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Resumo: O anu branco (Guira guira) é uma espécie de reprodução comunitária, onde duas ou
mais fêmeas utilizam o mesmo ninho para reprodução. Como os membros do grupo não são
necessariamente aparentados, ocorrem, então, disputas de ordem alimentar e sexual entre os
membros do grupo. Por exemplo, infanticídio em espécies comunitárias pode indicar
tentativas de exercer controle sobre o desvio reprodutivo do grupo. Quando poucos indivíduos
de um grupo conseguem se reproduzir com sucesso e outros membros não conseguem, diz-se
que há um alto desvio reprodutivo. Enquanto que um baixo desvio reprodutivo ocorre nos
grupos onde a reprodução é distribuída de uma maneira igualitária. Com isso, dois aspectos da
reprodução comunitária em anu branco foram estudados: (1) foi desenvolvido um modelo
qualitativo sobre desvio reprodutivo nesta espécie; e (2) foi investigada a possível ocorrência
de outros benefícios associados à vida em grupo, como a presença de sentinela durante o
forrageamento social e tamanho e/ou qualidade da área de vida, que poderiam explicar a
evolução de reprodução comunitária nesta espécie. O modelo qualitativo demonstra como os
indivíduos que obtiveram pouca participação na reprodução poderiam utilizar o infanticídio
como uma tática para acelerar o próximo evento reprodutivo. Também é demonstrado, pelo
modelo, como que os indivíduos de espécies comunitárias poderiam utilizar as informações
disponíveis no grupo e no ambiente para melhorar seu sucesso reprodutivo, com
conseqüências favoráveis, em termos de aptidão inclusiva. Estas informações dependem de
parâmetros que mudam ao longo do tempo, incluindo o levantamento das possibilidades
presentes e futuras de reprodução. O modelo produz predições que podem ser testadas através
de observações de campo e analises moleculares para espécies com uma dinâmica social
similar. Quanto ao estudo sobre forrageamento social e área de vida, foi demonstrado que os
anus-brancos tiveram uma proporção significativamente maior de forrageamento na ausência
de sentinela do que na presença de sentinela. O forrageamento na ausência de sentinela não
afetou a vigilância das aves forrageando no chão, já que houve uma proporção
significativamente maior de ocasiões sem vigília que com vigília. No entanto, quando foi
comparada a proporção de forrageamento com sentinela para grupos de até seis indivíduos
com grupos maiores, verificou-se uma proporção significativamente maior de forrageamento
na presença de sentinela para grupos com mais de seis indivíduos. Também não houve uma
relação entre o tamanho do grupo e o tamanho da área de vida. A socialidade do G. guira não
parece estar associada a uma melhor detecção de predadores ou ao comportamento de
sentinela para a população estudada.
Palavras-chaves:
Desvio reprodutivo, infanticído, sentinela, comportamento social,
vigilância.