Download PDF
ads:
THIAGO AUGUSTO SARRAF
A INFLUÊNCIA DO TRANSPORTE DE CARGAS MANUAIS SIMÉTRICAS E
ASSIMÉTRICAS DE DIFERENTES MAGNITUDES SOBRE A MARCHA EM
IDOSOS
CURITIBA
2006
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do grau de Mestre em
Engenharia Mecânica, pelo Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Mecânica,
Setor de Tecnologia, Universidade Federal
do Paraná.
Orientador: Prof. Dr. André Luiz Félix
Rodacki
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
2
Dedico esta dissertação à pessoa que desde o início da minha carreira acadêmica
sempre acreditou em mim, dando todo o suporte para que eu pudesse me dedicar
totalmente a este trabalho. Esta dissertação reconhece os esforços da pessoa mais
importante em minha vida, minha melhor amiga e companheira, minha esposa Caro.
ads:
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer ao meu orientador, Prof. Dr. André Luiz Félix
Rodacki, por me dar à oportunidade de realizar esta dissertação, pelas suas
discussões e críticas singulares e desafiadoras.
A todos os participantes que aceitaram serem sujeitos deste estudo. Com a
disposição deles pude realizar meu trabalho.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pelo
auxílio financeiro.
Aos meus amigos, os pesquisadores Prof. Ms. Valério Dezan e Prof. Msd. Clever
Provensi, que contribuíram com seus comentários, críticas e suporte técnico durante
todo o estudo.
Aos meus professores e amigos: Prof. Ms. Julimar Pereira e Dr. Neiva Leite. Que
não contribuíram de forma direta no trabalho, mas que me apontaram o caminho
fascinante da pesquisa.
Ao meu pai Fauzi e sua mulher Maria Inês, as minhas tias Munira e Samira, minha
tia Inês e aos meus sogros Ivete e João, que sempre estão do meu lado.
E agradeço sempre a minha esposa Caro. Eu te amo!
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
4
A menor distância entre dois pontos não é uma linha reta.
Albert Einstein
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
5
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................ 6
LISTA DE GRÁFICOS E QUADROS .................................................................. 7
LISTA DE TABELAS ........................................................................................... 8
RESUMO .............................................................................................................. 9
ABSTRACT .......................................................................................................... 10
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11
2 OBJETIVOS ..................................................................................................... 13
2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................ 13
2.1.1 Objetivos Específicos ................................................................................. 13
3 HIPÓTESES ..................................................................................................... 14
4 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................... 16
4.1 O ENVELHECIMENTO NO MUNDO ............................................................ 16
4.2 O PROCESSO DO ENVELHECIMENTO ..................................................... 18
4.3 AS QUEDAS NA MARCHA ........................................................................... 20
4.3.1 O Medo de Cair .......................................................................................... 24
4.4 A LOCOMOÇÃO HUMANA ........................................................................... 29
4.5 O CICLO DA MARCHA ................................................................................. 30
4.6 O CENTRO DE MASSA NA MARCHA ......................................................... 34
4.7 A MARCHA DO JOVEM ................................................................................ 36
4.8 A MARCHA DO IDOSO ................................................................................ 40
4.9 O TRANSPORTE DE CARGAS DURANTE A MARCHA ............................. 41
4.10 CONCLUSÃO DA REVISÃO DE LITERATURA ......................................... 44
5 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................... 46
5.1 PARTICIPANTES .......................................................................................... 46
5.2 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS ........................................................ 46
5.3 ANÁLISE CINEMÁTICA ................................................................................ 49
5.3.1 Área de coleta de dados ............................................................................ 49
5.3.2 Localização e Determinação dos Pontos Anatômicos ............................... 50
5.4 VARIÁVEIS DO ESTUDO ............................................................................. 53
5.4.1 Deslocamento Lateral do Centro de Massa ............................................... 58
5.4.2 Deslocamento do Tronco ........................................................................... 59
5.5 PROCESSAMENTO E TRATAMENTO DOS DADOS .................................. 60
5.5.1 Normalização e redução dos dados ........................................................... 60
5.6 ANALISE ESTATÍSTICA ............................................................................... 60
6 RESULTADOS ................................................................................................. 62
6.1 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS TEMPORAIS .................................................... 62
6.2 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS ESPACIAIS ....................................................... 63
7 DISCUSSÃO .................................................................................................... 69
7.1 AS VARIÁVEIS TEMPORAIS ....................................................................... 70
7.2 AS VARIÁVEIS ESPACIAIS ......................................................................... 72
7.3 A CINEMÁTICA DO TRONCO ...................................................................... 75
7.4 O CENTO DE MASSA .................................................................................. 76
8 CONCLUSÃO .................................................................................................. 78
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 80
APÊNDICE I ......................................................................................................... 87
APÊNDICE II ........................................................................................................ 90
APÊNDICE III ....................................................................................................... 105
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
6
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 MODELOS DE ENVELHECIMENTO ....................................... 19
FIGURA 2 DESLOCAMENTO DO CENTRO DE PRESSÃO DE IDOSOS
SEM HISTÓRICO DE QUEDAS E IDOSOS COM
HISTÓRICO DE QUEDAS QUE SOFREM DE
DESEQUILÍBRIOS ................................................................... 27
FIGURA 3 DIVISÕES DE UM CICLO DA MARCHA ................................. 31
FIGURA 4 PORCENTAGEM DAS SUBDIVISÕES DO APOIO NA
MARCHA ................................................................................. 34
FIGURA 5 REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DAS FASES DA
MARCHA ................................................................................. 34
FIGURA 6 DESLOCAMENTO DO CENTRO DE MASA NOS PLANOS
VERTICAL, HORIZONTAL E TRANSVERSO ......................... 35
FIGURA 7 PADRÃO DE ROTAÇÃO DA ARTICULAÇÃO DO QUADRIL
(A), JOELHO (B) E TORNOZELO (C) EM FUNÇÃO DO
CICLO DA MARCHA EM HOMENS COM IDADE ENTRE 20-
65 ANOS .................................................................................. 39
FIGURA 8 REPRESENTAÇÃO DO CALIBRADOR E ÁREA
CALIBRADA ............................................................................. 50
FIGURA 9 DESCRIÇÃO DA DETERMINAÇÃO DO CICLO DIREITO E
ESQUERDO DA MARCHA ...................................................... 53
FIGURA 10 REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA PARA A
DETERMINAÇÃO DA VARIAÇÃO ANGULAR DO
SEGMENTO DO QUADRIL, JOELHO E TORNOZELO .......... 56
FIGURA 11 REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA PARA A
DETERMINAÇÃO DOS PICOS ANGULARES DE ROTAÇÂO
DO QUADRIL (A), JOELHO (B) E TORNOZELO (C) .............. 57
FIGURA 12 REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA PARA A
DETERMINAÇÃO DO DESLOCAMENTO DO CENTRO DE
MASSA NO PLANO TRANSVERSO DURANTE O CICLO DA
MARCHA ................................................................................. 58
FIGURA 13 REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA PARA A
DETERMINAÇÃO DA VARIAÇÃO ANGULAR DO
SEGMENTO DO TRONCO NO PLANO FRONTAL
POSTERIOR (A) E SAGITAL DIREITO (B) ............................. 59
FIGURA 14 VALORES ANGULARES MÉDIOS DO TRONCO NO PLANO
CORONAL ANTERIOR (A) E SAGITAL (B) SOBRE AS SEIS
CONDIÇÕES ESPERIMENTAIS (0%, 5%D, 5%E, 5-5%,
10%D, 10%E) ...... 66
FIGURA 15 DESLOCAMENTOS ANGULARES MÉDIOS DAS
ARTICULAÇÕES DO TORNOZELO (A), JOELHO (B) E
QUADRIL (C) DIREITOS NAS SEIS CONDIÇÕES
EXPERIMENTAIS (0%, 5%D, 5%E, 5-5%, 10%D, 10%E) ...... 67
FIGURA 16 DESLOCAMENTOS ANGULARES MÉDIOS DAS
ARTICULAÇÕES DO TORNOZELO (A), JOELHO (B) E
QUADRIL (C) ESQUERDOS NAS SEIS CONDIÇÕES
EXPERIMENTAIS (0%, 5%D, 5%E, 5-5%, 10%D, 10%E) ...... 68
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
7
LISTA DE GRÁFICOS E QUADROS
GRÁFICO 1 PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO DA PROPORÇÃO DA
POPULAÇÃO DE 60 ANOS OU MAIS DE IDADE, SEGUNDO
O SEXO – BRASIL – 2000-2020 .............................................. 17
GRÁFICO 2 PORCENTAGEM DE IDIVÍDUOS DA COMUNIDADE QUE
NECESSITAM DE ASSISTÊNCIA NAS ATIVIDADES
BÁSICAS E DOMÉSTICAS DEVIDO A ALGUMA DOENÇA ... 20
QUADRO 1 TAXA DE LESÕES RESULTANTES DE QUEDAS EM
IDOSOS .................................................................................... 23
QUADRO 2 RESUMO DA AVALIAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DAS
QUEDAS EM IDOSOS ............................................................. 28
QUADRO 3 INTERVALOS DE TEMPO E FUNÇÕES DAS SUB-FASES
DA MARCHA ............................................................................ 33
QUADRO 4 REPRESENTAÇÃO DAS SEIS CONDIÇÕES
EXPERIMENTAIS – 0% (A), 5%D (B), 10%D (C), 5%E (D),
10%E (E), 5-5% (F) .................................................................. 48
QUADRO 5 REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA DETERMINAÇÃO
DOS PONTOS ANATÔMICOS NOS PLANO FRONTAL
ANTERIOR (A), FRONTAL POSTERIOR (B) E PLANOS
SAGITAL DIREITO (C) E SAGITAL ESQUERDO (D) ............. 52
QUADRO 6 VARIÁVEIS TEMPORAIS ANALISADAS NO PRESENTE
ESTUDO ................................................................................... 54
QUADRO 7 VARIÁVEIS ESPACIAIS ANALISADAS NO PRESENTE
ESTUDO ................................................................................... 55
QUADRO 8 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS TEMPORAIS DO SEGMENTO
DIREITO E ESQUERDO NAS DIFERENTES CONDIÇÕES
DE CARREGAMENTO (0%, 5%D, 5%E, 5-5%, 10%D, 10%E)
DE HOMENS COM MAIS DE 60 ANOS DE IDADE (n = 10) ... 64
QUADRO 9 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS TEMPORAIS DO SEGMENTO
DIREITO E ESQUERDO NAS DIFERENTES CONDIÇÕES
DE CARREGAMENTO (0%, 5%D, 5%E, 5-5%, 10%D, 10%E)
DE HOMENS COM MAIS DE 60 ANOS DE IDADE (n = 10) ... 65
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
8
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 CONSEQÜÊNCIAS DA QUEDA EM 92 HOMENS E 212
MULHERES ............................................................................... 22
TABELA 2 FATORES DE RISCO DE QUEDAS PARA INDIVÍDUOS COM
HISTÓRICO DE DUAS OU MAIS QUEDAS ............................. 26
TABELA 3 DESCRIÇÃO DAS VARIÁVEIS TEMPORAIS E ESPACIAIS
DA MARCHA EM HOMENS COM IDADE ENTRE 20- 65
ANOS ......................................................................................... 37
TABELA 4 MÉDIA E DESVIO PADRÃO DE VARIÁVEIS TEMPORAIS E
ESPACIAIS DA MARCHA EM JOVENS E IDOSOS ................. 38
TABELA 5 VARIÁVEIS TEMPORAIS E ESPACIAIS MÉDIAS DA
MARCHA EM 64 HOMENS COM IDADE ENTRE 20 – 87
ANOS ......................................................................................... 40
TABELA 6 VARIÁVEIS CINEMÁTICAS DA MARCHA MÉDIAS SOBRE
CINCO CONDIÇÕES EXPERIMENTAIS EM HOMENS (n =
11) E MULHERES (n = 11) ........................................................ 43
TABELA 7 ESCALA DE PERCEPÇÃO DE ESFORÇO MÉDIAS OBTIDAS
DURANTE A EXECUÇÃO DAS SEIS CONDIÇÕES
EXPERIMENTAIS ......................................................................
62
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
9
RESUMO
O objetivo deste estudo foi investigar as características cinemáticas da marcha em
idosos durante o transporte de cargas manuais (de maneira simétrica e assimétrica)
de diferentes pesos (5% e 10% do peso corporal). Dez idosos, saudáveis (idade
média de 64,3 anos) foram voluntários para participar do estudo, envolveu seis
condições experimentais. As condições experimentais foram realizadas com a
combinação dos seguintes fatores: 5% do peso corporal e 10% do peso corporal que
foram transportados seguros pelas mãos direita e esquerda para representar a
condição assimétrica. Na condição simétrica, uma carga de 10% do peso corporal foi
transportada (5% em cada mão). Em adição, uma condição sem carga (0%) foi
analisada para representar a condição padrão. O lado de carregamento da carga
(direito ou esquerdo) influenciou as variáveis temporais da marcha. A cadência
aumentou e o tempo de suporte duplo diminuiu. As variáveis espaciais da marcha
foram influenciadas pelo lado de carregamento e pela magnitude da carga. A
velocidade do calcanhar e os deslocamentos anteriores e laterais do tronco
aumentaram, enquanto que o deslocamento lateral do centro de massa diminuiu. A
cinemática do quadril, joelho e tornozelo permaneceram inalteradas nas seis
condições experimentais. Estes achados indicam que a parte superior do corpo
(cabeça, tronco e braços) tem uma importante participação para reorganizar a
postura da marcha dos idosos nas diferentes condições de carregamento. Os idosos
inclinaram o tronco para minimizar os deslocamentos do centro de massa que
ocorreram devido à adição de cargas externas. Esta estratégia foi realizada para
reduzir as alterações do aparato locomotor para manter um melhor equilíbrio
dinâmico durante o transporte de cargas manuais. Os idosos devem carregar cargas
de menor magnitude de maneira simétrica em ambas às mãos. As alterações
observadas no presente estudo indicam que cargas maiores que 10% do peso
corporal devem ser evitadas. Estes achados contribuem para o desenvolvimento de
estratégias ergonômicas designadas para prevenir o risco de lesões durante
atividades ocupacionais e de vida diárias.
Palavras-chave: marcha, envelhecimento, carregamento de cargas, ergonomia.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
10
ABSTRACT
The aim of this study was to investigate the gait kinematics characteristics in elderly
subjects during the carriage of manual loads (symmetric and asymmetric) of different
weights (5 and 10% of body weight). Ten healthy elderly male participants (aged 64,3
years) volunteered to participate of the study, which involved six experimental
conditions. The experimental conditions were obtained from the combination of the
following factors: 5% body weight, 10% body weight that were held in the left and the
right hand to represent the asymmetric condition. In the symmetric condition, loads
were carried in both hands, i.e., 10% body weight (5% each hand). In addition an
unloaded condition (0%) was also analised to represent a base-line condition. The
side the load was carried (left or right) influenced the temporal variables of the gait.
The cadence increased and the double support time decreased. The spatial gait
variables were influenced by the carriage side and by the load magnitude. The heel
strike velocity, anterior and lateral trunk leaning increased, while the lateral
displacement of the centre of mass diminished. The hip, knee and ankle kinematics
remained unchanged across experimental conditions. These findings indicated that
the upper part of the body (head, trunk and arms) play an important role to
reorganize gait’s posture of the elderly in different load carriage conditions. The
elderly leaned the trunk to minimize the centre of mass displacements due to the
addition of external loads. This strategy was performed to reduce changes in the
locomotors apparatus to keep a better dynamic balance while manual load carriage.
Elderly subjects should carry loads of small magnitude in a symmetric way, i.e., with
the load distributed in both hands. The changes observed in the present study
indicated that loads greater than 10% body weigh should be avoided. These findings
contribute to the development of ergonomic strategies designed to prevent the risk of
injury during occupational and daily life activities.
Key-words: gait; aging; load carriage; ergonomics.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
11
1 INTRODUÇÃO
Atualmente tem-se observado um fenômeno mundial no crescimento do
número da população idosa (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA - IBGE, 2002). No Brasil, 8,6% da população é constituída por idosos,
e estima-se que esta porcentagem aumente para 13% em 2020 (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE, 2000). O rápido
crescimento desta população influencia os fatores sociais e econômicos da
população (DYCHTWALD, 2002), de modo que o envelhecimento está relacionado
ha um aumento nos gastos médicos (SCHNEIDER e GURALNIK, 1990).
Paralelamente, o aumento na expectativa de vida também está associado ao
aumento no número de idosos que desempenham atividades profissionais
(DYCHTWALD, 2002). Assim, este rápido crescimento desta população faz com que
haja um maior foco de atenção na melhoria da saúde e capacidade funcional do
idoso (CECIL, 1992).
O processo do envelhecimento é resultado da interação de uma série de
variáveis, tais como fatores genéticos, estilo de vida e doenças, que interagem entre
si e influenciam no envelhecimento saudável (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS
MEDICINE - ACSM, 1998). Diminuições na força muscular, redução da massa óssea
e perda de flexibilidade têm sido descritos como fenômenos que acompanham o
processo de envelhecimento (ACSM, 1998), assim como o aumento no tempo de
reação e recuperação e alterações no sistema sensório e motor (TINETTI,
SPEECHLEY, GINTER, 1988). Tais alterações podem modificar a percepção e o
controle de movimentos (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE - ACSM,
2000) e afetar o equilíbrio e a estabilidade de locomoção do idoso (MURRAY,
KORY, CLARKSON, 1969). Estudos demonstram que idosos apresentam aumentos
da oscilação postural (CAMPBELL, BORRIE, SPEARS, 1989; OVERSTALL et al.,
1977), redução na habilidade de manutenção da postura e redução no equilíbrio
dinâmico (NEVITT et al., 1989). Estas alterações são apontadas como fatores de
quedas durante a locomoção do idoso.
Associado a estas alterações internas decorrentes do processo do
envelhecimento, fatores externos como a aplicação de cargas externas também
altera a postura do indivíduo (WU, MAC LEOD, 2001), deste modo, podendo afetar o
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
12
equilíbrio do idoso durante a locomoção. Contudo, o transporte de cargas é
indispensável em muitas tarefas ocupacionais e atividades de vida diária
(KINOSHITA, 1985), entre o qual, o método de transporte realizado por meio de uma
mão (CROSBIE, FLYNN, RUTTER, 1994). Durante o carregamento de cargas, o
equilíbrio dinâmico pode ser alterado devido a uma assimetria postural imposta pelo
diferente arranjo das estruturas corporais que ocorrem para acomodar a carga, como
por exemplo, os desvios laterais do tronco (FOWLER, RODACKI, RODACKI, 2006) e
do centro de massa durante o transporte de cargas assimétricas (KINOSHITA, 1985;
WU, MAC LEOD, 2001) e simétricas (DEVITA, HONG, HAMILL, 1991). Desta forma
a necessidade de (re-) estruturação do equilíbrio pode levar a outras alterações no
padrão dinâmico da marcha. As alterações no padrão dinâmico da marcha
decorrentes do carregamento de cargas pode ser um fator adicional de risco de
queda para os idosos.
A queda é uma das principais causas de lesões acidentais na população
idosa (BERG et al, 1997), sendo um fator considerável para morbidade e
mortalidade do idoso (BAKER, 1985). A cada ano, 20% (GEHLSEN e WHALEY,
1990) a 30% (TINETTI, 1988) das pessoas com mais de 60 anos de idade sofrem
episódios de quedas. Aproximadamente 50% das quedas ocorrem durante a marcha
(MAKI e MCILROY 1996). Ao sofrer uma queda, os idosos estão propensos a sofrer
diversos tipos de lesões (STEL et al., 2004), estas que podem levar a um
acamamento prematuro (ROBBINS et al., 1989), gerando assim, diminuições nas
suas atividades de vida diária, diminuição na mobilidade e perda na independência
(LACHMAN et al., 1998).
Com base nestes argumentos, o estudo dos padrões e alterações que
ocorrem na marcha do idoso é um importante indicativo para determinação dos
processos que levam às quedas.
Desta forma, o objetivo do presente estudo foi verificar a influência do
transporte de cargas manuais simétricas e assimétricas de diferentes magnitudes
sobre a marcha em idosos. O conhecimento de possíveis fatores de risco de quedas
associados ao carregamento de diferentes tipos de carga nas tarefas ocupacionais e
do cotidiano dos idosos pode levar a um melhor desenvolvimento de estratégias
preventivas durante a realização da tarefa, assim, evitando ou minimizando padrões
de comportamento que facilitem a incidência de quedas em nesta população.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
13
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
O objetivo deste estudo foi determinar a influência do transporte de cargas
manuais simétricas e assimétricas de diferentes magnitudes sobre varáveis
espaciais e temporais da marcha em homens idosos, saudáveis a partir de variáveis
cinemáticas.
2.1.1 Objetivos Específicos:
a) Determinar e comparar as variáveis temporais (tempo do ciclo, tempo
do passo, tempo de duplo apoio, tempo de balanço e cadência),
obtidas durante a aplicação de cargas manuais simétricas e
assimétricas de diferentes magnitudes sobre a marcha em idosos;
b) Determinar e comparar as variáveis espaciais (comprimento do ciclo,
comprimento do passo, largura da passada, velocidade de contato do
calcanhar no solo no eixo x, pico de elevação do quinto metatarso,
picos angulares do tornozelo, joelho e quadril), obtidas durante a
aplicação de cargas manuais simétricas e assimétricas de diferentes
magnitudes sobre a marcha em idosos;
c) Determinar e comparar os movimentos da coluna vertebral nos planos
sagital e frontal durante a aplicação de cargas manuais simétricas e
assimétricas de diferentes magnitudes sobre a marcha em idosos;
d) Determinar e comparar os deslocamentos laterais do centro de massa
(deslocamentos no plano transverso) durante a aplicação de cargas
manuais simétricas e assimétricas de diferentes magnitudes sobre a
marcha em idosos;
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
14
3 HIPÓTESES
Para testar os objetivos propostos neste estudo, foram criadas duas hipóteses
principais, que estão associadas a aspectos temporais e espaciais do movimento.
Estas hipóteses principais foram sub-divididas em um conjunto de hipóteses que
permitem testar um número de variáveis específicas. As hipóteses específicas foram
levantadas a partir dos resultados encontrados no estudo piloto.
H
1
O transporte de cargas manuais de diferentes magnitudes realizado de forma
simétrica e assimétrica altera as variáveis cinemáticas temporais durante a marcha
em indivíduos idosos.
H
1.1.
: O tempo de duplo apoio diminui a medida em que a magnitude da
carga é aumentada.
H
1.2.
: A velocidade da marcha diminui a medida em que a magnitude da
carga é aumentada.
H
1.3.
: A cadência aumenta a medida em que há um aumento na magnitude
da carga transportada.
H
2
O transporte de cargas manuais de diferentes magnitudes realizado de forma
simétrica e assimétrica altera as variáveis cinemáticas espaciais durante a marcha
em indivíduos idosos.
H
2.1.
: A velocidade de contato do calcanhar esquerdo no solo no eixo x
aumenta com cargas de 10% do peso corporal carregadas de forma
assimétrica pela mão esquerda.
H
2.2.
: Durante o transporte de cargas assimétricas, ocorre um aumento na
velocidade de contato do calcanhar no solo no eixo x no mesmo
segmento em que a carga é transportada quando comparado ao pé
oposto.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
15
H
2.3.
: O pico de flexão do joelho na sub-fase de resposta a carga aumenta a
medida em que a magnitude da carga imposta é aumentada.
H
2.4.
: A coluna vertebral, observada no plano frontal sofre uma inclinação
contra-lateral em resposta ao lado da aplicação da carga, a qual é
acentuada com a aplicação de cargas de maior magnitude.
H
2.5.
: A coluna vertebral, observada no plano sagital sofre um inclinação
anterior em decorrência ao transporte de carga, a qual é acentuada
com a aplicação de cargas de maior magnitude.
H
2.6.
: O transporte assimétrico de cargas diminui o deslocamento lateral do
centro de massa para o lado do carregamento da carga, quando
comparado com o deslocamento lateral para o lado oposto.
H
2.7.
:
O transporte assimétrico de cargas de maior magnitude diminui o
deslocamento lateral do centro de massa para o lado de carregamento
da carga, quando comparado com a condição sem carga.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
16
4 REVISÃO DE LITERATURA
Este capítulo tem por objetivo fornecer um suporte teórico sobre a marcha do
idoso, a marcha do jovem, o transporte de cargas durante a marcha e algumas
alterações que levam as quedas. Primeiramente, encontram-se apresentados os
dados sobre o envelhecimento no mundo. Após esta primeira parte encontra-se
alguns mecanismos do processo do envelhecimento, mecanismos da marcha,
relação da queda em função do envelhecimento e problemas que os idosos sofrem
após um episódio de queda.
4.1 O ENVELHECIMENTO NO MUNDO
Atualmente, tem-se observado um fenômeno mundial no crescimento da
população idosa, tanto em números absolutos como relativos (IBGE, 2002). Nos
países desenvolvidos, a porcentagem dos idosos equivale a aproximadamente 12%
da população (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005). Nos Estados Unidos, no
ano de 1900, a população com mais de 65 anos de idade representava 4% da
população. Atualmente representa 12,7% (CECIL, 1992). No Brasil, atualmente,
8,6% da população é constituída por idosos, totalizando 14 milhões de pessoas com
mais de 60 anos de idade (IBGE, 2000). No começo da década de 90 este grupo
representava 7,3% da população brasileira, sendo esperado para 2020 um
crescimento no número de idosos a 13% da população (aproximadamente 30
milhões de idosos) (IBGE, 2000). O GRÁFICO 1 demonstra a projeção do
crescimento da população idosa no Brasil para 2020.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
17
GRÁFICO 1 – PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO DA PROPORÇÃO DA POPULAÇÃO DE 60 ANOS
OU MAIS DE IDADE, SEGUNDO O SEXO – BRASIL – 2000-2020
Total de idosos Mulheres Homens
O rápido crescimento no número de idosos influencia os fatores sociais e
econômicos da população (DYCHTWALD, 2002). Este aumento na expectativa de
vida faz com que os idosos mantenham ou procurem outras atividades profissionais
mesmo depois de aposentados (DYCHTWALD, 2002).
O aumento no número de idosos de uma população é acompanhado por um
alto impacto nos custos médicos, devido aos idosos estarem mais propensos a
desabilidades (SCHNEIDER e GURALNIK, 1990). Nos Estados Unidos, dados de
1997 demonstram que a população idosa, que representava aproximadamente 12%
da população total, é responsável por 33% das internações hospitalares, 44% de
todos os dias passados no hospital e pela maioria das consultas médicas
(ANDREOLI et al., 1997).
Deste modo, este rápido crescimento desta população faz com que ocorra um
maior foco de atenção na melhoria da saúde e capacidade funcional do idoso
(CECIL, 1992). Assim, diversos estudos envolvendo a população idosa têm por
objetivo desenvolver métodos preventivos para que estes alcancem e mantenham
adequados níveis de função física e mental, criando um estado de saúde que
permita alcançar sua máxima expectativa de vida ativa (KLIGMAN, 1992).
FONTE: modificado de: IBGE (2002)
Ano
Porcentagem da população
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
18
4.2 O PROCESSO DO ENVELHECIMENTO
São várias as teorias que procuram explicar o processo do envelhecimento:
teorias relacionadas a alterações nas proteínas, teoria dos radicais livres, teoria dos
sistemas orgânicos (teoria do marcapasso), que interagem entre si e com o meio,
influenciando no envelhecimento (CECIL, 1992). Contudo, não existe uma definição
concisa a respeito do processo do envelhecimento normal (ANDREOLI et al., 1997).
Durante o processo do envelhecimento há uma diminuição gradativa da capacidade
física do idoso, este que inclui a perda na força muscular, redução da massa óssea e
perda de flexibilidade (ACSM, 1998), como uma diminuição no processo sensório e
motor dos idosos (DUNCAN et al, 1993), o que pode afetar o equilíbrio e estabilidade
do idoso durante a locomoção (MURRAY, KORY, CLARKSON, 1969).
No envelhecimento, a genética, o estilo de vida e as doenças interagem entre
si, influenciando o envelhecimento saudável (ACSM, 2000). Esta interação leva a um
número de modelos de envelhecimento (WOOLLACOTT e SHUMWAY-COOK, 1989
apud SHUMWAY-COOK e WOOLLACOTT, 1995). A FIGURA 1 descreve o
envelhecimento como uma perda linear na função neural em todos os níveis do
sistema nervoso central (SNC), e que a partir de um ponto, diversas doenças
passam a se tornar evidentes.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
19
FIGURA 1 – MODELOS DE ENVELHECIMENTO
O envelhecimento saudável está associado a fatores primários (genética) e
secundários (estilo de vida e doenças), estes que afetam a função neural do
indivíduo (TINETTI, RICHMAN, POWEL, 1990).
O processo do envelhecimento está associado a um aumento no número de
doenças agudas e crônicas, o que torna maior o risco do idoso perder sua
independência (ANDREOLI et al., 1997). Devido a algum tipo de doença crônica no
envelhecimento, os indivíduos vão adquirindo limitações nas atividades básicas de
vida diária, como andar, tomar banho, vestir-se, comer, sair, etc, como também sofre
de limitações para atividades domésticas, tais como fazer compras, cuidar da casa,
fazer refeições, etc, estas limitações aumentam de acordo com a idade do indivíduo
(CECIL, 1992). A porcentagem dos adultos e idosos que necessitam de assistência
nas atividades básicas e domésticas devido a alguma doença em função da idade
encontram-se expressos no GRÁFICO 2.
Limiar de
Parkinson
Envelhecimento Normal
Idade
Função Neural
FONTE: modificado de: Woollacott e Shumway-Cook, 1989 apud Shumway-Cook e Woollacott (1995)
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
20
GRÁFICO 2 – PORCENTAGEM DE IDIVÍDUOS DA COMUNIDADE QUE NECESSITAM DE
ASSISTÊNCIA NAS ATIVIDADES BÁSICAS E DOMÉSTICAS DEVIDO A ALGUMA
DOENÇA
FONTE: Modificado de: Cecil (1992)
NOTA: atividades básicas: andar, tomar banho, vestir-se, usar o banheiro, passar de cama para a
cadeira, comer; atividades domésticas: fazer compras, cuidar da casa, providenciar refeições, lidar
com dinheiro.
Em resumo, alterações nos fatores intrínsecos e extrínsecos no processo do
envelhecimento podem diminuir o controle do equilíbrio do indivíduo idoso (LIPSITZ
et al., 1991). Esta perda no equilíbrio pode levar a quedas (CAMPBEL, 1989), e esta
queda pode levar a uma dependência do idoso nas suas atividades diárias
(ANDREOLI et al, 1997). Também existe uma interação entre fatores de risco
intrínsecos, por exemplo, a idade e doenças, com fatores de meio ambiente, que
podem levar a situações de risco de quedas (AMERICAN GERIATRICS SOCIETY et
al., 2001).
4.3 AS QUEDAS NA MARCHA
As quedas estão entre os mais comuns e sérios problemas entre pessoas
idosas (TINETTI, SPEECHLEY, GINTER, 1988; BERG et al, 1997), sendo que
aproximadamente 50% ocorrem durante a marcha (MAKI e MCILROY 1996). A
45-64 65-74 75-84 85+
Percentagem
2
5.3
11.4
34.8
2.5
5.7
14.2
39.9
0
10
20
30
40
IDADE
Atividades básicas
Atividades domésticas
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
21
maior freqüência e severidade das quedas ocorrem após os 60 anos de idade
(AMERICAN GERIATRICS SOCIETY et al., 2001), ocorrendo a cada ano entre 20%
(GEHLSEN e WHALEY, 1990) a 30% da população idosa (TINETTI, 1988), podendo
subir para 40% em indivíduos com mais de 80 anos de idade (PRUDHAM e EVANS,
1981), estando também entre a principal causa de mortes acidentais neste grupo
etário (BAKER, 1985).
As lesões acidentais que ocorrem na população adulta e idosa é a quinta
causa de morte nos Estados Unidos, perdendo apenas para causas
cardiovasculares, neoplasias, AVC, e doenças pulmonares, sendo a queda
responsável por dois terços destas mortes (AMERICAN GERIATRICS SOCIETY et
al., 2001).
Estima-se anualmente, um prejuízo de aproximadamente 50 bilhões de
dólares devido a dias de trabalho perdidos, bem como a ocorrência de morte do
indivíduo que sofreu algum tipo de queda acidental (RUNGE, 1993). Uma projeção
para o ano de 2020 indica que os custos diretos e indiretos com lesões decorrentes
de quedas nos Estados Unidos alcançarão a quantia de 85 bilhões de dólares
(ENGLANDER, HODSON, TERREGROSSA, 1996). Do total deste gasto, 24% dos
são destinados ao seguro do trabalhador que sofreu algum escorregão ou tropeço
ocasionando uma queda (LEAMON e MURPHY, 1995). Estes dados demonstram os
custos que a queda do trabalhador gera para a indústria.
Ao sofrer uma queda, os indivíduos sofrem diversas lesões, entre feridas
superficiais, contusões e fraturas no quadril (QUADRO 1). Stel et al. (2004), verificou
em 304 indivíduos entre homens e mulheres que sofreram alguma queda que 23,5%
dos indivíduos necessitaram de algum tipo de serviço de saúde, 17,2% necessitaram
de algum tratamento, 37% dos indivíduos tiveram alguma diminuição na função e
que aproximadamente 17% tiveram uma diminuição nas atividades sociais (TABELA
1).
O QUADRO 1 demonstra os resultados encontrados em estudo realizado por
Sattin et al. (1990), referentes as lesões que os idosos sofrem em conseqüência a
uma queda enquanto a TABELA 1, demonstra os resultados do estudo de Stel et al
(2004) referentes as lesões, utilização de serviços de saúde, tratamento e
diminuição na função que os idosos sofrem após um episódio de queda.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
22
TABELA 1 – CONSEQÜÊNCIAS DA QUEDA EM 92 HOMENS E 212 MULHERES
Total
(n = 304)
Mulheres
(n = 212)
Homens
(n = 92)
Conseqüência da queda
n % n % n %
Conseqüências físicas
Alguma lesão física 139 68,1 88 78,6 51 55,4*
Fratura 7 3,4 3 2,7 4 4,3
Feridas abertas 60 29,4 33 29,5 27 29,3*
Equimose 87 42,6 60 53,6 27 29,3
Contusão 5 2,5 3 2,7 2 2,2
Torção 2 1,0 1 0,9 1 1,1
Lesão cerebral 3 1,5 2 1,8 1 1,1
Lesão muscular 7 3,4 4 3,6 3 3,3
Dor 10 4,9 6 5,4 4 4,3
Utilização de serviços de saúde
Algum serviço de saúde 48 23,5 32 28,6 16 17,4
Clínico geral 43 21,2 29 25,9 14 15,2
Hospital 16 7,9 11 9,8 5 5,4
Reabilitação 1 0,5 0 0 1 1,1
Enfermeira em casa 2 1,0 1 0,9 1 1,1
Descanso em casa 1 0,5 1 0,9 0 0
Ajudado pelo parceiro 7 3,7 4 3,6 3 3,3
Tratamento
Algum tratamento 35 17,2 23 20,5 12 13,0
Medicação 21 10,3 15 13,4 6 6,5
Cirurgia 3 1,5 2 1,8 1 1,1
Fisioterapia 13 6,4 9 8,0 4 4,3
Ajuda para andar (ex. bengala) 14 6,9 8 7,1 6 6,5
Diminuição na função
Alguma diminuição na função 76 37,3 54 48,2 22 23,9*
Diminuição no status funcional 72 35,3 51 45,6 21 22,8*
Diminuição nas atividades sociais 34 16,7 26 23,3 8 8,7*
Diminuição nas atividades físicas 31 15,2 24 21,4 7 7,6*
FONTE: Modificado de: Stel et al. (2004)
NOTA: * diferenças entre homens e mulheres (p < 0,05)
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
23
QUADRO 1 – TAXA DE LESÕES RESULTANTES DE QUEDAS EM IDOSOS
Ao observar o QUADRO 1, pode-se verificar que os episódios de fratura no
quadril como conseqüência de uma queda encontra-se como uma das maiores taxas
de lesões tanto em homens como em mulheres. As fraturas no quadril estão entre as
lesões mais comprometedoras nos idosos (PRINCE et al., 1997). A partir dos 50
anos de idade, a porcentagem de risco de um indivíduo sofrer uma fratura no quadril
aumenta em quatro vezes por década (GRISSO et al., 1991). Este aumento está
Fraturas no crânio
Fraturas no tronco e pescoço
Fraturas no membro superior
Fraturas no quadril
Outras fraturas nos MMII
Feridas na cabeça
Feridas nos membros superiores
Feridas nos membros inferiores
Outras feridas
Deslocamentos
Torções
Lesões superficiais
Concusões
Contusões
Outras lesões
Não especificado
0 5 10 15 20
Taxa de lesão anual (por 1000 indivíduos)
FONTE: modificado de: Sattin et al, (1990)
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
24
associado às quedas que os indivíduos idosos sofrem (ANDREOLI et al., 1997). Os
episódios de fraturas no quadril são mais observados em mulheres idosas, sendo
verificado uma incidência de 2% de fraturas ao ano nas mulheres com mais de 85
anos de idade (FARMER et al., 1984). Miller (1978) e Kenzora et al. (1984),
observaram que aproximadamente 20% das mulheres que sofrem fraturas no quadril
não sobrevivem ao primeiro ano após o incidente e outras 20% necessitam da
utilização de algum acessório auxiliar para a locomoção, devido ao fato de não
recuperarem sua marcha normal após o episódio.
Aproximadamente 50% dos indivíduos idosos que sofrem uma fratura no
quadril requerem um longo período de cuidado e recuperação, este que pode
diminuir sua independência para atividades do cotidiano (PRINCE et al., 1997).
Outro problema relacionado a uma fratura no quadril, seria o fato do longo
período de repouso necessário para recuperação da lesão. Este período prolongado
de acamamento aumenta o risco do surgimento de outras complicações clinicas do
paciente, como desidratação, pneumonia, retenção urinária e infecções (ANDREOLI
et al, 1997), podendo ocasionar uma diminuição na função do indivíduo idoso, bem
como uma enfermagem prematura em sua casa (TINETTI, 1986).
4.3.1 O medo de cair
As quedas não afetam apenas a questão física dos indivíduos, mas também
os fatores sociais e psicológicos (AMERICAN GERIATRICS SOCIETY et al., 2001).
Em casos mais extremos, indivíduos que sofreram alguma queda reduzem as
atividades de vida diária, devido ao medo de sofrer outra queda, o que leva a uma
diminuição na mobilidade e gera uma perda na independência (LACHMAN et al.,
1998).
Stell et al. (2004), observaram em idosos que sofreram alguma queda que
35,3% reportaram uma diminuição no status funcional, 16,7% diminuíram suas
atividades sociais fora de casa e 15,2% diminuíram suas atividades físicas habituais
(TABELA 1). Nevitt et al. (1989) observaram que aproximadamente 50% dos idosos
que sofreram alguma queda passaram a ter limitações nas atividades de vida diária,
destes, um quarto tiveram limitações devido à queda (que gerou algum tipo de
lesão), e 10,4% tiveram limitações devido ao medo de sofrer outra queda. Também
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
25
foi observado um aumento na dependência dos idosos que sofreram alguma queda,
por exemplo, aproximadamente 8% dos idosos passaram a necessitar de ajuda para
levantar da posição sentada no solo para a posição em pé.
Após um episódio de queda, os idosos sentem medo de sofrer uma outra
queda e tendem a adotar um padrão diferente de marcha, contudo, esta alteração no
padrão da marcha faz com que os idosos fiquem mais propensos a outros episódios
de quedas (TINETTI et al., 1994). Nos estudos realizados por Gehlsen e Whaley
(1990) foi observado que indivíduos que sofreram alguma queda alteram seu padrão
da marcha. Após sofrer uma queda, os indivíduos tendem a diminuir a velocidade e
o comprimento da passada e a aumentar a largura da base de suporte na fase do
duplo apoio. Os autores concluíram que os idosos alteram seu padrão da marcha
como medida compensatória para buscar uma maior estabilidade durante a
locomoção.
Deste modo, estudos demonstram que o medo de cair está associado a
anormalidades na marcha, alterações no equilíbrio, redução nos níveis de atividade
e estado de saúde debilitado (MAKI, 1997), de modo que o medo de cair dos
indivíduos idosos foi identificado como um fator de risco independente para
desabilidades (BURKER et al., 1995), o que leva a uma diminuição na qualidade de
vida (LAWRENCE et al., 1998), e diminuição na mobilidade (VELLAS et al., 1997).
Assim, ao sofrer uma queda, os indivíduos idosos alteram seu padrão na marcha, e
deste modo, estão mais propensos a sofrer uma outra queda. A TABELA 2
demonstra os fatores de risco de quedas em indivíduos com histórico de duas ou
mais quedas. Nesta tabela pode-se observar que os indivíduos com maior
propensão a sofrer outra queda são aqueles que sofreram alguma queda com lesão
no último ano e que, alterações na marcha aumentam para 2,3 vezes o risco do
indivíduo sofrer outra queda.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
26
TABELA 2 – FATORES DE RISCO DE QUEDAS PARA INDIVÍDUOS COM HISTÓRICO DE DUAS
OU MAIS QUEDAS
Fator de risco Risco relativo
Idade > 80 anos 1,7
> 3 quedas no último ano 2,2
> uma queda com lesão no último ano 2,6
Exame fisioterapêutico
Tônus debilitado da musculatura do joelho 2,4
Marcha anormal 2,3
Performance neuromuscular
Velocidade da marcha < 0,6 m/s 1,6
> 1 anormalidade na marcha 2,0
FONTE: Modificado de: Nevitt et al. (1989).
A FIGURA 2 demonstra as alterações no equilíbrio dos indivíduos idosos que
sofreram algum episódio de queda comparados com indivíduos que não possuem
histórico de quedas (SHUMWAY-COOK et al., 1997). O maior deslocamento do
centro de pressão nos idosos que já sofreram alguma queda demonstra uma
perturbação no seu equilíbrio estático, este que influencia no equilíbrio dinâmico
podendo levar a ocorrência de outra queda.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
27
FIGURA 2 – DESLOCAMENTO DO CENTRO DE PRESSÃO DE IDOSOS SEM HISTÓRICO DE
QUEDAS E IDOSOS COM HISTÓRICO DE QUEDAS QUE SOFREM DE
DESEQUILÍBRIOS
Em resumo, alterações observadas no padrão da marcha estão associadas
com o aumento no risco de quedas (TINETTI, 1988). A etiologia das quedas é
multifatorial, incluindo a deterioração visual, doença neurológica ou vestibular,
hipotensão postural, diminuição da massa muscular, doença articular e vários
distúrbios dos pés (ANDREOLI et al., 1997). Assim uma queda é freqüentemente
sinal de outras doenças ou incapacidades do indivíduo, devendo estes fatores ser
avaliados, e, na medida do possível, corrigidos para evitar outros episódios (CECIL,
1992). O QUADRO 2 demonstra um resumo da avaliação e administração das
quedas de acordo com a Sociedade Americana de Geriatria (2001).
Deste modo, o objetivo de muitos estudos relacionados à determinação da
marcha em idosos é reduzir a freqüência de quedas, como o de identificar medidas
diagnósticas que possam predizer o risco destas (WINTER, 1991; CAPEZUTI e
HARTFORD, 2004).
FONTE: modicado de: Shumwa
y
-Cook et al.
(
1997
)
Idosos com
histórico de
quedas
Deslocamento lateral
Deslocamento
Posterior Anterior
Idosos sem
histórico de
quedas
Deslocamento lateral
Deslocamento
Posterior Anterior
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
28
QUADRO 2 – RESUMO DA AVALIAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DAS QUEDAS EM IDOSOS
FONTE: Modificado de: American Geriatrics Society et al. (2001)
Cuidados primários:
perguntar a todos os
pacientes sobre quedas
no último ano
Nenhum
a queda
Nenhuma
intervenção
Nenhum
problema
Primeira
queda
Queda
recorrente
Problemas
na marcha
e no
e
q
uilíbrio
O paciente vai
ao médico
freqüentemente
após a queda
Avaliação
da queda
Avaliar
Histórico
Medicações
Visão
Marcha e equilíbrio
Articulações inferiores
Neurológica
Cardiovascular
Intervenção multifatorial (quando
apropriado)
Programas de marcha e equilíbrio
Modificação na medicação
Alteração dos riscos ambientais
Tratamento para desordens
cardiovasculares
Checar as
alterações na
marcha e no
equilíbrio
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
29
4.4 A LOCOMOÇÃO HUMANA
A locomoção é definida pelo processo no qual os animais se movem de uma
posição geográfica para outra (ROSE e GAMBLE, 1993). A marcha humana
encontra-se englobada pela locomoção, sendo a atividade mais comum do ser
humano (WINTER, 1991). A marcha consiste no processo de locomoção em que na
postura ereta, o corpo se move suportado pelos membros inferiores a cada passo
(ROSE e GAMBLE, 1993) enquanto mantém o corpo em equilíbrio (PERRY, 1992),
requerendo coordenação entre as articulações do corpo (BARR e BACKUS, 2001).
Deste modo, a marcha é resultado de uma série de eventos que culminam na
propulsão coordenada do corpo no espaço (ROSE e GAMBLE, 1993).
Devido ao fato de ser praticada freqüentemente, a tarefa da marcha é
realizada com pouca atenção (SPARROW et al., 2002), contudo, é uma das tarefas
de mais difícil aprendizado, de modo que podemos entender um pouco a
complexidade da marcha apenas quando sofremos algum distúrbio gerado por
algum trauma, alteração neurológica, fadiga, etc. (WINTER, 1991).
O entendimento da marcha interessa diversas áreas como a ortopedia,
neurologia, reabilitação (GIANNINI et al., 1994), cinesiologia clínica, engenharia da
reabilitação, fisioterapia, medicina do esporte, engenharia de próteses e órteses,
pesquisas nas áreas da cinesiologia, biomecânica, bioengenharia, controle
neuromuscular, e demais profissionais educadores.
Segundo Winter (1991), cinco funções devem ser realizadas para que o
indivíduo realize uma propulsão do corpo à frente de maneira eficiente.
Primeiramente, o indivíduo deve conseguir manter o suporte do corpo na fase de
apoio (WINTER, 1984). Deve manter a postura ereta e o equilíbrio do corpo
(CAPPOZZO, 1981). Deve manter a trajetória do pé, com o objetivo de tocar o solo
de uma maneira segura, iniciando com o toque do calcanhar de maneira suave
(WINTER, 1982 appud WINTER, 1991). O indivíduo deve também gerar uma
energia mecânica para conseguir manter ou aumentar sua velocidade (WINTER,
1983). E por fim, deve conseguir absorver de maneira segura a energia mecânica
gerada no choque do contato do calcanhar, de maneira a gerar estabilidade e
reduzir a velocidade do corpo (WINTER, 1983).
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
30
A coordenação dos movimentos durante a marcha tem por objetivo suavizar a
oscilação do centro de massa do corpo (SHUMWAY-COOK e WOOLLACOTT,
1995), de modo que a coordenação dos movimentos articulares resulta em um
menor deslocamento vertical do centro de massa (ROSE e GAMBLE, 1993).
4.5 O CICLO DA MARCHA
Como citado anteriormente, a marcha humana é uma tarefa de difícil
aprendizado que envolve a interação do sistema nervoso para controlar os diversos
músculos que atuam na execução da tarefa. Esta complexidade no processo de
locomoção faz com que um passo dificilmente seja igual ao passo subseqüente, e a
nossa maneira de andar não é igual à de outra pessoa. Contudo, a marcha é um
processo de cíclico, que consiste em um passo seguido de outro passo para que o
corpo possa se locomover no solo. Este processo cíclico de movimento torna
possível criar um padrão universal da marcha, denominado ciclo da marcha
(ROBERTS e FALKENBURG, 1992). Um ciclo completo da marcha consiste no
período de tempo formado entre o contato de um pé no solo (definido pelo termo
contato inicial), seguido pelo contato do pé ipsilateral (mesmo pé) no solo (WINTER,
1991). Os eventos que ocorrem dentro deste período de tempo são utilizados para
comparações nos estudos de marcha.
Em indivíduos saudáveis, o contato inicial da marcha é definido pelo toque do
calcanhar no solo (contato do calcanhar), contudo, indivíduos que possuem
alterações sensório-motoras ou sofram de alguma desordem músculo-esquelética
podem não possuir a capacidade de tocar com o calcanhar no solo, de modo que o
início do ciclo é definido pelo toque da primeira parte do pé a entrar em contato com
o solo.
Os diversos estudos que analisam a marcha humana procuram identificar os
padrões da marcha em crianças, jovens e idosos (MURRAY, DROUGHT, KORY,
1964; MURRAY, KORY, CLARCKSON, 1969; WINTER, 1991; SADEGHI et al.,
2004) e verificar quais as alterações no padrão da marcha sobre diversas condições
experimentais (OVERSTALL et al., 1977, DEVITA, HONG, HAMIL, 1991; SADEGHI,
2004). As alterações mais proeminentes observadas dentro do ciclo da marcha de
um indivíduo são associadas a alterações sensoriais ou motoras (ANDREOLI et al,
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
31
1997). Deste modo torna-se importante conhecer e avaliar o ciclo da marcha,
principalmente em indivíduos idosos.
O ciclo da marcha é dividido em dois períodos ou fases. O período de apoio e
o período de balanço. Estes dois períodos são divididos em sub-fases utilizadas
para definir as subdivisões da atividade que o membro desenvolve no ciclo da
marcha (PERRY, 1992) (FIGURA 3).
FIGURA 3 – DIVISÕES DE UM CICLO DA MARCHA
FONTE: Modificado de: Perry (1992)
A fase de apoio consiste em todo o período em que o pé está em contato com
o solo, tendo início pelo contato inicial do pé no solo e término no momento em que
o mesmo pé deixa o solo iniciando a fase de balanço. Enquanto que a fase de
balanço consiste no período de tempo em que o pé não se encontra em contato com
o solo e realiza o avanço do membro à frente. A fase de balanço tem início no
momento em que o pé deixa de estar em contato com o solo e termina no momento
em que o mesmo pé toca o solo novamente.
A fase de apoio consiste em aproximadamente 62% do ciclo da marcha, e
apresentam três subdivisões: duplo apoio inicial, apoio simples e duplo apoio final. O
duplo apoio inicial tem início no momento em que há o toque do calcanhar de um pé
Fases
Tarefas
Sub-Fases
Ciclo da Marcha
(pasada)
Apoio
Balanço
Contato
Inicial
Resposta
a Carga
Apoio
Médio
Apoio
Terminal
Pré-
Balanço
Balanço
Inicial
Balanço
Médio
Balanço
Final
Avanço do
Membro
Aceitação de
Peso
Apoio Simples
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
32
no solo e termina no momento em que o pé contra-lateral deixa o solo. O apoio
simples é definido pelo período em que o indivíduo encontra-se em contato com o
solo com apenas um pé, de modo que o segmento contra-lateral encontra-se na fase
de balanço. O duplo apoio final tem início no momento em que o pé contra-lateral
(que estava na fase de balanço) inicia o contato com o solo e o pé oposto inicia a
fase de balanço (QUADRO 3).
A FIGURA 4 representa a porcentagem das subdivisões do apoio na marcha
enquanto a FIGURA 5 apresenta uma representação esquemática das oito fases do
ciclo da marcha.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
33
QUADRO 3 – INTERVALOS DE TEMPO E FUNÇÕES DAS SUB-FASES DA MARCHA
Contato Inicial
Intervalo: 0% - 2% do ciclo.
Inicia o ciclo da marcha. Representa o ponto
em que o centro de massa encontra-se mais
baixo. Inicia o duplo apoio.
Resposta a Carga
Intervalo: 0% - 15% do ciclo.
Instante de máxima flexão do joelho do
segmento em contato com o solo. Tem por
objetivo a absorção do peso do corpo.
Apoio Médio
Intervalo: 15% - 30% do ciclo.
Progressão do contra-lateral sobre o
estacionário. Tem por objetivo estabilizar o
tronco e o segmento.
Apoio Terminal
Intervalo: 30% - 50% do ciclo.
Fim da fase de apoio simples. A massa do
corpo roda sobre a perna de suporte projetando
o corpo à frente.
Pré-Balanço
Intervalo: 50% - 60% do ciclo.
Inicia com a flexão plantar do tornozelo e
flexão do joelho. Há uma transferência de peso
para o segmento contra-lateral e o segmento
sem carga prepara-se para o balanço. Tem por
objetivo posicionar o membro para a fase de
balanço.
Balanço Inicial
Intervalo: 60% - 73% do ciclo.
Há uma elevação do membro, que avança
devido a flexão do quadril. Há um aumento na
flexão do joelho e uma dorsiflexão do tornozelo.
Tem por objetivo a liberação do pé do solo e
iniciar o avanço do segmento para completar o
ciclo.
Balanço Médio
Intervalo: 73% - 87% do ciclo.
O membro avança a frente da linha de peso
do corpo, obtido por uma flexão do quadril. O
joelho inicia a extensão em resposta a inércia do
segmento, quanto o tornozelo se mantém em
dorsiflexão. Tem por objetivo o avanço do
segmento.
Balanço Final
Intervalo: 87% - 100% do ciclo.
O quadril mantém a flexão enquanto o joelho
alcança sua máxima extensão, preparando o
corpo para a resposta a carga. O tornozelo
mantém-se dorsifletido. Tem por objetivo
completar o avanço do segmento e preparar o
membro para o apoio.
FONTE: Modificado de: Perry (1992)
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
34
CI Dir.
DAF
Dir.
AS
Dir.
DAI
Dir.
Bal
Dir.
DAI
Esq.
DAF
Es
q
.
Bal
Esq.
FIGURA 4 – PORCENTAGEM DAS SUBDIVISÕES DO APOIO NA MARCHA
FIGURA 5 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DAS FASES DA MARCHA
FONTE: Modificado de: Vaughan, Davis, O’Connor (1992)
4.6 O CENTRO DE MASSA NA MARCHA
Para reduzir o nível de esforço e assim melhorar a eficiência durante a
realização da tarefa da marcha, o indivíduo procura minimizar o deslocamento do
centro de gravidade em relação à linha de progressão, mantendo-o em uma altura
constante e seguindo uma trajetória central única, deste modo, conservando energia
(PERRY, 1992). Os movimentos do centro de massa na direção medio-lateral têm
62%
38%
62% 38%
Fase de a
p
oio
Fase de
b
alan
ç
o
Ciclo Direito
CI Dir.
AS
Esq.
CI
Esq.
Ciclo esquerdo
NOTA: Dir. – Segmento Direito; Esq. – Segmento Esquerdo; CI – Contato Inicial; DAI – Duplo Apoio
Inicial; AS – Apoio Simples; DAF – Duplo Apoio Final; Bal – Balanço;
Contato
Inicial
Resposta
à Carga
Apoio
Médio
Apoio
Terminal
Pré-
Balanço
Balanço
Inicial
Balanço
Médio
Balanço
Terminal
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
35
uma importante participação no controle do equilíbrio (MACKINNON e WINTER,
1993), sendo indicativos de instabilidade dinâmica, principalmente em idosos,
podendo levar a quedas durante a marcha (HAHN e CHOU, 2003).Assim, para
minimizar os deslocamentos do centro de gravidade durante a marcha, são
realizados seis padrões de movimento, denominados determinantes da marcha
(PERRY, 1992). Os determinantes da marcha são: 1- Rotação pélvica, 2- Inclinação
lateral da pelve, 3- Flexão do joelho na fase de apoio, 4 e 5- Interações entre joelho,
tornozelo e pé, 6- Deslocamentos laterais da pelve pela ação dos adutores do
quadril e genu varum (ROSE e GAMBLE, 1994). A ação da interação destes
diminuem os deslocamentos vertical e horizontal do centro de massa (ROSE e
GAMBLE, 1994) reduzindo para aproximadamente 2,3cm, melhorando assim a
eficiência da locomoção (SAUNDERS, INMAN, EBERHART, 1953). Assim, durante a
marcha normal, o centro de massa descreve uma curva senoidal nos planos
transverso, sagital e frontal, com deslocamentos aproximados de 2,5 cm para cada
lado (ROSE e GAMBLE, 1994) (FIGURA 6).
FIGURA 6 – DESLOCAMENTO DO CENTRO DE MASSA DURANTE A MARCHA NOS PLANOS
VERTICAL, HORIZONTAL E TRANSVERSO
Na marcha, também se torna importante observar os deslocamentos do
centro de massa no plano transverso, devido ao fato de terem uma importante
participação no controle do equilíbrio (MACKINNON e WINTER, 1993), sendo
FONTE: modificado de: Rose e Gamble (1994)
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
36
indicativos de estabilidade dinâmica, principalmente em idosos (HAHN e CHOU,
2003).
4.7 A MARCHA DO JOVEM
Neste tópico, serão apresentados alguns estudos que descrevem a marcha
padrão do jovem em função das variáveis temporais e espaciais, para um melhor
entendimento das alterações que ocorrem na marcha do idoso.
Diversos estudos da marcha são realizados com adultos jovens com o
objetivo de definir o padrão da marcha desta população. Assim, o objetivo de
determinar as alterações na marcha em indivíduos que sofreram alguma lesão,
cirurgia, doença, etc., é fazer com que estas alterações sejam minimizadas e o
padrão da marcha se aproximem ao máximo da marcha de um adulto jovem.
A TABELA 4 demonstra o padrão de diferentes componentes da marcha em
homens de 20 a 65 anos. A FIGURA 7 demonstra o padrão de rotação do quadril,
joelho e tornozelo em função do ciclo da marcha em homens com idade entre 20-65
anos. Os resultados da TABELA 3 e FIGURA 7 demonstram a média agrupada de
duas triagens, na qual foram realizadas duas medidas em cada triagem de cada
sujeito. A TABELA 4 apresenta a descrição dos resultados observados por Winter
(1991) referentes à comparação da marcha em jovens e idosos.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
37
TABELA 3 – DESCRIÇÃO DAS VARIÁVEIS TEMPORAIS E ESPACIAIS DA MARCHA EM HOMENS
COM IDADE ENTRE 20- 65 ANOS.
Idade dos grupos
média (D.P.)
Componentes da
marcha
20-25 30-35 40-45 50-55 60-65 Total
n
12 12 12 12 12 60
Comprimento do
passo dir. (cm.)
79,5
(6,8)
78,7
(5,5)
77,7
(5,1)
79,5
(6,4)
76,4
(4,9)
78,4
(5,9)
Comprimento do
passo esq. (cm.)
79,3
(6,0)
78,2
(6,5)
78,2
(6,7)
78,4
(5,9)
76,6
(6,0)
78,1
(6,3)
Comprimento do ciclo
(cm.)
156,5
(11,4)
158,8
(12,4)
156,9
(11,2)
155,9
(10,8)
157,9
(11,6)
153,0
(10,0)
Largura da passada
(cm.)
7,2
(2,9)
7,9
(3,3)
9,6
(3,2)
8,2
(3,8)
7,1
(3,6)
8,0
(3,5)
Tempo do ciclo (s)
1,04
(0,10)
1,08
(0,10)
0,98
(0,17)
1,02
(0,10)
1,04
(0,11)
1,03
(0,10)
Tempo de apoio (s)
0,63
(0,07)
0,63
(0,08)
0,59
(0,05
0,62
(0,07)
0,64
(0,08)
0,63
(0,07)
Tempo de balanço (s)
0,42
(0,04)
0,42
(0,04)
0,38
(0,03)
0,40
(0,04)
0,40
(0,04)
0,40
(0,04)
Tempo de suporte
duplo (s)
0,10
(0,03)
0,12
(0,03)
0,11
(0,03)
0,11
(0,03)
0,12
(0,03)
0,11
(0,03)
Cadência (passos/
minuto)
115 111 122 118 115 117
FONTE: Modificado de: Murray, Drought, Kory (1964)
Winter (1991), comparou uma série de variáveis biomecânicas da marcha em
11 jovens e 18 idosos envolvendo medidas cinemáticas e cinéticas. Foram
observadas diferenças em algumas variáveis temporais e espaciais (TABELA 4).
Segundo os autores, um dos resultados mais surpreendentes foi a maior velocidade
de contato do calcanhar no solo dos idosos quando comparados aos jovens, visto
que os idosos têm uma menor velocidade da marcha. Esta maior velocidade de
contato tende a aumentar o risco do idoso sofrer alguma queda devido a um
escorregão. Segundo os autores, esta alteração ocorre por uma menor ativação da
musculatura dos isquios-tibiais na desaceleração da perna no final da fase de
balanço observada nos idosos. Foi concluído que os idosos realizam adaptações
para andar de maneira mais segura, procurando manter a estabilidade devido a
degenerações no sistema de controle do equilíbrio.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
38
TABELA 4 – MÉDIA E DESVIO PADRÃO DE VARIÁVEIS TEMPORAIS E ESPACIAIS DA MARCHA
EM JOVENS E IDOSOS
FONTE: Modificado de: Winter (1991)
NOTA: * diferenças observadas entre jovens e idosos (p < 0,05)
VARIÁVEL
Adultos jovens
Média (D. P.)
Idosos
Média (D. P.)
n
11 18
Idade (anos)
24,9
(1,9)
68,9
(4,0)
Velocidade (m/s)
1,44 1,29
Cadência (passos/min)
110,5
(8,3)
111,8
(8,7)
Comprimento do ciclo (m)
1,56
(0,10)
1,38*
(0,12)
Tempo de apoio (%)
62,3
(1,48)
65,7*
(1,52)
Liberação do pé (cm)
1,29
(0,62)
1,12
(0,50)
Aceleração horizontal do
quadril (m/s
2
)
1,91
(0,38)
1,54*
(0,26)
Aceleração horizontal da
cabeça (m/s
2
)
0,47
(0,16)
0,62*
(0,21)
Velocidade de contato do
calcanhar (m/s)
0,87
(0,15)
1,15*
(0,29)
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
39
FIGURA 7 – PADRÃO DE ROTAÇÃO DA ARTICULAÇÃO DO QUADRIL (A), JOELHO (B) E
TORNOZELO (C) EM FUNÇÃO DO CICLO DA MARCHA EM HOMENS COM IDADE
ENTRE 20-65 ANOS
FONTE: Modificado de: Murray, Drought, Kory (1964)
Flexão
Extensão
Flexão
Extensão
Flexão
Extensão
% CICLO
anos
anos
anos
anos
anos
Graus Graus Graus
A
B
C
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
40
4.8 A MARCHA DO IDOSO
O objetivo de muitos estudos relacionados à marcha nos idosos é
diagnosticar alterações no padrão da marcha, para que se possam criar medidas
preventivas principalmente para diminuir o risco de quedas (WINTER, 1991).
Murray, Kory, Clarkson (1969), avaliaram o padrão da marcha em de 64
homens de faixa etária entre 20 e 87 anos e encontraram uma série de diferenças
nos parâmetros espaciais e temporais da marcha (TABELA 5). Os autores
concluíram que os indivíduos idosos procuram estratégias compensatórias para se
obter uma máxima estabilidade e segurança durante a marcha.
TABELA 5 – VARIÁVEIS TEMPORAIS E ESPACIAIS MÉDIAS DA MARCHA EM 64 HOMENS COM
IDADE ENTRE 20 – 87 ANOS
Idade dos grupos
Componentes da
marcha
20-25 30-35 40-45 50-55 60-65 67-73 74-80 81-87
n
8 8 8 8 8 8 8 8
Velocidade da
marcha (cm./seg.)
150 143 159 157 145 118 123 118
Comprimento do
ciclo (cm.)
154 151 151 160 151 136 141 126
Largura do passo
(cm.)
8 9 9 9 8 9 10 10
Duração do ciclo
(seg.)
1,05 1,09 0,98 1,04 1,07 1,18 1,15 1,10
Taxa balanço /
apoio
0,66 0,64 0,61 0,67 0,63 0,58 0,59 0,60
Pico de elevação do
calcanhar (cm.)
28 29 29 28 28 27 27 25
Mínima elevação do
antepé (cm.)
1,0 1,0 2,0 1,0 1,2 2,0 1,8 2,6
Rotação da pelve
(graus)
11 8 11 10 9 8 9 8
FONTE: Modificado de: Murray, Kory, Clarkson (1969)
Com o objetivo de verificar a interação entre a aceleração da cabeça, tronco e
quadril durante a marcha em jovens e idosos, Kavanagh, Morrison, Barrett (2005),
mediram o pico de aceleração destes segmentos. Os autores verificaram que os
indivíduos idosos procuram acelerar menos o segmento da cabeça, tronco e pelve
durante a fase de impulso (pré-balanço), e frear mais os segmentos na fase do apoio
inicial. Os autores concluíram que a diminuição no pico de aceleração durante a fase
de impulso pode estar associada a uma diminuição na produção de força da
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
41
articulação do tornozelo dos idosos. Os autores não realizaram esta medida. As
alterações observadas na fase de apoio podem estar associadas a uma estratégia
mais cautelosa do idoso durante a marcha, aonde estes procuram melhorar seu
equilíbrio dinâmico no período de apoio simples, o período mais instável da marcha.
Em resumo, com o processo do envelhecimento há diversas alterações nos
fatores tempo-espaciais, cinemáticos, cinéticos e de ativação muscular padrões da
marcha, listados a seguir (modificado de: SHUMWAY-COOK e WOOLLACOTT,
1995)
Fatores tempo-espaciais:
o Diminuição na velocidade;
o Diminuição no comprimento do passo;
o Diminuição no comprimento do ciclo;
o Aumento na largura da passada;
o Aumento no tempo de apoio;
o Aumento no tempo de suporte duplo;
o Diminuição no tempo de balanço;
Alterações Cinemáticas:
o Diminuição no movimento vertical do centro de massa;
o Diminuição no balanço dos braços;
o Aplanamento do pé e do calcanhar;
o Diminuição da estabilidade dinâmica durante o balaço;
Padrões de ativação muscular:
o Aumento na coativação (aumento na rigidez);
Alterações cinéticas:
o Diminuição da geração de força na fase de impulso;
o Diminuição da absorção de choque no contato do calcanhar no solo.
4.9 O TRANSPORTE DE CARGAS DURANTE A MARCHA
O transporte de cargas pode ser realizado de diversas maneiras por homens
e mulheres, estas que incluem o carregamento pela cabeça (sacos, baldes,
contêineres), ombros (balancins, bolsas), costas (mochilas), mãos (uni-manuais, bi-
manuais), entre outras (LEGG, 1985). Em geral, o transporte de cargas por curtas
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
42
distâncias, são realizados utilizando as mãos ou braços, de maneira uni ou bilateral
(LEGG, 1985), sendo que nas tarefas diárias, as cargas são geralmente
transportadas por uma mão (CROSBIE, FLYNN, RUTTER, 1994). Deste modo,
diversos estudos procuram demonstrar as alterações decorrentes do transporte de
cargas na postura, no tempo de execução da tarefa, no método de carregamento,
entre outros para realizar um planejamento eficaz da força de trabalho, como
também para prevenir lesões e doenças no trabalho (CHAFFIN, ANDERSON,
MARTIN, 1999).
Martin e Nelson (1986), avaliando o comportamento das variáveis temporais
da marcha em homens e mulheres durante o transporte de cargas encontraram
poucas diferenças durante o transporte de cargas de 10, 20 e 30 kg quando
comparados a marcha livre (sem carga) (TABELA 6). Foram observadas nos
homens diferenças no aumento do comprimento da passada comparando a marcha
livre com o transporte de 10 kg. Com relação às diferenças de gênero, os homens
apresentaram um maior comprimento na passada, maior tempo de suporte simples e
balanço, como uma menor taxa da passada do que as mulheres. As mulheres
demonstraram ser mais sensíveis ao aumento da carga do que os homens, de modo
que estas apresentaram alterações mais pronunciadas do padrão da marcha com o
aumento da carga. Estas alterações se dão devido a diversos fatores de gênero,
incluindo ao maior trabalho físico a que as mulheres são submetidas, devido ao
maior carregamento de carga, relacionado à composição corporal. Deste modo, os
autores sugerem maiores cuidado com o carregamento de cargas, associados aos
estresses biomecânicos do aumento de cargas, principalmente aos indivíduos do
sexo feminino.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
43
TABELA 6 – VARIÁVEIS CINEMÁTICAS DA MARCHA MÉDIAS SOBRE CINCO CONDIÇÕES
EXPERIMENTAIS EM HOMENS (N = 11) E MULHERES (N = 11)
Condição de Carregamento
Média (D.P.)
Variável Sexo
1 2 3 4 5
88,5
(4,5)
90,3
(4,2)
88,2
(4,3)
88,5
(3,5)
87,9
(4,2)
Comprimento do
ciclo (cm)
86,1
(3,7)
86,3
(3,7)
85,5
(4,0)
83,7
(3,7)
81,9
(4,0)
2,05
(0,08)
2,04
(0,08)
2,07
(0,09)
2,09
(0,07)
2,09
(0,08)
Taxa do passo
(passos/seg.)
2,14
(0,09)
2,13
(0,08)
2,18
(0,1)
2,21
(0,11)
2,25
(0,12)
590
(23)
585
(27)
580
(28)
583
(26)
585
(26)
Apoio simples
(ms)
555
(24)
562
(22)
552
(31)
553
(30)
554
(31)
389
(16)
395
(14)
387
(20)
376
(9)
372
(14)
Tempo de
balanço (ms)
382
(25)
380
(22)
368
(25)
352
(18)
338
(21)
101
(7)
96
(12)
98
(10)
105
(12)
105
(13)
Tempo de duplo
apoio (ms)
86
(14)
91
(13)
95
(17)
101
(10)
108
(14)
91,2
(2,3)
90,5
(2,2)
91,1
(2,5)
84,6
(1,7)
83,2
(2,2)
Ângulo do
tronco
93,6
(2,7)
93,2
(2,8)
94,0
(3,0)
85,2
(2,5)
83,4
(2,9)
FONTE: modificado de: Martin e Nelson (1986);
NOTA: Condições de carregamento para o sexo masculino: 1- 0,76 kg; 2- 9,46 kg; 3- 17,67 kg; 4-
30,01 kg; 5- 36,81 kg. Para o sexo feminino: 1- 0,56 kg; 2- 9,04 kg; 3- 16,92 kg; 4- 29,26 kg; 5- 36,06
kg
Com o objetivo de verificar o efeito dos momentos de força nas articulações
dos membros inferiores e do tronco durante a marcha sobre as condições de
carregamento de 0%, 10% e 20% do peso corporal carregados de forma assimétrica
pelo segmento direito, Devita, Hong, Hamill, (1991), observaram que durante o
transporte destas cargas (transportadas pelo lado direito, na altura do quadril), os
músculos do lado esquerdo do tronco executam uma maior contração para fazer
uma rotação do segmento de maneira a controlar o equilíbrio. Foi concluído que
músculos do tronco mudaram o papel de manter a orientação pélvica e transferência
do peso corporal para o próximo membro, para uma orientação própria. No plano
frontal, foi observado um aumento dos momentos do quadril e joelho direitos em
resposta ao aumento da carga enquanto houve uma leve diminuição do lado
esquerdo do segmento. Os autores acreditam que a adição da carga gerou uma
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
44
maior força horizontal para o lado direito durante a fase de apoio simples, levando o
centro de massa a mover-se para fora da base de apoio (pé direito), de modo que
para o corpo recuperar o equilíbrio, torna-se necessário uma maior ativação dos
músculos do quadril e joelho direitos, o que não ocorre do lado esquerdo (lado sem
carga).
Crosbie, Flynn, Rutter (1994), realizaram um estudo com 10 homens e 10
mulheres para verificar as alterações na marcha e na postura decorrentes do
transporte de cargas unilaterais de 10 e 20% do peso corporal. Foi observado que
os homens aumentaram a cadência ao invés de aumentar o comprimento do passo
como medida compensatória para aumentar a velocidade. As mulheres, em
contraste com os homens, apresentaram uma tendência a aumentar a taxa
apoio/suporte e aumentaram o período de suporte duplo com o aumento da carga.
Os autores concluíram que estas alterações pode estar refletindo uma maior
perturbação na postura durante a marcha nas mulheres em decorrência de
diferenças morfológicas. No tronco, o transporte de cargas gerou uma inclinação
contra-lateral ao lado de carregamento, tanto para homens como para mulheres,
como medida compensatória para contrabalançar o deslocamento lateral do centro
de massa ocorrido pela adição da carga assimétrica. Deste modo, os autores
concluíram que os participantes adotam estratégias posturais compensatórias
consistentes durante a aplicação das cargas.
Em resumo, o transporte de cargas alterou uma série de variáveis temporais e
espaciais da marcha nos homens e de maneira pouco mais acentuada nas mulheres
durante o transporte de cargas. As diferenças ocorreram devido às alterações
morfológicas entre os gêneros.
4.10 CONCLUSÃO DA REVISÃO DE LITERATURA
Os estudos apresentados nesta seção demonstraram que os idosos
apresentam diferenças no padrão da marcha quando comparados aos jovens. Estas
alterações são associadas a alterações no sistema sensório e motor que
acompanham o processo do envelhecimento. Todavia, estudos que verificam as
alterações no padrão da marcha do idoso em função do transporte de cargas são
escassos. Deste modo, torna-se importante verificar qual a influência que o
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
45
transporte de cargas de diferentes magnitudes realizadas de maneira simétrica e
assimétrica têm sobre o padrão da marcha do idoso. Também foi observado que as
quedas estão entre os maiores problemas na população idosa. Ao sofrer uma
queda, o indivíduo altera seu padrão da marcha para que não sofra outra queda,
contudo esta alteração predispõe o indivíduo a sofrer outra queda, gerando um ciclo
vicioso. Quando sofre uma queda, o idoso fica acamado, deste modo acelerando a
perda da força, flexibilidade, tônus muscular, etc., o que gera uma dependência nas
atividades de vida diária, podendo a levar a estados de depressão e até ao óbito.
Também foi observado que o transporte de cargas é uma atividade diária
comum na indústria e para o indivíduo. Ao realizar o transporte de cargas, os
indivíduos alteram o padrão das variáveis temporais e espaciais na marcha, desta
forma, diversos estudos procuram observar qual o melhor método de carregamento
de cargas. Contudo poucos estudos envolvendo idosos demonstram as alterações
na marcha durante o transporte de cargas manuais. Visto que há um mercado
emergente dos idosos e o transporte de cargas é também uma das atividades
comuns do dia a dia, o presente estudo torna-se importante para o entendimento
das alterações na marcha durante este transporte, fornecendo assim, melhores
estratégias preventivas para que os idosos possam realizar as tarefas do dia a dia
de maneira mais segura e confortável, evitando assim o risco de quedas e lesões
que possam a vir sofrer.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
46
5 MATERIAIS E MÉTODOS
5.1 PARTICIPANTES
A amostra consistiu em dez idosos saudáveis do sexo masculino (média ±
desvio padrão); idade: 64,3 ± 4,16 anos, estatura: 1,73 ± 0,08 m, peso: 69,9 ± 6,96
kg, IMC: 23,25 ± 1,47 kg/m
2
. Foi aplicado por meio de entrevista, um questionário de
anamnese para diagnosticar a presença ou não de histórico de queda ou outro
distúrbio que influencie e/ou interfira na locomoção, ex.: enfermidade médica aguda,
diagnóstico de sintomas de angina, diagnósticos de problemas pulmonares como
enfisema, DPOC, asma, diagnósticos de disfunções neurológicas como doença de
Parkinson, AVC, lesão cerebral, miopatia, neuropatia periférica, distúrbios
ortopédicos, dores músculo-esqueléticas, desordens na marcha ou equilíbrio e uso
de acessório para locomoção (KERRIGAN et al., 2003). Indivíduos portadores
destes acometimentos não foram incluídos no estudo.
5.2 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS
Antes do início da avaliação, todos os participantes foram informados sobre
os procedimentos experimentais. Cada participante visitou o laboratório em uma
única ocasião, o qual realizou uma única sessão experimental na qual foram
submetidos à análise cinemática da marcha com e sem o carregamento de cargas.
Primeiramente, os participantes foram vestidos com uma bermuda e um par
de meias pretas, ambas aderentes ao corpo para melhor visualização dos
marcadores. Os indivíduos foram então demarcados (ver tópico 5.3.2, sobre
localização e determinação dos pontos anatômicos) e submetidos a um período de
adaptação, o qual realizaram uma caminhada por sobre um carpete emborrachado
em linha reta por um espaço de 6 m de comprimento por 1,2 m de largura. Os
sujeitos realizaram a tarefa de familiarização por no mínimo três vezes em cada
condição de carregamento para que pudessem se adaptar ao espaço físico, solo,
condições de carregamento e aos marcadores aderidos sobre a pele, evitando assim
durante a coleta, alterações na marcha decorrentes a presença destes marcadores e
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
47
condições. Nos casos onde houve necessidade, os sujeitos realizaram um maior
número de repetições para melhor adaptação.
Ao término da sessão de adaptação, os sujeitos foram submetidos a duas
condições de carregamento (simétrico e assimétrico) mais a marcha livre (sem
carga). Na condição de carregamento simétrica, foi realizado o transporte de uma
carga de 10% do peso corporal dividido nas duas mãos. Os diferentes tipos de
condições de carregamento seguem abaixo e são ilustradas no QUADRO 4:
1. Marcha livre: Condição - 0% (QUADRO 4A);
2. Carregando uma carga de 5% do peso corporal com a mão direita: Condição -
5%D (QUADRO 4B);
3. Carregando uma carga de 10% do peso corporal com a mão direita Condição -
10%D (QUADRO 4E)
4. Carregando uma carga de 5% do peso corporal com a mão esquerda: Condição -
5%E (QUADRO 4C);
5. Carregando uma carga de 10% do peso corporal com a mão esquerda Condição -
10%E (QUADRO 4F);
6. Carregando uma carga de 10% do peso corporal, 5% com a mão direita e 5% com
a mão esquerda: Condição - 5-5% (QUADRO 4D);
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
48
QUADRO 4 – REPRESENTAÇÃO DAS SEIS CONDIÇÕES EXPERIMENTAIS – 0% (A), 5%D (B),
10%D(C), 5%E (D), 10%E (E), 5-5% (F)
0%: condição livre, marcha realizada sem o
transporte de nenhum tipo de carga.
5%D: condição de carregamento com carga de
5% do peso corporal transportada com a mão
direita.
10%D: condição de carregamento com carga de
10% do peso corporal transportada com a mão
direita.
5%E: condição de carregamento com carga de
5% do peso corporal transportada com a mão
esquerda.
10%E: condição de carregamento com carga de
10% do peso corporal transportada com a mão
esquerda.
5-5%: condição de carregamento com carga de
10% do peso corporal, divididos em 5% com a
mão direita e 5% com a mão esquerda.
A
D
B
C
E
F
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
49
Durante a coleta, os indivíduos realizaram a marcha sobre o carpete (área de
coleta) em cada condição por dez vezes. Após o término de cada condição, os
participantes eram indagados a respeito de qual era sua percepção de esforço
durante a execução da tarefa. Para tal análise, era apresentado um quadro contendo
uma escala de esforço que variava de 0 (sem esforço) a 10 (máximo esforço)
(APÊNDICE IV). Entre cada condição experimental, os sujeitos realizavam um
pequeno intervalo de repouso (aproximadamente dois minutos) antes do início da
próxima condição. Este intervalo entre as tarefas foi proposto a fim de ignorar a
interferência de fadiga ou de qualquer outro desconforto decorrentes do
carregamento da carga.
Para efeitos de análise, foram coletados três ciclos direitos e três ciclos
esquerdos em cada condição, determinados de forma aleatória.
O transporte das cargas foi realizado por meio de anilhas presas a uma corda
e seguras por uma manopla específica para o transporte de cargas (suporte para
sacolas Real Plastic
®
) (QUADRO 4). Deste modo foi possível controlar a carga
referente à proporção do peso corporal de maneira precisa. Os diferentes tipos de
condições de carregamento, bem como os diferentes tipos de cargas aplicadas
foram determinados por representar condições de carregamento em atividades
diárias, como por exemplo, as cargas transportadas durante as compras de
supermercado.
5.3 ANALISE CINEMÁTICA
5.3.1 Área de Coleta dos Dados
A área de coleta dos dados consistiu em um espaço plano de 9,0m x 7,0m.
No centro da área de coleta foi posicionado um carpete emborrachado de 6,0m x
1,2m, por sobre o qual os indivíduos realizaram a tarefa. A utilização do carpete
emborrachado ocorreu devido a necessidade de evitar qualquer tipo de escorregão
que os idosos pudessem vir a sofrer decorrente do transporte das cargas. Dentro da
área de coleta de dados, foram posicionadas cinco câmeras analógicas (JVC
Palmcorder-VHS, de 60 Hz) posicionadas a aproximadamente 3 m do plano de
deslocamento do indivíduo, para que fosse possível a captura de todos os pontos
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
50
1,4
m
3,0
m
1
,
85 m
para a reprodução da marcha em três dimensões (3D) em escala reduzida para
posterior análise. Antes do início de cada avaliação, foi posicionado dentro da área
do carpete um calibrador com dimensões de 3,00m x 1,40m x 1,85m, composto por
pontos afastados 1,00 m x 1,40 m x 0,65 m entre si, o que gerou um total de 32
pontos de calibração (FIGURA 8). Para a calibração da área de coleta e
reconstrução do espaço em 3D, o calibrador foi filmado pelas cinco câmeras por um
período de um segundo, de modo à posteriormente se obter um quadro de cada
câmera. Após o processo de calibração, as câmeras não foram removidas ou
alteradas de suas posições até que se completasse toda a coleta.
FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO DO CALIBRADOR E ÁREA CALIBRADA
NOTA: A - foto da área calibrada; B - ilustração das dimensões do calibrador e espaço calibrado
5.3.2 Localização e Determinação dos Pontos Anatômicos
Para reconstruir um modelo em escala reduzida e realizar a análise das
variáveis do estudo, os sujeitos foram demarcados de forma tal a identificar um
conjunto de marcadores (diâmetro = 8.0 mm) previamente fixados à pele nos
A
CARPETE
B
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
51
hemicorpos direito e esquerdo e coluna, sobre os seguintes pontos anatômicos: (1)
cabeça do quinto metatarso, (2) calcâneo, (3) maléolo lateral da fíbula, (4) epicôndilo
lateral do fêmur, (5) trocânter maior do fêmur, (6) meato auditivo externo, (7)
acrômio, (8) côndilo lateral do úmero, (9) ponto médio entre os processos estilóides
do rádio e ulna, (10) cabeça do terceiro metacarpo, e processos espinhosos de C7 e
S2. Estes conjuntos de marcadores foram utilizados para definir os seguintes
segmentos corporais: pé (1-3), perna (3-4), coxa (4-5), tronco (5-6), braço (7-8),
antebraço (8-9), mão (9-10) e coluna (C7-S2) (QUADRO 5).
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
52
QUADRO 5 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA DETERMINAÇÃO DOS PONTOS
ANATÔMICOS NOS PLANO FRONTAL ANTERIOR (A), FRONTAL POSTERIOR
(B) E PLANOS SAGITAL DIREITO (C) E SAGITAL ESQUERDO (D)
NOTA: (1) cabeça do quinto metatarso, (2) calcâneo, (3) maléolo lateral da fíbula, (4) epicôndilo
lateral do fêmur, (5) trocânter maior do fêmur, (6) meato auditivo externo, (7) acrômio, (8) côndilo
lateral do úmero, (9) ponto médio entre os processos estilóides do rádio e ulna, (10) cabeça do
terceiro metacarpo, e processos espinhosos da sétima vértebra cervical (C7) e segunda sacral (S2).
A
B
C
D
2
5
1
3
4
7
8
9
10
6
C7
S2
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
53
5.4 VARIÁVEIS DO ESTUDO
Em geral, as variáveis que descrevem a marcha são analisadas dentro de um
ciclo. No presente estudo, em função do lado de carregamento (esquerdo e direito)
durante o transporte das cargas, a análise de ambos os hemicorpos (um ciclo da
marcha direito e um ciclo da marcha esquerdo) foi necessária. O ciclo da marcha
direito foi determinado pelo instante do contato do calcanhar direito no solo seguido
pelo contado do calcanhar ipsilateral no solo, enquanto que o ciclo da marcha do
segmento esquerdo foi determinado no instante de contato do calcanhar esquerdo
no solo (que compreende a passada do segmento direito) seguido pelo contado do
calcanhar ipsilateral no solo (FIGURA 9).
FIGURA 9 – DESCRIÇÃO DA DETERMINAÇÃO DO CICLO DIREITO E ESQUERDO DA MARCHA
REALIZADO NO PRESENTE ESTUDO
NOTA: CID - contato inicial do pé direito; CIE – contato inicial do pé esquerdo
As variáveis utilizadas para verificar as diferenças na marcha de idosos
durante o carregamento de cargas simétricas e assimétricas foram divididas em
variáveis espaciais e temporais.
O QUADRO 6 demonstra as definições das variáveis temporais e o QUADRO
7 as definições das variáveis espaciais analisadas no presente estudo (WINTER,
1991).
Ciclo direito
Ciclo esquerdo
CID CID
CIE
CIE
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
54
QUADRO 6 – VARIÁVEIS TEMPORAIS ANALISADAS NO PRESENTE ESTUDO
Variável Descrição
Tempo do ciclo
Tempo entre o contato inicial do calcanhar do pé no solo até o contato do
calcanhar do mesmo pé no solo. Composta pelo tempo do passo direito e
esquerdo. Medido em segundos.
Tempo do passo
Tempo entre o contato inicial do calcanhar de um dos pés até o
calcanhar inicial do pé contra-lateral. Existem os tempos do passo direito
e tempo do passo esquerdo. Medido em segundos.
Tempo de duplo apoio
Tempo em que os dois pés estão em contato com o solo durante um ciclo
da marcha. Vai do contato inicial do calcanhar de um dos pés até a
retirada do pé do pé contra-lateral. Em um ciclo há dois duplos apoios.
Medido em segundos.
Tempo de balanço
Tempo em que o pé está no ar, começa no momento em que os dedos
deixam de estar em contato com o solo até o contato do calcanhar do
mesmo pé no solo. Foram computados os tempos de balanço direito e
esquerdo. Medido em segundos.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
55
QUADRO 7 – VARIÁVEIS ESPACIAIS ANALISADAS NO PRESENTE ESTUDO
VARIÁVEL
DEFINIÇÃO
Comprimento do ciclo
Distância entre o contato inicial do calcanhar até o próximo contato do
calcanhar ipsilateral no solo, na direção do deslocamento, ou seja, dois
toques sucessivos do mesmo pé. Foram avaliados os comprimentos do
ciclo direito e esquerdo. Medido em centímetros.
Comprimento do passo
Distância entre o contato inicial do calcanhar até o contato no solo do
calcanhar contra-lateral. Foram avaliados os comprimentos do passo
direito e esquerdo. Medido em centímetros.
Largura da passada
Distância medida no plano transverso, (eixo y), do ponto de contato do
calcanhar com o solo até o ponto de contato do pé contra-lateral no solo.
Foram avaliadas as larguras da passada direita e esquerda. Medido em
centímetros.
Cadência
Número de passos por unidade de tempo. Definida pelo número de
passos por minuto, calculada pela fórmula = 120/tempo do ciclo. Foram
avaliadas as cadências do segmento direito e esquerdo.
Velocidade de contato do
calcanhar no solo
Velocidade horizontal de entrada do calcanhar no solo (eixo x). Medido
em metros por segundo.
Pico de elevação do 5°
metatarso
Ponto de máxima elevação do solo da cabeça do quinto metatarso.
Foram avaliados os picos de elevação do 5° metatarso do segmento
direito e esquerdo. Medido em centímetros.
Picos de flexão da
articulação do quadril
Picos de máxima flexão da articulação do quadril no início (FQ
1
) e fim
(FQ
2
) do ciclo. Foram avaliados picos de flexão da articulação do quadril
direito dentro do ciclo direito e esquerdo dentro do ciclo esquerdo.
Medido em graus.
Pico de extensão da
articulação do quadril
Pico de máxima extensão da articulação do quadril (EQ
1
) dentro do ciclo.
Foram avaliados picos de extensão da articulação do quadril direito
dentro do ciclo direito e esquerdo dentro do ciclo esquerdo. Medido em
graus.
Picos de flexão da
articulação do joelho
Picos de máxima flexão da articulação do joelho, determinados
aproximadamente no instante da fase de recepção da carga (FJ
1
) e no
instante da fase de balanço (FJ
2
). Foram avaliados picos de flexão da
articulação do joelho direito dentro do ciclo direito e esquerdo dentro do
ciclo esquerdo. Medido em graus.
Pico de flexão da
articulação do tornozelo
Pico de máxima flexão da articulação do tornozelo (FT
1
) dentro do ciclo.
Foram avaliados picos de flexão da articulação do tornozelo direito
dentro do ciclo direito e esquerdo dentro do ciclo esquerdo. Medido em
graus.
Picos de extensão da
articulação do tornozelo
Picos de máxima extensão da articulação do tornozelo determinados
aproximadamente no instante em que o segmento do pé está nivelado
com o solo (ET
1
) e no instante da fase de propulsão (ET
2
). Foram
avaliados picos de extensão da articulação do tornozelo direito dentro do
ciclo direito e esquerdo dentro do ciclo esquerdo. Medido em graus.
Deslocamento lateral do
centro de massa
Pico de máximo deslocamento lateral do centro de massa medidos do
plano transverso (eixo y). O deslocamento lateral do centro de massa
para a direita foi determinado pela média do deslocamento para a direita
do ciclo direito e esquerdo, enquanto o deslocamento lateral do centro de
massa para a esquerda foi determinado pela média dos deslocamentos
para a esquerda dentro do ciclo direito e esquerdo. Medido em
centímetros.
Deslocamento angular do
tronco no plano frontal
posterior
Média da flexão lateral do tronco no plano frontal posterior dentro de um
ciclo. Medido em graus.
Deslocamento angular do
tronco no plano sagital
direito
Média da flexão ântero-posterior do tronco no plano sagital direito dentro
de um ciclo. Medido em graus.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
56
C
B
A
Tr
Pr
Cx
+
-
A FIGURA 10 representa esquematicamente a determinação da variação
angular dos segmentos do quadril, joelho e tornozelo utilizada no presente estudo.
FIGURA 10 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA PARA A DETERMINAÇÃO DA VARIAÇÃO
ANGULAR DO SEGMENTO DO QUADRIL, JOELHO E TORNOZELO
FONTE: Modificado de: WINTER (1991).
NOTA: Tr. – Segmento do tronco; Cx. – Segmento da coxa; Pr. – Segmento da perna; Pé. –
Segmento do pé; A – Ângulo do tronco; B – Ângulo do joelho; C – Ângulo do tornozelo.
A FIGURA 11 representa esquematicamente a determinação de algumas
variáveis temporais utilizadas no presente estudo. Assim, o instante de máxima
flexão (FQ
1
) e extensão (EQ
1
) do quadril, instante de máxima flexão (FJ
1
) e extensão
(EJ
1
) do joelho, instante de contato do calcanhar no solo (ET
1
), instante de máxima
flexão (FT
1
) e extensão (ET
2
) do tornozelo foram determinados para verificar as
diferenças entre o comportamento das variáveis espaciais angulares durante a
marcha dos segmentos direito e esquerdo.
+
-
+
-
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
57
flexão extensão
0
20
40
60
flexão
FIGURA 11 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA PARA A DETERMINAÇÃO DOS PICOS
ANGULARES DE ROTAÇÃO DO QUADRIL (A), JOELHO (B) E TORNOZELO (C)
NOTA: A primeira letra representa o movimento articular: F = flexão, E = extensão; A segunda letra
representa a articulação: Q = quadril, J = joelho T = tornozelo; O número representa a posição do pico
dentro do ciclo. Ex.: FQ
1
: primeiro pico de flexão do quadril.
0% 50% 100%
% CICLO
-20
-10
0
10
20
ET
1
FT
1
ET
2
V A R I A
Ç
à O A N G U L A
R
flexão extensão
F
Q
1
E
Q
1
F
Q
2
FJ
2
FJ
1
-20
-5
10
25
40
FQ
1
FQ
2
EQ
1
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
58
5.4.1 Deslocamento Lateral do Centro de Massa
Alterações no deslocamento lateral do centro de massa (CM) do idoso
permitem identificar perturbações no equilíbrio que podem levar a ocorrência de
quedas (MACKINNON, WINTER, 1993). Deste modo, a determinação do
deslocamento lateral do CM de cada participante foi determinado no plano x, y.
A determinação do CM de cada segmento foi obtida utilizando o protocolo de
CLAUSER appud CHAFFIN, ANDERSON, MARTIN (1999). O deslocamento lateral
do CM para a direita foi determinado pela distância horizontal formada pela posição
do CM no instante do toque do calcanhar direito no solo e o maior deslocamento
lateral na fase de apoio simples do segmento direito. Para o lado esquerdo foi
utilizado o mesmo procedimento utilizando-se o ponto de contato do calcanhar
esquerdo e maior deslocamento lateral do CM na fase de apoio simples do
segmento esquerdo (FIGURA 12). A amplitude total do deslocamento do CM foi
determinado pelo deslocamento lateral direito e esquerdo.
FIGURA 12 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA PARA A DETERMINAÇÃO DO
DESLOCAMENTO DO CENTRO DE MASSA NO PLANO TRANSVERSO
DURANTE O CICLO DA MARCHA
Posição do CM no instante do
contato do calcanhar direito no solo.
A
B
y
x
Centro de massa
Máximo deslocamento lateral do
CM para a direita (A) e para a
esquerda (B)
Progressão horizontal no
eixo x do centro de massa no
instante do toque do
calcanhar direito no solo
Amplitude total
do deslocamento
do centro de
massa (A+B)
A+B
Posição do CM no instante do contato do
calcanhar esquerdo no solo.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
59
5.4.2 Deslocamento do Tronco
O tronco foi definido pelo segmento de reta formado entre a sétima vértebra
cervical (C7) e segunda vértebra sacral (S2) (SYCZEWSKA, OBERG, KARLSSON,
1999). A partir deste segmento, o ângulo formado entre S2 e C7 com relação a
horizontal foi determinado para definir as inclinações laterais do tronco no plano
frontal e inclinações ântero-posteriores do tronco no plano sagital. Observando o
tronco no plano frontal posterior, as inclinações laterais do tronco no sentido anti-
horário (para a esquerda), foram consideradas como positivas, enquanto que
inclinações laterais do tronco no sentido horário (para a direita), foram consideradas
como negativas. Observando o tronco no plano sagital direito, as inclinações
anteriores do tronco (sentido horário) foram consideradas como positivas, enquanto
que as inclinações posteriores (sentido anti-horário), foram consideradas negativas.
A FIGURA 13 demonstra o modelo utilizado para determinação da variação
angular do segmento do tronco durante o ciclo da marcha (Modificado de: FOWLER,
RODACKI, RODACKI, 2006).
FIGURA 13 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA PARA A DETERMINAÇÃO DA VARIAÇÃO
ANGULAR DO SEGMENTO DO TRONCO NO PLANO FRONTAL POSTERIOR (A)
E SAGITAL DIREITO (B)
FONTE: Modificado de: Fowler, Rodacki, Rodacki (2006)
+
-
A
B
+
-
+
-
+
-
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
60
5.5 PROCESSAMENTO E TRATAMENTO DOS DADOS
As imagens foram digitalizadas através de um cabo conversor analógico-
digital (Pinacle Linx, Pinnacle Systems
®
). Após o processo de digitalização, as
imagens foram processadas a partir de software específico para análise
tridimensional do movimento (SIMI, Motion Analysis
®
). Desta forma as coordenadas
de 24 pontos anatômicos e das cargas externas foram obtidos. As coordenadas dos
pontos anatômicos foram filtradas por meio de um filtro digital (Butterworth do tipo
recursivo de 2
a
ordem) com uma freqüência de corte de 10 Hz.
5.5.1 Normalização e Redução dos Dados
Depois de filtrados, os dados foram normalizados em função do tempo e
expressos em termos percentuais do ciclo da marcha a partir de um software
específico que utiliza funções spline. Ou seja, cada conjunto de dados foi expresso
de modo que todos os movimentos contenham 100 pontos. Deste modo, o início do
movimento foi considerado como instante 0% (toque do calcanhar no solo) e o fim do
ciclo como 100% (toque do mesmo calcanhar no solo). O efeito deste tipo de
procedimento tem sido considerado como mínimo, pois apenas o tempo de duração
do movimento é manipulado. Depois de normalizados, a média agrupada das três
tentativas foi calculada e utilizada para representar a performance de cada sujeito e
condição experimental.
5.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Inicialmente os dados foram tratados através de estatística descritiva (média e
desvio padrão). A normalidade dos dados foi testada através do teste de
Kolmogorov-Smirnov. Para comparar as variáveis em seis condições experimentais
(0%, 5%D, 10%D, 5%E, 10%E e 5-5%) nos segmentos direito e esquerdo foi
utilizado um número de ANOVAs ONE WAY para medidas repetidas. Para
determinar onde tais diferenças ocorreram foi aplicado o teste de SCHEFFÉ. Para
comparar as diferenças das variáveis entre os segmentos direito e esquerdo em
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
61
cada condição experimental foi utilizado o teste t de student. A determinação da
variabilidade cinemática dos segmentos do quadril, joelho e tornozelo foi realizada
pelo coeficiente de variabilidade determinado pela fórmula: (Desvio Padrão/Média) x
100.
As análises estatísticas foram realizadas através do software STATISTICA
®
(STATSOFT Inc., versão 5.5) e o nível de significância aceito foi de p < 0,05. O nível
de significância utilizado no teste t foi corrigido pela técnica de Bonferroni e foi
estipulado como p < 0,004 (THOMAS, NELSON, 1996).
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
62
6 RESULTADOS
A descrição dos resultados do presente estudo foi dividida em variáveis
espaciais e temporais.
Durante a realização da tarefa, nenhum participante reportou qualquer
desconforto durante o transporte de cargas que pudesse alterar sua execução. Tais
achados indicam que o método de triagem utilizado no presente estudo para seleção
dos idosos saudáveis foi eficiente, de modo que todos os participantes possuíam
uma condição física saudável para a realização da tarefa.
Todos os participantes relataram que as cargas de 10% da massa corporal
transportada de maneira assimétrica causaram a maior demanda física dentre as
condições experimentais (TABELA 7). Foram observados aumentos (p < 0,05) na
escala de percepção de esforço nas condições de 10%D (4,5 ± 1,6) e 10%E (4,6 ±
1,6) quando comparadas a condição de 0% (1,2 ± 0,4).
TABELA 7 – ESCALA DE PERCEPÇÃO DE ESFORÇO MÉDIAS OBTIDAS DURANTE A
EXECUÇÃO DAS SEIS CONDIÇÕES EXPERIMENTAIS
0% 5%D 5%E 5_5% 10%D 10%E
Escala de percepção
de esforço
1.2
(0,4)
2,5
(1,2)
2,3
(1,0)
3,5
(1,2)
4,5
(1,6)
4,6
(1,6)
Em atividades do dia a dia, todos os indivíduos relataram ter dominância
direita e habitualmente transportam cargas utilizando a mão dominante em cargas
assimétricas em curtas distâncias. Durante o transporte de cargas em longas
distâncias, todos reportaram alternância manual entre os lados corporais (direito e
esquerdo).
No QUADRO 8, encontram-se os resultados das variáveis temporais
enquanto o QUADRO 9 apresenta os resultados das variáveis espaciais da marcha
dos segmentos direito e esquerdo sob as seis condições experimentais (0%, 5%D,
10%D, 5%E, 10%E, 5-5%).
A FIGURA 14 apresenta as médias angulares do segmento do tronco nos
plano frontal posterior (A) e no plano sagital direito (B) nas seis condições
experimentais.
6.1. ANÁLISE DAS VARIÁVEIS TEMPORAIS
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
63
A análise das variáveis temporais não demonstrou diferenças entre as
condições experimentais, exceto entre as condições de 0% e 10%E. Entre as
condições de 0% (0,15 ± 0,02 s) e 10%E (0,12 ± 0,02 s), foi observada uma
diminuição (p < 0,05) no tempo de duplo apoio do segmento esquerdo de ~20%. Um
aumento de ~7% (p < 0,05) na cadência do segmento direito também foi observado
quando foram comparadas as condições de 0% (110,5 ± 4,4 passos/min) e 10%E
(118,7 ± 4,5 passos/min) (QUADRO 8).
6.2. ANÁLISE DAS VARIÁVEIS ESPACIAIS
A tarefa do transporte de carga sob as diferentes condições de carregamento
demonstrou um maior efeito sobre as variáveis espaciais quando comparadas as
variáveis temporais. Os resultados observados no presente estudo referente as
variáveis espaciais encontram-se no QUADRO 9.
A velocidade horizontal de contato do calcanhar do pé esquerdo foi
comparada entre as condições de 0% (1,16 ± 0,22 m/s) e 10%E (1,61 ± 0,27), onde
foi observado um aumento de ~39% (p < 0,05).
Foram observados aumentos significantes (p < 0,05) de até 40% na
velocidade horizontal de contato do calcanhar esquerdo no solo quando comparado
com o pé direito em todas as condições de carregamento (5%D,10%D, E,5%E,
10%E e 5-5%).
Ao analisar o segmento do tronco no plano frontal, foram observados
aumentos (p < 0,05) na inclinação lateral do tronco durante o transporte de cargas
assimétricas (5%D, 5%E, 10%D e 10%E). As inclinações laterais ocorreram de
forma contra-lateral ao lado de aplicação da carga. A flexão lateral foi maior a
medida em que foram aplicadas cargas de maior magnitude, ou seja, as condições
de 10%D e 10%E geraram maiores inclinações laterais médias quando comparadas
as condições de 5%D e 5%E. Não foram observadas diferenças na inclinação lateral
média do tronco quando comparadas as condições de 0% e 5-5% (p > 0,05).
No plano sagital, foram observados aumentos (p < 0,05) na flexão anterior do
tronco de mais de 2° na condição de 10%D.
Também foram observadas diferenças no deslocamento lateral do CM
quando comparadas as condições de 0% e 10%E. Entre as condições de 0% (2,9 ±
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
64
1,1 cm) e 10%E (0,9 ± 0,5 cm), foi observado uma diminuição no deslocamento
lateral do CM para o lado esquerdo de ~69% (p < 0,05).
Ao comparar o deslocamento lateral do CM para a direita e para a esquerda,
foi observada uma diminuição (p < 0,05) no deslocamento lateral do CM para o lado
esquerdo quando comparado com o lado direito nas condições de 5%E e 10%E. Na
condição de 5%E, a diminuição foi de ~44% (3,8 ± 1,5 cm e 2,1 ± 1,4 cm para os
segmentos direito e esquerdo respectivamente), enquanto na condição de 10%E a
diminuição foi de ~72% (3,3 ± 1,9 cm e 0,9 ± 0,5 cm para os segmentos direito e
esquerdo respectivamente).
Não foram observadas diferenças (p > 0,05) nos parâmetros angulares das
articulações do quadril, joelho e tornozelo entre nenhuma condição experimental ou
entre os segmentos (direito e esquerdo). As FIGURAS 15 e 16 apresentam os
resultados das médias dos deslocamentos angulares do quadril, joelho e tornozelo
direito e esquerdo respectivamente, sobre as seis diferentes condições
experimentais em função a porcentagem do ciclo da marcha.
QUADRO 8 – ANÁLISE DAS VARIÁVEIS TEMPORAIS DO SEGMENTO DIREITO E ESQUERDO
NAS DIFERENTES CONDIÇÕES DE CARREGAMENTO (0%, 5%D, 5%E, 5-5%,
10%D, 10%E) DE HOMENS COM MAIS DE 60 ANOS DE IDADE (n = 10)
CONDIÇÂO
Média (D.P.)
VARIÁVEL
0% 5%D 5%E 5_5% 10%D 10%E
Velocidade da
marcha (m/s)
1,33
(0,11)
1,36
(0,12)
1,38
(0,11)
1,38
(0,12)
1,38
(0,09)
1,41
(0,14)
Tempo do ciclo
Dir. (s)
1,1
(0,07)
1,07
(0,06)
1,06
(0,06)
1,05
(0,04)
1,04
(0,05)
1,03
(0,06)
Tempo do ciclo
Esq. (s)
1,1
(0,08)
1,11
(0,11)
1,09
(0,09)
1,10
(0,09)
1,08
(0,08)
1,07
(0,09)
Tempo do passo
Dir. (s)
0,56
(0,05)
0,54
(0,05)
0,54
(0,05)
0,53
(0,06)
0,53
(0,04)
0,52
(0,05)
Tempo do passo
Esq.(s)
0,52
(0,06)
0,55
(0,05)
0,54
(0,04)
0,55
(0,05)
0,52
(0,03)
0,53
(0,06)
Tempo de duplo
apoio Dir. (s)
0,12
(0,03)
0,14
(0,03)
0,14
(0,03)
0,15
(0,02)
0,13
(0,02)
0,13
(0,02)
Tempo de duplo
apoio Esq. (s)
0,15
(0,02)
0,14
(0,03)
0,14
(0,03)
0,14
(0,03)
0,12
(0,02)
0,12 *
(0,02)
Tempo de
balanço Dir. (s)
0,41
(0,02)
0,41
(0,03)
0,40
(0,03)
0,40
(0,03)
0,39
(0,02)
0,40
(0,04)
Tempo de
balanço Esq. (s)
0,41
(0,04)
0,40
(0,04)
0,40
(0,4)
0,41
(0,04)
0,42
(0,04)
0,40
(0,04)
Cadência Dir.
(passos/min.)
110,5
(4,4)
112,8
(6,02)
112,9
(6,2)
114,0
(3,8)
115,7
(5,6)
118,7*
(4,5)
Cadência Esq.
(passos/min.)
111,6
(3,6)
111,1
(5,6)
112,5
(4,4)
111,4
(3,7)
113,2
(6,0)
114,8
(5,9)
* diferenças observadas nas diferentes condições, dentro da mesma variável e segmento;
g
diferenças
observadas entre os segmentos direito e esquerdo dentro da mesma variável e condição.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
65
QUADRO 9 – ANÁLISE DAS VARIÁVEIS ESPACIAIS DO SEGMENTO DIREITO E ESQUERDO
NAS DIFERENTES CONDIÇÕES DE CARREGAMENTO (0%, 5%D, 5%E, 5-5%,
10%D, 10%E) DE HOMENS COM MAIS DE 60 ANOS DE IDADE (n = 10)
CONDIÇÂO
Média (D.P.)
VARIÁVEL
0% 5%D 5%E 5_5% 10%D 10%E
Comprimento passada Dir.
(m)
1,26
0,14
1,28
0,16
1,28
0,16
1,28
0,15
1,28
0,15
1,3
0,16
Comprimento passada
Esq. (m)
1,25
0,12
1,28
0,15
1,28
0,15
1,29
0,14
1,28
0,14
1,30
0,15
Comprimento do passo
Dir. (m)
0,64
0,07
0,64
0,09
0,65
0,09
0,63
0,08
0,64
0,08
0,65
0,08
Comprimento do passo
Esq. (m)
0,62
0,08
0,64
0,09
0,64
0,09
0,66
0,07
0,64
0,08
0,65
0,08
Largura da passada Dir.
(m)
0,08
0,03
0,07
0,04
0,07
g
0,03
0,07
0,03
0,06
0,02
0,06
g
0,04
Largura da passada Esq.
(m)
0,10
0,02
0,08
0,03
0,09
g
0,03
0,07
0,02
0,10
0,03
0,09
g
0,02
Vel. contato calcanhar
Dir. (m/s)
1,19
0,24
1,10
g
0,32
1,15
g
0,35
1,02
g
0,29
1,06
g
0,24
1,23
g
0,31
Vel. Contato calcanhar
Esq. (m/s)
1,16
0,22
1,54
g
0,26
1,47
g
0,34
1,29
g
0,29
1,33
g
0,27
1,61
g
*
0,27
Pico elevação 5°
metatarso Dir. (m.)
0,08
0,02
0,09
0,01
0,09
0,02
0,09
0,01
0,08
0,01
0,08
0,01
Pico elevação 5°
metatarso Esq. (m.)
0,08
0,01
0,08
0,02
0,08
0,02
0,08
0,02
0,08
0,01
0,08
0,01
Deslocamento do tronco
no plano frontal (graus)
-0.5
0,8
1,0
0,9
-1,9
1,1
-0,9
1,3
2,3
0,8
-3,3
1,0
Deslocamento do tronco
no plano sagital (graus)
5,2
0,8
6,7
0,8
6,5
1,0
6,6
0,7
7,5
0,8
7,2
0,9
Deslocamento do CM para
direita (cm)
3,8
2,5
2,4
1,0
3,8
g
1,5
2,0
1,3
3,1
1,9
3,3
g
1,9
Deslocamento do CM para
esquerda (cm)
2,9
1,1
2,4
1,0
2,1
g
1,4
2,2
1,6
2,2
1,6
0,9*
g
0,5
Amplitude total de
deslocamento do CM (cm)
6,8
2,9
4,7
1,2
5,9
2,0
4,0
2,3
5,3
2,8
3,9
1,6
* diferenças observadas nas diferentes condições, dentro da mesma variável e segmento;
g
diferenças observadas entre os segmentos direito e esquerdo dentro da mesma variável
e condição.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
66
a
a b
a b
a b
a b
b
Inclinação Esquerda Inclinação Direita
a
a b
a c
b
c
a c
a c
%
FIGURA 14 – VALORES ANGULARES MÉDIOS DO TRONCO NO PLANO FRONTAL (A) E
SAGITAL (B) NAS SEIS CONDIÇÕES ESPERIMENTAIS (0%, 5%D, 5%E, 5-5%,
10%D, 10%E)
NOTA: a = diferenças (p < 0,05) entre as condições 0%, 5%D, 10%D, 5%E e 10%E; b = diferenças (p
< 0,05) entre as condições de 5%D, 10%D, 5%E, 10%E e 5-5%.
NOTA: a = diferenças (p < 0,05) entre as condições 0%, 5%D, 10%D, 10%E e 5-5%; b = diferença (p
< 0,05) entre as condições 5%D e 5%E; c = diferença (p < 0,05) entre as condições 10%D, 5%E,
10%E e 5-5%.
A
B
Inclinação Anterior
A
B
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
67
FIGURA 15 – DESLOCAMENTOS ANGULARES MÉDIOS DAS ARTICULAÇÕES DO QUADRIL (A),
JOELHO (B) E TORNOZELO (C) DIREITOS NAS SEIS CONDIÇÕES
EXPERIMENTAIS (0%, 5%D, 5%E, 5-5%, 10%D, 10%E)
0% 50% 100%
% ciclo da marcha
10
0
-15
Extensão Flexão
0%
5%D
5%E
5-5%
10%D
10%E
A
C
B
60
0
Flexão
25
0
-5
Extensão Flexão
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
68
FIGURA 16 – DESLOCAMENTOS ANGULARES MÉDIOS DAS ARTICULAÇÕES DO QUADRIL (A),
JOELHO (B) E TORNOZELO (C) ESQUERDOS NAS SEIS CONDIÇÕES
EXPERIMENTAIS (0%, 5%D, 5%E, 5-5%, 10%D, 10%E)
0% 50% 100%
% ciclo da marcha
0%
5%D
5%E
5-5%
10%D
10%E
60
0
Flexão
25
0
-5
Extensão Flexão
10
0
-15
Extensão Flexão
A
C
B
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
69
7 DISCUSSÃO
O objetivo deste estudo foi verificar as alterações espaço-temporais da
marcha em indivíduos idosos durante o carregamento de cargas simétricas e
assimétricas. Durante as seis condições experimentais nenhum participante reportou
desconfortos que pudessem alterar sua execução. As cargas foram escolhidas para
representar condições de carregamento em atividades diárias, como por exemplo, as
cargas transportadas durante as compras de supermercado. Nottrodt e Manley
(1989), observaram que cargas de aproximadamente 28% da massa corporal dos
indivíduos corresponderam ao limite de transporte confortável realizado por uma
mão. Deste modo, as cargas aplicadas no presente estudo são bem menores (~50
%) daquelas indicadas como aceitáveis para o carregamento de cargas manuais. Ao
verificar a escala de percepção de esforço, valores entre 4 e 5 são considerados
como intensidades aceitáveis durante esforços (ACSM, 2000), deste modo, apesar
das cargas transportadas serem consideradas aceitáveis para os idosos, pode-se
observar que as cargas de 10% do peso corporal demandaram um maior esforço
físico durante a execução da tarefa, principalmente nas condições assimétricas.
No presente estudo, a condição de 0% foi utilizada como padrão para a
comparação das diversas variáveis da marcha entre todas as condições de
carregamento. Foi observado um coeficiente de variação na marcha de 8,54% para
o quadril, 9,1% para o joelho e 10,3% para o tornozelo. Coeficientes de variabilidade
menores do que 12% são considerados aceitáveis neste tipo de experimentos
(GABEL e NAYAK, 1984). Deste modo, a baixa variabilidade indica que os
indivíduos possuem um padrão cinemático da marcha bastante reprodutível
(WINTER, 1984). As curvas de flexão e extensão das variáveis cinemáticas do
quadril, joelho e tornozelo também foram bastante similares com os valores
reportados em outros estudos envolvendo idosos na marcha livre (MURRAY, KORY,
CLARKSON, 1969; WINTER, 1991; KERRIGAN et al., 2001). Assim, pode-se
concluir que os participantes do presente estudo constituem-se de uma amostra
padrão, e que alterações observadas na marcha decorrentes das condições
experimentais de carregamento ocorrem em resposta apenas da própria condição, e
não de uma possível descaracterização da amostra de idosos.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
70
Quando comparada as demais variáveis da marcha no presente estudo,
podem-se observar diferenças nos valores observados em outros estudos (WINTER,
1991; MURRAY, KORY, CLARKSON, 1969). Uma possível explicação para esta
diferença pode se dar no fato de que nos países desenvolvidos, devido a melhor
qualidade de vida, idosos são classificados como pessoas com mais de 65 anos de
idade enquanto nos países em desenvolvimento, idosos são classificados como
pessoas acima de 60 anos (IBGE, 2002). Assim, para uma melhor comparação, os
idosos do presente estudo (acima de 60 anos) devem ser comparados com idosos
acima de 65 anos em estudos realizados em países desenvolvidos.
7.1 AS VARIÁVEIS TEMPORAIS
Os resultados do presente estudo demonstraram que os parâmetros
temporais durante a marcha sofrem influência do modo de carregamento da carga.
O tempo de duplo apoio perfaz aproximadamente 20% de todo o ciclo da
marcha e tem sido descrito como um fator determinante na recuperação do equilíbrio
após o período de instabilidade decorrente do apoio simples (WINTER, 1995). Ao
analisar as variáveis temporais, foi observada uma diminuição no tempo de duplo
apoio esquerdo (~20%) quando comparadas as condições 0% e 10%E. A diminuição
no tempo de duplo apoio no presente estudo em função do aumento da carga foi
contrastante com aquela reportada em outros estudos, os quais tem observado
aumentos no tempo de duplo apoio em resposta a incrementos da carga
transportada (KINOSHITA, 1985; MARTIN, NELSON, 1986). Estes estudos
concluíram que os indivíduos buscam aumentar o tempo de duplo apoio para
recuperar a instabilidade na marcha causada pela alteração compensatória na
trajetória do CM que ocorre pelo aumento na carga. Tal discordância com o presente
estudo pode ter ocorrido pela diferença entre os métodos de carregamento
realizados. Nos estudos de Kinoshita (1985) e Martin e Nelson (1986), a análise foi
realizada com cargas simétricas através de mochilas (backpack), enquanto no
presente estudo o transporte de cargas ocorreu de forma simétrica e assimétrica por
meio de sacolas de mão.
Apesar da influência que a forma de carregamento assimétrico possa ter tido
sobre o tempo de duplo apoio, a discrepância nos resultados é intrigante, uma vez
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
71
que em geral, os idosos tendem a aumentar o período de duplo apoio quando
comparados aos jovens durante a marcha natural (WATERLAIN et al., 2000). Assim,
a premissa que com o aumento da carga, os idosos apresentariam um período de
tempo na fase de duplo apoio maior para recuperar sua estabilidade não foi
observado. Estes achados indicam que o método de carregamento assimétrico por
meio de sacolas de mão possui um efeito bastante pronunciado sobre a marcha do
indivíduo idoso.
Uma outra possibilidade para explicar a diminuição no tempo de duplo apoio
em função do aumento da carga nos idosos pode estar no maior momento de inércia
criado sobre o CM, que pode ter potencializado um aumento na velocidade de
deslocamento lateral do CM no início da fase de duplo apoio. O período de duplo
apoio é fator importante para a manutenção do equilíbrio e desempenho na marcha
do idoso (KINOSHITA, 1985). O período de duplo apoio é antecedido pelo apoio
simples onde o CM é projetado para frente sobre a perna de suporte (pêndulo
invertido). É neste período (fase de apoio médio) que o CM alcança a maior
excursão lateral (para o lado do segmento que está em contato com o solo), e tem
sido associado como o ponto de maior instabilidade da marcha (WINTER, 1991;
KAVANAGH, MORRISON, BARRETT, 2005). No final do período do apoio simples,
o corpo recupera o equilíbrio com o início da fase de duplo apoio no passo
subseqüente (WINTER, 1995). Assim, uma maior velocidade de deslocamento
lateral do CM pode ter induzido a uma fase de duplo apoio mais rápida.
No presente estudo, o tempo de duplo apoio diminuiu apenas na condição
10%E, sugerindo que os idosos apresentam alterações mais marcantes apenas
quando submetidos ao transporte de cargas assimétricas de maior magnitude. Não
foram observadas alterações nos transportes de cargas de 5% do peso corporal e
nas condições de 10%D e 5-5%. Deste modo, a hipótese H
1.1.
que pressupõe que o
tempo de duplo apoio diminui com o aumento da carga foi rejeitada.
Não foram observadas diferenças na velocidade da marcha nas diferentes
condições de carregamento. Crosbie, Flynn, Rutter, (1994) concluíram que o
aumento da carga tende a aumentar a velocidade da marcha dos indivíduos através
do aumento na cadência. Estes resultados são semelhantes ao reportados no
presente estudo, onde foi apenas observado uma tendência (p < 0,08) no aumento
da velocidade da marcha (~6%), ocorrido provavelmente pelo aumento na cadência
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
72
do ciclo direito (~7%) quando comparadas as condições de 0% e 10%E (TABELA 2).
Este aumento na cadência também pode estar relacionado à diminuição no tempo
de duplo apoio observada nestas condições de carregamento (0% e 10%E). Tais
achados indicam que o aumento na cadência influencia um ganho na velocidade da
marcha (CROSBIE, FLYNN, RUTTER, 1994), assim como o aumento da velocidade
da marcha também está associado à diminuição no tempo de duplo apoio
(ROSENROT, WALL, CHARTERIS, 1980).
A hipótese H
1.2.
pressupõe que a velocidade da marcha aumente com o
aumento da carga. No presente estudo, foram observados indicativos do aumento
da velocidade em função do aumento da cadência e apenas na condição de 10%E.
Deste modo a hipótese H
1.2.
foi rejeitada.
Era esperado no presente estudo que, com o aumento da carga, houvesse
um aumento na cadência, que é uma variável influenciada pelo aumento da carga
(MARTIN e NELSON, 1986). A cadência aumentou apenas quando comparadas as
condições de 0% e 10%E, não sendo observada alterações no transporte de 5% do
peso corporal (5%D e 5%E) e nas condições de 5-5% e 10%D. Deste modo, a
hipótese H
1.3.
que
pressupõe que a cadência aumenta a medida em que cargas de
maior magnitude são aplicadas foi rejeitada.
7.2 AS VARIÁVEIS ESPACIAIS
A análise das variáveis espaciais demonstrou maiores alterações com o
aumento da carga quando comparadas as variáveis temporais.
A velocidade de contato do calcanhar no solo é uma variável importante para
a análise da marcha, principalmente em indivíduos idosos, por estar relacionada à
ocorrência de escorregões que induzem o indivíduo idoso a sofrer alguma queda
(WINTER, 1991). Ao analisar as variáveis espaciais foi observado um aumento na
velocidade de contato do calcanhar esquerdo no solo de aproximadamente 39%
entre as condições de 0% e 10%E. Também foram observados aumentos na
velocidade de contato do calcanhar esquerdo no solo de 25% a 40% quando
comparado com o calcanhar direito em todas as condições de carregamento.
Com o processo do envelhecimento, o indivíduo idoso tende a aumentar a
velocidade de contato do calcanhar no solo quando comparados aos jovens
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
73
(WINTER, 1991; MILLS, BARRET, 2001). Deste modo, as condições de
carregamento aplicadas no presente estudo demonstraram ser um fato agravante no
aumento da velocidade de contato nos indivíduos idosos.
Para que o calcanhar entre em contato com o solo de maneira mais suave, a
musculatura dos ísquios-tibiais deve ser ativada corretamente para desacelerar a
perna no final da fase de balanço (WINTER, 1991), e estabilizar a pelve, auxiliando o
glúteo máximo na desaceleração anterior da cabeça, tronco e membros (SADEGHI
et al., 2004). Deste modo, uma musculatura debilitada ou alterações neurais que
influenciem a correta ativação destes músculos, decorrentes do processo do
envelhecimento ou de lesões, podem alterar o correto processo de contato do
calcanhar no solo, fazendo com que o indivíduo não desacelere o segmento no
instante do contato e aumente o risco de deslizes que possam induzir a quedas.
Em adição ao aumento da velocidade de contato do calcanhar no solo, a
medida em que os idosos foram submetidos às condições de carregamento de carga
no presente estudo, foi observada uma maior inclinação anterior do tronco (FIGURA
14b). Esta maior inclinação pode ter levado a um deslocamento anterior do CM e
assim um momento de inércia anterior maior dos segmentos superiores (cabeça,
tronco e membros) durante a marcha, como observado nos estudos de Mcgibbon e
Krebs (2001). O maior momento flexor do tronco levaria a uma maior ativação da
musculatura dos ísquios-tibiais e do glúteo máximo para desacelerar os segmentos.
Visto que o processo do envelhecimento se caracteriza por alterações no sistema
sensório e motor (TINETTI, 1988) e diminuição da força muscular (ACSM, 1998) que
podem modificar a percepção e o controle de movimentos (ACSM, 2000), o aumento
da carga externa pode acentuar debilidades da musculatura do lado não dominante,
reduzindo a capacidade de controlar a velocidade de entrada do calcanhar no solo.
Estes argumentos são reforçados pelo aumento da velocidade de contato do
calcanhar observados no segmento esquerdo (lado não dominante) em todas as
condições de carregamento quando comparados ao segmento direito (lado
dominante).
A hipótese H
2.1
pressupõe haver um aumento na velocidade de contato do
calcanhar no solo na condição de 10%E quando comparada com a condição de 0%.
Foi observado um aumento significativo na velocidade de contato do calcanhar no
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
74
solo na condição de 10%E quando comparado a condição de 0%. Deste modo, a
hipótese H
2.1.
foi aceita.
No presente estudo, também era esperado que o transporte assimétrico de
cargas aumentasse a velocidade de contato do calcanhar no solo do lado do
segmento que realiza o transporte da carga quando comparado ao segmento contra-
lateral (lado sem carga), como presumido na hipótese H
2.2.
. Contudo, foram
observados aumentos apenas na velocidade de contato do calcanhar esquerdo,
independente do método de carregamento (segmento direito ou esquerdo). Deste
modo, a hipótese H
2.2.
foi rejeitada.
Ao verificar os picos de flexão da articulação do quadril, joelho e tornozelo e
os picos de extensão do joelho e tornozelo durante a marcha, observou-se uma
similaridade em relação aos resultados reportados em outros estudos nas seis
condições experimentais da marcha a que os indivíduos idosos foram submetidos
(MURRAY, KORY, CLARKSON, 1969; WINTER, 1991; KERRIGAN et al., 2001). Em
contrapartida, o pico de extensão do quadril nas seis condições experimentais do
presente estudo foi menor (~5 graus) quando comparados aos estudos acima
citados (FIGURAS 15 e 16). Contudo, não foram observadas diferenças entre as
seis condições experimentais no pico de extensão, fazendo com que a diminuição
observada seja decorrente de características intrínsecas da população amostral
(idosos), sem relação com o aumento da carga transportada.
No presente estudo, também era esperado na fase de recepção da carga que
os indivíduos idosos aumentassem o pico de flexão do joelho devido ao aumento da
carga. Estes resultados não foram observados, o que sugere que os idosos adotam
outras estratégias compensatórias na marcha para o aumento de cargas, como uma
redistribuição nos momentos articulares. Contudo, outros estudos com medidas
cinéticas e de ativação muscular que comprovem tais achados são necessários. A
hipótese H
2.3.
pressupõe que o aumento na carga gerasse um maior pico de flexão
do joelho na fase de recepção da carga (FJ1), o que não foi confirmado neste
estudo. Deste modo a hipótese H
2.3.
foi rejeitada.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
75
7.3 A CINEMÁTICA DO TRONCO
O segmento do tronco tem a função de minimizar os movimentos oscilatórios
da cabeça durante a marcha, regulando o aparato vestibular e visual (KAVANAGH,
MORRISON, BARRETT, 2005). A análise cinemática do tronco durante a marcha,
demonstrou diferenças no plano frontal e sagital durante o transporte de cargas. No
plano frontal, durante o transporte assimétrico, foram observados aumentos de até
2° na inclinação lateral do tronco. Esta inclinação ocorreu de maneira contra-lateral
em relação ao lado do transporte da carga e as cargas de maior magnitude geraram
maiores inclinações laterais. A inclinação lateral do tronco durante o carregamento
assimétrico tem sido descrita como uma medida de recuperação da estabilidade, a
fim de trazer o centro de massa para próximo da linha de progressão (DEVITA,
HONG, HAMILL, 1991; WU, MAC LEOD, 2001; FOWLER et al., 2006). Neste
estudo, não foram observadas alterações entre a condição de 0% e 5-5%, o que
demonstra que o transporte de cargas simétricas não requer maiores ajustes
posturais no plano frontal para manutenção da estabilidade da cabeça. As pequenas
alterações nesta condição (5-5%) indicam uma maior estabilidade durante a marcha.
A hipótese H
2.4.
pressupõe que com o transporte de cargas assimétricas
imposta ao indivíduo, ocorre uma inclinação contra-lateral do tronco em resposta ao
lado de transporte da carga, a qual é acentuada com cargas de maior magnitude.
Deste modo a hipótese H
2.4.
foi aceita.
No plano sagital, com o aumento da carga, foram observados aumentos na
flexão anterior do tronco (de até 2°). Com o processo do envelhecimento, os idosos
tendem a adotar uma postura flexionada do tronco (SHUMMAY-COOK e
WOOLLACOTT, 1995). Esta postura flexionada pode deslocar o centro de massa
levemente à frente. Com o incremento de cargas externas, uma maior massa é
agregada à parte superior do corpo, aumentando ainda mais a flexão anterior do
tronco. Tendo o centro de massa deslocado à frente, a energia necessária para o
inicio do movimento do pêndulo invertido é menor. Desta forma, diminuindo o tempo
necessário para transpor o CM para frente, o que pode influenciar na diminuição do
tempo de duplo apoio.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
76
A hipótese H
2.5.
pressupõe que cargas de maior magnitude geram maiores
inclinações anteriores do tronco. Como não houve diferenças entre a condição 0% e
5%E, e entre as condições 5-5%, 5%D e 5%E, a hipótese H
2.5.
foi rejeitada.
7.4 O CENTRO DE MASSA
Os movimentos do centro de massa (CM) no plano transverso têm uma
importante participação no controle do equilíbrio (MACKINNON e WINTER, 1993),
sendo indicativos de estabilidade dinâmica, principalmente em idosos (HAHN e
CHOU, 2003). Deste modo, torna-se importante verificar o efeito de diferentes
condições de carregamento de cargas sobre o deslocamento lateral do CM na
marcha.
Quando comparados os deslocamentos laterais do CM em função da
condição de carregamento, foram observadas diminuições para o lado esquerdo,
nas condições de 5%E (~44%) e 10%E (~72%). No presente estudo, o aumento das
cargas assimétricas pode ter causado um maior deslocamento do CM para o lado do
carregamento. Para reduzir este deslocamento, os indivíduos alteram a porção do
segmento do tronco como medida compensatória (DEVITA, HONG, HAMILL, 1991).
Deste modo, os idosos parecem ter procurado manter a orientação do tronco no
espaço a fim de estabilizar a cabeça. Assim, ao realizar o transporte de cargas nas
diferentes condições, os indivíduos procuram reestruturar o desequilíbrio gerado
pelo incremento da carga externa a fim de reestruturar o deslocamento lateral do
CM. Deste modo, para sustentar os mecanismos normais da unidade locomotora
(pelve e membros inferiores) durante o transporte de cargas, os idosos alteram a
função da unidade do passageiro (cabeça, braços e tronco) de manter a própria
integridade postural, realizando inclinações contra-laterais e anteriores do tronco em
resposta a carga, para auxiliar e minimizar as alterações na unidade locomotora.
As alterações no deslocamento do CM observados apenas nas condições de
carregamento com a mão esquerda (5%E e 10%E), indicam um efeito muscular na
condição de carregamento (direito e esquerdo) sobre a dominância nos idosos, já
que todos relataram ter dominância direita. Contudo, outros estudos são necessários
com a utilização de medidas cinéticas e de ativação muscular envolvendo indivíduos
com dominância esquerda para comprovar estes achados.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
77
A hipótese H
2.6.
pressupõe que o transporte assimétrico de cargas diminui o
deslocamento lateral do CM do lado da aplicação da carga, quando comparado com
o deslocamento lateral para o lado oposto. No presente estudo, foram observadas
diminuições no deslocamento lateral do CM para a esquerda apenas no transporte
de cargas realizados pelo segmento esquerdo, não sendo observadas diferenças
nas condições de 5%D e 10%D. Deste modo, a hipótese H
2.6.
foi rejeitada.
Quando comparados os deslocamentos laterais do CM em função da
magnitude da carga nas condições de 0% e 10%E, foi observada uma diminuição no
deslocamento para a esquerda de ~68% na condição 10%E. O segmento do tronco
tem um importante papel na manutenção do centro de gravidade durante o
transporte de cargas assimétricas (CROSBIE, FLYNN, RUTTER, 1994; FOWLER,
RODACKI, RODACKI, 2006). Para manter a porção do tronco em uma postura
inclinada, uma maior ativação muscular é necessária para vencer esta resistência.
Os músculos do tronco (DEVITA, HONG, HAMILL, 1991) e os músculos que atuam
ao redor da articulação quadril e joelho (SADEGHI et al., 2004) têm um importante
papel no controle da postura durante o transporte de cargas assimétricas,
principalmente no momento de apoio simples, onde ocorre a maior oscilação lateral
do centro de massa. Desta forma, a maior inclinação contra-lateral do tronco para o
lado direito indica a necessidade do recrutamento muscular para sustentar esta
postura. A manutenção desta postura alterada pode levar a fadiga e
conseqüentemente desconfortos, decorrentes do carregamento de cargas de maior
magnitude, principalmente aqueles transportados pela mão não dominante
(esquerda), como reportado pelos idosos. Deste modo, pode-se observar um efeito
da magnitude da carga sobre a dominância do indivíduo.
A hipótese H
2.7.
pressupõe que o transporte assimétrico de cargas de maior
magnitude diminui o deslocamento lateral do CM do lado de aplicação da carga,
quando comparado com a condição sem carga. No presente estudo, foi observada
uma diminuição no deslocamento lateral do CM no segmento esquerdo na condição
de 10%E, não sendo observadas alterações no deslocamento no segmento direito
na condição de 10%D. Deste modo, a hipótese H
2.7.
foi rejeitada.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
78
8 CONCLUSÃO
No presente estudo, as variáveis temporais sofreram influência dos métodos
de carregamento de carga utilizados. Não foram observados aumentos significativos
na velocidade da marcha durante os diferentes métodos de carregamento, contudo,
uma diminuição no tempo de duplo apoio e um aumento na cadência na condição de
transporte assimétrico de maior carregamento transportados no lado esquerdo foi
observado. Estas alterações podem estar associadas ao transporte da carga causar
uma maior inclinação anterior do tronco. Tais alterações foram vistas como uma
estratégia para controlar o momento de inércia anterior do tronco, esta que
possibilitou reduzir a energia necessária para o centro de massa transpor o
segmento da perna na fase de apoio simples (pendulo invertido) na marcha, a qual
influencia o tempo de duplo apoio e a cadência.
O transporte de cargas de diferentes magnitudes, realizado de forma
simétrica e assimétrica, alterou as variáveis cinemáticas espaciais durante a marcha
dos idosos. Os aumentos observados na velocidade de contato do calcanhar
esquerdo no solo em todas as condições de carregamento foram atribuídas à maior
inclinação anterior do tronco. A inclinação do tronco causa um momento de inércia
anterior maior, de modo que, ao transpor a perna direita pela fase de apoio (pêndulo
invertido) com uma maior massa (decorrente da massa do troco inclinada mais a
massa das cargas externas), o idoso necessitaria de uma maior ativação muscular
dos músculos extensores do quadril para desacelerar o segmento da perna e do
tronco no final da fase de balanço e inicio da fase de contato com o solo. Outro fator
associado a este aumento da velocidade de contato seria uma possível influência da
dominância, visto que as diferenças na velocidade de contato do calcanhar no solo
foram observadas apenas no segmento esquerdo.
O segmento do tronco sofreu influências da magnitude da carga e do método
de carregamento. No plano frontal, o transporte assimétrico de cargas causou uma
inclinação contra-lateral do tronco como medida compensatória para reestruturar o
desvio lateral do centro de massa gerado pela implementação da carga. No plano
sagital, os aumentos na flexão anterior do tronco, em decorrência do transporte de
cargas de maior magnitude, ocorreram devido ao incremento da carga externa
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
79
acentuar as alterações posturais (cifose), que são características observadas nos
indivíduos idosos.
As alterações observadas no deslocamento do centro de massa ocorreram
em resposta à magnitude e ao método de carregamento da carga. Ao aplicar uma
carga externa, o centro de massa migrou de sua posição inicial para o lado de
aplicação da carga. O centro de massa foi alterado de maneira mais acentuada a
medida em que a carga foi incrementada.
Não foram observadas alterações na cinemática das articulações do quadril,
joelho e tornozelo durante as diferentes condições experimentais. Tais achados são
sugestivos e indicam que a inclinação contra-lateral do tronco constitui a principal
medida compensatória para reestruturar o deslocamento lateral do centro de massa.
Desta forma os idosos são capazes de realizar a marcha sem a necessidade de
alterações importantes nos segmentos inferiores em decorrência ao aumento da
carga.
Deste modo, com fenômeno do processo de envelhecimento mundial e do
aumento do número de idosos que desempenham atividades profissionais, torna-se
importante o desenvolvimento de estratégias ergonômicas preventivas para que esta
população realize sua tarefa da maneira mais segura possível. Assim, durante o
transporte de cargas em suas atividades ocupacionais e de vida diária, os idosos
devem buscar o transportar cargas de menor magnitude de maneira simétrica. As
alterações observadas no presente estudo indicam que o transporte assimétrico de
cargas superiores a 10% do peso corporal devem ser evitadas.
Outros estudos são necessários para testar parâmetros cinéticos e de
ativação muscular durante o transporte de cargas de diferentes magnitudes em
diversas condições de carregamento em idosos e jovens, para analisar os
mecanismos de ajustes internos que ocorrem durante estes tipos de carregamento e
determinar qual o melhor tipo de transporte para cada população.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
80
REFERÊNCIAS
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE – ACSM. Pronouncement. Exercise
and physical activity for older adults. In: Medicine and Science in Sports and
Exercise. v. 30, n. 6, p. 1-23, 1998.
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE – ACSM. Guidelines for Exercise
Testing and Prescription. 6 ed. Philadelphia: Lippincot Williams and Wilkins, 2000.
AMERICAN GERIATRICS SOCIETY, BRITISH GERIATRICS SOCIETY, AMERICAN
ACADEMY OF ORTHOPEDIC SURGEONS. Panel on falls prevention. Guideline for
the prevention of falls in older persons. Journal of the American Geriatrics
Society. v. 49, n.5, p. 664-672, 2001
ANDREOLI, T. E.; BENNETT, J. C.; CARPENTER, C, C, J.; PLUM, F. Cecil
Medicina Interna Básica. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.
BAKER, S. P; HARVEY, A. H. Fall injuries in the elderly. Clinical Geriatrics
Medicine. v. 1, p. 501–12, 1985.
BARR, A. E.; BACKUS, S. I. Biomechanics of gait. In. Nordin, M.; Frankel, V. H.
Basic biomechanics of the musculoskeletal system. 3 ed. Philadelphia: Lippincott
Williams & Willkins, 2001.
BERG, W. P; ALESSIO, H. M; MILLS, F. M; TONG, C. Circumstances and
consequences of falls in independent community-dwelling older adults. Age and
Ageing. v. 26, p. 261-268, 1997.
BURKER, E. J.; WONG, H.; SLOANE, P. D.; MATTINGLY, D.; PREISSER, J.;
MITCHEL, C. M. Predictors of fear of falling in dizzy and nondizzy elderly.
Psychology and Aging. v. 10, p. 104-110, 1995.
CAMPBELL, A.; BORRIE, M. J.; SPEARS, G. F. Risk factors for falls in a community-
based prospective study of people 70 years and older. Journal of Gerontology. v.
44, p. 112-117, 1989.
CAPEZUTI, E.; HARTFORD, J. A. Building the Science of Falls-Prevention
Research. Journal of the American Geriatrics Society. v. 52, p. 461-462, 2004.
CAPOZZO, A. Analysis of the linear displacement of the heel and trunk during
walking at different speeds. Journal of Biomechanics. v. 14, p. 411-425, 1981.
CECIL. Textbook of Medicine. W. B. Saunders Company, 1992.
CHAFFIN, D. B.; ANDERSON, G. B. J.; MARTIN, B. J. Ocupational Biomechanics.
New York, NY: John Wiley and Sons, Inc, 1999.
CROSBIE, J.; FLYNN, W.; RUTTER, L. Efect of side load carriage on the kinematics
of gait. Gait and Posture, v. 2, n. 2, p. 103-108, 1994.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
81
DEVITA, P.; HONG, D.; HAMILL J. Effects of asymmetric load carrying on the
biomechanics of walking. Journal of Biomechanics. v. 24, n. 12, p. 1119-1129,
1991.
DUNCAN, P. W.; CHANDLER, J.; STUDENSKI, S.; HUGHES, M.; PRESOTT, B.
How do physiological components of balance affect mobility in elderly men?
Archives of Physical Medicine and Rehabilitation. n. 74, p. 1343-1349, 1993.
DYCHTWALD, K. O mercado emergente dos “novos velhos”. HSM Management. n.
33, p. 47-57, 2002.
ENGLANDER, F.; HODSON, T. J.; TERREGROSSA, R. A. Economic dimensions of
slip and fall injuries. Journal of Forensic Sciences. v. 41, p. 733-764, 1996.
FARMER, M. E.; WHITE, L. R.; BRODY, J. A.; BAILEY, K. R. Race and sex
differences in hip fracture incidence. American Journal of Public Health. v. 74, p.
1374-1380, 1984.
FOWLER, N. E.; RODACKI, A. L. F.; RODACKI, C. L. N. Changes in stature and
spine kinematics during a loaded walking task. Gait and Posture. v. 23, p. 133-141,
2006.
GABEL, A.; NAYAK, U. S. L. The effect of age on variability in gait. Journal of
Gerentology. v. 39, n. 6, p. 662-666, 1984.
GEHLSEN, G. M.; WHALEY, M. H. Falls in the elderly: part I, gait. Archives of
Physical Medicine and Rehabilitation. v. 71, p. 735-738, 1990.
GIANNINI, S.; CATANI, F.; BENEDETTI, M. G.; LEARDINI, A. Gait Analysis.
Metodologies and Clinical Applications. Netherlands: IOS, 1994.
GRISSO, J. A.; KELSEY, J. L.; STROM, B. L.; CHIV, G. Y.; MAISLIN, G.; O’BRIEN,
L. A.; HOFFMAN, S.; KAPLAN, F. NORTHEAST HIP FRACTURE GROUP. Risck
factors for falls as a cause of hip fracture in women. The New England Journal of
Medicine. v. 324, p. 1326-1331, 1991.
HAHN, M. E.; CHOU, L. Can motion of individual body segments identify dynamic
instability in the elderly? Clinical Biomechanics. v. 18, p. 737-744, 2003.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo
Demográfico 2000 - Características Gerais da População Resultados da
amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Perfil dos
idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil - 2000. Estudos e Pesquisas
Informação Demográfica e Socioeconômica. n. 9, 2002.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
82
KAVANAGH, J. J.; MORRISON, S.; BARRETT, R. S. Coordination of head and trunk
accelerations during walking. European Journal of Applied Physiology. v. 94, p.
468–475, 2005.
KENZORA, J. E.; McCARTHY, R. E.; LOWELL, J. D.; SLEDJE, C. B. Hip fracture
mortality: relation to age, treatment, preoperative illness, time of surgery, and
complications. Clinical Orthopaedics. v. 186, p. 45-56, 1984.
KERRIGAN, D. C.; LEE, L. W.; COLLINS, J. J.; RILEY, P. O.; LIPSITZ, L. A.; Reduce
hip extension during walking: healthy elderly and fallers versus young adults.
Archives of Physical Medicine and Rehabilitation. v. 82, p. 26-30, 2001.
KERRIGAN, D. C.; ODDSON, A. X.; SULLIVAN, M. J.; LELAS, J. J.; RILLEY, P. O.
Effect of a hip flexor-stretching program on gait in the elderly. Archives of Physical
Medicine and Rehabilitation. v. 84, p. 1-6, 2003.
KINOSHITA, H. Effects of different and carrying systems on selected biomechanical
parameters describing walking gait. Ergonomics. v. 28, n. 9, p. 1347-1362, 1985.
KLIGMAN, E. W. Preventive geriatrics: Basic priciples for primary care physicians.
Geriatrics. v. 47, n. 7, p. 39-50, 1992.
LACHMAN, M. E.; HOWLAND, J.; TENNSTEDT, S.; JETTE, A.; ASSMANN, S.;
PETERSON, E. W. Fear of falling and activity restriction: The survey of activities and
fear of falling in the elderly. The Journal of Gerontology (B) Psychological
Science and Social Science. v. 53B, p. 43-50, 1998.
LAWRENCE, R. H.; TENNSTEDT, S. L.; KASTEN, L. E. SHIH, J.; HOWLAND, J.;
JETTE, A. M. Intensity and correlates of fear of falling and hurting oneself in the next
year. Journal of Aging and Health. v. 10, p. 267-286, 1998.
LEAMON, T. B.; MURPHY, P. L. Occupational slips and falls: More than a trivial
problem. Ergonomics. v. 38, p. 487-498, 1995.
LEGG, S. J. Comparison of different methods of load carriage. Ergonomics. v. 28, n.
1, p. 197-212, 1985.
LIPSITZ, L. A.; JONSSON, P. V.; KELLEY, M. M.; KOESTNER, J. S. Causes and
correlates of recurrent falls in ambulatory frail elderly. Journal of Gerontology. v.
46, n. 4, p. 114-122, 1991.
MACKINNON, C. D.; WINTER, D. A. Control of whole body balance in the frontal
plane during human walking. Journal of Biomechanics. v. 26, p. 633-644, 1993.
MAKI, B. E. Gait changes in older adults: Predictors of falls or indicators of fear?
Journal of the American Geriatrics Society. v. 45, n. 3, p. 313-320, 1997.
MAKI, B. E.; MCILROY, W. E. Postural control in the older adult. Clinical Geriatrics
Medicine. v. 12, p. 653-658, 1996.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
83
MARTIN, P. E.; NELSON, R. C. The effect of carried loads on the walking patterns of
men and women. Ergonomics. v. 29, n. 10, p. 1191-1202, 1986.
MCGIBBON, C. A.; KREBS, D. E. Age-related changes in lower trunk coordination
and energy transfer during gait. Journal of Neurophysiology. v. 85, p. 1923-1931,
2001.
MILLER, C. W. Survival and ambulation following hip fracture. Journal of Bone and
Joint Surgery. v. 60(A), p. 930-934, 1978.
MILLS, P. M.; BARRETT, R. S. Swing phase mechanics of healthy young and elderly
men. Human Movement Science. n. 20, p. 427-446, 2001.
MURRAY, M. P.; DROUGHT, B.; KORY, R. C. Walking patterns of normal men. The
Journal of Bone and Joint Surgery. v. 46A, p. 335-360, 1964.
MURRAY, M. P.; KORY, R. C.; CLARKSON, B. H. Walking patterns in healthy old
men. Journal of Gerontology. v. 24, p. 169-178, 1969.
MURRAY, M. P.; KORY, R. C.; SEPIC. Walking patterns of normal women. Archives
of Physical Medicine and Rehabilitation. v. 51, p. 637-650, 1970.
NEVITT, M. C.; CUMMINGS, S. R.; KIDD, S.; BLACK, D. Risk factors for recur-rent
nonsyncopal falls: a prospective study. The Journal of the American Medical
Association. v. 261, p. 2663-2668, 1989.
NOTTRODT, J. W.; MANLEY, P. Acceptable loads and locomotor patterns selected
in different carriage methods. Ergonomics. v. 32, n. 8, p. 945-957, 1989.
OVERSTALL, P. W.; EXTON-SMITH, A. N.; IMMS, F. J.; JOHNSON, A. L. Falls in
the elderly related to postural imbalance. British Medical Journal. v. 1, p. 261-264,
1977.
PERRY J. Gait Analysis – Normal and Pathological Functin. Thorofare, New
Jersey: SLACK inc, 1992.
PRINCE, F.; CORRIVEAU, H.; HEBERT, R.; WINTER, D. A.Gait in the elderly. Gait
and Posture. v. 5, p. 128-135, 1997.
PRUDHAM, D.; EVANS, J. G. Factors associated with falls in the elderly: A
community study. Age and Ageing. v. 10, p. 141-146, 1981.
ROBBINS, A. S. RUBENSTEIN, L. Z. JOSEPHSON, K. R. SCHULMAN, B. L.
OSTERWEIL D.; FINE, G. Predictors of falls among elderly people. Results of two
population-based studies. Archives of Internal Medicine. v. 149, n.7, p. 1628-1631,
1989.
ROBERTS, S. L.; FALKENBURG, S. A. Biomechanics: problem solving for
functional activity. Mosby Year Book St. Louis, 1992.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
84
ROSE. J.; GAMBLE, J. G. Human walking. 2 ed. Philadelphia: Williams & Wilkins,
1993.
ROSENROT, P.; WALL, J. C.; CHARTERIS, J. The relationship between velocity,
stride time, support time and swing time during normal walking. Journal of Human
Movement Studies. v. 6, p. 323-335, 1980.
RUNGE, J.W. The cost of injury. Emergency Medicine Clinics of North America.
v. 11, p. 241-253, 1993.
SADEGHI, H.; PRINCE, F.; ZABJEK, K. F.; LABELLE, H. Simultaneous, bilateral,
and three-dimensional gait analysis of elderly people without impairments. American
Journal of Physical Medicine and Rehabilitation. v. 83, p. 112-123, 2004.
SATTIN, R. W.; HUBER, D. A.; DEVITO, C. A.; RODRIGUEZ, J. G.; ROS, A.;
BACCHELLI, S.; STEVENS, J. A.; WAXWEILER, R. J.. The incidence of fall
injuryevents among the elderly in a defined population. American Journal of
Epidemiology. v. 131, p. 1028-1037, 1990.
SAUNDERS, J. B.; INMAN, V. T.; EBERHART, H. D. The major determinants in
normal and pathological gait. The Journal of Bone and Joint Surgery. v. 35A, n. 3,
p. 543-557, 1953.
SCHNEIDER, E. L.; GURALNIK, J. K. The aging of america. The Journal of the
American Medical Association. v. 263, n. 17, p. 2335-2340, 1990.
SHUMWAY-COOK A, WOOLLACOTT M, BALDWIN M, KERNS K. The effects of
cognitive demands on postural sway in elderly fallers and non-fallers. Journal of
Gerontology. v. 52, p. 232-240, 1997.
SHUMWAY-COOK, A.; WOOLLACOTT, M. Motor Control. Theory and Pratical
Applications. Baltimore: Lippincott Williams e Wilkins, 1995.
SPARROW, W.A.; BRADSHAW, E. J.; LAMOUREUX, E.; TIROSH, O. Ageing effects
on the attention demands of walking. Human Movement Science. v. 21, p. 961-972,
2002.
STEL, V. S.; SMIT, J. H.; PLUIJM, S. M. F.; LIPS, P.. Consequences of falling in
older men and women and risk factors for health service use and functional decline.
Age and Ageing. v. 33, n. 1, p. 58–65, 2004.
SYCZEWSKA, M.; OBERG, T.; KARLSSON, D. Segmental movements of the spine
during treadmill walking with normal speed. Clinical Biomechanics. v. 14, p. 384–
388, 1999.
THOMAS.; J. R.; NELSON, J. K. Research methods in physical activity. United
States of America: Human Kinetics, 3 ed., 1996.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
85
TINETTI, M. E.; MENDES DE LEON, C. F.; DOUCETTE, J. T.; BAKER, D. I. Fear of
falling and fall-related efficacy in relationship to functioning among community-living
elders. Journal of Gerontology. v. 49, p. 140–147, 1994.
TINETTI, M. E.; SPEECHLEY, M.; GINTER, S. F. Risk factors for falls among elderly
person living in the community. The New England Journal of Medicine. v. 319, n.
26, p. 1701-1707, 1988.
TINETTI, M. E.; WILLIAMS, T. F.; MAYEWSKI, R. Fall risk index for elderly patients
based on number of chronic disabilities. The American Journal of Medicine. v. 80,
p. 429-434, 1986.
TINETTI, M.; RICHMAN, D.; POWEL, L. Falls efficacy as a measure of fear of falling.
Journal of Gerentology. v. 45, p. 239-243, 1990.
VAUGHAN, C. L.; DAVIS, B, L.; O’CONNOR, J. C. Dynamics of Human Gait.
Champaign, Illinois: Human KineticsPublishers, 1992.
VELLAS, B. J.; WAYNE, S. J.; ROMERO, L. J.; BAUMGARTNER, R. N.; GARRY, P.
J. Fear of falling and restriction of mobility in elderly fallers. Age and Ageing. v. 26,
p. 189-193, 1997.
WATELAIN, E.; BARBIER, F.; ALLARD, P.; THEVENON, A.; ANGUÉ, J. C. Gait
pattern classification of health elderly men based on biomechanical data. Archives
of Physical Medicine and Rehabilitation. v. 81, p. 579-585, 2000.
WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. Disponível em <http://www.who.gov>:
aceso em 19 de novembro de 2005.
WINTER, 1982 appud WINTER, D. A. The Biomechanics and Motor Control of
Human Gait. Normal, Elderly and Pathological. Ontario, Canada: University of
Waterloo, 1991.
WINTER, D. A. Energy generation and absortion at the ankle and knee suring fast
natural and slow cadences. Clinical Orthopaedics and Related Research. v. 175,
p. 147-154, 1983.
WINTER, D. A. Kinematic and kinetic patterns in human gait: Variability and
compensating effects. Human Movement Science. v. 3, p. 51-76, 1984.
WINTER, D. A. The Biomechanics and Motor Control of Human Gait. Normal,
Elderly and Pathological. Ontario, Canada: University of Waterloo, 1991.
WINTER, D.; A. Human balance and posture control during standing and walking.
Gait and Posture. v. 3, p. 193–214, 1995.
WOOLLACOTT e SHUMWAY-COOK, 1989 appud SHUMWAY-COOK, A.;
WOOLLACOTT. Motor Control. Theory and Pratical Applications. Baltimore:
Lippincott Williams e Wilkins, 1995.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
86
WU, G.; MACLEOD, M. The control of body orientation and center of mass location
under asymmetrical loading. Gait and Posture. v. 13, p. 95-101, 2001.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
87
APÊNDICE I
Termo de consentimento livre e esclarecido.
TERMO DE CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO
Pesquisadores responsáveis: Prof. Dr. André Luiz Felix Rodacki e Prof. Msd.
Thiago Augusto Sarraf
Este é um convite especial para a participar voluntária do estudo “A INFLUÊNCIA
DO TRANSPORTE DE CARGAS MANUAIS SIMÉTRICAS E ASSIMÉTRICAS DE
DIFERENTES MAGNITUDES SOBRE A MARCHA EM IDOSOS”. Por favor, leia
com atenção as informações abaixo antes de dar seu consentimento para participar
ou não do estudo. Qualquer dúvida sobre o estudo ou sobre este documento
pergunte diretamente ao pesquisador com quem você está conversando neste
momento ou entre em contato através dos telefones...
OBJETIVO DO ESTUDO
O objetivo deste estudo é verificar quais são as alterações na marcha durante
o transporte de cargas simétricas e assimétricas de diferentes magnitudes em
pessoas com mais de 60 anos de idade.
PROCEDIMENTOS
Sobre a sua pele, a partir do processo de palpação, serão determinados e
demarcados 24 pontos anatômicos onde serão fixados pequenos marcadores auto-
adesivos de 1 cm de diâmetro para análise do movimento. Você será submetido a
uma única sessão, a qual irá caminhar por uma superfície plana de 6 metros de
comprimento em seis condições experimentais: sem carga (0%), com uma carga
leve (5% do peso corporal de forma assimétrica, transportada pela mão direita mais
o transporte pela mão esquerda) e com uma carga moderada (10% do peso corporal
de forma simétrica, sendo 5% em cada mão e assimétrica, transportada pela mão
direita mais a mão esquerda), por meio de sacolas de mão. Os dados serão
coletados através de filmagem com 5 câmeras.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
88
OBS: Este procedimento não apresenta dor ou risco para sua saúde.
BENEFÍCIOS
O estudo dos padrões e alterações que ocorrem na marcha do idoso é um
importante indicativo para determinação dos processos que levam às quedas para
se estabelecer estratégias preventivas. A partir dos resultados deste estudo,
podemos sugerir quais os melhores métodos de transporte de cargas, visando uma
intervenção nas atividades de vida diárias e nas tarefas ocupacionais.
DESPESAS/ RESSARCIMENTO DE DESPESAS DO VOLUNTÁRIO
Todos os sujeitos envolvidos nesta pesquisa são isentos de custos.
PARTICIPAÇÃO VOLUNTÁRIA
A sua participação neste estudo é voluntária e você terá plena e total
liberdade para desistir do estudo a qualquer momento, sem que isso acarrete
qualquer prejuízo para você.
GARANTIA DE SIGILO E PRIVACIDADE
As informações relacionadas ao estudo são confidenciais e qualquer
informação divulgada em relatório ou publicação será feita sob forma codificada,
para que a confidencialidade seja mantida. O pesquisador garante que seu nome
não será divulgado sob hipótese alguma.
ESCLARECIMENTO DE DÚVIDAS
Você pode e deve fazer todas as perguntas que julgar necessárias antes de
concordar na participação de seu dependente no estudo.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
89
Diante do exposto acima eu, ___________________________________________,
declaro que fui esclarecido sobre os objetivos, procedimentos e benefícios do
presente estudo. Participo de livre e espontânea vontade do estudo em questão. Foi-
me assegurado o direito de abandonar o estudo a qualquer momento, se eu assim o
desejar. Declaro também não possuir nenhum grau de dependência profissional ou
educacional com os pesquisadores envolvidos nesse projeto (ou seja, os
pesquisadores desse projeto não podem me prejudicar de modo algum no trabalho
ou nos estudos), não me sentindo pressionado de nenhum modo a participar dessa
pesquisa.
Curitiba, ____de___________de 2005.
________________________________ ________________________________
Responsável Pesquisador
RG: RG:
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
90
APÊNDICE II
No apêndice II encontra-se o projeto de dissertação submetido ao Programa de Pós
Graduação em Engenharia Mecânica, como requisito da disciplina projeto de
qualificação no terceiro trimestre de 2004, e encontra-se no formado requerido pela
instituição.
Projeto de Dissertação Submetido ao PG-Mec
(modelo 2004/3)
Nome do aluno: Thiago Augusto Sarraf
TÍTULO:
(título provisório da dissertação)
VARIABILIDADE MOTORA DA MARCHA DURANTE O CARREGAMENTO DE
CARGAS EM FUNÇÃO DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
RESUMO:
(resumo do projeto; no máximo, 100 palavras)
O objetivo deste estudo é verificar as alterações no padrão da marcha com
diferentes tipos de carga em função do envelhecimento. A amostra será composta
por 20 homens saudáveis, sendo 10 com faixa etária entre 20 e 30 anos e 10 com
mais de 60 anos. Os sujeitos serão filmados durante a realização do carregamento
de cargas equivalentes a 0 % e 10 % do peso corporal, realizado de forma
assimétrica durante a marcha. Os dados serão normalizados e testados, após será
utilizado um ANOVA com medidas repetidas. Para especificar onde as diferenças
ocorreram será aplicado o teste SCHEFFÉ, com significância de p < 0,05.
Nome do orientador: Prof. Dr. André Luiz Félix Rodacki
Linha de pesquisa do PG-Mec à qual o trabalho tem maior vínculo (indique apenas
uma):
( ) Engenharia de Materiais e Metalúrgica
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
91
( ) Processos de Fabricação
( ) Acústica e Mecânica dos Sólidos
( ) Engenharia Térmica e Fenômenos de Transporte
( x ) Gestão da Produção e Ergonomia
Previsão para defesa da dissertação (mês e ano): Novembro de 2005.
Local e data de conclusão da redação deste projeto: Curitiba, 19 de novembro de
2004.
INTRODUÇÃO (três páginas, no máximo)
O processo do envelhecimento é resultado da interação de uma série de
variáveis, tais como fatores genéticos, estilo de vida e doenças, que interagem entre
si e influenciam no envelhecimento saudável (ACSM, 1998). As diminuições na força
muscular, redução da massa óssea e perda de flexibilidade têm sido descritas como
fenômenos que acompanham o processo de envelhecimento (ACSM, 1998), assim
como o aumento no tempo de reação e recuperação e alterações no sistema
sensório e motor (TINETTI, 1988). Tais alterações podem modificar a percepção e o
controle de movimentos (ACSM, 2000) e afetar o equilíbrio e a estabilidade da
locomoção do idoso (MURRAY, et al. 1969). Alguns estudos têm demonstrado que
idosos apresentam redução na habilidade de manutenção da postura (NEVITT et al.,
1989), aumento da oscilação postural (CAMPBELL et al., 1989; OVERSTALL et al.,
1989) e a redução no equilíbrio dinâmico (NEVITT et al., 1989). Esses fatores são
apontados como fatores de quedas durante a locomoção do idoso. A queda é uma
das principais causas de lesões acidentais na população idosa (BERG et al, 1997),
podendo levar ao óbito (BAKER, 1985). Deste modo, o estudo dos padrões e
alterações que ocorrem na marcha do idoso é um importante indicativo para
determinação dos processos que levam às quedas para se estabelecer estratégias
preventivas (WINTER, 1991).
O transporte de cargas é indispensável em muitas tarefas ocupacionais e
atividades de vida diárias (KINOSHITA, 1985). Durante o carregamento de cargas, o
equilíbrio dinâmico pode ser alterado devido a uma assimetria postural imposta pelo
diferente arranjo das estruturas corporais que ocorrem para acomodar a carga, como
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
92
por exemplo, os desvios laterais do centro de massa que ocorrem durante o
transporte de cargas assimétricas (KINOSHITA, 1985; Fowler et al. in press) e
simétricas (DEVITA et al. 1991). Desta forma a necessidade de (re-) estruturação do
equilíbrio pode levar a outras alterações no padrão dinâmico da marcha. As
alterações no padrão dinâmico da marcha decorrentes do carregamento de cargas
podem ser um fator adicional de risco para a queda em idosos.
Deste modo, o objetivo deste estudo é observar a influência do carregamento
de cargas simétricas e assimétricas sobre o padrão dinâmico da marcha em sujeitos
idosos em função do envelhecimento, comparando o padrão de indivíduos adultos
jovens saudáveis com o padrão da marcha em indivíduos com mais de 60 anos de
idade. Ao observar as alterações decorrentes do carregamento de cargas, pode-se
desenvolver estratégias preventivas durante a realização da tarefa, assim, evitando
ou minimizando padrões de comportamento que facilitem a incidência de quedas em
indivíduos idosos, que constituem parte da população de trabalhadores do país.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA (três páginas, no máximo)
Atualmente, 8,6 % da população brasileira é constituída por idosos,
perfazendo um total de 14 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade
(IBGE, 2000). No começo da década de 90 este grupo representava 7,3 % da
população, sendo esperado para 2020 um crescimento no número de idosos a 13 %
da população (aproximadamente 30 milhões de idosos).
Durante o processo do envelhecimento, a genética, estilo de vida e doenças
interagem entre si, influenciando o envelhecimento saudável (ACSM, 2000). Durante
o processo do envelhecimento há uma diminuição gradativa da capacidade física do
idoso, este que inclui a perda na força muscular, redução da massa óssea e perda
de flexibilidade (ACSM, 1998), como uma diminuição no processo sensório e motor
dos adultos idosos (DUNCAN et al, 1993), o que pode afetar o equilíbrio e
estabilidade do idoso durante a locomoção (MURRAY, et al. 1969).
A marcha é a atividade mais comum do ser humano (WINTER, 1991),
consiste no processo de locomoção em que na postura ereta, o corpo se move
suportado pelos membros inferiores a cada passo (ROSE & GAMBLE, 1993),
requerendo coordenação entre as articulações do corpo, particularmente dos
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
93
membros inferiores, deste modo, sendo objeto de estudo por muitos séculos (BARR
& BACKUS, 2001).
O objetivo de muitos estudos relacionados à determinação da marcha em
idosos é reduzir a freqüência de quedas, como o de identificar medidas diagnósticas
que possam predizer o risco destas (WINTER, 1991). As alterações observadas no
padrão da marcha estão associados com o aumento no risco de quedas (TINETTI,
1988).
As quedas estão entre os mais comuns e sérios problemas entre pessoas
idosas (BERG et al, 1997), e a maior freqüência e severidade destas ocorrem após
os 60 anos de idade (AMERICAN GERIATRICS SOCIETY, 2001), ocorrendo a cada
ano, aproximadamente em 20 % da população idosa (GEHLSEN & WHALEY, 1990),
podendo em indivíduos acima desta faixa etária levar ao óbito (BAKER, 1985),
sendo as quedas a principal causa de mortes acidentais neste grupo etário
(GEHLSEN & WHALEY, 1990).
Indivíduos que já sofreram alguma queda tendem a diminuir a velocidade e o
comprimento da passada e a aumentar a largura da base de suporte na fase do
duplo apoio (p<0,05), procurando uma maior estabilidade durante a locomoção
(GEHLSEN & WHALEY, 1990), deste modo, alterando seu padrão da marcha. tinetti
et al., (1994), demonstrou que indivíduos que sofreram quedas tendem a adotar um
padrão diferente de marcha comparada aos indivíduos que nunca sofreram quedas,
o que leva o indivíduo a sofrer medo de cair novamente, levando a uma diminuição
das atividades de vida diárias e ao aumento da dependência. Maki (1997)
demonstrou que o medo da queda pode estar associado com alterações da marcha,
como a diminuição no comprimento da passada, diminuição da velocidade, aumento
do tempo de suporte duplo, e aumento na largura da passada.
Diversos estudos têm apontado diferenças entre o padrão da marcha em
idosos e jovens. Murray et al. (1969), avaliaram o padrão da marcha em de 64
sujeitos de faixa etária entre 20 e 87 anos e encontraram uma série de diferenças
nos parâmetros espaciais e temporais da marcha. Aonde os idos apresentaram uma
menor velocidade, comprimento da passada, taxa balanço/apoio...menor pico de
flexão do joelho na fase de balanço, menor amplitude da rotação do quadril e
tornozelo, menor deslocamento da cabeça no eixo transversal e maior deslocamento
no plano coronal, apresentaram também um maior tempo na fase de apoio. Deste
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
94
modo, foi concluído que os indivíduos idosos procuram estratégias compensatórias
para se obter uma máxima estabilidade e segurança durante a marcha.
Martin & Nelson (1986), avaliando o comportamento da marcha de homens e
mulheres em 5 condições e carregamento (0, 10, 20 e 30 kg), com relação as
variáveis temporais, foram encontradas poucas diferenças com relação ao aumento
da carga, foi encontrado nos homens diferenças no aumento do comprimento da
passada comparando o 0 e 10 kg. Com relação as diferenças de gênero, os homens
apresentaram um maior comprimento na passada, suporte simples e tempo de
balanço, e menor taxa da passada do que as mulheres, e estas apresentaram
alterações mais pronunciadas do padrão da marcha com o aumento da carga do que
os homens, sendo mais sensíveis aos aumentos das cargas. Estas alterações se
dão devido a diversos fatores de gênero, incluindo ao maior trabalho físico a que as
mulheres são submetidas, devido ao maior carregamento de carga, relacionado a
composição corporal. Deste modo, o autor sugere um maior cuidado com o
carregamento de cargas, associados aos estresses biomecânicos do aumento de
cargas, principalmente aos indivíduos do sexo feminino. Contudo, este estudo foi
realizado com adultos jovens (20,9 ± 1,8 e 20,8 ± 1,7 anos, para homens e mulheres
respectivamente). Deste modo, devido ao processo do envelhecimento, aonde há
uma diminuição gradativa da capacidade física do idoso (ACSM, 1998), torna-se
importante observar as implicações biomecânicas associadas aos estresses
unilaterais do durante o transporte de cargas durante a marcha, impostas perante o
processo do envelhecimento.
METODOLOGIA E PLANO DE TRABALHO (cinco páginas, no máximo)
Descrição detalhada e clara das etapas e procedimentos que serão empregados
para realizar a dissertação
Relação das disciplinas que ainda serão cursadas.
o Dissertação de mestrado.
Previsão do período letivo que cursará a disciplina “Dissertação de Mestrado”
o 2005/1
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
95
Sujeitos
A amostra será composta por 20 indivíduos saudáveis do sexo masculino,
sendo 10 sujeitos entre 20-30 anos e 10 sujeitos com mais de 60 anos de idade.
Antes do início da avaliação todos os participantes serão informados sobre os
procedimentos experimentais. Um questionário de anamnese para diagnosticar
histórico de queda ou algum distúrbio que influencie e/ou interfira na locomoção, ex.
enfermidade médica aguda, diagnóstico de sintomas angina, diagnósticos de
problemas pulmonares como enfisema, DPOC, asma, diagnósticos de disfunções
neurológicas, como doença de Parkinson, derrame, lesão cerebral, miopatia,
neuropatia periférica, distúrbios ortopédicos, dores músculo-esqueléticas, desordens
na marcha ou equilíbrio, histórico de quedas e uso de acessório para locomoção
(KERRIGAN et al., 2003), será aplicado antes do início do experimento. Os
indivíduos portadores destes acometimentos não serão incluídos no estudo.
Procedimentos Experimentais
Os sujeitos serão convidados a participar de uma única sessão experimental,
na qual serão submetidos à análise cinemática da marcha com e sem cargas.
Primeiramente os sujeitos realizarão uma sessão preliminar, na qual caminharão
sobre um carpete emborrachado em linha reta por um espaço de 6 m de
comprimento por 1,2 m de largura, na qual consta o espaço já calibrado para coleta
(definido através de um quadro de 2,00 x 0,55 x 2,00 metros, composto por pontos
afastados 0,50 m; 0,55 m e 0,40 m entre si). Os sujeitos repetirão a tarefa por no
mínimo cinco vezes (5 ciclos) em cada condição da tarefa, para que possam se
adaptar ao espaço físico, ao solo e a condição de carregamento. Caso haja
necessidade, os sujeitos poderão realizar um tempo maior de adaptação. Após o
primeiro período de adaptação, os indivíduos serão demarcados (ver procedimentos
para análise cinemática abaixo) para um segundo período de adaptação, no qual
realizarão a tarefa com e sem carga para se adaptar com os pontos anatômicos
demarcados, evitando assim, durante a coleta, alterações decorrentes a presença
destes pontos. Realizados os períodos de adaptação, os sujeitos estão aptos para a
fase da coleta, a qual, os indivíduos executarão em uma ordem randômica. Durante
a realização da tarefa com carga, após cada ciclo percorrido na área de coleta, os
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
96
sujeitos realizarão um pequeno intervalo de repouso (aproximadamente 20 seg.)
antes do início de outro ciclo de coleta, para que não haja interferência da fadiga
nem de desconfortos decorrentes do carregamento da carga. Os sujeitos realizarão
cada condição da tarefa três vezes.
Os sujeitos serão submetidos a duas condições experimentais: sem carga
(0%) e com uma carga moderada (10% do peso corporal). Na condição de
carregamento assimétrica, as cargas serão transportadas em uma única mão. A
carga de 10% do peso corporal foi escolhida por representar condições de
carregamento em atividades diárias, como por exemplo, as cargas transportadas
durante as compras de supermercado.
Analise Cinemática
Os sujeitos serão filmados por três câmeras analógicas (JVC Palmcorder-
VHS, de 60 Hz) posicionadas a aproximadamente 3 m do plano de deslocamento,
de forma a identificar um conjunto de marcas (diâmetro = 8.0 mm) previamente
fixadas na pele, nos segmentos direito e esquerdo, sobre os seguintes pontos
anatômicos: (1) base do quinto metatarso, (2) calcâneo, (3) maléolo lateral da fíbula,
(4) epicôndilo lateral e (5) trocânter maior do fêmur, (6) espinhas ilíacas ântero
superior. Estes conjuntos de marcas serão utilizados para definir os seguintes
segmentos corporais: pé (1-2), perna (3-4), coxa (4-5), quadril (5-6). Uma marca
adicional na face medial do calcâneo direito e esquerdo serão utilizados como
referência para determinar o ciclo da marcha do segmento homólogo.
A velocidade média da marcha foi determinada através de um estudo piloto
no laboratório. Neste estudo a velocidade foi quantificada com o auxílio de um
portão de luzes que consiste em um conjunto de células fotoelétricas que
determinam o tempo gasto para o sujeito percorrer uma distância pré-estabelecida
conhecida. Não foram encontradas diferenças (p > 0,05) na velocidade da marcha
nas diferentes condições de carregamento dos idosos, deste modo, o presente
estudo será realizado apenas com monitoração da velocidade.
Processamento e tratamento dos dados
As imagens serão digitalizadas através de um cabo conversor analógico-
digital (Pinacle Linx, Pinnacle Systems). As imagens serão processadas a partir de
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
97
software específico para análise tridimensional do movimento (SIMI, Motion
Analysis) e as coordenadas dos pontos anatômicos (1-6) digitalizadas. As
coordenadas dos pontos anatômicos serão filtradas por meio de um filtro digital
(BUTTERWORTH do tipo recursivo de 2
a
ordem) com uma freqüência de corte de 7
Hz (KERRIGAN et al., 2003). Para efeitos de análise, a média agrupada obtida a
partir de três ciclos da marcha será utilizada.
Variáveis do estudo
Diversos autores determinam as variáveis da marcha dentro de um ciclo de
movimento, este definido pelo contato do calcanhar no solo seguido pelo toque do
mesmo calcanhar ao solo (KERRIGAN et al., 2003; WINTER, 1991). Deste modo,
após o processo de digitalização, o início e fim de cada ciclo da marcha foi
determinado. Neste estudo, visto que são realizadas tarefas assimétricas, dentro de
uma mesma repetição de movimento foram analisados os ciclos da marcha do
segmento direito (definido pelo toque do calcanhar direito ao solo, até o toque do
mesmo) e esquerdo (definido pelo toque do calcanhar esquerdo no solo até o
momento do toque do mesmo ao solo).
Depois de filtradas, o conjunto de coordenadas será normalizado e os dados
expressa em termos percentuais do ciclo. Assim, todos os conjuntos de dados para
as condições com e sem carga serão expressos em valores percentuais. Desta
forma, o movimento será expresso de modo que todos os movimentos contenham
100 pontos; o início do movimento será considerado como instante 0% e o fim do
ciclo como o 100% do ciclo. A normalização do ciclo será efetuada por meio de
funções spline. O efeito deste tipo de procedimento tem sido considerado como
mínimo, pois apenas o tempo de duração do movimento é manipulado. Depois de
normalizados, as médias agrupadas das três tentativas serão calculadas e utilizadas
para representar a performance de cada sujeito e condição experimental.
As variáveis analisadas para verificar as diferenças na marcha de idosos
durante o carregamento de cargas simétricas e assimétricas serão divididas em
variáveis espaciais e temporais, analisadas em ambos os segmentos. As variáveis
cinemáticas temporais e espaciais encontram-se na tabela 1. Os valores máximos e
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
98
mínimos de cada variável serão determinados de cada sujeito durante o ciclo da
marcha a cada 10 % do ciclo.
Análise Estatística
Inicialmente os dados serão tratados através de estatística descritiva (média e
desvio padrão). A normalidade dos dados será testada através do teste de
Kolmogorov-Smirnov. Para comparar os diferentes grupos jovens e idosos será
utilizada uma ANOVA com medidas repetidas. Para especificar onde as diferenças
ocorreram será aplicado o teste SCHEFFÉ. As análises estatísticas serão realizadas
através do software STATISTICA
®
(STATSOFT Inc., versão 5.5). O nível de
significância será de p < 0,004, após corrigido por Bonferroni.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
99
TABELA 1 – VARIÁVEIS, TEMPORAIS E ESPACIAIS ANALISADAS NO ESTUDO.
VARIÁVEL DEFINIÇÃO
Tempo do ciclo
ou passada
Tempo entre o contato inicial do calcanhar do mesmo pé até o
contato do calcanhar do mesmo pé. Composta pelo tempo da
passada direita e esquerda.
Tempo do
passo
Tempo entre o contato inicial do calcanhar de um dos pés até o
calcanhar inicial do pé contra-lateral. Existem os tempos do passo
direito e tempo do passo esquerdo
Tempo de
apoio simples
Tempo em que somente um dos pés está em contato com o solo.
Vai do contato inicial do calcanhar até a retirada deste mesmo pé
do solo. Em um ciclo há um apoio simples (direito ou esquerdo)
Tempo de
duplo apoio
Tempo em que os dois pés estão em contato com o solo durante
um ciclo do andar. Vai do contato inicial do calcanhar de um dos
pés até a retirada do pé do pé contra-lateral . Em um ciclo há dois
duplos apoios.
VARIÁVEIS TEMPORAIS
Tempo de
balanço
Tempo em que o pé está no ar, começa no momento em que os
dedos começam a deixar o solo até o início solo contato do
calcanhar-solo. Foram computados os tempos de balanço direito
e esquerdo.
VARIÁVEL DEFINIÇÃO
Comprimento
do ciclo ou
passada
Distância entre o contato inicial do calcanhar de um pé até o
próximo contato do calcanhar do mesmo pé, na direção do
deslocamento, ou seja, dois toques sucessivos do mesmo pé.
Cada passada é composta por um comprimento do passo direito
e um do passo esquerdo.
Comprimento
do passo
Distância entre o contato inicial do calcanhar de um pé até o
contato do calcanhar do pé contra-lateral, na direção do
deslocamento. Serão analisados os comprimentos do passo
direito e o comprimento do passo esquerdo.
Largura da
passada
Distância paralela do ponto de contato do calcanhar de um pé
com o solo até a linha de progressão somada com a distância do
ponto de contato do outro pé ao solo até a linha de progressão.
Cadência Número de passos por minuto
Ângulo do
tornozelo
Ângulo formado pelo segmento do pé e segmento da perna.
Ângulo do
joelho
Ângulo formado pelo segmento da perna com a coxa.
Ângulo do
quadril
Ângulo formado pelo segmento da coxa com o tronco.
Velocidade
contato
calcanhar (m/s)
Velocidade (em m/s) de entrada do calcanhar ao solo no
momento do contato inicial.
VARIÁVEIS ESPACIAIS
Pico elevação
5° metatarso
(cm)
Elevação máxima do ponto do quinto metatarso dentro do ciclo da
marcha.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
100
CRONOGRAMA (uma página, no máximo)
Situar no tempo as etapas e atividades previstas no plano de trabalho.
MESES
11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Revisão bibliográfica X X X X X X X X X
Recrutamento da
amostra e coleta de
dados
X X X
Digitalização dos dados X X X
Análise dos dados X X X
Discussão X X X X
Elaboração do
documento final e
relatórios
X X
Defesa da dissertação
X
Indicar/descrever a situação atual do trabalho/dissertação.
Há um relevante número de estudos revisados, aonde foi permitido determinar
parâmetros metodológicos para a dissertação, bem como a realização de estudos
pilotos, apresentados nesta qualificação.
VIABILIDADE (uma página, no máximo)
Informar se já existem e quais são a infra-estrutura e as fontes de recursos
financeiros que serão empregadas na dissertação ou, então, se não existirem,
o que é necessário e previsão de sua disponibilização.
O laboratório de Biomecânica da Universidade Federal do Paraná propiciará
disponibilidade das câmeras analógicas, o cabo conversor A/D e o software SIMI
Motion para coleta e digitalização dos dados. Os dados também serão coletados nas
dependências do laboratório.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
101
Comentar sobre possíveis riscos e dificuldades potenciais que poderão
interferir na execução da dissertação.
Não existem dificuldades aparentes que possam interferir na execução da
dissertação, posto que todos os equipamentos e materiais estão à disposição no
Centro de estudos do Comportamento Motor da UFPR e o estudo não oferece risco
aos sujeitos.
RESULTADOS ESPERADOS (uma página, no máximo)
Espera-se verificar diferenças no padrão da marcha dos indivíduos idosos
quando comparados a sujeitos jovens. A partir destes resultados espera-se fornecer
informações para o desenvolvimento de estratégias preventivas no que diz respeito
a tarefas ergonômicas do carregamento de cargas em função do envelhecimento.
Deste modo, os resultados deste estudo devem ser publicados para que os
profissionais da área tenham conhecimento dos achados desta pesquisa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (livre)
(Citar os dados completos da bibliografia mencionada nos itens anteriores)
ACSM Pronouncement. Exercise and physical activity for older adults. In: Medicine
& Science in sports & Exercise. v. 30, n.6, p.1-23, 1998.
ACSM. Guidelines for Exercise Testing and Prescription. 6 ed. Lippincot Williams
& Wilkins, Philadelphia, 2000.
AMERICAN GERIATRICS SOCIETY: Guideline for the prevention of falls in older
person. JAGS v. 49, n.5, p. 664-672, 2001
BAKER, S. P; HARVEY, A. H. Fall injuries in the elderly. Clin Geriatr Med. v.1,
p.501–12, 1985.
BARR, A. E.; BACKUS, S. I. Biomechanics of gait. In. Nordin, M.; Frankel, V. H.
Basic biomechanics of the musculoskeletal system.. 3ed. Philadelphia:
Lippincott Williams & Willkins, 2001.
BERG, W. P; ALESSIO, H. M; MILLS, F. M; TONG, C. Circumstances and
consequences of falls in independent community-dwelling older adults. Age
and Ageing. v. 26, p. 261-268, 1997.
CAMPBELL A; BORRIE M. J; SPEARS G. F. Risk factors for falls in a community-
based prospective study of people 70 years and older. J Gerontol. v. 44,
p.112–17, 1989.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
102
DEVITA, P.; HONG, D.; HAMILL. Effects of asymmetric load carrying on the
biomechanics of walking. J Biomechanics. v.24, n.12, p.1119-1129, 1991.
DUNCAN, P. W.; CHANDLER, J.; STUDENSKI, S.; HUGHES, M.; PRESOTT, B.
How do physiological components of balance affect mobility in elderly men?
Arch Phys Med Rehabil. n.74, p. 1343-1349, 1993.
FOWLER, N. E.; RODACKI, A. L. F.; RODACKI, C. L. N. Changes in stature and
spine kinematics during a loaded walking task. Gait And Posture. USA: , in -
press, 2005.
GEHLSEN, G. M.; WHALEY, M. H. Falls in the elderly: part I, gait. Arch Phys Med
Rehabil. v.71, p.735-738, 1990.
HAUSDORFF, J. M; FORMAN, D. E.;LADIN, Z. Increased walking variability in
elderly persons with congestive heart failure. J. Am. Geriatr. Soc. v.42,
p.1056 –1061, 1994.
HAUSDORFF, J.M.; EDELBERG, H. K.; MITCHELL, S. L.; GOLDBERGER, A. L.;
WEI, J. Y. Increased gait unsteadiness in community-dwelling elderly fallers.
Arch Phys Med Rehabil. v. 78, p. 278-83, 1997.
JUDJE, J.O.; UNDERWOOD, M.; GENNOSA, T. Exercise to improve gait velocity in
older persons. Arch. Phys. Med. Rehab. V.74, p.400-406, 1993.
KAKENKO, M. A kinematic analysis of walking and physical fitness testing in elderly
women. Can. J. Sp. Sci. v. 16, n.3, p. 223-228, 1991.
KERRIGAN, D. C.; ODDSON, A. X.; SULLIVAN, M. J.; LELAS, J. J.; RILLEY, P. O.
Effect of a hip flexor-stretching program on gait in the elderly. Arch Phys Med
Rehabil. v. 84, p. 1-6, 2003.
KINOSHITA, H. Effects of different and carrying systems on selected biomechanical
parameters describing walking gait. Ergonomics. v.28, n.9, p.1347-1362,
1985.
MAKI, B. E. Gait changes in older adults: predictors of falls or indicators of fear?
JAGS. v.45, n.3, p.313-320, 1997.
MURRAY, M. P.; KORY, R. C.; CLARKSON, B. H. Walking patterns in healthy old
men. J. Gerontology. v.24, p.169-178, 1969.
MARTIN, P. E.; NELSON, R. C. The effect of carried loads on the walking patterns of
men and women. Ergonomics. v.29, n.10, p.1191-1202, 1986.
NEVITT, M. C.; CUMMINGS, S. R.; KIDD, S.; BLACK, D. Risk factors for recur-rent
nonsyncopal falls: a prospective study. JAMA 1989;261:2663– 68.
OVERSTALL, P. W.; EXTON-SMITH, A. N.; IMMS, F. J.; JOHNSON, A. L. Falls in
the elderly related to postural imbalance. Br. Med. J. v.1:261–4, 1977.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
103
ROSE. J.; GAMBLE, J. G. Human walking. 2 ed. Williams & Wilkins: Philadelphia,
1993.
TINETTI, M. E., SPEECHLEY, M.; GINTER, S. F. Risk factors for falls among elderly
person living in the community. The New England Journal of Medicine. v.
319, n. 26, p. 1701-1707, 1988.
TINETTI, ME, MENDES DE LEON CF, DOUCETTE JT, BAKER DI. Fear of falling
and fall-related efficacy in relationship to functioning among community-living
elders. J Gerontol v. 49, p. 140–147, 1994.
VAUGHAN, C. L.; DAVIS, B. L.; O’CONNOR, J. C. Dynamics of Human Gait.
Windsor: Human Kinetics Publishers, 1992.
WATELAIN, E.; BARBIER, F.; ALLARD, P.; THEVENON, A.; ANGUÉ, J. C. Gait
pattern classification of health elderly men based on biomechanical data.
Arch. Phys. Med. Rehab. v.81, p. 579-585, 2000.
WINTER, D. A. Kinematic and kinetic patterns in human gait: variability and
compensating effects. Human Movement Science. 3, 51-76, 1984.
WINTER, D. A. The Biomechanics and Motor Control of Human Gait. Normal,
Elderly and Pathological. Ontario, Canada: University of Waterloo Press,
1991.
ATIVIDADES JÁ DESENVOLVIDAS (livre)
Dados bibliográficos de artigos publicados durante o programa.
DEZAN, V. H.; SARRAF, T. A.; RODACKI, A. L. F. Alterações posturais,
desequilíbrios musculares e lombalgias em atletas de luta olímpica. Revista
Brasileira de Ciência e Movimento, v.12, n.1, p.35-38, 2004.
SARRAF, T.A.; DEZAN, V.H.; RODACKI, A. L.F. Diferenças entre medidas
subjetivas e objetivas durante testes de comprimento músculo tendíneos dos
flexores do quadril uni e biarticulares. Revista Brasileira de Fisioterapia, in
press.
SARRAF, T. A.; DEZAN, V. H.; PROVENSI, C, G. RODACKI, A. F. Repeatability of
measurement of thoracic and lumbar angle for two different methods. FIEP
Bulletin, 2005 in press.
DEZAN, V. H.; SARRAF, T. A.; PROVENSI, C, G. RODACKI, A. F. Postural
deviations and back pains in telemarketing operators. FIEP Bulletin, 2005, in
press.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
104
FECHAMENTO
______________________________________
Assinatura do aluno
Declaro que sou orientador deste trabalho e aprovo este projeto de dissertação.
________________________________________
Assinatura do orientador
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
105
APÊNDICE III
No anexo III encontram-se os resultados observados no estudo piloto. Estes
resultados foram apresentados à banca para qualificação do projeto de dissertação.
A partir da colaboração da banca examinadora, foi possível realizar a versão final
para a defesa da dissertação.
RESULTADOS
Para fins de aperfeiçoamento da coleta dos dados e viabilidade do projeto,
foram realizados alguns estudos piloto. Deste modo, abaixo seguem os resultados
encontrados em um sujeito jovem (26 anos) e um idoso (65 anos). Neste estudo
piloto, nenhum procedimento estatístico foi realizado devido ao reduzido número de
sujeitos. Contudo, seguem algumas observações pertinentes aos resultados
encontrados, que serão comparados entre si e em relação ao referencial da
literatura.
A velocidade média nas três tentativas na condição sem carga do indivíduo
jovem e idoso foi 1,16 ± 0,26 m/s e 1,11 ± 0,08 m/s, respectivamente. Na condição
de carregamento, o jovem reduziu a velocidade 1,11 ± 0,08 m/s, enquanto que o
idoso aumentou a velocidade (1,43 ± 0,13 m/s). Nas TABELAS 1 e 2 abaixo,
encontram-se os resultados das variáveis temporais e espaciais da marcha dos
segmentos direito e esquerdo (respectivamente) dos sujeitos analisados sob as
condições com e sem carga.
Os perfis da velocidade de entrada do calcanhar no solo e o ângulo de
flexão/extensão do joelho encontram-se nas FIGURAS 1 e 2 (respectivamente).
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
106
TABELA 1 – DESCRIÇÃO DAS VARIÁVEIS TEMPORAIS E ESPACIAIS, COMPARANDO UM
JOVEM E UM IDOSO SOB AS CONDIÇÕES 0 % 10 % DO PESO CORPORAL COM
A MÃO ESQUERDA.
TABELA 2 – DESCRIÇÃO DAS VARIÁVEIS TEMPORAIS E ESPACIAIS COMPARANDO UM
JOVEM E UM IDOSO SOB AS CONDIÇÕES DE 0 % E 10 % DO PESO CORPORAL.
VARIÁVEL
Jovem 0%
Média (D.P.)
Jovem 10%
Média (D.P.)
Idoso 0%
Média (D.P.)
Idoso 10%
Média (D.P.)
Tempo do ciclo ou
passada (seg.)
1,16
(0,09)
1,12
(0,00)
1,16
(0,00)
1,11
(0,02)
Tempo do passo (seg.)
0,59
(0,05)
0,55
(0,06)
0,52
(0,09)
0,54
(0,02)
Tempo de apoio
simples (seg.)
58,75
(1,1)
61,78
(0,03)
65,7
(0,00)
68,6
(2,83)
Tempo de duplo apoio
(seg.)
11,47
(0,93)
12,25
(0,7)
19,45
(0,78)
16,15
(0,74)
VARIÁVEIS TEMPORAIS
Tempo de balanço
(seg.)
41,2
(1,1)
38,22
(0,03)
34,30
(0,00)
31,4
(2,83)
Comprimento do ciclo
ou passada (cm)
1,15
(0,07)
1,16
(0,01)
1,21
(0,03)
1,32
(0,02)
Comprimento do passo
(cm)
0,59
(0,01)
0,56
(0,03)
0,54
(0,1)
0,56
(0,16)
Largura da passada
(cm)
0,11
(0,04)
0,08
(0,00)
0,08
(0,03)
0,09
(0,01)
Cadência
(passos/min)
104,24
(8,42)
106,95
(0,00)
103,9
(0,00)
108,57
(2,29)
Velocidade contato
calcanhar (m/s)
0,76
(0,56)
0,89
(0,12)
1,05
(0,39)
2,11
(0,15)
VARIÁVEIS ESPACIAIS
Pico elevação 5°
metatarso (cm)
0,09
(0,01)
0,07
(0,02)
0,07
(0,00)
0,08
(0,01)
VARIÁVEL
Jovem 0%
Média (D.P.)
Jovem 10%
Média (D.P.)
Idoso 0%
Média (D.P.)
Idoso 10%
Média (D.P.)
Tempo do ciclo ou
passada (seg.)
1,09
(0,05)
1,07
(0,02)
1,17
(0,07)
1,02
(0,05)
Tempo do passo (seg.)
0,54
(0,02)
0,48
(0,01)
0,58
(0,02)
0,46
(0,04)
Tempo de apoio
simples (seg.)
62,05
(3,75)
63,6
(1,55)
62,10
(3,68)
62,95
(0,64)
Tempo de duplo apoio
(seg.)
11,47
(0,93)
12,25
(0,7)
19,45
(0,78)
16,15
(0,74)
VARIÁVEIS TEMPORAIS
Tempo de balanço
(seg.)
37,95
(3,75)
36,4
(1,56)
37,9
(3,68)
37,05
(0,64)
Comprimento do ciclo
ou passada (cm)
1,05
(0,03)
1,17
(0,06)
1,26
(0,02)
1,22
(0,00)
Comprimento do passo
(cm)
0,52
(0,02)
0,55
(0,06)
0,57
(0,08)
0,46
(0,14)
Velocidade contato
calcanhar (m/s)
0,7
(0,67)
0,19
(0,26)
0,25
(0,05)
0,25
(0,05)
VARIÁVEIS
ESPACIAIS
Pico elevação 5°
metatarso (cm)
0,05
(0,00)
0,06
(0,01)
0,04
(0,00)
0,04
(0,00)
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
107
FIGURA 1 – VELOCIDADE DE ENTRADA DO CALCANHAR DE UM SUJEITO JOVEM E UM IDOSO
NA CONDIÇÃO SEM CARGA (A) E COM CARGA DE 10% DO PESO CORPORAL (B) DENTRO DE
UM CICLO DA MARCHA.
FIGURA 2 – ÂNGULO DE FLEXÃO/EXTENSÃO DO JOELHO DIREITO DE UM SUJEITO JOVEM E
UM IDOSO NA CONDIÇÃO SEM CARGA (A) E COM CARGA DE 10% DO PESO
CORPORAL (B) DENTRO DE UM CICLO DA MARCHA.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
108
DISCUSSÃO
O objetivo deste estudo foi verificar as alterações da marcha durante o
carregamento de cargas decorrentes do processo do envelhecimento. Nos
resultados encontrados, não foram observadas diferenças importantes em muitas
das variáveis analisadas. Todavia, o presente estudo piloto foi realizado com apenas
um sujeito de cada grupo e os resultados devem ser interpretados com cautela.
Algumas variáveis que permaneceram relativamente inalteradas não serão
discutidas em detalhe, porém alterações podem ocorrer quando os dados de outros
sujeitos forem incorporados. Foi possível observar que algumas variáveis da marcha
apresentaram alterações marcantes e serão discutidas mais detalhadamente.
A velocidade da marcha do sujeito jovem e idoso na condição sem carga foi
compatível com aquela descrita na literatura (KERIGAN et al., 2001; WATERLAIN et
al., 2000; PRINCE et al., 1997). Contudo, o sujeito idoso apresentou um aumento na
velocidade (22,4%) quando a carga foi incluída durante a marcha. Aumentos na
velocidade de deslocamento em resposta ao aumento da carga não tem sido
reportados na literatura. A maior parte dos estudos que envolveram tais atividades
mantiveram a velocidade constante e dificultam a comparação de resultados com
estudos em que a velocidade da marcha foi determinado pelos próprios sujeitos
(volicional).
A velocidade de entrada do calcâneo solo é tem sido associada ao risco de
escorregões e quedas em indivíduos idosos (WINTER, 1991). WINTER (1991),
encontrou maior velocidade horizontal no momento do toque do calcanhar com o
solo em indivíduos idosos quando comparados aos jovens (1,15 m/s vs. 0,872,
respectivamente). No presente estudo, foi observado um aumento na velocidade de
entrada do calcanhar no solo do indivíduo idoso de 1,05 m/s para 2,11 m/s na
condição de carregamento da carga. Ainda que não se possa realizar nenhuma
análise estatística, observa-se que tal valor é muito acima (~100 %) daquele
observado na macha de idosos. Assim, caso a elevada velocidade de entrada do
calcâneo no solo seja observada em outros sujeitos, a condição de carregamento
pode representar um risco importante de queda na terceira idade. Algumas
explicações podem ser propostas para explicar tal alteração. Alguns estudos
envolvendo a utilização da eletromiografia durante a marcha demonstraram a
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
109
importância da ativação da musculatura dos ísquios-tibiais na desaceleração da
perna no final da fase de balanço (WINTER, 1991). Durante o toque do calcanhar
com o solo, os ísquios-tibiais atuam como extensores do quadril em conjunto com o
músculo glúteo máximo para estabilizar a pelve e reduzir a aceleração dos
segmentos do tronco, membros superiores e cabeça causada durante o impacto do
membro inferior com o solo (ROSE e GAMBLE, 1993). Na condição de
carregamento, a maior velocidade da marcha dos idosos (22,4%) pode ter requerido
uma maior ativação muscular para desacelerar as massas acima da pelve, que
foram incrementadas pela incorporação da carga e aumentaram a momento angular
do sistema ao redor da pelve. A diminuição da força muscular decorrente dos
processos de envelhecimento (ACSM, 1998) e alterações no sistema sensório e
motor (TINETTI, 1988) pode modificar o controle de movimentos (ACSM, 2000) e
alterar aspectos de controle motor da tarefa. Assim, os músculos que atuam no
segmento podem ter sido recrutados com um certo atraso, reduzindo a possibilidade
do sistema músculo esquelético em desacelerar o membro inferior. Desta forma, a
velocidade da entrada do calcanhar com o solo foi maior na condição de
carregamento de carga. Tais argumentos são reforçados pelo comportamento do
segmento contra-lateral (esquerdo), que permaneceu praticamente inalterado. Tais
ajustes também são evidenciados por uma redução de aproximadamente 10 cm no
comprimento da passada dos segmentos direito e esquerdo dos idosos durante o
carregamento de carga.
Ao comparar as curvas de flexão e extensão do joelho do sujeito jovem e do
idoso, foi observada uma semelhança na condição sem carga quando comparadas a
outros estudos (MURRAY et al., 1969; WINTER, 1991; KERRIGAN et al., 2001).
Contudo, durante o carregamento de cargas, o idoso apresentou maior pico de
flexão na fase de recepção da carga (vide Figura 2). Estudos eletromiográficos
demonstram que durante esta fase da marcha, pode-se observar maior ativação da
musculatura do glúteo máximo, flexores plantares e da musculatura extensora do
joelho, que se contraem excentricamente para desacelerar o corpo e estabilizar a
pelve (ROSE e GAMBLE, 1994) e controlar a flexão do joelho (WINTER, 1991).
Declínios na função neuromotora que acompanham o envelhecimento reforçam o
conceito que controle motor dos idosos podem ser influenciados de maneira
importante durante a marcha.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
110
Ao analisar as variáveis temporais, observou-se que com o aumento da
carga, ambos os sujeitos diminuíram o tempo de balanço, contudo, apenas o sujeito
idoso diminuiu o tempo de duplo apoio quando comparado ao jovem. Tais resultados
são discrepantes com aqueles reportados previamente na literatura (KINOSHITA,
1985; MARTIN, 1986). Martin (1986), demonstrou que o aumento da carga faz com
que indivíduos jovens diminuam o comprimento da passada e o tempo de balanço,
porém aumentam o tempo de duplo apoio e a cadência da passada. Kinoshita
(1985), demonstrou que aumentos na carga transportada causam aumentos no
tempo de duplo apoio diminuição no tempo do apoio simples. Tais diferenças devem
ser vistas com cautela, posto que os estudos de Martin (1986) e Kinoshita (1985)
foram realizados com jovens que transportaram mochilas do tipo backpack. Por
outro lado, Gelhsen et al. (1990), demonstraram que sujeitos idosos, com o aumento
da velocidade, apresentam aumento na freqüência e comprimento da passada sem
cargas adicionais. Neste mesmo estudo, Gelhsen et al., (1990) observaram
reduções no período de suporte simples, duplo e duração da fase de balanço, em
idosos com e sem histórico de quedas. Deste modo, aumentos na velocidade da
marcha decorrentes do aumento da carga, fazem com que o indivíduo idoso
permaneça menos tempo em suporte de duplo apoio e se torne mais propenso a
sofrer desequilibro durante a marcha.
O aumento na velocidade do contato do calcanhar com o solo e a diminuição
do tempo de duplo apoio indicam que os idosos possuem risco aumentado de queda
durante o carregamento de cargas. A análise de outros sujeitos é necessária para
confirmar essas indicações.
A influência do transporte de cargas manuais sobre a marcha em idosos
Prof. Ms. Thiago Augusto Sarraf, 2006.
111
APÊNDICE IV
Escala de percepção de esforço apresentado aos participantes ao final de
cada condição experimental.
ESCALA DE PERCEPÇÃO DE ESFORÇO
0 NADA
0,5 MUITO, MUITO FRACO
1 MUITO FRACO
2 FRACO
3 MODERADO
4 UM POUCO FORTE
5 FORTE
6
7 MUITO FORTE
8
9
10 MUITO, MUITO FORTE
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo