio e dissipa-se após a
reação quando tudo volta ao normal; 2) vida estressante, sendo esta uma condição mais
difusa gerada por fatores interpessoais e sociais, tais como alcoolismo, conflitos íntimos, ou
desemprego e 3) fatores situacionais que por sua vez são relacionados a ouvintes e
participantes que tanto ajudam a controlar quanto a catalisar a perda do controle.
Os autores acima mencionados entendem que a percepção da violência como uma
conseqüência da perda de controle é funcional para a preservação da união em duas
dimensões: Em primeiro lugar, libera o homem de sua responsabilidade por seu
comportamento, na medida em que está temporariamente inconsciente do que faz. Em
segundo, a perda de controle ocorre e termina dentro de um curto período de tempo e dessa
forma não representa o comportamento do homem em geral. Conseqüentemente, o homem é
geralmente considerado são e por isso um parceiro que vale a pena (GOLDBLATT, 1989
apud EISIKOVITS; GOLDBLATT; WINSTOK, 1999; PTACEK, 1988 apud EISIKOVITS;
152
GOLDBLATT; WINSTOK, 1999). Para os referidos autores este tipo de discurso é mais
comumente formulado para explicar os problemas relacionados ao estresse, e uma vez que
tai
s atribuições causais são estabelecidas, os agentes incluem a violência e a redefinem como
um sintoma de angústia.
Na mesma perspectiva, Andrews (1992); Holtzworth-Munroe (1992); Stamp e Sabourin
(1995) admitem que as pessoas que fazem uso desses discursos reconhecem a existência da
violência em suas vidas, mas por outro lado negam a responsabilidade por sua ocorrência, que
é determinada por fatores que estão além do controle do perpetrador.
Os discursos baseados na perda de controle são paradoxais e contraditórios em sua
natureza: Por um lado, o casal chega a uma tentativa de acordo de que o perpetrador não pode
controlar seu comportamento; de outro lado, fatores situacionais, são considerados como
forças mitigantes da explosão de violência.
O fracasso em
prover um discurso bem sucedido pode levar tanto ao aumento gradativo da
violência quanto a uma identificação de um discurso alternativo (p.e., centralizar em boas
intenções), ou a separação se nenhum discurso articulado é encontrado (EISIKOVITS;
GOLDBLATT
; WINSTOK, 1999).
Enfim, nessa perspectiva Eisikovits; Goldblatt ; Winstok (1999) consideram que o tipo de
explicação causal dado pode tornar-se um refúgio para os parceiros, no sentido de possibilitar
a permanência em um relacionamento conjugal violento em que ambos se percebem como
vítimas: ele, de sua situação de vida caótica, e ela, da violência dele.
Conclui
-se, a partir dos aspectos levantados, que as atribuições que os cônjuges fazem
para a violência que ocorre em seu relacionamento conjugal podem estar associadas a sua
intenção de permanecer ou de romper o relacionamento.
Dada a falta de concordância, em vários estudos que lidam com relacionamento conjugal
violento é de considerável interesse saber até que ponto tais mulheres culpam a si mesmas
153
pel
a violência, isto é, se se vêem pessoalmente responsáveis por sua vitimação ou não, e se
suas atribuições causais estão relacionadas às suas repostas comportamentais.
Apesar do progresso feito em direção à compreensão das atribuições dos cônjuges em
relaci
onamentos violentos, permanecem questões fundamentais com relação ao seu real
impacto para a permanência da vítima nesse tipo de relacionamento. De fato, um primeiro
motivo para o estudo das atribuições em relacionamentos conjugais violentos, precisa
proporcionar uma explicação para o que leva as mulheres a permanecer ou não no
relacionamento, examinando até que ponto as associações entre violência conjugal e
atribuições são alteradas quando a mulher decide romper o relacionamento.
Em vista das ligações teórica proposta por Weiner (1985), entre atribuições e afetos seria
útil determinar se certas atribuições prevêem diferencialmente expressões afetivas, tais como
no caso da mulher ver as causas da violência conjugal como interna instável ao parceiro
poderia
prever tristeza e angustia, enquanto que ver o parceiro comportar-se intencionalmente
e de forma egoísta, ou seja, ver as causas da violência como interna estável poderia prever
raiva.
Da mesma forma pode-se prever que o comportamento de permanecer ou romper uma
relação conjugal violenta é uma função da variação nas atribuições da mulher abusada no
decorrer do tempo.
Uma associação entre atribuições e comportamento na interação conjugal parece
plausível, ainda que somente uns poucos estudos tenham tratado este tema (BRADBURY;
FINCHAM, 1992).
Um estudo realizado por Fincham; Beach; Nelson (1987)
indicou que as atribuições dos
cônjuges estavam relacionadas as suas repostas comportamentais e afetivas relatadas, mas
somente quando os julgamentos da atribuição concerniam a responsabilidade final dos
parceiros por suas ações. Resultados relacionados foram apresentados por Sillars (1985), que
154
encontrou que o grau em que os cônjuges culparam seus parceiros covariou com mais
comportamento negativo e menos comportamento positivo na interação.
Em síntese, a literatura sugere que as dimensões de lócus, estabilidade, controle, intenção,
evitabilidade e culpa são necessários e importantes para a avaliação das atribuições causais
relativas à violência conjugal e para a permanência ou não da mulher no relacionamento.
Concluída a apresentação dos estudos relativos à atribuição causal, o próximo capítulo
apresentará as justificativas, os objetivos e a proposta de investigação deste estudo.
CAPÍTULO 4
JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS
4.1 Justificativa
O tema a ser investigado é decorrente da experiência no programa de extensão da
Faculdade de Psicologia na Delegacia da Mulher, onde se oferece acolhimento psicológico a
mulheres vítimas de violência. Durante o acolhimento tem sido observado, de modo
assistemático, que as mulheres que buscam a Delegacia a fim de dar queixas contra os
parceiros agressores vivem um relacionamento violento há vários anos. As queixas referem
-
se
à violência física e psicológica que ocorrem, quase sempre, desde o início do relacionamento.
Observa-se, também, que a maioria das mulheres que sofrem violencia acaba por retirar a
queixa e, tempos depois, retornam à Delegacia por estarem mais uma vez sofrendo ameaças,
surras, depreciações e todo tipo de violência (MARQUES; RAMOS ; ROD
RIGUES
, 2001;
MARQUES
et al., 2001;
MA
RQUES
et. al., 2000;
MARQUES ; PINTO JUNI
OR
., 1999).
Entender o processo que mantém as mulheres nesta relação pode subsidiar a prática de
profissionais que trabalham nesta área, espera-se, ainda, contribuir com sugestões que possam
melhorar o atendimento oferecido na Delegacia da Mulher de Uberlândia e gerar hipóteses
para novas investigações.
156
4.2
O
bjetivos
Considerando
que
o tema em foco é a violência conjugal, especificamente do homem
sobre a mulher, e a permanência das mulheres nesse tipo de relação, o presente estudo
orientou
-
se por dois objetivos.
O primeiro deles foi obter informações sobre a violência conjugal contra mulheres
agredidas que recorrem ao apoio policial e/ou jurídico, através dos registros nos arquivos
da
Delegacia da Mulher Adida ao Juizado Especial Criminal (Boletim de Ocorrência - BO) e
Juizado Especia
l Criminal de Uberlândia (Termo Circunstanciado
de Ocorrência
-
TCO
).
Desse modo, a primeira parte deste trabalho teve como objetivos:
Descrever as características demográficas das mulheres vítimas de violência e de
seus parceiros em casos de violência conjugal, registrados em Boletins de
Ocorrência da Delegacia da Mulher de Uberlândia e nos Termos Circunstanciados
de Ocorrência do Juizado Especial Criminal, que se encontravam em anda
mento,
respectivamente, nos períodos de janeiro a junho de 2004 e janeiro de 2003 a maio
de 2004.
Identificar a queixa que levou as mulheres agredidas a denunciar (Boletim de
Ocorrência) e ou formalizar a denúncia (Termo Circunstanciado de Ocorrência) de
s
eus parceiros.
Identificar o tipo de violência através da Descrição Penal e Incidência Penal ,
conforme denominação nos registros dos Boletins de Ocorrência e Termos
Circunstanciado de Ocorrência, respectivamente.
Num segundo momento, considerando os dados mundiais que demonstram a alta
freqüência da manutenção do relacionamento conjugal, mesmo após diversos e contínuos
157
episódios de agressão, este trabalho teve como foco principal compreender como ocorre o
processo decisório de insistir em manter ou desistir do relacionamento abusivo. Esta análise
focalizou as atribuições, sentimentos, expectativas e ações em dois momentos: após a
primeira
(retrospectiva) e última
agressão sofrida
s.
Para este objetivo foi adotada como base teórica a atribuição de causalidade e, como
referência, o modelo proposto por Weiner et al. (1972) e as sugestões de Sillars (1981) e
Brehm (1985).
Esta abordagem gerou a seguinte proposta de modelo (figura 3) para investigação:
(3)
Sentimentos
Violência Conjugal Atribuição Causal
Ação
(1)
(2)
Expectativas
(5)
(4)
FIGURA 3
-
Mode
lo atribucional de violência
conjugal.
Foram analisados as atribuições de causalidade (locus, estabilidade e controlabilidade, da
causa percebida), sentimentos, expectativas e comportamentos das mulheres agredidas nos
primeiros eventos de violência conjugal e após a tomada de decisão sobre dar queixa na
Delegacia da Mulher (TCO).
As variáveis do modelo são definidas a seguir:
(1) = Atos agressivos, físicos ou psicológicos perpetrados pelo companheiro. Agressão praticada
pelo
parceiro
de relações amorosas e sexuais estáveis que resultam em sofrimento físico,
psicológico, econômico ou sexual à mulher.
158
(2) = Causa percebida pela mulher para o ato de agressão perpetrado contra ela pelo parceiro.
Atribuição causal à violência sofrida:
lócus e estabilidade da causa.
grau de culpa.
controlabilidade da causa.
grau de intencionalidade do agente.
grau de evitabilidade da agressão pelo agente.
(3) = Sentimentos da mulher decorrentes
da agressão sofrida. Sentimentos experimentados após
a agressão:
direção dos sentimentos.
tipo de sentimentos.
(4) = Expectativas da mulher relativas ao futuro com e sem o companheiro. Expectativas:
expectativas após ter dado queixa.
expectativas quant
o a permanecer no relacionamento.
expectativas quanto a não permanecer no relacionamento.
(5) = Comportamentos da mulher após ter sido agredida (coping). Ação:
coping após agressão.
decisão de dar queixa na delegacia.
intenção de continuar
versus
abando
nar o relacionamento.
Finda a exposição da literatura, dos objetivos e do modelo investigativo, será apresentado
a seguir a
segunda
parte deste trabalho que tratará dos aspectos metodológicos, resultados,
discussão e conclusão.
CAPÍTULO 5
MÉTODO
5.1 A
mostra
O presente estudo baseou-se em três fontes de dados: levantamento de informações nos
arquivos da Delegacia Adida ao Juizado Especial de Uberlândia e do Juizado Especial
Criminal de Uberlândia, a saber, Boletim de Ocorrência (BO) e Termo Circunstanciado de
Ocorrência (TCO) e entrevistas. Dessas fontes originaram-se três amostras distintas de
mulheres vítimas de violência conjugal que serão descritas a seguir. Assim, esse estudo foi
desenvolvido em duas fases, consistindo a primeira delas no levantamento de dados nas
instituições pesquisadas e a segunda, por sua vez, na realização de entrevistas.
5.1.1 Primeira fase
Levantamento dos arquivos da Delegacia Adida ao Juizado Especial de Uberlândia e do
Juizado Especial Criminal de Uberlândia:
(1) Levantamento dos dados contidos em todos os Boletins de Ocorrência da Delegacia
Adida ao Juizado Especial de Uberlândia no período de janeiro a junho de 2004. O exame de
6.764 Boletins de Ocorrência revelou 876 casos com queixa de relacionamento conjugal
violent
o, os quais fizeram parte deste estudo. No período estudado as idades das mulheres
vítimas de violência conjugal registrada na Delegacia da Mulher revelaram média de 30,8
160
anos com desvio padrão de 9,37 anos. A idade mínima foi de 14 anos e a máxima foi de
69
anos. A análise do desvio padrão em relação à idade média (coeficiente de variação), mostra
uma variabilidade de aproximadamente 30% em torno da idade média, ou seja, a variação de
idade das vítimas é relativamente alta, fato confirmado pelos valores de idade mínima e
máxima.
(2) Levantamento dos dados contidos no Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO)
que se encontravam em andamento no Juizado Especial Criminal
órgão competente para a
conciliação, processo, julgamento e execução de infrações
rela
tivos ao período de janeiro de
2003 a maio de 2004. Dos 1.368 Termos Circunstanciados de Ocorrência foram encontrados
390 referentes à violência conjugal, que fizeram parte desta pesquisa. A análise dos dados
relativos à idade da mulher registrados no Juizado revelou média de 32,31 anos com desvio
padrão de 9,45 anos, estes resultados se aproximam dos valores observados nos Boletins de
Ocorrência registrados na Delegacia da Mulher. A idade mínima foi de 16 anos e a máxima de
64 anos.
Faz
-se, ainda necessário apresentar breves esclarecimentos a respeito das instituições
pesquisadas.
A Delegacia de Atendimento à mulher tem atribuições para apurar crimes relacionados
à violência contra a mulher, seja ela física moral ou sexual. Como agressão física tem-
se
com
o exemplo: vias de fato, que é uma contravenção penal que consiste em violência
empregada contra a vítima sem acarretar dano a seu corpo (não há vestígios sensíveis à
violência), por outro lado, a lesão corporal é caracterizada pela ofensa à integridade co
rporal
ou saúde de alguém, ou seja, qualquer dano ocasionado à normalidade funcional do corpo
humano, quer do ponto de vista anatômico, quer do ponto de vista fisiológico ou mental. A
lesão corporal pode ser leve, grave, gravíssima ou seguida de morte. Como agressão moral ou
161
psicológica têm-se: ameaça, injúria, difamação, perturbação do sossego e outros (CAPEZ,
2003
).
O Juizado Especial Criminal é o órgão competente para a conciliação, processo,
julgamento e execução das infrações de menor potencial ofensivo, ou seja, aquelas que a lei
determina pena máxima privativa de liberdade não superior a dois anos, ou pena de multa.
Tais crimes são orientados pela Lei 9099/ 95 que em síntese requerem:
1) Confecção do TCO na Delegacia da Mulher. O TCO é
um
procedimento destinado a
descrever o histórico dos fatos, no qual deverão estar esclarecidos a materialidade dos fatos e
a autoria do delito, bem como as circunstâncias nas quais ocorreu o delito. Consta do TCO o
artigo da incidência penal, conforme tipificação da autoridade policial, informações sobre a
vítima, qualificação do autor do fato, bem como nome, possíveis dados de qualificação,
endereços, e testemunhas. Ainda constam assinaturas da Delegada e do escrivão de polícia.
2) Estando a vítima com algum ferimento, ou marcas no corpo, a mesma será
encaminhada para exame de corpo delito.
3) O TCO será encaminhado, juntamente com o laudo do exame de corpo delito, ao
Juizado Especial Criminal (Poder Judiciário), onde será realizada uma audiência preliminar
com um Juiz e um Promotor de Justiça, ocasião em que se aplicado ao agressor pena
alternativa, que poderá consistir em pagamento de cestas básicas, prestações de serviço à
comunidade e outros.
Acerca da diferença entre BO e TCO, tem-se que o Boletim de Ocorrência é p
reenchido
pela Polícia Militar (polícia ostensiva e preventiva), e consiste apenas no registro de qualquer
infração penal, denominada Descrição Penal. o TCO, realizado pela Polícia Civil (polícia
judiciária, com função de apurar crimes), é a peça que inicio ao processo previsto na Lei
9099/95, onde se registra a Incidência Penal. O TCO, muitas vezes, origina
-
se de um BO, mas
nem sempre isso ocorre, pois casos em que a vítima não aciona a polícia militar, podendo
162
procurar diretamente a Delegacia (Policia Civil) para confecção de TCO. Outras vezes, a
vítima aciona apenas a polícia militar para fazer o BO.
É importante esclarecer, ainda, que a maioria dos crimes de pequeno potencial ofensivo
depende da representação criminal, que consiste na manifestação expressa da vítima no
sentido de processar o agressor. Esta representação criminal é a autorização para o inicio da
confecção do TCO. Alguns crimes como ameaça, lesão corporal dependem dessa
representação, que pode ser feita perante a autoridade policial, ou seja, na Delegacia.
Assim, nestes crimes, não basta fazer o BO com a Polícia Militar, sendo imprescindível o
comparecimento posterior da vítima na Delegacia para formalizar a representação.
5.1.2 Segunda fase
Fizeram parte desta fase da pesquisa 71 mulheres com idade média de 34,69 anos (desvio
padrão igual 10,64 anos), que buscaram espontaneamente a Delegacia Adida ao Juizado
Especial de Uberlândia, no período de maio a julho de 2004, para dar queixa dos parceiros
íntimos agressores. Essas mulheres foram informadas dos objetivos da pesquisa e
concordaram em participar da mesma, e então responderam a uma entrevista semi
-
estruturada.
Essa amostra pode ser caracterizada como de
conveniência
, não pretendendo ser
representativa da população de Uberlândia. Esse tipo de amostra também chamada de
intencional ou não-
probabilística
, não se presta a estimar algum valor da população, mas se
presta a obter idéias acerca da variedade de elementos disponíveis nessa população
(CHEIN,1987).
Neste tipo de pesquis
a há o pressuposto de que o que está sendo investigado é
um processo psicológico suficientemente universal e uniforme, a ponto de fazer com que
diferenças individuais dentro da amostra não se mostrem significativas. Segundo Brehm e
Kassin (1990), em Psicologia Social, a maioria das pesquisas utilizam este tipo de amostra,
163
que, guardadas as devidas proporções, se presta perfeitamente a estudos geradores de
hipóteses.
A pesquisa ocorreu com as mulheres que buscaram a Delegacia. Em razão a isso, é uma
amostr
a que limita a possibilidade de usar dados amostrais para estimar os valores reais da
população.
Por se tratar de uma amostra de conveniência, seus resultados não podem ser
generalizáveis para a população das mulheres agredidas por seus parceiros conjugais, visto
que possivelmente existem vítimas que não denunciam a violência.
5.2 Instrumentos
5.2.1 Instrumento utilizado na primeira fase
Foi elaborada uma ficha de registros para coleta de dados nos arquivos das instituições.
A ficha de registro continha: mero da ocorrência, bairro, idade e profissão da vítima;
bairro, idade e profissão do autor; relação entre vítima e autor; descrição penal e tipo de
queixa (ANEXO A). Estes dados foram observados tanto nos Boletins de Ocorrência quanto
nos Termos Circu
nstanciados de Ocorrência.
5.2.2 Instrumento utilizado na segunda fase
Foi elaborado um roteiro de entrevista (ANEXO B), que combina questões fechadas (de
múltipla escolha) com outras que requerem respostas mais abertas, previamente submetido à
análise s
emântica, para se verificar a clareza e adequação das questões. O roteiro de entrevista
164
permitiu às participantes maior liberdade para expressar seus pensamentos e emoções, ao
mesmo tempo em que forneceu as informações pretendidas. O conteúdo versou sobre:
1ª. Parte: Dados Pessoais
12 questões
que teve como objetivo descrever as
características sócio-demográficas da mulher (como idade, cor, naturalidade, religião, mero
de filhos, renda) e de seu parceiro (idade, escolaridade, profissão, renda).
2ª. Pa
rte: Dados sobre a violência conjugal
8 questões
que permitem avaliar o início, a
freqüência, os motivos das agressões e os tipos de violência conjugal sofridos pela
entrevistada (física, psicológica, econômica e sexual).
3ª. Parte: Consta de 8 questões para identificar a atribuição de causalidade à primeira
agressão sofrida
internalidade X externalidade, estabilidade X instabilidade, culpa dos
envolvidos, controlabilidade X incontrolabilidade, grau de intencionalidade, grau de
evitabilidade pelo agente. Além dessas seguem 4 questões para identificar os sentimentos, os
comportamentos e as expectativas decorrentes da primeira agressão e dos motivos para ter
permanecido no relacionamento após a agressão.
4ª. Parte: Consta das mesmas questões sobre atribuição de causalidade e identificação dos
sentimentos, comportamentos e expectativas, porém relativas a última agressão sofrida, a que
levou a entrevistada a procurar a Delegacia da Mulher.
Além destas, havia questões nas partes 3 e 4 para introduzir o tema a ser abordado, e
permitir uma reflexão da entrevistada sobre os episódios de violência. Particularmente as
perguntas versavam sobre as maneiras pelas quais os conflitos emergiam de acordo com
primeira e última agressão: o que aconteceu? Por que ele fez isso? Qual foi a causa principal?
Essas questões abertas forneceram material contextual importante para a compreensão dos
eventos violentos específicos, e foram fundamentais para o objetivo de que a própria
entrevistada apontasse as causas por ela percebida para a violência do parceiro. Tiveram,
165
portanto, como função maior, mobilizar nas mulheres o estado de prontidão e colaboração
para as tarefas proposta de classificação atribucional.
Assim, as partes 3 e 4 examinaram as atribuições das mulheres concernentes às
dimensões: lócus / estabilidade, controle, intencionalidade, evitabilidade e culpa. As
dimensões intencionalidade, evitabilidade e culpa solicitavam uma classificação em
escalas de
5 pontos, em que extensão concordavam ou discordavam que seu parceiro havia atuado com
intenção negativa (de propósito), poderia ter evitado a agressão (se quisesse poderia se
controlar e ter evitado a agressão), e o quanto era culpado por seus atos (nada culpado a
totalmente culpado). No item culpa as respostas não foram mutuamente exclusivas, de forma
que a mulher poderia culpar a si mesma, ao parceiro, a outra pessoa e/ou à situação ao mesmo
tempo.
Cada uma das possibilidades descritas possibilitou envolver um nível diferente de
culpa tanto para a própria mulher como
para o parceiro, para outra pessoa ou para a situação.
A medida dos sentimentos foi composta por uma lista de 16 itens onde as classificações
eram dicotômicas, e objetivaram estabelecer a presença ou ausência de tais sentimentos. Além
disso, as próprias entrevistadas apontaram o tipo de sentimento predominante através de uma
medida formada para proporcionar um índice de sentimentos mais estáveis: sentimentos auto
-
dirigidos, sentimentos contra ele e sentimentos sem alvo.
As questões referentes às expectati
vas contidas nas partes 3 e 4 foram abertas.
166
5.3 Procedimento
s
5.3.1 Procedimentos de coleta de dados na primeira fase
Para a coleta de dados o primeiro passo foi obter a autorização da instituição para ter
acesso aos seus registros e desenvolver o estu
do em suas dependências, como parte do serviço
de atendimento às vítimas de violência conjugal. Dada a necessidade da instituição em manter
um serviço de acolhimento psicológico para as vítimas de violência conjugal e obter maiores
informações sistemáticas sobre o serviço oferecido, o projeto foi aceito de imediato (ANEXO
C).
A etapa seguinte foi examinar os arquivos da instituição, selecionar e transcrever para a
ficha de registro, os dados contidos nos Boletins de Ocorrência e nos Termos
Circunstanciados
de Ocorrência e, que se referiam a queixas de violência conjugal.
Foram transcritos para uma ficha de registro os dados que se referiam a casos de violência
conjugal
em que a mulher era vítima. Num primeiro momento foram coletados os dados
contidos no Termo Circunstanciado de Ocorrência que se encontravam em andamento no
Juizado Especial Criminal, e em um segundo momento os dados referentes aos Boletins de
Ocorrência da Delegacia Adida ao Juizado Especial de Uberlândia.
O trabalho de pesquisa foi realizado manualmente, e todos os dados obtidos foram
coletados pela pesquisadora, auxiliada num primeiro momento por duas estudantes de
graduação de psicologia e num segundo momento, apenas por uma delas, respectivamente no
levantamento dos TCOs e dos BOs.
167
5.3
.2
Procedimento de análise dos dados na primeira fase
Os dados registrados nos Boletins de Ocorrência e nos Termos Circunstanciados de
Ocorrência foram analisados através de estatística descritiva, teste de contingência de Qui-
quadrado que possibilitaram a descrição das características sócio-demográficas da vítima e do
agressor assim como das queixas, incidência penal (TCO) e descrição da violência (BO).
Para os Boletins de Ocorrência registrados na Delegacia da Mulher as análises estatísticas
consistiram também, da representação da série temporal em um gráfico da proporção de
ocorrência ao longo dos seis meses avaliados; da análise da densidade espectral para verificar
a ocorrência de
picos
de registros ao longo da série. As metodologias estatísticas aplica
das
neste trabalho encontram
-
se em Vieira (1998); Arango (2001);
Barbetta
(2003).
Para estas análises foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for the Social
Sciences
),
versão 10.0.
5.3.3 Procedimento de coleta de dados na segunda fase
a) Valid
ação Semântica
Inicialmente foi elaborada uma entrevista semi estruturada, com objetivo de coletar dados
pessoais da amostra estudada, verificar a incidência da violência e obter informações sobre
como as mulheres explicavam as causas da violência cometidas pelo parceiro íntimo e de sua
permanência na situação. Após a construção da entrevista semi-estruturada surgiu a
necessidade de aplicar um mero de entrevistas que permitisse decidir sobre a adequação da
quantidade e tipos de perguntas, que deveriam con
stituir o roteiro para a entrevista.
Foram entrevistadas 10 mulheres que compareceram à Delegacia para prestar queixa de
seus parceiros agressores e que concordaram em colaborar com o estudo em questão. Das 10
168
entrevistas, quatro foram realizadas pela pesq
uisadora e seis por estudantes do décimo período
de psicologia, previamente treinadas.
As entrevistadas tinham entre 18 e 41 anos, e seus parceiros encontravam
-
se na faixa entre
19 e 54 anos. O tempo de relacionamento de quatro mulheres variou entre 15 e 18 anos, e das
demais de até 3 anos. Em média as mulheres tinham dois filhos, e a metade não trabalhava.
Todas as questões elaboradas foram consideradas adequadas para compor a entrevista, a
partir da testagem do instrumento junto aos 10 sujeitos.
b) En
trevistas
As entrevistas foram realizadas em sala privativa na Delegacia Adida ao Juizado Especial
de Uberlândia. Não houve qualquer forma de interrupção. O horário foi o mais conveniente
para a entrevistada, ou seja, no dia e hora que a mulher compareceu
à Delegacia para registrar
sua queixa. Todas as mulheres foram entrevistadas individualmente pela pesquisadora, que
permaneceu de plantão na Delegacia, no período da tarde, de segunda a sexta-feira, no
período de maio a julho de 2004.
Na aplicação da entrevista a pesquisadora, no primeiro momento, após a anuência da
mulher (ANEXO D), conversou aproximadamente 10 minutos, demonstrando o quanto
considerava importante a percepção dela para o presente estudo.
As entrevistas não foram gravadas devido às resistências observadas na sondagem inicial,
em razão a isso foram feitas anotações mediante o consentimento das entrevistadas. Em
contrapartida as mulheres procuram fazer um relato de forma a permitir todas as anotações,
algumas vezes repetindo parte das respostas para que elas fossem totalmente anotadas.
Quando as respostas pareciam superficiais a pesquisadora fazia intervenções, para que elas
explicassem o significado, ou falassem um pouco mais a respeito. A questão foi dada por
169
encerrada, após a segunda intervenção, nos casos em que a mulher repetia a mesma coisa,
demonstrando não poder explicar melhor. A pesquisadora procurou anotar o relato das
mulheres na integra, tentando preservar, de forma mais fiel possível, o que foi dito (como
erros gramaticais, uso de expressões coloquiais, etc).
Foi assegurado, às mulheres, sigilo completo de suas respostas. Sua identificação foi
preservada.
As entrevistas tiveram uma duração média de duas horas e cinqüenta minutos. O tempo de
duração da entrevista foi um fator crucial para a obtenção de dados confiáveis e válidos. De
acordo com Walker (1984) as mulheres espancadas precisam de tempo para perceber a
entrevistadora como interessadas nelas, e serem capazes de falar sobre a violência que elas
experimentaram. Os problemas previstos por causa da duração das entrevistas, como cansaço,
nunca se materializaram para as entrevistadas, mas sim para a entrevistadora.
Ao final da entrevistas todas as mulheres receberam orientações e encaminhamentos
necessários de acordo com a demand
a de cada uma delas.
5.3.4 Procedimento de análise dos dados na segunda fase
No procedimento de análise da entrevista semi-estruturada foram realizadas dois tipos
de análise de respostas: estatística descritiva para as respostas às perguntas fechadas,
e criação
de categorias para cada uma das questões abertas, a partir da semelhança das respostas das
entrevistadas. Essas categorias (ANEXO E) posteriormente foram lançadas na planilha de
dados e tiveram suas freqüências calculadas. Utilizou-se o teste de contingência do Qui-
quadrado para se realizar comparações entre variáveis do estudo.
Para a análise de relações entre as variáveis do estudo foram utilizadas as seguintes
técnicas estatísticas:
170
-
Correlação r de Pearson para verificar a relação entre as va
riáveis contínuas;
- Análise de Variância F de Snedecor para comparar os grupos de acordo com a causa
atribuída;
-
Qui
-
quadrado para examinar a relação entre as variáveis categoriais.
CAPÍTULO 6
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo serão apresentados, inicialmente considerando-se as
análises relativas à distribuição dos casos de violência conjugal relativas aos Boletins de
Ocorrência e Termos Circunstanciados de Ocorrência. Comparações descritivas foram
conduzidas pela verificação das v
ariáveis em nível e freqüência das diferentes categorias.
Num segundo momento, serão considerados os resultados das entrevistas realizadas
pela pesquisadora na Delegacia Adida ao juizado Especial Criminal, onde se buscou
investigar o modo como as mulheres entendiam e explicavam a violência conjugal, seus
sentimentos, suas expectativas e suas ações após a primeira e última agressão.
Considera
-se que conhecer as atribuições causais das mulheres às agressões sofridas,
possibilita a compreensão da leitura que fizeram sobre o comportamento violento do parceiro
facilitando uma reflexão a respeito das condições e finalidade de seu próprio comportamento.
6.1 Caracterização dos casos de violência conjugal registrados nos boletins
de ocorrência e termos circunsta
nciados de ocorrência.
Levando
-se em consideração os dados disponíveis em todos os Boletins de Ocorrência
registrados no período de janeiro a junho de 2004 e Termos Circunstanciados de Ocorrência
que se encontravam em andamento relativos ao período de janeiro de 2003 a maio de 2004,
172
procurou
-
se
traçar um perfil da mulher que sofre violência conjugal e de seu parceiro
agressor, além de se obter dados sobre a incidência dos vários crimes praticados contra a
mulher. Importa esclarecer que os TCOs correspondentes ao período pesquisado que se
encontravam arquivados no Juizado Especial Criminal, não foram solicitados.
Outro ponto a ser destacado é que não havia na Delegacia e no Juizado Especial Criminal
de Uberlândia estatísticas específicas acerca da violência conjugal.
6.1.1 Caracterização da vítima
Faixa etária e estado civil
Conforme pode ser visto na Tabela 1, das 876 mulheres que denunciaram os parceiros, no
primeiro semestre de 2004, através dos Boletins de Ocorrência, predominou a faixa etária de
21 a 30 anos (41, 4%), seguida pela faixa de 31 a 40 anos com 29,2% dos casos
registrados
,
apresenta
ndo
uma idade média de 30,8 anos, com desvio padrão de 9,37 anos. Esses
resultados são similares aos
encontrados por Marques e Pinto Junior. (1999), que apo
ntam que
a maioria das mulheres vítimas de violência (74,3%), encontram-se numa faixa etária que vai
dos 22 aos 40 anos (MARQUES ; PINTO JUNIOR
, 1999).
Por outro lado, a análise dos dados registrados no Juizado (TCO) que visam um processo
penal,
revela um aumento significativo de denúncias de vítimas com idade inferior a 21 anos,
tendo em vista que nos Boletins de Ocorrência em 14,2% dos casos registrados, a vítima
apresentava
-se com menos de 21 anos e nos TCOs de 390 casos, 129 vítimas tinham menos
de 21 anos (Tabela 1), o que representa 33,1% dos registros.
Encontra
-se entre 21 e 40 anos
53,8% dos casos registrados nos TCOs (Tabela 1). A idade média encontrada foi de 32,31
173
anos com desvio padrão de 9,45 anos. Esses dados estão de acordo com as características da
população em geral. Saffioti (1997) trabalhando com dados do IBGE de 1990 observa que a
maior incidência de violência de agressões físicas contra a mulher se situa na faixa de 18 a 29
anos (28,7%) e 30 e 40 anos, com 25,3% (SAFFIOTI, 1997).
A T
abel
a 1 não oferece novidades em relação às idades das mulheres vítimas de violência.
Confirma
-se mais uma vez que esta população possui uma alta concentração na faixa que vai
dos 21 aos 40 anos e apresenta uma idade média de aproximadamente 32 anos, com desvi
o
padrão aproximado de 9 anos, observando-se que as mulheres jovens até 30 anos (61,8%)
instauram
mais
ação penal
(TCO) buscando uma reparação
dos danos sofridos, do que as mais
velhas
.
Esses dados estão aproximadamente de acordo com os dados do informe divulgado pela
OMS (2002), que mostram que a violência causa aproximadamente 7% dos problemas de
saúde das mulheres entre 15 e 44 anos. Neste estudo um detalhamento maior mostra que
existe uma grande concentração de violência contra a mulher na faixa etária que vai dos 18
aos 45 anos (85,6%), sendo que em apenas 8,9% dos casos registrados (BO) as mulheres
apresentavam idade superior a 45 anos (78 mulheres), em 5,5% (48 mulheres) tinham menos
de 18 anos, e 46% encontram
-
se na faixa que vai dos 18 aos 30 anos.
174
TABELA 1
Faixa etária das vítimas de violência conjugal, registrados nos Boletins de Ocorrência e nos
Termos Circunstanciado de Ocorrência.
Boletim de Ocorrência
Termo Circunstanciado de
Ocorrência
Faixa etária
da vítima (anos) f % f %
Ate 20
124
14,2
129
33,1
21 a 30
363
41,4
112
28,7
31 a 40
256
29,2
98
25,1
41 a 50
110
12,6
42
10,8
51 a 60
19
2,2
5
1,3
61 a 69
4
0,5
4
1,0
Total
876
100,0
390
100,0
N
OTA
: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004; T
ermo
Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro de 2003 a maio
de 2004.
Quanto ao estado civil, observa-se uma tendência que parece permanecer ao longo dos
anos. A relação observada entre a vítima de violência conjugal e o autor da violência (Tabela
2) revela que a maioria das mulheres que registraram suas queixas através do BO declarou-
se
amasiada
(34,2%)
, sendo que entre as amasiadas e ex-amasiadas encontra-se a maior
concentração das mulheres vítimas de violência (52%)
.
Esses dados são difíceis de serem
comparados a outros, uma vez que muitas mulheres que convivem com o companheiro
declaram
-se solteiras (45,7%) seguida por casadas (35,7%), como apontado por Deslandes;
Gomes; Silva (2000). Entretanto os dados da presente pesquisa são compatíveis com os
apresentados por Marques e Pinto Junior. (1999) que mostram que 46,2% de mulheres vítimas
de violência conjugal são amasiadas, seguida pelas casadas (29,1%).
175
TABELA 2
Tipo de relacionamento
entre vítima e agressor de vio
lência conjugal,
registrados em
Boletins de Ocorrências e Termo Circunstanciado de Ocorrência.
Boletim de Ocorrência
Termo Circunstanciado de
Ocorrência
Tipo de
Relacionamento
f % f %
Amásio
300
34,2
91
23,3
Esposo
194
22,1
66
16,9
Ex
-
amásio
156
17,8
121
31,0
Ex
-
esposo
103
11,8
50
12,8
Ex
-
namorado
85
9,7
52
13,3
Namorado
38
4,3
10
2,6
Total
876
100,0
390
100,0
N
OTA
: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004; Termo
Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao
período de janeiro de 2003 a maio
de 2004.
Nota
-se que, seguindo a tendência observada nos dados contidos nos Boletins de
Ocorrência (Tabela 2), amásios e ex-amásios representam também mais de 50% dos registros
no
Juizado Especial Criminal.
Esses dados m
ostram
-se compatíveis com uma exaustiva revisão da literatura,
realizada
por
Brownridge e Halli (2002), que demonstraram um número consistentemente maior de
relatos de violência pelas mulheres amasiadas do que pelas casadas. De fato, uma inspeção
dos
resul
tados
apresentados pelos respectivos autores, mostra que a prevalência de violência
contra as amasiadas é, tipicamente, entre uma ou duas vezes mais que para as casadas.
176
6.1.2 Caracterização do autor
Faixa Etária
Com relação a idade do autor, conforme Boletim de Ocorrência foi verificado que estes
apresentavam, em média 33,2 anos, com um desvio padrão de 9,39 anos. Esta dispersão
representa uma variabilidade de aproximadamente 28 %, revelando, assim como para a idade
da vítima uma dispersão de idade, em torno da média, relativamente alta. A idade do autor
variou de 17 a 69 anos, apresentando, portanto uma amplitude total de 52 anos.
Verifica
-se, conforme Tabela 3, que existe uma concentração de ocorrências na faixa
etária do autor entre 21 e 40 anos (62,
5%), mas nota-se também um aumento no percentual da
idade dos agressores na faixa de 60 a 69 anos quando comparado com a mesma faixa etária
das vítimas, respectivamente 0,5% e 1%.
Os dados relativos aos TCOs mostram que a idade média do autor foi de 38,08 anos com
desvio padrão de 10,27 anos. A idade do autor variou de 19 a 74 anos, apresentando, portanto
uma amplitude total de 55 anos.
Comparando com as informações obtidas nos Boletins de Ocorrência, verifica-se aumento
na idade média do agressor.
Com rela
ção a faixa etária do autor das violências, verifica
-
se que nos casos registrados no
Juizado ocorre um predomínio das faixas etárias de 21 a 40 anos (64,6%), conforme revelam
os dados apresentados na Tabela 3.
177
TABELA 3
Faixa etária dos autores de violência conjugal registrado nos boletins de Ocorrência e no
Termo Circunstanciado de Ocorrência.
Boletim de Ocorrência
Termo Circunstanciado de
Ocorrência
Faixa etária dos
autores
f % f %
Ate 20
38
4,3
16
4,1
21 a 30
291
33,2
120
30,8
31 a 40
257
29,3
132
33,8
41 a 50
118
13,5
75
19,2
51 a 60
32
3,7
26
6,7
61 a 70
140
16,0
20
4,0
71 a 74
- -
1
1,4
Total
876
100,0
390
100,0
N
OTA
: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004; Termo
Circunstanciado de Ocorrência em andamento rel
ativo ao período de janeiro de 2003 a maio
de 2004.
Esses dados corroboram com estudo realizado por Diniz et al. (2003) cujos resultados
revelaram que os agressores encontram-se numa faixa etária de 20 a 30 anos, seguida pela
faixa de 30 a 40 anos, confor
me BOs. (DINIZ et al., 2003)
Outras informações coletadas tais como bairro e profissão das vítimas e dos agressores
apresentaram uma alta variabilidade, indicando que as denúncias de violência contra a mulher
ocorrem em diversos bairros de Uberlândia e, tanto a profissão das vítimas
quanto
as dos
autores são
diversas,
variando de desempregados e do lar até empresários e profissionais
liberais.
6.1.3 Magnitude da Violência conjugal.
Os principais tipos de queixas relatadas pelas mulheres vítimas de violência são
apresentados na Tabela 4. Os dados registrados nos BOs indicam que
25,7
%
das queixas são
178
decorrentes de motivos fúteis, seguidos de ausência de motivos (21,2%). A soma desses
percentuais (46,9%) sugere que a violência ocorre independentemente de motivos relevantes.
Na seqüência o maior percentual está associado ao uso de bebida e drogas (20,3%). Constam
ainda como fatores desencadeantes da violência, fim de relacionamento, ciúmes e outros
motivos.
Por outro lado, a análise dos tipos de queixas contidos nos TCOs aponta como queixa
principal o fim do relacionamento (47,7%), seguida de motivos fúteis
(19,7%) e outros
motivos (18,7%). Observa-se que há diferença nos percentuais, visto que praticamente a
metade (47,7%) dos casos de denúncia de violência conjugal estão relacionados à não
aceitação por parte de agressor do fim do relacionamento. Comparando-
se estes dados com os
apresentados nos Boletins de Ocorrência, verifica-se um aumento considerável deste tipo de
queixa (de 14,6% para 47,7%). O motivo fútil passa a ocupar o segundo lugar nos TCOs, em
contraposição ao primeiro lugar nos Boletins. É importante esclarecer que motivo fútil, é
aquele
insignificante, frívolo, em que desproporção entre o crime praticado e sua causa
moral e incapaz de dar ao ato uma explicação razoável
(CAPEZ
, s.d.).
TABELA 4
Principais tipos de queixas das vítimas de violência conjugal, registradas nos boletins de
ocorrências e Termos Circunstanciado de Ocorrência.
Tipos de queixas
Boletim de Ocorrência
Termo circunstanci
ado de
Ocorrência
Denúncia
f % f %
Bebida/droga
178
20,3
35
9,0
Ciúme
77
8,8
19
4,9
Fim relacionamento
128
14,6
186
47,7
Motivos fúteis
225
25,7
77
19,7
Outros
82
9,4
73
18,7
Sem motivo
186
21,2
- -
Total
876
100,0
390
100
NOTA: Boletim de Ocorrên
cia relativo ao período de janeiro a junho de 2004; Termo
Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro de 2003 a maio
de 2004.
179
Examinando a Tabela 5, relativa às descrições da violência sofrida e à incidência penal,
observa
-
se
nos Boletins de Ocorrência que a ameaça à integridade física é o principal tipo de
violência
, com 30,0% dos casos, seguida pela agressão (27,4%) e lesão corporal com 19,4%.
As demais ocorrências responderam por aproximadamente 23%.
Por sua vez, os dados de incidência penal, registrados nos T
COs
demonstram que
aproximadamente 30% das ocorrências que chegam no Juizado são também devido às
ameaças sofridas pelas vítimas e ao se associar a ameaça com outros tipos de ocorrências tem
-
se 70% dos casos. A lesão corporal, que é a segunda causa, representou 19,5 % das
ocorrências e associada a outras incidências observa-se que no total 34,6% das mulheres
sofreram lesão corporal. De forma semelhante, se vincularmos vias de fato a outras
incidências penais, verifica-se que 25% das mulheres especificaram essa
incidência
nos
TCOs. Chama a atenção a grande associação existente entre ameaça e lesão corporal (12,1%),
e ameaça e vias de fato (16,2%) conforme Tabela 5. Portanto, pode-se inferir que geralmente
os casos mais gr
aves são levados ao juizado.
Comparando os resultados obtidos nas duas fontes de dados, ou seja, a descrição da
violência sofrida (BO) e a incidência penal (TCO), verifica-se grande semelhança, como
pode
-
se observar nos casos de ameaça.
Em relação a esse quesito, Saffioti (1999) observa que em 1988, o número de denú
ncias
de agressão contra a mulher registradas na primeira e terceira DDM de São Paulo foi de 85%,
enquanto que o número de ameaças foi de 4,17%. Por outro lado nas mesmas delegacias, no
ano de 1992, a pesquisadora acima citada, verifica que as denúncias de agressão caíram para
68% dos casos, e as de
ameaça
subiram para 21,3%
(SAFFIOTI, 1999)
.
Williams et al.(1999) também fizeram um levantamento dos tipos de delitos de violência
contra a mulher registrados na DDM de São Carlos. Verificaram que a média anual de delitos
registrados tem sido em torno de 1411. Desses delitos, a dia anual de casos de LC tem sido
180
de 466 casos. Afirmam, entretanto, que a média anual de ameaças (222 casos) vem
aumentando
ao longo dos anos, chegando a
345
casos no ano de 2000 (WILLIAMS et
al.,
1999).
181
TABELA 5
Descrições de violência sofrida pelas mulheres registradas nos Boletins de Ocorrência e
registros de Incidência penal conforme Termo Circunstanciado de Ocorrência relativos à
violência
conjugal.
BO
TCO
Descrição da violência e
Incidência Penal
f % f %
Ameaça
263
30,0
116
29,7
Ameaça/Danos
- - 2
0,5
Ameaça/Danos/Lesão Corporal
- - 1
0,3
Ameaça/Invasão Domicílio
- - 2
0,5
Ameaça/Lesão Corporal
- -
47
12,1
Amea
ça/Lesão Corporal/ Perturbação
da Tranqüilidade
- - 1
0,3
Ameaça/Lesão Corporal/Vias de Fato
- - 1
0,3
Ameaça/Perturbação Tranqüilidade
- -
23
5,9
Ameaça/Vias de Fato
- -
63
16,2
Ameaça/Vias de Fato/Danos
- - 1
0,3
Ameaça/Vias de Fato/ Perturbação
Tra
nqüilidades
- - 1
0,3
Danos/Ameaça
- - 1
0,3
Danos/Via de Fato
- - 2
0,5
Difamação
- - 1
0,3
Difamação/Calúnia
2
0,2
1
0,3
Injúria
- - 1
0,3
Lesão Corporal
170
19,4
76
19,5
Lesão Corporal/Ameaça
- - 6
1,5
Lesão Corporal/Danos
- - 1
0,3
Lesão Corpo
ral/Invasão Domicílio
- - 1
0,3
Perturbação Tranq
ü
ilidade
6
0,7
7
1,8
Perturbação Tranq
ü
ilidade/Ameaça
- - 3
0,8
Perturbação Tranq
ü
ilidade/Difamação
- - 1
0,3
Vias Fato
132
15,1
27
6,9
Vias Fato/Ameaça
- - 4
1,0
Outras
6
0,7
- -
Violação de domicili
o 1
0,1
- -
Homicídio tentado
1
0,1
- -
Embriagues
9
1,0
- -
Danos (patrimonial)
18
2,1
- -
Atrito verbal
28
3,2
- -
Agressão
240
27,4
- -
Total
876
100,0
390
100,0
NOTA
: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004; Termo
Ci
rcunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro de 2003 a maio
de 2004.
182
Estes
resultados estão de acordo com a pesquisa apresentada pela Fundação Perseu
Abramo (FPA, 2001, apud LIANE; ROVINSKI, 2004), segundo a qual, 31% das denú
ncias
nas Delegacias se dão por ameaça e 21% por espancamento com marcas, fraturas ou cortes
(Lesão Corporal).
6.1.4
Tipo de relação entre vítima e agressor, e sua associação à descrição da violência
.
A Tabela 6 contém uma comparação entre o status conjugal e a descrição da violência, e
revela uma associação significativa, pelo teste de qui-
quadrado
(qui-quadrado = 112,66; p<
0,01)
, entre as variáveis, ou seja, neste caso ocorre dependência entre a relação do autor com a
vítima e a descrição da violênc
ia
para as denúncias registradas nos BOs. Verifica-se que a
agressão é predominante nos casos em que a relação autor/vítima é de amásio ou esposo. Por
outro lado, a ameaça é prevalente nos casos em que houve rompimento do relacionamento,
como pode ser veri
ficado nos casos relativos a ex
-
amásio, ex
-
esposo e ex namorado.
183
TABELA 6
Análise conjunta da relação autor/vítima e descrição da violência conjugal conforme
Boletins
de Ocorrências registrados na Delegacia da Mulher de Uberlândia
.
Descrição
da violência
Relação
vítima/ autor
Agressão
Ameaça
Lesão
corporal
Vias de
fato
Outras
Total
Amásio
f
94
58
69
54
25
300
%
10,7
6,6
7,9
6,2
2,9
34,2
Esposo
f
59
39
42
38
16
194
%
6,7
4,5
4,8
4,3
1,8
22,1
Ex
-
amásio
f
45
72
17
10
12
156
%
5,1
8,
2
1,9
1,1
1,4
17,8
Ex
-
esposo
f
21
49
7
10
16
103
%
2,4
5,6
0,8
1,1
1,8
11,8
Ex
-
namorado
f
10
39
22
12
2
85
%
1,1
4,5
2,5
1,4
0,2
9,7
Namorado
f
11
5
13
7 2
38
%
1,3
0,6
1,5
0,8
0,2
4,3
Total
f
240
262
170
131
73
876
%
27,4
29,9
19,4
15,0
8,3
100,0
Teste de Qui
-
Quadrado
2
=
112,66
p
< 0,01
N
OTA
: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004.
Os dados contidos nos registros do TCOs são apresentados na Tabela 7. Os resultados
mostram que dos 122 casos registrados como ameaça, praticamente a metade (N = 60), estava
relacionado a amásios ou ex-
amásios.
Observa-se, entretanto, que o crime mais freqüente
cometido pelos amásios é a lesão corporal. Por outro lado, a ameaça, assim como ocorreu nos
BOs apresentou a maior incidência nos casos de separação do casal, como pode ser visto nas
relações entre ex-amásio, ex-esposo e ex-namorado. Interessante observar que o crime mais
denunciado nos TCOs pelas esposas foi o de ameaça, diferenciando-se do que pode ser
observado nas denúncias registradas nos Boletins de Ocorrência. Nas demais classes de
Incidência Penal a tendência se mantém.
184
TABELA 7
Análise conjunta da relação autor/vítima e incidência penal dos casos registrados no Juizado
Especial Criminal de Uberlândia, relativos à violência conjugal.
Incidência Penal
Relação
vítima/
autor
A
A/LC
A/PT
A/VF
LC
LC/A
Outros
VF
Total
Amásio
f
21
14
1
18
27
2 2 6
91
%
5,4
3,6
0,3
4,6
6,9
0,5
0,5
1,5
23,3
Esposo
f
21
6 1
12
12
2 2
10
66
%
5,4
1,5
0,3
3,1
3,1
0,5
0,5
2,6
16,9
Ex
-
amásio
f
39
19
11
21
15
- 7 9
121
%
10,0
4,9
2,8
5,4
3,8
-
1,8
2,3
31,0
Ex
-
esposo
f
22
3 6 3 8 - 3 5
50
%
5,6
0,8
1,5
0,8
2,1
-
0,8
1,3
12,8
Ex
-
namorado
f
17
6 3 8
11
2 2 3
52
%
4,4
1,5
0,8
2,1
2,8
0,5
0,5
0,8
13,3
Namorado
f 2 1 1 3 3 - - -
10
%
0,5
0,3
0,3
0,8
0,8
- - -
2,6
Total
f
122
49
23
65
76
6
16
33
390
%
31,3
12,6
5,9
16,7
19,5
1,5
4,1
8,5
100,0
N
OTA
: Termo Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro
de 2003 a maio de 2004.
A = ameaça, A/LC = ameaça
/ lesão corporal, A/PT = ameaça /
perturbação da tranqüilidade, A/VF = ameaça / vias de fato, LC = lesão corporal, LC/A =
lesão corporal / ameaça, VF= vias de fato.
Os dados relativos ao tipo de relacionamento do autor com a vítima e o tipo de
queixa
fe
ita
em Boletins de Ocorrência pela vítima é apresentado na Tabela 8
.
Foi veri
ficada
dependência
entre essas duas variáveis. Observa-se o predomínio de motivos fúteis para a
violência perpetrada pelos amásios, bebida e drogas para os esposos e ciúmes para
namorados. para ex-amásio, ex-namorado e ex-esposo, a violência é devida ao fim do
relacionamento.
185
TABELA 8
Análise conjunta da relação autor/vítima e queixa relativa à violência conjugal. Boletins de
Ocorrências registrados na De
legacia da Mulher
de Uberlândia.
Relação vítima/ autor
Queixa
Amásio
Esposo
Ex
-
amásio
Ex
-
esposo
Ex
-
namorado
Namorado
Total
bebida/droga
f
86
69
13
8 2 -
178
%
9,8
7,9
1,5
0,9
0,2
-
20,3
Ciúme
f
27
12
10
5 9
14
77
%
3,1
1,4
1,1
0,6
1,0
1,6
8,8
Fim relac.
f 6 6
46
29
40
1
128
%
0,7
0,7
5,3
3,3
4,6
0,1
14,6
Mot. Fúteis
f
104
50
29
21
11
10
225
%
11,9
5,7
3,3
2,4
1,3
1,1
25,7
Outros
f
20
17
20
18
4 3
82
%
2,3
1,9
2,3
2,1
0,5
0,3
9,4
Sem motivo
f
57
40
38
22
19
10
186
%
6,5
4,6
4,3
2,5
2,2
1,1
21,2
Total
f
300
194
156
103
85
38
876
%
34
,2
22,1
17,8
11,8
9,7
4,3
100,0
N
OTA
: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004.
Na Tabela 9 são apresentados os dados relativos à análise conjunta entre o a relação
vítima/autor e o tipo de queixa feita através do
TCOs
pela vítima. Nota-se mais uma vez que
motivos fúteis predominam como causa da violência quando a relação vítima autor é de
amásio, e da mesma forma que pode ser observado nos BOs, quando o tipo de relação entre
vítima e autor é de ex-amásio, ex-esposo e ex-namorado, o predomínio do motivo fim de
relacionamento.
Nota
-se que fim de relacionamento representa quase a da metade dos tipos de queixas,
e
que há um predomínio dessa queixa quando a relação vítima/autor é de ex-amásios, ex-
esposos e ex
-
namorado.
186
TABELA 9
Análise conjunta da relação vítima/autor e tipo de queixa d
os casos registrados no Juizado de
Uberlândia, relativos
à
violência
conjugal.
Queixa
Relação
vítima/autor
Bebida
Ciúmes
Fim rel.
M. fúteis
Outros
To
tal
Amásio
f
18
8
19
24
22
91
%
4,6
2,1
4,9
6,2
5,6
23,3
Esposo
f
12
3
15
17
19
66
%
3,1
0,8
3,8
4,4
4,9
16,9
Ex
-
amásio
f 2 4
82
19
14
121
%
0,5
1,0
21,0
4,9
3,6
31,0
Ex
-
esposo
f 2 1
26
8
13
50
%
0,5
0,3
6,7
2,1
3,3
12,8
Ex
-
namorado
f
- 1
41
6 4
52
% -
0,3
10,5
1,5
1,0
13,3
Namorado
f 1 2 3 3 1
10
%
0,3
0,5
0,8
0,8
0,3
2,6
Total
f
35
19
186
77
73
390
% 9,0
4,9
47,7
19,7
18,7
100,0
N
OTA
: Termo Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro
de 2003 a maio de 20
04.
6
.1.5 Tipo de
queixa
e
descrição penal /
incidência penal
.
A Tabela 10 mostr
a a relação entre o tipo de denú
ncia feita pela vítima e a descrição penal
registrada nos BOs. Pode-se observar que a agressão, lesão corporal e vias de fato parece ser
pred
ominantemente decorrente de motivos fúteis, enquanto que nos casos de ameaça o
predomínio observado decorre da denúncia relacionada ao fim do relacionamento.
187
TABELA 10
Análise conjunta da descrição da violência
e
d
a
queixa relativa a violência conjug
al
registrados nos Boletins de Ocorrências.
Queixa
Descrição
da violência
Agressão
Ameaça
Lesão
Corporal
Vias de
Fato
Outras
Total
Bebida/droga
f
59
32
28
36
23
178
%
6,7
3,7
3,2
4,1
2,6
20,3
Ciúme
f
17
22
22
11
5
77
%
1,9
2,5
2,5
1,3
0,6
8,8
Fim relac.
f
25
76
11
11
5
128
%
2,9
8,7
1,3
1,3
0,6
14,6
Motivos
Fúteis
f
63
45
59
45
13
225
%
7,2
5,1
6,7
5,1
1,5
25,7
Outros
f
26
23
11
6
16
82
%
3,0
2,6
1,3
0,7
1,8
9,4
Sem motivo
f
50
64
39
22
11
186
%
5,7
7,3
4,5
2,5
1,3
21,2
Total
f
24
0
262
170
131
73
876
NOTA: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004
.
Na análise conjunta da incidência penal e o tipo de queixa (Tabela 11) registrados nos
TCOs
, também se destaca o tipo de queixa fim de relacionamento como sendo, dentro de
todas as classes de incidência penal, a principal causa de queixa. Além disso, a ameaça que
aparece como o principal crime cometido contra a parceira está também relacionado a outros
tipos de incidência penal. Verifica-se que o crime de ameaça e de lesão corporal é mais
denunciado quando se trata da queixa fim de relacionamento e da queixa motivos fúteis,
respectivamente.
188
TABELA 11
Análise conjunta da incidência penal e tipo de queixas dos casos registrados no Juizado de
Uberlândia, re
lativos
à
violência
conjugal.
Incidência Penal
Queixa
A
A/LC
A/PT
A/VF
LC
LC/A
OUTROS
VF
Total
Á
lcool
f 6 8 - 9 8 - 2 2
35
%
1,5
2,1
-
2,3
2,1
-
0,5
0,5
9,0
Ciúmes
f 6 3 - 2 6 1 - 1
19
%
1,5
0,8
-
0,5
1,5
0,3
- 0
,3
4,9
Fim
de
relação
f
76
22
20
30
19
3 9 7
186
%
19,5
5,6
5,1
7,7
4,9
0,8
2,3
1,8
47,7
Motivos
Fúte
is
f
11
8 1
14
24
2 2
15
77
%
2,8
2,1
0,3
3,6
6,2
0,5
0,5
3,8
19,7
Outros
f
23
8 2
10
19
- 3 8
73
%
5,9
2,1
0,6
2,6
4,9
-
0,8
2,1
18,7
Total
f
122
49
23
65
76
6
16
33
390
%
31,3
12,6
5,9
16,7
19,5
1,5
4,1
8,5
100,0
NOTA
: Termo Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro
de 2003 a maio de 2004.
A = ameaça, A/LC = ameaça / lesão corporal, A/PT = ameaça /
perturbação da tranqüilidade, A/VF = ameaça
/ vias de fato, LC = lesão corporal, LC/A =
lesão corporal / ameaça, VF= vias de fato.
6.1.6 Proporção de boletins de ocorrências com violência contra a mulher no período de
janeiro a junho de 2004.
A Figura 4 mostra a série temporal da percentagem diária de casos de violência doméstica
contra a mulher registrada em relação ao total diário de boletins registrados na cidade de
Uberlândia.
189
FIGURA 4 - Série temporal da percentagem de Boletins de Ocorrência com violência
doméstica contra a mulher. Uber
lândia
MG
janeiro a junho de 2004.
Nota
-se a ocorrência significativa de picos aproximadamente eqüidistantes e uma
inspeção nos dados obtidos pode-se constatar que estes picos ocorrem, geralmente em fins de
semana, ou seja, com uma periodicidade de se
te dias.
Na Figura 5 é apresentada a análise da densidade espectral dessa série. Este tipo de
análise tem o objetivo de verificar se as ocorrências dos picos são significativas ao longo da
190
série. Este procedimento se baseia na técnica matemática conhecida como transformada de
Fourier.
FIGURA 5 - Densidade espectral da percentagem de Boletins de Ocorrências com violência
doméstica contra a mulher.
A Figura 5 confirma, estatisticamente, o que foi observado na inspeção visual dos dados,
ou seja, a ocorrência de um pico significativo de porcentagem de violência doméstica a cada
sete dias, com uma densidade espectral acima de 1200 unidades enquanto os demais valores
ficaram sempre abaixo de 400 unidades.
Como informação complementar obteve-se ainda informações registradas nos Termos
Circunstanciados de Ocorrência de tempo de relacionamento do casal. Entretanto, verificou
-
se
que 163 dos 390 casos pesquisados (41,8% dos casos) não apresentavam essa informação.
Não obstante pode
-
se observar um baixo índice de re
gistros para tempo de relacionamento
inferior a 1 ano e superior a 15 anos. A média de tempo de relacionamento foi de 8,57 anos
com desvio padrão de 7,71 anos, mostrando que ocorre uma alta variabilidade (desvio padrão
191
praticamente igual a média) no tempo de relacionamento dos casais, ou seja, nesta pesquisa
foi verificado que as denúncias de violência doméstica contra a mulher ocorreram para casais
com apenas um mês de relacionamento até 40 anos de relacionamento.
6.2 Caracterização dos casos de violência conjugal, conforme entrevistas
realizadas.
6.2.1 Descrição das participantes das entrevistas
Participaram desse estudo, 71 mulheres vítimas de violência conjugal, que foram
entrevistadas individualmente pela pesquisadora
.
Quanto à faixa etária
as mulheres relataram ter idades variando entre 17 e 59 anos. A
idade média foi de 34,69 anos, com um desvio padrão de 10,64 anos. Na Tabela 12
é
apresentada a distribuição
das idades da
s
mulher
es
que foram classificadas em nove intervalos
de cinco anos cada.
Nu
m primeiro momento pode se observar que havia uma maior concentração de mulheres
com idades entre 31 e 35 anos seguidas pela faixa de 36 a 40. Não obstante, percebe-se a
tendência de concentração de idades das mulheres entre 21 e 40 anos. Verifica-se que 64,8%
das mulheres entrevistadas apresentavam idade neste intervalo.
Estes dados se mostram compatíveis com aqueles verificados nas outras fases desta
pesquisa, ou seja, com o levantamento das informações dos Boletins de Ocorrências
e
d
os
Termos Circunstanciados de Ocorrência
.
192
TABELA 12
Distribuição de idade das mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na Delegacia
da Mulher de Uberlândia
.
Faixa etária (anos)
f %
15 a 20
6
8,5
21 a 25
9
12,7
26 a 30
11
15,5
31 a 35
14
19,7
36 a 40
12
16,9
41 a 45
7
9,9
46 a 50
6
8,5
51 a 55
2
2,8
56 a 60
4
5,6
Total
71
100,0
NOTA
: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.
Em
relação à cor 75% as mulheres classificaram a si mesmas como sendo branca, 16,9%
como parda e 8,5%
como negra.
Q
uanto à naturalidade
, o predomínio é de mulheres de outras cidades, sendo que 39,4% se
revelaram oriundas de outras cidades de Minas Gerais, 19,7% do Estado de Goiás, 9,9% de
outros estados, isto pode estar associado à própria característica da cidade que recebe uma
imigração bastante acentuada por ser considerada cidade pólo do Triângulo Mineiro. Apenas
31% das
entrevistadas
tinham naturalidade de Uberlândia.
Os dados do estado civil apresentados na Tabela
13
mostram que aproximadamente 50%
das mulheres são casadas oficialmente. Deve-se destacar, como visto nas outras fases desta
pesquisa, o alto índice de amasiadas (45,1%). Observa-se ainda que 5,6% declararam-
se
solteiras, ape
sar de conviverem maritalmente
com o agressor.
193
TABELA 13
Di
stribuição do estado civil das mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na
Delegacia da Mulher de Uberlândia
.
Estado civil
f %
Casada
35
49,3
Amasiada
32
45,1
Solteira
4
5,6
Total
71
100,0
NOTA
: Entrevistas realizadas no período de
maio a julho de 2004.
Quanto ao bairro residencial, observa-se uma alta dispersão, 29 bairros foram citados
pelas mulheres, indicando que a violência contra a mulher ocorre em diversos bairros de
Uberlândia. Essa mesma característica é observada em relação à profissão das mulheres. Foi
revelado, entretanto, número expressivo de mulheres que se declararam do lar
(22,5%)
enquanto, 18,3% apresentaram-se como domésticas. As profissões das vítimas são bastante
amplas, podendo ser observadas profissões como estudante, professora, comerciante,
vendedora, ministra de igreja, gary, bordadeira, costureira, faxineira, dentre outras.
A tendência da dispersão é também verificada ao se analisar os dados relativos à r
eligião
das mulheres. A Tabela 14 revela que um predomínio da religião católica (53,5%) seguida
pela evangélica (21,1%). Somando-se estes dois segmentos têm-se 74,6% dos casos.
Entretanto, chama atenção o fato de 8 diferentes religiões terem sido citadas por 71 mulheres.
Além disso, 9,9% das mulheres declararam não terem religião. No quesito sobre a prática da
religião, verificou
-
se ainda que 47,9% das entrevistadas revelaram não serem praticantes.
194
TABELA 14
Distribuição da religião das mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na
Delegaci
a da Mulher de Uberlândia
.
Religião
f %
Católica
38
53,5
Espírita
3
4,2
Crente
4
5,6
Evangélica
15
21,1
Presbiteriana
1
1,4
Não tem
7
9,9
Testemunha de Jeová
1
1,4
Budista
1
1,4
Adventista
1
1,4
Total
71
100,0
NOTA
: Entrevistas reali
zadas no período de maio a julho de 2004.
A
Tabela 15 mostra as informações sobre a escolaridade das participantes e indica que
grande parcela das mulheres possui apenas o primeiro grau incompleto, mas foram
observados casos em todos os níveis de escolar
idade, desde analfabeta até nível superior.
TABELA 15
Distribuição
por freqüência do nível de escolaridade das mulheres vítimas de violência
conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia
.
Escolaridade da mulher
f %
Primeiro grau incomp
leto
38
53,5
Primeiro grau completo
8
11,3
Segundo grau incompleto
5
7,0
Segundo grau completo
15
21,1
Superior incompleto
3
4,2
Superior Completo
1
1,4
Analfabeta
1
1,4
Total
71
100,0
NOTA
: Ent
revistas realizadas
no período de maio a julho
de 2004.
As mulheres entrevistadas declararam possuir uma renda pessoal que varia de zero a três
mil reais, ou seja, de zero a 11,5 salários mínimos. A média da renda pessoal foi de R$
264,13, o que corresponde a aproximadamente um salário mínimo e o desvio padrão
é
de R$
195
370,85 reais
. A mediana foi de R$ 270,00, ou seja, 50% das mulheres declaram renda inferior
a R$ 270,00 e 50% declaram ter renda superior a este valor.
6.2.2 Descrição dos parceiros
Segundo as respostas das mulheres, conforme se observa na Tabela 16, os parceiros
agressores tinham idade entre 19 e 70 anos
,
apresentaram uma idade média de 39,06 anos e
desvio padrão de 11 anos
. Os dados mostraram haver um maior número de agressores na faixa
de 41 a 45 anos (18,3%).
Observou
-se que as faixas etárias das vítimas e dos agressores não
coincidem, prevalecendo no caso das primeiras de 21 a 40 anos enquanto para os últimos a
faixa vai de 31 a 50 anos (62,0%).
Esses dados são similares àqueles verificados nos Termos Circunstanciados de
Ocorrênci
a, levantados no Juizado Especial Criminal que revelaram uma idade média do
agressor de 38,08 anos com desvio padrão de 10,27 anos, com
idade variando de 19 a 74 anos.
Tais resultados estão em consonância com a literatura acerca da violência contra a mulhe
r
conforme indicado na primeira fase da pesquisa, que descreve a idade das mulheres e dos
agressores.
196
TABELA 16
Distribuição da faixa etária dos parceiros das mulheres vítimas de violência conjugal,
entrevistadas na De
legacia da Mulher de Uberlândi
a.
Faixa etária (anos)
f %
15 a 20
2
2,8
21 a 25
9
12,7
26 a 30
6
8,5
31 a 35
10
14,1
36 a 40
11
15,5
41 a 45
13
18,3
46 a 50
10
14,1
51 a 55
7
9,9
56 a 60
2
2,8
66 a 70
1
1,4
Total
71
100,0
NOTA
: Entre
vistas realizadas
no período d
e maio a julho de 2004.
Informações relativas às profissões dos agressores apresentaram também uma alta
dispersão, assim como indicado no caso das mulheres. As profissões dos parceiros variam
numa faixa extensa, podendo ser observados profissionais como: empresário, advogado,
militar, garçom, pedreiro, marceneiro, açougueiro, vendedor, publicitário, comerciante, moto-
taxista, auxiliar de depósito, empregado rural,
dentre outras
.
Mais uma vez constata-se que tanto a profissão das vítimas como as dos agressores são
bastante
diversas
variando de desempregados e do lar até empresários e profissionais liberais
com curso superior.
Pode se verificar nesta pesquisa que entre os agressores, 81,7% (58 dos 71) estavam
empregados, 15,5% estavam desempregados e 2,8% enc
ontravam
-
se aposentados.
Em sua maioria eles possuem baixa escolaridade, 53,5% possui apenas o primeiro grau
incompleto
(Tabela 17). As mulheres declararam que 4,2% dos parceiros tinham o terceiro
grau completo. Curiosamente pode-se observar que 5,6% das entrevistadas não sabiam o grau
de escolaridade de seus parceiros.
197
TABELA 17
Escolaridade dos parceiros das mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na
Delegacia da Mulher de Uberlândia
.
Escolaridade do parceiro
f %
Primeiro grau incomple
to
38
53,5
Primeiro grau completo
6
8,5
Segundo grau incompleto
7
9,9
Segundo grau completo
4
5,6
Superior incompleto
2
2,8
Superior Completo
3
4,2
Não sabe
4
5,6
Analfabeto
7
9,9
Total
71
100,0
NOTA
: Entr
evistas realizadas
no período de
maio a julho de 2004.
Com relação à renda do companheiro verificou-se que das 71 entrevistadas 68 declaram
conhecer a renda do companheiro e o valor variou de um mínimo de R$ 0,00 à R$ 32.000,00,
com média de R$1.411,18 e desvio padrão de R$ 4.048,20. Nota-se que a renda declarada de
R$ 32.000,00, seguida por R$ 10.000,00 e R$ 6.000,00 elevaram o valor da média e
provocaram a alta dispersão avaliada pelo desvio padrão e que uma análise de outra medida
de posição, como a mediana de R$ 545,00 revelou com mai
s fidelidade
à
situação da renda do
companheiro.
O paralelo entre a renda e escolaridade do parceiro indica o predomínio de níveis baixos
em ambos os casos, entretanto os dados também evidenciam a presença de agressores que
possuem renda e grau de instrução elevado. Esses indicadores podem estar apontando para a
hipótese de que a violência conjugal permeia níveis educacionais e sócio-econômicos
variados da sociedade. Ainda assim, nota-se que as denúncias ocorrem com menor freqüência
nas famílias de maior po
der aquisitivo. Este dado
pode
estar apenas evidenciando que, para as
camadas mais altas, a violência
conjugal não é denunciada
. Se esta hipótese estiver correta, as
pesquisas sobre o tema não retratam com exatidão a realidade deste fenômeno.
Estes dados são compatíveis aos encontrados por Pazinoto (
apud
BRIGA
de marido e
mulher
, 2004
) que afirma que embora haja uma tendência a atrelar a violência contra a mulher
198
contra as classes menos favorecidas, o problema atinge mulheres de diferentes níveis
econômicos
, e escolaridade. As classes menos favorecidas procuram mais os serviços de
policiais e de delegacias, enquanto que as de classes altas e médias procuram outros recursos:
médicos, psicólogos e advogados particulares.
6.2.3 Descrição das características c
omuns ao casal
Considerando
-se os resultados relativos à constelação familiar, as participantes da
pesquisa informaram que possuíam de zero a oito filhos, sendo que a média de filhos por casal
foi de 2,37 filhos com desvio padrão de 1,45 filhos. Estes dados mostram a tendência de
concentração do mero de filhos entre 1 e 3,
sendo
confirmados através da distribuição
apresentada na Tabela
18
.
TABELA 18
Número de filhos das mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na Delegacia da
Mulher de Ube
rlândia
.
Número de filhos
f %
0 3
4,2
1
18
25,4
2
21
29,6
3
17
23,9
4 8
11,3
5 1
1,4
6 2
2,8
8 1
1,4
Total
71
100,0
NOTA
: Entre
vistas realizadas
no período de maio a julho de 2004.
Em um estudo mais detalhado sobre a idade dos filhos, verificou-se que a idade
mínima do primeiro filho das vítimas era de alguns meses e a máxima de 36 anos, com média
de 14,49 anos e desvio padrão de 9,70 anos. Já para o segundo filho a idade mínima foi de 2
199
anos e a máxima de 34 anos (média de 15,16 anos e o desvio padrão de 8,14 anos). Para o
terceiro filho, observou-
se
idade mínima de 2 anos e máxima de 32 (média de 13,83 anos e
desvio padrão de 8,79 anos
)
e para o quarto filho
a idade
mínim
a
de 4
e máxima de 31 (
média
de 17,17 anos e desvio padrão de 8
,85 anos
)
.
Assim hipotetiza-se que, o mero de filhos e a idade dos filhos parece não exercer
influê
ncia sobre as ações da
mulher
.
Entretanto Snell, Rosenwald e Robey (1964, apud Gelles,
1976) afirmam que a presença de um filho mais velho motiva as mulheres a levar seus
parceiros
à corte
.
Em relação à moradia, 47,9% das entrevistadas declararam residir em casa própria, 39,4%
habitam em imóvel alugado e as demais (12,7%) em imóvel cedido.
Considerando o tempo de convivência do casal, ou seja, período no qual o casal
compartilha a mesma residência, a média observada foi de 13,31 anos (desvio padrão de 9,48
anos), vari
ando
entre o
mínimo de menos de 1 ano a 37 anos.
6.2.4 Descrição da violência
Considerando
-se a época de origem da violência no relacioname
nto,
73,3% das mulheres
entrevistadas revelaram
que
esta
teve início ainda na fase de namoro ou logo no início do
casamento, conforme dados da Tabela
19.
O tempo médio que as mulheres sofrem a agressão
foi de 12,2 anos (desvio padrão igual a 9,18 anos), com o mínimo de menos de 1 ano e
máximo de 38 anos
.
Estas informações quando comparadas ao tempo de convívio mostram que o início da
agressão pode anteceder em um ano a moradia comum. Observa-se que a fase do namoro já
revelava
a problemática da violência pa
ra 31,0% das mulheres.
200
TABELA 19
Início
das agressões sofridas por mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na
De
legacia da Mulher de Uberlândia
.
Início das agressões
f %
Namoro
22
31,0
Início do casamento
30
42,3
Durante a primeira gr
avidez
5
7,0
Após nascimento do 1
o
filho
6
8,5
Após nascimento do 2
o
filho
3
4,2
Após algum evento
5
7,0
Total
71
100,0
NOTA
: Entre
vistas realizadas
no período de maio a julho de 2004.
A análise da
periodicidade
das
agressões
(Tabela
20
) indica que as
estas
ocorrem
diária e semanalmente com maior freqüência (88,8%), sugerindo que as agressões são uma
rotina na convivência do casal.
TABELA 20
Freqüência da violência sofrida pelas mulheres entrevistadas na Delegacia da Mulher de
Uberlândia.
Fre
qüência das agressões
f %
Todos os dias
31
43,7
Semanalmente
32
45,1
Quinzenalmente
4
5,6
Mensalmente
3
4,2
Outros
1
1,4
Total
71
100,0
NOTA
: Entr
evistas realizadas
no período de maio a julho de 2004.
As causas
das
agressões são apresentadas na Tabela
21
, com as respectivas percentagens
de
ocorrência (respostas SIM ou NÃO para cada motivo). Verifica-se que: c
iúmes,
nervosismo do parceiro, agressividade do parceiro e uso de álcool, nesta ordem, são as
principais causas apontadas pelas mulheres para as
agressões
do parceiro, todas com
freqüência
s superiores a 50%. Observa-se ainda que a acusação de traição da mulher pelo
201
parceiro (38,0%) e traição do próprio parceiro são freqüentemente percebidas pelas mulheres
como causas das agressões.
TABELA
21
Porcentagem
de ocorrência das causas gerais da violência sofrida, relatadas por mulheres
vítimas de violência conjugal, entrevistadas na Del
egacia da Mulher de Uberlândia.
%
Causas
da agressão
Sim
Não
Uso de álcool
50,7
49,3
Drogas
14,1
85,9
Jog
o
7,0
93,0
Falta de dinheiro
14,1
85,9
Ele a acusa de traí
-
lo
38,0
62,0
Traição dele
35,2
64,8
Ciúmes
70,4
29,6
As amizades dele
18,3
81,7
Preguiça dele
9,9
90,1
Falta de iniciativa dele
12,7
87,3
Ele é nervoso
57,7
42,3
A sogra
9,9
90,1
A famíli
a dele
7,0
93,0
A família dela
1,4
98,6
Ele é agressivo
54,9
45,1
Ele tem problemas psicológicos
32,4
67,6
A culpa é dela
7,0
93,0
Ele é impotente
2,8
97,2
Ele gosta de gay
2,8
97,2
NOTA
: Entr
evistas realizadas
no período de maio a julho de 2004.
A Tabela 22 mostra as causas atribuídas pelas mulheres às agressões em ordem de
importância,
sendo classificados em primeiro lugar uso de álcool (33,8%) e ciúme (31,0%).
em segundo
lugar
uma redução no percentual do uso do álcool como motivo de
33,8%
para 9,9%
e
ocorrendo
a acusação de traição da mulher, que não apareceu no primeiro
caso e apresentou u
m percentual de 16,9%, ficando
atrás apenas do ciúme que
teve freqüência
de
19,7%.
Em
terceiro
lugar,
as mulheres
desta
caram o motivo
ele é nervoso (1
9,7%
). A
lém
disso, verifica
-
se ainda um
aumento
na quantidade dos motivos listados pelas vítimas.
202
TABELA 22
Classificação
das causas da violência dos parceiros, segundo as mulheres entrevistadas na
Del
egacia da Mulher de Uberlândia.
Primeiro motivo
Seg
undo motivo
Terceiro motivo
f % f % f %
Uso de álcool
24
33,8
7
9,9
3
4,2
Drogas
2
2,8
2
2,8
2
2,8
Jogo
1
1,4
1
1,4
1
1,4
Falta de dinheiro
- - 1
1,4
2
2,8
Ele a acusa de tra
í-
lo
- -
12
16,9
6
8,5
Traição dele
8
11,3
7
9,9
4
5,6
Ciúme
22
31
,0
14
19,7
7
9,9
As amizades dele
- - 1
1,4
1
1,4
Preguiça dele
- - 2
2,8
3
4,2
Falta de iniciativa
dele
1
1,4
1
1,4
2
2,8
Ele é nervoso
7
9,9
8
11,3
14
19,7
A sogra
- - 1
1,4
3
4,2
A família dele
- - - - 3
4,2
Ele é agressivo
3
4,2
9
12,7
10
14,1
Ele tem problemas
psicológicos
2
2,8
3
4,2
4
5,6
A culpa é dela
- - 2
2,8
- -
Ele é impotente
1
1,4
- - 1
1,4
Ele gosta de gay
- - - - 1
1,4
Não informado
- - - - 4
5,6
Total
71
100,0
71
100,0
71
100,0
NOTA
: Entre
vistas realizadas
no períod
o de maio a julho de 2004.
A análise dos percentuais relativos às causas das agressões contidas nas Tabelas 21 e 22
sugerem que a gênese das agressões é variada, sendo precipitado relacioná-la estritamente a
fatores externos ou internos. Por exemplo, 50% dos agressores fazem uso de álcool enquanto
percentual quase idêntico não o faz, então relacionar o consumo de bebidas alcoólicas ao ato
agressivo seria precoce. Por outro lado, características pessoais tais como ele é agressivo ,
nervoso , tem problemas psicológicos também são apontadas como causas que geram
agressão. Determinar de modo preciso à gênese da agressão conjugal requer investigações que
envolvam a presença de fatores diversos, não atribuindo antecipadamente importância a priori
a um dado mo
tivo.
203
Considerando ainda as causas geradoras da agressão, na percepção das mulheres, foram
destacados ciúmes, traição do parceiro e acusação de traição dela. Esse núcleo de
causas
parece estar vinculado à relação propriamente dita, enquanto as demais
causa
s estariam
ligada
s a fatores internos, como por exemplo, características psicológicas. Tal argumentação
necessita de pesquisas que possam oferecer subsídios à mesma.
A seguir, na Tabela 23 o
s resultados
relativos
aos tipos de agressão utilizada pelo parce
iro
são apresentados
.
TABELA 23
Porcentagem
de ocorrência dos tipos de agressão utilizada pelo parceiro, na
violência
conjugal,
conforme
entrevistas
realizadas
na Delegacia da Mulher de Uberlândia
.
%
Tipos de agressão
Sim
Não
Espancamento
62,0
38,0
Us
o de objetos para infringir dor
49,3
50,7
Uso de armas de fogo
4,2
95,8
Enforcamento
66,2
33,8
Queimaduras
11,7
88,3
Esbofeteia
64,8
35,2
Empurrão
94,4
5,6
Tapas
85,9
14,1
Chutes
60,6
39,4
Socos
71,8
28,2
Outros
77,1
22,9
Nota: Entr
evistas rea
lizadas
no período de maio a julho de 2004.
É necessário esclarecer que a severidade da violência foi considerada em três níveis:
baixa, que é caracterizada por
empurrar,
agarrar e atirar algo contra o outro; média, que é
representada pelos atos de esbofetear, chutar, morder ou esmurrar, e alta que acontece através
do espancamento e da ameaça com faca ou arma ou uso delas, conforme sugere Straus (1980
apud
BREHM
, 1985).
Os dados relativos aos tipos de agressões sofridas pelas mulheres entrevistadas nesta
p
esquisa revelam os 3 níveis de severidade com
o pode ser observado na Tabela 23
. Entretanto
uma inspeção mais profunda nos dados mostra que os vários tipos de agressão ocorrem
204
concomitantemente, pois as mulheres ao responderem a questão sobre as agressões a
firmaram
que não atos isolados, como por exemplo, apenas empurrão, mas empurrão e chutes. O
conjunto das respostas revela, portanto, dois níveis de severidade da violência: médio e alto.
Ainda tentando esclarecer a severidade da violência, as mulheres relataram agressões ou
ameaças com armamento como, por exemplo, a roleta russa , ameaças de cortar o pescoço.
Outra pratica usual nas agressões é o uso de cinto para espancar ou enforcar, bater a cabeça na
parede e puxar o cabelo. Vale destacar que embora
agarrar ou puxar o cabelo seja considerado
usualmente uma violência de baixa severidade, uma das mulheres entrevistadas relatou ter
raspado a cabeça por não mais suportar ter freqüentemente os cabelos arrancados. Chama
atenção ainda a agressão através de
afogamento em piscina.
Os tipos de violência empregados pelos agressores em conjunto com a freqüência de atos
agressivos (diários ou semanais) acentuam a severidade do fenômeno. Possivelmente, o
aumento da severidade poderia ocasionar a queixa das agressões sofridas às autoridades
competentes, através do Termo Circunstanciado de Ocorrência.
Esses dados são compatíveis com os encontrados por Gelles (1976), que afirma que a
freqüência com que a esposa é atingida também influencia sua decisão de permanecer com o
marido, ou de chamar a polícia, ou de ir a um assistente social, ou de buscar a dissolução do
matrimônio Mulheres agredidas semanalmente a diariamente são mais propensas a chamar a
polícia, enquanto as mulheres agredidas com menor freqüência (pelo men
os uma vez por mês)
têm maior inclinação a pedir o divórcio ou a separação legal.
A Tabela 24, por sua vez, mostra os resultados sobre os vários tipos de
violência
psicológica
apontados pelas mulheres.
205
T
ABELA 24
Porcentagem
de ocorrência dos tipos de agr
essão psicológica utilizada pelo parceiro, relatadas
por mulheres entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia
.
%
Tipos de violência psicológica
Sim
Não
Pressão
66,2
33,8
Culpa você por tudo de errado
71,8
28,2
Mulher inferior
36,6
63,4
Insult
os
81,7
18,3
Calúnia
78,9
21,1
Rejeição
33,8
66,2
Depreciação
71,8
28,2
Humilhação
90,1
9,9
Desrespeito
73,2
26,8
Punição Exagerada
47,9
52,1
Tenta te convencer que é louca
52,1
47,9
Te xinga
87,3
12,7
Aumenta seus erros
71,8
28,2
Inventa erros q
ue você não cometeu
78,9
21,1
Oferece apenas alimento sobrevivência
33,8
66,2
Não deixa dormir
59,2
40,8
Não deixa conviver com familiares
49,3
50,7
Não permite convívio social
53,5
46,5
Proíbe de ter emprego
29,6
70,4
Proíbe de estudar
23,9
76,1
As
vezes é violento, as vezes bondoso
81,7
18,3
Faz a ameaça de te espancar
73,2
26,8
Faz ameaça de te matar
81,7
18,3
Ameaça tirar os filhos de você
43,7
56,3
Xinga os filhos
38,0
62,0
Bate nos filhos
33,8
66,2
Te tranca dentro de casa
32,4
67,6
Te t
ranca fora de casa
36,6
63,4
Te pressiona a confessar algo
59,2
40,8
Se nega a conversar com você
80,3
19,7
Quebra utensílios domésticos
67,6
32,4
Quebra móveis
25,4
74,6
Rasga suas roupas
35,2
64,8
Rasga seus documentos
16,9
83,1
Rasga suas fotos
29,6
70,4
Estraga objetos pessoais
52,1
47,9
NOTA
: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.
Os resultados mostram que a violência toma várias formas, e que a agressão psicológica
assume no espaço conjugal, um drama vivido por todas as mulheres que participaram dest
a
pesquisa. Os dados apontam como regra geral, a ausência do diálogo, o que evidencia um
206
comprometimento da comunicação do casal. Observa-se que insultos, calúnia, humilhação,
xingamentos, invenção de erros que a mulher não cometeu, ameaças de matar, se negar a
conversar e às vezes
ser
violento, às vezes
ser
bondoso, aparecem todos com uma freqüência
superior a 75%. Vale ressaltar que as mulheres que não marcaram o item às vezes é violento,
às vezes é bondoso , afirmaram que o parceiro é apenas violento, e que das 71 mulheres 10
relataram, que o parceiro queima as
roupas
dela. Observam-se ainda declarações de que o
parceiro aterroriza inventando histórias; agridem e posteriormente levam flores. relatos
nos quais as mulheres
afirmam que o parceiro
é duas pessoas,
um é o oposto do
outro .
As agressões de natureza sexual e econômica também foram investigadas junto às
entrevistadas.
Verificou
-se que 20 das 71 mulheres (28,2%) manifestaram que sofrem
agressão sexual, enquanto 51 das 71 (71,8) entrevistadas
relataram
que não sofrem abuso
sexual do parceiro
.
A análise dos dados relativos ao abuso econômico mostrou que 39,4% das mulheres
sofrem este tipo de abuso contra 60,6% que revelaram não sofrer este tipo de abuso, sendo
que em 28,2% dos casos o parceiro não dinheiro à vítima, em 7,0% ele usa o dinheiro da
vítima, em 11,3% o parceiro gasta o dinheiro fora de casa, em 9,9% ele ameaça ir embora e
não dar ajuda financeira e em 14,1% dos casos
o
parceiro esconde o dinheiro.
207
6.3
Análise das atribuições, sentimentos, expectativas e reações dos sujeitos
após a agressão
6.3
.1 Análise comparativa
da
primeira e
da
última agressão
.
Causas
da primeira e última agressão
.
Quando questionadas especificamente sobre as causas da primeira e última agressão,
as mulheres pronunciaram-se levantando primordialmente, os ciúmes, os problemas
psicológicos do parceiro, a questão do álcool e da droga, ciúmes e bebida ao mesmo tempo, a
amante, a sogra, provocação dela, rejeição sexual dela, o fato de ele não aceitar a separação e
por último rejeição dele,
conforme Tabela 25.
TABELA 25
Causas
da primeira e da ultima agressão relatadas por mulheres entrevistadas na Delegacia da
Mulher de Uberlândia.
Primeira agressão
Última agressão
Causas
da
agressão
f % f %
Problemas psicológicos
16
22,5
15
21,1
Álcool/droga
15
21,1
12
16,9
Ciúme
20
28,2
18
25,4
Ciúmes e bebida
5
7,0
12
16,9
Provocação dela
2
2,8
3
4,2
Rejeição sexual dela
3
4,2
- -
Rejeição dele
1
1,4
- -
A outra (amante)
6
8,5
9
12,7
Ele não aceita separar
3
4,2
- -
A sogra
- - 2
2,8
Total
71
100,0
71
100,0
NOTA
: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.
208
Não obstante, na
s
causas relativas à última agressão, aquela que levou a mulher a buscar
ajuda na Delegacia, observa-se um empate entre álcool/drogas e ciúmes e bebida, ficando
ambas como a terceira causa principal da última agressão com 16,9%. Entretanto numa
análise mais profunda, pode-
se
dizer que o ciúme em sua somatória com ciúmes e bebida
(42,3%
) permanece como sen
do a principal alegação para as causas
das agressões
, enquanto o
uso de álcool e drogas aliado a ciúmes e bebida (33,8%) subiria para a segunda posição,
ficando em terceiro lugar os problemas psicológicos do parceiro no caso da última a
gressão.
Observa-se ainda em relação a esse quesito um destaque para a outra (a amante) que se
posiciona entre as primeiras quatro
causas
para as agressões sofridas. Importante ressaltar que
a
s
causas
das agressões relatadas pelas mulheres permanecem as
mesma
s, tendo apenas uma
pequena alteração quanto ao segundo e terceiro lugar
, da primeira para a última agressão
.
Causas Atribuídas pelas mulheres à violência do parceiro
Como apontado anteriormente, inicialmente foi solicitado às mulheres que relata
ssem
sobre a primeira vez que o companheiro a agrediu, o que aconteceu, e porque ele fez isso, de
forma que logo em seguida elas mesmas pudessem apontar as categorias causais relacionadas
ao lócus e à estabilidade da causa da violência, assim definidas por Weiner (1979): interna
estável (personalidade, caráter, gênio, ruindade ), interna instável (estado emocional
nervoso
-, estado de saúde, alcoolizado), externa estável (família dele ou dela, os filhos ...) e
externa instável (falta de dinheiro, emprego ruim, vizinhança, a situação). O mesmo foi
solicitado para a última agressão que a levou à procura de ajuda na Delegacia da Mulher.
Considerando
-se os resultados relativos às duas dimensões, isto é, lócus e estabilidade da
causa da violência do parceiro c
onstata
-
se na
Tabela 26
que as principais causas percebidas na
primeira agressão foi a Interna Instável, com 81,7%. Estes resultados indicam que em relação
209
à primeira agressão, o lócus percebido pelas mulheres da causa da violência é atribuído ao
parceiro.
Simultaneamente, as mulheres fizeram uma atribuição causal instável, sendo a
primeira agressão percebida como uma conseqüência do estado de ânimo do parceiro, estado
emocional, perda de controle, etc, ou seja, aquela agressão é atribuída a algo que não pe
rdura
no tempo não se tratando de uma característica permanente do parceiro, dado que os fatores
instáveis se relacionam ao acaso, ainda que se refiram a estados internos do agressor.
Os resultados relativos à
atribuição
decorrente da última agressão mostra
ram
que 66,2%
das mulheres identificaram as causas como Interna Estável, contra 9,9% na primeira
agressão
e,
portanto,
diferenci
ando
-
se
da primeira
atribuição
que havia sido
identificada
como Interna
Instável. Conseqüentemente, os resultados mostra
ra
m que
no
segundo momento as mulheres
continuaram a
atribuir
a causa da violência
ao
próprio parceiro (determinações causais
pessoais), mas passaram a considerar a violência como decorrente de características estáveis
da personalidade do
parceiro, ao invés de in
stável.
TABELA 26
Freqüência e porcentagem das dimensões causais, lócus e estabilidade
classificadas
por
mulheres vítimas de violência
conjugal entrevistadas na Delegacia da Mulher.
Primeira agressão
Última agressão
Dimensão causal
f % f %
Interna E
stável 7
9,9
47
66,2
Interna Instável
58
81,7
23
32,4
Externa Estável
3
4,2
1
1,4
Externa Instável
3
4,2
0 0
Total
71
100,0
71
100,0
Qui
-
quadrado
2
=
122,3 ; p
0,01
2
=
44,7; p
0,01
NOTA
: Entr
evistas realizadas
no período de maio a julho de 20
04.
Tais resultados conduzem a hipótese de que a mudança atribucional poderia se
constituir
em
uma das razões para o rompimento do relacionamento. É provável que as
mulheres permaneçam no relacionamento até o momento em que atribuam instabilidade à
210
violê
ncia, e não o façam quando percebem que a violência é uma característica estável do
parceiro, inerente à sua personalidade, caráter e temperamento.
Interessante notar que, as atribuições causais impessoais, isto é, aquelas que se referem a
uma localização da violência fora do parceiro, ou seja, as externas estáveis, identificadas
através do meio sócio
-cultural como família, amigos,
amante
,
sogra,
surgem apenas com 1,4%
para a ú
ltima agressão
, e
nquanto
as externas instáveis relativas às condições sócio-
econ
ômica
(desemprego e condições financeiras) bem como as relativas às condições ambientais
(vizinhança, locais freqüentados e exigências sociais), não constaram dentre as atribuições
realizadas
. Os dados sugerem a necessidade de se investigar o lócus da caus
a
da violência
conjugal em
uma perspectiva pessoal
.
No que se relaciona à atribuição de culpa, o exame da Tabela 27 indica que a maioria das
mulheres agredidas fez um julgamento avaliativo que envolve total imputabilidade ao
parceiro,
respectivamente
com 69,0% e 78,9% para a primeira e ú
ltima
agressão
,
culpabilizando
-o pela violência. H
ouve
um acréscimo de aproximadamente 10 pontos
percentuais em relação à primeira agressão, especificamente no ponto cinco da escala que
equivale a totalmente . Os resultados mostram que para a primeira
agressão
73,2% das
mulheres
não atribuíram nenhuma culpa a si mesmas, 78,9% revelaram que outra pessoa não
teve culpa e 90,1% não culparam a situação.
Na Tabela 27 pode ainda ser visualizada a classificação da atribuição de culpa feita
pelas
mulheres em relação à última
agressão
. Os dados revelaram que 78,9% ac
reditam
que
elas não tinham culpa
alguma, sendo que
o mesmo percentual de mulheres atribu
iu
culpa total
ao parceiro. Na seqüência, 87,37% das mulheres consideraram que outra pessoa
,
não t
inha
culpa. Interessante notar que das 71 mulheres nenhuma atribuiu totalmente a culpa à situação,
dados estes
em
conson
ância
com
o lócus da causa
conforme
Tabela
26.
211
Considerando as classificações das mulheres para atribuição de culpa, tanto para a
primeira quanto para a ú
ltima
agressão
, verifica-se uma reduzida porcentagem de atribuições
externas ao parceiro. Tais resultados mostram que, de forma geral, as mulheres culparam em
primeiro lugar o parceiro e, em segundo lugar numa porcentagem muito menor culparam
outra pessoa, em terceiro a si mesmas, e por fim culparam
parcialmente
a situação.
Os resultados descritos acima foram confirmados quando se considera as médias das
categorias causais. Culpa do agressor com médias de 4,45 (DP= 0,95) e 4,68 (DP= 0,75),
respectivamente, para a primeira e última agressão se destacam quando comparadas com as
médias de outras categorias causais, cujos valores variam de 1,61 a 1,23 (Tabela 27) em uma
escala de 1 a 5 pontos.
212
TABELA 27
Média, desvio padr
ão
e porcentagem das categorias causais de culpa na primeira e última
agressão
, classificada pelas mulheres vítimas de
violência
conjugal
, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia
.
Porcentagem
Ocasião da
agressão
Média
Desvio
padrão
Nada
P
ouco
Mais ou
menos
Muito
Totalmente
Culpa
do
agressor
P
rimeira
4,45
0,95
1,4
4,2
11,3
14,1
69,0
Última
4,68
0,75
1
,4
1
,4
4,2
14,1
78,9
Culpa
da
vítima
Primeir
a
1,58
1,15
73,2
11,3
7,0
1
,4
7,0
Última
1,37
0,81
78,9
9,9
8,5
1,4
1,4
Culpa de
outra
pess
oa
Primeira
1,61
1,29
78,9
4,2
2,8
5,6
8,5
Última
1,34
0,97
87,3
1,4
5,6
1,4
4,2
Culpa da
situação
Pri
meira
1,23
0,72
90,1
1,4
4,2
4,2
Última
1,24
0,85
91,5
1,4
1,4
2,8
NOTA
: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.
213
Condiz
ente com relatos anteriores (HOLTZWORTH-MUNROE, 1988; HOLTZWORTH-
MUNROE et al., 1990; SHIELDS; HANNEKE, 1983) encontrou-se que as mulheres
agredidas são mais inclinadas a culpar o cônjuge do que a si mesmas pela violência à qual
estão sujeitas (ANDREWS; BREWIN, 1990; FRIEZE, 1979; HOLTZWORTH-
MUNROE,
1988).
Com relação à dimensão controlabilidade, que por sua vez, diz respeito ao grau em que a
causa é considerada controlável ou incontrolável, verificou-se que a maioria das entrevistadas
(
94,4%
)
acreditava
qu
e
era possível controlar a violência do parceiro na época da primeira
ocorrência
.
Entretanto esta tendência, inverte-se em relação à ultima agressão, com a maioria
(81,7%) considerando a causa incontrolável, não mais
acreditando
serem capazes de
modificar
a causa da ocorrência da violência. Apenas 9,9% das mulheres manifestaram que a
causa era controlável e 8,4%
não souberam responder.
Esse resultado mostra
a diferença entre
a primeira e a última
agressão
, passando de controlável a incontrolável, o mesmo que ocorreu
na dimensão estabilidade/instabilidade. Tal fato parece ser indicativo de uma mudança de
postura da mulher em relação ao parceiro. O qui-quadrado para a primeira agressão foi de
55,9 (p< 0,0001), e para a segunda agressão foi de 77,3 (p< 0,0001).
Em
relação à dimensão da intenção do agressor (Tabela 28), 28,2% das mulheres não
atribuíram
ao parceiro a
intenção
de causar danos na primeira agressão. C
onforme
esclarecimento de algumas entrevistadas, o parceiro agride por que é descontrolado , ou
por
que ele é de repente ou devido ao uso de álcool. Por outro lado, 59,2% das mulheres
atribuíram intenção total por parte do agressor, isto é, a agressão foi
realizada
prop
ositalmente
,
sendo decorrente de um ato deliberado,
cujo
objetivo final é provocar d
anos
à
parceira
. Vale ressaltar ainda, como já foi explicitado no capítulo 1, que do ponto de vista da
Psicologia Social a intencionalidade do ato é uma característica necessária a toda agressão
214
(RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2001) e que nesse caso, a violência conforme a
atribui
ção das mulheres entrevistadas está de acordo com os modelos de agressão hostil.
Sempre que se fala em violência, não se deve excluir a intencionalidade, ou o propósito
deliberado, pois este é o caráter que determina a agressão. Como pode ser observado mais da
metade das mulheres reconhecem desde o início a intenção do agressor em ferir e causar
danos, entretanto apesar desse reconhecimento acreditam que isso possa ser enfrentado e
modificado de alguma forma. Possuem assim, inicialmente uma consciência ingênua de um
ato franca e visivelmente hostil, e neste sentido atribuem a agressividade a uma dimensão
instável do parceiro.
Quanto à intencionalidade da última
agressão,
verifica
-se que 85,9% das mulheres
atribuíram intenção hostil ao parceiro, ele fez de propósito , índice superior ao da primeira
agressão
(59,2%). Importante ressaltar nesse quesito que a intenção de causar danos pode se
dar tanto através da agressão física quanto através da agressão psicológica, como nos casos de
ins
ultos, calúnias e outros. Os resultados parecem sinalizar que com o passar do tempo, cada
vez mais, as mulheres atribuem intenção agressiva, de forma que o ataque do parceiro é
percebido como servindo primariamente para ferir, seja física ou psicologicamen
te
. A média
para a intenção do agredir atribuída ao parceiro para a primeira agressão foi de 3,69 (DP=
1,78) e para a última foi de 4,55 (DP= 1,19) em uma escala de 5 pontos.
215
TABELA 28
Intencionalidade
atribuída
à agressão do parceiro relativa à primeira e ú
ltima
agressão
pelas
mulheres vítima
s
de violência conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia
.
Primeira agressão
Última agressão
Intencionalidade
f % f %
1 (sem intenção)
20
28,2
6
8,5
2 1
1,4
1
1,4
3 2
2,8
2
2,8
4 6
8,5
1
1,4
5 (fez de propósito)
42
59,2
61
85,9
Total
71
100,0
71
100,0
NOTA
: Ent
revistas realizadas
no período de maio a julho de 2004.
Apurou
-se também a atribuição de evitabilidade da agressão. Do exame da Tabela 29
extrai
u-se a informação de que 33,8% das entrevistadas não atribuíram ao parceiro a
possibilidade de evitar a primeira agressão, sendo que a maioria delas alegou desequilíbrio do
mesmo. Entre as mulheres pesquisadas 57,7% atribuíram que ele poderia ter evitado a
agressão
inicial
.
T
ABELA 29
Evitabilidade atribuída à agressão
sofrida,
relativa à primeira e última agressão, segundo
entrevistas realizadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia
.
Primeira agressão
Última agressão
Evitabilidade
f % f %
1 (não podia evitar)
24
33,8
18
25,4
2 1
1,4
0
0,0
3 3
4,2
1
1,4
4 2
2,8
1
1,4
5 (podia ter evitado)
41
57,7
51
71,8
Total
71
100,0
71
100,0
NOTA
: Ent
revistas realizadas
no período de maio a julho de 2004.
Com relação à evitabilidade, observa-se que houve mudança do padrão de respostas das
mulheres do ponto 1 da escala (não podia evitar) para o ponto 5 (podia ter evitado), da
216
primeira para a última atribuição onde ocorre com a freqüência percentual de 71,8%.
Considerando
-se a escala de 5 pontos, obteve-se uma média de 3,49 (DP= 1,47) e 3,94 (DP=
1,75), respectivamente na primeira e última agressão.
Sentimentos das mulheres decorrentes às agressões sofridas
Considerando
-se os sentimentos conseqüentes às agressões sofridas, ressalta-se que em
relação à primeira
agressão
, predominaram os sentimentos de angústia, de revolta, de tristeza,
de raiva, de mágoa e de medo, todos com freqüência
acima de 60%, conforme Tabela 30.
TABELA
30
Distribuição
p
ercentual
dos sentiment
os da vítima após a primeira e ú
ltima
agressão.
Primeira ag
ressão
Última agressão
Sentimentos
Sim
Não
Sim
Não
Raiva
66,2
33,8
81,7
18,3
Pena
18,3
81,7
32,4
67,6
Medo
60,6
39,4
70,4
29,6
Revolta
76,1
23,9
78,9
21,1
Culpa
21,1
78,9
14,1
85,9
Ansiedade
47,9
52,1
53,5
46,5
Angústia
81,7
18,3
80,3
19,7
Ódio
36,6
63,4
50,7
49,7
Mágoa
64,8
35,2
67,6
32,4
Calma
1,4
98,6
2,8
97,2
Tristeza
67,6
32,4
53,5
46,5
Depressão
35,2
64,8
53,5
46,5
Ambivalência
29,6
70,4
26,8
73,2
Rejeição
19,7
80,3
56,3
43,7
Aprova
4,2
95,8
4,2
95,8
Nojo
11,3
88,7
49,3
50,7
NOTA
: En
trevistas realizadas na Delegacia, no período de maio a julho de 2004.
Em relação à última agressão os sentimentos despertados, que apareceram com maior
intensidade nas mulheres são os de raiva e angústia, seguidos pelos de revolta e medo, todos
217
com freqüência acima de 70%. Nota-se ainda que sentimentos como nojo, rejeição e ódio
tiveram um acréscimo bastante expressivo da primeira para a última agressão.
Cabe comentar que as mulheres fizeram algumas declarações espontâneas em relação a
alguns sentimentos despertados pela violência do parceiro. Especificamente quanto ao
sentimento de medo, as vítimas relataram uma alta intensidade, por exemplo muito, muito,
muito,
... medo , tanto em relação à primeira, quanto em relação à última agressão. Sobre o
sentimen
to de culpa experimentado pelas vítimas, de acordo com as participantes da pesquisa,
estes não tem o sentido de culpar a si mesmas pela violência sofrida, mas tem o sentido de
culpar a si mesmas por terem permanecido tanto tempo na situação. Neste sentido, as
mulheres não se sentem responsáveis ou culpadas pelas agressões sofridas, entretanto,
sentem
-se culpadas por não terem rompido o relacionamento, que de acordo com elas seria a
única maneira de poder ter evitado a situação de violência, por tanto tempo.
Ao se comparar as duas situações pesquisadas, os dados sugerem que os sentimentos de
ang
ús
tia, revolta e mágoa não foram afetados pelo tempo ocorrido entre a primeira e a ultima
agressão, e que esses sentimentos aliados a outros de maior intensidade como o medo e a
tristeza subsidiam a permanência da mulher no relacionamento abusivo, dado o estado
psicológico decorrente desses sentimentos. A violência que é severa e recorrente deixa as
vítimas sentindo-
se deprimidas e desmoralizadas.
Esses dados confirmam
a
pesquisa de Roth e Coles (1995), de acordo com os quais o
s
sintomas decorrentes dos sentimentos de ansiedade, tristeza, depressão contribuem para
manter a mulher no relacionamento abusivo.
Como se verá em seguida, parece que o acréscimo de sentimentos negativos contra o
parceiro pode levar a mulher a buscar o rompimento do relacionamento, momento este que a
mulher se torna capaz de reconhecer no parceiro apenas um agressor.
218
Quando se analisa a primeira classificação feita pelas mulheres dos sentimentos advindos
da violência verifica-se que o sentimento sem alvo apresentou-se em 50 das 71 entrevistas
(70,4%), seguido pelo sentimento contra ele com 13 dos 71 casos (18,3%), e por fim os
sentimentos auto-dirigidos com 11,3% dos casos (8 em 71).
Em se tratando dos sentimentos relativos à última agressão observa-se que 71,8% das
entrevistadas classificaram o sentimento contra ele como o mais forte, enquanto 16,9%
apontaram os sentimentos auto-dirigidos e 11,3% os sentimentos sem alvo . Assim como
na identificação dos sentimentos, esses dados também revelam uma diferença entre os
sentimentos da primeira e última agressão. Além disso, confirmam o aumento expressivo de
sentimentos de nojo, rejeição e ódio que são dirigidos contra o parceiro.
Esses sentimentos
identificados
nos
dois momentos pesquisados mostraram entre si
grandes diferenças percentuais. Aqui de uma forma intensa, ficou evidenciado que à medida
que a violência se repete os sentimentos que inicialmente se caracterizavam como não tendo
alvo
(70,4%), passam a ter uma direção, cujo alvo específico é o parceiro (71,8%).
Expectativas das mulheres quanto
ao relacionamento conjugal
Na Tabela 31 são apresentados os comportamentos das mulheres à primeira agressão.
Nota
-se que 31,0% das mulheres procuram dialogar enquanto 32,4% nada fizeram, isto é,
não
apresentaram nenhum tipo de resistência frente à primeira agressão sofrida. Poucas mulheres
procuraram apoio social (12,9%) sendo que o tipo de ajuda utilizado foi amigos ou família.
219
TABELA 31
D
istribuição de freqüência e porcentagem do comportamento das mulheres após a primeira
agressão.
Comportamento
f %
Procurou conversar com ele
22
31,0
Procurou ajuda
amigos, familiares, psicólogos etc
9
12,7
Tentou deixá
-
lo
6
8,5
Reagiu e também brigo
u
10
14,1
Não fez nada
23
32,4
Chamou a polícia
1
1,4
Total
71
100,0
NOTA
: Entrevistas realizadas na Delegacia, no período de maio a julho de 2004.
Com relação às estratégias de coping, que se referem à ão de enfrentar e de fazer frente
a uma ameaça ou um perigo, estas foram diferenciadas, sob uma perspectiva cognitiva, em
três categorias: coping focalizado no problema, coping focalizado na emoção (
LAZARUS;
FOLKMAN, 1984), e coping de evitação.
A Tabela 32 mostra os padrões de luta apontados pelas mulheres para o propósito de
enfrentar as agressões do parceiro. Verificou
-
se
que o
esforço
da maioria (66,2%) concentrou
-
se n
o
problema a fim de modificá-lo, ou seja, as mulheres relataram tentativas de solucioná-
lo, através da mudança do parceiro. Esta estratégia envolve a negociação e uma esperança
otimista que esta ligada à redução, ou eliminação de problemas futuros.
Os resultados demonstram que as mulheres acreditavam que o parceiro poderia modificar
o comportamento. Tal resultado é compatível com as atribuições relativas às dimensões
causais controlabilidade e instabilidade relativa à primeira agressão. Por outro lado, poucas
mulheres adotaram a estratégia de coping focalizado na emoção (11,3%), em uma tentativa de
aliviar o estado afetivo associado ou resultante da agressão, e 21,1% utilizaram as estratégias
de coping evitativo que se contrapõe ao enfrentamento de aproximação e resolução do
problema, e focaliza inclusive processos de evitação física. De acordo com Holahan, Moos e
Schaefer (1996), a estratégia de evitação e a focalizada na emoção são menos eficientes e
220
ativas, exceto nos casos em que a pessoa carece de controle sobre o evento estressor e o
tempo em que se expõe a ele, ainda que o enfrentamento focalizado no problema conduza a
um melhor a
juste e adaptação ante os eventos estressores.
Não obstante, p
oder
-
se
-ia concluir que o padrão de coping adotado pela maioria
realizou
pouco para diminuir o impacto ou atenuara violência do parceiro, não conseguindo reduzi-
la
ou eliminá-
la
. É, portanto, necessário saber como a ameaça da violência condiciona os
esforços de luta na experiência de violência conjugal, dado que a ameaça de sua recorrência
provavelmente
venha afetar
os processos
de enfrentamento da violência
.
Devem ser pesquisados, por exemplo,
questões relativas à luta eficaz e ineficaz em termos
mais específicos. Assim, os estudos sobre coping em violência conjugal precisarão dar mais
atenção a
o modo
como as mulheres administram seu relacionamento.
TABELA 32
Distribuição de freqüência e porce
ntagem das d
imensões básicas
de enfrentamento
(coping)
adotado pelas mulheres,
após a primeira agressão.
Coping
f %
Focalizado no problema
47
66,2
Focalizado na emoção
8
11,3
Evitação
15
21,1
Não fez nada
1
1,4
Total
71
100,0
N
OTA
: Entrevistas real
izadas na Delegacia, no período de maio a julho de 2004.
Em relação a dar queixa após a primeira agressão, 70 mulheres responderam
negativamente, sendo que apenas uma deu queixa através do Termo Circunstanciado de
Ocorrência. Entretanto, verificou-se que 11 participantes da pesquisa fizeram o Boletim de
Ocorrência
após a
primeira agressão e 60 não o fizeram, isto representa em termos percentuais
15,7% e 84,3%, respectivamente e mostra o baixo índice de notificação policial após a
primeira agressão.
221
Das 7
1 mulheres entrevistadas verificou-se que 88,7% das mulheres acreditavam que após
a primeira agressão a situação poderia melhorar, 9,9% que poderia piorar e 1,4% que a
situação permaneceria a mesma.
Quando foi perguntado Por que você continuou com ele? Por que permaneceu na
relação? , a narrativa das mulheres permitiu identificar motivos mistos, sendo que 45 das
entrevistadas (63,40% das 71das participantes), alegou amor. Foram apontados ainda, os
filhos por 19 mulheres (26,76%), a esperança de ele mudar por 19 (26,76%), os aspectos
econômicos por 18 (25,35%), as características pessoais das mulheres como paciência,
ingenuidade, imaturidade, dificuldades de avaliar a situação, insegurança existencial,
comodismo e inexperiência por 15 (21,12%), os valores sociais, como não querer ser mãe
solteira, por questões de virgindade, religiosidade, por acreditar que o casamento não deve ser
desfeito e vergonha por 13 (18,30%), o medo por 10 (14,08%) e pena dele por 5 (7,04%)
mulheres (Tabela 33
).
TABELA 33
Distribu
ição de freqüência e porcentagem dos motivos de permanência no relacionamento
após a primeira agressão, conforme narrativa das mulheres entrevistadas na Delegacia da
Mulher
.
Motivos de permanência
f %
Amor
45
63,40
Filhos
19
26,76
Esperança de ele muda
r
19
26,76
Aspectos econômicos
18
25,35
Característica da mulher
15
21,12
Valores sociais
13
18,30
Medo
10
14,08
Pena dele
05
7,04
NOTA
: Entr
evistas realizadas
no período de maio a julho de 2004.
A
T
abel
a 33 permite observar a complexidade do problema da permanência em um
relacionamento violento e classificá-lo como multi-causal. Nesse sentido, parece que o amor,
os filhos, a esperança de ele mudar, os aspectos econômicos, as características das mulheres,
222
os valores sociais o medo, e até mesmo a necessidade da mulher em proteger o agressor
tornam
-se uma cilada para que a mulher permaneça em uma relação conjugal violenta, após a
primeira agressão.
Co
nforme
indicado por outras pesquisas (
GELLES
, 1976
; STRUBE; BARBOUR, 1983
apud BREHM, 1985), existe um grande número de fatores que determinam o não abandono
desse tipo de relacionamento, tal como a independência econômica e o afeto que aparece, em
destaque,
nos
resultados desta pesquisa como uma razão preponderante para continuar
investindo no relacionamen
to
. Strube e Barbour (1983 apud BREHM, 1985) relatam que as
mulheres mais propensas a ter um comprometimento em um relacionamento conjugal violento
são aquelas que citam espontaneamente o amor como razão para ficar.
A Tabela 34 apresenta as respostas à pergunta sobre o que a mulher espera que aconteça
após ter dado queixa do parceiro (TCO) após a última agressão. V
erificou
-se que 33,8% das
mulheres têm a expectativa de que ele saia de perto dela, o que de acordo com o relato das
mesmas significa não apenas a separação, mas também que ele não a perturbe mais; 16,9%
desejam que ele seja punido e corrigido, pagando pelo que fez através da prisão ou de uma
surra e ao mesmo tempo, que ele receba um corretivo para aprender a respeitar as pessoas e
a lei; 15,5% acreditam que continuarão sendo prejudicadas, isto é, que o parceiro a difamará,
humilhará, condenará, negará as acusações e a culpará por tudo, não dará sossego e que a
violência poderá ficar pior.
Importante ressaltar ainda que 22,5% das entrevistadas têm a expectativa de que ele
melhore após a queixa, acreditando que ele pode mudar e melhorar o comportamento, que
pare de beber, que se acalme, que se trate e se cuide, que não a xingue e não lhe bata mais.
Hipotetiza
-se que muitas mulheres ao procurar uma delegacia não estão apenas em busca de
proteção policial, mas estão também eminentemente em busca de conseguir mudanças no
comportamento do parceiro.
223
TABELA 34
Expectativas após a queixa (TCO) às autoridades, conforme entrevistas realizadas na
Delegacia da
Mulher de Uberlândia.
O que espera após queixa
f %
Ele vai continuar prejudicando
11
15,5
Que ele melhore
16
22,5
Que ele saia de perto de mim
24
33,8
Punição e correção
12
16,9
Meus direitos
3
4,2
Não sabe
4
5,6
Que ela se modifique
1
1,4
Total
71
100,0
Nota: P
eríodo maio a julho de 2004.
Interrogadas sobre a intenção de continuar o relacionamento com o agressor, 73,2%
manifestaram a intenção de deixar o parceiro enquanto 12,7% disseram pretender manter a
relação,
outros
12,7
% apresentaram dúvidas e esperança de ele mudar e 1,4% declararam não
conseguir romper o vínculo, conforme revela os dados da Tabela 35. Com relação à
intencionalidade do parceiro em manter o relacionamento com a vítima, percebe-se que
67,6% das mulheres acreditam que o parceiro tem intenção de continuar, 14,1% não
acreditam que o parceiro queira permanecer no relacionamento e 18,3% não souberam
responder (Tabela 35).
TABELA 35
Intenção
da mulher e do parceiro em continuar o relacionamento conjugal após a última
agre
ssão, conforme percepção das mulheres entrevistadas na Delegacia da Mulher de
Uberlândia.
Intenção da mulher
Intenção do parceiro
Intenção em continuar a
relação
f % f %
Sim
9
12,7
48
67,6
Não
52
73,2
10
14,1
Não sei
3
4,2
13
18,3
Só se ele mudar
6
8,5
- -
Não consegue romper
vínculo
1
1,4
- -
Total
71
100,0
71
100,0
N
OTA: P
eríodo maio a julho de 2004.
224
Na Tabela 36 encontram-se as crenças das mulheres em relação à sua permanência no
relacionamento conjugal. Os resultados mostram que as expectativas da maioria são as piores
possíveis, revelando que 88,8% encontram-
se
entre
continuar sofrendo muito (26,8%), correr
risco de vida (26,8%), piorar o sofrimento (25,4%), um matar o outro (5,6%), ela o matar
(2,8%), até ela suicidar-
se
(1,4%). Por outro lado, 8,5% das mulheres têm a expectativa de
que o parceiro mude o comportamento, e em razão a isso pretendem dar mais chances a ele,
enquanto que 2,8% pretendem mudar o seu próprio comportamento, através do controle dos
próprios impulsos.
TABELA 36
E
xpectativas das mulheres diante de sua permanência no relacionamento conjugal
após a
última agressão.
O que vai acontecer se continuar com ele
f %
Correrá risco de vida
19
26,8
Ela o mata
2
2,8
Um pode matar o outro
4
5,6
Vai piorar
18
25,4
Con
tinuará sofrendo muito
19
26,8
Vou ter que esforçar e ter paciência
2
2,8
Vamos tentar para ver se dá certo
6
8,5
Eu me suicido
1
1,4
Total
71
100,0
N
OTA
: Entrevistas realizadas na Delegacia, no período de maio a julho de 2004.
Em outra perspectiva, ao examinar a Tabela 37, verifica-
se
que as participantes da
pesquisa possuem diferentes expectativas em relação ao rompimento do relacionamento
conjugal, que se apresentam através das crenças de que terão uma vida digna, ou uma vida
solitária e triste, ou
de
incerte
za
, outras ainda demonstram medo de perseguição e outras,
medo de dificuldades econômicas.
22
5
TABELA 37
Expectativas da mulher diante da possibilidade de romper o relacionamento conjugal.
Expectativa ao deixar o companheiro
f %
Vida digna
47
66,2
Vida solitária e triste
8
11,3
Vida incerta
3
4,2
Medo de perseguição
7
9,9
Dificuldade econômica
6
8,5
Total
71
100,0
N
OTA
: Entrevistas realizadas na Delegacia, no período de maio a julho de 2004.
A
crença em uma vida digna (66,2%), apareceu de modo destacado na fala das mulheres
que acreditam que terão prazer de viver, poderão ser alguém na vida, que terão paz, que terão
sossego para dormir, que serão livres e não prisioneiras, que poderão conversar com as
pessoas, que terão alegria, serão felizes, terão uma vida normal e tranqüilidade para obter
algumas realizações. Essas mulheres pretendem voltar a estudar, realizar cursos em diversos
níveis, arrumar emprego ou continuar trabalhando, aprender a dirigir automóvel e viver a vida
com os filhos. Algumas dessas mulheres se dizem traumatizadas com a violência do parceiro,
razão pela qual relatam não pretender mais namorar
ou ter outros relacionamentos.
Em contraposição à maioria das mulheres acima citadas, 11,3% acreditam que sem o
parceir
o terão uma vida triste e solitária, que sentirão um vazio e sofrerão muito, não
acreditam que conseguirão viver sem ele. De acordo com o relato de algumas entrevistadas o
rompimento não seria positivo, pois elas ainda o amam e emocionalmente a separação p
ara
elas, se tornará muito dolorosa. Parece que a proximidade emocional dessas mulheres em
relação ao parceiro as deixa no escuro, não apenas em relação ao que elas sentem, mas
também à sua memória emocional.
Por outro lado, as mulheres que temem a perseguição e as ameaças 9,9%, manifestaram
que o parceiro continuará sendo um inferno em suas vidas, que não darão sossego, que
226
continuarão fazendo maldade. Algumas acreditam que terão de mudar de cidade, temem pela
própria vida, e pensam que nada poderá colocar
limite no parceiro.
Outras mulheres (8,5%) temem dificuldades econômicas decorrentes da separação,
principalmente devido aos filhos, à perda de conforto, às dificuldades de assumir sozinha as
responsabilidades exigidas em uma casa, e mesmo por temer as vicissitudes do mercado de
trabalho. Importante ressaltar que para algumas dessas mulheres, a perspectiva de ter que
voltar para a casa dos pais, devido ao problema financeiro que enfrentará com a separação é
tão aterrorizadora, quanto a de permanecer com o
parceiro.
Finalmente, 4,2% evidenciam a crença em uma vida essencialmente incerta. Aparece a
falta de noção do que virá, e o medo de enfrentar as dificuldades da vida em geral sem a
presença
do parceiro. O medo dessas mulheres denota uma insegurança frente
à vida.
6.3.2 Análise das relações entre as variáveis do estudo
Nesta seção serão analisadas as relações entre as variáveis atribuições de causalidade,
de culpa, de intenção e de evitabilidade da agressão e posteriormente as relações entre as
atribui
ções, sentimentos, expectativas e ações.
As análises referem-se à primeira agressão sofrida, reportadas retrospectivamente
pelas mulheres e, em seguida, à última agressão sofrida, que as levaram a dar queixa na
Delegacia de Mulheres.
Para efetuar estas a
nálises foram utilizadas as seguintes técnicas estatísticas:
-
Correlação r de Pearson para verificar a relação entre as variáveis contínuas;
- Análise de Variância F de Snedecor para comparar os grupos de acordo com a causa
atribuída;
227
-
Qui
-
quadrado para
examinar a relação entre as variáveis categoriais.
A seguir as análises realizadas serão apresentadas e discutidas.
a) Atribuições de causalidade, de culpa, de intenção e de evitabilidade da primeira
agressão
A partir do modelo proposto neste estudo, foram calculadas as percentagens das
atribuições relativas às dimensões lócus, estabilidade e controlabilidade da causa para a
primeira e última agressões sofridas.
A Figura 4 mostra que 77,5% das mulheres pesquisadas atribuíram causas internas,
instáveis e controláveis para a primeira agressão. Quanto à intencionalidade e a evitabilidade
da agressão este grupo dividiu-se, porém a maior parte atribuiu intencionalidade à agressão e
possibilidade de evitação da mesma pelo agressor.
Em segundo lugar estão as causas internas, estáveis e controláveis, atribuídas por 7
mulheres entrevistadas (9,9%), todas estas atribuíram intencionalidade máxima por parte do
agressor e evitabilidade máxima (ele poderia ter evitado).
Apenas 6 mulheres (8,4%) da amostra atribuíram causas externas para as primeiras
agressões sofridas, a metade percebendo a causa como estável e outra metade como instável.
Desse modo, a amostra pode ser dividida predominantemente nos seguintes grupos de
acordo com a atribuição de causalidade às primeiras
agressões sofridas:
Causa interna, estável e controlável
7 mulheres
Causa interna, instável e controlável
55 mulheres
Causa externa
6 mulheres
228
CONTROLÁVEL= 9,9%
ESTÁVEL
= 9,9%
INCONTROLÁVEL= 0
INTERNA
CONTROLÁVEL= 77,5%
INSTÁVEL
= 81,7 INCONTROLÁVEL= 4,2%
CAUSA
CONTROLÁVEL = 2,8%
ESTÁVEL
= 4,2%
INCONTROLÁVEL = 1,4%
EXTERNA
CONTROLÁVEL = 4,2%
INSTÁVE
L
= 4,2%
INCONTROLÁVEL = 0
FIGURA 4 - Porcentagem de percepção das causas classificadas de acordo com a
internalidade, estabilidade e controlabilidade para a primeira agressão.
O exame da Tabela 38 relativa às médias de atribuição revela que
con
siderando as
atribuições culpa dele, culpa dela, culpa da situação e evitabilidade, o teste F (análise de
variância) mostrou-se não significativo (p>0,05), portanto não existe diferença significativa
entre médias destas variáveis quando se comparam os grup
os por atribuição de causalidade. Já
para as atribuições culpa de outro e intenção, o teste F foi significativo (p<0,05), sendo que a
maior média ocorreu para a causa externa (X = 3,17) e a menor para a interna instável (X
=1,43)
quando se considera a culp
a de outro e a maior média foi para interna estável
(X = 5,0)
e a menor para externa (X = 1) ao se considerar a intenção. Assim, quando a agressão é
atribuída a uma causa interna estável, maior a intencionalidade atribuída ao parceiro (X = 5).
229
Do mesmo modo, quando as mulheres atribuem causas externas à violência, nenhuma
intencionalidade ( X = 1) é atribuída ao parceiro (F = 11,6; p< 0,001).
Conforme a teoria, quando a causa percebida é externa, a culpa é atribuída mais a outras
pessoas do que ao agressor
ou a ela mesma (F
= 5,57; p< 0,01).
TABELA 38
Médias em atribuição de culpa, intenção e evitabilidade e resultados de análises de variância
para cada tipo de causa atribuída à primeira agressão
Causa
N
Culpa
dele
X
Culpa
dela
X
Culpa
de outro
X
Culpa
situação
X
Intenção
X
Evitar
X
Interna estável
7
4,86
1,00
1,71
1,43
5,0
4,47
Interna instável
58
4,48
1,69
1,43
1,14
3,81
3,33
Externa
6
3,67
1,17
3,17
1,83
1,0
3,67
F
2,842
1,553
5,573
2,999
11,601
1,777
p
ns
ns
0,006
ns
0,000
ns
A Tabela 39 mostra os coeficientes de correlação (r de Pearson) entre as variáveis
contínuas.
Para verificar a magnitude das correlações entre as variáveis, foi utilizada a orientação de
Cohen (1988), segundo a qual coeficientes de 0,10, 0,30, 0,50 ou maior aprese
ntam
respectivamente correlações baixa, média ou moderada e elevada.
O exame da Tabela 39 revela três coeficientes de correlação significativos, cujos índices
podem
ser considerados moderados e elevados, variando de -0,25 (p 0,05) a -0,50 (p
0,01), que serão analisados a seguir.
A correlação entre culpabilidade da mulher e culpabilidade do parceiro é negativa, sendo
seu coeficiente elevado evidenciando que quanto
mais a mulher culpa o parceiro, menos culpa
a si mesma (r= -
0,
50; p<0,001). Verifica-se também que a percepção de intenção do parceiro
230
em agredir se correlaciona negativamente com a percepção de culpabilidade de outra pessoa,
o que indica que quanto mais a mulher culpa outra pessoa, menos percebe a intenção do
parceiro lhe ferir e lhe causar danos (r = -0,25; p<0,05). A dimensão intenção de o parceiro
agredir associa-se positivamente (r = 0,30, p< 0,05) à dimensão culpa do parceiro, o que
indica que quanto
mais a mulher percebe a intenção do parceiro em agredir, mais o culpa. Não
foi encontrada correlação significativa entre a evitabilidade e as outras variáveis nesta
análise.
TABELA 39
Coeficientes de correlação (r de Pearson) entre as atribuições de culpa, de intenção e de
evitabilidade da primeira agressão.
1 2 3 4 6 7
1.Culpa dele
-
2.Culpa dela
-
0,50**
-
3. Culpa de outro
ns
n.s
-
4.Culpa da situação
ns
ns
ns
-
6. Intenção de agredir
(dele)
0,30*
ns
-
0,25*
ns
-
7.Ele poderia
ter
evitado agressão
ns
ns
ns
ns
ns
-
NOTA:** p<0,01; *p<0,05; ns = não significativo; N= 71.
b) Relação entre atribuições, sentimentos, expectativas e ações decorrentes da primeira
agressão
Para verificar a relação entre atribuição de causalidade, sentimentos, expectativas e ações
após a primeira agressão foi feito o cruzamento entre as freqüências nestas variáveis e se
231
aplicou o teste de Qui-Quadrado, exceto nos casos em que havia presença de células com
freqüência esperada menor do que 5 (Vieira, 19
98, p.112).
A Tabela 40 mostra os resultados da análise entre o tipo de causa percebida e o
comportamento da mulher. Verifica-se que as maiores freqüências 19 e 20 ocorrem
respectivamente para o comportamento de procurar conversar com ele e para o
comporta
mento de não fazer nada, quando a mulher atribui causa interna instável à agressão
do parceiro.
Uma re-análise da Tabela 40 demonstrou que reunindo os comportamentos procurou
ajuda , tentou deixá-lo e reagiu e brigou também (na coluna procurou ajuda),
permanecem as caselas com baixa freqüência, não se obtendo diferença significativa (qui-
quadrado = 6,95; p = 0,138), o que implica em somente falar das freqüências cruzadas e não
em qui-quadrado devido à baixa freqüência esperada no cruzamento das variáveis. Dado que
houve uma concentração de respostas na categoria causal interna e instável, não foi possível
utilizar o teste para verificar se a relação entre a causa e o comportamento após a primeira
agressão é significativa ou não.
TABELA 40
Freqüências
cruzadas
do tipo de causa percebida com o comportamento da mulher após a
primeira agressão.
Comportamentos
Causa
Total
Interna estável
Interna instável
Externa estável
Procurou conversar com ele
2
19
1
22
Procurou ajuda
0 9 0 9
Tentou deixá
-lo 2 2 2 6
Reagiu e brigou também
0 7 3
10
Não fez nada
3
20
0
23
Total
7
57
6
70
232
Os dados apresentados na Tabela 41, relativa ao cruzamento do tipo de causa
percebida com coping, mostram que existe um predomínio do coping focalizado no problema
co
m a causa interna instável, observando-se, em 71 entrevistas, 42 casos com esta
característica (59,15%).
TABELA 41
Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com
coping
após a primeira agressão.
Coping
Causa
Total
Interna estável
Interna instáv
el
Externa estável
Focalizado no problema
3
42
2
47
Focalizado na emoção
0 7 1 8
Coping de evitação
4 9 3
16
Total
7
58
6
71
Os resultados da análise conjunta entre direção dos sentimentos e expectativas sobre a
qualidade do relacionamento são apresentados na Tabela 42. Verifica-se que a maioria das
mulheres que acreditam na possibilidade da melhora da situação do casal apresenta
sentimentos sem alvo, tais como tristeza e angústia.
TABELA 42
Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com as expectativas sobre a qualidade do
relacionamento (positivas ou negativas) após a primeira agressão.
Expectativas
Direção dos sentimentos
Total
Auto
-
dirigidos
Contra o agressor
Sem alvo
Piorar a relação
3 3 1 7
Melhorar a situação
5 9
49
63
T
otal
8
12
50
70
Nota: para este teste foi excluído um sujeito que respondeu a alternativa de expectativa ficar
igual
A direção dos sentimentos com a ação dar queixa, após a primeira agressão, pode ser
analisada na Tabela 43. Entre as 59 mulheres que não deram queixa, a maioria (N = 45)
corresponde àquelas que têm sentimentos sem alvo. Entre as 11 mulheres que deram queixa
233
em decorrência da primeira agressão a maior porcentagem corresponde àquelas que m
sentimentos contra o parceiro. Esta variável satisfez os critérios para aplicação do qui-
quadrado (qui-quadrado = 7,71; p< 0,05). Portanto, os sentimentos estão relacionados à
decisão de denunciar ou não denunciar o agressor.
TABELA 43
Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com a ação queixa, após a primeira
agressão.
Direção dos sentimentos
Dar Queixa
Não dar queixa
Total
Sentimentos auto
-
dirigidos
2 6 8
Sentimentos contra o agressor 5 8
13
Sentimentos sem alvo
4
45
49
Total
11
59
70
NOTA: qui
-
quadrado = 7,
71; p<0,05
.
Na Tabela 44 é apresentada a análise das freqüências de respostas das expectativas quanto
ao relacionamento e reação de coping à primeira agressão. Pode ser observado que a maior
parte da amostra (N = 63) acreditava que a situação iria melhorar (90,0%) e, entre estas, a
maioria (N = 45) reagiu à agressão usando estratégia de coping focalizado no problema
(71,4%). Estes resultados, podem estar apontando para uma tendência de relação entre coping
focalizado no problema e expectativa de melhorar o relacionamento do casal.
T
ABELA 44
Freqüências cruzadas das expectativas quanto ao relacionamento e reação de coping, após a
primeira agressão.
Expectativas
Reação de coping
Total
Focalizado no
problema
Focalizado na
emoção
Coping de
evitação
Piorar a relação
2 3 2 7
Melhor
ar a relação
45
5
13
63
Total
47
8
15
70
NOTA: para o teste foi excluído um sujeito que respondeu a alternativa de expectativa ficar
igual
234
O exame da Tabela 45, relativa à análise conjunta entre as expectativas quanto ao
relacionamento e denunciar o parceiro após a primeira agressão, mostra que das 7 mulheres
que tinham expectativas de que o relacionamento piorasse após a primeira agressão, 3
denunciaram o parceiro (43%) e 4 não o fizeram (57%). Das 62 mulheres que acreditavam
que a relação melhoraria, 7 (11,3%) denunciaram o parceiro, enquanto que 55 (88,7%) não o
denunciaram. Nota-se, portanto, que existe uma tendência maior de denúncia do parceiro,
quando a expectativa da mulher é de que a situação piore, enquanto que a não denúncia é
significativamen
te maior quando a expectativa é de que a relação do casal melhore.
TABELA 45
Freqüências cruzadas das expectativas quanto ao relacionamento e denunciar o parceiro após
a primeira agressão.
Expectativas
Denunciar o parceiro
Total
Sim
Não
Piorar a rel
ação
3 4 7
Melhorar a relação
7
55
62
Total
10
59
69
Nota: para o teste foi excluído um sujeito que respondeu a alternativa de expectativa ficar
igual .
235
c) Atribuições de causalidade, de controlabilidade, de culpa, de intenção e de
evitabilidade da ú
ltima agressão.
A Figura 5 mostra que das 71 mulheres pesquisadas, 70 (98,6%) atribuíram causas
internas para a última agressão sofrida e apenas uma atribuiu causa externa. Entre as causas
internas, 65,7% foram causas estáveis, sendo a maioria destas considerada incontrolável
(58,6%) e 32,9% foram consideradas causas instáveis, sendo também a maioria destas
(22,9%) considerada incontrolável.
Entre as 41 mulheres que atribuíram causas interna, estável e incontrolável, a maioria (N =
39) atribuiu intencionalidade máxima e também a maioria (N = 33) atribuiu evitabilidade
máxima à agressão.
Para as 23 mulheres que atribuíram causas internas instáveis, a maioria atribuiu
evitabilidade máxima (62,5%) e intencionalidade máxima (65,2%) no ato do agressor.
Apenas uma mulher atribuiu causalidade externa (instável e incontrolável) à agressão e 5
mulheres não souberam avaliar a controlabilidade da causa.
Considerando os sub-grupos formados, a amostra pode ser dividida predominantemente
no seguinte:
Causa interna, estáve
l e incontrolável
41 mulheres
Causa interna, instável e incontrolável
16 mulheres
Causa interna, instável e controlável
5 mulheres
Para as análises serão considerados os dois grupos com maior número de sujeitos.
236
CONTROLÁVE
L= 2,9 %
ESTÁVEL
= 66,2%
INCONTROLÁVEL=
58,6%
INTERNA
.
CONTROLÁVEL = 7,1%
INSTÁVEL
= 32,4 %
INCONTROLÁVEL =
22,9%
CAUSA
CONTROLÁVEL = 0%
ESTÁVEL
= 1,4%
INCONTROLÁVEL = 1,4% (N=1)
EXTERNA
CONTROLÁVEL = 0%
INSTÁVEL
= 0%
INCONTROLÁVEL = 0%
FIGURA 5 - Porcentagem de percepção das causas atribuídas para a última agressão,
classificadas de acordo com a internalidade, estabilidade e controlabilidade.
Através de análises de variância
one
-
way
foram comparadas as médias de culpa, intenção
e evitabilidade para os dois grupos maiores de acordo com a classificação das causas em
i
nternas estáveis (N= 41) e internas instáveis (N= 16).
A tabela seguinte (Tabela 46) mostra que a causa interna estável, em comparação com a
causa interna instável, está relacionada a culpar mais o agressor (F = 5,24; p<0,05), a atribuir
menos culpa a si mesma (F = 12,32; p<0,01), à atribuição de intenção na agressão (F = 10,61;
p<0,01) e à atribuição de evitabilidade da agressão (F = 5,42; p<0,05).
237
Os dados da Tabela 46 revelam que não há diferença significativa entre as médias nas
atribuições de culpa de outro e culpa da situação a se comparar as categorias de causa interna
estável e interna instável.
TABELA 46
Médias em atribuição de culpa, intenção e evitabilidade e resultados de análises de variância
para cada tipo de causa atribuída à última agressão.
Causa
N
Culpa
dele
M
Culpa
dela
M
Culpa
de outro
M
Culpa
situação
M
Intenção
M
Evitar
M
Interna estável
47
4,81
1,15
1,26
1,26
4,87
4,29
Interna instável
23
4,35
1,91
1,52
1,13
4,09
3,26
F
5,24
12,32
10,61
5,42
p
0,02
0,001
n.s.
n.s.
0,002
0,02
NOTA: n.s. não significativo
Buscando conhecer as relações entre as variáveis contínuas deste grupo (culpa,
intencionalidade, evitabilidade) os dados foram correlacionados através do r de Pearson
(Tabela 47). Coeficientes significativos e moderados para as variáveis culpa dela e culpa dele,
intenção de agredir e culpa dele, culpa da situação e culpa dela, evitabilidade e intenção de
agredir, foram verificados.
Verificou
-se que quanto mais culpa atribuída ao agressor, menor a culpa atribuída a si
mes
ma (r = -0,29; p < 0,05), também é esperado que quanto mais culpa atribuída ao agressor,
maior a intencionalidade percebida no ato (r = 0,41; p< 0,001), assim como quanto mais culpa
atribuída a si mesma, maior a culpa da situação (r = 0,36; p<0,01) e quanto mais intenção
percebida, maior a percepção de que ele poderia ter evitado a agressão (r = 0,29; p < 0,05).
Entre as outras variáveis não houve correlação significativa.
238
TABELA 47
Coeficientes de correlação (r de Pearson) entre as atribuições de culpa, de intenção e de
evitabilidade da última agressão.
1 2 3 4 6 7
1. Culpa dele
-
2. Culpa dela
-
0,29*
-
3. Culpa de outro
n.s.
n.s.
-
4. Culpa da situação
n.s.
0,36**
n.s.
-
6. Intenção de agredir
(dele)
0,41**
n.s.
n.s.
n.s.
-
7.
Ele poderia ter
evitado a agressão
n.s.
n.s.
n.s.
n.s.
0,29*
-
NOTA:** p<0,01; *p<0,05; ns = não significativo; N = 71
d) Relação entre atribuições de causalidade, sentimentos, expectativas e ações
decorrentes da última agressão.
Para a análise das relações entre as variáveis do modelo proposto foi feito o teste qui-
quadrado, quando os requisitos da técnica eram atendidos (VIEIRA, 1998). Importa esclarecer
ainda que algumas variáveis foram recodificadas, visando a execução das análises.
Os dados da Tabela 48 mostram que das 47 mulheres que atribuíram causa interna estável
à agressão do parceiro, 39 pretendem deixá-lo, 4 tem dúvidas quanto a romper o
relacionamento e 4 pretendem continuar com o parceiro. Verificou-se que quando a mulher
atribui causa interna estável à agressão do parceiro, isto está relacionado com a decisão dela
de não continuar no relacionamento (qui
-
quadrado = 7,45; p<0,05).
239
TABELA 48
Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com a intenção de continuar com ele após a
última
agressão.
Intenção de continuar com
ele
Causa
Total
Interna estável
Interna instável
Sim
4 6
10
Não
39
12
51
Não sei
4 5 9
Total
47
23
70
NOTA: qui
-
quadrado = 7,45; p<0,05.
A análise
dos
dados da Tabela 49 indica a concentração de freqüência de mulheres que
classificaram a causa como interna estável e que tinham expectativas de piora no
relacionamento caso continuassem com o parceiro. Ressalta-se que 62 das 70 entrevistadas
acreditavam que o relacionamento iria piorar, destas 45 atribuíram causa interna estável,
enquanto 17 atribuíram causa interna instável. Obteve
-
se nesse caso uma relação entre a causa
estável e as expectativas de continuar no relacionamento (qui
-
quadrado = 7,27; p<0,01)
TABELA 49
Freqüências cruzadas do tipo de causa p
ercebida com as expectativas se continuar com ele
após a última agressão.
Expectativas se continuar com ele
Causa
Total
Interna estável
Interna instável
Vai piorar
45
17
62
Vamos tentar para ver se dá certo
2 6 8
Total
47
23
70
NOT
A: qui
-
quadr
ado = 7,27; p<0,01.
Na Tabela 50 destaca-se a atribuição de causa interna estável com a expectativa após a
queixa na delegacia de que ele se afaste dela, mostrando que das 65 entrevistas utilizadas,
conforme categorização das entrevistas, 27 estavam enquadradas neste grupo. Vale ressaltar
que das 16 mulheres que acreditavam que o parceiro iria melhorar, 7 classificaram como
240
causa interna estável, ou seja, ocorreu uma incoerência entre a expectativa e a causa, aspecto
este que pode ser explicado através do otimismo ingênuo, conforme Rodrigues (2001). das
10 que acreditavam na continuidade das agressões, nenhuma classificou a causa da agressão
como interna instável. A percepção a respeito da estabilidade da causa está relacionada às
expectativas após a queixa (qui-quadrado = 9,01; p<0,01). Quando a causa é estável, a
tendência é desejar que o parceiro se afaste, e também a mulher acredita que o parceiro vai
continuar lhe prejudicando.
TABELA 50
Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida para a última
agressão com expectativas
após a queixa.
Expectativas após a queixa
Causa
Total
Interna estável
Interna instável
Ele vai continuar
prejudicando
10
0
10
Que ele melhore
7 9
16
Que ele se afaste de mim
27
12
39
Total
44
21
65
NOTA:
qui
-
quadra
do = 9,01; p<0,01.
No cruzamento das variáveis direção dos sentimentos e intenção de continuar no
relacionamento, verifica-se que as mulheres que apresentaram sentimentos dirigidos contra o
agressor (44 das 71 entrevistas) não têm intenção de permanecer com o parceiro. Destaca-
se
ainda que considerando a não intenção de permanecer com o parceiro (52 mulheres) apenas 2
apresentaram sentimentos sem alvo e 6 relataram sentimentos auto-dirigidos, reforçando o
comentário anterior.
Foi feita uma re-análise dos dados (Tabela 51) em que foram retiradas as opções
sentimento sem alvo e não sei , devido à baixa freqüência no cruzamento das variáveis na
primeira análise. Uma nova análise com as opções restantes, resultou em uma tabela 2 X 2,
241
para a qual foi calculada a correção de Yates, revelando que a relação entre a direção dos
sentimentos após a última agressão e a intenção de continuar com ele é significativa (p<
0,05), de modo que a maioria apresenta sentimentos negativos contra o agressor e não
pretende cont
inuar vivendo com ele (qui
-
quadrado = 13,92; p< 0,01).
TABELA 51
Re
-
aná
lise com calculo da correção de Yates das freqüências cruzadas da direção dos
sentimentos com a intenção de continuar com ele após a última agressão.
Direção dos sentimentos
Total
Intenção de continuar
com ele
Auto
-
dirigidos
Contra o agressor
Sim
5 2 7
Não
6
44
50
Total
11
46
57
NOTA:
qui
-
quadrado = 13,92; p< 0,01.
Os resultados expostos na Tabela 52 estão de acordo com os resultados anteriores,
ou
seja,
a maioria das mulheres (50 em 51) que apresentaram sentimentos contra o agressor (raiva e
medo), acreditavam que a situação iria piorar no caso de permanecerem na relação (qui-
quadrado = 17,02; p<0,001), verificando-se a relação da direção dos sentimentos com as
expectativas
caso continue no relacionamento.
TABELA 52
Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com as expectativas se continuar com o
parceiro após a última agressão.
Expectativas se continuar com ele
Direção dos sentimentos
Total
Auto
-
dirigidos
Contra
o agressor
Sem alvo
Vai piorar
7
50
6
63
Vamos tentar para ver se dá certo
5 1 2 8
Total
12
51
8
71
NOTA:
qui
-
quadrado = 17,02; p<0,001.
242
Com relação a análise dos dados
sobre a direção dos sentimentos e expectativa de deixar o
parceiro (Tabela 53), verifica-se que das 47 mulheres que acreditavam que teriam uma vida
digna, 38 apresentam sentimento contra o agressor, 7 sentimentos auto
-
dirigidos e 2 sem alvo.
Destaca
-se ainda que todas as mulheres que manifestaram expectativas de ser perseguida se
de
ixá
-
lo, apresentaram sentimentos contra o agressor.
No cruzamento de variáveis da Tabela 53, houve muitas freqüências esperadas baixas e
foi feita uma segunda análise comparando a resposta vida digna com as outras respostas
menos otimistas, que foram denominadas expectativas negativas, porém não se encontrou
relação significativa entre a direção dos sentimentos e expectativas de vida digna e
expectativas negativas (vida solitária e triste e medo de ser perseguida) caso a mulher deixe o
parceiro após o últ
imo episódio de agressão.
TABELA 53
Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com as expectativas se deixar o parceiro
após a última agressão.
Expectativas se deixá
-
lo
Direção dos sentimentos
Total
Auto
-
dirigidos
Contra o agressor
Sem alvo
Vida digna
7
38
2
47
Vida solitária e triste
3 4 4
11
Medo de perseguição
0 7 0 7
Total
10
49
6
65
Na análise da Tabela 54 nota-se que das 63 mulheres que acreditavam que a situação
pioraria se continuasse com o parceiro, 52 manifestaram a intenção de deixá-lo, mostrando
que a situação estava insustentável, entretanto 5 mulheres tinham a intenção de continuar o
relacionamento e 6 estavam em dúvida, mostrando que provavelmente estas pessoas
procurariam a delegacia futuramente. Neste caso o teste mostrou que houve relação entre
expectativa e intenção, de modo que a expectativa negativa (vai piorar) está relacionada com a
intenção de não continuar no
relacionamento (qui
-
quadrado = 25,99; p< 0,001).
243
TABELA 54
Freqüências cruzadas das expectativas s
e continuar com ele com a intenção de continuar com
ele após a última agressão.
Expectativas se continuar com ele
Intenção de continuar com ele
Total
Sim
Não
Não sei
Vai piorar
5
52
6
63
Vamos tentar para ver se dá certo
5 0 3 8
Total
10
52
9 71
NOTA: qui
-
quadrado =
25,99; p< 0,001.
Na Tabela 55 destaca-se, conforme resultados anteriores, que as mulheres que têm a
expectativa de ter uma vida digna se deixar o parceiro, não tem intenção de continuar com ele.
Das 7 mulheres que tinham medo de perseguição caso deixasse o parceiro, 6 manifestaram a
intenção de não continuar com o parceiro e uma apresentou dúvidas quanto ao deixá
-
lo.
TABELA 55
Freqüências cruzadas das expectativas se deixar o parceiro com a intenção de continuar com
ele após a
última agressão.
Expectativas se deixá
-
lo
Intenção de continuar com ele
Total
Sim
Não
Não sei
Vida digna
3
42
2
47
Vida solitária e triste
5 3 3
11
Medo de perseguição
0 6 1 7
Total
8
51
6
65
Entretanto, no cruzamento da intenção de continuar com o parceiro com a expectativa se
deixá
-lo (Tabela 55), foram encontradas muitas freqüências esperadas baixas. Por esta razão,
tentou
-
se analisar as mesmas variáveis comparando
-
se apenas as opções de intenção sim e não
com as opções de expectativa vida digna e expectativas negativas , através da reunião de
categorias com este conteúdo e com correção de Yates. Esta re-análise resultou significativa
(qui
-quadrado = 10,86; p< 0,01), indicando haver relação entre expectativas (positivas X
244
negativas) e intenção de continuar no relacionamento (não X sim), conforme pode ser
visualizado na Tabela 56.
TABELA 56
Re
-
análise
do cruzamento das expectativas se deixar o parceiro com a intenção de continuar
com ele após a última agressão.
Intenção de continuar com ele
Total
Expectativas se
deixá
-
lo
Sim
Não
Vida digna
3
42
45
Expectativas
negativas
7
10
17
Total
10
52
62
NOTA: qui
-
quadrado = 10,86; p < 0,01.
Todos esses cruzamentos entre as variáveis relacionadas com as atribuições causais,
sentimentos,
expectativas e ações decorrentes da primeira e última agressão, bem como as
outras análises feitas neste trabalho conduzem à confirmação do modelo proposto, como será
comentado no próximo capítulo, onde serão apresentadas algumas conclusões, visando a
iden
tificação de suas contribuições e novas possibilidades investigativas.
CAPÍTULO 7
CONCLUSÕES
Este trabalho foi desenvolvido em duas fases. A primeira fase teve por objetivos
caracterizar mulheres que sofrem violência conjugal que recorrem ao apoio policial e seus
parceiros agressores segundo suas peculiaridades demográficas, identificar as queixas que
levaram as mulheres a denunciar a violência e identificar a descrição da violência conjugal e
incidência penal, respectivamente conforme registros dos Boletins de Ocorrência e Termo
Circunstanciado de Ocorrência. A segunda fase teve como propósito investigar se as
atribuições das mulheres para com a violência do parceiro estariam relacionadas a
sentimentos, expectativas e comportamentos que exibiram após a primeira (retrospectiva) e
última agressão sofrida, de forma que as atribuições que mostram o parceiro sob uma
perspectiva negativa covariariam com o comportamento da mulher de romper a relação.
7.1 Conclusões a respeito da 1ª. fase.
Em relação à primeira investigação, apesar da pouca informação contida nos registros de
violência conjugal, como ausência do número de filhos e tempo de relacionamento do casal,
na maioria dos casos, o conjunto das informações possibilitou analisar aspectos relevante
s
sobre a violência conjugal.
Os pontos marcantes neste levantamento foram os seguintes:
As mulheres agredidas são, com maior freqüência, amasiadas e ex-amasiadas e pertencem
a faixas etárias diversas. As de idade pouco elevada são em mero maior que as de idade
246
mais elevada. Isto revela um indicativo de que tanto a juventude,
quan
to a idade ativa da
mulher são
importante
s fator
es
de risco para a violência conjugal. As mulheres jovens e
maduras estão mais sujeitas à violência conjugal, que é repetida e continuada, perpetua-
se
cronicamente por muitos anos e, a mesmo, pela vida toda, conforme indicado pela
variabilidade de duração do tempo de relacionamento do casal.
A pesquisa revelou que comportamentos violentos são marcas de parceiros das mais
variadas idades. Observou-
se
, entretanto, um aumento no percentual da idade dos agressores
em idades muito elevadas quando comparada com a mesma faixa etária da vítima.
No que se refere à moradia e profissão das mulheres e de seus parceiros agressores,
constatou
-
se
alta variabilidade. As denúncias de
violência
conjugal
ocorrem em diversos
bairros de Uberlândia e, várias são as profissões das vítimas ou dos parceiros agressores,
variando de desempregados e do lar até empresários e profissionais liberais. Neste sentido, a
violência o é um fato exclusivo de mulheres mal remuneradas e residentes em bairros
periféricos, o que sugere que o status socioeconômico parece não interferir na violência
conjugal. Tais resultados são compatíveis com os de Pazinoto (apud
BRIGA
de marido e
mulher, 2004) que afirma que embora haja uma tendência a atrelar a violência contra a mulher
contra as classes menos favorecidas o problema atinge mulheres de diferentes níveis
econômicos e de escolaridade.
As agressões ocorrem com maior freqüência
nos finais de semana, supostamente quando o
casal está em situação de maior proximidade física. Assim, parece que o fator proximidade
pode exacerbar as diferenças do casal, agravando os conflitos e, conduzindo a mais violência.
Neste sentido, poderia hipo
tetiza
r-se que, quanto maior a freqüência de exposição de um
cônjuge em relação ao outro, mais negativa a atitude de cada um em relação aos estímulos
percebidos no par, ou ainda que a interação pessoal do casal não é acompanhada de atribuição
de valor gratificante ao parceiro ou parceira. Poderia-se, ainda, levantar o uso de bebida nos
247
finais de semana como um fator gerador de mais violência. Sugere-se pesquisas futuras para
esclarecimento deste tema.
Constatou
-se que, o maior índice de queixas de violência conjugal entre Boletins de
Ocorrência e Termos Circunstanciados de Ocorrência, foi por motivos de término de
relacionamento, motivos fúteis, bebida e drogas, ausência de motivos e ciúmes.
Verificou
-se que a ameaça foi identificada como o mais freqüente tipo de violência,
seguida por agressão e lesão corporal e, em terceiro lugar vias de fato que consiste em
violência empregada que não deixa vestígios sensíveis ou danos ao corpo da vítima.
De forma geral, a prevalência da violência tende a ser maior nos casos da mulher
amasiada ou ex-amásia, do que para as esposas ou ex-esposas e namoradas Os dados
mostraram, consistentemente, que as mulheres amasiadas eram mais freqüentemente vítimas
de violência pelo parceiro do que mulheres casadas. Do ponto de vista legal amasiadas são
tratadas da mesma forma que as casadas quando tem filhos e/ou quando estão vivendo juntos.
Dessa forma legalmente é difícil diferenciar entre amasiadas e mulheres casadas.
Apesar dos diferentes índices de violência nas uniões legais e amasiadas, as razões para
este fenômeno não foram bem entendidas. Sugere-se que se busque entender as diferenças de
violência nos diferentes status conjugais e se promova uma verificação desta estrutura.
Entender por exemplo características do parceiro e da parceira e o que levaram ambos a
união, buscando-
se um entendimento sobre o processo que ocorre nestas uniões.
Verificou
-
se
, também, uma diferenciação no tipo de violência relativa ao status conjugal.
Entre amasiadas e namoradas, a agressão (BO) e a lesão corporal (TCO) são predominantes,
enquanto que as esposas registram mais freqüentemente agressões nos BOs e ameaças nos
TCOs. Curioso notar que entre
ex
-amasiadas, ex-casadas e ex-namoradas predominam as
ameaças tanto nos BOs, quanto nos e TCOs. Diante deste fato, sugere-se esta
diferenciação
como um tema para futuras pesquisas.
248
Outro aspecto que chamou atenção refere
-
se ao tipo de queixa. Motivos fúteis, ausência de
motivos e, em terceiro lugar, bebida e drogas, mostraram-se como as principais causas das
que
ixas relativas aos Boletins de Ocorrência, enquanto por outro lado, a queixa por fim de
relacionamento é prevalente nos casos em que a mulher registra procedimento criminal
(TCO), seguida por motivos fúteis. Estes dados revelam que a mulher que decidiu romper ou
rompeu o relacionamento formaliza, com maior freqüência, a apresentação da queixa-
crime
ao Juizado Especial Criminal, a fim de que o agressor seja apenado e ela tenha seus direitos
protegidos.
Parece, ainda, existir um diferencial entre o tipo de queixa e o status conjugal. A queixa
das amasiadas está mais associada a motivos fúteis, as das casadas a motivos fúteis e bebida e
as queixas das namoradas a ciúmes. Entre
ex
-amasiadas, ex-casadas e ex-
namoradas
predominou a queixa devida a fim do relacionamento, sendo, nesse caso, a ameaça o principal
crime cometido. Constatou-se uma vinculação entre ameaça e fim de relacionamento, de
modo que o ex-parceiro, não aceitando o rompimento, usa freqüentemente a ameaça como
estratégia para reverter a situação.
O
quadro extraído dos resultados relativos às
ex
-amásias, ex-esposas e ex-namoradas do
presente trabalho, alerta para o drama de que a mulher não está segura mesmo após a
separação do parceiro, e que de forma geral a violência continua, e é mais severa quando o
relacionamento termina, razão pela qual estas mulheres formalizam queixa crime com mais
freqüência no momento da separação ou após a separação, o que indica que elas correm mais
risco nesse momento. Além disso, deve ser considerado que quando a mulher toma a decisão
de romper o relacionamento, ela não tem mais motivos para proteger o parceiro da acusação
legal, nem para manter a harmonia do relacionamento. O que a mulher ameaçada pelo ex-
parceiro deseja é mantê
-lo longe, que ele se afaste .
249
Estes dados condizem com os observados por Browne e Williams (1989), que sugerem
que o período mais perigoso para uma mulher que sofre agressão é durante os dois primeiros
anos após a separação, e com os estudos de Walker (1994) que observou que o temor de risco
de violência maior quando se rompe a relação é totalmente justificado, e este medo é um dos
motivos pelo qual a mulher permanece no relacionamento. Conforme indicações de Walker
(1994), mulheres que abandonam seus agressores têm um risco maior de serem assassi
nadas
por eles do que aquelas que permanecem.
Ressalta
-se ainda, a ocorrência de uma mudança nas características do tipo de violência
cometida pelos parceiros conjugais. A verificação de que a ameaça foi o crime mais
denunciado pelas mulheres difere de outras pesquisas (SAFFIOTI, 1999; WILLIAMS, et.al.,
1999), embora confirme que a média anual de ameaças vem aumentando ao longo dos anos,
assim como vem diminuindo as agressões, lesões corporais e vias de fato, apesar de ainda
elevadas. Talvez isso se como decorrência da atual visibilidade social da violência
conjugal e devido ao fato de as mulheres, em situação de violência terem a oportunidade de se
expressar e poderem buscar intervenções nas delegacias especializadas, o que pode estar
inibindo a ação dos
parceiros agressores.
É importante notar que a ameaça é considerada violência emocional, uma vez que não
agressão física direta. Outros tipos de violência, na esfera psicológica, como humilhações,
difamação, calúnias, injúria, desqualificações, de forma geral o são denunciadas.
Hipotetiza
-se, diante disso, que existe um aumento na severidade das ameaças, e em razão a
isso sugere-se que o abuso não físico, especificamente a ameaça que aterroriza a vítima,
receba crescente atenção por parte dos pesquisadores e das autoridades das delegacias
especializadas. Ressalta-se ainda, que vários estudos indicam que o abuso emocional
estabelece e mantém toda a dinâmica do abuso no relacionamento (DUTTON; PAINTER,
1993;
LORING
, 1994).
250
Diante da identificação de diversos cenários de risco de violência, pode-se propor o
desenvolvimento de intervenções, tratamento e prevenção, considerando-se o status conjugal,
bem como os tipos de queixas.
Sugere
-se, ainda, que os serviços prestados pelas delegacias criem um local de
acolhimento para que a mulher, que sofre violência, possa expressar suas angústias que não se
resumem apenas à aproximação policial e jurídica, dadas as conseqüências da violência física
e não física, especialmente as ameaças. Sugere-se que seja possível a realização de
acolhimento psicológico nas delegacias para posterior encaminhamento a ajuda especializada,
conforme necessidade de cada mulher. A importância da criação deste espaço de acolhimento
psicológico nas delegacias deve-se ao fato de que ouvir a demanda dessas mulheres é algo
bastante complexo, devido ao constrangimento, vergonha e à própria necessidade de proteger
o agressor, conforme verificado na segunda fase da pesquisa. O momento pelo qual a mulher
se dirige a uma delegacia exige acolhimento, compreensão e esclarecimentos sobre sua
situação, exige, portanto, uma intervenção imediata ao exato momento de sua necessidade. A
situação da mulher deveria ser focada não apenas pelo prisma jurídico, deve se procurar
entender, por exemplo, o que exatamente a motiva a procurar ajuda? O que ela esbuscando
naquele momento? Ser ouvida atenta e profundamente é fundamental, razão pela qual é
necessário o acolhimento psicológico nas delegacias especializadas.
Além disso, nos casos de violência conjugal, não basta apenas a lei, porque a lei muitas
vezes é de uma impotência total frente à situação vivida pelas mulheres. Para que as mulheres
sejam bem sucedidas nas suas buscas de ajuda e intervenção às quais recorrem, é necessária a
conjugação de esforços de profissionais de diferentes áreas de atuação. É disso também, que
depende o sucesso de suas tentativas de romper a sua permanência na situação de violência.
251
7. 2 Conclusões a respeito da segunda fase
O homem moderno enfrenta incontáveis desafios, sendo o principal deles o relativo à
violência. A violência não é um comportamento novo, ele pertence à história da humanidade e
podem ser encontrados relatos na filosofia, na literatura, nas manifestações culturais e na
religião. Os problemas relacionados com a
violência são imensos e universais.
Diferentes ciências e abordagens em psicologia têm algo a dizer sobre essa problemática,
dentre elas, a psicanálise, que considera que somos resultado de uma complexa interação entre
os impulsos sexuais e agressivos e as defesas que, desde a infância construímos para contê-
los, por meio do superego. Nesse sentido poderíamos dizer que a violência é provocada por
uma falta de distância entre os impulsos e os atos, como pode ser visto nas agressões dos
cônjuges em relação às suas parceiras, bem como na recusa em refletir sobre o que realmente
motiva as próprias ações e na atribuição aos outros, pais, parceiros íntimos, muitas vezes
indevida, da culpa pelos problemas vividos. A psicanálise afirma que a culpa não é sempre
dos outros, uma vez que sua atenção é focada na singularidade, e propõe um caminho de
autoconhecimento que depende da própria pessoa.
Do ponto de vista da psicanálise, a violência se mantém e se recria, constantemente, na
medida que a pessoa lança mão de artifícios engenhosos para não reconhecê-
la.
Conseqüentemente ao invés de ser reconhecida, a violência passa a ser representada, a
negação exime responsabilidade e culpa. Para Costa (1986), o maior prejuízo para indivíduos
inseridos em ambientes violentos é o obscurecimento do que é fantasia e do que é realidade
(p.53).
De acordo com esse autor, tenta-se explicar a violência para exorcizar o terror, porque,
quando ela é explicada deixa de existir como coisa primeira: é conseqüência de uma outra,
252
que a provocou (p.45). A explicação tem como função garantir que, em suas bases o mundo
está em ordem.
Há, entretanto, outras leituras para o fenômeno em questão, o que nos interessa mais de
perto, especificamente a da Psicologia Social, que enfatiza a interação do indivíduo com o
ambiente, e exige que se contemple a existência ou não da intencionalidade de causar danos,
por parte do agressor, bem como os processos cognitivos afetivos e comportamentais
suscitadas, por exemplo, no agredido. Dentre as teorias oriundas da Psicologia Social, foram
utilizadas neste estudo as contribuições da Teoria da Atribuição Causal para a análise da
permanência da
mulher em um relacionamento conjugal violento.
Como esclarecido no capítulo 3, tal teoria estuda as explicações que os i
ndivíduos
oferecem para as causas dos eventos de que são participantes, ou como atores ou como
expectadores.
As
pessoas explicam porque ocorre um determinado evento considerando, usualmente, a
motivação da pessoa que o causou
. A necessidade de buscar uma c
ausa para o comportamento
de outrem faz parte de uma tendência humana de ir além da informação disponível. Tais
deduções são chamadas de
atribuições causais
,
que é o processo pelo qual as pessoas usam de
vários tipos de informações para realizar inferências a respeito das causas de determinados
comportamentos ou acontecimentos. As atribuições são uma conjectura, diz respeito menos
às causas reais do comportamento de uma pessoa do que às inferências que o observador faz
acerca dessas causas (DELA COLETA, 19
82).
Portanto, a teoria da atribuição lida com
causas percebidas da situação, não com causas reais. Assim, as interpretações causais podem
ser precisas ou erradas, funcionais ou disfuncionais. Faz se uma atribuição em consonância
com os próprios conteúdos
cognitivos, tais como crenças, valores ou conhecimentos
.
O estudo dos mecanismos utilizados pelas pessoas para explicarem suas próprias condutas
e ações, e a dos outros, assume particular relevância no contexto, pelo poder exploratório que
253
ele permite na análise das situações de longo tempo de permanência em um relacionamento
conjugal violento. As atribuições ou explicações causais aos comportamentos e/ou eventos
tornam
-se, assim, ferramentas poderosas para a compreensão das reações frente à violência e
ao
abuso vivido, em função de seu papel mediador entre os estímulos e as respostas
individuais.
Dessa forma, as atribuições feitas às causas do comportamento agressivo determinam o
tipo de resposta que será dada à provocação.
Fundamentado nas proposições de Weiner (1972, 1986, 1995) e nos estudos de Sillars
(1981) e Brehm (1985), que colocaram em evidência as intenções atribuídas, a
controlabilidade e a culpa do parceiro nas reações ao conflito interpessoal, o presente estudo
pretendeu realizar uma comparação entre os mecanismos atribucionais utilizados por
mulheres que sofrem violência conjugal relativa à primeira agressão sofrida e à última que
motivou a formalização de um processo penal (TCO), como uma explicação para sua
permanência ou rompimento do relac
ionamento.
Assim,
em relação à segunda fase, o principal enfoque desse estudo buscou compreender
como as mulheres explicam o comportamento violento de seu cônjuge e, se
estas
explicações
causais estariam relacionadas à intenção de permanecer ou de romper u
m
relacionamento
conjugal violento.
Fizeram parte desta fase da pesquisa mulheres que buscaram espontaneamente a
Delegacia Adida ao Juizado Especial de Uberlândia, para dar queixa dos parceiros íntimos
agressores e responderam a uma entrevista semi
-
estruturada.
Verificou
-se que a prevalência da violência é mais freqüente em mulheres da cor branca,
católicas, não praticantes, que possuem o primeiro grau incompleto, e se declararam do lar,
com filhos e oriundas de diferentes bairros de Uberlândia. Observou-
se
, entretanto, mulheres
de diferentes religiões, profissões e níveis de escolaridade. A maioria das mulheres
254
entrevistadas reportou sofrer violência na fase do namoro ou no inicio do relacionamento.
Em todos os casos, a violência física veio acompanhada da psicológica em forma de
intimidação e abuso verbal, sendo estas uma rotina na convivência do casal. As causas da
violência sofrida relatadas pelas mulheres são devidas aos ciúmes, ao fato de ele ter
problemas psicológicos, usar álcool, de ele ter amante
, da combinação ciúmes e bebida, de ela
rejeitá
-
lo sexualmente, de ele não aceitar a separação, por provocação dela e por ele rejeitá
-
la.
Analisando os resultados obtidos relativos à atribuição causal, evidencia-se a
predominância do uso de causas internas do agressor, em detrimento das externas, nas
atribuições relativas às duas situações (primeira e última agressão). Entretanto, as atribuições
das mulheres foram também qualificadas sob o prisma de outras dimensões conceituais
preconizadas por Weiner (197
2, 1986,1995), a estabilidade e controlabilidade.
Dado que as atribuições utilizadas pelas mulheres para explicarem a violência do cônjuge
foram eminentemente internas, atribuídas ao parceiro, as considerações relativas às outras
duas dimensões causais, estabilidade e controlabilidade, permitiram a distinção qualitativa da
atribuição.
Com relação aos dados referentes às dimensões causais acima referidas, observou-se, no
que diz respeito à estabilidade X instabilidade e controlabilidade X incontrolabilidade, que as
mulheres adotaram, prioritariamente, a instabilidade e a controlabilidade da violência para
explicarem a primeira agressão do parceiro. Neste sentido, pode se dizer que a causa interna
instável atribuída ao parceiro manteve-se como explicação básica da violência do parceiro
para a primeira agressão. Por outro lado neste primeiro momento, a causa interna estável foi
irrelevante para explicar a violência. As mulheres num primeiro momento não conseguem
imaginar que o parceiro seja fundamentalmente destruidor. Elas tentam encontrar explicações
lógicas para desfazer aquilo que não podem perceber: ele é ciumento. Alimentam assim as
255
esperanças de que o parceiro mude e compreenda o sofrimento que está infringindo e se
arrependa.
Já, quando se observa o resultado referente a estas duas dimensões em discussão, verifica-
se uma inversão nas atribuições relativas à última agressão, para a qual, as mulheres
atribuíram causas estáveis e incontroláveis. Portanto, a última agressão foi eminentemente
explicada através da causa interna estável incontrolável atribuída ao parceiro, isto é, como
sendo decorrente da personalidade do mesmo.
Sob a perspectiva da mulher que sofre agressão, isto poderia significar, num primeiro
momento, que as mulheres ao atribuírem a violência
a causas internas, instáveis e controláveis
estariam acreditando que poderiam modificar tal resultado. Conforme a perspectiva teórica de
Weiner (1986, 1995), a atribuição a causas instáveis faz com que o indivíduo acredite que
pode modificar o resultado no futuro. Diante disso é lícito concluir que estas mulheres podem
estar atribuindo a violência do parceiro à causa interna e instável como uma forma de se
defenderem do fracasso do relacionamento, na medida que, fazendo esse tipo de atribuição
estariam se preparando para reverter a situação da violência. Levando-se em conta, ainda, as
características disposicionais (personalidade) como a causa atribuída à última agressão
sofrida, pode-se admitir que de alguma forma as mulheres levam muito tempo para
compreen
der que essa situação não é resultante de um comportamento ocasional do parceiro,
e sim de um comportamento repetido continuamente.
Os dados aqui obtidos revelaram a adoção sistemática da causa disposicional, interna,
instável e controlável, por parte das mulheres que permanecem no relacionamento. As
mulheres atribuem a violência a estados transitórios do parceiro e acreditam que podem
controlar a ocorrência da agressão. Quando a violência é recente existe, ainda, para as
mulheres uma esperança de solução, e especificamente, sua atribuição guia a maneira pela
qual ela se comporta para alterar a dificuldade.
256
A análise das reações das mulheres que atribuíram causa interna instável e controlável
para a primeira agressão, mostrou que estas procuraram conversar com o parceiro, ou
simplesmente não apresentaram nenhuma reação, acreditavam que a agressão era apenas uma
crise e que passaria (instável / controlável), adotaram mecanismos de enfrentamento mais
focalizado no problema, numa tentativa de aproximação e busca de solução, apresentaram
expectativas de que o relacionamento melhoria, não denunciaram o parceiro e manifestaram
sentimentos sem alvo, tais como angústia e tristeza.
Os motivos alegados pelas mulheres para permanecer na relação foram em primeiro lugar
o
amor,
seguido pela esperança de ele mudar, os filhos, os aspectos econômicos, algumas
características pessoais das mulheres, os valores sociais, o medo e finalmente sentimentos de
pena
do parceiro. Tudo isso permite à mulher perpetuar a crença de controle da violência que
se ajusta à sua necessidade de equilíbrio, e interfere por um longo período nas interpretações
ou explicações dadas ao comportamento do parceiro.
Especificamente sobre a alegação de amar o parceiro como motivo de permanência na
relação,
Strube e Barbour (1983 apud BREHM, 1985), encontraram que as mulheres mais
propensas a deixar um relacionamento abusivo, não citavam espontaneamente o amor como
razão para ficar no relacionamento.
Por outro lado, observa-se que a busca de rompimento da relação é decorrente de
atribuição de causa interna estável e incontrolável à violência do parceiro, de sentimentos
negativos contra ele, de expectativas de vida digna se deixá-lo e de que o relacionamento
piore caso seja continuado.
No que diz respeito ao
julgamento de culpa da violência, tanto para a primeira quanto para
a última agressão, evidencia-se que as mulheres não viam a si mesmas como merecedoras,
culpadas ou provocadoras da violência. Observou-se que, maior culpa e maior intenção é
atribuída ao agressor quando as causas são internas e estáveis. A culpa e a intenção do
257
parceiro estão relacionadas entre si e este resultado é evidente tanto na primeira, quanto na
última agressão. Estas relações são demonstradas pela análise de variância e pelas corre
lações
encontradas.
Constata
-se assim, que a mulher percebe a violência conjugal como um acontecimento
intencionalmente causado pelo parceiro, podendo ser classificado, portanto, como dentro da
causalidade pessoal, conforme teoria da atribuição.
Tais
dados
são consistentes com os resultados de estudos anteriores (CANTOS; NEIDIG;
O LEARY, 1993), que explicam que mulheres agredidas tendem a designar menos culpa a si
mesmas e mais aos maridos, tanto para o primeiro quanto para o ultimo episódios de
violência,
e a ver as causas do abuso como estáveis se tiverem sido mais severamente
feridas.Também
são
condizente
s com a tendência geral de atribuir coisas boas a si mesma e
coisas ruins a fatores externos (HEIDER, 1970; FRIEZE; WEINER, 1971) e, conforme
previsões da teoria da atribuição, revelam que para as mulheres o comportamento violento do
parceiro é visto como intencionalmente causado.
Além disso, a tendência de culpar os outros se caracteriza pelo fato de as pessoas darem a
si próprias o mérito do sucesso e negarem a responsabilidade por suas falhas, conforme
afirmações de Weiner (1972). Da mesma forma, de acordo com Sillars (1981), existe uma
tendência a superatribuir a responsabilidade pelo conflito ao parceiro e a subestimar os efeitos
do próprio comportamen
to.
Diante
destes aspectos, a questão que se coloca é se a violência poderia ser também
resultante da relação do casal e não apenas da culpa ou das características pessoais do
parceiro, isto é, a violência poderia ser fruto daquilo que um desperta no outro, podendo-
se
argumentar que as mulheres também poderiam provocar reações hostis e negativas e que suas
atribuições causais e principalmente suas atribuições de culpa poderiam estar refletindo o
próprio efeito que ela tem no parceiro. Esse argumento parece
plausível
, uma vez que
258
geralmente os aspectos essenciais da relação são determinados pela suposição que se tem a
respeito das condições e das percepções da outra pessoa. De acordo com Heider (1970) uma
pessoa não apenas reage ao que a outra pessoa faz, mas reage ao que pensa que a outra
percebe, sente e pensa. Além
disso,
Sillars (1981) sugere que os parceiros falham em perceber
a causalidade mútua dos conflitos no relacionamento, uma vez que esse tipo de relação
interpessoal cria confusão de informações.
Por outro lado, uma vez que a maioria das mulheres atribuiu causas internas à violência do
parceiro, para a primeira e última agressão, sugerindo, por sua vez, que a essência da
violência conjugal tem sua origem nas características pessoais do parceiro, isto é, a algo
inerente a ele mesmo, questiona-
se: os parceiros agressores são indivíduos com características
pessoais que apresentam alta predisposição à agressão? Será que eles agridem,
freqüentemente, por causa de uma característica pessoal hostil? Para
melhores
esclarecimentos do tema sugere
-
se estudos a respeito da existência de característica pessoal de
hostilidade em parceiros agressores através, por exemplo, de medida por escalas auto-
avaliadas, como
as PANAS (WATSON; CLARK, 1988).
Quanto aos sentimentos, especificamente ao predomínio dos sentimentos sem alvo
relativos à primeira agressão, em sua maioria decorrente da atribuição interna instável,
caracterizada pela angústia e pela tristeza, fica evidente que estes desvelam a situação de
infelicidad
e e de desamparo na qual a violência mergulha as mulheres.
Importa esclarecer que, na angústia, a reação do organismo é de paralisação e a nitidez
com que a pessoa capta o fenômeno é atenuada (López-Ibor, 1969, apud SIERRA; ORTEGA;
ZUBEIDAT, 2003). A angústia é um sentimento vinculado a situações de desespero, e sua
característica principal é a perda da capacidade de atuar voluntária e livremente para dirigir os
próprios atos
(SIERRA; ORTEGA; ZUBEIDAT, 2003).
259
Conforme observado, os sentimentos sem alvo refe
rem
-
se a um tipo de sentimento no qual
os fatores cognitivos são muito reduzidos. Isto significa que, provavelmente, sequer, o
parceiro figure no sentimento. O único aspecto englobado no sentimento sem alvo é que algo
seja estancado.
O sentimento sem alvo
ou não dirigido pode ser visto como simplesmente desviado de sua
direção original. Pode-se falar, então, que existe uma tensão geral para mudar algo, mas algo
indeterminado.
Dessa forma, os sentimentos sem alvo são carentes de objeto, e precisamente essa c
arência
é um nada contra o qual não cabe adotar uma atitude concreta de defesa nem de ataque, razão
pela qual as mulheres não dão queixa do parceiro, conforme ficou demonstrado através da
análise de variância. Assim, os sentimentos estão relacionados à decisão de denunciar ou não
denunciar o agressor. Na primeira agressão mais mulheres com sentimentos dirigidos contra o
agressor deram queixa na Delegacia da Mulher.
Atendo-se aos dados relativos aos sentimentos decorrentes da última agressão em que as
mulher
es atribuíram causas internas estáveis à violência, verificou-se a manifestação de
sentimentos contra o parceiro, caracterizados pela raiva, revolta, medo, rejeição e nojo que,
diferente
mente
dos sentimentos sem alvo, levou as mulheres a ter
em
ações que bu
scassem
eliminar as fontes desses sentimentos, no caso
,
o parceiro e sua violência.
A maioria das mulheres que apresenta
ra
m sentimentos negativos contra o agressor, não
pretendem continuar vivendo com ele.
Confirmou
-
se, portanto, a relação entre os sentime
ntos,
e as ações e intenções, conforme hipotetizado.
Foi também encontrada uma relação entre a direção dos sentimentos e as expectativas
caso permaneça no relacionamento, de modo que os sentimentos contra o agressor se
associam a expectativas de um relacio
namento cada vez pior.
260
Neste sentido parece que a atribuição interna estável prevê diferencialmente as
manifestações afetivas das mulheres que sofrem violência conjugal. Atribuições internas
estáveis prevêem: sentimentos contra o parceiro, intenção de romper o relacionamento e
expectativas de que o relacionamento piore, dado que os sentimentos contra o agressor
evidenciam, pode
-se dizer, a expressão de um protesto contra o mesmo (raiva, por exemplo) e
a percepção de risco (medo) que a mulher corre no relac
ionamento.
Através da análise das expectativas, verificou-se que, na primeira agressão, maior
intenção atribuída ao agressor relacionou-se a expectativas negativas, na última agressão
maior intenção (teve propósito de agredir) foi relacionada com a percepção de que ele poderia
ter
evitado, e a causa interna estável relacionou-se a expectativas negativas (risco de vida,
piorar a situação, continuar sofrendo), com a falta de esperança de que o relacionamento
melhore, e com a esperança de que o parceiro se afaste, e medo que o parceiro continue
prejudicando.
Na primeira agressão a expectativa positiva, de que a situação iria melhorar, relacionou-
se
a não dar queixa na Delegacia da Mulher e a maioria das mulheres adotaram estratégia de
coping focalizado no probl
ema.
Com referência à postura de enfrentamento adotado pelas mulheres, as mesmas
consideram, num primeiro momento (atribuição interna instável controlável), que o processo
de violência poderia ser estancado, caso elas buscassem conversar com ele ou simple
smente
não fizessem nada, o que as levaram a não denunciar o parceiro, enquanto que ao atribuir
causas internas estáveis à última agressão, as mesmas consideram que no futuro continuariam
a ser agredidas através de uma violência ainda mais severa, o que conseqüentemente, levou
todas as mulheres a denunciar o parceiro.
261
Finalmente
, para a última agressão, as expectativas negativas de permanecer na relação (a
situação vai piorar) e expectativas positivas de romper a relação (vida digna), relacionaram-
se
à
inte
nção de não continuar no
relacionamento.
Na última agressão, a causa interna estável e a maior intenção percebida na agressão
relacionaram
-se com a intenção pessoal de não continuar no relacionamento com o parceiro.
As análises mostram ainda uma tendência maior de denúncia do parceiro, quando a
expectativa da mulher é de que a situação da violência piore, enquanto que a não denúncia é
significativamente maior quando a expectativa é de que a relação do casal melhore.
Em relação às expectativas, foi possível perceber ao longo do trabalho que, para as
mulheres entrevistadas, romper uma relação tem o sentido de antes de tudo prever
expectativas de um futuro digno sem o parceiro. Parece que a confiança na melhora do futuro
pessoal, a crença de se estar caminhando para uma vida melhor, a crença na possibilidade de
conquistas e avanços pessoais caso deixe o parceiro, relaciona-se à intenção de romper a
relação. As mulheres que apresentam tais expectativas futuras compreendem que é preciso
tempo e empenho (trabalhar, estudar) para alcançar tais objetivos e demonstram um
compromisso com o próprio desenvolvimento.
Tomando em conjunto os resultados da presente pesquisa, evidenciou-se que o padrão
atribucional que as mulheres utilizam ao explicar a violência do parceiro conjugal é
caracterizado pela internalidade. Foi possível constatar modificação nas dimensões instável e
controlável, seguindo a grande distância para estável e incontrolável, nos sentimentos nas
expectativas e nas ações das mulheres.
Esta investigação mostrou relações significativas entre as variáveis do modelo proposto, e
apresentou tendências nas atribuições relativas a ficar ou deixar um parceiro violento.
Atribuições internas instáveis controláveis podem levar a sentimentos sem alvo, à esperança
da resolução do problema, e à permanência da mulher em um relacionamento abusivo e
262
doloroso,
enquanto que as atribuições internas estáveis incontroláveis relacionam-se a
sentimentos contra o parceiro, a expectativas negativas junto a ele e a expectativas positiv
as
longe dele e ao desejo de romper o relacionamento.
Assim, através deste estudo pode-se verificar que o estímulo violência conjugal contra a
parceira determinou ou co-determinou a mediação cognitiva que resultou numa atribuição
causal, onde foram identificadas as seguintes dimensões: lócus da causa, estabilidade e
controlabilidade, que tiveram efeitos diferenciados a nível cognitivo, afetivo e da ação da
mulher que sofre a violência. Observou-se que as cognições determinam as respostas afetivas
e as expec
tativas
,
assim como os comportamentos subseqüentes.
Na investigação das atribuições causais verificou-se que a atribuição causal da mulher
sobre o comportamento violento do parceiro constituiu fator responsável pelo tipo de ação ou
intenção de ação da mulher. Dessa forma aceita-se a existência de uma relação entre a
explicação causal da mulher e sua permanência ou não no relacionamento violento, que se
expressa nas diferenças entre as atribuições causais relatadas para a primeira e última agressão
por mulheres que desejam permanecer no relacionamento e aquelas que irão romper,
conforme este estudo pretendia demonstrar.
Pode
-se, entretanto, argumentar que relatos retrospectivos de atribuições tenham sido
distorcidos pelo atual momento vivido pelas mulheres. Todavia, tomados em conjunto, esses
resultados sugerem que as atribuições retrospectivas não estão relacionadas ou foram
influenciadas pelo momento atual. As mulheres da amostra apresentaram, por exemplo, pouca
dificuldade para responder questões sobre atribuições causais, culpa, intencionalidade e
evitabilidade e deram todos os indícios de haverem considerado o assunto minuciosamente.
Isto se estende à habilidade delas em relatar as atribuições passadas, bem como as atuais com
facilidade.
263
Seria interessante, contudo, que futuras investigações procurassem aprofundar a
compreensão desses mecanismos.
Embora promissores esses resultados precisam ser replicados. Estudos longitudinais
futuros devem examinar violência conjugal e atribuições com diferentes intervalos entre
avaliações para determinar quão vigorosa é a associação que prevê.
Outra
tarefa para pesquisa futura é determinar o peso relativo das variáveis aqui estudadas
na explicação da variância da resposta comportamental.
Além disso, este estudo enfocou somente as atribuições das mulheres em relação aos
parceiros violentos, futuras pesquisas podem examinar as atribuições oferecidas pelos
parceiros para a violência cometida.
Os dados disponíveis para avaliar a premissa de que as atribuições influenciam
a
pe
rmanência ou o rompimento em um relacionamento
conjugal
violento
s
ão promitentes
.
Pode se supor que as atribuições poderiam compreender um componente adicional a ser
anexado a intervenções terapêuticas, uma vez que os dados sugerem que as atribuições pode
m
ser significativas durante todo o relacionamento conjugal violento. Implícita nesta proposta
está a noção de que atribuições são um componente necessário mas, de maneira alguma
suficientes para a compreensão da
violência
conjugal.
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102.
281
ANEXO A
FICHA DE REGISTRO PARA TRANSCRIÇÃO DOS DADOS DE BOLETINS DE OCORRÊNCIA E TERMOS
CIRCUNSTANCIADOS DE OCORRÊNCIA
EM CASOS DE VIOLÊNCIA CONJUGAL.
caso
Bairro
residencial
Idade
da
mulher
Profissão
da mulher
Idade do
parceiro
Profissão
do
parceiro
Tipo de
relação
vítima /
autor
Queixa
Descrição da
violência
BO
Incidência
Penal
TCO
Número da
ocorrência
Data da
ocorrência
BO
1
2
3
4
n
282
ANEXO B
QUESTIONÁRIO SOBRE VIOLÊNCIA CONJUGAL
1ª PARTE: DADOS PESSOAIS
1. Idade: ( )
2. Cor: _____________
3. Naturalidade: ___________________
4. Estado Civil: ( ) Casada
( )Amasiada
( )Solteira
Outros __________
5. Bairro: __________________________
6. Religião _________________________
Praticante?
( ) Sim ( ) Não
7. Escolaridade:
1
o
grau incompleto ( )
2
o
grau completo ( )
1
o
grau completo ( )
superior incompleto ( )
2
o
grau incompleto ( )
superior completo ( )
8. Profissão: __________________________
9
. Composição Familiar
Idade
Escolaridade
Profissão
Trabalho atual
PARCEIRO
FILHOS
Sexo
1.
2.
3.
4.
5.
6.
10. Salário
a. Renda pessoal (apenas da mulher)____________________________
b. Renda familiar (d
e todos, inclusive da mulher)__________________
11. Moradia: ( )Casa Própria
( )Alugada
( )Cedida
12. Há quanto tempo você vive com ele?
_________ anos
283
2ª PARTE: DADOS SOBRE A VIOLÊNCIA CONJUGAL
1.
Em que época começaram as agressõ
es?
( ) namoro ( ) no início do casamento ( ) durante a 1ª. gravidez
( ) após o nascimento do 1º., 2º. .. filho ( ) após acontecer
- - - - - - - - - - - - -
( ) após
________ anos de união
2. Há quan
to tempo você sofre agressão?________ anos.
3. Com que freqüência vocês brigam?
( ) todos os dias
( ) semanalmente
( ) quinzenalmente
( ) mensalmente
( ) outros ___________________________________________
4. Quais são os motivos das
brigas?
( )Uso de álcool ( ) drogas ( ) jogo
( )Falta de dinheiro ( ) traição sua ( ) traição dele
( ) Ciúmes ( ) a
s amizades dele ( ) preguiça dele
( ) falta de iniciativa dele ( ) ele é nervoso ( ) a sogra
( ) a família dele ( ) a sua família ( ) ele é agressivo
( )
ele tem problemas psicológicos e por isso agride ( ) a culpa é sua
Outro motivo. Qual? _________________________________________________
5. Quais são os tipos de agressão (física) utilizada por seu parceiro?
( ) espancamento
( )
uso de objetos para te infringir dor (facas etc). Quais? _______________
( ) uso de armas de fogo (revolver, espingarda)
( ) enforcamento
( ) queimaduras
( ) esbofeteia
( ) empurrão
( ) tapas
( ) chutes
( ) socos
( ) outros. Quais? _
________________________________________
6. Ele usa outras formas de agredir? (agressão psicológica)
( ) pressão ( seu parceiro controla o que você faz, como por ex. verifica se você arrumou a
casa, etc)
( ) culpa você por tudo o que acontece de err
ado
( ) considera a mulher inferior ( desconsidera a avaliação da realidade que você faz )
( ) insultos
( ) calúnia
( ) rejeição
( ) depreciação
( ) humilhação
284
( ) desrespeito
( ) punições exageradas
( ) tenta te convencer de que você é l
ouca
( ) utiliza palavras de baixo calão para referir
-
se a você (te xinga)
( ) aumenta seus erros
( ) inventa erros que você não cometeu
( ) oferece a você apenas alimento suficiente para sua sobrevivência
( ) não deixa você dormir o suficiente, te acorda durante a noite
( ) não permite que você conviva com seus familiares
( ) não permite que você tenha convívio social
( ) te proíbe de ter emprego
( ) te proíbe de estudar
( ) às vezes é violento, às vezes é bondoso, isto é, altera fúria
com proteção
( ) faz ameaça de te espancar
( ) faz ameaça de te matar
( ) faz ameaça de tirar seus filhos de você
( ) xinga os filhos para te atingir
( ) bate nos filhos para te atingir
( ) te tranca dentro de casa
( ) te tranca fora de casa
( ) te pressiona a confessar algo que você não fez
( ) se nega a conversar, ao ver que você espera que ele comente algo com você
( ) quebra utensílios domésticos
( ) quebra móveis
( ) rasga suas roupas
( ) rasga seus documentos pessoais
( ) r
asga suas fotos, recordações, objetos pessoais
( ) outros. Quais? _______________________________________________
7. Ele te agride sexualmente? ( ) sim ( )não
( ) te força a ter relações
( ) outros. Quais? _ _ _ _
_ _
8. Ele controla o dinheiro? ( ) sim ( )não
( ) não dá dinheiro
( ) usa seu dinheiro
( ) gasta o dinheiro fora de casa
( ) ameaça ir embora e não te ajudar financeiramente
( ) esconde o dinheir
o
285
PARTE: CAUSAS DA AGRESSÃO, SENTIMENTOS, EXPECTATIVAS E
COMPORTAMENTOS DECOR
RENTES DA 1
A
AGRESSÃO
1.Qual foi a primeira vez que seu companheiro te agrediu? O que aconteceu?
2. Por que você acha que ele fez isso (agressão)
da primeira vez
?
Causa Principal?__________________________________________________________
CLASSIFICAÇÃO DA CAUSA PERCEBIDA :
1.
Interna Estável ( )
Ex: personalidade, caráter, gênio, ruindade , ...
2.
Interna Instável ( )
Ex: estado emocional (nervoso...), estado de
saúde, alcoolizado,
...
3.
Externa Estável ( ) Ex: família dele ou dela, os filhos,...
4.
Externa Instável ( ) Ex: falta de dinheiro, emprego ruim, vizinhança, a situação...
3. Você acha que alguém teve culpa? Quanto?
a) Culpa dele? Nada( )
pouco ( ) +ou-
( ) muito ( ) totalmente culpado ( )
b) Culpa sua? Nada( ) pouco ( ) +ou
-
( ) muito ( ) totalmente culpada ( )
Ou a causa foi outra?
c) culpa foi de outra pessoa?
Nada( )
pouco ( ) +ou
- ( ) muito ( ) totalmente culpado ( )
d) culpa da situação, ambiente, circunstâncias
Nada( ) pouco ( ) +ou
-
( ) muito ( ) totalmente culpad
o ( )
4. Naquela época você achava que era capaz de mudar isso, de controlar a agressão?
5. Naquela hora, você achou que ele teve intenção de te agredir, ele fez de propósito?
Sem intenção
Fez de propósito
1
2
3
4
5
6. Você achou que, se ele quisesse, poderia ter se controlado e não agredido? Ou era
impossível ele se controlar naquela hora?
Não podia evitar
Podia ter evitado
1
2
3
4
5
Não podia se controlar
Se quisesse, podia se controlar
286
7. Depois que ele te agrediu daquela vez, como você se sentiu ? Quais foram os sentimentos?
( ) raiva
( ) pena
( ) medo
( ) revolta
( ) culpa
( ) ansiedade
( ) angustia
( ) ódio
( ) mágoa
( ) calma
( ) tristeza
( )depressão
( ) ambivalência (às vezes pena, às vezes
raiva)
( ) rejeição
( ) às vezes você acha que ele está certo
-
aprova
( ) nojo
CLASSIFICAÇÃO DOS SENTIMENTOS
1. sentimentos auto
-
dirigidos? (
)
Ex: culpa, raiva de mim,...
2. contra ele? ( )
Ex: raiva dele, medo dele, ...
3. sentimentos sem alvo? ( )
Ex: tristeza, angústia, ...
8. O que você fez?
( ) Procurou conversar com ele
( ) Procurou ajuda
amigos, familiares, psicólogos
etc
( ) Tentou deixá
-
lo
( ) Reagiu e também brigou
( ) Não fez nada
( ) Outra opção. Qual? _____________________________________
CLASSIFICAR POR REAÇÃO DE COPING
Coping focalizado no problema ( ) = mudar uma pessoa, ambiente ou uma relação
Cop
ing focalizado na emoção ( ) = administrar as emoções negativas relacionadas com o
estresse
Coping de evitação ( ) = afastamento, fuga,...
9. Você deu queixa da primeira vez? ( ) Sim ( ) Não
10. Por que?
Ache
i que não fosse acontecer mais ( ) Achei que ele ia continuar me agredindo ( )
11. O que você esperava que acontecesse?
Piorar a relação ( )
ficar igual ( )
melhorar ( )
12. Por que você continuou com ele? Por que permaneceu na
relação?
287
4ª PARTE:
CAUSAS DA AGRESSÃO,
SENTIMENTOS E EXPECT
ATIVAS
ATUAIS
(
atribuição de causalidade para a agressão que levou a mulher à delegacia
)
1. Por que você decidiu procurar ajuda da Delegacia da Mulher, neste momento?
2. Por que você acha que ele fez isso? Por que ele te agrediu? Qual foi a causa?
CLASSIFICAÇÃO DA CAU
SA PERCEBIDA
a)
Interna Estável ( )
Ex: personalidade, caráter, gênio, ruindade , ...
b)
Interna Instável ( )
Ex: estado emocional (nervoso...), estado de saúde, alcooliza
do,
c)
Externa Estável ( ) Ex: família dele ou dela, os filhos,...
d)
Externa Instável ( ) Ex: falta de dinheiro, emprego ruim, vizinhança,...
3. Você acha que alguém teve culpa? Quanto?
a)
Culpa dele? Nada ( )
pouco ( )
+ou
-
( )
muito ( )
totalmente culpado ( )
b)
Culpa sua? Nada ( )
pouco ( )
+ou
-
( )
muito ( ) totalmente culpada ( )
Ou a causa foi outra?
c) culpa foi de outra pessoa?
Nada ( )
pouco ( )
+ou
-
( )
muito ( )
totalmente culpado ( )
d) culpa da sit
uação, ambiente, circunstâncias
Nada ( )
pouco ( )
+ou
-
( )
muito ( )
totalmente culpado ( )
4. E agora, você acha que é capaz de mudar isso? Sente
-
se capaz de controlar a causa das
agressões?
5. Você acha que desta vez ele teve intenção de te agredir, ele fez de propósito?
Sem intenção _______________________________________ Fez de propósito
1
2
3
4
5
6. Você acha que, se ele quisesse, poderia ter se controlado e não agredido? Ou era impos
sível
ele se controlar naquela hora? Quanto?
Não podia evitar _______________________________________ Podia ter evitado
1
2
3
4
5
Não podia se controlar
Se quisesse, podia se controlar
288
7. Como você se sentiu
quando ele te agrediu? Quais foram os sentimentos?
( ) raiva
( ) pena
( ) medo
( ) revolta
( ) culpa
( ) ansiedade
( ) angustia
( ) ódio
( ) mágoa
( ) calma
( ) tristeza
( )depressão
( ) ambivalência (às vezes pena, às vezes
raiva)
( ) rejeição
( ) às vezes você acha que ele está certo /
aprova
( ) nojo
CLASSIFICAÇÃO DOS SENTIMENTOS
1. sentimentos auto
-
dirigidos? ( )
Ex: culpa, raiva de mim, queria morrer
2. contra ele? ( )
Ex: raiva dele, medo dele
3. s
entimentos sem alvo? ( )
Ex: tristeza, angustia
8. O que você espera que aconteça após ter dado queixa de seu parceiro?
9. Você tem a intenção de continuar com ele?
10. E ele, você acha que ele tem a intenção de continuar com você, ou não?
11. O q
ue você acha que vai acontecer se você deixar o seu companheiro?
12. E se você continuar com ele, o que você acha que vai acontecer?
13. Você quer me dizer alguma coisa que eu não perguntei?
14. Como você está se sentindo agora?
289
ANE
XO C
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Conselho Nacional de Saúde
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
-
CONEP
FOLHA DE ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS
( versão
outubro/99 )
1.
Projeto de Pesquisa:
VIOLÊNCIA CONJUGAL:
ESTUDO SOBRE A PERMA
NÊNCIA DA MULHER EM
RELACIONAMENTOS ABUS
IVOS.
2.
Área do Conhecimento Ciências Humanas
3.
Código: 7. 07
4.
Nível: (D) diagnóstico
5.
Área(s) Temática(s) Especial (s) Psicologia
6.
Código(s):
7.
Fase: (Só área temática 3) I
( ) II ( )
III ( ) IV ( )
8.
Unitermos: ( 3 opções ) Violência Conjugal, Psicologia Social, Permanência em relacionamentos abusivos.
SUJEITOS DA PESQUISA
9.
Número de sujeitos
No Centro : Total: 30
10.
Grupos Especiais : <18 anos ( ) Portador de Deficiência Mental ( ) Embrião /Feto ( ) Relação de Dependência
(Estudantes , Militares, Presidiários, etc ) ( ) Outros ( x )
Não se aplica ( )
PESQUISADOR RESPONSÁVEL
11.
Nome:
TÂNIA MENDONÇA MARQU
ES
12.
Identidade: 7.820.841
SSP/SP
13.
CPF: 004.688.838
-
19
19.
Endereço: Rua Bernardo
Cupertino n. 1356
14.
Nacionalidade:
Brasileira
15.
Profissão:
Psicóloga
20.
CEP: 38.400
-
444
21.
Cidade:
Uberlândia
22.
U.F.
M. G.
16.
Maior Titulação:
Especialista
17.
Cargo: Docente
23.
Fone: (34) 3231
-
1256
24.
Fax
18.
Instituição a que pertence: Universidade Federal de Uberlândia
25
.
Termo de Compromisso: Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Res. CNS 196/96 e suas complementares. Comprometo-
me a utilizar os materiais e dados
coletados exclusivamente para os fins previstos no protocolo
e a publicar os resultados sejam eles favoráveis ou não. Aceito as responsabilidades pela condução científica do
projeto acima.
Data: 06/ 02/ 2004 __________
____________________________
Assinatura
INSTITUIÇÃO ONDE SERÁ REALIZADO
26.
Nome: Delegacia de
Atendimento à Mulher Adida ao Juizado
Especial Criminal
29.
Endereço: Rua João Pinheiro n. 1728
-
Bairro Aparecida
27.
Unidade/Órgão: Policia Civil de Minas Gerais
30.
CEP: 38.400
-
712
31.
Cidade:
Uberlândia
32.
U.F.
M.
G.
28.
Participação Estrangeira: Sim ( ) Não ( x )
33.
Fone: (34) 3212
-
5610
34.
Fax:
35.
Projeto Multicêntrico: Sim ( x ) Não ( ) Nacional ( ) Internacional ( ) ( Anexar a lista de
todos os Centros Participantes no Bras
il )
Termo de Compromisso ( do responsável pela instituição ) :
Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Res. CNS 196/96 e suas Complementares e como esta
instituição tem condições para o desenvolvimento deste projeto, autorizo sua execução
Nome: D
ra Karine Aparecida Maia Costa Oliveira Cargo Delegada de Polícia
Data: 06/ 02/ 2004 _________________________
__________
Assinatura
PATROCINADOR Não se aplic
a ( x )
290
ANEXO D
TERMO DE ESCLARECIMENTO E CONSENTIMENTO PARA PARTICIPAÇÃO
EM PESQUISA
Estamos desenvolvendo um estudo sobre violência conjugal. Gostaria de saber se você
poderia responder algumas perguntas que fazem parte dessa pesquisa para que possamos
entender as brigas do casal. É importante que você saiba que seu nome não aparecerá na
pesquisa e você não terá nenhum tipo de risco físico ou psicológico e suas respostas serão
analisadas juntamente com as respostas de outras pessoas, de forma que é impossível saber
quem respondeu. A pesquisa tem como objetivo entender os motivos que levam uma mulher a
permanecer em um relacionamento conjugal violento. A sua participação não implicará em
nenhum custo financeiro. Você poderá se retirar a qualquer momento da pesquisa, sem
prejuízo do acolhimento psicológico realizado na Delegacia da mulher Qualquer dúvida você
poderá ligar para:
Profa. Tânia Mendonça Marques Tel.: 3231
-
1256 (Pesquisadora responsável)
Faculdade de Psicologia
-
Tel.: 3218
-
2235
D
elegacia da Mulher
-
Tel.: 3236
-
1600 / 32125610
Comitê de Ética em Pesquisa/UFU Tel.: 3239
-
4131
_________________________________________
Assinatura da Mulher Participante da Pesquisa
291
ANEXO E
O que você espera que acont
eça após ter dado queixa de seu parceiro?
CATEGORIA
RESPOSTAS
FREQÜÊNCIA
1. Ele vai continuar
prejudicando
1. Ele vai tentar me prejudicar por isso. Vai me
difamar, mas desta vez eu não volto atrás. Das
outras vezes não gerou processo./3 Tenho medo
que ele me mate ou mande alguém me matar.
Espero as ameaças por telefone, depois dele
receber a intimação./6. O meu medo é esse.
Eu
quero um laudo pra ele ver o que é dele e é meu.
Não sei como a cabeça dele vai reagir. Acho que
ele não vai dar sossego. Sempre que ele fez isso
eu voltei./28. Ele vai ficar com raiva, por eu ter
dado queixa./34. Não sei o que vai acontecer. Ele
vai ficar com raiva de mim. Mas ele me está
acusando de algo que eu não fiz./46. Ele vai me
humilhar muito até eu resolver separar dele. Até
chegar o papel, ele vai beber e me xingar, e dizer
que não tem medo de polícia. Eu já dei uma
queixa./51. Acho que ele vai continuar do mesmo
jeito, por causa das pingas. Quando ele não bebe,
ele não aparece lá em casa./53. Não sei. Eu nunca
fiz isso. Estou com medo dele me matar./57.
Acho que ele vai pedir DNA, vai negar as
acusações e tentar tirar o filho, por raiva./70. Ele
vai ficar pior, e mesmo assim eu dou a queixa,
porque eu não gosto dele mais. Ele vai tentar
aproximar de mim./71. Ele vai me culpar por
tudo o que aconteceu. E vai tentar me condenar.
11
15,49%
292
2. Que ele mude o
comportamento, que
ele melhore
2. Que pare de beber. Não suporto mais ele
bêbado./ 4. Que mude. Que Deus resolva isso
dessa vez./8. Que ele mude, não me agrida mais,/
11.Que ele mude, mas, mudar ele ninguém
conta./16. Ele diz que vai mudar se ele não
mudar vou ter que me separar./21. Ele tem três
processos. Que melhorasse./22. Que ele mude.
que eu tenho que ficar com ele pra não aturar a
minha família. A minha mãe não conversa
comigo./24. Que ele me conquiste como mulher
que case comigo, que melhore, que pare de
beber./26. Que ele possa mudar, ou piorar./30.
Acho que quando ele souber que eu vim aqui, ele
vai ficar triste e falar que gosta de mim. Espero
qu
e ele mude o comportamento dele./35. Que ele
tente melhorar um pouco. Porque se eu não
tivesse dado queixa poderia ter acontecido coisa
pior./38. Que ele pare de me agredir. Que ele se
trate, se cuide./39. Que ele se acalme. Senão vai
virar uma tentação na minha casa. Ele vai até lá,
arrebenta portão, machuca e agride o meu
pai./49. Que possa melhorar. Que o casamento
acabe da melhor forma, amigavelmente./52.
Acho que ele vai arrumar advogado. Eu penso
que ele vai ficar manso e não vai me agredir
mais./66.
Que ele me sossego, que não me
xingue e não me bata./
16
23,53%
3.
Que ele saia de
perto de mim
5. Entrar os papéis para separação e ele sair de
casa./7. Sei que o sofrimento dele é pior que o
meu e é triste o problema dele eu sei que ele
também sofre, que ele faça o tratamento dele e
arrume o canto dele. Eu vou separar, cansei./9.
Parece que eu ia sair dessa, que eu estava tirando
uma pedra de cima de mim. Quero poder entrar
na minha casa e pegar as minhas coisas, me
separar dele, e voltar para minha terra./12. Eu
não quero lembrar que ele existiu, eu detesto
ele./17
. Eu quero paz./18. Eu quero que ele saía
da casa, e me deixe com a neta de 14 anos./20.
Que eles tirem ele da minha casa e me deixem
sossegada./23. Que ele pare de me ameaçar e
viver a vida dele./25. Penso porque deixei
acontecer isso tudo. Porque não andei pra frente.
Que ele me deixe e vá viver a vida dele e não
perturbe a minha. Se bem, que ele sempre viveu a
dele. Ele não tinha hora de chegar e de sair./27.
Porque a minha amiga falo
u:
- Se ficar o bicho
pega, se correr o bicho come. Eu quero sair da
casa./29. Que vocês tirem ele de perto de
24
33,80%
293
mim./32. Que agilize a minha separação./33. Que
ele me deixe em paz./40. Que ele saia da minha
vida./41. Que ele separe de mim./44. Não sei.
Espe
ro que ele saia e vá embora./48. Que tome as
providências. Primeiro, uma intimação. Que
tivesse uma lei, de que ele não possa chegar perto
de mim./50. Pegar o filho de volta e não ter que
-lo mais./56. Espero que a solução seja separar
para que eu possa viver em paz./60. Quero a
separação./63. Não quero mais ficar com ele./64.
Que ele deixe, eu viver minha vida./67. Que ele
me deixe em paz. Quero ter o direito de sair,
namorar, e que ele ajude os filhos como pai./68.
Espero que o relacionamento tenha um f
im, que a
gente entre num acordo./
4. Puniçao e correção
(corretivo)
10. Quero que ele seja punido e aprenda a
respeitar as pessoas./31 Que ele seja punido o
mais rápido para não aprontar mais./36. Quero
que ele pague por tudo o que ele fez comigo. Se
ele não pagar o que fez comigo, ele vai fazer com
outra. O que ele fez comigo é covardia./42. Que
ele pague pelo que fez. Meus filhos estão em
estado de choque, ele quebrou a casa toda./43. Eu
quero mudar a minha vida. Quero que ele leve
um corretivo./45. Que a polícia prenda ele. Pra
dar um basta nele tem que prender./47. Não vai
ser preso. Mas a intenção é que ele me agrediu
tanto e eu nunca fiz nada. E que se ele fizer de
novo, ele vai ter agravante. Vai dar uma dor de
cabeça para ele pegar advogado./54. Que o juiz
chame ele e explique pra ele que existe lei. Ele
não tem respeitado autoridade, eu não quero
mais./55. Que ele seja punido. Se bem que não
acontece nada./58. Espero que dêem um
corretivo nele (uma surra)./59. Que o prendam e
não sol
tem./62. Que ele fosse preso, pagasse pelo
que fez, e que não pudesse ver o filho, e que ele
se tratasse do alcoolismo./
12
16,90%
294
5. Direitos
13. Eu não larguei por medo dele, e dele não me
dar meus direitos. E por ele ser doente eu me
sentia obrigada a cuidar dele porque ele é doente.
Quero sair da casa, porque ele manda eu sair,
mas eu não vou ficar sem direito a casa./ 14. A
minha intenção, esperança é que se um dia eu
precisar eu seja atendida e tenha proteção. Ele fez
todas as ameaças./69. Espero que as autoridades
vejam isso./
03
4,22%
6. Não sabe
15. Não sabe./65. Não sei./ 37. Estou com medo
de seguir em frente. Estou deprimida, 20 anos de
pancada. Quando penso que tenho que encontrar
com ele é a mesma coisa de ter morrido alguém,
meu coração fecha. Ele pegou tudo que ela tinha
e vendeu. Eu tinha casa, meu dinheirinho. Tive
que vender até minhas máquinas de costura./61.
Eu não sei. Eu não estou bem. Primeiro preciso
de um tratamento./
04
5,63%
7. Que ela mude o
próprio
comportamento
19. Eu é que tenho que ser forte fazer tudo
certinho. Acho que tenho que ser mais paciente.
01
1,41%
Total
71
295
O que você acha que vai acontecer se você deixar o seu companheiro?
CATEGORIA
RESPOSTAS
FREQÜÊNCIA
1. Vida digna
1. Vou ser feliz. Vou morar num apartamento do filho
mais velho e devagar vou levando o caçula./ 3. Tudo de
bom, vou ter mais prazer de viver, sair, ser alguém na
vida, penso em estudar. /4. Minha vida vai ser
maravilhosa, vou viajar e meu filho me ajuda./5.
Terminar meus estudos. Fazer curso de Enfermagem.
Minhas filhas vão arrumar emprego. Vou continuar
trabalhando./ 9. Volto pra minha terra, vou estudar,
trabalhar, amadureci idéias. /10. Minha vida vai ser
boa, não vou mais ser agredida. Me sinto como um
passarinho que saiu da gaiola que ninguém vai me
trancar. /11. Que vai melhorar, penso em ir a luta
procurar um serviço, fazer curso, estudar./12. Vai ser
normal, vou trabalhar e tocar o barco pra frente. / 15 Vou
ficar mais sossegada, sem ninguém para jogar as coisas
na minha cara. /17. Vou ter paz, vou viver uma vida
digna, trabalhar e viver livre. Eu fui muito oprimida com
ele. /18. A vida vai ser melhor. Vou trabalhar e ajudar
minha neta. /20. Vou viver uma vida mais sossegada, e
trabalhar em roça, não de doméstica./ 25. Prime
iro
preciso sair do relacionamento. Vou trabalhar, continuar
trabalhando. Tenho vontade de fazer curso e também
dirigir, entrar numa outra escola./ 26. Vai melhorar, vou
viver minha vida com meus filhos e vou continuar
trabalhando. /27. Boa demais (sorri), vou poder
trabalhar, chegar em casa, não ter briga, vou poder
educar meus filhos. Minha mãe vai poder me visitar, vou
poder conversar com as pessoas. Vou comprar carro pra
andar com meus filhos./ 28. Vai ser melhor. Vou ter
sossego, privacidade. Vou poder sair de casa, ir a um
vizinho. Meus filhos vão ter mais liberdade. Minha
família melhora comigo./ 29. Boa, vou ter paz. Vou
chegar do serviço, fazer um leite quente e ninguém mexe
comigo./ 30. Vai ser uma vida normal se ele não tirar
nada de dentro de casa. Eu quero paz./ 31. Melhorar.
Vou entregar papel na rua./ 32. Vou me livrar dele, ser
independente. Penso em estudar, continuar trabalhando.
Uma mulher não nasceu pra ser, maltratada, humilhada
dentro do lar./ 33. Boa demais
durmo bem, não tomo
mais remédio, trabalho./36. Tudo de bom! Vou criar
meus filhos, por eles bonitinhos, trabalhar muito, vencer
e crescer na vida e ser feliz, porque nunca fui. Sei que
vou chegar em casa e não ter ninguém pra me espancar./
37. Eu não vou depender dele pra nada. Eu trabalho.
Acho que vou viver mais, não vou ter uma pessoa me
prejudicando. Eu não tenho alegria./38. Difícil, mas bem
melhor, bem mais tranqüila pra viver. Mais espaço,
46
296
liberdade de falar e de rir. Arrumar serviço e cuidar dos
filhos./39. Vai ficar, às mil maravilhas. Vai ficar boa.
Arrumo um serviço, coloco alguém pra olhar minha
filha./ 40. Eu vou passar com dificuldade, mas vou ser
mais feliz. É melhor do que ser maltratada./ 41. Terminar
a faculdade continuar trabalhando e seguindo a vida./43.
Eu quero trabalhar, cuidar dos meus filhos melhor./ 44.
Vai melhorar demais. Vou ter sossego pra dormir,
comer, trabalhar. Eu fico no serviço com a cabeça quente
pensando o que vai acontecer em casa./ 45. Será uma
maravilha. Vou poder ser feliz, ter minha vida. Qu
ero
encontrar um namorado./46. Se eu largar ele, ele vai
morrer. Eu dou conta de sobreviver financeiramente.
acho ruim de ter de vender a casa pra dividir, e o serviço
ficar longe. Vou me sacrificar./ 47. Vou ter tranqüilidade
pra estudar sossegada, vou ter sossego. Sou amparada na
casa da minha mãe, lá eu tenho harmonia./ 49. Penso que
vai ser melhor. Que não vou ter alguém pra me agredir e
chamar a atenção o tempo todo. Pretendo trabalhar e
ajudar os meus filhos./ 50. Tranqüila, trabalhar, cuidar
do filho, terminar a casa./ 51. Viver melhor. Cuidar bem
dos meus filhos e ter uma bela vida./53 Mudança de
vida. Vou voltar a estudar, vou ter mais segurança.
Porque eu, com a experiência que eu tive, eu quero me
corrigir. Estou com trauma, não quero namorar,
nem
casar./ 56. Felicidade e sucesso / e o mesmo pra ele./ 57.
deixei! Vida digna./ 58. Nada. A vida vai melhorar./
59. Já deixei! / 60. Uma paz, alegria. Vou ter maus
pedaços financeiramente. Vou ter liberdade, poder
receber a família em casa. Vou trabalhar e estudar. Vou
curtir os meus filhos que eu não curti./ 63. Vou pra
frente, ele me derruba./ 67. Financeiramente não vai
ser fácil. Tenho o objetivo de fazer um curso de
segurança, entrar em outra profissão pra ganhar mais.
Esse é o meu objetivo: ser feliz e criar meus filhos.
Gosto de rir./ 69. Vai ser excelente, excelente. Eu vou
trabalhar e viver pros meus filhos, porque homem eu não
quero mais./ 70. Vai ser melhor. Eu vou arrumar um
emprego, e vou começar a estudar o ano que vem. Vou
comprar as coisas pro meu filho. Eu tenho um filho com
problemas e ele nunca ajudou. Ele fala que vai tirar a
filha da escola pra ela não sair de casa./ 71. Vou ter paz,
sossego. Vou lutar, trabalhar e criar os filhos. Pretendo
estudar.
297
2. Vida
solitária e tr
iste
e sofrida
8. Não sei, vai ser uma vida sozinha, eu e minha
filha./19. Vai ser difícil minha vida por causa do
cotidiano./21. Um vazio./24. Vou me sentir inútil e
muito triste./34. Eu dou conta, trabalho, ele não me
nada mesmo. Vou ficar chateada./
55. Eu vou sofrer, mas
vou viver melhor. Mas acho que eu não dou conta de
ficar sem ele./ 62. Vai ser difícil financeira e
emocionalmente. Ainda o amo. Também a preocupação
de mãe é grande. Não vejo lado positivo./64. Ele não vai
superar, ele vai morrer de beber. Eu socorri ele uma
vez. Eu vou continuar sofrendo o resto da vida./
8
3. Medo
existencial,
vida incerta
6.
Vai ser difícil, não vai ser fácil. Não tenho noção./7.
Não sei o que vai ser. Acho que vou sair por uns tempos
pra dar uma descansada. Vou viajar pra Brasília./61.
Tenho medo de não dar conta de enfrentar a vida fora
sem um marido. Só que ele não quer me respeitar./
3
4. Medo de ser
perseguida
13. Depois que vi que posso ter uma vida digna
,
que seja
a vontade de Deus. Ele vai continuar fazendo
ameaça./14. Se ele me der sossego, vou ter uma vida
normal com meus filhos./16. Tenho medo dele me
perseguir. Eu não tenho intenção de viver errada, queria
que ele confiasse em mim./ 23. Vou ficar com muito
medo dele. Depois vai ser maravilhoso. Vou estar livre
dele, de coisa de apanhar e falar em bater./ 42. Ele vai
ser um inferno na minha vida. Não vai me dar sossego e
não vai me ajudar. Vou Ter que arrumar um
emprego./48. Tudo de bom, uma maravilha. Se ele
deixar de me perseguir./52. Sem ele vai ser um mar de
rosas, vou respirar fundo, vou ter sossego, vou dormir e
comer sossegada. Ele não me persegue quando ele
está tontinho. Separada dele eu tinha que mudar de
cidade./ 68. Não vai ser fácil em todos os sentidos. Ele
pode querer fazer maldade comigo. Ele sempre me
ameaça. Se eu largar ele, ele me mata. Ele não tem medo
de nada./
8
298
6. Dificuldades
econômicas
2. Agora vai pesar por causa do bebê de dois meses, mas
eu sou responsável, trabalhadeira./ 22. Vou ter que voltar
pra casa dos meus pais, perder a liberdade, ver o pai
bater na mãe, tudo que acontece é briga. Quando sai, o
pai tranca na rua e tenho um irmão drogado. não tem
liberdade, até pra tomar banho. Tudo o meu pai pega de
pau./ 35. Não vai ser fácil. É difícil criar uma fil
ha
sozinha. Pagar aluguel, escola pra ela. Votar pra casa dos
pais não é a mesma coisa. Talvez possa achar um
companheiro e criar minha filha. Ele é carinhoso com a
filha. Ele tem medo do que pode acontecer se eu arrumar
outro, e eu também. Padrasto pode estuprar a filha de
outro./54. Um pouco complicado. Ele é o meu
companheiro 18 anos. Ele conforto pra nós. Mas
entre ele beber e eu ficar com ele bêbado, eu prefiro
passar fome./ 65. Eu não consigo as assumir
responsabilidades, pagar conta, ir no médico./ 66. Não
faço a mínima idéia. Pensei que eu ia continuar
trabalhando, que ele fosse me dar pensão, mas eu estou
desempregada, e ele me tomou um filho.
6
Total
71
299
O que você acha que vai acontecer se você continuar com ele?
CATEGORIA
RESPOSTAS
FREQÜÊNCIA
1. Corre risco de
vida
ele a mata
Ele vai chegar a ponto de me matar / ele tentou me
matar / Eu vou pro caminho da morte. A frieza dele,
ele pode me matar / O pior
ele me matar / De certo
modo, vou morrer. Porque, do jeito que ele faz!
pode
me matar / Ele vai me matar / Vai sair morte. Vai me
matar / /Eu vou morrer. É morte na certa. Ou ele me
mata com as próprias mãos, ou eu caio de infarto /
Desde que começou só piorou. Eu vou ser personagem
do Linha Direta / Acho que ele pode até me matar. O
pior vai acontecer / , me bater, até me matar / Uma
tragédia. Eu não posso continuar. Ele vai me matar / É
capaz dele me matar, com a queixa / Ele ia me matar /
Ele vai me matar / Ele vai me matar, ele está
desequilibrado / ele me mata porque ele
é doido / Corro
risco de vida / Ele pode até me matar /
20
2. Ela o mata
Eu vou matar ele quando ele me fizer raiva / Não sei,
às vezes penso em matar ele. Eu fico lembrando das
coisas que ele já fez comigo. Sinto ódio, ódio, ódio /
2
3. Um pode
matar o
outro
Um acaba matando o outro / Um vai matar o outro / Ou
ele me mata, ou eu mato ele, e o meu lado emocional
vai acabar / Ou ele me mata, ou eu mato ele /
4
4. Vai piorar
Vai ser um inferno, cada vez pior / Vai ser cada vez
pior / Vai ser um inferno / Ele vai ficar bonzinho dois
meses e depois vai continuar e aumenta as agressões/
Pode não me matar, mas vai deixar meu corpo todo
cheio de cicatriz / A tendência é piorar. Ele vai me
bater mais. A liberdade acaba 100% / Piorar. Ia ter
briga, não ia poder sair / Nossa muito ruim, triste /
Mudança não vai ter. Vai ter briga igual a todos esses
anos. Pode haver uma tragédia / O mundo vai acabar,
vai ser angústia, tristeza e amargura. Vai ser vida
sofrida / As coisas iriam piorar e eu não daria conta de
me livrar dele / Não quero nem saber mais dele. Essa
possibilidade não existe / A gente vai brigar mais do
que brigava / Chegar à loucura / Vai piorar / Vou
continuar na angústia, uma nuvem escura em cima de
mim e de meus filhos / Tenho medo dele me agredir e
de meu filho matar ele / Tudo de ruim. Vou apanhar e
ser prisioneira no cativeiro. Ele me segue, me tortura.
17
300
5. continuará
sofrendo muito
Vou ficar presa, vou à igreja, e continuar trabalhando/
Acho que ia continuar do mesmo jeito, ele quando bebe
fica
agressivo. E a doença dele vai e volta. Eu tenho
pena dele, mas se eu ficar eu vou sofrer o resto da vida
/ As mesmas coisas que aconteceram estes anos todos:
sofrimento, a vida foi um calvário / Vai ser essa vida,
vou continuar a trabalhar pro pai dele. E ele vai
continuar me batendo / Eu vou apanhar, ele vai judiar
de mim / Continuando ou não a ameaça vai ser do
mesmo jeito / Vai continuar do mesmo jeito: as brigas,
a bebida e o ciúme por causa da impotência / Vai
continuar do mesmo jeito existindo os atr
itos / Vai ficar
na mesma bagunça. Falta de respeito / Vai ser um
transtorno. Ele vai brigar do mesmo jeito / Vai ser
briga constante e agressividade/ Pra viver com ele tem
que viver em casa, lavando, passando. Ele não vai
dar nada para ela mesmo / Vou viver a mesma vida
sofrida, que vivi estes 14 anos / que ele é agressivo,
vai continuar bebendo, agredindo, ameaçando / Ele vai
continuar me batendo e minha filha vai crescer vendo
isso / A mesma coisa. Ele vai ficar me traindo sempre /
Eu acho que vou morrer. Eu estou me apagando
interiormente. Minha filha pediu pra eu me arrumar /
Vai continuar igual tá. Briga e mais briga, e ciúmes / /
Eu vou ter que engolir tudo, vou ter que aceitar transar
com ele.
19
6. Vou ter que
mudar
Eu vou ter que mudar, passar a entender ele controlar
meus impulsos / Eu vou ter que esforçar, ter paciência.
2
7. Vamos tentar
pra ver se dá
certo
Que ele melhore, pare de usar droga / Penso que ele
muda, que os problemas podem acabar. Vamos mudar
de casa. Não vai ter telefone e a ex-mulher não vai
ligar / Se ele parar de beber e jogar no bicho, vai ser
boa. Se ele não parar de beber e jogar não pra ficar
junto / Eu não vou querer que ele fique no boteco
bebendo mais / Não sei como vai ser. Eu saí de casa e
não voltei para ainda. Vamos tentar mais uma vez
pra ver se certo. Também eu vejo que ele gosta de
mim / Está difícil pra ele melhorar. Mas eu vou dar
mais uma chance pra ele. Se ele continuar na
galinhagem eu desquito.
6
8. Suicídio da
mulher
Ou eu faço uma coisa comigo, me suicido. Ou ele me
perseguirá, até ficar me atormentando a vida toda /
1
Total
71
301
FICHA CATALOGRÁFICA
M357v Marques, Tânia Mendonça, 1956
-
Violência conjugal : estudo sobre a permanência da mulher em
relacionamentos
abusivos / Tânia Mendonça Marques.
Uberlâ
ndia,
2005
.
300f. : il.
Orientador: Marília Ferreira Dela Coleta
Dissertação (mestrado)
Universidade Federal de Uberlândia, Progra
-
Ma de Pós
-
Graduação em Psicologia.
Inclui biliografia.
1. Mulheres
Aspectos
psicológicos
Teses. 2. Violência conjugal
Teses. 3. Atribuição de causalidade
Teses. 4. psicologia social
Teses.
I. Dela Coleta, Marília Ferreira. II. Universidade Federal de Uberlândia.
Programa de Pós
-
Graduação em Psicologia. III. Título.
CDU:
396.1:159.9 (041.3)
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